Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 62 | Edição 3150 | 10 a 16 de maio de 2017
R$ 1,50 Luciney Martins/O SÃO PAULO
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Cardeal Scherer: A política deve estar a serviço do bem comum Durante entrevista coletiva, na segunda-feira, 8, o Cardeal Odilo Pedro Scherer comentou a nota da CNBB sobre o momento nacional e os seus 10 anos como arcebispo de São Paulo, celebrados no sábado, 6.
Encontro com o Pastor Dom Odilo: Iniciação à vida cristã para formar bons cristãos Página 3
Editorial
Páginas 7 e 24
Arquidiocese de São Paulo leva 20 mil romeiros a Aparecida Luciney Martins/O SÃO PAULO
O papel do educador cristão na busca da verdadeira felicidade Página 2
Espiritualidade Dom Luiz Carlos: Os bispos e o momento da sociedade brasileira Página 5
Com a Palavra Dom Kyrillos Samaan comenta sobre a vida dos cristãos no Egito Página 22
Morre em SP a Irmã Miria Kolling, a voz do canto litúrgico Páginas16 e 17 Luciney Martins/O SÃO PAULO
116ª Romaria da Arquidiocese a Aparecida é realizada no domingo, 7, com missa presidida por Dom Odilo, no Santuário Nacional/ Pág. 23
O SEGREDO DE
FÁTIMA
Congresso em SP destaca os diferenciais da educação católica
Mães deixam o trabalho fora e priorizam a dedicação aos filhos Página 15
Há cem anos, Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos em Fátima, e a eles revelou uma mensagem que após anos foi escrita por Lúcia, uma das crianças. O conteúdo pede a conversão dos pecadores e a consagração ao imaculado coração de Maria. No sábado, 13, os outros dois pastorinhos, Jacinta e Francisco, serão canonizados pelo Papa.
A Arquidiocese de São Paulo realizou no sábado, 6, o I Congresso Católico de Educação, no qual foi abordado o tema “Qual é a identidade e a missão dos educadores e instituições de ensino?” O Cardeal Odilo Pedro Scherer destacou a necessidade de se resgatar a identidade católica das escolas por meio de um impulso missionário.
Páginas 11 a 13
Página 14
No Ipiranga, Paróquia Nossa Senhora da Saúde completa 100 anos Página 21
Expectativas e preocupações com a reforma trabalhista Página 10
2 | Ponto de Vista |
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Editorial
O papel do educador cristão
O
homem é por natureza um ser social. Dentre outras coisas, isso significa que, para que possa realizar-se, é necessário que seja educado. Segundo a Tradição Cristã, esse papel cabe primeiramente à família e à Igreja. No entanto, nunca se deixou de reconhecer o papel das escolas e do Estado. É por isso que, sempre aberta ao diálogo com a sociedade, também a Igreja busca soluções para os não pequenos desafios educacionais hodiernos. Em razão disso, a Arquidiocese de São Paulo organizou o I Congresso Católico de Educação. Em um dos painéis, o professor Francisco Ribeiro observou que o papel do educador é possibilitar aos alunos a felicidade. De fato, não cabe ao professor ser a causa principal do conhecimento – que depende essencialmente da atividade do aluno –, mas sim auxiliar o discípulo a alcançar, tanto quan-
to lhe for possível, a própria plenitude. Testemunhamos hoje educadores e instituições de ensino cujo objetivo principal é a inserção profissional, como se a plenitude humana estivesse reduzida a ter um emprego de prestígio. Com efeito, tal objetivo é um fim legítimo que a educação contempla, porém apenas enquanto ordenado ao fim último do homem – aquilo que o tornará plenamente feliz. Ainda que não soubéssemos claramente em que consiste esse fim, com facilidade perceberíamos que ele não se esgota em um cargo profissional – muito menos nas riquezas ou na satisfação de prazeres imediatos –, pois o ser humano é muito mais do que um patrão ou empregado. Em linha com a exposição do professor Ribeiro, o professor Roberto Mallet recordou a origem etimológica da palavra educar. Do latim ex ducere, “trazer para fora”, revela um aspecto essencial de tão nobre
atividade. O professor deve conduzir seus discípulos à realidade, possibilitar-lhes uma experiência mais profunda da verdade. No entanto, hoje dissemina-se, com todos os esforços possíveis, a mentira do “basto a mim mesmo e gero a mim mesmo”, como se cada indivíduo fosse causa de si próprio e capaz de recriar, segundo os desejos imediatos, o mundo ao redor – “as coisas são como quero, e não como de fato são”. Como afirmou Bento XVI, vivemos em um tempo em que, talvez mais do que nunca, o homem desalojou Deus do papel de criador. Tal esforço é tão grande que se chegou à loucura de atribuir a ideologias o status de científicas. Um exemplo é a ideologia de gênero: propõe que homem e mulher são conceitos criados, e que a identidade biológica de cada pessoa não determina em nada sua constituição psíquica e espiritual. O que é isso senão simplesmente negar o que
se vê? Parece que a educação atual já não trata da realidade, das pessoas concretas que existem em um momento e lugar, que receberam o dom da vida ao invés de atribuí-la a si próprias, que necessitam de um sentido, de algo que transcenda a matéria; enfim, que buscam aquilo que as possa preencher, e que chamamos de felicidade. Ora, a Tradição Cristã sempre reconheceu o papel da educação como um “trazer para fora”, em que o mestre guia o discípulo para que este conheça a realidade tal como é. Tal esforço não apenas é coerente. Ele possibilita que o aluno se aprofunde no conhecimento da verdade a respeito de si próprio, mas também o exige. Essa mesma Tradição resolve o quebracabeças da educação de maneira perfeita e perene: nosso fim último é Deus, e é nele que está nossa felicidade. É à luz da Sabedoria Encarnada que se dá a verdadeira educação do homem.
Opinião
‘Mãe é tudo igual, só muda o endereço’: Será? Arte: Sergio Ricciuto Conte
Magna Celi Mendes da Rocha Estereótipos, rótulos, fôrmas são, na melhor das hipóteses, tentativas de simplificar e compreender a realidade que nos cerca. Quando conseguimos caracterizar, categorizar, definir, classificar parece que a complexidade torna-se menos assustadora e, assim, adquirimos certo domínio sobre os fenômenos. Quando o assunto é maternidade, ao menos em um primeiro momento, trata-se de um tema menos complexo. Afinal, no mundo ideal, “mãe é tudo igual, só muda o endereço”. Adjetivos relacionados à maternidade não faltam: ternura, bondade, desprendimento, amor, dedicação, confiança. No mundo real, podem existir ainda outros: medo, insegurança, culpa, abandono, rejeição, maus-tratos, indiferença, revolta. Em geral, compreendemos com tranquilidade que cada filho é único. Porém, ainda resistimos em aceitar que cada mãe é igualmente única: uma mulher, situada em um tempo e um espaço, com história pessoal própria e uma gama de potencialidades e limites que são postos em cheque a cada instante. A maternidade é, portanto, uma experiência única, situada no aqui e no agora. Nunca uma vivência a-histórica. Se em outros tempos, por exemplo, as mulheres eram reconhecidas, sobretudo, pela sua capacidade reprodutiva,
hoje estamos diante de um quadro em que parece uma ofensa romper a barreira do segundo filho, de modo que as novas gerações sentirão dificuldade em compreender a expressão “Igual coração de mãe: sempre cabe mais um.” Mulher não é tudo igual. Mãe não é tudo igual! Viver a maternidade conscientemente requer tomar parte daquilo que nos constitui, tanto no âmbito pessoal como comunitário. Compreender aquilo que nos constitui não apenas para conformar-se com isso, nem para justifi-
car-se e esconder-se, mas também para avaliar o que realmente nos edifica. Decidir sobre o tipo de mãe que queremos ser, ainda que alguns duvidem, está ao nosso alcance. A maternidade é inevitavelmente uma via de dores e alegrias, cruz e ressurreição. O mesmo filho que nos faz rir, também nos faz chorar quase sempre não intencionalmente -; essa é uma via da qual dificilmente escapamos. A via da reconciliação faz-se, portanto, também necessária. Reconciliar-se com a própria história
de vida e, a partir dela, alçar novos horizontes é uma possibilidade humana que não devemos desperdiçar. Uma reconciliação que consiste em admitir falhas e erros de outros e os próprios. Da mãe que tivemos e da que somos ou seremos. Reconciliação que significa também substituir as lentes da (auto)crítica e do (auto)julgamento pelas lentes da gratidão e do reconhecimento, sob a pena de sermos esmagadas pelo fardo da busca de uma perfeição inalcançável aos humanos. Mesmo aquela – Maria, Mãe de Deus e nossa – que muitos temos como referencial de Mãe, também era única. Podemos nos espelhar, admirar, desejar suas virtudes, mas, ainda assim, nos apropriaremos delas de maneira original – sempre mais imperfeita – e nunca da mesma forma. Portanto, ousemos ser mais nós mesmas, com nossas fraquezas, limitações, alegrias, medos e esperanças. Ousemos amar nossos filhos com um amor livre, desinteressado, grato e feliz, assim como Maria nos ama. Renunciemos ao fardo de acertar sempre, sendo sempre mais originais e autênticas, renunciando aos rótulos ou estereótipos. Afinal, “Mãe só tem uma!” Magna Celi Mendes da Rocha é doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP; assessora da Pastoral Universitária da PUC-SP. Membro da Comunidade Católica Shalom. É mãe de quatro filhos.
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.
Semanário da Arquidiocese de São Paulo
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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo
N
o dia 5 de maio passado, depois de 9 dias de intenso trabalho, foi concluída a 55ª assembleia geral ordinária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP). Muitos foram os temas abordados sobre vários aspectos da vida e da missão da Igreja e sobre o grave momento vivido pelo Brasil. Os bispos, enquanto pastores do povo, não podem ficar alheios às angústias e aflições vividas pelos brasileiros. O tema principal da assembleia foi a “iniciação à vida cristã”, entendida como um itinerário para formar discípulos missionários de Jesus Cristo. Em outras palavras, para formar bons cristãos. Na V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada há exatos 10 anos também junto do santuário nacional de Aparecida, tratou-se de duas dimensões inseparáveis da vida cristã: ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. Na última assembleia geral da CNBB, o tema foi retomado e, no documento que foi aprovado, os bispos falam da “urgência de um novo processo de iniciação à vida cristã”. Por que isso seria tão urgente? A resposta não poderia ser outra: trata-se de uma questão fundamental para a vitalidade da Igreja; ela é crucial para o presente e o futuro da Igreja e sua missão. O
Iniciação à vida cristã: formar bons cristãos que é urgente, precisa ser enfrentado sem demora. Não basta sermos uma “Igreja de batizados”, embora o Batismo seja uma graça imensa recebida de Deus. Ser batizado e não praticar a fé é como receber uma boa semente e guardá-la no depósito: ela nunca vai germinar nem produzir nova planta e frutos. Infelizmente, é o caso de muitos que receberam o Batismo, mas nunca foram além disso: não progrediram no caminho da fé e da experiência religiosa cristã. Nem se sentem parte da Igreja, que é a comunidade dos que foram batizados e na qual se aprende a ser cristão. Viver a graça do Batismo significa corresponder a ela por meio das várias dimensões da vida cristã, que envolve o coração, a cabeça e as mãos, ou seja, os sentimentos, o conhecimento e as atitudes. A vida cristã envolve os afetos e a experiência do amor de Deus, o amor ao próximo e à Igreja, que é inseparável de Cristo. A vida cristã também requer conhecimentos sobre aquilo que cremos; não se ama nem se valoriza aquilo que não se conhece. E a fé se expressa através de atitudes que testemunham a adesão e o apreço por aquilo que cremos, sobretudo a caridade para com o próximo. Em outras palavras, precisamos tornar-nos uma Igreja de discípulos e missionários de Jesus Cristo, que amam de maneira devotada o Mestre Jesus Cristo e se deixem instruir por
ele e aprendem dele continuamente a sabedoria do reino de Deus para discernir sobre a vida e sobre as decisões a tomar. Enquanto discípulos, os cristãos precisam unir-se intimamente à Igreja, comunidade dos discípulos e corpo, do qual Cristo é a cabeça. Seria difícil e até impossível viver como bons cristãos de maneira isolada e sem ligar-se à Igreja. Enquanto discípulos, os cristãos também tomam parte na missão de Cristo e da Igreja. O próprio Jesus assim o quis, quando enviou os apóstolos em missão e os tornou participantes de sua missão em toda parte e até o final dos tempos. (cf. Mc 16,15). O Papa Francisco não cessa de nos convocar para sermos “uma Igreja em saída missionária”, um povo missionário. Ser bom cristão também é envolver-se com a missão da Igreja no testemunho do Evangelho e na transmissão da fé aos outros. Tudo isso requer, de nossa parte, uma mudança de posturas e uma verdadeira conversão. Já não se pode mais ver a Igreja como a instituição ou lugar, onde nós apenas vamos receber coisas sagradas: ela é a comunidade de fé daqueles que vivem como discípulos e missionários de Jesus Cristo no mundo e que anunciam as grandes obras de Deus para a vida das pessoas e do mundo. Ninguém nasce cristão: aprende-se a ser cristão ao longo da vida inteira, mediante um constante processo de iniciação e de formação cristã.
| Encontro com o Pastor | 3
Doutores e doutoras da Igreja Luciney Martins/O SÃO PAULO
Foi inaugurada no sábado, 6, no Museu de Arte Sacra de São Paulo, a exposição “Doutores e Doutoras da Igreja: A Beleza do Testemunho, da Vida e da Palavra”, que está sendo feita em comemoração aos dez anos do arcebispado do Cardeal Odilo Pedro Scherer na Arquidiocese. Dom Odilo esteve na abertura da exposição, que tem a curadoria de Marcos Horácio Gomes Dias e Vanessa Beatriz Bortulucce (foto). Estão expostas 45 obras – entre esculturas, pinturas, objetos religiosos e outras peças – que revelam a trajetória dos mestres cristãos, homens e mulheres que definiram questões importantes para a cristandade. O Arcebispo lembrou que a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa concedem o título de doutores a alguns santos que deram uma contribuição especial para a reflexão teológica e para o ensino da fé. A exposição segue até 2 de julho no Museu (avenida Tiradentes, 676, Luz). Outros detalhes sobre a exposição podem ser consultados por meio do site www.museuartesacra.org.br ou pelo telefone (11) 3326-5393 (Leia a reportagem completa em www.osaopaulo.org.br)
4 | Fé e Vida |
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Liturgia e Vida 5º DOMINGO DA PÁSCOA 14 de maio de 2017
Não se perturbe o vosso coração Cônego Celso Pedro “Não se perturbe o vosso coração”, nos diz Jesus no Evangelho (Jo 14,1). Por que se perturbaria o nosso coração? Por causa da insegurança que sentimos em relação ao que vem pela frente. Temos medo de errar. Será que vai dar certo? É uma pergunta constante. Temos medo porque nos sentimos inseguros em relação ao fim e, então, o nosso coração fica perturbado. Ouvimos, porém, Jesus a nos dizer: “Não se perturbe o vosso coração”. “Acreditem em mim como acreditam que sou Deus. Vou dizer a vocês alguma coisa verdadeira e, se não fosse verdadeira, não a diria. Fiquem tranquilos em relação ao fim, ao fim último, ao término da existência. Na casa de meu Pai há muitas moradas e eu vou preparar um lugar para vocês, para que vocês estejam onde eu estiver.” Fiquemos, pois, tranquilos. Se crermos, o fim está garantido. Realmente, passaremos “desta para melhor”, como se costuma dizer. E muito melhor. Acreditemos porque foi Jesus quem disse. Ele preparou um lugar para nós lá do outro lado, na eternidade de Deus, na casa do Pai. Nenhum medo, portanto, devemos ter quanto ao fim. Mas, e quanto aos meios? E, se errarmos o caminho? E, se procurando atalho encontrarmos trabalho e perdermos o fim? Mais uma vez, Jesus nos responde e nos assegura sobre o caminho para que fiquemos em paz. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Ele é o verdadeiro caminho que leva para a vida. O fim está garantido. O caminho está à nossa disposição. Entremos por ele para chegarmos ao Pai. Estando em Cristo, estamos no Pai e temos meios e fim garantidos. Já não se perturba o nosso coração. O passo seguinte depende de nós, sempre ajudados pela graça de Deus. É São Pedro quem nos exorta: “Aproximem-se do Senhor, pedra viva rejeitada pelos homens” (1Pd 2,4). Aproximemo-nos. Acolhamos a Palavra para que a pedra escolhida se torne pedra de um novo edifício e não pedra de tropeço e de queda. Unidos a Cristo, nós nos dispomos a construir um mundo novo com pedras escolhidas e nos dispomos a retirar do caminho as pedras de tropeço para que não caiam os que querem chegar ao fim, à casa do Pai. Não será confundido aquele que confiar na Pedra que Deus colocou em Sião. Não ficará perturbado nem será confundido. Juntemo-nos a estes e a estas que desde o princípio aceitaram a fé. Somemos com estes homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria que se dispuseram a servir às mesas para salvaguardar a harmonia. Somemos também com quem se dedica inteiramente à oração e ao serviço da Palavra. Jesus Ressuscitado, o bom Pastor, prepara-se para partir e nos deixa suas últimas recomendações. “Não se perturbe o vosso coração”.
