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EDITORIAL

por Artur Bacelar, jornalista, director de informação Portugal está na Moda Enquanto escrevo estas linhas, ecoavam as palavras do nosso presidente Marcelo Rebelo de Sousa a um importante jornal espanhol, onde dizia que «somos o país nórdico do século 21». Infelizmente não posso concordar porque, por questões culturais, não vivemos uma democracia como a da Suécia, Noruega, Finlândia e até Islândia onde se pagam violentos impostos, mas onde o povo sente que esses impostos são bem empregues na solidariedade social e crescimento do país.

O que o presidente quis dizer foi que temos capacidades raras como a obtenção de consensos e mediação. Hoje o mundo olha para o “pequeno” Portugal de uma forma diferente e até carinhosa. Somos Campeões da Europa em futebol, temos o melhor jogador do mundo, actrizes e actores respeitados em Hollywood, Harry Potter por cá foi criado, as melhores ondas do mundo passaram do Havai para a Nazaré, os ataques bombistas passamnos ao lado, o Sol brilha mais tempo, temos a francesinha eleita a melhor sandwich do mundo, o Porto como melhor destino turístico, empresas que são sinó-

nimo de qualidade, Guterres lidera as Nações Unidas, Centeno as finanças europeias, um presidente que por onde passa faz notícia, um governo ideologicamente impossível e claro está, a nossa boa e velha hospitalidade. Portugal está na moda pela positiva e ainda bem. Há que aproveitar esta onda para que o nosso Natal de 2017 nos traga clarividência para perceber que não podemos perder a humildade que nos carateriza e que não há nada que suba e seguidamente não desça. Votos de um Santo e Feliz Natal.

FICHA TÉCNICA Revista Especial Natal 2017 parte integrante da edição 433 de 15 Dezembro 2017 Edição Dep. Edições Especiais MH Rua Pedro Julião, 114 - R/c Maia - Tel 22 406 21 26 geral@maiahoje.pt

www.maiahoje.pt /maiahoje oficial

Director Artur Bacelar

Impressão Publireferência - Maia

Coordenação Manuela Sá Bacelar

Design & Paginação José Machado

Tiragem 10.000 exemplares


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MENSAGEM DE NATAL por António Silva Tiago, presidente da CM Maia As crianças anseiam intensamente por esta quadra do ano e esse facto, por si só, talvez já nos devesse fazer refletir. Será que é somente a possibilidade de receberem presentes, entre brinquedos, jogos, livros ou bombons? Ou será que há nisso algo mais do que a simples oferta de bens materiais? Não será que isso significa que nós, os adultos, nos dispomos a reservar um tempo do nosso quotidiano para pensar nelas com um pouco mais de paciência e serenidade. De pensar no que elas nos disseram que nos pode ajudar a descobrir o que realmente esperam de nós, ou simplesmente, o que mais lhes agrada. O importante, é que para as vermos genuinamente felizes, sorridentes e contentes, precisamos de lhes dedicar alguma atenção. Uma atenção de qualidade, que nos permita conhecer os seus desejos e sonhos. Quando me pediram para escrever esta mensagem, que quero dedicar à comuni-

dade concelhia da Maia, hoje na qualidade de Presidente da Câmara Municipal, foi com esse sentimento que peguei numa folha em branco e me dispus a escrevervos. Foi pensando de que forma conseguirei auscultar melhor os anseios da nossa comunidade, para compreender com mais clareza os seus desejos e sonhos. Acalento hoje a certeza, porventura ao arrepio da maré contra a qual temos de remar, que a melhor forma de compreendermos os que nos rodeiam, seja no seio da nossa família, da nossa comunidade de trabalho e da nossa comunidade local, é escutar. Sim, escutar, escutar, escutar e falar somente quando for necessário, mas sempre com temperança, sensatez e serenidade. Todos sabemos bem que o mais fácil é falar. Até porque escutar, pressupõe tempo, paciência e capacidade para conceder atenção ao outro. Tudo quanto enriquece o Natal. A si que é neste momento, um leitor atento

e interessado nesta minha mensagem, exorto-o a doar um pouco do seu tempo às crianças, mas sem esquecer de forma alguma, aqueles a quem o tempo pintou de neve os cabelos e a quem devemos tudo o que somos. Aqueles que caminham e falam mais lentamente, que valorizam os nossos sorrisos, os nossos beijos e abraços e de quem, por vezes, nos esquecemos. Neste Natal, se o tempo não chegar para fazer compras, pensemos em oferecer afetos, atenção e carinho, fazendo da nossa comunidade, toda ela, uma família feliz que respire confiança no futuro. É neste registo, no registo afável de quem aprendeu a escutar e a perscrutar as pessoas, que envio a cada maiata e a cada maiato e às suas famílias, um fraterno abraço de amizade, com o qual pretendo expressar o meu desejo de um Santo e Feliz Natal e um Novo Ano de 2018, pleno de boa saúde, Paz e prosperidade para todos.


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O NATAL E O TEATRO NA TERRA DA MAIA por José Augusto Maia Marques, historiador A quadra natalícia em meados do século passado era um período muito propício à música e, por estranho que pareça, ao teatro. São bem conhecidos os grupos de cantadores de Janeiras, ou os de cantadores de Reis, consoante a denominação local, mas que faziam exatamente a mesma coisa – percorrer as ruas da aldeia (ou da vila, ou da cidade), cantando, com (ou às vezes sem) auxílio de alguns instrumentos, a chegada do Deus-menino e desejando boas festas e bom ano. Em troca recebiam (nem sempre, mas quase sempre), “uns tostões”, para além de um ou outro mimo, como bolo rei, vinho, aguardente, etc. Em vários locais, na véspera de Natal à noite, juntavam-se grupos de aldeãos que se dirigiam para a Missa do Galo, e que seguiam juntos entoando cânticos alusivos à época. Alguns destes hábitos mantêm-se ainda, e é até comum que os grupos aumentem já que em muitos casos aquilo que obtêm nas suas “rusgas” é aplicado em beneficência. Mas quanto ao teatro, infelizmente, muito se perdeu, embora lá por Trás os Montes haja vários focos de recuperação desta interessante tradição. Entre nós, na Terra da Maia, representavam-se, nesta época, várias peças, todas elas com cariz religioso, e inspiradas na paixão e morte de Cristo. Uma das mais conhecidas, levada à cena em várias freguesias das atuais Maia e Vila do Conde, chamava-se simplificadamente “A Vida de Cristo” e era decalcada do “Auto da muito dolorosa paixão de Nosso Senhor Jesu Christo conforme a escrevem os quatro evangelistas”, da autoria de Francisco Vaz de Guimarens. É este auto da Paixão que se tenta fazer reviver em várias localidades transmontanas como Vila Pouca de Aguiar, Vilar de Perdizes, Chaves, ou na minhota Ponte da Barca. Manuel de Oliveira, no seu filme “O Acto da Primavera”, de 1963, imortalizou a representação deste auto. Outra representação teatral, verdadeiramente icónica da nossa Terra, eram os Reiseiros, que ficaram justamente conhecidos, no Entre Douro e Minho como na margem sul do Douro, como os Reiseiros da Maia.

As «Reisadas» eram verdadeiros «autos», inspirados nonascimento e adoração de Cristo, materializados em manuscritos a que se dá o nome de «cascos», onde estavam contidas as falas de cada uma das personagens, bem como outros apontamentos de índole teatral. Regra geral, dividiam-se em três atos ao narrando a história do nascimento do Messias, desde a perseguição movida por Herodes até à adoração do Menino pelos

pastores e pelos reis magos. Estes «autos» eram representados em locais muitas vezes improvisados, sendo que às vezes se juntavam dois carros de bois, traseira contra traseira, e aí se procedia à representação. Os trajos, quase sempre de confeção própria, tinham, como toda a representação, uma forte carga de ingenuidade, de naïf, característico destes tempos. A representação das diferentes personagens era quase sempre feita pelos mesmos que haviam representado no ano anterior ou então o seu papel passava para outra familiar, sucedendo que muitas vezes determinada família passava a ser conhecida pelo nome da personagem que representava. Reiseiros e reisadas foram profundamente estudados por Álvaro do Céu Oliveira num livro editado em 1983 pela Câmara Municipal da Maia e que publica inclusiva-

