O SÃO PAULO - 3039

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 60 | Edição 3039 | 19 a 24 de fevereiro de 2015

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Paróquias na campanha pela economia da água

Violência reabre debate sobre torcida única

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Igreja recorda 10 anos sem a Irmã Dorothy Stang

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Quaresma: tempo de ouvir a Palavra de Deus e viver a fraternidade “Eu vim para servir” (Mc 10,45). A imposição das cinzas, rito próprio dessa celebração, lembra aos fiéis as práticas próprias deste tempo, como a oração e o jejum. Representantes das seis regiões episcopais foram enviados com a mis-

são de serem animadores da CF 2015. Antes da missa, nas dependências da Catedral, aconteceu uma coletiva de imprensa para detalhar os objetivos da Campanha. Páginas 11 a 14

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A missa da quarta-feira, 18, às 15h na Catedral da Sé, marcou o início da Quaresma na Arquidiocese de São Paulo e da Campanha da Fraternidade (CF 2015), que tem como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema

Tempo de oração e penitência, a Quaresma tem início com a celebração em que os fiéis recebem as cinzas; no Brasil, o dia é marcado pela abertura da Campanha da Fraternidade, proposta pela CNBB

Com a palavra: Cardeal Odilo Pedro Scherer “As reformas até agora introduzidas pelo Papa Francisco apontam para a simplicidade, a sobriedade, a verdade e a caridade na vida eclesial”, afirmou Dom Odilo, em entrevista.

Papa afirma: o que diferencia um cardeal é a ‘total disponibilidade em servir aos outros’ L’Osservatore Romano

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Catequistas participam de formação As regiões Sé e Santana promoveram formações com catequistas no início das atividades pastorais de 2015; Iniciação à vida cristã e o encontro com Jesus foram os temas tratados. Páginas 20 e 21

Papa Francisco cria 20 novos cardeais de 14 países; para Pontífice, o cardinalato deve ser de total disponibilidade para servir

“A total disponibilidade em servir aos outros é o nosso sinal distintivo, é o nosso único título de honra!”, afirmou Francisco, no domingo, 15, em sua primeira missa com 19 dos 20 novos cardeais, criados no sábado, 14 (Dom José de Jésus Pimiento Rodríguez, da Colômbia, não pôde comparecer ao consistório por motivo de saúde). Para alguns observadores do Vaticano que vivem em Roma, é inovadora e corajosa a forma como Francisco passou a tratar a questão do cardinalato. Ele fortalece a ideia de que um cardeal é um servidor, que tem a missão de “integrar”, e não de “marginalizar”. Página 24


2 | Ponto de Vista |

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editorial

Mais que uma ONG piedosa Poucas vezes, a Campanha da Fraternidade teve um tema tão complexo quanto este de 2015. “Fraternidade: Igreja e sociedade” pode parecer um tema simples, significa dizer que a Igreja se orienta, em sua ação na sociedade, pelo princípio da fraternidade, do amor ao próximo. Mas, por trás dessa aparente simplicidade, escondem-se muitas questões. Como dedicar-se ao bem do outro sem cair no assistencialismo? Num Estado laico, defendido pela própria doutrina social católica, qual o papel político da Igreja? Como não se deixar levar pelo moralismo ou pela ideologização da fé? Onde está o equilíbrio entre a ação e a contemplação? Qual o justo lugar da espiritualidade na vida cristã, para que não caiamos nem no

intimismo individualista, nem no ativismo sem espiritualidade? Como integrar anúncio da fé e conscientização? São muitas questões, com uma importância prática enorme na vida de cada cristão. De certa forma, a veracidade e a fidelidade de nossa resposta a Cristo passa por este tema, pois não existe verdadeira adesão a Cristo sem uma presença pública da pessoa mudada pelo encontro com Ele. Vale a pena, para a nossa reflexão, ler três passagens em que o Papa Francisco fala sobre este tema: “Podemos caminhar no que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sociocaritativa, mas não a Igreja, Esposa

do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? [...] Tudo se desmorona, não tem consistência. [...] Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo” (Santa Missa com os Cardeais, 14/03/2013). “A Igreja é sal da terra, é luz do mundo; é chamada a tornar presente na sociedade o fermento do Reino de Deus; e fá-lo, antes de mais nada, por meio do seu testemunho: o testemunho do amor fraterno, da solidariedade, da partilha [...] A Igreja deve sair de si mesma. Para onde? Para as periferias existenciais, sejam elas quais forem [...] Outro ponto importante são os pobres. Se sairmos de nós mesmos, encontramos a pobreza [...] Devemos tor-

nar-nos cristãos corajosos e ir à procura daqueles que são precisamente a carne de Cristo, aqueles que são a carne de Cristo!” (Vigília de Pentecostes com os Movimentos Eclesiais, 18/05/2013). “A Igreja não é uma loja, nem uma agência humanitária; a Igreja não é uma ONG, mas é enviada a levar a todos Cristo e o seu Evangelho; ela não leva a si mesma — seja ela pequena, grande, forte ou frágil. A Igreja leva Jesus [...] Se, por hipótese, uma vez acontecesse que a Igreja não levasse Jesus, ela seria uma Igreja morta! A Igreja deve levar a caridade de Jesus, o amor de Jesus” (Audiência Geral, 23/10/2013). As respostas a nossas perguntas nascem dessa adesão a Cristo, que o Papa tão bem demonstra.

opinião

A educação escolar e a necessária contribuição da Igreja Católica Sergio Ricciuto Conte

Jair Militão da Silva O Papa Bento XVI, por ocasião de um pronunciamento sobre a situação das crianças e dos jovens da Itália, falou da existência de uma “emergência educativa”. Penso que esse conceito pode prestar-se para um efetivo exame das políticas públicas de educação em nosso país e em muitos outros. Essa situação é real ou exagerada pelas lentes da mídia? Infelizmente, uma consulta aos professores de ensino básico no Estado de São Paulo, feita pela APEOESP e pelo Instituto Data Popular, confirma a existência da violência dos jovens, do egoísmo das crianças e da omissão do adulto. O aprendizado de como viver a própria humanidade pelo educando necessita do encontro com outro ser humano, autenticamente humano, diante do qual possa espelhar-se e constituir sua identidade. Estamos diante de uma emergência educativa que, para ser bem equacionada, necessita dramaticamente da humanização dos educadores e dos processos educativos. Educar é propor um horizonte para a vida toda do educando e sempre é uma aposta antropológica, ou seja, repousa em uma visão de homem, cujo núcleo básico é a crença de que cada ser humano possa aperfeiçoar-se. Em uma perspectiva humanista integral, tal como a História mostra, o homem tem como pontos constituintes a razão e a capacidade de amar. Pela razão, o homem é capaz de compreender as situações em que se encon-

tra e “ler” os acontecimentos à luz de princípios e valores. A razoabilidade das leituras do mundo pode ser aferida pelo diálogo que surge quando a razão é aplicada como forma de viver e partilhar os diversos problemas que a vida apresenta, superando a violência “sem razão”. A formação da identidade acontece ao longo da vida de cada homem e tem como condicionantes o tempo, o espaço, as relações interpessoais e as heranças biológicas. Em nossa cultura atual, com for-

mas de atender aos desejos de modo quase imediato, tendo em vista a presença dos produtos prontos, das comunicações instantâneas, ocorre a sensação de que o condicionante temporal foi superado. Não dependeríamos mais do tempo para realizar nossos desejos e a “instantaneidade” nos leva a esquecer que a formação da identidade humana acontece com uma duração temporal necessária. Igualmente, são necessárias práticas que se consolidem para formar uma identidade, que se institucionalizem,

ou seja, que se tornem hábitos em cada pessoa e em cada grupo e, para isso, os rituais são fundamentais. Grandes educadores criaram processos educativos que levaram em conta estas dimensões de tempo, espaço, ritmo humano, limites e possibilidades das pessoas. Como exemplo disso, pode ser citado São Bento, cuja Regra de Vida vem orientando a formação de identidades por mais de 15 séculos. Essa Regra funda-se, entre outras coisas, na organização do tempo, do espaço e das relações interpessoais. A experiência da Igreja Católica é rica de conhecimento das práticas formativas que são efetivamente adequadas aos seres humanos. A humanização acontecida nas comunidades cristãs, nos diversos movimentos e novas comunidades, pode contribuir para a construção da escola humanizada. O risco é a criação de um hiato entre “vida de fé” e “vida social”, ou seja, vivese fraternalmente no seio da Igreja e não saímos para o “mundo”, seja para as “periferias existenciais” ou mesmo para a escola de nossos filhos, sobrinhos, netos ou paroquianos. Estamos diante de uma emergência educativa que, para ser bem equacionada, necessita dramaticamente da humanização dos educadores e dos processos educativos. Jair Militão da Silva é pedagogo; Mestre em Filosofia da Educação pela PUC-SP; Doutor e Livre Docente em Educação pela USP; Membro da Academia Paulista de Educação e Conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

Com o início da Quaresma, também começamos a preparar a Páscoa de 2015: é a celebração central e mais importante de nossa fé cristã e de todo o ano litúrgico. Durante 40 dias, a MãeIgreja nos chama a fazer um intenso caminho de conversão a Deus, ouvindo atentamente a sua Palavra, fazendo penitência e dedicando-nos mais intensamente à oração e à pratica da caridade. Na Quaresma, de fato, confrontamo-nos com o significado do nosso Batismo e com nossa condição de cristãos e filhos de Deus, recebida no Batismo. Vivemos bem a inestimável graça de sermos filhos e filhas de Deus? Crescemos na fé, recebida no Batismo, e fazemos frutificar esse dom, mediante as obras da fé? A fé frutifica no “temor de Deus”, ou seja, no profundo respeito, adoração e obediência a Deus. A fé adulta e amadurecida se

Hoje, não fecheis o vosso coração! traduz na prática da religião, da vida moral coerente com o Evangelho de Cristo e das virtudes cristãs, sobretudo da caridade, esperança, justiça, honestidade e bondade. Em vários momentos da Quaresma, a liturgia nos chama a “ouvir Deus”. Essa atitude fundamental é recordada com frequência pelos profetas: “hoje, não fecheis os vossos corações, mas ouvi a voz do Senhor” (cf Hb 3,7). Os profetas, e Jesus também, denunciaram com veemência o “coração de pedra”, a “cabeça dura”, o pescoço (cerviz) altivo (cf Êx 33,3; At 7,51), que não se dobra diante de Deus, mas se inclina aos ídolos, o fechamento e a rebeldia em relação a Deus... Também nós podemos ser tentados de autossuficiência e de soberba; de nos fazer de surdos à voz de Deus e de desprezar os caminhos que ele nos mostra, para o nosso bem. É esta a tentação mais forte de homem, presente já no paraíso terrestre: “sereis

como deuses” (cf Gn 3,5). E o tentador continua a convencer, como fez com Adão e Eva, que isso é possível... Preferimos, nós mesmos, dar direção à nossa existência e ao convívio com os outros, sem levar Deus em consideração, nem seus mandamentos. A mesma atitude pode também levar a excluir Deus da nossa vida, ou a não nos importarmos com sua oferta de salvação e vida plena. Agora, a Igreja nos recorda: “Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz: não endureçais os vossos corações” (cf Sl 95,8). Com Jesus, Salvador, a misericórdia e o perdão de Deus tornam-se um perene “hoje” para quem o aceita: “procurai o Senhor, enquanto ele está perto...enquanto ele se deixa encontrar” (cf Is 55,6). “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação”, anunciava o profeta (Cf. 2 Cor 6,2). A Quaresma deste ano pode ser este “tempo favorável” para cada um de nós. Não endureçamos o nosso coração...

| Encontro com o Pastor | 3

Projeto de audiências de custódia no Estado de São Paulo

Assessoria de Imprensa do TJ-SP

No dia 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, participou da solenidade de Abertura do Ano do Judiciário, na sede do Tribunal de Justiça de São Paulo, no centro da capital. Na oportunidade, houve o lançamento do projeto Audiência de Custódia, que garantirá que uma pessoa presa em flagrante seja apresentada ao juiz em até 24 horas, para que este decida se deverá permanecer presa durante a apuração do caso ou se terá outros tipos de restrição de liberdade, como a prisão domiciliar ou o controle por tornozeleira elétrica. Também participaram da solenidade, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o prefeito da capital, Fernando Haddad; o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski; e o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador José Renato Nalini.

Missas ao vivo no Canal 33 A partir de 1º de março, as missas dominicais das 11h na Catedral da Sé passarão a ser transmitidas ao vivo pelo Canal 33, em São Paulo, e o mesmo será feito durante a semana para as missas das 12h. “Seja você também um acompanhante dessa missa onde você estiver, reze conosco”, convidou o Cardeal Scherer, em mensagem de vídeo. (por Daniel Gomes)

TWEETS DO CARDEAL @DomOdiloScherer 18 – Hoje, Quarta-feira de cinzas, os cristãos católicos iniciam a Quaresma com um dia de penitência: de jejum e abstinência de carnes. 18 – Bom dia, povo de Deus. Hoje, Quarta-

feira de cinzas, os cristãos iniciam a Quaresma, em preparação à Páscoa. Bom início da Quaresma!

16 – Pr 3 11.12: “Não rejeites as lições do Senhor Deus, nem desanimes se te corrige. O Senhor corrige quem Ele ama, como o pai corrige o filho preferido. 15 – Pr 3, 13-15 “Feliz o homem que encontrou a sabedoria, que alcançou a prudência! Ganhá-la vale mais que a prata e seu lucro mais que o ouro”.

12 – Sl 34,14 “Afasta-te do mal e faze o bem,

procura a paz e vai com ela em seu caminho”.


4 | Papa Francisco |

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Missa pelos cristãos mortos na Líbia

Deixemo-nos contagiar pelo bem! O Papa Francisco refletiu com os peregrinos reunidos na praça de São Pedro, no domingo, 15, às 12h, sobre o Evangelho do dia, antes da oração mariana do Ângelus. Ele começou sua reflexão acentuando que São Marcos “nos fala da ação de Jesus contra toda espécie de mal, para o benefício daqueles que sofrem no corpo e no espírito: possuídos, doentes, pecadores...”. A cura do leproso, contada por Marcos, é emblemática. Doença “contagiosa e impiedosa”, a lepra era símbolo de impureza que desfigura a pessoa, obrigando-a a viver fora das cidades e anunciar sua presença. A comunidade civil e religiosa marginalizava o leproso, fazendo dele um “morto-vivo”. Francisco vê três passos na cura do leproso: o pedido do próprio doente, a cura de Je-

sus e a consequência daquela cura. A oração do leproso é humilde e confiante. A resposta de Jesus reflete a sua alma: a compaixão. Jesus toca nele, a lepra desaparece e o homem fica purificado. “Ele, Jesus, pega a nossa humanidade enferma e nós pegamos dele a sua humanidade saudável e que cura. Isso acontece cada vez que recebemos com fé um sacramento: o Senhor Jesus nos ‘toca’ e nos presenteia com sua graça. E isto vale principalmente para o sacramento da Penitência, que nos cura da lepra do pecado”. Assim, “o Evangelho nos mostra o que Deus faz com o nosso mal. Em vez de nos dar uma lição, de eliminar o sofrimento e a morte, ele “vem, antes, tomar sobre si o peso da nossa condição humana, levá-la até as últimas consequências, para livrarnos de forma radical e defi-

L’Osservatore Romano

nitiva. Assim, Cristo combate o mal e os sofrimentos do mundo: tomando sobre si e vencendo-os com a força da misericórdia de Deus”. E o Papa conclui dizendo que o “Evangelho da cura do leproso nos diz hoje que se quisermos ser verdadeiros discípulos de Jesus, somos chamados a nos tornar, unidos a ele, instrumentos do seu amor misericordioso, superando todo tipo de marginalização”. E para ser “imitadores de Cristo”, nos exorta Paulo (em 1 Cor 11,1), diante de um pobre ou de um enfermo, não devemos ter medo de olhá-lo nos olhos e de aproximar-nos com ternura e compaixão”. O mal e o bem são contagiosos. Por isso, conclui o Papa, “é preciso que abunde em nós, sempre mais, o bem. Deixemo-nos contagiar pelo bem e contagiemos o bem!” (Por Padre Cido Pereira)

“Ofereçamos esta missa pelos nossos 21 irmãos coptas, decapitados pelo único motivo de serem cristãos”. Assim o Papa Francisco iniciou a missa, celebrada na terça-feira, 17, na capela da Casa Santa Marta. Na segunda-feira, 16, Francisco telefonou para o patriarca da Igreja Copta Ortodoxa, Tawadros II, a fim de manifestar a sua profunda participação na dor da Igreja Copta pelo bárbaro assassinato de cristãos coptas, cometido por fundamentalistas islâmicos na Líbia na última semana. “Rezemos por eles, para que o Senhor os acolha como mártires, por suas famílias, pelo meu irmão Tawadros, que tanto sofre”, disse o Pontífice na missa.

