O São Paulo - 3352

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3352 | 30 de junho a 6 de julho de 2021

Editorial No Estado laico, a expressão da religiosidade deve ser respeitada

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Encontro com o Pastor

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Prisões e sequestros marcam a vida de cristãos perseguidos Michael Massey – extraído do relatório ‘Presos em nome da fé’, produzido pela ACN

A Igreja não deve ficar fechada sobre si; ela existe para a missão entre o povo

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Espiritualidade São Josemaría Escrivá: o anunciador da vocação universal à santidade

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Liturgia e Vida São Pedro e São Paulo testemunham que a fé em Jesus é inegociável

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Comportamento Com criatividade e esforço, é possível conciliar a profissão e a vida familiar

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Questões do Acordo Brasil-Santa Sé são tratadas em curso on-line No evento promovido pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, o Cardeal Scherer ressaltou que o documento firmado em 2008 reconhece juridicamente a Igreja Católica e sua missão no Brasil. Páginas 16 e 17

Paróquia no Jardim Paulistano inicia festa jubilar de 70 anos Comemorações na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Região Sé, começaram no domingo, 27, com missa presidida pelo Cardeal Scherer. Página 11

A música ajuda o ser humano a encontrar a beleza e o sentido da vida É o que afirma o pianista Alvaro Siviero, destacando que a música pode ser um verdadeiro convite à transcendência. Página 18

Cristãos são atacados, em 2013, por extremistas islâmicos em Colônia Joseph, no Paquistão, após serem acusados de blasfemar contra o Islã

Manifestar publicamente a fé no Cristo ou ser reconhecidamente cristão pode significar risco de vida em muitos países, onde predomina a intolerância religiosa e há perseguições por parte de grupos extremistas e de governos totalitários. No relatório “Presos em nome da fé”, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) mapeia algumas dessas situações na China, Eritreia, Nigéria e

Paquistão. Os cristãos – de crianças a idosos – têm sido forçados a se converter a uma religião predominante, na maioria dos casos o Islã; são acusados, injustamente e sem provas, de blasfemar contra uma expressão de fé; e acabam por ser encarcerados ou mantidos em cativeiros em condições insalubres, por vezes com a conivência da Justiça. Páginas 12 e 13


2 | Encontro com o Pastor | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

P

reparando a Conferência Eclesial da América Latina e do Caribe, a ser realizada no fim de novembro deste ano, recordamos as conclusões e diretrizes da Conferência de Aparecida, realizada em 2007. Conforme observou o Papa Francisco, muita coisa boa já foi suscitada na Igreja da América Latina e do Caribe a partir daquela Conferência Geral, realizada com representantes dos episcopados do continente americano. Mas ainda há riquezas pouco ou nada exploradas, que precisam ser retomadas e podem render muito fruto para a vida e a missão da Igreja. Um dos objetivos da Conferência de Aparecida foi o de propor uma verdadeira “sacudida missionária” à Igreja do continente. Não basta enaltecer o trabalho dos missionários de séculos passados, que foi, certamente, extraordinário. E não é suficiente dizer que somos o continente mais cristão e católico do mundo. Se olharmos com realismo ao nosso redor, constataremos que a evangelização precisa ser retomada de maneira decidida e até urgente. A fé e a vida cristãs já não passam mais espontaneamente, de

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Desafio à Igreja: entre conservação e saída missionária geração a geração, e a evangelização jamais pode ser vista como uma obra concluída, mas precisa ser retomada a cada geração e promovida de maneira metódica e constante. O que se constatou, por exemplo, é que a acolhida do Evangelho de Cristo ainda é bastante superficial e sem raízes profundas na vida e na cultura dos nossos povos. Dessa maneira, uma religiosidade exuberante e com referências cristãs, mas inconsequente e com convicções superficiais e frágeis, pode conviver com situações sociais marcadas por fortes desigualdades, violências, corrupção moral, desrespeito à pessoa e sua dignidade, e injustiças sociais arraigadas. Isso significa que o processo de evangelização precisa continuar e ser aprofundado mais e mais, para que o Evangelho de Cristo produza frutos de vida para todos. A Conferência de Aparecida quis oferecer um forte estímulo à “nova evangelização” nas Igrejas do continente americano. Não é suficiente fazer uma pastoral de manutenção, mas é preciso passar a uma pastoral decididamente missionária. É evidente que a pastoral da Igreja precisa ser também de conservação, cuidando do cultivo da fé e da vida cristã daqueles que já são membros vivos da Igreja. Do contrário, haveria o risco

de esfriamento e abandono da fé desses membros da Igreja também. Uma vida cristã aprofundada e bem cultivada é pressuposto para uma Igreja missionária, pois não se tornam missionários aqueles que não têm apreço pelo Evangelho e pela vida cristã. Porém, a dimensão missionária não pode ficar esquecida, nem relegada a ser um aspecto secundário, objeto de preocupação apenas de uns poucos, que chamamos “missionários” e enviamos para terras distantes. A Igreja é essencialmente missionária, e o anúncio e testemunho do Evangelho são sua missão primordial. Toda a vida e ação da Igreja precisa ter a marca da missão. Todo membro da Igreja é missionário a partir do seu Batismo e recebe o envio missionário em diversos momentos da vida. Nem todos partem para terras distantes, mas todos participam da missão, de um modo ou de outro. O Papa Francisco insistiu nessa dimensão missionária da Igreja inteira desde o primeiro dia de seu pontificado. Na exortação apostólica Evangelii gaudium, sobre a alegria do Evangelho (2014), Francisco conclamou todos a sermos uma “Igreja em saída missionária”. A Igreja não deve ficar fechada sobre si mesma, esquecida que ela existe para a missão entre o povo. Ela também não pode ser apenas um

grupo que pensa na sua vida e organização internas. A cultura da “Igreja em saída missionária” ainda precisa avançar muito mais e, possivelmente, este é um aspecto do Documento de Aparecida posto em prática de maneira ainda insuficiente. Ao ser concluída, a Conferência de Aparecida assumiu o compromisso de promover uma “missão permanente” em todo o nosso continente. As comunidades eclesiais todas foram chamadas a se colocar “em estado permanente de missão”, sem a pretensão de que a ação missionária pudesse ser encerrada, por ter já alcançado os seus objetivos. Agora é o tempo de avaliarmos se esses impulsos missionários vindos da Conferência de Aparecida foram bem acolhidos e postos em ação nas comunidades eclesiais. Provavelmente, temos aí uma grande lacuna na acolhida das conclusões de Aparecida. Ao realizar o sínodo arquidiocesano, “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”, nossa Arquidiocese tenta atender a esse apelo. Precisamos ser comunidades verdadeiramente missionárias nesta metrópole imensa, onde a Igreja também pode estar exposta à tentação de se acomodar a uma “pastoral de mera conservação”. É o constante desafio a enfrentar com lucidez e coragem.

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| 30 de junho a 6 de julho de 2021 | Geral/Atos da Cúria | 3

Celebrado o rito de admissão de candidatos ao diaconato permanente Arquivo pessoal

Redação

osaopaulo@uol.com.br

No sábado, 26, na Capela São José, na Cúria da Região Santana, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a celebração com o rito de admissão às ordens sacras de dois candidatos ao diaconato permanente: os senhores Marcelo Tavares do Rego e João Vasconcelos. O Arcebispo Metropolitano falou-lhes sobre a vocação ao diaconato permanente e lembrou que, ao serem admitidos como candidatos às ordens sacras, os dois assumiam de forma responsável o chamado ao ministério diaconal. O Cardeal recordou também uma fala do Papa Francisco de que o diácono é o ministro da caridade, que atua no atendimento aos mais necessitados. Para ser diácono permanente na Arquidiocese de São Paulo, o candidato deve ter no mínimo 35 anos de idade e cinco de vida matrimonial. Durante o período de formação, realiza o curso in-

osaopaulo@uol.com.br

Em reunião on-line, no dia 23, presidida por Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, a “Comissão do Centenário do nascimento do Cardeal Paulo Evaristo Arns, OFM,” alinhou detalhes das atividades que marcarão a memória dos 100 anos do nascimento

Candidatos ao diaconato permenente ao lado de Dom Odilo Scherer na Capela São José

tegrado de Filosofia e Teologia por cinco anos, e, ao concluir os estudos, faz mais um ano de vivência pastoral. De acordo com as normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes, publicadas pela Congregação para a Educação Católica e a Congregação para o Clero, “a inscrição entre os candidatos

ao diaconato não constitui direito algum a receber necessariamente a ordenação diaconal. Ela é um primeiro reconhecimento oficial dos sinais positivos da vocação ao diaconato, que deve ser confirmada nos anos sucessivos da formação”. (Com informações do Diácono Permanente Aílton Machado Mendes)

de Dom Paulo, que foi Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998. As diferentes subcomissões de trabalho estão acertando datas de eventos comemorativos nos âmbitos universitário, litúrgico, ecumênico e político. As comemorações devem ter início oficial em 14 de setembro, data do nascimento de Dom Paulo Evaristo. A programação detalhada deve ser apresentada em julho.

Na reunião, o Cardeal Scherer destacou que a comemoração do Centenário terá como enfoque principal realçar a presença de Dom Paulo como mestre e pastor. O atual Arcebispo Metropolitano enfatizou que o resgate do rico ministério episcopal de Dom Paulo, morto em dezembro de 2016, aos 95 anos, será particularmente importante para os jovens, padres e leigos que não o conheceram.

Dom Odilo preside missa na festa patronal da Paróquia São João Batista Marcos Lomelino

POR PASCOM DA PARÓQUIA SÃO JOÃO BATISTA Com missa solene presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer e concelebrada pelos Padres Ricardo Pinto, Pároco, e José Ferreira Filho, a comunidade paroquial de São João Batista, no Setor Imigrantes, viveu, na noite da quinta-feira, 24, o ponto alto da festa do seu padroeiro. A celebração foi precedida por vários eventos presenciais e on-line que prepararam o dia festivo. O Retiro espiritual “João Batista nos desertos de hoje” possibilitou a reflexão sobre como João Batista viveria as difíceis situações que a humanidade enfrenta. O Rosário e a Adoração Eucarística, contemplando a vida do precursor de Jesus, tiveram a participação de dezenas de famílias. Com o tema “Viva São João, em casa e no coração”, a programação também incluiu lives culturais e venda de produtos juninos pelo sistema drive thru. Na celebração, Dom Odilo destacou a figura de João Batista como alguém que

Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Bispos da República Democrática do Congo expressam tensão após bomba explodir em igreja https://cutt.ly/pmonPWQ

Reunião com a comissão arquidiocesana do centenário do Cardeal Arns Padre Cido Pereira

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Regional Sul 1 promove formação on-line sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe https://cutt.ly/VmobEm7 Divulgada a programação do Muticom 2021 https://cutt.ly/Cmonj5P Papa: a exemplo de Pedro e Paulo, abandonar as máscaras por uma Igreja mais missionária https://cutt.ly/FmobwBW Paróquia Nossa Senhora do Bom Conselho tem doado mais de 100 cestas básicas a famílias necessitadas https://cutt.ly/MmobBrL Cardeal Scherer visita obras do restauro de capela centenária na ‘Cidade Matarazzo’ https://cutt.ly/amonna4

Atos da Cúria DECRETO DE PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO: Em 07/05/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, no bairro do Jardim Paulista, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Padre José Edvaldo Melo, pelo período de 03 (três) anos. Em 07/05/2021, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Bom Jesus, no bairro do Brás, na Região Episcopal Sé, do Reverendíssimo Monsenhor Sergio Tani, pelo período de 03 (três) anos. DECRETO NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL:

Cardeal Odilo Pedro Scherer em missa na Paróquia São João Batista, na quarta-feira, 24

não tem o interesse, como hoje acontece, de possuir muitos seguidores nas redes sociais, mas direciona a atenção de todos para Jesus, a quem aponta como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Evidenciou, também, o compromisso com a verdade e o quanto os cristãos são chamados à coerência sempre mais visível, para dar credibilidade ao anúncio do Evangelho a partir da vivência no dia a dia. A acolhida e a entrega de lembranças

ao Cardeal foram transmitidas de forma muito fraterna por famílias da comunidade, de forma a agradecer a presença e a mensagem de esperança que trouxe com o comprometimento de toda a Paróquia de rezar por ele e pelo sínodo arquidiocesano, sinal de esperança e serviço. Ao agradecer, Dom Odilo afirmou ter encontrado uma “Paróquia edificada com pedras vivas” e abençoou a todos com a relíquia de São João Batista.

Em 17/06/2021, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Vila Dionísia, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre José Benedito Brebal Hespaña, até o dia 20/02/2022. POSSE CANÔNICA: Em 05/06/2021, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade, no Conjunto Habitacional Recanto dos Humildes, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre José Miguel Portillo, CSSp.


4 | Ponto de Vista | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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Editorial

Estado laico e religião

A

laicidade do Estado vem se tornando um “dogma” sempre mais sacramentado em nosso mundo: em seu nome se busca remover crucifixos de tribunais ou proscrever o ensino religioso das escolas públicas; sob sua invocação, pretende-se avançar bandeiras, tais como a legalização do aborto, e ideologia de gênero. Pouco a pouco, a religião vai perdendo a cidadania na arena civil, e se vê obrigada a buscar refúgio nas catacumbas de cada lar. As origens históricas desta “privatização” remontam ao conceito de tolerância religiosa, primeiro esboçado por John Locke: a pretexto de apaziguar as disputas políticas entre católicos e protestantes nos países europeus, ele argumentava que o objetivo da religião seria apenas a salvação das almas – justificando-se, assim, “a exclusão da fé da esfera pública ou da arena do bem comum”. Em nossos dias, esta separação

absoluta entre fé e política é abraçada por Jürgen Habermas – que considera necessário, para um “ato comunicativo ‘ideal’”, excluir-se todo “apelo à autoridade ou às revelações especiais”, de tal forma que “a religião não deve se intrometer nos debates abertos e seculares da arena pública” –, ou ainda por John Rawls – que propõe como “sociedade perfeitamente justa” aquela em que os agentes públicos operam sob o “véu de ignorância”, abdicando de seus próprios pontos de vista e visões de mundo (inclusive as crenças religiosas) ao estruturarem a ordem social (cf. Robert Barron, “Discutindo Religião: um Bispo se apresenta no Facebook e no Google”, Cultor de Livros, 2020). Por trás de todas essas formas de extrapolação da tolerância está a premissa filosófica voluntarista, segundo a qual todos os sistemas morais e religiosos seriam indiferentes entre si, pois, no fundo, cada um teria a sua própria verdade, construída

A amizade e a solidão

holocausto, as perseguições – e hoje, o descarte dos não nascidos, dos inválidos, dos idosos... Daí que, conforme a sadia cosmovisão cristã, o papel da religião, no que toca à política, não é o de advogar por candidatos ou decisões técnico-políticas “oficiais” e muito menos partidárias. Cabe, sim, à religião, um papel corretivo: “Ajudar a purificar e lançar luz sobre a aplicação da razão na descoberta dos princípios morais objetivos” (Bento XVI, cit.), que possam orientar a ação humana e, também, o exercício da cidadania. É verdade que o fim da Igreja (bem espiritual) é distinto daquele do Estado (bem terreno) – mas ambos se exercem sobre o mesmo homem, que por sua vez tem por fim último o bem espiritual. O próprio termo laico, afinal, vem do latim eclesiástico laicus, que significa “leigo”, “fiel da Igreja”. Estado laico não é Estado ateu!

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

Ana Lydia Sawaya Não é segredo para ninguém, pelo contrário, é cada vez mais reconhecido que hoje se vive uma experiência crescente de solidão e dificuldade para se comunicar com os outros. Relacionar-se com os outros é cada vez mais árduo. Mais e mais pessoas têm dificuldade para dialogar ou estar junto com outras pessoas. Mais e mais casais não conseguem manter o casamento e viver uma verdadeira amizade entre si. A frase de Sartre no espetáculo teatral “Entre quatro paredes” (São Paulo: Civilização Brasileira, 2005) é paradigmática dos tempos atuais: “O inferno? São os outros”. Luigi Giussani, em “O senso religioso” (Jundiaí: Paco Editorial, 2017), diz que a capacidade de comunicação e diálogo depende da riqueza de uma experiência humana, ou seja, da profundidade com que cada pessoa compreende e cultiva a memória do que vive. Quanto mais rica for a experiência de uma pessoa, mais lhe vem, espontaneamente, a vontade de comunicar a sua experiência; e mais a pessoa encontra nas outras pessoas pontos de contato com sua própria vida. Este autor diz que a aridez da existência e as dificuldades de coexistência dentro das comunidades e da família dependem da qualidade das experiências vivi-

pela sua vontade individual – mas tudo isso tem um preço. É que a razão mostra que existem, inscritas na própria natureza humana, certas “normas morais universais”, fora das quais é insustentável “a própria conservação do tecido social humano e o seu reto e fecundo desenvolvimento” (São João Paulo II, Veritatis splendor, 96-97). Mas – e aqui está o “principal desafio da democracia” – estes princípios morais fundamentais não podem ter por essência o mero “consenso social”, a concordância de momento, pois, “se não existe nenhuma verdade última que guie e oriente a ação política”, a “democracia sem valores converte-se facilmente num totalitarismo aberto ou dissimulado, como a história demonstra” (Idem, 101; cf. Bento XVI, Discurso no Parlamento de Londres, 17/10/2010). Não foram poucos, afinal, os regimes “democráticos” que, abraçando o relativismo ético, aceitaram a escravidão, o

das, ou seja, de como o que se vive é compreendido. Giussani afirma que, para adquirir “experiência de vida”, é necessário ter o hábito de refletir e dialogar com os outros. Só assim se pode compreender mais e melhor aquilo que se vive. Por isso, é necessário fazer o exercício de buscar a razão das coisas que acontecem e, desse modo, saber julgar o que se vive. Em outras palavras, uma pessoa se torna “experiente” quando busca compreender o significado daquilo que está acontecendo na própria vida e ao redor de si. O que é muito diferente de deixar a vida

rolar como uma pedra na enxurrada, sendo apenas vítima das circunstâncias externas. Uma das atividades que mais prejudicam o crescer em experiência de vida, sobretudo para os jovens, é gastar muitas horas por dia no computador, apenas “recebendo passivamente” as informações que vê ou ouve ali. O computador é um instrumento muito útil (e, neste período de pandemia, isso ficou muito claro), mas apenas se as informações que são transmitidas por meio dele se tornam fruto de diálogo e reflexão com a família e com as pessoas com quem se convive.

