O São Paulo - 3350

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo ano 66 | Edição 3350 | 16 a 22 de junho de 2021

‘Somos ungidos pelo poder de Cristo, Senhor da Igreja’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Editorial Somente se chega ao coração do Pai passando pelo coração de Cristo

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Encontro com o Pastor A Conferência Eclesial e a reflexão sobre a vida cristã e a missão da Igreja

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Espiritualidade Que os seguidores de Cristo saibam esperar pelos sinais do Reino de Deus

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Liturgia e Vida ‘O Senhor não deixa que sejamos provados além das forças que Ele nos dá’

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Comportamento Pais, sejam virtuosos, e não se deixem levar pelos caminhos mais fáceis

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Beneditinas testemunham ao mundo o valor da vida contemplativa Em Itapecerica da Serra (SP), as monjas do Mosteiro Nossa Senhora da Paz mantêm viva a tradição monástica herdada de São Bento, por meio da oração, da escuta da Palavra, do trabalho e da caridade. Páginas 12 e 13

Como o bom samaritano, é preciso acolher o estrangeiro, nosso irmão O Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho, alerta que muitos são forçados a deixar os locais onde vivem. A Igreja incentiva que sejam sempre acolhidos aonde chegam. Páginas 16 e 17

Dom Odilo incensa vasos sagrados contendo os santos óleos do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos, durante a missa na Catedral da Sé

No dia do Sagrado Coração de Jesus e Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, na sexta-feira, 11, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Missa do Crisma, na qual os padres da Arquidiocese de São Paulo renovaram suas promessas sacerdotais. Nessa celebração, que tradicionalmente acontece na Quinta-feira Santa, mas que foi adiada devido à pandemia, foi consagrado o óleo do Crisma e

abençoados os óleos usados nos sacramentos do Batismo e da Unção dos Enfermos. Na homilia, o Arcebispo ressaltou que o sacerdócio não é um privilégio, mas um dom recebido de Deus em favor de seu povo e que aqueles que recebem a ordenação são configurados a Cristo, sumo e eterno sacerdote. Página 3

Vacinar-se contra a COVID-19 é zelar pela própria vida e pela do próximo Mais de 4 milhões de pessoas no Brasil estão com a 2ª dose do imunizante em atraso, um risco para si e a comunidade. Página 22


2 | Encontro com o Pastor | 16 a 22 de junho de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

A

Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe será celebrada nos dias 21 a 28 de novembro deste ano (2021) junto do santuário de Guadalupe, na Cidade do México. Diversamente das Conferências Gerais do Episcopado, cujos participantes foram apenas bispos, os participantes da Assembleia Eclesial serão pertencentes à diversidade dos membros da Igreja – leigos, consagrados e clero –, com critérios de número e representação a serem definidos num regulamento específico. O Papa Francisco deseja que a preparação da Conferência Eclesial, já em andamento, seja uma verdadeira experiência sinodal para a Igreja na América, mediante o envolvimento amplo das comunidades locais na reflexão sobre os frutos já alcançados com a acolhida das diretrizes do Documento de Aparecida. A reflexão deve estender-se também à percepção das lacunas ainda existentes na acolhida do Documento de Aparecida, muito rico, que traz intuições importantes para a vida e

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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De Aparecida para Guadalupe a missão da Igreja. O discernimento também deve se estender aos novos desafios e oportunidades para a vida e a missão da Igreja na América Latina e no Caribe, surgidos desde a realização da Conferência de Aparecida, em 2007. O tema daquela Conferência – “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que, nele, nossos povos tenham vida” –, coloca em destaque imediatamente uma compreensão fundamental da vida cristã e da missão da Igreja: o cristão é um discípulo de Jesus Cristo e a Igreja é sua comunidade de discípulos missionários. Ser cristão vai além de um conhecimento meramente histórico, intelectual ou doutrinal de Jesus Cristo e de seus ensinamentos: decorre de um encontro pessoal com Jesus Cristo vivo e de uma experiência de fé pessoal e comunitária. Recordava bem o Papa Bento XVI na abertura da Conferência de Aparecida, em 13 de maio de 2007: “Nós não nos tornamos cristãos e discípulos a partir de um raciocínio e conclusão intelectual, ou de um grande ideal ético, mas a partir de um encontro pessoal com Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador, de muitas maneiras presente entre nós”.

Essa intuição é riquíssima e não uma novidade passageira, mas é parte da experiência originária do discipulado, como se lê no Evangelho e nas incontáveis histórias dos cristãos e nas experiências dos Santos. A missão da Igreja é, portanto, fazer discípulos de Jesus Cristo, convidando as pessoas a fazerem as experiências de fé no encontro com Cristo. Para isso, devem levar as múltiplas ações de evangelização e pastoral da Igreja, sempre inseparáveis da ação do Espírito Santo, verdadeiro promotor do encontro de fé com Deus por meio de Jesus Cristo. “O Evangelho é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16). Penso que temos aqui uma das intuições mais importantes de toda a Conferência de Aparecida, capaz de promover uma profunda renovação na vida e no agir da Igreja e na vida cristã pessoal dos cristãos. Vale a pena avaliarmos, agora, se esta intuição já foi bem compreendida e acolhida na Igreja, em todos os seus ambientes e níveis de responsabilidade. Se menosprezamos essa realidade da vida e da missão da Igreja, corremos o risco de nos perdermos em ativismos e protagonismos estéreis, com uma percepção autorreferencial do Cristianismo e da vida da Igreja,

como advertiu o Papa Francisco na exortação Evangelii gaudium. Pior ainda: podemos perder a “alegria do Evangelho”, com o risco do desalento e do desânimo, ou de confundir o Evangelho com uma ideologia humana, na qual os projetos e vaidades humanos acabam por se sobrepor à primazia da graça de Deus. A fé e a vida cristã são, acima de tudo, dons da graça de Deus e não meros projetos e conquistas humanas. A preparação da Conferência Eclesial da Cidade do México pode ser uma ocasião para retomarmos a reflexão sobre essa compreensão fundamental da vida cristã e da vida e missão da Igreja. Partindo da conferência, realizada à sombra do santuário da Virgem Mãe Aparecida, Padroeira dos brasileiros, a Conferência Eclesial será realizada junto do santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira dos povos latino-americanos e caribenhos. Essa peregrinação espiritual da Igreja do nosso continente não deixa de ter um simbolismo significativo: a Igreja de Jesus é sempre acompanhada pela Mãe de Jesus, e ela recorda sempre de novo aos discípulos de Jesus, como em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

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‘O sacerdócio não é privilégio, mas graça recebida em favor do povo de Deus’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Afirmou o Cardeal Scherer, na Missa do Crisma, celebrada na Catedral da Sé Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

No dia em que a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, os padres da Arquidiocese de São Paulo se reuniram na Catedral da Sé para renovar, diante do Arcebispo, as promessas feitas na ordenação sacerdotal. A Missa do Crisma, que tradicionalmente acontece na Quinta-feira Santa, foi adiada para a sexta-feira, 11, devido ao agravamento da pandemia de COVID-19 no mês de abril. Nesta celebração, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, consagrou o óleo do Crisma e abençoou os óleos usados nos sacramentos do Batismo e da Unção dos Enfermos. Ungidos para servir Na homilia, Dom Odilo meditou sobre o sentido bíblico da unção, a partir do trecho do Evangelho (Lc 4,16-21) no qual Jesus, na sinagoga de Nazaré, proclamou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos, e aos cegos, a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. “Pela ação do Espírito Santo, a Igreja continua, ao longo do tempo, a realizar a missão confiada por Jesus”, acrescentou o Cardeal, recordando que, pela unção do Batismo, todo cristão participa do sacerdócio comum dos fiéis. Há aqueles, contudo, que recebem a unção nas mãos, na ordenação sacerdotal; e na cabeça, na ordenação episcopal, por meio das quais recebem um ministério, um serviço em favor dos irmãos. “Participamos, assim, deste povo que serve a Deus e é conduzido pelo ungido por excelência, que é Cristo, Senhor da Igreja”, afirmou Dom Odilo, ressaltando que os padres e bispos participam do sacerdócio de Cristo, cabeça do corpo que é a Igreja. “Hoje, renovamos mais uma vez o nosso ‘sim’ sacerdotal. Que o Espírito de Deus nos fortaleça

Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, fala ao clero arquidiocesano na Missa do Crisma, no dia 11, na Catedral da Sé

na nossa vocação e na nossa capacidade de servir, na nossa disposição de nos doar aos irmãos”, completou o Cardeal. Olhar para Jesus Enfatizando a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Arcebispo convidou os sacerdotes a olhar para Cristo, confiando-se ao seu amor misericordioso. “Também nós temos necessidade da misericórdia e do perdão todos os dias, para melhor invocarmos a misericórdia e o perdão em favor do nosso povo”, frisou. Dom Odilo salientou que o dom do sacerdócio ministerial não os coloca em situação de privilégio diante dos demais fiéis, mas da graça recebida em favor do povo de Deus. Dirigindo-se a todos os fiéis, o Cardeal pediu suas constantes orações por todos os sacerdotes, recomendando a Deus seu ministério e ação entre as pessoas, para serem cada vez mais santos e dignos do exercício de tão grande dom. Bênção dos óleos Após a renovação das promessas sacerdotais, foram trazidos os vasos sagrados contendo o óleo de oliva usado nos sacramentos. O primeiro óleo abençoado é o dos Enfermos, aplicado aos doentes conforme tradição bíblica descrita pelo apóstolo São Tiago, em sua carta, para serem curadas as enfermidades do corpo e da alma e concedidas forças para suportar as dores e alcançar o perdão dos pecados. Em seguida, é abençoado o óleo dos Catecúmenos, com o qual se unge o pei-

to da criança ou adulto antes do Batismo. Na oração, são invocadas a força e a proteção de Deus para que aqueles que com ele forem ungidos, recebam “a sabedoria das virtudes divinas, compreendam mais profundamente o Evangelho do vosso Cristo, sejam generosos no cumprimento dos deveres cristãos, e dignos da adoção filial, alegrem-se por terem renascido e viverem em vossa Igreja”. Consagração do Crisma Ao serem ungidos com o Crisma, os cristãos são inseridos no mistério pascal de Cristo, participando de seu sacerdócio real e profético e, assim, como Jesus, recebem a unção do Espírito Santo. Esse óleo é usado após o Batismo, no sacramento da Confirmação – também conhecido como Crisma –, nas ordenações sacerdotais e episcopais, além dos ritos de dedicação de altares e templos. Antes da oração de consagração, Dom Odilo misturou bálsamo perfumado ao óleo, que significa o “bom odor de Cristo” que todo cristão ungido pelo Crisma deve espalhar pelo mundo por meio de sua vida e obras. Em seguida, o Arcebispo soprou sobre o vaso, simbolizando o sopro com o qual Jesus Ressuscitado comunicou o Espírito Santo aos apóstolos. Após suplicar a Deus que santificasse o óleo com a sua bênção, o Cardeal, os bispos e sacerdotes concelebrantes pediram que fosse infundida a força do Espírito Santo, pelo poder de Cristo. “Fazei que este óleo do Crisma seja sacramento de perfeita salvação e vida,

para os que vão ser renovados nas águas do Batismo. Santificados por essa unção, e sanada a corrupção original, tornem-se templo da vossa glória e manifestem a integridade de uma vida santa”, continua a oração. Configurados a Cristo No fim da missa, o Padre Tarcísio Marques Mesquita, Coordenador do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, saudou o Arcebispo em nome do clero, enfatizando que, ao renovarem as promessas sacerdotais, os padres renovam o desejo de configurar a vida a Cristo e ser “dispensadores dos mistérios de Deus a serviço do povo em um tempo grave da história”. Antes de dar a bênção final, o Cardeal Scherer dirigiu um agradecimento especial aos padres e diáconos pelo empenho e dedicação dispensados durante a pandemia para manter o atendimento espiritual aos fiéis e garantir o socorro aos doentes e mais necessitados. “Continuem a levar o ‘óleo’ da alegria, do conforto e da consolação a todas as pessoas aflitas. Que sejamos, dessa forma, testemunhas de Cristo na cidade nesse tempo com tantos desafios e dificuldades.” Dom Odilo também exortou os padres a alimentar cada vez mais a fraternidade presbiteral, permanecendo atentos às necessidades uns dos outros e não permitindo que nenhum padre caia no desânimo ou no cansaço da missão. “Que sejamos a comunidade de discípulos em torno de Jesus Cristo, aos quais pede que se queiram bem, que se amem e se ajudem, que vivam fraternalmente.”


4 | Ponto de Vista | 16 a 22 de junho de 2021 |

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Editorial

Sagrado Coração de Jesus

É

verdade que a devoção ao Sagrado Coração – que celebramos solenemente na sexta-feira, 11 – tem grande presença na religiosidade popular brasileira: quem, afinal, não pensa logo nos membros do Apostolado da Oração, entoando piedosamente “Coração Santo, tu reinarás...”, e trajando suas fitas vermelhas na primeira missa da manhã? Se por um lado, porém, este carinho singelo do povo não deve de modo algum ser desprezado (pois sabemos, pela Comunhão dos Santos, que a oração dos fiéis devotos é verdadeiro sustento espiritual da Igreja), por outro lado o fato é que o culto ao Singelo Coração não tem nada de “piegas” ou “carola” – antes, nele “se contém o resumo de toda a religião, e a norma de vida mais perfeita” (Papa Pio XI, Miserentissimus Redemptor, 3). A afirmação pode parecer forte – mas é verdadeira em suas duas

partes. A veneração do Sagrado Coração contém o resumo de nossa fé, em primeiro lugar, porque “a religião de Jesus Cristo funda-se toda no Homem-Deus mediador; de maneira que não se pode chegar ao coração de Deus senão passando pelo coração de Cristo” (Papa Pio XII, Haurietis aquas, 60). Com efeito, sem a Encarnação – sem que Deus eterno tivesse descido à terra e assumido uma natureza humana, permanecendo ao mesmo tempo divino –, jamais nos seria possível nos elevar até Ele. Em segundo lugar, o culto do Sagrado Coração possui a norma de vida mais perfeita porque nos lembra que Jesus, “amou-nos a todos com um coração humano” (Catecismo da Igreja Católica, 478) – ou seja, com toda aquela ternura que sente uma lactante pelo recém-nascido em seus braços, ou um avô por um neto querido. Foi, na verdade, o próprio Cristo

quem estimulou a devoção a seu Sagrado Coração, associando-o à sua Misericórdia e ao refrigério de nosso espírito cansado: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11,28). Também em suas aparições privadas a Santa Faustina Kowalska, o Senhor enfatizou que seu Sagrado Coração “é a própria Misericórdia”: “Nenhuma alma que de Mim se tenha aproximado, saiu sem consolo. Toda a miséria submerge na Minha Misericórdia, e toda graça brota dessa fonte salvífica e santificante” (Diário de Santa Faustina, 1777). A Misericórdia divina deve, de fato, ser para nós fonte de grande esperança e consolo, e nos serve de ga-

rantia contra qualquer tipo de escrúpulos ou desespero de salvação: Jesus sempre nos espera de braços abertos, pronto a nos perdoar e acolher. É importante, porém, advertir que há aqui o risco de cairmos na presunção: mesmo sem nos convertermos e abandonarmos o pecado, passamos a ter certeza de que seremos salvos. Um tal laxismo não seria compatível com a mensagem do Evangelho: Cristo diz sim que aliviará nossos fardos – mas apenas se nos dispusermos a ir até Ele. Sigamos, então, o exemplo do Filho Pródigo: batamos no peito, tomemos novamente o caminho da casa do Pai e ponhamo-nos a Seus pés dizendo: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti!”. Aí, então, tenhamos a certeza de ouvir seu misericordioso perdão: “Trazei-me depressa a melhor roupa e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés” (cf. Lc 15,11-32).

