O SÃO PAULO - 3062

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 60 | Edição 3062 | 29 de julho a 4 de agosto de 2015

R$ 1,50

www.arquisp.org.br Fraternidade O Caminho

Nas ruas com os mais pobres dos pobres Missionários da Missão Belém e da Fraternidade O Caminho realizaram, nas ruas do centro da capital paulista, uma missão de acolhida e atendimento às pessoas em situação de rua. De acordo com o irmão Gilson Frank dos Reis, o sentido da missão

é “levar o amor e a salvação de Deus para os irmãos”. Na noite da sexta-feira, 24, o Cardeal Scherer, acompanhando o Vicariato do Povo da Rua, também foi ao encontro de moradores de rua e desabrigados. Páginas 7 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Missionários da Fraernidade O Caminho cuidam de pessoas em situação de rua

Nesta edição, O SÃO PAULO traz um conjunto de artigos, reportagens e entrevistas sobre o consumismo. Entre os temas estão a influência na cultura, a problemática do consumismo infantil e da ‘adultização’ das meninas e a Palavra de Francisco. Páginas 11, 12, 13, 14 e 15

A sociedade da eterna carência

Francisco Borba

Consumo e Consumismo

Gustavo Caldas

A propaganda direcionada às crianças

Entrevista com Isabella Henriques, diretora do Instituto Alana, por Roberto Zanin

Na noite de visita com a Pastoral do Povo da Rua, Cardeal Scherer distribui lanche aos moradores de rua

O consumismo infantil e a tendência das ‘meninas moças’

Reportagens de Nayá Fernandes

laudato si’ O que diz o Papa Francisco

Felipe David

Obsolescência para obrigar o consumo Reportagem de Edcarlos Bispo

Existem alternativas?

12 dicas para lidar com o problema


2 | Ponto de Vista |

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Editorial

O vazio do coração consumista

V

ivemos numa sociedade fragilizada pelo consumo desequilibrado. Os excessos do consumo prejudicam o meio ambiente, ameaçado pela poluição e pelos desperdícios de nós, consumidores. A economia brasileira sofre, dizem os economistas, porque teve um crescimento desequilibrado, centrado unicamente no consumo, sem aumentos equivalentes na produção e na riqueza nacional. As famílias comprometem sua estabilidade afetiva com o trabalho dos pais, que se matam tentando ganhar mais, acreditando realizar-se e dar o melhor a seus filhos quando a família consome mais. As pessoas se deprimem procurando comprar sempre mais, e

descobrindo que nada que compram e consomem os sustenta. Em nossa sociedade, parecem terrivelmente verdadeiras as palavras do Antigo Testamento: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?” (Isaías 55, 2). A passagem bíblica não está na Laudato si’, mas sua pergunta bem ilustra aquilo que o Papa Francisco nos tenta transmitir em sua “encíclica verde”. O conteúdo da passagem bíblica, em seu conjunto, é uma exortação para que nos entreguemos à Providência divina, que nos entreguemos a seus preceitos, e então a terra (ou, para usar uma linguagem de nossos dias, a realidade) se

revelará frutuosa, cheia de alegria e paz. Trata-se de uma exortação cheia de poesia e beleza, para vivermos aquela “sobriedade”, sugerida por Francisco na encíclica. Sobriedade que não é ausência de alegria ou prazer, mas sim uma condição de paz, alegria e prazer que permite que não vivamos angustiados sempre à procura de ter mais para preencher um vazio sem limites. Por que consumimos tanto? Porque nosso coração está vazio, responde o Papa (Laudato si’ nº 204). Talvez possamos recolocar a questão como uma pergunta endereçada a todos nós, a nossos filhos e amigos, a todas as pessoas que queremos bem: o que preenche nossos corações? Qual a satisfação e a alegria

que nos sustentam? Afinal, toda vida precisa de alegria e satisfação para se tornar vivível... Temos uma consciência clara dos limites que a natureza impõe a nosso consumo (fruto da conscientização realizada por cientistas e militantes ambientalistas), mas uma necessidade crescente de consumo (fruto da estrutura econômica da sociedade e da própria condição existencial em que nos encontramos hoje em dia). O coração preenchido pelo amor, pelo encontro com Cristo, é a contribuição dos cristãos para superar esta contradição. Mas, para isso, é necessário que cada um de nós experimente a “alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium).

Opinião

Cristãos no Oriente Médio, a esperança em nossas mãos Sergio Ricciuto Conte

Padre Evaristo Debiasi O que aconteceu no dia 6 de agosto de 2014? Talvez o leitor tenha dificuldade de se lembrar. Neste dia, cerca de cem mil cristãos fugiram do norte do Iraque, da planície de Nínive. De pertences apenas podiam levar as roupas do corpo. O motivo da fuga? Muito simples: eram cristãos e o grupo terrorista autodenominado Estado Islâmico os queriam mortos. Fisicamente os brasileiros estão longe deles, longe demais para oferecer abrigo, comida ou conforto, mas não tão longe para fazer aquilo que é próprio do Cristianismo, rezar. A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre promoverá no dia 6 de agosto o Dia Internacional de Oração pelos Cristãos no Oriente Médio. Aqui no Brasil, as mais de 10 mil paróquias foram convidadas a participarem desste dia. Na Catedral da Sé, às 16h30, Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer celebrará a Missa, com uma introdução a este tema tão delicado. A Ajuda à Igreja que Sofre, embora seja uma obra que auxilia projetos pastorais com ajuda material, tem a oração como um de seus pilares principais e, após meses ajudando constantemente o Oriente Médio com a construção de escolas, casas temporárias para mais de mil refugiados e até mesmo brinquedos para as crianças no Natal passado, entende que a oração ainda é o instrumento mais poderoso. Os terroristas têm usado imagens

para gerar pânico no mundo todo, espalhando vídeos difíceis de serem aceitos pelo teor da barbárie e, no meio de tanta violência gratuita, nesses vídeos, vemos também os heróis da fé que rezam serenamente enquanto são assassinados, nos lembrando do testemunho dos primeiros mártires. Essas imagens que causam horror também lembram que Cristo ao ser crucificado tomou a cruz, o maior

símbolo de vergonha de sua época, e a transformou em um símbolo de vitória. Depois dele, após entender os planos de Deus, os discípulos não tinham mais medo de serem crucificados, pelo contrário, se sentiam honrados, mas só depois de verem o Cristo Ressuscitado. Nesse sentido, Dom Yousif Mirkis, arcebispo de Kirkuk, acredita que “os nossos cristãos iraquianos são melhores do que os apóstolos. Porque

quando Jesus foi crucificado os apóstolos fugiram. E o seu chefe, São Pedro, negou Jesus”. Muito provavelmente mais uma vez na história os perseguidores dos cristãos estão ajudando a registrar a história dos próximos santos. Tertuliano Langa, um sacerdote da Igreja Greco-Católica da Romênia, que ficou preso por 15 anos sofrendo torturas indizíveis apenas por ser amigo dos bispos, ao falar de seu período na prisão comentou que “o diabo estava lá, mas foi derrotado, mordendo os dedos à medida que percebia a forma como se aprofundava cada vez mais o seu amor por Jesus. Por isso, se o diabo pretendia fazê-lo sofrer, na verdade, acabou por prestar um grande serviço tanto a ele como ao plano de santificação traçado por Deus”. Esse é o poder do Cristianismo, onde seus perseguidores veem trevas, os cristãos enxergam a luz. Por isso, o dia de oração é tão importante, para que os irmãos do Oriente Médio saibam que eles já são vitoriosos. No próximo dia 6 de agosto então, como diz uma das frases lema da campanha, “a esperança está em suas mãos”, não tanto no bem material que suas mãos podem fazer, mas sobretudo quando uma mão se une a outra e pede ao Pai que está nos céus, a paz para estes irmãos na fé, acontecerá. Nenhuma força é mais transformadora do que a oração. Padre Evaristo Debiasi é Assistente Eclesiástico da Ajuda à Igreja que Sofre no Brasil

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação Semanal • www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Cônego Antônio Aparecido Pereira, Edcarlos Bispo, Filipe David, Nayá Fernandes e Renata Moraes • Institucional: Rafael Alberto e Fernando Geronazzo • Fotografia: Luciney Martins • Administração: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Djeny Amanda • Assinaturas: Ariane Vital • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Revisão: Maria Aparecida Ferreira • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação e Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 1,50 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

s metrópoles concentram, atualmente, grande parte da população mundial. Dias atrás, foi divulgada a notícia de que a China pretenderia constituir uma megalópole capaz de acolher até cem milhões de habitantes! Também no Brasil, apesar da extensão territorial imensa, a população está bastante concentrada nas “cidades milionárias”. O tema das metrópoles é objeto de observações e estudos diversificados. A cidade grande, para muitas pessoas, continua a ser um sonho dourado de bem estar, boas oportunidades, vida confortável, bens e serviços socializados... Na prática, porém, chamam mais a atenção os efeitos colaterais indesejados desse sonho urbano, como o desconforto da mobilidade e do transporte, serviços deficitários ou precários, falta de trabalho e emprego, tensões sociais, marginalização de parte da população, solidões em meio à multidão, organizações criminosas, violência, medo... Na semana passada, dias 21 e 22 de julho, a Pontifícia Academia das Ciências Sociais promoveu no Vaticano um encontro interessante com a participação de cerca de 70 prefeitos de grandes cidades do mundo inteiro; também 5, de metrópoles brasileiras. Não faltou o encontro com o Papa Francisco. Tratou-se da parte que as metrópoles têm na preservação do meio

| Encontro com o Pastor | 3

Deus na cidade ambiente, “casa comum” da grande família humana, e da “ecologia humana”, com as exclusões sociais que se verificam com frequência nas metrópoles. Como em São Paulo, por exemplo. Na ocasião, o Papa destacou que a preocupação da Igreja com as metrópoles é social e ecológica; melhor dito, é sócio-ambiental. Acima de tudo, porém, a preocupação da Igreja é com a realização eficaz e frutuosa da sua missão evangelizadora na cidade grande. A Igreja já está presente nas cidades grandes e tenta realizar sua missão; mas, sendo realistas, é inevitável constatar que ela enfrenta desafios grandes e dificuldades novas para realizar a sua missão nas grandes metrópoles. As megalópoles são um fenômeno bastante recente na história da humanidade. Não é de hoje que a Igreja se preocupa com a “pastoral urbana”; já o Concílio Vaticano II, no Decreto Ad Gentes sobre a ati-

vidade missionária da Igreja, aparece uma referência à necessidade de estender a atividade missionária nos novos contextos urbanos (cf nº 20). Atualmente, 50 anos depois do Concílio, as questões urbanas que a Igreja deve enfrentar são bem diferentes: já não se trata apenas de criar uma certa “pastoral urbana”, como se fosse mais uma entre várias iniciativas pastorais. O desafio agora é bem mais amplo: como ser uma Igreja urbana e fazer de toda a ação eclesial na cidade uma ação evangelizadora urbana? Não podemos fazer de conta que a cidade grande, ao nosso redor, não existe, ou que seja apenas um detalhe incômodo para a vida e a missão da Igreja... A cidade grande é um campo prioritário para a vida e a missão da Igreja; se não a encararmos assim, corremos o risco de nos tornarmos, nós mesmos, um corpo estranho à metrópole. E o Magistério da Igreja retomou a reflexão sobre a presença da

Igreja nos grandes centros urbanos em diversas ocasiões, quer em documentos pontifícios, quer nos documentos do Magistério local dos bispos, como nas Conferências dos Bispos da América Latina e do Caribe (Puebla, Santo Domingo, Aparecida) e também da CNBB. O Papa Francisco aborda o tema de maneira incisiva na Exortação Evangelii Gaudium e na encíclica “Laudato si’ – sobre o cuidado da casa comum”. O clero da arquidiocese de São Paulo fará seu curso anual de aprofundamento teológico e pastoral justamente sobre o tema - “Deus na cidade”. Será em Itaici, de 3 a 6 de agosto, e contará com a assessoria de um especialista sobre o tema: Pe. Carlos Maria Galli, professor da Universidade Católica de Buenos Aires. Será uma ocasião para avançarmos no esforço de sermos uma Igreja na metrópole paulistana, como tudo o que isso requer e significa.

Vicariato para a Comunicação Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer realizou, no dia 23, a primeira reunião do Conselho Executivo do Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação após a nomeação de seu novo vigário episcopal, Dom Devair Araújo da Fonseca, publicada no dia 14. O Conselho é composto pelos responsáveis dos meios de comunicação da Arquidiocese - jornal O SÃO PAULO, rádio 9 de Julho, Portal da Arquidiocese e Folheto Povo de Deus - , Pastoral da Comunicação (Pascom) e a Secretaria Executiva do Vicariato. Na reunião, Dom Odilo renovou o Regimento do Vicariato e foram apresentados ao novo vigário os trabalhos e projetos desenvolvidos no campo da comunicação na Igreja de São Paulo.


4 | Papa Francisco |

O

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Evangelho do 17º Domingo do tempo comum (Jo 6,1-15) foi refletido pelo Papa Francisco com os peregrinos antes da oração mariana do Ângelus, no dia 25 de julho. Francisco recontou o texto da multiplicação dos pães. A multidão vai a Jesus e ele cura e, como mestre, ensina. Para testar os discípulos, pergunta como alimentar a multidão. Ele sabe o que fazer e substitui a lógica do comprar pela lógica do dar. As pessoas são acomodadas. Jesus toma os cinco pães e dois peixes, dá graças ao Pai e os distribui. “Esses gestos antecipam a Última Ceia, que dão ao Pão de Jesus o seu significado verdadeiro. O pão de Deus é o próprio Jesus.” E Francisco reflete: fazendo comunhão com Jesus recebemos sua vida em nós e nos tornamos filhos do Pai Celeste e irmãos entre nós, nos encontramos com Jesus vivo e ressuscitado. Entramos na lógica de Jesus, “a lógica da gratuidade, da partilha”. Sempre podemos dar alguma coisa por mais pobres que sejamos. Por isso, fazer comunhão “significa também obter de Cristo a graça que nos torna capazes de partilhar com os outros o que somos e o que temos”. A multidão fica impressionada

Jesus prefere a lógica do dar à do comprar com o milagre da multiplicação inscrição. E continuou: “Celebrados pães, e Francisco lembra que da durante o Ano da Misericórdia, “Jesus não satisfaz apenas a fome esta Jornada será, em certo sentido, material, mas aquela mais profun- o jubileu da juventude, chamada a da, a fome do sentido de vida, a refletir sobre o tema “Bem-aventufome de Deus”. rados os misericordiosos, porque E pergunta Francisco: o que po- alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). demos fazer diante do sofrimento, Convido os jovens de todo o munda solidão, da pobreza e das difi- do a viver esta peregrinação seja culdades de tantas pessoas? Pode- indo a Cracóvia, seja participando mos oferecer o pouco que temos deste momento de graça nas prócomo aquele menino do Evange- prias comunidades.” lho. Podemos oferecer um pouco Uma lembrança dos religiosos de tempo, de talento, de competên- sequestrados na Síria, o Papa pecia... porque todos temos “cinco pães e dois peixes” e “se Sempre podemos dar alguma estamos dispostos a coisa, por mais pobres que colocá-los nas mãos sejamos. Por isso, fazer do Senhor, bastará comunhão “significa também para que no mundo obter de Cristo a graça que haja um pouco mais nos torna capazes de partilhar com os outros amor, de paz, de juso que somos e o que temos”. tiça e, sobretudo, de alegria. Como é necessária alegria no mundo! Deus diu um “renovado compromisso é capaz de multiplicar os nossos das autoridades locais e internapequenos gestos de solidariedade e cionais “para que a esses nossos tornar-nos partícipes do seu dom”. irmãos seja em breve restituída a Após a oração do Ângelus, o liberdade”. Papa se referiu à abertura das insEnfim, Francisco saudou as crições para a Trigésima Jornada avós e avôs, uma vez que se celeMundial da Juventude a ser realiza- brava no mesmo domingo os Sanda no ano que vem na Polônia. Com tos Joaquim e Ana, pais de Maria e um jovem e uma jovem ao lado, ele avós de Jesus. mesmo afirmou que havia feito sua (Por Padre Cido Pereira)

Intenções para agosto L’Osservatore Romano

Foram divulgadas, na segunda-feira, 27, as intenções de oração do Papa Francisco para agosto. O Pontífice confiou ao Apostolado da Oração os seguintes propósitos: Intenção Universal: “Para que aqueles que colaboram no campo do voluntariado se entreguem com generosidade ao serviço dos mais necessitados”. Intenção para a Evangelização: “Para que, saindo de nós mesmos, saibamos fazer-nos próximos daqueles que se encontram nas periferias das relações humanas e sociais”.