A solidão e a incapacidade de viver relacionamentos amigáveis, explica Giussani, decorrem da dificuldade de se comunicar com o outro. A solidão não surge quando se está sozinho, pois, podemos estar no meio de uma multidão ou numa festa com muitos colegas e estarmos totalmente sozinhos, se essas presenças não fizerem sentido para nós. A solidão cada vez mais frequente na vida cotidiana é, portanto, resultado de uma vida vivida sem refletir sobre o significado do que acontece e do que se vive. Se passarmos o tempo da vida sem reconhecer o que tem valor, o que nos une uns aos outros, o menor desânimo se torna uma objeção que derruba todas as estruturas de confiança. Tornamo-nos pessoas desconfiadas, céticas na relação com os outros e cada vez mais sós. Onde está o problema? Não nos outros (como diria Sartre), mas na minha falta de reflexão sobre a minha própria experiência de vida. É a partir da prática de refletir sobre o que acontece, de fazer perguntas sobre o significado das coisas, de se interrogar e interrogar os outros que a solidão é vencida e pode nascer a amizade verdadeira. Ana Lydia Sawaya é doutora em Nutrição pela Universidade de Cambridge. Foi pesquisadora visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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belém

Jovens recebem o sacramento da Confirmação

Bianca Araújo

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Vitor Garcia

Vitor Garcia

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No domingo, 27, aconteceu na Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Vila Antonieta, a missa durante a qual 18 jovens receberam o sacramento da Confirmação, conferido por Dom Luiz Carlos Dias. Concelebrou o Pároco, Padre Valdir João Silveira. Devido às restrições causadas pela pandemia de COVID-19, a celebração foi restrita aos crismandos, pais e padrinhos, com transmissão ao vivo pelas mídias sociais da Paróquia. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém exortou os crismandos a nunca deixarem de procurar Jesus diante das dificuldades da vida, a seguirem seus ensinamentos e a caminharem na fidelidade a Cristo. Ao fim da celebração, Padre Valdir enalteceu o empenho dos catequistas

[SANTANA] Na quinta-feira, 24, na Capela São João Batista da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Setor Jaçanã, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa na Solenidade da Natividade de São João Batista. Na ocasião, quatro jovens receberam o sacramento da Crisma. Concelebraram os Padres Claudir Costenaro, MS, Agnaldo Soares Lima e Luís I. Molento, Administrador Paroquial. (por Bianca Araujo) Willis Marques

Izidro Rossini, Emanoel Felipe e Nínive Wellen, que mantiveram a missão de catequizar os jovens em meio à pandemia. O Sacerdote desejou que os crismandos continuem a participar ativamente da Paróquia. Padre Valdir aproveitou para

agradecer a todos a contribuição da comunidade com os mais necessitados. Nos últimos três meses, foram doadas 1.544 cestas básicas e 23.125 refeições, além de máscaras, material de higiene, roupas, calçados e brinquedos. Raphael Geraldi

[SANTANA] No sábado, 26, na Paróquia São João Evangelista, Setor Casa Verde, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, conferiu o sacramento da Crisma a 13 jovens, durante missa concelebrada pelos Padres Everaldo Sanches Ribeiro, Pároco, e Antônio Messias Gomes, Vigário Paroquial. (por Raphael Geraldi)

[BELÉM] Na festa do padroeiro da Paróquia São João Batista, no Jardim Colonial, na quinta-feira, 24, Dom Luiz Carlos Dias presidiu a Eucaristia. Concelebraram os Padres Jovanês Vitoriano, Pároco; Samuel Alves da Cruz, Coordenador do Apostolado Salvatoriano; e Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, Diretor Provincial dos Salvatorianos, assistidos pelo Diácono Carlos Ribeiro. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém recordou que o nascimento de São João Batista foi cercado da ação de Deus, que o Santo venceu as dificuldades da vida e foi um dom para Zacarias e Isabel, seus pais. Ao final, Padre Jovanês recordou as ações e a atuação da Paróquia e de suas cinco comunidades. (por Fernando Arthur)

Espiritualidade São Josemaría, o santo do cotidiano Dom Carlos Lema Garcia

Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade e Vigário Episcopal para a Região Sé

C

elebramos no sábado, 26 de junho, a festa de São Josemaría, o santo do cotidiano. Sempre me impressionou aquela professora de piano – boa católica – que ficou entusiasmada com uma descoberta: “Ao folhear o missal, não pude deixar de me desiludir ao verificar que todas as santas foram freiras, virgens, mártires ou, pelo menos, viúvas, conclui, não sem uma ponta de humor, Wilhelmine Burkhart, mãe de família, professora de Música em Viena [Áustria]: ‘Que satisfação pensar que não só o esforço e o sofrimento, mas também as atividades humanas que nos enchem de alegria – como é para mim compor ou ensinar música –, podem transformar-se numa oração contínua. Dezenas de milhares

de pessoas devem este caminho a Josemaría Escrivá’”. A professora Wilhelmine Burkhart conheceu São Josemaría por meio do seu filho mais velho, membro do Opus Dei. Em 24 de setembro de 1971, foi visitá-lo em Roma, e pôde estar também com Monsenhor Escrivá. Seu filho lhe traduzia do castelhano as palavras que falavam de servir a Igreja com alegria, cada um no seu lugar: “Tu podes transformar a tua arte em oração”, disse-lhe São Josemaría. O Papa São João Paulo II, na homilia por ocasião da canonização do fundador do Opus Dei, em 6 de outubro de 2002, ensinava que “São Josemaría foi escolhido pelo Senhor para anunciar a vocação universal à santidade e mostrar que a vida de todos os dias e a atividade corriqueira são caminho de santificação. Podemos dizer que foi o santo do cotidiano. De fato, estava convencido de que, para quem vive sob a ótica da fé, todas as coisas são ocasião de um encontro com Deus, todas se tornam um estímulo para a oração. Vista desta forma, a vida cotidiana revela uma grandeza insuspeitada. A santidade apresenta-se verdadeiramente ao alcance de todos”.

Desde 1928, São Josemaría Escrivá ensinou que o trabalho de cada dia não é alheio aos planos de Deus acerca das nossas vidas. O compromisso de ser cristão não se reduz a alguns momentos de oração ou à participação na celebração dominical. Não podemos levar uma vida dupla, dizia: por um lado o trabalho de todos os dias, com suas exigências de horário, de atenção aos compromissos; por outro, completamente separada, a vida de relação com Deus, como se fôssemos duas pessoas: uma de segunda a sextafeira e outra de sábado e domingo. De diversas maneiras e com expressões vivas, São Josemaría faz propostas interessantes como estas, por exemplo: “Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração” (“Caminho”, 335). Ou então, “Antes ‘só’ descascava batatas, agora, santifica-se descascando batatas” (“Sulco”, 498). Trabalho e oração devem estar unidos: é missão dos leigos santificar as realidades terrenas e transformar o trabalho em oração e em apostolado. Oferecendo a Deus cada tarefa e esforçando-se por trabalhar com ordem, com intensidade, competência, sentido de responsabilidade e espírito de serviço.

A vocação universal à santidade é hoje doutrina solenemente proclamada pelo Concílio Vaticano II: “Todos os fiéis cristãos, nas condições, ofícios ou circunstâncias de sua vida, e por meio disso tudo, dia a dia mais se santificarão, se com fé tudo aceitam da mão do Pai celeste e cooperam com a vontade divina, manifestando a todos, no próprio serviço temporal, a caridade com que Deus amou o mundo” (Lumen gentium, 41). Sabemos, contudo, que manter essa união com Deus ao longo do dia exige, de ordinário, receber uma contínua assistência espiritual. Por isso, alguém comparou o trabalho da Prelazia do Opus Dei a um posto de serviços: o motorista estaciona o seu veículo para abastecer com combustível, verificar o nível do óleo do motor e a pressão dos pneus etc. A partir daí, pode continuar circulando com segurança. O mesmo serviço espiritual é oferecido aos fiéis leigos: recebem o “reabastecimento” de sua vida interior para sair novamente a desempenhar a sua tarefa de santificação do trabalho cotidiano, fazendo o seu apostolado em todos os ambientes: nas relações familiares, profissionais, religiosas e sociais.


6 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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Marcos Wikens

Dom Carlos Lema Garcia é apresentado ao clero como Vigário Episcopal Centro Pastoral da Região Sé

POR CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Na manhã da sexta-feira, 25, na Paróquia São Paulo da Cruz – Calvário, o clero atuante na Região Sé esteve reunido com o Cardeal Odilo Pedro Scherer e com Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese, recentemente nomeado pelo Arcebispo Metropolitano como Vigário Episcopal para a Região Sé. Após a oração da Hora Média, conduzida pelo Padre Norberto Donizetti Brocardo, CP, e a acolhida dos presentes pelo Padre Aparecido Silva, Vigário Adjunto da Região Sé, o Cardeal Scherer apresentou Dom Carlos Lema como Vigário Episcopal para a Região Sé. Também mencionou os clérigos nomeados para outras funções regionais e recordou a recente criação da Capelania Pessoal Nigeriana Santa Josefina Bakhita, situada no Setor Catedral. Falou ainda sobre as pastorais ativas na Região e de outros serviços e colaboradores da Cúria Regional.

O Arcebispo Metropolitano comentou, também, sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, as Diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e destacou que os padres devem motivar a “Igreja nas casas”, ou seja, devem incentivar a família como uma célula-base de oração, de evangelização e de catequese. Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Coordenador Regional de Pastoral, detalhou quais são os setores pastorais da Região e a forma como são feitos os trabalhos. Ele também falou sobre as ações regionais referentes à Assembleia Eclesial, explicando que os questionários da atual fase de escuta podem ser respondidos em grupo ou individualmente, e que neste processo se deve refletir sobre a 5ª Conferência Geral de Aparecida. No site https://assembleiaeclesial.com.br, há detalhes completos sobre a iniciativa. Também se falou sobre a realização do sínodo arquidiocesano, cujos trabalhos devem ser retomados assim que

for possível, com a convocação dos nomeados para as assembleias. Dom Odilo se pronunciou sobre a participação do clero nos retiros que estão acontecendo de forma on-line e recordou a realização do 18º Curso Arquidiocesano de Aprofundamento Teológico-Pastoral do Clero, que será realizado de 2 a 5 de agosto. Padre José Carlos dos Anjos, da Pastoral Vocacional Arquidiocesana, apresentou as iniciativas para o mês vocacional, que estão sendo organizadas com o Padre José Edson de Santana Barreto, Assistente Eclesiástico Regional da Pastoral Vocacional, além da celebração de missas nos setores pastorais. Houve ainda uma breve prestação de contas sobre as ações já realizadas do projeto “Animando a Esperança”, cujos detalhes podem ser consultados no site https://animandoaesperanca.com. Na conclusão da reunião, Dom Carlos Lema recordou um discurso de São João Paulo II, por ocasião do 25º ano de seu pontificado, em que falou sobre a função do bispo para com o clero: “[...] O bispo procurará sempre se comportar com os seus sacerdotes como pai e irmão que os ama, escuta, acolhe, corrige, conforta, busca a sua colaboração e cuida o melhor possível do seu bem-estar humano, espiritual, ministerial e econômico”. Por fim, se dispôs a “ser pai de todos os sacerdotes, encontrar-se com todos, estar próximo de cada um para que se sintam acolhidos. O bispo tem a missão de responder ao padre no mesmo dia ou no dia seguinte. Vamos trabalhar juntos!”.

[BRASILÂNDIA] A cada domingo, a Paróquia Santíssima Trindade, Setor Perus, tem realizado o “Frango assado solidário”, comercializado para arrecadar dinheiro para cobrir as despesas paroquiais. A equipe de eventos se organiza em dois grupos, revezando-se a cada mês para a venda. A intenção de compra é feita por mensagens, com retirada na matriz paroquial ou possibilidade de entrega. Essa ação só é possível com a doação e colaboração dos membros da comunidade. (Por Beatriz Moreira e Pedro Silva)

[SÉ] Será implantado na Paróquia Divino Espírito Santo, Setor Santa Cecília, um grupo da Pastoral do Menor. Os detalhes foram definidos em reunião on-line no dia 21, conduzida pela Irmã Josefa Ferreira de Medeiros, coordenadora regional da Pastoral do Menor. Também participou o Pároco, Padre Valmir Neres Barros, que incentivou os missionários a abraçar a caminhada com a Pastoral.

Centro Pastoral Sé

Vivalde Gil

[SÉ] Na manhã do dia 16, na Cúria Regional Sé, aconteceu a missa de despedida de Dom Eduardo Vieira dos Santos, nomeado Bispo de Ourinhos (SP). Participaram os colaboradores da Cúria e foram concelebrantes os Padres Aparecido Silva, José Edivaldo Melo, José Enes de Jesus, Manoel da Conceição Quinta, SSP, e o Cônego Severino Martins da Silva Filho. Com palavras de agradecimento, Dom Eduardo relatou na homilia sua trajetória de vida e expressou o carinho e a grande experiência que levará da Arquidiocese, em especial da Região Sé. (por Centro Pastoral da Região Sé)

[LAPA] O padroeiro da Paróquia São João Batista, na Vila Ipojuca, Setor Lapa, foi celebrado na quinta-feira, 24, com missa presidida pelo Padre Fabiano de Souza Pereira, Pároco. Na ocasião, também foram comemorados os 81 de fundação da Paróquia. (por Benigno Naveira)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan presidiu missa na quinta-feira, 24, na festa patronal da Capela São João Batista da Paróquia São José, Setor Pastoral Mandaqui. Concelebrou o Padre Edmilson da Silva, Pároco. (por Lenivaldo Jacobino)

[BRASILÂNDIA] A Comunidade Nossa Senhora Aparecida da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo, distribuiu no sábado, 26, um total de 213 marmitas preparadas na cozinha da capela, além de 250 pães doados pelo Sindicato dos Químicos de São Paulo e 85 sacolas de roupas disponibilizadas por meio de contatos com o Pároco, Padre Genésio de Morais. Em três meses de ação, já foram entregues 1,5 mil refeições. Naquele dia, a comunidade atendida foi a conhecida como “Tribo”, localizada na divisa dos bairros Jardim Princesa e Jardim Paraná. (por Marcos Rubens Ferreira e Victor Batista)

[BRASILÂNDIA] Em 20 de junho, faleceu a senhora Maria Braz que era ministra extraordinária da Sagrada Comunhão, salmista e coordenadora da Pastoral da Criança na Comunidade Aparecidinha da Paróquia São Francisco de Assis, Setor Dom Paulo Evaristo. Ela sofreu um AVC. Deixa filhos e netos. (por Marcos Rubens Ferreira) Arquivo pessoal

(por Andréa Campos)

[SÉ] No domingo, 27, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, conferiu o sacramento da Crisma a cinco jovens da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Setor Bom Retiro. Concelebraram o Pároco, Padre Hélio Espínula Soares Pinto, SDB, e o Padre Tetuo Koga. (por secretaria da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora)

[IPIRANGA] Faleceu na segunda-feira, 28, o Diácono Permanente Josué Darcy Magueta, aos 70 anos. Ele exercia seu ministério no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida, onde era participante há muitos anos, antes mesmo de ser ordenado diácono pelo Cardeal Cláudio Hummes, em 4 de dezembro de 2005. A causa da morte não foi divulgada. A celebração com os ritos de exéquias foi realizada no mesmo dia pelos Padres Zacarias José de Carvalho Paiva, Pároco e Reitor do Santuário; e Uilson dos Santos, Vigário Geral da Região Ipiranga, assistidos pelos Diáconos Feliciano e Anivaldo. (por Pascom do Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida)


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Fé e Cidadania

lapa

São Thomas More é festejado na Vila Dalva Fernando Nunes Moreira

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Os fiéis da Paróquia São Thomas More, na Vila Dalva, Setor Rio Pequeno, comemoraram a memória litúrgica do padroeiro, no dia 22, participando da missa, também transmitida pelas redes sociais, presidida por Dom José Benedito Cardoso, tendo como concelebrantes os Padres Pedro Cardoso Carvalho, SJC, Pároco; e José Policarpo Silva, SJC, Vigário Paroquial. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa recordou a vida e conduta do Santo como exemplo de fidelidade à Igreja e ao Evangelho. Refletiu ainda que o chanceler Thomas More não aceitou o pedido de sua famí-

Paulo Henrique Cremoneze

lia para renegar a religião católica e sua fé, e por questões políticas e religiosas foi preso e condenado à morte pelo Rei Henrique VIII, que o considerava como seu opositor. O Bispo destacou que São Thomas, antes de morrer, fez uma declaração pública: “Sedes minhas testemunhas de que morro na fé e

acontecem. Identificar os potenciais de cada um e os aspectos que são mais frágeis e precisam melhorar; – Ser identificados por eles como autoridades no que diz respeito às normas de convívio; – Ser exemplo de valores, princípios e virtudes diariamente; – Ocupar o protagonismo na formação deles, determinando a rotina, acompanhando na escola, nas consultas médicas etc. Sim, é um grande desafio, mas com criatividade e esforço, é possível. É preciso lembrar que, ao escolhermos formar família, renunciamos a nós mesmos em prol daqueles com os quais nos comprometemos para toda a vida: o cônjuge e os filhos. O amor é um ato de serviço, uma decisão comprometida com a felicidade dos amados. Portanto, o importante é ser protagonistas e garantir a presença, mesmo nos momentos em que estamos trabalhando. Determinar a rotina a ser seguida na ausência dos pais, ligar e conversar com os filhos ou com quem cuida deles para saber dos acontecimentos, chegar o quanto antes e procurar participar ao menos do jantar, banho e hora de dormir. Garantir o convívio maior nos fins de semana, incluir os filhos nos momentos de compras no mercado e rotinas de arrumação da casa, para que se transformem também em tempo de convívio; enfim, colocar a cabeça e o coração nesse objetivo – cuidar daqueles por quem somos responsáveis, pois, se não fizermos isso, ninguém poderá fazê-lo.

