O SÃO PAULO - 3042

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 60 | Edição 3042 | 11 a 17 de março de 2015

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Em encontro com Cardeal, coordenações pastorais iniciam atividades em 2015 No sábado, 7, os representantes das coordenações pastorais da Arquidiocese reuniram-se com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, no auditório da Fapcom, para o tradicional

encontro que demarca o início do ano pastoral. A vivência da urgência “Igreja a serviço da vida plena para todos”, destacada para este ano na Arquidiocese, foi um dos aspectos tratados por Dom

Dom Odilo Scherer institui a Medalha ‘São Paulo Apóstolo’ A medalha é um prêmio de reconhecimento que tem os objetivos de valorizar, estimular e dinamizar a vida eclesial e pastoral na Arquidiocese. Sua instituição acontece no ano em que se comemora 270 anos de criação da Diocese de São Paulo. A Medalha traz, numa face, a efígie do apóstolo São Paulo, patrono da Arquidiocese; na outra face, traz a vista frontal da Catedral Metropolitana de São Paulo. Página 11

Sai lista de envolvidos Especial: ‘Lista suja’ na Lava Jato e o trabalho escravo Após quase um ano do início da Operação Lava Jato, o procurador geral da república, Rodrigo Janot, entregou para o ministro Teori Zavascki, relator do caso no STF, lista de políticos citados durante os depoimentos de delação premiada. Página 14

Água para o povo de rua, pede Padre Julio Página 10

Realizado encontro de ‘padres novos’ Página 10

Instrumento pelo qual o Ministério do Trabalho e Emprego divulga o nome de empresas processadas por estarem envolvidas com trabalho escravo ou situações análogas à escravidão foi proibida de ser divulgada pelo ministro Ricardo Lewandowski. Páginas 12 e 13

Elizabeth Zogbi fala do cuidado aos idosos

Odilo, que reforçou que “é preciso estar muito atento aos lugares onde a vida está sofrida e é ameaçada”. Ao fim do encontro, o Arcebispo informou as atualizações na organização pastoral da Arquidiocese

e dos bispos referenciais das 19 coordenações pastorais que formam o Conselho Arquidiocesano de Pastoral e o Secretariado de Pastoral.

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O Papa das mudanças: dois anos da eleição de Francisco Na sexta-feira, 13, completamse dois anos do pontificado de Francisco. Alguns estudiosos em Roma acreditam que o projeto de reforma do Papa é um processo histórico que só poderá ser compreendido no futuro. O padre italiano Rocco D’Ambrosio, professor de Filosofia Política na Pontifícia Universidade Gregoriana, afirma que os atos do Papa Francisco estão “em total continuação com as resoluções do Concílio Vaticano II”. Assim, o aggiornamento (atualização) já vinha acontecendo gradualmente. Página 24

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Dia da Mulher é lembrado nas regiões Páginas 18 e 19

#24horasparaoSenhor - Deus rico de misericórdia (Ef 2,4) Atendendo ao apelo do Papa Francisco para que se dediquem 24 horas para o Senhor, tendo em vista a preparação para a Páscoa, a Catedral da Sé fará um mutirão de atendimentos de Confissões na próxima sexta-feira, 13, das 7h às 21h. Ao longo do dia, haverá, ainda, adoração eucarística permanente e missas às 9h, 12h e 17h.


2 | Ponto de Vista |

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editorial

Oposição é necessária e faz bem A aparição da presidente Dilma Rousseff em horário nobre em um pronunciamento pelo Dia Internacional da Mulher deu ocasião para que setores da sociedade, descontentes com o Governo Federal, mobilizassem uma manifestação de protesto no domingo, 8. Com os ânimos abrasados pela publicação da lista de políticos suspeitos de atos de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha – A lista de Janot – levantada a partir da delação premiada, composta, em sua esma-

gadora maioria, por políticos membros dos partidos que compõem a base do Governo e que incluem os atuais presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, este um dos mais notáveis opositores no segundo mandato de Dilma –, em vários pontos da cidade de São Paulo e outras capitais manifestantes, ao som da batida de panelas vazias, exigiram o impeachment da Presidente. A manifestação de protesto provocou outro fenômeno: a discussão “acalorada”, nas redes sociais, com

direito a insultos implícitos e explícitos por parte dos prós e dos contras o governo do PT, reafirmando que quando o assunto é religião, política e futebol, predomina a paixão sobre a razão, com perigo de violência, como ocorrem entre as torcidas organizadas. Nesse estado de coisas, é importante lembrar: no processo democrático, a oposição, a divergência de ideias e o debate civilizado são importantes e fazem bem. Eles podem ajudar os governantes a corrigir rotas e desvios, aperfeiçoar projetos

bons, mas que possuem defeitos, ampliar horizontes e dão o bom recado aos políticos de que eles não podem simplesmente fazer o que bem entendem. E o melhor de tudo: provocam o estado de vigilância em todos os setores da sociedade. Em outras palavras, em toda democracia que se preze é preciso haver oposição séria e bem intencionada. E também um povo que não se acomode, nem perca a capacidade de se indignar com o que é injusto, e, por fim, que não transforme diferenças de opiniões em ódio de classes.

opinião

Ajustes: duros, mas necessários Sergio Ricciuto Conte

Antônio Carlos Alves dos Santos Em apenas dois meses, o Governo Dilma, através do seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguiu organizar um conjunto de medidas que inclui cortes de gastos, elevação de receitas e redução de subsídios, que se traduz em um ajuste fiscal de R$111 bilhões, necessários ao cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% do PIB. Pedra fundamental no processo doloroso, mas necessário, de correção dos desequilíbrios legados pela equivocada política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma. As medidas com impacto sobre os direitos do trabalhador, como alterações nas regras de acesso ao seguro-desemprego, abono salarial e pensão por morte, não foram, como era de se esperar, aceitas pelo movimento sindical, que promete fazer tudo que estiver ao seu alcance para derrubá-las no Congresso. Elas, no entanto, são corretas, e visam corrigir distorções bem conhecidas. Trabalhar por um período curto de tempo, deixar o emprego e solicitar o seguro-desemprego tornou se uma prática comum que desvirtua totalmente o objetivo do seguro-desemprego e implica em comprometimento de recursos que poderiam ser alocados em outras atividades. No caso da pensão por morte, é sabido o fenômeno popularmente conhecido como viúvas do Viagra ou o casamento no leito de morte para repassar a um membro da família estendida o recurso que seria perdido como o falecimento do ente querido. A proposta do Governo é

adequada à realidade do País e bem mais generosa que a adotada em países do mesmo nível de renda. Outra medida polêmica é a redução dos subsídios. Argumenta-se que ela levaria à redução na criação de postos de trabalhos e ao encarecimento de itens importantes na cesta de bens consumidos pelas classes menos favorecidas da sociedade. Pesquisas, no entanto, demonstram que quando há aumento na oferta

do número de empregos com base em subsídios, isso ocorre a um custo tão elevado que sairia muito mais barato repassar os recursos diretamente aos trabalhadores. No caso de subsídios de tarifas públicas, os maiores beneficiários acabam sendo os consumidores de maior renda, que fazem maior uso destes serviços, por possuírem um número maior de automóveis, utensílios elétricos etc. A medida provisória com alte-

ração na desoneração da folha de pagamentos - cujo impacto na geração de empregos é no mínimo controverso - encontrou forte oposição dos setores que dela se beneficiam e foi rejeitada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, obrigando o governo a enviar ao Congresso um projeto de lei com urgência institucional. As consequências da decisão se fizeram sentir de imediato e em nada ajudam no processo de recuperação da credibilidade do País junto às agências de risco. Com essa decisão temerária, se atrasa o início da reversão da desoneração da folha e poderá até mesmo se comprometer todo o esforço fiscal proposto pelo Ministro Levy. Não podemos esquecer que o sucesso do ajuste fiscal é fundamental para que o País mantenha o “chamado grau de investimento” das agências de classificação de risco. É preciso tomar cuidado para que o ajuste fiscal não coloque em risco os programas sociais que atendem os mais pobres, como o Brasil Sem Miséria e o Bolsa Família. Seria um grande equívoco reduzir a alocação de recursos para esses e outros programas que obtiveram grande sucesso na redução da pobreza absoluta. Eles serão ainda mais importantes ao longo desse processo doloroso de colocar a casa em ordem. Os pobres e os mais necessitados não podem arcar com os custos do ajuste e serem rebaixados para o mesmo nível em que se encontravam em 2010. Antônio Carlos Alves dos Santos, professor titular de Economia da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

No dia 13 de março transcorre o 2º aniversário da eleição do Papa Francisco. Enquanto ainda estão vivas na memória as imagens e expressões de surpresa do mundo com a sua escolha, já é possível entrever de maneira mais clara a direção do seu Pontificado. A missão do Sucessor de Pedro diante da Igreja é a mesma para todos os papas e se resume nas palavras ditas por Jesus a Simão Pedro, após a ressurreição: “apascenta as minhas ovelhas; apascenta os meus cordeiros” (cf Jo 21,16). E ainda: “confirma os teus irmãos na fé” (cf Lc 22,32). Como “servo dos servos de Deus”, cabe ao Sucessor de Pedro dar certeza e firmeza à vida e à missão da Igreja, que recebe dele indicações imprescindíveis para expressar a sua vida e desempenhar sua missão. Essas breves indicações da missão do papa significam muito e ele desempenha sua enorme responsabilidade diante da Igreja de múltiplas maneiras. O papa é o primeiro e principal missionário na Igreja; além da animação da vida da própria Igreja, ele está em constante contato com o “mundo”, quer encontrando autoridades e representações dos povos e da sociedade civil, quer pela sua palavra, dirigida a todos. Cada papa é diferente e desempenha a sua missão com as carac-

Dois anos com o Papa Francisco terísticas de sua pessoa e de sua formação cultural. Francisco leva para a universalidade da Igreja a contribuição da América Latina e de sua formação sacerdotal e jesuítica. Isso é enriquecedor para a Igreja. O exercício de sua missão é marcado pela simplicidade, pelo modo direto e fácil de se relacionar com as pessoas e por suas palavras de impacto comunicativo. Mas não esqueçamos o conteúdo de suas indicações pastorais, encontradas, sobretudo, na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho). Francisco estimula a Igreja a superar certa estagnação e a se renovar na dimensão missionária: antes de tudo, a se reencontrar com a sua razão de ser no chamado de Cristo e no encontro com Deus. A missão brota da alegria de crer. Alguns conceitos traduzem bem esse rumo indicado por Francisco: “conversão missionária”, “Igreja em saída”, colocar-se no meio do mundo, ir ao encontro das pessoas e das realidades sociais. E não deixa de indicar as implicações do Evangelho para a vida social. Outra marca saliente do pontificado de Francisco é a da caridade e da misericórdia: ele está apontando constantemente para o coração da vida cristã, que é a caridade, com suas inumeráveis expressões. E vem apontando o lugar da Igreja e dos católicos em relação ao mundo marcado por dor, violência e sofrimentos: como um hospital de campo em tempos de guerra, junto às pessoas que sofrem, para socorrer, amparar, confortar, proteger, de-

fender... Uma Igreja nas muitas “periferias”... Estas indicações estão bem sintonizadas com a grande questão posta pelo Concílio Vaticano II, sobretudo na constituição pastoral Gaudium et Spes, ao falar das relações da Igreja com a sociedade: o diálogo e o serviço. Mas não esqueçamos uma questão muito presente nas palavras e reflexões do Papa: o chamado à verdade e à autenticidade da vida cristã e eclesial. A Igreja de Cristo não existe para “salvar aparências”, fazer pactos de conveniência ou salvar vantagens: ela existe para testemunhar a verdade. E precisa fazê-lo com todo o empenho, quer no nível da vivência pessoal de cada cristão, quer nas formas institucionais e na relação com a sociedade. Francisco tem chamado para comportamentos pessoais autênticos, coerentes com o Evangelho e transparentes, bem como para o testemunho da verdade em relação a toda realidade, por parte da própria Igreja. Nesse sentido, pode-se compreender também todo o seu empenho em renovar a Cúria Romana e os corpos administrativos da Santa Sé. A mesma autenticidade também pede aos governantes e autoridades nas relações culturais, econômicas e políticas. A advertência para não “globalizar a indiferença” aponta nessa mesma direção. Ao Papa Francisco, no 2º aniversário de sua eleição, nossos cumprimentos e nossa oração: Deus o assista e conforte em sua missão!

| Encontro com o Pastor | 3

Missas junto aos seminaristas da Arquidiocese Na semana passada, o Cardeal Odilo Scherer visitou as três casas de formação que constituem o Seminário Imaculada Conceição da Arquidiocese de São Paulo. Na segunda-feira, 2, o Arcebispo esteve na comunidade do Propedêutico e falou sobre a importância de um bom discernimento vocacional. Carlos Ramalho

Na quarta-feira, 4, o Cardeal visitou os seminaristas da Filosofia e destacou a importância de uma boa formação nas áreas de humanas. Arquivo pessoal

Na sexta-feira, 6, foi a vez de Dom Odilo visitar o Seminário de Teologia Bom Pastor, no Ipiranga. Para os seminaristas que estão na última fase da formação presbiteral, o Cardeal falou sobre as responsabilidades do sacerdócio e motivou os candidatos a refletirem sobre os compromissos com a comunidade que, como futuros padres, eles terão que assumir. Arquivo pessoal

(Por Rafael Alberto)


4 | Papa Francisco |

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Encontro com o Movimento Comunhão e Libertação

A ternura de Jesus nos purifica Na oração mariana do Ângelus, às 12h do dia 8, terceiro domingo da Quaresma, o Papa Francisco refletiu, com os peregrinos reunidos na praça de São Pedro, o Evangelho do dia, sobre a expulsão dos vendilhões do templo com suas ovelhas, bois e dinheiro, e as impressões que esse gesto suscitou no povo e nos discípulos. Esse gesto é profético e sinaliza a ressurreição de Jesus nas palavras: “Destruam este templo e eu vou reconstruí-lo em três dias”. No gesto e na mensagem profética de Jesus “se compreendem plenamente à luz de sua Páscoa”, temos aqui, segundo João, “o primeiro anúncio da morte e ressurreição de Cristo: o seu corpo destruído na cruz pela violência do pecado, se tornará na Ressurreição o lugar do encontro universal entre Deus e os homens”. E Francisco continua: “Por isso, a sua humanidade é verdadeiro templo, onde Deus se revela, fala, e faz-se encontrar; e os verdadeiros adoradores de Deus não são os guardas do templo material, os detentores do poder

e do saber religioso, são aqueles que adoram a Deus em espírito e verdade”. Aludindo à renovação das promessas do Batismo que fazemos na Vigília da Páscoa, Francisco nos exorta a caminhar no mundo como Jesus e a fazer de nossa existência “um sinal do seu amor pelos nossos irmãos, especialmente os mais fracos e os mais pobres. Assim, construímos para Deus um templo em nossa vida. Dessa forma, tornamos Deus “encontrável” às pessoas que encontramos pelo caminho. “Se somos testemunhas deste Cristo vivo, tantas pessoas encontrarão Jesus em nós no nosso testemunho”. “O Senhor se sente verdadeiramente em casa em minha vida? Permitimos que ele faça a limpeza no nosso coração, expulsando os ídolos, as atitudes de cobiça, ciúmes, mundanidade, inveja, ódio, o costume de fofocar e falar mal dos outros? Permito que ele faça a limpeza dos comportamentos contra Deus, contra o próximo, contra nós mesmos? O Papa convida a

