O São Paulo - 3333

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3333 | 10 a 17 de fevereiro de 2021

Editorial No diálogo proposto pelos cristãos, busca-se sempre a verdade e o bem Página 4

Encontro com o Pastor

www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00

Assistir os doentes: ‘O amor em Cristo é capaz de curar’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Curar a doença e exercer a proximidade e solidariedade com os enfermos Página 2

Espiritualidade Que as relações interpessoais incluam as ações de cuidado aos doentes Página 5

Comportamento Construam a ‘memória oculta’ dos filhos com fatos de compreensão e amor Página 7

Papa Francisco: ‘A fraternidade é a nova fronteira à humanidade’ Na comemoração da “Jornada da Fraternidade Humana”, no dia 4, o Pontífice enfatizou que “não há mais tempo para a indiferença”. Página 17

Eparquia Maronita no Brasil abre jubileu de 50 anos de criação Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Dia Mundial do Enfermo foi criado em 1992, por São João Paulo II, para dar atenção especial às pessoas doentes e àqueles que as assistem

Na quinta-feira, 11, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, também é comemorado o 29º Dia Mundial do Enfermo. Na mensagem publicada para a data, o Papa Francisco refletiu sobre a proximidade e a relação de confiança na base do cuidado dos doentes. Assistir os enfermos é uma das obras de mise-

ricórdia da vida cristã, que tem seu fundamento no exemplo do próprio Jesus nos evangelhos e não se limita aos profissionais da Saúde, mas começa no âmbito familiar, quando se lida com doenças prolongadas dos entes mais próximos. Página 15

CF Ecumênica reforça que dialogar é o caminho para a paz

Na Quaresma, também é tempo de bem cantar a liturgia

Página 16

Página 8

Semana Catequética alcança 90 mil visualizações on-line Página 20

Na ‘fila da marmita’ em São Paulo, os mais pobres esperam pela única refeição do dia

A comunidade católica de rito maronita celebrou, no domingo, 7, a abertura do ano jubilar pelo cinquentenário de instituição da Eparquia Nossa Senhora do Líbano, que atende os fiéis libaneses e seus descendentes em todo o Brasil.

Na Praça Floriano Peixoto, em Santo Amaro, na zona Sul, o número de pessoas que todo dia aguarda pelas marmitas oferecidas pela Prefeitura de São Paulo cresce diariamente. São moradores em situação de rua, pessoas que perderam o emprego com a pandemia, outros que não contam mais com os recursos do auxílio emergencial do governo federal e aqueles que mesmo antes da atual crise já não encontravam meios para o próprio sustento e de suas famílias, conforme mostra O SÃO PAULO em reportagem especial.

Página 14

Páginas 10 e 11

Imagem de São Marun, patrono dos maronitas

Cláudia Pereira

Na Praça Floriano Peixoto, na zona Sul de SP, muitos comem a única refeição que terão no dia


2 | Encontro com o Pastor | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

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o dia 11 de fevereiro, a Igreja celebra, todos os anos, o Dia Mundial do Enfermo. A data coincide com a comemoração litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, e não é sem motivos. O santuário edificado no lugar das aparições de Nossa Senhora à jovem Bernadette Soubirous se tornou meta de peregrinação para numerosos doentes de todo tipo de enfermidades, que para lá acorrem a fim de buscar a cura de seus males. E as histórias de curas milagrosas nas águas da fonte milagrosa do santuário são abundantes. O cuidado dos enfermos foi uma das principais ocupações de Jesus, como narram os Evangelhos. São Marcos, de maneira especial, mostra como os doentes são levados a Jesus em grande número, aonde quer que Ele chegasse para anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus. Ainda no domingo, dia 7 de fevereiro, lemos como Jesus curou a sogra de Pedro e, no anoitecer daquele dia, “levaram a Jesus todos os doentes e possuídos pelo demônio. Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios” (Mc

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Cuidar do doente e curar a doença 1,33-34). Os milagres, sobretudo as curas, são sinais de que o Reino de Deus chegou. Cuidar dos doentes também foi uma das missões que Jesus deu aos apóstolos, quando os enviou em missão (cf. Mc 16,18). E foi o que os apóstolos e discípulos fizeram desde logo: anúncio do Evangelho, celebração da Eucaristia e cuidado dos enfermos são ações que aparecem juntas com muita frequência nos textos da Igreja dos tempos apostólicos. Também nos séculos seguintes, até os nossos dias, a Igreja dedicou especial atenção aos doentes. Ela aprendeu isso de Jesus e levou a sério, desde logo, a sua ordem. Por isso, também em nossos dias, há tanta insistência no cuidado dos doentes, quer de maneira organizada, por meio da Pastoral dos Enfermos, quer de maneira pessoal. Nem poderia ser diferente. A pessoa doente faz a experiência da sua fragilidade e do próprio limite. Esse é um momento muito importante na vida, em que a pessoa é levada a se questionar sobre o sentido da vida e da morte, sobre Deus e a própria relação com as realidades sobrenaturais. A enfermidade é ocasião para se abrir a Deus e para crescer na fé; mas, também, pode ser ocasião para mergulhar nas trevas do desespero. A pessoa doente precisa de quem lhe

dê força e a ajude a enfrentar esse momento. Na sua mensagem para o Dia Mundial do Enfermo deste ano, o Papa Francisco recomenda algumas atitudes importantes no cuidado dos doentes: não apenas focar a cura da doença, o que é importantíssimo, sem dúvida. Podemos confirmar, com quanta ansiedade todos nós esperamos que a ciência e o zelo de quem toma decisões consigam, finalmente, vencer a pandemia de COVID-19 e a sua causa. Curar a doença é importantíssimo. Mas não existe apenas a doença, como tal: existem as pessoas doentes, e elas são muitíssimas e têm nome e rosto, muitos rostos! Sentem dores, desconfortos, angústias, esperanças; têm afetos, relações familiares e sociais, estão inseridas num contexto cultural, possuem histórias pessoais, projetos na vida, pertencem a um grupo, a um povo; creem em Deus, têm religião, ou talvez não... E aqui se abre um mundo de oportunidades para exercer a proximidade e a solidariedade para com os enfermos. Os profissionais da Saúde fazem a sua parte, mas o doente também precisa de outros cuidados, que que os profissionais da Saúde não têm como atender. O Estado, por meio de suas estruturas e políticas, tem o

dever de promover o melhor para a saúde dos cidadãos, mas ele não é pai nem mãe, não é irmão, marido ou esposa, avó, tio ou primo; não é padre, diácono, religiosa ou religioso, nem ministro da Sagrada Comunhão... O Estado não substitui a comunidade de fé, movida pelo mandato de Cristo e pelo amor ao próximo. Esse dever de proximidade humana e religiosa é nosso: dos cidadãos, parentes, vizinhos, amigos, colegas de trabalho, pessoas da comunidade que creem em Deus e rezam... O Papa recomenda a proximidade pessoal e comunitária em relação aos enfermos, que não precisa ser física, necessariamente. De muitas maneiras, podemos estar próximos dos enfermos e manifestar isso a eles. Imagino que uma das experiências mais dolorosas da vida seja a de se sentir abandonado e esquecido de todos durante a enfermidade. Mesmo com o necessário distanciamento físico, que a pandemia provocada pelo coronavírus nos impõe, é possível encontrar modos e gestos para manifestar a proximidade aos enfermos. Mais uma vez, trago as palavras do Papa: “Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor ela souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno”.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Secretaria de Redação: Jenniffer Silva • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Atos da Cúria | 3

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO:

pal Sé, o Diácono Seminarista Álvaro Moreira Gonçalves, pelo período de 01 (um) ano.

Em 03/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Vila Califórnia, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Francisco Reginaldo Henriques de Miranda, pelo período de 06 (seis) anos.

POSSE CANÔNICA:

Em 03/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Sagrada Família no bairro Vila Carrão, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Adilson Pinheiro da Silva, pelo período de 06 (seis) anos. Em 03/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Santíssima Trindade, no bairro Jardim Alto Alegre, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Gerson de França Silva, pelo período de 06 (seis) anos. Em 29/01/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Marcos Evangelista, no bairro Parque São Rafael, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Irénée (Irineu) Komlan Dossou, SVD, pelo período de 06 (seis) anos. Em 29/01/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro Jardim IV Centenário, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Bonifácio Issaka, SVD, pelo período de 06 (seis) anos. DECRETO DE PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 01/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima, no bairro Jardim Tremembé, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Roberto Fernando de Lacerda, até 15/02/2022. Em 01/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Rainha Santa Isabel, no bairro Casa Verde, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Paulo Homero Gozzi, até 15/02/2022. Em 01/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no bairro Casa Verde, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Cônego Antônio Aparecido Pereira, até 15/02/2022. Em 01/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santo Antônio, no bairro Lauzane Paulista, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre José Esteves Filho, até 15/02/2022. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 03/02/2021, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Carlos Borromeu, no bairro da Mooca, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Cônego Cesar Gobbo. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 03/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Carlos Borromeu, no bairro da Mooca, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre José Osterno de Aquino. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 27/01/2021, foi nomeado e provisionado Assistente Pastoral, da Paróquia Santa Cecília, no bairro Santa Cecília, na Região Episco-

Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São José Operário, no bairro Jardim Damasceno, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Gilson Feliciano Ferreira, SV. Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro Jardim Conquista, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Rodrigo Aparecido Domingues, MSC. Em 30/01/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Vila Nova Cachoeirinha, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Maurício José de Lima. Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Neves, no bairro Parque Vitória, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Carlos Alberto Doutel. Em 29/01/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro Jardim Vista Alegre, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Dorival Ferreira Leite, OCRL. Em 22/01/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia São Vicente de Palloti e São Pedro Apóstolo, no bairro Vila Antonina, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Daniel Max da Silva Ferreira, SAC. Em 29/01/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Santa Zita, no bairro Vila Maria Alta, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Carlos Alberto Doutel. Em 29/01/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro Jardim Vista Alegre, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Rogério Pires Rodrigues Braga, OCRL. Em 31/01/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Santa

Zita, no bairro Vila Maria, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Vinícius Matos Sampaio. Em 01/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Basílica de Sant’Ana, no bairro de Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Sulliver Rodrigues do Prado.

Convênio – Paróquia São Tomas More – Região Lapa Em 15/12/2020, foi assinado na Cúria Metropolitana de São Paulo, o Convênio entre a Arquidiocese de São Paulo e a Sociedade Joseleitos de Cristo para a Cura Pastoral da Paróquia São Tomás More, no bairro Vila Diva, Região Episcopal Lapa. Reprodução


4 | Ponto de Vista | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

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Editorial

Incentivando o diálogo quando ninguém parece querer dialogar

E

m 2021, temos mais uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, na qual participam várias confissões cristãs, além da Igreja Católica. O tema, “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, e o lema, “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14), não poderiam ser mais atuais. Vivemos, não só no Brasil, uma espiral crescente de indignação e frustração com os rumos da sociedade e a responsabilidade assumida pelos políticos. Tais sentimentos, infelizmente, acabam gerando raiva, agressividade e intolerância para com aqueles que pensam diferentemente de nós. Ouvimos, durante décadas, que o mundo caminhava no sentido de maior respeito à pluralidade, maior compreensão mútua e mais democracia. Os anos recentes, contudo, têm mostrado exatamente o quadro oposto. Com tudo isso, estamos cada vez menos predispostos ao esforço de

verdadeiramente encontrar o outro, dialogar com ele, buscar juntos as melhores soluções para os problemas sociais. Fechados cada vez mais em nossos “mundinhos”, tornamo-nos, também nós, mais agressivos e avessos ao diálogo. Por isso, torna-se mais importante do que nunca que nós, cristãos de todas as denominações, inspirados na mensagem de Jesus, busquemos o diálogo e o encontro entre nós e com todos os demais. O Papa Francisco, num discurso proferido na Jornada Mundial da Juventude (2013), no Rio de Janeiro, exorta a nós, brasileiros, a perceber que todos temos algo de bom para dar e podemos receber em troca algo de bom, desde que saibamos nos aproximar com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Muitos falam em pluralidade e respeito ao diferente, mas poucos têm essa real convicção de que algo de bom pode vir do encontro com o outro. Estamos mais preocupados

em convencer (quando não a forçar) nossos ouvintes a pensar como nós. O diálogo, porém, não pode ser vivido como uma tentativa disfarçada de doutrinar os demais. Também não é algo que só fazemos com aqueles que concordam com uma lista de pré-requisitos mínimos que estabelecemos inicialmente. Muitas vezes, descobrimos que pessoas aparentemente opostas a nós estão abertas a um diálogo franco e sincero. Se as rejeitássemos a priori, perderíamos importantes momentos de encontro. Outras vezes, o termo diálogo é usado para se referir a pactos políticos que não correspondem a um verdadeiro espírito cristão. Não são um mal em si. No mundo da política, pactos e acordos são necessários e inevitáveis. O diálogo proposto pelos cristãos, porém, baseia-se num encontro humano, em que cada um se abre para o outro e para a busca da verdade e do bem, que é mais profundo do que esses pactos circunstanciais e permite outros ainda mais eficazes.

Ao propor o diálogo e a confiança em seus frutos, o Papa está dando um testemunho de alguma coisa que tem vivido. Não está nos dizendo apenas “dialoguem porque Deus assim deseja”, mas, também, “dialoguem porque eu tenho dialogado e colhido os frutos desses diálogos”. Para vivermos esse espírito de diálogo, contudo, não podemos esperar que o outro dê o primeiro passo. Se todos esperam o sinal favorável do lado contrário, ninguém se move. Temos que ser aqueles que, movidos pela certeza que vem da experiência do encontro com Cristo, vamos ao encontro dos demais. Com certeza, haverá quem não corresponderá a nosso gesto, mas também existirão muitos que, de forma até inesperada, responderão ao nosso convite, dialogando e fazendo um sincero encontro humano conosco. E, quando isso acontecer, nossa alegria e nossa gratidão a Deus serão radiantes – é o que testemunham aqueles que fazem essa experiência de diálogo.

Opinião

Ele nos chamará ‘Amigo!’