mente um dos “cascos” que se representavam. Ora o êxito destes grupos e das suas representações, inebriou grande parte dos atores, o que fez com que muitos se dedicassem depois a outro tipo de teatro, nomeadamente a comédia e o drama, apresentando peças sobejamente conhecidas na época como “O mártir do degredo”, “O titular assassino” e outras do género e muito do agrado do povo. O amadorismo destes atores produzia por vezes episódios hilariantes, ao vivo e em direto. Cito-vos dois, ambos de meados dos anos 60: 1. No palco representava-se o quarto de um nobre casal onde uma dama, sozinha, lia uma carta escrita por um apaixonado admirador. Se tudo corresse normalmente, ela ouviria os passos do marido e queimaria a carta usando uma vela acesa que constituía um dos adereços. Entretanto o marido entraria, mostraria estranhar o cheiro do aposento e diria: - Cheira-me a papel queimado! E a representação continuava… Mas, uma bela noite, a atriz que fazia o papel de esposa não viu a vela, nem acesa nem apagada, e para remediar a situação resolveu rasgar a missiva. O ator que desempenhava o marido entrou, fez os mesmos trejeitos de quem achou estranho o odor, mas dessa vez disse: - Cheira-me a papel rasgado! 2. Na “Vida de Cristo”, uma das cenas que constituíam um clímax era a elevação de Jesus aos céus graças a cordas que eram puxadas por meio de um guincho ou cabrestante manual. As cordas escondiamse atrás de uma nuvem de algodão em rama. Uma noite de sábado, casa cheia, e o sistema encravou. O ator, intrigado e preocupado, ficou a meio da subida olhando para baixo e para cima à espera de ser totalmente içado para sair de cena. Mas a avaria (ou a incompetência) era grande e, em certo momento, Jesus Cristo, o filho de Deus, olhou para o alto e fitando os responsáveis bradou: - Então esta merda sobe ou não sobe? Era assim o teatro popular natalício nos anos 60. Boas Festas, bom 2018.


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As aventuras de André Loureiro V

AVENTURA EM KIRKENES (Noruega) Conto de Zé Machado, pseudónimo de Artur Bacelar, jornalista que é multimilionário, o seu refúgio é a Quinta da Família em Mondim de Basto, onde passa férias, e usufruindo da calma do local, retempera baterias. A sua habitação permanente é numa pequena Quinta situada no centro da calma e hospitaleira cidade da Maia.

Kirkenes - Noruega André Oliveira Loureiro, português, jornalista de investigação do “The Yomiuri Shimbum”, jornal de Tóquio, Japão, fundado em 1874, tido como o que tem a maior tiragem do mundo, actualmente cerca de 15 milhões de exemplares, diários, em duas edições, matinal e vespertina. André é um jovem de 30 anos, bem-parecido, atraente, sempre impecavelmente vestido, conhecedor da realidade mundial, dado que esteve em vários continentes em missões especiais da Nato, ao serviço dos fuzileiros portu-

Casa de Chá da Boa Nova

gueses. Com o posto de Capitão-tenente, o comandante Loureiro, como era conhecido, é especialista em luta corpo-a-corpo e um exímio “sniper”. Já como jornalista, em aventuras passadas, salvou a princesa Isabel Helena Garibaldi, do Mónaco, sendo agora sua noiva, de uma tentativa de assassinato (aventura em Longyearburn) e a Europa de uma guerra nuclear (aventura em Moscovo). Sem preocupações financeiras, dado

Fim de tarde chuvoso, frio, típico de dezembro. A luz suave que ainda brota, tinge de cinzento a paisagem da Casa de Chá da Boa Nova, onde André Loureiro, sem relógio, convive com um chocolate quente. À sua frente o mar, revolto, despido do azul, capta a atenção da sala vazia, despertada pela magnífica lareira que a enche. O momento serve para o comandante ler o último Maiahoje. Isabel chega e um beijo, curto e prolongado no sentimento, transmite-se «Olá querido, já fiz as minhas compras de Natal… falta-me a tua», diz num sorriso maroto. «Ora Isabel, sabes bem que “All I Want for Christmas is you”, até porque ainda falta muito para o Natal e ainda nem pensei nas prendas», diz André… «pois, de verdade, umas horas… típico de português», responde a princesa. Um silêncio agradável, de paz, ouve-se entre os dois «posso ver a revista de Natal do MaiaHoje? Traz sempre coisas interessantes!».


ESPECIAL NATAL 2017 // 07 Entre uma reportagem dos sem abrigo, seguida atentamente por Isabel e uma entrevista política de fundo que atrai André, chegam Scones e Churros para, num discurso surdo, enaltecerem as virtudes do chocolate. Feita serenamente a leitura, as mãos entrelaçam-se fitando o quadro do oceano que de imediato activa a produção de seretonina. Entra na sala um homem cujos cabelos, brancos, revelam a idade. Sobretudo cinzento dos anos 60, bem tratado, quase saído da tesoura do alfaiate. Assenta praça junto a uma das magníficas janelas onde exibe a cuidada pele límpida e rosada que circunda o cuidado bigode. O sorriso relata o sabor da fina lágrima que languidamente lhe corre. André aproveita a presença do jovem que domina a arte de bem receber e pede-lhe «questione por favor aquele senhor se nos dá a honra de se juntar a nós». O jovem aborda a personagem que, sorrindo, dirige-se para a mesa. André levanta-se e dirige-lhe um cumprimento «fico-lhe grato por ter aceite, o nosso humilde convite. Apresento-lhe Isabel, minha noiva e eu sou André, um seu criado». «Comandante André Loureiro, presumo. A sua fama antecede-lhe. É um grato prazer aceitar o Seu convite. Corre-nos no sangue o gosto pelo mar. O meu nome é Martim Moraes Bacelar, senhor da Torre de Bacelar, Valença do Minho», transmitiu. «Muito prazer, desculpe este atrevido convite, mas percebi pelo seu olhar uma paixão, um forte fascínio pelo mar…» «Sim, o mar corre na história da minha vida. Gosto nestes dias cinzentos de o

Fragata João Belo - NRP - F480

visitar e reviver uma velha história que se passou em Kirkenes na Noruega. Tenho agora 57 anos…» André interrompeu a história «desculpe, mas faziao mais velho…» Martim sorriu e disse «é normal, toda a gente assim pensa, o mar apaga-nos as feições e conhece as nossas feridas» e continuando a conversa «bem, vocês são simpáticos e se estiverem na disposição de me ouvir, vou contar a história toda. Tinha pouco mais de 20 anos, era um jovem oficial fuzileiro, quando nos anos 80, participava em exercícios navais da Nato no mar de Barents, a bordo da Fragata João Belo. Um dia, juntamente com dois outros navios americanos, aportamos para abastecimento a Kirkenes, uma pequena cidade portuária perto das fronteiras com a Finlândia e a Rússia. Tive uma licença de três dias e fiquei hospedado no “Thorn Hotel”, onde pela primeira vez vi a Astryd, uma elegante e bela mulher por quem logo fiquei apaixonado. Num ápice esfumou-se pela porta tal como a oportunidade. Indicaram-me uma visita ao “Ofelas”, um bar com música ao vivo. Sozinho entrei e numa mesa estava aquela bela mulher de novo. Troquei um sorriso e dirigi-me ao bar. Minutos depois ela estava ao meu lado e encetamos conversa que continuamos numa mesa recatada. Astryd era uma jovem médica veterinária, a única naquela zona. Foi uma semana maravilhosa, de trocas de amor e sonhos de um futuro em conjunto, interrompidos por uma chamada de emergência. Nessa manhã, acompanhei-a ao porto onde a esperava um pesqueiro que a levaria a “Bugoynes” junto ao Fiorde de “Varanger”. O mar es-

tava um pouco como hoje, em vez de chuva com pequenos flocos de neve, a ondulação batia nos rochedos e na minha mente apenas reinava o dia de folga que ainda teria com aquela mulher. Ouvi uma forte explosão e um dos navios americanos estava em chamas, perdido no meio dos sentimentos, nova explosão atingiu o outro navio americano, soaram sirenes de alerta e a João Belo num ápice zarpou, uma terceira explosão, quiçá dirigida à João Belo, apanhou em cheio o pesqueiro que se

desfez em mil pedaços. Caí de joelhos, sem reação, como se o mundo tivesse ruido. Fez-se silêncio durante as horas que me pareceram aqueles segundos. Dei por mim a respirar como se tivesse vindo à tona depois de um mergulho profundo. A João Belo fazia fogo e uma quarta violenta explosão saiu das profundezas do mar. Ao fundo vi a silhueta de três navios que, em círculos, despoletavam cargas de profundidade. Um novo estrondo e fez-se silêncio. Um bote com a minha equipa de fuzileiros estava na água em busca de sobreviventes, chamei-os e embarquei. Tiramos da água, dia e noite, dezenas de corpos, ninguém sobreviria às explosões e à temperatura da água. Soube depois que eram dois submarinos Sírios que andavam à caça naquelas paragens e estavam já a ser seguidos por dois navios russos e um norueguês, que após o primeiro disparo, os apanharam. Disse adeus à minha bela Astryd e aos sonhos que trocamos, mas nunca esqueci. Nos dias como hoje, perto do Natal, gosto de visitar o mar, reviver a felicidade daqueles dias e imaginar um Natal com ela». Fez-se um silêncio e quando fitaram o mar perceberam que largas horas tinham passado e a noite chegara. Isabel comovida deu-me a mão e Martim sorrindo disse «não minha querida, não estou triste, nunca mais conheci


