Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 59 | Edição 2996 | 3 a 7 de abril de 2014
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Anchieta, ‘Apóstolo do Brasil’, canonizado pelo papa Francisco o O SÃO PAULO percorre os caminhos de evangelização do “Apóstolo do Brasil”, apresenta detalhes de sua biografia e mostra como o santo é lembrando em diferentes locais da maior metrópole do País e no coração dos fiéis. “Somos continuadores do trabalho por ele iniciado. Que sua intercessão e seu exemplo nos valham sempre! São José de Anchieta, rogai por nós!”, expressa o cardeal Scherer, em mensagem pela canonização.
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Às 14h, da quarta-feira, 2, os sinos repicaram nas igrejas e capelas da Arquidiocese de São Paulo em manifestação de júbilo pela canonização do padre José de Anchieta, que segundo a CNBB deve acontecer nesta quinta-feira, 3. Nascido em 19 de março de 1534, em Tenerife, na Espanha, Anchieta ingressou na Companhia de Jesus, em Portugal, em 1551. Chegou ao Brasil em 1553 e foi um dos fundadores da Vila de São Paulo de Piratininga, em 1554, hoje cidade de São Paulo. Nesta edição,
Caderno Especial
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Adoção ilegal: Cardeal Scherer: uma modalidade “Ninguém se torna do tráfico de santo depois da morte” crianças
Página 3
O jornal O SÃO PAULO teve acesso à carta de uma jovem mãe que está presa e conviveu apenas 15 dias com suas filhas gêmeas, adotadas sem seu consentimento. Além disso, o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, ressaltou a importância de combater a miséria, raiz de todas as modalidades de tráfico humano. Página 6-7
Controle parental será por meio da instalação de softwares e aplicativos Aprovado na terça-feira, 25, o Marco Civil da Internet é considerado por muitos como a “Constituição” da internet. Pensado e elaborado por diversos setores da sociedade desde 2009, a lei representa um avanço para o Brasil e a defesa de uma internet neutra e igual para todos, porém torna, de acordo com o deputado Ricardo Izar, mais trabalhoso o acesso ao controle parental. Página 4
2 | Fé e Vida |
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liturgia e vida
palavra do papa
Abramo-no à luz do Senhor!
5º DOMINGO DA QUARESMA 6 DE ABRIL DE 2014 Ana Flora Anderson
Os amigos de Jesus Neste 5º Domingo da Quaresma, chegando perto da celebração da Semana Santa, a Igreja reflete sobre o mistério da ressurreição. Na primeira leitura (Ez. 37, 12-14), o profeta usa a simbologia da sepultura para descrever a situação do povo fora da Terra Santa. Deus anuncia que abrirá os túmulos e dará o próprio espírito para que o povo reconheça que Ele é o Senhor e assim, possa voltar à Terra Prometida. Na segunda leitura (Rm 8, 8-11), São Paulo relaciona a Ressurreição de Jesus, pelo poder do Espírito, com nossa condição humana. O nosso corpo é ferido por causa do pecado, mas o Espírito age em nós dando a plenitude da vida. O Evangelho de São João (11, 1-45) narra a morte e a ressurreição de Lázaro. Esta é a única vez que um milagre de Jesus enfatiza seis vezes seu amor, sua amizade e sua emoção em relação a seus seguidores. Lázaro é identificado como aquele que Jesus amava. Sua irmã Marta é descrita como muito amiga e Jesus mesmo descreve Lázaro como o amigo que dorme. O Mestre estremece de emoção ao ver Maria chorar e Ele mesmo chora junto com ela. O povo que os cercava exclama: como Jesus o amava ! A fé em Jesus é um ato de amor. Os olhos humanos não podem ver a Deus fisicamente, mas o amor abre os olhos do coração e cria uma transfiguração. Quem ama, vê a glória de Deus.
Papa francisco Aqui a reflexão do papa Francisco, antes da oração mariana do Ângelus. Ele refletiu sobre o evangelho da cura do cego de nascença, lido no quarto domingo da Quaresma O Evangelho de hoje nos apresenta o episódio do homem cego de nascença, ao qual Jesus doa a visão. A longa história começa com um cego que começa a ver e se fecha – é curioso isto – com as supostas pessoas que veem que continuam a permanecer cegas na alma. Enquanto o cego se aproximava gradualmente da luz, os doutores da lei, ao contrário, caíam sempre mais em sua cegueira interior...
O caminho do cego, em vez disso, é um percurso de etapas, que parte do conhecimento do nome de Jesus. Não conhece outro além dele; de fato diz: “Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos” (v. 11). Seguindo as insistentes perguntas dos doutores da lei, considera-o antes de tudo um profeta (v. 17) e depois um homem próximo a Deus (v. 31). Depois que se afastou do templo, excluído da sociedade, Jesus encontra-o de novo e lhe “abre os olhos” pela segunda vez, revelando-lhe a própria identidade: “Eu sou o Messias”, assim lhe diz. Neste momento, aquele que estava cego exclama: “Creio, Senhor!” (v. 38), e se prostra diante de Jesus. Este é um trecho do Evangelho que faz ver o drama da cegueira interior de tanta gente, também a nossa, porque nós, algumas vezes, temos momentos de cegueira interior. A nossa vida às vezes é similar àquela do cego que se abriu à luz, que se abriu a Deus, que se abriu à sua L’Osservatore Romano
Na manhã de quinta feira (27), o papa Francisco recebeu no palácio do Vaticano o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, sendo este o primeiro encontro reservado desde que Francisco se tornou pontífice há um ano. Segundo o porta-voz de Obama, o presidente agradeceu ao Papa pelos seus apelos à paz e ao respeito dos direitos humanos.
leituras da semana
Segunda (07): Dn 13, 41c-62; Sl 22; Jo 8, 1-11 Terça (08): Nm 21, 4-9; Sl 101, 2-21; Jo 8, 21-30 Quarta (09): n 3,14-20.24.49a.91-92.95; Dn 3, 52-56; Jo 8, 31-42 Quinta (10): Gn 17, 3-9; Sl 104, 4-9; Jo 8, 51-59 Sexta (11): Jr 20, 10-13; Sl 17; Jo 10, 31-42 Sábado (12): Ez 37, 21-28, Jr 31, 10-13; Jo 11, 45-56
cartas do leitor
Sobre a edição 2995
Eba. Meus parabéns! Esta semana a capa está maravilhosa!
graça. Às vezes, infelizmente, é um pouco como a dos doutores da lei: do alto do nosso orgulho, julgamos os outros, e até mesmo o Senhor! Hoje somos convidados a nos abrirmos à luz de Cristo para levar frutos à nossa vida, para eliminar os comportamentos que não são cristãos; todos nós somos cristãos, mas todos nós, algumas vezes, temos comportamentos não cristãos, comportamentos que são pecados. Devemos nos arrepender disso, eliminar estes comportamentos para caminhar decididamente no caminho da santidade. Esse tem a sua origem no Batismo. Também nós, de fato, fomos “iluminados” por Cristo no Batismo, a fim de que, como nos recorda São Paulo, possamos nos comportar como “filhos da luz” (Ef 5, 8), com humildade, paciência, misericórdia. Os doutores da lei não tinham nem humildade, nem paciência, nem misericórdia! Eu sugiro a vocês, hoje, quando voltarem para casa, que peguem o Evangelho de João e leiam este trecho do capítulo nove. Fará bem a vocês, porque assim vocês verão este caminho da cegueira à luz e o outro caminho mal rumo a uma mais profunda cegueira. Perguntemo-nos: como está o nosso coração? Tenho um coração aberto ou um coração fechado? Aberto ou fechado para Deus? Aberto ou fechado para o próximo? Sempre temos em nós algum fechamento nascido do pecado, dos erros. Não devemos ter medo! Abramo-nos à luz do Senhor, Ele nos espera sempre para nos fazer ver melhor, para nos dar mais luz, para nos perdoar. Não esqueçamos isto!
Sergio Ricciuto Conte
O jornal dessa semana está ótimo e principalmente a matéria do tráfico. Comecei a ler e não parei. Parabéns!
há 50 anos
Maria Isabella Gedeon Izar
Não sei as anteriores, mas esta edição está bastante rica e atual. Parabéns à nova equipe. Elvira Freitas
Esta edição está rica e interessante em seu conteúdo: Espiritualidade, alerta e denúncia sobre o tráfico de pessoas, o crime hediondo que usurpa a liberdade de pessoas inocentes, incautas e fragilizadas e a memória do golpe que abalou o País, roubou a liberdade e destruiu sonhos da juventude, enlutou famílias e deixou mistérios ainda não revelados. Deus salve a nossa Pátria!
