O São Paulo - 3322

Page 1

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

www.arquisp.org.br |

ano 65 | Edição 3322 | 5 a 10 de novembro de 2020

www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00 Luciney Martins/O SÃO PAULO - 20.set.2016

‘Que o futuro prefeito exerça o cargo em favor do bem comum, com especial atenção aos pobres’, afirma o Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, em entrevista nesta edição

Eleições 2020: um chamado para a construção do bem comum na cidade No próximo dia 15, quase 9 milhões de eleitores irão às urnas na capital paulista para eleger o prefeito e os 55 vereadores que os representarão no Executivo e no Legislativo municipal, com o poder para definir as políticas públicas na cidade. O SÃO PAULO apresenta o olhar das pasto-

Guilherme Boulos é o entrevistado na série com os candidatos a prefeito Página 14

rais, movimentos, novas comunidades e associações de fiéis sobre os principais problemas da cidade, recorda os compromissos dos cristãos na política, à luz da Doutrina Social da Igreja, e entrevista o Arcebispo Metropolitano sobre a realidade do município e os desafios a serem enfrentados pelos eleitos. “O futuro prefeito de-

Renovação pastoral e missionária no caminho sinodal em meio à pandemia Página 20

veria investir pesado nas áreas mais pobres das periferias e áreas decadentes do Centro”, afirma o Cardeal Odilo Pedro Scherer. A CNBB, em mensagem, conclamou os brasileiros “à participação responsável no processo eleitoral de 2020”. Páginas 9 a 13

Fratelli tutti destaca o diálogo entre os povos em um mundo globalizado Página 17

Encontro com o Pastor

A esperança cristã oferece-nos a visão sobre nosso presente e o futuro

Página 2

Fé e esperança na Santa Casa de Misericórdia Inaugurada em 1901, a Capela da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a sede da capelania que presta assistência religiosa ao complexo hospitalar localizado na região central da capital paulista e aos hospitais Santa Isabel, Sancta Maggiore, Instituto do Câncer Dr. Arnaldo e à Faculdade de Ciências Médicas. Os serviços realizados nessas instituições consistem, principalmente, nas visitas aos doentes, bênção dos setores hospitalares, celebração dos sacramentos e assistência a pacientes e profissionais da saúde. Página 15

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Editorial Diálogo, fraternidade e amor para a edificação de uma política melhor

Página 4

Espiritualidade

É imprescindível identificar candidatos que aspiram ao bem de todos

Página 5

Comportamento

Interior da Capela da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, reformada entre 2001 e 2003

Paciência e serenidade, para manter as lições de solidariedade aprendidas

Página 8


2 | Encontro com o Pastor | 5 a 10 de novembro de 2020 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

s celebrações da Igreja, no mês de novembro, colocam-nos diante das questões que dizem respeito ao nosso futuro, mas marcam nosso presente de maneira significativa. Iniciamos o mês com a Solenidade de Todos os Santos, contemplando a “Igreja celeste”, exaltada na Liturgia como “a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe... para a qual caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé” (cf. Prefácio da Missa). A comunidade dos santos no céu, de fato, é a Igreja que já chegou ao seu grande objetivo: a comunhão com Deus, em sua glória, na vida eterna. Logo em seguida, no dia 2 de novembro, lembramos os falecidos e proclamamos nossa fé na “ressurreição da carne” e na vida eterna, conforme a promessa de Deus ao longo de toda a história da revelação divina. Por crer nisso, elevamos preces e súplicas pelas pessoas que já nos deixaram e pedimos a Deus que sejam

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

O que será de nós? acolhidas no abraço de sua misericórdia infinita. Ao mesmo tempo, refletimos sobre a fragilidade e a fugacidade da nossa vida neste mundo. Por muito que gostemos daqui e por mais que estejamos apegados à vida neste mundo, temos a clara consciência de que esta vida passa e ainda não é tudo o que Deus tem para nós. Somos feitos para mais, para olhar para o alto e confiar em Deus, buscando-o todos os dias. Ainda em novembro, celebramos a conclusão do Ano Litúrgico e o início de um novo. A Solenidade de Cristo Rei, que marca o término do Ano Litúrgico, recorda-nos mais uma vez a soberania de Deus e de seu Reino e o senhorio de Jesus Cristo Salvador. No final da História e do nosso peregrinar sobre a terra, encontraremos Jesus Cristo, Senhor e Juiz da História e do homem, e a decisão suprema e definitiva sobre a nossa existência: a vida eterna ou a morte eterna. Logo no início do novo Ano Litúrgico, no primeiro Domingo do Advento, aparece mais uma vez essa perspectiva de nossa vida: neste mundo, somos chamados a ser colaboradores vigilantes e generosos na obra do Reino de Deus. Na lógica do anúncio cristão,

a Igreja coloca-nos diante das “realidades últimas”, conhecidas na doutrina e na teologia como os “novíssimos”. Trata-se das realidades da nossa fé que ainda estão por vir e para as quais nos preparamos durante a vida neste mundo: morte, julgamento de Deus, céu, inferno, purgatório e vida eterna. Essas questões fazem parte essencial da nossa fé e não poderiam ser ignoradas ou deixadas de lado em nossa pregação e Catequese. Por isso, a Liturgia ajuda-nos a entrar sempre mais nesses “mistérios” por meio da celebração da fé e da mistagogia, auxiliando-nos a acolhê-los em nossa vida. A vida cristã é marcada pela esperança e pela referência às “realidades futuras”. Isso está presente na Revelação divina, na Escritura, na profissão de fé e na Liturgia da Igreja. Se tirarmos do anúncio, da Catequese e do testemunho cristão a referência à nossa esperança nos bens prometidos, empobreceremos enormemente a fé da Igreja e a contribuição originária do Cristianismo para a vida e a cultura dos povos. Isso nada tem a ver com “alienação” em relação às realidades presentes e desinteresse pela vida e pelo cumprimento de nossos

deveres. A esperança cristã, bem compreendida, não nos leva a olhar apenas para o céu, alheios às coisas da terra. Ao contrário, ela nos oferece luzes, orientação e motivos fortes para o nosso engajamento na transformação da nossa vida e das “realidades terrestres”, para que nelas apareçam sempre mais os sinais do Reino de Deus. A esperança cristã não tem nada de alienante, mas leva a edificar um mundo melhor e a lutar para a superação dos sinais de morte e de maldade presentes entre nós. A esperança cristã oferece-nos uma visão original sobre a vida humana, a História, o presente e o futuro da nossa existência. Ela nos ajuda a não cairmos na tentação de identificar, simplesmente, o Reino de Deus com nossas realizações humanas e limitadas, como se tudo dependesse apenas de nós e como se tudo se limitasse às realidades presentes. A esperança sobrenatural ajuda-nos a não transformarmos a Igreja numa espécie de “ONG do bem”, semelhante a qualquer partido ou organização humana. Nossa esperança ultrapassa nossas realizações terrenas e está orientada para a sua realização plena em Deus.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Jenniffer Silva • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Geral/Atos da Cúria | 3

‘A religião nunca deve ser um instrumento para promover ódio e violência’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Durante o programa “Diálogos de Fé”, do domingo, dia 1º, transmitido pela rádio 9 de Julho e pelo Facebook, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, condenou a violência em nome da religião, referindo-se ao atentado ocorrido na Basílica de Notre-Dame, em Nice, na França, no dia 29 de outubro, que deixou três mortos, dentre os quais uma brasileira. “A religião nunca deve ser um instrumento para promover ódio contra os outros ou em nome de Deus. A violência contra os outros em nome de Deus é absolutamente errada”, enfatizou Dom Odilo, sublinhando a necessidade do respeito à consciência religiosa daqueles que professam uma fé diferente. “Devemos continuar firmes nas nossas convicções e, por outro lado, promover iniciativas de conhecimento, diálogo e respeito recíproco. Podemos pensar de maneiras muito diferentes, mas podemos conviver, conversar, entender-nos”, completou o Cardeal.

BEM-AVENTURADOS O Arcebispo lamentou que esse fato chocante não seja o primeiro e deve servir de alerta aos cristãos católicos no Brasil, a fim de que não usem a religião como base para proclamar o ódio contra os outros. “Não devemos usar o nome de Deus para promover o ódio, a difamação contra os outros. Isso é contrário a todo princípio religioso e cristão”, disse. O Cardeal afirmou, ainda, que, enquanto rezava pelos mortos e feridos no atentado, unia-se à comunidade católica que se reúne naquela igreja todos os domingos para celebrar a fé. Em seguida, recordou o trecho do Evangelho das bem-aventuranças, proclamado na Solenidade de Todos os Santos: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”. “Isso faz parte da história do Cristianismo desde o início. O ódio e a perseguição por causa do Evangelho e do nome de Jesus não deve nos desencorajar a viver como cristãos. Ao contrário, deve nos encorajar ainda mais a permanecer firmes e testemunhar com serenidade e mansidão a nossa fé”, completou.

TODOS OS SANTOS Ainda sobre a Solenidade de Todos os Santos, o Cardeal Scherer disse que essa comemoração litúr-

gica convida os cristãos a olhar para o futuro e para o presente ao mesmo tempo. “Os santos que estão no céu são a Igreja que está na glória, que chegou à sua meta, que é estar com Deus na vida eterna”, explicou. Dom Odilo salientou, ainda, que, por meio da comunhão dos santos, os fiéis da terra já têm parte na Igreja celeste. “Comemorando Todos os Santos, nós levantamos nosso olhar para o horizonte que temos pela frente. Um olhar de esperança, alegria e conforto, porque temos uma meta para a qual caminhamos”, acrescentou. “São tantas pessoas que nos esperam no céu e fazem ‘torcida’ para que cheguemos lá também, pois os santos são nossos intercessores e nos animam para que também percorramos a vida cristã, são exemplos de vida segundo o Evangelho que nós também devemos imitar”, reforçou o Arcebispo. Como faz todas as semanas, o Cardeal respondeu a perguntas dos ouvintes e internautas sobre diversos assuntos relacionados à fé e à pastoral. Veja a íntegra do programa em: https://tinyurl.com/y3693hnb. (Colaborou: Flavio Rogério Lopes)

Pascom do Santuário

Encontro com padres novos – O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, participou na quarta-feira, 4, do encontro anual com os padres da Arquidiocese que possuem até oito anos de ordenação. A reunião aconteceu no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 20/10/2020, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Pobres, no bairro Butantã, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre Zygmunt Frackowiak, CR, pelo período de 03 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMNISTRADOR PAROQUIAL: Em 01/11/2020, foi nomeado e provisionado Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Santíssima Trindade, no bairro Jardim Alto Alegre, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Neidson Gomes. Em 01/11/2020, foi nomeado e provisionado Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São João Batista – Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo, no bairro Jardim Roseli, na

Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Edivaldo Batista da Silva. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 25/10/2020, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial da Paróquia São Thomás More, no bairro Vila Dalva, na Região Episcopal Lapa, o Reverendíssimo Padre José Policarpo Silva, SJC, pelo período de 03 (três) anos. Em 01/11/2020, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Mateus Apóstolo, no bairro São Mateus, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Paulo Henrique Lino. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSESSOR ECLESIÁSTICO: Em 29/10/2020, foi nomeado e provisionado Assessor Eclesiástico, “ad nutum

episcopi”, do Setor Juventude da Arquidiocese de São Paulo, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Anderson Bispo. POSSE CANÔNICA: Em 19/10/2020, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro Vila Gomes Cardim, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Jean Sella, A.A. Em 11/10/2020, foi dada a posse canônica como Capelão da Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos, no bairro do Centro, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Luiz Fernando de Oliveira. Em 25/10/2020, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São Thomás More, no bairro Vila Dalva,

na Região Episcopal Lapa, ao Reverendíssimo Padre José Policarpo Silva, SJC. CONVÊNIOS Em 15/04/2020, Sua Eminência Reverendíssima, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, assinou o Convênio com a Associação Privada Internacional de Fiéis da Comunidade Católica Shalom para ajuda missionária na Comunidade Santo Antônio da Paróquia nossa Senhora das Dores, na Região Episcopal Brasilândia, pelo período de 05 (cinco) anos. Em 03/10/2020, Sua Eminência Reverendíssima, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, assinou o Convênio com a Diocese de Ourinhos (SP) para o serviço pastoral missionário do Padre Nilton dos Santos Caldas na Diocese de Ourinhos, pelo período de 03 (três) anos.


4 | Ponto de Vista | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Editorial

As eleições na pandemia e a política melhor

P

oucas vezes a vida e o mundo mudaram tanto em dois anos quanto nestes últimos tempos, que separam as eleições de 2018 da atual. O cenário político mudou, com novos protagonistas envolvidos em novos e velhos problemas. A pandemia transformou o mundo e o modo como o vemos. No Brasil, contudo, mas não só nele, eleições costumam ser marcadas por um clima de cansaço e esgotamento de grande parte da população. Na hora da votação, parece que nada muda, que a “grande política”, que constrói o bem comum, nunca acontece, e só a politicagem permanece. Essa imagem, contudo, não é verdadeira. A História caminha, ainda que num ritmo mais lento do que gostaríamos, alternando os momentos de avanço com os de retrocesso, melhorando aqui e piorando ali.

Assim como a nossa vida vai sendo construída, com dedicação e esforço cotidianos, o bem comum também se constrói num longo caminho, no qual as eleições são etapas necessárias e fundamentais. A situação geral do País, agravada pela pandemia, exige de nós um compromisso cada vez maior com o diálogo e a solidariedade. Essas duas palavras, tão caras ao Papa Francisco, deveriam iluminar a participação de cada um de nós, cristãos e pessoas de boa vontade em geral, nesse contexto atual. Deus nos fala em meio aos acontecimentos da vida. Em tempos de acirramento dos conflitos e das polarizações, quando a pandemia nos isola e sacrifica os mais vulneráveis, a Cátedra de Pedro está ocupada por um homem que é sinal claro de diálogo, solidariedade e amor fraterno. Deus não nos abandona, nos fala em meio às tribulações e dificul-

dades... Cabe a nós ouvi-Lo e corresponder a Seu apelo. Eleições são tempo de reflexão, de avaliar o que está sendo feito pelo bem comum, de rever nosso próprio engajamento na construção desse propósito. Quando não encontramos bons candidatos, o problema não é somente dos políticos. Pessoas boas sempre existem. Se não se candidataram – ou se candidataram, mas não os conhecemos – é sinal de que nós mesmos, individualmente ou em comunidade, não estamos suficientemente envolvidos na construção de uma “política melhor”, na expressão usada por Francisco na Fratelli tutti. Numa eleição, não são apenas os candidatos que se comprometem com aqueles que neles votaram. Nós, eleitores, também nos comprometemos uns com os outros, em nosso esforço para encontrar e apoiar os melhores candidatos. “Uma andorinha só não faz ve-

rão”, diz o ditado popular. Sozinhos, os políticos que elegermos não serão capazes de mudar muita coisa. Nosso compromisso, como eleitores, transcende a votação. Somos responsáveis por acompanhar os eleitos, particularmente aqueles em quem votamos, mas não só eles, apoiando-os em suas justas causas, corrigindo-os em seus erros (pois ninguém é perfeito e todos podem fazer escolhas erradas, mesmo que com boa intenção). Esta não é uma eleição como as outras... Não só porque alguma coisa mudou no cenário político ou porque a pandemia agravou os sofrimentos dos povos. Ela é diferente porque, em cada contexto, Deus sempre nos interpela de um modo renovado. Que possamos ir para essa eleição com uma renovada consciência de que o diálogo, a fraternidade e o amor fraterno podem, com nossa colaboração, fazer acontecer uma “política melhor”.

