O São Paulo - 3354

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 66 | Edição 3354 | 14 a 20 de julho de 2021

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Papa Francisco saúda paciente do hospital universitário Gemelli, em Roma, onde está internado e se recupera bem de uma cirurgia no intestino, realizada no começo deste mês de julho

Papa Francisco defende sistema de saúde público acessível para todos Da sacada do hospital onde se recupera bem de uma cirurgia realizada no começo do mês, o Papa Francisco conduziu a oração do Angelus, no domingo, 11. “Nestes dias internado no hospital, experimentei mais uma vez

Editorial Avanço da vacinação permite proteção à saúde e a retomada de atividades

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Encontro com o Pastor Viver os mandamentos e as normas morais é ato de coerência dos filhos de Deus

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Espiritualidade Nossa Senhora do Carmo: protetora em vida e assistente na hora da boa morte

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como é importante um bom serviço de saúde, acessível a todos, como é na Itália e em outros países”, afirmou o Pontífice. O Santo Padre tem dialogado com outras pessoas internadas, entre os quais crianças e idosos.

Em 25 de julho, será celebrado o 1º Dia Mundial dos Avós e Idosos, com o tema “Eu estou contigo todos os dias” (Mt 28,20). O objetivo é conscientizar sobre a necessária atenção aos idosos. Página 22

Mais de 4,7 mil projetos recebem o auxílio de fundação pontifícia

Dom Odilo participa de reuniões sobre a restruturação do Celam

Ao longo de 2020, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), a partir de donativos de mais de 345 mil benfeitores, apoiou 4.758 projetos, em 138 países, e promoveu ações de emergência a cristãos desfavorecidos e perseguidos em diferentes países. Do montante total de recursos, 26,7% foram para projetos de construção e reconstrução de igrejas, e 22,8% para que sacerdotes pudessem manter a própria subsistência e realizar missas.

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, viajou para o México, na terça-feira, 13, para uma série de reuniões do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), do qual ele é 1º Vice-presidente. O principal assunto desses encontros é o processo de restruturação do organismo eclesial continental. Nos dias 20 e 21, haverá uma assembleia extraordinária para tratar das questões econômicas e da renovação dos estatutos do Conselho.

Páginas 12 e 13

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Liturgia e Vida Firmes na fé apostólica, poderemos ensinar muitas coisas à multidão faminta

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Comportamento Os estímulos dados às crianças influenciam a formação de seu imaginário

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Opinião A verdadeira amizade não é comprada; depende da livre afeição do outro

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2 | Encontro com o Pastor | 14 a 20 de julho de 2021 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

O

que é a vida cristã? Um conjunto de ritos e práticas religiosas? De leis e regras a serem seguidas? Ou como a nossa relação com uma instituição, que determina e regula nossos comportamentos? E em que consiste a moral cristã? Na observância de uma série de preceitos e proibições? A resposta não é tão simples. De fato, a vida e a moral cristãs têm um pouco de tudo isso, mas o essencial ainda não está dito nesses conceitos. A vida cristã brota de uma experiência de fé, do encontro pessoal com Deus por meio de Jesus Cristo Salvador. De muitos modos, esse encontro pode acontecer, mas, quando é verdadeiro, ele é impactante e marca a vida. É o que disse o Papa Bento XVI na encíclica “Deus é Amor (Deus Caritas est)” e em mais outras ocasiões. Foi também o que se viu na vida dos discípulos de Jesus. São Paulo e muitos convertidos e santos nos dão exemplos luminosos desses encontros com Jesus, que determinaram um novo rumo nas suas vidas. A vida cristã não consiste, em

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O que convém e o que não convém primeiro lugar, em abraçar um conjunto de doutrinas, ritos e preceitos, mas em acolher o amor infinito de Deus por nós. Deus tem a iniciativa de nos amar e chamar. Cabe-nos abrir os ouvidos e o coração e acolher esse chamado, que acontece por graça e misericórdia de Deus. É o que se expressa na Sagrada Escritura, com a afirmação: “Provai e vede como é bom o Senhor!” (cf. Sl 34,9). São Paulo resume a sua experiência originária de fé e conversão nesta frase: “Ele me amou e por mim se entregou na cruz” (cf. Gl 2,20). A vida cristã é resposta a um chamado de amor que Deus nos faz e a busca constante de correspondência a esse amor. Por isso, logo no início da Carta aos Efésios, o autor convida os cristãos daquela comunidade a se alegrarem pelo fato de serem cristãos, por terem sido chamados por Deus até mesmo muito antes de terem conhecido a Deus por meio de Jesus Cristo. “Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo!” Bendito, por ter enviado seu Filho ao mundo, pelo Evangelho da salvação, pela redenção e misericórdia alcançadas, pela luz da verdade, por nos acolher como filhos e filhas seus, mediante a fé e o Batismo, pela participação na Igreja, família de Deus, pela es-

perança dos bens eternos, por tudo o que concedeu aos seus filhos! (cf. Ef 1,3-14). Ser cristãos é uma graça imensa, que precisamos aprender a valorizar e aprofundar durante toda a vida. Bendito seja Deus! E em que consiste a vida moral? Consiste, acima de tudo, na vida coerente com a dignidade que nos foi dada mediante a graça de Deus e com tão grandes dons recebidos. Somos filhos e filhas de Deus e santuários do Espírito Santo: “Vós sois o templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós” (cf. 1Cor 3,16; 6,19). É isso que São Paulo quer dizer quando chama os cristãos a viverem “de maneira digna da vocação que receberam” (cf. Ef 4,1). O fato de sermos templos em que Deus habita e filhos de Deus nos deve levar, por consequência, a viver de maneira digna de Deus, abandonando o pecado e tudo o que ofende a Deus, assim como toda forma de viver que seja incoerente com a nossa dignidade. Mais uma vez, as palavras da Carta aos Efésios são claras e preciosas nesse sentido: “Se sois filhos da luz, vivei como filhos da luz” (cf. Ef 5,8). Isso requer superar o que é “das trevas”, os vícios e quaisquer comportamentos desonestos e desrespeitosos em relação a si, a Deus e ao próximo. Essa é a

vida moral segundo o Evangelho de Cristo. E destaca ainda o Apóstolo: “Acima de tudo, revesti-vos de amor, pois esse é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). Quando compreendemos esses fundamentos da vida cristã e da vida moral, fica fácil aceitar e viver os mandamentos e as normas morais, pois serão atitudes coerentes com a nossa condição de filhos e filhas de Deus. E também fica mais fácil compreender as doutrinas, ritos e instituições religiosas, como expressões coerentes daquilo que vivemos pela fé. A Oração Inicial da Missa do 15º Domingo do Tempo Comum, que celebramos no dia 11 de julho, refere-se a isso que estamos refletindo: “Ó Deus, (...) dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão e abraçar tudo o que é digno desse nome”. Essa é uma maneira sintética e lapidar de explicar toda a vida moral dos cristãos. Oxalá não nos falte a ocasião de crescermos na fé e de aprendermos a amar aquilo que somos, como cristãos, “eleitos de Deus, santos e amados” (Cl 3,12), de maneira que a vida cristã e moral não nos pareça uma imposição pesada, mas expressão de nossa alegria e gratidão e da correspondência com os dons recebidos. Bendito seja Deus!

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Cardeal Scherer motiva seminaristas a participarem da preparação da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe Fernando Geronazzo

osaopaulo@uol.com.br

Durante o II Simpósio Missionário do Seminário da Arquidiocese de São Paulo, realizado entre os dias 4 e 8, o Cardeal Odilo Pedro Scherer falou com os seminaristas sobre a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que conta com uma etapa preparatória de escuta às Igrejas locais e aos católicos de todo o continente. Dom Odilo, que também é o 1º Vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), explicou que, passados quase 15 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida (SP), era esperada a realização de um novo evento do episcopado latino-americano. Em 2019, durante a Assembleia Geral do Celam, realizada em Honduras, foi apresentado ao Papa

Francisco o pedido para a convocação de uma nova conferência geral. No início de 2020, o Santo Padre decidiu que não iria convocar uma nova conferência do episcopado, sublinhando que a edição de Aparecida ainda tinha muito a contribuir para a Igreja no continente, sobretudo pelo apelo à conversão e renovação pastoral e missionária. O Pontífice propôs, então, que fosse pensada uma assembleia eclesial, com a participação não apenas de bispos e seus delegados, mas representantes de todo o povo de Deus, clérigos, religiosos e leigos. “A Assembleia Eclesial é algo novo para a nossa Igreja, na qual esteja representado todo o povo de Deus”, salientou Dom Odilo.

Discípulos e missionários

O tema definido para a Assembleia Eclesial é “Todos somos discípulos mis-

sionários em saída”, conjugando a temática da Conferência de Aparecida e o apelo constante do pontificado do Papa Francisco para uma Igreja “em saída”. O Arcebispo afirmou, ainda, que a proposta dessa assembleia corresponde a outro aspecto bastante frisado pelo Papa, a sinodalidade: “Uma Igreja com características sinodais deve envolver cada vez mais a participação de todo o povo de Deus nas responsabilidades da vida e da missão da Igreja”.

Escuta

Para preparar a Assembleia Eclesial, foi definida uma etapa de escuta de todas as Igrejas locais. Por isso, foi desenvolvida uma plataforma digital para que os católicos possam contribuir nesse processo de consulta, tanto individualmente quanto organizados em grupos. “O Papa sugeriu que fosse feita uma avaliação do que foi realizado desde

Dom Odilo: ‘Santa Paulina viveu unida a Deus e sua vida foi uma bênção’

www.osaopaulo.org.br Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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Na memória litúrgica de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, na sexta-feira, 9, muitos fiéis foram à Capela Sagrada Família e Santa Paulina, no Ipiranga, para pedir a intercessão da religiosa italiana que dedicou boa parte de sua vida ao serviço da caridade na capital paulista. Cinco missas foram celebradas na capela, anexa ao prédio da Casa Geral da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada em 12 de julho de 1890 por Amábile Lúcia Visintainer (Madre Paulina) e por sua amiga Virgínia Rosa Nicolodi. Madre Paulina morreu em 9 de julho de 1942, aos 76 anos, no Ipiranga, e na Capela estão sepultados seus restos mortais. Ela foi beatificada em 1991, por São João Paulo II, em Florianópolis (SC), e canonizada em 2002 pelo mesmo Pontífice no Vaticano. A última das missas do dia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, tendo entre os concelebrantes o Padre Rodrigo Vilela, Capelão. “Hoje queremos, primeiramente, agradecer a Deus pela vida de Madre Paulina e depois pedir que, por sua intercessão, Deus conceda a todos nós a mesma fé e a mesma caridade que ela teve para realizar tantas coisas boas e bonitas”, disse o Arcebispo Metropolitano no começo da missa.

Testemunha da caridade

Na homilia, Dom Odilo destacou que recordar a biografia dos santos é manter viva a memória e o testemunho daqueles que viveram em conformidade com o Evangelho e que são exemplos a ser seguidos por todos os

Aparecida, mas que também sejam identificadas as lacunas do que ainda não caminhou e precisa ser retomado. Além disso, é necessário destacar quais são os novos desafios e questões da Igreja na sua ação evangelizadora no nosso continente e, portanto, propor caminhos e soluções”, ressaltou Dom Odilo, referindo-se ao horizonte de assuntos a serem destacados na assembleia, acrescentando que esse não será apenas um evento de consulta, mas terá grande importância para as futuras indicações pastorais. Nesse sentido, o Cardeal motivou os seminaristas a, reunidos em grupos com seus formadores, refletir e elaborar suas contribuições a serem enviadas à plataforma digital desenvolvida pelo Celam para o processo de escuta da assembleia. Para assistir à íntegra da apresentação de Dom Odilo aos seminaristas, acesse: https://tinyurl.com/yeg3bmyp.

No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Arquidiocese de Maringá oferece gratuitamente curso de extensão acadêmica sobre a Economia de Francisco https://cutt.ly/CmSbWAM Na ONU, Santa Sé volta a defender acesso universal às vacinas https://cutt.ly/fmSbK5H Cardeal Scherer preside missa na Capela Sagrada Família e Santa Paulina, na sexta-feira, 9

cristãos, uma vez que levaram uma vida de santidade, voltada para Deus e para os irmãos, superando as dificuldades comuns ao cotidiano de todas as pessoas a partir de seu testemunho de fé. Ao falar sobre Santa Paulina, o Cardeal Scherer destacou que ela se dedicou de maneira intensa à caridade, em especial àqueles mais vulneráveis, como os recém-libertos da escravidão – que perdurou no País até 1888 – e que passavam por diversas privações materiais. “Madre Paulina aqui chegou e pôs os pés com firmeza na realidade, dando início a uma grande obra, sempre na linha da caridade em favor dos pobres, doentes, idosos e as pessoas abandonadas”, recordou o Arcebispo. Dom Odilo também lembrou a humildade da Santa, que aceitou ser deposta do cargo de Superiora-Geral da congregação que fundou para ser enviada a Bragança Paulista (SP), a fim de cuidar de doentes e asilados. Anos de-

pois, em 1918, ela seria chamada a viver novamente na casa do Ipiranga, onde permaneceu até sua morte, em 1942. “Santa pela caridade, pela humildade, pelo seu amor a Deus e ao próximo, santa de oração! Santa Paulina viveu unida a Deus e sua vida foi uma bênção”, destacou Dom Odilo.

Falece o Cardeal Monsengwo, Arcebispo Emérito de Kinshasa, na República Democrática do Congo https://cutt.ly/amSvN4s

Modelo de santidade

O Arcebispo Metropolitano lembrou que, a exemplo de Santa Paulina, todos os cristãos podem viver a santidade ao perceberem que são uma bênção na vida da própria família e que podem realizar obras de misericórdia em favor dos doentes e mais pobres. “Vivamos nós também o chamado à santidade. Santo é quem vive a caridade, quem vive a fé profundamente, quem vive o amor a Deus e ao próximo. Que Santa Paulina interceda por nós e que sejamos um pouquinho como ela, que, assim, se tornou uma bênção para tantos no seu tempo e para tantos ainda hoje”, afirmou.

Presidência da CNBB se manifesta sobre o atual momento do País https://cutt.ly/bmSbcPc Vacinação contra a gripe é ampliada para toda a população de SP https://cutt.ly/ImSbi9D Aulas presenciais em escolas e universidades paulistas recomeçarão em agosto https://cutt.ly/JmSb2bY


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Em assembleia extraordinária, Celam avança no processo de restruturação Fernando Geronazzo

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer viajou para o México, na terça-feira, 13, para uma série de reuniões do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), do qual ele é 1º Vice-presidente. O principal assunto desses encontros é o processo de restruturação da entidade. Nos dias 20 e 21, haverá uma assembleia extraordinária para tratar das questões econômicas e da renovação dos estatutos do Conselho. A proposta de uma nova estrutura do Celam foi aprovada durante sua 38ª Assembleia Geral Ordinária, realizada virtualmente entre os dias 18 e 21 de maio. A restruturação é resultado de um processo iniciado em 2019. A equipe responsável realizou uma série de reuniões e consultas às conferências episcopais, organismos eclesiais continentais e dicastérios da Santa Sé, que contribuíram no discernimento e reflexões sobre a nova proposta.

Renovação

Na ocasião da Assembleia Geral, o

Arcebispo de São Paulo salientou que o processo de restruturação do Conselho diz respeito, antes de tudo, à renovação do próprio organismo eclesial e, portanto, não significa uma proposta de restruturação da Igreja no continente. “A estrutura anterior, dos departamentos, imitava um pouco o que era a atribuição das conferências episcopais. Por isso, o Celam fazia muitas coisas que são próprias das dioceses e acabava não realizando o que realmente era necessário”, afirmou Dom Odilo. Ele detalhou, ainda, que, na proposta de restruturação, além das quatro regiões subcontinentais – América Central e México; Países do Caribe; Países Bolivarianos; Cone Sul –, será acrescida a Região Pan-Amazônica, cujas características especiais foram evidenciadas no Sínodo para a Amazônia, em 2019. “Em cada uma dessas regiões, há características que aproximam cultural e historicamente os países que delas tomam parte. E também há maior proximidade entre as Igrejas dessas respectivas regiões. O Celam, com suas novas características, procurará seguir com

atenção e discernimento as realidades desses grupos de países, em vista do estímulo à realização eficaz da missão da Igreja.”

Centros pastorais

A nova estrutura prevê a formação de quatro centros pastorais que funcionarão como eixos fundamentais de atuação do Celam, em vez dos antigos departamentos que compunham a entidade. Esses centros trabalharão de forma integrada e articulada. O Centro do Conhecimento terá a missão de “analisar, a partir de uma pastoral discernida, a complexa realidade da nossa região”. O Centro de Formação Bíblico-Teológico Pastoral para a América Latina e o Caribe, que já existe, assumirá cada vez mais a missão de promover processos formativos de âmbito pastoral. O Centro para Programas e Redes de Ação Pastoral estará a serviço das conferências episcopais para orientação pastoral e intercâmbio de experiências entre essas conferências por meio de redes temáticas e territoriais. Por fim, haverá o Centro de Comu-

nicação, dedicado a promover uma comunicação eficaz entre as conferências episcopais, atenta às novas tecnologias e processos comunicacionais.

Estatuto

Para a elaboração do novo estatuto, existe uma comissão que trabalha desde novembro de 2020 com o auxílio de uma comissão jurídica. De acordo com o Coordenador dessa comissão, Padre Marcelo Gidi, os princípios orientadores da reforma – eclesialidade, comunhão, colegialidade e sinodalidade – devem se concretizar em serviços ágeis e simplificados, com estruturas descentralizadas.

Serviço subsidiário da Igreja na América Latina Fundado em 1955 pelo Papa Pio XII, a pedido dos bispos da América Latina e do Caribe, o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) é um organismo eclesial de comunhão, formação, pesquisa e reflexão a serviço das conferências episcopais. Seus dirigentes são eleitos a cada quatro anos por uma assembleia ordinária. A sede da entidade está localizada em Bogotá, na Colômbia. Atualmente, o Presidente do Celam é Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, no Peru; o 1º Vice-Presidente é o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Ar-

cebispo de São Paulo; o 2º Vice-Presidente é o Cardeal Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua, na Nicarágua; e o Secretário-Geral é Dom Jorge Eduardo Lozano, Arcebispo de San Juan de Cuyo, na Argentina. “O Celam é um conselho que está a serviço das conferências episcopais do continente, um serviço subsidiário, ou seja, não é o Celam que coordena as conferências episcopais e as dioceses”, destacou Dom Odilo, na ocasião da última Assembleia Geral da entidade. As iniciativas de maior relevância do Celam foram as

cinco conferências gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe: Rio de Janeiro (1954); Medellín, na Colômbia (1968); Puebla, no México (1979); Santo Domingo, na República Dominicana (1991); e Aparecida (2007). “Essas conferências gerais, com a participação de bispos representantes de todas as conferências episcopais dos países-membros do Celam, sempre foram convocadas pelo Papa e ajudaram a moldar o rosto da Igreja pós-conciliar na América Latina e a história de sua atuação no continente, em cada época sucessiva a elas”, explicou o Cardeal Scherer. (FG)

Arcebispo preside missa na Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo Bruno Rodrigues Bonfim

Especial para O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer esteve no sábado, 10, pela primeira vez na Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo, na Região Episcopal Belém. Na ocasião, ele presidiu a missa de abertura da 13ª festa da padroeira, tendo como concelebrante o Padre Paulo Lino, Vigário Paroquial, assistido pelo Diácono Permanente Ricardo Donizeti. Participaram da celebração representantes das pastorais das seis capelas que compõem a Área Pastoral – São José Operário, São João Evangelista, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Guadalupe, São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo. Todas estão localizadas no extremo da zona Leste da cidade, nos bairros Jardim Iguatemi, Jardim Marilu e Jardim Progresso. A Área Pastoral foi criada em 3 de

fevereiro de 2008 e desde então os trabalhos pastorais têm sido intensos para que um dia se torne uma paróquia. Na homilia, Dom Odilo destacou a todos que é preciso ter a coragem dos profetas, atendendo ao chamado de Deus. “Ele está conosco, por isso: coragem! Ele nos chamou pelo nome, no ventre da minha mãe, ele já me amava. Aquele que é chamado deve estar feliz e responder com generosidade”, enfatizou, exortando os fiéis a bendizer a Deus por tudo o que têm, como a família, a comunidade e a atuação de um padre. Por fim, o Padre Paulo agradeceu a presença do Arcebispo, que se mostrou grato pelo carinho recebido. A festa de Nossa Senhora do Carmo será encerrada na sexta-feira, 16, na memória litúrgica da padroeira, com missa às 20h, presidida por Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém.

Bruno Rodrigues Bonfim

Dom Odilo ao lado da imagem de Nossa Senhora do Carmo em área pastoral da Região Belém


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| 14 a 20 de julho de 2021 | Ponto de vista | 5

Editorial

Por você, por sua família e pelo bem comum, vacine-se!

N

ão será mais preciso usar máscaras ou manter o distanciamento social em ambientes públicos; os encontros em família ou entre amigos, bem como outras reuniões, não terão qualquer tipo de restrições; e os espaços culturais, de culto e de entretenimento vão funcionar com plena capacidade. O que parece utopia em um mundo que ainda vive a pandemia se tornará realidade na Inglaterra a partir do próximo dia 19, conforme anunciou o governo britânico no início desta semana. E essa volta das atividades sociais aos moldes “pré-COVID-19” só será possível porque no Reino Unido 87% dos adultos já receberam ao menos uma dose da vacina contra o coronavírus e 66% já estão imunizados após a aplicação das duas doses. Nos Estados Unidos, a parcela de 48% da população que já está completamente vacinada pode permanecer sem máscaras e não precisa mais seguir o distanciamento social. Nesse país, outros dados sobre a eficácia da vacinação foram divulgados

recentemente: dos mais de 18 mil mortos com a COVID-19 no mês de maio, 99% não tinham ainda se vacinado; e entre os 853 mil hospitalizados com o vírus em junho, apenas 0,1% fazem parte dos que já tomaram as duas doses da vacina. Com cerca de 40% da população já tendo recebido a 1ª dose do imunizante contra o coronavírus e quase 15% já completamente imunizada, o Brasil ainda está distante da retomada da “vida normal” vista nos Estados Unidos, Inglaterra e outras nações com o alto percentual de população vacinada, mas já são perceptíveis os impactos positivos que a vacinação tem provocado. O comparativo da média móvel de mortes por COVID-19 entre 29 de junho e 12 de julho aponta para a queda de 19%. Nesse mesmo período, o número de novos casos diários decresceu 31%, indicando que o avanço da vacinação no País tem ajudado a conter a pandemia, mesmo que algumas cidades, como Curitiba (PR), Manaus (AM) e Salvador (BA), tenham sido obrigadas a suspender parcialmente

a vacinação no começo desta semana por falta de doses disponíveis. Uma boa notícia pode ser lida no Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado no dia 9: a quantidade de casos graves de COVID-19 entre pessoas acima de 60 anos decresceu significativamente nas últimas semanas, indicando que “a vacinação dessas pessoas vem fazendo o efeito esperado, de diminuir o número relativo de casos graves”. Como recorrentemente recordam os desenvolvedores de vacinas e a comunidade médica, a função primeira do imunizante contra o coronavírus é evitar que alguém, ao se contagiar, morra por complicações decorrentes da COVID-19. Desse modo, mesmo os vacinados podem desenvolver formas moderadas ou leves da doença, mas que dificilmente levarão à internação. E quando a maior parte das pessoas de uma comunidade está imunizada, o vírus tem mais dificuldade para se disseminar e, assim, se alcança a chamada proteção comunitária, dando mais segurança também àqueles que ainda não puderam

se vacinar, como é o caso de adolescentes e crianças. Outra vantagem é a redução do potencial de mutações do vírus, o que dificulta o surgimento de variantes mais transmissíveis. Vacinar-se, portanto, é mais que um gesto de interesse individual. É uma atitude de quem pensa no bem comum um gesto em favor de toda a comunidade. Como lembrou o Papa Francisco em uma entrevista em janeiro, é ainda “uma opção ética, porque está em jogo não só a sua saúde, mas também a dos outros. Se os médicos nos apresentam a vacina como algo bom, sem grandes efeitos negativos, por que não tomar?”. Como apontado pela Comissão Vaticana COVID-19 e a Pontifícia Academia para a Vida, em uma nota conjunta de dezembro de 2020, “acolher a vacina não é só uma questão de nossa própria saúde, mas, também, uma ação em nome da solidariedade com os demais, especialmente os mais vulneráveis”. Portanto, para seu próprio bem, o de sua família e de toda a comunidade, vacine-se!

Opinião

O niilismo, o utilitarismo e a perda progressiva da capacidade de amizade Arte: Sergio Ricciuto Conte

ANA LYDIA SAWAYA Como dissemos no artigo anterior (“A amizade a solidão” – ed. 3352 – 30/06/2021), a falta do hábito de refletir sobre o que se vive, primeiramente consigo mesmo e depois com os outros que vivem próximos de nós na comunidade, na família, no trabalho ou na escola, leva à aridez e à falta de “experiência de vida” que têm como consequência uma dificuldade crescente de comunicação. Desta decorre a solidão, que é uma marca registrada dos tempos modernos. Tal condição, por sua vez, leva a um medo cada vez maior dos outros e à desconfiança nos relacionamentos, ao ceticismo e ao niilismo. Não vivendo uma “experiência de vida rica”, a pessoa tem mais dificuldades de encontrar pontos de contato com a experiência dos outros. Entretanto, por que se tornou quase obsoleto gastar tempo para refletir sobre a própria vida? Não é por acaso que as escolas interromperam o ensino de Filosofia aos jovens. Refletir para quê? Por quê? Não é comum a experiência de que, quando buscamos refletir sobre algo que acontece, só aumentam a confusão e o desgaste nos relacionamentos? Quantas brigas, apenas porque nos colocamos em diálogo... Muito brevemente, podemos dizer que a cultura moderna, sobretudo no mundo ocidental, começou a desvalorizar a busca em comum do que é belo, bom e verdadeiro, que

eram os valores basilares da cultura clássica (dizendo, entre outras coisas, que são valores relativos e individuais). No lugar desses valores, a cultura atual começou a valorizar o que é útil, e sobretudo útil para o indivíduo. Essa visão de mundo foi propagada pela Inglaterra, em particular, com o Império Britânico e a decorrente Revolução Industrial – gerando uma visão de mundo que filosoficamente foi cunhada de “utilitarismo inglês”. O valor das coisas e das pessoas foi depositado na sua capacidade de ser útil e de produzir alguma riqueza material. Este modo de ver o mundo invadiu e determinou, progressivamente, os relacionamentos humanos.

Na coleção “Fragmentos póstumos”, de Nietzsche, encontra-se um texto em que ele descreve bem a posição niilista e a descrença no ser humano que busca apenas o que é útil para si. Essa forma de se relacionar, denuncia Nietzsche, se traduz invariavelmente numa forma egoísta e possessiva de relação com o outro: “Os homens sempre entenderam mal o amor: acreditam em amor que são desinteressados, desejando o bem de outro ser, muitas vezes em detrimento de si mesmos; mas em troca querem possuir o outro ser ...”. E ainda: “O amor é um [...] sutil parasitismo, o perigoso e indelicado aninhar-se de uma alma dentro de outra alma – às vezes até

dentro da carne... à custa, ai de mim, do ‘hóspede’! Que prejuízo tem o homem, como está tão pouco ‘interessado’! Todos os afetos e paixões querem ter razão – e quão distante está o afeto da esperta vantagem do egoísmo!”. A descrença nos relacionamentos acabou por moldar a mentalidade das pessoas e determinar o senso comum do mundo atual globalizado. Uma sociedade em que se valoriza a conquista pessoal para benefício próprio abriu caminho para uma crescente incapacidade de se comunicar e consequente solidão; e a necessária fuga para o prazer imediato e o alívio da angústia. Fez todos acreditarem que, quanto mais rica fosse a sociedade ou o indivíduo, mais prazer poderia conquistar e mais feliz seria, estabelecendo uma relação lógica e pressupostamente positiva, entre prazer e felicidade. É certo que o dinheiro pode proporcionar mais prazer, mas a verdadeira amizade não pode ser comprada, pois depende da afeição livre do outro. Curiosamente, existe um número crescente de pesquisas realizadas no campo da economia para entender melhor a relação entre riqueza e felicidade que vem mostrando não ser verdadeira a crença de que há uma relação direta entre ambas. Esse será o tema do próximo artigo. Ana Lydia Sawaya é doutora em Nutrição pela Universidade de Cambridge. Foi pesquisadora visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


BELÉM Padre Francisco Martins é empossado como Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima

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Pascom paroquial

6 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 14 a 20 de julho de 2021 |

Carlos Henrique Pazin

[SÉ] No domingo 11, Dom Carlos Lema Garcia conferiu o sacramento da Crisma a 21 jovens e adultos durante missa na Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda, Setor Bom Retiro. Concelebraram o Padre José Donizeti Coelho, Pároco; Cônego Severino Martins da Silva Filho, Administrador Paroquial; e o Padre Luiz Claudio Braga, Assistente de Pastoral da Paróquia Santa Francisca Xavier Cabrini, no Setor Santa Cecília. Os crismandos prepararam-se durante um ano e meio, por meio de encontros virtuais, para receber o sacramento. (por Pascom paroquial) Priscila Rocha

Fernando Arthur

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na sexta-feira, 9, o Padre Francisco Martins recebeu das mãos de Dom Luiz Carlos Dias o ofício de Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima, na Vila Industrial. Participaram da celebração membros de diversas pastorais e movimentos da igreja matriz e comunidades. No começo da missa, um representante da comunidade paroquial saudou o Bispo e novo Pároco. “Oferecemos ao senhor, Padre Francisco, o nosso cari-

nho, a nossa disponibilidade no dia a dia de vida comunitária. Queremos somar e multiplicar como povo de Deus, e que o senhor seja semeador da Palavra de Deus e dê muitos frutos. Seja bem-vindo entre nós e conte sempre conosco”, dizia um trecho da saudação. Após a saudação inicial, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém falou sobre o novo Pároco e este também recordou sua trajetória sacerdotal. Durante a missa, Padre Francisco recebeu as chaves da igreja e do sacrário e os símbolos dos sacramentos da Penitência e do Batismo.

[BRASILÂNDIA] No domingo, 11, um grupo de 27 catequizandos recebeu o sacramento da primeira Eucaristia na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, Setor Pereira Barreto, durante missa presidida pelo Padre Juarez Dirceu Passos, Pároco. Houve menções de agradecimento às catequistas Lisana, Andresa, Cida, Maria Fernanda e Karen; além do coordenador da Pastoral da Catequese, Marcos Elias. (por Priscila Rocha)

Espiritualidade A festa da Nossa Senhora do Carmo

Dom Luiz Carlos Dias

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BELÉM

O

calendário dos santos e santas da Igreja reserva o dia 16 de julho para uma bela festa mariana, a de Nossa Senhora do Carmo. Essa invocação mariana lança raízes no monte ligado ao ciclo do profeta veterotestamentário Elias (século IX a.C.), arrebatado aos céus, segundo o testemunho de Eliseu, num carro de fogo por sua santidade e fidelidade (cf. 2Rs 2,11-12), comprovadas, sobretudo, em sua memorável luta contra os profetas de Baal sobre o monte Carmelo, quando os exterminou (cf. 1Rs 18,20-40). O zelo de Elias foi coroado num monte cujo nome significa a “vinha do Senhor”, simbolizando o cuidado de Deus pelo seu povo. Desde então, o monte Carmelo ficou envolto em uma áurea de fidelidade à Palavra de Deus e à sua proposta de vida santa àqueles

que chama para uma aliança de amor. Elias se tornou personagem sempre presente para os judeus, ao mesmo tempo como principal precursor do Messias (cf. Ml 3,23-24). Também é grande o apreço dos Padres da Igreja por Elias: São João Crisóstomo nele vê exemplo de pobreza e virtudes; Santo Ambrósio entende ser ele o mais excelso dentre os profetas (De viduis 1, 3, em PL, XVI, col. 235). Aliás, há quem afirme que desde Elias o monte Carmelo foi habitado ininterruptamente por desejosos de vida virtuosa e santa, pois o lugar pareceu bem adequado à contemplação de realidades celestes. E, no século XII, soldados fatigados pelas batalhas das cruzadas acorriam para o aconchego desse lugar; e no século XIII já havia um grupo de monges vivendo estavelmente nesse local, o qual aprofundou e sistematizou o culto à Santíssima Virgem Maria em diálogo com a espiritualidade ligada ao profeta Elias, dando origem à rica espiritualidade conhecida como carmelita. No entanto, em 1235 com o retorno dos mouros à Terra Santa, os monges carmelitas foram atacados e o grupo responsável pela defesa foi facilmente liquidado, ao passo que outros sobreviveram em diáspora no sul da Itália e na Grécia. O mais representativo é o grupo que se

instalou na Inglaterra, em Aylesford, onde não teve boa acolhida pelas autoridades eclesiásticas e esteve à beira de uma trágica destituição. Diante de tantas perseguições e perigos de morte, o superior desses carmelitas vagantes, Simão Stock, em oração, suplicou um sinal de proteção a Nossa Senhora, e bem visível aos inimigos. A resposta materna foi dada na forma de um escapulário, e com esta promessa: “Quem com ele morrer não se perderá. Eis aqui um sinal da minha aliança, salvação nos perigos, aliança de paz e de amor eterno”. Assim, Nossa Senhora do Carmo se apresenta como protetora em vida e assistente na hora da morte. Desde então, a espiritualidade e culto a Nossa Senhora do Carmo tem como referência a promessa ligada ao escapulário, um sacramental que se tornou muito popular entre os cristãos e ainda conta com muitos adeptos. O Papa Pio XII lhe concedeu o seguinte entendimento: “Vejam, principalmente, nesta peça que vestem dia e noite, significada, com simbolismo eloquente, a oração com a qual invocam o auxílio divino”. O Papa Francisco recentemente, associou esse título mariano à estada de Maria aos pés da cruz de Jesus Cristo, e que por isso, afirmou, ela participa dos

sofrimentos de cada filho e filha e os escuta em seu cuidado de mãe. É oportuna a referência ao que expressou São Bernardo de Claraval acerca de Maria: “Quem recorreu à vossa proteção não foi por vós desamparado, Ó Clemente, Ó Poderosa, Ó sempre Virgem Maria”. No entanto, se a espiritualidade carmelita parte de uma garantia de auxílio nas dificuldades, na medida que aproxima o fiel de Maria Santíssima, o convida a uma vida pautada na Palavra de Deus, na docilidade à vontade de Deus, na oração e modéstia em relação aos bens e no empenho pelas causas de Deus. Eis alguns elementos espirituais emanados da vida do profeta Elias e sobretudo da Virgem do Carmo. Nesse sentido, essa espiritualidade é uma via geradora de grandes santos e santas para a Igreja e exemplo para os seguidores de Jesus. Basta citar santos do porte de São Simão Stock, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Edith Stein etc., os quais alegram imensamente a Ordem Carmelita e a ornam com vidas preciosas aos olhos do Senhor. Esse caminho antigo se apresenta tão atual em contextos de dificuldades várias, em tempos de pandemia e desafios para a vida de fidelidade a Deus.


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Fé e Cidadania

Brasilândia

Dom Carlos Silva: ‘Não passe um dia de sua vida sem se comunicar com Cristo’ Pascom paroquial

João Lima e Delto Santos

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Jovens e adultos da Paróquia Santa Cruz, no Jardim Peri Alto, Setor São José Operário, receberam o sacramento da Crisma no domingo, 11, e, a fim de evitar aglomerações, foram feitas duas celebrações, ambas presididas por Dom Carlos Silva, OFMCap, e concelebradas pelo Padre Bernardo Daly, Pároco. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia falou sobre os dons do Espírito Santo e o comprometimento com a fé em Cristo ressuscitado dos mortos. Ele lembrou que a felicidade consiste em exercer bem a própria vocação, religiosa ou não, e, para testemunhá-la, é preciso ter intimidade com Deus: “Fale com Ele! Não passe um dia da sua vida sem se comunicar com Cristo, sem agradecer, sem orar, sem rezar”.

Os catequistas e crismandos relataram a superação de todas as adversidades impostas pela pandemia para seguirem firmes no propósito de preparação para receber o sacramento. O catequista Delto Santos relatou que ele e os demais catequistas precisaram aprender a fazer lives; descobrir o melhor apli-

cativo para comunicação; superar o medo e a timidez em frente à câmera; conviver com a incerteza de que os encontros virtuais dariam certo ou não; e como os crismandos seriam impactados. Reforçou, ainda, que apesar de todas as dificuldades, a experiência da Catequese virtual foi muito válida.

