Semanário da Arquidiocese de São Paulo
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ano 66 | Edição 3337 | 10 a 16 de março de 2021
www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00 Vatican Media
Como parte da visita ao Iraque, entre os dias 5 e 8, Papa Francisco reza, em Mossul, pelas vítimas da guerra no país e em favor da paz universal e do entendimento entre as religiões
‘Não permitamos que a luz do céu seja ocultada pelas nuvens do ódio’ Pela primeira vez na história, um Papa visitou o Iraque. Entre os dias 5 e 8, Francisco encontrou-se com as autoridades locais, falou à comunidade católica e fortaleceu as pontes de diálogo com lideranças islâmicas. Na região considerada berço das três grandes religiões monoteístas, o Santo Padre conheceu uma “Igreja viva”, apesar dos
anos de perseguição. Em Ur, o Pontífice elevou a oração dos filhos de Abraão com judeus e muçulmanos. “Abri os nossos corações ao perdão recíproco, tornando-nos instrumentos de reconciliação, construtores de uma sociedade mais justa e fraterna”, pediu. Francisco também condenou a violência
por motivações religiosas: “Não permitamos que a luz do céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!” A imprensa internacional destacou o caráter histórico da viagem, especialmente pelo inédito encontro do Papa com o líder xiita AlSistani. Páginas 9 a 12
A seminaristas, Dom Odilo ressalta a atuação da Igreja pelo ecumenismo
Em ato solene, Alesp destaca a Campanha da Fraternidade Ecumênica
As mulheres encantam o mundo com a beleza e a riqueza de sua feminilidade
Na abertura do ano formativo do Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição, na sexta-feira, 5, o Cardeal Odilo Scherer reuniuse, de modo on-line, com os seminaristas e formadores, para um momento de diálogo, durante o qual tratou, de modo especial, do tema do ecumenismo. Na ocasião, também foram apresentados os 16 jovens que ingressaram este ano no seminário propedêutico, a primeira etapa do caminho formativo para o sacerdócio.
Com a participação de líderes de Igrejas cristãs, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) promoveu na segunda-feira, 8, um ato solene virtual alusivo à Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Na ocasião, o Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo, ressaltou o papel do diálogo para a superação da violência e das polarizações, e exortou os cristãos à promoção da paz.
No mês dedicado às reflexões sobre o papel da mulher na sociedade, O SÃO PAULO retoma pontos do Catecismo da Igreja Católica (CIC) e de documentos e discursos dos papas que ressaltam a valorização da dignidade da mulher. Com os traços peculiares da feminilidade, as mulheres encontram novas respostas aos desafios cotidianos no lar, no trabalho e em diferentes instâncias da sociedade, e são indispensáveis para o apostolado da Igreja.
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Encontro com o Pastor
‘A confissão regular e frequente é muito recomendada para o crescimento na virtude e na graça de Deus’
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Editorial
A verdadeira religiosidade e o amor a Deus só podem se traduzir no amor aos demais homens e mulheres
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Espiritualidade
A Quaresma e o projeto de amor de Cristo
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cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo
C
risto, nossa paz (cf. Ef 2,14a), reconciliou os homens com Deus mediante a sua cruz (cf. Rm 5,10) e confiou o ministério da reconciliação à Igreja, na pessoa dos apóstolos. Eles, por sua vez, transmitiram o mandato recebido de Cristo aos seus sucessores, pela imposição das mãos, de maneira que os gestos salvadores de Cristo permanecessem vivos e operantes na Igreja. Os ministros ordenados da Igreja, portanto, recebem hoje o ministério da reconciliação e do perdão dos pecados em favor dos seus irmãos. Por isso, eles são chamados a se dedicar generosamente a esse serviço insubstituível ao povo de Deus nas comunidades, ao longo de todo o ano, oferecendo-lhe horários regulares e conhecidos para o atendimento das confissões. Mais intensamente, ainda, isso deve ser feito durante os tempos litúrgicos fortes do Advento
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Quando confessar? e da Quaresma. A busca do perdão e da reconciliação com Deus e com os irmãos faz parte do caminho quaresmal de preparação para a Páscoa. Neste período do ano, é de grande proveito retomar o Catecismo da Igreja Católica para reler e estudar alguma questão relevante da nossa fé, da moral, da liturgia e da prática da vida cristã. O Catecismo trata de maneira didática do sacramento da Confissão nos parágrafos de 1420 a 1498. Já não destaca mais a “Confissão pascal”, ou a obrigação de “confessar ao menos uma vez por ano”, como em outros tempos, pois a Confissão deve fazer parte da regularidade da vida cristã e a ela se deve recorrer a qualquer momento, quando acontece de ter cometido algum pecado mais grave. A Confissão regular e frequente é muito recomendada para o crescimento na virtude e na graça de Deus. No Ritual da Penitência, do Rito Romano, a Igreja prevê três formas de celebração do sacramento do Perdão. A forma ordinária, que consiste na confissão individual com absolvição tam-
bém individual; uma segunda forma é a celebração conjunta para a reconciliação de vários penitentes. Neste caso, faz-se a preparação e orientação dos penitentes antes da confissão e absolvição individuais. Uma terceira forma é a reconciliação de vários penitentes com absolvição coletiva. Após fazer a preparação e orientação conjunta dos penitentes, o sacerdote concede a eles a absolvição coletiva, seguida da ação de graças comunitária. Esta forma é extraordinária e deve ser autorizada a cada vez pelo bispo diocesano, a quem compete, antes da autorização, o discernimento sobre as circunstâncias e a real necessidade do recurso a essa forma de reconciliação dos pecadores com Deus. A absolvição “geral” dos penitentes, sem confissão individual, nunca é autorizada de maneira genérica e para situações indeterminadas, mas para casos e necessidades específicas, estabelecidas pelo Magistério da Igreja. Os fiéis que participam da “absolvição coletiva” dos pecados devem procurar a confissão com absolvição
individual tão logo isso lhes seja possível e antes de uma próxima absolvição coletiva. Para ser proveitosa, a Confissão sempre requer uma boa preparação, com oração, leitura da Palavra de Deus e exame de consciência. Condições requeridas para receber o perdão de Deus são: fé no perdão de Deus, dado por meio da Igreja; consciência dos próprios pecados; arrependimento humilde e propósito de romper com o pecado; confissão sincera e integral, ao menos dos pecados graves. Naturalmente, seguem a ação de graças e o cumprimento da penitência recomendada pelo confessor. Durante a Quaresma, a Igreja recomenda aos fiéis a prática mais intensa da oração, penitência e caridade. O caminho de preparação para a Páscoa também deve levar, normalmente, a uma sincera revisão de vida e à conversão pessoal e comunitária, o que inclui a busca do sacramento do Perdão. A pandemia de COVID-19 não deve ser um impedimento absoluto para essa preparação eficaz para celebrar a Páscoa de Cristo e nossa Páscoa com Ele.
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| 10 a 16 de março de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3
Cardeal Scherer abre ano acadêmico das faculdades de Teologia e de Direito Canônico Arquivo pessoal
Fernando Geronazzo
osaopaulo@uol.com.br
Uma missa na Paróquia Imaculada Conceição, no Ipiranga, no dia 4, marcou o início do ano acadêmico na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, da Arquidiocese de São Paulo. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão-Chanceler das duas instituições de ensino superior. Entre os concelebrantes estava Dom Tarcísio Scaramussa, Bispo de Santos (SP) e membro do Conselho Diretivo da Faculdade de Direito Canônico. Também estavam na missa diretores, professores, alunos e funcionários. Ir às fontes seguras Na homilia, o Cardeal Scherer ressaltou a importância dos estudos teológicos e canônicos para a vida e missão evangelizadora da Igreja. Ele sublinhou, ainda, que por meio da formação acadêmica os estudantes têm a oportunidade de se aprofundar no conhecimento da fé a partir da Sagrada Escritura, dos inúmeros documentos, tratados e estudos realizados ao longo dos séculos. Nesse sentido, o Arcebispo advertiu os estudantes para o perigo daquelas fontes que não são confi-
Ano acadêmico para teólogos e canonistas é aberto com missa presidida por Dom Odilo
áveis e não têm reconhecimento da Igreja, que, muitas vezes, são responsáveis pela disseminação de doutrinas incompatíveis com a fé professada pela Igreja. “Cuidado para que não bebamos em fontes envenenadas no que diz respeito à fé, à doutrina, à vida da Igreja... Fiquemos longe disso. Mantenhamo-nos na comunhão da Igreja”, disse. Por fim, o Arcebispo acrescentou que, apesar do contexto difícil da atual pandemia, que afetou diretamente a rotina das atividades acadêmicas, a missão dos teólogos e canonistas deve continuar, seguindo as adaptações e cuidados necessários. “Que Deus lhes conceda sabedoria, discernimento e coragem”, desejou. Faculdades Fundada em 20 de setembro de
1949, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção nasceu integrada à PUC-SP, criada em 1946. Na década de 1970, com a reformulação do ensino universitário no País, a instituição foi desvinculada da universidade. Após reconhecimento civil do curso de Teologia pelo Ministério da Educação, em 2004, iniciou-se o caminho de reintegração da faculdade à PUC-SP, que se consolidou no fim de 2008. Primeira faculdade de Direito Canônico do Brasil reconhecida pela Santa Sé, a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo foi erigida em 26 de fevereiro de 2014, sendo fruto da elevação do então Instituto de Direito Canônico “Padre Dr. Giuseppe Benito Pegoraro”.
1ª Reunião do Conselho de Presbíteros em 2021 REDAÇÃO
osaopaulo@uol.com.br
Na manhã do sábado, 6, por videoconferência, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a 1ª Reunião do Conselho dos Presbitérios deste ano, com a participação dos sacerdotes que foram por ele nomeados, em outubro de 2020, para um período de cinco anos. Inicialmente, houve a leitura da ata, contendo a provisão dos membros do Conselho e a provisão dos que farão parte especificamente do Conselho de Consultores da Arquidiocese. Depois, os participantes avaliaram positivamente a realização da atividade de abertura do ano pastoral da Arquidiocese, em 18 de fevereiro, quando o Arcebispo partilhou com o clero os desafios pastorais, particularmente neste momento de pandemia. Dom Odilo recordou que a atuação da Igreja na cidade é fundamental para, ininterruptamente, o Evangelho ser anunciado, por palavras e exemplos. Ao longo da reunião, o Arcebispo pediu aos conselheiros que opinassem sobre diversos assuntos relativos à vida e ação da Igreja em São Paulo, como a possível criação de paróquias e a gestão dos recursos humanos e materiais. Houve especial orientação para que haja parcimônia em relação às despesas financeiras, sem, no entanto, deixar que a Igreja esteja ao lado dos marginalizados, doentes, desempregados e empobrecidos. Os conselheiros externaram que as paróquias na Arquidiocese devem continuar com os protocolos sanitários recomendados, a fim de evitar a proliferação do novo coronavírus, assegurar a integridade física dos fiéis e manter suas atividades regulares. (Colaborou: Padre Tarcísio Mesquita, do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral)
Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 25/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Imirim, na Região Episcopal Sant´Ana, o Reverendíssimo Padre João Luiz Miqueletti, pelo período de 06 (seis) anos. Em 25/02/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro Vila Sabrina, na Região Episcopal Sant´Ana, o Reverendíssimo Padre Dalmir Oliveira dos Anjos, pelo período de 06 (seis) anos. DECRETO DE PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 28/02/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima, no bairro Perus, na Região Episcopal Brasilândia, do Reverendíssimo Padre Luciano Andreol, SMM, pelo período de 03 (três) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 25/02/2021, foi nomeado e provisionado
como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi, da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no bairro Jaçanã, na Região Episcopal Sant´Ana, o Reverendíssimo Padre Francisco Ferreira da Silva. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE PASTORAL: Em 04/03/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Santa Paulina, no bairro Heliópolis, na Região Episcopal Ipiranga, o Diácono Seminarista Senhor Claudinês Venancio da Silva, pelo período de 01 (um) ano. Em 03/03/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Pastoral da Paróquia Nossa Senhora da Penha, no bairro do Jardim Peri, na Região Episcopal Sant´Ana, o Diácono Permanente Welton Tadeu Marcondes de Oliveira Santos, pelo período de 01 (um) ano. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE MEMBRO DA COMISSÃO DE COORDENADORES DE SETORES PASTORAIS: Em 01/03/2021, foi nomeado e provisionado como Membro da Comissão de Coordenadores de Setores Pastorais da Região Epis-
copal Sant´Ana, para o Setor Vila Maria, o Reverendíssimo Padre Luiz Cláudio Vieira, pelo período de 03 (três) anos.
no bairro Vila Mangalot, na Região Episcopal Lapa, ao Reverendíssimo Padre José Ordean Alves dos Santos, CSSp.
Em 04/03/2021, foi nomeado e provisionado como Membro da Comissão de Coordenadores de Setores Pastorais da Região Episcopal Sant´Ana, para o Setor Medeiros, o Reverendíssimo Padre Mauro Negro, OSJ, pelo período de 03 (três) anos.
Em 25/02/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Candelária, no bairro Vila Maria, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Marcelo Alves dos Reis, SCJ.
NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ASSISTENTE ECLESIÁSTICO DE PASTORAL:
Em 28/02/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, no bairro de Vila Guilherme, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Edson José do Sacramento, CSSP.
Em 03/03/2021, foi nomeado e provisionado como Assistente Eclesiástico da Pastoral Familiar da Região Episcopal Santana, o Reverendíssimo Padre Aparecido Octaviano Pinto da Silva, SCJ, pelo período de 02 (dois) anos. POSSE CANÔNICA: Em 21/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro IV Centenário, na Região Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Boniface Issaka, SVD. Em 28/02/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São João Batista,
Em 28/02/2021, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, no bairro Parque Novo Mundo, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Efigênio Rodrigues da Rocha. Em 03/03/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Loreto, no bairro Vila Medeiros, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Chinaka Justin Mbaeri.