Você Pergunta Bênção pelo celular é válida? padre Cido Pereira
osaopaulo@uol.com.br
Quem pergunta não quis dar o nome. Diz apenas que mora no Paraná. É um jovem filho de um pastor evangélico. Diz ele que não tem idade para ter suas escolhas religiosas dentro de casa. Seu pai o proíbe de ir à missa. Ele, então, assiste a missa pelo celular, na qual um padre, após a celebração, benze a água e o sal e outros objetos. Ele coloca água e sal na frente do celular e, com muita fé, acompanha a bênção do padre. E quer saber se essa bênção é válida. Meu querido irmão anônimo, entendo a sua dificuldade, sendo filho de um pastor evangélico. Certamente, seu pai não vai querer discutir o seu
direito de escolher, o seu desejo de viver a fé católica. E mais do que não ter idade ainda para tomar uma decisão, você tem o dever de respeitar seu pai, respeitar a fé que ele tem. Mais para frente, será ele que vai ter que entender a sua escolha. Tenho a dizer, porém, a você, que ser católico é muito, mas muito mais do que colocar água e sal perto de um celular. Ser católico de verdade é iniciar-se na vida cristã, pelo estudo, pela oração e pela ação. O estudo da Bíblia e o estudo da doutrina católica vão ajudar você a entender as razões de nossa fé. É São Pedro que nos diz que devemos estar sempre prontos a dar a quem pedir as razões da nossa fé. Além do estudo da Bíblia e da doutrina católica, o diálogo
com um catequista ou uma catequista vai lhe ajudar muito. Além do estudo, meu irmão, você vai ter que ser um homem de oração, dialogar com Deus com as palavras que brotam do seu coração e ouvir a Deus que nos fala pela Bíblia, pela Igreja e nas celebrações dos sacramentos. Nessa oração, peça a Deus que lhe dê sabedoria para encontrar o caminho seguro para chegar a ele como católico. Enfim, ser católico exige ação, uma ação missionária, um passar para os outros a alegria da fé. O mundo precisa saber que somos felizes por sermos católicos, e Jesus precisa de nós para chegar a tantas outras pessoas. Deus ajude você. Não desista. Não pare na sua busca.
Atos da Cúria Em 24 de Abril de 2017, foi assinado na Cúria Metropolitana de São Paulo, o Convênio entre a Arquidiocese de São Paulo e as seguintes Congregações Religiosas: - Ordem da Bem Aventurada Virgem das Mercês -
Paróquia Nossa Senhora das Mercês – Setor Anchieta- Região Ipiranga; - Congregação da Missão Lazaristas - Paróquia São Vicente de Paulo - Setor Anchieta - Região Ipiranga.
OBRAS SOCIAIS SÃO BONIFÁCIO - OSSB rUA ANTÔNIO JOSÉ VAZ, 293 - PARQUE BRISTOL - SÃO PAULO - SP - CNPJ/MF: 61.597.332/0001-90
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Espiritualidade Os bispos e o momento atual da sociedade brasileira Dom Luiz Carlos Dias
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém
Entre os dias 26 de abril e 5 de maio deste ano, realizou-se em Aparecida (SP) a 55ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, principal instância da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A reunião contou com a grande maioria dos pastores das Igrejas Particulares do território brasileiro, como também com a presença de vários eméritos. Foram dias de convívio alegre e fraterno, oração e reflexão acerca de diversos assuntos eclesiais e do atual momento da sociedade brasileira. O tema central proposto para a reunião foi a “iniciação cristã”, uma demonstração do zelo da Igreja com a transmissão da fé e seu processo de iniciação de novos cristãos nas paróquias. Um texto prévio foi enriquecido com as contribuições dos bispos participantes, e será oferecido aos discípulos e discípulas missionários empenhados em atividades afins nas comunidades eclesiais. A CNBB espera que esse instrumento contribua para a Igreja ser de fato “casa da iniciação à vida cristã”. Entretanto, houve também um esforço dos bispos para oferecer uma palavra de ajuda na compreensão do
momento atual, marcado por graves enfraquece o Estado e o torna refém do crises e sérios conflitos. Primeiramente, mercado, passo decisivo para se submeter o ser humano aos interesses econômicom uma mensagem aos trabalhadores cos, penalizando os mais vulneráveis. e trabalhadoras homenageados no Dia No mesmo escrito, os bispos ainda de São José Operário, 1º de maio. Num pensam em uma solução para a preobreve texto, foi lembrada a profunda cupante conjuntura atual, pois “não há relação entre trabalho e dignidade humana e que o trabalhador não pode ser futuro para uma sociedade na qual se coisificado como mera força laboral, esdissolve a verdadeira fraternidade”. Os pecialmente num contexto de precarisinais da fraternidade ferida estão em zação do trabalho e de flexibilização das situações como a desigualdade social, leis que regem essas relações. o recuo das políticas públicas, o desrespeito a direitos fundamentais, os cresNesse texto, os bispos tomaram posição diante dos Projetos de Lei das Terceirizações O tema central proposto para a (4302/98), da Reforma reunião foi a “iniciação cristã”, Trabalhista (6787/16), uma demonstração do zelo da bem como da Proposta Igreja com a transmissão da fé de Emenda à Constitui- e seu processo de iniciação de ção acerca da Previdên- novos cristãos nas paróquias cia (287/16), afirmando centes conflitos na cidade e no campo, ser inaceitável que tais decisões sejam a degradação ambiental, a má gerência tomadas sem amplo diálogo com os do sistema carcerário. E recorrem ao atores sociais. E, como estão sendo propostas, trarão impactos que precisam pensamento do Papa Francisco, o qual ser avaliados, a exemplo da redução da orienta a buscar na inspiração da “mensagem cristã” uma alternativa “entre a proteção social com o afastamento do tese neoliberal e a neoestatista”. Estado da função de mediar a relação Nesse sentido, os bispos exortam entre capital e trabalho. para que as necessárias reformas “obeEm outra nota, intitulada “O grave deçam a lógica do diálogo com toda a momento atual”, apontaram uma causa sociedade, com vistas ao bem comum”. importante para a preocupante conjuntura, desfavorável à população em geral, O exercício do diálogo fraterno, sem sobretudo às minorias e pobres. Lembraexcluir interlocutores, é o caminho a ser ram que o princípio norteador da econotrilhado para a consolidação das estrumia é a “primazia ao mercado, em detrituras democráticas, com a “construção mento da pessoa humana, e ao capital em de um projeto viável de nação justa, solidária e fraterna”. detrimento do trabalho”. Essa orientação
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Fé e Cidadania
Maio e Maria
Padre Alfredo José Gonçalves, CS No mês de maio, a liturgia e a devoção popular concedem grande destaque à figura de Maria de Nazaré, mãe de Jesus e nossa mãe. Por toda parte, multiplicam-se os encontros, orações marianas, a reza do Terço e as celebrações a Nossa Senhora. Maria tem muitos nomes: Aparecida, Fátima, Guadalupe, Imaculada Conceição, Senhora do Perpétuo Socorro, Consoladora dos Aflitos, Rainha da Paz… Os dois primeiros – Aparecida, no Brasil, e Fátima, em Portugal – celebram neste ano o grande jubileu, respectivamente do 300° e do 100° aniversário de aparição. Duas observações se impõem. Primeiramente, os muitos nomes de Maria refletem, por um lado, o seu poder de intercessão. Se por meio dela chegamos à porta da Santíssima Trindade, comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, por meio dela recebemos infinitas graças para nossa peregrinação por este “vale de lágrimas”. Por outro lado, os muitos nomes de Maria nos levam a enfatizar a presença das mulheres no interior da Igreja. Desde o relato dos Evangelhos, elas tiveram destaque no anúncio da Boa Nova, como podemos comprovar pelo grupo de mulheres que acompanhavam Jesus: sua propria mãe, Maria Madalena, Marta e sua irmã Maria, e outras que o seguiram até os pés da cruz. Em segundo lugar, vale o mesmo para a história da Igreja. Já nas primeiras comunidades cristãs, a Mãe de Jesus e muitas outras mulheres se fazem presentes. Basta ver quantos nomes femininos figuram no livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, ou nas cartas de Paulo: a mãe de Timóteo e a filósofa Damaria, Susana e Tabita, Priscila e Febe, Trifena e Trofonia, Lídia e Pérside, Júnia e Olimpas. As mulheres ajudam a colocar os alicerces da Igreja Primitiva, inclusive na qualidade de testemunhas e mártires, como Perpétua e Felicidade. Outros nomes de santas haverão de deixar suas pegadas femininas ao longo de toda trajetória da Igreja: as mártires dos primeiros séculos, depois Tereza d’Avila, Teresinha do Menino Jesus, Madre Paulina, Catarina de Sena, Francesca Cabrini, Rita de Cássia, Rosa de Lima... Entre elas, fundadoras de institutos de vida consagrada, doutoras e missionárias. E a história continua. Ainda hoje, são as mulheres que mantêm de pé uma série de pastorais, campanhas e atividades na caminhada da Igreja. Prova disso é sua presença majoritária e significativa no dia a dia das Comunidades Eclesiais de Base, bem como nos seus encontros regionais e nacionais. Isso sem falar das religiosas inseridas nos meios populares, entre os mais pobres, das quais Santa Madre Teresa de Calcutá é testemunha perfeita . As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.
6 | Viver Bem |
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Cuidar da Saúde Se aproxima o ‘Dia D’ da Campanha de Vacinação contra a Influenza Cássia Regina A Campanha de Vacinação contra a Influenza 2017 já começou. Além de pessoas com 60 anos de idade ou mais, contempla crianças na faixa etária de 6 meses a 5 anos de idade, as gestantes, as puérperas (até 45 dias após o parto), os trabalhadores da saúde, os povos indígenas, os grupos portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, os adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, presos e funcionários do sistema prisional. Também estão incluídos para a vacinação os professores das escolas públicas e privadas. A vacinação, que começou em 10 de abril, foi dividida em etapas. Inicialmente, foram vacinados os trabalhadores de saúde dos hospitais; depois, os que atuam na área da saúde dos serviços públicos e privados e as pessoas com 60 anos ou mais; na sequência, a vacinação se estendeu às gestantes, puérperas, crianças (entre 6 meses e 5 anos de idade) e indígenas; e desde o dia 8 passaram a ser vacinados também os professores. No sábado, 13, será realizado o ‘Dia D’ da Campanha de Vacinação contra a Influenza, com aplicação da vacina a todos estes grupos em todas as unidades de saúde pelo Brasil e em algumas unidades móveis. Dra. Cássia Regina é médica atuante na Estratégia de Saúde da Família (PSF) E-mail: dracassiaregina@gmail.com
Comportamento
A criança e a tecnologia Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Nos últimos 25 anos, presenciamos grandes mudanças do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico. Da simples televisão e de aparelho de telefone, partimos rapidamente para celulares, computadores, tablets, transmissões digitais, internet rápida e de fácil acesso. Hoje, podemos dizer que temos “o mundo na palma das mãos”. Se para a muitos de nós essas mudanças foram inovações sucessivas, para os pequenos que estão na primeira infância, não. Assim é o mundo deles: recheado de estímulos eletrônicos dos mais diversos tipos, tamanhos e possibilidades. Apesar de ser uma realidade, não devemos simplesmente naturalizá-la. É importante que esses estímulos sejam estudados e analisados, e que sejam compreendidos seus efeitos no desenvolvimento infantil. Hoje já podemos observar empiricamente alguns desses efeitos, tanto no cotidiano dos que convivem profissionalmente com crianças como em alguns estudos desenvolvidos por centros de pesquisa. Infelizmente, o que se observa é que os efeitos do uso da tecnologia por crianças pequenas podem ser desastrosos. É comum encontrarmos crianças de 2 anos que mexem com propriedade em aparelhos celulares e tablets, sabendo como acessar vídeos e jogos, mas que apresentam significativos atrasos cognitivos, por exemplo, na aquisição da linguagem: não expressam oralmente suas necessidades ou vontades, não contam pequenos fatos, não conseguem se
não aprendem que se trata de algo concentrar para ouvir histórias curtas importante independentemente da etc. Outro importante dado observado é o aumento vertiginoso de crianvontade momentânea e se tornam ças “hiperativas” - não param nem “passivos” e não autores das situações vividas. mesmo por poucos minutos. Alguns Enxergar esses efeitos é uma quesestudos apontam para um dado assustador: crianças muito expostas à tão de saúde física e mental. Pode, tecnologia antes dos 4 anos de idade, então, surgir aos pais uma dúvida acumulam aos 11 anos um déficit de legítima: se o uso de eletrônicos traz três anos em seu desenvolvimento! danos aos pequenos, como fazer para E por que tudo isso? Certamente, há que estejam “por dentro” daquilo que uma série de fatores que concorrem é próprio dessa geração, a tecnologia? Aqui uma dica importante dada para esse fenômeno: pelo psiquiatra Dr. Ítalo Marsili, em 1. A aprendizagem da criança, para palestra no Congresso do Instituto que se dê com qualidade, requer ne cess ar i amente um vínculo humano. Embora É comum encontrarmos os jogos, vídeos crianças de 2 anos que mexem e outros recursos com propriedade em aparelhos tecnológicos sejam celulares e tablets, sabendo vendidos como estímulos apropriados como acessar vídeos e jogos, mas para a aprendizagem que apresentam significativos dos pequenos, essa atrasos cognitivos, por exemplo, “aprendizagem” é fa- na aquisição da linguagem lha; a criança requer vínculo, narrativa, Brasileiro da Família: existem coisignificação para que tal processo sas que são essenciais e outras transeja qualitativamente adequado. sitórias. Assim como há 25 anos não 2. Os jogos eletrônicos são recheados havia aparelho celular com internet, de estímulos extrínsecos e imediatos - o que vai habituando os o que haverá daqui há 25 anos? Portanto, os instrumentos tecnológicos pequenos à não esperar; a terem são passageiros. Precisamos investir sempre uma recompensa; a não se na formação humana, no vínculo, na interessarem por aquilo que exija transmissão de valores - isso é o esmais tempo ou empenho. sencial, e determinará como nossas 3. Os objetos eletrônicos encantam os crianças se relacionarão com os difepequenos de tal modo que se tornam mediadores para que os adulrentes instrumentos que surgirem a tos consigam alimentá-los, trocar cada época. sua roupa, dar remédios etc. Com Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é isso, não choram; porém, não esfonoaudióloga e educadora e mantém tão atentos à atividade principal, o blog http://educandonacao.com.br
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Dom Odilo: ‘Que o poder político seja exercido em função do bem comum’ Luciney Martins/O SÃO PAULO
Arcebispo de São Paulo fala à imprensa sobre a declaração do episcopado brasileiro em relação ao momento nacional Fernando Geronazzo
osaopaulo@uol.com.br
Em entrevista coletiva concedida na segunda-feira, 8, na Cúria Metropolitana, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, destacou os principais assuntos tratados na 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada de 26 de abril a 5 de maio, em Aparecida (SP). Dom Odilo também respondeu a questões dos jornalistas sobre o momento nacional. O Arcebispo informou que durante o encontro do episcopado brasileiro foi produzida uma série de textos e documentos, dentre os quais um que traça diretrizes sobre a iniciação à vida cristã, tema central da Assembleia. Ao falar da declaração intitulada “Grave Momento Nacional”, publicada na quinta-feira, 4, Dom Odilo explicou aos jornalistas que se tratou de um apelo do episcopado ao povo brasileiro para que juntos pensem uma saída para a crise atual. “A palavra da CNBB sempre aponta para a esperança de uma tomada de consciência da população brasileira sobre o que nós queremos para o futuro do Brasil”, disse. O Cardeal também chamou a atenção para a perplexidade da sociedade diante da corrupção no país, em que o poder político está mais voltado para interesses privados do que para o bem comum da população. Por outro lado, Dom Odilo reafirmou que apesar do descrédito dos políticos, a política partidária é necessária, mas defendeu a realização de uma profunda reforma política que reveja a forma como se chega ao poder no Brasil, bem como o excessivo número de partidos. Contudo, o Cardeal Scherer acredita que essa reforma só será possível se houver uma renovação do Congresso Nacional. O Arcebispo também destacou que a polarização vivida atualmente no Brasil não é sadia, pois se alimenta de preconceitos e favorece a ascensão de “salvadores da pátria” que concentram o poder em si mesmos. Para o Purpurado, a Igreja pode contribuir com a superação da crise social ao chamar a consciência nacional para o diálogo e para os critérios éticos da convivência pacífica. Após repercussão da coletiva, na terçafeira, 9, Dom Odilo usou as redes sociais para reafirmar seu apoio à declaração da Assembleia da CNBB sobre o momento nacional. “As palavras da Assembleia da CNBB são também as minhas palavras”. Leia os principais trechos da entrevista ao lado.
