O São Paulo - 3335

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3335 | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021

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Dom Odilo dá posse aos Padres Patrick e Elson como Vigário Paroquial e Pároco da nova Paróquia Santa Teresa de Calcutá, em missa realizada em uma escola no bairro Terceira Divisão

Cardeal Scherer institui paróquia dedicada a Santa Teresa de Calcutá Os moradores do bairro Terceira Divisão, na zona Leste da cidade, celebraram a criação da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, no sábado, 20. A instalação da 306ª paróquia da Arquidiocese de São Paulo aconteceu em uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer,

Arcebispo Metropolitano. Na ocasião, ele deu posse ao primeiro Pároco, Padre Elson Paulo Correia Lopes, natural de Cabo Verde, na África, e ao Vigário Paroquial, Padre Patrick Geraldo McNamara, irlandês, ambos missionários Espiritanos. Dom Odilo recordou que cada paróquia é

uma comunidade que concretiza a presença de Deus e o testemunho do Evangelho, e enfatizou que a principal missão de uma paróquia é cuidar do maior bem da comunidade cristã: a fé anunciada, celebrada e testemunhada. Páginas 10 e 11

Como vivenciar o Ano de São José na sua comunidade?

Diariamente, você também pode fazer a diferença para gerar menos lixo

Em livro, jornalista Edison Veiga detalha a vida de Santo Antônio

O Cardeal Scherer indica uma série de iniciativas a serem realizadas pelas paróquias, comunidades e organizações eclesiais durante este Ano de São José, proclamado pelo Papa Francisco para destacar a figura do Patrono universal da Igreja Católica. Uma das ações dos fiéis é peregrinar, até o próximo dia 8 de dezembro, a uma das igrejas, capelas e oratórios dedicados a São José, no âmbito da Arquidiocese, para obter a indulgência plenária.

As praticidades de consumo têm gerado o aumento do volume de resíduos descartados. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) indicam, por exemplo, que durante a atual pandemia o volume de plástico consumido cresceu 25%. Mudar de hábitos requer uma observação atenta aos próprios comportamentos. Gradualmente, o resultado é a melhoria da qualidade de vida, redução de gastos e menos lixo.

Ele era um intelectual português, pregou por toda a Itália, ganhou fama de casamenteiro e se tornou o Santo mais querido do Brasil. Estes e outros detalhes da vida de Santo Antônio (1195-1231) são apresentados pelo jornalista Edison Veiga, em um livro recém-lançado, após anos de pesquisa. “É como se ele fosse um Santo que desce dos altares e se senta no banco, ao lado do fiel, na hora da missa. Não fica no pedestal”, diz o autor.

Página 20

Páginas 12 e 13

Página 17

Editorial A Igreja, nas pelejas desta vida, não é um lugar reservado apenas aos imaculados Página 4

Encontro com o Pastor Em uma área de recente expansão urbana, nasce a Paróquia Santa Teresa de Calcutá Página 2

Espiritualidade Escutar, ação primeira dos discípulos, é prática recomendada na Quaresma Página 5


2 | Encontro com o Pastor | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

N

o sábado, 20 de fevereiro, tivemos a alegria de instalar a mais nova paróquia de nossa Arquidiocese e dar provisão e posse aos padres que dela vão tomar conta: Paróquia Santa Teresa de Calcutá, integrando a Região Episcopal Belém, na periferia extrema Sudeste da Arquidiocese e cidade de São Paulo, numa área de recente expansão urbana, onde ainda há um resto de área rural no município de São Paulo. A nova Paróquia, que já nasceu com sete comunidades, no bairro da Terceira Divisão, foi desmembrada integralmente da extensa e populosa Paróquia Santíssima Trindade, no bairro Alto Alegre, ao longo da Estrada de Sapopemba. Seus limites alcançam o município de Mauá e a Diocese de São Miguel Paulista. A missa foi celebrada no espaço aberto de uma escola, por haver aí condições mais amplas e seguras para a participação do povo, que acorreu em número expressivo. A alegria das pessoas brilhava nos

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Nasceu a Paróquia Santa Teresa de Calcutá olhos e só não era vista no sorriso, porque todos, rigorosamente, usavam máscara para se proteger da pandemia de COVID-19. A celebração foi primorosamente organizada e participada pelas lideranças das comunidades da nova Paróquia. No final da missa, o Santíssimo Sacramento e a imagem de Santa Teresa de Calcutá foram levados em alegre procissão até a sede matriz da nova Paróquia. Cabem aqui algumas considerações sobre esse momento especial vivido em nossa Arquidiocese. A nova paróquia foi preparada e criada em plena pandemia de COVID-19, com grande participação do povo dessa região pobre e ainda pouco assistida de nossa grande e rica metrópole. A Igreja não está distante dos pobres e pretende estar entre eles de modo visível e estável, por meio de suas instituições, como a Paróquia, e de múltiplas organizações de evangelização e pastoral. Isso acontece nas periferias, como também no centro da cidade. A paróquia, como expressão da presença estável da Igreja, está no meio do povo, e, mais ainda, quando ele sofre e se vê fragilizado e no meio de angústias.

Os padres que assumiram a nova Paróquia são da Congregação dos Missionários do Espírito Santo (Espiritanos), que, no passado, já haviam prestado serviço missionário naquela região da periferia de São Paulo. O primeiro Pároco da recém-criada Paróquia, Padre Elson Paulo Correia Lopes, é um jovem missionário vindo de Cabo Verde (África); e o primeiro Vigário Paroquial, Padre Patrick Geraldo McNamara, é um sacerdote irlandês idoso, que no passado já havia dedicado anos de trabalho ao povo daquela área. As sementes, lançadas por eles muitos anos atrás, germinaram e estão produzindo frutos. O primeiro sínodo de nossa Arquidiocese está orientado por um propósito missionário, e a criação dessa Paróquia é uma das muitas respostas necessárias ao apelo missionário que Deus nos faz. Na mesma lógica, já criamos no ano passado a Paróquia Santa Dulce dos Pobres, Região Santana, no extremo Nordeste da cidade de São Paulo, na divisa com Guarulhos (SP). Santa Dulce dos Pobres está situada em área igualmente periférica e necessitada de maior assistência religiosa e pastoral. Outras iniciativas seme-

lhantes ainda deverão ser tomadas proximamente. O nome da nova Paróquia, “Santa Teresa de Calcutá”, é da Santa dos nossos tempos, bem conhecida por sua dedicação “aos mais pobres dentre os pobres”, como ela dizia. Como padroeira de uma paróquia no meio do povo pobre e sofrido, ela é testemunha vigorosa daquela “evangélica opção preferencial pelos pobres” que a Igreja precisa fazer todos os dias. Alegrou-me perceber a identificação imediata do povo com a sua nova padroeira. Desde logo, as lideranças comunitárias, com os padres, escolheram como lema motivador a palavra da Santa Missionária da Caridade: “A maior de todas as pobrezas é a falta de amor”. A nova Paróquia ainda carece de estruturas físicas mais adequadas aos serviços que deverá oferecer, mas a solidariedade e o dinamismo criativo do povo pobre são muito grandes. E merece destaque a iniciativa de várias paróquias da Região Belém, que assumiram o compromisso missionário de apoiar a sustentação material da nova Paróquia, até que ela possa incumbir-se plenamente de seus encargos. Também isso é um gesto missionário concreto.

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| 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 | Atos da Cúria | 3

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 11/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, no bairro Terceira Divisão, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Elson Paulo Correia Lopes, CSSp, pelo período de 06 (seis) anos, em decreto que entrou em vigor em 20/02/2021. Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no bairro do Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Pius Choi Sangsoon, pelo período de 06 (seis) anos. PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 20/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Menino Jesus, no bairro Vila Mazzei, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Paulo César Gil, até 15/02/2022. Em 15/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santo Antônio, no bairro do Limão, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Marcos Luis Erustes Polônio, até 15/02/2023. Em 15/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro Vila Prado, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Edson Fernandes, até 15/02/2023. Em 15/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia São Francisco Xavier, no bairro Jardim Japão, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Padre Jorge da Silva, até 15/02/2023. Em 11/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Jesus no Horto das Oliveiras, no bairro Vila Isolina Mazzei, na Região Episcopal Sant’Ana, do Reverendíssimo Frei Ernane Pereira Marinho, pelo período de 03 (três) anos.

Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no bairro do Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Youngho Noh, até que se mande o contrário. PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 15/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, no bairro do Tatuapé, na Região Episcopal Belém, do Reverendíssimo Padre Derville Alonço, “ad nutum episcopi”, em data retroativa a 01/01/2021. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 21/02/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no bairro da Vila Alpina, na Região Episcopal Belém, o Diácono Permanente Sr. Wainer Fracaro da Silva. Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Santa Bernadette, no

bairro da Vila IVG, na Região Episcopal Belém, o Diácono Seminarista Ignacio Torres Julián, pelo período de 01 (um) ano. Em 08/02/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Santa Adélia, no bairro do Jardim Santa Adélia, na Região Episcopal Belém, o Diácono Seminarista Nicolò Stauble, pelo período de 01 (um) ano. POSSE CANÔNICA: Em 14/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santíssima Trindade, no bairro Jardim Alto Alegre, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Gerson de França Silva. Em 13/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Francisco de Paula e São Benedito, no bairro Parque Peruche, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Antônio de Pádua Santos. Em 12/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Matias, no bairro Lauzane Paulista, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Jairo dos Santos Bezerra. Reprodução

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, no bairro da Vila Guilherme, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Edson José do Sacramento, CSSp. Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, no bairro Parque Novo Mundo, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Efigênio Rodrigues da Rocha. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 16/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Salette, no bairro de Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Luciano Santos Batista, MS, pelo período de 01 (um) ano. Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia São Benedito, no bairro de Vila Nilo, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre José Bispo de Souza, CSJ, pelo período de 01 (um) ano. Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Vila Paulistano, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Almir Urbano dos Santos, MS, pelo período de 01 (um) ano. Em 15/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Sant’Ana, no bairro de Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Rafael Tavares da Mota, ISch, pelo período de 01 (um) ano. Em 11/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, no bairro Terceira Divisão, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Patrick Geraldo McNamara, CSSp, pelo período de 03 (três) anos, em decreto que entrou em vigor em 20/02/2021.

LEIA EM NOSSO SITE A REPORTAGEM COMPLETA SOBRE A MISSA NA QUAL FOI OFICIALIZADA A MUDANÇA DO NOME DA PARÓQUIA

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4 | Ponto de Vista | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

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Editorial

Creio na Santa Igreja Católica

O

Venerável Fulton Sheen (1895-1979) costumava dizer que não existem nem sequer 100 pessoas que detestam a Igreja Católica – mas existem milhões que detestam a falsa imagem que dela têm. Apesar de parecer exagerada, esta frase se torna bem mais plausível se nos lembrarmos de que a Igreja é um mistério, ou seja, uma realidade de nossa religião que não pode ser plenamente abarcada com nossa razão. Quem tentasse explicá-la com olhos humanos veria apenas um conjunto de pessoas, que cumprem certas normas e pensam de forma mais ou menos parecida – imagem distorcida e obscura do que verdadeiramente é a Igreja, que em sua comunhão de almas abrange não apenas seus filhos vivos nesta terra (Igreja militante), mas também os que

padecem no purgatório (Igreja padecente) e os que fruem já da visão de Deus (Igreja triunfante). A Igreja, com efeito, como família de Deus e sinal da redenção da humanidade, é muito mais invisível do que visível – embora seja justamente seu corpo visível aqui na terra o que mais costuma chamar a atenção do mundo. É que a Igreja possui, sim, um elemento humano –, e falar em homens significa falar da liberdade, com sua abertura ao heroísmo, à fidelidade, ao amor e à abnegação, mas também à vilania, às fraquezas, aos pecados e às mesquinharias. Esta dramática marca da liberdade humana, aliás, está presente desde os primórdios da Igreja e, mesmo antes, perpassa a história da salvação narrada no Antigo Testamento. No entanto, se por um lado precisamos lamentavelmente reconhecer

O medo da multidão

piritual em que vivemos. A marca de um bom católico, por sinal, não é tanto a ausência de pecado – coisa raríssima –, mas, sim, o reconhecimento sincero das próprias faltas, e a confiança na misericórdia divina, por meio dos sacramentos, da vida de oração e das obras de caridade. Por isso, escreve São João: “Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2,1). Este, e não outro, é o fim da Igreja: a salus animarum, a salvação das almas, uma de cada vez. Concluamos, pois, com aquela anedota do católico que ouviu de seu amigo que abandonara a Igreja porque acreditava haver nela muitos hipócritas e pecadores: “Não se preocupe”, respondeu o devoto, “sempre há lugar para mais um!”.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

Marcelo Musa Cavallari Oclocracia. A palavra anda quase esquecida. É o sistema político em que o poder está nas mãos da multidão, da turba. Não é um termo elogioso. Os camisas negras italianos que puseram Mussolini no poder, os nazistas que abriram caminho para Hitler aos murros, os linchadores de suspeitos de algum crime no sul dos Estados Unidos dos anos 1920, ou em Matupá (MT), no Brasil dos anos 1990, são exemplos da turba. A turba não pensa. Age. Mal e com brutalidade. Só as pessoas, cada uma delas, podem pensar. Os sistemas comunistas que puseram o povo no poder, transformando seus países em prisões – URSS, China, Vietnã, Cuba –, são todos iguais nesse aspecto, só o partido pensava. Leon Trotsky, que acabaria ele próprio assassinado a mando de Stalin, disse, antes de cair em desgraça: “Só podemos estar certos por meio do partido, pois a história não proveu nenhum outro meio de estar certo”. A automação da vida começou com o tear mecânico, que transformou o trabalho em repetição mecânica e não pensada de tarefas. O operário não operava mais a máquina. A máquina é que impôs seu ritmo ao trabalhador, sob o risco de perder um dedo, um membro ou a vida. Ao longo dos séculos XIX e XX, auto-

que nós, os homens que integram a Igreja visível, muitas vezes manchamos, com nosso egoísmo e com nossa miséria, a percepção que o mundo tem da nossa Mãe, por outro lado é igualmente verdade que há também dentre os filhos da Igreja uma infinidade de atos de grande virtude, praticados em silêncio e longe dos holofotes. Isso para não falar de nossos santos e santas canonizados, que em todas as épocas resplandecem como luminosos fanais do amor divino que redime a humanidade: um São Francisco de Assis, um Dom Bosco, uma Santa Teresa de Calcutá... A Igreja de Cristo, nas pelejas desta vida, não é um lugar reservado aos imaculados, aos que são incapazes de pecar – antes, é um “hospital de campanha”, em que se podem procurar auxílio eficaz aos feridos na guerra es-

matizou-se tudo. Hoje em dia, com a internet, automatizou-se a oclocracia. “O meio é a mensagem”, escreveu nos anos 1960 Marshall McLuhan, teórico da comunicação de massa e católico conservador. A frase não é um elogio. Ela alude ao fato de que a principal mensagem de um novo meio tecnológico de comunicação é ele mesmo. Sua existência e seu funcionamento. Aquilo que impõe. Como o tear. A turba eletrônica das redes sociais eletrônicas exerce o poder da mesma forma que os partidos totalitários ou que as turmas de linchadores: ninguém pensa, só o sistema. De todos, exige-se apenas conformidade. Que evidentemente não implica sin-

ceridade. Não necessariamente todos os que participam de linchamentos, destruição de prédios públicos ou de vitrines de lojas querem mesmo matar alguém ou destruir algo. Temem, frequentemente, a turba tanto quanto a vítima momentânea dela. Nunca se sabe quando a ação automática da turba vai se voltar contra um indivíduo que, até minutos antes, fazia parte dela. Assim, no totalitarismo politicamente correto vigente, todos temem ser cancelados. Não estamos sob algum ditador. Na verdade, aqueles em posição de liderança, política ou outra, têm tanto medo da turba quanto todo mundo. Talvez mais, por ter

mais a perder. Estão em seus cargos não como quem lidera. Estão apenas com medo de ser cancelados. O problema é que, quem adere à turba, turba se torna. Pouco importa se um alemão que tenha atirado uma pedra na vitrine de uma loja de um judeu na Noite dos Cristais em 1938 fosse um nazista sincero ou estivesse apenas com medo de não parecer diferente dos demais. A loja e o meio de vida de uma família judia foram destruídos do mesmo jeito. Pouco importa se a confissão obtida sob tortura ou medo de represália contra a família de um condenado à morte de Stalin fosse sincera. Ela afirmava pela enésima vez que pensar diferente do partido era mesmo um crime. Da mesma forma, pouco importa se a adesão de uma autoridade, qualquer autoridade, à novilíngua militante LGBTQ e etc. é sincera ou apenas medo de ser cancelada. Ela consagra a mentira na qual se baseia a teoria de gênero e todas as transversalidades transformadas em instrumento de poder. Não se constrói a paz fugindo da briga ou abandonando a resistência aos poderes deste mundo. Totalitarismos não constroem unidade, apenas transformam as pessoas em massa. Ou turba. Marcelo Musa Cavallari é escritor, tradutor e jornalista especializado em assuntos internacionais. Traduziu “Os Evangelhos”, para as editoras Ateliê/Mnema, e “O livro da vida”, de Santa Teresa D’Ávila, para a Companhia das Letras, e escreveu “Catolicismo”, para a Editora Bella.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


| 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Cardeal Scherer dá posse ao novo Pároco da Paróquia Pessoal Coreana Leandro Park

