O São Paulo - 3336

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3336 | 3 a 9 de março de 2021

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Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Sé, apresenta o missionário Padre Modestus Oguchi Aloize, Capelão dos católicos nigerianos em São Paulo

Arcebispo cria capelania para católicos nigerianos em São Paulo Uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro da capital paulista, no domingo, 28 de fevereiro, marcou a instituição da Capelania Pessoal Santa Josefina Bakhita para os católicos nigerianos em São Paulo. Na ocasião, também foi apresentado o primeiro capelão

nigeriano, Padre Modestus Oguchi Aloize. A Capelania foi instituída pelo Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, após o pedido de um grupo de nigerianos católicos que desejava uma comunidade para celebrar em seu idioma e manifestar suas tradições e cultura.

Estima-se que haja de 2 mil a 3 mil nigerianos católicos na cidade. Muitos desses são refugiados das perseguições políticas e religiosas de extremistas islâmicos que dominam a Nigéria, considerada um dos países mais violentos para os cristãos em todo o mundo. Páginas 10 e 11

Há 100 anos, com a rede Stella Maris, Igreja realiza apostolado no mar

Ao longo da história, mulheres participam da missão apostólica

No Iraque, Papa irá ao encontro de uma Igreja perseguida

“Uma sociedade de homens e mulheres católicos unidos em oração e trabalho para a maior glória de Deus e o bem-estar espiritual dos marítimos em todo o mundo”. Assim é o trabalho da missão Stella Maris, realizada desde outubro de 1920, e hoje presente em 41 países. No Brasil, há três casas Stella Maris: no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em Santos (SP), um porto seguro para os marítimos também em tempos de pandemia.

Das santas dos primeiros séculos do Cristianismo, como Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília e Anastácia, passando pelas Doutoras da Igreja – Hildegarda de Bingen, Catarina de Sena, Teresa de Jesus e Teresinha do Menino Jesus –, as mulheres têm papel fundamental na missão evangelizadora da Igreja. Ainda hoje, elas são chamadas a tomar parte na missão apostólica da Igreja, em especial na transmissão da fé.

Entre os dias 5 e 8, o Papa Francisco realizará viagem apostólica ao Iraque, país que vive permanentes conflitos e instabilidades política e econômica, amplificadas em razão da atual pandemia. Nesse local de profundas raízes cristãs, o Papa mostrará a proximidade da Igreja com os cristãos perseguidos, em especial nas últimas duas décadas, e buscará pontes de diálogo com as autoridades civis e religiosas do Islã.

Páginas 12 e 13

Páginas 14 a 16

Página 20

Editorial Desde seus primórdios, o Cristianismo se destaca pela valorização da mulher Página 4

Encontro com o Pastor Escutar e acolher a Palavra de Deus, para ‘purificar o olhar de nossa fé’ Página 2

Espiritualidade

A prática da oração: um diálogo filial, profundo e único com o Pai Página 5


2 | Encontro com o Pastor | 3 a 9 de março de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

O

tempo quaresmal vai nos propondo, passo a passo, as questões centrais de nossa fé e da vida cristã, ajudando-nos a fazer uma avaliação sobre a vivência das promessas batismais, que renovaremos na Páscoa. Assim compreendemos também a referência frequente ao Batismo durante este tempo. Na Oração do Dia do 2º Domingo da Quaresma, fizemos este pedido: “Ó Deus, que nos mandastes ouvir vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória”. A oração faz referência ao Evangelho da transfiguração de Jesus, lido nesse mesmo Domingo. Da nuvem, que envolveu Jesus e os apóstolos no alto da montanha, ouve-se a voz de Deus Pai a confirmar que Jesus é o Filho amado, que deve ser escutado. A Quaresma é um tempo de penitência e de atenta escuta e acolhida da Palavra de Deus, cujo ob-

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Purificar o olhar da nossa fé jetivo é nos orientar e nos educar na fé. A penitência quaresmal não tem apenas o objetivo de “mortificar os nossos excessos mundanos e carnais”, mas de nos levar a uma conversão mais profunda e a uma sintonia maior com Deus. E isso acontece mediante a escuta e acolhida da Palavra de Deus, que nos ajuda a “purificar o olhar de nossa fé” e a confiar mais e nos alegrar nas promessas de Deus. Aqui, de fato, estão em jogo as perguntas que dizem respeito à nossa fé cristã, imenso dom que nos foi dado por Deus como graça no Batismo, juntamente com a esperança e a caridade. A fé batismal nos capacita a invocarmos Deus como Pai e a acolhermos seu amor infinito por nós. Pela fé, aderimos a Deus e lhe entregamos nossa vida, para que reine sobre nós. E acolhemos, como dom de sua graça, também suas promessas, como meta suprema de nossa vida neste mundo. A fé, porém, nos é dada como um dom e capacidade, que precisam se desenvolver e crescer mediante a nossa correspondência e participação. Lembremos as passagens do Evangelho, que nos falam do Reino de Deus como se fosse uma semente: ela tem a vida em si mesma, mas precisa encontrar ter-

reno bom para desabrochar, crescer e produzir fruto. Jesus fala dos frutos que Deus espera de nós em diversas passagens, como na parábola dos talentos, da figueira estéril e da videira. Nossa fé precisa crescer e se tornar robusta, para produzir os frutos da vida coerente com o Evangelho. A fé floresce e frutifica na justiça, na retidão, na caridade, nas obras de misericórdia e nas virtudes humanas e cristãs. A “purificação do olhar de nossa fé” requer que superemos algumas formas desviadas e pouco “puras” de crer e de viver a religiosidade: uma fé misturada com superstição e magia, que não é referida acima de tudo ao próprio Deus, mas a nós mesmos e pretende sempre a própria satisfação, em vez da glória a Deus e da conformidade da vida com sua vontade e seus mandamentos, precisa ser purificada e educada na Palavra de Deus. Também uma fé e religiosidade, sempre interesseiras, que pretendem mandar em Deus e impor a Deus as próprias vontades, desejos e até interesses e vaidades, sem a sincera obediência a Deus, precisa ser purificada e bem orientada. Nossa fé também precisa se tornar capaz de superar com serena confiança as inevitáveis provas que devemos enfrentar na vida. Quan-

tas vezes acontece que, diante da primeira dificuldade na vida cristã, ou do insucesso de nossas vontades expressadas em nossas orações, ou no contato com a Igreja, já vem a decepção e o desânimo e se abandona a fé e a religião. A fé é amadurecida mais nas provações do que nos consolos da vida. Abraão, o “pai da fé”, foi duramente provado, mas superou a prova, permanecendo fiel e obediente a Deus. Maria e José fizeram um difícil caminho de crescimento e amadurecimento de sua fé. Muitos santos experimentaram longos períodos de “noite escura” no caminho da fé, mas perseveraram e ficaram fiéis a Deus. Depois, experimentaram grande bênção e consolação. Ninguém pode afirmar que não precisa crescer na fé, para alcançar uma maturidade maior e uma serena firmeza na fé, capaz de resistir às mais difíceis provas, que podem se apresentar na vida. A primeira coisa a fazer é colocar Deus como centro de referência da fé, e não a nós mesmos. Trata-se de cumprir o primeiro mandamento da lei de Deus: crer em Deus e não ter outros “deuses” fora dele. Amar a Deus sobre todas as coisas, e não apenas amar um pouquinho... Todos nós precisamos pedir, com os discípulos: “Senhor, aumenta a nossa fé!”

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Reportagem: Padre Bruno Muta Vivas e Fernando Geronazzo • Auxiliar de Redação: Flavio Rogério Lopes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Fotografia: Luciney Martins • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Edição Gráfica: Ana Lúcia Comolatti • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 2,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 3 a 9 de março de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Assembleia das Equipes Pastorais do Sub-Regional São Paulo

Ato solene da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

No sábado, 27 de fevereiro, o Cardeal Odilo Pedro Scherer participou da 1ª Assembleia Ampliada das Equipes Pastorais do Sub-Regional São Paulo do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que, realizada de modo on-line, tratou sobre a encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, e da realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, com o tema “Frater-

Na segunda-feira, 8, às 19h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, participará do ato solene virtual promovido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) por ocasião da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Também estão confirmadas as participações do Reverendo Fran-

nidade e Diálogo: compromisso de amor”. A assessoria do encontro foi do Padre Patriky Samuel Batista, Secretário-Executivo de Campanhas da CNBB. Compõem este Sub-Regional a Arquidiocese de São Paulo e as Dioceses de Santo Amaro, Campo Limpo, Santo André, São Miguel Paulista, Guarulhos, Osasco, Santos e Mogi das Cruzes. (Com informações da Diocese de Santo André)

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO MATRIMÔNIO

PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO MATRIMÔNIO

Pelo presente edital convoca-se o Sr. JOSÉ NASCIMENTO DA SILVA, (endereço desconhecido) para que compareça de terça a sexta feira, das 13h, às 15h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, sito à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga – São Paulo – SP, para tratar de assunto que lhe diz respeito.

Pelo presente edital convoca-se a Sra. ELAINE CHRISTINA MISSO, (endereço desconhecido) para que compareça de terça a sexta feira, das 13h, às 15h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, sito à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga – São Paulo – SP, para tratar de assunto que lhe diz respeito.

São Paulo.

São Paulo. Mons. Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP

cisco Cezar, da Diocese Anglicana de São Paulo; do Reverendo Eliel Batista, da Igreja Betesda de São Paulo; do Pastor Sinodal Marcos Ebeling, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana; e do Cônego José Bizon, Diretor da Casa da Reconciliação. A solenidade poderá ser vista pelos canais digitais da TV Alesp e no YouTube da Rede Alesp.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

A Confraria Nossa Senhora das Dores da Catedral da Sé de São Paulo, sob cnpj 44.792.794/0001-49, situada na Praça da Sé, s/n convoca todos os confrades para a assembleia ordinária para eleição de um(a) novo(a) diretor(a) de apoio e um novo 1º secretário, que acontecerá no dia 20 de março de 2021, às 9h, nas dependências da Catedral Metropolitana de São Paulo. São Paulo, 3 de março de 2021

Mons. Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP

Manoel Batista Provedor

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa, no bairro Jardim Tremembé, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Aléscio Aparecido Bombonatti, MSJ, pelo período de 06 (seis) anos. Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro Parada Inglesa, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Benedito Raimundo de Siqueira, pelo período de 06 (seis) anos. Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia São José Operário, no bairro Vila Nova Galvão, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Wagner Aparecido Scarponi, pelo período de 06 (seis) anos. Em 16/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Mercês, no bairro da Vila das Mercês, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei Demerval Reis Soares Filho, O. DE M, pelo período de 06 (seis) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 01/03/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Natividade do Senhor, no bairro da Vila Guarani, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Rodrigo Aguiar Freitas. Em 22/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro Jardim IV Centenário, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Sidnei Aparecido Pardini, SVD. Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, no bairro da Vila Mariana, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei José Lorenzo Gómez, OAR. Em 16/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora das Mercês, no bairro da Vila das

Mercês, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Frei Jociel Batista de Carvalho, O. DE M. Em 11/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro do Jardim Paulistano, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Edvaldo Manoel de Araújo, CSsR, pelo período de 03 (três) anos. Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Santa Teresinha, no bairro de Santa Teresinha, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Marco Biaggi, SDB. Em 19/02/2021, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Luiz Gonzaga, no bairro Jaçanã, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Marcos Alves de Oliveira. PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 23/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia São Mateus Apóstolo, no bairro de São Mateus, na Região Episcopal Belém, do Reverendíssimo Padre Geraldo Domezi, em data retroativa a 01/01/2021. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 01/03/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Cristo Rei, no bairro do Tatuapé, na Região Episcopal Belém, o Diácono Permanente Sr. Mário Angelo Braggio. POSSE CANÔNICA: Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no bairro do Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Pius Choi Sangsoon. Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Sagrada Família, no bairro da Vila Carrão, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Adilson Pinheiro da Silva.

Em 14/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Marcos Evangelista, no bairro Parque São Rafael, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Komlan Dossou, SVD. Em 14/02/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia São Carlos Borromeu, no bairro da Mooca, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Cônego César Gobbo. Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro da Vila Califórnia, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Francisco Reginaldo Henriques de Miranda.

Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro da Vila Califórnia, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Benedito Aparecida Maria de Borba. Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Pessoal Coreana Santo André Kim Degun, no bairro do Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Youngho Noh. Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Sant’Ana, no bairro Santana, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Rafael Tavares da Mota, ISch. Reprodução


4 | Ponto de Vista | 3 a 9 de março de 2021 |

A Igreja é feminina

N

o próximo dia 8, celebra-se o Dia Internacional da Mulher – que, apesar de não ser uma festa com origens propriamente religiosas, nos fornece uma excelente ocasião de trazer à luz a grande dignidade e importância do elemento feminino na vida da Igreja. De fato, diferentemente do que às vezes se ouve, o Cristianismo se destacou, desde seus primórdios, pela grande valorização que tinha pela mulher. Como nota o sociólogo Rodney Stark, em seu celebrado estudo sobre a ascensão do Cristianismo, nossa religião “era excepcionalmente atraente porque, na subcultura cristã, as mulheres gozavam de um status muito maior do que as mulheres no mundo greco-romano em geral” (“The Rise of Christianity”, pág 95). Isso se deve, dentre outros fatores, à chamada exposição (infanticídio) dos recém-nascidos do sexo feminino, que no mundo não cristão “era lícita, moralmente aceita, e amplamente praticada por todas as classes sociais”, de tal

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Editorial

forma que entre os pagãos “quase nunca se criava mais de uma filha mulher” (p. 97). Nas famílias cristãs, por outro lado, todos os filhos e filhas deviam ser acolhidos como iguais em dignidade, porque dons do mesmo Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2203). Desde a era apostólica, na verdade, as mulheres desempenhavam importantes papéis na vida pastoral da Igreja: o próprio São Paulo se refere repetidamente a Priscila, que inclusive “expôs sua cabeça” por ele (cf. Rm 16,4). Com o passar dos séculos, a Igreja chegou a possuir em suas fileiras grandes e proeminentes santas, que receberam o raro título de Doutoras da Igreja. Desde uma Hildegarda de Bingen (1098-1179; compositora, mestre na filosofia e nas artes liberais, dramaturga, naturalista e médica) até uma Teresa d’Ávila (15151582; a grande reformadora da Ordem do Carmo e fundadora de mosteiros, e mestre mística proponente da noção de vida espiritual como um ‘castelo interior’); desde uma Catarina de Sena

(1347-1380; teóloga escolástica, intermediadora dos conflitos entre as grandes potências da época, e legado papal para missões de alta diplomacia) até uma Teresinha do Menino Jesus (1873-1897; a jovem carmelita que no escondimento de sua clausura propôs a via de santidade que levou o Papa São Pio X a chamá-la “a maior santa dos tempos modernos”); ou ainda, em nossos dias, uma Santa Edith Stein (1891-1942, mártir em Auschwitz e declarada “padroeira da Europa”) – a história da Igreja é marcada por estas fortes personalidades femininas, que brilham como portos seguros de doutrina e santidade. Infelizmente, é sim verdade que, em certos ambientes e contextos, aconteceram no âmbito da Igreja episódios de injusta desvalorização das mulheres. O Papa Francisco, nesse sentido, costuma destacar a importância de “oferecer espaços às mulheres na vida da Igreja”, favorecendo “uma presença mais ampla e incisiva nas comunidades” com maior envolvimento das mulheres “nas

responsabilidades pastorais” (discurso de 07/02/2015 à Plenária do Dicastério da Cultura). Isso não significa, alerta o Papa, negar as distinções que existem naturalmente entre os sexos, como que incidindo numa “utopia do neutro” e numa “manipulação biológica e psíquica da diferença sexual”. Trata-se, pelo contrário, de reconhecer e valorizar as aptidões próprias de cada sexo – no caso das mulheres, por exemplo, destaca-se o tema da transmissão da fé. Como disse o Pontífice na homilia de 26/01/2015, “são principalmente as mulheres a transmitir a fé”, e isso “porque quem nos trouxe Jesus é uma mulher. É o caminho escolhido por Jesus”. Como bons cristãos, aproveitemos também desta celebração secular do Dia da Mulher para iluminar o mundo com a beleza do Evangelho: mostremos às mulheres sua tremenda dignidade, que não precisa ser alcançada à custa de uma negação daquilo que lhes é próprio, mas, sim, por meio de uma harmoniosa aliança entre homens e mulheres.