L’Osservatore Romano

cada um a fazer para si mesmo essas perguntas”. Francisco afirma, ainda, que Jesus fará a limpeza com ternura, misericórdia e amor, porque este é o seu modo de nos limpar. Que deixemos, portanto, que ele com sua misericórdia, faça a limpeza em nossos corações. O Papa lembra que “toda Eucaristia que celebramos com fé nos faz crescer como templo vivo do Senhor, graças à comunhão com seu corpo crucificado e ressuscitado”. Ele conhece o que há em cada um de nós, conhece até o nosso mais ardente desejo de ser habitado por ele. Francisco conclui: “Deixemo-lo entrar em nossa vida, na nossa família, nos nossos corações. E que nos sustente neste itinerário quaresmal Maria Santíssima, morada privilegiada do Filho de Deus”. Após o Ângelus, o Papa fez menção ao Dia Internacional da Mulher e saudou todas as mulheres que “diariamente procuram construir uma sociedade mais humana e acolhedora”. (Por Padre Cido Perreira)

Mais de 60 mil pessoas do Movimento Comunhão e Libertação, provenientes de 47 países, encontraram-se com o Papa Francisco no sábado, 7, na praça de São Pedro. Foi uma audiência festiva por ocasião dos 60 anos de fundação do Movimento e em memória dos dez anos de morte do fundador, Padre Luigi Giussani, em 2005. Francisco motivou os membros a recordarem que o centro do Movimento não é o carisma, mas Jesus Cristo. “Quando coloco no centro o meu método espiritual, eu saio da estrada. Todas as espiritualidades e carismas da Igreja devem ser descentralizados. O único centro é o Senhor. Nunca esqueçam isso: descentralizados”. O Papa também lhess fez um alerta. “Quando somos escravos do autorreferencial, acabamos cultivando uma ‘espiritualidade de etiqueta’: ‘Eu sou CL’; e caímos em mil armadilhas que oferecem autorreferenciais, que olhando no espelho nos desorientam e nos transformam em meros empresários de uma ONG”, apontou. Fonte: Canção Nova

‘Existem países que já são escravos da droga’ Em entrevista à revista paroquial argentina La Cárcova News, reproduzida pelo jornal católico Avvenire, na terça-feira, 10, o Papa Francisco falou sobre o avanço do comércio de drogas na Argentina. “Sobre a Argentina, posso dizer o seguinte: durante 25 anos, foi um país de trânsito, hoje é um país de consumo. E, não sei com certeza, mas acredito que também produza”. O Papa manifestou que o que o “preocupa mais”, é “o triunfalismo dos traficantes. Esta gente que canta vitória, sente que ganhou, que triunfou. E é uma realidade. Há países, ou regiões, nos quais tudo está submetido às drogas”, avaliou. “É verdade, a droga avança e não para. Existem países que já são escravos da droga”, reiterou o Papa. Fonte: EFE

Posse de novo camerlengo O Papa Francisco presidiu na segundafeira, 9, no Vaticano, a liturgia de posse do novo camerlengo da Igreja, o Cardeal JeanLouis Tauran, atual presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. O Purpurado foi nomeado em 20 de dezembro passado para função de camerlengo, que é o cardeal que preside a Câmara Apostólica e desempenha a função de cuidar e administrar os bens e os direitos temporais da Santa Sé. Segundo a constituição Universi Dominici Gregis, entre as atribuições do camerlengo está a de comunicar oficialmente a morte do Pontífice ao cardeal vigário de Roma. Fonte: Rádio Vaticano (Por Daniel Gomes)


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Espiritualidade

fé e cidadania

Ser Igreja à luz de Francisco! Dom Edmar Peron Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém

Continuamente, sou surpreendido pelas pregações e ensinamentos do Papa Francisco. Ele é, para mim, uma expressão do “Deus das surpresas”... um Deus que nos surpreendeu com a eleição do Cardeal Bergoglio para bispo de Roma, buscando-o no país onde está “o fim do mundo”, Ushuaia, a “cidade mais astral” da Terra. Uma das suas características é utilizar imagens para nos ajudar a gravar seus ensinamentos. Quero, pois, destacar três dessas imagens que ele utilizou para nos falar da Igreja, e que nos ajudam a viver esse tempo sagrado da Quaresma. Uma primeira imagem é a do rio; a Igreja é como um “rio”. Dirigindo-se aos fiéis reunidos para as tradicionais audiências de quarta-feira, no dia 16 de outubro de 2013, o Papa Francisco comparou a Igreja a um rio; ela “corre na história, se desenvolve e irriga”. Mas, assim como o rio tem sua nascente, a “água que escorre” pelo rio que é a Igreja tem em Cristo a sua fonte. Ele, CrucificadoRessuscitado, “é o Vivente e as suas palavras não passam, porque Ele mesmo não passa, Ele está vivo, hoje Ele está presente aqui no meio de nós, Ele nos ouve, nós falamos com

Ele e Ele nos escuta, está no nosso coração”. Desse modo, a Igreja, pela Sagrada Escritura, a doutrina, os sacramentos e o ministério dos pastores, nos oferece a oportunidade de sermos fiéis a Jesus Cristo e de participarmos da vida dele. Penso que o desafio para sermos “Igreja-rio” é não deixar que se acumulem galhos e lixos em nossas curvas, mas manter sempre um fluxo contínuo, deixar sempre correr “a água viva” da salvação que o Senhor nos oferece e quer oferecer ao mundo inteiro, continuamente. O Papa Francisco nos ofereceu outras duas imagens de Igreja, na sua Mensagem para a Quaresma de 2015: Igreja é como uma “mão” e também como uma “ilha”. Essas duas imagens nos são apresentadas no contexto da luta contra a “globalização da indiferença”. No Projeto divino não há lugar para a indiferença. Deus, que não é indiferente ao mundo, o amou até o extremo de entregar seu Filho para a salvação de cada homem e mulher. O Filho, a quem o Espírito Santo ungiu para evangelizar os pobres, especialmente por seu mistério pascal, abriu “definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra”. E a Igreja, nascida do seu lado aberto pela lança, é chamada a ser, afirma o Papa Francisco, “mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor”. Contudo, recorda Francisco, ser “Igreja-mão” é aceitar vir a ser “rejeitada, esmagada e ferida”, pois o mundo “tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra

no mundo e o mundo n’Ele”. Essa imagem pode inspirar-nos muitíssimo; fazer a experiência de ser “Igreja-mão”, sempre acolhedora, que faz de tudo para nunca deixar que os irmãos e irmãs encontrem uma porta fechada, e, desse modo, continuem na terrível experiência da indiferença. E uma terceira imagem é aquela da “Igreja-ilha”. Certamente, para muitos, a imagem da ilha é de isolamento, de ficar isolado, de ser isolado e, por isso, no sofrimento da indiferença. Mas não! O Santo Padre convoca as paróquias e cada uma de suas comunidades – expressões concretas da Igreja – a se tornarem “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”! Nesse mar, a “Igreja-ilha” é acolhimento, segurança, esperança para quem chega. Contudo, creio que somos chamados também à atitude missionária: sair ao encontro de quem sofre e mostrar-se a eles como “ilha de misericórdia”. Quantas ações organizadas pelas nossas pastorais sociais e numerosas entidades eclesiais, entre as quais a Cáritas Arquidiocesana, revelam esse jeito de ser Igreja! Mas é preciso fazer crescer a consciência de que cada um dos cristãos é chamado a ser misericórdia para os irmãos e irmãs sofredores, com os quais nos encontramos cotidianamente. Façamos nesta Quaresma de 2015 a bela experiência de conversão, sendo “Igreja-rio”, que faz chegar a salvação ao mundo inteiro; “Igreja-mão”, que jamais fecha a porta a ninguém; e “Igreja-ilha de misericórdia”, que revela o amor de Deus na solidariedade concreta.

eSPAÇO ABERTO

‘Eu vim para servir’ Irmão Afonso Levis Com o lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45) e o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, a Igreja Católica no Brasil, pela Campanha da Fraternidade de 2015, em andamento, lança um renovado apelo de conversão e de compromisso, sobretudo durante a Quaresma, em vista do bem do povo brasileiro. O Concílio Vaticano II declarou explicitamente que a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus Cristo, se sente real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história. As alegrias, tristezas, angústias, esperanças, especialmente dos pobres, encontram eco no coração de todo cristão. (cf. GS,1). Nada mais oportuno, portanto, na comemoração dos 50 anos do Vaticano II, do que abordar um tema relevante para os dias de hoje. Na esteira dos temas das Campanhas de Fraternidade das últimas décadas, que visavam a transformação da realidade frente às injustiças e situações existenciais de sofrimento e de exclusão, o tema deste ano proporciona oportunidade de debater e aprofundar o conhecimento sobre a Igreja e sociedade, suas relações e recíprocas inci-

dências; e nos desafia a um compromisso pessoal, comunitário, solidário, social, político mais esclarecido e transformador. As duas instituições são autônomas e independentes em seu ordenamento. O Estado tem perfil laico, não adota uma religião oficial. Assim, evita interferências de religião específica, os possíveis fundamentalismos, e garante liberdade religiosa e sadio pluralismo. A laicidade, porém, se mal entendida, pode gerar ideologia ateísta e criar o estado ateu, que hostiliza e exclui a ação da Igreja e de toda religião. A finalidade da Igreja é religiosa. Não cabe a ela determinar os destinos da sociedade. Porém, a Igreja tem o direito e o dever de se manifestar e de agir em favor da defesa da vida, da dignidade humana, do bem comum, da justiça social, da paz, a partir de Jesus Cristo e seu Evangelho. Ambas estão a serviço da realização vocacional e social das mesmas pessoas em suas diversas dimensões existenciais. O diálogo e a colaboração entre ambas são indispensáveis. Passar do discurso e desenvolver atitudes de diálogo, de respeito ao diferente, de superação de todo preconceito, de atenção e serviço ao próximo, de livre e responsável deter-

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minação... é empenho quotidiano e prática habitual na proposta educativa dos Colégios Maristas. “Tornar Jesus Cristo conhecido e amado do jeito de Maria”, pelo viés da formação de “bons cristãos e virtuosos cidadãos”, como legado do fundador, Marcelino Champagnat, e traduzido adequadamente para os dias de hoje, bem se alinha com o “Eu vim para servir”, e o continua para além do tempo da Campanha da Fraternidade. O horizonte dos valores éticos e espirituais de solidariedade, dignidade da pessoa, proteção da natureza, justiça, bem comum, verdade, paz... fundamenta e sustenta o empenho cristão, social e político do aluno que, processualmente assume desde os bancos da escola, e transcende os limites do profissional em nível de “círculo familiar”, para ser protagonista no “círculo societário” e transformador. O serviço vivido por Jesus Cristo e testemunhado por seus seguidores, os cristãos, é fruto de profundo amor para com o ser humano. É resultado de gratuidade, benevolência e compaixão. Irmão Afonso Levis é diretor geral do Colégio Marista Maringá, da Rede de Colégios do Grupo Marista.

As opiniões expressas na seção “Espaço Aberto ” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

Uma outra santa do carmelo: ‘A Santa Terezinha Árabe’ Frei Patrício Sciadini, ocd Deus faz florir os seus santos em todos os lugares do seu jardim, que é a humanidade. Ele, como diria com uma imagem bonita e sempre atual, é o Jardineiro. No dia 17 de maio de 2015 será canonizada uma carmelita especial pelo caminho da Igreja e do carmelo: Irmã Miriam de Jesus Crucificado, que antes de entrar no carmelo se chamava Miriam Baouardy, de origem palestina. Mas quem é essa santa, chamada a “Pequena Árabe”? Nasceu na aldeia palestina de Abellin, na Galileia, no tempo frio do inverno de 5 de janeiro de 1846. O pai, fabricante de pólvora, fora condenado por ser considerado autor de um homicídio, que mais tarde se provará que não fora verdadeiro. Na família se respira uma imensa devoção à Sagrada Família. Depois de Miriam, nascerá também um irmão, Boulous, que com a morte dos pais será adotado por uma tia por parte de mãe, e Miriam por um tio paterno. Quando pequenos, foram separados e nunca mais se viram. A vida de Miriam é aventura humana e divina. Em Alexandria do Egito, foi degolada por um muçulmano. Considerando-a morta, ele a deixa à beira da estrada, mas um jovem, que a Beata Miriam identificará como São José, a curará. Nômade em busca de um lugar na vida religiosa, sem saber falar nem francês, nem árabe, a encontramos em vários países: na França, Índia, Líbano, Palestina. Traz na sua vida uma ânsia missionária única, um amor imenso para o carmelo e para a Igreja. Deus a enriqueceu de dons carismáticos excepcionais. Fundou um carmelo em Belém, terra de Jesus. Teve a arte de convencer. No carmelo, professou-se como irmã leiga. Antes do Concílio Vaticano II, no carmelo havia o costume de contar com as irmãs que ficavam responsáveis pelos trabalhos “braçais”, por opção ou porque tinham poucos estudos... Ela mesma se define o pequeno nada, o grãozinho de areia, mas Jesus necessita desses nadas para fazer grandes coisas. Terminamos com um pensamento da nova Santa: “não são os longos tempos do retiro e nem as longas orações que fazem os santos, mas a docilidade de espírito e de coração, especialmente a humildade”. Para mim, o carmelo tem três “santas Teresas do Menino Jesus”: uma para a Europa, “Teresa de Lisieux”; uma para a América Latina, “Teresa de los Andes”; e uma para o Médio Oriente, “a Pequena Árabe”. Sem dúvida, teremos uma para a África e para todos os continentes.


