5 minute read

Siqueira Brandão conta como construiu a sua trajetória de 37 anos no Magistério

Com 10 anos de idade se mudou para Campos Novos junto com a sua família. Na cidade, deu sequência em seus estudos no Colégio Auxiliadora, e quando estava prestes a concluir o magistério recebeu um convite para lecionar em sala de aula.

Advertisement

tar, como veremos a seguir na reportagem Especial Professores:

uCronologia no Magistério:

Boa aluna e muito estudiosa, ensinava as suas colegas de turma numa salinha improvisada, embora o seu sonho naquela época era ser médica pediatra, mas como não podia ver sangue, resolveu cuidar das crianças com a capacidade de ensinar.

“Eu lembro como se fosse hoje, a Irmã chegou na sala e comunicou que à tarde realizaria um teste para duas vagas de professoras, a sala toda demonstrou interesse, mas como eu já trabalhava na lotérica, não me manifestei. Depois de tocar o sinal, a Irmã me chama e insiste para eu fazer o teste, pois uma das turmas já estava definida, seria minha”. Desde aquele dia a vida de Denise Siqueira Brandão ganhou novos rumos. Foram 37 anos de Magistério e um currículo de encher os olhos de qualquer um. Apenas citando algumas especializações, Denise é Plenificada em História e Pós-Graduada em História do Brasil; fez Mestrado em Educação na UNOESC em 2010; e formada em 2012 com Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Federal de Ponta Grossa. Professora, Diretora, Supervisora de Educação e muita história para con-

Em agosto de 1985, dos 16 para 17 anos, Denise começa a dar aula para a 4ª série sem ao menos ter concluído o Magistério. Após concluir os estudos, presta vestibular para o Curso de Estudos Sociais (História e Geografia) e a partir daí, Denise assume cinco disciplinas pela manhã e a 4ª Série à tarde, sempre com turmas grandes, com mais de 40 alunos.

Ao todo, foram 9 anos de trabalho prestado ao Colégio Auxiliadora, cinco deles com as turmas diurnas, e mais quatro anos com o Ensino Médio.

Em 1989 faz concurso para o Estado e Município, e no ano seguinte é chamada pelo Estado, fazendo a opção de trabalhar em Zortéa, na época, Distrito de Campos Novos. “Eu ia todos os dias para lá, e assim foi durante dois anos e meio, meu pai me levava pegar o ônibus às 6h da manhã, passava o dia lá e depois ainda tinha faculdade em Joaçaba”

Em 1992, Athos ganha a eleição e junto com a primeira-dama, Dona Eliete,

Denise é convidada para ser coordenadora da Escola Itinerante, e paralelo a este serviço, também atuava na Secretaria Municipal de Educação.

Em 1995, Paulo Afonso vence as eleições estaduais e Denise tem o seu trabalho reconhecido, é contemplada com a Direção da Escola Henrique Rupp Júnior, onde permaneceu por 4 anos. Neste período, em 1998, Denise ajudou a elaborar o primeiro Plano de Carreira dos professores.

Do ano de 1999 a 2002, trabalhou na Escola José Faria Neto, no Distrito do Ibicuí, sendo efetiva em História, trabalhando também Ensino Religioso e Geografia com algumas turmas.

Em 2003, Luiz Henrique da Silveira é eleito Governador, Maria Elizabete Rigo assume a coordenadoria regional de educação e convida Denise para ser supervisora na CRE (Secretaria de Desenvolvimento Regional). Nesta época, Denise foi Diretora da Escola Santa Júlia, no período de 9 meses, e à noite trabalhava no CEJA. O seu trabalho na Secretaria de Desenvolvimento Regional foi a última função exercida antes de se aposentar pelo Estado, no ano de 2008.

Também foi professora Universitária dos anos de 2008 a 2014.

uEntrevista:

uComo foi o desafio de trabalhar com tantas turmas ao longo do tempo?

Quanto professora, você se dedica muito, estuda muito, principalmente quando você é muito jovem. Meu pai fez até 4ª série, mas ele era um leitor assíduo e isso me influenciou desde cedo, eu lia muito. Isso me ajudou bastante a ser criativa dentro de sala de aula, pois nas minhas turmas, sempre tive o prazer de ter alunos super inteligentes, o que obriga o professor a ter uma aula mais dinâmica e interessante. Assim como já tive turmas que identifiquei dificuldade no aprendizado, onde busquei levar uma nova di- nâmica para que os alunos conseguissem aprender por meio de um método diferente. uDenise, muitos dos seus alunos, hoje são profissionais de sucesso e gestores admirados. Como você se sente em fazer parte desta formação?

