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COLUNISTAS O PINTOR E O ESCULTOR RICARDO YABRUDI*
Alberto Giacometti disse: “Ainda que sua avó não saiba nada sobre Picasso, tenha certeza de que Picasso sabe tudo sobre sua vó”. Os pintores e escultores sabem muito de nós. Conhecem nossos anseios, nossas poses preferidas e o que queremos comer. São pesquisadores dos nossos gestos, conhecem nossas poses. Sabem quais frutas devem estar expostas em cima da mesa. Antes de pintar ou esculpir escolhem cuidadosamente o tema. Se for uma natureza morta, escolhem as frutas, se for uma marina, escolhem como será o mar, a gramatura da areia, ou se o sol se esconde atrás da montanha. O artista também pensa na melhor silhueta dos contornos dos montes. Assim como todos os detalhes teve de ser decidido pelo impressionista Claude Monet em sua obra “Impressão: nascer do sol” de 1872 do impressionista Claude Monet.
Os pintores e escultores, possivelmente, são grandes psicólogos, eles recolhem as impressões do mundo, são indivíduos coletores das ações humanas.
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A filosofia não está só para explicar a existência humana, ela pode precisar da arte como apoio. Nietzsche segue essa trilha e aponta em seus aforismos filosóficos que a arte, como um aio, responde e questiona a vida com seu devir. Tanto o artista quanto o psicólogo pintam e esculpem a vida. Acertam em cheio os anseios humanos, dirigem as vontades - compreendem a pose. A diferença entre eles é que um ouve e o outro olha e observa, no entanto, ambos em parceria conhecem o humano no seu devir. São apenas vias da percepção, a audição aguçada e o olho de águia, um é o genial Mozart, o outro é Edwin Hubble. O importante é que as duas ocupações conhecem o que é sagrado: a vida humana desvelada, descoberta no sentido de se retirar o véu de Maya! Felizmente, há esses dois que nos observam, recolhem os erros - peneiram o ouro humano escondido no leito do rio da vida com sua bateia; e dele como um ourives funde uma aliança para casar a tela com o divã.
O pintor e o escultor são um congelador de imagens. Sua tela ou escultura é um delicioso sorvete de sabores mistos. A imagem que criou está petrificada. A liberdade humana do ir e vir está comprometida na paralisação dos músculos e ossos. A obra do artista é essa cristalização de uma prévia ideia que se concretiza na composição final onde este congelador quer dizer que aquela era a melhor cena, pois afirma: “Fique assim, te presenteio com a eternidade e estarás glorificado!”. Esse é o senhor que sabe mais do que nós mesmos porque é observador, pois não estamos muito acostumados a nos perceber com tanto afinco. Contudo, eles nos observam atentamente. Os artistas são livres, pintam o que querem, exibem a nudez humana com tal essência e pureza adâmica que são exibidas nos livros e nos museus livremente, sem que se proíba, sem o alerta: “só para maiores de 18 anos”.
A arte pictórica está livre de preconceitos porque mostra livremente o humano em sua plenitude. O seu pincel é sua caneta para escrever sua poesia - uma literatura colorida ilustrada. Não há palavras, só o gesto magnífico de cores, formas, nas telas e nos volumes. Podem se quiser: pintar o céu de vermelho e da língua de um homem fazer brotar ervas. Também da taça de Baco sair uma serpente em chamas ou simplesmente pintar uma choupana onde dentro dela mora a felicidade.
*arquiteto e urbanista
O Rio de Janeiro é uma verdadeira contradição. É um dos lugares mais admirados no mundo, mas, ao mesmo tempo, caminha para o caos generalizado. A omissão do poder público nos variados setores vem fazendo ao longo de anos com que a Cidade se torne numa terra sem lei, sem fiscalização, sem segurança, entre outras carências. Uma desordem agravada pela pandemia, mas, principalmente, por péssimas gestões, o que fez com que a criminalidade avançasse, com narcotraficantes e grupos milicianos. A desordem carioca está instaurada. Como exemplo, basta falarmos sobre o trânsito, no qual o desrespeito é notório. Carros e motos não respeitam os sinais. As tais motos elétricas invadem calçadas e ciclovias sem qualquer pudor. Por falar em ciclovia, a mais emblemática, a Tim Maia, na Av. Niemeyer e há anos interditada, se tornou local de insegurança e de assaltos.
O transporte público é outro triste exemplo. Coletivos