Arte: Sergio Ricciuto Conte

DENER LUIZ DA SILVA “Amigo” – a palavra de Jesus de Nazaré, na parábola do Dono da Vinha, que dá uma moeda de prata a todos os empregados, independentemente se chegaram às 7h ou às 17h. “Amigo”: também é com essa palavra que Jesus se dirige a Judas no momento em que ele O trai. Imaginem, chama de “amigo” aquele que o trai, uma traição de morte! Amigo! Temos um amigo! Deus se faz amigo. O valor da amizade está amplamente testemunhado nos livros sapienciais (Provérbios, Eclesiástico, Eclesiastes). Uma das frases mais impressionantes nesses livros é esta: “O verdadeiro amigo ama em todos os momentos, e se torna irmão em tempos de aflição” (Pr 17,17). Mas o que é a amizade? Quem são nossos amigos? Como termos certeza de que alguém é nosso amigo? E nós, como sermos verdadeiros amigos? Um amigo é algo que é a mesma coisa na infância, adolescência ou fase adulta? Haveria uma gênese da amizade? Parece que sim. Estudos mostram que entre irmãos há um olhar e uma amizade para além do olhar para os pais. Se, antes, acreditava-se que havia apenas a influência vertical (adulto-criança) no desenvolvimento humano, hoje sabemos que ter irmãos, mais velhos

ou mais novos – e mesmo para aqueles que são filhos únicos, ter um(a) amigo(a) a quem considere como irmão –, inaugura uma relação de tipo horizontal (criança-criança) fundamental, que pode, em muitos casos, ser tão ou mais importante que as relações verticais. Assim, somos introduzidos neste tipo específico de relação humana desde pequenos. Nas relações com os adultos (relações verticais), esperamos certos benefícios e modos de existir, a confirmação de que “vale a pena ter vindo ao mundo, pois somos

desejados”. Nas relações horizontais, com os irmãos e amigos, desdobram-se outras expectativas. Dos irmãos e amigos, não esperamos o sustento, tampouco proteção incondicional. Com os irmãos-amigos, aprendemos a “ser com eles”, ou seja, a enfrentar os obstáculos, a nos localizar na realidade em toda sua estrutura! Com os amigos, somos educados a “olhar para fora”, admirar-nos. André, filho de João, irmão de Simão Pedro, assim que sentiu que estava realmente diante do Messias, aquele de quem a Tradição tanto fa-

lava e esperava, correu para casa e contou a novidade ao irmão. Este, por sua vez, acolheu prontamente o testemunho. Eram amigos, trabalhavam juntos, cuidavam um do outro em um ambiente relativamente hostil aos pobres e judeus de segunda ordem (pescadores e trabalhadores braçais). Simão confiava em André! Uma amizade se faz com convívio, zelo, carinho e cuidado mútuo. Nasce do reconhecimento de uma atração por uma forma de viver e agir no mundo que nos corresponde, da qual podemos ser cúmplices – do latim complicare – com (junto) e plicare (dobrar): dobrar junto, fazer junto. Foi assim com os discípulos e Jesus. Ele os cativou humanamente. Não era uma autoridade externa, imposta. Era autoridade “de dentro para fora”, ou seja, que correspondia às exigências mais profundas de nosso coração. Fazia coisas e convidava os amigos a agir junto com Ele (não por, nem para). Convidava a ser cúmplices em uma maneira nova de estar no mundo, de se relacionar com o Mistério, com Deus. Em um mundo como o nosso, repleto de “likes”, “seguidores”, “amigos”, o que, de fato, você faz junto é o que determina sua amizade. E você, tem cuidado de sua amizade com Cristo? O que tem feito com Ele? Dener Luiz da Silva é professor de Psicologia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Dom Eduardo celebra 6 anos de ordenação episcopal Ruy Halasz

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No domingo, 7, na Catedral da Sé, Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu a missa das 9h em ação de graças pelo 6º ano de sua ordenação episcopal. Concelebraram os Padres Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral, e Aparecido Silva, Vigário-Geral da Região Sé e Pároco da Paróquia do Santíssimo Sacramento. Padre Baronto, na acolhida a Dom Eduardo, agradeceu a Deus a vocação e o ministério do Bispo e pediu que todos unidos rendessem graças a Deus

pelo aniversário de sua ordenação. Dom Eduardo, na homilia, relembrou os momentos decisivos de sua vocação, desde 1987, no Paraná, quando decidiu ser padre e pediu a autorização e o consentimento de seus pais para seguir para o seminário. Ele foi ordenado sacerdote no ano 2000 e recebeu a ordenação episcopal na Catedral da Sé em 7 de fevereiro de 2015. O Bispo destacou que Deus ama a todos e sente que o Senhor o ama também e que tem a missão de anunciar ao mundo o amor do Evangelho, indo ao encontro dos mais necessitados. Por fim, agradeceu ao Pai o tempo de sacerdócio e os anos de episco-

Pascom da Paroquia São Joaquim

[SÉ] No dia 2, o Padre José Donizeti Coelho, Pároco da Paróquia São Joaquim, Setor Pastoral Aclimação, presidiu missa na igreja matriz em ação de graças pelos 24 anos de sua ordenação sacerdotal, 20 dos quais nesta Paróquia, onde atua com dedicação, disponibilidade, responsabilidade e amor pelo seu ministério. (por Pascom da Paróquia São Joaquim – Igreja Nossa Senhora da Glória)

pado e pediu aos padres e leigos que proclamem o Evangelho em alto e bom tom em toda a Arquidiocese. Antes da bênção final, Padre Baronto recordou o cuidado de Dom Eduardo com os pobres na Semana Santa, na cidade de Jarinu (SP), a atenção com os mais necessitados de apoio espiritual na Região Sé, independentemente da condição social em que estejam; e, por último, o cuidado com o povo de Deus e as pastorais, como se viu diante da necessidade do fechamento das igrejas no início da atual pandemia e o incentivo à solidariedade em uma corrente de auxílio em favor das paróquias e dos mais carentes.

Pascom da Paroquia Santo Antônio da Barra Funda

Rui Ralasz

Dom Eduardo Vieira preside missa na Catedral da Sé, dia 7 Facebook da Paroquia Bom Jesus do Bras

[SÉ] Em missa na Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda, Setor Pastoral Bom Retiro, no dia 4, o Padre Luiz Claudio de Almeida Braga, Pároco, celebrou os nove anos de sua ordenação sacerdotal. (por Pascom paroquial)

[SÉ] Na Solenidade de São Brás, no dia 3, Dom Eduardo Vieira dos Santos presidiu missa solene na Paróquia Bom Jesus do Brás, após a qual houve procissão pelas ruas do bairro com a imagem do Santo. No retorno à igreja, o Bispo deu a bênção da garganta a todos os fiéis presentes, juntamente com o Pároco, Monsenhor Sérgio Tani, e o Padre Anderson Bernardes Banzatto, Pároco da Paróquia São Vito Mártir. (por Pascom paroquial)

Espiritualidade A Igreja e o dom do serviço aos doentes

DOM LUIZ CARLOS DIAS

E

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BELÉM

m 11 de fevereiro, a Igreja celebra o Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo II em 1992. Nesse dia, o calendário litúrgico católico faz memória de Nossa Senhora de Lourdes. Esta data marca o início das aparições da Imaculada Conceição numa gruta na localidade de Lourdes, na França, em 1858, a uma adolescente daquelas paragens chamada Bernadette Soubirous. As aparições de Lourdes estão relacionadas ao dom de curar enfermidades, pois, no dia 25 de fevereiro daquele ano, a testemunha das aparições, em atenção ao pedido daquela Senhora, cavou no chão da gruta e viu surgir uma nascente, cuja água curou várias pessoas. A Igreja reconheceu em 1860 a autenticidade das aparições, e o local passou a receber peregrinos de todo o mundo.

Desde a instituição do Dia Mundial do Doente, os pontífices costumam enviar uma mensagem exortando a Igreja ao serviço dos enfermos. Neste ano, o Papa Francisco escolheu como lema: “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Ele exorta para que o bálsamo da proximidade e das relações interpessoais de confiança perpasse ações de cuidado aos adoecidos. O Papa convida à vivência do “amor fraterno que em Cristo gera uma comunidade capaz de curar”. A comunidade não pode se descuidar do dom que lhe foi concedido por Jesus de “curar os enfermos”. Quanto ao sentido desta “cura”, Francisco esclarece no final da mensagem: “As curas realizadas por Jesus nunca foram gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que o dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde à fé de quem o acolhe”. Eis a razão pela qual o Senhor se despedia nesses encontros dizendo: “A tua fé te salvou”. A expressão “comunidade capaz de curar” (mensagem do Papa Francisco para o XXIX Dia Mundial do Doente, 3) deve ser entendida como exortação às paróquias para exercerem a missão imprescindível de cuidar dos enfermos, sobretudo no contexto da pandemia

de COVID-19, que requer isolamento dos infectados, com poucas pessoas no auxílio. Diante do perigo de contágio, os próprios ministros e visitadores paroquiais passaram a ter dificuldades de se aproximar desses doentes. Mesmo assim, Francisco enfatiza justamente o aspecto relacional para a “comunidade ser capaz de curar”. Certamente, o faz porque a proximidade é fundamental para as comunidades se exercitarem no serviço em termos samaritanos, sobretudo aos mais frágeis. O Evangelho da liturgia de domingo passado narrou Jesus curando a sogra de Pedro, com a aproximação e o gesto de tomá-la pelas mãos para ficar novamente de pé, em condições de retomar o seu serviço ao demais (cf. Mc 1,31). Nesse gesto de Jesus, vemos concretamente o que Francisco diz na mensagem sobre o serviço, em referência aos enfermos: “O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até ‘padece’ com ele e procura a promoção do irmão”. “Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas” (Francisco, Homilia em Havana, Cuba, 20/09/2015 – Mensagem aos Doentes, 2021). Esta citação também indica a preocupação

do Papa com o perigo da “hipocrisia de quantos dizem, mas não fazem” (Mt 23,1-12), e reduzem a fé a “exercícios verbais estéreis”. O mesmo aspecto relacional deve ser a baliza para a Pastoral da Saúde com os profissionais e voluntários que se ocupam dos adoentados e do seu acompanhamento no itinerário de recuperação. A relação de proximidade e estabelecimento de confiança e respeito no trato é fundamental para o enfermo sentir sua dignidade respeitada em momento de fragilidade, e até de dependência, por aqueles que o servem. No Dia Mundial do Doente, há que se lembrar dos milhares de brasileiros ceifados pela pandemia, lamentar o descaso de autoridades em disponibilizar condições adequadas para o tratamento dos atingidos pela COVID-19 e em disponibilizar com rapidez a vacinação para todos, e exigir mais compromisso e respeito pelo bem maior que é a vida. Roguemos a intercessão de Nossa Senhora de Lourdes pela saúde de todo o povo brasileiro, por comunidades empenhadas no cuidado dos enfermos, por atendimento humanizado e condições de tratamento de saúde dignas.


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belém

Comissão de Reflexão Pastoral planeja ações do ano

Pascom paroquial

6 | Regiões Episcopais | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

Arquivo pessoal

Fernando Arthur e Padre Marcelo Maróstica Quadro

[IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, deu posse, no sábado, 6, ao Padre Leocádio Zytkowski, CM, como Pároco da Paróquia São Vicente de Paulo, Setor Pastoral Anchieta, durante missa na igreja matriz, também celebrada em ação de graças pelos 25 anos da ordenação sacerdotal do Pároco.

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃO

(por Pascom da Paróquia São Vicente de Paulo)

Dom Luiz Carlos Dias se reúne com participantes da Comissão de Reflexão Pastoral, no dia 3

mília, dadas as limitações para a participação presencial nas missas. A comissão que irá elaborar este material, que será apresentado ao clero no dia 24 deste mês, é coordenada pelo Padre Thiago Faccini Paro.

Também foram pensadas estratégias para divulgar, animar e despertar interesse nas pastorais, comunidades e paróquias sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano.

CFE 2021 é tema de formação regional No sábado, 6, aconteceu uma formação on-line sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, com a assessoria do Pastor Eliel Batista e as participações do Padre Reuberson Ferreira, MSC; Márcia Castro, Flávio Castro, Peterson Prates e do Diácono Jorge Luiz Souza. Houve ainda uma mensa-

gem de Dom Luiz Carlos Dias aos mais de 4 mil internautas que acompanharam a atividade. Padre Reuberson enalteceu a participação de todos os que colaboraram com as reflexões e comentou sobre a apresentação da temática por meio de uma live. “Foi uma experiência nova,

com uma presença singular de pessoas atentas ao tema e à ideia da unidade, dialogando com o novo contexto social e, ao mesmo tempo, apresentando um tema relevante para a Igreja Católica, que é a questão da unidade nestes tempos de sociedade tão dividida”, avaliou. (FA)

IPIRANGA

Padre Boris assume a Paróquia Imaculada Conceição POR PASCOM DA PARÓQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO Em missa presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, no domingo, 7, tomou posse como Pároco da Paróquia Imaculada Conceição o Padre Boris Agustín Nef Ulloa. Dom Ângelo, na homilia, discorreu sobre as etapas daquela celebração e destacou que a Igreja reúne seu povo e coloca à frente dele pastores, como o Padre Boris: “É um povo de Deus que ao padre é confiado, para que o povo seja amado, seja servido e possa ser conduzido, à luz do Evangelho, ao encontro de Jesus”. Padre Boris já estava na Paróquia Imaculada Conceição como Administrador Paroquial e havia sido Pároco anterior-

Pascom da Paróquia Imaculada Conceição

Dom Ângelo dá posse ao Padre Boris, dia 7

mente, reassumindo a função exatamente na mesma data, sete anos após aquela primeira nomeação. Emocionado, o Sacerdote contou que pediu a bênção a seus pais que estão distantes, lembrou de sua irmã que é religiosa missionária no Egito e agradeceu a todos. “Por que a Igreja me confia tantas coisas se sou tão frágil, tão pequeno e tão im-

perfeito? Talvez seja por isso mesmo, para que não brilhe a ação humana, mas brilhe a força do Espírito, a graça de Cristo e o amor misericordioso do Pai. O bom filho à casa torna. A Virgem Imaculada que reina iluminada nesta igreja, nossa Mãe, intercederá por nós”, afirmou o Pároco. “Caríssimo Padre Boris, os desafios são grandes, mas tenha certeza de que o senhor nunca estará só. Como comunidade paroquial, carregaremos todos juntos a cruz que nos leva à alegria da ressurreição. Seja bem-vindo!”, resumiu a Irmã Maria Rosa, representante da Congregação das Irmãs de São José Cluny, em nome de todos os paroquianos. Essa missa pode ser assistida, assim como as demais podem ser acompanhadas por meio da página da Paróquia no Facebook (@imaculadaipiranga).

lapa

Curso de Teologia inicia com mais de 100 alunos Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Em 2021, o Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP) da Região Lapa completa 26 anos de existência, sempre formando e multiplicando evangelizadores. O corpo docente é composto por graduados, mestres e doutores altamente qualificados na área teológica e a coordenação é constituída por Dom José Bene-

dito Cardoso, Dom Fernando Penteado, Caci Amaral, Rosa dos Santos Ramicelli, Maria Ângela Palma Ribeiro, José Pavanelli Galbe e Jairo Fedel. Em conversa com a Pastoral da Comunicação da Região Lapa, José Pavanelli comentou que o objetivo do curso é oferecer condições para o esclarecimento, fundamentação e desenvolvimento da fé pessoal e comunitária, a fim de expressar o compromisso com

a missão evangelizadora na cidade. Uma nova turma do Curso de Teologia foi iniciada de modo on-line no dia 4. As aulas serão sempre às quintas-feiras, às 20h. A duração total é de 340 horas/aulas, distribuídas em nove semestres. Há mais de cem alunos inscritos, moradores da capital paulista, do interior e de outros estados, como Amazonas, Bahia, Ceará e Minas Gerais. Outras informações podem ser em www.facebook.com/CTAPOFICIAL.