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outra mulher e celebro aqueles dias com alegria. Agora se não se importam irei retirar-me e peço-lhes que aceitem este cartão de visita para que façam Vossa a minha casa, sempre que precisarem». Um abraço entre todos, selou aquele início de amizade. Os jovens André e Isabel, rumaram no Volvo XC90 autónomo da Uber a um hotel, onde se prepararam para uma festa beneficente de Natal organizado pelas embaixadas da Suécia, Islândia e Noruega no Porto, localizadas junto à Ribeira. Num ambiente luxuoso e cerimonial, o casal encontra amigos a quem contam a história dessa tarde. André afasta-se por momentos e liga à sua secretária no jornal «preciso que me faças o seguinte. Penso que tenho uma boa história para contar, procura nos arquivos e em todo o lado informações sobre um ataque sírio entre 1980 e 1990 na Noruega e envia para o meu smartphone. Thank you», agradeceu, desligando a comunicação. Enquanto esperava apreciou várias obras de arte e perdeu-se na imensa biblioteca, onde Isabel o encontrou «tão interessante a leitura como a companhia?», questionou. Embasbacado André fecha o livro e desculpou-se a sorrir «não minha querida, o livro era bem mais jovem e transparente», levando a que Isabel, o repreendesse, lhe desse uma pequena mordidela na orelha seguida de um beijo. «Bom, parece que cumprimos com as nossas obrigações sociais» e de mãos dadas saíram. Entraram de novo no Uber Volvo XC90, um dos 24.000 que a marca americana adquiriu para criar uma frota automóvel sem motorista, disponível mundialmente a partir de 2019, e de forma segura chegaram à unidade hoteleira do Porto onde estão instalados. Depois de uma passagem para um expresso no bar do hotel, rumaram à Suite. Isabel cansada foi para o quarto enquanto André ficou na sala a ler as mensagens do jornal. Na manhã seguinte, Isabel acorda ao lado de uma bela e fresca rosa amarela que jazia nos lençóis por cima de um envelope do Hotel. «Minha querida, faltam três dias para o Natal… tenho uns assuntos para resolver para o jornal e estarei cá a tempo da consoada em Mondim. Espero não me esquecer da tua prenda. Amo-te». Isabel sorriu como que apaixonada por estes atos inespe-

rados de André. Entretanto, a bordo do novíssimo Falcon 7X do jornal, avião capaz de alcançar os 1.100 km/h e 11.000 km de autonomia, André percorre os quase 3.900 km que distam entre o Porto e Kirkenes.

quanto almoçam, André coloca Lin a par da sua investigação «só mesmo tu André para investigares uma coisa destas», disse. A braços com um tradicional, da época natalícia norueguesa, prato de “lutefisk”, um prato cujo nome significa literal-

Falcon 7X Algo o intrigou nos documentos que recebeu da sua secretária que examina nas 4 horas de viagem que enfrenta. Faz duas ou três chamadas e, entretanto, o comandante do Falcon informa pessoalmente que dentro de minutos iniciarão a descida para o “Kirkenes Lufthavn Hoybuktmoen” ou Aeroporto de Kirkenes. À sua espera estava Linn Ullmann, sua colega jornalista norueguesa do jornal Dagbladet, filha da actriz Liv Ullmann e do realizador Ingmar Bergman. «Hei André, så du bestemte deg alltid for å besøke meg! (Olá André, sempre resolveste visitar-me!» disse Lin, respondendo André em perfeito norueguês «Min kjære, alltid på jobben, vet du allerede hva yrket er som (Minha querida, sempre, em trabalho, já sabes como é a profissão)», disse a sorrir em voz alta dado o barulho do vento que se fazia sentir. Perante o adensar da pequena tempestade de neve, ambos entram no conforto do Volvo XC90 e Lin diz-lhe «tenho aqui os documentos que pediste, queres que te reserve um hotel?», questionou «Não, não vou ter tempo para dormir. Tenho que concluir esta investigação, mas algo me diz que vamos ter um bom Natal», disse a sorrir enquanto se dirigiam ao centro da cidade. No restaurante do hotel Scandic, en-

mente “peixe com soda caústica”, preparado com esse ingrediente, ou seja peixe branco (normalmente bacalhau fresco) com batata e puré de ervilhas, cozido em Soda Caústica, André alinha

LuteFisk

o que irá fazer de tarde com Lin. Depois de uma sobremesa que incluiu o tradicional “Kransekake”, literalmente “bolo de aros” e que leva amêndoa, açúcar e claras de ovos, à semelhança do maçapão, saem do hotel e caminham em direcção ao carro quando André sente algo encostado ao casaco «Ikke flytt, gå til den van og legg inn! (Não te mexas, segue até àquela carrinha e entra!)», reparando que um outro encapuçado fazia o mesmo a Lin, dois passos volvidos, André, num golpe certeiro com a mão esquerda acerta no braço que ameaça Lin e com o braço direito atinge o que o seguia, saca da sua SIG


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Sauer P226 e domina os assaltantes enquanto a carrinha arranca a toda a velocidade. André dispara e a carrinha despista-se imobilizando-se num poste mais à frente. No chão, os homens de braços na cabeça, suplicam pela vida e André grita «Hva vil du at jeg skal gjøre? (o que é que vocês me querem?)», questionou «calma senhor, nada temos contra si, fomos contratados para raptar a senhora Lin» disse um deles, «quem vos contratou e o que deviam fazer?», questionou Lin, «responde», ameaçou André com a arma, «foi Vladimir Vor, quem nos contratou e ficamos de a levar ao porto». «Conheces, Lin?» questionou André, «sim é um mafioso Russo que ando a investigar, com negócios de

droga e prostituição». André, depois de “tratar” do motorista que tinha desmaiado, chamou a policia norueguesa que chegou num ápice e congeminou um plano «Vou seguir com um agente à civil no Volvo até ao porto e tentar descobrir onde está esse Vladimir, entretanto vocês esperam aqui e ao meu sinal, de armas descarregadas, seguem na carrinha onde eles irão simular a entrega. Contactem as forças especiais da base e eles que estejam nas imediações prontos a intervir», planeou. A noite, entretanto abateu-se e André identificou um luxuoso e grande iate como eventual referência. Dois homens de vigia no exterior, discretamente armados, indicavam um grau de probabilidade elevado. André comunicou a

identificação e com o agente que estava consigo, lentamente aproximaram-se do iate fazendo passar-se por dois pescadores embriagados. Um dos vigias desceu as escadas e quando passavam por lá, André pediu-lhe lume e mostroulhe a pistola «quieto, nem um movimento em falso, disfarça e dá-me lume ou serás o primeiro a tombar», disse em Russo. O agente, entretanto, meteu-se com o outro que também desceu a prancha a rir-se do estado deles e também foi manietado. Sobem ao convés e dão luz verde para a chegada de Lin e o aproximar discreto das forças especiais. André juntou-se a um dos assaltantes e levaram Lin à frente até à presença de Vladimir. Lá chegados, insultando Lin empurraram-na para o chão «então és tu a famosa jornalista que me quer desmascarar», disse sorrindo, sentado no seu sofá a apreciar um charuto. «Vais parar à prisão», disse Lin, o que lhe valeu um pontapé simulado de André, «Então queres saber o que faço? Vou satisfazer-te a curiosidade! Sou o Rei de Murmansk (conhecido porto russo que dista apenas 200 km)! Kirkenes dizem que é norueguês, mas é uma província russa! Toda a droga que abastece Moscovo passa por aqui, por mim, com isso vem o melhor, o prazer e tu darás uma boa prostituta a juntar às que apanho por aí. Deixem-na aqui comigo que voulhe mostrar quem é o dono», disse o Mafioso. André, em norueguês disse «gravaste tudo Lin?», «sim» disse a jornalista en-