Opinião

O Cristianismo não é um conjunto de normas Arte: Sergio Ricciuto Conte

Francisco Borba Ribeiro Neto A Igreja, em toda a América Latina, está iniciando um processo de retomada das propostas e orientações do Documento de Aparecida (DAp), que completa 15 anos em 2022. É um texto riquíssimo, mas nem sempre recebeu a devida consideração. Em muitos aspectos, pode ser considerado uma “antecipação” do pontificado do Papa Francisco, que coordenou a equipe de redação do documento. Logo em seu início, o documento retoma um pensamento de Bento XVI, na Deus caritas est (DCE, 1): “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DAp, 12). Francisco escreveu que nunca se cansará de repetir essas palavras de Bento XVI (Evangelii gaudium, EG, 7). De certa forma, representam uma fórmula que permite integrar a mais rigorosa ortodoxia com o maior arrojo missionário e renovador. Quem está ancorado em Cristo não trai seus ensinamentos nem se acomoda em posições consolidadas. Meu trabalho profissional me proporciona oportunidades de encontrar cristãos e não cristãos das

mais diversas posições ideológicas e convicções morais. Nesses contatos, observei que as pessoas sinceras podem concordar ou não com as ideias de um determinado cristão, porém – quando esse cristão vive orientado por seu encontro pessoal com Cristo – não conseguem deixar de respeitar e valorizar seu testemunho pessoal. Mais importante ainda: as pessoas que vivem essa companhia de Cristo, que experimentam esse encontro como um acontecimento decisivo em suas vidas, são totalmente conscientes dos perigos do mundo, mas absolutamente deste-

midas. Estão conscientes dos erros das ideologias, mas não se deixam determinar pelos embates ideológicos. Conhecem as mazelas dos políticos e da economia “que mata”, mas lutam pela justiça sem perder o ânimo e a alegria. Mesmo antes da pandemia, sabiam que a morte é como uma espada sempre próxima do pescoço dos vivos, mas isso não lhes tira a serenidade e o encanto da vida. O Padre Julián Carrón, atual responsável mundial pelo movimento Comunhão e Libertação, dá um exemplo interessante para mostrar essa posição humana. Com

seus pais, uma criança visita a Disneylândia. Tudo lhe parece maravilhoso e divertido. De repente, se perde dos pais. Fica aterrorizada e tudo que lhe encantava e divertia antes parece agora assustador e perigoso. Assim somos nós quando perdemos a consciência desse encontro que deu uma orientação decisiva à nossa vida. É impressionante, contudo, a facilidade com que o esquecemos e nos deixamos determinar por outras coisas. Quantos conflitos ideológicos, quanta divisão entre irmãos dentro da Igreja, quanta falta de amor e de compromisso social, quantos falsos moralismos, quanto medo, sofrimento e dor, quanta depressão e solidão decorrem desse esquecimento! As maiores verdades frequentemente são tão evidentes que nos parecem óbvias. Dar o evidente por óbvio, no entanto, é o primeiro passo para se perder a razão. Dar nosso encontro com Cristo por óbvio é uma das grandes ameaças ideológicas de nosso tempo. Que a retomada do Documento de Aparecida nos ajude a manter viva a consciência desse encontro – e nos ajude a viver a alegria e o compromisso dos discípulos missionários. Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 16 a 22 de junho de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Pascom da Paróquia Santo Antônio de Lisboa

Belém

Padre Lauro Wisnieski toma posse como Pároco da Paróquia Cristo Rei Fernando Arthur

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

[BELÉM] No domingo, 13, foi celebrada a festa do padroeiro da Paróquia Santo Antônio de Lisboa, no Tatuapé. Ao longo do dia, ocorreram oito missas, sendo a das 15h presidida por Dom Luiz Carlos Dias. Ao fim da celebração, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém abençoou os pães e os fiéis. (por Fernando Arthur)

No domingo, 13, Dom Luiz Carlos Dias presidiu a Eucaristia na Paróquia Cristo Rei, no Tatuapé, durante a qual deu posse ao novo Pároco, o Padre Lauro Wisnieski (foto). Após a acolhida feita por Dom Luiz, foi lido um breve histórico pastoral do Padre Lauro e sua provisão como Pároco. Em seguida, o Sacerdote fez sua profissão de fé diante de Dom Luiz. No começo da homilia, Dom Luiz

Luiz Ivanov

agradeceu ao Padre Lauro Wisnieski por aceitar a missão para a qual foi designado. Dirigindo-se ao Pároco, Dom Luiz desejou que ele se dedique à Paróquia, assim como fez pelas igrejas por onde passou: “Que o senhor, padre, seja este semeador e semeie a Palavra de Deus, e que dê muitos frutos”. Após a homilia, Padre Lauro recebeu as chaves da Paróquia e da capela do Santíssimo, além dos símbolos dos sacramentos do Batismo e da Penitência, e fez seu juramento de fidelidade.

ipiranga Governo de Taiwan faz doações ao projeto ‘Animando a Esperança’ Caroline Dupim

Caroline Dupim

COLABORADORA DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Na sexta-feira, 11, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, juntamente com Frei José Maria Mohomed Júnior, Coordenador Regional de Pastoral, e o Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição e Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP, receberam cestas básicas doadas pelo governo de Taiwan.

As doações foram entregues por meio do Escritório Econômico e Cultural de Taipei em São Paulo. Participaram da entrega Luis Fong, diretor-superintendente do Escritório Econômico e Cultural de Taipei, em São Paulo; Inácio Chen, diretor de Relações Institucionais do Escritório Econômico e Cultural de Taipei em São Paulo; e o vereador Aurélio Nomura. As cestas serão destinadas ao projeto “Animando a Esperança”, que as distribuirá às paróquias da Região Ipiranga.

Espiritualidade O crescimento do Reino e a paciência cristã

DOM LUIZ CARLOS DIAS

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BELÉM

N

a versão da parábola do semeador, do evangelista Marcos (cf. 4,26-29), o Reino de Deus é comparado à semeadura do agricultor, quando o plantio se resumia em lançar as sementes pela terra. O trecho aludido frisa que o processo de germinação e a produção proveniente da semente permanecia um mistério ao agricultor. “Ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). Sem recursos, como os atualmente disponíveis, ao semeador restava aguardar a germinação e o desenvolvimento da planta, até o momento da ceifa. Não obstante essa explicação, a espera serena do agricultor da parábola certamente interroga a cultura e o ser humano atual, tão “carregado de pressa”. Talvez

por influência da rapidez dos processos produtivos, da instantaneidade da comunicação e acesso a informações por um click, ou ainda pelo imperativo da busca da eficácia. Esses elementos são citados na tentativa de entender o fenômeno da pressa, sobretudo nos processos vitais, e não para criticar as benesses tecnológicas. É pertinente refletir sobre o tema, hoje facilmente constatável em realidades como o imediatismo perceptível no cotidiano das pessoas. Tal ocorrência desqualifica a importância da análise das consequências de decisões e atos, como se o semear de hoje não fosse mais importante para a colheita de amanhã, ou se o presente não terá que acertar contas no futuro. A perspectiva do carpe diem é quase regra, e resulta por exemplo nas dívidas imensas contraídas hoje, quer as de ordem socioeconômica, quer as ambientais. E pesarão sobre as gerações vindouras. A ansiedade é outra expressão da indisposição à espera. Esta turva e transtorna a interioridade, rouba a paciência, a paz, e desemboca na insegurança etc. Assim, muitos transtornos de ordem psicológica podem ser relacionados com a indisposição em esperar e a “pressa” em

resolver/fazer. Na esteira da impaciência e ansiedade em resolver, quantas cisões e mortes ocorrem, quantos projetos sucumbem sem o devido tempo de gestação. A qualidade intrínseca da semente de dar fruto, apresentada no trecho do Evangelho citado, aponta para uma realidade específica, a dinâmica do Reino e sua emergência e concretização na história, ou seja, para a ação de Deus em meio aos processos vitais de toda ordem. E, pelo que anuncia a parábola, a emergência do Reino é uma garantia: “A terra por si mesma produz o fruto”, e a espera, vista no personagem do semeador, se alicerça nessa constatação. Nesse sentido, a vida cristã é acompanhada invariavelmente por essa espera esperançada pela presença e atuação de Deus. É oportuna a recordação de que o Papa Francisco não se cansa de falar sobre as surpresas de Deus em prol da vida e do bom curso da historicidade. O olhar secularizado, desprovido de abertura ao transcendente, reputa como irrelevante o conselho do Papa, mas se trata de uma sensibilidade desenvolvida pelos olhos tocados pela fé em Deus vivo e comprometido com a sua criação.

Fé aguçada pela mensagem transmitida pela metáfora que contrapõe o menor e o maior, a menor das sementes e a árvore frondosa, dela derivada (cf. Mc 4,3132). Essa imagem, em particular, traz esperança diante das problemáticas, das dificuldades e retrocessos, dos desafios e contradições da vida humana e social, em contexto de pandemia e retrocesso político, econômico e social. Mas, perante a parábola, tudo isso é como a pequena semente da qual brotará uma árvore apreciável. É uma parábola convidativa à renovação da “esperança para o esperar”, pois, nela, Deus garante o crescimento. O seu modo de agir amoroso é uma força capaz de vencer as artimanhas ao que se opõe aos seus desígnios, como a morte de seu Filho, a qual não representou o final do Reino, e sim a recriação de sua obra pela ressurreição de Jesus Cristo. Que imbuídos da espera cristã, os seguidores do Senhor saibam esperar pelos sinais da emergência do Reino, e, às vezes nas “surpresas de Deus”, contribuam para conduzir a sociedade por caminhos que efetivamente levam ao crescimento e aos bons frutos do Reino.


6 | Regiões Episcopais | 16 a 22 de junho de 2021 |

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Dom Odilo Scherer conhece as ações da Associação Promocional Coração Imaculado de Maria Pascom da Paróquia Imaculado Coração de Maria

POR PASCOM PAROQUIAL No sábado, 12, o Cardeal Odilo Pedro Scherer esteve na Paróquia Imaculado Coração de Maria, mais conhecida como Capela da PUC, título dado devido à antiga tradição de estar associada ao Carmelo Santa Teresa, hoje situado no bairro do Jabaquara. O Arcebispo Metropolitano presidiu uma das quatro missas presenciais – também transmitidas pelo YouTube e Instagram –, em razão da festa patronal, quando também houve uma carreata pelas ruas adjacentes. A missa presidida por Dom Odilo foi a das 16h, concelebrada pelo Padre José Ferreira Filho, Secretário do Arcebispo, e pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, Pároco, que no começo da missa também ressaltou a presença da nova diretoria da Associação Promocional Coração

Imaculado de Maria (Aprocima), entidade que desde 1975 tem se destacado, começando pela promoção dos filhos de trabalhadoras, sobretudo domésticas, do bairro de Perdizes e que não podiam dei-

xá-los em casa nem tê-los junto a si no trabalho. Diante desse contexto, a Paróquia os acolheu, dando-lhes alimentação e reforço educacional. Com o tempo a obra cresceu, estru-

Benigno Naveira

[LAPA] Na noite de sexta-feira, 11, Dom José Benedito Cardoso presidiu missa na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Parque Continental, Setor Butantã, concelebrada pelo Padre Pedro Augusto Ciola de Almeida, Pároco. Antes da bênção final, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa reinaugurou e abençoou a imagem do Sagrado Coração de Jesus, que foi restaurada e colocada na entrada da igreja. (por Benigno Naveira)

[BRASILÂNDIA] No domingo, 13, um grupo de crianças e adolescentes da Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, recebeu a primeira Eucaristia, após terem que interromper a convivência semanal e se adaptar, em razão da pandemia, aos encontros virtuais conduzidos pela catequista Daniella Bento. A celebração foi presidida pelo Padre Roberto Moura, Pároco.

[SÉ] Para divulgar a 36ª Semana Nacional do Migrante, a Pastoral do Migrante da Região Episcopal Sé promove uma semana com roda de conversa sobre o tema, reflexões sobre o texto base, por meio da rádio 9 de Julho e web rádio Migrantes, e Facebook da Missão Paz. O encerramento será com uma celebração no dia 20, às 9h30, com uma missa na Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Setor Pastoral Catedral.

(por Taíse Cortês)

(por Pastoral do Migrante) Pascom Jaçanã

Benigno Naveira

[LAPA] No domingo, 13, Dom José Benedito Cardoso conferiu o sacramento da Crisma a 13 jovens e adultos, em missa na Paróquia Santa Maria Goretti, na Vila Gomes, Setor Butantã, concelebrada pelo Padre Geraldo Evaristo da Silva, com a participação do Diácono Antonio Geraldo de Souza. (por Benigno Naveira)

[SÉ] Neste mês, o projeto “Brasil Terra de Santos” fala sobre São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, padroeiro dos catequistas brasileiros, poeta e copadroeiro do Brasil desde 2015. O entrevistado para a série é o Padre Nilson Maróstica, SJ, Reitor do Santuário Nacional São José de Anchieta, localizado no município de Anchieta (ES). Padre Nilson ajuda a redescobrir a figura do Padre Anchieta e de sua presença missionária em nosso País. A íntegra pode ser assistida no link a seguir: https://youtu.be/mBb4FtTaRc8.

[BRASILÂNDIA] Na sexta-feira, 11, os fiéis da Comunidade Sagrado Coração de Jesus, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza, celebraram o padroeiro e renderam graças a Deus pelos 28 anos de caminhada pastoral, em missa presidida pelo Padre Aldenor Alves (Padre Aldo). Durante o tríduo festivo que antecedeu a solenidade do padroeiro, refletiu-se sobre as vocações dos leigos, religiosos e sacerdotes. No dia do padroeiro, a comunidade foi convidada a rezar pela santificação do clero.

(por Centro de Pastoral da Região Sé)

(por Luccas Sant’Ana)

[SANTANA] No domingo, 13, na Paróquia Santo Antônio dos Bancários, Setor Pastoral Mandaqui, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa solene por ocasião da memória litúrgica do padroeiro. Concelebrou o Padre Geremias Gomes dos Santos, Pároco.

[SANTANA] No domingo, 13, na festa do padroeiro da Paróquia Santo Antônio, no bairro do Limão, Setor Casa Verde, Dom Jorge Piorezan presidiu a missa solene, concelebrada pelo Padre Marcos Erustes, Pároco. (por Hilton Felix)

(por Silvano J. De Sousa)

[SANTANA] Na sexta-feira, 11, na Capela Sagrado Coração de Jesus da Paróquia Santa Dulce dos Pobres, Setor Jaçanã, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Concelebrou o Padre Antônio Pedro dos Santos, Pároco. (por Coordenação Pascom Jaçanã)

turou-se segundo as normas da Prefeitura, conseguiu verbas do município e, assim, assumiu duas unidades na periferia. Atualmente, a Aprocima atende mais de 600 crianças, por meio do trabalho de 65 profissionais e voluntários. O Padre Valeriano destacou também a ação caritativa de longa data que funciona na Paróquia, chamada Final de Semana Fraterno, que atende algumas entidades de cunho católico na periferia e que não contam com nenhuma verba pública. Mesmo com as dificuldades em decorrência da pandemia, a Paróquia dispõe mensalmente de R$ 3 mil do dízimo para ajudar diretamente uma dessas entidades. Por fim, foi salientado o esforço pastoral missionário que tem sido feito pela Paróquia. Dom Odilo elogiou os esforços, prometeu suas orações pela comunidade e encorajou os membros a manterem as muitas iniciativas.

[SANTANA] No sábado, 12, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na Capela São Gabriel Arcanjo, da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no Setor Tucuruvi. Concelebrou o Padre Francisco Ferreira, com a participação do Diácono Rogério Ruiz Soler. (por Danilo Garcia)

[SANTANA] Na quinta-feira, 10, foi realizado um encontro on-line, convocado por Dom Jorge Pierozan e pelo Padre Andrés Marengo, Coordenador de Pastoral da Região, com a participação dos padres coordenadores de setores pastorais que compõem a Região Santana. Na ocasião, foi organizada a participação no processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. (por Pascom Santana)


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| 16 a 22 de junho de 2021 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

lapa Santo Antônio é festejado em paróquia no Jardim Bonfiglioli

A palavra ‘estrangeiro’ na encíclica Fratelli tutti Benigno Naveira

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

No domingo, 13, os fiéis da Paróquia Santo Antônio de Pádua, no Jardim Bonfiglioli, Setor Pastoral Rio Pequeno, participaram da missa solene da festa do padroeiro, também transmitida pelas redes sociais digitais. A celebração foi presidida por Dom José Benedito Cardoso e concelebrada pelo Padre João Carlos Deschamps de Almeida, Pároco. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa lembrou que Santo Antônio foi um grande pregador da Palavra de Deus, homem de fé, de amor, de caridade, que partilhou os próprios bens com os pobres e dedicou a vida a serviço da Igreja. Santo Antônio nasceu em Lisboa, Portugal, em

1195, sendo batizado com o nome de Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo. Impressionado com as relíquias dos mártires franciscanos, entrou para essa congregação religiosa. Fixou-se em Pádua, na Itália, onde morreu em 1231.

Comportamento Os frutos de um pai virtuoso Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Quando nos decidimos por uma vida virtuosa, por buscar o bem e lutar por vivê-lo, com certeza escolhemos um caminho mais árduo, não tão fácil como o de vivermos buscando o prazer, o conforto. Viver de modo coerente com os valores mais altos na família – o amor, a capacidade de se doar pelo bem comum, de fazer as escolhas que contribuam para o crescimento equilibrado dos filhos, renunciar a interesses próprios em diversas situações cotidianas – é, com certeza, um ato de coragem, de generosidade, de fortaleza. A capacidade de agir desse modo é fruto de uma decisão responsável. Quando decidimos formar uma família, comprometemos o nosso futuro. Já pararam para refletir sobre isso? Ao escolher um(a) companheiro(a) para essa missão, nós nos decidimos a nos entregar completamente para fazê-lo(a) feliz, e para receber e educar com amor os filhos que vierem dessa união. Escolhas trazem consequências, todos sabemos, mas assumir essas consequências de modo responsável é para os virtuosos, aqueles que amadureceram e entenderam que a vida real é feita de desafios, de lutas diárias e que as recompensas vêm a longo prazo. As atitudes virtuosas, os bons hábitos, são motivados por uma vontade forte, uma vontade que vê o bem que eles podem trazer e sabem que esse bem vai levar um tempo a aparecer. No momento exato da ação, provavelmente ela não será fácil nem prazerosa. Já os maus hábitos normalmente são motivados por prazeres imediatos: ficar mais na cama, comer muito daquilo de que se gosta, deixar os filhos se entreterem nas telas para facilitar o dia... Porém, os resultados a longo prazo são desastrosos. Hoje, quero com este artigo motivar os pais: lutem por ser virtuosos! Por marcar positivamente seus filhos com seu exemplo responsável, com sua luta pelo melhor. Escrevo isso a vocês, motivada por compartilhar a alegria que tenho de ter sido filha de um pai virtuoso. Um homem que assumiu de modo responsável

a família, que foi muito exigente consigo mesmo e com os outros (às vezes, até demais), que viveu de modo coerente com os valores que considerava inegociáveis (a fé, a fidelidade à família, o trabalho honesto, o respeito aos que cruzavam seu caminho). Ele nunca foi alguém que quisesse ser o centro das atenções, não chamava a atenção para si em festas, reuniões, nem no dia a dia. Era uma presença discreta, mas marcante pela autoridade que transmitia no trabalho, nas relações familiares e nas atividades a que se propunha realizar. Apesar da discrição, muitos o rodeavam, pois gostavam de ouvir suas opiniões sábias e ponderadas sobre a vida. Muitas vezes, por excesso de zelo, errava na conduta comigo e com minhas irmãs. Entretanto, ouvia atentamente nossos protestos, dizia que ia pensar a respeito e, muitas vezes, se desculpava. Suas atitudes transmitiam uma grande convicção – não agia por impulso, considerava a situação e buscava o melhor dentro de suas possibilidades. Desde muito pequena, eu o admirava e me sentia muito segura sob sua orientação – era estável, firme e muito amoroso. Muitas e muitas vezes não gostava de suas decisões, ficava inconformada, protestava. Mas não ousava desobedecer, pois ele era muito coerente e sua coerência me convencia a lhe obedecer. Não me arrependo: hoje, mais madura, compreendo suas decisões e valorizo suas ações. Os erros, as limitações, ficam perdidos no meio de tantos bons exemplos, de tanta luta por nos oferecer o melhor: uma formação sólida. Posso dizer que tenho em minha biografia muitas marcas positivas e a grande alegria de saber que tive como pai um homem de bem. Espero, de coração, deixar a mesma percepção na vida dos meus filhos, apesar de todas as minhas limitações e erros. Pais, coragem nessa luta. Não se deixem levar pela atração dos prazeres e facilidades, não valem a pena. Passam rapidamente e não trarão aos seus filhos uma alegria mais sólida e perene. Vale a pena sermos lembrados pelo bem que lutamos por fazer. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