Sobreviver, custe o que custar, dizem os russos. Nunca a vida foi fácil. Antes, era até pior. Avanços inegáveis tornaram a vida muito mais fácil. A saúde, o Direito, a produção de alimentos e a tecnologia em geral avançaram muito e tornaram tudo melhor. Os anseios e as inquietudes continuam e são a cada dia mais vorazes. As moções da alma, os afetos desordenados, os vícios capitais pautam nossas vidas e prejudicam o império do Bem no mundo. Em sua missão de salvar almas, a Igreja é o dique que protege os valores fundamentais: a Verdade e o Bem. Dique que tem fissuras, mas nenhuma rachadura. A Igreja, ou seja, nós, temos que sobreviver, custe o que custar. Ninguém sabe o que acontecerá no minuto seguinte, quiçá no dia ainda por nascer. Cada um de nós há de viver em perpétuo estado de vigilância, pois o momento derradeiro ronda e não avisa. Novidade alguma escrevo. A Bíblia expõe isso em abundância. O Senhor ensinou por meio de parábolas. A Igreja ensina desde os tempos dos Padres do Deserto, e a literatura universal é pródiga no assunto. Mesmo assim, é preciso reiterar a importância da vigilância e de se saber viver com sabedoria, com leveza, com desprendimento e piedade. Viver com alegria, sempre que possível, e com elegância, quando dos piores e mais dolorosos momentos. Deus é elegante. Sejamos nós, também. Chorar quando for o caso. Sorrir quase sempre. Compreender o tempo todo. Tolerar acima do possível. Perdoar com senso de justiça. Amar como não acreditamos ser possível. São Bernardo de Claraval ensina que “Deus há de ser amado” e que a “medida do amor por Deus é a de amá-Lo sem medida”. Sabemos disso, mas teimosamente nos esquecemos disso, porque somos um povo de cabeça dura e pescoço em pé. Amar a Deus é buscar frequentemente os sacramentos, confiar no magistério da Igreja – que é mãe –, evitar o mal e praticar o bem. Chovo no molhado ao escrever essas coisas? Claro que sim, mas acaso faço menos do que deveria? Lembrar-se do óbvio muitas vezes é mais difícil do que aprender algo novo. Custa e não raro acusa nossa própria miséria. Que mandamento é esse que o Senhor nos deu de amar ao próximo como a nós mesmos? O filósofo declara que o “inferno são os outros” e, o Senhor, pede-nos o amor? Gosto de pensar que não conseguimos isso porque, no fundo, não nos amamos. Nós nos autoidolatramos, deixamos nos conduzir pelos egos, mas amar a nós mesmos, como realmente somos, não conseguimos. Amamos a imagem distorcida que temos de nós, não a verdadeira, aquela que nos assusta, aquela que acusa nas nossas contradições e graves defeitos. Exatamente por isso é que não conseguimos amar ao próximo e, quando não oprimimos, usamo-lo como bode de expiação de nossos recalques e ressentimentos. Nem mesmo a Deus conseguimos amar como deveríamos ou falamos que amamos. O amor não é amado, e isso é duro reconhecer. Se nós amássemos a Deus, seriamos homens e mulheres verdadeiramente de fé, de boa vontade. Mas, ao menos tentamos e lutamos diariamente. E isso não é pouco. Não sou eu quem diz, mas Santo Inácio de Loyola, que, para nossa consolação, Deus leva muito em conta nossas intenções. Então, não, não é verdadeiro o ditado popular que diz que de boas intenções o inferno está cheio. É o Céu que está repleto de almas de quem, ao menos, foi bem-intencionado em vida e tentou sinceramente amar, ainda que aquele amor imperfeito, claudicante, que o grande São Pedro professou ao responder: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. Vamos sobreviver, custe o que custar.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Paulo Henrique Cremoneze é advogado, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos (SP) e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).

pela fé da Igreja de Roma, e morro fiel servidor de Deus e do rei, mas primeiro de Deus”. Thomas foi canonizado, junto com o Bispo João Fischer, pelo Papa Pio XI em 1935, e, no ano 2000, São João Paulo II declarou São Thomas More como protetor e padroeiro dos políticos.

Comportamento Família e trabalho: a difícil equação Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Quem nunca se viu nesse dilema em algum momento da vida? Com o amplo acesso das mulheres ao mercado de trabalho, com as mudanças de paradigma em termos de comunicação social, de rapidez das informações e das transformações sociais que vivemos, esse é um tema importante e urgente. Hoje, todos somos preparados desde cedo para o mercado de trabalho. O que mais se pergunta a uma criança é: o que você vai ser quando crescer? Desse modo, sem mesmo percebermos, vamos aprendendo que o mais importante é nossa formação profissional. Muitas e muitas horas da vida até a juventude são investidas em estudos e na escolha de uma atividade profissional. Pouco se investe na formação dos jovens para que sejam bons pais, bons esposos. Em algumas famílias, mesmo sem querer, transmite-se aos filhos uma mensagem confusa sobre a importância da família, na medida em que o ritmo de trabalho acaba sendo muito intenso e o tempo de convívio familiar reduzido. Vamos então a algumas considerações que podem nos guiar nesse desafio de conciliar a tarefa profissional com a vida em família. É importante lembrar que precisamos ter uma ordem clara de prioridades para poder conduzir a vida. Então, pergunte-se: 1. Em que lugar você é insubstituível: na sua família ou no seu trabalho? 2. Vai ter maior impacto na sua felicidade seu sucesso profissional ou ver seus filhos bem formados

Sobreviver, custe o que custar

e viver uma relação harmoniosa com seu cônjuge? 3. Qual o maior compromisso que assumiu na vida: ser um profissional reconhecido ou educar e formar com amor aqueles que Deus lhe confiou? Se respondermos sinceramente a essas questões, já teremos pela frente uma trilha mais aberta para percorrermos; afinal, a prioridade estará estabelecida. Feito isso, vamos à prática. Como ser coerente com a prioridade familiar num mundo profissional tão competitivo e exigente? Como oferecer aos filhos tempo de qualidade e, simultaneamente, ser um profissional responsável e dedicado? É comum ouvirmos de muitos que o importante não é a quantidade de tempo que se oferece à família, mas sim a qualidade desse tempo, o que, em certo sentido, é verdade. De que adianta uma mãe que fica o dia todo em casa, mas que gasta uma parte enorme do seu tempo ao celular, em frente à TV ou em atividades esportivas e estéticas? Pouco cuidou de sua família. Por outro lado, não nos enganemos – quando o tempo é muito reduzido, é impossível que ele seja vivido com a qualidade necessária; afinal, se um mínimo convívio não estiver garantido, como poderemos conhecer os filhos, as transformações que estão vivendo, o que estão aprendendo, e, mais do que isso, como poderemos nos oferecer como referência de valores? Para podermos ter um tempo de qualidade no convívio com os filhos, é preciso: – Garantir tempo suficiente para acompanharmos de perto o crescimento e as transformações que


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Pascom PNSA

brasilândia

Jovens e adultos recebem o sacramento da Crisma na Paróquia Santo Antônio Jonas Alcides

Marcos Rubens Ferreira

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Nos dias 26 e 27, receberam o sacramento da Confirmação 60 jovens e três adultos na Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, Setor Dom Paulo Evaristo. A participação do grupo que recebeu o sacramento foi dividida em duas celebrações a fim de evitar aglomerações e seguir os protocolos sanitários recomendados para o atual momento de pandemia. As celebrações foram presididas por Dom Carlos Silva, OFMCap, e o Cônego José Renato Ferreira. O grupo de Crisma é composto por 15 catequistas, coordenados por Vitória Lima. Já a Catequese de Adultos é coordenada por Ubirajara Gonçalves. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia recordou quando foi crismado aos 16 anos e como os dons que lhe foram imputados transformaram sua visão da fé e o coloca-

[BRASILÂNDIA] Na manhã do domingo, 27, os fiéis das Comunidades Divino Espírito Santo e Cristo Ressuscitado, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Souza, receberam pela primeira vez a visita pastoral de Dom Carlos Silva, OFMCap. O Bispo presidiu missas nas comunidades e relembrou o propósito de visitar as 36 paróquias, duas áreas pastorais e mais de 150 comunidades da Região Episcopal Brasilândia. (por Luccas Sant’Ana) Taíse Cortês

ram no caminho do sacerdócio. O Bispo também discorreu sobre a presença do Espírito Santo na vida do cristão: “O Paráclito estará sempre a nos guiar”, disse, reforçando que, diante do atual momento das dificuldades impostas pela pandemia, “devemos nos lembrar de que Deus não se alegra com a morte, pois Ele é autor da vida. O Evan-

gelho de domingo (Marcos 5,21-43) apresenta Jesus que restabelece e torna digno o ser humano, pois quem o toca com fé é curado”. Os crismandos, ainda em sinal de testemunho, levaram quilos de alimentos para serem ofertados na festa do Senhor, em testemunho à atenção e necessidade da comunidade em que estão inseridos.

[BRASILÂNDIA] Um grupo de crianças recebeu a primeira Eucaristia no domingo, 27, na Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, durante missa presidida pelo Padre Roberto Moura, Pároco. A turma foi orientada pela catequista Maria Angélica Corrêa Van Eeten. (por Taíse Cortês)

1º Encontro Jovem na Paróquia Nossa Senhora das Graças Viviane Paes Landim

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Paróquia Nossa Senhora das Graças, Setor Perus, realizou o 1º Encontro Jovem Paroquial no dia 19, no Rincão Vocacional Santo Aníbal, no Morro Doce. Participaram, cumprindo os protocolos sanitários, cerca de 120 pessoas

que já fazem parte dos grupos de Crisma e Jovens. Com o tema central “Click para o Amor”, houve momentos de dança, dinâmica, escuta da Palavra e missa. As atividades proporcionaram um maior conhecimento sobre o amor de Deus e a importância de amar a si mesmo. A juventude também pôde perceber os benefícios de ser um jovem cristão, que estar na presença de Deus permite

[SÉ] Padres e leigos atuantes no Setor Bom Retiro se reuniram presencialmente no dia 23, na Paróquia São Cristóvão, pela primeira vez desde o começo da pandemia. Todos foram acolhidos pelo Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Pároco. Na sequência, o Coordenador do Setor, Frei Wilson Batista Simão, OFM, apresentou um relato das realidades paroquiais e as dificuldades enfrentadas

sentir uma alegria que não é passageira e que o amor do Senhor é incondicional. “Nesses tempos difíceis, os jovens têm se ausentado muito da Igreja, mais do que antes. Assim, esse encontro foi principalmente um chamado para que eles retornem para casa e se encontrem no caminho de Deus. Foi maravilhoso!”, contou o jovem Bruno, um dos participantes.

com a situação da pandemia, mas que com a fé e a criatividade das equipes paroquiais estão sendo superadas. Também se falou sobre a participação na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, da Missa da Juventude, em outubro; e das missas vocacionais setoriais no mês de agosto. No Setor Bom Retiro, esta será na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. (por secretaria do Setor Bom Retiro)

Maria Lene Alves Zuza Kreling

[SANTANA] Como parte das festividades do padroeiro da Paróquia São Pedro Apóstolo, Setor Pastoral Tremembé, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na manhã do domingo, 27. Recordando a liturgia do dia, ressaltou que o cristão não deve perder a crença em Deus diante das adversidades. A missa foi concelebrada pelo Padre Claudinei de Arruda Lúcio, Pároco, assistido pelo diácono permanente Vinício de Andrade. (por Edmilson Fernandes)

Você Pergunta Por que na Bíblia não encontramos os livros apócrifos? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

O Pedro Firmino, do bairro do Mandaqui, quer saber por que não encontramos, na Bíblia Sagrada, os livros apócrifos. Boa pergunta, Pedro. Primeiro, vamos entender bem o que são esses livros. A palavra “apócrifo” é grega e quer dizer “oculto”. A partir disso, a gente já começa a entender o que eles são: livros cujos autores ninguém conhece. Há muitos e muitos livros apócrifos. Porque são fantasiosos demais e de fonte desconhecida, eles não foram considerados inspirados por Deus e, por isso mesmo, não constam na Bíblia, que para nós, católicos, contém 73 livros, 47 do Antigo

Testamento e 26 do Novo Testamento. A Igreja Católica considera que esses 73 livros são inspirados por Deus porque muitos deles foram até citados pelos apóstolos e pelos santos escritores da Igreja. Entre os livros apócrifos há muitos evangelhos, sabe? Certamente eles foram escritos por pessoas que queriam preencher o vazio deixado pelos quatro evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João. Por exemplo, a não ser São Lucas e um pouco São Mateus, muito pouco, quase nada, sabemos sobre a infância de Nossa Senhora, sobre a adolescência e juventude de Jesus. Já esses tais evangelhos apócrifos falam a respeito, mas de uma forma tão fantasiosa que não dá para aceitar que são verdadeiros e inspirados por Deus.

Há um livro apócrifo chamado “Evangelho de Tiago”. Nele está registrado o nome dos pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Sant´Ana, a apresentação de Maria no templo, a escolha de José para esposo de Maria. O bastão de José teria florescido, fazendo com que os pais de Maria o aceitassem como noivo dela. Há também alguns detalhes sobre o nascimento de Jesus. A data em que foi escrito foi lá pelos anos 200 d.C. Outro livro apócrifo muito conhecido é chamado “Evangelho de Tomé”. Nele são narrados alguns episódios da infância de Jesus, como sempre muitos fantasiosos. Jesus aparece como um menino prodígio que gosta de fazer milagres, como moldar pombinhos de barros e fazê-los voar.

Mais um outro, chamado “Evangelho Árabe da Infância”, fala dos milagres que aconteciam com o contato com a roupa branca e com a água em que Maria dava banho no menino Jesus. Não dá para acreditar nessas coisas fantasiosas, não é mesmo? Há também um livro apócrifo chamado “História de José”, o carpinteiro. Nele se diz que José foi casado, ficou viúvo, teve filhos no primeiro casamento, morreu nos braços de Jesus e de Maria. Está vendo, Pedro? Pode até ser divertido ler esses textos, mas não devemos dar crédito a eles. Até porque a Igreja, embora os conserve, não os considera de inspiração divina, não os considera Palavra de Deus.


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Arquivo paroquial

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ipiranga

Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino, completa 80 anos [IPIRANGA] A Paróquia São João Batista, Setor Pastoral Ipiranga, celebrou a festa do padroeiro. No dia 20, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu a celebração eucarística e conferiu o sacramento da Crisma a quatro adultos. (por Padre Antônio César)

Pascom paroquial

[LAPA] Na quinta-feira, 24, na memória litúrgica de São João Batista, Dom José Benedito Cardoso presidiu missa na Paróquia dedicada ao Santo, na Vila Mangalot, Setor Pastoral Pirituba, tendo entre os concelebrantes o Padre José Ordean, Pároco. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa recordou que João Batista batizou Jesus no rio Jordão. O Santo iniciou suas pregações no deserto da Judeia, viveu como nômade pregando a Palavra de arrependimento e transformação, e usava roupas feitas de pele de camelo e cinto de couro na cintura. Comia mel silvestre, gafanhotos e alfarroba, fruto adocicado comestível, parecido com o cacau, cuja árvore também é conhecida como pão-de-joão, pão-de-são-joão ou figueira-do-egito. (por Benigno Naveira) Fernando Fernandes

[SANTANA] No dia 23, na Capela São João Batista da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, Setor Vila Maria, Dom Jorge Pierozan presidiu a missa de encerramento do tríduo em honra do padroeiro. Concelebrou o Padre Efigênio Rodrigues da Rocha, mais conhecido como Padre Estevão, Administrador Paroquial. (por Fernando Fernandes)

Moacir Beggo

Moacir Beggo

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino, completou 80 anos de história, em uma missa em ação de graças (foto), celebrada na manhã do domingo, 27, presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ. “Sabemos que o presente e o futuro dependem da nossa história de vida, da história respeitada, da história amada. Temos que preservar essa memória para que as futuras gerações possam conhecer mais profundamente essa força da fé, essa força da Igreja, esse testemunho de vivência da sociedade, do que era e do que hoje é, e do que continuará nesta Paróquia construída com amor”, disse o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, no começo da missa. O Pároco, Frei Valdecir Schwambach, fez a acolhida e falou da alegria pela presença de Dom Ângelo e dos concelebrantes: Padres Samuel A. Cruz, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Moema; e Paulo Suess, da Paróquia Santa Rita de Cássia, de Mirandópolis; Frei Marx Rodrigues dos Reis, da Paróquia Santo Antônio, do Pari; e dos frades da Fraternidade da Vila – Frei Raimundo de Oliveira Castro, Frei Robson Scudela e Frei Carlos Lúcio Nunes Corrêa. História Oitenta anos atrás, a Vila Clementino não tinha a fama que hoje a coloca no topo da lista entre as regiões mais buscadas para se morar. Ficava em uma área de periferia, em meio ao mato e a riachos, como o antigo córrego Itororó, que foi canalizado para receber a Avenida Rubem Berta (Avenida 23 de Maio), inaugurada em 25 de janeiro de 1969. Nessa vila, distante do centro, um grande empreendimento foi inaugura-

do em 1940: o Hospital São Paulo. Às suas atividades se juntou a assistência espiritual dos frades do Convento São Francisco, da região central da cidade. Eles vinham diariamente, como conta a história, de bonde ou de ônibus, para atender os doentes do novo hospital. Essa assistência dos frades começou a mudar quando, por decisão de Dom José Gaspar da Fonseca e Silva, então Arcebispo Metropolitano, foi criada a Paróquia São Francisco de Assis, tendo como limites as Ruas Sena Madureira, Napoleão de Barros, Luís Góis, Indianópolis, França Pinto e Tangará. O terreno escolhido ficava na Rua Borges Lagoa. Um prédio particular da Família Cruz foi transformado em igreja provisória, inaugurada em 29 de junho de 1941, na Solenidade de São Pedro e São Paulo. Graças à doação de uma casa com três salas pelo senhor Abílio de Araújo Vieira, os frades puderam organizar as atividades paroquiais. A Residência Franciscana foi, então, oficialmente erigida no dia 24 de agosto de 1942, sendo Frei Honório Nacke o primeiro guarJuh Torres

dião. “Convento simples, sem móveis nem cozinha, início alegre e cheio de esperança”, como registrou o livro tombo da Paróquia. “A história de nossa Paróquia, como tudo que é incipiente, vai evoluindo aos poucos. Cremos que ao celebrar estes 80 anos, muito mais do que visitar um passado, precisamos, sim, olhar com gratidão para os confrades que nos antecederam ao longo de tantas décadas, mas olhar com carinho e gratidão muito especiais a todos os paroquianos que ajudaram a construir a rica e bela história desta comunidade”, avalia Frei Valdecir. Segundo ele, este momento jubilar também será celebrado em outubro, junto com as festividades do padroeiro. “Cremos e esperamos que até lá estejamos vivendo um momento mais tranquilo nesta pandemia, que mudou o ritmo de vida das pessoas e das instituições. Achamos por bem não celebrar agora, mas fazer uma grande comemoração nas festividades de São Francisco de Assis”, adianta o Pároco. Maria Lene Alves Zuza Kreling