Roupas para os pobres Por ocasião de sua visita à região italiana da Toscana em 10 de novembro, o Papa Francisco fez um “pedido” inusitado aos empreendedores da cidade de Prato, conhecida como uma das capitais têxteis da Europa. O Pontífice sugeriu que os empreendedores que queriam lhe oferecer tecidos para os paramentos, dessem metros de tecido para confeccionar roupas que abrigassem os pobres do frio ou camisetas para estudantes de países tropicais.

Mensagem ao patriarca armênio católico O Santo Padre enviou uma mensagem de felicitações a sua Sua Beatitude Grégoire Pierre XX Ghabroyan, que foi eleito Patriarca de Cilícia dos Armênios pelo Sínodo daquela Igreja em 24 de julho. No texto, Francisco une-se a todos os fiéis do Patriarcado, fazendo votos de que o seu novo ministério traga muitos frutos. Recorda que a eleição ocorre num momento em que a Igreja Armênia está enfrentando algumas dificuldades e novos desafios, de modo especial pela situação de parte dos fiéis católicos armênios no Oriente Médio. “No entanto, iluminada pela luz da fé em Cristo ressuscitado, a nossa visão do mundo é cheia de esperança e misericórdia, pois estamos certos de que a Cruz de Jesus é a árvore que dá vida”, afirma o Papa. (Por Fernando Geronazzo com Rádio Vaticano)


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Espiritualidade O que as pessoas falam sobre si mesmas... Dom Sergio de Deus Borges

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana

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o exercício da missão nas comunidades temos a alegria de conviver e dialogar com pessoas de todas as idades, com condições econômicas diferentes e com diferenciado acesso à cultura. Além disso, existe um modo próprio de cada uma viver e se relacionar com a comunidade. Porém, as pessoas, em sua maioria, têm algo em comum quando falam de si mesmas: falam de seu trabalho e de suas atividades, poucas falam de sua missão, de sua vocação. Até parece que a identidade da pessoa está relacionada essencialmente com o que ela faz. Esta mentalidade está profundamente arraigada na cultura, desde há muito tempo. Nos santos Evangelhos, quando Jesus retorna à sua terra, o identificam com a atividade exercida por São José: o filho do carpinteiro. Do mesmo modo os apóstolos, em sua maioria, inicialmente foram identificados com a atividade que exerciam: uns - pescadores; outrocobrador de imposto, etc. Identificar

uma pessoa somente pela atividade os Atos dos Apóstolos e outros escritos exercida empobrece a nossa compre- e observar como os apóstolos falam de ensão sobre ela. Os interlocutores de si mesmos a partir da missão, que lhes Jesus ao identificá-lo com a profissão deu a verdadeira identidade: Pedro, de São José perderam uma grande apóstolo de Jesus Cristo (1Pd 1,1); Pauoportunidade de conhecer o Senhor lo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontaJesus e a missão que lhe foi confiada de de Deus (2Tm 1,1). Como é bonito ouvir as pessoas que têm consciência pelo Pai. Do mesmo modo, quando pensa- da missão e falam de sua vocação ao mos em nós mesmos somente a partir matrimônio, falam de sua vocação ao do que fazemos, também empobrece- sacerdócio, outras falam de sua vocamos porque perdemos a capacidade de ção à vida consagrada, outras ainda de nos conhecer melhor, não conhecere- sua vocação política, educacional, etc. mos o pensamento de Deus sobre cada um de Depois do chamado e da nós, e perdemos a cons- convivência com o Senhor Jesus, ciência do chamado e num longo e árduo caminho, os a perda da consciência apóstolos foram descobrindo vocacional, isso desvirque Deus contava com Eles, Deus tua a missão. Identificar os chamava, em Cristo, à sua a pessoa pela missão a verdadeira missão, de pescadores enobrece e nos enriquece. Depois do chamado de peixes a pescadores de homens e da convivência com o Como é bonito alguém dizer ‘eu Senhor Jesus, num longo e árduo caminho, os apóstolos foram descobrindo sou um educador’, em vez de dizer ‘eu que Deus contava com Eles, Deus os leciono’; como é bonito ouvir a pessoa chamava, em Cristo, à sua verdadei- dizer ‘eu sou um discípulo missionára missão, de pescadores de peixes a rio’, em vez de dizer ‘pois é, eu ajudo na pescadores de homens – Apóstolos: Pastoral’... Vamos aproveitar o mês de “chamou a si os seus discípulos, e esco- agosto e falar menos do que fazemos e lheu doze deles, a quem também deu começar um bonito exercício de falar o nome de apóstolos’ (Lc 6,13). Esta sobre nossa vocação, porque somente descoberta foi um divisor de águas na a consciência do chamado fará renasvida dos doze: Eles se tornaram, por cer em todos nós o encanto com a misgraça, apóstolos de Jesus. É bonito ler são que o Senhor Jesus nos confiou.

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Fé e Cidadania Migração e meio ambiente Padre Alfredo José Gonçalves Muito já se falou e escreveu sobre a Carta Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, “sobre o cuidado da casa comum”. Alguns a classificam de “evangelho da ecologia”, outros de “carta verde”. Seja como for, convém focalizar mais de perto o aspecto destacado pelo título deste curto artigo. Ou seja, o que tem a ver devastação do meio ambiente com o fenômeno das migrações? Comecemos por dar a palavra ao Pontífice: “Por exemplo “– diz o Santo Padre – “as mudanças de clima originam migrações de animais e vegetais que nem sempre podem adaptar-se e isso, por sua vez, afeta os recursos produtivos dos mais pobres, os quais também se veem obrigados a migrar com grande incerteza quanto ao futuro de suas vidas e de seus filhos” (LS, n° 25). Entre as diversas faces da mobilidade humana, entra em cena um novo tipo de migrante: o “refugiado climático”. Aquele que se vê forçado a deixar sua terra devido a secas prolongadas, inundações repentinas, desertificação do solo, e outros motivos. Nos últimos tempos assistimos a um agravamento das chamadas catástrofes “naturais”. Estas aspas significam que tais catástrofes se multiplicam e se agravam, não raro, por causa da ação humana sobre a natureza. O frenético afã de lucros e de capital desrespeita o ritmo lento e sábio da Mãe Terra. E igual proporção dessa ação predatória, cresce o número de vítimas condenadas a uma fuga às vezes precipitada, e quase sempre privada dos meios mínimos para a sobrevivência. Infelizmente, como alerta o Papa, embora seja “trágico o aumento de migrantes fugindo da miséria piorada pela degradação ambiental”, esses fugitivos em massa “não são reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais e carregam o peso de suas vidas abandonadas, sem qualquer proteção normativa”. (LS, idem). Os órgãos responsáveis pela proteção dos refugiados, como a ACNUR, por exemplo, levam em conta a violência ideológica, política e/ou religiosa. Oferecem alguns mecanismos de ajuda aos milhares e milhões de pessoas que devem escapar de guerras e conflitos e que, devido a isso, não podem retornar ao país de origem, sob pena de perseguição e morte. São obrigados a buscar abrigo em outra nação. O fato é que também os “refugiados climáticos” são vítimas de violência. Violência sobre o meio ambiente que, em suas consequências imprevistas, atinge em primeiro lugar “os mais pobres e abandonados”, como insiste o documento, os quais não possuem meios de defesa. Daí a necessidade de refúgio... E de auxílio!


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Liturgia e Vida

Você Pergunta

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM 2 DE AGOSTO DE 2015

O pão que liberta ANA FLORA ANDERSON Neste domingo, no começo do mês de agosto, a liturgia nos oferece uma reflexão profunda sobre os dons de Deus para com o seu povo. Desde a primeira antífona nós nos dirigimos a Ele pedindo seu socorro e o verdadeiro dom da libertação. A oração do dia relembra a inesgotável bondade de Deus que restaura e renova sua criação. O Livro do Êxodo (16, 2-4. 12-16) mostra a fraqueza do povo de Deus. Mesmo depois de ser libertado da escravidão no Egito, o povo ainda reclama que não há alimento suficiente. Como sempre, o Deus de bondade escuta tal clamor e promete a Moisés que haverá um pão que desce do céu

a cada dia para alimentar o povo. Na segunda leitura (Efésios 4, 20-24) encontramos a resposta que devemos dar a esta bondade de Deus. O evangelho pregado por Cristo nos convida a despojarmo-nos do homem velho e suas paixões enganosas para nos revestir do homem novo, à imagem de Deus. O Evangelho de São João (6, 23-35) chega ao ponto mais profundo da revelação. Somos um povo que procura a Jesus pedindo muitas coisas. Mas o próprio Jesus nos faz lembrar que o maior dom de Deus, o verdadeiro pão do céu, é Ele que de lá desceu é que dá vida ao mundo. Neste domingo devemos dizer junto com o povo da Galileia: Senhor, dá-nos sempre deste pão !

A Imaculada Conceição é uma verdade criada pela Igreja? padre Cido Pereira osaopaulo@uol.com.br

O Magno Macedo Quintano faz todo um discurso sobre a Imaculada Conceição de Maria. Ele afirma que a Igreja Católica criou o dogma da Imaculada Conceição para que a maldição do pecado original não atingisse Jesus. Mas isso cria um outro problema, diz ele, porque Ana, Mãe de Maria também teria que ser imaculada, e a mãe de Ana também... O que pensar disso tudo, padre? Magno, que pergunta estranha a sua. Por que não ficar com a explicação que a Igreja dá a esta verdade de fé? A Igreja explica que puríssima deveria ser aquela que

geraria em seu ventre o cordeiro imaculado, Jesus Cristo nosso Senhor. A Igreja ensina que, por conta desta missão de Maria, Deus a preservou do pecado original e pronto. E não em vista dos merecimentos dela, mas em vista de Jesus seu Filho. É isso, Magno. Ficar prolongando gerações e gerações, como se todos os antepassados de Maria fossem imaculadamente preservados é desconhecer o poder de Deus que pode contrariar as leis que ele colocou no mundo. Portanto, meu irmão, fique tranquilo. A imaculada concepção de Maria nos fala que em Maria, Deus antecipou o que faria com todos nós no Batismo. Ele a pre-

servou do pecado original em vista de Jesus e nos livrou do peso da culpa de nossos primeiros pais nas águas do Batismo. A Imaculada Conceição de Maria, portanto, Magno é obra de Deus e não obra humana. Magno, amemos Maria e entendamos o seu papel na história de nossa salvação. Ela não é Deus, mas é a Filha predileta do Pai, a Mãe do Filho, a Esposa do Espírito Santo. Preservada do pecado original, ela permaneceu virgem antes, durante e depois do parto. Como assim? Que o diga o anjo Gabriel: “O que é impossível para os homens não o é para Deus!” Para Deus não existem impossíveis.

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO Em 16 de julho de 2015, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, da Região Episcopal Sé, Setor Pastoral Catedral, o Revmo. Pe. Felice Vittorio Baggi, SSS,

pelo período de 6 (seis) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE DIÁCONO COMO COOPERADOR Em 22 de julho de 2015, o Diácono Edson Teixeira de Lima, PODP, foi nomeado como cooperador na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, da Região Episcopal Sé.

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NOME___________________________________________________________ _________________________________________________________________ DATA DE NASC. ___/___/____CPF/CNPJ _________________________________ ENDEREÇO ___________________________________________________________ __________________________________________________________ nº __________

Errata Na edição 3061, na página 7, da reportagem: Vitória acolhe o 9º

COMPLEMENTO ______________________ BAIRRO ___________________________ CEP ____________ - ___________ CIDADE____________________________________

Muticom, os créditos das fotos são de Ricardo Luciano de Souza.