Elicia Bang

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No 1º Domingo da Quaresma, dia 21, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Paróquia Pessoal Coreana São Kim Degun, no Bom Retiro, durante a qual deu posse ao novo Pároco, o Padre Pius Choi Sangsoon, e apresentou o Padre Youngho Noh (Padre Pedro) como Vigário Paroquial, função que também é exercida desde 2019 pelo Padre Youseph Kang. Todos são da Diocese de Daejeon, na Coreia do Sul. Além deles, concelebraram a missa o Padre Everton Fernandes Moraes, Chanceler da Arquidiocese de São Paulo, e os Padres Job Masyula Mbutu e Tamrat Markos Mitore, missionários da Consolata. Dom Odilo, na homilia, lembrou que todos devem olhar para os santos e mártires como aqueles que enfrentaram tentações, mas fizeram as escolhas certas e se mantiveram unidos a Deus e ao Evangelho, mesmo diante das dificuldades. Ano Jubilar Desde 29 de novembro de 2020, está sendo celebrado o ano jubilar pelos 200 anos do nascimento de Santo André Kim Degun. Atendendo a um pedido da Conferência Episcopal da Coreia, conforme

São Kim Degun Primeiro sacerdote coreano, São Kim Degun, também conhecido como Santo André Kim Taegon, nasceu Dom Odilo ao lado dos Padres Youngho Noh e Pius Choi em 21 de agosto de 1821. Filho de uma família nobre codecreto do Cardeal Scherer, assinado nareana, converteu-se ao catolicismo e se dequela data, esse templo será uma das igredicou à evangelização de sua pátria, onde jas designadas em todo o mundo para a o Cristianismo era duramente perseguido. peregrinação dos fiéis durante este jubiEm 16 de setembro de 1846, São Kim leu, que se estenderá até 27 de novembro Degun e mais 102 católicos foram martirizados. O jovem padre tinha 26 anos de deste ano. idade e um ano de sacerdócio. São João “Convido o clero, os religiosos e todo Paulo II os canonizou durante sua visita à o povo de Deus de nossa Arquidiocese a Coreia do Sul, em 6 de maio de 1984. aderir às celebrações jubilares e a se alegrar São Kim Degun, além de ser o primeicom a Comunidade Católica Coreana. Os ro padre católico coreano, enfrentou a refiéis que peregrinarem à Igreja de Santo alidade da época e se tornou pioneiro no André Kim Degun, durante este ano jubilar, poderão alcançar a indulgência pleanúncio da Boa-Nova. Um dos primeiros nária (cf. cânones 992-997, Catecismo da a estudar os conhecimentos ocidentais no Igreja Católica), aplicável para si próprios, exterior, foi o viajante a percorrer a mais ou em sufrágio dos fiéis defuntos, cumprilonga distância no território de Chosun das as condições estabelecidas pela Igreja: (atual Coreia do Sul) e o pioneiro a fazer a profissão da fé católica, arrependimento rota do Mar Ocidental, navegando da ilha dos pecados, sincero desejo de viver em de Yeonpyeong (Chosun) para Xangai, na santidade, confissão sacramental e comuChina. nhão eucarística, oração pelo Papa e pela (Com informações complementares da redação do O SÃO PAULO) Igreja e oração pelas vocações sacerdotais,

Escutai o que Ele diz Dom José Benedito Cardoso

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO LAPA

A

página do Evangelho que narra o evento da transfiguração de Jesus começa mostrando que Ele tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. Faz um movimento de subida para estar no lugar da proximidade com Deus. Os eleitos por Jesus para estar com Ele não eram os mais santos, mas os três discípulos que tiveram sérias dificuldades em aceitar a cruz. Pedro foi chamado de satanás por querer tirar a cruz do caminho de Jesus e, na hora da provação, o negou por três vezes. Os irmãos Tiago e João queriam os melhores lugares quando Jesus começasse a reinar. A transfiguração ajuda-os, e também a nós, a ver que no meio do caminho há cruz. Enquanto estavam no alto monte, Jesus se transfigurou, sua roupa ficou brilhante e

religiosas e missionárias”, escreveu o Cardeal Scherer no decreto.

Fernando Arthur

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[BELÉM] Em missa na Paróquia São José do Belém, na sexta-feira, 19, os fiéis pediram a intercessão de São José pelas famílias. A celebração foi presidida pelo Padre Thiago Faccini Paro, Vigário Paroquial. Na homilia, ele explicou a dimensão da Quaresma na vida do cristão, exortou as famílias a participarem da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano e falou sobre a importância de São José na vida familiar. Ao final, houve a reza da Oração a São José, escrita pelo Papa Francisco para o Ano de São José, e o Padre aspergiu os fiéis com água benta. Terminada a missa, as famílias participaram da Via-Sacra. (por Fernando Arthur) Pascom Paroquial

[BRASILâNDIA] Na tarde do domingo, 21, Dom Carlos Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza, concelebrada pelo Padre Aldenor Alves de Lima (Padre Aldo), Pároco. Na homilia, o Bispo convidou os fiéis a participarem da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano e destacou o itinerário a ser seguido pelos cristãos na Quaresma: “Para celebrar a Páscoa, somos convidados agora a fazer uma revisão do caminho para ver se estamos indo na direção certa”. (por Pascom paroquial)

Espiritualidade

branca e lhes apareceram Elias e Moisés, que estavam conversando com o Senhor. É a visão do céu, da glória, para mostrar que a vida tem cruz, mas não termina na cruz: no fim há vitória, há a ressurreição. Pedro, então, propõe construir três tendas, uma proposta bem interessante para quem está no alto monte, lugar onde não se sentem incomodados com o que está acontecendo na planície. É o grave pecado da omissão e do individualismo. Um texto do profeta Amós descreve bem esta experiência de morar no alto monte: “Ai dos que estão tranquilos em Sião e se sentem seguros no monte da Samaria. (...) Deitam-se em camas de marfim, esparramam-se em cima de sofás, comendo os cordeiros do rebanho e os novilhos cevados em estábulos. Cantarolam ao som da lira, inventando, como Davi, instrumentos musicais. Bebem canecões de vinho, usam os mais caros perfumes, sem se importarem com a ruína de José” (Am 6,1.4-6). Em cada época, a sociedade constrói suas tendas para viver despreocupada e longe dos problemas. Temos shopping centers com um cheiro agradável, segurança, comida saborosa, roupas novas... Temos condomínios fechados, e se reproduz o que chamamos de “arquitetura hostil”, para que pessoas com “problemas” não se

aproximem. São muitas as tendas, e elas levam as pessoas a ficarem isoladas do grande público, fazendo-as esquecer os problemas que afligem a humanidade. É perceptível entre nós o fortalecimento de um tipo de seguimento pouco exigente, uma espiritualidade pouco comprometedora, que quer um Jesus tão somente “religioso”, ignorando toda dimensão política, libertadora e transformadora presente nas suas palavras e atitudes. Afinal, Ele não consumiu sua vida dentro de templos e sinagogas, mas no meio do povo, expulsando demônios, curando doentes, perdoando pecados e, sobretudo, enfrentando as forças destruidoras do Império Romano, bem como tecendo sérias críticas à religião da época, que, aliada aos grandes, impunha fardos pesados para o povo carregar. Diante da cena da transfiguração, os discípulos ficaram com medo. Lucas diz que eles ficaram com sono. Medo e sono podem ser sinais ou justificativas para quem se recusa a superar possíveis obstáculos, a permanecer na mesmice de sempre. Interessante que esses três discípulos serão conduzidos à parte no monte das Oliveiras, para participarem da tristeza e da angústia do Filho do Homem (cf. Mt 26,37). “Neste monte, será Jesus a prostrar-se por terra, e os discípulos ficaram dormindo.

Eles são como nós: têm dificuldade para entender a cruz” (Frei Carlos Mesters). “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz.” Escutar é a primeira atitude dos discípulos, prática muito recomendada neste tempo quaresmal. A comunidade cristã, lugar privilegiado para apreciar a Palavra de Jesus, tem que primar pela fidelidade à sua mensagem, cuidando para que “a força libertadora do Evangelho não fique bloqueada pela linguagem e por comentários alheios ao seu Espírito” (José Antônio Pagola, Sacerdote). E tudo se conclui com um movimento de descida da montanha. Agora, animados com a visão da glória e a revelação da divindade de Jesus, os discípulos caminharão com Ele pelas planícies, onde se encontrarão com doentes, pobres, pecadores, explorados, estrangeiros..., e serão desafiados a tomar atitudes libertadoras, fraternas e conciliadoras, como nos propõe a Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e diálogo: dom e compromisso”. E, descendo do monte, é preciso guardar para si a experiência da teofania, não dizer nada a ninguém, “para não alimentar falsos messianismos, para não alimentar uma falsa religiosidade, que busca os milagres de Deus para evitar a cruz” (Sandro Gallazzi, biblista).


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Caroline Dupin

BRASILÂNDIA

Dom Carlos Silva preside missa de apresentação da CFE 2021 Priscila Rocha

Dom Carlos Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, e clero atuante na Região Brasilândia, em missa na Paróquia São Luís Gonzaga, dia 18

Priscila Rocha e Roberto Bueno

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No dia 18, na Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pastoral Pereira Barreto, aconteceu a missa regional de apresentação da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Brasilândia, e concelebrada por padres que atuam nessa Região Episcopal. Na homilia, o Bispo, ao mencionar o

tema da Campanha deste ano –“Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, recordou que todos são convidados a “‘sentar-se e escutar o outro’, para, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes ‘um mundo surdo’”. “Nesta Quaresma, quero assumir o compromisso de dialogar com cada padre da nossa Região Episcopal e conhecer as nossas paróquias e áreas pastorais”, assegurou Dom Carlos Silva, que foi ordenado Bispo no dia 13 deste mês e na mesma data designado pelo Cardeal Odilo Pedro

Scherer, Arcebispo Metropolitano, como Vigário Episcopal da Região Brasilândia. Dom Carlos também exortou que todos, homens e mulheres, sejam promotores da paz, que somente será alcançada por meio do diálogo. Na parte final da celebração, o Padre Luciano Andreol, Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima e Coordenador Regional da Campanha da Fraternidade, recordou que o propósito da CFE é a busca da unidade, e exortou que seja vivida com diálogo e fraternidade.

LAPA Fiéis celebram Nossa Senhora de Lourdes na Vila Hamburguesa Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No dia 11, a comunidade de fiéis da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, na Vila Hamburguesa, Setor Pastoral Leopoldina, celebrou a memória litúrgica da padroeira, com missa presidida pelo Padre Marcus Vinícius Dorrigo Leite, Pároco. Na homilia, o Padre destacou que a

celebração da festa da padroeira faz lembrar que quando o fiel se vê necessitado da misericórdia de Deus pode recorrer à intercessão da Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora de Lourdes, para alcançar a graça pedida. Ele recordou o episódio das bodas de Caná, em que Maria pede a Jesus que faça seu primeiro milagre, como narra o evangelista São João. Em sua primeira aparição à pequena Bernadette Soubirous na gruta de Mas-

sabielle, em Lourdes, na França, em 11 de fevereiro de 1858, a Virgem Maria pediu que os cristãos rezassem o Rosário pela conversão dos pecadores e praticassem atos de misericórdia ao próximo. Na ocasião, Bernadette questionou quem era aquela senhora que a ela aparecera, e da resposta de Maria brotou o dogma proclamado pelo Papa Pio IX quatro anos antes, em 1854: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

[IPIRANGA] Na primeira sexta-feira da Quaresma, dia 19, na Paróquia Imaculada Conceição, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu a missa regional de apresentação da Campanha da Fraternidade Ecumênica. Concelebraram padres que atuam na Região. Na homilia, Dom Ângelo ressaltou que “a proposta para esta Quaresma, juntamente com a Campanha da Fraternidade, é o diálogo: não nos fecharmos, não excluir nem condenar com antecedência”. A celebração eucarística foi transmitida ao vivo pelo Facebook da Paróquia e também houve a participação presencial de fiéis. (por Caroline Dupim) Juliana Bacci

[SANTANA] No domingo, 21, o Padre Rafael Tavares da Mota, ISch, foi apresentado como Vigário da Basílica Menor de Sant´Ana, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan e concelebrada pelo Reitor da Basílica, Padre José Roberto Abreu de Mattos; pelo Vigário, Padre Sulliver Rodrigues do Prado; além dos Padres José Fernando Bonini, Superior Regional do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt (ISch); Gustavo Hanna Crespo, Severino Araújo Lima e Clodoaldo Kamimura. Assistiram a cerimônia os Diáconos José Jindarley Santos e Vinicius de Andrade. Padre Rafael foi ordenado em 24 de janeiro, em Poços de Caldas (MG). Como diácono, ajudou na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Jaraguá, na Região Episcopal Brasilândia. (por Juliana Bacci Lima)

Pascom da Paróquia Santa Teresinha

[SANTANA] No sábado 20, no Teatro dos Salesianos, no bairro Santa Teresinha, Dom Jorge Pierozan ministrou o sacramento da Confirmação para um grupo de jovens preparados na Paróquia Santa Teresinha, Setor Santana. Concelebrou o Padre Silvio Cesar, Pároco, com a assistência do Diácono Permanente Nilo Carvalho Neto. (por Pascom Santa Teresinha)

Luciney Martins/O SÃO PAULO

[SÉ] No domingo, 21, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Paróquia Santo Inácio de Loyola, na Vila Mariana, Setor Paraíso, durante a qual oficializou São Paulo Apóstolo como copadroeiro desta Paróquia, que é conduzida pela Congregação da Pia Sociedade de São Paulo, SSP (Padres Paulinos). Leia a reportagem completa no site do O SÃO PAULO, no link a seguir: https://cutt.ly/8lkacDc.

