Senso Incomum - 046 - novembro 2019

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comum

Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo UFU ano 10 • 46ª edição novembro de 2019

As cinzas do cerrado População enfrenta as consequências de mudanças climáticas FOTO DE CAPA: VITOR BUENO

Páginas 6 e 7

Política

Cultura

Saúde

Desafios da representatividade feminina na Câmara Municipal

Os funcionários terceirizados afetados pelo corte de verbas

Despreparo médico provoca sofrimento em gestantes

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Senso nº46 Nov/2019

DA REDAÇÃO EDITORIAL//

RECEITA//

A UFU também é Uberlândia A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) está presente na segunda maior cidade do estado de Minas Gerais há aproximadamente 40 anos. Dentro desse período, todo o funcionamento e vida do município se alteraram. A economia ganhou mais força, a diversidade cultural foi pluralizada, o desenvolvimento político e tecnológico foi amplificado em áreas como saúde, esporte e gastronomia. Essa relação entre a universidade e a cidade de Uberlândia pode ser vista tanto de forma positiva, quanto negativa. Mas é possível concluir que esse elo atua simultaneamente. Essa conexão é cada vez mais notável. A UFU não é apenas uma instituição de ensino presente na cidade e, sim, uma entidade que cresce com a cidade. O crescimento e a relação da UFU com o cotidiano de Uberlândia será mostrado nas matérias presentes nesta edição. Desde as pesquisas em climatologia e preservação do cerrado ao embarque clandestino nos pontos da cidade. Uberlândia e UFU seguem juntas nas próximas páginas. 

Torta de Cambuquira, Beldroega e Caruru INGREDIENTES MASSA: 1 copo (americano) de leite, meia xícara (chá) de óleo, 3 ovos, 2 e 1/2 xicaras (chá) de farinha de trigo, 1 colher (café) de sal, 1 colher (sopa) de fer­ mento, cebola e alho a gosto. INGREDIENTES RECHEIO:

com o restante da massa. Pré­aqueça o forno. As­ sar até dourar (média de 35 a 40 minutos). DICAS: Usar farinha de trigo integral ou farinha de aveia, acrescentar queijo ralado por cima da massa, utili­ zar as hortaliças que já possui em casa ou de sua preferência.

1 alho, 1 cebola média picada, 2 xica­ ras (chá) de cambuquira picada, 1 xica­ ra (chá) de caruru picado, 1 xícara (chá) de beldroega picada, 1 copo de requei­ jão cremoso, 2 batatas médias picadas e 1 tomate médio picado. PREPARO: No liquidificador misture o leite, ovos, óleo, sal, cebola e alho. Acres­ cente a farinha, aos poucos, e, por último, coloque o fermento em pó. Para o preparo do recheio refogue cambuquira, caruru, beldroega, cebola e alho para amaciar e pré­cozinhe a ba­ tata (em pouca água ou vapor). Despe­ je metade da massa em uma forma untada, acrescente todos os ingredien­ tes do recheio misturados, depois cubra

CRÔNICA//

No caminho da Universidade tem um beco GUSTAVO MEDRADO

Caminhamos por uma das avenidas mais agitadas do bairro que tanto amo, o São Jorge, um dos maiores da periferia de Uberlândia. Hoje não estou sozinho. Mamãe, como sempre, procura fazer quando não está trabalhando, me leva para a escola. Na metade do trajeto, um beco encurta o nosso caminho. Por aqui, o

mato alto e a sujeira fazem a festa, mas não sei o porquê, eu gosto de passar por ele. Mamãe sempre me faz as mesmas perguntas, mas até que gosto. Mesmo que eu já tenha lhe falado quinhentas vezes que tá tudo bem na escola, ela ainda pergunta. Ela sempre quer que eu conte uma história de algum livro que peguei na biblioteca. Mas o pior é quando ela inventa de me tomar a tabuada. Pela primeira vez, falamos de um assunto até então pouco comentado em nossas conversas. Fiz uma cara de gente grande e disse: “Mamãe, eu quero ir pra faculdade”. Eu não sei se ela entendeu, por alguns segundos, a vi com um olhar distante. Disse, então, atônita: “Meu filho, a mamãe fica feliz com sua vontade, mas nós não temos dinheiro para pagar uma faculdade”. Ao ouvir a resposta dela, nem pisquei e emendei um “Mas tem a UFU! Não precisa pagar nada pra estudar lá”. Mamãe me ouviu atentamente. Sorrindo com os olhos, ILUSTRAÇÃO: FELIPE MELO disse: “Então estuda, meu filho!”

Dias depois, cheguei na escola e ouvi minha professora de física dizer sobre uma tal de iniciação científica. Só podia ser providência divina. Alguns alunos seriam selecionados como bolsistas de um projeto dentro da UFU. Meus olhos brilharam. Estava acostumado somente a observar de longe a universidade enquanto passava, vez ou outra, de ônibus em sua frente. E, da janela do coletivo, eu imaginava as coisas legais que teriam atrás daquelas grades. Pra ser sincero, eu me imaginava mesmo era rolando naquele enorme gramado da entrada principal se um dia fosse aprovado no processo seletivo. Por ter sido um dos felizardos com a bolsa, foi a primeira vez que descobri que nós poderíamos, ao menos, atravessar os portões e entrar na universidade. Entrar, mesmo que não fosse como graduando, ao menos como um cidadão qualquer. Admirar os institutos, os estudantes e, o mais legal para um adolescente de 15 anos, curtir um enorme balanço que tinha atrás do bloco E. Anos depois, me tornei o primeiro de minha família a ingressar no ensino superior público. E, a UFU, outrora apenas contemplada por aquele rostinho colado no vidro do ônibus, se tornou parte fundamental de minha vida. Quem poderia imaginar que a porta aberta por aquela IC renderia tanta história. 

Reitor Valder Steffen Jr. - Diretora da Faced Geovana Ferreira Melo - Coordenador do Curso de Jornalismo Vinicius Dorne - Professores Gerson de Sousa, Nuno Manna, Raquel Timponi, Reinaldo Maximiano - Jornalista Responsável Reinaldo Maximiano Mtb 06489 - Editoras-Chefe Beatriz Evaristo, Gabriela Cristina, Ítana Santos - Revisão Gabriela Petusk - Editores e Diagramadores: Gabriela Cristina, Ítana Santos (Capa), Beatriz Evaristo, Gabriela Cristina, Ítana Santos (Editorial/Opinião), Gabriela Carvalho, Gustavo Medrado (Políticas), Beatriz Evaristo, Lígia Cypriano, Gabriela Cristina (Economia), Bárbara Jannini, Ítana Santos (Saúde), Milena Félix (Especial), Laura Fontoura, Túlio Daniel (Cotidiano e Comportamento), João Marcelo Pozatti, Luan Borges (Tecnologia), Lucas Figueira, Luciano Vieira (Esportes), Allana Luiza, Guilherme Amaral (Cultura e Culinária), Kamila Cristina, Lorena Artemis (p. 12) - Foto de capa Vitor Bueno Finalização Daniele Buiatti e Ricardo Ferreira de Carvalho - Tiragem 1000 exemplares - Impressão Imprensa Universitária - Gráfica UFU - www.sensoincomum.net

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POLÍTICAS

Câmara Municipal tem apenas 4 vereadoras Falta de representatividade de minorias na política incentiva projetos na região de Uberlândia GABRIEL SOUZA E JUAN MADEIRA