José Mario Brasiliense Carneiro A palavra estrangeiro aparece 16 vezes na encíclica Fratelli tutti (FT) do Papa Francisco, assumindo cinco sentidos distintos. Para cada um deles são oferecidos princípios da Doutrina Social da Igreja que ajudam a fazer uma leitura da realidade com alguma isenção dos vieses ideológicos com os quais estamos acostumados. Francisco se utiliza ainda de trechos da Sagrada Escritura para indicar que as questões sociais envolvendo estrangeiros estiveram presentes na história do povo de Israel e na vida dos primeiros cristãos. A palavra estrangeiro surge nos quatro primeiros capítulos, de um total de oito capítulos que estruturam o documento e, como já dito, assume cinco significados, a saber: Estrangeiro como capital financeiro, que é aplicado em diversos países, buscando uma maior rentabilidade para os investidores que procuram mercados nos quais seja fácil penetrar, com o mínimo de burocracia e de impostos, de modo que sua circulação se dê globalmente com grande rapidez (Capítulo I); Estrangeiro como aquela pessoa, ou grupo, que vem habitar o nosso país e que deveria ser acolhido e respeitado na sua dignidade (Capítulo II); Estrangeiro como aquele que mora em nosso país (é um conterrâneo), possui cidadania e documento de identidade, porém é tratado como estrangeiro devido ao racismo e outras formas de exclusão social (Capítulo III); Estrangeiro como um povo (ou país) que não tem acesso aos bens de outra nação, que pode ser mais rica em termos econômicos ou ecológicos, e uma tal privação fere o princípio da destinação universal dos bens e da função social da propriedade (Capítulo III); Estrangeiro como aquela pessoa, ou profissional, que deveria ser acolhida em outro país segundo o critério da gratuidade e não por interesse econômico ou por uma motivação utilitarista da força de trabalho (Capítulo IV). Cada um desses aspectos poderia merecer uma análise específica. Para ficarmos no primeiro aspecto (o capital estrangeiro), é interessante notar que o tema se insere no capítulo que trata das “sombras de um mundo fechado”, na parte que se refere aos “sonhos desfeitos em pedaços”. A esse respeito, o Papa diz: “‘Abrir-se ao mundo’ é uma expressão de que, hoje, se apropriaram a economia e as finanças. Refere-se exclusivamente à abertura aos interesses estrangeiros ou à liberdade dos poderes econômicos para investir sem entraves nem complicações em todos os países. Os conflitos locais e o desinteresse pelo bem comum são instrumentalizados pela economia global para impor um modelo cultural único” (FT, 12). Trata-se de um dos pontos mais delicados da encíclica, pois a economia global, nos modos como tem funcionado nas últimas décadas, tem agravado as situações de injustiça entre países e a exclusão social. Lamentavelmente, os atores econômicos se aproveitam dos conflitos locais para se impor com sua indiscutível força e inteligência. Dito de outra forma, as divisões internas dos países favorecem a entrada do capital estrangeiro. Um reino dividido se curva mais facilmente. De fato, os sistemas políticos injustos e corruptos das nações em desenvolvimento se abrem e se beneficiam do capital estrangeiro. A arquitetura do poder econômico global é complexa e, para ser bem compreendida, exige a expertise não apenas de economistas, mas também de cientistas políticos, diplomatas, juristas etc. Especialistas em Doutrina Social da Igreja e em disciplinas como a Antropologia e a Psicologia poderão colaborar na análise sobre essas questões levantadas pela encíclica que tocam diretamente a missão da Igreja. José Mario Brasiliense Carneiro é diretor-presidente da Oficina Municipal, uma escola de Cidadania e Gestão Pública. Advogado, tem mestrado e doutorado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pós-graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. É membro da Comunidade Emanuel e de seu Conselho Internacional.


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Luiz Montfor

brasilândia Paróquia Imaculado Coração de Maria festeja padroeira Karina Marta ções, nós nos tornamos homens e mulheres fracos para optar pela vontade de Deus, colocamos nossas prioridades e Na noite de sábado, 12, os fiéis da Pa- desejos em primeiro lugar, mas Jesus nos róquia Imaculado Coração de Maria, no ensina na oração do Pai-Nosso que é preJardim Princesa, celebraram a padroeira, ciso ser feita a vontade de Deus no céu e em missa presidida pelo Padre Mario na terra”, afirmou o Padre Mario Tadeu Tadeu, Superior dos Religiosos Cônegos na homilia. O Sacerdote recordou que os Regulares Lateranenses, e concelebrada evangelistas relatam que Maria guarpelo Padre Dorival Ferreira. “Se, de fato, a nossa vida estivesse pau- dava tudo em seu coração, em um lutada na Palavra de Deus, se a Palavra ilu- gar da razão, do amor sagrado. “Será minasse nossos passos e fosse lâmpadas que guardamos a Palavra de Deus no para os nossos pés, não propagaríamos nosso coração? Precisamos refletir e desamor, inveja, fofoca e ciúme entre os ter ações para as mudanças acontecenossos irmãos. Em meio a tantas situa- rem na nossa vida, pois precisamos COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

tornar o nosso coração imaculado”, comentou. “Na contemplação do Santo Rosário, somos preenchidos pelo fogo do amor e convidados a estar no caminho dos mais empobrecidos, assim como o Nazareno fez. Maria nos ensina a catequizar para aprender a meditar e a guardar a Palavra de Deus, nos ensinando a ser discípulos missionários do Evangelho de Cristo”, disse o presidente da celebração. Antes da festa da padroeira, no dia 5, aconteceu a Cantada Mariana, realizada em prol da festividade do Imaculado Coração de Maria.

Há 67 anos, Santo Antônio intercede pela Vila Brasilândia Rogério Reis

Rogério Reis

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, Setor Dom Paulo Evaristo, esteve em festa nas últimas semanas, por ocasião da memória litúrgica do padroeiro, celebrado no domingo, 13, e pelos 67 anos de criação da Paróquia. A Trezena de Santo Antônio deste ano teve o tema “Ano da Família Amoris laetitia – A alegria do amor, que se vive nas famílias, é também o júbilo da igreja”. O gesto concreto proposto para esse período foi a arrecadação de alimentos não perecíveis para a distribuição às famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica da Região. O encerramento da festa de Santo Antônio foi com a missa presidida

Diante da atual pandemia de COVID-19, o Núcleo Regional Belém da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) implantou, em 17 de abril, o projeto “Roda de Fios e Agulhas”, que tem por objetivo o desenvolvimento de laços Pascom paroquial

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan presidiu missa na manhã do domingo, 13, na Paróquia Santo Antônio, na Vila Mazzei, Setor Jaçanã, por ocasião das festividades do padroeiro. Concelebrou o Padre Maykom Sammuel Alves Florêncio, Pároco. (por Coordenação Pascom Jaçanã)

[BRASILÂNDIA] A festa do padroeiro da Comunidade Santo Antônio de Taipas, da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort, aconteceu entre os dias 11 e 13. A missa de encerramento foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, que abençoou os tradicionais pães e o bolo de Santo Antônio, que foram distribuídos a todos. Victor Batista

por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e concelebrada pelo Padre Konrad Körner e o Cônego José Renato, Pároco, com a participa-

ção dos Diáconos Rogério e Genival. Ao longo das festividades, o programa “Antena Paulista”, da TV Globo, retratou a Paróquia, a história de Santo Antônio e entrevistou o Pároco.

Caritas promove ação de saúde mental e solidariedade COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

(por Patrícia Beatriz Lopes e Priscila Rocha)

(por Patrícia Beatriz Lopes)

Belém Maria Aparecida Barão Acuña

[BRASILÂNDIA] No dia 6, no Santuário Sião do Jaraguá, um grupo de 50 adolescentes e adultos da matriz da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort e das Comunidades São Francisco, Santo Antônio, Santa Clara, Nossa Senhora das Graças, no Setor Jaraguá, receberam o sacramento da Crisma, em missa presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia. Concelebraram os Padres Sergio Antonio Bernardi, Pároco, e Gustavo Hanna Crespo.

coletivos, afetividade, autoestima, solidariedade e voluntariado de forma virtual. Para tal, foi criada uma oficina virtual em um grupo de WhatsApp chamado “Mãos Solidárias”, que visa a estimular ações de saúde mental e solidariedade de seus oficineiros, por meio do trabalho voluntário em favor de pessoas em situação de fragilidade social. [SÉ] No dia 8, aconteceu, de forma on-line, a reunião com os Assistentes Eclesiásticos de Pastorais da Região Episcopal Sé, com a presença de Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, nomeado Bispo de Ourinhos (SP), e do Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Coordenador Regional de Pastoral, que conduziu a reunião. Cada um dos 19 assistentes eclesiásticos falou sobre a atuação de cada pastoral diante da situação de pandemia. Padre José Arnaldo explicou os encaminhamentos sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e os trabalhos, reflexões e encaminhamentos que cada membro das pastorais poderá realizar. (por Centro de Pastoral Sé)

Todas as peças produzidas pelo “Mãos Solidárias” são destinadas às pessoas mais necessitadas da Região Belém. Interessados em participar do “Mãos Solidárias” ou colaborar com a doação de materiais para tricô, crochê, bordado, pintura ou costuras podem entrar em contato pelo WhatsApp (11) 995642660, com Cidinha.

[BRASILÂNDIA] Na manhã do sábado, 12, Dom Carlos Silva, OFMCap, visitou a Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, sendo recebido pelo Padre Genésio de Morais, Pároco. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia esteve na Comunidade Nossa Senhora das Graças, onde conversou com a equipe de coordenação. Também foi à Comunidade Nossa Senhora Aparecida (foto) e conheceu a equipe que prepara as refeições que têm sido distribuídas semanalmente em marmitas, há dois meses. Ele abençoou a todos e incentivou os voluntários a manter os serviços. Naquele dia, também houve doação de pães produzidos pela padaria comunitária do Sindicato dos Químicos, que recebeu a bênção do bispo. (por Marcos Rubens Ferreira e Victor Batista). Pascom Paroquial

Arquivo paroquial

[IPIRANGA] No domingo, 13, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa na Paróquia Santo Antônio, Setor Pastoral Ipiranga, por ocasião da festa do padroeiro. (por Caroline Dupim)

[SÉ] Na tarde do sábado, 12, Dom Ângelo Ademir Mezzari, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, conferiu o sacramento da Crisma a 16 crismandos da Paróquia Santa Generosa, Setor Pastoral Paraíso. Concelebraram o Padre Cássio Albério Pereira de Carvalho, Pároco, e o Padre Antônio Paulo Ferreira de Castilho, da Diocese de Santos e padrinho de um dos crismandos. (por Pascom paroquial)


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| 16 a 22 de junho de 2021 | Reportagem | 9

‘Que o exemplo de São José nos dê coragem para que não nos desviemos do caminho reto’ Ira Romão

Afirmou o Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, em missa na Paróquia São José, em Perus Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na manhã do domingo, 13, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia São José, em Perus, Região Episcopal Brasilândia. Concelebraram os Padre Cilto José Rosembach, Pároco; Ezael Juliatto (Padre Tchê), Vigário Paroquial; e José Ferreira Filho, Secretário do Cardeal. Também participou o Diácono Antônio Campineiro. Cerca de 150 pessoas participaram presencialmente da missa campal, que demandou o uso de parte do estacionamento e do salão paroquial, mantendo-se as medidas de segurança de combate à COVID-19. A celebração foi transmitida pelo Facebook da Paróquia. Peregrinação da imagem de São José Para celebrar o Ano de São José, proclamado pelo Papa Francisco em dezembro de 2020, a comunidade de Perus preparou uma peregrinação da imagem do padroeiro pelas comunidades da Paróquia, iniciada em janeiro deste ano. A imagem fica um mês em cada uma das comunidades paroquiais, as quais têm autonomia para decidir se haverá momentos de orações comunitárias ou se ela visitará as casas das famílias. A imagem é acompanhada de um subsídio com textos e reflexões sobre o Ano de São José, sugestões de orações e Terços. Há, ainda, um caderno em que as comunidades anotam as experiências vividas durante o período. No dia 19 de cada mês, na missa de São José na Paróquia, a imagem é passada de uma comunidade para outra, e há a partilha de experiências. “Isso mantém a comunidade articulada em torno da imagem e dos moradores. Desenvolve, ainda, a espiritualidade e o conhecimento sobre a história de São José”, relatou Padre Cilto, frisando que tem sido uma experiência profunda nesse contexto de pandemia. Maria Izabel Fogaça, coordenadora da Comunidade São João XXIII, onde a imagem esteve em fevereiro, compartilhou a vivên-

Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, padres concelebrantes e leigos em missa na Paróquia São José, no bairro de Perus, no domingo, 13

cia. “Ela passou pelas casas e ‘faltou dia do mês’, porque muita gente quis recebê-la. Foi uma maravilha, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia todos se organizaram e se emocionaram”, lembrou a coordenadora, afirmando que gostaria que a experiência se repetisse. Leonardo Cândido, coordenador da Comunidade São João Batista, que receberá a imagem em setembro, disse que todos já estão na expectativa. “Organizarmo-nos para que a imagem passe pelas casas das famílias e aos domingos possamos nos reunir na comunidade para as celebrações com a imagem presente.” Cândido, que colaborou com a elaboração do subsídio que acompanha a imagem, acrescentou que as experiências partilhadas pelas comunidades têm refletido os objetivos da peregrinação, a qual inclui alimentar a devoção a São José. “Houve partilha em comunidade que estava fechada, meio dispersa, e por causa da presença da imagem, voltou a se reunir e a rezar junto”, relatou. Na celebração na matriz paroquial, Dom Odilo salientou que São José foi um homem que procurou viver conforme a vontade Deus. “Ele não fez muitos discursos, aliás, nenhum, mas conhecemos suas escolhas e ações, que eram sempre conforme a vontade de Deus. Por isso, São José é grande”, disse o Cardeal. “Que o exemplo de São José nos dê coragem para que, nos momentos mais difíceis, não nos desviemos do caminho reto. Continuemos a fazer o que é bom, conforme a vontade de Deus”, afirmou. 22 anos como Paróquia A Paróquia São José, em Perus, foi instalada no dia 6 de junho de 1999. Antes, ela era uma comunidade dedicada a São José Operário e ligada à Paróquia Santa Rosa de Lima. Ao ser desmembrada, passou a levar o título de São José.

O primeiro Pároco foi o Padre Konrad Körner. No início, contava com 18 comunidades. Hoje, são 12, uma vez que algumas se tornaram paróquias. Missão Popular Para o Pároco, que já está há oito anos à frente da comunidade, a força pastoral da Igreja São José, em especial nesse período pandêmico, está na dimensão missionária, iniciada antes da pandemia, na solidariedade espiritual e de partilha, e, também, na comunicação solidária. Padre Cilto reforçou que foi fortalecida a prática de acolhida da dor das pessoas enlutadas, ainda mais intensas pela não realização de um rito de despedida. “Estivemos bastante próximos, algumas vezes conseguimos até ir a um sepultamento rápido. Na maioria delas, porém, acolhemos a dor e as pessoas no campo da espiritualidade e da oração”, pontuou. Sobre a arrecadação de mantimentos, Padre Cilto destacou que a solidariedade de partilha tem sido feita de modo organizado. “Fizemos o cadastro das pessoas, sempre procurando assistir os mais necessitados”, afirmou. De 2020 para cá, a Paróquia já doou mais de 1,5 mil cestas básicas a mais de cem famílias assistidas mensalmente. Para Padre Cilto, as transmissões de missas, mensagens e celebrações, divulgadas nas redes sociais da Paróquia via Pastoral de Comunicação (Pascom) é o que tem assegurado desde o início da pandemia a conexão com os paroquianos. “Quando as pessoas ligavam e pediam intenção, elas acompanhavam [as transmissões] em casa, pois sabiam que, ao registrarem seu pedido, rezaríamos naquela intenção. Isso trouxe muito conforto para elas”, declarou Padre Cilto, ressaltando que a iniciativa fez a diferença, principalmente no período em que as missas presenciais estavam suspensas.

O Pároco evidenciou também que a Paróquia e suas comunidades, por meio da Pastoral da Acolhida, assimilaram com agilidade, desde o começo, os protocolos sanitários de segurança e que “não houve qualquer situação em que as pessoas desrespeitaram as orientações”. Com as restrições impostas pela pandemia de COVID-19, em 2020, a comunidade paroquial pausou muitas ações e prioridades que haviam sido definidas em assembleia e que já estavam em andamento como, por exemplo, a missão popular que tinha como foco a visitação de missionários aos lares dos moradores do bairro. “Estava sendo uma coisa muito boa. Tivemos em torno de 15 a 20 pessoas que, aos sábados à tarde, iam de casa a casa levar uma mensagem, uma bênção, um livro de orações e um Terço com material explicativo sobre como rezá-lo”, relatou Padre Cilto, destacando que o processo todo foi cancelado devido à necessidade de se manter o distanciamento social. Luto na comunidade Padre Cilto expôs que muitos membros da comunidade de Perus faleceram em decorrência da COVID-19. Outros continuam a se recuperar de sequelas ocasionadas pela infecção causada pelo vírus. Durante a missa, Dom Odilo destacou essa realidade mencionada pelo Pároco e a colocou como prece, pedindo que todos rezassem “por aqueles que estão padecendo por causa desta pandemia e também pelos aflitos, famílias enlutadas e comunidades que perderam pessoas”. O Cardeal exortou ainda que todos peçam a Deus para que “tenham bom senso, juízo e cuidado uns com os outros. Que não se descuidem da saúde e das medidas necessárias para a proteção contra o vírus”.