Opinião

O diálogo necessário e os outros diálogos Arte: Sergio Ricciuto Conte

Francisco Borba Ribeiro Neto Muitos diálogos sempre estão acontecendo na sociedade. É verdade que, frequentemente, o que denominamos “diálogo” é apenas uma conversa entre pessoas que pensam as mesmas coisas, e o diálogo é muito mais um monólogo compartilhado. Nem por isso, porém, deixa de haver muitos diálogos em nosso meio. Contudo, mesmo esses diálogos ainda são, na maior parte das vezes, realizados entre pessoas que estão, por assim dizer, numa mesma grande frente. Compartilham os posicionamentos mais relevantes com relação à política, à moral, à família e à vida social. Não coincidem em tudo, mas – quando procuram dialogar – desenvolvem temas para os quais existe uma grande concordância. Esse não é o diálogo que faz a diferença na sociedade, ao qual o Papa Francisco fez questão de convidar os brasileiros ao insistir “diálogo, diálogo, diálogo” (no Encontro com a classe dirigente do Brasil), em 27 de julho de 2013), aquele ao qual os cristãos estão sendo convidados na Campanha da Fraternidade deste ano – não importa aqui seus erros e acertos. Um diálogo que não nos incomoda, nem nos obriga a mudar, pelo menos um pouco, não é o diálogo com o qual os cristãos são chamados a contribuir para a construção de um

mundo melhor. O diálogo que os cristãos deveriam ter entre si e com todos os demais é aquele que exige a nossa adesão cada vez maior ao amor e à verdade. Incomoda-nos, porque nos chama à conversão (nem que seja apenas para nos tornarmos mais pacientes e tolerantes com os que pensam diferente). Tornou-se muito falado, nestes tempos, o “Paradoxo da tolerância” de Karl Popper: “Se tolerarmos os intolerantes, eles criarão uma sociedade intolerante – aos seus moldes – e eliminarão a nós, os tolerantes”. Esse raciocínio é justo, ao menos em termos, mas não é válido para o diálogo. A tolerância pertence ao terreno

da negociação e do pacto, da convivência pacífica – sem dúvida necessária – entre diferentes. O diálogo pertence ao terreno do encontro e da partilha, de uma convivência na qual os diferentes não apenas convivem, mas conseguem construir algo juntos. Dialogar com os sectários pode parecer igual a tolerar os intolerantes. No entanto, não é. Tolerar os intolerantes leva a uma sociedade dominada pela intolerância. Não procurar dialogar com os sectários tornará a nós mesmos mais sectários e construirá uma sociedade mais fechada e que acabará se tornando intolerante e sectária – com sofrimentos

para todos, mais cedo ou mais tarde. Por tudo isso, existe um diálogo particularmente significativo ao qual nós, cristãos, estamos sendo chamados nesta Campanha da Fraternidade Ecumênica: o diálogo entre posições ideológicas opostas. “Dialogar” com pessoas que estão no nosso mesmo lado do espectro ideológico é bom, mas não faz a diferença, uma vez que essa não é a contribuição específica dos cristãos em um momento de crise, confusão e conflitos sociais. Temos a ilusão de que mudamos o mundo quando nos tornamos, nós e nossos correligionários, mais convictos de nossas posições – mesmo que isso nos torne mais sectários. Os cristãos, porém, ajudam a mudar o mundo quando, por amor a Cristo e aos irmãos, conseguem entender e acolher um pouco melhor as razões do outro (naquilo que têm de verdadeiro). Assim como existem os sectários que se recusam a mudar, sempre haverá aqueles que, no diálogo, mudam para melhor – por pouco que seja. São essas pequenas mudanças – que podem parecer insignificantes para os que estão obcecados pelo poder –, que criam a possibilidade de novas sínteses que superam as polêmicas e abrem a possibilidade de verdadeiras soluções para temas controversos. Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 3 a 9 de março de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5 Luís Kosminsky

santana

Oblatos deixam a Paróquia Nossa Senhora de Fátima após 45 anos Robson Aparecido Francisco

[IPIRANGA] Em 21 de fevereiro, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, conferiu o sacramento da Crisma a um grupo de jovens e adultos, durante missa na Paróquia Nossa Senhora das Dores. (por Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Dores) Padre Antonio Francisco Ribeiro

[LAPA] Em 25 de fevereiro, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, presidiu a reunião dos padres do Setor Pastoral Butantã. (por Benigno Naveira)

Cardeal Odilo Pedro Scherer preside missa na despedida dos Oblatos de São José da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Vila Sabrina

Edmilson Fernandes

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

A Congregação dos Oblatos de São José (OSJ) deixou a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Vila Sabrina, Setor Pastoral Medeiros, após 45 anos à frente da comunidade paroquial. A oficialização foi feita durante missa no domingo, 28 de fevereiro, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. Desde 1976, quando assumiram a Paróquia, os Oblatos construíram a igreja e o salão paroquial, atuaram no desenvolvimento social e espiritual da comunidade, na formação de lideran-

ças, na mística missionária e, sobretudo, na integração com os serviços diocesanos. A Congregação desenvolveu serviços pastorais como a Iniciação à Vida Cristã, ministérios leigos, Apostolado da Oração e o trabalho com jovens e idosos. Nos últimos tempos, atuou como Pároco o Padre Paulo Sérgio Rodrigues, OSJ, e como Vigário Paroquial o Padre Chinaka Justin Mbaeri, OSJ. Eles concelebraram a missa do último domingo, assim como o Provincial dos Oblatos, Padre Antônio Ramos de Moura Neto; o Conselheiro, Padre Bennelson da Silva Barbosa; e o Formador, Padre

Marcelo Ocanha. Também participaram da missa alguns seminaristas da Congregação. Durante a celebração, Dom Odilo agradeceu aos Oblatos a dedicação à Paróquia e lembrou que “somos uma Igreja missionária e precisamos estar em lugares em que o povo necessita de iniciação e fortalecimento da fé”. Dom Odilo pediu orações para os Oblatos, para que as sementes plantadas por eles possam frutificar. O novo Pároco será o Padre Dalmir Oliveira dos Anjos, que estava na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Imirim. Ele tomará posse no dia 6, às 19h.

Fernando Fernandes

[SANTANA] No domingo, 28 de fevereiro, em missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, Setor Pastoral Vila Maria, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, deu posse canônica ao Padre Efigênio Rodrigues Rocha (consagrado como Padre Estevão) como Administrador Paroquial. (por Fernando Fernandes)

Espiritualidade Quaresma: um tempo de oração Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ

E

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO IPIRANGA

stamos no tempo litúrgico da Quaresma, que nos prepara para a celebração da Páscoa gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na tradição cristã, a Quaresma é tempo de conversão e penitência: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). O caminho de reconciliação e perdão, durante 40 dias, se faz por meio do exercício da oração, do jejum e da esmola (a caridade). De fato, esses pilares se constituem como condições para a conversão e a exprimem, pelo nosso modo de viver e testemunhar o Evangelho. Uma intensa vida espiritual nos permite mergulhar nos mistérios da vida, da Paixão, da Mor-

te e da Ressurreição de Jesus, celebrar a Páscoa. Os prefácios eucarísticos para o tempo da Quaresma definem bem o seu profundo sentido espiritual. Recordam que devemos nos preparar para celebrar os mistérios pascais com o coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno. Foram esses mistérios que nos resgataram da morte, nos deram vida nova, nos salvaram (cf. Prefácio Quaresma I). Não só, mas pela penitência quaresmal, somos chamados a corrigir nossos vícios, elevar e purificar nossos sentimentos, fortificar o amor fraterno (cf. Prefácio Quaresma IV). Trata-se, realmente, de um caminho que exige muito esforço, paciente perseverança, desejo sincero de mudança, busca do perdão e da misericórdia na fidelidade a Cristo e ao Evangelho, abertura do coração a Deus e aos irmãos, um horizonte pascal de verdadeira passagem da morte para a plena vida. A necessidade das práticas quaresmais foi realçada pelo Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma deste

ano: “O jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6,1-18) – são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”. Um caminho de profunda e sincera conversão se faz, entre outros, pela oração intensa e constante. Rezando sempre – como rezou Jesus, reza a Igreja –, aprendemos a rezar em nossas famílias e comunidades. O próprio Jesus rezava, sua intimidade com o Pai nos revela a natureza de toda oração. Jesus aprendeu a rezar na sua família e na sinagoga, e nos lembrou de que quando oramos não devemos usar muitas palavras como fazem os hipócritas e fariseus, e nos ensinou a rezar assim: “Pai nosso...” (cf. Lc 11,1-4). Sim, a oração é um diálogo filial, profundo e único com o Pai. Sua vida era uma oração contínua, em meio ao intenso ministério. Rezava nos momentos decisivos,

como na tentação do deserto, a escolha dos apóstolos, na crucifixão. Na solidão, de noite, na madrugada, retirava-se para orar. Na morte, viveu a mais profunda angústia humana, e, mesmo nesta hora, confiou ao Pai sua vida: “Abbá! Pai! Tudo é possível para ti. Afasta de mim este cálice! Mas seja feito não o que eu quero, porém o que tu queres” (Mc 14,36). Eis o sentido da oração: cumprir a vontade de Deus, abrir o coração, dispor-se à conversão, passar pela morte e o sofrimento. Por isso, a Quaresma é tempo de rezar sem cessar, avivar a fé, fortalecer a esperança e doar-se plenamente ao serviço dos irmãos, com amor. Nesta Quaresma, vamos aprender a orar com Jesus, entrar na sua intimidade e confiança infinita, associar-nos à sua oração e deixar-nos levar por Ele, no caminho até o coração do Pai. Nos exercícios quaresmais, deixemo-nos iluminar e conduzir pelo lema da Campanha da Fraternidade “Cristo é a nossa paz”. Vivamos na oração e na paz, em fraternidade e diálogo, como nosso grande compromisso de amor.


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Fernando Fernandes

lapa

Dom José Benedito se reúne com a Pascom regional Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃO

Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Lapa, presidiu a reunião da Pastoral da Comunicação (Pascom) Regional, em 19 de fevereiro, com a participação dos coordenadores e agentes e do Padre Antonio Francisco Ribeiro, Coordenador Regional da Pascom. Na pauta da reunião foram definidas

três prioridades para o ano. Uma delas é a a campanha, cujo lançamento acontecerá no próximo dia 19, para a construção da nova igreja matriz da Paróquia São José, no Jardim Monte Alegre, Setor Pirituba, uma ação concreta da Arquidiocese de São Paulo neste ano dedicado a São José. A Paróquia São José vem sofrendo, constantemente, com as enchentes que acontecem na região, e um novo templo é uma necessidade. Outra prioridade será a realização do curso de formação para os novos agentes da Pascom, dado que a atual pandemia

motivou as paróquias a criarem grupos de apoio à comunicação e transmissão das missas, o que aumenta a necessidade de tal iniciativa. Na reunião também se falou sobre a “II Semana da Comunicação Pascom Lapa 2021”, que acontecerá em setembro. Nas próximas reuniões, a Pastoral da Comunicação definirá os temas e a programação. Sugestões já podem ser enviadas para o e-mail pascomlapa@gmail.com. Ao fim da reunião, Dom José agradeceu a participação de todos e pediu que se empenhem na campanha da construção da nova Igreja de São José.

TV Aparecida fala sobre o projeto Animando a Esperança CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na sexta-feira, 26 de fevereiro, o Padre Lorenzo Nachelli, Coordenador do projeto Animando a Esperança, da Arquidiocese de São Paulo, concedeu uma entrevista, ao vivo da Catedral da Sé, ao programa “Família dos Devotos”, da TV Aparecida. O Sacerdote recordou que o objeti-

vo principal do projeto é proporcionar ajuda às pessoas necessitadas, por meio de doações de roupas, alimentos, produtos de higiene e dinheiro. Ele frisou, porém, que além da ajuda material e financeira, as pessoas precisam de atenção espiritual e psicológica, de modo que a disponibilidade de todos para escutar e rezar pelo próximo também são fundamentais.

Padre Lorenzo explicou, ainda, que o projeto evidencia as iniciativas caritativas na Arquidiocese de São Paulo e facilita a mediação entre os que querem fazer doações e os locais que ajudam as pessoas mais necessitadas. Outros detalhes sobre o projeto Animando a Esperança podem ser vistos em https://animandoaesperanca.com.