Kirkenes


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quanto se levantava do chão ao mesmo tempo que a sala era invadida pelas forças especiais que, discretamente, já tinham controlado a tripulação. Depois de cumpridas as formalidades e os agradecimentos, entraram no Volvo e André disse «que grande história tens amanhã para contar aos teus leitores», «graças a ti André, mas os teus planos para a tarde não correram pelo melhor. Convenço-te a pernoitar no hotel e de manhã continuamos?», disse a Lin «não tenho alternativa. É tarde e tens uma história para escrever. Vais para o jornal e eu vou reler os meus apontamentos. De manhã, quando te for possível, vemme buscar, combinado?». De facto, ao início da manhã, o telefone toca e Lin diz que está à porta. André entra no carro e recebe logo um exemplar do “Dagbladet”, que traz na capa a apreensão feita na noite anterior. «Belo trabalho», diz André «ainda não dormi e temo que a minha vinda aqui tenha sido em vão… é véspera de Natal e tenho que sair dentro de um par de horas». «Tem calma, eu passei pelas brasas… o suficiente para descansar, mas também tive tempo para te ajudar e creio que tenho boas notícias. Procuras uma pessoa que terá falecido num ataque iraniano nos anos 80, certo?», questionou, «sim é mesmo isso, como te disse, num livro que descobri no Vosso consulado no Porto, falava de vítimas mortais, mas também de feridos e em especial uma mulher resgatada em muito mau estado e que corria perigo de vida. Será que é a mulher de uma história de amor que me contaram há pouco tempo? Já me conheces e não consigo conviver com a dúvida. Tenho que saber, custe o que custar», desabafou o jornalista, enquanto Lin dirigia por entre a bonita cidade. Pararam junto a

Volvo Uber XC90

uma casa grande, em madeira, como quase todas as outras da zona, junto ao lago “Forstevatn”. «Vamos ver se temos sorte», diz Lin enquanto toca à campainha». Uma bela senhora, de certa idade, mas por onde o tempo passou devagar, sorridente abriu a porta e André perguntou-lhe «desculpe estar a incomodar, mas chama-se Astryd e é médica veterinária?», «sim» respondeu, «conhece um português de nome Martim?», voltou a questionar André, quando a face da senhora alterou radicalmente «sim, conheci… alguém com esse nome», disse com a voz trémula «o meu nome é André Loureiro, sou jornalista português. Posso contar-lhe uma história?» A senhora convida André e Lin a entrar e enquanto servia uma bebida quente, André percorria com o olhar as muitas fotografias de animais e poucas de pessoas, que denunciavam uma mulher solitária. André conta-lhe o que aconteceu e as lágrimas destacavam-se tanto quanto o sorriso que fazia ao ouvir o jornalista. «Sim confirmou Astryd, sou a outra personagem dessa história. Nessa manhã, estava feliz, tinha tido a minha única noite de amor e convenci-me que duraria toda a vida, mal sabia o que me esperava. Não me recordo de quase nada, mas dizem-me que me encontraram inanimada no mar, com um fato térmico que me obrigavam sempre a vestir e que eu contrariada lá o fazia. Salvou-me a vida! Estive em coma dois anos no hospital, apenas os meus pais que já faleceram me visitaram, nunca mais tive notícias de Martim… os marinheiros… sabe como se diz, tinham uma mulher em cada porto e eu convenci-me que ele não me procurava mais. Mantive-me fiel ao grande amor e refugiei-me na minha profissão. Tenho uma clínica onde também recebo estudantes e passo lá de vez em quando. Criei uma associação de ajuda animal, onde

aplico os ganhos da clínica. Meu Deus, o tempo passa, estou velha demais para deixar que o amor volte a ter papel principal no meu coração, certamente Martim já não gostará de mim…», disse comovida, «tenho a certeza que essas dúvidas serão reciprocas, mas, conversei com os dois e senti que o amor não morreu. Está disposta a viver uma aventura e visitar Martim?». Os olhos azuis profundos sorriram, o corpo encolheu de vergonha e da boca saiu um «não creio que mereça ser feliz! O meu destino, tal como o de muitos pescadores que conhecia, ficou definido naquela manhã, no mar de Barents», «não penso assim. Tem de acreditar no que viveram nas horas anteriores. É minha convidada, por favor temos pouco tempo, vamos fazer alguém feliz no Natal. Faça-o por acreditar em mim», pediu. Por fim, perante a atitude convincente e firme de André, acedeu. Enquanto fazia uma pequena mala de viagem André recebeu um abraço apertado de Lin que o beijou «não vais levar a mal, mas tinha que te beijar. És um homem fabuloso, qualquer dia tens que me apresentar um português que me leve a passear», disse a sorrir. André estava um pouco preocupado com as notícias que lhe chegavam via telefone da tripulação do Falcon 7X «comandante Loureiro, tem de se despachar, a pista está quase intransitável, já requisitei o limpa neves que está a fazer o que pode, a tempestade vai adensar-se e iremos ficar retidos pelo menos por 5 dias, segundo a previsão», disse o comandante da aeronave». Apressadamente saíram em direcção ao aeroporto, onde chegaram com dificuldade. Feitas as despedidas a Lin, Astryd embarcou com André, enquanto dois limpa neves a trabalhar em pleno tentavam fazer com que aquele avião descolasse. O comandante fez-se à pista e corajosamente rolou o avião quase sem visibilidade. Foram segundos de tensão, até que, num solavanco, o trepidar da pista deu lugar à suave deslocação do avião «parece que vamos ter Natal português», disse sorridente o comandante a André Loureiro, pouco passava do meio-dia, hora portuguesa. Pelo caminho, André, via telefone, contou a história a Isabel que encantada, planeou um final feliz na Casa da Boa Nova. Durante


ESPECIAL NATAL 2017 // 11 o voo, André descreveu Martim, falou da história portuguesa e da nobreza da família Bacelar, uma das fundadoras da nacionalidade, bem como da sua profissão e das tradições natalícias portuguesas. No aeródromo de Vilar de Luz, cerca das 16 horas, aterrava o Falcon que tinha à sua espera o Volvo autónomo da Uber. André e Astryd ocuparam os bancos traseiros e uma hospedeira o lugar do passageiro. Ansiosa a norueguesa questionou «o motorista demorará muito?» e André riu e disse «já cá está» e em português «motorista leve-nos à Casa de Chá da Boa Nova», o Volvo liga o motor e suavemente começa o seu percurso. Astryd não queria acreditar quando André lhe contou que era um carro autónomo, que conhecia as ruas, os melhores trajectos, sabia as condições de trânsito, as condicionantes meteorológicas, era capaz de identificar outras viaturas, sinais de trânsito e até de se tentar proteger de um acidente provocado por terceiros e que estará disponível para o público em geral já em 2019. Chegados ao local, André reparou que o Volvo V90 de Isabel já lá estava. Entrou na sala acompanhado de Astryd. Isabel tinha posicionado Martim de costas para a entrada e quando chegaram junto à mesa, Martim cordialmente levantou-se para cumprimentar os recém-chegados e mal se olharam nos olhos, o mundo parou para reviver horas mágicas, vividas há momentos na mente e longe no tempo. André quebrou o silêncio e disse «senhor Martim, tenho a honra de lhe confiar uma amiga recente que reconhecerá», Martim balbuciou desconcertadamente «Er du Astryd? Hvordan er det mulig? Gud, tid, du er den samme ... (És tu Astryd? Como é possível? Meu Deus, o tempo, estás igual...)», disse «sim sou eu, o comandante André, já me contou tudo, incluindo o teu desabafo que o fez procurar-me... o meu amor nunca morreu… mas já não

somos jovens…», disse Astryd, «sabes, o meu coração rejuvenesceu trinta anos, o amor calado e oprimido pelo tempo disparou em liberdade», fitaramse longamente e um primeiro e tímido beijo revelou-se enquanto Isabel absorvia as lágrimas no casaco de André. «Estão os dois bem, temos família à espera, sejam felizes e vão dando notícias, até breve», disse André. Abraçados disseram que não havia dinheiro no mundo que lhes pagasse a felicidade que André lhes ofereceu. Junto à Boa-Nova estava já o helicóptero que habitualmente o leva à quinta de Mondim, onde chegaram perto das 8 horas. «És sempre o último a chegar. Sabes

bem que o bacalhau não espera… vai lá sentar-te depressinha», disse a mãe de André na grande cozinha por onde gosta de entrar. Já na mesa, com a família toda alegre e as crianças a pensar na árvore dos presentes, Isabel, aguarda por André que foi lavar as mãos. «Querem ver que a tradição se mantém? Já no ano passado foi assim» e levantou-se para o procurar. Para variar lá estava André adormecido no grande cadeirão, junto à lareira e à enorme natural árvore de Natal dos Loureiros. Isabel aconchegou-se e acabou por também adormecer com um sorriso nos lábios. Afinal é Natal e a tradição cumpriu-se.


