Semanário da Arquidiocese de São Paulo
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ano 66 | Edição 3351 | 23 a 29 de junho de 2021
Editorial A verdadeira liberdade interior dirige a nossa vontade para amar a Deus
Página 4
Encontro com o Pastor
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Dom Eduardo expressa gratidão ao se despedir da Arquidiocese Luciney Martins/O SÃO PAULO
A Igreja é testemunha de Jesus e missionária do Evangelho
Página 2
Espiritualidade Pela ação do Espírito Santo, o cristão traz em si os traços de Cristo
Página 5
Liturgia e Vida A morte é uma passagem necessária a que estamos submetidos
Página 23
Opinião A família deve ser a primeira a educar os que nela são gerados ou abraçados Página 4
Dom Eduardo Vieira dos Santos preside missa na Catedral da Sé, em ação de graças por seu ministério na Arquidiocese de São Paulo, dia 20 Paulinas Comep/Divulgação
Dom Eduardo Vieira dos Santos se despediu da Arquidiocese no domingo, 20, em uma missa por ele presidida na Catedral da Sé. Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal na Região Sé desde 2015, ele foi nomeado pelo Papa Francisco como Bispo Diocesano de Ourinhos (SP), onde tomará posse no dia 3 de julho.
Papa pede a idosos que transmitam a fé aos jovens e às crianças
Padre Zezinho inspira gerações com seu testemunho de fé O SÃO PAULO destaca a trajetória do Sacerdote que, aos 80 anos, evangeliza por meio de suas canções, escritos e coerência de vida.
Página 18
O Arcebispo Emérito de São Paulo e Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia recebeu o título, no dia 17, por sua defesa dos povos amazônicos. Página 23
Página 17
Universidade confere título de Doutor Honoris Causa ao Cardeal Hummes
Página 9
CNBB e Iphan fazem parceria pelo zelo do patrimônio cultural da Igreja Página 19
Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos oferece jantar aos ‘irmãos da rua’ Página 10
Liberdade religiosa é tema de atenção do clero do Brasil A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) realizou na terça-feira, 22, um evento on-line para apresentar aos clérigos do Brasil os dados do Relatório Liberdade Religiosa no Mundo 2021. Segundo o estudo publicado em 20 de abril, um em cada três países do globo sofre algum tipo de violação de liberdade religiosa. A ACN ressalta que tais violações não se limitam às perseguições violentas, mas também se manifestam por atos de intolerância e discriminação, podendo chegar ao genocídio. O pedido aos clérigos é que ajudem na promoção do diálogo e respeito às diferenças.
Páginas 11 a 14
“Parto feliz, tranquilo, sereno e já com saudades, pois aprendi a amar e a querer bem a cidade de São Paulo, a Igreja que aqui está”, afirmou Dom Eduardo, ao agradecer ao povo da Arquidiocese, recordando que, há 33 anos, foi acolhido na capital paulista, onde foi ordenado diácono, padre e bispo.
ACN
Cristãos são perseguidos, alvos de intolerância e mortos em países de diferentes continentes
2 | Encontro com o Pastor | 23 a 29 de junho de 2021 |
cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo
A
preparação da Conferência Eclesial da América Latina e do Caribe é um convite a voltarmos ao Documento da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, conhecida como Conferência de Aparecida, realizada em maio de 2007. O documento, fruto do trabalho prolongado de preparação e de mais de duas semanas de intenso trabalho daquela assembleia reunida, trouxe uma série de intuições e impulsos novos para a vida da Igreja em nosso continente, e o Papa Francisco pede que voltemos a eles, pois ainda continuam válidos e necessários para a renovação da Igreja. Uma das questões que perpassam todo o Documento de Aparecida é a conversão, entendida como atitude pessoal, eclesial, pastoral e missionária. O chamado à conversão está presente na palavra dos profetas do Antigo Testamento e na pregação pública de Jesus e dos apóstolos: “O Reino de Deus chegou, convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc
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Igreja em processo de conversão 1,15). Jesus chama a voltar-se para Ele, dar atenção à sua presença e sua pregação, acolher o Evangelho e mudar de vida e de direção. O chamado à conversão requer abertura e atenção ao novo que se apresenta e mudança de atitude. Esse significado de conversão aparece no Documento de Aparecida quando se diz que o discipulado requer constante conversão pessoal e comunitária, para estarmos em sintonia com o Evangelho e com a missão que Jesus Cristo confiou a cada um de nós e à Igreja inteira. O seguimento de Cristo, quando é verdadeiro, deixa marcas na vida pessoal e social. A vida cristã requer constante conversão a Cristo e a Deus, abandono dos vícios e pecados, para que, com a graça de Deus, seja moldado mais e mais em nós o “homem novo”, à semelhança de Jesus Cristo. Até aqui, nada de novo, a não ser a renovação do apelo à conversão aos cristãos e à Igreja toda. No entanto, o Documento de Aparecida vai além e chama a Igreja da América Latina e do Caribe a uma profunda “conversão pastoral”. E só vamos entender o que isso significa se levarmos em conta outro
chamado forte no documento: passar da pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. A pastoral de conservação, ou manutenção, ocupa-se de maneira preponderante com o cuidado daquilo que a Igreja já fez e realizou. Em outras palavras, tem o olhar voltado para as “ovelhas” que já estão perto do Bom Pastor, não dando atenção àquelas ovelhas, sempre mais numerosas, que se afastaram ou que nunca estiveram perto do Bom Pastor. A pastoral de conservação, apenas, pode levar a Igreja a perder vitalidade, a envelhecer e perder o passo da história. Uma das preocupações da Conferência de Aparecida foi o abandono da Igreja Católica por muitos fiéis e a perda de contato com os jovens e com o mundo em mudança acelerada. A conversão pastoral requer, portanto, uma avaliação sobre os focos de preocupação e ação da Igreja, dos seus métodos pastorais e a busca e confrontação com os novos horizontes da evangelização. Foi dito, em Aparecida, que a conversão pastoral deve levar ao abandono de velhas práticas pastorais, que já não são mais eficazes, discernindo sobre novos métodos e
práticas, sempre na fidelidade à missão recebida pela Igreja. O Documento de Aparecida vai ainda além, dizendo que a conversão pastoral também deve ser missionária. As mudanças na Igreja precisam incluir, decididamente, a dimensão missionária, e isso não é nada novo, mas um retorno à primeira vocação da Igreja: ela é uma comunidade missionária, que recebeu o encargo de proclamar e testemunhar, de muitas maneiras, o Evangelho de Cristo no meio do mundo. Ela existe e vive para a missão e, portanto, a conversão missionária da Igreja e de cada cristão leva à própria razão de ser da Igreja. Ela deve ser missionária em tudo o que é e faz. Temos ainda muito a fazer para passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral centrada na missão. Na sua primeira fala ao colégio cardinalício, após a sua eleição na Capela Sistina, o Papa Francisco referiu-se a isso: a Igreja não pode se contentar em ser “uma ONG do bem”. Ela é testemunha de Jesus Cristo e missionária do Evangelho do Reino de Deus no meio do mundo. E isso requer de todos nós um grande esforço de “conversão missionária”.
Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: S.A. O ESTADO DE S. PAULO • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222• Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.
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Arquidiocese prepara a Missão de Férias dos seminaristas José Ferreira Filho
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Na quinta-feira, 17, houve uma reunião on-line para tratar da programação da Missão de Férias dos seminaristas, atividade que acontece anualmente como parte do programa formativo dos futuros sacerdotes da Arquidiocese de São Paulo. O encontro virtual contou com a participação de Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, de Dom Ângelo Mezzari, Bispo Auxiliar e Referencial para as Vocações, dos formadores dos seminários – Padres Adeíldo Machado, Frank de Almeida e Cícero Alves de França –, do Padre José Carlos dos Anjos, responsável pela Pastoral Vocacional, do Padre Kiko Argüello, do Caminho Neocatecumenal, e de alguns vocacionados. MOTIVAÇÃO O propósito da atividade, que sempre
acontece nas férias de inverno e este ano será de 5 a 8 de julho, é estimular nos seminaristas a nova cultura missionária da Igreja, proporcionando-lhes o contato com realidades diversas para que conheçam e aprendam na prática os desafios missionários. Desta vez, em virtude da pandemia, os seminaristas não irão a campo, justamente para evitar qualquer possibilidade de risco à saúde. Essa condição, porém, não impedirá que aconteçam momentos importantes de formação missionária por meio de palestras, testemunhos, partilhas, plenários e exibição de filmes, com a participação de todos, porém com cada turma em sua própria casa, conectados por meio de uma plataforma virtual que permitirá o contato e a troca de experiências em tempo real. PROGRAMAÇÃO A programação ao longo dos dias inclui a abordagem de diversos assuntos,
como as fontes da fé da Igreja em São Paulo e a importante contribuição dos jesuítas na formação religiosa da metrópole, com os Padres Ney de Souza, professor de História da Igreja no Brasil na PUC-SP, e Carlos Alberto Contieri, SJ, Superior Provincial dos Jesuítas e responsável pelo Pateo do Collegio. No segundo dia, testemunhos e partilhas de vivências missionárias na Amazônia, com Dom Mario Antônio da Silva, Bispo de Roraima, e Dom Adolfo Zon Pereira, Bispo de Alto Solimões (Tabatinga), região da floresta na fronteira com a Colômbia e o Peru, e, também, a experiência missionária no México, com Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar de São Paulo. Uma palestra sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe será ministrada por Dom Odilo na manhã do terceiro dia de atividades, seguida de testemunhos missionários
na parte da tarde, com as presenças do Padre Gianpietro Carraro, da Missão Belém, e sua experiência missionária no Haiti; e do Padre André, da Aliança de Misericórdia, e o trabalho missionário desenvolvido em Maputo, Moçambique. Todas as atividades contarão com intervalos em que será possível aos seminaristas fazer perguntas e trocar ideias, bem como se preveem plenários para cada uma das turmas, para que possam externar as impressões que vão colhendo ao longo das exposições, além da exibição de um filme com temática relacionada ao que foi tratado ao longo de cada dia. Por fim, no quarto e último dia, haverá uma avaliação a respeito do que foi vivenciado nessa missão, seguida de uma confraternização em cada uma das casas de formação como despedida e preparação para as férias propriamente.
Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 08/06/2021, foi nomeado e provisionado Vigário Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, no bairro da Liberdade, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Paolo Parise, CS. POSSE CANÔNICA: Em 12/06/2021, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Cristo Rei, no bairro Tatuapé, na Região
Episcopal Belém, ao Reverendíssimo Padre Lauro Wisnieski. DECRETO DE NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 12/06/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Cristo Rei, no bairro Tatuapé, na Região Episcopal Belém, o Reverendíssimo Padre Lauro Wisnieski, pelo período de 06 (seis) anos. Em 04/06/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Reprodução
Mãe de Jesus, no bairro do Jardim Celeste, na Região Episcopal Ipiranga, o Reverendíssimo Padre Anderson Fernandes Tostes, SJS (na vida religiosa com o nome de Padre Myguel do Menino Jesus Fernandes Tostes, SJS), pelo período de 06 (seis) anos. Em 08/06/2021, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Pessoal Italiana São Francisco de Assis e Santa Catarina de Sena, no bairro da Liberdade, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Paolo Pari-
se, CS, pelo período de 06 (seis) anos. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE MEMBRO DA COMISSÃO DE COORDENADORES DE SETORES PASTORAIS: Em 02/06/2021, foi nomeado e provisionado como Membro da Comissão de Coordenadores de Setores Pastorais da Região Episcopal Santana, para o Setor Jaçanã, o Reverendíssimo Padre Luis Izidoro Molento, pelo período de 03 (três) anos. Reprodução
4 | Ponto de Vista | 23 a 29 de junho de 2021 |
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Editorial
Alcançando a felicidade
U
ma das maiores dificuldades que se apresentam aos que se esforçam por anunciar aos homens de nosso tempo o Evangelho de Cristo é aquela associação instintiva, no imaginário popular, de toda religião ao “não pode”, às supostas proibições arbitrárias que cerceariam nossa liberdade e impediriam a tranquila fruição da vida... O enfrentamento desta questão passa por compreender bem o que é, afinal, a liberdade, e qual sua relação com a felicidade. Para o mundo moderno, a liberdade seria a “licença de fazer seja o que for (...) contanto que agrade” (Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 17). Como consequência, qualquer lei que condicione o agir é vista como algo negativo, a ser tolerado como um “mal menor”, preferível à anarquia. A visão cristã sobre o homem, no
entanto, propõe como “liberdade verdadeira” não a mera possibilidade fática de eleger qualquer dado comportamento, senão o processo pelo qual o homem, “libertando-se da escravidão das paixões”, ordena seus desejos e se torna capaz de alcançar o bem (Ibidem). Nesse sentido, dizemos que Pelé e Ayrton Senna gozavam de uma liberdade única no futebol e no automobilismo: conseguiam manipular com mestria a bola e o carro. O que lhes permitiu alcançar, porém, esta capacidade foi justamente o terem-se submetido a horas e horas de treinos incansáveis e de estudo das técnicas de jogo e do traçado das pistas. Para nós, cristãos, portanto, a lei não é inimiga da liberdade – antes, a lei, como corporificada nos mandamentos, é “a primeira etapa necessária no caminho para a liberdade” já que “a primeira liberdade — escreve Santo Agostinho — consiste em estar isento
de crimes” (São João Paulo II, Veritatis splendor, 13). No ensinamento que transmitiu a seus discípulos, no entanto, Nosso Senhor não se limitou à Antiga Lei. Especialmente no Sermão da Montanha, o Decálogo de Moisés teve, por um lado, sua validade perene confirmada, mas foi também, por outro lado, elevado a um nível superior de perfeição. “Mas não havia já leis o bastante?” – alguém poderia perguntar. A melhor resposta, aqui, é prestar atenção à primeira palavra que o novo legislador diz ao abrir a boca: “Bem-aventurados”, “felizes” (cf. Mt 5,1-3). O ensinamento da Igreja acerca da boa vida humana se baseia, de fato, na noção de que “interrogar-se sobre o bem, com efeito, significa dirigir-se em última análise a Deus, plenitude da bondade (...) Aquele que é a fonte da felicidade do homem” (São João Paulo II, Veritatis splendor, 9).
A lógica das diversas Bem-aventuranças, nesse sentido, é libertar o nosso coração de todos os falsos pretendentes ao lugar de Deus, para que, desapegados dos ídolos, possamos, enfim, saciar nossa sede infinita de bondade com o próprio Bem infinito. Contra o apego das riquezas, Cristo adverte: “Felizes os pobres em espírito”; contra a idolatria das sensações prazerosas (físicas, emocionais e psicológicas), Ele ensina: “Felizes os que choram”; contra o amor desequilibrado do poder, Ele proclama: “Felizes os mansos”; e enfim contra o desejo desordenado de fama e honra, Ele avisa: “Felizes os que sofrem perseguição” (cf. Mt 5,3-10). Peçamos, então, a Nosso Senhor a graça desta verdadeira liberdade interior, que nos torna capazes de dirigir toda a nossa vontade ao único objetivo de amar a Deus, ainda que a custo de abraçar a cruz. Aí a nossa esperança; aí a nossa felicidade!
Opinião
O direito humano de educar
Arte: Sergio Ricciuto Conte
Ângela Vidal Gandra da Silva Martins Penso que nossa Nação tem acompanhado a saga das famílias que optaram pelo homeschooling, buscando obter a aprovação para seu exercício com a devida segurança jurídica, uma vez que, além de ser um direito humano, reconhecido pela Declaração Universal em seu artigo 16,3 e inserido em nossa Constituição, em seus artigos 205, 206 e 209, foi expressamente declarado constitucional por nossa Corte Suprema, em 2018. De fato, a questão já tramita no Congresso Nacional há praticamente 27 anos. Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), houve forte expectativa com relação à agilização da regulamentação, contando também com grande estímulo do governo. Infelizmente, porém, ainda continuamos lutando pelo óbvio direito. De fato, clarividente, pois a família precede a sociedade e o Estado, que a protege não só pela realidade patrimonial que envolve, mas principalmente pela garantia de sua continuidade, incluindo a educação daqueles que nela são gerados ou abraçados. Nesse sentido, desde o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, temos defendido esse direito natural – e o
homeschooling como corolário e não como sistema educativo preferencial – fundamentando-nos preciosamente na liberdade constitutiva do ser humano e em sua autoderteminação ao bem, com a devida autonomia e responsabilidade, o que é claramente preconizado em nossa Carta Magna. Por essa mesma razão, apoiamos os pais homeschoolers, mas também as escolas abertas, híbridas ou comunitárias, e, tudo o que derive da iniciativa dos pais em favor do maior interesse da criança, tendo ainda em conta que a lei acompanha a vida – e não a enjaula! – cor-
respondendo aos legítimos anseios dos cidadãos. No caso, se, antropologicamente, a proposta da educação domiciliar deriva de um direito, de um bem e da liberdade, e, se, sociologicamente, sua prática saudável já é uma realidade, compondo o binômio fato bom – valor bom, falta somente norma que possa protegê-la juridicamente, bem como aos interessados e à sociedade como um todo. Por fim, o que desejamos destacar é a prioridade dos pais na escolha do gênero de educação a ser conferida aos filhos, bem como o pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas bem delineados nos referidos artigos da Declaração e de nossa Constituição. Toda a discussão em torno dessa prerrogativa trouxe algo positivo, também promovido, de certa forma, pela pandemia. Um despertar de alguns pais para o seu fundamental dever de acompanhar o desempenho escolar de seus filhos e a comprovada eficácia para sua segurança e futura projeção profissional. Nesse sentido, estamos também construindo, junto com o Ministério da Educação, o Programa “Família na Escola”, para fomentar maior participação, evitando omissões ou simples delegação às instituições de ensino. Esperamos que, guiados por essa perspectiva humana, jurídica e cidadã, não completemos 28 anos de luta, aprovando urgentemente a modalidade em questão e abrindo também alas para a criatividade dos pais em busca do melhor para seus filhos, como, por exemplo, as escolas comunitárias. Dessa forma, poderão oferecer para estes, com maturidade, liberdade e responsabilidade, plataforma firme para voarem alto – como águias! – em favor da sociedade. Ângela Vidal Gandra da Silva Martins, doutora em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é Secretária Nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.