Opinião

Lembra-te do teu Criador nos dias da juventude (Ecl 12,1) Arte: Sergio Ricciuto Conte

Dener Luiz da Silva Com a retomada das atividades e, aos poucos, a abertura das igrejas, começa a entrar em jogo, de modo explícito, o valor de nossa liberdade. Devo voltar às missas e reuniões às quais frequentava ou aguardar um pouco mais? Cada um é convidado a analisar de forma objetiva os riscos e benefícios desse retorno. De qualquer forma, se alguém entre nós acreditava que a questão da pandemia iria ser resolvida com um “ligar e desligar de um botão”, da noite para o dia, agora pode verificar que não é bem assim. Padres, religiosos e demais clérigos têm a oportunidade de observar por si o valor que sua comunidade dá à Eucaristia, aos ritos e encontros (grupos) que fomentavam na Paróquia. Só uma paixão verdadeira e correspondente – quer dizer, não meramente “platônica” – nos faz vencer o medo e “perder a nós mesmos” para ganhar um eu renovado, convertido. Que grande oportunidade a nossa de poder verificar, de modo pessoal e singular, qual o lugar que a Eucaristia ocupa, concretamente, em nossas vidas. Há alguns dias houve a beatificação do jovem Carlo Acutis (19912006), no dia 10 de outubro, em Assis, na Itália, e, assim, temos a

misteriosa graça – paradoxal e não planejada, uma vez que a pandemia nos surpreendeu a todos – de poder acolher este que desde antes era considerado “apóstolo da internet”. Um presente que a Igreja reconhece e oferta a toda a humanidade. É possível ser santo, ou seja, plenamente humano, independentemente da idade, do tempo e das circunstâncias? Carlo será considerado um dos poucos “santos adolescentes” ou “jovens” – junto com Domingos Sávio (14 anos), Joana d’Arc (19 anos), Tarcísio (12 anos), Chiara Luce (18 anos); Teresinha

de Lisieux (24 anos); Laura Vicuña (13 anos); Maria Goretti (11 anos); Filomena (13 anos). O amor, porém, que o mais novo Beato trazia pela Eucaristia se tornou, segundo ele próprio, sua “autoestrada para o céu”, ou seja, caminho seguro e certo de ver o cêntuplo aqui na terra e que agora reconhecemos. Um jovem como tantos outros, interessado por coisas de jovens – cinema, futebol, arte, amigos, viagens –, que nos convida a “jamais largar os olhos de Cristo”, pois assim, paradoxalmente, não se perde nada. Alegre e de bem com a vida, Carlo

Acutis foi o responsável pela produção de um site – ainda hoje disponível –, no qual são listados e apresentados, com imagens e documentos, vários Milagres Eucarísticos, sendo, portanto, instrumento de conversão e convite para questionarmos nossa compreensão e amor à Santa Comunhão. Carlo era apaixonado por São Francisco – outro Santo que se converteu na juventude –, buscou seguir seus passos, mostrando em sua curta vida as virtudes da prudência e pobreza (à qual não significa “não ter”, mas, ainda que se tenha posses, “viver como se não as tivesse”). Este jovem, que agora celebraremos, reaviva em nós a certeza de que, se “lembrarmos do nosso Criador nos dias de nossa juventude” (Ecl 12,1), estaremos correspondendo àquela sede que o próprio Deus tem por nosso coração. Juventude entendida aqui não como um tempo específico da vida, mas como um estado do ser, uma vez que o diálogo constante com Deus é o que torna esperançoso, leve, alegre e belo o olhar de cada um. Que aprendamos com os santos jovens a audácia, o zelo e o quão correspondente é fazer memória do amor paternal de Deus por nós. Dener Luiz da Silva é professor de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Geral/Atos da Cúria | 5 Káren Oliveira

belém

Dom Luiz Carlos Dias preside missa no Cemitério da IV Parada Edvaldo Soares da Silva

Em missa, na segunda-feira, 2, Dom Luiz Carlos ressalta a esperança cristã na vida eterna

Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, presidiu missas nos cemitérios da zona Leste da cidade: Vila Alpina, às 8h; Vila Formosa, às 10h; e IV Parada, às 15h.

Esta última foi transmitida pelas redes sociais da Região Episcopal Belém e concelebrada pelo Padre Marcelo Maróstica Quadro, Coordenador Regional de Pastoral e Pároco da Paróquia São José do Belém, cuja equipe de Liturgia auxiliou na celebração. No início da missa na capela do Cemitério da IV Parada, o Bispo lembrou que a celebração seria momento

de rezar pelos falecidos, “pelo sufrágio, pelo benefício de cada um deles, acreditando mesmo neste processo de libertação e salvação em Nosso Senhor Jesus Cristo, que um dia chegará à plenitude, quando adentrarmos a morada eterna do Pai, algo que é oferecido por Deus a cada um de nós”, e que a data é marcada pela saudade daqueles que já faleceram. “Não podemos, porém, deixar que a tristeza nos abata, porque é um dia também de acolhermos, uma vez mais, em nossos corações, a grande esperança da salvação em Nosso Senhor Jesus Cristo”. Na homilia, o Bispo comentou sobre a saudade que todos sentem das pessoas queridas já falecidas, fez menção especial às mais de 160 mil que morreram no Brasil em razão da pandemia de COVID-19 e exortou os fiéis a olhar para Deus e Nele encontrar conforto. “Saiamos daqui com nossa esperança renovada, e nos lembremos de cooperar para que as mortes cotidianas sejam vencidas”, enfatizou. Ao final da celebração, o Padre Marcelo Maróstica rezou com os fiéis a oração para o Dia de Finados, disponibilizada em um folder pela Arquidiocese de São Paulo.

[BELÉM] Em missa na sexta-feira, 30 de outubro, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, apresentou o Padre Paulo Henrique Lino, que estará à frente da Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo. (por Fernando Arthur)

[LAPA] No domingo, 8, acontecerá o III Dia de Ação de Graça Caritas, com a arrecadação de alimentos e materiais de higiene em cada paróquia da Região Episcopal Lapa. Na Paróquia São Patrício, Setor Rio Pequeno, às 10h, Dom José Benedito Cardoso presidirá missa no contexto da realização da iniciativa. (por Benigno Naveira)

[SANTANA] Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, aconteceram duas missas no Cemitério Parque Cantareira: uma presidida pelo Padre Claudir Costerano, MS, e a outra pelo Padre Luís Isidoro. (por Pascom da Paróquia Nossa Senhora da Piedade)

Espiritualidade A caridade social e a política

DOM LUIZ CARLOS DIAS

A

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BELÉM

s eleições se aproximam, estamos a pouco mais de uma semana do importante exercício de cidadania de ir às urnas para a escolha dos novos chefes do Executivo municipal e dos representantes das Câmaras. O processo eleitoral também não passou inerte aos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Os candidatos não puderam se aproximar muito dos eleitores, práticas sempre vistas, sobretudo no pleito referente aos representantes municipais. A campanha eleitoral também precisou de adaptação, tornando ainda mais relevantes os meios de comunicação disponíveis para o resultado das urnas. No entanto, se ao eleitor é necessário vigilância e atenção às campanhas dos candidatos para conhecê-los e fa-

zer um boa escolha, é preciso também atenção a uma espécie de “campanha” que quer desqualificar todo o processo político, com a ideia de que esse espaço é ocupado por gente, geralmente, com más intenções, afeitas à corrupção, enganadoras etc. Essa concepção da política, formada em grande parte pelo intenso bombardeio de notícias de corrupção e desmandos de políticos, só serve a interesses de pessoas e grupos sem compromisso com a melhoria das condições de vida da sociedade. Seus intentos são escusos e almejam o poder para ampliar ou defender seus negócios. Utilizam-se de artimanhas para ludibriar a percepção e avaliação dos eleitores, como: lançar falsas notícias, procurar desqualificar adversários políticos, manipular elementos da cultura ou da religiosidade dos eleitores, gerar conflitos ou alimentar confusões etc. Ao perceber tal ambiente, pessoas de boa índole e afeitas ao bem tendem a se afastar de tal atmosfera. Diante disso, é oportuno afirmar: “Os partidos, as câmaras municipais e prefeituras não são espaços para abrigar ou esconder políticos corruptos, mas, sim, lugares de pessoas honestas, altivas, preparadas e comprometidas com o bem comum. Há urgência de que cristãos leigos ocupem

com consciência os espaços de atuação política, levando a esses ambientes os princípios dos Evangelhos, os modos de atuação dos seguidores de Jesus Cristo e as bases da Doutrina Social da Igreja” (Comunicado da Pastoral Fé e Política do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em outubro de 2020). O Papa Francisco, na sua mais recente encíclica, Fratelli tutti (FT), dedica um capítulo todo a tratativas referentes à política, na qual apresenta desdobramentos da concepção política da Doutrina Social da Igreja (DSI) como uma forma ampla e perfeita da caridade, compreensão desenvolvida desde o Papa Pio XI e reproposta por São Paulo VI. Com a maneira de ver essa atividade essencial para a sociedade, o Papa Francisco convida a revalorizar a política, porque se trata de “uma sublime vocação”, uma vez que “busca o bem comum” (FT, 180). Esse conceito de política implica o exercício do amor social, resposta mais adequada à mentalidade individualista e de fechamento, que está na base de realidades como o indiferentismo, o arrefecimento dos direitos humanos e um projeto social excludente, causadoras de sofrimento a parcelas da sociedade. O Papa ressalta que o exercício da

política perpassado pelo amor social é essencial para o avanço do projeto de Deus Pai para seus filhos, ou seja, uma sociedade fundada em relações fraternas e solidárias. Nesse sentido, diz: “A caridade social leva-nos a amar o bem comum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas, consideradas não só individualmente, mas, também, na dimensão social que as une” (DSI, 207; in FT, 182). Diante do ensino social da Igreja acerca da política, os discípulos de Jesus Cristo não podem se descuidar dessa atividade. Ao contrário, como a fé cristã a propõe em sua forma mais sublime, é dever dos seguidores do Senhor se esforçarem para não deixar a política ser subserviente a interesses de pessoas ou grupos nada afeitos ao bem de todos, pois não conhecem o amor social, e nem que somos todos irmãos uns dos outros. Pelo exposto nas eleições que se avizinham, é imprescindível identificar os candidatos que aspiram trabalhar pelo bem de todos, em vista da construção de uma sociedade justa, fraterna e pacífica. Se os eleitores, especialmente os que anseiam por justas mudanças, não se esforçarem por uma boa escolha, nem acompanharem as atividades dos eleitos, dificilmente a atividade política alcançará a sua vocação mais alta e sublime.


6 | Regiões Episcopais | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

BRASILÂNDIA Dom Devair preside missa no Cemitério Gethsêmani Anhanguera jorge Vicente

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃO

Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, presidiu missa na capela do Cemitério Gethsêmani Anhanguera, na Vila Sulina, transmitida pelo Facebook da Pastoral da Comunicação da Região Brasilândia. Na homilia, Dom Devair recordou que a morte e a vida são perceptíveis no dia a dia, como na dinâmica da natureza – “quando vai

chegando o inverno, muitas árvores perdem as flores, achamos que as árvores estão mortas; mas, na primavera, percebemos que elas lançam os brotos, folhas e sementes e vemos que a natureza renasce” –, no envelhecer do corpo ao longo dos anos, quando são mais perceptíveis as fragilidades humanas. Para os cristãos, porém, a morte não é o encerramento, pois há a vida eterna. “Percebemos o amor de Deus na ressurreição de Jesus, e quando Ele assume a nossa natureza humana, com a nossa realidade, fragilidades e nossa pequenez”, disse o Bispo, apontando que, diante das lágrimas e saudades pela perda de um

Lucas Sant’ana

[BRASILÂNDIA] Na noite do sábado, 31 de outubro, Dom Devair Araújo da Fonseca conferiu o sacramento da Crisma a adultos, durante missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza. (por Lucas Sant’ana)

Jorge Vicente

Dom Devair: diante da morte, maior deve ser a esperança na ressurreição

ente querido, maior deve ser a esperança na ressurreição. Ao fim da missa, Dom De-

vair recomendou aos fiéis que continuem se cuidando contra a COVID-19.

Marcos Bastos Schmidel

[BRASILÂNDIA] Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, foi realizada missa no Santuário Mãe Rainha do Jaraguá, presidida pelo Padre Pedro Cabello, com a participação do Diácono Rafael Mota e do seminarista Maike Andrade. (por Sueli Vilarinho)

Pascom da Paróquia Santa Cruz de Itaberaba

[BRASILÂNDIA] Na sexta-feira, 30 de outubro, 19 adultos receberam o sacramento da Confirmação na Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, Setor Freguesia do Ó, após terem concluído a etapa de preparação por meio de encontros on-line, via aplicativos digitais, em razão da atual pandemia de COVID-19. (por Marco Tobias)

IPIRANGA 100 mil pessoas expressam devoção a São Judas Tadeu Priscila Thomé Nuzzi e Renata dos Santos Souza

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Foi grande a afluência de fiéis ao Santuário São Judas Tadeu, na zona Sul, em 28 de outubro, na festa do padroeiro. Cerca de 4,5 mil hóstias foram utilizadas durante o dia, e a estimativa é de que 100 mil pessoas estiveram no templo. Os festejos começaram às 5h e seguiram até as 22h. Foram 11 celebrações, quase todas transmitidas pela internet. Por causa da pandemia, não houve missa campal, o número de pessoas na igreja foi limitado e não aconteceu a tradicional procissão. O Santuário adaptou-se, com todos os cuidados exigidos em tempos de pan-

demia: marcação dos bancos, disponibilização de álcool em gel, aferição da temperatura corporal e inscrição prévia para a participação nas missas. As celebrações foram realizadas na “igreja nova”, com o limite de 200 pessoas a cada missa, e no pátio da Obra Social, que fica na rua ao lado das igrejas. Na igreja antiga, prevalecia a oração silenciosa dos fiéis que foram agradecer e pedir graças. Como nos anos anteriores, durante todo o dia, confissões e bênçãos aconteceram simultaneamente. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu a celebração das 17h, transmitida ao vivo pela rádio 9 de Julho. Concelebrou o Padre Eli Lobato dos Santos, SCJ, Pároco e Reitor do Santuário.

“Lembrando São Judas e outros tantos santos, devemos nos alegrar. Somos parte deles e da mesma Igreja. Recebemos deles a herança da fé que hoje vivemos, que hoje praticamos”, afirmou Dom Odilo na homilia. O Arcebispo de São Paulo ressaltou que, neste tempo de pandemia, Deus está muito mais perto de nós do que se pode imaginar e Ele não abandona ninguém, em especial os doentes e os que mais sofrem. Ele ainda pediu que a intercessão, o exemplo e testemunho dos apóstolos ajudem a todos a perseverar, e que os fiéis encontrem o caminho de Deus, da força, da fé, do conforto espiritual. “Que Deus nos ajude e que permaneçamos fiéis, firmes na fé da Igreja, na fé que professaram os Santos Apóstolos”, finalizou.

Paróquia Santa Cristina comemora 60 anos de fundação Cláudio Seiji

Dom Ângelo Mezzari durante missa na Paróquia Santa Cristina

Pricila Thomé Nuzzi

Dom Odilo incensa a imagem de São Judas Arquivo paroquial

POR PASCOM PAROQUIAL Na sexta-feira, 30 de outubro, Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu missa por ocasião do 60º aniversário de fundação da Paróquia Santa Cristina, no Parque Bristol, Setor Cursino. Concelebrou o Padre Rodrigo Felipe da Silva, Administrador Paroquial. “São 60 anos de vida, de missão! Certamente, todos vocês fazem parte desta história, desta paróquia, deste lugar, deste bairro, desta região; assim, celebrar esta Eucaristia é acolher os frutos, desafios e realizações de todos esses anos. Sessenta anos é uma geração que passa, uma história, de um caminho de fé, de esperança e de amor”, afirmou o Bispo. Nos festejos dos 60 anos da Paróquia, também foi recordada a fé dos fiéis ao longo de toda essa história, incluindo este momento de pandemia de COVID-19.

