Semanário da Arquidiocese de São Paulo 29 de abril a 5 de maio de 2014
Especial - EDIÇÃO Fotos: Arquivo O SÃO PAULO
A equipe do O SÃO PAULO faz um resgate desta história e apresenta as perspectivas para o semanário arquidiocesano
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Semanário da arquidioceSe de São Paulo ano 59 | Edição 3000 | 29 de abril a 5 de maio de 2014
Histórias e fatos da vida que se contam em milhares de edições
3 mil edições, essa é a marca que O SÃO PAULO alcança. Um jornal que há 59 anos se dedica a reportar a vida da Igreja, sua missão e vocação, sem esquecer-se de seu papel social e profético de ser “sal da terra e luz do
L’Osservatore Romano
mundo”. Quantas notícias e acontecimentos são reportados em milhares de edições? Uma pergunta quase impossível de responder, mas que indica toda a vida e significado do jornal. Caderno Especial
Fiéis veneram papas João 23 e João Paulo 2º, os novos santos da Igreja
Textos: Daniel Gomes Edcarlos bispo nayá fernandes Fotos: luciney martins arte e Diagramação: jovenal pereira Revisão: maria aparecida ferreira
Domingo, 27 de abril: na praça de São Pedro, no Vaticano, 800 mil pessoas participaram da celebração em que o papa Francisco canonizou João 23 e João Paulo 2º. Em diferentes partes do mundo, os fiéis veneraram os novos santos, como na cidade de São Paulo, onde a Capelania Pessoal Polonesa organizou missa solene pela canonização de João Paulo 2º. Nesta edição, O SÃO PAULO apresenta deta-
lhes sobre a celebração em Roma, que foi tomada por peregrinos de diversos países; e a biografia dos Papas, além de análises, entre as quais a do cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, sobre João 23 e João Paulo 2º. “Mais forte, neles, era Deus. Mais forte era a fé em Jesus Cristo, redentor do homem e Senhor da História”, enfatizou o papa Francisco. Páginas 4 a 16.
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Um jornal a serviço do Povo de Deus Como veículo de comunicação da Arquidiocese de São Paulo, O SÃO PAULO é um dos mais importantes meios pelo qual o arcebispo metropolitano tem a sua disposição para se dirigir, exortar, incentivar, formar e corrigir o clero e o Povo de Deus a ele confiado. Nestas 3 mil edições já estiveram a frente da Arquidiocese cinco arcebispos, dos quais vivos estão o cardeal Arns, o cardeal Hummes e o cardeal Scherer. A equipe de reportagem tentou falar com o cardeal Arns, porém, devido a restrições médicas e sua idade avançada, não pôde conceder a entrevista. O cardeal Scherer, arcebispo metropolitano, ressaltou que o jornal tem importância, antes de tudo, “para a própria Igreja em São Paulo, onde ele fez sua história já cinquentenária. Ao longo desse período, foi testemunha da vida da Igreja e, em certa medida, também da sociedade paulistana e brasileira. Penso que, além de informar e formar a opinião pública, um jornal tem o papel de fazer o registro da História, da qual ele deve ser um observador, analista e testemunha”. O arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo, dom Cláudio Hummes, destacou em sua entrevista que, mesmo não tendo estatísticas da leitura do O SÃO PAULO fora da Arquidiocese, tem conhecimento que ele é enviado a muitas dioceses, se tornando assim, “um intercâmbio muito importante, pois cria comunhão eclesial. As dioceses, assim, podem inspirar-se umas às outras, sobretudo na forma como põem em prática as orientações do próprio papa e as da CNBB. É uma forma de caminharem mais unidas e de se encorajarem mutuamente”. Quanto ao papel que O SÃO PAULO tem desenvolvido na divulgação e disseminação do plano de evangelização da Igreja, dom Odilo afirmou que esse veículo “tem trazido, passo a passo,
O jornal O SÃO PAULO tem trazido, passo a passo, as propostas feitas à Arquidiocese para colocar em prática os apelos de evangelização da Igreja e tem colaborado para mostrar como isso vai acontecendo na Arquidiocese. Nisso, desempenha um papel importante e ajuda a criar a consciência de ‘pastoral de conjunto’.
Sempre pude contar muito com O SÃO PAULO na animação da pastoral. Ele assumia e divulgava o que era planejado em conjunto nas nossas assembleias pastorais e as orientações pessoais do arcebispo, e depois acompanhava o que de fato se realizava. Mas também acolhia o que o povo pensava e propunha.