"É preciso que as mulheres acreditem nas mulheres, é preciso que a gente diga pra cada menina que ela pode ocupar espaços de poder", afirma a professora do curso de História e ativista, Jorgetânia Ferreira, sobre a pouca representatividade feminina na política. Na Câmara Municipal de Uberlândia, por exemplo, de 27 das cadeiras, apenas quatro são ocupadas por mulheres. Para tentar inverter esse quadro, foi criado, em 2019, o projeto Minas Mulher, que tem o objetivo de oferecer ações educativas a mulheres, a fim de proporcionar mais independência a elas. A iniciativa, proposta pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), conta com um grupo de 22 voluntárias e cerca de 200 pessoas beneficiadas. Para a representante da internacionalização do IFTM e criadora do projeto, Juliana Vilela Alves, “a sociedade espera que alguns lugares não

sejam ocupados pelas mulheres ou que elas não saiam de locais que possam ser muito ‘confortáveis’”. EM MINAS Diante dessa realidade, a deputada estadual Andréia de Jesus (PSOL), primeira mulher negra a conquistar uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), fala sobre as dificuldades que enfrenta na política. "Sobreviver e resistir é algo que já fazemos há mais de 500 anos. Nós construímos alternativas para isso, mas a desconstrução dessas narrativas pode ser o grande desafio", observa a deputada. A ALMG é formada por 77 representantes, mas apenas dez mulheres estão inseridas. Quanto a isso, Andréia, mãe e ex-doméstica, complementa: “há um espaço elitizado do parlamento que não mudou muito e também há novas narrativas do

conservadorismo". A professora Jorgetânia Ferreira também é responsável pelo Núcleo de Estudos de Gênero (NEGUEM), sediado na UFU e criado em 1992. O grupo tem o intuito de discutir as diferenças entre gêneros e levar essa discussão à frente, tendo em vista a maior representatividade das mulheres nos âmbitos sociais. De acordo com ela, é possível compreender o problema da representatividade pelo baixo acesso à educação das minorias sociais. A pesquisadora explica que, no Brasil, a escola é historicamente um lugar para homens, brancos e ricos. “Se formos pensar nas pessoas que são maioria numérica, mas minoria social, (mulheres, negros, LGBTQI+) que estiveram fora da escolarização, vamos perceber que a história valoriza os homens, os brancos, os heróis, deixando de fora trajetórias, experiências variadas da maioria da população", conclui. 

Curiosidade gera transformação no ensino Iniciação Cientifíca amplia perspectivas para estudantes de escola pública EMERSON SOARES

Quatrocentos reais alimentam curiosidades. Este é o valor destinado a cada bolsa de Iniciação Científica (IC). O investimento é o que inicialmente incita estudantes, dentro ou fora dos muros universitários, a descobrirem a pesquisa. Depois, este cenário se transforma em perspectiva. É o que acontece com estudantes do ensino médio. Com as bolsas de IC Júnior, os estudantes pesquisam por um ano. Além da estrutura científica exigida para a aprovação do projeto (incluindo título, introdução, metodologia e outros aspectos), a instituição emite um certificado para o estudante após seis meses de pesquisa. Em fevereiro de 2019, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) comunicou, que o repasse de verbas para novas bolsas de IC seria interrompido. No mês de outubro, parte das verbas congeladas das instituições federais foram desbloqueadas pelo Ministério da Educação. Ainda assim, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) enfrentará dificuldades nos repasses de novas bolsas, dado que as verbas são destinadas a cobrir as despesas básicas da Universidade. Apesar do ce-

nário, a dificuldade de repasses não é de agora. Segundo o Diretor de Pesquisa da universidade, Kleber Del-Claro, a Fapemig lida com esses impasses no encaminhamento de verbas desde 2016. A principal consequência desta situação é Uberlândia deixar de produzir potencialidades nos meios acadêmicos e científicos. Para DelClaro, por intermédio das ICs, as universidades oferecem novas possibilidades de vida. Com a pesquisa, secundaristas “sentem que a universidade não é só para a elite, a universidade é para mim também”, ele afirma. A estudante de 15 anos da Escola Estadual Ignácio Paes Lemes, Moara Anatóly Alves, soube da IC por meio de uma professora. Alves pesquisa a relação da Literatura com as percepções sociais da mulher nos séculos XIX e XX. Para a estudante, curiosidade e o incentivo financeiro se retroalimentam, e o mais triste do cenário de cortes é que a “curiosidade vai por água abaixo”. A curiosidade se torna, também, um passaporte dos alunos de periferias para o universo acadêmico. Para Eugênia Pires, professora de Física na Escola Estadual Parque do São Jorge,

a pesquisa abre portas para um mundo até então desconhecido. Segundo ela, o interessante da descoberta da universidade e da IC é “perceber o ir além”. Mesmo diante de um horizonte de perdas, a UFU ecoa exemplos como o de Moara. Com a pesquisa, ela segue estimulando novos interesses: “De qualquer forma você vai tentar passar seu aprendizado para frente, e isso desperta a curiosidade de outras pessoas". 

AS IC'S ESTREITAM A RELAÇÃO DOS SECUNDARISTAS COM A UNIVERSIDADE. FOTO: KAMILA CRISTINA

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ECONOMIA

Corte de verba do governo afeta comunidade UFU Além dos alunos, áreas mais afetadas foram limpeza, transporte e segurança JOSIAS RIBEIRO E MATHEUS RABELO

120 FUNCIONÁRIOS DO SETOR DE LIMPEZA DA UFU FORAM DISPENSADOS EM ABRIL . FOTO: ANNA JÚLIA LOPES

Apesar da recente liberação do Ministério da Educação (MEC) de R$ 1,1 bilhão para as universidades e institutos federais, anunciada no dia 18 de outubro para atender o orçamento discricionário, como água e luz, a verba não contemplou cortes anteriores, referentes a salários. Nos últimos meses, funcionários terceirizados e alunos foram prejudicados e ainda encontram-se sem bolsas e empregos. “Vim de Pernambuco justamente à procura de serviço, porque lá não tem emprego. Faz três anos e cinco meses que eu estou na empresa. Quando descobri [a demissão] foi um baque pra mim”, desabafa Marilene Crispin. Ela é uma dos 120 funcionários do setor de serviço de limpeza de todos os campi da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) dispensados, após a execução do corte de verbas de 30% nas universidades pelo governo federal, no último dia 30 de abril. A informação foi divulgada via relatório enviado pelo Departamento de Logística da UFU à equipe de reportagem do Senso Incomum. Casada e mãe de três filhos estudantes, a exfuncionária do Arq Serviços - companhia de limpeza e conservação, com trabalhos de mão de obra especializada, portaria e jardinagem - relata como o corte afetou e trouxe incertezas para o futuro. Crispin assume que foi um ‘choque duplo’ receber a notícia, pois a irmã também foi demitida. Em

tom de desabafo, ela diz que a situação ficará ainda mais difícil, pois não voltará para a sua cidade devido à falta de serviço, além dos filhos. Os custos de vida são altos para a sua renda, visto que paga aluguel. “Seja o que Deus quiser, né?”. De acordo com ela, uma das justificativas dadas pela empresa foi que a UFU realizou cortes, devido ao contingenciamento feito pelo Ministério da Educação (MEC). Apesar de o Arq Serviços se negar a cortar 30%, segundo Crispin, houve uma seleção de pessoas: “Só de quem conheço, foram mais de 20 demitidos”. Em nota divulgada no dia 06 de maio pelo portal Comunica UFU, o reitor da instituição, Valder Steffen Júnior, apresentou os primeiros pontos atingidos pelo corte: “Serviços de apoio, como vigilância, limpeza, recepção, transporte e reformas sofrerão sério impacto. Isso significa que as consequências devem atingir também a empresas prestadoras de serviços especializados à nossa instituição”. Para a ex-funcionária, a possibilidade da universidade se manter durante os próximos anos é questionável. “A UFU precisa de muitos [funcionários] para se manter. São muitos blocos, muita sujeira nas salas de aula. Os trabalhadores que ficaram não conseguirão conservar a limpeza”, enfatiza.

