Semanário da Arquidiocese de São Paulo
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ano 66 | Edição 3376 | 15 a 20 de dezembro de 2021
Editorial Um novo campo de missão: anunciar o Evangelho em bairros residenciais
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Encontro com o Pastor Assumindo nossa pobreza, Ele nos enriqueceu com o esplendor de sua divindade
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Cardeal Odilo Pedro Scherer abençoa terreno da futura Igreja Nossa Senhora de Guadalupe Luciney Martins/O SÃO PAULO
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Espiritualidade Sejamos cada um de nós o companheiro do Menino Deus que chega
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Liturgia e Vida Com a Virgem Maria, exultemos de alegria pelo nascimento do Salvador
Página 23
Comportamento Contrato de namoro: uma estranha ‘liberdade’ que toma o lugar da intimidade
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Conheça a centenária Capela de Santa Luzia da Rua Tabatinguera Localizada a 400 metros da Catedral da Sé, a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia foi fundada em 1901. Na memória litúrgica da padroeira, no dia 13, o Cardeal Scherer presidiu missa no pequeno templo. Página 10
Rito para a instituição de catequistas é apresentado pelo Vaticano
Cardeal Scherer, Dom Carlos Lema, Dom Ângelo Mezzari, padres e leigos em frente ao terreno da futura Igreja Nossa Senhora de Guadalupe
Uma grande cruz de madeira fixada no muro de um terreno nas esquinas das ruas Ernesto de Oliveira e Lorenzo Valla, na Chácara Kablin, no centro-sul da cidade, é o sinal visível de uma nova comunidade católica que está se formando na capital. No domingo, 12, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, esteve no local e abençoou o terreno onde futuramente será construída uma
igreja dedicada a Nossa Senhora de Guadalupe. Antes da construção do templo, porém, a preocupação é que se forme uma comunidade de fé estável e ativa neste bairro predominantemente residencial e verticalizado. “Nós precisamos dos templos porque eles são o sinal da Igreja viva que somos nós”, afirmou o Arcebispo. Páginas 12 e 13
Para o serviço da Palavra, do altar e da caridade Luciney Martins/O SÃO PAULO
Ministério de Catequista foi criado pelo Papa Francisco, em maio, e será conferido preferencialmente aos leigos bem preparados para exercê-lo. Página 21
Ceama realiza 1ª assembleia após reconhecimento canônico e jurídico Em Mairiporã (SP), membros da Conferência Eclesial da Amazônia trataram sobre as ações da Igreja na região. Página 19
Dom Odilo durante o rito de imposição das mãos realizado na ordenação diaconal na Catedral da Sé
No sábado, 11, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a ordenação diaconal de um grupo de seminaristas, religiosos e candidatos ao diaconato permanente. Compete aos diáconos “assistir o bispo e os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia, distribuí-la, assistir o Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”, indica o Catecismo da Igreja Católica. Página 11
2 | Encontro com o Pastor | 15 a 20 de dezembro de 2021 |
cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo
N
a celebração do Natal, muitos sinais de festa ao nosso redor fazem referência a algo muito grande e bom para a humanidade. Mesmo sem saber dizer bem de que se trata, há contentamento, sentimentos bons, expressões de fraternidade e de pacificação dos corações. Que há de tão grandioso no Natal, que os cristãos celebram e compartilham também com quem não crê como nós ou não é animado por nenhuma fé ou religiosidade? Vamos falar do Natal como aprendemos da Palavra de Deus e da Igreja, assim como cremos. Do Evangelho de São Lucas, sabemos que o filho nascido de Maria é fruto da ação do Espírito Santo no seio dela e, por isso, “será chamado filho de Deus”. Jesus é filho de Maria, mas também é filho de Deus. Em outras palavras, entra no mundo e nasce humanamente de Maria o Filho de Deus, assumindo a nossa natureza e condição humana. Isso é inaudito, grandioso! Impossível ao homem, mas não a Deus (cf. Lc 1,35-37). No Evangelho de São Mateus, Jesus
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Natal: Deus vem ao nosso encontro é anunciado a José, que estava confuso diante da gravidez de Maria, bem sabendo que o filho esperado por ela não fora gerado por ele. Também Mateus fala que Maria “achou-se grávida por obra do Espírito Santo” (Mt 1,18). O mesmo diz o anjo a José, visitando-o em sonhos: “Não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). Na visita a Zacarias e Isabel, Maria é saudada pela prima como “mãe do Senhor”: “Como acontece que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lc 1,43). A saudação é forte e expressa a fé clara que a comunidade cristã primitiva já tinha a respeito de Jesus: Ele é “o Senhor”, título que era dado apenas a Deus. Em outras palavras, é o reconhecimento de que o filho que Maria gera humanamente para este mundo é também filho do eterno Deus. Os fatos que envolvem o nascimento de Jesus, narrados pelos Evangelhos de Mateus e Lucas, dão a entender que esse nascimento é extraordinário e divino. Os anjos a cantar, dando boas notícias aos homens, fazem parte das cenas onde Deus se manifesta e está em ação. E são os anjos, mais uma vez, que dão aos pastores a explicação do que acontece na noite de Belém: “Não temais! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o
povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11). O Evangelho de São João não narra os fatos ligados ao anúncio e nascimento de Jesus. Mas o prólogo do seu Evangelho é uma interpretação teológica desses mesmos fatos e do próprio nascimento de Jesus. Nele, “a palavra eterna e poderosa de Deus entra no tempo e se faz carne para estar no meio da humanidade. No nascimento de Jesus, a luz esplendorosa de Deus brilha no mundo e dá a todos a possibilidade de caminhar na verdade dessa luz. No nascimento de Jesus, resplandece no mundo a glória de Deus, do Filho Unigênito de Deus, cheio de graça e de verdade”. E a quem dele se aproxima e nele crê, também é dado o poder de se tornar filho de Deus. Se ninguém jamais viu a face de Deus, isso agora muda com o nascimento de Jesus: “O Deus Unigênito, que está no seio do Pai, nô-lo revelou” (cf. Jo 1,118). Em Jesus, Deus está humanamente no mundo. Naturalmente, o que os Evangelhos dizem sobre quem é Jesus, nascido da Virgem Maria, não se resume às narrativas do nascimento e da infância de Jesus, que nós lemos nos tempos litúrgicos do Natal e Epifania. É preciso percorrer todo o caminho dos Evan-
gelhos para compreender quem é esse, que nasceu pequenina e frágil criança, como recordamos no Natal. Ao longo de sua vida pública, Jesus foi revelando pouco a pouco o mistério que o envolvia. Por um lado, inteiramente humano, o mais humano dos humanos. Ao mesmo tempo, na sua condição humana, também está a realidade divina, que se manifesta e age de formas surpreendentes e variadas. A celebração do Natal tem no seu centro o mistério da encarnação, do Filho eterno de Deus, que se fez humano, “nasceu de mulher”, assumiu em tudo a nossa condição humana, “menos o pecado”, como diz São Paulo. Sim, Ele nunca esteve sujeito ao pecado, mas assumiu o pecado da humanidade sobre si, purificando-a e santificando-a com sua divindade. Grande presente do céu nos foi dado: assumindo a nossa pobreza, Ele nos enriqueceu com o esplendor de sua divindade. O mistério da encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade foi, certamente, o maior acontecimento na história, desde a criação do homem e do mundo. Mas esse Mistério Santo não está na ordem da ciência e nenhum cientista o comprovará. Ele está na ordem da fé e pode ser acolhido apenas mediante a oração e a contemplação, de coração humilde e agradecido.
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Fernando Arthur
Cardeal Scherer abençoa sinos de paróquia no bairro do Tatuapé Fernando Arthur
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
Bênção dos sinos no campanário da Igreja N. Sra. da Conceição
| 15 a 20 de dezembro de 2021 | Geral | 3
Na festa patronal da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Região Belém, na manhã do dia 8, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Eucaristia na igreja localizada no bairro do Tatuapé. Concelebraram os Padres José Mário Ribeiro, Pároco; Valdeir Goulart e Arlindo Teles. No começo da missa, Dom Odilo também saudou os cerca de 200 fiéis participaram presencialmente e exortou-os a olhar para Maria, aquela a quem Deus preparou para ser a Mãe de seu Filho. “Olhando para ela, peçamos a Deus para que nos purifique, nos prepare para as festas do Natal, para acolher o Deus que vem sempre ao nosso encontro”, disse. O Arcebispo recordou, ainda, a conclusão do Ano de São José, proclamado pelo Papa Francisco: “São José está sempre perto de Maria, sempre perto de nós. É o pai da Igreja, por isso, o Papa fala que ele é o provedor, o protetor da Igreja,
como foi da pequena Igreja de Nazaré: a Sagrada Família”. Na homilia, Dom Odilo falou aos fiéis sobre a Solenidade da Imaculada Conceição, que acontece no contexto do Advento, tempo litúrgico convidativo para que se voltem os olhares a Nossa Senhora. “Maria nos dá o exemplo de esperança e de expectativa orante”, recordou Dom Odilo, que também ressaltou que, assim como Maria, todos devem estar atentos aos momentos de Deus nas próprias vidas, e permanecer vigilantes no Senhor, realizando as boas obras e louvando-o.