Reprodução
Preocupações de um século No artigo intitulado “Drama do século”, o padre Lebret expõem as preocupações com a fome, a miséria, e o subdesenvolvimento, presentes em nossa sociedade. Em apenas uma coluna, o artigo publicado pelo O SÃO PAULO sintetizou o quão devastador era a divisão de duas camadas na sociedade “De um lado, três quartos da humanidade padecendo a fome ou a subalimentação, e todas as consequências sociais da miséria.... De outro lado, a minoria dos que têm muito, que têm cada vez mais, que querem ter tudo...” Visando esclarecer dúvidas sobre
previdência e assistência à domestica, o jornal publicou diversos artigos que proporcionavam ao leitor tirar suas duvidas e conhecer mais sobre as leis e trâmites em volta dessas questões. A página contou com artigos desde acepção sobre o trabalho doméstico até as leis em volta desta modalidade de trabalho. “Há famílias que já compreenderam a necessidade de fazer justiça aos domésticos para proporcionar meios de vida para seus servidores quando às forças físicas não dão mais para o trabalho pesado das lides domesticas...”
Capa da edição de 5 de abril de 1964
Levi Jose
Semanário da Arquidiocese de São Paulo
Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação Semanal • www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Reportagem: Cônego Antônio Aparecido Pereira, Daniel Gomes, Edcarlos Bispo de Santana e Nayá Fernandes • Institucional: Rafael Alberto • Fotografia: Luciney Martins • Administração: Maria das Graças Silva (Cássia) • Assinaturas: Djeny Amanda • Projeto Gráfico e Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda. • Redação e Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinatura) • Números atrasados: R$ 1,50 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail• A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.
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encontro com o pastor
Milagres de São José de Anchieta
Arcebispo metropolitano de São Paulo
cardeal odilo pedro scherer
Ao saberem da notícia da canonização do padre José de Anchieta, muitas pessoas perguntaram logo: qual foi o milagre? Por qual milagre ele se tornou santo? As perguntas não surgem sem motivo, pois a Igreja sempre tem falado que, para a beatificação, é preciso que haja um milagre, acontecido pela intercessão daquele que é beatificado; e, para a canonização, espera-se um novo milagre do bem-aventurado. Dessa maneira, a Igreja entende que Deus, o único a realizar milagres, confirma a santidade daqueles que veneramos como “santo”. A Igreja é muito criteriosa e até severa para dar reconhecimento a um suposto milagre. No caso de Anchieta, houve a confirmação de um milagre antes de sua beatificação. Para a sua proclamação como “santo”, foi dispensada a confirmação de um novo milagre. O Papa pode fazer isso, usando da autoridade que lhe é própria. É verdade que não faltaram testemunhos sobre sinais prodigiosos conseguidos por meio da intercessão de Anchieta; mas, de modo geral, tais supostos milagres são de difícil verificação, dada a escassez de documentação e de testemunhos. Aqui se faz oportuna uma reflexão: os santos, assim reconhecidos e proclamados pela Igreja, não se
tornam “santos” por causa de algum milagre; o reconhecimento público e oficial da Igreja supõe, acima de tudo, a vida santa de quem é proclamado “santo”. Por isso mesmo, esse ato oficial da Igreja não é dito “santificação”, mas “canonização”, ou seja, inscrição na lista (“cânon”) dos santos reconhecidos pela Igreja. Ninguém se torna “santo” depois da morte; o que conta é a vida santa e o testemunho de santidade durante essa vida. Foi o que aconteceu com Anchieta. O papa Francisco reconheceu oficialmente aquilo que se tinha por certo já quando Anchieta faleceu, em 1597: foi um homem santo, um homem de Deus, que se dedicou profundamente à obra do Evangelho, no seguimento de Jesus; homem de extraordinária fé, esperança e caridade, ele viveu conforme as bem-aventuranças, cultivou a misericórdia, a oração e a comunhão com Deus; foi zeloso da glória de Deus e do bem do próximo, gastou sua vida como missionário; foi um grande cristão, um sacerdote dedicado, um filho amoroso da Igreja. E isso foi testemunhado pelos que o conheceram em vida e, sem interrupção, confirmado pela Igreja, depois de sua morte, até nossos dias. Falta alguma coisa para ser santo?! As pessoas gostam de saber: para qual “graça” o Santo deve ser invocado? A Igreja ensina que, acima de tudo, os santos devem ser imitados; eles são testemunhas de vida cristã, excelsos discípulos de Jesus. Em nossos dias, devemos pedir a intercessão de São José de Anchieta para conseguir aquelas “graças” que mais o caracteriza-
ram em vida: ser pessoas de fé viva, apaixonados por Deus, pela Igreja e sua missão; ser missionários dedicados e capazes até de sacrifícios pela causa do Evangelho; ser catequistas criativos e interessados em comunicar aos outros os tesouros do Reino de Deus; ajudar outros a se aproximarem de Cristo vivo, a chegarem à alegria de crer; ser respeitosos para com todos, promotores da justiça e da defesa dos mais fracos e vulneráveis; ser pacificadores, sem deixar que a violência imponha a sua lei... Quantos “milagres” podemos pedir a Deus pela interessão de São José de Anchieta! Sem esquecer que ele veio ao Brasil ainda jovem, com 19 anos de idade, com um desejo imenso de “levar irmãos para Cristo” e de promover em tudo a maior glória de Deus (ad maiorem Dei gloriam)... Nenhum sacrifício ou renúncia lhe pareceram demasiados para fazer isso. Ainda hoje, Anchieta pode ser uma inspiração para muitos jovens! Nosso tempo desafia-nos a sermos missionários e isso requer “conversão pessoal e pastoral”. O papa Francisco tem dito que precisamos ser um “povo em missão” e uma Igreja “em saída”, indo aos irmãos que vivem nas “periferias” de todos os tipos. Este é mais um “milagre” importante a ser pedido através do missionário Anchieta, que largou tudo e foi ao encontro daqueles que viviam nas periferias do mundo, na América... Oh, sim, valei-nos, São José de Anchieta! Olhai para o nosso Brasil, o “vosso” Brasil! Pedi essas graças para nós! Precisamos muito desses milagres!
Domingo, 6 de abril
Segunda Feira, 7 de abril
agenda do Cardeal Sábado, 5 de abril
Retiro com os Diáconos Permanentes 18h: Missa na Paróquia São Francisco de Paula e São Benedito (Reg. Santana)
10h: Procissão do Páteo do Colégio para a Catedral da Sé 11h: Missa em ação de graças pela canonização do Padre Anchieta
9h30: Instalação da Faculdade de Direito Canônico “São Paulo Apóstolo” (Sala Magna da Faculdade de Teologia da PUCSP – Ipiranga)
| Fé e Vida | 3
editorial
O ser humano não é coisa, não é mercadoria Em todas as formas em que se manifesta o tráfico humano, ele é repulsivo, ultrajante e desrespeita a dignidade humana. Quem o realiza desrespeita a dignidade humana não só de suas vítimas, mas de todo homem e mulher. E o tráfico existe e muito ativo, movendo quantias enormes de dinheiro; É ativo, é cruel, é repulsivo. Fixemos nosso olhar nos menores vítimas do tráfico. Ele alicia adolescentes, arranca-os do seio de suas famílias, promete-lhes trabalho, promete-lhes fama e dinheiro seja no esporte, seja numa profissão qualquer. Poucos dias atrás, a imprensa descobriu meninos confinados, se alimentando mal, mantidos apenas pela esperança de se tornarem famosos e ricos... no futebol. Sem lar, sem escola, sem alimentação, dormindo mal, eles pagam para seus “agentes” a estadia, a comida, a roupa, sem certeza alguma de concretizar seus sonhos. O tráfico é sedutor e alicia meninas, algumas nem tendo chegado adolescência, e as obriga a se prostituírem. Elas servem de pasto para pervertidos que pagam caro aos que as sujeitam a essa escravidão cruel. O tráfico rouba crianças, meninos e meninas recém-nascidos ou nos seus primeiros anos de vida, arranca-os dos braços dos pais e os vendem a peso de ouro aqui mesmo ou no exterior a casais que por caminhos tortuosos, querem satisfazer o desejo de serem pais. E que não se diga que as famílias adotantes vão lhes dar uma vida digna. Isso não diminui a crueldade da venda, a dor dos pais, a gravidade do crime. Chega de sofrimento, de escravidão, de ultraje à pessoa humana, imagem e semelhança de Deus. Queremos ver brilhar em toda pessoa a imagem do Cristo transfigurado no alto da montanha e não desfigurados pelas forças da morte. Queremos toda pessoa humana de todas as idades vivendo a plena liberdade para a qual Cristo a libertou com sua morte e ressurreição. É preciso dar um basta vigoroso ao tráfico humano. O ser humano não é coisa, não é mercadoria, não está à venda. Nós todos, católicos, cristãos de todas as tradições, homens que creem em Deus e seguem os apelos de sua consciência, somos todos convidados a trazer à luz a monstruosidade desse crime, todos somos obrigados a denunciá-lo lá onde se manifesta, todos temos que ajudar a arrancar das garras dos criminosos as vítimas inocentes, cerca-las de cuidado, atenção, carinho. Que ninguém culpe os cristãos de omissão na tarefa comum de eliminar da face da terra esse pecado que clama aos céus.