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ESPECIAL NATAL 2017

«FORMAMOS CAMPEÕES PARA A VIDA» Reportagem da jornalista Ana Sofia, no Centro Comunitário do Sobreiro

O Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro (CCVS) é uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), sendo também uma resposta social da Santa Casa da Misericórdia da Maia. A Urbanização do Sobreiro foi construída entre 1978 e 1982, altura em que José Vieira de Carvalho presidiu à Câmara Municipal da Maia e exercia funções como provedor da Santa Casa da Misericórdia da Maia «Na altura, moravam aqui cerca de 4 mil pessoas recenseadas. No bairro, foram realojadas pessoas e famílias oriundas das freguesias limítrofes da Maia e algumas das ex-colónias, um problema social a nível nacional. Criaram-se grandes urbanizações e realojaram-se pessoas sem acompanhamento. Quando vim para cá trabalhar existiam 666 habitações. Havia apenas a Rua Central do Sobreiro e o resto era lixo, ferro velho, com imensas crianças a brincar no meio disto tudo», referiu Mário Figueiredo, coordenador do CCVS. «Existia o estigma de ser do Bairro do Sobreiro» Para a história do CCVS, tudo começou há 31 anos atrás, em 1986, com a necessidade de enfrentar o problema. Em 1992, a Santa Casa da Misericórdia, em parceria com a Câmara Municipal, lançaram o Projeto Integrado de Desenvolvimento da Maia ao

Plano de Luta Contra a Pobreza que seria a génese do CCVS «Existia o estigma de ser do Bairro do Sobreiro. As pessoas tinham vergonha de dizer que moravam no bairro. De forma geral, isto foi diluído. Espalhamos ao longo do bairro vários ateliers e os miúdos corriam o bairro todo e frequentavam todos os ateliers. Este foi o primeiro movimento que houve. Foi criado um clube de atletismo que se sagrou campeão regional durante muitos anos, classificados à frente do Porto e do Boavista. No ringue, foram promovidos campeonatos de futsal. Levamos a cabo atividades como gincanas, cinema ao ar livre e corridas. Criamos uma atividade dinâmica comunitária alargada, não só ao bairro, mas a toda a Maia», disse, acrescentando que «a estrutura da pobreza não está só na falta de dinheiro, mas também na falta de objetivos. Por isso, é preciso dar ferramentas às pessoas e estimulá-las para que elas tenham a oportunidade de seguir em frente, particularmente os mais novos, que são o nosso futuro. Este é um trabalho que demora gerações». «Trabalhamos com quem ninguém quer trabalhar» Em conversa com o MaiaHoje, Mário Figueiredo, revelou que no CCVS se trabalha «com as pessoas mais excluídas da região. Trabalhamos com quem ninguém quer trabalhar, mas é um trabalho que vale a pena porque estamos a falar de pessoas», mas que, infelizmente, «é pouco para dar resposta a todas as necessidades». «Existem muitas pessoas que chegam a um ponto de não retorno e algumas têm noção disso. Precisam de ajuda, sem ela não vão lá. Fazíamos reinserção. Trabalhávamos com as pessoas que estavam em tratamento para a libertação dos consumos da dependência ou que já tinham deixado de consumir e que precisam de um “empurrão” para fazerem a reinserção na

sociedade. Conseguimos encontrar estratégias suficientemente cativantes e, ao mesmo tempo, úteis para que as pessoas todos os dias tivessem vontade de vir cá. Mas, é difícil conseguir estimular todos porque há sempre uma pessoa que é diferente», acrescentou. «Eficácia da intervenção» São várias as áreas de intervenção em que o Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro atua, entre as quais o Apoio à Formação e Empregabilidade «formamos pessoas, damos-lhes competências técnicas, pessoais e sociais. Essas pessoas reabilitam mobiliário que, depois, têm serventia social. Ganhamos o Prémio EDP Solidária Inclusão Social 2016 com o Projeto RESTAUR’arte. Fizemos uma parceria com o IEFP e demos formações certificadas na nossa oficina. Iniciaram 23 pessoas e, neste momento, só três é que não estão empregadas. Detetamos problemas e depois trabalhamo-los e é aí que está a eficácia da intervenção. Estabelecemos, recentemente, um acordo com a Maiambiente que recolhe 13 toneladas de monos por mês. Se 10% desse valor tiverem potencial recuperação, é quase uma tonelada e meia por mês que poderá ser reabilitada. Poupamos tudo. Há poupança no meio ambiente, são recuperados para pessoas carenciadas e podem ainda ser vendidos para sustentar esta atividade», refere. «Ganhamos o segundo Prémio AGIR REN 2014, com o Projeto “As Maiatas”, onde capacitamos mulheres para trabalharem com pessoas idosas nas suas casas. O grande objetivo era criar emprego para todas. Tivemos uma taxa de sucesso de 100%. A ideia era que elas criassem uma empresa. Cinco criaram, as outras não porque nem toda a gente tem estofo para criar empresas. Há procura deste tipo de profissionais».


ESPECIAL NATAL 2017 // 13 «Cerca de 100 refeições diárias» Diariamente são servidas cerca de 20/30 refeições para utentes que não têm casa ou condições para almoçar e distribuídas cerca de 60 para levarem para casa «alguns bem muito cedo e à tarde é para esquecer. Plano para eles não existe, porque estas pessoas vivem ao segundo». A instituição está aberta em funcionamento normal durante a semana e, ao fim de semana, abre só para a distribuição das refeições, de forma a garantir que as pessoas extremamente necessitadas têm acesso a refeições «abro as portas do Centro todos os dias do ano. Sábados, domingos e feriados», diz Mário Figueiredo. «Funcionamos como placa giratória entre os doadores e os carenciados» São várias as áreas e formas de intervenção: - Apoio à Formação e Empregabilidade (pareceria IEFP, As Maiatas, RECUPER’arte); - Apoio Ocupacional, Ténis; Artes Dramáticas; Informática Sénior; Grupo Coral; Futsal; - Apoio alimentar, cabazes, a cerca de 150 famílias, programas de educação nutricional;

- Cabazes de Emergência; - Plano de Emergência Alimentar – refeições servidas, subsidiadas pelo Governo; - Banco Alimentar – Cabazes; - Apoio às Necessidades Básicas (Banco de Bens – mobiliário, roupas, objetos, cadeiras de rodas; Banco de Vestuário; - Cuidados Pessoais – higiene pessoal e tratamento de roupa – temos cerca de vinte pessoas que tomam cá banho porque não têm onde tomar; - POAPMC - Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas - A Maia vai receber apoio do Estado para fornecer alimentos a 857 pessoas com rendimento até 2 euros per capita; - Apoio alimentar e tratamento de roupa a idosos isolados em casa; - Apoio à Reintegração Social, onde a CM Maia emprestou-nos um apartamento no Bairro com capacidade para cinco pessoas para alojar homens que estão a ser trabalhados e apresentem potencial autonomia- neste momento está ocupado por duas pessoas); - Loja Solidária - facultam bens de consumo a preços simbólicos (roupa, mobiliário, peças de adorno, prendas de Natal)

«Idosos isolados, com resposta pobre» Segundo Mário Figueiredo «Há um elevado numero de idosos a precisar de resposta no domicílio porque as IPSS’s que trabalham nessa área dão respostas típicas, tradicionais, com serviços de Centro de Dia ou Apoio Domiciliário restritos a um determinado espaço de tempo. Na minha opinião, estas respostas são francamente pobres. As pessoas idosas que estão isoladas em casa precisam muito mais que isto. Precisam de companhia e de outro tipo de respostas emocionais que as estruturas não conseguem dar porque está formatado dessa forma. Em termos de infância, esta área quase não tem intervenção porque, segundo dizem «não temos essa necessidade, porque as escolas já respondem a tempo inteiro à infância. A terminar um desabafo «Há pessoas aqui que têm muitos problemas de desajustamento e desestruturação pessoal. Tenho aqui pessoas alcoólicas e toxicodependentes. Sim ainda existem muitos alcoólicos!», refere o director que acrescenta a terminar que «Nós formamos campeões para a vida».