Dentre todos os locais que atuei, o maior choque de realidade que eu tive foi quando trabalhei em Zortéa e depois o Santa Julia. Eu sempre havia estudado em escola particular, e a realidade é bem diferente do que eu havia vivenciado até ali. No Zortéa, a comunidade não era tão pobre, classe trabalhadora, onde a maioria dos pais trabalhava na Perdigão, os quais, valorizavam muito o trabalho do professor. Na Escola Santa Julia, um público mais carente, no entanto, nunca enfrentei problemas com falta de educação, ameaças, como já ouvi relatos de outros profissionais.

É um sentimento muito bom, isso nos orgulha muito, encontro muitos ex-alunos, hoje profissionais renomados que construíram um futuro brilhante, ex-alunas minhas que inclusive optaram pela carreira de professora porque eu às inspirei. Assim como eu fico muito triste em saber que um aluno não está bem, isso dói muito. E vejo que isso é resultado de uma sucessão de falhas, da própria pessoa, mas também da família, da sociedade e também da escola, não posso tirar a nossa parcela de culpa. uO que você pensa sobre a valorização dos professores?

Temos exemplos de países de primeiro mundo que exigem o mestrado dos professores, como a Finlândia, Coréia e Canadá, quanto mais estudo o professor tiver, melhor será o seu desempenho em sala de aula e a capacidade de encantar o aluno. A educação transforma a vida das pessoas. É claro que não vamos agradar a todos, mas penso que consegui fazer a diferença na vida de muitas pessoas.

A Irmã sempre me dizia que o Magistério é missão e vocação. Eu concordo que é isso, mas também tem o lado financeiro que você precisa sobreviver, é a sua força de trabalho e nós professores preparamos todos os profissionais para o mercado de trabalho. Mas o que me deixa muito triste é a questão das pessoas se acomodarem e irem trabalhar em sala de aula só pelo aspecto financeiro. Aliás, tivemos uma prova a poucos dias que ninguém passou em História e Geografia. Não estou falando da maioria, mas me dá a impressão que a Educação virou só “eu receber”.

Quando eu comecei, eu ganhava a metade do ordenado das minhas colegas, por ainda não ter concluído o Magistério. Comecei a ganhar um pouco melhor quando fui trabalhar pelo Estado. Na época do Colégio Auxiliadora, as Irmãs passavam na sala fiscalizando o nosso trabalho e depois apontavam os nossos pontos positivos e negativos. Hoje a realidade é muito diferente, ninguém pode falar nada para ninguém, porque se torna ofensivo. Temos que ter humildade para aprender.

É claro que o professor precisa saber dos seus direitos e deveres, fazer uma luta sindicalizada com boa assessoria, muita prudência e com muito conhecimento. A partir do momento que o professor vai para a sala de aula bem preparado e bem remunerado, nós teremos menos indisciplina, uma sociedade melhor, mais justa e igualitária. uPara o futuro pretende continuar envolvida com a Educação? uO que você diria para alguém que pretende se tornar um(a) professor(a)?

No momento não tenho ideias e nem pretensões na área, eu me aposentei para aprender outras coisas que tinha vontade de fazer. Quanto ao futuro da Educação no Brasil, acredito que com um governo mais popular nós tenhamos uma mudança grande. Nas esferas municipais e estaduais, precisamos de um maior engajamento, que as pessoas que estarão à frente da Educação, que amem o que fazem e que se dediquem, estudem muito e busquem um algo a mais.

Vale muito a pena. É gratificante ver alguém que aprendeu, que está bem na sociedade, que valoriza o teu trabalho, tudo isso não tem preço. Mas, lembro que é muito sacrifício, muita dedicação, muito estudo. Hoje só Pós-Graduação não é suficiente, sempre indico fazer um Mestrado, se possível um Doutorado, porque a sua visão de escola e de conhecimento, é uma coisa muito vasta e através do conhecimento você molda a sua própria visão.

É claro que o professor precisa saber dos seus direitos e deveres, fazer uma luta sindicalizada com boa assessoria, muita prudência e com muito conhecimento.

This article is from: