O SÃO PAULO - 3133

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 61 | Edição 3133 | 11 a 17 de janeiro de 2017

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Papa a embaixadores: ‘Não se pode matar em nome de Deus’ Em audiência com embaixadores, na segunda-feira, 9, o Papa Francisco afirmou que o terrorismo fundamentalista é resultado da miséria espiritual, muitas vezes associada à pobreza, e pediu às autoridades religiosas que ressaltem que não se pode matar em nome de Deus. O Papa falou ainda sobre a violência mundial.

histórias do povo da rua

Encontro com o Pastor

A reportagem do O SÃO PAULO ouviu histórias, anseios e angústias de homens e mulheres, de diferentes idades, que vivem nas ruas da maior cidade do Brasil e também apurou os planos da nova gestão municipal para a atenção a essa população, estimada em, ao menos, 15 mil pessoas.

Editorial

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Odilo Pedro Scherer: ‘Que Deus nos abençoe em 2017!’ Página 3

Ao olhar para os presos, sempre vale a pergunta do Papa: ‘Por que eles e não eu?’

Página 8

Página 2

Opinião

Caos no sistema prisional brasileiro preocupa a Igreja

Klaus Brüschke: ‘A propósito e ótimos propósitos de ano novo’ Página 2

Após a morte de mais de cem pessoas nas prisões brasileiras no início deste ano, a CNBB pediu às autoridades rigorosa apuração dos fatos e a busca “de um sistema penitenciário mais justo, digno e humano”. Também o Papa Francisco desejou que as prisões não sejam superlotadas e que permitam a reinserção dos presos.

Espiritualidade ‘O que é indispensável para que haja paz? Deus, eu e você’ Página 5

Comportamento

Página 9

Valdir Reginato: Educação é o desafio para o Brasil neste ano

‘Menino Deus, o único que dá esperança, paz e harmonia’

Página 6

Posse de Dom Julio em Sorocaba será em 25/02

Em 24 e 25 de dezembro, o Cardeal Scherer, arcebispo metropolitano, presidiu missas de Natal. Em mensagem à Arquidiocese, o Cardeal expressou que “Deus entra no mundo através das realidades e vivências familiares” e recordou a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, do Papa Francisco. Página 16

Voz dos Pobres realiza Jantar de Natal Página 12

Paróquia São Marcos completa 10 anos Página 14

caderno especial – Histórias da rua

Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar e vigáriogeral da Arquidiocese de São Paulo, foi nomeado pelo Papa Francisco, em 28 de dezembro, como arcebispo de Sorocaba (SP), sucedendo a Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, que se tornará arcebispo emérito. A posse de Dom Julio está marcada para 25 de fevereiro, em horário a ser definido. Página 16


2 | Ponto de Vista |

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Por que eles e não eu?

C

oncordem ou não com suas posições, quase todos reconhecem o Papa Francisco como a maior autoridade moral da atualidade. Mas, é justamente ele que, diante de criminosos presos, faz repetidas vezes esta pergunta desconcertante: “Por que eles e não eu?” Apesar de toda a sua estatura e coerência moral (ou justamente por causa delas), Bergoglio sabe que não deixou de ir para a cadeia simplesmente por ser mais honesto do que os outros, mas sim porque uma série de acontecimentos fez com que suas decisões boas fossem mais determinantes que as más (são conclusões dele, olhando retrospectivamente para sua vida, não nossas).

Editorial

Diante das recentes chacinas em presídios brasileiros, não podemos deixar de pensar nessa lição – tão singela quanto forte – do Papa Francisco. Se observarmos com atenção, encontraremos várias situações, que ocorreram com parentes, amigos ou com nós mesmos, que poderiam ter levado a erros terríveis, mas que terminaram bem porque houve apoio material e orientação adequada. Solidariedade não é conivência com o mal, mas a falta de solidariedade leva a males sempre maiores. Ser solidário não é transformar o criminoso em vítima, mas construir o bem comum. Temos frequentemente uma visão distorcida da realidade prisional brasileira. Pensamos numa

minoria de líderes criminosos que continuam mandando e desmandando de dentro das cadeias, cercados até de um relativo conforto. Mas, a imensa maioria não tem sua dignidade humana reconhecida, lhes falta desde as mínimas condições de higiene até a assistência jurídica adequada. Para esses, o crime organizado se tornou um espaço de solidariedade e uma condição para sobreviver. Com isso, nossos presídios se tornam cada vez mais “escolas do crime”. Sem dúvida, são necessárias verbas para a segurança pública. Mas não haverá dinheiro que chegue se a segurança tiver que preencher as falhas da educação, da inclusão social, dos programas de geração de emprego e renda. O buraco é mais

embaixo, e temos que ter consciência disso para enfrentar adequadamente a situação. O Estado tem que assumir sua responsabilidade. Os problemas dos presídios mostram não só falta de recursos, mas ineficiência e até rejeição a políticas e metodologias sabidamente eficazes. Pior: uma sombra de corrupção e malversação de dinheiro público paira sobre todo o sistema. O desafio do Estado é a eficiência. O desafio da sociedade é a solidariedade. Todos temos, em casa, no trabalho, na igreja, com os amigos, a missão de mostrar que a solidariedade é diferente da conivência, de dar nossa contribuição para que o sistema prisional seja espaço de ressocialização e não de exclusão.

Opinião

A propósito e propósitos de ano novo Arte: Sergio Ricciuto Conte

Klaus Brüschke Chegou ao fim 2016. O balanço do que nele aconteceu, em nossa vida pessoal e ao nosso redor, na sociedade brasileira e no mundo, mostra pessoas, acontecimentos e vivências que foram dádivas para nós, às quais muito temos a agradecer a Deus, a nossos companheiros de viagem, à vida… E também episódios dolorosos ou obscuros, que requerem correção de rota, retomada, misericórdia… Gostaria de apontar para um fenômeno que parece ter-se agudizado no ano que passou. Se já há muitos anos São João Paulo II chamava os tempos atuais de “noite epocal”, essa noite parece ter-se tornado ainda mais escura, e a madrugada, ainda mais distante. É nossa impotência ante as potências que se fazem de impotentes na Síria e no Mediterrâneo, nosso sofrimento diante dos refugiados tratados com insensibilidade pela esgarçada Comunidade Europeia, nossa insegurança pelos atentados midiatizados na Europa e os ignorados no Oriente Médio ou África. Em terras nossas, é nossa indignação ante a resiliência da arcaica estrutura social e prática política e a persistência de indicadores sociais a traduzir níveis inaceitáveis de violência, desigualdade, preconceito… Há um “mal-estar civilizatório” que

se exprime numa descrença nas instituições e na verdade dos fatos, num entrincheiramento das próprias opiniões e a adesão a discursos populistas. Enfim, há um retrocesso em termos de democracia, pluralismo, liberdade, dignidade humana, justiça social… É um cenário desalentador para tantos que comprometeram a própria vida, pagando por isso até um alto preço, com uma sociedade mais humana. Em “A Ressurreição de Roma”, Chiara Lubich descreve sua percepção ao passar pela “Cidade Eterna” dominada no pós-Segunda Guerra

Mundial pela “sordidez e vaidades”. “Diria que o meu ideal [de vida] é uma utopia se não fixasse o pensamento Nele, que também viu um mundo igual a este, que o cercava e que, no ponto culminante de sua vida, pareceu ser arrastado por tudo aquilo, vencido pelo mal. Ele também olhava para toda essa multidão a quem amava como a si mesmo… mas, não duvidava.” E continua: “Olho o mundo que está dentro de mim e me apego àquilo que tem essência e valor… olho o mundo e as coisas; contudo, já não sou mais eu que olho, é Cristo em

mim que olha, e vê de modo novo cegos que devemos iluminar, mudos que devemos fazer que falem e aleijados que devemos fazer andar”. Na noite escura dos tempos atuais, o Natal que há pouco celebramos aponta para uma estrela, para a Luz que há de alimentar nossa esperança e ser guia em nosso caminho, Jesus. Todavia, escreve Chiara, “não é, decerto, o Jesus histórico, ou Ele enquanto Cabeça do Corpo Místico quem resolve os problemas. Quem faz isso é Jesus-nós, Jesus-eu, Jesus-você… É Jesus no homem, naquele determinado homem… quem constrói uma ponte, faz uma estrada… É sendo outro Cristo… que cada homem traz uma contribuição típica sua em todos os campos: na ciência, na arte, na política, na comunicação, e assim por diante”. Eis aí um ótimo propósito de ano novo: encarando o cenário do mundo ao nosso redor, cultivar uma intimidade com Deus que leve à ação transformadora da sociedade, motivada não por uma utopia, talvez moldada por ideologias, mas pela dimensão profética que o Evangelho incute em nós de traduzir, nas relações entre os homens, com a natureza e com os bens, o Reino de Deus que já – e não ainda – está entre nós… Klaus Brüschke é membro do Movimento dos Focolares, ex-publisher da Editora Cidade Nova e articulista da revista Cidade Nova.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação Semanal • www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Cônego Antônio Aparecido Pereira, Edcarlos Bispo, Filipe David, Nayá Fernandes e Fernando Geronazzo • Institucional: Rafael Alberto e Renata Moraes • Fotografia: Luciney Martins • Administração: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Djeny Amanda • Assinaturas: Ariane Vital • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Revisão: Sueli S. Dal Belo • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação e Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 1,50 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


www.arquisp.org.br | 11 a 17 de janeiro de 2017

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

I

niciamos o ano de 2017 invocando a bênção de Deus sobre nós. No início do ano, de um jeito ou de outro, todos procuram forças superiores, que não podem garantir por si mesmos, a fim de passar bem o ano; mesmo quem estoura fogos de artifício para “acordar energias cósmicas” ou quem joga na sorte usando rituais e fórmulas mágicas faz a mesma coisa. Quem crê em Deus e espera nele, confia na sua bênção e se faz colaborador na obra de Deus para que tudo dê certo no novo ano. O tempo nos é dado como dom, “de graça”. Diante da finitude da vida, mas também da gratuidade de cada instante, o salmista já exclamava: quem pode acrescentar um só dia à duração de sua vida?! Cada ano nos é dado como tarefa e oportunidade para que realizemos obras boas, cresçamos em sabedoria e graça e desfrutemos, com gratidão, de todo bem de Deus colocado à nossa disposição neste mundo. Que nenhum dia seja inútil e desperdiçado durante este novo ano! O Papa Francisco, em sua mensagem para o ano novo, “Dia Mundial da Paz”, convidou a edificar a paz mediante a não violência, conforme a lição recebida de Jesus: não praticar violência contra ninguém, nem retribuir violência com violência. A violência nunca será capaz de assegurar a paz, quer nas relações entre as pessoas, quer nas relações entre os povos. Oxalá, o ano de 2017 seja menos violento! E que todos os cristãos sejam artesãos da paz, cada dia, orientados por uma cultura de não violência.

Que Deus nos abençoe em 2017! Na arquidiocese de São Paulo, começamos a colocar em prática o 12º Plano quadrienal de Pastoral. Elaborado e aprovado no ano passado, o novo Plano orientará a pastoral de conjunto mediante o enfrentamento das nossas grandes urgências pastorais. Precisamos traduzir em novas práticas evangelizadoras e pastorais os apelos que vêm da missão da nossa Igreja e da realidade urbana em que estamos inseridos: ser uma Igreja efetivamente missionária; promover uma boa iniciação à vida cristã de todos os batizados que o necessitam; estar a serviço da vida e da esperança de todas as pessoas; voltar uma renovada atenção pastoral aos jovens e às famílias. O 12º Plano de Pastoral leva em conta as nossas situações e desafios pastorais e também as orientações que vêm das Diretrizes da CNBB e do Magistério do Papa Francisco. Com toda a Igreja no Brasil, vivemos o Ano Mariano Nacional, já iniciado em outubro de 2016. Lembramos os 300 anos do encontro da imagem sagrada de Nossa Senhora Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul e o desenvolvimento da devoção à Virgem Mãe Aparecida, tão querida dos brasileiros. Ao mesmo tempo, recordamos os 100 anos das aparições de Nossa Senhora, em Fátima, Portugal. O Ano Mariano poderá ajudar-nos a aprofundar a devoção a Maria, Mãe de Jesus Cristo e Mãe da Igreja. Para o Ano Mariano, escrevi uma Carta Pastoral a toda a Arquidiocese, a ser publicada em breve; faço votos que ela chegue a muitas pessoas e famílias e que traga bons frutos. Ao longo deste ano, queremos também dar passos concretos para a realização do primeiro Sínodo Arquidiocesano de São Paulo. Com o

Sínodo, será possível fazer uma reflexão ampla sobre a realidade pastoral de nossa Arquidiocese, avaliar o caminho feito e tomar decisões pastorais que nos ajudem a realizar bem a vida e a missão da Igreja em São Paulo, no presente e no futuro. Em junho deste ano, desejo fazer a convocação do Sínodo, com a publicação da dinâmica a ser seguida, conforme normas da Igreja para os sínodos diocesanos. Desde logo, convido todo o povo de Deus da Arquidiocese de São Paulo a rezar ao Espírito Santo na intenção do Sínodo Arquidiocesano. Na vida pública, teremos mais um ano de apresentações e incertezas. Com prefeito novo e Câmara de Vereadores renovada, a cidade de São Paulo espera receber as necessárias atenções do Poder Público no centro e nas extensas periferias! Apesar de imensa e complexa, e apesar dos graves problemas resultantes de sua expansão caótica no passado, São Paulo é rica e, bem governada, tem potencial para resolver seus problemas e oferecer boas condições de vida aos seus numerosos habitantes. E que os pobres não sejam esquecidos nem descartados! No âmbito nacional, o ano ainda promete dificuldades econômicas e turbulências políticas e sociais. O Brasil tem muita necessidade de saneamento da economia e de recuperação da credibilidade na vida pública em geral. A participação atenta e paciente da sociedade ajudará os governantes a encontrarem o rumo adequado, sem que os inevitáveis sacrifícios recaiam pesados demais sobre as categorias sociais mais frágeis. Que nossa Senhora Aparecida interceda pelo Brasil e pelo povo brasileiro!

| Encontro com o Pastor | 3

Posse do prefeito João Doria Júnior Rafael Alberto

Em 1º de janeiro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, participou da cerimônia de posse do prefeito de São Paulo, João Doria Júnior, no Theatro Municipal de São Paulo. “Se hoje quero lhe recomendar alguma coisa, digo só isto: não se esqueça dos pobres da nossa periferia e também do centro da nossa metrópole de São Paulo”, afirmou o Arcebispo ao novo Prefeito.

Natal no Arsenal da Esperança José Luiz Altieri Campos

Em 25 de dezembro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, presidiu a Missa de Natal no Arsenal da Esperança.

Com a Missão Belém Padre Pedro Almeida

Em 24 de dezembro, o Cardeal Scherer presidiu a Missa de Natal na Casa Guadalupe, mantida pela Missão Belém. Na oportunidade, houve a renovação dos votos dos membros da Missão.