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Eike Silva
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Belém
Diácono Jorge Luiz Souza morre aos 56 anos Fernando Arthur
COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
[BELÉM] No dia 12, aconteceu a festa patronal da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no Setor Conquista, com missa presidida por Dom Luiz Carlos Dias, com a participação dos membros da igreja matriz e das Comunidades São Judas e Ezequiel Ramin, São Francisco e Nossa Senhora Aparecida. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém motivou todos à ação missionária para testemunhar Jesus, e lembrou que a Virgem Maria teve uma vida de entrega total e confiança em Deus, pois tinha um coração totalmente livre e se deixou guiar pelo Espírito Santo. (por Eike Silva)
Na quinta-feira, 17, Dom Luiz Carlos Dias presidiu a Eucaristia na Comunidade Santo Rosário da Paróquia Divino Espírito Santo, em sufrágio da alma do Diácono Jorge Luiz Souza, que morreu naquele dia, aos 56 anos. Ele estava internado em decorrência da COVID-19 desde o início de maio. No começo da celebração, o leigo Peterson Prates falou sobre a vida do Diácono Jorge Luiz e a atuação que teve na Região Belém, em especial no Setor Sapopemba. Depois, Dom Luiz Carlos saudou os que participavam da missa presencialmente e os que acompanhavam a transmissão pelas redes sociais. Também rezou pela família do Diácono, que era casado com Maria do Socorro C. A. Souza, com quem teve dois filhos: Jéssica e Gabriel. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Ar-
quidiocese na Região Belém expressou seu pesar aos familiares do Diácono e falou do empenho com o qual serviu a Igreja: “Foi alguém que assumiu a causa dos mais necessitados”, disse, motivando que todos nas comunidades se empenhem em ajudar os mais vulneráveis, como fez o falecido. Referindo-se ao Evangelho em que Jesus fala sobre dar a vida pelos amigos, Dom Luiz Carlos voltou a falar do Diácono Jorge. “Hoje, perdemos um amigo, um amigo que dava a vida pelos seus amigos. Um amigo que deixou este belo testemunho para todos nós”, comentou, recordando a alegria que tinha em anunciar o Evangelho. “Nós, nesta celebração, por excelência, estamos testemunhando que a vida vence a morte! Que a morte não é a última palavra. A vida vence a morte!”, enfatizou o Bispo, que, por fim, agradeceu a Deus pela vida e pelo ministério do Diácono Jorge Luiz.
Arquivo pessoal
Arquivo paroquial
Arquivo paroquial
[IPIRANGA] No domingo, 20, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, crismou 12 adultos no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida, Setor Pastoral Ipiranga. “Foi uma turma muito madura e consciente de sua missão no mundo, sendo fermento, sal e luz”, destaca o Padre Zacarias José C. Paiva, Pároco e Reitor. Concelebraram a Santa Missa os Padres Hernane Modena e Jefferson Mendes, com a participação do Diácono Luiz Henrique Massoneto. (por Padre Zacarias José C. Paiva)
[IPIRANGA] No sábado, 19, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu missa na qual deu posse ao Padre Myguel do Menino Jesus Tostes (à direita do Bispo) como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Mãe de Jesus, no Setor Pastoral Cursino. (por Caroline Dupim)
Espiritualidade
Uma vida segundo o Espírito Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ
O
Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga
termo espiritualidade se refere, antes de tudo, à experiência pessoal do mistério de Deus, o modo como se vive esse mistério, consciente e interiorizado, de maneira que a fé cultivada possa crescer e amadurecer, dar seus frutos. Do ponto de vista humano, a espiri-
tualidade, como experiência profunda de Deus, se concretiza na vivência interior, se abre à transcendência, ao absoluto, e se projeta ao outro, aos irmãos. Podemos dizer que é preciso entrar em si mesmo, na própria alma, para abrir o coração a Deus, e responder a seu amor na fé, no encontro com o outro. No sentido cristão, a espiritualidade significa “a vida sob a ação do Espírito” (cf. 1Cor 2,14-15). São Paulo utiliza com frequência a expressão “ser em Cristo” (cf. 1Cor 1,2.30; Rm 8,1; Gl 3,28), o que se torna possível por graça do Espírito: “Enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho” (Gl 4,6). O corpo é uma morada de Deus porque nele habita o Espírito Santo. “Não sabíeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que
está em vós e que recebestes de Deus?” (1Cor 6,19). O cristão se torna espiritual porque leva uma vida segundo o Espírito, dom primordial do Ressuscitado (cf. Jo 20,22-23). De fato, a presença do Espírito caracteriza a espiritualidade alicerçada na própria identidade cristã, para viver segundo o Espírito. A grande novidade da vida cristã se encontra na participação na morte e ressurreição de Jesus pelo Batismo. Tal participação realiza o chamado intrínseco de viver como filho de Deus. São Paulo define a nova realidade criada pelo Batismo com o termo adoção (cf. Gl 4,5; Rm 8,15.23; 9,4; Ef 1,5). Por obra do Espírito, os cristãos são realmente constituídos filhos de Deus (cf. Rm 8,14-17). Trata-se de uma filiação real, porque nos
tornamos em Cristo verdadeiros filhos de Deus. São João fala de filiação divina, mediante um novo nascimento. “Vede que manifestação de amor nos deu o Pai, sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1Jo 3,1). Para João, os cristãos são os nascidos de Deus (cf. Jo 1,12-13; 3,1-11; 1Jo 2,29 – 3,10; 4,7; 5,1; 5,18). A comunhão com a Trindade caracteriza a fé cristã, bem como sua espiritualidade, de modo existencial. Ser cristão é cultivar a presença do Deus uno e trino no mais íntimo de si mesmo por meio do mergulho no mistério pascal, que jorra para a vida eterna. Pela ação do Espírito Santo, o cristão traz em si os traços de Cristo, é configurado a Ele, o rosto do Pai. Somos todos chamados a viver segundo o Espírito.
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Jenniffer Silva
sé
Atenção à população mais vulnerável do centro de São Paulo é tema de reunião de Dom Odilo com autoridades Danniel Oliveira
Fernando Arthur
PELA COMUNICAÇÃO DA CATEDRAL DA SÉ
[BRASILâNDIA] No sábado, 19, um total de 51 crianças da Catequese Infantil recebeu a Primeira Eucaristia na Paróquia Bom Jesus dos Passos, Setor Pastoral Freguesia do Ó. Para evitar aglomerações, foram celebradas quatro missas. “Que essa primeira Eucaristia prepare o coração de cada uma dessas crianças para que elas possam se relacionar com uma fé sincera e madura com o nosso Deus. Que essa experiência seja contínua em suas vidas para que nós possamos juntos ser, aonde Deus nos enviar, um sinal do seu amor e da sua graça”, disse o Padre Airton Pereira Bueno, Pároco, na homilia. As crianças iniciaram a preparação em 2019, mas devido à pandemia os encontros presenciais foram suspensos, ocorrendo de forma on-line em algumas oportunidades e tendo sido concluídos presencialmente em 12 de junho. (por Flavio Rogério Lopes)
[BRASILâNDIA] No sábado, 19, faleceu o senhor João Vicente Rodrigues, Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão e da Palavra nas Paróquias São Francisco de Assis e Santa Teresinha, no Setor Dom Paulo Evaristo. Ele tinha 76 anos de idade e deixa a esposa, Otília, filhos e netos. (por Marcos Rubens Ferreira)
[IPIRANGA] O projeto “Tecelãs do amor”, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Setor Pastoral Anchieta, composto por paroquianos, produziu 660 peças em tricô e crochê, que foram doadas para o Amparo Maternal, na sexta-feira, 18. (por Caroline Dupim)
[SANTANA] No domingo, 20, realizou-se na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Tremembé, a celebração do sacramento da Confirmação de nove adultos. Foi concedida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, a permissão para que o Pároco, Frei Guilherme Pereira Anselmo Junior, SIA, conferisse este sacramento. (por Leandro Vieira)
Na sexta-feira, 18, na Catedral da Sé, aconteceu um encontro entre representantes do poder público municipal e membros das diversas pastorais e entidades religiosas que prestam serviços de assistência aos mais pobres e vulneráveis. O encontro, com a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, foi proposto pela Prefeitura de São Paulo e organizado pelo Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral, em conjunto com o subprefeito da Sé, Marcelo Salles. O Arcebispo Metropolitano de São Paulo cumprimentou a todos pela iniciativa. Ele se disse impressionado e preocupado com o crescente aumento de pessoas em situação de rua e ressaltou que é indispensável planejar e viabilizar ações que promovam a dignidade dos que estão nas ruas. Entre os membros de pastorais que atuam em favor da população em situ-
ação de rua estiveram presentes os Padres Júlio Lancellotti, Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua; Lorenzo Nachelli, do Arsenal da Esperança; Gianpietro Carraro, da Missão Belém; o Frei Angélico Consolo do Coração de Jesus, da Fraternidade O Caminho; a Irmã Janete, da Pastoral do Povo da Rua, e as leigas Meire e Vanessa, representantes da Aliança de Misericórdia.
Em nome do poder público, também estiveram Pedro Jeha, secretário estadual adjunto da Justiça; Fábio Lepique, secretário-executivo do prefeito Ricardo Nunes; Berenice Gianella, secretária municipal de Assistência Social; Cláudia Carletto, secretária municipal de Direitos Humanos; e Sônia Francine, secretária municipal de Relações Internacionais.
Pastoral realiza o 37º Encontro de Casais com o Bom Pastor POR CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ
No sábado, 19, a Pastoral Familiar da Região Sé realizou de maneira virtual o 37° Encontro de Casais com o Bom Pastor, com o objetivo de acolher casais que vivem uma nova união estável. Sob o tema “O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10,11), a abertura do encontro foi com o casal Osmarina de Fátima Pazin Baldon e Antônio Baldon, da Diocese de Santo André (SP), que coordena a Pastoral Familiar no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Entre os palestrantes estiveram Padre Alessandro de Borbón, Assessor
Eclesiástico da Pastoral Familiar da Região Sé e Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Consolação; Padre Paulo Gil, Pároco da Paróquia Menino Jesus, no Tucuruvi, da Região Episcopal Santana, e também professor na Faculdade Católica de Santa Catarina; Cristina Behring, advogada do Tribunal Eclesiástico de São Paulo, e Bráulio Rocha e Simone Mavignier, casal coordenador da Pastoral Familiar da Região Sé. Os principais temas apresentados foram relacionamento familiar, processo de nulidade, participação na Igreja e a fé mariana. Por se tratar de um encontro on-line, foi possível ampliar a participação de
casais de outras regiões. Ente os 16 casais encontristas havia os de São Paulo, Jundiaí (SP), Mogi das Cruzes (SP), Belo Horizonte (MG), Santa Vitória (MG) e Porto Alegre (RS). Um grupo de canto animou o encontro. A motivação e criatividade para participação do encontro foi grande, pois todos os casais receberam uma cesta de café da manhã e fizeram essa primeira refeição simultaneamente, no momento de abertura. Além disso, alguns casais prepararam suas casas especialmente para participar da atividade, mesmo sendo de forma on-line. O próximo encontro está agendado para o segundo semestre deste ano. (com informações de Emilene Pardo)
Você Pergunta
Por que São João Gualberto é considerado o padroeiro das florestas? Padre Cido Pereira
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A Cida Brasil, do bairro de Pirituba, diz ter ouvido falar muitas histórias sobre São João Gualberto, inclusive que ele é o padroeiro das florestas. Cida, começo contando uma história verídica. Por volta dos anos de 1020 a 1030, um jovem de família muito rica, que gostava de curtir a vida, se viu numa enrascada. O seu único irmão fora assassinado. O pai deste jovem, muito abalado, jurou vingança e exigiu que ele vingasse o irmão. O jovem aceitou na hora a incumbência da vingança. Numa Sexta-feira Santa, andando
por uma estrada, o jovem viu que vinha ao seu encontro o assassino. Não teve dúvidas. De espada em punho, correu para o sujeito que havia matado seu irmão para atravessá-lo com a espada. No entanto, sabe-se lá por medo ou por não ter uma espada, o assassino caiu de joelhos e pediu em nome de Jesus crucificado que não o matasse. O jovem ficou emocionado com aquele gesto e não vingou o irmão. Quem foi esse jovem? O seu nome era João Gualberto. Ele se converteu. Mudou totalmente de vida. Entrou para o convento beneditino e foi entre os religiosos um dos mais virtuosos.
Quando o abade daquele convento morreu, os religiosos votaram em João Gualberto para ser o novo abade. Ele não quis, tanto que fugiu para um lugar bem solitário perto de Florença, na Itália. Lá, passou a viver na solidão, mas logo dois se juntaram a ele e vieram outros, jovens e velhos, e João Gualberto construiu um convento e uma igreja. Assim nasceu a Ordem dos Beneditinos de Valombrosa. Alguns anos depois, a nova Ordem já tinha 12 conventos e o superior era João Gualberto. Ele morreu em 1073, aos 73 anos de idade. Agora, Cida, vem o mais bonito na história deste santo homem: no início do século XI, como disse, São João Gual-
berto fundou o Mosteiro de Valombrosa, que quer dizer “O Vale das Sombras”. Nesse vale, ele e seus discípulos o reflorestaram e construíram escola, biblioteca, igreja... Cantando, orando e trabalhando como bons discípulos de São Bento, eles transformaram um lugar de fome e miséria em um belo vale arborizado. Por isso, São João Gualberto é considerado o padroeiro das florestas e dos engenheiros e guardas florestais. É por isso, Cida, que se você der um passeio no Horto Florestal, na zona Norte de São Paulo, vai encontrar uma imagem de São João Gualberto. É isso, minha irmã, que Deus abençoe você e sua família!
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Fé e Cidadania
lapa
Pastoral da Comunicação realiza reunião on-line Benigno Naveira
COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO nA REGIÃO
A Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Episcopal Lapa realizou reunião on-line no dia 16. O encontro foi conduzido pelos coordenadores gerais Paulo Ramicelli e Maria Tiemi, com a participação do Assistente Eclesiástico da Pascom Lapa, Padre Antonio Francisco Ribeiro, dos coordenadores e agentes pasto-
rais das paróquias da Região e do jornalista regional Benigno Naveira. Paulo Ramicelli iniciou o encontro com uma oração. Em seguida, falou da importância da participação dos agentes da Pascom regional na realização do Mutirão de Comunicação 2021 (Muticom), que este ano será on-line e gratuito, entre os dias 23 e 24 de julho. As inscrições já podem ser feitas em www.muticom.com.br.