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as propostas feitas à Arquidiocese para colocar em prática os apelos de evangelização da Igreja e tem colaborado para mostrar como isso vai acontecendo na Arquidiocese. Nisso, desempenha um papel importante e ajuda a criar a consciência de ‘pastoral de conjunto’”. Arquivo pessoal
Dom Cláudio, destacou que, quando arcebispo, procurou “valorizar muito o jornal, um dos maiores e mais importantes meios, junto à rádio 9 de Julho, de o arcebispo se comunicar com seu povo”. Além disso, “o jornal não deve ser somente o jornal do
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bispo, mas de todo o povo e dos seus pastores”, afirmou o cardeal Hummes. “Sempre pude contar muito com O SÃO PAULO na animação da pastoral. Ele assumia e divulgava o que era planejado em conjunto nas nossas assem-
bleias pastorais e as orientações pessoais do arcebispo, e depois acompanhava o que de fato se realizava. Mas também acolhia o que o povo pensava e propunha, sobretudo as várias pastorais. Informava e ajudava a formar”, lembrou-se o arcebispo emérito.
Em livro, dom Paulo deixa suas impressões “Com o auxílio de dom Helder Câmara e de outros amigos, elaboramos um manifesto em 11 pontos, que foi imprenso na primeira página do jornal O SÃO PAULO. Conseguimos com rapidez, naquele sábado, entregar os exemplares nas igrejas mais importantes da cidade, pedindo que os vigários recortassem esse manifesto e o afixassem na porta exterior de seus templos.” (Página 279), lembrou o cardeal Arns no livro “D. Paulo Evaristo Arns - Da Esperança à utopia, testemunho de uma viva”. “Naquela hora – estávamos em
1975 – já não importava recordar a censura ao jornal arquidiocesano O SÃO PAULO nem a supressão da Rádio 9 de Julho pelo governo ditatorial, mas talvez conviesse dar realce todo especial à adesão progressiva de padres, religiosas, religiosos e leigos à defesa da Declaração dos Direitos Humanos.” (Página 284). “O cônego Antônio Aparecido Pereira, que assumiria anos depois a chefia de redação de nosso semanário arquidiocesano O SÃO PAULO, preparou em Roma uma tese muito apreciada sobre os tem-
pos da censura no jornal da Igreja de São Paulo. A ele devo os constantes incentivos que recebi para manter o pequeno, mas corajoso semanário, que passou a ser apreciado em muitas partes do Brasil e do exterior.” (Página 285). “Em 22 de agosto de 1982, circulou na cidade uma edição falsificada do O SÃO PAULO, trazendo na primeira página um grande retrato meu, com a manchete: “Mea culpa”. Os responsáveis pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e eu particularmente éramos vítimas de difamações.” (Página 285).
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A redação nossa de cada dia O SÃO PAULO é um meio de comunicação impresso, semanal, da Arquidiocese de São Paulo, mantido pela Fundação Metropolitana Paulista. Criado em 1956 pelo arcebispo de São Paulo à época, cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, em substituição ao então jornal O LEGIONÁRIO, nasceu no contexto de explosão dos meios de comunicação. Sendo um jornal confessional, sempre se propôs ser instrumento a serviço da união e comunhão dentro da Igreja, mostrar o rosto eclesial para a sociedade e ler os acontecimentos segundo a ótica do Evangelho e da Doutrina
Social da Igreja. Em São Paulo, respondeu aos desafios dos diferentes e sucessivos contextos políticos, sociais e religiosos da cidade. Com dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta concretizou seu sonho de tornar a Igreja presente em cada bairro da cidade e combateu o bom combate contra a dissolução dos costumes; com dom Agnelo Rossi entendeu e concretizou a descentralização do seu ministério episcopal, criando as regiões episcopais; com dom Paulo Evaristo Arns quis a Igreja presente nas periferias da cidade, enfrentou a defesa dos direitos da pessoa diante do
‘Ser a voz das pessoas que não eram pauta nos grandes veículos’ A primeira reportagem no semanário arquidiocesano, Adilson Oliveira, 42, não se esquece. Em 30 de agosto de 2004, ele acompanhou o despejo de 49 famílias de cortiços na Bela Vista, no centro. “Despejadas de cômodos de paredes sujas e esburacadas e com fios elétricos expostos, as famílias disseram que iam para a casa de parentes, morar de ‘favor’ em conhecidos ou que ‘não tinham onde ficar’”, consta na reportagem publicada em 1º de setembro de 2004. “Pode não ter sido a reportagem que teve grande repercussão, mas por conta do O SÃO PAULO sempre estar preocupado em cobrir fatos que causavam grande aflição social, creio que essa reportagem foi a mais marcante, e, salvo engano, não havia nenhum veículo de comunicação
Foto: Luciney Martins
da cidade na ocasião”. Atualmente assessor de comunicação da Câmara Municipal de Embu das Artes (SP) e repórter do site Verbo Online, Adilson trabalhou no Semanário até agosto de 2009. “O SÃO PAULO sempre primou pela cobertura criteriosa e também pelo histórico de ser a voz das pessoas que não eram pauta dos grandes veículos de comunicação”.