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11 a 17 de janeiro de 2017 | www.arquisp.org.br

Liturgia e Vida 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM 15 de janeiro de 2017

Eis o Cordeiro de Deus Cônego Celso Pedro Terminamos o Tempo do Natal. Celebramos o Batismo do Senhor e estamos iniciando a 2ª semana do Tempo Comum. O evangelista deste ano é São Mateus. No entanto, sempre começamos o Tempo Comum com o Evangelho de São João. Depois, seguimos com o evangelista do ano. Por que começamos com uma passagem do Evangelho de São João? Porque São João nos mostra logo que aquele que vamos seguir durante o ano é a Palavra de Deus encarnada. É Deus e homem verdadeiro. Podemos segui-lo com tranquilidade e com segurança. “Ele é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, nos diz hoje São João Batista. João estava batizando no rio Jordão quando Jesus se aproximou. Foi então que João disse: “Eis o Cordeiro de Deus”, e depois acrescentou: “Dou testemunho de que ele é o Filho de Deus”. Jesus já tinha sido batizado por João e João não conhecia Jesus, mas seu testemunho é válido porque Deus mesmo lhe revelou quem era Jesus. Ao batizá-lo, João viu o Espírito descer e permanecer sobre Jesus. Esse era o sinal de Deus para que João soubesse que Jesus, o eleito de Deus, é o que batiza com o Espírito Santo. Ele veio depois de João Batista, mas já existia antes dele. Podemos, pois, segui-lo com segurança. Tudo o que ele nos disser, tudo o que dele ouvirmos, é Palavra da Salvação. Ao longo do ano, lendo um dos Evangelhos sinóticos, - neste ano o de São Mateus -, podemos ter a impressão de estar seguindo um líder importante, preocupado com o bem social do povo. E isso é verdade! O Verbo de Deus veio a este mundo e aqui recebeu o nome de Jesus, por causa do ser humano. Ele formará um grupo de colaboradores para pescarem gente e não mais peixes. Contudo, Ele não é só homem. Ele é uma só pessoa, ao mesmo tempo verdadeiro homem e ao mesmo tempo verdadeiro Deus. O Messias de Israel é muito mais do que o restaurador do trono de Davi. Ninguém podia imaginar que Ele e o Pai são um só. Nem imaginar, nem entender! Ele é o Cordeiro pascal da saída do Egito e o Servo sofredor que carrega sobre si o pecado do mundo. Deus já não pede ofertas, nem vítimas, nem holocaustos por nossos pecados. Chegou o verdadeiro Cordeiro, que vem e com prazer faz a vontade do Pai. Ele restaura as tribos de Jacó e reconduz o que restou de Israel. E ainda mais: Ele é a luz das nações, para que a salvação de Deus chegue até os confins da terra. Sigamos o Cordeiro e levemos a salvação até o último recanto da periferia da existência humana. O discípulo segue. Seguimos cada ser humano sem esperar que ele venha. Vamos atrás dele para acolhê-lo com um abraço fraterno e livrá-lo do pecado do mundo.

Você Pergunta

Será que foi válida minha confissão? padre Cido Pereira

osaopaulo@uol.com.br

“Padre, na minha última confissão, o padre me perguntou há quanto tempo eu tinha me confessado. Eu falei que foi há dois meses, mas na verdade só foi há um mês. Fiquei com vergonha de falar que tinha pouco tempo. Mas, não omiti nenhum pecado. Eu quero saber se foi válida a confissão?” Quem pergunta é o José Pereira, de Brasília (DF). Não há por que ficar com vergonha pelo pouco tempo entre uma confissão ou outra. Se isso não for sintoma de um escrúpulo, que só complica a vida do crente, tudo bem. Há

pessoas que vivem sob o domínio do medo do inferno, do medo do próprio pecado e isso não é bom. Há pessoas que são atacadas, como acabei de dizer, por escrúpulos, e isso não é uma forma madura de se viver a fé. É verdade que nós passamos de uma mentalidade escrupulosa, em que tudo era pecado, a uma mentalidade exageradamente liberal, em que nada é pecado. Temos que achar o equilíbrio porque, diziam os antigos, a virtude está no meio. Que cada confissão, meu irmão, seja cuidadosamente preparada. Que ela tenha cinco elementos fundamentais: o exame de consciência tranquilo e minucioso, que aponte as causas de

nossos pecados; que haja um arrependimento verdadeiro e não apenas um sentimento de culpa doentio; que sejam confessados os pecados sem necessidade de contar a história de cada pecado; que o padre em nome da Santíssima Trindade nos dê a absolvição; e que, finalmente, cumpramos a penitência que for indicada pelo padre e que esta nos faça caminhar em direção oposta ao pecado que cometemos. Coragem, José. Sua confissão foi válida, sim, porque, pelo que você me disse, foi sincera. E não tenha medo de dizer quanto tempo faz que você se confessou pela última vez. Vai ajudar o padre a orientar melhor você na vida espiritual. Fique com Deus.

Atos da Cúria Em 22 de dezembro de 2016, foi assinado na Cúria Metropolitana de São Paulo, o Convênio entre a Arquidiocese de São Paulo e as seguintes Congregações Religiosas: - Congregação dos Oblatos de São José para a Cura Pastoral da Paróquia Santa Edwiges, no Setor Pastoral Anchieta, na Região Episcopal Ipiranga. - Congregação dos Oblatos de São José para a Cura Pastoral da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Setor Pastoral Medeiros, na Região Episcopal Sant´Ana. - Congregação dos Oblatos de São José para a Cura Pastoral da Paróquia Nossa Senhora de Loreto, no Setor Pastoral Medeiros, na Região Episcopal Sant´Ana. - Ordem dos Agostinianos Recoletos para a Cura Pastoral da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no Setor Pastoral Leopoldina, na Região Episcopal Lapa. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO Em 8 de janeiro de 2017, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, na Região Episcopal Lapa, Setor Pastoral Butantã, o Revmo. Pe. Edilberto Alves da Costa, pelo período de 6 (seis) anos. Em 15 de dezembro de 2016, foi nomeado e provisionado Pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, na Região Episcopal Lapa, Setor Pastoral Lapa, o Revmo. Pe. Lédio Milanez, RCJ, pelo período de 4 (quatro) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL Em 22 de dezembro de 2016, foi nomeado e provisionado Administrador Paroquial da Paróquia Santa Margarida Maria, na Região Episcopal Sé, Setor Pastoral Aclimação, o Revmo. Pe.

Wellington Laurindo dos Santos, em decreto que entrou em vigor em 2 de janeiro de 2017. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL Em 2 de janeiro de 2017, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Região Episcopal Lapa, Setor Pastoral Leopoldina, para assumir o cuidado pastoral da Comunidade Nossa Senhora Aparecida e São Joaquim, o Revmo. Pe. Flávio Heliton Silva. Em 15 de dezembro de 2016, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial da Paróquia São Pedro Apóstolo, na Região Episcopal Lapa, Setor Pastoral Lapa, o Revmo. Pe. Mário Pasini, RCJ. Em 22 de dezembro de 2016, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial da Paróquia Santa Cecília, na Região Episcopal Sé, Setor Pastoral Santa Cecília, o Revmo. Pe. Ailton Bernardo de Amorim, em decreto que entrou em vigor em 2 de janeiro de 2017. NOMEAÇÃO DE ECÔNOMO Em 1 de janeiro de 2017, foi constituído Ecônomo da Região Episcopal Belém, o Revmo. Pe. Marcelo Álvares Matias Monge, pelo período de 5 (cinco) anos. NOMEAÇÃO DE COORDENADOR REGIONAL DE PASTORAL Em 1 de janeiro de 2017, foi nomeado Coordenador Regional de Pastoral da Região Episcopal Belém, o Revmo. Pe. Marcelo Maróstica Quadro, pelo período de 5 (cinco) anos. NOMEAÇÃO DE COMISSÃO REGIONAL DE ASSUNTOS ECONÔMICOS Em 1 de janeiro de 2017, foi constitu-

ída, com mandato de 5 (cinco) anos, a Comissão Regional de Assuntos Econômicos da Região Episcopal Belém: - Presidente – Revmo. Dom Luiz Carlos Dias - Vigário Geral Adjunto – Côn. José Miguel de Oliveira - Ecônomo – Pe. Marcelo Álvares Matias Monge - Coordenador de Pastoral – Pe. Marcelo Maróstica Quadro - Setor Belém – Pe. Marcelo Álvares Matias Monge - Setor Carrão/Formosa – Pe. José Osterno de Aquino - Setor Conquista – Pe. Everton Augusto de Souza - Setor Guarani – Pe. José Mario Ribeiro - Setor São Mateus – Pe. Edivaldo Batista da Silva - Setor Sapopemba – Pe. Mario Andrighetto, mccj - Setor Tatuapé – Pe. Luciano Macedo, sac - Setor Vila Alpina – Pe. Adilson Pinheiro da Silva - Setor Vila Antonieta – Pe. Edenildo Pereira da Silva - Setor Vila Prudente – Pe. Jesus Andrade da Silva - Administração – Diácono Marcos Antonio Domingues - Administração – Sandra Aparecida Montez - Área Jurídica – Antonia Accarino Mucciolo NOMEAÇÃO DE COMISSÃO REGIONAL DE PRESBÍTEROS Em 1 de janeiro de 2017, foram nomeados para compor a Comissão de Presbíteros da Região Episcopal Belém, para um mandato de 5 (cinco) anos: - Setor Belém – Côn. Celso Pedro da Silva - Setor Carrão/Formosa – Pe. José Antônio Cruz Nunes - Setor Conquista – Pe. Juliano Maroso Gonçalves

Continua na página 5

4 | Fé e Vida |


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Espiritualidade Paz na terra e glória no céu! Dom Julio Endi Akamine

N

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa; nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Continuação da página 4

ão é fácil perdoar diante das consequências da guerra e dos conflitos sociais, pois isso envolve não somente os indivíduos, mas os cidadãos e a sociedade dividida pela violência dos embates. A violência das guerras deixa sempre uma herança pesada de dor, que somente pode ser aliviada quando os contendores são capazes de enfrentar os abismos da desumanidade e da desolação com uma atitude purificada pelo arrependimento. De uma parte, o peso doloroso do passado não pode ser esquecido e varrido para debaixo do tapete da história e das consciências. Por outra, sem reconciliação com o passado, que leve a uma justa reparação, e sem o perdão reciprocamente oferecido e recebido, a cultura da paz não lança raízes nos corações. A verdadeira paz só é possível por meio do perdão e da reconciliação. É preciso paz nos tratados. É necessária a paz da confiança. É sumamente necessária a paz nos corações. O perdão não anula as exigên-

Fé e Cidadania

cias da justiça, tampouco bloqueia alimenta do sacrifício de si próprio, o caminho que leva à verdade. Jus- pela clemência, pela misericórdia e tiça e verdade representam os re- pela caridade. O que é indispensável para que quisitos concretos da reconciliação. Nesse sentido, são oportunas as ini- haja paz? Você! Sem você não haveciativas que tendem a instituir or- rá paz. Você é imprescindível para a ganismos judiciários internacionais paz. Além de você: eu! Sem envolvipara apurar a verdade sobre crimes mento pessoal não há paz! Sem comperpetrados durante os conflitos promisso pessoal, a paz é somente armados e para julgar os comporta- uma tarefa imposta aos outros. Mas, mentos delituosos ativos ou omis- uma paz como tarefa imposta aos sos. Tais iniciativas são importan- outros não é paz! A paz só pode ser tes não somente para estabelecer a imposta com a própria paz. justa reparação, mas principalmente para O perdão não anula as exigências restabelecer o recíproco acolhimento da justiça, tampouco bloqueia entre as pessoas e os o caminho que leva à verdade. povos divididos pelos Justiça e verdade representam conflitos. os requisitos concretos da A paz é um bem indivisível. Ela não é reconciliação uma mercadoria que possa ser feita em pedacinhos, para A Igreja Católica luta pela paz que cada um tenha a sua paz priva- com a oração, que não é fuga do da: ou a paz é possuída por todos compromisso social. É o modo ou não é possuída por ninguém! como nós abrimos o coração para Impor a segurança em detrimen- uma profunda relação com Deus to de grupos sociais desprotegidos e para o encontro com o próximo não constrói a paz. Ela só é possível sob o signo do respeito, da confianquando buscamos o bem do outro. ça, da compreensão, da estima e do Nesse sentido, a paz é uma ordem amor. A oração infunde coragem de tal modo vivificada e integrada e dá apoio a todos os verdadeiros pelo amor, que as necessidades e amigos da paz. as exigências alheias são sentidas Para que haja a paz, é indispencomo próprias. É uma convivência sável Deus. Ele é a fonte e a meta da na qual cada um faz o outro partici- paz. Ele mesmo é a nossa paz. Deus, eu e você! Paz na terra e par dos próprios bens. A paz nunca se separa dos deveres da justiça e se glória nos céus!

Atos da Cúria - Setor Guarani – Pe. Arlindo Teles Alves - Setor São Mateus – Pe. Jefferson Mendes de Oliveira - Setor Sapopemba – Pe. Claudio de Oliveira - Setor Tatuapé – Côn. Walter Caldeira - Setor Vila Alpina – Pe. Eduardo Aparecido Araújo - Setor Vila Antonieta – Pe. Paulo Eduardo Santos - Setor Vila Prudente – Pe. Fausto Marinho C. Filho Membros escolhidos pelo Vigário Episcopal Dom Luiz Carlos Dias: - Côn. Walter Caldeira - Pe. Marcelo Álvares Matias Monge Membros natos: - Vigário Geral Adjunto – Côn. José Miguel de Oliveira - Representante da Comissão de Presbíteros do Regional Sul 1 da CNBB – Pe. Gilberto Orácio de Aguiar - Coordenador Regional de Pastoral - Pe. Marcelo Maróstica Quadro Padres eleitos para o Conselho Arquidiocesano de Presbíteros: - Côn. Walter Caldeira - Pe. Marcio Leitão

NOMEAÇÃO DE COMISSÃO REGIONAL DE ASSUNTOS ECONÔMICOS Em 1 de janeiro de 2017, foram nomeados os seguintes padres para Coordenadores de Setor da Região Episcopal Belém, para um mandato de 5 (cinco) anos: - Setor Belém – Pe. Wesley Pereira Machado - Setor Carrão/Formosa – Pe. José Alves de Souza, sac - Setor Conquista – Pe. Neidson Gomes - Setor Guarani – Pe. João Batista dos Santos - Setor São Mateus – Pe. Anthonysamy Manokarados, svd - Setor Sapopemba – Pe. Gilberto Orácio Aguiar - Setor Tatuapé – Pe. Rodrigo Thomaz - Setor Vila Alpina – Pe. Adilson Pinheiro da Silva - Setor Vila Antonieta – Pe. Cassio de Almeida Clementino, mps - Setor Vila Prudente – Pe. Luiz Paulo de Sousa Membros natos: - Vigário Geral Adjunto – Côn. José Miguel de Oliveira

| Fé e Vida | 5

- Coordenador Regional de Pastoral - Pe. Marcelo Maróstica Quadro INCARDINAÇÃO NO CLERO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO Em 10 de dezembro de 2016, foi incardinado ao clero da Arquidiocese de São Paulo o Revmo. Diácono Benedito Raimundo de Siqueira. Em 10 de dezembro de 2016, foi incardinado ao clero da Arquidiocese de São Paulo o Revmo. Pe. Benedito Hércules Daniel. Em 10 de dezembro de 2016, foi incardinado ao clero da Arquidiocese de São Paulo o Revmo. Pe. Gil Fábio Moreto. Em 10 de dezembro de 2016, foi incardinado ao clero da Arquidiocese de São Paulo o Revmo. Pe. Marcos Alves de Oliveira. Em 10 de dezembro de 2016, foi incardinado ao clero da Arquidiocese de São Paulo o Revmo. Pe. Wagner Aparecido Scarponi.

