O São Paulo - 3327

Page 1

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

www.arquisp.org.br |

ano 65 | Edição 3327 | 9 a 15 de dezembro de 2020

Editorial As eleições, os cristãos e a política com uma alta forma de caridade

Página 4

Encontro com o Pastor

www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00

‘O sacerdote é o primeiro discípulo de Jesus Cristo’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

No Natal, Deus quer entrar em nossas casas para caminhar conosco

Página 2

Espiritualidade A festa da Imaculada Conceição ajuda a avistar o horizonte de graças

Página 5

Liturgia e Vida

‘Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos! Ele está perto’

Página 15

Comportamento Não tenhamos medo de abrir os nossos lares para o Menino Jesus

Página 7

Dom Odilo impõe as mãos sobre a cabeça do até então Diácono Benedito Aparecido Borba, conferindo-lhe a ordenação sacerdotal, no sábado, 5

Santa Sé publica vademecum sobre diálogo ecumênico para bispos Documento lançado na sexta-feira, dia 4, pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, destaca o compromisso do episcopado com a realização do ecumenismo por parte da Igreja Católica. Páginas 8 e 9

Em livro, Papa convida a humanidade a pensar o mundo pós-pandemia

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a ordenação de dois padres para a Arquidiocese de São Paulo, no sábado, 5. Os até então Diáconos Benedito Aparecido Maria Borba e Sulliver Rodrigues do Prado receberam o segundo grau do sacramento da Ordem, em missa no Santuário Arqui-

Católicos celebram a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria Páginas 5 e 15

diocesano Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga. Na homilia, Dom Odilo ressaltou que a primeira missão dos sacerdotes é o anúncio de Jesus e recordou que o padre não deve ser um “funcionário do sagrado”, mas um verdadeiro discípulo de Cristo. Página 10

Reitor da Escola Diaconal comemora jubileu de ouro sacerdotal Página 3

Arquivo pessoal

Página 14

Francisco dedica ano de 2021 a São José, padroeiro da Igreja

Página 13

Página 12

A partir do presépio, a fé se espalha às novas gerações

Em “Vamos sonhar juntos”, Francisco reflete sobre como as pessoas e as instituições podem transformar a crise atual em uma oportunidade para um futuro melhor.

Com uma carta apostólica publicada na terça-feira, 8, o Pontífice instituiu um ano especial dedicado ao Esposo da Virgem Maria.

Aos 83 anos, Cônego Raphael Peretta é exemplo de dedicação à Igreja

Papa Francisco: ‘A partir da infância, o presépio educa-nos para contemplar Jesus Cristo’

A montagem do presépio em cada lar é parte de “um suave e exigente processo de transmissão da fé”, aponta o Papa Francisco na carta apostólica Admirabile signum (Admirável sinal), de 2019. Nesta edição, O SÃO PAULO mostra como essa tradição se mantém viva nas famílias brasileiras e proporciona um momento catequético entre gerações. Fotos e vídeos dos presépios montados em cada lar podem ser compartilhados nas redes sociais com a hashtag #presepioemcasa, como parte da campanha “Minha família acolhe o Menino Jesus”, promovida pela Comissão Nacional da Pastoral Familiar. Página 16


2 | Encontro com o Pastor | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

Novena do Natal, celebrada neste ano nas famílias de nossa Arquidiocese, traz como tema – “Deus entra em nossas casas”. Ele está em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que colocam em destaque a temática da “Igreja nas casas”, lembrando a importância das famílias e dos grupos de base da Igreja para a acolhida e vivência da fé, bem como para a sua transmissão. A própria Igreja se entende como a família de Deus, convocada e reunida pelo Filho, enviado ao mundo para convidar todos a fazerem parte dessa grande família de famílias. Além disso, a Igreja reconhece que a família-casa é uma “Igreja doméstica”, célula vital da grande Igreja. De fato, esta é a comunidade dos discípulos de Cristo, reunidos com Ele, ouvindo e acolhendo sua Palavra, seguindo seus passos e testemunhando a vida nova que brota do Evangelho. Assim, a família cristã também é uma pequena comunidade de discípulos de Cristo, reunidos em nome Dele, vivendo a graça do Batismo e desempenhando

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Deus entra em nossas casas a missão que lhe é própria. A pequena comunidade cristã doméstica se abre à grande Igreja na medida em que participa da Eucaristia e se insere, com as demais famílias, na vida da sua paróquia. A Novena de Natal convida à reflexão e oração sobre as cenas bíblicas do nascimento, infância e vida oculta de Jesus e mostra como Deus entrou na vida e na casa das pessoas envolvidas nesses momentos e cenas do Natal. Atrás de toda a temática do Natal está a celebração do mistério da Encarnação do Filho de Deus, enviado por Deus Pai a este mundo, que assumiu a nossa humanidade e nasceu humano da Virgem Maria. O mundo e o universo inteiro são casa em que Deus habita; vindo à Terra, “casa dos homens”, o Filho de Deus valorizou a inteira criação e fez resplandecer nela a glória e a misericórdia de Deus de um modo novo. O Filho eterno de Deus veio viver nossa vida e nossas limitações neste pequeno ponto do universo, nossa Terra. Deus fez morada em nossa “casa comum”. Grande mistério da fé, que contemplamos no Natal! Por meio do anjo Gabriel, Deus entrou na casa de Maria e lhe anunciou que ela seria a Mãe do Filho de Deus, que dela nasceria humanamente. Deus entra na casa de Maria e lhe

pede a colaboração generosa para a realização de seu plano amoroso de salvação de toda a humanidade. O mesmo aconteceu com José, noivo de Maria, que andava preocupado, sem compreender o que se passava com ela, vendo a sua gravidez. Deus convida igualmente José a entrar e participar desse misterioso plano de amor. Ele aceitou, como também Maria havia feito, confiando-se à vontade divina. E ambos foram colaboradores fiéis de Deus, que entrou em suas vidas e suas casas. O sacerdote Zacarias e sua mulher Isabel, prima de Maria, também tiveram uma visita surpreendente de Deus em suas vidas, com o anúncio de que seriam pais, mesmo em idade avançada. Zacarias nem conseguiu acreditar, mas Deus os envolveu, mesmo assim, e os chamou para serem colaboradores na sua obra. João Batista, o filho que nasceu, foi o profeta que preparou o povo para acolher o ungido de Deus, Jesus, Filho de Deus e filho de Maria. Com sua visita, Maria levou Deus à casa de Zacarias e Isabel e a encheu com o Espírito divino. Quando Deus entra na casa e a família o acolhe, o lar se enche de vida nova, alegria e esperança. As cenas do nascimento de Jesus em Belém, deitado numa manjedoura, cercado de pastores maravilhados,

animais domésticos e de anjos em festa, mostram a entrada de Deus na casa dos pobres e pessoas de bom coração, que se deixam arrebatar pelas maravilhas de Deus. Envolto em paninhos, como acontece com qualquer recém-nascido, e repousando na humilde manjedoura, Jesus, o Filho de Deus, fez-se pobre entre os pobres, frágil com os vulneráveis; de bracinhos abertos, Ele está pronto para receber a nossa acolhida e a correspondência ao seu amor. Ele quer abraçar a todos com imensa ternura no abraço humano de Deus. A cena da fuga para o Egito mostra o Filho de Deus que compartilha a sorte dos perseguidos, refugiados e dos migrantes em busca de segurança para viver em paz. O Filho de Deus não está longe daqueles que não têm casa, nem trabalho, nem renda, nem pátria, e dependem da generosa acolhida dos outros. Ele se fez próximo de todos, também daqueles que não têm casa, para dizer: “Estou contigo, coragem!” O encontro de Deus com a humanidade, celebrado no Natal, continua acontecendo ainda hoje. Basta ter olhos abertos para ver e coração sensível para acolher. Ele quer entrar também em nossas casas e caminhar conosco. Ele se fez “Emanuel – Deusconosco” para sempre.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Jenniffer Silva • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Geral/Atos da Cúria | 3

Padre Fernando Cardoso: 50 anos de sacerdócio dedicados à Palavra de Deus Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo e Flavio Rogério Lopes

osaopaulo@uol.com.br

Gratidão “Hoje, posso dizer que sou mais sacerdote do que há 50 anos. Pelo simples fato de receber o dom do sacerdócio, não me tornei mais próximo de Deus, mas posso me aproximar Dele a cada dia por meio do modo concreto com que esse ministério é exercido por mim e por todos aqueles que se revestem dessa graça”, enfatizou Padre Fernando, na homilia. O Sacerdote ressaltou que celebra o jubileu de ouro com o espírito de gratidão a Deus porque, por meio deste ministério, pôde ser útil a tantas pessoas, tornando-se um “braço visível de Cristo na história”. “Agradeço a Deus e a todos aqueles que me ajudaram a subir a montanha do sacerdócio. Todos aqueles que estiveram perto de mim, amaram-me e me educaram para que eu pudesse celebrar este cinquentenário de vida consagrada a Deus. A todos carrego no meu coração e nas minhas preces”, completou o jubilando. Ministério Paulistano, Padre Fernando nasceu em 1944. Ele foi o primeiro padre ordenado por Dom Paulo Evaristo Arns como Arcebispo de São Paulo, um mês após a sua posse na Arquidiocese. Logo após ser ordenado, foi enviado a Roma, onde obteve o mestrado em Sagrada Escritura no Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Também se especializou em Bíblia pela Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. Desde então, leciona Sagrada Escritura em diferentes instituições de ensino e seminários. Além do trabalho acadêmico, Padre Fernando compartilha seus conhecimentos bíblicos pelos meios de comunicação. Desde a fundação da

Padre Fernando Cardoso preside missa em ação de graças por seu jubileu de ouro sacerdotal, tendo entre os concelebrantes o Cardeal Scherer

Rede Vida de Televisão, há 25 anos, ele apresenta dois programas voltados à formação bíblico-catequética: “Páginas difíceis da Bíblia”, aos domingos, e, diariamente, o “Pão nosso de cada dia”. Há mais de 30 anos, colabora pastoralmente na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Aclimação. Há 20 anos à frente da Escola Diaconal, Padre Fernando colaborou na formação espiritual, litúrgica e pastoral de uma centena de diáconos para a Igreja em São Paulo.

Semeador Em entrevista ao O SÃO PAULO, o jubilando afirmou que não consegue enumerar quantas pessoas ajudou a en-

contrar o Senhor nessas cinco décadas de ministério. “Semeio sem ver o resultado da colheita, pois é Deus quem faz germinar a semente e crescer os frutos. Considero isso uma graça para que eu não me ensoberbeça, porque sei que a obra é do Senhor”, disse. Padre Fernando aconselhou aqueles que se preparam para a vida sacerdotal a seguir o exemplo dos discípulos de Cristo, os quais, como recordam os Evangelhos, foram escolhidos pelo Senhor para permanecer com Ele e “transbordar o Evangelho” que experimentaram no convívio com o Mestre. “O Evangelho que anunciamos precisa ser encarnado, não apenas um texto que aprendemos. O povo de Deus tem Fernando Geronazzo/O SÃO PAULO

o direito de ver a Palavra encarnada na vida do sacerdote por meio da piedade, do zelo para com todos, sobretudo para com as pessoas mais humildes”, completou o Padre.

Homenagem No fim da celebração, o Cardeal Scherer parabenizou o Padre Fernando pelo jubileu de ouro, agradeceu por sua dedicação à Igreja e reforçou o pedido para que ele continue contribuindo para que a Arquidiocese de São Paulo seja um testemunho de Deus na cidade. Em seguida, como gesto concreto de ação de graças, Dom Odilo entregou ao jubilando a Medalha São Paulo Apóstolo.

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 23/11/2020, foi nomeado e provisionado Assistente Pastoral da Paróquia Santo Antônio, no bairro Bancários, na Região Episcopal Sant’Ana, o Diácono Permanente Durval Bueno, pelo período de 01 (um) ano. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE ECLESIÁSTICO DE PASTORAL: Em 23/11/2020, foi nomeado e provisionado Assistente Eclesiástico do Encontro de Casais com Cristo – ECC, da Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Frei Ernane Pereira Marinho, SIA, pelo período de 02 (dois) anos.

Ao fim da missa do domingo, 6, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer depositou flores diante da imagem da Imaculada Conceição e rezou em ação de graças pelo 44º aniversário de sua ordenação sacerdotal, comemorado na segunda-feira, 7. Na terça-feira, 8, Dom Odilo Scherer presidiu, na Paróquia Imaculada Conceição, no Ipiranga, a missa da solenidade da padroeira do Seminário Arquidiocesano. Participaram da Eucaristia formadores, seminaristas e colaboradores das casas de formação sacerdotal da Arquidiocese.