[IPIRANGA] Na Solenidade de Todos os Santos, no domingo, dia 1º, Dom Ângelo Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu missa pela primeira vez na Paróquia Santa Paulina, no Heliópolis. Na homilia, ele enfatizou o chamado de cada um à santidade, e recordou os tantos irmãos anônimos que foram presença bem-aventurada na humanidade. (por Padre Israel Mendes)


| 5 a 10 de novembro de 2020 | Regiões Episcopais | 7

Paróquia Sagrado Coração de Jesus completa 80 anos Cláudio mcuca

Padre Ademar Pereira de Souza e Vera Carneiro

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Criada em 27 de outubro de 1940, na festa de Cristo Rei, por decreto assinado por Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, então Arcebispo Metropolitano de São Paulo, a Paróquia Sagrado Coração de Jesus completa 80 anos de história. Confiada aos Salesianos de Dom Bosco, e sediada no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no bairro Campos Elísios, a Paróquia somou suas ações ao Santuário e Liceu Coração de Jesus, que já realizavam as atividades educativas, culturais e religiosas desde o início do século XX. No último dia 25 de outubro, uma missa de ação de graças pelos 80 anos foi realizada na matriz e Santuário Sagrado Coração de Jesus, presidida pelo Pároco,

Padres, diácono, servidores do altar e paroquianos em foto na missa dos 80 anos da Paróquia

Padre Ademar Pereira de Souza, SDB, e concelebrada pelo Padre Tetuo Koga, SDB, colaborador na Paróquia, com a participação do Diácono João Carlos Franco de Barros Fornari, um dos mais antigos paroquianos. Na ocasião, houve a leitura do decreto de criação da Paróquia, a apresentação e a entrada das atuais pastorais, associa-

ções e movimentos, portando suas bandeiras, num total de 32, e a entoação do Hino do Santuário Sagrado Coração de Jesus, de autoria do músico e compositor Adilson Martins dos Anjos. Ao final da celebração, foi distribuído um bolo feito pela comunidade e um cartão comemorativo com uma oração ao Sagrado Coração de Jesus.

Missas na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, em paróquias da Região Episcopal Sé e cemitérios na região central da cidade: Irmandade São Pedro dos Clérigos

Robson Francisco

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Pascom paroquial

[SANTANA] Em 28 de outubro, na memória litúrgica de São Judas Tadeu, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missas na Comunidade São Judas Tadeu e Santa Rita de Cássia (foto), da Paróquia Nossa Senhora da Livração, Setor Pastoral Medeiros, concelebrada pelo Pároco, Padre Silvano Alves dos Santos, MSJ; e na comunidade dedicada ao Santo que pertence à Paróquia Natividade do Senhor, Setor Jaçanã. Concelebrou o Padre Andrés Gustavo Marengo, Pároco. (por Robson Francisco e Bianca Araújo) Luciana Pinheiros

[SANTANA] Na Solenidade de Todos os Santos, no domingo, 1º, Dom Jorge Pierozan presidiu a Santa Eucaristia na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, Setor Pastoral Tucuruvi. Na ocasião, houve a acolhida de novos membros ao movimento dos Jovens Sarados Missão Parada Inglesa, e outros fizeram a renovação da suas promessas diante da comunidade. (por Luciana Pinheiros) Alexandre das Neves

[SÉ] A Irmandade São Pedro dos Clérigos possui um jazigo no Cemitério Santíssimo Sacramento e lá ocorre todo ano a missa na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Em 2020, porém, em razão da pandemia de COVID-19, essa celebração foi realizada na Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados, na Praça da Liberdade, Setor Catedral, na segunda-feira, 2, presidida por Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. [SÉ] No Cemitério São Paulo, em Pinheiros, as missas foram às 9h e às 15h, presididas pelo Padre Norberto Donizetti Brocardo, CP, Pároco da Paróquia São Paulo da Cruz - Calvário, Setor Pinheiros. [SÉ] No Cemitério do Araçá, no Sumaré, houve missa às 9h, presidida pelo Frei Jair Roberto Pasquale, TOR, e às 15h, pelo Frei Maurício Santana Alves de Abreu, TOR, respectivamente Pároco e Vigário Paroquial do Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Setor Perdizes.

Vida

Saudável

ATENDIMENTO GRATUITO

AJUDA PSICOTERAPÊUTICA Você pode viver bem, ter vida saudável melhorando seu modo de ver a si mesmo, os outros e o mundo. O Dr. Bruno e o Dr. José darão a você ajuda continuada, indicando o caminho a seguir Os interessados devem comparecer as quartas-feiras, às 14h, nas instalações das paróquias:

Nossa Senhora da Assunção e São Paulo Pessoal Nipo-Brasileira de São Gonçalo Praça João Mendes 108, Tels. 3106-8110 e 3106-8119

[SÉ] Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Sufrágio das Almas, Setor Pastoral Bom Retiro, as missas foram celebradas a partir das 6h com intervalo de 1h30 entre cada celebração, seguindo até às 19h30. A das 10h30 foi presidida por Dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior, Bispo de Registro (SP), e a das 15h pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo.

[SÉ] No Cemitério da Consolação houve missas às 8h, presidida por Dom Carlos Lema Garcia; às 10h, pelo Padre Alessandro Enrico de Borbón; às 12h, pelo Padre Assis Donizeti de Carvalho; às 14h, pelo Padre Carlos André Romualdo; e às 16h, por Dom Eduardo Vieira dos Santos (foto). Também foram atendidas confissões no Cemitério.

Pascom da Paróquia Santo Antônio

Pascom paroquial

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan presidiu missa no domingo, dia 1º, na Solenidade de Todos os Santos, na Paróquia São Pedro Apóstolo, no bairro Tremembé. Concelebrou o Padre Edimilson Silva, Pároco, com a participação do Diácono Vinício de Andrade. (por Alexandre das Neves) Pascom da Paróquia Nossa Senhora de Fátima

[SANTANA] Duas missas foram celebradas no Cemitério do Tremembé, na segunda-feira, 2, na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, ambas presididas pelo Padre Maykom Sammuel Alves Florêncio, Administrador Paroquial da Paróquia Santo Antônio, na Vila Mazzei. (por Pascom da Paróquia Santo Antônio)

[LAPA] Os moradores do Jardim Monte Alegre, onde se localiza a Paróquia São José, Setor Pastoral Pirituba, sofreram com as fortes chuvas do mês de outubro, que encheram o leito do córrego Ribeirão Vermelho, localizado próximo à igreja matriz. Além do córrego alagar as casas, também o templo se encheu de lama em razão das enchentes. (por Benigno Naveira) [LAPA] Em 25 de outubro, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, apresentou o Padre José Policarpo Silva como Vigário

[SÉ] No Cemitério de Vila Mariana, a missa ocorreu às 9h, presidida pelo Cônego Raphael Emygdio Peretta.

[SANTANA] Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa no Cemitério do Horto. Concelebrou o Frei Guilherme Pereira Anselmo Junior, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, com a participação do Diácono Beto Borges. (por Pascom da Paróquia Nossa Senhora de Fátima) Pascom paroquial

das Paróquias São Thomás More, na Vila Dalva, e São José Operário, no Jardim Sarah, ambas pertencentes ao Setor Pastoral Rio Pequeno. (por Benigno Naveira) [LAPA] O Setor Pastoral Rio Pequeno realizou, entre os dias 26 e 30 de outubro, a Semana Fé e Política. A abertura foi na Paróquia São José Operário, no Jardim Sarah, com Dom José Benedito Cardoso e o Padre Leandro Calazans, Pároco. Houve atividades em outras paróquias do setor, todas transmitidas pelas redes sociais.

[SÉ] Em 24 de outubro, na Paróquia Santa Margarida Maria, o Monsenhor Antonio Fusari, Vigário Paroquial, presidiu missa em ação de graças pelos seus 67 anos de vida sacerdotal. Ele estava em cadeira de rodas, por causa de uma fratura de fêmur que sofreu recentemente. Concelebrou o Padre Marcelo Delcin, Pároco.

(por Benigno Naveira)

(por Pascom paroquial)


8 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 5 a 10 de novembro de 2020 |

Comportamento

Serenidade e solidariedade

VALDIR REGINATO Aos poucos, a vida cotidiana vai retomando os seus passos livres, após meses de confinamento, hoje bastante questionável. Sobrevivemos a um cenário de previsões apocalípticas, e, ainda com a convivência de medidas de segurança, já é possível olhar um horizonte, com nuvens de incertezas, mas com uma luz de esperança. Um ano de experiências novas. Mudanças de hábitos no comportamento social atingiram desde o famoso home office (já muito comentado nesta coluna), até um fechamento prolongado e injustificável que permanece nas escolas, incluindo uma convivência on-line (virtual) muito mais frequente do que a presencial. As pessoas acostumaram-se a viver em “lives”, e o celular passou a reinar mais do que nunca como ponte de comunicação com o mundo. Comunicação esta que perdeu total credibilidade pelo noticiário oficial, pelas instituições que deveriam orientar as medidas de saúde em âmbito mundial (Organização Mundial da Saúde), sendo substituídas por mensagens individuais em que a verdade passou a ser sinônimo de dúvida ou opinião. Em meio a tudo isso, a vida precisa seguir. Algumas experiências serão incorporadas em caráter permanente aos costumes, como a maior atenção aos cuidados de higiene; outras serão adaptadas aos casos possíveis, como a alternativa do home office em certas profissões; a formação acadêmica se fortalece cada vez mais para cursos on-line em muitas áreas; e oportunidades de novos empregos e empreendimentos surgem pela criatividade promovida pelas necessidades da sobrevivência diante do período da pandemia, mas que se firmam como novas opções de mercado. As famílias começam a se reencontrar nos ambientes de visitas, ainda em regime fechado; o pânico, pouco a pouco, porém, vai sendo substituído pela necessidade de nos sabermos seres sociais, em família. As notícias da Europa, futuro dos dias na América Latina, já acusam a negativa de se retomar ao lockdown, e a necessidade de convivermos sem a expectativa breve de uma vacina. Vacinas que são apresentadas como “salvadoras”, de procedência sem credibilidade de seus fornecedores, e sem qualquer respaldo científico pelos laboratórios de maior experiência na área. A transição exige paciência e serenidade, para que possamos manter as lições de solidariedade aprendidas durante este período. O efeito “descompressão brusca”, observado frequentemente após longos períodos de confinamento, deve ser evitado, para que não passemos dos limites do aprendizado, e mantenhamos a liberdade segura. Fato este que desde já deve ser advertido para os foliões do carnaval, em que a memória curta do homem pode colocá-lo sob os riscos já muito conhecidos. O cenário do quebra-cabeça iniciado em janeiro vai se fechando, e mais uma vez ouvimos o ditado: “O tempo é o senhor da verdade”. Não se pode deixar de ver a transcendência do momento presente, principalmente para aqueles que professam a fé cristã. Não se trata de se prolongar em uma análise neste espaço, apontando culpados, ou teorias conspiratórias, mas a somatória dos fatos ocorridos na pluralidade de suas manifestações, sequencialmente orquestrados, em toda a vida social em extensão mundial. Torna-se claro o suficiente, mesmo a um cego, que o que vivemos não é simplesmente o resultado de um vírus que surgiu na natureza e gerou uma pandemia. Que cada um faça a sua reflexão pessoal. Diante disso, acredito que cabe a cada um de nós, com a fé que nos alimenta a esperança, permanecer solidários àqueles que ainda sofrem muito (e não são poucos) os efeitos gerados pela pandemia. Isso inclui tanto as causas materiais pela falta de emprego quanto o amparo emocional e espiritual pelas perdas. No entanto, tanto numa situação quanto na outra, não podemos nos esquecer de que a nossa força maior na recuperação e solidariedade aos demais está em obedecer ao que, há pouco mais de um século, a Virgem Santíssima nos pediu insistentemente em Fátima, em contexto semelhante aos dias de hoje: “Rezem!” Aqui está o nosso caminho, aqui está a nossa melhor arma, aqui não podemos nos omitir. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

lapa

Fiéis participam de missas em cemitério na zona Oeste Benigno Naveira

Seminarista Vitor Norberto, Padre Messias, Adelmison Sales (administrador do cemitério) e o leigo Zenon Alves

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃo

Na segunda-feira, 2, às 10h, aproximadamente 80 pessoas participaram de uma das cinco missas realizadas no Cemitério Municipal da Lapa, mais conhecido como “Cemitério das Goiabeiras”, por ocasião da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. As celebrações ocorreram na capela e foram coordenadas por paróquias do Setor Pastoral Leopoldina. A das 10h esteve sob a responsabilidade da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, e foi presidida pelo Padre Messias de Moraes Ferreira, Vigário Paroquial, com a participação do seminarista Vitor Norberto. Antes da missa, Padre Messias apresentou o administrador do cemitério, Ademilson Sales, que falou do projeto da reforma da capela, já executado, restando apenas instalar a iluminação. No começo da celebração, o Sacerdote pediu

que se respeitasse um minuto de silêncio por todos os falecidos. Na homilia, ele ressaltou que aquele era um dia marcado pela saudade – “Isso não é uma coisa ruim: sentir saudade de quem a gente ama, de quem nos amou” – e exortou a todos à prática de oração por si, pelo próximo e pelos falecidos. “Quando rezamos pelos outros, movidos pelo nosso amor, pela nossa caridade, estamos intercedendo. A intercessão é um ato de amor, de gratuidade. A intercessão torna-nos amigos de Deus, porque nos colocamos entre Deus e o outro”, afirmou, recordando, ainda, que “Cristo intercedeu por todos nós”. As outras quatro missas do dia no cemitério foram coordenadas pelas Paróquias São João Bosco, Nossa Senhora Rainha da Paz, Santo Estêvão Rei e Nossa Senhora de Lourdes. Neste dia, à tarde, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu missa na capela do Cemitério Gethsêmani Anhanguera, na Vila Sulina.

Você Pergunta Deus não permite que se faça transfusão de sangue? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

A Rosana Correia, que mora na Casa Verde, precisou fazer uma transfusão de sangue e ouviu dizer em outras religiões que Deus não permite esse tipo de prática. Ela pergunta se isso é verdade. Minha irmã, vamos ver se entendemos bem este assunto de uma vez por todas. A Bíblia, no Antigo Testamento, proíbe que se alimente de sangue? Proíbe. E por que proíbe? Porque o sangue representa a vida do ser vivo (cf. Gn 9,4; Dt 12,23). Na Igreja primitiva, essa proibição foi mantida (cf. At 15,29). Homem e animais são constituídos de “carne e sangue”. Para nós também o sangue significa a vida, não é mesmo? Quando alguém empenha sua vida numa obra, como é que a gente se expressa? A gente não diz assim: “Fulano deu o sangue”? Em relação aos mártires que morreram pelo nome de Jesus, nós dizemos o quê? Que der-

ramaram seu sangue por Jesus, não é mesmo? Nos sacrifícios de animais que se ofereciam no templo, o sangue deles derramado sobre o altar significava a oferta da vida a Deus. Agora vamos lembrar que o sacrifício de Jesus substituiu os sacrifícios antigos. Ele derramou seu sangue por nós. Ele nos deu a vida divina. “Meu corpo é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida”, Ele nos diz: “Quem come minha carne e bebe meu sangue vive em mim e Eu nele, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia”. Jesus também disse: “Não há maior prova de amor do que dar a vida por quem se ama”. E Ele deu o exemplo: derramou até a última gota do seu sangue por nós. Por tudo isso, minha irmã, a Igreja não pode nem poderia ser contra a transfusão de sangue. É uma prova de amor muito grande que se espelha no sacrifício de Jesus. Você entendeu? Então, reze por quem doou o sangue que você recebeu, e vamos ser solidários nos doando a quem precisa de nós.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Especial – Eleições 2020 | 9

‘Que o futuro prefeito exerça o cargo em favor do bem comum, com especial atenção aos pobres’ Daniel Gomes e Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

À frente da Igreja na maior cidade do Brasil, o Cardeal Odilo Pedro Scherer compartilhou, em entrevista ao O SÃO PAULO, suas percepções sobre a realidade da capital paulista e os desafios de quem assumir a Prefeitura nos próximos quatro anos, assim como aqueles que ocuparão os cargos de vereadores. De igual modo, o Arcebispo de São Paulo ressaltou o papel de todos os cristãos no campo da política em vista do bem comum e afirmou que, em suas campanhas, os candidatos de-

soas que vivem ainda em situação de pobreza. Essa grande diferença precisa receber as devidas atenções para que os benefícios da administração pública cheguem também aos mais vulneráveis e carentes da cidade. O futuro prefeito deveria investir pesado nas áreas mais pobres das periferias e áreas decadentes do Centro. O combate à violência e ao crime organizado também merece atenção especial. A Arquidiocese de São Paulo é uma das instituições com maior capilaridade no município e especial incidência de atuação local. Tem havido canais de diálogo com a Prefeitura e os vereadores em relação aos pro-

próximo prefeito em relação a esses aspectos? De fato, a pandemia deixou mais clara a desigualdade social, a penúria e precariedade em que vivem muitos habitantes de São Paulo. Essas carências aumentaram durante a pandemia e as muitas manifestações de solidariedade da população, de organizações da sociedade civil e também das Igrejas ajudaram a aliviar a situação de necessidade. Não sei se, de fato, dá para afirmar que houve pessoas que passaram fome em São Paulo durante esse tempo de pandemia. A situação da população em situação de rua é dolorosa e não é de fácil solução. Penso, porém, que a cidade bem teria condições de solucionar essa situação, com vontade Luciney Martins/O SÃO PAULO - set.2016

líticos, ela também recomenda que os cristãos leigos entrem com coragem na vida política e participem eficazmente nas suas diversas instâncias. Pelo que o senhor tem acompanhado das discussões nestas eleições, mais se tem apresentado meras promessas ou há, de fato, programas consistentes que possam ajudar na solução dos problemas da cidade? Nas propagandas eleitorais dos horários obrigatórios nos meios de comunicação, não tenho visto muita proposta nem discussão sobre programas. De fato, nem sei se daria para fazer isso, com um tempo tão reduzido. Talvez isso seja mais aprofundado no intervalo entre o primeiro e o segundo turno das eleições. Percebe-se uma acentuada polarização ideológico-partidária no debate político atual. Na avaliação do senhor, como enfrentar essa situação? Infelizmente, esse é o modo tradicional de se fazer a campanha eleitoral e não é apenas no Brasil. Seria necessário que os candidatos dessem maior atenção às propostas e programas de governo, do que aos ataques pessoais contra outros candidatos. É necessário que apareçam as grandes questões, que devem merecer a atenção dos candidatos e partidos.