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LITURGIA E VIDA 4º DOMINGO DA QUARESMA 15 DE MARÇO DE 2015

A alegria da consolação ANA FLORA ANDERSON Durante o tempo da Quaresma, a Igreja nos leva a refletir sobre nossas fraquezas e limitações. Mas, neste domingo, a liturgia anuncia que devemos nos alegrar, pois o amor de Deus supera toda falha humana e o povo de Deus deve se regozijar com a abundância da consolação divina. A primeira leitura (2 Crônicas 36, 14-16.19-23) descreve uma tragédia na história do povo de Israel. Tanto os sacerdotes quanto o povo em geral abraçaram a infidelidade. Deus enviou profetas para anunciar a Palavra com solicitude, mas não havia conversão. Foi somente depois do sofrimento do Exílio que o povo voltou-se com gratidão para o seu Deus. A segunda leitura (Efésios 2, 4-10) revela a profundidade do amor e da misericórdia de Deus. Em Cristo, Ele nos deu a graça incomparável da salvação. O Evangelho de São João (3, 14-21) nos prepara para compreender o sentido da morte e da ressurreição de Jesus. Mais uma vez, vemos que o sentido da salvação está no grande amor de Deus. Ele não manda seu Filho para nos condenar, mas para nos salvar. São João compara Jesus a uma Luz que entra no mundo. Muitos preferem as trevas, todavia a Luz nos tira do fechamento individualista e nos leva à preocupação com todos os nossos irmãos. Todo aquele que ama a verdade se aproxima da Luz e se realiza na graça da salvação. Toda a ação de Deus no meio de seu povo é perpassada por um amor infinito. A santidade consiste em nos abrirmos à intensidade desse amor sem limites.

você pergunta

Minha filha solteira pode se casar na Igreja com um divorciado? padre Cido Pereira

Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação

A filha da Maria (que não disse seu sobrenome), que mora em Osasco (SP), tem 31 anos, é solteira e tem um namorado divorciado. E ela quer saber se eles podem se casar na Igreja? Maria, preste atenção no que eu vou dizer para você orientar bem a sua filha. Ela está livre para casar-se. Ela é solteira. Já a situação do namorado, só sei que é divorciado. Ele foi casado só no civil? Então, está livre para casarse na Igreja, embora tenha que dar as razões do porque não ter-se casado na Igreja antes e agora desejar fazê-lo. Ele foi casado no civil e no religioso? Então, ele continua preso a um compromisso de amor solene, feito publicamente diante de Deus e da comunidade. Ele criou um vínculo que está subentendido na frase de Jesus: Não separe o homem o que Deus uniu. O que fazer então? O namorado de sua filha deverá entrar no tribunal eclesiástico com um processo de verificação de nulidade do primeiro casamento. O tribunal não vai anular o casamento. O tribunal vai apenas analisar como foi o casamento, as razões porque ele se desmanchou e vai considerá-lo nulo se as razões forem muito fortes. Eu digo a você que a grande maioria dos casamentos se desfaz por imaturidade do homem e da mulher e o tribunal eclesiástico é muito sensível a esse fato. Além da imaturidade, há muitos e muitos outros motivos que tornam nulo um casamento. Diga ao namorado de sua filha que busque o tribunal. Vai ser bom para ele e para sua filha casarem-se na Igreja, agora de forma mais consciente e madura. Tomara que dê certo.

novos santos e beatos

São Luís Orione 12 DE MARÇO

Luís Orione nasceu no dia 23 de junho de 1872, em Pontecuore, na Itália. Com o apoio da família, entrou no Oratório salesiano em Turim, cujo fundador, João Bosco, depois venerado pela Igreja, ainda estava vivo. Luís Orione fez o ginásio no Oratório salesiano, mas concluiu os estudos de Filosofia e Teologia no seminário da sua cidade natal. Em 1908, Luís Orione ajudou a socorrer as numerosas vítimas do terrível terremoto que sacudiu a região da Sicília e Calábria, na Itália. A pedido do Papa Pio X, ficou lá por três anos. Em 1915, fundou uma congregação religiosa, a Pequena Obra da Divina Providência. Ele também foi o fundador da Congregação dos Padres Orionitas, das Irmãzinhas Missionárias da Caridade, das Irmãs Sacramentinas e dos Eremitas de Santo Alberto, nessas duas últimas admitindo, inclusive, religiosos cegos. Luís Orione plantou bem a semente, pois logo se tornaram árvores espalhando raízes em diversos países. As congregações dos Filhos da Divina Providência e das Irmãzinhas Missionárias passaram a atuar em vários países da Europa, das Américas e da Ásia. Possuem milhares de casas ou instituições dos mais variados tipos, sobretudo no setor assistencial e educativo. No Brasil, onde estão desde 1914, mantêm várias casas de órfãos, de excepcionais, abrigos para velhos e hospitais. A obra da Divina Providência foi e continua sendo mantida exclusi-

Reprodução

vamente por esmolas e doações. Faleceu consumido pelas fadigas apostólicas, com 68 anos de idade, na cidade de San Remo, na Itália, no dia 12 de março de 1940. O Papa João Paulo II no ano

2004, em Roma, proclamou a canonização do humilde sacerdote Luís Orione, que viveu como o gigante apóstolo da caridade, pai dos pobres, singular benfeitor da humanidade sofredora e aflita. Fonte: www.paulinas.org.br

0 5 Em consistório público, Dom Agnelo é feito cardeal há

anos

Capa da edição de 7 de março de 1965

A edição do O SÃO PAULO de 7 de março de 1965 trouxe detalhes dos ritos do consistório público, de 25 de fevereiro daquele ano, no qual Dom Agnelo Rossi, então arcebispo de São Paulo, foi feito cardeal, junto a outros 26 bispos. “As novidades do ritual não foram apenas representadas pela ausência do galero vermelho e da cerimônia de prostração dos novos cardeais na capela de Santa Petrolina, bem como pela supressão do ritual de abertura e fechamento da boca (...) Antes de dirigir-se com os novos cardeais ao altar da confissão, Paulo VI sobre o trono, no altar da cátedra, recebeu dos novos membros do Sacro Colégio o juramento de ‘fidelidade, sujei-

ção, obediência e colaboração perpétua’, que estes prestavam mantendo as mãos entre as do papa. Esta fórmula é uma das novidades instituídas pelo Papa”. Outra novidade foi a substituição das expressões de submissão das Igrejas Orientais à Santa Sé pelo juramento dos prelados orientais de fraternidade com a Igreja Católica. “O serviço da Igreja exige a entrega total das forças humanas e – acrescentou o Santo Padre – estudo infatigável para adquirir a habilidade específica de tratar com os homens, para os homens, e sobre os homens, que é, precisamente, a arte de os governar”, disse Paulo VI aos novos cardeais.


Luiz Otávio Ugolini Vianna O termo “Internet das coisas”, antes exclusivo dos círculos de tecnologia, está, aos poucos, aparecendo aqui e ali no mercado. Lembro-me quando falei disso pela primeira vez: parecia que estávamos falando de uma dominação das máquinas ou coisa assim. Não que isso não possa ocorrer mas, para agora, é muito mais simples. Resumidamente, a “Internet das Coisas” é a capacidade que as “coisas” terão de se conectar à grande rede e trocar dados com o mundo exterior. Para facilitar a imaginação, poderia ser o seu carro informando o fabricante de uma possível falha durante o período de garantia, ou sua geladeira encomendando aquele iogurte cuja última unidade você acaba de comer. Tudo através da internet. Muitos embalam isso num lindo pacote de utilidades, dizendo que serviria para melhorar produtos, serviços e a vida das pessoas. Sim, pessoas bem intencionadas, como eu e você, que certamente acharíamos várias aplicações úteis para todos, mas será essa uma regra geral? Cada vez mais, e já fiz esse comentário algumas vezes nesta coluna, precisamos estar atentos ao que acontece ao nosso redor e nas facilidades que a tecnologia nos oferece. Assim, poderemos ter uma relação saudável com ela e estabelecer os limites que achamos conveniente, entre o que nos parece interessante compartilhar e importante proteger. Mas, afinal, por que faço está longa introdução? Quase um contrassenso para um aficionado envolvido até o pescoço com o mercado de tecnologia como eu. Explico: Recentemente, se faz a divulgação de um novo produto da linha Barbie, da Matel: A “Hello Barbie”. Trata-se, segundo o anúncio, de uma boneca falante. De especial, ela possui um dispositivo interno capaz de ouvir o que a criança diz para ela, processar e dar uma resposta coerente. O brinquedo poderia ser configurado por adultos com informações pessoais da criança como preferências, nome do cachorro e outras coisas, para que a boneca pudesse dar respostas mais “pessoais”. Realmente, parece uma coisa extraordinária. Quem de nós (pelo menos os tecnólogos) não imaginou um dia ter uma conversa inteligente com um robô ou um dispositivo. Eu mesmo tenho me divertido testando o “Cortana”, dispositivo de reconhecimento de voz da Microsoft. Mas, voltando à Barbie. No meio da divulgação do produto aparece, quase despercebida, uma informação vendida como funcionalidade. A boneca vem com conexão Wi-Fi, pode enviar e-mail aos pais sobre as conversas entre a criança e a boneca, ou ainda permitir que os pais limitem os “assuntos” que a boneca pode tratar com a criança. Como se não bastasse, as informações da boneca ficarão armazenadas nos servidores do fabricante. Para pensar: você gostaria que as conversas de seus filhos pudessem ser gravadas ou transmitidas sei lá pra quem, sei lá pra que? Que um brinquedo que responde a perguntas de seu filho tenha uma conexão com o mundo exterior? Acho que não, não é? Pois bem, já confessei, adoraria ter um robô que conversasse comigo mas, privacidade não é coisa com que devemos brincar. Luiz Otávio Ugolini Vianna é engenheiro e Diretor de Tecnologia da Mult.Connect

Comportamento

Privacidade e a ‘Internet das coisas’

Cuidar da saúde

Tecnologia

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‘Roupa de Domingo’ Valdir Reginato É provável que os mais jovens não se recordem desta expressão: “O fulano estava com roupa de Domingo”. “Roupa de Domingo” significava que era a melhor roupa de que dispunha para sair e ir a um lugar muito especial. Normalmente, isso era uma referência da roupa que se colocava para ir participar da missa, no domingo. Afinal, é lá que vamos encontrar com o Senhor de modo particular. Participaremos da renovação de seu sacrifício na cruz, de modo incruento, mas é o Seu sacrifício. A maneira de se apresentar a um local, diz muito sobre o local, as pessoas e ao sentido do encontro propriamente dito. Se for a uma igreja, participar da missa, no encontro com o Senhor, é natural que me apresente bem. Contudo, parece que não foi esquecida somente a expressão “roupa de Domingo”, mas também a maneira como devemos nos apresentar para participar da missa. Não é raro que encontremos esportistas que tal qual saíram do parque entram pela igreja porta adentro. Também encontramos alguns que deixaram a praia e resolveram assistir à missa, do jeito que estavam a passear na areia. Não faltam alguns que, talvez por calor excessivo, não toleram muita roupa e se sentem melhores com vestes mais vapo-

rosas... É evidente que é muito louvável o desejo de todos estarem imbuídos de não faltar ao preceito dominical, assim como a roupa não é o mais importante e sim o coração. Contudo, o nosso comportamento deve estar de acordo com a celebração da qual participaremos, não só em respeito aos demais, como também ao sacerdote, mas principalmente em relação a Deus. Parece que essa conversa é antiquada, ou mesmo exa-

gerada para o século XXI, afinal o importante é a nossa intenção. Mas vejamos alguns exemplos em outras circunstâncias de como ficaria o nosso comportamento. Será que nos apresentaríamos de maiô para uma audiência no tribunal, defendendo nosso cliente diante do juiz? Quem sabe receber o paciente de calção de banho e camiseta para uma consulta médica? E aparecer diante do sogro tradicional, de bermudas e chinelos para o jantar de Bo-

das de Ouro? Ir à praia de terno e gravata para um mergulho? Ou quem sabe um casaco longo de lã para ser o churrasqueiro numa tarde infernal de calor? Para cada ocasião há uma roupa adequada, e uma maneira de se comportar. É verdade que o hábito não faz o monge, mas o bom monge não andará sem o seu hábito. Não importa que seja simples, barato, ou mesmo um tanto surrado pelo uso e por falta de recursos para comprar algo melhor. O importante é que seja digno do lugar e do acontecimento que se realizará. Não podemos querer chamar mais atenção da plateia, do que o Senhor que se apresenta no altar. Não devemos escandalizar aos que lá estão com boa fé, mas cientes das fraquezas hum a n a s . Uma vestimenta adequada valoriza a pessoa, e demonstra respeito a todos. Quem sabe se agirmos assim, poderemos dispensar os avisos que já se leem em algumas portas de igreja como um alerta: “Você está entrando na casa de Deus”. E com o Apóstolo concluímos: “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito d’Ele habita em vós? Se alguém destruir o templo do Senhor, Ele o destruirá, pois Seu templo é santo, e esse templo é você.” (1 Cor 3,16-17). Dr. Valdir Reginato é médico de família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar.

Cuidados da Mulher: Mamografia Cássia Regina O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, também é uma excelente oportunidade para a mulher estar atenta à prevenção do câncer de mama. Faça mamografia: como rotina, a partir dos 40 anos, deve ser realizado exame clínico e a partir dos 50 anos deve ser realizada a mamo-

grafia anualmente ou bianual. Se existir casos de câncer de mama ou de ovário na família (irmã, mãe, avó ou tia legítima), deve se iniciar o rastreio dez anos antes da idade do diagnóstico. Antes dos 40 anos, a mama é muito densa e não deve ser realizado. Autoexame da mama: é controverso, pois o abalo psicológico de uma possível doença

tem maior impacto do que uma possível prevenção. E em sua grande maioria, são achados sem relevância. Quando realizado, deve ser feito no mínimo uma semana após a menstruação, pois durante o ciclo menstrual as glândulas mamárias aumentam, causando uma falsa impressão de nódulo. Dra. Cássia Regina é médica na Estratégia de Saúde da Família (PSF)


8 | Igreja em Missão |

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Destaques das Agências Nacionais

Henrique Sebastião Especial para O SÃO PAULO

Cardeal Hummes fala ao Papa sobre missão da Igreja na Amazônia O Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, criador e representante oficial da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), foi recebido pelo Papa Francisco na quarta-feira, 4, no Vaticano. A Repam tem o objetivo de fortalecer a presença missionária no território amazônico a partir da vivência da solidariedade fraterna e na busca do diálogo e da unidade eclesial (no intercâmbio das igrejas locais, congregações religiosas e movimentos eclesiais) a serviço da vida na Amazônia. “Foi muito bom encontrar o Papa e encontrá-lo bem”, declarou o Cardeal. “Mais uma vez, tocamos no assunto da presença e da missão da Igreja na Amazônia, principalmente em relação à Repam, criada em setembro passado (...) Ele demonstrou estar acompanhando essa trajetória e missão da Igreja na Amazônia não só no Brasil, já que a Repam reúne todos os nove países que têm regiões amazônicas. Essa é uma realidade nova também sob esse aspecto, pois queremos reunir, o máximo possível, as forças da Igreja nestes países. O Papa agradeceu e disse mais uma vez o quanto aprecia este trabalho”, acrescentou o Dom Cláudio Fonte: Rádio Vaticano

L’Osservatore Romano

Em breve audiência com o Papa Francisco, no dia 4, Cardeal Cláudio Hummes apresenta ações da Repam

Diocese de Colatina (ES) tem novo bispo O Papa Francisco nomeou Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias como bispo de Colatina (ES), no dia 4, transferindo-o do ofício de auxiliar da Arquidiocese de Vitória (ES). Dom Joaquim, que era administrador apostólico de Colatina, foi nomeado bispo em 21 de dezembro de 2011 pelo Papa Bento XVI. Escolheu como lema “Façase em mim segundo a tua Palavra”. Nascido em Cafelândia (SP), em 23 de outubro de 1957, é graduado em Administração de Empresas pela Faculdade Padre Anchieta de Jundiaí (SP). Estu-

dou Teologia em São Paulo e foi ordenado padre em 12 de dezembro de 1997, em Jundiaí. Em sua trajetória presbiteral, desenvolveu muitas atividades, entre as quais a de vice-reitor e reitor do Seminário de Filosofia e Teologia Nossa Senhora do Desterro, em Jundiaí; e administrador diocesano e vigário geral da Diocese de Jundiaí. Em 14 de maio de 2014, foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Colatina, após a renúncia de Dom Décio Sossai Zandonade, conforme prevê o Código de Direito Canônico. Fonte: CNBB

Cáritas arrecada doações para atender famílias desabrigadas pela cheia no Acre Aproximadamente 87 mil pessoas enfrentam graves dificuldades no Estado do Acre, por conta da cheia do rio Acre. A elevação das águas, motivada pelas fortes chuvas na região e agravadas pela grande quantidade de lixo que é constantemente jogada no rio, já desabrigou famílias em quatro municípios. Só na capital, Rio Branco, são mais de 2.200 pessoas alojadas em abrigos públicos. Contribuindo com alimentação, materiais higiênicos e agasalhos, a Cáritas Diocesana de Rio Branco, por meio de seus agentes, tenta amenizar o sofri-

mento e sanar as necessidades urgentes dessas pessoas, e pede doações. Neste momento, as maiores necessidades são de leite em pó, água e roupas para crianças. Outra preocupação é com o pósenchente, quando podem surgir diversas doenças. Quando as águas baixarem, será necessária uma grande quantidade de produtos de limpeza. As doações em dinheiro podem ser feitas diretamente na conta das obras sociais da Diocese de Rio Branco: Caixa Econômica, Agência 0534, CC 2579-6, OP 003, CNPJ 00.529.443/0001-74. Fonte: Cáritas Brasileira