Dom Paulo Evaristo, profeta de Deus e do povo Frei Patrício Sciadini, OCD Em 14 de dezembro, foi realizada a festa de São João da Cruz, profeta do silêncio, e no céu neste dia entrou Dom Paulo Evaristo Arns, profeta de Deus e do povo. Os profetas não morrem, suas palavras e gestos são escritos não na areia, mas no bronze, e o tempo não poderá apagá-los. Ensinam com força, porque bebem da fonte que emana e corre mesmo que seja noite: o coração de Jesus. A notícia da morte de Dom Paulo Evaristo chegou para mim no fim da tarde. Rezei por ele, agradeci a Deus os seus 95 anos e pedi que do céu nos envie um pouco do seu espírito. Eu o encontrei muitas vezes a sós e sempre me transmitiu segurança, confiança. Suas palavras as guardo como ouro na minha vida. Gostaria de recordar quatro ensinamentos de sua vida, quatro amores: 1. Amor e liberdade – Dom Paulo sempre foi uma voz em favor da liberdade em todas suas manifestações: liberdade religiosa, política. Ele era um homem livre, porque buscava a verdade, um lutador da liberdade de todos sem medo. “A verdade, junto com a caridade, sempre vence.” 2. Defensor da Justiça que é amor – Ele estava convencido de que justiça e paz são inseparáveis; uma justiça que não se faz com as armas, as ditaduras e nem com as cadeias, mas com a cultura, o pão, o bem de todos e não de um grupo. “Ser cristão é trabalhar para que haja justiça e solidariedade em todos lugares.” 3. O homem evangélico Dom Paulo – Homem franciscano, sacerdote, bispo a serviço do povo, sempre disponível para escutar a voz dos que não tenham voz. O exemplo de Jesus foi para ele fonte de vida. Amado por muitos, odiado, mas sem ódio, sem vingança, forte ao lado dos frágeis, pequenos e pobres do povo. “O valor do homem como pessoa é maior que todo dinheiro do mundo.” 4. Orante - Dom Paulo era um místico, uma pessoa de oração profundamente humilde. Amava a verdade, defendia a verdade e sabia obedecer a Igreja... Os seus conselhos eram: sempre dizer a verdade, defender a verdade, obedecer a Igreja... “A graça de Deus não esquece ninguém nem se regula por crachás.” Obrigado, Senhor, por Dom Paulo, profeta. Não deixe a Igreja e a nós sem profetas que com a vida e a palavra nos ensinam a não ter medo de nada e de ninguém. Maria, Mãe dos profetas, rogai por nós. Amém! As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.


6 | Viver Bem |

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Cuidar da Saúde Tempo de redobrar os cuidados com o Aedes aegypti REDAÇÃO

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O calor e a umidade do verão são ideais para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e da chikungunya. Por isso, todos os esforços para combater esse inseto devem ser redobrados nesta época do ano. A principal atitude, que pode ser tomada em grupo ou individualmente, é eliminar os locais de água parada, onde o mosquito deposita suas larvas. É preciso estar atento a vasos de plantas, pneus velhos, bacias, garrafas e demais recipientes que possam armazenar água. Outras atitudes que fazem a diferença são: fechar bem a caixa-d’água e limpá-la regularmente; e manter em local coberto e em sacos fechados o lixo destinado à reciclagem. Neste verão, há estimativa de aumento dos casos de chikungunya, que é uma doença parecida com a dengue, mas costuma provocar febre bastante elevada de início súbito, acompanhada de fortes dores nas articulações. A doença costuma ter duas ondas: a primeira é a fase aguda da febre, dor no corpo e dor nas articulações; na segunda onda, o paciente pode desenvolver sinais e sintomas por meses ou até anos. A doença pode causar uma incapacidade funcional durante semanas ou meses. Já os casos de dengue e zika vírus devem se manter estáveis neste ano em relação a 2016. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano passado foram registrados 1,4 milhão de casos de dengue contra 1,6 milhão no ano anterior, além de 211 mil casos prováveis de infecção por zika (não há comparativo com o ano anterior porque os dados só começaram a ser coletados em outubro de 2015). Em relação à febre chikungunya, os registros apontam para 263 mil casos em 2016 contra 36 mil no ano anterior, aumento de aproximadamente 620%. Fontes: Agência Brasil e Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Comportamento

Educação: O desafio para 2017 Valdir Reginato O ano de 2016 está longe de ter sido “mais um ano”, mas entrou para a história no restrito grupo dos mais marcantes, principalmente no nosso Brasil. Houve o falecimento dos últimos ícones do século XX; transformações políticas e sociais, com fatos jamais pensados há menos de três anos; realização da Olimpíada e da Paralimpíada, numa fraternal competição; solidariedade diante de acontecimentos de profunda tristeza no futebol; antigos debates voltando à tona, como a questão do aborto devido às epidemias mais recentes; piora da agressividade de guerras sem fim; indefinição diante dos grandes movimentos migratórios na Europa; surpresas em eleições de chefes de Estado. Mas, nesse conjunto de notícias, uma destacase, talvez pela sua importância e, ao mesmo tempo, pelo seu anúncio silencioso, que é a questão da educação no Brasil. Por que chamar a atenção para a educação? Porque nela está a base em que deve se enraizar a boa sociedade. “Certamente, quando uma nação é grande, boa também é sua escola. Não existe nação grande, se sua escola não for boa”, já dizia Ortega y Gasset. E em mais um ano, o Brasil permaneceu dentre as mais baixas colocações neste quesito social: educação. A educação não é somente o que se oferece nas esco-

las, mas principalmente o que se vivencia em casa pelas famílias. “Os pais – dizia São João Paulo II – são os principais responsáveis pela educação dos filhos, que não pode ser delegada.” A escola complementa no âmbito do conhecimento cultural, mas os pais formam principalmente na moral e nos bons costumes, para o desenvolvimento do caráter; e cabe a eles fiscalizar e cobrar uma atitude responsável e coerente por parte dos professores nas escolas. A análise dos resultados das provas escolares acusou, mais uma vez, uma nítida diferença de desempenho dos sexos entre as disciplinas de Matemática e Ciências em relação a línguas e Artes. Enquanto os meninos alcançam melhores resultados nas primeiras, as meninas se saem melhor no segundo grupo. Isso é mais uma confirmação de que a ideologia de gênero tem que ter seus dias finalizados pelo grupo de pedagogos que teimam, com cega ignorância e teimosia ardilosa, em negar o que se constata na educação escolar em todo o mundo: homens e mulheres têm características próprias desde o início. A educação inclui a transmissão de valores, dentre os quais os religiosos. E o povo brasileiro, com predomínio cristão, sabe aplicar seus princípios nas suas atitudes. A partir da família, segue pelo quarto mandamento (honra teu pai e tua mãe), como

base para as relações conjugais que devem se manter com fidelidade, contrárias às manifestações feitas por diferentes setores da mídia, numa programação exaustiva promotora do adultério, que colide com o sexto e nono mandamentos. Fiel ao amor pela vida, posiciona-se contrário à legalização do aborto por propostas oportunistas, que querem abrir, pelo sofrimento dos casos de crianças com microcefalia, um caminho à descriminalização do aborto de modo indiscriminado. Quinto mandamento: não matar. Surge uma luz contra a “lei de Gerson”, no intuito de se fazer valer o sétimo mandamento (não roubarás), e fazer ouvir ao décimo (não desejar as coisas alheias), numa conscientização de cidadania, que busca a verdade sem incorrer no oitavo mandamento (não caluniar). Fica a proposta de nos unirmos com muita alegria, fé e esperança. Comprometermo-nos a querer no nosso dia a dia, de modo atuante, como bússola guia, aos dez mandamentos de amor, que o Senhor nos entregou. Há de se esforçar em viver, e não somente conhecer, essa educação fundamental para todo ser humano, que deseja se desenvolver como uma pessoa que queira tornar este mundo melhor para todos em 2017. Dr. Valdir Reginato é médico da família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar


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8 | Papa Francisco |

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Com informações da rádio Vaticano

Júlia Cabral

Especial para O SÃO PAULO

Levar a Palavra de Deus e ajudar os que passam frio Com a presença de milhares de fiéis e a temperatura de 1°C, na Praça São Pedro, no domingo, 8, o Papa Francisco afirmou, antes da oração do Ângelus, que o estilo missionário dos discípulos de Jesus é o de “anunciar o Evangelho com ternura e firmeza, sem gritar, sem censurar ninguém, mas com ternura e firmeza, sem arrogância ou imposição. A

verdadeira missão não é nunca proselitismo, mas atração a Cristo. Mas, como? Como se atrai a Cristo? Com o próprio testemunho, a partir da forte união com Ele na oração, na adoração e na caridade concreta, que é serviço a Jesus presente nos menores dos irmãos”. O Papa falou, também, do sentido da festa celebrada por toda a Igreja naquele

dia, a solenidade da Epifania do Senhor. “Essa festa nos faz redescobrir o dom e a beleza de ser um povo de batizados, isto é, de pecadores salvos pela graça de Cristo, inseridos realmente, por obra do Espírito Santo, na relação filial de Jesus com o Pai, acolhidos no seio da mãe Igreja, capazes de uma fraternidade que não conhece limites e barreiras.”

Diálogo com embaixadores

Na segunda-feira, 9, o Papa Francisco recebeu no Vaticano os embaixadores junto à Santa Sé para a tradicional audiência de início de ano, com o objetivo de fazer uma análise da situação política internacional. O primeiro tópico tratado pelo Pontífice foi a violência, principalmente contra a religião, citando as vítimas do terrorismo em diferentes partes do mundo. “São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza, como na Catedral Copta do Cairo [Egito]; quem viaja ou trabalha, como em Bruxelas [Bélgica]; quem passeia pelas ruas da cidade, como em Nice [França] e Berlim [Alemanha]; ou simplesmente quem festeja a chegada do ano novo, como em Istambul [Turquia].” Dirigindo-se a todas as autoridades religiosas, pediu que se mantenham unidas e ressaltem que nunca se pode matar em nome de Deus. O Papa afirmou que o terrorismo fundamentalista é resultado da miséria espiritual, muitas vezes associada à pobreza. Outro assunto abordado foi sobre a migração. “Penso de modo particular nos numerosos deslocados e refugiados em algumas áreas da África, no Sudeste Asiático e em todos aqueles que fogem das zonas

L’Osservatore Romano

de conflito no Oriente Médio.” Ele enfatizou que se deve passar por esse dilema de forma prudente e não se fechando aos migrantes. Olhando para o futuro, o Papa considera fundamental a defesa das crianças, protegendo-as de qualquer exploração ou abuso de adultos. “Penso nos adolescentes que sofrem as consequências do conflito atroz na Síria, privados das alegrias da infância e da juventude. Eles e todo o querido povo da Síria estão constantemente presentes no meu pensamento”, disse Francisco. Ao fim da audiência, o Santo Padre expressou solidariedade às vítimas de fenômenos naturais, como os terremotos que atingiram o Equador, a Itália e a Indonésia. E tendo declarado que “a paz é um dom, um desafio e um compromisso”, designando aos embaixadores a missão de “aumentar entre os nossos países e seus respectivos povos as ocasiões para trabalhar juntos e construir uma paz autêntica”.

Por fim, o Papa pediu que todos se solidarizassem com as pessoas em situação de rua, que passam frio com as temperaturas baixas. “Nestes dias de tanto frio [época de inverno no hemisfério Norte], penso e vos convido a pensar em todas as pessoas que vivem pelas ruas, atingidas pelo frio e, muitas vezes, pela indiferença.”

Batismo de 28 crianças No domingo, 8, o Papa Francisco presidiu missa na Capela Sistina, durante a qual batizou 28 crianças. “A Igreja dá a fé pelo Batismo aos seus filhos e vocês têm a missão de fazê-la crescer, custodiá-la para se tornar testemunho para todos os outros. Esse é o sentido de toda essa cerimônia”, disse, dirigindo-se aos pais. De modo descontraído, o Pontífice comentou sobre o choro das crianças. “Começou o concerto, hein?! Porque as crianças estão em um lugar que não conhecem, talvez tenham se levantado mais cedo do que o habitual. Aí uma começa, dá o tom, e as outras vão atrás. Muitas choram porque a outra chora. E gosto de recordar que Jesus também fez isso. A primeira oração de Jesus na estrebaria foi um choro”.

Encontro com o presidente palestino No sábado, 14, o Papa receberá o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para a inauguração da Embaixada da Palestina junto à Santa Sé. Essa será a quarta vez que o Pontífice e o presidente vão se encontrar no Vaticano. “Em breve irei ao Vaticano para encontrar o Papa Francisco. Em nosso encontro, analisaremos diversos temas de comum interesse, incluído o avanço da justiça e da paz na região, assim como o encorajamento do diálogo inter-religioso em vista de uma maior compreensão e respeito”, escreveu Mahmoud Abbas, em mensagem publicada no Natal. “Falaremos também do histórico acordo entre o Estado da Palestina e a Santa Sé, um exemplo para o resto da região sobre como reforçar a presença cristã e as suas instituições”, completou.


Edição 3133 |11 a 17 de janeiro de 2017

Especial – Histórias da Rua

As vozes das ruas serão ouvidas? Luciney Martins/O SÃO PAULO

A preocupação da Pastoral do Povo da Rua é que a operação “Cidade Linda” alimente a visão de que as pessoas em situação de rua também são o sujo e o feio da cidade. Em entrevista à reportagem, Soninha explicou que a operação da Prefeitura chama a atenção para o quanto a cidade está suja e abandonada e que a população em situação de rua é um exemplo desse abandono. “Tem gente largada. Largada! Como lixo, isso não é humano. Está havendo cada vez mais pessoas morando nas ruas, gente morando na calçada.” Padre Julio enfatizou que a realidade da população que vive nas ruas é muito complexa e, muitas vezes, as propostas são inconsistentes. Ele também alertou que neste momento de crise aguda vivida no Brasil, essa população tende a aumentar. “Por outro lado, não podemos desvincular a situação do povo da rua da lógica do sistema em que vivemos. Eles são o que o Papa Francisco chama de ‘descartáveis’”, disse.