Reformas “Eu penso que, de toda maneira, há necessidade de reformas, quer na lei trabalhista quer na lei da Previdência. Por outro lado, é difícil que todos se sintam satisfeitos, porque também há situações de difícil ajuste. Em alguns casos, trata-se de perder posições alcançadas. Em outros casos, alguns setores da sociedade não se sentem suficientemente contemplados. Por isso, é importante o debate, é importante que haja as manifestações e que o Congresso faça as reformas ouvindo a sociedade”. “Estamos, muitas vezes, no meio de desinformação, ou até de informações equivocadas. Por isso, informar sobre aquilo que de fato está sendo proposto é muito importante para o povo se orientar devidamente”. Corrupção “Muitas vezes, o exercício do poder político está mais voltado para interesses privados, como vimos agora com esse problema de corrupção e da promiscuidade entre público e privado [...]. Este é um grande mal! [...]. Que o poder político seja exercido em função do bem comum, e não de interesses privados, corporativistas. Isso requer uma revisão da forma como se chega ao poder no Brasil”. Polarização política “Esse é um dos problemas no Brasil atualmente [...]. Me recordo que na ditadura militar era um tempo de polarização, em que se colocavam os ruins de um lado e os bons de outro. Creio que vivemos um momento um pouco semelhante, que não me parece sadio e precisa ser superado por meio de mecanismos de diálogo. A polarização se alimenta de preconceitos em que se coloca alguém como ruim de todo ou como bom de todo [...]. Muitas vezes, alguém já é execrado e condenado a priori só porque não é do mesmo grupo. É importante deixar que a Justiça e o Legislativo façam o seu trabalho, que haja a devida serenidade e essa polarização seja superada”. Política partidária “Diante do atual momento de descrédito, talvez de desmoralização dos políticos e até da política, é preci-
so manter clara a ideia de que a política é importante e que os políticos são necessários. Também é necessário haver os mecanismos de trato político; e esses mecanismos são os partidos [...]. Penso que uma boa reforma política poderia ajudar a adequar a realidade política e também os partidos, que, ao meu ver, são excessivos”. Reforma política “Não penso que no momento se consiga fazer uma reforma política em profundidade. Nós deveríamos esperar a eleição de um novo Congresso. Com políticos que deverão passar pelo crivo do voto da sociedade, talvez poderíamos contar com novas disposições para uma revisão profunda da política brasileira”. Ascensão de discursos extremistas “Eu penso que é um fenômeno deste tempo, não só no Brasil, em que há um cansaço, desconfiança ou desilusão em relação à forma ordinária de conduzir a política. Isso favorece a ascensão, justamente como diz a declaração da CNBB, de ‘salvadores da pátria’, que favorecem poderes autocráticos, para não dizer ditaduras, que concentram excessivamente as competências na pessoa do governante”. Fiscalizar os eleitos “O que é crônico, no Brasil, por exemplo, é o fato de não haver acompanhamento dos eleitos por parte dos eleitores [...]. A população precisaria ter organismos de controle do poder muito mais eficientes do que temos agora [...]. Com a participação atenta da sociedade, por meio da imprensa e de muitas outras formas de controle do poder, nós poderemos chegar à mudança”. Contribuição da Igreja para a superação da crise social Segundo Dom Odilo, a Igreja tem contribuído ao chamar a atenção para a necessidade do diálogo, para os critérios éticos na vida pública e da convivência sadia ao defender a justiça, o respeito à pessoa e à dignidade humana. Contudo, esse dever não é restrito aos padres e bispos. Os leigos – jornalistas católicos, por exemplo – também podem e devem fazer o mesmo.
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Destaques das Agências Internacionais
Filipe David
Correspondente do O SÃO PAULO na Europa
Espanha
França
Guadalupe de Landázuri, venerável Opus Dei
Emmanuel Macron é eleito presidente
O Papa Francisco aprovou o decreto que reconhece as virtudes heróicas de Guadalupe de Landázuri, numerária da Opus Dei e pesquisadora química. Guadalupe Ortiz de Landázuri nasceu em Madri em 1916 e estudou Ciências Químicas na Universidade de Madri, uma das cinco mulheres de sua turma. Durante a guerra civil espanhola, Guadalupe consolou seu pai militar antes que ele fosse executado e perdoou os responsáveis pela morte dele. Ela conheceu São Josémaria Escrivá em 1944 e entrou para a Opus Dei. Desenvolveu seu trabalho apostólico no México durante seis anos, antes de mudar para Roma, onde morou por dois anos. Por motivos de saúde, ela retornou à Espanha, onde morreu em 1975, aos 59 anos, em odor de santidade. O processo para declará-la venerável – que investigou sua vida e suas virtudes – ocorreu entre 2001 e 2005 em Madri.
da família, a propriedade privada e o Estado” e prega que, para pôr fim ao sistema capitalista, é preciso primeiro destruir a família. Já a terceira e atual onda do movimento feminista é a que promove a ideologia de gênero, segundo a qual mesmo as diferenças entre os sexos são instrumentos de dominação e devem ser destruídas ou ignoradas. Para Laje, a ideologia de gênero foi criada para suprir a carência de operários dispostos a liderar a revolução comunista. Diante da evolução econômica, do progresso material da classe operária e da diminuição do número de operários, o movimento comunista foi obrigado a rever seus conceitos e, em vez de opor capitalistas e operários, passou a opor homens e mulhe-
Fontes: Le Figaro/ Huffington Post
Grã-Bretanha
Fonte: ACI
Como proteger seus filhos e netos da cultura da morte
res, homossexuais e heterossexuais etc. Entre os autores feministas e ideólogos de gênero mais importantes, o cientista político analisou Simone de Beauvoir, Shulamith Firestone, Kate Millet, Zillah Eisenstein e, principalmente, Judith Butler. Alguns ideólogos são tão radicais que chegam a dizer que toda relação heterossexual é uma violação contra a mulher ou que chamar o homem de animal é um elogio. Por isso, em muitas marchas feministas se veem palavras de ordem como “assassine o seu noivo”, “morte ao macho”, entre outras. Como exemplo dos laços entre feminismo e pedofilia, Laje citou diversas organizações feministas que, na Alemanha, têm apoiado grupos de defesa dessa prática.
O Dr. Thomas Ward, médico, pai de seis filhos e avô de 16, fundador de uma associação de famílias católicas, dá alguns conselhos para os católicos protegerem seus filhos e netos da cultura da morte, que domina a sociedade de hoje. Segundo ele, os jovens precisam ser incentivados a intensificar suas vidas espirituais e a dar testemunho de sua fé. Não há substituto para o amor dos pais e nada move as crianças a amar mais do que saber que são amadas. As mães que valorizam sua vocação maternal e sua importância em casa ajudam muito a desenvolver as qualidades femininas e maternais em suas filhas e a dar um exemplo atraente e forte de mulher para os seus filhos. Os pais cujos comportamentos são inspirados pela dignidade masculina são um grande modelo para os seus filhos e provocam a admiração e o sentimento de segurança de suas filhas. O exemplo dos pais cristãos é insubstituível. Sobre a educação sexual e afetiva, o Dr. Ward aconselha preservar as crianças muito novas das informações desnecessárias sobre sexo e corrigir, à medida que crescem e que são expostas às influências do mundo atual (por exemplo: dos colegas, da mídia e da escola), as informações erradas que vão receber, inspiradas pela cultura da morte. É preciso dar uma formação individual sobre sexualidade, de acordo com a idade da criança e sua maturidade para recebê-la, e somente os pais estão em boa posição para isso. Um aspecto essencial dessa formação é a educação para as virtudes da castidade e do pudor ou modéstia. Isso lhes ajudará a formar famílias estáveis e unidas quando crescerem. Mas para isso é preciso que os pais pratiquem no seu casamento o que desejam ensinar.
América do Sul Feminismo, ideologia de gênero e pedofilia O cientista político Agustín Laje, em meio a uma turnê de conferências no Chile, Peru, Paraguai e Argentina, explicou, em uma entrevista à ACI, o desenvolvimento do movimento feminista atual e sua ligação com a ideologia de gênero. Segundo Laje, o movimento feminista atual está relacionado diretamente com a ideologia de gênero e com a defesa da pedofilia. O cientista político distingue três “ondas” muito diferentes do que se chama habitualmente movimento feminista. A primeira delas foi a luta pelo direito de voto das mulheres nas democracias ocidentais no século XIX e início do século XX. A segunda onda feminista tem caráter marxista e se desenvolveu sob a influência do livro publicado por Engels “A origem
No domingo, 7, foi realizado o segunto turno das eleições presidenciais francesas. Emmanuel Macron venceu Marine le Pen com 66% dos votos válidos, quase o dobro de sua adversária. Sem partido político, deverá costurar suas alianças políticas para ter maioria no parlamento francês. Em seu programa político, têm destaque a liberalização da economia, a integração europeia e o laicismo radical contra as organizações religiosas, sob o pretexto de combater o “radicalismo”. Seus amigos elogiam seu reformismo e sua juventude – com apenas 39 anos, Macron é o mais jovem presidente francês e o mais jovem chefe de Estado de um país democrático na história – enquanto seus inimigos o acusam de ser uma marionete das elites financeiras e globalistas.
Fonte: ACI
Fonte: Life Site News
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Destaques das Agências Nacionais
REDAÇÃO
osaopaulo@uol.com.br
Assembleia da CNBB: Iluminar com a Palavra de Deus a realidade A 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), encerrada na sexta-feira, 5, reuniu cerca de 350 bispos em Aparecida (SP). O tema central do encontro, “Iniciação à Vida Cristã”, foi trabalhado em diversas sessões e foi aprovado do texto final que será publicado como documento da CNBB. A Assembleia de 2017 aconteceu no contexto dos dez anos da Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe, realizada também em Aparecida, em 2007, e do Ano Mariano Nacional, que ocorre por ocasião do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Outros temas também receberam atenção dos bispos, entre os quais: “Projeto Comunhão e Partilha”, de solidariedade financeira para com dioceses pobres, principalmente para ajudar na formação do clero; “Pensando o Brasil”, subsídio que aborda o tema da Educação no país; orientações sobre a celebração
Imprensa CNBB
da Palavra de Deus e para a formação dos ministros leigos da Palavra; e novas formas de consagração e novas comunidades. Na entrevista coletiva final do evento, quinta-feira, 4, o Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, destacou que a Assembleia não se resumiu à produção
de textos, mas também foi um período de convivência e oração entre os bispos. “Nós somos um episcopado grande, sempre tem bispos novos, temos os chamados bispos eméritos e é sempre muito bom, muito importante para os bispos, para a missão que nós temos da Igreja no Brasil, estar juntos, conviver de maneira fraterna, cordial”, afirmou.
O aplicativo das vacinas A Sociedade Brasileira de Imunizações desenvolveu um aplicativo que auxilia usuários a registrar e organizar seu histórico de vacinas. Disponível para os sistemas operacionais iOS e Android, o aplicativo “Minhas Vacinas” pode ser baixado gratuitamente pelo site http://
sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao/ 709-aplicativo-minhas-vacinas. Segundo a entidade, o aplicativo cria uma caderneta de vacinação digital para toda a família. A partir da informação da idade e do sexo, são apresentadas as vacinas recomendadas e o local em que estão dis-
poníveis, em redes públicas e/ou privadas. Além disso, a ferramenta informa quando deve ser tomada a segunda dose, quando for necessário. Assim, à medida que se aproxima a data, o aplicativo emite alertas ao usuário.
Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB; “O Diácono na Igreja e na Sociedade, à luz de Aparecida”, com o Diácono José Durán y Durán, ex-presidente da CND e teólogo; “Ecos de Aparecida”, com Dom João
(Com informações da CNBB)
Enem ultrapassa 1 milhão de inscritos
Francisco Salm, bispo de Tubarão (SC) e referencial da CND. No decorrer da Assembleia, também será apresentado e votado o novo estatuto da Comissão Nacional dos Diáconos. Informações e inscrições pelo e-mail enac@cnd.org.br.
Em apenas dois dias, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ultrapassou a marca de 1 milhão de inscritos. Segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), até a terça-feira, 9, o número de candidatos era 1.147.092. As inscrições começaram na segundafeira, 8, e podem ser feitas até as 23h59 do dia 19 de maio. A expectativa é que cerca de 7,5 milhões de estudantes se inscrevam para exame. Pela primeira vez, as provas serão aplicadas em dois domingos consecutivos, nos dias 5 e 12 de novembro. As inscrições devem ser feitas pela internet, na página do Enem (http:// enem.inep.gov.br/participante).
Fonte: CND
Fonte: Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil
Diáconos participarão de assembleia geral em Aparecida “O Diácono na Igreja e na Sociedade, à luz de Aparecida” é o tema da II Assembleia geral não eletiva da Comissão Nacional dos Diáconos (CND), que acontecerá entre os dias 18 e 21, em Aparecida (SP). Na pauta da Assembleia estão formações sobre temas como “Vocação Diaconal na Família”, com Dom Jaime
Sobre a realidade sociopolítica e econômica do país, o presidente da CNBB ressaltou que os bispos procuram iluminar com a Palavra de Deus a realidade social cristã, a realidade política e a realidade econômica. “Nós procuramos refletir, rezar a respeito disso e também dar nossa palavra”, completou.
Pastoral da Comunicação realiza encontro estadual
Estádio de futebol no Mato Grosso ganha salas de aulas
Com o objetivo de melhorar a articulação dos agentes de Pastoral da Comunicação do Regional Sul 1, foi realizado, com apoio da CNBB, o Encontro Estadual para Coordenadores e Assessores Diocesanos da Pastoral da Comunicação (Pascom), no sábado, 6, em Limeira (SP). A Arquidiocese de São Paulo participou do encontro, representando o sub -regional 1, com a presença do assessor eclesiástico para a Pascom, o Padre Luiz Claudio Braga, e dos coordenadores de três regiões episcopais: Sé, Brasilândia e Belém. No encontro, foi trabalhada a mensagem do Papa Francisco para o 51º Dia
Pouco aproveitada após a Copa 2014, a Arena Pantanal teve alguns de seus camarotes convertidos em salas de aula da rede pública. O estádio mato-grossense, que tem capacidade para 39.859 torcedores, recebeu 163 partidas após o mundial, registrando baixíssima média de público: inferior a mil pessoas. O custo mensal de manutenção da Arena é de R$ 600 mil, o que representa 10% dos R$ 600 milhões gastos na construção. O governo do Mato Grosso optou por transformar em sala de aula dez dos 97 camarotes, também como
Mundial das Comunicações, que será celebrado no dia 28. Para marcar a data, a Arquidiocese de São Paulo e as Irmãs Paulinas realizarão, no dia 17, o evento “Retratos de Esperança”. O encontro acontecerá no auditório Paulo Apóstolo (rua Dona Inácio Uchôa, 62, Vila Mariana), a partir das 19h30. Estão confirmadas as palestras do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, e de Dom Devair Araújo da Fonseca, bispo auxiliar da Arquidiocese e vigário episcopal para a Pastoral da Comunicação. (Colaborou: Padre Luiz Claudio Braga)
forma de dar sentido ao elevado gasto mensal. Agora, não apenas torcedores, mas alunos usufruem de instalações como ar condicionado e televisores durante as aulas. As instalações esportivas, com exceção do campo, que é restrito às partidas oficiais, também ficam à disposição dos jovens. Conforme o governo estadual, as dez salas utilizadas por alunos do ensino médio e do ensino fundamental fazem parte de um projeto que pretende aproveitar mais salas. Fonte: Uol
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A reforma trabalhista por diferentes perspectivas Luciney Martins/O SÃO PAULO
Daniel Gomes
danielgomes.jornalista@gmail.com
Os senadores que compõem as comissões de Assuntos Sociais e de Assuntos Econômicos se reúnem na quarta-feira, 10, para começar a tratar da reforma trabalhista, que tramita no Senado como PLC 38/2017, a partir do texto aprovado pela Câmara, em 27 de abril. Não há consenso entre os congressistas nem na opinião pública sobre os pontos da reforma, em especial no que se refere à possibilidade de a negociação entre trabalhadores e empregados para questões como jornada de trabalho, parcelamento das férias, prorrogação de jornada em ambientes insalubres e participação nos lucros e resultados, se sobrepor ao que está previsto em lei.
Retirada de direitos?
Na avaliação de Germano Siqueira, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), a generalização da prevalência do negociado sobre o legislado fere o artigo 7º da Constituição, que trata dos direitos dos trabalhadores. Ele também criticou que o projeto da reforma possibilite que todos os empregados estejam sujeitos a jornadas de trabalho de até 12 horas diárias, com o limite de 44 horas semanais. “Como está no projeto hoje, a jornada de 12 horas poderá ser cobrada pelo empregador sem nenhum intervalo, caso ele indenize o valor do intervalo. Na prática, se deixará de pagar as horas extras e isso poderá ser feito até por acordo individual. Estará se privilegiando os acordos individuais e generalizando práticas que não poderiam ser generalizadas”, disse Germano ao O SÃO PAULO. Já a advogada Luciana Dessimoni, especialista em Direito do Trabalho e atuante na Nakano Advogados da Saúde, argumenta que a supremacia do negociado sobre o legislado não é inconstitucional. “Não se vai poder barganhar em cima de direitos. O que se negociará, por exemplo, é o parcelamento das férias, não o direito a ter férias. O que será negociado é uma situação específica”, disse à reportagem. Também o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), em nota publicada no início deste mês, defendeu a maior flexibilidade na relação entre trabalhadores e empregadores. “A atual legislação, ao contrário da proposta, atua na contramão da formação dos jovens, inviabilizando jornadas flexíveis que permitiriam a eles custear seus estudos e ter tempo para se prepararem às aulas, alimentando-se adequadamente e chegando a tempo na escola. A jornada flexível não só corrige esse problema, mas também facilita a reinserção do aposentado no mercado de trabalho, permitindo a ele complementar sua renda e continuar a contribuir para a economia como um todo”.