Com a redução, os transportes intercampi diminuíram. Por causa da demissão de 16 funcionários, a quilometragem das viagens e idas a congressos e eventos acadêmicos foram limitadas. Cerca de 70% dos alunos deixaram de ser atendidos pelo intercampi, como o caso do estudante de Medicina, Júnior Rodrigues, de 20 anos. “Com a redução dos intercampi, comecei a utilizar os ônibus coletivos normais. [Isso] significa, para mim, maior custo financeiro e mais tempo ‘gasto’ com o transporte até a faculdade”. Ele ainda conta que seu rendimento acadêmico foi prejudicado, diminuindo o tempo de sono por causa da necessidade de pegar ônibus de manhã. ENTENDA O CONTEXTO A Lei Orçamentária Anual (LOA) determina em quais ramos os orçamentos das universidades serão direcionados. Um dos ramos que possue verbas obrigatórias corresponde ao de Pessoal e Encargos Sociais (PES). Só essa seção consome 82% do valor que é repassado à instituição. No ano de 2019, a UFU recebeu um orçamento de R$ 1,07 bilhões. O PES consome R$ 924 milhões, restando R$ 147 milhões para outros recursos. Os indivíduos incluídos na folha de pagamento do PES são os professores e demais membros das diretorias, aposentados e gastos previdenciários. O restante do dinheiro é destinado aos recursos administrados pela UFU, que estão relacionados à manutenção e investimento em obras e novos equipamentos. Nessa seção ocorreu o corte pelo MEC. 

ALUNOS AFETADOS O corte também afeta diretamente os alunos carentes que necessitam de bolsas e auxílio, o que foi reforçado pela fala do reitor: “Caso os cortes atinjam a assistência estudantil, as consequências de caráter social sobre nossos estudantes com vulnerabilidade econômica são tremendas, impedindo-os de prosseguirem seus estudos.”

UFU se posiciona em relação ao "Future-se" Programa propõe incentivar captação de recursos privados para manter as Universidades JACKELINE FREITAS “Propostas que não apenas têm a menor possibilidade de substituição dos recursos que desapareceram do orçamento anual, como implicam em grave risco para o patrimônio na universidade, caso venha a ser atingida pela cotidiana oscilação desse mercado”. O trecho, extraído da carta lida na audiência pública, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no dia 27 agosto, sobre o projeto do Ministério da Educação, “Future-se”, traz a análise do professor e doutor na área de Ciências Econômicas, José Rubens. Falas como a do docente demonstram preocupação da UFU quanto à proposta da entrada das organizações sociais (OS) como financiadoras de ações administrativas, gestão financeira, patrimonial e didático-científica. A iniciativa isenta o papel do governo como investidor das Instituições Federais de Ensino e converte essa responsabilidade para a função de

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cotista dos orçamentos adquiridos com as empresas privadas. Além disso, altera projetos de leis e retira a autonomia das faculdades. Um dos incômodos citados por todos, durante a audiência, foi a falta de participação interna das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) na resolução do projeto, o que releva desconhecimento do público sobre como as instituições se organizam. Os eixos apresentados na proposta já são pensados dentro das universidades. Instituições como a Fundação de Apoio ao Universitário (FAU) demonstram que a relação público-privado já existe. A FAU é uma organização privada que se relaciona com pesquisas, projetos e eventos universitários, de forma a gerir a relação patrocinador e discente-docente. Já em uma posição dissonante da ideia de incentivos privados, no dia 16 de outubro, no even-

to “Café com DCE”, o professor do Instituto de Ciências Sociais, Leonardo Barbosa, apresentou as falhas do "Future-se" enquanto projeto de lei e adiantou que, com tantas lacunas na estrutura e com os problemas internos de relações do governo, a aceitação do projeto é pouco provável e será tardia. O Diário de Uberlândia, no ano passado, divulgou que a UFU ocupou o 4° lugar em produção de pesquisa no Estado de Minas Gerais, em estudo que considera dados de 2014 a 2018. O Núcleo de Inovação e Avaliação Tecnológica em Saúde (NIATS), financiado pelo CNPq, CAPES e pela Fapemig, com pesquisa de referência sobre a doença de Parkinson, também foi alvo de cortes nos gastos públicos e um dos prejudicados. A UFU, assim como mais de 40 universidades do país, já se manifestou oficialmente contrária ao projeto desde o dia 13 de setembro. 


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SAÚDE

Por trás do milagre da vida Casos de violência durante o parto ainda são realidade nos hospitais LORENA SANCHES E SOPHIA ASSUNÇÃO

No atendimento do posto de saúde, deram remédio “para dilatar mais”. Ela, com dores muito fortes, ouviu do médico que não aguentaria passar pela dor e que estava fugindo do parto normal. Depois de cinco horas, encaminharam-na para o Hospital uberlandense São Francisco. As fortes luzes brancas e o cheiro hospitalar conduziram-na para o corredor em direção à sala de parto, por volta das 17h. "Eu só pensava que ia morrer ali, porque a forma que eles me trataram foi como se eu não fosse ninguém". Essa é a descrição que Polyana de Assis faz do momento em que deu luz ao segundo filho, em 2009, na época com 21 anos. Parte das mulheres que sofrem esse tipo de violência não se reconhece como vítima, acreditando que os abusos fazem parte dos procedimentos. Para a ginecologista do Hospital de Clínicas de Uberlândia/UFU, Camila Toffoli, “muitas vezes as informações sobre os Direitos das Mulheres no parto não são abordadas de forma ampla no prénatal”. Segundo ela, isso se deve à falta de preparação ou urgência em outros assuntos, como saúde da mãe e bebê. Em março de 2009, Polyana, grávida de 38 semanas, vai em direção ao hospital. Colocam-na sentada numa cadeira de plástico à espera da cesárea - sozinha, porque acompanhantes não são permitidos. Enquanto espera sua vez, ela vê uma mulher saindo da sala em cima de uma maca, em

prantos, enquanto o médico grita: “A próxima!”. Para Polyana, que recebeu um tratamento desrespeitoso durante o nascimento do filho, a sequela deixada foi o trauma das salas cirúrgicas: “Só fui entender que era uma vítima de violência obstétrica seis anos depois, quando engravidei e tive ataques de pânico ao pensar no parto. Então consultei um psicólogo que me ajudou a entender e melhorar”, conta. Em Uberlândia, existem políticas públicas de apoio à saúde da gestante. A Secretaria Municipal de Saúde desenvolve, desde 2011, o Projeto de Estímulo ao Parto Normal (Pepan), que propõe a participação da gestante em todas as etapas do processo. Além disso, a lei 12.314, de Uberlândia, afirma que doulas e acompanhantes podem permanecer nos hospitais públicos e privados, casas de parto e maternidades. A lei 23.175, vigorada em Minas Gerais desde 2018, garante o atendimento humanizado à gestante, à parturiente e à mulher em situação de abortamento. Porém, nos processos judiciais, segundo a advogada Júlia Palmares, pesquisadora na área de violência obstétrica e maternidade no cárcere, esses casos são usualmente tratados como erro médico. Para Camila Toffoli, é preciso inserir a pauta de saúde materna e violência obstétrica nas grades de Medicina, para maior conscientização da comunidade médica. Segundo ela, o parto humani-

O MÉTODO DA DANÇA ESTREITA LAÇOS ENTRE MÃE E FILHO. FOTO: LORENA SANCHES

zado “visa o bem-estar e melhor experiência da mãe e do bebê”. Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no curso de Medicina, há um módulo específico sobre saúde obstétrica. No entanto, essa modificação curricular é recente, notando-se uma defasagem quando o assunto é tratado no setor. 