Fernando Geronazzo

N

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a maior cidade do país, em meio a 12 milhões de habitantes, a população em situação de rua tem aumentado significativamente. De acordo com o Censo da População em Situação de Rua de 2015, feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads), da Prefeitura de São Paulo, há 15.905 pessoas em situação de rua na cidade. Porém, a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo questiona os números, bem como a metodologia do Censo, acreditando que esse número chegue a 20 mil. De todo modo, o prefeito João Doria Júnior assumiu o seu mandato com o desafio de buscar respostas para essa situação. Tal missão foi ressaltada pelo arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, ao saudar o novo chefe do Executivo paulistano na cerimônia de transmissão do cargo, no dia 1º. “Não esqueça os pobres da nossa periferia e também do centro da nossa metrópole de São Paulo”, disse o Arcebispo. Para desempenhar o trabalho nas questões relacionadas a essa população, Doria nomeou a vereadora eleita Soninha Francine (PPS) para assumir a Smads. Envolvida no trabalho com as pessoas em situação de rua, ela criou uma associação por meio da qual as acompanha em diversos pontos da cidade e, por isso, afirma conhecer bem essa realidade.

Olhar da Igreja

Desde 1993, a Arquidiocese de São Paulo possui o Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, que tem a missão de articular e animar ações eclesiais junto à essa realidade, como pastorais, movimentos eclesiais, novas comunidades e obras sociais. Uma das referências é a Casa de Oração do Povo da Rua, no bairro da Luz, que há mais de 20 anos é um espaço de vivência da fé, fraternidade e formação entre os irmãos de rua. A iniciativa mais recente é o projeto “Vida Nova”, lançado em novembro de 2016 como marco do Ano Santo extraordinário da Misericórdia na Arquidiocese. Consiste em um prédio de 11 andares no centro da capital, que será voltado para o atendimento de pessoas em situação de rua, e que estará sob os cuidados da Missão Belém. A previsão é que as atividades comecem em março deste ano e espera-se que sejam atendidas mais de 4 mil pessoas anualmente.

Ouvir a população de rua

Respostas diferenciadas

A Pastoral do Povo da Rua tem acompanhado as ações do poder público junto à população em situação de rua e afirma que mais do que espaços de acolhida, é preciso respostas diferenciadas para acolher essas pessoas. “Os grandes espaços de acolhida possuem o mesmo modelo da década de 1940. A única mudança que aconteceu é que hoje há tomadas para conectar carregador de celular”, disse ao O SÃO PAULO o Padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. Um caminho indicado pela Pastoral são os modelos de autogestão, como repúblicas para grupos naturais, espaços onde possam ficar casais e grupos familiares; e a locação social, que dá o direito de moradia sem ter o direito de propriedade. “Existem respostas que seriam muito mais viáveis, inclusive economicamente, do que aquelas que são dadas de maneira institucional”, enfatizou. Outro alerta que a Pastoral tem feito com frequência é em relação à abordagem ao povo da rua, muitas vezes realizada com truculência por parte de agentes da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar, retirando até os pertences das pessoas.

“O que nós pedimos à secretária Soninha é um plano de emergência cessando todo tipo de ação repressiva e de remoções. E que se busque dar respostas”, destacou Padre Julio, que chegou a levar Soninha para alguns locais, como debaixo do viaduto Bresser, no bairro da Mooca, na zona Leste, onde acontecem com frequência essas ações chamadas de “rapa”.

Cidade Linda

Logo no segundo dia de seu mandato, Doria iniciou a operação “Cidade Linda”, que tem o objetivo de revitalizar áreas degradadas da cidade. Na primeira ação da operação, na Praça 14 Bis, algumas pessoas que viviam nas calçadas do entorno foram colocadas provisoriamente em uma quadra de futebol localizada debaixo do viaduto 9 de Julho, que foi cercada com uma tela verde, ação interpretada pela Pastoral do Povo da Rua como uma forma de “esconder a população de rua”. Em nota, a Prefeitura esclareceu que os moradores em situação de rua foram colocados no local provisoriamente, até serem encaminhados para “vagas de acolhimento, moradia e emprego, o mais breve possível” e que a tela colocada teve o objetivo de protegê-los.

Como medida prática, a Pastoral do Povo da Rua sugeriu à secretária Soninha que participe ainda nesta semana de uma assembleia com a população em situação de rua. “Precisamos ouvi-los para saber o que nós temos que mudar. Sabemos muito o que queremos que eles mudem, mas sabemos pouco o que eles dizem que nós temos que mudar”, disse Padre Julio. Nesse sentido, nas páginas a seguir, O SÃO PAULO apresenta as histórias que ouviu de homens e mulheres, de diferentes idades, que vivem nas ruas, mostrando seus anseios, dramas, dificuldades e a busca por oportunidades e pelo simples reconhecimento de que são pessoas humanas. Abordadas nas ruas ou nas várias entidades que os acolhem, pôde se perceber que, embora as motivações que levaram as pessoas a viver em situação de rua sejam diversas, elas têm o sentimento comum de que estar em situação de rua não deve ser motivo para que sejam menosprezadas pelas outras pessoas. Muitas revelaram ter tido igual preconceito em relação à população de rua antes de caírem em igual condição. Chama a atenção, também, que, na maioria dos casos, essas pessoas tiveram algum problema com a família, e geralmente a ida para a rua foi a consequência final do rompimento total de diálogo com os familiares. Percebe-se, ainda, que as questões que levam alguém para a vida na rua vão além das condições financeiras. E, embora existam situações semelhantes e causas comuns para isso, cada história é única. (Colaborou Edcarlos Bispo)


2 – Histórias da Rua – Especial

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Luciney Martins/O SÃO PAULO

Quando olha para as estrelas, Severino vê sonhos e superações Daniel Gomes

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ilho, a única herança que a mãe deixa pra você é a fé.” Ainda hoje, Severino Vitorino da Silva, 49, se lembra das últimas palavras de sua mãe ao morrer em seus braços e da devoção que ela tinha por Maria Santíssima. Essas e outras recordações voltam com frequência à mente desse paulista nascido em São Bernardo do Campo (SP), muitas vezes durante à noite. “A minha rotina é dormir na rua vendo as estrelas no céu”, contou. Há cinco anos, Severino vive nas ruas de São Paulo - “algo que jamais imaginei para minha vida” - depois que se separou da esposa e deixou seus dois filhos. O casamento de 16 anos acabou, segundo ele, por conta de uma traição mútua. “A vontade foi de matar minha esposa, mas como a gente recebe uma herança, que é amar a Deus de todo o coração, optei por não tirar a vida dela. Se fizesse isso, também iria perder o amor dos meus filhos”, revelou ao O SÃO PAULO.

luta contra um vício incomum

Vivendo nas ruas, Severino poderia ser alvo fácil do álcool e das drogas, mas sempre teve uma razão especial para resistir: sete de seus dez irmãos morreram por conta da dependência química. “Eu sinto nojo de bebida, tive o exemplo negativo na família”, enfatizou.

Porém, “o ‘inimigo’ foi estudando meu ponto fraco”, disse Severino, que teve que lutar contra outro vício: a compulsão por prostitutas e pornografia. “Na rua, todo dinheiro que eu recebia fazendo ‘bicos’ eu pegava para pagar prostitutas. Vivi uma vida devassa”, disse, recordando ser esse um vício antigo. “Antes de casar, eu já vivia numa vida de prostituto. Um colega me levou a isso. Íamos ao cinema, tinha filmes pornográficos... Eu até pensei que depois do meu casamento iria parar com isso, mas foi o contrário, investi ainda mais em coisas de prostituição”, contou. Hoje, frequentador assíduo das atividades da Casa de Oração do Povo da Rua, mantida pela Arquidiocese de São Paulo no bairro da Luz, Severino garantiu à reportagem que o retomar à fé herdada de seus pais está fazendo com que enxergue um futuro diferente. “Não quero morrer com esse vício. O que vai me sustentar, me manter de pé, é a Eucaristia, a reza do Santo Rosário.”

Violência e indiferença

Dormir nas ruas não é uma opção de Severino. Muitas vezes, isso é uma imposição das circunstâncias. “Quando não tem vaga em albergues, aí eu acho uns papelões na rua e passo a noite no ‘hotel cinco estrelas’ [risos]. Olho as estrelas, mas peço sempre a proteção de Deus, porque a gente está vivendo num mundo muito violento. Um irmão nosso que veio aqui na Casa de Oração

contou que um dia encontrou a esposa dele gritando e quando foi ver tinham tacado álcool nela. Ela morreu queimada. Então, a gente não tem segurança. Sempre peço a Deus que ele me livre do homem sanguinário, do homem violento. Na rua é tudo muito desprotegido. Estando em albergue pelo menos é um pouco seguro. Sempre quando termina o dia de atividades aqui, eu volto pra rua procurando albergue, mas hoje está muito difícil aqui em São Paulo”, lamentou. Na opinião de Severino, as pessoas em situação de rua não são respeitadas como cidadãs. “Hoje em dia é muita humilhação. Eu, como cidadão, de uma forma ou de outra contribuo pra essa cidade. Além disso, no dia do voto, eu voto. Eu tenho orgulho de ser brasileiro, mas vejo que as autoridades não estão olhando com bons olhos pra nós, moradores de rua. Estão jogando a gente à margem da exclusão. É como se a gente fosse igual a animais. ‘Ah, morreu? Põe na estatística’. Infelizmente é assim. Gostaria que as autoridades fizessem algo concreto pra que realmente a gente pudesse ter um pouco de dignidade como ser humano”, desabafou.

‘Você é competente, mas...’

Severino conta que sofre incompreensão até dos próprios parentes. “Meus filhos, nas poucas vezes que voltamos a nos falar, já disseram: ‘Olhe, pai, eu quero ver você bem, mas porque, você

vive nessa situação de rua até hoje? Eles não me compreendem. Muitas vezes, eu choro devido a essa fraqueza, a essa miséria que sou. Mas acredito no meu potencial e que se Deus olhou pra mim, Ele também acredita”. Mesmo com tantas razões para desesperança, Severino quer reescrever a própria história. Como tantos outros em situação de rua, ele está à procura de emprego, mas a baixa escolaridade estudou até a 7ª série do ensino fundamental – e a falta de um endereço têm fechado as portas para esse homem que já trabalhou de lavador de carros, atuou em eventos e recentemente fez cursos de reciclagem e auxiliar de limpeza. Severino conta que no tempo em que esteve no Arsenal da Esperança, foi chamado para uma entrevista de emprego em uma empresa e sentiu-se menosprezado. “Quando eu cheguei na empresa, a moça da recepção disse: ‘Seu currículo está ótimo. Tenho certeza que eles vão pegar você, pois aqui está precisando mesmo. Agora você vai passar com o entrevistador’. Fiz a entrevista e o entrevistador falou: ‘Pra mim tá tudo ok. Você vai trabalhar. Mas, onde você mora?’ Ai eu mostrei que morava no Arsenal, expliquei que era como um albergue. Vi que a fisionomia dele mudou. Quando voltei na recepção, a moça disse: ‘Olhe, desculpe, não deu. Mas, a gente vai guardar sua ficha’. Naquele dia, senti que houve comigo uma discriminação, me senti constrangido”, recordou.


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Especial – Histórias da Rua – 3 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Uma canção de esperança Fernando Geronazzo

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s vozes que entoam os cânticos na missa semanal do Arsenal da Esperança, no bairro da Mooca, na zona Leste de São Paulo, possuem diferentes timbres marcados por histórias de sofrimentos, superação e sonhos de uma vida nova. Uma dessas vozes é a de Luiz Fabiano da Cruz Costa, 35, que encontrou na música, paixão de sua vida, uma nova oportunidade para sair das ruas, onde vivia há sete anos. Nascido em São Vicente (SP), Luiz Fabiano teve uma infância conturbada. Após a morte de seu irmão gêmeo, aos 9 meses de vida, sua mãe desenvolveu problemas psiquiátricos, chegando a ter internações por alguns períodos. Já naquela época, a música e a arte foram os caminhos para enfrentar as dificuldades vividas em casa. “Eu canto desde os 8 anos. A música era uma forma de fugir dessa situação”, relatou, recordando-se de momentos de surtos de sua mãe, diagnosticada com esquizofrenia. Já no Guarujá, também no litoral paulista, Luiz Fabiano desenvolveu o dom para a arte em um grupo de dança, chegando a participar de competições e apresentações na televisão. O ápice de sua carreira foi em sua própria companhia de hip-hop. “Se você pesquisar no YouTube por ‘New Black Soul’, você encontrará vários vídeos de apresentações da companhia, inclusive em festivais internacionais”, disse ao O SÃO PAULO.

As drogas

Seu desenvolvimento na carreira o distanciou mais ainda da família e o aproximou de alguns perigos, como as drogas, que conheceu aos 21 anos. “Comecei com o vício do álcool, nas baladas e festas. Depois o cigarro. E quando me mudei para São Paulo, tive acesso às drogas pesadas, como cocaína e crack”. A dependência química foi um subterfúgio para Luiz Fabiano lidar com as frustrações que vivia no seu ramo de atuação. “O mundo da arte tem muitas ilusões. É preciso ser centrado, se não nos perdemos”, contou, referindo-se a oportunidades que teve, mas que não soube aproveitar. Dentre as desilusões, ele destacou um contrato para dançar com uma cantora famosa, mas que não foi renovado pelo fato de ele não ter o registro profissional (DRT) de dançarino. “Foi uma grande decepção”, relatou. Outro fato que o decepcionou foi sua participação no programa “Popstars”, do SBT, quando ficou entre os dez mais bem colocados, mas foi desclassificado. Luiz Fabiano perdeu o foco e cada vez mais se viu imerso nas drogas, e desperdiçou mais oportunidades a

ponto de literalmente viver na rua. “Nesse período, me internei duas vezes em clínicas de recuperação em São Paulo e no Rio de Janeiro. Conheci a Cracolândia, os limites da miséria... Já vi pessoas morrerem por causa das drogas na rua... Vi violência, situações absurdas de miséria humana. Nós ficamos mais duros, desconfiados dos outros. É uma verdadeira paranoia... Tudo isso nos aflige, mas, ao mesmo tempo, nos motiva a mudar de vida, a melhorar”, afirmou.

Recomeço

Foi no Arsenal da Esperança que ele encontrou uma oportunidade de recomeço ao conhecer o Coral da Esperança, uma das iniciativas da entidade, mantida pela Fraternidade da Esperança. “Eu praticamente tinha desistido de mim. A música veio como um amparo e um sinal de esperança para continuar lutando para sobreviver. A oportunidade no Arsenal foi como se eu tivesse voltado a fazer aquilo que eu sempre quis fazer e não conseguia: cantar.” Acolhido desde fevereiro de 2016, Luiz Fabiano começou a recuperar a autoestima e a encontrar sentido para definitivamente deixar as ruas e as drogas. “Eu ainda não estou totalmente recuperado, mas eu sei que estou no caminho certo para a recuperação. É como se eu tivesse uma nova chance e, inclusive, uma nova família. Cantar era um sonho que eu achava que não iria mais acontecer”, afirmou. Em maio, incentivado por uma assistente social do Arsenal, Luiz Fabiano gravou um vídeo teste para a seleção da última temporada do programa “The Voice Brasil”, da Rede Globo, que revela novos nomes da música no país. Cinco dias depois do envio do teste, ele recebeu um telefonema da produção do programa chamando-o para um teste presencial. “Concorri a uma vaga no programa com duas garotas e uma delas foi chamada, mas a produção me incentivou a tentar novamente no ano que vem. Para mim, já foi uma vitória”, contou, feliz. “Esse teste foi um fôlego esperança. Eu não entrei no programa, mas pense, eu tinha acabado de sair da rua. Fazia anos que eu não participava de um concurso”, completou.