ESTADO ______ E-MAIL: ________________________________________________ TEL: (__________) ______________________________________ DATA ____/___/____


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Missionários fazem-se pobres com os pobres para resgatá-los da indigência Nas ruas da cidade, histórias de famílias e vidas partidas que perderam tudo por causa da dependência química. O amor de Deus acolhe e reconstrói Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

“Eu pude viver meu propósito de ‘ver e ouvir’ na missão de rua. Na equipe das crianças foi uma noite bem difícil, fomos dormir bem tarde, mas hoje foi um dia especial, conseguimos realizar as brincadeiras e teatros sobre o Querigma. Pude ouvir o que Deus pedia de nós ali, e ver que Deus estava agindo, pois, uma das meninas começou a chorar e pediu para sair das ruas. Vieram conosco quatro crianças e adolescentes e isso nos alegrou muito, não é fácil, mas vale a pena cada sacrifício pelos mais pequenos”. Esse foi o testemunho do jovem Diogo Moreira Susewind, 24, missionário da Missão Belém, que na semana de 18 a 23 participou da missão de rua realizada pelas comunidades Missão Belém e Fraternidade O Caminho. O irmão Gilson Frank dos Reis, um dos coordenadores

da Missão Belém, destaca que o intuito da missão é “levar o amor e a salvação de Deus para os irmãos. Mostrar para eles um novo caminho, estar com eles e mostrar que possuem valor, são preciosos”. E para que esse objetivo se concretize, os missionários são pobres com os pobres, dormem nas ruas, nos bancos de praça, viadutos e marquises, comem da mesma quentinha que dão de comer aos moradores de rua. “Nossa missão é viver o carisma da gruta de Belém - o amor de Maria e José com o menino Jesus - e abraçar todos os pobres. Quando iniciamos nossa experiência não entendíamos muito bem como caminhar, a partir do momento que fomos morar com os pobres nas ruas, passamos a entender para o que Deus nos chamava, o nosso carisma”, afirma o irmão Gilson. Para a irmã Chiara dos Pobres de Jesus, da Fraternidade O Caminho, a missão mostra que “o amor de Deus é capaz de transformar o coração do homem e é capaz de preencher o coração do homem”. A religiosa conta que a situação dos “irmãos de rua está deplorável”, por mais sujos e debilitados que estejam, a missão mostrou um abandono que a Irmã nunca tinha visto, prova de que não há um olhar misericordioso das

Papa envia mensagem e presente ao Povo da Rua de São Paulo Redação

“Continuem a amar Jesus e os pobres. É o caminho do Evangelho”, disse o Papa Francisco em uma mensagem exclusiva enviada à Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, em agradecimento aos presentes recebidos na quarta-feira, 22, no Vaticano. O Santo Padre também retribuiu o presente enviando seu próprio solidéu às pessoas em situação de rua. Durante uma audiência com o Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, e o Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé, na Casa Santa Marta, o Pontífice recebeu um crucifixo e rosários feitos com materiais recicláveis pe-

los moradores de rua da capital paulista. Como gesto de gratidão, Francisco pediu para que fosse gravado um vídeo via celular e mostrado aos moradores de rua e ao Padre Lancelotti, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. “Caro Padre Júlio Lancelotti, e demais colaboradores do trabalho com o povo de rua. Quero lhes dizer que recebi com alegria os presentes que me enviaram. Continuem a amar Jesus e os pobres. É o caminho do Evangelho. Tenho certeza de que rezam por mim e é essa oração que me dá forças. Agora vos deixo a minha bênção. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, disse o Papa.

Fraternidade O Caminho

Missionários da Missão Belém e Fraternidade O Caminho realizam uma semana de Missão pelas ruas da capital

pessoas e da cidade para com os moradores de rua. Dentro das realidades encontradas nas ruas, os missionários destacam que há uma pequena parcela que está fora do seio familiar por problemas de decepção ou dificuldades psicológicas, mas que na maioria dos casos são graves problemas com álcool e drogas, principalmente o crack. “Há histórias de famílias, psicólogos, doutores... Pessoas que ti-

veram uma vida boa com conforto, mas perderam tudo por causa da dependência química e estão na rua, são histórias que mexem com tudo dentro de nós, com nosso coração e aí falamos: ‘vale a pena doar a vida pelos que mais precisam, pelos que perderam a esperança, pelos que não tem mais um olhar além daquilo que está vivendo’”, conta emocionada irmã Chiara. De acordo com dados das duas comunidades quase 400

pessoas foram tiradas das ruas e encaminhadas para as casas de acolhida. E é esse jeito de ser Igreja que motiva a irmã Chiara. Para ela com a “presença do Papa Francisco, a Igreja está cada vez mais de portas abertas, acolhendo as pessoas, a Catedral nos acolhe, fizemos um dia todo de pastoral na Catedral da Sé, celebramos a missa na escadaria da Sé. A Igreja está se abrindo cada vez mais para os pobres e necessitados”.

Cardeal visita moradores de rua A noite da sexta-feira, 24, foi típica de uma noite de inverno em São Paulo com garoa e muito frio, mas isso não espantou ou esmoreceu os membros da Pastoral do Povo da Rua que junto ao Cardeal Odilo Pedro Scherer, ao padre Tarcísio Marques Mesquita, coordenador do secretariado arquidiocesano de pastoral, e do padre Júlio Lancellotti, vigário do Povo da Rua, visitaram e levaram lanche para os moradores de rua da capital paulista. O primeiro lugar visitado pelo Cardeal foi o Centro de Acolhida São Martinho. Dom Odilo ouviu explicações sobre a realidade do local, que devido as chuvas estava acolhendo cerca de 160 pessoas, e conheceu os espaços onde as pessoas dormem e tomam as refeições. Em seguida, o Arcebispo visitou as famílias da Comunidade do Cimento, no Bresser, e outras pessoas que por não ter onde morar estão residindo em barracas e barracos improvisados nas ruas da cidade. Dom Odilo ou-

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal acompanhado do Padre Júlio faz visita a moradoes de rua no centro

viu testemunhos e pedidos, além das explicações do Padre Júlio que atento às necessidades do povo de rua, pediu a intervenção

do Cardeal junto ao poder público para que haja uma maior atenção aos moradores de rua e desabrigados da cidade.


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Destaques das Agências Nacionais

Especial para O SÃO PAULO

Diocese de Santo André acolhe seu novo bispo “A Diocese de Santo André acolheu na tarde deste domingo, 26, seu quinto bispo. A posse canônica de Dom Pedro Carlos Cipollini aconteceu em missa campal celebrada na Praça do Carmo diante de sete mil fiéis, divididos entre a gratidão pelo pastoreio de quase doze anos de Dom Nelson Westrupp, scj, e pelo sentimento de boas vindas ao seu novo pastor. Após a leitura do decreto da Nunciatura Apostólica, o Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, Dom Odilo Scherer presidiu o rito de posse, entregando o Báculo, símbolo da condução dos trabalhos de governo, de ensino e de santificação na Diocese. Em seguida, Dom Pedro foi convidado a se sentar na cátedra, sinal de autoridade, expressão da sede episcopal. Dom Pedro, ao iniciar sua homilia, dedicou um forte agradecimento a Dom Nelson, a quem chamou de importante timoneiro à frente da Diocese de Santo André. Em seguida, saudou a todos os segmentos

Cai o número de homicídios Diocese de Santo André

O número de homicídios dolosos (com intenção de matar) cometidos na região metropolitana de São Paulo no primeiro semestre deste ano caiu 20% em relação ao mesmo período no ano anterior. No interior, a redução foi de 11%. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes na região metropolitana está atualmente em 10,77. No interior, essa taxa é de 8,7. Em comparação, a média de homicídios por 100 mil habitantes no Brasil inteiro foi de 23,7 no ano passado, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública. Fonte: Agência Brasil

Semana de enfrentamento ao tráfico humano Dom Pedro Carlos Cipollini entre o Cardeal Odilo Scherer e Dom Nelson Westrupp, no domingo, 26

presentes, desde sacerdotes, diáconos, religiosos(as), autoridades e o povo em geral, sempre dedicando palavras reforçadas de carinho. O novo bispo da Diocese de Santo André também dei-

na agricultura, na saúde pública e na infra -estrutura foram muito severas. O dinheiro arrecadado tem sido utilizado para distribuir kits de abrigo e higiene, bem como itens alimentares.

Uma campanha com caixas de presente pretende chamar a atenção da sociedade para o tráfico de seres humanos para trabalho escravo, servidão doméstica e exploração sexual, bem como para o tráfico de órgãos e adoção ilegal de crianças. De acordo com Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal, entre 2006 e 2011, mais de 2 mil brasileiras foram vítimas do tráfico humano para fins de exploração sexual dentro do País e no exterior. Além disso, segundo a Comissão Pastoral da Terra, 42 mil trabalhadores foram resgatados do trabalho escravo no Brasil entre 2003 e 2013.

Fonte: ACI

Fonte: Agência Brasil

xou ensinamentos de orientação cristã. Sobre a passagem bíblica da multiplicação dos pães, disse: ‘quando trazemos só para nós, sempre falta, mas quando trazemos para todos, sempre sobra’. E que ‘a mul-

tidão segue Jesus Cristo por sentir fome da Palavra de Deus’. ‘Sejamos, portanto, todos discípulos missionários, levando o Evangelho a todos e sempre’, reforçou.” (Diocese de Santo André).

Campanha de ajuda ao Nepal já arrecadou mais de R$ 1 mi A campanha SOS Nepal, lançada após os terremotos que devastaram o País há três meses, já arrecadou mais de R$ 1 milhão. A campanha é promovida pela Cáritas brasileira e pela CNBB. O Nepal foi atingido por dois grandes

terremotos, um no dia 25 de abril e outro no dia 12 de maio. Foi o pior desastre já registrado no País, matando 8,5 mil pessoas, destruindo 500 mil casas e afetando a vida de 2,8 milhões de pessoas, que ainda precisam de ajuda. As perdas na indústria,

6 de agosto: dia internacional de oração pelos cristãos do oriente CNS

Crianças iraquianas em uma sala de aula usada como abrigo

Logoterapia e sentido da vida para os formadores

A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) promove o “Dia Internacional de Oração pelos Cristãos Perseguidos no Oriente Médio”. A ação ocorrerá em diversos países da Europa e da Ásia, bem como no Brasil, onde conta com o apoio da CNBB. Foi na noite do dia 6 ao dia 7 de agosto do ano passado que cerca de 100 mil cristãos – “aterrorizados e em pânico” e “somente com a roupa do corpo”, como disse o Patriarca Louis Raphael Sako – tiveram que fugir do norte do Iraque, quando o grupo Estado Islâmico tomou a planície de Nínive. Fonte: ACI

Um curso de pós-graduação sobre a análise existencial e a logoterapia de Viktor Frankl está sendo ministrado a psicólogos, padres formadores, religiosos e fiéis líderes de pastorais e movimentos de várias cidades do Brasil. O curso, ministrado entre 13 e 31 de julho, é oferecido pela Arquidiocese de Campo Grande em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco. A iniciativa tem como objetivo aproximar a prática e o estudo da psicoterapia do ensinamento do Magistério da Igreja, seguindo uma exortação do Papa

Pio XII: “a vossa atividade pode levar-nos a resultados preciosos, não só para a medicina, como para o conhecimento da alma em geral, das disposições religiosas e do seu desenvolvimento (…) uma das mais importantes contribuições para o desenvolvimento da psicoterapia é a da escola vienense da Análise Existencial e Logoterapia de Viktor Frankl, para ao qual o objetivo final da psicoterapia consiste em tornar um indivíduo consciente do sentido de sua existência”. Fonte: Arquidiocese de Campo Grande


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Destaques das Agências Internacionais

| Pelo Mundo | 9 filipe david

Especial para O SÃO PAULO

Reino Unido

Estados Unidos

Mais de 2 milhões de embriões humanos destruídos

Cristãos protestam contra estátua satânica

De acordo com as estatística governamentais, mais de 2 milhões de embriões humanos foram destruídos nos últimos 25 anos. Os últimos dados disponíveis mostram que, atualmente, 174 mil embriões continuam a ser destruídos a cada ano. O número revela um verda-

deiro genocídio que tem como alvo os membros mais frágeis da humanidade: os bebês ainda não nascidos. Os embriões humanos destruídos são o produto das técnicas de fertilização in vitro, que, desde 1990, são permitidas no País. Fonte: Catholic Herald

Alemanha 218 mil deixaram a Igreja em 2014 Segundo as estatísticas mais recentes, 218 mil pessoas deixaram a Igreja Católica no ano passado, 22% a mais que no ano anterior. Uma das principais razões para a debandada é o imposto da Igreja, que, de acordo com a legislação alemã, todo fiel deve pagar à comunidade religiosa à qual pertence, seja católica, pro-

testante ou de outra religião. O presidente da Conferência Episcopal Alemã, Cardeal Reinhard Marx, disse: “Por trás desses números, estão decisões de vida pessoais que, em cada caso, nós lamentamos profundamente, ao mesmo tempo em que respeitamos a liberdade de escolha”. Fonte: Catholic Herald

Centenas de cristãos se reuniram na Igreja de São José em Detroit para protestar contra a estátua de pouco menos de três

metros que, com uma cabeça de cabra, representa Satã. A estátua foi apresentada pelo templo satânico, uma organização que se diz

“dedicada à prática do satanismo e à promoção dos direitos satânicos”. Fonte: Catholic Herald

Mais ideologia de gênero nas escolas A ideologia de gênero avança nas escolas de Nova Iorque. Agora, crianças que se declarem “transgênero” poderão usar o mesmo banheiro e vestiário do sexo oposto. É o que determina

uma instrução do Departamento de Educação de Nova Iorque. O documento recomenda que “as escolas aceitem a declaração do aluno sobre sua própria identidade de gênero” e procura “ajudar” os

formadores a utilizar a linguagem de gênero, definindo palavras e frases criadas pelos seus ideólogos, como “cisgênero”, “não conformidade de gênero”, entre outras. Fonte: Life Site News

Tailândia Jesuítas ajudam vítimas da violência sexual e do tráfico O Serviço Jesuíta de Refugiados tem prestado auxílio à mulheres vítimas da violência sexual e do tráfico humano: “As mulheres refugiadas são quase todas vítimas de violência sexual e são extremamente vulneráveis.

Procuramos ajudá-las a se sentirem menos sós.”, disse Jennifer Martin, consulente psicossocial da Organização, em nota enviada à Fides. As mulheres são, na maioria, refugiadas que vieram de diver-

sos países asiáticos e africanos, como Somália e Paquistão, a Bangcoc, capital da Tailândia. Fugindo da guerra ou da perseguição, muitas vezes são sequestradas e sofrem violência. Fonte: Fides


