Jup Março 2014

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXVI | Publicação mensal | Distribuição gratuita director Nuno Moniz | chefe de redação Joel Pais director criativo Sergio Alves | directora ilustração Constança Araújo Amador

EDUCAÇÃO/ P 08

MARÇO 2014

FAP… QUEM

Criada em 1989, a Federação Académica do Porto fala hoje por 27 Associações de Estudantes e cerca de 60 mil alunos. Diogo Vasconcelos foi o primeiro presidente. Depois dele, foram já 16 os q ocuparam o cargo. O JUP foi descobrir quem são e onde estão hoje estes dirigentes.

DESTAQUE / P 04-07

SOCIEDADE/ P 12-13


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JUP — MARÇO 2014

EDITORIAL E OPINIÃO

EDITORIAL

Sim, estamos de volta.

Comida Pós-Moderna por Fabiana Lopes Coelho

Há dois anos a crise bateu à porta do Jornal Universitário do Porto. Dois anos depois da última edição impressa, estamos de volta. Foram 730 dias de batalhas, propostas para apoios, contactos e bastantes frustrações. Valeu a pena? Valeu pois. No entanto, uma nota. Embora não tenha visto a luz do dia, o JUP chegou a fazer a edição de Maio de 2012. Era uma edição especial para todas as pessoas envolvidas, e foram muitas mais pessoas: em colaboração com o Mestrado em Ilustração e Animação do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave a edição era toda ilustrada. Deu imenso trabalho, principalmente a quem se dedicou à ilustração das peças, e esse trabalho não foi recompensado, ao serem distribuídas as suas dez mil cópias. O passado lá vai. Diz o Jorge Palma que a gente vai continuar. É verdade, vamos então ao futuro. Neste regresso, marcamos uma nova vida para o JUP: além de quatro edições imprensas, agora podes seguir diariamente a versão online, em juponline.pt Temos noção que não é um passo a ser tomado de ânimo leve. A responsabilidade é maior e precisamos de mais pessoas. Mas tendo como objectivo levar o trabalho produzido na nossa redação ao máximo número de pessoas, é um passo que tem de ser tomado. Peca por tardia, disseram algumas pessoas. Talvez. Será desta, perguntaram outras. É mesmo desta vez. O que assumimos é que este jornal mudará um pouco, principalmente nos seus conteúdos. O tempo entre edições permite-nos ter ambição, pensar um pouco mais alto e ir mais fundo. É essa a proposta. Queremos um jornal para os estudantes do Porto que lhes dê algo que achamos fazer falta. Podemos chamar “caçar histórias”, inspirado na entrevista à Vanessa Ribeiro desta edição. Levantar a poeira, “ir à procura de resgatar memórias”. Dizer algo que não o costumeiro, fazer o que não se conseguiu fazer antes e pensar em novas ideias. Não só na escrita, mas também na fotografia e na ilustração. Este retorno, esta edição, é um primeiro ensaio dessa nova linha. E por isso o nosso destaque de regresso é sobre os 25 anos da Federação Académica do Porto. Não sobre como a actual direção pensa comemorar o feito, aliás isso não seria possível porque o seu Presidente não atendeu ou respondeu a qualquer chamada ou mensagem que o JUP lhe endereçou. A peça é sobre quem é a FAP. Quem são os ex-presidentes, as 16 pessoas que falaram por 60000 estudantes. O que fizeram depois de acabarem os seus mandatos. Que acham dos percursos dos colegas quando olhados em conjunto. As juventudes partidárias têm ou não influência nas suas decisões. Existem conflitos de interesse ou não. Factos e história, foi aquilo que procurámos, e é o nosso destaque. Sobre Educação fomos perguntar a quem está no Conselho Geral da Universidade do Porto qual é o seu propósito. Porque os estudantes ligam pouquíssimo quando chega à hora de eleger os seus representantes? Saberão que as propinas foram aumentadas, há poucos anos atrás, numa votação que deu empate, tendo sido decidida pelo voto de qualidade do seu Presidente? Saberão que a única falta injustificada a essa reunião foi do Luís Rebelo, ex-presidente da FAP? Quantos alunos da Academia do Porto conhecem as ilhas do Porto? É esse o desafio da secção de Sociedade. Falar com as pessoas da Ilha da Bela Vista e conhecer o projecto de reabilitação que está a decorrer, a ver se é desta. Em que Europa vivemos e quais são os seus desafios? Quais são os seus perigos? Falámos com a Professora Teresa Cierco para nos dar algumas indicações e alguma informação sobre o que se passa na Ucrânia, se é de esperar que esta situação se repita com a Moldávia e a Geórgia. A situação actual da Bósnia-Herzegovina, qual é? É esta a vontade deste jornal. Aliás, sejamos justos. Sempre foi. Um espaço crítico, de aprendizagem mútua e que quer aprender. A diferença é que acumulámos dois anos de ideias. Mas agora, sim, estamos de volta. Nuno Moniz

DIRECÇÃO NJAP/JUP

blicas da indústria da saúde não falam dos estudos que afirmam que a maior parte destas doenças pode ser revertida através da alimentação*. Saber que para ser saudável basta comer vegetais frescos, alimentos inteiros e ler os ingredientes das embalagens para evitar os que não conseguimos imaginar no seu estado natural, não é nada fascinante. Nem vende medicamentos. Para todos os efeitos, toda a gente sabe o que deve comer. No entanto, na alimentação pós-moderna, a confusão paira e, para tornar a nossa vida muito mais fácil e deslumbrante, temos os especialistas em nutrição que descobrem coisas sensacionais e explicam o que devemos comer. Temos a indústria alimentar que refaz e publicita os seus produtos de acordo com as novas descobertas. E a comunicação social que tem sempre grandes novidades sobre nutrição e saúde para escrever. Todos ganham, menos quem tem de comer.•

por Sara Moreira

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xistia uma curiosidade genuína, vontade de preencher em conjunto as páginas de um jornal, mas não era só isso. Havia disponibilidade para o encontro – a partilha era palpável – e um certo sentido de urgência – mesmo que as horas já fossem altas – para discutir, investigar, pensar, entrevistar, registar, contar a história. Pelo menos é assim que quero recordá-la, a associação de jornalismo académico do Porto. Claro que havia também por vezes mais do que suficiente predisposição para lançar farpas, arrancar cabelos, dramatizar, escrever actas inflamadas, corruptelas poéticas e outros manifestos ultimatos. Havia um processo de aprendizagem sobre o que é deliberar e informar em conjunto, e deliberar sobre deliberar: meta-discussão do que é ser dono da voz. Saber escutar, argumentar, lidar com as próprias resistências às cedências. Da autonomia, era lição que havia. Em prol da consciência colectiva. Havia um mosaico de histórias que COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

director Nuno Moniz director criativo Sergio Alves chefe de redacção Joel Pais directora de ilustração Constança Araújo Amador direcção de fotografia Luís Coelho e Luísa Silva Gomes

Alexandre Marinho, António Gonçalves, Bárbara Silva, Bernardino Guimarães, Carlos Matos, Catarina Andrade, Catarina Soares, Cristiana Moreira, Diogo Nogueira, Fabiana Coelho, Filipe Coelho, Luís Azevedo, Luís Coelho, Luísa Silva Gomes, Isabel Rodrigues, Joana Costa Machado, Joel Pais, Júlia Ferreira, Margarida Cardoso, Mariana Carvalho, Mónica Moreira, Nuno Moniz, Pedro Maia, Sara Monteiro, Sara Moreira, Sara Pereira e Sofia Araújo

online Joana Gordinho opinião Bárbara Silva e Inês Morais educação Bárbara Silva cultura Mariana Carvalho, Diogo Vital, Margarida Cardoso e Luís Azevedo gadgets Isabel Rodrigues sociedade Gonçalo Marques e Mónica Moreira política Joel Pais e Sara Pereira desporto Pedro Maia e António Gonçalves

acabar com o seu colesterol, é a vitamina B6 dos mini-iogurtes que vão protegê-lo contra todas as gripes e constipações e os sumos recheados de antioxidantes que vão mantê-lo jovem para sempre. Então, aqui vai a pergunta que se torna praticamente inevitável diante das longas prateleiras dos supermercados apinhadas de alimentos processados: Porquê? Bem, vender legumes frescos que apodrecem numa semana, arroz que ganha bicho e pão tosco que ganha bolor rende muito menos dinheiro. Já pensou como é um quilo de batatas pré-fritas congeladas é mais barato do que um vulgar quilo de batatas que nem descascadas estão? É claro que comer alimentos altamente processados, cheios de aditivos químicos e desprovidos da maior parte dos seus nutrientes naturais, aumenta radicalmente a probabilidade de virmos a sofrer de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e cancro, coisa que o material promocional destes alimentos nunca refere, tal como os relações pú-

"Não passa de hoje"

DIRECÇÃO JUP

EDITORES

presidente Dalila Teixeira vice-presidente Cristiana de Barbosa vogal JUP Nuno Moniz vogal galerias Rui Silva publicidade Sandra Mesquita tesoureiro Ricardo Duarte

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omer comida é um dos maiores desafios dos seres humanos do século XXI. Todos os dias, chegam milhares de novos produtos aos supermercados que se esforçam por convencer-nos que são comida, quando realmente são um amontoado de ingredientes altamente processados que a nossa bisavó não faria a mínima ideia do que se trataria. Sulfato de amoníaco, goma xantana e glutamato monossódico são coisas que se comem? Parece que sim. Toda a gente já os trouxe do supermercado, no pão embalado, nos iogurtes gregos ou nas bolachas para bebés. São aditivos químicos usados para intensificar o sabor dos alimentos, conservá-los e dar-lhes cor e aromas apelativos, ou seja, todas as características que um alimento fresco e não tratado tem, naturalmente. Outra característica fora do padrão clássico alimentar é a obsessão pelas propriedades dos alimentos que supostamente vão-resolver-todos-os-problemas-da-sua-vida. São os fitoesteróis do creme vegetal que vão

se compunha feito obra de imprensa. Eram várias as mãos de estudantes que ficavam sujas de tinta. Ombros com contraturas, que improvisar ares de ardina tem o seu quê de corporal quando eram aos milhares os jornais que saíam do forno. Eram tempos de poucos megapixeis, mas havia a vaidade das credenciais de imprensa, das folhas amarelas dos arquivos, das peças de museu centenário, incluindo um valioso espólio fotográfico. E tudo o mais que talvez já não permaneça. No vão de escadas, onde o chão cedia, tomava-nos uma vertigem de asssalto: mãos ao alto, informação é poder. O jornalismo é uma linguagem maldita: serve para moldar a formação da ideia política. Havia independência de partidos. Havia infiltrações nas caleiras, infestações nas traves, intervenções nas águas-furtadas e inaugurações bombásticas. Depois por algum motivo a sede perdeu-se. Mas pediram-me para falar no futuro do jornalismo universitário e dos seus desafios e já gastei mais de meta-

de deste espaço a exercer o direito ao saudosismo que cabe a qualquer cidadão cá da terra. O problema em falar no porvir é que "vivemos o fim do futuro", como se refere o sociólogo polaco Zygmunt Bauman a estes tempos de fragmentação e indignação, numa entrevista à Época brasileira. Pensar para além do fim do futuro é já saber consertar o vazio que ficou de uma qualquer perda de referências políticas, culturais e morais da sociedade. Mudar isso, diz Bauman, “depende da imaginação e da determinação [dos jovens]”, é preciso “resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro”. Havia o dia de fecho, virado para a direcção do futuro que era fazer chegar a obra de imprensa às mãos de toda a gente. Havia a inscrição na parede num recanto suspeito gravada a dourado: “Não passa de hoje”. Não deixes passar, dá mais um trago, começa hoje.•

ilustradores — Catia Vidinhas, Joana Pinto, Sara Cunha, Tiago Lourenço e Tina Siuda

impressão Nave-printer - Indústria Gráfica, S.A. propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitário redacção e administração Praça Coronel Pacheco, nº 08 4050 Porto (Portugal) tlf 00351 910 972 146 e-mail jup@juponline.pt

imagem de capa JUP Sara cunha imagem de capa Parentesis Virgil Apger / Fondation John Kobal - Margaret Hamilton "Le magicien d'Oz (1939) depósito legal nº 23502/88 tiragem 10.000 exemplares design atelier d'alves tipografia Trump Gothic by Canada Type e Mafra by DSType

APOIOS Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto e Instituto Português da Juventude


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OPINIÃO

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A chuva molha mais quando andas ou quando corres?

Lara Pinho | 18 anos Estudante de Medicina ICBAS Manuel Rodrigues | 21 anos Estudante de Criminologia Faculdade de Direito da UP Quando ando. Sei lá. Estás quieto e não consegues fugir dela. Não sei, sei lá. Porque se estiver a andar ela consegue apanhar-me. Se for a correr escapo pelo meio, desvio-me e ela não me vê e assim consigo fugir. •

Quando ando, porque é mais lento, logo o impacto é maior. Como demoramos mais tempo também há mais chuva que cai e quando corro é muito mais rápido. Isso é uma perspetiva científica. Claro que eu tenho sempre tendência. Como é mais rápido, maior a distância e menor o tempo, logo menos chuva. •

Ricardo Alves | 23 anos Estudante de Tecnologias da Comunicação Audiovisual A chuva… depende. Se eu correr abrigado não vai molhar nada. Mas dizem que quando corres e está a chover acabas por ficar mais molhada. É o que dizem. Pensar nisso é muito fácil. Então, se tu estás em movimento e também há chuva a cair e tu estás a correr vai ser maior o tempo em que estás a apanhar chuva. Ou seja, há uma curta distância que tu percorres. Durante essa curta distância está a chover e tu vais apanhar mais chuva porque estás a percorrer aquela curta distância a correr. Se fores a andar acabas por apanhar menos chuva. Há leis da física para explicar isto.•

Marta Rodrigues | 21 anos Estudante de Artes Plásticas Faculdade de Belas Artes UP Depende do tempo que estou a andar ou a correr. Se calhar a correr molha menos. É menos tempo e assim a chuva não tem tanto tempo para chegar ao teu corpo. Se estamos a correr atravessamos a chuva, enquanto a andar estamos ali. Levamos com cada vez mais chuva na mesma área do corpo. Acho que vai por aí. Eu tento sempre correr para não apanhar chuva. •


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DESTAQUE

FAP:

25 anos e 17 presidentes

NOS 25 ANOS DA FEDERAÇÃO ACADÉMICA DO PORTO O JUP FOI À PROCURA DOS SEUS ANTIGOS PRESIDENTES DA DIRECÇÃO. QUEM SÃO, O QUE FIZERAM APÓS OS SEUS MANDATOS. MAS TAMBÉM A POLÍTICA E AS AMBIÇÕES. por Nuno Moniz, Joel Pais e Sara Pereira ilustração Sara Cunha


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DESTAQUE

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(8) Nuno Mendes(FDUP) 01-01 Vogal da FAP 02-03 Presidente da FAP 03-04 Representante dos Estudantes no Conselho Consultivo do Ensino Superior 05-07 Assistente de Supervisor na PT 07-07 Consultor Internacional de Negócios na SPI Consulting 08-09 Supervisor no Barclays 09-09 Coord. Local de proj. na Helpo 09-10 Dir. de Op. na Sun Life Financial 10-11 Analista de Dados na Google 12-14 Analista Financeiro no Linkedin

(7) Hugo Neto(FDUCP) 00-02 Presidente da FAP 02-03 Assessor do Secretário de Estado da Juventude e Desporto 03-05 Chairman da Movijovem 05-06 Consultor para a Youth and Entrepreneurship Consulting 07-08 Assessor dos assuntos Juventude, Educação e Inovação da CMPorto 08-11 Gestor da Helpo 11-13 Dir. Geral da PortoLazer 13-14 Administrador da PortoLazer

(9) Nuno Reis(FMDUP) 02-14 Deputado Municipal na Assembleia Municipal de Barcelos 02-09 Dir. Comercial da Empresa Gasdome Gases Medicinais Lda 02-04 Membro do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas 03-09 Gerente da Medicalbar 04-05 Presidente da FAP 04-05 Membro do CNE 04-05 Membro dos Promotores de Bolonha 04-14 Membro da Assembleia da Grande Área Metropolitana do Minho 05-09 Gerente da Aerovida 09-14 Deputado na AR pelo PSD

(10) Pedro Esteves(ISEP) 05-06 Presidente da FAP 06-10 Assessor do Presidente do IPP 10-10 Fundação IPP 11-14 Chefe de Gabinete do PSD no Grupo Partido Popular Europeu

(6) Miguel Pinto(ISEP) 97-98 Vice-Presidente da FNESP 99-99 Presidente da FAP 99-03 Gestor de Qualidade na Yazaki Saltano 03-06 Gestor do Departamento de Qualidade da Continental 07-09 Gestor de Produção da Enercon 09-10 Gestor Industrial da Enercon 09-13 Deputado Municipal Póvoa de Varzim pelo PS 10-14 Gestor de Fábrica da Colep

(11) Pedro Barrias(FDUP)

03-05 Membro do Senado da UP 06-08 Presidente da FAP 09-09 Assessor do Ministério de Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural 09-11 Assessor do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior 11-14 Assessor Técnico da Fundação das Universidades Portuguesas

(12) Ivo Santos(ISEP)

(5) Ricardo Almeida (FEUP)

04-05 Repr. dos estudantes no CG do IPP 05-05 Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da FNAEESP 05-07 Repr. dos estudantes do Politécnico no CNE 07-08 Vice-Presidente da FAP 08-09 Presidente da FAP 11-14 Sócio da MAMOA 12-14 Presidente do CNJ

96-99 Membro do Senado da UP 97-98 Presidente da FAP 98-05 Membro do Conselho Nacional da JSD 98-99 Membro do CNE 99-06 Deputado pelo PSD 99-12 Membro do Conselho Nacional do PSD 00-02 Secretário-Geral da JSD 05-06 Professor Convidado na Universidade Independente 06-11 Director da PortoLazer 11-13 Presidente da Empresa Municipal Gaianima 11-13 Presidente do PSD-Porto 13-14 Vereador da CMPorto 13-14 Gestor da Blueaegean Consultores

(13) Filipe de Almeida (FEUP) 06-10 Assembleia de Representantes da FEUP 09-09 Presidente da FAP

(14) Ricardo Rocha(FMUP)

(4)Fernando Medina(FEP) 95-96 Presidente da FAP 95-97 Membro do Senado da UP 96-98 Membro do CNE 98-00 Consultor do INOFOR 99-01 Membro do Conselho Consultivo do Porto 2001 S.A. 00-02 Assessor de António Guterres 03-14 Quadro da AICEP 05-09 Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional 09-11 Secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento 11-13 Deputado na AR pelo PS 13-14 Vereador da CML 13-13 Consultor da Administração da Fundação Calouste Gulbenkian

(2) Miguel Freitas (FEUP) 94-95 Presidente da FAP 97-14 SOLIDAL

(3) Luís Pinheiro (ISEP) 90-92 Presidente da AEISEP 93-94 Presidente da FAP 98-09 Gerente da Luso Ricuni 99-07 Jornalista em Portugal TT 00-06 Fundador da A.G.A 01-09 Dir. Comercial da Meamo 12-13 Gestor da Aveicorte S.A.