O coordenador comentou ainda sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), destacando que se deve estar atento a esta legislação nas atividades de comunicação. Entre outros assuntos abordados, falou-se sobre a etapa de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, a volta das missas presenciais e a continuação das transmissões das celebrações pelas redes sociais das paróquias. Benigno Naveira
[LAPA] Na Paróquia Santíssima Trindade, na Vila São Domingos, Setor Pastoral Rio Pequeno, no sábado, 19, Dom José Benedito Cardoso presidiu missa, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 62 jovens
[LAPA] Estão abertas as inscrições para o XVI Curso de Férias On-line, promovido pelo Curso de Teologia para Agentes de Pastorais da Região Lapa. No dia 5, a temática será “Paulo Evaristo e Paulo Freire: iluminando a construção do futuro”, com a presença de Dom José Benedito Cardoso. As assessoras serão Maria Ângela Borsoi e Lourdes de Fátima P. Possai, com mediação de Maria Ângela Palma Ribeiro. No dia 6, o tema será “A pedagogia da anatomia na Pastoral da Educação”, com depoimento de Dom Fernando José Penteado, Bispo Emérito de Jacarezinho (PR). A assessoria será de Lourdes Possai. Outras informações na Cúria da Lapa, pelo telefone (11) 3834-1024, ou com Rosinha: (11) 3865-1542.
e adultos. Concelebrou o Padre Marcos Roberto Pires, Pároco, com a participação do Diácono Marcos Adriano de Souza. (por Benigno Naveira)
Benigno Naveira
[LAPA] No domingo, 20, na Comunidade Santa Mônica, da Paróquia São Tomás More, Setor Pastoral Rio Pequeno, Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, conferiu o sacramento da Crisma a quatro jovens, durante missa concelebrada pelo Padre Pedro Cardoso Carvalho, Pároco. (por Benigno Naveira)
[IPIRANGA] Com a animação de Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, e do Coordenador Regional de Pastoral, Frei José Maria Mohomed Júnior, realizou-se no dia 16, de modo on-line, uma reunião extraordinária com o cle-
ro regional, para a apresentação do projeto norteador da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e para construir a articulação das ações da Região Ipiranga no âmbito do projeto. (por Caroline Dupim)
Democracia I (Documento de Aparecida) Luiz Antonio Araújo Pierre “Um encontro do Povo de Deus”: esta foi a definição dada pelo Papa Francisco à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que será realizada na Cidade do México, no México, de 21 a 28 de novembro de 2021, e está sendo preparada por uma comissão nomeada pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), com a participação de todas as expressões da Igreja e de toda a sociedade, numa experiência sinodal, com o tema: “Somos todos discípulos missionários em saída”. Estamos na fase de ‘escuta’ para aprofundar vários temas, sendo que um deles é “Democracia” e a proposta é avaliar a caminhada desde a Conferência de Aparecida. O Documento de Aparecida (DAp), de 2007, constatava um “positivo fortalecimento dos regimes democráticos em muitos países da América Latina e do Caribe”, mas também “preocupação com o acelerado avanço de diversas formas de regressão autoritária por via democrática que em certas ocasiões resultam em regimes de corte neopopulista” (DAp, 74). “Não basta uma democracia puramente formal”, mas é necessário que seja alicerçada “... na promoção e respeito dos direitos humanos”, pois “uma democracia sem valores como os mencionados torna-se facilmente uma ditadura e termina traindo o próprio povo” (DAp, 74). Era presente a esperança na reestruturação econômica dos países e a disposição de criação de políticas públicas nos campos sociais, abrindo espaço para a criação de novos empregos e organizações solidárias. Em 2007, o desemprego era de 7,4%, e, mesmo com a crise financeira de 2008, o Brasil conseguiu manter estabilizada a taxa de desemprego até 2014, quando era de cerca de 5%. Tudo isso levando à possibilidade de uma democracia mais estável: “Tudo isto mostra que não pode existir democracia verdadeira e estável sem justiça social, sem divisão real de poderes e sem a vigência do Estado de direito” (DAp, 76). Para a manutenção de uma democracia estável, é necessário que exista justiça social e distribuição das riquezas, de modo a propiciar que o cidadão e sua família tenham vida digna. Para isso, os empresários devem aplicar seus capitais para gerar e distribuir essa riqueza, possibilitando a criação de empregos, e não em investimentos especulativos que nada geram para o bem-estar social. É imprescindível uma economia solidária e, nesse sentido, temos a proposta da Economia de Francisco, que sugere a construção de novos caminhos, novas estruturas da economia mundial, sendo possível questionar as “leis” econômicas que produzem desigualdade e exclusão, pois são fruto de decisões políticas. Na política, a vontade popular tem sido manipulada com mentiras (fakes news) que, infelizmente, induzem à escolha de pessoas e grupos que têm objetivos absolutamente contrários à ética, aos princípios cristãos, à proteção ambiental e à justiça social. “Compete também à Igreja colaborar na consolidação das frágeis democracias, no positivo processo de democratização na América Latina, ainda que existam atualmente graves desafios e ameaças de desvios autoritários. Urge educar para a paz, dar seriedade e credibilidade à continuidade de nossas instituições civis, defender e promover os direitos humanos, proteger em especial a liberdade religiosa e cooperar para despertar os maiores consensos nacionais” (DAp, 541). A democracia só pode ser considerada como tal quando promove o equilíbrio social, a justa distribuição de riquezas e a real liberdade, proporcionando vida digna para os povos. Luiz Antonio Araújo Pierre é membro do Movimento dos Focolares, professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho.
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brasilândia
Paróquia São Luís Gonzaga realiza festa patronal Taíse Cortês
Taíse Cortês
COLABORADORA DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
Entre os dias 18 e 21, a Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, celebrou a festa do padroeiro, com a realização de um tríduo preparatório e atividades sociais, como uma carreata solidária. A missa do primeiro dia do tríduo foi presidida pelo Padre Reinaldo Torres, Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças. No segundo dia, Dom Carlos Silva, OFMCap, na missa presidida conferiu o sacramento da Crisma a um grupo de adultos e jovens, sendo que alguns deles também receberam a primeira Eucaristia. Concelebraram o Padre Roberto Moura, Pároco, com a participação dos Diáconos Aparecido Francisco Cavanha, Juscelino Minotti e Francisco Nunes Pereira. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia pediu aos crismandos que quando passarem perto daqueles que creem e não creem, que possam fazê-los sentir, por meio de seu testemunho da vida, este perfume de Deus, do seu Espírito na vida de cada um. Relembrou ainda uma fala do Papa Francisco que afirma que o Espírito Santo é o paráclito, ou seja, aquele que os Divulgação
acompanhará durante toda a sua vida, que ajuda em suas decisões. Finalizou estimulando a todos: “Levem o perfume e levem o paráclito que os acompanha sempre em suas vidas!”. No domingo, 20, aconteceu uma carreata solidária pelas ruas do bairro. Ao longo do percurso, diversos moradores fizeram sua oferta de alimentos não perecíveis. Alguns prepararam pequenos altares em frente às suas casas, outros saudaram a carreata com panos brancos e outros se colocaram em oração silenciosa diante da imagem de São
Luís Gonzaga (foto). Durante o dia foi promovido, ainda, três celebrações eucarísticas. Foi promovido, ainda, o Almoço do Padroeiro, servido no sistema drive-thru. Na memória litúrgica do padroeiro, na segunda-feira, 21, também houve missa. São Luís Gonzaga é o padroeiro dos jovens, estudantes e seminaristas. Ele teve sua breve vida marcada pelo trabalho incansável aos doentes da peste que assolou a Europa no século XVI. Por isso, foi considerado o santo padroeiro das vítimas da peste. Padre Roberto Moura
[BRASILâNDIA] Na manhã da sexta-feira, 18, o clero atuante na Brasilândia esteve reunido para a missa em ação de graças pelos 32 anos de criação desta região episcopal. A celebração foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, na Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus, no Setor Freguesia do Ó. Na ocasião, houve o resgate da história dessa caminhada iniciada em 18 de junho de 1989, quando a Região Brasilândia surgiu, desmembrada da Região Episcopal Lapa. (com informações do Padre Armênio Rodrigues) Pascom Parque de Taipas
[BRASILâNDIA] Em 13 de junho, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missa na Comunidade São Pio, no Parque Taipas, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 20 jovens. Duas jovens também receberam a primeira Comunhão. (por Pascom Parque de Taipas)
[BRASILâNDIA] No sábado, 19, a ação pastoral da Comunidade Nossa Senhora Aparecida na Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, completou dois meses de preparo e entrega de alimentação para a população em vulnerabilidade, nos bairros da Região Brasilândia, com a estimativa de 1.300 marmitex distribuídos. (por Marcos Rubens Ferreira)
Pascom Santos Apóstolos
[BRASILâNDIA] Na sexta-feira, 18, foi realizada a celebração de abertura da 22° Festa dos Santos Apóstolos, presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, e concelebrada pelos Padres Jaime Izidoro, Pároco, Luiz Carlos Tose, Vigário Paroquial. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia relembrou brevemente a missão dos Apóstolos da Noite, São Tiago Menor e São Filipe: “Devemos, em vez de criar muros em nosso entorno, construir mais pontes”. Na mesma missa, duas pessoas da comunidade receberam o sacramento da Crisma. (por Pascom Santos Apóstolos) Ivani Silva
[BRASILâNDIA] No domingo, 20, Padre Evander Bento Camilo, Pároco, presidiu missa na Paróquia Espírito Santo, do Parque Belém, durante a qual crianças receberam a primeira Eucaristia. (por João Henrique)
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Reportagem | 9
‘Parto feliz, tranquilo, sereno e já com saudades’, afirma Dom Eduardo ao se despedir da Arquidiocese Luciney Martins/O SÃO PAULO
Bispo assumirá a Diocese de Ourinhos (SP) em 3 de julho Fernando Geronazzo
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Com uma missa na Catedral da Sé, no domingo, 20, o clero e os fiéis da Arquidiocese de São Paulo celebraram ação de graças pelo ministério de Dom Eduardo Vieira dos Santos como Bispo. Nomeado pelo Papa Francisco como Bispo Diocesano de Ourinhos (SP), em 19 de maio, Dom Eduardo se despede da Igreja em São Paulo, onde foi Bispo Auxiliar desde 2015. Entre os ofícios realizados nesse período, atuou como Vigário Episcopal para a Região Sé. Ele tomará posse em Ourinhos no dia 3 de julho. No início da celebração, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, manifestou seu agradecimento a Dom Eduardo pelo trabalho realizado na Arquidiocese, à qual, antes de ser eleito Bispo, já pertencia como sacerdote. “Hoje, queremos agradecer a Deus pelo sacerdócio e pelo episcopado que Dom Eduardo exerceu em nossa Arquidiocese. Deus sabe o bem que Dom Eduardo realizou e o recompensará por isso”, afirmou Dom Odilo. Em nome da Igreja em São Paulo, o Arcebispo desejou que Deus inspire, ilumine e fortaleça Dom Eduardo na nova missão de Bispo Diocesano de Ourinhos. O Cardeal enfatizou, ainda, a importância dos bispos auxiliares para a Arquidiocese: “Sem eles, seria muito difícil desempenhar a missão nesta grande e querida Arquidiocese”. Gratidão Na homilia, Dom Eduardo manifestou sua gratidão à Arquidiocese de São Paulo, que, há 33 anos, o acolheu. “Cheguei a esta grande cidade trazendo uma certeza: queria ser padre”, contou, recordando o início de seu proces-
Dom Eduardo Vieira dos Santos preside missa na Catedral da Sé, concelebrada por bispos auxiliares e padres, no domingo, dia 20
so formativo na Congregação da Santa Cruz. O Bispo nomeado de Ourinhos agradeceu ao Cardeal Scherer sua “paternidade” para com ele. De igual modo, manifestou gratidão aos demais bispos auxiliares, “irmãos” que o ajudaram a caminhar e a cumprir seus deveres. Ao agradecer aos padres, recordou, de modo especial, aqueles que o auxiliaram na formação sacerdotal. “Obrigado pela paciência e pelo carinho”, afirmou. Dirigindo-se aos diáconos, seminaristas, religiosos e leigos, Dom Eduardo sublinhou que estes o ajudaram na sua vida de fé e no testemunho de cristão. O Bispo recordou, em particular, a sua família, que, em todas as ocasiões o apoiou e esteve ao seu lado, sobretudo nos momentos mais difíceis. Ir para a outra margem Tomando como exemplo o trecho do Evangelho do dia, no qual Jesus chama os discípulos a irem para a outra margem do mar de Tiberíades, Dom Eduardo afirmou: “Hoje, sou enviado para a Diocese de Ourinhos. Vivo o desafio de sair dos limites já conhecidos e seguros, para ir para a outra margem, para outros lugares. É a universalidade da missão. Parto feliz, tranquilo, sereno e já com saudades, pois aprendi a amar e a querer bem a cidade de São Paulo, a Igreja que aqui está”.
Ao recordar o seu lema episcopal “Alegrai-vos no Senhor”, Dom Eduardo salientou que buscou testemunhar com sua vida e ministério a alegria do Evangelho da qual tanto fala o Papa Francisco. “Continuem, irmãos e irmãs, a se alegrar sempre no Senhor”, completou. Zelo pastoral No fim da missa, o Padre Aparecido Silva, Vigário-Geral Adjunto da Região Episcopal Sé, dirigiu o agradecimento a Dom Eduardo, em nome do clero, religiosos e leigos. Padre Aparecido expressou a “mistura de sentimentos” diante da despedida do Bispo Auxiliar. “Por um lado, sentimos a tristeza por nos deixar; por outro, a alegria de vê-lo assumir uma diocese. Essa é a missão que a Igreja, sacramento de Cristo, confiou ao senhor, que a abraçou com alegria”, disse. O Vigário-Geral reiterou a gratidão a Dom Eduardo por sua dedicação, disponibilidade e zelo pastoral ao atender os padres em suas necessidades, principalmente os enfermos. Estímulo e esperança Padre Aparecido salientou, ainda, a atenção dada por Dom Eduardo às pastorais e organizações eclesiais da Região, com destaque para as pastorais sociais, especialmente neste período de pandemia.
O Sacerdote ressaltou a presença constante do Bispo na vida das paróquias e do povo, “sempre levando o estímulo e a esperança no caminhar, assim como seu olhar solidário para as comunidades que passavam por dificuldades financeiras”, acrescentou o Sacerdote. Reconhecendo que a vida e agenda de um bispo são muito exigentes, o Vigário-Geral sublinhou a capacidade com que Dom Eduardo encaminhava todas as situações com serenidade e “amor de pai”. Proximidade “Com muita sensibilidade, sempre esteve atento e à frente da administração da Região Episcopal Sé em prol da evangelização, dando atenção maior aos pobres. Sempre atento aos desafios da Arquidiocese, motivava-nos ao espírito de comunhão entre o clero e em todas as instâncias”, prosseguiu o Sacerdote. Padre Aparecido assinalou, ainda, que a “cultura do encontro” sempre foi uma marca do ministério de Dom Eduardo. “É nesse contexto que se promove o diálogo, a solidariedade e a abertura a todos, chamando-nos a desenvolver uma verdadeira e própria arte da proximidade”, completou. Por fim, o Sacerdote desejou felicidade a Dom Eduardo, ao presbitério e a todos da Diocese de Ourinhos.
Dom Carlos Lema Garcia é nomeado Vigário Episcopal para a Região Sé O Cardeal Odilo Pedro Scherer nomeou o Bispo Auxiliar Dom Carlos Lema Garcia como Vigário Episcopal para a Região Sé. A comunicação da nomeação de Dom Carlos foi feita no fim da missa de despedida de Dom Eduardo Vieira dos Santos, no domingo, 20, na Catedral da Sé (leia acima).
Bispo Auxiliar da Arquidiocese desde 2014, Dom Carlos tem 64 anos e continuará à frente do Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade. Entre dezembro de 2019 e outubro de 2020, ele também exerceu o ofício de Vigário Episcopal para a Região Ipiranga.
Dom Carlos afirmou ao O SÃO PAULO que acolhe a nova missão com alegria. “Quando dizemos ‘sim’ ao Papa para servirmos à Igreja, colocamo-nos à disposição daquilo que a Igreja deseja. Por isso, se nos é confiada uma nova tarefa, aceitamos com alegria”, disse.
O Vigário Episcopal enfatizou que o Bispo não realiza nada sozinho e, por isso, contará com o clero, religiosos e os muitos fiéis leigos para realizar a sua missão na Região Episcopal Sé. “Conto muito com a oração e o apoio de todos para continuar servindo à Igreja em São Paulo”, completou. (FG)
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Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos oferece jantar a pessoas em situação de rua Ira Romão
Localizada no cruzamento da Avenida Rebouças com a Rua Henrique Schaumann, em Pinheiros, comunidade paroquial tem assegurado a alimentação dos mais afetados economicamente pela pandemia e também dos entregadores por aplicativos Ira Romão
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
Toda sexta-feira e sábado, por volta das 18h30, o “Rango do Bom Jesus” é servido na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos, na Praça Portugal, em Pinheiros. O projeto conta com doações e com o comprometimento de voluntários que preparam e entregam uma marmita e um kit contendo suco, sobremesa e pão. Até o início de 2020, eram servidas em média 130 refeições por noite às pessoas em situação de rua. Com a pandemia, esse número tem aumentado cada vez mais. Hoje, são oferecidas cerca de 300 marmitas por noite também aos que moram em ocupações localizadas nas imediações e aos entregadores por aplicativos. Idealizado por leigos e pelo Padre Vitor Bertoli, Pároco da comunidade paroquial desde sua instalação, o “Rango” teve início em 1983. A ideia inicial era alimentar garotos que trabalhavam como “flanelinhas” e engraxates no entorno da comunidade. Naquela época, havia muitos restaurantes e bares que movimentavam a região no período noturno. “Esses meninos geralmente vinham na sexta-feira e só retornavam para suas casas no domingo. Eles ficavam nas ruas para trabalhar à noite e permaneciam muito tempo sem comer”, conta Maria Aparecida Melges, uma das coordenadoras do projeto. “Um café passou a ser servido para eles, durante as noites, na Paróquia. Já no início da ação, porém, as pessoas em situação de rua começaram a vir também. Ficou claro que apenas o lanche não era suficiente e, assim, refeições passaram a ser servidas.” Entre a fé e a solidariedade Com o passar dos anos, os “flanelinhas” e engraxates foram desaparecendo, mas a ação caritativa continuou atendendo adultos em situação mais vulnerável. “Antes da pandemia, eles tinham o costume de chegar por volta das
Às sextas-feiras e sábados, marmitas são dadas às pessoas em situação de vulnerabilidade
15h30. A equipe de voluntários servia um café da tarde, em seguida havia uma catequese adulta e, depois da missa das 17h30, servíamos o jantar no salão paroquial”, narra Maria. Com a pandemia, as refeições passaram a ser distribuídas em descartáveis no portão da igreja. Os encontros de catequese também foram suspensos e a missa passou a ser acompanhada na praça por meio de caixas de som, enquanto o Pároco, Padre Vitor, aos 93 anos, reza sozinho dentro da Igreja. “Antes de servirmos a refeição, eles escutam o Terço e depois o Padre Vitor sai para fazer uma oração com todos”, explica a coordenadora. “Muitos comem aqui mesmo na praça.” Para Ana Maria de Oliveira, outra coordenadora da ação, muitas pessoas que hoje têm sido beneficiadas pelo “Rango”, como os entregadores por aplicativos, chegaram ao projeto pelos impactos da pandemia e pelo fato de a distribuição estar sendo realizada na entrada da Paróquia, o que “chama a atenção” de quem passa.