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Comportamento

O papel ecológico e a família

Valdir Reginato borar com o enorme contingente ser ensinado em família ao uso que ocupa todo o planeta. O clássi- da natureza, também se aplica ao Recordo-me ainda criança, (há co conceito de que o oceano se faz comportamento com as pessoas quase 50 anos!), estudando com de incontáveis bilhões de gotas de entre si. meus irmãos, entra meu pai na sala água, é uma realidade da natureza, Alguns confundem esta atitude e pede um “pedacinho de papel” que nos auxilia a compreender a do Papa como algo meramente popara seu uso. De imediato puxei importância do papel individual, lítico – anticapitalista – o que é grauma grande folha sulfite limpa e que não pode ser ocultado pela ve engano. Cuidar bem dos recurentreguei. “- Não, isto é muito!”. Foi multidão. Sempre grandes mudan- sos, utilizá-los no necessário, evitar até a pequena lixeira do escritório ças surgem a parte de um ponto desperdícios, e respeitar as pessoas, e pegou uma folha amaçada. Abriu individual que acreditou que po- não é uma questão de ideologia -a e perguntou: “- Alguém vai usar deria transformar a massa, como o política, mas antes de tudo uma atitude de caridade cristã: “-Juntai esta?”. Surpresos, respondemos faz o fermento. Desta forma, lembrar, insistir, os pedaços que sobraram, para que que não. Ele concluiu. “- Esta é suficiente para o que preciso.” Nunca retornar, e enfatizar a família como nada se perca!” (Jo 6,12). mais esqueci a lição, que os anos marco para uma atitude ecológica Está ai uma ótima oportunidamais tarde diriam ser uma “atitude nunca é exagerado. Os exemplos de de os pais perceberem o quanto ecológica”, para a preservação do do cotidiano são inúmeros, desde o Papa os está convidando a partimeio ambiente, da “casa comum”. a folha de papel, que já ia para o cipar desta atitude em tomar conta O documento Laudato si’, re- lixo, aproveitada pelo meu pai, até da “casa comum”. Mais do que escentemente lançado pelo Papa o cuidado com as coisas materiais perar por transformações sociais Francisco tem suscitado uma am- para que durem e não se descar- a partir de políticas estratégicas pla repercussão no mundo inteiro. tem, muitas vezes Os motivos são muitos, apesar do antes de seu uso, tema não ser novo. Com seu estilo como o copinho de O Papa ao designar o planeta direto, objetivo e personalizado, o café; incluindo uma com a denominação “casa Papa não fala do problema de es- melhor conscien- comum” quer nos colocar gotamento de recursos da “casa tização em relação a atenção a um tema que comum”, como sendo uma questão aos alimentos, que também o tem ocupado somente a ser vista pelas grandes não podem ser desinstituições, ou estar no socorro perdiçados, num de modo particular nos por grandes mudanças nas cons- mundo que passa últimos meses, que é a tituições nacionais, ou mesmo fome; ou colaborar importância do papel da responsabilizar a enorme comple- com a reciclagem família, no amplo contexto xidade do uso de combustíveis. O do lixo; estamos Papa ao designar o planeta com a num imenso uni- social, que vive nesta casa denominação “casa comum” quer verso de recursos necessárias, que os pais se ocupem nos colocar a atenção a um tema para salvar “a casa”. Não se trata simplesmente de de ser bons exemplos a seus filhos que também o tem ocupado de modo particular nos últimos me- economizar os recursos finan- nas ações cotidianas e simples, nas ses que é a importância do papel da ceiramente, mas de se criar uma quais estarão formando os homens família, no amplo contexto social, atitude de respeito e amor em e as mulheres de amanhã. A consque vive nesta casa. relação ao “esforço da criação da cientização é um processo educaO óbvio parece estar sendo natureza”, se assim podemos di- cional onde “a família constitui a esquecido. Esteve e está sempre zer, em nos oferecer o necessá- grande riqueza social, que outras na família a origem das grandes rio. “- Olhai os pássaros do céu: instituições não podem substituir”, transformações sociais que a mé- não semeiam, não colhem, nem nos afirma o Papa. dio e longo prazo se refletem na guardam em celeiros. No entanto, Dr. Valdir Reginato é médico de família, sociedade como um todo. Cuidar o vosso Pai celeste os alimenta...” professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar. de cada uma em particular é cola- (Mt 6,26). Este respeito que deve

Cuidar da Saúde

Lombalgia: Uma dor que realmente incomoda Cássia Regina

Você sabia que o tratamento para dor na coluna lombar (lombalgia) é mais simples do que tomar medicamentos? Algumas ações podem evitar a lombalgia ou amenizar a dor: evite usar sapatos baixos ( rasteiras, sapatilhas) todos os dias, perca peso pois a coluna aguenta o

peso proporcional à altura; ao acordar alongue-se espreguiçando-se bem e abraçando as duas pernas; ao levantar-se da cama primeiro fique de lado, coloque as pernas para fora da cama e depois sente; tenha um banco pequeno (de madeira) no banheiro para apoiar-se na hora de lavar as pernas e um banco na cozinha para alternar as pernas

enquanto lava a louça, sente-se para trocar de roupa, agache flexionando as pernas para pegar pesos e faça exercícios que fortaleça a coluna (musculação). Todas essas ações deixam a coluna livre e não a sobrecarregam. Não esqueça que você só tem uma coluna. Cuide dela. Dra. Cássia Regina é médica atuante na Estratégia de Saúde da Família (PSF)


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Compre, use, faça, tenha, inove, aproveite a promoção! Os verbos no imperativo associados a desejos que vão além das necessidades podem causar problemas na vida de uma pessoa, de uma família ou de

uma sociedade inteira. Consumir é indispensável, mas estudiosos apontam que vivemos um momento da história em que o termo ‘homo sapiens’ poderia ser substituído por ‘homo consumericus’, tamanha a

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complexidade da questão. As páginas 11 a 15 desta edição aprofundam o tema, apresentando alternativas para ajudar a despertar experiências que vão além do ter e proporcionem encontrar a felicidade de ser. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Francisco Borba Ribeiro Neto

Gustavo Caldas

A sociedade da eterna carência

Consumo e Consumismo

O antropólogo Marshal Sahlins definia as sociedades tribais como “sociedades da primitiva abundância”. Considerava que tribos de caçadores e coletores se organizam para querer poucas coisas, obtidas com relativamente pouco esforço e poucos recursos técnicos. Por isso, vivem numa situação de abundância, ainda que tenham muito pouco. Já em nossa sociedade as pessoas sempre querem mais, nunca estão satisfeitas com o que têm, estão permanentemente se esforçando para ter mais, para consumir mais. Vivemos numa “eterna carência”, onde sempre temos muito, mas esse muito nunca satisfaz. Sentimo-nos carentes, mais do que realmente somos. Nossas economias vivem de um consumo crescente, que acelera os mercados, que impulsionam a produção e geram lucros e empregos. O caráter insaciável do homem moderno frequentemente é apresentado como um valor. Dizemos “Fulano é um jovem ambicioso”, para dizer que é sério, trabalhador, esforçado – provavelmente terá um bom futuro, pois é a ambição que gera as oportunidades e a força para agarrá-las. Mas a ambição não é obrigatoriamente algo bom. Pelo contrário. Pode significar simplesmente o desejo de se realizar na vida, mas também pode significar egoísmo, individualismo e solidão. A insatisfação permanente é uma das principais fontes de angústia

A necessidade do consumo está intimamente ligada à natureza humana. Consumimos alimentos para sobreviver, necessitamos de roupas e abrigo, de meios de locomoção e de diversos instrumentos para realizar nosso trabalho. Inseridos no mundo material, prescindir absolutamente do consumo é uma impossibilidade. No entanto, o ato do consumo, como todos os atos humanos, somente é construtivo para a pessoa na medida em que é guiado pela razão e respeita os fins próprios da natureza humana, ou seja, considera a dimensão material e espiritual e o destino sobrenatural ao qual somos chamados. Quando a decisão do consumo prescinde da orientação racional e se sujeita às paixões, pode tornar-se uma força destrutiva, o que chamamos de consumismo. “Todos nós experimentamos, quase palpavelmente, os tristes efeitos desta sujeição cega ao mero ‘consumo’: antes de tudo, uma forma de materialismo crasso; e, ao mesmo tempo, uma insatisfação radical, porque se compreende imediatamente que (...) - quanto mais se tem mais se deseja, enquanto as aspirações mais profundas restam insatisfeitas, e talvez fiquem mesmo sufocadas”. (São João Paulo II, Sollicitudo Rei Socialis, 28) Consumismo, mais do que um conceito econômico, é um conceito moral. Para a teoria econômica, a variável ‘consumo’ é apenas uma das componentes da equação que busca orientar a alocação dos bens de modo eficiente, dada a escassez de recursos e as necessidades ilimitadas, não distinguindo o reto consumo do consumismo. Na equação econômica, consumo relaciona-se com poupança e investimento. Poupa-se (ou seja,

e de estresse em nossa sociedade. A sociedade da eterna carência se revela facilmente como a sociedade da permanente infelicidade. A crise ambiental evidenciou outro limite dessa eterna carência: não podemos consumir sempre mais, pois os recursos materiais e energéticos de nosso planeta são finitos. Carência eterna gera consumo desenfreado, que é ecologicamente insustentável ao longo do tempo. Mas existe alternativa? O “vírus” do progresso atinge, hoje em dia, a todos na sociedade globalizada. Nós nos sentiríamos oprimidos e frustrados se tivéssemos que abdicar de nossos sonhos de progresso. A economia sofreria uma forte recessão sem nenhum tipo de progresso. O que fazer? Progredir no caminho dos bens imateriais, acumular a sabedoria da vida, a beleza da arte, a satisfação com a solidariedade. Criar um progresso que use cada vez mais a inteligência e a habilidade humana e cada vez menos os recursos materiais e energéticos do planeta. Alguém pode pensar que essa é uma conversa do Papa Francisco em sua encíclica “verde”. Mas é o resultado das reflexões de cientistas e especialistas que se dedicam há anos às alternativas à sociedade atual. O que Francisco nos mostra é a força do cristianismo enquanto eterna fonte de vida nova. Francisco Borba Ribeiro Neto é sociólogo e coordenador do núcleo Fé e Cultura da PUC-SP

adia-se o consumo), para investir e produzir mais, possibilitando um consumo maior no futuro. A decisão sobre níveis ótimos de consumo, poupança e investimento está sempre condicionada ao fim que se busca. A disciplina econômica auxilia a chegar ao fim determinado, explicando, segundo cada escola de pensamento, como as variáveis envolvidas se relacionam. Mas a decisão sobre o fim é discricionária da pessoa, é uma decisão moral. O consumismo é um dos possíveis desvios de finalidade e perspectiva que afetam as decisões de consumo. Seja no âmbito do indivíduo, da família ou da sociedade, a perda de sentido sobrenatural, o apreço pelo imediatismo e a busca desenfreada de prazer, status e poder, norteiam as decisões econômicas das pessoas e tem, muitas vezes, consequências devastadoras. O vício que afunda o indivíduo no consumo de entorpecentes, destruindo projetos e famílias inteiras; a frivolidade que se prende ao ‘ter’ e não ao ‘ser’, sem vistas a construção de algo duradouro; a incapacidade de exercer a caridade e socorrer os necessitados e, inclusive, o egoísmo de governantes que, preocupados mais com a manutenção do poder, abusam dos gastos públicos para criar um falso senso de bem-estar e que depois custam caro à própria população que se quis beneficiar. Todos esses são exemplos de consumismo de que padece nossa sociedade. Somente uma renovação de princípios e perspectiva poderá devolver ao consumo seu sentido nobre e reto. Gustavo Caldas é economista formado pela UNB, diretor de planejamento financeiro


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Criança X consumo: Nayá Fernandes

nayafernandes@gmail.com

Q

uem já não se viu quase hipnotizado em frente à uma propaganda de televisão ou internet? Mesmo conscientes de que a maioria das publicidades têm o único objetivo de convencer o interlocutor a adquirir determinado produto ou serviço, às vezes, as escolhas cotidianas de grande parte da população são baseadas nelas, as tão engenhosas e “bem boladas” publicidades. Mas, e quando o público alvo das marcas e empresas são as crianças? Como pais e educadores devem agir diante dos desejos infantis provocados por tais incentivos mercadológicos de consumo? Evitar o consumismo não é tarefa fácil, seja para adultos ou crianças. Para Dílvia dos Santos Ludvichak, autora de livros infanto-juvenis e coordenadora de divulgação e eventos na área editorial, “a publicidade feita para a criança é extremamente envolvente, estabelece vínculos e dialoga com ela. A publicidade conhece os caminhos, isso é inegável”. Dílvia e o esposo, José Aldo de Souza, são pais do Nickolas que tem 8 anos. “O Nickolas como todas as crianças de hoje, apresentou desde muito cedo, significativa capacidade de interação. Quando parecia distraído, nos surpreendia com alguma resposta ou comentário, relacionado ao que estávamos conversando, ou mesmo vendo na televisão. Começamos a perceber que ele estava atento, e absorvia informações, principalmente quando reproduzia jingles, e o curioso, é que não necessariamente precisavam ser de peças publicitárias para o público infantil”, contou a mãe. Mas ela garante que, mesmo diante da identificação do filho com personagens, nem sempre ele ganhava o que pedia, e assim, os pais foram aprendendo que nas crianças, o interesse chega e parte com a mesma velocidade. “Hoje ele é um pouco menos aficionado pelos personagens, talvez porque já tenha um pouco mais de capacidade para refletir e fazer escolhas.” A professora Regina de Assis, Consultora em Educação e Mídia, explicou à reportagem algumas das características comuns encontradas na publicidade infantil e que a maior parte deles se refere aos personagens utilizados. “As próprias crianças, adultos representando a família, animais, brinquedos, roupas, sapatos, adereços, cenários com cores e movimentação, música ou efeitos sonoros atraentes. As imagens devem falar por si e os diálogos, quando existentes, devem ser resumidos, emocionantes, engraçados e convincentes.” Dílvia, porém, lembra que as campanhas pu-

blicitárias não são só vilãs, ou não precisam ser só isso. “Testemunho em minha casa, que quando a publicidade se propõe a defender algum valor, como a preservação do meio ambiente ou o cuidado com a saúde, também produz eco na criança.”

Faltam exemplos?

Para a mãe do Nickolas, Dílvia, o processo de compressão dos limites deve passar, em primeiríssima mão, pelos pais. “Os adultos muitas vezes são ‘tocados’ antes das crianças, para as novidades do mercado. Tem uma série de coisas envolvidas, como por exemplo, a impressão de facilidade de aquisição, o desejo de compensação, ou simplesmente o ato de querer agradar. Não há possibilidades de êxito nesse processo de educar a criança para a compreensão dos limites, se a família como um todo, não se propõe a estabelecê-los.” O controle ou autocontrole dos pais pode ser dificultado por outros aspectos, como a pressão que as crianças sentem quando começam a se comparar com os amigos da escola ou os apelos constantes nas datas comemorativas. “As famílias de baixa renda são as mais vulneráveis, pois, supostamente ter é mais importante do que ser, e estar incluído na corrente dominante da sociedade. Conversando com pais e avós de baixa renda e já agora de classe média também, eles revelam ‘odiar’ as datas festivas como Dias das Mães, dos Pais, das Crianças, Páscoa e Natal, por sofrerem uma pressão insustentável e uma frustração dolorosa ao não poderem satisfazer os desejos de suas crianças”, ressaltou Regina de Assis. “Vez por outra, ele nos pergunta se nunca irá à Disney, e no que depender de nós, provavelmente não irá. Conhecemos nosso filho, e sabemos que não é exatamente um programa que o agradará. É muito mais porque colegas seus já foram, ou comentam que desejam ir. O nosso papel consiste, então, em filtrar e confrontar os desejos de consumo dele. Hoje ele faz parte desse contexto, depende financeiramente de nós, mas será a partir dessa experiência, que pautará a sua forma de administrar-se”, comentou Dílvia.