Fiscalização
Um ponto comum de preocupação entre
os críticos e os defensores da reforma trabalhista é como se dará a fiscalização dos acordos entre as empresas e os trabalhadores. “O ambiente de trabalho é de subordinação. Quem determina as condições de uma cláusula contratual não é o trabalhador. O que haverá é praticamente um contrato de adesão, em que a empresa decidirá as condições”, comentou o presidente da Anamatra. Luciana Dessimoni acredita que fiscalização dos acordos é um aspecto preocupante, mas que tende a se ajustar com o tempo. “É só o dia a dia, é só a prática que vai nos mostrar a eficácia do negociado sobre o legislado. Em Portugal, por exemplo, o negociado prevalece e funciona. Eu acredito que o negociado vai ser fiscalizado e a gente vai fazer que isso resulte positivamente para o país”, afirmou. Germano Siqueira vê essa questão ainda mais incerta no que se refere ao trabalho home-office, feito pelo trabalhador em casa. Para ele, uma legislação sobre o assunto será benéfica, desde que preveja algum controle da jornada de trabalho. “Do modo como a lei foi construída, o trabalhador poderá ser cobrado pela empresa por um trabalho a qualquer momento, até nas horas vagas. Outro problema são os custos, pois este trabalhador vai se incumbir das despesas com computadores e com a rede de internet. Pode até ser feito via contrato entre as partes, mas quem efetivamente vai decidir isso é o empregador”, opinou. Para Luciana Dessimoni uma legislação sobre o home-office só vai oficializar o que já é praticado por muitas empresas. Ela acredita que esse modelo de trabalho “vai dar mais qualidade de vida para todos”, mas um fator a se ter preocupação é com a ergonomia do ambiente da casa destinado ao trabalho. “Se precisará averiguar se a pessoa está trabalhando dentro de uma postura correta, com um material adequado e se isso não atinge a saúde dela de alguma forma”, pontuou.
Demissões e o papel dos sindicatos
No entender de Germano, outro ponto problemático da reforma é o fim da assistência obrigatória dos sindicatos na extinção dos contratos de trabalho e nas homologações. Ele defende que essa obri-
gatoriedade seja mantida para os casos em que o empregado pedir demissão, for demitido por justa causa ou haja o distrato (acordo das partes para pôr fim a um contrato). “O trabalhador deixará de ter aquela entidade sindical que vai perguntar se ele confirma a versão da empresa, para homologar ou não a rescisão. Então, só restará a ele receber da forma que a empresa impõe”. Ainda mais grave, segundo Germano, será a chamada jurisdição voluntária, em que as partes podem tentar resolver um conflito extrajudicialmente e depois pedir a homologação pelo juiz do trabalho. “Isso levará a uma quantidade infinita de acordos extrajudiciais para a Justiça do Trabalho, o que vai avolumar ainda mais as quantidades de processos”, afirmou. Já Luciana acredita que a possibilidade de demissão consensual será benéfica para todos os envolvidos: “Muitas vezes, a pessoa quer sair da empresa, de repente até já tem uma outra oportunidade de trabalho certa, mas pensa: ‘vou abrir mão de todo o meu fundo de garantia’. Essa pessoa até pede para ser dispensada, mas às vezes a empresa não tem nem o dinheiro para mandá-la embora, aí fica com uma mão de obra imperfeita, que não está rendendo. Então, a possibilidade da demissão consensual ajudará todo mundo”. Sobre fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, a advogada acredita que isso levará à melhoria da qualidade da atuação dos sindicatos. “Se o sindicato fizer uma boa atuação para aquela categoria, ele vai convencer o trabalhador a se utilizar dele. Então, sindicatos que hoje não são tão profissionalizados irão se profissionalizar para manter seus sindicalizados, e quanto melhor o sindicato fizer a uma categoria, mais fortalecido vai estar”, comentou. Os movimentos sindicais aparentam não ter uma posição fechada sobre o assunto. A União Geral dos Trabalhadores (UGT), por exemplo, já manifestou que aceitaria uma retirada gradual da contribuição sindical. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) sinaliza que poderá aceitar o fim do recolhimento obrigatório, caso se crie uma taxa negocial definida entre cada sindicato e os trabalhadores que este representa. Já a Força Sindical tem se posicionado totalmente contra o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical.
Previdência: 25 anos de contribuição mínima
A Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados (PEC 287/16) rejeitou, por 22 votos a 14, destaque do PCdoB para retirar da proposta o tempo mínimo de contribuição de 25 anos. Atualmente, na aposentadoria por idade, são exigidos 15 anos. Com isso, fica mantido trecho do texto-base do relator, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), aprovado na semana passada. Ele lembrou que o aumento do tempo mínimo será gradual. Se aprovada pela comissão especial, a proposta de emenda à Constituição precisa ser votada em dois turnos pelo plenário da Câmara. São necessários pelo menos 308 votos para ser aprovada e encaminhada para análise do Senado. O governo Temer já indicou que só pretende articular a votação no plenário quando tiver a garantia de que possuirá os votos necessários para a aprovação da matéria.
Governo do Amazonas
O deputado estadual David Almeida (PSD), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, assumiu o governo daquele estado na terça-feira, 9, após o Tribunal Superior Eleitoral determinar a cassação do mandato do governador José Melo (Pros) e do vice, Henrique Oliveira (SD), por compra de votos nas eleições de 2014. Almeida seguirá como chefe do Executivo estadual até a realização de novas eleições no Amazonas, que devem ocorrer ainda este ano.
Marginais Tietê e Pinheiros
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito da capital, João Doria (PSDB), trataram em reunião, na segunda-feira, 8, sobre as ideias iniciais de um projeto para conceder à iniciativa privada a administração das marginais Tietê e Pinheiros. O prefeito não descartou que com a concessão haja cobrança de pedágios nessas vias, mas disse que ainda não há definições a respeito. Diretores de empresas que administram rodovias em regime de concessão no estado também participaram da reunião. Fontes: Câmara Notícias, G1 e Folha de S.Paulo
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| Reportagem | 11
Mais que uma viagem, uma ‘peregrinação apostólica’ FILIPE DOMINGUES
Especial para O SÃO PAULO Na Cidade do Vaticano
A visita do Papa Francisco à Fátima é antes uma “peregrinação apostólica” do que uma “viagem apostólica”, afirmou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, em coletiva de imprensa na sexta-feira, 5, ao detalhar a agenda do pontífice em Portugal. Para Burke, a ida do Papa à celebração do centenário das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco, é uma viagem “natural”, mas não óbvia. “É preciso mais do que um aniversário para ter uma visita do Papa”, avalia. A viagem, em 12 e 13 de maio, ocorre a convite dos bispos portugueses e do presidente do país. De fato, o Papa fará um voo direto de Roma à base aérea de Monte Real, a 40 km de Fátima, e partirá de helicóptero diretamente para o Santuário, na famosa “Cova da Iria”. O fato de Francisco não fazer sequer uma passagem por Lisboa denota sua intenção de dar um teor estritamente religioso à viagem, dedicando atenção exclusiva à mensagem de fé e esperança dos acontecimentos de Fátima. “Por isso, escolhemos o logo ‘Com Maria, peregrino na paz e na esperança’”, afirmou a diretora de comunicação do Santuário, Carmo Rodeia, no mesmo encontro com os jornalistas. “A presença do Santo Padre entre nós é um momento para toda a Igreja rezar junto com Maria pela paz”, acrescentou, lembrando que a viagem foi anunciada em 2014. “Isso mostra o valor que o Papa Francisco atribui a Fátima, mas também o fato da canonização dos pastorinhos é uma valorização das verdades que eles contaram há cem anos.”
tação oficial da mensagem, publicada em 13 de maio de 2000 pela Congregação para a Doutrina da Fé. Ela relata em suas memórias que os pastorinhos viram um bispo vestido de branco que caminhava à frente de outros religiosos e fiéis. Esse bispo, diante da perseguição contra os cristãos pelos regimes ateus do século XX, especialmente o
rido no atentado foi atribuído, por ele mesmo, à intercessão de Nossa Senhora. Aliás, como referência a esse acontecimento, a bala que o atingiu está hoje colocada na coroa da principal imagem de Nossa Senhora de Fátima. Em 13 de maio de 1994, ele afirmou que “foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o Santo Padre agonizante dete-
Canonização
O Papa e Fátima
Para o Padre Nuno Rosário Fernandes, diretor do departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa, há uma nítida relação entre os papas e Fátima, e não somente do Papa Francisco ou de São João Paulo II, envolvidos diretamente no conteúdo das mensagens. A Igreja interpreta que ele é o “bispo vestido de branco” presente na terceira parte da mensagem de Maria aos pastorinhos, uma vez que São João Paulo II sofreu uma tentativa de assassinato. “Nossa Senhora não nos disse o nome do papa. Não sabíamos se era Bento XV, Pio XII, Paulo VI ou João Paulo II, mas que era o papa que sofria e isso fazia-nos sofrer a nós também”, conta Irmã Lúcia, segundo a interpre-
como a Igreja pode confirmar essas aparições”, explica o porta-voz da Igreja em Lisboa. “Sabemos que nem todas as aparições foram confirmadas pela Igreja, sabemos das dificuldades para tal. Mas essa visita do Papa Francisco é uma confirmação, mais que das aparições, mas da mensagem. Uma mensagem de paz, de misericórdia, de conversão”, declarou. Questionada pelo O SÃO PAULO sobre a relação simbólica entre a figura do papa e as aparições de Fátima, Carmo Rodeia concordou que a história do “bispo de branco” faz com que a ligação dos papas com Fátima tenha “uma especial relevância”. Segundo ela, esse elemento ficou claro já na primeira viagem pontifícia, realizada pelo Beato Paulo VI. “Há uma grande semelhança entre a viagem de Paulo VI com a de Francisco, pois ambos se fizeram peregrinos de Fátima”, disse. Ela explicou que João Paulo II também ali esteve como figura central do segredo de Fátima e Bento XVI ficou conhecido como “teólogo de Fátima”. “Essas viagens pontifícias vieram dar uma maior relevância e visibilidade à Fátima.”
comunismo, “é ferido de morte e cai por terra”. Posteriormente, sob o comando do Cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI), a Igreja interpretou essa imagem como sendo uma visão do atentado contra São João Paulo II, em 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro. O fato de João Paulo II não ter mor-
ve-se no limiar da morte”, declaração com a qual a Irmã Lúcia concordou. Desse modo, segundo os representantes do Santuário, faz-se referência à figura do papa de promotor da paz e a de Nossa Senhora como intercessora da paz. “A visita do Papa Bento XVI em 2010 foi uma confirmação do que é a mensagem de Fátima. É o modo
O Papa Francisco pessoalmente decidiu celebrar a missa e fazer todos os seus pronunciamentos públicos em Fátima em língua portuguesa, inclusive o rito de canonização dos pastorinhos Francisco e Jacina Marto. A pessoa que recebeu o segundo milagre comprovado pela Igreja por intercessão dos pastorinhos foi um menino brasileiro, uma criança, assim como os novos santos. Sua identidade não foi revelada pelos pais, mas em 11 de maio a família contará, em coletiva de imprensa no Santuário, a história do milagre que salvou sua vida. “Não é preciso ser adulto para ser santo”, comentou o Padre Nuno. “Todos podem ser santos, começando pelas crianças. Os pastorinhos acolheram a mensagem de Nossa Senhora e a transmitiram com a própria vida.” O Vaticano anunciou há cerca de três semanas que o segundo milagre por intercessão de Francisco e Jacinta havia sido reconhecido. O primeiro foi a reabilitação de Emilia Santos, em 1989, que voltou a andar após 22 anos imobilizada por uma paralisia. A beatificação foi em 13 de maio de 2000, presidida por São João Paulo II. No caso de Irmã Lúcia, que morreu em 2005, aos 97 anos, o processo de beatificação concluiu a etapa diocesana e foi enviado a Roma, mas ainda está em andamento.
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A mensagem de Fátima: Nayá Fernandes
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Em um ambiente simples e pobre, em Portugal, no início do século XX, não se poderia imaginar que teria início uma história de fé que ficaria conhecida em todo o mundo. Tudo começou em 1916, quando um anjo, que se identificou como Anjo de Portugal, apareceu a três pastorinhos que ajudavam seus pais com o rebanho, na distante Cova da Iria. Ali, onde hoje está a cidade e o Santuário de Fátima, morava a família de Lúcia, a mais velha dentre as três crianças para quem aconteceram as aparições. Após a aparição do anjo, conhecida como período angélico, começou o período mariano, quando, em 1917, Nossa Senhora apareceu a eles por seis vezes. Lúcia, que na época tinha 10 anos, e seus primos Francisco, com 9, e Jacinta, com 7, receberam a mensagem na qual a “Senhora mais brilhante que o Sol” pedia orações, sacrifícios e reparação das ofensas ao seu Imaculado Coração e a Deus. A primeira aparição de Maria ocorreu no dia 13 de maio de 1917, quando Nossa Senhora pediu a Lúcia, Jacinta e Francisco que fossem à Cova da Iria durante seis meses consecutivos, a cada dia 13, sempre na mesma hora. Pediu também que rezassem o Terço pedindo o fim da Guerra – o mundo estava vivendo a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). “Era uma senhora toda vestida de branco, mais resplandecente que o sol, que difundia uma luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de Reprodução
água pura, e atravessado pelos raios do sol mais ardente.” Assim Lúcia descreveu a Senhora que a eles apareceu, em suas memórias, escritas anos depois. No mês seguinte, acompanhados por uma centena de pessoas, os três receberam de novo o pedido de rezar o Terço, e para que aprendessem a ler e a escrever. Naquele dia, souberam também que Francisco e Jacinta teriam uma vida curta e que Lúcia estaria destinada a missão de dar a conhecer as revelações de Nossa Senhora ao mundo. Lúcia podia ver, ouvir e falar durante as aparições, enquanto Jacinta podia ver e ouvir; Francisco podia apenas ver, e depois a prima e a irmã lhe relatavam o que tinham ouvido. Já na terceira vez que Nossa Senhora apareceu na Cova da Iria, no dia 13 de julho –, estima-se que havia de 2 a 5 mil pessoas. Mas foi no mês seguinte que Lúcia, Jacinta e Francisco tiveram uma visão do inferno, e que a Virgem anunciou que a guerra iria acabar, mas que um novo conflito, ainda pior, teria início. Assim, para evitar essa guerra, Nossa Senhora disse às três crianças que viria a Fátima pedir a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração. Na penúltima vez que a Senhora apareceu a eles, anunciou que, em outubro, Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo e São José com o Menino Jesus, viriam abençoar o mundo. Assim, na sexta e última aparição, no dia 13 de outubro, cerca de 70 mil pessoas se reuniram para ver Nossa Senhora, que se deu a conhecer como Senhora do Rosário e anunciou que logo a guerra teria fim. Os detalhes contados por Lúcia em suas memórias tornam os momentos das aparições cheios de beleza, a beleza própria de uma criança que crê. “O rosto indescritivelmente belo não parece triste nem alegre, mas sério, com um tom doce. As mãos unidas como em oração, apoiadas sobre o seio e direcionadas para o alto. Na mão direita, segurava um rosário. As roupas pareciam feitas somente de luz. A túnica branca, e ornada com ouro.”
O Segredo
O Segredo de Fátima consiste em revelações feitas por Nossa Senhora aos três pastorinhos durante as aparições, e está dividido em três partes. Lúcia guardou as palavras da Senhora do Rosário e só as revelou quando, segundo ela mesma, recebeu “autorização do céu”. A primeira parte do Segredo de Fátima é sobre a visão do inferno. A segunda diz respeito à devoção e à consagração ao Imaculado Coração de Maria e à conversão da Rússia. Segundo as memórias escritas por Lúcia em 1942, o país precisaria se converter e consagrar o primeiro sábado de cada mês à Nossa Senhora ou, do contrário, espalharia seus erros por todo o mundo, provocando uma outra guerra. Já a terceira parte refere-se à Igreja peregrina e mártir. Papa, bispos, religiosos e religiosas subiam uma monta-
nha, onde estaria uma grande cruz. Essa procissão, que tinha o papa à frente, passou por uma cidade em ruínas, onde havia vários cadáveres e, ao chegar no topo da montanha, atacado por tiros e flechas, o pontífice foi morto junto com aqueles que o acompanhavam. No mês de abril de 2000, no Carmelo de Coimbra, durante conversa com o Cardeal Tarcisio Bertone, então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, a Irmã Lúcia concordou que a terceira parte do Segredo consiste numa visão profética, sobretudo a respeito da luta do comunismo ateu contra a Igreja.
