O São Paulo - 3315

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 65 | Edição 3315 | 16 a 22 de setembro de 2020

Joca Duarte

CNBB não participou de projeto para anular dívidas de Igrejas

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Encontro com o Pastor ‘A cruz é símbolo da redenção diante da maldade, da vida que vence a morte’

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Espiritualidade

Começam as comemorações do centenário de Dom Paulo Evaristo Arns

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Cartilha apresenta orientações aos cristãos para as eleições O subsídio “Os cristãos e as eleições” aborda aspectos elementares do universo da política, a partir do olhar da Igreja Católica, sem vínculos com ideologias ou partidos políticos. Seu objetivo é ajudar os cidadãos na escolha de prefeitos e vereadores nas eleições municipais deste ano, em 15 de novembro, que devem ser marcadas pelo rígido protocolo de combate à COVID-19 e à proliferação de fake news.

Editorial Os deveres para com o ambiente se ligam àqueles para com a pessoa humana

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) esclareceu, no sábado, 12, que não teve parte na elaboração do Projeto de Lei (PL) 1581/2020, que previa anular dívidas tributárias das Igrejas com a Receita Federal, ponto que foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro ao sancionar a lei, no dia 13.

Uma live realizada na segunda-feira, 14, abriu as comemorações do centenário de Dom Paulo Evaristo Arns, falecido em 2016. No dia em que o Cardeal da Esperança completaria 99 anos, personalidades, entre as quais Dom Odilo Scherer, ressaltaram sua importância para a vida da Igreja e a defesa dos direitos humanos.

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Na vinha do Senhor, atua-se pela alegria em servir Página 5

Liturgia e Vida

‘Estás com inveja porque sou bom?’ Página 15

Comportamento Prefeitura de SP lançará Plano Municipal de Arborização Urbana durante a Semana da Árvore

Você já pensou em plantar uma árvore? Indispensáveis ao equilíbrio ambiental, as árvores “disputam” espaço com as construções em São Paulo. Cada vez mais, porém, a população tem se mobilizado em ações coletivas de plantio e preservação.

Como ajudar os filhos na escolha de uma profissão? Página 7

Plantar árvores também é uma medida eficaz para compensar a emissão de dióxido de carbono na atmosfera. É o que faz o Estado do Vaticano, com a Floresta do Clima, uma área reflorestada na Hungria. Páginas 8 e 9 Vatican Media

Símbolo da campanha Setembro Amarelo

#SetembroAmarelo

Campanha alerta sobre a prevenção ao suicídio

Páginas 11 e 12 CNBB Regional Sul2

Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o Cardeal Sarah, após aprovação do Papa Francisco.

Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. Fenômeno complexo, o suicídio é causado, na maioria dos casos, por um transtorno mental diagnosticável, que, por isso, pode ser evitado se devidamente tratado. Saiba como identificar os sinais de comportamento suicida e o quanto é importante a acolhida e a escuta a essas pessoas.

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Retorno do povo às missas tem sido feito com cuidados de higienização e distanciamento social

Vaticano recomenda que, onde for possível, fiéis retornem às missas presenciais Recomendação é feita por meio de carta enviada a dioceses de todo o mundo, no sábado, 12, pelo Prefeito da Congregação para o


2 | Encontro com o Pastor | 16 a 22 de setembro de 2020 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz e a comemoração de Nossa Senhora das Dores nos convidam a uma reflexão neste tempo de pandemia, quando uma pesada cruz caiu nos ombros de toda a humanidade. O que fazer com essa cruz, como suportá-la e como carregá-la? Muitas reflexões e atitudes são possíveis. Podemos resignar-nos friamente diante das circunstâncias e pensar que se trata apenas da lógica da natureza, que segue seu curso: um vírus surgiu, teve a ocasião de se espalhar, produziu seu efeito, e só temos de tentar mudar o curso desse fenômeno natural mediante a intervenção humana na natureza. Há muito de verdadeiro nessa forma de pensar e agir, mas ela deixa de lado diversas questões, sobretudo as que se referem propriamente ao homem. Nós nunca somos apenas um elemento a mais na natureza: podemos ser causadores e desencadeadores

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Cruz de Cristo, cruz da humanidade de fenômenos adversos nela. Podemos ser causa de sofrimento e cruz para os outros, mediante nossas decisões e ações inconsequentes, ou fazer pesar ainda mais a cruz nos ombros dos outros, na medida em que ficamos indiferentes diante do sofrimento e da angústia do próximo e nada fazemos para socorrê-lo. Podemos, no entanto, também ser responsáveis e consequentes nas nossas decisões e ações, de maneira a evitar os sofrimentos e a angústia aos outros. Podemos ter uma atitude proativa diante do sofrimento alheio, fazendo o possível para aliviar a cruz dos que sofrem. Graças a Deus, vemos muito disso durante a pandemia de COVID-19, que já está se prolongando por muito tempo. A cruz, nesse caso, mesmo sendo indesejada, torna-se ocasião para o exercício das capacidades e virtudes humanas e cristãs mais elevadas. Nem sempre podemos fazer muita coisa. Penso nos familiares de um doente internado na UTI, a quem nem podem visitar para estar a seu lado e lhe dizer uma palavra de consolo e conforto, nem podem se aproximar para lhe colocar a mão na fronte ou, simplesmente, trocar um olhar cheio de afeto e emoção.

A cruz do enfermo e a de seus familiares é semelhante e pode ser carregada solidariamente. A indiferença fria seria como renegar a condição humana e os laços mais belos que unem as pessoas, como o afeto e a compaixão. A festa da Exaltação da Santa Cruz nos faz olhar, não apenas para o objeto da cruz, mas para Aquele que nela foi pregado e nela morreu: Jesus Cristo, nosso Salvador. Ele valorizou o símbolo da cruz e lhe deu um significado novo. Antes, ela indicava castigo e condenação a uma morte cruel e vergonhosa. Depois que o Filho de Deus humanado foi condenado à morte de cruz e nela entregou sua vida pela humanidade, ela se tornou símbolo para a vida inocente aviltada pelas maldades humanas, mas entregue por amor aos outros. A cruz é símbolo da redenção diante do mal, da vida que vence a morte. Em tudo isso, temos luzes preciosas para o discernimento sobre as cruzes da humanidade atual, carregada da cruz da pandemia e de tantas outras pesadas cruzes. Jesus Cristo carregou sobre a cruz os nossos pecados e maldades. Ele amou e perdoou até o fim. Ele não fugiu da cruz da humanidade,

mas assumiu-a e bebeu o cálice da dor até o fim, em seu amor solidário pela humanidade. Precisava ser assim? Foi obrigado a fazê-lo? Não, certamente! É a “loucura da cruz”, como já se dizia no tempo de São Paulo, só compreensível à luz da “loucura do amor” de Deus pela humanidade. É o mistério da cruz, que supera e vence o mistério da iniquidade. Aos pés da cruz, de pé, estava sua mãe, junto com algumas poucas pessoas, que permaneceram firmes com Jesus até o fim, mesmo com o coração apertado e atravessado pela espada de dor. Sofriam com Jesus, não tiveram vergonha de permanecer com Jesus, rejeitado, injuriado, condenado como malfeitor e como a vergonha da humanidade. Impotentes diante do drama, permaneceram junto da cruz de Jesus, solidários com Ele, sofrendo com Ele. Nossa Senhora das Dores é a imagem e o exemplo do que devemos fazer e de como devemos reagir diante de situações extremas vividas por nossos semelhantes, padecendo com eles, não os abandonando à sua solidão desoladora. Muitas vezes, é o que podemos fazer para ajudar os outros a carregar a sua cruz.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Jenniffer Silva • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Geral | 3

Cardeal Scherer recebe a visita de membros da Ordem de Malta Reinaldo Antonio

Reinaldo Antonio

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer recebeu, na Cúria Metropolitana, na sexta-feira, 11, a visita do presidente da Associação dos Cavaleiros da Soberana e Militar Ordem de Malta de São Paulo e do Brasil Meridional, Luiz Périssé Duarte Junior, que, na oportunidade, apresentou ao Arcebispo Metropolitano alguns aspectos da atuação e da vida da Ordem de Malta ao longo do tempo e, também, do trabalho social realizado na cidade de São Paulo. Fundada no século XI, em Jerusalém, a Ordem de Malta é uma das mais antigas ordens religiosas católicas que se dedicam à assistência aos necessitados do mundo inteiro. Atualmente, tem cerca de 13.500 membros, em mais de 120 países, dedicando-se a ações humanitárias e contando sempre com a colaboração de voluntários e fundos arrecadados localmente.

Cardeal recebe relatórios sobre as atividades da Associação dos Cavaleiros da Ordem de Malta

Há mais de 60 anos a Ordem de Malta atua no Brasil. Em São Paulo, mantém o Centro Assistencial Cruz de Malta, fundado em 1970 na região do Jabaquara, com uma creche, um centro da infância e juventude, ação de assistência a jovens

em liberdade assistida, cursos profissionalizantes, ambulatório médico especializado na saúde da criança e da mulher, assistência odontológica, posto de vacinação e fornecimento de medicamentos, cestas básicas e outros itens. O trabalho é

feito por voluntários, membros ou não, e dezenas de profissionais contratados, mantidos com contribuições, doações e convênios. Durante o encontro, os dirigentes também entregaram ao Cardeal relatórios que apresentam números e detalhes de parte do trabalho assistencial da Associação, além de uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Filermo, padroeira da Ordem de Malta. Ao final, o Cardeal foi convidado para, oportunamente, visitar o Centro Assistencial Cruz de Malta. Acompanharam o presidente Luiz Périssé os seguintes dirigentes da Ordem: Dom Mathias Tolentino Braga, OSB, Abade do Mosteiro de São Bento e Capelão da Associação dos Cavaleiros de Malta; Giuseppe Ulderico Farini, presidente de honra; Roberto Delmanto Junior, chanceler; Dr. Antônio Carlos Castilho Garcia, diretor administrativo e de formação; Alberto Mayer, diretor; e Sergio Comolatti, membro do Conselho Deliberativo.

‘Não tenhamos medo de sempre pedir perdão a Deus’ Daniel Gomes

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A temática do perdão, destacada na liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum, foi um dos assuntos centrais tratados pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no programa “Diálogos de Fé”, no domingo, 13, transmitido pela rádio 9 de Julho (AM 1.600 kHz) e pelas mídias sociais da Arquidiocese. Inicialmente, o Arcebispo recomendou aos fiéis que retomem a participação presencial nas missas, exceto os que pertencem aos grupos de risco para a COVID-19 ou que estejam com baixa imunidade. Ele lembrou que as igrejas estão seguindo todos os protocolos para evitar a proliferação do vírus, tais como a disponibilização de álcool em gel, a demarcação dos assentos para a manutenção do isolamento social e o acesso controlado dos fiéis, com a medição da temperatura corporal e o uso obrigatório de máscara.

Compromisso cristão com o perdão Ao falar sobre o perdão, Dom Odilo recordou que perdoar é um compromisso de todo cristão, na medida em que é sempre perdoado por Deus e que se deve perdoar sinceramente e se evitar a promoção de uma cultura de ódio, vingança e ressentimento. Questionado pelo internauta Juliano Panza sobre a necessidade recorrente dos fiéis ao sacramento da Penitência, Dom Odilo lembrou que, após o arrependimento sincero, é preciso corrigir as atitudes para não mais pecar, mas, se for preciso se confessar novamente, isso deve ser feito. “Não

tenhamos medo de sempre pedir perdão a Deus. Lembro-me de uma palavra que o Papa Francisco falou no início do Ano Santo da Misericórdia: ‘Deus é generoso no perdão e está sempre pronto para nos perdoar, nós que achamos que pecamos demais e que já chega de pedir perdão’. Respondendo a um questionamento da internauta Leonita da Silva, Dom Odilo também falou sobre a importância de que cada pessoa tenha a capacidade de se perdoar, ou seja, que não carregue para a vida toda ressentimentos a respeito de questões sobre as quais já se confessou. “Se entregamos a situação a Deus, não podemos dizer a Ele ‘me dê de volta, quero voltar a carregar esse sentimento de culpa’.”

Onde ir à missa A internauta Tatiana Cruz questionou se o ideal é o fiel frequentar a igreja em que esteja mais próximo territorialmente ou aquela à qual se sente afetivamente ligado. O Arcebispo apontou que não há problema ir a uma paróquia com a qual há vínculos afetivos, mas ponderou que é preciso pertencer a uma comunidade paroquial. “Isso não tira a liberdade de poder assistir à celebração em outro lugar, mas recomendo que não se faça isso sempre, porque senão a pessoa acaba virando um ‘cristão católico turista’, que vai aonde gosta, mas não se sente parte de lugar algum.” Olhar para as desigualdades sociais Dom Odilo foi ainda questionado se a Igreja não deve ser mais incisiva diante das situações de desigualdade social e econômica. Ele lembrou que há atenção permanente a essas realidades, mas que a Igreja não pode se esquecer de sua missão de ce-

lebrar bem a Eucaristia, anunciar a Palavra de Deus, promover a caridade e assistir os doentes, pois, do contrário, “viramos um sindicato, um partido político, e não é essa a missão da Igreja. A Igreja, porém, deve

ser entendida como todo cristão, como todo povo de batizados, que está presente no mundo para fazer a sua parte e torná-lo melhor”. (Colaborou: Flavio Rogério Lopes)


4 | Ponto de Vista | 16 a 22 de setembro de 2020 |

Ecologia integral

A

celebração do Dia da Árvore, estipulada no Brasil para o próximo dia 21, antevéspera da primavera, nos dá a ocasião de relembrar o ensinamento católico sobre o meio ambiente – um dos grandes temas controversos de nossos dias, frequentemente objeto de posições extremadas. Não falta quem invoque, por exemplo, a narrativa bíblica da criação do homem e o comando do “enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28), para pretender justificar uma exploração irrefreada do meio ambiente: nós teríamos sobre a natureza o mesmo arbítrio de vida e morte que o dono tem sobre seu escravo. Como adverte o Papa Francisco, no entanto, “esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja” (Laudato si’, 67). Não ao homem, com efeito, mas “ao Senhor pertence a terra e tudo o que ela contém” (Sl 24,1; cf. Dt 10,14). Deus nos manda, por isso, que nos consideremos usuários dos bens, e não seus proprietários perpétuos: “Nenhuma terra será vendida defini-

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Editorial

tivamente, porque a terra Me pertence, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes” (Lv 25,23). E o repouso semanal foi instituído não só em favor do homem, mas também “para que descansem o teu boi e o teu jumento” (Ex 23,12). Embora seja certo, portanto, que no mundo visível apenas o homem foi criado “à imagem e semelhança” de Deus (cf. Gn 1,26), não é menos verdade que cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. E, como nos lembra São Tomás de Aquino, esta multiplicidade e variedade da criação nos ensina, primeiro, que a bondade divina é tão elevada que não poderia ser convenientemente representada numa única criatura; depois, que nenhuma criatura (nem sequer o homem) basta-se a si mesma (cf. Laudato si’, 77, 86). Oposto a este antropocentrismo despótico, porém, existe também um ambientalismo radical, que erige a fundamento do universo já não o homem e suas necessidades, mas puramente a natureza.

Criticar o ambientalismo extremado (note-se bem!) não significa fechar os olhos à realidade: é inegável – e a Igreja reconhece – que “o ambiente natural está cheio de chagas causadas pelo nosso comportamento irresponsável” (Laudato si’, 6). Trata-se apenas de enxergar que, por trás destas chagas à nossa terra, está sempre um desequilíbrio em nossas relações – primeiro com Deus e depois com os demais homens e com o ambiente. Não por outro motivo é que, consumado o primeiro fratricídio, recebeu Caim a simbólica imprecação divina: “Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. De agora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu sua boca para beber de tua mão o sangue do teu irmão” (Gn 4,10-11). Nós, cristãos, “sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto” (Rm 8,22) – e, mais que isso, sabemos que todas essas dores decorrem da “ideia de que não existem verdades indiscutíveis a guiar a nossa vida, pelo

que a liberdade humana não tem limites” (Laudato si’, 6). Como dizia enfaticamente o Papa Emérito Bento XVI, “para preservar a natureza não basta intervir com incentivos ou punições econômicas, nem é suficiente uma instrução adequada. Trata-se de instrumentos importantes, mas o problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral. (...) O livro da natureza é uno e indivisível, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a vertente da vida, da sexualidade, do matrimônio, da família, das relações sociais, numa palavra, do desenvolvimento humano integral. Os deveres que temos para com o ambiente estão ligados com os deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros; não se podem exigir uns e espezinhar os outros. Esta é uma grave antinomia da mentalidade e do costume atual, que avilta a pessoa, transtorna o ambiente e prejudica a sociedade” (Caritas in veritate, 51). Protejamos e defendamos, sim, a criação – mas a criação inteira!

Opinião

Para ter a paz no coração

Arte: Sergio Ricciuto Conte

ANA LYDIA SAWAYA É possível ter paz no coração em um tempo tão difícil como o que estamos vivendo? Minha mãe repetia-nos muitas vezes (tanto que me lembro sempre): a extrema necessidade é a oportunidade de Deus. Por isso, este é exatamente o momento ideal para aprender a adquirir a paz no coração. Um grande mestre do monaquismo oriental, São Silvano do Monte Athos, dizia que o caminho para ter paz no coração é começar a observar atentamente os pensamentos que nos vêm à cabeça e expulsar rapidamente os pensamentos de raiva e ressentimento. O modo para fazer isso é começar a pedir a Deus na oração, na missa, depois da Eucaristia, ao rezar o Terço ou a Liturgia das Horas, para abençoar a pessoa que fez você sofrer. Quando pensar na pessoa ou a vir, diga logo, mentalmente e com sincero desejo: “Que Deus a abençoe e a ilumine!” Se ela lhe fez mal, precisa ser iluminada, não? Por isso, convém pedir essa graça a Deus. Se algo deixou você triste, ou alguém com quem você convive o deixou irado, de forma que você começa a detestá-lo, não deixe a ira se apossar de você por muito tempo. Pense logo, como ensina São Silvano: “O Senhor conhece o meu coração. Se permite que isso esteja me acontecendo, é porque aqui há um desígnio que eu

não consigo enxergar agora, mas eu sei, como diz São Paulo, que tudo concorrerá para o meu bem e o bem dos outros” (cf. Rm 8,28). E, logo em seguida, diga a si mesmo: “Senhor, eu lhe peço, faça-me ver logo o que tem de bom nesta situação tão difícil e ajude essa pessoa”. Quanto mais pedir, mais adquirirá confiança e mais conhecerá e compreenderá como Deus age: “Pois os Seus caminhos não são os nossos caminhos” (Is 55,8-9). O Seu modo de ver e de agir é sempre maior e melhor do que o nosso. É preciso também jogar fora rapidamente todos os pensamentos de raiva, murmuração, reclamação,

inconformismo. Jogue fora, não os alimente, pois eles vêm do maligno para prender você naquela situação ruim. Apoie-se em Deus e conte com Ele. Peça para Ele agir. A confiança é a virtude mais essencial num tempo tão difícil como o nosso. Não gaste muito seu tempo emitindo julgamentos sobre os outros, pois não se pode julgar uma pessoa apenas pelos seus atos exteriores. É insuficiente e muito precário. É preciso ver também seu interior, ou seja, seus pensamentos e seu coração. Mas não só: é preciso conseguir vê-la em todos os lugares. E essa capacidade só Deus tem (cf. Mt 7,1-5). Por isso, jul-

gar os outros só por alguns atos exteriores que conseguimos enxergar, nos induz muito frequentemente a conclusões erradas. E, sobretudo, nos tira a paz do coração. Por isso, quem quiser conhecer a paz, “medite a lei do Senhor, dia e noite” (Sl 1,2). São Silvano nos diz que a paz vem quando, lendo e meditando as Escrituras com frequência, deixamos que o Espirito passe da Palavra ao coração. E experimentaremos, então, uma doçura tão grande, que as coisas materiais, as preocupações excessivas, as provocações dos outros não conseguirão vencê-la por muito tempo. A própria presença dessa doçura em nós desarma os outros, pois, quando presente, é bastante visível, é cheia de força e persuasão, não há nada de resignação ou submissão. São Silvano diz ainda: “Quando perdes a paz? Quando pensas, mesmo que por um segundo, ter feito algo de bom por ti mesmo; quando crês que és melhor do que teu irmão; quando julgas alguém; quando corriges o outro sem doçura e sem amor; quando comes demais; e quando rezas descuidadamente e sem sinceridade.” Se você perder a paz, suplique-a ao Senhor e ela retornará. É dessa paz que este tempo precisa mais! Ana Lydia Sawaya é professora da Unifesp e doutora em Nutrição pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Foi pesquisadora visitante do Massachusets Institute of Technology (MIT) e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5 Evelym Mello

Em assembleia, CCCA elege diretoria POR CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ No dia 9, no salão paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, aconteceu a assembleia geral do Centro Comunitário da Criança e do Adolescente (CCCA), com a participação de 25 pessoas, entre as quais os convocados e alguns indicados. Na ocasião, houve a análise e aprovação, por unanimidade, do balanço referente ao ano de 2019, a acolhida dos novos sócios efetivos, a eleição da nova diretoria e dos membros do Conselho para Assuntos Econômicos e Fiscais.

Desde 2016, após uma reestruturação, o Presidente honorífico da instituição é Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. A nova diretoria é composta pelo Padre Geraldo Pedro dos Santos, Pároco da Paróquia Santo Eduardo, eleito Diretor-Presidente; e pelo senhor Reginaldo Francisco Caetano, vice-diretor. Eles darão continuidade aos trabalhos até então coordenados pelo Padre José Donizeti Coelho, em prol das crianças e famílias carentes da região. A assembleia transcorreu sob todos os cuidados e normas de segurança estabelecidos pela vigilância sanitária, devido à pandemia de COVID-19.

[SÉ] No domingo, 13, Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu a missa na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate, Setor Pastoral Pinheiros, concelebrada pelo Padre Vandro Pisaneschi, Pároco, que ressaltou a presença do Bispo: “O pastor confirma a missão, não só do sacerdote, mas também de todos os paroquianos”. (por Pâmela Pio) Arquivo paroquial

André Rodrigo de Souza

[IPIRANGA] Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, conferiu o sacramento da Crisma a 24 jovens e oito adultos, durante missa na

Paróquia Nossa Senhora Mãe de Jesus, Setor Pastoral Cursino, no sábado, 12. (por Caroline Dupim)

[SÉ] No sábado, dia 12, Dom Eduardo Vieira dos Santos conferiu o sacramento da Crisma a três jovens e a três adultos durante missa na Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, Setor Pastoral Cerqueira César, concelebrada pelo Padre José Edivaldo Melo, Pároco. (por Secretaria Paroquial)

Espiritualidade Vem trabalhar na minha vinha DOM JOSÉ BENEDITO CARDOSO

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO LAPA

P

ara pregar o retiro do Ano Santo do Grande Jubileu de 2000, São João Paulo II convidou o Cardeal vietnamita François-Xavier Nguyên Van Thuân, que esteve preso por 13 anos, dos quais nove na mais rigorosa solidão. Em 1988, foi libertado do cárcere e, de imediato, expulso de seu país (Vietnã). Quando perguntou ao Papa a respeito do assunto a ser tratado no retiro, o Pontífice lhe disse que apenas falasse de sua vida. Na segunda pregação, assim expressou: “Abandonei tudo para seguir Jesus, porque amo os seus defeitos”. Dizia que Jesus não tinha boa memória, pois esqueceu os pecados do bom ladrão (cf. Lc 23,42-43); que não entendia muito de matemática, pois, para Ele, uma ovelha tinha o mesmo valor de noventa e nove (cf.