Pastoral da Saúde lança campanha ‘Abril Solidário’ A Pastoral da Saúde preparara uma campanha nacional com o tema: “Solidariedade tá na veia”, com o objetivo capacitar e orientar a população na busca de doadores de sangue e incentivar a doação. A doação de sangue é, ainda hoje, um problema de interesse mundial; não há substância que pos-

sa substituir integralmente o material sanguíneo. Os hemocentros têm dificuldade em manter o estoque para atender às necessidades específicas e emergenciais, colocando em risco a saúde e a vida da população. As estatísticas mundiais mostram que as doações não acompanham o aumento de

transfusões. Muitos países enfrentam dificuldades em suprir a demanda de sangue e hemocomponentes, principalmente aqueles em que existem políticas proibitivas quanto à comercialização do sangue, caso do Brasil. Wilda Aparecida Haynes, coordenadora da Pastoral da Saúde do Re-

gional Sul 1 da CNBB, comunica que a campanha “Abril Solidário” será realizada em todo Brasil, de 1º a 30 de abril. “A doação de sangue não faz parte da vida da maioria da população, e precisamos entrar nessa corrente de solidariedade”, diz. Fonte: CNBB Sul 1


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Destaques das Agências Internacionais França

| Igreja em Missão | 9 Filipe david

Correspondente do O SÃO PAULO na Europa

Estados Unidos

De abortista a pró-vida

Marido e mulher canonizados juntos Pela primeira vez na história da Igreja, um casal, Louis e Zelie Martin, pais de Santa Teresa de Lisieux, serão canonizados juntos. A cerimônia será em outubro na basílica de Santa Teresa, em Lisieux, na França, conforme informou o Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, que agradeceu a Deus pela canonização e lembrou que “santos não são apenas padres e freiras, mas também leigos”. Louis e Zelie se casaram em 1858 e tiveram nove filhos, dos quais quatro morreram na infância. Apesar das dificuldades que enfrentou, o casal nunca perdeu de vista o objetivo de ajudar um ao outro e aos seus filhos de irem para o céu e de se santificarem. Em um de seus escritos, Zelie afirmou: “quatro dos meus filhos (os que morreram na infância) já estão em boa situação, e os outros, sim, os outros também entrarão no reino dos céus, carregados com mais méritos, porque terão lutado mais.” Fonte: LifeSiteNews

Esta é a história de Abby Johnson (foto), diretora de uma clínica de aborto da maior organização abortista do mundo, a Planned Parenthood (IPPF), conhecida como a “Multinacional da Morte” (título do livro de Jorge Scala sobre a organização), que abandonou seu emprego para se tornar uma grande defensora da vida. Abby trabalhou oito anos na IPPF, durante os quais foi promovida até chegar a diretora de clínica. Pouco a pouco, começou a se sentir perturbada pelo que via em seu trabalho: sua empresa fazia de tudo para “vender” o aborto a mulheres vulneráveis, como se fosse um produto qualquer que um vendedor tenta convencer o “cliente” a comprar. A gota d’água veio quando Abby foi chamada a participar de um aborto guiado por ultrassom. Ela assistiu com horror a um bebê de 13 semanas que lutava por sua vida até finalmente perdê-la nas mãos do abortista que realizava o procedimento. Foi então que ela foi procurar uma organização pró-vida e jurou

Abby Johnson

que começaria a defender a vida e a desmascarar o aborto, mostrando a todos o horror que ele realmente é. Após vencer um processo movido pela IPPF para silenciá-la, Abby tem viajado o

mundo contando sua história e fundou uma organização que ajuda funcionários de clínicas de aborto a deixarem esse tipo de trabalho. Fonte: abbyjohnson.org

Bolívia

Livro sobre padre assassinado compõe Memória da América Latina A Unesco, por meio do Programa “Memória do Mundo”, incorporou o livro “Tibério vive hoje: testemunhos da vida de um mártir” ao registro da América Latina e Caribe. O livro, confeccionado entre 2002 e 2003 por habitantes de Trujillo (Colômbia), compila cartas, relatos e imagens a partir da figura do Padre Tiberio Fer-

nández, símbolo do massacre que dizimou 352 pessoas nos municípios de Trujillo, Riofrío e Bolívar, entre 1986 e 1994. O livro constitui um registro histórico da memória e do sofrimento dos familiares das vítimas de Trujjilo. Foi escrito à mão, em folhas de caderno, pedaços de cartolina e folhas de jornal, com a ajuda de estu-

Camarões

dantes, coroinhas, carpinteiros, camponeses e donas de casa, guardados numa caixa de papelão aos cuidados de uma freira. Padre Tiberio se converteu em vítima emblemática do massacre de Trujillo. Chegou à cidade em 1985 e logo se transformou no guia espiritual da comunidade, liderando empresas comunitárias, gru-

pos de terceira idade, comitês de microempresas familiares. Para o povo, o sacerdote transmitia esperança, mas era uma ameaça aos grupos de narcotraficantes. A partir de 1986, uma aliança envolvendo paramilitares, membros da Força Pública e narcotraficantes atacou os municípios de Trujillo, Riofrío e Bolívar,

com massacres, sequestros e cruéis torturas. Padre Tiberio foi capturado, torturado por horas, castrado. Seu corpo foi encontrado sem cabeça e sem braços. Aos 47 anos, tornou-se mais uma vítima das atrocidades cometidas pela guerra do tráfico na Colômbia. Fonte: Adital (Redação: Henrique Sebastião)

Grã-Bretanha/ México

Igreja ajuda os refugiados por causa do Boko Haram

Restringir o aborto diminui a mortalidade materna

As conferências episcopais da Nigéria e do Camarões, com o auxílio do governo da Nigéria, prestam socorro aos refugiados do grupo Boko Haram que fugiram para Camarões. A informação foi fornecida pelo arcebispo de Jos e presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, Dom Ignatius Ayau Kaigama.

É o que mostra um estudo feito pelo MELISA Institute e publicado no British Medical Journal. A partir de dados de diferentes estados mexicanos ao longo de dez anos, o estudo pôde constatar que a mortalidade materna é menor nos estados em que as leis contra o aborto são mais rigorosas. O estudo contradiz, assim, um dos principais argumentos dos defensores do aborto, que asseguram que a sua legalização

Uma delegação de bispos nigerianos visitará Camarões para avaliar as necessidades dos refugiados. Dom Kaigama espera que representantes governamentais se unam à delegação, e convidou os fiéis a não esquecerem dos sofrimentos dos refugiados em razão da violência do grupo islamista. Fontes: ACI/ Fides

salvará vidas, pois algumas mulheres recorrem a clínicas clandestinas para o procedimento quando existem restrições legais. Uma das razões que podem explicar os resultados é que o aborto, mesmo legalizado, geralmente apresenta mais riscos à saúde da mulher do que a gravidez levada a termo e que, conforme a legislação mais rigorosa ou mais permissiva, o número de abortos tende a ser menor ou maior. Fonte: AC


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‘Padres novos’ conhecem estrutura pastoral e administrativa da Arquidiocese Luciney Martins/O SÃO PAULO

Encontro trata de questões ligadas à vida e ao cuidado de uma paróquia

Fernando Geronazzo Especial para O SÃO PAULO

Um encontro inédito de padres que assumiram responsabilidades pastorais de párocos, vigários ou administradores paroquiais na Arquidiocese no último ano foi realizado na terça-feira, 10, no Centro Universitário Assunção (Unifai), na Vila Mariana. Os “padres novos” receberam formações sobre questões diretamente ligadas à vida e ao cuidado de uma paróquia na Arquidiocese. No período da manhã, os pro-

Arquivo pessoal

curadores e profissionais da Mitra Arquidiocesana de São Paulo apresentaram o Plano de Manutenção da Arquidiocese, que trata de questões da administração paroquial, legislação trabalhista, taxas, a manutenção dos padres. Também se falou sobre a gestão do patrimônio da Igreja, tributos, conservação, documentações necessárias para que haja o funcionamento adequado da paróquia. “O pároco é o primeiro responsável pela administração junto com seu conselho administrativo. Nessa função, ele tem a missão

Missa de 7º Dia de Inezita Barroso Presidida pelo Cardeal Scherer, acontecerá na segunda-feira, 16, às 17h, na Catedral da Sé, a missa de 7º Dia da cantora e apresentadora Inezita Barroso, morta no domingo, 8, aos 90 anos. Nascida em São Paulo, ela sempre demonstrou seu amor pela Capital, como em 2014, quando participou da missa na Catedral pelos 460 anos da cidade (foto).

de zelar para que o patrimônio da Igreja seja usado para os fins pastorais da comunidade onde ele serve”, destacou, ao O SÃO PAULO, o Padre Zacarias José Paiva, um dos procuradores da Mitra. O período da tarde foi destinado a questões pastorais, a começar pelo 11º Plano de Pastoral da Arquidiocese e, em seguida, o Diretório dos Sacramentos. De acordo com o Padre Tarcísio Marques Mesquita, coordenador arquidiocesano de Pastoral, é a primeira vez que a Arquidiocese organiza um encontro nesse formato. “É certo que existem encontros sobre questões pastorais, administrativas, mas da maneira como ele foi organizado, para ser feito durante um dia, é a primeira vez”, disse.

Conhecer para servir

Além dos “padres novos”, alguns com mais tempo de caminhada também se interessaram pelo encontro, como o Padre Reginaldo Donatoni, pároco na Paróquia São Paulo Apóstolo, na Região Belém, há dois anos. “Conseguimos nos atualizar em todas as questões burocráticas. Por mais que estudemos e busquemos, sempre há dúvidas”, afirmou. Religioso Passionista, o Padre Siro da Silva Chaves é vigário paroquial na Paróquia São Paulo da Cruz, na Região Sé, desde agosto de 2014. Vindo do Rio de Janeiro, depois de dez anos no Rio Grande do Sul, ele enalteceu a realização do encontro. “É uma oportunidade de conhecer mais profundamente a realidade da pastoral urbana. Quando chegamos a um lugar novo e recebemos informações, isso facilita o nosso trabalho. É a primeira Arquidiocese na qual trabalho onde acontece uma iniciativa dessa”.

Dias com sede ainda são rotina para pessoas em situação de rua Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padre Julio tem cobrado autoridades sobre situação do povo da rua

Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

Após promover um mutirão de distribuição de água para as pessoas em situação de rua, em 22 de fevereiro, o Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua segue cobrando das autoridades municipais e estaduais medidas efetivas para assegurar a segurança hídrica de quem vive nas ruas. Na sexta-feira, 6, o Padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, participou de uma reunião emergencial com a Sabesp, a Defesa Civil do Município e as secretarias municipais de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Saúde e Direitos Humanos, para tratar da questão. Padre Julio cobrou da Prefeitura que tenha um plano de contingência para fornecer água para higienização e consumo da população em situação de rua nos espaços de abrigamento e atendimento da SMADS e também onde elas se concentram. De acordo com o engenheiro Milton Roberto Persoli, coordenador geral da Defesa Civil do Munícipio, desde segunda-feira, 9, o fornecimento

de água potável tem sido reforçado nos locais de atendimento da SMADS, e a Sabesp irá analisar se há problemas na rede de abastecimento. “Será nesses locais primeiro, a não ser que haja alguma urgência, e a gente avalie a necessidade de ser distribuído nas ruas, mas, a princípio, o pessoal da assistência social entende que não há necessidade disso”, complementou. Para o Padre Julio, as medidas ainda não resolverão os problemas. “Nos espaços de concentração, onde não há atendimento, não ficou nada resolvido. Deveria existir algo operacionalizado. No grande conglomerado do Ceasa, por exemplo, não há nenhum lugar de atendimento, na própria região da Sé, não existe atendimento conveniado com a Prefeitura, o que há é o Chá do Padre, do Sefras, mantido pelos Franciscanos”. O Padre também considera que não está claro com será feita a compra de água nos locais de atendimento. “Autorizaram que onde houver necessidade que seja comprada água, mas quem trabalha nos locais de atendimento já se pergunta, ‘com que verba?’, ‘vai vir a mais?’, porque a verba que eles têm já está comprometida”, concluiu.

ATOS DA CÚRIA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO Em 1º de março de 2015, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, da Região Episcopal Santana, do Revmo. Pe. Eduardo Higashi, pelo período de 6 (seis) anos. Em 22 de fevereiro de 2015, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, da Região Episcopal Santana, do Revmo. Pe. Antonio Simões Dias, pelo período de 6 (seis) anos.

PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO

Lapa, o Revmo. Pe. Joaquim Crispim de Oliveira.

Em 26 de fevereiro de 2015, foi prorrogada a nomeação e provisão de Pároco da Paróquia Cristo Libertador, da Região Episcopal Brasilândia, do Revmo. Pe. Ezael Juliatto, pelo período de 1 (um) ano, retroativo a 7 de fevereiro de 2015.

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE DIÁCONO PERMANENTE COMO COOPERADOR

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL Em 8 de março de 2015, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, da Região Episcopal

Em 8 de março de 2015, o Diácono Permanente Francisco Eduardo Leme Nogueira foi nomeado como cooperador do Pe. João Luiz Miqueletti, na Paróquia Santa Terezinha, da Região Episcopal Santana, com jurisdição para assistir os matrimônios pelo período de 3 (três) anos. Em 8 de março de 2015, o Diácono Per-

manente José Jindarley dos Santos da Silva foi nomeado como cooperador “ad nutum episcopi”, na Paróquia Santa Izabel-Santa Luzia, da Região Episcopal Brasilândia. AUTORIZAÇÃO CANÔNICA PARA CONSERVAÇÃO DA RESERVA EUCARÍSTICA Em 21 de fevereiro de 2015, foi autorizada a Conservação da Reserva Eucarística na Comunidade Católica Santos Anjos, pertencente à Paróquia Menino Deus, após pedido escrito pelo Revmo. Pe. Luis Gutiérrez Pardo à Arquidiocese de São Paulo.


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Encontro reúne coordenações pastorais Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Integrantes de coordenações pastorais da Arquidiocese participam de encontro com Dom Odilo e bispos auxiliares, dia 7

Fernando Geronazzo Especial para O SÃO PAULO

As coordenações pastorais da Arquidiocese de São Paulo se reuniram na manhã do sábado, 7, com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, e os bispos auxiliares, no tradicional encontro de lideranças que marca o início do ano pastoral na Arquidiocese. Realizado no auditório da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na Vila Mariana, a reunião partiu das reflexões da última Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, realizada em novembro de 2014, fundamentada no 11º Plano de Pastoral da Arquidiocese, com destaque para a urgência deste

ano: “Igreja a serviço da vida plena para todos”. Essa urgência está relacionada ao tema da Campanha da Fraternidade de 2015 – “Fraternidade: Igreja e sociedade”, dentro das comemorações dos 50 anos da constituição pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II. Padre Tarcísio Marques Mesquita, coordenador de pastoral da Arquidiocese, explicou que a urgência destacada em 2015 dialoga com duas urgências que possuem uma dimensão transversal – Evangelização da Juventude e Igreja em estado permanente de missão. Dom Odilo falou sobre o horizonte pastoral da Arquidiocese a partir da urgência destacada em 2015 e reforçou que “é preciso estar muito atento aos lu-

gares onde a vida está sofrida e é ameaçada”. Em seguida, houve um momento de grupos para a discussão dos aspectos do destaque pastoral, cujas conclusões foram apresentadas em plenária. No final do encontro, Dom Odilo informou a atualização da organização pastoral da Arquidiocese e os bispos referenciais de cada uma das 19 coordenações pastorais que formam o Conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP) e o Secretariado de Pastoral, após a chegada dos novos bispos auxiliares, Dom Devair Araújo da Fonseca e Dom Eduardo Vieira dos Santos, e a saída de Dom Tarcísio Scaramussa e Dom Milton Kenan Júnior (Confira o quadro ao lado).