4 | Geral |
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Governo de Ortega disponível ao diálogo com a Igreja conferencia episcopal de nicaragua
A Conferência Episcopal da Nicarágua anunciou que o governo de Daniel Ortega respondeu afirmativamente a uma recente proposta de diálogo dirigida pelos bispos. As relações entre Ortega e a Igreja são distantes, mas isso tem mudado desde que o Arcebispo de Managua, Dom José Brenes Solórzano, foi nomeado cardeal, pelo Papa Francisco.
Controle Parental é ponto divergente no Marco Civil Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Aprovada na semana passada, “Constituição” da internet deixa a cargo de pais e responsáveis o bloqueio de conteúdos impróprios para menores Edcarlos Bispo
Redação
“Da forma que o texto ficou serão ofertados softwares e aplicativos para que o usuário possa ter o ‘controle parental’, porém o governo deverá instruir e formatar esses softwares. Cada pessoa baixará em sua própria máquina. Eu acho que isso é um complicador, pois nem todos sabem parametrizar o ‘controle parental’”, afirmou o deputado Ricardo Izar Junior. O texto ao qual o deputado se refere é o do Marco Civil da Internet. Aprovado na terça-feira, 25, o Marco é considerado por muitos como a “Constituição” da internet, pensado e elaborado por diversos setores
da sociedade desde 2009, a lei representa um avanço para o Brasil e a defesa de uma internet neutra e igual para todos. Porém, alguns pontos foram motivos de diversos debates e embates entre partidos e políticos no Congresso, e ainda sim são motivos de divergência. Entre eles o artigo 29 da lei: “O usuário terá a opção de livre escolha na utilização de programa de computador em seu terminal para exercício do controle parental de conteúdo, entendido por ele como impróprio a seus filhos menores, desde que respeitados os princípios desta Lei e da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Parágrafo único.
Cabe ao Poder Público, em conjunto com os provedores de conexão e de aplicações de Internet e a sociedade civil, promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos programas de computador previstos no caput, bem como para a definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes.” O controle parental, parental control, é um dispositivo contratado junto aos provedores de internet que já limitam o acesso a sites que previamente são bloqueados pelo usuário, dessa forma conteúdos pornográficos ou violentos, por exemplo, só podem ser acessados com o uso de senha.
Da forma como foi aprovada na lei, esse serviço não será oferecido pelo provedor, caberá aos contratantes do serviço, que possuem menores em casa, adquirir softwares ou aplicativos para fazerem o bloqueio de conteúdos impróprios. Para o relator do projeto, deputado Alessandro Molon, não é o Estado quem deve dizer o que pode ou não ser visto, por isso foi colocado que o governo ira fornecer e instruir para a instalação de softwares e aplicativos que façam o bloqueio dos conteúdos inadequados. O deputado Ricardo Izar, salienta a importância da educação e da instrução dos pais e responsáveis, mas destaca que o que antes era acessível de maneira mais fácil e direta passa a ser mais dificultoso o que pode acarretar a diminuição da instalação do controle parental nos dispositivos eletrônicos. Mesmo achando difícil que o Senado altere este artigo na lei, o deputado Ricardo já esta em contato com senadores de seu partido e das bancadas católica e evangélica para tentar garantir que a internet permaneça livre e democrática, porém proteja as crianças e os adolescentesde conteúdos impróprios.
A Mão Branca parabeniza a cidade de São Paulo pela canonização do Padre José de Anchieta.
100 anos de amor e solidariedade Avenida Santo Amaro, 6.487 • Santo Amaro • São Paulo/ SP • 04701-100 Fone: (11) 5523-2055 E-mail: amaobranca@amaobranca.org.br
especial canonização do padre josé de anchieta ano 59 | Edição 2996 | 3 a 7 de abril de 2014
Óleo sobre tela de Benedito Calixto - Acervo do MP/USP - Foto de Hélio Nobre
mensagem do cardeal
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo
Mensagem do Arcebispo de São Paulo na Canonização do Padre José de Anchieta Hoje é um dia de festa! Manifesto, em nome da Arquidiocese de São Paulo, profunda gratidão a Deus pela proclamação do bemaventurado Padre José de Anchieta como “santo”! Ad maiorem Dei gloriam – que tudo seja para a maior glória de Deus! Este momento foi longamente esperado por esta Igreja que está em São Paulo. Grande missionário, São José de Anchieta deu o testemunho de uma vida santa, já reconhecido assim enquanto ainda vivia; por isso, logo após o seu falecimento, em 1597, foi aclamado como “Apóstolo do Brasil!” Gratidão ao papa Francisco, conhecedor da história de Anchieta e dos primeiros missionários jesuítas no Brasil, que acolheu benevolamente o pedido da Igreja e, bem depressa, deu o reconhecimento oficial a Anchieta como “santo”. A Igreja, nesta Metrópole, deve seus inícios à obra evangelizadora de Anchieta e de seus companheiros na missão de São Paulo de Piratininga. Dessa missão, também nasceu a própria cidade de São Paulo. São José de Anchieta significa muito para nós, em São Paulo, e nos
sentimos honrados com a sua canonização! Seu exemplo - de jovem entusiasta por Cristo e pelo Evangelho, de homem santo, movido pelo amor a Deus e aos irmãos, de missionário incansável, zeloso na transmissão da alegria do Evangelho, de pacificador respeitoso das culturas dos povos originários do Brasil, de educador, pai dos pobres e enfermos – continue a nos motivar e inspirar na dedicação à missão. Somos continuadores do trabalho por ele iniciado. Que sua intercessão e seu exemplo nos valham sempre! São José de Anchieta, rogai por nós! São Paulo, na canonização de São José de Anchieta.
Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo
E 2 | Padre José de Anchieta |
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Modelo de vida para os jovens e ícone da evangelização Luciney Martins/O SÃO PAULO
Rafael Alberto
Especial para O SÃO PAULO
Envolvido com o processo de canonização do padre José de Anchieta há 12 anos, o padre César Augusto dos Santos, jesuíta como Anchieta, explicou ao O SÃO PAULO como é a dinâmica de uma canonização em que não há a constatação oficial de um milagre. De Roma, onde também exerce a função de diretor do setor brasileiro da Rádio Vaticano, padre César falou com exclusividade ao jornal sobre detalhes do processo que levará à canonização do Padre Anchieta. Leia a íntegra abaixo: O SÃO PAULO – O papa Francisco vai canonizar o Padre Anchieta sem um milagre oficialmente reconhecido. Como a Igreja procede nessas circunstâncias? Padre César Augusto dos Santos – No início do cristianismo não se exigia milagres para que a Igreja proclamasse alguém santo. Bastava o testemunho de uma vida santa e a grande devoção das pessoas. Também não havia a atual sequência no processo de canonização, em que primeiro se reconhece o candidato como Servo de Deus, depois Venerável, Beato e, por fim, Santo. A comprovação da santidade por milagre, bem como todas as exigências próprias de um processo de canonização foram introduzidas com o tempo para se evitar abusos. No caso de Padre Anchieta existem muitos milagres, até mesmo em vida. Mas não foram devidamente documentados – declarações médicas de mal incurável e de cura inexplicável, comprovação com exames laboratoriais e de imagem. Nas últimas décadas, muitos possíveis milagres ocorridos pela intercessão de Anchieta foram declarados por famílias de “miraculados”, mas faltavam alguns desses documentos. Anchieta foi beatificado pela fama de “milagreiro”. Quando isso foi noticiado, uma família, cuja neta havia sido miraculada, se lembrou de avisar. Realizados todos os procedimentos solicitados pela Santa Sé, o milagre não valeu para o processo de canonização porque havia acontecido antes da beatificação e a norma da Igreja pede que
Minha alma, por que tu te abandonas ao profundo sono? Por que no pesado sono, tão fundo ressonas? Não te move à aflição dessa mãe toda em pranto, Que a morte tão cruel do filho chora tanto? E cujas entranhas sofre e se consome de dor, Ao ver, ali presente, as chagas que ele padece? Em qualquer parte que olha, vê Jesus, Apresentando aos teus olhos cheios de sangue.