09-09 Presidente da FAP 12-14 Hospital Amadora-Sintra

(15) Ricardo Morgado(FDUCP)

(16)Luís Rebelo (FEUP)

(1) Diogo Vasconcelos (FDCUP) 87 Fundador do JUP 89-92 Presidente da FAP 96-02 Vice-Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários 99-00 Vice-Presidente do PSD 02-03 Deputado na AR pelo PSD 02-05 Porta-Voz do PSD para a Sociedade de Informação 02-04 Presidente da União de Missão Inovação e Conhecimento 05 Mandatário Digital da Campanha de Cavaco Silva 05-07 Consultor da Presidência da República 08-11 Presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento e Comunicação 07-11 Dir. Sénior da Cisco Internacional 07-11 Presidente da SIX – SocialInovation eXchange 09-11 Presidente da Dialogue Café

09-12 Membro do CG da UP 10-10 Estagiário na CCDR-N 11-12 Presidente da FAP 11-13 Membro do CNE 13-14 Facilitador na Rede de Percepção e Gestão de Negócios

09-09 Vice-Presidente da FAP 10-11 Presidente da FAP 10-11 Membro do CNE 11-11 Trainee Lawyer na MCSC e Associados 11-14 Assessor do Secretário de Estado do Ensino Superior

(17) Rúben Alves(ESTSP) O Presidente actual

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DESTAQUE

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Federação Académica do Porto, mais conhecida como FAP, assume-se como o organismo coordenador do movimento estudantil, criando os meios para a união das diversas associações. Fala por 27 associações de estudantes, 60 mil estudantes. Com acções não só na Educação, mas também na Cultura e na Acção Social, já são 17 os homens que assumiram o cargo de Presidente da Direcção. Criada em 1989 com Diogo Vasconcelos, também fundador do JUP, assume um papel de diálogo sobre as questões do Ensino Superior com os Governos. Passaram 25 anos e o JUP foi à procura dos seus antigos Presidentes.

> OS MOMENTOS ALTOS Apesar de na maioria dos casos já ter passado mais de uma década, as memórias dos momentos altos estão bem presentes. Miguel Freitas, licenciado em Engenharia Electrotécnica pela FEUP e Presidente da FAP durante um mandato no ano de 1993, recorda a contestação das propinas no Ensino Superior, sendo a Dra. Manuela Ferreira Leite a Ministra do Ensino Superior na altura. Lembra RICARDO ALMEIDA também o processo de construção da sede da FAP, que já havia começado com o primeiro Presidente, [SOBRE O CONVITE PARA DEPUTADO] Diogo Vasconcelos, e que continuou no mandato seguinte. Ricardo Almeida, também da FEUP, ocupando o cargo durante dois mandatos em 1997 e 1998, aponta a “afirmação da FAP enquanto entidade representante dos estudantes”. Segundo o próprio, contrariar a falta de ligação directa entre a FAP e os estudantes foi a parte mais importante do seu exercício, referindo a importância deste feito tendo em conta a contestação na altura à Lei de Financiamento do Ensino Superior. Presidente nos anos 2002 e 2003, Nuno Mendes, da FDUP, refere dois momentos altos. Em primeiro lugar a adjudicação da segurança da Queima das Fitas à PSP e o fim dos grupos informais de segurança. Em segundo lugar refere a data de 5 de Novembro de 2003 que, segundo o próprio, foi a maior manifestação nacional de estudantes de sempre, onde o Porto se fez representar por mais de mil estudantes. Ivo Santos, do ISEP, Presidente da Direcção no ano 2008 refere o “reconhecimento e valorização do trabalho da Federação ao longo dos anos” com a visita do Presidente da República à FAP, relacionada com o trabalho da Federação no contexto da economia social, com o projecto Aconchego.

ERA MUITO NOVO E ACHEI QUE ERA UM DESAFIO DA MINHA VIDA E ACEITEI, E FUI ELEITO.

-> os números

25 anos

17

presidentes

27

associações de estudantes

60.000 estudantes

> OS CARGOS POLÍTICOS DEPOIS DA FAP Sobre a influência das juventudes partidárias e a suposta utilização do cargo de Presidente da Direcção da Federação enquanto antecâmara de cargos de relevo na política nacional ou de confiança política as respostas são claras. Em reacção aos resultados da investigação do JUP o ex-Presidente Luís Filipe Pinheiro, licenciado em Engenharia Electrotécnica pelo ISEP, que exerceu o mandato de 1993, lembra que “a FAP é uma Federação que representa a segunda maior academia portuguesa” e que “para as juventudes partidárias é uma mais valia na sua lógica de progressão política e partidária”. Valoriza os independentes que vencem essas estruturas e faz notar que, os “cargos políticos para filiados são decorrentes e os de confiança política são isso mesmo, confiança política”. Responsável máximo durante a “guerra das propinas”, e na altura filiado na Juventude Social Democrata, Miguel Freitas lembra o caso de Fernando Medina, que poucos anos após o término dos seus mandatos foi nomeado para assessor do Governo PS encabeçado por António Guterres. Mas não fica por aqui e dá o seu próprio exemplo para ilustrar a sua resposta. Lembra os “debates” com os colegas partidários, por discordar da proposta das propinas. Acrescenta, sobre este assunto que “não está a ser cumprido aquilo que foi inicialmente a intenção” da Ministra de então. Tal como Luís Filipe Pinheiro, relembra que as estruturas estudantis detêm um grande “poder de intervenção” que eventualmente acaba por levar a cargos públicos ou partidários de relevo. No entanto, sublinha que a questão de ser ou não Presidente da FAP não é o maior factor, mas que tal “dá-lhes outros conhecimentos” e “mais-valias” que possibilitam a ocupação desses cargos. Ricardo Almeida, actualmente Vereador da Câmara Municipal do Porto, dá também o seu caso como exemplo. Após o término do seu mandato na FAP em 1998 assumiu o cargo de Presidente da Distrital da JSD, tendo sido escolhido para a lista do PSD nas eleições de 1999. LUÍS FILIPE PINHEIRO Admite surpresa pela convite da altura, mas encarou como “um desafio” e aceitou, tendo sido eleito. Classificando como “uma consequência normal” no percurso de pessoas que alimentam desde cedo “preocupações cívicas e interesses políticos”, Nuno Mendes critica “um certo preconceito” contra os “protagonistas de altíssima qualidade” que têm passado nas estruturas representativas do movimento estundatil. Apesar de referir que não fez qualquer carreira política não se coibe de afirmar que este preconceito “resulta somente da velha tendência nacional de sistematicamente reduzir o mérito pessoal e intelectual a uma questão de sorte ou de favorecimento”. O ex-presidente Ivo Santos reforça esta ideia afirmando que as críticas sobre a relação entre os dirigentes da FAP com partidos políticos é recorrente, no seu entender “injustamente e de forma preconceituosa”. Afirma que o problema não é o envolvimento de líderes na política mas o seu inverso, fazendo questão de lembrar a importância do envolvimento de dirigentes associativos estudantis no “progresso intelectual e social”, pelo menos no século XX, e o seu contributo progressista nos partidos. Lamenta a “diabolização” da relação entre os dirigentes estudantis e os partidos políticos relembrando o aparente “divórcio entre representados e representantes”. Afirma que “em nada contribuem para uma democracia madura”. Sem deixar de relembrar os casos em que antigos dirigentes da FAP exerceram cargos governamentais e o seu contributo, admite que no que diz respeito à Federação, a estabilidade dos processos políticos cria uma certa "endogamia" que apesar das críticas recorrentes, “favorece uma escola de maturidade e crescimento das lideranças da FAP com base numa coerência politica e programática de continuidade”.

EXISTEM MUITAS MANEIRAS DE INFLUENCIAR O EXERCÍCIO DUMA FUNÇÃO COMO ESTA.. MIGUEL FREITAS

AS PRESSÕES DO GOVERNO E DA OPOSIÇÃO (DIRECTAS OU INDIRECTAS) SÃO PERMANENTES.


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DESTAQUE

COMENTÁRIO DE ELISIO ESTANQUE > OS CONFLITOS DE INTERESSES Em relação a situações de conflito de interesses, para a maioria dos entrevistados a situação é normal e decorrente do peso institucional que a FAP representa. O ex-presidente Luís Filipe Pinheiro diz mesmo que quer a Direcção, quer a Assembleia Geral da FAP “sabem e estão preparadas para lidar com essa realidade” fazendo notar que as pressões, directas ou indirectas, tanto por parte dos Governos ou da oposição são permanentes. Miguel Freitas não tem qualquer dúvida sobre a existência de conflito de interesses e afirma mesmo que “quem diz o contrário está a faltar à verdade”. Salienta que, “mesmo sem querer”, no exercício das funções de Presidente da FAP acaba-se sempre por “cair inevitavelmente num lado ou noutro”. Esclarece o que entende por pressão dizendo que isso não significa “estarem a bater à porta” ou constantemente a “chatear a cabeça”, comparando com a influência exercida sobre membros do Governo, que diz não ser feita com “uma pistola à cabeça”. Fazendo parte duma equipa enquanto Presidente da Federação admite que sejam “indirectamente influenciados” ou por atitudes que tomam ou pela equipa com que trabalham. Também dando o seu exemplo, Ricardo Almeida garante que sempre assumiu as posições que eram as dos estudantes, independentemente de serem contrárias às posições oficiais da JSD e do PSD, partido do qual também faz parte, recusando que houvesse qualquer interferência por parte dessas organizações partidárias. Nuno Mendes, referindo não pertencer na altura a qualquer juventude partidária, diz nunca ter sentido qualquer conflito de interesses com o Governo de então, de coligação entre PSD e CDS de Durão Barroso e Paulo Portas. Relembra as acções promovidas pela Federação Académica do Porto da altura, sempre que “os estudantes as reputaram como necessárias à defesa dos seus interesses colectivos”. Declarando ser normal resultarem conflitos de interesses que colidem com outras perspectivas, Ivo Santos não nega “vários conflitos de interesses e discussões acesas com o Governo”. Refere momentos de tensão entre o Governo e a FAP, aquando da revisão de estatutos das instituições de ensino superior, relativamente às relações entre estas e os Municípios, onde a FAP promovia iniciativas que geravam receitas. Comenta que, não fosse também esse o papel da FAP, a organização seria “irrelevante, indiferente e por isso dispensável”, contrapondo com aquilo que crê ser actualmente um “exemplo de relevância social, política e institucional”. Referindo que é militante do PSD há vários anos tendo interrompido a sua participação partidária sempre que esteve envolvido em cargos de representação de organizações juvenis ou estudantis, considera que “a FAP terá a ganhar quanto mais intervenção política tiver” e que os dirigentes da FAP deverão corresponder a “uma nova geração de lideranças políticas que o País tanto reclama e precisa”.

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Professor de Sociologia da Universidade de Coimbra

Estas fases de transição entre as lides de liderança associativa, no caso do mundo estundatil, e oportunidades de emprego ou lugares de destaque no aparelho de estado ou em empresas públicas e privadas em lugares de nomeação política, reflecte uma lógica que podemos considerar um tanto perversa da nossa actual democracia e da nossa sociedade. Qualquer pessoa que passa algum tempo à frente de uma associação tem de gerir pessoas e portanto adquire uma bagagem em termos de trabalho de equipa, duma certa visão de desenvolvimento da organização que representa. E isso, em princípio, para qualquer gestor que vá depois selecionar alguém, algum jovem para ocupar cargos de responsabilidade com certeza levará em conta a experiência da pessoa. Teoricamente, até poderiamos considerar que as pessoas que passam pela liderança das associações estudantis terem oportunidades no mundo empresarial e nos cargos públicos assenta nessa experiência de liderança, embora ache que, genericamente, não seja essa a razão principal. Acho que existem aspectos que estão relacionados com a própria sociedade portuguesa e outro aspecto tem a ver com a própria dinâmica dos partidos políticos em Portugal, em especial, do arco do poder: PSD, CDS-PP e PS. No que diz respeito à sociedade, na verdade, ela evoluiu, como tantas outras, para esta lógica individualista, da concorrência e do mercado, desde os anos 60, 70, até agora, a partir dum contexto de maior envolvimento, intervenção pública e debate político e social, em que a construção das redes passou a obedecer a uma ambição pessoal e o desejo de ocupar posições com alguma vantagem, tanto ao nível da vida política e pública como ao nível profissional. O que nos deve inquietar enquanto cidadãos é até que ponto este networking se destina a pôr ao serviço da sociedade, as organizações, as empresas e os grupos que lideramos, ou se interessa unicamente à ambição pessoal e à necessidade de conquistar ou reforçar lugares melhor remunerados ou de maior visibilidade e protagonismo de cada um. Portanto, acho que do ponto de vista da sociedade foi crescendo ao longo da década de 90 e nesta viragem do século e do milénio, uma cultura tecnocrática que se foi impondo ao que seria tipicamente a cultura democrática do debate permanente, do questionamento, do sentido crítico da vida, da abordagem que leva a questionar o status quo. A tecnocracia, em expansão desde os primeiros governos do Dr. Cavaco Silva, diz-nos o seguinte: a política é dos políticos. Quem está, está, quem tem poder, decide. E o resto tem apenas que seguir os critérios dos que estão nos lugares de topo, porque as suas decisões obedecem, supostamente, apenas a critérios técnicos. Essa tecnocracia esvaziou o sentido da política. E levou a que as novas gerações que chegam à vida adulta ou a experiências deste tipo de associativismo incorporasse essa cultura mais propensa ao individualismo e menos inclinada para a problematização da sociedade e para a discussão ideológica e política. Há outra elemento que é necessário juntar, que são os partidos e as suas organizações juvenis, as chamadas “jotas”. Porque acho que esses partidos que já referi, PSD, CDS-PP e PS, os partidos com experência governativa em Portugal, enveredaram muito nessa lógica. Criaram aparelhos que se tentaram aperfeiçoar, e que seguiram aquela cultura e atitude que referi, da lógica tecnocrática, o individualismo, o carreirismo, a tutela e o princípio da tutela. Isto no fundo é aquilo que podemos considerar de seguidismo, que também são elementos que se substituem ao debate público e à democracia interna dos grandes partidos. No caso dos estudantes, e do movimento estudantil, aquilo que pressentimos olhando para esse mundo, é que essa cultura mais propensa ao individualismo e ao seguidismo traduz-se em práticas e comportamentos que são muito de reprodução da hierarquia, de vincar o poder e o poder simbólico da antiguidade, fenómeno que também se vê nas praxes. Não nos esqueçamos que é muito no contexto das praxes que se criam esses laços de lealdade, essas tutelas, a figura de padrinho que se apresenta como um protector e como tal, tem maior poder para recrutar os seus seguidores. Tradicionalmente, desde que a juventude se impôs, ligada às universidades, as sociedades habituaram-se a que trouxessem uma nova mensagem, um ar fresco, que renovasse a própria agenda social, cultural e política. Infelizmente não é isso que está a acontecer, e uma das razões porque não é isso que acontece é pelos dados que são apresentados nesta investigação, que embora seja referente ao Porto, estou convencido que pode ser extensível a outras universidades e a outra realidade. É por essa razão que a maioria dos jovens, dos estudantes, eles próprios também muito condicionados por essa mesma cultura estudantil e consumista que há pouco enunciei, tendem a não participar. Desconfiam, mas não questionam. Não têm a iniciativa de contrariar, de oferecer alternativas, de participar massivamente na criação de alternativas. Por isso, vemos que as direcções associativas são eleitas em geral por 20%, 30%, sendo que esta última já é muito. Portanto, 70% de abstenção já achamos ser natural. Isto é um sintoma da corrosão da nossa democracia que se repercute neste ambiente do associativismo estudantil. Acho absolutamente impressionante que num quadro que temos vivido nos últimos 3 ou 4 anos, de crise, austeridade, de ausência total da perspectiva de futuro para os jovens, de imigração massiva daqueles que saem da universidade depois de acabar o curso, ou seja, uma juventude universitária sem futuro, vítima da precariedade e do desemprego, não se veja a presença da mobilização dos jovens a partir do movimento universitário português que são de facto as principais vítimas desta crise e desta austeridade. E uma das razões acho ser que, de facto, as “jotas” penetram nas lógicas das associações mesmo quando elas não se assumem como partidárias, que diria ser a maioria dos casos, e essa lógica que prevalece é a lógica da “partidite”, e uso exactamente no sentido pejorativo da palavra. Isto traduz-se num desligar, num divórcio crescente das suas bases e do eleitorado em geral, e no caso do associativismo estudantil, também um divórcio cada vez mais evidente entre as estruturas dirigentes e a sua base de apoio que deveriam ser os seus estudantes.

NUNO MENDES

NATURALMENTE NUNCA SENTI NENHUM CONFLITO DE INTERESSES COM O GOVERNO DE ENTÃO [...]

[...] OS MEMBROS DA FAP [...] DEVERÃO CORRESPONDER A UMA NOVA GERAÇÃO DE LIDERANÇAS POLITICAS QUE O PAÍS TANTO RECLAMA E PRECISA. IVO SANTOS

Nota: O actual Presidente da Direcção da Federação Académica do Porto, Rúben Alves, foi contactado várias vezes quer através dos contactos oficiais da Federação, quer directamente, no sentido de colaborar com uma entrevista sobre os 25 anos da FAP e as suas posições actuais. Nenhum desses contactos foi atendido e nenhuma mensagem respondida.