Arquivo pessoal

[SÉ] No 1º Domingo da Quaresma, dia 21, o serviço-escola do Encontro de Casais com Cristo (ECC) reuniu-se presencialmente na Paróquia Santo Antonio, do bairro do Pari, Setor Pastoral Bom Retiro, e também via redes sociais, para a missa em ação de graças pela retomada das atividades. A Eucaristia foi celebrada pelo Pároco, Frei Wilson Batista Simão, OFM, que também é Assistente Eclesiástico do ECC na Região Episcopal Sé. (por José Roberto e Ana Cristina, do ECC da Região Episcopal Sé)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa, no domingo, 21, na Capela Nossa Senhora de Fátima, pertencente à Paróquia São Francisco Xavier, Setor Medeiros. Participou da missa o Diácono Gilson Crema. (por Robson Francisco) [LAPA] No dia 15, o Padre João Carlos Deschamps de Almeida, Vigário Geral da Região Episcopal Lapa e Pároco da Paróquia Santo Antônio de Pádua e da Comunidade Natividade do Senhor, Setor Rio Pequeno, completou 29 anos de ordenação sacerdotal. (por Benigno Naveira) [SÉ] No dia 16, realizou-se mais uma reunião on-line da equipe do projeto Animando a Esperança, na qual se falou sobre os novos recursos para as atualizações e lançamento de dados das paróquias, bem como o cadastro das obras sociais ligadas à Igreja, existentes em cada Região Episcopal da Arquidiocese. Ressaltou-se, ainda, que os lançamentos das doações recebidas e serviços prestados devem ser feitos mês a mês, tanto pelas paróquias quanto pelas obras sociais. (por Centro de Pastoral da Região Sé)


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Fé e Cidadania

belém

Diácono Seminarista é apresentado na Paróquia Santa Adélia Antônio Alaguerra

Nilton Sérgio Ruiz Gomes

Direitos humanos em tempos de pandemia: a solidariedade

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Renato Rua de Almeida

Em missa na Paróquia Santa Adélia, no domingo, 21, o Padre Jonatas Alex Mariotto, Pároco, apresentou à comunidade de fiéis o Diácono Seminarista Nicolò Stauble, nomeado como assistente pastoral da Paróquia pelo período de um ano. Ele é italiano e faz sua formação no Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater. Na homilia, Padre Jonatas recordou que Jesus aceitou o chamado para ir ao deserto. De igual modo, o cristão deve responder afirmativamente ao chamado de Deus, confiar no amor divino e, em “nossos desertos”, se apegar

nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa” (Papa Francisco, Quaresma 2021). A atitude de limpar, arar e fertilizar a terra, para que esteja em condições de bem receber a semente e frutificá-la na capacidade dos dons e talentos que recebemos (cf. Mt 25,14-30), está na liberdade de querermos ou não nos converter. Não nos faltam meios. Colocar as dificuldades nas causas externas, que, sem dúvida, são reais, difíceis, exigentes nos seus desafios, é uma maneira de escondermos a correnteza mais forte do pecado que nos detém e que está em nós mesmos. Na maioria das dificuldades “do mundo”, não conseguiremos fazer quase nada para melhorar sem antes nos comprometermos em vencer nossas lutas pessoais. Em tantos anos atendendo pessoas idosas, aprendi que há algo comum naqueles que perceberam o valor desta luta durante a vida. Resumiria assim: foram se desprendendo de tudo o que não é essencial, e só torna a vida obesa (jejum). Deram à dor e ao sofrimento um sentido sobrenatural que os ajudassem a ser mais compreensivos e disponíveis aos demais (esmola). Encontraram a beleza do amor nas coisas simples do cotidiano, que facilitou o diálogo com o Pai (oração). Todos eles com esperança na eternidade.

Entre os 30 direitos humanos catalogados pela Declaração dos Direitos do Homem da Organização das Nações Unidas (ONU), encontra-se, no artigo 23, o direito ao trabalho e à proteção contra o desemprego, um dos mais afetados em tempos de pandemia do novo coronavírus. O Brasil, com uma população de 212 milhões de habitantes, chegou a 14 milhões de desempregados, grande parte em virtude da atual pandemia, que afetou profundamente a atividade econômica das empresas e gerou desemprego em massa. No que concerne ao valor do direito ao trabalho, assim se expressa o Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI): “O trabalho é um direito fundamental e é um bem para o homem: um bem útil, digno dele porque apto a exprimir e a acrescer a dignidade humana. A Igreja ensina o valor do trabalho não só porque este é sempre pessoal, mas também pelo caráter de necessidade” (287). Para a promoção do direito ao trabalho e à proteção contra o desemprego em tempos de pandemia, o CDSI, no Capítulo IV, apresenta os seguintes princípios: dignidade da pessoa humana, bem comum e, especialmente, solidariedade e subsidiariedade. O Papa Francisco ressalta que “o princípio da subsidiariedade é inseparável do princípio da solidariedade” (carta encíclica Fratelli tutti, 187). Assim, o importante é a promoção do direito ao emprego e do combate ao desemprego à luz desses dois princípios. O fundamento do princípio da solidariedade é apresentado pela Doutrina Social da Igreja da seguinte forma: “A solidariedade confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em dignidade e direitos, ao caminho comum dos homens e dos povos para uma unidade cada vez mais convicta” (CDSI, 192). Esse princípio se traduz, por exemplo, nas políticas públicas com medidas como a adotada pelo Brasil, por meio de programa emergencial de manutenção de emprego e renda, implicando medidas trabalhistas entre empregados e empregadores para suspensão do contrato de trabalho ou redução da jornada de trabalho. Com isso, o Estado fica com a obrigação do pagamento de abonos emergenciais e proporcionais em relação à suspensão do contrato de trabalho e à redução da jornada diária de trabalho (Medida Provisória nº 936, de 1º de abril de 2020, depois transformada em lei federal). Outra medida importante, ainda em estudo pelo Estado brasileiro, é a instituição da renda básica para os pobres e trabalhadores desempregados. Trata-se de política pública de Estado e não de governo, já que a Constituição brasileira de 1988 prevê, em seu artigo 3º, inciso I, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre outros, construir uma sociedade livre, justa e solidária. No entanto, mesmo que fosse uma política pública justa e solidária de determinado governo de plantão, é dever de todo cidadão, como pessoa de boa vontade, aplaudi-la por combater os efeitos maléficos da pandemia do novo coronavírus no que concerne ao direito humano do pleno emprego, conforme nos recomenda o Papa Francisco, em sua homilia proferida na Basílica de São Pedro, em 29 de junho de 2020: “Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros. São Paulo exortava os cristãos a rezar por todos, mas, em primeiro lugar, por quem governa (cf. 1Tm 2,1-3). Deixemos que Deus os julgue! Rezemos pelos governantes. Rezemos... Precisam da nossa oração. É uma tarefa que o Senhor nos confia”.

Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

Renato Rua de Almeida é presidente do Instituto Jacques Maritain do Brasil (IJMB).

Nicolò Stauble (à esq.), na missa em que é apresentado à comunidade paroquial

com fé às práticas da oração, jejum e esmola. O Sacerdote recordou, também, que se deve resistir às tentações. Ele reforçou, ainda, a necessidade de que os fiéis busquem

o sacramento da Reconciliação. Ao fim da missa, houve a leitura do decreto de nomeação e provisão do Diácono Seminarista, que foi saudado pela assembleia de fiéis.

Comportamento A Quaresma e a parábola do semeador VALDIR REGINATO Terminei a leitura meditada da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2021. Um texto para a oração pessoal. Uma aula de Catequese na sua didática e apresentação. Impossível não perceber, no caminho de Cristo, mencionado pelo Papa nas dimensões do jejum, da esmola e da oração, a opção a ser seguida por qualquer homem de bem ou com o desejo de conversão, como enfatiza o Pontífice. A Quaresma é um período de conversão. E, então, emergem algumas perguntas: “Por que não o seguimos?”; “Por que relutamos tanto em abraçá-lo com plena liberdade?”; “Por que o trocamos por qualquer outro caminho, de tantos que vão se apresentando cotidianamente, sem o sentido que o caminho de Cristo nos dá?” De imediato, alguns argumentos nos justificam: “É muito bom, mas... não dá para mim”; “Do jeito que está o mundo, quem pode viver dessa forma?”; “O ambiente está muito ruim, o comportamento das pessoas... uma loucura”; “Até concordo, mas está fora do contexto moderno”; “A sociedade padece de um hedonismo total, cada vez pior; veja até as crianças...”. Tudo contrário a estas três condições: jejum, esmola e oração. É frequente colocarmos as justificativas no que está acontecendo lá fora, no mundo, nas transformações socioeconômicas e tecnológicas. É o que ocorre com as sementes, na parábola do semeador (cf. Mt 13,1-9; Mc 4,3-9; e Lc 8,4-8), quando caem à beira do caminho e, pisadas, são comidas pelos pássaros; ou em solo

pedregoso e, queimadas pelo sol, não formam raízes. Ampliemos o nosso público. Aqueles que se casaram na Igreja, trabalham honestamente, com generosidade aos filhos, que serão batizados. É uma luta! Alguns poderão dizer que o ano inteiro já é uma “Quaresma”, principalmente pelo jejum de férias, descanso, passeios e lazer. À “esmola” que, às vezes, precisam recorrer para pagamento de dívidas. E – no cotidiano, entre fraldas e febres da madrugada, festinhas, o problema do namorico precoce, as drogas que correm soltas, junto com a pornografia nas escolas –, o tempo de oração é lembrado na hora em que deitam a cabeça exausta no travesseiro. Lutam e se esforçam. Estes não ignoram que estão contra a corrente, mas desanimam e se sentem sufocados. São as sementes que cresceram no terreno com os “espinhos” do mundo agitados: as compensações viciosas, as alegrias enganosas e transitórias, as ideologias permissivas as secam. Chegamos ao terceiro grupo. “Vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas estas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o seu Reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,32-33). Estes são a “terra boa, tendo ouvido a Palavra, com coração nobre e generoso, conservam-na e produzem fruto pela perseverança” (Lc 8,15) e “darão fruto, produzindo à razão de cem, de sessenta e de trinta” (Mt 13,23). Como participar deste grupo? “O jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6,1-18) – são as condições para a


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‘Iniciemos este ano pastoral com prudência, coragem, esperança e criatividade’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, realizou, no dia 18, o encontro anual com o clero arquidiocesano, que marca o início do ano pastoral. O evento, que ocorreu no Colégio Santo Antônio de Lisboa, no Tatuapé, reuniu os bispos auxiliares, padres e diáconos que vivem e atuam na Igreja em São Paulo, para refletir sobre a caminhada percorrida em 2020 e os principais destaques do ano que se inicia. Pandemia O Arcebispo ressaltou que a pandemia iniciada há um ano alterou radicalmente a programação pastoral e desafiou o clero a repensar suas ações do ponto de vista da assistência religiosa ao povo, das ações evangelizadoras e da sustentação das comunidades. “Participamos dos temores, angústias, inseguranças e sofrimentos do povo, e isso nos ensinou muito sobre nossa missão eclesial. Foi um ano de buscas, descobertas e inovações na ação pastoral”, salientou o Purpurado, chamando a atenção para o uso dos meios de comunicação e das novas mídias, que foram cada vez mais integrados à metodologia e ação pastoral, para oferecer ao povo ajuda, conforto e “remédio espiritual”. O Cardeal também frisou o quanto

Cardeal Odilo Pedro Scherer e bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo, durante encontro anual com o clero, realizado no dia 18

foi “expressivo e edificante” o aumento da ação solidária e caritativa para com os mais pobres, doentes e aflitos. “O amor ao próximo se tornou mais concreto e se expressou de muitas maneiras, de forma pessoal e espontânea, como também de forma organizada”, afirmou.

postas, que deverão ser levadas à discussão da assembleia em momento oportuno. Neste ano, já podemos retomar algumas atividades e começar a formar comissões para tratar de questões importantes da vida pastoral, que foram apontadas ao longo dos trabalhos sinodais até aqui”, reforçou Dom Odilo.

Sínodo A pandemia afetou, inclusive, as atividades do sínodo arquidiocesano, cuja assembleia arquidiocesana estava prevista para acontecer durante o ano passado, mas foi suspensa e só será retomada quando houver segurança sanitária. “O Espírito de Deus, enquanto isso, nos ajuda a amadurecer as reflexões e pro-

Servidores da Igreja O Arcebispo exortou o clero a iniciar o ano pastoral “com prudência, coragem, esperança e criatividade”, acolhendo os limites que a situação presente impõe, sem esquecer sua missão essencial. “Somos ministros de Jesus Cristo e servidores da Igreja e conhecemos nossos deveres. Não sendo possível ainda desen-

Divulgação

volver as atividades pastorais de modo pleno e costumeiro, façamos aquilo que é o mais necessário e urgente. O essencial da missão da Igreja, que também é o essencial de nossa missão, não deverá ficar desatendido”, recomendou o Cardeal. Dom Odilo também abordou outros temas relacionados à vida e missão dos padres e da Arquidiocese, dentre os quais a realização da Campanha da Fraternidade de 2021 e o Ano de São José, proclamado pelo Papa Francisco. Sobre esse último tema, o Arcebispo apresentou algumas indicações para a sua vivência em âmbito arquidiocesano (leia na página 20). Veja a reportagem completa em: https://tinyurl.com/ydbg6gk2.

Arquidiocese promove curso on-line sobre o sacramento do Matrimônio REDAÇÃO

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A Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo da Arquidiocese de São Paulo oferecem um curso de extensão sobre o sacramento do Matrimônio. Totalmente on-line, o curso será realizado durante o mês de março, às segundas-feiras, às 20h, nos dias 1º, 8, 15 e 22. A formação é voltada para sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos(as), leigos(as), membros de movimentos de casais, dirigentes dos cursos de preparação dos noivos, da Pastoral Familiar, e catequistas de jovens e adultos. A proposta é oferecer um aprofundamento teológico, jurídico, canônico e pastoral sobre o sacramento do Matrimônio. “A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e à educação da

prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Senhor”, consta no Catecismo da Igreja Católica, 1601. O investimento para a realização completa do curso, incluindo a inscrição, é de R$ 20,00. As inscrições podem ser feitas pelo site www.facdcsp.com.br. Outras informações em (11) 2062-2236 ou pelo e-mail secretaria@facdcsp.com.br. Veja a seguir, a programação das aulas: 01/03, às 20h Abertura, com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler das Faculdades de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP e de Direito Canônico São Paulo Apóstolo. Na sequência, será tratada a temática dos “Fundamentos antropológico-bíblicos sobre o sacramento do Matrimônio”, pelo Padre Dr. Boris Agustín Nef Ulloa, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma. Atualmente, ele é Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP.