Novos sinos
Ao fim da celebração, os cinco novos sinos de bronze do campanário foram abençoados e inaugurados, após longo trabalho e cooperação da comunidade paroquial. Ao abençoar os sinos, Dom Odilo ressaltou que eles são sinais de Deus, e que todos devem sempre prestar atenção ao seu som, para voltar o olhar à Igreja.
Dom Odilo preside missa em seminário na Solenidade da Imaculada Conceição Bruno Carvalho de Melo ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
Na Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, no dia 8, o Cardeal Odilo Scherer presidiu a Eucaristia na Capela do Seminário de Teologia Bom Pastor, situado na Região Episcopal Ipiranga. Na ocasião, também estiveram presentes os padres formadores, os sacerdotes recém-ordenados no dia 4 e a comunidade dos seminaristas da Arquidiocese de São Paulo. Com a missa, foram encerradas as atividades anuais desta casa de formação. A Solenidade da Imaculada Conceição faz memória que Maria foi concebida sem a mácula do pecado original. Diferentemente do restante da humanidade, marcada pelo pecado da herança de Adão e Eva, Maria foi preservada de toda mácula e impureza. Essa é a essência dessa solenidade, celebrada a cada 8 de dezembro. Na homilia, o Arcebispo Metropolitano recordou que, ao passo que Adão e Eva
ouviram a serpente e quiseram ser como Deus, Maria esteve atenta e ouviu apenas a voz de Deus, e respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38). Dom Odilo recordou que, apesar da primeira queda, a descendência de Eva continuará pisando a cabeça da serpente (cf. Gn 3,15; Ap 12). A descendência de Maria se refere a Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus nascido de Maria, que venceu o mal e o pecado. Cristo é o novo Adão; e a Igreja redimida por Jesus, a nova Eva, simbolizada em Maria concebida sem pecado. Nesse sentido, o mistério da concepção pura de Nossa Senhora é inteiramente cristológico, haja vista que Maria foi preservada do pecado em função da missão grandiosa que teria, isto é, gerar em seu ventre o Filho de Deus. Deus quis preparar para seu Filho mãe que fosse digna Dele. Essa é a fé da Igreja, conforme ressaltou o Arcebispo, e Maria recebe esse privilégio graças a seu Filho salvador. A Virgem Maria, portanto, está na Igreja como sinal daquilo que Deus primeiramente quis da humanidade. E, Luciney Martins/O SÃO PAULO
Bruno Melo
a partir desse sonho de Deus, Maria é tudo aquilo que cada pessoa é chamada a ser. Nossa Senhora é imagem da Igreja redimida. Dom Odilo exortou os seminaristas a olharem sempre para Maria Imaculada como exemplo de serviço aos irmãos, haja vista que a missão do padre é ajudar o povo de Deus na caminhada rumo à salvação. Assim como Maria, que cada sacerdote possa responder em seu coração “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Por fim, Dom Odilo falou sobre São José, por ocasião da conclusão do ano
Comissão Arquidiocesana de Liturgia se reúne na Catedral da Sé Ruy Halasz
ESPECIAL PARA o são paulo’
Na sexta-feira, 10, na Catedral da Sé, cerca de 60 crianças e adolescentes de dois centros educacionais mantidos pelo Bompar e assistidos pela Pastoral do Menor participaram da 1ª edição do evento “Descobrindo a Catedral”. Por meio de intervenções teatrais, dois atores apresentaram os espaços da Catedral, como os animais esculpidos nas colunas, a pia Batismal, os vitrais, a nave da Igreja, o espaço do coro e áreas como a sacada superior frontal. Os participantes também visitaram a cripta, conheceram a história do Marco Zero da cidade e assistiram a uma palestra sobre o uso consciente da água. Leia a notícia completa no link a seguir: https://cutt.ly/0YXs0Rl.
dedicado ao Santo. José também foi chamado a ingressar de forma ativa no mistério maravilhoso da Encarnação do Filho de Deus. Assim como Maria, São José igualmente se dispôs a realizar a vontade divina: “São José, um homem de fé, um homem fiel, discreto. Um homem do ‘sim’, atento à vontade de Deus. São José, como diz o Papa Francisco, é o ‘provedor discreto da Igreja’, aquele que acompanha e cuida da Igreja, como fez no lar de Nazaré”, disse dom Odilo, ao recomendar que todos continuem a invocar São José em suas orações.
A Comissão Arquidiocesana de Liturgia (CAL) se reuniu de forma presencial, na quinta-feira, 9, na Catedral da Sé, sob a coordenação de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Referencial para a Liturgia, e do Padre Helmo Cesar Faciolli, Assistente Eclesiástico para a Liturgia Arquidiocesana. Após a acolhida do Bispo e do Assistente Eclesiástico, o Maestro Delphim Porto conduziu a oração da Hora Média, seguida do estudo em que no Ofício da oração da tarde, o cântico do Magnificat é adornado com as maravilhosas compo-
sições conhecidas como as “Antífonas do Ó”, explanado pelo Padre Helmo e sintetizado do livro “Do Advento à Epifania”, de autoria de Vincent Ryan, da Ordem de São Bento. Na pauta, os assuntos de destaque foram as quatro formações litúrgicas para 2022, marcadas para 12 de fevereiro, 28 de maio, 13 de agosto e 5 de novembro; e a aprovação das propostas da CAL para o próximo ano: presença de representantes da comissão em encontros do clero regional, consolidação das Equipes Regionais de Liturgia, a participação efetiva e contínua dos leigos em formações arquidiocesanas. A próxima reunião da CAL será em 3 de fevereiro de 2022.
4 | Ponto de Vista | 15 a 20 de dezembro de 2021 |
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Editorial
Nasce uma comunidade missionária na cidade
N
o domingo, 12, data em que a Igreja festeja Nossa Senhora de Guadalupe, o Cardeal Odilo Pedro Scherer abençoou o terreno onde será construída uma nova igreja na Arquidiocese de São Paulo, no bairro Chácara Klabin. Esse templo será dedicado justamente ao título da Virgem Maria que apareceu ao indígena São Juan Diego, no México, em 1531. O sonho de ter uma igreja nesse bairro relativamente novo e predominantemente residencial da capital paulista é alimentado há muitos anos pelo Arcebispo e pelos moradores, que têm de se deslocar para paróquias em bairros vizinhos para celebrar a fé. Após a união de esforços, foi constituído um fundo por meio do qual se adquiriu um pequeno terreno entre dois edifícios. No entanto, não basta
construir um templo para haver uma paróquia. É preciso que essa seja, de fato, a “casa” de uma comunidade que se reúne em nome do Senhor, pois essa é, efetivamente, a Igreja, corpo místico de Jesus Cristo. A “casa” é a imagem bíblica escolhida pelo episcopado brasileiro para as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), no quadriênio 2019-2023. Inspiradas no Documento de Aparecida e na exortação apostólica Evangelii gaudium, do Papa Francisco, essas diretrizes têm como objetivo: “Evangelizar no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias”. Essa nova comunidade missionária da Chácara Klabin é chamada a viver experiência semelhante à dos pri-
A fé exige confiante entrega
toda criatura” (Mc 16,15). Contudo, a ação missionária não tem como destino apenas terras distantes. Dentro de uma metrópole como São Paulo, há muitos campos de missão, tanto nas periferias geográficas quanto nas existenciais, sobre as quais tanto fala o Papa Francisco. Será a partir de dentro que os católicos vão anunciar o Evangelho como os primeiros discípulos missionários nas casas e apartamentos dos cerca de 300 condomínios desse bairro, estabelecendo os vínculos de pertença e solidificando as raízes dessa pequena porção do povo de Deus. Enquanto isso, a nova comunidade missionária contará com a ajuda e a comunhão das paróquias vizinhas até que tenha condições de caminhar com autonomia e se torne uma nova paróquia.
Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte
Paulo Henrique Cremoneze Confesso que levei algum tempo para entender essas palavras de Jesus: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mt 19,14). Acredito ter entendido alguns anos atrás, quando conversava com um monge trapista na Abadia Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente (PR). Perto da portaria, uma criança dormia tranquilamente no colo da mãe. Um sono leve, que transmitia paz. O monge, com mais de 50 anos de sacerdócio e de vida monástica, disse-me: “Paulo, eu gostaria de me entregar a Deus com a mesma confiança que aquela criança se entrega à sua mãe”. Aquelas palavras atingiram meu coração como flecha em brasa e imediatamente me remeteram às do Evangelho de Mateus. A confiança é o diadema da fé. Falamos o tempo todo que confiamos em Deus, mas a triste verdade é que confiamos com alguma desconfiança e nos valemos demais dos meios do mundo. Temos fé, mas nem tanto. Confiamos, mas não plenamente. Resultado? Nós não nos entregamos e por isso não nos convertemos integralmente. A criança se entrega aos seus pais plena e incondicionalmente. Depende deles. Dorme em seus braços e se põe à mercê dos seus cuidados. Não fez isso o próprio Senhor ao se deixar cuidar por Maria e José? Esquecesse Maria de amamentá-lo ou deixasse José de protegê-lo
meiros cristãos, que se reuniam nas casas (domus ecclesiae), para celebrar a fé e anunciar Jesus Cristo. Com o passar do tempo e o desenvolvimento das cidades, essas comunidades cresceram e passaram das casas para lugares de referência onde se reuniam as famílias, nascendo, assim, as paróquias, comunidades de comunidades, famílias de famílias, que, como ressaltam as DGAE, fundamentam-se em quatro pilares: a Palavra – iniciação cristã e animação bíblica da pastoral; o pão – Eucaristia e liturgia; a caridade e a ação missionária. Experiência semelhante será vivida pela recém-criada Comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe. A missão é sempre a mesma dada por Jesus Cristo à Igreja: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a
e o plano da Salvação teria tomado outro rumo. Deus se fez homem e veio ao mundo como um neném indefeso, entregando-se aos cuidados de mãe e pai. O próprio Deus nos mostrou a dinâmica da entrega, mas infelizmente dela descuidamos por nossa obstinação pela própria vontade. A criança – salvo em casos muito acidentais e tristemente extraordinários – confia em seus pais, entrega-se, repousa tranquilamente com a cabeça encostada, curvada. Isso é exemplo de entrega absoluta e é isso, ouso pensar, que o Senhor quer de nós a entrega confiante, plena, incondicional, que
as crianças conseguem e, nós, não. Sim, as crianças nos ensinam como ter e viver a fé. Sabem quem também pode nos ajudar a entender melhor essa entrega confiante? Os cachorrinhos. Aqueles que a mulher suplicante lembrou ao Senhor: “Até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos” (Mt 15, 21-28). Não sou veterinário nem pesquisador da vida animal. Sou apenas o dono atencioso de um cachorrinho e percebo como ele fica “triste”, se é que assim se pode dizer, quando saio de casa e “alegre”, “eufórico”, quando chego. O tempo de separação pode ser
curto ou longo. A reação será sempre a mesma: rabinho abanando euforicamente, latidos, pulos, lambidas. Tristeza na separação. Alegria incontida no reencontro. Quisera eu assim me comportar diante de Deus. Quisera eu me contentar com as migalhas que caem da mesa do meu Senhor, entristecer-me profundamente nos momentos de distanciamento e me alegrar a ponto de cantar, dançar, vibrar, de converter pranto em dança – como fez o grande rei Davi –, a cada reencontro. Longe de mim o erro do mundo pós-moderno de confundir respeito e amor pelos animais, partes da Obra da Criação, com idolatria e ato de contracultura. O que pretendo aqui é mostrar que o comportamento dos cachorrinhos deve nos fazer refletir sobre o nosso próprio, naquilo que interessa: a fidelidade ao dono. Crianças que confiam plenamente em seus pais e cachorrinhos que se entregam aos cuidados dos seus donos são exemplos absolutamente simples, muito visíveis, metafóricos e paradoxalmente concretos, de como nós, adultos, homens e mulheres de razão, devemos nos relacionar com Deus. Quem não se entrega tranquilamente ao sono profundo, confiante, no colo do Senhor, não tem a alegria de um despertar aos primeiros raios do sol da verdade e da esperança. Dormirá sempre com algum receio e não despertará com aquela alegria absoluta, a que subsiste mesmo em meio à dor. Paulo Henrique Cremoneze é advogado, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos (SP), e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.
Pascom Lapa
| 15 a 20 de dezembro de 2021 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5
LAPA
Paróquias realizam conjuntamente ação social de Natal Benigno Naveira
COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
Na noite de quinta-feira, 9, a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, Setor Leopoldina; Paróquia São Francisco de Assis, Setor Butantã; Comunidade São Joaquim e Santa Ana da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Leopoldina; e Caritas Núcleo Lapa realizzaram a “Ação Social de Natal dos moradores em situação de rua da Vila Leopoldina”. O evento aconteceu na rua Avelino Chaves. Agentes voluntários ofertaram a essas pessoas, gratuitamente, corte de cabelo, barba e banho na “Carretinha do Banho”, onde puderam descartar suas roupas usadas e receber roupas limpas e sapatos. Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, fez a oração inicial e refletiu a respeito de que a Igreja sempre está ao lado dos mais pobres e dos mais necessitados. Ele lembrou que aquele ato é um exemplo de solidariedade, cidadania e amor
ao próximo. Em seguida, foram distribuídas mais de 250 refeições. Também participaram das atividades o Padre Edilberto Alves da Costa, Pároco da Paróquia São Francisco de Assis; Frei Marcus Vinicius Dorrigo Leite, OAR, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes; Padre Antonio Francisco Ribeiro, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Comunicação da Região Lapa; Diácono Antônio Geraldo de Souza, Coordenador da Caritas Núcleo Lapa; e Mônica Picco, também da Caritas Núcleo Lapa; além de Eduardo Fiora, jornalista e editor do Observatório Leopoldina. Em conversa com a Pastoral da Comunicação Regional, Padre Edilberto Alves lembrou que os participantes puderam ter um momento de atenção, de carinho e ouvir uma palavra amiga. Em situação de rua há 15 anos, Bruno Avelino de Lima revelou seu entusiasmo, alegria e gratidão pela iniciativa que permitiu o encontro com outros moradores, festejando o Natal. Arquivo paroquial
[LAPA] Na noite de domingo, 12, na Paróquia São Patrício, Setor Rio Pequeno, 26 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão receberam e renovaram seus mandatos pelos próximos dois anos, em missa presidida por Dom José Benedito Cardoso. Concelebrou o Padre Ernandes Alves da Silva Junior, Pároco, assistido pelo Diácono Paulo José Oliveira. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa lembrou o compromisso dos ministros extraordinários com o Pároco e os membros da comunidade, principalmente em relação aos enfermos. (por Pascom paroquial)
Pascom paroquial
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[BELÉM] Na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, no dia 8, na Paróquia São José do Maranhão, no Tatuapé, o Padre Arlindo Teles, Pároco, presidiu a Eucaristia, na data em que também se concluiu o Ano de São José. Antes da celebração, foram rezados o Ofício da Imaculada Conceição e o Terço de São José, seguido de sua ladainha, louvando a Imaculada Mãe de Deus e São José. No final da missa, foi rezada a Oração de São José e apagada a lamparina que fora acesa pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, por ocasião do Ano de São José. (por Fernando Arthur) [SÉ] No sábado, 11, em missa no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Sumaré, 22 crianças receberam a primeira Eucaristia, durante missa presidida pelo Pároco, Frei Jair Roberto Pasquale, TOR. Eles iniciaram a Catequese em 2020 e, em razão da pandemia de COVID-19, realizaram a maior parte do processo de preparação para este sacramento por meio de encontros on-line. (com informações de Walter Capello Júnior)
[SÉ] Na Paróquia Imaculada Conceição, Setor Cerqueira César, em 28 de novembro, em missa presidida pelo Pároco, Frei Nilton Cesar Groppo, OFMCap, foi conferido o sacramento da primeira Eucaristia a 23 crianças do Colégio Santa Catarina de Sena, que fica no território paroquial. (por Pascom Paroquial)
Espiritualidade Abra-se a terra e brote o Salvador Dom José Benedito Cardoso
BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO LAPA
A
cada dia que passa, nós nos aproximamos da celebração do nascimento do Menino Deus. O profeta Isaías remete-nos a esse acontecimento dizendo: “Ó céus, deixai cair o orvalho, nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador”. Já o profeta Miqueias define Belém como chão onde nascerá o Salvador e faz acenos de que Ele será como um pastor que “apascentará com a força do Senhor e os homens viverão em paz”. Entretanto, esse mesmo profeta, antes dessa bela profecia, teceu duras críticas aos governantes da época: “Vocês são
gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão”. Palavras fortes, mas ainda muito atuais. E, para que céus e terra se unam para brotar o Salvador, Deus vai contar com a participação de duas mulheres, uma virgem e a outra estéril, ambas grávidas de modo “impossível”. Primeiramente Maria, que sai apressadamente da pequena Nazaré passando por lugares montanhosos até chegar à casa de sua prima, Isabel. Ela se reveste dos traços sublimes do mensageiro de Isaías, que diz: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que leva boas novas a Sião”, e também do perfume do amor novo do Cântico dos Cânticos, que afirma: “A voz do meu amado, ei-lo que vem correndo sobre os montes”. Maria não se dirige ao templo nem ao sacerdote. Os homens do seu tempo estavam preocupados com outras coisas e teriam dificuldades em compreender o que estava acontecendo.
Numa aldeia na região da Judeia, Isabel acolhe a mãe do Salvador num clima festivo que contagia até os meninos que estão no útero de suas mães. Com Maria, o sinal divino é alegria; com Isabel, o sinal é afeto, acolhida, abraços. Duas mulheres simples que gestaram o Salvador e o Precursor oferecendo suas vidas para a salvação da humanidade. “Toda história da esperança humana, a humanidade inteira se condensa em duas mulheres” (Padre Adroaldo). Em Belém, periferia da grande Jerusalém, logo que nasceu, o Menino Deus foi enrolado em faixas e colocado numa manjedoura, coisa de mãe e de pai, Maria e José. Na morte, o corpo é enrolado em faixas e colocado em um túmulo novo, gesto de outro José, o de Arimateia. Os corpos, a vida, as pessoas precisam de cuidados o tempo todo: colocar faixas para proteger, retirar faixas para libertar. O Menino não ficará enfaixado, não permanecerá em Belém, começará a caminhar, viverá dias de estrangeiro no exílio, como peregrino que não tem
onde reclinar a cabeça, como leproso precisando viver fora da cidade. Ele caminhará assim e não poderá caminhar sozinho. Sejamos nós, cada um de nós, o seu companheiro, a sua companheira. Volte para sua comunidade, recomece sua atividade pastoral, seja corajoso(a), volte melhor do que estava antes. Jesus o(a) espera como criança, estrangeiro, peregrino, morador de rua, enfermo, encarcerado, faminto. Ele está no meio de nós. Por ora, o convite é para celebrar e viver o Natal. Não deixem que o Natal termine com a ressaca do dia 25 nem com as festividades da passagem do ano. Vivam intensamente estes dias festivos como se fosse um único dia, em tudo contemplando o gesto grandioso de um Deus que fez sua tenda entre nós. Que sejam dias felizes de celebrar a Eucaristia, para cantar hinos natalinos, para rezar em volta do presépio, para o convívio fraterno com os conhecidos e desconhecidos. Um santo Natal e um feliz Ano-Novo!