Luiz Wagner Sipriani

Na manhã do dia 3, aconteceu a primeira reunião da Comissão de Reflexão Pastoral da Região Episcopal Belém, formada pelos padres coordenadores dos setores, a coordenação de pastoral da Região e presidida por Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região. Diante dos atuais desafios para a evangelização em razão da pandemia, a Comissão aprofundou a importância de trabalhar a Igreja nas casas. Em vista de um planejamento de curto prazo, será elaborado um subsídio de oração para a Semana Santa a ser feita em fa-

[LAPA] Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu missas na Paróquia São Francisco de Assis, no Jaguaré, Setor Pastoral Butantã, no dia 30 de janeiro, quando crismou 22 adultos, e no sábado, 6, para conferir o sacramento da Confirmação a 17 jovens (foto). Concelebrou o Padre Edilberto Alves da Costa, Pároco. (por Benigno Naveira)

[LAPA] No dia 2, na Cúria da Lapa, aconteceu a primeira reunião do ano do clero atuante na Região. Na ocasião, o Padre João Deschamps apresentou a proposta da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. Dom José Benedito Cardoso falou sobre o Ano de São José. Lembrou, ainda, o empenho que se fará para comprar um terreno e construir a nova igreja matriz para a Paróquia São José do Monte Alegre, que há muitos anos sofre com problemas das enchentes. O Bispo encerrou a reunião reforçando o pedido para a participação no Encontro do Clero Arquidiocesano, que será realizado no dia 18 deste mês. (por Benigno Naveira)

[Brasilândia] No sábado, 6, aconteceu a formação regional on-line sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, acompanhada ao vivo pelo Facebook da Pastoral da Comunicação da Brasilândia por cerca de 2,4 mil pessoas. Organizada pela equipe regional da CF, a formação foi assessorada pelo Cônego Antonio Manzatto, que ressaltou a dimensão ecumênica desta edição da campanha e a importância do mútuo cuidado entre os irmãos. Ele lembrou que “o que nos une é o diálogo sobre as diferenças” e ressaltou que dialogar é a chave para a construção da fraternidade. (por Jorge Vicente)


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Pascom da Basílica de Sant’Ana

[SANTANA] No dia 1º, o Padre Sulliver Rodrigues do Prado foi apresentado por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, como Vigário Paroquial da Basílica Menor de Sant’Ana, durante missa concelebrada pelo próprio Sacerdote e pelos Padres José Roberto Abreu de Mattos, Reitor; Antonio de Pádua Santos; Eduardo Augusto de Andrade e Ricardo Cardoso Anacleto, com a participação dos Diáconos Permanentes José Jindarley Santos da Silva e Leandro Pereira Duarte. (por Pascom Santana)

Pascom da Paróquia Nossa Senhora da Candelária

[SANTANA] Foi concluída no dia 2 a festa da padroeira da Paróquia Nossa Senhora da Candelária, Setor Pastoral Vila Maria, que foi precedida de uma novena preparatória. A Mãe que traz em seu colo a Luz do mundo, e que em muitas homilias foi lembrada como exemplo de perseverança, humildade e missionariedade, foi levada em procissão no último dia da festa pelas ruas da Vila Maria. A abertura da novena foi presidida por Dom Jorge Pierozan. Já o Pároco, Padre Octaviano Pinto da Silva, SCJ, presidiu a missa de encerramento, concelebrada pelo Padre Ronaldo Rodolfo Ferreira, SCJ. Também participou o Diácono Permanente Marcelo Reis. (por Pascom da Paróquia Nossa Senhora da Candelária)

[SANTANA] No domingo, 7, os fiéis da matriz da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação e da Capela São José, no Setor Pastoral Vila Maria, participaram da missa de despedida do Padre Antonio José Laureano de Souza, até então Pároco. (por Fernando Fernandes)

Comportamento ‘Memória Oculta’ VALDIR REGINATO Você se recorda de quando nasceu? Ou, quem sabe, dos dois primeiros anos de vida? Talvez alguém se recordará de algo marcante aos 3 anos. Aos 4, encontraremos “retratos” da memória pouco nítidos para uns e melhores para outros. Aos 5, já seremos capazes de recordar a casa, alguns lugares em que moramos, pessoas com quem convivíamos mais frequentemente. Este é o caminho da maioria das pessoas, podendo existir casos excepcionais. No entanto, se chegamos aqui é porque, certamente, passamos pelos primeiros anos da vida. A memória é um capítulo complexo do estudo da mente, no seu aspecto fisiológico e psicológico. Não é nosso intuito seguir por aí. Contudo, reconhecer que o que vivemos, desde que passamos a existir, está “guardado” em nós é fato. Mesmo antes do nascimento, por técnicas de hipnose, se alcança uma memória gestacional, em alguns casos. Este armazenamento está no que podemos denominar uma “memória oculta”. Memória, porque é um registro do que vivemos; oculta, porque não está livremente acessível ao nosso consciente. Em uma maneira mais simples: você não se lembra, mas você viveu e registrou. Recordo-me dos tempos de faculdade, quando passava na enfermaria, na qual ficavam crianças muito pequenas que tiveram a infelicidade de sofrer queimaduras muito extensas, que permaneceriam, infelizmente, como cicatrizes para sempre no corpo, sem sequer com a reparação por uma cirurgia plástica realizada por exímio cirurgião. As crianças cresceriam com as

cicatrizes, sem saberem, sem recordarem o que provocou aquilo. Faço uma correlação física com eventos que poderão “queimar” a pessoa, não no seu corpo, mas em episódios emocionais, vivências psicológicas, agressões percebidas. A diferença que estas não ficam reveladas na pele, mas se manifestarão no comportamento futuro. O contrário ocorre se uma criança pequena é acolhida carinhosamente pelos pais e irmãos. Recebida com afeto. Apresentada ao mundo conforme a capacidade de suas percepções. Introduzida na realidade, respeitando-se os seus limites de perturbação sonora e visual. Conhecendo pessoas novas à medida que se sente segura com a mãe. Tudo isso vai contextualizando uma memória agradável, que, sem ser recordada, influenciará decididamente no seu desenvolvimento futuro. Interessante notar que, sem ter aprendido conceitos do amigo e do carrancudo, do alegre e do agressivo, do barulhento e do harmonioso, o bebê manifesta seu sorriso (linguagem universal) nas condições que são compatíveis com o belo, o bom, o amoroso. Pelo contrário, é capaz de chorar da careta brava, do barulho, do agressivo. Alguém diria: “É lógico”. Por quê? Porque fomos criados para conviver com o bem que acolhe, que está sintonizado com o amor. O estado natural da criança é sorrir. Se chora, é porque foi assustada, a fralda suja incomoda, a fome chegou... O maior sentido da criança nos primeiros meses está na pele, no tato, pelo qual ela sente a presença física do toque, a segurança de quem a aperta nos braços carinhosamente. Este é o seu canal de comunicação.

Penso que o amigo leitor percebe a importância da memória oculta em cada um de nós. Assim como das consequências que se seguem desta percepção. Às vezes, não entendemos certos medos, sem explicação aparente. Não faz sentido certas manifestações de repulsa numa criança maior ou mesmo em um adolescente, diante de seus pais, que hoje vivem um clima amigável (mas que não foi assim no passado). Uma tristeza sem causa da jovem que, sem saber, havia sido rejeitada ainda no ventre materno de sua gestação. Os exemplos compõem uma lista sem fim, e também não podemos afirmar serem estes os únicos responsáveis pelo comportamento futuro, evidentemente. Portanto, pais, estejamos atentos aos primeiros dias, semanas e meses de nossos filhos. Sei o quanto isto é difícil, ou quase impossível a muitos pais. Peço aos avós que façam o seu papel, sempre que possível, com esforço pessoal, para oferecerem uma atmosfera de família. Mães, procurem uma gestação com ambiente tranquilo, e sem barulhos. Conversem com o bebê mesmo antes de nascer. Falem do amor que sentem e da alegria pela sua chegada. Se possível, adiem o retorno ao trabalho, pelo tempo máximo possível da licença. Cada mês, nesta etapa da vida, que passarem mais juntos, dará uma grande diferença futura. Construam uma “memória oculta” com fatos de carinho, paciência, compreensão, alegrias, amor... e seus filhos terão uma maior possibilidade de manifestar isto, quando forem adultos, em atitudes de amor ao próximo. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com

Fé e Cidadania Campanha da Fraternidade Ecumênica: da nova evangelização à Igreja em saída MARCELO CYPRIANO MOTTA Neste ano, temos mais uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). Essas campanhas vêm incorporar ao movimento ecumênico, de modo muito próprio, um ecumenismo da fraternidade, em ação, no qual prevalece o testemunho e o anúncio do Evangelho, voltado para atender às necessidades da sociedade. Nessa linha, no texto-base da atual campanha, a misericórdia é transversal, o que será objeto dos próximos artigos. No ano 2000, como prenúncio de uma nova evangelização – e, hoje, de uma “Igreja em saída” –, sete Igrejas cristãs, membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) – entre as quais a Igreja Católica Apostólica Romana, representada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) –, promoveram em conjunto a primeira Campanha da Fraternidade Ecumênica. A iniciativa foi um impulso benéfico para o anúncio do Evangelho no Brasil, cuja índole ecumênica promovia, ademais, a fraternidade e a comunhão das Igrejas cristãs. Já em 1979, a CNBB concluiu que, propondo-se construir a fraternidade, a CF não podia prescindir – “o futuro dirá”, deixava em aberto o documento – de uma dimensão ecumênica, o que veio a se realizar como intuição ou profecia no contexto do Grande Jubileu do ano 2000. São João Paulo II escreveu a carta apostólica Tertio millennio adveniente (1994), em preparação ao jubileu, exortando à unidade cristã e a oportunas iniciativas ecumênicas, como caminho para a superação das divisões do segundo milênio. Também, na encíclica Ut unum sint (1995), sobre o ecumenismo, o Papa renovava o compromisso ecumênico da Igreja Católica. Em resposta, a CNBB elaborou o projeto de evangelização “Rumo ao Novo Milênio” (PRNM, 1996-2000), que exortava à “recepção criativa” – desde então, neste início do terceiro milênio, seja a criatividade apostólica, missionária e ecumênica a nos guiar: também na “forma celebrativa” (PRNM, 179). Nesse espírito, houve a sugestão de se realizar uma CF Ecumênica no ano 2000 (PRNM, 141), como uma forma privilegiada de celebrar o Grande Jubileu, que mais tarde, pela condução do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, então secretário-geral da CNBB, foi assumida integralmente pelo Conic, com o tema “Dignidade Humana e Paz” e o lema “Novo milênio sem exclusões”. Tal amplitude no tema oferecia a base para um anúncio comum e universal dos cristãos no início do novo milênio e augurava a meta das futuras campanhas ecumênicas; oferecia, enfim, o “ecumenismo da fraternidade”. Um fruto do jubileu, portanto, foi a descoberta da natureza ecumênica da CF e a sedimentação do caminho para sua realização quinquenal pelas Igrejas-membro do Conic, em conjunto. O liame da paz e da fraternidade conduziu a Campanha de 2000 à CF Ecumênica 2005, com o tema “Solidariedade e Paz” e o lema “Felizes os que promovem a paz” (Mt 5,9), sendo esta “um evento da maior importância no lento, mas irreversível, caminhar das Igrejas cristãs em busca de reconciliação e paz. Ela encarna uma maneira evangélica de construir a comunhão cristã, permite avaliar o real envolvimento das Igrejas no movimento ecumênico e põe à prova a possibilidade de um novo paradigma da missão cristã no mundo contemporâneo”. Marcelo Cypriano Motta, advogado, contemplado com a Medalha “São Paulo Apóstolo” em 2018, atua na “Promoção da Cultura da Misericórdia”, no Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.


8 | Geral | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

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Arquidiocese realiza formação litúrgico-musical para a Quaresma Fotos: Reprodução da internet

A liturgia dos domingos da Quaresma e as antífonas da comunhão (Ano B)

Formação litúrgico-musical tem a participação do coro da Catedral da Sé, de Dom José Benedito Cardoso e do Padre Luiz Baronto, no sábado, 6

Atividade, feita de modo on-line, ressaltou a preparação que deve haver para cantar a liturgia na Igreja no tempo quaresmal Daniel Gomes

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Os cuidados com o canto litúrgico para o período da Quaresma foram tratados em uma formação on-line, no sábado, 6, promovida pela Comissão Arquidiocesana de Liturgia e transmitida pelo canal do YouTube da Catedral da Sé. Mais de 800 pessoas, de diferentes partes do Brasil, acompanharam em tempo real a atividade, que teve a assessoria do Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, Cura da Catedral e redator do folheto litúrgico Povo de Deus em São Paulo, com as participações de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial da Comissão Arquidiocesana de Liturgia; e do maestro Delphim Rezende Porto, regente do coro da Catedral. No início do encontro, foi exibida uma mensagem de vídeo do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. Ele exortou que sempre se aprimore mais o canto litúrgico nas celebrações. “Nós não cantamos na liturgia, mas, sim, cantamos a liturgia. Desse

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA A Associação Civil Gaudium et Spes-AGES com sede provisória nesta cidade, rua Aliança Liberal, 703 Vila Leopoldina, por meio de seu presidente, Pe. José de Assis Batista, CONVOCA seus associados para a Assembleia Extraordinária, no dia 25 de Fevereiro de 2021, as 20:00 horas, na Rua Aliança Liberal, 703 com a seguinte ordem do dia: 1) Eleição e posse de nova diretoria (em virtude da renúncia do atual presidente será eleita a nova diretoria) 2) Alteração de Endereço da Filial – SAI DOM FERNANDO JOSÉ PENTEADO CNPJ -50.059.070/0012-46 3) Alteração do Nome de Fantasia da Filial – SAI DOM FERNANDO JOSÉ PENTEADO para SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INICIAL – SÃO JOSÉ 4) Assuntos diversos A Assembleia Geral instalar-se-á em primeira convocação às 20:00 horas com a presença da maioria dos associados e, em segunda convocação ás 20:30 horas, com qualquer número, de acordo com o estatuto. Pe. José de Assis Batista Presidente

modo, cantar nas celebrações significa se colocar no espírito da celebração, conhecer o momento celebrado e a ocasião que se celebra”, afirmou, complementando que tais cantos devem estar de acordo com cada tempo litúrgico. Itinerário batismal e penitencial Padre Baronto explicou, inicialmente, que tudo o que se realiza na liturgia da Quaresma ocorre em função da Páscoa. “É a observância da Quaresma, ou seja, a participação reverente, piedosa e obediente, que nos fará chegar à Páscoa com o coração purificado”, afirmou, ao recordar a oração feita na celebração da Quarta-feira de Cinzas, quando tem início o tempo quaresmal. O Cura da Catedral fez menção aos pontos 109 e 110 da constituição conciliar Sacrosanctum concilium, para recordar que o Batismo e a Penitência são os aspectos fundamentais da Quaresma, assim como a orientação para que os cristãos sejam mais frequentes na escuta da Palavra de Deus e na oração. Ele lembrou que estes aspectos devem ser considerados para a escolha e a preparação dos cantos litúrgicos na Quaresma. Ao longo do encontro, Padre Baronto detalhou a dimensão batismal presente na liturgia dos cinco domingos da Quaresma deste ano litúrgico (Ano B) e foram entoadas pelo coro da Catedral, regido pelo maestro Delphim, as antífonas dos cantos de comunhão dessas celebrações (veja ao lado). O Cura da Catedral também comentou que, além das comunidades se organizarem para o sacramento da Penitência, é possível realizar na Quaresma outros momentos penitenciais, nos quais não há absolvição sacramental, como as celebrações da Palavra, as vias-sacras, a maior atenção aos enfermos e a oração das vésperas quaresmais. A proposta é de uma penitência quaresmal que não seja apenas interna e individual, mas, também, externa e social. Esse chamado é feito de modo especial pela Campanha da Fraternidade (CF), que indica aos cristãos quem é o próximo que mais sofre e precisa de maior atenção. O Sacerdote comentou, porém, que de modo algum a temática da CF deve sobressair à celebração da Quaresma.