Planos

“Eu não estou buscando a fama, mas se tem algo que eu sei que devo fazer é cantar”, enfatizou Luiz Fabiano. “Quase ninguém vê algo bom em nós. Somos pessoas que a sociedade não quer ver, às vezes fingem que não existimos ou querem nos esconder”, revelou. Seu plano imediato é conseguir um emprego formal para “começar a andar sozinho” e continuar cantando. “E, mesmo que eu não esteja mais morando aqui no Arsenal, eu quero continuar

cantando, pois brotou um amor pelo que fazemos aqui”, garantiu. Embora tenha voltado a ter contato com sua mãe e familiares, Luiz Fabiano não pretende voltar para o litoral paulista. Quer tocar sua nova vida em São Paulo, onde acredita ter mais oportunidades. “Tudo que eu passei, de alguma forma, me ajudou a chegar no ser huma-

no que sou hoje, mais centrado, consciente. A rua também me amadureceu muito. Eu vivia em um mundo no qual sempre me achei um coitado, porque tudo dava errado na minha vida. Mas, conheci outras realidades e pessoas que eu acredito que foram colocadas por Deus em minha vida para mostrar que eu não posso desistir de mim”, concluiu o cantor.


4 – Histórias da Rua – Especial

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Os muitos caminhos de Maria Luíza na cultura do descartável Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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s mãos de Maria Luíza Candido Ribeiro já tocaram muitas realidades: a das drogas, a da prostituição e a das celas das prisões. Hoje, as mãos dessa mulher de 35 anos de idade estão calejadas pela rotina diária como catadora de materiais recicláveis pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. “Trago tudo no braço, meus dedos até estão machucados e também machuquei o braço esses dias, porque coloquei a mão na lixeira pra pegar latinha”, contou ao O SÃO PAULO, recordando que seu trabalho era um pouco mais fácil quando tinha a própria carroça para carregar as coisas. “Eu pegava papelão e tudo mais. Como eu mesma puxava, eu ganhava mais, pois pegava muito plástico, latinha, garrafa Pet. Agora, eu só posso pegar plástico e latinha”, detalhou. Nas ruas, Maria Luíza perdeu não só a carroça. Dela também foi roubada a dignidade e a felicidade, especialmente quando o pai de sua filha Beatriz fugiu com a criança e nunca mais deu notícias. “Tive esse companheiro e fui presa com ele. Fiquei quatro anos presa, de 2004 a 2008, e nesse tempo o pai da minha filha fugiu com ela e até hoje não sei onde estão”, afirma, dizendo que, apesar da vontade de rever a garota, tem medo de reencontrá-la. “O que será que se passa na cabeça dela? Eu não sei nem como é o seu cabelo, o rosto, porque ela era muito pequenininha. Nem sei onde ela está, mas se soubesse já tinha ido atrás da minha filha”, garantiu. Nascida no bairro da Mooca, Maria Luíza ficou grávida ainda na adolescência, quando morava com a mãe e o pai. Ela conta que na época “era meio revoltadinha”. Após o nascimento da filha, por influência de “amigos”, começou a usar drogas e a intensificação do vício fez com que se prostituísse para conseguir sempre mais dinheiro. Em 2002, um ano após a morte da mãe – o pai morreria em 2004 –, Maria Luíza saiu de casa. “Como eu trabalhava fazendo programa, eu pagava meu quartinho ou flat, mas fui piorando no vício: da cocaína, fui indo, indo, e acabei no crack. Daí só restou a vida nas ruas”, recordou.

A difícil trilha da recuperação

Maria Luíza está em tratamento para deixar o vício definitivamente. “Eu já reduzi muito o uso, mas ainda preciso caminhar muitos degrauzinhos. Eu brigo contra a droga. É uma batalha. Primeiro, para parar mesmo, não só reduzir, porque estou reduzindo danos, diminuindo o uso aos poucos, mas às vezes tenho recaídas.” Ela detalhou o quanto é difícil esse enfrentamento. “Eu sou hiperativa.

Quando deixo de usar a droga dá até dor de estômago, porque atinge o físico. Já no mental, às vezes eu sonho, sinto a droga. É complicado, difícil até de explicar”. Maria Luíza faz tratamento no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), mantido pelo Governo do Estado de São Paulo, mas, ao sair das sessões de terapia, volta para a realidade das ruas, quase sempre dormindo em um barraco improvisado “pois albergue pra mulher é mais difícil. Eu já tentei várias vezes” –, onde vive com um companheiro. “Ele não quer se tratar. Então, deixa ele. Se quer a droga, tá bom. Se não, dá muito atrito, dá briga. Já tentei convencer, conversar com ele, mas agora já desisti. Quando ele achar que quer, ele irá, pois sabe o caminho.”

Uma sociedade que descarta

Maria Luíza fala com orgulho do trabalho que realiza. “Eu vou, abro o lixo, fecho o lixo, pego minhas latinhas e meus plásticos.” No entanto, ela sabe que muitas pessoas a veem com menosprezo. “Quando pego a reciclagem, os outros me olham já pensando ‘aí que nojo, pegar lixo’. Dá pra ver no olhar, não precisa a pessoa nem abrir a boca. Fora aquelas piadinhas que a gente ouve, às vezes, ‘olha lá aquela noia; lá vem os craquero’. É tipo isso. Não são todas as pessoas, mas a maioria. Muitos falam que não têm preconceito, mas têm. Isso me dói. Já chorei muito”, desabafou. Maria Luíza persiste e do trabalho com reciclagem ganha o dinheiro para a compra de alimentos, embora muitas vezes os consiga de graça. “Ali no mercadão, você pega a comida que eles jogam fora, como pedaço de carne, peixe. É muita comida desperdiçada, às vezes é porque faltam dois dias para acabar a validade, ou porque uma fruta está ‘machucada’ e não serve pra vender”, detalhou. No lixo, ela também já encontrou muitas coisas em bom estado. “Você acha de tudo. Roupa tem um monte, roupa cara! Já achei até iPhone e outros tipos de celular, pois sai um modelo mais novo, em vez de a pessoa doar em alguma instituição, ela prefere jogar no lixo, não doa pra outra pessoa. Eu acho estranho isso, mas é assim.” Para Maria Luíza conviver diariamente com a indiferença alheia na sociedade da “cultura do descartável”, como alerta constantemente o Papa Francisco, tem sido um aprendizado. “Quando eu não estava na rua e tinha um patamar a mais, eu também pensava mais ou menos assim. E veja como estou hoje em dia”, reflete, desejando que todos reciclem ou jamais joguem no lixo um saber universal: “Espero que as pessoas se conscientizem de que todos nós somos iguais”.


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Especial – Histórias da Rua – 5 Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em meio à dinâmica da grande metrópole, as pessoas em situação de rua são, muitas vezes, tratadas com indiferença pelas demais e têm suas histórias de vida pouco conhecidas

Na rua, mas não sempre Nayá Fernandes

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mala vermelha surrada, cuidadosamente amarrada, chamava atenção para o carrinho cheio de papelões que quase escondia, encurvado, o homem que o puxava. Estava descendo a rua Albuquerque Lins rumo ao Minhocão, no bairro de Santa Cecília. Com uma camiseta branca e algumas tatuagens pelo corpo, Welington parecia sério e hesitou em falar alguma coisa no momento em que foi abordado. Com os olhos vermelhos e as unhas amareladas, respondeu negativamente à pergunta sobre a sua situação como alguém que vive nas ruas e a possibilidade de uma entrevista para o jornal. Mas, logo em seguida, começou a falar que, se não tivesse a foto ou o sobrenome divulgados, poderia contar sua história. “Tenho medo de que venham atrás de mim”, continuou o homem, que tem 38 anos. Ele veio do interior de São Paulo, de onde fugiu por medo de ser assassina-

do. “Comecei a usar crack aos 20 anos, quando abandonei tudo: casa, escola, trabalho. Desde então, minha vida era a rua, o crime, o medo. E, para conseguir comprar e usar, eu vendia também. Chegou um momento em que era impossível sustentar aquela vida, os ‘cara’ me perseguindo, a mãe que não me suportava mais em casa, as pessoas que me conheciam antes e que viravam a cara para mim, quando eu cruzava com elas na rua”, contou, enquanto atravessava a via do Minhocão. “Mas nunca morei na rua”, interrompeu Welington, antes mesmo de ser perguntado. Diferentemente da maioria das pessoas que se tornam dependentes químicos e, mesmo após muitas brigas familiares, ele nunca chegou a ficar mais do que uma semana sem um teto para dormir. “Minha mãe sempre me acolhia e aqui em São Paulo vivo com minha irmã num quartinho. Ela tem muita paciência e está tentando me ajudar. Trabalho todos os dias catando papelão e com isso ajudo a pagar as contas”, disse. A situação de Welington é a mesma de milhares de pessoas que têm um

lugar para ficar, mas, durante o dia ou mesmo vários dias, são vistos perambulando pelas ruas. Ele leva seu carrinho. Outras se tornam pedintes e há ainda aquelas que parecem ter sido esquecidas ali, quase como guardiãs do tempo.

À espera

Maria Aparecida parece estar sempre esperando alguém. Sentada no banco que fica em frente ao metrô Parada Inglesa, na zona Norte de São Paulo, ela passa horas e horas ali. Com os cabelos grisalhos, um vestido florido e uma bolsa branca, está sempre sozinha, olhando quem passa. Não foi fácil falar com ela. Parecia não ouvir ou não entender as perguntas. Apenas acenava com a cabeça e levantava as sobrancelhas para tentar expressar algo com o olhar. Aos poucos, foi possível descobrir que morava com a família e que tomava o mesmo ônibus todos os dias para chegar. Nos dias de chuva ou muito frio, porém, ela não é vista naquele lugar e, ao ser perguntada sobre o porquê, explicou que sua filha a impedia, às vezes, de sair de casa. Maria Aparecida não pede esmolas e, em

alguns momentos, levanta-se e anda pela pequena praça onde está também o ponto de ônibus. Chegadas e partidas intermináveis, durante todo o dia. Pessoas que sobem e descem a rampa de acesso ao metrô continuadamente. A rua talvez seja para ela, assim como é para a maioria das pessoas, um lugar de passagem. É como uma metáfora da vida, afinal, o transitório faz parte do ser humano. E assim, como muitos que vivem na rua desejam sair da situação em que se encontram, também há quem tenha um teto para dormir, mas escolhe a rua, fugindo de um lugar que incomoda. E esse lugar pode ser físico ou não. Mas, por que é necessário pensar sobre isso tudo? Dificilmente será possível conhecer todos os motivos que levam alguém para a rua. Porém, quem passa e vê, sempre no mesmo lugar, alguém que parece esperar, pode experimentar a oportunidade de modificar o olhar a respeito das pessoas que estão pelas ruas e calçadas. E talvez seja também o momento de refletir sobre a própria existência, o exercício de eternamente ir.


6 – Histórias da Rua – Especial

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Bruno e Dandara querem trilhar novos caminhos Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

A

Casa de Oração do Povo da Rua, no bairro da Luz, acolhe diariamente pessoas em situação de rua, que lá participam de atividades diversas, oferecidas pelos voluntários desse espaço mantido pela Arquidiocese de São Paulo. Esse é o caso de Dandara Lowatcheck, 22, que está em situação de rua desde os 13 anos de idade. “Aqui recebi um olhar diferente para ter bastante força para seguir em frente e não desandar de vez na droga. Graças a Deus, há mais de dois anos que eu parei com isso. Hoje faço atividades na Pinacoteca e aqui aulas de canto, de francês e estudo da Bíblia”, disse a jovem ao O SÃO PAULO, revelando que pretende iniciar um curso superior em breve. “Tenho a meta de cursar RH [Gestão de Recursos Humanos] para quem sabe virar assistente social e trabalhar

com o povo da rua. Vou ingressar no cursinho da Uneafro [União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora] para terminar meus estudos, pois estudei até o 2º ano do ensino médio”, detalhou. Também animado com o futuro universitário está Bruno Braga Cordeiro, 21, que vive em situação de rua há nove meses. Ele tem experiência em programação de computadores e quer se capacitar ainda mais. “Vou fazer o cursinho da Uneafro, conseguir uma faculdade e seguir na área de TI [Tecnologia da Informação], que é o que eu conheço, e o que sei mexer, é disso que eu gosto. Então, a tendência agora é só melhorar, sem regredir, só progredir”, disse, confiante.

Mudança forçada de planos

Foi em busca de progredir na vida que Bruno chegou a São Paulo no ano passado. Nascido em Minas Gerais e criado em Luciney Martins/O SÃO PAULO

Brasília (DF), ele afirma que estava com dinheiro suficiente para viver por seis meses na capital paulista, mas foi surpreendido. “Não seria difícil me manter aqui, mas logo fui assaltado e perdi grande parte das minhas coisas. Até tenho parentes que moram aqui, mas por vergonha não tive coragem de falar com eles.” Nas ruas, Bruno passou por muitas situações de tensão, como no dia em que se viu no meio de uma briga generalizada na Praça da Sé. “Era pancada de um lado para outro, e um cara até me queimou com um cigarro. Pensei: ‘Vou brigar até aguentar e quando achar uma brecha eu saio fora’. E foi isso daí. Sou muito na minha, muito calmo, mas pelos fatos das amizades que você acaba tendo que fazer, porque na rua querendo ou não você faz esses tipos de amizade, ai vai no embalo, e eu fui no embalo. Graças a Deus não aconteceu nada de pior”, recordou. Dandara, por sua vez, conta que saiu de casa na adolescência após se desentender com a família. “Desandei na vida, me enfiei nas drogas. Rodei mais da metade do Brasil naquele tempo de ‘vida louca’”, disse, lembrando-se, ainda, que esteve em outros países da América do Sul. Anos depois, ela até tentou reaproximação com a família, mas afirma que o ambiente familiar, com conflitos diários por questão de dinheiro, não favoreceu sua permanência e por isso veio para a cidade de São Paulo. Ela recordou que nas ruas chegou a apanhar de quatro jovens no Parque da Juventude - “a briga foi feia. Eles vieram com pau e ferro pra cima de mim. Por sorte, não ‘pegou nada’” -, mas que acima dos conflitos guarda os aprendizados dessa condição de vida. “Antes, olhava a vida do povo de rua como quase todo mundo olha, com aquele olhar ruim. Depois que eu vim passar pela situação de rua, comecei a entender o sofrimento que o povo passa, e que não é bem assim como muitos pensam e a mídia fala, que não é só porque está em situação de rua que é bandido ou usuário de droga. Ninguém para pra conversar com o morador de rua, pra saber a dificuldade que passa, ou do que ele precisa. Eu aprendi bastante a entender o povo de rua”, comentou. Por isso, Dandara deseja que as pessoas tenham um olhar mais humano com a população em situação de rua. “Se pararem para observar mesmo, irão ver que tem muita coisa que bate com a vida de todo mundo.” Do mesmo modo pensa Bruno, que espera que as pessoas consigam enxergar as outras “com espírito e com a alma, senão a tendência do mundo é só piorar. Esse outro olhar não deve ser só com a população que está na rua, mas com todos que estão nas classes mais baixas, que fazem realmente a engrenagem do mundo funcionar”, finalizou.