Comportamento A importância da educação da imaginação dos pequenos Simone Ribeiro Cabral Fuzaro Como sabemos, a criança vem ao mundo com muito a ser desenvolvido. Esse desenvolvimento será determinado em parte pela dotação genética e, por outro lado, pelos estímulos que receberá ao longo da infância, especialmente no ambiente familiar. Um dos aspectos que dependem bastante dos estímulos que receberão é o imaginário. Toda criança tem potencial para desenvolver a capacidade simbólica e representativa, e isso vai acontecer de modo bastante intenso e radical na primeira infância, quando se dá a aquisição de linguagem. Entretanto, esse imaginário será mais bem formado ou não, de acordo com os estímulos que forem oferecidos pelo ambiente, especialmente o familiar. A representação, a imaginação infantil, vai ser alimentada por tudo o que for oferecido como material de vivência para a criança: as músicas que ouvir, as histórias que forem contadas, as brincadeiras, as experiências e conversas. Vai ser nesse material que a criança buscará elementos ao longo da vida, para enfrentar as situações e problemas que encontrar – essa será a base de sua capacidade criativa, de sua capacidade de elaboração, de pensamento. A fantasia, os jogos simbólicos (faz de conta), amigos imaginários

e contos serão parte integrante dessa construção e vão constituir o pensamento, balizando as tomadas de decisão, as convicções e ações. Sendo assim, é muito importante considerarmos o que estamos oferecendo aos pequenos para que formem um imaginário rico. Quando contamos histórias cujos personagens vivem dilemas, tratam de questões nas quais se coloca a dinâmica do bem e do mal, que indicam situações em que se faz necessário tomar posições e se abre a possibilidade de que a criança se identifique com essa ou aquela posição, questione uma ou outra decisão, estamos dando a ela uma riqueza de instrumentos internos para a vida. Estamos abrindo possibilidades de que se posicionem de modo mais assertivo nas situações que se apresentarem e que ajam de modo mais criativo e inteligente no cotidiano. Quando, ao contrário, reduzimos o repertório da criança a pequenas histórias sem riqueza de enredo, estamos empobrecendo a capacidade imaginativa e tornando menor a capacidade criativa, de análise, de juízo moral. O mesmo se dá em relação ao repertório musical, ao estímulo oferecido em relação às artes plásticas, enfim, não fará parte do arsenal imaginativo da criança aquilo que não for apresentado a ela. Isso não significa que não possamos oferecer aos pequenos histórias

e músicas infantis, mas, sim, que não podemos nos restringir a isso. É preciso cuidar de modo muito especial daquilo que oferecemos até mesmo sem perceber: o estilo de música que ouvimos, as letras e movimentos que elas propõem etc. Tudo isso fará parte do imaginário da criança e, importante lembrarmos: na primeira infância, o principal meio de aprendizagem das crianças é o mimetismo: irão imitar e criar imagens a partir daquilo que observarem que os adultos fazem e valorizam. Contar boas histórias, poesias, fábulas, contos clássicos, oferecer boas músicas, criar possibilidades de jogos simbólicos, possibilitar que contemplem obras de gênios da Arte eleva a possibilidade imaginativa dos pequenos e abre as portas para que conheçam mais sobre a diversidade humana, que se aproximem dos aprendizados morais, que tenham maior riqueza de raciocínio diante da vida. Existe uma riqueza imensa de material de excelente qualidade, fruto de anos de trabalho de gênios da humanidade nas mais diversas áreas que podem ser oferecidas aos nossos pequenos, enriquecendo suas possibilidades e abrindo horizontes. Vamos cuidar com carinho desse aspecto tão importante e tão esquecido. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

Trabalho, direitos e dignidade humana Padre Alfredo José Gonçalves, CS Em 1981, celebrando o 90º aniversário da Rerum novarum (RN), o então Papa João Paulo II publicava a carta encíclica Laborem exercens (LE), sobre o tema do trabalho. No texto, a partir de uma leitura do livro do Gênesis, o Pontífice afirmava que o “tema do trabalho”, além de ser “a chave da questão social”, faz do trabalhador a “imagem de Deus”. Em suas palavras, “o desempenho de tal mandato, o homem, todo e qualquer ser humano, reflete a própria ação do Criador do universo” (LE, 4). A crise prolongada da economia globalizada completava uma década. Desde o início dos anos 1970, sinais alarmantes batem à porta dos trabalhadores. Diz então o Santo Padre que “o trabalho é um desses aspectos, perene, fundamental e sempre com atualidade, de tal sorte que exige constantemente renovada atenção e decidido testemunho. Com efeito, surgem sempre novas interrogações e novos problemas, nascem novas esperanças, como também motivos de temor e ameaças, ligados com esta dimensão fundamental da existência humana” (LE, 1). Passaram-se 40 anos! As nuvens sombrias no mundo do trabalho, porém, só fizeram se adensar. Neste momento, quatro fatores se fundem e convergem para tornar a situação ainda mais preocupante. Um deles, em primeiro plano, tem a ver com o grande flagelo da COVID-19 que se abateu sobre todo o planeta. Quase um ano e meio depois que o coronavírus desembarcou em território brasileiro, e hoje com 18 milhões de infectados e mais de meio milhão de mortes, não é difícil constatar como a pandemia escancarou e agravou a condição extremamente precária dos trabalhadores. Vem depois a instabilidade permanente no trabalho. Ocorre como se este estivesse se divorciando do emprego estável. Sobram os serviços temporários efêmeros – os “bicos” que fazem o trabalhador se equilibrar em cima de um fio sobre o abismo de um futuro incerto. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de desempregados bate na casa dos 15 milhões da população economicamente ativa (PEA), enquanto cerca de 40 milhões continuam invisíveis na economia informal, sem falar dos que simplesmente desistiram de buscar emprego. Com isso, diminui de forma considerável o direito de organização, princípio que permeia a Doutrina Social da Igreja desde a Rerum novarum. Em terceiro lugar, nesse cenário de crise, a conta recai sempre sobre os ombros de quem trabalha. Conceitos como flexibilização das leis trabalhistas, terceirização de algumas tarefas produtivas e uberização do trabalho servem para revelar a fragmentação instável e insegura do mundo do trabalho. Os direitos se reconvertem em mercadorias a serem pagas pelo próprio trabalhador, a preços cada vez mais proibitivos. Último fator, mas presente desde o início, é a desigualdade socioeconômica. Também aqui, a pandemia escancarou e agravou, ao mesmo tempo, a concentração de renda e a exclusão social. A fatia de apenas 1% mais rica detém ao redor de 50% da riqueza produzida. Emerge a pergunta: o que fazer para reverter esse quadro e defender os direitos e a dignidade humana – linha mestra da Doutrina Social da Igreja (DSI)? Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).


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[BRASILÂNDIA] A Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, Setor Pereira Barreto, completou 52 anos de fundação em 7 de julho. Na ocasião, houve missa presidida pelo Padre Juarez Dirceu Passos, Pároco. (por Priscila Rocha)

brasilândia

Promotor vocacional da Arquidiocese preside missas em setores pastorais Juh Torres

Taíse Cortês e Juh Torres

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No domingo, 11, foram celebradas missas vocacionais nos Setores Pereira Barreto – na Paróquia Nossa Senhora

do Rosário de Fátima (foto) – e São José Operário – Paróquia Santos Apóstolos, presididas pelo Padre José Carlos dos Anjos, Promotor Vocacional da Arquidiocese de São Paulo, e concelebradas pelos respectivos párocos dessas paró-

[LAPA] A Região Episcopal Lapa cumprimentou, no dia 7, Dom Fernando José Penteado, Bispo Emérito de Jacarezinho (PR), pelos seus 87 anos. Ele também atuou como Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. (por Benigno Naveira)

quias, os Padres Maycon Wesley e Jaime Izidoro de Sena. Participaram das missas coroinhas, acólitos, cerimoniários e jovens representantes de todas as paróquias dos setores. Nas homilias, Padre José Carlos refletiu sobre semear a Palavra de Deus com alegria pelos diferentes lugares e papéis desempenhados; e que assim como Jesus enviou os discípulos, os cristãos são evangelizadores missionários com um olhar cuidadoso para sua missão, com ânimo, coragem e a certeza de que Deus sempre está com cada um. O Sacerdote fez ainda um apelo às famílias para que incentivassem seus filhos ao serviço vocacional, e relatou a alegria de seus familiares quando lhes anunciou o desejo de ser padre. Também comentou sobre a felicidade que tem com sua vocação.

Facebook da Paróquia Nossa Senhora de Casaluce

[SÉ] No dia 5, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora de Casaluce, Setor Pastoral Brás, templo em que recentemente foram concluídos os afrescos da Via Sacra, realizados pelo artista Sergio Ricciuto Conte. Concelebraram os Padres Lorenzo Nachelli, Administrador Paroquial, e Simone Bernardi, colaborador na Paróquia e também no Arsenal da Esperança. Após a missa, Dom Carlos Lema conheceu outros ambientes da matriz paroquial e também foi ao Arsenal da Esperança e à Paróquia Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários, onde o Padre Lorenzo é Pároco.

Paróquia Nossa Senhora da Paz completa 30 anos POR PASCOM PAROQUIAL Nas comemorações dos 30 anos de criação da Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Setor Jaraguá, a comunidade paroquial participou da novena em louvor à padroeira, entre 30 de junho e 8 de julho. Na sexta-feira, 9, de forma on-line e presencial, foi festejado o dia de Nossa Senhora da Paz. Ao longo da novena, todos rogaram a Nossa Senhora da Paz para que tivessem o coração aberto à vontade de Deus. O Padre

Gleidson Novaes, Pároco, refletiu sobre os desdobramentos da história da salvação, desde Abraão até os apóstolos, que, fazendo a vontade de Deus, alcançaram a paz, algo de que muito se necessita atualmente e somente será alcançada à medida que a vontade de Deus for cumprida por todos. No último dia, foi meditado o significado do milagre de Jesus nas Bodas de Caná. Durante todo o mês de junho, o Pároco rezou diariamente as invocações da Ladainha de Nossa Senhora pelo Instagram (@paroquianspazjaragua). Ao Pascom da Paróquia São Geraldo

longo da novena, aconteceram momentos devocionais com orações dirigidas a Maria Santíssima, além da bênção com o Santíssimo Sacramento e a oração de Nossa Senhora da Paz. “A novena nos ajudou a manter o coração aberto à vontade de Deus, como nos recorda o tema escolhido pelos paroquianos este ano”, comentou Padre Gleidson, recordando que, em 2020, em razão da pandemia, não foi possível realizar a festa da padroeira. Em julho, continuam os eventos comemorativos.

(por Pascom da Paróquia Nossa Senhora de Casaluce)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan presidiu no domingo, 11, missa na festa patronal da Capela dedicada a Santa Paulina, que pertence à Paróquia Sagrada Família, Setor Pastoral Mandaqui. Concelebrou o Padre Erly Avelino Guillen Moscoso, (por Lenivaldo Jacobino) Pároco.

SÉ ‘Festa do Carmo Solidária: alimente a esperança’ REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

[SÉ] Dom Carlos Lema Garcia conferiu o sacramento da Crisma a 23 pessoas na Paróquia São Geraldo, Setor Perdizes, durante missa no dia 4, concelebrada pelo Cônego José Augusto Schramm Brasil, Pároco, e o Padre Leonardo Venício de Araújo e Silva, colaborador na Paróquia. (com informações da Secretaria Paroquial) Leonardo Sasseron

[SÉ] No sábado, 10, Dom Carlos Lema Garcia conferiu o sacramento da Crisma a 13 pessoas na Paróquia Nossa Senhora do Carmo – Basílica, Setor Cerqueira César, durante missa concelebrada pelo Frei Thiago Borges Isidoro, O.Carm, Vigário Paroquial; Frei Marlom Francis de Souza Moreira, O.Carm, além do Frei Marcelo Amaral de Aquino, O.Carm, Capelão da Igreja Nossa Senhora do Carmo, Setor Pastoral Catedral. (com informações da Secretaria Paroquial)

A Ordem do Carmo prepara a festa de sua padroeira, Nossa Senhora do Carmo, na sexta-feira, 16. Este ano, a comemoração tem como tema “Festa do Carmo Solidária: alimente a esperança”, inspirada no apelo do Papa Francisco para o V Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado em 14 de novembro. O Prior da Província Carmelitana Santo Elias, Frei Adailson Quintino dos Santos, O.Carm, comentou: “Com o coração compadecido pela triste realidade que flagela o nosso povo, neste ano de 2021 motivados pela ‘caridade de Cristo que nos impele’ (2Cor 5,14), colocaremos diante dos pés de Nossa Mãe e Irmã, além de flores, a oferta generosa de alimentos não perecíveis, que serão distribuídos às pessoas e famílias que padecem por causa da fome”. A novena preparatória da festa da padroeira acontecerá até a quinta-feira, 15, em todas as comunidades carmelitas da provín-

cia, que abrange os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal, sendo pedido aos fiéis que participarem dessas celebrações a doação de 1kg de alimento não perecível. Na Arquidiocese de São Paulo, os Carmelitas atuam em duas paróquias da Região Episcopal Sé: a Basílica Nossa Senhora do Carmo, situada no Setor Pastoral Cerqueira César, e a Paróquia Santa Teresa de Jesus, no Setor Pastoral Jardins. A Basílica fica na Rua Martiniano de Carvalho, 114, na Bela Vista. Nos dias da novena, as missas serão às 19h, e na Solenidade de Nossa Senhora do Carmo às 7h, 8h30, 10h, 12h, 15h, 17h e 19h. Outras informações pelo telefone (11) 3146-4500. Já a Paróquia Santa Teresa fica na Rua Clodomiro Amazonas, 50, no Itaim Bibi. As missas do tríduo estão sendo realizadas às 19h30 e no dia da Solenidade acontecerão às 7h e 19h30. Para mais detalhes, o telefone é o (11) 3168-8323.


LAPA CTAP realiza curso sobre Dom Paulo Evaristo Arns e Paulo Freire Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

O Curso de Teologia para Agentes de Pastoral da Região Lapa (CTAP) promoveu, nos dias 5 e 6, de forma on-line com transmissão da Pascom Lapa, o XVI Curso de Férias gratuito, com o tema “Educação e Dignidade Humana”, que prestou homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, e ao educador Paulo Freire, cujos centenários de nascimento são celebrados este ano. A coordenadora do CTAP, Carmen Cecilia de Souza Amaral, a Caci, lembrou, ao iniciar o curso, que Dom Paulo e Paulo Freire ensinam a descobrir a esperança, coragem e sabedoria que nascem da luta do povo por dignidade e felicidade. O primeiro dia de atividades foi com a participação de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, que destacou a importância dos dois homenageados. Na sequência, Maria Ângela Borsoi, secretária pessoal de Dom Paulo Evaristo por 40 anos, e a professora Lourdes de

Fátima Paschoaletto Possani, mais conhecida como Lurdinha, falaram sobre a trajetória de ambos, cujos centenários serão celebrados em setembro. No segundo dia, com o tema “A Pedagogia da Autonomia na Pastoral e na Educação”, Dom Fernando Penteado, Bispo Emérito de Jacarezinho (PR), fundador do CTAP com um grupo de leigos há 26 anos, falou sobre o pastoreio de Dom Paulo Evaristo Arns, e destacou a convivência fraterna e a colegialidade do episcopado, a descentralização como condição para a evangelização da cidade São Paulo e a defesa dos direitos e da dignidade da pessoa, frente ao arbítrio do regime ditatorial. Em seguida, a professora Lurdinha, que também é coordenadora pedagógica do Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular, apresentou o resgate histórico de Paulo Freire, das histórias e testemunho de convívio com o educador. O conteúdo deste curso está disponível nos canais Web TV Lapa e Pascom Lapa do YouTube e no Facebook da Pascom Lapa. (Colaboraram: Carmen Cecilia de Souza Amaral e Maria Ângela Palma Ribeiro)

Arquivo paroquial

[SANTANA ] No domingo, 11, na Paróquia São Benedito, Setor Jaçanã, Dom Jorge Pierozan conferiu o sacramento da Crisma a 13 jovens e adultos durante missa concelebrada pelo Pároco, o Padre Idair Bonadiman, CSJ. (por Pascom da Paróquia São Benedito) Arquivo paroquial

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Arquivo paroquial

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[SANTANA] Na Paróquia Santo Antônio, na Vila Mazzei, Setor Jaçanã, no sábado, 10, Dom Jorge Pierozan presidiu missa e ministrou o sacramento da Confirmação a 30 jovens e adultos. Concelebrou o Pároco, Padre Maykom Florêncio. (Por Pascom da Paróquia Santo Antônio) Arquivo paroquial

[LAPA] No dia 6, a comunidade de fiéis da Paróquia Santa Maria Goretti, na Vila Gomes, Setor Butantã, festejou a memória litúrgica da padroeira, participando da missa presidida pelo Padre Geraldo Evaristo da Silva, Pároco. (por Benigno Naveira)

[SÉ] Na manhã da quinta-feira, 8, aconteceu na Paróquia Imaculada Conceição a reunião dos párocos e capelães atuantes no Setor Pastoral Cerqueira César, com a presença do Padre José Arnaldo Juliano dos Santos, Coordenador de Pastoral da Região Sé. Eles refletiram sobre o processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, a fim de que os padres possam orientar e estimular a participação e colaboração de todos os paroquianos e membros de pastorais e movimentos do Setor Pastoral. (por Pascom Paroquial) [IPIRANGA] No Dia Nacional do Encontro de Casais com Cristo (ECC), no sábado, 10, Dom Ângelo Ademir Mezzari presidiu missa na Paróquia São José, Setor Pastoral Ipiranga, com a participação de integrantes da Pastoral Fa(por Caroline Dupim) miliar regional. Coordenação Pascom Medeiros

[LAPA] O Curso de Teologia para Agentes de Pastoral da Região Lapa (CTAP) iniciará em 5 de agosto o próximo curso on-line, com a duração de nove semestres, com aulas uma vez por semana, às quintas-feiras, das 14h30 às 16h30, e carga horária de 340 horas/aula. Outras informações: ctap.nslapa@gmail.com ou caciamaral@uol.com.br; ou ainda pelos telefones (11) 3022-6821, com Caci; e (11) 98114-4315, com Romilda. (por Benigno Naveira)

[SÉ] Alguns setores pastorais já definiram as datas, horários e locais para as missas vocacionais: Pinheiros (25/07, 9h, na Paróquia São Paulo da Cruz – Calvário), Bom Retiro (31/07, 17h, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora); Perdizes (01/08, 16h, na Paróquia São Geraldo); e Cerqueira César (28/11, 10h, na Paróquia Nossa Senhora Achiropita). Outras informações pelo e-mail centropastoral@regiaose.org.br ou telefone (11) 3826-4999.

[BELÉM] Dando início à festa patronal, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Vila Alpina, promoveu na tarde do sábado, 10, uma carreata com a imagem da padroeira, partindo da igreja matriz, na Praça Coronel Mello Gaia, e percorrendo as ruas do bairro. Nas capelas, os fiéis acolheram a imagem da padroeira com chuvas de pétalas de rosa e aplausos. O Padre Eduardo Aparecido de Araújo, Pároco, abençoou os fiéis e os aspergiu com água benta, entre os quais (por Laura Cruz) muitos enfermos.