Dom Odilo: ‘Seria necessário que os candidatos dessem maior atenção às propostas e programas de governo, do que aos ataques pessoais’

veriam dar mais atenção às propostas e programas de governo do que aos ataques pessoais contra os adversários políticos.

O SÃO PAULO – Como o Arcebispo de São Paulo vê hoje a cidade de São Paulo? Existem questões que o preocupam? Quais urgências gostaria que o próximo prefeito assumisse em um plano de governo? Cardeal Odilo Pedro Scherer – São Paulo é uma cidade complexa, onde nem tudo cabe em um único olhar. Isso vale para a minha resposta, que não pretende ser abrangente e, imagino, vale também para as atenções do prefeito à cidade: elas precisam ser amplas e voltadas às diversas realidades. São Paulo é a cidade mais rica do Brasil, pelo volume de riqueza produzida e circulante; mas talvez também seja a mais pobre, se considerarmos o número de pes-

blemas dos bairros que, de alguma forma, atingem a vida das comunidades? Quero lembrar que no município de São Paulo há três dioceses inteiras (São Paulo, Santo Amaro e São Miguel Paulista) e outras duas, parcialmente (Campo Limpo e Osasco). Com essas cinco dioceses e suas organizações, a Igreja Católica, de fato, está capilarmente presente na cidade. Há, sim, diálogo com as autoridades municipais, embora isso possa crescer em benefício da população. A Igreja Católica vem prestando inúmeros serviços à população de São Paulo. A atual pandemia evidenciou as desigualdades sociais, algo especialmente mensurado pelo aumento da fome entre os mais pobres e da maior quantidade de pessoas em situação de rua. Qual a postura que o senhor espera do

e entendimento político. É fundamental dar oportunidades de trabalho e geração de renda a essa população e assistência social sistemática àqueles que não estão em condições de prover o necessário por si mesmos. É um desafio a enfrentar pela cidade inteira. Como os católicos devem se engajar na política e viver as eleições, para que sejam uma oportunidade de testemunho de fé e colaboração para o bem comum? Antes de tudo, é importante que os católicos se interessem pela vida política, que diz respeito a todos. Devem ocupar o seu espaço e dar sua contribuição para o bem comum, com suas ideias e iniciativas, com o exercício de uma cidadania responsável e solidária. Se a Igreja Católica recomenda que os clérigos não se filiem a partidos, nem militem neles para disputar cargos po-

O número 276 da encíclica Fratelli tutti fala do respeito da Igreja à autonomia da política e afirma que, embora os ministros não devam fazer política partidária, “não podem renunciar à dimensão política da existência”. O senhor pode explicar isso? O filósofo grego Aristóteles já disse que o homem é “um animal político”. Onde há convivência, é preciso organizar a convivência, harmonizar as diversas correntes de pensamento e buscar juntos o melhor para a vida comum. Isso faz parte da dimensão política de cada pessoa que vive em sociedade. Também os clérigos devem fazer isso a seu modo, ajudando as comunidades da Igreja a se empenhar na busca do bem comum. Eles não o farão mediante a luta partidária e a busca do poder, mas, sobretudo, ajudando a preparar o povo para a vida política e a formar bons líderes que possam assumir cargos políticos com competência e honestidade. O que o senhor e a Igreja esperam de um candidato a prefeito ou vereador que se declara católico? Espero que ele tenha postura coerente com o Evangelho, com a fé e a moral católicas e que exerça o seu cargo com competência e honestidade. Que esteja sempre do lado da justiça e do direito e exerça o seu cargo em favor do bem comum, com especial atenção aos pobres.


10 | Especial – Eleições 2020 | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Os olhares da Igreja sobre os problemas da cidade e as soluções possíveis Daniel Gomes e Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Empreendedorismo e geração de emprego Os maiores impactos ao desenvolvimento do empreendedorismo e do setor empresarial como um todo são: Burocracia: que atrasa, inibe e dificulta as ações empresariais e, muitas vezes, negativamente, propicia a venda de facilidades. Educação: os programas educacionais devem ser isentos de ideologia; é necessária a valorização dos professores por meio da meritocracia; acesso a novas tecnologias com escolas adequadas à atual realidade, de maneira a formar profissionais que atendam às demandas do mercado; e que se permita acesso ao trabalho como complementação do conhecimento do aluno, reforçando programas como o “Jovem Aprendiz”. Transporte: a grande maioria dos trabalhadores despende muito do seu tempo produtivo dentro dos meios de transportes, o que os faz chegar ao trabalho já fatigados e gera um enorme custo para as empresas e para o Estado. É necessário maior investimento na ampliação e conclusão das obras iniciadas e cumprimento da lei com relação à modernização e manutenção da frota. Saúde: dada a falta de investimento do Estado no sistema de saúde, o que gera precariedade no atendimento, as empresas socialmente responsáveis arcam com custos de planos de saúde particular, desviando sua capacidade de investir no próprio crescimento e na geração de novos postos de trabalho. Gigi Cavalieri, presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de São Paulo (ADCE)

Atenção aos trabalhadores Alguns dos principais problemas de São Paulo são o desemprego – a cidade

Por meio de pastorais, movimentos, novas comunidades e associações de fiéis, a Igreja atua nas diferentes realidades que incidem no cotidiano das pessoas que vivem na capital pau-

lista. O jornal O SÃO PAULO apresenta a seguir a percepção de alguns dos responsáveis por esses organismos a respeito dos principais problemas da cidade e quais soluções sugerem ao pre-

feito e aos vereadores a serem eleitos. Algumas das respostas estão sintetizadas. As íntegras podem ser encontradas em www.osaopaulo.org.br, na página Colunas/Fé e Cidadania.

é um indicador do quanto cresceu o desemprego e a precarização do trabalho no País, colocando na miséria um número imenso de famílias – e a desigualdade social – gerada pelo capitalismo e aprofundada com políticas neoliberais que dificultam o acesso a serviços públicos de saúde, educação, assistência social, moradia. Essas questões precisam de combate sistêmico, mas é possível contribuir para seu enfrentamento na esfera municipal com: Políticas de geração de emprego, trabalho e renda, de forma articulada com o desenvolvimento urbano e comunitário da cidade; plano diretor da cidade com estudo e redimensionamento das Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), para fortalecer empregos e comércio; criação de plano de economia local, com a participação popular; auxílio emergencial na esfera municipal para as famílias de baixa renda. Valorização do serviço e dos servidores públicos, com um plano de substituição progressiva das Organizações Sociais (OSs) por servidores concursados até a extinção das terceirizações; plano de melhoria das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs); e plano de moradia e bolsa aluguel.

política de moradia que pense nesta realidade. Falta de emprego: os solicitantes de refúgio e refugiados no processo laboral, na sua grande maioria, encontram dificuldade, pois não conseguem a revalidação de diplomas (é muito caro), nem atuar na profissão que tinham em seu país de origem. Em vista disso, acabam indo para a economia informal. Assim, é preciso uma política municipal que invista no microempreendedor. Deve-se pensar em serviços pú blicos, principalmente na área da saúde, que tenham pessoas que falem outros idiomas, para facilitar o atendimento a esta população que usa os serviços públicos, como lhe é garantido pela Lei 9474/97 – Lei do Refúgio.

apoiar e fortalecer ações para erradicar o trabalho escravo e infantil; e enfrentar o tráfico de pessoas migrantes ou refugiadas, fortalecendo políticas públicas para tal.

Paulo Pedrini, coordenador arquidiocesano da Pastoral Operária

Assistência aos refugiados Podemos evidenciar três grandes problemas que impactam a vida dos refugiados: Falta de moradia: os solicitantes de refúgio, quando chegam, precisam de moradia para iniciar o processo de integração local, e a grande maioria é encaminhada para a rede de albergues da Prefeitura. Todavia, o tempo de permanência, que varia de três a quatro meses, é insuficiente para aprender a língua portuguesa, conseguir um emprego e uma moradia. Depois desse período, a pessoa tem que deixar o albergue, e a grande maioria vai para ocupações clandestinas de prédios no centro da cidade ou fica em situação de rua. Assim, é preciso uma

Padre Marcelo Maróstica Quadro, diretor da Caritas Arquidiocesana de São Paulo

Ações em favor dos migrantes e refugiados Sem ter a pretensão de mencionar todos os desafios atuais, o próximo prefeito deverá: Promover a manutenção das con quistas que já existem em termos de lei, política e plano municipal, sem retrocessos ou desmontes; capacitar e sensibilizar os profissionais que atuam na ponta no atendimento dos refugiados e migrantes, independentemente do status migratório, como nas áreas da saúde, educação e assistência social. Apoiar a ampliação da capacidade dos centros municipais de acolhida especializados na população migrante, com profissionais qualificados para o atendimento; rejeitar práticas xenófobas, racistas, de discriminação religiosa, de gênero ou quaisquer outros tipos de discriminação ou atitudes restritivas que dificultem o acolhimento digno e humanizado; apoiar iniciativas visando à autonomia, à inclusão econômica e laboral de migrantes e refugiados por meio da geração de renda e emprego. Desenvolver uma real política de habitação para imigrantes e refugiados;

Padre Paolo Parise, coordenador da Missão Paz

Atenção aos idosos A população idosa é formada de uma parcela significativa de pessoas em situação de vulnerabilidade social, que apresentam inúmeros problemas, relacionados principalmente à falta de apoio familiar e social, devido a vínculos fragilizados ou mesmo inexistentes entre as gerações. É necessário e urgente dar prioridade na ampliação da rede de instituições de longa permanência para idosos de caráter público, bem como o Centro Dia e o Centro de Convivência dos Idosos. Por outro lado, considerando que muitos idosos não recebem visitas de familiares, encontrando-se em completo abandono e solidão, apresentando, inclusive, problemas de saúde mental, como depressão, vislumbramos a criação de um projeto de lei que permita a convivência dos idosos e seus animais de estimação nesses ambientes, observando a implantação das normas adequadas, para que não haja problemas com a fiscalização sanitária. Conceição Aparecida de Carvalho, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Pessoa Idosa

Políticas para crianças e adolescentes As carências são diversas para as crianças e adolescentes, dentre elas o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Adolescente (CMDCA), órgão competente para determinar a política pública, mas que não tem as suas deliberações respeitadas; os Conselhos Tutelares, em número insuficiente pela demanda do município, não possuem estrutura para a realização do trabalho e não há um cuidado com a formação dos conselheiros. Há uma insuficiência e inadequação de política pública voltada a crianças e adolescentes em situação de e na rua. Demandam, urgentemente, uma proteção integral por meio de serviços que garantam o acolhimento em ambiente com estrutura adequada de funcionamento. Na educação, mais de 20 mil crianças não conseguiram ingressar no sistema público de educação na cidade. É obrigação do Poder Público fornecer meios para que os jovens possam ter seu direito ao lazer respeitado. Esperamos do futuro prefeito que privilegie a Assistência Social. A criança e o adolescente devem ser prioridade absoluta, como determina a lei, e estar presente no orçamento público. Dos eleitos ao Poder Legislativo, esperamos que tenham o compromisso primordial com a ética, a moral no uso correto dos recursos públicos, em uma atuação anticorrupção, além de legislar em prol do público mais vulnerabilizado. Sueli Camargo, coordenadora arquidiocesana da Pastoral do Menor

Educar com os valores das famílias Colocar a família como centro do processo e democratizar e diversificar o sistema de escolarização na cidade de São Paulo deve ser a prioridade máxima da próxima gestão. O caminho prático, para tanto, é permitir que a família possa escolher como, onde e sob quais valores quer educar seus filhos. Isso pode ser feito por meio de convênios com instituições sérias e comprometidas com a educação e que ofereçam formação de qualidade e acessível àqueles que mais necessitam, principalmente nas periferias da cidade. Muitas de nossas comunidades e paróquias já atendem, em parceria com a Prefeitura, nossas crianças em creches, pré-escolas e centros comunitários. Por que não estender este atendimento a toda a educação básica? Estamos construindo com o Governo Federal e o Congresso Nacional uma mudança no Artigo 7° do projeto de lei (PL) 4372, para permitir que estados e municípios possam utilizar os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no estabelecimento de convênios com nossas comunidades para o atendimento das famílias nas escolas comunitárias confessionais. A Igreja em São Paulo, com a ajuda de muitos parceiros, quer ampliar sua

presença na vida das famílias e na formação das futuras gerações. Esperamos contar com a colaboração do futuro gestor de nossa cidade. Professor Edivan Mota, diretor-executivo da Confederação Nacional da Família e da Educação

Comunidade Católica Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria

Atenção às famílias Queremos que: se aprove o homeschooling na cidade de São Paulo; interrompa-se o serviço de aborto nos hospitais municipais; se proíba o ensino da “Ideologia de Gênero” nas escolas do município; haja apoio às escolas comunitárias, filantrópicas e confessionais, a serem viabilizadas com recursos do Fundeb, extensivo a toda a educação básica; que a Prefeitura promova parcerias com associações de famílias para criação de centros de cultura, artes e humanidades; bem como o apoio à recuperação de habitações degradadas para famílias com três ou mais filhos; Além disso, que haja incentivo às famílias numerosas, com redução progressiva do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), em função do número de filhos; adoção de bilhetes de família no serviço de transporte urbano, com descontos proporcionais de acordo com o número de pessoas na família; criação, em parceria com empresas privadas, do programa “Empresas Amigas da Família”, fomentando práticas empresariais e familiarmente responsáveis, como contratações e bonificações extras aos pais de famílias numerosas, vinculando a incentivos fiscais; e criação do programa de bolsas de estudos a filhos de famílias numerosas. Benedicto e Maria Leonor Gattolini, fundadores da Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria

Ações na área de Assistência Social É preciso ampliar o orçamento da assistência social, para que seja expandida a rede de proteção básica, como forma preventiva, nos diversos territórios da cidade. É importante, ainda, estabelecer uma política intersecretarial para que sejam ga-