08/03, às 20h Tema: “Perspectivas teológico-sacramentais sobre o sacramento do Matrimônio”, com a assessoria do Padre Dr. Sidnei Fernandes Lima, Doutor em Teologia Dogmático-Sacramentária pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo, Roma. Atualmente, é professor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP. 15/03, às 20h Tema: “Dimensões jurídico-pastorais sobre o sacramento do Matrimônio”, com assessoria do Padre Dr. Denilson Geraldo, SAC, Doutor em Direito Canônico pela Pontificia Università Lateranense, Roma. Atualmente, é Diretor do Instituto Pallotti di Roma e docente na Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo. 22/03, às 20h Tema: “Aspectos normativo-litúrgicos sobre o sacramento do Matrimônio”, com assessoria do Padre M.e Clemildes Francisco de Paiva, Mestre em Direito Canônico pela Faculdade em Direito Canônico São Paulo Apóstolo e doutorando pela Universidad Católica da Argentina (UCA).


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Quaresma: tempo privilegiado para receber o perdão de Deus Fernando Geronazzo

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Tempo de conversão e de reconciliação com Deus, a Quaresma é um período propício para uma série de exercícios que devem fazer parte da vida cotidiana dos cristãos. Uma dessas práticas é a Confissão. Instituída por Jesus Cristo, a Confissão é um dos sete sacramentos da Igreja, também conhecida como o sacramento da Penitência, da Reconciliação, do Perdão dos Pecados e da Conversão. Sua origem é narrada no Evangelho de João (cf. 20,22-23), quando Jesus ressuscitado apareceu aos apóstolos e soprou sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, serão retidos”. Cura Ao lado da Unção dos Enfermos, a Reconciliação é um dos chamados sacramentos de cura. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica explica que a vida nova, recebida pelos sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Eucaristia e Confirmação), pode ser enfraquecida e até perdida por causa do pecado. “Por isso, Cristo quis que a Igreja continuasse a sua obra de cura e de salvação mediante esses dois sacramentos”, consta no Compêndio. Quem perdoa os pecados? As fontes bíblicas enfatizam que somente Deus perdoa os pecados e, em virtude de sua autoridade divina, Cristo Ressuscitado transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome. Participantes do sacerdócio de Cristo, os bispos e padres recebem este ministério de perdoar os pecados in persona Christi (na pessoa de Cristo). Uma vez que os sacramentos são sinais visíveis e eficazes da graça divina e invisível, capazes de produzir por si mesmos

aquilo que significam, na Confissão sacramental o perdão dos pecados se dá de forma objetiva e confirmada pelo ministério da Igreja. Para explicar a relação do ministro ordenado com o perdão dos pecados, Santo Agostinho fazia uma comparação: Cristo ressuscitou Lázaro, mas quis que os discípulos o desatassem de suas faixas e lhe restituíssem a liberdade. De igual modo, é o Senhor quem perdoa os pecados, porém, para fazê-lo, não dispensa o trabalho de seus ministros. “É importante que eu vá ao confessionário, que me ponha a mim mesmo frente a um sacerdote que representa Jesus, que me ajoelhe frente à Mãe Igreja, chamada a distribuir a misericórdia de Deus”, afirmou o Papa Francisco, no seu livro “O nome de Deus é misericórdia”. A esse respeito, vale ressaltar que, devido à delicadeza e grandiosidade desse ministério do perdão dos pecados, todo confessor é obrigado, sem exceção alguma, a guardar o absoluto segredo dos pecados ouvidos na Confissão. O que confessar? A Confissão não pode ser confundida com aconselhamento, direção espiritual ou terapia. A matéria desse sacramento são os pecados cometidos por pensamentos, palavras, ações ou omissões. A Igreja ensina que pecado é, antes de tudo, uma ofensa a Deus que rompe a comunhão do ser humano com Ele e, ao mesmo tempo, um atentado à comunhão com a Igreja. Portanto, o penitente deve confessar todos os pecados graves (mortais) ainda não confessados, isto é, aqueles em que há matéria grave, plena consciência e consenso deliberado, podendo se referir diretamente a Deus, ao próximo ou a si mesmo. A Confissão é o único modo ordiná-

Luciney Martins/O SÃO PAULO

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rio para obter o perdão dos pecados graves. A Igreja também recomenda que os fiéis tenham o hábito de confessar regularmente os pecados leves ou veniais, ou seja, aqueles que possuem matéria leve, ou mesmo grave, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento, que, embora não rompam a aliança com Deus, enfraquecem a caridade na alma. “A confissão regular de nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra as nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito” (CIC, 1458). Graça sacramental Além de receber o perdão dos pecados e a reconciliação com Deus e com a Igreja, o cristão recupera, pelo sacramento da Confissão, a graça santificante perdida pelo pecado, a paz e a serenidade da consciência, a consolação do Espírito e o acréscimo das forças espirituais para o combate ascético.

4 PASSOS PARA UMA BOA CONFISSÃO 1) Exame de consciência – refletir sobre aquelas ações, pensamentos, pala-

vras ou omissões que tenham ocasionado o afastamento de Deus, ofendido ou prejudicado os outros ou causado dano interiormente. Pode-se tomar como referência os 10 Mandamentos ou os 7 pecados capitais;

2) Contrição ou arrependimento – uma dor da alma e uma rejeição dos pecados, que inclui o propósito de não voltar a pecar;

3) C onfissão – acusar-se dos pecados cometidos de forma clara ao sacer-

dote (indicar qual foi a falta específica, sem acrescentar justificativas), concreta (referir o ato, a omissão ou o pensamento preciso, não de forma genérica), concisa (evitar explicações ou descrições desnecessárias) e completa (sem omitir nenhum pecado grave, vencendo a vergonha);

4) Satisfação – cumprir a penitência indicada pelo sacerdote, como forma de reparar o dano causado pelo pecado, dar graças pelo perdão recebido e renovar o propósito de não pecar novamente.

(Fonte: “Falar com Deus”, Editora Quadrante)

Você Pergunta Jesus não foi grosseiro com a mulher que queria a cura da própria filha? PADRE CIDO PEREIRA

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A Carmem Mota, de Piraporinha (SP), não conseguiu entender o que Jesus disse a uma mulher em Mateus 15,21-28. Carmem, não é só você que fica intrigada com este texto, porque há, inicialmente, a impressão de que Jesus tratou mal uma pobre mulher, que só queria Dele a cura da própria filha. Vamos lembrar o texto: a mulher era estrangeira, uma cananeia. Ela chega para Jesus e diz:

“Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim! A minha filha está horrivelmente dominada por um demônio”. Ela chama Jesus de “Filho de Davi”, porque, embora não fosse judia, com certeza tinha ouvido os judeus se dirigirem a Jesus com este título. E a afirmação de que a filha sofria, dominada por um demônio, era muito comum entre os pagãos, uma vez que acreditavam que os espíritos maus tomavam conta das pessoas. Jesus não respondeu nada para aquela mulher, talvez para testar a paciência dela. Tanto é verdade que Ele contou

uma vez a história de uma viúva que insistiu tanto com um juiz, que este ficou tão incomodado com a insistência dela que acabou julgando sua causa. A cananeia insistiu, incomodou os discípulos, e estes pediram que Jesus a atendesse. “Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel”, disse Ele. Sua mensagem deveria ser anunciada primeiramente a Israel, depois chegaria ao restante do mundo. A mulher, então, chegou perto de Jesus e se ajoelhou, pedindo mais uma vez: “Senhor, me ajude!”

Jesus responde com uma frase dura, como que para ver se a mulher era humilde a ponto de receber a graça que pedia. E ela mostrou que sim, porque quando Jesus disse que não era bom tirar o pão dos filhos para dar aos cachorros, ela insiste: “Mas os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa do dono”. Jesus, então, elogia a fé daquela mulher e lhe concede a graça da cura à sua filha. Esta mulher nos ensina, Carmem, a não desanimarmos diante das demoras de Deus e do Seu aparente silêncio.


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10 | Reportagem | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

Imagem de Santa Teresa de Calcutá é entronizada por paroquianos na igreja matriz da nova paróquia da Arquidiocese de São Paulo, na Região Episcopal Belém, instalada no sábado, dia 20

Paróquia Santa Teresa de Calcutá expressa a presença de Deus e o testemunho do Evangelho na periferia Cardeal Odilo Scherer institui nova paróquia da Arquidiocese de São Paulo na zona Leste da cidade Fernando Geronazzo

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Uma procissão com o Santíssimo Sacramento no bairro Terceira Divisão, no extremo da periferia da zona Leste da capital paulista, na noite do sábado, 20, anunciava o nascimento de uma paróquia na Arquidiocese de São Paulo: Santa Teresa de Calcutá. Em meio a cantos e orações, o grupo de fiéis acompanhava o Arcebispo Metropolitano, Cardeal Odilo Pedro Scherer, sacerdotes e ministros. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região

Episcopal Belém, Dom Luiz Carlos Dias, ajudava a bloquear o trânsito na altura do número 30.500 da avenida Sapopemba – a mais extensa do Brasil e a terceira maior do mundo –, para que a procissão passasse. Seguindo Jesus Eucarístico, os fiéis levavam as imagens da padroeira da Paróquia e dos padroeiros das seis comunidades que a compõem: São José, Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora do Rosário, São Pedro, Imaculada Conceição e Rainha da Paz. A procissão, que saiu da Escola Estadual Rita Pinto de Araújo, onde Dom Odilo presidiu a missa de instalação da Paróquia, seguiu até a pequena matriz paroquial, a cerca de meio quilômetro de distância. Ao longo do caminho, conforme a procissão adentrava as ruas estreitas do bairro, era visível a emoção dos fiéis e moradores. Ao chegar à matriz, a imagem de Santa Teresa de Calcutá foi entronizada solenemente e os fiéis receberam a bênção

Matriz paroquial de Santa Teresa de Calcutá, no bairro Terceira Divisão, na zona Leste de SP

do Santíssimo Sacramento. Assim, se iniciava uma nova etapa na história daquela porção do povo de Deus. “Cada paróquia é uma comunidade que expressa a presença de Deus e o testemunho do Evangelho na cidade”, afirmou Dom Odilo, na homilia, enfatizando que a principal missão de uma paróquia é cuidar do maior bem da comunidade cristã: “A fé anunciada, celebrada e testemunhada”.

Criação A Paróquia Santa Teresa de Calcutá é a 306ª da Arquidiocese de São Paulo, criada a partir do desmembramento da Paróquia Santíssima Trindade, no Jardim Alto Alegre. O decreto de criação, publicado no último dia 2, estabelece que, além de fazer divisa com a Paróquia de origem, o novo território paroquial tem como limites a Paróquia Santo André Apóstolo, no Jardim Santo André, e

as Dioceses de São Miguel Paulista e de Santo André. Durante a missa de instalação da nova Paróquia, o Arcebispo deu posse ao primeiro Pároco, Padre Elson Paulo Correia Lopes, e ao Vigário Paroquial, Padre Patrick Geraldo McNamara, ambos missionários da Congregação do Espírito Santo (Espiritanos). Essa congregação religiosa retorna ao bairro mais de 20 anos depois de iniciar o trabalho evangelizador naquele lugar.

Comunidade viva Quando os missionários chegaram pela primeira vez àquela região, em meados da década de 1990, encontraram comunidades de fiéis que já se reuniam nas casas para rezar o Terço e meditar a Palavra de Deus. A catequese, encontros de formação e reuniões aconteciam, muitas vezes, em salões emprestados por moradores. Além da ação evangelizadora,

Padre Elson Lopes recebe chaves da igreja, em rito de posse como Pároco da nova Paróquia


as comunidades se mobilizaram no serviço da caridade. Aos poucos, os fiéis conseguiram adquirir terrenos para a construção das capelas dessas comunidades. Joana Delfina Pinto da Silva, 54, é uma das que ajudaram a escrever essa história. Moradora do bairro há 38 anos, Jô, como é mais conhecida, participava das celebrações e orações nas casas. Ela relatou ao O SÃO PAULO que, no primeiro salão construído no lugar onde hoje está a matriz, cabiam apenas 25 pessoas. “Depois de muita luta e trabalho, construímos esta igreja”, contou, acrescentando que, enquanto batalhavam pela construção do templo, a comunidade organizava as pastorais e grupos que surgiam a partir das necessidades do povo.

Preparação As reflexões sobre o desmembramento do território da Paróquia Santíssima Trindade começaram há cerca de dois anos. Desde então, iniciou-se um caminho de estudo e preparação, acompanhado de perto por Dom Luiz Carlos Dias, com o objetivo de identificar se havia condições concretas para a criação de uma paróquia. Em 2020, os missionários foram convidados a retornar à região, onde começaram o trabalho evangelizador no passado. O primeiro deles foi o Padre Elson. Nascido em Cabo Verde, na África, o novo Pároco tem 31 anos e foi ordenado sacerdote em 2016. Desde que chegou à Terceira Divisão, em outubro do ano passado, ele começou a preparar as comunidades para a criação da Paróquia. Nesse processo, houve a ajuda material de outras paróquias da Região Episcopal Belém.

Padroeira Durante o caminho de diálogo entre as comunidades, sacerdotes e bispos, surgiu a proposta de nomear a Paróquia como Santa Teresa de Calcutá, a religiosa albanesa nascida em 1910. Ela dedicou sua vida aos pobres do bairro periférico da cidade de Calcutá, na Índia, onde fundou a Congregação das Missionárias da Caridade, aprovada pela Santa Sé em 1950. Madre Teresa destacou-se mundialmente pelo serviço da caridade, chegando a receber o Prêmio Nobel da Paz em 1979. Com a saúde debilitada, ela morreu em 5 de setembro de 1997, sendo beatificada por São João Paulo II em 2003 e canonizada pelo Papa Francisco em 2016. Os fiéis ficaram felizes com a nova padroeira, principalmente por se identificarem com sua missão. “Santa Teresa de Calcutá foi uma mulher que cuidou dos pobres e, aqui, trabalhamos muito pelos irmãos que mais necessitam. Ela é a nossa nova amiga do céu que nos acompanhará e nos protegerá”, compartilhou a paroquiana Joana.

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Luciney Martins/O SÃO PAULO

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Dom Odilo confere a bênção do Santíssimo Sacramento aos fiéis, após procissão pelo bairro, que se seguiu à missa de instalação da Paróquia

‘Comunidade à frente da qual está Jesus, o Bom Pastor’ A instrução pastoral “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, publicada em julho de 2020 pela Congregação para o Clero, com aprovação do Papa Francisco, sublinha que, desde a sua origem, a paróquia se coloca como resposta a uma exigência precisa: “Aproximar do Evangelho o povo por meio do anúncio da fé e da celebração dos sacramentos”. O Código de Direito Canônico define como paróquia “uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular [diocese ou arquidiocese], e seu cuidado é confiado ao pároco, como seu pastor próprio, sob a autoridade do bispo diocesano”. Portanto, a Paróquia não se limita ao templo, que é a matriz ou sede paroquial, mas ao território no qual a Igreja está inserida. As primeiras comunidades cristãs se formaram nas cidades por onde os apóstolos e seus sucessores passavam e anunciavam o Evangelho. Ali, eram constituídas pequenas comunidades sediadas em casas, conhecidas como “domus ecclesiae” (igreja doméstica). A paróquia acompanhou as transformações da organização da sociedade em cada época, passando por diversas etapas até a realidade de grandes metrópoles, como São Paulo.