Recomendações práticas O maestro Delphim lembrou aos participantes que é necessário ensaiar devidamente os cantos que serão entoados, para que se ressalte a mensagem do texto litúrgico. “Como cantores, a nossa prioridade deve ser a de levar o texto às pessoas. Assim, o acompanhamento do órgão precisa ser muito discreto. O ritmo da música deve ser quase como o ritmo da fala. Vamos deixar de lado as referências que temos de ritmo, a fim de deixar o ritmo do texto aparecer, para, assim, potencializar a Palavra de Deus de modo musical”, comentou o maestro, destacando, ainda, que se deve ter mais preocupação com aquilo que se canta do que com o canto em si. Fazendo menção ao missal romano, Padre Baronto comentou que na Quaresma o órgão e os demais instrumentos musicais devem apenas sustentar o canto, à exceção do 4º Domingo – o Domingo da Alegria – ou se houver festas e solenidades litúrgicas neste período. “É um tempo de sobriedade dos instrumentos. Eles devem estar mais reclusos, ser apresentados sem tanta efusividade”, detalhou. O Cura da Catedral lembrou, ainda, que músicos e cantores precisam participar das reuniões preparatórias da liturgia. “A Sacrosanctum concilium diz que a liturgia é um só ato de culto, de modo que a música não é um apêndice, não é um enfeite ou foi feita para animar a liturgia. Ela é parte integrante, assim como a homilia e as leituras”, afirmou. Também o Padre José Henrique Weber, 88, ex-Assessor de Música Litúrgica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que atualmente colabora na São Paulo Schola Cantorum, observou que “na Igreja se canta a liturgia, o que é diferente de cantar na liturgia, pois neste caso se corre o perigo de cantar qualquer coisa, que pode não combinar com a vivência do tempo litúrgico”. As partituras musicais para a Quaresma deste ano já estão disponíveis para download gratuito no portal da Arquidiocese de São Paulo e podem ser acessadas pelo link a seguir: https://cutt.ly/tkm6vLP.

1º Domingo Tentação no deserto (Mc 1,12-15) Antífona: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Explicação: O deserto é lugar da tentação, mas também do encontro com Deus. Jesus, por meio da Palavra de Deus, afasta Satanás. 2º Domingo Transfiguração (Mc 9,2-10) Antífona: “Da nuvem uma voz se fez ouvir: ‘Eis meu Filho muito amado, nele está meu bem querer! Escutai o que ele diz!’”. Explicação: Na transfiguração, há o anúncio de que do escândalo da cruz se passará à alegria da Páscoa. Há o convite de que se escute o Mestre, pois assim fazem os discípulos de Jesus. 3º Domingo Expulsão dos vendilhões do templo (Jo 2,13-25) Antífona: “Destruí este templo, disse Cristo, e em três dias haverei de reerguê-lo. Ele falava do templo do seu corpo”. Explicação: Além da imagem da purificação da própria religião, o aspecto central é a explanação que Cristo faz sobre sua própria morte e ressurreição, algo que também acontecerá a todos os que acolhem a luz do Senhor. 4º Domingo O Filho do Homem elevado na cruz (Jo 3,14-21) Antífona: “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu filho único. Quem crê nele não perece, mas terá a luz da vida”. Explicação: Neste que também é conhecido como o Domingo Laetare (Domingo da Alegria), a Igreja faz o convite que todos se alegrem, pois a Páscoa está próxima. O madeiro da árvore do pecado (episódio de Adão e Eva) torna-se, agora, o madeiro da salvação, no qual o Filho do Homem será elevado na cruz. 5º Domingo Ressurreição de Lázaro (Jo 12,2033) Antífona: “Se o grão de trigo não morrer, caindo em terra fica só; mas se morrer dentro da terra, dará frutos abundantes”. Explicação: Para além da demonstração do poder de Jesus de trazer à vida Lázaro, está o anúncio de um sentido novo para a morte: ao morrer, o cristão experimentará de forma concreta a Páscoa. * Síntese a partir das explicações do Padre Luiz Eduardo Baronto na formação de 06/02


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Reportagem | 9

‘A vida contemplativa na clausura é um dom divino’ Irmã Maria José de Jesus, eleita, no dia 5, Priora do Mosteiro de Santa Teresa de Jesus, das Carmelitas Descalças, fala sobre o cotidiano no carmelo

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Arquivo pessoal

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na sexta-feira, 5, foi realizado no Mosteiro de Santa Teresa de Jesus, das Carmelitas Descalças, na zona Sul de São Paulo, o Capítulo Eletivo da nova Priora do Mosteiro, com a presença do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, representante da Igreja que legitima canonicamente a eleição, uma vez que o Mosteiro está sob jurisdição da Arquidiocese de São Paulo. Irmã Maria José de Jesus, 65, assume por três anos a missão de conduzir a comunidade na vivência da fé, da unidade, da proximidade fraterna e da consagração, seguindo as Regras do Convento. “É uma missão que assumo não como privilégio, mas como serviço a cada uma das irmãs da comunidade e com o desejo de, no pequeno colégio de Cristo, dar minha colaboração para a edificação do Reino de Deus e a fraterna convivência entre as monjas”, afirmou a nova Priora. Segundo as Constituições, o Capítulo Eletivo acontece a cada três anos e participam dele as monjas de votos solenes. Somente pode ser eleita para o ofício de Priora ou Superiora Maior uma religiosa que tenha completado 35 anos de idade e cinco de profissão perpétua. “Vamos caminhar juntas, como irmãs, unidas pela oração, alicerçadas na Palavra de Deus e alimentadas pela Eucaristia, trilhando os ensinamentos de Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja e padroeira do nosso mosteiro”, destacou a nova Priora, que conta com a colaboração de um conselho formado por quatro freiras e a participação colaborativa dos demais membros da comunidade. Atualmente, no Mosteiro vivem 25 irmãs, das

Irmã Maria José de Jesus, 65, é eleita Priora do Mosteiro de Santa Teresa, na zona Sul, em Capítulo Eletivo realizado na sexta-feira, 5

quais 18 são religiosas de votos perpétuos e sete noviças. Vocação Irmã Maria José de Jesus Magalhães nasceu na cidade de Rio Vermelho (MG), em 15 de outubro de 1956, no mesmo dia em que a Igreja celebra Santa Teresa de Jesus. A nova Priora é a primeira de sete filhos de José Gabriel e Maria Magalhães. “Deus plantou em meu coração a semente da vocação, sempre quis consagrar a minha vida a Cristo e aos irmãos. Nasci em um lar cristão, era engajada na vida pastoral da Paróquia”, disse a Religiosa, recordando a parábola do semeador (cf. Mt 13,1-23). Na juventude, movida pelo desejo de consagrar a vida, participou de encontros vocacionais em várias congregações. E, em meados de 1980, por ocasião da visita ao Brasil de São João Paulo II, conheceu o Carmelo da cidade de Santos (SP) e se apaixonou pelo carisma e pela missão. Ela ingressou na Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, no dia 16 de outubro de 1982, aos 26 anos, onde fez as primeiras etapas formativas: aspirantado, postulantado e noviciado. Professou os votos religiosos solenes em 1º de outubro de 1984, assumindo o carisma do Carmelo e a vida de silêncio, oração e clausura. “Sou muito feliz e realizada na minha vocação. Deus me escolheu para ser uma missionária sem sair do lugar. Dedico mi-

nha vida a Deus e aos irmãos, na oração contemplativa, em silêncio orante”, disse a Religiosa, que vive na clausura há 39 anos. Vida na clausura As religiosas convivem em fraterna comunhão. Todas com um mesmo ideal de vida: união com Cristo em Seu Sacrifício pelo bem da Igreja e da humanidade: “Sós com o Só”. A dinâmica de vida no claustro é pautada na experiência contemplativa da oração e trabalho, no silêncio às escondidas do mundo, contemplando e apresentando a Deus, diariamente, os pedidos e súplicas do povo de Deus. Há horários definidos para tudo. Elas despertam às 4h45. Das 5h às 6h, há a oração mental, seguida pelas Laudes. Às 7h, elas participam da Santa Missa, presidida pelo Capelão do Mosteiro, atualmente o Padre Vittorio Moregola. As Carmelitas rezam todas as horas do Ofício Divino (Liturgia das Horas) e no final do dia, após as Vésperas, segue-se mais uma hora de oração mental. Cotidianamente, destinam-se duas horas para o momento de recreio, no qual as religiosas partilham as experiências de vida e de oração e também contam suas dores e alegrias. O restante do dia é dedicado ao silêncio, conforme o ideal traçado por Santa Teresa de Jesus, na reforma do Carmelo. “A vida contemplativa na clausura é um dom divino. É uma experiência única de quietude, súplica, imolação, soli-

dão e sintonia com o Criador. Também é de comunhão profunda e íntima com as dores de Cristo, da Igreja e da humanidade”, detalhou Irmã Maria José de Jesus. História Em 1913, a pedido de Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo de São Paulo, as irmãs Regina da Imaculada Conceição e Maria do Sagrado Coração vieram do convento do Rio de Janeiro para reformar o Antigo Recolhimento de Santa Teresa, localizado na Praça da Sé. Desde então, o local passou a observar a Regra do Carmelo e a vida conventual das Carmelitas Descalças. Em 1918, as religiosas se mudaram para o bairro da Penha, na zona Leste, enquanto aguardavam a construção do novo convento das Carmelitas no bairro de Perdizes, o que só ocorreu em 1923. No local, foi também construída uma capela em estilo colonial brasileiro. Em 1946, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Arcebispo à época, fundou a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). As monjas cederam o terreno e o prédio para a implantação da universidade e o desenvolvimento de uma comunidade paroquial, e, assim, se transferiram para um novo mosteiro, construído na avenida Jabaquara, na zona Sul, onde permanecem até hoje. Desde 2015, o Mosteiro de Santa Teresa de Jesus é considerado patrimônio histórico da cidade de São Paulo.

Você Pergunta ‘Por que Jesus não ressuscitou São José, como fez com Lázaro?’ PADRE CIDO PEREIRA

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A pergunta é do Paulo de Moraes, do bairro do Campo Limpo: “Por que Jesus não ressuscitou São José, como fez com Lázaro?” Paulo, Paulo, a ressurreição de Lázaro, a ressurreição do filho da viúva de Naim, a ressurreição da filha do oficial romano foram apenas sinais, gestos de Jesus, para

mostrar a todos os que ali estavam presentes que Ele, Jesus, é a ressurreição e a vida e que quem Nele crê, mesmo que já tiver morrido, viverá. O próprio Jesus disse isso a Marta e Maria, lembra-se? O milagre de ressuscitar mortos, praticado por Jesus, como todos os demais milagres, era uma forma didática de fazer entender que Ele quis ser Deus conosco para nos mostrar o caminho do Pai a partir de nossa realidade.

Tanto é verdade isso, caro irmão, que tanto Lázaro quanto os demais ressuscitados por Jesus morreram de novo. Por meio deles, manifestou-se o poder de Jesus, que passou a certeza de que, como Ele ressuscitaria também após três dias, a nossa ressurreição no final dos tempos, ressurreição definitiva, com a vitória plena sobre a morte, acontecerá. Essa ressurreição final, definitiva, com a vitória total sobre a morte,

aconteceu com Jesus, e a Igreja afirma e ensina que já foi antecipada em Maria, sua mãe. Sua pergunta foi boa, Paulo, porque nos permite entender aquilo que São Paulo afirma sobre a ressurreição final, que nós proclamamos no Credo. São Paulo diz que, se não existe ressurreição, nós somos dignos de pena. Entretanto, como Jesus a garantiu, nossa esperança se torna certeza.


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Cláudia Pereira

10 | Reportagem | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

Na Praça Floriano Peixoto, em Santo Amaro, na zona Sul da cidade, centenas de pessoas se aglomeram para conseguir uma refeição, para muitas a única do dia, oferecida gratuitamente pela Prefeitura de São Paulo. Atendidos reclamam da qualidade dos alimentos e afirmam que tem havido redução gradual da quantidade de marmitas

Fome: o limite da sobrevivência Em Santo Amaro, pessoas se aglomeram na busca de marmitas. Para muitos, a única refeição do dia em meio à pandemia Cláudia Pereira

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Primeiro dia do mês de fevereiro, Praça Floriano Peixoto, zona Sul de São Paulo. Às 8h40, a senhora Maria Lucy Menezes, 74 anos, segurava em suas mãos uma sacola vazia e a ficha de nº 410. Era a primeira vez que ela estava na fila para receber as marmitas ali entregues. Por indicação de uma amiga, acordou cedo para conseguir um bom lugar na fila e garantir ao menos uma marmita. Pretendia levar duas, mas não conseguiu. Foi obrigada a enfrentar mais uma fila para comprar duas refeições no Bom Prato (programa social do governo do estado), que fica relativamente próximo à praça. Assim, conseguiu levar três refeições para casa e dividir com mais quatro pessoas, entre elas, uma criança de 5 anos. “Eu tenho idade avançada e comorbidades. Estou aqui porque preciso. Com esta ficha, já consegui uma marmita, mas preciso de mais algumas para garantir o almoço da minha família”, afirmou Maria Lucy.

Cada vez menos marmitas Todos os dias, centenas de pessoas formam filas em sete pontos da cidade de São Paulo para receber refeições distribuídas pelo programa “Rede Cozinha Cidadã”, criado em abril de 2020 com parceria de restaurantes para garantir segurança alimentar para a população em situação de rua. Mais de 90 restaurantes que participam do projeto recebem R$ 10 por refeição fornecida. Segundo informações da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), o programa já distribuiu mais de 2 milhões de refeições. Além da população em situação de rua, a iniciativa tem atendido trabalhadores informais, desempregados e aqueles em situação de extrema pobreza. Em Santo Amaro, na zona Sul, em um dos pontos da entrega de refeições do projeto, são constantes as reclamações da redução do número de marmitas distribuídas nos últimos meses. Para não correrem o risco de ficar sem marmitas, as pessoas se aglomeram desde as primeiras horas da manhã, às vezes para garantir a única refeição do dia. Passam a maior parte do seu tempo em busca de alimentos. Um dos entregadores que não quiseram ser identificados afirma que a quantidade de refeições entregues diminuiu de forma gradativa. Maria Lucy, por ter isenção no transporte público, prefere que a filha fique em casa com as crianças para economizar o dinheiro da família. A filha e mais três netos dividem a casa com ela em uma comunidade nas proximidades do Largo Treze de Maio. A filha recebia o auxílio emergencial no valor de R$ 600, o que ajudou nas despesas da casa por sete meses. O programa do auxílio do governo terminou em dezembro, e o benefício de aposentadoria de Maria Lucy, de um salário mínimo, é a única renda da família. As dificuldades aumentaram e mal dá para pagar as contas básicas da casa e comprar alguns remédios. Ficou mais difícil colocar comida na mesa. “Eu ainda me sinto privilegiada porque tenho essa renda. É o que salva um pouco em casa. Ainda não tenho dificuldades para andar e posso correr atrás da sobrevivência. A minha esperança é que a vacina chegue logo para imunizar a todos, e que essa situação melhore para todos nós”, afirmou Maria Lucy, com os olhos cheios de lágrimas, quase escondidos por uma máscara. Por volta de 10h30, a fila já está bem maior. Dois homens entram em conflito por uma ficha. Um deles, o João (nome fictício),

que vive em situação de rua, recebe refeições do programa da Prefeitura desde o início e faz reclamações quanto à qualidade e quantidade das refeições. “A comida era melhor. Esse feijão com arroz que estou comendo aqui parece que foi feito só com água e sal, a carne não tem sabor. Desde dezembro, caiu muito a qualidade das marmitas, mas essa é a minha única opção para almoçar. À noite, se eu tiver sorte, pego marmitas que voluntários doam e que são melhores que esta”, disse João, sentado na calçada, fazendo do chão a sua mesa. Davi Barretos também aguardava na fila com a ficha de nº 508. Desempregado e em situação de rua há três meses, está abrigado com vaga temporária em um centro de acolhida que fica no bairro do Jabaquara. Ele diz que anda pela cidade de carona em busca de trabalhos. Aos 40 anos, é eletricista e está fora do mercado de sua profissão há mais de dois anos. Não recebe benefício algum do governo. Naquele dia, ele aproveitou que estava em Santo Amaro procurando “bicos” para sobreviver e parou para garantir uma refeição. “Deveriam cuidar melhor dessas coisas que nos ajudam. Poderiam melhorar as refeições e os centros de acolhida, também deveriam dar refeições para quem tem vaga temporária, como é o meu caso. Eu procuro trabalho, alimentação e tenho que estar às 17h lá no albergue, caso contrário, eu perco a vaga”, desabafou Barretos.