arbítrio da ditadura militar e imprimiu nova dinâmica ao trabalho pastoral por meio de sucessivos planos; como dom Cláudio Hummes, ao mesmo tempo em que insistia no compromisso sério de cada pessoa com Jesus Cristo, revisitou a cidade num processo chamado “Seminário da Caridade”; e com o cardeal Odilo Pedro Scherer assumiu e assume a nova evangelização e responde aos questionamentos de hoje. Verdade, justiça, solidariedade, amor fraterno, firmeza na defesa dos pequenos e fracos, clareza doutrinal na transmissão da fé, incentivo, acolhimento e apoio ao
protagonismo dos leigos na missão evangelizadora, são valores que impregnarão as páginas do jornal O SÃO PAULO.
Como é o dia a dia da redação? Tudo começa às terças-feiras, com uma reunião. Neste dia, diretor, administração, jornalistas, fotógrafo e convidados, conversam e definem as pautas para a edição da semana. A partir daí, os repórteres saem às ruas para apurar as matérias e, literamente, ‘correm atrás’ das fontes que serão entrevistadas para o jornal. Sábado, domingo, noite e dia é hora de trabalho. Durante a semana, por meio
‘O jornal sempre foi a expressão do povo marginalizado’ “Era o meu começo no jornalismo, estava recémformada, foi um grande aprendizado o trabalho”, recorda Maria Isabel da Silva, 42, que foi repórter do O SÃO PAULO na década de 1990. Atualmente gestora de comunicação institucional da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, no Estado de São Paulo, Maria Isabel diz que duas reportagens lhe marcaram especialmente: uma entrevista com um frei da pastoral dos nômades - “ele era um frade franciscano, e os franciscanos costumam ficar no convento, mas ele por ser cigano não conseguia permanecer por muito tempo em um lugar só” – e outra sobre um seminário de bioética que tratava como lidar com a morte - “eu fiz uma matéria chamada ‘A morte não
Arquivo pessoal
é tão feia como se pinta’. A bioética defende a valorização da vida e também a morte como uma coisa natural, um fechamento da vida”. A jornalista recordou que sempre foi bem recebida nas reportagens. “O jornal sempre foi muito valorizado porque era a expressão do povo marginalizado. No jornal O SÃO PAULO eles tinham realmente voz”.
da internet e de encontros pessoais, a equipe conversa sobre o andamento da edição. Mas são às segundas-feiras que o trabalho de toda a semana, vai ganhando forma e cores. E desde a manhã até a madrugada da terça-feira, jornalistas, revisora, diagramador, fotógrafo e demais colaboradores se debruçam sobre cada página do O SÃO PAULO, para que o jornal chegue à todos com notícias, artigos e reportagens de qualidade humana e editorial. Você também pode participar da elaboração do semanário da Arquidiocese. Envie sugestões, críticas ou elogios para redacao@ osaopaulo.org.br.
‘Aprendi a ter o olhar mais aguçado para os problemas sociais’ Era o começo de 2012. A Prefeitura e o Governo de São Paulo interviram na Cracolândia, visando conter o tráfico de drogas, mas os métodos violentos da ação foram criticados por parte da sociedade. “Os 1.664 dependentes que frequentam a Cracolândia, entre eles 400 residentes nas ruas da região, perambulam desconfiados como que sobreviventes. Os usuários buscam espaço entre escombros e lixo para fumar crack. O cachimbo ainda novo passa rápido de um para o outro e é logo colocado em uma sacola”, descrevia o texto, assinado por Karla Maria, 30, na edição de 10 de janeiro daquele ano. Para Karla, que trabalhou no jornal entre 2010 e 2012, essa foi a reportagem mais marcante. “Lá, tive contato com uma realidade limite da condição humana e pude ver o quão forte é o
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trabalho de presença e denúncia da Igreja Católica por meio do Vicariato do Povo da Rua”, recordou. “Foi com o jornal que aprendi a ter o olhar mais aguçado para os problemas sociais, sempre norteada pelo Evangelho. Essa contribuição é inegável e por onde vou, pelos meios que passo, tento aplicar essa sensibilidade”, contou Karla, atualmente repórter da Folha Metropolitana.