Maria Tiemi

[LAPA] Na quinta-feira, 24, foi celebrada a festa do padroeiro da Área Pastoral São João Batista, no Jardim Rizzo, da Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Pastoral Butantã, com missa presidida pelo Padre Antônio Francisco Ribeiro, Pároco. (por Benigno Naveira)

[BRASILÂNDIA] No domingo, 27, a Paróquia Santos Apóstolos celebrou o encerramento da 22ª festa dos seus patronos, sob o tema “Queremos ser comunidade de fé e diálogo”, em missa presidida pelo Padre Jaime Izidoro de Sena, Pároco, e o Vigário Paroquial, Padre Luiz Carlos Ferreira Tose Filho. Na homilia, o Sacerdote relembrou a missão dos apóstolos e sobre o que foi celebrado nessa dezena. (por Pascom da Paróquia Santos Apóstolos)

[SANTANA] No domingo, 27, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Tremembé, e conferiu o sacramento da Confirmação a dez jovens e adultos. Concelebrou o Pároco, Frei Guilherme Pereira Anselmo Junior, SIA. (por Maria Lene Alves Zuza Kreling)


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Paróquia Bom Jesus é referência histórica e evangelizadora no bairro do Brás Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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No domingo, 27, um grupo de 31 jovens e adultos recebeu o sacramento da Confirmação (Crisma) na Paróquia Bom Jesus, no Brás, região central da capital paulista. Uma celebração comum para a maioria das paróquias católicas, porém, naquela comunidade, teve um sentido especial, pois é resultado do esforço conjunto para revitalizar a ação evangelizadora em um dos bairros mais tradicionais e, ao mesmo tempo, mais desafiadores da cidade. O presidente da celebração, Dom Carlos Lema Garcia, ressaltou essa realidade. “Nas primeiras vezes em que vim celebrar a Crisma aqui, os crismandos preenchiam, no máximo, os primeiros bancos da igreja. Aos poucos, esse número tem aumentado. Isso mostra que a comunidade está realizando a sua missão”, afirmou o Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para a Região Sé. O bairro A história do bairro do Brás se identifica com a da Paróquia. Em 1765, a atual Avenida Rangel Pestana, onde está localizada a matriz paroquial, era chamada de “Caminho da Penha”. O nome do bairro é atribuído ao português José Brás, que, em 1769, ergueu uma capela em honra a Bom Jesus de Matosinhos, devoção popular de Portugal e presente no Brasil colonial. Mais tarde, em 1803, a capela foi substituída por uma igreja e, em 8 de junho de 1818, Dom João VI, rei de Portugal, decretou a criação da “Freguesia do Brás”, dedicada a Bom Jesus. Em 1896, começou a ser construída uma nova matriz paroquial, inaugurada em 1º de janeiro de 1903. Transformação Nos últimos anos, o Brás tem passado por transformações próprias dos grandes centros urbanos. “Por muitas décadas, este bairro se caracterizou pelo comércio... Esse foi um grande desafio, porque a participação de fiéis na Paróquia era muito pequena. Porém, por mais comercial que o Brás seja, há pessoas que residem aqui. Então, começamos a ir à procura dessa população”, relatou Monsenhor Sergio Tani, Pároco há seis anos. Mais recentemente, houve

Dom Carlos Lema Garcia confere o sacramento da Crisma a jovem na Paróquia Bom Jesus, no Brás, ladeado pelo Monsenhor Sergio Tani

uma expansão imobiliária na região, com a construção de novos edifícios residenciais, que atraíram, especialmente, jovens famílias que optaram por morar no Brás por ser um bairro central e de fácil acesso aos meios de transporte. Por isso, tem aumentado a frequência de casais jovens, incluindo uma quantidade significativa de pessoas que estão se reaproximando ou procurando a vida eclesial pela primeira vez. Alguns desses receberam a Crisma no domingo. “Não se trata apenas de uma catequese para a Crisma, mas para a iniciação à vida cristã desses adultos”, explicou o Monsenhor Sergio Tani. iMigrantes Outra realidade marcante no bairro é a presença de imigrantes latino-americanos. Por isso, há um trabalho pastoral voltado para essa comunidade, especialmente a peruana, que participa mensalmente de uma missa em espanhol na Paróquia. “Embora os peruanos sejam a maioria, há também a participação de bolivianos, colombianos, chilenos e argentinos. Isso está se intensificando, de maneira que, em alguns meses, temos celebrado duas missas em espanhol para darmos conta desses fiéis”, afirmou o Sacerdote, lembrando que nos dias 15 e 16 de julho será celebrada a festa da Virgen del Carmen de Pisac, padroeira dos peruanos. Pastorais A Bom Jesus do Brás também conta com dois grupos de oração, de reza do Rosário e está refundando o Apostolado da Oração. Há também a Pastoral do Batismo e do Matrimônio, voltadas a esses sacramentos. Existe, também, uma presença ativa da Comunidade Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria.

Para o Pároco, foi fundamental para o crescimento da participação dos fiéis o aumento da celebração dos sacramentos. “Quando as pessoas recebem a Catequese, é natural que elas tomem mais consciência sobre o valor dos sacramentos e os procurem com mais frequência”, enfatizou o Monsenhor Sergio. Caridade O Brás também é marcado pelos desafios sociais, com uma numerosa população em situação de rua e de famílias carentes. Para essa dimensão, a Paróquia possui a Pastoral da Caridade, confiada à intercessão de Santa Teresa de Calcutá, que atende mensalmente quase 200 famílias. Esse trabalho é realizado pelos leigos da Legião de Maria e pelas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (Orionitas), congregação que possui uma casa no bairro. Além da distribuição das cestas básicas, há o acompanhamento pastoral das famílias cadastradas. Irmã Rufina da Luz Pinheiro, 46, é uma das orionitas que atuam na comunidade. Natural de Cabo Verde, ela ajuda no atendimento aos pobres, auxilia nas liturgias e faz visitas aos enfermos. “Desde que chegamos, percebemos uma comunidade viva. Penso que a acolhida tem sido fundamental para atrair mais fiéis à Paróquia”, afirmou a Religiosa. Patrimônio Também é um desafio pastoral para essa comunidade paroquial a manutenção da igreja matriz, inaugurada em 1903. Com o passar dos anos, o templo sofreu muitos danos estruturais que exigem um minucioso restauro. Desde que assumiu o pastoreio da Paróquia, Monsenhor Sergio priorizou os reparos emergenciais na estrutura ar-

quitetônica da igreja. Para isso, a comunidade contou com o apoio de benfeitores e voluntários. No entanto, o Pároco sublinhou que, “antes do restauro físico do templo, foi priorizado o restauro da Igreja povo de Deus”. Nesse sentido, as primeiras reformas foram realizadas nos anexos da igreja, como a ampliação de salas para Catequese e espaços para encontros, de modo a favorecer as atividades pastorais e evangelizadoras. Outra obra que está sendo concluída é referente às exigências de segurança do Corpo de Bombeiros. “O próximo passo é iniciar o processo de restauro da igreja e, para isso, precisaremos da ajuda da comunidade e de todos aqueles que puderem colaborar”, destacou o Pároco. Igreja viva O engenheiro Hermes Santana Neves, 36, é um dos que se mudaram recentemente para o bairro. Há quase dois anos, ele participa da Paróquia Bom Jesus e, atualmente, colabora no canto litúrgico das celebrações. Assim como outros casais da comunidade, Neves também se empenha no apostolado com os vizinhos. Para isso, ele considera os meios digitais uma grande ajuda. “Nós procuramos divulgar nos grupos de WhatsApp do condomínio as atividades da Paróquia, como missas, inscrições para Catequese, entre outras. Isso atinge centenas de pessoas. Muitas delas procuram a Paróquia após esse contato digital”, destacou. Para Neves, a Bom Jesus do Brás não é apenas um monumento histórico da cidade, mas uma referência espiritual da presença viva da Igreja no bairro. “As igrejas católicas são essenciais para a vida da população de um bairro, pois a ajudam a crescer como comunidade”, disse.


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Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: há 70 anos atenta às urgências da evangelização Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na festa da padroeira da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no domingo, 27, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na igreja matriz, localizada no bairro Jardim Paulistano, na Região Episcopal Sé. A celebração marcou a abertura do ano jubilar, pelos 70 anos da Paróquia, com o tema “Nossa comunidade estará atenta às urgências da evangelização na cidade”. HISTÓRIA Em 1951, a pedido do então Arcebispo Metropolitano, o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, a Congregação do Santíssimo Redentor (Missionários Redentoristas) assumiu a missão de formar a comunidade e dar início à construção da igreja, que foi fundada em 1952. A Paróquia está localizada em uma região nobre da capital, e conta com uma estrutura moderna, idealizada pelo arquiteto Benedito Calixto. O interior da igreja é marcado por afrescos feitos pelo pintor Sansom Flexor. “As pinturas da igreja são um convite a meditar a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro como medianeira e fonte inesgotável de auxílio e socorro. A pintura interna retrata a riqueza do Mistério da Igreja Caminhante e da Igreja Triunfante, cujos olhares fixos e esperançosos se dirigem para a abside do presbitério, onde a Mãe do Perpétuo Socorro, ladeada por evangelistas e por santos padroeiros, acolhe a todos os que a ela recorrem”, contou o Pároco, Padre Geraldo de Paula Souza, CSsR. VIDA PASTORAL O Pároco recordou que as dependências da Paróquia já foram uma escola. Atualmente, sete grupos de anônimos (entre alcoólicos e narcóticos) lá se reúnem. Os paroquianos são moradores do bairro e há pessoas de outras regiões. O bairro era residencial e com o passar dos anos mudou para um perfil mais comercial, com escritórios. “Essa realidade trouxe um desafio na vivência paroquial: como engajar e atrair as pessoas para a participação da vida em comunidade? Ser Igreja é mais do que participar da missa. A vida comunitária é uma dimensão que precisa ser resgatada”, enfatizou o Sacerdote, preocupado com a diminuta participação de crianças e jovens na dinâmica paroquial. Laura Maria Gumerato Cominato, 69, é professora e empresária. Atua como ministra extraordinária da Eucaristia. É, também, representante da Paróquia no sínodo arquidiocesano. Ela recordou que as pastorais atuantes na Paróquia são a da Catequese, Encontro de Casais, Dízimo, Liturgia e Música. “Elas renovam a dinâmica e o crescimento pastoral, mantendo a Igreja viva e na busca de ser uma ‘Igreja em saída’”, pontuou.

NO BRASIL A Congregação do Santíssimo Redentor foi fundada por Santo Afonso de Ligório, em 1732, em Scala, na Itália. Está espalhada pelos cinco continentes e presente em 82 países. Os primeiros membros da congregação chegaram ao Brasil em 1893, com missionários holandeses para atuar em Juiz de Fora (MG). Em 1894, Redentoristas alemães passaram a trabalhar no Santuário Nacional de Aparecida (SP) e no Santuário do Divino Pai Eterno (GO). No Brasil, são cerca de 550 membros entre Padres e Irmãos Consagrados atuando em Salvador (BA), Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR),

modo particular na Província de São Paulo, buscam zelar pela qualidade e resgate da dignidade de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade social”, disse o Sacerdote, ressaltando que o trabalho social é indispensável para a evangelização. CARISMA O carisma redentorista consiste em evangelizar todas as pessoas, especialmente as mais pobres e abandonadas. “Somos conhecidos como os missionários das Santas Missões Populares, missões amplamente divulgadas em todo o País. Com o passar dos anos, a pedido da Igreja, assumimos também o trabalho em santuários e paróquias,

dres continuam na missão de torná-la conhecida. A devoção é presença viva nas celebrações e nas pastorais, que, inspiradas na Mãe do Perpétuo Socorro, buscam a construção do Reino de Deus”, disse. ANO JUBILAR Na homilia da missa, o Cardeal Scherer recordou o significado da devoção e do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro como a “Mãe do constante socorro”. O Arcebispo destacou que a Paróquia expressa a convicção da presença de Maria na vida da Igreja. As celebrações do ano jubilar acontecem no período de 27 de junho de 2021 a 26 de junho de 2022. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Estrutura da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi idealizada por Benedito Calixto e afrescos de Sansom Flexor

Manaus (AM), Recife (PE), São Paulo, Ceará e Goiás. NA ARQUIDIOCESE Na cidade de São Paulo, os religiosos chegaram em missão em 1906. “Estamos presentes na Paróquia Senhor Santo Cristo, na Cidade Tiradentes; na Comunidade Nossa Senhora da Esperança, em Sapopemba; no Ipiranga, desde 1972, com o Seminário de Teologia e a formação dos novos sacerdotes; na Comunidade Formativa no Bosque da Saúde; aqui no Jardim Paulistano, com a Paróquia e a Casa Provincial”, destacou Padre Geraldo, ressaltando ainda que os Redentoristas buscam colaborar com o seu carisma para a missão evangelizadora da Igreja. As ações sociais são uma marca dos Redentoristas. O Centro de Assistência Social (CAS) é um conjunto de projetos que tem em vista contribuir para a ressocialização. “As obras sociais redentoristas, de

nos meios de Comunicação Social, na formação e em outros tantos trabalhos”, destacou o Pároco. DEVOÇÃO A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um pedido do Papa Pio IX, no ano de 1866, aos Redentoristas. “Para atender ao pedido do Papa, ‘façam-na conhecida no mundo inteiro’, onde estão os Redentoristas a devoção está presente”, afirmou Padre Geraldo, destacando que, “aqui no Brasil, as novenas são fortes e todas as quartas-feiras, na Paróquia, reza-se a Novena Perpétua a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”. Regina Hitomi Babá Nakamoto, 59, é dentista e ministra extraordinária da Sagrada Comunhão. Ela participa da vida paroquial há 45 anos, onde fez a primeira Eucaristia, casou-se e batizou seus filhos. “Nossa comunidade sempre foi e continua sendo muito fiel a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nossos pa-

“Em todos os domingos que antecedem o dia 27 de cada mês, será refletido um tema pautado na devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, aos apelos do Papa Francisco, do sínodo arquidiocesano e às urgências da evangelização na cidade”, destacou o Pároco, ressaltando que as ações programadas para a celebração estão sob o olhar e proteção da Padroeira. Na abertura das celebrações dos 70 anos, o Arcebispo agradeceu a missão desempenhada pelos Missionários Redentoristas, que manifestam a presença de Deus que caminha com seu povo por meio do anúncio da Palavra de Deus, da celebração dos sacramentos, do testemunho da caridade organizada nas pastorais atuantes e do testemunho da vivência cristã na sociedade orientada pelos valores do Evangelho. O Arcebispo expressou gratidão a todos os que colaboram para a edificação da comunidade e os exortou a que continuem firmes na caminhada.


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Perseguidos, presos e mortos por serem cristãos ACN

Relatório da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) mapeia situações de encarceramento injusto e sequestro dos que professam a fé cristã Daniel Gomes

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Usar um símbolo da fé cristã, participar da missa ou do culto ou simplesmente ser reconhecido como cristão é altamente perigoso para mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo. Elas têm sofrido perseguições de grupos radicais e governos e são ameaçadas para que se conver-

tam forçosamente à religião predominante de uma nação, na maioria dos casos, o Islã. Também são acusadas, injustamente e sem provas, de blasfemar contra uma expressão de fé. Não raro, o desfecho é que esses cristãos sejam presos, sequestrados, violentados e até mortos. Situações como essas estão mapeadas no relatório “Presos em nome da fé”, produzido pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), que atua em auxílio dos cristãos perseguidos, oprimidos ou em necessidade pastoral. O documento detalha situações verificadas na China, Eritreia, Nigéria e Paquistão, além de mencionar casos no Irã, Mianmar,

Coreia do Norte e Egito. A íntegra pode ser acessada no link a seguir: https://cutt.ly/YmqVCNG.

Ainda pior com a COVID-19 O estudo, lançado em novembro de 2020, traz também uma análise dos efeitos dos primeiros meses da pandemia de COVID-19 para esses cristãos perseguidos. Encarcerados em condições insalubres, eles estão mais expostos ao coronavírus. Além disso, com o fechamento total ou parcial dos tribunais, tem havido atraso no julgamento dos que estão presos.

O noticiário sobre a COVID-19 também fez com que diminuísse a atenção da comunidade internacional para o problema, abrindo caminho para o aumento da perseguição. Outro complicador é que com a transmissão dos cultos pela internet, em decorrência das limitações para a participação presencial, os governos autoritários aumentaram a vigilância e a repressão daqueles que tomam parte de atividades religiosas consideradas ilegais. Somados à repressão estatual, há os ataques de grupos radicais – em especial de extremistas islâmicos – às comunidades cristãs.


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Sequestros de jovens cristãs e conversão forçada na Nigéria De acordo com o relatório, a cada ano mais de 220 cristãos são capturados e aprisionados por milícias jihadistas na Nigéria, no continente africano. Em abril de 2020, radicais Fulani sequestraram 13 cristãos no estado de Kaduna, mataram outros 13 e fizeram com que mil pessoas fugissem de suas casas.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) calcula que, entre 2013 e 2018, o Boko Haram, organização terrorista e fundamentalista que procura impor a lei islâmica no país, sequestrou mais de mil menores. Foi o que aconteceu com 110 alunas adolescentes de um colégio em Dapchi, em fevereiro de 2018. Leah Sharibu era a única cristã entre elas. Todas foram libertadas tempos depois, menos Leah, que se recusou a renunciar à fé cristã. Sua mãe,

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Rebecca Sharibu, ainda hoje espera que sua filha seja resgatada. Também no início de 2020, quatro seminaristas católicos foram sequestrados em Kaduna. Três deles foram libertados, menos Michael Nnadi, de 18 anos, que foi morto, segundo o assassino, por não ter parado de pregar o Evangelho. “Para nós, cristãos, parece correto dizer que somos todos hoje homens e mulheres marcados”, disse Dom Matthew Kukah, Bispo de Sokoto, no funeral do seminarista.