Ira Romão
Ela também pontua que muitas pessoas têm se sensibilizado com a causa e contribuído para mantê-la. “Ao longo da pandemia, tivemos o privilégio de não faltar doações”, enfatiza. Padre Vitor também frisa que, com o passar dos anos, cada vez mais “houve a necessidade” da ação, mas também, sempre “houve doação”, lembrando que o projeto vive de colaboração e que nunca havia tido a necessidade de fazer tanta distribuição de pratos como tem acontecido do ano passado para cá. “Também nunca tínhamos recebido tantas doações como agora, graças a Deus”, afirma Padre Vitor, acrescentando que diante da situação pandêmica, em que “os trabalhos religiosos [da comunidade] encolheram e houve o aumento desse trabalho caritativo”, o “Rango do Bom Jesus” está em evidência. “Hoje, aqui, significa a atividade mais importante da Paróquia, social e religiosa. Religiosa no sentido de que eles sabem que é uma ação da Igreja. As doações vêm para a igreja e eles têm cons-
História A Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos foi construída na primeira metade do século XX. Era uma capela da Irmandade do Bom Jesus dos Passos. Em 8 de setembro de 1985, foi constituída como Paróquia desmembrada dos territórios das Paróquias São Paulo da Cruz (Calvário), Nossa Senhora do Monte Serrate, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Nossa Senhora do Brasil. O Pároco da comunidade desde sua fundação é o Padre Vitor Bertoli (foto), que antes era Capelão da Irmandade. No ano passado, Padre Vitor recebeu a Medalha São Paulo Apóstolo, concedida pela Arquidiocese de São Paulo, na categoria “ação caritativa e promoção humana”.
ciência de que é um trabalho da Igreja”, salienta Padre Vitor. Beneficiados pelo “Rango” O entregador por aplicativo Nathan Estéfano, 26, há um ano vai até a igreja retirar uma marmita. Ele descobriu a iniciativa por meio de outros trabalhadores. “Nós nos ajudamos bastante, com informações e, sempre quando temos alguma comida, dividimos, quando estamos juntos”, diz. Para Estéfano, a ação da Senhor Bom Jesus dos Passos o ajuda a poupar dinheiro a cada mês. “Gastar com comida, ainda mais nessas regiões em que os valores são bem diferentes dos valores dos bairros, seria complicado.” Ele também destaca a organização e atenção dos voluntários. “Todos são bons, nos tratam com educação e têm os cuidados [com a pandemia]. Uma mulher passa na fila com álcool em gel e, ainda, entrega máscara para quem não tem”, discorre. Outro entregador beneficiado pela ação é Danilo de Assis, 24. Ele mora no Jardim Ângela, na zona Sul, e há cinco meses entrega comida na região de Pinheiros. Descobriu o “Rango” logo no começo do trabalho quando passou em frente à igreja. “Mesmo trazendo marmita [de casa], às vezes, você fica com fome. Pedalar gasta muita energia. Isso aqui salva muito”, enfatiza o entregador. O jovem também evidencia o trabalho dos voluntários. “Ajudei a descer umas cestas [no salão] e os vi preparando [as refeições] com o maior foco e determinação. O legal é que fazem isso para quem eles nem conhecem.” Há seis meses, Ilda da Luz, 56, está desempregada. Moradora da região, ela participa das missas e tem enfrentado a “fila do jantar”. “Sou do Piauí, cresci na roça. Sempre rezava com minha família com a mesa posta”, recorda Ilda. “Venho aqui porque além da comida ser boa, quentinha, há muito carinho. A ‘terapia’ aqui é boa, somos acolhidos por todos.” Celso Aparecido Macedo, 53, está em situação de rua há seis anos e há quatro frequenta a Paróquia. Ele ressalta que em meio à pandemia, a Igreja Católica não os abandonou. “É muito gostoso, principalmente a oração, que nos fortalece. Nós nos sentimos felizes porque estamos na casa de Deus.” Daniel Marcos da Silva, 55, há um mês vive em um albergue. Ele faz questão de ir à Paróquia e enaltece a ação do Padre Vitor. “Ele não está matando a fome dessas pessoas com comida, mas, sim, matando a fome de amor, de carência e de uma necessidade humana. Esse é o detalhe. Não venho aqui por acaso”, assegura.
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Padre Zezinho – 80 anos | 11
Padre Zezinho: acima de tudo, um sacerdote do Coração de Jesus Fernando Geronazzo
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“Um certo dia... Apareceu um jovem... Seu jeito simples de conversar... Tocava o coração de quem o escutava...” Os versos dessa canção lançada em 1975 contam a história de um “Certo Galileu”, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus. Seguindo os passos desse Mestre, o autor da música, Padre Zezinho, SCJ, também pode ser considerado “o fenômeno do jovem pregador”, que busca, com a sua vida e obras, ensinar a “amar como Jesus amou”. E quem dá testemunho do homem de fé por trás dessas canções e escritos são religiosos que conviveram com ele. Desde a infância Um deles é Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, Arcebispo Emérito de Salvador (BA), que conheceu o Padre Zezinho ainda na infância, em 1956. “Cheguei a Corupá (SC) ‘para estudar para ser padre’, na Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Matriculei-me na 5ª série. Ele estava na 8ª”, relatou Dom Murilo. Nessa época, o pequeno Zezinho já escrevia seus primeiros poemas vocacionais e pedia ao amigo que os declamasse nas festas do seminário. “Só que eu não sabia que tais poemas haviam sido escritos por ele, pois ele inventava o nome dos autores. Só mais tarde é que descobri ser ele, o seminarista José Fernandes de Oliveira, o verdadeiro autor”, contou o ex-colega de seminário. Primeiros passos Quando Padre Zezinho retornou ao Brasil depois de concluir os estudos teológicos nos Estados Unidos, em 1966, ele tinha 25 anos e foi designado para coordenar o trabalho vocacional na congregação, ficando responsável pelo Santuário São Judas Tadeu, em São Paulo (SP). Pouco depois, ele começou a tomar parte em um trabalho com a juventude. “Lembro-me de quando ele apareceu em Taubaté (SP) com uma caixa de discos, daqueles pequenos, com umas quatro músicas suas. Pensei com meus botões: ‘Só faltava essa!...’ Pois não é que deu certo?”, disse Dom Murilo, sublinhando o apoio dado pelos superiores da congregação aos projetos evangelizadores do amigo. Simplicidade Padre Anísio José Schwirkowski conheceu Padre Zezinho em 1990, durante um retiro para jovens na cidade de Brusque (SC). Anos depois, ingressou na Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). Quando cursava os últimos anos do seminário, o jovem Anísio foi designado para cuidar dos pertences do Padre
Zezinho, especialmente do material do pequeno estúdio que ele tem no Convento de Taubaté, onde reside até hoje. Entre as características do Padre Zezinho, seus confrades ressaltam o desprendimento. “Ao cuidar das coisas pessoais do Padre Zezinho, descobri que ele é um homem pobre. Ele é rico apenas nas poesias, canções e na linguagem. Inclusive, de tempos em tempos, ele tirava as coisas que ganhava de presente nos shows e viagens e ficava apenas com o essencial”, lembrou Padre Anísio. Desapego O sucesso das produções do Padre Zezinho ao longo desses 50 anos sempre teve uma destinação: a evangelização. Quem testemunha isso é o próprio Dom Murilo, que chegou a ser superior provincial da congregação na década de 1980. “Padre Zezinho muito arrecadou com seus discos, livros e shows. Contudo, ele não tem a menor ideia de quanto ganhou ou ganha, pois o que lhe cabe sempre foi depositado diretamente na conta da congregação. Muitos seminaristas, hoje
padres, foram formados graças aos seus trabalhos. Ele vê isso com muita naturalidade”, afirma o Arcebispo Emérito. Padre Anísio confirma isso, pois no período em que assessorou o Padre Zezinho, cuidava da documentação referente aos direitos autorais. “Ele nunca quis ver os valores, não se preocupava com isso, pois sabia que o dinheiro caía direto na conta da congregação”, disse. Fidelidade e obediência Seus irmãos de congregação também destacaram a fidelidade do Padre Zezinho à Igreja. “Seus livros, as letras de suas músicas e os textos de suas palestras, além de abordarem temas atuais, procuram estar de acordo com o que a Igreja ensina. Quando advertido sobre algum ponto que precisa ser corrigido, ele aceita fazer as correções, sem problemas”, observou Dom Murilo. “Padre Zezinho sempre foi um religioso obediente, em primeiro lugar, ao seu superior provincial, e, depois, aos bispos da Igreja. Quando era marcado um show em alguma cidade, ele sempre Paulinas Comep/Divulgação
pedia que antes entrassem em contato com o bispo diocesano. Ele não pisa em uma diocese sem a autorização do bispo. Essa visão da comunhão da Igreja sempre foi algo essencial para ele, e isso era reconhecido pela hierarquia”, enfatizou Padre Anísio. Conectado Nas inúmeras entrevistas que já concedeu ao longo de seu ministério, Padre Zezinho sempre afirmou que não se considera um artista, mas um catequista. Seu sacerdócio e a missão de ensinar a Palavra de Deus e a doutrina da fé sempre foram uma prioridade. Para realizar essa missão, ele sempre buscou se atualizar e usar dos meios mais atuais para evangelizar. Isso não foi diferente com as redes sociais. Logo, ele quis conhecer e interagir com o público. Foi por meio dessas redes que o jovem seminarista salesiano Pedro André Pinto Junior fez o primeiro contato com o Padre Zezinho. “Em 2013, enviei uma solicitação de amizade no Facebook e ele aceitou. Depois de um tempo, eu me coloquei à disposição dele para ajudá-lo na criação e na gestão de sua página no Facebook e do perfil do Instagram, desde que meu nome não fosse divulgado. Acredito que ele tenha gostado da ideia”, contou o Salesiano, que atualmente cursa mestrado em Comunicação Social em Roma. Os dois só se conheceram pessoalmente no ano seguinte e, dali, nasceu uma amizade. “Hoje em dia, o Padre Zezinho caminha muito bem sozinho nas redes sociais”, ressaltou Padre Pedro. “O Padre Zezinho recebe muitas mensagens, e a maioria delas é muito parecida: ‘Meu sonho é conhecer o senhor’! ‘Suas músicas e seus livros fazem parte da minha vida desde criança’. Boa parte dos que mandam essas mensagens não são católicos, ou seja, ele é catequista e pastor também de ovelhas de outros redis”, destacou o Salesiano. A fonte Os sacerdotes são unânimes em afirmar que todo o repertório musical e literário do Padre Zezinho tem uma única fonte. “A espiritualidade do Padre Zezinho é toda fundamentada no Coração de Jesus. Suas canções e escritos transparecem essa espiritualidade”, afirmou Padre Anísio. Por fim, Padre Anísio enfatizou que a grandeza de José Fernandes de Oliveira está no seu apelido: Zezinho. “Ele podia ser mais famoso, poderia escolher outro caminho. Escolheu, porém, o caminho de estar unido à Igreja, ser obediente, pobre, estar em sintonia com a congregação da qual faz parte. Portanto, sua grandeza está em ser pequeno e, porque é pequeno, como o próprio Jesus ensinou, ele é grande”, concluiu.
12 | Padre Zezinho – 80 anos | 23 a 29 de junho de 2021 |
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Conventinho SCJ
‘Aos 80 anos, as palavras fundamentais são: louvar, agradecer, perdoar e pedir perdão’ Fernando Geronazzo
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Roseane Welter
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
José Fernandes de Oliveira, o Padre Zezinho, da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Padres Dehonianos), completou 80 anos de vida este mês, no dia 8. Cantor, compositor, escritor, professor e catequista, ele tem reconhecida contribuição para a evangelização bíblica, teológica e catequética por meio de suas canções, pregações e escritos. Nesta entrevista ao O SÃO PAULO, Padre Zezinho fala de fé, da sua trajetória de vida e reafirma seu compromisso do sacerdócio: “Tornei-me padre para repercutir a catequese católica”.
BIOGRAFIA E CARREIRa José Fernandes de Oliveira, o Padre Zezinho, SCJ, nasceu em 8 de junho de 1941, em Machado (MG), e cresceu em Taubaté (SP). Aos 11 anos, ingressou no Seminário da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Padres Dehonianos). Estudou Filosofia em Brusque (SC), entre 1961 e 1962, e Teologia, em Hales Corners, Milwaukee, nos Estados Unidos, de 1963 a 1966; sendo ordenado neste país, em 1966, aos 25 anos de idade. Começou a compor em 1964 e iniciou sua carreira de cantor em 1967. É autor de mais de 3 mil canções, além de ter gravado álbuns em mais de cinco idiomas, com letras que falam sobre família, juventude, problemas sociais, dogmas da Igreja e temas bíblicos. Em 1969, gravou seu primeiro LP “Cristo inconstante”, e em 1970 lançou o primeiro compacto “Canção da amizade”, com quatro composições. Publicou 140 livros – o primeiro em 1970, intitulado “Alicerce para um mundo novo” –, além de centenas de artigos. Apresentou programas de rádio e televisão. ecebeu discos de platina, ouro e R diamante. Em 2010, foi indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música Cristã no Brasil”.
O SÃO PAULO – São 80 anos de idade e 55 anos de sacerdócio. O que significa esse tempo na vida do senhor? Padre Zezinho – Significa que devo continuar seguindo o que busquei e buscando a humildade de quem não é mais do que os outros ministros do Senhor! Chego aos 80 anos querendo saber mais sobre Deus, sobre o ser humano, sobre os povos, sobre religiões, Igrejas, sobre Ciência, História, Sociologia e Psicologia. Chego aos 80 anos sabendo que aos 80 anos as palavras fundamentais são: louvar, agradecer, perdoar e pedir perdão. Entendo que isto é espiritualidade. Então, eu louvo, agradeço, perdoo e peço perdão. As realizações mais conhecidas do senhor ocorreram no campo da comunicação. Isso aconteceu casualmente ou foi buscado de forma consciente? Foi decisão consciente! No início do sacerdócio, fui me conscientizando da importância dos meios de comunicação na Igreja.
Então, decidi que queria ser comunicador das massas e uma pessoa de linguagem simples e acessível ao povo de Deus. Por isso, minhas canções, meus livros e artigos são simples para que todos entendam. Como o Concílio Vaticano II influenciou os trabalhos que o senhor realizou? Creio que os 32 anos de professor de Comunicação e os 52 de missionário e catequista disseram mais do que minhas canções. Eu sempre quis repercutir o Concílio Vaticano II. Fiz disso minha missão em cada canção ou artigo que publiquei. O senhor deixa um grande legado musical, bíblico, teológico e cultural para a Igreja do Brasil. Qual é a centralidade em sua vida como sacerdote e artista? Deixei um legado de muita leitura e muito aprendizado, porque nunca parei de ler e estudar! A Bíblia e os documentos da Igreja Católica me tornaram um ávido leitor. Desde 1964, sem nenhum exagero, devo ter lido ou consultado quase mil livros. Eu consultava a sabedoria dos outros e com eles pregava sobre Jesus e sobre direitos humanos. O jeito deles de falar da Bíblia e das religiões determinou o meu ecumenismo e o meu jeito de comunicar a catequese católica. Como o senhor realizou todos esses trabalhos sem perder de vista a dimensão essencial do sacerdócio? O que sustenta o senhor como padre? Acho que a dimensão de moderação esteve sempre presente. Respeito que foi mais longe. E fui até onde a Igreja me permitia. Não inventei novas liturgias e nunca me filiei a nenhum partido político ou ideologia. Se isso é ser um padre em cima do muro, que seja. O dado não tem apenas dois lados!