4 | Ponto de Vista | 10 a 16 de março de 2021 |
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Editorial
Um peregrino da paz
E
ntre a sexta-feira, 5, e a segunda-feira, 8, o Papa Francisco fez uma histórica visita apostólica ao Iraque – país envolvido já há duas décadas em sucessivas guerras e convulsões sociais. Ao longo desse período, a população católica no país de 38 milhões de habitantes caiu de 1,4 milhão para cerca de 400 mil pessoas, não apenas como vítimas diretas dos atentados terroristas, mas, também, como exilados em razão da perseguição religiosa. Francisco foi o primeiro Papa a visitar os cristãos no Iraque – e assim realizou um antigo sonho, não cumprido, de São João Paulo II. A tônica de toda a viagem foi declarada já nos primeiros compromissos oficiais, quando o Pontífice se encontrou com as autoridades civis e diplomáticas, no Palácio Presidencial e, depois, com os bispos,
sacerdotes, religiosos e fiéis, na Catedral de Nossa Senhora da Salvação. A ambos os grupos, com efeito, o Santo Padre deu ênfase à ideia central de que a verdadeira religiosidade e o amor a Deus só podem se traduzir no amor aos demais homens: “Os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados aos valores da paz, (...) do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum”, e “o incitamento à guerra, os comportamentos de ódio, a violência e o derramamento de sangue são incompatíveis com os ensinamentos religiosos”. Essa convivência pacífica só se torna possível, continuou o Papa, quando tivermos em mente a “identidade mais profunda que temos: a de filhos do único Deus e Criador” – pois, como ensina o Concílio Vati-
cano II, “não podemos (...) invocar a Deus, como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns dentre os homens, criados à Sua imagem” (Declaração sobre a Igreja e as religiões não cristãs, Nostra aetate, 5). Aos cristãos, de forma especial, o Papa dirigiu um apelo a que evangelizem seus compatriotas “sobretudo com o testemunho de vidas transformadas pela alegria do Evangelho” – e assim combatam o “vírus do desânimo” com a vacina da esperança, “que nasce da oração perseverante e da fidelidade diária ao nosso apostolado”. Exortou-os, ainda, a que evangelizem “fortalecidos pelo sangue dos mártires” – dentre eles os 48 cristãos que haviam sido vítimas de um atentado terrorista, cometido naquela mesma catedral, em 31 de outubro de 2010. A influência e a repercussão sim-
bólica de uma visita como esta não devem ser subestimadas – sobretudo se, olhando retrospectivamente, nos lembrarmos, por exemplo, do peso que tiveram para o fim dos regimes totalitários no Leste Europeu as exortações e visitas de São João Paulo II. Desta vez, o Papa Francisco, em comunhão de interesses com autoridades civis e religiosas muçulmanas, exorta a todos os iraquianos e tementes a Deus a buscarem uma coexistência pacífica e respeitosa. Confiemos, portanto, a Deus os bons frutos desta visita do Papa, que, como Bom Pastor, não hesita em se envolver, em colocar-se em meio às ovelhas que sofrem, e ir a seu socorro. Possam todos os filhos de Abraão suplicar ao Deus da paz pela cessação das hostilidades, pois Ubi caritas et amor, Deus ibi est – “Onde há o amor e a caridade, Deus aí está”.
Opinião
A dimensão espiritual das leis
Arte: Sergio Ricciuto Conte
Paulo Henrique Cremoneze Verdade impopular: apesar dos esforços contrários, as leis humanas conservam traços de uma transcendência que não se apaga e de uma metafísica que não nos deixa. E ai daquele que tenta, pelas razões mais respeitáveis, tomar o Direito à semelhança dos tecnicismos despojados de vida interior, sem subjetividade, numa espécie de militância da letra morta que vai além do bom emprego da Moral. Erro fatal, capaz de transformar a justiça em tirania. Ainda que se cogite em transcendência ou em abordagem metajurídica, faz tempo que se admite, sob diversos aspectos abertos à razão natural, uma dimensão espiritual do Direito. Montesquieu, por exemplo, ao tratar dos fundamentos sociais do Direito, também tratou da base espiritual das leis. Isso porque as leis legitimam comportamentos. Em sendo assim, não podem prescindir dos pilares espirituais, sob pena de, mutilando as bases sobre as quais a norma se assenta, deformarem-lhe profundamente o sentido original, com o risco maior de consagrar leis injustas e condutas inaceitáveis. Especialmente importante é, logo de início, valorizar o conceito de dignidade. A filosofia grega, absorvida pela Igreja e incorporada ao Cristianismo, não a conhecia, tal como nós. Sabia
bem o que era honra, normalmente ligada à ética ou ao código do guerreiro. Da dignidade falavam os romanos, mas não do modo como hoje conhecemos e valorizamos. A antiga dignitas significava outra coisa, mais voltada ao plano social, ao prestígio, à boa fama, à honra. Com o Cristianismo, a dignidade passa a despontar como influência poderosa no Direito e, hoje, é um princípio fundamental presente na maioria dos sistemas legais. O que tem muito a ver com a ideia central do Direito Natural de que Deus governa o universo. Ainda que repleta de imperfeições quando orientada para o Direito, a criação humana tem que aspirar ao
que é firme, valioso, perfeito. A busca da perfeição nessa obra é dever do justo, pois a ordem natural é perfeita. E de sua perfeição exala a graciosidade da beleza. É certo dizer, ao capricho dos aforismos, que Deus é a própria Beleza em que reside a Justiça. Uma lei a que falte integridade, sobre confusão e na qual se veja mal o luzir do eterno é, portanto, menos bela, menos justa, menos lei. Faltam-lhe a exuberância unitária do Ser, o respeito à proporção (ou harmonia) do Bem e, principalmente, a abertura ao brilho da Verdade. Temos, historicamente, não poucos exemplos de leis iníquas, feiura moral, desgraça jurídica: o sistema
nazista (e o holocausto dos judeus), o apartheid na África do Sul, as regras raciais segregacionistas nos Estados Unidos. Conhecer bem a Palavra de Deus é, em função disso, imprescindível. No caso específico dos católicos, conhecer também a Tradição, a doutrina, o Catecismo e os documentos oficiais da Igreja, muitos diretamente orientados para a técnica jurídica. O conhecimento firme da literatura e dos fatos históricos também é outra arma poderosa à disposição do servo do bom Direito. Todos esses predicados se juntam na eterna luta para limitar os poderes e fazer justiça, dirigida especialmente aos mais desvalidos. Acaso serão essas duas posturas outra coisa senão o estabelecimento no mundo, à medida do possível e sem pretensões desmedidas, da verdade e dos valores do Reino dos Céus? Se os bons não atuarem com justa firmeza, calibrada pela misericórdia, o mal reinará, a sociedade ficará à deriva. Para tal e tanto, além do estudo contínuo, da busca da excelência acadêmica, do amor à ciência, hão de ser perseverantes na oração – porque o cristão sem oração é como o lavrador sem enxada. Paulo Henrique Cremoneze é advogado; mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos (SP); especialista em Direito do Seguro pela Universidade de Salamanca, na Espanha; especialista em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção; e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.
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| 10 a 16 de março de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5
Sé Com projeto ‘Sementeira Achiropita Orione’, paróquia evangeliza pelas mídias digitais POR PASCOM PAROQUIAL A Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Pastoral Cerqueira César, há quatro anos iniciou o projeto “Sementeira Achiropita Orione”, com a proposta de evangelização por meio de mensagens de texto enviadas diariamente aos paroquianos, pelo WhatsApp. Diante da atual pandemia de COVID-19, desde o ano passado são feitas produções audiovisuais, com duração de sete minutos, contendo mensagens de fé, que hoje chegam não só aos paroquianos, mas, tam-
[SÉ] No dia 3, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, realizou-se o primeiro encontro presencial do Setor Bom Retiro em 2021, com a participação de Dom Eduardo Vieira dos Santos. Os representantes de todas as nove paróquias do Setor seguiram os devidos protocolos sanitários e
bém, a aproximadamente 3 mil pessoas em diferentes partes do mundo. O clipe é dividido em cinco partes: Abertura temática e saudação trinitária de 30 segundos; Leitura do Evangelho do dia, pelo Padre Luiz Miotelli, Superior Provincial dos Padres Orionitas; homília de 90 segundos, com o Padre Antonio Sagrado Bogaz, Pároco; Oração do Angelus e do Pai-Nosso, com o ministro da Eucaristia, professor João Hansen; e Pensamentos espirituais de São Luís Orione, com a bênção final, pelo Padre Luiz Miotelli. Esse trabalho de evangelização
conta com o esforço e dedicação voluntária de paroquianos, amigos e profissionais de diversas áreas, como a senhora Eva Yu Bertani, que faz as filmagens; a senhora Nanci Bissoli Oliveira, responsável pela edição; o senhor Eros Pavanello, responsável pelo áudio, e o Padre Bogaz, que prepara todos os textos. Para receber a “Sementeira”, basta digitar a mensagem “EU QUERO A SEMENTEIRA” no WhatsApp (11) 94509-5434. O conteúdo também pode ser visto no Facebook e YouTube da Paróquia: @achiropitaoficial.
Irmã Ana Célia
Paróquia São Cristóvão
distanciamento social recomendados para o atual momento da pandemia. A reunião foi conduzida pelo Frei Wilson Batista Simão, OFM, Coordenador do Setor e Pároco da Paróquia Santo Antônio, no Pari. (por Irmã Ana Célia, da Congregação das Irmãs Dominicanas) Pascom da Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate
[SÉ] Na tarde do sábado, 6, Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, conferiu o sacramento da Crisma a cinco
jovens da Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate, durante missa concelebrada pelo Padre Vandro Pisaneschi, Pároco. (por Pascom paroquial) Divulgação
[SÉ] No dia 2, o Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Pároco da Paroquia São Cristóvão e Capelão do Mosteiro da Luz, completou 70 de vida. Ele comemorou a data presidindo uma missa na Paróquia São Cristóvão, concelebrada por Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. (por Pascom paroquial)
[SÉ] No dia 21, a partir das 12h, o Santuário Sagrado Coração de Jesus realiza a “Feijoada de São José”, com a retirada via sistema drive-thru ou a degustação do prato no local, com porções para uma ou duas pessoas. Para outras informações e reservas, os telefones para contato são (11) 3331-0162 e (11) 96757-6927. O endereço do Santuário é Alameda Dino Bueno, 353, Campos Elísios. (por Pascom paroquial)
[SÉ] No 3º Domingo da Quaresma, 7, Dom Eduardo Vieira dos Santos presidiu a missa na Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, Setor Pastoral Aclimação. Na homilia, estimulou a comunidade a continuar as campanhas de solidariedade aos pobres e os trabalhos de evangelização. (por Pascom paroquial)
Espiritualidade Quaresma: tempo de compromisso de amor Dom Eduardo Vieira dos Santos
A
BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SÉ
nossa caminhada quaresmal de 2021, ano de grandes desafios políticos, econômicos, sociais, sanitários e religiosos, entre outros, segue em direção ao núcleo central deste tempo litúrgico, o Tríduo Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É um tempo propício para uma profunda revisão de vida, de conversão pessoal e comunitária. Os exercícios quaresmais do jejum, da oração e da esmola são para nós, cristãos, um apelo a nos voltarmos para o que é essencial na vida cristã: a fé em Jesus e nas suas palavras (cf. Jo 14,1). O jejum coloca-nos em sintonia com os que mais sofrem: os doentes, os pobres, as famílias enlutadas, os irmãos que passam privação de alimentos, de acesso à saúde, à educação, à moradia, a uma vida digna. Convidanos a compartilhar a alegria, a saúde, a cultura, a fé, os bens como testemunho da nossa adesão a Cristo e ao seu projeto de amor para a humanidade. O jejum convida-nos também a nos libertar da indiferença, da mentira, do ódio, do comodismo, do “não é comigo” – livres desses males que nos alienam e nos tornam insensíveis ao sofrimento do próximo –, somos habilitados pela escuta atenta da Palavra de Deus a uma vida de oração, de verdadeiro diálogo com Deus e com o próximo, como “compromisso de amor” (cf. Manual da Campanha da Fraternidade Ecumênica – CFE 2021). Rezar é dialogar com Deus, que nos fala do seu amor e da sua vontade. Ao escutá-lo, somos capazes de dar respostas também de amor e de misericórdia (cf. Lc 6,36-38). A vivência da prática do jejum, da oração e da caridade é caminho seguro para uma verdadeira conversão. Toda pessoa que se abre a Deus numa relação sincera de confiança, de humildade e de dependência filial no amor se torna incapaz de virar as costas para o próximo, sobretudo para os que mais sofrem, pois descobre Deus que a convida ao serviço (cf. Mc 10,43-45), à fraternidade, ao diálogo como “compromisso de amor”. Conversão é isto: é deixar Deus agir em nós, habitar em nós, apesar de nossos medos, incertezas, preconceitos, dos nossos muitos pecados. Sua presença provoca em nós mudanças de vida. A CFE deste ano, cujo tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, busca nos ajudar no processo de conversão, para assumirmos compromissos verdadeiros com Deus e entre nós. Não deixemos que os nossos preconceitos, farisaísmos, falsos moralismos e interesses escusos impeçam a boa convivência entre nós, homens e mulheres, católicos ou não, “santos ou pecadores”. Que o respeito, a fraternidade e o diálogo sejam para nós saborosos frutos do nosso reconhecimento da necessidade de verdadeira conversão e da nossa disposição de mudar de vida, amando-nos uns aos outros, como Jesus nos amou (cf. Jo 13,34-35). Este é o sentido da caminhada quaresmal, da Páscoa de Jesus Cristo, da vida de todo cristão e de toda pessoa: viver a plenitude do amor, servindo uns aos outros no amor e no serviço, como Jesus nos ensinou.
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Luciana Pinheiro
Lapa
Padre José Ordean toma posse na Paróquia São João Batista Benigno Naveira
perior Provincial dos Espiritanos no Brasil, do decreto de nomeação e provisão de posse do novo Pároco, pelo Em missa presidida por período de três anos. Dom José Benedito CardoApós a homilia, Dom so, Bispo Auxiliar da ArJosé convidou o Padre José quidiocese na Região Lapa, Ordean a fazer a renovação em 28 de fevereiro, o Padre de suas promessas sacerdotais. Em seguida, como José Ordean Alves dos Santos, CSSp, tomou posse parte do rito de posse, o como Pároco da Paróquia Bispo entregou-lhe as chaves da igreja, do sacrário, os São João Batista, na Vila santos óleos dos sacramenMangalot, Setor Pastoral Dom José Benedito dá posse ao Padre José Ordean como Pároco tos do Batismo, Unção dos Pirituba. Enfermos e Crisma, além Aproximadamente 200 pessoas participaram da missa, que tamAo iniciar a celebração, Dom José Beda estola roxa, sinal do sacramento da bém foi transmitida pelas redes sociais nedito cumprimentou o novo Pároco, os Reconciliação. da Paróquia, e teve como concelebrantes concelebrantes e os fiéis, e a estes últimos No fim da celebração, o novo Pároco agradeceu a presença de Dom José Dom Mosé João Pontelo, Bispo Emérito pediu que auxiliassem o Padre José Ordean no serviço de evangelização. Também Benedito, dos concelebrantes e dos fiéis. de Cruzeiro do Sul (AC), Padre Leonardo da Silva Costa, Superior Provincial agradeceu ao Padre Edson Sacramento, Foi cantado, ainda, os parabéns ao Padre dos Espiritanos no Brasil e Padre AntoCSSp, antigo Pároco, o trabalho realizado. José Ordean, que festejava 47 anos de nio Carlos Mariano Coelho. Na sequência, foi feita a leitura, pelo Suvida naquele dia. Benigno Naveira
COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
[SANTANA] No sábado, 6, Dom Jorge Pierozan deu posse ao Padre Benedito Raimundo Siqueira, CAM (à esq. do Bispo) como Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, Setor Tucuruvi. Concelebraram os Padres Paulo Ramos e Benedito Hércules Daniel, com a participação do Diácono Permanente Marcio José Ribeiro. (por Luciana Pinheiro) Paróquia Nossa Senhora Mãe e Rainha
[BRASILâNDIA] No sábado, 6, na Paróquia Nossa Senhora Mãe e Rainha, Setor Pastoral Jaraguá, 24 crianças e adolescentes receberam a 1ª Eucaristia, durante missa presidida pelo Padre Alécio Ferreira, Pároco. (por Pascom paroquial) Caroline Dupim
Lucilene Marinho
santana Após 23 anos, Padre Victor Fernandes deixa a Paróquia Santíssima Trindade
Padre Victor Fernandes após a missa do dia 7
No domingo, 7, Padre Victor Fernandes despediu-se da Paróquia Santíssima Trindade, Setor Casa Verde, onde esteve nos últimos 23 anos. Padre Victor nasceu em 12 de abril de 1937, em Goa, na Índia. Aos 27 anos, em 1º de dezembro de 1964, foi ordenado sacerdote, na ocasião em que foi realizado o Congresso Eucarístico na cidade indiana de Bombaim. Chegou ao Brasil no mesmo ano. Em 1969, come-
çou a atuar na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, Setor Tucuruvi. Em 1970, foi destinado para a Paróquia Santo Antônio, no Lauzane. Em 1991, passou a atuar na Basílica de Sant’Ana. Em abril de 1998, foi empossado como Pároco na Paróquia Santíssima Trinidade, onde estava até então. Nas duas missas do último domingo, os fiéis homenagearam o Padre e lhe desejaram que viva a aposentadoria, de agora em diante, como um tempo de graças e bênçãos, de descanso e de uma intensa vida espiritual.