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Coordenações Pastorais e composição do CAP 1) Dos Ministérios Ordenados (1 padre e 1 diácono) (Dom Edmar Peron) 2) Da Vida Consagrada (1 religioso e 1 religiosa) (Dom Julio Endi Akamine) 3) Da Animação Missionária (2 leigos) (Dom Sergio de Deus Borges) 4) Da Animação Bíblico-Catequética (1 leigo e 1 religiosa) (Dom José Roberto Fortes Palau) 5) Da Liturgia (1 padre e 1 leigo) (Dom Edmar Peron) 6) Do Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz (3 leigos) (Dom Devair Araújo da Fonseca) 7) Da Vida e da Família (2 leigos) (Dom Sergio de Deus Borges) 8) Do Aprofundamento da Fé (1 padre e 1 leigo) (Dom Odilo Pedro Scherer) 9) Do Laicato (2 leigos) (Dom Odilo Pedro Scherer) 10) Do Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso (2 leigos) (Dom Odilo Pedro Scherer) 11) Da Juventude (2 leigos) (Dom Carlos Lema Garcia) 12) Da Educação e Ensino Religioso (2 leigos) (Dom Carlos Lema Garcia) 13) Dos Movimentos e Novas Comunidades (Dom Odilo Pedro Scherer) 14) Das CEBs e grupos de reflexão (2 leigos) (Dom Eduardo Vieira dos Santos) 15) Do Mundo da Cultura (2leigos) (Dom Carlos Lema Garcia ) 16) Do Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua (1padre e 1 leigo) (Padre Julio Renato Lancellotti) 17) Do Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação (1 padre e 1 leigo) (Cônego Aparecido Pereira) 18) Do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade (1 padre e 1 leigo) (Dom Carlos Lema Garcia) 19) Do Mundo do Trabalho (2 leigos) (Dom Odilo Pedro Scherer) Secretariado de Pastoral (1 padre e 1 leigo) (Dom Eduardo Vieira dos Santos)

Dom Odilo anuncia instituição da Medalha São Paulo Apóstolo Durante o encontro com as coordenações pastorais da Arquidiocese, o Cardeal Odilo Pedro Scherer instituiu oficialmente a Medalha “São Paulo Apóstolo”, que homenageará pessoas, entidades e instituições que se tenham destacado pela sua contribuição à vida e à missão da Igreja na Arquidiocese de São Paulo. De acordo com o Arcebispo, a medalha é um prêmio de reconhecimento que tem os objetivos de valorizar, estimular e dinamizar a vida eclesial e pastoral na Arquidiocese. Dom Odilo também frisou que a instituição da Medalha acontece no ano em que se comemora 270 anos de criação da Diocese de São Paulo. A Medalha traz, numa face, a efígie do apóstolo São Paulo, patrono da Arquidiocese; na outra face, traz a vista frontal da Catedral Metropolitana de São Paulo. Sua entrega será acompanhada de um diploma correspondente. No decreto de instituição da medalha, Dom Odilo ressaltou que “todos os bati-

zados foram constituídos como povo de Deus e são participantes do múnus sacerdotal, profético e régio do próprio Cristo” e acrescentou que a homenagem também será “incentivo para que floresça mais abundantemente a vida eclesial e pastoral nesta Cidade imensa”. Também foi promulgado o regulamen-

to e instituída a Comissão da Medalha, coordenada por Dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar da Arquidiocese, e composta pelos padres Luis Eduardo Baronto e Juarez Pedro de Castro. Será concedida a cada ano uma medalha a pessoas que se destacaram nas seguintes dimensões da vida eclesial e pasto-

ral: testemunho laical; serviço sacerdotal; ação caritativa e de promoção humana; ação missionária; inovação na metodologia pastoral; educação cristã; defesa e promoção da vida e da dignidade humana. Será concedida a cada ano uma medalha a entidades e instituições que se destacaram pelo testemunho cristão nas seguintes áreas: cultura; comunicação; e serviço social A data da concessão da Medalha será estabelecida, a cada ano, entre os dias 15 de agosto (Festa de Nossa Senhora da Assunção) e 5 de setembro (aniversário da dedicação da Catedral Metropolitana). A seleção dos homenageados, em conformidade com o regulamento e seguindo critérios previamente divulgados no edital de inscrição, ficará a cargo de uma Comissão Julgadora, com cinco membros nomeados pelo Arcebispo. O decreto de instituição da Medalha e seu regulamento estão disponíveis no site da Arquidiocese (www.arquidiocesedesaopaulo.org.br). (FG)


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Proibir ‘lista suja’ não contribui para enfrentar o trabalho escravo Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

Você já ouviu falar da “lista suja” do trabalho escravo? Instituída em 2003, é um cadastro de empregadores flagrados por fiscais submetendo pessoas ao chamado “trabalho escravo moderno”, no qual se inclui o trabalho forçado, degradante e de jornada exaustiva. Para entrar na lista, é preciso que os recursos das empresas tenham transitado em julgado (recebido resposta definitiva do Ministério do Trabalho e Emprego). Para sair, é necessário pagar as multas decorrentes e passar dois anos sem reincidir. De acordo com a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) e membro da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), Ana Gabriela Oliveira de Paula, a “condenação” não é de fato uma condenação judicial, mas administrativa. O nome da empresa só é incluído na “lista suja” depois que o processo termina, e fica por dois anos, se a empresa não for reincidente. A questão é que em 2014, durante o recesso do Legislativo, o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou ao pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) da Associação Bra-

sileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e, em uma decisão cautelar (procedimento judicial para prevenir ou assegurar a eficácia de um direito), proibiu que o Ministério do Trabalho divulgue a “lista suja”. Em nota de esclarecimento, a Abrainc destaca que “não é contra a divulgação da lista do trabalho em condições análogas à de escravo. O que a associação propôs foi uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5209), argumentando que as portarias ministeriais que criaram a lista ferem a Constituição Federal e o princípio da separação entre os Poderes, já que, na interpretação da entidade, seria competência do Poder Legislativo editar lei sobre o assunto”. Além disso, a Associação também sustenta que os nomes dos empregadores são inscritos na lista sem a existência do devido processo legal, de forma arbitrária, ferindo o princípio da presunção da inocência; e que o simples descumprimento de normas de proteção ao trabalho não é conducente a se concluir pela configuração do trabalho escravo. A procuradora do MPT, no entanto, afirma que não há necessidade de uma lei que criasse a obrigatoriedade de divulgação da “lista suja”, pois a portaria interministerial do Ministério do Trabalho faz apenas uma forma de publicidade do nome das empresas. Sobre as explicações da Abrainc, Ana Gabriela afirma que é um argumento há muito tempo utilizado. “Toda vez que uma empresa entra com um mandado de segurança para proibir a divulgação do nome

na lista são usadas essas justificativas. Não há inconstitucionalidade na portaria”. Para Ricardo Felix, advogado do Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, a não publicação da lista afasta o consumidor de ter clareza sobre a procedência do produto que consome. “É uma perda significante não só no combate ao trabalho escravo, mas também ao combate do tráfico de pessoas, pois sabemos que muitas pessoas são traficadas para servirem a esse fim”, afirmou. De acordo com reportagem da ONG Repórter Brasil - que tem como objetivo identificar e tornar públicas situações que ferem direitos trabalhistas e causam danos socioambientais – a Abrainc reúne 26 construtoras e é presidida por Rubens Menin, da MRV Engenharia, “empresa responsabilizada por explorar trabalho escravo cinco vezes. Por conta de dois dos flagrantes, a

MRV chegou a ser incluída na lista suja anteriormente, todavia liminares na justiça impediram que a construtora continuasse figurando nela decisões criticadas pelo MPF, que emitiu parecer recomendando que a empresa volte ao cadastro”.

No que a lista atrapalha? Bancos públicos e parcerias com o setor público levam em consideração essas informações na hora de conceder empréstimos ou fazer parcerias e contratos com as empresas. E um dos empecilhos era se a empresa contasse na “lista suja” do trabalho escravo. Com a não publicação da lista, esse detalhe passará a não ser mais consultado. E as empresas que possuem essa prática já podem celebrar seus contratos com o poder público e realizar empréstimos nos bancos públicos.

Alternativa gerada com base na Lei de Acesso à Informação Com base na Lei de Acesso à Informação, a ONG Repórter Brasil elaborou uma “lista suja” alternativa. De acordo com o site da ONG, diante da liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal proibindo o governo federal de divulgar a “lista suja” do trabalho escravo, foi solicitado, com base na Lei de Acesso à Informação, que o Ministério do Trabalho e Emprego (responsável pela lista desde 2003) fornecesse

os dados dos empregadores autuados em decorrência de caracterização de trabalho análogo ao de escravo e que tiveram decisão administrativa transitada em julgado, entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014. Ou seja, um conteúdo aproximado do que seria a “lista suja”. O extrato com o resultado foi recebido na sextafeira, 6, e pode ser obtido no site da instituição. Acesse: www.reporterbrasil.org.br


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Quando informação pode significar dignidade Nayá Fernandes

naya.fernandes@gmail.com

“Os fiscais que participaram das primeiras operações do Grupo Móvel, entre 1995 e 2002, se cansaram de encontrar na entrada de várias fazendas onde resgatavam escravos, placas ostentando a fonte dos recursos investidos naquelas propriedades: BNDES, Banco da Amazônia, Banco do Brasil. Era o mesmo Estado que pagava o trabalho corajoso de seus servidores embrenhados no mato para combater a escravidão e que financiava quem dela se utilizava para lucrar sem escrúpulo algum.” A constatação é de Frei Xavier Plassat, agente da CPT AraguaiaTocantins e coordenador da Campanha Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Combate ao Trabalho Escravo. Embora a questão da terceirização do trabalho seja um dos argumentos para empresas que contratam serviços e, muitas vezes, alegam desconhecer a existên-

cia de trabalho escravo, a “lista suja” tem a função de expor publicamente o nome dessas empresas, alertar o próprio Estado e à sociedade inteira, especialmente ao mercado. “Ao financiar, comprar ou negociar com esses empregadores, você se torna colaborador do crime de trabalho escravo flagrado em sua propriedade. Em si, a ‘lista suja’ não traz uma punição, mas uma informação fundamental sobre empresas nas quais, sem ela, corremos o risco de pôr nossa confiança, nossa poupança, nosso consumo”, comentou Frei Xavier. O Frei explicou ao O SÃO PAULO que a lista se tornou um instrumento referencial de avaliação do risco financeiro ou comercial e resultou na decisão de empresas de grande porte (hoje são mais de 400) de “jogar limpo”, cortando qualquer negócio com os listados nesse cadastro e assinando um pacto nacional das empresas contra o trabalho escravo. “O risco de perder acesso a financiamentos públicos ou de enfrentar boicote no mercado

constitui em si uma arma preventiva implacável, afinada com o objetivo da erradicação: eliminar qualquer incentivo que possa alimentar o ciclo vicioso da escravidão, mobilizar o conjunto da sociedade, consumidores e empresas, Estado e cidadãos, a afastar essa prática do nosso meio”, continuou. Sobre os prejuízos para a população e para os movimentos da não publicação da “lista suja”, Frei Xavier esclareceu que a não publicação significa que é vedado ao cidadão comum, ao consumidor, ao setor financeiro e ao mercado em geral, o acesso a uma informação crucial para decisões de investimento, de consumo, de negócio em geral. “Ao mesmo tempo, expõe qualquer um a se tornar colaborador involuntário de um crime que, em tese, aborrece. Ao devolver a invisibilidade a um crime que justamente precisa da invisibilidade para prosperar, a proibição incentiva objetivamente o recrudescimento de sua prática, e faz com que

tal conduta volte a parecer algo banal, normal.” Ele enfatizou, também, que a não publicação é um primeiro passo na desconstrução da política nacional de erradicação do trabalho escravo, cujo processo já foi iniciado por meio de vários projetos que tramitam no Congresso, entre os quais o que prevê a deturpação da definição legal do trabalho escravo ou aquele que defende a legalização da terceirização de qualquer atividade inclusive a atividade-fim. “Um efeito provável será o recrudescimento de práticas protecionistas por parte de países clientes do Brasil, pois, daqui em diante, poderão justificar o boicote de setores inteiros da economia (soja, carne bovina, ferro gusa, etanol) sob a simples suspeita de neles existir trabalho escravo, o que até então a ‘lista suja’ permitia evitar, justamente pela precisão e transparência da sua informação.”

do cidadão e das demais empresas que respeitam as regras do jogo”, afirmou. “Neste contexto, a CPT considera como injusta (contrária à justiça e à lei), iníqua (contrária à equidade) e desastrosa (geradora de efeitos nefastos e ruinosos) a decisão do ministro Ricardo

Lewandowski, tomada na calada da noite para atender à demanda de um lobby de grandes construtoras que, a exemplo do lobby do agronegócio, mantêm o Estado brasileiro refém de interesses gananciosos. A decisão liminar do Presidente do STF foi desastrosa. Em 20 de janeiro de 2015, a CPT enviou carta à presidente Dilma recordando-lhe o compromisso explícito que ela mesma assinou no dia 7 de setembro de 2014, de defesa da ‘lista suja’, e onde se lê: ‘Assumo, caso eleita, o compromisso público de: (...) Apoiar o cadastro de empregadores flagrados com mão de obra escrava, conhecido como a ‘lista suja’, instrumento mantido por intermédio da Portaria Interministerial 02/2011, do Ministério do Trabalho e Emprego e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que tem sido um dos mais importantes mecanismos de combate a esse crime’. O silêncio ensurdecedor do Planalto sobre essa questão é outro desastre que nos deixa indignados”, recordou Frei Xavier. (NF)

Quem se beneficia? A Comissão Pastoral da Terra contribuiu sobremaneira para a revelação da existência do trabalho escravo contemporâneo no Brasil, e para a construção da política nacional de erradicação desse crime. Segundo Frei Xavier, “o trabalho escravo é parte de um sistema que se reproduz à maneira de um ciclo vicioso e deve ser atacado de forma integrada, holística, na repressão dos responsáveis, na prevenção dos trabalhadores expostos ao risco, na geração de alternativas concretas por meio do acesso a políticas públicas coerentes com o objetivo do trabalho decente, aquele que assegura liberdade e dignidade aos trabalhadores do campo e da cidade, tais como: reforma agrária, reforma urbana, educação, fortalecimento da agricultura camponesa. Para isso, a CPT conduz há 18 anos uma campanha nacional de combate ao trabalho escravo cujo lema é: ‘De Olho aberto para não virar escravo’”. Ao ser questionado sobre quem se beneficia com a não publicação da ‘lista suja’, o Frei lembrou que é preciso sem-

pre se perguntar sobre os lucros. “Quem lucra não é o trabalhador, não é o consumidor, não é o cidadão, não é a empresa que respeita as regras do jogo, não: quem lucra é o ladrão e o criminoso que se utiliza deste expediente para lucrar nas costas do trabalhador, do consumidor,

Nota da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República entende que o Poder Judiciário tem seu próprio tempo e irá analisar o mérito da questão o mais rápido possível. “Consideramos o Cadastro de Empregadores um instrumento dos mais importantes para coibir o trabalho escravo no país e, por isso mesmo, no início do ano a Comissão para a Erradicação do Trabalho Escravo emitiu

nota técnica nesse sentido, bem como a ministra Ideli Salvatti esteve reunida com o Advogado Geral da União para pedir prioridade ao tema. No âmbito do Poder Legislativo, é fundamental garantir a regulamentação da lei com a manutenção do conceito atual de trabalho escravo, que inclui a jornada exaustiva e as condições degradantes entre os elementos decisivos para a configuração desta prática.”