Aprendi com o poliedro, que me parece mais cristão... Como avalia a sua trajetória na Comunicação na Igreja? Eu sempre quis aprender mais com os sociólogos e teólogos católicos. Sou um padre que canta e não um cantor que é padre. A música é minha ferramenta para falar de Deus. Como comunicador, como avalia o percurso da produção musical hoje? Acho que há muitas músicas de conteúdo na liturgia de agora. Todos aprendemos uns com os outros! Sobre as chamadas “missas-show”, qual a orientação do senhor para os padres cantores? Acredito que o espaço da missa não é show. A missa não é lugar para o sacerdote se mostrar, a missa é para evidenciar o povo em oração. A mensagem é que o padre não seja o personagem principal, pois quem deve vir em primeiro lugar é Cristo, o povo e, em terceiro lugar, o padre! Eu nunca as fiz. Se há bispos que permitem, é sinal de que nas suas dioceses eles admitem novas maneiras de subir ao altar ou ao púlpito. Isso é decisão de cada bispo! Não sendo de outras dioceses, eu nunca acrescentei nenhuma liturgia! Quais são os sonhos do senhor daqui para frente? Pretendo ser criativo e obediente aos bispos e ao Papa. Prometi isto em 1966! Tornei-me padre para repercutir a catequese católica. Continuarei fazendo exatamente isso, na linha da Doutrina Social da nossa Igreja. Estou longe de ser um padre superavançado e também estou muito longe de ser um padre conservador. Eu acredito em dialogar! Fotos: Paulinas Comep
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Padre Zezinho – 80 anos | 13
Um testemunho que inspira vocações Roseane Welter
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
Padre Zezinho, SCJ, marcou e continua a marcar a vida de várias gerações de cristãos. Por meio de suas canções e escritos, levou a Palavra de Deus a muitos corações e influenciou vocações. Fidelidade à vocação Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen (RS), desde a época em que era seminarista, tem o Padre Zezinho como inspiração. “Suas músicas sempre me fizeram ser mais generoso e dedicado ao ministério sacerdotal. Ainda hoje, como Bispo, ouço sempre com muito gosto suas canções. Em relação a seus livros, já os utilizei com os jovens das paróquias nas quais fui pároco, especialmente a obra ‘Alicerce para um mundo novo’, um verdadeiro manual de trabalho com grupos juvenis”, ressalta. “Ele me motiva a partir da sua vivência como religioso-sacerdote que dedica sua vida ao povo de Deus e, em especial, à juventude. Um homem coerente, que transmite essa coerência em suas músicas, em seus livros, mas, antes de tudo, em sua vida. Um sacerdote que não se deixou ofuscar pela fama, não se transformou em um ‘padre show’, focando as atenções em si mesmo. Ao contrário, Padre Zezinho sempre soube viver sua vida religiosa e seu sacerdócio como um mensageiro, sem a vaidade de pretender ser a mensagem”, afirmou Dom Antonio Keller em entrevista ao O SÃO PAULO. Outra dimensão que Dom Keller elucidou é o resgate dos católicos para a Igreja a partir do conteúdo consistente de fé e de compromisso de vida do Padre Zezinho. “Quantos jovens seminaristas e jovens cristãos leigos se encontraram
com o Cristo Vivo por meio de suas mensagens”, finalizou. Contribuição à Igreja O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, na live celebrativa dos 80 anos do Padre Zezinho, no começo deste mês, recordou que o Sacerdote marcou sua trajetória vocacional. “Recordo-me das missões realizadas nas comunidades lá em Curitiba (PR), quando as canções do Padre Zezinho animavam os encontros formativos com os catequistas e jovens”, afirmou Dom Odilo, destacando de modo particular a canção “Estou pensando em Deus”. “Essa música marcou uma época bonita da minha vida, e depois vieram tantas outras, ‘Maria de Nazaré’, ‘Um certo Galileu’, canções que ainda hoje estão presentes no repertório de pessoas da minha idade e dos jovens dos dias atuais”, afirmou o Arcebispo. “Padre Zezinho foi muito eclesial, sempre caminhou com a Igreja para colaborar com seu carisma na missão de evangelizar. Suas canções e escritos sempre tiveram conteúdo, dotados de letra formativa que compreendem as dimensões bíblica e catequética, e falam da realidade com um fundo de fé e esperança”, salientou Dom Odilo. Igreja jovem O Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), recordou que desde a sua juventude sempre ouviu e cantou as canções do Padre Zezinho e que testemunhou muitos relatos de vidas transformadas por meio de suas melodias e exemplo de vida. “O Padre Zezinho marca um tempo importante na história da Igreja do Brasil, especialmente com a juventude. Despertou muitas vocações para a vida sacerdotal e religiosa. Ele é um homem
simples, com um coração jovem, mesmo aos 80 anos. Seu coração de pastor e aberto ao Espírito Santo continua a rejuvenescer a Igreja. Ele nunca se conformou em só fazer um show. Aproveitava todas as oportunidades para evangelizar. Ele é uma inspiração para todos nós. Seu amor incansável pela Igreja me cativa e inspira!” Nas canções, um chamado para Deus Padre Luiz Camilo Junior, Missionário Redentorista, atua pastoralmente no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Ele conta que seu despertar vocacional ocorreu por volta dos 14 anos, quando participava do grupo de jovens de uma paróquia em Carlópolis (PR) e, ao ouvir a canção “Cidadão do infinito”, despertou em seu coração o anseio e a coragem para seguir a vocação sacerdotal. “Tinha uma fita cassete do Padre Zezinho. Se hoje sou Padre, é porque um dia eu escutei essa canção que me deu coragem de dizer ‘sim’ ao chamado de Deus em minha vida”, afirmou. “Ouvir as canções do Padre Zezinho e ler os livros que ele escreveu para a juventude, me fizeram responder com alegria ao chamado que Deus me fez. Costumo dizer que sou fruto da missão evangelizadora do Padre Zezinho, que me inspirou, assim como a vários confrades”, disse. Evangelização pela música Irmã Verônica Firmino, religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas, conta que o Padre Zezinho teve papel fundamental em seu despertar vocacional. “Foi na juventude, em um show do Padre Zezinho, em Recife (PE), que eu senti o desejo de fazer aquilo que ele fazia no palco: falar de Jesus para os jovens e todas as pessoas, de forma clara, alegre
e direta, por meio de suas canções e pregações. A música ‘Vocação’ tocava o coração e me deixava inquieta”, recordou, destacando ainda a alegria de ter cantado nos palcos em diversas ocasiões ao lado do Padre Zezinho. Atualmente, Irmã Verônica é a produtora musical e artística da PaulinasCOMEP, gravadora da qual o religioso é membro há mais de 50 anos. Irmã Eliane Aparecida Deprá, Paulina, diretora dessa gravadora, destaca que a música sempre foi para o Sacerdote uma das ferramentas para falar de Deus. “Padre Zezinho sabe como ninguém traduzir em versos e canções assuntos e temas sociais, teológicos e catequéticos de uma forma simples e profunda, possível de ser entendida e cantada por todos”, ressaltou Irmã Eliane, recordando um dos ideais do Padre Zezinho desde o princípio da carreira: “chegar ao povo, ir ao povo, com a linguagem que eles entendam”. Profeta da família José Elinésio Coelho de Sousa e Francisca Elzanira Sousa são casados há 17 anos e as músicas do Padre Zezinho inspiram o casal. “Para o dia do nosso casamento, escolhemos quatro canções: ‘Pra sempre te amarei’, ‘Juramento’, ‘Oração pela família’ e ‘Águia pequena’, músicas que nos motivam a viver e a renovar nosso amor e nossa fé diariamente”, recordou Sousa, que este ano será ordenado diácono permanente. “Padre Zezinho traduz em suas canções a presença do Cristo que ama, acolhe e se faz presença em nosso meio. ‘Oração pela família’ é um retiro espiritual que traduz a vivência concreta dos casais”, disse, destacando, ainda, que o Sacerdote é uma referência para os casais, com suas canções, pregações e ensinamentos. Composição a partir de arte do Memorial Pe. Zezinho
O Memorial Padre Zezinho homenageia o Sacerdote e também preserva a memória dos comunicadores da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). Lá é possível acessar a obra do Padre Zezinho, composta por suas mais de 3 mil canções, 140 livros, além de vídeos, artigos, fotos, entrevistas e alguns instrumentos utilizados em shows. “Além do resgate e cuidado com a história, o espaço do Memorial compreende uma sala multifuncional, capaz de abrigar reuniões, gravações de TV e transmissões pela internet”, destacou o Padre João Carlos Almeida (Padre Joãozinho), Dehoniano, Diretor do Memorial Padre Zezinho. O Memorial está localizado no Convento Sagrado Coração de Jesus, o “Conventinho”, na cidade de Taubaté (SP). O acervo pode ser consultado em:
www.conventinho.com.br
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‘Palavras que não passam’ Padre Zezinho CONDUZIU programas na 9 de Julho e foi articulista do O SÃO PAULo Daniel Gomes
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Antes que os transmissores da rádio 9 de Julho fossem lacrados pelo regime militar em 5 de novembro de 1973, o último programa que foi ao ar na emissora foi “Tempo e contratempo”, apresentado pelo Padre Zezinho, SCJ. O Sacerdote era comunicador da rádio desde 1969, quando passou a comandar o programa “A hora e a vez da família”. Passados 30 anos da estreia, curiosamente, foi sua voz a primeira a ser ouvida em uma canção nos testes dos transmissores para o retorno da emissora, em 1999. Padre Zezinho voltou a contribuir com a comunicação da Arquidiocese, com a coluna “Palavras que não passam”, no O SÃO PAULO de abril de 2006 a março de 2013. A seguir, estão alguns trechos destes artigos. Outros podem ser lidos no site www.osaopaulo.org.br.
Conselhos aos sacerdotes
“...onde há ‘eu’ demais, há Deus de menos. Todo o ‘eu’ engrandecido precisa redimensionar-se. O remédio? Uma dose extra de ‘nós’, três vezes ao dia.” (‘Redimensionar-se’ – 26/04/2006 – 1º artigo do Padre Zezinho no jornal)
“Sem um conhecimento melhor do mundo, da história, do comportamento humano, das ciências, nosso discurso será alienado, por mais piedoso que seja.” (‘Morrer de anorexia’ – 09/01/2007)
Aos artistas e comunicadores
“Procuram-se pregadores, locutores e apresentadores profundos, dinâmicos e envolventes (...) Não precisam ser doutores, nem gênios da comunicação, mas espera-se que gostem de livros. Mais do que isso: precisam gostar de livros profundos e ricos de informação e catequese e não apenas de livros de testemunho de vida!” (‘Profundos e envolventes’ – 02/11/2010)
“A Igreja Católica tem história rica de conteúdo e personagens interessantíssimos que merecem ser conhecidos. O microfone que me emprestam é para apontar para os outros, os holofotes são para mostrar os outros e as câmeras não devem demorar em mim. É o que passo a quem diz aprender comigo. ‘Protagonismo discreto’, eis a ideia. É o que ensino, é o que tento viver.” (‘Microfone que não é meu’ – 31/01/2012)
A busca incessante por Deus
“A grande verdade sobre a existência de Deus é que quem se gaba de havê-lo encontrado corre o risco de perdê-lo, exatamente porque se gabou. Quem humildemente continua a procurá-lo prova que realmente o encontrou porque o primeiro resultado do encontro com Deus é querer saber mais sobre Ele.” (‘Deus – será que o encontramos?’ – 01/05/2007)
A catequese dos templos
“... Ainda hoje, quando entro num templo católico, salta-me aos olhos a nossa catequese na parede. Outros templos não a utilizam, mas nós nos valemos até das paredes, vitrais e colunas para contar histórias da nossa fé. Lá na frente há o sacrário e, um pouco ao lado, uma Bíblia aberta. Mas assim que entramos, começam as linguagens claras da Igreja a nos dizer que ali se recorda Jesus Cristo e seu Evangelho.”
Defesa da vida
(‘A Cristo, pela Igreja’ – 06/07/2010)
“Quanto à acusação de que a Igreja é pouco moderna ou pouco inteligente ao condenar a distribuição de camisinhas ou se opor ao aborto subsidiado pelo Estado, é de se perguntar se ser clemente não é melhor do que parecer inteligente. Clementes não para com quem tira a vida e sim para com o feto por nascer (...) se defendem o frágil mico-leão-dourado, o frágil ursinho abandonado e as frágeis corujas de beira-mar, por que não defender os frágeis fetos humanos indesejados? Ou salvamos as focas e os ursinhos enquanto eliminamos os filhos já concebidos.” (‘Os católicos e a saúde pública’ – 09/09/2008)
Matrimônio
“Tem muitos laços o matrimônio. Também tem muitos nós. Mais laços do que nós. Os nós por causa do grande ‘Nós’ que os dois ‘Eu’ criaram. Os laços são muito mais flexíveis e é gostoso atá-los e reatá-los [...] Uma coisa é certa. Se um casamento tem mais nós do que laços, está em crise. Se só aceita laços frouxos e nenhum nó, está em crise. Sem laços não há eu! Sem os nós, o ‘Eu’ jamais se transformará em ‘Nós’.”
O passar dos anos
(‘De nós e de laço’ – 15/02/2011)
“A vida nos encontrará manhosos, carentes, resmungões e insatisfeitos se esperávamos que ela jogasse as respostas em nosso colo. Vai nos achar tranquilos, sem grandes carências e criativos como sempre se formos ao encontro dela. Somos como o sujeito que diante do apagão da casa achou a gaveta, o fusível e as chaves. Ele tinha no chaveirinho uma lanterninha com minipilha que sempre se renovava. Sua pequena luz o ajudava a achar luzes maiores aonde quer que fosse.”
Coerência de vida
(‘Sólidos e cimentados’ – 24/05/2011)
“Coerência supõe santidade e maturidade, valores que não caem do céu nem acontecem no estalar de alguns dedos. [...] Mostramos nossa incoerência quando juramos e não cumprimos, prometemos e não assumimos, quando vamos embora de companheiros, familiares e igrejas ou grupos, se ir embora se nos afigura mais vantajoso (...) quando achamos sempre uma desculpa para nossos desvios e nos mostramos inclementes contra os erros dos outros; quando escondemos a enorme farpa em nosso olho e achamos horrível o cisco no olho alheio...” (‘Coerentes como Jesus’ – 26/02/2013)
20 grandes sucessos 1. Canção da Amizade (1969) Eu vou celebrar nossa amizade Cantando a canção da caridade Que o Cristo ensinou e o mundo empolgou Pois ele é o caminho e a verdade 2. Estou pensando em Deus (1972) 3. Eu tenho fé (1972) 4. Nova geração (1973) 5. Minha vida tem sentido (1973) Minha vida tem sentido, cada vez que eu venho aqui E te faço o meu pedido de não me esquecer de ti Meu amor é como este pão, que era trigo Que alguém plantou, depois colheu E depois tornou-se salvação, e deu mais vida E alimentou o povo meu 6. O silêncio está cantando (1973) 7. Amar como Jesus amou (1974) Amar como Jesus amou Sonhar como Jesus sonhou Pensar como Jesus pensou Viver como Jesus viveu Sentir o que Jesus sentia Sorrir como Jesus sorria E ao chegar ao fim do dia Eu sei que eu dormiria muito mais feliz 8. Um certo Galileu (1975) 9. Alô meu Deus (1975) 10. Maria de minha Infância (1975) 11.
Utopia (1975) E há tantos filhos Que bem mais do que um palácio Gostariam de um abraço E do carinho entre seus pais Se os pais amassem O divórcio não viria Chamam a isso de utopia Eu a isso chamo paz
12. Maria de Nazaré (1981) 13. Mãe do Céu Morena (1982) 14. Há um barco esquecido na praia (1985) 15. És Água Viva (1990) És água viva, és vida nova E todo dia me batizas outras vez Me fazes renascer, me fazes reviver Eu quero água desta fonte de onde vens 16. Sol Nascente (1990) 17. Oração pela família (1990) Que a família comece e termine sabendo aonde vai E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor E que os filhos conheçam a força que brota do amor 18.
Ilumina, Ilumina (1997) Ilumina, ilumina Nossos pais, nossos filhos e filhas! Ilumina, ilumina Cada passo das nossas famílias!
19. Dois riscos (2002) 20. Coisas que já sei (2008)
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Pelo Brasil | 15
Igreja no Brasil recorda as 500 mil mortes de COVID-19 Daniel Gomes
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“Toda vida importa.” Com este tema de sensibilização, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu no sábado, 19, um dia de oração em memória dos mais de 500 mil mortos de COVID-19 no Brasil, marca alcançada naquela data. Em muitas paróquias e comunidades, houve missas em sufrágio das almas e foi rezada a oração elaborada para a ocasião, na qual se pede que Deus acolha todos os mortos em decorrência do coronavírus e lhes conceda a paz eterna. Na prece também é pedido que o povo brasileiro possa trabalhar por solidariedade, acolhimento, partilha, compreensão e resiliência. No Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Caeté (MG), o Presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu missa, transmitida por tevês e rádios de inspiração católica. “A nossa memória, reverente, e a nossa prece pelos que morreram reavivem em nossos corações sentimentos de humanidade”, pediu Dom Walmor na homilia. Às 15h, em muitas igrejas os sinos
repicaram em memória das vítimas da pandemia e em solidariedade às suas famílias. Os mortos de COVID-19 também foram recordados em momentos de oração, como o realizado nas escadarias da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Viçosa (MG), onde foram acesas 500 velas. Na segunda-feira, 21, um ato similar ocorreu nas escadarias da Catedral Metropolitana de Manaus, no Amazonas. De acordo com Dom Leo-
nardo Steiner, Arcebispo de Manaus, foi um momento para se recordar os mortos de COVID-19, trazer esperança à sociedade e cobrar justiça em relação à postura das autoridades no cuidado com o povo neste tempo de pandemia. Carta ‘Meio Milhão de Vidas Perdidas’ No domingo, 20, as entidades signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil – CNBB, Ordem dos Advogados do Brasil CNBB
(OAB), Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – publicaram a carta “Meio Milhão de Vidas Perdidas”, na qual prestam solidariedade às famílias afetadas pela perda de seus entes para a COVID-19. As entidades também lamentaram as manifestações contrárias às medidas recomendadas por organismos sanitários e expressaram o desejo de que a atual CPI da Pandemia no Senado possa efetivamente investigar as ações e omissões da gestão pública diante da crise provocada pelo coronavírus. “Expressamos aqui a nossa solidariedade, com uma palavra de conforto. Se, por um lado, a morte de tantos requer o silêncio respeitoso e as preces dos que têm fé, de outro lado, conclamamos mais uma vez a união nacional em defesa da vida e da democracia no Brasil. Dias melhores virão. Seja esta a bandeira de um novo tempo. Vidas perdidas não serão esquecidas”, consta na conclusão da carta, cuja íntegra pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/en3tGXZ. Fonte: CNBB
Bispos tratam de temas da Igreja no País e de participação no Sínodo de 2023 Reunidos de modo virtual entre os dias 16 e 17, os prelados que compõem o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deliberaram sobre temas da Igreja no País. A reunião foi aberta com uma mensagem do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambatistta Diquattro, que expressou a solidariedade e a proximidade do Papa Francisco com o País diante do atual momento de pandemia. Ele destacou que o Pontífice encoraja os membros da Igreja a continuarem a dar testemunho de Cristo e do seu Evangelho. O Núncio recordou que a sociedade deve buscar o diálogo e não as polarizações para lidar com os desafios atuais. Sínodo dos Bispos Na quinta-feira, 17, os membros da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos participaram da reunião do Conselho Permanente para detalhar o processo da assembleia sinodal, que terá etapas diocesanas e continentais, antes do Sínodo com o Papa em outubro de 2023. O Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal
Mario Grech, ressaltou que o Sínodo é uma experiência de um caminho de escuta. “O Sínodo não é apenas um evento celebrado em Roma, mas um processo que envolve toda a Igreja. É por esse motivo que abrimos a primeira fase da consulta do povo de Deus nas Igrejas particulares”, explicou. Um dos subsecretários, o Monsenhor Luis Marìn, ressaltou que a proposta do Papa é a de unir o povo de Deus, “para caminharmos em frente, escutar o Espírito e refletir qual estilo eclesial o Espírito nos dá hoje”. Ele lembrou que o Sínodo “não deve ser para celebrar e chegar a um documento, mas é uma experiência de mudança da nossa Igreja. Temos respostas muito sérias para serem dadas. Não apenas a escuta teórica sobre o que é sinodalidade, mas um levantamento de experiências sinodais na nossa Igreja”. Outros temas Ao longo dos dois dias de reunião, o Conselho Permanente deliberou sobre outros temas em pauta. Um deles foi a aprovação do regimento do Instituto Nacional de Pastoral (Inapaz), um organismo
técnico de assessoria teológica e pastoral da CNBB. Também foi aprovada, ad experimentum, a proposta de criação de uma Associação de Médicos Brasileiros Católicos. A ideia é que os médicos se organizem, tenham um estatuto nacional e sejam reconhecidos pela CNBB. Canonistas da Conferência poderão fazer ajustes no estatuto da associação, caso necessário. Os bispos também aprovaram o regulamento do Regional Leste 3 da CNBB, que compreende as dioceses no estado do Espírito Santo, cuja criação foi aprovada na última Assembleia Geral da CNBB em abril. O Conselho Permanente aprovou, ainda, a criação de um grupo de trabalho que irá refletir sobre as expressões ligadas à Renovação Carismática e aos carismas pentecostais na Igreja no Brasil, tratando de questões relacionadas à doutrina, liturgia e compromisso social. Os bispos, também, deram parecer favorável à realização do 1º censo das rádios de inspiração católica no Brasil, a fim de mapearem tais veículos, para que sejam mais bem aproveitados pela Igreja. (DG) Fonte: CNBB
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
A FUNDAÇÃO CAPELLA MENINO JESUS E SANTA LUZIA, CNPJ/MF nº 56.462.237/0001-49, nos termos do artigo 7º, primeira parte, do Estatuto alterado e consolidado em 16.12.2003, livro nº 1485, fls. nº 025, 27º Tabelião de Notas da Capital– SP, convoca os membros da sua Diretoria para a Assembleia Geral Ordinária a realizar-se em sua sede à Avenida Higienópolis nº 890, sala 12, São Paulo, SP, na data de 05 de julho de 2021, às 15:00 horas, em primeira chamada, com pelo menos 2/3 dos membros da sua Diretoria presentes; e, às 15:30 horas, em segunda chamada, com os membros da sua Diretoria que estiverem presentes. A Assembleia Geral Ordinária terá como pauta: 1 – Aprovação do Balanço Geral do exercício de 2020 da Fundação Capella Menino Jesus e Santa Luzia; 2- Outros assuntos. São Paulo, 22 de junho de 2021. Presidente da Fundação Capella Menino Jesus e Santa Luzia.