"Fiquei em isolamento durante 10 dias" Jovem relata o contágio por sarampo e especialistas destacam a importância da vacinação BRUNA SOUSA E ENRICO ZIOTTI

“Fui à UAI Pampulha e me passaram um remédio para alergia. Mesmo assim, os sintomas pioraram. As pessoas à minha volta suspeitaram que era sarampo, por eu ter feito uma viagem a São Paulo”, relata a estudante Lara* (de 23 anos). A estudante da UFU, que faz estágio na própria instituição, acredita que contraiu o vírus durante as férias em São Paulo. Lara*, que já se recuperou da doença, revela as dificuldades que enfrentou: “tive que ficar em isolamento durante 10 dias. Não podia sair de casa, nem falar com ninguém e usando máscaras o tempo todo”. A infectologista e professora do curso de Medicina da UFU, Leticia de Melo, explica que a vacinação é uma preparação laboratorial que contém o vírus inativo. O objetivo da substância é induzir o indivíduo a produzir proteínas de defesa do organismo. A Secretaria de Saúde ainda frisa que algumas pessoas, mesmo após a vacina, não ficam totalmente imunes. Apenas 5% dos vacinados não produzem anticorpos suficientes para imunização. O combate a doenças como o sarampo enfrenta hoje um desafio que vem crescendo mundialmente: o movimento antivacinas. Recentemente, ele foi incluído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como os dez maiores riscos à saúde global. De acordo com a organização, os movimentos antivacinas são perigosos porque ameaçam reverter o progresso alcançado no combate à doença evitáveis por vacinação.

A enfermeira do Programa Saúde da Família, Renata Oliveira, comenta que “a incidência do sarampo veio de outro estado que não imunizava. Aqui em Uberlândia temos uma cobertura baixa de vacinação, apesar de ser rara a falta da vacina.” A imunização para o sarampo e outras doenças é ofertada gratuitamente pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Atendimento Integrado (UAI). O não comprometimento do cidadão com a saúde pública atinge, de maneira negativa, toda a população, tal como aconteceu com Lara*, que tomou suas doses da vacina e, mesmo assim,

“A VACINAÇÃO É UMA PREPARAÇÃO LABORATORIAL QUE CONTÉM O VÍRUS INATIVO”. FOTO: BETINA SCARAMUSSA

contraiu o sarampo, por falta do envolvimento social com a vacinação. O Diretor de Qualidade de Vida dos Estudantes, Claudio Gomes, esclarece que a Universidade sempre faz campanhas de vacinação no começo de cada semestre como forma de conscientização para os estudantes. Porém, não cobra a carteirinha de vacinação dos discentes no ato da matrícula, como acontece em outras instituições públicas e empresas. A infectologista Leticia Mota explica: “entendo que a UFU cobrando o cartão vacinal dos alunos e sua regularização será muito benéfico como mais uma ferramenta de prevenção e segurança até dentro da universidade, mas reforço que este é um dever de qualquer cidadão independente de ser universitário ou não”. Os índices de Sarampo no país haviam sido erradicados no Brasil em 2001. Em 2016, recebemos o certificado da eliminação, assim como da rubéola, pelo Opas (Organização Panamericana de Saúde). No último semestre, Uberlândia teve 489 suspeitas da doença e, entre elas, dez casos já foram confirmados. O desinteresse pela vacinação trouxe à tona a epidemia, como aponta a enfermeira Oliveira: “as pessoas não estão se preocupando em vacinar. Sempre houve a oferta de vacinas em Uberlândia e região. A falta da vacina não é um problema das unidades, as pessoas que não estão indo atrás”.  *nome alterado a pedido da entrevistada

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ESPECIAL

Desmatamento e queimadas afetam clima no cerrado mineiro HENRIQUE RODRIGUES

A tensão internacional que surgiu no Brasil nos últimos meses fez com que os olhares do mundo se voltassem para o clima. As queimadas que se alastraram na Amazônia, acompanhadas do crescente índice de desmatamento, têm provocado alterações climáticas em todo o país e revelaram um descomprometimento político com o combate ao aquecimento global. Na cidade de Uberlândia, as alterações no clima têm provocado chuvas desreguladas, aumento da temperatura e umidade do ar em estágio crítico, o que pode ser justificado pela alta emissão de gases poluentes. Em 2018, o dia mais quente de Uberlândia, 24 de setembro, foi na primavera, e registrou temperatura de 35,1° e umidade relativa do ar com mínima de 15%. Já em 2019, esse dia se passou no inverno, 11 de setembro, com a umidade relativa do ar mais baixa, de 11% e com os termômetros marcando 35,7°, segundo dados registrados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Ainda que as pesquisas apontem que as causas das variações climáticas sejam as ações humanas, a política e a economia no Brasil e no mundo tendem a negar essa responsabilidade. O aquecimento global e os seus efeitos foram alvos de contestação pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante viagem à Berlim, no início do mês de outubro, quando questionou a

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parcela de contribuição humana nesse fenômeno. Esse comportamento leva à perda de credibilidade da pesquisa, além de contribuir para que não sejam colocadas em prática medidas necessárias na reversão dos danos das ações humanas à natureza. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é responsável na região por realizar pesquisas que investigam o clima. A instituição conta com um setor que realiza, regularmente, o acompanhamento meteorológico da cidade e arredores - o Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos (LCRH). O propósito do LCRH é compilar as informações coletadas e torná-las mais acessíveis à população. O colaborador do LCRH, Eduardo Petrucci, explica que o desequilíbrio das chuvas, por exemplo, é um grave problema. “Percebemos que houve uma alteração na concentração de dias com chuva, causando chuvas mais intensas, desastres ambientais, enchentes, destelhamento de casas e até mortes diretas”, revela. Os meses de dezembro a janeiro representam da maior precipitação na cidade e, também, quando se abastecem os reservatórios para passar o período de estiagem. Porém, com essa desregulagem, a quantidade de chuva esperada ao longo dos meses ocorre em poucos dias. Além disso, a seca é outro fator que merece atenção. O agricultor familiar de Uberlândia, José Rubens Laureano, conta como a sua produção tem sido prejudicada. "Parece que a seca piorou bastante. Ela está mais prolongada, mais intensa, as plantas sentem mais e o consumo de água, para quem trabalha com hortaliças, triplica”. Laureano alega perceber sinais de desmatamento no entorno de sua plantação. “Com o desmatamento, a gente sente maior intensidade de calor, de vento e desequilíbrio na frequência de chuva, afetando diretamente a nossa produção", afirma o adepto da prática agroflorestal. O d o u to r a n d o e m G e o g r a fi a , c o m ê n f a s e e m climatologia e recursos hídricos, Samuel Alves, a p o n t a q u e o a u m e n to d a s te m p e r a t u r a s , p o r sua vez, pode estar relacionado às queimadas,