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EDUCAÇÃO

Conselho Geral da UP: um órgão fiscalizador por Bárbara Silva ilustração Catia Vidinhas

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onstituído por 23 membros, entre eles, 4 estudantes, 12 representantes dos docentes e investigadores, 1 representante não docente e ainda 6 membros externos à universidade, o Conselho Geral da Universidade do Porto (CGUP) é, segundo a professora de Psicologia e Ciências da Educação, Isabel Menezes, “um órgão de controlo do governo, não é executivo, mas legislativo, que tem a função de fiscalizar os órgãos da universidade, nomeadamente o reitor, assim como emitir pareceres e aprovar regulamentos, como as propinas”. Para a docente, membro do CG, eleita pela lista C - "Renovação, Diversidade e Cultura Democrática", com 56 votos, a particularidade deste órgão, da gestão central da universidade, começa nas próprias eleições que são “simultaneamente uma votação em lista e numa pessoa”, o que demonstra um “grande pluralismo no interior da universidade, e uma eleição mais personalizada”. Esta é a base da constituição do Conselho Geral sendo que, são os membros internos à universidade que escolhem os representantes da sociedade, ou seja, pessoas que se querem interventivas e preocupadas com a realidade do ensino superior em Portugal. Traçam-se perfis, os mais diversificados possíveis, “escolhem-se pessoas do mundo das empresas, da cultura, que podem dar um contributo para ajudar a pensar as questões da universidade”, normalmente pessoas com outras visões, o que segundo Isabel Menezes é “bastante vantajoso para a UP”. O atual presidente do Conselho Geral, Alberto José de Sousa (membro externo da universidade), considera que a ligação da academia à sociedade é imprescindível e é possível graças à “difusão e transferência do conhecimento, sobretudo do conhecimento científico e da investigação com valorização económica” o que, segundo o antigo provedor da justiça, explica e justifica a integração no Conselho Geral dos membros externos”. Esta inclusão acaba por fazer cumprir o desígnio do art.º15 e 17, que esclarece a importância em desenvolver e estabelecer relações com “entidades subsidiárias de direito privado, como fundações, associações e sociedades”. Um olhar sobre o reitor O papel do CG começa na eleição do reitor, sendo que posteriormente está incumbido de, sob proposta do reitor, aprovar regulamentos, planos estratégicos assim como decidir sobre tudo o que se prenda com planos científico, pedagógico, financeiro e patrimonial. O caso da revisão das propinas é o exemplo que, para Isabel Menezes, melhora ilustra o papel deste órgão: a decisão de não aumentar o

valor pago pelos estudantes coube aos CG, que é assim soberano em vários campos do governo da universidade, “em muitos assuntos as decisões do Sr. Reitor, são decisões que tomadas a partir da decisão do Conselho Geral”. A revisão da orgânica do governo da Universidade do Porto é outra das questões que tem gerado discussão, e embora não seja uma questão prioritária, a docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, considera que não deve ser esquecida, “uma vez que o importante é a qualidade de vida e de trabalho nesta casa e tudo deve ser feito para conduzir ao sucesso da instituição”. Mais recentemente, as praxes estiveram em cima da mesa do Conselho Geral, proposta feita pelo membro externo e antigo deputado, José Pacheco Pereira. Desta discussão saiu o reforço da posição, do reitor e da universidade, tomada em Setembro do ano anterior, face a qualquer “atividade desta naturelizar za”. Em comunicado os ór à agência Lusa, Alberto José de Sousa, ISABEL MENEZES adiantou ainda que não deve ser facultado “qualquer apoio financeiro, instalações ou qualquer outra colaboração com grupos associados a estas práticas”.

[SOBRE O CGUP] ...É UM ÓRGÃO DE CONTROLO DO GOVERNO, NÃO É EXECUTIVO, MAS LEGISLATIVO, QUE TEM A FUNÇÃO DE FISCALIZAÇÃO -

Lista A e B – As representantes dos estudantes A eleição dos estudantes processa-se da mesma forma que a eleição dos representantes dos docentes e investigadores: vota-se em pessoas de cada lista. Foi com 343 votos que Pedro Ferreira venceu o lugar no Conselho Geral, pela Lista A, num total de 719 votos. Já Daniel Freitas conse-

guiu pela lista B 561 votos, enquanto Francisco Silva conseguiu 296 e Joana Magalhães 201, num total de 1180. Para trás ficaram as Listas C e D com 213 e 73 votos respetivamente, não elegendo nenhum representante. As listas vencedoras destacavam-se pela clara posição de lutar por uma universidade mais justa e de todos, onde as principais preocupações dos estudantes fossem discutidas. O estudante da Faculdade de Engenharia, Daniel Freitas, vencedor pela Lista B, salientou ainda a importância de um trabalho conjunto que favoreça a participação estudantil, explicando, no entanto, que o grande objetivo do Conselho Geral não é representar os estudantes, mas sim “pensar a universidade”. E é com este mote que Daniel Freitas aponta a redefinição da orgânica da universidade como prioritária para este novo mandato. Uma medida que vem de anos anteriores e que tem gerado alguma polémica, depois do reitor ter manifestado interesse em “reorganizar a academia, com vista a uma melhor gestão”. Esta reorganização passaria pela redução “de alguns diretores e unidades orgânicas, sendo que a proposta reitoral era diminuir centros de decisão, forçar as unidades orgânicas a juntarem-se”. Pouca participação eleitoral dos estudantes Na eleição dos representantes docentes votaram cerca de 61% dos inscritos, nos estudantes a percentagem de participação nas eleições ronda os 10%. Valores que, segundo Isabel Menezes, podem sugerir “um distanciamento dos estudantes relativamente a este órgão, o que não é sur-

preendente, pois é sempre mais fácil o envolvimento ao nível local, das faculdades”. No entanto estes números não significam afastamento do CG, que se esforça “por ouvir as pessoas”, embora não sendo um órgão que interaja diretamente com os membros da academia. Também Daniel Freitas salienta que as interações que existem são muitas vezes pessoais, fora dos meios legítimos, “há sempre uma tentativa de chegar aos estudantes, trabalho facilitado pelo conhecimento prévio da realidade estudantil: normalmente os estudantes membros do CG acabam por conhecer as lutas estudantis e as opiniões dos estudantes, pois por norma já fizeram parte de outros órgãos de gestão e direção”, como aliás é o caso de Daniel, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia. Isabel Menezes considera mesmo os representantes dos estudantes são um “interface importante na comunicação entre os estudantes e o CG e vice-versa”. A fraca participação dos estudantes nas eleições de 13 de Dezembros (que elegeram os 4 representantes do Conselho Geral) é reconhecida como um problema, que Isabel Menezes vê com preocupação e para o qual aponta “um trabalho mais sistemático e um maior cuidado na marcação de eleições, numa altura que seja razoável” como possíveis soluções. Também o presidente, Alberto José de Sousa, que o CG não deixará “em futuros atos de estimular uma maior participação, não só nas eleições dos estudantes para este órgão como para outros órgãos". •


JUP — MARÇO 2014

EDUCAÇÃO

> ENTREVISTA

As ciências sociais não são ciências pobres JOÃO TEIXEIRA LOPES É PROFESSOR NA FACULDADE DE LETRAS NA UNIVERSIDADE DO PORTO. PASSADO UM MÊS DESDE QUE PUBLICAMENTE CRITICOU O CONCURSO PARA BOLSEIROS DE DOUTORAMENTO E PÓS-DOUTORAMENTO DA FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA, RECUSANDO VOLTAR A PARTICIPAR COMO JÚRI, O JUP ENTREVISTOU O PROFESSOR JOÃO TEIXEIRA LOPES SOBRE A ACTUALIDADE E O FUTURO DA CIÊNCIA EM PORTUGAL. Na sua opinião, como está a Ciência em Portugal nos dias de hoje? Se olharmos para os níveis de financiamento eles estão a cair não desde há três ou quatro anos. E vem geralmente acompanhada por um discurso de legimitação dessa queda. Ou seja, o discurso dominante diz-nos que na verdade não há menos dinheiro para a Ciência, há menos dinheiro público, mas isso até pode ter um lado positivo. Porquê? Porque supostamente o dinheiro público cria dependências. Se quiseres, é, mutatis mutandis, o discurso da subsidiodependência que habitualmente se cola ao campo cultural e artístico. E por conseguinte, diz-se que o ideal seria que o Orçamento de Estado para a Ciência diminuisse porque isso significaria quer o aproveitamento dos fundos comunitários quer principalmente o aproveitamento do investimento privado. Mas isto é uma falácia completa. Porque se há outra coisa que os números demonstram também é que o financiamento privado, empresarial, de Investigação e Desenvolvimento é muito pequeno, é reduzidíssimo, e não tem aumentado. Como comenta o facto das Ciências Sociais estarem a ser mais atingidas que as outras áreas? Isso é evidente particularmente nos últimos concursos de projectos científicos e de bolsas individuais de doutoramento e pós-doutoramento. Tens variações que vão de 15% de bolsas atribuídas nas ciências biológicas ou noutro ramo da engenharia e depois tens 5%, 6% áreas das ciências sociais. Essa é outra questão importante. Desde sempre as ciências sociais têm sido preteridas com o argumento de que, por um lado, a sua aplicabilidade é menor, por outro lado, os seus próprios custos de funcionamento seriam menores. As ciências sociais, ainda que seja muitas vezes as ciências dos pobres ou que estudam os pobres, não são ciências pobres. São ciências que exigem o mesmo grau de sofisticação e complexidade. Mas são ciências que desde sempre têm levantado por parte dos poderes instituídos alguma desconfiança. Então, como responde a quem diz que as ciências sociais não criam valor para a sociedade? A resposta que eu dou é que quem afirma isso tem uma visão de lucro imediato, tem uma visão ultra restrita da aplicabilidade e, em terceiro lugar, esquece-se como o pensamento sobre a própria Ciência é desenvolvido. Como é que se produzem as teorias e os con-

ceitos? Epistimologia. Quais são as condições instituicionais favoráveis à propagação da cultura científica? A sociologia da ciência dá um bom contributo para isso. Porque é que certos temas são previligiados face a outros, que dificilmente são estudados? Porque é que as mulheres demoram mais tempo a chegar ao topo das hierarquias científicas? Enfim. Todas essas questões fundamentais para uma política científica, para um política pública moderna, são património, ou da filosofia, ou das ciências sociais, ou do conhecimento crítico em geral. Logo, a visão restrita da aplicabilidade é uma visão muito curta, muito mesquinha, que só vê utilidade na Ciência se ela produzir imediatamente, amanhã, uma patente, ou se tiver um qualquer efeito mecânico numa empresa, numa organização. Quais são as maiores implicações que os resultados do concurso da FCT teve, na sua opinião? Apesar da FCT ter dito que, e isso foi público, iria atribuir 10% de bolsas de forma tranversal independemente das áreas ou domínios, o que já de si é muito pouco, é uma quebra brutal em relação a concursos anteriores e que significa desinvestimento público na Ciência. A meu ver, o principal efeito foi essa hierarquização das áreas científicas do ponto de vista institucional. E há um terceiro aspecto, além do desinvestimento e da hierarquização que são os procedimentos, a meu ver, ilegais, de alterar classificações do juri, sem que o juri tenha sido avisado. Há um recuo duplo da FCT no entretanto. A FCT vai tentar repor os 10% através deste orçamento adicional que apareceu por causa duma reacção transversal da comunidade científica. E há outra coisa que é a FCT ter manifestado abertura para repor as classificações que o juri tinha dado em sede de audiência prévia. A ver vamos. Como é que isso afecta a sua decisão, tornada pública, de recusa em voltar a pertencer a esse juri? Eu não vou voltar a ser avaliador em futuros concursos, e isso tenho certeza. Não quero mais colaboração com a FCT enquanto ela funcionar nestes moldes e tiver esta orientação ideológica de subfinanciamento público, hierarquização das áreas científicas. A minha única dúvida neste momento prende-se com participar ou não na audiência prévia. Se eu achar que, como houve estes recuos, para os candidatos pode ser mais útil eu estar lá nas audiências prévias, como membro

do júri, e se for reposta a classificação anterior, considero a hipótese de participar no painel no que diz respeito às audiências prévias. Mas em futuras avalições não farei parte porque acho que seria uma colaboração com um sistema científico em desestruturação e que gera injustiças e desigualdades. Passemos para o futuro. Até onde nos levará a implementação e manutenção destas políticas científicas? Eu acho que nos colocará numa posição ainda mais subalterna no que diz respeito à nossa posição na divisão internacional do trabalho científico. Nós tínhamos conseguido recuperar atrasos, tínhamos até, em alguns aspectos, uma posição próxima das boas práticas ou das boas médias. Acho que agora iremos ficar claramente subalternatizados. Isto é, acho que vamos ter um apoio ultra concentrado, ultra selectivo, ligado para aquilo que o Governo considerar ser o mais interessante em termos de exportações no momento acutal. O que quer dizer uma visão de curtíssimo prazo sobre a Ciência e isso significa o desmantelamento do sistema científico nacional, ponto. Significa uma hipoteca do futuro. Significa também que, no futuro, a lógica rentista das empresas se vai desenvolver, porque vão ter dinheiros públicos para fazer investigação privada segundo interesses privados. Por fim, o que é central e urgente alterar na política de Ciência em Portugal? A questão da precariedade dos cientistas, eu acho que é fundamental. Ou seja, unidades científicas com um quadro de financiamento estável e com uma equipa e recursos humanos estáveis que possam ter previsibilidade e algum tipo de estabilidade. Porque eles são avaliados. A ideia de que a previsibilidade é inimiga da boa performance científica, é errada. A boa performance científica faz-se com avalições rigorosas entre pares. Eles estão expostos constantemente. Essa exposição garante à partida a qualidade do produto científico. A estabilidade garante também, creio eu, a possibilidade de se fazerem projectos que, mais uma vez, não sejam condicionados pela necessidade absoluta do momento. Isso é que é futuro científico.

6 meses de Europa Passei seis meses em Estrasburgo, uma pequena cidade no nordeste francês que faz fronteira com a Alemanha e, posso dizer, que foi uma das melhores experiências da minha vida. Cresci, aprendi e diverti-me. Fiz amizades que, além de colocarem determinados assuntos numa outra perspetiva através das diferenças de culturas, hábitos e gostos, mas, e acima de tudo, pude perceber que há valores que nos aproximam devido a algo em comum, a Europa. Sim, podemos ser e considerar-nos sem dúvida europeus. Viajei por grandes capitais e pequenas vilas, por França e no estrangeiro, tive experiências novas e consolidei algumas antigas. De qualquer das formas, há episódios que sempre irei recordar como: ver neve pela primeira vez, ir à Oktoberfest, ir à casa de Anne Frank ou visitar um campo de concentração. Também marcou-me percorrer as catacumbas de Paris, beber chocolate quente no meio dos Alpes ou até mesmo adormecer na estação de comboios de Amesterdão. Novo ou repetido, nada que alguma vez possa ser esquecido. Porém as experiências não foram só além-fronteiras, muitas delas mantiveram-se por Estrasburgo… Para uma pessoa que sempre viveu em casa dos pais e que quando decide sair, embora que por um período relativamente curto, vai para outro país para uma cidade a 2000 km, há certas vivências que podem parecer banais mas que acabam por ter um significado impressionante. Começando pelo típico cozinhar e as invenções gastronómicas, como pôr a roupa para lavar e ter um dia de limpezas semanal. Viver sozinha é algo bastante bom, principalmente para quem não está habituado a esse tipo de rotina. É poder sair e entrar sem dar explicações, ir lanchar e depois com o desenrolar das coisas chegar a casa às 4h da manhã, acordar ao meio dia ao domingo e só almoçar às cinco da tarde ou não ter nada mais e lanchar uma omelete. O dia-a-dia por vezes dava-me oportunidades que só vistas, desde poder assistir à entrega do prémio Sakharov a Malala Yousafzai até assistir, por norma, às sessões plenárias do Parlamento Europeu. O Erasmus resume-se então a isto, viagens, experiências e amigos. No entanto nem tudo é um mar de rosas. Passei momentos difíceis tanto pelas saudades, que na minha opinião é como se fossem fásicas, porque ora afectam mais ou menos, como por percalços em ocasiões mas que acabavam por passar. A própria língua estrangeira, burocracias, simplesmente pessoas ou qualquer outra coisa que agora não recorde. A verdade é que na contabilização final posso dizer que é uma experiencia que vale totalmente a pena e que superei dificuldades que nunca imaginei possíveis. • texto Adriana Figueroa Andrade Faculdade de Direito da Universidade do Porto

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JUP — MARÇO 2012

EDUCAÇÃO

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nº09 março 2014

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

entrevista p/04.05

Vanessa Rodrigues

destaque p/06.07

34º Fantas Porto

Caçadora de histórias, jornalista, escritora, documentarista. Aprendeu com a vida no Brasil e na Jordânia. De volta ao Porto, é uma das oradoras do próximo TedxOporto. }

flash p/06.07

Laos

Esta galeria do Carlos Matos retrata um pouco dos quase 3 meses em que percorreu sozinho mais de 3 000 km, através do norte da Tailândia e o Laos de Norte a Sul..}

O “tempo da Festa das Artes e do Cinema” enche os corredores do Teatro Rivoli para mais uma edição do Festival Internacional de Cinema do Porto. Iniciativa que pôs a Invicta no mapa mundial de festivais dedicados à sétima arte. }


02/destaque

{ parêntesis jup março 2014

Quando o Porto se rende ao cinema… A FESTA DOS 34 ANOS DO FANTASPORTO DÁ VIDA AO TEATRO RIVOLI ATÉ AO PRÓXIMO DOMINGO, REAVIVANDO OS CLÁSSICOS E DANDO A CONHECER MAIS DE 200 FILMES, MUITOS EM ESTREIA. UMA EDIÇÃO RECHEADA DE SUCESSOS QUE PROMETE ORGULHAR A INVICTA. por Margarida Cardoso fotografia Sara Pereira

Lá fora fala-se do Fantasporto, fala-se de Portugal Beatriz Pacheco

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“tempo da Festa das Artes e do Cinema” enche os corredores do Teatro Rivoli para mais uma edição do Festival Internacional de Cinema do Porto. Nas suas mais de trinta edições, o FANTASPORTO fez render o público, cada vez mais internacional, à magia do grande ecrã e colocou a Invicta no mapa mundial de festivais dedicados à sétima arte. 2014 trouxe ao Fantasporto, a decorrer desde quinta-feira (28 de Fevereiro) até ao próximo domingo, a habitual dedicatória ao cinema europeu: mais de 70% dos filmes em cartaz, tornando o Rivoli na maior “sala de visitas de cultura da cidade”. A mais famosa sessão do Festival, a “Semana dos Realizadores”, celebra os seus 24 anos com a apresentação de filmes de grande qualidade e reconhecimento internacional. Depois dos festivais de Toronto, Cannes e Veneza, estas longas-metragens chegam àquela que é, por estes dias, a capital portuguesa do cinema. “Lá fora fala-se do Fantasporto, fala-se de Portugal” frisou Beatriz Pacheco Pereira, diretora do Festival, na abertura da sua 34ª edição.