Proibida por lei

Quem tem mais de 30 anos talvez se lembre de algumas propagandas como “Compre batom” ou “Não esqueça da minha Caloi”, que depois de

2006 foram proibidas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Mas as medidas e o próprio artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que considera abusiva e, portanto, ilegal a publicidade que “se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança”, não são suficientes para frear os muitos apelos feitos às crianças para se tornarem cada vez mais consumistas. Desirée Ruas é jornalista e integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo (Rebrinc), uma rede horizontal e colaborativa que reúne, virtual e presencialmente, pessoas físicas, instituições e movimentos em defesa dos direitos de crianças e adolescentes diante das relações com o consumo. Para ela “o ano de 2014 nos presenteou com a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Desde 4 de abril de 2014, data da publicação da resolução do Conanda, o assunto, antes restrito a grupos e movimentos que questionam a prática, passou a ser um debate de toda a sociedade”. Em 2015 houve a retomada das discussões do Projeto de Lei (PL) 5921/2001 que tramita há mais de 14 anos no Congresso. No dia 21 de maio, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública. “O PL 5.921/01 visa criar regras claras para proibir a publicidade dirigida ao público com menos de 12 anos. O texto deve ser votado pela CCJC nas próximas semanas”, completou Desirée. Ela considera “a resolução 163 um marco histórico para a discussão do tema e para a proteção dos direitos da criança no Brasil. Para nós, da Rebrinc, a resolução não está sendo respeitada porque os interesses comerciais estão sendo colocados acima dos interesses da infância”. Além das publicidades, Desirée apontou outras práticas como o comércio de lanches com brindes e as ações de marketing nas escolas. O projeto Criança e Consumo possui um espaço para denúncias. Para saber como participar do Projeto ou fazer denúncias, basta acessar o endereço: http://criancaeconsumo.org.br/ denuncie/ ou enviar um e-mail para pl5921@publicidadeinfantilnao.org.br e assinar o manifesto pelo fim da publicidade e da comunicação mercadológica dirigida ao público infantil.

um jogo para adultos


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E as meninas moças? Camila usa batom, têm as unhas pintadas, está maquiada e com cabelo alisado pela chapinha. Usa salto, calça jeans e uma blusa apertadinha. Mas ela só tem 8 anos. Camila pode ser uma entre tantas crianças que ainda pequenas são introduzidas a um mundo que não é o seu: o da moda ou dos padrões de beleza. Levadas por apelos midiáticos ou até mesmo, incentivadas pelos pais, as crianças são “adultizadas” ainda muito cedo e quem deveria proteger, muitas vezes, acha “bonitinho” e aprecia determinadas práticas. Porém, o que muitos adultos não percebem é que consequências indesejadas podem surgir, como “sexualidade e gravidez precoce; consumismo e a perda da inocência e do encantamento da infância”, como exemplificou Cristhiane Ferreguett. Ela defendeu na PUC-RS, em agosto de 2014, uma tese de doutorado em Letras cujo tema é “Relações dialógicas em revista infantil: o processo de adultização de meninas”. Cristhiane fez o estudo sobre o discurso midiático dirigido às crianças, em especial às meninas. “Tomei conhecimento de pesquisas que constataram que a criança desenvolveu certo grau de ceticismo em relação à publicidade. Para vencer esta resistência, o discurso publicitário passou a se camuflar e a se inserir em diversos gêneros, especialmente nas reportagens das revistas infantis. Inserido em reportagens, o discurso publicitário passa a ser mais aceito pela criança. Portanto, na minha tese, analisei como o discurso publicitário se engendra nas reportagens de uma revista infantil e que efeitos de sentidos produz no que se refere à ‘adultização’ precoce da menina.”

Roseni Nunes de Vasconcelos e Evandro Luiz Tschá são pais três filhos: Ênio, 13 anos; Lorena, 11 e Heloísa, de 7 anos. Roseni afirmou que desde cedo tentou mostrar para os filhos o valor das coisas e insistia: “Não seja ‘Maria vai com as outras’”. Sempre gostou de batom, mas permitia que as meninas usassem somente um brilho labial quando queriam imitá-la. “Vejo que muitas mães querem que seus filhos sejam espelho do que dita a moda. Só comprei o primeiro sutiã para a Lorena quando percebi que seus seios estavam crescendo e ela concordou em usar o básico. Como a Heloísa sempre quis seguir a irmã, então comprei um top para ela.” A irmã de Roseni, Roseli Vasconcelos Reis, mãe da Ariane, que tem 10 anos e do Vinicius, 12 anos, participou da entrevista e se surpreendeu ao saber que a publicidade infantil é proibida. Ela disse que acredita ser essencial o tempo livre das crianças como espaço de formação e desenvolvimento.

Infância perdida?

“Percebemos que, muitas vezes, as famílias se sentem sozinhas e sem apoio, pois a mídia reforça que a mulher e o homem têm um padrão de beleza e quem não se enquadra está fora. Nesse contexto acontece a ‘adultização’ e percebemos que algumas famílias podem incentivá-la por falta de conhecimento”, considerou Patrícia Aparecida Silva que também é pedadoga e desenvolve atividades na zona leste de São Paulo, atendendo crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Já a educadora e fundadora do Projeto Âncora, Regina Machado, ponderou que este processo limita para a criança o tempo para o

sonho, a fantasia, a criatividade, a reflexão. “No livro ‘O Desaparecimento da Infância’, de Neil Postman, o autor fala em uma ‘adultização’ da criança e ‘infantilização’ do adulto. Não é raro vermos mulheres vestidas com roupas quase infantis e crianças pequenas de unhas pintadas e batom. Podemos notar uma erotização precoce e até mesmo a defesa de cadeia para menores. O bom dessa tragédia toda é que ninguém está satisfeito com ela. Um dia nos daremos conta de que a busca da felicidade é muito mais fácil do que imaginamos e demanda poucas coisas.” Para Regina de Assis, Consultora em Educação e Mídia, há o encurtamento da infância. Ela lembrou que meninos e meninas igualmente passam por etapas que são indispensáveis e insubstituíveis, no processo de constituição de conhecimentos e valores. “Talvez o processo com as meninas seja mais visível, por causa dos famigerados concursos de beleza, blogueiras mirins, pequenas ‘funkeiras’, todas contribuindo para aumentar a renda familiar da maneira mais perversa, abrindo caminho para a prostituição, o alcoolismo e o vício em drogas. Mães frustradas, com pouca educação e informação, buscam se realizar nas atividades das próprias filhas crianças, induzindo-as a encurtarem drasticamente sua infância e provocando graves consequências. No entanto, os meninos também são iniciados como ‘DJ´s do funk e do hip/ hop’, entrando muito cedo, também para o mundo da violência, dos vícios e do crime.”

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É preciso ter um olhar crítico sobre o que chega a todas as crianças pela mídia. Não é a criança que vai dizer este programa não é bom ou esta publicidade é abusiva, somos nós adultos. Sabemos que é impossível criar as crianças numa bolha, alheias ao mundo. Mas sabemos que é possível exigir que a infância seja respeitada e que a legislação seja cumprida. E os que defendem uma mídia que respeite a infância não são pais ausentes que querem que o Estado tome conta de seus problemas domésticos. São pessoas que se importam com o que chega para todas as crianças. Precisamos repensar a publicidade, a mídia e o consumo como um todo.” Desirée Ruas

Existem alternativas?

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Dê o exemplo: a família precisa seguir as mesmas regras. Os pais não podem comprar demais e depois falar em combate ao consumismo infantil. Coerência é fundamental; Questione práticas abusivas que envolvam o direcionamento da publicidade para crianças com as empresas e também nos órgãos de defesa do consumidor e da infância; Promova opções para que as crianças possam brincar em espaços livre de apelos comerciais. Fuja das atividades de férias promovidas em shoppings. Procure parques e praças para levar as crianças; Incentive a reutilização de roupas, sapatos, brinquedos, material escolar;

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Questione os apelos comerciais por trás das datas comemorativas como Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia das Crianças. Ensine a criança a questionar os comerciais que associam consumo a felicidade; Fale sobre alimentação saudável e mostre as estratégias das empresas para vender cada vez mais produtos que não fazem bem à saúde; Busque opções de lazer e diversão que não incluam as telas como computadores, celulares, joguinhos; Fique de olho nas ações de marketing que acontecem dentro das escolas e na porta delas. Questione quando os alunos forem alvo de ações desta natureza;

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Incentive grupos de discussão na Igreja, na escola, no clube ou na comunidade; Faça refeições em família e sem TV ligada por perto; A adultização não acontece apenas com o uso de roupas de adulto, mas com o acesso a questões como violência e sexualidade, seja em telejornais, novelas, revistas e pela internet; Conheça os movimentos e organizações que questionam o consumismo infantil: Rede Brasileira Infância e Consumo, Rebrinc; Movimento Infância Livre de Consumismo, Milc; Projeto Criança e Consumo e Projeto Prioridade Absoluta (Instituto Alana), dentre outros. Por Dessirée Ruas/rebrinq.com.br


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Com a Palavra: Isabella Henriques

Propaganda incentiva consumismo entre as crianças Divulgacao Instituto Alana

Roberto Zanin

especial para o são paulo

A ânsia por consumir afeta cada vez mais as crianças, que se tornaram alvo preferencial da propaganda. Afinal, além de querer produtos para si, o público infantil influencia os hábitos dos outros membros da família. Diante desse quadro, o Instituto Alana, uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, desenvolve, entre outras ações, o Projeto Criança e Consumo. Criado em 2006, tem como missão promover a conscientização e a defesa dos direitos da criança frente à comunicação mercadológica. A coordenadora dessa iniciativa e diretora do Instituto, Isabella Henriques, fala nesta entrevista sobre o consumismo infantil e de que forma os pais devem enfrentar a questão. O são paulo – O consumismo infanto-juvenil tem aumentado no Brasil? Por quê?

Isabella Henriques – Podemos dizer que vivemos em uma sociedade de consumo na qual, cada vez mais, as pessoas são estimuladas a consumirem de forma inconsequente, não refletida e não pensada. Da mesma forma, também as relações humanas, pessoais, se dão pela forma que consumimos, ou seja, ‘estou inserido no meu grupo se tenho os mesmos hábitos de consumo’. Por tudo isso, por conta desse estímulo a um consumo desenfreado, sim, podemos dizer que o país tem aumentado o consumismo nessa categoria e, em especial, na infância. Por outro lado, o mercado em geral tem olhado para as crianças como um novo e enorme nicho a ser cada vez mais explorado. Isso faz com que a publicidade e a comunicação mercadológica foquem as crianças – assim consideradas as pessoas de até 12 anos de idade – porque elas são, simultaneamente, um mercado futuro potencial (dos adultos que serão no futuro), um mercado atual muito potente (das crianças que são hoje e que já consomem diversos produtos e serviços, conforme a possibilidade econômica de suas famílias) e um forte influenciador nas escolhas de consumo da família (pesquisas chegam a atestar que crianças influenciam em até 80% os gastos de consumo das famílias). Não importa se o produto

é voltado ao público infantil ou para o mercado: estimular crianças ao consumo de tudo e qualquer coisa é a forma encontrada para falar com adultos, idosos e jovens – na medida em que a criança é um grande influenciador entre todos.

Quais são as estratégias utilizadas pela publicidade para atrair as crianças para determinados produtos?

Atualmente o mercado se vale do que chamamos de uma comunicação 360º, que fala diretamente com a criança – sem pedir licença a seus pais ou responsáveis – em todos os ambientes físicos e virtuais nos quais as crianças circulam. Com isso a publicidade tradicional dos intervalos da programação televisiva foi ampliada para espaços como escolas, parques, praças e clubes. Isso sem falar no que acontece na Internet, onde as crianças têm sido seduzidas pelo mercado nas páginas em que dão maior audiência, como dos canais televisivos segmentados infantis, das redes sociais, jogos eletrônicos e, agora, no Youtube.

Como os pais podem auxiliar os filhos perante o apelo consumista?

É importante que se diga que os pais são igualmente vítimas desse assédio do mercado. Eles não têm como enfrentar essa indústria bilionária que fala diretamente com as crianças, sem consentimento, valendo-se de estudos e pesquisas sobre as melhores formas de criar novos desejos de consumo às crianças.

De toda a forma, os pais ou responsáveis podem ajudar seus filhos, primeiramente, atentando ao fato de que as crianças são vistas pelo mercado como verdadeiros nichos comerciais e, por isso, recebem estímulos de consumo em todos os espaços que frequentam. A partir daí, e de acordo com a idade das crianças, os pais podem conversar com seus filhos sobre a diferença do consumo necessário e do consumo supérfluo. E devem ter forças para falar muitos ‘nãos’ quando forem instados a promover consumo que não acreditem ser adequado ou necessário.

Existem estudos sobre o impacto psicológico do consumismo sobre as crianças?

Existem sim, diversos. O próprio mercado faz pesquisas para saber como melhor anunciar e conseguir convencer as crianças de que elas precisam de determinado produto ou usufruir determinado serviço. Mas existem estudos que são conhecidos tanto no Brasil quanto no mundo acerca dessa temática. Chamo a atenção ao parecer que o Professor Yves de La Taille, da Faculdade de Psicologia da USP, fez ao Conselho Federal de Psicologia demonstrando que a criança é facilmente manipulada pelo mercado quando recebe uma publicidade chamando-a ao consumo.

Qual a relação entre o aumento da obesidade infantil e o consumismo incentivado pela propaganda?

Os hábitos alimentares são formados na infância, e são, sem dúvida, incentivados pelos hábitos familiares, mas também pelo que é oferecido em outros ambientes frequentados pelas crianças, como as escolas. Percebe-se que a sociedade deixa de valorizar alimentos tradicionais, como cereais, carnes e legumes, preparados em casa, e passa a consumir cada vez mais produtos alimentícios industrializados, ou refeições fora de casa, por diversas razões como praticidade, tempo, maiores jornadas de trabalho. As escolhas são muito influenciadas pelas publicidades dos produtos, vistas na televisão, na internet, nos pontos de ônibus, nos pontos de venda, etc., que associam seu consumo a saúde, nutrição, status ou mesmo diversão e felicidade. E muitas dessas publicidades são direcionadas diretamente às crianças, inclusive em lugares onde elas não estão com os pais, como dentro de escolas ou parques de diversões. A consequência é o estímulo ao consumo excessivo e habitual desses produtos, associado à fidelização das crianças às marcas e a transformação delas em verdadeiras promotoras de vendas dentro de suas casas.

Quais as principais ações que o projeto já desenvolveu junto às campanhas publicitárias?

O Projeto Criança e Consumo tem uma atuação jurídica que começa com as denúncias de abusos recebidas por nossos canais (site, Facebook, Twitter). As queixas são analisadas e, constatado o abuso, a equipe jurídica elabora cartas, notificações e representações e as encaminha a anunciantes, agências de publicidade, veículos de comunicação e órgãos competentes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Todos os casos são acompanhados até o seu desfecho. Já são mais de 170 casos, que podem ser acompanhados no site: http://criancaeconsumo.org.br/acoes-juridicas/,

Quais são os principais itens do PL 5921, que regulamenta a publicidade infantil?

O PL 5921/2001 possui um texto base e dois outros que foram aprovados em comissões por onde passou durante a sua tramitação, até chegar agora na Comissão de Constitucionalidade, Justiça e Cidadania, da Câmara dos Deputados Federais. Nós, do Projeto Criança e Consumo, apoiamos o texto aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor, elaborado pela então deputada federal Maria do Carmo Lara, que traz a expressa proibição do direcionamento de publicidade às crianças, com bastante detalhamento.