Coordenação Pascom Medeiros

[IPIRANGA] No domingo, 11, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Setor Pastoral Vila Mariana, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 13 pessoas. (por Caroline Dupim)

[BRASILÂNDIA] No sábado, 10, a Comunidade São Francisco de Assis da Paróquia São Luís Maria Grignion de Monfort, no Jardim Rincão, celebrou os 50 anos do Encontro de Casais com Cristo (ECC), em missa presidida pelo Padre Sérgio Antônio Bernardi, Pároco. Este ano, o Dia Nacional do ECC foi celebrado nesta data, que passa a ser permanente para as celebrações e comemorações pelos conselhos nacional, regional, diocesano, setoriais e equipe de dirigentes de todas as paróquias com o ECC implantado. (por Patrícia Beatriz Lopes)

[SANTANA] Em missa no sábado, 10, na Paróquia Nossa Senhora da Livração, Setor Pastoral Medeiros, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, conferiu o sacramento da Confirmação a 13 jovens. Concelebrou o Pároco, Padre Silvano Alves dos Santos, MSJ. (por coordenação da Pascom do Setor Medeiros)


10 | Reportagem | 14 a 20 de julho de 2021 |

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Em três meses, Paróquia na Região Belém já distribuiu mais de 24 mil marmitas Fotos: Paróquia Nossa Senhora das Graças

Ira Romão

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A Paróquia Nossa Senhora das Graças, localizada na zona Leste de São Paulo, por meio de ações caritativas, tem feito a diferença na vida de muitas famílias que residem no entorno da comunidade. Diante da crescente demanda de pessoas batendo à porta em busca de comida, a Paróquia intensificou suas ações já existentes e iniciou outras, como a distribuição diária de marmitas. “Quando começou o segundo ciclo da pandemia, houve uma grande procura por comida na igreja, muita gente pedindo tanto cestas básicas quanto refeições prontas”, relata o Pároco, Padre Valdir João Silveira, acrescentando que há muitas pessoas em situação de vulnerabilidade na região. Por meio de doações e a mobilização de voluntários, de abril até junho deste ano, a Paróquia já distribuiu mais de 24 mil marmitas, quase 6 mil peças de roupas, cerca de 1,5 mil cestas básicas, mais de 1,2 mil máscaras, entre outros itens.

Situação atual

A doação de marmitas

Em abril, a Paróquia passou a receber doações diárias de marmitas de um restaurante do Tatuapé. O proprietário, Carlos Elias Perregil, decidiu doá-las após uma conversa que teve com sua irmã, Maria Cecília Lobo. Ambos são paroquianos e, segundo o Padre Valdir, sempre contribuíram com a Igreja. Foi Cecília quem conversou com Padre Valdir sobre as doações e intermediou todo o processo. “Temos muito carinho pela Igreja Nossa Senhora das Graças. Foi gratificante ajudar com as marmitas, porque tinha muita gente passando fome. Quando falei com meu irmão, na hora ele decidiu contribuir”, recorda. A ação foi iniciada com a doação de 130 marmitas diárias, que logo passou para 150. Para chegar a esse número, foi feito um levantamento por voluntários que identificaram e cadastraram as famílias mais necessitadas e que vivem em comunidades próximas à Paróquia. Foram priorizadas aquelas com mais crianças e idosos. “A preocupação da Cecília era com as famílias que tinham membros [com ocupações] informais, que não estavam podendo trabalhar ou que perderam o emprego. Pessoas que não tinham renda alguma”, acrescenta Luiz Augusto Pereira, que, ao lado da esposa, Terezinha Pereira, coordena a distribuição das refeições. Devido à pandemia, o restaurante de Perregil estava funcionando apenas na modalidade delivery, o que facilitou que ele e os funcionários conseguissem dar conta de preparar as refeições. “Todos ajudaram. Cada um em sua função. Nas compras, montagens das marmitas, definição dos cardápios. Foi um esforço coletivo para dar certo”, afirma Perregil.

ficam bem acomodadas e chegam inteiras”, narra Pereira. Padre Valdir pontua que, sem as doações e os voluntários paroquianos, esse trabalho seria inviável: “Agradeço muito a participação do povo que está fazendo isso diariamente, inclusive o trabalho de buscar, distribuir e organizar.” O Pároco comenta ainda que são visíveis a alegria e a satisfação dos que colaboram. “Fazem isso com entusiasmo em poder ajudar, porque eles veem a necessidade, principalmente quem faz a entrega”. É o que testemunha Pereira: “É muito gratificante. A fé e a oração são transformadas em missão e ação. Não adianta apenas rezar, temos que fazer acontecer por meio da ação. É o que estamos fazendo, graças a Deus, dando o melhor de nós e o nosso tempo a essas pessoas”.

Ação da Paróquia Nossa Senhora das Graças distribui marmitas diariamente a pessoas carentes

Outro empreendedor também tem contribuído com a ação. “Em frente à igreja, há um pequeno restaurante, o Bar do João, que toda quinta-feira doa dez marmitas. O dono viu a movimentação na Paróquia e decidiu se envolver e ajudar. São 40 marmitas por mês”, conta Padre Valdir. Em maio, o Pároco conseguiu ainda, por meio da Região Episcopal Belém, inserir a Paróquia em uma ação conjunta da Prefeitura com o projeto “Animando a Esperança”, da Arquidiocese de São Paulo, para que a igreja recebesse 200 marmitas diariamente, que são retiradas no CEU Aricanduva, totalizando 350 refeições recebidas e distribuídas pela Paróquia todos os dias, sendo 360 às quintas-feiras.

A ação na prática

A distribuição das refeições é feita por 13 voluntários que se revezam para coletá-las, transportando-as em seus carros até as comunidades onde são entregues às famílias cadastradas.

As marmitas são retiradas no restaurante do Tatuapé por volta das 11h30 e levadas aos locais para a distribuição, que ocorre até perto das 13h. Algumas ficam na Paróquia para serem entregues na porta e outras são retiradas por voluntários que levam até a casa daqueles que não conseguem vir buscá-las. Pereira enfatiza que desde o início uma das preocupações relacionadas à logística da ação foi como seria o transporte. “Não é simplesmente coletar. Temos que acondicionar essas marmitas para que cheguem ao local de distribuição devidamente corretas, tampadas e sem desperdício”, detalha. Ele conta que, no começo, eram utilizadas caixas de papelão e de isopor para transportá-las. Atualmente, usamse caixas de plástico próprias para o transporte, nas quais cabem de 15 a 20 marmitas. “Voluntários que têm carros menores deitam os bancos traseiros e assim conseguem acomodar as caixas de maneira correta. Com isso, as marmitas

Paroquianos e Padre Valdir João Silveira (dir.) organizam cestas básicas obtidas por doações

Com a liberação do governo do estado para a reabertura dos estabelecimentos, o restaurante de Carlos Elias Perregil retomou suas atividades próprias, o que dificultou a rotina de distribuição de marmitas e assim, no início de junho, o restaurante interrompeu as doações de refeições, mas passou a doar cestas básicas à Paróquia. “Foi muito gratificante poder ajudar tantas famílias na comunidade em que eu e minha família crescemos. Todos os nossos colaboradores também ficaram felizes e animados em poder contribuir nessa ação”, garante Perregil. A ação da Paróquia, porém, não parou, uma vez que tem sido ponto de distribuição de 350 marmitas enviadas todos os dias pela Prefeitura. Padre Valdir destaca que algumas das famílias assistidas conseguiram se organizar e por isso tem avisado a Paróquia para redirecionar as doações. “Tem sido um gesto muito bonito. Várias pessoas conseguiram emprego, nos avisaram e já conseguimos remanejar a ajuda para outras famílias”, comenta o Pároco.

Cestas básicas

Outra ação da Paróquia que foi intensificada nos últimos meses foi a distribuição de cestas básicas, oriundas de doações da comunidade e do Centro Pastoral São José do Belém. Antes da pandemia, eram distribuídas 50 unidades por mês. Atualmente são 500. Essa ação também tem mobilizado voluntários. Éder Francisco Silva é um deles. “Mapeamos [as famílias] por meio dos paroquianos. Eu também faço visitas às comunidades e coleto dados para cadastrá-las. Mensalmente, elas recebem cestas básicas e kits de higiene com máscaras e absorventes”, explica. Silva também faz a distribuição de marmitas, levando a quem não consegue retirá-las na Paróquia. “Ajudo nessa distribuição mais direta em uma comunidade do bairro Santo Eduardo. Distribuo 50 marmitas diárias e 30 cestas básicas no mês”, conta.


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No centro de São Paulo, paróquia mantém viva a fé e a cultura italiana Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Os fiéis da Paróquia Pessoal Italiana São Francisco de Assis e Santa Catarina de Sena, em São Paulo, estavam em festa na noite do domingo, 11. No entanto, não era para comemorar a vitória da seleção italiana de futebol na Eurocopa, mas para acolher seu novo Pároco, Padre Paolo Parise. Natural de Marostica, no norte da Itália, Padre Paolo tem 54 anos e é sacerdote há 22. Missionário de São Carlos Borromeu (Scalabrinianos), ele vive no Brasil desde 2010 e é um dos coordenadores da Missão Paz, serviço voltado ao atendimento de migrantes e refugiados. A celebração aconteceu na igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora da Paz, na baixada do Glicério, região central. A posse foi presidida pelo Padre Aparecido Silva, Vigário-Geral Adjunto da Região Episcopal Sé, que representou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo. Padre Paolo sucede o Padre Giorgio Cunial, que atuou na comunidade por cerca de 50 anos e faleceu em maio. Na mesma missa, o Missionário também tomou posse do ofício de Vigário Paroquial na paróquia territorial, que tem como Pároco o Padre Antenor João Dalla Vecchia.

Encontro com a identidade

Já Fausto Marabello e sua esposa, Ivone de Abreu Marabello, se aproximaram das suas raízes italianas graças à Paróquia Pessoal. Embora sejam netos de italianos, eles não tinham proximidade com a tradição de seus avós, até que decidiram conhecer melhor suas origens. Morador do Jardim França, na zona Norte, o casal é ativo na Paróquia de seu bairro, mas não abre mão do vínculo mensal com a comunidade italiana. “Talvez tenha sido tarde, mas, hoje, é como se tivéssemos reencontrado nossa identidade cultural”, relatou Fausto, destacando que sente saudade dos momentos de confraternização e convívio entre os membros da comunidade, marcados por muita música e pratos típicos, interrompidos pela pandemia.

Missas

Paróquia Pessoal

Diferentemente das paróquias territoriais, uma paróquia pessoal é voltada à assistência pastoral de um grupo de fiéis de determinada língua, etnia ou cultura, no caso os imigrantes italianos e seus descendentes que residem em São Paulo. Embora a Paróquia Pessoal Italiana São Francisco de Assis e Santa Catarina de Sena tenha sido oficialmente instituída em 1956, sua origem se confunde com a da Paróquia Nossa Senhora da Paz, fundada em 1940 e constituída pelos imigrantes italianos que viviam no antigo centro operário da cidade, localizado entre os bairros do Cambuci, Mooca e Liberdade. Com o passar dos anos, os italianos se espalharam para outros bairros da cidade e acabaram se fixando nas paróquias mais próximas de suas casas. No entanto, sentiam falta de uma comunidade onde pudessem cultivar suas tradições religiosas, a língua e a cultura próprias. Então, nasceu uma paróquia pessoal voltada a esse público, dedicada aos santos padroeiros da Itália.

Manter as raízes

Atualmente, é quase impossível contabilizar quantos italianos vivem na cidade de São Paulo. A maioria dos italianos natos que frequenta a comunidade chegou ao Brasil entre as décadas de 1950 e 1960. Também seus filhos, netos e demais descendentes, contudo, herdaram não apenas a tra-

tura de seus pais e avós, mas é uma forma de cultivar a fé como os seus antepassados lhe transmitiram. “Aqui eu me sinto como em uma grande família”, disse.

Padre Paolo Parise, novo pároco, e o Padre Aparecido Silva, Vigário-geral Adjunto da Região Sé

dição, como, também, a nacionalidade italiana e, por isso, são igualmente considerados filhos da Itália. Muitas dessas famílias são ligadas a associações culturais de diferentes regiões italianas, que são responsáveis pela animação das missas. Há, ainda, uma estreita ligação com o Colégio Eugenio Montale, instituição de ensino localizada no Morumbi, na zona Sul, onde estudam inúmeros filhos de

jovens famílias italianas que chegam ao Brasil. Todos os anos, uma média de dez a 12 alunos fazem a primeira Eucaristia na Paróquia. Norma Maradei, diretora social do Circolo Italiano e presidente da Associação Centro Calabrês de São Paulo, frequenta a Paróquia há mais de 30 anos. Filha de italianos, para ela, participar da comunidade não é apenas recordar a cul-

IGREJA HISTÓRICA Construída pela comunidade italiana, em 1940, a Igreja da Paz, como é mais conhecida, possui um rico acervo cultural desconhecido pela maioria dos paulistanos. Suas paredes são decoradas com afrescos de grandes dimensões, de autoria de Fulvio Pennacchi (1905-1992), artista ítalo-brasileiro nascido na Toscana, ligado ao grupo Santa Helena – de nomes como Volpi, Rebolo e Graciano. O projeto, concretizado entre 1942 e 1945, inclui 31 afrescos de Pennacchi, sendo os mais destacados os 22 murais. No presbitério, há um afresco com Cristo Crucificado de mais de 6 metros de altura. Ao lado direito do altar-mor, está o afresco da Anunciação da Encarnação do Senhor e, à esquerda, na capela do Santíssimo, a ceia de Emaús e o Bom Pastor. Em 2019, os três sinos, datados da década de 1950, passaram por um restauro feito pela Fábrica de Sinos de Piracicaba e patrocinado pelo Grupo Comolatti.

Antes da pandemia, as missas em italiano eram celebradas uma vez por mês. Agora, passaram a acontecer todos os domingos, às 11h, também transmitidas pelas mídias digitais. Nas celebrações, são entoados os mesmos cantos litúrgicos executados na maioria das paróquias da Itália, o que estreita os laços de comunhão com o país de origem. Há cerca de um ano no Brasil, a cônsul-geral adjunta da Itália em São Paulo, Lívia Satullo, constatou isso, afirmando que se sentiu “em casa” ao participar da Eucaristia na Paróquia Pessoal Italiana e ouvir as músicas comuns em seu país, em um ambiente que mantém vivas a cultura e a identidade de seu povo.

Laboratório de comunhão

Padre Paolo destacou que a experiência vivida na Igreja Nossa Senhora da Paz é um laboratório de comunhão dos diferentes grupos étnicos que participam da comunidade pastoreada pelos Scalabrinianos. Além da Paróquia territorial e da pessoal italiana, essa igreja é sede da Paróquia Pessoal dos Fiéis Latino-Americanos de língua hispânica, e também acolhe grupos de haitianos, filipinos e indonésios, que participam das missas mensais em inglês e francês, sem contar os 4,5 mil imigrantes e refugiados atendidos pela Missão Paz só este ano. O novo Pároco enfatizou que os principais desafios são dar uma atenção especial ao grande número de idosos da comunidade, que, sobretudo nesse período de pandemia, não podem participar das celebrações, e, por outro lado, envolver mais as jovens famílias italianas que chegam à capital paulista e ainda buscam uma referência cultural e espiritual de sua pátria.


12 | Reportagem | 14 a 20 de julho de 2021 |

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A solidariedade mantém a esperança da Igreja que sofre ACN

Com a ajuda de benfeitores, a Fundação Pontifícia ACN apoiou mais de 4,7 mil projetos em 2020, especialmente onde os cristãos encontram dificuldade para vivenciar a fé Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Ao menos em 62 países, o direito à liberdade religiosa não é garantido e os cristãos são perseguidos por extremistas de outras religiões. Em algumas nações, os que professam a fé no Cristo são minoria, e a presença da Igreja só é possível com a ajuda financeira externa dos demais cristãos. Nessas realidades e também diante de situações de guerras, catástrofes naturais e crises globais, como a atual pandemia de COVID-19, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) atua em favor dos cristãos para que possam manter suas atividades de culto, evangelização e a própria sobrevivência. Em 2020, a partir dos donativos de mais de 345 mil benfeitores, a ACN destinou 68,6 milhões de euros a 4.758 projetos, em 138 países. Outros 12,2 milhões de euros foram usados em favor de cristãos desfavorecidos e perseguidos. Em ações de comunicação e publicidade para obter mais doações, os gastos foram de 12,8 milhões de euros e na manutenção da estrutura da fundação pontifícia foram usados 8,5 milhões de euros. Os dados estão em um relatório da ACN, disponível em https://www.acn.org.br/transparencia.

Destinação dos recursos

De acordo com Regina Lynch, diretora de projetos da ACN, em 2020, a maior necessidade dos apoiados foi a manutenção das atividades da Igreja, em razão das restrições advindas da pandemia de COVID-19. “O que mais afeta a Igreja é que, durante o lockdown, não há missas públicas nem a capacidade de conduzir os habituais programas de assistência espiritual e social nas paróquias. Além disso, em muitos países parceiros, a coleta durante a missa de domingo assegurava a sobrevivência dos sacerdotes e religiosos. Durante o lockdown, essa fonte de renda desapareceu de um dia para outro”, disse em entrevista publicada no relatório, detalhando

que as ajudas existenciais aos sacerdotes cresceram 95% em relação ao ano anterior e às irmãs religiosas, 24%. Os projetos apoiados pela ACN são preferencialmente de natureza pastoral, mas diante de crises, também há colaborações com ações emergenciais em favor das populações. “Isso vale especialmente para 2020, ano do coronavírus, no qual 9,8 milhões de euros, quase 15% do nosso financiamento, foram utilizados para ajuda de emergência. Uma grande parte foi utilizada pelas Igrejas locais, principalmente para garantir sua subsistência e para a compra de equipamentos de proteção”, consta no relatório. Nas especificações da ajuda realizada, o maior percentual – 26,7% – foi o de projetos de construção e reconstrução de igrejas e instituições eclesiásticas e 22,8% de subsídios para missas (veja detalhes na tabela abaixo). “O item ‘construção e reconstrução’ historicamente recebe um maior volume de recursos, porque é o que envolve maiores custos absolutos. Ele abrange a reforma ou construção de igrejas, conventos, seminários, casas paroquiais etc. Já o item ‘subsídios para missas’, que é um instrumento de auxílio aos sacerdotes, teve grande importância em 2020, afinal, durante a pandemia, muitos sacerdotes não receberam os recursos provenientes das coletas e tiveram muitas dificuldades de manter suas

atividades pastorais. Graças aos ‘subsídios de missas’, foram ajudados 45.655 padres, ou seja, um em cada nove sacerdote no mundo recebeu ajuda da ACN”, detalhou ao O SÃO PAULO Valter Callegari, diretor-executivo da ACN Brasil.