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Antônio Cruz/ABr

Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras

Agência Senado

Alberto Youssef, apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas

Uma lista, o sigilo e a opinião pública Elza Fiuza/ABr

Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

“Pelo contrário: é importante, até mesmo em atenção aos valores republicanos, que a sociedade brasileira tome conhecimento dos fatos relatados”. Com este argumento, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, explicou o porquê de divulgar os nomes dos políticos que foram citados na operação Lava Jato e constam na lista do procurador geral da república, Ricardo Janot. O Ministro ressalvou que a lei impõe regime de sigilo ao acordo de colaboração premiada até a decisão de recebimento da denúncia. No entanto, nesses procedimentos, considerando que os colaboradores já têm seus nomes expostos publicamente, pois são réus em ações penais com denúncia recebida, e que o próprio Ministério Público manifestou desinteresse na tramitação sigilosa, “não mais subsistem as razões que impunham o regime restritivo de publicidade”, explicou. Neste aspecto, o jurista e presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), Doutor Ives Gandra Martins, destaca que qualquer cidadão pode pedir segredo de justiça, quando o seu exercício não afeta a vida do outro, ou quando não são homens públicos. “Agora, aqueles que representam o povo, o povo tem que saber o que está acontecendo com eles e como o inquérito refere-se ao mau uso do dinheiro público, nada mais lógico que os representados saibam o que os representantes fizeram”, afirmou o jurista. É preciso destacar que todos aqueles que têm o nome na lista — 22 deputados federais, 12 senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora, pertencentes a cinco partidos, além de dois dos chamados “operadores” do esquema – o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Soares, o “Fernando Baiano” – foram denunciados e serão investigados e, se caso for comprovado o envolvimento com algum ato ilícito, serão condenados. “Pessoas que estão na lista não estão condenadas. A essas pessoas foi atribuído algum ato ligado a corrupção. O Ministério Público entendeu que não tinha índices de prova suficientes para começar uma ação penal, portanto, há presunção, inclusive constitucional, de inocência. Vai ser feita a apuração. A partir de então, se houver a comprovação de prática de ilícitos, prática de corrupção, será feita a ação penal, apresentada a denúncia pela qual aquele que é acusado terá também chance de ampla defesa, para que ao final o Supremo declare se o fato atribuído ocorreu

ou não”, afirmou, à reportagem do O SÃO PAULO, o Doutor Marcos da Costa, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP). Também para Marcos, a quebra do sigilo e a revelação dos nomes foi um ato acertado. De acordo com ele, desde o início da revelação dos nomes da operação Lava Jato, o Brasil e principalmente o Legislativo estavam quase sem atividades com a suspeita de quais políticos estariam envolvidos nesse escândalo de corrupção. A publicação dos nomes é, ainda, na visão de ambos os entrevistados, um importante instrumento de acompanhamento do caso, tanto por parte da opinião pública quanto pela imprensa. “No momento, conservar o sigilo sobre os representantes do povo representaria como se o povo não pudesse saber o que está acontecendo dentro do governo, mas o governo, afinal, é representante do povo”, afirmou Doutor Ives. O presidente da OAB-SP destacou, ainda, que a divulgação oficial feita pelo próprio relator do caso no STF vai impedir o “vazamento seletivo de informações. Em uma situação em que se está sobre segredo de justiça, são vazadas informações escolhidas a dedo, até mesmo para prejudicar pessoas. Quando se abre o segredo de justiça, impede-se até que alguém possa se beneficiar prejudicando outra pessoa”.

Entenda a operação Lava Jato Ricardo Janot, na sexta-feira, 6, entrega a lista dos políticos no STF

32 7 6 1 1 * Quantidade de deputados, senadores e ex -legisladores vinculados a partidos * Além deles, João Vaccari Neto, tesoureiro do PT e o lobista Fernando Soares, foram denunciados como operadores do esquema

A citada lista apresentada pelo Procurador Geral da República contém o nome de políticos supostamente atrelados a esquemas de corrupção que envolvem a Petrobras. Todos os nomes foram citados em depoimento de delação premiada do doleiro Alberto Youssef - apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas – e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, também preso na etapa inicial da operação - investigado devido a compra, pela estatal, da refinaria de Pasadena, no Texas, nos Estados Unidos, sob a suspeita de superfaturamento. Deflagrada em 17 de março de 2014 pela Polícia Federal (PF), a operação Lava Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que, segundo as autoridades policiais, movimentou cerca de R$ 10 bilhões. De acordo com a PF, as investigações identificaram um grupo brasileiro especializado no mercado clandestino de câmbio. A Petrobras está no centro das investigações da operação, que apontou dirigentes da estatal envolvidos no pagamento de propina a políticos e executivos de empresas que firmaram contratos com a petroleira.


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Elizabeth Zogbi

‘O idoso deveria ser visto como um templo do saber’ Padre Michelino Roberto Redação

Há mais de 30 anos trabalhando como voluntária e há 12 à frente da Associação Beneficente A Mão Branca de Amparo aos Idosos, Elizabeth Zogbi fala ao O SÃO PAULO sobre as dificuldades vividas pela terceira idade e explica por que tão poucas pessoas gostam de trabalhar com idosos: “Aparentemente, eles não apresentam perspectiva de futuro”.

O SÃO PAULO - Como

nasceu sua vocação para trabalhar com idosos?

Elizabeth Zogbi - Minha mãe atuou 60 anos como diretora da A Mão Branca, uma instituição criada em 1912 com a finalidade de amparar idosos. Creio ter herdado dela um carinho especial por pessoas na terceira idade. Daí, sucedê-la na direção dessa instituição foi um caminho natural. Comecei a trabalhar como voluntária. Casei cedo e depois que meus filhos cresceram, senti uma grande necessidade de dedicar-me a obras sociais. Por isso, fui estudar Pedagogia na PUC-SP, pensando em preparar-me para atuar junto às crianças carentes. Na ocasião, visitei várias instituições sociais que atuavam em diversos setores:

Padre Michelino Roberto

visitei favelas, escolas, creches e percebi que, proporcionalmente, havia muita gente disposta a ajudar as crianças carentes e poucas que assistiam aos idosos. Daí, decidi que deveria atuar nesse setor.

A que atribui esta diferença? Creio que ao fato de a velhice para muitos parecer uma coisa triste. Em certo sentido, o idoso, aparentemente, não apresenta perspectiva de futuro. É um fator psicológico. Tanto é assim, que de modo geral, as pessoas têm medo de envelhecer. Já as crianças têm uma vida pela frente. Esse fator, associado a outro - a criança sempre responde mais, agradece mais, devolve mais. Você chega a uma creche e ganha o abraço de um monte de criança. Já o idoso é mais difícil, em geral possui doenças crônicas, sente saudades de seu passado, baixa autoestima e nem ele mesmo vê uma perspectiva futura para a sua própria vida. Nas sociedades ocidentais, onde o valor da pessoa humana comumente é avaliado pela sua produtividade, o idoso, não poucas

vezes, é visto como um peso morto a ser carregado. Pouco ou nada se valoriza a sua experiência de vida e a sua sabedoria acumulada. Não poucas vezes, acaba virando empregado de seus filhos. O idoso deveria ser visto como um templo do saber.

Empregado dos filhos!? Sim, cuidadores dos netos, cozinheiros, faxineiros, já que os filhos precisam trabalhar fora.

Mas isso é ruim? É ruim quando é exigido do idoso como uma obrigação e

quando o seu valor é medido, dentro da própria família, pelo que ele pode oferecer em termos de produtividade. O idoso é um aposentado, fase da vida em que, supostamente, deveria poder desfrutar dos benefícios materiais e afetivos dos esforços de uma longa existência. Existem alguns casos em que até sua aposentadoria é vista como uma fonte a mais de renda pelos filhos. Isso é muito triste!

Falemos um pouco dos núcleos de apoio aos idosos que a senhora está implantando em algumas zonas periféricas... Os núcleos de apoio aos idosos desejam resgatar o presente do idoso e oferecer a ele uma maior qualidade de vida. Visam atender às necessidades dos idosos independentemente de sua raça, cor ou religião. Sou cristã católica e, por isso, optei para que sejam implantados em associação com as paróquias, na esperança que as comunidades cristãs possam desenvolver uma pastoral da terceira idade. Oferecemos

assistência social – ajuda concreta com relação a questões relacionadas à aposentadoria, saúde, alimentação – e desejamos que as comunidades onde forem implantadas desenvolvam atividades que atendam às suas necessidades e carências espirituais. Nos últimos três anos, criamos núcleos em paróquias no Capão Redondo, Campo Limpo e M’Boi Mirim, e agora estamos em fase de implantação de um núcleo no bairro do Brás.

Como funcionam esses centros? Na fase inicial, disponibilizamos um (a) assistente social que visita e cadastra todos os idosos do bairro, fazendo encaminhamentos segundo as suas necessidades. Essa é a primeira fase. Na segunda, convidamos aqueles que possuem mobilidade a participarem de atividades de promoção à saúde, culturais e de entretenimento, como sessões de fisioterapia, Tai Chi Chuan, Afro-Mix, excursões, palestras etc. Com isso, desejamos promover a melhoria da qualidade de vida do idoso e resgatar o seu presente, o que inclui fazer novas amizades. As atividades acontecem no salão comunitário. A paróquia, por sua vez, oferece, àqueles que desejarem, atividades de caráter religioso.


16 | Fé e Cultura |

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Filipe David

20 anos da encíclica Evangelium Vitae Há exatos 20 anos, no dia 25 de março de 1995, o Papa João Paulo II publicava a encíclica Evangelium Vitae, sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana. O Papa explica nessa carta que “o evangelho da vida está no centro da mensagem de Jesus”: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Todo homem sincero pode reconhecer no seu coração uma lei natural que ensina “o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo”. E, apesar disso, o mundo de hoje enfrenta ameaças novas à vida, uma “impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos, sobretudo quando ela é débil e indefesa”. Essas ameaças incluem: “toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário”. Especialmente grave é a legalização e até colaboração do Estado em algumas dessas práticas. “O fato de as legislações de muitos países, afastando-se quiçá dos próprios princípios basilares das suas Constituições, terem consentido em não punir ou mesmo até reconhecer a plena legitimidade de tais ações contra a vida, é conjuntamente sintoma preocupante e causa não marginal de uma grave derrocada moral: opções, outrora consideradas unanimamente criminosas e rejeitadas pelo senso moral comum, tornam-se pouco a pouco socialmente respeitáveis. A própria medicina que, por vocação, se orienta para a defesa e cuidado da vida humana, em alguns dos seus setores vai-se prestando em escala cada vez maior a realizar tais atos contra a pessoa, e, desse modo, defor-

Fotos: Reprodução

ma o seu rosto, contradiz-se a si mesma e humilha a dignidade de quantos a exercem”. Esses atentados à vida são em si mesmos graves e inquietantes, mas eles trazem consigo uma consequência igualmente preocupante, a corrupção da consciência, “o fato de à própria consciência, ofuscada por tão vastos condicionalismos, lhe custar cada vez mais a perceber a distinção entre o bem e o mal, precisamente naquilo que toca o fundamental valor da vida humana”. A encíclica está integralmente disponível em português no site do Vaticano: http://w2.vatican.va/content/ john-paul-ii/pt/enc yclicals/do c uments/hf_jp-ii_ enc_25031995_evangelium-vitae.html

Conferência

Documentos da Igreja

osaopaulo@uol.com.br

Monsenhor Melina vem ao Brasil para ciclo de palestras sobre a família Por ocasião dos 20 anos da publicação da carta encíclia Evangelium Vitae, vem ao Brasil o presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para a Família, o Monsenhor Livio Melina. Sua primeira palestra será no dia 21 de março, às 14h, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), em Curitiba, sobre a “Civilização do amor e da vida”, dentro do seminário organizado pela comissão de bioética da CNBB, em parceria com a PUC-PR, sobre os 20 anos da encíclica. Em seguida, Monsenhor Melina fará duas palestras sobre os desafios da família e

a nova evangelização. A primeira será em Salvador, no dia 24, às 18h, na Universidade Católica do Salvador. A segunda será em São Paulo, no dia 26, às 20h30, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A palestra de São Paulo será no auditório da faculdade de Teologia, campus Santana (rua Voluntários da Pátria, 1.653). Estão convidados “as famílias, a Pastoral Familiar, os movimentos, serviços e institutos familiares, bem como professores universitários, estudantes, o clero, religiosos e todos os interessados”.

Reprodução


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A volta dos ‘incansáveis’ Fotos: Reprodução da Internet

Com mais de 40 anos, Amaral, Müller e Viola, ídolos de grandes clubes paulistas, prolongam a carreira em times do interior “O Müller veio jogar um futebol solidário aqui em Fernandópolis, vimos como ainda batia na bola e falamos ‘pô, o cara tá correndo muito, fazendo gol no meio da molecada de 23 anos’, daí tivemos a ideia de trazê-lo. Além disso, aquele jogo arrecadou R$ 100 mil. Eu já tinha a ideia de trazer um ídolo para o clube que motivasse a cidade, que trouxesse o torcedor para o campo, então ajuntou a fome e a vontade de comer”. É assim que Jerry Falcão, presidente do Fernandópolis, clube do interior de São Paulo, explica o porquê da contratação do atacante Müller, 49, para a disputa da quarta divisão do Campeonato Paulista a partir de abril. Com passagens pelos quatro grandes paulistas, com destaque no São Paulo, onde foi bicampeão do Mundo e da Libertadores, Müller não atua profissionalmente há 11 anos, mas está confiante. “A torcida tem me acolhido da melhor maneira possível, estou muito satisfeito, a cidade me abraçou e espero dar minha contribuição dentro de campo para a torcida”, afirmou ao O SÃO PAULO.

Depois dos 40, ‘ainda dá jogo?’