Saudável

Vida

No sábado, 5, na Basílica Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, o Padre Fernando José Carneiro Cardoso, Reitor da Escola Arquidiocesana São José para o Diaconato Permanente, presidiu a missa em ação de graças pelos 50 anos de sua ordenação sacerdotal. Entre os concelebrantes estavam o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, e Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, além de diversos padres. Padre Fernando foi ordenado no dia 5 de dezembro de 1970, nessa mesma Basílica, também em um sábado, no mesmo horário que foi celebrado seu jubileu de ouro. Foi ainda nessa igreja, ligada ao convento dos frades carmelitas, que o Sacerdote recebeu o Batismo, a primeira Eucaristia e foi ordenado Diácono.

ATENDIMENTO GRATUITO

AJUDA PSICOTERAPÊUTICA Você pode viver bem, ter vida saudável melhorando seu modo de ver a si mesmo, os outros e o mundo. O Dr. Bruno e o Dr. José darão a você ajuda continuada, indicando o caminho a seguir Os interessados devem comparecer as quartas-feiras, às 14h, nas instalações das paróquias:

Nossa Senhora da Assunção e São Paulo Pessoal Nipo-Brasileira de São Gonçalo Praça João Mendes 108, Tels. 3106-8110 e 3106-8119


4 | Ponto de Vista | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Editorial

Os cristãos e a política

N

o dia 29 de novembro, nossa cidade de São Paulo foi às urnas no 2º turno das eleições municipais – contudo, além da escolha do prefeito, chamou atenção o recorde de abstenções: mais de 30% do total de eleitores não apareceram para votar. É claro que uma parte desse índice pode ser atribuída ao contexto em que vivemos, e ao desejo que alguns têm de evitar, a qualquer custo, lugares com grande afluxo de pessoas. Não seria razoável, porém, apontar a pandemia como a única causa para o fenômeno; pelo contrário, parece ser visível na população um certo desânimo para com a participação política. Basta pensar, por exemplo, que neste 2º turno o candidato que ficou em 2º lugar, Guilherme Boulos (PSOL), recebeu 2,1 milhões de votos – menos que os 2,7 milhões de eleitores que não compareceram às urnas.

Para nós, cristãos, no entanto, “a política é uma das mais altas formas de caridade, porque busca o bem comum”, como costuma dizer o Papa Francisco. Mesmo que nenhum dos candidatos e partidos em disputa nos seja muito agradável, ainda assim o nosso voto tem um peso enorme no processo político, que não deveria ser desprezado. De fato, o Cristianismo não pode ser entendido como algo unicamente espiritual, próprio de beatos que não se misturam com as coisas “ordinárias” deste mundo. Se o homem é, por natureza, um ser que vive em comunidade e, portanto, um ser político, então a política – arte que busca ordenar este convívio social ao bem comum – não é, em si, algo sujo ou que deve ser “tolerado” a contragosto. A Doutrina da Igreja nos ensina que cabe aos fiéis “intervir diretamente na construção política e na organização da vida social” (Catecismo da Igreja Católica, 2442).

E, se a mera escolha entre dois candidatos pode parecer pouco eficaz, cabe lembrar que a participação na política não se limita ao dia da eleição. Quantos de nós, por exemplo, acompanham a atuação de seus vereadores ou deputados e contatam seu gabinete para cobrar tal ou qual atitude frente a uma discussão legislativa? Além de confirmar o voto no dia da eleição, precisamos “descobrir, inventar [outros] meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs” (Catecismo, 899). Aqui precisamos advertir que seria um exagero pretender que exista uma única solução “católica” para um dado problema político. A imensa maioria das questões políticas é opinável – isto é, admite diferença de julgamento entre duas pessoas instruídas e de boa vontade: “A ação social pode implicar uma pluralidade de cami-

nhos concretos” (Catecismo, 2442). Esta grande liberdade de consciência que nossa religião nos reconhece não significa, no entanto, que toda e qualquer posição seja aceitável. A política, para um cristão, “terá sempre em vista o bem comum e se conformará com a mensagem evangélica e com a Doutrina da Igreja” (Catecismo, 2442). Nenhum candidato, político, funcionário público ou cidadão pode invocar a laicidade do Estado para atentar contra as verdades fundamentais da lei moral e divina – por exemplo, para negar a um ser humano seus direitos fundamentais. “Nós não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos, não podemos: temos de nos meter na política”, costuma dizer o Papa. Aceitemos, pois, o chamado do Pontífice, e encontremos, cada um a seu modo, uma forma de trabalhar concretamente para o bem comum.

Opinião

Tempo do Advento: o sabor dos Salmos e da Liturgia das Horas Arte: Sergio Ricciuto Conte

ANA LYDIA SAWAYA “Quando encontrei tuas palavras, as devorei com avidez, elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim” (Jr 15,16). O Advento é um tempo forte, um tempo dado pela sabedoria milenar da Igreja para crescer na fé, no amor e na esperança. E o principal instrumento para isso é a oração. Ao longo de muitos milênios, a tradição judaico-cristã desenvolveu um modo todo especial para a oração pessoal e comunitária que é a oração dos Salmos. Já no início do Cristianismo, os primeiros cristãos, aproveitando a tradição judaica de rezar os Salmos em vários momentos diferentes do dia, organizaram o canto dos Salmos com as leituras do Novo Testamento. Assim, a Liturgia das Horas tornou-se a oração por excelência de toda a Igreja. Jesus rezava sempre os Salmos e estava orando o Salmo 21 enquanto estava pregado na cruz. Infelizmente, sua prática como oração diária foi perdida ao longo dos séculos e reduzida aos monges e a alguns religiosos. O Concílio Vaticano II reconheceu a perda que o abandono desse hábito trouxe à vida de todo cristão e voltou a exortar o seu retorno, ao reconhecer que nenhum outro tipo de oração traz uma riqueza tão grande para a educação da fé, a prática da justiça e o aprendizado do amor. Dos textos fundamentais que orientaram os cristãos

dos primeiros séculos sobre o porquê de rezar sempre os Salmos, um deles foi escrito por Santo Atanásio, Arcebispo de Alexandria, no Egito, e um dos grandes Padres da Igreja (296-373 d.C.). Ele diz que o Saltério possui uma graça verdadeiramente especial. Retrata como nenhum outro livro da Bíblia os movimentos da alma humana em todas as suas vicissitudes. É como uma pintura em que nos vemos retratados e, ao observá-la, compreendemos o que estamos vivendo e, consequentemente, como devemos agir. Em outro lugar na Bíblia se lê sobre o que os mandamentos ordenam fazer; nos livros dos Profetas aprende-se que eles anunciam a vinda do

Salvador; ao se ler os livros de Reis e Samuel, conhece-se a história de suas realizações, mas no Saltério, ao lado dessas coisas, aprendemos sobre nós mesmos. Nele, encontramos o quadro de todos os movimentos de nossa alma, suas mudanças, seus altos e baixos, suas quedas e como se levantar. Seja qual for a nossa necessidade ou preocupação particular, podemos selecionar um Salmo cujas palavras se adaptem à situação e rezá-lo sempre, de modo que não seja apenas uma leitura, mas aprender o que e como fazer, o que pensar e o que sentir em cada situação. As recomendações para não praticar o mal são abundantes nas Escrituras, mas apenas o Saltério en-

sina como agir. O arrependimento, por exemplo, é repetidamente recomendado, porém se arrepender significa “não pecar”, e são os Salmos que mostram como devemos nos mover. Todo o processo de viver as dificuldades é apresentado nos Salmos e nos é mostrado exatamente com que palavras manifestar nossa esperança em Deus ou seguir o ensinamento, “Dê graças em todas as coisas”. Os Salmos não apenas nos exortam a sermos gratos, mas também nos fornecem as palavras certas. Há também outra peculiaridade sobre os Salmos: nos outros livros das Escrituras, lemos ou ouvimos as palavras de homens santos, como se pertencessem apenas a quem as pronunciou e não como se fossem nossas... No Saltério, porém, é como se estivéssemos lendo nossas próprias palavras, e quem as escuta fica comovido, como se dessem voz aos seus pensamentos mais ocultos. A maravilha do Saltério reside no fato de que o leitor coloca todas as palavras ali constantes em seus lábios como se fossem suas, e cada um canta os Salmos como se fossem escritos para ele, para seu próprio benefício, e os recita não como se alguém estivesse falando ou descrevendo os sentimentos de outra pessoa, mas como se falasse na primeira pessoa, oferecendo as palavras a Deus como expressões de seu coração, como se ele mesmo as tivesse elaborado. Ana Lydia Sawaya é professora da Unifesp e doutora em Nutrição pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Foi pesquisadora visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Belém

Cardeal Odilo Scherer preside missa na novena de paróquia no Tatuapé Denise Gomes

Fernando Arthur e Larissa Bernardo

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No sábado, 5, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na novena da padroeira da Paróquia Imaculada Conceição, no Tatuapé, concelebrada pelos Padres José Mário Ribeiro, Pároco, e Valdeir dos Santos Goulart, Pároco da Paróquia São João Batista do Brás. Participaram presencialmente cerca de cem pessoas e houve transmissão pelas redes sociais da Paróquia e da Região Belém. Dom Odilo, na homilia, ressaltou que o Natal deve ser um testemunho da fé, com os cristãos anunciando quem é Jesus e o que se celebra neste tempo. Lembrou, também, que o Advento é o momento de preparação para o Natal, no qual se coloca em evidência a realização das promessas de Deus para a humanidade. Ao mencionar a Oração da Coleta do 2º Domingo do Advento –“...que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida” –, o Arcebispo exortou que os fiéis reflitam sobre aquilo que os impede de ir ao encontro de Deus, para superar essas situações, não desanimar na caminhada e manter viva a esperança da salvação.

Voltados à imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, participantes da missa, no dia 5, rezam a oração pelo sínodo arquidiocesano

Por fim, recordando a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, celebrada na terça-feira, 8, Dom Odilo falou que Nossa Senhora se voltou para Deus como serva, e Ele a encheu de graças. Ao término da missa, em mensagem lida por uma das paroquianas, foi expressa a gratidão de todos pela presença de Dom Odilo na novena. “Estaremos sempre unidos, como filhos reconhecidos a um pai que nos visita com a sua ternura e o seu sorriso, e nos encoraja a viver mais intensamente e com mais entusiasmo como discípulos de Jesus ao jeito de Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa”, consta em um dos trechos. Também foi recordado ao Arcebispo os trabalhos pastorais e caritativos realiza-

dos pela Paróquia durante esta pandemia, bem como as ações para a revitalização do templo, tais como a construção da torre e do campanário – que deve ser concluída até a Páscoa – e a urbanização dos jardins da Praça Sílvio Romero, onde se localiza a igreja matriz, além das iniciativas de evangelização animadas pelo sínodo arquidiocesano. Em entrevista, Padre José Mário lembrou que um expressivo número de pessoas participou da festa da padroeira, fiéis que “têm vindo reavivar a fé, e, pelo olhar de Maria, buscar este sentido novo na caminhada, diante da pandemia, das dificuldades e dos problemas”. O Sacerdote detalhou ainda como os quadros do Rosá-

rio colocados na praça têm impactado as pessoas. “Elas param, olham, rezam, tiram fotos, perguntam, e o mais interessante é que as pessoas sentem as expressões [das imagens], e tudo isso têm nos ajudado a evangelizar. E, também, pelo segundo ano, criamos uma exposição de presépios em nossa Paróquia”, comentou. “Tenho certeza de que Nossa Senhora da Conceição tem nos fortalecido e nos ajudado muito nessa caminhada, tem trazido muita gente para a igreja. Como Mãe, ela nos tem ajudado a viver a fé e o amor, também nessa expectativa da vinda do Messias, Jesus que renasce trazendo a luz, a esperança e a certeza na vida nova”, concluiu.