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Especial – Eleições 2020 | 11 rantidas: a gratuidade no transporte coletivo aos usuários da assistência social, independentemente do programa do qual participam; acesso à tecnologia aos usuários da assistência; parceria com a Secretaria da Educação, para garantir a continuidade dos estudos dos usuários, evoluindo para o ensino técnico ou universitário; recebimento da bolsa social para os usuários do Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo (Cedesp); e acesso ao emprego de aprendiz, primeiro emprego e recolocação no mercado. É necessário rever os anexos que tratam dos recursos com as instituições parceiras, garantindo a real atualização monetária dos termos de colaboração. Rever, também, a configuração da política dos Centros de Crianças e Adolescentes (CCAs), valorizando as fases de desenvolvimento, criando condições de anexos para cada grupo etário. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) precisa criar um “grupo de estudo e trabalho” para revisão do programa CCA, que seja amplo e paritário. Padre Osvaldo Bisewski, diretor-presidente do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto

Preocupações com a segurança pública São necessárias políticas que desenvolvam programas sociais e projetos que fortaleçam a cultura cidadã, o controle dos riscos (desarmamento, atenção ao consumo de álcool e outras drogas, prevenção e assistência a emergências), combate ao racismo e ao preconceito, atenção a grupos vulneráveis (crianças, jovens, indigentes e migrantes) e que promovam programas para aproximar a Justiça do cidadão, favorecendo a resolução pacífica de conflitos. A política de segurança deve ser articulada com as ações e instituições envolvidas nos programas e projetos nas áreas da educação, saúde, desenvolvimento urbano e dos transportes, entre outros. Também supõe reconhecer que existem fatos que afetam a convivência cidadã, como a sensação de insegurança gerada pela deterioração dos espaços públicos. Nisso a iluminação pública desempenha papel importante. Também seria necessário implantar câmeras para videomonitoramento dos espaços públicos, de modo especial nos parques, praças, jardins, pontos de ônibus e em locais onde tenha sido registrada ocorrência de roubos, furtos, violência, tráfico de drogas e outros crimes. Deve-se ainda criar um Conselho Municipal de Defesa dos Direitos Humanos e uma Ouvidoria da Guarda Civil Metropolitana. Antonio Funari Filho, presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo (CJP/SP)

Garantia do direito à saúde As mazelas da saúde na nossa capital começam pela grande área periférica que carece de saneamento básico, pois aí reside o mal primordial de nossa população que sucumbe com doenças infectocontagiosas que poderiam ser evitadas. Esgotos a céu aberto fazem parte da realidade de grande parte da cidade. A falta de estrutura física adequada dos estabelecimentos públicos de saúde é outro fator importante. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem ilhas de excelência, mas esta não é a realidade da maior parte dos hospitais, pronto atendimentos e unidades básicas de saúde, cuja participação municipal contribui substancialmente no atendimento. Aliado a este problema, encontramos a falta de materiais, insumos e medicamentos. Muito se fala em falta de médicos para o setor público, mas isso é algo parcialmente correto. A falta de médicos diplomados em si não é real - por sinal, temos um número de médicos por habitantes na capital bem superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando esta organização não representativa da verdade pela medicina, mas que usa tal parâmetro de forma assertiva. Também é importante que haja melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde que atuam nas unidades municipais. Padre João Inácio Mildner, Assistente Eclesiástico Arquidiocesano da Pastoral da Saúde

Atenção às pessoas em situação de rua Diante de tantas questões que envolvem a população em situação de rua na cidade de São Paulo, uma providência que esperamos tanto do Executivo quanto do Legislativo municipal é a viabilização de um programa de renda mínima com critérios estabelecidos, que ajude efetivamente as muitas famílias, mulheres com crianças e homens que vivem sozinhos a terem condições de sair das ruas. De igual modo, esperamos que seja aprovado na Câmara Municipal o substitutivo do projeto de lei que institui o Programa Locação Social e regulamenta o serviço de moradia social. Padre Julio Lancellotti, Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua


12 | Especial – Eleições 2020 | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

O compromisso do cristão na política vai além do voto Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

No próximo dia 15, quase 9 milhões de eleitores irão às urnas na capital paulista para eleger o prefeito e os 55 vereadores que os representarão no Executivo e no Legislativo municipal, com o poder para definir as políticas públicas na cidade. A Igreja no Brasil tratou da temática das políticas públicas na Campanha da Fraternidade de 2019, cujo texto-base as apresentou como “aquelas ações discutidas, decididas, programadas e executadas em favor de todos os membros da sociedade. São ações de governo ou ações do Estado. De governo, porque ligadas a um determinado executor, portanto, temporário. De Estado quando são ações permanentes, ligadas à educação, à saúde, à segurança pública, ao saneamento básico, à ecologia e outros”. Em artigo no jornal O Estado de S.Paulo, em fevereiro de 2019, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, apontou que as políticas públicas se voltam para a promoção do bem comum e, ao mesmo tempo, “devem assegurar oportunidades de trabalho e uma ordem econômica equilibrada e justa, com condições dignas de vida para todos e respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos, previstos na Constituição. Por meio de políticas públicas sábias e bem conduzidas, se promoverão a equidade social e econômica e as condições para que os mais pobres superem sua vulnerabilidade”.

Sob a perspectiva cristã Nas Sagradas Escrituras, os cristãos encontram respostas para muitos dos dilemas sociais que ao longo dos séculos acompanham a humanidade. Outro referencial é a Doutrina Social da Igreja (DSI). “A pedra fundamental da Doutrina Social da Igreja é a dignidade da pessoa humana. Nós dizemos que este é o ponto de partida da bússola dos quatro princípios. Parte-se dele, o ponto sul, em direção ao bem comum, que é o que dá o norte de toda ação social; no leste, está a função social da propriedade, dos bens, inclusive dos bens públicos; e no oeste, a opção preferencial pelos pobres”, explicou, ao O SÃO PAULO, José Mario Brasiliense, fundador da Oficina Municipal, uma escola de cidadania e gestão pública, fundada em 2002, com o apoio da Fundação Konrad Adenauer, uma organização política alemã independente e sem fins lucrativos, que atua com base na União Democrata-Cristã.

Brasiliense, que também é doutor em Administração pela Fundação Getulio Vargas e cursou o Master na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, com estudos em Doutrina Social da Igreja, explicou que outro princípio da DSI, a subsidiariedade, une a dignidade da pessoa ao bem comum, sendo o ideal esperado em uma gestão pública. “Por esse princípio, as esferas superiores de governo devem sempre respeitar as esferas menores, para que não haja o risco de suprimir a criatividade, a iniciativa própria, a autonomia e a sua responsabilidade”. Em termos práticos, o poder público municipal é chamado a subsidiar as ações gestadas pela própria comunidade local a partir de demandas por ela identificadas, bem como o município – uma esfera de governo menor que os estados e a União – tem a autonomia, prevista na Constituição, para deliberar sobre as

questões próprias à administração da cidade, como, por exemplo, a forma em que se dará a gestão dos resíduos sólidos ou a maneira como serão aplicados os recursos obtidos a partir de tributos municipais.

Democracia direta Além de eleger o prefeito e os vereadores, todo munícipe pode participar de modo direto na gestão municipal, por meio de audiências públicas ou nos conselhos participativos. “Em geral, os conselhos são temáticos, como o da educação, da criança e adolescente, do transporte ou da subprefeitura. Neles, o cidadão pode ser eleito para tomar as decisões ou para ser consultado sobre elas”, comentou Brasiliense. O fundador da Oficina Municipal avalia que um dos pontos a serem melhorados são os canais de comunicação das prefeituras e das câmaras munici-

pais com os cidadãos, para que possam participar das instâncias de democracia direta: “A Lei da Transparência (Lei 131/2009) obriga o gestor público a prestar contas dos atos feitos, daqueles por fazer, bem como das ações do ponto de vista financeiro, tributário e de todo tipo de consulta popular. Ela está muito atrelada à utilização dos canais de internet, que são recursos que qualquer prefeito ou vereador pode montar. Infelizmente, não tem sido assim, também devido a essa cultura, no Brasil, de que nós votamos e ficamos esperando que as coisas irão ‘cair do céu’”.

é mantido um círculo vicioso da baixa participação política e de dependência, o que fere a dignidade da pessoa humana de participar, de escolher livre e responsavelmente a respeito das questões de justiça social e de políticas públicas”, analisou.

O católico e a gestão do município No já citado artigo no jornal O Estado de S.Paulo, Dom Odilo apontou que “os cristãos devem se empenhar na promoção de políticas públicas que não estejam atreladas apenas aos interesses de grupos restritos, muitas vezes já favorecidos, e A distância entre poderosos. A justiça e a paz social requerem a definição e a promoção de polítio cidadão e o eleito Para Brasiliense, em uma cidade com cas públicas que não estejam orientadas 12 milhões de habitantes, apenas 55 vepela afirmação das vantagens de quem readores não são capazes de responder a já possui mais do que o necessário. Não todas as demandas da população, assim devem ser esquecidos os descartados do sistema, os pobres, os idosos, os enfermos e os Gabirante/Arquivo O SÃO PAULO grupos sociais mais vulneráveis”. Segundo Brasiliense, uma grande colaboração para a formação política da população pode ser dada pelas paróquias, não permitindo que haja instrumentalizações partidárias na Igreja, respeitando a pluralidade das posições políticas dos fiéis e dando oportunidade para que as pessoas ampliem conhecimentos sobre a Doutrina Social da Igreja, a fim de que “possam participar das instâncias sociais e políticas no seu bairro, com consciência, conhecendo muito bem os princípios da dignidade da pessoa, do bem comum, da função social da propriedade, da opção preferencial pelos pobres, da solidariedade, da subsidiacomo as subprefeituras, que têm limitariedade e da sustentabilidade, traduzinções operacionais. “Na Alemanha, por do-os para coisas práticas do cotidiano”. exemplo, um distrito eleitoral representa, aproximadamente, 300 mil habitanE sempre é atual a recomendação tes. Basta um simples cálculo para perdada pelo Papa Francisco, durante uma ceber que deveríamos ter um número missa em setembro de 2013, no Vaticano: “Um bom católico deve empenharbem maior de vereadores. Hoje, em São -se na política, oferecendo o melhor de si, Paulo, a área eleitoral é muito ampla, e para que o governante possa governar”. eles ficam distantes da população. Na prática, o vereador coloca intermediários, mediadores entre ele e a população, e assim deixa de ter a sensibilidade para CURSO GRATUITO E ON-LINE realmente representar aquele grupo ou Nos dias 24/11, 26/11, 1/12 região”, comentou. e 03/12, a Oficina Municipal O fundador da Oficina Municipal promove o curso “Políticas apontou, ainda, que, pela atual estruPúblicas em Diálogo com tura das eleições, já durante a campao Ensino Social Cristão”. nha eleitoral, boa parte da pactuação Inscrições gratuitas em: política que vai reger os quatro anos de oficinamunicipal.org.br/novo/cursos/315 mandado é fechada. “Nesse jogo, quem Informações: (11) 3032-4330 fica para fora, em geral, são os mais poinfo@oficinamunicipal.org.br bres, os que têm menos condições de se organizar, de se manifestar, e assim


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Pelo Brasil /Pelo Mundo | 13

CNBB emite mensagem por ocasião das eleições municipais REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Após reunião virtual de seu Conselho Permanente, em 28 de outubro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou mensagem sobre as eleições municipais, na qual exorta o povo brasileiro “à participação responsável no processo eleitoral de 2020”. Ao recordar que a política – do ponto de vista ético –, é o conjunto de ações pelas quais se busca uma forma de convivência em prol do bem comum, e – do ponto de vista da organização –, é o exercício do poder na perspectiva do serviço, a CNBB aponta que os

cristãos leigos não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles laici, 42) e que lhes cabe, “de maneira singular, a exigência do Evangelho de construir no mundo o bem comum na perspectiva do Reino de Deus. O clero, guiado pela Doutrina Social da Igreja e atendo-se às normas da Igreja quanto à sua participação na vida político-partidária, assume o que lhe é específico nas suas responsabilidades políticas quando cuida da formação, incentiva e acompanha o laicato”. A Conferência também aponta que os prefeitos e vereadores a serem eleitos devem “contribuir com ações eficazes, nos campos da saúde, educação, segurança, transporte, assistência social, moradia, direito à alimentação e proteção da família, entre outros. Darão bons frutos os políticos que priorizarem o bem co-

mum e a vida plena, desde a concepção até a morte natural, de todos os cidadãos, sem quaisquer discriminações, nunca buscando seus próprios interesses pessoais e corporativos”. A CNBB chama a atenção dos cristãos católicos para que estejam atentos ao histórico e perfil dos candidatos, uma vez que “não pode produzir bons resultados o político que atenta contra a vida, trabalhando por políticas públicas que favoreçam o aborto, fazendo campanha eleitoral com discursos de ódio, defendendo o uso da violência, o recurso às armas e se atrelando ao tráfico de drogas e às milícias. Quem não se compromete com os excluídos e se mostra indiferente diante da morte de pessoas e das graves feridas do meio ambiente não merece o voto de quem deseja uma sociedade justa e democrática”.

Ainda na mensagem, a CNBB externa sua preocupação com o impacto das fake news nas eleições – “elas contaminam o debate, desviam a atenção dos eleitores de temas importantes e desvirtuam o resultado do pleito” – e alerta que o uso interesseiro da religião e de discursos religiosos oportunistas “perverte o sentido e o autêntico valor das tradições religiosas. Serve apenas a interesses particulares e de grupos políticos”. A CNBB também ressalta que, após as eleições, toda a comunidade eclesial deve se organizar para acompanhar o mandato dos eleitos: “Concretamente, dentre tantas iniciativas possíveis, promovam-se encontros que, valorizando a democracia participativa, aproximem vereadores e prefeitos das comunidades”. A íntegra da mensagem pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/NgAFrz9.

França

Áustria

Autoridades civis e religiosas repudiam atentado à Basílica de Notre-Dame, em Nice

Terror em Viena: mortos e feridos em tiroteio perto de sinagoga

Diocese de Nice

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, também respondeu às notícias a respeito do ataque na basílica e escreveu em seu Twitter: “O Islamismo é um fanatismo monstruoso que precisa ser combatido com força e determinação. Infelizmente nós, africanos, sabemos disso muito bem. Os bárbaros são sempre os inimigos da paz. O Ocidente, hoje a França, precisa entender isso”, afirmou. Logo após o ataque, o presidente francês, Emmanuel Macron, esteve na cidade de Nice. Em sua conta no Twitter, no mesmo dia, prestou solidariedade aos católicos: “Vocês têm o apoio da nação inteira. Nosso país são nossos valores, nos quais todos podem acreditar ou não acreditar, de que toda religião pode ser praticada. Nossa determinação é absoluta. Providências serão tomadas a fim de proteger todos os nossos cidadãos”, concluiu. No sábado, 31 de outubro, em Lyon, na região leste do país, um padre ortodoxo, nascido na Grécia, foi baleado enquanto fechava a igreja. O autor dos disparos fugiu e um suspeito foi preso horas depois. As motivações do crime ainda estão sendo investigadas.

A capital da Áustria registrou uma série de tiroteios na noite da segunda-feira, 2, perto da Sinagoga de Stattemple, que resultou na morte de, ao menos, quatro pessoas e outros 17 feridos. Um dos autores do atentado também foi morto. Segundo o serviço de segurança do país, ele teria ligações com o grupo terrorista Estado Islâmico. No momento dos tiroteios – foram pelo menos seis simultaneamente –, as ruas do centro de Viena estavam cheias. Testemunhas ouvidas pela imprensa internacional não souberam precisar se os tiros tiveram como destino o templo. O rabino Schlomo Hofmeister, por exemplo, que vive num apartamento em frente à sinagoga, afirmou que um dos autores dos ataques teria feito disparos contra pessoas que estavam sentadas em um jardim, mas que não apontou diretamente para a sinagoga. Em discurso à nação, o chanceler austríaco Sebastian Kurz condenou o ataque terrorista e conclamou à união: “Não se trata de um conflito entre cristãos e muçulmanos ou entre austríacos e migrantes. Não! Esta é uma luta entre as muitas pessoas que acreditam na paz e os poucos que querem a guerra. É uma luta entre a civilização e a barbárie, que perseguiremos sempre com determinação”. Pelo Twitter, na terça-feira, 3, o Papa Francisco manifestou-se sobre o ocorrido: “Expresso dor e consternação pelo ataque terrorista em Viena e rezo pelas vítimas e seus familiares. Chega de violência! Construamos juntos paz e fraternidade. Só o amor apaga o ódio”. O Sumo Pontífice também escreveu ao Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, manifestando sua proximidade às famílias das vítimas e lamento pelo ocorrido. Ele reiterou o apelo ao Senhor de que “a violência e o ódio cessem e que seja promovida a coexistência pacífica”. O Prelado, por sua vez, ressaltou que a Igreja na Áustria continua no caminho “da comunidade, da solidariedade e da solicitude”. Uma missa em sufrágio das almas das vítimas foi realizada na Catedral de Santo Estêvão, na tarde do dia 3.