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Laboratório de climatologia da UFU acompanha as mudanças climáticas na região, apesar de corte em investimentos

CLIMATOLOGIA

j á q u e l i b e ra m g a s e s e p a r t í c u l a s e m s u s p e n s ã o no ar e transformam a cobertura vegetal do sol o . “ C a s o o s o l o s e j a u t i l i z a d o p a ra a p l a nt a ç ã o de cana, como ocorre em massa na região de Uberlândia, o balanço de radiação irá ser alterado e as temperaturas irão subir”, explica o pesquisador. Mesmo que algumas queimadas ocorram de forma natural, há ocorrências provocadas com objetivo econômico, como a criação de pastos bovinos, por exemplo. De acordo com os principais jornais locais, o Corpo de Bombeiros da cidade registrou um aumento no número de incêndios no primeiro quadrimestre do ano, em relação aos anos de 2017 e 2018. Até abril deste ano, foram registradas 127 queimadas na cidade. Diante do aumento do período de estiagem em Uberlândia, e a consequente baixa umidade do ar, doenças crônicas, se agravaram na população. A médica da UAI Pampulha, Izabela Porto Ferreira, comenta sobre o cenário: "Os casos de asma se exacerbaram e os sintomas agudos ficaram mais frequentes. Também notamos um aumento da incidência de pneumonia nos pacientes, o que é um processo grave”. Sobre doenças consequentes da variação climática, Ferreira completa: “Não percebemos somente problemas respiratórios, como também vemos muita conjuntivite causada pelo tempo seco, principalmente alérgica”. Os problemas respiratórios, como asma, bronquite, rinite e sinusite, tendem a piorar nos meses mais secos da região. No entanto, as mudanças climáticas provocaram a redução dos dias de chuva, impossibilitando o aumento da umidade do ar e a dispersão da poluição, gerada pela queima de combustíveis fósseis. Neste contexto climático, Eduardo Petrucci, do LCRH, afirma que é necessário desenvolver mais pesquisas. “Não podemos falar que há mudança no clima de Uberlândia sem estudos a longo prazo. Porém, no último quinquênio, entre 2010 e 2015, observamos a concentração dos maiores extremos de temperatura em Uberlândia, representando uma alteração no padrão do comportamento das variáveis”.

O LCRH coleta os dados da Estação Meteorológica do Inmet, localizada no campus Santa Mônica, e trabalha as estatísticas. Anomalias, comparações anuais de variações dos ventos, das chuvas e das temperaturas da cidade são disponibilizadas em forma de mapas e gráficos no portal. O trabalho realizado no estudo das variáveis climáticas pode auxiliar na proposição de políticas públicas para o uso consciente dos recursos naturais e para a prevenção de doenças. Esse estudo é também fundamental para a manutenção de serviços básicos para a comunidade, como a aviação e a agricultura, além de afetar a qualidade de vida dos habitantes. Petrucci revela que, apesar da importância das pesquisas e levantamentos do laboratório para a sociedade, os cortes de orçamento, impostos pelo governo federal no início do ano e desfeitos recentemente, colocaram em risco a manutenção dos trabalhos. “Um aluno não se mantém no laboratório sem bolsa. Nós temos contas a pagar. Então, muitos deixaram de vir, para buscar um trabalho remunerado”, descreve o bolsista de doutorado pela CAPES. Embora o trabalho desenvolvido pela UFU seja indispensável para compreender as mudanças climáticas e seus impactos no cotidiano, essa medida de contingenciamento revela descaso com a pesquisa e gera preocupação, visto que, se interrompido, a ausência desse serviço causará prejuízos para a cidade.

RIQUEZA AMEAÇADA O Cerrado possui grande biodiversidade e potencial aquífero, uma vez que concentra as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata). Contudo, é o bioma com a menor porcentagem de áreas sobre proteção integral do país, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente.

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Senso nº46 Nov/2019

COTIDIANO

Tão perto e tão longe

Separados apenas por uma rodovia, moradores do Glória ainda vivem distantes da UFU LAURENCE RIBEIRO

CRIAR PROJETOS DE EXTENSÃO PODE SER UM CAMINHO PARA APROXIMAR A UFU DA COMUNIDADE. FOTO: LAURENCE RIBEIRO

“Será que algum dia eu vou conseguir estudar na UFU?”. Essa foi a pergunta que a dona Mineia Nunes de Souza Carvalho ouviu de uma das filhas. Milena Nunes tem 14 anos e, apesar da pouca idade, já sonha como uma pessoa adulta. A estudante está no 9º ano do Ensino Fundamental e quer ser médica. “Eu sempre olho para a faculdade e me imagino no curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia”, acrescenta a adolescente. Um sonho que parece distante para milhares de famílias que vivem no bairro Elisson Prieto, popularmente conhecido como Glória, em Uberlândia (MG). As ruas de terra e falta de saneamento básico são apenas alguns dos problemas enfrentados

pelos 15 mil moradores do bairro. Apesar de estar a menos de 60 metros de distância do campus Glória, a comunidade não se considera parte da universidade. “Nós esperávamos que a universidade pudesse estar mais perto das nossas famílias. A UFU tem vários cursos que podem contribuir para melhorar a qualidade dos moradores. Os alunos da Engenharia Civil e Arquitetura, por exemplo, poderiam nos auxiliar na construção das casas. Da mesma forma, os estudantes de Medicina, que poderiam vir estagiar aqui no bairro, ajudando na prevenção de doenças”, afirma Mineia. Segundo o advogado da Pastoral da Terra de Uberlândia, Igino Marcos da Mata de Oliveira, a

luta dos moradores do bairro Elisson Prieto começou em 2012, quando a área, que pertencia à UFU e não era utilizada pela instituição, foi ocupada por famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “A ideia era que os filhos dos sem tetos virassem estudantes da universidade. Mas, até hoje, a relação do bairro com o campus ainda é distante, mesmo estando tão perto um do outro”, avalia Oliveira. Para o representante da Pastoral da Terra, a solução para aproximar a UFU da comunidade seria a criação de projetos de extensão, principalmente, das áreas de educação e saúde. “O trabalhador assalariado não tem condições de pagar um tratamento dentário, por isso, a universidade pode desenvolver um projeto para cuidar dos dentes das crianças e também dos adultos. A universidade tem muito a integrar”, acrescenta o advogado. Apesar desse distanciamento entre a academia e a comunidade, uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que cresceu o número de mulheres e estudantes de baixa renda nas universidades federais. O levantamento foi realizado em 65 instituições de ensino e ouviu 424.128 alunos. De acordo com a pesquisa, as mulheres são maiorias nessas instituições, representando 54,6% das matrículas. Outro indicativo positivo é a presença de estudantes de baixa renda no Ensino Superior. Mais de 70% dos universitários vivem com uma renda per capita de menos de dois salários mínimos. Na UFU, dos 26.656 estudantes matriculados, 64,4% vivem com até um salário mínimo e meio por mês. 