Padre César Augusto mostra relíquia de São José de Anchieta
seja após a beatificação. Com o pedido de canonização feito em 2013 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Ângelo Amato, pediu ao postulador da Causa dos Santos da Companhia de Jesus que fizesse o processo não mais voltado para a questão de milagres, mas para o outro aspecto contemplado pela Santa Sé que é a comprovação da amplidão do culto após a beatificação. O SÃO PAULO – E foram encontrados indícios de devoção pública para encaminhar à Santa Sé? Padre César Augusto – Sim, centenas. Na “Positio” – documentação preparada e entregue à Santa Sé, com vistas à canonização –, relatamos ao menos cem. E ficamos impressionados com o que constatamos: Anchieta possui pelo menos 50 devotos e multiplicadores de
sua devoção em cada um dos 26 estados da federação, mais o Distrito Federal, além de igrejas e capelas que levam o seu nome e altares erigidos em sua homenagem. Além disso, se perde o número de instituições educativas, hospitalares, governamentais, meios de comunicação, ruas, monumentos, pessoas que possuem seu nome, em todo o território nacional. A ideia de que Anchieta é reverenciado apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia não é plausível. Mais. Anchieta é admirado e reconhecido também fora do ambiente religioso. Sua memória está presente em todo o cenário nacional. Portanto, a canonização pode ser pela comprovação de milagres ou pela comprovação da devoção do culto na amplitude de uma nação. O SÃO PAULO – Anchieta é sempre lembrado como historiador, poeta, desbravador...
Como era o religioso? Padre César – Íntimo de Deus e da Virgem Maria. Um homem de fé que não esperava acontecer o que havia pedido a Deus, mas já contava como certo; um homem formado segundo os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, ou seja, homem de discernimento e que encontrava Deus em todas as coisas e todas as coisas Nele. Homem sem dicotomia, alegre, feliz, transparente. Toda sua inteligência e saúde colocadas integralmente a serviço de Deus, concretizado no serviço aos menos favorecidos (índios, negros, infância e juventude). Era um grande místico de realizações concretas, o famoso contemplativo na ação! O SÃO PAULO – Porque é importante canonizar o padre José de Anchieta? Quais serão os ganhos da Igreja? Padre César – Canonizar Anchieta será proclamar que Deus continua agindo por meio dos pequenos. Ele, um jovem e adoentado, chegou ao Brasil inóspito, sem facilidades e sem recursos de qualquer espécie, e se tornou um grande luzeiro a ponto de ainda hoje sua luz continuar nos iluminando, sua luz que é reflexo da Luz maior – Jesus Cristo! Canonizar Anchieta será proclamar que nem tudo na chegada dos cristãos ao Novo Mundo foi repleto de erros e maldades, como se costuma afirmar - mas algumas pessoas não só eram bem intencionadas como souberam fazer o bem – Anchieta é o ícone da evangelização em nossas terras! A Igreja coloca aos olhos de todos os homens de nosso tempo, mas especialmente aos olhos dos jovens sacerdotes, religiosos e leigos, um jovem que soube vencer a si mesmo, aos seus limites, tirando de dentro de si toda a força de que precisava para realizar sua missão. Santo jovem porque sua santidade começou a ser demonstrada e provada já ao sair de Coimbra com 18 anos, e vivida no Brasil em seus primeiros dez anos e continuada nos seguintes até morrer com 64 anos. Toda essa longa vida foi a continuação da edificação de uma grande e sólida obra erguida sobre os alicerces construídos na juventude. Ter Anchieta como modelo a ser seguido será um ganho não apenas para a Igreja, mas para os povos do mundo inteiro.
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| Padre José de Anchieta | E
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Com Anchieta, Deus também falou Tupi Jovenal Pereira
textos: Nayá Fernandes fotos: luciney martins
Enviados especiais às cidades do litoral paulista
De carro, pela rodovia Anchieta, sobre o sol e a chuva fortes e nos comunicando pelo celular constantemente, seguimos viagem para visitar os lugares pelos quais São José de Anchieta percorreu, no litoral paulista. Nossos recursos muito diferentes daqueles utilizados pelo Apóstolo do Brasil, nos fizeram ir com mais rapidez que ele, mas, certamente, com menos perspicácia e intensidade. Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Cubatão, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilha-
bela, Caraguatatuba e Ubatuba são as cidades do estado de São Paulo que compõe o programa “Caminha São Paulo – passos dos jesuítas”. Não chegamos a todas estas cidades, mas, por aquelas que passamos, vimos o quão importante foi padre Anchieta e o que significa para os moradores, a sua canonização. O Abarebebê (padre voador), como Anchieta era conhecido pelas populações indígenas, deixou marcas profundas por estas terras de tupiniquins. Por meio da arte, da música, da poesia e da sua capacidade pedagógica, ele conseguiu transmitir os valores cristãos católicos nos quais acreditava, inclusive em Tupi, a língua mais falada no Brasil, à época, entre as populações locais. E, se o Tupi já foi a língua mais falada no Brasil, os brasileiros, falantes do português hoje, devem se perguntar o que Luciney Martins/O SÃO PAULO
ainda resta dessas populações que habitavam o nosso País, quando chegaram os colonizadores. Entre eles, os jesuítas, com seus anseios de evangelização. É nesse momento, que nos encontramos com a natureza. Impossível não pensar no encontro entre São José de Anchieta e os índios quando se caminha pela estradinha feita de madeira, que leva até a famosa “Cama de Anchieta”, em Itanhaém, ou quando se visita as ruínas de Abarebebê, em Peruíbe. Pedaços do passado preservados durante os séculos, pedaços de história que são como a fé que nos leva às origens de nós mesmos. Em tudo, para quem crê, a presença de Deus. Para Fátima Cristina Pires, historiadora em Peruíbe, padre Anchieta foi um grande didático. “Como primeiro professor do Brasil, escreveu a primeira cartilha do País. Gostava muito do Gil Vicente, teatrólogo [e literata] português e, por isso, não foi um evangelizador que agiu impulsivamente. Ao contrário, chegou devagar, fazia peças, músicas, danças. Percebeu que os índios adoravam dançar e foi muito inteligente ao aproveitar isso”, afirmou.
Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama Para si, as chagas que vê suportar o filho que ama. Pois quanto sofreu aquele corpo inocente em reparação, Tanto suporta o coração compassivo da mãe, em expiação. Ergue-te, pois, e, embora irritado com os injustos judeus, Procura o coração da mãe de Deus. Um e outro deixaram sinais bem marcados Do caminho claro e certo feito para todos nós.
Projeto Caminha São Paulo A Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo estimula o turismo religioso seguindo os passos de São José de Anchieta, por meio do projeto: “Passos dos Jesuítas – Anchieta”, uma rota organizada para estimular a visitação aos atrativos turísticos do litoral paulista – de Peruíbe a Ubatuba – remontando os passos trilhados pelos missionários jesuítas, sobretudo São José de Anchieta. São 370 quilômetros que compõe um acervo natural, histórico e cultural do Estado de São Paulo. Os caminheiros podem percorrer a pé, com uma rota preparada que contém os
lugares de passagem e de descanso dos jesuítas, monumentos naturais ou construídos - que, de alguma forma, estiveram integrados à vida e ao legado de Anchieta. Placas de sinalização e pórticos eletrônicos estão disponíveis em todo o trajeto, que contempla 13 cidades do litoral paulista e possui quatro tipos de rotas: a principal, a alternativa, as opcionais e as naturais. Para participar é necessário preencher o formulário de inscrição no site www.caminhasaopaulo.com.br, que contém muitas outras informações para apoiar os caminhantes.