Prisão aos que se opõem à interferência do governo chinês na Igreja Na China, o Partido Comunista busca controlar as ações da Igreja Católica e tem forçado os clérigos e leigos a ingressar na Associação Patriótica Católica (CPA), controlada pelo governo. “Prisões de grupos cristãos que frequentavam cultos em igreja domiciliar foram registradas em abril e junho de 2020 – com um total de 45 pessoas detidas”, informa o relatório da ACN. Padres e pastores encarcerados têm sido tortu-

rados, passado fome e até impedidos de dormir regularmente. Existem ainda relatos de extração de órgãos, sem a autorização da família, dos que falecem nos cárceres. Dom James Su Zhimin, Bispo de Baoding, está preso desde 1996. Há rumores de que já tenha morrido, mas o governo chinês se recusa a dar informações aos familiares. Se vivo estiver, está com 88 anos de idade. Naquele

ano, ele enviou uma carta ao governo chinês, pedindo liberdade religiosa e respeito aos direitos humanos básicos. Foi preso enquanto participava de uma procissão. Os Padres Zhang Guilin e Wang Zhong, da Diocese de Chongli-Xiwanzi, foram detidos pelas autoridades chinesas em outubro de 2018. Eles se recusaram a ingressar na CPA. Até hoje, nada se sabe sobre o paradeiro dos sacerdotes.

Tratamento desumano a cristãos presos na Eritreia

e prisões ao ar livre, no deserto. O acesso ao atendimento médico é insuficiente e, muitas vezes, negado, como punição”, informa a ACN. Um exemplo é o que ocorre com Abunas Antonios, atualmente com 91 anos. Logo após ter se tornado Patriarca da Igreja Ortodoxa Tawahedo, em 2004, o governo local pediu que excomungasse 3 mil pessoas de uma escola dominical ortodoxa. Ele não o fez. Me-

ses depois, criticou o encarceramento de três padres ortodoxos e exigiu que o governo libertasse os cristãos acusados de traição. Em janeiro de 2006, ele foi removido do cargo por se opor à interferência do governo nos assuntos eclesiásticos. No ano seguinte, sua insígnia de patriarca foi confiscada. Em maio de 2007, foi removido à força de sua casa e permanece detido em local não revelado.

Na Eritreia, na África oriental, estima-se que ao menos mil cristãos estejam presos injustamente, em condições insalubres, e sofrendo violências físicas e assédios para renunciar à fé. “Além de contêineres de transporte, esses centros de detenção incluem celas subterrâneas

Prisões e julgamentos injustos no Paquistão A detenção injusta de cristãos também ocorre no Paquistão, no sul da Ásia. “No que diz respeito ao Estado, o uso indevido institucional das leis de blasfêmia do Paquistão resulta em um número desproporcional de cristãos acusados de crimes em que as evidências contra eles são fracas”, aponta o relatório da ACN. Outra situação preocupante é o sequestro de meninas cristãs e hindus que são violentadas sexualmente, lançadas à prostituição, sofrem violência doméstica ou são traficadas. Em 2018, na província de Sindh, aconteceram mil casos de conversão forçada dessas meninas, que depois eram dadas em casamento a homens muçulmanos. Um caso emblemático é o de Maira Shahbaz (foto). Aos 14 anos, ela foi sequestrada, estuprada, forçada a renunciar à fé cristã e obrigada a um casamento falso. O caso chegou à Justiça do país. O abusador apresentou um falso certificado de casamento com Maira e disse que ela já tinha 19 anos. O tribunal deu a ele ganho da causa por mais de uma vez. Somente após Maira ter fugido do cativeiro e relatado os abusos e tentativas de conversão forçada é que o Supremo Tribunal de Lahore, em agosto de 2020, ordenou que a polícia lhe oferecesse segurança. Ela e a família estão escondidas, temendo por suas vidas. “Embora em alguns casos as famílias tenham sucesso em libertar suas meninas nos tribunais, frequentemente as cortes favorecem o sequestrador, especialmente nos casos em que a idade exata da menina é colocada em questão”, informa o relatório.

ACN

Em outros países No texto de apresentação do relatório “Presos em nome da fé”, são mencionados sequestros e prisões injustas de cristãos em outros quatro países: Egito: jovens cristãs cooptas têm sido sequestradas e obrigadas a se casar com sequestradores não cristãos. Estima-se que entre 2 mil e 3 mil meninas desaparecem por dia na Faixa de Gaza. Coreia do Norte: cerca de 50 mil cristãos são mantidos em campos de trabalho, vivendo sob péssimas condições e trabalhando forçosamente na produção de itens para o programa nuclear e balístico daquele país. Mianmar: os cristãos têm sido vítimas de campanhas de perseguição. Desde 2018, as autoridades locais interrogaram e detiveram cem pastores e recrutaram à força estudantes cristãos. Irã: em julho de 2020, agentes de inteligência da Guarda Revolucionária do país realizaram uma operação coordenada em três cidades – Karaj, Malayer e na capital Teerã –, que resultou na prisão de 12 cristãos.

Práticas e terminologias relacionadas à detenção injusta: Prisioneiros de consciência: encarcerados por suas crenças religiosas, de forma pacífica e sem indício de violência; Detenção arbitrária: presos sem acusação (sem processo legal devido); Julgamento injusto: os que estão sujeitos a um julgamento de ‘show’ [em que o rito legal é apenas aparentemente seguido], ou que estão impedidos de se defender em julgamento; Condições de prisão inadequada: superpopulação, confinamento solitário, falta de comida, de facilidades de higiene ou de água limpa; e privação de sono; Tortura: prática de abusos físicos, incluindo espancamento; Pressão à conversão: aqueles que são forçados por seus captores a escolher entre sua fé e a liberdade; ou que estão sujeitos ao ridículo ou atormentados em razão de sua fé. Fonte: ACN


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‘As famílias devem redescobrir o dom da paternidade’ Reprodução da internet

Afirmou o prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida durante congresso sobre as famílias Fernando Geronazzo

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“O amor vencerá tudo!” Este foi o tema do Congresso Latino-Americano das Famílias, promovido pela Comunidade Católica Shalom, nos dias 26 e 27. Realizado on-line, o evento aprofundou a temática do Ano Família Amoris laetitia, convocado pelo Papa Francisco. Entre as conferências realizadas, destacou-se a do Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Joseph Farrell, no domingo, 27. O Purpurado refletiu sobre o sentido da paternidade a partir da exortação apostólica Amoris laetitia e da carta apostólica Patris corde, por meio da qual o Papa Francisco instituiu o Ano de São José, que também é celebrado neste período. O congresso contou, ainda, com a participação do fundador da Comunidade Shalom, Moysés Azevedo, e da cofundadora, Emmir Nogueira. Também houve conferências de teólogos e especialistas, workshops, além de um curso para noivos. A figura do pai O Cardeal Farrell iniciou sua conferência recordando o ciclo de audiências gerais do Papa Francisco dedicadas à família, entre 2014 e 2015. Em uma dessas catequeses, o Pontífice observou: “Hoje, chegou-se a afirmar que nossa sociedade é uma ‘sociedade sem pais’[...] e, num primeiro momento, isso foi percebido como uma liberação: do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e obstáculo à emancipação e autonomia dos jovens”. No entanto, o Santo Padre assinalou que, sobretudo nas sociedades ocidentais, foi-se ao extremo oposto. “O problema de nossos dias não parece tanto a presença intrometida dos pais, mas a sua ausência”, disse Francisco. Direito essencial “Essas observações do Papa nos ajudam a compreender a urgência de redescobrir a figura do pai e, atrevo-me a dizer, o ‘carisma da paternidade’, para que to-

Cardeal Farrell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, durante o congresso promovido pela Comunidade Shalon

dos os pais estejam realmente presentes nas suas famílias e desempenhem o que a providência lhes outorgou em benefício dos seus filhos”, afirmou o Cardeal Farrell. Na exortação apostólica, o Pontífice também afirma que “toda criança tem direito de receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento integral e harmonioso” (AL,172). Francisco recorda, ainda, que o pleno amadurecimento dos filhos requer tanto a forma do amor feminino quanto a forma do amor masculino, que, de maneira diferente, mas complementar, expressam o “rosto do Senhor”. Complementaridade Quanto à maternidade, o documento pontifício sublinha que a mãe tem a tarefa fundamental de fazer os seus filhos sentirem que são incondicionalmente aceitos, independentemente das suas capacidades e do seu rendimento. “A proximidade física da mãe, seus gestos e sua sensibilidade feminina dizem a cada criança: ‘Você é importante para nós e sua vida é sempre uma alegria para todos’”, salientou o Cardeal, observando que essa experiência é fundamental, pois todo ser humano necessita ter a íntima certeza do seu próprio valor e dignidade, que provêm do fato de ter vindo ao mundo. Ainda sobre a figura do pai, Dom Kevin lembrou que toda pessoa, para amadurecer plenamente e poder enfrentar a vida, necessita não apenas de um amor acolhedor, mas, também, de um amor que o projete “para fora” do “ninho cálido do lar”.

“O pai, sobre a base da confiança e a segurança que transmite ao seu filho ou filha, pode dar, pouco a pouco, os diferentes passos necessários à autonomia, dizendo a cada um deles, no momento oportuno: ‘É bom que você se relacione com os outros e tenha suas próprias amizades’; ‘Chegou o momento em que você vai à escola sozinho’; ‘A partir de agora, pode ajudar e fazer algum trabalho para a família’; ‘Pode e deve escolher suas preferências nos estudos e enfrentar as provas’”, detalhou o Purpurado. O Papa Francisco também ressalta que a figura paterna combina “uma identidade masculina clara e feliz ao afeto e proteção de suas relações com as mulheres”, uma vez que as crianças aprendem a respeitar as mulheres justamente na forma como seu pai se relaciona com a mãe. São José A partir da carta apostólica Patris corde, o Cardeal Farrell refletiu sobre a paternidade por meio do “espelho” de São José. Recordando que o esposo da Virgem Maria foi o “pai adotivo” de Jesus, Dom Kevin observou uma situação comum a todos os pais. “Ser mãe, de fato, é natural: é a própria natureza que cria o vínculo físico, psicológico e emocional entre mãe e filho, por meio da concepção, gravidez, parto, amamentação etc. Ao contrário, ser pai (e isso também se aplica aos pais biológicos) não é resultado de um vínculo físico natural, mas de uma escolha livre, da aceitação de uma missão, de uma tarefa parental que não é dada como certa”, afirmou.

O Cardeal explicou, ainda, que, depois do nascimento do filho, o pai deve fazer seu o destino do filho, deve assumir sua vida, seu amadurecimento, sua conversão em adulto. “Se essa opção não existir, o homem corre o risco de ser ‘progenitor’, mas sem se tornar ‘pai’”, completou, enfatizando que “todo pai, como São José, deve ‘adotar’ seu filho”, aceitar e levar a sério sua vida e o desenvolvimento de sua identidade. Modelo O Prefeito lembrou, ainda, que, como todo pai, José teve a tarefa de servir de modelo para seu filho e reforçou que, para toda pessoa, “a paternidade humana é caminho para a paternidade divina”. “Isso significa que, normalmente, passamos a reconhecer a paternidade de Deus a partir de modelos humanos, porque transferimos para Deus a experiência de pais terrenos que tivemos. Por isso, é muito importante que todos os filhos tenham experiências positivas com os pais terrenos, porque isso lhes permitirá conhecer mais facilmente o Pai celeste, que é o ponto de chegada de todo caminho cristão”, completou o Cardeal. Por fim, Dom Kevin assinalou que José é um modelo de pai, esposo, trabalhador, homem que concilia a dimensão contemplativa com a ação da santificação da vida cotidiana. “Para Jesus, José é um modelo de obediência à vontade de Deus”, acrescentou, recordando as palavras do Papa: “Em cada circunstância da vida, José soube pronunciar o seu fiat [faça-se] como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani”.


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Ministério da Justiça e Segurança Pública coleta material genético de familiares de desaparecidos Daniel Gomes

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O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com os governos estaduais, tem realizado a coleta do material genético de familiares de pessoas desaparecidas. Entre os dias 14 e 18, aconteceu uma campanha nacional, que resultou na coleta de material genético de 1.620 famílias que têm algum parente desaparecido. O material irá compor o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), que atualmente conta com 4.747 restos mortais não identificados e material genético de 3.145 parentes de pessoas desaparecidas. Material coletado Após a coleta, o DNA é enviado para o laboratório de genética forense da instituição de perícia oficial de cada estado, onde é analisado. O perfil genético obtido é enviado ao BNPG passa ser comparado com os perfis de pessoas de identidade desconhecida, de pessoas que buscam por seus familiares e de restos mortais não identificados. O perfil genético da família só é retirado do BNPG após a identificação de quem desapareceu. Isso permite que novas buscas possam ser feitas à medida que os cadáveres e as pessoas de identidade desconhecida sejam cadastrados no banco. Se a pessoa que desapareceu for encontrada, a família será avisada pela delegacia ou o Instituto Médico Legal. A coleta voluntária deve ser feita, preferencialmente, por parentes de primeiro grau da pessoa desaparecida, seguindo a ordem de preferência: pai e mãe; filhos; irmãos. Na capital paulista, o procedimento é feito em duas unidades do Instituto Médico Legal: na do Centro – Avenida Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 600; e no

Pelo fim de uma espera angustiante Há 25 anos, Ivanise Esperidião da Silva Santos busca saber o paradeiro da filha Fabiana, que desapareceu em dezembro de 1995, quando tinha 13 anos de idade. Em 1996, Ivanise fundou as Mães da Sé, que já fez mais de 11 mil cadastros de desaparecidos, dos quais mais de 5 mil foram encontrados. A fundadora das Mães da Sé explica por que a coleta do material genético facilita encontrar as pessoas desaparecidas: “Digamos que alguém veja a foto envelhecida da minha filha e encontre uma pessoa que tenha uma semelhança muito grande com a foto da progressão de idade dela. Já estando meu material genético armazenado no banco de dados, com a coleta do material da pessoa que possivelmente seja a minha filha, será possível fazer esta checagem”, detalhou ao O SÃO PAULO. Ivanise assegura que ainda que o desfecho da procura seja receber a notícia de que o familiar desaparecido está morto, isso representa o fim de uma espera angustiante. “O que todas nós queremos é uma resposta. O que vai nos matando a cada dia é a dor da incerteza, de não saber o que fizeram com nossos filhos”, comentou. “Se um dia encontrarem a ossada da minha filha, a minha busca chegou ao fim. É o ponto final que todas nós, como mães, queremos. O que nós não podemos é ficar na incerteza”, finalizou. (Com informações do Ministério da Justiça e Segurança Pública)

Subsídio ‘Hora da Família’ completa 25 anos Para marcar o jubileu de 25 anos do subsídio “Hora da Família”, que anima as semanas nacionais da família da Igreja no Brasil, foi lançada uma edição especial, com propostas de encontros mensais que vão além do período da Semana Nacional da Família, que este ano será entre 8 e 14 de agosto, e ocorre no contexto do Ano Família Amoris laetitia, convocado pelo Papa Francisco. O material foi criado em 1996, no contexto da preparação do II Encontro Mundial das Famílias, realizado no ano seguinte, com a presença de São João Paulo II, no Rio de Janeiro. O subsídio “Hora da Família” apresenta roteiros de reflexão e oração para fortalecer o trabalho de evangelização

Ministério da Justiça e Segurança Pública

IML Sul – Rua Irmã Gabriela, 42. É necessário o agendamento prévio no site www.policiacientifica.sp.gov.br. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo WhatsApp (11) 97549-9770. A lista dos 150 pontos de coleta em todo o Brasil está disponível em www.gov.br/mj/desaparecidos.

das famílias. Com suas propostas de aprofundamento dos ensinamentos da Igreja e testemunhos, o material também busca fazer com que todas as pessoas compreendam o valor único e próprio da família; que sejam fortalecidos os laços familiares; e que cresça a espiritualidade familiar. O subsídio é dividido em encontros mensais fundamentados na exortação apostólica Amoris laetitia. Por isso, o tema desta edição do “Hora da Família” é “A alegria do amor na Família” e o lema “Dá e recebe, e alegra a ti mesmo”. O subsídio pode ser adquirido por meio do site da Comissão Nacional da Pastoral Familiar, acessível pelo seguinte link: https://cutt.ly/tmoxNTj. (DG)

ASSOCIACAO CULTURAL RECREAT ESPORT BLOCO DO BECO CNPJ: 06.042.422/0001-06

BALANÇO PATRIMONIAL ENCERRADO EM: 31/12/2020 ATIVO ATIVO CIRCULANTE DISPONÍVEL BENS NUMERÁRIOS CAIXA E BANCOS...................................................................................................... 252.067,95 VALORES A RECEBER ADIANTAMENTOS DIVERSOS ADIANTAMENTO A TERCEIROS............................................................................... 349.780,05 ATIVO NÃO CIRCULANTE IMOBILIZADO BENS INSTALAÇÕES........................................................................................................... 97.733,98 EQUIPAMENTOS........................................................................................................ 103.144,07 COMPUTADORES E PERIFERICOS......................................................................... 3.759,15 MÓVEIS E UTENSÍLIOS............................................................................................ 11.100,00 DEPRECIAÇÃO ACUMULADA (-) DEPREC ACUM INSTALAÇÕES........................................................................... 35.446,99 (-) DEPREC ACUM EQUIPAMENTOS........................................................................ 5.365,97 (-) DEPREC ACUM COMPUT E PERIF...................................................................... 1.080,38 (-) DEPREC ACUM MÓVEIS E UTENSÍLI.................................................................. 600,00 TOTAL DO ATIVO.................................................................................................................. 775.091,86 PASSIVO PATRIMÔNIO SOCIAL PATRIMÔNIO SOCIAL PATRIMÔNIO SOCIAL INTEGRALIZADO PATRIMÔNIO SOCIAL SUBSCRITO.......................................................................... 1.000,00 RESULTADOS ACUMULADOS; RESULTADOS ACUMULADOS SUPERAVIT ACUMULADO........................................................................................ 774.091,86 TOTAL DO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO.................................................................. 775.091,86 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO PERÍODO PERÍODO DE ENCERRAMENTO: 01/01/2020 A 31/12/2020