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Com carinho, ex-diretores falam do jornal Ex-diretores do O SÃO PAULO, dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), e o padre Antônio Aparecido Pereira, Cido, falaram do período que estiveram à frente do jornal, dos desafios que enfrentaram e das mensagens que deixam para esta nova fase pela qual passa o jornal. Dom Angélico dirigiu o jornal de 1977 a 2000, e como lembrança desse período ele destacou a linha editorial do semanário. “Destaco simplesmente toda a linha editorial do jornal colocado, de
fato, a serviço da evangelização, em compromisso libertador dos pobres. O SÃO PAULO tinha a cara das Comunidades Eclesiais de Base, das Pastorais Sociais, da Comissão Justiça e Paz; respirava e transpirava ‘fome e sede de justiça’”. Ao avaliar o papel do jornal para a Arquidiocese, dom Angélico afirmou que “O SÃO PAULO teve papel importante não somente para a Igreja na Arquidiocese e no Brasil, mas para todo povo brasileiro e latinoamericano. Cumpriu sua missão
Padre Cido
profética, olhos fixos em Jesus Cristo, em sua Boa Nova, com linha editorial corajosa na defesa da dignidade da pessoa humana, da família, da justiça, da verdade, da liberdade. Sempre esteve a serviço da causa dos povos indígenas, do justo uso-posse da terra, da saúde, educação, moradia, para todo o povo! Antes da divisão da Arquidiocese em quatro outras dioceses, o jornal era porta voz do povo sem voz de toda a metrópole paulistana, sempre com a preocupação, firmado na Doutrina Social da Igreja, de
Foto: Luciney Martins/OSÃOPAULO
Aos leitores fiéis que sempre nos incentivaram, que acompanharam o trabalho, que entenderam a importância do semanário arquidiocesano, eu agradeço todo o carinho e o respeito que sempre tiveram conosco. Eu amo este jornal. Por ele, dediquei 31 anos de meu sacerdócio. E peço ao povo de Deus que acolha o trabalho tão bonito, tão competente da equipe que deixei e continua produzindo semanalmente o nosso jornal, instrumento valioso para evangelizar, informar e formar mentes e corações e fazer a comunhão da Igreja que está na cidade de São Paulo.
iluminar a realidade com a luz libertadora do Evangelho”. Já para o padre Cido, que entrou no jornal em 1982, se tornando diretor em 2000 permanecendo no cargo até o início de 2014, os momentos que mais lembra do período à frente do O SÃO PAULO foram a celebração de 100 anos da Arquidiocese, em 2006, e em 1982, a notícia do término da censura, além do prêmio recebido pelo jornal por sua resistência à censura também foi muito especial. Quanto aos desafios encontra-
dos à frente do jornal, padre Cido destaca que a “maior dificuldade que não consegui superar foi a não aceitação do jornal por parte dos padres. Sempre me angustiou ver que sendo tão grande a nossa Arquidiocese, o seu jornal não chegava ao Povo de Deus. O sonho de um jornal ansiosamente esperado, atenciosamente lido e divulgado em todas as nossas comunidades não se concretizou. Eu espero que seja agora com o entusiasmo, a juventude e a capacidade do nosso querido diretor, padre Michelino Roberto.”
Dom Angélico Que o jornal seja agarrado com entusiasmo por todas as comunidades na grande São Paulo, a começar pela Arquidiocese! O Documento de Aparecida, ao discorrer sobre a Pastoral da Comunicação, afirma: “A revolução tecnológica e os processos de globalização formatam o mundo atual como grande cultura midiática”. Surgem novas linguagens, novos e revolucionários meios que não excluem, porém, jornais! É evidente que O SÃO PAULO precisa se renovar, indo como insiste o Papa, às periferias geográ-
Arquivo O SÃO PAULO
ficas e humanas. Não pode ser ‘jornal de sacristia’ com aglomerado de artigos e notícias desvinculados de linha
editorial profética a serviço, claro, da construção do Reino de Deus feito de justiça, amor e paz.