Lc 15,4-7); que desconhecia lógica, pois a mulher da moeda perdida gasta mais com a festa do que o valor da moeda encontrada (cf. Lc 15,8-10); que era um administrador aventureiro, pois na “propaganda de seu produto” prometeu perseguição e julgamentos (cf. Mt 5,3-12), e, mesmo assim, os discípulos de todos os tempos seguiram sua proposta. Ainda mais: Jesus deixa a impressão de que não entendia de finanças e economia. Conta a parábola do dono da vinha que saiu cinco vezes à procura de operários para trabalhar na sua vinha. Começou na madrugada e só terminou à tardezinha, e, quando foi pagar o trabalho realizado, ofereceu a mesma quantia – um denário – a todos, tanto para quem trabalhou uma hora quanto para quem trabalhou 12. Será que Jesus errou as contas? É claro que não. Quis tão somente mostrar o quanto Deus é exagerado com aquilo que Ele tem, oferecendo em abundância, sejam muitas, sejam poucas horas trabalhadas. Podemos dizer que o denário utilizado para pagar a diária dos trabalhadores, reportando para os dias atuais, não tem como ser cotado nas bolsas de valores, nem ser protegido em paraísos fiscais e muito menos sofre flutuações conforme as

decisões dos governos. “O denário é cotado no coração humano, e quem compreende o seu valor quererá compartilhá-lo com cada pessoa que habita este mundo, começando pelos que, ‘ao cair da tarde’, estão parados nas praças” (Padre Adroaldo): doentes, desempregados, refugiados, crianças sem escolas, os sem-teto, os que passam fome, os dependentes químicos, os que estão encarcerados. A lista dos que esperam é enorme, as praças estão cheias. A parábola dos trabalhadores quer também fazer forte crítica aos que se achavam melhores, e com mais direitos por serem da raça do povo eleito, os únicos herdeiros da vinha. No olhar dessa gente, os cristãos vindos do paganismo, os pecadores convertidos, não mereciam receber o mesmo tratamento dado aos que eram de origem judaica. É a mentalidade de se achar mais merecedor por ser um veterano na comunidade. Ninguém pode se achar dono da vinha, porque nela todos são operários. Na vinha do Senhor não se trabalha para ter um merecimento, ter um prêmio lá no céu. Não podemos passar a vida como diaristas de Deus, fazendo comparações, pensando no que vamos ganhar, no que merecemos. A vinha do Senhor deve ser o lugar de viver como bons

filhos, atuando tão somente pela alegria em servir. Deus sai ao nosso encontro o tempo todo: bem cedinho, no meio da manhã, ao meio-dia, no início e ao cair da tarde. Não se cansa de nos procurar para manifestar o grande amor que tem por nós. Em todos os momentos, encontra gente nas praças à espera de um convite para trabalhar na vinha. É um Deus camponês, que fala do Reino como uma bela vinha que deve ser bem cuidada para produzir frutos saborosos para todos. Ele entrega em nossas mãos os cuidados dessa vinha, para que possamos, juntos, construir seu sonho e o nosso sonho. Então, para quem já está na vinha, é hora de sair para convidar; e, para quem está na praça, é hora de aceitar o convite: “Ide também vós para a minha vinha”. E, com alegria e gratidão, considerando o último da fila, assim possamos rezar: “Conceda-me, Senhor ser trabalhador feliz na vinha, por ter servido o Evangelho, operário não sei de que hora, mas que não espera recompensa alguma. Feliz apenas por ter trabalhado na tua vinha, pelas uvas perfumadas, por um vinho novo, por uma terra mais bela. Contente por ter sido dos primeiros a trabalhar e contente pelo dinheiro dos últimos” (Ermes Ronchi).


6 | Regiões Episcopais | 16 a 22 de setembro de 2020 |

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Silvano J. Sousa

Belém

Dom Luiz Carlos Dias apresenta nova diretoria do Bompar Pascom Bompar

Nova diretoria: Irmã Rosane, Padre Osvaldo, Fátima Maria, Flávio Castro e Diácono Bruno

Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

No sábado, 12, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, presidiu missa no Centro Pastoral São José, na intenção do mandato da nova diretoria do Centro Social Nossa

Senhora do Bom Parto (Bompar). A celebração foi transmitida pelas redes sociais do Bompar e também da Região Episcopal Belém e teve entre os concelebrantes os Padres Tarcísio Mesquita e Osvaldo Bisewski e o Cônego Marcelo Matias Monge, Ecônomo da Região Belém.

A nova diretoria é composta pelos seguintes membros: Padre Osvaldo Bisewski, Diretor-Presidente, Mestre em Educação e que atua há 16 anos na Educação Básica; Diácono Bruno Redígolo, Diretor 2º Vice-Presidente, que atua no Departamento de Comunicação da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN); Fátima Maria de Oliveira, diretora 2ª secretária, pedagoga e que atuou por 25 anos na área de TI e tem experiência em Planejamento e Elaboração de Projetos; Irmã Rosane Steffenon, da Congregação de São José de Chambéry, Diretora 1ª Tesoureira, Gestora-Geral da Unidade Tabor e assistente social, com especialização em Gestão de Projetos e Desenvolvimento Social; Monica Rezende Chagas Vivian, 1ª secretária, psicóloga e pós-graduada pelo Instituto Sedes Sapientiae; Flavio Castro, gestor administrativo em empresa privada, atual presidente do Movimento de Integração Campo e Cidade (MICC) e membro da Pastoral Fé e Política. Leilane França

[SANTANA] No sábado, 12, Dom Jorge Pierozan deu posse canônica ao Padre Juarez Murialdo Dalan (à direita do Bispo) como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Penha, Setor Mandaqui. Entre os concelebrantes da missa solene estava o antigo Pároco, Padre Pietro Plona, IMC. (por Silvano J. Sousa) Pascom da Paróquia São Domingos Sávio

[SANTANA] No domingo 13, Dom Jorge Pierozan presidiu missa pela primeira vez na Paróquia São Domingos Sávio, Setor Tremembé. Na ocasião, foi comemorado o 17º aniversário de sacerdócio do Padre Salvador Ruiz Armas, Administrador Paroquial. (por Pascom da Paróquia São Domingos Sávio).

[SANTANA] Na manhã da quinta-feira, 10, Dom Jorge Pierozan reuniu-se com o clero atuante na Região Santana. A reunião foi dividida em três grupos, de maneira a cumprir os protocolos de segurança estabelecidos para o cuidado da saúde em tempos de coronavírus. (por Pascom da Região Santana)

Silvano J. Sousa

[BELÉM] Em missa no domingo, 13, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, conferiu o sacramento da Confirmação a 45 jovens e adultos, na Capela Nossa Senhora Aparecida, da ParóLucas Andrade

[BRASILÂNDIA] Em missa no dia 9, Dom Devair Araújo da Fonseca deu posse ao Padre Maycon Wesley da Silva como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Setor Pereira Barreto. A celebração contou com a presença de fiéis, que mantiveram o recomendado distanciamento social, e foi transmitida pelas redes sociais da Paróquia e da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Brasilândia. (por Lucas Andrade)

quia Santíssima Trindade, Setor Pastoral São Mateus. O Bispo animou os crismandos a serem fortalecidos na fé e contribuírem para o anúncio da Palavra e a todos lembrou o amor incondicional de Deus. (por Fernando Arthur) Ademir Barbosa

[BRASILÂNDIA] No domingo, 13, Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, conferiu o sacramento da Crisma a 16 adultos, durante missa na Paróquia Cristo Libertador, concelebrada pelo Padre Fabrício Mendes de Moraes. Os familiares dos crismados acompanharam a missa presencialmente e foram tomadas todas as medidas para se manter o recomendado distanciamento social.

[SANTANA] No domingo, 13, houve missa festiva na Paróquia Santa Cruz, Setor Mandaqui, presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Santana, e concelebrada pelo Pároco, Padre Flávio Demoliner, SdC. Dom Jorge enfatizou que a festa de Santa Cruz “é carregada de significado, pois foi com esse símbolo do madeiro da cruz que Deus marcou a nossa salvação”. Ele lembrou que a cruz é uma identificação do cristão, que, antes de representar dor, sinaliza o amor. “Veneramos o símbolo não pelo que ele é, e sim pelo que representa, pelo que significa.”

(por Ademir Barbosa)

(por Silvano J. Sousa)


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

lapa Pascom regional realiza a Semana da Comunicação Pascom Região Lapa

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Lapa realizou, pelas redes sociais, entre os dias 8 e 11, a Semana da Comunicação. No dia 8, o palestrante foi Andrew Murillo Cerqueira, produtor multimídia na Agência Minha Paróquia, que tratou do tema “Como fazer lives e impactar”; no dia 9, a palestra foi com Áliston Henrique Monte, gerente editorial de marketing da Editora Ave Maria, com a temática “Do físico ao digital”; e, no dia 10, o assunto tratado foi “A importância da comunicação virtual na retomada pastoral pós-pandemia”, com Jacqueline Souza, gestora de redes sociais da Agência Minha Paróquia. No dia 11, aconteceu o lançamento oficial do programa “Dom José em rede”, com a participação de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. Por meio da iniciativa, realizada pelas redes sociais, há

Fé e Cidadania A busca do pleno emprego no mundo de hoje WAGNER BALERA

reuniões do Bispo com as pastorais, movimentos e secretários(as) das paróquias. No encerramento do evento, o Bispo manifestou seu contentamento com a realização da Semana da Comunicação, vista por ele como oportunidade para que os agentes pastorais pudessem aprender e aprofundar seus conhecimentos tecnológicos no dia a dia das atividades de evangeli-

zação em favor da Igreja em São Paulo. O Padre Antonio Francisco Ribeiro, Assistente Eclesiástico da Pascom Lapa, e Paulo Ramicelli, Coordenador regional desta Pastoral, cumprimentaram todos os agentes da Pascom pelo trabalho realizado no evento e agradeceram o suporte dado ao evento pela Editora Ave Maria e a Agência Minha Paróquia.

Comportamento ‘O que vou ser, agora que cresci?’ SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Quem de nós não viveu em sua biografia este dilema: “Que profissão devo escolher, o que me fará feliz?” Com certeza, passamos por esse impasse e nos lembramos dos sentimentos que foram despertados no processo! No último artigo, falamos sobre a educação da vontade e o quanto isso nos ajuda a formar pessoas que tenham mais critérios e condições de decidir bem. Agora, vamos falar de uma situação em que essa habilidade de decidir se faz absolutamente necessária: a escolha da profissão. É muito importante que, como pais, tenhamos uma visão ampla sobre esse momento importante na vida de nossos filhos, para que possamos ajudá-los com sabedoria no processo de escolha. Primeiramente, vamos considerar a grandeza e importância da escolha: trata-se de uma decisão que trará efeitos para toda a vida. A partir dela, o jovem “moldará” seu aprendizado em busca de excelência futura no âmbito profissional. Ainda novos, precisam decidir algo grande e, hoje, com uma gama infinita de opções! Quantas e quantas profissões surgiram nos últimos anos e quantas surgirão nos próximos! Tudo muito dinâmico. Então, vamos lá: nós, pais, precisamos nos conscientizar de que nosso papel é o de auxiliar e não o de decidir ou induzir à decisão. Cuidado com os pressupostos: “Tenho certeza de que será um excelente advogado, argumenta como ninguém!”; “Sempre gostou muito de animais, será uma veterinária!” Podemos pensar e imaginar o que quisermos, mas não cabe a nós a decisão. Se queremos nossos filhos comprometidos com a decisão tomada, precisamos ajudá-los de forma muito prática e positiva. Eis algumas dicas: 1. Desde o fim da infância e adolescência, precisamos ajudá-los a crescer em conhecimento próprio. Identificar as habilidades, os gostos, os interesses. Perceber suas limitações ou dificuldades – aquilo que é mais árduo, mais custoso. Conhecer-se é um passo muito importante para qualquer decisão, especialmente as mais importantes.

2. Ouvir suas preferências profissionais e ajudá-los a identificar o porquê delas (sejam quantas forem) – como conheceram a profissão, se conhecem alguém que atua naquela área, se conhecem o campo de trabalho, as habilidades necessárias para exercê-la. Devemos propor que façam uma lista das preferidas e busquem informações sobre cada uma delas. No início do processo, é comum se interessarem por profissões absolutamente distintas, de áreas completamente diferentes – é preciso ajudá-los a discernir melhor. Uma tabela com os dados colhidos sobre cada uma pode ser de grande ajuda. 3. Estimule-os a pensar em critérios para a decisão: tempo de dedicação, tipo de habilidade para o exercício, afinidade com o campo de atuação, remuneração; enfim, precisamos tentar identificar os critérios que são importantes no âmbito dos valores que possuem. 4. Momento de sistematizar o conhecimento próprio – que tal construir uma lista de suas habilidades, facilidades, limitações e dificuldades? Comparar a lista das profissões com a do conhecimento próprio pode ajudar a identificar as opções mais viáveis. 5. Com as opções finais, pode ser interessante que busquem conhecer mais de perto a rotina de um profissional da área – conversar com alguém, passar um dia observando (quando possível), enfim, tomar contato com a realidade cotidiana da atuação profissional. 6. Devemos respeitar a decisão dos nossos filhos, mesmo que não nos agrade. É sempre bom lembrar que atuar naquilo com que se identifica, uma missão, um sentido, é precioso. Não há profissão melhor, mas sim a mais adequada a cada pessoa, aquela na qual ela fará o bem e se realizará. Claro que, mesmo com todo esse processo, a decisão pode não ser bem acertada e, em algum momento, haver arrependimento. Arrepender-se faz parte da arte de decidir e pode ser um momento de grande amadurecimento e aprendizagem! Coragem! Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Site: www.simonefuzaro.com.br Instagram @sifuzaro