Luciney Martins/O SÃO PAULO


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Especial – Histórias da Rua – 7

A oportunidade de reciclar e recomeçar Luciney Martins/O SÃO PAULO

Edcarlos Bispo

edbsant@gmail.com

A droga destruiu a vida de Severino. Casado, pai de três filhos e avô de três netas, Severino Pereira da Silva, 52, perdeu tudo isso em 2003, quando sua esposa, cansada dos problemas causados pelo vício do marido, o colocou para fora de casa. Ao contar sua história, Severino recorda que as drogas entraram na sua vida na juventude como, ainda hoje, entram na vida de muitos jovens. Com ele foi nas brincadeiras de desafios entre amigos. “Ah! Você não tem coragem de usar.” Infelizmente, Severino teve. Começou na maconha, foi para a cocaína e acabou no crack. Após a separação, em 2003, Severino permaneceu empregado até 2009 e conseguia pagar suas contas, alugar uma casa, enfim, se manter. Ao perder o emprego, afundou-se ainda mais no vício, foi para a rua e passou a morar em albergues. Daí em diante, Severino nunca mais parou em qualquer emprego. O pouco que conseguia ganhar, com trabalhos esporádicos, gastava com drogas. Em 2015, porém, as coisas passaram a mudar. Severino teve contato com os integrantes do Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem (Recifran), fez os cursos oferecidos e foi trabalhar em uma das cooperativas. Com isso, decidiu parar com as drogas. “Faço tratamento no CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] desde 2009. Eu só usava o crack, não bebo, não cheiro e não fumo maconha. Estou há nove meses limpo. Parecia uma coisa do diabo, ganhava o dinheiro de ‘bicos’ que fazia e ia usar drogas.” Atualmente, Severino aguarda a liberação de um espaço para montar, com o apoio do Recifran, sua própria cooperativa de coleta de materiais recicláveis e, assim, junto com mais quatro

colegas que terminaram o curso, prosseguir com sua vida longe das drogas. Enquanto as coisas com a cooperativa não caminham, Severino afirma que segue procurando emprego de pizzaiolo, atividade que desenvolvia antes de perder a família e virar um morador de rua. “É muito complicado. Você não tem hora para dormir, não tem hora para comer e tem que correr atrás de lugares para comer, com isso se esquece dos

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seus objetivos. Às vezes, você prefere encontrar um lugar para comer do que ir procurar emprego. Porque você não tem dinheiro, não tem uma roupa limpa, aí você vai procurar um almoço e o dia passa e não dá tempo de fazer mais nada”, contou. Para ele, a rua dá medo. “Na rua, você encontra todo tipo de pessoa, boas e ruins, na verdade mais ruins do que boas”, afirmou. “A rua parece uma sel-

va e quem fala mais alto ganha. Existe muita gente perigosa”, concluiu.

Família

Hoje, em melhores condições, Severino tenta dar a volta por cima e reconstruir a relação com seus filhos, netos e demais familiares, com quem se encontra periodicamente. “Se tivesse oportunidade de retomar o convívio familiar, eu faria tudo diferente.”


8 – Histórias da Rua – Especial

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Renan aprendeu a falar para sobreviver nas ruas Luciney Martins/O SÃO PAULO

Edcarlos Bispo

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omo entrevistar alguém que é surdo? Essa foi a primeira pergunta que me fiz. A mão suou frio e não tinha a menor ideia de como me comportar e proceder. A falta de contato cotidiano com as pessoas com deficiência nos deixa completamente despreparados para essas ocasiões. Renan Alves da Silva Monteiro, 29, é surdo de nascença, por isso tem dificuldades para falar. Até os 19 anos, não falava nada, apenas lia lábios, mas a necessidade de sobreviver o fez desenvolver a fala aos poucos, sem a ajuda de ninguém. Mora na rua desde a juventude, quando, após a morte dos avós, foi posto para fora de casa pelos tios. O jovem não foi criado pelos pais. Sua mãe tem problemas de alcoolismo e quando a encontrou, já mais velho, o atual marido dela não o aceitou em casa. Renan, que tem mais sete irmãos, também não se sentia à vontade para morar com eles. Não fazia parte daquele núcleo familiar. Preferiu, como ele diz, se virar e viver na rua. “Comecei a me cuidar no centro de São Paulo, na Praça da Sé, me misturei com as pessoas de rua para aprender a viver naquele ambiente”, afirma. Renan conversou conosco no Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), no famoso Chá do Padre, um espaço que atende pessoas em situação de rua e fornece almoço e chá da tarde, além de diversas oficinas. Atualmente, com melhor desenvolvimento da fala e a experiência de viver na rua há dez anos, Renan já consegue procurar emprego e tenta resolver questões ligadas à seguridade social, além de completar os estudos.

“Eu já trabalhei. Quando eu trabalho, arrumo um lugar para ficar, mas conseguir trabalho é bem difícil, porque como tenho deficiência não é todo lugar que aceita minha profissão.” Renan conta que é cozinheiro e que

permaneceu no último trabalho por bastante tempo, mas que, em um determinado momento, a empresa não aceitou mais a sua deficiência e o mandou embora. “Tenho sonhos de trabalhar e ter uma casa. Eu já trabalhei em um

shopping na avenida Paulista, mas no local não ficam com a pessoa por muito tempo por causa da deficiência e da falta de estudo”, afirma. A vontade que sente de trabalhar é tão grande que em determinada ocasião, contou ele, estava na biblioteca Monteiro Lobato, na região central da cidade, lugar que gosta de frequentar e passar algumas horas lendo livros, e viu que o jardim precisava de cuidados. Renan se ofereceu para trabalhar e passou alguns dias ajudando no cuidado com o jardim e aprendendo a profissão. Por conta de sua surdez, Renan já encontrou problemas com as outras pessoas que moram na rua. Em determinada ocasião, foi chamado por alguém e, por não ouvir, não respondeu, fato que irritou a outra pessoa, que o acabou agredindo. Ele já teve suas coisas roubadas e até por esse motivo seus documentos ficam guardados em um local de assistência social, no centro da cidade. Ao mesmo tempo, a rua foi um lugar de aprendizados e descobertas para ele. Além de aprender a falar, Renan conta que foi na rua que teve que amadurecer, ter mais responsabilidades e se virar por conta própria. A conversa com Renan foi dias antes do Natal, data em que ele se recorda com carinho dos avós. Apesar da tristeza, o jovem afirma que vale a pena continuar lutando. “Mãe, eu não vou desistir da vida e continuo correndo atrás”, contou ele sobre uma conversa que teve com a mãe. Sobre as perspectivas para o ano que se inicia, Renan afirma que é difícil falar de futuro, mas não perde a esperança. Em 2017, ele deseja arrumar um emprego e conseguir terminar seus estudos.


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Daniel Gomes e Vitor Alves Loscalzo osaopaulo@uol.com.br

Seca no Nordeste: A maior dos últimos 100 anos A seca enfrentada pela população da Região Nordeste do Brasil é a mais rigorosa dos últimos cem anos, pondo em risco a vida das pessoas e também de ovinos, caprinos e bovinos, estes últimos menos resistentes à seca. Há 11 meses sem chuvas, uma das áreas mais prejudicadas é o sertão de Petrolina, quinta maior cidade de Pernambuco. Sertanejos do semiárido revelam o receio de que a chuva venha forte e “sangre” os açudes, mas dure pouco, a exemplo do ocorrido em janeiro do ano passado. Já são cinco anos seguidos em que os volumes de chuva estão abaixo da média histórica, configurando no semiárido, que abrange Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o norte de Minas Gerais, a pior seca do século. A situação mais crítica está no Estado do Ceará, em que os reservatórios têm apenas 7% da capacidade armazenada.

Reprodução da internet

Entre 2012 e 2015, prejuízos na Região Nordeste chegam a R$ 104 bilhões por conta da seca

Com muitos de seus rios e açudes secos, moradores – inclusive de cidades grandes – só têm acesso à água fornecida por caminhões-pipa, bancados pelos governos federal e estadual. Em função das secas, prejuízos de R$

104 bilhões foram registrados no Nordeste entre 2012 e 2015. O valor equivale a quase 70% das perdas relativas a esse fenômeno em todo o Brasil, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Fonte: Jornal O Estado de S.Paulo

Diocese de Jundiaí festeja jubileu de ouro Aproximadamente 9 mil pessoas lotaram o Ginásio de Esportes Dr. Nocolino de Lucca, em Jundiaí (SP), no domingo, 8, para celebrar os 50 anos de criação da Diocese de Jundiaí, em missa festiva presidida por Dom Vicente Costa, bispo diocesano, e concelebrada por bispos de várias dioceses do país, entre os quais o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo. Durante a celebração, Dom Vicente fez o envio de 15 mil missionários das Santas Missões Populares, representados por paróquias, para as Semanas Missionárias. “Que não seja apenas uma

semana, mas que sejamos missionários convictos sempre. A missão é a carteira de identidade do cristão. Não se esqueçam!”, disse o Bispo. Criada em 7 de novembro de 1966, pela Bula Quantum Conferat, do Papa Paulo VI, a Diocese de Jundiaí foi instalada canonicamente em 6 de janeiro de 1967, com a posse, naquele dia, de seu primeiro bispo, Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, OCarm. Desde o jubileu de prata, em 1992, foi reconhecida pela Santa Sé como padroeira diocesana, Nossa Senhora do Desterro, que é também patrona da cidade de Jundiaí desde

Para assinar O SÃO PAULO: Escolha uma das opções e a forma de pagamento. Envie esse cupom para: FUNDAÇÃO METROPOLITANA PAULISTA, Avenida Higienópolis, 890 São Paulo - SP - CEP 01238-000 - Tel: (011) 3666-9660/3660-3724 osaopaulo@uol.com.br

1615. O território da Diocese foi praticamente todo desmembrado da Arquidiocese de São Paulo, com exceção de Louveira (SP), que pertencia à Arquidiocese de Campinas (SP). Atualmente, a Diocese é composta por 66 paróquias e uma área pastoral, abrangendo 11 cidades - Jundiaí, Cabreúva, Cajamar, Campo Limpo Paulista, Itu, Itupeva, Louveira, Pirapora do Bom Jesus, Salto, Santana de Parnaíba e Várzea Paulista -, onde vivem mais de 1,1 milhão de habitantes, dos quais 66% professam a fé católica. Fonte: Diocese de Jundiaí

SEMESTRAL: R$ 45 ANUAL: R$ 78 exterior ANUAL: 220 U$ FORMA DE PAGAMENTO: COBRANÇA BANCÁRIA

NOME___________________________________________________________ _________________________________________________________________ DATA DE NASC. ___/___/____CPF/CNPJ _________________________________ ENDEREÇO ___________________________________________________________ __________________________________________________________ nº __________ COMPLEMENTO ______________________ BAIRRO ___________________________

CIDADE____________________________________ ESTADO ______ E-MAIL: ________________________________________________ TEL: (__________) ______________________________________ DATA ____/___/____

CEP ____________ - ___________

| Pelo Brasil | 9

Destaques das Agências Nacionais

Papa Francisco, CNBB e ONU lamentam caos nas prisões do país

Nos oito primeiros dias de 2017, 102 pessoas morreram nas prisões brasileiras, entre as quais 66 no motim desencadeado no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus (AM), no dia 1º, e 31 em outra briga entre presos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), na sexta-feira, 6. As rebeliões despertaram a atenção da opinião pública sobre as precárias condições das prisões brasileiras. Em nota, no dia 4, a presidência da CNBB manifestou repúdio e indignação pelo ocorrido na capital amazonense, pedindo às autoridades competentes “a rigorosa apuração dessa tragédia, na sua complexidade conjuntural e estrutural, e, acima de tudo, a busca de um sistema penitenciário mais justo, digno e humano”. Na nota, a CNBB também recordou que “a Pastoral Carcerária acompanha as unidades prisionais em todo o país e tem, reiteradas vezes, chamado a atenção para os graves problemas do sistema penitenciário: a superlotação e a falta de estrutura das unidades prisionais, a privatização dos presídios, a necessária reeducação e reinserção social dos presos. Nos últimos anos, a Pastoral Carcerária tem insistido na elaboração e execução de políticas públicas que contemplem o revigoramento das defensorias públicas, ouvidorias e corregedorias autônomas, bem como o controle externo das políticas penitenciárias no país”. As recentes mortes nas prisões brasileiras também foram alvo de atenção internacional. No dia 6, Amerigo Incalcaterra, representante para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos manifestou, em nota, que “a ausência de implementação de uma política penal e carcerária de acordo com as normas internacionais de direitos humanos no Brasil tem sido apontada de forma reiterada pelos órgãos das Nações Unidas, o que leva a uma crescente crise do sistema penitenciário no país. Essa crise é evidenciada por episódios de massacres, como recentemente aconteceu no Complexo Anísio Jobim, em Manaus, e em Roraima”. Também o Papa Francisco, em audiência geral no Vaticano, no dia 4, ao comentar sobre o massacre em Manaus, desejou “que as prisões sejam lugares de reeducação e reinserção social, e que as condições de vida dos reclusos sejam dignas de pessoas humanas. Convido todos a rezar pelos detentos mortos e vivos, e também por todos os encarcerados do mundo, para que as prisões sejam para reinserir e não sejam superlotadas, para que sejam lugares de reinserção”. Fontes: CNBB, ONU Brasil e Rádio Vaticano


10 | Fé e Cultura |

11 a 17 de janeiro de 2017 | www.arquisp.org.br

Filipe David

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Dica de Leitura

Não com um estrondo, mas com um gemido Em “Não com um estrondo, mas com um gemido”, Theodore Dalrymple dá a medida do declínio cultural e da triste decadência da Grã-Bretanha – com sua burocracia, mentalidade de bem-estar opressiva, juventude sem rumo e a perseguição em nome da democracia e da liberdade. O autor mostra como o terrorismo e o número crescente de minorias muçulmanas mudaram a vida pública na Inglaterra. Registra, também, suas observações incisivas de artistas e ideólogos e, como médico psiquiatra, discorre sobre o tratamento de criminosos e dos mentalmente perturbados, área de seu interesse. Ficha técnica: Autor: Theodore Dalrymple Páginas: 256 Editora: É Realizações

Divulgação

Para Refletir O novo nacionalismo

“Embora o conservadorismo tradicional esteja do lado vencedor em diversas eleições recentes, ele tem tido um papel menor num projeto mais amplo: o renascimento do nacionalismo. O nacionalismo é um fenômeno complicado que toma diferentes formas. Uma boa definição é a seguinte: um programa político que une um povo com uma origem ou cultura comum, juntamente com um Estado soberano. O nacionalismo rejeita as tentativas de subordinar o Estado à governança exterior. Frequentemente, ele busca proteger tradições locais de serem diluídas em uma cultura global agressiva. Em seu estado atual, ele coloca o Estado-nação contra regimes supranacionais, como a União Europeia ou o Tratado de Livre Comércio Norte-Americano, bem como costumes e tradições locais, incluindo tradições religiosas, contra tendências estranhas vindas de fora. O nacionalismo pode ser uma força maligna ou benéfica. Especialmente quando ele esteve ligado a reivindicações étnicas, produziu coisas terríveis. Por outro lado, teve um papel central na resistência e na derrota do fascismo e do comunismo no século XX. Um nacionalismo cultural como os Estados Unidos tiveram durante boa parte de sua história, que acolhe imigrantes de todo o mundo desde que eles se assimilem às tradições locais, pode fazer muito para promover a paz social e a tolerância.” (Mark L. Movsesian) (O artigo inteiro pode ser lido no site libertylawsite.org).