Para não pagar passagem Embarques clandestinos em ônibus provocam prejuízos para empresas e cidadãos LYEGE EVANGELISTA

Os embarques clandestinos na frota coletiva de Uberlândia são algo rotineiro, principalmente em vias muito movimentadas, como ocorre nas estações da Avenida João Naves de Ávila e da Avenida Segismundo Pereira, em frente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Esses embarques consistem em adentrar nas estações ou nos ônibus sem efetuar o pagamento da tarifa, que atualmente é de R$ 2,15 para estudantes e R$ 4,30 para os demais usuários. De acordo com informações da assessoria da Polícia Militar, repassadas pelo cabo Tadeu Henrique Alves (43 anos), as estações próximas da UFU e a praça Tubal Vilela são os locais com maiores índices desta infração. Com isso, a polícia começou a atuar em conjunto com as empresas de transportes coletivos em operações para coibir estes atos de adentrar clandestinamente em coletivos, com o objetivo de capturar e punir legalmente os infratores. Em nota, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran), afirma que as leis municipais intensificaram as ações de monitoramento nas estações, além de orientar os usuários sobre a importância do embarque correto nestes, uma vez que utilizar-se do meio de transporte sem efetuar o devido pagamento é uma infração sujeita a penalidades, que variam entre 15 dias a 3 meses de detenção. Esther (62 anos)*; trabalhadora de uma das estações próximas a UFU, afirma que o aumento da passagem pode estar entre um dos motivos dos

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SETTRAN INTENSIFICA AÇÕES DE MONITORAMENTO PARA ORIENTAR O EMBARQUE CORRETO. FOTO: JOSIAS RIBEIRO

embarques. De acordo com ela, todos os dias pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais entram sem pagar, esperando do lado de fora e adentrando direto nos ônibus, já que entrar pelas estações se torna mais difícil devido ao mecanismo das portas e às câmeras de monitoramento. Assim, uma das medidas que podem ser tomadas pelas funcionárias é pedir para que os infratores se retirem antes de acionarem a polícia. O professor adjunto em Antropologia no Instituto de Ciências Sociais e coordenador do curso de graduação em Ciências Sociais da UFU, Luciano Barbosa (40 anos), explica que um dos caminhos para se compreender estes atos infracionais é que alguns sujeitos não concordam ou desconhecem a validade de algumas normas da sociedade. Segundo ele, é difícil julgar moralmente, pois passamos por situações em que nos deparamos com dilemas que são colocados e embora reconheça-se a regra, algumas são pessoalmente mais importantes. “De fato, as pessoas estão simplesmente cometendo esses delitos porque não reconhecem a validade numa determinada circunstância, como não pagar a tarifa de 4 reais”, afirma o antropólogo. Ainda segundo o especialista, não se pode falar com precisão sobre o que leva um indivíduo a cometer pequenos delitos diários, tendo em vista que vários fatores de personalidade e normatização acabam por influenciar nas decisões individuais de cada um.  *nome alterado a pedido do entrevistado


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TECNOLOGIA

Os desafios do ensino com as novas tecnologias Pesquisa mostra que adolescentes não consideram a escola um ambiente digital BETINA SCARAMUSSA

“Abram o documento no drive e vamos ler como ficou a produção”. Dessa maneira, a professora de português, Gyzely Lima, começa uma de suas aulas. A educadora do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), em Uberlândia, demonstra como o crescimento acelerado das mídias digitais tem contribuído para a adesão das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. “Eles conhecem a tecnologia, mas não sabem usar isso de forma engajada. O letramento prevê a consciência do uso para um princípio crítico”, afirma a docente. Apesar das facilidades que os recursos tecnológicos trazem ao cotidiano, as crianças e adolescentes não atrelam as mídias digitais à sala de aula e, preferencialmente, usam as redes sociais online. Segundo consta a pesquisa realizada pelo Senso Incomum, aplicada em 100 alunos na Escola de Educação Básica (Eseba), associada à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ainda que o uso do celular seja permitido para fins acadêmicos e a escola tenha sala de computadores, 55% dos alunos não consideram o local um ambiente tecnológico. Contudo, o diretor da Eseba, André Luiz Sabino, diz que, apesar da escola ter salas equipadas, laboratório de informática e internet, o uso das mídias digitais deve estar a serviço da construção

ALUNOS DESVINCULAM SALA DE COMPUTADORES NA ESCOLA DE UM AMBIENTE TECNOLÓGICO. FOTO: GABRIEL SOUZA

do conhecimento. Sabino reforça que os alunos são nativos digitais. Assim, o ensino educacional deve alterar a perspectiva do estudante ao manusear a internet. “Nos interessa transformar o aluno, para que ele enxergue outras possibilidades de vivências e aprendizados”, analisa. A aderência das novas tecnologias acaba por depender da iniciativa dos professores e, em geral, da escola. De acordo com a historiadora, doutora em Educação e professora na Faculdade de Educação da UFU, Alexia Pádua, a problemáti-

ca é que, ainda hoje, existem docentes resistentes ao uso das novas tecnologias. “O professor precisa mudar essa concepção. Ele pode utilizar a tecnologia para criar metodologias ativas, para que o aluno busque, nas mais diversas fontes, as informações sobre os temas e problemas”, afirma Pádua A estudante da Eseba, Isabella Bernardes, diz que os professores, na maioria das situações, utilizam vídeos e apresentações de slides. Para a aluna, as mídias digitais auxiliam em pesquisas e, ainda, no esclarecimento de dúvidas em tarefas. No entanto, a adolescente destaca as potencialidades das tecnologias. “A internet é repleta de conteúdo e, por mais que existam conteúdos ‘ruins’, também há a presença de material bom para estudo, seja em vídeo aulas, cursos online ou questões". Em setembro de 2018, a pesquisa TIC Educação indicou a capacitação de professores e mudanças na infraestrutura no ambiente pedagógico como desafios para inclusão das novas tecnologias. A pesquisa é realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, e mapeia a apropriação das tecnologias de informação e comunicação nas escolas públicas e privadas de educação básica. 

Histórias nutridas da terra Adeptos da agroecologia defendem um estilo de vida saudável e em harmonia com a natureza LORENA ARTEMIS E KAMILA CRISTINA

“Eu não gosto de chamar de trabalho. O que nho, as formigas atacam”, orienta. eu faço aqui com a minha plantação é um prazer.” Em setembro, Zé e sua esposa, Duda (apelido Assim, José Rubens define a agroecologia, que de Dorcelita de Barros), receberam em suas terpratica desde 2015, no assentamento Lucilene ras o encerramento da Festa das Sementes. Além Mendes - A Carinhosa, zona rural de Uberlândia. dos produtores de subsistência, o evento reuniu “Aprendi esse jeito de plantar com meus pais e agricultores e compradores. “Ah! Aqui em casa meus avós. Eles cultivavam assim, sem veneno ou vieram mais de cem pessoas. Clientes nossos, lá fertilizantes químicos. Mas o nome ‘agroecologia’ da feirinha orgânica, conheceram como plantaaprendi com um grupo da universidade. Eles fo- mos na horta. Aqui, não tem veneno. É tudo natural”, garante Duda. ram ensinando pra gente técnicas novas”, explica. A agroecologia é um modelo de plantio susA primeira edição da Festa das Sementes foi tentável e surgiu em meados dos anos 90, segun- promovida pela Cultiva Agroecologia, uma empredo dados da Associação Mineira de Defesa do sa que ensina práticas agroecológicas para pequenos produtores e, também, pelo Ambiente (AMDA). De lá para cá, se ampliou e trouxe uma visão mais “Você não precisa Grupo Guarás, um núcleo de estudos sobre o mesmo tema. Henrique sustentável e integrada entre áreas ter um hectare Lomônaco, fundador da empresa e de produção e preservação, pasintegrante do grupo, vê a prática sando a resgatar o valor social da agricultura. Uma prática agroecoló- para plantar. No agroecológica útil para toda a sociedade. "É uma questão educativa, gica muito comum é o cultivo e a quintal de casa, social com crianças, idosos, produpreservação de sementes “crioulas” tores e consumidores sobre a quesoriginais, sem nenhum tipo de mo- em uma área de dificação genética. tão ambiental e ecológica”, afirma. quatro por Em conjunto com a agroecologia FEIRINHA SOLIDÁRIA estão as agroflorestas, áreas de quatro, dá pra multicultivo, onde são plantadas várias espécies ao mesmo tempo, cultivar de forma A Feirinha Solidária da UFU é como na roça de Zé Rubens, como uma ação que contribui para a é conhecido. “Eu planto o hortelã orgânica e conscientização sobre os produtos perto do morango. Ele protege a sustentável." agroecológicos e a alimentação saudável. Um espaço destinado ao confruta e ela cresce muito maior e sumo consciente que conta com o mais bonita. Quando ele está sozi- Lomônaco