6 | Regiões Episcopais | 15 a 20 de dezembro de 2021 |
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Paróquia São José
BELÉM 9ª turma da Escola de Fé e Política conclui estudos Francisco Éder
COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO
[IPIRANGA] Por ocasião do encerramento do Ano de São José, a Região Episcopal Ipiranga organizou uma missa, no dia 7, na Paróquia São José, Setor Pastoral Ipiranga, presidida por Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ. Ele destacou que “o ano de São José ajudou muito a Igreja a compreender a importância da pessoa e a figura de São José na história da salvação, o seu lugar fundamental junto a Maria e na presença do redentor, seu filho Jesus Cristo”. (por Caroline Dupim) Rita Amaral
Os alunos da 9ª turma da Escola de Fé e Política Waldemar Rossi, da Região Episcopal Belém, concluíram seus estudos em 29 de novembro. Em razão da pandemia, todos os encontros foram on-line, tendo como base a metodologia do ver, julgar e agir. Foram trabalhados temas como Desigualdade Econômica em Tempos de Pandemia, Democracia Participativa, Relação Fé e Política, Economia Solidária, Encíclica Laudato si’, Poder
Legislativo e Judiciário. Acontecerão ainda rodas de conversas com os temas Economia de Francisco e Clara; Terra Teto e Trabalho; e Comunicação Não Violenta. Recordou-se também a perda do fundador da escola, Flávio Roberto de Castro, que faleceu em razão da COVID-19, em setembro. No encontro on-line de formatura, Dom Luiz Carlos Dias, nomeado Bispo de São Carlos (SP), exortou os alunos a continuarem no caminho da missão, e pediu que façam missões em suas realidades, assumindo a pauta da fé e política.
IPIRANGA Paróquia Santa Cristina realiza tríduo vocacional [SÉ] No dia 8, a Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, Setor Aclimação, começou a Campanha Solidária de Natal 2021, com a bênção da Árvore de Natal Solidária, pelo Padre Ricardo Cardoso Anacleto, Pároco. A Árvore possui cartões marcados com itens de higiene pessoal ou de produtos de limpeza. Para participar, basta retirar um cartão da árvore e, posteriormente, trazer o item mencionado no cartão, para ser doado à Casa de Acolhida aos Idosos, administrada pela Missão Belém e que atende idosos das ruas do centro da cidade. (por Rita Amaral) Arquivo paroquial
Caroline Dupim
COLABORADORA DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
A Paróquia Santa Cristina, Setor Pastoral Cursino, realizou um tríduo vocacional em preparação para as ordenações dos agora Diáconos Permanentes Nilson de Oliveira Amancio, Orlando Luciano da Silva, Pedro Ernesto dos Santos Júnior e Sidnei Roberto Piotto, ordenados no sábado, 11, na Catedral da Sé (leia mais na página 11). Celebraram missas no tríduo, en[LAPA] No dia 8, no terreno em que será construída a nova Paróquia São José (Rua Jurubim, 700, no Jardim Monte Alegre), Dom José Benedito Cardoso, presidiu missa por ocasião da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria e pelo encerramento do Ano de São José. (por Benigno Naveira)
[LAPA] A Pastoral Social da Paróquia Santo Alberto Magno, Setor Butantã, no sábado, 11, distribuiu presentes para 400 crianças e, para suas famílias, 400 cestas de Natal. Os trabalhos foram coordenados por Vera Lúcia Carvalho Pereira. (por Benigno Naveira) Felipe dos Santos Prado
[BRASILÂNDIA] Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu missas em tríduos de comunidades da Paróquia Santos Apóstolos, do Setor São José Operário. No dia 7, a Eucaristia foi na Comunidade Nossa Senhora da Conceição, cuja festa teve como tema “Com Maria e José juntos na manjedoura”. No dia 10, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia presidiu missa na Comunidade Santa Luzia, em que o tema da festa patronal foi “Com Santa Luzia, caminhamos na fé”. Concelebrou o Padre Jaime Izidoro, Pároco. (por Pascom Santos Apóstolos)
[BRASILÂNDIA] No 3º Domingo do Advento, 12, os fiéis da Paróquia Santo Antônio, na Vila Brasilândia, Setor Dom Paulo Evaristo, testemunharam a primeira Eucaristia de seis catequizandos da Catequese de Adultos, que se prepararam desde fevereiro para receber o sacramento. Ainda neste mês, eles serão crismados, durante a Solenidade da Sagrada Família de Jesus, Maria e José . (por Marcos Rubens)
[BRASILÂNDIA] No 3º Domingo do Advento, dia 12, a missa na Paróquia Nossa Senhora do Retiro, Setor Pereira Barreto, foi iniciada com o Padre Silvio Oliveira realizando o envio dos coroinhas que se tornaram acólitos, se prepararam durante seis meses e aprenderam sobre suas responsabilidades durante uma celebração. Na ocasião, houve a bênção das vestes. (por Natali Félix)
[SÉ] No dia 8, no Arsenal da Esperança, foi lançado o livro “Os desafios de uma pandemia – Histórias que ninguém conta”. O livro reúne mais de 60 textos com a perspectiva de quem viveu esse tempo de pandemia em situação de rua. Os textos são o resultado do Concurso Literário da Biblioteca do Arsenal, que em 2021 foi realizado com a colaboração da entidade judaica Mitzvah Day Brasil e virou um livro por iniciativa de Patrícia Strebinger e da fotógrafa Mônica Zanon. Interessados em adquirir o livro podem entrar em contato em (11) 2292-0977 ou em www.desafiosdeumapandemia.com.br. (por Arsenal da Esperança)
[BRASILÂNDIA] No sábado, 11, na Comunidade Santo Antônio da Paróquia São Luís de Monfort, Setor Jaraguá, aconteceu o Especial de Natal, preparado pelos Jovens Sarados da Missão Taipas, com o tema “Jesus, o nosso Rei, nasceu para nos salvar”. Os jovens, em um teatro cantado, reviveram a anunciação do anjo Gabriel à Virgem Maria, a visita à Santa Isabel e o nascimento de Jesus Cristo. O evento contou com a presença do Padre Daniel Nogueira de Assis, Vigário Paroquial. (por Patricia Beatriz Lopes)
tre os dias 8 e 10, os Padres Rodrigo Pires Vilela da Silva e Palmiro Carlos Paes, e Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, que na ocasião deu a bênção às famílias dos diáconos permanentes. Após ter sido ordenado, o Diácono Orlando Luciano da Silva foi apresentado nas missas da Paróquia Santa Cristina, no domingo, 12. Ele também é funcionário da Cúria Regional do Ipiranga, no departamento financeiro. Arquivo paroquial
[IPIRANGA] Em missa na Paróquia Santa Edwiges, Setor Anchieta, no domingo, 12, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, conferiu o sacramento da Crisma a 16 pessoas. (por Caroline Dupim) [LAPA] No dia 5, na Paróquia Santa Mônica, Setor Pirituba, após a celebração Eucarística, às 9h30, presidida pelo Padre Flavio Heliton da Silva, Pároco, aconteceu a inauguração do Presépio de Natal 2021. Na ocasião, o Sacerdote anunciou a realização do primeiro concurso de presépios da comunidade, incentivando as famílias a montarem seus presépios natalinos, sendo que os melhores receberão um troféu. (por Marcos Grego)
[SANTANA] No sábado, 11, Dom Jorge Pierozan presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, Setor Vila Maria. Concelebrou o Padre Efigênio Rodrigues da Rocha, Administrador Paroquial. (por Fernando Fernandes)
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BRASILÂNDIA
Fé e Cidadania O juiz mártir da justiça e da fé
Dom Carlos Silva preside missa no Hospital Municipal de Pirituba Marcos Rubens
Marcos Rubens
COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO
Na quinta-feira, 9, Dom Carlos Silva, OFMCap, presidiu a Eucaristia nas dependências do Hospital Municipal Doutor José Soares Hungria, em Pirituba. A missa foi organizada pela Pastoral da Saúde local, tendo como concelebrante Padre Francisco Rangel, Coordenador do Setor Pereira Barreto. Também participaram ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e o Coral Magia, da Paróquia Nossa Senhora do Retiro. Na homilia, Dom Carlos reforçou a mensagem da primeira leitura: “‘Não temas; eu te ajudarei. Não tenhas medo, Jacó, pobre verme, não temais, homens de Israel. Eu vos ajudarei’, diz o Senhor e Salvador, o Santo de Israel. Devido ao momento que vivemos da pandemia, o compromisso com os doentes da Pastoral da Saúde, devemos colocar a fé acima de tudo, como o Profeta Isaías bem alertou para nós, neste tempo do Advento em preparação para a vinda do Salvador, como menino Deus no Natal”. Segundo Ana Francisca, coordenadora de Pastoral da Saúde nas visitas ao hospital, participaram da Santa Missa aproximadamente 60 pessoas entre agentes de Pastoral,
voluntários, funcionários, médicos e outros profissionais da Saúde, a atual diretora do Departamento Técnico, doutora Sandra Seixas Lins; a supervisora do Voluntariado Visitas Religiosas - Humanização, Marli Felix de Souza, e a ex-diretora, doutora Vera Lúcia Gomes.