Transparência e busca de benfeitores

A ACN tem escritórios em 23 países, os quais viabilizam a arrecadação dos donativos e sua adequada destinação, e ajudam na avaliação dos projetos, algo que é feito geralmente em até três meses após a chegada de um pedido. Um desses escritórios é o da ACN Brasil, que assim como os demais busca a máxima transparência das ações realizadas. De acordo com Callegari, a própria publicação desse relatório é um dos instrumentos e prestação de contas aos benfeitores. “Mensalmente, enviamos o informativo Eco do Amor, descrevendo alguns dos projetos apoiados, além das informações veiculadas nas emissoras de TV e nos canais digitais, sempre seguindo o princípio de transparência. A ACN possui uma reputação construída em décadas de trabalho e preza por mantê-la”, ressalta. Entre os mais de 345 mil benfeitores, cerca de 10% estão no Brasil. “Nossos benfeitores são em sua maioria mulheres, com idade acima de 50 anos, que ajudam com um valor mensal, conforme a possibilida-

de, mas com o claro entendimento de ser a ponte de amor entre aqueles que podem ajudar e aqueles que mais necessitam. À ACN e a todos os beneficiados por tal generosidade, somos imensamente gratos. Cerca de 10%, ou 35 mil benfeitores da ACN, são brasileiros. Entretanto, quando pensamos que estamos no país com o maior número de católicos no mundo, percebemos que temos muito potencial para ampliar nossa ajuda ao mundo cristão. Vamos imaginar o que aconteceria se milhões de católicos do Brasil começassem a ajudar os cristãos que sofrem perseguição e miséria em outros países: seria uma verdadeira revolução da fé e do amor, que o Papa Francisco tanto nos pede”, comenta. Em 2020, a ACN recebeu 5.727 solicitações de ajuda, mas só pôde atender 4.758 projetos. Assim, mais de 900 não foram contemplados. Callegari detalha que a situação de urgência é um dos principais fatores que determinam a aprovação de um pedido de ajuda: “Também existe um conjunto de diversos outros critérios que vão desde a quantidade de beneficiados, da capacidade do parceiro de obter recursos, do histórico no cumprimento de projetos anteriores e da devida prestação de contas, entre outros. Um objetivo permanente é obter mais doações e, desta forma, apoiar o maior número possível de projetos”.

COMO COLABORAR COM A ACN?

http://acn.org.br/doacao Telefone: 0800 77 099 27

Qualquer pessoa pode colaborar com o valor que conseguir, e não há a obrigação de que seja uma contribuição permanente. A ACN não aceita doações de órgãos governamentais


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| 14 a 20 de julho de 2021 | Reportagem | 13 exemplos de ajudas oferecidas pela ACN

Em todos os continentes Mantendo a tendência de anos anteriores, o continente africano liderou o ranking do envio de ajuda da ACN e também foi o que mais recebeu auxílios relacionados à pandemia de COVID-19. “A África é o continente que mais recebe recursos há muitos anos, pelas imensas carências, dificuldades e penúrias que a região enfrenta. Além disso, é uma Igreja recente, com necessidades que outras regiões já superaram há décadas. Algumas regiões, às vezes, apresentam mais situações de emergência, como o Oriente Médio, que, por força dos atos dos terroristas islamistas, até há alguns anos recebeu da ACN maior apoio. Em outras, como a América Latina ou a Europa Oriental, a Igreja ainda possui necessidades estruturais não atendidas que a ACN procura apoiar de maneira regular e constante”, detalha Callegari.

África

A ACN destinou ao continente 21,3 milhões de euros em 2020 (32,6% do total de donativos). Os cristãos têm necessitado de auxílio especialmente na região do Sahel e em Moçambique, onde são perseguidos, violentados e expulsos de suas comunidades por extremistas islâmicos. Outra situação que chama a atenção é a da Nigéria: nos dois primeiros meses de 2020, o Boko

Ajuda aprovada por região

ACN

Formação de sacerdotes, religiosos e leigos: permite que mantenham uma formação adequada em realidades em que isso pode estar em risco em razão da pobreza, guerras e perseguições. Em 2020, foram beneficiados 14.009 seminaristas, 473 sacerdotes e 18.389 leigos.

o montante enviado foi de 3,9 milhões de euros, destinados especialmente a ações emergenciais após a explosão no porto de Beirute, em agosto de 2020, que danificou severamente muitas instalações da Igreja, incluindo hospitais católicos. Também houve apoio a pessoas mais necessitadas de alimentos e itens de higiene.

cias governamentais e de ONGs, como se verificou no Paquistão e na Índia.

América Latina

A América Latina foi o destino de 14,8% das doações, totalizando 9,7 milhões de euros. Com lockdown ou alguma restrição para o funcionamento das igrejas, verificou-se a redução das coletas, e foi preciso ajudar as dioceses Europa Central e Oriental com a manutenção dos templos e a subDo total de donativos a projetos, sistência do clero. Muitas famílias perderam renda e encontraram nas ações 19,1% foram destinados ao continente. caritativas da Igreja um auxílio. Na VeNo leste europeu, as verbas permitiram nezuela, por exemplo, a ACN apoia a que sacerdotes e religiosas pudessem manutenção de oito refeitórios de parósobreviver em meio a um cenário de quias em San Carlos. Também houve apoio para a formação de Ajuda por região seminaristas na Borelacionadas ao coronavírus lívia e para a reconstrução de templos incendiados no Chile.

Brasil

Haram assassinou 350 cristãos e, desde 2015, mais de 200 igrejas foram incendiadas e mais de 70 religiosos sequestrados e mortos. Igrejas também têm sido atacadas na Etiópia. Na República Democrática do Congo, a ACN enviou ajuda para o combate ao coronavírus, o que permitiu que muitos padres tivessem como sobreviver e ajudassem os mais pobres e doentes.

igrejas fechadas. No norte da Europa, onde os cristãos são minoria, a ACN apoia especialmente a formação geral e continuada de sacerdotes, religiosos e leigos. Na Albânia, por exemplo, os recursos ajudaram a manter seminários, permitiram a compra de veículos para assistência espiritual e a realização de reformas em edifícios da Igreja.

Oriente Médio

A esses continentes foram enviados 11,8 milhões de euros (18% dos recursos). Afetadas pela pandemia, as igrejas na Ásia receberam ajuda da ACN para adquirir equipamentos de proteção e manter sua sustentabilidade financeira, incluindo a subsistência de padres e religiosas. Ajudas também foram destinadas a países onde os cristãos, por serem minoria, foram excluídos das assistên-

A ajuda para o Oriente Médio foi de 9,3 milhões de euros (14,2% do total). Os cristãos procuram manter sua fé em meio a guerras, a perseguições jihadistas, ao declínio econômico e à atual pandemia. Na Síria, a ACN ajudou na subsistência dos religiosos, em iniciativas educacionais, assistência médica e reconstrução de igrejas. Para o Líbano,

ubsídios para missas: donaS tivos relacionados com o pedido de celebração de missas para os falecidos, doentes, pessoas em crises em suas vidas ou outras causas. Destinam-se para garantir a subsistência imediata dos sacerdotes e das suas paróquias. Em 2020, esse auxílio chegou a 45.655 padres.

Ásia/Oceania

Em 2020, a ACN apoiou 209 projetos no Brasil e voltou especial atenção à realidade da Igreja na Amazônia, onde padres e religiosos encontraram dificuldades para manter os trabalhos de assistência espiritual em razão da pandemia. Parte das verbas também foi usada para a compra de equipamentos de proteção contra o coronavírus nas comunidades mais pobres. “O perfil da ajuda ao Brasil é relativamente similar ao da maioria dos países, com projetos em construções e reformas; veículos de transporte, como automóveis mais resistentes para as paróquias e comunidades interioranas; ajuda para religiosas e sacerdotes; formação de seminaristas; material pastoral, como livros e apostilas etc., entre outros. Um ponto muito importante aqui no Brasil é a ajuda para a aquisição de barcos para a região amazônica. Sem eles, muitas comunidades nem sequer receberiam a visita de um sacerdote”, detalha Callegari.

Ajuda existencial para religiosas: no ano passado, 18.126 religiosas contaram com a ajuda da ACN para a própria subsistência. onstrução e reconstrução C de edifícios da Igreja: 744 edifícios foram construídos e reparados com a ajuda da ACN em 2020, como igrejas, mosteiros, centros pastorais e estações missionárias. Meios de transporte para assistência espiritual: em 2020, a ACN financiou a compra de 283 veículos, 166 motos, 783 bicicletas e 11 barcos. juda de emergência: ações A em auxílio aos cristãos que são obrigados a deixar seus lares e comunidades por serem expulsos, sofrerem violência, viverem em locais de conflito ou serem afetados por catástrofes naturais. istribuição de Bíblias, livros D religiosos e meios audiovisuais: em 2020, foram produzidos e distribuídos, com a ajuda da ACN, mais de 590 mil livros religiosos. isibilidade à situação dos V cristãos perseguidos: a ACN produz o Relatório de Liberdade Religiosa e outros materiais e publicações em mídia impressa, produtos audiovisuais e mídias sociais sobre a perseguição aos cristãos. Também participa de eventos internacionais para denunciar tais perseguições e viabiliza que os perseguidos tenham sua voz ouvida em instâncias internacionais. Além disso, realiza o Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos (6 de agosto), o Terço das Crianças (18 de outubro) e a Red Week – Quarta-feira Vermelha (em novembro), quando centenas de edifícios em todo o mundo são iluminados de vermelho para conscientizar sobre a realidade dos cristãos perseguidos.


14 | Com a Palavra | 14 a 20 de julho de 2021 |

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Luigino Bruni

‘Economia de Francisco: voltada primariamente aos bens comuns e não aos bens privados’ Stefania Casellato

organizações sem fins lucrativos etc. Se pensamos o capitalismo exclusivamente como um sistema em que a busca pelo lucro se sobrepõe ao respeito pela pessoa, pelos mais pobres e pelo meio ambiente, a Economia de Francisco é, sem dúvida, anticapitalista. Porém, se pensamos em todas as suas outras dimensões, não seria adequado nos colocarmos como “anti”. Em primeiro lugar, porque se nós nos definimos como “anti”, caímos numa postura negativista, em que tudo nos parece errado e só nós somos certos. No mundo, contudo, as coisas não são apenas brancas ou pretas, certas ou erradas. Existe sempre uma grande zona de sombra, entre a luz e a escuridão. Isso vale para a economia, para a política, para a família, para a Igreja... A Economia de Francisco deve distinguir esse capitalismo que só visa ao lucro de uma economia social de mercado. O Papa Francisco realmente diz “não” para uma economia excludente, mas nós temos que encontrar aquela economia para a qual dizer “sim”.

Francisco Borba Ribeiro Neto ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

“Economia de Francisco. Os jovens, um pacto, o futuro” deveria ser um encontro presencial, dirigido a jovens economistas e empreendedores do mundo inteiro, comprometidos com uma proposta de humanização da economia, construção de uma sociedade mais justa e em defesa do meio ambiente. Convocado pelo Papa Francisco e inspirado em São Francisco, aconteceria em 2020, em Assis. A pandemia mudou tudo, o evento aconteceu de modo virtual e originou um processo que hoje implica uma grande mobilização de jovens, com projetos voltados ao bem comum em todo o mundo. Os eventos da Economia de Francisco continuam acontecendo, e o Programa “Pátio da Cruz”, da TV PUC-SP, entrevistou o coordenador científico da Economia de Francisco, o economista e professor universitário italiano Luigino Bruni. A seguir, alguns trechos da entrevista, cujas perguntas foram propostas por jovens que têm participado do processo no Brasil. A entrevista, com perguntas em português e respostas em italiano, pode ser vista na íntegra no YouTube. Como podemos conceituar a Economia de Francisco e quais são suas características hoje? Luigino Bruni – Não é fácil sintetizar o que é a Economia de Francisco atualmente. Como nos disse o Papa, é um processo e não só um evento ou um projeto. Também não é uma teoria em particular ou uma experiência econômica específica. Como todo processo, tem a característica de não poder ser controlado. Se tentamos controlar um processo, ele morre ou se torna muito, muito pequeno. Se queremos que esse processo, que o Papa Francisco considera dos mais importantes de seu pontificado, cresça e se torne uma grande árvore, com muitos frutos, temos que renunciar a controlá-lo. É como uma nova planta, cheia de novos ramos, novas flores, crescendo com diferentes cores, diferentes identidades e conteúdos. É uma realidade que está muito viva, na Europa, na Itália, em Portugal, na Argentina, no Brasil e que avança na África. A primeira ideia, porém, que foi surgindo nesses anos, é uma reconsideração da pobreza. O capitalismo a considera como alguma coisa muito má, muito negativa, que deve ser eliminada. Pobreza é má, riqueza é boa. Eu penso que, com Francisco, existe um certo tipo de pobreza positiva, que pode surgir quando eliminamos ou reduzimos a pobreza negativa. Se eliminamos essa

pobreza, a miséria e a privação, as pessoas podem escolher a partilha de bens, uma vida que não se orienta só pelo ter mais, na qual se pode reduzir os impactos ambientais sobre o planeta. Assim é possível dizer que a pobreza pode não ser uma maldição, mas sim uma bênção. Em segundo lugar, temos a centralidade dos bens comuns, aqueles que são partilhados por todos, como o próprio planeta, o meio ambiente, a atmosfera, os oceanos, os mares e as florestas. Essas coisas são muito importantes para a Economia de Francisco. Ela é uma economia voltada primariamente aos bens comuns e não aos bens privados. Primeiro, a centralidade dos bens comuns, a seguir o lugar dos bens privados. Se destruirmos os bens comuns, destruímos tudo. Ainda que a Economia de Francisco se perceba como um processo, não como um projeto, podemos falar em metas ou objetivos que ela deve ter, em nível local, regional e global? O fato de a Economia de Francisco ser um processo não quer dizer que ela não deva almejar ter frutos concretos. Nesse sentido, nós acompanhamos hoje, no mundo, cerca de uma centena de projetos e iniciativas concretas. Os jovens buscam coisas muito concretas. Contudo, sua concretude é marcada pela busca de um ideal. O Papa nos pede não apenas para fazer para os pobres, mas com os pobres,

colocar as periferias no centro das decisões. Como podemos, como Economia de Francisco, colaborar nesse processo? O protagonismo dos pobres é muito importante. Quando pessoas que não são pobres começam a trabalhar pelos pobres, o fazem segundo a sua visão de mundo – que não corresponde nem à visão de mundo nem à necessidade dos pobres. Mas, quando estão juntos, encaminham-se para uma verdadeira solução dos problemas. Nessa perspectiva, o princípio da subsidiariedade, da Doutrina Social da Igreja (DSI), é muito importante: quem tem a maior competência para resolver os problemas é quem os está vivendo; então, cabe aos não pobres e às instituições ajudar (subsidiar) os pobres a resolver os problemas em sua própria perspectiva. Não apenas junto com os pobres, mas dando protagonismo aos pobres, pois os não pobres, quando tentam fazer as coisas junto com os pobres, frequentemente acabam se sobrepondo a eles. No Brasil, temos procurado nos opor a um sistema econômico que não respeita as pessoas, os mais pobres e o meio ambiente. Nesse sentido, na sua opinião, a Economia de Francisco é anticapitalista? Hoje em dia, o termo capitalismo abrange muitas realidades, muito diferentes entre si. Vai desde as grandes corporações internacionais até as pequenas empresas familiares, as cooperativas, as

No chamado aos jovens, o Papa Francisco diz que essa economia mata, não respeita a pessoa, exclui e devasta a natureza. Ele chamou, na Fratelli tutti e em outras ocasiões, a essa economia de neoliberalismo. O que o senhor pensa sobre isso? Em primeiro lugar, temos que constatar que o termo neoliberalismo é usado pelo Papa, mas não tanto assim. Não é fácil entender o que o próprio Papa pensa quando fala em neoliberalismo, porque esse tema é muito vago, muitas vezes entendido mais como um slogan. Contudo, quando vemos o que acontece concretamente em países como o Brasil, a devastação da floresta, as pessoas em situação de rua etc., estamos diante de um problema só econômico, só político ou ambos? Nesse sentido, é mais adequado dizer que esse sistema, com tudo o que há nele, mata. A Fratelli tutti abrange vários temas, inclusive alguns econômicos. Entre esses, devemos sublinhar – por exemplo – a prioridade da destinação universal dos bens em relação à propriedade privada. A propriedade privada é um meio para se atingir o objetivo da destinação universal dos bens e não o contrário. Essa é uma posição da Doutrina Social da Igreja, mas que é frequentemente esquecida. Outro ponto importante na Fratelli tutti é a relação entre a crise da migração, as mudanças climáticas e a economia. A Economia de Francisco não deve apenas denunciar uma economia que mata, que exclui, mas encontrar os caminhos para uma economia que não mata, não exclui, mas promove a pessoa e a vida.


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Cotton/Pexels

Características da alienação parental Veja alguns sinais que indicam a ocorrência de alienação parental: Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; ificultar o exercício da autoridade D parental; ificultar o contato da criança ou do D adolescente com o genitor; Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; mitir deliberadamente ao outro O genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou o adolescente, inclusive escolares, médicas e de alterações de endereço; presentar falsa denúncia contra A um genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou o adolescente;

Alienação parental: ‘um abuso moral contra a criança’ Fernando Geronazzo

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Embora seja mais perceptível nas relações entre pais separados, sobretudo nos casos de divórcios litigiosos, a alienação parental é uma realidade que cada vez mais acomete as famílias em geral. Trata-se de um sério problema, tema, inclusive, de uma Lei específica (12.318/2010), que define a alienação parental como: “Toda interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie o genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.

Velada ou explícita

Em uma série de entrevistas ao programa “Em Família”, da rádio 9 de Julho, a advogada Crisleine Yamaji, doutora em Direito Civil e Tutela, ressaltou que a alienação parental se manifesta das mais variadas formas, podendo passar despercebida pelas famílias.

“São coisas que parecem pequenas, mas criam uma enorme insegurança na relação da criança com o pai ou com a mãe”, afirmou, exemplificando o simples ato de externar críticas referentes a um dos pais às crianças, desqualificando ou relativizando sua autoridade. Crisleine acrescentou que tais críticas nem sempre são explícitas, mas veladas, quando, por exemplo, se ressaltam com frequência certos defeitos de um dos pais, o que acaba influenciando no juízo que o filho desenvolve sobre a pessoa. “Às vezes, comentários maldosos ou o envolvimento da criança no conflito entre os pais acabam colocando a criança em uma situação de instabilidade emocional, de repúdio ou crítica que ela não teria, naturalmente, em relação a um dos genitores”, completou.

Outros parentes

Em outros casos, um dos pais tem algum desconforto em relação ao comportamento do cônjuge, mas não consegue se expressar diretamente a ele e acaba usando a criança como uma intermediária para externar esse sentimento. O mesmo acontece quando um tio, avô ou outro parente frequentemente expressa

críticas referentes a um dos pais à criança ou relativiza sua autoridade. Situações de brigas e desrespeito entre os pais diante dos filhos também podem ser consideradas formas de alienação parental. Crisleine Yamaji foi categórica ao afirmar que a alienação parental é um “abuso moral contra a criança”, acrescentando que toda criança tem direito a uma convivência familiar harmônica. Embora reconheça que nem sempre isso é possível, a advogada sublinhou que deve haver um esforço dos pais e demais familiares para que esse direito seja assegurado.