Espiritualidade

A Imaculada Conceição e o tempo atual

Dom Luiz Carlos Dias

A

Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém

Solenidade da Imaculada Conceição de Maria é uma das festas mais alegres proporcionadas pela contemplação da Mãe de Deus e Nossa. A padroeira do povo brasileiro tem a menção à imaculada em seu nome, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, como muitas igrejas, paróquias e dioceses na Igreja Católica no Brasil, fato que testemunha o apreço desta devoção pelas comunidades. A definição dogmática foi proclamada em 8 de dezembro de 1854, na bula Ineffabilis Deus (ID), do Papa Pio IX, afirmando “que a beatíssima Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original desde o primeiro instante da sua con-

cepção” (ID,41). É interessante recordar a importância do povo de Deus na intuição do imaculado nascimento de Maria, pois várias gerações de cristãos repudiaram teólogos, ou quem quer que fosse, que negassem esta afirmação de caráter teológico. E assim, a verdade de fé sobre a conceição sem pecado de Maria foi sendo aprimorada na Igreja, e se integra na definição pontifícia, esclarecendo que a “singular graça e privilégio de Deus onipotente” ocorreu “em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo” (Idem). Aqui, não se trata de um mero pragmatismo do Criador a conceder uma graça especial em vista de um projeto. Em primeiro lugar, a escolha evidencia um amor especial de Deus por Maria, amor este que sempre surpreende, como diz o Papa Francisco. Um amor gratuito, livre, dialogal, edificante; iniciativa de quem ama de modo incondicional e propõe um caminhar comum. De outra parte, a fé do povo simples ajudou a reconhecer a virtude daquela filha de Sião, interpelada em Nazaré pelo anjo Gabriel, a qual permaneceu Imaculada. O privilégio concedido àquela filha

de Nazaré não foi em vão, mas eficaz. Maria não se deixou seduzir pelos males que certamente havia naquele pequeno vilarejo e a circundavam. Ela permaneceu fiel à Palavra do Deus de Israel ao seu povo, ao qual era integrada e caminhava em comunhão. E, diferentemente de Adão e Eva, não renegou o estado da graça concedida, tornando-se cada vez mais “cheia de graça”. A festa da Imaculada Conceição de Maria ajuda a entrever este horizonte de graça, abundante, reservado por Deus aos que O acolhem e se dispõem a viver alicerçados na justiça do seu Reino. Ajuda, igualmente, a perceber que o ser imaculado, criado à imagem e semelhança do Criador, concedido a Maria em vista do Salvador, continua impresso em cada ser humano. Por isso, a humanidade não se degenera, apesar dos males que permeiam as estruturas da vida humana. Mesmo quando a sociedade se depara com grandes males disseminados pelo tecido social, como alguns dos nossos atuais – desigualdade, racismo, feminicídio, polarização ideológico-política etc. – ainda há quem se indigne e não compactue,

optando por tentar combater as situações geradoras de morte, mesmo que esse posicionamento lhe acarrete dificuldades. Assim, vemos homens e mulheres altruístas lutando pelo que é bom, verdadeiro e justo, mesmo que o clima não seja nada favorável. No entanto, Maria Santíssima, Mãe de Deus e Nossa, testemunha que a abertura a Deus potencializa aquilo que há de melhor nas pessoas, assim como as graças divinas em vista de bens até insondáveis, como a maternidade divina, em prol de todos. Acolher a Deus, a sua Palavra e seu projeto é o melhor caminho para a construção de um modo de convivência edificante e realizador, no qual as pessoas podem se desenvolver e servir com suas capacitações. O momento histórico, com as crises decorrentes ou agravadas pela pandemia, tem exigido e exigirá esforços e doação de cada um em prol dos outros. Neste tempo, a fraternidade e a solidariedade como que se impõem. A contemplação da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus, testemunha que é possível ao ser humano percorrer essa via, sobretudo em abertura ao Deus bom e misericordioso.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Padre Geraldo Pedro: 27 anos de sacerdócio POR CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na noite do sábado, 5, na Paróquia Santo Eduardo, Setor Bom Retiro, o Padre Geraldo Pedro dos Santos, Pároco, celebrou missa em ação de graças pelos 27 anos de seu sacerdócio. Durante a celebração, o Sacerdote recordou sua caminhada desde a infância na cidade de Assis (SP) e sua ordenação ocorrida na Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, pelas mãos de Dom Angélico Sândalo Bernardino, então Bispo Auxiliar

da Arquidiocese de São Paulo, atualmente Bispo Emérito de Blumenau (SC), em 5 de dezembro de 1993. Na homilia, o Padre refletiu sobre a profecia de Isaías em relação a São João Batista, recordando o sacerdócio e o anúncio da Boa-Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. Participaram presencialmente da missa amigos e fiéis de paróquias onde o Padre já atuou, além dos paroquianos da Santo Eduardo. Após a celebração, um bolo foi partilhado entre todos. (Colaborou: Anísio Chiari Júnior, secretário paroquial)

Dihego Cavalcanti

Luiz Felipe Tanko Gonçalves

6 | Regiões Episcopais | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

[SÉ] Dom Eduardo Vieira dos Santos presidiu missa, na tarde do domingo, 6, na Paróquia Santa Teresinha, Setor Pastoral Santa Cecília, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 11 pessoas. Concelebrou o Pároco, Padre Everaldo Abril Pontes, OCD. (por Luís Felipe Tanko Gonçalves) Silvano J. Souza

Padre Geraldo durante missa no sábado, 5

Iniciativa ‘Brasil: terra de santos’ destaca Frei João Pedro de Sexto São João Desde agosto, um grupo de jovens do Setor Pastoral Brás tem realizado a iniciativa “Brasil: terra de santos”, pela qual, por meio do perfil no Instagram (@brasil.terradesantos), conta histórias de santidade em solo brasileiro, de acordo com a data de memória litúrgica dos san-

tos e do dia da morte daqueles que ainda estão em processo de canonização. Neste mês, um dos vídeos é sobre o Servo de Deus Frei João Pedro de Sexto São João, que, em seu caminho de santidade, percorreu o Norte e o Nordeste do Brasil com o intuito de levar Deus aos esquecidos.

Para falar sobre o Frade, a entrevistada foi a vice-postuladora da causa da beatificação do Servo de Deus, a Irmã Utilia Maria, missionária capuchinha da Congregação fundada por Frei João Pedro, o Instituto Frei João Pedro de Sexto. (CPRS)

Fernando Fernandes

Luciney Martins/O SÃO PAULO

[SANTANA] No domingo, 6, na Paróquia São José, Setor Pastoral Mandaqui, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, celebrou-se a posse canônica como Pároco do Padre Edimilson da Silva. Concelebraram os Padres Erly Moscoso, Coordenador do Setor Mandaqui, e Armênio Nogueira. Participaram também os diáconos permanentes Marcio Cesena e Vinício Andrade. (por Patricia Gusmão) Robson Francisco

[SANTANA] No sábado, 5, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Crisma a um grupo de jovens, durante missa na Paróquia Santa Rita de Cássia, Setor Pastoral Vila Maria.

Concelebraram o Pároco, Frei Cássio Ramon Nascimento, OSA, e o Frei José Henrique Moreto Jr., OSA. (por Fernando Fernandes) Arquivo Pastoral Vocacional

[BRASILÂNDIA] A Região Episcopal Brasilândia convida para a missa de despedida de Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, nomeado Bispo de Piracicaba (SP) pelo Papa Francisco em novembro. A missa acontecerá no sábado, 19, às 16h, na Paróquia São Luís Gonzaga (Praça Dom Pedro Fulco Morvidi, 1, Vila Pereira Barreto). A celebração poderá ser vista em https://www.facebook.com/pascombras. (por Pascom Brasilândia)

[IPIRANGA] No sábado, 5, o Centro Vocacional Arquidiocesano realizou a conclusão das atividades de 2020 com a presença de Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Ipiranga e Referencial para as Vocações na Arquidiocese. Dom Ângelo partilhou com os vocacionados um pouco da sua experiência de vida e caminhada vocacional, convidando todos a Cleide Medeiros

viver sem medo o “sim” à vontade de Deus. O encontro aconteceu na Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga (Funsai). Também participaram o Padre José Carlos, Coordenador Arquidiocesano da Pastoral Vocacional, e outros membros que atuam no atendimento e acompanhamento dos vocacionados. (por Padre Israel Mendes)

[SÉ] No sábado, 5, os jovens do Setor Pastoral Brás se mobilizaram para doar sangue, em uma iniciativa organizada pela Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários. Eles foram a um posto de coleta da Fundação Pró-Sangue e em outro do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). (por Lívia Miranda) Pascom da Paróquia Santa Cristina

Claudemir Pires

[SANTANA] Na quinta-feira, 3, na Paróquia São Francisco Xavier, Setor Pastoral Medeiros, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa por ocasião da festa do padroeiro. Concelebrou o Padre Jorge Silva, Pároco. (por Robson Francisco)

[SANTANA] No sábado, 5, os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação e da Capela São José, Setor Vila Maria, participaram da missa em ação de graças pelos 15 anos de ordenação diaconal do Diácono Permanente Rogério Ruiz Soler, que serve nessa Paróquia. Presidiu a Eucaristia o Padre Antonio Laureano, Pároco. (por Pascom da Região Santana)

[IPIRANGA] O Apostolado da Oração da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Pastoral Anchieta, rezou o Santo Terço no Cruzeiro do Jardim Santa Cruz, no âmbito do território paroquial, na sexta-feira, 4. (por Pascom paroquial)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan ministrou o sacramento da Crisma a um grupo de jovens e adultos no domingo, 6, durante missa na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, Setor Pastoral Tucuruvi, concelebrada pelos Padres João Luiz Micheletti, Pároco, e José Roberto Novaes, Vigário Paroquial. (por Luciana Pinheiros)

[SÉ] Na manhã do domingo, 6, na Capela do Círculo Militar de São Paulo, Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, conferiu o sacramento da Crisma a 27 adolescentes, jovens e adultos, durante missa concelebrada pelo Padre Reni Nogueira dos Santos, Capelão do Comando Militar do Sudeste de São Paulo. (por Claudemir Pires)

[IPIRANGA] O grupo de amizade Brasil/Alemanha São Bonifácio, da Paróquia Santa Cristina, completou 35 anos no sábado, 5. A iniciativa começou em novembro de 1985, com a primeira visita do Pastor Hallermann, da Alemanha, à Paróquia, selando esta parceria. Desde então, muitos contatos amigáveis foram estabelecidos por meio de visitas mútuas. (por Pascom paroquial)

[SÉ] A coordenadora da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, Sueli Camargo de Lima, participou de reunião on-line, no sábado, 5, com missionários da Pastoral do Menor da Região Episcopal Sé. Ela falou sobre o Programa de Assistência Religiosa (PAR) para os adolescentes e jovens em regime de internação na Fundação Casa, e apresentou informações sobre as medidas socioeducativas e as unidades em operação no estado de São Paulo. (por Andréa Campos, secretária regional da Pastoral do Menor)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

lapa

Massoterapeuta realiza atendimento voluntário em paróquia Benigno Naveira

Benigno Naveira

Fratelli tutti para um Natal de fraterna comunhão

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

PADRE ALFREDO JOSÉ GONÇALVES, CS

O massoterapeuta/acupunturista Ramon Tavares há seis meses atende voluntariamente na Paróquia Santo Alberto Magno, no Jardim Bonfiglioli, Setor Pastoral Butantã, às terças-feiras, das 8h às 12h. O tratamento é feito com a técnica da auriculoterapia, derivada da acupuntura, que faz pressão em pontos específicos da orelha para diagnosticar e tratar diversos problemas físicos, mentais e emocionais. Trata-se de uma forma de medicina alternativa, que considera o pavilhão auditivo da orelha, ou aurículo, como um microssistema em que todo o corpo é representado por um mapa. Em conversa com a Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Lapa, Tavares destacou que a auriculoterapia pode ser usada para o tratamento de muitas enfermidades, como as de caráter funcional, neurótico e psicótico (insônia, depressão, ansiedade, cefaleia etc.) e males de caráter estrutural (dores lombares, nas pernas, torcicolos, artrite e artrose). Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a auriculoterapia no sistema da medicina geral como

José. Ouvir com os pastores os cantos de Glória e de Paz dos anjos dos céus! Contemplar este momento quando o céu desceu até os homens. “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não O receberam” (Jo 1,4-5). Abramos nossas portas para a chegada do Menino Jesus! Ofereçamos ao Senhor os presentes dos nossos corações, como o fizeram os magos. E como eles, não retornaremos a Herodes, mas voltaremos por outro caminho, que Deus nos dará. Estejamos preparados para, se necessário, acompanhar José e Maria com o Menino em fuga, “porque Herodes vai procurar o Menino para O matar” (Mt 2,13). Assim como Jesus disse aos doze apóstolos, o Menino Deus nos pergunta da manjedoura: “Também vós quereis retirar-vos?” Simão Pedro respondeu-Lhe: “Senhor para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo 6,67-69). Que tenhamos todos, em nossos corações, em nossos lares, com nossas famílias, um Feliz e Santo Natal! E, como os pastores, vamos contar ao mundo, esquecido, o que os anjos lhes haviam dito acerca deste Menino. “E todos os que ouviram se admiraram das coisas que os pastores lhes diziam” (Lc 2,18). E com a serenidade de José, em meio a tantas tribulações, ficaremos seguros, em oração, ao fixar os olhos na Mãe de Deus e nossa, que “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19).