3 - RECEITAS 3.1 - RECEITAS 3.1.1 - RECEITA OPERACIONAL 3.1.1.01 - RECEITA OPERACIONAL BRUTA 3.1.1.01.0003 - CONTRIBUIÇOES PESSOAS FISICAS........................................ 108.937,06 3.1.1.01.0004 - CONTRIBUIÇOES PESSOAS JURIDICAS................................... 1.286.342,50 RECEITA OPERACIONAL BRUTA..................................................................................... 1.395.279,56 3.3 - OUTRAS RECEITAS 3.3.1 - RECEITAS OPERACIONAIS 3.3.1.01 - RECEITAS FINANCEIRAS 3.3.1.01.0002 - RENDIMENTO DE APLICAÇÕES FINANCEIR............................. 1.554,18 RECEITAS FINANCEIRAS................................................................................................ 1.554,18 Total de RECEITAS............................................................................................................... 1.396.833,74 (=) RECEITA LÍQUIDA........................................................................................................... 1.396.833,74 (=) SUPERÁVIT BRUTO........................................................................................................ 1.396.833,74 5 - DESPESAS 5.1 - DESPESAS OPERACIONAIS 5.1.1 - DESPESAS OPERACIONAIS 5.1.1.01 - DESPESAS COMERCIAIS/ADMINISTRATIVAS 5.1.1.01.0006 - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS....................................................... 1.037.804,38 5.1.1.01.0013 - PUBLICIDADE E PROPAGANDA.................................................. 2.271,41 5.1.1.01.0017 - TELEFONE E INTERNET ............................................................. 10.574,49 5.1.1.01.0018 - ENERGIA ELÉTRICA.................................................................... 4.179,40 5.1.1.01.0019 - ÁGUA E ESGOTO......................................................................... 4.591,91 5.1.1.01.0021 - IMPRESSOS E MATERIAIS DE ESCRITÓRI............................... 6.104,88 5.1.1.01.0026 - DESPESAS COM MANUTENÇAO............................................... 39.154,71 5.1.1.01.0027 - LANCHES E REFEIÇOES............................................................. 33.277,54 5.1.1.01.0029 - MATERIAL PEDAGOGICO............................................................ 18.829,90 5.1.1.01.0031 - CONDUÇAO E TRANSPORTES................................................... 13.120,44 5.1.1.01.0032 - MATERIAL DE CONSUMO........................................................... 42.498,56 5.1.1.01.0035 - MATERIAL DE LIMPEZA E COPA................................................. 2.190,31 5.1.1.01.0036 - KANAAN ASSESSORIA CONTABIL E FISCA............................... 4.940,00 DESPESAS COMERCIAIS/ADMINISTRATIVAS.................................................................. 1.219.537,93 5.1.1.02 - DESPESAS TRIBUTÁRIAS 5.1.1.02.0002 - IPTU............................................................................................... 3.195,14 5.1.1.02.0003 - TAXAS E IMPOSTOS DIVERSOS................................................ 6.073,65 DESPESAS TRIBUTÁRIAS................................................................................................... 9.268,79 5.1.1.03 - DESPESAS FINANCEIRAS 5.1.1.03.0004 - DESPESAS BANCÁRIAS.............................................................. 3.666,17 DESPESAS FINANCEIRAS..................................................................................................

3.666,17

Total de DESPESAS............................................................................................................. 1.232.472,89 (=) SUPERÁVIT OPERACIONAL...................................................................................... Resultado Financeiro: Outras Receitas/Despesas: Participações e Contribuições:

164.360,85

(=)Total do SUPERÁVIT do Período:...............................................................................

164.360,85

Reconhecemos a exatidão do presente balanço encerrado em 31 de Dezembro de 2020 conforme documentação apresentada. ANABELA APARECIDA GONÇALVES VAZ SILVA FUNÇÃO: PRESIDENTE CPF: 297.321.788-17

DAVI BARBOSA FRANCO JUNIOR FUNÇÃO: CONTADOR CPF: 289.824.248-90 CT/CRC: 1SP295245/O-8


16 | Reportagem | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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Acordo Brasil-Santa Sé afirma a presença pública da Igreja e garante a liberdade de sua missão Fernando Geronazzo

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A Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo realizou, nos dias 28 e 29, o primeiro módulo do curso de extensão voltado para questões sobre o Acordo Brasil-Santa Sé. Realizada na modalidade on-line, a formação abordou o histórico dos princípios e as razões constitutivas do acordo bilateral firmado entre o Estado brasileiro e a Santa Sé no dia 13 de novembro de 2008, dando amparo aos direitos essenciais ao desenvolvimento da missão da Igreja no Brasil. O primeiro dos quatro módulos do curso tratou do processo histórico do Acordo, o reconhecimento da personalidade jurídica, do patrimônio histórico artístico e cultural e das questões tributárias das instituições religiosas. O evento contou com conferências do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; de Dom Gregório Paixão, Bispo de Petrópolis (RJ); do advogado Hugo José Sarubbi Cysneiros Oliveira; e do jurista Ives Gandra da Silva Martins.

Percurso histórico Dom Odilo participou da preparação do Acordo durante o período em que foi Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 2003 a 2007. Ele também coordena a comissão da CNBB para a sua implementação. O Cardeal enfatizou que, para compreender o atual Acordo, é preciso recordar a história das relações entre a Igreja e o Estado no Brasil. Com a chegada dos europeus à América, a Igreja estabeleceu tratados com Portugal e Espanha, nações governadas por reis católicos, confiando-lhes a responsabilidade pela promoção das missões e o sustento da Igreja nessas regiões. Por isso, no Brasil, desde o período colonial, existia um tratado entre a Igreja e o Estado, chamado de padroado, que também foi mantido durante a fase imperial (após a independência) do País, até a proclamação da República. República Dom Odilo acentuou que o fato de o Estado ser o protetor da Igreja trazia algumas desvantagens e limites para a instituição religiosa. “Durante o Império, a Igreja não se desenvolveu no Brasil. Chegamos à proclamação da República com apenas 12 dioceses neste imenso País”, afirmou o Cardeal, acrescentando que o regime do padroado restringia a entrada de missionários e controlava a vida da Igreja, além da influência da maçonaria, causando sérios conflitos entre as instituições. Nesse sentido, o Arcebispo ressaltou que, por mais impactante que tenha sido o rompimento entre o Estado e a Igreja com o advento da República, considera-se como positiva a autonomia das instituições quando o princípio de laicidade do Estado é bem compreendido (leia mais na entrevista da página 17). A partir de então, a Igreja passou a ser uma organização privada que gozava da liberdade religiosa garantida pelo Estado republicano. Nessa época, o governo provisório da República estabeleceu que as instituições da Igreja deveriam ser reconhecidas por meio de um ato declaratório de seu responsável, no caso, o bispo ou superior religioso. Essa medida perdurou até 2008, com a assinatura do Acordo Brasil-Santa Sé. Antes disso, foram várias as tentativas de estabelecer um acordo que formalizasse o reconhecimento jurídico da Igreja Católica, mas sem sucesso.

Relações diplomáticas O Cardeal enfatizou, ainda, que o Acordo foi firmado entre dois entes soberanos e internacionalmente reconhecidos: a República Federativa do Brasil e a Santa Sé (representada pelo Estado do Vaticano). “O Acordo, portanto, não é estranho às relações entre a Igreja e os Estados”, assinalou Dom Odilo, recordando que a diplomacia da Santa Sé é bastante antiga e, atualmente, existem acordos, tratados ou concordatas com 70 países. Entre esses, há nações em que o catolicismo é uma minoria religiosa, como os países islâmicos ou mesmo o Estado de Israel. “Sem esses acordos, seria mais difícil o trabalho missionário e a presença pública da Igreja”, salientou. Reconhecimento jurídico As implicações práticas do reconhecimento da personalidade jurídica da Igreja foram apresentadas por Hugo Cysneiros Oliveira, assessor jurídico de diversas instituições eclesiásticas, dentre as quais a Nunciatura Apostólica no Brasil e a CNBB. Oliveira explicou que a Igreja Católica já possuía um reconhecimento jurídico como um ente de direitos e obrigações, como, por exemplo, no Código Civil de 1916, reconhecia-se as sociedades religiosas e pias. No entanto, o Código Civil de 2002 não contemplava as organizações religiosas como pessoas jurídicas de direito privado. O advogado observou que as instituições religiosas estavam enquadradas no rol das organizações da sociedade civil, chamadas de “terceiro setor”. Entretanto, não havia uma percepção da clara diferença entre a Igreja e, por exemplo, uma organização não governamental (ONG). Natureza específica No ano seguinte, em 2003, houve uma modificação no Código Civil que voltou a incluir as organizações religiosas. No entanto, muitas instituições católicas mantiveram seus estatutos de sociedade civil, o que não corresponde à sua natureza. Por exemplo, uma diocese não é uma associação civil em que os padres são os “associados” e seu “diretor”, o bispo, seria eleito por uma assembleia dos seus associados. De igual modo, uma associação civil não pode prover o sustento de seus associados, tal como uma congregação religiosa, que mantém seus membros. “O Acordo Brasil-Santa Sé definitivamente afirma a

realidade jurídica da Igreja”, sublinhou Oliveira, acrescentando que a falta dessa clareza e do conhecimento dessa nova legislação ainda traz dificuldades, quando não se compreende a relação específica das organizações religiosas com seus membros. O Assessor Jurídico enfatizou que o Acordo também resguarda a liberdade religiosa e de crença, de organização, estruturação e funcionamento, prerrogativas tributárias, o direito de cumprimento de missão apostólica. Por outro lado, é a manifestação de um compromisso de ambos os lados. “Portanto, a Igreja é uma entidade de direito privado perante o Estado brasileiro, que possui suas leis e normas próprias de um estado democrático de direito”, completou. “A principal razão para o estabelecimento deste Acordo está na necessidade de dar certeza jurídica sólida à Igreja Católica presente no Brasil e a todas as suas instituições, não apenas por suas atividades religiosas e sociais, mas, em primeiro lugar, para a definição de sua própria identidade no ordenamento jurídico no quadro institucional do País”, concluiu Dom Odilo. Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO


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| 30 de junho a 6 de julho de 2021 | Com a Palavra | 17

Cardeal Odilo Pedro Scherer

‘O Acordo, de forma nenhuma, fere a laicidade do Estado’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

nhecido pela Igreja. Por ser laico, o Estado brasileiro garante a liberdade religiosa aos seus cidadãos, não lhes impondo nenhuma religião e não assumindo nenhuma religião como “oficial”. O Estado também se compromete a não interferir na religião, como tal. O Acordo, de forma nenhuma, fere a laicidade do Estado. Pelo contrário: ele a confirma e se baseia no respeito ao princípio da laicidade do Estado pela Igreja, representada pela Santa Sé. Se a Igreja não respeitasse a idoneidade do Estado laico e não reconhecesse a competência do Estado para dialogar e estabelecer acordos sobre as matérias tratadas, ela também não estabeleceria acordos. É bom observar que o Acordo não é estabelecido com um governo, mas com um Estado. O Acordo entre a Santa Sé e o Estado brasileiro se tornou lei, aprovada pelo Congresso Nacional, e deverá ser respeitado por qualquer que seja o governo que venha a representar o Estado. Pelo Acordo, a Igreja Católica deixa clara qual é sua relação com o Estado, no âmbito das normas constitucionais. E o Estado deixa claro qual é sua posição em relação à Igreja Católica. Essa clareza é a maior garantia para ambas as partes.

Fernando Geronazzo

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Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer destacou alguns aspectos do Acordo Brasil-Santa Sé, tema do curso de extensão realizado pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (leia na página 16). O Arcebispo de São Paulo explicou o processo de elaboração desse instrumento jurídico firmado entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro e ressaltou a necessidade de torná-lo conhecido, para que se evitem equívocos na interpretação de questões relacionadas à personalidade jurídica e à atuação das instituições eclesiásticas na sociedade brasileira.

O SÃO PAULO – Por que firmar um acordo entre a Santa Sé e o Estado brasileiro? Cardeal Odilo Pedro Scherer – Acordos ou tratados são instrumentos jurídicos do Direito Internacional, mediante os quais dois entes reconhecidos internacionalmente estabelecem entre si questões de recíproco interesse. No Brasil, desde a proclamação da República (1889), não havia mais um reconhecimento jurídico formal da Igreja Católica perante o Estado brasileiro, e isso trazia uma série de inconvenientes. Era, na prática, como se a Igreja Católica não existisse perante as instituições do Estado. Portanto, era preciso suprir essa lacuna, para não deixar a Igreja ao desamparo da lei, sem ter sua existência e ação reconhecidas publicamente. Quanto tempo durou o processo de elaboração desse Acordo? Na prática, desde o início do regime republicano no Brasil, a Igreja Católica buscava um modo para estabelecer, de maneira clara e pública, a sua relação com o Estado e as instituições que o representam. Houve várias tentativas, sobretudo durante a segunda metade do século XX. Por algum motivo, essas tentativas nunca avançaram, nem tiveram êxito. Nos primeiros anos do século XXI, no entanto, o diálogo avançou entre a Nunciatura Apostólica e a Conferência Episcopal, pelo lado da Igreja Católica, e o Itamaraty, pelo lado do Estado. Houve muitos encontros bilaterais entre os representantes da Igreja Católica e os do Itamaraty, para alinhavar os temas e termos do Acordo, até que se chegou à sua assinatura em 2008, entre a Santa Sé e o governo brasileiro. Em

seguida, o Acordo foi aprovado pelo Congresso Nacional, com validade de lei para o Brasil. Qual é a diferença entre a Santa Sé e o Vaticano? O Vaticano é o pequeno Estado territorial, situado no coração da cidade de Roma, servindo de sede para a Santa Sé, que representa o governo da Igreja, sob a autoridade do Papa. Por isso, é correto dizer que a Santa Sé toma decisões em nome da Igreja, e não o Estado do Vaticano. A Santa Sé estabeleceu acordos e concordatas com numerosos países, até mesmo com aqueles em que os cristãos representam apenas uma pequena minoria da população. Quais são as principais garantias que este Acordo prevê para a Igreja Católica? O Acordo, mais que oferecer garantias, estabelece reconhecimentos e compromissos recíprocos, nos termos estabelecidos em seus artigos. Os

20 artigos do Acordo se referem à natureza jurídica da Igreja Católica e de suas instituições no Brasil; à liberdade religiosa, reconhecimento de títulos acadêmicos obtidos fora do Brasil, em universidades da Igreja, ensino religioso, casamento religioso com efeito civil, homologação civil de sentenças canônicas em matéria matrimonial, sigilo de confissão, espaços religiosos, bens culturais da Igreja, imunidades tributárias, condição trabalhista dos ministros religiosos e pessoas consagradas, entrada de missionários estrangeiros no Brasil. Prevê-se, além disso, a possibilidade de ajustes complementares ao Acordo. Chamase “Acordo”, em vez de “Concordata”, pois esta última, normalmente, trataria de questões mais abrangentes entre as duas partes. Um acordo desse gênero não fere a laicidade do Estado? Por quê? É bom entender o princípio da laicidade do Estado, estabelecido pela Constituição federal e também reco-

Este Acordo já foi implementado na sua totalidade? Se não, o que ainda falta? O Acordo ainda precisa ser muito mais conhecido, quer pelos membros da Igreja, quer pelos representantes do Estado. Ele oferece garantias que precisam ser regulamentadas e implementadas mais amplamente, para não ficarem letra morta. Há questões que precisam ser complementadas mediante ajustes, que podem ser feitos entre as partes contraentes. Por isso, é de grande importância o estudo, a compreensão e a ampla divulgação do Acordo. Há, tanto da parte dos representantes dos poderes civis quanto dos representantes da Igreja, um conhecimento profundo do Acordo? Isso evitaria eventuais equívocos diante de algumas questões que envolvem as duas instituições? Ainda existe um amplo desconhecimento do Acordo entre o Brasil e a Santa Sé, tanto da parte dos representantes do Estado, quanto dos representantes da Igreja. A divulgação e o melhor conhecimento dos termos do Acordo ajudarão a evitar equívocos e interpretações erradas sobre as relações entre a Igreja e o Estado no Brasil.


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18 | Geral | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

A verdadeira música é um convite à transcendência Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

“O pianista brasileiro demonstrou eloquente lirismo, unido a uma técnica impecável em sua apresentação...”. Assim o jornal La Mañana, de Córdoba, na Argentina, referiu-se a Alvaro Siviero, um dos maiores pianistas do Brasil. Em entrevista ao O SÃO PAULO, Siviero falou sobre como a música pode ajudar o ser humano a encontrar a beleza e o sentido da vida. O paulistano Alvaro Siviero é apaixonado pelo piano, acumulando passagens por países como Alemanha, Portugal, Itália, Estados Unidos, República Tcheca, Emirados Árabes, Áustria, Polônia, França, Inglaterra, Suíça, Argentina, Chile, África do Sul, Ilhas Maurício e Reunião, Holanda, Espanha, Uruguai e Peru. Durante a entrevista, ele falou, sobretudo, sobre o conceito de beleza e a busca humana por uma realidade que o transcenda. “As pessoas, muitas vezes, confundem beleza com seus gostos pessoais, e isso é complicado, pois sabemos que a perda do hábito da leitura e da reflexão, bem como as mudanças culturais, fazem com que se tenha uma percepção do belo sempre mais superficial”, disse Siviero. Ao fazer essa premissa, o pianista salientou que, em relação à música, não é diferente. “Não faria sentido algum perguntar a uma pessoa por que ela gosta mais de uma música ou de outra, sobretudo porque gosto pessoal nenhum pode ser criticado. É muito importante, porém, não confundir beleza e gosto pessoal”, continuou. Siviero disse ainda que não exis-

te música boa ou ruim, mas que a verdadeira música fala de amor, morte, dor ou transcendência. “A música verdadeira nos leva a isso. Queremos, com a música, o que não temos, o desejo de beleza e de bem. É justamente a finitude da vida que nos faz buscar a transcendência, ou seja, o desejo de continuar existindo.” Além da melodia, o pianista comentou que, igualmente, a poesia da letra pode ajudar as pessoas a viverem uma experiência de bem e de belo, e que é preciso sempre ressaltar que nem todos entendem a mesma coisa quando o assunto é música popular. “Em alguns países, a música clássica, por exemplo, é muito mais difundida e se torna, por isso, popular. No Brasil, antes da pandemia, víamos as salas de concerto cheias, o que demonstra um grande interesse também”, continuou. Canções que tocam a espiritualidade “É a beleza artística que nos coloca em comunhão com Deus; as iniciativas comerciais apenas nos colocam em relação com o consumo, ídolo que falsifica o que significa ser humano”, disse, em entrevista, o Cônego Antonio Manzatto, apresentador do programa “Certas canções”, que vai ao ar aos sábados às 14h (reprise aos domingos, às 14h) na rádio 9 de Julho. Doutor em Teologia e coordenador do Grupo de Pesquisa em Literatura, Religião e Teologia (LERTE), o Cônego afirmou que a música popular é expressão de uma cultura, que está profundamente marcada pela religiosidade, inclusive pela religiosidade cristã. “Várias são as canções que to-

cam a espiritualidade, mesmo sem fazê-lo diretamente. Gosto de pensar, por exemplo, que, ao ouvir ‘Luar do sertão’, acabamos nos conectando com a transcendência, tal a beleza daquilo que a canção expressa. Chegamos até mesmo a um momento de oração diante do Criador que nos deu essa casa comum para cuidarmos. A música popular não tem como finalidade primeira a religião ou a espiritualidade, mas, quando a música é bonita, acaba conduzindo a isso porque nos coloca em comunhão com o transcendente”, disse Cônego Manzatto. O Sacerdote recordou, ainda, que a música já foi utilizada em todas as religiões como forma de conduzir a Deus, na oração e na catequese. “Nós utilizamos muito a música na liturgia, e, quando a música é bonita, nos conduz a uma grande proximidade de Deus, a uma real experiência de Deus. E aquilo que cantamos na liturgia, e aqui falo da música religiosa, acaba sendo elemento de catequese, porque repetimos as palavras do que cantamos nas celebrações.” Outro aspecto abordado por ele foi a importância de pensar no que se canta, pois, na canção religiosa, se a melodia é bonita, é necessário que a letra seja verdadeira. “A música é uma arte, e quando ela é bonita, saímos cantarolando, repetindo as palavras. As canções bonitas permanecem apesar do tempo que passa, enquanto aquelas que são apenas comerciais desaparecem rapidamente. O que precisamos é ser críticos e exigentes com aquilo que ouvimos e que repetimos cantarolando”, afirmou o Cônego Manzatto.