Mas o “palco” do Fantas não descriminou e estendeu o cartaz a nível mundial, tendo representadas cerca de 30 nacionalidades. Há lugar para a nova arte cinematográfica oriental, as produções africanas, latinas e provenientes da Oceânia. Dividimos entre os dois auditórios do histórico Teatro portuense, estão a ser exibidos cerca de duzentos filmes, chegando, muitos deles, pela primeira vez a um ecrã nacional. Entre eles, destacam-se 10 antestreias mundiais, assim como várias europeias. Esta edição do Fantasporto destaca-se ainda pela distribuição de bilhetes low-cost. A organização pretende tornar a cultura cinematográfica de qualidade “acessível a todos”, tendo disponibilizado bilhetes a 1€, 2€ e 3€. Esperando longas filas, pretende-se “dar vida ao Festival”, cultivando o ambiente dinâmico de convívio e diálogo que tem vindo a caracterizar o Fantas.

Hollywood à moda do Porto O Festival transporta o Porto para o centro das grandes atenções cinematográficas, trazendo à cidade produtores, realizadores, críticos, jornalistas e fieis amantes de cinema que vêm assistir às estreias inéditas do cartaz. “Todos os filmes europeus terão cá cinco, dez representantes”, garante Mário Dorminsky, acrescentando que o Fantas terá um “surpreendente número de convidados” dado o orçamento estabelecido. O Presidente do Fantasporto salienta ainda a enorme importância que a distinção do Porto como Melhor Destino Europeu em 2014 tem para a promoção do festival. Aliado à aposta feita pela Câmara do Porto, Mário Dorminsky acredita que este reconhecimento internacional se refletirá num chamamento do turismo cultural e no aumento do número de espectadores estrangeiros nos auditórios do Rivoli. “O Festival não precisa de renascer, ele esteve sempre vivo, agora deu mais um salto”, são as declarações de Dorminsky quando questionado sobre uma possível queda da estrutura do Festival nos anos anteriores. Beatriz Pacheco Pereira vinca a postura de “plena maturidade do Festival”, que se reflete no reconhecimento internacional e nas referências dos produtores europeus. O crescimento daquele que é o maior evento de Cinema do país é visível na facilidade que a organização afirma ter em receber filmes para o Festival e na credibilidade que este assume “lá fora”.


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2014 março jup parêntesis }

Pronúncia portuguesa no grande ecrã Esta é a 34ª edição do festival e, pela primeira vez, a arte nacional concorre em todas as categorias oficiais do concurso. O destaque vai, também, para o Prémio de Cinema Português e para concurso de Escolas de Cinema. Esta competição colocou escolas de todo o país dedicadas à sétima arte a lutarem por um lugar no Festival, que de outro modo não seria conquistado. No concurso será distinguido o Melhor Filme e a Melhor escola, num total de 8 participantes. Este é um projeto que a organização define como “ambicioso” e ao qual pretende dar continuidade, de forma a combater o “ensino antiquado” e melhorar a produção de cinema de autor português. Também o talento nacional fora de câmaras é homenageado: o produtor Henrique Espírito Santo, grande figura do cinema português e fortemente ligado ao Fantas desde a sua primeira edição, receberá o Prémio Carreira. Nos seus 80 anos de idade, o produtor de cinema tem um historial de 70 filmes, entre eles a produção de “O Recado” de José Fonseca Costa e “Veredas” de João César Monteiro, sendo marcante o contributo que teve na arte cinematográfica e no cineclubismo português. O seu percurso de vida foi marcado pela perseguição que sofreu por parte da polícia política do regime de Oliveira Salazar. As acusações da PIDE levaram a que o produtor tivesse passado 18 meses preso, acusado do crime de subversão. No entanto, numa vida dedicada à arte do grande ecrã, Henrique Espírito Santo deixa continuamente uma marca de respeito por todos aqueles com quem trabalha. O texto de apresentação do Festival de Cinema da Invicta elogia-o como um Homem que em “os valores da ética e dos princípios de respeito mútuo se sobrepuseram sempre aos valores materiais”. Outro dos destaques produzido em terras lusas vai para a estreia nacional do filme “Pecado Fatal”, do realizador português Luís Diogo. Concorrente na “Semana dos Realizadores”, a longa-metragem independente foi uma das grandes atrações do terceiro dia do Festival. Com o protagonismo de Sara Barros Leitão, José Eduardo, João Guimarães e Miguel Meira, o filme acompanha o drama de uma jovem que se debate com o abandono da sua família e a sua busca para a encontrar. Uma outra estreia nacional em foco nesta edição do Fantasporto é a longa-metragem luso-guineense de Filipe Henriques, “O Espinho da Rosa”, que encheu o Grande Auditório no passado sábado (dia 1). O filme, de braços dados com a fantasia dramática, teve já uma excelente receção por parte do público, tendo sido considerado “uma das produções africanas mais criativas do ano”. Nem só o cinema é arte Apesar da dedicação primordial ao cinema, esta edição do Fantasporto alia à sétima arte outros modelos de expressão artística. A apresentação das curtas e longas-metragens faz-se acompanhar por várias exposições que complementam o cartaz cinematográfico: as obras plásticas de Helena Leão e Antónia Gomes e o trabalho fotográfico “O Porto”, de Rui Videira são os principais destaques. Esta última exposição, que pode ser visitada no 3ºpiso do Rivoli, pretende distinguir aquele que é um dos mais premiados fotografos nacionais e o seu grande contributo para o festival.

Volta a terra encantada de Oz Enquanto a edição passada prestou homenagem a René Laloux, o Festival coloca, este ano, o clássico “Feiticeiro de Oz” no foco das atenções. 75 anos depois da estreia internacional do maior dos trabalhos de Victor Fleming, o Fantas trouxe de volta ao grande ecrã uma versão restaurada da obra-prima do cinema mundial. Aquele que é considerado um dos 10 melhores filmes da história cinematográfica vinca a presença dos clássicos do cinema no Fantas, ao lado das recentes produções cinematográficas que marcaram artisticamente o mundo do cinema no ano passado. Justificam-se assim as novidades nas sessões do festival: a criação do “Fantas Classics” e da “Industry Screenings”,que reúne os trabalhos cinematográficos mais recentes e os apresenta aos convidados e profissionais presentes no Festival, como uma “montra de cinema”. A presença do clássico de Oz criou uma certa nostalgia no ambiente marcado pelo universo do Fantástico. “Faz lembrar os velhos tempos do Rivoli”, recorda o Presidente do Fantasporto. Esta foi, segundo a visão de Mário Dorminsky Beatriz Pacheco Pereira, “a última oportunidade das nossas vidas de ver o Feiticeiro de OZ como foi feito em 1939”. Mas a magia de Vitor Flemming continua dia 7, sexta-feira, às 14horas, com “E tudo o Vento Levou”. Guiados pela yellow brick road do clássico musical dos anos 30, os espetadores entraram na animada primeira noite do Festival com a estreia da música “Porto à noite”, interpretada por Filipa Azevedo. Mas foi a febre dos vampiros que começou por marcar a primeira noite do Fantas. O festival abriu com a estreia nacional de “Vampire Academy”. Nas mãos de Mark Waters, realizador de “Mean Girls”, a longa-metragem ficcional entregou o papel principal a Zoey Deutch, contando ainda com caras conhecidas do mundo das séries americanas. Com claras influências da filmagem característica da saga Twilight, a longa metragem dividiu as opiniões: se por um lado a acessibilidade do enredo e o seu humor conquistou os mais jovens, o dramatismo e previsibilidade do filme entregou a desilusão a outros.

O Melhor Filme para Tarantino Num total de 22 filmes a concurso, a distinção de filme mais esperado nesta edição do Fantasporto é entregue a "Big Bad Wolves". A longa-metragem de Aharon Keshales e Navot Papushado marca o regresso, dois anos depois, dos realizadores israelitas ao Festival depois da apresentação de “Rabies”. Este, que é o segundo filme dos realizados, é esperado com enorme expectativa, após as declarações de Quentin Tarantino que consideraram “Big Band Wolves” o “Melhor de 2013”. Ter tal distinção em estreia no Fantas não poderia elevar mais o nome do Festival! Mais uma vez não poderá faltar o tradicional “Baile dos Vampiros”. O evento de encerramento ao ritmo do cinema assombrará o Hard Club na noite de dia 8 (sábado), numa verdadeira celebração do universo Fantástico que exige um desscode muito característico. A festa acabará com o nascer do último dia do Festival, preparando o Porto para conhecer os vencedores. Entre muita espectativa, palpites e apostas, o público tem vindo a encher um Rivoli transformado numa das mais prestigiadas salas de cinema da Europa. A comissão organizadora deixa a garantia de que “este é um Fantasporto de que a organização e a cidade se podem orgulhar”.

O Festival não precisa de renascer, ele esteve sempre vivo, agora deu mais um salto

programa Sexta — dia 7 14:00 Fantas Classics: Gone With the Wind 18:30 La Casa del Fin de los Tiempos 21:15 Violet & Daisy 23:15 Eclipse em Portugal 01:15 Hansel & Gretel Get Baked

Sábado — dia 8 13:30 The Fake 15:30 Johnny Christ 17:15 Savaged 19:00 Scintilla 21:00 The Railway Man 00:15 Filme Premiado

Domingo — dia 9 14:30 Filme Premiado 16:30 Filme Premiado 18:30 Filme Premiado 21:15 Filme Premiado


Vanessa Rodrigues Somos uma mescla de várias culturas; no nosso ADN corre o mundo e talvez seja isso que me inspira” entrevista Nuno Moniz fotografia Luís Coelho e Vanessa Rodrigues


entrevista/04.05

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Vanessa Rodrigues, 33 anos. Jornalista, documentarista. Licenciada em Jornalismo, PósGraduação em Direitos Humanos, Mestre em Informação e Jornalismo, Doutoranda em Estudo dos Media. Viveu 5 anos em São Paulo como correspondente da rádio TSF, Diário de Notícias e NM. Viajou 4 meses pela amazónia brasileira num projeto pessoal e profissional de reportagens. Viveu 3 meses na Jordânia para trabalhar num documentário. Atualmente está dedicada ao jornalismo de viagens, a escrever um livro e a terminar um documentário.

Caçadora de histórias, jornalista, escritora, documentarista. Vanessa Rodrigues entrou para o jornalismo para tornar visível aquilo que é invisível. Aprendeu com a vida no Brasil e na Jordânia. De volta ao Porto, sítio onde aprende a ser feliz, acrescenta mais um ofício: professora. É uma das oradoras do próximo TedxOporto.

(P) São Paulo, Amazónia, Jordânia entre outros países do Médio Oriente… Consideras-te uma cidadã do mundo? Acho que basta ser português para sermos cidadãos do mundo. No livro “A primeira aldeia global”, o jornalista inglês Martin Page escreveu que, através dos Descobrimentos, fomos pioneiros no que se entende por globalização. Somos uma mescla de várias culturas; no nosso ADN corre o mundo e talvez seja isso que me inspira.

(P) Além das imensas coisas que continuas a fazer, agora és professora. Como está a ser o retorno a casa, agora no outro lado da sala? Estou a adorar dar aulas – pois são espaços de discussão onde também aprendo muito com os alunos. Acho que o mundo continua a ser a minha casa, embora adore viver em Portugal, cada vez mais, e fato de o Porto ser a cidade com maior qualidade de vida que já vivi. Estar aqui permite-me estar próxima de mim e da família, evidentemente, e fazer o exercício de consolidar o que aprendo. Ser professora também é isso, permite-me ser uma pessoa melhor, uma melhor profissional.

(P) Qual é a condição que dirias ser essencial para o ser? Curiosidade. Mas casa um saberá o que o move. (P) Quando entraste para a Faculdade, era assim que te imaginavas? Quando entrei para a faculdade, aos 18 anos, apenas sabia que queria escrever, viajar, e estudar vários assuntos ao longo da vida. Escolhi o jornalismo porque me pareceu a profissão onde poderia ser mais livre. Percebi, ao longo do tempo, que ele me permite, por isso, ser uma pessoa melhor, na generosidade de olhar o Outro com respeito, mas sobretudo com a responsabilidade de denunciar situações erradas que muitas vezes ficam na invisibilidade. (P) Que memórias surgem quando pensas nos sítios onde viveste? Sou um pedaço desses mundos, inevitavelmente. Os lugares onde vivi “invadiram-me”. Lembro-me, sobretudo, de aprendizagens. Se me perguntares sobre particularidades, arriscaria afirmar que na Amazónia brasileira, aprendi sobretudo sobre a liberdade e o despojamento; no Brasil, em geral, sobre a leveza da vida; na Jordânia sobre a pesada condição humana; e no Porto aprendo todos os dias a ser feliz. (P) O que é ser uma "caçadora de histórias"? Engraçado, já não sei de onde veio esse epíteto. Mas gosto dele porque me identifico. Há muitos jornalistas que são caçadores de histórias. Caçar histórias é coleccionar elementos do real, ir à procura de resgatar memórias e redescobrir testemunhos escondidos. Fascina-me ouvir as pessoas e, às vezes, agarro essas histórias que se transformam em reportagens, fotografias, documentários, poesias, contos. (P) Fala-nos um pouco sobre o teu trabalho. Além de jornalista, és escritora e documentarista. Comecemos pelo teu livro "O Barulho do Tempo", de 2013. Como surgiu a ideia? Tenho várias paixões e é nessa diversidade que os meus olhos brilham. “O Barulho do Tempo”, que também tem fotos a preto e branco, foi um convite da editora Culture Print que já conhecia o meu trabalho. O Jornalismo começou a não ser suficiente para me expressar, por isso as outras atividades surgiram naturalmente: os trabalhos multimedia, documentário, fotografia. Permitem-me explorar várias linguagens e diferentes formas de contar histórias.

(P) Viveste na Jordânia e fizeste um documentário sobre o campo de refugiados Palestinianos em Gaza, "Remember Us". Que impacto teve fazê-lo? O documentário é da autoria da jovem realizadora palestiniana Dalia Abuzeid, que me convidou para fazer a pesquisa, ajudá-la a encontrar os personagens e, depois, escrever em co-autoria o guião a partir das histórias no campo de refugiados de Gaza, em Jerash, a norte de Amã. Este é um documentário com histórias inspiradoras, num contexto muito duro que é viver num campo de refugiados. Quem ali vive está privado de direitos fundamentais, como cidadania, igualdade, justiça e liberdades. Como estrangeira, por exemplo, tenho mais direitos que um refugiado palestiniano de Gaza, que nasceu na Jordânia. Muitos jordanos sequer têm noção deste cenário. Há um apartheid que é aceite tacitamente e é perceptível a hipocrisia dos sistemas internacionais de Direitos Humanos. (P) Também estiveste na Palestina. Como vês o tratamento jornalístico que se dá cá em Portugal às questões da Palestina e Israel? Vou-te contar uma história. Depois de ter visitado várias aldeias palestinianas com amigos palestinianos e portugueses, conhecedores do cenário, depois de ter estado numa manifestação pacífica semanal junto ao muro, na aldeia de Bil'in, e de ter recuado perante gás lacrimogénio, pensei que era inevitável não escrever várias reportagens sobre o que vivenciei: desde o atropelo de direitos humanos ao apartheid vincado e socialmente aceite. Fiz várias propostas a revistas e jornais portugueses sobre o assunto, até porque havia o gancho da atualidade: o estado de Israel nasceu em 1948, logo há ocupação há 65 anos. Tive várias respostas curiosas, desde a habitual falta de espaço a respostas como esta que transcrevo: «como deves calcular, a questão israelo-palestiniana provoca demasiados anticorpos e a maioria dos nossos leitores já nem quer ouvir falar.» Esta resposta é um termómetro muito perigoso e grave de como funciona a cabeça de alguns editores em Portugal, naquilo que se filtra como sendo interesse público. Em Portugal, houve já várias e sérios trabalhos publicados sobre o assunto, como o da jornalista Margarida Santos Lopes, entre outros. Mas basta abrir os jornais para perceber que a questão não ocupa espaço na nossa imprensa. Sabemos muito pouco sobre o assunto e, a não ser aqueles que procuram informar-se melhor sobre o tema, há muita ignorância e muitos estereótipos arraigados.