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A herança dos Sambaquis em Peruíbe e as ruínas do Abarebebê por exemplo, foram construídas a partir dos sambaquis.
textos: Nayá Fernandes fotos: luciney martins
Enviados especiais às cidades do litoral paulista
Peruíbe é uma cidade com apenas 55 anos de emancipação, mas uma história que remonta a 4 ou 5 mil anos. Lá se encontram os Sambaquis (palavra que deriva de tamba: marisco; e ki: amontoamento, em tupi), um tipo específico de resquício do passado. São sítios arqueológicos construídos por várias gerações que habitavam a costa brasileira, adaptados ao ambiente litorâneo. Na região da Juréia, onde se encontra Peruíbe, existem 11 deles. São amontoados de conchas, onde, provavelmente os homens primitivos enterravam seus mortos. Esta tristeza é a primeira “Os Sambaquis punição da mãe, eram coletores e pescadores. Por volta No lugar da alegria, segura de 2 mil anos já existiam no litoral. Eles uma dor cruel, eram ceramistas, caEnquanto a turba gozava de çavam e tinham sua religiosidade expresinsensata ousadia, sa. Depois, os índios no Amazonas, que Impedindo aquele que foi acreditavam que se andassem no sentidestruído na cruz. do do nascer do sol, iriam encontrar a terra sem males, chegaMãe, mas este precioso fruto ram ao litoral. Então, aconteceu a primeira de teu ventre miscigenação entre Deu vida eterna a todos os fiéis os indígenas e os Sambaquis, que deque o amam, sapareceram por volta de 1.000 anos, ou E prefere a magia do nascer seja, 500 anos antes da chegada dos Porà força da morte, tugueses”, explicou Ressurgindo, deixou a ti Fátima Cristina Pires, historiadora. como penhor e herança. Com a destruição dos amontoados de conchas, misturamse aos fósseis, óleo de
São Vicente
De longe, quem vê a “Biquinha de Anchieta” não imagina que, durante séculos, ela foi uma das principais fontes de água dos habitantes de São Vicente (SP). Em 1554, Anchieta chegou a São Vicente, a vila fundada no Brasil por Martim Afonso de Sousa. Lá, o padre teve seu o primeiro contato com os índios e, na fonte que leva seu nome, não apenas catequizou: mas encenou, em 1562, a primeira peça teatral do Brasil.
Para reconstruir a história
Os índios convertidos eram batizados no átrio e depois entravam na igreja
baleia e areia, para fazer uma liga e construções novas. As ruínas do Abarebebê, por exemplo, devem ter algum resquício de sambaquis. “Só a partir do século 20 é que um grupo de japoneses, no Vale do Ribeira, começou a fazer um estudo sobre eles”, contou a historiadora. Fátima enfatizou a presença dos sambaquis, pois muitas
igrejas do século 16 foram construídas a partir deles. Além da miscigenação cultural entre os povos locais e os portugueses e jesuítas, houve uma mistura entre elementos da pré-história brasileira e a religião católica, no caso da construção de igrejas. A matriz de Sant’Anna e a Casa de Câmara e Cadeia, no centro histórico de Itanhaém,
As ruínas do Abarebebê são patrimônio arqueológico protegido pela lei federal 3.924/61. Situadas no município de Peruíbe, elas são o que restou da Igreja de São João Batista, lugar onde os índios convertidos eram batizados e que abrigava um colégio para a formação dos futuros padres. Permanecer ali, onde também se encontram ossadas humanas é, sem dúvida, uma experiência de voltar ao passado. Enquanto a reportagem andava pelas ruínas, Fátima contou que “quando chegaram os jesuítas, na região, viviam os tupiniquins, que foram totalmente extintos. Hoje, existem os guaranis, que chegaram ao início do século 20. Dentre eles, os mais guerreiros eram os tupinambás ou os tamoios, no Rio de Janeiro”. Sobre a questão da interação entre indígenas e jesuítas, a historiadora destacou que existem várias linhas de estudo. “Antes mesmo da chegada do padre Leonardo Nunes, que foi o precursor de Anchieta nesta região, havia aqui um cristão novo, o Pedro Correia, que escravizava e vendia os índios. Leonardo e Anchieta libertaram os índios e se preocuparam em transmitir a doutrina em que acreditavam”, explicou. “Quando padre Leonardo veio, provavelmente uma parte da igreja já existia. Na parte da frente, havia o batistério. Os índios convertidos eram batizados no átrio e só depois podiam entrar na igreja”, continuou Fátima.
Bertioga
O Forte de São João foi o primeiro projeto construído com alvenaria no Brasil. O local era estratégico, pois dava acesso à Vila de São Vicente e Santos. O Forte recebeu os jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega que também ali realizaram um intenso trabalho de evangelização.
Igreja Matriz de Sant’Ana, em Itanhaém, con
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A cama à beira mar de Itanhaém Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
que fica no bairro do mesmo nome.
Um crime ecológico
A Cama de Anchieta conta com uma passarela para facilitar a visitação ao local onde o Apóstolo meditava a Bíblia
“Ao longo da praia, na terra firme, a nove ou dez léguas da Vila de São Vicente para o sul, tem uma vila chamada Itanhaém, que é de portugueses, e junto dela, da outra banda do rio, poucas léguas, tem duas aldeias pequenas de índios cristãos. Nessa vila, tem uma igreja de pedra e cal, na qual, quando se reedificou, o administrador deixou a primeira pedra com toda a solenidade: e da Conceição de Nossa Senhora, onde muitos moradores da Capitania, vão em Romaria e a ter novenas e fazem-se nela milagres.” Este é o relato do próprio José de Anchieta sobre a cidade de Itanhaém, publicado no livro “Os jesuítas na Capitania de São Vicente”, de Joaquim Thomas. A cidade, que mistura história e natureza, preserva e incentiva o turismo religioso, sobretudo relacionado à passagem do Apóstolo por ali.
onsiderada a segunda cidade do Brasil
Sentadas em frente à passarela que leva para a “Cama de Anchieta” estavam duas senhoras, mãe e filha, vendendo sorvete. O sol e o calor fortes e a passagem tímida de turistas pela passarela de madeira, as levavam a permanecerem em frente à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que fica na praia da Gruta. Questionadas sobre a presença de São José de Anchieta naquela pedra, onde conta-se que ele permanecia ali para descansar, as duas tiveram opiniões divergentes, mas afirmaram que ele deveria sim andar por aquelas praias. Passeando com a família, estava Manuel Raimundo Pereira. Ele é de Teixeira, na Paraíba, e contou à reportagem que conhece um José de Anchieta que mora na Paraíba e que recebeu esse nome pelo pai em homenagem ao “padre voador”. “Fico imaginando o padre aqui, com os
Ilhabela
A estrada para se chegar à Ilhabela está em condições ruins e isso atrasa a viagem em algumas horas. Lá, a cerca de 200 quilômetros de São Paulo, na praia de Ponta das Canas, no norte de Ilhabela, teria sido o lugar onde aconteceu a missa rezada por padre Manoel da Nóbrega, ajudado por Anchieta.
índios. Ele devia ser mesmo muito corajoso”, falou Manuel. Mas, a “Cama de Anchieta” não é a única pedra viva que preserva a memória do Santo. A reportagem do O SÃO PAULO visitou também a igreja matriz de Sant’Ana e o Convento Nossa Senhora da Conceição, ambos do século 16. Além disso, o município incluiu em seu roteiro o chamado “Pocinho de Anchieta” e o “Púlpito de Anchieta”. Não há placas de identificação, e o caminho até lá é feito sobre as pedras. Com a ajuda de Alice dos Santos, assessora de comunicação da Secretaria de Turismo do município, a reportagem conseguiu chegar ao Pocinho. Conta-se que as pedras foram colocadas ali por Anchieta com a ajuda dos índios para formar uma espécie de poço e favorecer a pescaria quando da maré baixa. O local está na atual praia de Cibratel,
O lugar conhecido como “Púlpito de Anchieta” fica entre as praias dos Pescadores e dos Sonhos, em Itanhaém. Elton Sousa, o Bacana, trabalha na recepção da Secretaria de Turismo da cidade. Quando soube que havia uma equipe de reportagem que estava percorrendo os caminhos de Anchieta, ele advertiu para o crime que aconteceu no lugar onde ficava o púlpito do jesuíta. “A maior parte das pessoas não sabe desta história; mas nós, os moradores, sabemos bem. Foi construído um quiosque no lugar onde ficava o púlpito e isso é abafado pelas autoridades, porque foi um fato muito feio que aconteceu”, desabafou Bacana. Indo ao lugar onde ficaria o púlpito, O SÃO PAULO conversou com Geiza Pereira, dona do Morto Deus, então porque “Quiosque do Canvives tu a tua vida? to”, que disse não saber nada sobre o Porque não foste arrastada em fato narrado e que o quiosque existe há 16 morte parecida? anos. O Secretário de E como é que, ao morrer, não Turismo de Itanhaém, Milton Campos, levou o teu espírito, explicou que há uma ação na justiça conSe o teu coração sempre uniu tra o quiosque, mas está no Judiciário os dois espíritos? e que, dificilmente, acontecerá uma retirada do quiosque do Admito, não pode tantas dores local. Itanhém ainda em tua vida abriga uma cópia do Suportar, aguentando se não batistério de José de Anchieta, recebido com um amor imenso; das Ilhas Canárias e a imagem de Nossa Se não te alentar a força do Senhora, do Século 16, em frente à qual nascimento divino ele teria rezado. Na Deixará o teu coração cidade, o Santo teria retornado por diversofrendo muito mais. sas vezes, em uma delas, permanecendo por mais de 40 dias seguidos. (NF)
Ubatuba
São inúmeras as imagens e obras em que São José de Anchieta desenha com um graveto na areia. Foi nessa época que ele escreveu o Poema à Virgem (trechos podem ser lidos ao longos das páginas do Caderno). Fundada em 1637, a cidade foi palco do primeiro tratado de paz das Américas, a Paz de Iperoig, atual Cruzeiro. Lá, Anchieta ficou preso por quatro meses pela Confederação dos Índios Tamoios.