No Mapa da Fome De acordo com pesquisa divulgada em novembro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil atingiu 13,7 milhões de pessoas vivendo em extrema


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Reportagem | 11 Fotos: Cláudia Pereira

Com o fim do auxílio emergencial, Maria Cristina ingressou na fila da marmita para se alimentar

Ao menos duas vezes na semana, Francisca Maria tenta conseguir alimentos para si e a família

pobreza em 2019. O País havia saído do Mapa da Fome em 2014. Com esse novo índice, estima-se que 6,5 milhões de pessoas passaram para a linha de pobreza em 2020. “Nós retrocedemos bastante em muitos aspectos no País. Na segurança alimentar, o fato de o Governo Federal ter extinguido o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Conseas) destruiu toda a relação da sociedade civil no âmbito de construir políticas públicas”, diz Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor executivo da organização Ação da Cidadania. Rodrigo Afonso é filho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que lutou para erradicar a fome no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990. Em 2017, a Ação da Cidadania reativou a campanha Natal Sem Fome, que por quase uma década ficou obsoleta. Em razão do aumento da pobreza nos últimos três anos, a campanha precisou ser intensificada em 2020 para ajudar os mais pobres na pandemia do coronavírus. Com o desemprego em alta e o fim de programas sociais de emergência, Kiko avalia que, em curto ou médio prazo, não haverá uma melhora na segurança alimentar. Ao contrário, diz ele, 2021 tende a ser mais trágico que 2020 sem os recursos do auxílio emergencial para movimentar a economia.

fictício) teve a sorte de receber a última marmita de um total de 900 distribuídas naquele dia. “Graças a Deus, eu consegui. Não preciso gastar meu dinheirinho”, disse, levantando as mãos para o céu. Junior está afastado do trabalho por problemas de saúde, tem receio de ser despedido e o pouco dinheiro que tem é para pagar o aluguel. Há duas semanas, frequenta a fila de marmitas para economizar, porque sente medo de morar na rua. Os movimentos da população em situação de rua da capital paulista têm feito constantes reivindicações, entre elas as referentes a questões de segurança alimentar. O número de pessoas morando nas calçadas de São Paulo aumentou consideravelmente durante a pandemia, e as políticas públicas emergenciais da Prefeitura não supriram as necessidades básicas. Questionada sobre a continuidade e a redução de marmitas entregues

A fila continua... Enquanto aguardava chegar outra remessa de marmitas, Francisca Maria, 62, esperava conseguir duas delas. As refeições eram para o neto que esta-

va em casa. Ela precisa se deslocar do Grajaú até o Largo Treze ao menos duas vezes por semana para obter alimentos e doações para sobreviver. Alguns metros à frente de Francisca, sentada no chão, Maria Cristina dos Santos Silva, 47, espera por sua marmita. Com problemas de saúde em decorrência de um acidente vascular e dificuldades para se locomover, ela aguarda com ansiedade o resultado da perícia médica, na esperança de ter o direito a benefícios assistenciais do governo. Ela recebeu o auxílio emergencial que era destinado apenas para pagar o aluguel. Agora, depende da ajuda de familiares, amigos e das marmitas da Prefeitura. Ela diz que está sem esperança e que pretende voltar para sua cidade natal, localizada no estado de Alagoas. Um de seus filhos morreu em decorrência da COVID-19. Eram 11h35 quando Junior (nome

no ponto de Santo Amaro, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SMDHC, informou que o projeto Cozinha Cidadã será executado no período de pandemia decretado na cidade e que os contratos com os restaurantes credenciados estão sendo renovados.

Ação Cidadania

Em 2020, a Ação da Cidadania distribuiu na região metropolitana de São Paulo e em todo o País 10 mil toneladas de alimentos. Kiko diz que todos da organização estão conscientes de que até o ano de 2023 o País viverá sob emergência da segurança alimentar e preparam campanhas para arrecadar alimentos. Afinal, como dizia Betinho, “Quem tem fome, tem pressa”. Além da campanha para arrecadar alimentos, a Ação da Cidadania lançou em 2020 a Agenda Betinho, um documento que elenca 40 propostas que têm por objetivo contribuir com o fortalecimento de políticas públicas municipais de segurança alimentar e nutricional em todo o País. “A fome não é somente uma consequência da pandemia, é reflexo também do desmonte de políticas públicas. A sociedade tem negligenciado a segurança alimentar por muitos anos. Não podemos nos acostumar com a questão da fome. A fome é a pior indignidade que o ser humano pode ter. Com fome, não fazemos nada. Precisamos agir com políticas públicas para eliminar essa chaga com que convivemos há décadas neste País”, concluiu o diretor executiPessoas em situação de vulnerabilidade social fazem fila para receber as marmitas oferecidas pela Prefeitura vo da Ação da Cidadania.


12 | Reportagem | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

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11 de fevereiro: Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência Astrominas

O SÃO PAULO apresenta a história de cientistas da atualidade e de duas santas que tiveram uma carreira de sucesso neste campo do saber Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Isadora Hwa Soon Moreira da Silva tem 15 anos, é estudante e participou da primeira edição do “Astrominas”, projeto idealizado em 2019 pela professora doutora Elysandra Figueredo Cypriano, que contou com a participação de mulheres do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). O objetivo da iniciativa é facilitar o acesso de jovens alunas à universidade, estreitando o contato dessas com mulheres cientistas e estimulando, assim, a escolha e a manutenção das carreiras de Ciência e Tecnologia. “Conheci o projeto por uma professora que viu a divulgação e me enviou o link. Conheci mulheres diferentes, que vieram de situações nem sempre favoráveis, no mundo da Ciência. Elas me inspiram muito porque é o que eu quero fazer”, disse a adolescente. Projetos como o “Astrominas” fazem parte de um esforço para que mais mulheres se sintam convidadas a se inserir em carreiras científicas. Em 2016, a Organização das Nações Unidas

Projeto ‘Astrominas’, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, facilita o acesso de jovens estudantes à Ciência

(ONU) criou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro. Segundo Isadora, o curso realizado em 2020 foi importante para aprender

CAMI - CENTRO DE APOIO E PASTORAL DO MIGRANTE C.N.P.J: 19.122.009/0001-01

novos conceitos, mas, sobretudo, para ajudá-la a perseguir com mais determinação o seu sonho: ser médica especializada em Neurologia. “O Astrominas apresentou-me o mundo da pesquisa científica, que eu não conhecia. Antes, queria ser neurocirurgiã e hoje vejo a pesquisa como uma opção”, disse em entrevista ao O SÃO PAULO.

Balanço encerrado em: 31/12/2019 BALANÇO PATRIMONIAL Descrição 2019 2018 31/12/2019 31/12/2018 AT I V O ATIVO CIRCULANTE............................................................................ 896.380,25d 706.570,66d CAIXA E EQUIVALENTES DE CAIXA............................................... 831.174,92d 667.490,59d OUTROS CRÉDITOS........................................................................ 65.205,33d 39.080,07d ATIVO NÃO-CIRCULANTE................................................................... 92.400,57d 75.358,82d IMOBILIZADO.................................................................................... 92.400,57di 75.358,82d TOTAL ATIVO............................................................................................ 988.780,82d 781.929,48d PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE....................................................................... 137.224,96c 111.905,13c FORNECEDORES E CONTAS A PAGAR......................................... 62.601,87c 31.916,26c OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS.......................................................... 5.038,52c 4.918,31c OBRIGAÇÕES TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA....................... 69.199,57c 74.570,56c OUTRAS OBRIGAÇÕES................................................................... 385,00c 500,00c PATRIMÔNIO LÍQUIDO......................................................................... 851.555,86c 670.024,35c SUPERAVIT DOS EXERCICIOS....................................................... 851.555,86c 670.024,35c TOTAL PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO............................................ 988.780,82c 781.929,48c DEMOSTRACAO DO RESULTADO DO PERIODO EM 31/12/2019

Descrição 2019 2018 RECEITA COM DOAÇÕES.................................................................... 1.205.895,40 690.371,73 RECEITA COM PARCERIA.................................................................... 63.615,00 19.000,00 RECEITAS FINANCEIRAS.................................................................... 27.599,80 45.961,62 DESPESAS ADMINISTRATIVAS........................................................... (274.156,07) (170.537,72) DESPESAS TRIBUTÁRIAS................................................................... (11.863,68) (4.067,95) DESPESAS FINANCEIRAS................................................................... (5.059,09) (4.975,28) DESPESA COM ATV DE ASSISTENCIA SOCIAL................................. (822.477,07) (811.286,42) OUTRAS DESPESAS............................................................................ (2.022,78) (11.452,21) SUPERAVIT OU DÉFICIT DO EXERCÍCIO.......................................... 181.531,51 (246.986,23) SAO PAULO, 31 de Dezembro de 2019

ROSANA MAGALHAES GAETA PRESIDENTE CPF: 022.726.338-38”

ANA LUCIA POLLI Reg. no CRC - SP sob o No. 1SP197556/O-4 CPF: 117.041.338-23

Determinação Daniele Honorato Pereira, 20, foi bolsista do “Astrominas” de setembro de 2019 a agosto de 2020. Durante o Ensino Básico, ela estudou em escolas públicas, participou de concursos de Matemática, Física e Português. Por meio da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), conseguiu participar do Programa de Iniciação Científica Jr. Ela sempre teve interesse pela área das Ciências Exatas, em especial por Astronomia. “A paixão veio de revistas, livros, séries e documentários. Após o Ensino Médio, ingressei no Bacharelado em Astronomia no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. Foi uma conquista, pois cursei meu terceiro ano em uma escola estadual de periferia, sem muitos recursos, o que me

fez estudar para o vestibular por conta própria”, explicou à reportagem. Daniele desenvolve iniciação científica na área de Ensino e Divulgação desde 2019 e atua como bolsista do Projeto Cecília, um programa de extensão oferecido totalmente a distância pelos três departamentos do IAG-USP, para turmas formadas por estudantes da rede pública que cursam o 9º ano do Ensino Fundamental II, ou o 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Voluntária no “Astrominas”, Daniele deseja contribuir com o ensino de Astronomia, e para democratizar a igualdade de oportunidades para homens e mulheres em carreiras de Ciência e Tecnologia. Sobre o Astrominas Devido às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a proliferação do novo coronavírus, a primeira edição do Astrominas começou em junho de 2020 e ocorreu ao longo de cinco semanas, de segunda a sexta-feira, de modo virtual. O projeto recebeu mais de 10 mil inscrições oriundas de todas as regiões brasileiras. Foram sorteadas 600 vagas, da seguinte forma: 20% destinadas a cotas; 40% a estudantes de escolas públicas; e 40% a estudantes de escolas particulares. “As meninas selecionadas participaram de atividades como aulas de Astro-


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Reportagem | 13 Astrominas

nomia, Matemática, Física, Geociência e Astrobiologia. Todo o conteúdo também foi desenvolvido com experimentos, murais, palestras, conversas e debates sobre a vida acadêmica do ponto de vista feminino. Ao fim das cinco semanas, houve apenas 10% de evasão. Os temas desenvolvidos ao longo do curso também foram compartilhados por meio de lives abertas ao público nas redes sociais. Acumulamos mais de 7 mil seguidores”, explicou Daniele. Sobre a participação das mulheres na Ciência, Daniele comentou sobre uma situação cotidiana que mostra o quanto ainda precisa ser melhorada: “Quando pedimos para as pessoas citarem o nome de alguma cientista, poucos conseguem responder. Quando o fazem, a maioria não se lembra de mais de um ou dois nomes. Eu pude escolher a Astronomia graças a mulheres fortes que lutaram para permanecer na Ciência. Sou grata a todas que tornaram possível essa minha escolha”, concluiu. Mãe cientista Fernanda Staniscuaski, 40, é bióloga, docente do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mãe de três filhos. Ela é uma das idealizadoras do “Projeto Parent in Science”, que surgiu com o intuito de levantar a discussão sobre a maternidade e a paternidade no universo da Ciência do Brasil.

“A Academia, como muitos dos outros setores, é absurdamente competitiva e as pressões por produtividade são muito grandes. Conseguir um equilíbrio é bem complicado. Não queremos ‘ficar para trás’, mas não dá para seguir no ritmo que temos antes dos filhos chegarem. E aceitar isso gera frustrações, dúvidas e muitas angústias. Por isso, precisamos conversar abertamente sobre este assunto”, afirmou. Segundo Fernanda, “a maternidade não é um obstáculo para sermos uma excelente profissional”. Ela pondera, contudo, que “a falta de apoio – pessoal, institucional e do Estado – impõe barreiras para que mães possam desenvolver suas carreiras. Faltam polí-

ticas de apoio efetivas que permitam a conciliação da maternidade e da carreira. A mãe não pode ser vista como a única responsável pelos cuidados dos filhos”, ressaltou. A bióloga falou ainda do I Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência, que aconteceu em 2018 e no qual foi lançada a campanha: #maternidadenolattes. “A campanha teve muita repercussão e, em 2019, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) noticiou que iria implementar um campo específico na Plataforma Lattes para informação dos períodos de licença-maternidade, o que ainda não foi feito. De todo modo,

Elas fizeram a diferença Ao longo da História da Igreja Católica, muitas mulheres se destacaram no campo científico, como Reprodução

é o caso de Hildegarda de Bingen e de Edith Stein. Ambas foram monjas e deixaram um legado que

demonstra o quanto a fé e a ciência não são opostas, se colocadas a serviço do bem comum.

creveu sobre essas matérias, reconhecidos cientificamente. Porém, destacou-se, sobretudo, no canto e na música. Foi a primeira mulher musicista da história da Igreja Católica. Morreu em 17 de setembro de 1179, no Convento de Bingen.

aos estudos dos manuscritos de Husserl e à Filosofia. Doutorou-se em Filosofia, tendo sido uma das dez primeiras mulheres da Alemanha a obter tal título. Durante essa graduação, começou a ter os primeiros contatos com o Catolicismo e, ao ler a autobiografia de Santa Teresa D’Ávila, pediu que fosse batizada na Igreja Católica. Exerceu intensa atividade no meio católico, como professora, conferencista, tradutora e escritora. Lecionou no Liceu Dominicano de Spira, onde passou dez anos. Em 1934, ingressou para o Carmelo alemão de Colônia, recebendo o nome de Teresa Benedita da Cruz. Em 1938, por questão de segurança, foi transferida para o Carmelo holandês de Echt. Foi na clausura que ela escreveu um de seus livros mais importantes, “Ser finito e ser eterno”, no qual buscou aproximar as filosofias de Husserl e de Tomás de Aquino (1225-1274). Devido ao regime nazista, Irmã Teresa e sua irmã de sangue, Rosa, foram presas e levadas para o campo de concentração de Auschwitz, onde, na noite de 6 de agosto, foram executadas na câmara de gás.