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No Sagrado Coração, está ‘a imagem expressa do amor infinito de Jesus Cristo’ Arquivo paroquial

Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Associados do Apostolado da Oração com o Padre Orisvaldo Carvalho, na Paróquia Cristo Rei, na Região Brasilândia. Pascom do Santuário do Sagrado Coração de Jesus

Rosana Cavanesi

No Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, na Região Belém, a missa solene do dia, presidida pelo Padre Alex Sandro, MSC, foi precedida pela reza do Terço, conduzida pelos associados do Apostolado da Oração.

No Santuário do Sagrado Coração de Jesus, em Campos Elísios, na Região Sé, a festa patronal foi realizada entre os dias 4 e 13. No dia 11, houve a reza do Terço às 18h30, seguida de missa, presidida pelo Padre Roque Luís Sibione. Pascom paroquial

Na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Imirim, Região Santana, na missa presidida pelo Padre João Luiz Miqueletti, Pároco, houve a entrega da fita a novos associados do Apostolado da Oração.

Na sexta-feira, 11, a Igreja celebrou a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Embora essa devoção tenha se popularizado pelo mundo a partir do século XVII, sua origem se confunde com a história do Cristianismo. Sua fonte está nas Sagradas Escrituras, mais precisamente no Evangelho de São João, ao narrar quando o soldado transpassou o coração de Jesus crucificado com uma lança e dele jorraram sangue e água (cf. Jo 19,34). AO LONGO DOS SÉCULOS A contemplação destas cenas alimentou a devoção dos primeiros cristãos, que buscavam no coração de Jesus a fonte para o verdadeiro amor de Deus, manifestado no Verbo encarnado. São vários os santos que tiveram experiências místicas relacionadas ao Coração de Jesus: São Bernardo (10901153), São Boaventura (1221-1274) Santa Lutgarda (1182-1246), as santas irmãs Matilde (1241-1299) e Gertrudes (1256-1302), São Ludolfo de Saxônia (1300-1378) e Santa Catarina de Sena (1347-1380) foram alguns deles. Foi somente no século XVII que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus ganhou uma nova proporção, com a ajuda de dois santos: São Francisco de Sales (1567-1622) e São João Eudes (1601-1680). O primeiro fundou, em 1610, a Ordem da Visitação, na qual imprimiu uma particular devoção ao “Coração do Redentor”, referindo-se às religiosas visitandinas como “filhas do Coração de Jesus”. O segundo, além de propagar essa devoção, compôs um Ofício e uma Missa em honra do Coração de Jesus, que foram celebrados pela primeira vez em localidades da França, em 1672. SANTA MARGARIDA MARIA No entanto, foi uma jovem religiosa da Ordem da Visitação a responsável pela maior propagação do culto ao Coração de Jesus. Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690) recebeu revela-

ções particulares do próprio Jesus Cristo, que, em uma das ocasiões, em 1673, pediu-lhe: “Na primeira sexta-feira, depois da oitava de Corpus Christi, se celebre uma festa especial para honrar meu Coração, e que se comungue nesse dia para pedir perdão e reparar os ultrajes por Ele recebidos durante o tempo que permaneceu exposto nos altares”. A Santa relata que, em outra ocasião, Nosso Senhor, mostrando o seu coração transpassado, disse a ela: “Eis o coração que tanto tem amado os homens […]. Prometo-te pela minha excessiva misericórdia, a todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, a graça da penitência final. Estes não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os sacramentos. O meu Sagrado Coração lhes será refúgio seguro nessa última hora”. Em seus escritos, Santa Margarida Maria ressalta: “O maior testemunho de amor que podemos dar ao Sagrado Coração e a melhor reparação que lhe podemos oferecer é nos unirmos a Ele, muitas vezes, pela comunhão sacramental, e desejarmos ardentemente essa união pela comunhão espiritual”. CULTO UNIVERSAL Em 1856, o Papa Pio IX estendeu a festa do Sagrado Coração de Jesus a toda a Igreja. E, em 11 de junho 1899, o Papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Sua decisão foi motivada pelo testemunho de Santa Maria do Divino Coração (1863-1899), que também recebeu revelações interiores do Sagrado Coração de Jesus. Nessa ocasião, Leão XIII afirmou: “No Sagrado Coração está o símbolo e a imagem expressa do amor infinito de Jesus Cristo, que nos leva a retribuir-lhe esse amor”. Nas paróquias da Arquidiocese houve missas na Solenidade do Sagrado Coração com a participação dos associados do Apostolado da Oração (veja algumas imagens ao lado). Leia o texto completo em: https://tinyurl.com/yhgo2ras

Você Pergunta

Por que a Comunhão não é dada nas duas espécies? Padre Cido Perreira

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O Genival, do Jardim Peri Alto, me envia a seguinte dúvida: “Por que na Comunhão não recebemos o Corpo e o Sangue? Jesus mesmo ofereceu os dois e já foi orientado que o Corpo e o Sangue são os mesmos. Eu acho que devemos participar também. Poucas pessoas participam dos dois”.

Genival, pela sua pergunta, deu para entender que você conhece a doutrina da Eucaristia e sabe que tanto no vinho consagrado quanto no pão consagrado Jesus está inteiramente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Assim, se o sacerdote perceber que há poucas partículas ou hóstias consagradas, ele pode reservar um pouco do precioso Sangue de Cristo e dar a Comunhão aos fiéis no cálice.

Por questões práticas, como, por exemplo, o número de fiéis e a dificuldade de ministrar a Comunhão sob as duas espécies, o pão e o vinho, a Igreja optou pela Comunhão apenas na espécie do pão. Há padres que só dão a Comunhão sob as espécies do pão e do vinho. Outros, como eu, só distribuo a Comunhão na espécie do pão. Em celebrações festivas da comunidade, eu distribuo, na Co-

munhão, o pão e o vinho consagrados. Neste tempo de pandemia, temos um motivo a mais para dar em comunhão só o pão consagrado, para que se evite qualquer possibilidade de contágio pelo coronavírus. Volto a insistir, meu irmão: tanto no pão quanto no vinho consagrados, Jesus está inteiramente presente em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.


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‘A cúria diocesana deve refletir a caridade pastoral que anima toda a Igreja’ Fernando Geronazzo

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A missão das cúrias diocesanas e suas práticas jurídico-administrativas foram o destaque de um curso de extensão promovido pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, nos dias 8 e 9. Voltada para bispos, mestres e doutores em Direito Canônico e oficiais da cúria, a formação on-line foi ministrada pelo Padre Mauricio Landra, da Diocese de Gualeguaychú, na Argentina. Ele é doutor em Direito Canônico pela Universidade Católica da Argentina (UCA), e professor ordinário das cátedras de Metodologia Canônica, Igrejas Particulares e Direito Matrimonial na mesma instituição.

Finalidade O professor sublinhou que, como lembra o Código de Direito Canônico, os ofícios eclesiásticos como os das cúrias devem ser exercidos com uma “finalidade espiritual”. Recordando o que diz o decreto Christus Dominus, do Concílio Vaticano II, sobre o múnus pastoral dos bispos, Padre Mauricio destacou que o trabalho das cúrias, como extensão do ministério do bispo, deve colaborar para a unidade da diocese. Esse mesmo documento conciliar exorta que a cúria diocesana deve ser “instrumento apto nas mãos do bispo, não só para administrar a diocese, mas também para fomentar as obras de apostolado”.

intrínseco ao seu ministério o múnus de santificar, ensinar e governar (pastorear). A partir dessa definição, o canonista convidou os participantes do curso a olharem cada um dos organismos, funções e atividades da cúria como uma tarefa realizada em comum, a serviço da Igreja. Desse modo, assim como enfatiza o decreto Christus Dominus, “os membros de uma cúria não são meros funcionários, mas colaboradores do ministério pastoral do bispo”. Estruturas Outro aspecto ressaltado pelo professor é que, assim como não há dioceses iguais, não há cúrias idênticas. A organização de cada uma delas irá se

tropolitano e um tribunal eclesiástico interdiocesano. É o bispo, em primeiro lugar, quem coordena os trabalhos da cúria. Para isso, porém, pode delegar alguém que realize essa tarefa diretamente, uma vez que o bispo não pode estar presente de maneira integral na cúria, devido às outras tarefas que fazem parte de seu ministério. Padre Mauricio também lembrou que as cúrias possuem uma missão subsidiária para as paróquias e organismos eclesiais que possuem certa autonomia de ação, mas preservam a comunhão entre si.

Dimensão espiritual O canonista acrescentou que a tarefa administrativa própria de uma cúria não Universidade Católica da Argentina pode ser dissociada da dimensão espiritual, pessoal e comunitária de seus colaboradores. Por essa razão, o diretório pastoral para o ministério pastoral dos bispos Apostolorum sucOrganismo de cessores recomenda, por serviço exemplo, que os padres O curso foi aberto que colaboram nas cúrias diocesanas tenham pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo “algum outro ministério de São Paulo e Grãocom cura [cuidado] de -Chanceler da faculdaalmas, para manter vivo de. Ele ressaltou que, o seu zelo apostólico e muitas vezes, a cúria é evitar que desenvolvam, entendida apenas como por falta de contato direto com os fiéis, uma um lugar onde são realizados trabalhos mementalidade burocrátiramente burocráticos e ca prejudicial”. administrativos, quanAinda sobre a dido, na verdade, trata-se mensão espiritual da do organismo de govercúria diocesana, Padre no do bispo e que, porMauricio apontou a imtanto, está a serviço do portância da oração, da seu pastoreio na diocese. celebração da fé entre os O Arcebispo acresintegrantes desse orgacentou que, nas cúrias, nismo. deve ser refletida a cari“Muitas cúrias têm Padre Mauricio Landra assessora curso on-line sobre as cúrias diocesanas e suas práticas jurídico-administrativas dade pastoral que anima um momento do dia dedicado à oração, à oração toda a Igreja. Para isso, do Angelus, à celebração são necessários vários configurar à realidade da Igreja partiTarefa comum da Eucaristia, um momento de meditaserviços que buscam favorecer a organização pastoral e administrativa da Nesse sentido, o canonista saliencular. Existem, contudo, algumas esção. Outras cúrias utilizam no calendátou que quem realiza um trabalho na truturas que, mesmo com nomes dirio de trabalho momentos de descanso diocese, sempre tendo em vista a primeira missão da Igreja, a evangelizaferentes, correspondem a uma missão cúria, por mais técnico que seja, o faz ou recreação. Há, ainda, aquelas que reção. “As cúrias são expressão do servializam retiro espiritual da cúria diocesacomum a todas as dioceses. com uma finalidade pastoral, colaboço pastoral da Igreja, de sua memória, rando diretamente no exercício do na”, destacou o professor. Entre esses serviços estão a chancelaria, onde são emitidos e autenticados história e organização necessárias para múnus, isto é, a missão própria conPadre Mauricio sublinhou que a fiada por Jesus a um bispo, sucessor os documentos de uma diocese, como bem servir”, completou o Cardeal. cúria não tem um fim em si mesma, é dos apóstolos, de governar e pastorear nomeações, decretos etc. Também faAo longo das duas tardes de curso, um serviço aos irmãos, “aos que vão a zem parte da cúria os departamentos a porção do povo de Deus reunida em Padre Mauricio Landra destacou os doela, aos que esperam uma resposta, que cumentos da Igreja que fundamentam a administrativos, jurídico e, recomenuma diocese. solicitam um espaço de escuta”. Nesse da-se que a coordenação e articulação vocação e a missão da cúria diocesana, Para explicar o significado da pasentido, o canonista ressaltou a imporlavra múnus, em vez de usar os tertância da “porta” de uma cúria, isto é, o das pastorais integrem esse organismo. sua coordenação, as pessoas e serviços mos ofício e função, Padre Mauricio serviço encontrado logo na entrada de São parte da estrutura das cúrias, ainque a constituem, além das metodologias de trabalho. Também foram apreda, o arquivo e o tribunal eclesiástico, traduziu como “tarefa” – dever obrisua sede. “Aquele que vem ao lugar físisentados modelos de estatutos, regulagatório de um indivíduo, encargo, co da cúria diocesana deve ser atendido mesmo que não funcionem no mesmo mento e a análise de decretos e demais obrigação – decorrente de uma vocristãmente, com respeito e paciência”, local, como no caso da Arquidiocese de cação e missão. No caso do bispo, é documentos emitidos nas cúrias. completou. São Paulo, que possui um arquivo me-


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Madre Martha Lúcia e as demais religiosas da comunidade monástica em Itapecerica da Serra (SP), que mantém viva a tradição beneditina, unida à renovação do Concílio Vaticano II

Mosteiro Nossa Senhora da Paz: escola de oração, trabalho e vida fraterna Fernando Geronazzo

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São 4h30 quando o silêncio da madrugada é interrompido pelo toque de um sino no alto do bairro Potuverá, em Itapecerica da Serra (SP). Cercadas por uma vasta área de Mata Atlântica na Região Metropolitana de São Paulo, as 22 monjas beneditinas do Mosteiro Nossa Senhora da Paz se reúnem para a oração. A Abadessa, Madre Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, 61, conduz a procissão silenciosa para o interior da igreja abacial. “Abri, Senhor, os meus lábios!”, entoa uma das monjas, enquanto as demais respondem: “E minha boca anunciará vosso louvor”. Assim, como há 46 anos, começa o primeiro dos sete momentos diários de oração do Ofício Divino nessa comunidade. O Mosteiro Nossa Senhora da Paz pertence à Congregação Beneditina do Brasil e foi fundado em 21 de julho de 1974, como priorado dependente da Abadia de Santa Maria, em São Paulo. Em 23 de maio de 1983, a comunidade alcançou o número mínimo de 12 monjas, necessário para se tornar uma abadia independente. Na época de sua fundação, o mosteiro pertencia à Arquidiocese de São Paulo. Com a criação da Diocese de Campo Limpo, em 1989, a abadia passou a integrar a nova circunscrição. As fundadoras desse mosteiro foram as Madres Dorotéia Rondon Amarante (1916-2015) e Regina Jardim Paixão (1928-2020), acompanhadas das Irmãs Emerenciana Rabello Jardim (1910-1997), Maria Cruz (1930-2020),

Paulina de Carvalho Gomes (19162007), Mônica Castanheira (19262018) e Maria Beatriz Rondon Amarante (1918-2016). Essas religiosas assumiram o desafio de instituir uma nova comunidade monástica inspirada nas disposições do Concílio Vaticano II, preservando a essência da Regra Beneditina, de mais de 15 séculos, adaptada à renovação litúrgica e pastoral. Nesse sentido, desde a sua fundação, essa comunidade reza o ofício litúrgico na língua vernácula, isto é, em português, e não em latim, como é mantido por muitos dos mosteiros fundados antes do Concílio.

beleza da vida monástica transmitidos por essas religiosas. Como Mestra de Noviças, Irmã Maria Luiza procura transmitir às jovens formandas os valores herdados das fundadoras. “Uma grande preocupação dessas irmãs é que o mosteiro fosse uma verdadeira escola de oração para as pessoas. Elas valorizaram bastante a vida comunitária, o estudo, o trabalho, a vida litúrgica, colocando realmente no centro da nossa vida o valor do Ofício Divino”, salientou a Monja, reforçando que essas primeiras irmãs souberam preservar os valores beneditinos sem deixar de dialogar com o tempo.

Buscar a Deus Madre Martha Lúcia está no mosteiro há 39 anos, sendo 23 como abadessa. Para explicar o significado da vida monástica, ela recordou os ensinamentos do próprio São Bento, que dizia que a primeira coisa a ser verificada em uma pessoa que deseja ingressar no mosteiro é se ela verdadeiramente busca a Deus. “Devemos procurar não apenas viver a vontade de Deus como mergulhar em seus mistérios, no aprofundamento da sua Palavra, por meio de uma oração contemplativa que nos conduz realmente ao Senhor, aquele que viemos buscar”, disse a Madre ao O SÃO PAULO.

Clausura Outro aspecto da vida monástica que desperta curiosidade é a clausura. Muitas vezes compreendida como um lugar de reclusão, na vida consagrada enclausurar-se significa recolher-se, reservar-se para um relacionamento mais íntimo com Deus. “Numa vida totalmente voltada para a busca de Deus, na qual deve predominar a oração, a contemplação e o louvor ao Senhor, é necessário que haja esse limite entre nós e o mundo”, descreveu Madre Martha Lúcia, recordando que a vida consagrada prefigura a realidade sobrenatural da qual Jesus diz no Evangelho quando afirma que os discípulos estão no mundo, mas não pertencem a este mundo (cf. Jo 15,19). Em tempos de pandemia, a Abadessa recordou que a clausura não é sinônimo de “isolamento social”, pois as monjas estão em constante contato com o mundo externo por meio dos serviços realizados, das celebrações e,

Escola de oração Irmã Maria Luiza Freire, 66, está no mosteiro há 43 anos e conviveu intensamente com as monjas fundadoras. Ela ressaltou o testemunho de fé e a convicção no ideal, nos valores e na

sobretudo, da oração e intercessão pela Igreja e por toda a humanidade. Como os primeiros cristãos Embora, muitas vezes, as diferentes congregações religiosas sejam classificadas como sendo de vida “ativa” ou “contemplativa”, as monjas beneditinas mostram que não há uma dicotomia entre esses dois aspectos. Pelo contrário, a contemplação possui uma dimensão ativa, assim como não há atividade pastoral eficaz sem um aspecto contemplativo. “A vida monástica surgiu como uma continuidade da experiência dos primeiros cristãos, que, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos, partilhavam de uma vida comum, eram assíduos na oração e na fração do pão”, ressaltou a Abadessa. Desde a sua origem, a vida monástica beneditina é cenobítica (comunitária), caracterizada pela vivência da caridade fraterna, da oração e do trabalho em comum. Apostolado A apostolicidade da vida monástica se manifesta desde os primeiros mosteiros, na Idade Média, quando as abadias se tornaram polos de referência evangelizadora para as cidades, que, em muitos casos, cresceram em torno dessas comunidades religiosas. “O mosteiro deve ser como um farol que ilumina tudo o que está ao seu redor. Nós, com a nossa vida, devemos indicar aquilo que conduz a Deus”, afirmou Madre Martha Lúcia. E, assim como nas abadias do passado, o Mosteiro Nossa Senhora da Paz


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Caridade Também faz parte da tradição monástica o serviço da caridade para com os mais pobres. Por estarem localizadas em uma região periférica, muitas famílias carentes procuram por ajuda material no mosteiro, o que se intensificou no período da pandemia. Irmã Cristina Lavinhati, 48, responsável por esse serviço, explicou que o trabalho de atendimento aos pobres não é apenas assistencial, mas, também, espiritual. Além de mantimentos, brinquedos e roupas, as pessoas recebem atendimento espiritual, aconselhamento, escuta e oração das monjas. “Existe um vínculo entre nós e essas pessoas. Nós sabemos os seus nomes, conhecemos suas histórias. Elas sabem que aqui encontram um porto seguro, alguém que as ouça, que reza por elas”, relatou a religiosa, destacando que o mosteiro já atendeu várias gerações de famílias e, inclusive, pessoas de outras denominações religiosas, que nutrem respeito pela comunidade monástica.