Arquivo pessoal
Denilson Marcilene
Denilson Marcilene
Simone Arruda
COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO
[IPIRANGA] No dia 3, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, e o Padre Uilson dos Santos, Vigário Adjunto da Região, realizaram a entronização da imagem de São José na cúria regional, por ocasião da celebração do Ano de São José. (por Caroline Dupim) Denilson Marcilene
[SANTANA] No domingo, 7, na Paróquia São José Operário, Setor Jaçanã, Dom Jorge Pierozan presidiu missa e deu posse ao novo Pároco, o Padre Wagner Aparecido Scarponi. Anteriormente, ele foi Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, no Tucuruvi, entre 2016 e 2021. (por Denilson Marcilene) Denilson Marcilene
[SANTANA] Faleceu na sexta-feira, 5, aos 95 anos de idade, a Irmã Ana Conceição Mendes, das Irmãs da Providência de GAP, congregação na qual fez votos perpétuos em 20 de janeiro de 1954. Ela atuava no Colégio Padre Moye, no bairro do Limão. A missa de corpo presente foi celebrada no sábado, 6, na Casa das Irmãs, após a qual houve o sepultamento no Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha.
[SANTANA] No domingo, 7, em missa na Paróquia São Luiz Gonzaga, Setor Jaçanã, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, apresentou o novo Vigário Paroquial, Padre Marcos Alves de Oliveira. Concelebrou o Padre Benedito Hercules Daniel, Pároco.
(por Padre Armênio Rodrigues Nogueira)
(por Denilson Marcilene)
[SANTANA] Dom Jorge Pierozan deu posse no domingo, 7, ao Padre Alescio Aparecido Bombonatti, do Instituto Missionário São José (MSJ), como Pároco da Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa, Setor Jaçanã, durante missa na matriz paroquial. Concelebraram os Padres Ronaldo José de Castro Neto, Superior-geral dos MSJ, Edilson Paes Landim, Alexandre Alves Moreira, Jaime Pereira Lemos e Adilson Fernandes, todos do Instituto Missionário São José. Participou o Diácono Permanente Nilo José de Carvalho. (por Denilson Marcilene)
[SANTANA] No sábado, 6, em missa na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Medeiros, Dom Jorge Pierozan deu posse canônica ao Padre Dalmir Oliveira dos Anjos, como Pároco. Participou o Diácono Permanente Felipe Ribeiro Neto. (por Robson Francisco)
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| 10 a 16 de março de 2021 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7
Fé e Cidadania
Ipiranga
Santuário São Judas Tadeu é um dos pontos de vacinação contra a COVID-19 Pascom do Santuário São Judas Tadeu
POR PASCOM DO SANTUÁRIO SÃO JUDAS TADEU Desde o dia 4, o Santuário São Judas Tadeu, Setor Pastoral Imigrantes, tem sido um dos pontos de vacinação contra a COVID-19 na cidade de São Paulo. O trabalho vem sendo realizado pelos profissionais da área da Saúde da UBS Milton Santos, no Planalto Paulista, que fica próxima ao Santuário. No primeiro dia, foram atendidas 575 pessoas, entre idosos com 77 anos ou mais, e profissionais da área da Saúde a partir dos 55 anos de idade. Os que fazem parte dos grupos prioritários que já estão autorizados a ser vacinados, em conformidade com
depositou duas moedinhas no cofre do templo é bem conhecido. Aquilo, porém, era tudo o que ela possuía para o seu sustento (cf. Lc 21,1-4). Evidentemente, não poderemos pedir a uma criança que lance mão dos seus trocados de mesadas para dar tudo a um mendigo. Podemos, porém, verificar com ela, no seu armário, as roupas que não usa mais porque cresceu, e estão em bom estado. O tênis que ficou pequeno. Os brinquedos que já passaram da idade... E aí sugerir: “Por que não doamos a uma criança que não pode comprar?” O exemplo citado é clássico e conhecido, mas corre-se o risco, em uma sociedade consumista e “colecionadora”, de se esquecer dos velhos contos que muito ensinavam. Portanto, é válido lembrar. As atitudes de doação na infância são sementes para que possa futuramente doar da sua mesada, e, depois, do próprio salário, porque aprendeu a se desprender. Recentemente, um jovem, de família economicamente confortável, chamado Carlo Acutis, foi beatificado pela maneira cristã e alegre como viveu, até morrer precocemente de câncer. Conta-se que, para surpresa de todos, ao seu velório chegaram muitos mendigos desconhecidos dos presentes, mas que vieram agradecer àquele jovem e velar por ele que, sem que soubessem, ajudava a muitos com o que tinha, vivendo na simplicidade para si. Olhemos o exemplo desse jovem e procuremos levar aos filhos a educação da mesada, sem esquecer que daí poderemos favorecer a virtude do desprendimento, na caridade aos mais necessitados, pela esmola. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com
Padre José Ulisses Leva é professor de História Eclesiástica da PUC-SP.
com foto e o CPF. Os profissionais da Saúde devem, ainda, apresentar um documento comprobatório da atividade profissional.
Comportamento A mesada e a esmola VALDIR REGINATO O tema da mesada é muito antigo. Recordo-me de que, quando eu era criança, todos gostavam de ter uns “trocadinhos” que fossem seus. Era um dinheirinho da vovó, ou por ter ajudado a lavar o carro com o pai, a tia que gostava de ver o afilhado receber... Eram trocados esporádicos, que, evidentemente, não constituíam um ganho periódico, e muito menos suficiente para pouco mais que um pacote de balas. Entretanto, a idade avança e começa a haver gosto de ter essa renda periodicamente. Quem sabe semanalmente no início, depois quinzenalmente e, chegando a ser mensal, com valores mais significativos de acordo com a responsabilidade da idade. Quando se chega à mesada, os pais precisam ter ideia de como e em que este dinheiro está sendo usado. O valor pode ser pequeno, porém, se juntar dois ou três meses, será mais significativo. É preciso ter em conta que o dinheiro dado é do filho, mas estamos falando de crianças/adolescentes e não de funcionários. Se os pais compram tudo de que os filhos precisam, a mesada ficará destinada a coisas que não são essenciais, e sim, desejos. Contudo, se da mesada o filho deverá passar a administrar alguma parcela das suas necessidades, isso se torna mais interessante e educativo. Quando na mesada se inclui o gasto com o lanche, por exemplo, isso quer dizer que, se gastar o dinheiro todo, ficará sem ter o que comer. Que crueldade! Os filhos não ficarão desnutridos ou morrerão de fome, mas estarão aprendendo a valorizar e a lidar com escolhas e o custo das coisas. É fato conhecido o desejo de um filho que queria muito um instru-
mento musical, mas a família não dispunha de condições para poder investir nisso. Ao longo de meses, o rapaz soube economizar e, com enorme satisfação, conseguiu comprar o tão desejado instrumento. Evidentemente, precisou se privar de alguns outros desejos, e deixar de participar de certas atividades, mas aprendeu a colocar hierarquia no valor do que realmente vale a pena para ele. Atualmente, os cartões de crédito tornaram a mesada um gasto invisível. Quando eu ganhava cédulas de pequeno valor, percebia que a cada compra elas iam “desaparecendo” da carteira. Agora, o cartão só avisa quando bate no limite. E, se os pais não colocam limites, aí... sabe Deus. Certa vez, um rapaz respondendo se sabia quanto gastava, disse: “Eu não! Meu pai é quem paga!”. Perigo! Gravíssima falha educacional! E agora os cartões estão se aposentando e tudo ficará por conta do toque no celular! Alerta vermelho! Percebe-se que a mesada, como quase tudo, pode ser um instrumento de educação quanto a se conhecer e saber valorizar os gastos e a hierarquia de escolhas; sem deixar de se tornar uma arma quando usada inadequadamente para compras de excessos, luxúria, ganância, gula, álcool, drogas etc. Mudando a página, mas no mesmo tema, cabe a pergunta em tempo de Quaresma: estamos nos ocupando em ensinar os nossos filhos a saber dar esmolas? Se na mesada recebo, na esmola devo dar. O quanto vamos ensinando aos nossos filhos o valor de dar do que temos àqueles que precisam mais e não têm como comprar? Quando se fala de esmola, frequentemente nos vêm a ideia duas moedinhas. O exemplo da viúva que
Padre José Ulisses Leva O início do ministério petrino do Papa Francisco como Bispo de Roma se deu no dia 19 de março de 2013. Estamos celebrando, portanto, os seus oito anos no governo da Igreja, no Ano instituído por ele, dedicado a São José. O Papa Francisco, na homilia daquele dia, ressaltou o papel e a importância de São José na vida da Sagrada Família e na vida da Igreja: “José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa” (Mt 1,24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser custos, guardião. Como José realiza esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com Maria até o episódio de Jesus, aos 12 anos, no templo de Jerusalém, acompanha cada momento com solicitude e amor. Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos quanto nos momentos difíceis da vida, na ida a Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento dramático da fuga para o Egito e na busca preocupada do filho no templo; e, depois, na vida cotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria, onde ensinou o ofício a Jesus”. Na missa do início do seu pontificado, o Papa adiantou o seu programa apostólico. Francisco, sob o patrocínio de São José, o indicou como protetor da família nuclear e, também, de toda a Casa Comum. “Entretanto, a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro do Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e de cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos se tornam guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente, tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!” O Pontífice chamou para si a responsabilidade de ser vigilante com os membros da Igreja, mas solicitou a todos o querer e proteger, guardando com solicitude e capacidade aos homens e mulheres da Terra. “Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos ‘guardiões’ da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Para ‘guardar’, porém, devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.” Papa Francisco, votos de feliz ministério petrino, sob o patrocínio de São José.
Agentes de Saúde da UBS Milton Santos e padre que atua no Santuário São Judas Tadeu
o Plano Nacional de Imunização, podem ir ao Santuário, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e precisam levar um documento de identidade
Ministério petrino de Francisco
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Teólogo ressalta que Matrimônio expressa o mistério do amor de Deus na vida da Igreja Reprodução da internet
Fernando Geronazzo
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As perspectivas teológico-sacramentais do Matrimônio foram o tema da segunda aula do curso de extensão cultural promovido pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, na segunda-feira, 8. Realizado on-line, o curso é destinado a sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos, leigos, membros de movimentos eclesiais, da Pastoral Familiar, de cursos de preparação para noivos e catequistas de jovens e adultos. A aula foi ministrada pelo Padre Sidnei Fernandes Lima, Doutor em Teologia Dogmático-Sacramentária pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, e professor na Faculdade de Teologia da PUC-SP. Mistério do amor de Deus Padre Sidnei iniciou sua reflexão chamando a atenção para um desafio enfrentado atualmente sobre o Matrimônio, que, muitas vezes, não é compreendido pelos noivos como uma celebração sacramental que, como tal, é expressão do mistério do amor de Deus na perspectiva da salvação. Ele acentuou que, frequentemente, a celebração se torna um “espetáculo” social marcado por um forte apelo comercial que não valoriza o sentido sagrado da liturgia matrimonial. Nesse sentido, o Professor salientou que existe uma parcela de responsabilidade pastoral e indicou a necessidade de que se invista na formação de co-
munidades conscientes do sentido sacramental do casamento, que ajudem os noivos a vivenciar concretamente o mistério desse sacramento. “Todo sacramento é um acontecimento da Igreja e a comunidade celebra com os noivos esse mistério e se compromete com o casal”, afirmou. Teologia sacramental Em seguida, o Teólogo apresentou alguns fundamentos da teologia sacramental a partir dos documentos eclesiais, como o Catecismo da Igreja Católica, que explica que a celebração litúrgica comporta sinais e símbolos que se referem à criação, à vida humana e à história da salvação. Tais gestos e memoriais “se tornam portadores da ação salvadora e santificadora de Cristo”. “A liturgia nos coloca em contato com um mistério, com a realidade de salvação”, enfatizou Padre Sidnei, acrescentando que a liturgia não existe
apenas para transmitir conceitos, mas por meio dos símbolos, gestos e ritos, vivencia-se concretamente a realidade do mistério celebrado. No caso do Matrimônio, a realidade expressa por meio do sacramento é a do mistério da união do Cristo com sua Igreja, portanto, é o sinal visível e sensível do amor de Deus. Sinal de comunhão “O casal que recebe este sacramento demonstra a grandiosidade da unidade de Deus, reflexo do amor da própria Trindade. O Matrimônio é o sacramento da fecundidade, que gera vida e distribui amor às pessoas”, acrescentou o Professor, recordando que, ao lado da Ordem, o Matrimônio é um sacramento do serviço da comunhão. Por essa razão, o Teólogo reforçou que esse sinal sacramental selado no rito do Matrimônio, por meio do consentimento dos noivos, os ministros deste sacramento, diante da testemu-
nha qualificada da Igreja (sacerdote, diácono), não se limita àquele instante da liturgia, mas perdura por toda a vida do casal. Padre Sidnei também recordou que a união entre o homem e a mulher existe desde a criação da humanidade. Contudo, ao pecar, o ser humano perdeu o equilíbrio, a harmonia e o amor. “Cristo, no entanto, veio reunir os homens no amor… Veio restaurar a harmonia entre o homem e a mulher”, enfatizou, explicando que Jesus elevou o matrimônio natural à dignidade de sacramento. “O amor entre o homem e a mulher, que é unidade, doação, fonte de vida, que faz o ser humano semelhante a Deus, foi também escolhido por Cristo como sinal que recorda e celebra o seu grande amor pelos homens”, completou o Professor. O Teólogo observou, ainda, que esse mistério salvífico celebrado no Matrimônio não diz respeito apenas à vida dos esposos, mas a toda a comunidade cristã, para a qual eles devem ser sinal do amor de Cristo pela humanidade. “A celebração do Matrimônio diante da comunidade deve significar tudo isso”, enfatizou o Padre. Bênção nupcial Para explicar melhor a teologia sacramental do Matrimônio, Padre Sidnei destacou a estrutura da bênção nupcial proferida durante a celebração matrimonial. A oração se inicia com a memória da ação do amor de Deus pela humanidade e como Ele abençoou o amor entre o homem e a mulher desde a criação. “Ó Deus, santificastes misteriosamente a união conjugal, desde o princípio, a fim de prefigurar no vínculo nupcial o mistério de Cristo e da Igreja [...] Vós unis a mulher ao marido e dais a esta união estabelecida desde o início a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”, diz um trecho da bênção. A segunda parte da oração traz a invocação da graça do Espírito Santo sobre os noivos, “para que, impregnados da vossa caridade, permaneçam fiéis à aliança conjugal”. Na conclusão, apresenta intercessões em favor dos esposos, pedindo que permaneçam firmes na fé, amem os Mandamentos, conservem-se fiéis um ao outro: “Animados pela força do Evangelho, sejam entre todos verdadeiras testemunhas de Cristo”. Por fim, Padre Sidnei incentivou que especialmente os sacerdotes dediquem um momento do curso de noivos para explicar o rito do sacramento do Matrimônio aos futuros esposos, para que estes tenham a oportunidade de compreender a grandeza do mistério que estão prestes a celebrar.