Reprodução

Santa Hildegarda de Bingen Descendente de nobre e riquíssima família alemã, Hildegarda nasceu na região do rio Reno, em 1098. Aos 8 anos de idade, foi entregue aos cuidados de monjas beneditinas. Ingressou como noviça e, quando a superior morreu, em 1136, se tornou responsável pelo mosteiro. Fundou outros dois mosteiros na Alemanha: em 1147, o de Bingen; e, em 1165, o de Eibingen. Dotada de uma personalidade carismática e alto grau de elevação mística, ela desenvolveu uma intensa atividade literária. Adquiriu conhecimentos sobre Medicina e Ciências Naturais, que foram transmitidos por livros que es-

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) A festa de Santa Teresa Benedita da Cruz, no civil Edith Stein, copadroeira da Europa, é celebrada por toda a Igreja no dia 9 de agosto. Canonizada por São João Paulo II, em 1998, ela nasceu em Breslávia, na Polônia, em 1891, e morreu como mártir no campo de concentração de Auschwitz, em 9 de agosto de 1942. Edith Stein dedicou-se, até 1922,

(Com informações de Paulinas e Vatican News)

foi uma vitória termos conseguido levar este assunto para dentro do CNPq”, disse Fernanda. Outras conquistas do Simpósio foram, por exemplo, incluir a questão da maternidade em editais da área e criar grupos de trabalhos ou comitês em diferentes instituições de ensino relacionados à parentalidade na Academia. Atualmente, o “Parent in Science” mantém o programa “Amanhã”, cujo objetivo é arrecadar fundos para garantir a permanência das alunas mães nos cursos de pós-graduação. A campanha de arrecadação vai até o dia 28 deste mês e quem quiser contribuir encontra mais informações em www.parentinscience.com/amanha.


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Libaneses abrem jubileu de ouro da Eparquia Maronita no Brasil Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Uma missa na Catedral Nossa Senhora do Líbano, no bairro da Liberdade, no domingo, 7, marcou o início do ano jubilar pelo 50º aniversário de criação da Eparquia Maronita no Brasil. Essa Eparquia é uma circunscrição eclesiástica equivalente a uma diocese católica de rito oriental instituída canonicamente por São Paulo VI em 29 de novembro de 1971, por meio da constituição apostólica Quod providente, para atender às necessidades espirituais e pastorais dos imigrantes libaneses que vivem no Brasil. A Eucaristia foi presidida por Dom Edgard Madi, Eparca Maronita no Brasil, e concelebrada pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, e por dom George Khoury, Eparca católico de rito Greco-Melquita no Brasil. Também estiveram presentes na liturgia representantes das igrejas Ortodoxa Antioquina, Copta e Sirian Ortodoxa, além de membros da comunidade islâmica. A celebração antecipou a festa litúrgica de São Marun, Patrono dos maronitas, comemorado na terça-feira, 9. O jubileu se estende até 9 de março de 2022. Rito oriental A Igreja Católica Maronita é uma das 24 igrejas autônomas (sui iuris) que constituem a Igreja Católica no mundo, em plena comunhão com o Papa, com sede no Líbano. Os Maronitas devem seu nome a São Marun, ou Maron, um monge siríaco-cristão do século V, que se tornou mais conhecido após a sua morte e em cuja memória reuniu um grupo de cristãos que, no século VII, deu origem à Igreja Maronita. A Igreja Maronita é comandada por um patriarca que, atualmente, é o Cardeal Béchara Boutros Raí, e possui um rito próprio em língua siríaca. No Brasil Embora a Eparquia tenha surgido há 50 anos, os Maronitas chegaram ao Brasil em 1860, com os primeiros imigrantes libaneses. No início da década de 1890, foi criada a primeira paróquia desse rito no País, dedicada a Nossa Senhora do Líbano, que deu origem à atual catedral. A antiga sede dessa Paróquia se localizava no Parque Dom Pedro II e foi demolida anos depois, devido ao desenvolvimento urbano da região central da cidade. Seu primeiro Pároco, o libanês Padre Yacoub Saliba, fundou, em 1897, a Sociedade Maronita de Beneficência, primeira entidade libanesa no Brasil e, em 1905, criou a primeira escola para crianças libanesas, atualmente conhecida como Escola Padre Yacoub.

Cardeal Scherer com líderes religiosos na Catedral Nossa Senhora do Líbano, entre os quais Dom Edgar Madi, Eparca Maronita no Brasil

Em 1954, chegaram ao Brasil, vindos do Líbano, três padres maronitas: Basílio Azar, Francis Nasr e Bernardo Azzi, para exercerem o serviço paroquial em São Paulo. A eles, juntou-se o Padre Simon Awad. Em 1962, foi nomeado o primeiro Bispo Maronita no Brasil, Dom Francis Zayek. Como ainda não havia uma Eparquia no País, ele era Bispo Auxiliar do Ordinário para os Ritos Orientais no Brasil, na época, o Cardeal Jaime de Barros Câmara, então Arcebispo do Rio de Janeiro. Após a transferência de Dom Francis para os Estados Unidos, São Paulo VI nomeou o libanês Dom João Chedid para acompanhar os maronitas no Brasil. Com a criação da Eparquia, ele se tornou o primeiro Eparca Maronita no País. Após renunciar, por motivo de idade, em 1990, Dom João Chedid foi sucedido por Dom Joseph Mah-

Imagem de San Marun, patrono dos maronitas

fouz, que permaneceu à frente da Eparquia até 2006. Manter viva a identidade O terceiro e atual Eparca Maronita no Brasil, Dom Edgard Madi, destacou ao O SÃO PAULO que, embora a celebração do jubileu aconteça no contexto difícil da pandemia, a Eparquia deseja ser um sinal de esperança, sobretudo para a comunidade libanesa. Dom Edgard ressaltou, ainda, que a colônia libanesa está espalhada pelo Brasil, o que dificulta para a Eparquia se fazer presente em todo o território. Ao mesmo tempo, ele reconheceu que, como o Brasil é um país predominantemente católico, os fiéis libaneses não tiveram dificuldades para participar das comunidades católicas de rito latino em suas cidades. “O desafio da nossa Igreja é estabelecer, cada vez mais, o contato com nossos fiéis libaneses e seus descendentes, para manter viva a nossa tradição, cultura, língua e identidade. Por isso, buscamos criar mais paróquias e trazer mais padres para essa missão”, enfatizou Dom Edgard. Atualmente, a circunscrição conta com 16 paróquias e 22 sacerdotes; dentre esses, há padres brasileiros que não são de origem libanesa, mas possuem autorização para celebrar nos ritos latino e maronita. Estima-se que haja cerca de 500 mil fiéis maronitas no País. Vínculos Para o cônsul-geral do Líbano em São Paulo, Rudy El Azzi, a Igreja Maronita teve um papel fundamental no desenvolvimento da maior colônia libanesa do mundo. “O nosso vínculo não se dá somente pelo aspecto religioso e espiritual, mas, também, na promoção da nossa cultura, estreitan-

do os laços entre o Brasil e o Líbano”, afirmou, ressaltando o empenho da Eparquia na promoção de campanhas para ajudar a população do Líbano, que enfrenta uma crise sociopolítica e econômica sem precedentes em sua história. Em mensagem enviada para a Eparquia, o Patriarca Béchara Raí manifestou sua alegria e comunhão com a abertura do jubileu e reconheceu os esforços e sacrifícios dos primeiros imigrantes. “Essas raízes mostram a presença da comunidade libanesa em geral e, de modo particular, a maronita, na boa terra do Brasil, que foram como que o grão de trigo plantado, transformando-se em planícies abundantes”, afirmou. A exemplo de São Marun Ao saudar a Igreja Maronita pelo Jubileu, o Cardeal Odilo Scherer expressou a proximidade da Igreja Católica de rito latino para com os irmãos libaneses. Dom Odilo ressaltou que o ano comemorativo foi aberto em uma ocasião oportuna, na festa de São Marun, “grande místico e inspirador desta Igreja que traz na lembrança tempos difíceis, de sofrimentos e perseguição, mas, ao mesmo tempo, marcado pela fidelidade à Igreja fundada sobre Jesus Cristo e sobre a Palavra de Deus, a pregação dos apóstolos”. “Nós também vivemos dias difíceis, talvez não marcados abertamente por perseguições, mas por tantos outros fatores. Este é um tempo em que precisamos voltar novamente para o exemplo dos santos, dos pais fundadores e evangelizadores. Recordando seus exemplos, permaneçamos firmes na fé, perseverantes naquilo que é o patrimônio espiritual que marcou uma cultura libanesa”, completou o Arcebispo.


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Proximidade: ‘Bálsamo que dá apoio e consolação a quem sofre na doença’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Na quinta-feira, 11, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, também é comemorado o 29º Dia Mundial do Enfermo. Este ano, o Papa Francisco dedicou sua mensagem para a data a todas as pessoas que sofrem com os efeitos da pandemia de COVID-19. “A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja”, escreveu o Santo Padre. Francisco se inspirou no versículo “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), para tratar da relação de confiança na base do cuidado dos doentes. “Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo professado e a vida real. O risco é grave”, afirmou. O Papa ressaltou, ainda, que a experiência da doença faz as pessoas sentirem sua vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. “Torna ainda mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a nossa dependência de Deus”, acrescentou. Referindo-se à atual pandemia, o Santo Padre salientou que foram evidenciadas tantas insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas doentes. “Viu-se que, aos idosos, aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsabilidade”, sublinhou. Por outro lado, o Pontífice reconheceu que a pandemia também destacou a dedicação e generosidade dos profissionais da saúde, voluntários, trabalhadores, sacerdotes, religiosos e religiosas que, “com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares”, disse. “Uma série silenciosa de homens e mulheres que optaram por fixar aqueles rostos, ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximo em virtude da pertença comum à família humana”, frisou Francisco. Obra de misericórdia O Dia Mundial do Enfermo foi criado em 11 de fevereiro de 1992, por iniciativa de São João Paulo II, para dar atenção especial às pessoas doentes e a todos aqueles que as assistem. O fundamento dessa que é uma das obras de misericórdia corporais da vida

ainda, que a presença dos enfermos aproximou e humanizou mais a sua casa. “É extensivo a todos da família, que abraçam juntos essa missão, cada um a seu modo, especialmente pela presença”, relatou. Amor Já a assistente administrativa Laura Maria Inglez dos Santos, 67, viveu a experiência do cuidado do próprio marido, Luiz Carlos dos Santos, com quem foi casada por 40 anos. Acometido por uma demência vascular que se agravou ao longo dos anos, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2013 e, a partir de então, sua coordenação motora começou a ser cada vez mais comprometida até que, em 2015, ele não podia mais andar, nem falar. Ele faleceu em outubro daquele ano, aos 65 anos. Laura contou que, de repente, toda a vida e a rotina da família se transformaram completamente para que Luiz Carlos pudesse ser tratado em casa, próximo dela e dos dois filhos. “Sabíamos que se tratava de uma doença degenerativa irreversível e que só era possível o tratamento paliativo. Por isso, dedicamo-nos em dar o máximo de amor e dignidade para ele”, afirmou.

Dar apoio e consolação à pessoa que sofre com uma doença é um gesto de misericórdia cristã

cristã está nos evangelhos, que apresentam inúmeros relatos de momentos em que Jesus acolhe, atende, socorre e cura os doentes. A esse respeito, o Papa Francisco, na mensagem deste ano, enfatizou o sentido mais profundo da proximidade, que ele define como “um bálsamo precioso”, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença. “Como cristãos, vivemos uma tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom samaritano, que, compadecido, fez-se próximo de todo ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo 13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas, também, de forma comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis”, escreveu.

Em casa Essa obra de misericórdia não se limita àqueles que trabalham profissional ou voluntariamente no cuidado dos doentes, mas começa no âmbito familiar, sobretudo quando se lida com doenças prolongadas, muitas vezes, irreversíveis. A professora aposentada Eloisa Gonçalves dos Santos Colombo, 62, testemunhou essa realidade ao cuidar dos seus sogros e da sua mãe na enfermidade até a morte, ao longo de mais de uma década. Ela relatou ao O SÃO PAULO que considera essa experiência como um presente de Deus para que pudesse amar cada vez mais seus familiares. “Ao longo desses anos, eu aprendi muito com meus sogros e com a minha mãe. Reconheço que não foi fácil, humanamente é desgastante, mas a palavra que resume esse período é doação e liberdade”, disse. Eloisa ressaltou que, mais do que o cuidado físico e técnico, o mais importante é justamente a proximidade, o contato afetivo que minimiza o sofrimento da pessoa doente. Ela afirmou,

Rede de apoio Tanto Laura quanto Eloisa reconheceram que, sem o apoio dos familiares, amigos e da comunidade eclesial, seria impossível viverem essa missão de cuidar dos seus entes queridos. “O fato de ter alguém que nos pergunte como estamos, com quem podemos compartilhar nossas angústias, que façam com que não nos sintamos sozinhos, é uma grande graça”, disse a professora, sublinhando que essa obra de misericórdia também se estende àqueles que cuidam diretamente dos doentes. “Às vezes, as pessoas ficam com receio de telefonar ou nos visitar, pensando que vão incomodar. Pelo contrário, como nos fazia bem, nesse momento, sentir a proximidade das pessoas. Isso nos ajuda a seguir o caminho, amparam-nos para permanecermos de pé”, completou Laura “Viver em torno de um doente é uma experiência constante da misericórdia e da caridade. Uma obra de amor infinito, porque aquela pessoa que está ali, debilitada por uma enfermidade grave, não pode dar nada em troca, apenas receber o seu amor”, manifestou Laura, acrescentando: “No fim da vida, Deus não vai me perguntar quantas fraldas eu troquei, ou quantas noites eu fiquei sem dormir ao lado dele. Ele me perguntará o quanto eu amei”, disse. Leia a íntegra da Mensagem do Papa para o Dia Mundial do Enfermo em: https://tinyurl.com/y3uys3r8.