A FUNDAÇÃO METROPOLITANA PAULISTA, CNPJ/MF nº 50.951.847/0001-20, nos termos do artigo 8º, caput, primeira parte, do Estatuto alterado e consolidado em 30.03.2017, devidamente registrado sob nº 718.169, junto ao Terceiro Oficial de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São Paulo em 17.05.2017, convoca os membros do Conselho Curador para a Assembleia Geral Ordinária a realizar-se em sua sede à Av. Higienópolis nº 890, sala 16, São Paulo, SP, na data de 05 de julho de 2021, às 14:00 horas, em primeira chamada, com todos os membros do Conselho Curador; e, às 14:30 horas, em segunda chamada, com os membros do Conselho Curador que estiverem presentes. A Assembleia Geral Ordinária terá como pauta: 1- Apresentação, apreciação e aprovação do Balanço Geral do exercício de 2020 da Fundação Metropolitana Paulista, nos termos do artigo 9º, alínea “d”, e artigo 24, parágrafo segundo, todos do Estatuto vigente; 2- Homologação da apresentação do relatório de atividades dos Órgãos de Serviços (artigos 12 e 24, caput, estatuto); 3- Outros assuntos. São Paulo, 22 de junho de 2021. Presidente da Fundação Metropolitana Paulista.
A FUNDAÇÃO SANTA TEREZINHA, CNPJ/MF nº 69.273.050/0001-49, nos termos do artigo 7º, parágrafos primeiro e segundo, do Estatuto alterado e consolidado em 16.12.2003, livro nº 1485, fls. nº 029, 27º Tabelião de Notas da Capital - SP, convoca os membros da sua Mesa Administrativa para a Assembleia Geral Ordinária a realizar-se em sua sede à Avenida Higienópolis nº 890, sala 14, São Paulo, SP, na data de 05 de julho de 2021, às 16:00 horas, em primeira chamada, com pelo menos 2/3 dos membros da Mesa Administrativa presentes; e, às 16:30 horas, em segunda chamada, com os membros da Mesa Administrativa que estiverem presentes. A Assembleia Geral Ordinária terá como pauta: 1 – Aprovação do Balanço Geral do exercício de 2020 da Fundação Santa Terezinha; 2- Outros assuntos . São Paulo, 22 de junho de 2021. Provedor da Fundação Santa Terezinha.
16 | Pelo Mundo | 23 a 29 de junho de 2021 |
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Europa
Canadá
Idealizador da União Europeia avança no caminho da santidade
Igrejas antigas pegam fogo em comunidades indígenas canadenses
Arquidiocese de Malta
José Ferreira Filho
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No sábado, 19, o Papa Francisco reconheceu as virtudes heroicas de Robert Schuman, político luxemburguês nascido em 1886 e radicado na França, considerado um dos fundadores do bloco político-econômico europeu. A decisão do Pontífice significa que Schuman pode ser chamado de “venerável” pelos fiéis católicos, uma das várias etapas de um processo geralmente longo que costuma resultar em santidade. Schuman foi educado nos valores cristãos que impregnaram sua vida política e inspiraram os princípios fundadores da integração dos países do continente, a qual começou depois da Segunda Guerra Mundial e culminou com a criação da União Europeia. RECONHECIMENTO A nota biográfica distribuída pela Congregação para as Causas dos Santos afirma que o Servo de Deus Robert Schuman “viveu a virtude da fé como uma dimensão totalizante. Tomou a decisão de se dedicar à política como um ato de obediência à vontade de Deus”. O documento enfatizou que “a fé alimentou e sustentou o seu empenho em trabalhar por uma Europa unida e reconciliada. Sua participação diária na Eucaristia foi recolhida e silenciosa, suscitando admiração em quem o encontrou”. VIDA ASCÉTICA Embora Robert Schuman tenha exercido diversos cargos no alto escalão do governo francês, nos períodos de maior compromisso político “visitava com regularidade o Santíssimo Sacramento” e “frequentava assiduamente o sacramento da Reconciliação”. Era um “homem de oração pessoal e litúrgica”, que “celebrava regularmente a Liturgia das Horas”. Também era “assíduo e fiel à meditação diária das Escrituras, bem como à oração do Rosário. Um aspecto singular e característico de sua espiritualidade era o amor pelas grandes abadias, onde procurava se refugiar para passar períodos de meditação e oração”. LEIGO ENGAJADO Como político, Robert Schuman era um “homem que respeitava plenamente a laicidade do Estado”, mas que “nunca aceitou agir contra sua consciência, formada na obediência aos mandamentos de Deus e à lei da Igreja”.
A Polícia Federal está investigando incêndios “suspeitos” que destruíram duas igrejas católicas construídas por volta de 1910 em comunidades indígenas no oeste do Canadá. A Igreja do Sagrado Coração e a Igreja de São Gregório arderam em chamas por volta da mesma hora, entre 1h e 3h, horário local, na segunda-feira, 21. Essa destruição ocorre semanas depois que os túmulos não identificados de 215 crianças foram encontrados nas proximidades de Kamloops, em um dos muitos internatos criados há um século para assimilar os povos indígenas do Canadá. A descoberta na Escola Residencial Indígena Kamloops chocou os canadenses e renovou os apelos para que o Papa Francisco se desculpasse pelo ocorrido nas escolas administradas pela Igreja em nome do governo federal. Jason Bayda, sargento da Polícia Montada Real Canadense, disse que a corporação está investigando os dois incêndios. “Ambas as igrejas foram totalmente queimadas e a polícia está tratando os incêndios como suspeitos”, disse ele. Espera-se que encontrem indícios que possam determinar a causa e os responsáveis pelos incidentes. Fonte: UCA News
Em Metz, em 1912, deu seus primeiros passos como advogado. O então Bispo da Diocese, Dom Benzler, confiou-lhe o cargo de presidente da Federação Diocesana das Associações Juvenis Católicas. Naqueles anos, dedicou-se também ao apostolado pela infância abandonada e sujeita à delinquência. Foi o responsável pela organização do 60º Katholikentag, o Congresso Católico Alemão, celebrado em Metz, em 1913. IMPULSO AGREGADOR Robert Schuman sempre teve uma forte vocação europeísta, sobretudo após vivenciar as terríveis consequências da Primeira Guerra Mundial. Seu sonho era a Europa unida, em que a solidariedade e a promoção da paz entre os diversos povos, fundados sobre laços comuns, fossem os pilares do projeto. Movido por esse ideal, trabalhou arduamente na defesa da concordata com a Santa Sé e da justiça social. ANSEIO PELA UNIÃO Esforçou-se por promover um sistema comum de crescimento econômico e social que respondesse às necessidades de uma Europa devastada pelas guerras mundiais. Em maio de 1950, Schuman fez um discurso lançando a cooperação entre as nações europeias para ajudar a convergir seus interesses.
Tal iniciativa, especialmente envolvendo a França e a Alemanha, argumentou ele, tornaria outra guerra no continente impensável e impossível. Schuman se uniu ao chanceler alemão Konrad Adenauer, ao ex-presidente italiano Alcide De Gasperi e a Jean Monnet, presidente da primeira das comunidades europeias, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, na elaboração do Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Econômica Europeia.
Portugal
Entidades católicas portuguesas repudiam prender imigrantes
LEGADO O tratado foi assinado em março de 1957 por França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Por esse motivo, Schuman, Adenauer, De Gasperi e Monnet são considerados os quatro fundadores da União Europeia. Em março de 1958, Schuman foi eleito o primeiro presidente do Parlamento Europeu, recentemente constituído. Vítima de esclerose cerebral grave desde 1959, faleceu em ScyChazelles, na França, em 4 de setembro de 1963, aos 77 anos. No ano passado, ao comemorar o 70º aniversário de seu discurso, que ficou conhecido como Declaração de Schuman, Francisco elogiou o legado do estadista, dizendo que daí em diante veio “um longo período de estabilidade e paz, do qual nos beneficiamos hoje”.
Associações e organizações católicas portuguesas manifestaram o “mais veemente repúdio” ao plano do governo de deter os imigrantes sem documento em uma prisão de Oeiras, bairro de Lisboa. “Imigrar não é crime. A falta de documento não é crime”, dizem as entidades católicas, em comunicado conjunto lançado na sextafeira, 18. O diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (SJR) em Portugal, André Costa Jorge, em declarações à Ecclesia, agência da Conferência Episcopal Portuguesa, por ocasião do Dia Mundial do Refugiado, afirmou que Portugal tem mostrado um “profundo humanismo” na acolhida de imigrantes e refugiados. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), há 1,4 milhão de refugiados vulneráveis e com necessidade de realojamento na Europa. “A sociedade civil portuguesa soube estar à altura do desafio, todavia, infelizmente, não foi assim em toda a Europa”, disse André Costa. A Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), entidade criada pelo governo de Portugal, congregou “centenas de organizações, muitas delas da Igreja Católica”. Essas organizações acolheram cerca de 40 pessoas em 2015 e, no final de 2020, mais de 2 mil, segundo Costa.
Fontes: ACI Digital e Crux Now
Fonte: ACI Digital
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Reportagem | 17
Relatório apresentado ao clero brasileiro alerta sobre ameaças à liberdade religiosa no mundo Fernando Geronazzo
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A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês) realizou na terça-feira, 22, um evento on-line para apresentar aos clérigos do Brasil os dados do Relatório Liberdade Religiosa no Mundo 2021. A iniciativa teve o objetivo de aprofundar com sacerdotes e diáconos a amplitude das violações da liberdade religiosa no mundo, que, segundo relatório publicado em 20 de abril, atinge um em cada três países do globo. Participaram do evento o Assistente Eclesiástico da ACN Brasil, Frei Rogério Lima; a presidente da entidade no País, Ana Cecília Giorgi Manente; e colaboradores da Fundação Pontifícia. Intolerância Rodrigo Arantes, do setor de comunicação da ACN Brasil, explicou as diferentes classificações de violações da liberdade religiosa que ajudam a compreender o relatório. A primeira delas é a intolerância, que, de alguma forma, atinge todos os países e que se torna mais grave quando demonstrada abertamente sem a contestação das autoridades locais. “A intolerância acontece, por exemplo, quando se disseminam mensagens sobre um grupo específico como sendo perigoso ou nocivo em uma sociedade [...] Durante a pandemia, em alguns países, minorias religiosas foram acusadas de serem as transmissoras responsáveis pelo coronavírus”, relatou Arantes, ponderando que, nesses casos, ainda há o respaldo de lei para as vítimas. Discriminação Quando as autoridades não agem com firmeza contra os atos de intolerância religiosa, abre-se espaço para o agravamento da situação, que consiste na discriminação. A discriminação ocorre quando há leis ou normas que se aplicam a um grupo específico e não a todos. Nesse caso, geralmente, é o Estado que se torna o autor do crime que viola a liberdade religiosa. Um exemplo disso são as “leis da blasfêmia” existentes em alguns países islâmicos que colocam uma crença acima de todas as outras e, em vez de protegerem os indivíduos, protegem um grupo.
Entre as discriminações, inclui-se a limitação do acesso ao emprego, recusa da prestação de serviços de emergência se os beneficiários não pertencerem a uma determinada religião, a incapacidade de comprar ou reabilitar bens, de viver em um determinado bairro ou de exibir símbolos de fé. Perseguição A etapa seguinte, que pode coexistir com discriminação, é a perseguição religiosa. Pode ser um programa ou uma
campanha ativa para exterminar expulsar ou subjugar pessoas com base no fato de serem membros de um grupo. Portanto, habitualmente, inclui crimes de ódio. Tais perseguições são vistas, no Oriente Médio e, mais recentemente, têm crescido no continente africano. “Na perseguição, os indivíduos pertencentes a grupos minoritários podem estar sujeitos a assassinatos, expropriação e destruição de bens, roubo, deportação, exílio, conversão forçada e, até mesmo, casamentos forçados”, enumerou Arantes, acrescentando que nos casos do extremismo islâmico, até grupos muçulmanos são alvos dessas perseguições. Genocídio Em casos extremos, a perseguição se transforma em genocídio, que, como explicou o especialista, é constituído por atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
Nesses casos, além de assassinatos, são considerados genocídio os danos físicos ou mentais causados a membros de um grupo, a imposição de condições de vida que provoquem a sua destruição física, medidas que impeçam os nascimentos no grupo, assim como a transferência forçada de crianças para outros grupos ou mesmo o recrutamento militar de menores para grupos terroristas. Segundo o Relatório da ACN, a liberdade religiosa não foi respeitada em 62 (31,6%) dos 196 países, entre 2018 e
2020. Em 26 desses países, as pessoas sofrem perseguição e, em 95% deles, a situação ficou ainda pior durante o período analisado. Nove países aparecem nesta categoria (Perseguição Religiosa) pela primeira vez: sete na África (Burkina Faso, Camarões, Chade, Comores, República Democrática do Congo, Máli e Moçambique) e dois na Ásia (Malásia e Sri Lanka). Na China e em Mianmar, as investigações estão em andamento para a confirmação de um possível genocídio. Sofrimento Foi apresentado aos clérigos o depoimento do Padre Joseph Fidelis, que está na Diocese de Maiduguri, no nordeste da Nigéria, onde vivem cerca de 222 mil católicos entre os 7,5 milhões de habitantes. Na década passada, já havia uma sistemática perseguição aos cristãos dessa região, que eram constantemente privados de seus direitos, como emprego e oportunidades econômicas.
“Com a vinda do [grupo terrorista] Boko Haram, há 11 anos, a situação tornou-se terrível para os cristãos. Perdemos muitas pessoas... Experimentamos mortes violentas e também privações. Cristãos são caçados como animais selvagens”, contou o Padre, destacando a onda de sequestros de meninas adolescentes que são forçadas à “conversão” ao Islã e ao casamento com estranhos. No Brasil O sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da ACN PUC-SP e responsável pela parte brasileira do relatório, explicou aos clérigos que, na América Latina, crescem os casos de intolerância religiosa, incluindo o Brasil. De acordo com dados dos últimos sete anos, as religiões afro-brasileiras continuam a ser as mais perseguidas no País, a ser registrados casos de ataques a locais de culto, sequestros, agressões e até assassinatos, além da constatação da “omissão ou incapacidade” do Estado para garantir a segurança desses grupos perseguidos. Outro dado que chama a atenção sobre o Brasil é a nova escalada de agressividade e intolerância. Tal escalada se manifesta por politização dos valores tradicionais, das crenças religiosas e do ressentimento diante do “cancelamento cultural” às comunidades cristãs ou “perseguição educada”, expressão cunhada pelo Papa Francisco, para descrever como as novas normas e valores culturais entram em conflito com os direitos individuais à liberdade de consciência, e consignam a religião “aos distritos fechados de igrejas, sinagogas ou mesquitas”. Frei Rogério Lima salientou que a preocupação com a liberdade religiosa está na gênese dessa fundação pontifícia e tem uma intrínseca relação com aquilo que é próprio do ministério sacerdotal: “reconstruir a partir da reconciliação”. O Assistente Eclesiástico afirmou ainda, que, apesar de gerar certa indignação, esses dados não podem despertar um sentimento de agressividade para com aqueles que violam a liberdade religiosa. Ao tomarem consciência dessa realidade, porém, os clérigos devem ajudar na formação de futuras gerações para que tenham como prioridade “o diálogo, o respeito, a valorização do diferente”.