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| 10 a 16 de março de 2021 | O PAPA NO IRAQUE | 9
‘A esperança é mais forte que a morte, a paz é mais forte que a guerra’ Vatican Media
Daniel Gomes
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Na 33ª viagem apostólica de seu pontificado, realizada entre os dias 5 e 8, ao Iraque, o Papa Francisco fez um forte apelo ao diálogo, como instrumento para a superação de conflitos, e exortou à prática do perdão, para que o país viva novos tempos. Em seu primeiro discurso na chegada a Bagdá, capital do país, na sexta-feira, 5, o Pontífice recordou que nas últimas décadas o Iraque tem sofrido com as consequências das guerras, do terrorismo e de muitos conflitos motivados pelo fundamentalismo. “Tudo isso trouxe morte, destruição, ruínas ainda visíveis… E não só em nível material! Os danos são ainda mais profundos, quando se pensa nas feridas dos corações de tantas pessoas e comunidades que precisarão de anos para se curar”, ressaltou. O Papa enfatizou, porém, que a sociedade iraquiana ainda pode mostrar ao mundo, em especial ao Oriente Médio, “que as diferenças, em vez de gerarem conflitos, devem cooperar harmoniosamente na vida civil”, incluindo respeito, direito e proteção a todas as comunidades religiosas que existem no país. “Como responsáveis políticos e diplomáticos, sois chamados a promover este espírito de solidariedade fraterna. Há necessidade de contrastar o flagelo da corrupção, os abusos de poder e a ilegalidade. Mas não basta! Ao mesmo tempo, é preciso edificar a justiça, aumentar a honestidade, a transparência e reforçar as instituições que a isso presidem. Assim pode crescer a estabilidade e se desenvolver uma política sadia, capaz de oferecer a todos, especialmente aos jovens – tão numerosos neste país –, a esperança de um futuro melhor”, disse o Pontífice às autoridades locais. Em seguida, Francisco recordou que ele e seus predecessores no pontificado sempre rezaram pelo fim de todo tipo de
Papa durante visita a Mossul, no Iraque, no domingo, 7, reza em praça onde quatro templos foram destruídos por terroristas entre 2014 e 2017
violência, extremismos e intolerâncias no Iraque. “E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”, ressaltou. O Papa enfatizou, ainda, que a religião sempre deve estar a serviço da paz e da fraternidade: “O nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”. Atenção às vítimas da guerra Ao longo dos dias de visita, Francisco encontrou-se com as autoridades locais, falou à comunidade católica no Iraque e fortaleceu as pontes de diálogo com lideranças islâmicas, como no histórico encontro que teve no sábado, 6, com o Grande Aiatolá Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani, líder da comunidade xiita ira-
quiana (leia mais nas páginas 10 e 11). Um dos momentos mais emblemáticos da viagem apostólica aconteceu no domingo, 7, quando o Pontífice esteve na cidade de Mossul. Na praça de Hosh al-Bieaa, ele rezou pelos que perderam a vida nos conflitos no Iraque (leia a íntegra da oração abaixo). No local, templos das igrejas sírio-católica, armeno-ortodoxa, sírio-ortodoxa e caldeia foram destruídos em virtude dos ataques terroristas entre os anos de 2014 e 2017, quando o Estado Islâmico tomou o comando de vastas áreas do país e perseguiu, de modo sistemático, os cristãos. “A trágica redução dos discípulos de Cristo, aqui e em todo o Médio Oriente, é um dano incalculável não só para as pessoas e comunidades envolvidas, mas, também, para a própria sociedade que eles deixaram para trás. Com efeito, um
tecido cultural e religioso assim, rico de diversidade, é enfraquecido pela perda de qualquer um dos seus membros, por menor que seja”, afirmou o Pontífice. “Hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra”, ressaltou Francisco, comentando, ainda, que pela verdade de fé, Deus é o Senhor da vida, da paz e do amor, e, assim, não é lícito “matar os irmãos em Seu nome”, “fazer a guerra em Seu nome” nem “odiar os irmãos”. “Rezemos também por todos nós, para podermos, independentemente das respectivas filiações religiosas, viver em harmonia e paz, conscientes de que, aos olhos de Deus, todos somos irmãos e irmãs”, comentou antes da oração.
Oração pelas vítimas da guerra no Iraque Deus Altíssimo, Senhor do tempo e da história, por amor criastes o mundo e nunca cessais de derramar as vossas bênçãos sobre as vossas criaturas. Com terno amor de Pai, acompanhais os vossos filhos e filhas, para além do oceano do sofrimento e da morte, para além das tentações da violência, da injustiça e do lucro iníquo. Mas nós, homens, ingratos pelos vossos dons e distraídos pelas nossas preocupações e ambições demasiado terrenas, muitas vezes esquecemos os vossos desígnios de paz e harmonia. Fechamo-nos em nós mesmos e nos nossos próprios interesses e, indiferentes a Vós e aos outros, fechamos as portas à paz. Assim se repetiu aquilo que o profeta Jonas ouviu dizer de Nínive: a maldade dos homens subiu até a
presença de Deus (cf. Jn 1,2). Não levantamos para o Céu mãos puras (cf. 1 Tm 2,8), mas da terra subiu mais uma vez o grito do sangue inocente (cf. Gn 4,10). Os habitantes de Nínive, na narração de Jonas, ouviram a voz do vosso profeta e encontraram salvação na conversão. Também nós, Senhor, ao mesmo tempo que Vos confiamos as inúmeras vítimas do ódio do homem contra o homem, invocamos o vosso perdão e suplicamos a graça da conversão: Kyrie eleison! Kyrie eleison! Kyrie eleison! [Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade…] – um momento de silêncio – “Senhor nosso Deus, nesta cidade,
dois símbolos testemunham o perene desejo da humanidade de se aproximar de Vós: a mesquita, Al-Nouri, com o seu minarete, Al Hadba, e a igreja de Nossa Senhora do relógio. É um relógio que, há mais de cem anos, lembra aos transeuntes que a vida é breve, e o tempo precioso. Ensinai-nos a compreender que Vós nos confiastes o vosso desígnio de amor, paz e reconciliação, para o realizarmos no tempo, no breve arco da nossa vida terrena. Fazei-nos compreender que, somente o colocando em prática sem demora, será possível reconstruir esta cidade e este país e curar os corações dilacerados pela dor. Ajudai-nos a não gastar o tempo a serviço dos nossos interesses egoístas, pessoais ou coletivos, mas a serviço do
vosso desígnio de amor. E, quando nos transviarmos, concedei que possamos dar ouvidos à voz dos verdadeiros homens de Deus e arrepender-nos a tempo, para não nos arruinarmos ainda mais com destruição e morte. Confiamo a Vós as pessoas, cuja vida terrena foi abreviada pela mão violenta dos seus irmãos, e imploramos a Vós também, para quantos fizeram mal aos seus irmãos e irmãs, que se arrependam, tocados pelo poder da vossa misericórdia: Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiescant in pace. Amen. [Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua. Descansem em paz. Amém.]
10 | O PAPA NO IRAQUE | 10 a 16 de março de 2021 |
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A oração dos filhos de Abraão Vatican Media
Fernando Geronazzo
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Uma prece ecoou na planície de Ur dos caldeus, na região da antiga Mesopotâmia, atual território do Iraque, no sábado, 6. No lugar próximo às ruínas da casa onde, segundo a tradição bíblica, nasceu Abraão, patriarca das três grandes religiões monoteístas, o Papa Francisco participou de um encontro inter-religioso que reuniu judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras tradições religiosas. Remetendo-se ao diálogo narrado no livro do Gênesis, quando Deus pediu a Abraão que levantasse os olhos para o céu e contasse as estrelas, Francisco afirmou: “Erguemos os olhos ao céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo”. O Santo Padre ressaltou que hostilidade, extremismo e violência não nascem de um ânimo religioso, pois são “traições da religião”. “E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissiparmos com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!”, completou.
Berço das civilizações que professam a fé no Deus único A região onde se encontra atualmente o Iraque coincide em grande parte com a antiga Mesopotâmia, localidade entre os rios Tigre e Eufrates de onde vêm os primeiros registros históricos da escrita e da primeira civilização do mundo, a suméria, há cerca de 5 mil anos. É também nessa região que estava localizada a cidade da Babilônia, capital do Império Babilônico durante os milênios II e I a.C. Na Antiguidade, a cidade se beneficiava de sua posição na importante rota comercial terrestre que ligava o Golfo Pérsico ao Mediterrâneo. Além de abrigar a planície de Ur, onde nasceu Abraão, acredita-se, por exemplo, que o paraíso descrito no livro do Gênesis se localizava nessa região. O mesmo se diz sobre a construção da Torre de Babel, o dilúvio, o encontro de Jacó e Raquel; a cova dos leões, onde Daniel foi preso; a fornalha ardente, onde os três jovens hebreus foram colocados por Nabucodonosor, rei da Babilônia, que mantinha os judeus em cativeiro; os episódios do livro de Ester; a atividade dos profetas Amós e Ezequiel, entre muitos outros acontecimentos descritos no Antigo Testamento.
Papa em encontro com judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras tradições religiosas durante a visita ao Iraque, no sábado, 6
“Quem tem a coragem de olhar as estrelas, quem acredita em Deus, não tem inimigos para combater”, disse Francisco, acrescentando que Deus não pode ser contra ninguém, mas por todos. Prece conjunta No fim do encontro, foi pronunciada uma prece intitulada “Oração dos filhos de Abraão”. “Deus Todo-Poderoso, nosso Criador, que amais a família humana e tudo o
que as vossas mãos fizeram, nós, filhos e filhas de Abraão, pertencentes ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islã, juntamente com os demais crentes e todas as pessoas de boa vontade, agradecemos a Vós por nos terdes dado como pai comum na fé Abraão, filho insigne desta nobre e amada terra”, inicia a oração. A prece segue pedindo a Deus que lhes conceda “uma fé forte, operosa no bem, uma fé que abra os nossos corações a Vós e a todos os nossos irmãos e irmãs;
e uma esperança irreprimível, capaz de em tudo vislumbrar a fidelidade das vossas promessas”. “Fazei de cada um de nós uma testemunha do vosso cuidado amoroso por todos, especialmente os refugiados e os deslocados, as viúvas e os órfãos, os pobres e os doentes. Abri os nossos corações ao perdão recíproco, tornando-nos instrumentos de reconciliação, construtores de uma sociedade mais justa e fraterna”, continua a oração.
Diálogo com líder xiita Vatican Media
Antes de participar do encontro inter-religioso em Ur, o Papa foi até a cidade de Najaf, onde se encontrou com o Grande Aiatolá Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani, líder da comunidade xiita iraquiana. Aos 91 anos, Al-Sistani é um interlocutor reconhecido por diversas correntes políticas do Iraque, devido à sua interpretação da revelação islâmica silenciosa, que prega a abstenção das autoridades religiosas das atividades políticas diretas. Em 2004, o Grande Aiatolá apoiou as eleições livres no Iraque, o que contribuiu para o planejamento do primeiro governo democrático no país. Em 2014, ele conclamou os iraquianos a se unirem na luta contra o autoproclamado Estado Islâmico. Respeito e colaboração Durante a visita de cortesia, que durou cerca de 45 minutos, o Pontífice sublinhou a importância da colaboração e da amizade entre as comunidades religiosas para que, cultivando o respeito mútuo e o diálogo, se possa contribuir para o bem do Iraque, da região e de toda a humanidade. “O encontro foi uma ocasião para o Papa agradecer ao Grande Aiatolá Al-Sistani porque, junto com a comunidade xiita, diante da violência e das grandes dificuldades dos últimos anos,
Diálogo do Papa com o Grande Aiatolá Al-Sistani é um marco nas relações da Igreja com o Islã
levantou sua voz em defesa dos mais fracos e perseguidos, afirmando a sacralidade da vida humana e a importância da unidade do povo iraquiano”, informou a Sala de Imprensa da Santa Sé, em nota. Lugar sagrado do Islã A residência do Grande Aiatolá
Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani está localizada no Santuário do Imame Ali ou Mesquita do Imām Alī, considerada pelos xiitas o terceiro lugar sagrado do Islã, depois da Grande Mesquita Meca e a Mesquita do Profeta de Medina. Os xiitas acreditam que em seu interior também tenham sido sepultados Adão, Eva e Noé. (FG)
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Igreja viva e testemunha da misericórdia de Deus Durante a missa no Estádio Franso Hariri, em Erbil, no domingo, 7, com a presença de cerca de 10 mil pessoas, o Papa Francisco exaltou o testemunho dos católicos iraquianos diante das inúmeras adversidades e perseguições. “A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo, especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo em meio à grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vocês oferecem generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Esse é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vocês, ou seja, para agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel”, disse o Pontífice. Erbil é uma das cidades mais antigas do mundo, com registros de assentamentos urbanos que datam do sexto milênio a.C. Atualmente, acolhe refugiados sírios e meio milhão de deslocados internos, que fugiram das perseguições do Estado Islâmico. Confiança na força da cruz O primeiro contato do Papa com os católicos no Iraque aconteceu na sexta-feira, 5, na Catedral de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá, onde ele se reuniu com bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas e catequistas. Nessa catedral, dez anos atrás, 48 cristãos foram mortos em um atentado terrorista durante uma celebração. “Que a recordação do seu sacrifício nos inspire a renovar a nossa confiança na força da Cruz e da sua mensagem salvífica de perdão, reconciliação e renascimento”,
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‘Cristo vive e age neste povo santo e fiel’, diz Francisco na missa que presidiu em um estádio de futebol na cidade de Erbil, no domingo, 7
afirmou o Pontífice, no início de seu discurso. Francisco reconheceu, ainda, as dificuldades que fazem parte da experiência diária dos fiéis iraquianos, por todos os sofrimentos que passaram e ainda passam devido à fragilidade das infraestruturas básicas e a luta contínua pela segurança econômica e pessoal. Por isso, Francisco agradeceu aos “irmãos bispos e sacerdotes por terdes permanecido junto do vosso povo, apoiando-o, esforçando-vos por satisfazer as carências das pessoas e ajudando cada um a fazer a sua parte a serviço do bem comum”. “Animo-vos a perseverar neste compromisso, a fim de garantir que a comunidade católica no Iraque, apesar de pequena como um grão de mostarda, continue a enriquecer o caminho do país no seu conjunto”, completou.
Católicos Os católicos iraquianos estão divididos entre caldeus, siríacos, armênios, latinos e greco-melquitas. Segundo dados do Escritório Central de Estatística da Igreja, os católicos no Iraque são 590 mil, representando 1,5% da população total, de 38,4 milhões de habitantes. Usando uma metáfora, o Papa comparou as diversas Igrejas presentes no Iraque e seus patrimônios a um tapete formado por tantos fios entrelaçados de variadas cores, que não só atesta a sua fraternidade, mas remete também à sua fonte, “pois o próprio Deus é o artista que idealizou este tapete”. “Como é importante este testemunho de união fraterna em um mundo que se vê frequentemente fragmentado e dilacerado pelas divisões!”, enfatizou o Santo Padre.