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan deu posse no domingo, 28 de fevereiro, ao Padre Edson José Sacramento, CSSp, como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Anunciacão, Setor Pastoral Vila Maria, durante missa na igreja matriz. (por Fernando Fernandes)

Facebook da Paroquia Santa Terezinha

[BRASILâNDIA] Na noite do sábado, 27 de fevereiro, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missa na Paróquia Santa Terezinha, Setor Dom Paulo Evaristo, já na liturgia do 2º Domingo da Quaresma. A celebração também contemplou o 7º dia de falecimento do Diácono Permanente Manoel Rodrigues Pinheiro, que exercia seu ministério nessa Paróquia e morreu em decorrência de complicações da COVID-19. O Bispo expressou a solidariedade aos familiares do Diácono. (por Marcos Rubens Ferreira) Divulgação

belém

Dom Luiz Carlos Dias realiza reunião com o clero Padre Marcelo Maróstica Quadro e Fernando Arthur

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃO

Padres e diáconos que atuam na Região Episcopal Belém estiveram reunidos com Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese nesta Região, em 24 de fevereiro, no Centro Pastoral São José. Entre os temas tratados, falou-se sobre a realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, destacando-se que esta deve ser assumida pelo clero como instrumento de evangelização, a fim de que nas comunidades se possa pensar sobre a força do Evangelho para a transformação das realidades de injustiça e de outras situações

que são contrárias ao projeto de Deus. Outro tema foi o Ano de São José. Houve a orientação de que paróquias, comunidades e capelas que têm São José como padroeiro enviem à Secretaria de Pastoral da Região Belém a programação que está sendo pensada para este ano, a fim de que ela possa ser divulgada nas redes sociais da Região. Alguns detalhes sobre a Semana Santa também foram tratados. Diante das dificuldades acarretadas pela atual pandemia e com a redução de fiéis que participam presencialmente das celebrações, foi elaborado por uma equipe um subsídio para que as famílias possam rezar a Semana Santa nos lares, por meio de pequenas Celebrações da Palavra de Deus. Esse Pscom da Paróquia Santa Teresinha

[SANTANA] No sábado, 27 de fevereiro, no Teatro dos Salesianos, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Confirmação à segunda turma de jovens catequizandos da Paróquia Santa Teresinha, Setor Pastoral Santana. Concelebraram o Padre Silvio César, Pároco, e o Frei Rinaldo Stecanela, com a participação do Diácono Permanente Nilo Carvalho Neto (por Pascom da Paróquia Santa Teresinha)

subsídio será encaminhado para as paróquias, que ficarão responsáveis por multiplicá-lo e distribuí-lo para as famílias. A Catequese em tempos de pandemia também foi abordada. Diante de dúvidas e questionamentos de como a Catequese de crianças, jovens e adultos pode ocorrer neste momento, os padres e diáconos partilharam algumas experiências vivenciadas nas paróquias e comunidades. Além disso, foi apresentado o calendário das reuniões dos padres por setor, que ocorrerão em março, com a presença de Dom Luiz Carlos Dias e da coordenação de Pastoral da Região. A reunião foi encerrada com a Oração a São José, escrita pelo Papa Francisco para este ano especial. [IPIRANGA] No sábado, 27 de fevereiro, o Centro de Estudos Teológicos da Região Ipiranga (Ceti) realizou a aula inaugural do semestre, com palestra virtual do Prof. Dr. Padre Antônio de Lisboa Lustosa Lopes, da PUC-SP e do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), que falou sobre o capítulo II da encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco. Neste semestre, serão tratadas as disciplinas de “Cristologia”, com o Prof. M.e Padre Maurício Tadeu Miranda, salesiano; e “Escritos Paulinos”, com o Prof. M.e Padre Mauro Negro, josefino. Interessados em participar ainda podem se inscrever pelo e-mail ceti@regiaoipiranga.com.br ou pelo telefone (11) 2274-8500, com Philomena. A contribuição mensal é de R$ 70,00. (por Nei Márcio Oliveira de Sá).

[SÉ] O projeto “Brasil Terra de Santos”, iniciativa das Paróquias Nossa Aparecida dos Ferroviários e Nossa Senhora de Casaluce, ambas do Setor Brás, apresenta o vídeo sobre a vida e vocação do Capitão Antônio Álvares da Silva, o Frei Orlando, da Ordem dos Frades Menores, que, como Capelão Militar do Comissariado dos Franciscanos em São João del Rei, esteve no front de batalha na 2ª Guerra Mundial, quando foi morto, com um tiro acidental, aos 32 anos de idade, no ano de 1945. Em 2019, teve início o seu processo de beatificação, cujos trâmites ainda estão em curso. Saiba mais detalhes no Instagram e Youtube do projeto (@brasil.terradesantos). Divulgação


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Fé e Cidadania

ipiranga

Itesp inicia ano acadêmico de 2021 com posse da nova diretoria Vanessa Mascaro

Vanessa Mascaro

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na manhã de 22 de fevereiro, foi realizada a abertura do ano acadêmico do Instituto São Paulo de Estudo Superiores (Itesp). Ainda que de forma virtual, os alunos puderam acompanhar a aula inaugural, ministrada pelo Prof. Padre Rogério Gomes, que destacou os desafios ético-teológicos decorrentes da atual pandemia de COVID-19. Em seguida, o Prof. Padre Antônio Souza, ex-diretor, em nome de toda diretoria cessante, saudou os alunos, professores, formadores e funcionários. Na sequência, houve a posse dos membros da nova

Renato Rua de Almeida

Novos diretores do Instituto São Paulo de Estudo Superiores assumem suas funções

diretoria: Prof. Dr. Paulo Sérgio Carrara, CSsR (Diretor); Prof. Dr. Alejandro Cifuentes Flores, CS (Vice-Diretor); Prof. Dr. Antônio

César Seganfredo, CS (Diretor Administrativo); e Prof. M.e Rodrigo José Arnoso Santos, CSsR (Secretário).

Comportamento Ensinar a verdadeira liberdade Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Assunto importante e que está causando muitos transtornos no que diz respeito à educação dos filhos: a liberdade. Cada um de nós tem sede de liberdade, é próprio do ser humano essa busca. Estamos vivendo, porém, uma crise de conceitos e acabamos não compreendendo bem o que é a liberdade e como ensiná-la aos filhos. Há uma confusão iminente entre liberdade e a possibilidade de escolher. De fato, uma das manifestações da liberdade é a de escolha, porém, não qualquer escolha. Hoje em dia, é comum uma pessoa se sentir livre ao ter a possibilidade de escolher algo, movida pelo prazer que isso lhe traz – nesse caso, não se trata de liberdade, mas, sim, de escravidão, uma vez que a pessoa escolhe pelo prazer, mesmo que o resultado seja nocivo. Exemplo: escolhe-se comer uma caixa de chocolate inteira, mesmo sabendo que pode fazer mal à sua saúde. Ou seja, a possibilidade de escolha somente será verdadeiramente um ato de liberdade se a pessoa estiver formada com critérios claros, bons, e que tenha a capacidade de dizer não ao impulso, se isso for o melhor. Outra confusão comum está relacionada à felicidade. Há a ilusão de que, exercendo a liberdade de escolha, automaticamente se estará feliz. Existe um tipo de felicidade muito fugaz, superficial, fruto de um prazer instantâneo. Essa pode acontecer quando se escolhe movido pelo prazer. Existe a felicidade propriamente dita, fruto de con-

Direitos humanos em tempos de pandemia: a subsidiariedade

quistas, entregas e objetivos árduos alcançados com empenho. Nem todas as escolhas que levam a essas conquistas mais árduas serão fáceis e trarão felicidade imediata. É preciso ter muita convicção dos objetivos, dos fins a serem alcançados, para se fazer escolhas nem sempre fáceis e prazerosas que levem a essa felicidade mais profunda. Embora a liberdade não se restrinja à possibilidade de escolha, vamos tratar desse aspecto que toca intensamente o cotidiano familiar. Em primeiro lugar, é necessário identificar o que é verdadeiramente a liberdade. Vamos a algumas definições: segundo Santo Tomás de Aquino, a liberdade é a abertura transcendental da inteligência humana à verdade e ao bem. Cormak Burke a define como “a capacidade de escolher os meios mais adequados para realizar-me como ser humano”. Em ambas as definições, podemos observar que a liberdade pressupõe uma capacidade de determinação a um bem. Partindo desse princípio, para prepararmos os filhos para o exercício da liberdade, é preciso: Iluminar a inteligência deles desde a infância, ensinando o bem e a verdade (com exemplos, ações e conversas, mostrar a importância da busca do bem e da verdade a cada momento). Ensinar, na prática cotidiana, que atos promovem consequências (quando pequenos, protegê-los de atos que podem trazer consequências nocivas e, aos poucos, conforme crescem em capacidade de raciocínio, conversar sobre elas e, especialmente, permitir que

sofram as consequências de seus atos. Atenção: nunca os “salvem” das consequências de seus atos). Treinar a vontade dos filhos por meio da conquista das virtudes. De nada adianta identificar intelectualmente o bem, se não há força de vontade para renunciar ao que é preciso e se determinar a alcançar tal bem. Esse treino da vontade começa com a implementação de rotinas quando são bem pequenos, com o estabelecimento de horários adequados para dormir, acordar e tomar banho, determinação de cardápios saudáveis etc.). Ajudar a se moverem pela vontade e não pelos impulsos, emoções e sentimentos. Na primeira infância, isso supõe assumir o papel de vontade auxiliar ou externa – escolhendo por eles aquilo que é bom, independentemente de seus desejos infantis. Traçar um caminho progressivo de possibilidades de decidir (a partir de aproximadamente 5 anos). Lembrem-se, pais: não podem ser livres aqueles que não têm critérios claros e bem formados. Portanto, não permitam que seus filhos pequenos escolham, pois não estão preparados. Protejam-nos de escolhas ruins e do estresse e insegurança que causam. Diferentemente do que pensam, crianças expostas a essas situações, antes de devidamente maduras e preparadas, sentem-se extremamente inseguras; afinal, estão abandonadas nos braços de seus impulsos infantis. Pensem nisso! Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Continuando nossa reflexão sobre o direito ao trabalho em tempos de pandemia, pode-se dizer que, certamente, a medida mais eficaz de solidariedade em função do direito ao trabalho seja uma política pública de empregabilidade resultante da atividade econômica exitosa das empresas privadas, para a qual muito concorre o princípio da subsidiariedade, lembrando a afirmação acima mencionada pelo Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti, da íntima dependência entre os princípios da solidariedade e da subsidiariedade. Para tanto, é de se examinar o conceito do princípio da subsidiariedade e sua relação complementar com o princípio da solidariedade. “Com base nesse princípio, todas as sociedades de ordem superior devem propor pôr-se em atitude de ajuda (subsidium) – e, portanto, de apoio, promoção e incremento – em relação às menores... O princípio da subsidiariedade protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores e solicita estas últimas a ajudarem os indivíduos e os corpos intermédios a desempenhar as próprias funções. Esse princípio impõe-se porque cada pessoa, família e corpo intermédio tem algo de original para oferecer à comunidade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI, 186). O grande entrave do desenvolvimento do princípio da subsidiariedade como complemento do princípio da solidariedade para a promoção do direito ao emprego e ao combate do desemprego é a hipertrofia do Estado, sobretudo na atividade econômica no lugar da empresa privada. Deve-se, porém, entender a empresa privada, seguindo Jacques Maritain, em “O homem e o Estado”, como aquela na qual a associação se estende não apenas ao capital investido pelo empresário, mas também aos trabalhadores, com sua participação na gestão e na propriedade por meio de ações, enfim, uma empresa privada estruturada como uma “comunidade de trabalho”, no dizer de Maritain em sua obra “Os direitos do homem e a lei natural”. Ao Estado, na ordem econômica, cabe uma função supervisora e fiscalizadora da atividade econômica exercida pela empresa privada estruturada democraticamente com a participação dos trabalhadores em todas as dimensões de sua vida interna. No Brasil, o Estado atua, por exemplo, na atividade econômica por meio das agências reguladoras dos meios de comunicação, água, energia elétrica etc., e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, para controle da aplicação da legislação antitruste, uma vez que a atividade econômica, pelo artigo 173 da Constituição, deve ser exercida pela empresa privada. Ademais, o Estado moderno, sobretudo em países de economia em desenvolvimento, como na América Latina, tem o papel de promover políticas públicas nas áreas da saúde, educação e segurança pública, na linha da descentralização e desestatização, em um regime personalista e pluralista, segundo Maritain em “O homem e o Estado”. Em conclusão, é de se esperar que o direito ao trabalho e ao combate ao desemprego, como direito humano, profundamente atingido na América Latina em tempos do novo coronavírus, seja recuperado com a aplicação à realidade social e econômica dos países membros dos princípios da solidariedade e da subsidiariedade. Isso faz com que, especialmente, uma política pública de desenvolvimento econômico e da promoção da atividade econômica exercida pela empresa privada, em especial as micro e pequenas empresas, promova a empregabilidade e a renda para os trabalhadores desempregados, e, para os pobres, a efetivação de uma política pública de renda básica. Renato Rua de Almeida é presidente do Instituto Jacques Maritain do Brasil (IJMB).


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Em SP, atividades religiosas são classificadas como essenciais durante a pandemia Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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O governador de São Paulo, João Doria Junior, assinou na segunda-feira, dia 1º, um decreto pelo qual as atividades religiosas de qualquer natureza passam a ser consideradas entre aquelas essenciais enquanto vigorarem as medidas restritivas no estado em razão da pandemia de COVID-19. O documento foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, na terça-feira, 2. A mudança se deu pelo acréscimo de um item ao §1º do Artigo 2º do decreto nº 64.881, assinado pelo governador em 22 de março de 2020. Esse parágrafo lista quais estabelecimentos são considerados atividades essenciais, como hospitais, clínicas, farmácias, lavanderias, serviços de limpeza, hotéis, supermercados, entre outros. Agora, passam a ser incluídas nessa lista “atividades religiosas de qualquer natureza, obedecidas as determinações sanitárias”. A medida é uma garantia de que, enquanto vigorar o decreto, independentemente da fase do Plano São Paulo em que uma região/cidade esteja, não haverá proibição alguma às atividades religiosas, como cultos e missas, por exemplo, desde que sejam respeitados os protocolos sanitários para evitar a proliferação da COVID-19.

Na Arquidiocese, igrejas cumprem os protocolos de higienização e de distanciamento social

De acordo com o advogado Miguel da Costa Carvalho Vidigal, diretor da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp), o decreto também diminuirá os empecilhos para o acesso de religiosos às unidades de internação hospitalar. “Esse decreto servirá de auxílio a pacientes e seus parentes que desejam receber um sacerdote para conforto espiritual do doente ou para que receba a Unção dos Enfermos, mesmo àqueles que se encontram em UTIs. Na prática, apesar de certa resistência de alguns hospitais, isso já vem ocorrendo, e os padres respeitam as devidas regras sanitárias de cada hospital”, afirma o advogado. Recentemente, Doria vetou o Projeto de Lei (PL) 299/2020, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em dezembro, que re-

conhecia as atividades religiosas como essenciais e que deveriam ser mantidas em períodos de crises ocasionadas por moléstias contagiosas, epidemias, pandemias ou catástrofes naturais. Na última semana, representantes de diferentes religiões buscaram dialogar com o governador sobre a importância da aprovação da medida. A Ujucasp, por exemplo, encaminhou um ofício a Doria, no qual pontuou que “as atividades religiosas constituem um direito natural, que é também garantido expressamente pela ordem jurídica positiva em nosso País. A Constituição federal, no artigo 5º, inciso VI, classifica como inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegura o livre exercício de cultos religiosos, além de garantir a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Presidente sanciona lei que permite ao Brasil aderir ao consórcio global de vacinas O presidente Jair Bolsonaro sancionou na segunda-feira, dia 1º, a lei que autoriza a União a aderir ao Instrumento de Acesso Global de Vacinas COVID-19, o Covax Facility, uma aliança internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Gavi Alliance e da Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI), que tem como principal objetivo acelerar o desenvolvimento e a fabricação de vacinas contra a COVID-19 e permitir que os países tenham acesso igualitário aos imunizantes. No texto aprovado pelo Congresso Nacional, também era previsto que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedesse, em até cinco dias, autorização temporária de uso emergencial para a importação, a distribuição e o uso de qualquer vacina contra a COVID-19 pela União, desde que pelo menos uma das autoridades sanitárias estrangeiras mencionadas no dispositivo tivesse aprovado o imunizante e autorizado sua utilização em seus respectivos países. Bolsonaro vetou este ponto da lei. Fonte: Agência Brasil

CNBB repassará recursos do FNS para ajuda humanitária ao Norte do País A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) anunciou na última semana que enviará R$ 141,2 mil aos seus Regionais Norte 1 e Noroeste, para que possam ser realizadas ações de aju-

da humanitária às populações do Acre, Amazonas e Roraima, afetadas com o aumento dos casos de COVID-19 e recentes enchentes. Este recurso é do Fundo Nacional de