Advento e Natal constituem, juntos, um tempo litúrgico privilegiado. Inúmeras pessoas viajam, se visitam, multiplicam encontros. Amigos, parentes e familiares estreitam laços e relações. Como fez o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti (FT), podemos citar o poeta Vinicius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida” (FT, 215). Neste ano de 2020, porém, citando outro poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra”, uma pandemia, com seu rastro macabro de pessoas mortas e famílias enlutadas. Flagelo inédito e global, da mesma forma que globalizada é a política econômica hoje. O novo coronavírus já cruzou as fronteiras de quase 200 países. No mundo inteiro, o número de infectados ultrapassou a cifra das dezenas de milhões, enquanto o número de mortos alcança 1,3 milhão. Isso sem levar em conta a subnotificação. Limitando-nos ao Brasil, contam-se aproximadamente 6,5 milhões de infectados, ao passo que mais de 175 mil pessoas perderam precocemente a vida. Somando infectados e afetados, na prática todas as pessoas e famílias foram, de uma forma ou de outra, atingidos por esse “inimigo invisível, silencioso e letal”. Quem não tropeçou nessa “pedra/pandemia”? Ela trouxe o isolamento individual e o distanciamento social. Isolados e contidos dentro da própria casa, as telas e as janelas tornaram-se nossos únicos meios de comunicação. Para não poucas pessoas, a saúde mental sofreu abalos inesperados. A solidão virou nossa companheira do dia a dia. Um contraste se estabeleceu: ao mesmo tempo em que foi possível constatar certo negacionismo e indiferença por parte de algumas autoridades, vimos nascer por toda parte uma série de iniciativas solidárias e populares. Muitas comunidades se deram as mãos, reduzindo a força do inimigo comum. Se é verdade que para muita gente esse tropeço mexeu negativamente com a trajetória de vida, para outros ele não deixou de despertar para novos valores. Entre eles, destaca-se o cuidado: com a saúde pessoal e alheia, cuidado com os mais frágeis e vulneráveis, cuidado com a gestão pública e o bem-estar, cuidado com “nossa casa comum”, para voltar a outra expressão do Pontífice. E mais recentemente, com o novo documento da Doutrina Social da Igreja, Fratelli tutti (Somos todos irmãos), o Papa sublinha uma nova forma de cuidado, isto é, a atenção redobrada para com o outro, o diferente, o estrangeiro. Volta a alertar para o combate vigoroso e sem tréguas à discriminação e ao preconceito, ao racismo e à xenofobia. Esses vírus, sim, constituem verdadeiras pedras de tropeço para o diálogo, a paz e a fraternidade. A pandemia de COVID-19 pode ser vencida. Temos a ajuda de numerosas pesquisas e da ciência. Várias e distintas vacinas já apontam para a aurora de novos horizontes. As divisões que nos separam, porém, como em todo Natal, exigem uma dupla conversão, pessoal e social. Somente isso pode nos levar ao que o Papa chama de “cultura do encontro, do diálogo e da solidariedade”.

Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

Ramon Tavares em atendimento na Paróquia Santo Alberto Magno

método de tratamento, principalmente para dores e problemas funcionais. Os detalhes sobre como se dá o agendamento para atendimento do massoterapeuta Ramon Tavares na Paróquia podem ser obtidos na secretaria paroquial, pelo telefone (11) 3735-4553.

Comportamento Abramos os lares ao Menino Jesus! VALDIR REGINATO “Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz, e deu à luz o seu filho primogênito, e O enfaixou e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7). Passados 2 mil anos, ordena-se que se fechem as portas das hospedarias. Não se quer abrir as portas para o Menino Deus, porque a alegria em recebê-Lo em família nos lares católicos e Igrejas cristãs “é uma grande ameaça à saúde da humanidade”. É o absurdo do regime do “totalitarismo covidário”: uma epidemia tão bem planejada. Conhecida em janeiro, permitiu a invasão dos foliões carnavalescos. Atingiu o pico na principal festa do Cristianismo, vindo a fechar as igrejas na Páscoa. Não abriu o comércio nas festas familiares do Dia das Mães e do Dia dos Pais. O vírus, porém, suaviza sua agressividade na época eleitoral para campanhas políticas. Agora surge a segunda onda, perigosíssima, para trancar as igrejas na celebração mais alegre da humanidade que é o nascimento do Senhor Jesus Cristo. Parece loucura o que se lê acima? Conspiração? Irresponsabilidade com a saúde? Abramos os nossos olhos! E toda a esperança da vida é depositada numa vacina cientificamente duvidosa, para, quem sabe, termos tempo de pular o carnaval! Em pleno Natal, querem fechar as portas para Deus, porque a salvação vem da vacina, da qual pouco se sabe a respeito dos resultados. Evidentemente que não sou contra vacinas, mas que Jesus faça com que abramos os olhos e deixemos de per-

manecer cegos ao que acontece, e sabe-se lá o que virá ainda. “Quando (o cego) chegou, interrogou-o: ‘Que queres que te faça?’. Ele respondeu: ‘Senhor, que eu veja’. Jesus disse-lhe: ‘Vê; a tua fé te salvou’. Imediatamente, recuperou a vista e O foi seguindo, glorificando a Deus” (Lc 18,41-43). Que se veja os tempos de hoje. Muito temos falado deste ano de 2020. Na Terra de Santa Cruz, já se inicia a invasão de igrejas com quebra de imagens. Recentemente, um bispo precisou interromper a missa durante o sacramento da Crisma por determinação sanitária e policial. E, agora, alguns governantes não querem sequer que as famílias se reúnam para o Natal, até que todos sejam vacinados por força da lei! “Então Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; depois, enviando-os a Belém, disse: ‘Ide, informai-vos bem acerca do Menino e, quando O encontrardes, comunicai-me, a fim de que também eu vá adorá-Lo” (Mt 2,7-8). É a falsidade de muitos governantes que se aglomeram em comemorações pessoais, mas não querem que as famílias se reúnam, em defesa da saúde da população. Todos sabem das responsabilidades a serem respeitadas no convívio social para se cuidar, principalmente os cristãos, em que isso se faz por amor ao próximo, e não por obrigação da lei. Quisera eu, a exemplo de anos anteriores, estar escrevendo somente acerca das alegrias e das maravilhas do amor de Deus em comemorar o Natal do Senhor Jesus em companhia de Maria e


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Vatican Media

8 | Reportagem | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

Papa Francisco participa de encontro ecumênico de oração pela paz com diferentes líderes cristãos do Oriente Médio, realizado em 7 de julho de 2018, na cidade italiana de Bari

Novo documento do Vaticano ressalta compromisso dos bispos com a unidade dos cristãos Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

“O bispo e a unidade dos cristãos: Vademecum ecumênico” é o título do novo documento publicado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, na sexta-feira, 4. Na conferência de apresentação do texto, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o Cardeal Kurt Koch, Presidente daquele Pontifício Conselho, explicou que o subsídio tem o objetivo de ser “um guia, uma bússola ou como um companheiro de viagem”, para o caminho ecumênico dos bispos em suas próprias dioceses. A elaboração do documento durou cerca de três anos e é fruto do trabalho de membros do Pontifício Conselho e especialistas, e recebeu contribuições de outros organismos da Cúria Romana, como as congregações para os Bispos, para a Evangelização dos Povos e para as Igrejas Orientais. O manual foi aprovado pelo Papa Francisco, que, em maio, anunciou sua publicação em uma carta enviada ao Cardeal Koch, na comemoração dos 25 anos da encíclica Ut unum sint (Que sejam um), de São João Paulo II, sobre o empenho ecumênico da Igreja. As diretrizes desse Vademecum são baseadas em diferentes documentos e textos eclesiásticos sobre o tema, com destaque para o decreto Unitatis redintegratio, do Concílio Vaticano II, a encíclica Ut unum sint, além do “Diretório para a aplicação dos princípios e das normas sobre o ecumenismo” (1993), e “A dimensão ecumênica na formação de quem se dedica ao ministério pastoral” (1997), ambos do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Ao episcopado O Cardeal Koch destacou que, embora o Diretório de 1993 seja o principal documento de referência para a tarefa ecumênica de toda a Igreja, faltava um texto destinado especificamente aos bispos para a realização dessa responsabilidade própria de seu ministério. “O bispo não pode considerar a promoção da unida-

de dos cristãos simplesmente como uma das muitas tarefas do seu ministério, atividade que poderia ou deveria ser sobreposta por outras prioridades aparentemente mais importantes. O compromisso ecumênico do bispo não é uma dimensão opcional do seu ministério, mas um dever e uma obrigação”, salientou o Cardeal. O manual reitera que, como pastor do rebanho, o bispo tem a responsabilidade específica de mantê-lo em unidade, pois, como afirma a constituição dogmática Lumen gentium, o bispo é “o princípio e fundamento visível da unidade na sua igreja particular”.

Estrutura do documento O Vademecum é dividido em duas partes: “A promoção do ecumenismo na Igreja Católica” e “As relações da Igreja Católica com outros cristãos”. Após cada sessão, há o elenco de recomendações práticas de forma resumida para serem promovidas em âmbito local ou regional. Por fim, o documento apresenta um apêndice com uma breve descrição dos parceiros da Igreja Católica nos diálogos teológicos internacionais bilaterais e multilaterais e dos principais frutos já colhidos. A seguir, O SÃO PAULO apresenta os principais destaques do novo documento.

Promover o diálogo Assim como no decreto Christus dominus, do Concílio Vaticano II, o Vademecum descreve o bispo como um homem do diálogo, que vai ao encontro das pessoas de boa vontade na busca comum da verdade, com uma capacidade de interlocução marcada pela clareza e humildade, em um espírito de caridade e amizade. “A tarefa ecumênica do bispo é, portanto, promover o ‘diálogo da caridade’ e o ‘diálogo da verdade’”, sublinha o texto. De forma prática, o manual sugere a nomeação de um delegado diocesano para o ecumenismo, assim como a constituição de uma comissão própria para esse tema. No âmbito da formação, o novo documento subli-

nha a necessidade da adequada formação dos clérigos e fiéis da diocese sobre a relação com outros cristãos “com amor à verdade, com caridade e humildade”.

Conversão interior Outro aspecto recordado no Vademecum é que, como insistiu o Concílio, não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior.

“Uma atitude adequada de humildade permite aos católicos apreciar ‘o que Deus faz por aqueles que pertencem a outras Igrejas e Comunidades eclesiais’, o que por sua vez nos ajuda a aprender e receber dons de nossos irmãos. A humildade também é necessária quando, graças ao encontro com outros cristãos, vem à luz uma verdade ‘que pode exigir revisões de declarações e atitudes’.”

Ecumenismo espiritual A segunda parte do Vademecum examina maneiras por meio das quais a Igreja Católica interage com outras comunidades cristãs. A primeira delas é o ecumenismo espiritual, definido pelo Concílio como a “alma do movimento ecumênico”. “O ecumenismo espiritual consiste não só na oração pela unidade dos cristãos, mas, também, na ‘conversão do coração e na santidade de vida’. Com efeito, ‘todos os fiéis devem recordar que tanto melhor promoverão e até realizarão a unidade dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais conforme o Evangelho’.”


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Sobre a oração com outros cristãos, o documento reafirma que os católicos não apenas podem como devem buscar ocasiões para essa prática. Nesse sentido, o Vademecum recorda a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, celebrada anualmente em todo o mundo.

Sagrada Escritura O Vademecum destaca, em particular, a importância da Sagrada Escritura no diálogo ecumênico, quando recomenda que sejam feitos todos os esforços para encorajar os cristãos a lerem as escrituras juntos.

“Os católicos compartilham as Sagradas Escrituras com todos os cristãos e, com muitos deles, até um mesmo lecionário dominical. Esta herança bíblica comum oferece várias oportunidades para encontros e intercâmbios de oração baseados nas escrituras, para a lectio divina, para publicações e traduções compartilhadas, e, também, para peregrinações ecumênicas aos lugares sagrados da Bíblia.” Do mesmo modo, o texto lembra a possibilidade do compartilhamento de outras tradições religiosas e dos principais momentos do tempo litúrgico, especialmente o Natal, a Páscoa e Pentecostes e, em alguns casos, o Advento e a Quaresma.

Ecumenismo dos santos Outro modo de ecumenismo ressaltado pelo manual é o chamado “ecumenismo dos santos, dos mártires”, que, nas palavras de São João Paulo II é, talvez, o mais convincente. “A devoção comum a um santo, a um santuário ou a uma determinada imagem pode se tornar ocasião de peregrinação, procissão ou celebração ecumênica. Os católicos em geral, e os bispos católicos em particular, podem fortalecer os laços de unidade com outros cristãos, encorajando devoções comuns que já existem”, recomenda o documento.