Anúncio, santificação e caridade Ao se dirigir ao povo da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, o Cardeal Scherer ressaltou que a Paróquia possui três grandes missões. A primeira delas é o anúncio da Palavra de Deus, cumprindo o mandato de Jesus Cristo para toda a Igreja. O Arcebispo explicou que esse anúncio se concretiza de diversas maneiras, a começar pela Catequese e formação dos fiéis, especialmente em vista da iniciação à vida cristã, também por meio de encontros, retiros e muitas outras iniciativas. “Que haja uma Catequese organizada e que todas as crianças e adolescentes das famílias católicas

estejam na Catequese”, exortou Dom Odilo. A segunda missão indicada pelo Cardeal é a santificação do povo. “Somos chamados a ser santos. Pelo Batismo, recebemos o dom do Espírito santificador”, afirmou, enfatizando que os cristãos se santificam por meio da vivência das virtudes, das bem-aventuranças, pela prática da oração e, sobretudo, na celebração dos sacramentos, em especial a Eucaristia, que, como ele frisou, “é o centro da vida da paróquia”. A terceira missão da paróquia é a promoção da caridade, que se dá de muitos modos. “Cada paróquia é uma comunidade pastoral à frente da qual está Jesus, o Bom Pastor. A Igreja é pastora e suas pastorais existem para promover o bem da caridade, da solidariedade, da ajuda recíproca”, sublinhou o Arcebispo, concluindo que a paróquia é o lugar onde a Igreja se manifesta e age na realidade concreta da vida das pessoas.

Vida pastoral A nova paróquia possui várias pastorais organizadas, como Catequese, Batismo, Liturgia, da Criança, da Juventude, da Pessoa Idosa, entre outras. Em algumas comunidades, já havia o trabalho da Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos). Recentemente, foi instituída a Pastoral da Dádiva, responsável por organizar todos os serviços caritativos em âmbito paroquial. “Nosso primeiro esforço é criar nas pessoas a consciência de que somos uma paróquia, que cada comunidade não deve atuar isoladamente, mas em conjunto. Felizmente, o povo tem correspondido a isso”, destacou Padre Elson. Estima-se que, atualmente, haja cerca de 60 mil habitantes no território da Paróquia. Entre os desafios pastorais, o Pároco sublinhou a necessidade de ir ao encontro das pessoas que estão afastadas da vida eclesial, sobretudo as novas famílias que chegam ao bairro, nas várias ocupações existentes, onde, no futuro, poderão surgir novas comunidades.

Pandemia A Paróquia Santa Teresa de Calcutá nasceu em plena pandemia de COVID-19, em uma área marcada pela pobreza, pela falta de infraestrutura pública e bastante atingida pelo desemprego. “Nós temos distribuído mais de 200 cestas básicas por mês, e só não entregamos mais porque não temos. Há muitas pessoas necessitadas da nossa ajuda”, contou o Pároco. Entretanto, o Sacerdote afirmou que tais dificuldades não desanimam o povo, que, pelo contrário, tem se dedicado bastante para ser Igreja viva na periferia. “Cremos que, juntos, podemos ser sinal de Cristo neste lugar”, afirmou o Missionário, evocando o lema do sínodo arquidiocesano: “Deus habita esta cidade, somos suas testemunhas”.

Dar amor Nas últimas semanas, houve uma grande mobilização dos paroquianos para preparar a festa da criação da Paróquia. Em mutirão, os padres e fiéis pintaram a nova matriz paroquial que antes era a capela dedicada a Santo Antônio. Na fachada da igreja, foi afixada a placa com o nome da nova Paróquia, seguida de uma frase de Santa Teresa de Calcutá, a qual foi escolhida para ser o lema da comunidade paroquial: “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas”. “Nós não queremos ser pobres de amor, e desejamos ir ao encontro de todos os irmãos e irmãs que mais precisam de ajuda material e, principalmente, espiritual”, concluiu Padre Elson. (FG)

Saiba mais sobre os fundamentos teológicos e pastorais das paróquias, como elas são instituídas, na reportagem disponível em: https://tinyurl.com/yaa7d8qa.


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E você? O que faz com o lixo que produz? Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Trocar o xampu líquido por um em barra, fabricar o próprio desodorante ou começar a usar uma composteira no apartamento são algumas mudanças que podem ajudar a diminuir a quantidade de resíduos descartados Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A pandemia impactou gravemente o sistema de reciclagem de lixo no Brasil. Um dos fatores é que a crise econômica afetou a atuação das associações e cooperativas. Some-se a isso o aumento da produção de lixo com a grande quantidade de embalagens e descartáveis de plástico utilizada pelo sistema delivery. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostram que a média de consumo de plástico aumentou mais de 25% durante a pandemia. O uso de material hospitalar descartável, como máscaras e luvas, também contribuiu para este aumento. Diante de tal cenário, o que é possível fazer para diminuir a produção de lixo no Brasil? Empresas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e pessoas físicas têm multiplicado propostas novas para reaproveitamento ou destinação de embalagens de produtos que fazem parte do dia a dia de todas as pessoas. É o caso da indústria de cosméticos e de materiais de higiene e limpeza. Para diminuir a quantidade de embalagens plásticas vazias, marcas investem em xampu, condicionadores e sabonetes sólidos, vendidos em barras e com embalagens de papel que trazem receitas de como produzir o próprio sabão em pó ou detergente de louças que já podem ser encontradas em blogs e canais de YouTube. Quem começa a mudar hábitos de consumo garante que esse é um processo lento, mas não impossível. Você precisa de tantas sacolas? Joana Imparato, 38, é figurinista. Ela começou a prestar atenção ao lixo reciclável que produzia quando ainda era adolescente. “Vi que não era possível reciclar tudo e que o caminho seria produzir menos”, disse ao O SÃO PAULO. Ela percebeu que precisava mudar alguns hábitos quando se deu conta da quantidade de sacolinhas de feira que levava para casa dentro de outra sacola grande de plástico. “Aprendi com uma amiga do bairro algumas coisas como, por exemplo, comprar mais a granel, adquirir coisas que eu possa trocar apenas o refil. Durante a quarentena, por causa da pandemia, percebi o quanto eu ainda poderia reduzir. Uma das primeiras atitudes foi com

A maioria das pessoas coloca, diretamente no lixo comum, resíduos que podem ser destinados à reciclagem, como os recipientes de vidro e latinhas

as sacolinhas pequenas de feira. Não faz sentido acumular dezenas de sacolinhas que depois vão para o lixo. Você pode ir colocando tudo dentro de uma sacola grande”, disse Joana. Além disso, durante a quarentena, Joana começou a usar xampus sólidos e a fazer o próprio sabonete. “Ao sair, porém, para comprar os ingredientes do sabonete, me vi com vários potinhos de plástico, o que é uma contradição”, salientou. Segundo ela, a maioria das pessoas ainda não está sensibilizada para a necessidade de produzir menos lixo e, por isso, é preciso começar com pequenos gestos.

“Separar o lixo e colocar no dia da coleta seletiva já é um bom começo”, afirmou. Inspire-se! Irmã Ilanyr Felipe Costa, 38, é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas. Para ela, a preocupação com o lixo sempre existiu e, com o meio ambiente, de forma mais ampla. “Sou nordestina e cresci escutando minha mãe dizer que ‘água é ouro’ e que precisamos cuidar dela. Hoje, vejo que muitos dos hábitos que tenho aprendi em casa”, contou. Por meio de leituras, seguindo páginas nas redes sociais de pessoas que têm

Em casa, é possível dar o 1º passo para promover a coleta seletiva, separando os recicláveis

foco na sustentabilidade e por meio da convivência com pessoas que se preocupam com essa temática, além da participação em eventos do nicho, Ilanyr percebeu que precisava ir além. “Em 2014, eu participei de um evento na Serra do Cipó, em Minas Gerais, e estar com pessoas desse meio fortaleceu ainda mais a minha consciência. Por isso, hoje sempre carrego minha garrafa de água, para não precisar comprar. Tento, o máximo possível, reparar bolsas e sapatos, antes de comprar novos. Também compro roupas de marcas que se preocupam com a sustentabilidade. Além, é claro, de levar sempre minha sacola quando vou ao supermercado e usar ecoabsorventes”, explicou. Ao ser perguntada sobre as dificuldades que encontra, Ilanyr salientou o fato de que não é fácil se sentir na contramão de um sistema que parece sempre motivar para o consumo. “Vejo, no entanto, que as pessoas estão se sensibilizando para a necessidade de produzir menos lixo, porém, em um processo muito lento. Acredito que essa pauta será levantada pelas pessoas mais jovens. Eles serão protagonistas dessa bandeira”, continuou. Para quem está tentando mudar os hábitos, a Religiosa sugeriu algumas ações como: pensar antes de comprar; tomar banhos mais rápidos; inteirar-se sobre o cuidado com o meio ambiente e envolver-se com pessoas conscientes, que podem ser inspiradoras. Diminuir o consumo Para Maria da Conceição Souza, 34, a preocupação com o lixo também começou muito antes da pandemia. “Há cerca de seis anos, comecei a pensar para onde iria todo o lixo que eu produzia, como o planeta absorveria tudo aquilo”,


disse. “Acredito que um dos primeiros passos é pensar sobre aquilo que você está consumindo, o que vai fazer com aquele resíduo para evitar, o máximo possível, que ele vire lixo”, destacou. Durante a pandemia, ela se viu desafiada a ajudar outras pessoas a fazerem a compostagem dos resíduos orgânicos. “Em alguns ambientes, é difícil envolver outras pessoas nesta questão”, disse. Recentemente, Maria da Conceição viveu, com outras três amigas, a experiência de passar um mês morando em uma kombi. “Ter um estilo de vida minimalista e pensar no lixo foi sem dúvida um dos maiores desafios que já vivi, e percebi que o mais importante é diminuir o consumo, ou seja, identificar o que é o lixo e as reais necessidades que temos”, afirmou. Máquina de Venda Reversa Aguinaldo Leite é responsável pelo projeto da Environmental Consultoria, Planejamento e Gestão Ambiental, empresa paulista especializada em gestão de lixo, que trouxe para o Brasil um modelo de negócio, em prática na Europa: a máquina de venda reversa, que auxilia as empresas a cumprirem seus compromissos com a logística reversa. “O projeto surgiu a partir da necessidade de termos matérias-primas para nossa empresa, que produz flakes (pequenos pedaços picadinhos) de PET para outras indústrias como têxtil, cordas, vassouras e resinas para tintas e vernizes. Somos operadores do sistema de logística reversa para ajudar os fabricantes a cumprirem suas metas de retirada de suas embalagens do meio ambiente. Com isso, buscamos as embalagens em cooperativas de catadores, sucateiros e agora vamos buscar direto do consumidor final e, assim, gerar um bônus para desconto em compras futuras”, explicou Leite. Ele disse que, em geral, as pessoas têm aprovado muito o projeto porque, em sua maioria, já têm vontade de fazer algo pelo meio ambiente. “Algumas já fazem coleta seletiva em suas casas e agora podem ser bonificadas diretamente nos pontos onde costumam fazer suas compras”, explicou. A máquina funciona da seguinte maneira: a cada embalagem (garrafas plásticas, potes etc.) nela depositada, a pessoa gera um ponto, que pode ser trocado nos parceiros do programa. Estes, por sua vez, oferecem um valor para os pontos, de modo que um ponto pode valer de R$ 0,10 a R$ 1,00, dependendo do parceiro, dos prazos e das ofertas de cada um deles. De posse da embalagem, o consumidor escolhe onde quer trocar seus pontos, podendo acumular no app ou na própria máquina para trocar posteriormente. O objetivo é estender a iniciativa para diferentes cidades do estado de São Paulo e, posteriormente, para todo o Brasil. Mais informações em http://environmental.eco.br/.

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Arquivo pessoal

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FAÇA VOCÊ MESMO é possível encontrar dicas práticas para reduzir a produção de resíduos e produzir itens cotidianos no blog Uma Vida sem Lixo (https://umavidasemlixo.com), como no exemplo a seguir: Receita de detergente líquido (para louça e para roupas) 3 litros de água 1 barra de sabão de coco (cerca de 200g) 50ml de álcool 70 ou 90 (100ml de álcool comum se você não achar os outros) 3 colheres de sopa (o medidor) de bicarbonato de sódio 5ml de óleo essencial da sua escolha (opcional, porque é bastante caro, mas é o que deixa o sabão cheiroso) Como fazer: Coloque a água para ferver em uma panela (maior que os 3 litros de água, para não transbordar). Evite as de alumínio, pois elas podem manchar! Enquanto isso, rale o sabão e leia previamente a sua composição para saber se ele é verdadeiramente de coco. É preciso ter pelo menos algum des-

tes ingredientes: óleo de coco, óleo saponificado de coco, óleo de babaçu. A maioria dos sabões “de coco” não é de coco, e sim de sebo animal. Leia a composição sempre! Quando a água estiver fervendo, coloque o sabão e mexa devagarzinho até dissolver tudo. Desligue o fogo. Coloque o álcool e o bicarbonato de sódio. Deixe a mistura esfriar até ficar morna. Se você quiser colocar o óleo essencial pra dar cheirinho, a hora é agora – é importante esperar a mistura esfriar, senão o óleo essencial vai evaporar todo. Misture e deixe descansar por uma hora. Coloque em potes de vidro (como de suco de uva), porque rende os 3 litros. Como usar: 1 medidor, de mais ou menos 50ml pra 4kg de roupas não muito sujas (a maioria delas). 2 medidores (100ml) pra 4kg de roupa muito suja (panos de chão, panos da casa, panos de prato). Dicas e informações: O detergente fica líquido mesmo, não viscoso. Não há nada de errado na receita se ele ficou parecendo água em

vez daquele detergente que a gente está acostumado. Só não há ingredientes para deixá-lo viscoso, mas funciona sim! Se ele ficou duro ou gelatinoso, pode ser porque você tenha usado um sabão que não era puro de coco. Isso acontece com o sabão de óleo reutilizado, por exemplo. Ele funciona da mesma forma, bastando você usar água morna para dissolvê-lo um pouco mais na hora de usar. O álcool é importante para que o detergente dê certo. Ele ajuda a deixar a mistura mais homogênea, a dissolver completamente o bicarbonato, para que este não precipite depois de frio, adiciona poder de limpeza, principalmente para roupas brancas e, apesar de ser pouco, possui poder desinfetante. Não evapora completamente, pois assim que entra na mistura ele se liga ao que já está presente ali. Pode ser usado para lavar louça, banheiro, roupas e tudo o que você quiser. Recomenda-se usar um potinho de sabonete líquido, para não desperdiçá-lo. Para fazer um limpador multiúso, misture 50ml do sabão líquido em 300ml de água e coloque em um potinho com válvula spray. Serve para vidros, espelhos, bancadas, superfícies em geral. Para produzir essa receita, o gasto é de R$ 5,00. A quantidade é suficiente para um mês e meio de uso, aproximadamente. Se você quer deixar a mistura cheirosa e não pode comprar óleo essencial, você pode adicionar chá de lavanda, capim-limão, hortelã, alecrim e outras ervas superaromáticas na água que vai esquentar. Coloque com uma peneira ou um sachê para tirar antes de adicionar o sabão. Ele vai ficar cheiroso! Provavelmente, ele não vai ficar transparente/levemente branco, e sim esverdeado ou levemente marrom, por causa da interação química dos compostos das plantas.