Solidariedade (FNS) e foi enviado pela Adveniat, uma organização de ajuda à América Latina da Igreja Católica na Alemanha. Tradicionalmente, este fundo é composto pelos valores arrecadados a

cada ano na Coleta da Solidariedade, no Domingo de Ramos, mas em 2020, em razão da atual pandemia, houve significativa baixa no montante de recursos. (DG) Fonte: CNBB


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Faculdade de Direito Canônico trata sobre as atualizações na normativa penal da Igreja Reprodução da internet

Reforma do Livro VI do Código de Direito Canônico foi apresentada pelo Professor Dr. Padre Damián Guillermo Astigueta, SJ, na aula on-line de abertura do semestre, com a participação do Cardeal Scherer Daniel Gomes

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A Reforma do Livro VI do Código de Direito Canônico (CDC) – conjunto de normas que regulam a vida na comunidade eclesiástica – foi o tema da aula inaugural do 1º semestre de 2021 da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (Facdcsp), realizada na manhã do dia 26 de fevereiro, de modo on-line. Estudantes e ex-alunos da Facdcsp, bem como operadores do Direito Canônico de diferentes dioceses do País, acompanharam a aula ministrada, diretamente de Roma, pelo Professor Dr. Padre Damián Guillermo Astigueta, SJ, que é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, onde atua como professor. O Livro VI, que tipifica as sanções por crimes cometidos no âmbito da comunidade católica, é um dos que compõem o CDC. Os demais são: Livro I (Das Normas Gerais); Livro II (Do Povo de Deus); Livro III (Do Múnus de Ensinar da Igreja); Livro IV (Do Múnus de Santificar da Igreja); Livro V (Dos Bens Temporais da Igreja); e Livro VII (Dos Processos). No começo da aula, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano e Grão-Chanceler da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, saudou os participantes e lembrou que tratar de sanções e penas na Igreja requer grande discernimento, senso de responsabilidade e de justiça, para a correta aplicação do Direito. “Sanções e penalizações são necessárias para se fazer justiça, e o Direito serve para assegurar a boa ordem, o bom andamento da vida da Igreja e a justiça para os fiéis”, comentou o Arcebispo. Cuidadoso processo de revisão Os trabalhos para a reforma do Livro VI do Código de Direito Canônico começaram em 2009, no pontificado de Bento XVI, e foram coordenados pelo Pontifício Conselho para a Interpretação dos Textos Legislativos, que realizou uma ampla consulta às conferências

episcopais, faculdades de Direito Canônico, centros de estudos jurídicos, dicastérios e peritos na temática, a fim de propor aprimoramentos no documento, cuja proposta final foi entregue ao Papa Francisco em fevereiro de 2020, ou seja, mais de dez anos após o começo das tratativas para a reforma. Na ocasião, Francisco afirmou que o trabalho de revisão do Livro VI atualiza a normativa penal para torná-la mais orgânica e em conformidade com as novas situações e problemáticas do contexto sociocultural, a fim de oferecer instrumentos idôneos para facilitar sua aplicação. O Pontífice encaminhou o texto com as propostas de revisão para um grupo mais restrito de peritos. Assim que o Papa o aprovar, este deverá ser promulgado. Ainda não há uma data definida para tal, mas é possível que isso ocorra em aproximadamente um ano. Objetivos da reforma do Livro VI Durante a aula, o Padre Astigueta ressaltou que a comissão que pensou a reforma do Livro VI partiu da premissa de que o problema central não estava no conteúdo em si do Código, mas em como torná-lo mais compreensível para que sua aplicação ocorra da maneira mais eficaz possível. “O texto proposto não é completamente diferente do que há no Livro VI atualmente. É, porém, um texto mais eficaz. O objetivo é que seja um instrumento mais bem utilizado por parte dos pastores”, afirmou o palestrante, ao recordar que a redação final apresentada propõe mudanças, ainda que pontuais, em 74 dos 89 cânones que compõem este livro. “Essa reforma pretende fazer com que as normas penais universais se tornem mais adequadas para a proteção do bem comum e dos direitos individuais, mais coerentes com as exigências da justiça e mais eficazes e adaptadas ao contexto eclesiástico atual”, ressaltou Padre Astigueta, lembrando, ainda, que a meta é oferecer aos operadores do Direito Canônico “uma ferramenta ágil e útil para fomentar o uso do Direito Penal quando isto for necessário, para que, respeitando

as exigências da justiça, da fé e da caridade, possam proteger o povo de Deus”, complementou. Bases das mudanças Padre Astigueta comentou, ainda, que as mudanças propostas se deram essencialmente em três pilares: o rigor da lei sob a ótica da misericórdia, pela qual a preocupação é a de buscar mais a caridade pastoral para o bem da comunidade de fiéis do que uma perspectiva punitiva; o rigor quanto à precisão dos procedimentos – incluindo um melhor detalhamento das finalidades de cada pena e dos trâmites dos processos; e a gradualidade da pena, considerando-se, neste caso, o tipo do delito cometido e as atribuições na Igreja daquele que o cometeu, bem como o perfil e a idade das vítimas. “Creio que a reforma tratou de muitos problemas, tanto da aplicação quanto dos delitos a combater. Estou convencido, porém, de que a eficácia de um instrumento está na capacidade de quem irá manejá-lo. Assim, dependerá da informação e, sobretudo, da formação oferecida neste campo aos pastores, para que bem utilizem essa ferramenta”, afirmou. “Ao final, deve-se buscar que a justiça seja a mais justa possível para todas as partes envolvidas no processo”, ressaltou. Também o Padre Dr. Everton Fernandes Moraes, Diretor da Facdcsp, reforçou que a “eficácia do Código depende do conhecimento sobre o que já está posto, bem como daquilo que será objeto de reforma. Diante disso, também esta é a missão da Faculdade de Direito Canônico, assim como dos outros institutos no Brasil: de proporcionar a forma-

ção adequada para os nossos estudantes, além da formação permanente para aqueles que já estão no trabalho nos tribunais”.

Preocupação pastoral Na parte final do encontro, o Cardeal Scherer lembrou que o Direito Canônico tem um ritmo próprio, que, por vezes, pode parecer demorado, mas que indica todo o cuidado da Igreja para que se analise os processos criteriosamente, a fim de que não se cometam injustiças. O Grã-Chanceler da Facdcsp recordou, também, que desde o pontificado de São João Paulo II tem crescido na Igreja a preocupação pastoral com o Direito Canônico. “Não se trata de aplicar a lei pela lei. A preocupação não é, simplesmente, aplicar uma sanção. Ela deve ter sempre uma finalidade medicinal, de modo a ajudar que quem falhou se corrija. Outra preocupação é com a salvaguarda do povo de Deus. Este é o bem pastoral que precisa ser resguardado. Não se trata de uma questão individual da Igreja com um faltoso, mas sim da Igreja com toda a comunidade de fiéis”, ressaltou. Também essa dimensão pastoral foi destacada pelo Papa Francisco em fevereiro do ano passado, quando recebeu a versão final da proposta de reforma do Livro VI do Código de Direito Canônico: “Divulgar e aplicar as leis da Igreja não é um empecilho para a eficiência pastoral de quem deseja resolver os problemas sem o direito, mas garantia da busca de soluções não arbitrárias, realmente justas, e, por isso, realmente pastorais”.


10 | Reportagem | 3 a 9 de março de 2021 |

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Instituída capelania para católicos nigerianos na Arquidiocese de São Paulo Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no centro da capital paulista, no domingo, 28 de fevereiro, marcou a instituição da Capelania Pessoal Santa Josefina Bakhita para os católicos nigerianos de São Paulo. Na mesma celebração, Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Episcopal Sé, apresentou o primeiro capelão dessa comunidade, o missionário nigeriano Padre Modestus Oguchi Aloize. A Capelania foi instituída pelo Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, após um pedido feito há dois anos por um grupo de nigerianos católicos que desejava um horário permanente de missas no seu idioma nessa histórica igreja da cidade, cuja origem está ligada à devoção dos afrodescendentes. A língua oficial falada na Nigéria, e também usada na liturgia, é o inglês. No entanto, como em muitos países africanos, a população se comunica por meio dos diversos dialetos falados nas várias regiões do país, como o igbo, yorubá e o hausa, que também se fazem presentes nas celebrações e práticas de piedade dos nigerianos. Antes de instituir oficialmente a Capelania, o grupo havia convidado o Padre Modestus para passar um período de três meses no Brasil, atendendo a comunidade. Os diálogos avançaram, até que se consolidou a vinda definitiva do Sacerdote, por meio de um convênio entre a Arquidiocese de São Paulo e a Congregação dos Filhos dos Dois Corações do Amor de Jesus e Maria, fundada na Nigéria. O Cardeal Scherer destacou que São Paulo é “uma cidade multiétnica e pluricultural”, por isso, além de paróquias territoriais, existem as paróquias ou capelanias pessoais destinadas a grupos étnicos diversos, como italianos, franceses, alemães, coreanos, chineses, nipo-brasileiros, latino-americanos. “Com o tempo, a partir de como essa capelania irá se desenvolver, poderá ser criada mais uma paróquia pessoal”, explicou o Arcebispo. Comunidade numerosa Estima-se que haja de 2 mil a 3 mil nigerianos católicos na cidade. No entanto, muitos desses fiéis ou participam das comunidades e paróquias brasileiras ou, então, acabaram migrando para igrejas evangélicas pentecostais fundadas por nigerianos, justamente pela dificuldade do idioma e da cultura. Um dos responsáveis pela iniciativa da Capelania é o leigo Ikenna Kingsley Ojukwu, 51, mais conhecido como Maurício, que vive no Brasil há dez anos. Ele relatou ao O SÃO PAULO que muitos nigerianos católicos têm dificuldades para se inserir nas paróquias brasileiras principalmente pela dificuldade do idioma. “Sentimos falta não apenas de ouvir

Dom Eduardo Vieira dos Santos entrega ao Padre Modestus o decreto de nomeação como Capelão da comunidade nigeriana na Arquidiocese

a Palavra de Deus e celebrar na nossa própria língua, mas também de cultivar os laços da nossa identidade nigeriana como comunidade”, afirmou. Sua esposa, Chinonye Benneth Ojukwu, 35, veio definitivamente ao Brasil há dois anos e afirmou estar muito feliz com o início da Capelania. Ela sublinhou que, por mais que houvesse outras comunidades cristãs nigerianas na cidade, essas não podiam oferecer aquilo que é o mistério central da fé católica: a Eucaristia. “Eu sentia muita falta de poder receber a Sagrada Comunhão em uma celebração com o meu povo”, disse. Segundo Maurício, esse movimento já começou a reunir os católicos que estavam dispersos na cidade. “Desde que souberam que haveria um padre nigeriano permanentemente, muitos dos

irmãos que frequentavam outras igrejas já começaram a procurar nossas missas”, relatou, acrescentando que a Capelania também pretende ser um lugar de referência para os imigrantes católicos de outros países africanos de língua inglesa, como a África do Sul e o Quênia. Capelão Padre Modestus tem 30 anos e é Sacerdote há quatro. Ele afirmou à reportagem que o fato de poder servir seus compatriotas em São Paulo é uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, um privilégio. Também garantiu que irá se empenhar para ir ao encontro dos muitos fiéis que estão mais distantes, para que se aproximem dessa comunidade de fé. “Eu pretendo oferecer o melhor de mim para realizar essa missão. Nos-

Padre Mathew-Mary Chizoba Affusim celebra o Batismo de uma filha de imigrantes nigerianos

so povo tem uma fé viva e pode dar um belo testemunho de Deus nesta cidade”, afirmou. O Capelão também garantiu que pretende aprender logo o português, para poder se comunicar melhor com a Igreja local e com a nova geração de descendentes de nigerianos que começa a surgir. Inclusive, durante a missa de instituição da capelania, quatro crianças foram batizadas. Viver a fé com liberdade A liturgia, celebrada em inglês e presidida pelo Superior-Geral da Congregação dos Filhos dos Dois Corações do Amor de Jesus e Maria, Padre Mathew -Mary Chizoba Affusim, foi marcada por cânticos e hinos tradicionais da piedade nigeriana, que eram entoados com fervor por uma comunidade saudosa dessa herança cultural. Entre esses fiéis estava Hyginus Ugwu, 36. Antes de chegar ao Brasil, há quatro anos, ele viveu um período no Catar. Embora tenha reconhecido que esse país tivesse boas oportunidades de trabalho para africanos, era um lugar difícil para viver a fé católica, por ser majoritariamente muçulmano. “Aqui, no Brasil, além de ser um país católico, fui muito bem acolhido e tenho liberdade para viver minha fé com minha família”, relatou o imigrante, que vive em São Paulo com sua esposa e uma filha. A felicidade estampada no rosto dos fiéis mostrava que, mais do que compreender o que era falado e cantado na celebração, esses nigerianos puderam se sentir novamente em casa, de onde saíram, muitas vezes, forçados, em busca de uma vida melhor.


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País marcado pela fé, sofrimentos e perseguições País mais populoso do continente africano, a Nigéria tem 195 milhões de habitantes, dos quais 11% são católicos. Apesar de rico em recursos naturais, esse país sofre desde a sua independência do Reino Unido, em 1960, com diversos conflitos internos, muitas vezes, de origem étnica, mas revestidos, especialmente nos últimos anos, de motivações religiosas. Tais conflitos se intensificaram com o crescimento do grupo extremista islâmico Boko Haram, responsável por ataques que deixaram milhares de mortos nos últimos anos e pela imposição de rígidas normas islâmicas que têm levado à fuga de milhares de cristãos. Além disso, o governo do presidente Muhammadu Buhari é marcado por constantes violações constitucionais, corrupção e pobreza generalizada. Refugiados Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), atualmente, existem mais de 200 mil refugiados nigerianos espalhados pelo mundo e cerca de 1,7 milhão de deslocados internos. De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), cerca da metade dos pedidos de refúgio feitos por nigerianos ao Brasil é motivada por conflitos e perseguições. A outra metade se enquadra como migração econômica. O Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, realizado em convênio com o ACNUR, informou ao O SÃO PAULO que, entre 2017 e 2020, foram assistidos 1.376 nigerianos refugiados ou solicitantes de refúgio. Ainda segundo a Caritas, entre os principais motivos que fizeram esses assistidos buscarem proteção no Brasil estão a perseguição em razão de opinião política, a atuação dos grupos terroristas insurgentes e os conflitos entre cristãos e muçulmanos. Risco para cristãos A Nigéria é também considerada um dos países mais violentos para os cristãos. O relatório da Organização Não Governamental Portas Abertas,

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padre Modestus tem a missão de pastorear os milhares de católicos nigerianos de São Paulo

publicado em janeiro, aponta, pelo sexto ano consecutivo, a Nigéria entre “os países onde mais pessoas foram mortas por sua fé” (3.530 mortos), à frente da República Democrática do Congo (460) e do Paquistão (307). O Relatório Liberdade Religiosa 2018, da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, ressalta que os nigerianos sofrem com ataques sangrentos, cometidos, sobretudo, contra agricultores cristãos e realizados por pastores

de gado muçulmanos da etnia fulani. O documento sublinha, ainda, que a motivação religiosa se sobrepõe às razões sociopolíticas nesses casos. Sequestros No dia 26 de fevereiro, homens armados invadiram os dormitórios de uma escola feminina do vilarejo de Jangebe, no estado de Zamfara, no noroeste do País, e sequestraram 279 jovens estudantes, que foram libertadas na terça-feira, 2.