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Papa Francisco e o consumismo filipe david

especial para o são paulo

Para o Papa Francisco, dois problemas estão interligados: a pobreza e a poluição. Entre as diversas causas apontadas para ambos os problemas, uma tem particular importância: o consumismo. Segundo o Papa, o “consumismo obsessivo é o reflexo subjetivo do paradigma tecno -econômico”. Um paradigma é um modelo, uma forma de ver o mundo. Esse modelo de que fala o Papa “faz crer a todos que são livres, pois conservam uma suposta liberdade de consumir”. O Papa explica que o desenvolvimento tecnológico pode ser uma grande fonte de bens para

a humanidade, mas representa um poder que, utilizado de forma irresponsável, também pode causar a sua ruína. O Papa critica, assim, a crença de que o progresso tecnológico seja por si só um bem, independentemente de como for utilizado, e alerta: “o homem moderno não foi educado para o reto uso do poder”. O que o Papa chama de “paradigma tecnocrático” (ou tecno-econômico) é, portanto, a visão segundo a qual a salvação ou a solução para todos os problemas virá do desenvolvimento tecnológico e econômico.

Reflexo subjetivo

Para o papa, existem dois aspectos essencialmente uni-

dos, como dois lados de uma moeda: de um lado a visão de mundo da sociedade, que coloca sua esperança no desenvolvimento da tecnologia e da economia; e, de outro, o consumismo ou consumismo obsessivo. Esse hábito afeta cada um individualmente e interiormente, quase como uma doença psiquiátrica, uma “obsessão”. No entanto, ele não aparece apenas num indivíduo, mas em grande parte da sociedade, porque ele é conseqüência ou “reflexo” de um “paradigma”, de uma visão de mundo. O consumismo é, portanto, uma doença cultural. Essa doença cultural se auto -alimenta, na medida em que o

“mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos”, mas tem também causas espirituais: “quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir”.

Soluções

O Papa aponta para o que ele considera serem alguns caminhos possíveis para resolver o problema. Ele afirma que é importante abrir-se para o outro, “ter em conta o impacto que possa provocar cada ação e decisão pessoal fora de si mesmo”. Ele nota que “a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração” e que,

portanto, é preciso um retorno à simplicidade: “A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco”. Uma das chaves para se chegar lá é o cultivo da paz interior, de saber “manter-se plenamente presente diante duma pessoa sem estar a pensar no que virá depois”, de se entregar “a cada momento como um dom divino que se deve viver em plenitude”, já que é “a ansiedade doentia que nos torna superficiais, agressivos e consumistas desenfreados”. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Indústrias praticam a obsolescência programada para obrigar o consumo Edcarlos Bispo edbsant@gmail.com

“O consumismo, definido no dicionário Aurélio como um sistema que favorece o consumo exagerado ou tendência a comprar exageradamente, para Frei Beto (2001) ‘é a doença da baixa autoestima’. Assim como a pessoa que sofre de anorexia, que é magra e ainda assim acha que tem que emagrecer mais e mais, o consumidor compulsivo é aquele que tem roupas e vive achando que não tem, é aquela pessoa que não consegue só admirar, precisa comprar tudo de que gosta”, descreve o artigo Sociedade de Consumo e Ambiente: Valores Sociais, Necessidades Psicológicas e Nova Educação da professora doutora da USP, Laura Alves Martirani, e das alunas da USP Taís Oetterer de Andrade, Giuliana Del Nero Velasco, Sharon Tosh Schievano Lima. Para as pesquisadoras, os apelos ao consumo são muitos e completamente embriagadores. “Estão neles as tecnologias, os confortos, os perfumes, os charmes, e toda a ordem de prazeres. A

recriação da aparência tem um efeito terapêutico e renovador, recriador de um ‘eu’ às vezes desgastado por um cotidiano tedioso, massacrante ou vazio. O recurso ao consumo é uma medida paliativa, que mesmo não atingindo a raiz do problema, promove alívio passageiro”. O Instituto Akatu, uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, defende o ato de consumo racional como um instrumento fundamental de transformação do mundo. Para o Instituto, “qualquer consumidor pode contribuir para a sustentabilidade da vida no planeta: por meio do consumo de recursos naturais, de produtos e de serviços e pela valorização da responsabilidade social das empresas”, afirma em seu site. A ONG entende consumo não apenas como um ato pontual, mas como um processo, que começa antes da compra e termina depois do uso, envolvendo escolhas como: Por que comprar? De quem comprar? O que comprar? Como comprar? Como usar? Como descartar?

“O ato de consumo consciente implica avaliar, em cada uma dessas escolhas, que impactos estão sendo gerados e como eles podem ser minimizados ou potencializados na direção de uma sociedade mais sustentável. É consumir de forma diferente: tendo no consumo um instrumento de bem-estar e não um fim em si mesmo. É consumir sustentavelmente, de modo a deixar um mundo melhor para as próximas gerações. É consumir solidariamente, fazendo escolhas de consumo buscando aumentar os impactos positivos e diminuir os impactos negativos: em si próprio, na sociedade, na natureza e na economia”, afirmaa ONG.

Obsolescência programada, o que é?

De acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), a obsolescência programada é quando um produto é “planejado” para parar de funcionar ou se tornar obsoleto em um curto período de tempo. Trata-se de uma prática industrial que deve ser combatida. O IDEC usa como exemplo de obso-

lescência programada a lâmpada. “Quando criada, ela durava muito, mas os fabricantes viram que venderiam apenas um número limitado de unidades. Por isso, criaram uma fórmula para limitar o funcionamento das lâmpadas, que passaram a durar apenas mil horas”. Na área tecnológica, a obsolescência programada pode ser vista com maior frequência. Geralmente, durante o período de garantia, os desktops e notebooks de alguns fabricantes funcionam normalmente. No entanto, após o fim desse prazo, passam a apresentar defeitos como superaquecimento ou esgotamento da bateria. Na quase totalidade dos casos o preço do conserto é tão alto que não vale a pena, e os consumidores são impelidos a adquirir um produto novo. É importante lembrar que a humanidade já está consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor e é preciso que haja uma redução de até 40% das emissões de gases de efeito estufa para que a temperatura não suba mais do que 2º C. Com informações de www.idec.org.br e www.akatu.org.br


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Filipe David

osaopaulo@uol.com.br

Dica de Leitura O Império Ecológico Após a queda da União Soviética, muito se tem falado sobre a “nova ordem mundial”. Para Pascal Bernardin, mesmo autor do “Maquiavel Pedagogo”, essa nova ordem é mais um projeto totalitário de criação de um governo mundial, que precisa se apoiar em uma ideologia se quiser ser duradouro: “O Império mundial que se edifica sob o nosso olhar não pode se privar do ‘cimento ideológico’, única coisa que pode garantir a sua perenidade. As organizações internacionais, cujo poder aumenta a cada dia, devem legitimar sua existência e a desaparição progressiva dos Estados. Ora, uma ideologia revolucionária emerge silenciosamente. A ecologia, subvertida e desviada de sua finalidade original, veicula uma concepção totalitária da natureza e do mundo. (...) Ao mesmo tempo, o foco é colocado em problemas ecológicos mundiais, como o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio, que exigiriam uma colaboração de todas as nações sob o controle de instituições internacionais e de um poder mundial forte. Essa nova concepção, que faz passar do local ao global, do nacional ao internacional, do homem à natureza, nega o indivíduo diante do todo, os Estados diante das instituições internacionais e a sociedade diante do poder. Assim, vemos aparecerem as premissas ideológicas do Império Ecológico, último avatar do totalitarismo. Apoiando-se principalmente sobre publicações oficiais de organizações internacionais, o autor mostra que as conseqüências revolucionárias dessa inversão de perspectiva afetam todos os domínios: político, econômico, demográfico, mas principalmente espiritual, religioso e ético. (...) A etapa revolucionária atual se apóia principalmente sobre uma concepção de Deus, do homem e do mundo veiculada por uma ecologia deturpada e pretende chegar ao estabelecimento de uma nova civilização e de uma espiritualidade global! Assim se termina a subversão da verdadeira ecologia, isto é, do respeito devido à obra do Criador.” Ficha técnica: Autor: Pascal Bernardin - Páginas: 608 Editora: Vide Editorial

Curso Como entender textos em línguas estrangeiras - francês A Casa Guilherme de Almeida oferece um curso de “Intelecção de textos em línguas estrangeiras”: “O programa propõe o desenvolvimento da compreensão de textos literários em línguas estrangeiras por meio da leitura comentada e do exame de aspectos semânticos, sintáticos e estilísticos neles identificados. A cada encontro será lido e discutido – sempre em português – um texto breve, ou um fragmento de obra mais extensa, na língua francesa. Serão realizados, a partir de agosto de 2015, 12 encontros referentes ao idioma para a programação do 2º semestre de 2015. Pré-requisito para frequentar o programa: conhecimentos básicos da língua francesa.” O curso será ministrado por Lucília Lima Teixeira, tradutora e professora de francês e português como língua estrangeira. Para mais informações: ligue 11 3673-1883 ou www.casaguilhermedealmeida.org.br


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Quatro anos depois, menos ouros e as ‘mesmas’ 141 medalhas Brasil encerra Pan de Toronto na terceira posição, com igual quantidade de pódios de Guadalaraja 2011; esportes não olímpicos fazem a diferença e atletismo decepciona Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

A pouco mais de um ano dos Jogos Rio 2016, o desempenho brasileiro no Pan de Toronto, no Canadá, encerrado no domingo, 26, põe em xeque as reais chances de o Brasil figurar entre os dez primeiros no quadro de medalhas olímpico, conforme projeta o Comitê Olímpico do Brasil (COB). No Pan 2015, o Brasil alcançou 141 medalhas (41 ouros, 40 pratas e 60 bronzes), a mesma quantidade conquistada no Pan de Guadalaraja 2011, porém com sete ouros a menos. O País terminou na terceira posição, atrás do Canadá (217 medalhas - 78 ouros) e dos Estados Unidos (265 medalhas - 103 ouros). “Alcançamos a nossa meta que era ser top 3. Já sabíamos que Estados Unidos e Canadá ficariam à frente”, disse, em entrevista ao Site

Comitê Olímpico do Brasil

Após 141 medalhas conquistadas, atletas brasileiros participam da cerimônia de encerramento do Pan de Toronto

do COB, Bernard Rajzman, chefe da Missão Brasileira no Pan 2015. A delegação brasileira em Toronto teve 70% dos atletas estreantes em Pans. Do total de 590 esportistas, 442 disputaram medalhas e 304 chegaram ao pódio. “Toronto confirmou uma série de atletas e modalidades em condições de brigar pelo pódio no Rio. Isso não é garantia de medalhas no Rio, mas indica que estamos no caminho certo”, afirmou Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de esportes do COB.

Brasil ‘supera’ Cuba

Ao final do Pan, o Brasil ficou à frente de Cuba por ter cinco medalhas de ouro a mais: 41 contra 36. No entanto, se consideradas apenas as modalidades olímpicas, os dois países terminaram empatados em títulos, já que o Brasil conquistou três ouros no caratê, um na patinação artística e um no bo-

liche, modalidades não olímpicas. Todos os ouros de Cuba foram alcançados nos esportes olímpicos, incluindo cinco primeiros lugares no atletismo, modalidade em que o Brasil venceu apenas nos 5 mil metros feminino, com Juliana dos Santos. Ao todo, os atletistas brasileiros alcançaram 13 medalhas, dez a menos que em Guadalaraja 2011. Alguns corredores reclamaram das condições de treinamento no Brasil. Um destes foi Aldemir Gomes, atual campeão brasileiro nos 200 metros rasos, mas que não se classificou para a final da prova no Pan. “Falar da estrutura no Rio de Janeiro é fácil, porque não tem. As únicas coisas que a gente tem são instalações militares. A gente tem que depender disso. Acho que um país, com o dinheiro que o Brasil tem, com o tamanho que tem, o porte humano de atletas que tem, não

poderia estar passando por isso. Ainda mais no Rio de Janeiro, sede das olimpíadas”, afirmou ao canal Sportv. No programa olímpico há 46 provas no atletismo, medalhas que podem fazer a diferença para a classificação final do Brasil nos Jogos Rio 2016.

Tênis de mesa, caratê e handebol em destaque

prata, e no individual Lin Gui foi medalhista de prata e Caroline Kumahara ficou com o bronze. No boliche, Marcelo Suartz conquistou inédita medalha de ouro para o Brasil. No caratê foram cinco medalhas, com destaque para os ouros de Valéria Kumizaki, Natália Brozulatto e Douglas Brose, atual bicampeão mundial da categoria até 60 quilos. Nos esportes coletivos, o handebol confirmou a boa fase vencendo as finais masculina e feminina contra a Argentina. O futebol feminino conquistou ouro com goleada de 4 a 0 sobre a Colômbia, e o masculino ganhou bronze após a prorrogação com o Panamá. Desfalcado dos principais atletas, o vôlei ficou com medalhas de prata no masculino e no feminino. Já o basquete masculino venceu a decisão do ouro contra o Canadá.

Na última semana de Pan, um (Com agências e COB) dos destaques brasileiros foi o tênis de mesa. No masculino, todos os atletas medalharam: Hugo Calderano venBrasileirão de Futebol ceu Gustavo Tsuboi na QUARTA-FEIRA (29) final e Thiago Monteiro 22h – Corinthians x Vasco da Gama faturou bronze. Além (Arena Corinthians) disso, os três ganhaDOMINGO (2) ram a final por equi11h – Palmeiras x Atlético Paranaenpes contra o Paraguai. se (Allianz Parque) No feminino, a equipe brasileira alcançou a

AGENDA ESPORTIVA


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Fernando Geronazzo

Colaborador de Comunicação na Região

‘Todos somos chamados a ser Cristóvãos’ Fernando Geronazzo

diocese e vigário episcopal para a Região Sé.

O Santo

Durante as festividades de São Cristóvão, padres abençoam veículos

Milhares de motoristas compareceram em frente à Paróquia São Cristóvão, no bairro da Luz, para serem abençoados com seus automóveis, caminhões e motos no sábado, 25, dia em que se celebra a memória do santo, popularmente conhecido como o protetor dos viajantes, motoristas e dos condutores.