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Ecumênica, Campanha da Fraternidade 2021 destaca o diálogo para a busca da paz CNBB

Daniel Gomes

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Pela quinta vez em sua história, a Campanha da Fraternidade será ecumênica. Sempre iniciada na Quarta-feira de Cinzas, a deste ano terá como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). Assim como ocorreu nas edições de 2000, 2005, 2010 e 2016, a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) é organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), do qual a Igreja Católica Apostólica Romana participa. O itinerário de reflexões no texto-base ressalta os discípulos de Emaús, para que, a exemplo deles, os cristãos aprendam que “o diálogo com Jesus faz o coração arder. E, se o coração arde em chamas pela Palavra, os pés partem em missão” (17). O objetivo geral da CFE 2021 é que as comunidades de fé e as pessoas de boa vontade pensem, avaliem e identifiquem caminhos “para superar as polarizações e violências por meio do diálogo amoroso”, e, assim, testemunhem a unidade. Tais propósitos estão em sintonia com os caminhos que o Papa Francisco indica na encíclica Fratelli tutti para a construção de um mundo melhor: a fraternidade e a amizade social, assumidas como compromissos por todas as pessoas e instituições. O texto-base da CFE 2021 aponta que Jesus Cristo nunca orientou seus discípulos a inimizades ou perseguições, mas, sim, para que promovam o diálogo (cf. 9), a fim de edificar novas relações humanas e sociais. Tais relações devem ser alicerçadas na caridade que leva cada um a assumir atitudes de compaixão, empatia e boa convivência com o próximo, o que só é possível quando as pessoas se abrem à conversão e autorreflexão, algo propício para o período da Quaresma, “40 dias dedicados à oração, ao jejum, à partilha do pão e à conversão pela revisão de nossas práticas e posturas diante da vida, do planeta e das pessoas” (13). Um olhar para os fatos mais recentes O primeiro convite da CFE 2021 é que o cristão olhe para os problemas atuais, como os decorrentes da pandemia de COVID-19, e observe se as alternativas e saídas propostas são coerentes com a Boa-Nova do Evangelho. Diante das muitas indagações e incertezas que surgem nesse processo, as respostas “dependerão da percepção que temos do que está acontecendo no nosso interior, no planeta Terra e em nossos relacionamentos. Para compreendermos a realidade, precisamos, como os discípulos no caminho de Emaús, dialogar sobre os acontecimentos de nosso tempo, acolher diferentes percepções e assim superar o que nos divide” (38). O texto-base menciona, ainda, alguns muros construídos historicamente

no Brasil e que impedem a fraternidade e o diálogo: o racismo, as desigualdades econômicas, a dificuldade de conviver com opiniões diferentes e o desrespeito e ataque às instituições (cf. 42). Também se faz menção à intolerância religiosa, que é impulsionada para justificar a prática da violência (cf. 90). Dialogar para superar os muros Na segunda parte do texto-base, são recordadas as origens das comunidades cristãs e dos valores da fé. Quem assumia a mensagem do Evangelho se comprometia com um novo modo e sentido da vida, que não se orientava mais pela violência, pelas exclusões e discriminações. A opção pelo Evangelho trazia consigo a busca pela

compreensão mútua e um processo de conversão, que resultava na construção de “um mundo de comunhão na gratuidade do amor de Deus, que acolhe e perdoa” (102). Ao longo da expansão do Cristianismo, o apóstolo Paulo orientou as primeiras comunidades a viver a unidade cristã (cf. 109), tendo como princípio que “Jesus Cristo é o centro da fé e unifica a comunidade, apesar das diferenças, pois convoca à experiência do amor que nos une... [para que] experimentemos os sinais do Reino de Deus entre nós: o amor, a benevolência, o perdão, a liberdade e a graça (Ef 1,3-8)”, (112). O lema da CFE 2021 – “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a) – reforça que a fé cristã não

Objetivos específicos da CFE 2021 edescobrir a força e a beleza do diálogo R como caminho de relações mais amorosas; Denunciar as diferentes violências praticadas e legitimadas indevidamente em nome de Jesus; Defender a casa comum, denunciando a instrumentalização da fé em Jesus Cristo que legitima a exploração e a destruição socioambiental; Contribuir para superar as desigualdades; Animar o engajamento em ações concretas de amor ao próximo;

romover a conversão para a cultura do P amor, como forma de superar a cultura do ódio; Fortalecer a convivência ecumênica e inter-religiosa; Estimular o diálogo e a convivência fraterna como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções, em um mundo cada vez mais plural; Compartilhar experiências concretas de diálogo e convívio fraterno. Fonte: Texto-base da CFE 2021

deve ser motivo para divisões e conflitos, mas, sim, para a convivência e o diálogo (cf. 114). Em Cristo, está a esperança para o estabelecimento definitivo da fraternidade e da paz (cf. 120). “O Evangelho da graça e da misericórdia revela-se como a força de Deus, que derruba os muros do preconceito que separam os judeus dos gentios. Graças ao fim das divisões, as pessoas podem sentar-se em torno de uma mesa comum e partilhar juntas o pão! O apóstolo Paulo ressalta (Gl 2,11-21) que a fé em Jesus Cristo não coaduna com a ideia de que haja sequer a possibilidade de algum grupo agir com superioridade em relação a outro” (125). Nesse sentido, a paz que brota da fé em Cristo permite superar a inimizade e o ódio e promover a unidade (cf. 131). Nessa perspectiva, a experiência ecumênica “nos possibilita conviver e aprender com irmãos e irmãs de diferentes confissões, com isso criamos pontes entre as confessionalidades” (135). “Em Cristo, a Boa-Nova de paz é oferecida para todas as pessoas, a fim de se construir uma nova humanidade, que não esteja dividida nem orientada pela violência, mas animada e alicerçada no amor, na graça de Deus e na unidade que se realiza pelo Espírito Santo (Ef 2,18)” (136). Os cristãos, como herdeiros do Mistério revelado, devem estar integrados na construção do Reino de Deus, a partir dos dons que Ele concedeu a cada pessoa, “para que a casa comum seja um ambiente seguro e feliz para todos os seres vivos” (138). Boas práticas de caminhada ecumênica A terceira parte do texto-base fala de algumas boas práticas de caminhada ecumênica no Brasil, coordenadas pelo Conic, como a Semana de Oração pela Unidade Cristã – em que as Igrejas cristãs, com suas diferentes especificidades, unidas em oração, celebram os dons do Espírito Santo; e a realização de missões ecumênicas, geralmente em territórios de conflito. “Essas boas práticas nos ensinam que a evangelização e a missão são constitutivas do testemunho das Igrejas. Proclamar a Palavra de Deus e dar testemunho ao mundo é essencial para todos os cristãos e cristãs. No entanto, esta proclamação precisa estar profundamente alicerçada nos princípios evangélicos, com pleno respeito e amor ao próximo e à criação”, consta em um dos trechos. Celebrar Por fim, é apresentado o roteiro para uma celebração ecumênica – presencial ou on-line – com vistas ao fortalecimento do diálogo ecumênico e da paz entre os povos, culturas e Igrejas. Um dos destaques é a proposta de que se confeccione um muro penitencial, alusivo à CFE 2021, que motiva “a vencer os muros que nos separam e a construir redes que possam nos unir como comunidades, povo de Deus”.


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Papa Francisco | 17

Fraternidade é ‘escutar com o coração aberto’ Fotos: Reprodução da internet

Vídeo com as participações do Papa Francisco e do Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb, por ocasião do Dia da Fraternidade Humana

Filipe Domingues

Especial para O São Paulo

“Ou somos irmãos ou nos destruiremos uns aos outros.” Esse foi o alerta do Papa Francisco, na quinta-feira, 4, na “Primeira Jornada da Fraternidade Humana”, realizada on-line. Participaram do encontro o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterrez, vencedor do prêmio Zayed, concedido na ocasião. “Fraternidade quer dizer a mão estendida. Fraternidade quer dizer respeito. Fraternidade quer dizer escutar

com o coração aberto”, afirmou o Santo Padre. “Fraternidade quer dizer firmeza nas próprias convicções, porque não há verdadeira fraternidade se se negociam as próprias convicções.” Nas palavras do Papa, “hoje não há mais tempo para a indiferença”. Ele repetiu o apelo já feito no Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado com o Grande Imã, que é referência espiritual e intelectual no Islã sunita, e também em sua encíclica Fratelli tutti (Todos irmãos). Escutar e aceitar o diferente é o único caminho aceitável e de sobrevivência para a humanidade. “Não cuidar do outro é uma forma muito sutil de inimiza-

Aos povos Indígenas: ‘Promover um desenvolvimento que dignifique’ Em mensagem ao 5° Fórum Internacional dos Povos Indígenas, no dia 2, o Papa Francisco declarou que a “globalização não pode significar um uniformismo que ignora a diferença e impõe um novo tipo de colonialismo”. Ao contrário, deve “promover um desenvolvimento que verdadeiramente cuide, escute, aprenda e dignifique”.

Modelos de desenvolvimento alternativos ao atual devem ser adotados “para que ninguém se sinta ignorado, mas que tampouco imponha avassaladoramente sua própria direção, considerando-a a única via correta”. Em vez disso, é preciso que “os diferentes se articulem e se enriqueçam mutuamente”. Só assim “a comunhão entre os povos floresce e vivifica”. (FD)

Papa manifesta preocupação após golpe em Myanmar O Papa Francisco afirmou observar com “viva preocupação o desenrolar da situação que se criou em Myanmar”. Após a oração do Angelus do domingo, 7, ele disse ter grande apreço pelo país, que visitou em 2017, e manifestou estar preocupado com a interrupção da ordem democrática. No dia 1°, os militares anunciaram ter assumido o controle do país e aprisionaram sua líder eleita, Aung San Suu Kyi, entre outros políticos. Suu Kyi e seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND), assumiram depois das eleições em 2015, a mais livre em

25 anos após a ditadura militar, segundo observadores internacionais. O partido governava sob duro controle das Forças Armadas. Deveria iniciar seu segundo mandato neste mês, mas foi impedido. O Papa enviou sua “proximidade espiritual” ao povo de Myanmar e disse rezar “para que aqueles que têm responsabilidade se coloquem em sincera disponibilidade ao serviço do bem comum, promovendo a justiça social e a estabilidade nacional, por uma harmoniosa convivência democrática”. (FD)

de. Não é preciso ter guerra para fazer inimigos. Basta não cuidar deles. Olhar para o outro lado, não cuidar do outro, como se não existisse”, disse o Papa. “Ou somos irmãos, ou tudo cai por terra. Esta é a nova fronteira da humanidade. A fronteira sobre a qual devemos construir. É o desafio do nosso século”, insistiu Francisco. “Nascemos de um mesmo Pai. Com culturas, tradições diferentes, mas somos todos irmãos.”

‘O Evangelho é destinado a todos’, diz o Papa aos Focolares Difuso em mais de 180 países, o Movimento dos Focolares foi recebido em audiência com o Papa Francisco após a eleição de sua nova diretora, Margaret Karram. No encontro, realizado no sábado, 6, o Papa relembrou a trajetória do movimento nascido nos anos 1940, fundado por Chiara Lubich, e que ganhou força missionária após o Concílio Vaticano II. A eles, que promovem a unidade entre pessoas de diferentes tradições religiosas, Francisco disse que “o Evangelho é destinado a todos”, mas não pode ser difundido à força, e sim como “fermento de humanidade nova em todo lugar e todo tempo”. A abertura ao diálogo é o que impede a excessiva “autorreferencialidade”, que, nas palavras do Papa, “nunca vem do espírito bom”. “A autocelebração não presta bom serviço ao carisma”, comentou, acrescentando que as crises são oportunidades para o crescimento. “Escutar o grito de abandono de Cristo na cruz” é a melhor forma de reproduzir “a maneira mais elevada do amor”, disse o Papa. (FD)

BêNÇÃO APOSTÓLICA E AGRADECIMENTO AO CARDEAL SCHERER Reprodução


18 | Pelo Mundo | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

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Polônia

Nas ruas, cartazes ressaltam a dignidade da vida dos nascituros Daniel Gomes

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Com a proposta de conscientizar a sociedade polonesa de que a prática do aborto é um atentado à vida humana, mais de mil cartazes foram espalhados desde novembro pelas ruas da Polônia. Trata-se de uma campanha em favor da vida dos nascituros, organizada pela “Fundación Nuestro Niños – Educación, Salud, Fe”, em resposta aos protestos violentos realizados em outubro por movimentos pró-aborto, após o Tribunal Constitucional do país declarar que o aborto eugênico é um ato inconstitucional. Antes da decisão, a legislação da Polônia permitia a prática do aborto em casos de “deficiência severa e irreversível ou doença incurável que ameaçava a vida do feto”, o que ocasionou a morte de muitos bebês em gestação com a suspeita de síndrome de Down, conforme afirmam os movimentos pró-vida. Em dezembro de 2020, conforme informações da ACI Prensa, outros grandes cartazes foram colocados com slogans como “Eu penso, sinto, não mato”, “Dou a minha

Conferência Episcopal Polonesa

vida, cuido dela”, “Escolho a vida” ou “Toda vida é um presente”.

Posição da Igreja Em 28 de janeiro, a Conferência Episcopal Polonesa destacou que a decisão do Tribunal Constitucional evita a “discriminação com base na saúde”. Em outubro de Um dos cartazes representa um útero em formato de coração 2020, após a decisão do Tribunal, a Conferência Episcopal, por meio de nota assinada decisão, “o Tribunal declarou que a carga por seu presidente, Dom Stanisław Gądede criar uma criança com uma deficiência cki, ressaltou que a Igreja “não pode deixar grave e irreversível ou doente terminal não de defender a vida, nem renunciar a proclapode recair apenas em sua família, mas toda mar que cada ser humano deve ser protegia sociedade deve suportá-la mediante a indo desde a concepção até a morte natural”. trodução de disposições que proporcionem De igual modo, a Igreja “não pode transigir, a toda a família a assistência e o apoio de porque seria culpada da cultura de descarte que necessita”. que hoje é tão difundida e que atinge semDe 19 a 25 de março, as organizações pre os mais necessitados e vulneráveis”. pró-vida polonesas farão uma semana de O movimento pró-vida, em nota enoração em defesa da vida. viada à ACI Prensa, destacou que, com sua Fontes: ACI Prensa e Vatican News

Peru Cáritas auxilia 36 mil imigrantes venezuelanos Por meio do programa EuroPana, a Cáritas do Peru já assegurou alimentos, proteção, moradia e itens de higiene para 36 mil imigrantes venezuelanos que chegaram ao país desde outubro de 2019 e se encontram em situação de vulnerabilidade social. “O setor de proteção também tem desenvolvido atividades de assessoria jurídica, informação sobre direitos e assistência

psicossocial”, explicou Yeri Cornejo, coordenador do programa EuroPana, em entrevista à Agência Fides. Em razão da pandemia, a Cáritas também tem custeado, em algumas situações, o aluguel desses imigrantes, para evitar que sejam despejados das casas onde vivem. Atualmente, vivem no Peru mais de 1 milhão de venezuelanos e mais de 400 mil

têm solicitado refúgio ao governo local. O programa EuroPana é uma promoção da Cáritas Internacional em favor das pessoas em situação de vulnerabilidade na Venezuela, assim como de atenção a migrantes, solicitantes de refúgio e populações vulneráveis na Colômbia, Brasil, Bolívia, Equador e Peru. (DG) Fonte: Agência Fides