Que papel estará reservado, na economia, aos desempregados? Cesarino Júnior definia o desemprego como o mais social de todos os riscos, e nos tempos atuais, além das conhecidas formas de desemprego sazonal e friccional, o fenômeno do desemprego estrutural imporá redução permanente dos postos de trabalho. A automatização das linhas de produção e de comando reduz, drasticamente, os postos de trabalho até então existentes na estrutura das empresas, sem perspectiva de reversão do quadro, diferentemente do que se dá com as modalidades tradicionais de desemprego. De outra parte, as novas estruturas já nascem com menor necessidade de mão de obra, o que se reflete na ausência de criação de novos postos de trabalho. Como consequência dos ajustes (e desajustes) econômicos, as estruturas do mercado formal de trabalho foram muito comprometidas. Milhões de trabalhadores foram excluídos do mercado formal e tiveram que se alojar, com engenho e arte, nos lugares precários que, ironicamente, alguém denominou de economia invisível. Em um mundo no qual o econômico quer prevalecer, a todo o custo, sobre o social, os problemas não se resolvem e tendem a se agravar. A praga do desemprego (expressão de São João Paulo II, no discurso de encerramento da Assembleia do Sínodo dos Bispos para a América, em dezembro de 1997) acabará destruindo, qual erva daninha, as estruturas do bem-estar, penosamente construídas ao longo deste século. A Constituição brasileira de 16 de julho de 1934, em dispositivo lapidar (Artigo 115) determinava: “A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econômica”. Foi a primeira vez, no Brasil, que o texto constitucional abordava a questão econômica. E o fazia estabelecendo a adequada hierarquia de valores que, com todos os avanços do mundo, continua sendo a mesma: são os princípios da Justiça Social que orientam e determinam a vida econômica que terá liberdade se e somente se estiver apta a possibilitar a todos existência digna (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 172). A fórmula econômica apta a garantir existência digna para todos foi sabiamente engendrada por William Beveridge, no seu segundo, mas não menos importante plano, intitulado “Full Employment in a Free Society” (London, Allen & Unwin, 1944). Inspirado nas ideias de Keynes, o notável economista, mais uma vez, demonstrava o seu carisma de profeta. A garantia da liberdade econômica só ganha sentido, e só se justifica no plano jurídico e ético, se conduz ao pleno emprego (cf. encíclica Centesimus annus, 39). Aliás, é esse o imperativo que dimana da Lei Magna de outubro de 1988, que, ao erigir os princípios gerais da atividade econômica, catalogou no inciso VIII, do Artigo 170, o da busca do pleno emprego. O fomento ao pleno emprego é, pois, a antiga solução para a nova questão social do desemprego, gerado no ambiente da globalização da economia. Wagner Balera é mestre, doutor, livre-docente e professor titular de Direitos Humanos na Faculdade de Direito da PUC-SP As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.


8 | Reportagem | 16 a 22 de setembro de 2020 |

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Em cada árvore, muitas vidas beneficiadas Joca Duarte

Daniel Gomes e Fernando Geronazzo

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Maior permeabilidade do solo, controle da temperatura e da umidade do ar, manutenção da biodiversidade e redução da poluição são alguns dos benefícios que as árvores proporcionam ao meio ambiente e ao ser humano. No Brasil, visando a aumentar a conscientização sobre a importância de preservá-las, é comemorado anualmente, em 21 de setembro, o Dia da Árvore. No ano passado, 119 mil km2 de florestas foram desmatadas em todo o mundo, conforme dados da Universidade de Maryland. A preservação das árvores também está em risco nos ambientes urbanos, especialmente devido a ocupações irregulares ou construções ilegais. Muitas, porém, são as iniciativas positivas de preservação e plantio de árvores. Em julho, por exemplo, a modelo Gisele Bündchen liderou uma campanha global para viabilizar o plantio de 40 mil árvores na Amazônia. O saldo foi além do esperado e deve resultar em 250 mil árvores plantadas. Em Brotas (SP), referência nacional no turismo ecológico e de aventura, dados de 2016 indicam que, em dez anos, a área de vegetação da cidade cresceu mais de 500%, graças à mobilização do poder público e dos donos de propriedades rurais para o plantio de árvores em espaços depreciados ou nos quais predominava a monocultura da cana-de-açúcar. A paisagem melhorou, assim como a qualidade dos rios e a diversidade da fauna, com o retorno de espécies à região, como o lobo-guará.

Na grande metrópole Na capital paulista, apenas em viários e calçadas, há 652 mil árvores, conforme o último levantamento da Prefeitura, feito em 2015. A partir deste dado e do

Plano Municipal de Arborização Urbana, a ser lançado no fim do mês, prevê diferentes ações a partir do mapeamento de árvores na cidade

Mapeamento Completo da Vegetação, lançado este ano, foi elaborado o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), que será lançado no fim deste mês, nas comemorações da Semana da Árvore. Entre outros aspectos, o PMAU, elaborado após consulta pública à população, contempla um inventário tanto quantitativo quanto qualitativo; o diagnóstico do déficit de vegetação arbórea por distrito e por subprefeitura, com ordem de prioridades de ação; a identificação das áreas e logradouros públicos que podem receber vegetação arbórea; a classificação e indicação das espécies ou conjunto de espécies mais adequadas ao plantio; a determinação de objetivos e metas de curto, médio e longo prazo

Uma árvore plantada e bem cuidada: Eleva a permeabilidade do solo e controla a temperatura e a umidade do ar. Intercepta a água da chuva, ajudando no combate às enchentes. Proporciona sombra, diminuindo os efeitos da fotoexposição no ser humano. Funciona como corredor ecológico, enriquecendo o ecossistema urbano e sua biodiversidade. Age como barreira contra os impactos de ventos, ruídos e alta luminosidade. Diminui a poluição do ar. Armazena carbono. Ajuda no bem-estar psicológico. Fonte: Manual Técnico de Arborização Urbana da Prefeitura de São Paulo

para prover a cidade de cobertura arbórea; e o estabelecimento de um programa de educação ambiental à população atendida simultaneamente ao cronograma de plantio. “No Plano de Arborização, prevê-se um conjunto de ações especificamente voltadas para regiões onde se identificou que há temperaturas mais altas, por exemplo. Analisamos que tipo de espécies temos que plantar nesses locais, para que ao longo de um determinado tempo seja possível resolver esse problema”, afirmou à reportagem Priscilla Cerqueira, diretora da Divisão de Arborização Urbana (DAU) da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Com o apoio da população Priscilla lembra que todo morador da cidade que queira realizar o plantio de uma árvore, pode obter gratuitamente uma muda. Para tal, deve preencher um cadastro na Prefeitura, pelo telefone 156 ou em https://sp156.prefeitura.sp.gov.br. Uma vez aprovado o pedido, a retirada da muda deve ocorrer, após agendamento prévio, nos viveiros municipais Manequinho Lopes (no Parque Ibirapuera) ou Harry Blossfeld (no Parque Cemucam), localizado em Cotia (SP). Já para o caso de uma empresa que queira se responsabilizar pela manutenção de praças ou canteiros centrais, o pedido deve ser feito na subprefeitura em que está localizada. “Com relação a como se fazer o plan-

tio, existe um Manual Técnico de Arborização Urbana, que está disponível no site da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, com algumas explicações sobre qual o tamanho do berço [área aberta no solo onde se realiza o plantio] que deve ser feito de acordo com o tamanho da muda, qual é o local mais adequado para se plantar determinada espécie – na calçada ou no quintal de casa –, qual época do ano a árvore floresce, se ela atrai passarinho ou não”, detalha Priscilla. O Manual está disponível para download neste link: https://cutt.ly/ofPuGus. A diretora da DAU recomenda que quem deseja plantar uma árvore em áreas públicas faça contato prévio com a subprefeitura mais próxima ou com a Secretaria. “Pode ser que já exista algum projeto previsto para determinada rua ou praça, e esse contato evitará que a árvore que alguém pretende plantar com muito carinho seja removida por causa de uma obra que vai ser feita em breve no local”, esclareceu.

Memorial para as vítimas de COVID-19 No começo de junho, a Prefeitura de São Paulo anunciou que plantará uma árvore em homenagem a cada pessoa morta por coronavírus na cidade. O chamado Memorial para as Vítimas da COVID-19 está localizado no Parque do Carmo e já foram plantadas mais de 3 mil árvores. Com a iniciativa, a Prefeitura também busca reflorestar parte da vegetação do parque, que foi afetado por dois incêndios no ano passado.


Novas Árvores por Aí Na zona Oeste de São Paulo, o projeto Novas Árvores por Aí desenvolve trabalhos voltados ao resgate da biodiversidade na cidade. Os participantes realizam desde o plantio de árvores nas calçadas até o cultivo de pequenos bosques e também desenvolvem projetos de paisagismo, jardins de chuva, palestras e cursos. Uma dessas atividades é o plantio das florestas de bolso, que pode ser implantado em pequenos espaços, a partir de 15m², ou também em grandes áreas, como projetos de restauração florestal na zona rural. A maioria dos plantios foi fei-

ta por meio de mutirões de voluntários, como o realizado em 2016, no parque Cândido Portinari, na Vila Hamburguesa. Na ocasião, foram plantadas 600 mudas nativas da Mata Atlântica de 90 espécies, em uma área de 700m². Nessa modalidade de plantio, a compensação ambiental acontece por meio da criação de um microclima. Para isso, as árvores são plantadas a cada 1,5 metro de distância uma das outras. A estimativa dos organizadores é que a floresta de bolso do Parque Cândido Portinari esteja formada até 2022. Outros detalhes sobre o projeto podem ser acessados em http://novasarvoresporai.com.br/. Novas Árvores por Aí

Participantes do Novas Árvores por Aí realizam plantio em uma das vias da capital paulista

Exemplo do Vaticano Um dos primeiros países que alcançaram a neutralização da emissão de CO2 por ano foi o Estado do Vaticano, que, desde 2007, possui a Floresta do Clima, localizada no Parque Nacional de Bükk, na Hungria. A área foi reflorestada como compensação pelas emissões de dióxido de carbono que a Santa Sé lança em seu território de 0,44 km². O Papa Francisco dedicou o último capítulo da encíclica Laudato si’ para destacar o compromisso do Estado do Vaticano com o meio ambiente. Entre as medidas estão a coleta seletiva de resíduos, iniciada em todos os escritórios; circuitos fechados para a água das fontes; redução progressiva de agrotóxicos; consumo de recursos energéticos (em 2008, um sistema de luz solar foi instalado no telhado da Sala Paulo VI e adotou-se novos sistemas de iluminação com econo-

mia de energia na Capela Sistina, na Praça São Pedro e na Basílica do Vaticano, que resultaram na redução de custos em 60%, 70% e 80%, respectivamente. Na encíclica, o Pontífice também chamou a atenção para o impacto na qualidade de vida do crescimento desmedido e descontrolado de muitas cidades. “Há bairros que, embora construídos recentemente, se apresentam congestionados e desordenados, sem espaços verdes suficientes. Não é conveniente para os habitantes deste planeta viver cada vez mais submersos de cimento, asfalto, vidro e metais, privados do contato físico com a natureza”, afirmou. Ao falar da “educação na responsabilidade ambiental”, o Papa indicou inúmeras atitudes comuns de cada cidadão, dentre as quais, o plantio de árvores. (Com informações de Público, G1, Vatican News e Instituto Brasileiro de Florestas) (Colaboraram: Jenniffer Silva e Flavio Rogério) Reprodução da internet

No Parque Nacional de Bükk, na Hungria, o Vaticano mantém, desde 2007, a Floresta do Clima

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Plantatuapé

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Voluntários do Plantatuapé realizam plantio de árvores em praça na zona Leste da cidade