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Uma nova história é escrita Nayá Fernandes
Enviada especial às cidades do litoral paulista
Se São José de Anchieta evangelizou num tempo em que os nativos do litoral brasileiro eram os indígenas, hoje, os nascidos nessa região são chamados caiçaras. O termo tem origem no vocábulo Tupi-Guarani caá-içara e é usado para denominar os indivíduos do litoral dos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Arte, música, teatro e literatura fazem parte das atividades oferecidas pelo Recanto Colônia Veneza e pela Escola Família Agro-Ecológica, em Peruíbe (SP). O projeto é direcionado para crianças, adolescentes e jovens de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade, não somente financeira, mas também sócio, psíquica ou familiar. Eliana de Sousa Torres, a Lica, trabalha na Associação há quase 20 anos. Ela foi uma criança atendida e fala com emoção da instituição. “Temos 250 crianças atualmente e mais de 300 na espera. O objetivo é oferecer atividades complementares, nas quais elas possam desenvolver suas capacidades e promover o exercício da cidadania dos direitos humanos e garantias individuais.” Lica mostrou também a capela, registrada como a primeira totalmente revestida
Vives ainda, Mãe, sofrendo muitos trabalhos, Já te assalta no mar onda maior e cruel. Mas cobre tua face, mãe, ocultando o piedoso olhar: Eis que a lança em fúria ataca pelo espaço leve, Rasga o sagrado peito ao teu filho já morto, Tremendo a lança indiferente no teu coração. Com o querido filho pregado à cruz, tu querias Que também pregassem teus pés e mãos virginais. Ele tomou para si a dura cruz e os cravos, E deu-te a lança para guardar no coração. Ver, ler, pesquisar
Filme: “Anchieta, José do Brasil”, de 1977, disponível na internet. Livros: “Anchieta, o Apóstolo do Brasil”, Hélio Viotti, Edições Loyola; “Um anjo no paraíso, José de Anchieta, da ilha de Tenerife a São Paulo e ao Rio de Janeiro”, Barbosa Filho, Edições Loyola; “O bem-aventurado Anchieta”, Armando Cardoso, Edições Loyola; “Anchieta, mensageiro de vida”, Armando Cardoso, Edições Loyola; “José de Anchieta, seu perfil e sua vida”, Roque Schneider, Edições Loyola; “Anchieta”, Ana Maria de Bulhões Carvalho, Salamandra; “Um carismático que fez história”, Armando Cardoso, Paulus; “José de Anchieta, poeta e apóstolo”, Ramos, Paulinas.
de mosaicos no Brasil. Depois da construção da capela, as crianças da Colônia também começaram a aprender a produzir mosaicos com material reciclado e o fazem também para venda, revestindo os lucros totalmente para o projeto. O projeto em Peruíbe, mantém viva a memória de Anchieta. Lica lembrou ainda, que desde pequenas, as crianças ouvem as histórias do Santo. “Muitas vezes, a tradição é contada por lendas, como Luciney Martins/O SÃO PAULO
aquela de que, nas noites de lua cheia, os vagalumes formam a imagem do Anchieta. As gerações recontam como foi importante o trabalho de evangelização deste jesuíta aqui na nossa região e como ele nos inspira ainda hoje, pois foi um grande educador”, enfatizou. Enquanto Lica contava sobre a Colônia, um grupo de crianças e adolescentes, ensaiava músicas para um concerto. Pôde-se ouvir música portuguesa, italiana e espanho-
la. E a própria educadora, ao escutar a música espanhola, lembrou-se de Anchieta, com um sorriso sereno no rosto. Coincidências à parte, a reportagem do O SÃO PAULO verificou que as sementes lançadas no século 16 pelos missionários jesuítas e posteriormente, franciscanos e demais religiosos e leigos, continuam germinando em projetos que pretendem promover o conhecimento, os valores humanos essenciais e a vida em plenitude.
Jovens nos passos do Apóstolo José de Anchieta chegou em terras brasileiras ainda muito jovem, com apenas 19 anos, e uma criatividade e vitalidade próprias de sua idade. As guias que acompanharam a reportagem do O SÃO PAULO nos passos dos jesuítas pelo litoral paulista também eram muito jovens e criativas. Entre elas, Alice Santos, 20, e Mariana Santos, 22, estudantes de jornalismo, transitam diariamente entre os lugares onde o Santo passou. Alice nos acompanhou à igreja matriz, que fica no centro de Itanhaém, ao “Pocinho”, à “Cama” e ao local conhecido como “Púlpito de Anchieta”. Com a tranquilidade própria de uma caiçara e seus característicos traços indígenas, Alice não hesitou em molhar os pés para nos indicar os melhores lugares para pisar no Pocinho. A jovem que trabalha na Secretaria de Turismo do município, contou que estudou so-
bre Anchieta na escola, mas só agora, com a notícia da canonização, começou mesmo a pesquisar sobre a biografia dele. “Quando penso que ele andou pelas nossas praias, cantou, dançou e fez teatro para os índios, me empolgo em falar dele para as pessoas têm nos procurado”, apontou Alice. Mariana, nasceu na capital paulista, mas trabalha como missionária desde pequena. Ela foi conosco até a Colônia Veneza, local que frequentou muitas vezes quando ainda era criança. Hoje, Mariana trabalha como estagiária na assessoria de comunicação da prefeitura municipal de Peruíbe. “Tenho um irmão que é missionário em Rondônia. Fui até lá conhecer a realidade onde ele trabalha. Fiquei assustada, pois lá, parece terra de ninguém. Imagina o que devia ser há mais de 500 anos este litoral onde estamos?”, enfatizou Mariana. (NF)
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Anchieta em diferentes espaços de São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO
Associação Cultural Beato José de Anchieta: localizada em São Miguel Paulista, na zona leste, é mantida pelos Jesuítas e está ligada à Capela de São Miguel Arcanjo (foto), fundada por Anchieta em 1560, para marcar a presença cristã na aldeia dos Guaianases.
Arquivo pessoal
Comunidade Beato José de Anchieta: pertencente à Paróquia Santa Adélia, na Região Episcopal Belém, está localizada na rua Fernandes Tourinho, 182, no Jardim Vera Cruz.
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Arquivo pessoal
Teatro Anchieta: no SESC Consolação, conta com 320 lugares. Foi inaugurado em 1967, em projeto do arquiteto Ícaro de Castro Mello. Arquivo pessoal
UBS Padre José de Anchieta: atende aos moradores do bairro Arthur Alvim, na zona leste de São Paulo (rua Silvio Torres, 313).
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Fundação Padre Anchieta: instituída pelo governo do estado de São Paulo, em 1969, mantém a TV Cultura e duas emissoras de rádio.
Biblioteca Municipal Padre José de Anchieta: no distrito de Perus, na zona norte, iniciou atividades em 24 de maio de 1968.
coletiva de imprensa, dia 2
“ O milagre não é o mais importante do processo de canonização, mas sim, a vida santa. O que faz de Padre José de Anchieta Santo não é a assinatura do decreto, mas sim sua vida modelada pela vida de Cristo. É santo porque teve uma vida santa”.