Cristãos perseguidos
Em entrevista ao O SÃO PAULO, Padre Adilton Pinto Lopes, Doutor em Mariologia, coordenador do curso de Teologia da Universidade Católica do Salvador (UCSal), pároco e reitor da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, que é a padroeira do Estado Bahia, falou sobre o contexto das aparições de Fátima e a dimensão profética dessas mensagens. “Quando a Virgem Maria apareceu em Fátima, na Cova da Iria, o mundo de então estava desorganizado e sofrendo com a Primeira Guerra Mundial, que devastava a Europa. Um governo desacreditado, imensa corrupção, afastamento da ética e dos valores morais. A economia de Portugal estava em frangalhos. Desde que o país entrara na Grande Guerra, cresciam a violência, os assassinatos e desordens de todo tipo. Respirava-se em Portugal uma autêntica guerra civil”, explicou Padre Adilton. Ele comentou também que a Igreja Católica em Portugal estava sendo perseguida e sua voz tinha sido abafada. “Os governantes não queriam que ela cumprisse sua missão de ser sacramento de salvação. Queriam reduzir a ação da Igreja às sacristias. Portugal vivia o momento mais tenebroso e obscuro de sua história, pois estava em declínio há mais de um século, devido a ação das sociedades secretas, que dominavam os governos e a sociedade. A Revolução de 1910 depôs a monarquia e proclamou a República, que nascia com o derramamento de muito sangue inocente. O novo governo era composto, sobretudo, de membros de sociedades secretas.” O Padre explicou ainda que a Igreja
É 13 de maio, viva Nossa Em Fátima, Portugal
A transmissão da visita do Papa em Fátima, Portugal, bem como a missa de canonização dos dois pastorinhos – que será no dia 13, às 14h (horário de Brasília) – pode ser acompanhada ao vivo pelo site www.papa2017.fatima.pt. Na Arquidiocese de São Paulo
No dia 13, sábado, a Arquidiocese de São Paulo fará uma procissão luminosa no Centenário das Aparições de
Fátima. A concentração será na Paróquia Nossa Senhora da Consolação (Rua da Consolação, 585, centro) às 18h, e a missa às 19h30 será na Praça da Sé. Na Paróquia Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima
(avenida Dr. Arnaldo, 1831, no Sumaré) acontece a peregrinação da imagem de Fátima vinda de Portugal, entre os dias 12 e 21 de maio.
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fé, conversão e profecia Luciney Martins/O SÃO PAULO
Católica foi o principal alvo da Revolução de 1910. “As paróquias, com suas igrejas e capelas eram invadidas, conventos e religiosos assediados. Os bens eclesiásticos confiscados. Foi elaborada uma lei anti-clerical. Aprovaram-se leis e decretos, um atrás de outro, cuja meta principal era destruir a moral do país: fez-se a lei do divórcio; depois uma lei que permitia a cremação; a secularização dos cemitérios; a abolição do juramento religioso; a supressão do ensino religioso nas escolas. O toque dos sinos e as horas de culto foram sujeitos a restrições, e a celebração pública das festas religiosas foi suprimida. O Governo interferiu inclusive nos seminários, reservando-se ao direito de nomear os professores e determinar os programas. Percebe-se, já neste período, o crescimento do secularismo, de uma falsa liberdade, que beirava a libertinagem, e se espalhava no mundo as doutrinas ateias tão estimuladas pela Rússia, com a expansão do comunismo ateu. Como se pode ver, os cristãos católicos em Portugal eram dia e noite perseguidos e massacrados em razão da sua fé em Deus e da busca da fidelidade à verdade do Evangelho.” Maria chamou todos à conversão, à mudança de vida e à penitência. “Imaginemos esta realidade cem anos depois. Ao invés de o pecado diminuir, ele tem aumentado: corrupção deslavada em todos os poderes: legislativo, executivo, judiciário, em meio aos grandes empresários e empresas; casamentos contrários a natureza; perversões sexuais de todo o tipo; guerras; Estado Islâmico; aumento da miséria e da pobreza extrema no mundo; injustiças sociais gritantes; milhões de abortos provocados a cada ano no mundo, não só abortos cirúrgicos, mas os provocados pelo uso da pílula do dia seguinte, da mulher que usa o DIU (Dispositivo Intra Uterino); experimentação; congelamento e destruição de embriões humanos; violência; crescimento do uso de drogas; destruição da família; e tantíssimos outros pecados que afligem as sociedades. Percebe-se que o ser humano perdeu o sentido dele mesmo e de sua relação com o Criador. A mensagem profética de Fátima não é só atual, mas urgente. Fazendo parte assim da missão evangelizadora da Igreja”, continuou Padre Adilton.
ossa Senhora de Fátima! Sexta-feira, 12
17h – Abertura das Festividades (comidas típicas portuguesas). Chegada da Imagem Peregrina ao Santuário, Coroação de Nossa Senhora. Início das Visitações à Imagem. 17h30 – Celebração Festiva. 20h – Procissão das velas, Terço e vigília de oração. Sábado, 13
Celebrações pela manhã 6h/7h/8h/9h/10h/11h30
7h - R eabertura das festividades no pátio. 14h - Procissão com a Imagem Peregrina do metrô (Estação Santuário N. Sra. de Fátima/Sumaré) até o Santuário. 15h - Celebração Solene – Presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer. 17h30 - Celebração especial. 18h30 - Celebração com a presença dos Corais Musicanto e São João de Brito (Com cantos em latim apresentados no Vaticano). 20h – Celebração Solene.
A canonização dos pastorinhos
A partir da primeira Aparição de Nossa Senhora, a vida de Lúcia e dos seus primos transformou-se completamente. Além das orações e sacrifícios cotidianos, eles eram constantemente interrogados sobre as aparições e até acusados de mentirosos. Por isso, Lúcia de Jesus foi recolhida no Asilo de Vilar, no Porto, depois da última aparição, em outubro de 1917 e, a partir daí, começou uma vida retirada que a levou a seguir a vocação religiosa na clausura do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde permaneceu até à sua morte, em 13 de fevereiro de 2005. Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, nome que adotou quando professou os seus votos perpétuos, deixou numerosos escritos, incluindo suas memórias, escritas a pedido do bispo de Leiria e redigidas entre dezembro de 1935 e março de 1992. A fase diocesana do processo de canonização de Lúcia foi aberta por Dom Albino Cleto, em 30 de abril de 2008, e a sua conclusão foi anunciada em 13 de janeiro de 2017. A sessão solene de encerramento do processo aconteceu no dia 13 de fevereiro de 2017, nove anos depois do seu início e 12 anos após a morte de Lúcia. Sobre a vida dos futuros santos, Francisco Marto e Santa Jacinta Marto, há poucos registros biográficos. Nascidos em Aljustrel, assim como Lúcia, eles morreram pouco tempo depois das aparições. Mas o curto tempo de vida foi suficiente para que a Igreja reconhecesse, pela primeira vez na sua história, a “heroicidade das virtudes e a maturidade de fé de crianças não mártires”, como afirmou São João Paulo II, num decreto escrito no dia 13 de maio de 1989. Francisco morreu no dia 4 de abril de 1919, vítima da epidemia da gripe pneumônica que assolou o país, que ficou conhecida como “gripe espanhola”. Jacinta Marto, por sua vez, não chegou aos 10 anos de idade, tendo falecido em Lisboa, no dia 20 de fevereiro de 1920, também vítima da gripe espanhola. A canonização dos dois pastorinhos acontecerá em Fátima, Portugal, no dia 13 de maio, com a presença do Papa Francisco, data que marca também o centenário das aparições de Nossa Senhora (leia mais na página 11). Eles serão os mais jovens santos não mártires da história da Igreja Católica. No processo de Francisco e Jacinta Marto, foi aceito como milagre a cura de uma criança no Brasil, num caso que ainda não foi divulgado em detalhes. Segundo Padre Adilton, é necessário ter a clareza de que eles “são declarados santos devido à vivência do Evangelho e das virtudes heróicas que o Espírito Santo os concedeu. A Igreja, em sua sabedoria, vê no evento de Fátima um sinal da misericórdia e condescendência de Deus que, por meio da sua serva, continua chamando a todos os seres humanos para que se tornem cristãos e vivam de modo radical a vida nova anunciada pelo Evangelho”.
Revelação pública e revelações privadas
No documento “A mensagem de Fátima”, publicado integralmente no site do Vaticano, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger (posteriormente Papa Bento XVI), explica que a doutrina da Igreja distingue revelação pública e revelações privadas; entre as duas realidades existe uma diferença essencial. A noção de revelação pública designa a ação reveladora de Deus que se destina à humanidade inteira e está expressa literariamente nas duas partes da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento. Chama-se revelação, porque nela Deus deu-se a conhecer progressivamente aos homens, até ao ponto de ele mesmo se tornar homem, em Jesus Cristo. “No entanto, apesar de a Revelação ter acabado, não quer dizer que esteja completamente explicitada”, afirma o Catecismo da Igreja Católica. Nesse contexto, torna-se possível compreender corretamente o conceito de revelação privada, que se aplica a todas as visões e revelações verificadas depois da conclusão do Novo Testamento; nessa categoria, portanto, se deve colocar a mensagem de Fátima. O texto é também composto por explicações sobre o “Segredo de Fátima”, bem como um extenso comentário teológico sobre as aparições e todas as mensagens decorrentes delas ao longo do tempo. (Com informações dos sites Vatican.va, LaStampa e Fatima.pt) Reprodução
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‘Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos’ Nelson Toledo/Edições SM/Divulgação
Vicariato Espiscopal para a Educação e a Universidade, da Arquidiocese de São Paulo, realiza Congresso Católico de Educação, no sábado, dia 6
É o que afirmou o Cardeal Scherer, durante Congresso Católico de Educação, realizado pela Arquidiocese de São Paulo Fernando Geronazzo
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“Qual é a identidade e a missão dos educadores e instituições de ensino?” Essa foi a pergunta que norteou o I Congresso Católico de Educação, realizado pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo, em parceria com a Editora SM. O evento reuniu educadores e dirigentes de instituições católicas de ensino no Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UniÍtalo), em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo, no sábado, 6. O Congresso também contou com a presença do arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, e do bispo diocesano de Santo Amaro, Dom José Negri, além de especialistas da área da Educação. Dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal para a Educação e a Universidade, destacou que em São Paulo existe uma grande quantidade de instituições de ensino ligadas à Igreja Católica, desde creches até universidades, além de inúmeros professores católicos que atuam em vários âmbitos da educação, em escolas públicas e privadas. “Temos uma força transformadora muito grande em nossas mãos”, afirmou. “O principal objetivo do Congresso foi reforçar qual é o grande diferencial que nós, enquanto católicos, temos
a oferecer às pessoas que continuam procurando as nossas escolas, as nossas universidades e os nossos professores”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Padre Vandro Pisaneschi, coordenador de pastoral do Vicariato. As principais conferências foram proferidas pelo professor Gabriel Perissé, pós-doutor em História e Filosofia da Educação, e pela Irmã Alba Rivas, da Congregação das Filhas da Caridade, no Equador, formada em Educação e Gestão Educacional e Doutrina Social da Igreja, e secretária geral da Confederação Interamericana de Educação Católica (Ciec). Também aconteceram oficinas com temas como “Ensino Religioso”, “Escola em Pastoral”, “Formação Integral”, “Educação e Sociedade” e “Educação em Valores”, coordenadas por especialistas de diversas áreas.
Conduzir a Cristo
Irmã Alba apresentou um panorama da educação católica na América Latina. Ela destacou que as instituições educativas em geral estão reformulando tanto seu papel social e funções quanto a própria missão à luz das novas realidades. “Se percorremos nossas escolas, públicas e católicas, confessionais e não confessionais, poderíamos responder a essas perguntas: Percebe-se alguma diferença substancial entre elas? Poderíamos apreciar diferenças na atenção aos estudantes; diferenças na dedicação docente a determinadas atividades complementares; há algum sinal que recorde a essência da sua identidade? Essas diferenças justificam a presença das escolas católicas na sociedade e no sistema educativo? A presença da escola católica na nossa sociedade tem um sentido?”, indagou a religiosa.
Para a Irmã, a escola católica tem hoje uma plena significação, talvez mais do que nunca, somente se for capaz de voltar ao que é essencial de suas origens. “O coração da educação católica é sempre a pessoa de Jesus Cristo. Tudo o que acontece na escola católica deveria conduzir ao encontro do Cristo vivo”. Por fim, Irmã Alba apontou três possíveis espaços nos quais a educação católica é chamada a atuar: a formação da consciência moral, a educação no amor e na sexualidade, e o desenvolvimento da dimensão social e política da caridade.
Educador do encontro
Para o Perissé, a primeira ideia importante é compreender que os professores são o núcleo vital de qualquer escola, projeto pedagógico ou plano para educação. No entanto, o educador deve estar sempre à frente de seu tempo para não se tornar obsoleto. “Estamos na ‘idade mídia’ e muitos professores estão na ‘Idade Média’”, afirmou, destacando que os estudantes hoje são altamente influenciados pela tecnologia não só quanto ao seu uso, mas em tudo o que envolve o comportamento mental e a atitude de vida. Nesse sentido, o Professor indica que é preciso repensar a avaliação, a didática e a dinâmica na sala de aula. “Nos tornamos ‘aulistas’, ‘provistas’ e ‘notistas’, reproduzimos novamente uma escola que não educa. Pode preparar para alguma coisa, mas não forma”, salientou. Segundo Perissé, o professor deve se preocupar acima de tudo com o desenvolvimento que implica envolvimento, em outras palavras, o encontro, categoria que ele define como fundamental para a Educação. Porém, para ser um educador do encontro, é preciso primeiro se encontrar e compreender a própria missão.
Emergência educativa
Ao recordar os 10 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado latino-Americano e do Caribe, em Aparecida (SP), Dom Odilo destacou o que o documento conclusivo do evento afirma: existe uma verdadeira emergência educativa não só da educação católica, mas em modo geral. “Os fatores são muitos. Porém, o Documento de Aparecida fala de um claro reducionismo antropológico, uma compreensão distorcida, insuficiente e unilateral da pessoa humana”, disse Dom Odilo. O texto chama a atenção para o fato de a educação atualmente estar mais voltada para a vida econômica, esquecendo que a pessoa humana não é uma máquina que precisa apenas ser preparada para entrar no mercado. “A educação deve ser lugar de formação integral da pessoa humana, pela qual a pessoa aprende a se situar no tempo, na cultura, nas relações sociais e nas responsabilidades pessoais em relação a ela própria e à sociedade”, enfatizou o Cardeal. Segundo o Arcebispo, a escola católica é chamada a uma profunda renovação. “Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos por meio de um impulso missionário corajoso e audaz, de modo que chegue a ser uma opção profética plasmada em uma pastoral da educação participativa”, disse. Dom Odilo reforçou ainda a necessidade de se reivindicar a liberdade de ensino e a não aceitar que seja excluída do processo educativo a proposta católica de educação. “A multiplicidade de propostas educativas assegura uma pluralidade de pensamento, de formação cultural, que permite à sociedade manter-se mais democrática a partir de contribuições que vêm de diversos âmbitos”.
Escola em Pastoral
Falando à reportagem, Padre Vandro reforçou que é preciso mudar a concepção de que existe na escola católica uma pastoral que seja quase que o único meio responsável por demonstrar os valores cristãos dentro da instituição. “A escola tem que estar toda em pastoral. Nas suas relações pessoais, na estrutura, no currículo, no projeto educativo, deve manifestar a sua vocação cristã e não esquecer que ela é parte integrante da Igreja. Nenhuma escola católica é apêndice ou anexo da Igreja, mas parte que colabora, e muito, na missão evangelizadora”, disse. O Coordenador de Pastoral destacou, ainda, que as instituições de ensino católicas precisam ter excelência acadêmica, mas sem abrir mão da excelência cristã. “Nós devemos ser reconhecidos porque nossos alunos passam efetivamente nas provas e exames, mas também porque eles saem das nossas escolas pessoas melhores, que fazem a diferença enquanto profissionais nas suas áreas, como pais de família e formadores de opinião”.
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mães em tempo integral Laura e Adriana deixaram o trabalho fora para dedicaremse exclusivamente ao cuidado dos filhos
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Nayá Fernandes
A
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os 22 anos, ela tinha uma promessa de emprego como coordenadora do setor de Recursos Humanos numa grande multinacional, mas preferiu dedicar-se exclusivamente ao cuidado da pequena Amélia Amorim Marchini, que tem 1 ano e 8 meses de idade. A primeira filha de Laura Amorim, 23, (foto), nasceu após um trabalho de parto de quase 24 horas, no dia 14 de agosto de 2015 e, desde lá, a mãe percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma. “Eu estava disposta a voltar a trabalhar, pois tinha, mesmo passando por todo o processo de gestação e os meses de licença-maternidade, uma proposta de promoção na empresa que ia, inclusive, dobrar o meu salário. Mas, quanto mais se aproximava a data do regresso, mais eu ficava tensa com a situação de passar o dia todo longe da minha filha e precisar parar a amamentação tão precocemente”, contou Laura, durante a entrevista que concedeu à reportagem do O SÃO PAULO, na casa onde mora com seu esposo, Renan Bastos Marchini, a filha, e sua mãe, Sandra Maria Ambrósio. Mia, como a mãe chama a pequena Amélia, é uma criança saudável e vivaz, e foi pelo crescimento dela que Laura escolheu interromper, por algum tempo, sua vida profissional. “Tive muito medo no início, pois, pela experiência trabalhando no setor de Recursos Humanos, sei que é mais difícil para uma mãe, com um filho pequeno, retornar ao mercado de trabalho. Eu estava justamente no setor de recrutamento de pessoas, e sabia, portanto, que um dos critérios que não contavam pontos para uma contratação era justamente esse. Além disso, ouvia muitos relatos de mães que não conseguiram voltar, ao menos não com facilidade”, disse a jovem mãe. Mas, com o apoio de Renan e também de sua mãe, que contou à filha a experiência inversa que viveu quando ela, Laura, era pequena – devido ao trabalho, não pôde ficar mais tempo com a criança, o que foi um processo doloroso para a mãe –, Laura decidiu ouvir a avó de Mia. “Eu fiz as contas e vi que teria que sair de casa por volta das 5h, retornando depois das 19h. Então, percebi que ia ficar muito tempo longe dela. Renan e eu nos reorganizamos financeiramente e cortamos muitos gastos, além disso, tivemos o apoio das nossas famílias. Hoje sou muito grata por essa oportunidade, pois sei que
muitas mulheres não têm escolha, e precisam trabalhar fora”, continuou Laura.