“Em algumas partes do mundo, os cristãos são vítimas de perseguição. O Papa Francisco fala frequentemente do ‘ecumenismo de sangue’. Aqueles que perseguem os cristãos, muitas vezes, reconhecem a unidade que existe entre eles melhor do que os próprios cristãos. Ao honrar os cristãos de outras tradições que sofreram o martírio, os católicos reconhecem as riquezas que Cristo derramou sobre eles e das quais dão um poderoso testemunho.”

Purificação da memória O Vademecum recorda que, na encíclica Ut unum sint, São João Paulo II sublinha a necessidade de superar “certas recusas a perdoar”, “aquele fechamento não

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Reportagem | 9

evangélico da condenação dos ‘outros’” e “um desprezo que deriva de uma presunção doentia”.

“A memória de muitas comunidades cristãs permanece ferida por uma história de conflitos religiosos e nacionais. No entanto, quando comunidades separadas por divisões históricas conseguem chegar a uma releitura comum da história, então uma reconciliação de memórias se torna possível.”

Diálogo da caridade Outra via ecumênica indicada pelo documento é o diálogo da caridade e da promoção de uma “cultura do encontro” ao nível dos contatos e da colaboração cotidiana, alimentando e aprofundando a relação que já une os cristãos em virtude do Batismo. O documento faz algumas recomendações práticas a esse respeito; por exemplo, assistir, na medida do possível e oportunamente, às liturgias de ordenação ou instalação dos dirigentes de outras Igrejas, para convidá-los para as celebrações litúrgicas e outros eventos significativos da Igreja Católica.

Diálogo da verdade

o Matrimônio até o acompanhamento pastoral no nascimento dos filhos e na preparação para os sacramentos. Um esforço particular deve ser feito para envolver essas famílias nas atividades ecumênicas paroquiais e diocesanas.”

Partilha sacramental O Vademecum ressalta que “a comunhão eucarística está inseparavelmente ligada à plena comunhão eclesial e à sua expressão visível” e, portanto, a participação nos sacramentos da Eucaristia, da Reconciliação e da Unção dos Enfermos deve ser reservada, em geral, àqueles que estão em plena comunhão. No entanto, o manual recorda que o Diretório Ecumênico de 1993 afirma que “em certas circunstâncias, a título excepcional e sob certas condições, a admissão a estes sacramentos pode ser autorizada e mesmo recomendada aos cristãos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais”, conforme previsto no Código de Direito Canônico (cânon 844) e no Código dos Cânones das Igrejas Orientais (cânon 671). Concretamente, essa prática conhecida como communicatio in sacris costuma existir nas realidades das Igrejas orientais ortodoxas, em lugares marcados por perseguições e impossibilidade da participação dos fiéis cristãos nas suas respectivas comunidades.

Ecumenismo prático

A terceira via se refere à busca da verdade de Deus que os católicos empreendem com outros cristãos por meio do diálogo teológico, que “não busca um mínimo denominador comum teológico sobre o qual se possa chegar a um compromisso, mas se baseia no aprofundamento de toda a verdade”.

O Vademecum trata da colaboração a serviço do mundo e do diálogo inter-religioso como um desafio ecumênico. Aborda, ainda, o ecumenismo cultural, em particular, por meio de projetos conjuntos nos campos acadêmico, científico e artístico.

“O diálogo da verdade conduzido ao nível nacional e diocesano pode desempenhar um papel particularmente importante no que diz respeito ao significado e à celebração válida do Batismo. As autoridades de algumas Igrejas locais puderam formular declarações conjuntas que expressam o reconhecimento mútuo do Batismo. Outros grupos de trabalho e iniciativas ecumênicas também podem oferecer uma contribuição valiosa para o diálogo da verdade.”

“Como discípulos de Cristo, formados pelas Escrituras e pela tradição cristã, somos movidos a agir em defesa da dignidade da pessoa humana e da santidade da criação, na firme esperança de que Deus conduza toda a criação à plenitude do seu Reino. Trabalhando juntos em ações sociais e projetos culturais, promovemos uma visão cristã integral da dignidade da pessoa. Nosso serviço comum, portanto, manifesta nossa fé compartilhada para o mundo, e nosso testemunho é ainda mais forte por ser oferecido em conjunto.”

Diálogo da vida O manual indica a via do diálogo da vida, como as oportunidades de intercâmbio e colaboração com outros cristãos em três campos principais: pastoral, testemunho ao mundo e cultura. O Vademecum trata da colaboração no campo da missão e da Catequese, os casamentos mistos (entre pessoas de diferentes Igrejas cristãs) e vida sacramental.

“O cuidado pastoral das famílias cristãs interconfessionais deve ser considerado tanto ao nível diocesano quanto regional, desde a preparação inicial do casal para

Na conclusão, o documento reitera que as recomendações práticas e as iniciativas sugeridas são instrumentos com os quais a Igreja, e em particular o bispo, pode se comprometer a “tornar efetiva a vitória de Cristo sobre a divisão dos cristãos”. “A abertura à graça de Deus renova a Igreja e, como ensina a Unitatis redintegratio, essa renovação é o primeiro passo indispensável para a unidade. A abertura à graça de Deus implica a abertura aos nossos irmãos e irmãs cristãos e, como escreveu o Papa Francisco, a vontade de ‘colher o que o Espírito semeou neles também como um dom’”, conclui.

Acesse a reportagem completa em: https://tinyurl.com/y5r8ks6q.


10 | Geral | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Dom Odilo ordena 2 padres para a Arquidiocese de São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, com os neossacerdotes Benedito Aparecido e Sulliver Rodrigues, ordenados no sábado, 5, no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

O Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga, foi o local da celebração da ordenação de dois padres para a Arquidiocese de São Paulo, no sábado, 5. Pela imposição das mãos do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, os diáconos Benedito Aparecido Maria Borba, 55, e Sulliver Rodrigues do Prado, 39, receberam o segundo grau do sacramento da Ordem. O rito de ordenação presbiteral foi acompanhado pelos fiéis presentes no santuário, seguindo os protocolos preventivos em virtude da atual pandemia, e pelo público conectado à rádio 9 de Julho e às mídias digitais da Arquidiocese.

Sinais sacramentais Após a apresentação dos eleitos por parte do padre formador, os candidatos foram interrogados sobre seus propósitos pelo Arcebispo, diante do qual eles lhe prometeram obediência. Em seguida, os eleitos prostraram-se no chão, enquanto a assembleia entoou a ladainha de todos os santos. O momento central do rito é a imposição das mãos sobre a cabeça dos eleitos, feita por Dom Odilo. Tal gesto é repetido por todos os padres presentes na celebração, em sinal de comunhão no mesmo ministério. Em seguida, o Presidente da celebração faz a Prece de Ordenação, fórmula litúrgica do sacramento da Ordem. Um dos sinais sacramentais da ordenação é a unção das mãos do ordenando com o santo óleo do Crisma e a entrega do cálice e da patena, os vasos sagrados com os quais o sacerdote celebra a Eucaristia. Emocionado, Aquilino Maria de Bor-

ba, 84, entregou ao seu filho, Padre Benedito, a estola sacerdotal e recebeu dele a sua primeira bênção. Fátima Aparecida do Prado, 64, mãe do Padre Sulliver, também se emocionou com a ordenação do filho. “Nunca imaginei que teria um filho padre e acolho essa graça como um grande presente de Deus para a nossa família e para a Igreja”, disse.

Anunciar Cristo Na homilia, ao meditar sobre a liturgia do 2º Domingo do Advento, que destaca o clamor de São João Batista – “Preparai os caminhos do Senhor” – e anuncia a vinda do Messias, o Cardeal referiu essas palavras à missão dos ministros ordenados. “Nossa primeira e mais importante missão é o anúncio de Jesus Cristo. Nossa vida e o nosso trabalho devem estar permeados do anúncio da Palavra de Deus”, afirmou. Em seguida, Dom Odilo salientou que o Padre deve constantemente buscar o Senhor por meio de uma vida santa. “A santidade é a união contínua com Deus, é viver as virtudes conforme o Evangelho, nos sacramentos, na liturgia, na oração e na prática das obras de misericórdia. A vida do sacerdote deve ser inteiramente voltada para a santificação pessoal e de todo o povo”, enfatizou. Imagens do Bom Pastor O Cardeal recordou, ainda, que o padre não é um simples “funcionário do sagrado”, mas “o primeiro discípulo de Jesus Cristo”, voltando-se para Ele, o Bom Pastor. “Somos chamados a ser sacerdotes segundo a imagem de Jesus Pastor no meio do povo”, disse. Dom Odilo também afirmou que não é possível um sacerdote dizer que tem uma vida monótona e se, por acaso, al-

guém disser que é monótona, ele exorta “a ir visitar o povo, ver os doentes, assistir os enlutados, batizar, alegrar-se com o casamento do povo, organizar a vida pastoral, a caridade, de tantas formas. A vida do padre é tudo, menos monótona. Em cada experiência nova que vive, experimenta-se de forma nova a graça do sacerdócio”.

Chamado Natural de São Roque (SP), Padre Benedito sentiu o chamado para o sacerdócio na adolescência. No entanto, o caminho vocacional teve de ser interrompido devido a problemas de saúde da sua mãe (já falecida) e à necessidade do apoio à família. “Apesar de tudo isso, o chamado nunca desapareceu do meu coração. Continuei participando da comunidade e sempre fui bem orientado pelo meu pároco. Assim, fui amadurecendo até que ingressei no seminário. Hoje estou aqui, com a graça de Deus”, relatou. Nascido em São José dos Campos (SP), Padre Sulliver iniciou sua caminhada vocacional em 2011. Depois de cerca de dez anos afastado da vida eclesial, o jovem havia voltado a participar ativamente da Igreja. “Até então, jamais havia pensado na possibilidade de ser sacerdote. Mas, a partir da busca mais intensa da fé e da vida cristã, comecei a sentir o chamado para o sacerdócio. Conversei com meu pároco, que me orientou a procurar o Centro Vocacional Arquidiocesano. Então, iniciei o processo de discernimento e de formação”, contou. Devoção mariana Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Padre Benedito foi batizado na Basílica

“Velha” de Aparecida (SP). Ele não escondeu a emoção por ter a oportunidade de receber a ordenação presbiteral em uma igreja dedicada à Padroeira do Brasil e onde realizou seu estágio pastoral, em 2019. “Uma vez, quando rezava aqui na igreja, manifestei interiormente a Deus o desejo de ser ordenado aqui. Mas jamais imaginei que isso poderia se concretizar”, disse o neossacerdote. Quem propôs que as ordenações fossem celebradas no Santuário foi o Arcebispo.

Instrumentos da obra de Deus Dentre as características próprias do ministério sacerdotal, Padre Sulliver destacou o mistério do dom Deus, que, apesar das limitações humanas, quer contar com os padres como instrumentos para a realização da sua obra no mundo. “Acredito realmente que a graça de Deus opera em nós e por meio de nós, independentemente das nossas qualidades humanas. Não tenho dúvidas de que há muitas pessoas melhores do que eu para exercer este ministério, mas vejo que Deus, ao me chamar, quer mostrar sobretudo para mim que a sua graça e misericórdia são infinitamente maiores”, afirmou. Início do ministério No fim da missa, o Padre Everton Fernandes de Moraes, Chanceler do Arcebispado, leu o decreto da primeira nomeação pastoral dos novos padres. Padre Benedito foi designado para a Região Episcopal Belém; e o Padre Sulliver, para a Região Episcopal Santana. Em breve, os respectivos vigários episcopais dessas regiões os informarão em quais paróquias iniciarão o exercício de seus ministérios.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Pelo Mundo | 11

Suíça

Tribunal suíço suspende proibição de culto em Genebra Arquidiocese de Genebra

JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

Um tribunal suspendeu na quinta-feira, 3, a proibição de cultos públicos no cantão suíço de Genebra, considerada uma das medidas mais amplas que restringem reuniões religiosas públicas na Europa. A Câmara Constitucional do Cantão de Genebra emitiu a ordem depois que cidadãos preocupados impuseram um desafio legal à proibição introduzida em 1º de novembro pelas autoridades locais que buscavam prevenir a disseminação do coronavírus. Os serviços religiosos públicos agora podem ser retomados na cidade de Genebra e áreas vizinhas até que o tribunal profira sua decisão final sobre a proibição. O tribunal indicou que a contestação legal tinha grandes chances de sucesso. A corte também observou que as autoridades não conseguiram demonstrar que os locais de culto eram responsáveis pelos surtos de COVID-19 no cantão. Steve Alder, o advogado que abriu o caso, argumentou que a ordem era discriminatória porque a cidade permitia que outras reuniões públicas ocorressem. “Fazer com que o decreto seja cumprido é uma violação do direito à liberdade de religião, protegido pela constituição suíça e pelos padrões internacionais de direitos humanos. Ele visa, desproporcionalmente, às atividades de grupos religiosos sobre as atividades comerciais”, destacou. “Com vários grupos religiosos em Genebra expressando suas preocupações sobre a desproporcionalidade da proibição, esperamos que as autoridades cheguem a um acordo sobre uma solução que proteja o direito de todos de praticar sua religião de acordo com o direito internacional. A suspensão da proibição é um passo bem-vindo nessa direção.”