Dicas de Álvaro Siviero 1. Rachmaninov - Concerto nº 2 para piano e orquestra em dó menor, Op. 18 2. Beethoven - Sinfonias nº 5 em dó menor, Op. 67 e nº 7 em lá maior, Op. 92 3. Chopin - Polonaise Op. 53 em lá bemol maior “Heroica” 4. Mozart - Sinfonia nº 40 em sol menor K. 550 5. Grieg - Amanhecer (Suite Peer Gynt) 6. Tchaikovsky - Concerto nº 1 para piano e orquestra em si bemol menor, Op. 23 7. Wagner - Coro dos Peregrinos da Ópera Tannhauser 8. Villa-Lobos - Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4 Dicas do Cônego Manzatto Nossa Senhora, Roberto Carlos Romaria, Renato Teixeira Balada do Filho Pródigo, Elomar Figueira de Melo Luar do sertão, Catulo da Paixão Cearense A igrejinha de São Damião Marcus Viana

De cada riso e dor De cada espinho e flor Construo a casa do meu Senhor Com o que o mundo abandonou De cada pedra do chão Construo o templo do coração Em cada dia que vem Em cada dia que vai Ergo em mim a casa de meu Pai

O Doce Mistério de Maria Maria Bethânia

Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu E a rainha olha por todos, E seu manto azul é escudo da terra, Protege e perdoa mesmo quem erra, Mãe, Mater, matéria divina, que vibra E esmaga serpentes e dragões, e resgata o peregrino De um deserto de aflições E há de saber um dia, livrar-nos de toda miséria. Salve, Maria! Salve, Rainha!


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| 30 de junho a 6 de julho de 2021 | Reportagem | 19

Pastoral da Criança quer engajar mais jovens para atenção às famílias Pastoral da Criança

Daniel Gomes

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Há quase quatro décadas, a Pastoral da Criança tem ajudado a salvar vidas a partir de orientações simples sobre aleitamento materno, higienização, alimentação saudável, acompanhamento nutricional, vacinação e reidratação destinadas a gestantes e famílias em situação de vulnerabilidade com crianças até 6 anos. O trabalho iniciado em 1983 pela sanitarista e pediatra Zilda Arns Neumann e o Cardeal Geraldo Majella Agnelo, então Arcebispo de Londrina (PR), hoje ocorre em todo o Brasil e em outras nações e é viabilizado por agentes da Pastoral, os chamados líderes, que, em sua maioria, moram nas comunidades das famílias atendidas. Como medida preventiva ao coronavírus, a Pastoral suspendeu alguns momentos celebrativos para evitar a aglomeração de pessoas, mas as visitas domiciliares foram mantidas, com os devidos cuidados. Entretanto, o que se viu com a pandemia foi a significativa redução do número de líderes. “Nós perdemos 2/3 da nossa capacidade de atendimento. Estamos atuando hoje com 1/3 das pessoas”, conta ao O SÃO PAULO o médico Nelson Arns Neumann, doutor em Saúde, que integra a coordenação nacional da Pastoral e a coordena internacionalmente. Dados da Pastoral na Arquidiocese de São Paulo confirmam essa retração. No comparativo entre 2019 e 2021, o número de paróquias com ação da Pastoral da Criança caiu de 111 para 79, bem como o de comunidades, de 153 para 118. A quantidade de líderes decresceu de 682 para 266, o de crianças acompanhadas passou de 7.477 para 2.972 e o de gestantes, de 339 para 111.

Um apelo à volta das visitas presenciais Em 21 de junho, a Pastoral emitiu um informe técnico, assinado por Nelson Arns Neumann, com orientações para a retomada das visitas presenciais (leia mais abaixo). “As visitas domiciliares são a principal ação da Pastoral da Criança. Por meio delas, ficamos mais próximos das famílias, conhecemos a realidade das crianças e gestantes e podemos orientar e partilhar conhecimentos e experiências sobre pré-natal, saúde, nutrição, higiene, prevenção de doenças, incluindo a COVID-19”, escreveu o médico. Irani Madalena de Sousa, coordenadora da Pastoral da Criança na Arquidiocese de São Paulo, também reforça que o contato presencial é indispensável: “Indo até a casa, o líder pode observar a criança, como é o convívio dela na família, e, ao perceber o espaço que a criança tem, consegue orientar brincadeiras e outras coisas para mães e pais”. Com o apoio da tecnologia Antes da pandemia, a Pastoral criou o aplicativo Visita Domiciliar, que até o começo do ano passado tinha sido acessado por cerca de 8 mil pessoas. Hoje, já são mais de 20 mil usuários. Nele é possível encontrar materiais orientativos, como o tradicional “Guia do líder”, bem como conteúdos formativos sobre saúde, alimentação saudável e desenvolvimento infantil, e avaliar em tempo real o estado nutricional da criança com base nos seus dados de peso e altura. Durante a pandemia, houve acréscimos de conteúdos tanto no app quanto no site da Pastoral (www.pastoraldacrianca.org.br), entre os quais um material explicativo para o enfrentamento do coronavírus e outro sobre brinquedos e brincadeiras, que podem ser feitos em família e que foram especialmente úteis no período de isolamento social. Preocupação com os mais pobres O coordenador internacional da Pastoral da Criança lembra, porém, que as famílias mais pobres têm dificuldades para acessar os conteúdos on-line, seja pela falta de um telefone celular, de um computador ou do acesso à internet. “Os mais fragilizados, no momento em que mais precisam, não podem ser privados da ação de caridade da Igreja. Por isso, insistimos na necessidade das visitas domiciliares”, comenta. Nelson Arns recorda que desde o ano passado a Pastoral passou a ter mais notícias de morte súbita de crianças, que ocorrem sem indícios prévios de algum problema de saúde. “Essas mortes seriam evitáveis com simples medidas, como a de orientar que a criança durma de barriga para cima. Aumentou, também, o número de mortes de bebês ainda por nascer e houve dificuldades de acesso das gestantes aos serviços de saúde, seja por medo de ir ao serviço, seja pela impossibilidade de ter com quem deixar as outras crianças em um momento de emergência”, detalhou. Irani, que está na Pastoral há 13 anos, lembra que as visitas presenciais permitem que se faça uma melhor orientação das famílias. Em alguns casos, os líderes também procuram as unidades básicas de saúde para informar situações de desnutrição e obesidade infantil, a falta de medicamentos ou atrasos no calendário de vacinação. A hora dos mais jovens Nelson Arns conta que tem havido diálogo com bispos, padres e lideranças comunitárias para que incentivem o ingresso de mais pessoas na Pastoral da Criança, com apelo especial à participação dos jovens. “Temos incentivado os líderes que ainda não po-

dem sair de suas casas, ou não se sentem seguros para isso, que encontrem um jovem que possa fazer essa visita domiciliar. Tenho a convicção de que muitos desses jovens, ao perceberem que com essa ação podem ser a presença concreta do Cristo na vida de uma família, vão, posteriormente, se engajar nos outros serviços da ação sociotransformadora da justiça, caridade e paz”, afirma. O médico, que é sobrinho de Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, recorda três características que o tio enxergava nos jovens e que são indispensáveis para a Pastoral neste momento: gostar de estar pelas ruas, desejo de pronta atuação e participação rápida nas ações. “Temos a necessidade de ir à rua para bater na porta das pessoas mais pobres; temos o aplicativo, que o jovem consegue baixar em menos de dois minutos, ou seja, ele não precisa de capacitação; e, ainda que venha a sair do projeto, todos os dados que coletar vão ficar registrados, então ele já terá ajudado de alguma forma”, detalhou. Ampliação das ações na Arquidiocese Irani conta que na Arquidiocese de São Paulo se planeja a ampliação das ações presenciais da Pastoral da Criança, que tem como Assessor Eclesiástico Arquidiocesano o Padre Jorge Bernardes. A coordenadora da Pastoral assegura que já se tem buscado pelos líderes que deixaram de atuar durante a pandemia, convidado mais pessoas para as ações, e dialogado com bispos auxiliares e padres para a maior divulgação da Pastoral. Uma campanha para atrair mais líderes deve acontecer em breve, bem como uma live, de âmbito arquidiocesano, para melhor detalhar os trabalhos da Pastoral da Criança.

Orientações da Pastoral da Criança para as visitas domiciliares: A visita deve ser feita na área externa da residência, em local aberto; Deve ser mantida a distância de 2 metros entre as pessoas (incluindo as crianças); O líder deve utilizar máscara o tempo todo; Não compartilhar objetos e pertences, tais como celulares, papéis e canetas; Lavar as mãos ou usar álcool em gel com frequência; Não tocar olhos, boca e nariz; Ao retornar para casa, o líder deve lavar as mãos com água e sabão; Caso o líder esteja com febre ou qualquer outro sintoma respiratório – como tosse, coriza, dor de garganta e falta de ar –, não deve realizar a visita domiciliar. Dupla preocupação: desnutrição e obesidade infantil Em 1983, ano de criação da Pastoral da Criança, morriam por desnutrição no Brasil 83 crianças a cada mil nascidas vivas. Ao longo dos anos, graças ao trabalho da Pastoral, esse número caiu drasticamente, mas um novo desafio se impôs: a obesidade infantil, pois 15% das crianças brasileiras com até 5 anos estão com sobrepeso. Estes extremos da má nutrição infantil foram tratados em uma reportagem do O SÃO PAULO, que pode ser lida no link a seguir: https://cutt.ly/5mufJKR.


20 | Reportagem | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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Há 30 anos, Irmãs Paulinas mantêm centro de promoção humana na zona Sul CPHTM

Centro Irmã Tecla Merlo atende gratuitamente crianças, adolescentes, jovens, idosos e famílias Nayá Fernandes

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Ainda na década de 1980 e início dos anos 1990, as Irmãs Paulinas já vivenciavam a “Igreja em saída” e se propuseram a fazer trabalhos pastorais em regiões de maior vulnerabilidade, sobretudo na cidade de São Paulo. “Havia um trabalho pastoral em São Miguel Paulista e as Irmãs também realizavam trabalhos aos fins de semana no Grajaú. Com o passar dos anos, surgiu a necessidade de um espaço para realizar a doação de cestas básicas. E, assim, a Irmã Carmita Santana começou a distribuição das cestas na Rua Dona Belmira Marin, local cedido gratuitamente por Luiz e Nilza, membros da comunidade”, contou Irmã Renilda Formigão, 54, Conselheira Provincial para o Apostolado. Com o passar do tempo, as Irmãs constataram a necessidade de fazer um trabalho de promoção humana. Um imóvel foi adquirido para o atendimento às famílias. Com o aumento constante da demanda, as Irmãs Paulinas compraram outro terreno próximo, onde foi construído um espaço mais adequado para o atendimento de crianças e adolescentes. E assim, em 1992, nasceu o Centro de Promoção Humana Irmã Tecla Merlo (CPHTM), que ampliou as atividades e hoje atende gratuitamente os mais diversos públicos Uma referência na zona Sul Situado na zona Sul de São Paulo, o CPHTM executa programas de proteção social básica voltados para o desenvolvimento da promoção humana, da cidadania e inclusão social de famílias, crianças, adolescentes e idosos que vivem em situação de vulnerabilidade ou risco pessoal e social. “O objetivo é garantir um espaço de referência de convívio para as crianças e adolescentes, assegurando a am-

Adolescentes e jovens participam de aula de informática no Centro de Promoção Humana Irmã Tecla Merlo, mantido pelas Irmãs Paulinas

pliação do universo informacional e cultural, estimulando a participação na vida da comunidade e reafirmando o sentido de pertença e a compreensão da esfera em que vivem”, explicou Irmã Renilda. O CPHTM é totalmente mantido pelas Irmãs Paulinas com recursos próprios provenientes de sua missão evangelizadora com a Comunicação, mais especificamente por meio dos recursos oriundos das livrarias e trabalhos de assessorias das Irmãs e colaboradores. “Também contamos com a ajuda de benfeitores que esporadicamente fazem doações”, disse Irmã Renilda, que destacou ainda a presença de profissionais qualificados que atuam na execução das atividades, como psicólogos, fonoaudiólogos pedagogos, psicopedagogos, orientadores de esportes, professores e assistentes sociais. A responsável é a Irmã Carmita Santana, que possui formação acadêmica na área de Serviço Social, com especialização em Antropologia Humana. Com atividades de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h, o centro tem capacidade de atendimento para aproximadamente 900 pessoas. Desenvolvimento integral Ana Paula da Cruz, 43, é coordenadora pedagógica e atua no centro social

há 23 anos. “Entrei como pedagoga, atendendo somente em sala de aula. Hoje, além da coordenação ao lado da Irmã Carmita, sou psicopedagoga, atendo crianças com dificuldades de aprendizagem e grupos de mães, pois acredito que, se não fizermos um trabalho com as famílias, não conseguiremos atingir nosso objetivo”, disse em entrevista. A coordenadora explicou que o trabalho com crianças busca ser uma extensão da escola, ajudando-as com reforço escolar, arte, esporte e capoeira, para que se tornem cidadãos melhores. “Não é diferente com nossos adolescentes, para os quais, além da informática que já os prepara para o mercado de trabalho, também há aulas de artes e esporte, atividades que os auxiliam no controle da ansiedade e criam um espaço em que podem ser protagonistas da própria história”, continuou. Apaixonada pelo que faz, sobretudo no que se refere às atividades com as famílias, Ana Paula afirma que não há nada mais gratificante, profissional e humanamente, que sentir o retorno das famílias, que se engajam no centro social e possibilitam que as crianças e os adolescentes se desenvolvam integralmente, de maneira saudável e com muitas perspectivas para o futuro.

COLABORE

O CPHTM recebe doações em dinheiro por meio do PIX – 61.725.214/0036-40 (Banco Itaú – Ag. 0081 c/c 91408-7) e doação de alimentos não perecíveis, que podem ser entregues na Rua Onze, nº 32, Grajaú, Parque América – CEP 04822-270; Telefone (11) 5973-6892.

Oportunidade e gratidão Mateus Leal Guimarães Sales, 32, passou pela obra social das Irmãs Paulinas. “O Centro de Promoção Humana Irmã Tecla Melo foi fundamental para a minha vida. Foi lá que fiz cursos e formações que mudaram minha história, que me iniciaram e despertaram minha vocação para as áreas de tecnologia e empreendedorismo, em capacitações como Office, hardware, internet e html”, disse. Para ele, os cursos aos quais teve acesso foram o incentivo que todo adolescente precisa para iniciar sua carreira. “Com a ajuda do professor João Paulo, tive lições valiosas não só de informática, mas, também, de mercado de trabalho e negócios. A partir dali, pude dar continuidade aos estudos e me formei em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, trabalhando como desenvolvedor”, explicou. “Posteriormente, por indicação da Irmã Carmita, que sempre me apoiou muito, trabalhei por quase dez anos com as Irmãs, aperfeiçoando-me no ramo editorial. Durante este período, fiz um networking muito importante, que hoje me permite ter uma segurança financeira. Digo que foi um divisor de águas na minha vida, essencial para a minha formação pessoal e profissional”, disse Sales.


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| 30 de junho a 6 de julho de 2021 | Geral | 21

A pujança espiritual de São Pedro inclui seu legado às Sagradas Escrituras Reprodução

JOSÉ FERREIRA FILHO

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São Justino, São Bonifácio, Santo Efrem, São José de Anchieta, São Luiz Gonzaga, São Cirilo, Santo Irineu... Esses são alguns dos diversos santos celebrados pela liturgia no mês de junho, porém nenhum deles se compara em popularidade àqueles vinculados às tradicionais festas juninas: Santo Antônio, São João e São Pedro. Cada um deles legou, à sua maneira e com a própria história de vida, uma vasta contribuição ao patrimônio espiritual da Igreja e que até hoje serve de inspiração e itinerário a todos aqueles que queiram viver asceticamente e ter maior proximidade de Deus. Junho se aproxima do fim e, para coroar o percurso iluminador apresentado por esses homens de comprovada santidade, a Igreja celebra, no dia 29, a Solenidade de São Pedro, que, segundo uma antiga tradição romana, é a data em que o Apóstolo foi martirizado. Este ano, no Brasil, a comemoração será transferida para o domingo seguinte, 4 de julho.