(P) Num mundo do jornalismo com bastante precariedade, como vês o futuro dos novos e das novas jornalistas? Os sonhos são sempre projetos de vida à espera que arregacemos as mangas para o fazer. Eu também tenho problemas e dificuldades como toda a gente, apesar de felizmente fazer o que mais amo e ser feliz. A minha família sempre me apoiou neste percurso. Às vezes ainda ouço de pessoas mal-intencionadas a frase de que deveria arranjar um trabalho de jeito, mas estou bem comigo por poder fazer o que o meu coração diz para fazer. Terminei a Licenciatura de Jornalismo há 11 anos e já nessa altura não era fácil. O Jornalismo até pode estar numa crise de identidade, mas nunca como hoje houve tantas oportunidades: multimedia, videojornalismo, redes sociais, documentário, blogues. Cada geração tem os seus desafios e a chave de tudo é a união para se fazer um jornalismo melhor. (P) No próximo sábado, 8 de Março, és uma das oradoras no TedxOporto, sobre o tema de jornalismo independente. Dá-nos umas dicas sobre o assunto: quais são os seus maiores desafios? Os maiores desafios do Jornalismo independente, pelo que percebo da minha experiência, é convencer os editores que eles sabem muito pouco sobre os seus leitores, quando acreditam que se uma história não é sexy ou a pessoa não fica bem na foto, a revista não vai vender. O maior desafio do Jornalismo independente, feito por jornalistas que andam na rua e conhecem as necessidades dos leitores, é convencê-los que a reportagem é vital para a sanidade do jornalismo e a saúde da nossa democracia.}


Olhar Olhar

Laos através

do

A FOTOGRAFIA E AS VIAGENS SURGIRAM AO MESMO TEMPO NA MINHA VIDA E COINCIDIRAM COM A MINHA ENTRADA NA UNIVERSIDADE. SURGIRAM NÃO COMO COMPANHIA, NEM COMO OBJECTO DE ESTUDO, MAS COMO ESCAPE À ROTINA, PERMITINDO-ME ALCANÇAR ALGUM EQUILÍBRIO DESEJADO. SEMPRE FUI AUTODIDATA. COMECEI A FOTOGRAFAR DEPOIS DA MINHA PRIMEIRA VIAGEM, À ÍNDIA E AO NEPAL. DURANTE O ANO REVELAVA E IA REVIVENDO OS MOMENTOS E AS PESSOAS QUE ENCONTRAVA. FUI APRENDENDO LENTAMENTE E GANHEI VONTADE POR PARTIR EM MAIS VIAGENS E TIRAR MAIS FOTOGRAFIAS. QUANDO TERMINEI A MINHA FORMAÇÃO JÁ TRABALHAVA. ACONTECEU TUDO MUITO DEPRESSA E SENTIA QUE ME FALTAVA CUMPRIR UM OBJECTIVO. SUSPENDI A MINHA ACTIVIDADE E DECIDI PARTIR. ATERREI EM BANGKOK A 7 DE OUTUBRO DE 2008. VENDI A MOCHILA E COMPREI UMA BICICLETA. DURANTE QUASE 3 MESES PERCORRI SOZINHO MAIS DE 3 000 KM, ATRAVÉS DO NORTE DA TAILÂNDIA E O LAOS DE NORTE A SUL. ESTAS SÃO ALGUMAS DAS IMAGENS QUE TROUXE COMIGO. }

fotografia Carlos Matos


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Uma viagem pela obra de Manoel de Oliveira em honra dos seus 105 anos "AMBICIOSO, DESAFIANTE E ESTIMULANTE" - É ASSIM QUE TELMA RODRIGUES E JOÃO BARROS, DA ORGANIZAÇÃO, CARACTERIZAM O "PENSAR FORA DA CAIXA”.

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Museu Nacional da Imprensa acolheu a exposição “Manoel de Oliveira, 105 revistas”, em homenagem ao 105º aniversário do cineasta no passado dia 11 de dezembro. Quem já visitou a exposição pôde acompanhar os 80 anos da vida e obra de Manoel de Oliveira em 105 jornais e revistas nacionais e internacionais. São várias as publicações presente desde o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Público, Expresso, Jornal de Letras e, até mesmo, o Liberátion. Quanto a revistas, são muitas as que tiveram oportunidade de marcar presença nesta mostra documental: Cineclube, Seara Nova, Vértice, Cinéfilo e, ainda, L’Avant-Scène Cinéma, Cahiers du Cinéma, L' Acchiappa Film e, Beaux Arts. “Os media franceses são, pelo destaque apresentado, o exemplo do reconhecimento internacional de Manoel de Oiveira”, afirmou José Neves, coordenador do museu. A viagem começa em 1931 com “Douro, Faina Fluvial”, a sua obra primordial. Segue-se a estreia de “Aniki Bóbó”, em 1942, a primeira longa-metragem do cineasta e um grande sucesso na época. “A Carta”, “A Caça”, “O Vale-Abrão” ou “O Convento” são outros êxitos evocados na exposição.

Ao descer as escadas em direção ao piso inferior e, já no final da exposição, estão expostas algumas capas de jornais e revistas de referência, que fizeram alusão aos 100 anos de Manoel de Oliveira. Em 2008, o Jornal de Notícias preencheu a primeira página com mensagens deixadas por atores, historiadores e até mesmo pela Primeira-dama, Maria Cavaco Silva. “Génio gigante em país pequeno” foi a manchete do Diário de Notícias. O Expresso fez também questão de fazer parte desta homenagem ao desejar os “parabéns” ao cineasta. “A exposição apresenta pela primeira vez um acervo de imprensa e jornalístico bastante alargado sobre o tema, uma visão variada sobre a obra do cineasta mais velho do mundo em atividade, que parte dos primeiros filmes até à mais recente estreia de ‘O Gebo e Sombra’ em 2012”, disse ao JUP o coordenador do MNI. A exposição estará disponível até ao final de março mas, até ao momento, já contou com a presença de cerca de 3000 pessoas. } Mariana Carvalho

Portugal prepara-se para “comicar” SUPER-HERÓIS, FEITICEIROS, VAMPIROS E OUTROS SERES SOBRENATURAIS PREPARAM-SE PARA VISITAR PORTUGAL PELA PRIMEIRA VEZ NUM DOS MAIORES EVENTOS DE CULTURA POP DO MUNDO.

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artindo do mote “I just want to be a superhero”, o evento contará com expositores de jogos, merchandising, torneios, concursos de cosplay, workshops de desenho e de banda desenhada ocidental e oriental, que permitirão ao comum mortal tornar-se naquilo que quiser. São esperados artistas nacionais e internacionais da banda desenhada, do cinema, da televisão, dos jogos, do anime e do RPG (role-playing game), para promover e lançar novos filmes e séries. A organização do evento espera atrair cerca de 20 mil curiosos, nesta que será a primeira edição do evento em Portugal. Importa referir que a primeira edição da Comic-Con foi realizada em 1970 em San Diego, na Califórnia. O evento universalizou-se, realizando-se atualmente no Japão e em diversos países europeus, como o Reino Unido e a França.

Segundo a organização, além de apresentar as novidades internacionais, o evento pretende destacar o melhor destas áreas em Portugal. Fica a promessa de um Comic-Con repleto de surpresas e com a garantia de uma grande interação entre os visitantes, que serão também protagonistas nesta mostra da cultura e da arte popular aliada ao comic. O evento realizar-se-á na Exponor, Matosinhos, nos dias 5, 6 e 7 de Dezembro, com organização da CITY – Conventions In The Yard. Interessados poderão acompanhar as últimas novidades do Comic-Con Portugal no website www.comic-con-portugal.com e nas redes sociais.} Cristiana Moreira

Segunda-feira há poesia O CAFÉ PINGUIM É ANFITRIÃO DAS NOITES DE POESIA. SEMPRE NO INÍCIO DA SEMANA, À SEGUNDA-FEIRA, JÁ É UM MARCO CULTURAL DA CIDADE DO PORTO E CASA PARA POETAS DA INVICTA E ARREDORES.

Portugueses a caminho dos Óscares “FERAL”, O NOME DA CURTA DE 12 MINUTOS DO ANIMADOR PORTUGUÊS DANIEL SOUSA QUE ESTÁ NA CORRIDA AOS ÓSCARES 2014 NA CATEGORIA DE MELHOR CURTAMETRAGEM DE ANIMAÇÃO.

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celebrarem 25 anos de história, as noites poéticas do Café Pinguim ainda são, na visão de Rui Spranger, “um ponto de paragem obrigatória à segunda-feira”, constituindo-se como um marco cultural da cidade do Porto. O projeto começou com Joaquim Castro Caldas e desde então passou por várias mãos. Daniel Maia Pinto Rodrigues, Isaque Ferreira, Pedro Lamares e Cristina Bacelar são alguns dos nomes que ajudaram a dar continuidade à iniciativa e que atraíram novo público, mantendo-se fiéis aos moldes simples que a compõem. Um espaço pequeno e acolhedor, na cave de um icónico café da Invicta, serve de palco à leitura de textos de autor ou próprios, completamente livres de censura. Para quem não vem preparado, os livros estão à disposição, mas Rui Spranger garante que “ não se obriga ninguém a ler”. Os temas são inesgotáveis e muitas vezes de cariz social, de chamada de atenção e de intervenção em problemas atuais que preocupam a sociedade. Os leitores vão adequando e adaptando as suas leituras, numa linha lógica, não combinada, que faz a noite fluir naturalmente. A poesia é acompanhada de música geralmente calma, sendo Rui David o músico residente. Todas as semanas há um músico convidado e a cave já contou com um quarteto de jazz, com Bilan e vários outros nomes. Ao público fiel, “um núcleo de pessoas que vem com muita regularidade” e que se reúne no primeiro dia da semana para dizer poesia, juntam-se os curiosos, gente que “vai ficando”. Para celebrar as bodas de prata do evento, foi lançada, na Biblioteca Almeida Garrett, a obra “Antologia da Cave”, que conta com textos de cinquenta e seis autores, muitos com grande reconhecimento no panorama literário nacional, como Valter Hugo Mãe, Manuel Jorge Marmelo e Jorge Reis-Sá. Habitualmente, muitos deles são frequentadores habituais das segundas-feiras poéticas. Com quatro décadas de existência, as noites na cave continuam a formar novos disseurs, deixando a promessa de multiplicar os anos e os versos. } Sara Monteiro

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sta é a história de uma criança selvagem que cresceu num bosque e que, depois de ter sido encontrada, tenta adaptar-se à civilização. Com raízes cabo-verdianas, Daniel Sousa viveu em Portugal até 1986 tendo-se mudado para os EUA onde estudou Design na Rhode Island School. Esta nomeação é o culminar de uma onda de nomeações e conquista de prémios como o prémio da RTP2 “Onda Curta”, na edição de 2012 do Cinanima, e três distinções no Festival de Annecy em 2013. Pela pré-nomeação ficou o músico Rodrigo Leão que concorria, com o “O Mordomo”, ao Óscar de Melhor Banda Sonora Original e a longa portuguesa “As Linhas de Wellington”, candidato à categoria de Melhor Filme Estrangeiro. A cerimónia dos Óscares tem data marcada para a noite de 2 de março, no Kodak Theatre em Los Angeles, e contará com a apresentação de Ellen DeGeneres. } Catarina Andrade


roteiro/09

cafés

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Rota do Chá -> Rua de Miguel Bombarda 457 O Rota do Chá é um sítio acolhedor que proporciona a quem o frequenta uma plena tranquilidade. A originalidade da decoração do próprio espaço, que alude à cultura oriental, é uma das características mais apelativas à passagem neste “café”. Além disso, o facto de facultar Internet grátis e permitir a utilização de pequenas salas privadas para facilitar a concentração durante o estudo, funciona ainda como uma mais-valia. O Rota do Chá é também conhecido pela qualidade do serviço pois oferece uma inúmera variedade de chás (mais de 300) e bolos e compotas caseiras. Assim, e porque reúne todas estas “encantadoras”, este famoso salão de chá cresce a olhos vistos, expandido cada vez mais o espaço. Situa-se na Rua Miguel Bombarda, rua esta perpendicular à Rua de Cedofeita.}

Moustache -> Praça Carlos Alberto, n.º 104

O Piolho é eterno, será sempre o café dos estudantes da Academia. No entanto, e com o passar do tempo, a concepção de “O que é o Piolho” alterou. Antigamente era lugar de reunião, discussão e estudo. Hoje é lugar de boémia. Quais serão hoje os cafés eleitos para as longas tardes de estudo? O Porto está repleto deles. Eis alguns preferidos dos estudantes. texto Joana Costa Machado e Mónica Moreira fotografia Luís Coelho

Um dos cafés preferidos dos estudantes, é o Moustache, que abriu as suas portas há cerca de dois anos. Desde então o número de universitários que o frequentam, quer para se reunirem quer para estudarem, não pára de aumentar. O que torna o Moustache um dos cafés com maior popularidade entre os estudantes é não só “a qualidade do serviço prestado”, como também a oferta de Internet grátis, essencial na elaboração dos trabalhos e estudo. É, por isso, frequentado por alunos das diversas faculdades da Universidade do Porto, nomeadamente das faculdades mais próximas como o ICBAS e a FDUP. Os universitários encontram no Moustache um espaço agradável, sereno e acolhedor, ideal para se passarem as tardes de estudo.}

Costa Coffee -> Passeio dos Clérigos Situado junto aos Clérigos, mesmo no centro da cidade, o Costa Coffee reúne determinadas características que o tornam um dos estabelecimentos públicos preferidos pelos alunos da Academia para estudar. O facto de ser amplo, bem iluminado e confortável tornam o espaço chamativo. Nem o barulho de fundo nas horas de maior enchente parece incomodar aqueles que por lá passam. A somar o seu serviço, especializado em bebidas quentes, acaba por também atrair os mais jovens. É difícil encontrá-lo vazio quando se aproximam épocas de exames e isso mostra a relevância deste espaço para os académicos. Foi no Porto que nasceu o primeiro café da cadeia britânica em Portugal.}


10/gadgets

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01 A geração digital chegou e parece estar para ficar. Apesar disso, uma nova frente analógica reinventa-se a cada dia. No campo da fotografia, novas aplicações apresentam filtros de outros tempos. Imagens de hoje são tranformadas em imagens do século passado, tudo com o recurso às novas tecnologias digitais. Mas houve um tempo em que digital era miragem e as fotografias se tiravam manualmente. Como funcionava, afinal, uma máquina fotográfica nessa altura? Como é que através de uma simples lente e uns quantos filtros se faziam imagens cuja semiótica não enganava o tempo? Como funciona, afinal, a mecânica de uma máquina fotográfica? Para estas e outras questões, a Lomography apresentou uma proposta. Chama-se Konstruktor e está no mercado desde 2013. Trata-se de uma câmara de 35 mm que chega às mãos do utilizador totalmente desmontada. Numa espécie de "faz-tu-mesmo", os utilizadores são convidados a penetrar o mundo da fotografia analógica, construindo, a partir do zero, a sua própria máquina. Não são legos, mas bem que poderiam ser. Não são móveis Ikea, mas a ideia não é muito diferente. Montar uma Konstruktor leva entre uma a duas horas, consoante a agilidade. Depois de montada, a máquina pode ser personalizada. No pacote encontram-se uma série de adesivos e couros de cores e feitios diversos que podem fazer de cada máquina uma peça única. Se és um Lomográfico sem emenda, a Konstruktor está à venda no site da Lomography e pode ser adquirida por 35 euros. www.microsites.lomography.com

02 Wow Speaker Idealizado para reproduzir música sem o constragimento de fios, o Wow Speaker chegou ao mercado e já está a dar que falar. O JUP foi descobri-lo e decidiu reinventá-lo, porque nem tudo tem de ser o que é. És da "Geração à Rasca" e queres dizer ao mundo, em alto e bom som, que não és um escravo de ninguém; que tens direitos e que estágios não remunerados não põem comida na mesa, não pagam proprinas nem a renda da casa? Acordas cedo para ir para a faculdade, apanhas o autocarro, estás farto de ouvir os saudosismos do tempo da "outra senhora" e apetece-te gritar 'tou cheio de te ouvir'? Não sabes a letra da "Grândola Vila Morena" mas não queres perder uma "Grandolada"? Estás bem como estás, a vida dos outros não te interessa para nada, achas que o país e o mundo vão bem e apetece-te dizer "o que é preciso é bater punho"? Seja qual for a tua ideia ou apetite, agora já pode utilizar o Wow Speaker. Pensado pelo designer londrino Atónio Arevalo e concebido pela Kakkoii, o Wow Speaker é uma espécie de ´coluna-megafone-portátil´. Com um sistema de wi-fi incorporado, a Wow permite transmitir som, sem fios, a partir de qualquer dispositivo Bluetooh. Disponível numa série de cores, o Wow Speaker pode ser adquirido no site da Kakkoii por 55 libras.

Quantas árvores mais vais deitar a baixo para deixar o recado ao namorado, à namorada, à mãe, ao pai, à tia, à avó ou ao piriquito? O JUP foi à procura da resposta e encontrou o Hi! Magnetic Voice Recorder. Esquece os post-it amarelos espalhados pela casa. Tudo o que precisas de fazer é pressionar o botão e falar. Com uma capacidade de 10 segundos de gravação, o O Hi! Magnetic Voice Recorder é fabricado em silicone e tem uma parte trazeira magnética para que o possas colocar na porta do frigorífico. É o presente ideal para aquela pessoa que se esquece do teu aniversário, do teu vinho preferido ou da lista de compras lá para casa. Tudo que precisas de fazer é pressionar o microfone e falar. Sempre que houver uma nova mensagem, o Hi! Magnetic Voice Recorder dará a indicação através de uma luz vermelha. O receptor da mensagem precisará apenas de pressionar o outro botão e escutar. Se estás cansado de post-it, se queres contribuir para um planeta mais verde ou se pretendes simplesmente surpreender alguém, vai ao site da Luckies Of London. Podes aquirir um Hi! Magnetic Voice Recorder pelo simpático valor de 16.45 euros. www.luckies.co.uk

04 Adult Toys By Buxxxer Numa sociedade que tem uma jovem laicização do Estado e onde uma forte cultura patriarcal subsiste, sexo e prazer são tabu e aulas de educação sexual uma miragem. Os resultados são assustadores: milhares de mulheres com problemas em atingir o orgasmo e outras tantas que não sabem, sequer, qual o seu ponto G. Segundo um estudo da Universidade do Minho, sete em cada dez mulheres portuguesas sofrem de disfunção sexual, na maior parte dos casos relacionada com problemas em atingir o orgasmo. O JUP foi à procura de produtos que te podem ajudar a conhecer melhor o teu corpo, porque prazer não tem de ser tabu. Encontrámos a Kokoro, uma jovem empresa italiana, criada em 2011, que apresenta uma linha de vibradores divertidíssima. Chamam-lhe os Adult Toys. Cheios de cor, prometem diferentes texturas, materiais anti-alérgicos e configurações ajustáveis. Não deixes para os 40 aquilo que podes decobrir hoje. Os Adult Toys podem ser adquiridos no site da Kokoro a partir de 69 euros. www.kokoromilano.com

www.kakkoii-me.com

Isabel Rodrigues

Konstruktor DIY Slr Camera

Hi! Magnetic Voice Recorder


crítica/11

música

cinema

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Philomena

Blue Is the Warmest Color

Filomena é a história verdadeira de uma jovem irlandesa grávida entregue a freiras católicas, cujo filho é vendido, e do jornalista que a acompanha em busca de verdade e justiça. Qualquer produtor a quem fosse apresentada a história de Philomena Lee temeria a inverosimilhança: a personalidade da mãe; a carreira, causa de morte e local de enterro do filho; a figura do jornalista desencantado parecem matéria de narrativa ficcional. Mas os dados centrais do filme de Stephen Frears são reais. Filomena assenta na biografia de Martin Sixsmith e a protagonista permanece viva e activa, até na defesa do filme, acusado de anti-catolicismo, no seguimento de The Magdalene Sisters, de Peter Mullan. Há, ainda assim, um segundo nível a que só Frears acede: o próprio autor da biografia e o trajecto de escrita desta. Criou, assim, um objecto poliédrico muito mais desafiante no estudo de perdão e justiça. Para lá de tudo, este é o filme de Steve Coogan –actor, co-autor e produtor–, num trabalho notável.} Sofia Araújo