18 | Papa Francisco | 23 a 29 de junho de 2021 |
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Vatican Media
Atenção à crise humanitária em Mianmar
Que ‘ninguém fique para trás’ no pós-pandemia Filipe Domingues
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
O Papa Francisco pediu que nenhuma pessoa seja excluída do processo de saída da crise sanitária e econômica global. Em mensagem gravada para a Conferência Internacional do Trabalho (International Labour Conference - ILO), na quinta-feira, 17, o Pontífice afirmou que é preciso desenvolver uma “cultura da solidariedade” para contrastar com a “cultura do descarte”, e pediu atenção
especial aos que perderam seus empregos neste período. A “indiferença egoísta” é um vírus pior que a COVID-19, disse o Papa Francisco. “Uma sociedade não pode progredir descartando.” Este “vírus” da indiferença leva a pensar que “tudo está bem se está bem para mim”, declarou, criticando o grande egoísmo dos tempos atuais. Nesse contexto, selecionam-se pessoas, constroem-se “novas elites à custa dos descartados”. Dando continuidade à mensagem de sua encíclica Fratelli tutti, declarou:
“Todos somos frágeis e, ao mesmo tempo, todos temos grande valor”. O Papa Francisco também defendeu o direito ao trabalho e à sindicalização dos trabalhadores. Ele exortou, ainda, as autoridades públicas a prestar mais atenção à economia informal e àqueles que ficaram sem trabalho durante a pandemia. “É necessário garantir que a assistência social chegue à economia informal”, disse, pedindo especial atenção às mulheres, que têm grande participação nesses mercados.
Que a oração de Jesus seja modelo para a nossa No último encontro da série de catequeses sobre a oração, realizadas às quartas-feiras, o Papa Francisco falou sobre como a oração de Jesus deve inspirar aquela de todo cristão. “Jesus reza nas horas decisivas da paixão e da morte. E, com a ressurreição, o Pai vai cumprir a oração”, recordou o Pontífice em 16 de junho, lembrando os últimos momentos da vida de Cristo. “A oração de Jesus é intensa, é única e
se torna modelo para a nossa oração. Jesus rezou por todos, rezou também para mim, para cada um de nós”, disse o Papa. “Cada um de nós pode dizer: ‘Jesus, sobre a cruz, rezou por mim’. Ele rezou.” Até mesmo nos momentos de maior sofrimento, continuou Francisco, devemos direcionar nossa oração a Deus por meio de Jesus. “Não estamos nunca sozinhos. A oração de Jesus está conosco”, acrescentou. Saber que Jesus está
conosco quando rezamos, é uma verdadeira “graça”. “Nunca devo esquecer que Jesus reza por mim. Cada um de nós pode colocar isso no coração. Somos acolhidos desde já no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito Santo. Somos amados por Cristo Jesus”, refletiu. “Com a oração e com a vida, nos resta ter coragem, esperança e sentir forte a oração de Jesus, e ir em frente.” (FD)
“Uno minha voz à dos bispos de Mianmar”, disse o Papa Francisco no domingo, 20. Após a oração do Angelus, ele apoiou o apelo público dos bispos do país asiático “chamando a atenção do mundo inteiro à experiência angustiante de milhares de pessoas deslocadas que morrem de fome naquele país”. Citando a mensagem dos bispos de Mianmar, ele afirmou: “Suplicamos com toda a gentileza que sejam permitidos corredores humanitários e que igrejas, pagodes [templos budistas], mosteiros, mesquitas, templos, bem como escolas e hospitais sejam respeitados como lugares neutros de refúgio”. Um golpe militar derrubou o governo eleito do país do sudeste asiático em fevereiro deste ano. Desde então, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Centenas foram mortas pela repressão do governo militar. O país, de maioria budista, também é internacionalmente criticado pela perseguição à minoria islâmica da etnia Rohingya. O golpe reativou antigos conflitos étnicos na nação Não é a primeira vez que Mianmar é governado por uma ditadura. Após a independência do Reino Unido, em 1948, o país então chamado de Birmânia esteve sob o controle dos militares entre 1962 e 2011. Ali houve uma transição a um novo governo civil, liderado pela líder de oposição Aung San Suu Kyi. Neste ano, ela foi novamente eleita com grande apoio popular, mas os militares não aceitaram a derrota, tomaram o poder e declararam estado de emergência. San Suu Kyi está presa. Em 12 de junho, os bispos de Mianmar pediram a criação de corredores humanitários para que a ajuda internacional possa chegar aos atingidos pela guerra, e lamentaram o desrespeito aos lugares sagrados. “Que o Coração de Cristo toque o coração de todos, trazendo a paz para Mianmar!”, afirmou o Papa no domingo. (FD)
Indulgência plenária será concedida no 1º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos REDAÇÃO
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A Penitenciaria Apostólica divulgou na terça-feira, 22, que será concedida a indulgência plenária, “sob as habituais condições, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice, aos avós, aos idosos e a todos os fiéis que, motivados por um autêntico espírito de penitência e caridade, participarem no dia 25 de julho de 2021 – 1º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos –, da solene celebração que o Papa Francisco presidirá na Basílica de São Pedro ou então das diversas funções
que ocorrerão em todo o mundo. E eles poderão aplicá-la também em sufrágio das almas do purgatório”. A indulgência plenária será concedida também aos fiéis que dedicarem tempo para visitar presencial ou virtualmente os irmãos idosos necessitados ou em dificuldade. Poderão também obtê-la os idosos doentes e todos os que, impossibilitados de saírem de casa por grave motivo, unirem-se espiritualmente às funções sagradas do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Também na terça-feira, o Vaticano divulgou a mensagem do Papa para a data. O Pontífice recordou que Jesus
está com os idosos diariamente assim como “toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, conosco –, preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado”, afirma em um dos trechos. Francisco, de 84 anos, explicou o porquê se celebrará o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos pela primeira vez em 2021: “Mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão, repetindo-nos: ‘Eu estou contigo todos os dias’. Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebra-
do pela primeira vez precisamente neste ano, depois de um longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!”. Também lembrou aos idosos uma missão que lhes é própria: “Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto”. A íntegra da mensagem pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/Rn3Qhe1 (Com informações de Vatican News)
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Reportagem | 19
CNBB e Iphan assinam acordo para melhor preservação do patrimônio cultural da Igreja Católica no Brasil Imprensa CNBB
Daniel Gomes
osaopaulo@uol.com.br
Edificações, objetos de culto, imagens de santos e outros patrimônios da Igreja Católica no Brasil têm um valor não somente religioso, mas também histórico e artístico, sendo assim, parte dos bens culturais da Igreja e da identidade do povo brasileiro. Para melhor preservá-los e valorizá-los, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) assinaram, no dia 16, um acordo de cooperação técnica, publicado no Diário Oficial da União na segunda-feira, 21, com duração de três anos. O acordo mantém as responsabilidades de cada uma das partes na gestão desses bens – de modo que não haverá qualquer ingerência do Estado no patrimônio da Igreja – e não envolve o repasse de recursos financeiros.
Histórico da preservação dos bens culturais da Igreja no Brasil O patrimônio da Igreja Católica no Brasil, composto de edificações (casas, capelas etc.), objetos de culto e imagens sacras, existe desde o período colonial, com a chegada ao País dos primeiros missionários no século XVI. Desses bens culturais, boa parte contribuiu para a formação da identidade cultural brasileira e, por isso, são reconhecidos como patrimônio cultural nacional. Desde a criação do Iphan, em 1937, previu-se a necessidade de cooperação com autoridades eclesiásticas, dada a representatividade desses bens para o patrimônio cultural. Na década de 1970, a CNBB publicou o “Documento Base sobre a Arte Sacra”, que orientou os responsáveis pelos acervos culturais nas ações da gestão e promoção dos seus bens culturais eclesiásticos. Em 2008, o Acordo Brasil-Santa Sé previu a cooperação para salvaguardar, conservar, valorizar e preservar os bens culturais eclesiásticos, mantendo sua finalidade religiosa como primeira e principal, não excluindo seu valor histórico, artístico e cultural. Fontes: CNBB e Iphan
Dom Joel Portella e Larissa Peixoto, presidente do Iphan, assinam acordo de cooperação técnica
Processo colaborativo Pelo acordo, a CNBB e o Iphan estabelecerão processos colaborativos para potencializar as ações de preservação e valorização do patrimônio cultural sob a gestão da Igreja Católica. Entre as iniciativas estão ações educativas e preventivas, identificação desse patrimônio cultural, estabelecimento de diretrizes para intervenções, fomento à conservação, produção de materiais formativos, articulação com os cursos já existentes nas pontifícias universidades católicas, capacitação do quadro funcional da CNBB e dos colaboradores da Igreja como um todo para a gestão de imóveis e acervos e o diagnóstico dos bens tombados – aqueles que não podem ser destruídos ou descaracterizados. Atualmente, 32% dos bens tombados pelo Iphan pertencem à Igreja. “Às vezes, obras são feitas sem o cuidado certo com uma parede, com uma imagem, por exemplo. Aquela obra se degrada e anos depois é preciso investir naquele bem de novo”, comentou, na cerimônia de assinatura do acordo, a presidente do Iphan, Larissa Peixoto. “O Brasil tem mais de 400 bens que pertencem à Igreja Católica e que serão beneficiados com esse acordo. Essa parceria vai promover cada vez mais nossa identidade cultural e melhorar a gestão desses bens”, complementou. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Jair Mongelli Junior, diretor técnico do Arquivo Metropolitano de São Paulo, da Arquidiocese, destacou que “o Iphan tem uma grande experiência no desenvolvimento de técnicas e orientações que serão muito úteis aos gestores e colaboradores que trabalham diretamente com os bens cul-
turais eclesiásticos. Se conseguirmos avançar na educação patrimonial para os futuros presbíteros, o atual clero e funcionários leigos, estaremos dando um grande passo para essa adequada preservação”. Mongelli Junior cita exemplos de descuidos corriqueiros que podem levar à danificação dos bens, como “a limpeza de cálices e patenas com produtos químicos abrasivos e palhinha de aço, ou o arquivamento de documentos, antigos e raros de uma paróquia, em uma sala úmida e sem a ventilação necessária”. Cidadania e preservação da história Durante a assinatura do acordo, Dom Joel Portella Amado, Secretário geral da CNBB e Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), ressaltou que o cuidado específico com os bens culturais da Igreja, “é o ponto visível, sensível, de um cuidado muito maior: o com a história do nosso País e com as pessoas que a construíram”. O Bispo comentou, ainda, que os bens culturais da Igreja são “expressão daquilo que é semeado nos corações humanos, que é onde nós queremos chegar. A boca fala do que vai no coração, a mão constrói o que vai no coração, e a fé também se expressa por meio do que é belo, por meio da arte”. “Cuidar desse acervo é cuidar da memória e dos valores mais profundos de um povo, respeitando a sua história, preservando o seu passado, para consolidar valores importantes hoje e, com certeza, ajudando as novas gerações. O que se faz aqui, hoje, ultrapassa a conservação, restauro dos bens materiais, algo que em si já é grande, mas no fundo nós estamos
dando uma contribuição de cidadania”, disse Dom Joel. “Um povo que não ama seu passado, não conhece a sua história e não a preserva, não consegue construir o futuro”, complementou. O Secretário geral da CNBB também lembrou que o acordo resguarda as especificidades de cada uma das partes. “Não é a Igreja fechada em si, nem o Iphan fechado em si”, sendo, portanto, uma experiência de encontro para ações em comum e de aprendizado mútuo. “As partes signatárias não anulam suas responsabilidades, suas missões específicas, mas, sim, manifestam que as especificidades podem e devem se completar em vista de algo maior: no caso, o respeito à história, à criatividade e à beleza deixados por quem nos precedeu”, comentou, destacando, ainda, que o acordo de cooperação técnica para a preservação dos bens culturais materiais respeita a destinação religiosa como primeira finalidade do acervo que a Igreja mantém.
Identidade visual O selo que demarca o acordo de cooperação técnica também foi apresentado no dia 16. Ele é de autoria do designer Vitor Corrêa e foi elaborado pelo Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, em conjunto com a CNBB. A identidade visual faz referências à Catedral de Brasília, à Igreja de Nossa Senhora da Pena, na Bahia; à Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte (MG); às procissões religiosas e aos detalhes estruturais internos e externos, assim como aos objetos que compõem as igrejas. A marca une elementos como arabescos, a vista superior da Catedral e a corda do Círio de Nazaré, com a qual se finaliza, em sua parte inferior, com um aperto de mãos, fazendo alusão ao acordo.
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Obras jesuíticas em São Paulo
O rico acervo do Museu de Arte Sacra O SÃO PAULO apresenta a última das reportagens da série sobre as obras jesuíticas espalhadas pela capital paulista e arredores Percival Tirapeli
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
No início do século XX, o então Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, encarregou o Comendador Francisco de Salles Collet e Silva, chefe do Arquivo da Cúria Metropolitana, de retirar as peças mais antigas das igrejas e capelas da capital e do interior. Este território correspondia à grande Arquidiocese de São Paulo, que abarcava capelas e igrejas de cidades como São Vicente, Santos, Embu das Artes, Santana de Par-
naíba, Guararema, Itu e Mogi das Cruzes, entre outras. As importantes imagens do século de ouro da arte barrista de São Paulo, no início do século XVII, foram encaminhadas para o Museu da Cúria Metropolitana, entre elas obras-primas dos freis beneditinos Agostinho da Piedade e Agostinho de Jesus, bem como obras da antiga Sé e das capelas jesuíticas, incluindo aquelas do antigo Colégio. Em 1970, o Museu de Arte Sacra, por meio de um convênio entre a Cúria e o Governo do Estado e as religiosas do Convento da Luz, ali se instalou. Obras De capelas oriundas das imediações e litoral, deve-se notar os dois santos das oficinas dos jesuítas, em barro cozido, provenientes da capela da Fazenda Geral da Companhia de Jesus situada em Cubatão. Do século XVI, os santos Francisco Xavier e Inácio de Loyola ilustram o ensino nas oficinas dos colégios de São Vicente, Santos e São Paulo. A primeira imagem de São Paulo, venerada na antiga capela do Colégio, também ali se encontra em uma peanha, com postura rígida, com a túnica azul de forma cilíndrica e planejamento canelado, animado pelo manto vermelho que cai dos ombros, repuxado pela mão esquerda que segura um livro e o braço direito (faltante) que poderia erguer a espada. Proveniente da redução de Guarulhos, o sacrário com talha vazada (foto acima) é exemplar precioso, e da Capela de São Miguel, o porta-toalhas com cabeças indígenas a segurar pelas línguas vermelhas o suporte roliço em madeira, além de vasos sagrados que se encontram na Sala do Tesouro. O Divino Espírito Santo é um fragmento do altar de Araçariguama, a arder em fulgores solares a remeter ao símbolo da Companhia de Jesus. O polêmico São Jorge, vulto inteiro que saía nas procissões montado em um cavalo, é escultura articulada com grandes grebas escuras, caixote flexível sobre as
Irã Monteiro/Museu de Arte Sacra
coxas e acima os braçais, cotoveleiras e antebraçais com punções a imitar metal. A escultura portuguesa, requintada, pertencia ao Colégio dos Jesuítas, e, quando da expulsão dos padres (1759), o santo foi anexado ao acervo da antiga Sé. Da igreja do Colégio, há ainda parte de altares da sacristia da igreja demolida em 1896. Dispostos na Sala do Capítulo, estão
dois altares provenientes da antiga capela de Santo Amaro, inaugurada em 1686, reconhecidos por Mário de Andrade e, posteriormente, recolhidos ao museu, sendo restaurados em 2004. São talhas barrocas esculpidas com grande quantidade de flores e pássaros simbólicos como pelicano e fênix. Chama a atenção o colorido vibrante, o uso intenso do ouro aplicado sobre os entalhes e esparsas áreas com prata. Com uma belíssima exposição comemorativa dos 50 anos da fundação do Museu de Arte Sacra, que tem como símbolo dois anjos provenientes das antigas missões jesuíticas do Rio Grande do Sul, há uma réplica fotográfica de um dos mais antigos altares do Brasil. Este altar da antiga Fazenda de Voturuna (Santana de Parnaíba) pertencia ao bandeirante Guilherme Pompeu de Almeida, para seu filho homônimo, padre jesuíta. Estão expostas as duas cariátides – mulheres em forma de suporte para o altar – consideradas das obras mais preciosas da arte colonial brasileira, nas palavras de Lúcio Costa, o idealizador de Brasília. Percival Tirapeli
Altar da antiga capela de Santo Amaro é uma das obras que podem vistas no Museu de Arte Sacra
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Reportagem | 21
Casulo Pra Rua: projeto une solidariedade aos mais vulneráveis e oportunidade de renda a costureiras Claire Castelano
Impermeável, lavável, leve e fácil de carregar, o casulo é feito para aquecer e proteger a população em situação de rua Roseane Welter
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
Casulo Pra Rua é um projeto criado pela estilista Bibi Fragelli, 59, e sua sócia Patricia Curti, 57. A iniciativa nasceu da inquietação diante da situação enfrentada pelas pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. Desde abril deste ano, são confeccionados sacos de dormir para aquecer os que vivem nas ruas. Em dois meses de existência, o projeto arrecadou R$ 160 mil em doações, distribuiu 300 casulos e 650 estão em fase de produção. Quentinho e confortável Os casulos são sacos de dormir impermeáveis, com um bolso interno em formato de travesseiro – onde a pessoa pode guardar seus pertences junto ao corpo –, são leves, facilmente dobráveis e podem ser carregados como uma bolsa a tiracolo. “Quando pensei em fazer um saco de dormir, imediatamente me lembrei daquelas cenas de horror de guardas jogando jatos de água nas pessoas da rua. Pensei, então, que teria de ser uma bolsa, leve e com alça, porque bolsa os policiais não poderiam tomar”, conta Bibi. Os sacos de dormir são confortáveis e aquecem graças ao material utilizado. “São feitos de três camadas: a externa é de náilon emborrachado e impermeável (para evitar a chuva ou os jatos d’água); no miolo, há uma tela espumada que traz conforto e calor; e, internamente, há uma camada de náilon resinado, agradável ao toque”, disse a idealizadora. A inspiração para o nome casulo veio da experiência da estilista com um casal em situação de rua. “No dia em que fui comprar os materiais para os primeiros protótipos, vi um casal na rua que estava dormindo diretamente na calçada, sem nenhuma proteção, e a mulher estava grávida. Isso me fez refletir e agir. Daí nasceu o nome ‘casulo’, a partir da ideia de envolver, proteger e acolher quem
Homem em situação de rua abre o casulo, saco de dormir impermeável criadp pela Bibi Frageli e sua sócia, Patrícia Curti
sofre nas ruas”, disse Bibi, destacando, ainda, que o casulo é confeccionado nos tamanhos individual e de casal. Amplo apoio A iniciativa ficou conhecida por meio de uma postagem que Bibi fez em seu Instagram. “Lembro bem esse dia, era 16 de abril, em plena pandemia, postei a foto do casulo que entreguei para um casal de rua”, recordou. A partir daí, o projeto vem crescendo e ganha novos seguidores, doadores e colaboradores. “Pessoas e empresas entram em contato conosco, cumprimentando-nos pela iniciativa, e doam valores financeiros para que a ação seja viável”, ponderou Patrícia, destacando que o projeto atende as pessoas de São Paulo, mas os doadores estão espalhados pelo Brasil. O custo de produção de cada saco de dormir é de R$ 158. Cada casulo, entregue gratuitamente, é acompanhado de uma cartilha, na qual se explica o passo a passo detalhado de como confeccioná-lo e sobre os materiais usados. “Queremos que o projeto cresça e se expanda. Graças à generosidade e preocupação com o próximo que sofre, já enviamos a cartilha para Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Salvador (BA) e Nova York (Estados Unidos)”, contam as idealizadoras.