Mensagem do Dia Mundial da Juventude “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. Este trecho extraído do Evangelho de São Mateus é o tema da 30º Dia Mundial da Juventude, celebrado em todas as dioceses no Domingo de Ramos, em 29 de março. A mensagem do Papa foi divulgada na terça-feira 17. Em Cristo, ressalta o Pontífice, encontra-se a plena realização dos vossos sonhos de bondade e felicidade. Só Ele pode satisfazer as vossas expectativas tantas vezes desiludidas por falsas promessas mundanas. “Os nossos corações podem apegar-se a tesouros verdadeiros ou falsos, podem encontrar um repouso autêntico ou então atormentar-se, tornando-se preguiçosos e entorpecidos. O bem mais precioso que podemos ter na vida é a nossa relação com Deus”, explica o Papa.

Relatos de resgates no Mediterrâneo Na noite da terça-feira, 17, o Papa Francisco recebeu na Casa Santa Marta uma delegação da Guarda Costeira italiana, que relatou ao Santo Padre o serviço desempenhado no mar nas operações de resgate de refugiados e migrantes. Segundo o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, foram relatos “tocantes e impressionantes” após operações via aérea, marítima e de assistência depois do desembarque. A última dessas operações foi realizada na semana passada. O barco da Guarda Costeira conseguiu resgatar 29 corpos (mortos de frio) e cerca de 90 sobreviventes. Mais de 330 migrantes morreram na travessia. (Por Fernando Geronazzo)


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| Fé e Vida | 5

Espiritualidade

fé e cidadania

‘Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos’

Terrorismo internacional e violência urbana

Dom Sergio de Deus Borges Bispo auxiliar da arquidiocese na Região Santana

Estamos dialogando nas paróquias e comunidades sobre a necessidade de renovar a paróquia para torná-la efetivamente missionária. Nesse processo, surgem muitas ideias, propostas e projetos. Todos são importantes, mas no processo de renovação paroquial, precisamos pensar menos em estruturas e mais nas relações, nas pessoas. Os bispos do Brasil, na última assembleia geral, afirmaram que “quando se propõe renovar a paróquia em comunidade de comunidades, mais do que imaginar ou criar novas estruturas, trata-se de recupe-

rar as relações interpessoais e de comunhão” (CNBB. Doc. 100, n° 260). Há muitas pastorais e movimentos que não dialogam; gastam energias vitais disputando quem tem mais força na paróquia, quem é mais importante e esquecem que a vida de comunidade não se faz brigando por cargos, mas se constrói no esforço comum em ser discípulo missionário de Jesus Cristo. “Algumas comunidades não conseguem ser missionárias justamente porque vivem de forma tão apática ou conflituosa em suas relações que mais afastam do que atraem novos membros” (CNBB. Doc. 100. nº 259). Essas palavras de nossos bispos encontram seu fundamento no Evangelho de São João, quando Nosso Senhor, na última ceia, colocou como distintivo da comunidade dos discípulos o relacionamento fraterno: “Como eu vos amei,

amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34-35). No processo de formação de uma comunidade missionária, precisamos levar muito a sério o relacionamento fraterno. É necessário superar a inveja, a fofoca e os interesses pessoais para nos tornarmos verdadeiros discípulos missionários. A vivência do amor fraterno, a amizade cultivada entre os membros de uma comunidade e a caridade com todos os que dela se aproximam, estão no fundamento, na base, de uma comunidade missionária. Caso queiramos construir de verdade uma comunidade missionária, precisamos rever o relacionamento humano e construir uma comunidade acolhedora. É certo e seguro que testemunhando o amor fraterno, a paróquia será missionária.

eSPAÇO ABERTO

Virtudes humanas e educação no mundo de hoje Carlos Rolim Affonso Embora com um atraso de quatro anos, o governo brasileiro aprovou, em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNB), fixando 20 metas para serem cumpridas até o ano de 2021, para o qual definiu o quando começar e o quando concluir cada meta. Trata-se de um plano ambicioso, dado a defasagem em que nos encontramos, em comparação com muitos outros países, cujo desempenho escolar é bastante superior ao nosso, como são os casos da Finlândia, da Coreia do Sul, China, Japão, Polônia, Chile e mais 50 países que, segundo avaliações de instituições internacionais, colocam o Brasil na 57ª posição, num ranking de cem nações e muitas delas com um PIB inferior ao nosso. É sabido que a tarefa é árdua e os desafios enormes, pois não faltam obstáculos, quer por inoperância dos responsáveis pela atual situação do sistema educacional brasi-

leiro, quer pela desatualização da grade curricular de nossas escolas, quer, ainda, pelo descaso na formação dos professores nos diferentes níveis de ensino, incluindo o problema de sua remuneração, hoje totalmente defasada. Esse cenário negativo, mais percebido nas escolas públicas, acaba contaminando boa parte da qualidade do processo educacional como um todo, restando a poucas instituições de ensino a enorme responsabilidade de dar uma formação adequada aos nossos alunos, capacitando-os para um mercado de trabalho, que o atual mundo digital requer e exige. Antenados a esse quadro, algumas escolas particulares vêm incluindo em sua grade curricular o reforço de certas virtudes humanas, também chamadas de “competências socioemocionais” e que têm proporcionado um melhor desempenho das crianças e jovens, tanto na escola como no lar e, mais tarde, no trabalho e na vida.

Assim, virtudes como “responsabilidade”, “respeito”, “caráter”, “sinceridade”, “bondade” “resiliência”, “ética”, “obediência” e outras, quando também trabalhadas em sala de aula, acabam por dar aos alunos uma formação mais integral e personalizada, que os habilita, não só a uma melhor performance escolar, mas, principalmente, a exercerem um papel de destaque na vida familiar como também na social e profissional. O processo educativo não deve estar centrado apenas no cognitivo, deixando somente para os pais a dura tarefa de fazer deles pessoas de critério e de bom caráter, pois compete aos professores, com sua formação humanista, desenvolver em seus alunos essas competências, levando-os a “pensar bem”, “fazer o que devem, com liberdade”, “tomar decisões”, “aprender a ser feliz” e outras habilidades virtuosas. Carlos Rolim Affonso é membro das academias Paulista de Educação Cristã de Letras e Paulista de Psicologia.

*As opiniões expressas na seção “Espaço Aberto” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO

Padre Sancley Lopes Gondim direito internacional humanitário, os seus conflitos: “Em muitos caAssistimos, estarrecidos, a tan- sos, o uso dos métodos do terroristos atos de violência perpetrados mo tem-se como novo sistema de pelo “Isis”, ou o autodenominado guerra”. Não se devem descurar as “Estado Islâmico”, que em verdade causas que podem motivar tal inanão constitui um “Estado” nem se ceitável forma de reivindicação. A pode considerá-lo autenticamen- luta contra o terrorismo pressupõe te islâmico, pois se trata de uma o dever moral de contribuir para organização criminosa, com base criar as condições a fim de que esse numa vertente heterodoxa e dis- não nasça ou se desenvolva” (513). torcida que, como toda forma “heComo recorda o Papa Franrética”, enfatiza apenas um aspecto cisco, vivemos uma “mudança de da totalidade, degenerando-se em época” e não apenas um tempo mera ideologia parcializante. de mudanças! Trata-se de uma O “Compêndio da Doutrina transição de valores consistentes Social da Igreja” - disponível no a valores em construção. Por isso, site da Santa Sé (www.vatican.va) - tem-se a sensação de anomia (auno item dos Textos Fundamentais, sência de normas) e de anarquia assim se exprime: “O terrorismo (desgoverno). A violência urbana, é uma das formas mais brutais de por exemplo, tem, por vezes, ares violência que atualmente atribula de terrorismo. Quantas são vítia Comunidade Internacional: se- mas inocentes de balas perdidas e meia ódio, morte, desejo de vin- a organização de grupos especialigança e de represália. De estraté- zados nas mais diversas e sofisticagia subversiva típica somente de das formas de crime, que contam algumas organizações extremistas, com a ausência do Estado ou com ordenada à destruição das coisas e a incapacidade de suas instituições. à morte de pessoas, o terrorismo se Urge estruturar novas formas de transformou em uma rede obscu- comportamento que contemplem ra de cumplicidades políticas, que o respeito, a solidariedade e o cuiutiliza também meios técnicos so- dado pela vida em todas as suas fisticados, vale-se frequentemente formas, sobretudo pelos nossos sede enormes recursos financeiros e melhantes. Somos corresponsáveis elabora estratégias de vasta escala, pelo bem uns dos outros e pela paz. atingindo pessoas totalmente ino- Aqui vale a máxima do Evangelho, centes, vítimas casuais das ações sua “regra de ouro”: “fazer ao outro terroristas. Alvos dos ataques ter- o que gostaríamos que nos fosse roristas são, em geral, os lugares da feito” (Mt 6,17). vida cotidiana e não objetivos miPadre Sancley Lopes Gondim litares no contexto de uma guerra é presbítero da Arquidiocese de São declarada. O terrorismo atua e ataPaulo, bacharel em História, Mestre em ca no escuro, fora das regras com Direito Canônico, e defensor do Vínculo que os homens procuraram discido Tribunal Eclesiástico de São Paulo. plinar, por exemplo, mediante o E-mail: sancleygondim@uol.com.br

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6 | Fé e Vida |

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LITURGIA E VIDA 1º Domingo da Quaresma 22 de fevereiro de 2015

O Reino está aí! ANA FLORA ANDERSON

Todos os anos, no tempo da Quaresma, a Igreja nos convida à conversão. Hoje a antífona promete que, em toda tribulação, Deus ouvirá o nosso clamor e nos libertará. A oração ensina que, ao corresponder ao amor de Cristo, teremos uma vida santa. A primeira leitura (Gênesis 9, 8-15) nos oferece como exemplo a promessa que Deus fez a Noé e à sua descendência. O arco-íris permanecerá como o símbolo da aliança entre Deus e o seu povo fiel. A segunda leitura (1 Pedro 3, 18-22) apresenta uma relação entre a arca de Noé e a morte de Jesus na cruz. Noé salvou poucas pessoas, mas a morte e a ressurreição de Cristo oferecem a salvação para todos. O Evangelho de São Marcos (1, 12-15) narra a provação de Jesus no deserto e a sua ida à Galileia para pregar o Evangelho. Marcos revela que as primeiras palavras de Jesus anunciam a vinda do Reino de Deus. Aí está o cerne da pregação de Jesus. O Reino de Deus é um dom gratuito, uma novidade feliz para os infelizes e para os pecadores. Deus os ama e deles se aproxima para salvá-los. Esse anúncio é um apelo que interpreta, transforma e faz tomar uma decisão radical: nosso encontro com Deus depende de uma conversão para o amor.

você pergunta

‘Não vivi a última Quaresma. Não pude. Estou em pecado?’ padre Cido Pereira

Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação

A Maria de Lourdes, de Guaianases, na cidade de São Paulo, é católica praticante. No último ano, porém, não pôde participar de nenhum momento da Quaresma. “Estou em pecado por isso?”, pergunta ela. Nossa, Maria de Lourdes, que pena que você não pôde participar de nada na Quaresma do ano passado. E os motivos? - você não deu - Não lhe foi possível? O que você quer dizer com esse “não pude?” Estava doente? Trabalho inadiável? Ou foi preguiça, má vontade, falta de fé, desânimo...? Eu entendo, minha irmã, que tempo é questão de preferência e é uma questão de fé também. Se o viver a nossa fé não está entre as prioridades da nossa vida, é preciso que nos convertamos seriamente. Quando Deus pede no primeiro mandamento que o amemos sobre todas as coisas, isto significa que nosso relacionamento com Ele deve figurar em primeiro lugar em nossa vida. Doença, trabalho, viagem inesperada, um acontecimento que nos ocupa o tempo todo, podem nos impedir de ir naquele momento exato celebrar a nossa fé, mas eles não nos ocupam o tempo todo e podemos compensar com outros momentos fortes de oração. Porém, má vontade, preguiça, falta de fé, exigem mesmo uma sincera conversão. Nossa vida espiritual quando não é alimentada nos torna anêmicos na fé, fracos... Quando não destroem de vez o nosso relacionamento com o Sagrado, com Deus. Então, Maria de Lourdes, como só você sabe as razões de sua não participação num tempo tão cheio de espiritualidade como é a Quaresma, deixo a você mesma a busca de uma resposta. Se a motivação não foi séria, é hora de conversão, de mudança de vida, de dar um sim mais alegre e disponível a Deus.

novos santos e beatos

Beata Gertrude Comensoli 18 de Fevereiro

No dia 18 de janeiro de 1847, na cidade de Bienno, ao norte da Itália, nasceu Gertrude Caterina Comensoli, que sempre foi chamada de Gertrude. Aos 20 anos de idade, teve que se mudar para outra cidade com a família, que se encontrava em dificuldades financeiras. Nessa época, já era uma jovem dotada de talentos naturais que se preocupava, de modo particular, com as necessidades educativas do mundo feminino. Não se sabe quando esta sua preocupação se concretizou. Na cidade de São Gervázio, ela conversava muito sobre o assunto com o sacerdote da paróquia, Padre Spinelli, da Diocese de Bergamo. No ano de 1879, Gertrude tem sua ideia traçada: criar uma família religiosa de irmãs voltadas para a instrução de meninas, com forte inspiração eucarística. Mas, os problemas começaram com a situação econômica da diocese do Padre Spinelli, que não deu o resultado financeiro esperado e que, uma parte, era transferida para as casas de Irmã Gertrude. Assim, as irmãs ficaram na mais completa ruína. Fecharam as Casas das Sacramentinas de Bergamo e quase como exiladas, encontraram refúgio na Diocese de Lodi, numa região italiana mais distante. Tudo parecia acabado, quan-

Reprodução

do chegou a notícia do reconhecimento diocesano para a Congregação das Sacramentinas de Bergamo. Irmã Gertrude e todas as religiosas Sacramentinas retornam para a primeira Casa da Congregação em Bergamo, onde foram festejadas e bem acolhidas. No dia 18 de fevereiro de 1903, Irmã Gertrude morreu e foi sepultada na capela da Casa Mãe da Congre-

gação em Bergamo, tendo deixado totalmente concluído o regulamento da Congregação das Irmãs Sacramentinas. O reconhecimento oficial do Vaticano chegou em 1906. O Papa João Paulo II beatificou Irmã Gertrude Comensoli no ano de 1989 e escolheu o dia 18 de fevereiro para sua festa. Fonte: www.paulinas.org.br

50

anos

Igreja do Brasil envia padres missionários a Moçambique

Capa da edição de 14 de fevereiro de 1965

A edição do O SÃO PAULO de 14 de fevereiro de 1965 noticiou o envio dos primeiros padres brasileiros do Instituto Missões Consolata (IMC) a Moçambique. “Este 1965, porém, marca para o IMC do Brasil o começo de uma nova epopeia: o envio dos primeiros padres brasileiros para as missões: Benedito Ronchi, Gelindo Scottini e Vidal Moratelli”. Os primeiros a ir foram os padres Gelindo e Vidal, que foram saudados em mensagem pelo Cardeal Agnelo Rossi, então arcebispo de São Paulo. “Esta vocação missionária, porém, e espírito deixar até a própria pátria para ir a outras nações, a outros povos levar a mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, há de atrair as bênçãos de Deus Nosso Senhor

e tenho certeza que sua benevolência e munificência, nos dará os padres de que nós necessitamos para evangelizar esta grande Arquidiocese de São Paulo”, afirmou. Complementar à reportagem, foi apresentada uma avaliação do Padre João Tolosano, que foi em missão para Moçambique em 1936. “Africanos foram trazidos aqui para, como escravos darem o próprio sangue para o engrandecimento do Brasil. Ora, é justo que brasileiros partam para a África e em nosso caso para o Moçambique, como missionários e deem alguns anos de trabalho para o melhoramento civil e religioso do imenso continente que se encaminha velozmente para a grande civilização do século XX”.