“A Vida de Adele”, de Abdellatif Kechiche, reflete a verdadeira genialidade do cinema francês. Reconhecida com a Palma de Ouro em Cannes, a longa-metragem – ênfase em longa – lança uma jovem numa viagem de descoberta pessoal, que quebra a realidade como esta a conhecia e a faz refém do seu primeiro amor. A personagem procura descobrir-se, crescer e enquadrar-se numa típica sociedade europeia, um mundo a que não pertence. Um argumento que poderia ser facilmente banalizado, faz sobressair o génio de uma realização de estilo europeu. Os pequenos detalhes fazem a obra contornar o cliché e assumir-se como um dos filmes mais aclamados de 2013. Desempenhos humanos, personagens acessíveis, emoções à flor da pele e uma filmagem repleta de sentimentos, que compõem uma experiência única. O filme, que se orgulha de ser pouco civilizado, sem preocupações com as maneiras ou com a política correta, denota um desempenho fluído, natural e sem os típicos dramatismos artísticos do cinema moderno.}

de Stephen Frears

Margarida Cardoso

Shelter

Beautiful Africa

Para o habitual e dedicado fã de Alcest, o seu quarto álbum de originais não desilude, pelo contrário, atesta a posição de destaque que a banda mantém dentro dos panoramas Shoegaze e Pós-Rock. No entanto, quando comparado com os mais recentes trabalhos de outras bandas prolíferas da cena Pós-Rock, como God is an Astronaut ou Russian Circles, Shelter fica-se por uma tal simplicidade técnica que, apesar de encantadora, suave e capaz de aprazer ao ouvinte de praticamente qualquer género musical, acaba por não exigir muito aos seus músicos. De louvar é o facto de Neige, mentor da banda, levar a cabo a difícil tarefa de criar as linhas para voz, baixo, guitarra e sintetizador, deixando as de bateria para Winterhalter. Num longo adeus ao Black Metal por que começaram, os Alcest aproximam-se, neste Shelter, muito mais do Pós-Rock luminoso e etéreo de uns Sigur Rós, ou não tivesse este álbum sido produzido por Birgir Jón Birgisson, produtor do estúdio Sundlaugin, propriedade daquela banda.. } Diogo Nogueira

Em Beautiful Africa, Rokia Traoré presenteia-nos com uma bela melodia de raiz africana. Do Mali, chega-nos a batida de um tambor, despido, que se prolonga durante alguns segundos convidando-nos a mergulhar na graça rítmica e quente de Traoré. Afastando-se das influências blues que caraterizam os trabalhos anteriores e afirmando que Beautiful Africa é um álbum rock, não podemos deixar de concluir que é um rock filtrado por um prisma africano. Ouvimos a forma como a sua guitarra se enrola com outras guitarras acompanhadas pelo som nítido e carregado de ritmos transversais e nuances cromáticas do n'goni. Cantando essencialmente em Bambara, traduz tristeza e melancolia, referindo-se, por vezes, à violência que assombra o Mali. Na canção que dá título ao álbum, é com raiva que indaga com o riff mais poderoso, “Can guilt be the cause of these destructive quarrels?” e responde ”Conflict is no solution”, misturando a indignação com o amor sentido pelo continente Africano. Um álbum memorável. } Catarina Soares

Navegação de Acaso

O Princípio da Incerteza

«As nuvens dissipam-se sobre os recifes; e os primeiros/ náufragos aproximam-se da costa, trazendo notícias/ do abismo com a voz entrecortada por um soluço/ de anémonas azuis.» A publicação de Navegação de Acaso coincide com atribuição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana ao seu autor, o poeta Nuno Júdice. Neste que é seu último opúsculo de poesias, o poeta fez-se ao mar sem outro propósito que o poético; nenhum porto para onde zarpar, nenhuma rota previamente traçada; e isso ao ponto de não sabermos ao certo se cada poema é um atracar temático ou apenas uma enseada onde o poeta, no reflexo do mar, se contempla, confundindo-se, poesia. Só embarcando com ele, de poema em poema à deriva, perceberemos que aquele que está ao leme não é tanto o argonauta da Trácia quanto sua sublimação, Acaso.

“Não se escreve melhor porque se escreveu muito.” Eis as primeiras palavras do narrador de Joia de Família, o primeiro volume da Trilogia O Princípio da Incerteza, distinguido com o Grande Prémio de Romance e da Novela da APE em 2001 e adaptado ao cinema por Manoel de Oliveira. Partindo do conceito roubado à Física Quântica (princípio da incerteza), neste romance é o narrador que nos envolve numa teia de incertezas em que um bebé, num mesmo episódio, tanto pode ter dez dias (p. 25) como oito (p. 66), pois as personagens são examinadas por um caleidoscópio que reforja tempo e espaço em memória ambígua. Atacam se com lucidez e modernidade, sem pejos moralizadores, mas alguma análise ética, os desafios do crescimento da sociedade dos anos 90, em que tanto a ascensão como a queda económica e social, a violência doméstica e do sexo, a sordidez da droga e da prostituição constituem os alicerces de uma trama que nos arrasta para um vórtice labiríntico de extravio da inocência. } Júlia Ferreira

Alcest

de Nuno Júdice

livros

Abdellatif Kechiche

} Alexandre Marinho

Rokia Traoré

de Lisa Gardner


ç emMarço

Menino da sua avó DR

Ana Moura DR

MÚSICA

TEATRO

EXPOSIÇÕES

VÁRIOS

8 SÁBADO

DE 6 A 9 DE MARÇO

ATÉ DIA 10 DE MARÇO

ATÉ DIA 9

Menino da sua avó

Manoel de Oliveira, 105 revistas

COLISEU DO PORTO RITA GUERRA

21H30 – DESDE 12,50 EUROS

14 SEXTA-FEIRA CASA DA MÚSICA

Leopold Hager, Um Mestre Dos Clássicos

21H – 17 EUROS

21 SEXTA-FEIRA COLISEU DO PORTO

Ana Moura e António Zambujo

21H30 – DESDE 25 EUROS

25 TERÇA-FEIRA CASA DA MÚSICA

TEATRO HELENA SÁ E COSTA

QUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30 DOMINGO 17H – DESDE 3,50 EUROS

DE 7 A 16 DE MARÇO TEATRO SÁ DA BANDEIRA Loucura dos 50

SEXTA-FEIRA E SÁBADO 21H30 DOMINGO 16H – DESDE 10 EUROS

DE 13 A 26 DE MARÇO TEATRO NACIONAL S. JOÃO Turismo Infinito

QUARTA-FEIRA A SÁBADO 21H30 DOMINGO (DIA 16) 16H, QUARTA-FEIRA (DIA 26) 20H30 – DESDE 7,50 EUROS

Armandinho

21H – DESDE 20 EUROS

28 SEXTA-FEIRA COLISEU DO PORTO

Rui Veloso Trio

21H30 – DESDE 20 EUROS

DE 26 A 29 DE MARÇO TEATRO NACIONAL S.JÕAO Ai Mada Nada

QUARTA-FEIRA 23H QUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30 – DESDE 7,50 EUROS

DE 20 A 30 DE MARÇO TEATRO CARLOS ALBERTO

O filho de mil homens

QUINTA-FEIRA A SÁBADO 21H30 DOMINGO 16H – DESDE 10 EUROS

MUSEU NACIONAL DA IMPRENSA TODOS OS DIAS DAS 15H ÀS 20H PREÇO: 2 EUROS

ATÉ DIA 15 DE MARÇO GALERIA PORTO ORIENTAL

Exposição do Acervo e de Novas Obras

TERÇA-FEIRA A SÁBADO DAS 15H ÀS 19H ENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 15 DE MARÇO

RIVOLI TEATRO MUNICIPAL Fantasporto 2014 PREÇO: 4 EUROS

ATÉ DIA 15

PRAÇA CARLOS ALBERTO

Mercado Porto Belo

TODOS OS SÁBADOS DAS 11H ÀS 17H ENTRADA LIVRE

16 DOMINGO PARQUE DA CIDADE

Corrida dia do pai

A PARTIR DAS 10H

BIBLIOTECA MUNICIPAL DO PORTO O Mundo das Aves – exposição de literatura

SEGUNDA-FEIRA A SÁBADO DAS 10H ÀS 18H ENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 16 DE MARÇO

CENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA Arrábida 50

TERÇA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DAS 10H ÀS 12H/14H ÀS 18H. SÁBADOS E DOMINGOS DAS 15H ÀS 19H

ATÉ DIA 30 DE MARÇO EDIFÍCIO ALFÂNDEGA DO PORTO 3D Magic Art – Exposição de pintura de Imprensa Literária

SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA DAS 10H ÀS 18H. FINS-DE-SEMANA DAS 10H ÀS 20H CRIANÇAS (ATÉ AOS 11 ANOS) 5 EUROS, ADULTOS 7 EUROS

22 SÁBADO HARD CLUB

Vicious Hip-Hop

BILHETES PRÉ-VENDA 8 EUROS, NO PRÓPRIO DIA 10 EUROS

ATE DIA 9 DE MAIO

CATÓLICA FOZ – CAMPUS FOZ

Ciclo mente à sexta-feira

SEXTAS-FEIRAS DAS 11H ÀS 13H ENTRADA LIVRE


JUP — MARÇO 2014

U.PORTO

Mostra da Universidade do Porto DE 27 A 30 DE MARÇO O PALÁCIO DE CRISTAL VOLTA A CONCENTRAR TODA A OFERTA FORMATIVA DA UNIVERSIDADE DO PORTO.

AGENDA

12 MARÇO

21 MARÇO

Debate com três painéis no auditório B032, das 14h30 às 17h15, e um debate no Grande Auditório da FEUP, das 18h00 às 20h00, com o Professor Marçal Grilo, Administrador da Fundação Gulbenkian e ex-Ministro da Educação e o Professor António Ferrari, ex-Vice-Reitor da Universidade de Aveiro.

DIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO 11h00: Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, inaugura novo edifício da UPTEC, Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, situado no Pólo Tecnológico da Asprela. 15h00: Cerimónia, no salão nobre do edifício da reitoria, que assinala o Dia da Universidade. Terá como orador convidado Maria Helena Nazaré, presidente da Associação Europeia de Universidades. Contará ,ainda, com a intervenção da arquiteta Paula Silva, antiga aluna da Universidade

27 A 30 DE MARÇO MOSTRA DA UNIVERSIDADE DO PORTO. Palácio de Cristal. A Mostra é aberta ao público em geral. Visitas de grupos escolares mediante inscrição prévia. Entrada livre. Exposição anual da oferta formativa da Universidade mais procurada pelos estudantes que terminam o Ensino Secundário. São quatro dias de informação, experimentação e descoberta. Quinta e sexta : 10h00 - 19h00 Sábado: 11h00 - 20h00 Domingo: 11h00 - 19h00.

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DEBATES SOBRE NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO

27 DE FEVEREIRO A 27 DE JUNHO

EXPOSIÇÃO: “INAUDITO – A AVENTURA DE OUVIR” Exposição, de caráter interativo e informativo, integralmente dedicada à audição. “Inaudito – A Aventura de Ouvir” está patente nas novas salas de exposições temporárias do edifício histórico da U.Porto. Pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas, e aos sábados, por marcação através de cdl@reit.up.pt. Entrada livre.

ATÉ 30 DE ABRIL

EXPOSIÇÃO: “NO CORAÇÃO DO PORTO” A exposição reúne trabalhos de pintura e escultura de Isabel Saraiva e José Rodrigues, respetivamente, inspirados na cidade do Porto, em particular no centro histórico da cidade. Está patente na Sala de Exposições Temporárias da Reitoria da Universidade do Porto. Pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas. Entrada livre.

Congresso de Comunicação de Ciência – Sci Com PT 2014

T

C

om todas as unidades orgânicas reunidas num mesmo espaço, a Mostra da U.Porto afirma-se como um espaço privilegiado para questionar, experimentar e aprender. Mas o que vem a seguir ao curso também nos interessa e é por isso que nesta 12ª edição da Mostra unimos esforços em torno de uma preocupação comum: a empregabilidade. Vamos mostrar tudo o que a U.Porto tem para oferecer, incluindo as estratégias de encaminhamento dos estudantes no mercado de trabalho. Como? Os gabinetes de empregabilidade das unidades orgânicas vão reunir-se num balcão comum para prestar todos os esclarecimentos sobre oportunidades de emprego, sistema de colocações e possibilidades de estágio. Todas as unidades orgânicas que desenvolvam ações continuadas de encaminhamento profissional e estágios vão estar presentes neste stand. No fundo, a Universidade vai concentrar informação sobre todos os mecanismos de que dispõe de aproximar os estudantes do mercado

de trabalho. À semelhança de anteriores edições, teremos ainda um conjunto de atividades paralelas. O Departamento de Engenharia Eletrotécnica da FEUP vai fazer uma demonstração de robôs autónomos, haverá conferências relâmpago com temas ligados à ciência, ao nutricionismo e à arquitetura e workshops de observação da natureza com oficinas de desenho e pintura aplicados à representação de animais e plantas, oficinas de identificação de exemplares de líquenes “à moda do Norte” e desafios para dar “a volta ao musgo dos jardins do Palácio de Cristal em 90 minutos” e fazer “percursos guiados através dos jardins que rodeiam o Pavilhão Rosa Mota” para desvendar alguma da biodiversidade aí existente. A 12.ª Mostra da Universidade do Porto é uma oportunidade impar de esclarecer dúvidas com colegas e professores, descobrir uma vocação ou aprofundar convicções sobre o futuro académico. Aparece no Pavilhão Rosa Mota de 27 a 30 de março, quinta e sexta das 10h00h às 19h00, sábado das 11h00 às 20h00 e domingo das 11h00 às 19h00.

U.Porto entre as 200 melhores escolas do mundo

A

Universidade do Porto está entre as 200 melhores escolas do mundo em sete das 30 áreas de ensino analisadas pela edição 2014 do “QS World University Rankings by Subject”, um dos mais reputados rankings internacionais de ensino superior, publicado pela empresa multinacional Quacquarelli Symonds. Ao todo, foram analisados mais de 3.000 universidades e 10.000 cursos de todo o mundo, através de três indicadores de qualidade em cada área de ensino: reputação académica, reputação entre empregadores e produção científica. A Universidade do Porto surge entre a “elite mundial” – assim se refere a Quacquarelli Symonds ao top 200 do seu ranking – em sete áreas (Agricultura e Silvicultura, Ciências do Mar e da Terra, Direito, Engenharia Civil, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia Química e Farmácia e Farmacologia), o que representa um crescimento em relação ao ano anterior, quando a Universidade do Porto viu seis das suas áreas de ensino

classificadas entre as 200 melhores do mundo. Para além da ascensão da Engenharia Eletrotécnica ao top 200 mundial, a Universidade do Porto tem este ano duas áreas (Engenharia Civil e Engenharia Química) classificadas entre a 101ª e 150ª melhor escola do mundo nas referidas áreas de ensino. A notícia surge no ano em que a U.Porto alcançou novo record de estudantes e investigadores estrangeiros: o número ultrapassa já os 3.800 e são oriundos de 112 países. A maioria dos estudantes é proveniente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e o Brasil continua a ser o país com maior representação. Já em Setembro passado a Universidade do Porto surgiu como a universidade portuguesa mais bem colocada no “QS World University Rankings”, o ranking de avaliação genérica das instituições de ensino superior desta multinacional, ocupando o 343.º lugar entre mais de 800 universidades mundiais classificadas.

ermina a 15 de março o prazo para o envio de resumos para o congresso SciCom Portugal 2014. O foco central da edição deste ano do congresso, que acontece dias 3 e 4 de junho, na Universidade do Porto, recai no papel da comunicação de ciência no desenvolvimento local, regional, nacional e internacional, em especial nas comunidades de língua portuguesa. As comunicações serão organizadas em torno de seis temas. “Quem somos: Repensar a comunicação de ciência à luz da mediação de conhecimento (knowledge brokering)” é o título da sessão de abertura. Haverá mesas redondas sobre Comunicação de Ciência e a sessão de encerramento incidirá sobre “A ciência com e para a sociedade, no âmbito de uma perspetiva de Investigação e Inovação Responsável (RRI)”. As sessões paralelas, que irão decorrer também durante os dias 3 e 4 de junho, subdividem-se de acordo com os seguintes temas: Grassroots, Faça Você Mesmo (DIY), ciência de cidadãos (citizen science), projetos e atividades de ciência desenvolvidos em comunidades; Educação informal e projetos dirigidos a grandes públicos; Multimédia e projetos de arte e ciência; Atividades empresariais, angariação de fundos e marketing científico; Relação com os media, jornalismo científico

e projetos influenciadores de políticas científicas e Projetos internacionais ou de larga escala em Ciência e Sociedade. Relativamente a cada tema, os trabalhos podem ser apresentados de duas formas: estudos teóricos e de avaliação, ou projetos e descrição de práticas. As propostas melhor classificadas serão aceites para apresentação oral e as que obtenham nota mínima na avaliação serão aceites para apresentação em poster. As comunicações aprovadas serão conhecidas a 30 de Abril e as inscrições encerram a 15 de Maio. O valor da inscrição é 30 euros (incluindo almoços volantes, coffee-breaks, programa social e material informativo). O SciCom Portugal surgiu no Facebook, como uma comunidade informal de comunicadores de ciência que proporcionou uma plataforma de cooperação e de partilha de boas práticas, ao identificar os vários agentes, e as suas preocupações e necessidades. O primeiro encontro conteceu em 2013, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. O Congresso de Comunicação de Ciência é um ponto de encontro e discussão para todos os que trabalham e se interessam pela comunicação e divulgação da Ciência.