Myanmar Conferência episcopal faz apelo pela paz após conflitos “Estamos atravessando os tempos mais desafiadores de nossa história”, manifestou-se a Conferência Episcopal de Myanmar em comunicado enviado à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), no dia 4, referindo-se à situação de conflitos no país, após a tomada do poder pelos militares no dia 1º. Na declaração, assinada pelo presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Charles Maung Bo, e pelo Secretário-Geral, Dom John Saw Yaw Han, os bispos estimulam que a população mantenha a calma mesmo diante dos “acontecimentos inesperados e chocantes” e não recorra à violência: “Já derramamos sangue suficiente”. Os prelados também questionam os militares que tomaram o poder, chamados de Tatmadaw, sobre o que deu errado nos últimos anos na democracia do país. “Houve falta de diálogo entre as autoridades civis eleitas e o Tatmadaw? As alegações de irregularidades na votação durante as eleições parlamentares de novembro, levantadas pelos militares, poderiam ter sido resolvidas por diálogo na presença de observadores neutros.” A Conferência Episcopal avalia que a paz pode ser retomada se os militares libertarem os membros da Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido que estava no poder, incluindo a até então líder do país, Aung San Suu Kyi, que foi reeleita em novembro e agora está presa, acusada de crimes econômicos. (DG)


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| 10 a 17 de fevereiro de 2021 | Geral/Fé e Vida | 19

Marta, Maria e Lázaro: os irmãos que sempre acolheram e confiaram em Jesus Reprodução

Flavio Rogério Lopes

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Os santos amigos de Jesus, Marta, Maria e Lázaro, ganharam um dia litúrgico próprio e passarão a ser celebrados conjuntamente em 29 de julho, conforme decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início deste mês. Com isso, os irmãos da cidade de Betânia foram incluídos no Calendário Romano. O documento, assinado pelo Cardeal Robert Sarah e por Dom Arturo Roche, respectivamente, Prefeito e Secretário da Congregação, estabelece que esta memória constará em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da Liturgia das Horas, cabendo às conferências episcopais, com aprovação vaticana, traduzir as variações e acréscimos nos devidos textos litúrgicos. “Na casa de Betânia, o Senhor Jesus experimentou o espírito de família e a amizade de Marta, de Maria e de Lázaro. Por isso, o Evangelho de São João afirma que Ele os amava. Marta ofereceu-Lhe generosamente hospitalidade, Maria ouviu atentamente as suas palavras e Lázaro saiu de imediato do sepulcro a convite Daquele que aniquilou a morte”, diz o decreto. Os irmãos de Betânia O texto também recorda que, durante séculos, perdurou a incerteza quanto à identidade dessa Maria, pois o nome é comum a outras mulheres mencionadas nos Evangelhos. Foi por essa razão que somente Santa Marta havia sido inscrita no Calendário Romano em 29 de julho. O Papa Francisco decidiu inscrever a memória dos santos Marta, Maria e Lázaro no Calendário Romano por considerar de grande importância o “testemunho evangélico dos três irmãos, que ofereceram ao Senhor Jesus a hospitalidade da sua casa, prestando-lhe uma atenção dedicada e acreditando que Ele é a ressurreição e a vida”. Marta no Evangelho aparece em apenas três episódios (cf. Lc 10,3842; Jo 11,1-44; Jo 12,1-11). É uma mulher dinâmica, que sempre se dedicou a acolher Jesus. Maria também aparece três vezes em cena, nos Evangelhos (cf. Lc 10; Jo 11; Mt 26). É a mulher atenta e contemplativa, que dá mais atenção ao Senhor do que às “coisas do Senhor”. Lázaro, grande amigo de Jesus, que O fez

‘A ressurreição de Lázaro’, pintura de Giotto di Bondone (1267 – 1337)

chorar com sua morte, aparece no Evangelho de João (11,1-14; 12,12), que relata a passagem em que é ressuscitado. Nos ensinamentos de Francisco As reflexões do Papa Francisco sobre estes três santos irmãos são numerosas. No primeiro ano do seu pontificado, no Angelus de 21 de julho de 2013, citando o episódio narrado pelo evangelista Lucas da visita de Jesus aos amigos Marta, Maria e Lázaro, o Pontífice recordou que, enquanto “Maria, aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra”, “Marta estava empenhada em muitos serviços”. E disse que “ambas ofereceram hospitalidade ao Senhor de passagem, mas o fizeram de maneira diferente: Maria ouvia (...), enquanto Marta se deixava absorver pelo que devia ser preparado, e assim, ocupada, ela se virou para Jesus dizendo: ‘Senhor, não se importa que minha irmã me deixou sozinha para servir? Então, diga a ela para me ajudar’”. Francisco explicou então que a carinhosa reprimenda de Jesus – “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas, mas só uma ... é o que falta” – destaca que a mulher estava demasiado absorta e preocupada com o que fazer. O Papa, porém, não define como opostas as atitudes das irmãs, e lembra que tais posturas “nunca devem ser separadas, mas devem ser vividas em profunda unidade e harmonia”, a ponto de que “no cristão, as obras de serviço e da caridade nunca se separam da fonte principal”, isto é, “ouvindo a Palavra do Senhor, estando – como Maria – aos pés de Jesus”. Por isso, o Papa assinalou na ocasião que “uma oração que não conduza a uma ação concreta para com o irmão pobre, enfermo ou

desamparado” é uma oração estéril e incompleta. Da mesma forma, “quando no serviço eclesial tu estás atento apenas ao fazer, dás mais peso às coisas, às funções, às estruturas, e esqueces a centralidade de Cristo, não reservas tempo para o diálogo com Ele na oração, corres o risco de servir-te a ti mesmo e não a Deus presente no irmão necessitado”. A ressurreição de Lázaro No 5º Domingo da Quaresma de 2014, em 6 de abril, Francisco comentou a ressurreição de Lázaro e sua saída do túmulo ao grito de Jesus: “Lázaro, sai!”. De acordo com o Papa, “este grito peremptório se dirige a cada homem, porque todos estamos marcados pela morte”. Por outro lado, em 5 de novembro de 2020, na homilia da missa pelo sufrágio de cardeais e bispos falecidos, em que o Evangelho narrava o episódio da ressurreição de Lázaro, Francisco voltou a enaltecer a fé de Marta, ao recordar que, mesmo diante do irmão morto e enterrado, ela acredita firmemente que Jesus pode fazer tudo. “‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; quem vive e crê em mim não morrerá para sempre’, dizlhe Jesus. E ‘a grande luz destas palavras prevalece sobre a escuridão do luto grave causado pela morte’ de seu irmão”, disse o Papa. Marta aceita tudo e declara com firme profissão de fé: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que vem ao mundo”. As palavras de Jesus, concluiu o Santo Padre, “transferem a esperança de Marta do futuro distante para o presente: a ressurreição já está perto dela, presente na pessoa de Cristo”. (Com informações de Vatican News e Aleteia) (Texto escrito sob a supervisão de Daniel Gomes)

Liturgia e Vida 6º Domingo do Tempo Comum 14 DE FEVEREIRO DE 2021

‘Jesus, cheio de compaixão’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA No Antigo Testamento, diante da suspeita de lepra, os israelitas deviam ir até um sacerdote que lhes examinasse a pele (cf. Lv 13). Havendo dúvida sobre o diagnóstico, era-lhes imposta uma quarentena. Se o exame visual constatasse “lepra”, o enfermo, declarado “impuro”, era “isolado” da comunidade. Caso viesse a ser “purificado” – devido à precariedade da Medicina, outras doenças eram possivelmente confundidas com a lepra –, deveria comparecer de novo à presença do sacerdote para confirmar a cura antes de retornar à vida social (cf. Lv 14). A lepra é uma doença temível e mortal! Decompõe os indivíduos ainda vivos, fazendo-os exalar odores insuportáveis. Reduz seus portadores a um aspecto irreconhecível. Na Antiguidade, era, além de tudo, incurável e não raro considerada uma punição divina (cf. Nm 12,9; 2Rs 15,5). Desse modo, sua purificação possuía também um sentido religioso de reconciliação. Mas, principalmente, sendo uma doença contagiosa, trazia consigo repercussões para toda a comunidade. A lepra impunha um conflito entre dois bens: de um lado, a obrigação de compaixão pelo enfermo; de outro, o dever de proteção da comunidade. O instinto de sobrevivência é o mais forte e agressivo no homem, e frequentemente tende a prevalecer sobre a compaixão. Assim, os leprosos eram evitados com veemência. “Com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta”, os acometidos desse mal deveriam gritar: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45), ao se aproximarem de outras pessoas. Foi nesse contexto que “um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: ‘Se queres, tens o poder de curar-me’” (Mc 1,41). Duas coisas impressionam no gesto: a fé desse homem, que atribui a Jesus um poder divino; e a sua confiança absoluta, que o leva a se aproximar, ajoelhar-se, e implorar ajuda a Nosso Senhor. Então, “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele” (Mc 1,41). Esse gesto seria repetido por tantos discípulos do Senhor para os quais a caridade foi mais forte que a autopreservação! Uma das ocasiões mais famosas foi aquela em que, mil anos depois, São Francisco venceu a repulsa para, enfim, abraçar e beijar um leproso. Foi um dos gestos de “conversão” da sua vida, que depois se tornaria um hábito. Séculos depois, o sacerdote Damião de Molokai se ofereceria para viver em uma ilha de leprosos. Optou por se expor ao contágio e morrer lá, isolado do “mundo são”, para que os leprosos não fossem privados dos sacramentos e pudessem, assim, obter a salvação eterna. Morreu de lepra e é conhecido como São Damião, o leproso. Neste tempo de COVID-19, peçamos ao Senhor a verdadeira prudência, para que o necessário cuidado em não propagar o vírus jamais se torne uma desculpa para que a caridade esfrie. Que nos abstenhamos das situações de risco desnecessárias, mormente em favor dos mais vulneráveis. Entretanto, que não nos fechemos no egoísmo! A compaixão não pode ser posta “em espera”, e o amor é mais forte que a doença e a morte. Que Deus nos ilumine!


20 | Geral | 10 a 17 de fevereiro de 2021 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

‘A Catequese é ministério amoroso que leva ao encontro com Jesus’ Reprodução da internet

Afirmou o Cardeal Scherer, na Semana Catequética da Arquidiocese de São Paulo, que, transmitida de modo on-line, teve mais de 90 mil visualizações Fernando Geronazzo

osaopaulo@uolcom.br

A Comissão Arquidiocesana de Animação Bíblico-Catequética realizou, entre os dias 1º e 5, a Semana Catequética. O evento, realizado on-line, reuniu catequistas das diversas paróquias e comunidades da Arquidiocese de São Paulo, além de contar com a participação de internautas de outras partes do Brasil e do exterior. A programação do evento contou com conferências realizadas por especialistas em Catequese. Ao todo, os vídeos dos cinco dias de encontro tiveram mais de 90 mil visualizações e cerca de mil compartilhamentos. Na pandemia No primeiro dia, o Padre Silvio Costa Oliveira, Assessor Eclesiástico para Animação Bíblico-Catequética da Região Brasilândia, ressaltou que o desafio da busca de novas formas de realizar a Catequese durante a pandemia, com o recurso das tecnologias digitais, estimulou os catequistas a se reinventar e a renovar seus métodos. “Não podemos mais ter uma pastoral catequética longe das realidades dos meios digitais como as redes sociais: são as novas línguas de Pentecostes que continuam a atuar na vida da Igreja. É claro, basta saber utilizar esses recursos digitais no processo catequético. Nós vamos passar por um processo de transformação dos catequistas, pois os catequizandos já estão nos meios digitais”, afirmou Padre Silvio. Família Padre Paulo César Gil, Assessor Arquidiocesano da Animação Bíblico-Catequética, enfatizou que as experiências vividas ao longo de 2020 possibilitaram

um maior envolvimento das famílias no processo catequético das crianças e adolescentes. “A família deve continuar a ser o lugar onde se ensina a viver as razões e a beleza da fé. Mesmo inserida nesse contexto com tantas dificuldades, a família é convidada a considerar a importância de ser esse lugar, esse berço de vida e fé, esse espaço, essa escola do amor, esse espaço e lugar onde é possível perceber as razões e a beleza da fé e ser uma família comprometida com tudo isso”, destacou Padre Paulo. Introduzir no mistério Padre Thiago Faccini, Assessor Eclesiástico para Animação Bíblico-Catequética da Região Belém, abordou o tema da mistagogia na Catequese, que pode ser compreendida como a ação de guiar, conduzir em direção ao mistério. Para isso, ele recordou como era o processo de preparação de iniciação na Igreja primitiva, marcado pela vivência dos ritos que aprofundavam os catecúmenos no mistério da fé. O Sacerdote ressaltou que o mistagogo parte do próprio rito para explicar o sentido do sacramento, indo além de uma compreensão apenas intelectual, mas favorecendo uma vivência do mistério celebrado. “Porém, infelizmente, acabamos perdendo esse método ao longo do tempo, até que chegamos no segundo milênio, no qual nós tínhamos apenas a interação professor e aluno, em que primeiro estuda, depois reza”, observou.

No entanto, a partir do Concílio Vaticano II, houve um resgate da Catequese mistagógica de inspiração catecumenal. Espiritualidade Padre Geraldo Raimundo Pereira, Assessor Eclesiástico para Animação Bíblico-Catequética da Região Lapa, refletiu sobre a espiritualidade do catequista, destacando que não é possível separar a vida pessoal, familiar e comunitária. “O catequista é aquele que dá testemunho de um Deus que está com ele”, afirmou, alertando que o catequista que transmite o conteúdo que não vive, não ajudará o catequizando a viver a experiência do encontro e da contemplação de Cristo. “Quando se fala em espiritualidade do catequista, não se trata daquele que só fica olhando para o céu, mas daquele que consegue, com os pés no chão, dar o testemunho bonito da sua vida, do seu jeito de ser, do seu jeito de agir e levar isso para os seus encontros celebrativos”, completou o Assessor. Ministério da catequese A Semana Catequética foi encerrada com a participação do Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, que refletiu sobre a Catequese como um ministério. “A Igreja olha com grande carinho e esperança para a Catequese, porque ela é uma parte importantíssima da ação Divulgação

eclesial. Os catequistas devem ser conscientes de que sua atuação é fundamental na obra evangelizadora”, manifestou Dom Odilo. O Arcebispo explicou que esse ministério não pode ser apenas compreendido do ponto de vista da instituição formal por parte da Igreja, como acontece com outros ministérios leigos, mas como um serviço do “pedagogo da fé”, que ensina, acompanha, “toma pela mão e ajuda a dar os passos”. Ele recordou alguns exemplos bíblicos desse ministério, como o relato da conversão de São Paulo, que, ao encontrar Jesus no caminho para Damasco e perder a visão diante de sua Luz, precisou ser ajudado a caminhar até a casa de Ananias, que o introduziu na vida cristã. Outro exemplo é o sacerdote Eli, que ensina Samuel a ouvir a voz de Deus e a responder ao seu chamado. Ou, então, João Batista, que indica aos seus discípulos o Cordeiro de Deus. “A Catequese é ministério amoroso que leva ao encontro com Jesus, que não se encontra simplesmente no abstrato, mas na sua comunidade de fé que é a Igreja”, completou o Cardeal. Para ver os links de cada dia do evento, acesse: https://tinyurl.com/y49jz2mq. (Colaborou: Flavio Rogerio Lopes)

Nota da Presidência da CNBB sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, nesta terça-feira, 9, uma nota na qual esclarece pontos referentes à realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo tema é: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz. Do que era dividido fez uma unidade”(Ef 2,14a). Sobre o texto-base da CFE deste ano, os bispos afirmam que a publicação seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), responsável pela preparação e coordenação da campanha da fraternidade em seu formato ecumênico. “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”, aponta a Nota, cuja íntegra pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/tkR95hl.


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