Fonte: CNA – Catholic News Agency

Fontes: Vatican News e Arquidiocese de Viena

Católicos realizam vigília de oração em frente à Basílica de Notre-Dame, alvo de atentados terroristas no dia 29

José Ferreira Filho

osaopaulo@uol.com.br

Os franceses foram surpreendidos, na manhã de 29 de outubro, com o assassinato de três pessoas que rezavam na Basílica de Notre-Dame, em Nice, no sul do país, a 930 quilômetros de Paris. Uma das vítimas foi a brasileira Simone Barreto Silva, 44, que morava no país europeu havia 30 anos. Um homem armado com uma faca foi o responsável pelos ataques e chegou a ser baleado e preso pela Polícia municipal. Autoridades locais confirmaram que, momentos antes da prisão, o responsável pelas mortes gritava “Allahu Akbar”, frase em árabe que significa “Alá (Deus) é maior”. Além dele, outros seis suspeitos de participar do ataque também foram detidos. “Minha tristeza é infinita como ser humano em face do que outros seres, também chamados humanos, são capazes de fazer”, disse o Bispo de Nice, Dom André Marceau, em comunicado. Ele classificou o episódio como um “ato terrorista hediondo”. O Cardeal guineense Robert Sarah, Prefeito da


14 | Com a Palavra – Eleições 2020 | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

GUILHERME BOULOS

‘Além de restaurar a dignidade das pessoas, vamos reaquecer a economia local’ Assessoria de imprensa do candidato

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

O filósofo Guilherme Boulos, 38, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e candidato do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) à Prefeitura de São Paulo, é o quinto entrevistado na série do O SÃO PAULO com os seis mais bem colocados na pesquisa Exame/ Ideia, de 23 de setembro, que serviu de parâmetro para convidá-los às entrevistas. Andrea Matarazzo, Bruno Covas, Jilmar Tatto e Márcio França já apresentaram suas propostas em edições anteriores. São esperadas para a próxima semana as respostas de Celso Russomanno.

O SÃO PAULO – No entender do senhor, quais são os principais problemas da cidade e como pretende resolvê-los? Guilherme Boulos – São Paulo está abandonada. Somos a terceira cidade do mundo em que mais houve mortes por coronavírus, o desemprego só aumenta, assim como a pobreza, a fome e a desigualdade. Não dá para aceitar que na cidade mais rica da América Latina tenha gente sem teto, sem acesso à alimentação, na miséria. Não dá para aceitar que, com um dos maiores orçamentos do País, se diga que não tem dinheiro para investir na saúde, educação e cultura. Eu e a Luiza Erundina [sua candidata a vice-prefeita] somos diferentes porque não temos rabo preso, estamos na política porque nossa missão de vida é lutar junto do povo. Nossa primeira medida será instituir o programa Renda Solidária, que dará um auxílio mensal de até R$ 400 para 1 milhão de famílias que vivem com até meio salário mínimo na cidade. Assim, além de restaurar a dignidade das pessoas, vamos reaquecer a economia local. A atual pandemia mostrou as dificuldades das famílias mais pobres em manter o isolamento social em casas pequenas e comunidades com grande adensamento populacional. Diante disso, quais os planos do senhor para a área da Habitação? Vamos retomar os mutirões feitos por Luiza Erundina, que em sua

gestão fez casa para 150 mil pessoas. Além disso, vamos requalificar imóveis abandonados e ociosos, sobretudo na região central. Não dá para deixar que o Centro de São Paulo, repleto de infraestrutura e equipamentos públicos, esteja abandonado e subutilizado quando tanta gente ainda não tem um teto e mora em locais inadequados. Vamos ter um amplo processo de regularização fundiária, associado à urbanização dos bairros periféricos. Isso vai ser feito por meio de frentes de trabalho com contratação de mão de obra local. Como planeja recuperar os meses que os estudantes não puderam ir à escola em 2020? Como agirá para sanar o déficit de vagas em creches e na pré-escola? O déficit de vagas no ensino infantil é mais um retrato do jeito PSDB de governar. Agora o prefeito aproveitou a pandemia para falar que zerou a fila das creches com vagas fantasmas. Nós vamos resolver de forma definitiva esse problema crônico, convocando professores e funcionários já concursados e construindo os equipamentos necessários. Até lá, faremos convênios com muita transparência e fiscalização, porque creche não é depósito de criança. Sobre os meses perdidos na pandemia, nós vamos conversar com a comunidade escolar para traçar um plano em conjunto que atenda às demandas dos estudantes, pais e professores.

Na área da Saúde, quais serão as prioridades de sua gestão? Hoje, como resultado da política desastrosa de Doria e Covas, a saúde municipal está no abandono. Temos menos médicos na rede municipal e uma fila de espera enorme para exames e consultas. A Prefeitura, em plena pandemia, preferiu investir em hospitais de campanha, que já foram desmontados, a investir em hospitais municipais fechados ou parcialmente abertos. Nós vamos contratar médicos para trabalhar exclusivamente na rede municipal da periferia, vamos reabrir os hospitais que não estão funcionando e garantir um teto máximo de espera para exames e procedimentos de acordo com a urgência. O senhor tem algum plano para a geração de empregos na cidade? Enquanto Doria e Covas falaram que salvariam vidas, Bolsonaro disse que salvaria a economia. Não salvaram nem vidas nem os empregos. Nós vamos criar frentes de trabalho para serviços de zeladoria em toda a cidade, empregando, sobretudo, pessoas que moram nas próprias regiões e estão sem emprego ou renda. Também vamos garantir uma ampla renegociação e isenção temporária de impostos e taxas para os pequenos comerciantes. Mas, além disso, para reaquecer a economia, é preciso ter dinheiro rodando. É por isso que vamos criar o Renda Solidária, um programa de auxílio mensal de até R$ 400 para até 1

milhão de famílias. Dinheiro que vai tirar muita gente da miséria e vai ser gasto pelo povo em supermercados, farmácias, açougues.

A capital paulista tem ao menos 24 mil pessoas em situação de rua, conforme dados da Prefeitura. Como pretende agir diante dessa realidade? Essa é uma das minhas principais preocupações. Não consigo aceitar que tenha gente morando embaixo da ponte na cidade mais rica do Brasil. Hoje, os albergues para a população em situação de rua estão completamente sucateados com pulgas e percevejos nos colchões, banheiros entupidos. Além da falta de infraestrutura, separam as famílias, não existe espaço para os animais e para guardar instrumentos de trabalho. Nós nos comprometemos a zerar o número de pessoas morando nas ruas. Vamos construir as casas solidárias que atendam a população em situação de rua, integradas à política de geração de trabalho e renda e de assistência social, ampliando o atendimento a jovens, mulheres e famílias. Qual apoio a Prefeitura ofertará às vítimas de abuso sexual que resultem em gravidez, a fim de que evitem recorrer ao aborto? De acordo com a legislação brasileira, o aborto é permitido em casos de estupro. Em primeiro lugar, nosso compromisso é com as vítimas dessa situação tão trágica, porém recorrente em nossa sociedade. Vamos respeitar o direito de escolha da mulher.

NOTA EDITORIAL De acordo com o Código Penal Brasileiro, o aborto induzido é crime, e quem o pratica só não é punido quando houver comprovado risco para a vida da gestante, a gravidez for resultante de estupro ou em caso de feto anencéfalo. O aborto é condenado pelo Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana e pelos papas ao longo da História, e também na Bíblia se ressalta que a vida humana é sagrada, um dom divino, desde a concepção.

*As assessorias dos seis candidatos convidados para esta série de entrevistas já receberam as perguntas por e-mail

Outras entrevistas já publicadas com os candidatos a prefeito Andrea Matarazzo https://cutt.ly/TgSYqJp

Bruno Covas https://cutt.ly/XgSYwIJ

Jilmar Tatto https://cutt.ly/LgSYrbQ

Márcio França https://cutt.ly/ngSYtrr


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Reportagem | 15

Capelania Nossa Senhora da Misericórdia: atenção aos doentes, familiares e à equipe médica da Santa Casa Luciney Martins/O SÃO PAULO

Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Fundada por volta de 1884, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo tornou-se o maior hospital filantrópico da América Latina. Atualmente, o complexo oferece atendimento em 54 especialidades médicas, sendo referência para o Ministério da Saúde em assistência de alta complexidade. Até o fim do século XX, a Santa Casa era a única instituição de São Paulo que se preocupava em prestar assistência aos pobres e indigentes. Hoje, mais de 8,3 mil funcionários atuam no atendimento de aproximadamente 2,6 milhões de pessoas por ano. Inaugurada em 1901, a Capela do Hospital Central Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a sede da Capelania Hospitalar Nossa Senhora da Misericórdia, na qual Padre Tiago Gurgel e Padre Amado Carvalho são capelães. A Capelania presta assistência religiosa a todo o complexo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e aos hospitais Santa Isabel e Sancta Maggiore, além do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Padre Tiago é Capelão há cerca de dois anos e falou, em entrevista ao O SÃO PAULO, sobre os serviços prestados pela Capelania, que consistem, principalmente, nas visitas aos doentes; bênção dos setores hospitalares; celebração dos sacramentos, inclusive batizados e casamentos, e celebrações eucarísticas em datas especiais da instituição, como no Dia do Enfermeiro, Dia do Médico, e em formaturas. “Todas as sextas-feiras, realizamos a adoração ao Santíssimo Sacramento na Capela, além de levar o Santíssimo aos setores e corredores do hospital em ocasiões especiais, rito que encontra muita acolhida entre pacientes, familiares e funcionários do hospital”, disse. Padre Tiago ressaltou também a relação que existe entre os membros da Capelania e as diferentes equipes do hospital. “Na maioria dos casos, são os próprios médicos, enfermeiros e demais profissionais que nos chamam aos setores”, explicou. Recentemente, o Cardeal Odilo Scherer encontrou-se com o provedor da Santa Casa, Dr. Antonio Penteado Mendonça para que o contrato entre a Santa Casa e a Arquidiocese de São Paulo seja firmado oficialmente (veja mais detalhes no box ao lado).

Obras de arte Entre 2001 e 2003, a Capela do Hospital Central Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo passou por uma reforma que teve como principal objetivo a troca do telhado e a recuperação das pinturas e de um barrado decorado que tinha sido coberto por diversas demãos ao longo dos anos.

Padre Tiago Gurgel, Capelão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, preside missa na capela, inaugurada no início do século XX

Com o reparo, foi realizada a remoção da camada pictórica resultante do processo de intervenção executado nos anos 1970 e resgatadas as pinturas que estão nas paredes laterais: São João Batista, São Francisco Xavier, São Vicente de Paulo, São Luís Gonzaga, Santo Antônio de Pádua e São Francisco de Sales. Os painéis da nave foram reconstituídos e, em 2004, a Capela foi reaberta aos fiéis. As primeiras pinturas e o tratamento decorativo original da Capela são de 1913 e foram realizados pelo artista Gino Captam. Natural de Florença, na Itália, Captam veio ao Brasil em 1893, regressou à Itália em 1908, onde se especializou em pinturas decorativas. De volta ao Brasil, trabalhou com Benedito Calixto na decoração das Igrejas de Santa Cecília, em 1909, e de Santa Ifigênia. Executou diversas pinturas decorativas em residências particulares e também desenvolveu uma intensa produção artística em desenhos e telas. Além das pinturas nas paredes laterais, a Capela conta com uma pintura que representa o encontro de Maria, Mãe de Jesus, com Santa Isabel, e várias imagens de santos, além do quadro com a pintura de Nossa Senhora da Misericórdia.

Cura do corpo e da alma Afonso Xavier é médico assistente da clínica-médica do Pronto-Socorro Central da Santa Casa há dois anos. Ao O SÃO PAULO, ele falou sobre o quanto o serviço prestado pela Capelania é importante para os pacientes e seus familiares, bem como para a equipe médica e funcionários do hospital. “Ao contrário do que a maioria pensa, as pessoas não sofrem só com dores físicas. Os sofrimentos emocionais e, sobretudo espirituais, por vezes são muito mais importantes e influenciam a forma de enxergar e lidar com a doença. Perceber a existência dessas outras dimensões do sofrimento é o primeiro passo para o tratamento com dignidade”, afirmou Xavier. Para o médico, contar com os esforços

da equipe da Capelania, os Padres Tiago e Amado, é uma honra para o hospital, e vem contribuindo sobremaneira para o que eles começaram a chamar de urgências espirituais. “Na correria do Pronto-Socorro – o nosso é o maior da América Latina –, temos encontrado espaço para a espiritualidade, ainda que de forma pontual. Muitas vezes por pedido da família e algumas vezes por sugestão da própria equipe médica”, salientou Xavier, que disse ainda que a maioria das urgências espirituais se dá quando começa o processo de morte. “É muito clara a melhora do ambiente nos setores que recebem a visita dos nossos queridos padres”, disse.

Vocação para servir Clóvis Tavares participa das missas na Capela há quatro anos. Junto com Bárbara Cristina Santa Rita, 16, ele estava na missa no domingo, dia 1º, ocasião da visita da reportagem ao hospital. “Comecei a participar das missas na Capela acompanhando minha mãe num momento muito difícil da minha vida. Num certo domingo, vi uma senhora que cantava sem nenhum acompanha-

mento de instrumentos. Então, no fim da celebração, ofereci-me para tocar violão e acompanhá-la nos cantos. Fui prontamente aceito e acolhido. Descobri que o senhor que tocava piano na Capela tinha falecido no sábado anterior. Senti muito forte aquele chamado para ajudar e, a partir de então, cada dia mais fui sendo agraciado por Deus em todos os sentidos”, contou Tavares.

Informações e contatos Missas

De segunda a sexta-feira, às 12h Sábado, às 16h Domingo, às 10h As missas são transmitidas ao vivo pelo Facebook da Capela: https://www.facebook.com/pe.tiagogurgel Na Capela, são realizados batizados (comunitários e individuais) e casamentos.

Contatos

Telefone: (11) 2176-7000, ramal 5407 WhatsApp: (11) 9 7150-7591 E-mails capela@santacasasp.org.br capelansmisericordia@santacasasp.org.br Horário de funcionamento da secretaria: De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h (fechada durante a missa, das 12h às 12h30 e das 13h às 14h)

Assessoria de Imprensa da Santa Casa de Misericórdia

O provedor da Santa Casa de São Paulo, doutor Antonio Penteado Mendonça, recebeu a visita do Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, na manhã de 27 de outubro. Na foto (da esquerda para a direita) estão: Júlia Povoas, diretora de Relações Institucionais; Cardeal Scherer; doutor Antonio Penteado Mendonça; Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo; doutora Maria Dulce Cardenuto, superintendente; Padre Tiago Gurgel do Vale, responsável pela Capela de Nossa Senhora da Misericórdia, da Santa Casa de São Paulo. (por Assessoria de Imprensa da Santa Casa)


16 | Geral | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

‘Deus nos chama a viver para sempre’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Afirmou o Cardeal Scherer, em missa no Cemitério Gethsêmani Anhanguera, no ‘Dia de Finados’ DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na segunda-feira, 2, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na capela do Cemitério Gethsêmani Anhanguera, da Arquidiocese de São Paulo, na Vila Sulina, zona Noroeste da cidade. No início da celebração, Dom Odilo disse aos fiéis que aquele era o dia de lembrar todos os falecidos, de colocá-los novamente diante de Deus, para que deles tenha misericórdia e lhes dê a vida eterna. O Arcebispo, na homilia, fez menção aos 160 mil brasileiros que já perderam a vida em razão da pandemia de COVID-19, ressaltou que, além de se fazer memória dos que faleceram, todos também devem perceber a fragilidade da própria vida e ter clareza do sentido que a ela se dá, uma vez que viver é uma grande graça concedida por Deus. “A nossa fé nos diz que Deus nos cha-

Dom Odilo preside missa na capela do Cemitério Gethsêmani Anhanguera, na segunda-feira, 2

ma a viver para sempre, nos chama para o banquete da vida, para a festa da vida plena, na felicidade que não acaba. Quando Deus nos chamar a si, a morte não existirá mais, será vida plena. A nossa fé cristã está no Deus da vida, pois, se Ele vive, tem o poder de nos fazer viver”, disse. Dom Odilo recordou, ainda, que o cristão crê na ressurreição da carne, pois “Jesus ressuscitou do pó da morte e nos fará ressuscitar no último dia”.