Ora et labora Foi atribuída à espiritualidade beneditina a expressão Ora et labora (orar e trabalhar), que diz respeito à relação intrínseca entre o trabalho e a oração. Embora essa expressão não esteja literalmente na Regra de São Bento, ela sintetiza seus ensinamentos a respeito do trabalho como continuação da vida de oração, realizado na presença de Deus, com dedicação, silêncio, o desejo de glorificar o Senhor e servir aos irmãos. “Tudo o que fazemos no mosteiro é para Deus e, portanto, deve ser contagiado pela oração. Tanto que, sempre iniciamos qualquer trabalho, por mais simples que seja, com uma oração”, explicou Madre Martha. Além do atendimento ao público, as monjas realizam os trabalhos por meio dos quais o mosteiro é sustentado materialmente, como o artesanato em cerâmica e o preparo de bolos, trufas, biscoitos e outros doces. Esses produtos são vendidos na pequena loja da abadia. Quanto à oração, além das horas do Ofício Divino, as monjas participam de missas diárias, celebrações peni-

Madre Martha Lúcia, por exemplo, é carioca e estudava Direito quando começou a se questionar sobre a vocação. Depois de visitar outros mosteiros, conheceu a comunidade de Itapecerica da Serra e teve a certeza de que ali queria consagrar a sua vida. Sentimento semelhante teve a jovem Mônica, hoje Irmã Cristina, quando conheceu o mosteiro. Jornalista, trabalhou no jornal da Diocese de Jundiaí (SP) e em outros veículos de comunicação. Tinha, porém, muitos questionamentos sobre a sua vocação. Então, fez contato com algumas congregações religiosas, mas não se identificou com nenhuma delas, até que conheceu o Mosteiro Nossa Senhora da Paz. “Quando eu cheguei, disse para mim mesma: ‘É aqui’”, relatou. Já Irmã Maria Luiza sentiu o despertar para a vida consagrada ainda na infância, ao se encantar com a alegria das religiosas que administravam o colégio onde ela estudava. No entanto, não se identificava com aquela congregação. Na juventude, quando já cursava a faculdade de Pedagogia, conheceu o mosteiro por intermédio de uma amiga. Lá, encontrou a resposta para a sua inquietação interior.

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exerce essa missão não somente no seu entorno, como também atrai pessoas de outros lugares, que vão em busca de retiros, conferências, catequeses, além das missas dominicais. Há muitos fiéis que procuram orientação e acompanhamento espiritual, especialmente os oblatos, grupo de leigos que se vinculam ao mosteiro para viver a espiritualidade beneditina na vida cotidiana. A Abadessa destacou que, além das crianças, adolescentes e jovens que são preparados no mosteiro para os sacramentos da Iniciação Cristã, há muitos casais que procuram as monjas para a preparação ao sacramento do Matrimônio, especialmente pessoas que já viviam uma união civil e, por diversas circunstâncias, adiaram a celebração sacramental e, depois, tomaram consciência do valor do Matrimônio na Igreja.

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Por meio da oração do Ofício Divino, as monjas santificam sua jornada diária

tenciais, momentos de Lectio Divina (leitura orante da Bíblia) e formações comunitárias. No fim das tardes, para romper o silêncio que predomina nas atividades do dia, as monjas se reúnem para um momento de convívio fraterno chamado recreio. Hospitalidade Outra marca da vida beneditina é a hospitalidade. Faz parte da Regra de São Bento que os mosteiros sempre acolham os peregrinos e aqueles que os procuram para um recolhimento ou visita. Para isso, o Mosteiro Nossa Senhora da Paz conta com hospedarias para acolher os visitantes. Um dos hóspedes ilustres foi o artista plástico Claudio Pastro (1948-2016), que conheceu o Mosteiro Nossa Senhora da Paz na década de 1970 e logo foi acolhido pela primeira Abadessa, Madre Dorotéia, que também era artista. Ele se encantou com a espiritualidade beneditina e não quis mais sair dali. Suas marcas estão presentes em vários ambientes do mosteiro, inclusive no painel do Cristo Pantocrator, na igreja abacial. Seu vínculo com a comunidade foi tão grande que Pastro se tornou oblato beneditino, adotando o nome de Irmão Martinho. Ele viveu seus últimos anos em uma casa vizinha ao mosteiro, que se tornará um memorial em sua homenagem. Conforme um desejo manifesto por ele, seus restos mortais foram sepultados em um túmulo atrás da igreja abacial, abaixo de uma cerejeira de que ele gostava muito.

Estabilidade A vocação beneditina não é apenas um chamado para uma forma de vida consagrada, mas para um mosteiro específico. Diferentemente das congregações religiosas em geral, que professam os votos de castidade, pobreza e obediência, as monjas e monges beneditinos professam os votos de estabilidade, conversão dos costumes e obediência. Na conversão dos costumes estão inseridas as dimensões da pobreza e da castidade. Já o voto de estabilidade diz respeito ao compromisso que a monja faz de permanecer naquele mosteiro até a morte – sendo, inclusive, sepultada na comunidade –, salvo alguma necessidade especial, como o envio para a fundação de um novo mosteiro.

Caminho de liberdade As monjas do Mosteiro Nossa Senhora da Paz garantem que a vida contemplativa não pode ser compreendida como uma “fuga” da realidade e dos problemas humanos, mas uma busca profunda de Deus, por meio do encontro consigo mesmas, o que implica um caminho de conversão em vista da santidade. “Eu nunca me senti tão livre como sou hoje. É uma liberdade que me permite estar com o Outro [Jesus], pelo qual fui totalmente atraída. E, quanto mais o buscamos, mais o encontramos. Não é uma ideia, é algo concreto, que se realiza nesta comunidade”, afirmou Irmã Cristina, sublinhando que o Senhor a chama para viver essa entrega total não apenas para si própria, mas a serviço do povo de Deus e por sua salvação. Para conhecer o Mosteiro Nossa Senhora da Paz, acesse: mnspaz.com. Mosteiro Nossa Senhora da Paz

Entre os trabalhos realizados no mosteiro, está a confecção de objetos sacros em cerâmica


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Sinodalidade e centralidade da Palavra de Deus são destaques na Assembleia do Regional Sul 1 Episcopado paulista esteve reunido de modo on-line nos dias 9 e 10 Daniel Gomes

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Uma Igreja na qual todos atuem unidos pelo Reino de Deus, em que a Palavra ocupe lugar central e que esteja sempre atenta às necessidades dos mais vulneráveis. Nos dias 9 e 10, esses foram alguns dos eixos tratados na 83ª Assembleia dos Bispos do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do

termo “sinodalidade” remete a um caminhar conjunto, o que no contexto eclesial indica que todos – ministros ordenados, religiosos e leigos – são responsáveis pelas ações da Igreja, atuando conforme suas funções e peculiaridades, mas abertos para um trabalho plural. Nesse sentido, Dom Pedro Cipollini comentou que se deve estar sempre atento para superar uma tendência de centralizar as ações no clero, o chamado clericalismo, a fim de que se instaure em todos os batizados o sentido da corresponsabilidade pela Igreja, o que requer maior abertura ao diálogo de todas as instâncias eclesiais. “Deus quer nos salvar em comunidade. O que cria a menta-

geral do Regional Sul 1, destacou o que o Padre Boris mostrou, em sua exposição, “que a Palavra de Deus precisa ter um espaço maior em todas as dimensões da nossa Igreja: pessoalmente, nos grupos, nos movimentos, nas paróquias. A Palavra de Deus tem que ter a centralidade, e nesse sentido se deve criar mecanismos para que isso ocorra efetivamente, como comissões mais amplas em âmbito diocesano ou paroquial. A Palavra de Deus é fecunda, dependemos dela e somos por ela conduzidos”. Missão em Pemba Os participantes da assembleia também ouviram o testemunho de Dom Comunicação do Regional Sul 1 da CNBB

Brasil (CNBB), que compreende as dioceses que estão no território do estado de São Paulo. Na abertura das atividades, Dom Pedro Luiz Stringhini, Presidente do Sul 1 e Bispo de Mogi das Cruzes, recordou que todos os Regionais devem fazer suas assembleias após a Assembleia Geral da CNBB, que este ano ocorreu em abril, de modo on-line, em razão da atual pandemia. Também a assembleia do Regional Sul 1 aconteceu de modo virtual e reuniu cerca de cem pessoas. Além dos bispos, padres coordenadores diocesanos de pastoral, leigos e assessores de organismos e pastorais também participaram de alguns momentos como convidados. Corresponsabilidade O tema central da assembleia – “Sinodalidade, Comunhão e Missão” – foi apresentado por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André. Ele destacou que “o princípio de comunhão de todo o povo de Deus é necessário para a ação evangelizadora” e explicou que o

lidade sinodal é a responsabilidade entre todos”, afirmou. Centralidade da Palavra de Deus Ainda no dia 9, o Professor Dr. Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP, conduziu um momento formativo sobre a animação bíblica da pastoral nas comunidades eclesiais missionárias. Inicialmente, foi apresentada a estrutura do documento de estudo 114 da CNBB, aprovado na última Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que tem como título “‘E a Palavra habitou entre nós’ (Jo 1,14): Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”. Padre Boris ressaltou que semear a Palavra de Deus é missão de todos os batizados e incentivou que nas dioceses se elaborem comissões para fomentar tal animação bíblica. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Secretário

António Juliasse Ferreira Sandramo, Administrador Apostólico da Diocese de Pemba, em Moçambique, que recebe a ajuda pastoral e humanitária do Regional Sul 1. Atualmente, lá estão oito missionários de dioceses paulistas e a parceria pode ser ampliada, pois alguns bispos se dispuseram a acolher seminaristas de Pemba. Dom António agradeceu todo o apoio recebido e relatou as crescentes situações de conflitos e ameaças de grupos terroristas contra o povo local, incluindo os cristãos. “Os missionários encaram, diariamente, a cruz de Jesus, e vivenciam a fé por meio da dimensão do martírio”, afirmou. O Bispo detalhou, ainda, que mais de 700 mil pessoas já deixaram suas casas por não dispor do mínimo de segurança ou de condições para sobrevivência no país. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, que em 2019 visitou a Diocese de Pemba, ressaltou que o Regional Sul 1 está unido “pela oração e pela solidariedade ao povo marcado pela violência no território africano” e motivou que a presença da Igreja seja um testemunho do diálogo e ajude no en-

tendimento entre aqueles que estão em conflito. Iniciativas da Igreja no Brasil e no mundo O Cardeal Scherer, que também é 1º vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), apresentou detalhes sobre a realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, cuja fase de escuta já foi iniciada, com um amplo chamado à participação dos leigos, religiosos e ministros ordenados da Igreja. O Arcebispo de São Paulo também lembrou o itinerário sinodal proposto pelo Papa Francisco para a concretização da próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2023, com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, e que será precedida por etapas diocesana e continental. Outro assunto tratado na assembleia foi a realização da 6ª Semana Social Brasileira (SSB), com o tema “Mutirão pela vida: por Terra, Teto e Trabalho”. Dom José Reginaldo Andrietta, Bispo de Jales e referencial da SSB no Regional, recordou que a iniciativa busca incentivar os fiéis e a sociedade como um todo à reflexão e ação diante das situações cotidianas. “A ação eclesial é de responsabilidade evangélica de todos nós e não apenas das pastorais e movimentos de cunho social”, afirmou. O Regional Sul 1 disponibilizou um cadastro digital a fim de integrar aqueles que queiram contribuir com as reflexões da 6a SSB. O formulário pode ser acessado por este link: https://cutt.ly/jnKl4fl. Um olhar para o estado de São Paulo Também durante a assembleia, a Comissão Justiça e Paz do Regional Sul 1, criada em setembro de 2020, apresentou uma carta sobre questões sensíveis à população do estado de São Paulo. Conforme Dom Luiz Carlos Dias informou à reportagem, o conteúdo será publicado em breve e abordará urgências que foram amplificadas em razão da atual pandemia, entre as quais a necessidade de auxílio emergencial às famílias mais pobres, proibição de despejos e remoções durante a fase pandêmica, preocupações com o processo educativo de crianças e adolescentes com as limitações para as aulas presenciais, atenção às condições de vida das pessoas em situação de rua, indígenas e encarcerados, além da necessidade de maior celeridade na vacinação de toda a população paulista. O Secretário geral do Regional Sul 1 lembrou ainda que na assembleia se mencionou a formação da Pastoral Indigenista do Regional Sul 1 e uma maior preocupação com a ecologia integral em todo o estado. (Com informações do Regional Sul 1 da CNBB)


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‘Quem bate à nossa porta?’ é a reflexão proposta na 36ª Semana do Migrante Daniel Gomes

Serviço Pastoral do Migrante

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A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Socio-transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) realizam, até o dia 20, a 36ª Semana do Migrante. As reflexões este ano são feitas a partir do tema “Migração e diálogo” e do lema “Quem bate à nossa porta?” “Querer dialogar é sinônimo de quem se abre para a não intransigência. É estar aberto a viver com os diferentes. É criar cenários que propiciem soluções eficazes a partir do diálogo e de uma atitude desprovida de autoritarismos”, afirma, em entrevista ao site da CNBB, Dom José Luiz Ferreira Salles, Bispo de Pesqueira (PE) e Presidente do SPM. No texto-base da 36ª Semana do Migrante, há a proposta de se olhar para os rostos e histórias que se refletem em estatísticas os fluxos migratórios (Ver); se convida, à luz dos textos bíblicos, à promoção da migração em

diálogo (Julgar) e se alerta para a necessidade de todos se abrirem a quem bate à porta (Agir). “Não basta o reconhecimento da pluralidade; não basta a coexistência pacífica com o diferente; não basta o

diálogo. O conceito de compromisso tem a ver com um programa de atividades centradas nas causas dos migrantes e refugiados”, consta no texto-base. Neste ano, por causa da pandemia, as ações da Semana do Migrante acontecem, em sua maioria, pela internet, com palestras, debates e transmissões de missas. A celebração de abertura ocorreu no domingo, 13, no Santuário Nacional de Aparecida, presidida por Dom Orlando Brandes. Na homilia, o Arcebispo de Aparecida (SP) recordou que a migração é um dos maiores problemas do mundo e que merece a atenção dos cristãos. “Quando o migrante vem, Cristo vem. ‘Eu era migrante e vocês me acolheram’ (cf. Mt 25,35).” A Semana do Migrante é realizada no Brasil desde 1981, em preparação ao Dia do Migrante, celebrado em 25 de junho ou no domingo anterior, neste ano, no dia 20. Toda a programação pode ser vista no Facebook do SPM (@pastoraldosmigrantes). Fontes: SPM e CNBB

Disque 100 registra 33,6 mil denúncias de violação de direitos dos idosos em 2021 O Brasil tem aproximadamente 32,9 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, o equivalente a 15,7% da população, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualizados no ano de 2019. Durante a atual pandemia de COVID-19, tem aumentado as denúncias de violência contra os idosos no País. O Disque 100 – serviço público gratuito para denúncias de violações de direitos humanos – registrou desde o começo deste ano 33,6 mil casos de violações de direitos contra os idosos. Em

2020, o número total desses registros foi de 77,18 mil, 53% a mais que em 2019. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) acredita, porém, que esses números estejam subnotificados, pois muitos idosos, por medo ou vergonha, não denunciam a violência sofrida. A entidade lançou a campanha Junho Violeta, pela qual tem espalhado mensagens para os serviços de assistência social, atendimento à saúde e universidades, incentivando alunos, profissionais e idosos a usar o laço roxo.