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ESPECIAL NATAL 2017

PERTO DA VISTA, MAIS PERTO DO CORAÇÃO... por Ana Sofia, jornalista

Cidade da Maia, era dezembro. O frio sol de inverno descia pela janela da cozinha onde a mãe preparava as deliciosas torradas acompanhadas por uma caneca de leite a fumegar. Aquele pequeno almoço especial fazia sorrir o coração. O sino já tinha dado as 10 badaladas. Era domingo. A grande casa, soalheira, abrigava três vidas no seu interior, Margarida, a mãe e a irmã, Isabel, seis anos mais velha. Apesar da luz que as iluminava naquela manhã de véspera de Natal, a sombria falta da figura paternal fazia com que a soberba refeição, não calasse inteiramente os três frágeis corações. A casa clamava por vozes e movimentos. O pai tinha partido para a capital angolana em busca de melhores condições de vida há cerca de dez meses. A empresa que construíra em tenra idade afundou com a crise. As contas aumentavam e o dinheiro diminuía. Era necessário sair para garantir o suporte das muitas despesas que se iam acumulando e esse papel coube ao chefe de família. Mas, até então, não havia voltado. «Não vou conseguir ir aí este ano», disse o pai com uma voz rouca e triste, estremecida pelo sofrimento, que

a fraca ligação não deixou percetível. Foi em novembro. As viagens eram muito dispendiosas para quem havia perdido quase todos os bens materiais, por isso, o Natal, a festa que reúne a família, a preferida de Margarida, nesse ano, seria passada a três. Talvez recebessem a visita dos avós maternos. Era incerto. Margarida já tinha completado as doze primaveras. Tal como a flor, a jovem menina, apesar de frágil, adaptava-se às mais difíceis situações. Delicada no exterior, mas incrivelmente forte no seu interior, tentava manter-se firme na sua genuína felicidade. O relógio teimava em marchar, levando tudo à frente, rejeitando sentimentos prolongados, lembrando que a vida continua. Era dia do Senhor. O ditador armário, teimava em atirar uma vistosa saia que compunha o quadro feminino, mas não disfarçava os joelhos esfolados das brincadeiras mais arrapazadas, que ditavam os entretimentos de fim de tarde de uma “maria rapaz”. Esse era o único dia da semana em que Guida, como era conhecida, contrariada, se aperaltava para cumprir o detalhado pedido da mãe. «Uma menina fica bonita de saia. Veste a bordeaux com aquela camisola quentinha cor de pérola», dizia para manter o maior cuidado pela filha mais nova. Indumentária escolhida, parecia estar tudo nos conformes. Estavam prontas para sair. As três figuras femininas rumaram à igreja. Pelo caminho, a pequena menina corria os olhos à procura dos famosos flocos de neve dos filmes natalícios, mas a paisagem maiata ditada pela janela apenas projetava um manto branco de gelo. Recordava-se ainda do fim de semana na Serra da Estrela, que passara em família, no ano em que contou cinco primaveras. Nesse momento, parecia ter sido invadida por uma estranha nostalgia da infância que a absorveu durante breves minutos. Ao subir a rua, um raio de sol fitou os olhos castanhos de Mar-

garida que a despertaram. Era o vidro de um táxi que circulava na via contrária. O taxista buzinou repetidamente, desesperado por atenção. Não era uma situação muito comum e família a três, aconselhava a ignorar tal chamamento. Mãe e filhas trocaram algumas palavras para decidirem o que fazer. Algo bateu mais forte. Pararam o antigo Kia Sportage na berma da estrada e, do outro lado, saiu um homem de baixa estatura, muito moreno, de barba e cabelo comprido loiro, queimado do sol. Vestida trazia uma blusa florida e um casaco cortavento tom caramelo, demasiado fino para proteger do frio. Margarida não conhecia aquela figura masculina. Parecia ter caído ali por engano. Ao fitar pela janela embaciada pelo frio, reparou no estreito colar de prata que o senhor trazia ao pescoço. Esse tinha sido o presente que ofereceu ao pai no Natal anterior. Tinha-o escolhido a dedo. Aquele pequeno objeto com linhas mal definidas pela distância que os separava, deixou Margarida desperta, com uma estranha energia. Abriu a porta e, apressadamente, saiu do carro. Agora mais perto, não tinha dúvidas, não conhecia aquele homem enrugado e magro, mas lembravase bem daquele objeto que ele trazia ao pescoço. Era-lhe familiar. Num impulso infantil, correu até ao meio da movimentada estrada ao encontro daquela pessoa e, em frente àquele rosto cansado, reconheceu a figura paternal, cujo regresso ansiava ardentemente desde a sua partida. «Voltei!» disse o pai, sorrindo, entre um abraço quente. As lágrimas de felicidade correram pelo rosto de Margarida. Era Natal e a frágil menina já não teria que passar aquela data com a família desmembrada. A sua prenda de Natal tinha chegado sem remetente e sido aberta antes da meia noite. O seu coração sorriu. Era tempo de esperança! Feliz Natal!



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FELIZ ANIVERSÁRIO Conto de Sebastião Lapa, pseudónimo

Faltava uma semana para o dia do aniversário de Natália, contudo, ao contrário das outras crianças, a menina de sete anos, que estava quase a completar oito primaveras, não se mostrava nada empolgada com a proximidade da efeméride. Marta comentou com a mãe a indiferença da neta, expressando a sua preocupação com a falta de entusiasmo da filha. A avó, com a serenidade que os cabelos brancos lhe permitiam fazer parecer desvalorizou para que a filha, já no fim do tempo de uma gravidez que a qualquer momento podia tornar-se em nascimento, não ficasse ansiosa. Graciosa, embora tivesse dado a ideia que o assunto não lhe mereceu grande atenção ficou pensativa e, lá no fundo, o seu coração apertou-se pois, na verdade, já andava também preocupada com a neta, que sentia um pouco apática e até tristinha. Na manhã da véspera de Natal e do aniversário de Natália, Marta começou a sentir contracções e logo a seguir ao almoço teve de ir para a maternidade. Tudo se encaminhava para que dentro em breve desse à luz. Mateus foi direto da redacção da televisão para a maternidade para acompanhar a esposa e assistir ao parto, que tudo fazia adivinhar para breve. A meio da tarde, Marcos chegou a casa para ajudar Graciosa nos preparativos da ceia de Natal, ficando surpreendido com o desenrolar dos acontecimentos pois, apesar das inúmeras tentativas da mulher para o contactar, só naquele momento percebeu que o seu telemóvel estava sem bateria. Depois de arrumar umas garrafas que trouxera da quinta para as festas, foi para a cozinha e começou a preparar as pencas, a

cortar o bacalhau em postas e a descascar as batatas, enquanto Graciosa o punha a par de tudo, incluindo da preocupação de Marta com Natália. Ao cair da noite, Anselmo, irmão de Mateus, veio direto do seminário onde era professor de Teologia, para partilhar com a família a ceia de Natal. Como tudo estava muito orientado, Mateus chamou o irmão para junto da lareira e contou-lhe as preocupações que toda a família estava a viver naquele momento. A filha Marta na maternidade pronta para dar à luz e a neta Natália que parecia deprimida, tanto que estava recolhida no quarto, supostamente a ler. Anselmo depois de ouvir atentamente o irmão, levantou-se e foi ao encontro da sobrinha neta. Ao chegar ao quarto bateu levemente à porta, mas ninguém respondeu. Anselmo não desistiu e voltou a bater, mas desta vez com um pouco mais de intensidade. Do interior ouviu-se uma voz embargada que respondeu muito tenuemente: - sim… O tio abriu suavemente a porta e, ao espreitar, pediu licença para entrar. Daquela vez a reacção de Natália foi atípica, pois não reagiu com a explosão de alegria com que habitualmente recebia Anselmo. O monge puxou uma cadeira e sentou-se à cabeceira da cama. Após uma troca de palavras que apenas serviu para criar ambiente favorável à conversa, foi a pouco e pouco fazendo com que Natália falasse. E ele, muito pacientemente, ouviu, ouviu e também ficou preocupado. A menina, embora não conseguisse verbalizar as suas emoções e a causa da sua tristeza, foi dando os sinais que Anselmo precisava