As Bem-aventuranças mudam o mundo O Pontífice também celebrou a Eucaristia na Catedral Caldeia de São José, no sábado, 6. Na homilia, ao meditar sobre as Bem-aventuranças, Francisco afirmou que, para se tornar bem-aventurado, não é preciso ser herói de vez em quando, mas testemunha todos os dias. “O testemunho é o caminho para encarnar a sabedoria de Jesus. É assim que se muda o mundo: não com o poder nem com a força, mas com as Bem-aventuranças.” “Aqui, onde, na Antiguidade, surgiu a sabedoria, nestes tempos se levantaram tantas testemunhas, muitas vezes esquecidas nos noticiários, mas preciosas aos olhos de Deus; testemunhas que, vivendo as Bem-aventuranças, ajudam Deus a realizar as suas promessas de paz”, completou o Papa. (FG)
Desde os tempos apostólicos, cristãos iraquianos resistem às perseguições A presença cristã na região da antiga Mesopotâmia remonta às origens do próprio Cristianismo. Segundo a tradição, a pregação do Evangelho se espalhou por essas terras já no primeiro século, a partir da atuação do apóstolo São Tomé e de seus discípulos, estendendose até a Ásia oriental. Desde a chegada do Islã, no século VII, e também após o surgimento do Iraque independente, a vida dos cristãos da região foi marcada por perseguições e discriminações. Êxodo A partir da década de 1980, começou a registrar-se uma crescente emigração por causa dos vários conflitos no País durante o governo de Saddam Hussein. Numerosas comunidades cristãs iraquianas foram forçadas a viver na diáspora. O êxodo mais intenso ocorreu após a intervenção militar dos Estados Unidos, em 2003, devido à insegurança, à violência e aos atentados, e entre 2014 e 2017, com a chegada do Estado Islâmico ao
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Papa Francisco reza o Angelus na Igreja da Imaculada Conceição em Qaraqosh, no domingo, 7
norte do país. Antes da invasão dos extremistas, estimava-se que os cristãos no Iraque eram entre entre 1 milhão e 1,4 milhão (6% da população), porém a perseguição fez com que esse número reduzisse drasticamente, chegando a cerca de 300 mil. Além dos católicos de diferentes ritos, há no país a presença de cristãos ortodoxos e protestantes. Depois da derrota do Estado Islâmico no Iraque, em 2017, os cristãos come-
çaram lentamente a retornar à planície de Nínive. Em novembro de 2020, quase metade dos cristãos dessa região já havia retornado, enquanto 80% das igrejas estavam sendo reconstruídas. ‘O terrorismo não tem a última palavra’ Uma dessas igrejas reconstruídas, em Qaraqosh, foi visitada pelo Papa Francisco no domingo, 7. Esse templo foi
restaurado há um ano, após ter sido vandalizado, profanado e queimado pelo Estado Islâmico em agosto de 2014. Parte da torre do sino foi derrubada, estátuas decapitadas, móveis, registros e livros sagrados jogados em uma fogueira. “Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra. A última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra, podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”, ressaltou o Santo Padre, acrescentando que a reconstrução não se limita a reerguer edifícios, mas, antes, “os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos”. Após a destruição, uma nova estátua de Nossa Senhora foi erguida na torre do sino restaurada, as paredes pretas de fuligem e as colunas de mármore foram limpas e uma imagem de 2 metros de altura da Imaculada Conceição foi colocada próxima do altar. (FG) (Com informações de Vatican News, Agência Fides e ACN)
12 | O PAPA NO IRAQUE | 10 a 16 de março de 2021 |
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ANÁLISE
O primeiro Papa a pisar no Iraque Vatican Media
Imprensa internacional destaca caráter histórico da viagem de Francisco ao país martirizado pelo terrorismo em nome da fé Filipe Domingues
Especial para O São Paulo
O Papa Francisco aumentou em muito a lista de fatos históricos do seu pontificado durante a visita apostólica ao Iraque, entre os dias 5 e 8. Ele viajou em meio a uma pandemia, e só isso já seria suficiente motivo para lembrar para sempre sua ida ao país. Mas também foi o primeiro Papa a pisar no Iraque, onde, nos últimos dez anos, a presença dos cristãos diminuiu de 1,5 milhão para 300 mil pessoas, por causa das guerras e da perseguição religiosa. A comunidade cristã no Iraque é uma das mais antigas do mundo e inclui caldeus, assírios, sírio-ortodoxos e sírio-católicos, além de protestantes. Francisco foi o primeiro Papa a celebrar uma missa no país, e o primeiro a fazê-lo em rito caldeu, tradicional da região, na Catedral de São José, em Bagdá. No Iraque, o Papa encontrou “uma Igreja que está viva”, como disse no estádio de Erbil. E, logo na chegada ao país, alertou: “O derramamento de sangue é incompatível com o ensinamento religioso”. Pastor de ovelhas Francisco definiu essa viagem como “um dever” seu, como pastor, junto ao seu povo que sofre, que tenta reconstruir a vida após o domínio do grupo terrorista autointitulado “Estado Islâmico” (EI). Essa dor fez com que o Papa tivesse a ideia fixa de se fazer próximo. A sequência de guerras começou em 2003, quando as forças ocidentais lideradas pelos Estados Unidos derrubaram a ditadura de Saddam Hussein. O que veio depois, porém, foram anos muito duros, de instabilidade social e política. Os cristãos foram perseguidos pela Al-Qaeda e o EI, que ocupou parte do Norte do país até 2017.
El País (Espanha) Papa Francisco saúda iraquianos no estádio em Erbil, onde presidiu missa no domingo, dia 7
Em dois eixos, fortalecendo a comunidade cristã ali presente, como pastor; e abrindo novas e inéditas fronteiras de diálogo com o Islã, como irmão, Francisco coloca em prática o que prega na encíclica Fratelli tutti. Encontro de ‘irmãos’ Na viagem, Francisco visitou Ur, terra de Abraão, patriarca do Judaísmo, do Cristianismo e do Islamismo, e rezou com líderes locais. Por falta de segurança, São João Paulo II e Bento XVI não puderam fazer o mesmo. Em Ur, deixou claro que “a maior ofensa contra Deus é odiar o próprio irmão”. Disse que “hostilidade, extremismo e violência não nascem do ânimo religioso: são traições da religião”. Francisco foi o primeiro Papa a encontrar o líder espiritual do Islã xiita, o aiatolá Ali Al-Sistani. Essa figura emblemática e extremamente respeitada pelos muçulmanos quase não recebe visitas. Al-Sistani teme ser usado politicamente. Ele é um grande defensor da paz e dos direitos dos cristãos. Aparece pouco, fala pouco. Com Francisco, levantou-se não só uma, mas duas vezes, para cumprimentá-lo, algo que raramente faz. O encontro durou cerca de 45 minutos. O próprio Papa se disse honrado com a oportunidade e afirmou que viu “um sábio”. O
primeiro-ministro do país, Mustafa Al -Kadhimi, decretou que todo 6 de março será recordado como dia da tolerância e da convivência, em memória da reunião. Repercussão internacional Esses pontos de pioneirismo receberam atenção da imprensa que acompanhou a viagem. Os jornalistas que viajaram com o Papa estavam vacinados contra a COVID-19 e, como é tradição, registraram os momentos públicos da viagem, apesar da incerteza sobre sua segurança. Um dos momentos mais dramáticos da visita, e que rendeu fotos impactantes nos sites e jornais, foi a chegada do Papa a Mossul, cidade onde o Estado Islâmico declarou seu “califado”, em 2014. “Não é lícito fazer guerra em nome de Deus”, declarou o Pontífice, frase que virou manchete do El País. Nas ruínas da igreja destruída, o Papa rezou pelas vítimas da guerra, “denunciou o fanatismo religioso” e disse que “a esperança é mais poderosa que a morte”, como registrou o The New York Times. “Cinco anos atrás o EI ocupou a cidade cristã de Qaraqosh. Hoje, o Papa vem à cidade. A atmosfera era de júbilo. Milhares saíram”, tuitou Gareth Browne, do The National. “Foi uma das coisas mais inspiradoras que já vi.”
Francisco chega ao Iraque desafiando segurança e pandemia, na primeira visita de um Papa ao país
La Nación (Argentina)
Viagem incrível a Mossul, a cidade arrasada pelo Estado Islâmico e abraçada pelo Papa
Crux (EUA)
Com cristãos iraquianos, Papa exalta mulheres brutalizadas pelo Estado Islâmico
National Catholic Reporter (EUA) Francisco diz a líderes religiosos iraquianos: a violência em nome da religião é a ‘maior blasfêmia’
Al Jazeera (Qatar)
‘História sendo escrita’: Papa Francisco encontra líder xiita Al-Sistani
Avvenire (Itália)
Com Al-Sistani, diz o Papa: ‘Amizade entre comunidades religiosas são para o bem da humanidade’
The New York Times (EUA)
Papa Francisco encerra visita histórica em momento crítico para o Iraque
Francisco: a viagem ‘me fez reviver’ após o confinamento Depois de se sentir “aprisionado” no Vaticano por causa da pandemia, a viagem ao Iraque “me fez reviver”, disse o Papa Francisco no voo de retorno de Bagdá a Roma, na segunda-feira, 8. Aos 84 anos e com o nervo ciático causando incômodo, o Pontífice estava “mais cansado do que nas outras viagens”, segundo ele mesmo, mas sua alegria era visível. O testemunho dos iraquianos o tocou, segundo ele. Entre os citados está o pai do menino Alan Kurdi, cuja foto,
morto na praia, rodou o mundo. Também o livro da ex-prisioneira do Estado Islâmico, Nadia Murad, foi essencial para que ele decidisse viajar (“Que eu seja a última”). “O que mais me tocou foi o testemunho de uma mãe que, nos primeiros bombardeios do EI, perdeu o filho. E disse uma palavra: ‘Perdoo’. Fiquei comovido”, disse. O Papa definiu “não ter palavras” para descrever a destruição que encon-
trou em Mossul. “Não dá para acreditar na nossa crueldade humana. Uma pergunta me veio à cabeça: ‘Mas quem vende essas armas?’”, disse, acrescentando ter compaixão pelas mulheres, em especial, que são humilhadas e escravizadas. Os jornalistas questionaram o Papa sobre o risco de difusão da COVID-19 durante sua passagem pelo Iraque. “Na minha consciência, essa era uma das coisas que tinham mais força. Pensei muito, rezei muito e, no fim, tomei a
decisão. Vinha de dentro… Tomei a decisão consciente dos riscos”, respondeu, completando que as viagens são organizadas ao longo do tempo, e não de forma repentina. Nesse sentido, cogita ainda viajar ao Líbano, sem data, e à Hungria, para a missa no Congresso Eucarístico, em setembro de 2021. E talvez à Eslováquia. Ele não descarta ir à Argentina, podendo passar também pelo Uruguai e o Sul do Brasil. Mas não há previsão. (FD)
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| 10 a 16 de março de 2021 | Reportagem | 13
Em cidades da Amazônia, a Igreja estende a mão aos que mais sofrem durante a pandemia Paróquia São Paulo Apóstolo
Daniel Gomes
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Doação de alimentos, produtos de higiene e respiradores, além da disponibilidade em ouvir as angústias dos que sofrem com a pandemia, são algumas das muitas iniciativas da Igreja Católica em pequenas cidades da Amazônia. No começo de fevereiro, por exemplo, a Diocese de Coari, no Amazonas, repassou ao Hospital Regional dois concentradores de oxigênio e três Bipabs (dispositivos para exercícios pulmonares, indispensáveis para a recuperação dos pacientes com COVID-19). Os aparelhos foram obtidos a partir de doações do Papa Francisco e das campanhas de solidariedade promovidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Regional Norte 1 e da Arquidiocese de Manaus. A cidade de Coari fica a 362km de Manaus, capital do estado, e em sua área de abrangência foram notificados 23 mil casos da doença, com 541 mortes, conforme dados compilados pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), no começo de março. Alto Solimões Também no Amazonas, as oito paróquias da Diocese do Alto Solimões têm se mobilizado desde o início da pandemia para ajudar as comunidades locais, compostas majoritariamente por indígenas. Na área de abrangência da Diocese, foram registrados até o fim de fevereiro 115 casos de COVID-19, com 313 óbitos. Há cinco anos, Padre Marcelo Gualberto Monteiro, 39, é Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, cuja igreja matriz
Doações são entregues à população de comunidades ribeirinhas na Diocese do Alto Solimões
fica na cidade de São Paulo de Olivença, com ação pastoral que se estende por 72 comunidades ribeirinhas, às margens do rio Solimões. O Sacerdote, missionário enviado pela Diocese de Uruaçu, em Goiás, afirmou ao O SÃO PAULO que a “segunda onda” da doença parece ser mais forte que a primeira, de março do ano passado, quando as igrejas ficaram fechadas por quase cem dias. “Tivemos um início de ano muito tumultuado com os casos de contaminação. Foram praticamente 40 dias, até o fim de fevereiro, com um colapso na saúde. Aqui em São Paulo de Olivença, temos apenas um hospital municipal. Em 2020, uma nova ala foi construída, com capacidade para 20 pacientes, mas em janeiro chegou a ter 32. Foram várias mortes nesses dois meses. Agora, porém, observamos uma diminuição dos casos,
mas no auge sofremos bastante”, relatou. Diante da urgência da comunidade local, que fica a quase mil quilômetros de Manaus, a comunidade paroquial, com o apoio da Diocese, da Cáritas, da CNBB e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), se mobilizou para conseguir a doação de 20 cilindros de oxigênio, uma miniusina de produção de oxigênio industrial, Equipamentos de Proteção Individual para os profissionais da linha de frente de enfrentamento da doença, e alimentos para as famílias carentes. “Durante todo o ano de 2020, obtivemos recursos para 1.375 cestas básicas e kits de higiene para as famílias. Na Paróquia, não temos muitos recursos, mas partilhamos. De abril a junho do ano passado, destinamos quase a metade do dízimo para ajudar as famílias”, recordou Padre Marcelo. Na Diocese, a atenção pastoral e soli-
dária à população também é viabilizada por congregações religiosas e comunidades de vida, como a Aliança de Misericórdia. No dia 13, por exemplo, chegaram a São Paulo de Olivença a Irmã Marilde Inês, da Congregação das Franciscanas de Cristo Rei, e a Irmã Lucisnei Rojas, da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada, que lá permanecerão por três meses. Na Diocese de Óbidos Na Diocese de Óbidos, no Pará, a Igreja também tem estendido a mão a quem mais precisa. A Paróquia São Sebastião, por exemplo, no município de Juriti, a 847km da capital do estado, Belém, já entregou cestas básicas com alimentos e itens de higiene a mais de 600 famílias desde o começo da pandemia. A Diocese também participa do projeto Aliança da Solidariedade, voltado para a arrecadação de alimentos e itens de higiene e limpeza na cidade de Óbidos, distante 783km de Belém. Outra iniciativa é o plantão da Pastoral da Escuta, pelo qual, via WhatsApp, pessoas devidamente treinadas acolhem os relatos de solidão, tristeza e angústia da população. Religiosos também atuam no combate à pandemia. Na Santa Casa de Óbidos, estão os frades da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, que também é a responsável pelo Barco-Navio Papa Francisco, que atende mais de mil comunidades ribeirinhas na Amazônia. Na área da Diocese de Óbidos, já houve quase 19 mil casos de COVID-19, com 369 mortes até o fim de fevereiro. (Com informações da Repam, Dioceses de Óbidos e de Coari e CNBB)