Estudar as condições de vida dos refugiados

É

um projeto de Cátia Carvalho, de 23 anos, finalista do Mestrado Integrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto. Possível graças ao apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) n, este projeto pretende estudar as condições de vida dos refugiados e lançar as bases para um plano de intervenção junto das respetivas populações. Neste caso específico, falamos do campo de refugiados Molé, na República Democrática do Congo. A estudante partiu para o terreno com o objetivo de identificar em que condições humanitárias se vive nos campos de refugiados e lançar as bases para a criação de um plano de intervenção, a nível psicológico, junto destas populações. Na prática, irá estudar o quotidiano dos refugiados, “os problemas, as atividades que desenvolvem para passar o tempo, a prestação de cuidados de saúde que recebem e a forma como se dá escolaridade às crianças e jovens. Também me interessa perceber quais as soluções que os campos oferecem para resolver os seus problemas e, por último, se sentem necessidade de interven-

ção psicológica, que é escassa em campos de refugiados”. A partir dos resultados obtidos, a estudante espera lançar as bases para futuros projetos de intervenção “ao nível da saúde mental, da demografia e política” junto das populações dos campos de refugiados. Mas não só. “Quero também chamar a atenção das autoridades e governos para o paradoxo do que se diz ser uma solução humanitária. Ora, o que acontece é que os campos são uma solução permanente e de indefinição em relação ao futuro para a maior parte dos refugiados, que passam vidas inteiras neles”. Este retrato dos problemas vividos no campo de refugiados será depois entregue ao ACRUN. Desta experiência, Cátia espera trazer “uma nova área de estudos e uma temática pouco conhecida “para Portugal e para a U.Porto” onde, confessa, gostaria de assistir a um maior investimento “em parcerias com centros de investigação de outras universidades, ONG’s e fundações internacionais e assim levar para outros ‘mares’ a produção científica cá produzida”.

textos Anabela Teixeira Santos/ Gab.de Com. da Reitoria da U.P.


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SOCIEDADE

A Ilha da Bela Vista entre o passado e o futuro

FORAM DÉCADAS A VIVER ALI, MUITOS NÃO CONHECERAM OUTRO SÍTIO. FORAM ANOS DE PROMESSAS POR CUMPRIR, DE LUTAS E RESISTÊNCIAS POR FICAR. ANTES, ERAM CERCA DE TREZENTAS PESSOAS. AGORA, APENAS TREZE VIVEM NA ILHA DA BELA VISTA. O DESEJO DE PERMANECER ALI, ESSE, CONTINUA TÃO VIVO COMO NO PRIMEIRO DIA, AGORA UM POUCO MAIS FORTE E ESPERANÇOSO COM O PROJETO LABORATÓRIO DE HABITAÇÃO BÁSICA E SOCIAL (LHBS). texto Bárbara Silva fotografia Luís Coelho


JUP — MARÇO 2014

SOCIEDADE

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SERIA IMORAL PEDIR A UM IDOSO UMA RENDA INSUPORTÁVEL -

O

Srª. Rosa Pinto

portão verde, do 832 da Rua Dom João IV, esconde uma realidade antiga, estranha aos portuenses. A passagem estreita rodeada de pedra, o hall, que dá para divisões independentes, apertadas e esquecidas no tempo pelas entidades mais diversas da cidade. Depois de anos de luta, Domingos Aloísio, que vive na ilha há cerca de 40 anos, revisita o passado de “muitas promessas que nunca foram cumpridas”. Também Rosa Pinto, nascida ali há 69 anos, recorda que “diziam que isto ia a baixo, andaram muitos anos a vir cá e depois nunca mais voltaram”. Mas, agora, os primeiros ventos de mudança parecem começar a fazer sentir-se: “isto nunca foi encarado como é agora”. E as dúvidas em relação ao futuro dão lugar à expectativa. Hoje surge esperança: quando se veem “as pessoas a vir cá, acredito mais que isto vai andar”.

Sr. Domingos Aloísio e Srª Maria Eugénia

É por acreditar que as ilhas podem ser uma alternativa aos bairros em altura, constituindo-se como uma oportunidade e um novo conceito de habitação mesmo no coração da cidade – a habitação lowcost –, que o antropólogo Fernando Matos agarrou-se à Ilha da Bela Vista, no Laboratório de Habitação Básica e Social (LHBS). Esta corresponde a uma tipologia de habitação que abre portas à fixação de “casais jovens, de estudantes e à heterogeneidade social”, ao mesmo tempo que permite que “os que estão lá a viver se mantenham”. Diminuir a exclusão social, melhorar a qualidade de vida e a mobilidade da população e, “acima de tudo devolver a vida à cidade” são os grandes objetivos deste projeto que vê, em julho, o arrancar das obras. Modelos de construção Todo o processo de construção deve ser de baixo custo, cujos valores finais não excedam os 10.000 euros, de modo a gerarem rendas mensais que não ultrapassem os 200 euros, sendo atribuídas segundo os rendimentos das famílias e dando prioridade aos habitantes que sempre viveram nessa ilha. Muitos deles, já perto dos 80 anos, e para os quais a atualização da renda não irá representar uma subida excessiva até porque, como afirma Fernando Matos, promotor do projeto, “seria imoral pedir a um idoso uma renda insuportável”. Para isso, a proposta é “fazer casas através do aproveitamento do espaço, compensando o pouco espaço com bons desenhos”, como explica um dos arquitetos do projeto, Fábio Rodrigues. A fachada dos edifícios irá manter-se, assim como todo o perfil do bairro. As habitações terão áreas compreendidas entre os 20 e os 47 metros quadrados e serão o mais sustentável possível. Para Fábio Rodrigues, a ideia desta construção é, “através de técnicas passivas, sem material muito caro e aproveitando a dinâmica do próprio espaço”, resolver os problemas de iluminação, aquecimento e ventilação. Também Fernando Matos reforça que o objetivo deste projeto é construir “habitação básica, introduzindo qualidade em termos de aquecimento e acústica, sem que haja grandes alterações de áreas”. A arquitetura é o pilar deste projeto, a par de uma forte valorização do associativismo de moradores, através de uma aposta sólida numa programação que, de acordo com Fernando Matos, traduz-se num “mix de convergências inteligentes, criativas e solidárias em prol de um projeto que queremos pragmático e que seja um modelo de reabilitação a custos básicos para a cidade do Porto”, devendo ter sempre o cuidado de incluir os próprios moradores.

Este projeto resulta de vinte anos de estudo desta tipologia de habitação e de um conjunto de sinergias entre várias entidades: a Escola Superior Artística do Porto, Instituto Superior de Serviço Social do Porto e as Universidades do Minho, de São Paulo, Boston, Passo Fundo e de Harvard, mas que também conta com o apoio da Câmara Municipal do Porto, que vê agora no novo presidente uma lufada de ar fresco: FERNANDO MATOS “havia um compromisso que se o Dr. Rui Moreira ganhasse a câmara (PROMOTOR DO PROJETO) o laboratório seria instalado na Bela Vista”. Domingos, Rosa, Manuel e Ana são os rostos da Bela Vista, os resistentes, que viram pessoas a chegar e a partir, uns nascer, outros morrer, viram e ouviram de tudo sem que nada acontecesse. Para já, o entusiasmo é geral e os pedidos são os mesmos: uma “casinha pequena” e gente boa, que venha com boa fé e com “espírito de bem-estar”, especialmente “casais com crianças, que deem vida a isto”.

AS ILHAS – UM ESPAÇO DA CIDADE, NA CIDADE As ilhas estendem-se de Campanhã a Ramalde, passando pela baixa da cidade. São os grandes e imponentes edifícios de fachada antiga, que, por trás, albergam uma realidade, muitas vezes, estigmatizada e incompreendida. Muitas refletem a cidade industrial dos anos 20 e 30, outras são o marco das migrações cidade/campo, das décadas 50 e 60. Eram “casas que albergavam um casal com três filhos e de repente passam a ser espaços que albergam os primos e os tios”, tornando-se, naquilo a que Fernando Matos denomina de “oceano de gentes que veem do mundo rural e que caiem na cidade”, sendo por isso a ilha “o primeiro momento da entrada na cidade”. No entanto, o antropólogo recusa “a ideia folclórica e romântica de que a ilha é um espaço de partilha absoluta”, alertando que o quotidiano nestes espaços assenta numa “relação de convivência entre o que é meu e o que é do outro”, havendo por isso “valores intrínsecos ao habitar que num bairro não existe”. São estes valores que fazem das ilhas sinónimo de identidade urbana, constituindo mais “do que um elemento físico, são um elemento sociocultural da cidade”, uma vez que são “espaços de memória” de onde sai muita gente, pessoas que fazem o Porto.

Sr. Domingos Aloísio, Srª Rosa Pinto, antropólogo Fernando Matos e arquitecto Fabio Rodrigues Azevedo


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POLÍTICA

Doutorada em Ciência Política e Relações Internacionais Investigadora do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade (CEPESE), da Universidade do Porto Docente na Faculdade de Letras da mesma universidade. Publicações recentes incluem A Influência Político-económica da Alemanha na Europa (1945-1995), Edições Pedro Ferreira,Lisboa, 1997; e O Conceito de Refugiado e o Asilo na Perspectiva das Relações Internacionais: O Caso da União Europeia (tese de doutoramento), Universidade do Minho, 2002. Foi a principal responsável pelas entradas relativas às Organizações Internacionais.

Que se passa Europa? EM QUE EUROPA VIVEMOS E QUAIS SÃO OS SEUS DESAFIOS? QUAIS SÃO OS SEUS PERIGOS? O QUE SE PASSA NA UCRÂNIA? É DE ESPERAR QUE ESTA SITUAÇÃO SE REPITA NOUTROS PAÍSES? QUAL É A SITUAÇÃO ACTUAL DA BÓSNIA-HERZEGOVINA? entrevista Joel Pais ilustração Tina Siuda

Como descreve a União Europeia atual? Hoje as prioridades da União Europeia (UE) encontram-se centradas em questões de carácter económico-financeiro. A recessão económica e as sua implicações sociais irão fazer-se sentir durante vários anos no espaço europeu. Os problemas sociais como a elevada taxa de desemprego, o aumento do descontentamento social dadas as acentuadas desigualdades, e o aumento da criminalidade, contribuem para a instabilidade social que se faz sentir sobretudo nos Estados que foram alvo de resgates financeiros. Há, assim, uma clara reorientação da União Europeia para os problemas internos e os projectos que implicam um maior aprofundamento, estão por agora estagnados. No próximo mês de maio, as eleições para o parlamento europeu, irão mostrar se os cidadãos mantêm a confiança na UE enquanto projecto económico, políticos e social. Pela primeira vez, irão também escolher, indirectamente, o presidente da Comissão Europeia para os próximos cinco anos. Contudo, as críticas à falta de legitimidade democrática continuam presentes sobretudo junto daqueles que consideram que há, cada vez mais, um evidente distanciamento dos cidadãos dos principais centros de decisão que se reflecte, por

exemplo, na baixa participação destes nas eleições europeias. É, no entanto, necessário lembrar que este afastamento progressivo ocorre ao mesmo tempo que na UE atribuiu uma maior influência ao papel do Parlamento Europeu É de prever que a economia estará no centro da campanha política que se vai desenvolver nos vários Estados membros. Desde 2010 que o debate se situa entre a austeridade versus políticas de crescimento económico. Neste contexto de difícil situação económica de alguns países, não nos podemos esquecer da ameaça do nacionalismo, e de políticas de carácter xenófobo que acabam por ter uma expressão política importante em alguns Estados membros. Ao longo da nossa história, as crises económicas são normalmente acompanhas por um reacender dos nacionalismos que surgem como resposta à crise. Estes podem colocar em causa a unidade política que se pretende construir na Europa. A discussão à volta do projecto europeu implica, da parte da sociedade europeia, uma reflexão sobre a sua vontade em nele participar. Penso que há hoje uma clara falta de visão por parte da elite política europeia em relação ao sentido da integração europeia e uma das consequências deste facto reside no aumento da desconfiança dos cidadãos europeus no próprio projecto.


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POLÍTICA

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Quais as principais diferenças entre a Europa Ocidental e a Europa de Leste? A Europa de Leste é uma região que compreende várias culturas, etnias, línguas e herança histórica. É preciso lembrar que este grupo de Estados esteve sob a esfera de influência soviética durante várias décadas, e este facto ajuda a explicar o atraso de desenvolvimento nesta parte da Europa, e que é diferente daquele que existe na Europa Ocidental. Um dos fenómenos mais importantes do continente europeu após a guerra fria consistiu na re-inclusão da Europa Central e de Leste nas relações político-económicas da Europa Ocidental. Fortes laços foram gerados entre a União Europeia e estes países, sobretudo a partir do apoio que a UE deu aos difíceis e complexos processos de transição empreendidos pelos países desta parte da Europa, e que foi essencial ao seu sucesso. Claro que, como afirma Geofrey Pridham, a consolidação da democracia demora gerações a efectuar-se. Actualmente, com três décadas de democracia, este grupo de Estados apresenta já indicadores positivos em várias áreas. No entanto, continuam a enfrentar sérios problemas como é o caso da corrupção, que se faz sentir mais na Bulgária e na Roménia, dado o evidente atraso de desenvolvimento destes dois países em relação aos restantes. Sei que grande parte da sua investigação está relacionada com a Bósnia-Herzegovina (BH). Como a situação instalada neste momento no país? É uma situação preocupante que se arrasta há vários anos. Os líderes políticos têm se mostrado incapazes de resolver os problemas que afectam a sociedade: elevada taxa de desemprego (40%) que afecta sobretudo os jovens, pobreza e miséria generalizada. Tuzla (3ª maior cidade do país), uma das mais importantes ao nível da indústria (metalúrgica, petroquímica e carvão), e Sarajevo (capital), são as cidades onde se faz sentir o descontentamento generalizado. É necessário lembrar que a BH era a mais pobre das repúblicas da ex-Jugoslávia. Além disso, mais de um milhão de refugiados e deslocados da guerra civil (que terminou em 1995) regressaram nos últimos anos à Bósnia, agravando a situação já por si complicada do ponto de vista económico e social. A acrescentar a esta difícil situação económica e social, a BH, tal como qualquer outro país da região dos Balcãs, sofre de uma pesada herança do passado – a corrupção, que está presente em todos os níveis da sociedade e que abrange também a elite política. As manifestações são o resultado do descontentamento relativamente à administração do Estado, com uma divisão política que, em vez de promover a união, acentua as divergências entre Bósnios (Muçulmanos), Sérvios (Ortodoxos) e Croatas (Católicos). A BH é constituída por duas entidades politicamente separadas e autónomas: a Federação da Bósnia-Herzegovina (Bósnios e Croatas) e a República Srpska (Sérvios da Bósnia), cada uma é subdivida em cantões e regiões. Os cantões dispõem de grande autonomia e de um governo próprio. Isto representa uma complexa administração, onde as profundas divisões produzem estagnação política e vulnerabilidade perante fenómenos como a corrupção e o crime organizado, retraindo o investimento estrangeiro. O poder central é dirigido por uma presidência colegial tripartida – um sérvio, um bósnio e um croata – e as decisões requerem unanimidade das 3 comunidades, resultando num bloqueio permanente das instituições e em crises frequentes. E quanto Ucrânia, tema obrigatório diário nos media? Vive um período de grande instabilidade, falando-se mesmo de possível “guerra civil”. Para já foi assinado um acordo onde se anteciparam as eleições presidenciais, e se iniciou, não só, o processo de regresso à Constituição de 2004, redistribuindo o poder a favor de uma república parlamentar, como também, o processo

para formar um governo de unidade nacional. As manifestações na Ucrânia surgiram como resposta à adopção de um conjunto de leis que limitava seriamente a liberdade dos ucranianos. Estas constituíam um recuo claro no processo de transição democrática. As divisões na Ucrânia são agravadas por factores linguísticos, geográficos e religiosos. A leste, a população fala russo e pertence à Igreja Ortodoxa Russa, sentindo-se mais próximos de Moscovo. A Ocidente, a população fala ucraniano, pertence à Igreja Ortodoxa da Ucrânia ou são Católicos de rito bizantino, sentindo-se mais próximos do Ocidente. A geração mais jovem é mais favorável a uma aproximação à UE e pretende um compromisso com os valores europeus e, sobretudo, novas leis que salvaguardem os princípios democráticos. Na base da situação actual encontra-se a pressão que a Rússia tem desenvolvido no sentido de travar que países, tradicionalmente na sua esfera de influência, assinem Acordos de Associação com a UE no âmbito do Programa das Parcerias a Leste. O primeiro a desistir foi a Arménia, quando o presidente Serzh Sargsyan declarou que a Arménia suspendia a preparação dos Acordos de Associação com a UE, acabando por optar em se juntar à União Aduaneira com a Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão. A Ucrânia acabou também por desistir do Acordo de Associação com a UE em Novembro de 2013, aproximando-se política e economicamente da Rússia. A pressão da Rússia fez-se sentir com a ameaça de sanções económicas, o aumento dos preços do gás natural russo e o apertar do controlo fronteiriço. Num ano, em que as exportações para Rússia baixaram drasticamente, a compensação financeira oferecida pela UE não compensava os prejuízos. É também provável que a pressão russa se faça sentir na Moldávia e na Geórgia.

AS DIVISÕES NA UCRÂNIA SÃO AGRAVADAS POR FACTORES LINGUÍSTICOS, GEOGRÁFICOS E RELIGIOSOS.