2ª CARTA

ESCOLHA DE CRISTO Esta celebração recorda que o Apóstolo foi escolhido por Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Humildemente e apesar de suas fragilidades humanas, aceitou a missão de ser “a rocha” da Igreja e apascentar o rebanho de Deus, tornando-se o primeiro Papa. Como Sucessor de Pedro e Vigário de Cristo, o Papa é o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade, tanto dos bispos quanto dos fiéis. É pastor de toda a Igreja e desfruta de poder pleno, supremo e universal. Por isso, nesta data também é comemorado o Dia do Papa.

LEGADO São Pedro, tanto pelo papel desempenhado no grupo dos apóstolos quanto por sua presença nos momentos decisivos da vida de Cristo, dispensa apresentações. Edificado e amadurecido pela convivência com Nosso Senhor, seu testemunho e pujança espiritual se materializam nas páginas do Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, tornando-o um grande e acabado modelo de discípulo a ser imitado. O que muitos não se recordam, no entanto, é de que o legado de São Pedro não se limitou exclusivamente às experiências que vivenciou, mas também ao conteúdo de suas epístolas nas Sagradas Escrituras. Há estudiosos, no entanto, que sustentam que o

ções. Nesse contexto, Pedro sentia-se impelido, como testemunha ocular dos sofrimentos de Cristo, a exortar aquelas comunidades a perceberem que as adversidades e sofrimentos deveriam ser acolhidos como oportunidades para a concretização dos planos divinos na vida de cada um. Assim, seu propósito era reavivar nos membros daquelas comunidades a alegria, a santidade e a esperança da salvação, mesmo em tempos de provação, além de instruir seus integrantes a respeito de como viver em diferentes contextos sociais, da família à Igreja, entre outros.

Apóstolo não poderia ter sido o autor delas em sua totalidade, mérito que não será levado em consideração no presente artigo.

SAGRADAS ESCRITURAS Assim, dos 27 livros que compõem o Novo Testamento, dois deles são atribuídos ao Apóstolo: a 1ª e a 2ª Carta de São Pedro. Embora constituídos de breve conteúdo (a 1ª Carta tem cinco capítulos, a 2ª, apenas três), tais livros, como qualquer outro da Bíblia, são um manancial de ensinamento e sabedoria. Escritos possivelmente entre os anos 60 e 67, seus destinatários foram os cristãos que viviam nas cinco regiões da Ásia Menor (Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, hoje parte do território da Turquia), após um período suficiente de atividade missionária dos apóstolos que suscitou o aparecimento das igrejas nas localidades mencionadas acima.

1ª CARTA De estilo simples e vivaz, na 1ª Carta, Pedro se dirige de forma catequética a seus destinatários, par-

ticularmente os recém-convertidos, como os exilados dispersos, uma vez que o texto ilustra os fiéis como estrangeiros e viajantes de um exílio temporário, longe de sua verdadeira pátria celeste. Assim, trata-se de uma carta prática, cuja preocupação é a vivência concreta da fé no âmbito das comunidades. “A 1ª Carta de São Pedro retrata muito a questão do sofrimento, da paciência, da humildade, ou seja, o sofrimento daquele que faz o bem, sobretudo no contexto das perseguições, e a aceitação de tal situação com humildade, com a fé provada até as últimas consequências”, afirmou o Padre João Bechara Ventura, doutorando em Exegese no Pontifício Instituto Bíblico, em Roma. Diante da crescente onda de perseguições que assolava aquelas regiões, esta carta é considerada uma epístola pastoral, com o intuito de consolar as igrejas primitivas que se viam desorientadas pela crescente hostilidade contra os cristãos. Para alguns, o desdém dos pagãos pelos fiéis poderia acarretar uma crise de fé. Para outros, poderia levar ao desânimo e à confusão sobre os desígnios de Deus em tais prova-

Com linguagem mais formal e enfoque na questão doutrinária, a 2ª Carta de São Pedro se destinava aos cristãos expostos aos perigos das heresias e dos falsos ensinamentos. Pedro tinha conhecimento de que enganadores faziam surgir igrejas missionárias infiltradas com suas ideias erradas e que se contrapunham diretamente à fé difundida pelos apóstolos. Os falsos mestres afirmavam que a doutrina apostólica era fruto de uma fantasia, ancorados no fato de que a parusia deveria ter ocorrido durante a existência da primeira geração de cristãos; contudo, como a segunda vinda de Cristo não se concretizava, esse “atraso” era ridicularizado. Assim, no entendimento deles, não haveria parusia nem julgamento, o que justificava que tudo era permitido, sem a necessidade de se levar a vida de maneira santa e com a retidão de princípios. Pedro, então, ataca vigorosamente a conduta e os ensinamentos desses falsários, na esperança de blindar seus destinatários contra tais ideias enganosas e que poderiam direcioná -los a caminhos extraviados. Padre João Bechara lembra, ainda, que “a 2ª Carta é escatológica, fala das recompensas, dos castigos, e recorda que, embora estejamos ainda neste mundo, precisamos viver com os olhos na vida futura, em Deus. Pedro exorta que é preciso nos prepararmos, ver os acontecimentos presentes à luz da esperança em Cristo”.

MENSAGEM atual Em relação à mensagem, o conteúdo das cartas se complementa: esperança e verdade devem pavimentar o caminho da fé. No presente contexto de falsidade religiosa e pluralidade de itinerários que prometem levar à salvação, as exortações e conselhos de São Pedro são um estímulo a todos os cristãos dos dias atuais, demonstrando a importância de se construir, hoje, as bases de uma vida em Deus que alcançará a eternidade.


22 | Papa Francisco | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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Óbolo de São Pedro sustenta a caridade do Papa

Jesus cura e ensina que ‘a morte não é o fim’ Vatican Media

Coleta será feita em 4 de julho e viabiliza doações feitas diretamente pelo Pontífice às igrejas locais, instituições, famílias ou pessoas necessitadas Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

Todos os anos, a Igreja recolhe doações para o Óbolo de São Pedro na Solenidade de São Pedro e São Paulo. No Brasil, a coleta ocorre no domingo, 4 de julho. Em entrevista ao site Vatican News, o Prefeito da Secretaria para a Economia do Vaticano, o Padre jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves, explicou como são gastos os recursos. Caridade do Papa “A caridade [do Papa] é oferecer doações às igrejas locais, instituições, famílias ou pessoas necessitadas”, resumiu. “Mas não se trata somente de dinheiro que chega a Roma e que o Vaticano distribui em diversas partes do mundo”, afirmou. Além disso, são enviados recursos para sustentar os dicastérios da Cúria Romana, que está “a serviço da Igreja universal”. Nas palavras do Padre Guerrero, os fiéis “têm direito de saber como gastamos o dinheiro que nos é dado”, e o Papa Francisco pediu a ele, que está no papel de supervisão e controle das finanças do Vaticano, que garanta total transparência no uso dos recursos. Entre os projetos apoiados estão hospitais infantis, escolas em áreas pobres

do mundo, comunidades religiosas em locais difíceis por causa da violência e pobreza, projetos de formação de agentes pastorais, entre outros. Serviço à Igreja Uma parte do orçamento é destinada à manutenção de instituições que não têm uma fonte própria de receitas. “Pensemos no serviço da unidade da fé, na liturgia, nos tribunais da Igreja, na comunicação do Papa, no cuidado do patrimônio recebido ao longo dos séculos, na Biblioteca ou nos Arquivos, onde documentos importantes da história da humanidade são conservados, as representações papais no mundo etc.”, explicou. Outro montante fica guardado em um fundo que pode ser utilizado em situações de emergência. “Naturalmente, essas economias devem ser administradas com cuidado, de acordo com os princípios da Doutrina Social da Igreja, com a prudência de um bom pai de família e com a consciência de que o que recebemos a cada ano não cobre todas as despesas da missão.”

Óbolo depende dos fiéis Em 31 de dezembro de 2020, o fundo do Óbolo tinha cerca de 205 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão), sendo parte aplicada em investimentos. Desde 2015, no entanto, ele vem diminuindo, pois “foram gastos, em média, 19 milhões de euros a mais do que as entradas”. O Óbolo de São Pedro é uma instituição histórica que existe desde o século VII, mas ganhou o formato atual em 1871, quando foi sistematizado pelo Papa Pio IX. É considerado um gesto concreto na comunhão de todos os membros da Igreja com o Bispo de Roma e Sucessor de São Pedro, o Papa. Por isso, também a coleta simbólica na festa de São Pedro e São Paulo. Historicamente, o Óbolo se faz de pequenas doações dos fiéis de todo o mundo que querem ajudar o Papa a sustentar a missão. “A proclamação do Evangelho em todo o mundo, com tudo o que isso implica, pressupõe uma estrutura de apoio. A Igreja sempre viveu desta maneira”, disse o Padre Guerrero.

O Evangelho do domingo, 27, que relata o momento em que Jesus cura uma mulher e traz uma criança de volta à vida, mostra que Cristo “se deixa tocar pela nossa dor e pela nossa morte” e ensina que “a morte não é o fim”. São palavras do Papa Francisco, na oração do Angelus na ocasião. “Ele opera dois sinais de cura para nos dizer que nem a dor nem a morte têm a última palavra”, recordou o Santo Padre. No caso da mulher, que tinha perdas de sangue, conforme a cultura judaica da época, era considerada impura, Jesus traz a cura não só do corpo, mas também da alma. “Qual é a maior doença da vida?”, perguntou o Papa. “É a falta de amor, é não conseguir amar.” A cura que mais conta “é aquela do afeto”, disse ele, lembrando que Jesus é capaz de curar também essa “doença”. O amor não é feito de aparências, “ele é concreto” e não se encontra somente no mundo digital, onde muitas vezes buscamos refúgio. Na visão do Papa, “o Senhor espera que nós o encontremos, que abramos o coração, que, como aquela mulher, toquemos o seu manto para curar, porque entrando na intimidade com Jesus, somos curados em nossos afetos”, disse. Ele afirmou, ainda: “Jesus não olha para o conjunto, como nós, mas para a pessoa. Não se detém diante de feridas e erros do passado, mas vai além dos pecados e preconceitos. Jesus não se detém nas aparências. Jesus chega ao coração”. (FD)


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| 30 de junho a 6 de julho de 2021 | Pelo Mundo/Fé e Vida | 23

Itália

Liturgia e Vida

Exposição comemorativa dos 70 anos de sacerdócio de Bento XVI é inaugurada em Roma

Solenidade de São Pedro e São Paulo 4 de julho de 2021

Galeria Arte Poli

JOSÉ FERREIRA FILHO

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O secretário pessoal de Bento XVI, o Arcebispo Georg Gänswein, inaugurou uma exposição em Roma para comemorar o 70º aniversário da ordenação de Joseph Ratzinger ao sacerdócio e sua primeira missa, que aconteceu na Baviera em 29 de junho de 1951. Esta exposição contém objetos (foto) que pertencem ao Papa Emérito Bento XVI, que saíram pela primeira vez de sua residência no Mosteiro Mater Ecclesiae, e fotografias que cobrem a vida de Joseph Ratzinger. VIDA E CORAÇÃO Falando à rede de TV EWTN, Dom Georg, ao se referir a Ratzinger, disse que a exibição traz “partes de sua vida, partes de seu coração”;

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

também apresenta “objetos diversos de vários períodos de sua vida, desde sua primeira Comunhão até a casula que ele usa ainda hoje quando celebra a missa na capela Mater Ecclesiae”. “É uma extensão de sua vida” e também uma forma de agradecer “a Deus que lhe tenha dado tantos anos! Afinal, 70 anos de sacerdócio é uma coisa extraordinária”, disse o Arcebispo alemão.

SURPRESA E ALEGRIA Dom Georg Gänswein disse que quando Bento XVI soube dessa iniciativa “ficou surpreso e encantado”. “Ficou muito feliz porque ser padre é o acontecimento mais importante da sua vida. Para ele, trata-se do conteúdo de toda a sua existência, e creio que foi também uma oportunidade de se lembrar de todas as coisas que recebeu do Senhor”, disse. Fonte: ACI Prensa

Chile Chilenos rezam ‘Rosário da Esperança’ pela redação de uma nova Constituição Desde o dia 23, os católicos do Chile rezam um Rosário todas as semanas para que o Espírito Santo guie o trabalho de redação de uma nova Constituição para o país. “Um Rosário pelo Chile” é o grupo de leigos que promove esta cruzada nacional de oração do “Rosário da Esperança” desde dezembro de 2020, depois que o país aprovou o processo constitucional em um plebiscito por uma margem de 78% a favor e 22% contra. Os participantes irão rezar um Rosário todas as quartas-feiras, às 19h15. Os organizadores estão pedindo a seus concidadãos que orem pelas 155 pessoas que foram eleitas

em maio como membros da Convenção Constitucional. Esse órgão redigirá a Carta Magna em substituição à promulgada durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, em 1980, e que ainda está em vigor.

que a atual era a fonte dos muitos problemas da nação. Os bispos do Chile pediram que a nova Carta Magna respeite os direitos e valores fundamentais, incluindo o direito à vida.

DESDOBRAMENTOS Em outubro de 2019, a capital, Santiago, foi tomada por manifestações, que se espalharam violentamente por outras regiões do país, duraram cerca de seis meses, e exigiam o fim da desigualdade econômica e a revisão do custo da saúde. A crise levou a uma onda de apoio a uma nova Constituição, uma vez que muitos acreditavam

INTENÇÕES Além de pedir ao Espírito Santo para “guiar o trabalho dos constituintes eleitos”, aqueles que aderem à iniciativa do Rosário rezam pela “santificação dos sacerdotes, pelas vocações sacerdotais e religiosas” e pelas “necessidades particulares de todos os que oram”, explicou um comunicado de imprensa do grupo “Um Rosário pelo Chile”. Fonte: Catholic News Agency

Oriente Médio Bispos consagram o Oriente Médio à Sagrada Família Dom Pierbattista Pizzaballa, O.F.M., Patriarca Latino de Jerusalém, esteve à frente do ato de consagração do Oriente Médio à Sagrada Família, que aconteceu no domingo, 27, no âmbito das celebrações do Ano de São José, com a participação de todos os ordinários da Terra Santa. “Abençoamos um ícone da Sagrada Família especialmente pintado e incrustado com relíquias da mesma Basílica da Anunciação. Ele representa a pintura da Sagrada Família de Nazaré, que repousa sobre

As duas principais testemunhas de que a fé em Jesus é inegociável

o altar da Igreja de São José, em Nazaré, onde, segundo a tradição, ficava a casa do Carpinteiro”, afirmou o Purpurado. ÍCONE E MISSA PELA PAZ “Uma vez abençoado, o ícone fará uma peregrinação, partindo do Líbano para os países do Oriente, até sua chegada a Roma no fim do ano de São José, em 8 de dezembro de 2021. De Roma, o ícone viajará de volta para a Terra Santa, onde permanecerá”, explicou.

Foi decidido, a partir de 2021, que uma missa pela paz deverá ser celebrada todos os anos, no intitulado “Dia da Paz para o Oriente Médio”, em cada um dos países pertencentes ao Conselho dos Patriarcas Católicos no Oriente Médio (Egito, Iraque, Israel, Líbano, Territórios Palestinos e Síria) e, assim, “todos os patriarcas e bispos são convidados a estar em uma profunda comunhão de oração durante este dia abençoado”, afirmou Dom Pierbattista. Fonte: Vatican News

Celebramos o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo. “Mártir” significa, em grego, “testemunha”. A lei de Moisés proibia a condenação de um réu sem ao menos duas testemunhas (cf. Dt 19,15). O Novo Testamento confere ao termo o significado de “anunciador” do Senhor: “Vós sereis minhas testemunhas até os confins da terra” (At 1,8). Até mesmo Jesus é chamado de “a Testemunha” (Ap 1,5). E, de modo particular, a Igreja emprega a palavra “mártir” para designar aqueles que são mortos por se recusarem a renegar a fé. São Paulo designa Santo Estêvão, o protomártir, como “a testemunha” (mártys) do Senhor (At 22,20). São Pedro e São Paulo eram as principais colunas da Igreja, responsáveis, respectivamente, pelo apostolado aos judeus e aos pagãos. Mortos na perseguição aos cristãos de Roma, um pela cruz e outro pela espada, tornaram-se as duas principais testemunhas de que a fé em Jesus Cristo é inegociável. Consagraram com o próprio sangue o solo da Cidade Eterna, que se tornou, por isso, a Sede principal da Igreja e tem os dois como Patronos. A eles se uniram incontáveis irmãos martirizados também sob o imperador Nero, chamados Protomártires de Roma. Mais tarde, uma infinidade de jovens, velhos, crianças, homens, mulheres, ricos e pobres, que se recusaram a renegar a fé em Cristo, regariam com ainda mais sangue aquela terra. O martírio era tão presente na Igreja que somente São Martinho de Tours, que viveu no século IV, seria proclamado o primeiro santo não mártir. Crucificados, atirados ao óleo fervente e às feras, queimados vivos, elevados como tochas humanas, guilhotinados, abandonados à inanição, degolados, esfolados, afogados ou fuzilados, cristãos morreram, morrem e morrerão por considerarem a Verdade e o Amor a Deus como o bem maior. Eles são a glória da Igreja até o fim dos tempos! Coroados no Céu, são aqueles que, com palmas nas mãos, venceram a grande tribulação. Alguns deles perderam a vida por se recusarem à apostasia ou à conversão ao Islã. Outros por se recusarem a um simples gesto como incensar um ídolo ou se ajoelhar diante dele; ou pisar numa imagem de Cristo, da Virgem ou num rosário. Outros, como o Batista e Tomás More, morreram por defenderem a verdade sobre o Matrimônio indissolúvel. Outros, como São Carlos Lwanga e Santa Maria Goretti, por se recusarem a satisfazer os desejos impuros de homens pervertidos. Outros, como os 49 mártires da Abissínia, simplesmente por participarem da Santa Missa. Diante do pecado e dos erros do mundo, São Pedro, São Paulo e todos os mártires dizem com força e caridade “Non possumus – Não podemos”! São um antídoto aos escândalos que deformam diariamente as consciências. O seu testemunho é um grito de “basta”! Não podemos ser homens volúveis que aceitam tudo! Com o próprio sangue, testificam que Deus é o bem supremo e denunciam a gravidade do pecado. Suas existências são um prolongamento da Paixão do Senhor, estrelas em meio à noite escura; e seu sangue é semente de novos cristãos.


24 | Publicidade | 30 de junho a 6 de julho de 2021 |

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