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CNBB promove série de lives sobre a missão das mulheres na vida da Igreja Reprodução
Fernando Geronazzo
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Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) iniciou uma série de lives com a temática “Mulheres na Missão”. O projeto foi idealizado para dar visibilidade à contribuição da mulher na missão da Igreja no Brasil e no mundo. “O bate-papo entre mulheres quer trazer em pauta a ação missionária da dimensão feminina da Igreja. As mulheres participam ativamente na construção do Reino de Deus na sociedade, no mundo contemporâneo. As mulheres têm sido corajosas e destemidas na missão que lhes foi confiada pelo Evangelho de Jesus Cristo, no serviço aos mais pobres e necessitados da Igreja, no seu tempo e lugar geográfico. Sem a colaboração das mulheres, a missão da Igreja não seria tão ativa e atuante na vida do nosso povo”, explicou Irmã Sandra Amado, Assessora da Comissão Episcopal. A primeira live teve como tema o
Irmã Maria Inês fala sobre o tema ‘Retrato atual: presença feminina na missão eclesial’
“Retrato atual: presença feminina na missão eclesial”, abordado pela Presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Irmã Maria Inês Ribeiro. Em janeiro, a Religiosa foi nomeada pelo Papa Francisco para ser consultora da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
As próximas lives vão acontecer sempre no dia 8 de cada mês (quando a data for no fim de semana, acontecerá no próximo dia útil), às 15h, no canal do YouTube da CNBB (https://tinyurl.com/yatt7qa5). A última edição será em 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição. Fonte: CNBB
Para 41% dos brasileiros, combate ao desemprego deve ser prioridade
Seminário nacional aborda impactos da cultura digital na Catequese A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza até o dia 11, o Seminário Nacional de Catequese a Serviço da Iniciação à Vida Cristã (IVC). O objetivo do evento é refletir, com a ajuda de especialistas do Brasil e de outros países, sobre temáticas atuais no campo da Catequese, pastoral, animação bíblica e da evangelização. Os temas abordados são “A cultura digital e seus impactos na Catequese”; “Catequese e o anúncio querigmático, acompanhamento e experiências de Deus”; e “A dimensão mistagógica na Catequese de Iniciação à Vida Cristã”. O Assessor Nacional da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, Padre Jânison de Sá, explicou que este seminário dá continuidade às formações on-line desenvolvidas por esta Comissão em 2020. “Buscamos, mais de perto, oferecer um acompanhamento e cuidado com os catequistas em sua missão, para, juntos, encontrar novas pistas e fortalecer a iniciação à vida cristã em nosso País”, disse. Os vídeos do Seminário ficarão disponíveis no canal do YouTube da CNBB (https://tinyurl.com/yatt7qa5). (FG) Fonte: CNBB
Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) concluiu que, para boa parte dos brasileiros, a criação de empregos deve ser a prioridade para o Governo Federal em 2021, assim como a melhoria da saúde. Segundo a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, divulgada na terça-feira, 9, o combate ao desemprego é considerado prioritário por 41% dos entrevistados. Dentro da margem de
erro, a preocupação com a saúde aparece em segundo lugar, com 39%. Completam as cinco primeiras colocações o combate à corrupção (35%), a melhoria da qualidade da educação (34%) e o combate à violência e à criminalidade (25%). Cada entrevistado podia escolher três itens, o que leva a uma soma dos percentuais superior a 100%. Na avaliação da CNI, o encolhimento da economia no ano passa-
do e a continuidade da pandemia de COVID-19 justificam a preocupação com o desemprego. A entidade defende a vacinação em massa da população para garantir a retomada da economia com ganhos na saúde e no emprego, recuperação do mercado consumidor e a volta à normalidade na produção. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em todo o País. As entrevistas foram feitas entre 5 e 8 de dezembro de 2020. (FG) Fonte: Agência Brasil
Receita Federal oferece nova forma de obtenção da cópia do Imposto de Renda Desde a terça-feira, 9, a Receita Federal oferece uma nova forma de obter a cópia da última Declaração do Imposto sobre a Renda Pessoa Física (DIRPF). O documento facilita o preenchimento da declaração de 2021 e pode ser acessado por meio de Dossiê Digital de Atendimento (Processo Digital), no Centro Virtual de Atendimento (e-CAC) da Receita: https://tinyurl.com/yagoum2c. Até então, o serviço de cópia da declaração pelo e-CAC estava disponível apenas para quem tivesse certificado digital (uma espécie de chave eletrônica). Com a iniciativa, será possível também solicitar a cópia apenas com o login e a senha. O contribuinte que já possui certificado digital pode baixar a cópia da declaração de qualquer ano pelo sistema de cópia de declarações no e-CAC. (FG) Fonte: Agência Brasil
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A dignidade da mulher é querida por Deus, anunciada por Cristo e vivida na Igreja Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
Daniel Gomes
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No mês dedicado às reflexões sobre o papel da mulher na sociedade, o jornal O SÃO PAULO retoma pontos do Catecismo da Igreja Católica (CIC) e de documentos e discursos dos papas que ressaltam a valorização da dignidade da mulher. “O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus: por um lado, em perfeita igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e de mulher. ‘Ser homem’, ‘ser mulher’ é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são criados em idêntica dignidade, ‘à imagem de Deus’” (CIC, 369). São João Paulo II, na carta apostólica Mulieris dignitatem (MD), em 1988, recorda que o homem e a mulher, desde a Criação, “aparecem como ‘unidade dos dois’”, sendo chamados, desde o início “não só a existir ‘um ao lado do outro’ ou ‘juntos’, mas, também, a existir reciprocamente ‘um para outro’” (MD, 7). A desordem como fruto do pecado Com o pecado original, porém, essa igual dignidade é maculada. “Tendo sido uma ruptura com Deus, o primeiro pecado tem, como primeira consequência, a ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Suas relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas, sua atração mútua, dom do próprio Criador, transforma-se em relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do homem e da mulher para ser fecundos, multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão” (CIC, 1607). São João Paulo II pontuou que o pecado leva, também, à perturbação da relação original entre o homem e a mulher. “Quando lemos, pois, na descrição bíblica, as palavras dirigidas à mulher: ‘sentir-te-ás atraída para o teu marido, e ele te dominará’ (Gn 3,16), descobrimos uma ruptura e uma constante ameaça, precisamente a respeito desta ‘unidade dos dois’, que corresponde à dignidade da imagem e da semelhança de Deus em ambos. Tal ameaça resulta, porém, mais grave para a mulher. Com efeito, ao ser um dom sincero, e por isso ao viver ‘para’ o outro, sucede o domínio: ‘ele te dominará’. Este ‘domínio’ indica a perturbação e a perda da estabilidade da igualdade fundamental, que na ‘unidade dos dois’ possuem o homem e a mulher: e isto vem, sobretudo, em desfavor da mulher, porquanto somente a igualdade, resultante da dignidade de ambos como pessoas, pode dar às relações recíprocas o caráter de uma autêntica ‘communio personarum’ (comunhão de pessoas)” (MD,10).
No lar, no trabalho e na Igreja, a dignidade da mulher sempre deve ser respeitada por todos
Cristo anuncia a igual dignidade Ao longo de sua vida pública, Cristo, nascido da Virgem Maria, torna-se promotor da verdadeira dignidade da mulher. “O comportamento de Jesus a respeito das mulheres que encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico é o reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, criando cada uma delas, as escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1,1-5). Por isso, cada mulher é aquela ‘única criatura na terra que Deus quis por si mesma’. Cada mulher herda do ‘princípio’ a dignidade de pessoa precisamente como mulher. Jesus de Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da redenção, para a qual é enviado ao mundo” (MD, 13). São João Paulo II escreve que “a ‘igualdade’ evangélica, a ‘paridade’ da mulher e do homem no que se refere às ‘grandes obras de Deus’, tal como se manifestou de modo tão límpido nas obras e nas palavras de Jesus de Nazaré, constitui a base mais evidente da dignidade e da vocação da mulher na Igreja e no mundo. Toda vocação tem um sentido profundamente pessoal e profético. Na vocação assim entendida, a personalidade da mulher atinge uma nova medida: a medida das ‘grandes obras de Deus’, das quais a mulher se torna sujeito vivo e testemunha insubstituível” (MD, 16).
Manter a feminilidade São João Paulo II alerta que “a mulher – em nome da libertação do ‘domínio’ do homem – não pode tender à apropriação das características masculinas, contra a sua própria ‘originalidade’ feminina. Existe o temor fundado de que, por este caminho, a mulher não se ‘realizará’, mas poderia, em vez disso, deformar e perder aquilo que constitui a sua riqueza essencial” (MD, 10). Mais adiante no documento, o Pontífice indica que, “quando dizemos que a mulher é aquela que recebe amor para, por sua vez, amar, não entendemos só ou antes de tudo a relação esponsal específica do Matrimônio. Entendemos algo mais universal, fundado no próprio fato de ser mulher no conjunto das relações interpessoais, que nas formas mais diversas estruturam a convivência e a colaboração entre as pessoas, homens e mulheres. Neste contexto, amplo e diversificado, a mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo fato da sua feminilidade” (MD, 29). Indispensáveis no apostolado da Igreja Em uma audiência-geral em fevereiro de 2007, o Papa Bento XVI ressaltou que a “história do Cristianismo teria tido um desenvolvimento muito diferente se
não houvesse a generosa contribuição de muitas mulheres”. O Pontífice recordou a atuação das mulheres desde a Igreja primitiva e as menções nas cartas paulinas sobre a dignidade e o papel eclesial da mulher. “O Apóstolo admite como algo normal que na comunidade cristã a mulher possa ‘profetizar’ (1Cor 11,5), isto é, pronunciar-se abertamente sob o influxo do Espírito, contanto que isso seja para a edificação da comunidade e feito de modo digno.” São João Paulo II, na Mulieris dignitatem, aponta que a Igreja, “defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que – fiéis ao Evangelho – em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o povo de Deus. Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja [...] O testemunho e as obras de mulheres cristãs tiveram um influxo significativo na vida da Igreja, como também na da sociedade. Mesmo diante de graves discriminações sociais, as mulheres santas agiram de ‘modo livre’, fortalecidas pela sua união com Cristo” (MD, 27). O Pontífice escreve ainda que a Igreja “rende graças por todas e cada uma das mulheres: pelas mães, pelas irmãs, pelas esposas; pelas mulheres consagradas a Deus na virgindade; pelas mulheres que se dedicam a tantos e tantos seres humanos, que esperam o amor gratuito de outra pessoa; pelas mulheres que cuidam do ser humano na família, que é o sinal fundamental da sociedade humana; pelas mulheres que trabalham profissionalmente, mulheres que, às vezes, carregam uma grande responsabilidade social; pelas mulheres ‘perfeitas’ e pelas mulheres ‘fracas’ – por todas: tal como saíram do coração de Deus, com toda a beleza e riqueza da sua feminilidade; tal como foram abraçadas pelo seu amor eterno” (MD, 31). Também hoje a presença feminina na Igreja continua a ser valorizada, o que não necessariamente deve ser mensurado pelos cargos que ocupam, como declarou o Papa Francisco no livro-entrevista “Vamos sonhar juntos” (Editora Intrínseca, 2020): “Muita gente pensa, erroneamente, que a liderança da Igreja é exclusivamente masculina. Mas se você for a qualquer diocese do mundo, verá mulheres dirigindo departamentos, escolas, hospitais e muitas outras organizações e programas; em algumas regiões, encontrará muito mais mulheres na liderança do que homens. Na Amazônia, as mulheres – leigas e irmãs religiosas – dirigem comunidades eclesiais inteiras. Dizer que não são verdadeiramente líderes porque não são padres é clericalismo e falta de respeito”, ressaltou.
16 | Reportagem | 10 a 16 de março de 2021 |
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Manter a casa limpa e organizada pode ajudar a viver melhor Nayá Fernandes
Sonia Sanmartin/U Splash
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
“A caridade não se faz com aquilo que sobra, mas com o que é necessário”, disse o Papa Francisco, em uma homilia na Casa Santa Marta, em novembro de 2015. Na ocasião, ele refletiu sobre o capítulo 12 do Evangelho segundo São Mateus. A caridade cristã, uma das ações a serem vividas durante a Quaresma, sugere o desapego e a doação de alimentos, roupas e outros itens para pessoas que passam por situações de carência material ou vulnerabilidade. Mas, o que doar? O Papa Francisco, na homilia citada acima, recorda uma história que aconteceu em sua diocese de origem: “Sentou-se à mesa uma mãe com três filhos; o pai estava no trabalho; estavam comendo bife à milanesa… Naquele momento, bateram à porta e um dos filhos – pequeno, 5, 6 anos, 7 anos o mais velho – vem e disse: ‘Mamãe, tem um mendigo que pede comida’. E a mãe, uma boa cristã, pergunta a eles: ‘O que vamos fazer?’. ‘Vamos dar comida, mãe…’ ‘Então, tá bom’, pega o garfo e a faca e tira metade do bife de cada um. ‘Ah, não, mãe, não! Assim não! Pega da geladeira’. A mãe responde: ‘Não! Vamos fazer três sanduíches assim!’. E as crianças aprenderam que a verdadeira caridade se dá, se faz, não do que nos sobra, mas do que nos é necessário”.
Fátima disse que, quando se trata de se desfazer das coisas, as pessoas tendem a doar itens que, em muitos casos, devem ser descartados. “As instituições de caridade e ação social, muitas vezes, precisam orientar as pessoas a lavarem as roupas antes de doar, porque muitas vezes, além de rasgadas e manchadas, as peças estão sujas”, comentou.