Cuidado com os doentes e sepultamento digno O Arcebispo de São Paulo lembrou, também, que nas situações de morte e de

doença os cristãos são chamados a realizar três obras de misericórdia: cuidar dos doentes, sepultar os mortos e rezar pelos falecidos, atitudes que devem ser mantidas ainda que se esteja em tempos de pandemia. Dom Odilo exortou que não se deve deixar os doentes graves sem nenhuma assistência: “Que o morrer não seja um momento de abandono, pois de alguma forma é possível manifestar nossa proximidade”. Também o sepultamento dos mortos deve ocorrer de modo digno, ainda que as atuais condições imponham a realização de velórios com tempo breve e haja

solidariedade com os familiares que sofrem com o luto. Dom Odilo recordou aos fiéis que é preciso se preparar para a morte, vivendo bem, dignamente, honestamente, e reconciliando-se com Deus e com os irmãos. De igual modo, é indispensável levar o conforto àqueles que estão próximos de morrer, ajudando-os a rezar, lendo-lhes um trecho do Evangelho, a fim de que se preparem para o encontro definitivo com Deus. Por fim, Dom Odilo ressaltou que se deve sempre rezar pelos falecidos, que continuam a ser parte da Igreja. “Pedimos a Deus que aumente a nossa fé na sua Palavra e na vida eterna. A graça de morrer bem é a de morrer nos braços de Deus”, afirmou, ao concluir a homilia. Além da missa com o Arcebispo de São Paulo, outras três foram realizadas no Cemitério Gethsêmani Anhanguera no “Dia de Finados”, como popularmente é conhecida a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, presidida pelos Bispos Auxiliares da Arquidiocese Dom Devair Araújo da Fonseca, Dom Ângelo Mezzari e Dom José Benedito Cardoso. A íntegra das celebrações pode ser acessada pelo Facebook da Pastoral da Comunicação da Região Brasilândia: https://www.facebook.com/pascombras.

Bispos e padres falecidos são recordados em missa na Cripta da Sé Reprodução da internet

Flavio Rogério Lopes

osaopaulo@uol.com.br

No dia seguinte à Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, aconteceu, na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção, uma missa em sufrágio dos bispos e padres falecidos da Arquidiocese de São Paulo, especialmente os que estão sepultados na Cripta da Sé. A Eucaristia foi presidida pelo Padre Tarcísio Marques Mesquita, Secretário Arquidiocesano de Pastoral, e concelebraram pelos Padres Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, Cura da Catedral da Sé, e Helmo Cesar Faccioli, Auxiliar do Cura. Na homilia, Padre Tarcísio recordou que a vida é uma grande dádiva de Deus e, quando rezamos pelos nossos antepassados na fé, também recordamos as dádivas da vida dessas pessoas que deram tes-

Padres Tarcísio Mesquita e Eduardo Baronto, em missa na Cripta da Catedral da Sé, dia 3

temunho e se dedicaram à missão, seja na Igreja, seja na cidade de São Paulo. “Nossos irmãos padres recentemente falecidos, no seu ministério de serviço,

também colocaram a vida unida à vida do Cristo no Sacrifício da Eucaristia, bem como no desempenho de todas as atividades que compõem a vida de um sacerdote, que deve acolher, rezar e atender às necessidades dos que mais precisam de cuidado”, reforçou o Sacerdote. Após a celebração, houve uma oração na Cripta da Catedral em sufrágio das almas dos sacerdotes e leigos que ali estão sepultados. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, também rezou no local na segunda-feira, 2, após a missa de Finados.

CRIPTA CENTENÁRIA Localizada sete metros abaixo do altar-mor da Catedral da Sé, a Cripta, que completou 100 anos em 2019, foi o primeiro local do templo a ser inaugurado, no dia 16 de janeiro de 1919. Projetada pelo ar-

quiteto alemão Maximilian Emil Hehl, o mesmo que realizou o projeto da Catedral Metropolitana, possui 32 câmaras mortuárias, das quais 18 já foram ocupadas, além das obras de arte e uma arquitetura única. O local, repleto de histórias e espiritualidade, abriga os restos mortais de bispos e arcebispos de São Paulo e também estão sepultados personagens importantes da cidade, como o Cacique Tibiriçá, o Regente Feijó, que governou o Império enquanto Dom Pedro II ainda era criança; o Padre Bartolomeu de Gusmão, considerado o inventor do balão, entre outros. O Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998, falecido em 14 de dezembro de 2016, foi o último a ser sepultado no local.

VISITAS MONITORADAS A Catedral da Sé oferece visitas monitoradas à Cripta, e o local adotou todas as medidas necessárias para que a atividade seja segura neste período de pandemia. A capacidade máxima de visitantes por horário é de dez pessoas, sendo obrigatório o uso de máscara, além do distanciamento mínimo de 1,5m entre os visitantes. Nos intervalos de cada horário de visitação, a Cripta é totalmente higienizada. O valor do ingresso é R$ 8,50 e pode ser adquirido na secretaria da Catedral. Os horários de visitação são de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 11h30 e das 13h às 16h30; aos sábados, das 9h às 11h30 e, aos domingos, das 10h às 13h30. (Sob a supervisão de Fernando Geronazzo)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Fratelli tutti | 17

Fé e Cidadania

Francisco Borba Ribeiro Neto

Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo no povo, porque todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura econômica e a cultura da família, e a cultura dos meios de comunicação (Fratelli tutti, FT, 199)

Não é possível entender e seguir a Cristo, no caminho traçado pelo testemunho do Papa Francisco, sem nos dedicarmos ao diálogo. Este não pode, porém, ser confundido com “uma troca febril de opiniões nas redes sociais, muitas vezes pilotada por uma informação midiática nem sempre fiável” (FT, 200). Isso, na realidade, só obstrui o diálogo. Hoje em dia, parece predominar o costume de denegrir o adversário e manipular informações. Mesmo que muitos façam isso alegando querer justiça e reconhecimento de direitos, esse não é o modo de construir o bem comum (FT, 200-205). Explicando o diálogo, o Papa alerta para o perigo do relativismo, pois, “sob o véu de uma presumível tolerância, acaba-se por facilitar que os valores morais sejam interpretados pelos poderosos segundo as conveniências da hora [...] Para que uma sociedade tenha futuro, é preciso ter maturado um vivo respeito pela verdade da dignidade humana [...] Não será, este individualismo indiferente e desalmado em que caímos, resultado também da preguiça de buscar os valores mais altos, que estão para além das necessidades momentâneas?” (FT, 206-209). “A busca de uma falsa tolerância deve dar lugar ao realismo dialogante por parte de quem pensa que deve ser fiel aos seus princípios, mas reconhecendo que o outro também tem o direito de procurar ser fiel aos dele. Tal é o autêntico reconhecimento do outro, que só o amor torna possível” (FT, 221).

Falar de “cultura do encontro” significa que nos apaixona, como povo, querer encontrar-nos, procurar pontos de contato, lançar pontes, projetar algo que envolva a todos [...] O sujeito desta cultura é o povo (FT, 216).

A importância, para Francisco, do “povo” como categoria explicativa de uma realidade social fica muito evidente na Fratelli tutti. “Pertencer a um povo é fazer

Fratelli tutti: os povos e o mundo globalizado parte de uma identidade comum, formada por vínculos sociais e culturais. E isto não é algo automático; muito pelo contrário: é um processo lento e difícil... rumo a um projeto comum” (FT, 158). O povo é o grande sujeito da cultura do encontro. Francisco não ignora os conflitos sociais e as divisões da sociedade, mas antevê, na cultura de um povo, a capacidade de uma superação real desses conflitos, em um caminho de fraternidade. Contudo, “quando uma parte da sociedade pretende apropriar-se de tudo aquilo que o mundo oferece, como se os pobres não existissem, virá o momento em que isso terá as suas consequências. Ignorar a existência e os direitos dos outros provoca, mais cedo ou mais tarde, alguma forma de violência, muitas vezes inesperada” (FT, 219). “É preciso procurar identificar bem os problemas que atravessa uma sociedade, para aceitar que existem diferentes maneiras de encarar as dificuldades e resolvê-las. O caminho para uma melhor convivência implica sempre reconhecer a possibilidade de que o outro contribua com uma perspectiva legítima” (FT, 228).

Fazem falta percursos de paz que levem a cicatrizar as feridas, há necessidade de artesãos de paz prontos a gerar, com inventiva ousadia, processos de cura e de um novo encontro (FT, 225).

Francisco, pensando sobretudo nos países onde ocorrem guerras fratricidas, propõe a necessidade de um “novo encontro”, que recomeça a partir da verdade, sem dissimulações e ocultamentos, reconhecendo as dores e as injustiças cometidas (FT, 226-227). “Uma verdadeira paz só se pode alcançar quando lutamos pela justiça por meio do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo” (FT, 229). Essa reflexão também é muito pertinente para o Brasil, onde a violência e a insegurança social matam tanto quanto uma guerra. Precisamos lutar pela justiça, buscando o diálogo e a reconciliação, sem ingenuidades, mas conscientes de que “a violência gera mais violência, o ódio gera mais ódio, e a morte mais morte” (FT, 227). “Aqueles que pretendem pacificar uma sociedade não devem esquecer que a desigualdade e a falta de desenvolvimento humano integral impedem que se gere a paz [...] Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, Pixabay

não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade” (FT, 235).

A verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito, superando-o por meio do diálogo e de negociações transparentes, sinceras e pacientes (FT, 244).

A paz, em última instância, não será possível sem o perdão e a reconciliação. Mas esses devem ser corretamente compreendidos. “Alguns preferem não falar de reconciliação, porque pensam que o conflito, a violência e as rupturas fazem parte do funcionamento normal de uma sociedade [...] Outros defendem que dar lugar ao perdão equivale a ceder o espaço próprio para que outros dominem a situação [...] Outros consideram que a reconciliação seja empreendimento de fracos” (FT, 236). Nenhuma dessas posições é cristã. A Igreja reconhece as lutas legítimas e necessárias, não propõe um perdão que renuncia aos próprios direitos perante os poderosos ou os violentos (FT, 240-241). “O importante é não o fazer para alimentar um ódio que faz mal à alma da pessoa e à alma do nosso povo, ou por uma necessidade morbosa, desencadeando uma série de vinganças [...] Assim não se ganha nada e, a longo prazo, perde-se tudo” (FT, 242).

A Igreja pode, a partir da sua experiência de graça e pecado, compreender a beleza do convite ao amor universal. Com efeito, ‘tudo o que é humano nos diz respeito (...)’ (FT, 278).

Por fim, Francisco lembra a importância das religiões na construção de uma sociedade fraterna e a missão que o Cristianismo tem, no respeito à sua identidade, mas em harmonia com as demais crenças. “Se não se reconhece a verdade transcendente, triunfa a força do poder, e cada um tende a aproveitar-se ao máximo dos meios à sua disposição para impor o próprio interesse ou opinião, sem atender aos direitos do outro” (FT, 273). Por isso, “embora a Igreja respeite a autonomia da política [...] não pode nem deve ficar à margem na construção de um mundo melhor nem deixar de despertar as ‘forças espirituais’ que possam fecundar toda a vida social” (FT, 276).

A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia. Se, por um lado, são essenciais – as três todas juntas – para construir a paz, por outro, cada uma delas impede que as restantes sejam adulteradas (FT, 227). Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.


18 | Papa Francisco | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

‘A esperança vem de Deus e nunca decepciona’ Vatican Media

Filipe Domingues

Especial para O São Paulo

Ao falar sobre a “esperança cristã” no Dia de Finados, o Papa Francisco recordou que a esperança é um dom de Deus que dá sentido à vida e jamais decepciona. Em missa celebrada com um pequeno número de pessoas no Cemitério Teutônico, que fica no território do Vaticano, ele falou sobre a aclamação de Jó: “Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por fim, se levantará sobre a terra” (19,25). “Há tanta coisa ruim que nos faz desesperar, crer que tudo será uma derrota final, que depois da morte não há mais nada”, disse o Papa, em homilia improvisada para a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. “A esperança, no entanto, nos atrai e dá um sentido à nossa vida. Eu não vejo o que está do outro lado, mas a esperança é um dom de Deus que nos atrai em direção à vida, em direção à alegria eterna”, acrescentou. “Essa certeza é um dom de Deus, porque não poderemos jamais ter esperança com nossas próprias forças. Temos que pedi-la. A esperança é um dom gratuito que não merecemos, mas é dado. É doado. É graça”, declarou o Pontífice. “Essa esperança não decepciona”. O Papa rezou diante de alguns túmulos no cemitério e também visitou a cripta da Basílica de São Pedro, no subsolo

Papa Francisco preside missa na capela do Cemitério Teutônico, na segunda-feira, dia 2

do Vaticano, onde estão túmulos dos papas que o precederam.

Todos os santos Na véspera, na Solenidade de Todos os Santos, o Papa refletiu sobre as bem-aventuranças, que ele costuma definir como “carteira de identidade do cristão”. Ele afirmou que a pureza, a mansidão e a misericórdia são características de Cristo que todos devemos imitar. “A mansidão é caraterística de Jesus, que sobre si mesmo diz: ‘Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração’ (Mt 11,29)”, pregou o Pontífice. “Mansos são aqueles que sabem dominar a si próprios, que dão lugar ao outro, que o ouvem e o respeitam no seu modo de

viver, nas suas necessidades e exigências”. Além disso, os cristãos devem se comprometer “em prol da justiça e da paz”, e tudo isso “significa ir contra a corrente em relação à mentalidade deste mundo, contra a cultura da posse, da diversão insensata, da arrogância para com os mais frágeis”. Esse foi o caminho percorrido pelos santos e beatos, comentou Francisco. A solenidade celebrada no domingo, dia 1°, faz memória de todos os santos, inclusive aqueles não reconhecidos oficialmente pela Igreja. Essa data “nos recorda a vocação pessoal e universal à santidade, propondo-nos os modelos certos para este caminho, que cada um percorre de modo único e irrepetível”, disse o Papa.