Consequências jurídicas

Em situações extremas, há consequências jurídicas, por meio de medidas que busquem preservar a integridade psicológica da criança. “Geralmente, essas medidas jurídicas aparecem em situações em que há uma desestruturação do núcleo familiar, quando é necessário determinar que a guarda da criança fique com um dos pais, que haja uma visitação assistida ou o acompanhamento de um psicólogo. Imagine: como construir uma relação

Mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou do adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Fonte: Sempre Família

de amor nessas situações?”, observou a advogada.

Danos humanos

A profissional, no entanto, ressaltou que, por mais que exista o amparo legal para o combate à alienação parental, os danos humanos e afetivos da relação familiar não podem ser sanados apenas pelo Direito. “Toda vez que o Estado intervém em questões de família, o dano também é muito grande. A falta de diálogo dos pais é muito séria para a criança. É preciso haver medidas anteriores que impeçam que tais condutas aconteçam, para que isso não afete a inteligência emocional da criança”, alertou. “É importante chamar a atenção para que essas condutas abusivas sejam revistas e remediadas antes mesmo da situação extrema, até para não afetar a educação e o desenvolvimento da criança”, reforçou Crisleine, destacando o papel dos demais parentes e da comunidade próxima para que as famílias superem esse problema. Para ouvir as entrevistas, acesse:

https://tinyurl.com/yfyarjxk

Papas ressaltam o direito ao amor do pai e da mãe O Magistério da Igreja enfatiza o papel dos pais no desenvolvimento das crianças. Na exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia (AL), de 2016, o Papa Francisco, ao tratar do “amor de pai e de mãe”, afirma: “Respeitar a dignidade de uma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai. Não se trata apenas do amor do pai e da mãe separadamente, mas, também, do amor entre eles, captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. Caso contrário, o filho parece reduzir-se a uma posse caprichosa.

Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são ‘cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes’. Mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor. Além disso, é juntos que eles ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, em que cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro. Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho” (AL, 172). Na exortação apostólica Familiaris consortio (FC),

de 1981, São João Paulo II, quando escreve sobre os direitos e deveres de educar dos pais, salienta que: “...O elemento mais radical, que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno e materno, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tornar pleno e perfeito o serviço à vida: o amor dos pais de fonte torna-se alma e, portanto, norma, que inspira e guia toda a ação educativa concreta, enriquecendo-a com aqueles valores de docilidade, constância, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício, que são o fruto mais precioso do amor” (FC, 36). (FG)


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Museu da Língua Portuguesa ressurge para acompanhar o dinamismo do idioma e da metrópole Museu da Língua Portuguesa/Divulgação

espaço cultural retoma seu lugar na cidade e exalta a língua portuguesa como protagonista JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

Fechado há mais de cinco anos em decorrência de um incêndio que destruiu dois terços do prédio histórico que o abrigava, o Museu da Língua Portuguesa será reaberto no dia 31, nas mesmas dependências da Estação da Luz, região central da capital paulista, em cerimônia que será transmitida pelos canais das redes sociais da instituição. Graças a uma parceria entre a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do governo do estado de São Paulo e entidades privadas que tornou possível a sua restauração – embora concluída em dezembro de 2019, o acesso às novas instalações somente foi autorizado recentemente em razão das restrições impostas pela pandemia de coronavírus –, o Museu volta a fazer parte da cena cosmopolita paulistana e resgata sua vocação originária: valorizar a pluralidade da língua portuguesa, celebrá-la como elemento fundamental e fundador da cultura e aproximá-la dos falantes do idioma em todo o mundo. “O Museu da Língua Portuguesa tem uma grande contribuição que é se entender um museu cidadão, comprometido com o seu território, com o seu entorno, com a diversidade dos falantes da língua portuguesa, não somente no Brasil como também em outros países, comprometido com a valorização dos falares e contra o preconceito linguístico. O Museu é uma grande janela de debates, de discussões e de celebração da língua portuguesa”, afirmou Marília Bonas, diretora técnica do Museu e colaboradora da IDBrasil Cultura, Educação e Esporte, organização social responsável pela gestão do espaço cultural desde 2012.

COMO TUDO COMEÇOU

São Paulo foi escolhida para sediar o espaço voltado à promoção do idioma nacional por ser a cidade em que há a maior população falante de português no mundo. Assim, para dar vida ao Museu pela primeira vez, uma equipe multidisciplinar de profissionais foi formada e contou com a colaboração de sociólogos, museólogos, especialistas em língua portuguesa e linguística, designers, artistas e técnicos. Inaugurado em 20 de março de 2006, na confluência de três bairros tradicionais do coração da metrópole – Bom Retiro, Luz e Campos Elísios –, a opção pela Estação da Luz para abrigar o Museu não foi

por acaso: além de ser, durante décadas, um dos principais pontos de passagem de imigrantes que chegavam ao País – o que não deixou de representar uma valiosa contribuição para a língua –, até hoje é considerado um espaço dinâmico de contato e convivência entre várias culturas e classes sociais, favorecendo a aproximação e o intercâmbio dos mais diversos sotaques e influências de todos os cantos do Brasil e do mundo.

MISSÃO INTERROMPIDA

Em quase dez anos de funcionamento, o Museu da Língua Portuguesa recebeu em torno de 4 milhões de visitantes, apresentou, além do acervo permanente, 30 exposições temporárias – que homenagearam nomes como Clarice Lispector, Machado de Assis, Cora Coralina, Rubem Braga, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, Gilberto Freyre e o cantor e compositor Cazuza, entre outros –, ofereceu cerca de 320 mil atendimentos educativos e foi laureado com 12 prêmios, sendo a maior parte deles de reconhecimento internacional. Em 21 de dezembro de 2015, porém, essa trajetória de sucesso foi interrompida: um incêndio destruiu boa parte de suas instalações, obrigando o seu fechamento. “Por medida de segurança, tínhamos back up do conteúdo [exposto no Museu] em outros lugares, não havendo perda alguma da parte museológica”, afirmou Marília.

PATRIMÔNIO IMATERIAL

Falado atualmente por mais de 280 milhões de pessoas em nove países que

o têm como língua oficial (Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Timor Leste e São Tomé e Príncipe), o português é o quinto idioma mais utilizado em todo o mundo, o terceiro no Ocidente, o primeiro no Hemisfério Sul e a língua de trabalho em 32 organizações internacionais. A fim de revalorizar este patrimônio cultural imaterial da humanidade, era preciso trazer de volta à cena o local por excelência no qual a língua portuguesa é cultuada e promovida e, assim, devolver o Museu ao público que já o consagrara. Para tanto, Marília explica que para se chegar à nova concepção do espaço, “foi necessário um trabalho de museografia, que é como se traduz, na linguagem museológica, a narrativa do Museu. Essa representação do projeto museográfico somente foi possível por meio de um trabalho conjunto de profissionais especializados”, afirmou.

INSTALAÇÕES

Com três pavimentos, além do terraço – área considerada a menina dos olhos dos curadores e que anteriormente não era aberta ao público –, a atual configuração do Museu foi ampliada e é composta de 14 estações de exposição, o dobro do que havia anteriormente. Dotado de equipamentos e materiais de última geração no que diz respeito às instalações elétricas, tudo foi pensado visando à segurança completa dos componentes de iluminação e sonorização, bem como dos dispositivos de prevenção de incêndios (leia mais na página 17). Como inovação,

conta também com instrumentos de monitoramento ambiental, que controlam temperatura e umidade, a fim de garantir a preservação das obras museológicas ali expostas. Apostando na multiplicidade de recursos oferecidos pela tecnologia, todas as instalações têm na interatividade seu ponto alto, tornando o visitante parte atuante na exposição, convidando-o, a todo instante, por meio de experiências sensoriais imersivas, a pensar a língua, a ela se conectar, conhecê-la mais profundamente e, assim, redescobri-la.

O QUE ENCONTRAR

Com espaços que dão voz tanto à língua oral popular quanto à língua erudita, todas as manifestações linguísticas são contempladas. Um deles – que já era presente na edição anterior ao incêndio e agora ressurge ampliado e propõe uma nova experiência, mais artística, lúdica e poética – é a Rua da Língua, um painel de 106 metros de comprimento no qual são projetados murais e outdoors, uma verdadeira reprodução das ruas das cidades, com propaganda, pichações, poemas, provérbios e demais elementos visuais que contemplam a língua e estão presentes em qualquer metrópole. Na Línguas do Cotidiano, o idioma é apresentado como código central da cultura, algo que dá unidade, porém, às vezes, como algo que gera também exclusão, denotando o seu caráter múltiplo e mutante, trazendo à reflexão a língua como artigo de identidade afetiva. O Beco das Palavras é um jogo interativo, sem toque, que funciona por meio de sensores de movimento, em


que se formam palavras, e, a partir daí, mostra-se a sua estrutura, etimologia, origem e qual é o seu percurso histórico ao longo do tempo. Para simbolizar a língua portuguesa em movimento e o quanto ela intermedeia a relação das pessoas com o mundo, há a Linha do Tempo, com uma escultura do poeta e cantor Arnaldo Antunes, com todo o seu vasto legado de composições de poesia concreta. Permanecem no acervo as principais experiências, como a instalação Palavras Cruzadas, que mostra as principais línguas que contribuíram para a formação do português no Brasil e viceversa, ou seja, como o português contribuiu para o enriquecimento de outros idiomas, e a Praça da Língua, uma espécie de planetário do idioma, que homenageia a língua portuguesa escrita, falada e cantada em um espetáculo imersivo de som e luz.

Fotos: Ciete Silvério/Museu da Línfua Portuguesa/Divulgação

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RENOVADOS

Entre as novas instalações estão Línguas do Mundo, experiência sonora que se traduz em uma espécie de “floresta de línguas” que influenciaram e ainda influenciam o português falado no Brasil, tornada possível graças à contribuição de comunidades de imigrantes e de personalidades estrangeiras conhecidas, que, por meio de totens, recitam frases em sua língua de origem, que depois são apresentadas em português. Utiliza-se também de jogos interativos e contempla 23 idiomas diferentes. Já o Português do Brasil é uma grande linha do tempo, porém não necessariamente construída de forma crono ou etnológica, na qual é contada a história da língua portuguesa, sua formação e os impactos que ela ocasiona no Brasil até nossos dias. Laços de Família é uma instalação fundamental, principalmente para quem está em idade escolar, para entender de onde vem o português, o que é o latim, o que é língua morta, o que é a língua falada, o que é língua usada, o que é língua-mãe, trazendo uma grande árvore genealógica da língua portuguesa, com suas influências e com seus grandes troncos linguísticos.

NOVIDADES

A instalação Nós da Língua Portuguesa apresenta a língua portuguesa em outros países lusofalantes, como um caleidoscópio, com os laços, embaraços e a diversidade cultural da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A mostra temporária Língua Solta, que marca a reinauguração do espaço, traz os diversos desdobramentos da língua portuguesa na arte e no cotidiano. É composta de 180 peças, possibilitando aos visitantes o contato com o embaralhamento proposto pela curadoria, por meio da conexão da arte à vida, à vida em sociedade, às práticas do cotidiano e às formas de protesto, de religião e de sobrevivência, sempre sob o prisma da língua portuguesa. Por sua vez, a instalação Falares apresenta os diferentes sotaques e expressões do idioma nas mais diversas regiões do Brasil, incluindo crianças, adultos, artistas, imigrantes, indígenas, enfim, uma grande variedade de pessoas que falam sobre a língua por meio de textos, cantos, piadas, Museu da Língua Portuguesa encenações, entre outras formas de expressão. Praça da Luz, s/nº, Portão 1, Bom Retiro. Um documentário intitulado O Terça-feira a domingo, das 9h às 18h (a bilheteria fecha às 16h30) que pode essa língua mostra o idioma como estruturação da subjetiviIngressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia). Grátis aos sábados. dade de cada pessoa e a forma como Compra pelo site sympla.com.br. cada um vê o mundo. A torre do Museu será um local Os ingressos estarão disponíveis a partir da próxima semana e de projeções, chamada de Praça da poderão ser adquiridos exclusivamente pela internet, com dia Língua, que atualmente traz a apree hora marcados, e a capacidade de público está restrita a 40 sentação de três vídeos com amostras pessoas a cada 45 minutos. Os visitantes receberão chaveiros representativas da língua portuguesa. touchscreen para evitar toque nas telas interativas.

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Reforços para conter eventuais incêndios Daniel Gomes

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Com reabertura prevista para o fim deste mês, o Museu da Língua Portuguesa terá reforços no sistema de combate a incêndios. Quando as chamas começaram a se espalhar rapidamente pelo prédio em 21 de dezembro de 2015, após o defeito em um dos holofotes, uma das dificuldades foi a de encontrar hidrantes próximos ao Museu e os que existiam ou não funcionavam ou tinham vazão de água insuficiente para apagar o fogo. Na ocasião, um bombeiro civil que atuava no local, Ronaldo Pereira da Cruz, morreu após uma parada cardiorrespiratória. Agora, ao ser reaberto, o Museu já terá o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e outros cuidados obrigatórios foram seguidos para evitar que eventuais incêndios alcancem grandes proporções. Entre as medidas estão a fixação de extintores, a adequação de rotas de fuga e a devida sinalização de emergência em todo o prédio. Uma revisão em todos os hidrantes também foi realizada. A direção do Museu também acolheu uma recomendação do Corpo de Bombeiros e instalou sprinklers, popularmente conhecidos como “chuveiros automáticos”, que são afixados no teto dos pavimentos e, a partir de sensores, detectam o aumento da temperatura ambiente e emitem jatos de água em todas as direções, permitindo, assim, o combate às chamas ainda no início de um incêndio, evitando que este se alastre para outros locais da edificação. A instalação dos sprinklers não era obrigatória em razão da tipologia do edifício. A Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk) ofereceu apoio e atuou no processo de revisão do projeto de instalação dos “chuveiros automáticos”. “Desde o início da obra, uma vez por mês, nossa equipe compareceu ao local para verificar o andamento da execução do projeto e, assim, indicar possíveis revisões e adequações em campo”, detalha Felipe Melo, presidente da ABSpk.

Pelo mundo

Em diferentes prédios históricos e museus pelo mundo, tem havido uma maior preocupação com os sistemas de combate a incêndio. No Museu de História Natural de Paris, na França, alarmes e detectores de fumaça permanecem ligados ininterruptamente e sempre há agentes de segurança treinados para combater as chamas. Outras medidas são os extratores de fumaça (que retiram a fumaça de um ambiente em caso de incêndio), portas corta-fogo que dividem os ambientes e divisórias nas escadas foram montadas para evitar que um eventual incêndio se alastre. Todo o sistema de proteção é supervisionado por um comando central. Na Catedral de São Patrício, em Nova York, Estados Unidos, o sistema de proteção e combate a incêndios está instalado no telhado, com tubulações que conduzem a água a mais de 260 bicos capazes de nebulizar o ambiente em caso de incêndio. A vantagem é que o local não fica encharcado se houver a necessidade de acionar o sistema. No Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, as janelas do pátio principal estão equipadas desde 2002 com dispositivos automáticos capazes de fechá-las para impedir a propagação das chamas em caso de incêndio. Mesmo as salas mais antigas do Museu possuem portas corta-fogo. (Com informações de G1 e BBC)


18 | Reportagem/Fé e Vida | 14 a 20 de julho de 2021 |

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Na Ceagesp, um lugar de oração pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida Imprensa Ceagesp

Em sinal de gratidão à doação de 300 toneladas de alimentos à população de Aparecida, Entreposto Terminal São Paulo recebeu uma imagem da Padroeira do Brasil Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Um oratório (capelinha) dedicado a Nossa Senhora Aparecida, inaugurado em junho, nas dependências do Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), tem permitido um ambiente de oração a Deus e de pedidos de intercessão à Padroeira do Brasil. A construção da capelinha é fruto de uma ação social da Ceagesp, que mobilizou os trabalhadores a doarem alimentos para a população em situação de vulnerabilidade da cidade de Aparecida (SP), afetada, principalmente, pela paralisação das atividades de turismo religioso por ocasião da pandemia. A capela fica próxima ao prédio da administração e da diretoria, cercada pelo verde da natureza e por flores. Aderlete Cristina Maçaira é comerciante há quase 30 anos na Ceagesp. Ela destaca que a presença de Nossa Senhora é um sinal de esperança e o local é convidativo à oração. “Ao chegar à Ceagesp e ao sair de lá, todos os dias, dirijo a Ela meu olhar e minha prece. Estamos imersos na agitação do dia a dia, e ter a imagem de Maria presente é sinal de devoção e refúgio”, disse, ressaltando que é emocionante ver os trabalhadores e visitantes indo até o local para rezar.

Solidariedade

Entre os dias 21 e 23 de março, uma ação de solidariedade mobilizou funcionários e permissionários da Ceagesp. Em três dias, foram arrecadadas 300 toneladas de alimentos, entregues à cidade de Aparecida, no Vale do Paraíba, no dia 25 daquele mês. Coronel Ricardo Mello Araújo é presidente da Ceagesp há oito meses. Ele idea-

lizou essa campanha solidária e outras que atenderam vários municípios paulistas. “A pandemia agravou muito a fome no País. Estamos promovendo várias ações concretas para amenizar esse sofrimento”, disse o coronel, destacando que a ação social mobilizou todo o Entreposto Terminal São Paulo a partir do pedido de ajuda do prefeito de Aparecida, Luiz Carlos de Siqueira. “A ação beneficiou 26 mil pessoas, o que representa 85% da população do município”, afirmou o coronel. A doação foi entregue na cidade por caminhões do Exército e com o apoio dos comerciantes e dos carregadores do ETSP, que se dispuseram a ir até Aparecida para ajudar na logística.

GRATIDÃO

Como forma de agradecimento, em 15 de abril, o ETSP da Ceagesp recebeu a visita do prefeito de Aparecida, que trouxe como presente uma réplica da imagem de Nossa Senhora Aparecida. No mesmo dia, um representante do clero da Arquidiocese de Aparecida abençoou a todos no Mercado Livre do Produtor (MLP). Os colaboradores iniciaram, então, a construção da capelinha para abrigar a imagem recebida. O local conta com uma ilustração feita por Domicio Alves da Silva. “Considero, entre tantos projetos de arte visual que já realizei, este o mais importante, porque a pintura na capela é expressão da minha fé e da fé de milhões de brasileiros. É significativa essa ação diante da solidariedade dos trabalhadores unidos na ação conjunta em prol do irmão que sofre”, disse o ilustrador, que é bombeiro e policial.