para compreender o que se estava a passar com ela. Natália sentia tristeza por nunca ter tido uma festa de aniversário como as outras crianças, nem receber presentes por isso. É que o facto de fazer anos no dia de Natal, não só inviabilizava que os pais dos outros meninos os deixassem vir à sua festa, como lhe diziam sempre que as prendas que lhe ofereciam eram pelo seu aniversário e simultaneamente prenda de Natal. Por outro lado, Mateus andava nos últimos tempos muito atarefado com os afazeres profissionais, devido às mudanças que estavam a ser feitas na televisão onde trabalhava e, por sua vez, Marta também estava bastante condicionada devido à gravidez, o que fez com que Natália se sentisse abandonada. Anselmo, com voz doce e as palavras certas conseguiu atenuar aquela tristeza que estava claramente a tornar-se numa preocupante depressão infantil. Entretanto o relógio foi dando as suas voltas, a ceia lá se fez sem Marta nem Mateus e Anselmo teve a seu cargo a missão quase impossível de animar a família. Passavam seis minutos da meia-noite quando o telefone de casa toca e Marcos vai atender, mantendo uma conversa que Graciosa, Anselmo e Natália procuravam seguir a par e passo. Marcos regressou à mesa e anunciou com um sorriso, comunicando que a filha acabara de dar à luz, não um, mas dois rapazes. Natália ficou muda e, até se abrirem as prendas, não disse uma palavra nem esboçou um simples ar da sua graça. A partir daquele momento teria de partilhar o dia do seu aniversário com os seus dois irmãos que, por ironia do destino, acabaram por nascer precisamente a 25 de Dezembro. Natália acabou com a cabeça deitada na mesa, tão perdidinha de sono que já estava. Mateus pegou nela em braços e foi deitá-la na cama. Quando regressou à mesa, Anselmo puxou o assunto e reflectiram os três sobre o tema que a todos já preocupava. Mas Anselmo, como sempre, tinha na manga, não do hábito, mas do seu pensamento, um plano que pediu ao irmão para aprovar e Colaborar na sua concretização. Ainda naquela noite, começaram a arrumar os móveis da sala e a encostá-los às paredes.


ESPECIAL NATAL 2017 // 17 Às quatro da madrugada tinham tudo preparado e embora fatigados, antes de se irem deitar, combinaram levantar-se cedo para irem juntos tratar de um assunto. É claro que Graciosa também estava envolvida no plano e acabou por se levantar à mesma hora, mas para ir para a cozinha e fazer um bolo gigante e mais algumas iguarias. Quando Natália acordou e chegou à sala ficou estupefacta e chamou pela avó, que um pouco assustada veio depressa ao encontro da neta, muito embora não estivesse autorizada a revelar nada. Faltava um quarto para o meio dia quando Marcos chegou na carrinha de nove lugares que usa para levar os trabalhadores da quinta, da adega para as vinhas. Logo atrás de si chegou Anselmo com o carro também lotado. Especada no meio da sala, Natália via irromper casa dentro, meninos e meninas que vieram da Casa do Caminho para festejar com ela o seu aniversário. O tio chegou-se à frente e apresentou um a um, cada rapaz e cada rapariga, explicando à sobrinha de onde é que eles vinham para lhe fazer companhia naquele dia tão especial. O dia estava magnífico e lá fora, apesar de ser inverno, o Sol estava radiante. Anselmo sugeriu que Natália fosse mostrar a casa aos seus novos amiguinhos, levando-os a ver o seu quarto, o sótão e depois fossem para o jardim brincar nos baloiços. Lentamente, Natália começou a ficar eufórica e a exultar de alegria. Jogou à bola, ensinou algumas meninas a andar de bicicleta e não cabia em si de contente. Já se

aproximavam as duas horas da tarde, quando o avô Marcos foi com uma sineta chamar para o almoço. Natália fez sentir ao avô que a barriguita já estava a dar horas, coisa rara que não acontecia há muito tempo. Ainda estavam a almoçar quando o telefone de Anselmo toca e ele atende. De imediato, pede licença ao irmão para sair da mesa e vai atender alguém que estava à porta. Assim que o almoço de Natal terminou, o tio convidou toda a criançada para voltar ao pátio que ficava sobre o jardim onde os esperava um equipamento de Karaoke. Natália, que cantava belissimamente, fartou-se de cantarolar temas da Ariana Grande, da Disney e outros grandes êxitos da Música Pop que ela conhecia como ninguém. Algumas das crianças que estavam na festa também experimentaram e um ou outro revelou igualmente ter talento musical. A meio da tarde, a avó Graciosa chamou a pequenada novamente para a sala e, depois de servir o lanche, partiram o bolo de aniversário de Natália. Passado uma hora, o monge deu sinal ao irmão que estava na hora de levar de novo as crianças à instituição. Antes de se irem embora, um dos meninos, de seu nome Rafael, disse a Natália que nunca tinha estado numa festa tão fixe como aquela. Natália pareceu não ficar muito convencida e

sem hesitar um segundo, disse-lhe: nem na tua festa de anos? Rafael, a sorrir, respondeu-lhe: eu nunca tive uma festa de anos… entrei na Casa do Caminho há oito meses e a primeira festa de anos, assim como a tua, em que estive foi mesmo esta. Lá em casa a Maria da Luz faz sempre um bolo de aniversário e nós brincamos e divertimo-nos, mas hoje foi diferente foi mesmo fixe. Graciosa, Marcos e Anselmo olhavam uns para os outros e sorriam. Depois de irem levar os meninos à Casa do caminho, Marcos e o irmão regressaram e assim que chegaram Natália, que os aguardava ansiosa, correu para os braços do monge e disse-lhe: obrigada tio, fizeste-me ver que eu ainda vou ter muitas festas de aniversário muito fixes como esta. Anselmo, com a ternura que punha na voz para falar ao coração da sobrinha neta, perguntou-lhe temeroso mas provocatório: e gostaste das prendas que eles te ofereceram? Natália, sem titubiar, exclamou: sim tio, eles são muito fixes e divertidos. A presença deles foi a melhor prenda de aniversário que tive desde sempre. Até já combinamos fazer aqui outra festa no dia de Ano Novo. Bem, mas agora quero ir ver a mamã e os manos. E até já sei que nomes vou propor para os manos… Rafael e Anselmo… No ano seguinte, no dia do aniversário de Natália e dos manos Rafael e Anselmo, o avô Marcos, a avó Graciosa, o tio Anselmo, Mateus e Marta, organizaram uma festa ainda maior e mais divertida, com as crianças da Casa do Caminho a participarem noutras brincadeiras e jogos muito fixes ao ar livre.


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ESPECIAL NATAL 2017

POLVO À LAGAREIRO

Prepare primeiro o polvo. Use de preferência polvo que foi congelado. Descongele o polvo. Amanhe tire os olhos e a boca. Lave muito bem. Tire o polvo da água diretamente para a panela de pressão. Coloque só 1/2 copo de água e 1 cebola aos bocados. Quando levantar fervura conte 20 minutos certos. Desligue o lume. Quando puder abrir a panela retire o polvo de dentro de água para parar a cozedura. Reserve.

Ligue o forno a 220º. Lave as batatas. Sem retirar a pele deite num tabuleiro e deite bastante sal. Leve a assar e vá mexendo o tabuleiro para as batatas assarem por igual. Quando picar e estiver cozido retire para fora. Coloque em cima de uma tábua e dê um murro em cima de cada uma. Numa assadeira coloque o polvo cortado aos bocados. Não muito pequeno. Pique os alhos e corte as cebolas aos gomos. Coloque as batatas á volta. Tempere com um pouco de sal por cima do polvo. Depois tempere com pimenta e piripiri ou pimenta de caiena. Regue com azeite abundantemente. Leve ao forno que deve estar a 200º, até a cebola estar cozida. Deve demorar uns 20 a 30 minutos. Depois é só decorar com salsa e coentros picados.

INGREDIENTES Polvo – 5 a 7 Kg Cebola – 3 Alho – 4 Azeite – 3 dl Batatas Novas – 1 Kg Sal – Q. b Pimenta – Q.b Piripiri – Q.b Salsa – Q.b Coentros – Q.b

Pessoas: 4 Tempo: 130 Minutos Dificuldade: Média

PERNA DE BORREGO NO FORNO

Juntar bem a massa de pimentão, a manteiga, 4 alhos picados e um pouco de pimenta. Barra a mistura á volta da perna de borrego e põe na travessa de levar ao forno (de preferência uma que tenha tampa, se não tiveres usa folha de alumínio), põe de parte e deixa repousar 30minutos (mesmo que fica mais apurado o sabor se deixares de um dia para outro).

Agora corta as batatas e cebola em nacos, esmaga os 2 dentes de alho (podes deixar na casca), tempera tudo com sal, pimenta, colorau e uns fios de azeite. Deita as batatas e cebolas á volta da perna de borrego, acrescenta as folhas de louro e uns raminhos de alecrim e rega tudo com o vinho branco e uns fios de azeite, podes retificar o sal mas toma atenção que a massa de pimentão já é salgada. Leva ao forno tapado (ou com folha de alumínio), a um forno médio baixo, mais ou menos 160C durante 1hora e meia, toma atenção, a meio do tempo abre o forno e vira a perna, e quando estiver perto do fim, podes tirar a tampa para tostar um pouco mais a superfície!