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PASTORAL DO MENOR

Repúdio a assassinato de conselheiros tutelares A Pastoral do Menor atuante nas arquidioceses de São Paulo e da Paraíba divulgou nota pública na última semana repudiando o assassinato de três conselheiros tutelares na cidade de Poção (PE), em 6 de fevereiro. “O assassinato de conselheiros (as) tutelares, pessoas que têm como missão o cuidado com a vida de crianças e adolescentes, é um sintoma gravíssimo do nível de barbárie em que a humanidade está afundando. Isso nos apavora, à primeira vista, mas, ao mesmo tempo, nos dá a oportunidade de demonstrar quão profunda é nossa dedicação, quão generoso é nosso amor pela causa, quão corajosa é nossa atuação e quão ilimitada é nossa ousadia. Desistência é palavra que não faz parte do dicionário de nossas vidas consagradas, custe o que custar, para proteger e promover os direitos humanos”, aponta o trecho inicial da nota.

A Pastoral manifestou, ainda, se solidarizar com os familiares de Carmen Lúcia Silva, Daniel Farias e Lindenberg Vasconcelos, conselheiros assassinados, e também com os de Ana Rita Venâncio, avó materna de uma criança atendida pelo Conselho Tutelar, senhora que também foi morta a tiros na ocasião. “A Pastoral do Menor solidariza-se, também, com os familiares e pede a Deus para que lhes conceda a força suficiente para superar essa prova. Cobra das autoridades competentes a apuração dos fatos e a responsabilização dos autores de tamanha barbárie. Encoraja os (as) conselheiros (as) tutelares a continuarem seu trabalho com afinco. E exige dos governos medidas imediatas e eficazes para que os (as) conselheiros (as) tutelares possam contar com a estrutura e a segurança necessárias para cumprir a missão que lhes foi confiada pela sociedade. Não

MOVIMENTO EUCARÍSTICO JOVEM Encontro para a formação de novos núcleos na Arquidiocese Em 31 de Janeiro, ocorreu o primeiro encontro de formação de 2015 do Movimento Eucarístico Jovem (MEJ) da Arquidiocese de São Paulo. Nesse encontro, como exposição, foram passadas informações sobre a história do MEJ no mundo e no Brasil, e abriu-se o espaço para a formação de novos núcleos em toda a Arquidiocese. Participaram desse momento membros do Apostolado da Oração das regiões Belém, Brasilândia e Sé, que desejam criar um núcleo em suas paróquias. A equipe arquidiocesana e a coordenação nacional do MEJ tomaram conhecimento das iniciativas e orientaram a formação de novos grupos. Além das informações passadas, foi possível esclarecer dúvidas sobre a criação de novos núcleos, para a vivência do Sagrado Coração de Jesus entre jovens e crianças. (Colaborou Lilian Oliveira)

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Pastoral do Menor apoia atos de protestos de conselheiros tutelares em São Paulo, no dia 12

pouparemos esforços para garantir às crianças e aos adolescentes brasileiros (as), em regime de prioridade absoluta, o que lhes pertence de direito”, aponta o trecho conclusivo da nota. Na quinta-feira, 12, os conselheiros

PASTORAL DA SAÚDE

Curso capacitará agentes para atuação em hospitais e casas Entre os meses de março e novembro, a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo promoverá cursos de capacitação de padres, leigos, religiosos e religiosas que desejam engajar-se na Pastoral, com o objetivo de visitar doentes nos hospitais e domicílios. Os interessados em realizar os cursos deverão levar aos locais das formações uma carta de apresentação dos respectivos párocos ou superiores das congregações religiosas. Será cobrada uma taxa de R$ 30 mensais para a compra de materiais (livros), participação no Congresso de Pastoral da Saúde e pequena ajuda aos professores.

Os cursos acontecerão nos seguintes locais e horários:

Região Santana – Paróquia Sant´Ana (rua Voluntários da Pátria,

2.060, às sextas-feiras, das 14h às 16h); Região Ipiranga – Centro Universitário São Camilo (avenida Nazaré, 1.501, aos sábados, das 9h30 às 11h). Região Brasilândia – Paróquia Santos Apóstolos (avenida Itaberaba, 3.907, às sextas-feiras, das 14h às 16 h); Regiões Sé e Belém – Paróquia São Francisco das Chagas (largo São Francisco, centro, aos sábados das 9h às 11h); Região Lapa – Paróquia Nossa Senhora da Lapa (rua Nossa Senhora da Lapa, às terças-feiras, das 14h às 16h). Paróquia Nossa Senhora do Rosário – Centro Universitário São Camilo (rua Raul Pompeia, 144, na Vila Pompeia, aos sábados, das 8h30 às 11h). (colaborou Padre João Inácio Mildner)

tutelares realizaram paralisação nacional em repúdio pela falta de segurança para que atuem. Na capital paulista, os atos (foto) tiveram o apoio da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo. (Colaborou Sueli Camargo)

CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL Celebração dos Mártires da Caminhada O grupo Justiça, Paz e Integridade da Criação (JUPIC), da Conferência dos (as) Religiosos (as) do Brasil, em São Paulo (CRB/SP) convida para a participação na Celebração dos Mártires da Caminhada, que em 2015 lembrará os dez anos de martírio da Irmã Dorothy Stang (12/02/2005 – em Anapu, no Estado do Pará). “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (últimas palavras da Irmã Dorothy).

Data: 28 de fevereiro, 14h No Arsenal da Esperança (rua Dr. Almeida Lima, 900, Mooca – próximo da Estação Bresser-Mooca do metrô). Como gesto concreto, pede-se que cada participante traga algum alimento não-perecível para compartilhar com o projeto dos irmãos atendidos pelo Arsenal da Esperança.

ATOS DA CÚRIA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO Em 6 de fevereiro, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia Santo Agostinho, da Região Episcopal Sé, o Revmo. Pe. Mário Sérgio Rocha, OSA, pelo período de 6 (seis) anos. Em 6 de fevereiro, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia Santa Rita de Cássia, da Região Episcopal Sé, o Revmo. Pe. Pelayo Moreno Palacios, OSA, pelo período de 6 (seis) anos.

PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO Em 2 de fevereiro, foram prorrogadas a nomeação e a provisão de Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, da Região Episcopal Santana, do Revmo. Pe. Miguel Angel Zarate Macias , OSJ, pelo período de 3 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL Em 2 de fevereiro de 2015, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia Santa Rita de Cássia, da Região Episcopal Santana, o Revmo. Pe. Frei Caio Márcio Moraes, OSA.

Em 6 de fevereiro de 2015, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia São José, da Região Episcopal Ipiranga, o Revmo. Pe. Benedito Donizetti Vieira, NDS, pelo período de 2 (dois) anos. Em 6 de fevereiro de 2015, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Região Episcopal Sé, o Revmo. Pe. Dionísio de Foltran Zamuner, CSsR. Em 6 de fevereiro de 2015, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, da Região Episcopal Sé, o Revmo. Pe. Roque Vicente Beraldi, CMF.

NOMEAÇÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL Em 10 de fevereiro de 2015, foi nomeado Administrador Paroquial da Paróquia Santa Maria Goretti, da Região Episcopal Lapa, o Revmo. Pe. Geraldo Raimundo Pereira, por um período de 3 (três) anos, retroativo a 25 de outubro de 2014. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE DIÁCONO PERMANENTE COMO COOPERADOR Em 10 de fevereiro de 2015, o Diácono Permanente José Donizeti Leonel foi nomeado como cooperador “ad nutum episcopi”, da Paróquia

São José, da Região Episcopal Lapa, em ato retroativo a 14 de dezembro de 2014. OUTRAS NOMEAÇÕES Em 2 de fevereiro de 2015, foi nomeado Coordenador Regional da Pastoral da Juventude da Região Episcopal Santana, o Revmo. Pe. Roberto Fernando Lacerda, por um período de 2 (dois) anos. Em 2 de fevereiro de 2015, foi nomeado Vice-coordenador Regional da Pastoral da Juventude da Região Episcopal Santana, o Revmo. Pe. Silvano Alves dos Santos, MSJ, por um período de 2 (dois) anos.


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Destaques das Agências Nacionais

Henrique Sebastião

Especial para O SÃO PAULO

II Congresso Nacional de Ajuda à Mulher debaterá defesa da vida Com o tema “Defendendo a Vida”, o Centro de Ajuda à Mulher (CAM) promoverá, de 27 a 29 de março, o seu II Congresso Nacional, em Florianópolis (SC). O encontro contará com a presença do fundador do centro, Dr. Jorge Serrano, e da diretora do CAM para a América Latina, a senhora Maria Delgado. Mem-

bros do Centro de Ajuda à Mulher no Brasil irão partilhar experiências sobre os trabalhos desenvolvidos no País. A proposta do Congresso é também apresentar a missão do CAM às dioceses que ainda não conhecem o trabalho. O projeto busca identificar e auxiliar gestantes com inten-

ção de abortar. Por meio de agentes, orienta as mulheres sobre os riscos dos procedimentos clandestinos para o aborto; oferece orientação pessoal, familiar e espiritual à gestante que deseja manter a gravidez. São acompanhamentos individuais, com auxílio nas despesas, testes de gravidez, ultrassom, enxoval etc. Em

alguns casos, após o nascimento do bebê, realizam, ainda, o encaminhamento às casas de acolhimento ou à adoção, além de acompanhamento médico e psicológico. – Em 2014, foram salvas mais de 1.300 vidas por meio dos serviços prestados pelo Projeto CAM. Fonte: CNBB

10 anos sem a Irmã Dorothy Stang No último dia 12, completaramse dez anos do assassinato de Irmã Dorothy Stang. O presidente do Conselho Indigenista Missionário e bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler (que vive sob escolta policial permanente devido às ameaças de morte), diz que a ausência do Estado prolonga os conflitos na Amazônia: de um lado, madeireiros e grandes proprietários; de outro, colonos pobres em luta por terra. Segundo Dom Erwin, a luta da Irmã Dorothy em defesa desses pobres motivou as perseguições. Ela foi morta no PDS Esperança, projeto de assentamento que buscava o desenvolvimento sustentável, onde a selva exuberante convivia com áreas de plantação de assentados. A Religiosa vinha denunciando

as ameaças de morte há pelo menos um ano antes de morrer: Em 2004, em Brasília, denunciou ao Ministério da Justiça, à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, e participou da “CPI Mista da Terra”, na Câmara Federal. De volta à Amazônia, foi alvejada pelas costas com seis tiros; seu corpo tombou sobre a terra pela qual tanto lutara. Nas mãos, a Bíblia que leu para seus executores antes de virar-se e dar seus últimos passos. Dom Erwin acredita que muitos envolvidos no assassinato sequer foram acusados. No dia 12, presidiu a cerimônia em memória de morte da Irmã, no Centro São Rafael, em Anapu, onde está o túmulo da Religiosa.

Agência Brasil

Fonte: EBC

Mais de 20 mil membros do Terço dos Homens preparam romaria a Aparecida

Número de candidatos ao sacerdócio cresce em 80% na Arquidiocese de Fortaleza

O sábado, 21, será de oração e consagração para mais de 20 mil integrantes de grupos do Terço dos Homens que se reunirão na Casa da Mãe Aparecida, inspirados pelo tema “Terço dos Homens: Uma bênção para a Família”. A programação da VII Romaria Nacional do Terço dos Homens terá início às 7h, com acolhida, oração e reflexões transmitidas ao vivo pela TV Aparecida, seguidos de missa, às 11h. No período da tarde, às 13h45, os participantes realizarão a reza do Terço, e às 15h haverá a Consagração dos Homens a Nossa Senhora Aparecida.