Dom Odilo, cardeal Scherer
“No Centro da preocupação de Anchieta estava o ser humano em sua dignidade. Em tempos de desconstrução da pessoa, Anchieta nos convida a olhar para o homem na sua essencialidade”. Padre Smyda, Provincial dos Jesuítas no Brasil
“Anchieta mereceria o título de ‘Pai da Nação’ brasileira já que ele, juntamente com outros missionários, foram os primeiros integradores dos povos do Brasil, iniciando o germe de uma consciência nacional”.
Dom Odilo, cardeal Scherer
Ó caminho real com pedras preciosas, porta do Céu, Torre de abrigo, lugar de refúgio da alma pura! Ó rosa que exala o perfume da virtude divina! Jóia lapidada que no Céu o pobre um trono tem! Doce ninho onde as puras pombas põem ovinhos, E as castas rolas têm garantia de suster os filhotinhos! Ó chaga, que és um adorno vermelho e esplendor, Feres os piedosos peitos com divinal amor!
Luciney Martins/O SÃO PAULO
Museu e Capela Padre Anchieta: ficam no Pátio do Collegio, no centro de São Paulo, próximo à estação Sé do metrô. O museu tem cerca de 700 objetos, alguns dos quais pertencentes originalmente aos Jesuítas. Há, ainda, um vasto acervo histórico com manuscritos e dados da cidade de São Paulo.
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A vida do Apóstolo do Brasil Reprodução
até aquele que era hostil, fez-se prisioneiro dos Tamoios, colocando à prova seus votos de pobreza, castidade e obediência. Venceu esses obstáculos confiante. Naquele que o chamou e, entregue a Maria, a mãe de Jesus. Quis a Providência Divina que, enquanto a Companhia de Jesus comemora em 2014 os 200 anos de sua restauração, após a supressão e expulsão pelo Marquês de Pombal, o papa Francisco e a Igreja Uni-
versal declare o que o todo o nosso povo desde sempre reconhecia: padre Anchieta é santo. Confirmando-o assim como Apóstolo do Brasil, homem que viveu desde a sua juventude servindo a Deus a aos irmãos por amor. O processo de canonização começou logo após a sua morte, em 1597. Foi declarado pela Igreja como servo de Deus em 1652 e em 1736 foi chamado de Venerável. Em 1980, foi beatificado pelo papa João Paulo
2º e agora o papa Francisco o declara santo. Em 1554, esteve presente na celebração da missa de fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, onde foi educador e evangelizador dos índios, ensinando o latim e a sua cultura. Era um homem corajoso e de diálogo como na pacificação dos Tamoios, onde escreveu o grandioso Poema à Virgem. Essa atitude de diálogo motivada pela fé e oração traz mais vida e supera o ódio e os conflitos. Exemplo para o nosso mundo, cheio de conflitos e desrespeito à vida. Vida sem amor é vida sem sentido e sem realização plena, que só pode se dar em Deus. O diferente sempre é uma oportunidade de um novo olhar com mais possibilidades e crescimento. Podemos aprender com ele que vale a pena buscar e encontrar a vontade de Deus e empregar todos os nossos dons a serviço do outro e, assim, colaborar na construção de um mundo melhor, onde todos os povos possam ser irmãos em Cristo Jesus, vivendo como uma comunidade unida a Igreja. É pela educação para a liberdade e para o conhecimento na criatividade que os dons do ser humano se potencializam. Anchieta não poupava o esforço para suprir a falta dos livros e copiava à mão, à luz de vela, os textos para os seus pequenos alunos indígenas. Essa entrega e esse amor faziam mudar as atitudes daqueles que, inclusive, matavam e comiam os seus inimigos. A convivência com os pobres, o diálogo evangelizador e a Catequese são grandes marcas deste nosso Apóstolo do Brasil.
Superior em São Vicente, em 2 de janeiro. 1º de março: desembarcou na Praia Vermelha, junto ao “Pão de Açúcar”; assistiu à fundação da cidade do Rio de Janeiro. 31 de março: partiu para a Bahia de Todos os Santos, com o fornecedor da esquadra, João de Andrada. Esteve então alguns meses no Espírito Santo.
provincial, mas a mesma não lhe foi concedida.
de Reritiba, Guarapari, Reis Magos e Carapina.
1587
1595
padre Mieczyslaw Smyda
Provincial dos Jesuítas da Província Brasil Centro-Leste
Nove de junho de 1597: o padre José de Anchieta entregou a vida a Deus em Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo. Aportou na Bahia com 19 anos, em 1553, mergulhou na cultura dos povos que habitaram a nossa Terra. Nesse encontro com a cultura indígena, aprendeu a amar a Deus e ao outro. Além de aprender a língua nativa, escreveu poemas e a primeira gramática de Tupi, descreveu a natureza, cuidou dos doentes e, acima de tudo, levou a todos a esperança, que brota de Jesus Cristo. Pelos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, entrou na vida religiosa como jesuíta e neles encontrou o método de discernimento por meio da oração contemplativa da realidade e da presença do Senhor em todas as coisas. Foi um homem incansável na busca do conhecimento a partir da realidade estudada na universidade em Coimbra; foi educador criativo dos pequenos índios; não se deixava abater pelas fadigas que aquela nova realidade lhe trazia, impulsionado pelo amor a Cristo. Apesar de uma saúde frágil, serviu aos mais necessitados não pela imposição, mas pela atração de viver a proposta do Evangelho. Com suas ações, questionava os que escravizavam o outro, pelo amor ao diferente e
Esta ferida do peito, ó mãe, é só tua, Somente tu sofres com ela, só tu a podes dar. Dá-me acalentar neste peito aberto pela lança, Para que possa viver no coração do meu Senhor! Entrando no âmago amoroso da piedade divina, Este será meu repouso, a minha casa preferida. No sangue jorrado redimi meus delitos, E purifiquei com água a sujeira espiritual!
Imagem oficial do novo santo que está sendo pintada para ser apresentada
Vida de Anchieta
1534
Nasce José de Anchieta em San Cristobal de La Laguna, na Ilha de Tenerife, Espanha, em 19 de março, festa de São José.
1548
Com apenas 14 anos, ingressou na Universidade de Coimbra, onde estudou filosofia.
1551
Ingresso do jovem José de Anchieta na Companhia de Jesus em 1º de maio.
1553
Após pronunciar os primeiros votos, o religioso é enviado ao Brasil, compondo a 3ª expedição de missionários jesuítas, chefiada pelo padre Luiz da Grã. A expedição parte de Portugal em 8 de maio e aporta na Bahia de Todos os Santos em 13 de julho. Anchieta tinha 19 anos. Após um período preparatório em que estudou tupi,
partiu em direção ao Sul do Brasil. Chega a São Vicente em dezembro, depois de quase sofrer um naufrágio.
1554
Na Vila de São Paulo de Piratininga, se torna o primeiro mestre no Colégio de São Paulo, fundado em 25 de janeiro.
1563
Em companhia do padre Manuel da Nóbrega, foi à praia de Iperoig (hoje Ubatuba-SP) para negociar o armistício com os confederados Tamoios. Permanece como refém dos índios por quatro meses. Compõe o extenso poema em honra de Nossa Senhora – Poema à Virgem.
1566
É ordenado sacerdote em 22 de agosto.
1567
Padre José de Anchieta é nomeado
1577
Voltou à Bahia
1578
Acompanhou Lourenço da Veiga às aldeias da Bahia. Promoveu a fundação de algumas casas no Espírito Santo.
1585
Fundou uma residência em Guarapari, onde construiu uma igreja dedicada a Sant’Ana. Em fins do ano anterior, pediu dispensa do cargo de
Fixou residência no Espírito Santo, a fim de concluir a obra do Colégio de São Tiago e da Igreja de Reritiba.
1588
Recebeu a notícia da chegada à Bahia de seu substituto, o novo provincial, padre Marçal Beliarte. Ficou na Vila de Vitória, como Superior.
1592
Ainda na função de Superior da Casa de Vitória, foi à Bahia participar da Congregação Provincial. Regressou nomeado Visitador das casas do Sul (de 1592 a 1594). Foi ao Rio de Janeiro.
1594
Voltou ao Espírito Santo para assumir o cargo de Superior da Casa de Vitória e governar igualmente as aldeias
Na passagem do Provincial Pero Rodrigues pela Vila de Vitória, Anchieta pediu exoneração do cargo de Superior. Recolheu-se, então, em Reritiba.
1596
Voltou a Vitória para ser conselheiro da Casa e governá-la até que chegasse o padre Pedro Soares. Foi ao Cricaré, aonde chegou em 21 de setembro, dia de São Mateus.