INGREDIENTES Borrego – 2Kg (Perna) Batata – 1.5 Kg Manteiga – 2 Colheres de Sopa Massa de Pimentão – 2 Colh. de Sopa Alho – 6 Dentes Cebola – 2 Vinho Branco – 500 ml Louro – 2 Folhas Alecrim – Uns raminhos ou 1 colher de Sopa de Alecrim seco Azeite – A gosto Sal – A gosto Pimenta – A gosto Colorau – A gosto Pessoas: 4 Tempo: 140 Minutos Dificuldade: Média


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ESPECIAL NATAL 2017

SERICAIA

Leva ao lume o leite com a casca de limão, o pau de canela e uma pitada de sal, deixa ferver, quando começar retira do lume e deixa arrefecer. Separa as gemas das claras, bate as gemas com o açúcar até obteres um creme esbranquiçado, em seguida dissolve pouco a pouco a farinha no leite fervido, juntado a seguir o creme de gemas com açúcar

sempre a mexer, leva tudo ao lume para engrossar em lume brando. Quando tiver engrossado, retira do lume, retira o pau de canela e a casca de limão e deixa de parte a arrefecer. Depois do preparado estar frio, bate as claras em castelo e depois envolve estas com o creme que tem as gemas. Pré-aquece o forno para os 225ºC (Quente) e põe um prato grande de barro no forno. Retira o prato do forno e deita a mistura neste, polvilha com bastante canela e leva a cozer no forno, quando a sericaia começar a gretar então está perto de estar pronto, usa um palito ou fio de esparguete para ver se está cozido (se depois de espetado sair seco então está pronto). E está pronto, delicioso quente ou frio.

INGREDIENTES Leite – 1Lt Canela – 1 Pau Ovos – 12 Açúcar – 500gr Farinha – 150gr Limão – 1 Casca Canela – A gosto Sal – A gosto

Pessoas: --------------Tempo: 60 Minutos Dificuldade: Média

SONHOS

Começa pela massa, num tacho põe-se a água, a manteiga, o açúcar, e uma casca de limão e uma pitada de sal, leva tudo ao lume até levantar fervura. Depois de levantar fervura, retira a casca de limão e começa a juntar as farinhas peneiradas e misturadas. Mexe tudo bem com uma colher de pau até criar uma bola, retira a panela do lume e retira a massa para dentro de uma tigela grande ou alguidar, mexendo sempre até a massa arrefecer completamente. Por fim junta os ovos a massa um a um, batendo sempre cada vez que juntares o ovo

até ficarem completamente integrados na massa. Agora aquece óleo para uns 150ºC tu queres bastante óleo mas não super quente. Deita colheradas de massa no óleo, não ponhas demasiadas para não baixar a temperatura, enquanto os sonhos forem alourando, pica com um garfo para não arrebentarem, depois de bem louros, retira para papel absorvente para arrefecer. Depois de escorrido do excesso de óleo põe os sonhos na calda de açúcar (ou rega por cima) e depois polvilha com açúcar e canela a gosto. Para a calda, leva ao lume a ferver 300ml de água, junta o pau de canela, as cascas de limão e laranja, deixa ferver uns 15 minutos até criar ter uma consistência mais suave, retira as cascas e o pau de canela e deixa arrefecer antes de juntares aos sonhos (senão estes vão absorver demasiado e ficar moles).

INGREDIENTES Massa Água – 400ml Farinha – 200gr Manteiga – 50gr Açúcar – 30gr Farinha Maizena – 50gr Ovos – 5 Limão – 1 Casca Sal – Uma pitada Calda Açúcar – 500gr Limão – 1 Casca Laranja – 1 Casca Canela – 1 Pau

Pessoas: -----------------Tempo: 80 Minutos Dificuldade: Média


ESPECIAL NATAL 2017 // 21

TRABALHOS MANUAIS Decoração de Natal por alunos do CCG

1- Material para decoração de natal: cola branca, tesoura, pinça, fio para pendurar, papel para quilling ou tiras de cartolina, enrolador e base para quilling.

2- Colocar uma tira de papel bege na fissura do enrolador e enrolar até ao fim.

3- Retirar cuidadosamente do enrolador, escolher da base de quilling a forma circular do tamanho desejado e colocar no seu interior, deixando que esta se abra.

4- Retirar cuidadosamente com a pinça.

5- Colar com um pouco de cola branca e pressionar com a pinça, para que fique bem colado.

6- Segurar bem no centro da espiral, fazer um vinco na outra extremidade para fazer a forma de gota. Repetir o mesmo processo quatro vezes.

7- Repetir os passos 2, 3, 4, 5 e 6, mas utilizando a cor vermelha. A partir da forma da gota, fazer outro vinco na extremidade que ficou arredondada. Repetir o mesmo processo quatro vezes.

8- Com uma tira de papel bege, enrolar até ao final e colar a ponta e retirar do enrolador. Repetir o mesmo em cinco tiras vermelhas, mas com metade do tamanho.

9- Colar as cinco formas vermelhas ao centro bege, distanciadas o mais uniforme possível.

10- Nos intervalos das formas vermelhas, colar as beges.

11- Colar as restantes formas vermelhas no topo das beges e esperar que seque bem.

12- Para finalizar colocar um fio e está pronto a pendurar.



ESPECIAL NATAL 2017 // 23

O LUTO NA INFÂNCIA por Rui Ribeiro, psicólogo

Falar sobre a morte não é fácil, apesar de ser inevitável durante todo o percurso da nossa vida. No seio de uma família, não é assunto discutido abertamente, o que por si só pode dificultar o processo de elaboração do luto. Torna-se mais difícil quando temos de falar da morte a uma criança. Podemos sempre ensinar a criança, recorrendo à natureza. Olhar para uma árvore, uma flor, os animais. Estamos sempre a viver grandes ciclos de vida. Uma flor por exemplo, tem o seu ciclo: nasce, cresce e acaba por morrer. As pessoas muitas vezes não associam a outras experiências de perda que a criança já teve, como o simples brinquedo que se partiu e não serviu mais, o boneco que se perdeu e nunca mais se encontrou. A criança muito pequena pode ainda não ter a noção da morte de um adulto, mas já compreenderá o que é a perda e, por sua vez, o contacto com a experiência irá também favorecer a compreensão da mesma, por isso a primeira coisa a evitar é mentir à criança. Sem dúvida que é um tema difícil de abordar, mas se

tentarmos esconder da criança, mais cedo ou mais tarde ela vai perceber que aquela pessoa já não está mais presente. Isso funcionará como mais uma perda de confiança no seu meio afetivo, ver que a(s) pessoa(s) em quem confiava não lhe disseram a verdade. Devemos anunciar a morte o mais cedo possível. Se os pais não conseguirem, que deleguem a alguém que não esteja tão devastado e com tanta dificuldade de encontrar disponibilidade para dar apoio à criança. Devemos falar com amor e podemos definir a morte como: “Quando o corpo para de trabalhar” Cuidado com os eufemismos, alegorias, expressões filosóficas, religiosas, como por exemplo “Foi para o céu”“Deus levo-a”“Ele partiu”, “Ele dorme”, pois, tendem a ser interpretadas literalmente pela criança. Ele partiu, a criança vai ficar à espera que ele volte. Ele dorme, a criança vai ter medo de adormecer, vai entender que a morte e o sono são a mesma coisa. Foi para o céu, a criança pode ganhar

medo à chuva por exemplo, pois acredita que quem morreu, vem na chuva. Explicações simples, específicas e diretas, num contexto de tristeza, são propiciadoras de que a criança coloque questões e partilhe medos. Ex: Estou a chorar porque estou muito triste. O Avô morreu. Estou triste porque nós nunca mais o voltaremos a ver. Relativamente à criança participar nos rituais, devemos descrever em que consistem, o que vai encontrar (exemplo velório: dizer que estarão pessoas a chorar outras não, que terá velas e ramos de flores…) e então perguntar à criança se pretende ir. Se a criança não quiser ir, respeite. Não se esqueçam, o importante é a criança viver “em tempo”, na mesma altura em que os familiares próximos também iniciam o seu processo de luto, de modo a que a criança enquadre melhor as suas experiências e reações, em lugar de ficar a sofrer no silêncio e na perplexidade sobre o significado de tudo o que experimentar, provavelmente, pela primeira vez.



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