Comportamento A moda do contrato de namoro Crisleine Yamaji O namoro sempre foi socialmente considerado uma etapa transitória da vida para se conhecer o outro, uma fase pautada na temperança, na moderação, no respeito à intimidade pessoal, na modéstia e na paciência. A seu respeito, a doutrina cristã sempre orientou que toda e qualquer relação entre um homem e uma mulher deva se construir aos poucos, para dar espaço à paulatina compreensão de vícios e virtudes, até haver condições para o estabelecimento de um compromisso em caráter definitivo. Nosso atual modo apressado de viver e inúmeras pressões sociais parecem levar o namoro, cada vez mais, para outros caminhos. Diversos casais passaram a adotar o contrato de namoro, uma estranha concepção da liberdade do casal. A liberdade pautada em um contrato regula as relações entre os amantes, para colocar freios e esclarecimentos especialmente nas relações patrimoniais. O instrumento jurídico toma o lugar da intimidade. Se o pular etapas virou algo comum e a permissividade dos costumes levou a facilitar demais as coisas, rumo ao reconhecimento civil de uma união estável quando não se quer casar, mas se equipara a entidade familiar ao casamento para fins de proteção, as pessoas passam a buscar a segurança jurídica e o freio dos excessos dessa liberdade e permissividade dos costumes nas cláusulas jurídicas. Tantas vezes, excessos de demons-
tração pública passam a impressão diversa daquela que o próprio casal gostaria de passar. Embora ainda ausente à maturidade necessária para levar o casal a um relacionamento mais duradouro, estabelece-se uma corrida para antecipar resultados íntimos e estabelecer uma habitação comum, com grandes preocupações em relação a bens, direitos e pretensões das partes. Passa a imperar uma nova forma de prudência, a regrar restritivamente a etapa da relação transitória do casal. No contrato de namoro, prevê-se o reconhecimento de que nada é tão estável nessa união quanto possa parecer a público. Esse contrato de namoro vem sendo reconhecido como válido e eficaz pela literatura jurídica e pela jurisprudência por se pautar em questões disponíveis e focar em proteger, especialmente, aspectos patrimoniais, com incomunicabilidade de bens e impossibilidade de sua partilha, limitações a proteções legais da união estável, tais quais os alimentos, devido ao reconhecimento expresso pelas partes de ausência de seus elementos para equiparação da situação de fato à união estável, com consequente aplicação de efeitos civis do casamento. Vale notar que o contrato de namoro em nada se confunde com um pacto antenupcial, no qual se preveem promessas antes do casamento e se trata de variação no regime de bens padrão da comunhão parcial ou o próprio contrato de união estável, equiparável, para todos os efeitos ci-
vis, ao casamento e no qual também se preveem especialmente a separação de bens na relação patrimonial. O namoro e seu contrato, portanto, na forma como propostas nos dias de hoje, em nada se assemelham a uma preparação para uma união duradoura. Apenas refletem uma situação descompromissada e existente como tal e reafirmem, por meio de uma disciplina jurídica, que nada é tão sério a ponto de afetar a lógica patrimonial do “o que é seu é seu, o que é meu é meu”. Práticas jurídicas são produtos de uma cultura e de seus desvirtuamentos. Pode-se ter no contrato de namoro a evidência das vicissitudes atuais pelas quais passam os relacionamentos. O jurídico prevalece à construção confiante e moderada de uma relação amorosa; atribui-se à disciplina jurídica a solução para a tranquilidade do casal. Proclama-se em letras expressas a insuficiência da intimidade para a construção estável de uma entidade familiar, por medo, desconfiança, pouca concórdia e constatação de que tudo foi rápido demais. Por tudo exposto, conclui-se fundamental focar menos o aspecto jurídico-patrimonial e dar mais tempo ao tempo para o amadurecimento do relacionamento, para o conhecimento um do outro e para o fortalecimento do bem-querer, elementos essenciais para se lograr a constituição efetiva de um núcleo familiar. Crisleine Yamaji é advogada, doutora em Direito Civil e professora de Direito Privado. E-mail: direitosedeveresosaopaulo@gmail.com
Padre Denilson Geraldo, SAC Em 9 de maio de 2021, na Catedral de Agrigento, na Itália, a Igreja proclamou beato o juiz Rosario Livatino como “mártir pelo ódio à fé”. O juiz recebeu a toga com apenas 26 anos de idade, em 18 de julho de 1978, e nesse dia escreveu em sua agenda: “Que Deus me acompanhe e me ajude a respeitar o juramento (para receber a toga de juiz) e comportar-me conforme a educação que os meus pais me transmitiram”. Ele conservava sobre sua escrivaninha os códigos da legislação italiana, o Evangelho e o Terço. O juiz Rosario Livatino, em 21 de setembro de 1990, foi assassinado enquanto dirigia o seu carro no caminho para o Tribunal de Canicatti, na Itália. Dois homens fizeram sete disparos, foram presos e um deles, Gaetano Puzzangaro, arrependeu-se do crime e testemunhou na causa de beatificação do magistrado. Segundo Puzzangaro, o juiz disse antes de morrer: “Jovens, que vos fiz eu?”. Na realidade, não foram palavras de ódio, mas um convite à conversão, semelhante àquelas palavras da liturgia da Sexta-feira Santa: “Povo meu, que te fiz eu?”. O Papa João Paulo II, após um encontro com os pais do Magistrado, em 9 de maio de 1993, definiu o filho deles como “mártir pela justiça”, e o Papa Francisco, no mesmo dia da beatificação, durante a oração do meiodia no domingo, chamada oração do Regina Coeli, disse: “Mártir da justiça e da fé. No seu serviço à comunidade como juiz íntegro, que nunca se deixou corromper (...) sempre se colocou sob a proteção de Deus; por esta razão tornou-se testemunha do Evangelho até a morte heroica”. Os testemunhos sobre sua atuação como juiz são convergentes em afirmar o grande respeito que havia pelo ser humano. Quando tinha uma audiência com um criminoso, ele se levantava e o cumprimentava. Foi visto rezando ao lado do cadáver de um chefe da máfia no necrotério. Dizia-se que ele era irredutível e não cedia à corrupção porque era um católico praticante. Em sua atuação como juiz, o Beato Livatino confiscou bens de mafiosos, descobriu o organograma da máfia e sua ligação com empresas e políticos locais e nacionais. Sabia do risco para sua vida deste enfrentamento e rezava com essas palavras: “Que o Senhor me proteja e evite qualquer coisa má aos meus pais”. Ele vivia com os pais e, constantemente, escrevia três letras iniciais de uma frase latina em todas as suas agendas: STD (Sub Tutela Dei), Sob a tutela de Deus. O juiz Rosario Livatino foi um mártir da justiça e da fé porque os seus perseguidores odiavam a Cristo, explicitamente reconhecido e desprezado na incorruptível conduta do juiz que era chamado de santo. A vida do juiz foi o Evangelho vivo, não foi um discurso e nos mostra que o Espírito Santo atua nos corações e dá a virtude da fortaleza para resistir ao mal e fazer o bem. Padre Denilson Geraldo, SAC, é doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, graduado em Filosofia e Teologia. É sacerdote da Sociedade do Apostolado Católico (Palotinos), membro do Conselho Geral dos Padres e Irmãos Palotinos e presidente da Comissão Jurídica Internacional; diretor do Istituto Pallotti di Roma.
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SÉ Em missa, ECC regional conclui atividades do ano de 2021 CENTRO PASTORAL DA REGIÃO SÉ Em missa na noite da sexta-feira, 10, na Paróquia Santíssimo Sacramento, Setor Paraíso, o Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Região Episcopal Sé concluiu suas atividades em 2021 com a tradicional “entrega de pastas” dos dirigentes que encerram seus mandatos neste ano para os casais que assumem tais funções. Na Região Sé, são dez as paróquias que contam com este serviço-escola. Há 51 anos o ECC está presente em todos os estados do Brasil e até no exterior. A missa foi presidida por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Ar-
quidiocese na Região Sé e Referencial da Pastoral da Família e ECC. Concelebraram o Padre Aparecido Silva, Pároco; Padre Norberto Donizetti Brocado e o Frei Wilson Batista Simão, OFM. Na homilia, Dom Carlos, aproveitando o dia de Nossa Senhora de Loreto, exortou os casais a se inspirarem na Sagrada Família, que, mesmo diante das dificuldades, fez de seu santo lar um lugar de amor, paciência e oração. Por fim, o novo casal diocesano, Cassiano e Norma Pesce, chamou a todos para a retomada corajosa à missão para o ano próximo, sempre seguindo o lema do ECC: “Cremos na vida, cremos na família”.