Papa lamenta atentados terroristas na França e na Áustria O Papa Francisco manifestou dor após atentados terroristas em dois países da Europa na última semana. Três pessoas foram mortas a faca na quinta-feira, 29 de outubro, em um atentado em uma igreja de Nice, na França, entre elas uma mulher brasileira. Outras duas vítimas sofreram atentado na segunda-feira, 2, em Viena, na Áustria (leia mais na página 13). Em ambos os casos, as autoridades definiram como atos de terrorismo. Os assassinatos seguem as características de ações de extremistas islâmicos. Por meio de carta assinada pelo Cardeal Secretário de Estado, Dom Pietro Parolin, Francisco condenou “de maneira enérgica tais atos violentos de terror” e convidou o povo francês à unidade, enviando seu apoio especialmente à comunidade católica. Após a tragédia em Viena, o Santo Padre lamentou novamente as mortes de inocentes. O Papa “confia as vítimas à misericórdia de Deus e implora ao Senhor para que cessem a violência e o ódio, e seja promovida a convivência pacífica na sociedade”. (FD)

Cardeal Tomasi é nomeado Delegado para a Ordem de Malta O Cardeal eleito Dom Silvano Tomasi foi nomeado pelo Papa Francisco como “Delegado Especial” para a Ordem de Malta, no domingo, dia 1°. O Arcebispo é um dos novos cardeais de Francisco e receberá oficialmente

o título no dia 28 de novembro. Ele foi observador da Santa Sé nas Nações Unidas por 13 anos. Como Delegado Especial, ele representa o Papa junto à Ordem de Malta, que atualmente está no processo de

eleição de um novo superior, o “grão-mestre”. A Ordem de Malta é uma organização humanitária e atua principalmente na área da saúde. Historicamente, é soberana, mas como ordem religiosa se submete à autoridade do Papa. (FD)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 5 a 10 de novembro de 2020 | Fé e Vida | 19

Brasileiros Isabel e Roberto estão a caminho dos altares Gustavo Catania Ramos

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Congregação para as Causas dos Santos concedeu, em 28 de outubro, o título de Venerável a mais dois brasileiros: Isabel Cristina Mrad Campos e Roberto Giovanni. Essa é a segunda fase do processo de canonização, quando

O martírio da Venerável Isabel Cristina À semelhança de Santa Maria Goretti, da Beata Albertina Berkenbrock, da Beata Anna Kolesárová e de tantas outras virgens mártires, Isabel Cristina foi morta brutalmente pelo homem que tentou seduzi-la e violá-la. Nascida em 29 de julho de 1962, em Barbacena (MG), mudou-se em 1982 para Juiz de Fora (MG) com a intenção de se preparar para o concorrido vestibular de Medicina. Morava num apartamento com uma prima e duas amigas, quando decidiu viver em outro apartamento com seu irmão. Para se acomodar melhor à nova moradia, um homem foi contratado para montar um armário no apartamento. No dia 30 de setembro daquele ano, o homem foi ao local e disse à jovem palavras obscenas. Isabel Cristina contou o ocorrido ao seu irmão e às amigas que estudavam com ela. No dia seguinte, o abusador voltou ao apartamento com a desculpa de terminar a montagem do armário. Entretanto, dessa vez, tentou estuprar Isabel Cristina, que em nenhum momento cedeu às suas intenções. Então, ele a agrediu com uma cadeirada. Ela caiu no chão e foi amarrada com cordas e cintos, além de amordaçada com um pedaço de lençol. Suas roupas foram tiradas e rasgadas, e o criminoso A humildade do Venerável Roberto Giovanni A história do Irmão Roberto Giovanni é marcada, principalmente, pela virtude da humildade. Nasceu em 1903, em Rio Claro (SP), em uma família numerosa, com 13 filhos. Criança divertida, seu maior entretenimento era assistir às comédias de Charlie Chaplin na época do cinema mudo. Na adolescência, Irmão Roberto passou a manifestar um grande amor pelos mais pobres, marca que carregou por toda a sua vida. Doava, sem pensar nas consequências, seus bens pessoais aos necessitados, como calçados e roupas. Aos 24 anos, sentiu-se chamado à vida religiosa e ingressou na Congregação dos Estigmatinos, fundada em 1816 por São Gaspar Bertoni, cujo carisma se resume em três lemas: disponibilidade total, como a dos apóstolos; serviço gratuito, como Cristo Servo, e até a totalidade; e espírito de comunhão eclesial. Já membro da congregação, com-

o Vaticano reconhece as virtudes heroicas do candidato ou o seu martírio. Com esse reconhecimento, a Igreja afirma que a vida desses veneráveis foi movida pelo Espírito Santo a ponto de ser possível reconhecer em suas almas a ação direta de Deus, que os levou a viver uma vida totalmente entregue ao amor a Ele e ao próximo. Arquivo Pessoal

aumentou o volume do rádio e da TV para que ninguém pudesse desconfiar de nada. Entretanto, a jovem resistiu com todas as suas forças, e o homem não conseguiu violá-la. Irritado, o criminoso deu-lhe 15 facadas, 13 nas costas e duas nas partes íntimas. A perícia médica constatou que a Venerável Isabel Cristina conseguiu defender a sua virgindade e pureza. A vida de santidade de Isabel Cristina, porém, não se resume ao seu brutal martírio em favor da virtude da castidade. Seguindo de perto a sentença de São Paulo – “vivemos e morremos para o Senhor” (Rm 14,8) –, a Venerável sempre viveu próxima de Deus, com uma vida intensa de oração e pieArquivo Pessoal

pletou todos os estudos necessários para ser ordenado sacerdote. Entretanto, como São Francisco, rejeitou receber as sagradas ordens, por se sentir pequeno e indigno delas e por desejar viver uma vida de completa humildade, como irmão religioso, num trabalho simples e, muitas vezes, desconhecido e invisível aos olhos dos homens. Passados 12 anos de vida religio-

dade e sempre procurando observar as virtudes próprias de seu estado de vida. Basta notar que ela morreu com o Terço de dedo nas mãos, que, segundo testemunhas, rezava constantemente. Isabel namorava, e seu namoro era puro e santo, o que foi provado pela autópsia após a sua morte. Frequentava sempre as missas e recebia os sacramentos com assiduidade. Além disso, mantinha uma intensa vida de caridade ao próximo, voluntariandose na Associação das Conferências de São Vicente, a partir do exemplo de seu pai, que foi presidente do Conselho dos Vicentinos. Na escola, importava-se com as crianças mais pobres e, nos seus cadernos, escrevia muitas frases como: “Sorria, Jesus te ama!”. Além disso, procurava viver a santidade no seio de sua família, procurando fomentar nela um ambiente de amor, como escreveu num cartão-postal que enviou aos seus pais: “Espero que continuemos a nos amar mais a cada dia que passa. Assim, construiremos o nosso pequeno mundo cheio de amor, paz e amizade”. Seu túmulo está na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, e se tornou, logo depois de sua morte, um lugar de peregrinação de milhares de fiéis de todo o País que buscam alguma graça especial por sua intercessão. sa, Irmão Roberto mudou-se para a cidade de Casa Branca (SP), onde moraria até o fim da vida, num ministério de total entrega aos pobres e às crianças. Uma de suas características mais marcantes era a sua profunda humildade e simpatia ao conversar com as pessoas, nunca desejando se impor, mas sempre pedindo ajuda pelos mais pobres. Sua vida se cruza com a do Beato Donizetti, sacerdote da cidade de Tambaú (SP), conhecido por sua vida de caridade e pelos inúmeros milagres realizados em vida, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida. Padre Donizetti diversas vezes salientou a santidade do religioso estigmatino. A morte de Irmão Roberto, aos 92 anos, em 11 de janeiro de 1994, causou uma grande comoção popular em Casa Branca e nas cidades vizinhas. Houve uma enorme procissão para acompanhar o cortejo do corpo do estigmatino, que foi sepultado no Santuário de Nossa Senhora do Desterro.

Liturgia e Vida 32º Domingo do Tempo Comum 8 DE NOVEMBRO DE 2020

A ‘insensatez’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Jesus conta a parábola das jovens que, à noite, aguardavam a chegada do noivo com lâmpadas acesas. Cinco delas eram “previdentes” ou prudentes (phrónimoi). Percebendo que demorava, tomaram consigo vasilhas extras de óleo. Já as outras cinco eram “imprevidentes” ou, literalmente, insensatas (mōrai). Negligentemente – quiçá por preguiça –, não se precaveram. Somente à chegada do noivo foram comprar óleo, mas era tarde. A porta foi fechada e tiveram de ouvir com dureza: “Não vos conheço!” (Mt 25,12). Normalmente, pensamos que o oposto da bondade é a “maldade”, como de Jezabel, Antíoco Epífanes, Herodes e outras pessoas perversas da Bíblia. No entanto, frequentemente o que se opõe a Deus não é a malvadeza pura e simples, mas a “insensatez”, como aquela demonstrada pelas jovens negligentes. Ainda que sem grande malícia, o homem estulto pode gerar efeitos tão negativos ou até piores do que os perversos. A insensatez levou Adão a cometer o primeiro pecado, Esaú a perder a primogenitura, Pilatos a condenar Jesus e Judas a vender o Salvador. Diferentemente dos demônios, que se voltaram contra Deus com profundo conhecimento e firmíssima resolução, nós, homens em geral, pecamos por motivações estúpidas: curiosidade, covardia, sensualidade, impulsividade, avidez, preguiça, ligeireza ou falta de autodomínio. Depois de um pecado, é comum que alguém pense: “Que idiotice eu fiz!”… Por isso, o Senhor dirige ao Céu esta súplica: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Os danos da insensatez, contudo, são reais. Sem uma descomunal “maldade”, um homem pode passar a existência sem nunca pensar seriamente sobre a morte, ou sem jamais ter levado a sério a busca por Deus. Sem ser propriamente “um monstro”, pode aderir a um estilo de vida materialista, negligenciar a família, impedir a geração de filhos ou abandonar uma vocação, em nome do “conforto” e do “bem-estar”! Até os que cometem adultério, que abandonam a família, que despedaçam corações, que traem amigos ou que apostatam da fé, talvez não se sintam propriamente “criminosos”; desejam apenas “buscar a própria felicidade”. Contudo, erram o objetivo e a eles se aplica a reprimenda: “Insensato!” (Lc 12,20). O néscio ignora o valor de cada coisa da vida; troca o ouro por lixo. Pensa ser inteligente, livre, ou mesmo estar acima do bem e do mal. Entretanto, é só mais um tonto, como outros tantos. Intelectuais, políticos, artistas, eclesiásticos, reformadores impetuosos, revolucionários, beldades, magnatas e homens comuns perseguem objetivos mundanos à custa da fidelidade a Deus. Omitem por leviandade deveres graves de justiça, encarnando em si a pergunta: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Mc 8,36). O drama do insensato, contudo, é que não enxerga a própria condição! Por isso, peçamos ao Senhor que nos dê um coração sábio, capaz de discernir o que é justo e vale a pena. E que Ele nos guarde vigilantes, sem distrações, à espera da Sua vinda.


20 | Geral | 5 a 10 de novembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Igreja em São Paulo prepara a retomada das atividades do sínodo arquidiocesano

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. Veja a seguir algumas das mais recentes publicações:

Luciney Martins/O SÃO PAULO - fev. 2020

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

No próximo dia 28, estava prevista a realização da sétima sessão da assembleia do sínodo arquidiocesano de São Paulo, que marcaria a conclusão do último ano do caminho iniciado em 2017. Devido à pandemia de COVID-19, porém, os trabalhos foram suspensos por tempo indeterminado. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, contudo, enfatizou que o sínodo não foi completamente interrompido e que esses tempos difíceis ensinaram muitas lições ao processo de renovação pastoral da Igreja em São Paulo. Durante a reunião realizada no dia 26 de outubro, a Comissão de Coordenação Geral do sínodo arquidiocesano iniciou as reflexões para a retomada gradual das atividades sinodais. Na ocasião, Dom Odilo reconheceu que, sem a possibilidade de atividades presenciais relacionadas ao sínodo, houve, naturalmente, uma desaceleração no processo; por outro lado, ele avaliou que tudo está “no horizonte da providência de Deus”, e destacou que a emergência sanitária colocou luz a uma série de questões importantes para o “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”, proposto como tema do sínodo. “Muitas coisas que vivemos pastoralmente este ano nos ajudarão a pensar de uma forma nova as propostas que levaríamos para a assembleia sinodal arquidiocesana”, afirmou o Arcebispo, sublinhando que, durante este ano, os templos estavam praticamente vazios, mas a Igreja foi para as casas. “Essa foi, justamente, uma das questões postas no sínodo: a renovação missionária a partir da família, da base. Pudemos, portanto, compreender melhor o que significa isso”, disse.

RENOVAÇÃO PASTORAL O Cardeal também avaliou que houve uma maior tomada de consciência sobre a renovação dos métodos pastorais, como a Catequese, que se viu desafiada a descobrir novas formas de continuar, mesmo que remotamente. “A pandemia nos colocou fora dos trilhos e, agora, temos que ajustar os caminhos a partir de uma nova experiência de vida”, sublinhou o Arcebispo. Observou-se, por meio da comissão sinodal, que muitas paróquias já começaram a implementar algumas mudanças que foram identificadas no levantamento de campo da realidade religiosa e pastoral, feito em 2018. Essa atual realidade proporcionou o aparecimento de novas lideranças nas comunidades e novos perfis de agentes de pastoral. Para Dom Devair Araújo da Fon-

Nomeada reitoria da PUC-SP para 2020-2024 https://cutt.ly/mgFe41J Acidente Vascular Cerebral (AVC) atinge 13,7 milhões de pessoas no mundo https://cutt.ly/1gDVG7k Começa a fase experimental do sistema Pix https://cutt.ly/OgDVKuo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Missa na Catedral da Sé, em fevereiro, marcou o início da fase arquidiocesana do sínodo

seca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Relator-Geral da assembleia do sínodo, a pandemia evidenciou as diferenças socioculturais que haviam sido identificadas ao longo do caminho sinodal. Ele também chamou a atenção para o crescimento da ação missionária. “Mesmo sem sair de casa, as pessoas encontraram maneiras de se fazer presentes na vida dos outros, sobretudo pelos meios de comunicação e pelas redes sociais digitais”.

ANÚNCIO Nesse sentido, questões como o anúncio querigmático, desafio bastante ressaltado no primeiro relatório geral do sínodo, logo ganhou força por meio de inúmeras iniciativas criativas promovidas pelas comunidades. “A inovação pastoral aconteceu de muitas formas. Descobriu-se que é possível realizar uma série de coisas, de outras formas. Evidentemente, não substituem o encontro presencial, mas são possíveis quando não há tal possibilidade”, acrescentou Dom Devair. De igual modo, a comunicação, tema que chamou a atenção na pesquisa de campo, também foi potencializada ao longo dos meses de isolamento social. Foi observado que, em muitas paróquias, não apenas as missas dominicais passaram a ser transmitidas, mas também as celebrações diárias e outros momentos. E isso não se limitou às liturgias. Muitos padres passaram a promover encontros de formação bíblico-catequética com seus paroquianos por meio das plataformas digitais. Dom Odilo também destacou o crescimento das iniciativas de promoção da

caridade, organizadas pelas paróquias e grupos de fiéis, tornando as comunidades eclesiais lugares de referência para as pessoas que desejavam ajudar os mais pobres.

COLHER FRUTOS O Cardeal Scherer afirmou que os próximos passos para a retomada concreta das atividades sinodais estão sendo estudados pela Comissão de Coordenação Geral do sínodo, com o objetivo de animar o clero e os fiéis a respeito dos frutos que estão sendo colhidos este ano. Nesse sentido, as comunidades paroquiais serão motivadas a avaliar sua caminhada recente e compartilhar as experiências e aprendizados, o que será de grande valor para as reflexões e análises da assembleia sinodal. Os detalhes da retomada serão anunciados em breve por Dom Odilo, que continua pedindo as orações de todo o povo católico de São Paulo pelo caminho sinodal.

Em reunião com bispos, Rodrigo Maia apoia repasses do Fundeb a escolas comunitárias, filantrópicas e confessionais https://cutt.ly/LgDVZu3 Inauguração de capela marca os festejos de 15 anos da Fapcom https://cutt.ly/BgDVH8f Pastoral do Dízimo da Arquidiocese de São Paulo promove formação on-line https://cutt.ly/TgDVXkk Cardeal Scherer: a fé é uma resposta a Deus, que vem ao encontro da humanidade https://cutt.ly/YgDVCxQ

Luciney Martins/O SÃO PAULO

foto da semana Na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, no dia 2, católicos testemunharam a fé na ressurreição, participando de missas em cemitérios e nos templos, como na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Sufrágio das Almas, na Região Sé, bem como acendendo velas por seus entes falecidos. Viu algo que lhe chamou a atenção na cidade? Fotografe e mande para o nosso e-mail osaopaulo@uol.com.br, com o título “Foto da Semana”.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.