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COVID-19 no Brasil: em 1 ano, mais de 10 milhões de casos e escassez de vacinas Daniel Gomes

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Na semana em que se completa um ano da confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, em 25 de fevereiro de 2020, o saldo da pandemia no País até agora é de mais de 10 milhões de infectados, quase 250 mil mortos pelo novo coronavírus e aproximadamente 6 milhões de pessoas vacinadas, cerca de 3% da população. Em todos os estados, a vacinação foi iniciada em janeiro, a partir de grupos prioritários – profissionais da Saúde, indígenas aldeados, pessoas que vivem em instituições de longa permanência e idosos. Um mês depois, porém, algumas cidades estão praticamente sem estoques de vacina, como informaram na semana passada as autoridades de, ao menos, nove capitais: Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).

Jonatas Campos/Agência Estadual de Notícias do Paraná

A curto prazo, porém, o próprio Ministério informou que até março só conseguirá disponibilizar mais 4,7 milhões de doses (2 milhões da Covishield e 2,7 milhões da CoronaVac). O indicativo é que todas sejam aplicadas, sem a necessidade de manter reservas para a segunda dose, que será viabilizada com os lotes posteriores das vacinas.

Precaução ainda é o melhor remédio Diante das taxas de infecção por COVID-19 em alta, das incertezas sobre os impactos das novas variantes do vírus e das notícias de cidades em que infectados aguardam por leitos para se tratar da doença, como se registrou recentemente em Araraquara (SP), Sobral (CE), Manaus (AM) e Rio Branco (AC), por exemplo, manter o conjunto de medidas protetivas contra a doença é fundamental. “Não podemos abaixar a guarda em relação às estratégias de proteção, em Com pouco estoque de vacinas, algumas cidades no País interrompem o processo de vacinação hipótese alguma. Com as vacinas, estaImpactos da interrupção mos chegando a um porto seguro, mas Promessa de 230 milhões de visão de novas remessas pelo Minisda vacinação isso só vai ser bom quando for para todo Na terça-feira, 23, um lote com 2 mitério”. doses até julho mundo. Temos de ser resilientes, entenlhões de doses da Covishield, desenvolvida No dia 15, o Ministério da Saúde, em der que neste momento é preciso hierarMenos de 24 horas depois, o Ministério da Saúde apresentou, no dia 17, quizar quem será vacinado, pois a quanpela Universidade de Oxford em parceria nota, apontou que é obrigação das prefeituras “assegurar que a segunda dose tidade de vacinas ainda não é grande, e um cronograma no qual prevê, até julho, com a farmacêutica AstraZeneca, chegou chegue a todos os que já tomaram a pricontinuar exigindo das autoridades que a entrega de 230,7 milhões de doses de ao Brasil vindo da Índia, e se somará aos meira” e garantiu ter enviado quantidatodos tenhamos acesso à vacina”, comenimunizantes contra a COVID-19. Serão 2 milhões de doses já disponíveis desse des suficientes dos imunizantes para que tou Suleiman. 112,4 milhões de doses da Covishield, imunizante e aos 9,8 milhões da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em isso ocorresse. As situações de aglomeração de pes77,6 milhões da CoronaVac, além de vacinas que ainda não tiveram o registro de soas, como nos transportes públicos em parceria com o laboratório chinês Sinovac. No dia seguinte, a Confederação uso emergencial aprovado pela Agência horários de maior fluxo, nos eventos de Até domingo, o Butantan afirma que irá Nacional dos Municípios criticou o Nacional de Vigilância Sanitária (Anentretenimento, como em confraternizaentregar mais 3,9 milhões de doses. ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visa): 10,6 milhões de doses via Covax ções em bares, bailes e festas clandestinas, Com essa quantidade de vacinas será e afirmou ter relatos “de prefeitos Facility; 10 milhões da Sputnik V/Instêm levado ao aumento de casos, em espossível imunizar, com a aplicação de de várias partes do País indicando a tituto Gamaleya, via laboratório União pecial entre os mais jovens. No começo duas doses por pessoa, aproximadamente suspensão da vacinação dos grupos Química; e 20 milhões da Covaxin/Barat da pandemia em São Paulo, em março 8,8 milhões de brasileiros, cerca de 11% prioritários a partir desta semana, Biotech, por meio do laboratório Precisa de 2020, a faixa etária de 10 a 19 anos redas 77,2 milhões de pessoas que integram em consequência da interrupção da presentava 1% dos infectados, e a de 20 a Medicamentos. o grupo prioritário para a vacinação, dereposição das doses e da falta de prefinido pelo Ministério da 29 anos, 11,7%. Na primeira Saúde em janeiro. quinzena de janeiro deste O fim dos estoques das ano, os percentuais eram respectivamente de 6,7% e de vacinas e a interrupção do 20,7%. processo de vacinação po* Higienize as mãos *Ao sair de casa, use máscara! dem fazer com que os re“Não há outra equação frequentemente! A transmissão do coronavírus ocorsultados esperados inicialpara esta doença: havendo mente com a imunização mais aglomeração, aumenta re principalmente por via aérea, ou Embora seja remota a probabilidade não sejam alcançados. o número de casos”, afirma o seja, quando as secreções – tosse, cade alguém se infectar com o coronaví“Quando se imuniza infectologista. rus pelo simples contato com uma sutarro, espirros e perdigotos (gotículas um grande contingente Em entrevista à CNN populacional, é como se Brasil em janeiro, o secretáperfície contaminada, se o vírus perde saliva) – de alguém contaminado rio da Saúde do município fosse criado um cordão ao manece nas mãos e elas forem levadas (ainda que esteja sem sintomas da de São Paulo, Edson Apareredor da comunidade e, asaos olhos, ao nariz ou à boca, ele entra doença) alcançam a boca, o nariz e sim, se consegue quebrar a cido, falou sobre as consequno organismo. Assim, continua válida os olhos de outra pessoa. Se todos ências dessa atitude. “Os jocadeia de transmissão, ou vens têm ido às festas, bares seja, gradativamente, o vía recomendação de lavar as mãos com utilizarem máscaras devidamente rus não irá encontrar pese baladas, contraem a doenágua e sabão ou higienizá-las com álajustadas a seus rostos – cobrindo soas suscetíveis à infecção ça, são assintomáticos, vão cool em gel 70%. Essa frequência deve todo o queixo e o nariz – e não retirá causada por ele. Por isso, a para a casa e contaminam a ser ampliada quando se estiver em al-las, a transmissão do vírus se torna interrupção da vacinação é família, que acaba adoecendo e precisando de um leito uma péssima notícia”, exgum ambiente público, no transporte mais difícil. plicou ao O SÃO PAULO na cidade”, observou. público ou for preciso fazer o comparo infectologista Jamal Su(Com informações de CNN Brasil, tilhamento de objetos. *Evite aglomerações! leiman, do Instituto de InG1, Agência Brasil, Ministério da Saúde, Governo de São Paulo e UOL) fectologia Emílio Ribas.

A PANDEMIA CONTINUA: NÃO ABRA MÃO DESTES HÁBITOS!


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Estados Unidos Estado da Carolina do Sul promulga lei que proíbe o aborto José Ferreira Filho

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O governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, assinou, no dia 18, uma nova lei que proíbe o aborto quando se detectam os batimentos cardíacos no feto. O projeto “South Carolina Fetal Heartbeat and Protection from Abortion Act” foi aprovado na Câmara dos Representantes no dia anterior, com 79 votos a favor e 35 contra. O Senado, por sua vez, havia aprovado a medida em 28 de janeiro. Em uma coletiva de imprensa anterior à promulgação da lei, o governador McMaster assegurou que a aprovaria e declarou que este “é um grande passo à frente no movimento pró-vida na Carolina do Sul”. A nova lei proíbe o aborto depois que os médicos detectam os batimentos car-

díacos do feto, geralmente por volta das seis semanas de gravidez. Exceções seriam permitidas em casos de estupro, incesto ou risco de vida à mãe. As pessoas que infringirem a lei podem enfrentar uma multa de 10 mil dólares ou uma pena de prisão de até dois anos. O congressista republicano David Hiott disse que “este é o maior projeto de lei próvida já aprovado por este estado”, segundo informa a rede de televisão ABC News. Vários estados aprovaram leis sobre os batimentos cardíacos dos nascituros nos últimos anos, mas a maioria foi impedida de aplicá-las devido a ações judiciais de grupos pró-aborto. Os estados que aprovaram uma lei próvida semelhante incluem Geórgia, Iowa, Kentucky, Mississippi, Missouri, Dakota do Norte, Ohio e Tennessee. Fonte: ACI Digital

March of Life

Participante da Marcha pela Vida, realizada em janeiro em diferentes partes dos Estados Unidos

Inglaterra Bispos incentivam a campanha de doação de órgãos no país Os bispos da Inglaterra têm encorajado as pessoas a falar com suas famílias e entes queridos a respeito de sua decisão sobre a doação de órgãos. O apelo vem no momento em que o Serviço Nacional de Saúde do país lança a campanha “Leave them certain” (“Deixe-os seguros”), que segue a legislação de 2020 e altera o status da doação de órgãos de uma decisão de “aceitar” para uma decisão de “não participar”, o que significa que a equipe médica presumirá que um paciente moribundo deseja que seus órgãos sejam doados, a menos que seja informada do contrário. “Saúdo a iniciativa ‘Deixe-os seguros’ como um passo na direção certa para garantir que as famílias sejam sempre incluídas nos cuidados e decisões do fim de vida de seus entes queridos”, disse Dom Paul Mason, Bispo das Forças Armadas e responsável pela área da Saúde da Confe-

rência dos Bispos Católicos da Inglaterra e País de Gales. “A morte de um parente ou ente querido é um dos desafios mais difíceis e humanos que enfrentamos. Ter tais conversas antes dessa hora, porém, pode nos ajudar a nos sentir mais em paz, sabendo que estamos realizando o desejo daqueles que sempre teremos em nossos corações”, disse o Bispo em um comunicado. DIRETRIZES Com a entrada em vigor da nova legislação, os bispos também emitiram diretrizes aos fiéis acerca da doação de órgãos, que incluem um breve esboço a respeito do ensino católico e instruções sobre como registrar uma decisão on-line no site existente para este fim. Os prelados observaram que o Catecismo da Igreja Católica afirma que “a doação de órgãos após a morte é um ato nobre e meritório e

deve ser incentivada como uma expressão de solidariedade generosa”. CAMPANHA MOTIVADORA Quando a campanha “Deixe-os seguros” foi lançada no início deste mês, o Serviço Nacional de Saúde afirmou que os membros da família sempre estarão envolvidos antes que a doação de órgãos se concretize. “Seus familiares podem anular sua decisão se não tiverem certeza do que você deseja. Então, deixe-os seguros”, disse o serviço de saúde em nota. A iniciativa é um passo na direção certa para aliviar algumas das preocupações decorrentes da legislação. “Os católicos podem dar as boas-vindas à atual campanha, que é um afastamento do ‘consentimento presumido’ e, ao mesmo tempo, um movimento no sentido

Europa Durante a Quaresma, fiéis se unem em oração pelas vítimas da pandemia O Cardeal Angelo Bagnasco, Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), em nome dos presidentes dos bispos do continente, divulgou uma mensagem em vídeo na qual convida cada país a celebrar pelo menos uma missa em um dia da Quaresma, em recordação e oração às mais de 770 mil vítimas da pandemia no continente. A iniciativa já tem um calendário, que será continuamente atualizado, conforme a adesão das Igrejas locais: na Quarta-feira de Cinzas,

por exemplo, as comunidades católicas da Albânia e da Áustria rezaram pela intenção proposta pelo Conselho; já a Alemanha ficou para 27 de fevereiro; e Portugal, 16 de março. “Será como criar uma corrente de oração, uma rede eucarística em memória, em sufrágio a tantas pessoas. Nessa oração, queremos recordar também as famílias que sofreram com o luto e todos aqueles que ainda hoje, neste momento, são afetados pela doença e incertos sobre o destino da própria vida.”

A iniciativa quer oferecer um sinal de comunhão e de esperança a todo o continente. “Todos os bispos da Europa estão unidos às comunidades cristãs, aos sacerdotes, agradecidos a todos aqueles que continuam se dedicando às pessoas que mais precisam, para apoiar com a nossa palavra e, sobretudo, com a nossa oração o seu empenho, a fim de que possamos olhar, juntos, para um futuro melhor”, afirmou o Cardeal Angelo Bagnasco. (JFF) Fonte: Vatican News

de tornar a doação uma decisão real da pessoa. Também dá às pessoas a possibilidade de saber se seus parentes não desejam doar seus órgãos”, disse David Albert Jones, diretor do Centro de Bioética de Anscombe. Ecoando esses sentimentos, Dom Mason disse que as pessoas precisam “falar mais abertamente” sobre a questão da doação de órgãos. “É necessário incutir no coração das pessoas, especialmente dos jovens, uma apreciação genuína e profunda da necessidade do amor fraterno, um amor que pode encontrar expressão na decisão de se tornar um doador de órgãos”, disse o Bispo. (JFF) Fonte: Crux


16 | Papa Francisco | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

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Nesta Quaresma, ‘percorrer a estrada de Jesus’ Vatican Media

Filipe Domingues

Especial para O São Paulo

Para viver bem esta Quaresma é preciso percorrer a mesma estrada que Jesus traçou, conforme o relato bíblico, em seus 40 dias no deserto. Assim refletiu o Papa Francisco na oração do Angelus do domingo, 21, no Vaticano. De acordo com o Evangelho segundo São Marcos, Jesus foi tentado pelo demônio quando se retirou no deserto, antes de iniciar sua pregação pública. “O Espírito Santo, que desceu sobre Ele logo depois do Batismo recebido de João no rio Jordão, agora o manda para o deserto, para enfrentar o tentador, para lutar contra o diabo”, disse o Papa. “A inteira existência de Jesus é colocada sob o sinal do Espírito de Deus, que o anima, inspira e guia.” Recuperando aquela experiência de Jesus, a Igreja faz um caminho semelhante em um “deserto” espiritual. Neste período, de maneira especial, os cristãos são chamados “a um combate contra o espírito do mal”, afirmou Francisco. “De-

Papa saúda fiéis no Angelus, no domingo, 21, durante o qual falou sobre o período quaresmal

vemos estar conscientes da presença desse inimigo astuto, interessado na nossa condenação eterna, no nosso fracasso, e nos prepararmos para nos defender dele e combatê-lo.” O Pontífice também disse que “todo o ministério de Cristo é de luta contra o ma-

ligno nas suas mais diferentes manifestações”. Jesus, porém, venceu até mesmo o “deserto da morte”, por meio da ressurreição – o que se celebra de maneira especial na Páscoa. “Não tenham medo do deserto. Busquemos mais momentos de oração, de silêncio. Não tenham medo.”

Padre Albino tem virtudes heroicas reconhecidas Em decreto da Congregação para as Causas dos Santos, o Papa Francisco reconheceu as virtudes heroicas do Padre Albino Alves da Cunha e Silva, sacerdote diocesano nascido em Portugal, em 1882, e morto em 1973, na cidade de Catanduva (SP).