O CULTIVO FAMÍLIAR SEM AGROTÓXICOS RESGATA VALOR SOCIAL DA AGRICULTURA. FOTO: LORENA ARTEMIS

suporte de um projeto de extensão do curso de Nutrição. Os consumidores recebem informações sobre alimentação saudável, o manuseio correto dos alimentos e, também, o preparo de receitas especiais, com diversos tipos de hortaliças, legumes e frutas. É o caso da consumidora Amália Corleone, que não abre mão de uma alimentação correta. “Eu tenho costume de comprar sempre que consigo vir na feira. Como são dias restritos, pela rotina nem sempre dá, mas eu dou preferência para os produtos orgânicos”, afirma. Para além desses ganhos, quem reconhece a importância de uma boa alimentação é a Dona Zenaide. Aos 56 anos, é uma das agricultoras que vende na feira, além de ser beneficiada com as informações. "Ficávamos doentes, [tínhamos] muita dor de cabeça, gastrite, e síndrome do pânico. Muita coisa provocada através da alimentação incorreta e do veneno que usávamos aqui", constata, ao relembrar de tempos que, felizmente, ficaram no passado. 

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ESPORTE

"O basquete na minha vida é tudo"

Senso nº46 Nov/2019

O ex-treinador Edicarlos Siqueira foi afetado com os cortes nas universidades públicas e hoje sobrevive com “bicos” DANIEL GONZAGA

Edicarlos Machado Siqueira, o Edi, ex-treinador da equipe de basquete da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), é um dos profissionais que foram afetados pelo corte de 30% nas verbas às universidades brasileiras. O profissinal é pai de duas crianças pequenas e, hoje recorre, às atividades autônomas de personal trainer para sustentar a família. A citação que abre esta matéria marcou o início da nossa conversa: "O basquete na minha vida é tudo". Edicarlos Siqueira começou a carreira de atleta, aos 11 anos, pelas escolinhas da Prefeitura de Uberlândia. Até os 20 anos, ele jogou pelo Praia Clube e defendeu a equipe de basquete da UFU, enquanto cursava Educação Física. Nesse período, descobriu o talento para treinar equipes de basquete, uma nova paixão. Durante a graduação, ele foi estagiário da Divisão de Esporte e Lazer Universitário (Diesu), onde foi treinador pela primeira vez. E logo conquistou o Campeonato Mineiro com a equipe de basquete feminino da universidade. Após esse período, Edi fez parte do time de basquete masculino profissional da Universidade do Triângulo (Unitri). Foram cinco anos de trabalho como preparador físico e auxiliar técnico, com um segundo lugar no Novo Basquete Brasil (NBB). Com o fim do projeto, em 2015, recebeu uma proposta para ser responsável pela modalidade na UFU e continuar seu caminho vencedor. Foi campeão mineiro, conquistando quatro títulos consecutivos e três bronzes nos Jogos Universitários Brasileiros. Segundo o treinador, a rotina de treinos e a relação com os atletas sempre foi boa. O problema é a falta de diálogo da instituição com os alunosatletas: “Quando estão em viagens, recebem faltas dos professores e perdem trabalhos, sem o entendimento da instituição de que o esporte é uma prática importante na vida universitária”, explica. Em 2019, por conta do corte de verbas na universidade, a Fundação de Apoio Universitário (FAU) decidiu por encerrar os contratos dos treinadores. Edi decidiu acompanhar as equipes nos Jogos Mineiros e Brasileiros, mesmo não tendo vínculo com a UFU. "Fui viajar, mesmo não tendo nenhum vínculo [empregatício], em respeito aos meninos que sempre abriram mão dos seus processos, dos seus estágios, dos seus trabalhos para treinar, estar junto com o time, e que sempre ‘ralaram’ comigo. Nesse momento que eles mais precisavam de mim, eu não poderia abandonar". Sem patrocínio e ainda sem treinador, os atletas abriram uma vaquinha online para levar Edi aos Jogos Brasileiros, disputados no mês de outubro em Salvador, um apoio para quem não os deixou na mão. "Nesse momento Com duas filhas, uma de um ano e que eles mais onze meses e outra recém-nasciprecisavam de da, o educador físico sonha em mim, eu não vê-las estudando na UFU. Edi espoderia abandonar" pera que este desprestígio da universidade aos olhos do governo seja passageiro, para que possa voltar a trilhar seu caminho vitorioso com o esporte que ama. 

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EQUIPE DE BASQUETE DA UFU: VAQUINHA ON-LINE PARA LEVAR TREINADOR AOS JOGOS BRASILEIROS. FOTO: CAIO COUTINHO

Quem é este Pokémon? Jogo mobile impulsiona integração social e ações solidárias LAURA JUSTINO R LE SO

O aplicativo Pokémon GO tem movimentado o ambiente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Grupos de jogadores se reúnem, conversam entre si e saem para a “caçada”. Lançado em 2016, além de incentivar a atividade física e criar vínculos de amizade, ele possui uma função social para o povo de Uberlândia. O modo cooperativo, denominado de 'reide', é o principal motivador da interação dos jogadores. Nele, as pessoas precisam se encontrar para derrotar um pokémon gerado pelo servidor, afinal, apenas um treinador não tem força suficiente. A interação, além de ajudar dentro do jogo, tem efeito fora dele, pois os grupos de Whatsapp são responsáveis não só por unir os treinadores para jogar, mas também, para socializar e fazer caridade.