MEDIDAS LEGAIS As medidas de 1º de novembro proibiram todos os serviços religiosos

LIBERDADE RELIGIOSA Jennifer Lea, assessora jurídica do grupo de direitos humanos ADF International, que apoiou a contestação legal, descreveu a suspensão como “um passo significativo na direção certa”. “A liberdade religiosa é um direito humano fundamental e os governos que procuram restringi-la carregam o ônus de provar que a restrição é realmente necessária e que uma abordagem menos restritiva não funcionaria”, disse. “Favorecer estabelecimentos comerciais em vez de serviços religiosos não é apenas discriminatório, mas ignora a proteção robusta que existe na legislação

Jovens disseminam a doutrina católica com criatividade

nacional e internacional para a liberdade religiosa”, completou. Genebra é um dos 26 cantões, ou divisões administrativas, que constituem a Confederação Suíça e tem uma população de quase meio milhão de pessoas. A região de língua francesa, localizada no sudoeste da Suíça, foi o coração da Reforma Calvinista. Samuel Sommaruga, em cujo nome foi interposta a ação judicial, disse: “As restrições aos direitos fundamentais devem ser sempre proporcionais e comprovadas como verdadeiramente necessárias. Dado que outras reuniões públicas ainda são permitidas, não vemos a proporcionalidade desta restrição, uma vez que visa a atingir grupos religiosos de forma discriminatória. É por isso que decidimos contestá-la no tribunal”. “Temos esperança de que os tribunais acabem por reconhecer isso como uma violação dos direitos fundamentais e que seja encontrada uma solução que proteja os direitos de todos os cidadãos da Suíça e defina uma boa referência para o restante da Europa”, concluiu.

Os jovens egípcios que se juntam à “Família de Santo Tomás de Aquino” afirmam que sua intenção é testemunhar a glória de Cristo. Para isso, desejam dar uma contribuição específica com um amplo conjunto de iniciativas destinadas a promover a redescoberta, o estudo e a difusão da teologia e da espiritualidade católicas nas suas características essenciais. O grupo de jovens leva o nome do “Doutor Angélico” para expressar sua devoção ao grande santo dos Dominicanos. Eles estão percorrendo um caminho único de “retorno às fontes” e, ao fazê-lo, estão também a serviço do ecumenismo e da plena comunhão com os irmãos de outras igrejas. A “Família de Santo Tomás de Aquino” recebeu um importante reconhecimento durante a primeira Conferência sobre Educação Cristã, organizada em novembro pela Agência Egípcia de Mídia Católica e pelo Centro Cultural Franciscano, no Cairo, capital do país. Os jovens membros da “Família de Santo Tomás de Aquino” dão os primeiros passos no campo da pesquisa científica e acadêmica sobre temas eclesiásticos, com o objetivo de divulgar, por meio de brochuras informativas – até agora 45 foram publicadas –, os ensinamentos e a Doutrina da Igreja Católica. Os membros da “Família” também animam conferências e encontros em paróquias de todo o país, encenam peças de teatro com conteúdo cristão e promovem acampamentos de estudantes. Devido à suspensão de muitas iniciativas por causa da pandemia, a “Família” se propôs a utilizar as redes sociais, sobretudo para divulgar pequenos vídeos mostrando os conteúdos dos filmes lançados pelo Padre franciscano norte-americano Casey Cole. (JFF)

Fonte: ACI Digital

Fonte: Agência Fides

Após suspensão de medida governamental, missas são retomadas em igrejas em Genebra

públicos, exceto funerais e casamentos com um número estritamente limitado de comparecimento. As igrejas foram autorizadas a permanecer abertas para orações privadas. Os líderes religiosos locais emitiram uma declaração conjunta em 27 de novembro, expressando “profundo pesar” pelas autoridades locais não terem relaxado as medidas que regulam o culto público. Após a suspensão da ordem, a Igreja Católica em Genebra disse que as missas públicas seriam limitadas a 50 pessoas e respeitaria as medidas para prevenir a transmissão de COVID-19, como o distanciamento social e o uso de máscaras.

Egito


12 | Reportagem/Fé e Vida | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Cônego Raphael Peretta: 50 anos de dedicação e entrega ao serviço sacerdotal Luciney Martins/O SÃO PAULO

FLAVIO ROGÉRIO LOPES

osaopaulo@uol.com.br

Ele nasceu em 22 de março de 1937, na zona rural de Caçapava (SP). Na infância, para ir à escola, precisava andar 12km diariamente. Na juventude, trabalhou em plantações de arroz e na criação de gado, e, somente após o período do serviço militar, sentiu o despertar para a vocação sacerdotal. Seu grau de instrução, porém, era um empecilho. Diariamente, após o horário de trabalho no campo, que começava ainda na madrugada, o jovem decidiu ir em busca do seu sonho e aproveitava as duas horas noturnas em que durava o combustível da lamparina para estudar por correspondência. Concluídos os estudos, Raphael Emygdio Peretta entrou para o seminário. E o que era apenas um sonho, após a superação dos obstáculos socioeconômicos, tornou-se realidade e, há 50 anos, o Cônego desempenha seu ministério sacerdotal, já tendo passado por diversas paróquias na Arquidiocese de São Paulo. Aos 83 anos, foi contemplado com a Medalha São Paulo Apóstolo na categoria “serviço sacerdotal”, em novembro.

O INÍCIO “O Jornal da Diocese de Taubaté anunciava um encontro vocacional. Apresentei-me e fui bem-sucedido nas provas, sendo que naquela época se costumava ir para o seminário ainda criança. Após o término da convivência e das provas, o reitor me chamou e disse que, com meus 20 anos, já estava maduro e me direcionou para o Seminário da Freguesia do Ó, em São Paulo, que acolhia apenas adultos”, enfatizou em entrevista ao O SÃO PAULO. Quando jovem, realizou parte dos seus estudos de Filosofia em Aparecida (SP) e os concluiu na Arquidiocese de São Paulo, onde também cursou Teologia, no Seminário do Ipiranga. Seu diretor espiritual no período dos estudos foi o Padre Geraldo Majella Agnelo, hoje Cardeal e Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Salvador da Bahia.

Cônego Raphael Peretta tem vida marcada por atuação em paróquias e na formação sacerdotal

Na cerimônia de entrega da medalha, Cônego Raphael manifestou sua gratidão à Igreja em São Paulo por acolher sua vocação e a todos aqueles que ajudaram na sua formação sacerdotal. “Graças a Deus, tive ótimos mestres que, como instrumentos de Deus, lapidaram-me. Não é nada meu. É dom de Deus que eu recebi por meio das orientações dos meus formadores”, disse.

SACERDOTE PARA SEMPRE Sua ordenação presbiteral foi realizada no dia 6 de dezembro de 1969, na Catedral da Sé, pelas mãos do Cardeal Agnelo Rossi, então Arcebispo de São Paulo. Sua primeira Paróquia foi a Nossa Senhora da Livração, no Jardim Brasil, na Região Episcopal Santana, onde permaneceu durante 18 anos, o que marcou profundamente a sua vida, devido à

convivência e proximidade com os paroquianos. “A casa paroquial era pequena e modesta, e naquela época era muito difícil encontrar um telefone. Consegui um aparelho para ficar à disposição da comunidade e a porta sempre ficava aberta para os fiéis fazerem suas ligações. Morava com minha mãe e, sempre após as missas, os fiéis vinham tomar café na casa paroquial. Era muita familiaridade e aconchego mútuo. A casa paroquial não era minha, mas de todos”, recordou. Na Paróquia Nossa Senhora da Livração, o Cônego também contou com o auxílio de religiosas que contribuíram para a criação de uma creche, que atendia crianças que se alimentavam e contavam com reforço no contraturno escolar. Segundo o Sacerdote, a ligação com a comunidade era muito forte, e mais de 500 crianças carentes eram atendidas nos dois núcleos do projeto.

GRATIDÃO PELA CAMINHADA No dia 17 de maio de 1985, ele foi nomeado Cônego Catedrático do Cabido Metropolitano de São Paulo, pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo. O Sacerdote foi capelão no Mosteiro da Luz, atuou como Pároco na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Aclimação, e na Paróquia São Gabriel, no Jardim Paulista. Atualmente, colabora na Paróquia São Joaquim, no Cambuci, na Região Episcopal Sé. Cônego Raphael Peretta também atuou durante anos na formação de sacerdotes e diáconos na etapa da Teologia, e enfatizou que durante toda a sua missão plantou as sementes com o coração sempre aberto, rezando para que o Senhor da messe as fizesse crescer. “Vejo toda a minha vida como uma grande bênção de Deus. Devo muito à minha família por ter me dado todas as minhas virtudes. Mesmo com pouco conhecimento, minha família sempre contribuiu com o meu desejo de servir a Deus com muita disposição. Todos os dias, agradeço por tanta bondade de Deus na minha vida, mais do que mereço”, concluiu. (Texto feito sob a supervisão de Daniel Gomes)

Você Pergunta Como assegurar a comunhão para os celíacos? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

Recebi esta pergunta da Fátima, do bairro de Pirituba. “Tenho doença celíaca e não posso ingerir nada que contenha glúten. E tenho dúvidas quanto à hóstia. O que fazer? Depois de consagrada, ela deixa de ser pão, mas será que devo olhar somente o lado espiritual?”

Minha querida irmã, sua pergunta me fez buscar uma saída não só para você como para todos os que são celíacos, isto é, que não podem ingerir glúten, que faz parte da composição da farinha de trigo. E a Igreja é taxativa: farinha sem glúten não produz o pão correto para a Eucaristia. E, na consagração, o pão mantém todas as características de pão, mudando somente a sua substância.

E agora? Como fazer para que os celíacos comunguem? Comungar o pão eucarístico não é possível, porque correm risco de vida. Por outro lado, eles têm o direito à comunhão. Veja, então, o que eu encontrei num texto de orientação para os que têm a doença celíaca. A pessoa com essa doença deve pedir ao seu médico um documento que a ateste e levar tal comprovante ao padre

que, como bom pastor, certamente irá facilitar o acesso à comunhão do vinho consagrado. Afinal, como ensina a Igreja, tanto no pão quanto no vinho consagrado está presente Jesus, com seu corpo, sangue, alma e divindade. De minha parte, se algum celíaco for à igreja, pode ficar tranquila, Fátima, pois irá comungar do vinho consagrado.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Papa Francisco | 13

Papa convoca o ‘Ano de São José’, que irá até dezembro de 2021 REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Para celebrar os 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica – em 8 de dezembro de 1870, por meio do decreto Quemadmodum Deus, do Beato Pio IX – o Papa Francisco convocou na terça-feira, 8, o “Ano de São José”, com a publicação da carta apostólica Patris corde (Com coração de Pai). Francisco afirma que São José é “o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida”, mas que tem “um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. O Pontífice lembra que São José é aquele que, confiante no Senhor, acolhe na sua vida os acontecimentos que não compreende com um protagonismo “corajoso e forte”. Na carta apostólica também é ressaltado que São José “sabe transformar um

problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”; e que, como protetor de Jesus e de Maria, “não pode deixar de ser o Guardião da Igreja”, da sua maternidade e do Corpo de Cristo: todo necessitado é “o Menino” que José continua a guardar e de quem se pode aprender a “amar a Igreja e os pobres”, escreve o Papa. Destaca-se também que o honesto carpinteiro aponta ao mundo o valor da dignidade do trabalho, um tema de atenção mundial, especialmente diante da crise financeira provocada pela atual pandemia. Nesse contexto, o Papa pede a todos que se empenhem para que não falte o trabalho a ninguém. A carta apostólica Patris corde é acompanhada da publicação do Decreto da Penitenciaria Apostólica, que anuncia que no “Ano de São José”, a ser encerrado em 8 de dezembro de 2021, haverá a concessão do “dom de indulgências especiais”. (Com informações de Vatican News)

Vatican Media

Papa Francisco: São José tem ‘um protagonismo sem paralelo na história da salvação’

A embaixadores, um pedido de diálogo e colaboração sinceros e respeitosos Gustavo Catania Ramos

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na manhã da sexta-feira, 4, no Vaticano, o Papa recebeu alguns embaixadores junto à Santa Sé, entre os quais os da Jordânia, Cazaquistão, Zâmbia, Dinamarca e Índia. O Papa afirmou que os grandes desafios surgiram neste ano mesmo antes da pandemia: “Era claro que 2020 seria um

ano caracterizado por urgentes necessidades humanitárias, devido a conflitos, violência e terrorismo em várias partes do mundo”. Foram salientadas pelo Santo Padre as crises econômicas, que causam fome e migrações em massa, e as alterações climáticas, que ocasionam penúrias e secas. Os mais atingidos pela pandemia, que são os pobres e os mais vulneráveis, também são de especial preocupação de Francisco.