O SÃO PAULO NA HISTÓRIA
Inauguração de Brasília
Começa o Concílio Vaticano 2º
O homem chega à lua
Pela 1ª vez um papa em São Paulo
Edição nº 222, 1º de maio de 1960: “Que Deus faça do Brasil uma nação cada vez mais forte, grande e livre, à luz do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja”, expressou o papa João 23, por meio do cardeal Cerejeira, legado pontifício na inauguração de Brasília, nova capital do País, em 21 de abril de 1960.
Edição n° 351, 21 de outubro de 1962: “Os sinos de quinhentas igrejas de Roma soam com toda a força. Graves uns, agudos outros, todos vivos para dizer ao mundo que a Igreja não teme as perseguições, não se deixa quebrar pelas aparentes vitórias do mal” - reportagem na abertura do Concílio, em 11 de outubro.
Edição nº 701, 13 de julho de 1969: “Explorando a Lua – o astronauta Armstrong desembarca e se torna o primeiro nome da história a pisar na lua. A missão agora está em seu quarto dia”, antecipava o jornal sobre o itinerário da missão Apolo 11, na qual o homem chegou a lua em 20 de julho de 1969.
Edição n° 1.268, 5 de julho de 1980: “Dia 3, esta quinta-feira, foi o grande dia de encontro do papa João Paulo 2º com o povo de São Paulo... Tudo começou na saída de Congonhas... Depois foi o grande encontro no campo de Marte com 1 milhão e meio de pessoas que enfrentaram o frio intenso só para vê-lo”.
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Vazios deixados pela ditadura Recordar dos textos do jornal O SÃO PAULO que foram censurados durante a ditadura militar, em especial de 1973 a 1976, é tornar viva a missão de um semanário da Arquidiocese que quer ser sempre um sinal da verdade do Reino no meio do mundo. Com o Ato Institucional (AI-5) estendeu-se a censura à imprensa, com a proibição de que fosse publicada qualquer notícia sobre movimentos operários e estudantis, bem como a divulgação de qualquer tipo de crítica ao regime. “A imprensa católica da Arquidiocese de São Paulo, juntamente com seu bispo, dom Paulo Evaristo Arns, foi perseguida e difamada. O jornal O SÃO PAULO foi censurado várias vezes. As notícias de censura eram substituídas por anúncios de divulgação do próprio jornal ou por salmos e até receitas de bolo. Qualquer reivindicação era considerada insubordinação grave e, portanto, precisava ser reprimida com a violência própria do regime”, afirmou padre Ney de Souza, historiador e professor na PUC-SP. No dia 22 de fevereiro de 1974, o cardeal Arns tentou, por meio do semanário, comunicarse com o clero da Arquidiocese, mas a matéria foi censurada. “Três acontecimentos me levam a essa comunicação fraterna: o
o d a r u s n e c
incêndio do edifício Joelma, a morte do padre Luís Gonzaga Biazzi e as prisões de elementos ligados à nossa ação pastoral [...]”, lia-se na carta de dom Paulo que sofreu censura prévia. “O jornal O SÃO PAULO foi um veículo importantíssimo de comunicação para a Igreja de São Paulo. Mesmo com toda a perseguição, a luta pela liberdade aconteceu na Arquidiocese” afirmou padre Ney no livro “Catolicismo em São Paulo: 450 anos de presença da Igreja Católica em São Paulo”, do qual ele foi organizador. Em outra ocasião, o semanário arquidiocesano publicou um editorial cujo título era: “A Igreja caminha para a esquerda?”, que teve 40 linhas censuradas e foi publicado com grande prejuízo em relação ao texto original. Na mesma página havia outro editorial: “A propósito de um documento”, que também foi censurado e chegou aos leitores sem nenhum sentido no seu conjunto. “Qualquer artigo destinado a conscientizar a população era censurado. Em poucas oportunidades no período do regime militar, a imprensa nacional conseguiu uma chance para se posicionar em relação às arbitrariedades cometidas contra a população brasileira”, disse padre Ney.
Diretas Já!
A nova Constituição de 1988
Igreja apoia impeachment de Collor
Renúncia de Bento 16
Edição n° 1.462, 19 de abril de 1984: “São Paulo superou todos os comícios e manifestações em favor das eleições Diretas Já realizadas até o momento... É impossível calcular o número exato de pessoas que participaram da passeata e do comício na última segunda-feira, 16. Fala-se em 2 milhões de pessoas”.
Edição nº 1.695, 7 de outubro de 1988: “Permitimo-nos enfatizar entre as conquistas da nova Constituição, promulgada sob a proteção de Deus: o respeito à dignidade da pessoa humana e a primazia da sociedade sobre o Estado”, expressou a CNBB, em 5 de outubro, quando da promulgação da Constituição.