Menos é mais Quando optou por uma vida minimalista, Bárbara Castro, 32, viu-se em meio ao desafio de viver com menos e, no início, sentiu falta de muitas coisas com as quais estava acostumada. “Eu não repetia roupas nem tinha o hábito de consertar algo quebrado. Mas, quando você decide viver com menos, percebe o quanto isso faz bem e passa até a ter mais tempo para fazer o que gosta. Não precisar ficar horas em frente ao espelho, pensando na melhor combinação de roupas e sapatos, por exemplo, é libertador”, afirmou. Bárbara, que trabalha como designer em uma empresa de investimentos financeiros, disse que isso não significa, por outro lado, descuidar-se da aparência. “Pelo contrário, quando você tem menos, fica mais seletivo e até mais elegante”, continuou. Quando diminuiu a quantidade de roupas e sapatos do armário em menos de 30% do que tinha, Bárbara assistiu a muitos vídeos e leu sobre itens essenciais, Desapegar para melhorar para que não precisasse comprar tudo A organização da casa pode ser o novamente em pouco tempo. As roupas, primeiro passo para que uma pessoa vemuitas delas novas e todas em perfeito esOrganizar os itens ajuda na gestão dos espaços e colabora para o desapego do que pode ser doado rifique o que realmente é necessário e o tado, foram doadas para uma instituição que poderia ser doado e aproveitado da de caridade do bairro em que mora, na em outra, roupas que serão destinadas que a organização tem que partir de melhor forma possível. zona Sul de São Paulo. para doação; numa terceira caixa, as uma decisão pessoal. “Quando faço conPara Fátima Soares Ferreira da Silva, “Além de facilitar a própria vida, sultorias, oriento as pessoas a separar roupas que estão rasgadas, furadas, que 45, que trabalha como personal organizer você oferece a outras pessoas a oportunidade de se vestirem bem. Todo muncaixas e ir colocando em cada uma delas devem ser descartadas e não doadas e, há mais de dez anos, as pessoas têm percebido, sempre mais, que não precisam do ganha, não é mesmo?”, disse, ao ser os itens de acordo com a função. Se você na quarta, aquelas que você quer guardar, como a primeira roupinha do seu fide tantas coisas para viver e que, muito perguntada sobre as consequências de for arrumar seu armário, por exemplo: lho ou um cachecol que ganhou de uma mais do que acumular objetos, roupas ou sua ação. coloque, em uma caixa, roupas que usa pessoa querida”, explicou. outros acessórios, é preciso manter tudo Com menos para arrumar, a designer todos os dias ou que são úteis para você; organizado e em funcioviu seu tempo se multiplinamento. car, pois consegue manter “Há pessoas que tem tudo mais limpo e organizado. “Tudo aconteceu dois, três eletrodomésticos iguais em casa. Isso no momento certo e, além acontece porque, quando disso, com a pandemia e o perdícios, além de ser mais difícil Não crie pilhas provisórias – deium quebra, elas imediahome office, vi meu quarto, de organizar; tamente compram outro, que também é ambiente xar coisas espalhadas pela casa para mas não se desfazem do de trabalho, se tornar um Valorize os espaços vazios – ter arrumar depois pode gerar situaanterior. Às vezes, a difilugar bem melhor para viuma gaveta ou uma prateleira soções difíceis de serem geridas posculdade de se desapegar ver”, enfatizou. brando é importante para uma teriormente; de um item quebrado, por Fátima disse, ainda, exemplo, se dá pelo valor que manter a casa limpa emergência ou quando precisar Cuidado com lembrancinhas – seja emocional agregado. Um e organizada durante a mudar as coisas de lugar; seletivo com seus objetos de infânpresente de casamento ou pandemia, quando to Tenha uma rotina – coisas para facia ou suvenires de viagens; dos passam mais tempo um casaco comprado duzer todos os dias, semanalmente, rante uma viagem pode nela, é, sem dúvida, um Tenha tudo à vista – evite criar esse tornar um item de apedesafio diário. “É preciso mensalmente, semestralmente ou conderijos para as coisas; go, muito mais do que ter envolver a todos numa anualmente, manter as coisas orga Não acumule – comprar mais do uma função específica”, rotina de tarefas e sempre nizadas será mais fácil se tudo for que o necessário para a despesa da disse em entrevista à reverificar o que está a mais portagem. e poderia ser passado feito com constância. semana ou do mês pode gerar desEla salientou, ainda, adiante”, insistiu.
Dicas para arrasar na organização!
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| 10 a 16 de março de 2021 | Geral | 17
Alesp realiza ato solene virtual sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica Reprodução da internet
Daniel Gomes
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A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) de 2021 – com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a) – esteve em destaque em sessão solene virtual realizada na noite da segunda-feira, 8, pelas plataformas digitais da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A realização desse ato solene já é uma tradição na Alesp e desta vez o proponente foi o deputado estadual Paulo Fiorilo. No começo da solenidade, ele ressaltou que neste ano a Campanha está focada na busca de atitudes para o fim das práticas de violência. “É uma campanha pela vida, pela dignidade humana e pela solidariedade”, comentou. Duas deputadas estaduais também participaram do ato: Damaris Moura, coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade Religiosa, ressaltou que as práticas “da fraternidade, solidariedade, tolerância e respeito mútuo” são fundamentais para o atual momento da humanidade. Márcia Lia, coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa da Democracia e Direitos Humanos, comentou que a CFE 2021 faz um chamado à ampla superação da violência: “O tema da Campanha e a reação a ela mostram a urgência desse debate e do quão importante é socorrermos as pessoas que estão sendo submetidas a todos os tipos de violência. Que nós possamos, em todas as denominações religiosas, compreender que o momento é de solidariedade, fraternidade e amor ao próximo”. O diálogo como instrumento de fraternidade Além dos parlamentares, líderes das Igrejas-membros do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), que organiza as campanhas da fraternidade ecumênicas, as quais ocorrem a cada cinco anos, falaram durante o ato solene. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, enalteceu a Alesp pela realização da solenidade: “É uma ocasião muito interessante para que nós possamos levar esta reflexão a este âmbito da casa das leis, a casa do povo do estado de São
Dom Odilo, outros líderes de Igrejas cristãs e parlamentares participam de ato solene virtual
Paulo, onde repercutem as questões de interesse geral da vida de todos”. O Arcebispo de São Paulo comentou que, de modo geral, as campanhas da fraternidade ecumênicas tratam de assuntos referentes à fé das Igrejas cristãs, lembrou que a fraternidade cresce por meio do diálogo e que, neste ano, a Campanha apresenta questões recorrentes na sociedade, que podem ser superadas pela via do diálogo lúcido e perseverante, como as atuais polarizações na vida política, social, cultural, familiar e nas Igrejas. “Podemos e devemos dialogar sobre o modo como trabalhar juntos para superar as mazelas que estão presentes na sociedade. Nós, cristãos, temos uma motivação, que é lembrada no lema da Campanha: Cristo é a nossa paz. Não podemos estar em Cristo e estar divididos, agir com violência e radicalismos”, enfatizou. ‘Casa dividida é casa fragilizada’ Também participante da solenidade, o Bispo Francisco Cézar, da Diocese Anglicana de São Paulo, lembrou que as Igrejas cristãs podem contribuir para a busca de uma coexistência fraterna diante de uma sociedade em que há recorrentes discursos de ódio, situações de divisão e conversas que mais se aproximam de monólogos, com cada pessoa reafirmando as próprias convicções. “O diálogo verdadeiro acontece por meio de encontros autênticos. Jesus
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE Pelo presente edital, convoca-se a Sra. Cleide Amancio, (endereço desconhecido) para que compareça de terça a sexta feira, das 13h às 15h, ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de São Paulo, sito à Av. Nazaré, 993 - Ipiranga - São Paulo - SP, para tratar de assunto que lhe diz respeito. São Paulo, 10 de março de 2021 Mons. Sérgio Tani Vigário Judicial do TEI-SP
Cristo teve muitos diálogos autênticos com pessoas da sua própria tradição religiosa e de outras. É por meio desses encontros que se reconhece a diversidade do outro e, com olhar apreciativo, é possível construir pontes”, comentou. O Pastor Sinodal Marcos Ebeling, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, comentou que a temática da CFE 2021 chama a atenção sobre quão importante é dialogar para superar as intransigências, ódios e dores, e que quando as Igrejas cristãs o fazem, dão um bom exemplo a toda a sociedade. Ele falou, ainda, sobre os propósitos da Campanha deste ano: “Buscamos dizer a todas as pessoas que não é mais possível dividir o mundo em dois, não é mais possível falar de nós e eles. Casa dividida, nos ensina o Evangelho, é casa fragilizada. Assim, queremos dizer: olhemos todos para Cristo e sua cruz; Dele pende uma esperança de união e unidade; Nele, temos uma referência comum, um ponto de partida e de chegada para a vida de todas as pessoas”. Conversão Para o Reverendo Eliel Batista, da Igreja Betesda de São Paulo, a CFE 2021 entrará para a história por trazer “uma resposta que nossa sociedade anseia, que é: chega de violência, chega de
destruições, de fome, de injustiça, de discursos religiosos e políticos vazios de sentido e prática”. Ele afirmou, ainda, que a Campanha deste ano faz um grande chamado à conversão, não em uma perspectiva proselitista, mas de mudança de hábitos, com a proposta de superação de uma cultura de ódio e do maior envolvimento, individual e coletivo, nas transformações sociais, econômicas e ecológicas. A Pastora Eliad Dias dos Santos, da Igreja Metodista, ressaltou as muitas situações de violência contra as mulheres e lembrou que há resistências ao diálogo também no interior das Igrejas. “Dialogar é colocar os achismos nos lugares certos. É o momento de trocar ideias, de aprender a ouvir, mesmo aquilo que nos desagrada”, comentou. Anita Wright, da Igreja Presbiteriana do Brasil e Vice-Presidente do Conic, exortou os cristãos a construírem pontes de diálogo: “A Campanha da Fraternidade Ecumênica nos convoca para caminharmos em unidade, respeitando a diversidade de cada uma das Igrejas que compõem o Conic. Somos todos chamados a proclamar que Cristo é a nossa paz”, disse, ressaltando, ainda, que todas as pessoas de boa vontade devem pensar, avaliar e identificar caminhos para superar as polarizações e violências. Um dos mediadores do ato solene, o Cônego José Bizon, Diretor da Casa da Reconciliação, recordou que a atual pandemia escancarou as mazelas sociais que já existiam na sociedade. Ele desejou que, a partir das reflexões apresentadas pela CFE 2021, haja a redescoberta da força e da beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas, bem como se denuncie as diferentes violências praticadas e legitimadas indevidamente em nome de Jesus, haja a defesa da casa comum, promova-se a conversão para uma cultura de amor que supere o ódio, e se possa fortalecer a convivência ecumênica e inter-religiosa. (Colaborou: Flavio Rogério Lopes)
18 | Fé e Vida | 10 a 16 de março de 2021 |
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Oração: diálogo que nasce no coração daquele que busca a Deus Luciney Martins/O SÃO PAULO
Fernando Geronazzo
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A oração está no centro da vida cristã e, no tempo quaresmal, adquire um destaque maior. Dentre as muitas definições, a de São João Damasceno é uma das que mais abrangem seu sentido, sendo, inclusive, usada pelo Catecismo da Igreja Católica (CIC), 2559: “A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”. Já para Santa Teresinha do Menino Jesus, a oração é “um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. A oração está intimamente ligada à vocação do ser humano, criado por Deus e que “conserva o desejo daquele que o chama à existência” (cf. CIC, 2566). O Catecismo também ressalta que, mesmo que o ser humano esqueça seu Criador, ou se esconda longe de sua face, “o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração”. “Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora”, ressalta o Catecismo, acrescentando que, se o coração estiver longe de Deus, “a expressão da oração será vã” (CIC, 2562). Sobre esse aspecto, o Papa Francisco, na homilia da Quarta-feira de Cinzas de 2014, afirmou que “sem oração, a vida cristã torna-se abstrata e corre o risco de se converter num extenuante esforço pessoal de busca da perfeição ética sem esperança nem alegria”. O que dizer? Nesse diálogo com Deus, é possível abordar qualquer assunto presente no coração. No entanto, a tradição cristã indica alguns tipos de oração mais comuns: Petição – É o próprio Jesus quem ensina a pedir ao Pai em oração, por meio de uma prece simples, confiante. Pede-se o perdão, a própria salvação e a dos ou-
Deus chama cada pessoa ao encontro misterioso da oração, aponta o Catecismo da Igreja
tros, pela Igreja, pelo apostolado e pelas mais variadas necessidades. Ação de graças – O fiel, movido pelo reconhecimento dos dons recebidos e a misericórdia divina, dirige o espírito a Deus para proclamar e agradecer os seus benefícios. A maior ação de graças do cristão é a Eucaristia, por meio da qual se faz memória do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Adoração e louvor – Partes essenciais da oração, por meio das quais a pessoa se reconhece criatura diante do Criador e proclama a grandeza e a plenitude do seu ser. “O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus!” (CIC, 2639). Formas Os autores de espiritualidade cristã costumam distinguir a oração de diferentes formas: vocal e mental; pública e privada; intelectual e afetiva; regrada e espontânea etc. O Catecismo distingue, basicamente, de três formas: Oração vocal – Aquela que se faz por meio de fórmulas preestabelecidas, tanto
longas quanto breves (jaculatórias), tomadas da Sagrada Escritura (o Pai-nosso, a Ave-Maria...), ou da tradição espiritual (Oração ao Espírito Santo, Salve-Rainha, Lembrai-vos...). Meditação – Ato de orientar o pensamento para Deus e, a partir Dele, dirigir o olhar à própria existência. Nessa forma, põe-se em ação a inteligência, a imaginação, a emoção, o desejo de conversão do coração e a busca da vontade de Deus. Sua principal base está na leitura da Palavra de Deus ou de algum livro espiritual. Contemplação – Definida pelo Catecismo como o “olhar de fé fito em Jesus”, no silêncio e no amor. Santa Teresa de Jesus descreve esse estágio como “um relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados”. Refere-se, portanto, a um sentido da presença de Deus e do desejo de uma profunda comunhão com Ele. Condições Tanto a Sagrada Escritura quanto
a doutrina da Igreja indicam que, para haver uma autêntica vida de oração, são necessárias algumas disposições: Recolhimento – Atitude interior e, quando possível, também exterior, de se colocar diante de Deus, em silêncio, evitando outras tarefas e tentando impedir as distrações. Confiança – Mais do que a certeza de que seu pedido será atendido, significa a atitude de entrega filial daquele que, na alegria e na dor, no trabalho e no descanso, dirige-se com simplicidade e sinceridade ao seu Pai, colocando a vida em suas mãos. Humildade – É o fundamento da oração e a disposição necessária para receber gratuitamente o dom de Deus. Jesus: mestre da oração O Filho de Deus, Verbo Encarnado, aprendeu a orar com sua mãe, a Virgem Maria, segundo a tradição hebraica. No entanto, sua oração brota do coração do Filho eterno de Deus, revelando, portanto, a dimensão da oração filial. Os evangelhos mostram a oração de Jesus em momentos decisivos da sua missão: ao retirar-se no deserto por 40 dias antes de ser batizado; no monte onde se transfigurou; antes de escolher e chamar os 12 apóstolos; antes da ressurreição de Lázaro; no horto, na véspera de sua Paixão e em muitos outros momentos. “A oração de Jesus, antes das ações salvíficas que realiza a pedido do Pai, é uma entrega, humilde e confiante, de sua vontade humana à vontade amorosa do Pai” (CIC, 2600). Jesus ensina seus discípulos a orar não apenas por meio do Pai-nosso, mas, também, quando Ele reza. Santo Agostinho resume as três dimensões da oração de Jesus da seguinte forma: “Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora por nós como nossa cabeça; e a Ele sobe nossa oração ao nosso Deus. Reconheçamos, pois, Nele, os nossos clamores e em nós os seus clamores”.
Você Pergunta O Senhor está presente quando se reza sozinho? PADRE CIDO PEREIRA
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A pergunta é da Damiana Santos de Souza, da Freguesia do Ó: “Na Bíblia diz que onde dois ou mais estiverem reunidos em nome de Deus, Ele aí está. E, quando rezamos sozinhos, Ele não se faz presente?”. Damiana, nesta Palavra de Jesus a que você se refere, Ele, de fato, valoriza muito a oração comunitária. E é bonito mesmo ver duas ou mais pessoas em oração. Essas pessoas somam forças na súplica, na ação de graças,
no louvor, e Jesus garantiu estar presente no meio daqueles que se unem em oração. Uma razão forte, portanto, para orarmos na comunidade, nos grupos de oração, nos grupos de rua e em nossos lares. Jesus, porém, não valoriza só a oração comunitária. Ele valoriza, e muito, a oração pessoal. Ele chega a convidar a pessoa a entrar no seu quarto e orar em segredo ao Pai. Ele insiste na oração frequente: “Peçam e receberão, batam e a porta será aberta, procurem e encontrarão”. Jesus é mestre em oração. Ele nos en-
sina a orar com o exemplo. Ele orava na sinagoga, com todo o povo, orava com os discípulos e orava sozinho, num lugar isolado, só Ele e o Pai. E Jesus nos ensina com palavras... Não se esqueça de que a oração do “Pai-nosso” foi Jesus quem a compôs para nós. Outra coisa, Damiana: afirmar algo nem sempre significa negar o oposto. Dizer que Ele está no meio dos que estão rezando juntos não significa que Ele não esteja com quem reza sozinho. Quando digo que gosto de estar com meus amigos, não significa que eu não goste também de estar sozinho, não é mesmo? Por
isso, Damiana, vamos orar sempre como Jesus manda. Sozinhos, no silêncio do nosso coração. Acompanhados de nossos irmãos na fé em nossas comunidades, em nossos lares, com as pessoas que amamos. Em oração, sozinhos ou acompanhados, temos a presença de Jesus conosco. Ele é o mediador entre nós e o Pai. Tanto que, em nossas celebrações litúrgicas, sempre nos dirigimos a Deus Pai, dizendo: “Nós vos pedimos isso, Pai, por Cristo, nosso Senhor” ou “Vos pedimos isso por Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.