A Arquidiocese de Fortaleza (CE) celebra o aumento de vocações sacerdotais em seu território. A abertura do ano formativo da turma do Seminário Propedêutico Dom Aloísio Lorscheider, pelo arcebispo Dom José Aparecido Tosi Marques, contou com o maior número de alunos desde o ano 2000. Em 2015, o número de candidatos, 24, dobrou em relação a 2013, e é 80% superior ao do ano passado. A Arquidiocese de Fortaleza insere-se, assim,

Fonte: Portal A12

entre as que mais acolheram novos candidatos ao sacerdócio no Brasil. Chama a atenção, também, o baixo índice de desistência desses alunos. Dos que ingressaram em 2014, 90% concluíram o ano formativo e passaram à etapa seguinte. Além disso, a Arquidiocese indica um novo perfil entre os vocacionados: a maioria é de rapazes que já cursavam o ensino superior, em cursos como Matemática, Jornalismo, Pedagogia, Psicologia e outros. Em comum,

agora, a turma tem pela frente a jornada de mais duas faculdades, Filosofia e Teologia, exigidas para a ordenação presbiteral. Os estudos são realizados na Faculdade Católica de Fortaleza, entidade responsável pela formação do clero desde 1864. O reitor, Padre Rafhael Maciel, avalia positivamente a mudança do perfil dos vocacionados: “Sinaliza que o chamado de Deus pode ser respondido em tempos diversos e de modo mais claro”. Fonte: CNBB Nordeste I

Com chuvas frequentes, aumenta o nível do Sistema Cantareira O nível do Sistema Cantareira, principal manancial de abastecimento da região metropolitana de São Paulo, vem subindo diariamente desde o dia 5 deste mês, mas ainda é considerado crítico. Na quarta-feira, 18, a quantidade de água armazenada,

incluindo a segunda cota do volume morto (reserva que fica abaixo das comportas e precisa ser bombeada) alcançou 8,9%. A primeira cota do volume morto começou a ser disponibilizada em maio do ano passado, e a

segunda cota (105 bilhões de litros de água) teve início em novembro, quando o volume do sistema tinha atingido 10,6%. Até o dia 18, a pluviometria acumulada no mês já alcançava o volume de 257mm, superando a média histórica esperada

para o mês, estimada em 199,1mm. Os níveis dos demais sistemas que abastecem a Grande São Paulo (Alto Tietê, Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro) também subiram. Fonte: EBC


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Destaques das Agências Internacionais

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correspondente do o são paulo na europa

COLÔMBIA

Paz e (ou) justiça? O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estão em plena discussão de um acordo de paz. As conversações começaram em novembro de 2012 e ocorrem na capital cubana, Havana. Cuba e Noruega participam das discussões como países garantes da negociação. Neste mês, uma proposta das FARC suscitou grande polêmica no País. A guerrilha comunista pediu, entre outras coisas, a redução do orçamento militar colombiano e a reestruturação das forças armadas, bem como a abertura dos arquivos do

exército, da polícia e dos serviços de inteligência. A opinião pública está dividida. Embora todos desejem a paz, nem todos consideram que as FARC estejam seriamente engajadas no processo ou que seja prudente a negociação com a guerrilha. A esses, o padre jesuíta Francisco de Roux, uma das principais vozes a favor das negociações, dirigiu uma dura crítica em artigo publicado no El Tiempo, na terça-feira, 10: “Muitos são os que querem evitar [a negociação] nas circunstâncias atuais. Porque os prejuízos e medos não

FRANÇA

O maior cemitério de padres católicos

permitem aceitar que as FARC estejam seriamente em uma negociação irreversível, porque se recusam a pôr fé no propósito do presidente Santos, porque não se informaram, porque a torpe politização os polarizou, ou porque não percebem a centralidade do problema rural na crise”. Já o jornalista Eduardo Mackenzie teme que as concessões do governo para obter a tão desejada paz terminem por destruir o Estado de direito: “Estamos em plena ofensiva do presidente Santos contra o direito e o sistema jurídico colombiano. (...) O que Santos está enviando à cara de todos é

explosivo: o direito e o ordenamento jurídico do país são obstáculos para a paz e é preciso quebrá-los.” Outros, como o ex-presidente Álvaro Uribe, questionam um processo de paz que impossibilite a punição legal por todos os crimes cometidos pela guerrilha para promover a revolução comunista, como sequestros em série, assassinatos e tráfico de drogas, e exigem a “paz sem impunidade”. Segundo relatório do Centro de Memória Histórica da Colômbia, o conflito já causou a morte de mais 220 mil pessoas desde 1958. Fontes: BBC/ Fides/ PSF/ ET

AUSTRÁLIA

Crianças prisioneiras

Por ocasião dos 70 anos da libertação dos prisioneiros de Auschwitz, foi publicado na França um livro que conta o heroísmo de sacerdotes católicos presos e enviados ao campo de concentração de Dachau durante a Segunda Guerra. O autor do livro, Guillaume Zeller, contou em entrevista ao jornal Figaro como ficou impressionado com a “dignidade assombrosa (dos sacerdotes), mantida apesar dos esforços da SS em desumanizar e degradar os prisioneiros”. Zeller afirmou que, entre 1938 e 1945, 2.579 padres, seminaristas e religiosos católicos foram enviados a Dachau, junto com 141 pastores protestantes e padres ortodoxos, dos quais 1.034 morreram no campo. Segundo Zeller, esses heróis da fé “esforçaram-se em manter a virtude da fé, esperança e caridade. A oração, os sacramentos e o apoio dado aos doentes e moribundos, a formação teológica e pastoral clandestina, a reconstrução da hierarquia eclesiástica foram para eles uma armadura que lhes permitiu preservar a própria humanidade”. O livro se chama “La Baraque des Prêtres” (A Barraca dos Sacerdotes), publicado pela Editions Tallandier em janeiro deste ano.

Um relatório feito pela Comissão de Direitos Humanos da Austrália mostra que centenas de crianças que tentaram imigrar para o País são mantidas prisioneiras em campos de detenção na região. O relatório também apontou os perigos a que está submetida a saúde física e mental das crianças, muitas das quais acabam se infligindo danos, sofrendo abusos sexuais ou se recusando a comer. O tempo médio de detenção é de 17 meses. O diretor da Australian Catholic Migrant and Refugee Office, Padre Maurizio Pettena, afirmou: “As crianças mais vulneráveis do mundo estão sendo deliberadamente presas e prejudicadas por buscar asilo”. Comentando o relatório, Padre Maurizio lamentou: “é com profunda tristeza que lemos as constatações do relatório sobre as crianças em detenção”.

Fonte: ACI

Fonte: CNA

Reprodução

Desenho de uma criança em detenção por imigração

Oriente Médio

AIS lança campanha de apoio aos cristãos Na tentativa de amenizar a trágica situação dos cristãos perseguidos no Oriente Médio (após quatro anos de guerra civil), a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) lançou campanha de ajuda emergencial, sobretudo para as populações de Aleppo, Homs e Damasco. Segundo a AIS, na Síria falta quase tudo, e as famílias que não puderam fugir se encontram em campos de refugiados e estão muitíssimo fragilizadas. “Para eles se destina prioritariamente esta campanha, para a aquisição de

alimentos, combustível, geradores, roupas, medicamentos, bens de primeira necessidade”, diz o comunicado. A AIS apoia comunidades religiosas que estão localizadas no País e que trabalham com as populações carentes; serão elas as coordenadoras na distribuição da ajuda.A Arquidiocese de Évora e a Diocese de Portalegre-Castelo Branco, em Portugal, por meio dos bispos locais, respectivamente, Dom José Alves e Dom Antonino Dias, decidiram que a renúncia quaresmal deste ano se destina a

ajudar os cristãos perseguidos, especialmente os do Oriente Médio. “São muitos milhares de todas as idades, incluindo crianças, que sofrem horrorosamente. Expulsos de suas casas, são privados de tudo”, diz Dom José na sua mensagem quaresmal, e acrescenta: “reduzidos à miséria, morrem de fome e de frio, em situações verdadeiramente indignas de seres humanos”. Doações on-line para a AIS podem ser feitas pelo site www.ais.org. br/doacao. Fonte: Canção Nova


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Simone Ribeiro Cabral Fuzaro É interessante observarmos como nossa natureza humana tende à facilidade! Diariamente, no convívio com os filhos pequenos, a vida nos apresenta situações corriqueiras que exigem nosso posicionamento. Como todos sabem, crianças “querem” e cabe a nós adultos atendermos ou limitarmos esses “quereres”. No mercado, querem balas, iogurtes, bolachas... Em casa, querem comer na frente da TV, escolher a roupa para sair, dormir na cama dos pais... Na escola, querem levar brinquedos que não são permitidos, querem que a mamãe permaneça com eles, enfim, querem coisas por vezes possíveis e outras tantas inadequadas. Essas seriam evitadas com um definitivo, objetivo e carinhoso “não” dos pais, seguido de uma boa dose de paciência para suportar o choro e a manifestação de descontentamento produzida pela frustração. Se ficarmos atentos, porém, iremos constatar que somos tomados por um movimento social quase natural de evitarmos assumir a responsabilidade do “não” e acabamos quase sempre contando para nosso pequeno filho uma “mentirinha” que o justifique, contra a qual a criança não terá argumentos e a partir da qual, sua frustração será mascarada. Diante de um pedido no mercado, respondemos que não temos dinheiro; diante da escolha de uma roupa inadequada para a situação, dizemos que está suja ou rasgada; diante do desejo de que fiquemos na escola, dizemos que ficaremos na porta espe-

rando... Que confiança poderá ter em nós se desde cedo percebe que usamos da mentira como artifício possível na relação? Como poderemos ensinar o valor da veracidade, de se manter a palavra, se nós pais, modelos dele, fugirmos do embate e da manifestação de descontentamento pelo atalho perigoso da enganação? Como aprenderá a ser forte e resistente às contrariedades da vida se nós o achamos incapaz de suportar uma pequena adversidade, colocada com sabedoria, firmeza e carinho por nós? Por que será que atualmente sentimos mais culpa de frustrar o filho do que de deixarmos de exercer nossa função de educá-lo verdadeiramente? Não seria mais natural nos sentirmos culpados por não estarmos cumprindo bem essa responsabilidade que assumimos ao gerarmos a vida? Precisamos considerar que somente nós poderemos exercer essa função formativa com todo amor, paciência, sabedoria, firmeza e responsabilidade que ela supõe, afinal, amamos incondicionalmente esses pequenos e quere-

Sergio Ricciuto Conte

Reflexões sobre o cotidiano: educar os filhos na verdade

mos o melhor para eles! Sim, vamos ficar atentos: a verdade sempre, em qualquer situação. Esse é o melhor caminho, embora não seja o mais curto. Mas, quem disse que educar os filhos é um caminho curto e fácil. Facilidade é para os “fracos”. Pais são potencialmente fortes, corajosos, têm dentro de si a possibilidade de lutar bravamente e sem medir esforços

Caminho promissor contra a doença de Alzheimer Pedro Paulo de Magalhães Oliveira Jr. A doença de Alzheimer, descoberta no início do século XX pelo médico alemão Alois Alzheimer, é uma demência relativamente comum, que tem sido descrita como “uma longa despedida”. De uma ligeira perda de memória até um estado quase que completamente vegetativo podem se passar muitos anos, nos quais primeiro sofre mais o paciente e depois a sua família. Segundo muitos estudos, com o envelhecimento da população, a doença de Alzheimer será a maior fonte de despesa para os sistemas de saúde nos

próximos anos e bilhões de dólares têm sido investidos anualmente em pesquisa para atacar as causas dessa doença. Dentre as múltiplas frentes de batalha, está o diagnóstico precoce. Há muitos anos, venho trabalhando, junto com alguns colegas, num projeto que está chegando agora numa fase experimental, que é uma tentativa de detectar precocemente a doença através de exames de ressonância magnética. Com as imagens do cérebro, calcula-se automaticamente o volume de cada uma das estruturas cerebrais e utiliza-se um método de classificação estatística para comparar o cérebro, sendo estudado com uma enorme base

de dados de indivíduos idosos com e sem a doença. Os resultados têm sido promissores e já há um site que pode ser usado por médicos chamado CerebralVol (cerebralvol.com). Com a detecção precoce, é possível começar a tratar a doença por meio de medicamentos que atrasam a progressão do Alzheimer, quando esta ainda não causou muito dano ao cérebro, e, assim, permitir que a pessoa tenha mais qualidade de vida. É, sem dúvida, um caminho promissor. Pedro Paulo de Magalhães Oliveira Jr. é Engenheiro pela PUC-Rio e Doutor em Medicina pela USP. Atualmente ocupa o cargo de Diretor de Operações da Netfilter.

Direito do Consumidor

Tecnologia

Comportamento

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para o bem de seus filhos. Só precisamos resgatar esse potencial, não nos deixando levar pela mentalidade moderna que se rende rapidamente às facilidades e aos prazeres. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora; Mestre em Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP; especialista em linguagem; e coordenadora da Escola de Educação Infantil Pedrita.

‘Saidinha de banco’ e a responsabilidade civil Ronald Quene A responsabilidade civil da instituição financeira por roubo cometido a cliente na saída de estabelecimento bancário, logo após saque de quantia, popularmente chamada de “saidinha de banco”, é objetiva e considerada como relação de consumo (art.17, do Código de Defesa do Consumidor), que enseja a aplicação da responsabilidade objetiva da instituição financeira, porquanto fornecedora de serviços, a depender do caso. É dever da instituição bancária garantir a segurança dos usuários de seus serviços, em especial no que concerne à retirada de quantias elevadas, adotando procedimentos preventivos para conter a prática de crimes, como os tais atos. Saiba de seus direitos, procure um advogado. Ronald Quene é bacharel em Direito


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| Reportagem| 11

Igreja e sociedade:

uma relação construída ao longo dos anos Reprodução

Edcarlos Bispo e Nayá Fernandes osaopaulo@uol.com.br

A Campanha da Fraternidade deste ano – com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) – apresenta uma reflexão sobre a ação, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade brasileira. O texto-base da Campanha, na sua primeira parte, faz uma análise da relação entre Igreja e sociedade ao longo da história até os dias atuais. De forma mais particular, apresenta a relação com a sociedade brasileira desde o descobrimento do País. Em quatro pontos – Breve histórico das relações Igreja e sociedade no Brasil; A sociedade brasileira atual e seus desafios; O serviço da Igreja a sociedade brasileira; Igreja – Sociedade: convergências e divergências – o texto-base, em sua primeira parte, procura ajudar a compreender a importância e o contributo fornecido pela Igreja ao País. A Igreja foi fundamental para a construção da sociedade brasileira e latinoamericana. Sua contribuição está documentada nas artes, na cultura, na arquitetura, na formação ética, nos valores morais, e, além disso, no atendimento aos doentes, aos órfãos e aos mais necessitados. O exemplo disso são as Santas Casas de Misericórdia que na época em que não havia serviços públicos de saúde, atendiam e acolhiam os mais pobres. Na política, outro campo de forte atuação da Igreja no Brasil, os sinais também são profundos. O documento destaca que no Império, Proclamação da República, governos democráticos, ditaduras e redemocratização, os católicos se posicionaram e lutaram para que as transformações políticas e sociais estivessem a serviço do povo e dos mais necessitados. Na história mais recente, destaca-se o papel das instituições católicas na redemocratização do País, Diretas Já, na formulação da Constituição Federal de 1988, e a presença em pautas que tornem a política e o processo politico mais próximo ao povo. Nesse aspecto, ressalta-se a Lei da Ficha Limpa. Liderados pela CNBB, diversos movimentos sociais e políticos recolheram assinaturas e conseguiram aprovar uma lei que proíbe que políticos com “ficha suja” – condenados na justiça por crimes – se candidatem. A lei, aprovada em 2010, valeu a partir das eleições municipais de 2012. Atualmente, a Conferência dos Bispos encabeça, junto a outras entidades, o pedido da Reforma Política. Uma tentativa de ouvir os clamores das manifestações que explodiram no País em 2013, e tornar a política mais próxima das pessoas e com maior participação popular. Por fim, o documento chama a atenção para problemas atuais da sociedade brasi-

vezes, foram corrigidos por buscar os primeiros lugares. A Igreja nascente que viveu a experiência cristã tem como objetivo a vivência do Reino de Deus. A missão de Paulo que foi eminentemente urbana e voltada para os não judeus também foi essencial neste horizonte de “alargar a tenda comum”. Assim, juntos e em um servir que envolve e quebra barreiras, os seguidores do Mestre puderam “derrubar o muro da separação”. Esse vencer barreiras mostra que a Igreja pode ser uma mensagem de esperança para a sociedade, valendo-se do que foi sendo construído ao longo dos séculos e está definido no Magistério da Igreja, como trata os artigos de 148 a 153 do texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano.

Anúncio do Evangelho nos dias de hoje

leira. Entre essas questões está o relativismo, a confusão entre o laicismo e laicidade, a cultura do descartável. Esta última, salienta o documento, foi denunciada pelo Papa Francisco na exortação apostólica Evangelii gaudium.