Plantatuapé Em São Paulo, dos dez bairros com menor quantidade de árvores por habitante, sete ficam na zona Leste da cidade. Essa realidade chamou a atenção de Nicolas Cerrini, 28, que em 2016, ao retornar dos Estados Unidos pós-graduado em Sustentabilidade, iniciou ações de plantio de árvores no bairro do Tatuapé. A partir de 2018, a iniciativa Plantatuapé se tornou mais constante. Atualmente, acontece uma vez por mês, aos sábados ou domingos. “Começamos entre cinco amigos, com todo o custeio das mudas e das ferramentas por nossa conta. Quando começamos a divulgar a ação nas mídias sociais, outras pessoas se mostraram interessadas. Chegamos a realizar eventos de plantios com a participação de até 45 pessoas”, recordou Cerrini ao O SÃO PAULO. Ainda hoje, as ferramentas e as mudas são disponibilizadas pelo Plantatuapé. “A única coisa que quem participar precisa levar é a boa vontade”, comentou o fundador da iniciativa. Em razão da pandemia de COVID-19, o número de participantes tem se restringido a 15 pessoas por plantio e há redobrados cuidados com o distanciamento social e a higienização das ferramentas. Desde 2018 já foram plantadas mais de 200 mudas. Toda a ação é feita de acordo com o Manual Técnico de Arborização Urbana, e o grupo prioriza o plantio em canteiros e praças em que não há árvores ou nos quais poucas existem. “A nossa ideia é plantar nos lugares conhecidos como ‘ilhas de calor’, onde há baixo índice de árvores adultas. Atual-

mente, o plantio está sendo feito no bairro Aricanduva, em uma praça de cerca de 60m² na rua Santo Isidoro, que, além de não ter muitas árvores, é bastante frequentada e está constantemente com sujeira e dejetos”, explicou Cerrini. O Plantatuapé adota a técnica de floresta de bolso, que prioriza o plantio de várias espécies em poucos metros quadrados. “Quando diversas árvores são plantadas próximas, ocorre uma espécie de competição entre elas pela luz solar, recursos naturais do solo, sais minerais e pela água da chuva ou dos lençóis freáticos, o que faz com que cresçam mais rápido”, detalhou. De acordo com Cerrini, os benefícios em médio prazo para os locais são a regularização do clima – “com diversas árvores criando sombra, a temperatura diminui e o ambiente se torna mais fresco”; a purificação do lençol freático – “por sua genética, as raízes vão à procura de água no lençol freático e acabam por filtrá-la”; e a captura de gás carbônico – “uma árvore adulta tem a possibilidade de absorver cerca de 150kg de gás carbônico por dia”. O bom êxito da iniciativa só tem sido possível com a participação da comunidade local. “Todos os plantios que realizamos precisam de ações de manutenção, como uma rega, uma poda, um trabalho de limpeza, e não é sempre que conseguimos fazê-las. Assim, uma das coisas que combinamos com os moradores que ficam animados com essa iniciativa é que a cada 15 dias eles reguem as árvores, caso nós não consigamos”, conclui o jovem. Todos os detalhes sobre a iniciativa podem ser consultados no Instagram – @plantatuape.

Redução das emissões de dióxido de carbono O plantio de árvores é também uma medida eficaz para a neutralização da emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, uma vez que as árvores, pelo processo de fotossíntese, absorvem esse gás, que é um dos causadores do efeito estufa. A redução certificada de emissões de CO2 por empresas e instituições é também conhecida como créditos de carbono. Por convenção, uma tonelada de CO2 corresponde a um crédito de carbono, e a partir dessa mensuração é possível saber quantas árvores devem ser plantadas para compensar as emissões de gases geradores de efeito estufa. Os créditos de carbono surgiram com o Protocolo de Kyoto, acordo internacional que estabeleceu que, entre

2008 e 2012, os países desenvolvidos deveriam reduzir 5,2% (em média) das emissões de gases do efeito estufa em relação aos níveis medidos em 1990. Apesar da meta de redução ser coletiva, cada país obteve metas individuais mais altas ou mais baixas, conforme seu estágio de desenvolvimento. No ano passado, foram 37 bilhões de toneladas de CO2 emitidos no mundo todo. Hoje já existem calculadoras digitais que permitem que uma pessoa ou família contabilize a quantidade de CO2 emitido conforme seus hábitos de vida e quantas árvores são necessárias para neutralizar essa emissão. Um exemplo pode ser visto neste link https://tinyurl.com/rf8gmd9.


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#SetembroAmarelo: escuta e acolhida salvam vidas Fernando Geronazzo

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O mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio. De acordo com um relatório divulgado em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil, atingindo sobretudo adolescentes e jovens na faixa dos 13 aos 29 anos, e idosos. Segundo a entidade, 96,8% das pessoas que cometem suicídio têm um transtorno mental diagnosticável.

FENÔMENO COMPLEXO “Quando se fala em suicídio, normalmente vêm à tona perguntas como: ‘Por que ele fez isso?’, ‘O que estava tão ruim na vida dele que o motivou a tomar essa decisão?’, ‘Como não pudemos perceber que ele estava sofrendo tanto?’, ‘Mas tudo parecia tão bom na vida dele...’. Essas dúvidas surgem porque, na visão leiga, comportamentos suicidas são compreendidos como um fenômeno motivado apenas pelo ambiente e por questões socioculturais”, destaca a médica psiquiatra Doris Hupfeld Moreno, coordenadora do Ambulatório Integrado de Bipolares (AIBIP) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, e uma das autoras de um dossiê sobre o suicídio, publicado em 2019, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Por essa razão, Doris salienta que o suicídio deve ser considerado como fenômeno complexo, multifatorial e patológico, para que as medidas preventivas e assistenciais corretas possam ser tomadas. “Somente assim, não seremos mais surpreendidos com horríveis notícias de morte por suicídio de pessoas que nunca imaginamos que sequer estivessem doentes”, reforça. DOR DE MÃE A corretora de imóveis Mônica Molari sentiu na pele a experiência de ver seu filho, Fábio Molari da Cunha Bueno, pôr fim à própria vida, aos 33 anos, em decorrência de uma esquizofrenia. Fábio teve uma vida normal até os 26 anos, quando a doença começou a se apoderar de suas ações. Surtos de delírios e alucinações da esquizofrenia causam perdas cognitivas importantes. “Um diagnóstico desses e com um fim tão radical sempre envolve culpa e frustração para a família. O senso comum julga, rejeita e discrimina,

FATORES DE RISCO DE SUICÍDIO Manifestações de sofrimento psíquico: (depressão, uso abusivo de substâncias psicoativas e outras doenças) Tentativa de suicídio anterior Histórico de suicídio na família Histórico de violência (abuso sexual, negligência, abandono etc.) Rede de suporte social fragilizada (família, amigos, relações de trabalho, comunidade) Dificuldade de lidar com perdas (mortes, desilusão amorosa, separação conjugal, perda de emprego, derrocada financeira) Acesso a meios letais ALGUNS SINAIS DE COMPORTAMENTO SUICIDA Mudanças marcantes de comportamento ou hábitos Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança Isolamento social Interesse por sites e/ou redes sociais sobre suicídio Automutilação e/ou práticas autodestrutivas Na adolescência: comportamentos típicos dessa fase, como agressividade, irritabilidade e impulsividade podem camuflar um quadro depressivo Em idosos: diminuição ou ausência de cuidados com o corpo, isolamento social e doenças crônicas (Fontes: Núcleo de Estudo e Prevenção ao Suicídio e Ministério da Saúde)

mas não leio sua escolha como fuga ou covardia. Fábio queria viver, mas se via impossibilitado de qualquer desfrute ou conquista”, conta Mônica, que transformou a história de luta de seu filho no livro “Herói até o último momento”. Na obra, além de homenagear Fábio, Mônica fala da complexidade da esquizofrenia e como a família enfrentou essa doença, que, como ela afirma, não escolhe casa nem condição social.

À LUZ DA FÉ O Catecismo da Igreja Católica (CIC) destaca que cada pessoa é responsável diante de Deus pela vida e afirma que o suicídio contraria a inclinação natural do ser humano de conservar e perpetuar a própria vida e, por isso, é um ato contrário ao amor de Deus. Ao mesmo tempo, reconhece que “perturbações psíquicas graves, a angústia ou o temor grave de uma provação, de um sofrimento, da tortura, são circunstâncias que podem diminuir a responsabilidade do suicida” (CIC, 2282). Nesse sentido, o Catecismo enfatiza que não se deve perder a esperança da salvação daqueles que se mataram. “Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja

ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida” (CIC, 2283).

PROXIMIDADE O Padre Lício Araújo Vale, da Diocese de São Miguel Paulista e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio, também escreveu um livro – “E foram deixados para trás: uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio” – a partir da experiência vivida por ele na adolescência, quando seu pai cometeu suicídio. “É importante compreender que o suicida, na verdade, não quer pôr fim à sua vida, mas quer matar a sua dor, uma dor na alma, da qual ele é a grande vítima”, afirmou Padre Lício, destacando que “a doutrina católica ressalta a importância de acolher o outro, como o bom samaritano, para evitar que se chegue a esse extremo irremediável”, salienta o Sacerdote. Ele também destaca a necessidade de as paróquias e comunidades formarem, com a ajuda de profissionais da saúde mental, grupos de escuta qualificada das pessoas e encaminhamento para os cuidados devidos. “Ninguém precisa sofrer sozinho. Todos precisamos uns dos outros... A resistência a um tratamento ou ajuda é quebrada com afeto”, completou. (Com informações de Paulinas Brasil e Cremesp)

Serviços O serviço de referência na prevenção ao suicídio no Brasil é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. E isso sob total sigilo, pelo telefone 188, e-mail e chat 24 horas, diariamente em todo o Brasil. Outras informações https://www.cvv.org.br/. Escuta e aconselhamento As comunidades católicas Aliança de Misericórdia e Shalom disponibilizam canais para que as pessoas entrem em contato para conversar, desabafar, pedir um aconselhamento ou orações individuais. Para isso, contam com missionários preparados para esse atendimento. As pessoas podem telefonar ou enviar mensagens via WhatsApp para os seguintes números: Aliança de Misericórdia: (11) 97449-9926; 97385-1021; 973178843; 97317-8801; 9 9858-5362; 94300-5844 Shalom: (11) 93084-9083 e 952359544. (Colaborou: Jenniffer Silva)


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Geral/Fé e Vida | 11

Cartilha apresenta orientações aos cristãos nas eleições CNBB Regional Sul2

Daniel Gomes

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Eleições 2020 A terceira parte da cartilha traz informações gerais sobre as eleições deste ano, como, por exemplo, a proibição da coligação partidária para os cargos de vereador, a reserva obrigatória de 30% de candidaturas de mulheres em cada partido e o período de 35 dias da propaganda eleitoral no rádio e na tevê. Também há o detalhamento do que é permitido e proibido durante a campanha eleitoral e os canais para que o cidadão denuncie a corrupção eleitoral. O subsídio alerta, ainda, a respeito dos malefícios da polarização política – “é prejudicial à democracia, pois conduz à intolerância, à violência e à falta de liberdade de expressão” – e os efeitos danosos das notícias falsas (fake news), que prejudicam candidaturas e ferem a dignidade. São apresentadas dicas para identificá-las e se recomenda que não sejam compartilhadas. “Nem sempre uma notícia é 100% falsa; muitas vezes, ela é manipulada, com a inserção de um trecho fora de contexto”, aponta o documento.

Em 15 de novembro, eleitores de 5.569 municípios brasileiros vão às urnas para eleger prefeitos e vereadores. E, como já se tornou tradição, a Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB) publica neste ano eleitoral a cartilha “Os cristãos e as eleições”, desta vez com o tema “A boa política está a serviço da vida e da paz”. O subsídio, produzido pelo Regional Sul 2 da CNBB, com a participação e colaboração da Assessoria Política da CNBB Nacional, apresenta indicações básicas sobre o universo da política, a partir do olhar da Igreja Católica, sem vínculos a ideologias ou partidos políticos. A cartilha destina-se, especialmente, a eleitores e candidatos, grupos de reflexão, paróquias e comunidades, e é de fácil compreensão pela linguagem adotada para esclarecer conceitos, além do vasto uso de imagens e ilustrações.

O sistema político brasileiro Na primeira parte da cartilha são apresentados conceitos sobre democracia, política, cidadania, a importância do voto, a competência dos três poderes, a atuação do Ministério Público, a estrutura política dos municípios e quem pode ser candidato. É ressaltado que, pelo voto, “o cidadão autoriza alguém a governar em seu nome, a administrar os bens públicos em favor do bem comum, para assegurar os direitos de todos. Esses bens públicos são colhidos dos impostos que pagamos sobre o consumo, a propriedade (IPTU, IPVA, entre outros), e o imposto de renda”. Também se apresenta a distinção das atribuições dos poderes, apontando que ao Executivo compete a execução das leis, a proposição de planos de ação e a administração dos interesses públicos, enquanto são funções do Legislativo criar e aprovar leis e fiscalizar as ações do Executivo. Na parte final da cartilha, há um detalhamento ainda maior das funções daqueles eleitos pelo voto direto: ao prefeito compete, por exemplo, gerir a distribuição do orçamento municipal e administrar as áreas da saúde, educação, transporte público, limpeza urbana, saneamento básico e manutenção dos espaços públicos, bem como apresentar projetos de lei à Câmara Municipal. Nessa casa legislativa, os vereadores também elaboram projetos de lei, que são por eles discutidos e votados, e fiscalizam as ações do prefeito e de outros funcionários públicos. A atenção da Igreja com a política A segunda parte da cartilha expõe as preocupações da Igreja com o universo da política, sempre à luz de sua

tentar comprar votos ou trocá-los por favores, também não merece seu voto”, consta no texto.