Tradicional na cidade com a maior frota de carros do país – 5,4 milhões de carros –, a festa de São Cristóvão também foi celebrada com quatro missas, sendo uma delas presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, e outra por Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arqui-

A devoção a São Cristóvão é uma das mais antigas e populares da Igreja, tanto do Oriente como do Ocidente. Entretanto, são poucos os dados precisos sobre sua vida. Só se tem conhecimento comprovado de que Cristóvão era um homem alto e extremamente forte de origem palestina. Pregou na Lícia e foi martirizado, por ordem do imperador Décio, no ano 250. Depois disso, as informações fazem parte da tradição oral cristã, propagada pela fé dos devotos ao longo dos tempos. O nome com que o Santo é invocado se deve ao seu ofício. Dia e noite, ele ficava às margens de um rio onde não havia pontes e onde várias pessoas se afogaram por causa da profundidade, transportando os viajantes de uma margem à outra. Certo dia, fez o mesmo com um menino. Mas conforme atravessava o rio, a criança ia ficando mais pesada e só com muito custo e sofrimento ele conseguiu depositar com segurança o menino na

outra margem. Cristóvão, então perguntou como era possível tanto peso. O menino lhe respondeu que ele carregava sobre si o peso do mundo, revelando-se como o próprio Jesus, que o convidou a ser seu seguidor. “Cristóvão, que vem do grego, Cristoforo, significa aquele que carrega Cristo. Nós todos somos Cristoforos, como cristãos, como batizados, todos somos chamados a ser ‘Cristóvãos’, isto é, carregar conosco o Cristo”, explicou Dom Odilo, na homilia. “Na companhia de Jesus, nossos caminhos vão bem. Sozinhos, nós afundamos, nós nos desorientamos na vida. Por isso, nós invocamos São Cristóvão para pedir a proteção para os nossos caminhos, as nossas estradas”, acrescentou. As comemorações foram encerradas na manhã do domingo, 26, com uma missa solene seguida de uma carreata realizada em parceria com o Sindicato dos Condutores em Transportes Rodoviários e Cargas Próprias de São Paulo. Os carros e caminhões seguiram até a praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte, retornando até a Paróquia.


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Peterson Prates

Colaborador de Comunicação para a região

Santa Maria Madalena, a mulher que viu o Senhor Entre os dias 19 a 22 de julho, a Paróquia Santa Maria Madalena, do setor pastoral Sapopemba, celebrou o tríduo e a festa em honra a sua padroeira. Na abertura do tríduo, no domingo 19, pela manhã houve a bênção dos carros e a noite missa presidida pelo padre Tarcísio Mesquita. Na segunda-feira,20, a missa foi presidida pelo Padre Marcelo Maróstica Quadros. No terceiro dia, o celebrante foi o padre Alexandre Ferreira Santos, encerrando na quarta-feira, 22 com a missa presidida por Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese para a Região Belém. Dom Edmar exortou os fiéis a ‘procurarem o Senhor’, para que possam caminhar rumo ao jardim do paraíso e não ao jardim do sepulcro, mas para isso, pediu aos fiéis que tenham sede e fome da Palavra do Senhor. “No dia em que celebramos a festa de Santa Maria Madalena, Jesus

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Belém Peterson Prates

Na região Belém, Dom Edmar Peron, preside a solenidade de Santa Maria Madalena, na noite da quarta-feira, 22

vem ao nosso encontro, como foi ao encontro dela”. Durante todo o dia 22, houve exposição e adoração ao Santíssimo

Sacramento, confissões e também aconselhamentos com a pastoral da escuta. A data também marca o aniversário de dois anos de dedicação da

nova matriz paroquial. A festa foi encerrada com uma grande queima de fogos e distribuição de água benta e o bolo de Santa Maria Madalena.

‘Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, Dom de Deus’ Peterson Prates

Cardeal Scherer celebra o sacramento do Crisma na Paróquia Santa Adélia

No sábado,25, o arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia Santa Adélia, no setor pastoral São Mateus e administrou o Sacramento da Confirmação a 41 jovens pertencentes às cinco comunidades que formam a paróquia. A Santa missa foi concelebrada pelos padres Juliano Maroso, pároco, padre Pedro Augusto Ciola de Almeida e padre Frank Antônio de Almeida. Na homília, Dom Odilo recordou que é no Crisma que recebemos os dons do Espirito Santo, que estes nos acompanham por toda a

30 anos do martírio do Padre Ezequiel Ramin Ao meio dia de 24 de julho de 1985, foi morto a tiros, o missionário comboniano Padre Ezequiel Ramin. A Paróquia São Sebastião, no Setor Sapopemba, confiada a Congregação dos Missionários Combonianos, celebrou na sexta-feira, 24 os 30 anos do martírio de Padre Ezequiel. O sacerdote italiano chegou em Rondônia em 1984, para exercer seu ministério na cidade de Cacoal, diocese de Ji-Paraná. Desempenhou um profético trabalho na defesa dos agricultores e povos indígenas que viviam em conflito de terras. Durante uma viagem de paz à Fazenda Catuva, onde se encontravam trabalhadores rurais

sob ameaças, Padre Ezequiel foi assassinado por jagunços, na divisa entre Rondônia (RO) e Mato Grosso (MT). Confrade e conterrâneo de Padre Ezequiel, o Padre Mario Andrighetto, unido à comunidade paroquial e à comunidade religiosa dos missionários combonianos, presidiu a missa dos 30 anos do martírio do Sacerdote na comunidade São Daniel Comboni. “Uma pessoa que queria levantar a dignidade perdida das pessoas menos favorecidas”, assim o definiu a Irmã Anna Maria Valiatti, missionária comboniana, que trabalhou na diocese de Ji-Paraná, e hoje trabalha na Paroquia São Sebastião.

A celebração da morte de Padre Ezequiel foi também uma oportunidade de rezar pela beatificação do missionário, que lutou a favor da dignidade humana, o direito à terra e a vida plena, de tantos trabalhadores rurais e indígenas. Assim como em outros lugares do Brasil, os fiéis assinaram uma moção em apoio a beatificação do padre, que dá nome à comunidades, instituições e projetos em todo o Brasil. Um dos exemplos é o ‘Centro de Direitos Humanos Padre Ezequiel Ramin’, criado por Dom Luciano Mendes, então bispo auxiliar para Região Belém, em 1986 , organismo que atua na defesa e promoção da vida principalmente de jovens.

vida e nos capacitam a viver a vocação cristã à santidade. “Viver segundo o Espírito é ser santo”, disse o Cardeal. Dom Odilo lembrou também que o Sacramento do Crisma completa a iniciação cristã de modo que quem o recebe deve ser considerado como adulto na fé. Exortou a todos que coloquem seus dons a serviço da Igreja, que os pais se esmerem na educação cristã de seus filhos, reafirmou a importância na participação na vida da comunidade e incentivou a participação da família nas missas dominicais. Peterson Prates

Missionário Comboniano é recordado


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Santana

Diácono Francisco Gonçalves

Colaborador de comunicação da Região Santana

Jovens do Setor Medeiros participam do 27º Encontro de Jovens com Cristo Diácono Francisco Gonçalves

Jovens do Setor Medeiros participam de missa presidida por Dom Sergio no 27 º EJC do Setor

Entre os dias 25 e 26, os jovens do Setor Medeiros participaram da segunda etapa do Encontro de Jovens com Cristo (EJC), nas dependências da Escola Estadual Professor Victor dos Santos Cunha, ao lado da Paróquia Nossa Senhora de Fátima. Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na manhã do domingo motivando os jovens a

desempenhar seus papéis de discípulos e missionários de Jesus Cristo. Antonio e Marilena Braga, da equipe coordenadora do encontro, explicaram que o Setor Medeiros realiza há 20 anos esses encontros. O atual, 27º ECJ 2ª etapa, contou com a participação de 55 jovens, enquanto outros 270 trabalharam para a realização do evento em atividades como cozinha, visitas e

limpeza. A cada ano, o setor pastoral Medeiros realiza dois encontros de primeira etapa e um de segunda. O próximo encontro de primeira etapa será em novembro de 2015. O EJC teve sua origem no Encontro de Casais com Cristo (ECC) quando, em 1970, em São Paulo, foi desenvolvido pelo Padre Afonso Pastore para atender as demandas da Pastoral Familiar Paroquial. Ele busca ser instrumen-

Brasilândia

to para evangelização da juventude em um novo ardor missionário, apresentando ou reaproximando jovens a partir de 17 anos de um caminho sinalizado por Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse movimento tem como prioridade, formar jovens que se preocupem com a ação pastoral e com o aprofundamento espiritual. Assim, na primeira etapa, o jovem é levado a um en-

AGENDA REGIONAL Sábado (1º de agosto) 9h - Reunião do CRP - Conselho Regional de Pastoral, na Cúria de Santana (avenida Marechal Eurico Gaspar Dutra, 1877, 4º andar. 9h - A Comunidade São Miguel Arcanjo de Vila Prado, em parceria com a Prefeitura da Cidade de São Paulo, promove o Ato Municipal ¨Prefeitura no Seu Bairro ¨,

onde os moradores poderão fazer suas queixas e pedidos de melhoria para o bairro. O local será na Rua Maria Elisa Siqueira - 219. Domingo (2 de agosto), 19h Sacramento do Crisma ministrado por Dom Sergio Borges na Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Jardim São Paulo (praça Parque Domingos Luiz, 273).

Rodrigo Fumagalli

Colaborador especial para a região

Cristo Libertador é instituída como Comunidade de Aliança Welington Gama alves

Comunidade nascida em 1997 conta com cerca de 40 membros

Na segunda-feira, 20, dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de Santo Elias, o grupo até então conhecido como Ministério de Artes Cristo Libertador ganhou reconhecimento oficial da Igreja e foi instituído como Comunidade Católica de Aliança. O ato de instituição ocor-

contro com a pessoa de Jesus Cristo. É um momento de aproximação ou reaproximação com Cristo, um despertar, e tem o propósito claro de evangelizar, conforme o Concílio Vaticano II orienta. Já a segunda etapa orienta o jovem a inserir-se na ação pastoral da Igreja, por meio de uma participação bastante ativa em suas atividades religiosas, sociais e de caridade ao próximo.

reu durante a santa missa presidida por Dom Devair Araújo da Fonseca, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Pirituba, onde em 1997 a comunidade nasceu. Com o carisma de propor o Evangelho por meio da arte, a nova comunidade de Aliança promove cursos de teatro, dança e música, além de encontros

de oração, estudo bíblico e espiritualidade cristã. A Comunidade de Aliança Cristo Libertador conta atualmente com cerca de 40 membros que, agora, puderam fazer os seus primeiros votos. Sob a orientação de seus fundadores, Guilherme Maggio da Silva e Letícia Perreti de Oliva, continuarão a receber formação pelos próximos três anos, tendo em vista os votos perpétuos. A comunidade conta ainda com 20 novos vocacionados em fase de discernimento vocacional. A missa foi concelebrada pelos padres Reinaldo Torres – pároco -, Pedro Mariano e Dom Bruno (OSB), do Mosteiro de Vinhedo, e assistida pelo Diácono Davi de Oliveira.

Arquivo CEBs

CEBs realizam formação bíblica para os grupos de rua As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Região Brasilândia, realizaram no sábado, 25, na Paróquia Nossa Senhora da Expectação, no Largo da Matriz-Freguesia do Ó, a formação sobre o Evangelho de São João. O encontro foi

assessorado por André Milani, do Centro de Estudos Bíblicos, (CEBI). Foi um momento de reflexão e integração, em que o assessor apresentou a temática a partir do material que será estudado durante o mês de setembro na região.


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Ipiranga No Parque Bristol, Santa Cristina é festejada

Caroline Dupim e Orlando Luciano da Silva Colaboradores de comunicação da Região

Paróquia realiza sessão de cinema com temas cristãos No sábado, 25, a Paróquia Santa Ângela e São Serapião, na Vila Moraes, realizou a segunda edição do chamado ‘CiniCristi’ (cinema de Cristo). O CiniCristi, teve início em fevereiro de 2014, por iniciativa dos jovens paroquianos, com a exibição do filme ‘A Volta do Todo Poderoso’, que conta a história de um homem que é escolhido por Deus, para construir uma arca, para abrigar os habitantes de uma cidade de um grande dilúvio. Os jovens realizaram um momento de reflexão sobre o filme com o tema ‘Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos’. Na segunda edição do CiniCristi não foi diferente. O filme escolhido foi ‘O Auto da Compadecida’, que narra a história de um homem sertanejo que morre, e em seu julgamento pede a intercessão de Nossa Senhora. A reflexão proveniente do filme foi a importância de Nossa Senhora em nossas vidas. O objetivo do evento foi promover aos paroquianos e agentes de pastoral, um momento cultural, integrando a apresentação de diversos filmes cristãos. Padre José Lino Mota Freire, pároco, falou sobre o projeto “É de grande importância oferecer uma alternativa de lazer religioso em um sábado à noite, utilizando os recursos audiovisuais da comunidade para os paroquianos”.

“Dos mártires aprendemos o testemunho da fé, que não se desespera e que se mantem firme e perseverante”, expressou Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, ao presidir a missa da memória litúrgica de Santa Cristina. A missa solene em honra a santa padroeira foi celebrada na sexta-feira, 24, na paróquia Santa Cristina, do Parque Bristol, única na Arquidiocese de São Paulo dedicada à santa. No início da celebração, Dom Odilo aspergiu toda a igreja, que fora recém reformada. Padre Palmiro Carlos Paes, administrador paroquial, contou a história de Santa Cristina aos devotos presentes na celebração. Na homília, o Cardeal Scherer sinalizou a vontade dos Mártires de seguir Jesus, de acreditar ter algo a mais de Deus. Lembrou dos mártires de nosso tempo e dos jovens que se doaram à fé. E acrescentou “nós católicos devemos ter uma fé esclarecida, uma fé firme. Devemos confiar em Deus, para além deste mundo, e acreditar que Deus é fiel em suas promessas”. Antecedendo o dia da

padroeira, a comunidade paroquial rezou novena com o tema: ‘Ao Deus único e verdadeiro ofereço sacrifício da verdade e do amor’, a cada dia um padre convidado presidia a missa, abordando um tema específico, indicado previamente pelo administrador paroquial Padre Palmiro. Em todas as noites, houve bênção dos objetos. A Solenidade a Santa Cristina, contou com a presença de dezenas de pessoas devotas da santa padroeira. Ao término da celebração, foi distribuído o tradicional bolo de Santa Cristina.

Caroline Dupim

Dom Odilo Pedro Scherer preside missa em honra à padroeira

Quem foi Santa Cristina? Cristina nasceu na Toscana, Itália, no ano de 288 d.C., e com apenas 12 anos morreu mártir. Era filha de Urbano, oficial do exército em Tir, na Etrúria, parte da Toscana. Seu pai era rude de sentimentos e inimigo dos cristãos. Em sua própria casa, muitas vezes os cristãos eram submetidos a interrogatórios humilhantes. Diante de tais cenas, Cristina se perguntava qual o motivo da serenidade e alegria dos cristãos, que ela já começava a admirar e venerar. A resposta às suas perguntas veio por uma escrava cristã, que a preparou para o batismo. Urbano, desconfiado que sua filha se interessava pela comunidade cristã, deu-lhe ordem de prestar culto a ídolos, queimando incenso, a menina negou-se a realizar tal gesto, o que despertou a ira de seu pai. Cristina, às escondidas, participava de celebrações eucarísticas e outras reuniões cristãs. Sua coragem e caridade fizeram-na vender as imagens dos ídolos de seu pai para adquirir bens em favor dos pobres. Urbano, furioso com atitude da filha, mandou

chicoteá-la. Cristina, entretanto, manteve-se firme em sua fé, e continuava a negar-se a prestar culto aos ídolos pagãos. O pai continuou a torturar a filha, na esperança de que desistisse do cristianismo. Entre as torturas realizadas, Cristina foi lançada ao fogo. Conta-se que um anjo a defendeu das chamas, impedindo que ela fosse queimada. Urbano, indignado com a persistência da filha, mandou os empregados amarrarem uma pedra de moinho em seu pescoço e atirá-la ao mar. Conta-se que a pedra de moinho boiou, impendindo que Cristina se afogasse. A exaltação do pai foi tão grande que morreu de colapso. Após a morte do pai, Cristina foi presa, acusada de ser a responsável por sua morte. O sucessor de Urbano, chamado Dio, continuou a torturar a menina. Por fim, Dio ordenou que ela fosse morta a flechadas. Aprouve ao Senhor Deus chamar Santa Cristina para si por esse tipo de morte. Ela faleceu no dia 24 de julho do ano 300.