À luz da Palavra de Deus

A segunda parte do texto-base da Campanha se inicia com a afirmação de que Deus cria sempre por amor e que toda realidade criada é boa em si mesma. Mas, e quando as guerras, a morte, o mal e os sofrimentos afetam a bondade das coisas criadas? Pode Deus alterar a ordem do que ele mesmo criou? Nesse ponto, o texto lembra a história do povo de Israel que se tornou livre e novamente escravo, e ainda assim Deus esteve junto do povo fielmente para celebrar a aliança. E só o contato com outros povos fez com que Israel sentisse o quanto essa eleição amorosa de Deus era também responsabilidade. “Eu, o Senhor, te chamei para o serviço da justiça, tomei-te pela mãe e te moldei; eu te constituí como aliança do

povo, como luz das nações” (Is 42,6). Nesse sentido, o texto da CF chama atenção para o verdadeiro jejum, que é o de “soltar as cadeias injustas, deixar livres os oprimidos, acabar com toda espécie de imposição” (Is 58,6). O artigo 125 da segunda parte trata claramente que “a religião precisa expressarse com sinceridade no serviço aos outros, como na construção da vida social que gere vida a todos”. E os artigos seguintes tratam de como Jesus estava envolvido com a organização social de seu tempo, no cuidado, sobretudo, com os pequenos e marginalizados. Aqui aparece uma questão essencial na vida de Jesus, a autoridade como serviço. A autoridade de um filho de Deus, o Mestre utilizava para se aproximar das pessoas e também curá-las, recolocá-las na sociedade do seu tempo. E por essas atitudes, Jesus era questionado e, pelo mesmo motivo, também morreu. Essa tônica cristã do serviço foi assumida na vida dos discípulos pouco a pouco, mas também eles estavam dominados pela lógica do poder e, muitas

Em seguida, o documento traz um aprofundamento sobre o anúncio do Evangelho nos modernos areópagos e tem uma parte dedicada à opção pelo ser humano e preferencialmente pelos pobres. Nesse aspecto, o documento apresenta um elemento muito importante, resgatando a constituição dogmática Gaudium et Spes, e denuncia a corrida armamentista, considerando-a “a praga mais grave da humanidade, que lesa intoleravelmente os pobres”. O texto objetiva a missão eclesial, que exige uma conversão pastoral, para que a Igreja possa caminhar na fidelidade de sua natureza e missão, no autêntico seguimento do seu Mestre. Já no número 175, entra em cena a Doutrina Social da Igreja (DSI) e a relação entre pessoa humana, sociedade e subsidiariedade. Em seguida, aparece a família como a primeira escola das virtudes sociais. Na sequência, os temas são o bem comum e o desenvolvimento da sociedade e a comunidade política a serviço desse bem comum. Assim, descortina-se uma relação entre Igreja e Estado que aparece sob nova perspectiva devido ao advento da sociedade pluralista.

Serviço, diálogo e cooperação

A terceira parte do texto-base trata sobre o diálogo, o serviço e a cooperação, e mais uma vez salienta que o critério fundamental para sua atuação é a atenção aos pobres e sofredores. Nessa parte, o documento aprofunda também a Igreja em saída, expressão recorrente nos discursos do Papa Francisco. Além das sugestões de ações concretas, o texto traz exemplos das ações das pastorais sociais e a participação na Reforma Política. Por fim, o texto-base da CF 2015 lembra a Coleta da Solidariedade, que este ano acontecerá no domingo, 29 de março; e na quinta parte faz uma prestação de contas sobre os direcionamentos dos totais arrecadados nos anos anteriores.


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‘A Igreja está inserida no mundo, como fermento na massa, como luz que irradia seu brilho’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em coletiva de imprensa, Cardeal Scherer fala sobre o tema e lema da Campanha da Fraternidade 2015 padre Michelino Roberto e Edcarlos Bispo osaopaulo@uol.com.br

Na Quarta-feira de Cinzas, 18, antes de celebração que dá início ao tempo quaresmal, o Cardeal Odilo Pedro Scherer atendeu aos jornalistas em coletiva de imprensa para falar da Campanha da Fraternidade 2015 (CF). Dom Odilo destacou que a Campanha deste ano – que tem como tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e lema “Eu vim para servir” – está inserida no contexto de comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II. Segundo o Cardeal, a CF 2015 propõe refletir e retomar um dos aspectos do Concílio Vaticano II, presente sobretudo na Gaudium et Spes: a presença da Igreja no mundo . Aprovado em 1965, esse documento conciliar teve uma grande importância nas orientações posteriores ao Concilio e suas indicações são atuais e válidas.

Tema da Campanha

‘Eu vim para servir’ é o lema da Campanha da Fraternidade 2015, que trata da Igreja e sociedade

A Campanha da Fraternidade 2015, fazendo memória do Concilio Vaticano II, repropõe e mesmo propõe às novas gerações uma reflexão sobre os seus grandes temas, sobretudo no que se refere às relações da Igreja com o mundo e com a sociedade. Diante de uma ideologia secularizada e que, sempre mais, pretende confinar a Igreja à sacristia, o texto-base da CF projeta o catolicismo ao diálogo com todas as instituições sociais, reafirma que o Cristianismo tem sim muito a contribuir para melhorar o mundo e

procura superar uma certa ideia de laicismo na qual a Igreja e o Estado estão absolutamente separados e distantes, como se fossem duas realidades que vivem em mundos diferentes. Resumindo: o tema da CF 2015 quer lembrar que a Igreja está no mundo, vive nele e para ele com a missão de edificar o Reino de Deus e difundir a Boa-Nova do Evangelho. Em linhas gerais, nos traços da Boa-Nova do Evangelho que a Igreja apresenta ao mundo com base em sua fé em Jesus Cristo, está a mensagem de fraternidade (todos somos Filhos de Deus), a defesa da dignidade humana, da solidariedade, da justiça, do profundo respeito à pessoa humana com todas as consequências a que isso leva. “A Igreja não está fora do mundo e não é contra o mundo. A Igreja está inserida no mundo, como fermento na massa, como luz que irradia seu brilho”, afirmou o Cardeal.

Sobre o lema da CF 2015, “Eu vim para servir”

Os discípulos devem colocar-se a serviço uns dos outros, e não pretender ser servidos ou colocar-se em uma situação de privilégio. É também esta, no fundo, mais uma vez a proposta da CF. A Igreja está no mundo para servir a humanidade, para se colocar a serviço da pessoa humana, ao serviço das causas que estão envolvidas justamente com a pessoa humana em todas as suas formas. “Com a CF, que se encerra no Domingo de Ramos, iniciamos um caminho que dura o ano todo. A CF tem repercussões ao longo de todo ano para desenvolver mais as temáticas postas para aprofundar eventuais encaminhamentos na vida da sociedade”, afirmou Dom Odilo. O Cardeal Scherer também lembrou que a CNBB, este ano, está realizando um abaixo-assinado apoiando a reforma política: “uma reforma política democrática, que respeite os princípios básicos da democracia”.

O que o Cardeal falou na coletiva de imprensa CORRUPÇAO

A corrupção é um grande mal social e político. A missão da Igreja é ajudar a sociedade a superar certa cultura que é condescendente com a corrupção. A corrupção é fruto de atitudes e decisões pessoais, além de mecanismos políticos e sociais que a implementam e alimentam. É, portanto, também um mal social, além de um mal moral pessoal. A corrupção é profundamente contra a fraternidade, profundamente injusta em relação às pessoas e o conjunto da sociedade, porque faz desviar recursos que deveriam ser aplicados ao bem comum em outros ob-

jetivos de interesse pessoal. A corrupção é, portanto, também um mal grande contra a fraternidade.

CELEBRAÇÃO DOS 50 ANOS DO CONCÍLIO

Os católicos que têm menos de 70 anos de idade não terão ouvido falar do Concilio Vaticano II enquanto era realizado. A comemoração dos 50 anos da realização do Concílio Vaticano II tem como finalidade trazê-lo ao presente, para compreendê-lo mesmo que seja pela primeira vez e superar resistências e preconceitos que se espalham sobre o seu conteúdo.

LAICIDADE X LAICISMO

Vivemos uma situação particular em que se procura, de todas as formas, afirmar a laicidade do Estado. A Igreja não é contra a laicidade do Estado, pelo contrário, a defende. Ocorre, porém, que existem compreensões diferentes sobre esse tema. Estado laico é aquele que, de um lado, não impõe uma religião aos cidadãos e, por outro, garante a liberdade religiosa. Já o laicismo é uma ideologia que opõe o Estado à Igreja e pretende que o primeiro cerceie as instituições religiosas. A isso, a Igreja se opõe. O laicismo é, portanto, a laicidade transformada em ideologia contra a religião.

Luciney Martins/O SÃO PAULO


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Fiéis se reúnem na Catedral da Sé na quarta-feira, 18, na celebração que dá início ao Tempo Quaresmal e marca abertura da Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade”

Para amadurecer na vida cristã

Ao colocar-se diante de Deus que é misericórdia, a cada início de Quaresma, o cristão começa a preparar a grande festa da Páscoa Nayá Fernandes

nayafernandes@gmail.com

A missa foi silenciosa, como silencioso é o desejo de viver um tempo de encontro com Deus e amadurecer na vida cristã, como recomendou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, ao presidir a celebração de abertura da Quaresma e imposição das cinzas na Arquidiocese de São Paulo, na quarta-feira, 18, às 15h, na Catedral da Sé. A missa foi concelebrada pelos bisos auxiliaresDom Eduardo Vieira dos Santos, vigário episcopal da Arquidiocese para a Região Sé e Dom Carlos Lema Garcia, responsável pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, além de muitos outros padres. Cada um escolhe qual é a melhor maneira de se aproximar de Deus neste tempo em que a Igreja aconselha a vivência da oração, da esmola e do jejum. Enquanto um jovem acompanhava as leituras da liturgia pelo celular, o senhor já idoso, permaneceu toda a celebração ajoelhado. Afinal, quem pode medir a fé ou o desejo de mudança de alguém que se apresenta diante de Deus e pede perdão pelas suas faltas? A liturgia desse dia, em que

a Igreja começa o tempo de pre- Irmã Elisabeth realizam mais ho- des para se chegar a esse objetivo paração para a grande festa cris- ras de oração e encontros com a quaresmal. tã da Páscoa, lembra que Deus é comunidade pastoral para vivenA primeira delas é a escuta da misericórdia. No refrão do Salmo ciar com intensidade a Campanha Palavra. “Cada um tem que ve51 (50) todos cantam “piedade ó e a Quaresma. “Esse ano, temos rificar o que em sua vida precisa Senhor, tende piedade, pois peca- um motivo a mais, o Ano da Vida estar na direção do Evangelho de mos contra vós”. A confissão co- Religiosa Consagrada, além das Jesus Cristo”, e recomendou que letiva do pecado é uma confissão palavras do Papa Francisco sobre todos os dias pode-se ler um tresobre os pecados individuais dos a nossa maternidade pastoral”, cho do Evangelho, seguindo, por fiéis, mas também do pecado so- completou a Irmã que nasceu no exemplo, os textos da liturgia de cial da humanidade. Paraná e em Curitiba (PR) cola- cada dia. Outra prática recomenNo Brasil, a missa da Quarta- borava também na formação do dada é a da Leitura Orante da Pafeira de Cinzas também marca o clero local. lavra de Deus, em que o orante lê, início da Campanha da Fraternimedita e verifica como a Palavra dade proposta pela CNBB. Com A preparação de Deus pode se tornar viva no o tema “Fraternidade: Igreja e para uma grande festa cotidiano da vida. Todos os dias Na homilia, o Cardeal lem- da Quaresma, na Catedral, antes Sociedade” e o lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45), representan- brou que vários trechos bíblicos da missa ao meio dia, haverá Leites das seis regiões episcopais da falam dos 40 dias e que são dias tura Orante da Palavra, às 11h30. Arquidiocese foram enviados em de preparação para a Páscoa, na A segunda atitude recomenmissão para coordenar a anima- qual todos os cristãos são bati- dada para este tempo é a da ção sobre a CF em cada uma des- zados. “A Igreja propõe um tem- oração. “Rezar mais e mais prosas regiões. po de purificação e penitência fundamente”, disse Dom Odilo. Irmã Elizabeth Mendes, da para voltar o nosso coração para Ele explicou que a oração ajuda Congregação das Irmãs Francis- Deus.” Ele propôs algumas atitu- cada um a voltar-se para si mescanas do Coração mo e não cometer Luciney Martins/O SÃO PAULO de Jesus, é memo erro que também bro da Pastoral cometeu Adão e do Menor e visita Eva de querer ser regularmente as como Deus. Assim, meninas da Funrezar é essencial dação Casa. Para para que outros ela, a CF será um ídolos vazios não momento propreencham a vida pício de reforçar e tomem o lugar essa relação entre de Deus. “Dobrar Igreja e sociedaa cabeça e os joede. As meninas lhos.” ficam no máximo Em terceiro lugar, mas não me45 dias na Fundação, então, em nos importante, cada encontro que vem a construção fazemos com elas, de um mundo melhor. A atitude de pensamos que inteirar-se do que pode ser o único. está acontecendo As religiosas da congregação da Imposição das cinzas, parte do rito da Quaresma, tempo de penitência ao redor e inserir-

-se na realidade, o Cardeal chamou de amadurecimento na vida cristã. “É preciso que a semente cresça. Os frutos são as boas obras e a prática da religião é boa obra. Assim, podemos contribuir na edificação de um mundo melhor”, afirmou o Arcebispo. A abertura da Campanha da Fraternidade também foi lembrada pelo Cardeal durante a homilia. “A Igreja e todos os batizados tem a missão de promover fraternidade e vida digna. Não sejamos indiferentes ao que é diferente de nós nem com que crê diferente”, afirmou. Ele recordou ainda, o propósito pastoral da Arquidiocese de São Paulo que é o de ser casa que promova a vida plena com olhar especial para os lugares em que a vida está sendo ofendida.

E as cinzas?

Após a Liturgia da Palavra, em que se proclama o trecho do Evangelho, realiza-se o rito da imposição das cinzas. Elas são sinal de penitência e de conversão. Durante a imposição das cinzas sobre a cabeça das pessoas, o sacerdote ou o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Pode-se usar também a fórmula tradicional: “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar”. Numa das orações de bênção das cinzas se diz: “Reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado”. As cinzas utilizadas neste dia são preparadas pela queima de palmas usadas na procissão de Ramos do ano anterior.


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Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015 L’Osservatore Romano

“Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!” Redação

osaopaulo@uol.com.br

Na mensagem para a Quaresma 2015, o Papa Francisco exorta a todos os cristãos a superarem a indiferença com relação às tribulações, injustiças e sofrimentos alheios. Fruto da tendência ao individualismo, própria da contracultura que identifica o sentido da vida com o prazer, ou melhor, que não pensa no sentido da vida e só busca a satisfação da própria vontade e no prazer pessoal, na visão de Francisco, vivemos tempos difíceis em que prima a globalização da indiferença. “Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: ‘Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro’ (1 Jo 4,19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impedeLhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa conosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, essa atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar” . Quaresma é, sobretudo, “tempo de renovação para a Igreja e tempo favorável de graça”, ensina o Santo Padre. “Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca”. “Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar”. Nesse sentido, Francisco recorda que Deus não é indiferente ao mundo, pelo contrário, ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem.

mente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes, pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o fato de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças a morte e ressurreição de Jesus. Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens. Essa missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar.

3. ‘Fortalecei os vossos corações’ (Tg 5,8)

Quaresma é “tempo de renovação para a Igreja e tempo favorável de Graça”, diz Papa Francisco

“Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta essa porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5,6)”. Como superar a tentação da indiferença? Francisco responde propondo três textos para a nossa meditação pessoal.

1. ‘Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros’ (1 Cor12,26)

Com o seu ensinamento e, sobretudo, com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentamos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo

de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro.

2. ‘Onde está o teu irmão?’ (Gn 4,9) – As paróquias e as comunidades

Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nessas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções. Em primeiro lugar, unindonos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciproca-

Também como indivíduos, temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de março –, pretende dar expressão a essa necessidade da oração. Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum. E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recordame a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos. Se, humildemente, pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então, confiaremos nas possibilidades infinitas e poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.