Não é a primeira vez que os nigerianos sofrem com o sequestro de estudantes. Em 2014, das 276 estudantes sequestradas pelo Boko Haram em Chibok, no estado de Borno, apenas algumas dezenas delas conseguiram voltar às suas famílias, apesar da mobilização internacional. Há pouco mais de dez dias, 42 pessoas, incluindo 27 alunas, foram libertadas após terem sido sequestradas em uma escola no centro-oeste do País Em 15 de janeiro, o Padre John Gbakaan, da Diocese de Minna, foi sequestrado e no dia seguinte, morto. Em 27 de dezembro, pela primeira vez na história da Igreja Católica na Nigéria, um Bispo, Dom Moses Chikwe, Auxiliar da Arquidiocese de Owerri, foi sequestrado por homens armados e retido por alguns dias. Um mês antes, fora sequestrado o Padre Valentine Ezeagu, sacerdote da Congregação dos Filhos de Maria Mãe da Piedade, libertado 36 horas depois. No dia 22 de novembro, o Padre Matthew Dajo, da Arquidiocese de Abuja, foi retirado de sua casa paroquial e libertado após dez dias de cativeiro. Apelo dos bispos No início de fevereiro, os bispos das dioceses que compõem a Província Eclesiástica de Ibadan, uma das regiões mais populosas da Nigéria, fizeram um forte apelo pela proteção da população e denunciaram falhas do governo na gestão da segurança nacional. “Nós, bispos, unimo-nos a todos os nigerianos de boa vontade para pedir às autoridades que permitam iniciativas alternativas e legais às atuais forças de segurança, de modo a proteger a vida e a propriedade de todos os cidadãos”, diz a nota. Os bispos concluíram o longo comunicado pedindo, “aos nossos fiéis e a todos os nigerianos que rezem incessantemente para que Deus continue a conceder a sua misericórdia ao nosso país, aos nossos líderes e ao nosso povo”. (FG)

Cerca de 11% da população da Nigéria é católica e, nos últimos anos, tem sofrido inúmeras perseguições

(Com informações de Agência Fides e ACNUR)

Santa Bakhita Primeira santa africana, Josefina Bakhita nasceu em uma aldeia perto da montanha Agilerei, no Sudão, em 1869. Escrava, experimentou diversas humilhações e sofrimentos físicos que fizeram com que esquecesse o próprio nome. Bakhita, que significa “afortunada”, foi o nome que ela recebeu de comerciantes de escravos. Após ser comprada

por um cônsul italiano, foi levada para a Itália e entregue a uma família para ser babá de sua filha. Essa família teve que retornar para a África e decidiu deixar a filha e a babá aos cuidados das religiosas de Santa Madalena de Canossa. Foi, então, que Bakhita teve seu encontro com o Senhor e foi batizada aos 21 anos, recebendo o nome Josefina.

Em 1896, ela sentiu o chamado para a vida religiosa e se consagrou a Deus, a quem chamava carinhosamente de “o meu Patrão”. Bakhita se dedicou por mais de 50 anos às várias ocupações no convento. Admirada por sua humildade, simplicidade e alegria, costumava dizer: “Sede bons, amai a Deus, rezai por aqueles que não O conhecem. Se soubésseis

que grande graça é conhecer a Deus!”. Após longa e dolorosa enfermidade, Bakhita morreu em 8 de fevereiro de 1947. Foi beatificada em 1992, por São João Paulo II, que a canonizou em 1º de outubro de 2000, após o reconhecimento da cura milagrosa de Eva Tobias da Costa, brasileira, que havia rezado pela intercessão da religiosa africana. (Fonte: ACI Digital)


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Há um século, a missão Stella Maris é o apostolado da Igreja no mar Fotos: Stella Maris

Presente em mais de 300 portos de 41 países, iniciativa é confiada à intercessão de Nossa Senhora e realiza ações caritativas e de espiritualidade com os navegantes Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Há 100 anos, um pequeno grupo de leigos do Apostolado da Oração resolveu estender sua solidariedade pastoral e espiritual às pessoas que trabalham no mar. O primeiro encontro do então chamado Apostolado do Mar ocorreu em 4 de outubro de 1920, em Glasgow, na Escócia. A pastoral foi definida como “uma sociedade de homens e mulheres católicos unidos em oração e trabalho para a maior glória de Deus e o bem-estar espiritual dos marítimos em todo o mundo”. Desde que surgiu, capelães, agentes pastorais e voluntários fazem visitas diárias aos navios atracados nos portos internacionais para distribuir literatura católica, orações e livros, além de oferecer aos marinheiros amizade por meio da escuta. E assim, há um século, o ministério marítimo da Igreja Católica, que tem a Virgem Maria, a Estrela do Mar, como intercessora, leva o Evangelho por meio do acolhimento fraterno e solidário às tripulações de navios de diferentes nações. A missão está presente em mais de 300 portos de 41 países. De acordo com dados divulgados no Vatican News, anualmente são realizadas ao menos 70 mil visitas, de navios, a mais de 1 milhão de marítimos em todo o mundo. Atualmente, Stella Maris é a maior rede de visitantes de navios do planeta, e conta com mais de mil capelães e voluntários. Ela continua a se multiplicar pelos portos internacionais, proporcionando aos trabalhadores do mar acolhimento, sobretudo espiritual, mas, também, apoio psicológico e social quando necessário. ESPIRITUALIDADE E MISSÃO Em 1922, o Papa Pio XI aprovou e abençoou o Apostolado do Mar e exortou que fosse difundido em todo o mundo. Para melhor amparar os navegantes em suas necessidades, além das visitas aos navios e celebrações a bordo, o ministério conta com casas de atendimento dentro das docas (cais), com capelas e pontos de acesso à internet e telefones para facilitar o contato dos marinheiros com a família, de quem eles ficam distantes, por vezes, quase durante um ano inteiro. Nas casas de acolhimento, há ainda salas de leitura e jogos, além de TV com canais internacionais, para facilitar o acesso do navegante às informações de seu país de origem. Em 1997, São João Paulo II, por meio da carta apostólica em forma de motu proprio Stella Maris, instituiu o regulamento do Apostolado do Mar e atualizou as normas emanadas ao longo dos anos de atuação. No começo do documento, o Santo Padre reforça que Stella Maris é o nome “com que a gente do mar se dirige Àquela em cuja proteção sempre confiou: a Virgem Maria”. Também recorda que Jesus Cristo “acompanhava os Seus discípulos nas viagens de barca, ajudava-os nas suas fadigas e aplacava as tempestades” e

Criada em Glasgow, na Escócia (foto abaixo) em 1920, o Apostolado do Mar, atual missão Stella Maris, proporciona o bem estar espiritual dos marítimos em todo o mundo. Na foto acima, anterior à atual pandemia, Dom Philip Tartaglia, Arcebispo de Glasgow, abençoa um marinheiro a bordo de uma embarcação

que, da mesma maneira, “a Igreja acompanha os homens do mar, cuidando das peculiares necessidades espirituais daqueles que, por motivos de vários tipos, vivem e trabalham no ambiente marítimo”. Ao longo da carta, São João Paulo II detalha as atribuições de quem está à frente do Apostolado do Mar, como os capelães e os voluntários, e dos que são assistidos por ação da Igreja. Em 2020, ao falar sobre o centenário da Stella Ma-

ris, o Papa Francisco alertou sobre as dificuldades enfrentadas pelos marinheiros, pescadores e suas famílias, e os colocou em intenção. “Rezemos por todas as pessoas que trabalham e vivem do mar, entre eles os marinheiros, os pescadores e suas famílias.” Em setembro do ano passado, o nome do Apostolado do Mar foi atualizado para Stella Maris, com o objetivo de unificar a denominação do ministério internacionalmente.


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O porto seguro nos mares da América Latina e do Brasil A rede Stella Maris tem forte presença nas regiões portuárias do continente europeu e nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Sua atuação na América Latina também é abrangente. “São 17 centros. Temos uma presença ativa, por meio de sacerdotes e de voluntários, praticamente em quase todas as partes da América Latina”, afirma o Padre Samuel Fonseca Torres, Diretor Nacional do Apostolado do Mar e Coordenador Regional da América Latina e do Caribe. No Brasil, existem três casas de acolhimento da Stella Maris. A de Santos (SP), fundada em 1970, é a mais antiga do País. Há outra no porto do Rio de Janeiro e mais uma no Rio Grande do Sul. Natural da Colômbia e missionário scalabriniano, Padre Samuel é, desde 2007, Capelão do Centro Stella Maris do Porto de Santos, o maior do País e da América Latina. “Temos diariamente uma presença de 40 a 45 navios atracados. Em cada um, encontramos de 20 a 22 marinheiros. Isso significa quase mil marinheiros no Porto de Santos por dia. Destes, cerca de 20% frequentam nossa missão”, contou. Em Santos, a maioria dos trabalhadores acolhidos tem nacionalidade filipina. Na sequência, estão os de origem indiana, chinesa e de países europeus. “Nós [membros da Stella Maris] temos que ao menos falar três ou quatro idiomas para poder fazer um trabalho bonito com eles: ir a bordo, conversar, escutar e interagir.” Mão estendida para todos Também missionário scalabriniano, Padre Cesare Ciceri, nascido na Itália, atua como Diretor e Capelão do Centro Stella Maris do Rio de Janeiro, onde atracam de sete a oito navios por semana. Ele pontuou o trabalho inter-religioso do ministério, já que o atendimento é disponibilizado para toda a tripulação que chega aos portos, independentemente da religião ou crença do navegante. “Somos muito respeitados, e os marítimos sabem muito bem que trabalhamos de forma inter-religiosa. Destacamos, claro, que somos da Igreja Católica Apostólica Romana, mas já fiz várias celebrações inter-religiosas aqui”, pontuou. Padre Cesare recordou que “90% das mercadorias de todos os nossos comodismos, como roupas, tecnologias e alimentação, são transportadas via mar. Não imaginamos os sacrifícios e os sofrimentos que os marinheiros têm. Por isso, a Igreja Católica se torna, junto com outras Igrejas que trabalham neste setor, um ponto de apoio, serenidade e felicidade, para que eles possam superar essas dificuldades”. (IR)

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Para que a esperança se mantenha a bordo durante a pandemia Fotos: Arquivo pessoal

A pandemia de COVID-19 também trouxe impactos para a vida dos trabalhadores do mar. Eles estão tendo que lidar com restrições de viagem, ampliação do tempo dos contratos de trabalho e fechamento de fronteiras. Mais de 400 mil marinheiros estão esperando em algum lugar do mundo para voltar a seus países de origem. Padre Samuel Fonseca Torres, o Capelão do Porto de Santos (SP), afirmou que desde março de 2020 o trabalho pastoral tem sido limitado: “Os marinheiros ficam com medo quando vamos a bordo. Nós estamos correndo o risco de levar Marítimos do Quiribáti, na Oceania, estão na Casa Stella Maris em Santos (SP) desde janeiro de 2020 o vírus e de também contraí-lo”. Apesar dos riscos, não houve interrupção das ações: “Nosso trabalho aqui no Porto de Desde que chegaram, es tão hospedade de permanecer mais tempo com dados em um hotel, mas passam o dia Santos continua com visita a bordo os membros da pastoral e conhecer, no Centro Stella Maris, envolvidos em diariamente para conversar com os por exemplo, a gastronomia da região momentos espirituais e em atividades marinheiros, escutá-los, orientá-los e e a cidade de Santos. de convivências fraternas. celebrar missas”, explicou o Capelão. O marinheiro Kabiriera Ngatau, “Tinha sido agendado para saíEle destacou, ainda, que a amplia31, disse que, apesar de todas as difição do tempo de contrato dos trarem no fim de janeiro, mas foi canculdades, ele e os companheiros conbalhadores com as companhias das celado porque o país deles continua seguem enxergar o lado positivo dessa situação. “Está sendo uma bênção, embarcações resulta em um maior com as fronteiras fechadas. Está em porque com a missão sentimos que período longe de suas casas, e que, lockdown. É bem provável que eles podemos nos voltar para alguém.” por isso, o trabalho de acolhimento só saiam daqui em março ou abril”, Padre Samuel acrescentou que, foi intensificado, uma vez que “as proponderou o Capelão de Santos. blemáticas sociais e psicológicas da além do atendimento religioso aos Jefrianus Tael, 33, agente de pastoral nascido na Indonésia e que está tripulação triplicaram”. marinheiros do Quiribáti, que se dá na Casa Stella Maris, em Santos, conTambém no Rio de Janeiro, a atucom a celebração de missas e conação da Stella Maris tem sido limitada tou à reportagem do O SÃO PAUfissões, há acompanhamento psicoLO que o grupo de marinheiros do lógico e emocional. “Vemos a saúde por causa da pandemia. “A assistência Quiribáti tem expressado gratidão psíquica deles, o que estão sentindo ficou um pouco mais difícil para acessar os navios, porque os capitães estão pelo acolhimento recebido: “Eles se por estarem longe de casa há tanto com muitas preocupações. A realizasentem da família e confiantes para tempo e como estão lidando com a ção de missas a bordo foi reduzida. Até conversar”. Além disso, demonstrasaudade.” ram a alegria em poder participar tivemos que fazer algumas celebrações Todos os dias, são realizadas diferentes atividades com os marinheiros de missas celebradas exclusivamente on-line”, conta o Padre Cesare Ciceri. acolhidos. “Cantamos juntos, temos para eles, em inglês. O Diretor da missão no Rio de Janeiro conta que os funcionários das quadras esportivas onde eles podem Outra questão compartilhada pelo tripulações tiveram seus contratos jogar bola e, como lá no hotel eles não grupo é o fato de estarem acostumados a passar rapidamente pelos portos. de trabalho ampliados de 11 para 16 têm como lavar roupas porque é caro, Devido à situação atual, essa realidade meses, e que para melhor acolher os estamos lavando para eles”, detalhou o mudou, já que estão tendo a oportuninavegantes, principalmente neste peCapelão. ríodo de pandemia, são frequentes os contatos entre eles e os sacerdotes da rede Stella Maris da América Latina. “Avisamos os colegas de que chegará uma turma que precisará de apoio ou de alguma coisa específica. Isso facilita o acolhimento”, detalhou. À espera do retorno a Quiribáti No Porto de Santos, o Centro Stella Maris acolheu 25 marinheiros do Quiribáti, país da Oceania que está com as fronteiras fechadas. Esses trabalhadores desembarcaram em Santos no mês de janeiro de 2020 e estão aguardando a repatriação.

Padre Cesare visita marítimos em embarcação no Rio de Janeiro; trabalho é mantido em meio à pandemia


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Santa Hildegarda: testemunha da fé e promotora cultural no século XII Reprodução

Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Abadessa, compositora e autora de livros de Medicina, Teologia e Filosofia. Essa foi Santa Hildegarda de Bingen, que viveu no século XII, e recentemente foi inscrita no Calendário Geral Romano. Ela é uma das quatro doutoras da Igreja, assim como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Jesus e Santa Teresinha do Menino Jesus. Para tal reconhecimento, a Igreja sempre considera a importância da doutrina de um santo, ou seja, a notoriedade de seu pensamento e obras; e seu alto grau de santidade, a partir da vida de fé e de seu testemunho.