Toda a crise mundial, segundo o Pontífice, recorda que estamos “na mesma barca, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários, todos chamados a remar juntos, todos necessitados de nos confortar mutuamente”. Diante desse quadro, o Papa pediu “um diálogo e uma colaboração sinceros e respeitosos”, que sejam capazes de “unir-nos ao enfrentar as graves ameaças que recaem sobre o nosso planeta e

hipotecam o futuro das jovens gerações”. Francisco salientou o papel da Santa Sé na comunidade internacional como promotora do bem comum global, que leva em consideração os aspectos antropológicos, éticos e religiosos das questões que dizem respeito às pessoas e aos povos. “Faço votos de que a atividade diplomática de vocês como representantes de suas nações junto à Santa Sé favoreça a ‘cultura do encontro’”, concluiu.

Primeira viagem apostólica do ano que vem será para o Iraque Entre 5 e 8 de março de 2021, o Papa Francisco visitará o Iraque, após 15 meses sem realizar visita apostólica alguma. A notícia foi dada pelo Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, na segunda-feira, 7.

O Papa visitará Bagdá, a planície de Ur, ligada a Abraão, a cidade de Erbil, bem como Mossul e Qaraqosh, principal cidade cristã do país, na planície de Nínive. O itinerário será divulgado mais adiante, levando em consideração a pandemia.

Francisco já havia manifestado seu desejo de visitar o país em junho de 2019, em uma reunião com entidades caritativas: “Eu penso constantemente no Iraque – para onde quero ir no ano que vem – na esperança de que ele poderá enfrentar o

futuro por meio de uma busca pacífica e comum do bem comum por parte de todos os elementos da sociedade, incluindo religiosos, sem cair novamente em hostilidades causadas pelos conflitos que eclodem entre os poderes regionais”. (GCR)


14 | Geral | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

VAMOS SONHAR JUNTOS o convite do Papa à humanidade Divulgação

Em novo livro, Francisco reflete sobre como transformar a crise atual em oportunidade de buscar a união e ‘um futuro melhor’ Daniel Gomes e Filipe Domingues

osaopaulo@uol.com.br

O momento atual é de grande provação. Na visão do Papa Francisco, porém, é também uma oportunidade para cada um se deixar tocar pelo sofrimento, se dispor ao serviço do outro e trabalhar por um bem maior, o bem comum. “Este é o momento para sonhar grande, para repensar nossas prioridades – o que valorizamos, o que queremos, o que buscamos –, nos comprometermos com as pequenas coisas e para transformar em realidade o que sonhamos”, diz ele no livro “Vamos sonhar juntos: O caminho para um futuro melhor”, lançado no dia 1º pela editora Intrínseca. Nessa longa quarentena, observa o Pontífice, cada um pôde viver uma “Covid-pessoal”, que é um momento de isolamento e dor, mas também uma pausa para analisar aquilo que precisa mudar em sua vida. “Se permitimos que o sofrimento nos mude, saímos melhores. Se nos fechamos, no entanto, ficamos piores.” Além da crise visível da COVID-19, há outras mazelas que se referem a todos nós: a fome, a violência e a mudança climática. No ano em que a humanidade foi sacudida pela pandemia, o Papa apresenta este livro – a partir de uma entrevista concedida ao jornalista e escritor britânico Austen Ivereigh – como um convite para observar as realidades, escolher prioridades e agir para a edificação de um mundo melhor.

Descentrar e transcender Em duas palavras, o Papa responde à pergunta “E agora, o que devo fazer?” Elas são “descentrar e transcender”, diz. A primeira, afirma Francisco, quer dizer fazer uma espécie de “peregrinação” espiritual, isto é, deixar nossas convicções pessoais de lado por um momento, abandonando velhas “formas de pensar e agir”, para depois voltar à própria vida e observá-la com olhos diferentes. Assim como um peregrino parte em uma jornada e retorna à casa renovado, é possível “descentrar”, deixar de ser o próprio centro. Já “transcender”, comenta o Papa, é buscar a energia além da realidade material. “Leia o Evangelho, se for cristão. Ou apenas crie um espaço dentro de si mesmo para escutar. Se abra… se descentre… transcenda.” E, depois, é possível agir no mundo, mostrando-se próximo de pessoas e movimentos já existentes, que buscam renová-lo. Ver, escolher, agir O livro é dividido em três partes – tempo de ver, tempo de escolher e tempo de agir –, nas quais o Papa faz um diagnóstico sobre os problemas atuais, discerne e interpreta o que há de bom e mau, propondo linhas de ação. O primeiro passo, diz ele, é olhar para as realidades, na busca de uma resposta de esperança. Uma das atitudes é ir às periferias, não apenas para sentir as carências do povo, mas para descobrir “as alianças que lá estão sendo feitas, para apoiá-las, estimulá-las”. Outra é dignificar aqueles que durante a pandemia es-

colheram colocar a vida em favor do próximo, como os profissionais da área da Saúde, sacerdotes e religiosos. O Papa alerta que o narcisismo, o desânimo e o pessimismo impedem “o crescimento, a conexão com a realidade e, especialmente, a entrada do Espírito Santo”; critica a cultura do descarte, bem como a indiferença; e estimula a busca de caminhos para que os hoje excluídos se tornem protagonistas das transformações sociais. “Precisamos voltar a sentir que necessitamos uns dos outros, que somos responsáveis pelos outros, inclusive pelos que ainda não nasceram e pelos que ainda não são considerados cidadãos”, diz ele. Francisco reflete sobre o modo como as mídias foram usadas para bons ou maus propósitos durante a pandemia, enaltece as ações de uma Igreja que se reinventou – “foi um testemunho extraordinário” – e lembra que a maioria dos governos “fizeram grandes esforços para priorizar o bem-estar do seu povo, atuando com determinação para proteger a saúde e salvar vidas”. Ele indica que a humanidade, ao não aceitar os limites impostos pela natureza, passou a ser subordinada à tecnologia e, fazendo alusão à encíclica Laudato si’ (2015), aponta que “o futuro que somos chamados a construir precisa começar com uma ecologia integral, que leve a sério a deterioração cultural e ética que caminha de mãos dadas com a nossa crise ecológica”.

Reorganizar a vida O Papa Francisco indica pistas para se reorganizar os modos de vida atual, tais como a disposição em servir e ser solidário, ter capacidade de reflexão e silêncio, orar para ouvir o chamado do Espírito e cultivar o diálogo. O momento é de escolher a fraternidade ao individualismo, trabalhando em união e “convidando todos a contribuir, a partir de suas diferenças, como uma comu-

nidade de irmãos preocupados uns com os outros”. As escolhas também devem ser feitas à luz dos princípios da Doutrina Social da Igreja: a opção preferencial pelos pobres, a busca do bem comum, a destinação universal dos bens, a solidariedade e a subsidiariedade. Segundo o Pontífice, é preciso resistir aos fundamentalismos e buscar o discernimento, que “nos permite mudar de contextos e situações específicas enquanto seguimos em busca da verdade”.

Abrir-se para o outro Essa postura se contrapõe ao que Francisco chama de consciência isolada, pela qual os grupos tomam suas convicções como a verdade e passam a criticar os demais, um mal do qual, segundo o Pontífice, a Igreja não está imune. “A indignação da consciência isolada começa no irrealismo, passa por fantasias maniqueístas que dividem o mundo em bons e maus (com eles [os de consciência isolada], naturalmente, sempre ao lado dos bons), e termina em diversos tipos de violência verbal, física etc.”, afirma. Francisco indica, ainda, que é preciso enfrentar a tentação do reducionismo simplista e o relativismo, e ter a coragem de abrir-se aos conflitos, a fim de que a partir das contraposições surjam soluções conjuntas para o benefício de todos. Nesta perspectiva, o Papa afirma que a Igreja oferece a experiência da sinodalidade. “A abordagem sinodal é algo de que nosso mundo tem muita necessidade hoje. Em vez de buscar o confronto, declarando guerra, com cada um dos lados esperando derrotar o outro, precisamos de processos que permitam expressar as diferenças, escutá-las e fazê-las amadurecer, para assim podermos caminhar juntos, sem necessidade de aniquilar ninguém”, afirma, recordando as experiências dos sínodos da Família (2014 e 2015) e da Amazônia (2019). Ele ressalta que o caminho sinodal é caracterizado pela “atenção àquilo que o Espírito Santo tem a nos dizer”. Ações concretas Além de “descentrar e transcender”, que são ações individuais que cada pessoa pode buscar, o Papa reflete sobre questões concretas coletivas, como a necessidade de se prover “terra, teto e trabalho” a todas as pessoas. O fio condutor desse raciocínio é a ideia de se “pertencer a um povo”, algo que, em sua visão, foi apropriado por linhas “populistas”, que buscam se servir do povo e não “ao povo”. Francisco defende que se recupere o espírito de pertencimento a um grupo maior, o povo – algo que os cristãos compreendem ao falar do “povo de Deus”, um coletivo que, embora não homogêneo, tem uma raiz, sua história compartilhada. Em suas palavras, “nos disseram que a sociedade é apenas uma amálgama de indivíduos, cada um buscando os próprios interesses; que a unidade das pessoas é uma mera fábula; que somos impotentes frente ao poder do mercado e do Estado; e que o objetivo da vida é o lucro e o poder”. Em vez disso, a pandemia nos mostra que é preciso “recuperar nossa memória”. Isso se faz “indo ao encontro dos outros, olhando os olhos, os rostos, as mãos e as necessidades daqueles que nos rodeiam e assim também descobrir nosso rosto, nossas mãos cheias de possibilidades”.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 9 a 15 de dezembro de 2020 | Fé e Vida | 15

Liturgia e Vida

A Solenidade da Imaculada Conceição

3º Domingo do Advento 13 de dezembro de 2020

Alegrai-vos! Fernando Geronazzo

GUSTAVO CATANIA RAMOS

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX publicou a bula Ineffabilis Deus, em que define solenemente o dogma da Imaculada Conceição, que ensina que Nossa Senhora, desde o primeiro momento de sua concepção, foi livre da mancha do pecado original. O Papa, ao proclamar o dogma, não pretendeu criar uma nova doutrina; ao contrário, esmerou-se, por meio daquela bula, em demonstrar em detalhes como essa verdade está contida na Revelação deixada por Cristo e como ela sempre foi crida pela Igreja. A proclamação de um dogma tem como objetivo esclarecer alguma verdade de fé mal compreendida ou, mesmo, esquecida. A comemoração litúrgica da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro, foi instituída pela primeira vez pelo Papa Sisto IV, em 1477. Entretanto, a verdade de fé de que Nossa Senhora foi preservada do pecado original se fundamenta, antes de tudo, nas Sagradas Escrituras e no testemunho dos Padres da Igreja, que foram os teólogos e mestres cristãos do começo do Cristianismo, cujos escritos são essenciais para se estabelecer o que sempre foi crido pela Igreja. Pio IX menciona na bula algumas imagens do Antigo Testamento que se referem a Nossa Senhora e já antecipavam o grande milagre de sua Imaculada Conceição. A primeira imagem é a da Arca de Noé, que passou incólume pelo dilúvio que atingiu toda a humanidade. Se o dilúvio é a imagem do pecado, sob o qual toda a humanidade ficou presa, a Arca é a imagem de Nossa Senhora, que se salvou do naufrágio do pecado. Outra prefiguração de Maria do Antigo Testamento é a Escada de Jacó, que ligava o céu e a terra e em cujo topo estava o Senhor; ou, mesmo, a Sarça Ardente, que ardia, “por todos os lados, em chamas crepitantes, contudo não se consumia nem sofria dano algum, mas continuava a ser bem verde e florida”. O testemunho mais claro acerca do dogma da Imaculada Conceição no Antigo Testamento, entretanto, é encontrado logo no início da história da Salvação, quando Deus amaldiçoa a serpente que havia induzido Adão e Eva ao pecado, dizendo: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). A descendência da mulher que salvou a humanidade do pecado é Jesus. Portanto, a mulher a que se refere a passagem é Maria, que terá “inimizade”, isto é, nenhuma semelhança com a serpente, o Diabo. Se há uma total inimizade entre a serpente, autora do pecado, e a Mulher, Nossa Senhora, não poderia ter tido,