Edição nº 1.893, 24 de setembro de 1992: “Segundo a Comissão [Justiça e Paz] e o Plenário [Pró-Participação Popular], ‘queremos estar juntos nestes momentos que precedem a votação do impeachment [de Fernando Collor], além de nos posicionarmos contra a corrupção e em favor da credibilidade das instituições”.
Edição nº 2.939, 14 de fevereiro de 2013: “A notícia da renúncia do Papa pegou o mundo de surpresa. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota dizendo que recebia com surpresa, como todo mundo, o anúncio feito pelo Santo Padre Bento 16 de sua renúncia à Sé de Pedro”.
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Ele inspira... Semanário ajuda na evangelização dos cárceres
Na bolsa em que carrega a bíblia, manuais e os folhetos com cantos que utiliza para a evangelização dos presos em Franco da Rocha, na grande São Paulo, Laudinice Rocha, a Nice da Pastoral Carcerária, sempre leva exemplares do jornal O SÃO PAULO. Segundo ela, a quantidade é sempre insuficiente para os detentos, agentes penitenciários e diretores que se interessam por ler o jornal, alguns, inclusive, sabem das mudanças no semanário arquidiocesano. “Um dia um preso me disse, ‘que legal que agora tem até palavra-cruzada’, e eu nem tinha percebido ainda”, recordou Nice.
Encontro de casais trabalha Tráfico de Pessoas e Copa do Mundo
Na Paróquia Nossa Senhora da Glória, na Vila Prudente, durante a 3ª etapa do Encontro de Casais com Cristo (ECC), em abril, o casal Irineu Uebara e Maria Terezinha Custódio Uebara utilizam duas reportagens do jornal O SÃO PAULO, edição 2992. “Na palestra ‘Família renovadora do mundo’ foi utilizada a reportagem ‘Tráfico de pessoas é o 2º negócio mais rentável’ e todas as palavras do texto calaram profundamente em todos”, afirmou Irineu, que é advogado e estudante de teologia da PUC-SP. “Considerando que a terceira etapa do ECC visa despertar consciência para a necessidade de mudança das estruturas injustas de nossa sociedade, nada melhor do que apresentar temas atuais e públicos. Por isso, julgamos interessante abordar dois artigos do jornal O SÃO PAULO, cujas fontes insuspeitas servem à reflexão. Copa do Mundo e Campanha da Fraternidade são assuntos candentes e atuais. Basta de “novela e plim-plim” que anestesiam consciências”, continuou Irineu.
“Pelo terceiro ano, Arsenal realiza leitura contínua da Palavra” (edição 2970)
Que alegria poder partilhar esta experiência com vocês, leitores do O SÃO PAULO. No ano passado, realizamos uma atividade no Arsenal da Esperança com alunos do Ensino Médio, do Colégio Maria Imaculada. Logo, em seguida, aconteceu, no Arsenal, a Vigília Contínua da Palavra, que foi documentada pela equipe do O SÃO PAULO. A matéria estava ótima e as fotos excelentes! Então, mãos a obra! Trabalhamos com o jornal, nas aulas, sensibilizando os jovens para a leitura da Bíblia, resgatando dúvidas e desejo de saber mais sobre a Palavra de Deus. A reportagem ajudou muito, pois trouxe a experiência diferente de leitura orante para dentro da sala de aula. As fotos inspiraram os alunos nos textos a serem produzidos e na reflexão da Bíblia em nossos dias! É primordial, em nossos dias, aproximar cada vez mais os estudantes da realidade de nossa cidade e do mundo. Parabéns pelo trabalho realizado por vocês! Maria Amélia Fernandes - coordenadora da Pastoral do Colégio Maria Imaculada de São Paulo
‘A Constituição, 25 anos depois’ (edição 2972)
Na primeira semana de outubro de 2013, por conta da brilhante matéria do jornal O SÃO PAULO sobre os 25 anos da Constituição da República Federativa do Brasil (05/10/1988), utilizei a edição em sala de aula, pois uma das matérias lecionadas trata-se de Direito Constitucional. Para alguns estudantes foi o primeiro contato com a história da Carta Magna, para outros foi uma releitura e memória da Constituinte. Ocorre que a matéria do jornal acabou contribuindo com o processo pedagógico em sala de aula, ilustrando as conquistas de ontem para motivar as lutas de hoje. José Nildo Alves Cardoso, professor de Direito no Curso de Gestão em Políticas Públicas na ETEC-Cepam.