Lapa

BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Comunidade Voz dos Pobres comemora 19 anos de missão Com o carisma inspirado na Eucaristia e no anúncio da Palavra de Deus junto à população em situação de rua, a Comunidade Missão Eucarística Voz dos Pobres comemorou os 19 anos de fundação na quarta-feira, 22. Para marcar a data, houve missa presidida pelo Padre Sérgio Roberto Farias (Padre Serginho), da Diocese de Campo Limpo. A celebração foi realizada na Casa de acolhimento Santa Clara, no Setor Rio Pequeno, e contou com a presença de mais de 100 pessoas. Em entrevista à PASCOM da Região Lapa, o fundador da comunidade, Claudio Luiz

Vaz, falou da sua alegria e satisfação em ter sido escolhido para essa missão e agradeceu a comunidade pelo trabalho missionário realizado com a população em situação de rua. “O carisma da Missão Eucarística Voz dos Pobres é viver a missa e adorar o Santíssimo Sacramento, cuidar e amar os pobres de rua, viver e anunciar o Evangelho de Jesus aos ricos e aos pobres, anunciando as verdades e denunciando as maldades”. Padre Serginho demonstrou contentamento em celebrar os 19 anos da missão Voz dos Pobres. O sacerdote iniciou seu trabalho junto à comunidade em 2008, quando

conheceu seu fundador Claudio e alguns missionários que continuam até hoje. Na homília, ele refletiu com todos sobre o que aprendeu com a comunidade, relembrando o que Santo Agostinho disse em uma das suas reflexões: “Que existe a conversão e a segunda conversão”. “Aprendi na simplicidade da comunidade, com o carisma que existe, que podemos dizer uma segunda conversão em Deus, é uma forma de poder se aprofundar um pouco mais nesse amor de Deus, que vai além de um amor teórico, que vai além de um amor sentimento, que se torna um amor sentido. Amar os pobres é isso

O carisma da Missão Eucarística Voz dos Pobres é viver a missa

não é um amor sentimento, apenas é um amor sentido”. Ao final, o padre agradeceu a Deus pelo momento celebrativo e resumiu seu trabalho junto com a comuni-

dade, em duas únicas coisas: “Amar e adorar o Santíssimo Sacramento na santa missa com todas as nossas forças, e através desse amor, amar os pobres como a nós mesmos”.


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PJ tem candidatos ao Conselho da Juventude edcarlos bispo edbsant@gmail.com

No domingo, 2, os jovens da cidade de São Paulo escolherão representantes de vários segmentos juvenis do município para o Conselho Municipal dos Direitos da Juventude (CMDJ). Criado em 2008 e atualizado pela Lei Municipal nº 16.120, aprovada pelo prefeito Fernando Haddad em janeiro de 2015, o Conselho é um espaço de participação política para a juventude de São Paulo. Os conselheiros têm como função discutir temas relacionados a juventude, pensar em formas de ampliar e assegurar seus direitos e fiscalizar as políticas públicas voltadas para os jovens da cidade. O Conselho é composto de forma paritária - metade por membros do governo e metade por representantes eleitos pela sociedade civil. Jovens com idade entre18 e 29 anos podem se candidatar a uma das cadeiras.

Para votar a idade mínima é 15 anos. A Pastoral da Juventude esteve presente, como organização juvenil, na discussão sobre o Conselho, participando na consolidação desse espaço para a juventude de São Paulo. O Anchietanum, como organização da sociedade civil, voltada à formação e ao acompanhamento dos jovens e grupos juvenis, também acompanha sistematicamente às questões relativas ao Conselho. Agora, tanto a PJ quanto o Anchietanum se organizam para concorrer a duas cadeiras no Conselho. A PJ concorrerá à vaga da cadeira de Juventude e Diversidade Religiosa, representada por Mylenna Lírio e Dyego Servolo, comprometida com o avanço da tolerância religiosa no mundo juvenil e com todas as questões que dizem respeito à vida dos jovens, como segurança, educação, trabalho, cultura. O Anchietanum concorrerá à vaga da cadeira de represen-

tante de organização da sociedade civil, como Entidade de Apoio aos movimentos juvenis, comprometido a apoiar as causas dos grupos juvenis, em vista de melhorias efetivas na vida da juventude, da maior visibilidade das demandas juvenis na gestão pública e fortalecimento dos movimentos juvenis.

Entenda como funcionam as cadeiras

As 21 cadeiras destinadas à sociedade civil estão distribuídas da seguinte forma: 14 estão destinadas a jovens que trabalham com movimentos sociais,

associações ou organizações que trabalham a temática juvenil em 14 diferentes eixos (educação; trabalho, emprego e geração de renda; esporte e lazer; saúde e meio ambiente; diversidade religiosa; deficiência e mobilidade reduzida; juventude negra; jovens mulheres; diversidade sexual; cultura e arte; moradia; inclusão digital e acesso às novas tecnologias; mobilidade, direito à cidade; movimento estudantil); dois dos representantes de organizações da sociedade civil que tenham a experiência de trabalhar com juventude; um jovem de cada região da cidade

(norte, leste, oeste, centro e sul). Nas vagas destinadas aos representantes das regiões da cidade, a Pastoral da Juventude apoia jovens que participam ativamente da PJ e se disponibilizaram em se candidatar ao Conselho, são eles Jéssica Cristina (zona leste) e Igor Gomes (zona norte). Na zona sul, a Pastoral da Juventude juntamente com a Rede Ecumênica da Juventude (Reju), apoia o jovem Alexandre Pupo Quintino. Mais informações no Facebook da PJ São Paulo. Com informações da Prefeitura de São Paulo e Anchietanum

Onde votar São 13 locais de votação e é preciso levar o RG e ter de 16 a 29 anos para votar. Centro Centro Cultural São Paulo Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso (ao lado da estação de Metrô Vergueiro)

Leste I Subprefeitura de São Mateus Avenida Ragueb Chohfifi, 1400 - Colônial

Leste II Casa de Cultura São Miguel Antônio Marcos Rua Irineu Bonardi, 169 - Alto Pedroso - São Miguel Paulista

(15 minutos a pé da estação São Miguel Paulista - CPTM)

Leste III Centro Social Marista – Itaquera Av. Radial Leste, Pista Sul, ao lado do Metrô Itaquera, próximo ao Shopping

Norte I Parque da Juventude R. Manuel dos Santos Neto, 23 - Santana (ao lado da estação Carandiru)

Norte II

Sul I

Sul IV

Centro Cultural da Juventude (CCJ) Avenida Deputado Emílio Carlos, 3641 - Vila dos Andrades, Vila Nova Cachoeirinha (ao lado do Terminal Cachoeirinha)

CEU Arlete Persoli – Heliópolis Estrada das Lágrimas, 2385

CEU Parelheiros R. José Pedro de Borba - Jardim Novo Parelheiros

Sul II CEU Campo Limpo Avenida Carlos Lacerda, 678 Jardim Pirajussara

Norte III

Sul III

CEU Perus Rua Bernardo José Lorena, s/n - Vila Fanton (ao lado da estação Perus CPTM)

Casa de Cultura do Grajaú Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252 - Parque America (15 minutos a pé da estação Grajaú - CPTM)

Sul V Sub Prefeitura Ipiranga Rua Lino Coutinho, 444 - Ipiranga (15 min a pé da estação Ipiranga - CPTM)

Sul VI CEU Caminho do Mar Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 5241 Vila do Encontro

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Padres estudam vida e missão sacerdotal à luz do Vaticano II Fernando Geronazzo

Especial para O SÃO PAULO

Com o tema “O Sacerdócio: vocação, consagração, missão”, a 7ª edição do Curso de Atualização para Sacerdotes (CAS) realizado 21 a 24, no Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), em São Paulo, abordou os 50 anos do Decreto Presbyterorum Ordinis, do Concílio Vaticano II, sobre o ministério e a vida dos sacerdotes. Promovido pela Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, organização unida à Prelazia Pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, com apoio da Arquidiocese de São Paulo e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Curso tem o objetivo de contribuir para o aprofundamento na formação dos sacerdotes diocesanos. Esta edição reuniu 110 padres de 42 dioceses brasileiras e entre os assessores estavam Dom José María Yanguas, bispo de Cuenca (Espanha); Monsenhor Javier Medina, postulador da Causa de beatificação do Bem-aventurado Álvaro del Portillo, sacerdote espanhol que foi secretário da comissão redatora do Presbyterorum Ordinis. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, também esteve no evento, no dia 22, para saudar os participantes e manifestar sua

satisfação pela realização do Curso que, segundo ele, é uma oportunidade de estudo e aprofundamento de questões importantes para a o exercício do ministério e para o convívio fraterno. Dom Odilo recordou que o referido documento conciliar renovou a percepção sobre a identidade sacerdotal. “Este decreto refletiu o grande desejo e necessidade de o Concílio dizer uma palavra também sobre o sacerdócio e seu exercício, bem como sobre sua natureza, sem inovar em sua doutrina, mas apresentando-a de forma nova e atualizada. Por isso, este documento não pode ser separado dos demais importantes da eclesiologia do Vaticano II”.

Fraternidade sacerdotal

Padre Peterson Pedroso de Figueiredo, 36, da Diocese de Rio Grande (RS), é sacerdote há cinco anos e participou do CAS pela primeira vez. Ele destacou a fraternidade presbiteral vivida no Curso. “E essa irmandade sacerdotal fortalece e renova o meu ministério, pois vejo a experiência de outros padres sem contar o conteúdo muito bem apresentado. Isso é importante, porque temos que estar em permanente formação, voltando sempre às fontes e retomando o sentido do ministério”, relatou.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Scherer fala a padres durante 7ª edição do Curso de Atualização para Sacerdotes

Em oito anos de sacerdócio, Padre José Roberto Pereira, 41, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Consolação, na Sé, participou das sete edições do CAS. “Participar desse curso enriquece muito o ministério principalmente na formação sobre os documentos da Igreja, a realidade sacerdotal e o cuidado com o povo. Como padres, estamos inseridos no povo de Deus e queremos fazer com que este povo sinta cada vez mais a proximidade do Cristo”, disse.

Revisitar o Concílio

Pela primeira vez no CAS, Padre Rubião Lins Peixoto, 79, da Arquidiocese de

Maceió (AL), afirmou ao O SÃO PAULO que o CAS foi uma oportunidade de “revisitar o Vaticano II”. Sacerdote há 53 anos, ele tinha, portanto, três anos de ministério quando foi promulgado o Decreto Presbyterorum Ordinis. “Para mim, é importante e renovador participar deste Curso, ouvindo coisas antigas, porém, como novo ardor. Quando padre jovem, eu estava animado em colocar em prática tudo o que foi refletido e apresentado pelos documentos conciliares. É muito bom que os padres da nova geração, que estão apenas conhecendo o Concílio, saibam que o ontem ainda hoje é novo e continua a nos entusiasmar”.

“Renovados pelo amor, impulsionados pelo Espírito do Ressuscitado” Luciney Martins/O SÃO PAULO

Renata Moraes

jornalismorenata@gmail.com

Cerca de 100 seminaristas participaram do 30º RENASEM, encontro estadual para seminaristas com a espiritualidade da Renovação Carismática Católica (RCC) Com o tema: “Renovados pelo amor, impulsionados pelo Espírito do Ressuscitado”, o Ministério para Seminaristas (RENASEM) realizou entre os dias 20 a 24 de julho mais uma edição do seu encontro estadual. Acolhidos pela Arquidiocese de São Paulo, a abertura do 30º RENASEM na segunda-feira, 20, aconteceu com missa na Catedral da Sé, presidida por Dom Edmar Peron, Bispo Auxiliar da Arquidiocese para a Região Belém. Na homília, o bispo exortou os seminaristas: “Dentro da santificação é importantíssimo a escuta daquilo que Deus quer e tem a nos dizer”. A Basílica Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, foi o local do retiro. Durante os cinco dias do encontro os seminaristas participaram de momentos de oração,

fruto da reconciliação com Deus, com o outro e consigo mesmo. É do amor de Deus que brota nosso chamado ao sacerdócio que designa ser um testemunho autêntico do amor divino, expressado diariamente na vida pelo maior dom: o amor, Deus é Amor”.

Encontrar Jesus no rosto dos pobres Na Cracolândia os seminaristas participam da missa com a população em situação de rua

partilha e espiritualidade, conduzidos por formadores da Renovação Carismática Católica, dentre eles: Dom Paulo Beloto, bispo da Diocese de Franca, Padre Sérgio Luiz, da Arquidiocese de Niterói, Lucimar Mazieiro, Presidente do Conselho da RCC de São Paulo, e Fátima de Souza da RCC de Osasco. Em entrevista ao jornal O SÃO PAULO, o seminarista Edson Luís Barbosa da Silva, Coordenador Estadual do Ministério para Seminaristas, conversou sobre os principais desafios na formação dos

seminaristas que possuem seu chamado, por meio do carisma da RCC. “Na nossa realidade de homens que se preparam para o altar de Deus e que possuem a espiritualidade da RCC, temos que configurar a nossa vocação ao Bom Pastor, que acolhe todas as ovelhas e que doa a sua vida pelo bem de todos e que vive o chamado de renascer todos os dias com amor e alegria do serviço a Deus”. Edson Luiz avaliou positivamente todo o encontro: “vivenciamos dias de grande graça na unidade e fraternidade,

Juntamente com a Missão Belém, obra religiosa que atua no acolhimento de pessoas em situação de rua desde 2005, os 100 encontristas do 30º RENASEM participaram na noite da quinta-feira, 23, de uma missão na Praça Júlio Prestes, próximo à região da Cracolândia. Além de participarem da celebração da missa, que foi presidida pelo Padre Giampetro Carraro, fundador da Missão Belém, os seminaristas vivenciaram a experiência de encontro com os irmãos em situação de rua, usuários de crack. Cerca de 300 pessoas, entraram na “Cracolândia” conversaram e rezaram junto com aqueles irmãos que sofrem e que são excluídos da sociedade.

O jornal O SÃO PAULO parabeniza todos os sacerdotes pelo seu dia. 4 de agosto, dia de São João Maria Vianney, dia do padre.


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