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A ARQUITETURA, A NATUREZA E A FELICIDADE

A arquitetura tem alguma oposição à natureza. Entretanto, para constituir-se em arte servil, usa recursos naturais para consolidarse como antinatural transformando montanhas de mármore em templos, barro em tijolos - para modelar edificações. A arquitetura não cresce como as árvores: ela é inerte. Quanto mais nos escondemos nas suas construções mais distantes estamos da natureza. Todavia, Não há como se proteger de rudes intempéries como: o frio, com a neve espessa, ou o calor que queima sem que estejamos protegidos pelas soluções que nos livram dos exageros climáticos. Definir a arquitetura, em sua complexidade, é uma tarefa que nos faz escolher entre caminhos: o de se afastar da natureza habitando ou desabitar, embrenhando-se nas matas, nadando nas cascatas, fazendo trilhas e de um monte vislumbrando o luar. Todo esse prazer, encontramos na Ilha Grande. Contudo, a liberdade contempla o visitante, ora nas pousadas deitando numa cama limpa em aconchego de um lar, ora comungando sua existência com a natureza.

Nos primórdios, o homem primitivo habitou cavernas prontas. Construiu num segundo estágio, habitações feitas de troncos e palha. A seguir, esculpiu pedras, como o mármore, construindo templos e palácios. Nesta evolução, a sofisticação abiu os olhos dos construtores que deslumbraram a arquitetura como obra de arte, na sua beleza, enquanto a função primeira, a de utilidade, se desvanecia.

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Um dos desejos do consumo humano tem como fonte satisfazerse com os projetos de arquitetura e urbanismo. Os arquitetos oferecem aos homens mais “paredes” para que haja arquitetura – que ela encha o mundo de engenhosas artificialidades, amigas das pedras esculpidas, em beleza, em transformação. Esse anteparo, a parede, mural, conformada em pequeno labirinto humano, primordial da civilização, acaba por apagar a paisagem; vai ganhando terreno enquanto a natureza perde suas áreas – é o preço do crescimento das cidades. Entretanto, humildemente, em algumas situações, onde uma construção se instala em colinas, possivelmente à beira mar - disfarça-se: elege o vidro translúcido como salvador para fazer o homem comungarse com a natureza. Nesse status, o de proporcionar sua entrada para o interior das habitações, apenas em visão, inaugura a mágica da arquitetura que também deseja uma comunhão. Não deixando de colocar o anteparo que impede a visão da natureza, mas procurando torná-lo invisível através do vidro - acomoda o olhar confortando o homem em deleite, todavia, falseando o natural, desvia o vento fresco da manhã que pode entrar pelas extensas janelas. Incluindo aqui, também, a arquitetura que se destina aos fins comerciais, ela no seu curso deverá inchar cada vez mais, assim como o desejo de consumo alimentado por uma sociedade ávida por formas arquiteturais inovadoras. O shopping infinito, possivelmente, poderá ter a forma de figura do algarismo oito, como uma fita de Möbius. Conformarse-ia como um autorama onde os carros percorrem o mesmo trajeto e não se cansam. Os transeuntes dos “malls” não se enjoam nesse tédio – é o divertimento da moda do: pra lá e pra cá... Nesse corredor de compras os desejos se multiplicam aos borbotões – mais uma volta e mais um objeto é comprado. Logo após o desejo realizado como um sonho: o tédio, o langor se instala. Schopenhauer está à espreita, pois nos avisou desse ciclo. O corredor dos malls deve ser esticado pelos projetos arquitetônicos como um elástico.

Muito se fala da filosofia e do ethos grego na Grécia antiga que nos direciona a uma vida virtuosa. Todavia, a sociedade grega dessa época, não era o espelho das ideias dos grandes filósofos, por isso pregavam a virtude, o racionalismo. É necessário registrar a existência dos grandes mercados da antiguidade, principalmente o de Atenas por onde passeava Sócrates. Junto aos seus seguidores que andavam como uma horda em ronda, dizia quando entrava no mercado ateniense, observando objetos de ouros e pratas: “De quanta coisa eu não preciso”. O arquiteto se exime da culpa desse consumo, pois esta apenas cumprindo o programa estabelecido pelos clientes.

Nas ruínas de Enoanda, na Ásia menor, encontramos blocos de

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