Paula Lima
(Com informações de Ana Cristina Paula Lima)
Pascom paroquial
Robson Francisco
[SANTANA] Na sexta-feira, 10, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar na Região Episcopal Santana, presidiu missa por ocasião da festa da padroeira da Paróquia Nossa Senhora de Loreto. Concelebrou o Padre Mauro Negro, Pároco, assistidos pelos Diáconos Felipe Ribeiro Neto, Mario Rodrigues e Edson Breda. (por Robson Francisco) Fernando Arthur
[SÉ] No dia 8, na Paróquia São Gabriel Arcanjo, no Jardim Paulista, Setor Jardins, foram crismados jovens durante missa presidida pelo Cônego Sérgio Conrado, Pároco. (por Pascom Paroquial) Imaculada Conceição
[SÉ] A Solenidade da Imaculada Conceição foi celebrada às 12h do dia 8 na Paróquia Imaculada Conceição, Setor Cerqueira César, com missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia. Concelebrou o Pároco, Frei Nilton Cesar Groppo, OFMCap. (por Pascom paroquial) Pascom da Área Pastoral
[BELÉM] No dia 7, na Paróquia São José do Belém, os 15 alunos do Curso Livre de Teologia para Leigos “Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida” participaram da missa em ação de graças pela conclusão da atividade. A Eucaristia foi presidida pelo Padre Marcelo Maróstica, Pároco e Coordenador Regional de Pastoral, e concelebrada pelos Padres Thiago Faccini, Vigário Paroquial e Coordenador do Curso; e Christian Uptmoor, Coordenador do Setor Belém. Na homilia, Padre Marcelo exortou os formandos a serem rosto misericordioso de Deus e irem ao encontro das pessoas. Também lembrou que o teólogo deve ter espírito missionário. Ao final da missa, Padre Thiago cumprimentou os formandos pela perseverança, mesmo em meio à pandemia e ressaltou a importância do estudo teológico na vida do cristão. (por Fernando Arthur) Fernando Fernandes
[BRASILÂNDIA] Representantes da Área Pastoral Nossa Senhora e Sant’Ana, Setor São José Operário, realizaram na quinta-feira, 9, uma reunião pastoral com a presença de Dom Carlos Silva, OFMCap. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia apresentou a proposta de continuidade da Área Pastoral por mais dois anos, com empossamento do próximo padre administrador pastoral em fevereiro de 2022. Padre José Braghetto, atual Administrador Pastoral, indicou a necessidade de se fazer levantamento real sobre a realidade geográfica e populacional da região abrangida pela área pastoral. (por Padre Domingos Braghetto)
[SANTANA] Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu missa no domingo, 12, na Capela São José, pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, Setor Vila Maria. A celebração ocorreu por ocasião dos 25 anos da primeira missa no atual local da capela e pelo encerramento do Ano de São José. Concelebrou o Administrador Paroquial, Padre Edson José Sacramento, CSSP. (por Fernando Fernandes)
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‘A paróquia é o povo de Deus’, diz Dom Odilo nos 75 anos de igreja na zona Leste Facebook Santa Marina Cej
Jubileu de brilhante da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina foi comemorado entre os dias 5 e 8 Daniel Gomes
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Na Vila Carrão, no cruzamento da Avenida Guilherme Giorgi com a Rua Engenheiro Pegado, está localizada a matriz da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina, onde, entre os dias 5 e 8, a comunidade de fiéis rendeu graças a Deus pelos 75 anos de criação da Paróquia. A comemoração do jubileu de brilhante, com o tema “Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era bom” (Gn 1,31), se deu com intensa participação dos paroquianos, e a organização das missas teve o envolvimento dos membros das Pastorais do Batismo, Catequese e Apostolado da Oração, dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e de movimentos como o Encontro de Casais com Cristo (ECC), Renovação Carismática Católica (RCC), Vicentinos, Sopão da Misericórdia, Mãe Peregrina e Legião de Maria, além da Comunidade Nossa Senhora de Fátima e do grupo de jovens, confirmando o testemunho de fé dos católicos do bairro. Conforme apuração do O SÃO PAULO junto ao Arquivo Metropolitano, em 1926 os católicos na Vila Carrão adquiriram um terreno onde ergueram uma pequena capelinha dedicada a Santa Marina. Em 1929, receberam a doação de uma imagem da Santa e nos anos seguintes se empenharam para a construção de uma capela definitiva, que em 8 de dezembro de 1946 foi erigida Paróquia. O templo foi ampliado ao longo das décadas. Ao presidir a missa do 3º dia do tríduo festivo, no dia 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer disse que neste jubileu é oportuno recordar a história da Paróquia e relembrar todos os que ali trabalharam. A missa teve entre os concelebrantes o
Cardeal Odilo Pedro Scherer com paroquianos e clérigos após missa na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina, no dia 7
Pároco, Padre Marcos Roberto Souza Oliveira, SAC, e o Vigário Paroquial, Padre Emerson José da Silva, SAC, assistidos pelo Diácono João Bottura.
Uma comunidade de fé
O Arcebispo Metropolitano lembrou que mais do que o templo, a Paróquia deve ser entendida como o conjunto do povo de Deus que dela participa. “A Paróquia, de fato, é a comunidade de fé, a comunidade dos discípulos de Cristo aqui no bairro, que receberam este encargo de Jesus: ‘Vocês são minhas testemunhas’. Aqui, na Vila Carrão, vocês são a Igreja e têm a missão de ser o sinal de que Deus está no meio de nós; sinal de Jesus Cristo que está onde dois ou mais estão unidos em nome Dele; sinal do Evangelho que se proclama e se vive. A paróquia é o povo de Deus que aqui está, por isso, ela não morre enquanto tem povo, pois é ele que vive a fé, a transmite e a proclama, e testemunha a caridade por meio das boas obras”, explicou. Dom Odilo exortou que cada fiel renove a disposição em ser parte da Igreja viva e atuante, “uma Igreja participativa, de batizados e discípulos, não só enquanto estão aqui no templo, mas nas muitas maneiras de expressar a missão da Igreja na família, no trabalho, no ambiente cultural e nas responsabilidades públicas”.
Inspirados em Jesus e em Santa Marina
O Cardeal Scherer também motivou que os paroquianos se inspirassem no exemplo de Santa Marina, que, “mesmo em meio a sacrifícios e renúncias, testemunhou sua fé com muita coragem”; e no Coração Eucarístico de Jesus, “que se entrega por nós na Eucaristia, para que tenhamos vida”. Ao longo do jubileu, foi recordada a história de Santa Marina. Ela viveu no século VI, no Líbano, e se disfarçou de homem, adotando o nome de “Marino”, para poder ingressar na vida monástica com seu pai, Eugênio. Acusado de ter engravidado uma jovem em uma hospedaria, “Marino” foi expulso do mosteiro, cuidou da criança, e anos depois foi readmitido, sob a condição de que realizasse como penitência os serviços mais pesados e humilhantes que havia. Com a saúde frágil e já desgastado, faleceu tempos depois, quando, então, os monges descobriram que “Marino” era na verdade “Marina”.
Testemunhar a bondade de Deus
Em uma paróquia dedicada ao Coração Eucarístico de Jesus, a prática da oração é uma constante, seja no próprio templo, seja nas casas dos paroquianos com a reza do Terço, novenas, como a que ocorre nesta época do Natal, além da missa da
família, realizada sempre na última quinta-feira de cada mês, quando também há a adoração ao Santíssimo Sacramento. No dia 8, os fiéis puderam participar do Ofício da Imaculada Conceição, da Hora Santa Eucarística e do Terço a São José, uma vez que naquela data foram celebrados em toda a Igreja a Solenidade da Imaculada Conceição e o encerramento do Ano de São José. Na ocasião, assim como ocorrera no tríduo, os fiéis foram motivados ao gesto concreto de caridade com a doação de alimentos não perecíveis e itens de limpeza que serão destinados a famílias carentes. A missa solene dos 75 anos foi presidida pelo Padre Marcos Roberto. Na homilia, ele expressou gratidão aos padres e leigos que já passaram pela Paróquia e a todos os que hoje mantêm as atividades da igreja: “Aos que já estão na glória de Deus, obrigado por tudo que fizeram. A vocês, leigos e leigas, que carregam a marca desta Paróquia, obrigado pelo sim, pela doação. Ser Igreja é isso: juntos – clérigos e leigos – vamos formando o povo de Deus”. O Pároco comentou, também, que celebrar o jubileu “é oportunidade de ficarmos com o essencial, de acolher a libertação de Deus e de proclamar ao mundo a misericórdia do Senhor”, afirmou, pedindo ainda que os fiéis foquem o olhar não nas tristezas e desilusões já vividas, mas na esperança que vem do Cristo.