Aderlete recordou ainda a importância da imagem que chegou até a Ceagesp em um momento de pandemia e que a solidariedade do gesto da doação é fruto do olhar materno de Maria. “Mesmo diante da atual crise, com queda nas vendas, todos, de alguma forma, se mobilizaram para ajudar na arrecadação feita à cidade de Aparecida. Esse gesto despertou a generosidade entre nós, aqui na Ceagesp”, disse a comerciante de verduras, ressaltando que o recebimento da imagem sensibilizou e uniu ainda mais os trabalhadores na ajuda interna e para com o próximo. “A capela é um sinal da presença de Deus, de Maria e da Igreja neste lugar onde muitas pessoas trabalham, e onde passam milhares de visitantes. Aqui é um lugar de negócios, compra e venda, mas, também, de expressão de fé”, afirmou Aderlete.

Presença da Igreja

A presença eclesial na Ceagesp começou em 1996, com uma missa para celebrar o Natal com os carregadores. A tradição continuou nos anos seguintes até que, em 2005, Dom Benedito Beni dos Santos, então Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, instituiu a capelania e nomeou o Diácono Luiz Carlos de Laet como responsável. Na ocasião, foi entronizada a imagem de Santa Luzia como padroeira. A comunidade celebra a missa da padroeira e uma missa na Solenidade de Corpus Christi. Há 16 anos, o Diácono realiza na entidade celebrações do sacramento do Batismo, adoração ao Santíssimo Sacramento, visita aos enfermos, bên-

ção dos veículos em 25 de julho – Dia de São Cristóvão – e visitas aos trabalhadores e comerciantes. “A presença eclesial aqui é uma possibilidade de ser uma Igreja em saída e de anúncio do Evangelho a essas pessoas”, afirmou o Diácono. Para o presidente da Ceagesp, a presença católica é muito significativa. “A maioria dos nossos carregadores são católicos devotos. Por isso, significa muito para eles terem a capela como oportunidade de vivência da fé neste local”, disse, recordando que, mesmo na correria, os trabalhadores guardam um momento para elevar suas preces a Maria. Antonio Batista é comerciante na Ceagesp há 40 anos. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, ele vai de bicicleta todos os anos ao Santuário Nacional de Aparecida e sempre participa das atividades da Igreja na Ceagesp. “A capela aqui em nosso ambiente de trabalho é uma forma de reafirmar nossa fé”, afirmou.

História

A Ceagesp surgiu em maio de 1969, resultado da fusão de duas empresas mantidas pelo governo do estado de São Paulo: o Centro Estadual de Abastecimento (Ceasa) e a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp). Hoje, é considerado um dos maiores centros de comercialização atacadista da América Latina, e garante, de forma sustentável, a infraestrutura necessária para que atacadistas, varejistas, produtores rurais, cooperativas, importadores, exportadores e agroindústrias desenvolvam suas atividades com garantia de segurança, eficiência e serviços qualificados.

Geração de renda

Segundo o coronel Melo Araújo, a Ceagesp é uma “cidade” com seus desafios e conquistas, com geração de emprego e fonte de renda para muitas famílias. “Atualmente, são 20 mil empregos diretos e centenas de empregos indiretos; 5 mil permissionários atuando aqui, e estes têm seus próprios funcionários dentro da Ceagesp e outros tantos na produção dos alimentos”, disse, afirmando que, por dia, passam no local, aproximadamente, 50 mil pessoas.

Você Pergunta É possível perdoar uma traição conjugal? Padre Cido Pereira

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“Eu não quero ser identificada. Descobri uma traição do meu marido em fevereiro. Sou casada há 40 anos. Peço uma palavra para consolar meu coração, pois estou muito angustiada. Eu perdoei, mas não consigo esquecer.”

Minha querida irmã, eu imagino sua dor diante da traição do seu marido. Ele jogou fora 40 anos de convivência. Desrespeitou você e os filhos. Descumpriu o compromisso de amor, respeito e fidelidade feito solenemente no dia do casamento. Também imagino sua coragem e o seu esforço para perdoá-lo. É um sinal de que você o ama, apesar de tudo.

Eu sei que você o perdoou, mas não esquece. É difícil mesmo. Como esquecer algo que a fez sofrer tanto? É como uma tatuagem que fica no coração da gente. Agora, minha querida, pense bem! Vale a pena viver com esta mágoa machucando você? Ele, com certeza, embora dê uma de “durão”, certamente deve ter a consciência pesada pela traição cometida.

Então, aqui vai uma sugestão, minha irmã: sua maior “vingança” é colocar nas mãos de Deus essa mágoa para que ela pare de impedir você de ser feliz. Trate seu marido com carinho e seja feliz, sem cobranças. Se ele não “se tocar” com isso, não deixe que ele estrague sua vida. Seja feliz, muito feliz. E conte com o meu respeito e a minha solidariedade!


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| 14 a 20 de julho de 2021 | Reportagem | 19

Pequenas ações que fazem a diferença no cuidado com a casa comum Paroquia Nossa Senhora do Rosário - Apucarana

Iniciativas de paróquias e ONGs buscam minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente do descarte de resíduos eletroeletrônicos e de óleo de cozinha usado Roseane Welter

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Descartar incorretamente o lixo provoca poluição e contaminação do meio ambiente. De igual modo, o descarte indevido do óleo de cozinha provoca sérios danos ao planeta. Segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), 1 litro de óleo pode contaminar até 25 mil litros de água potável. Em relação ao lixo eletrônico, o Brasil está em 5º lugar no ranking mundial e em 1º no cenário latino-americano de produção de resíduos eletrônicos, como indicam dados de 2019 do relatório The Global E-Waste Monitor, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com outros órgãos internacionais.

Ação e conscientização

Pensando nesse impacto e motivada pelo apelo do Papa Francisco para o cuidado com a casa comum, expresso na encíclica Laudato si’, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, de Apucarana (PR), criou a Pastoral do Meio Ambiente e tem promovido campanhas para recolher e dar destino correto ao óleo de cozinha usado e aos resíduos eletroeletrônicos. Amauri Henrique Rosina, coordenador paroquial da Pastoral e animador Laudato si’ do Movimento Católico Global pelo Clima, salienta a necessidade de atividades voltadas à conscientização ambiental e responsabilidade social. “Os voluntários da Pastoral percorrem os bairros da cidade para arrecadar o óleo de cozinha e itens eletrônicos que seriam descartados no lixo comum. Deus nos confiou para cuidar da sua criação. Essas ações são um convite para que a comunidade reflita e se conscientize dos atos cometidos contra a natureza”, alertou, destacando, ainda, que as pessoas tinham muito óleo guardado em suas residências e não sabiam o que fazer com ele, e que os itens eletrônicos eram descartados de forma errada ou acumulados em casa. Em 2020, a Pastoral recolheu mais de 1,2 mil litros de óleo de cozinha, evitando, assim, a contaminação de mais de 1 bilhão de litros de água. O óleo recolhido é encaminhado a uma empresa autorizada que faz a filtragem do produto e o direciona a uma fábrica de sabão na cidade. “Com a coleta do resíduo de cozinha, entregamos mudas de árvores no âmbito do projeto ‘Quer um ar limpo? Plan-

Agentes da Pastoral do Meio Ambiente da Paróquia em Apucarana (PR) realizam ações de conservação da natureza e controle do desperdício

te uma árvore’, além da instalação de 16 placas de orientação para não descartar lixo em lugares impróprios”, mencionou Rosina. Os voluntários da Pastoral, com o apoio da Cooperativa dos Catadores de Apucarana (Cocap), recolhem produtos elétricos e eletrônicos de pequeno e médio porte que estão quebrados ou sem utilidade: TVs de tubo, máquinas de lavar, fogões e peças de celulares e computadores, e os encaminham a empresas específicas, “contribuindo para diminuir os danos ao planeta, uma vez que esses itens contêm materiais como plástico, vidro e metal, que podem ser reciclados e, se jogados na natureza, poluem e levam anos para se decomporem”, disse. De acordo com o Padre Laércio José de Lara, Pároco, “os voluntários estão mobilizados na conversão ecológica, juntamente com um embasamento teológico. Os projetos realizados buscam unir atividades ao meio ambiente com a espiritualidade”, afirma, detalhando que realizam algumas ações com finalidades mais ecológicas – coleta de óleo de fritura, de eletrônicos, distribuição de mudas de árvores – e outras voltadas à espiritualidade – missa de São Francisco de Assis, com bênção de alimentos para animais; missa do Dia Mundial da Água, realizada em uma nascente no bairro; e a Trilha Ecorreligiosa de Nossa Senhora de Fátima.

Moeda sustentável

O coletivo Dedo Verde é uma organização que atua na educação e serviços ambientais, na zona Sul da capital paulista, e desde 2012 já coletou 25 mil litros de óleo de cozinha usado e produziu 300 quilos de sabão ecológico. A partir deste semestre, terão início ações concretas de recolhimento de itens eletrônicos em parceria com uma empresa especializada no correto descarte deste resíduo. “O coletivo atua diretamente em três frentes: educação ambiental, reciclagem de resíduos e segurança nutricional, com ações de sustentabilidade e economia solidária, por meio de oficinas, palestras e vivências ecopedagógicas”, afirmou Renato Rocha, empreendedor social do coletivo Dedo Verde. Ele também destaca que o “sabão ecológico é uma opção de renda em parceria com outras ONGs, instituições e empresas”. A sede do Dedo Verde fica junto à ONG Casa de Cultura e Educação São Luís e faz parte do Fórum em Defesa da Vida da Sociedade Santos Mártires, fundada em 1988 pelo Padre Jaime Crowe. A entidade dialoga com a Pastoral do Meio Ambiente da Diocese do Campo Limpo na “busca de criar estratégias para inserir ações de sustentabilidade para a comunidade, implantando a conscientização ambiental, pautados no Arquivo pessoal

Voluntários da ONG Dedo Verde, em São Paulo, produzem sabão a partir de óleo de cozinha

caminho orientado pelo Papa Francisco do cuidado com a casa comum”, disse o empreendedor. O coletivo, entre outras atividades, possui três hortas, sistema de reaproveitamento da água da chuva para irrigação, pequena fábrica de sabão ecológico, biodigestor, minhocário, casa de abelha sem ferrão e uma cozinha comunitária.

Ação concreta

A Paróquia Sagrada Família, na Região Episcopal Ipiranga da Arquidiocese de São Paulo, contribui com as ações voltadas à preservação do planeta. A Paróquia tem um ponto de coleta de óleo de cozinha, próximo à sua secretaria, no qual os paroquianos e moradores da região deixam o item para o correto reaproveitamento. O Pároco, Frei Claudemir Rodrigues da Silva, dominicano, destacou que a iniciativa existe há mais de 20 anos e é uma contribuição necessária para amenizar os danos ao meio ambiente. “O Papa Francisco exorta os católicos em todo o mundo e a todas as pessoas de boa vontade a tomar medidas concretas em relação às mudanças climáticas e à crise ecológica, pensando na preservação do planeta”, disse o Sacerdote, destacando que recolher o óleo de cozinha e direcionar a ONGs ou instituições “é um ato de manifestar a preocupação com o planeta”. A comunidade, segundo o Frade, é orientada e convidada a separar corretamente o óleo de cozinha, em garrafas PET ou outra embalagem, mas sempre bem vedadas. “O correto não é descartar o produto em pias, ralos ou bueiros, pois, além de prejudicar o encanamento das residências, contamina o meio ambiente porque dos canos vai direto a córregos, rios e até mesmo ao solo”, afirmou, ressaltando a importância de cada indivíduo fazer a sua parte. “São ações como esta que transformam o planeta, a nossa casa comum, em um espaço melhor, com maior qualidade de vida, menos poluição e menor contaminação de rios e mares”, pontuou o Frade.


20 | Reportagem | 14 a 20 de julho de 2021 |

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Catolicismo no México: fecundado pelo sangue das testemunhas de Cristo Rei Reprodução

Fernando Geronazzo

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Um dos períodos mais sangrentos da perseguição religiosa no século XX, a chamada Guerra Cristera, ocorrida no México entre 1926 e 1929, é também um dos exemplos de quando as lutas pela fé e pela liberdade se tornam uma só. Durante o II Simpósio Missionário do Seminário Arquidiocesano de São Paulo, realizado virtualmente entre os dias 4 e 8, Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, falou aos seminaristas sobre a rebelião provocada pelos católicos mexicanos, diante do rigor das leis que impediam a manifestação pública da fé nesse país. Frade Capuchinho, Dom Carlos atuou como missionário no Norte do México, na fronteira com os Estados Unidos, entre 2004 e 2013. Ele ressaltou que a fé cristã no México foi especialmente fecundada pelo sangue de mártires cristeros no início do século XX.

Mártires

Constituição anticlerical

Em 1917, foi promulgada no México, país predominantemente católico, uma Constituição que estabeleceu uma política que negava a personalidade jurídica às igrejas, além de impor inúmeras restrições. O artigo 24º da Constituição Mexicana proibia o culto em público fora das igrejas, enquanto o inciso II do artigo 27º restringia os direitos de propriedade das organizações religiosas. Já o artigo 130º retirava aos membros do clero direitos cívicos básicos: padres e líderes religiosos estavam proibidos de usar os seus hábitos, não tinham direito de voto e não podiam comentar assuntos da vida pública na imprensa. A legislação previa, ainda, a nacionalização das propriedades eclesiásticas, a supressão das ordens religiosas, a proibição do estabelecimento de conventos, fraternidades, a secularização dos cemitérios, entre outras medidas. Dom Carlos Silva relatou que, nessa época, muitas religiosas foram forçadas a deixar os conventos e mosteiros onde viviam.

Conflitos

Em 1924, com a eleição do presidente Plutarco Calles, declaradamente ateu e membro da maçonaria, a nova Constituição passou a ser aplicada com maior rigor, a ponto de ser conhecida como a “Lei de Calles”, com o objetivo de erradicar o catolicismo do país. Em resposta a estas medidas, a resistência das organizações católicas começou a se intensificar. As mais importantes dessas organizações eram a Liga Nacional de Defesa da Liberdade Religiosa, a Associação Mexicana da Juventude Católica e a União Popular, um partido político católico fundado em 1925. No começo, os fiéis e a hierarquia ca-

ra guerra civil. Seu grito de batalha era “Viva Cristo Rei! Viva a Virgem de Guadalupe!”. “Durante a Guerra Cristera, um número impressionante de pessoas morreu. Algumas estimativas apontam para 250 mil mortos, entre civis, membros das forças cristeras e do exército mexicano”, destacou Dom Carlos Silva, recordando que muitos dos cristeros eram torturados e mortos, tendo seus corpos expostos em locais públicos, como forma de intimidar aqueles que se opunham às imposições do governo.

São José Luis Sánchez del Río, martirizado aos 14 anos e canonizado em 2016

tólica organizaram protestos pacíficos em resistência às medidas. Um abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas, foi apresentado ao Congresso para pedir a abolição da “Lei de Calles”. Todas as iniciativas foram ignoradas. Os grupos de resistência impulsionaram então um boicote econômico de sucesso. Ao ver os efeitos da organização dos católicos, o governo resolveu endurecer seus ataques contra a Igreja mediante prisões, intimidações e até execuções.

1926, véspera da entrada da lei em vigor, a fim de evitar enfrentamentos e derramamento de sangue. Como resposta, o Pontífice escreveu a encíclica Iniquis afflictisque, na qual denunciou as agressões sofridas pela Igreja no México: “Já quase não resta liberdade alguma à Igreja [no México], e o exercício do ministério sagrado se vê de tal maneira impedido, que é castigado como se fosse um delito capital com penas severíssimas”, manifestou Pio XI.

Intervenção de Pio XI

Rebelião

Como a Igreja não conseguiu chegar a nenhum acordo com o regime de Calles, os bispos mexicanos pediram a autorização do Papa Pio XI para suspender o culto católico em 31 de julho de

Diante da repressão violenta, iniciou-se uma resistência armada por parte de grupos católicos denominados cristeros, que logo se espalharam por todo o país, transformando-se em uma verdadeiReprodução

Fuzilamento de sacerdote mexicano, durante Guerra Cristera, entre 1926 e 1929

Entre os mártires da Cristiada, destacam-se o Beato Anacleto González Flores, líder da resistência pacífica, morto em 1º de abril de 1927; o Beato Miguel Augustín Pro, sacerdote jesuíta assassinado em 23 de novembro de 1927; e São José Luis Sánchez del Río, um menino de 14 anos, martirizado em 10 de fevereiro de 1928 e canonizado em 16 de outubro de 2016, pelo Papa Francisco. A perseguição era tamanha que muitos missionários religiosos fugiram para a fronteira ou retornaram para suas pátrias. Por isso, a maioria dos mártires, além das famílias cristeras, eram sacerdotes do clero diocesano, que permaneceram em suas comunidades. Em 22 de novembro de 1992, São João Paulo II beatificou 22 desses sacerdotes diocesanos mártires, canonizados pelo mesmo Pontífice em 21 de maio de 2000. Na ocasião, o Santo Padre destacou que “sua entrega ao Senhor e à Igreja era tão firme que, ainda tendo a possibilidade de se ausentar de suas comunidades durante o conflito armado, decidiram, a exemplo do Bom Pastor, permanecer entre os seus para não privá-los da Eucaristia, da Palavra de Deus e do cuidado pastoral”.

Trégua

A Guerra Cristera terminou oficialmente em 1929, quando foi assinada uma trégua entre as duas partes. Porém, isso não acabou com a perseguição. Anos depois, cerca de 2,5 mil padres ainda viviam escondidos e seis bispos estavam exilados. Dos 3 mil sacerdotes que havia no México em 1926, restavam somente 334 em 1934. As leis anticlericais continuaram a fazer parte da Constituição mexicana, sendo alteradas apenas em 1992, com o restabelecimento das relações diplomáticas entre o México e a Santa Sé. Na ocasião da beatificação de 13 desses mártires mexicanos, em 2005, o Cardeal José Saraiva Martins, então Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, afirmou: “Os mártires são testemunhas privilegiadas da realeza de Cristo. Eles tinham consciência clara de que o reino de amor de Cristo devia ser instaurado, mesmo à custa da própria vida. De igual modo, a fé dos mártires é uma fé provada, como testemunha o sangue que por ela derramaram”.


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| 14 a 20 de julho de 2021 | Pelo Mundo | 21

Subalimentação impacta a vida de 811 milhões de pessoas Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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O relatório “Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI) 2021”, divulgado na segunda-feira, 12, indica que em 2020 até 811 milhões de pessoas viveram subalimentadas. O conteúdo foi elaborado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Na década de 2010, a fome havia começado a subir, mas em 2020 os números cresceram em termos absolutos e proporcionais, ultrapassando o crescimento populacional: estima-se que cerca de 9,9% entre todas as pessoas tenham sofrido de desnutrição no ano passado, em comparação a 8,4%, em 2019.

Mais da metade das pessoas subalimentadas (418 milhões) vivem na Ásia; mais de um terço (282 milhões) na África; e uma quantidade considerável (60

milhões) na América Latina e no Caribe. Entretanto, o aumento mais acentuado da fome se verificou na África, com 21% da população com desnutrição.