Sergio Ricciuto Conte
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Falar para além dos muros da Igreja Luciney Martins/O SÃO PAULO
“Hoje, apesar de não termos mais uma censura oficial, ainda vivemos, em termos informativos, da mesma forma como vivíamos durante a ditadura. São praticamente as mesmas famílias que controlavam a comunicação naquela época que continuam tendo esse mesmo poder hoje. Diante disso, considero importantíssima a presença do O SÃO PAULO discutindo temas que vão além da pauta religiosa. É importante também para a Igreja, na medida em que se aproxima da vida cotidiana, fortalecer os vínculos entre essa vivência e o sagrado”. Com essas palavras, Laurindo Leal Filho, o Lalo, sociólogo e jornalista, professor da USP e apresentador do programa “VerTV”, define a importância
do jornal O SÃO PAULO chegar ao número de 3 mil edições. O professor faz ainda um resgate do papel histórico que o jornal teve nos anos da ditadura, e destaca que o jornal foi um “importante veículo na luta para o restabelecimento da democracia”. “Num país em que a maioria lê pouco jornal e se informa basicamente pela TV, O SÃO PAULO conseguia ampliar o número de pessoas com acesso a informações não contaminadas pelos golpistas e nem pelos controladores da grande mídia que faziam uma censura particular. O SÃO PAULO, tenho certeza, abriu os olhos de muita gente que não conseguia, através dos meios tradicionais, entender o que estava ocorrendo no País”, afirmou.
Para o também professor Juciano de Sousa Lacerda, doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos, docente do programa de pós-graduação em Estudos da Mídia da UFRN e coordenador do grupo de pesquisa Comunicação para a Cidadania da Intercom, o jornal afirma o seu papel ao “falar” não somente de temas ligados à vida da Igreja. “Um jornal não pode se limitar a falar para dentro dos muros da Igreja. Essa não é uma postura evangelizadora, nem tão pouco cidadã. Abordar as questões atuais, os problemas e perspectivas de São Paulo, numa cobertura ética e cidadã, é uma forma de dar testemunho do seguimento dos valores cristãos. Um jornal que se fecha ao público interno católico se exime de corresponder
ao seu papel no mundo contemporâneo.” Sobre os desafios que o semanário da Arquidiocese de São Paulo tem pela frente, professor Juciano afirmou que “há muitos temas e problemas que são enfrentados no cotidiano que não entram na agenda da mídia tradicional, pois tais conteúdos não dão lucro nem maximizam audiência. Dessa forma, a mídia católica deveria dar evidência a assuntos que são importantes para a sociedade, e não somente aos que geram audiência. Abordar temas de interesse público despertaria audiências comprometidas com outro mundo possível: que na maioria dos casos tem correspondência ao que o Cristianismo define como “Reino de Deus” já na terra: justiça, fraternidade, solidariedade e comunhão.”
CJP e jornal O SÃO PAULO: uma parceria pelos direitos humanos Durante os duros anos da ditadura militar no Brasil, o jornal O SÃO PAULO serviu de plataforma para que a Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de São Paulo fosse uma incessante voz na defesa dos direitos e da liberdade dos brasileiros. O jurista Dalmo de Abreu Dallari, que durante muitos anos presidiu a CJP-SP, falou em entrevista ao O SÃO PAULO sobre este complicado período. Para ele, “sem adotar linguagem agressiva, ele [o jornal] ia transmitindo informações sobre as restrições a direitos e também sobre arbitrariedades e violências”. Dallari destacou, ainda, que grande parte do episcopado brasileiro havia apoiado o golpe em seu início e acreditava que os relatos sobre tortura e as prisões arbitrárias eram “invenção dos comunistas”, dessa forma, O SÃO PAULO ajudou na “mudança dessa mentalidade, pois gozava de credibilidade entre os católicos e discretamente ia
Arquivo pessoal
Professor Dallari, primeiro presidente da CJP-SP
informando sobre a realidade, o que acabou influindo para a mudança de atitudes na hierarquia e entre os católicos que tinham sido iludidos quanto aos verdadeiros motivos do golpe de 1º de abril de 1964”. Para o atual presidente da CJP-SP, Antonio Funari Filho, o jornal era como “uma trincheira
Arquivo pessoal
Antônio Funari Filho, atual presidente da CJP-SP
dos que lutavam contra a ditadura e contra os males que causou à população brasileira, principalmente para os mais pobres”, e prossegue afirmando que as matérias do O SÃO PAULO eram instrumentos que “subsidiavam as discussão dos problemas brasileiros”. O fim da ditadura não repre-
senta, de modo algum, o fim da luta pela igualdade social e da defesa dos mais necessitados e marginalizados. Na visão de Dallari, “O SÃO PAULO continua defendendo o caminho democrático para a realização das reformas sociais, que são necessárias para que a sociedade seja mais justa e o povo possa viver em paz”,
como forma dessa defesa atual, Funari destaca como exemplo a cobertura no “caso Pinheirinho” e a “Campanha contra a Criminalização dos Movimentos Sociais”. “Usando linguagem serena e postura equilibrada, o jornal vai transmitindo sua mensagem em favor da criação de uma sociedade que seja, efetivamente, inspirada nos preceitos do Cristianismo e que justifique a definição do Brasil como Estado democrático de direito, conforme consta da Constituição”, destaca Dallari. Dallari apontou as falhas presentes na grande imprensa, que segundo ele dão “prioridade absoluta a objetivos empresariais, de natureza econômico-financeira, não dando espaço para a divulgação e discussão de proposições, visando à correção das injustiças sociais”. Dessa forma, O SÃO PAULO assume sua importância na divulgação dos valores cristãos, nos princípios constitucionais e da dignidade da pessoa humana.