Oportunidades
Com a mudança na rotina de Laura e sua família, ela começou a dedicarse a outras atividades que sempre quis fazer, mas para as quais não tinha encontrado tempo ou estímulo. Além da formação em recursos humanos, está cursando uma graduação em Filosofia e pretende trabalhar como professora futuramente, pois sempre quis seguir esse caminho. Dá aulas voluntárias de dança uma vez por mês e descobriu, após incentivo de uma amiga, o artesanato como saída para complementar a renda familiar. “Gosto muito de dançar e formamos um grupo com objetivo de ajudar outras pessoas. Assim, dou aulas voluntariamente e as alunas pagam com alimentos. Por mês, conseguimos mais de 40 cestas básicas para famílias mais pobres”. No tempo disponível entre os cuidados com Mia e a casa, Laura agora faz e vende artesanatos: “Só neste mês de maio, já tenho mais de 20 colares encomendados e vou começar a investir em outros objetos, como cortinas”. Essa também foi a realidade de Adriana Menezes Fernandez, 35, mãe do Piettro, de 3 anos, e da Valentina Menezes Fernandez, que tem apenas 4 meses de vida. Ela parou de trabalhar quando nasceu o primeiro filho e, para
ajudar no orçamento da casa, passou a vender canecas personalizadas e decorações para festas. Adriana e Edgar Fernandez Carrillo decidiram se mudar para o litoral de São Paulo pois, como tinham começado o financiamento de uma casa em Mongaguá (SP), não tinham condições de pagar o aluguel – da casa que moravam em São Paulo – e o financiamento ao mesmo tempo.
A alegria da maternidade
Quando escolheu ficar em casa para cuidar do Piettro, Adriana, que é formada em Administração e trabalhava como analista de crédito imobiliário, ganhava o dobro do marido e, por isso, eles pensaram muito na decisão. “O retorno da licença foi muito difícil, pois eu não tinha horários fixos de saída do trabalho, que dependiam das agendas dos clientes. Foi quando percebi que não dava para continuar. No início, muitos amigos admiraram minha ‘coragem’ de largar o emprego e ainda hoje acham estranho que uma mulher formada, que trabalha desde muito jovem, decida dedicar-se exclusivamente aos filhos”, contou Adriana, que está cursando a segunda faculdade, pois, com a maternidade, descobriu também que tem muito gosto pela educação. Ela afirmou que, em muitos momentos, vê-se na contramão da sociedade, que foca muito mais no trabalho que dá uma criança e não na alegria
profunda que a maternidade desencadeia. “As pessoas acham também que cuidar dos filhos é algo fútil, educar um cidadão para a sociedade é algo sem valor, que ficar em casa não é um trabalho e que as crianças precisam logo ir para a creche. Mas a creche ou a escola não substituem a mãe e o pai. A escola é importante, claro, afinal não deixei meu emprego para ficar trancada em casa com eles e sim para dar mais apoio, e isso não exclui a escola. Pais e escola têm que trabalhar juntos”, disse Adriana. A mãe do Piettro e da Valentina os leva para a faculdade quando necessário. “Ter filhos não significa que eu estou privada de fazer algo, meus filhos fazem parte de mim e isso não me impede de ser o que eu quero ser. Posso ser mãe estudante e qualquer outra coisa, o fato de eu ter parado de trabalhar não significa que eu não possa fazer uma, duas, três ou quatros coisas ao mesmo tempo”. Diferentemente de Edgar, que queria ter a casa cheia de crianças, a própria Adriana diz ter-se surpreendido após o nascimento do primeiro filho. “Eu não sonhava em me casar e ter filhos, mas minha experiência não foi nada do que eu ouvia sobre o quanto é difícil ter um filho. Consigo sentir muito mais amor e prazer do que enxergar o esforço que é cuidar e educar uma criança. Então, decidimos ter mais um e criá-los juntos”.
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Luciney Martins/O SÃO PAULO
16 | Fé e Cultura |
Daniel Gomes
danielgomes.jornalista@gmail.com
Ela viveu por quase 78 anos, mas sua obra – mais de 600 canções abrangendo missas, catequese, hinos diversos e outros cantos, além de livros com orientações sobre canto e liturgia – deve permanecer por muitas décadas e influenciar gerações. Irmã Miria Therezinha Kolling nasceu na cidade de Dois Irmãos (RS) e desde criança aprendeu na família a amar a música, gosto que foi aprofundado pela pedagoga, musicista e compositora ao longo dos anos a partir da Congregação do Imaculado Coração de Maria. “O dom da música, recebido de Deus, é um dom maravilhoso, muito especial, divino mesmo, que comecei a cultivar na família e tive a possibilidade de desenvolver estudando música. Colocá-lo a serviço da liturgia, do louvor de Deus, foi ainda mais maravilhoso”, disse a religiosa em entrevista publicada no O SÃO PAULO, em setembro de 2015, quando completou 45 anos de carreira musical. “Glorifica minha alma ao Senhor” é o título de seu último trabalho, lançado este ano. Trata-se da missa oficial jubilar em comemoração ao tricente-
nário do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, com 18 cantos compostos pela própria Irmã Miria e interpretados pelo Coral Baccarelli. Entre as suas obras musicais mais conhecidas estão: “Missa da Amizade” “Missa da Alegria”, “O Senhor minha Festa”; “Solidão Sonora” , “Nas Asas do Amor” e “Creio na Vida”. Em 2008, ela compôs, a pedido do Cardeal Odilo Pedro Scherer, o Hino Jubilar da Arquidiocese de São Paulo, que naquele ano festejou seu centenário de criação.
Reconhecimento nacional e internacional
O profundo conhecimento da música litúrgica – ela estudou entre 1983 e 1984 música sacra na Alemanha e na Áustria - fez com que Irmã Miria fosse convidada para ministrar cursos e encontros de Liturgia e Canto Pastoral em diferentes partes do Brasil. Sua arte encantou o mundo e Irmã Miria também cantou em outros 20 países, como os Estados Unidos, Canadá, Japão, Portugal e Moçambique. Em 1997, por exemplo, foi convidada pelos Padres Redentoristas para participar da celebração comemorativa dos 300 anos de nascimento de Santo Afonso
Mas, te entrego ao Pai da Vida, Pois sei que nos seus braços Terás o Paraíso!... Corpo glorioso em Deus, ressurreição, Desejo realizado, o céu!... Tu, que olhaste sempre além, Sacia-te do Bem: Descansa em paz! Amém!
(Descansa em paz! Amém! – Irmã Miria Kolling)
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
NOTA DE PESAR E SOLIDARIEDADE
“A vida pra quem acredita, não é passageira ilusão; e a morte se torna bendita, porque é nossa libertação. Nós cremos na vida eterna e na feliz ressurreição! Quando, de volta à casa paterna, com o Pai os filhos se encontrarão”. (Irmã Miria T. Kolling – canto de entrada, Missa dos Bem-aventurados)
Em nome de toda a Arquidiocese de São Paulo, desejo expressar meu pesar pelo falecimento de irmã Miria T. Kolling, ocorrido na tarde desta sextafeira, 5 de maio de 2017. Manifesto minha palavra de solidariedade e conforto aos familiares de irmã Miria e às irmãs da Congregação do Imaculado Coração de Maria, na qual ela viveu sua consagração religiosa servindo a Deus e a Igreja. Irmã Miria foi compositora e cantora de música religiosa e litúrgica por mais de 50 anos. Com suas músicas e canções, ela ajudou a promover a renovação da música e do canto litúrgico e catequético após o Concílio Ecumênico Vaticano II.
Maria de Ligório, em Fátima, Portugal; e em 2000 compôs o Hino à Bakhita - a negra sudanesa canonizada por São João Paulo II naquele ano, ocasião em que a Irmã Miria foi convidada pela Congregação das Irmãs Canossianas a participar das celebrações, em Roma, onde cantou o hino com um grupo brasileiro na Basílica Santa Maria Maior. Em 1986, Irmã Miria foi uma das fundadoras da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos (SP), onde viveu por alguns anos. Ela também atuou na Sociedade Brasileira de Musicologia. Nos anos de 2009 e 2012, a Irmã ganhou o Troféu Louvemos ao Senhor, conferido pela Associação do Senhor Jesus - TV Século 21. Além disso, em 2014, em cerimônia solene, recebeu o título de Membro Honorário da Força Aérea Brasileira, pela composição do Hino a Nossa Senhora de Loreto, padroeira dos aviadores.
Sua participação nos encontros de canto litúrgico em São Paulo e em muitos lugares do Brasil foi um grande serviço à Igreja e à evangelização. Ela também compôs, em 2008, o hino para as celebrações do centenário de criação da Arquidiocese de São Paulo, que a recordará sempre com afeto e gratidão. Ir. Miria deixou um exemplo de fé e serena confiança em Deus. Ontem mesmo, ela gravou uma mensagem aos familiares e amigos, falando da cirurgia que deveria enfrentar no dia de hoje, recomendando-se às orações de todos. E concluiu, cantando com voz delicada mas ainda firme: “Em tuas mãos, em tuas
A última canção
Na quinta-feira, 4, em seu site (www. irmamiria.com.br), Irmã Miria gravou uma mensagem comunicando que passaria por uma cirurgia no dia seguinte: “Meu querido amigo, minha querida amiga! Gratíssima por seu carinho e por suas orações por mim. Estou sendo muito bem cuidada por verdadeiros anjos de Deus aqui no Hospital Santa Virgínia. Amanhã, 5 de maio, farei a cirurgia do coração. Que nossa prece chegue mais forte e confiante no coração do nosso Deus Amor”. A mensagem foi encerrada com a Irmã cantando: “Em tuas mãos, em tuas mãos, Senhor sempre em tuas mãos”. Irmã Miria não resistiu à cirurgia e morreu no dia 5, aos 77 anos de idade (faria aniversário neste mês de maio), entregando o dom da vida nas mãos de Deus e deixando ao mundo um incalculável legado para a música litúrgica. (Com informações da Congregação do Imaculado Coração de Maria e colaboração de Peterson Prates)
mãos, Senhor, sempre em tuas mãos!” Que ela, agora, veja a face de Deus e se alegre eternamente; com os anjos e santos, entoe belos hinos ao Pai misericordioso, ao Filho Salvador e ao Espírito Santificador! Que ela contemple agora a face de Deus e viva feliz para sempre em sua presença: “A certeza que vive em mim é que um dia verei a Deus! Contemplá-lo co’s olhos meus, é a felicidade sem fim!” (Ir. Miria). São Paulo, 05.05.2017
Cardeal Dom Odilo P. Scherer
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Belém O adeus à Irmã Miria Kolling Peterson Prates
Colaborador de Comunicação da Região
“Queremos agradecer a Deus por ter conhecido a Irmã Miria Kolling, por ter convivido com ela, e por ela ter vivido conosco esse tempo, esse pedaço de história”, disse o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, no sábado, 6, durante a celebração das exéquias da Irmã Miria Therezinha Kolling, ICM, no Educandário São José do Belém. Ela morreu na sexta-feira, 5, no Hospital Santa Virgínia, vítima de um infarto durante uma cirurgia cardíaca. Irmã Miria completaria 78 anos ainda este mês, tendo vivido durante 57 anos como religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Nascida em Dois Irmãos (RS), há muitos anos ela residia na comunidade do Educandário e mantinha agenda cheia com cursos de canto litúrgico e pastoral pelas dioceses do Brasil. Com mais de 600 composições, Irmã Miria se destacou no Brasil e também fora do país com cantos litúrgicos, pastorais e catequéticos, que ajudaram a Igreja a viver a reforma litúrgica pós Concílio Vaticano II (leia mais na página 16). Na Região Belém, todos os anos, ela reunia centenas de ministros do canto para uma formação litúrgica.
Despedida
O corpo da religiosa foi velado no Educandário São José do Belém durante
todo o sábado, 6, e na manhã de domingo, 7, onde a comunidade religiosa da Província Nossa Senhora de Guadalupe das Irmãs do Imaculado Coração de Maria pôde dela se despedir, junto a amigos, admiradores, religiosas, animadores de canto, padres e bispos. Centenas de pessoas passaram no local durante as nove missas e celebrações. Na missa que presidiu, Dom Odilo contou que conheceu Irmã Miria quando ainda era seminarista e participou de alguns encontros de canto pastoral. O Arcebispo destacou que o canto é um “importante meio de comunicação da mensagem do Evangelho”, e que Irmã Miria soube como ninguém evangelizar por meio da música, com um exemplo de simplicidade. Dom Odilo comentou que ela contribuiu para a formação das comunidades e paróquias e fez, em 2008, o hino do centenário da Arquidiocese de São Paulo.
Legado e personalidade
As pessoas que foram ao velório da Irmã expressaram admiração por tudo que ela realizou. Para Dom Luiz Antônio Guedes, bispo de Campo Limpo, Irmã Miria foi uma “grande educadora do povo”. Padre Rubens Cabral, OMI, coordenador da Conferência dos Religiosos do
Peterson Prates
Cardeal Scherer preside uma das celebrações de exéquias da Irmã Miria Kolling, no sábado, 6
Brasil em São Paulo, destacou que a Irmã, com generosidade, soube chegar às comunidades de base. “Isso foi importante para pequenas comunidades, para dioceses distantes que tiveram nela um apoio e um suporte valioso”, afirmou. Irmã Custódia Cardoso, CIIC, maestrina do Coral Palestrina de Apucarana, lembrou que a maior contribuição da Irmã Miria não foi com a música litúrgica, mas com a vida religiosa exemplar que levou. Já a Irmã Helena Corazza, paulina, disse que sempre admirou a “singeleza, criatividade e entusiasmo” da religiosa. Padre Márcio Leitão, que conhecia a religiosa há mais de 30 anos, lembrou a colaboração dela na vida da Paróquia São José,
onde ele é pároco atualmente, destacando, a partir da liturgia do Bom Pastor, que “ela também viveu o pastoreio dela”, junto à Igreja, à Congregação e ao povo de Deus. O Sacerdote presidiu a última missa de corpo presente da Irmã, na Paróquia São José do Belém, no começo da tarde de domingo. Ao fim da celebração, antes da encomendação do corpo, as irmãs do Imaculado Coração de Maria fizeram homenagem a Irmã Miria, cantando uma composição de sua autoria, o hino dedicado ao Sagrado Coração de Maria, padroeira da Congregação. A missa de 7º dia da Irmã acontecerá na quinta-feira, 11, às 19h, na Paróquia São José do Belém (largo São José do Belém, s/nº).
Peterson Prates
Grupo de Jovens Bom Pastor
Os diáconos permanentes da Arquidiocese de São Paulo realizaram no sábado, 5, seu encontro bimestral no Centro Pastoral São José do Belém. A reunião foi conduzida pelo Cônego Celso Pedro da Silva, assistente eclesiástico para o diaconato permanente na Arquidiocese. Na oportunidade, os diáconos refletiram sobre o Sínodo Arquidiocesano, que deve ser convocado em junho, e lançaram propostas de encaminhamento.
No domingo, 7, o 4º domingo da Páscoa, quando se comemora a Festa do Bom Pastor, a Comunidade O Bom Pastor, da Paróquia Imaculada Conceição, no Setor Pastoral Sapopemba, celebrou festa do padroeiro. As comemorações foram antecedidas por um tríduo preparatório, que contou com missa, café filosófico e uma noite da fogazza. A celebração solene foi presidida pelo Padre Gilberto Orácio, pároco.