A partir de agora, o Padre pode ser chamado de “venerável”, e seu processo de beatificação terá andamento – depende da identificação de milagres para chegar à canonização. Ele foi Padre em Jaboticabal, Jaú, Bar-

ra Bonita e Catanduva, onde morreu aos 91 anos. Realizou muitas obras na região, inclusive a construção da igreja matriz, a Santa Casa de Misericórdia, o Lar dos Velhos, além de escolas, faculdades e obras sociais. (FD)

Papa visita escritora Edith Bruck, sobrevivente de Auschwitz A escritora húngara Edith Bruck, de 88 anos, recebeu a visita do Papa Francisco em seu apartamento, no centro de Roma, no sábado, 20. O encontro privado ocorreu a pedido do Papa, que se impressionou com uma entrevista da escritora publicada no jornal L’Osservatore Romano, do Vaticano, no Dia da Memória – data em que se recorda o Holocausto. Edith Bruck é judia e nasceu na Hungria, onde sofreu perseguição do regime nazista e sobreviveu aos centros de extermínio de Auschwitz e Dachau, entre outros campos. Ela foi libertada em 1945. Mudou-se e se estabeleceu na Itália no fim daquela década e se naturalizou italiana. “Eu li a sua entrevista, que conta o horror que a senhora e a sua família viveram durante o tempo da perseguição nazista, e fiquei muito impressionado. Por isso, pedi permissão para me encontrar com a senhora e visitá-la em sua casa”, disse o Papa. A visita privada durou cerca de uma hora. (FD)

Acolhidas as renúncias dos Cardeais Robert Sarah e Angelo Comastri O Papa Francisco aceitou no sábado, 20, a renúncia do Cardeal Robert Sarah ao cargo de Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. De acordo com o Cardeal, a renúncia foi apresentada ao completar 75 anos, em junho de 2020, e só agora acolhida pelo Santo Padre.

Ainda não foi nomeado seu sucessor. A Congregação é o órgão responsável “por todas as questões litúrgicas da Igreja latina” e pela “promoção e regulamentação da liturgia e dos sacramentos”, conforme define em seu site. Também foi acolhida a renúncia do Cardeal Angelo Comastri, então Vigá-

rio-Geral para a Cidade-Estado do Vaticano, Arcipreste da Basílica Papal de São Pedro e Presidente da Fábrica de São Pedro (organismo que cuida da decoração e da restauração da basílica, além da vigilância e da manutenção). Ele tem 77 anos e era o responsável pela vida pastoral e litúrgica no Vaticano.

Para sucedê-lo nas mesmas funções, foi nomeado o Cardeal Mauro Gambetti, que recebeu o título de cardeal recentemente, no consistório de novembro de 2020. Antes de ser cardeal, era frade na comunidade conventual de Assis, Custódio-geral da Basílica de São Francisco. (FD)


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| 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 | Com a Palavra | 17

Edison Veiga

‘Santo Antônio era um andarilho da fé, um pregador itinerante’ Mariana Veiga

Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

Santo casamenteiro, Santo do pão dos pobres, Santo que encontra as coisas perdidas, dos portugueses, italianos, Santo dos brasileiros. Santo Antônio é um dos santos mais populares no Brasil, centro das mais diversas devoções. Mas como ele se tornou esse grande intercessor? Nascido em Portugal, em 1195, Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa) foi um intelectual, missionário, professor, doutor da Igreja e autor de inúmeros sermões. Começou na vida religiosa em uma ordem agostiniana, mas ficou mais conhecido mesmo como frade franciscano. Famoso pregador, tem sua língua exposta até hoje na Basílica de Pádua, na Itália. Dada sua grande fama de santidade, Santo Antônio foi canonizado rapidamente pelo Papa Gregório IX, em maio de 1232, pouco tempo após sua morte, em 13 de junho de 1231 – data na qual é celebrado em toda a Igreja. No recém-publicado livro “Santo Antônio – A história do intelectual português que se chamava Fernando, quase morreu na África, pregou por toda a Itália, ganhou fama de casamenteiro e se tornou o santo mais querido do Brasil” (Editora Planeta), o jornalista Edison Veiga narra a história do Santo após pesquisas e viagens pela Europa. Repórter para diversos veículos como O Estado de S. Paulo, Deutsche Welle e BBC, e curioso investigador das coisas da Igreja, ele fala nesta entrevista sobre o novo livro e, claro, de Santo Antônio.

O SÃO PAULO – Há tanta coisa escrita sobre Santo Antônio. Por que esse livro agora? Edison Veiga – Acredito que faltava um relato com uma abordagem, digamos, mais jornalística. Como jornalista, meu interesse era mais biográfico do que hagiográfico – reconhecendo, desde o princípio, a dificuldade histórica em confirmar muitos dos fatos, em se tratando de uma figura que viveu há 800 anos e se tornou tão popular ao longo dos séculos. Em 2018, vivi na Itália por um ano, na região de Milão. Um ano antes, ainda no Brasil, comecei a planejar esse trabalho. Percorri praticamente toda a Itália. Espero conseguir conduzir o leitor por essas andanças também, uma vez que Antônio era um andarilho da fé, um pregador itinerante. No seu livro, você levou a sério as fontes históricas, mas também as “lendas” sobre o Santo. Por quê? Confesso que, no começo, eu pensava em me ater apenas aos fatos com documentação. Contudo, a grandeza de

Santo Antônio também está nas lendas populares, nos relatos que jamais serão confirmados e até naqueles milagres prosaicos que se tornaram parte do imaginário popular – como a comunicação dele com animais, entre outros. Se essas histórias fantásticas sobreviveram ao crivo do tempo, muitas vezes sendo ampliadas ao longo dos séculos, acredito que também precisam ser consideradas – se não como fatos verdadeiros, como cultura geral e, para todos os que acreditam, manifestação divina. Quando olhamos para a história, precisamos ter coração e cabeça abertos também para a construção narrativa: as histórias dizem muito sobre a mentalidade da época. E, quando resistem, sejam como entendimento de verdade, sejam por fé, sejam travestidas de folclore, adquirem significado cultural muito importante. Talvez o milagre da bilocação seja o mais fantástico. A tradição diz que ele esteve ao mesmo tempo em dois lugares. É isso mesmo? Há diversas versões desse relato. A mais documentada ao longo dos séculos é a que teria dado origem à expressão “tirar o pai da forca”. Antônio estava em Montpellier, na França, realizando uma homilia, quando teria aparecido em Lisboa para salvar seu pai, que estava sendo acusado pelo desvio de alguns tesouros reais. Ocorre que essas joias teriam sido embolsadas, na realidade, por um guarda da Corte. No julgamento, conta-se que Antônio apareceu para restabelecer a verdade, salvando a pele do pai. Mas, após o julgamento, ele foi seguido pelo pai e desapareceu na multidão – ou seja, com uma dose de ceticismo, podemos também imaginar que se tratava de ou-

tra pessoa, talvez confundida na escuridão de um tribunal do século XIII. Quais outros milagres são os mais aclamados pelo povo? Santo Antônio foi canonizado – no processo mais rápido da história da Igreja, com apenas 11 meses! – com o reconhecimento, pelos peritos do Vaticano, de 53 milagres. Todos tinham a ver com curas milagrosas. Eu detalho um a um no livro, baseando-me na Legenda Assidua, primeiro documento biográfico sobre o religioso. No imaginário popular, contudo, Santo Antônio se tornou o Santo casamenteiro, sobretudo para os portugueses e brasileiros, e o Santo das coisas perdidas, sobretudo para os italianos. Em vida, ele teria sido um comunicador fácil, acessível, carismático, que gostava e sabia estar em meio ao povo simples. Sempre se apresentava como um amigo próximo. Essa vocação acabou prosseguindo nos altares: quando, pela tradição popular, alguém ousa pendurar sua imagem de cabeça para baixo até que a causa seja atendida, por exemplo, se isso pode soar um tanto desrespeitoso, também denota uma proximidade como não há com outros santos do cânone. No fundo, é como se só nos sentíssemos íntimos o suficiente de Antônio. Como Santo Antônio ganhou fama de casamenteiro? Não há como precisar, infelizmente. Não existe nenhum registro objetivo de que ele teria ajudado alguma moça casadoira, da maneira conforme o imaginário popular consagrou a ideia. Há relatos, porém, de que ele pregava contra os casamentos arranjados, comuns à época, defendendo a importância do amor para unir os

casais. E registros antigos, mas não comprovados, dizem que ele teria, certa vez, desviado dinheiro de doações à Igreja para ajudar uma jovem cuja família não tinha condições de pagar o dote do casamento. Divulgação Por que em alguns países rezam para ele encontrar coisas perdidas? Isso é forte principalmente na Itália. Remonta ao período em que ele morou na França. Uma de suas atribuições ali era ensinar, ajudando a formar novos religiosos. Para tanto, ele utilizava um saltério. Certa vez, a obra se perdeu, deixando-o muito chateado. Ele rezou para encontrar o livro. No dia seguinte, um noviço veio procurá-lo, afobado e nervoso, com o saltério na mão. Começou pedindo desculpas. Disse que estava decidido a abandonar a vida religiosa. E, por pura maldade, havia afanado o livro de predileção do Padre. Durante a fuga, entretanto, um animal estranho, em chamas, o impedira de cruzar a ponte. E o teria ameaçado: ele seria arremessado no rio, caso não devolvesse o saltério. O religioso perdoou o jovem e o readmitiu ao noviciado, feliz pelo livro recuperado. Por que ele se tornou o Santo mais popular no Brasil? Quando as caravelas portuguesas aportaram em nosso litoral, em abril de 1500, compunham a comitiva oito religiosos franciscanos. Sendo eles portugueses e franciscanos, trouxeram também a devoção a Antônio. Acredito que esteja aí a origem da fama antoniana em terras brasileiras, amplificada, é claro, com o passar do tempo. O que, na sua visão, diferencia Santo Antônio? Algumas características fizeram dele um homem diferenciado, com erudição acima da média para aquele tempo e a facilidade comunicativa. Conseguia pregar em diversos idiomas e o fazia de forma fácil e acessível; era, portanto, compreendido. Por fim, era um homem que andarilhava. Irrequieto. Numa época em que as distâncias eram maiores, ele vencia os quilômetros de uma maneira impressionante. Ele acabou se tornando um intercessor íntimo, próximo dos fiéis. Sua história transcendeu a religião, virou também folclore, motivou simpatias. É como se fosse um santo que desce dos altares e se senta no banco, ao lado do fiel, na hora da missa. Não fica no pedestal.


18 | Análise | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

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O testemunho inspirador de Milada Horáková Reprodução da internet

Ana Lydia Sawaya

Eram 6h de 27 de junho de 1950, quando Milada Horáková, juíza e política tcheca, foi enforcada em Praga, no pátio da prisão de Pankrác. Contra a sua injusta condenação à morte tinham apelado, inutilmente, personalidades como Winston Churchill, Albert Einstein e Eleanor Roosevelt, primeira-dama dos Estados Unidos. Ela, que tinha antes lutado contra o nazismo e escapado de outra condenação à morte, não pôde fazer nada contra o regime comunista que tinha tomado o poder. Acusada falsamente de espionagem e conspiração, depois de um breve e indigno processo, abandonou-se a seu destino. Terminava, assim, a vida de uma grande mulher, mãe e política. Há um excelente filme, “Milada”, que conta a história de sua vida e pode ser facilmente encontrado na Netflix. Entre tantas cartas escritas antes da morte, aquela endereçada à sua filha de 16 anos, Jana, é um testemunho de amor, lucidez e certeza de que a verdade sempre vence. “Minha única garotinha, Jana, Deus abençoou minha vida como mulher com você. Como seu pai escreveu em uma poesia quando estava em uma prisão alemã, Deus nos deu você, porque Ele nos amou. Além do mágico e extraordinário amor de seu pai, você foi o maior presente que recebi do destino. No entanto, a Providência planejou minha vida de tal forma que eu não pude dar a você tudo aquilo que minha mente e meu coração lhe haviam preparado. A razão não é que eu a amei pouco; eu a amei com a mesma pureza e fervor com que as outras mães amam seus filhos. Mas entendi que minha tarefa aqui no mundo era lhe fazer o bem, cuidando para que a vida fosse melhor e para que todas as crianças pudessem viver bem. E, para isso, muitas vezes, tivemos que nos separar por um longo tempo. Esta já é a segunda vez que o destino nos separa. Não fique assustada e triste porque eu não voltarei mais. Aprenda logo, minha filha, a olhar a vida como um assunto sério. A vida é dura, não mima ninguém, e cada vez que a golpeia, ela dá dez golpes. Acostume-se logo, mas não deixe que isso a desencoraje. Decida lutar. Tenha coragem e objetivos claros e você vencerá na vida”, escreveu Milada. “Muito ainda não está claro para sua mente jovem, e não tenho mais tempo para lhe explicar coisas que você ainda gostaria de me perguntar. Um dia, quando crescer, você se perguntará por que sua mãe, que a amou e para quem você foi o presente maior, conduziu a vida dela de forma tão

Milada Horáková, juíza e política tcheca, foi condenada à morte pelo regime comunista em 1950. Antes de morrer, escreveu uma carta à sua filha, Jana (det.), que só conseguiria lê-la anos depois; um conteúdo inspirador sobre quem viveu à luz da verdade

estranha. Talvez, então, você encontre a solução certa para este problema, talvez uma melhor do que eu mesma poderia lhe dar hoje. Claro, você só será capaz de encontrar a solução correta e verdadeira sabendo muito, muito mesmo. Não apenas dos livros, mas das pessoas; aprenda com todos, mesmo com aqueles que parecem sem importância! Viaje pelo mundo com os olhos abertos e ouça não apenas suas próprias dores e interesses, mas, também, as dores, interesses e anseios dos outros. Nunca pense em nada como não sendo da sua conta. Não, tudo deve interessar a você, e você deve refletir sobre tudo, comparar, compor fenômenos individuais. O homem não vive sozinho no mundo; nisso há grande felicidade, mas também uma tremenda responsabilidade. Essa obrigação consiste, em primeiro lugar, em não ser e não agir de forma exclusiva, mas, antes, se fundir com as necessidades e os objetivos dos outros. Isso não significa ficar perdido na multidão, mas saber que se é parte de tudo, para trazer o melhor de cada um para a comunidade. Se você fizer isso, terá sucesso em contribuir para os objetivos comuns da sociedade humana”, continuou. Por fim, escreve ainda à filha: “Esteja mais ciente do que eu fui de um princípio: abordar tudo na vida de maneira construtiva – cuidado com a negação desneces-