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DESPORTO

Um novo espião, um velho propósito ‘FOOTBALL TALENT SPY’. É ESTE O NOME DO SOFTWARE, PRODUTO MADE IN PORTUGAL, CRIADO PELA EMPRESA F3M DE BRAGA, QUE SE PROPÕE REVOLUCIONAR O FUTEBOL MUNDIAL NOS PRÓXIMOS ANOS E QUE TEM COMO FOCO A PROSPECÇÃO DE JOVENS TALENTOS FUTEBOLÍSTICOS. texto Filipe Coelho ilustração Tiago Lourenço

L

ançado pela F3M (uma das maiores empresas nacionais especializadas em Tecnologias de Informação e Comunicação) trata-se de uma plataforma web-based que permite a criação de bases de dados de jogadores, a organização de relatórios de observação e relatórios de jogo, a comparação entre futebolistas e a análise de estatísticas e o planeamento de tarefas. Um novo produto que vem dar resposta a “uma clara necessidade das estruturas de scouting deterem uma ferramenta inteiramente dedicada e com todos os atributos-chave para um trabalho de criação, arquivo e relação de base de dados de observação de jogadores”, como aponta o Product Manager do Software, Pedro Matos Vital, algo ainda mais relevante numa época marcada pela chegada do Fair-Play financeiro imposto pela UEFA e pelas restrições orçamentais de que a maioria dos clubes sofre. Sendo uma ferramenta especialmente focada na prospecção de novos talentos, esta aplicação revela-se fundamental para clubes, treinadores, agentes de atletas, olheiros e observadores, mas pode também ser interessante para jornalistas ou meros treinadores de bancada e curiosos, uma vez que permite a criação de uma conta gratuita (ainda que com possibilidades limitadas). Neste ponto, convém salientar que se trata de uma solução de baixo custo, estando acessível tanto aos grandes clubes como aos de menor dimensão. No fundo, como destaca Pedro Matos Vidal, “através de uma plataforma focada nesta área, qualquer estrutura de scouting tem a possibilidade de criar relatórios de observação uniformizados, planear tarefas de visionamento e pesquisar jogadores por atributos-chave devidamente classificados”, acrescentando que “as bases de dados são próprias de cada estrutura e a confidencialidade é absoluta e devidamente garantida através de um processo externo de certificação de segurança e encriptação de dados” – tudo para desco-

brir potenciais Messis ou Ronaldos. A componente tecnológica desta ferramenta é evidente. Sendo uma plataforma online, está disponível para desktops e tablets, tendo sempre o utilizador como foco: a aplicação está em constante actualização, no sentido de responder às necessidades de quem a usa, permitindo ainda o suporte para outros conteúdos digitais (fotos, vídeos ou pdf´s). Funcionalidade Tendo um propósito claro, o ‘Football Talent Spy’ assume-se como mais um meio de “enformar” a paixão da bola em moldes científicos. Para tal, a plataforma online revela-se intuitiva e de fácil utilização. À cabeça, a possibilidade de se escolher o tipo de conta pretendido, conforme as funcionalidades de que se pretende usufruir (e inerentemente o preço em causa). A partir daqui, surge um mundo por explorar, com a potencialidade de criação de uma base de dados – desde perfis de jogadores individualmente, fruto de relatórios de observação (classificação global e quatro tipos de parâmetros de observação, com a possibilidade da escala de observação ser configurada assim como as características alvo de relatório), até à planificação de observação de uma determinada equipa. O menu principal revela-se apelativo e com a informação mais relevante sobre um jogador desde logo disponível, afirmando-se como uma aplicação imediata. Permite ainda, que um perfil de um jogador seja inserido numa determinada lista em função do valor demonstrado, podendo serem associados vídeos, fotos ou outros documentos a este. Entre outras funcionalidades, é também possível introduzir dados sobre um jogo que se pretenda observar (a priori, portanto) e ainda gerir determinadas tarefas, divididas por diversas categorias consoante o seu estado de execução.

Expansão O ‘Football Talent Spy’ está ainda em fase de implementação no mercado futebolístico. Neste aspeto, tendo como objectivo levar a área de observação de jogadores e de equipas para um patamar verdadeiramente profissional, é de destacar o esforço que tem sido feito para se dotar dos melhores especialistas, como é o caso de Rui Malheiro, recentemente nomeado Chief Scout. De facto, a aposta tem sido consolidada e começam a surgir os primeiros frutos: a nível interno, o Estoril-Praia está a testar a plataforma e há negociações a decorrer com outros clubes nacionais; por outro lado, atravessando o Atlântico, a receptividade tem sido também ela grande, com clubes brasileiros de nomeada a mostrarem-se interessados no produto.

Como uma solução inovadora, o ‘Football Talent Spy’ destaca-se pela sua contínua actualização e busca por novos conteúdos. Há a preocupação de uma constante evolução (estão programadas novidades ao nível da avaliação dos jogos ou do melhoramento das posições disponíveis dentro do software) que pode ser acompanhada nas diversas plataformas onde a aplicação está presente – desde o Facebook ao Youtube ou do Tumblr até ao Twitter.


JUP — MARÇO 2014

DESPORTO

CALENDÁRIO MAIA CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO

Maia Olímpica em 2014 DEPOIS DE GUIMARÃES EM 2013, A MAIA RECEBE AGORA O TÍTULO DE CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO. O RECONHECIMENTO VAI SER CELEBRADO COM DEZENAS DE EVENTOS ONDE A COMPETIÇÃO, NACIONAL E INTERNACIONAL, VAI CHEGAR A TODAS AS MODALIDADES.

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o futebol à ginástica, do andebol ao voleibol, da natação ao automobilismo, dos desportos adaptados aos desportos radicais, todas as modalidades vão passar pela Maia. Serão cerca de 200 eventos desportivos, num investimento de 700 mil euros, que farão do município maiato, uma das cidades europeias do Desporto em 2014. A ACES Europe (Associação de Capitais Europeias do Desporto), em parceria com a Comissão Europeia, distinguiu a cidade nortenha devido a um conjunto de fatores que nos últimos anos fomentaram a prática desportiva no concelho. "A Maia tem uma boa organização desportiva, infraestruturas de grande qualidade, a favor dos cidadãos, combinando vários sistemas, o público, o privado, a escola e a faculdade, pontos fundamentais para ter sido escolhida", explicou Gian Francesco Lupatteli, presidente da ACES Europe, no momento da eleição, em Julho do ano passado. Para Hernâni Ribeiro, Vereador do Desporto da Câmara Municipal da Maia, o título de Cidade Europeia do Desporto é “o reconhecimento de um trabalho impar elaborado ao longo das últimas três décadas, quer na construção de equipamentos, quer nas políticas de fomento das práticas desportivas”. Atualmente, a Maia possui cerca de 80 estruturas municipais ligadas ao Desporto, dos quais se destaca o Estádio Municipal, onde vão decorrer as provas de Futebol e Atletismo. A par das infraestruturas, Hernâni Ribeiro, salienta a ligação que a cidade tem a algumas modalidades: “temos bastante tradição em alguns desportos, como na ginástica e o ciclismo”, referindo-se a associações como a União Ciclista ou o Acro Clube da Maia, entre outras, que ao longo dos últimos anos têm vindo a dar cartas a nível nacional. Mas para além das modalidades com as quais os Maiatos estão mais familiarizados, no programa de atividades figuram ainda desportos praticamente desconhecidos para o público local, como é o caso da Orientação ou do Corfebol. De todo o cartaz deste ano, destacam-se os 64 eventos de âmbito internacional. Desde provas da Taça do Mundo de Ginástica Acrobática, até à Final Four da Taça de Portugal em An-

debol, passando pela Volta a Portugal em Bicicleta, a Maia espera atrair milhares de atletas e adeptos. Um dos eventos mais esperados decorre no final deste mês. Nos dias 24 e 25 de Março, grandes nomes do treino desportivo, como André Villas Boas, Paulo Bento, Manuel José ou Jorge Braz, vão ocorrer à Maia para participar no Fórum Nacional de Treinadores de Futebol e Futsal. Para Hernâni Ribeiro, a organização da Cidade Europeia de Desporto tem três objetivos principais: “Incutir a prática desportiva nos cidadãos, de forma a aumentar a qualidade de vida, aumentar o nível de competitividade das associações locais através do exemplo dos atletas que este ano vão passar pela Maia e aumentar a coesão social, algo muito importante numa cidade que tem vindo a crescer demograficamente nos últimos anos”. Para além disso, o Vereador do Município da Maia espera ainda que a iniciativa sirva para dinamizar o desporto adaptado junto dos clubes locais. Por último, Hernâni Ribeiro não nega que o reconhecimento internacional traz notoriedade e visibilidade às atividades locais. Campeonatos Universitários na Cidade Europeia Em abril, os estudantes-atletas de todo o país vão competir na Fase Final dos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s). De 7 a 12 de abril, no âmbito da iniciativa Cidade Europeia do Desporto, a Federação Académica do Porto (FAP) em parceria com a Câmara Municipal e com o Instituto Superior da Maia, vai organizar aquela que é considerada a maior festa do desporto universitário a nível nacional. No final de fevereiro já estavam a ser executados os últimos passos na organização do evento, que se vai concentrar no Complexo Desportivo Central da Maia. “Os estudantes vão encontrar um programa que vai para além do Desporto”, adiantou o vereador sobre o ambiente que o Municipio pretende proporcionar aos atletas universitários. Os CNU’s 2014 vão concentrar na Maia as modalidades de Andebol (f/m), Basquetebol (f/m), Futebol 11 (m), Futsal (f/m), Rugby 7s (m) e Voleibol (f/m). A prova vai integrar ainda as competições diretas de Hóquei em Pa-

tins (f/m), Rugby 7s (f) e Corfebol (Misto). As Fases Finais Concentradas, que resultam de três zonas de apuramento, Lisboa, Porto e Nacional, vão contar com a presença de mais de 2000 atletas nos 6 dias de competição. No ano passado, a fase final dos CNU’s foi organizada pela Universidade da Beira Interior, na zona da Cova da Beira. Nesse evento a Universidade do Porto foi bronze no Rugby 7s feminino, no Voleibol masculino (onde o IPP venceu a medalha de ouro), no Andebol feminino e no Atletismo de Estrada, onde também venceu uma medalha de Prata. Sagrou-se ainda vice-campeã no Hóquei em Patins masculino, depois de perder frente à Académica de Coimbra numa final decidida no prolongamento. Este ano, talvez o fator “casa” beneficie os atletas portuenses. Espanha e Itália dominam o desporto europeu Desde 2001 que a ACES (Associação de Capitais Europeias do Desporto) e a Comissão Europeia elegem anualmente uma Capital do Desporto e várias cidades europeias do Desporto. A primeira cidade a receber a distinção máxima da associação comunitária foi Madrid. Este ano a honra cabe a Cardiff (capital gaulesa), e para o ano será Turim, palco dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2006. Até ao momento nenhuma cidade portuguesa foi considerada Capital do Desporto pela ACES, apenas a Maia (este ano) e Guimarães (em 2013) receberam o título de Cidade Europeia do Desporto. Para o próximo ano é candidata ao mesmo reconhecimento, a cidade algarvia de Loulé. Apesar destas duas distinções, Portugal mantem-se bem longe dos grandes centros europeus, nomeadamente Itália e Espanha, que têm vindo a dominar as nomeações da ACE’s e que ao longo dos últimos anos se afirmaram como um exemplo a seguir no que toca a políticas e práticas desportivas. Desde 2001, a europa já assistiu a 3 Capitais espanholas (Madrid 2001, Alicante 2004 e Valencia 2011) e 2 Italianas (Milão 2009 e Turim 2015). Para além disso, 22 cidades italianas e 14 espanholas já receberam o título de “Cidade Europeia do Desporto”, agora entregue à Maia.

Prova da Taça do Mundo de Ginástica Acrobática 7 a 9 de Março Fórum Nacional de Treinadores de Futebol e Futsal 24 e 25 de Março Campeonatos Nacionais Universitários 7 a 12 de Abril Final Four Taça de Portugal em Andebol 12 e 13 de Abril (data provisória) Campeonato da Europa de Futebol de 7 para pessoas com Paralisia Cerebral 20 de Julho a 3 de Agosto Final de Etapa da Volta a Portugal Entre 30 de Julho e 10 de Agosto Europeu de Corfebol 25 de Outubro a 2 de Novembro

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JUP — MARÇO 2014

CRÓNICAS

CRÓNICA LITERÁRIA

Casanova escritor de Alexandre Marinho

CRÓNICA CINEMATOGRÁFICA

A Golpada do Marketing de Luís Azevedo

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Romanceiro do último quartel do século passado está repleto de histórias mirabolantes. Relatos de decadência, de pequenos mafiosos que sobem a pulso, de trapaceiros que atingem o topo e, inevitavelmente, o fundo. Nestas últimas categorias encontramos os protagonistas de “American Hustle”. Não imagino sequer se foi este o grande vencedor dos Óscares 2014 (escrevo antes da cerimónia) ou apenas mais um dos candidatos que tinha buzz muito à custa da máquina publicitária que detinha. Muito se escreveu sobre o caráter “Scorseseano” da obra. Teria sido mais seguro assumi-lo deliberadamente como uma hommage. Prefiro, porém, fixar-me na história em si e em O’Russell que, depois de “The Fighter”, pensa ter descoberto a fórmula para garantir nomeações ou ganhar prémios. Este é um filme onde as prestações (competentes, mas não impagáveis) do elenco não conseguem fazer esquecer uma realização previsível e carregada de déjà vu. Incluir De Niro não é sinónimo de Ter De Niro num filme. É um rodízio de vigarices e jogos de enganos, perpetrados por vilões onde

H acabamos por apoiar o único que tem um bom coração (irónico no mínimo, tendo em conta os problemas cardíacos da personagem de Bale). O’Russell vai conduzindo este filme como se estivesse num circuito. Vemos a meta a aproximar-se facilmente e o realizador leva-nos pela mão até essa meta tentando, inutilmente, causar alguma vertigem. Em suma, mais um filme que tenta criar a crença de que o futuro do cinema passa pelo passado do mundo. E Hollywood, cada vez mais vergada ao poder e encanto do cinema inde-

pendente, atribui nomeações a todos aqueles que respirem, ainda que de longe, da matriz indie (olhemos para as nomeações recentes). “American Hustle” parece que basta colocar o Bradley Cooper com permanente, mascarar Bale, vesti-los com calças boca-de-sino e colarinhos enormes para ter um blockbuster. É moda ser retro.

á já dois dias que dedico minhas viagens de suburbano à leitura da História da Minha Vida de Giacomo Casanova, na tradução de Pedro Tamen recentemente publicada pela Divina Comédia Editores. Porém devo dizer que, antes de me decidir a viajar na companhia de Casanova, receava ter de gramar com uma sucessão de masturbações nostálgicas escritas por um decrépito libertino então em fim de vida e, muito provavelmente (ironicamente), já impotente. Ora contrariamente ao mito instalado, mito injusto que o aproxima de Valmont (seu contemporâneo), acontece que Casanova se revela ser, bem pelo contrário, um dos mais cultos e genuinamente afáveis companheiro de viagem que se possa ter. Mais, ao viajar com esse decrépito libertino, não só temos a oportunidade de ouvir aventuras magníficas como a de sermos seduzidos por um magnífico

CONTA-ME COMO É…

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elas movimentadas ruas do Porto, surgem inúmeros espaços onde cada um de nós pode repousar um pouco e aproveitar para beber um bom copo de vinho, ou então, para conviver. E que local mais indicado que uma tasca para servir estes propósitos? É a caminho da Ribeira, a par de outros estabelecimentos comerciais, que encontramos a tasquinha “Mar Lindo” cujo dono, Alberto Ferreira, nos revela como é trabalhar neste ramo. Na verdade, já com treze anos havia trabalhado num café na região de Paranhos, tendo exercido outras profissões, chegando mesmo a passar por África. Foi há cerca de oito anos e “com ansiedade de trabalhar” que Alberto abriu as portas da sua agradável taberna aos moradores e visitantes da cidade Invicta e, desde então, são muitas as histórias que tem para contar. “Era raro o dia em que não houvesse chatices, em que não tivesse que pôr alguém lá fora, por desacatos, por falta de educação”, conta. “Já tivemos aqui situações em que virávamos a cara para o lado e os clientes desapareciam sem pagar”, acrescenta o proprietário.

Por estes motivos se percebe que, para além da firmeza que é necessário ter para lidar com situações conflituosas, é precisa dobrada atenção por parte da pessoa que trabalha do outro lado do balcão. Os carteiristas são outro motivo de preocupação de Alberto que já presenciou um assalto a um idoso, conseguindo na altura ainda recuperar uma boa parte do dinheiro. Ser um bom vigilante é portanto fundamental neste tipo de ramos, sendo uma característica que deve constar em trabalhadores deste setor. Por vezes é necessário também saber “recusar a bebida a um cliente porque está embriagado” pois, ficando psicologicamente afetado, começa a perturbar o ambiente. Apesar de todos os percalços que vão surgindo no seu dia-a-dia o balanço é positivo, é um espaço que proporciona acima de tudo bom convívio e bons petiscos, em que há troca de ideias e de experiências. Na opinião deste empresário, espaços como estes deviam persistir “mas parece que a câmara e as autoridades estão a tentar que isto acabe de vez, o que é um grande erro”. Alberto acrescenta o facto de que há exemplos de tabernas que, por terem

sido modernizadas, passado pouco tempo acabaram por fechar, porque “o pessoal não gosta disso, o pessoal gosta disto assim”. De facto, as tascas pelo seu caráter modesto e tradicional ainda atraem pessoas que encontram neste espaço um espaço em que se faz amigos e em que se fala de tudo, “quase como um barbeiro”, como afirma, e em que também há sempre lugar para bons conselhos. “A minha obrigação aqui é fazer negócio mas eu não conto só com isso”. Verdadeiramente, Alberto já ajudou quem não queria deixar o vício da bebida, sendo notório o ambiente de entreajuda e proteção que neste espaço, à semelhança de outros deste género, se faz sentir. E, apesar do cansaço evidente por trabalhar tantas horas, uma vez que abre o estabelecimento por volta das seis e só o volta a fechar quando o sol já não se vê, Alberto continua a fazer do “Mar Lindo” um espaço “boa onda". • Inês Morais

contador. Como se, tendo atingindo a velhice, doravante incapaz de seduzir através dos seus atributos físicos, ele tivesse, contudo, atingindo o domínio total de nos seduzir através desses seus dotes que suscitaram a admiração e o encanto dos salões mundanos do século XVIIII, os dotes retóricos e narrativos. É que, embora se adivinha que as memórias de Casanova não ofereceram a Pedro Tamen o mesmo grau de resistência que ele certamente ressentiu aquando da tradução de Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, não podemos, porém, menosprezar as qualidades literárias do célebre libertino veneziano. Aliás, se esta tradução de História da Minha Vida permite ao leitor português, e isso pela primeira vez, «reler» a tão rocambolesca quanto desenvolta e leviana existência de Casanova, ela tem, fundamentalmente, o mérito de consagrá-lo «escritor».


texto Bernardino Guimarães lustração Joana Pinto

JUP — MARÇO 2014 DEVANEIOS

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