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Brasilândia
Juçara Zottis, Leandro Silva, Jucileide Torres e Marco Antônio de Oliveira Colaboração especial para a Região
Chamado ao estado permanente de missão O Conselho de Pastoral do Setor Dom Paulo Evaristo Arns se reuniu no sábado, 6, na Paróquia Santo Antônio da Brasilândia, para estudar o tema “Igreja em estado permanente de missão”, que é a primeira urgência do 12º Plano Arquidiocesano de Pastoral. O encontro foi orientado pelo Padre
Márcio Clay Chen, vigário da Paróquia Santo Antônio. Ele indicou que o documento aponta para o desafio de que a Igreja esteja em estado permanente de missão, sendo preciso coragem para rever práticas e estruturas que já não favorecem a transmissão da fé. Também se falou sobre a necessidaJuceleide Torres
de de fortalecer o diálogo ecumênico, com momentos de oração em comum, ação social, estudos bíblicos e teológicos, valorizando, de modo especial, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Outro tema em pauta foi a preparação do retiro das lideranças do Setor, que
acontecerá em 30 de julho, no Convento Santa Lucia Filippini, com o tema “De esperança em esperança”, que fará memória da ação profética do Cardeal Paulo Evaristo Arns, morto em dezembro de 2016. O retiro será orientado por Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC). Leandro Silva
Mais de 30 adultos receberam o sacramento da Crisma em celebração presidida por Dom Devair Araújo de Fonseca, no domingo, 7. A maioria desses homens e mulheres iniciou sua participação na Paróquia Santa Cruz de Itaberaba após participar do Encontro de Casais com Cristo (ECC) no ano passado. Eliana Lubianco
No sábado, 6, aconteceu o baile comemorativo dos 50 anos da Paróquia Santos Apóstolos. Participaram aproximadamente 350 pessoas. A festa foi animada pelo DJ Boda e equipe. O Padre Jaime Izidoro de Sena, pároco, acompanhou a atividade. Divulgação
No domingo, 7, aconteceu o 1º Encontro de Mulheres da Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, organizado pelas paroquianas Karina Mendonça e Juliana Silva, com animação da cantora católica Raquel Mendes. Na ocasião, houve a partilha de experiências e foi refletido o tema “Única como Maria”. Rodrigo Torres
No dia 3, foi realizado o Grupão da Unidade. A promoção da atividade é da Renovação Carismática Católica (RCC) da Região Episcopal Brasilândia e acontece toda a primeira quarta-feira do mês, às 19h30, na Comunidade Missão Mensagem de Paz, em Pirituba. O foco da iniciativa é fortalecer a unidade dos grupos de oração com a RCC em âmbito arquidiocesano, estadual e nacional. Dinalva Coelho
A Comunidade Bom Pastor, da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Setor Pastoral Jaraguá, encerrou no domingo, 7, a festa do padroeiro, com procissão pelas ruas do Jardim Brasília e missa solene presidida pelo Padre Hamilton Wagner da Rosa, pároco. Em 2017, a comunidade completa 40 anos de fundação.
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Sé 3 setores têm formação a Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Padre Mário Pizetta, Padre Luiz Claudio Braga e Lucas Santos Colaboração especial para a Região
Entre os dias 3 e 5, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no Setor Bom Retiro, 97 Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão (Mesc) reuniram-se para se preparar para a renovação e para os novos mandatos do próximo triênio no Setor. Eles tiveram formação sobre a origem desse serviço na Igreja, sua postura moral junto à comunidade e os modos práticos de servir o altar. A formação foi dada pelo Padre Luiz Claudio de Almeida Braga, coordenador do Setor, e contou com a participação do Padre Helmo Faccioli, coordenador dos Mesc na Região. A missa na qual os novos ministros receberão o mandato e em que haverá a renovação dos demais, acontecerá no dia 21, às 18h, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Também no Setor Paraíso, em 27 de abril, com a participação de aproximadamente cem pessoas, aconteceu a segunda etapa de formação para os novos Mesc e para os que renovarão o mandato de três anos. A assessoria coube ao Padre Helmo. Ele lembrou que ser ministro não é um título, mas um serviço temporário à comunidade a qual a pessoa pertence. Para poder exercer bem esse serviço, há a ne-
Padre Luiz Claudio Braga
Padre Helmo César Faccioli durante formação para Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão no Setor Pastoral Bom Retiro
cessidade de se conhecer bem a Palavra de Deus, aprofundar-se na compreensão e vivência da Eucaristia, além de conquistar um bom conhecimento do Catecismo da Igreja Católica. Padre Helmo exortou aos futuros Ministros sobre a necessidade de estar sempre em sintonia com a Igreja, o bispo e com a paróquia, tendo também um
Maria na caminhada do povo de Deus O Setor Pastoral Paraíso realizou, no dia 4, no auditório da Paulinas Livraria, na Vila Mariana, no contexto das comemorações do Ano Mariano Nacional, um encontro com o tema “Maria na caminhada do Povo de Deus”, assessorado pelo Padre Julio Caprani, da Milícia da Imaculada, que é mestre em Mariologia.
diálogo permanente com o pároco e o vigário. O Sacerdote destacou que é preciso ter atenção especial ao levar a Comunhão para o enfermo, e alertou que nenhuma partícula consagrada pode ser levada para casa, a não ser em casos extremos. Por fim, Padre Helmo incentivou cada um a ser testemunha do Evangelho,
um sinal vivo do Cristo Ressuscitado, e que procure se colocar em atitude de disponibilidade, com uma participação consciente, ativa e frutuosa. Igualmente, no Setor Catedral, entre os dias 18 e 20 de abril, o Padre Helmo assessorou o encontro para os Mesc, na Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo. Setor Pastoral Catedral
O objetivo da atividade foi o aprofundamento do sentido da devoção mariana no caminho de fé. Padre Julio partiu de uma afirmação: “Maria é o modelo mais perfeito do seguimento de Jesus”, e sobre esse pilar explorou três campos para a uma vivência mariana: Maria na Bíblia, Maria no Dogma e Maria no Culto. Setor Pastoral Catedral
De 29 a 30 de abril, o Setor Juventude da Região Sé participou do Camping da Romaria Nacional da Juventude 2017, em Aparecida (SP). Os jovens do Setor Pastoral Catedral se encontraram com Dom Eduardo Vieira dos Santos. Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo
Em 24 de abril, o Setor Catedral promoveu a formação sobre a Carta Pastoral “Viva a Mãe de Deus e nossa!”, do Cardeal Scherer, por ocasião do Ano Mariano Nacional. A formação foi realizada no Mosteiro de São Bento, com assessoria do Padre Luiz Claudio de Almeida Braga, pároco da Paróquia Santo Antônio e coordenador do Setor Bom Retiro.
No dia 6, Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu a missa de um ano de falecimento de Waldemar Rossi, metalúrgico atuante na Pastoral Operária, morto em maio de 2016. A missa foi na Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, no Setor Pastoral Catedral.
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Santana Padre Humberto de Carvalho comemora 25 anos de sacerdócio
Diácono Francisco Gonçalves
Colaborador de comunicação da Região
Com a presença de Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, além de padres diocesanos e salesianos, diáconos, seminaristas e fiéis, foi celebrada, no dia 1º, na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, na Parada Inglesa, a missa em ação de graças pelos 25 anos de ordenação presbiteral do Padre Humberto Robson de Carvalho, pároco. Nascido em 26 de fevereiro de 1960, em Natividade da Serra (SP), Padre Humberto mudou-se com seus familiares para Pindamonhangaba (SP) em 1970. Entrou para o seminário salesiano em 1979 e em 1990 foi admitido na Arquidiocese de São Paulo. Em 1991, foi ordenado diácono por Dom Paulo Evaristo Arns e, em 1992, presbítero pela imposição das mãos de Dom Joel Ivo Catapan.
Em uma intensa atividade pastoral, de 1992 a 1994, foi vigário na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Parque Edu Chaves; de 1994 a 2003, foi pároco na Paróquia São Francisco Xavier, no Jardim Japão; de 2003 a 2009, assumiu como pároco a Paróquia São José Operário, em Santana; e desde 2009 está na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres. Padre Humberto coordena o Setor Pastoral Tucuruvi e a pós-graduação em Espiritualidade e Catequese no Centro Universitário Salesiano – campus Pio XI. Ele é graduado em Filosofia, Pedagogia e Teologia, além de mestre em Educação e especialista em Catequese, Espiritualidade e Liturgia. O Sacerdote publicou pela editora Paulus os livros: “Espiritualidade do Catequista”; “Missa: celebração do mistério Pastoral Carcerária
Dom Sergio participa da evangelização em presídio feminino
Studio Bryer Santos
Padre Humberto concelebra com Dom Sergio a missa em ação de graças por seu jubileu
pascal de Cristo”; “Ministério do catequista: elementos básicos para a formação”; “Paróquia missionária: projeto de
Evangelização nos cárceres para anunciar o Cristo Ressuscitado A Pastoral Carcerária da Região Santana realizou nas penitenciárias femininas de Santana e da Capital, durante a Quaresma e na Semana Santa, uma missão de evangelização com a participação de Dom Sergio de Deus Borges, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região. Cerca de 30 missionários, provenientes de paróquias e movimentos da Região, estiveram em todos os ambientes das prisões. Os participantes viveram momentos de preparação para a Páscoa, realizando a
Lapa
Via-Sacra em todos os pavilhões, missas, pregações, e encenação da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. “Os missionários se emocionaram muito por conhecerem o dia a dia no cárcere, tendo experiências com muitos momentos de escuta e diálogos com as detentas. Dom Sergio atendeu muitas mulheres em confissões, o que ajudou a renascer nelas a esperança, a paz e a certeza do amor de Deus por elas”, disse Eliana Rocha, coordenadora regional da Pastoral Carcerária.
Padre Antonio Francisco Ribeiro e Benigno Naveira
Colaboradores de comunicação da Região
Diretores espirituais do ECC participam de encontro formativo Entre os dias 2 e 4, no Centro Pastoral Santa Fé, na região Noroeste da cidade, aconteceu o 2º encontro de formação dos diretores espirituais do Encontro de Casais com Cristo (ECC), com a participação de aproximadamente 150 sacerdotes, vindos de 36 dioceses do Regional Sul 1 da CNBB. Os participantes foram recepcionados por Dom Benedito Gonçalves dos Santos, bispo de Presidente Prudente (SP) e assistente eclesiástico nacional do ECC, e pelos casais da secretaria nacional. O Padre Jorge Pierozan, mais conhecido como Padre Rocha, vigário episcopal da Região Lapa, participou do encontro. Entre os diversos temas abordados esteve a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, que foi apresentada e comentada pelo Pa-
evangelização e missão”; “Bíblia: palavra que transforma a vida dos catequistas” e “Espiritualidade do padre diocesano”.
Padre Antonio Francisco Ribeiro
2º encontro de formação dos diretores espirituais do ECC acontece no Centro Pastoral Santa Fé
dre Geraldo Luiz Borges Hackmann. O objetivo do encontro foi promover a importância dos diretores espirituais no ECC, capacitar e motivar para que desenvolvam um serviço de evangelização que envolva as famílias. Nesse segundo encontro de formação promovido pelo
Regional Sul 1 para diretores espirituais, a avaliação dos participantes foi enriquecedora. Os casais do ECC agradeceram a todos que participaram da formação, assim como às pessoas que se dedicaram, sem medir esforços, para que tudo acontecesse da melhor forma possível.
Pascom nas paróquias para uma comunicação integrada No dia 2, na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, aconteceu a reunião da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Lapa, coordenada por Paulo Ramicelli e Maria Tiemi. Na ocasião, houve a avaliação sobre o curso de fotografia realizado no Sepac pelos dois vencedores do concurso de fotografias de 2016, e se tratou da preparação para o concurso deste ano, cujo tema é “família”. Maria Tiemi ressaltou a importância da implantação da Pascom nas paróquias, para que haja uma comunicação integrada com todos, bem como uma programação de atividades nas paróquias durante todo o ano.
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Ipiranga Paróquia Nossa Senhora da Saúde inicia festejos de seu centenário CAROLINE DUPIM E CLAUDIO SEIJI
COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO
No domingo do “Bom Pastor”, 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, presidiu missa solene com a presença dos freis Agostinianos Recoletos e grande número de fiéis na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, localizada na zona sul de São Paulo, por ocasião do centenário da Paróquia. Dom Odilo fez um breve histórico da paróquia, desde o ano 1917, lembrando a missão dos primeiros religiosos com a participação do povo. Falou sobre a importância de criar uma paróquia sempre mais viva, pois ela não é só o templo, mas sim a comunidade, as pastorais, a vida sacramental e a pregação da Palavra. O Cardeal lembrou ainda que a paróquia é parte essencial da vida cristã e mencionou quantas das pessoas naquela celebração foram batizadas, receberam a Eucaristia, a Crisma ou o sacramento do Matrimônio ao longo destes cem anos de história da Nossa Senhora da Saúde.
Fotos: Laura Pereira
Com matriz-paroquial lotada, Cardeal Scherer, arcebispo de São Paulo, preside missa no centenário da Paróquia Nossa Senhora da Saúde
Por fim, Dom Odilo convidou a todos para participarem do Sínodo Arquidiocesano que será realizado em breve e incentivou que se celebre bem o Ano
Mariano Nacional para assim manter viva a devoção a Nossa Senhora. Logo após a missa, houve um coquetel no salão paroquial com a presença de
Dom Odilo, dos freis agostinianos, demais religiosos e religiosas e toda a comunidade. (Com informações da Pascom paroquial)
Encontro de acólitos e coroinhas trata da vocação religiosa e missionária Caroline Dupim
Dom José Roberto junto a coroinhas e acólitos na Capela Sagrada Família e Santa Paulina
No sábado, 6, os acólitos e coroinhas da Região Episcopal Ipiranga se reuniram na Capela Sagrada Família e Santa Paulina para uma manhã de es-
piritualidade, cujo o tema foi “Vocação”. O encontro começou com missa presidida por Dom José Roberto Fortes Palau, bispo auxiliar da Arquidiocese
na Região Ipiranga, concelebrada pelo Padre Israel Mendes Pereira, assessor eclesiástico da Pastoral Vocacional regional. Na homilia, o Bispo ressaltou a importância das vocações, de modo especial as vocações à vida religiosa consagrada. Na assembleia, estava Dom João Kot, OMI, polonês da Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada. Ele veio para o Brasil em missão, aqui foi nomeado bispo e, atualmente, trabalha na Amazônia. Dom José Roberto convidou Dom João para falar aos jovens acólitos. Ele contou sobre seu trabalho missionário, bem como sobre as dificuldades de mobilidade no local em que atua, onde é necessário se locomover com barcos para ir de uma comunidade a outra. Porém, o
Bispo ressaltou que “é bom servir assim, porque o bom pastor serve em todos os caminhos”, afirmou. Após a missa, o Frei Otávio Luiz da Silva, da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, conduziu o encontro falando sobre “Vocação”. De modo descontraído, o Frei explicou para as crianças e jovens que “existe um chamado especial dentro de cada um de nós e só conseguimos compreender se conhecermos a nós mesmos e mantermos uma contínua relação de oração com Jesus”. Padre Israel Mendes encerrou o encontro, com um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento, no qual as crianças e os jovens puderam apresentar as suas preces e agradecimentos.
Em quadra com fé, interação e solidariedade A 2ª edição da Liga Jovens Ativos no Amor de Cristo (Jaac) de futebol de salão aconteceu entre 18 de março e 29 de abril, com times formados, na maioria, por jovens das paróquias da Região Ipiranga. Neste ano, o número de participantes foi maior, contando com 12 grupos de jovens que representaram os setores pastorais da Região. Além da diversão e da interação entre os grupos , a Liga Jaac contou com a arrecadação de alimentos, que foram destinados aos mais necessitados. Para Lucas Xavier, 20, paroquiano da Nossa Senhora Mãe de Jesus, no Setor Pastoral Cursino, “o campeonato aproxima os jovens. Também nos faz ter um envolvi-
mento maior e realizar outros eventos para sempre estarmos unidos”, afirmou. As paróquias e comunidades participantes foram a Santa Rita de Cássia, Santo Afonso Maria Ligório, Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora Mãe de Jesus, Santa Ângela e São Serapião, São João Clímaco, São Francisco de Sales, Nossa Senhora da Saúde, Santa Edwiges, Santa Cristina, Nossa Senhora de Fátima e São João Batista. O primeiro lugar ficou com o grupo de jovens Manancial, da Paróquia São João Clímaco, e ao segundo lugar, com o grupo Jaac, da Paróquia Santa Cristina. O artilheiro foi Paulo Marcelo Silva Santos, da Nossa Senhora Mãe de Jesus.
Claudio Seiji
Participantes da 2ª edição da Liga Jovens Ativos no Amor de Cristo de futebol de salão
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Dom Kyrillos William Samaan
Como vivem os cristãos perseguidos no Egito Luciney Martins/O SÃO PAULO
Nayá Fernandes
nayafernandes@gmail.com
“A Igreja Copta Católica é a Igreja dos mártires”, afirmou Dom Kyrillos William Samaan, bispo copta católico de Assiut, no Egito, em entrevista exclusiva ao jornal O SÃO PAULO, no dia 3, na sede da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), zona sul de São Paulo. Dom Kyrillos veio ao Brasil convidado pela AIS-Brasil, fundação pontifícia que financia projetos de ajuda aos cristãos que sofrem perseguição religiosa ou sobrevivem em meio a dificuldades econômicas e sociais. A situação de perseguição sofrida pelos cristãos no Egito ganhou repercussão mundial após os atentados com bombas no Domingo de Ramos, 9 de abril, contra duas igrejas coptas ortodoxas nas cidades de Tanta e Alexandria. Na ocasião, morreram pelo menos 44 pessoas e mais de 120 ficaram feridas. De família católica, o primeiro de sete irmãos – dos quais cinco são religiosos –, ele ingressou no seminário aos 9 anos de idade. Como disse à reportagem, sua vontade de ser sacerdote foi inspirada por um padre que celebrava no bairro onde ele morava com a família. Pela primeira vez no Brasil, o Bispo falou durante a Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), e celebrou aos pés do Cristo Redentor, no sábado, 6, quando este foi iluminado de vermelho, para lembrar os cristãos mortos no Oriente Médio.