“De esperança em esperança!”

O Cardeal Odilo Pedro Scherer convida para:

Missa pelo 30º dia de falecimento de

Ato inter-religioso em memória de

Dom Paulo Evaristo Arns

Sábado, 14 de janeiro, às 12h, na Catedral da Sé

Dom Paulo Evaristo Arns 22/01/2017 -15h Catedral Metropolitana de São Paulo

Com a presença de líderes religiosos, salmistas, testemunhos e preces.

“O diálogo ecumênico e inter-religioso é indispensável e fundamental para a humanidade” Arquidiocese de São Paulo

(Dom Paulo)


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Peterson Prates

Colaborador de comunicação da Região

| Regiões Episcopais | 11

Belém

Escola de Fé e Política abre inscrições para turma de 2017 A Escola de Fé e Política Waldemar Rossi, ligada à Pastoral Fé e Política da Região Belém, já está com inscrições abertas para a turma de 2017. Este é o quinto ano de atuação da escola, que faz parte da Rede de Escolas de Cidadania do Brasil. O curso, dividido em dois módulos, tem como objetivo “refletir a política e o protagonismo cidadão através de uma abordagem que concilia os princípios da fé cristã com a política”. O público que a escola procura atingir são os cristãos leigos e consagrados, membros das pastorais, movimentos sociais e políticos, ativistas e todos os que

desejam ter um protagonismo cidadão. A escola desenvolve um pensamento crítico da dinâmica da cidade, a partir dos direitos da população, e transmite os valores expressos na Doutrina Social da Igreja. As aulas, todas expositivas, somam 76 horas e são ministradas por especialistas, ativistas e pesquisadores da área. Para receber a certificação do curso, o aluno deve apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e ter frequência mínima de 75% nas aulas para receber o diploma de extensão universitária concedido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Semana de Iniciação à Vida Cristã será em fevereiro A Comissão de Animação BíblicoCatequética da Região Episcopal Belém realizará entre 6 e 10 de fevereiro a “Se-

O Módulo 1, “Fé, Política e Planejamento da Cidade”, faz com que os alunos compreendam a máquina pública e o planejamento público da cidade, a partir da Lei Orgânica, das Leis Orçamentárias, do Plano Diretor e Plano de Metas. Já no Módulo 2, “Fé, Política e Protagonismo Cidadão”, o aluno tem acesso a mecanismos de atuação da sociedade civil que empoderam os cidadãos com o exercício da democracia participativa e direta. As inscrições podem ser realizadas pelo e-mail escolafp@pastoralfp.com ou diretamente na escola, em 13 de fevereiro. As aulas acontecerão todas às

segundas-feiras, das 19h30 às 21h, no Centro Pastoral São José (avenida Álvaro Ramos, 366, próximo ao metrô Belém). O patrono da escola, Waldemar Rossi, morto em maio de 2016, foi um leigo e militante político. Fundador da Pastoral Operária, teve forte atuação na oposição sindical metalúrgica nas décadas de 1970 e 1980, e foi preso político durante a ditadura militar. Waldemar Rossi fez parte da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, e em 1980 discursou a São João Paulo II, no estádio do Morumbi, em nome de todos os leigos da Arquidiocese de São Paulo. Paróquia Divino Espírito Santo

mana de Iniciação à Vida Cristã”, com o tema “Catequese e Missão”. Abaixo segue a programação da atividade: Divulgação

Entre os dias 4 e 11, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida peregrinou pelas nove comunidades da Paróquia Divino Espírito Santo, no Setor Pastoral Sapopemba, como parte das comemorações pelos 300 anos do achado da imagem da Padroeira do Brasil no rio Paraíba do Sul, em 1717. Beto Roch

Na manhã do domingo, 8, o missionário do Sagrado Coração, Sandro Rogério dos Santos, foi ordenado presbítero na Paróquia-santuário Nossa Senhora do Sagrado Coração, pela imposição das mãos de Dom Antônio Carlos Altieri, arcebispo emérito de Passo Fundo (RS). No mesmo dia, à tarde, o Padre presidiu sua primeira missa na mesma Paróquia-santuário.


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Lapa Comunidade Voz dos Pobres realiza 12º Jantar de Natal

Benigno Naveira

Colaborador de comunicação da Região

No salão paroquial da Paróquia Nossa Senhora dos Pobres, no Setor Pastoral Butantã, a Comunidade Eucarística Voz dos Pobres realizou, em 23 de dezembro, o 12° Jantar de Natal para população em situação de rua. Mais de 200 pessoas da Região Episcopal Lapa e outras regiões participaram do jantar, que aconteceu após a celebração eucarística presidida por Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, nomeado arcebispo de Sorocaba (SP). Um dos participantes do jantar foi Eleandro José da Silva. Natural de Alagoas, ele vive nas ruas da cidade de São Paulo e manifestou seu contentamento e alegria de estar na confraternização. Também morador de rua, Eder de Lima, nascido em Curitiba (PR), disse que

aquele jantar representava muito para ele e afirmou que o trabalho da Voz dos Pobres é uma bênção de Deus na atenção aos moradores em situação de rua. Em conversa com a reportagem da Pastoral da Comunicação da Região Lapa, Dom Julio comentou que aquele jantar representa o verdadeiro “espírito de Natal” e enalteceu o trabalho missionário da Comunidade Eucarística Voz dos Pobres na acolhida aos mais necessitados, levando a eles comida, remédios e a Palavra de Deus. O Padre Jorge Pierozan, mais conhecido como Padre Rocha, vigário-geral da Região Lapa e assistente eclesiástico da Voz dos Pobres, disse que o jantar foi uma continuidade do trabalho realizado durante o ano, reunindo em um encontro festivo os moradores em situação de Benigno Naveira

Dom Julio durante missa na Paróquia Sagrado Coração de Jesus no dia 31 de dezembro

Angela Santos

200 pessoas participam do 12º Jantar de Natal no salão da Paróquia Nossa Senhora dos Pobres

rua, formando uma só família na verdadeira festa cristã. Claudio Luiz Vaz, fundador da Voz dos Pobres, recordou que o jantar acon-

tece desde 2004 por iniciativa da comunidade eucarística, sendo realizado sempre em 23 de dezembro com o apoio da Paróquia Nossa Senhora dos Pobres.

Ano novo com a Mãe de Deus Na noite de 31 de dezembro, Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo na Região Lapa, nomeado arcebispo de Sorocaba (SP), presidiu missa na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Setor Pastoral Butantã, que estava completamente lotada. No contexto da liturgia da solenidade de Nossa Senhora, Mãe de Deus, e do

Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro, o Bispo lembrou que se estava vivenciando a oitava de Natal, uma celebração tão importante que é concluída na solenidade da Mãe de Deus. Por isso, segundo ele, ainda se vivenciava naquele dia o mistério do Natal. Ao término da missa, Dom Julio desejou a todos um feliz ano novo, com muita saúde e paz.

Chega ao fim a peregrinação da imagem de Nossa Senhora Aparecida Como parte das comemorações dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba do Sul, em 1717, foi concluída em 30 de dezembro a visita da imagem peregrina da Padroeira do Brasil a todas as paróquias da Região Episcopal Lapa. A peregrinação, iniciada na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Setor Pastoral Lapa, terminou na Paróquia São Francisco de Assis, no Setor Pastoral Butantã, com a missa presidida por Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, nomeado

arcebispo de Sorocaba (SP), tendo como concelebrantes os padres Jorge Pierozan, vigário-geral regional, Edilberto Alves da Costa, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, e Roberto Grandmaison, com a participação dos diáconos permanentes André Iasz Filho e Marcos Adriano. O Bispo, na homilia, recordou que no Ano Santo extraordinário da Misericórdia, encerrado em novembro, todos foram convidados a fixar o olhar no rosto da misericórdia, que é Jesus. Dom Julio também apontou que a Virgem Maria é a Mãe da Misericórdia.

Angela Santos

Fiéis em devoção à Padroeira do Brasil diante da imagem peregrina conduzida por Dom Julio

Angela Santos

Arquivo pessoal

Em 24 de dezembro, Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu a missa da Vigília de Natal na Paróquia São Mateus, no Setor Pastoral Rio Pequeno.

A celebração de Natal, em 25 de dezembro, na Comunidade São José Operário, pertencente à Paróquia São João Batista, no Setor Pastoral Pirituba, teve a encenação do nascimento de Cristo e missa presidida por Dom Julio Endi Akamine.


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Brasilândia Dom Angélico: ‘Os bispos devem ter o cheiro do povo!’ Jeniffer Silva e Ernesto Dias Colaboração especial para a Região

O ano era 1979. Durante uma reunião na Cúria Metropolitana, Dom Paulo Evaristo Arns, à época arcebispo metropolitano, recebeu a notícia da morte do operário Santo Dias da Silva, morto por policiais. Dom Paulo dirigiu-se ao Instituto Médico Legal (IML) acompanhado de Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo auxiliar da Arquidiocese à época, e juntos reconheceram o corpo de Santo Dias. A marca de bala no peito do morto estava exatamente na mesma posição na qual Jesus fora atingido pela lança do soldado. “O corpo era do Santo! Eu nunca vi a imagem de Jesus morto como naquele momento”, recorda-se Dom Angélico. Prestes a completar 84 anos de vida, em 19 de janeiro, Dom Angélico narra essa história como sendo umas das mais marcantes de sua caminhada: perder alguém que luta por direitos é, para ele, como matar Jesus, que ensi-

nava o caminho para um Deus que é amor. Por onde passa, Dom Angélico recebe o carinho das pessoas, provavelmente por sempre ressaltar aquilo que considera como fundamental para quem recebe o episcopado. “Os bispos devem ter o cheiro do povo!”. Bispo emérito de Blumenau (SC) desde 2009, Dom Angélico conta que nunca parou de trabalhar: ainda hoje, prega retiros e preside missas em pequenas comunidades em diferentes partes do país. Ele também afirma que diariamente, acompanhado de uma religiosa, faz a varrição de uma praça em frente à sua casa em um bairro da zona Noroeste da cidade de São Paulo. Por onde passa, é perceptível a vivência de seu lema episcopal “Deus é amor” e quase sempre ele recorda a todos: “Quem não reza vira bicho”. Ernesto Dias Souza

Frei José Alamiro Andrade Silva preside missa na Paróquia Santo Antonio, no domingo, 8

Luciney Martins/O SÃO PAULO - Jan.2013

Dom Angélico Sândalo Bernardino completará 84 anos de vida no dia 19 de janeiro

Frei Alamiro completa 50 anos de sacerdócio No domingo, 8, os fiéis da Paróquia Santo Antonio, na Vila Brasilândia, comemoraram os 50 anos de sacerdócio do Frei José Alamiro Andrade Silva, em missa por ele presidida e concelebrada por padres atuantes na Região, entre os quais o Cônego José Renato Ferreira, pároco. A vida sacerdotal do Frei Alamiro de serviço ao povo humilde e trabalhador e sua passagem pelas paróquias da Região Episcopal Brasilândia foram recordadas ao longo da missa, com manifestações

de gratidão e respeito pelo frade franciscano que viveu a essência do Evangelho a exemplo de São Francisco, chegando até mesmo a morar em um barraco de favela. Frei Alamiro destacou, na homilia, que nos dias de hoje são encontrados presépios vivos representados nas famílias que procuram abrigo, trabalho, alimento e uma vida mais digna, mas que a exemplo de Maria e José não encontram quem lhes abra a porta e lhes dê acolhida.

Ipiranga

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Há 60 anos, Padre Manoel Quintino testemunha o seguimento a Cristo Em 18 de dezembro, na Paróquia Nossa Senhora de Sião, no Setor Pastoral Ipiranga, a missa das 10h30, presidida pelo Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, foi em ação de graças pelos 60 anos de sacerdócio do Padre Manoel Quintino Alves, atualmente com 91 anos de idade. Nascido em 31 de outubro de 1925, em Jacuí (MG), Padre Manoel estudou Filosofia no Seminário Nossa Senhora de Sião, em Guarulhos (SP), entre 1949 e 1951, e Teologia no Seminário Central do Ipiranga, na capital paulista, entre 1953 e 1956. Foi ordenado sacerdote em 22 de dezembro de 1956, em

São Sebastião do Paraíso (MG), pela imposição das mãos de Dom Inácio João Dal Monte. A partir de 1957, passou a realizar atividades pastorais na Arquidiocese de São Paulo, sempre vinculado à Congregação de Sião. Em 1972, foi nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Maristela, e, em 1987, assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Sião, onde permaneceu até 2003, quando recebeu o título de primeiro pároco emérito do Brasil. Além disso, por 38 anos, o Padre coordenou a Pastoral da Saúde na Região Episcopal Ipiranga.

Luíza Ferreira da Silva

Aos 91 anos de idade, Padre Manoel Quintino festeja seis décadas de vivência sacerdotal


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Sé Ordenado em Roma, padre preside 1ª missa no Brasil Cássia Zanzarini

Padre Rafael em missa pela primeira vez na Capela do Externato São Vicente de Paulo – Casa Pia

Em 18 de dezembro, o Padre Rafael Kizimia, da Congregação Legionários de Cristo (LC), ordenado sacerdote em Roma em 10 de dezembro de 2016, pre-

sidiu sua primeira missa na Capela do Externato São Vicente de Paulo – Casa Pia, localizada no Setor Pastoral Santa Cecília. Dom Eduardo Vieira dos Santos,

bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, participou da celebração. “O motivo de ter escolhido a Capela da Casa Pia como o lugar para minha primeira missa é porque considero que essa capela é um dos lugares onde foi germinando a semente da minha vocação. Eu estudei na escola Casa Pia do ano de 1994 até 2003. Lembro-me com carinho das visitas eucarísticas que fazia na capela durante os recreios, assim como os terços rezados durante o mês de maio, organizados pelas irmãs que dirigiam o colégio. Tudo isso ajudou muito na minha decisão vocacional. Levo essa capelinha no coração por tudo de maravilhoso que Deus me deu neste lugar”, afirmou Padre Rafael, que foi ordenado na Basílica de São João de Latrão, pela imposição das mãos do Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé.

Santana

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br Irmã Penha Barros

Em 10 de dezembro, a Irmã Josefa Medeiros comemorou 25 anos de vida religiosa na Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Jesus, com missa em ação de graças presidida por Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé.