O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa foi celebrado em 15 de junho. No Brasil, existe desde 2003 o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), que reforça a garantia de direitos das pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos. Essa legislação descreve a violência contra o idoso como qualquer ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. (DG) Fontes: SBGG e Agência Brasil

Ao doar sangue, 1 pessoa pode salvar até 4 vidas A cada mil brasileiros, 16 são doadores de sangue de modo regular. Esse percentual de 1,6% está dentro do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que ao menos 1% da população de um país seja doadora. No entanto, a quantidade ainda é insuficiente para manter os estoques de sangue em bons níveis. No começo da semana, por exemplo, a Fundação Pró-Sangue registrava nível crítico dos estoques para os

tipos sanguíneos O+, O-, B- e B+. Na segunda-feira, 14, foi celebrado o Dia Mundial do Doador de Sangue. Cada doador pode ajudar a salvar até quatro pessoas, pois o sangue coletado costuma ser fracionado no concentrado de hemácias, de plasma, de plaqueta e um crioprecipitado. “Cada um desses componentes pode ser distribuído para pacientes distintos. Então, é realmente um ato de amor e de cidadania”, explica a hemoterapeuta do Instituto Fernandes Figueira/

Fiocruz, Marcella Vasconcelos Vaena. “A doação é essencial e não afeta em nada a saúde do doador, são coletados no máximo 450ml no momento da doação e a recuperação é imediata”, conta a técnica em hemoterapia do IFF/Fiocruz Gisele Mello. No site da Fundação Pró-Sangue – http://www.prosangue.sp.gov.br – estão detalhadas as condições para ser doador e é possível agendar a data da doação. (DG) Fontes: Fundação Pró-Sangue e FioCruz

www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Decreto regulamenta os mandatos de governo nas associações internacionais de fiéis https://cutt.ly/1nJTF5Q Papa aos formadores: sejam para seus seminaristas o que José foi para Jesus https://cutt.ly/onJTBWD Fórum Amoris laetitia: prioridade na formação de quem acompanha casais na preparação ao Matrimônio https://cutt.ly/DnJTINB Abertas as inscrições para curso on-line sobre o acordo Brasil-Santa Sé https://cutt.ly/UnJR3co Semana Bíblica Nacional destaca os circulos bíblicos na Igreja https://cutt.ly/7nJTvgI SP apresenta novo calendário para vacinar contra a COVID-19 toda a população adulta até 15 de setembro https://cutt.ly/YnJTp5c

Morre aos 80 anos, o ex-vice-presidente Marco Maciel Faleceu na manhã do sábado, 12, aos 80 anos, Marco Maciel, que foi vice-presidente da República entre 1995 e 2002, no mandato de Fernando Henrique Cardoso. O ex-vice-presidente estava internado desde 29 de março em um hospital particular do Distrito Federal. Desde 2014, Marco Maciel sofria do mal de Alzheimer e nos últimos anos estava afastado da vida pública. Nascido em Recife (PE), em 1940, Marco Antônio de Oliveira Maciel foi advogado e professor de Direito, antes de ingressar na política. Seu primeiro cargo público, ainda nos anos 1960, foi como deputado estadual em Pernambuco. Nos anos 1970, foi eleito deputado federal. No governo Geisel, Marco Maciel foi escolhido como governador de Pernambuco. Em 1982, elegeu-se senador, função que ocupou por três mandatos, antes de ser eleito vice-presidente da República em 1994. Ele foi um dos fundadores do partido Democratas. (DG)


16 | Pelo Mundo | 16 a 22 de junho de 2021 |

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Onde acontecem as situações passíveis de pedido de refúgio? José Ferreira Filho

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Diversas regiões em todo o mundo ainda são palco de perseguição, violência e perigo de morte por motivações religiosas, raciais, étnicas, sociais, políticas ou até mesmo por desastres naturais ou pobreza, o que obriga, na maior parte das vezes, o deslocamento em massa de sua população, que não conta com as mínimas condições materiais e de dignidade para isso. Por ocasião do Dia Mundial do Refugiado, celebrado em 20 de junho, o jornal O SÃO PAULO traz a seguir a relação de alguns países em que a instabilidade e a insegurança ameaçam seus habitantes, situação que faz com que estes se enquadrem nos critérios que os tornam aptos a solicitar refúgio a outras nações, em busca de um local seguro e adequado para viver (leia detalhes sobre os critérios na página 17).

morte de 100 terroristas, o exército somali retomou territórios invadidos, considerados vitais para a economia do país e o restabelecimento da paz à população civil. República Centro-Africana: a violência explodiu no país localizado na região central do continente após as eleições de dezembro de 2020, cuja população se desloca em direção a Camarões, que tem oferecido ajuda humanitária. A fronteira entre os dois países é de aproximadamente 900 quilômetros, e o governo camaronês calcula que cerca de 300 mil pessoas provenientes da

violência sexual e de gênero”. Conclusões preliminares indicam que as violações ocorreram em grande escala e podem ser enquadradas como “crimes contra a humanidade”. Brasil, Colômbia e Equador têm sido o destino dos venezuelanos que querem escapar dessa situação. México: a taxa de homicídios do país, mesmo em meio à pandemia, ainda é considerada muito alta. Os índices são maiores em estados na fronteira com os Estados Unidos, sendo que em outros locais, como Colima, na costa do Pacífico, e Guanajuato, no centro-

proteger os civis e a infraestrutura civil”, diz o documento. Síria: a guerra civil, que já dura dez anos sem indícios de que terminará tão cedo, deixou cerca de 13 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária, provenientes de organismos internacionais. Recentemente, a Rússia declarou que pretende vetar tal ajuda no Conselho de Segurança da ONU, algo catastrófico na vida de milhões de sírios, que deixariam de receber, sobretudo, medicamentos e alimentos. Na região noroeste, que seria afetada pelo bloqueio, há 4 milhões de pessoas nessa situação. ACN

Moçambique: há anos, a região de Cabo Delgado, no norte do país, enfrenta o ataque de jihadistas do Estado Islâmico. Estima-se que haja 700 mil deslocados internos, o que resulta na eclosão de problemas sanitários graves, insegurança alimentar e disseminação de doenças. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha registrou mais de 2,6 mil apelos de pessoas que perderam familiares para os jihadistas – especialmente crianças e adolescentes –, entre setembro de 2020 e abril de 2021. República Democrática do Congo: o país do centro da África convive há mais de 20 anos com o problema de estupros das mulheres, perpetrados como arma de guerra por homens com fardas de combate, mesmo após o fim da guerra civil, em 2003. Apenas um dos centros de reabilitação já tratou mais de 60 mil vítimas da violência sexual durante o período. Atualmente, uma onda de violência assola o país, sendo que a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que haja ali 1,6 milhão de deslocados desde 2017. Somália: a região sul do país africano luta contra milícias islâmicas do Al-Shabaab, grupo terrorista vinculado à Al Qaeda. Dados apontam que o Al-Shabaab esteve em 440 episódios violentos no local entre julho e setembro de 2020. No mês passado, com a

República Centro-Africana vivam em Camarões atualmente. Etiópia: a situação da região de Tigray, no norte do país e que faz fronteira com a Eritreia, é de calamidade, uma vez que cerca de 6 milhões de pessoas estão total ou parcialmente inacessíveis às agências humanitárias, sendo que a violência já forçou o deslocamento de 1,7 milhão de civis e pelo menos 4,5 milhões de pessoas precisam de ajuda para se alimentar e sobreviver. Venezuela: país vive em crise há mais de uma década e sua população sofre com as perseguições, inflação e desabastecimento. Relatórios recentes de organismos internacionais responsabilizam o governo venezuelano por “execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias, tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante, incluindo

-norte, chegam a ultrapassar a marca de 70 assassinatos a cada 100 mil pessoas. Em comum, os territórios são palco de confrontos armados e disputas entre cartéis de drogas. Só na cidade de Tijuana, no estado da Baixa Califórnia e a 27 quilômetros da norte-americana San Diego, foram 4 mil homicídios em 2020 – cerca de 12% do total nacional. Mianmar: a ONU alerta a comunidade internacional a respeito dos ataques de militares à população civil. Segundo um relatório do organismo, mais de 100 mil pessoas fogem da brutalidade em Kayah, no leste do país, abrigando-se nas florestas e comunidades. Os refugiados precisam urgentemente de comida, água, abrigo, combustível e acesso à assistência médica. “Esta crise pode empurrar as pessoas às fronteiras internacionais, em busca de segurança”, alerta a ONU. É preciso “tomar as medidas e precauções necessárias para

China: a Anistia Internacional pediu à ONU que investigue o país asiático por detenção em massa, vigilância e tortura contra as minorias na província de Xinjiang, no noroeste do seu território. Em relatório publicado na semana passada, a entidade aponta crimes contra a humanidade praticados pelos chineses uigures, cazaques e outros muçulmanos. Há suspeitas de que, desde 2017, Beijing tenha detido cerca de 1 milhão de uigures e outros muçulmanos em Xinjiang. São relatadas torturas físicas e psicológicas dentro das prisões e campos de detenção da região. O país asiático é acusado de usar esterilização forçada, aborto e transferência de população para reduzir as taxas de natalidade e densidade populacional na província. Também são alvo os líderes religiosos, com a intenção de quebrar as tradições sacras e culturais. (com informações de A Referência)


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| 16 a 22 de junho de 2021 | Análise | 17

Milhões de africanos migram todos os anos; a Igreja vai ao encontro dos que sofrem UNHCR

Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

Todos os anos, milhões de africanos deixam seus países e partem para regiões vizinhas. Os principais motivos são a pobreza, os conflitos armados e os desastres naturais, como as secas. Somente em 2019, mais de 33,4 milhões de pessoas tiveram que migrar, de acordo com os dados mais recentes do Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno (IDMC, na sigla em inglês). A pandemia de COVID-19 mudou bastante esse cenário, mas ele permanece dramático. No ano passado, 43 dos 54 países da África fecharam suas fronteiras por causa do coronavírus, colocando grande pressão sobre os migrantes e refugiados, que ficaram limitados em sua capacidade de locomoção. Muitos foram forçados a tomar rotas mais perigosas ou, simplesmente, a suportar uma situação de sofrimento ou carência. Segundo o Centro Africano para Estudos Estratégicos (African Center), aumentou o risco de tráfico de pessoas – pois os migrantes ficam sem saídas regulares –, o número de pessoas em centros de detenção e a deportação nos países que recebem mais migrantes. Os conflitos armados em 50 países da África levaram ao deslocamento de 8,5 milhões de pessoas em 2019. Entre os líderes nesta lista estão a República Democrática do Congo, com 1,7 milhão de pessoas, e a Etiópia, com mais de 1 milhão. Somente a África Subsaariana registrou 4,6 milhões de novos deslocamentos naquele ano. Diferença entre migrantes e refugiados Nem sempre é fácil determinar o motivo exato que leva um grupo de pessoas a migrar. No vocabulário das Relações Internacionais, no entanto, há diferenças entre os conceitos de “migrantes” e “refugiados”. Os migrantes se movem, em grande parte, na busca de um trabalho ou de uma situação de vida melhor – uma busca que a Igreja considera legítima no princípio de “desenvolvimento humano integral”. Os refugiados, porém, são precisamente pessoas que fogem de conflitos armados e da perseguição. São obrigados a migrar por causa de uma situação intolerável – esse status é reconhecido pelas Nações Unidas. Eles devem ser protegidos, conforme a lei internacional, por qualquer um que os receba, onde quer que seja. Muitas i ns t itu i ç õ e s da Igreja trabalham nesse sentido, o de garantir os direitos dos refugiados de um acolhimento digno e proteção. Na maioria das vezes, eles não podem voltar para casa e precisam de asilo. No caso do continente africano, por exemplo, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) apoia diversas iniciativas. Uma delas é em Uganda, o

Centro Emaús, que acolhe refugiados do Sudão do Sul. “Mais de 1 milhão de refugiados do Sudão do Sul hoje vivem em Uganda”, diz Gabriel Oriohod, coordenador de programas do Centro Emaús. “Cerca de 270 mil estão no campo Bidbidi. Muitos estão traumatizados. Dar-lhes comida e cuidados de saúde não é suficiente: nosso programa busca curar as feridas, trazer cura às suas almas e partilhar com eles o amor de Deus”, afirma. Mal-entendido sobre a migração na África A maioria dos migrantes africanos fica dentro do continente e tem planos de voltar para o país de origem. Um artigo no “Africa Migration R e p o r t”, publicado em 2020 pela Organização Internacional para Migração (IOM), aponta que há alguns grandes mal-entendidos no Ocidente quando se fala do fenômeno no continente africano. O primeiro deles é o fato de que a maioria dos africanos não está atravessando mares e oceanos – como nas fortes cenas de embarcações superlotadas que viajam no Mediterrâneo rumo à Europa. Em vez disso, eles viajam longos percursos por terra, dentro da própria África. “Eles se movem em busca de oportunidades e, às vezes, em busca de segurança”, diz o texto, assinado por Maureen Achieng (IOM) e Amira El Fadil (African Union Commission). Esse deslocamento é histórico e típi-

co das culturas africanas – de onde, aliás, se entende que saíram os primeiros seres humanos. Outra informação muito desconhecida é a de que mais de 90% dos migrantes que deixam o continente africano são legais no país que os acolhe e têm planos de retornar a seus países de orígem. Em muitos casos, fala-se da migração voluntária, motivada por oportunidades econômicas em outros países. “Muitos destes são mulheres que simplesmente estão buscando ganhar a vida”, diz o documento. Além disso, a África corresponde a somente 14% da população migrante do mundo, enquanto a Ásia atende por 41% e a Europa, 24%. Compartilhar a viagem Há quatro anos, a Cáritas Internacional lançou a campanha “Compartilhe a viagem”, que buscou humanizar a jornada de migrantes e refugiados de todo o mundo. “Precisamos superar a fronteira do medo”, disse o Cardeal Luis Antonio Tagle, Presidente da Cáritas, na terça-feira, 15. “Temos que tratá-los com a convicção de que não são só números, mas pessoas com nomes, histórias e sonhos, e ver neles Jesus que, quando criança, se tornou um refugiado no Egito com seus pais.” No evento de conclusão da campanha, a Irmã Maria de Lurdes Lodi Rissini, Coordenadora Nacional da Cáritas

África do Sul, recordou que o país é um dos principais destinos de migrantes de toda a África. “Recebemos migrantes do Lesoto, Zimbábue, Moçambique, Zâmbia, Angola, Malawi, Essatíni (antiga Suazilândia), além de milhares de refugiados da República Democrática do Congo e da Somália”, disse. Segundo ela, muitos entram e saem da África do Sul por motivos de trabalho, estudo ou de saúde. “O país também encontra dificuldades com milhares de pessoas sem documentos e sem um estado”, acrescentou. A maioria dos migrantes e refugiados tem trabalhos informais e ainda sofre com a xenofobia e o medo dos sul-africanos, que pensam ter seus empregos ameaçados pela chegada de estrangeiros. “Trabalhamos para integrá-los à sociedade”, conta a religiosa. Por exemplo, oferecem-lhes casas temporárias para os que procuram emprego, ensinam a língua inglesa e ajudam mulheres que são abandonadas pelo marido – muitos formam novas famílias após migrar. Como explicou o Monsenhor Bruno-Marie Duffé, Secretário do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, a visão da Igreja sobre a migração é de que essas pessoas têm “uma história, uma memória, uma terra e uma dignidade inalienável”. Compartilhar a viagem é, portanto, entender “o que temos em comum com eles” nas quatro palavras que o Papa Francisco usa para promover os direitos dos migrantes e refugiados, que são “acolher, proteger, promover e integrar”. Segundo Monsenhor Duffé, é preciso combater as causas que obrigam as pessoas a migrar: a guerra, a pobreza, a desigualdade, a corrupção, o tráfico, o abuso e a negligência política. Além disso, deve-se proteger o “direito primário de ser acolhidos”, que está ligado ao “direito de voltar para a própria terra, para ali viver em paz”.


18 | Papa Francisco | 16 a 22 de junho de 2021 |

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Bispo sul-coreano é o novo Prefeito da Congregação para o Clero Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

O Papa Francisco nomeou Dom Lazarus You Heung-sik como Prefeito da Congregação para o Clero. Até então, ele era Bispo de Daejeon, na Coreia do Sul, Diocese que envia sacerdotes missionários para a Paróquia Pessoal Nossa Senhora Rainha e Santo André (Kim) Degun, da comunidade coreana em São Paulo. A nomeação foi publicada na sexta-feira, 11, e denota a intenção do Papa Francisco de aumentar o número de asiáticos em cargos de liderança no Vaticano. Dom Heung-sik é muito próximo

Vatican Media

ao Cardeal Luis Antonio Tagle, filipino, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Dom Heung-sik tem 69 anos. Ele também acolheu o Papa em sua visita à Coreia do Sul, em 2014. A Congregação para o Clero supervisiona e orienta todas as atividades da Igreja em relação à formação permanente dos sacerdotes e diáconos, além de cuidar de temas disciplinares e administrativos do clero. O Papa aceitou a renúncia do Cardeal Beniamino Stella, por motivos de idade – ele completará 80 anos em agosto. O Cardeal Stella permanece no cargo até que o sucessor possa assumir.

Dia Mundial dos Pobres: ‘Sempre tereis pobres entre vós’ “Os pobres de qualquer condição e latitude nos evangelizam”, escreve o Papa Francisco, na mensagem para o 5º Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado em 14 de novembro. O texto foi publicado na segunda-feira, 14. Citando palavras de Jesus, “Sem-

pre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7), o Papa recorda que os pobres “têm muito a nos ensinar”. Ele reafirma que “somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a lhes emprestar a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos”.