Você Pergunta A Igreja não deveria proibir cenas de casamento em novelas? PADRE CIDO PEREIRA
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Juraci, de Guarulhos (SP), envia a seguinte pergunta: “Por que a Igreja não proíbe as novelas de fazerem cenas de casamento?”. A resposta é muito simples, Juraci. Embora possamos criticar a visão muitas vezes distante da moral cristã, outras vezes pro-
fundamente desrespeitosas à dignidade da família, as novelas veem o casamento na Igreja com uma certa seriedade. Por isso, o casamento na Igreja acontece em muitas novelas para afirmar o amor de um casal. E, como nas novelas gestos e palavras da celebração católica do Matrimônio são mostrados, eu não vejo grandes problemas porque quem assiste a novelas sabe que ali está sendo encenado um ca-
samento e não se trata de um verdadeiro Matrimônio, mas apenas o uso de ritual para se contar uma história. Eu entendo também, Juraci, que o que precisamos ter é uma chave de leitura que nos ajude a “ler” as novelas como novelas e não como realidade. Além disso, Juraci, a censura à imprensa e aos espetáculos não faz bem ao País. Já vivemos isso nos tempos da dita-
dura, e a Igreja foi vítima de tentativas do uso da “mordaça”. Cabe a nós, cristãos, repito, aprender a ler e assistir com senso crítico. A censura mais correta nós é que devemos fazer, usando nossa sensibilidade e nossa visão ao que nos expomos diante das mensagens que nos apresentam. À Igreja cabe a missão de nos dar os critérios para a escolha do que devemos assistir. Fique com Deus, Juraci.
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Capela dedicada a Santa Luzia completa 120 anos no centro de São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO
Ira Romão
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
A cerca de 400 metros da Catedral da Sé, ao lado da Praça João Mendes, na Rua Tabatinguera, no número 104, está localizada a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, padroeira dos olhos. Na segunda-feira, 13, além da festa dedicada à virgem e mártir da Igreja Católica, a comunidade celebrou os 120 anos de fundação da pequena e acolhedora igreja situada no centro da capital paulista. A missa das 12h30 foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Com transmissão pela rede social da Capela, a Eucaristia foi concelebrada pelo Capelão, Padre Luiz Claudio de Almeida Braga. Fiéis participaram presencialmente, seguindo os atuais protocolos de segurança em virtude da COVID-19.
Origem da Capela
Inaugurada no dia 13 de dezembro de 1901, a Capela do Menino Jesus e Santa Luzia foi fundada na chácara de Anna Maria de Almeida Lorena Machado, uma “dama da sociedade paulista”. Anna Maria construiu a pequena igreja em homenagem aos seus santos de devoção após sobreviver a um naufrágio de navio. Na ocasião, ela perdeu todos os seus pertences, que incluía uma imagem do Menino Jesus de Praga. A imagem, que era estimada por sua família, foi encontrada ao amanhecer, flutuando na praia em que os sobreviventes aguardavam por socorro. O projeto de construção da Capela é assinado pelo arquiteto italiano Domingos Delpiano, um dos primeiros padres salesianos que chegaram ao Brasil, em 1883. As obras ornamentais são do também italiano pintor-decorador Orestes Sercelli. Em vida, além de manter a Capela, Anna Maria patrocinou todas as festas celebradas religiosamente nos dias 13 e 25 de dezembro. Após sua morte, em 1903, seus herdeiros mantiveram os cultos na Capela, em atendimento ao seu pedido registrado em testamento. Porém, ao longo dos anos, os herdeiros tiveram problemas financeiros e a Capela passou aos cuidados de diferentes ordens religiosas da Igreja Católica. Atualmente, ela é administrada pela Fundação Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, com a colaboração da Mitra Arquidiocesana.
Templo em estilo neogótico na região central da cidade foi inaugurado em 13 dezembro de 1901 e recebe visitantes de todo o Brasil
Patrimônio histórico e cultural
Construída no estilo neogótico, a Capela reúne o estilo gótico medieval com estilo clássico, típico das construções brasileiras erguidas no início do século XIX e mesma junção encontrada nas antigas catedrais francesas. A pintura decorativa que recobre quase que totalmente o interior da Capela é considerada um dos únicos exemplares de pintura mural (direta na parede), de autoria de Orestes Sercelli, preservada. Em apreço ao valor arquitetônico da edificação e do valor artístico contido nas pinturas murais, a Capela foi tombada pelos órgãos estaduais e municipais de defesa do patrimônio: primeiro, em 1994, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), do estado de São Paulo, e, em 2002, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Capela de peregrinações
Monsenhor Jonas dos Santos Lisboa, que foi Capelão na Santa Luzia de 2014 até 2020, define a pequena igreja do centro de São Paulo como uma “Capela de Peregrinação”, já que ela costuma ser frequentada por fiéis de diferentes lugares, inclusive de fora de São Paulo. “Há pessoas que vêm de longe para pedir graças ou agradecer a graça alcançada”, conta o Monsenhor. “Isso acontece com muita frequência, principalmente no dia 13 de cada mês e em especial em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, quando há uma afluência de fiéis.” Ainda segundo o Monsenhor, além dos pedidos relacionados a problemas nos olhos, feitos a Santa Luzia, muitos fiéis chegam à Capela com pedidos rela-
cionados a necessidades da cabeça. Isso porque a pequena igreja também é conhecida por ter a imagem de Nossa Senhora da Cabeça. “Desconheço que exista [por aqui] outra igreja em que haja esta devoção à Nossa Senhora da Cabeça e onde há uma imagem Dela. Embora a Capela seja dedicada ao Menino Jesus de Praga e Santa Luzia, se perguntarem [para os fiéis] onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Cabeça todos informarão que é aqui”, disse o Monsenhor. O atual Capelão, Padre Luiz Claudio, confirma que a Capela recebe diariamente muitos visitantes, não só em devoção ao Menino Jesus e a Santa Luzia, mas também a Nossa Senhora da Cabeça. “São pessoas que vêm fazer compras no centro e acabam passando para rezar ou para deixar as cabeças de cera, pedindo a intercessão de Nossa Senhora para distúrbios mentais, inclusive depressão.” “Mesmo estando próxima da Catedral da Sé, a Capela é bastante procurada. Ela possui um público que a visita com certa regularidade”, reforça o Capelão. O sacristão, Pedro dos Santos, 76, que chegou à comunidade em 1990, conta que em período de provas, muitos estudantes também buscam a Capela com pedidos a Nossa Senhora da Cabeça e a São Simão, que é protetor dos alunos e que compõem o acervo de imagens da comunidade. “Tem muitos que trazem cabeça de cera, outros raspam a cabeça e colocam os cabelos nos pés da Santa”, relata. “Já nos pés de São Simão, fica aquela pilha de papéis com pedidos da turma que deseja ‘passar de ano’.” Para quem participa da comunidade, como é o caso de Neuza Maria Del Médico, 71, toda essa peregrinação de fiéis é normal e fez falta durante a pandemia. “Estou aqui há mais de 20 anos. A devoção a Santa Luzia na minha família veio
com minha vó. Desde que conheci esta comunidade, não deixei mais de vir”, relata Neuza. “É uma Capela acolhedora. Eu, por exemplo, costumo ajudar no bazar e, quando não estou aqui, o pessoal pergunta por mim. É uma tradição, uma família.”
Da missa em latim a restos mortais
Desde 2002, a Capela de Santa Luzia tem permissão para missas no rito extraordinário, que é a missa tridentina, rezada em latim. Elas ocorrem de quarta a sextafeira, às 8h30, e são celebradas pelo Padre José Henrique do Carmo, que atua como colaborador da Capela. Outra curiosidade dessa comunidade é que os restos mortais da fundadora, Anna Maria, estão sepultados ao lado do altar.
Olhar de pureza
Durante a homilia, na missa da festa de Santa Luzia, ao falar sobre a padroeira dos olhos, Dom Odilo Scherer enfatizou que “a visão é um presente de Deus que deve ser agradecido sempre” e que “deve ser usada, mas também cuidada”. O Cardeal lembrou o ditado que diz que “os olhos são a janela da alma”, acrescentando que “o olhar traduz muito daquilo que a pessoa traz no coração. Por isso, purificar o olhar é importante”. Dessa forma, Dom Odilo explicou que “olhar puro” significa “olhar as coisas com sentimento puro e verdadeiro, assim como as crianças, para que não seja um olhar corrompido”, seguindo o exemplo de Santa Luzia, que sempre olhou por meio da visão da fé. “É preciso reconhecer os sinais de Deus,” recomendou o Arcebispo. “Saber reconhecer a partir da fé, da visão interior, o que Ele continua a fazer e o que quer de nós.”
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Cardeal Odilo Scherer ordena 13 diáconos para a Igreja em São Paulo Luciney Martins/O SÃO PAULO
Fernando Geronazzo
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O Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu a ordenação diaconal de um grupo de seminaristas, religiosos e candidatos ao diaconato permanente, no sábado, 11, na Catedral da Sé. Receberam o primeiro grau do sacramento da Ordem os seminaristas Alan Santos, 33, Cleyton Pontes Silva, 26, Lucas Antonio Martinez, 26, e Nilo Massaaki Shinen, 43, do Seminário de Teologia Bom Pastor, e Elias Honório de Castro, 26, do Seminário Missionário Arquidiocesano Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo, ligado ao Caminho Neocatecumenal. Também foram ordenados quatro religiosos da Ordem de Santo Agostinho – Frei Fábio Brandão Silva, 41, Frei Jean Alves de Lima, 41, Frei Pedro Félix R. de Matos, 25, e Frei Ronã Pinheiro Aguiar Filho, 34. Além desses, quatro candidatos casados receberam o diaconato permanente. São eles: Nilson de Oliveira Amancio, 61, Orlando Luciano da Silva, 53, Pedro Ernesto dos Santos Júnior, 51, e Sidnei Roberto Piotto, 56.