Doutrina Social – que prioriza a dignidade da pessoa humana, o respeito à vida, a solidariedade, a subsidiariedade, o bem comum e a destinação universal dos bens – e dos princípios da verdade, liberdade e justiça. “A Igreja Católica não apoia nenhuma candidatura nem se alia a qualquer partido. Tal postura não a exime do compromisso político, pois o exercício correto da política contribui para a construção de uma sociedade justa e fraterna, proposta pelo Evangelho. Buscar o bem comum, que é o maior objetivo da política, é uma forma de caridade”, indica o texto, no qual também se aponta que, para o cristão, “votar não deve ser apenas uma obrigação, mas, sim, um ato consciente, pensando no bem da coletividade e do planeta”. No subsídio são feitas recomendações ao eleitor, não sobre siglas partidárias ou nomes, mas de critérios para a escolha de um candidato. A orientação é que, antes de decidir em quem votar, a pessoa conheça quais são as atribuições do cargo, verifique se o candidato tem boa índole, se seu partido defende a vida desde sua concepção até o fim natural, bem como se é a favor da família, da dignidade humana e dos direitos dos mais vulneráveis. Também deve ser avaliada a capacidade de liderança política do candidato e se ele tem a ficha limpa, ou seja, se não está envolvido ou já esteve em casos de corrupção ou foi condenado pela Justiça. “Se ele tem atitudes corruptas, como

Propaganda eleitoral na Igreja? Não! Também na cartilha é lembrada a proibição de que seja realizada propaganda eleitoral, implícita ou explícita, nos templos ou em seus arredores, e há o alerta sobre candidatos que buscam se aproximar das comunidades apenas por interesse eleitoral. “Pode configurar pedido implícito de votos, quando um candidato que nunca participou da comunidade começa a frequentar as missas e realizar atividades pastorais. Isso é crime eleitoral. É diferente com aquele candidato que sempre exerceu atividades de liderança na Igreja. Ele pode continuar a exercê-la, desde que não use isso para pedir votos explícita ou implicitamente”, indica o subsídio. “Se houver qualquer menção de propaganda eleitoral na Igreja e em seus arredores, tanto o candidato quanto a paróquia podem ser multados pela Justiça Eleitoral”, também consta no texto. Como ter acesso à cartilha? Na Arquidiocese de São Paulo, a cartilha “Os cristãos e as eleições” foi distribuída para as regiões episcopais, com a proposta de que sejam repassados 30 exemplares a cada paróquia. É possível comprá-la no Regional Sul 2 da CNBB. Há descontos conforme a quantidade a ser adquirida. Contatos: Telefone/WhatsApp: (41) 3224-7512 e (41) 9 9955-9980. E-mail: vendas@cnbbs2.org.br

Você Pergunta Quem foi o sacerdote Melquisedeque? PADRE CIDO PEREIRA

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O Ricardo Paiva, que mora no bairro do Itaim, pede que eu fale a respeito de Melquisedeque, citado na Bíblia. Ricardo, Melquisedeque foi um rei cananeu de Salém, ou seja, daquela que seria, no futuro, a cidade de Jerusalém. Ele é apresentado também como sacerdote do Altíssimo. Ele ofereceu um sacrifício de pão e de vinho por uma vitória de Abrão contra qua-

tro reis que haviam aprisionado seu sobrinho Lot. No livro do Gênesis, no capítulo 14, lemos que Abrão, após vencer uma grande batalha, foi acolhido por Melquisedeque, que trouxe pão e vinho e abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários em tuas mãos. Após esta bênção, Abrão pagou o dízimo de tudo”. Melquisedeque é citado na Carta aos Hebreus, como rei de justiça, que faz do seu sacerdócio uma figura do sacerdócio

de Cristo (cf. Hb 7,11-19). Seu sacerdócio ultrapassa o dos levitas, que era a tribo de Israel de onde saíam os sacerdotes. O Salmo 110 diz que o sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque é eterno. Sabe, Ricardo, Melquisedeque ofereceu o sacrifício do pão e do vinho. Jesus na ceia entregou o pão e o vinho aos discípulos dizendo: “Tomai, comei; tomai, bebei; isto é meu corpo, este é o cálice do meu sangue”. E quando Jesus naquela ceia disse: “Fazei isto em memória de mim”, Ele instituiu o sacerdócio cristão.

Os sacerdotes cristãos oferecem no altar o sacrifício do pão e do vinho, do corpo e do sangue de Jesus. Por tudo isso é que o sacerdócio de Jesus, do qual os nossos padres participam, é eterno e é segundo a ordem de Melquisedeque. Eis este rei e sacerdote misterioso, que aparece lá no início da história do povo de Israel e cujo sacerdócio é figura do sacerdócio do Cristo, do qual participam todos os sacerdotes da nossa Santa Igreja. Tudo bem, Ricardo? Fique com Deus e que Ele abençoe você e sua família.


12 | Reportagem | 16 a 22 de setembro de 2020 |

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Combate às fake news e cuidados sanitários ganham protagonismo nas eleições Daniel Gomes

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A pouco mais de dois meses para a realização do 1º turno das eleições, em 15 de novembro, em 5.569 municípios do País, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem ampliado as iniciativas de conscientização sobre os impactos danosos das notícias falsas – fake news – para a democracia, e reforçado a mensagem sobre os cuidados que adotará para que os mais de 147 milhões de eleitores do País possam votar sem o risco de contágio com o novo coronavírus. Já está sendo veiculada no rádio e na tevê a campanha “Se for fake news, não transmita”, com peças publicitárias com o biólogo Átila Iamarino, divulgador científico e youtuber, e com o próprio presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso. “Não passe adiante notícias falsas, ou cuja autenticidade não tenha certeza. Não participe de campanhas de ódio. O mal faz mal mesmo a quem o pratica”, diz Barroso em um dos vídeos. “Parece até o espalhamento de um vírus, e, na verdade, esse fenômeno [fake news] é uma espécie de vírus”, afirma Iamarino em uma das peças publicitárias. O TSE, com o apoio de outras instituições, também mantém o Programa de Enfrentamento à Desinformação com foco nas eleições 2020, que busca esclarecer informações falsas divulgadas que envolvam a Justiça Eleitoral, a urna eletrônica e o voto.

Para além da conscientização O combate às fake news ganhou um reforço na legislação em junho de 2019: a Lei 13.834, que acrescentou ao Código Penal o crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral. A pena é de prisão de dois a oito anos, além de multa, para quem acusar um candidato de algo que não cometeu. “Por essa lei, quando as fake news reverberarem prejuízo para um candidato, quem as propagou terá cometido um crime”, explicou ao O SÃO PAULO o advogado Acácio Miranda da Silva Filho, especialista em Direito Constitucional, Eleitoral e Penal. Ainda de acordo com o advogado, vem sendo construído o entendimento no TSE de que um candidato prejudicado por uma fake news pode pedir a impugnação da candidatura de outrem que a propagou e, se este já tiver assumido o mandato, poderá ser cassado. No caso da impugnação, esta acontecerá em até 15 dias após a proclamação do resultado das eleições, mas seu julgamento deverá ser feito apenas em 2021. Silva Filho pontua, ainda, que o TSE e o Ministério Público desenvolveram mecanismos tecnológicos para investigar e

combater as notícias falsas nestas eleições: “Já há aparelhos aptos a pesquisar qual é a origem de uma fake news, de qual computador e IP ela partiu. Assim, os responsáveis por essa propagação serão responsabilizados”. E mesmo que alguém não seja candidato, pode ser punido por propagar fake news durante as eleições, embora, neste caso, a Justiça julgará a intencionalidade do ato. “A simples propagação dolosa de fake news com a finalidade eleitoral tor-

No dia da votação, eleitores ou mesários que estiverem com febre ou cujos testes tenham dado positivo para a COVID-19 nos 14 dias anteriores à data da eleição deverão ficar em casa. Os eleitores poderão justificar a falta por esse motivo. Já os mesários precisam avisar imediatamente sua zona eleitoral, para que seja providenciada sua substituição.

nicipais de 2020. A meta é impedir que as eleições sirvam de vetor de propagação do novo coronavírus. Essas orientações sanitárias serão disseminadas por meio da campanha “Vote com Segurança”, que será exibida no rádio e na tevê a partir de outubro. As principais medidas são a disponibilização, em todas as seções eleitorais, de álcool em gel para limpeza das mãos dos eleitores antes e depois da votação, orientações para a manutenção do distanciamento social (de, ao menos, um metro TSE

VOTE COM SEGURANÇA COVID-19

1 2 3 4 5

USAR MÁSCARA É OBRIGATÓRIO O mesário poderá pedir que o eleitor abaixe a máscara rapidamente para identificação

MANTENHA DISTÂNCIA MÍNIMA DE 1 METRO Respeite a marca de distanciamento nas filas

EVITE LEVAR AS MÃOS AO ROSTO Se for tossir ou espirrar, use um lenço ou a parte interna do cotovelo

EVITE CONTATO COM OUTRAS PESSOAS Apertos de mão, beijos e abraços devem ser evitados. Entre na seção eleitoral sozinho, se possível

USE ÁLCOOL GEL ANTES E DEPOIS DE VOTAR Aplique quantidade suficiente para toda a superfície das mãos. Esfregue nas mãos e entre os dedos até o álcool secar

na possível que o autor seja responsabilizado. No entanto, é um pouco mais complexo quando a pessoa o faz involuntariamente, apenas por crer naquele candidato. Nesse caso, ela não será responsabilizada penalmente, mas, a depender da gravidade e da capacidade de difusão da fake news, é possível que os efeitos dessa notícia falsa reverberem no candidato apoiado e ele possa ser responsabilizado. Pode haver, ainda, ações cíveis em relação à pessoa que a propagou”, detalhou Silva Filho.

Preocupação sanitária Em coletiva de imprensa, no dia 8, o ministro Barroso apresentou o Plano de Segurança Sanitária para as Eleições Mu-

entre as pessoas) e fornecimento de máscaras, face shields (protetores faciais, feitos de materiais rígidos transparentes) e álcool em gel aos mesários. Esses materiais foram doados ao TSE por empresas e entidades brasileiras. São 2,1 milhões de frascos de álcool em gel para mesários; quase 2 milhões de face shields para mesários; 1 milhão de litros de álcool em gel para os eleitores e 9,72 milhões de máscaras descartáveis. O eleitor poderá levar seu próprio álcool em gel para a seção eleitoral, bem como uma caneta para assinar o caderno de votação. Não será permitido ao eleitor alimentar-se, beber ou fazer qualquer atividade que exija a retirada da máscara.

Uma hora a mais de votação As eleições deste ano terão uma hora a mais de votação: serão das 7h às 17h (anteriormente iniciavam às 8h). Até às 10h, haverá prioridade para os maiores de 60 anos. Os demais eleitores, porém, não serão proibidos de votar neste horário. Convocação para ser mesário Neste ano, a Justiça Eleitoral está convocando mesários por meio de mensagens de e-mail, WhatsApp e ligações telefônicas. Com a medida, os convocados não precisam comparecer ao cartório eleitoral para confirmar sua participação. Silva Filho lembra, porém, que caso o convocado pertença ao grupo de risco para o novo coronavírus, poderá notificar a Justiça Eleitoral, com a apresentação de relatórios, atestados médicos e outros documentos, e, assim, não trabalhará nas eleições: “Dada a excepcionalidade do momento atual, a Justiça Eleitoral tem feito convocações acima do habitual para que tenha algumas pessoas como suplentes”, afirma. O treinamento dos mesários será feito preferencialmente de modo on-line, com cursos no formato Educação a Distância (EaD). Após receber o comunicado, o cidadão deverá validar a convocação, confirmando o recebimento da mensagem em até três dias úteis. O TSE também tem incentivado que os cidadãos se voluntariem para ser mesários, pois serão necessárias mais de 1,5 milhão de pessoas nesta atividade nos mais de 95 mil locais de votação em todo o País, nas 401 mil seções eleitorais. Todo eleitor maior de 18 anos e em situação regular com a Justiça Eleitoral pode ser mesário, exceto: candidatos e seus parentes, até o segundo grau, ainda que por afinidade, inclusive o cônjuge; membros de diretórios de partidos políticos que exerçam função executiva; autoridades, agentes policiais e funcionários no desempenho de funções de confiança do Executivo; e funcionários do serviço eleitoral. No estado de São Paulo, os interessados em ser mesário voluntário devem acessar o site do TRE-SP (www.tre-sp.jus.br). (Com informações do TSE)


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Pelo Brasil/Pelo Mundo | 13

CNBB esclarece que não participou da elaboração de ‘projeto que perdoa dívida das igrejas’ CNBB

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) esclareceu em nota, no sábado, 12, que não participou da elaboração do Projeto de Lei (PL) 1581/2020, que, inicialmente, previa, entre outros pontos, anular as dívidas tributárias das igrejas com a Receita Federal e regularizaria descontos em pagamento de precatórios (valores devidos depois de sentença definitiva na Justiça). Na noite do domingo, 13, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei, mas vetou os pontos que previam aos templos religiosos, de qualquer culto, isenção do pagamento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e anistia das multas recebidas pelo não pagamento de tal tributo. O presidente, porém, manteve a anulação das multas por débitos de contribuição previdenciária. Com o veto presidencial, o texto

volta para a apreciação do Congresso Nacional. Em uma rede social, Bolsonaro disse que ainda nesta semana será apresentada uma proposta de emenda

à Constituição (PEC) como uma “possível solução para estabelecer o alcance adequado para a imunidade das igrejas nas questões tributárias”.