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COMUNIDADE Além do aplicativo de conversa, um perfil no Instagram (@pgoudia) informa sobre o jogo e convida participantes para eventos sociais. Ações solidárias conectam a comunidade com demais tribos de Uberlândia. Recentemente, alguns integrantes levaram ao Núcleo Servos Maria de Nazaré quase 400 quilos de alimentos. A instituição, que recebeu as arrecadações dos treinadores de diversos bairros de Uberlândia, atende 40 crianças especiais e 300 crianças em carência de creche. Outro fator positivo para a integração social dos jogadores é que, para se divertir, não há faixa etária. De acordo com o jogador Carlos Rodrigues (51), a comunidade foi receptiva com ele desde o início de sua trajetória do Pokémon: "Ninguém me julga pela idade. Pelo contrário. Conversam [os outros membros do grupo] normalmente comigo

e não mudam o tratamento só porque sou mais velho’’, revela Rodrigues. EVENTOS Com o propósito de batalhar em ginásios virtuais, em toda quarta-feira aglomerados de pessoas se reúnem em três pontos da cidade: a UFU, o Parque do Sabiá e a Praça Tubal Vilela. Lúcia Borges (35), integrante frequente aos encontros, diz que esse modo é ideal para conseguir os melhores pokémons e destaca o incentivo que a comunidade oferece: ‘’Quando tem esse desafio, o pessoal se reúne com mais facilidade por conta dos prêmios. Nesse quesito, a comunidade é comunicativa e compreensível, porque tenta incluir todos’’, explica. Os grupos também realizam sorteios de premiações, que visam incentivar o público a comparecer aos eventos. Entre os prêmios estão artesanatos e cerâmicas relacionadas ao jogo. COMPANHEIRISMO Amizades, como a de Eduardo Nascimento (19) e Ana Moraes (20), surgem constantemente através do jogo. A dupla relata que se conheceu após uma 'reide'. “Depois do evento, começamos a conversar até sobre outros assunto e hoje somos amigos”, comenta Nascimento. Já Rafael Fonseca (21) voltou a jogar recentemente e diz ter reencontrado dois amigos de infância. “Um dos motivos que me fizeram parar de jogar foi a solidão no jogo. Antes não havia grupos. Hoje, a comunidade incentiva encontros”, explica o jogador. O aplicativo também é usado com a meta de aproximar relações entre pessoas que já se conhecem. É o caso de Renato Rezende (45) e seu filho Júnior (14): ‘’Quando soube que iria lançar o Pokémon GO, baixei para mim e para o meu filho. Nós fazemos trilhas de bicicleta e, ao percorrermos a cidade, paramos em ginásios para batalhar e capturar os pokémons pelas ruas’’, revela o pai. Com tantas ações e vínculos criados, Pokémon GO isola a ideia de solidão e, cada vez mais, o estereótipo de que jogos eletrônicos afastam seus jogadores da socialização é deixado para trás. 


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CULTURA

Produtores culturais apostam na cidade Logística, localização e público universitário são os atrativos para espetáculos na região

LEONARDO VASSOLER E MATHEUS BORSATO

cia a presença desses eventos. A primeira edição das Olimpíadas Inter Atléticas (OIA) aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto, em Uberlândia. Organizado pela Atitude Universitária e TIM eventos, tem a finalidade de estabelecer uma relação entre o cenário esportivo universitário e o cultural para a cidade. Entre as atrações do OIA estavam as festas (noturna e arena), que tiveram mais de 30 apresentações musicais. Um dos organizadores, João Dias Silveira Júnior, conhecido como Jota, comenta sobre a importância de órgãos, como a Prefeitura, apoiarem esse tipo de evento. PRIMEIRA EDIÇÃO DO OIA ALCANÇOU A MARCA DE 4.500 PESSOAS “Fazendo com estrutura, planejamento, POR DIA. FOTO: GUILHERME AMARAL. junto ao cenário esportivo e entreteniUberlândia, a segunda maior cidade de Minas mento de qualidade, só traz benefícios para a ciGerais, agrega mais de cinco instituições de ensino dade”, completa. Jota acredita que o estereótipo superior, entre elas, a Universidade Federal de de festas universitárias, no meio dos órgãos púUberlândia (UFU). Os estudantes são influentes e blicos, atrapalha o apoio das ações estudantis. fundamentais para o funcionamento de eventos “Nós provamos que podemos fazer eventos de culturais, como shows, festas, bares e festivais, qualidade”, afirma. movimentando a economia da cidade. FESTIVAIS UNIVERSITÁRIOS Lucas Cordeiro, sócio da Eventaria, umas das O Senso Incomum realizou uma apuração so- empresas responsáveis pela organização do Festival bre a relação dos universitários com os eventos Timbre, conta que o evento começou com o objeticulturais da cidade. Os resultados apontam que vo de valorizar a música independente e dar espaço 89% do público prefere ir, em ordem de para esses artistas ao lado de bandas e cantores já frequência, para bares, shows, festivais e festas conhecidos no cenário nacional. Apesar do forte cenário universitário, Cordeiro quando opta por sair. 95% acredita que influen-

discorda que o município gire em torno disso e afirma que esse polo não influencia na seleção dos artistas. “A escolha é feita por meio de um estudo nas nossas mídias sociais, porque o público pede artistas pelas redes. É um bom termômetro para a organização”, explica. INTERNACIONAIS Além de artistas nacionais, Uberlândia começou a trazer diversas bandas internacionais para região. Carolina Portilho, assessora de imprensa da BConcerts, empresa responsável por trazer artistas como Whitesnake e Simple Plan para a cidade, explica que Uberlândia entra no caminho da música internacional devido à logística. “Isso demanda de várias coisas, a estrutura de hotéis, estrutura de estádio, de parque e alimentação”, justifica. Portilho ainda constata que a presença de shows coloca Uberlândia no circuito nacional, sem ocupar o posto da capital mineira. “A partir do momento que você traz um show e dá certo, vem a visibilidade. Eu acho que não tem essa troca de Belo Horizonte. Esse crescimento no cenário musical se relaciona mais à questão do custo e de estrutura em geral”, esclarece. Apesar de ser uma cidade interiorana, Uberlândia se afirma através da pluralidade de seus eventos culturais. Seus diversos atrativos a transformam em um dos principais polos do estado de Minas Gerais, deixando para trás o estereótipo do interior mineiro.

Além do pão de queijo Santa Mônica e Umuarama contam com uma culinária ampla e acessível ERIC BORGES

A comunidade da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é hoje constituída por mais de 33 mil pessoas e, com isso, a presença de algumas opções gastronômicas nos arredores dos portões da instituição garantem maior comodidade à essa pessoas. Com a falta de tempo ou de disposição, muitos desses alunos optam por se alimentar diariamente em restaurantes. A nutricionista, Zulmária Freitas, afirma que almoçar fora de casa não é o problema, desde que a alimentação seja saudável. “Muitas vezes é necessário comer nesses restaurantes, porém cabe a cada um ‘colocar a mão na consciência’, lembrar de sua saúde, buscar por orientação e fazer as melhores escolhas alimentares”, explica. Os motivos que levam os clientes até os restaurantes variam entre localização, preço, sabor e variedades. Por esse motivo, a equipe de reportagem construiu um guia com os principais restaurantes, localizados próximos aos campi Santa Mônica e Umuarama da Universidade Federal de Uberlândia, com as principais informações que podem ajudar na hora que bater aquela fome. 

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FOTORREPORTAGEM

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DOS CORREDORES: ENTRE A DOR E A ESPERANÇA KAMILA CRISTINA E LORENA ARTEMIS

O Hospital de Clínicas de Uberlândia começou como o hospital-escola do curso de medicina da UFU e tomou grandes proporções realizando centenas de milhares de atendimentos por ano, de média e alta complexidade. Nos seus corredores, histórias caminham pelas circularidades da vida. A morte, com sua presença eminente, é desconfortável, tanto quanto seu cheiro. Mas é nas dúvidas, que exalam autoconhecimento, que descobrimos nossa força. A fé se torna essencial, fonte de esperança. Para uns: o início de uma nova chance, uma nova oportunidade de viver. Para outros: ressignificação da existência. O hospital é o espaço em que todos os dilemas da vida transitam entre presente e futuro.

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