O SÃO PAULO – Qual a atual situação do Egito, no que se refere a questões sociais, políticas e econômicas? Dom Kyrillos William Samaan – A manifestação popular que ficou conhecida como “primavera árabe” [em 2011] trouxe muita esperança para o Egito, porque jovens muçulmanos e cristãos saíram às ruas, reivindicando justiça e igualdade. Mas as eleições que se seguiram para substituir o ditador Mubarak, há mais de 30 anos no poder, não foram as mais favoráveis para o povo. Com o atual presidente do Egito [Abdel Fattah al-Sisi, eleito em 2014] existe uma marcha para modernizar o País. Porém, nem todos os que trabalham com o Governo têm mentalidade moderada e aberta; por isso, apesar de a marcha ter começado, ainda é lenta. Atualmente, a população egípcia enfrenta um grande problema financeiro. São histórias antigas, nas quais têm também participação os presidentes anteriores, pois nenhum dentre eles foi corajoso
o suficiente para declarar à população a real situação do País. Para se ter uma ideia, o povo não sabe, por exemplo, o valor exato da sua moeda [libra egípcia] diante do dólar. Além disso, o Governo é investigado por corrupção. Com todos esses conflitos, o turismo também caiu, especialmente quando a irmandade mulçumana chegou ao poder [a irmandade muçulmana esteve no poder entre 2012 e 2013]. A visita do Papa [dias 28 e 29 de abril de 2017], ajudou a mostrar que o Egito está seguro. Sobre a perseguição aos cristãos, quando ela se intensificou? Desde 1952 [quando iniciou o processo de união entre o Estado e a religião islâmica], os cristãos passaram a ser considerados cidadãos de segunda classe e a enfrentar um caminho ainda mais árduo para professar sua fé. Estima-se que existam no Egito entre 15 e 20 milhões de coptas, mas o Governo não divulga os números com exatidão. Da Igreja Católica Apostólica Romana são cerca de 250 mil, que têm 170 escolas, consideradas entre as melhores do País. Além disso, há cerca de 80 anos as perseguições se intensificaram devido ao retorno de egípcios que foram trabalhar na Arábia Saudita, e que adquiriram uma
mentalidade jihadista, extremista, advinda da irmandade mulçumana, que não admite minorias e pessoas que professam outra fé. Como é o dia a dia de um cristão copta no Egito? Todos os dias celebra-se a Eucaristia, bem como nas grandes festas. Existem algumas dificuldades, mas já nos acostumamos a lidar com elas. Oficialmente, o Governo determina que os egípcios não são cooptas, mulçumanos ou de outras minorias, mas simplesmente cidadãos do Egito, filhos do Egito. Por essa razão, existem momentos de visita entre mulçumanos e cristãos para, por exemplo, parabenizar uns aos outros em festas como o Natal ou o Ramadã, ou ainda em festas de casamentos e funerais. Os meios de comunicação são muito eficazes, há liberdade de expressão, são considerados os melhores do mundo árabe. Quando acontece um conflito, há grande cobertura por parte dos meios de comunicação e ações do exército e do Governo para procurar os culpados que, na maioria das vezes, são presos e punidos. Aumentou, após a explosão no Domingo de Ramos, o medo entre os cristãos? Após o ataque de Domingo de Ra-
mos, a vida continuou. A reação da população cristã é muito pacífica, aceita-se a perseguição de maneira muito pacífica e não se paga maldade com maldade. Porém, as minorias jihadistas causam esse tipo de conflito e confusão com a intenção de mostrar aos cooptas que as atuais lideranças na República do Egito são incapazes de protegê-los. É uma manobra para chamar a atenção dos cristãos para a irmandade mulçumana que, de fato, não admite nenhuma outra minoria religiosa. É difícil prever o ataque de um terrorista, de um homem bomba, que pode acontecer a qualquer momento. Ademais, os terroristas jihadistas pensam que após cometer um atentado suicida terão como recompensa o paraíso, onde encontrarão 70 sereias. Infelizmente, esses conflitos no Egito e em todo o Oriente Médio têm motivação religiosa. Há um movimento de migração devido a essas perseguições? Não. No Egito há pouquíssimos refugiados religiosos. Os poucos que decidem sair do país vão, na maior parte das vezes, para a Europa ou para os Estados Unidos da América. Como os cristãos vivem espiritualmente essa situação de perseguição? Essas perseguições sempre aconteceram, e sempre houve mártires na história dos cristãos. A Igreja Coopta é também Igreja de Mártires, eles sabem que o martírio é o encontro com Deus, e essa realidade os fortalece. Todos os mártires têm seu nome na Igreja. No entanto, na Igreja Ortodoxa, o processo de beatificação é diferente do que ocorre na Igreja Católica Romana, mas o Papa Francisco afirmou, recentemente, que eles devem ser exemplo para todos os cristãos. Por essa razão, em sua visita, ele rezou diante do túmulo desses mártires. Ao rezar por eles, também os cristãos do Brasil partilham essa dor, e essa atitude ameniza o sofrimento de quem está naquela situação. Como o senhor avalia a visita do Papa Francisco ao Egito? Foi um sucesso total. Durante as 26 horas da sua visita, o Papa conseguiu enviar uma mensagem para o Governo do Egito, para os mulçumanos do Egito, para a Igreja Coopta, para o mundo inteiro, bem como para a Igreja latina dentro do Egito, que foi chamada por Francisco de “pequeno rebanho”. Foi uma visita histórica.
As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.
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Mãe Aparecida, olhe pela Arquidiocese de São Paulo Fernando Geronazzo
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
osaopaulo@uol.com.br
A Arquidiocese de São Paulo realizou no domingo, 7, sua 116ª Romaria ao Santuário Nacional de Aparecida (SP). Aproximadamente 20 mil fiéis de paróquias e comunidades das seis regiões episcopais participaram da missa presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Odilo Pedro Scherer, e concelebrada pelos bispos auxiliares e padres. A Romaria deste ano acontece no contexto do Ano Mariano Nacional, que celebra os 300 anos do encontro da imagem da padroeira do Brasil no rio Paraíba do Sul, em 1717. “Estamos todos na casa da Mãe. Nossa Senhora nos aproxima de Jesus. A Mãe nos leva ao Filho, sempre nos aponta para Ele, nos recomenda a ouvir a sua palavra. Ela é nossa mestra na escola do Evangelho”, afirmou o Cardeal, na homilia.
Bom Pastor
Destacando a liturgia do 4º Domingo da Páscoa, que recorda Jesus, Bom Pastor, o Cardeal Scherer afirmou que as palavra de Jesus no Evangelho convidam a pensar na necessidade de pastores autênticos, que tenham o coração de Cristo em relação à humanidade. “Por isso este também é o dia dedicado às orações pelas vocações sacerdotais de maneira especial”, disse. “Hoje nós queremos, juntos de Nossa Senhora Aparecida, também rezar pelos sacerdotes, pelos bispos, pelas vocações, pelos seminaristas e diáconos, pelos que estão encarregados de maneira toda especial de conduzir e congregar o povo de Deus em nome de Cristo”, acrescentou.
Aparecida e São Paulo
Dom Odilo também recordou que o Santuário de Aparecida e a Igreja Particular de São Paulo têm uma longa história em comum. “Por mais de 200 anos existiu uma relação muito estreita da Igreja em São Paulo com Nossa Senhora Aparecida”, disse. Em 1717, quando foi encontrada a imagem da Padroeira do Brasil, todo o Estado de São Paulo pertencia à então Diocese do Rio de Janeiro. Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, que depois foi elevada a arquidiocese, em 1908, Aparecida passou a fazer parte de seu território. Somente em 1958, foi criada, pelo Papa Pio XII, a Arquidiocese de Aparecida. Também foi da Arquidiocese de São Paulo que veio o primeiro arcebispo de Aparecida, o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, até então arcebispo de São Paulo. Foi o primeiro arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, que, em 1908, obteve do Papa X a concessão do título Basílica Menor para a primeira igreja construída em 1745, popularmente conhecida como “Basílica Velha”. Nessa ocasião, Dom Duarte também celebrou a dedicação do templo. Até a chegada dos primeiros missionários redentoristas, em 1894, o atendimento pastoral e espiritual da Basílica de Aparecida ficou
aos cuidados do clero da Diocese de São Paulo. O lançamento da pedra fundamental do Santuário Nacional, a “Basílica Nova”, aconteceu em 10 de setembro de 1946 e a construção do templo iniciou-se em 11 de novembro de 1955.
Intercessão pela Arquidiocese
“Hoje nós queremos pedir a Nossa Senhora Aparecida que olhe por nossa Arquidiocese de São Paulo neste momento da sua vida e da sua história, sobretudo agora que estamos diante de um Sínodo Arquidiocesano”, disse Dom Odilo, destacando que o sínodo é um caminho especial que vai requerer uma participação de toda a Arquidiocese na busca de renovar sua vida e missão em todas as paróquias, comunidades, organizações pastorais e expressões de vida eclesial e, por fim, de sua presença na metrópole de São Paulo.
Unidade
116ª Romaria Arquidiocesana leva 20 mil pessoas ao Santuário Nacional de Aparecida, no domingo, dia 7
O coordenador do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, Padre Tarcísio Marques Mesquita, afirmou, ao O SÃO PAULO, que a participação na Romaria superou as expectativas, sobretudo com a adesão dos padres e fiéis que, na sua avaliação, tem aumentado a cada ano. Para o Padre Tarcísio, a presença dos padres também incentiva e anima a participação dos fiéis e expressa a unidade da Igreja em São Paulo. “Momentos como a Romaria fortalecem o significado de uma diocese reunida com seu bispo e contribuem para que haja uma verdadeira pastoral de conjunto nas paróquias”, disse.
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10 a 16 de maio de 2017 | www.arquisp.org.br
‘Que em memória de Jesus Cristo, continuemos caminhando juntos e unidos’ Luciney Martins/O SÃO PAULO
Missa na Catedral da Sé, no sábado, 6, marcou as comemorações dos 10 anos do arcebispado de Dom Odilo na Arquidiocese Daniel Gomes
danielgomes.jornalista@gmail.com
Gratidão. Este foi o sentimento que predominou na missa em ação de graças pelos dez anos do arcebispado do Cardeal Odilo Pedro Scherer na Arquidiocese de São Paulo, realizada no sábado, 6, na Catedral da Sé. Desde a acolhida na porta da Catedral pelos bispos auxiliares e cônegos do Cabido Metropolitano, passando pelos aplausos da assembleia de fiéis ao ingressar pelo corredor central do templo, até as mensagens de agradecimento que ouviu de bispos, padres, leigos e religiosas, Dom Odilo pôde perceber o carinho da Arquidiocese pelo 7º arcebispo de sua história, que a conduz desde 29 de abril de 2007. “Que alegria poder me dirigir a vocês neste dia, agradecendo a Deus pelos dez anos de ministério episcopal como arcebispo de São Paulo. Faço minhas as palavras do salmo desta missa: ‘Que poderei retribuir ao Senhor Deus por todo bem que Ele me fez?”, disse Dom Odilo no começo da homilia, agradecendo a todos que organizaram e participaram da missa, incluindo autoridades civis e militares, bem como os concelebrantes: Dom Eduardo Vieira dos Santos, Dom Devair Araújo da Fonseca, Dom Luiz Carlos Dias e Dom José Roberto Fortes Palau – bispos auxiliares da Arquidiocese; e Dom Julio Endi Akamine, arcebispo de Sorocaba (SP); além de Dom Joseph Gébara, eparca da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso, de rito greco-melquita.
Testemunhas de Jesus Cristo
Ao recordar a data de sua posse em São Paulo, Dom Odilo lembrou que já naquele primeiro ano como arcebispo teve a felicidade de acolher o Papa Bento XVI, que em visita ao Brasil, em maio de 2007, realizou a canonização de Santo Antonio de Sant´Anna Galvão e participou da abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, realizada em Aparecida (SP). “Dez anos foram para mim um tempo de reconhecimento da realidade da Arquidiocese de São Paulo e da riqueza, da amplidão, da Igreja que aqui se expressa de múltiplas formas nas paróquias, comunidades e nas múltiplas organizações da vida eclesial, nas muitas iniciativas da presença da Igreja na sociedade, junto aos necessitados, na assistência social, nas instituições voltadas para a educação, a saúde e a cultura”, afirmou.
Ao comemorar 10 anos de arcebispado, Dom Odilo recorda momentos na Arquidiocese e exorta fiéis à participação no Sínodo Arquidiocesano
Dom Odilo lembrou que essa riqueza de expressões é também fruto de um longo trabalho, conduzido por bispos e arcebispos que o precederam, e disse que cada pessoa é hoje chamada a contribuir com a missão de Jesus Cristo. “Somos chamados a ser testemunhas de Jesus Cristo, a testemunhar que Deus habita esta cidade, que ela não é uma cidade entregue ao mal. Somos testemunhas de coisa boa, testemunhas da Boa Nova, testemunhas da caridade, da
justiça, da solidariedade, da valorização da vida de cada pessoa, mesmo quando essa pessoa não é valorizada pela sociedade em geral, ou pelos muitos esquemas culturais, políticos ou econômicos”, enfatizou. Dom Odilo lembrou que “o bispo não trabalha sozinho”, e agradeceu a todos que fazem com que a Arquidiocese “leve o bálsamo do amor de Deus, a misericórdia de Deus, a todos os irmãos que sofrem de muitas maneiras”.
OBRIGADO, DOM ODILO!
“10 anos de seu incansável e fiel pastoreio nessa imensa Arquidiocese e com uma constante solicitação sobre nós presbíteros, para que estejamos sempre motivados e esperançosos para a missão de testemunhar e anunciar Jesus Cristo a todas as pessoas e espaços dessa grande cidade. Esse deve ser o nosso compromisso pastoral”. Cônego José Miguel de Oliveira, em nome de todo Clero da Arquidiocese
“Agradecemos de coração o seu coração missionário pastoral, Dom Odilo, que acompanha a vida religiosa com suas frequentes cartas e convites, que nos fazem sentir próximos e participarmos mais da vida da Igreja, sendo sempre essa Igreja em saída. Agradecemos seu espírito. É Paulo que o impulsiona sempre. Nós percebemos sua atenção constante para dar respostas à sociedade, seja pelos meios de comunicação, seja em situações mais diversas que sua missão requer”. Irmã Helena Corazza, paulina, em nome dos consagrados, religiosos e religiosas
“Nós aqui nesta cidade nos sentimos acolhidos por esta Arquidiocese, por tua presença, Dom Odilo! Em tantas famílias, em tantas casas, que fazem parte desse imenso lugar. Essa é nossa Arquidiocese, na qual Dom Odilo faz-se presente com todos os seus bispos, seus sacerdotes, pastorais, com todos os missionários, religiosos, e chega àqueles que mais precisam, que são nossos irmãos e nossas irmãs mais sofridos. E assim, a gente sente essa presença, sente esse coração de pastor, que vem trazendo sinais, com inúmeras ações na nossa Arquidiocese”. Marilda Lima, do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, em nome dos leigos
Leia no site do jornal O SÃO PAULO as mensagens de felicitações a Dom Odilo escritas pelos bispos auxiliares e por outros bispos que trabalharam com o Cardeal Scherer: www.osaopaulo.org.br/noticias/especiais
Olhar para o futuro
O Cardeal Scherer exortou, ainda, a um olhar para o futuro da Arquidiocese, partindo da constatação da realidade atual e do que ainda pode ser aprimorado. Nesse sentido, convidou todos para a participação no Sínodo Arquidiocesano, cujo decreto de convocação será publicado em 9 de julho, na memória litúrgica de São José de Anchieta. “A data não quer ser aleatória, lembrando que São José de Anchieta e outros companheiros missionários iniciaram a vida da Igreja neste chão. Nós somos continuadores da missão que eles iniciaram”, afirmou. “Nós somos chamados a fazer a nossa parte, olhando bem para a realidade da nossa Igreja hoje, diante das realidades últimas da nossa cidade, da nossa cultura e do nosso ambiente religioso, tão diferente de 50 anos antes de nós. Quanta coisa mudou e talvez não nos demos conta, por isso, nós também devemos olhar para essa realidade de uma forma nova”, disse, desejando que haja o discernimento “dos caminhos que se abrem diante de nós, sobre as decisões a serem tomadas. Que em memória de Jesus Cristo, nós continuemos caminhando juntos e sempre unidos”, exortou. Na parte final da missa, Dom Odilo ouviu mensagens de agradecimento dos bispos, padres, leigos e religiosos, e foi presentado com seu brasão esculpido em madeira. O Cardeal pediu que todos sigam rezando por ele e pelo clero. “Todos unidos na oração, na Palavra e na Eucaristia, continuemos nesta nossa Igreja em São Paulo tão rica em expressões de vida eclesial, tão abençoada por Deus, mas ainda com tantos desafios de vida e de missão a realizar”, finalizou.