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eles fazem acontecer
ES NAYÁ FERNAND A Nayá Fernandes enxerga coisas em detalhes. É inesquecível uma de suas reportagens recentes na missa de Quarta-feira de Cinzas na Catedral da Sé, em que desenvolveu seu texto, com profundidade teológica, a partir do gesto singelo de louvor de uma criança. Esse olhar humano que a Nayá imprime nas reportagens expressa um pouco do que ela é no dia a dia da redação: atenciosa e ágil, mas acima de tudo, alguém de pensamentos complexos expressos em simples palavras. Mineira de Unaí, é casada com Sergio Ricciuto Conte e, atualmente, estudante de filosofia e teologia na PUC-SP.
dANIEL gOMES “Sim, jornalismo é a arte de fazer milagres, às vezes...”, na atual formação da equipe de repórteres do O SÃO PAULO, ele é o mais velho, tanto de casa quanto de idade. Formado em jornalismo na Universidade Estadual Paulista, Daniel Gomes fez especialização em jornalismo esportivo na Faculdades Metropolitanas Unidas. Além de trabalhar para O SÃO PAULO, Daniel presta serviço para a Rádio Comunitária Cantareira, na Brasilândia, e para a Pastoral Carcerária Nacional. Aos 30 anos está noivo e planeja o casamento para o início de 2015, e, além da noiva, suas paixões são o rádio e o jornalismo esportivo, quando unidos, sua alegria é certa.
EDCARLOS BISPO A raiz afro e o tempero brasileiro fazem parte do dia a dia intenso deste baiano de Salvador. O mais jovem repórter do O SÃO PAULO, Edcarlos Bispo de Santana, 25, é filho de Maria José Bispo de Santana e tem três irmãs e um irmão. Formado em jornalismo pela UniSantana, cursa pós-graduação em Mídias Sociais na Universidade Anhembi Morumbi. Aliás, com opiniões bem fundamentadas, Edcarlos habita o ambiente virtual com qualidade, trazendo pontos de vista alternativos, a partir de quem acredita que jornalismo é também luta por justiça e pela valorização da dignidade humana.
LUCINEY MAR TINS Quem acompanha o perfil nas redes sociais ou convive diariamente com Luciney Martins, o nosso “Sorriso”, pode até pensar que ele é paulistano de nascimento. Mas, o pai da Beatriz Martins e do Lucas Martins nasceu em Naviraí, no Mato Grosso do Sul, e mora em Sampa há muitos anos que, aliás, conhece muito bem. Com opções políticas definidas, Luciney integra a equipe do Semanário desde 2005, e assim como dom Paulo Evaristo Arns, é “Corintiano, graças a Deus”, por isso, e não podia deixar de ser, carrega São Jorge consigo, sempre aonde vai.
Completam a equipe: Padre Michelino Roberto, padre Antônio Aparecido, Maria das Graças, Jovenal Pereira, Louise De Villio, Djene Amanda, Maria Aparecida Ferreira, Ana Lúcia Comolatti e Rafael Alberto
Você é o grande responsável por chegarmos a 3 mil edições. Juntos, daqui pra frente, possamos superar as 6 mil, 9 mil, 12 mil... Obrigado a você leitor, anunciante e companheiro do O SÃO PAULO.