Além de defender os pobres, Jesus “partilha com eles”, de modo que os pobres devem estar “no meio de nós”, não com indiferença, mas com partilha, escreve o Pontífice. Leia a mensagem completa no site www.osaopaulo.org.br. (FD)

Recusada a renúncia do Cardeal Marx na Alemanha Em uma carta em que se refere ao Cardeal Reinhard Marx como “irmão”, o Papa Francisco recusou sua renúncia ao governo da Arquidiocese de Munique, na Alemanha. A carta foi publicada na sexta-feira, 11. O Cardeal havia apresentado sua demissão do cargo em 4 de junho: mesmo sem estar ligado a nenhum

caso concreto, considerou que todos na Igreja são responsáveis pela gestão do problema dos abusos sexuais e de poder. Sob a gestão do Cardeal Marx, a conferência episcopal da Alemanha produziu um relatório que demonstrou, em 2018, milhares de casos em todo o país entre 1946 e 2014. O Papa agradeceu ao Arcebispo a

“coragem cristã que não teme a cruz, que não teme ser humilhado diante da tremenda realidade do pecado”, e pediu que continuasse “apascentando as ovelhas” na Arquidiocese de Munique. O Cardeal aceitou a decisão e disse que trabalhará com mais vigor para reformar as estruturas da Igreja na prevenção e no combate a todo tipo de abuso. (FD)

Papa reza pelo fim de crise humanitária de Tigray, na Etiópia Após a oração do Angelus, no domingo, 13, o Papa Francisco rezou pela “grave crise humanitária que expõe os mais pobres à fome” na região de Tigray, na Etiópia. O conflito armado começou em novembro do ano passado, quando o governo etíope lançou uma ofensiva militar contra a Frente da Libertação do Povo Tigray (FLPT), uma organização paramilitar – e partido político –, também considerada terrorista por organizações internacionais. A guerra começou quando a FLPT resistiu à tentativa do governo federal de ampliar seus poderes, perseguindo politicamente líderes locais e cortando orçamentos de áreas dominadas por outros partidos. Desafiado, o primeiro-ministro Abiy Ahmed ordenou uma ação militar em Tigray, que continua até hoje. Milhares de pessoas morreram e milhões estão desalojados por causa da guerra. A Etiópia é o segundo país mais populoso da África, com cerca de 115 milhões de habitantes. Historicamente marcado pela pobreza e pela violência, viu a situação se agravar no Norte, desestabilizando todo o “Chife da África”. “Rezemos juntos para que cessem imediatamente as violências, seja garantida a todos a assistência alimentar e sanitária, e se retome o quanto antes a harmonia social”, disse o Papa. “Por isso, agradeço a todos os que trabalham para aliviar o sofrimento do povo.” As Nações Unidas estimam que mais de 350 mil pessoas estejam passando fome na região. (FD)


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Luciney Martins/O SÃO PAULO

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Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, e os participantes da missa em ação de graças pelos 15 anos da Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria, no sábado, dia 12

‘É possível ser família conforme a vontade de Deus’ Destacou Dom Odilo, na missa pelos 15 anos da Comunidade Famílias Novas Fernando Geronazzo

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Em meio a uma experiência de perdão e reconciliação vivida após uma crise conjugal, em 2006, o casal Benedicto Carlos (Benê) e Maria Leonor Gatollini (Nonô) decidiu renovar o compromisso assumido diante de Deus no sacramento do Matrimônio. Desse propósito, nasceu uma iniciativa voltada a ajudar outras famílias a viverem sua vocação no mundo, por meio da oração e da vivência do Evangelho, sendo autênticas “igrejas domésticas”. Aos poucos, outras famílias desejosas da mesma experiência se aproximaram e formaram uma grande família de famílias. Assim nasceu a Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria. Quinze anos depois, esse carisma suscitado por Deus no coração de Benê e Nonô já alcança mais de 2 mil pessoas, com cerca de 200 missionários que atuam em várias dioceses, com o propósito de ajudar a transformar a família numa igreja doméstica. Para celebrar a ação de graças pelos 15 anos da comunidade, houve uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, na Catedral da Sé, no sábado, 12, memória litúrgica do Imaculado Coração de Maria. “Queremos fortalecer em cada lar a adesão concreta aos propósitos que Deus coloca para a família, inspirados no Evangelho, no Magistério da Igreja e na Tradição. Olhando para as nossas próprias dificuldades, percebemos que as famílias precisam de determinadas orientações e nós resolvemos fazer esta

ponte entre o que a Igreja ensina e as necessidades da família”, afirmou Nonô, que, com Benê, é mãe da Bárbara, do Lucas, do Mateus, do Tiago e da Gabriela. Igreja doméstica A missão da comunidade acontece em pequenos grupos, chamados domus (“casa”, em latim), em referência ao conceito de “igreja doméstica”. As famílias, então, abrem suas casas e convidam outras pessoas para participar. A partir daquela primeira reunião, essas famílias são convidadas a uma vivência eclesial mais intensa, por meio dos sacramentos, da vida de oração, da meditação da Sagrada Escritura, do estudo da doutrina da Igreja e da vida fraterna. Há núcleos de domus divididos por idades (bebês, crianças, jovens e adultos). Os momentos de oração, partilha e o “ágape”, como é chamada a convivência entre as famílias, fazem parte do roteiro dos encontros, com a ajuda de um subsídio preparado para cada momento, com temas específicos que tocam diretamente a vida e a convivência familiar. A missão da comunidade também acontece por meio de acampamentos para as famílias, missas, vigílias momentos de confraternização, retiros espirituais e formações para membros de todas as idades. Além disso, é realizado apostolado nas escolas e pelas mídias. Realizar a vontade de Deus Na homilia, o Arcebispo de São Paulo partiu da liturgia do dia para sublinhar que o coração de Nossa Senhora não foi corrompido pela mancha do pecado original, para se tornar morada digna de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Dom Odilo acrescentou que a Virgem Maria é imaculada pela graça de Deus e por sua adesão total à vontade divina. “Nossa Senhora em tudo procurou viver segundo a vontade de Deus, como

expressou na anunciação, ao dizer: ‘Façase em mim’”, ressaltou. O Cardeal acrescentou que, ao olhar para o coração imaculado de Maria, as famílias são chamadas a viver segundo a vontade de Deus. “Alguns até duvidam que a vida em família e o Matrimônio sejam possíveis. Há tantas coisas que corrompem o casamento e as famílias. Há tanta desorientação. Muitas famílias não sabem o que fazer”, salientou. Testemunho do Matrimônio Dirigindo-se aos membros da Comunidade Famílias Novas, Dom Odilo afirmou: “Vocês dão o exemplo de que é possível celebrar o casamento conforme a vontade de Deus, que se expressa em sua Palavra, no ensinamento da Igreja. Vocês testemunham que é possível se casar, viver o Matrimônio não sem dificuldades, mas não faltará a graça de Deus”. Referindo-se ao Evangelho do dia, que narra a cena da perda e do encontro do menino Jesus no templo de Jerusalém, o Arcebispo enfatizou que, assim como a sagrada família de Nazaré, as famílias cristãs devem levar seus filhos ao templo, à Igreja, para, desde cedo, conhecerem a casa do Senhor. O Cardeal meditou, ainda, que, assim como Maria e José, os pais têm a missão de zelar pela formação dos filhos. Nesse sentido, Dom Odilo encorajou os pais a batalhar pelo direito e o dever de educar os filhos segundo suas convicções religiosas e morais, evitando-se o risco de “terceirizar” sua formação. Inseridos na Igreja O Purpurado recordou que o amor requer sacrifício e coragem e, por isso, exortou: “Não tenham medo de ofertar sacrifícios a Deus pelos seus filhos e pelas famílias”. Reforçando a vocação da família como “igreja doméstica”, o Arcebispo su-

blinhou que a família não é a Igreja completa, por isso, precisa sempre se abrir à “família maior que é a comunidade eclesial, que se reúne em torno de Cristo”, como testemunha a Comunidade Famílias Novas por meio de seu carisma. Por fim, Dom Odilo lembrou que a Igreja vive o Ano da Família Amoris laetitia, convocado pelo Papa Francisco para comemorar os cinco anos de sua exortação apostólica sobre o amor na família. “Continuem a se alimentar desse ensinamento do Papa e serão sempre as famílias novas”, concluiu. Carisma missionário A Famílias Novas é uma comunidade católica de aliança, isto é, seus membros não residem em uma casa comunitária, mas em suas próprias residências e compartilham o mesmo carisma e missão a partir da realidade onde vivem. Canonicamente, a comunidade é reconhecida como uma associação privada de fiéis, com aprovação recebida pela Diocese de Campo Limpo, o que permite a atuação missionária em outras dioceses com a autorização de seus respectivos bispos. Atualmente, a comunidade está presente nas arquidioceses de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (DF), e nas dioceses paulistas de Santo Amaro, Santo André, Mogi das Cruzes, Osasco e Santos, além da Diocese de Anápolis (GO). De forma virtual, a comunidade alcança vários estados do Brasil e alguns países, como Chile, Costa Rica, Estados Unidos, Peru, Portugal e Uruguai. “Eis que as igrejas domésticas se erguem em todo canto, para nossa alegria e o bem maior da Terra de Santa Cruz”, afirmou o fundador, ao agradecer o empenho e a dedicação dos casais e jovens missionários da comunidade. Para conhecer mais a Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria, acesse: www.familiasnovas.com.br.


20 | Reportagem | 16 a 22 de junho de 2021 |

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CorUnum amplia ações para atenção integral às pessoas em situação de vulnerabilidade Paróquia Nossa Senhora do Brasil

Associação foi criada em 2020, em meio à pandemia de COVID-19, na Paróquia Nossa Senhora do Brasil

NÚMEROS DO CORUNUM EM MAIO 2 2 instituições beneficiadas e 19.242 pessoas atendidas, a partir do trabalho de 320 voluntários

Daniel Gomes

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7.105 sanduíches 3 .578 marmitas (1.129 produzidas na cozinha industrial e 2.449 nas casas de paroquianos e demais voluntários)

Há pouco mais de um ano, diante do avanço da pandemia de COVID-19 e do crescente aumento da fome entre as pessoas mais vulneráveis da sociedade, a Paróquia Nossa Senhora do Brasil, na Região Sé, se mobilizou para arrecadar alimentos, roupas e itens de higiene a serem doados. Surgia, assim, a associação CorUnum, nome que sintetiza a união de todos os paroquianos em um só coração para ajudar os irmãos. Apenas nos três primeiros meses de atividades, em 2020, foram arrecadadas 35 toneladas de alimentos e distribuídos 11 mil sanduíches, 4 mil marmitas e 5 mil peças de roupas. Frentes de ação Nos meses seguintes, mais pessoas e empresas passaram a colaborar com as iniciativas, fazendo com que fosse preciso organizar o CorUnum em frentes de atuação – ou braços, como chamam os organizadores –, todas mantidas por meio de trabalho voluntário e doações, com o objetivo comum de assegurar a dignidade integral daqueles que são ajudados e não apenas de lhes dar uma assistência pontual. A arrecadação de alimentos não perecíveis, itens de higiene, produtos de limpeza, roupas e cobertores continua a ser feita e está sob a responsabilidade do braço Doações e Logística. Outro braço da iniciativa é o Kitchen Cor, pelo qual são produzidas marmitas, de segunda a quinta-feira, em uma cozinha industrial, bem como nas casas de paroquianos e outros voluntários do CorUnum. Ainda referente à alimentação, no SanduCor famílias se organizam para, em suas casas, montar sanduíches com pão, queijo e uma proteína (mortadela, peito de peru, presunto ou apresuntado), que são entregues a quem mais precisa. A cada dois domingos, o grupo de jovens da Paróquia também participa da montagem dos sanduíches, que são doados à Aliança de Misericórdia e à Missão Belém. Os jovens ainda atuam no braço de Distribuição das doações. A atenção ao próximo, porém, vai além das obras de misericórdia de dar de comer a quem tem fome; de beber a quem tem sede e de vestir a quem tem frio. Por meio do Saúde Cor, cerca de 80 profissionais – entre médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, cuidadores – doam seu tempo para atender em projetos que acolhem pes-

823 cestas básicas 350 alimentos avulsos diversos 925 litros de leite 620 peças de roupas diversas 320 cobertores 448 kits de higiene 1 04 produtos de higiene e limpeza diversos

soas em situação de vulnerabilidade, como é o caso da Missão Belém. “Para nós, é tão importante aquele que doa uma hora de seu tempo a esses trabalhos como quem doa um ou dois dias de sua agenda aos atendimentos”, comenta uma das articuladoras do CorUnum, que, assim como os demais participantes, pede que não seja identificada, uma vez que fala em nome de todo o grupo. Há, ainda, o Kits Cor, que regularmente viabiliza a doação à Capelania Católica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas de kits de higiene pessoal e chinelos para pessoas internadas. Outra ação é o Juris Cor, no qual 20 voluntários têm auxiliado as entidades apoiadas em questões jurídicas e ajudado refugiados no Brasil a regularizar a documentação para permanência no País. Olhar integral Um dos mais recentes braços do CorUnum é o de Mentoria/Finanças, pelo qual se procura dar uma atenção integral à pessoa que é atendida, a fim de que possa planejar novos rumos de vida, o que passa pela autonomia financeira. A proposta está em prática por meio de uma parceria com o Espaço SEHR, mantido pelo renomado chef Rodney Caco, que tem ensinado imigrantes venezuelanas a fazer receitas simples e baratas da culinária brasileira e que podem ser facilmente comercializadas por elas, como brigadeiro, pão de mel e torta de frango. O primeiro grupo concluiu o curso este mês e cada uma das participantes terá uma mentoria para acompanhamento de seus passos na vida pessoal e financeira. “Não queremos que o CorUnum seja

só o fornecedor de cesta básica para essa pessoa que precisa, mas, sim, que ela possa contar conosco para questões de saúde e de espiritualidade também”, explica uma das participantes, destacando que partiu do Pároco, Padre Michelino Roberto, o pedido para que a associação entendesse melhor como ajudar os atendidos pelas instituições com as quais o projeto colabora. Aprendizados que inspiram Perguntados sobre o que explica o crescimento do projeto, os participantes são unânimes em afirmar que é a ação do Espírito Santo, e ressaltam que tudo tem sido possível graças ao apoio material da comunidade paroquial, bem como das orações em ação de graças por tudo que é recebido. Um dos braços do CorUnum inclusive é o Intercessão Cor, para orações por aqueles que estão nas ações e pelos que por elas são beneficiados. Outros braços são o Eventos Cor e o Curadoria Cor, pelos quais se planejam parte das ações. A experiência acumulada indica alguns caminhos do êxito do CorUnum. Um deles é a publicização das ações realizadas, sem que isso represente a exposição daqueles que são beneficiados. Desse modo, fotos, vídeos e cards com o balanço das ações podem ser encontrados no Instagram (@corunum_nsb). Outro aspecto é que o doador sabe efetivamente que aquilo que doou chegará ao destino final. “Por exemplo, se a pessoa deposita em nossa conta um valor com os centavos finais 01, sabemos que é um recurso específico para cesta básica, se for final 02 é para marmitas. Então, o dinheiro só será usado para comprar aquilo que o doador desejou.”

Os organizadores também avaliam que o fato de as instituições beneficiadas pelas doações já terem um reconhecido trabalho na dimensão caritativa é fundamental para a credibilidade do projeto. Por onde começar? Embora o CorUnum não tenha surgido com um formato pronto e esteja sempre aberto a novas ideias, a partir da conversa com os organizadores é possível mapear algumas atitudes fundamentais para os que desejam fazer algo parecido nas paróquias onde estão: 1) Pode-se começar por um pequeno grupo de pessoas – de duas a três – com vontade e disponibilidade para a ação, ainda que não saibam bem sobre tudo a ser feito; 2) A primeira ação pode ser simples e direta, como uma mobilização para a doação de alimentos não perecíveis; 3) É indispensável que a iniciativa tenha o apoio do pároco, a fim de que ele motive toda a comunidade a participar; 4) A instituição a ser beneficiada com as doações precisa ser alguma já reconhecida por aquilo que faz em favor do próximo; 5) Desde o primeiro momento, deve-se registrar e organizar todas as doações recebidas, para que se possa prestar contas depois e, assim, manter a credibilidade da Paróquia e da iniciativa.

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| 16 a 22 de junho de 2021 | Com a Palavra | 21

Dra. Crisleine Yamaji

‘Não forneça seus dados pessoais sem antes saber o que será feito com eles’ REDAÇÃO

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Até agosto deste ano, todas as instituições do Brasil precisarão adequar suas políticas de gestão dos dados que coletam das pessoas. É o que estabelece a Lei 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde setembro do ano passado e que visa à proteção dos direitos fundamentais de liberdade e privacidade dos cidadãos. Em entrevista ao programa “Em Família”, da rádio 9 de Julho, Crisleine Yamaji, doutora em Direito Civil, falou sobre o que muda na prática com a nova legislação e alertou sobre atitudes que cada pessoa pode adotar para proteger os próprios dados e não ser vítima de golpes. Leia a seguir alguns trechos da entrevista concedida à radialista Cidinha Fernandes. A íntegra pode ser ouvida no link: https://cutt.ly/xnFYqCe. O que é a Lei Geral de Proteção de Dados e quais mudanças ela traz? Crisleine Yamaji – A Lei Geral de Proteção de Dados traz todo um conceito de que os dados pessoais são aquelas informações que nos identificam, como o CPF, RG e nome. E há a questão dos dados sensíveis, que é quando nos perguntam sobre nossa origem racial, étnica, convicção religiosa, opinião política ou filiações partidárias, opções referentes à saúde. Esses dados são tratados de forma mais rigorosa que os próprios dados pessoais que nos identificam. Esse tratamento de dados envolve uma série de ações e operações de conduta daqueles que os detêm, já que podem ser usados para o bem ou para o mal. Muitas vezes, os dados são coletados para ofertas ou vendas de serviços, mas tempos depois de você ter passado um dado, começa a receber ligações de telemarketing pra ofertar produtos. Então, você forneceu seus dados em algum lugar, aquilo foi cadastrado e foi vendido para um terceiro interessado em saber o seu padrão de consumo, por exemplo. Essa venda de dados está de acordo com a lei? Esse tipo de venda de dados só pode ser feita com o consentimento do titular ou a partir de uma base legal que a fundamente. Por exemplo: pode ocorrer se eu assino o contrato de alguma loja em que vou fazer meu crediário e se nele houver uma cláusula em que eu autorize eventualmente o uso dos meus dados para fins comerciais com parceiros dessa loja. Assim, sem perceber, eu estou permitindo o uso dos dados. É

sempre importante entendermos quem é o responsável por esses dados, para que possamos controlar para onde irão, pois ao responsável compete uma série de decisões em relação a eles. Inclusive, a partir da LGPD, eu posso cobrar de quem coletou meus dados que os exclua se eu assim desejar. E como funciona esse pedido de exclusão de dados? A solicitação pode ser feita diretamente ao controlador dos dados. Suponhamos que eu tenha meus dados cadastrados em um grande comércio onde fiz um crediário. A partir deles, a empresa passa a me enviar promo-

ber se o prestador tem um encarregado que vai cuidar desse dado, para que, se preciso, eu possa reclamar e até mesmo pedir que seja excluído da base que ele mantém. Além disso, a ANPD recebe reclamações por falta de tratamento adequado dos dados. Quais comportamentos posso ter para me precaver de golpes? A primeira coisa é: não forneça seus dados pessoais sem antes saber o que será feito com eles. Temos esse descuido com frequência quando entramos em um site, vamos preenchendo dados, colocamos nossa foto, passamos o nosso número de RG. Não nos atenArquivo pessoal