1597
9 de junho: faleceu em Reritiba (atual município de Anchieta, no Espírito Santo), assistido por cinco dos seus companheiros, missionários das aldeias vizinhas, após ter recebido, como pediu, a comunhão ou Santo Viático e o Óleo dos Enfermos. Seu coração foi levado pelos índios para Vitória, onde foi sepultado.
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Padre e religiosa salvam da miséria 50 crianças de rua na Índia O padre Abhi e a religiosa Manju implantaram na Índia uma unidade da organização internacional Drug Abuse Resistance Education (D.A.R.E), através da qual já salvaram 50 crianças de rua que voltaram para as suas famílias e ao estudo. Na Índia, somente 2% da população é cristã e há estados que proíbem a conversão ao Cristianismo.
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6 | CF-2014 – Tráfico Humano |
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Ela deu à luz na prisão e não viu mais as filhas O SÃO PAULO teve acesso à carta de jovem presa, que conviveu apenas 15 dias com gêmeas, adotadas sem seu consentimento Daniel Gomes e Edcarlos Bispo redação
Os nomes das duas filhas estão grafados a lápis no cantinho de uma das cartas que Fátima (nome fictício) enviou à Pastoral Carcerária em 29 de outubro de 2011. “O impossível não existe no nosso vocabulário, porque ‘sim’, é possível eu ter minhas fortalezas de volta”. Aos 18 anos e grávida das gêmeas, Fátima foi presa em uma cidade da região nordeste de São Paulo, suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas. Aos 8 meses de gestação, ela foi transferida ao Centro Hospitalar do Sistema Prisional em São Paulo, por estar em gravidez de risco. Dias depois, a assisten-
te social do local teria recebido uma ordem para que assim que as crianças nascessem o foro distrital fosse avisado. Tão logo as gêmeas nasceram, foram registradas como filhas de Fátima, mas 15 dias depois, a assistente social do fórum foi buscar as crianças, tendo em mãos a autorização da juíza para a guarda provisória a um casal. “Naquela hora, o mundo parecia ter desabado na minha cabeça”, expressou Fátima, em outra carta, em 10 de outubro de 2011. Dois meses depois, em 11 de dezembro de 2011, Fátima relatou, também por carta à Pastoral, a angústia pela distância das filhas. “Quero que saiba que comigo não está nada bem, pois me encontro muito preocupada com as minhas filhas, pois os dias estão se passando e nada está sendo feito pelo caso, nem a advogada compareceu aqui para falar aqui comigo”. Como os trâmites legais para adoção não foram seguidos (deve ser iniciado por meio do Juizado da Infância e da Juventude, com concordância dos pais biológicos), uma audiência sobre o caso foi marcada para 8 de março de 2012. Dias antes, a Pastoral en-
Reprodução
caminhou à juíza do foro distrital um ofício atestando que Fátima sempre mostrou interesse em criar as filhas e que desejava que seus pais o fizessem enquanto estava presa. “Eu quero que a juíza ouve (sic) os meus pais. Também, se for possível, quero que a juíza me ouve (sic) nesta audiência, pois sou mãe das crianças”, escreveu a mãe biológica. Um dia antes da data marcada, a audiência foi cancelada. Fátima permanece presa, nunca mais viu as filhas e não sabe onde estão e nem como são tratadas. O Estatuto da Criança e do Adolescente ao tratar da perda ou suspensão do poder familiar, afirma em seu artigo 161, §4, que “é obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses forem identificados e estiverem em local conhecido”. Conforme dados de outubro de 2012, do Cadastro Nacional de Adoção, 5,4 mil crianças e jovens estão aptos para adoção no Brasil. “Somente na década de 80, quase 20 mil crianças brasileiras foram enviadas ao exterior para adoção, sendo que a situação de muitas permanece uma incógnita” – Texto-base da CF-2014, parágrafo 18.
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Na raiz do tráfico, a miséria Luciney Martins/O SÃO PAULO
Daniel Gomes e Edcarlos Bispo redação
“Devem existir políticas sociais adequadas, pois enquanto houver miséria, família que passa fome, o tráfico vai existir”, afirmou ao O SÃO PAULO o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Para o desembargador, a miséria é a raiz dos problemas ligados ao tráfico humano, principalmente o tráfico de crianças quer seja para a exploração sexual, vendas de órgãos ou adoção ilegal. “O traficante ou rouba a criança das mãos dos pais ou compra. ‘O senhor tem oito filhos, está passando fome, me vende três e com o dinheiro que vou lhe dar o senhor vai viver por mais um tempo sem passar fome com os outros filhos’”, comenta Malheiros, sugerindo um diálogo hipotético entre um traficante de crianças e um pai que passa por necessidades e se vê na situação de vender os filhos. O tráfico humano está entre os três tipos de tráfico mais rentáveis do mundo. Mesmo
não afirmando com certeza, o desembargador acredita que o tráfico de pessoa só perca para o tráfico de armas. Dentro das questões do tráfico de crianças para a adoção ilegal, existe uma forma cha-
| CF-2014 – Tráfico Humano | 7
A adoção legal é um direito Sueli Camargo
Coordenadora da Pastoral do Menor
mada “adoção à brasileira” em que a criança é vendida ou furtada de seus pais e acaba sendo registrada pelos compradores como sendo sua filha e logo depois passada para outras famílias. “Na adoção à brasileira, adoto a criança como se fosse minha filha, ai você fala: ‘não é possível porque você não tem o papelzinho da maternidade, dizendo que nasceu na maternidade com tantos dias’. Eu falsifico. Eu traficante, tenho toda uma máquina, e não só vendo a criança para você, como lhe dou tudo pronto, um documento falso de determinada maternidade dizendo que há tantos dias nasceu uma criança lindinha filha do Zé e da Maria” explica o desembargador sobre o funcionamento da rede de tráfico. As redes de tráfico são extensas, porém Malheiros acredita que não haja a prática desse crime em relação às crianças que estão abrigadas pelo Estado. O desembargador do TJSP afirmou ainda que os abrigos podem ter sérios problemas, mas que nunca acompanhou casos de tráfico de crianças subtraídas de abrigos.
A campanha da Fraternidade de 2014 traz mais um grito que atinge os vulneráveis, em especial as crianças e adolescentes. São diversas as formas do tráfico humano na qual são vítimas, dentre elas o tráfico para a adoção. Um crime de difícil identificação e tipificação penal. O trafico com a finalidade de adoção envolve um grupo de pessoas poderosas (juízes, advogados, promotores, assistentes sociais), o que contribui com o fortalecimento da rota desse crime, ou seja, é um crime que muitas vezes é protegido pela própria justiça. No decorrer da história, da Roda dos Expostos às “Fazendas de Engorda” onde crianças e adolescentes sobre o cuidado do Estado eram tratados para depois serem arrancados de suas famílias para a adoção aos dias de hoje em que nos deparamos com organizações como as “Mães da Sé”, que procuram o paradeiro de seus filhos que desapareceram misteriosamente, esse crime ocorre no cotidiano e sobre o olhar das autoridades. Diante dessa realidade, a Pastoral do Menor procura incentivar e apoiar a adoção legal e trabalha para que a vulnerabilidade da família não resulte na destituição do poder de família. A criança e o adolescente têm o direito à convivência familiar e comunitária. A adoção é medida excepcional e só deve ocorrer quando esgotados os
recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa. Somente depois de constatada a situação de risco ou abandono da criança na família, o poder público deve tomar as providências necessárias para ajudar a solucionar o problema. Atuamos na defesa do que está previsto em lei: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seus artigos 237 e 238, considera crime a adoção feita à margem da lei. Quem subtrai criança do poder dos pais para destiná-la à adoção, está sujeito a pena de dois a seis anos de prisão. Já quem promete ou entrega o filho para outra pessoa mediante recompensa, financeira ou não, pode ficar de um a quatro anos preso. Ainda há desinformação e preconceitos que permeiam esse tema, o que dificulta a garantia do direito a adoção, de forma legal e segura para criança e para família. Com o objetivo de conscientizar e prevenir, a Pastoral do Menor promove cursos de formação para os agentes de pastorais e técnicos de entidades que prestam atendimento direto à criança e ao adolescente que recebem medida de acolhimento institucional (abrigo). Os casos de denúncias, de abandono ou maus tratos também são devidamente encaminhados e muitos acompanhados pela Pastoral do Menor. Faça a sua parte, não desvie o olhar dessa realidade, denuncie o tráfico de crianças e menores de 18 anos: Disque 100 ou (61) 3429 9907.
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