OUÇA ALGUMAS DAS COMPOSIÇÕES DE SANTA HIlDEGARDA O Ecclesia https://cutt.ly/MlMcIMG Spiritus Sanctus https://cutt.ly/flMcDr3

Biografia Descendente de nobre e riquíssima família alemã, Hildegarda nasceu em 1098, no Castelo de Bockekheim, na região do Reno. Segundo costume da época, aos 8 anos, foi entregue aos cuidados das monjas beneditinas. Em 1115, emitiu os votos religiosos. Em 1136, após a morte da superiora, tornou-se Abadessa do mosteiro. Fundou, ainda, dois mosteiros na Alemanha: o de Bingen, em 1147; e o de Eibingen, em 1165. Morreu em 1179, no Mosteiro de Bingen. Foi canonizada, em 1584, pelo Papa Gregório XIII, e, em 7 de outubro de 2012, proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI. Para além dos muros da clausura No convento, Hildegarda dedicou-se a cuidar da vida espiritual das religiosas, favorecendo a vida comunitária, a cultura e a liturgia. Para além dos muros, empenhou-se ativamente em avivar a fé cristã e fortalecer a prática religiosa, contribuindo na reforma da Igreja com seus escritos e pregações. Hildegarda, a pedido de Adriano IV e, depois, de Alexandre III, exerceu uma missão fecunda: viajou, pregou em

tural do século XII, é uma fonte de documentação para pesquisadores das várias áreas de estudo”. Imersa no ambiente cultural, Hildegarda consegue compor uma vasta biblioteca enciclopédica de obras. Também participava de debates, dialogava com personalidades de sua época. Hildegarda escreveu a peça teatral

Antífona – O eterno Deus https://cutt.ly/HlMcHrG

praças públicas, igrejas e catedrais. Em 1147, o Papa Eugênio III autorizou que ela escrevesse e divulgasse as próprias obras. Em seus escritos, com uma linguagem poética e simbólica, Hildegarda dedicou-se a expor a revelação divina, expressa em visões místicas que fazem referência aos principais eventos da história da salvação. Padre Rodrigo Pires Vilela da Silva, doutor em História da Ciência e profes-

sor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destacou que pelas visões de Hildegarda é possível compreender o Evangelho no contexto da cultura local. “Suas visões confirmam, na prática, a forma de ver o mundo que se fortalece com a prática eclesial do Evangelho”, comentou. Em 1141, Hildegarda escreveu seu primeiro livro: “Scivias” (“Conhece os caminhos do Senhor”), no qual a Monja registra e comenta detalhadamente suas visões, com alusões à caridade de Cristo, à natureza do universo, ao Reino de Deus, à queda do ser humano e à santificação. Legado cultural Vivendo em mosteiros, Hildegarda teve acesso a fontes de cultura, por meio de livros, literatura e música. Ao longo de sua vida, desenvolveu uma abundante atividade literária. Destacou-se nas várias áreas do conhecimento, Medicina e Ciências Naturais, Teologia, Espiritualidade, História, Física, Literatura e, sobretudo, no canto e na música. Padre Rodrigo, ao falar da inserção e da presença de Hildegarda no campo cultural do seu tempo, destacou que “ela é uma testemunha da cultura que transitava no período e do florescimento cul-

“Ordo virtutum”, uma peça catequética, com o objetivo de formar e instruir as monjas no conhecimento e na cultura, por meio de seus escritos. Também a ela são creditadas muitas composições, como hinos litúrgicos, antífonas e cantos que foram compilados na obra “Symphonia armoniare caelestium revelationarum” (“Sinfonia da harmonia das revelações celestes”). As canções eram cantadas em seus mosteiros. Para ela, a música era um elemento mediador entre Deus e a humanidade, além de um instrumento na educação e evangelização. Saúde e fé Muitas pessoas iam a Bingen em busca de orientação para questões de fé, mas, também, para assuntos da área da Saúde, uma vez que a Monja estudava a natureza e tinha conhecimento sobre propriedades medicinais de plantas. “Para Hildegarda, a saúde e o estado de graça eram aspectos que andavam juntos: se a pessoa tratasse do corpo e da alma, alcançava a cura e a salvação”, recordou Padre Rodrigo. No campo da Mística, Hildegarda tornou-se conhecida como alguém que analisava o mundo pela perspectiva divina. “Ela conseguia ver o mundo com o olhar de Deus”, disse o Sacerdote. Seu pensamento na atualidade Na opinião de Maria Terezinha Estevam, mestre em História da Ciência e pesquisadora do pensamento medieval, Santa Hildegarda destacou-se com sua capacidade de transitar nas várias áreas do conhecimento: “Sua coragem, ousadia, testemunho de fé, esperança e caridade, além da profundidade em seus escritos, a tornam uma inspiração para todas as mulheres e para a nova evangelização.”


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FLAVIO ROGÉRIO LOPES

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Na história da Igreja, muitas mulheres se dedicaram ao Reino de Deus e testemunharam o amor a Cristo com os seus exemplos de vida. Conforme escreveu São João Paulo II na carta apostólica Mulieris dignitatem (1988), “a Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que – fiéis ao Evangelho – em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o povo de Deus. Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja”. Na Oração Eucarística I, depois da consagração, o sacerdote que preside a celebração recita uma lista de 15 santos, incluindo sete mulheres: Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília e Anastácia. Entre as inúmeras santas, algumas ganharam o título de “Doutoras da Igreja Universal”, por seu notório saber teológico e por deixarem uma contribuição fundamental para a Igreja, entre elas: Teresa de Ávila, Catarina de Sena e Teresinha de Lisieux. Apresentamos a seguir quem são essas dez mulheres acima mencionadas e a maneira como dedicaram suas vidas à Igreja (leia também na página 14 sobre Santa Hildegarda). SANTAS FELICIDADE E PERPÉTUA Felicidade foi uma jovem escrava que viveu no século II. Depois de ficar grávida, foi perseguida pelos romanos devido a sua fé cristã e condenada à morte, juntamente com Santa Perpétua, que era uma nobre de Cartago (África), e foi jogada na mesma prisão que Felicidade por se recusar a abandonar a sua fé em Cristo. Ela relatou sua experiência em um diário. Estas duas santas morreram martirizadas em Cartago, em 7 de março do ano 203. SANTA ÁGUEDA Nasceu por volta de 230, em Catânia, na Sicília. Desde pequena, consagrou-se ao Senhor, prometendo se manter casta para servi-lo. De grande beleza, atraiu os olhares do governador da Sicília, que a pediu em casamento. Depois de recusar, foi denunciada. Águeda, porém, manteve-se fiel ao Senhor. A jovem foi duramente torturada, passando por inúmeros sofrimentos, até que morreu, pronunciando louvores ao Senhor, em 254. SANTA LUZIA Nascida em Siracusa, na Sicília, Itália, no século III, Luzia dedicou sua virgindade a Cristo quando ainda era criança, mas sua mãe não estava ciente disso e arranjou um casamento para a menina. Ela se recusou por causa de seus votos. O homem com quem ela deveria se casar, porém, a denunciou por ser cristã. Isso a levou a um horrível martírio. Conta-se que seus olhos foram arrancados antes mesmo de ela ser morta.

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As mulheres que dedicaram a própria vida à Igreja de Cristo Arte: Sergio Ricciuto Conte

Dica de leitura: “Santa Luzia: O brilho de uma luz – A Protetora dos Olhos” – Padre Jerônimo Gasques, Paulus Editora. SANTA INÊS Era filha de pais ricos e distintos membros da sociedade romana do século IV. Ela também se dedicou a Deus e se recusou a casar-se. Aos 12 anos, foi condenada à morte por sua recusa e por ser cristã. Seu nome significa “cordeiro” e, anualmente, em sua festa, dois cordeiros são abençoados pelo Papa. A lã deles é retirada na Quinta-feira Santa e, depois, utilizada na confecção do pálio que os arcebispos metropolitanos usam sobre os ombros. SANTA CECÍLIA Cecília viveu no século II, era de uma família nobre e também dedicou sua virgindade a Deus. Ela foi forçada a se casar, mas um anjo da guarda ajudou a preservar a sua pureza. Cecília foi condenada à morte por sua fé cristã e é popularmente conhecida como a padroeira da música, por suas habilidades nesta arte. Diz-se, também, que ela frequentemente ouvia melodias do céu. Dica de leitura: “Santa Cecília” – Dom Edson de Castro Homem, Editora Trindade SANTA ANASTÁCIA Anastácia foi convertida à fé cristã por seu professor, Crisógono, futuro santo mártir, e dedicou-se a ajudar os pobres e a converter os pagãos. Obrigada a se casar com um rico pagão da

nobreza romana, logo foi impedida de qualquer atividade. Quando o marido descobriu que ela estava ajudando os pobres às escondidas, foi proibida de sair de casa. Após ficar viúva devido à morte súbita do marido, Anastácia foi libertada e retomou atos de caridade e a prática de sua fé cristã. Durante a perseguição do imperador Diocleciano, Anastácia morreu queimada viva, no dia 25 de dezembro de 304, em Esmirna. santa TERESA DE ÁVILA Teresa de Jesus nasceu em Ávila, na Espanha, e viveu entre 1515 e 1582. Recebeu o título de Doutora da Igreja em 1970, por São Paulo VI. Aos 20 anos, decidiu-se pela vida religiosa, apesar da resistência de seu pai. Ela saiu de casa para entrar no Mosteiro Carmelita da Encarnação. Lá, viveu por 27 anos, suportando e superando uma grave doença, que marcou sua vida. Por volta dos 40 anos, Teresa sentiu o chamado que ficou conhecido como “experiência mística”, o que mudou o curso de sua vida. Aos 47 anos, começou uma terceira fase, empreendendo sua tarefa de fundadora andarilha. Santa Teresa morreu no dia 4 de outubro de 1582. Sua canonização se realizou em 1622. Dica de leitura: “Santa Teresa D’Ávila – Obras completas”, Paulinas Editora SANTA CATARINA DE SENA Também proclamada por São Paulo VI como Doutora da Igreja, em 1970, a religiosa dominicana Catarina de Sena

nasceu na Itália e viveu entre 1347 e 1380. Catarina ficou marcada ainda por sua atuação em defesa da Igreja e do Papa, especialmente no fim da Idade Média, quando inúmeros conflitos surgiram contra o Pontífice. Viajando de cidade a cidade, Catarina interveio para o restabelecimento da paz, sendo assim uma forte defensora do papado. Santa Catarina morreu no dia 29 de abril de 1380, em Roma, com apenas 33 anos, de um súbito ataque. Foi canonizada em 29 de junho de 1461, pelo Papa Pio II. Dica de leitura: “Cartas completas – Santa Catarina de Sena”, Paulus Editora santa TERESINHA DE LISIEUX Santa Teresinha de Lisieux, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus, nasceu na França e viveu entre 1873 e 1897. Viveu somente 24 anos, mas deixou um grande legado de amor para a Igreja. Teresinha entrou para o Mosteiro das Carmelitas, em Lisieux, aos 15 anos de idade, com a autorização do Papa Leão XIII. Sua vida se passou na humildade, simplicidade e confiança plena em Deus. Santa Teresinha tinha um profundo desejo em seu coração de se tornar missionária, mas morreu de tuberculose, em 30 de setembro de 1897. Foi beatificada em 1923 e canonizada em 1925, pelo Papa Pio XI, que a declarou “Patrona Universal das Missões Católicas”, em 1927. Dica de leitura: “História de uma alma – Santa Teresinha”, Paulus Editora (Com informações de Aleteia, A12 e ACI Digital) *Texto produzido sob a supervisão de Daniel Gomes


16 | Reportagem | 3 a 9 de março de 2021 |

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Andrea Fabrino Hoffmann Formiga

‘A mulher de hoje está presente em diversos setores, mas ainda cuida das mesmas coisas que sua mãe’ Convidada para evento da PUC-SP sobre a feminilidade, ELA COMENTA A RESPEITO DA DEFINIÇÃO SOBRE A MULHER CONTEMPORÂNEA Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

Mulher, mãe e profissional do Direito em tempo integral. Andrea Fabrino Hoffmann Formiga tem 20 anos de experiência em Direito Público e Relações Governamentais. Como muitas outras mulheres, divide seu dia entre o trabalho e o cuidado com a família e, por isso, é uma das convidadas do evento “Mulher por inteiro: desafios da feminilidade”, que será transmitido nos dias 9, 10 e 11 pela TV PUC (veja de-

talhes na imagem abaixo), no contexto do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. Em conversa com O SÃO PAULO, Andrea falou sobre esses desafios. Enquanto trocava mensagens com a reportagem, a advogada também lidava com a nova situação de lockdown no Distrito Federal, por causa da pandemia, resolvia questões urgentes do trabalho, e, certamente, ainda tinha que dar atenção aos quatro filhos. Um pequeno exemplo do cotidiano que mães e líderes femininas vivem todos os dias. Se houvesse apenas uma causa pela qual todas as mulheres deveriam batalhar, qual seria? Nas palavras de Andrea Hoffmann, “as mulheres devem se unir pela preservação de sua natureza; a mulher tem que buscar sua essência e trazê-la para o ambiente onde está”. O que define a mulher de hoje? Segundo Andrea, o que mais caracDivulgação

teriza a mulher atual é sua forte presença no mundo do trabalho, de forma mais universal do que no passado. “A mulher hoje é mais inserida no mercado formal e tem conquistado maiores papéis de liderança em vários setores da economia”, diz. “Muitas das mulheres nascidas em uma geração anterior à minha, nos anos 1940, 50 e 60, foram as primeiras a se graduar em ensino superior e a ocupar o mercado de trabalho. Foram as primeiras a sair do lar, mas em papéis que eram tipicamente descritos como ‘da mulher’, como professoras, enfermeiras etc.” Embora estejam presentes em diversos setores, poucas são aquelas que deixam de lado uma grande parte das tarefas do lar, segundo ela. A mulher de hoje lida com essas responsabilidades simultaneamente, pois “ainda tem que cuidar das mesmas coisas que suas mães cuidavam, como a organização da casa e dos filhos”. Isso sem falar daquelas “que cuidam sozinhas de suas famílias, sem apoio, em uma realidade familiar muito cruel”. Conciliar a família e a profissão Se a vida é feita de escolhas, na visão de Andrea Hoffmann a mulher deve fazer uma “escolha diária” pelos valores em que acredita. Andrea trabalha com assuntos governamentais e relações estratégicas, especializada em Direito Processual. É, também, sócia-fundadora do escritório Strozzi e Hoffmann Advogados. Portanto, lida diariamente com temas complexos. O aprendizado na relação com os quatro filhos se reflete também nas atividades do trabalho. “Comento que ganhei uma virtude com cada filho, e uso como soft skills no meu trabalho profissional”, diz ela, que faz chegar aos decisores públicos e políticos muitos elementos dessas experiências. “Conhecer cada um dos temperamentos dos meus filhos me ajuda a lidar com as pessoas, lidar com 1 milhão de demandas diárias, me faz ter mais flexibilidade, encontrar soluções, ter visão estratégica e muitos outros”, confirma. Dessa forma, Andrea consegue transmitir os valores recebidos de seus pais, como o “espírito de serviço”, que busca praticar no trabalho e em casa. Relação entre homem e mulher Católica, Andrea Hoffmann afirma que coloca diante de Deus os diversos obstáculos que enfrenta no cotidiano, especialmente nos dias mais difíceis. Em sua experiência, participar da Eucaristia e da Reconciliação é crucial para a relação com Deus. “Em um dia em que não marco aquele horário para um trato com Deus, as coisas ficam mais confusas, perturbadas”, diz. Dessa visão de mundo vem sua observação sobre a complementaridade