Amaral, volante com passagens vitoriosas por Palmeiras, Corinthians e Vasco da Gama nos anos 90 também voltou aos gramados no começo do ano, defendendo o Capivariano, na primeira divisão do Paulistão. Porém, o jogador disputou apenas uma partida e se contundiu. “Fiquei muito tempo parado e peguei uns campos pesados. Tive uma contusão na musculatura, foi um estiramento na coxa, mas estou me recuperando”, contou à reportagem o jogador que não atuava profissionalmente desde 2012, e que disse ter escolhido o Capivariano pela proximidade com o presidente do clube e por ser natural de Capivari, cidade do interior paulista. “Não posso dizer se serei titular em todos os jogos, mas

‘Quarentões’: ídolos em grandes clubes paulistas, Amaral, Müller e Viola dão sequência a carreira em times do interior

a minha contratação foi para jogar e com minha experiência também dar algo a mais ao grupo. Sempre converso com os mais novos, para que não desperdicem oportunidades”. Para que Müller não se contunda na volta ao futebol, a diretoria do Fernandópolis afirma ter um plano diferenciado para o atleta. “Devido à idade, ele tem um treinamento com um preparador físico específico e academia. Eu não posso exigir do Müller, o que eu exijo de um jogador de 23 anos, então, o Müller tem um tratamento diferente”, explica o presidente do clube. “Estou em forma e preparado para os gramados da quarta divisão, não vou disputar todos os jogos, só de vez em quando, e o campo aqui do Fernandópolis é excelente”, garante Müller. Para preparador físico Le-

onardo Ribeiro da Costa, 33, tanto Müller quanto Amaral terão dificuldades na volta aos gramados. “O futebol é um jogo com muitos contatos físicos, e uma boa parte desses contatos são com a perda da bola, em uma zona onde é possível um chute a gol pelo adversário, um choque perigoso ou a necessidade de manter-se de pé. Eles precisarão de uma boa preparação física”, avaliou, reforçando a necessidade de que esses atletas tenham um cronograma diferenciado de treinamentos desde a prétemporada.

não vou atuar mais não”, garante Amaral. Já Müller dá indícios que poderá seguir um pouco mais. “Vou ver como vão se desenrolar as coisas no dia a dia, no campe-

Pendurando as chuteiras

SEXTA-FEIRA (13) 19h30 – Liga Nacional de Basquete Palmeiras x Pinheiros (Ginásio Palestra Itália – rua Turiassú, 1.840, Perdizes).

Müller e Amaral têm perspectivas diferentes para a continuidade da carreira. O jogador do Capivariano, clube que disputa, além do Paulistão, a Copa do Brasil, é enfático: “Tenho planos de jogar somente este ano,

onato da quarta divisão. As circunstâncias dentro de campo é que vão determinar o que vamos fazer no futuro”, detalhou. Jerry, presidente do Fernandópolis, diz ter planos para que o campeão do Mundo com a seleção brasileira na Copa 1994 continue vinculado ao clube, mesmo após pendurar as chuteiras definitivamente. “Nós temos um trabalho social fora de campo, o ‘bom de bola, bom de escola’, a gente cuida de cem crianças. Se tudo correr bem, o Müller também poderá participar desse projeto, trabalhar com os moleques na base”. Caso isso se confirme, Müller seguirá o caminho que está sendo traçado pelo também campeão do Mundo em 1994, Viola, atacante ídolo do Corinthians nos anos 90. Aos 46 anos, ele segue em atividade sem interrupções e ao ser contratado no começo do ano pelo Clube Atlético Taboão da Serra, que também disputará a quarta divisão paulista, acertou a participação no projeto “CAT – Criança na escola joga bola com o Viola”, que visa disseminar a prática esportiva na cidade localizada na Grande São Paulo. Quem também sinaliza a volta aos gramados é Ronaldo Fenômeno. Aposentado desde 2011, o campeão do Mundo com a seleção brasileira nas Copas de 1994 e 2002 estuda jogar algumas partidas pelo Fort Lauderdale Strikers, clube da segunda divisão norte-americana do qual é sócio. “Vou tentar jogar alguns jogos. Este ano, eu quero treinar muito. Não consegui nos três últimos anos, pois estava muito ocupado com outras coisas. Talvez se chegarmos até a final e eu estiver bem...”, declarou em recente entrevista à revista Sports Illustrated.

AGENDA ESPORTIVA QUARTA-FEIRA (11) 22h – Paulistão de Futebol Corinthians x São Bernardo (Arena Corinthians)

SÁBADO (14) 16h – Paulistão de Futebol Corinthians x Red Bull Brasil (Arena Corinthians)

QUINTA-FEIRA (12) 19h30 – Paulistão de Futebol São Paulo x São Bento (Morumbi)

DOMINGO (15) 11h – Paulistão de Futebol Palmeiras x XV de Piracicaba (Allianz Parque) SEGUNDA-FEIRA (16) *18h30 – Superliga masculina de vôlei – quartas de final SESI-SP x Maringá (Ginásio do Sesi – rua Carlos Weber, 835, na Vila Leopoldina) *Caso o SESI-SP vença a segunda partida em Maringá, no dia 14, não haverá este jogo


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Brasilândia

Juçara Terezinha Zottis

Colaboração especial para a Região

‘Mulheres em sociedade, unidas por igualdade’ Fotos: Juçara Terezinha Zottis

Na Paróquia Santos Apóstolos, Pastoral da Mulher festeja 25 anos na Brasilândia; Dom Angélico pede que mulheres não se calem diante de agressões

Aos poucos, as mulheres das comunidades da Região Episcopal Brasilândia foram chegando ao salão de eventos da Paróquia Santos Apóstolos, no Jardim Maracanã, no domingo, 8. Algumas acompanhadas dos esposos e filhos para participarem das atividades comemorativas pelo Dia Internacional da Mulher, que também demarcou os 25

anos de atuação da Pastoral da Mulher na Região. Muitas se surpreenderam aos ver painéis com fotos, faixas e banner que retratavam os 25 anos de atuação da Pastoral. “Algumas pessoas foram as primeiras bordadeiras deste projeto. Irmã Brígida McDonagh (em memória), na Vila Terezinha, Irmã Rosa, do Jardim

Recanto, e a pastora Barbara Schmidt de Souza, do bairro Ladeira Rosa. Temas como Teologia Feminista, Saúde da Mulher, e a situação das mulheres no Antigo Testamento foram a base do início dos trabalhos”, contou Fátima Giorlano, uma das fundadoras da Pastoral. O encontro deste ano teve como tema “Mulheres

em sociedade, unidas por igualdade”, em sintonia com a temática da CF 2015 “Fraternidade: Igreja e Sociedade”. Oficinas de economia solidária, momentos de relaxamento e apresentações culturais foram parte das atividades, assim como uma poesia, construída de modo coletivo, com texto retratando a vida das mulheres em

sociedade. Foram apresentados, ainda, dados sobre a violência praticada contra as mulheres, particularmente contra a mulher negra. Também foi realizado um diálogo participativo sobre direitos humanos. Como em todos os anos, houve intensa atuação de crianças e adolescentes nas atividades, e também dos homens, em especial das Paróquias Cristo Ressuscitado e Nossa Senhora Aparecida da Vila Souza, que prepararam a alimentação partilhada pelos participantes. Em visita surpresa ao encontro, Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), enalteceu os trabalhos realizados pelas mulheres na Região Brasilândia e as incentivou para a sequência das atividades, recordando, ainda, que cada mulher tem o compromisso de ajudar as demais a se libertar das opressões. “Não podemos nos calar diante das agressões que nossas mulheres sofrem todos os dias caladas”, enfatizou.


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João Carlos Gomes

Colaborador de comunicação da Região

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Belém

Missa no Dia Internacional da Mulher recorda luta por igualdade de direitos A Paróquia São Marcos Evangelista, no Setor Conquista da Região Episcopal Belém, realizou na noite do domingo, 8, uma celebração festiva, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A missa, acompanhada por aproximadamente 350 pessoas, foi presidida pelo Padre Didi Mateus, vigário paroquial, e teve intensa participação de mulheres das comunidades da Paróquia. Ao se referir às mulheres, o Sacerdote explicou também o uso da estola branca em pleno domingo de Quaresma. “Muitos me perguntaram o porquê da estola branca e também das mulheres me acompanhando no altar. É porque hoje é um dia de festa, em que homenageamos as mulheres do mundo inteiro, louvando Maria, nossa mãe, e também essas senhoras que, com sua caminhada de vida, representam a luta de cada mulher que so-

Fotos: João Carlos Gomes

350 pessoas lotam a Paróquia São Marcos, em missa no domingo, 8, que recorda a luta das mulheres por igualdade de direitos

nha neste mundo”, detalhou. A celebração foi marcada por símbolos e gestos pedindo a igualdade de direitos, como no ato penitencial, quando se pediu perdão por todas as vezes que a igualdade entre homens e mulheres

é esquecida e a violência é praticada contra as mulheres. Para realçar essa busca de igualdade, o Evangelho foi proclamado por Maria de Lourdes dos Santos Silva, da Paróquia Imaculado Coração de Maria, também

do Setor Conquista. Lourdes, como é mais conhecida, também fez a reflexão da Palavra. Ao final da celebração, a jovem acólita e catequizanda Giovanna de Oliveira o homenageou a todas as

mulheres, com a leitura do texto “Mulheres do Sim”, que foi dado a cada mulher no início da celebração, juntamente com uma flor. Por fim, foi cantada a música “Maria, Maria”, de Milton Nascimento.

Encontro de formação litúrgica acontece no próximo sábado A Comissão Arquidiocesana de Liturgia promove no sábado, 14, das 8h às 17h, no Centro Pastoral São José do Belém (avenida Álvaro Ramos, 366, próximo ao Metrô Belém), um encontro de formação litúrgica em âmbito

arquidiocesano. A atividade é destinada às equipes paroquiais e setoriais envolvidas na animação litúrgica das comunidades (membros da Pastoral Litúrgica e equipes de música). A assessoria será do Professor

Divulgação

Márcio de Almeida, Doutor em Música. Em carta a toda a Arquidiocese, Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém e referencial para a Liturgia, explicou que a meta da formação é aprofundar o sentido

do canto na liturgia, a partir do ano litúrgico. Outros detalhes sobre a atividades podem ser obtidos pelo telefone (11) 2693-0287 ou pelo e-mail regiaobelem@ uol.com.br, com Iracema da Silva.

AGENDA REGIONAL Domingo (15), 18h

Missa da novena a São José, na Comunidade São José Operário, da Paróquia Nossa Senhora das Graças (rua Batista Fergusio, 142, na Vila Cardoso Franco).

Ipiranga

Redação

osaopaulo@uol.com.br

Um convite por ‘24 horas de Oração’ A Região Episcopal Ipiranga realiza na Paróquia-santuário São Judas Tadeu (avenida Jabaquara, 2.682, no Jabaquara), a iniciativa “24 de Horas de Oração”, que terá início na sexta-feira, 13, às 20h, e término no sábado, 14, às 19h, com missa presidida por Dom José Roberto Fortes Palau, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região. A iniciativa se insere na jornada de oração e confis-

são “24 horas para o Senhor”, que será realizada por cristãos em todo o mundo. Este ano o tema é “Deus rico de misericórdia”. “Também como indivíduos, temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver

por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração”, expressou o Papa Francisco na mensagem para a Quaresma deste ano.


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Santana

Diácono Francisco Gonçalves

Colaborador de comunicação da Região

Santas Missões Populares: envolvimento comunitário e seguimento a Cristo Diácono Francisco Gonçalves

Padre Luís Mosconi explica ao clero os objetivos e metodologia das Santas Missões Populares, no dia 3

Padres e diáconos se reuniram, no dia 3, na Cúria da Região Santana, com Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região, para um dia de reflexão sobre as Santas Missões Populares, com assessoria do Padre Luís Mosconi, que as idealizou. Na Região Santana, as paróquias do Setor Vila Maria já estão aplicando a metodologia das missões populares empreendidas pelo Padre Mosconi, o que

motivou a vinda o assessor para ministrar mais conhecimentos sobre essa forma missionária. Padre Mosconi revelou que entre tantos objetivos das Missões Populares podem se destacar os seguintes: ajudar as pessoas a dar um sentido autêntico à própria vida; vivenciar a espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo e do seu Evangelho; envolver o maior número de pessoas num grande mutirão missioná-

rio, despertando nelas o gosto pela missão; fortalecer, reinventar, reproduzir a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), dando a elas maior qualidade. As Missões Populares devem atingir toda a área da paróquia, dedicando uma atenção especial aos católicos afastados e aos preferidos de Jesus Cristo: os pobres. A duração das Missões Populares deve ser de dois anos, com as seguintes etapas: “Etapa do namoro” - quando o pároco e equipe pastoral paroquial estudam a proposta nos seus conteúdos e metodologia, seguindo o livro das Santas Missões Populares, publicado por Padre Mosconi; “Etapa do noivado” - forma-se uma coordenação paroquial com a tarefa de articular e acompanhar todo o processo; “Etapa da pré-missão” - com o primeiro grande retiro dos missionários e missa de envio dos missionários. Esse período tem a duração de sete a dez meses, com sugestão de atividades especificas a cada mês; “Etapa da grande semana missionária” - com a presença de missionários (leigos, padres, religiosas) vindos de outras paróquias e comunidades; “Etapa da pós-missão” - é a etapa do aprofundar e articular todas as forças vivas que se despertaram ao longo das etapas anteriores, e que têm duração de um ano (até o aniversário da semana missionária). Padre Mosconi irá acompanhar a implantação junto às paroquias da Região Santana que desejarem desenvolver as Santas Missões Populares.

Padre Higashi: ‘venho para somar forças, estar junto com as pessoas’ Em missa presidida por Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, o Padre Eduardo Higashi, 44, tomou posse, no dia 1º, como pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Setor Tremembé. Nascido na Capital paulista, o Padre iniciou sua caminhada ao sacerdócio já com 35 anos. No entanto, desde os 15 anos, atuava nas pastorais da Região Ipiranga. Alguns sacerdotes motivaram sua vocação, “porém, foi a presença do Padre Reginaldo Donatoni, que na época era seminarista de Teologia e estava fazendo estágio

pastoral na minha paróquia, que suscitou algo que estava adormecido em meus pensamentos e projetos: a vocação para ser padre”, declara Padre Higashi. Quando ia iniciar o curso de Filosofia, em 2006, sua mãe faleceu, o que o levou a pensar em desistir, mas, com o encorajamento do seu pároco, Padre João Cícero Moraes, cursou Filosofia no Unifai, concluído em 2008. No início de 2009, ingressou no Seminário Propedêutico Frei Galvão, hoje, Nossa Senhora da Assunção, iniciando já os estudos de Teologia, na PUC-SP. Em 2012, foi ordenado diáco-

no e provisionado na Paróquia São José Operário, na Vila Nova Galvão, atuando, depois, na Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa. Em dezembro de 2013, foi ordenado presbítero e nomeado vigário na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, do Imirim, para auxiliar o Padre Dalmir dos Anjos, onde esteve até então. “Venho para somar forças, estar junto com as pessoas, caminhar nas dificuldades e nas alegrias do dia a dia de uma comunidade, ajudá-los, para sermos uma Igreja em saída, como nos pede o Papa Francisco. Rogo pelas intenções de todos”, disse Padre Higashi.

Diácono Francisco Gonçalves

Padre Higashi precede Dom Sergio ao tomar posse, dia 1º

Escolas de Teologia e de Evangelização iniciam ano letivo Diácono Francisco Gonçalves

Dom Sergio com participantes dos cursos de Teologia e Evangelização

O Centro de Formação Pastoral Frei Galvão (avenida Marechal Eurico Gaspar Dutra, 1.853), formado pelas Escolas de Teologia e Evangelização, realizou, em 27 de fevereiro, na Capela São José da Cúria, a missa em ação de graças pela abertura dos cursos de 2015, e que foi presidida por Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. As aulas tiveram início no dia 3, mas ainda nesta semana é possível fazer a matrícula de novos alunos. A taxa de participação é de R$ 60 mensais. A Escola de Teologia tem duração de três anos com aulas semanais e com disponibilidade nos seguintes dias da semana: terças-feiras, das 19h30 às 22h; quintas-feiras, das

14h30 às 17h ou das 19h30 às 22h; e sábados, das 8h30 às 11h. A Escola de Evangelização oferece um com curso de duração de um ano, sobre o Catecismo da Igreja Católica. O investimento mensal é de R$ 35, com as seguintes opções de dias e horários: quintas-feiras, das 14h30 às 16h30 ou das 19h30 às 21h30. No curso temático, o tema é Mariologia, com aulas opcionais às terças-feiras, das 19h30 às 21h30, e às quintasfeiras, das 14h30 às 16h30. Inscrições na secretaria, de segunda a sextafeira, das 14h às 18h. Outras informações pelo telefone (11) 2991-5882 ou pelo e-mail cpfreigalvao@gmail.com.