Dogma da Imaculada Conceição foi definido pela bula Ineffabilis Deus, do ano de 1854

nem que por um brevíssimo segundo, o pecado original, já que ele nos tende ao mal e a uma amizade com o Diabo. Essa realidade foi expressa também pelo anjo Gabriel na Anunciação, quando chamou Maria de “cheia de graça”. Com essa saudação, o anjo afirmava que em Maria havia uma plenitude da graça de Deus. Onde há luz, não há trevas; e onde há a graça, não há pecado. Os homens nascidos com o pecado original, por mais que se santifiquem e vivam na graça, não podem ser chamados de “cheios de graça”, porque a santidade é uma luta constante contra o pecado, na qual haverá quedas. Apenas no céu os santos estarão totalmente livres de qualquer tendência para o mal. Se Maria foi chamada de “cheia de graça”, é porque, já nesta vida, viveu plenamente na graça. No Magnificat, Nossa Senhora expressou a singularidade de sua missão e da graça que Deus lhe dera: “O Poderoso fez em mim maravilhas e Santo é o seu nome”. Com isso, segundo Pio IX, Maria demonstrava a singular missão que recebeu de Deus. Santo Irineu, padre da Igreja do século II, chamou Maria de a Nova Eva. Como Eva, Maria era virgem. E, como Eva, Maria foi criada sem nenhuma mancha do pecado original. Eva, porém, ao dar ouvidos à serpente, um anjo caído, e desobedecer a Deus, foi a causa do afastamento da humanidade de seu Criador. Maria, entretanto, ao dar ouvidos ao anjo Gabriel, obedeceu a Deus e permitiu que o Salvador viesse salvar o gênero humano. “Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva tinha amarrado pela sua incredulidade Maria sol-

tou pela sua fé”, escreveu Santo Irineu. Afirmar, porém, que Nossa Senhora, desde o primeiro instante de sua concepção, não teve a mancha do pecado original não significa afirmar que ela não precisou ser salva por Jesus, como o resto dos homens, que são salvos quando os méritos atingidos por Cristo são aplicados a cada um em particular. Maria foi também salva por Jesus, mas antecipadamente. Deus, Senhor do tempo, aplicou os méritos futuros que Cristo obteria a Nossa Senhora, não deixando que ela se sujasse na lama do pecado. Quando somos batizados, Deus nos lava de toda sujeira que o pecado deixou em nós. No caso de Maria, Deus não permitiu, antecipadamente, que ela se sujasse. Deus realizou esse importante milagre em Maria em virtude de sua grande vocação, que era ser Mãe de Deus e porta de entrada do Salvador a este mundo. Todas as vezes que Deus nos pede alguma coisa ou nos dá certa vocação, Ele também nos concede os meios para sermos fiéis a elas. Quanto mais difícil e importante a missão, mais graças Ele concederá. Se Maria recebeu a maior e mais importante vocação entre todas, a de ser a Mãe de Deus, mais dons e privilégios deveria receber para corresponder ao seu chamado. No momento da Anunciação, Deus deixou nas mãos de Maria o destino de toda a humanidade. Somente após ela ter dito seu “sim” é que Jesus Se fez homem. Dessa forma, em 8 de dezembro, comemoramos esse grande privilégio concedido a Nossa Senhora, e pedimos a sua intercessão para que vençamos o pecado e busquemos, com afinco redobrado, permanecer e crescer na graça de Deus.

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA O Evangelho, que significa “boa notícia”, é um convite à alegria. Para anunciar à Virgem Maria a vinda de Cristo, o arcanjo Gabriel cumprimentou-a dizendo: “Alegra-te, cheia de graça!” (Lc 1,28). Jesus comparou o perdão dado por Deus à alegria experimentada por um pai que reencontra o seu filho perdido. Encorajando-nos a suportar as tristezas deste mundo em vista da vida eterna, Ele exortou: “Alegrai-vos e exultai, pois grande será a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12). Há uma alegria estável, própria da fé em Cristo, que possui raízes na consciência da proximidade de Deus. Ele fez-se homem; trouxe-nos o perdão; está na Eucaristia; habita a alma em graça; e promete-nos a vida eterna! Podemos dizer com todo o coração: “Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus” (Is 61,10)! Por essa razão, a antífona inicial do “Domingo Gaudete” nos pede: “Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4,4s). O estado de ânimo momentâneo pode ser condicionado pelas circunstâncias melhores ou piores da vida, por fatores do temperamento ou mesmo pela saúde psíquica. Para além disso, contudo, podemos encontrar, no fundo da alma, uma alegria espiritual discreta e constante. Ela será muitas vezes o sustento para a luta cotidiana e a força para se seguir adiante. Quando sentirmos faltar a alegria, é preciso meditar as palavras de São Paulo: “Estai sempre alegres! Rezai sem cessar. Dai graças em todas as circunstâncias, porque esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Jesus Cristo. Não apagueis o espírito!” (1Ts 5,16ss). “Rezar sem cessar” é o que faz com que o espírito não se apague. A oração cotidiana renova, como um bálsamo, a unção da alma e permite enxergar os acontecimentos com os olhos de Deus. Aqueles que conseguem passar o dia em diálogo com o Senhor, pensando Nele, adorando-O e oferecendo-Lhe suas obras, encontram uma alegria muito mais fina e duradoura que aquela oferecida por uma boa comida, pelo descanso ou outros prazeres sensíveis. Em especial, é preciso “dar graças em todas as circunstâncias”. Há quem se afunde, por ingratidão, em um estado de ânimo tenebroso. Tem os olhos viciados, direcionados ao mal. Vê razões para se lamentar em tudo, e vai se tornando incapaz de reconhecer (e agradecer) as inumeráveis coisas boas (grandes ou pequenas) que Deus e os outros lhe fazem. Acaba por perder a liberdade interior e a alegria… Não! É preciso dar graças em tudo, “esta é a vontade do Senhor”! Para se reencontrar a alegria, é preciso também ser generoso com Deus e com os outros. Quando nos comprometemos a servir e pensar nos demais, os motivos de lamentação vão gradativamente desaparecendo; diminuem os sentimentos de autocompaixão; e esquecemonos de nós mesmos. Afinal, “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35). Com um olhar mais “de Deus”, reconhecendo que Ele está perto, veremos a verdade destas palavras de Cristo: “A vossa tristeza se transformará em alegria” (Jo 16,20).


16 | Geral | 9 a 15 de dezembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Presépio nas casas: ‘suave e exigente processo de transmissão da fé’ Daniel Gomes e Jenniffer Silva

osaopaulo@uol.com.br

Montar o presépio em casa “estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”, escreve o Papa Francisco, na carta apostólica Admirabile signum (Admirável sinal AS), de 2019.

Francisco aponta que “o presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria” (AS,10). Este ano, a Comissão Nacional da

Fotos: Arquivo pessoal

O presépio da vovó Após o almoço de domingo, Ana Filomena Silveira Faleiros Garcia, 61, e o esposo, Luiz Fernando, 63, reuniram os cinco netos, as duas filhas e os genros para manter viva uma tradição: a montagem do presépio, ou melhor, dos presépios, oito ao todo, sem contar aqueles que a vovó não desmonta nunca. A cena daquele 29 de novembro, o primeiro dia do Advento, fez Ana Filomena recordar a própria infância, pois sua avó paterna deixava ao lado do presépio um pires, para arrecadar doações que eram revertidas em favor de pessoas em situação de rua. Na lembrança também estava sua avó materna, de quem ganhou o presépio que montou naquele dia, com a especial ajuda dos netos mais velhos, Lamis, 7, e Joaquim, 5. A cada peça colocada, um pequeno diálogo sobre a fé. “Eu perguntei para a Lamis: ‘Você sabe quem são eles?’; ‘Eu sei! Esta é Maria, aquele é Jesus’. O pai dela é egípcio, de família muçulmana, e no começo do ano eles lá estiveram. Então, perguntei: ‘E o que aconteceu com essa família depois?’; ‘Foram para o Egito’, ela respondeu. Sempre aproveito o que já sabem para pontuar coisas que servem para a evangelização”, recordou Ana Filomena. Os mais novos, Vicente, 3, Laila, 3, e

Pastoral Familiar realiza a campanha “Minha família acolhe o Menino Jesus”, mediante a qual estimula que as famílias montem o presépio e compartilhem nas redes sociais fotos e vídeos do ambiente preparado, usando a hashtag #presepioemcasa. O SÃO PAULO apresenta a seguir como duas famílias fizeram da montagem do presépio um momento também catequético em preparação para o Natal deste ano.

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. Veja a seguir algumas das mais recentes publicações: Coro da Catedral de Notre-Dame fará apresentação de Natal https://cutt.ly/bhETnS6 Advento: tempo de preparação para a vinda do Menino Deus https://cutt.ly/khETEwE Beato Carlo Acutis inspira canção em escola secundária norte-americana https://cutt.ly/LhETTVD Arquidiocese de Paris

Luiz Fernando e Ana Filomena com os 5 netos, que os ajudam na montagem do presépio a cada Natal, uma tradição que atravessa gerações

Matias, 1 ano e 6 meses, puderam manusear um presépio de brinquedo. “Ficaram no monta e desmonta, mas já é um primeiro contato. O presépio para as crianças ainda é uma questão muito lúdica, e eles entendem esse colorido que o Natal traz como algo de partilha”, afirmou a avó, que integra a Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Paulo. Para ela, montar o presépio em casa neste ano de pandemia tem o especial sentido de manter a confiança em Deus

Governo da França revisa limitação de pessoas em missas https://cutt.ly/dhETOBC

nas adversidades, assim como foi com Maria e José quando do nascimento de Jesus. “José fez o melhor que podia para o cuidado com Maria, e ela, no seu silêncio, também fez o melhor. Neste ano de pandemia, é isso que precisamos aprender com o presépio: agir sem desespero e com a certeza que tudo concorre para o melhor, pois Deus é o centro da nossa vida”, concluiu. (DG)

Campanha ‘Natal Solidário’ arrecada livros para crianças e adolescentes carentes https://cutt.ly/whETSwr Rede Mundial de Oração do Papa torna-se fundação vaticana https://cutt.ly/XhETHMF Empresários cristãos de Brasil e Portugal terão diálogo on-line sobre a proposta da ‘Economia de Francisco’ https://cutt.ly/3hE7wlE

Quantos dias faltam para Jesus nascer? As peças estavam espalhadas pela casa e o objetivo era reunir todos os itens para formar a imagem da representação do nascimento de Jesus. A missão, contudo, não poderia ser finalizada, pois faltava o personagem principal da história: o bebê ainda não havia sido encontrado e colocado na manjedoura. A mãe, então, explicou que o dono da festa só chegaria no dia de seu nascimento, em 25 de dezembro. O relato de Thaís Fernandes, 30, evidencia a ansiedade de seu filho, Bernardo, 3 anos, para a chegada da noite de Natal, momento aguardado por toda a família ao longo deste tempo do Advento. Ela e o esposo, Felipe Rodrigues, que também são pais de Augusto, 4 meses, decidiram usar a criatividade para vivenciar com toda a família este período de preparação. Moradores de Brasília (DF),

Arquivo pessoal

Felipe (com o bebê Augusto) e Thaís explicam ao filho mais velho, Bernardo, o sentido do Natal

os pais utilizam-se de brincadeiras, artesanatos e contação de histórias para ensinar ao filho mais velho sobre a vida de Jesus, do nascimento à ressurreição.

Juntos, além do presépio, eles montam a árvore de Natal, iluminam a casa, confeccionam cartinhas para os avós e acompanham um calendário numérico

com os dias do Advento e conteúdos sobre cada data específica: “Em tudo, envolvemos explicações sobre a passagem bíblica e a simbologia do que estamos fazendo”, contou Thaís. A experiência, segundo ela, tem sido um momento de aprendizagem sobre o real sentido da data e uma oportunidade de dialogar com o filho sobre valores como solidariedade, paciência e generosidade, implícitos na própria história do Natal. Thaís acredita que o principal objetivo das atividades foi alcançado justamente no momento em que Bernardo sentiu a ausência do Menino Jesus na manjedoura. “Eu achei bonito essa espera e emocionei-me ao perceber que para ele o Natal significa Jesus. Todo dia, o Bernardo acorda perguntando sobre os dias que faltam para Jesus nascer”, afirma a mãe. (JS)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.