A íntegra da Mensagem do Papa para a Quaresma 2015 pode ser vista no site www.arquidiocesedesaopaulo.org.br


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Filipe David

osaopaulo@uol.com.br

Dos mesmos criadores de “Matrix” (1999), o filme “O Destino de Júpiter”, em cartaz no Brasil desde o começo do mês, conta a história de uma jovem que descobre fazer parte de uma trama intergaláctica em que seres humanos são “cultivados” para servirem como reservatório genético, possibilitando aos milionários do universo nada menos que a vida eterna. Deixando de lado a temática gnóstica do “este mundo não é o que você pensa”, exatamente a mesma de “Matrix”, chama a atenção a presença de seres humanos “híbridos”, de raças criadas com finalidade específica. O galã da história, por exemplo, é uma mistura genética de homem e lobo que deixaria Thomas Hobbes com uma pulga atrás da orelha. Pouco tempo atrás, um outro filme, “Lucy” (2014), ganhava as telas brasileiras com a história de uma moça que, por acidente, ingere grande quantidade de uma nova droga que lhe permite aumentar a utilização do cérebro. Segundo o filme, normalmente os seres humanos usam menos de 10% de sua capacidade cerebral. À medida que esse percentual aumenta, a protagonista adquire poderes especiais, como diagnosticar câncer com um olhar e mover objetos à distância. Tema semelhante foi tratado de forma um pouco mais realista pelo filme “Sem Limites”, lançado no Brasil em 2011. Já o seriado norte-americano

O que é o homem? “Inteligência”, lançado nos Estados Unidos no ano passado, conta a história de um herói de guerra que participa de um experimento científico para caçar terroristas: graças a uma mutação genética, ele foi capaz de receber o implante de um chip de computador no seu cérebro, que lhe permite acessar pela internet praticamente toda informação de que ele precisa para agir mais rápido do que niguém mais poderia. O que está por trás de tudo isso é o famoso “transumanismo”. Essa “filosofia”, embora esteja atualmente na moda, não é tão nova quanto se poderia pensar. O termo “transumanismo” foi inventado por Julian Huxley em um artigo publicado em 1957: “A espécie humana pode, se quiser, transcender a si mesma (...). Precisamos de um nome para essa

crença. Talvez transumanismo sirva”. Julian Huxley foi irmão do famoso escritor Aldous Huxley, autor do livro “Admirável Mundo Novo” (1931). Seu pensamento é quase uma consequência da teoria da evolução – Julian fazia parte e foi premiado por diversas organizações evolucionistas e foi nomeado cavaleiro da coroa britânica exatamente cem anos após a publicação de “A Origem das Espécies” (1858), por Charles Darwin. Se o homem é o simples resultado de uma evolução, por que não continuar, de forma deliberada, a melhorar a espécie? No início do século 20, essa mesma ideia deu origem ao eugenismo, movimento que queria melhorar a espécie humana por meio de uma seleção deliberada dos me-

lhores. Os maiores patrocinadores do eugenismo foram as grandes fundações norte-americanas. Mas foram essas mesmas ideias que inspiraram Adolf Hitler e sua obsessão em “purificar” a Alemanha de raças consideradas inferiores, como os judeus e os negros, e, sobretudo, da miscigenação de raças diferentes. O cinema também já produziu versões críticas do Transumanismo, como o filme “Gattaca” (1997), em que os seres humanos geneticamente inferiores seriam condenados a exercerem profissões menores, deixando as grandes carreiras para os superiores. A questão é saber se o homem, para além de sua natureza biológica, é alguma coisa determinada, se existe uma “natureza humana” que vai além do puramente corporal. O filósofo fran-

É justamente porque o homem é um ser corporal e espiritual, porque sua natureza vai além do puramente biológico, que as transformações possibilitadas pela tecnologia devem respeitar certas regras. Ninguém vai negar a utilidade de uma prótese ou de uma nova terapia para curar doenças antes incuráveis. Mas será correto “produzir” bebês sob medida? Clonar uma pessoa? Até que ponto, podemos e, mais importante, queremos ir?

cês Jean-Paul Sartre dizia, nos anos 40, que não: o homem, para além de sua natureza biológica, é pura liberdade, sem nenhuma determinação natural. A ideia tem um longínquo predecessor, Pico della Mirandola, que viveu no século XV: a grande dignidade do ser humano consiste em decidir qual será sua natureza, dizia. Já o velho Aristóteles havia demonstrado, mais de três séculos antes de Cristo, que a natureza humana, diferentemente dos animais, não é apenas a natureza de um corpo vivente, mas também o princípio por trás de uma inteligência imaterial. Em outras palavras, o homem é um ser corporal e espiritual, cuja natureza permite não apenas a vida do corpo, mas também o conhecimento da verdade. Essa visão, em perfeita harmonia com a Revelação judaico-cristã – segundo a qual o homem foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança – foi incorporada à tradição da Igreja, sobretudo a partir de São Tomás de Aquino. É justamente porque o homem é um ser corporal e espiritual, porque sua natureza vai além do puramente biológico, que as transformações possibilitadas pela tecnologia devem respeitar certas regras. Ninguém vai negar a utilidade de uma prótese ou de uma nova terapia para curar doenças antes incuráveis. Mas será correto “produzir” bebês sob medida? Clonar uma pessoa? Até que ponto, podemos e, mais importante, queremos ir?


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Aviolência vai impor uma só voz nos estádios? Reprodução TV

Recorrentes brigas envolvendo as organizadas reabrem debate sobre adoção de torcida única em São Paulo Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

No próximo dia 1º, quando Internacional e Grêmio entrarem em campo pelo Campeonato Gaúcho de futebol, mais uma vez se fará um esforço pela paz entre as torcidas. Por iniciativa da diretoria do Inter, mil sóciotorcedores colorados poderão convidar mil gremistas para assistir o clássico em um setor de torcida mista. “Estamos dando um passo no sentido inverso ao que estamos vendo no cenário sul-americano, de torcida única nos estádios, de diminuição do espaço para torcedores adversários. O espetáculo do Gre-Nal tem que ser retomado e é mais uma tentativa que estamos fazendo. Os estádios são seguros, temos câmeras, seguranças, Brigada Militar. Temos que mostrar ao cidadão que ele pode vir ao estádio e trazer sua família”, disse o presidente do Inter, Vitorio Piffero, na sexta-feira, 13. Ao comprar o ingresso misto, o torcedor do Inter preencherá um formulário com dados sobre o gremista que o acompanhará, e no dia do Gre-Nal, os dois deverão estar identificados com as camisas de seus clubes.

Torcida única é a solução?

A iniciativa do Inter surge em um momento em que se discute intensamente a viabilidade de adoção de torcida única nos clássicos paulistas. No começo deste mês, às vésperas da partida entre Palmeiras e Corinthians, no Allianz Parque, o Ministério Público recomendou

foram detidas. O detalhe é que as equipes não jogaram naquele dia. “Grande parte dos conflitos no futebol ocorrem fora dos estádios, em lugares geográfica e simbolicamente afastados dos estádios, antes dos jogos e muitas vezes até em dias quando não há jogos. Então, fazer um jogo com torcida única, não garante de forma alguma que esses embates não ocorram”, ressaltou Felipe Lopes.

25 mortos após torcida única na Argentina

Torcedores do Palmeiras entram em confronto com a PM antes do clássico com o Corinthians; em Porto Alegre (RS), vice-presidente do Inter, Alexandre Limeira, anuncia torcida mista no Beira Rio

aos clubes e à Federação Paulista de Futebol que o jogo fosse realizado com torcida única, tendo por base os recentes confrontos entre corintianos e palmeirenses, e o monitoramento de ameaças mútuas entre as torcidas pelas mídias sociais. Após reclamações da diretoria corintiana, a cota mínima de torcedores alvinegros no jogo foi garantida. O clássico teve como saldo, cadeiras destruídas no setor onde estavam os corintianos e confrontos entre palmeirenses e a Polícia Militar. Para Felipe Lopes, doutor em Psicologia Social pela USP, com pós-doutorado em Sociologia do Esporte pela Unicamp, a adoção de torcida única “é uma medida profundamente injusta, pois a maioria dos torcedores são pacíficos e ordeiros, e não pode ser penalizada pela ação violenta de uma minoria”, opinou ao O SÃO PAULO, destacando ainda que a medida deseduca.

Brigas de torcidas, o que fazer? Ao O SÃO PAULO, Felipe Lopes, doutor em Psicologia Social pela USP, com pós-doutorado em Sociologia do Esporte pela Unicamp, apontou algumas alternativas para atenuar a violência entre as torcidas: Democratizar os debates sobre a violência no esporte por meio da Comissão Nacio-

“Quando se faz torcida única, qual a mensagem que se deixa ao jovem torcedor? A de que o futebol não é um espaço de tolerância, que não possível que exista convivência entre torcedores adversários. Nesse sentido, essa medida deseduca ao invés de educar. Por isso, penso que parte da solução deve seguir na contramão disso, justamente ampliando os setores mistos, de tal modo que num futuro não muito distante espaços reservados para uma única torcida sejam exceção”, enfatizou.

Bola divida entre as autoridades

A discussão sobre a adoção de torcida única nos estádios divide as opiniões das autoridades. Na última semana, o promotor Paulo Castilho, do Ministério Público de São Paulo, pediu ao governo paulista que proíba a entrada das torcidas organizadas nos está-

nal de Prevenção da Violência nos Espetáculos Esportivos (Conseg); Criar um projeto de prevenção da violência alicerçado no diálogo e na educação, especialmente entre os mais jovens, fortalecendo a formação dos futuros líderes das torcidas; Investir na especialização da Polícia Militar, para que sempre respeite os direitos do torcedor; isso incluiria o aumento de tolerância com desordens, a fim de que

dios, alegando que são elas que promovem a violência. Já o ministro do Esporte, George Hilton, ao falar sobre o assunto em reunião com a Associação Nacional das Torcidas Organizadas, no dia 12, apontou que “os números mostram que os torcedores não são violentos e as torcidas estão propensas a retirar as pessoas violentas no meio das torcidas organizadas”. Durante a reunião, definiuse que será criado um banco de dados com o cadastro nacional dos torcedores das organizadas; e se criará um serviço de disque denúncia, para apontar pessoas que praticam atos criminosos nos estádios. Nunca é demais alertar, porém, que nem sempre os confrontos acontecem nas imediações dos estádios. No dia 7 deste mês, torcedores corintianos e são-paulinos enfrentaram-se na estação Carrão do Metrô, e 44 pessoas

a polícia só intervenha em momentos de extrema tensão. Investir na infraestrutura dos estádios. “A maioria dos desastres no futebol ocorreram por conta de infraestrutura precária”. A mídia precisa mudar o enfoque de como noticia a violência entre as torcidas. “Muitas vezes, há um tratamento que estigmatiza determinados grupos de torcedores e se alimenta a violência ‘botando mais lenha na fogueira’”.

Desde 2013, as partidas da primeira divisão argentina aconRicardo Giusti/PMPA tecem apenas com a torcida do time mandante, mas, mesmo assim, 25 mortes relacionadas aos jogos da divisão principal foram registradas. Recentemente, as autoridades Província de Buenos Aires indicaram que voltarão a liberar a entrada de todas as torcidas nos estádios. Segundo Mariano Bergés, presidente da ONG Salvemos al Fútbol, a adoção de torcida única não resolveu o problema da violência no futebol argentino, mas a volta repentina de duas torcidas aos estádios pode gerar novos problemas. “Somos a favor da volta do público visitante, porém, não a qualquer custo e de qualquer forma. Não estão dadas as condições hoje para que isso se suceda. Não somos adivinhos, porém as consequências serão – lamentavelmente – rápidas e mortais. Nada se fez desde meados de 2013 até agora”, escreveu no site da ONG.

SÁBADO (21) Paulistão de Futebol 17h - São Paulo x Osasco Audax (Morumbi) DOMINGO (22) Paulistão de Futebol 16h - Portuguesa x Santos (Pacaembu) TERÇA-FEIRA (24) Liga Nacional de Basquete 19h – Pinheiros x Liga Sorocabana (Ginásio do Clube Hebraica – rua Hungria, 1.000, Pinheiros). 19h30 – Paulistano x Palmeiras (Ginásio do Paulistano – rua Colômbia, 77, Jardim América).


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Brasilândia

Daniel Gomes

Colaboração especial para a Região

Tudo pronto para a abertura regional da CF 2015 Renata Moraes

Fiéis durante a celebração de abertura da Campanha da Fraternidade 2014, na Região Brasilândia

A Região Episcopal Brasilândia realizará no próximo domingo, 22, a celebração de abertura da Campanha da Fraternidade 2015, a partir das 14h, na Paróquia Bom Jesus dos Passos (rua Professor João Machado, 856, Moinho Velho – travessa da avenida General Edgar Facó). Além de ser um momento especial para a Paróquia, que em 2015 completa 40 anos de criação, essa será a primeira celebração de uma Campanha da Fraternidade presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo na Região Brasilândia, Dom Devair Araújo da Fonseca, que foi ordenado no dia 1º deste mês e assumiu a Região no dia 7. “Queremos resgatar nesta celebração os objetivos da CF e os trabalhos sociais presentes na história da Região, buscando reforçar os laços que unem as diversas pastorais e movimen-

Pascom da Paróquia São Judas Tadeu

Primeira visita – no domingo, 15, Dom Devair de Araújo da Fonseca, novo bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, presidiu, pela primeira vez, missa na Paróquia São Judas Tadeu, no Setor Nova Esperança. O Bispo foi acolhido pelos fiéis e saudado de modo especial pelo Padre Jaime Izidoro Sena, pároco.

tos numa mesma caminhada de fé e de vida”, afirma o Padre Reinaldo Torres, coordenador regional de pastoral. Diferentemente de outros anos, neste não haverá a tradicional caminhada de abertura. Assim, a acolhida, celebração reflexiva e a missa acontecerão na rua em frente à Paróquia Bom Jesus dos Passos. Mesmo assim, a equipe regional da CF recomenda que as pessoas vão preparadas para se proteger do sol, da chuva e do calor, levando bonés, guarda-chuva e garrafas de água. A temática da CF 2015 “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45) será ressaltada durante a celebração de abertura da Campanha, que também “reutilizará a simbologia da Cruz que peregrinou pela Região durante a preparação para a JMJ em 2013, reunindo os jovens de todas as paróquias num mesmo e único propósito: redimensionar a nossa vida a partir da experiência com Jesus Cristo, morto e ressuscitado”, comenta o Padre Reinaldo. Ainda, segundo o coordenador regional de pastoral, as atividades “se concentrarão na acolhida dos setores pastorais, na apresentação dos objetivos da CF, no olhar carinhoso sobre os trabalhos realizados, na experiência da Cruz da JMJ e no sentido maior que nos envolve e nos congrega. Por fim, a Eucaristia que irá nos alimentar com a Palavra e o Corpo de Cristo, a fim de que cada um se sinta chamado a servir e, mais do que isso, servir com o próprio testemunho, a partir do exemplo de Jesus”.