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE

Pelo presente edital convoca-se a Sra. Cleide Amancio, (endereço desconhecido) para que compareça de terça à sexta feira, das 13:00h às 15:00h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, cito à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga - São Paulo - SP, para tratar de assunto que lhe diz respeito. São Paulo, 24 de fevereiro de 2021 Monsenhor Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP

sária –, não estou dizendo toda negação, porque acredito que se deve resistir ao mal. Mas, para ser uma pessoa verdadeiramente positiva em todas as circunstâncias, é preciso aprender a distinguir o ouro verdadeiro da bijuteria. É difícil, porque a bijuteria, às vezes, brilha tão deslumbrantemente... Confesso, minha filha, que muitas vezes na minha vida fiquei deslumbrada com bijuteria. E, às vezes, até brilhava tão falsamente que se deixava cair ouro puro da mão e se corria atrás do ouro falso. Você sabe que organizar bem a sua escala de valores significa não só se conhecer bem, ser firme na análise do próprio caráter, mas, principalmente, conhecer os outros, conhecer o máximo possível do mundo, seu passado, presente, e desenvolvimento futuro. Bem, em suma, saber, entender. Não tapar os ouvidos antes de qualquer coisa e sem motivo – nem mesmo calar os pensamentos e opiniões de quem pisou em meus pés, ou mesmo me feriu profundamente. Examine, pense, critique, sim, principalmente critique a si mesma, não tenha vergonha de admitir uma verdade que você passou a perceber, mesmo que tenha proclamado o contrário há pouco; não se torne obstinada com suas opiniões, mas, quando você chegar a considerar algo certo, seja então tão determinada a lutar e morrer por isso. Como disse Wolker, a morte não é ruim. Apenas evite morrer gradativamente, que é o que acontece quando alguém repentinamente se encontra separado da vida real dos outros. Você tem que criar suas raízes onde o destino determinou que você vivesse. Você tem que encontrar seu próprio caminho. Procure por si mesma, não deixe que nada a afaste, nem mesmo a memória de sua mãe e de seu pai. Se você realmente os ama, não os magoará ao vê-los de forma crítica – apenas não siga por uma estrada que é errada, desonesta, e que não se har-

Arquivo pessoal

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

moniza com a vida. Muitas vezes, mudei de ideia, reorganizei muitos valores, mas o que ficou como um valor essencial, sem o qual não posso imaginar minha vida, é a liberdade de minha consciência. Gostaria que você, minha garotinha, pensasse se eu estava certa”. O testemunho de Milada é como o do velho Eleazar que, diante das atrocidades cometidas pelos invasores, se recusa a qualquer tipo de cumplicidade (2Mc 6,23-28): “Eleazar, tomando uma nobre resolução (...) preferiu ser conduzido à morte. ‘Não é próprio da nossa idade – respondeu ele – usar de tal fingimento, para não acontecer que muitos jovens suspeitem de que Eleazar, aos 90 anos, tenha passado aos costumes estrangeiros. Eles mesmos, após o meu gesto hipócrita, e por um pouco de vida, se deixariam arrastar por causa de mim. (...) E mesmo se eu me livrasse agora dos castigos dos homens, não poderia escapar, nem vivo nem morto, das mãos do Todo-poderoso. Sendo assim, se eu morrer agora, corajosamente, (...) terei deixado aos jovens um nobre exemplo de zelo generoso, segundo o qual é preciso dar a vida pelas santas e veneráveis leis.’ Ditas estas palavras, ele dirigiu-se ao suplício”.


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| 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 | Fé e Vida | 19

São João de Ávila: missionário e profundo conhecedor das Sagradas Escrituras FLAVIO ROGÉRIO LOPES

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São João de Ávila, um dos mais influentes santos da Espanha do século XVI, foi inscrito no Calendário Romano por meio de um decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, promulgado pelo Papa Francisco no início do mês e assinado pelo Cardeal Robert Sarah, até então Prefeito da Congregação, e por Dom Arturo Roche, Secretário. A memória litúrgica do Santo será celebrada em 10 de maio. “Com efeito, a sabedoria que caracteriza estes homens e mulheres não lhes diz unicamente respeito, uma vez que se tornando discípulos da divina Sabedoria, tornaram-se, por sua vez, mestres de sabedoria para toda a comunidade eclesial. Nesta perspectiva, os santos e as santas ‘doutores’ são inscritos no Calendário Romano Geral”, consta no decreto pelo qual também foram inscritos nesse calendário São Gregório de Narek, Santa Hildegarda de Bingen e os irmãos Marta, Maria e Lázaro. Sacerdote e pregador João de Ávila nasceu em 6 de janeiro de 1499, em Almodóvar del Campo, filho único de Alonso Ávila e de Catalina Gijón, pais cristãos e com uma elevada posição econômica e social. Com 14 anos, foi estudar Direito na Universidade de Salamanca, mas abandonou os estudos devido a uma experiência profunda de conversão. Com o propósito de se tornar sacerdote, em 1520, foi estudar na Universidade de Alcalá de Henares. Em 1526, recebeu a ordenação presbiteral e celebrou a primeira missa na paróquia do seu povoado e, com o objetivo de partir como missionário para as Índias, decidiu distribuir a sua herança entre os mais necessitados. Depois, foi para Sevilha para es-

perar o momento de embarcar, mas enquanto se preparava para viajar, dedicou-se a pregar na cidade e nas localidades. Ali, encontrou-se com o venerável Servo de Deus Fernando de Contreras, doutor em Alcalá e prestigioso catequista. O Arcebispo conseguiu convencê-lo a ficar na Andaluzia e permanecer

formariam em seminários conciliares. Criou, ainda, a Universidade de Baeza (Jaén), referência durante séculos para a formação qualificada de clérigos e seculares. Depois de ter percorrido a Andaluzia e outras regiões do centro e do oeste da Espanha, já enfermo, em 1554, se retirou definitivamente numa casa simples em Montilla (Córdoba), Reprodução onde exerceu o seu apostolado, elaborando algumas de suas obras. O Arcebispo de Granada quis levá-lo como assessor-teólogo para as duas últimas sessões do Concílio de Trento; dado que não podia viajar por falta de saúde, redigiu os Memoriales, que tiveram grande influência naquela reunião eclesial.

em Sevilha. Enquanto se dedicava à pregação e à direção espiritual, continuou os estudos de Teologia. Obteve o título de Mestre. Escritor e teólogo Em 1531, por causa de uma pregação, foi aprisionado injustamente. No cárcere, começou a escrever a primeira versão da sua obra “Audi, filia”. Foi absolvido em 1533, continuou a pregar, mas preferiu se transferir para Córdoba, incardinando-se na diocese. Pouco depois, em 1536, chegou a Granada, ali permaneceu e continuou sua obra de evangelização. João de Ávila foi um ilustre teólogo, também inventou e patenteou algumas obras de Engenharia. Especialmente preocupado pela educação, fundou vários colégios menores e maiores que, depois do Concílio de Trento, se trans-

Doutor da Igreja João de Ávila foi contemporâneo, amigo e conselheiro de grandes santos, como Santo Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas); Santa Teresa de Jesus e São Pedro de Alcântara. Atribui-se também a ele a conversão de São Francisco de Borja e São João de Deus. O Santo, que faleceu em Montilla, no dia 10 de maio de 1569, foi beatificado em 1894 e canonizado no dia 31 de maio de 1970. O Papa Bento XVI proclamou o religioso espanhol como “doutor da Igreja” no dia 7 de outubro de 2012, em missa que precedeu o início da Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. A Igreja Católica atribui oficialmente o título de doutor da Igreja àquelas pessoas que têm uma autoridade teológica e doutrinal, em razão da certeza de seu pensamento, a santidade de suas vidas e a relevância de suas obras. “Profundo conhecedor das Sagradas Escrituras, era dotado de um ardente espírito missionário. Soube adentrar, com uma profundidade particular, nos mistérios da Redenção operada por Cristo para a humanidade. Homem de Deus, unia a oração constante à atividade apostólica. Dedicou-se à pregação e ao aumento da prática dos sacramentos, concentrando seus esforços para melhorar a formação dos futuros candidatos ao sacerdócio, dos religiosos, religiosas e dos leigos, em vista de uma fecunda reforma da Igreja”, disse Bento XVI sobre São João de Ávila, na ocasião. (Com informações da Santa Sé) *Texto produzido sob a supervisão de Daniel Gomes

Liturgia e Vida 2º Domingo da Quaresma 28 de fevereiro de 2021

‘Elias e Moisés estavam conversando com Jesus’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Vários eventos do Antigo Testamento eram prefiguração de Jesus Cristo. Providencialmente, por meio de personagens bíblicos, Deus anunciou a futura vinda de seu Filho, sua Paixão, Morte e Ressurreição. São exemplos disso Abel, o inocente assassinado por inveja; Melquisedec, o sacerdote que oferta pão e vinho; José do Egito, vendido por inveja; Jonas, tornado à vida depois de três dias no ventre de um peixe; o cordeiro pascal; e a serpente de bronze, que salva os israelitas do castigo mortal. Esses eventos tiveram pleno cumprimento em Cristo, de quem eram uma imagem. Outro evento que só pode ser compreendido à luz da vinda do Senhor é o oferecimento que Abraão fez de seu filho Isaac. Na Antiguidade, era costume entre os pagãos oferecer filhos em sacrifício aos deuses. Um caso conhecido é o ídolo Moloc, em nome do qual crianças eram “passadas pelo fogo” (cf. Lv 18,21; Jr 32,25). Nesse contexto,“Deus pôs Abraão à prova”, pedindo que oferecesse o tão esperado e amado primogênito no monte Moriá. Obviamente, o Senhor estava apenas testando a fé do patriarca e não permitiria tal pecado. Porém, a Igreja interpretou esse fato como prefiguração do sacrifício que o Filho único de Deus, Jesus Cristo, ofereceria de si mesmo sobre o Calvário. Levando às costas a lenha do próprio sacrifício (cf. Gn 22,6), Isaac – qual Cristo portando a Cruz – agiu como sacerdote e vítima. Assim como Jesus no Calvário, chamou Abraão de “Pai”, antes de fazer a pergunta perturbadora: “Mas, onde está o cordeiro?” A resposta de Abraão foi profética: “É Deus quem proverá o cordeiro, meu filho” (Gn 22,7s). Deste modo, previu duas coisas: que, em poucos instantes, o cordeiro providencialmente preso num arbusto substituiria seu filho Isaac; e que, no futuro, Jesus Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, não seria poupado ao sacrifício, mas Ele mesmo nos substituiria para expiar nossos pecados. Maravilhado por este mistério, São Paulo perguntaria: “Se Deus está conosco, quem será contra nós? Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, mas o entregou por nós, como não nos agraciará em tudo juntamente com Ele?” (Rm 8,31s). Jesus Cristo resume em si e leva à perfeição tudo o que Deus fez, ensinou e deu “na Lei, nos profetas e nos Salmos” (Lc 24,44), isto é, no Antigo Testamento. Por isso, quando se transfigurou aos apóstolos, manifestando a glória celestial, Jesus foi ladeado por Elias e Moisés, representantes dos profetas e da Lei. Cristo resume em si as Escrituras! Sem sua Encarnação, Paixão, Morte, Ressurreição, e sem a efusão do Espírito Santo em Pentecostes, a história da salvação seria incompreensível, incompleta e imperfeita. Por isso, Santo Agostinho diz que “o Novo Testamento se esconde no Antigo, e o Antigo se manifesta no Novo”. E, segundo Hugo de São Vitor, “toda a Escritura divina é um livro e este livro é Cristo”. É Ele quem, “começando por Moisés e percorrendo os profetas, interpreta nas Escrituras o que se diz Dele próprio” (Lc 24,27).


20 | Geral | 24 de fevereiro a 2 de março de 2021 |

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Dicas para celebrar o Ano de São José em sua comunidade Redação

ciação de fiéis, e pensar em iniciativas voltadas para este ano.

Proclamado pelo Papa Francisco no dia 8 de dezembro de 2020, o Ano de São José convida os católicos de todo o mundo a destacarem a figura do esposo da Virgem Maria, pai adotivo de Jesus, e patrono universal da Igreja Católica. Na Arquidiocese de São Paulo, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, indicou uma série de iniciativas para serem realizadas pelas paróquias, comunidades, organizações eclesiais e fiéis no período que se estende até o próximo dia 8 de dezembro. Os detalhes das indicações do Arcebispo, assim como a carta apostólica do Papa Francisco Patris corde (Com coração de Pai), na qual anuncia a convocação do Ano de São José, outros documentos e informações relacionadas estão disponíveis na página especial do Ano de São José no portal da Arquidiocese de São Paulo: www.arquisp.org.br/ano-de-sao-jose. Veja quais são as principais indicações para a celebração do Ano de São José na Arquidiocese:

Famílias – Promoção de uma renovada devoção a São José nas famílias, em sintonia com as reflexões do Papa Francisco; destacar seu papel como noivo, esposo e pai, trabalhador, educador honesto e justo, no contexto da Sagrada Família.

Celebrações – Que as celebrações litúrgicas da Solenidade de São José, em 19 de março, e a memória de São José Operário, em 1º de maio, sejam festejadas com maior destaque, por meio de novenas, tríduos e missas solenes.

Peregrinações – Até 8 de dezembro de 2021, todas as igrejas, oratórios públicos e semipúblicos dedicados a São José na Arquidiocese de São Paulo são reconhecidos como “Igrejas de peregrinação do Ano de São José”, onde se poderá obter indulgência plenária.

osaopaulo@uol.com.br

Comunidades – Refletir sobre a carta apostólica Patris corde na comunidade eclesial, pastoral, movimento ou asso-

Vocações – Invocar a intercessão de São José em favor das vocações ao Matrimônio e à família, ao sacerdócio e à vida consagrada religiosa. Leituras – Promover a leitura de bons livros e textos sobre São José nas famílias, especialmente entre os jovens e os grupos de Catequese. Devoções – A recitação diária, sobretudo no fim das celebrações, da Oração a São José indicada pelo Papa Francisco no final de sua carta apostólica. Nas Igrejas – Colocar a imagem de São José em destaque nas igrejas, se possível com uma pequena lamparina acesa ao menos durante as celebrações, para sinalizar este ano especial.

Indulgência – Será concedida a indulgência plenária, isto é, a remissão da

pena temporal dos pecados já perdoados, aos fiéis que: Estejam arrependidos dos seus pecados; Façam a profissão da fé católica; Renovem o propósito de viver conforme a vontade de Deus; Rezem pelo Papa e pela Igreja; Busquem a Confissão sacra mental em breve; Participem da Santa Missa e comunguem. Recomendam-se, ainda, as seguintes práticas: Meditar por, pelo menos, 30 minutos a oração do Pai-Nosso ou participar de um retiro espiritual, que inclua uma meditação sobre São José; Praticar uma obra de misericórdia corporal ou espiritual, a exemplo de São José; Rezar o Terço em família, entre casais de namorados ou noivos; Confiar a São José a santificação do trabalho, a proteção do trabalho que já se exerce ou a procura de um emprego digno aos desempregados; Fazer a Oração a São José (do Papa), e/ou a Ladainha de São José a favor da Igreja perseguida e pelo alívio dos cristãos que sofrem qualquer forma de perseguição; Também são aceitas todas as orações legitimamente aprovadas pela autoridade eclesiástica (Bispo) ou os atos de piedade realizados em honra de São José.

CLIQUE NO LINK ABAIXO E SAIBA MAIS SOBRE O ANO DE SÃO JOSÉ

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www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Francisco: nas crises, cada pessoa revela o seu coração https://cutt.ly/HlcklCq Cardeal Scherer: ‘O Pai-Nosso é a oração da intimidade do filho com o Pai, que se dirige com confiança e simplicidade’ https://cutt.ly/WlckExg Na Irlanda do Norte, projeto de lei prevê a proibição do aborto em casos de deficiências não fatais https://cutt.ly/MlckI1N Vatican Media

Normas para as celebrações da Semana Santa em tempos de pandemia https://cutt.ly/FlckV3U Bispos peruanos repudiam uso indevido de vacinas contra a COVID-19 https://cutt.ly/VlckGG9 O Dia Nacional do Imigrante Italiano https://cutt.ly/tlckZTi Morre o Padre Antônio Carlos Nunes, missionário do PIME https://cutt.ly/zlc7pt3


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