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| 10 a 16 de março de 2021 | Pelo Mundo/Fé e Vida | 19
Polônia Mais de 90% dos poloneses se identificam como católicos, diz relatório JOSÉ FErREIRA FILHO
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A Agência Católica de Informação (KAI, em polonês) divulgou, na sextafeira, 5, um relatório intitulado “Igreja na Polônia”. O documento afirma que 91,9% dos poloneses se identificam como católicos, um pouco mais de 3% se autodenominam sem fé, enquanto 0,9% se dizem cristãos ortodoxos. A constatação é importante, ainda mais no atual contexto, no qual há uma secularização cada vez maior na sociedade. Outro dado relevante apresentado é o de que 36,9% dos católicos comparecem regularmente à Santa Missa.
LAÇOS FAMILIARES E RELIGIOSIDADE Outros dados preocupantes sobre a Igreja na Polônia também foram retratados. Dentre eles se destacam a diminuição de jovens que observam a prática religiosa e a queda no número de pessoas que expressam estima pela Igreja. A Conferência dos Bispos poloneses afirmou que a pandemia de COVID-19 “destacou o processo de enfraquecimento das práticas religiosas coletivas e dos laços com a paróquia”. Entretanto, ela também fortaleceu “os laços familiares e a religiosidade”. A Igreja na Polônia possui dois cardeais, 29 arcebispos, 123 bispos, 33,6
Liturgia e Vida 4º Domingo da Quaresma 14 de março de 2021
mil sacerdotes e cerca de 19 mil religiosas. Em 2020, o número de seminaristas era de 2.556. Atualmente, o número de missionários poloneses pelo mundo é de 1.883, presentes em 99 países, nos cinco continentes. A Polônia possui ainda 1.050 santuários católicos, dos quais 793 são marianos. Um dos mais conhecidos é o Mosteiro Jasna Gora, que conserva o ícone de Nossa Senhora de Czestochowa, e que em 2019 acolheu 4,4 milhões de peregrinos. Outro importante templo polonês é o Santuário da Divina Misericórdia, ligado às aparições de Jesus a Santa Faustina Kowalska. Fonte: Gaudium Press
Cuba Caritas celebra 30 anos de fundação: uma luz onde há necessidade “Naquele período, o mais difícil para o povo cubano em toda a segunda metade do século XX, a Igreja Católica lançou luz. Não luz sobre um altar, no calor seguro do templo, mas uma luz que saía para as ruas, como Jesus, onde as pessoas precisavam dela.” Em uma nota, a Caritas Cuba lembra um fato de 30 anos atrás, quando a Conferência Episcopal Cubana emitiu um decreto anunciando a fundação da Caritas, cujo eixo era a formação sistemática de voluntários, animadores, educadores e outros colaboradores. AUMENTO EM QUANTIDADE E QUALIDADE Hoje, é uma das poucas Organizações Não Governamentais independentes no país, atuando por
Divulgação
Caritas Cuba: esperança a quem precisa
intermédio de 11 Caritas diocesanas e cerca de 600 Caritas paroquiais e comunitárias. Desde 1991, o órgão caritativo da Igreja cresceu não apenas qualitativamente, mas também quantitativamente: de cerca de 33 mil beneficiários as-
sistidos em 2014, aumentou para 51,3 mil no fim de 2019. Tudo isso graças à “vasta e incansável rede de voluntários”, formada por mais de 3 mil pessoas em toda a ilha caribenha; metade deles tem mais de 60 anos e não poucos estão ligados ao trabalho da Caritas desde 1991, demonstrando “um impressionante compromisso com a fé e amor aos outros”. Entre os programas, há os destinados a idosos solitários e necessitados, ao desenvolvimento humano (crianças, adolescentes e jovens em risco de exclusão social e suas famílias), como também o plano “Aprendiendo a crecer”, para pessoas com deficiência, e o programa para aqueles que contraíram Aids. (JFF) Fonte: L’Osservatore Romano
República Democrática do Congo Bispos convidam a valorizar e apoiar os idosos A carta pastoral “Até na velhice continuarão a dar frutos”, baseada no versículo bíblico Sl 92,15 e apresentada pelos bispos congoleses, lembra que a Igreja sempre esteve ao lado dos idosos, que o Magistério recorda constantemente a importância da sua dignidade, do seu papel e do seu lugar na Igreja e na sociedade, e que na África “os idosos ainda conservam a sua influência e respeitabilidade”, mas que a sua consideração está mudando: surgem cada vez mais atitudes de rejeição, exclusão, marginalização e abuso, e a velhice é vista como doença, déficit, miséria, decadência, fardo e morte, e a falta de cuidados de saúde, a fome e a falta de habitações levam muitas pessoas idosas a mendigar.
ATENÇÃO, RESPEITO E CUIDADO Por isso, assinalam os bispos, “até o tempo da velhice tem o seu papel neste processo de amadurecimento progressivo do ser humano rumo à eternidade”. Recomendam amar os idosos e valorizá-los como filhos de Deus, tendo em consideração as suas necessidades e se colocando a seu dispor por meio de obras de caridade, com maior atenção aos abandonados nas casas de repouso e nos asilos, e àqueles que não têm contato com seus familiares. Os bispos encorajam, por sua vez, os idosos a ter consciência das suas qualidades, a não duvidar de si próprios, a não se sentir inúteis, a não esquecer os próprios talentos, a parti-
lhar as suas experiências e a se envolver na vida eclesial e social. “Portanto, coragem: sonha, ri, viaja, brinca, lê, chora, corre, beija, dança, sê feliz e ama”, dizem a cada idoso. E, dirigindo-se aos sacerdotes e aos assistentes dos idosos, os prelados exortam ainda: “Envolvei-os na transmissão da fé, no diálogo com os jovens e na preservação das raízes dos povos”. E também sugerem a trabalhar em atividades que promovam a solidariedade entre as gerações e que os grupos, comunidades, associações e movimentos da ação católica incluam nos seus programas atividades voltadas aos idosos e às famílias. (JFF) Fonte: Vatican News
‘Quem Nele crê não é condenado’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Depois de murmurarem contra Deus no deserto, os israelitas foram atacados por serpentes. Moisés, então, hasteou uma serpente de bronze à vista de todos; quem a contemplava, mesmo que tivesse sido mordido, era salvo (cf. Nm 21,4ss). Essa era uma prefiguração de Jesus Cristo, que, elevado sobre a haste da Cruz, atrai todos os olhares a si (cf. Jo 12,32). No deserto desta vida, o veneno mortal do pecado foi inoculado em todos nós, mas “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10,13). Por isso, Jesus diz a Nicodemos: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que Nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,13s). De Nosso Senhor crucificado vêm a salvação e a proteção contra todos os males, pois “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que Nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Basta olhar para Ele, acreditar e abrir-se. Não importa mais o passado, já não há o que temer em relação ao futuro; é suficiente que hoje, de uma vez por todas, escancaremos as portas para Ele. O Senhor nos encoraja: “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,17). Cristo não é um “obstáculo” para a salvação; não é um estranho que arbitrariamente vem dificultar nossa vida… Na verdade, Ele é a única salvação, que nos chama, bate à porta e aguarda amorosamente. As obras exteriores da Quaresma – oração, penitência e caridade – têm justamente a finalidade de dispor nosso interior, para que nos abramos a seu chamado! Afinal, Ele convida: “Recobra o fervor e converte-te! Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo!” (Ap 3,19s). Crer significa ouvir esse convite que o Senhor faz com delicadeza e discrição e abandonar-se totalmente em suas mãos. E não poderíamos estar em melhores mãos! Certa vez, Jesus comparou os que não acreditavam Nele a crianças sentadas nas praças, que dizem umas às outras: “Nós tocamos flauta e não dançastes!” (Mt 11,17). Ele se apresenta como a tábua de nossa salvação, mas nós, aturdidos, procuramos apoio em outros lugares! Ele vem até nós, mas hesitamos em abrir! Não dançamos sua música! Ele se apresenta como luz a nossos passos, mas nos refugiamos nas sombras! Jesus não veio para nos condenar! Contudo, tristemente, constata que “o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz” (Jo 3,19). A Salvação está a nosso alcance: basta olhar para Ele, crer e invocá-lo! Coragem! “Quem Nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito” (Jo 3,18). A Quaresma é tempo favorável para darmos o nosso “sim”! Basta-nos ter confiança, simplicidade e coragem. Que o Senhor nos ajude; que o Senhor nos abençoe; e que o Senhor nos salve!
20 | Geral | 10 a 16 de março de 2021 |
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Durante encontro com seminaristas, Dom Odilo destaca o empenho da Igreja com a unidade dos cristãos Fotos Arquivo pessoal
Fernando Geronazzo
osaopaulo@uol.com.br
O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, participou, na sexta-feira, 5, do encontro com os seminaristas e formadores que marcou o início do ano formativo. Devido à atual pandemia, a reunião aconteceu on-line. Os grupos, reunidos em cada uma das quatro casas de formação que compõem o Seminário Arquidiocesano Imaculada Conceição, conectaram-se ao Arcebispo para um momento de diálogo e retomada das atividades após o período de férias. Também foi a oportunidade de acolher os 16 jovens que ingressaram este ano no Seminário Propedêutico, primeira etapa do caminho formativo para o sacerdócio. O Cardeal Scherer dedicou a reunião para aprofundar a temática do ecumenismo, no contexto da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Diálogo”. Caminho Dom Odilo explicou que o ecumenismo é um conjunto de ações e esforços das Igrejas cristãs para a superação da divisão na Igreja e para a reconstituição da sua unidade. “Ao longo dos séculos, a Igreja de Cristo acabou se dividindo em uma série de Igrejas que conservam, em diferentes proporções, a genuína Tradição apostólica, o patrimônio da fé cristã”, destacou o Arcebispo, lembrando que a Igreja Católica, apesar dos altos e baixos da sua história, perseverou na fé transmitida pelos apóstolos. “Por isso, entendemos que o caminho ecumênico é busca da unidade ferida ao longo do tempo. Será que como estamos é da vontade de Deus?”, completou. Em seguida, o Cardeal indicou os três documentos do Magistério da Igreja referenciais para o diálogo ecumênico, ressaltando ser essencial que aqueles que se preparam para o sacerdócio os conheçam e se interessem pelo tema. “Atualmente, são ditas muitas coisas sobre o ecumenismo que não correspondem ao que a Igreja ensina a esse respeito. O Padre, o Bispo, precisa sempre se lembrar de que é um homem da Igreja e, portanto, deve falar em nome da Igreja e expressar aquilo que é a posição da instituição, não simplesmente uma posição individual. Por isso, temos que nos interessar pelo pensamento e pela doutrina da Igreja nos seus textos oficiais”, recomendou.
Seminaristas reúnem-se em cada uma das casas de formação para o encontro on-line com o Cardeal Scherer na abertura do ano letivo
Documentos O primeiro desses documentos é o decreto Unitatis redintegratio, do Concílio Vaticano II (1962-1965), que define o ecumenismo e aborda o esforço das Igrejas na busca do diálogo e da unidade. O segundo é a encíclica intitulada Ecclesiam suam, escrita por São Paulo VI, em 1964. ‘Que todos sejam um’ O terceiro documento destacado por Dom Odilo e sobre o qual ele aprofundou a reflexão é a encíclica Ut unum sint, escrita por São João Paulo II, em 1995, em preparação do Grande Jubileu do ano 2000. O Cardeal ressaltou que, nesse texto, o Papa “faz uma exposição apaixonada sobre o caminho ecumênico”, exortando a Igreja toda a percorrê-lo com coragem e perseverança, “mesmo sabendo que é um caminho difícil, cujos frutos nem sempre aparecem logo”. “De fato, muitas iniciativas ecumênicas frutificaram após o Concílio. Foi o entusiasmo de uma nova posição. Mas, com o passar dos anos, foram aparecendo as dificuldades desse caminho, que não se resolvem simplesmente com a boa vontade, mas requerem conversão e um diálogo de fé e teológico aprofundado”, explicou o Cardeal, referindo-se ao esforço pela superação das dificuldades doutrinais entre as diferentes comunidades cristãs. ‘Para que o mundo creia’ “É desejo de Cristo que a Igreja busque a unidade, não que sejamos divididos”, enfatizou o Arcebispo, acrescentando que o testemunho da união entre os cristãos fortalecerá o testemunho da fé, da evangelização e da vida da Igreja. “São palavras do próprio Jesus, que pediu aos discípulos que fos-
sem unidos Nele, para que, dessa forma, o mundo creia”, completou. Por fim, o Cardeal frisou que ecumenismo é essencialmente um caminho de conversão, que só é possível se houver a acolhida da Palavra de Deus, docilidade ao Espírito Santo, sinceridade na busca da verdade e a oração. “Sem isso, não existe a possibilidade de conversão, tampouco de ecumenismo. Seria apenas uma elucubração acadêmica ou se perderia no debate infinito sobre as divisões, amarguras e ofensas”, completou. Seminário Atualmente, o Seminário Arquidiocesano conta com 85 seminaristas, sendo 24 na Teologia, 22 na Filosofia, 16 no Propedêutico, 19 no Seminário Missionário Redemptoris Mater (sendo cinco desses em experiência missionária externa) e três diáconos que serão futuramente ordenados sacerdotes. Também participou do encontro virtual Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Ipiranga e designado pelo Arcebispo para acompanhar a Pastoral Vocacional e os seminários. Ao saudar os seminaristas e formadores, o Bispo Auxiliar enfatizou que os seminários são lugares preciosos para a Igreja e recordou a etimologia da palavra “seminário”, lugar onde são cultivadas as sementes. Assim, ele desejou que as sementes da vocação germinem, cresçam, frutifiquem e amadureçam. Dom Ângelo exortou os vocacionados a estarem sempre comprometidos com seu itinerário formativo, com as orientações dos formadores, professores, diretores espirituais e confessores. Por fim, lembrou que a base do caminho vocacional é a oração. “Não há vocação, nem consagra-
ção, sem a oração. É ela que abre o espírito para o profundo discernimento do chamado de Deus”, concluiu.
www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Papa nomeia Cardeal Sergio da Rocha como membro da Congregação para os Bispos https://cutt.ly/9zxBIS8 Aos 66 anos, morre Dom Sérgio Castriani em Manaus (AM) https://cutt.ly/1zxBJj7 Bispos do Peru se opõem à decisão judicial que permite prática da eutanásia https://cutt.ly/XzxBXSc Jovens têm papel fundamental para a reconciliação no Iraque https://cutt.ly/MzxBMWz Pandemia prejudica o transplante de órgãos no Brasil https://cutt.ly/izxB9ga Dom Odilo: ‘A misericórdia de Deus é completa’ https://cutt.ly/dzxB5Ev Em SP, idosos com 75 e 76 anos serão vacinados a partir do dia 15 https://cutt.ly/RzxNrwh