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Fernando Geronazzo

Colaborador de comunicação da Região

Evangelii gaudium ilumina retiro do clero Entre os dias 2 e 6, aconteceu o retiro anual do clero atuante na Região Episcopal Sé, realizado na casa Vila Dom Bosco, dos Salesianos, em Campos do Jordão (SP). Este ano, os padres tiveram como pregador Dom Milton Kenan Júnior, bispo de Barretos (SP). Mestre em Espiritualidade, Dom Milton, tendo como base a exortação apostólica Evangelii gaudium (a alegria do Evangelho), do Papa Francisco, desenvolveu temas como: o seguimento de Jesus Mestre (ser discípulo), os pecados que os ministros ordenados não podem cometer na condução do povo de Deus, a dedicação do sacerdote em se preparar para a sua pregação diária, a fidelidade à Palavra de Deus e a caridade pastoral com que é assumida a opção preferencial pelo pobre e necessitado. Textos como o dos evangelistas Marcos, Lucas e Mateus, do profeta Jeremias

e Isaías, e as exortações do apóstolo São Paulo em suas cartas a Timóteo, aos Gálatas, Filipenses e Romanos, serviram de pano de fundo para trabalhar o tema do compromisso de que o ministro ordenado precisa“um outro Cristo”, servindo aos irmãos, numa missão encarnada na vida, nas limitações humanas. “O discípulo é aquele que segue o mestre, inclusive superando as tentações e suportando as perseguições, em vista de um bem maior, a salvação de todos.”, expressou Dom Milton, complementando: “A maior tentação que o discípulo precisa superar é a de ser levado a ter a mesma postura farisaica na Palestina do tempo de Jesus. Em nosso coração, temos um pouco de discípulo e um pouco de fariseu. Nesse sentido, diante dessa realidade, a observância pessoal se faz necessária para que possamos realizar

as nossas mudanças à luz e exemplo do Mestre Jesus”, exortou o Bispo. Além de todo conteúdo adquirido nestes dias de convivência, o partilhar da oração comunitária como a liturgia das horas, o momento mariano, a via-sacra, a celebração penitencial e as confissões renovaram as energias dos padres para retornarem às suas comunidades paroquiais imbuídos da força do Espírito Santo, que tanto fora invocado ao longo de todo retiro. Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar de São Paulo e vigário episcopal para a Região Sé, participou do retiro e se disse muito feliz com a experiência. Ele afirmou que foi mais uma oportunidade de o clero aprofundar o compromisso de, na fraterna relação interpessoal, viver a mística do Evangelho verdadeiro que Jesus chama a realizar.

Comunicacao Mosteiro de São Bento de Campos do Jordão

Padres da Região Sé participam de retiro espiritual em Campos do Jordão

No Paraíso, padres articulam ações para estimular ‘Igreja em saída’ Os representantes das paróquias do Setor Paraíso se reuniram para a sua primeira assembleia setorial, em 28 de fevereiro, na Paróquia Santa Rita de Cássia, na Vila Mariana, quando avaliaram a caminhada pastoral do Setor. Participaram os párocos Padre Aparecido Silva, da Paróquia Santíssimo Sacramento; Frei Mário Sérgio Rocha, da Paróquia Santo Agostinho, Frei Pelaio Moreno Palacios, da Paróquia Santa Rita de Cássia; Padre Mário Pizetta, da Paróquia Santo Inácio de Loiola; além do Padre Sérgio Bradanini, missionário do Pime. O encontro teve como objetivo “ser um momento de partilha entre as paróquias, buscando construir uma ação de Igreja que esteja em sintonia com a Região, a Arquidiocese e o caminho da Igreja”, explicou Padre Mário, coordenador do Setor, que lembrou o esforço proposto pelo 11º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo: “Sermos testemunhas de Jesus Cristo nesta cidade”. O Padre convocou o Setor para “ter a coragem de sair de dentro de nossas igrejas e ser uma presença mais

Pascom Setor Paraíso

Representantes de paróquias do Setor Paraíso realizam primeira assembleia de pastoral de 2015, na Paróquia Santa Rita de Cássia

viva”. “Na medida em que estamos presentes, podemos ser testemunhas”, afirmou. O grande momento do encontro foi a partilha dos grupos, divididos em pastorais, serviços, associações e

movimentos, representados em torno de 15 serviços. “O trabalho dos grupos foi uma partilha das alegrias e desafios que encontramos em nossas paróquias, tudo realizado num clima de diálogo

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e comunhão”, relatou Padre Mário. O painel conclusivo foi conduzido pelo jornalista Nathan Xavier e os resultados serão apresentados aos párocos e vigários para uma

reflexão e definição de ações pastorais do Setor. “Por ser a primeira assembleia, pode-se dizer que foi uma rica experiência de Igreja”, concluiu o coordenador do Setor. (Colaborou Pascom do Setor Paraíso)


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Lapa

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Padre Antonio Francisco Ribeiro e Benigno Naveira Colaboradores de comunicação da Região

Um dia de devoção a São João de Deus: padroeiro dos doentes e hospitais Benigno Naveira

Fiéis da Paróquia Santa Luzia participam da procissão com a imagem de São João de Deus

No domingo, 8, foi celebrada a memória litúrgica de São João de Deus, padroeiro dos hospitais e doentes. Na Paróquia Santa Luzia, no Setor Piritu-

ba, após a bênção proferida pelo Padre Geraldo Pedro dos Santos, pároco, a comunidade saiu em procissão carregando no andor a imagem do Santo

até a capela da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, onde o Padre presidiu a missa. Na homilia, Padre Geraldo indagou os fiéis sobre qual a vontade de Deus na vida deles. O Sacerdote refletiu, ainda, sobre o Evangelho do dia, em que Jesus mostra um grande respeito pela casa de Deus, ao expulsar do templo os trocadores de moedas e os mercadores que abusavam e desrespeitavam o templo de Deus. São João de Deus, cujo nome era João Cidade, nasceu em 8 de março de 1495, em Montemor-o-Novo, Portugal. Ele foi criado trabalhando como pastor de ovelhas e teve sua juventude modificada na Europa como soldado e mercenário. Teve também alguns

períodos de insanidade. Aos 40 anos, o Padre teria tido uma visão e sentiu grande remorso pelo que tinha sido como soldado. Deixou o Exército e alugou uma casa em Granada, na Espanha, e começou a cuidar dos doentes, pobres, dos sem casa e abandonados. São João de Deus fundou, em Granada, a Ordem de Caridade, hoje chamada Ordem dos Hospitaleiros de São João de Deus. Seu lema era “Trabalhe sem parar, faça tudo de bom que possa, enquanto você ainda tem tempo.” Ele foi beatificado pelo Papa Urbano VIII, em 28 de outubro de 1630, e canonizado em 16 de outubro de 1690, pelo Papa Alexandre VIII. O Papa Leão XIII, em 1886, o declarou padroeiro dos hospitais e doentes junto com São Camilo de Lellis.

Dom Eduardo visita Paróquia São João Gualberto Por oito anos, ele foi diácono e padre na Paróquia São João Gualberto, no Setor Pirituba. No domingo, 8, voltou a presidir missa na matriz da Paróquia, mas agora como bispo: Dom Eduardo Viera dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. A reportagem da Pastoral da Comunicação regional acompanhou a celebração, que reuniu cerca de 300 fiéis, e foi concelebrada pelo Padre João Carlos Deschamps, atual pároco. Dom Eduardo, na homilia, falou de sua alegria e satisfação por encontrar amigos e agradeceu ao Padre João Carlos e a cada um dos fiéis pela presença na missa e pelas

orações que por ele fizeram enquanto por lá esteve como pároco. O Bispo refletiu sobre o Evangelho do dia, em que Jesus fala da “destruição” e da “reconstrução” do templo. Referia-se ao seu corpo como o “templo de Deus”. E, sendo templo, era sagrado porque Deus morava ali, assim como nos edifícios e lugares a Ele consagrados. Dom Eduardo ressaltou, ainda, que por meio do Batismo, “nós também nos tornamos templos de Deus; tornamo-nos parte do corpo místico e da humanidade de Jesus. Justamente por causa disso, temos de viver e agir como cristão”. Na avaliação da paroquiana Cristiana Maria de Jesus,

Benigno Naveira

Bispo auxiliar na Sé, Dom Eduardo vai a Região Lapa, no domingo, 8, para missa na São João Gualberto

Dom Eduardo, quando era pároco, “foi um padre que deixou um grande exemplo para nós, um homem que não media esforços. Na reforma da paróquia, ele ajudava a colocar o piso, carregava saco de areia

nas costas. Na Paróquia, acolhia a todos os fiéis, fazia visitas às casas, sempre procurando ajudar a todos”. À reportagem, Dom Eduardo disse ter ficado feliz por celebrar em Pirituba, onde foi

diácono e pároco. “Hoje, retornei como bispo para agradecer a comunidade pelas orações, a dedicação e o carinho que tiveram comigo na minha caminhada sacerdotal e para rever os amigos”, afirmou.

Juventude em oração na via-sacra da Campanha da Fraternidade Padre antônio Francisco Ribeiro

Na São João Batista, jovens se reúnem para a via-sacra da CF

O grupo de jovens da Área Pastoral São João Batista realiza todos os domingos, às 10h, um momento de oração comunitária. O coordenador da Pastoral da Juventude local, Erick Candido, e sua esposa, Flaviany, apresentaram a proposta, e a oração indicada foi a via-sacra da Campanha da Fraternidade. Explicando o sentido dessa oração, o Padre Antonio Francisco Ribeiro, vigário da Área Pastoral, disse que a via-sacra é uma oração que recorda o caminho da dor e do sofrimen-

to de Jesus no percurso de sua divina missão redentora, quando demonstrou uma profunda obediência ao Pai eterno e um infinito amor à humanidade de todas as gerações. Normalmente, é rezada às quartas e sextas-feiras no período da Quaresma. Todavia, segundo o Padre, por sua importância e valor espiritual, deveria ser lembrada nos demais meses do ano, por todos aqueles que quiserem se irmanar aos sofrimentos de Jesus, penitenciando-se de suas próprias culpas e das transgressões da huma-

nidade. Rezar a via-sacra é reviver na mente e no coração a grandeza do amor de Deus, que, para salvar e redimir a humanidade de todas as gerações, entregou o seu divino filho em holocausto, como vítima perfeita para lavar os pecados de todos. Além do grupo de jovens da comunidade, um grupo de senhoras reza a via-sacra às terças-feiras às 14h. Na Sexta-Feira da Paixão será realizada uma via-sacra, encenada em uma praça pública do bairro Jardim Rizzo.


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anos de reformas bispos de países pouco representados e de periferias. Está estimulando a colaboração dos bispos do mundo inteiro nas questões cruciais, aumentando a chamada colegialidade. Convocou um histórico Sínodo dos Bispos para discutir os problemas das famílias. Também está retomando o empenho diplomático da Santa Sé em questões de grande relevância internacional, como o conflito Israel-Palestina e o embargo dos Estados Unidos sobre Cuba. Está fortalecendo os laços com a Igreja Ortodoxa e outros cristãos, além dos judeus e muçulmanos.

Fotos: L’Osservator e

Romano e Lucine

y Martins/O SÃO

PAULO

Reformador ou renovador?

Jorge Mario Bergoglio foi eleito para promover mudanças na Igreja, mas não se esperavam tantas ao mesmo tempo FILIPE DOMINGUES

Especial para O SÃO PAULO, em Roma

Quem caminha nas ruas próximas ao Vaticano, em Roma, encontra uma enxurrada de livros sobre o Papa Francisco. Biografias, análises e teorias da conspiração. A maioria das obras tem títulos impactantes. “O Evangelho do Sorriso”, “Mente aberta, coração fiel”, “Um papa do fim do mundo”, “Vida e revolução”, “O papa do povo”, “O milagre de Francisco”, “Porque ele comanda

como comanda”, “O grande reformador”, “Até onde vai Francisco?”. Todos esses textos foram escritos nos últimos dois anos, desde a eleição de Jorge Mario Bergoglio ao trono de Pedro, e têm uma coisa em comum: as reformas do pontificado do Papa Francisco.

Dois anos atrás

Bergoglio foi eleito para renovar a Igreja. A histórica decisão de Bento XVI de renunciar, em 11 de fevereiro de 2013, dizendo lhe faltar “vigor no corpo e na alma”, permitiu aos cardeais que elegeriam o novo pontífice antecipar o debate sobre os problemas que a Igreja vivia. Normalmente, com a morte de um papa, os cardeais são logo isolados em um conclave, do qual só saem depois da eleição do sucessor. No caso da renúncia de Bento XVI, que governou até o fim de fevereiro daquele ano, o conclave só começou um mês de-

pois. Por mais de 30 dias, os cardeais puderam se articular livremente fora do conclave e debater o futuro da Igreja. Não é à toa que Francisco tenha sido eleito após somente dois dias de votação, em 13 de março. Também não é à toa que o então arcebispo de Buenos Aires, na Argentina, tenha aceitado ser o novo bispo de Roma “em espírito de penitência”. Ele conhecia os obstáculos que encontraria. Algumas das reformas já haviam sido iniciadas por Bento XVI, como a reestruturação do banco do Vaticano, até então um terreno fértil para crimes financeiros. Também foi Bento XVI que iniciou a política de “tolerância zero” à pedofilia, substituindo bispos que não agiram com firmeza e instituindo organismos para estudar e resolver o problema. O Papa Francisco abraçou a causa e ampliou o combate, criando também uma

comissão dentro do Vaticano. “O medo do escândalo não pode frear a limpeza”, disse o Papa, em fevereiro.

Dentro e fora da Igreja

“A reforma da Cúria Romana não é um fim em si mesma, mas um meio para reforçar o testemunho cristão”, afirmou Francisco, também em fevereiro. Para criar uma nova estrutura para a Cúria, a administração geral da Igreja, ele nomeou uma comissão de nove cardeais. O mesmo grupo articula uma reformulação das finanças do Vaticano, sob o comando do cardeal australiano Dom George Pell, colocando a Santa Sé dentro dos padrões internacionais de transparência. Seria possível listar várias das reformas da popularmente chamada “revolução Francisco”. Ele está mudando a configuração do colégio de cardeais ao nomear

Alguns estudiosos em Roma acreditam que o projeto de reforma de Francisco é um processo histórico que só poderá ser compreendido no futuro. O padre italiano Rocco D’Ambrosio, professor de Filosofia Política na Pontifícia Universidade Gregoriana, costuma dizer que os atos do Papa Francisco estão “em total continuação com as resoluções do Concílio Vaticano II”. Assim, o aggiornamento (atualização) já vinha acontecendo gradualmente. Agora, é reforçado pelo primeiro papa que não participou do Concílio. O escritor e padre americano Dwight Longenecker, colunista do site católico Aleteia, escreveu em artigo que a palavra “reformador” não é precisa para definir o Papa Francisco. Ele sugere, em vez disso, “renovador”. “O Papa Francisco quer uma renovação na Igreja”, comenta. “A verdadeira ambição de Francisco é de voltar nossos corações e mentes de novo à simplicidade da mensagem do Evangelho.” De fato, na exortação apostólica Evangelii gaudium (A alegria do Evangelho), Francisco diz: “O bem tende sempre a se comunicar. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade diante das necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem se enraíza e se desenvolve. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem”.


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