Arquivo pessoal

entre homem e mulher. “É muito nítida”, diz. “Somos completamente diferentes e ainda assim precisamos um do outro.” Falando das relações com o marido, amigos e colegas de trabalho, ela afirma que os homens tendem a “pensar dentro da sua caixinha”, vendo as coisas em partes, enquanto a mulher “muitas vezes consegue reunir tudo e de forma mais rápida e com olhar estratégico”. Reconhecer essas diferenças, avalia, é o que permite respeitar as limitações do outro, colocando as expectativas no lugar certo e dividindo as tarefas com coerência. Outro aspecto da complementaridade, observa, se torna nítido nos ambientes predominantemente masculinos. “A mulher pode estar em todos os espaços, inclusive naqueles majoritariamente masculinos, mas não pode se comportar como um homem. Ela tem que continuar se comportando com sua feminilidade e todas as coisas boas que traz para o ambiente e para o trabalho”, acrescenta. Segundo ela, é preciso “não tentar se igualar ao homem, deixando de priorizar família, filhos”, quando eles estão presentes, pois isso “gera uma frustração enorme ao longo do tempo”. Além disso, as mulheres “não precisam necessariamente estar onde todos estão”, diz. Embora veja com apreço a ampliação da presença feminina em ambientes públicos, especialmente no Direito, onde aos poucos se tornam maioria, Andrea Hoffmann entende que se “a mulher preferir ficar em casa, cuidar do lar, deve ter sua liberdade respeitada”. Seja no trabalho, seja na vida cotidiana, a mulher tem capacidades para “transformar seus pequenos círculos em um trabalho de formiguinha, com seus próprios talentos”.


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Curso on-line aborda fundamentos teológicos, canônicos e pastorais do sacramento do Matrimônio Reprodução da internet

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www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Cardeal Parolin: Francisco leva ao Iraque a esperança do diálogo e da reconstrução https://cutt.ly/PlMAlLb Assembleia Geral da CNBB acontecerá de forma virtual em abril https://cutt.ly/QlMAQ60 No Chile, dioceses permitem que templos sejam postos de vacinação contra a COVID-19 https://cutt.ly/4lMAYPN Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padre Boris Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia, fala sobre os fundamentos antropológico-bíblicos do sacramento do Matrimônio

Fernando Geronazzo

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A Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo abriram na segunda-feira, dia 1º, o curso de extensão cultural sobre o sacramento do Matrimônio. Realizado totalmente on-line, o curso oferece um aprofundamento teológico, jurídico-canônico e pastoral sobre esse sacramento. Entre os mais de 500 inscritos, estão sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos, leigos, membros de movimentos eclesiais, da Pastoral Familiar, de cursos de preparação para noivos e catequistas de jovens e adultos. As próximas aulas acontecerão nos dias 8, 15 e 22. Ano da Família Ao fazer a abertura do curso, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler das duas instituições de ensino, ressaltou que o curso é realizado no contexto do Ano da Família Amoris laetitia, convocado pelo Papa Francisco e que será aberto no próximo dia 19, Solenidade de São José. Esse ano comemorativo recorda o 5º aniversário da publicação da exortação apostólica pós-sinodal sobre o amor na família. “Esta é uma feliz iniciativa. Desejo que os participantes tenham o melhor proveito, pois esse curso, na modalidade on-line, permite ampliar a possibilidade de participação de mais pessoas”, manifestou Dom Odilo. Fundamentos A primeira aula foi ministrada pelo Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, Doutor

em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Ele abordou os fundamentos antropológico-bíblicos sobre o sacramento do Matrimônio. Padre Boris tomou como base o mais recente documento da Pontifícia Comissão Bíblica, do Vaticano, intitulado “O que é o homem? Um itinerário de Antropologia Bíblica”. Publicado em setembro de 2019, esse texto aprofunda como a Sagrada Escritura apresenta o mistério humano a partir da criação. O Professor explicou que o livro do Gênesis apresenta o ser humano como o coroamento da criação. O texto bíblico ressalta, ainda, que o homem é criado a partir do pó da terra e recebe o sopro divino da vida, que o distingue das demais criaturas e o faz segundo a imagem e semelhança de Deus. Em seguida, a narrativa bíblica destaca que Deus, ao ver que Adão não podia ficar sozinho, cria, a partir do lado do homem, uma companheira: Eva. “Adão, ao ver o dom que Deus lhe oferece, a reconhece como ‘carne da minha carne, ossos dos meus ossos’”, afirmou Padre Boris, sublinhando que esse trecho expressa que homem e mulher participam da mesma natureza, ao serem criados “como imagem e segundo a semelhança divina, participam da mesma vocação”. Homem e mulher Por outro lado, observou o Biblista, o relato da criação deixa clara a distinção entre o homem e a mulher que se dá não apenas pela diferenciação sexual biológica, mas por características íntimas, próprias de cada um. Outro aspecto da Antropologia Bíblica enfatizado pelo Professor é a capacidade que Deus dá ao homem e à mulher de gerar a vida, dando, assim, continuidade à ação criadora de Deus.

Padre Boris explicou, ainda, que, ao criar homem e mulher distintos, Deus expressa a harmonia da criação que se dá na ordenação das coisas distintas que, antes da criação, se confundiam no caos da existência. Nesse sentido, quando Deus diz que o homem e a mulher deixarão os pais e se unirão em “uma só carne”, não significa uma fusão entre ambos, aniquilando a identidade particular de cada um, pois isso “atentaria contra a criação de Deus”. “Esse texto fala da experiência histórica humana do homem e da mulher que, enquanto se amam e se recebem reciprocamente, gerando um núcleo familiar, estabelecem a comunhão divina e expressam o ser de Deus em suas vidas. Este encontro de ambos não invalida a diferenciação. Cada cônjuge continua com a sua identidade e características específicas”, ressaltou. Vocação do ser humano O Teólogo, então, afirmou que tais fundamentos bíblicos e antropológicos confirmam que “o espírito e a experiência conjugal é natural e, por isso, precede qualquer norma jurídica, porque seu princípio está na intenção criacional de Deus”. “Por isso, as culturas precisam encontrar o paradigma do Evangelho que expressa a totalidade da vocação humana”, disse, acrescentando que “o encontro do homem e da mulher é uma resposta à vocação humana, e, por isso, é algo sagrado”. Graça Dirigindo-se aos agentes da Pastoral Familiar e àqueles que preparam os noivos para o Matrimônio, Padre Boris reforçou que os jovens que pretendem se casar precisam compreender, num primeiro aspecto, que não é possível viver a plenitude deste sacra-

Dom Odilo: ‘São José tem sob seu olhar e cuidado a grande família de Jesus que é a Igreja’ https://cutt.ly/rlMAPIZ Subsídios para a Quaresma são disponibilizados em formato digital https://cutt.ly/xlMAHqn Capelania Católica no Emílio Ribas fornece kits de higiene a internados com a COVID-19 https://cutt.ly/hlMAZSK Exposição ‘Imagens de Roca e de Vestir’ é destaque no Museu de Arte Sacra https://cutt.ly/ZlMABSV

mento sem a graça de Deus, tampouco se pode contar apenas com as potencialidades de virtudes humanas. “Não existe Matrimônio sem a graça divina e sem a ação do Espírito de Deus. É esse Espírito que formará no esposo um coração capaz de amar sua esposa como Cristo amou e deu a vida pela Igreja e, de igual modo, formará na esposa um coração capaz de amar o esposo como a Igreja ama Cristo”, afirmou o Teólogo. Por fim, Padre Boris enfatizou que o Matrimônio é um chamado de Deus e uma resposta a Ele, uma “aliança na graça” que se dá em Cristo, em cuja humanidade se revela a plenitude da vocação do ser humano criado por Deus. “Por isso, o vínculo matrimonial é um serviço à Igreja e à humanidade”, concluiu.


18 | Fé e Vida | 3 a 9 de março de 2021 |

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Jejum: prática que fortalece a alma e converte o coração a Deus Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Embora seja uma prática que ganha maior relevância na Quaresma, o jejum faz parte da vida ascética do cristão cotidianamente. Assim como a oração e a esmola, a Igreja o considera como um dos “remédios contra o pecado”. O jejum consiste na privação voluntária de alimentos, por motivo religioso, durante algum período, como ato de culto perante Deus. Além do jejum, existe a prática penitencial da abstinência, que consiste na escolha de uma alimentação simples ou na renúncia de algum tipo de alimento. Embora seja uma prática exterior, o jejum impele a pessoa à oração, à escuta de Deus ao exercitar a virtude da temperança, do espírito de sacrifício, do equilíbrio do corpo e da mente, o que leva a uma conversão interior. Antiga tradição Os cristãos herdaram esse exercício penitencial da tradição judaica. Na Sagrada Escritura, o jejum é recomendado tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O próprio Jesus o fez por 40 dias no deserto, antes de ser tentado pelo demônio e iniciar a sua vida pública. Ele também aconselhou tal prática quando disse aos discípulos que certas espécies de demônios só podem ser expulsas pela oração e pelo jejum (cf. Mc 9,29). O povo de Israel jejuava, sobretudo, em intenções especiais, ou em tempos de calamidade, quando eram proclamados dias públicos de jejum, reconhecendo-se pecadores diante de Deus e pedindo-lhe ajuda. Os profetas exortam incessantemente o povo de Israel a implorar a Deus com coração contrito, a fim de cooperar na realização do desígnio salvador, como se lê na primeira leitura da Quarta-feira de Cinzas: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai ao Senhor

vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Jl 2,12-13). Na Igreja A prática do jejum era muito presente na primeira comunidade cristã. “Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, de reprimir os desejos do ‘velho Adão’ e de abrir no coração daquele que crê o caminho para Deus”, recordou o Papa Emérito Bento XVI na mensagem quaresmal de 2009, recordando, ainda, o que escreveu São Pedro Crisólogo: “O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto, quem reza, jejue. Quem jejua, tenha misericórdia”. São Paulo VI, na constituição apostólica Paenitemini, de 1966, reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto do chamado de cada cristão a “não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e... também a viver pelos irmãos”. Mortificar-se Para entender o jejum, é preciso compreender o sentido da palavra mortificação, que, literalmente, significa “fazer morrer”. No livro “Por que mortificar-se?

O valor do sacrifício” (Editora Quadrante), o Padre Luiz Fernando Cintra afirma que a mortificação consiste em “trocar a vida que morre pela vida que não morre”. Nesse sentido, São Paulo exorta: “Se viverdes segundo a carne, morrereis; se, porém, com o Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis” (Rm 8,13). Padre Luiz Fernando explica que o conceito paulino de “carne” não se reduz à dimensão da sexualidade, mas “referese, acima de tudo, à inclinação para o comodismo, para o orgulho, para a inveja, o ódio, para a ânsia de posse e o consumismo sem freio”. Por isso, o cristão não encara o sacrifício e a mortificação como um fim, mas como um meio para que se manifeste em si a vida de Jesus. Quando jejuar? Na tradição católica, os fiéis são chamados a se abster de carne em algumas ocasiões, uma vez que este é o quarto mandamento da Igreja: “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja”. Tanto na Quarta-feira de Cinzas quanto na Sexta-feira da Paixão, a Igreja prescreve o jejum e a abstinência de carne. O Código de Direito Canônico, contudo, determina que se pratique a

abstinência de carne todas as sextas-feiras do ano e durante o tempo da Quaresma, ficando a critério de cada conferência episcopal definir a sua observância. No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) substitui a abstinência das demais sextas-feiras por “outras formas de penitência, principalmente obras de caridade e exercícios de piedade”. A abstinência de carne é prescrita a todos os maiores de 14 anos; enquanto o jejum, aos maiores de 18 anos até os 59 anos. Grávidas e doentes também estão dispensados, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.

Como jejuar? A orientação tradicional da Igreja é que se faça apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, pode-se tomar duas outras pequenas refeições, menores que a quantidade habitual. Este é o chamado “Jejum da Igreja”. Existem, ainda, outros tipos de jejum que, para serem seguidos, é recomendada a orientação de um diretor espiritual e a avaliação das condições de saúde. Veja quais são:

A pão e água

pós o café da manhã, apenas A comer pão e beber água sempre que estiver com fome e sede. Não é indicado ingerir os dois itens ao mesmo tempo, mas aos poucos, durante o período até o anoitecer.

À base de líquidos

pós o café da manhã, alimentarA -se ao longo do dia apenas com líquidos, como sucos, chás e caldos de verduras, legumes e até de carnes.

Completo Após o café da manhã, não ingerir qualquer tipo de alimento nem beber água até por volta das 16h.

(Fonte: Livro “Práticas de jejum”, do Monsenhor Jonas Abib)

Você Pergunta Ajoelhar-se ou não no momento da consagração? PADRE CIDO PEREIRA

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A Maria Francinete, da Vila Guilherme, vai à missa regularmente, mas algumas vezes já ouviu dizer que na hora da consagração não é necessário se ajoelhar. “Isso é verdade?”, ela pergunta. Maria Francinete, eu vou ler para você as orientações da Igreja sobre os gestos e as posições do corpo durante a missa. Veja bem, minha irmã, não são

orientações que saíram da cabeça de um leigo, de um padre ou bispo. Elas vêm da própria Santa Sé, para que os gestos e posições do corpo marquem bem a unidade da Igreja. Quem inventa coisas fora destas orientações, por mais que tenha boa vontade, não está dando um testemunho de comunhão com a Igreja. As instruções sobre posições do corpo estão na introdução do Missal Romano, que é aquele livro que todos os padres usam na missa. Diz lá, no número 43: “Os fiéis permaneçam de

pé, do início do canto da entrada, ou enquanto o sacerdote se aproxima do altar, até a oração do dia, inclusive. Ao canto do ‘Aleluia’ antes do Evangelho; durante a proclamação do Evangelho; durante a profissão de fé e a oração universal; e do convite do ‘Orai, irmãos’, antes da oração sobre as oferendas até o fim da missa, exceto nas partes citadas em seguida. Sentem-se durante as leituras do Evangelho e durante o salmo responsorial. Durante a homilia e durante a preparação das oferendas;

e, se for conveniente, enquanto se observa o silêncio sagrado após a comunhão. Ajoelhem-se, porém, durante a consagração, a não ser que por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na consagração façam uma inclinação profunda enquanto o sacerdote faz genuflexão após a consagração”. Está aí a resposta que você queria, minha irmã.