Na nota, a CNBB afirma que “um tema tão complexo como o tratamento tributário dado às organizações religiosas não pode ser discutido de modo incidental e praticamente silencioso, sob o risco de surgirem interesses particulares que maculem a própria discussão. É preciso compreender o alcance das características tributárias dos entes religiosos e o Estado deve, definitivamente, abraçar os direitos, sem abandonar o seu dever de combater os eventuais abusos de toda e qualquer organização”. A conferência dos bispos colocou-se ao dispor para, “de maneira franca, transparente e ética, enfrentar esta temática, evidenciando as lacunas e até mesmo injustiças e equívocos que a legislação apresente” e expressou o desejo de que isso ocorra “separando os casos condenáveis daqueles que reúnem clamores legítimos e justos, respeitando a verdade, a justiça e o bem social”. Fontes: CNBB e Agência Brasil

Moçambique Religiosas sequestradas em Moçambique são libertadas João Fouto

Especial para O SÃO PAULO

As duas irmãs da Congregação de São José de Chambéry, que estavam desaparecidas desde o início de agosto após ataque feito por milícias jihadistas à cidade de Mocímboa da Praia, em Moçambique, foram libertadas. O anúncio foi feito por Dom Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba: “As irmãs estão sãs e salvas. As Irmãs Inês e Eliane, que trabalham na paróquia de Mocímboa da Praia, após 24 dias passados na prisão, voltaram para nós”. Como noticiado anteriormente pelo O SÃO PAULO, a região norte de Moçambique, onde se encontra a província de Cabo Delgado, vem sofrendo, desde 2017, ataques de radicais islâmicos cada vez intensos. As duas religiosas brasileiras haviam sido sequestradas durante o ataque sem precedentes feito no dia 12 de agosto a Mocímboa da Praia. Aquela foi a primeira vez que os terroristas conseguiram, em confronto aberto, conquistar e manter um posto tão estratégico. As forças de ordem locais tiveram que se retirar e deixaram

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AJUDA PSICOTERAPÊUTICA Você pode viver bem, ter vida saudável melhorando seu modo de ver a si mesmo, os outros e o mundo. O Dr. Bruno e o Dr. José darão a você ajuda continuada, indicando o caminho a seguir Os interessados devem comparecer as quartas-feiras, às 14h, nas instalações das paróquias:

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campo livre para os milicianos. Foi, então, que as Irmãs foram sequestradas e levadas de sua comunidade. Por alguns dias, não se soube nada do paradeiro delas, embora autoridades nacionais e internacionais tenham se mobilizado para ter notícias e obter sua libertação. As tratativas, ao que parece, tiveram bom resultado. A Congregação de São José de Chambéry está em Mocímboa da Praia desde 2003. Nestes anos, criou uma rede de escolas maternas e centros sociais, contribuindo bastante para a alfabetização das crianças do lugar. Com a inten-

sificação dos conflitos armados, porém, várias escolas foram fechadas e as atividades se concentraram principalmente na cidade. A ação contra Mocímboa da Praia representou um avanço nos ataques desses terroristas, que têm aumentado substancialmente ao longo do tempo. No início das investidas, em 2017, eles se moviam com scooters velhas e utilizavam armas rudimentares, como facões e lanças. Ultimamente, porém, estavam dotados de carros fora-de-estrada novos e armas automáticas. Alguns analistas pensam que

essas milícias possam estar ligadas a organizações criminosas que desejam criar bases para o comércio internacional de drogas. “Elevemos juntos um hino de agradecimento a Deus e continuemos a rezar por todos aqueles que estão ainda dispersos, deslocados e que sofrem as consequências da violência e da guerra. Peçamos a bênção de Deus para Cabo Delgado e que nos conceda o dom de uma paz verdadeira, da qual temos tanta necessidade”, escreveu Dom Luiz. Fonte: Agência Fides


14 | Papa Francisco | 16 a 22 de setembro de 2020 |

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Em carta, Vaticano incentiva retorno às celebrações onde for possível Vatican Media

Filipe Domingues

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Embora a pandemia de COVID-19 ainda não tenha terminado, é preciso retomar a normalidade da vida cristã, pois nada substitui a reunião presencial da comunidade cristã, defendeu o Cardeal Robert Sarah, em carta aprovada pelo Papa Francisco e enviada aos bispos de todo o mundo. Ele é Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e, portanto, o principal responsável por supervisionar e orientar as normas da Igreja sobre liturgias. No texto distribuído às conferências episcopais, publicado no sábado, 12, o Cardeal diz que cabe aos bispos de cada lugar avaliar a viabilidade e a forma de retomada da celebração pública dos sacramentos. “Assim que as circunstâncias permitam, é necessário e urgente voltar à normalidade da vida cristã, que tem o edifício igreja como casa e a celebração da liturgia, particularmente da Eucaristia”, afirma. “A comunidade cristã nunca buscou o isolamento e nunca fez da Igreja uma cida-

Em todo o mundo, retorno das missas presenciais segue protocolos contra a COVID-19

de de portas fechadas. Formados pelo valor da vida comunitária e a busca do bem comum, os cristãos sempre buscaram a inserção na sociedade”, acrescentou.

‘Missa on- line’ como solução temporária Além disso, o Cardeal observa que os meios de comunicação ajudaram muito na difusão das missas durante os dias de isolamento - e continuam a ajudar aqueles que não conseguem comparecer.

Entretanto, esclarece a carta, a missa transmitida pelos meios de comunicação, ou a chamada “missa on-line”, de fato nunca substitui a participação presencial. “Nenhuma transmissão é equiparável à participação pessoal, nem pode substituí-la. Pelo contrário, essas transmissões, sozinhas, arriscam nos afastar de um encontro pessoal e íntimo com o Deus encarnado, que se entregou a nós não em modo virtual, mas, realmente, dizendo: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue permanece em mim e eu nele’”, explica, citando o Evangelho segundo São João (6,56).

Identificar os riscos e obedecer às normas Nesse sentido, é preciso identificar os riscos em cada realidade eclesial e “reduzir ao mínimo o contágio do vírus” para retomar a reunião da assembleia. Dessa forma, se redescobrirá “a insubstituível preciosidade e beleza da celebração”, diz o texto. Segundo a carta do Cardeal, não se deve recorrer a “improvisadas experimentações rituais” na liturgia, mas respeitá-la conforme as orientações da Igreja, e sem criar ainda mais empecilhos para o acesso aos sacramentos além dos já existentes. “Os bispos e as conferências episcopais podem dar normativas provisórias às quais se deve obedecer. A obediência cuida do tesouro confiado à Igreja. Essas medidas ditadas pelos bispos e conferências expiram quando a situação voltar à normalidade”, justificou. A carta também pede aos bispos que incentivem a participação na Adoração Eucarística e outras formas de oração, conforme as possibilidades.

Promover o bem comum em vez de criar divisões nesta crise global O Papa Francisco criticou, no dia 9, aqueles que se aproveitam da pandemia para “criar divisão” e se apropriar de possíveis soluções para a COVID-19, como, por exemplo, politizar as vacinas contra o coronavírus. Na atual série de audiências gerais sobre a pandemia, ele falou sobre o “bem comum”. “Alguns se aproveitam da situação para alimentar divisões”, alertou. “Outros não se interessam pelo sofrimento dos outros”, ou “lavam as mãos”, como Pôncio Pilatos. O amor é a única resposta cristã possível, disse o

Papa. É o amor manifestado, inclusive, aos que são diferentes de nós. “Amo também os estrangeiros e os que me fazem sofrer”, declarou, definindo esse sentimento como “amor social”. O princípio do “bem comum”, na Doutrina Social da Igreja, é a efetivação desse amor a todos, e não somente ao grupo social a que pertencemos, acrescentou. “O amor fecunda famílias e amizades, mas é bom lembrar que fecunda também as relações sociais, culturais, econômicas e políticas.”

A atual pandemia nos desafia, pois não aceita fronteiras. “O coronavírus nos mostra que o verdadeiro bem para cada um é um bem comum, e não só individual, e vice-versa”, afirmou Papa Francisco. Ele também alertou acerca da necessidade de sair da crise mais fortes: não basta resolver a crise sanitária sem pensar na crise humana que se estabeleceu. Isso seria “construir sobre a areia”, enquanto a resposta correta é promover uma sociedade inclusiva, justa e pacífica, “sobre a rocha do bem comum”. (FD)


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| 16 a 22 de setembro de 2020 | Fé e Vida | 15

A contemplação do Evangelho pelo método inaciano de leitura da Bíblia GUSTAVO CATANIA RAMOS

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

aspectos. Pode-se imaginar o mundo imerso em pecado, e Nossa Senhora em seu quarto, recebendo a visita do Anjo, para a remissão dos pecados de todo o mundo. Assim, a meditação inaciana não se reduz a um reproduzir na imaginação a mera cena bíblica descrita, mas consiste em expandi-la, para que possamos entender a profundidade e grandeza de cada uma delas. Dessa maneira, Santo Inácio previne o orante de cair em uma oração subjetivista e permite que ele se abra ao mistério da Encarnação por inteiro. Luciney Martins/O SÃO PAULO Outras cenas do Evangelhos também podem ser meditadas com o mesmo método, como o Natal, a Transfiguração, a Paixão de Cristo, a sua Ressurreição e Ascensão e tantas outras.

racterísticas marcantes e, por isso, é o passo que mais caracteriza a espiritualidade jesuítica. Para meditar, Santo Inácio pedia que o orante se colocasse dentro da cena bíblica por meio da imaginação, usando todos os sentidos humanos: audição, visão, tato, paladar e olfato. Além disso, o orante deve se valer dos sentimentos que a cena bíblica lhe causam: alegria, tristeza, repulsa, paz etc. A cena da Encarnação, por exemplo, no método inaciano, deve ser meditada da seguinte maneira, conforme