Diácono Francisco Gonçalves

Colaborador de comunicação da Região

Gratidão a benfeitores marca os 10 anos da Paróquia São Marcos Diácono Francisco Gonçalves

Dom Sergio preside missa pelos 10 anos de dedicação da Paróquia São Marcos Evangelista

Vida

Saudável

Os fiéis da Paróquia São Marcos Evangelista, no Setor Pastoral Mandaqui, receberam em 17 de dezembro Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, que presidiu missa solene em comemoração pelos dez anos de dedicação da igreja-matriz. Com projeto arquitetônico de Cláudio Pastro, a igreja se tornou, no decorrer dos anos, um local de visita para os que apreciam a obra desse artista, morto em outubro de 2016. “Tudo e muito lindo, mas para Deus é pouco”, dizia Pastro. Aliás, a comunidade procurou ter como tema das comemorações o título de “Missa da Gratidão”, pois foi uma igreja construída com muito esforço, dedicação e amor. Houve, por isso, ho-

menagens aos colaboradores que com carnês mensais não mediram esforços para ajudar na construção do templo. Também foram lembrados três benfeitores da Paróquia: o Padre Jose Radici, que ali foi pároco por muitos anos e que empreendeu a construção do templo; Dom Joaquim Justino Carreira, morto em 2013 e que foi bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, e o artista Cláudio Pastro. “Falar desses três amigos é muito pouco para expressar o quanto foram importantes como mestres, orientadores e, principalmente, como exemplos de vida. Conviver com eles foi um grande privilégio”, disse Antonio Ribeiro, paroquiano e coordenador regional da Pastoral Familiar. Diácono Francisco Gonçalves

ATENDIMENTO GRATUITO

AJUDA PSICOTERAPÊUTICA Você pode viver bem, ter vida saudável melhorando seu modo de ver a si mesmo, os outros e o mundo. O Dr. Bruno e o Dr. José darão a você ajuda continuada, indicando o caminho a seguir Os interessados devem comparecer as quartas-feiras, às 14h30, nas instalações das paróquias:

Nossa Senhora da Assunção e São Paulo Pessoal Nipo-Brasileira de São Gonçalo Praça João Mendes 108, Tels. 3106-8110 e 3106-8119

Dom Sergio Borges recebeu, em 23 de dezembro, em sua residência, os funcionários da Cúria de Santana para uma missa e almoço de confraternização. Participaram também os padres Andrés Marengo, coordenador regional de pastoral, e Antonio Moura, administrador regional.


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Destaques das Agências Internacionais

Filipe David

Correspondente do O SÃO PAULO na Europa

Venezuela

‘O povo pede paz e segurança’ O ano começou na Venezuela com uma mensagem de paz do Cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo de Caracas, lida na missa de 1º de janeiro, no 50º Dia Mundial da Paz. Dom Jorge expressou a perspectiva da Igreja diante da crise venezuelana: “Não reconhecer as faculdades da Assembleia Nacional gerou uma situação

de verdadeira ditadura, ignorando a vontade popular expressa em dezembro de 2015”, disse o Cardeal. E acrescentou: “O sofrimento de milhões de venezuelanos requer que o governo resolva a gravíssima crise alimentar e de medicamentos, causada pela aplicação de um sistema econômico errado, o totalitarismo socialista que concede ao

Estado o controle total da economia. Jamais como hoje tantos venezuelanos tiveram que procurar comida no lixo!” Apesar das duras palavras, Dom Jorge Savino tem esperança de que a situação possa mudar, mas disse que “isso pode acontecer apenas com o apoio de todos”. Fonte: Fides

Estados Unidos ‘Quando fui à missa, tudo que procurava estava lá’ CH Network

Aos 20 anos, Laura Hinson recebia de volta da guerra no Iraque o homem com quem ela deveria se casar. Seus planos tiveram que mudar quando ele lhe disse que não a amava, estava mudando de cidade e de estado, e que eles não iriam mais se casar. Aos 21, Laura estava grávida e chegou a considerar a hipótese de abortar. Nos anos seguintes, viveu a dura luta de uma mãe solteira, fazendo o melhor para sustentar e educar seu filho sozinha. Laura era protestante e frequentava igrejas batistas, como sua mãe. Em 2014, vivendo depois de alguns anos em uma cidade em que não conhecia praticamente ninguém fora do emprego, Laura foi demitida. Durante muito tempo, ela procurava por uma igreja onde pudesse ter uma vida de comunidade com outros cristãos, mas sem sucesso. Um dia, ela decidiu ir a uma igreja católica, apesar de todas as más coisas que tinha ouvido sobre os católicos. “Eu nunca tinha ido a uma missa na vida, então não sabia o que esperar. Mas quando fui à missa naquele dia, tudo o que eu Laura Hinson e seu filho testemunham a vida de fé na Igreja, após conversão ao catolicismo procurava estava lá. Meu filho e eu ficamos chocados! ‘O que? tecendo sobre o altar – algo que, na Eles têm incenso! Veja, as pessoas se fácil da noite para o dia, mas hoje hora, eu percebi ser um diálogo entre ajoelham para Deus!’ Durante todo o Laura consegue trabalhar, educar seu o céu e a Terra.” tempo em que estivemos ali, nós senfilho e ainda participa de atividades timos uma reverência sagrada diante Laura decidiu tornar-se católica na Igreja como voluntária. Fonte: CH Network de Deus. E alguma coisa estava aconjunto com seu filho. A vida não ficou

da pelo corpo de engenheiros do exército egípcio, por ordem direta do presidente Abdel Fattah Sisi. Os cristãos coptas representam cerca de 10% da população egíp-

Oriente Médio Atentados terroristas marcam início do ano Uma série de ataques terroristas marcaram o início do ano de 2017. Na Turquia, uma boate foi o alvo de um atentado durante a festa do ano novo. Um atirador abriu fogo contra os frequentadores, matando 39 pessoas e ferindo 69. O grupo Estado Islâmico assumiu a autoria do atentado contra a Turquia, considerada pelo grupo um “protetor da Cruz”, provavelmente devido à sua aliança militar com os países ocidentais. Na Síria e no Iraque, quatro grandes atentados mataram pelo menos 163 pessoas e deixaram mais de 270 feridas. Três atentados foram em Bagdá, no Iraque, nos dias 2, 5 e 8, e o outro foi em Azaz, na Síria, no sábado, 7. Todos esses também foram atribuídos ao grupo Estado Islâmico. Após o ataque na Turquia, o Papa Francisco ofereceu suas condolências ao povo turco e orações pelas vítimas: “Peço ao Senhor o apoio de todas as pessoas de boa vontade, para que arregacem as mangas e enfrentem corajosamente o flagelo do terrorismo e essa mancha de sangue que envolve o mundo com uma sombra de medo e desânimo”, disse o Santo Padre. Fontes: BBC/ Al Jazeera/ Huffington Post/ CNA/ Radio Vaticana

Roma ‘Esforço ideológico para mudar a doutrina é profundamente errado’

cia, e o presidente determinou que a Catedral fosse reparada a tempo para o Natal (que os coptas celebram no dia 7 de janeiro).

Foi o que afirmou o Cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, durante a apresentação das obras completas do Cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa emérito Bento XVI, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. O Cardeal explicou a diferença entre uma ideologia que tenta submeter a doutrina da Igreja e a verdadeira Teologia: “A ideologia é sempre uma tentativa orgulhosa de submeter a Palavra de Deus e a doutrina da Igreja ao preconceito de seus próprios pensamentos, com o objetivo de obter um poder manipulador sobre os fiéis e suas vidas. A Teologia é uma reflexão humilde sobre a fé que nasce da escuta da Palavra de Deus”.

Fonte: CNA

Fonte: EWTN

Egito Catedral copta é restaurada A Catedral São Marcos, da Igreja Copta no Egito, que havia sido danificada por um atentado a bomba que matou 27 pessoas no dia 11 de dezembro, foi restaura-

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Posse de Dom Julio como arcebispo de Sorocaba será em 25 de fevereiro Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo desde 2011, ele foi nomeado pelo Papa Francisco para a nova função em 28 de dezembro Edcarlos Bispo

edbsant@gmail.com

“Aprendi que o episcopado exige dedicação total. Alma, corpo e esperança, tudo é pedido! Nada pode ser negado! Tentei entregar para o Povo de Deus de São Paulo o que sou e tenho. Reconheço que o proveito foi só meu, pois foi tão grande a felicidade de me entregar que quanto mais ofereci muito mais ganhei. Carrego comigo essa dívida impagável de amor.” Esse é um dos trechos da mensagem de agradecimento de Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar e vigáriogeral da Arquidiocese de São Paulo, nomeado arcebispo de Sorocaba (SP) pelo Papa Francisco em 28 de dezembro. A posse de Dom Julio está marcada para 25 de fevereiro, em horário a ser definido. Na mensagem, o Bispo também agradeceu ao Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, “toda a ajuda, orientação e fraternidade demonstradas nos cinco anos em que estive e trabalhei nesta querida Arquidiocese como bispo auxiliar. Manifesto minha gratidão aos bispos auxiliares com quem tive o privilégio de conviver. Aos padres, diáconos, consagrados e consagradas exprimo reconhecimento pela colaboração no serviço a evangelização em nossa imensa cidade. A todos os fiéis leigos e leigas, agradeço de coração o testemunho e a dedicação à Igreja.” Dom Odilo também escreveu uma nota de agradecimento a Dom Julio, por toda a dedicação e trabalho realizado na Arquidiocese. “Que Deus o ilumine e conduza seu coração de pastor no exercício da nova missão que a Igreja lhe confia na Arquidiocese de Sorocaba! Nossa Senhora Aparecida, cujo tricentenário comemoramos, interceda pelo senhor e o cubra de carinho maternal. Conte com minha oração e aceite meu abraço e saudação fraternal.”

Luciney Martins/O SÃO PAULO - jul.2011

Arquidiocese de Sorocaba

Dom Julio será o terceiro arcebispo de Sorocaba, sucedendo a Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, que se torna arcebispo emérito. A Diocese de Sorocaba foi criada em 4 de julho de 1924 pela Bula Ubi Praesules, do Papa Pio XI, sendo desmembrada da Diocese de Botucatu (SP). No dia 29 de abril de 1992, foi elevada a arquidiocese pela Bula Brasiliensis Fidelis, de São João Paulo II, sendo suas dioceses sufragâneas: Jundiaí, Itapeva, Registro e Itapetininga. Localizada no centro-sul do Estado de São Paulo, a Arquidiocese é composta por 12 municípios – Sorocaba, Votorantim, Tietê, Porto Feliz, Piedade, Cerquilho, Boituva, Salto de Pirapora, Araçoiaba da Serra, Tapiraí, Iperó, Jumirim –, com um total de 52 paróquias e três santuários.

Sobre Dom Julio

Dom Julio Endi Akamine, SAC, filho do casal Guengio Akamine (falecido) e Teruco Oshiro Akamine, nasceu em 30 de novembro de 1962, em Garça (SP). Em 1975, entrou no Seminário da Sociedade do Apostolado Católico (SAC), Palotinos, em Londrina (PR), onde completou os estudos no Seminário Menor São Vicente Pallotti. Fez o noviciado em 1979 no Seminário Rainha da Paz, em Cornélio Procópio (PR). Sua primeira consagração foi em 8 de dezembro de 1980, na mesma cidade. Cursou Licenciatura em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), de 1981 a 1983, e Teologia no Studium Teologicum Claretianum, de 1984 a 1987, na Arquidiocese de Curitiba (PR). Foi ordenado sacerdote em 24 de janeiro de 1988, na cidade de Cambé (PR). Obteve o mestrado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1993 a 1995) e doutorado na mesma Universidade (2001 a 2005). Como sacerdote palotino, desempenhou a função de vigário paroquial, pároco e reitor do Seminário Mario Palotino, em Curitiba. Também foi assessor da Organização dos Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil (Osib) no Regional Sul 2 da CNBB. Entre outras funções, atuou como diretor do período introdutório da Província Regina Apostolorum, na Itália (2003-2004). No período de 1996 a 2001 e de 2005 a 2011, foi pro-

Dom Julio Akamine, nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

fessor de Teologia no Studium Theologicum, em Curitiba. Foi reitor provincial da Província Palotina São Paulo Apóstolo, com sede na capital paulista, de 2008 a 2011, quando foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, em 4 de maio daquele ano, pelo Papa Bento XVI. Sua ordenação episcopal foi em 9 de julho de 2011, com o lema é “Bonum Facientes Infatigabiles” (Não vos Canseis de Fazer o Bem). (com informações do Portal Arquisp.org.br e CNBB)

O Natal da família humana na Arquidiocese de São Paulo Helena Ueno

Nayá Fernandes

nayafernandes@gmail.com

“Deus quis participar de nossa frágil condição humana e partilhar a vida de suas criaturas, dando-lhes uma dignidade inimaginável! Mistério sublime, infinita misericórdia de Deus! Não é obra humana, é sabedoria divina, é ternura de Deus para conosco! Deus entra no mundo através das realidades e vivências familiares; com tudo o que faz parte dela, a família é lugar de revelação de Deus e de sua presença no mundo.” O trecho é da mensagem de Natal do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, dirigida a todos os fiéis para que pudessem celebrar a solenidade natalina com verdadeiro espírito cristão. Na mensagem, o Cardeal lembrou também a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), sobre o amor no casamento e na família. “Francisco quer ajudar

Cardeal Scherer incensa imagem do Menino Jesus em missa da Vigília de Natal na Catedral

a família a viver a beleza e a grandeza de sua vocação e missão e também orienta a Igreja inteira a tratar com atenção e misericórdia as famílias e os casais. A Igreja quer ser parceira das famílias e renova sua disposição em ajudá-las”, continuou. Em 24 de dezembro, à tarde, Dom Odilo presidiu missa no Centro Guadalupe, da Missão Belém. Na ocasião, seis mis-

sionários renovaram os seus votos diante do Arcebispo e de toda a comunidade. À meia-noite, após um concerto natalino na Catedral da Sé, o Arcebispo presidiu a missa da Vigília do Natal do Senhor. Durante a celebração, a imagem do Menino Jesus foi colocada no presépio. Em 25 de dezembro, Dom Odilo presidiu a Missa de Natal às 11h na Catedral

da Sé e à tarde no Arsenal da Esperança, onde após a celebração foram distribuídos 1.200 kits de higiene para os acolhidos da casa. “Cada kit entregue não foi apenas um presente, mas sim um olhar, um contato, um abraço, uma palavra, um aperto de mão, um aplauso, um grito de júbilo, um beijo, uma oportunidade de viver a presença do Menino Deus, que é o único que dá esperança, paz e harmonia de verdade e que nos faz sentir realmente em família, mesmo quando, aparentemente, há apenas solidão, problemas e sofrimentos. O querer-se bem se constrói, e nós, juntos, podemos sempre construí-lo e transformar tudo, compartilhando, participando, inventando, até mesmo arriscando e sofrendo, sem nunca desistir”, escreveram os responsáveis pela casa na rede social da instituição. O ano de 2017 começou com a celebração da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. No domingo, 1º, às 11h, houve missa também presidida pelo Cardeal Scherer na Catedral da Sé.


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