ções via celular, e-mail. Nessa mensagem, deve haver uma opção para que eu não as receba mais ou, em último caso, posso me dirigir diretamente ao encarregado pelos dados e exigir o direito de ser excluído de sua base para não receber mais esse tipo de contato. Além disso, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que é o órgão responsável por aplicar a LGPD, pode ajudar nessa proteção dos dados, caso a situação não se resolva. Como, porém, proteger os dados pessoais se eles são pedidos em todos os lugares? É verdade, eu mesma já vi farmácia pedindo foto e biometria das pessoas só para dar 10% de desconto em um remédio. O que temos de nos certificar é: quem pediu o nosso dado e por quê? E, se o dermos, exigir que o prestador de serviço mostre sua política de privacidade, na qual deve estar claro como o nosso dado será usado, bem como sa-

tamos que essas informações podem ser fraudadas para, por exemplo, pedir empréstimos em nosso nome ou criar cartões. A regra é tomar cuidado com o modo com que damos os nossos dados e para quem. É preciso se conscientizar de que hoje existem diversas formas de engenharia social e tecnologias capazes de furtar dados e usá-los de forma inadequada. No ambiente virtual, há cuidados específicos que eu posso adotar? Sim. Quando for fazer uma compra em lojas virtuais, por exemplo, é preciso uma série de cuidados. Também há algumas mensagens que chegam pelo WhatsApp que nos levam a fazer uma transferência imediata via Pix. Então, é preciso ter o cuidado de saber quem é a outra parte que vai receber. Se alguma coisa parecer estranha na mensagem, é melhor não fornecer os dados. O uso do cartão virtual para compras

on-line é uma boa maneira para se proteger dos golpes? Atualmente, todos os aplicativos de banco têm uma forma de cartão virtual, aquele que você usa uma única vez só para uma determinada compra. Isso é bem mais seguro do que comprar com seu próprio cartão na internet. O banco ou as próprias operadoras de cartões têm um aplicativo em que se pode acompanhar uma fatura, as informações do cartão. Quando você acessa esse aplicativo, geralmente na parte de cartões aparecerá a opção “gerar cartão virtual”. O cartão gerado terá uma sequência numérica apenas para uma compra específica. Assim, quem tentar fraudar seu cartão não conseguirá. Como eu consigo saber se um dado meu foi vazado? Geralmente só sabemos quando a fraude acontece ou quando alguém denuncia um vazamento. Por exemplo: quando há um vazamento de dados bancários ou quando vazam dados de empresa de consumo. O Banco Central tem um sistema chamado Registrato, em que cada pessoa pode colocar o próprio CPF e verificar se alguém abriu contas em seu nome ou se alguma fraude aconteceu. Também o Procon atua nessa proteção ao consumidor e, mais recentemente, a ANPD. Por exemplo: se uma farmácia obteve meus dados e está usando isso de modo irregular, meu primeiro contato é com ela, para que a situação se resolva. Se não for resolvido, eu posso fazer uma denúncia, uma reclamação na ANPD, que passará a exigir esclarecimentos dessa farmácia e que ela resolva a questão. No geral, a resolução pela internet tem acontecido de modo rápido. Portanto, se você souber de uma loja que esteja usando seus dados indevidamente, entre no site dela, busque pela política de privacidade, veja o endereço do e-mail para contato e apresente o problema. Se não houver solução, acione a ANPD. Quem gerou o vazamento de dados será punido de alguma forma? Sim. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados tem avaliado diferentes graus de penalidade. Além disso, caso haja alguma fraude ou algum prejuízo, inclusive danos patrimoniais ou morais, a pessoa afetada pode recorrer a meios cíveis para cobrar uma indenização adequada. Todos os controladores têm que ter uma política de privacidade e um armazenamento adequado dos dados, precisam designar um responsável pela gestão dos dados e para se relacionar com o público que os oferece, a fim de que também receba as eventuais reclamações. (Edição da entrevista: Daniel Gomes/O SÃO PAULO)


22 | Reportagem | 16 a 22 de junho de 2021 |

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Governo do Estado de São Paulo

Vacinar-se: gesto ético e de caridade cristã

Na capital paulista, mais de 104 mil pessoas estão com a 2ª dose da vacina contra a COVID-19 em atraso; no Brasil, número é de 4 milhões

Para o seu bem e de toda a comunidade, tome as duas doses da vacina contra a COVID-19 Daniel Gomes

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Com a aquisição de mais vacinas contra a COVID-19 pelo Ministério da Saúde, a campanha de imunização para o combate da doença avança e mais de 26% da população do Brasil já recebeu a 1ª dose. No estado de São Paulo, a previsão é que até a metade de setembro toda a população já tenha recebido ao menos uma dose do imunizante. A imunização completa contra a COVID-19, porém, só é assegurada duas semanas após a pessoa ter recebido a 2ª dose da vacina. Atualmente, no Brasil, essa é a situação de cerca de 11% da população, mas tal percentual poderia ser maior, uma vez que mais de 4 milhões de pessoas que receberam a 1ª dose não retornaram para completar a imunização. No estado de São Paulo, até o dia 10, um total de 359 mil pessoas estavam em atraso com a 2ª dose, das quais 104,8 mil na capital paulista. De acordo com o médico infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, é indispensável que cada pessoa receba as duas doses da vacina, “para que o organismo produza uma resposta protetora, ou seja, aquela capaz de evitar que a pessoa morra caso se contagie”. Proteção individual e coletiva Suleiman ressalta que, quando uma comunidade inteira ou boa parte dela está vacinada, há maior dificuldade para a circulação do vírus, o que

dá mais proteção, mesmo para aqueles que ainda não se vacinaram contra a COVID-19, como é o caso das crianças, por exemplo, para as quais ainda não há previsão para essa vacinação. “A função da vacina é evitar que você morra da doença. Contágio pode ocorrer, mas as formas da doença serão leves ou moderadas. Não existe vacina que dê 100% de proteção a quem a toma. A imunização, porém, não é um ato que interessa só para você, mas também para a sua família, para o seu bairro, a sua comunidade”, comenta. O infectologista explica que, quando a maioria de uma população está vacinada, o que passa a circular é o vírus vacinal, sobre o qual há controle quanto aos efeitos, diferentemente do vírus selvagem, que pode ter constantes mutações, levando a uma maior capacidade de transmissão. “Quando a pessoa é vacinada, ela produz anticorpos, deixa de ter o risco de morrer da doença, e, se a comunidade inteira está vacinada, cria-se barreira sanitária para que o vírus selvagem não circule”, detalha. A procura pelos que não se vacinaram Esquecimento da data para tomar a 2ª dose, desinformações sobre a eficácia das vacinas e medo de reações adversas do imunizante têm sido apontadas pelas autoridades da área da Saúde como possíveis causas para que as pessoas não estejam retornando aos locais de vacinação para completar a imunização contra o coronavírus. Em São Paulo, a Secretaria Mu-

nicipal da Saúde (SMS), por meio do Plano Municipal de Imunizações, tem intensificado a busca ativa dos munícipes que estão com a 2ª dose em atraso. Há algumas semanas, estavam nessa condição 197 mil pessoas. Na quinta-feira, 10, este número já havia sido reduzido para 104.885 pessoas. “Mais de 10 mil profissionais da Saúde foram mobilizados para vacinação e busca ativa de pessoas que ainda não haviam tomado a 2ª dose contra a doença”, informou a SMS à reportagem. A secretaria detalha que o trabalho se inicia com a busca, no sistema Vacivida, da relação de pessoas que ainda não receberam a 2ª dose do imunizante. Depois, “é realizado o georreferenciamento entre o endereço do munícipe e a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima dele e, então, os profissionais da unidade entram em contato com a pessoa para orientá-la sobre a importância da vacinação correta e verificar os motivos da abstenção. As UBS que possuem equipes do programa Estratégia Saúde da Família também fazem parte deste trabalho. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), em suas visitas casa a casa, alertam a população da importância da imunização correta com as duas doses e, também, monitoram os pacientes que não tomaram nenhuma das doses ou apenas a 1ª dose. Os médicos e enfermeiros também realizam o alerta durante atendimento médico”, afirma a pasta, apontando, ainda, que o sistema Vacivida avisa ao munícipe, via celular, sobre a chegada do prazo para a tomada da 2ª dose.

Em uma nota conjunta em dezembro de 2020, a Comissão Vaticana COVID-19 e a Pontifícia Academia para a Vida alertam que “a recusa da vacina pode também constituir um risco para os outros”. Além disso, a recusa em se vacinar pode aumentar seriamente os riscos para a saúde pública, uma vez que há pessoas impedidas de se vacinar e que dependem da vacinação das outras para que se alcance a imunidade do grupo. E ainda, “ao nos infectarmos por falta de vacinação, isso resultará no aumento de hospitalizações com a consequente sobrecarga dos sistemas de saúde e seu possível colapso”, de modo que “acolher a vacina não é só uma questão de nossa própria saúde, mas, também, uma ação em nome da solidariedade com os demais, especialmente os mais vulneráveis”. Em janeiro deste ano, o Papa Francisco, em entrevista a uma tevê italiana, exortou que todos se vacinem contra a COVID-19 quando puderem: “É uma opção ética, porque está em jogo a sua saúde, mas também a dos outros. Se os médicos nos apresentam a vacina como algo bom, sem grandes efeitos negativos, por que não tomar?”. O Pontífice recordou memórias de sua infância, quando as pessoas faziam fila para se vacinar contra a poliomielite, causadora da paralisia infantil. Para o Pontífice, rejeitar as vacinas “é um negacionismo suicida que eu não sei explicar”. (DG)

As vacinas contra a COVID-19 provocam efeitos adversos? A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) informa em seu site que os registros adversos referentes às vacinas aprovadas contra a COVID-19 em todo o mundo são apenas “de casos leves a moderados” e que os três imunizantes com duas doses já aplicados no Brasil – CoronaVac, Pfizer e AstraZeneca/Oxford – “apresentam um perfil de segurança semelhante ao das outras que utilizamos há anos. Elas não causam efeitos colaterais importantes na maioria das pessoas que as recebem. Os eventos mais comuns são dor no local da injeção e febre. Outros sintomas menos comuns são cansaço, mialgia e dor de cabeça, que cessam em poucos dias”. Ainda de acordo com a SBIm, “reações alérgicas são incomuns, mas podem ocorrer após qualquer vacina, sendo essencial que a aplicação se dê em locais capacitados para detectar os primeiros sinais e prestar pronto atendimento”.


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| 16 a 22 de junho de 2021 | Fé e Vida | 23

Santa Sé autoriza a abertura do processo de beatificação da Irmã Rosita Paiva Instituto Josefino

Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, autorizou o processo de beatificação de Rosita Paiva (foto). A religiosa nasceu em 13 de março de 1909, em Lábrea, no Amazonas, filha de Alexandre Muzzio Paiva e Virgínia Menezes Paiva. Rosita sempre sonhou com a vida religiosa. Ela conheceu, em 1949, o Monsenhor Luís de Carvalho Rocha, na época, Cura da Catedral Metropolitana de Fortaleza (CE). Ele foi o orientador e pai espiritual de Rosita. Fundadora do Instituto Josefino, a Religiosa destacou-se, durante sua vida consagrada, pela confiança ilimitada à Divina Providência e obediência à Igreja. Confiança na Divina Providência Em entrevista ao O SÃO PAULO, Irmã Maria Bernardete Gonçalves de Paula, 68, Superiora-geral da Congregação das Irmãs Josefinas, disse que a congregação recebeu a notícia com muita alegria, entusiasmo e surpresa, porque a resposta veio rapidamente. “A espera foi, em média, de um ano, e obtivemos a resposta da Congregação para a Causa dos Santos em três meses. A alegria é imensa, como também a responsabilidade, pois a resposta se torna um convite a trilharmos o mesmo caminho de santidade de Irmã Rosita”, disse Irmã Maria Bernardete. A Superiora disse ainda que o que marca a vida de Irmã Rosita é seu testemunho de santidade a partir de simplicidade e doação incondicional. “É um estímulo para o povo de Deus de que a santidade é possível em qualquer tempo, lugar e estado de vida”, afirmou. Irmã Maria Bernardete disse ainda que a amazonense foi uma pessoa orante, amável, compassiva e misericordiosa. “Tinha forte espírito de fé e de caridade, ardor missionário, obediência à vontade de Deus, confiança na Divina Providência, grande amor e zelo pelos sacerdotes e amor incondicional aos pobres”, salientou. Simplicidade e amor Olga Gomes de Paiva, prima em segundo grau de Irmã Rosita Paiva, foi educada pela mãe de Rosita dos 2 anos e meio até cerca de 20 anos de idade. “Estudei no colégio fundado por ela a minha vida inteira e me sinto privilegiada por ter uma

relação tão próxima a ela”, disse, em entrevista à reportagem. Olga recorda-se de Irmã Rosita como uma pessoa justa, piedosa, cheia de amor e de fé em Deus e que acreditava profundamente na providência divina. “Ela era a maior referência em termos de justiça e amor por onde passava. Inclusive na família. Quando cheguei a Lábrea, no Amazonas, ela não morava mais lá, mas continuava a ser uma presença luminosa para todos. No colégio, tivemos uma formação baseada no conhecimento científico e na fé, nos valores cristãos”, disse. A prima comentou, ainda, que nunca teve dúvidas de que estava diante de uma santa: “Tínhamos a certeza de estar diante de alguém que foi agraciada por Deus. Estamos muito felizes em saber que ela é serva de Deus e vamos trabalhar para que a Igreja reconheça sua santidade, pois ela, de fato, seguiu os ensinamentos do Evangelho”. Sobre a convivência com Irmã Rosita, Olga recordou-se de um ambiente muito feliz no colégio, junto com as religiosas que eram orientadas por Irmã Rosita. Tínhamos teatro, festas, eventos e ela salientava que a educação não é só conhecimento científico, mas a possibilidade de trabalhar pelo bem comum.

Além disso, ela era despojada de tudo, mostrando-se sempre uma pessoa muito simples e comprometida com a vida religiosa para a qual fora chamada. Instituto Josefino O Instituto Josefino, uma Família de Vida Consagrada Religiosa, foi fundado em Fortaleza (CE), no dia 4 de janeiro de 1933, pelo Monsenhor Luís de Carvalho Rocha, Rosita Paiva e Dom Antônio de Almeida Lustosa. As primeiras constituições foram aprovadas ad experimentum, em 1950, por Dom Antônio de Almeida Lustosa. Em 25 de maio de 1963, o instituto recebeu o Nihil Obstat da Santa Sé, autorizando a sua ereção canônica diocesana. Em 6 de janeiro de 1964, foi oficializado como Instituto Religioso de Direito Diocesano, por Dom José de Medeiros Delgado, então Arcebispo de Fortaleza. Em 1949, o instituto teve seus estatutos reconhecidos civilmente como “Sociedade Educacional e Beneficente São José”. A finalidade do instituto é a glória de Deus, o bem da Igreja, a santificação dos seus membros, pela vivência da Palavra de Deus e observância dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, na defesa da fé e da vida, até o martírio.

Liturgia e Vida 12º Domingo do Tempo Comum 20 de junho de 2021

‘Jesus estava dormindo’ Padre João Bechara Ventura O Evangelho mostra Jesus sempre desperto. Passa noites rezando e, antes de o sol nascer, já está em oração. Repreende o cochilo dos apóstolos, incapazes de rezar por uma hora, e lhes recomenda vigiar e orar constantemente! A única vez em que o Senhor dorme no Evangelho coincide com um momento de dificuldade dos apóstolos: “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, que já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro” (Mc 4,37s). Com tristeza, eles se sentiam abandonados pelo Mestre: “Estamos perecendo e Tu não te importas?” (Mc 4,38). A travessia “para a outra margem” (Mc 4,35), através de um mar tempestuoso, é comparável à viagem que a Igreja realiza, ao longo dos tempos, rumo ao Reino eterno. O mar é o mundo confuso, repleto de erros e de pecados, que quase leva a pequena nau a pique. Os ventos são as adversidades que atemorizam e fazem a tripulação desconfiar do Comandante. Jesus dorme num “travesseiro”; Ele, que é a Cabeça, parece estar apartado e indiferente à sorte do Corpo Místico… “Mas, não! Não dorme nem cochila Aquele que guarda Israel” (Sl 121,4). O sono do Senhor remete a seu silêncio na Eucaristia. No sacrário, parece “dormir” enquanto há guerras, revoluções, pestes e carestias. Parece “não se importar” com jogos palacianos de governantes e de eclesiásticos, com sacrilégios, apostasias e injustiças. O Senhor, porém, permite a tribulação somente até certo ponto. Não deixa que sejamos provados além das forças que Ele mesmo nos dá. Faz isso em vista de um bem maior: para que tenhamos uma fé pura e aprendamos a confiar somente Nele. Cedo ou tarde, a tempestade será silenciada num instante. Ele resolverá o que era humanamente impossível e retribuirá com justiça, conforme as obras e o coração de cada um. Por isso, diz: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40). Também nossas vidas são uma “travessia” em direção ao Céu: navegamos da carne para a graça; do pecado para a salvação; da morte para a vida eterna. São Paulo nos adverte, portanto, a não sermos inconstantes como “crianças batidas pelas ondas e arrastadas por qualquer vento de doutrina” (Ef 4,14). É preciso que olhemos para Jesus, invoquemos Jesus, confiemos somente em Jesus. Ao fixarmos o olhar sobre as adversidades, ao imaginarmos possíveis perigos do futuro ou nos lamentarmos dos males, começamos a afundar em meio às ondas, como São Pedro. Nesse percurso, a curiosidade sem fim pela “informação” (nova idolatria), as “discussões contínuas de homens de mente corrompida” (1Tm 6,5), o hábito de reclamar do mundo e da vida e a intemperança nas redes sociais digitais são fontes de tempestades interiores! Perturbam a alma, impedem-na de se voltar para Deus, retiram a paz e o fervor. Unidas à falta de oração, essas atitudes entregam o homem a seus medos, paixões e ao próprio demônio. É hora de romper com elas e gritar: “Senhor, salva-nos!” Em nossa alma haverá uma grande calmaria.


24 | Publicidade | 16 a 22 de junho de 2021 |

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