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João Carlos Gomes

Colaborador de Comunicação da Região

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Belém

Padre Neidson é o novo administrador da Paróquia Santo André Apóstolo No domingo, 15, cerca de 450 pessoas das dez comunidades que formam a Paróquia Santo André Apóstolo, do Setor Conquista da Região Episcopal Belém, celebraram a posse de seu novo administrador paroquial, Padre Neidson Gomes. A missa foi presidida por Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, e concelebrada pelo novo administrador e pelos Padres Aziel Correa dos Santos e José Antonio Tejada, da Paróquia Santa Bernadete, do Setor Vila Alpina. “O início do ministério de um padre na paróquia está no anúncio do Evangelho”, disse Dom Edmar ao Padre Neidson, logo após a Proclamação feita por ele. “Isso que você fez, anunciando a Palavra de Deus na liturgia, é o que precisa ser feito continuamente, não obstante termos tantas outras tarefas e atividades. Entretanto, nada disso teria sentido se a Palavra de Deus não tivesse sentido em sua vida”, afirmou o Bispo. No final da celebração, Padre Neidson agradeceu a presença de todos. “Sou muito grato a Dom Edmar, que representa a Arquidiocese de São Paulo e a todos vocês irmãos de comunidade pela acolhida nesta região, que merece toda a nossa dedicação e trabalho, já que são mais de 120 mil moradores nesta região – não todos católicos, eu sei – mas trabalharemos para o bem de todos como filhos do Deus da Vida. Por isso, eu peço a ajuda e as orações de vocês, irmãos”, disse o Padre Neidson.

João Carlos Gomes

Dom Edmar Peron preside posse do Padre Neidson, como administrador da Paróquia Santo André Apóstolo, no dia 15

AGENDA REGIONAL Domingo (22), 10h

Posse do Padre Reginaldo de Abreu Araújo da Silva, como pároco da Paróquia Jesus Ressuscitado (rua Plutão, 61, no Jardim Santa Bárbara).

Segunda-feira (23), 20h Abertura do Curso de Teologia do Setor Conquista, na Paróquia Jesus Ressuscitado.

Terça-feira (24), 8h30

Reunião do Clero, no Centro Pastoral São José (avenida Álvaro Ramos, 366, no Belém).

Ipiranga

Francisco David

Colaborador de Comunicação da Região

Nossa Senhora de Lourdes intercede por fiéis no Planalto Paulista Era o ano de 1858, quando numa pequena gruta na cidade de Massabiele, na França, uma simples e pobre menina camponesa, de nome Bernadette Soubirous, ouvia esta maravilhosa revelação: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Da primeira aparição, naquele dia 11 de fevereiro, já se passaram 157 anos e a devoção a Nossa Senhora de Lourdes só aumenta. O seu santuário na cidade de Lourdes, na França, está entre os maiores do mundo, recebendo anualmente milhões de peregrinos. Com igual fervor, a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, do Planalto Paulista, recebeu todos os devotos da Virgem, no dia 11, quando foi celebrada a memória da padroeira Para homenageá-la,

Fotos: Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

Dom José Roberto preside missa de encerramento da festa de Nossa Senhora de Lourdes, após a qual acontece procissão pelas ruas do bairro

houve missa às 7h, e às 15h, reza do Terço, seguida da Unção dos Enfermos. À noite, aconteceu a missa solene, presidida por Dom José Roberto Fortes Palau, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, e con-

celebrada pelos padres Jorge Bernard, pároco da Paróquia Santa Rita; Frei Djalma Fuck, pároco da São Francisco de Assis; Frei Rildo de Lima, pároco da Santo Ivo; Frei Julio Amezu, pároco da Nossa Senhora da Saúde; e Padre Célio

Cardoso, pároco da Nossa Senhora de Lourdes. Os fiéis que lotaram a matriz da Paróquia ouviram Dom José Roberto alertar para a necessidade de traduzir em atos, na prática, o amor ao próximo. Após a missa, seguiu-se

uma procissão pelas ruas do bairro, com a imagem luminosa da Padroeira, ao som de fogos de artificio na saída da procissão e na chegada. As lideranças da Paróquia agradeceram a todos que se empenharam na realização da festa.


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Santana

Diácono Francisco Gonçalves

Colaborador de comunicação da Região

Irmã Bernadete: 50 anos de consagração a Deus e amor ao próximo Diácono Francisco Gonçalves

Irmã Bernadete renova profissão de fé de vida consagrada diante de Dom Sergio, durante jubileu de ouro

A Paróquia Nossa Senhora do Loreto, na Vila Medeiros, ficou repleta de consagrados, e fiéis para comemorar, no dia 7, os 50 anos de vida religiosa de Irmã Bernadete (Naoko Hiraima), da Congregação Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus, cujo carisma é participar da obra de evangelização, sobretudo na promoção dos jovens, crianças e famílias. Irmã Bernadete passou es-

ses anos nessa família religiosa fundada em 1925, em Santa Marinella, em Roma, pela Beata Maria Crucifixa Cúrcio e pelo Padre Lourenço Van den Eernbeemt, O.Carm. Antes da missa em ação de graças pela vida consagrada da Irmã Bernadete, que foi presidida por Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, a comunidade realizou, entre os dias 4

e 6, tríduo preparatório ao jubileu de ouro com o tema: “Chamadas a seguir e servir a Cristo na vida religiosa consagrada”. Dom Sergio, na homilia, ressaltou a importância da vida consagrada e falou dos homens e mulheres religiosos que têm missão de anunciar o Evangelho. O Bispo apontou que, diferentemente de outras profissões ou funções, não se vê nenhum religioso ou religio-

sa afastar-se de sua missão por aposentadoria, pois eles dedicam as próprias vidas à missão evangelizadora. Filha de um pastor budista vindo do Japão, Irmã Bernadete recebeu ao nascer, no Estado de São Paulo, o nome de Naoko Hiraima, mas aos 8 anos, obteve a permissão de seu pai para que fosse batizada no catolicismo. Vivendo em Nova Esperança (PR), conheceu as Irmãs Carmelitas, e quando tinha 25 anos, decidiu ser religiosa e assim realizou o sonho de infância: dedicar a própria vida no serviço aos outros como missionária e educadora. Em 1965, fez sua primeira profissão religiosa. “Essa é uma irmã do povo. Ela visita os doentes procurando cuidar da saúde deles com as ervas medicinais colhidas no jardim do convento, junto das flores que ela cuida. Irmã Bernadete está sempre atenta à caridade, utilizando-se do seu carisma da comunicação. Seu jubileu tem a ver com a ação das carmelitas na Vila Medeiros”, expressou Maria Inês Leandro, vicetesoureira do Conselho Nacional do Laicato do Brasil da Região Episcopal Santana.

Catequistas aprimoram conhecimentos sobre iniciação à vida cristã Entre os dias 9 e 12, no auditório da cúria regional, a equipe de Animação Bíblico-catequética da Região Episcopal Santana realizou a Semana Catequética 2015, o encontro anual de catequistas da Região. “Essa semana é um primeiro momento de formação continuada dos catequistas dentro do Projeto de Iniciação à Vida Cristã. Mais uma vez, nos preparamos para um momento favorável de formação e confraternização. Facilitar o encontro dos catequizandos com Jesus pode produzir um impacto na vida deles. Será o início de uma nova realidade, mas é necessário abrir o coração e

AGENDA REGIONAL Domingo (22), 17h

Abertura regional da Campanha da Fraternidade 2015, na Paróquia Sant´Ana (rua Voluntários da Pátria, 2.060, em Santana), com missa presidida por Dom Sergio de Deus Borges.

deixar que conduza os nossos passos, motivando-nos para um novo agir”, expressou, no convite aos catequistas, o Padre Paulo Cesar Gil, pároco da Paróquia Menino Jesus e assessor da Animação Bíblico-catequética da Arquidiocese. O evento procurou implementar o processo de iniciação à vida cristã. Na abertura, no dia 9, Padre Paulo Gil abordou em sua exposição “Quem é Jesus: o Caminho”, tendo por base o Evangelho de Marcos. Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, foi o assessor da segunda noite, falando sobre o encontro pessoal com Jesus, sob o enfoque da exortação apostólica Evangelli gaudium, do Papa Francisco. O Padre João Luiz Miqueletti, pároco da Paróquia Sant’Ana e coordenador regional de pastoral, no dia 11, discorreu sobre o encontro na comunidade de Jesus, tendo por base o Documento

Diácono Francisco Gonçalves

Dom Sergio de Deus Borges assessora Semana Catequética 2015 na cúria regional, no dia 10

100 da CNBB — Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. O encerramento, no dia 12, teve a Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano 2º, como base para o tema “A vida e missão da comunidade dos discípulos de Jesus”, com assessoria de Glaucia Gabriela.

O evento foi destinado aos agentes de pastoral envolvidos no processo de iniciação à vida cristã, para que possam atuar como multiplicadores nas paróquias e comunidades. Segundo Padre Paulo Gil, ao longo do ano serão realizados encontros mensais de formação para as equipes de coordenação,

abordando os sacramentos Batismo, Eucaristia e Confirmação. Em abril, ocorrerá um encontro para projetar as equipes paroquiais de iniciação à vida cristã. Depois, haverá o retiro para os catequistas e, em setembro, novamente, serão promovidas quatro noites de formação bíblico-catequética.


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Fernando Geronazzo

Colaborador de comunicação da Região

Aulas da Escola de Catequese começam em 14 de março Estão abertas as inscrições para a Escola de Catequese da Região Sé. O objetivo do curso é dar orientações metodológicas e os fundamentos da reflexão bíblica e doutrinal usados no conteúdo de Catequese em seus diversos níveis, orientada pelo processo de iniciação cristã com inspiração catecumenal, em conformidade com o 11º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo. As aulas começarão no dia 14 de março, todos os sábados, das 8h30 às 11h30, até 20 de junho, na Paróquia São Gonçalo (praça Dr. João Mendes, 108, no centro). O custo total do curso é de R$ 30 (incluindo a apostila). As inscrições devem ser encaminhadas por carta, aos cuidados da Equipe de Animação Bíblicocatequética da Região, para o Centro de Pastoral Regional (avenida Pacaembu, 954, CEP: 01234-000) ou pelo fax (11) 3826-3148; ou pelo e-mail regiaose@regiaose.org.br. Outras informações com o Padre Marcelo Delcin, pelo telefone (11) 2796-6016, ou com Margarete, (11) 3672-5259.

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‘O Catequista não deve pregar uma ideologia, mas uma Catequese que coloca Cristo como o centro’ Cerca de 300 pessoas participaram da Semana de Iniciação à Vida Cristã da Região Episcopal Sé, realizada de 9 a 12, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Sumaré, na zona oeste de São Paulo. Assessorados pelo Padre Carlo Maria Battistoni, membro do Centro Bíblico Regnum Dei, de Ponta Grossa (PR), o grupo refletiu sobre “O Encontro com Jesus: O Caminho”, através do Evangelho de Marcos e da exortação apostólica Evangelii gaudium. “No mundo de hoje, a insatisfação e o individualismo norteiam a vida das pessoas. Então, o que faz o catequista levar o Evangelho? É o desejo de que a alegria do Evangelho atinja a todos os homens. O Catequista não deve pregar uma ideologia, mas uma Catequese que coloca Cristo como o ‘centro’. A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus (Evangelii gaudium 264)”, refletiu o assessor. No segundo dia de encontro, os participantes receberam a visita de Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese e vigário episcopal para a Região Sé, que saudou e incentivou a todos na

Fernando Geronazzo

Padre Carlo assessora Semana de Iniciação à Vida Cristã na Região Sé, entre os dias 9 e 12

formação para a iniciação à vida cristã. Para o coordenador da Animação Bíblico-catequética da Região Sé, Padre Marcelo Delcin, a Semana de Iniciação à Vida Cristã foi um momento muito precioso de renovar nos agentes o encontro com Deus e também de animação da pastoral. “Buscamos refletir sobre os critérios de discernimento para o verdadeiro encontro com Jesus Cristo, primeiro passo de

onde parte a evangelização”, disse. Padre Marcelo, que também é assistente eclesiástico da Animação Bíblico-catequética da Arquidiocese de São Paulo, explicou que esse encontro acontece em sintonia com as demais regiões episcopais, que também abordaram esse tema. “Este é o primeiro passo do projeto amplo de implementação do processo de iniciação à vida cristã na Arquidiocese”. (Colaborou Ana Luiza José)


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Lapa

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Padre José Carlos Spínola e Benigno Naveira Colaboradores de comunicação da Região

Paróquia São Domingos Sávio investe em tecnologia para captar água das chuvas Paróquia São Domingos Sávio

Caixa d´água na São Domingos Sávio armazena até 3 mil litros de água das chuvas

Diante da falta de água que afeta a região metropolitana de São Paulo, algumas paróquias tem buscado alternativas para não ficarem com as torneiras secas. Na Paróquia São Domingos Sávio, no Setor Pirituba, o Padre José Carlos Spinola, pároco, solicitou a implantação de um sistema de captação da água das chuvas na igreja. O sistema capta as águas da cobertura do pátio (por meio de canaletas projetadas para este fim), dos telhados do salão e da casa paroquial. Toda a água passa por um processo de decantação (para separar o líquido de eventuais componentes sólidos) e é utilizada na limpeza da casa, do templo e para a lavagem das roupas. A caixa d´água que armazena o volume captado, atingiu sua capacidade máxima de 3 mil litros apenas com as chuvas da última semana. “A chuva, além de água, traz vários produtos indesejáveis para o armaze-

namento, dentre eles folhas de arvores (que são levadas pelo vento), acúmulo de poluição e poeira (que são depositados sobre lajes e telhados), dentre diversos produtos químicos que estão presentes na atmosfera e são arrastados junto com as gotas de chuva. Para utilizarmos essa água, são necessários alguns cuidados, como separação de partículas maiores, que são retidas por meio de uma tela, filtragem que é feita por um material poroso de alta permeabilidade (espuma, fibras) e por último a decantação, que separa as partículas que passaram pelo sistema de limpeza”, explicou Émerson Merighi, técnico responsável pela obra. “Embora a água coletada pareça muito limpa, existem produtos químicos dispersos na água, limitando seu uso, tornando-a imprópria para consumo”, detalhou Emerson. Por isso, essa água é utilizada apenas para limpeza e lavagem de roupas.

CTAP: 20 anos de história na capacitação dos leigos da Região Lapa Em 2015, a Região Episcopal Lapa comemora 20 anos da implantação do Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP), que surgiu para dar a oportunidade aos leigos de receberem uma formação adequada e profunda. Em conversa com a Pastoral da Comunicação regional, Padre Geraldo Pereira, pároco da Paróquia Santa Maria Goretti e professor do curso, detalhou que a proposta é oferecer aos leigos uma compreensão sobre a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura, inspirada e transmitida pela Tradição viva da Igreja. Segundo o Padre, o CTAP apre-

senta uma visão da Teologia adaptada ao seu tempo de duração, que é curto. Uma aula semanal, durante nove semestres. “Os alunos são pessoas entusiasmadas e atuantes nas pastorais e isso ajuda muito no andamento do curso. Considero importante o Curso de Teologia para a vida dos leigos e leigas conscientes de sua missão de discípulos (as) missionários (as) na Igreja e no mundo. Ele propicia a formação dos agentes de pastoral, tornando-os capazes de produzir, traduzir e aplicar os conhecimentos recebidos nos diversos campos de atuação eclesial,

familiar e profissional, promovendo a vivência e o anúncio do Evangelho sob a fiel orientação da Tradição Apostólica e do Magistério da Igreja, depositária das verdades da fé e da moral, na perspectiva da edificação do Reino de Deus”, comentou Padre Geraldo. Ainda de acordo com o Sacerdote, ao término do curso, os alunos percebem que há muito ainda por conhecer, descobrir, aprofundar e estudar. “Um leigo bem formado pode ajudar mais na paróquia. Temos muitos exemplos de párocos que incentivam e, às vezes, até ajudam financeiramente seus

fiéis para que frequentem o curso de Teologia, e que testemunham que o apostolado e a colaboração que esses paroquianos dão à paróquia, ao término do curso, são de inestimável valor”, comentou, lembrando que muitos exalunos são líderes em suas paróquias, dão cursos, são catequistas e ministram palestras, e alguns passam a ser professores no CTAP. Os interessados em participar do Curso de Teologia para Agentes de Pastoral devem buscar informações sobre inscrições na cúria regional, por meio do telefone (11) 3834-7141 ou pelo e-mail reglapa@uol.com.br.