A má nutrição persistiu em todas as suas formas, afetando especialmente as crianças: em 2020, estima-se que mais de 149 milhões de menores de 5 anos sofriam de atraso de crescimento ou eram muito baixos para sua idade; mais de 45 milhões – debilitadas ou muito magras para sua altura; e quase 39 milhões – acima do peso. No relatório, são apontados seis caminhos de transformação dessa realidade: integrar políticas humanitárias, de desenvolvimento e de construção da paz em áreas de conflito; ampliar a resiliência climática em todos os sistemas alimentares; fortalecer a resiliência dos mais vulneráveis à adversidade econômica; reduzir o custo de alimentos nutritivos; combater a pobreza e as desigualdades estruturais; e favorecer os ambientes alimentares e mudar o comportamento do consumidor, eliminando as gorduras trans industriais e reduzindo o teor de sal e açúcar no abastecimento alimentar, ou protegendo as crianças do impacto negativo do marketing alimentar. Fonte: ONU News

Cuba Bispos pedem mais diálogo para a superação de crise no país Diante do aumento de protestos contra a situação econômica e social de Cuba, os bispos do País emitiram uma nota, na segunda-feira, 12, ressaltando que “o povo tem direito de manifestar suas necessidades, anseios e esperanças, bem como expressar publicamente como algumas medidas que vêm sendo tomadas, o estão afetando seriamente”. No entanto, os prelados afirmam temer que as respostas que sejam dadas às tais manifestações não resol-

vam os problemas, mas, sim, levem ao endurecimento de posições que podem resultar em “consequências imprevisíveis que prejudiquem a todos”. Nesse sentido, os bispos defendem que se ampliem as situações de escuta e de diálogo entre os manifestantes e o governo, para a construção de soluções comuns, que favoreçam a dignidade de vida de todos os cubanos. A redução do turismo em razão da pandemia de COVID-19 tem prejudicado as finanças do país, há in-

terrupções recorrentes no fornecimento de energia ao longo do dia e há relatos de filas de pessoas em situação de maior vulnerabilidade para conseguir alimentos e medicamentos. O número de infectados com a doença também está em alta e no domingo, 11, chegou ao recorde, com 6.923 novos casos e 47 óbitos em 24 horas. Desde o início da pandemia, 1.537 morreram em decorrência do coronavírus no país. (DG) Fontes: Celam e G1

Ucrânia Ucranianos à espera de uma visita papal José Ferreira Filho

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O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez um telefonema ao Papa Francisco, no fim de junho, durante o qual o convidou a visitar o país, apelando para a “autoridade moral” da Igreja Católica. “A Santa Sé é a autoridade moral do mundo”, disse o líder ucraniano. Ele lembrou o 20º aniversário da visita de São João Paulo II ao país, de 23 a 27 de junho de 2001. O presidente afirmou que os ucranianos têm uma boa lembrança dessa visita e relembrou a famosa declaração do Papa polonês de que “a Europa deve respirar com dois pulmões: ocidental e oriental”, com a Ucrânia sendo parte do pulmão oriental. Nesse contexto, Zelensky disse que uma visita papal à Ucrânia seria o “oxigênio de que tanto precisamos”, especialmente à luz do conflito em curso

na região de Donbass, no leste do país. “O povo da Ucrânia espera a visita de Vossa Santidade”, exortou o presidente, insistindo que a Ucrânia é um lugar de coexistência pacífica, onde representantes de diferentes tradições religiosas vivem lado a lado.

O Papa e a paz

Zelensky elogiou o Papa Francisco por sua atenção às questões globais como a paz, o diálogo inter-religioso, a situação dos migrantes e refugiados e a atenção aos pobres. Também agradeceu ao Pontífice as orações frequentes pela paz na Ucrânia, observando que mais de 14 mil pessoas morreram no conflito em Donbass e 1,5 milhão foram deslocadas como resultado da violência. “Esperamos trabalhar com a Santa Sé e seu apoio para levar a paz a Donbass”, disse o mandatário ucraniano. Nos últimos sete anos, a Ucrânia foi afetada por uma guerra que eclodiu após

a anexação da península da Crimeia pela Rússia, em 2014. Embora a Rússia afirme que a Crimeia agora faz parte de seu território, a península ainda é reconhecida internacionalmente como pertencendo à Ucrânia, que a quer de volta. O conflito estourou imediatamente com separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia após a anexação, dando início a uma guerra violenta de anos, que custou a vida de milhares e deixou milhões de desabrigados. Numerosos acordos de cessar-fogo ao longo dos anos falharam, com outros líderes europeus continuamente tentando persuadir a Rússia a reduzir sua presença militar na fronteira oriental da Ucrânia, onde cerca de 100 mil soldados russos estão reunidos. Em março, a Rússia implantou divisões terrestres e aerotransportadas nas regiões fronteiriças de Rostov, Bryansk e Voronezh, bem como na Crimeia, provocando retaliação das forças ucranianas.

Um mês depois, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que algumas forças seriam retiradas, mas os moradores insistem que nada mudou.

Iniciativas da Igreja

Naquele mesmo mês, o Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas fez um apelo à comunidade internacional para ajudar a restaurar um acordo de cessar-fogo de julho de 2020. O Arcebispo de Kiev-Halych, Dom Sviatoslav Shevchuk, Arcebispo-mor da Igreja Greco-Católica Ucraniana e Presidente do Conselho, exortou os ucranianos no exterior a falar sobre a situação e ser “testemunhas da verdade” sobre a realidade do conflito. Ao longo dos anos, Dom Shevchuk e outros representantes da Igreja Greco-Católica Ucraniana apelaram a uma visita papal de Francisco, insistindo que a sua presença poderia ajudar a trazer a paz. Fonte: Crux Now


22 | Papa Francisco | 14 a 20 de julho de 2021 |

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Papa Francisco se recupera bem e defende a saúde pública Filipe Domingues

Especial para O São Paulo

A permanência do Papa Francisco no hospital se prolonga um pouco mais do que os sete dias previstos, mas ele está bem. O Santo Padre apareceu no domingo, 11, para a oração do Angelus na sacada do hospital universitário Gemelli, em Roma – como fazia São João Paulo II nas ocasiões em que precisou ficar internado. Em sua fala, o Papa Francisco defendeu o direito à saúde pública e universal. “Nestes dias internado no hospital, experimentei mais uma vez como é

importante um bom serviço de saúde, acessível a todos, como é na Itália e em outros países”, disse o Papa. O Brasil é um dos poucos países que possui um Sistema Único de Saúde (SUS), totalmente gratuito, formulado nos moldes do sistema britânico (NHS, National Health Service). O atual programa de vacinação, por exemplo, é todo praticado pelo SUS. “Não podemos perder esse bem precioso. É preciso mantê-lo”, afirmou. “Por isso, é preciso que todos se empenhem, porque [o sistema de saúde] serve a todos e pede a contribuição de todos.” A visão de Francisco, que defende a

gratuidade desses serviços, reflete a percepção de que a saúde não é um produto a ser comercializado, mas um direito. E, no caso das instituições da Igreja que atuam nessa área, a saúde deve ser entendida como “serviço”, disse o Papa. “Não se esqueçam disso: salvar as instituições gratuitas”, completou.

Recuperação tranquila

Após a realização de uma cirurgia no intestino para tratar uma diverticulite, realizada no dia 4, o Papa teve um pouco de febre, mas se recuperou conforme o esperado e, segundo os médicos,

os resultados de seus exames são bons. Na segunda-feira, 12, o Vaticano informou que ele concluiu o período de resguardo, porém permanece no hospital, sem previsão de alta, para que possa receber um acompanhamento mais próximo dos profissionais da Saúde – é comum realizar alguns exames e fazer fisioterapia, por exemplo. O Papa passa estes dias descansando, lendo, rezando. Ele saiu do apartamento algumas vezes para cumprimentar pacientes de alas próximas, como crianças e outros idosos, e celebrou a missa em uma capela privada, com pequeno número de pessoas.

Aproxima-se o Dia Mundial dos Avós e Idosos Vatican Media

Celebra-se em 25 de julho o 1º Dia Mundial dos Avós e Idosos, instituído pelo Papa Francisco. O tema escolhido para este ano é “Eu estou contigo todos os dias” (Mt 28,20). Conforme escreveu o Papa na mensagem para a celebração, estas são palavras de Cristo “antes de subir ao céu”. A pandemia de COVID-19 prejudicou de maneira especialmente dura os idosos, pois estão entre os mais vulneráveis ao coronavírus. Muitos morreram e outros tiveram que ficar meses distantes dos familiares. Com a mensagem, o Papa quis deixar claro que “toda a Igreja está solidária” com os idosos.

A Igreja “se preocupa contigo, te ama e não quer te deixar abandonado”, afirma. Ele recorda, ainda, que cada pessoa também deve buscar sua “renovada vocação”, sem se deixar abater pelas dificuldades naturais que o tempo impõe. “Não importa quantos anos você tem”, continua o Papa, “é preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo”. Ele mesmo, um idoso de 84 anos, incentiva os idosos a rezar, pois “a sua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã”, concluiu Francisco. (FD)

Haiti: instabilidade preocupa após assassinato de presidente O Papa Francisco reza pelo Haiti, unindo-se à oração dos bispos locais, disse ele no domingo, 11. Após a oração do Angelus, ele demonstrou preocupação com a instabilidade no país caribenho “após o assassinado do presidente [Jovenel Moïse] e o ferimento da esposa”.

O presidente haitiano foi morto a tiros no dia 7, por homens armados que invadiram sua residência. Ainda não se sabe quem são eles nem os mandantes. Havia impasses sobre a duração do mandato de Moïse: ele dizia que governaria até fevereiro de 2022, enquanto políticos

de oposição diziam que ele deveria ter saído em fevereiro deste ano. Além de configurar um crime, o assassinato deixa o Haiti em grande instabilidade política. O primeiro-ministro também estava prestes a deixar o cargo e o presidente da Suprema Corte, que po-

deria resolver impasses, morreu recentemente de COVID-19. “Estou próximo do povo haitiano”, declarou o Papa. “Desejo que cesse a espiral de violência e a nação possa retomar o caminho rumo a um futuro de paz e de concórdia.” (FD)


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| 14 a 20 de julho de 2021 | Reportagem/Fé e Vida | 23

Diante dos Jogos Olímpicos, papas ressaltam a fraternidade universal Vatican Media/Arquivo

Daniel Gomes

Liturgia e Vida 16º Domingo do Tempo Comum 18 de julho de 2021

Ovelhas sem pastor

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PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

Passados 55 anos do encontro entre São Pio X e o Barão Pierre de Coubertin, em 1905, que estreitou os laços entre a Igreja e o movimento olímpico, mais de 5,3 mil atletas, de 83 países, estiveram em Roma para a edição dos Jogos Olímpicos em 1960. Em 24 de agosto daquele ano, na véspera da cerimônia de abertura, São João XXIII recebeu parte dos esportistas em audiência e destacou a capacidade do evento de unir os povos: “Embora pertençais a diferentes nações, estão fraternalmente associados ao mesmo hobby e ao mesmo propósito dos Jogos”. O Pontífice também indicou que a atividade esportiva praticada de modo honesto e com respeito ao próximo sempre deve ser considerada como “algo honroso e digno de alta recomendação, pois, graças aos exercícios físicos se cultivam, de fato, diversos dons e qualidades de grande valor, como a saúde, vigor, agilidade dos membros, graça e beleza, no que se refere ao corpo; e no que se refere à alma, constância, força e o hábito de abnegação”. Cinco dias depois, o Pontífice recebeu os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e lhes agradeceu a realização dos Jogos em Roma: “Desejamos confiar-vos a missão de renovar nos jovens atletas – cuja presença na Praça de São Pedro continua a ser uma das mais belas recordações deste ano – os nossos votos de feliz sucesso nestes Jogos e de feliz desenvolvimento das atividades como homens no futuro”. Nos anos seguintes, também os Papas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco dirigiram mensagens ao movimento olímpico, especialmente às vésperas de edições dos Jogos.

O Senhor mandou aos apóstolos, esgotados pela missão: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai” (Mc 6,31). A oração, o silêncio e a convivência fraterna devem acompanhar o apostolado. Sem se isolar com o Senhor no “deserto”, é impossível conhecer a si mesmo e a Ele. Não pode amar profundamente a Jesus quem não cultiva a intimidade silenciosa com Ele. Além disso, as obras de Deus nascem da oração! É preciso aprender a descansar em Deus e com Deus. O sono, a comida e o entretenimento não bastam! Essas coisas são necessárias, mas, se não vêm acompanhadas da vida interior, tendem a ser insaciáveis, a entediar a alma e a nos tornar frívolos. Dedicando ao menos 20 minutos por dia à oração, aprenderemos a colocar nas mãos de Deus nosso cansaço, tristezas e preocupações. O Senhor mesmo nos fará descansar, pois Ele prometeu: “Vinde a mim vós que estais cansados, e eu vos darei repouso” (Mt 11,28). Jesus, porém, vendo que uma multidão sedenta ainda os procurava, “teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Ele manifestou a sua misericórdia “começando a lhes ensinar muitas coisas” (Mc 6,34). Afinal, o Senhor dissera: “Meu povo perece por falta de conhecimento” (Os 4,6). Ensinar a verdade é missão irrenunciável da Igreja - “Ai de mim se eu não evangelizar! (1Cor 9,16) - e constitui uma obra de caridade. Hoje é mais urgente do que nunca “ensinar muitas coisas”: a verdade sobre Deus e o seu plano para os homens; sobre os Mandamentos e a família formada por um homem e uma mulher; sobre o valor da vida humana; sobre os novíssimos - Juízo, Céu, Inferno e Purgatório; sobre a inabitação da Trindade na alma e a vida de oração; sobre a presença real do Senhor na Eucaristia… Enfim, é necessário anunciar a Verdade em Pessoa, Aquele que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Com a secularização e o enfraquecimento das famílias, esses ensinamentos que edificaram a civilização são ignorados e negligenciados. No seu lugar, falsas doutrinas são propostas mundialmente como um “novo evangelho” ou uma “nova moral” sem Deus. O ateísmo, a ideologia de gênero, a idolatria do prazer sexual, o abortismo e o globalismo são exemplos disso… Essas ideologias invadiram repentinamente escolas, campanhas publicitárias e os discursos de “famosos” nos últimos anos. Têm em comum o fato de serem financiadas por grupos mundiais bilionários e de conterem uma visão materialista da realidade, que exclui Deus e a lei natural. Elas pretendem “pastorear” a humanidade, impondo a todas as consciências os seus princípios falsos. Contudo, apenas servem para desorientar, entristecer e abater o rebanho; basta ver seus maus frutos. A confusão é grande, mas Deus vencerá! A nós compete três coisas: oração, reparação e formação! Firmes na fé apostólica, poderemos “ensinar muitas coisas” à multidão faminta. Não fujamos desta responsabilidade, por caridade! Aliás: “Quem ensinar a justiça a muitos brilhará como estrelas para sempre” (Dn 12,3).

São Paulo VI as múltiplas vertentes da prática esportiva Em meio à realização da 64ª assembleia geral do COI, realizada em Roma em 1966, São Paulo VI recebeu em audiência integrantes daquele comitê e ressaltou os valores comuns que proporcionam o diálogo entre a Igreja e o esporte, na medida em que este é facilitador da educação moral e social pela disseminação de bons valores; proporciona a educação física – “não se trata de uma adoração ao corpo, mas, sim, o reconhecimento dos valores do exercício físico, da ginástica, dos treinos de resistência, flexibilidade, vigor, com os devidos cuidados e no respeito a valores superiores à ordem física” –; e ajuda na promoção da paz – “a prática do esporte em nível internacional, que en-

São João XXIII recebe delegação de esportistas dos Jogos Olímpicos de Roma 1960

contra sua expressão mais perfeita nos Jogos Olímpicos, tem se mostrado um fator marcante para o progresso da fraternidade entre os homens e para a difusão do ideal de paz entre as nações. Nas competições internacionais, vários países passam a se conhecer, a se valorizar, a praticar a hospitalidade e todas as atenções sugeridas pelas práticas de cortesia internacional. Eles aprendem a se confrontar nas lutas pacíficas do estádio, e não mais nas lutas fratricidas do campo de batalha”.

São João Paulo II cooperação universal e entendimento Em 1984 e 2000, São João Paulo II promoveu os jubileus dos esportistas, voltados a reflexões sobre a perspectiva cristã para o esporte. Além disso, em maio de 1982, o Pontífice recebeu em audiência os participantes da 85ª assembleia geral do COI, durante a qual recordou que o esporte “deve ser uma escola autêntica e uma experiência contínua de lealdade, de sinceridade, de honestidade, de sacrifício, de coragem, de tenacidade, de solidariedade, de desinteresse e de respeito! Quando, nas competições esportivas, são a violência, a injustiça, a fraude, a sede de ganho, as pressões econômicas e políticas e as discriminações que levam a melhor, então o desporto se reduz à categoria de instrumento da força, do dinheiro”. São João Paulo II também enviou mensagens aos participantes de edições olímpicas. Aos dos Jogos em Los Angeles 1984, lembrou que o megaevento deve ser uma “expressão da competição atlética amigável e da busca pela excelência humana, mas também para o futuro da comunidade humana, que por meio do esporte expressa externamente o desejo de todos por uma cooperação universal e entendimento”. Vinte anos depois, às vésperas dos Jogos de Atenas 2004, a primeira posterior aos atentados terroristas do começo dos anos 2000, o Papa desejava que “no mundo, hoje atormentado e comovido por tantas

formas de ódio e de violência, o importante evento esportivo dos Jogos constitua uma ocasião de sereno encontro e sirva para promover a busca da paz entre os povos”.

Bento XVI e Francisco instrumento de paz e reconciliação Os Papas Bento XVI e Francisco mantiveram a tradição de saudar os atletas e organizadores às vésperas dos Jogos. Durante a oração do Angelus, de 3 de agosto de 2008, Bento XVI dirigiu-se aos participantes da edição de Pequim: “Acompanho com profunda simpatia este grande encontro esportivo, o mais importante e esperado em nível mundial, e formulo sinceros bons votos a fim de que ele ofereça à comunidade internacional um exemplo válido de convivência entre pessoas das mais diversas proveniências, no respeito pela dignidade de todos. Possa mais uma vez o esporte ser penhor de fraternidade e de paz entre os povos!”. No Angelus de 22 de julho de 2012, Bento XVI enviou sua saudação aos organizadores, atletas e espectadores dos Jogos de Londres: “Que este evento esportivo internacional possa dar fruto, promovendo a paz e a reconciliação em todo o mundo”. Já a mensagem do Papa Francisco aos participantes dos Jogos Rio 2016 foi proferida durante a audiência geral de 3 de agosto daquele ano: “Diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida (cf. 2Tm 4,7-8), almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização em que reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião”.


24 | Publicidade | 14 a 20 de julho de 2021 |

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