No mês de setembro, a Igreja convida os fiéis a uma maior intimidade com a Bíblia e recorda a rica tradição espiritual cristã sobre as diversas formas para nos aproximar frutuosamente do texto bíblico. Na semana passada, O SÃO PAULO publicou artigo em que explicava o passo a passo da Lectio Divina, método de leitura e meditação bíblica que remonta aos primeiros padres da Igreja. Entretanto, a Lectio Divina não é o único método de meditação das Sagradas Escrituras. Entre as outras muitas formas de sua leitura e meditação, certamente uma das mais importantes para a espiritualidade cristã é o método inaciano, desColóquio com Deus crito por Santo Inácio de O Colóquio com Deus Loyola em seus Exercícios consiste em pedir a Deus Espirituais. o que se deseja a partir da No centro dos Exercícios contemplação realizada. “Se inacianos está a contemplaa contemplação é de ressurção do Evangelho, especialreição, pedir gozo com Cristo mente dos mistérios da vida gozoso; se é de Paixão, pedir de Cristo, porque, dessa forpena, lágrimas e tormento ma, aquele que reza se aprocom Cristo atormentado”, xima de Jesus para segui-Lo escreveu Santo Inácio. Assim mais de perto. Os Exercícios com todas as outras cenas. têm sido, por esse motivo, Na Encarnação, podemos uma rica fonte de oração a pedir uma profunda gratidão todos os que desejam entrar a Nossa Senhora por ter aceino mistério de Cristo. tado ser a Mãe de Deus. No O método inaciano de Natal, um desapego dos bens leitura da Bíblia pode ser Método consiste da Oração Preparatória, Contemplação terrenos. dividido em três grandes e Colóquio com Deus O diálogo deve ocorrer partes: Oração Preparatória, explica Santo Inácio nos Exercícios: dentro da cena imaginada no passo Contemplação e Colóquio com Deus. depois de feita a Oração Preparatória, anterior. Caso contemplemos a cena da Oração Preparatória lê-se o texto da Escritura referente à Paixão, no Colóquio, recomenda Santo Na definição de Santo Inácio, a Encarnação. Inácio, então, conduz o Inácio, devemos imaginar Jesus crucificado diante de nós e falar com Ele Oração Preparatória “é pedir graça a orante a contemplar a história da Encarnação, desde sua origem na Santísdessa maneira. Deus Nosso Senhor para que todas as sima Trindade: “Como as três pessoas Nesse passo, o orante deve interminhas intenções, ações e operações rogar-se sobre como tem vivido a sua divinas observavam toda a planície ou sejam puramente ordenadas para serviço e louvor de sua divina majestade”. vida em relação à cena contemplada redondeza de todo o mundo, cheia de Dessa forma, quem reza, antes de e, caso perceba que precisa mudar em homens, e como vendo que todos desciam ao inferno, determina-se, na sua iniciar a leitura de um texto bíblico, algum ponto, tomar a firme resolução eternidade, que a Segunda Pessoa se deve se colocar na presença de Deus de fazê-lo. faça homem, para salvar o gênero hue Lhe pedir que a oração que fará seja “O Colóquio se faz, propriamente mano. E, assim, chegada a plenitude frutífera e com a única intenção de loufalando, assim como um amigo fala a var a Deus. dos tempos, é enviado o anjo Gabriel a outro, ou um servo a seu senhor: ora A Oração Preparatória previne que Nossa Senhora”. pedindo alguma graça, ora se confessando culpado por algum mal que foi a meditação seja uma busca egoísta do Depois, quem reza deve ver com a feito, ora comunicando as suas coisas próprio eu e permite que o orante se imaginação a quantidade de pessoas e querendo conselho nelas”, escreveu abra à ação do Espírito Santo. Ela pode do mundo para compreender como Santo Inácio. ser realizada com palavras espontâneas Nossa Senhora foi agraciada ao ser a Recomenda-se que o orante anoou com orações prontas. Não importa única a receber em seu seio o Criador. te as inspirações e os sentimentos que a forma, mas, sim, o objetivo de entrar A imaginação dessas cenas move o lhe vieram durante a oração, além na contemplação com o coração bem coração a amar a providência de Deus dos propósitos tomados, para que disposto. em vir à terra e escolher a Virgem se recorde sempre o que foi contemContemplação plado e a oração tenha frutos em sua como Sua Mãe. Mas essa cena pode A meditação inaciana possui cavida. ser contemplada, também, sob outros

Liturgia e Vida 25º Domingo do Tempo Comum 20 DE SETEMBRO DE 2020

‘Estás com inveja porque sou bom?’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Um patrão sai de madrugada a contratar trabalhadores para a sua vinha. Promete-lhes uma moeda por jornada. Mais tarde, volta à praça para chamar novos diaristas às nove, ao meio-dia, às três e, finalmente, às cinco da tarde. Terminado o dia, acerta as contas, começando pelos últimos. Para surpresa geral, paga a cada um a quantia prometida por uma jornada completa. Os Santos Padres interpretaram o “patrão” como alegoria de Deus Pai, e a “vinha” como símbolo da Igreja. As horas seriam as etapas da aliança de Deus com os homens: a madrugada, o período compreendido entre Adão e Noé; as nove, aquele entre Noé e Abraão; o meio-dia, entre Abraão e Moisés; as três, entre Moisés e Cristo; e as cinco seriam os tempos finais, após a vinda do Salvador. Chegando por último e sem terem se submetido à Lei de Moisés (representada pelo “cansaço e o calor do dia”), os cristãos recebem um mesmo “salário”. Santo Agostinho, convertido à fé tardiamente, interpretou as diferentes horas como as etapas da vida em que os indivíduos se convertem a Jesus Cristo. Uns O conhecem na infância; outros O descobrem na adolescência; na juventude; na maturidade; e por fim, como o bom ladrão, há quem se converta apenas no momento da morte. Tanto uns quanto outros recebem substancialmente a mesma paga pelo trabalho, isto é, a vida eterna. A primeira leitura de algum modo se adapta a esta interpretação: “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto. Volte para o Senhor, que terá piedade, volte para nosso Deus, que é generoso no perdão” (Is 55,6s). Enquanto dura esta vida, sempre há tempo para nos convertermos a Deus. Dando um mesmo pagamento a todos, o senhor da vinha não foi injusto com os trabalhadores da primeira hora. Afinal, ele fora chamá-los na praça; permitira-lhes ocupar o tempo com algo bom; dera-lhes o privilégio de estar com ele e de pertencer à sua vinha; e pagou-lhes com correção o que havia prometido de antemão. Podemos dizer que, enquanto com os primeiros ele foi simplesmente generoso, com os últimos foi supergeneroso! Trata-se, com efeito, de um senhor “bom” e que “faz o que quiser com os seus bens”. Também Deus nos desconcerta com sua supergenerosidade. Por isso, diz: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55,8). A bondade inesperada do patrão contrasta com a inveja (literalmente, o “olho mau”) dos trabalhadores do início. Perdendo de vista a oportunidade e os bens que lhes haviam sido concedidos, começaram a, com mesquinhez, comparar-se aos outros. Quando faltam reconhecimento e agradecimento pelos bens recebidos, surge a comparação e a inveja. O invejoso não enxerga o bem existente em sua própria vida e, deste modo, além de ser ingrato, sofre com o bem do próximo! Por isso, precisa aprender a enxergar, com “olhos bons”, os benefícios de Deus e dos homens na sua existência e, continuamente, agradecer!


16 | Geral | 16 a 22 de setembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Vatican Media

Papa confia a Nossa Senhora das Dores as vítimas do ‘poder humano’ https://cutt.ly/EfAQNsd Franciscanos necessitam de doações para atender os pobres afetados pela pandemia https://cutt.ly/QfAQFrc Regional Sul 1 se posiciona contra o retorno às aulas presenciais na rede pública e privada em São Paulo https://cutt.ly/SfAQLlq PUC-SP reflete sobre a ‘economia de Francisco’ https://cutt.ly/LfAQCFL Na exaltação da Santa Cruz e com Nossa Senhora das Dores se recorda a Paixão de Cristo https://cutt.ly/ZfAQ2e3 Clássicos do Cinema: as adaptações de Little Women https://cutt.ly/5fAQ4QS Luciney Martins/O SÃO PAULO

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Live abre comemorações do centenário de nascimento do Cardeal Arns Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Luciney Martins/O SÃO PAULO

duzir bem as coisas e as pessoas. Não havia uma atitude, palavra ou ordem de Dom Paulo que fossem mesquinhas. Tudo tinha como objetivo superar as condições menos apreciadas da vida comum”, destacou.

Na segunda-feira, 14, data em que foram comemorados os 99 anos do nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, foi realizada uma videoconferência, transmitida pelo canal do jornalista Juca DEFENSOR DA VERDADE A jornalista britânica Jan RoKfouri, para homenagear o Cardeal da Esperança, falecido em cha era correspondente da rede de 2016. Ele foi Arcebispo de São televisão BBC, na década de 1970, Paulo entre 1970 e 1998. quando conheceu o Cardeal Arns. O evento virtual reuniu perso“Naquela época, por causa da cennalidades, jornalistas, parlamensura, era muito difícil conseguir tares e pessoas que atuaram com informações e saber o que realmente estava acontecendo no BraDom Paulo na defesa dos direitos sil. O papel de Dom Paulo, ao abrir humanos e da dignidade das pessoas. Entre os convidados estava o a Cúria para os jornalistas, sendo Dom Paulo Evaristo Arns completaria 99 anos em 2020 Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcefonte importante de notícias, era bispo Metropolitano de São Paulo. fundamental para nós”, afirmou. “O objetivo deste evento é celebrar contexto da Igreja no Brasil por sua enFoi com o apoio de Dom Paulo que vergadura, naturalmente, como Arcebisa vida de Dom Paulo, abrindo as comeJan criou, com o pastor presbiteriano Jaimorações do seu centenário, que será cepo e Cardeal. Sua presença foi sempre me Wright, o Comitê pelos Direitos Hulebrado em 2021. Ele marcou a história manos no Cone Sul (Clamor), que atuou marcante nas assembleias dos bispos recente do nosso País”, afirmou a jornana solidariedade aos presos, perseguidos da Conferência Nacional dos Bispos do lista Evanise Sydow, uma das organizae refugiados políticos e na denúncia dos Brasil (CNBB) e também no contexto ladoras do encontro e curadora da expotino-americano”, acrescentou o Cardeal crimes cometidos pelas ditaduras sul-asição que homenageará o Cardeal Arns mericanas. Scherer. na Assembleia Legislativa de São Paulo, “Dom Paulo sempre estava presente Por fim, Dom Odilo enfatizou que o a partir de março do próximo ano. para dar conforto e esperança e divulCardeal Arns “deixou uma marca profunda na Igreja em São Paulo”, recordada gar o que estava acontecendo realmente, FRANCISCANO com muita gratidão e “esperando que, a verdade e não as fake news da época”, Em sua participação, Dom Odilo aquilo que ele inspirou na Igreja em São completou a jornalista. recordou a trajetória de vida de Dom Paulo, continue inspirando hoje as nossas comunidades, sacerdotes e a todos HOMEM DE DEUS Paulo na Igreja. Frade Franciscano, estudante de Teologia Patrística na UniversiJosé Gregori salientou, ainda, que que, em nome da Igreja, estão presentes dade de Sorbonne, em Paris, na França, teve o privilégio de conviver com “um no meio do povo”. foi professor em Petrópolis (RJ) até ser santo em ação”. “Ele foi um diácono [serJUSTIÇA E PAZ vidor], um apóstolo, um pastor e um nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo Ex-ministro da Justiça entre os anos profeta. Percorreu todos esses caminhos por São Paulo VI, em 1966. Quatro anos de 2000 e 2001, o advogado José Grepor meio de uma palavra de paz”, disse, depois, foi nomeado Arcebispo de São gori foi membro da Comissão Justiça e sublinhando a profunda vida de oração Paulo, função na qual esteve à frente por Paz, fundada por Dom Paulo em 1972. de Dom Paulo. 27 anos. Ele manifestou sua gratidão ao clérigo e “Várias vezes eu chegava para as reuO Cardeal Scherer lembrou, ainda, niões da Comissão Justiça e Paz e Dom afirmou que o homenageado conseguiu que seu predecessor viveu um contexto Paulo estava rezando na capela. Eu nununir o que de melhor existia na religião e histórico muito peculiar. “Era o período ca vi ninguém rezando com tanto fervor, na política. pós-conciliar. Embora não tenha participado do Concílio, pois foi nomeado bisentrega e emoção. Uma das luzes que me “Dom Paulo conseguiu o respeito po depois, ele estudou muito e procurou ilumina é o fervor que vi em suas orade toda a classe política que estava interessada em estabelecer a democracia no ções”, concluiu o advogado. traduzir o Vaticano II em práticas eclesiais novas, atentas a questões próprias (Colaborou: Jenniffer Silva) Brasil. Realmente, ele sabia avaliar e condo tempo, da vida em sociedade e da cultura”, afirmou, sublinhando que Dom Paulo era um homem de vasta cultura, Luciney Martins/O SÃO PAULO de uma “inteligência muito brilhante, muito perspicaz para perceber as situações”.

foto da semana

Monsenhor Ângelo Ademir Mezzari será ordenado Bispo Auxiliar para a Arquidiocese, no dia 19 https://cutt.ly/rfAQPsX

ARCEBISPO Nesse sentido, o Cardeal Arns logo notou a necessidade de uma nova presença da Igreja em todas as áreas da cidade, sobretudo nas periferias, que cresciam muito nas décadas de 1970 e 1980. “Dom Paulo introduziu as Comunidades Eclesiais de Base [CEBs], criou uma grande quantidade de paróquias, ordenou muitos sacerdotes e incentivou os estudos eclesiásticos e uma grande atenção às camadas mais pobres da população”, ressaltou Dom Odilo. “Dom Paulo marcou presença no

Na Catedral da Sé, fiéis realizam momento de devoção a Nossa Senhora das Dores, cuja memória litúrgica foi celebrada na terçafeira, dia 15. Viu algo que lhe chamou a atenção na cidade? Fotografe e mande para o nosso e-mail osaopaulo@uol.com.br, com o título “Foto da Semana”.


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