para costureiras desempregadas ou de baixa renda. Atualmente, sete costureiras atuam de forma remunerada no projeto. “É uma maneira de gerar renda para elas e suas famílias”, contou Patrícia, destacando que as costureiras recebem R$ 50 para cada peça feita. “A única exigência é ter uma máquina de costura industrial reta”, continuou. Selma de Jesus Oliveira, costureira, é da Bahia e veio para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Ela fazia serviços eventuais para lojas e recebia R$ 4 a cada peça. “A oportunidade veio para me ajudar a sustentar minha família e, claro, ajudar a quem precisa”, afirmou à reportagem. Maria das Neves, 47, costureira, afirma que fazer o bem e garantir o sustento da família é uma forma de enfrentar os tempos difíceis. “Sou feliz em fazer parte dessa ação de generosidade que ajuda os que estão em situação de rua, transforma e viabiliza melhores condições às nossas famílias”, destacou. Laurilene Vasconcelos Lima, 46, é costureira desde os 9 anos e atua no projeto costurando seis casulos por dia. “Eu costuro por amor! Ao costurar os casulos, sei que estou costurando novas oportunidades e um pouco de alento e amor para quem precisa”, disse.
a ajuda de doadores e voluntários que os distribuem. “Algumas entidades e pessoas físicas adquirem as unidades e as distribuem em suas regiões. O Padre Júlio Lancellotti e a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo nos ajudam na distribuição dos casulos”, disse Patrícia. Padre Júlio ressaltou que a iniciativa vem para unir forças e cooperar no resgate da dignidade. “O casulo é uma esperança em meio a tantas realidades de dor, sofrimento e descaso para com os irmãos que estão abandonados pela sociedade. Eles são filhos de Deus, e devolver um pouco de dignidade é a missão desse projeto que tem a minha bênção”, disse o Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. “Dói dormir no chão, doem as costas, dói o corpo todo. Agora vou adormecer e descansar quentinho e seguro”, disse Edivaldo, uma das pessoas que já receberam o casulo. Italo Bernardo está em situação de rua e ficou feliz e grato ao receber o saco de dormir. “Existem anjos que pensam em nós. Este saco é muito bom porque nos protege por inteiro, aquece e protege do frio, e ainda posso guardar meus pertences com segurança contra roubos”, contou.
Costurar o bem Outro diferencial do projeto Casulo Pra Rua é a geração de renda
Distribuição Para que os casulos cheguem até os seus destinatários, o projeto conta com
CONHEÇA E FAÇA PARTE!
@casuloprarua
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Católicos e judeus refletem sobre o sentido bíblico da ‘travessia do deserto’ na pandemia Fernando Geronazzo
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Um evento virtual realizado no domingo, 20, reuniu cristãos católicos e judeus para refletir sobre a espiritualidade diante do sofrimento e do cansaço causados pelo isolamento da pandemia. O evento foi promovido pela Comissão Nacional do Diálogo Católico-Judaico (DCJ), com o apoio da Arquidiocese de São Paulo, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Confederação Israelita do Brasil (Conib), Congregação Israelita Paulista (CIP) e outras entidades católicas e judaicas. A transmissão foi conduzida pelo rabino da CIP, Michel Schlesinger, e pelo Cônego José Bizon, Diretor da Casa de Reconciliação e Referencial para o ecumenismo e diálogo inter-religioso na Arquidiocese de São Paulo. A live contou com a presença de lideranças das duas tradições religiosas, como o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e Claudio Lottenberg, presidente da Conib. “Vivemos um tempo de angústia, cheio de dificuldades. É muito oportuno refletirmos sobre o que a Sagrada Escritura nos orienta nesta situação”, afirmou Dom Odilo, ao elogiar a iniciativa. À luz da Palavra A temática foi abordada pelo Padre Ednilson Turozi de Oliveira, da Paróquia Santa Luzia, na Região Episcopal Brasilândia e professor do Centro Universitário Assunção (Unifai), e pelo Rabino José
Amarante, líder da Chavurá Halelu. Ambos partiram da referência das Sagradas Escrituras, especialmente da imagem do deserto, para provocar uma reflexão sobre como enfrentar o período da pandemia em uma perspectiva sobrenatural. “Nesse momento de ‘travessia do deserto’ e isolamento, algumas realidades humanas que se encontram com as realidades que vêm do alto são pertinentes; crer, pensar, agir e sentir”, afirmou o Padre Ednilson. Perda da referência O Rabino José Amarante tomou alguns textos da Torá para fazer sua reflexão. Logo no início de sua exposição, ele recordou que, ao longo dessa pandemia, todos perderam, ao menos, algum parente, amigo ou conhecido para a COVID-19, o que, progressivamente, ampliou uma sensação de insegurança e desamparo. “Nos momentos difíceis dessa travessia, até o Egito parecia um lugar fantástico. E nós, seres humanos modernos, no século XXI, em plena pandemia?”, indagou José Amarante, convidando a refletirem o quanto as pessoas se referem ao período anterior da pandemia com saudade. Olhar para si e para os outros Por outro lado, José Amarante afirmou que o deserto também é um lugar de oportunidades, que convida as pessoas a olharem para o seu interior e para os outros. “O deserto é o lugar que fala conosco, onde podemos ouvir a voz de Deus. Mas, para isso, precisamos estar presentes, co-
nectados aos acontecimentos e milagres cotidianos, com a força da vida”, disse o Rabino, completando que, na pandemia, é preciso ter consciência do presente, atentos a si mesmos e àqueles que estão ao redor. Padre Ednilson sublinhou o diálogo com os diferentes como uma atitude essencial para enfrentar os períodos difíceis. “Se é verdade que a terra estremece pela violência, pelo ódio, pelo sofrimento do inocente, também estremece quando se instaura o diálogo, a paz, a fraternidade, o respeito, o ‘cara a cara’ renovador e esperançoso”, enfatizou. Diálogo católico-judaico A DCJ é uma comissão mista e permanente criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil no dia 27 de fevereiro de 1981, para articular em âmbito nacional o diálogo inter-religioso entre católicos e judeus no País. Os objetivos dessa comissão são divididos em quatro âmbitos: institucional, teológico, ação conjunta e contato pessoal. “Há 40 anos, a DCJ tem promovido simpósios, debates, seminários, estudos bíblicos e apresentações diversas”, explicou o Cônego José Bizon. “O trabalho do diálogo inter-religioso tem como objetivo garantir que o outro não seja uma ameaça, mas um ser humano com ideias, práticas e convicções distintas. Tenhamos a humildade e a ousadia de continuar aprendendo uns com os outros”, destacou o Rabino Michel. O presidente da Conib também enfatizou que a união de esforços e o diálogo
www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Dom Odilo: ‘O Reino de Deus é exigente, requer conversão e coerência de vida’ https://cutt.ly/Jn8dslh Burkina Faso: após massacre, escolas católicas acolhem refugiados https://cutt.ly/gn8dbup Congresso latino-americano aprofundará tema do Ano ‘Família Amoris laetitia’ https://cutt.ly/Rn8dE2E Papa Francisco: diácono não é padre de segunda categoria, mas servo humilde https://cutt.ly/Ln8bp89 Aplicativo Poupatempo Digital permite acesso à carteira de vacinação contra a Covid-19 https://cutt.ly/Vn8dFXh
entre as duas tradições religiosas são fundamentais para ajudar a humanidade a atravessar esse tempo difícil. “Nós temos muito mais semelhanças do que diferenças e, portanto, quando partimos desta visão, colaboramos para construir uma sociedade melhor”, disse Claudio Lottenberg. Para assistir à íntegra do encontro, acesse: https://youtu.be/EgKyCTr2QZE.
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| 23 a 29 de junho de 2021 | Geral/Fé e Vida | 23
Cardeal Hummes recebe título de Doutor Honoris Causa de universidade argentina Luciney Martins/O SÃO PAULO
Redação
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O Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), recebeu o título de Doutor Honoris Causa conferido pela Universidade Nacional de Rosário (UNR), da Argentina. A cerimônia de entrega do título aconteceu na quinta-feira, 17, de forma virtual. O reconhecimento foi dado por sua dedicação à promoção e defesa dos povos da Amazônia. O Purpurado, de 86 anos, também é Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e foi o primeiro Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). Saudação de Francisco Por meio de uma mensagem manuscrita, que foi lida na cerimônia, o Papa Francisco congratulou o Cardeal Hummes e afirmou estar “feliz com esta decisão porque se trata de dar graças a Deus e à vida, por nos ter dado estes companheiros de caminho, estes líderes que têm a coragem de abrir trilhas, caminhos e de provocar sonhos; a coragem de continuar sempre olhando o horizonte sobre os problemas e dificuldades do caminho”. O Pontífice recordou que Dom Cláudio foi Relator-Geral do Sínodo para a Amazônia, realizado em 2019, definindo-o como um “semeador de esperança”. Francisco expressou sua gratidão ao Cardeal brasileiro, a quem diz dever tanto, pelo “exemplo que me deu durante a sua vida”, recordando duas frases que ficaram na história, pronunciadas pouco depois de ter sido eleito Papa, quando lhe disse: “É assim que o Espírito Santo age”, e juntamente com isso, “Não se esqueça dos pobres”. Dom Cláudio agradeceu as palavras do Santo Padre e afirmou não ser merecedor de tanto apreço. “Não creio ser merecedor de tal distinção, mas fico feliz em representar a voz dos povos amazônicos”, afirmou o Cardeal. em defesa da casa comum Ao discursar após a titulação, o Cardeal Hummes recordou parte de sua biografia, enalteceu a atuação da Repam, de ir ao encontro dos invisíveis na terra amazônica e defendeu que se garanta a igualdade de condições de existência a todos os povos.
Dom Cláudio enfatizou que o uso da tecnologia pelos que detêm poder econômico não deve ocasionar prejuízos e morte aos povos nem a destruição da natureza. Ao contrário, ressaltou que se deve lutar para a construção de uma sociedade de próximos, na qual as pessoas reconheçam que as outras têm iguais direitos e que estendam as mãos, em especial aos mais vulneráveis e aos povos originários. O Cardeal destacou, também, que é missão da Igreja se indignar diante das opressões, das mortes e da destruição da natureza, e defendeu que sejam adotadas políticas e boas práticas que levem ao cuidado com a casa comum. O homenageado Filho de Pedro Adão Hummes e Maria Frank Hummes, Dom Cláudio nasceu em 8 de agosto de 1934, na cidade de Montenegro (RS). Foi ordenado sacerdote em 3 de agosto de 1958, em Divinópolis (MG), pertencendo à Ordem Franciscana dos Frades Menores. Em 22 de março de 1975, foi nomeado Bispo Coadjutor de Santo André (SP) por São Paulo VI. No final do mesmo ano, em 29 de dezembro, assumiu como Bispo Diocesano de Santo André (SP), onde ficou até ser nomeado Arcebispo de Fortaleza (CE), por São João Paulo II, em 21 de julho de 1996. Em 15 de abril de 1998, Dom Cláudio foi nomeado o 6º Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Foi criado Cardeal em 21 de fevereiro
de 2001, também por São João Paulo II. Dom Cláudio esteve à frente da Arquidiocese de São Paulo até 30 de outubro de 2006, quando o Papa Bento XVI o nomeou Prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, cargo que exerceu até 7 de outubro de 2010, quando apresentou sua renúncia por limite de idade. O Cardeal foi membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, nos períodos de 1976 a 1978 e de 1979 a 1982, e responsável pelos setores Família e Cultura, de 1995 a 1998. Foi, ainda, Assistente Nacional da Pastoral Operária, de 1979 a 1990. Entre os livros escritos pelo Cardeal Hummes estão “Renovação das provas tradicionais da existência de Deus por Maurice Blondel em l’Action (1893)”, Braga, 1964; “Sempre Discípulos de Cristo – Retiro Espiritual do Papa e da Cúria Romana”, de 2002 (traduzido para o italiano); “Discípulos e missionários de Jesus Cristo – Ser cristão no mundo atual”, “Grandes metas do Papa Francisco” e “O Sínodo para a Amazônia”, lançado em 2019. O Título Honoris Causa é uma expressão em latim usada atualmente como um título honorífico, que significa “por causa de honra”. É utilizado quando uma universidade de prestígio deseja conceder um título de honra a uma personalidade de grande destaque ou importância por seu trabalho, virtude ou mérito. (Com informações da Repam)
Liturgia e Vida 13º Domingo do Tempo Comum 27 de junho de2021
‘Menina, levanta-te!’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA A Sabedoria diz que “Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem” (Sb 1,13s). A “morte” não se refere somente ao decesso físico, mas inclui todo tipo de sofrimento, pecado, ruína espiritual e, principalmente, a condenação eterna. Deus nos criou para a felicidade e para a vida eternas. “Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo” (Sb 2,24), quando a antiga serpente incitou nossos primeiros pais ao pecado. E assim, “todos pecaram e estão privados da glória de Deus” (Rm 3,23). Todos os filhos de Adão participam solidariamente da morte e de suas consequências: desordem, ignorância, pecado, sofrimento e fraqueza. A morte, com a dor, a desintegração e o vazio que comporta, é uma passagem necessária que expressa o estado de fragilidade a que estamos submetidos neste mundo. O declínio físico, a tristeza da separação e a corrupção da carne – que aguarda a ressurreição final – representam, no plano corporal, o estado espiritual do homem necessitado de redenção. Cristo se submeteu à morte e ressuscitou justamente para nos libertar deste “corpo de morte” (Rm 7,24), para nos restituir a vida eterna e nos dar um corpo glorioso. No Evangelho, Jesus salva duas mulheres da morte. A primeira é uma menina de apenas 12 anos. Representa a inocência; fora acometida por uma doença precoce e, depois de dolorosa agonia, não resistiu. Diante das súplicas do pai Jairo, Nosso Senhor decide fazer um milagre e profere a frase misteriosa que se aplica a todos os que morrem em Cristo: “A criança não morreu, está dormindo” (Mc 5,39). Com a morte e a ressurreição de Cristo, também nós “acordaremos” para a vida eterna. A outra mulher representa a impureza. Tinha de doença o mesmo tempo que a primeira tinha de vida: havia 12 anos que sofria uma hemorragia. A perda de sangue é perda contínua de vida. Além disso, a hemorragia, segundo a concepção judaica, a tornava impura. Ela procurara muitos médicos, gastara tudo o que tinha, mas não encontrou a cura. Representa, assim, os que buscam em muitos lugares o sentido da vida, a solução para seu vazio interior e para a dor, mas se tornam cada dia mais fracos e acabados. Finalmente, ela encontrou o Salvador! Jesus tem a delicadeza de curar primeiro a mais velha, já que o Médico veio primeiro para os mais enfermos. Além disso, Ele quis assim encorajar o pai da pequena para que não perdesse a fé ao receber a notícia da morte da filha e ao ouvir os choros e gritos das carpideiras. Pois bem, receosa por causa de sua “impureza”, a mulher se aproximou por trás de Jesus e tocou com temor apenas a barra de seu manto. Dele, que tudo sabe, saiu uma força que a curou. “Filha, disse o Senhor, tua fé te curou.” Ela se tornou “Filha” – uma “menina” – de novo. Quanto à pequena, o próprio Jesus a pegou pela mão, e ela começou a andar e a comer. Uma e outra foram atingidas pela força da morte, uma e outra foram salvas pelo único Redentor que vence a morte.
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