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Cardeal Odilo Pedro Scherer

‘As reformas até agora introduzidas pelo Papa apontam para a simplicidade, sobriedade, verdade e caridade na vida eclesial’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padre Michelino Roberto e Rafael Alberto osaopaulo@uol.com.br

Presente no consistório em que o Papa Francisco criou 15 novos cardeais eleitores, alguns para países que nunca tiveram cardeais anteriormente, como a Etiópia, Vietnã, Nova Zelândia, Mianmar, Tonga e Cabo Verde; e no âmbito da qual a reforma da Cúria Romana foi a pauta principal da reunião do Papa com os membros do Colégio Cardinalício, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, em entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, comenta a escolha dos novos cardeais e afirma: “Não creio que se devam esperar ‘novidades surpreendentes’ na reforma da Cúria. As reformas até agora introduzidas pelo Papa Francisco apontam para a simplicidade, a sobriedade, a verdade e a caridade na vida eclesial”.

O SÃO PAULO - A Igreja possui muitos nomes diferentes para reuniões de seus membros com o Papa: Concílio, Sínodo, Assembleia dos Cardeais, Consistório etc. Não raro, o público leigo e mesmo os jornalistas têm dificuldade de compreender a natureza desses encontros. Poderia explicar aos nossos leitores o que são e a relevância que essas reuniões têm para a vida da Igreja? Cardeal Odilo Pedro Scherer - As reuniões de membros da Igreja podem ser de natureza muito diversa, dependendo dos Organismos e Instituições envolvidos nessas reuniões; daí também, os nomes diversos. Concílio é a assembleia de todos os bispos da Igreja Católica; é sempre convocado e presidido pelo próprio Papa. Trata-se da reunião mais importante na Igreja; Sínodo dos Bispos é um organismo consultivo da Igreja, instituído pelo Papa Paulo VI no final do Concílio Ecumênico Vaticano II (1965), para expressar a participação do episcopado nas responsabilidades pela vida e a missão da Igreja. O Sínodo dos Bispos promove assembleias ordinárias e extraordinárias, sempre convocadas e presididas pelo Papa, que também aprova o regulamento das Assembleias; Colégio Cardinalício é o organismo que congrega todos os cardeais da Igreja. “Cardeais eleitores” do Colégio são aqueles que têm menos de 80 anos de idade; Conclave é o nome dado à assembleia dos membros eleitores do Colégio Cardinalício, com o objetivo de eleger um novo papa;

Consistório é a reunião do Papa com os Cardeais; o próprio Papa convoca e preside os consistórios, que podem ser ordinários ou extraordinários, públicos ou reservados unicamente aos cardeais. Nos consistórios ordinários participam os cardeais que estão em Roma e essas reuniões acontecem com certa regularidade, quando o Papa consulta ou informa aos cardeais sobre questões ou decisões que está para tomar. Os consistórios extraordinários acontecem mais espaçadamente e a eles são convocados todos os cardeais; nessas ocasiões, o Papa promove alguma consulta mais ampla sobre assuntos da vida da Igreja e também faz novos cardeais.

Poderia nos contar um pouco do que foi refletido e decidido durante as reuniões do Papa com os cardeais que ocorreram ao longo deste consistório? O tema principal da reunião com Papa Francisco com os membros do Colégio Cardinalício, nos dias 12 e 13 de fevereiro, foi a reforma da Cúria Romana. A “Cúria Romana” é o conjunto de pessoas, organismos e instituições que estão a serviço da missão do próprio Papa diante da Igreja no mundo inteiro. Trata-se, portanto, do corpo de colaboradores imediatos do Papa, em Roma e no Vaticano. Os organismos da Cúria também são chamados de Dicastérios: são as Congregações, os Pontifícios Conselhos, as Pontifícias Comissões, a Rota Romana, a Signatura Apos-

tólica e a Penitenciaria Apostólica. Na reunião havida, o Grupo de Trabalho, encarregado pelo Papa de elaborar uma proposta de reforma da Cúria, apresentou o seu trabalho e suas propostas. Houve, depois, ampla reflexão sobre essas propostas e sobre o significado e a orientação do trabalho da Cúria. Evidentemente, houve muitos tipos de propostas para a reforma da Cúria: a principal refere-se à eventual criação de duas novas “Congregações”: para os leigos, família e vida; e para a caridade, a justiça, paz. Mas também se falou da possibilidade de reduzir o número de Dicastérios, de reorganizar as atribuições e a distribuição dos trabalhos, da eventual inserção de mais leigos nos trabalhos da Cúria e de mulheres em postos de responsabilidade.

Como e quando essas mudanças acontecerão? As mudanças na Cúria serão explicitadas na reformulação do atual “Regulamento” da Cúria, chamado “Constituição Apostólica Pastor bonus”, do Papa São João Paulo II, (1988). Antes de ser efetivado, isso ainda poderá necessitar vários momentos de consulta e reflexão. Enquanto isso, algumas decisões sobre as reformas parciais já poderão ser implementadas. O fato é que o Papa não pode ficar sem a sua cúria e seu corpo de colaboradores; da mesma forma como um Chefe de Estado ou de Governo não poderia ficar sem seu corpo de ministros e colaboradores.

A impressão que se tem a partir dos discursos do Papa Francisco é que mais do que uma reforma estrutural da instituição, ele insiste em mudanças de atitudes dos membros da Cúria e da hierarquia... O trabalho da Cúria precisa ser orientado pela mística da vida cristã, que é o serviço generoso, e pela missão da Igreja. Portanto, a reforma da Cúria tem por objetivo a prestação de melhor ajuda possível ao Papa na sua missão de sucessor do apóstolo Pedro. Em vários momentos da nossa reunião, refletiu-se sobre o serviço humilde, competente e dedicado de todos os servidores da Cúria Romana. Não é questão de carreira, para a satisfação de vaidades, ou de exercício de poder, mas de serviço: e quem mais está “no alto”, mais ainda deve destacar-se pelo serviço à Igreja e sua missão. O Papa Francisco, de fato, está procurando introduzir na Igreja toda, e na Cúria também, essa autenticidade evangélica: os cristãos devem deixarse conduzir por critérios evangélicos, como a verdade, a honestidade, a caridade, a justiça, a misericórdia e assim por diante. Devemos esperar por surpresas nessa reforma? Não creio que se devam esperar “novidades surpreendentes” na reforma da Cúria. As reformas até agora introduzidas pelo Papa Francisco apontam para a simplicidade, a sobriedade, a verdade e a caridade na vida eclesial. É bem verdade que, mais que mudanças nas estruturas, o Papa Francisco deseja introduzir um “novo espírito” na vida da Igreja, pedindo novas atitudes, coerentes com a fé, a vida e a missão da Igreja. Vale para quem colabora na Cúria, a hierarquia e para todos os membros da Igreja. O que achou das escolhas de Francisco dos novos cardeais? Na escolha dos novos cardeais, ficou claro que o Papa Francisco deseja alargar mais a abrangência do Colégio Cardinalício, de maneira que também participem dele bispos de países “de missão”, ou de regiões onde o catolicismo é minoritário e periférico. Assim, ele escolheu, na América, o arcebispo de Montevideo e da cidade do Panamá, onde não havia cardeais antes; na Ásia, escolheu cardeais para o Vietnã, a Tailândia, o Mianmar, a Nova Zelândia e as Ilhas Tonga, onde os católicos são bem poucos. O Papa Francisco está olhando para “as periferias”...


24 | Geral |

19 a 24 de fevereiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br

Francisco cria 20 cardeais de 14 países L’Osservatore Romano

Papa busca aproximar periferias ao centro das decisões e afirma: o que diferencia um cardeal é a ‘total disponibilidade em servir aos outros’ FILIPE DOMINGUES

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Acolher, integrar, sair, buscar quem está longe, sem preconceito e sem medo, manifestando gratuitamente o que também de graça recebeu. Em poucas palavras, esse é o sentido que o Papa Francisco quer dar ao cardinalato. “A total disponibilidade em servir aos outros é o nosso sinal distintivo, é o nosso único título de honra!”, afirmou o Pontífice, no domingo, 15, em sua primeira missa com 19 dos 20 novos cardeais, criados no sábado, 14 (Dom José de Jésus Pimiento Rodríguez, arcebispo de Manizales, não pôde comparecer ao consistório por motivo de saúde). Para alguns observadores do Vaticano que vivem em Roma, é inovadora e corajosa a forma como Francisco passou a tratar a questão do cardinalato. Ele fortalece a ideia de que um cardeal é um servidor, que tem a missão de “integrar”, e não de “marginalizar”. Os cardeais são considerados os principais homens de confiança do Papa em todo o mundo. Originalmente, o título foi criado para diferenciar os homens que estariam dispostos a dar a vida pela Igreja na missão de auxiliar o papa em seu “ministério petrino” – por isso, as vestimentas de cor vermelha. No início, todos os cardeais viviam em Roma, mas, com o tempo, passou-se a nomear cardeais em todo o mundo. E uma parte importante da missão deles é justamente eleger o próximo bispo de Roma, o Papa, quando ele morre ou renuncia. É previsto que os cardeais tenham um peso político decisivo dentro da Igreja e na sua relação com a sociedade. São eles que ajudam o Papa a entender as realidades locais da Igreja e a conduzi-la da melhor forma. Lideram instituições importantes e visitam países. Por isso, só mesmo o Papa nomeia pessoalmente os cardeais. Assim,

No sábado, 14, Papa Francisco cria 20 cardeais, em cerimônia no Vaticano, na presença de Bento XVI

por muitos anos, o cardinalato foi considerado um título de honra. Mas são justamente os resquícios dessa mentalidade que Francisco parece tentar eliminar. “A dignidade cardinalícia é certamente uma dignidade, mas não é honorífica”, afirmou no consistório (reunião de cardeais com o papa). Ele recordou que a palavra “cardeal” remete a cardine (dobradiça), ou seja, “não um acessório, uma decoração, mas um eixo, um ponto de apoio e de movimento, essencial para a vida da comunidade”. Falando sobre a passagem do Evangelho de Marcos em que Jesus cura um homem doente de lepra, o Papa deu uma clara mensagem de amor que deve ser praticado pelos cardeais. “A compaixão leva Jesus a agir de modo concreto: a reintegrar o marginalizado. São estes os conceitos-chave que a Igreja nos propõe hoje: a compaixão de Jesus diante da marginalização e a sua vontade de reintegração.” Um resumo de como o Papa Francisco entende o que é ser um cardeal foi dado no

fim de sua homilia. “Eu vos exorto a servirem a Igreja de maneira que os cristãos, edificados com nosso testemunho, não sejam tentados a estar com Jesus sem querer estar com os marginalizados, isolando-se em uma casta que nada tem de autenticamente eclesial”, declarou. “Vos exorto a ver o Senhor em toda pessoa excluída que tem fome, que tem sede, que está nua; o Senhor que é presente também naqueles que perderam a fé, ou que se afastaram, ou que se declaram ateus.”

Cardeais em todo o mapa

O que marca as nomeações de Francisco é claramente um desejo de representar melhor no colégio cardinalício uma parte da Igreja que não vinha sendo considerada. No consistório do ano passado, ele priorizou países que nunca tiveram um cardeal antes, como o Haiti, um dos mais pobres do mundo. Desta vez, nomeou seis cardeais de países que não tinham nenhum. Alguns têm um cardeal pela primeira vez na história: Cabo Verde, na África; Myanmar (Birmânia), na

Ásia; e Tonga, um arquipélago de 176 ilhas no Oceano Pacífico. Os 20 novos cardeais são de 14 países diferentes. “O critério mais evidente é o da universalidade”, resumiu o porta-voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi, em entrevista coletiva realizada em janeiro. “Nota-se a presença de comunidades eclesiais pequenas ou em situação de minoria. Nota-se que há apenas um novo cardeal da Cúria Romana”, completou. Para o diretor do programa da Rádio Vaticano em inglês, o jornalista Sean Patrick Lovett, que acompanha os papas há mais de duas décadas, basta olhar para a lista dos países que os novos cardeais representam para compreender o que Francisco entende por universalidade. “De Moçambique ao México, de Tailândia a Tonga. De Portugal ao Panamá, do Vietnã a Cabo Verde. Sem mencionar Birmânia, Uruguai e, o mais longe de todos, Nova Zelândia. Por acaso, eu mencionei Etiópia, Espanha e, claro, Itália?”, brincou, em depoimento à própria rádio. Alguns entusiastas enxergam uma mudança histórica na forma que Francisco vem dando ao colégio cardinalício, como John Allen Jr, editor do site Crux e articulista do jornal americano Boston Globe. “Criando 20 novos cardeais de todo o mundo, o primeiro papa de um país em desenvolvimento deve mudar o catolicismo para sempre”, escreveu, em análise. Ele explica que Francisco está deixando de lado a tradição de que algumas grandes dioceses, por sua importância, precisavam ter bispos cardeais – eram as chamadas dioceses cardinalícias. Francisco passou a priorizar dioceses menores, localizadas “literalmente” em todo o mapa. “Ainda não sabemos quais são as consequências dessa mudança, mas parece ser profunda.” Depois do último consistório, o colégio de cardeais passou de 110 a 125 representantes com idade inferior a 80 anos, que são aqueles que podem votar num eventual conclave (reunião de cardeais para eleger um papa). Deste total, 31 deles foram nomeados pelo Papa Francisco, em dois consistórios. Nenhum brasileiro entrou na última lista e, portanto, permanecem quatro os cardeais eleitores do Brasil.

L’Osservatore Romano

Novos Cardeais Dom Dominique Mamberti, arcebispo de Sagona, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica; Dom Manuel José Macário do Nascimento Clemente, patriarca de Lisboa (Portugal); Dom Berhaneyesus Demerew Souraphiel, C.M., arcebispo de Addis Abeba (Etiópia); Dom John Atcherley Dew, arcebispo de Wellington (Nova Zelândia); Dom Edoardo Menichelli, arcebispo de Ancona-Osimo (Itália); Dom Pierre Nguyên Văn Nhon, arcebispo de Hanóid (Vietnã); Dom Alberto Suárez Inda, arcebispo de Morelia (México); Dom Charles Maung Bo, S.D.B., arcebispo de Yangon (Myanmar); Dom Francis Xavier Kriengsak Kovithavanij, arcebispo de Bangkok (Tailândia); Dom Francesco Montenegro, arcebispo de Agrigento (Itália);

Dom Daniel Fernando Sturla Berhouet, S.D.B., arcebispo de Montevidéu (Uruguai); Dom Ricardo Blázquez Pérez, arcebispo de Valladolid (Espanha); Dom José Luis Lacunza Maestrojuán, O.A.R., bispo de David (Panamá); Dom Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde (Cabo Verde); Dom Soane Patita Paini Mafi, bispo de Tonga (Ilhas de Tonga); Cardeais arcebispos eméritos Dom José de Jesús Pimiento Rodríguez, arcebispo emérito de Manizales (Colômbia); Dom Luigi De Magistris, arcebispo de Nova, PróPenitencieiro Maior emérito (Itália); Dom Karl-Joseph Rauber, arcebispo de Giubalziana, Núncio Apostólico; (Alemanha) Dom Luis Héctor Villalba, arcebispo emérito de Tucumán (Argentina); Dom Júlio Duarte Langa, bispo Emérito de Xai-Xai (Moçambique).


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