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| 3 a 9 de março de 2021 | Pelo Mundo/Fé e Vida | 19

Moçambique

Bispo brasileiro se despede da Diocese de Pemba José Ferreira Filho

Michelino Roberto/O SÃO PAULO-ago.2019

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Os católicos que vivem na província de Cabo Delgado, em Moçambique, vivenciam uma “experiência da cruz” em meio à escalada da violência terrorista nos últimos três anos, segundo seu antigo bispo, o brasileiro Dom Luiz Fernando Lisboa. Uma insurgência militante islâmica lançou centenas de ataques na província do norte, matando mais de 2 mil pessoas desde outubro de 2017. A violência atingiu o pico em 2020 com decapitações, sequestros e ataques a igrejas. MISSÃO AFRICANA Dom Luiz Fernando serviu como missionário em Moçambique por quase 20 anos, sendo seis anos e meio como Bispo da Diocese de Pemba, em Cabo Delgado. Ele foi recentemente nomeado para liderar uma diocese no Brasil, após ter vivido três anos de conflitos e perseguições naquela diocese africana. “Foi uma experiência extremamente marcante, uma experiência de cruz, de sofrimento. Esta guerra me ajudou a aprender muitas lições. A mais importante delas é a grandeza dessas pessoas, que são pobres, mas têm um sentido de profunda solidariedade”, disse. CONSEQUÊNCIAS Quase 670 mil pessoas foram des-

Dom Luiz Fernando, em missa em Pemba

locadas internamente pela violência, e 1,3 milhão de moçambicanos ainda hoje precisam urgentemente de assistência humanitária, de acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. “Durante este tempo de guerra, cada família que não foi forçada a fugir acolheu uma, duas ou até mesmo três famílias de refugiados em sua casa, na varanda dos fundos, e compartilhou o pouco que tinha com aqueles que não tinham nada e es-

tavam vagando, desesperados e sem direção”, disse o Bispo. TRANSFERÊNCIA E PRONTIDÃO No início de fevereiro, o Papa Francisco o nomeou para servir como Bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo, na região Sudeste. A assessoria de imprensa da Santa Sé informou que o Papa Francisco deu ao bispo de 65 anos, que pertence à Congregação da Paixão de Jesus Cristo (Passionistas), o título de “Arcebispo ad personam”. Questionado sobre sua transferência, Dom Luiz Fernando respondeu: “A missão é de Deus, não é nossa. Somos simplesmente instrumentos Dele. Na Igreja, uma das características do missionário, e especialmente do religioso – porque eu também sou religioso – é a itinerância”. “E, agora, Francisco considerou melhor que eu fosse trabalhar em outro lugar. Aceito e agradeço-lhe todo o apoio que nos tem dado, todo o empenho que tem demonstrado e toda a preocupação que tem sentido e continua a sentir por Cabo Delgado, porque, além de rezar por eles, deseja continuar ajudando esse povo.” O Vaticano ainda não anunciou quem substituirá Dom Luiz Fernando como próximo Bispo de Pemba. O Papa Francisco nomeou Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, Bispo Auxiliar de Maputo, como Administrador Apostólico da Diocese. Fonte: CNA – Catholic News Agency

México Suspensa a tentativa de despenalizar o aborto em estado do país A tentativa de despenalizar o aborto até as 12 semanas de gestação no estado mexicano de Quintana Roo foi temporariamente suspensa, depois que as comissões que estavam debatendo uma possível decisão não tiveram o quórum necessário de parlamentares. Se o parecer tivesse sido aprovado nas Comissões Unidas, a proposta de despenalizar o aborto até as 12 semanas de gestação teria chegado ao plenário. O QUE PREVÊ A LEI O artigo 13 da Constituição de Quintana Roo estabelece que o Estado “reconhece, protege e garante o direito à vida de todo ser humano, ao sustentar expressamente que desde o momento da concepção entra sob a proteção da lei e é considerado sujeito de direitos para todos os fins legais correspondentes, até a sua morte”. De acordo com o código penal estadual, o aborto é crime punível com

até dois anos de prisão. Os profissionais da Saúde que participam dessa prática podem ser suspensos do exercício da profissão por até cinco anos. Atualmente, dois projetos de lei buscam a despenalização do aborto até a 12ª semana de gestação, promovendo reformas da Constituição, dos códigos penal e civil e da Lei de Saúde do estado. REPERCUSSÃO Marcial Padilla, diretor da plataforma mexicana pró-vida ConParticipación, explicou que “os promotores do aborto sabem que, para legalizá-lo, devem dar dois passos: primeiro, tirar o direito à vida na Constituição do estado. E, depois, mudar o Código Penal para permiti-lo”. “No dia 24 de fevereiro, os deputados promotores do aborto tentaram uma armadilha. O deputado José Luis Guillén tentou modificar apenas o Código Penal, sem votar a mudança

na Constituição”, assinalou, pois “com isso, precisariam de menos votos para legalizar ou despenalizar o aborto”. No entanto, frisou, “os deputados a favor do direito à vida perceberam a cilada e conseguiram detê-la”. Para Padilla, é “uma vitória temporária”, porque “momentaneamente foi mantida a proteção do direito à vida e a decisão que pretendia despenalizar o aborto não foi aprovada. Mas isso não acabou, o debate continua. Os deputados ainda permanecem pendentes desta iniciativa”. “O aborto em Quintana Roo não é uma questão de justiça nem um tema de saúde. É um tema de ideologia, política e dinheiro. Podemos imaginar o que significará para um destino turístico como Cancún, em Quintana Roo, despenalizar o aborto. Lá não será apenas um destino turístico, será um destino de morte”, afirmou. (JFF) Fonte: ACI Prensa

Liturgia e Vida 3º Domingo da Quaresma 07 de março de 2021

O chicote do Senhor PADRE JOÃO BECHARA VENTURA O Evangelho mostra Cristo, com um chicote de cordas, expulsando os vendedores do templo de Jerusalém. Ele é manso, humilde e age sempre com paciência e compreensão para com os pecadores. Não hesita, porém, em empregar uma energia extraordinária quando se trata de corrigir um erro grave e público, que confunde as consciências, deforma a religião e profana o lugar sagrado. “O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,17). O Senhor não agia por simples raiva, prepotência ou falta de autocontrole. Movia-se por uma justa ira, com plena consciência de sua missão educativa. Como não pertenciam ao grupo dos sacerdotes e dos saduceus, os judeus perguntaram com que autoridade agia de tal modo. Então, o Senhor lhes deu uma resposta profética: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2,19). É evidente que Jesus não os incitava à destruição do templo, pois Ele “estava falando do Templo do seu corpo” (Jo 2,21). Com essas palavras, Cristo previu quatro eventos: a sua morte; a sua Ressurreição ao terceiro dia; a futura destruição do templo de Jerusalém; e a substituição do sacrifício de animais que ali se fazia pelo verdadeiro Sacrifício de seu Corpo. Afinal, Ele instituiria na Última Ceia a Eucaristia, verdadeira oblação que une o Céu à terra. E, anos mais tarde, o templo seria de fato destruído na grande revolta judaica. Assim, cessariam as oferendas de animais feitas até então, que eram apenas uma prefiguração da Santa Missa. O santuário de Jerusalém, literalmente, daria lugar ao Corpo de Cristo. Nosso Senhor deixou, além disso, uma mostra de como a proclamação da verdade acarreta incompreensões e injustiças. Suas palavras seriam deformadas pelos opositores e se tornariam causa de sua condenação à morte. Segundo falsas testemunhas, Ele teria dito: “Eu destruirei este templo” (Mc 14,58). Na crucifixão, os passantes blasfemariam contra o Salvador dizendo: “Ah, aquele que destrói o templo e o reconstrói em três dias!” (Mc 15,29). Essa mentira chegaria até mesmo aos testemunhos falsos do processo contra Santo Estêvão: “Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deixou” (At 6,14). No mundo dos homens, uma calúnia mil vezes repetida se torna uma verdade… Mas para Deus não é assim! O Senhor e seus discípulos seriam condenados por meio de mentiras, e tudo teve origem no ódio ao bem; na raiva que os maus tiveram do zelo de Jesus. Eles não cuidavam das coisas de Deus, eram avarentos, desleixados e irreverentes. Usavam a religião para vantagens pessoais. Buscavam a glória humana e toleravam o que é abominável para o Senhor. Quando, porém, Cristo rechaçou com vigor sua má conduta – que era já notória – ficaram hipocritamente escandalizados. Então, exigiram “respeito”, “educação”, “compostura”, e, como resposta, usaram a mentira! Que o Senhor nos conceda santificar o seu Nome, amar sempre o bem, aceitar humildemente as correções sofridas e jamais mentir contra o próximo.


20 | Papa Francisco | 3 a 9 de março de 2021 |

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O que esperar da viagem do Papa ao Iraque?

Lamento pelo sequestro de 279 meninas na Nigéria Divulgação

Será a primeira vez que um papa visita o país, marcado não só pela guerra, mas por milênios de presença cristã Filipe Domingues

Especial para O São Paulo

A viagem do Papa Francisco ao Iraque será histórica. O motivo mais óbvio: é a primeira vez que um pontífice visita o país, que tem profundas raízes cristãs. Além disso, ocorre no meio da pandemia de COVID-19, algo que será lembrado para sempre, e num momento em que ali se vive grande instabilidade política e econômica. O ponto central da visita, que ocorre entre 5 e 8 de março, é o desejo do Papa de estar próximo da comunidade cristã dizimada ou expulsa do Iraque de modo agressivo nas últimas duas décadas. Também pesa muito o desejo de “fraternidade” com o Islã e seus líderes na região. Os riscos em relação à segurança existem, mas o Papa está confiante nas autoridades locais, afirma o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e “como pastor, como pai, vai ao encontro daqueles que estão em dificuldade”, conforme entrevista à America Magazine. Presença antiga O Iraque não deixa de ser uma “terra santa”. Os cristãos chegaram lá já no primeiro século, segundo a tradição, levados pelos discípulos Tomé e Judas Tadeu, que evangelizaram comunidades assírias de língua aramaica na Mesopotâmia. Algumas existem até hoje. Especialmente no Norte do Iraque, mas também em outros países, os cristãos se espalharam ao longo dos séculos, porém gradualmente se consolidaram como minoria com as conquistas dos árabes muçulmanos no século VII. Há também relatos bíblicos, como a própria origem do profeta Abraão, pai das três maiores religiões monoteístas – o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo –, que era de Ur. São João Paulo II quis visitar o local no Jubileu do Ano 2000, mas não foi possível. Do que hoje é o Iraque também vieram Rebeca, Daniel e o profeta Ezequiel. Algumas tradições relatam que até mesmo Adão e Eva viveram na região. Ao visitar o país, o Papa Francisco reconhece essa história antiga, que une mais do que separa, e manifesta sua unidade não só com os cristãos de hoje, mas com todos os que vieram antes deles. De acordo com o Cardeal Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o

O Papa Francisco condenou o sequestro de 279 meninas, ocorrido enquanto estavam na escola em Jangebe, na Nigéria. Após a oração do Angelus do domingo, 28, ele manifestou unidade com os bispos do país. “Rezo por essas moças, para que possam voltar logo para casa. Estou próximo de suas famílias e também delas”, declarou o Santo Padre. As meninas foram libertadas na terça-feira, 2, após terem sido levadas por homens armados em 26 de fevereiro. A Nigéria vive uma onda de insegurança, na qual milícias armadas controlam algumas áreas do país, sem que as autoridades consigam conter o problema. Embora no começo tenham sido grupos radicais islâmicos os principais sequestradores, agora a prática foi disseminada também entre outras facções que pedem resgate pela vida das vítimas. (FD)

Oito anos após renúncia, Bento XVI diz não se arrepender Iraque é uma “terra martirizada” e o Papa quer levar “consolação, proximidade, fraternidade, abertura e amizade”.

quitas, além dos assírios ortodoxos. Também há uma pequena presença de luteranos e anglicanos.

Perseguição cristã Sabe-se que a população cristã do Iraque era de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas até 2003. Com a invasão das forças militares lideradas pelos Estados Unidos, com o objetivo de derrubar o governo de Saddam Hussein – por motivos políticos e econômicos –, o país entrou numa era de profunda violência, disputas entre grupos religiosos e invasões de extremistas. À época, os cristãos foram perseguidos principalmente pelo grupo terrorista Al Qaeda. Mais recentemente, o herdeiro Estado Islâmico dominou áreas extensas e, até 2017, forçou muitos cristãos a mudarem de região ou até abandonarem o país. Alguns retornaram nos últimos anos, mas a situação jamais foi a mesma. Segundo a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), dos 40 milhões de habitantes no Iraque, certamente menos de 300 mil deles hoje são cristãos. O Arcebispo Caldeu Warda de Erbil disse à ACN em 2019: “Nos anos anteriores a 2003, éramos 1,5 milhão, ou 6% da população iraquiana. Hoje, somos apenas 250 mil. Talvez menos”. Hoje, os cristãos no Iraque são caldeus, assírios, latinos, armênios e mel-

Destaques da viagem Francisco começa o percurso na capital Bagdá, depois segue para Ur, Erbil, Mosul e Qaraqosh, em Nínive. Nessas cidades, encontrará cristãos que tentam reconstruir suas vidas. O Papa rezará em sufrágio pelas vítimas da guerra, em Mosul. A Catedral de Santa Maria Al-Tahira é talvez o cenário de destruição e reconstrução mais emblemático, em Mosul. Missas serão celebradas em Bagdá e em Erbil. Também será muito importante seu encontro com o aiatolá Ali al-Sistani, clérigo do Islã xiita, e um dos mais influentes. Já foi nomeado ao Nobel da Paz por seus esforços de pacificação. Assim, Francisco, que já tem boas relações com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad al-Tayyib, maior referência intelectual do Islã sunita, se aproxima dos xiitas. Os cristãos iraquianos estão muito ocupados nestes dias, limpando as igrejas e preparando hinos para celebrar a viagem do Papa ao país. Apesar das preocupações com o coronavírus, estão dispostos a fazer o melhor para recebê-lo com segurança. Eles esperam que após a visita do Papa possam viver com mais liberdade.

Apesar da saúde frágil, pessoas próximas ao Papa Emérito Bento XVI costumam relatar que sua mente permanece muito viva, aos 93 anos. Em rara entrevista ao jornal italiano Corriere della sera, ele afirmou que não se arrepende da decisão de renunciar, oito anos atrás, e que está em plena comunhão com o Papa Francisco. “Não existem dois papas. O Papa é apenas um”, declarou, na conversa com os jornalistas, em sua residência, o Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, lamentando “teorias da conspiração”. Sobre a renúncia, ele afirma ter sido “uma decisão difícil, mas tomada em plena consciência, e acredito ter feito bem”. Disse, ainda, que “alguns amigos meus um pouco fanáticos ainda estão nervosos, não quiseram aceitar minha escolha”, mas sua consciência “está bem”, declarou. O diário relata que Bento XVI tem “mente lúcida, rápida como os olhos, atentos e vivazes”. A conversa foi em 2 de fevereiro. Perguntado sobre a viagem do Papa Francisco ao Iraque, Bento XVI comentou que “é muito importante”, mas que, infelizmente, o momento é difícil, “o que a torna bastante perigosa”, por razões de segurança, e também pela COVID-19. “Acompanharei Francisco com a minha oração”, disse. (FD)


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