Diaconato
O diaconato é o primeiro grau do sacramento da Ordem – seguido do presbiterato (padres) e do episcopado (bispos). A palavra grega diakonia significa “serviço”. O serviço dos diáconos é documentado desde os tempos apostólicos, como relata o livro dos Atos dos Apóstolos (6,1-6) sobre a instituição dos “sete” homens encarregados do serviço à Palavra, às mesas e aos necessitados. A instituição diaconal foi florescente na Igreja do Ocidente até o século V. Depois, por várias razões, acabou por permanecer como etapa intermediária para os candidatos à ordenação sacerdotal. O Concílio de Trento, no século XVI, chegou a dispor que o diaconato permanente fosse retomado como nos primórdios, mas não chegou a se concretizar. Foi o Concílio Vaticano II (1963-1965) que estabeleceu que o diaconato pudesse ser restaurado como grau próprio e permanente da hierarquia e conferido a homens de idade
Dom Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, com os diáconos seminaristas e os diáconos permanentes recém-ordenados, na Catedral da Sé
madura, também casados. Em 1967, o Papa Paulo VI estabeleceu as regras gerais para a restauração do diaconato permanente por meio da carta apostólica Sacrum diaconatus ordinem, podendo ser conferido a homens casados, mediante a anuência de suas esposas.
Serviço
“Entre outros serviços, pertence aos diáconos assistir o bispo e os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia, distribuí-la, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”, indica o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1570. Ao contrário dos padres e bispos, os diáconos não presidem a Eucaristia (missa), a Reconciliação (confissão) e a Unção dos Enfermos, mas podem ministrar o sacramento do Batismo e testemunhar matrimônios. Além disso, colaboram na formação catequética dos fiéis, acompanhamento das famílias na organização dos serviços caritativos da comunidade.
Ministros da caridade
Na homilia, Dom Odilo ressaltou que, ao receber o sacramento da Ordem no grau do diaconato, o candidato, “fortalecido com o dom do Espírito Santo, deverá ajudar o bispo e seu presbitério no serviço da Palavra, do altar e da caridade, mostrando-se servo de todos”. “Como ministro do altar, irá proclamar o Evangelho, preparar o sacrifício e repartir entre os fiéis o Corpo e o Sangue do Senhor”, destacou o Cardeal, acres-
centando que o Diácono também tem a missão de ensinar a doutrina aos fiéis, administrar o Batismo, testemunhar matrimônios, levar a comunhão aos agonizantes e oficiar o ritual de exéquias dos falecidos. O Arcebispo recordou ainda que o Diácono é ordenado para realizar o serviço da caridade em nome da Igreja. “Proceda de tal modo em seu ministério que possa ser reconhecido como verdadeiro discípulo Daquele que não veio para ser servido, mas para servir”, exortou.
Rito
O rito de ordenação diaconal começou após a proclamação do Evangelho, quando os respectivos formadores e superiores religiosos chamaram cada um dos candidatos, que, ao se apresentarem diante do Arcebispo, responderam “presente”. O momento essencial do rito é a imposição das mãos do Arcebispo sobre a cabeça do ordinando, seguida da prece de ordenação, que pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o candidato é ordenado. “Resplandeçam neles as virtudes evangélicas: o amor sincero, a solicitude para com os enfermos e os pobres, a autoridade discreta, a simplicidade de coração e uma vida segundo o Espírito”, diz um trecho da prece. O candidato também recebe o livro dos Evangelhos como sinal da sua missão de proclamá-lo ao povo de Deus. “Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas”, diz o ritual de ordenação.
Para toda a vida
Em nome dos diáconos agostinianos, o Diácono Jean ressaltou que o diaconato é o início de um ministério que será realizado para sempre, no anúncio da Palavra, no serviço da Eucaristia e da caridade. “Esta é a nossa missão por toda a vida”, afirmou o religioso, recordando as palavras de Dom Odilo, que enfatizou que, embora o diaconato para os candidatos ao sacerdócio seja conhecido como um grau “transitório”, ele não é retirado após a ordenação presbiteral ou episcopal, pois todo padre ou bispo sempre será um diácono. “No meio de tantas propostas de vida, somos convidados a reencontrar a fonte da verdadeira felicidade e da verdadeira vida, fazendo nossa a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus tem palavra de vida eterna”, afirmou o Diácono Permanente Orlando, reforçando que somente os apaixonados pelo Reino de Deus são capazes de aceitar o convite do Senhor que lançou seu olhar de misericórdia e de amor sobre esses candidatos e os chamou para servi-lo. O Diácono Nilo manifestou a gratidão dos ordenados a Deus, à Igreja, na pessoa do Arcebispo e dos formadores, bem como a todo o povo. “Pedimos a todos que rezem por nós, para que sejamos fiéis a Deus e à sua Igreja, para, assim, sermos fiéis no serviço a Deus e a seu povo”, completou. Os diáconos seminaristas e religiosos serão designados por seus formadores para os lugares onde desempenharão seu ministério. Já os diáconos permanentes realizarão seus serviços nas suas respectivas regiões episcopais de origem.
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Luciney Martins/O SÃO PAULO
12 | Reportagem | 15 a 20 de dezembro de 2021 |
‘Antes de termos o templo, precisamos ter a certeza de que existe o povo de Deus que crê em Jesus Cristo’, afirma Dom Odilo Scherer ao abençoar terreno da futura igreja na Chácara Klabin
Terreno da futura Igreja Nossa Senhora de Guadalupe é abençoado na Chácara Klabin Fernando Geronazzo
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Quem passa pela esquina das ruas Ernesto de Oliveira e Lorenzo Valla, na Chácara Klabin, bairro do centro-sul de São Paulo, vê uma grande cruz de madeira fixada no muro de um terreno ainda vazio. Esse símbolo indica o local do nascimento de uma nova comunidade católica na cidade, e onde será construída uma igreja dedicada a Nossa Senhora de Guadalupe. Esse local foi abençoado pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no domingo, 12, na presença de fiéis, padres, e de Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, e Dom Carlos Lema Garcia, Bispos Auxiliares da Arquidiocese. Também estiveram presentes autoridades civis, com destaque para o prefeito da capital, Ricardo Nunes. Esse ato concretiza um desejo alimentado há alguns anos pelos católicos desse bairro predominantemente residencial que ainda não possui uma igreja.
Igreja viva
Durante a cerimônia de bênção, Dom Odilo afirmou que a Igreja de Jesus Cristo está presente onde estão os cristãos, reunidos no nome do Senhor. “A Igreja é a comunidade dos discípulos com Jesus.
Hoje, somos nós os seus discípulos”, ressaltou, acrescentando que, antes de edificar um templo, é preciso constituir a comunidade de fé que testemunha a presença de Deus no meio da humanidade. Em seguida, o Arcebispo explicou que os templos são a casa do povo de Deus que reúne no meio das casas, para os momentos mais expressivos de sua vida: a oração em comum, a celebração dos sacramentos, em especial a Eucaristia, a escuta da Palavra de Deus e o testemunho da caridade. “Nós precisamos dos templos porque eles são o sinal da Igreja viva que somos nós”, completou. O Cardeal destacou o trecho do Evangelho proclamado na ocasião, no qual Jesus compara aqueles que ouvem a Palavra e a colocam em prática são como aqueles que edificam a casa alicerçada sobre a rocha. “A nossa Igreja se edifica sobre Jesus Cristo e sua Palavra. Sem Ele, não há Igreja. Por isso, antes de termos o templo, precisamos ter a certeza de que existe o povo de Deus que crê em Jesus Cristo”, salientou. Por esse motivo, no local da construção da nova igreja será depositada uma pedra simbólica, trazida do monte Tepeyac, local da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, em 1531. “Essa pedra é um pequeno sinal de que estamos ligados à essa devoção de uma maneira profunda, que aqui, como disse ao indígena Juan Diego, dirá: ‘Eu estou com vocês. Não tenham medo, sou sua Mãe’”, acrescentou Dom Odilo.
Projeto
O terreno, um dos poucos vazios no bairro, foi adquirido em dezembro de 2020, graças a um fundo constituído pela Região Episcopal Ipiranga. Foram realizados um estudo de viabilidade técnica e o projeto arquitetônico de uma igreja, assinado pelo arquiteto Christian Michael Seegerer. O projeto é que, no futuro, a igreja se torne a matriz de uma paróquia territorial. Mas, para que isso aconteça, é preciso que exista uma comunidade estável e ativa. Então, começaram a ser realizadas reuniões com os párocos e fiéis das paróquias confinantes e a reunir lideranças católicas entre os moradores para começar as atividades, como celebrações nas casas, encontros de oração e evangelização. O bairro compreende o limiar entre as regiões episcopais Ipiranga e Sé, na confluência de cinco paróquias – Santa Cândida; Santa Rita de Cássia, em Mirandópolis; Nossa Senhora da Saúde; Santa Margarida Maria e Santa Rita de Cássia, na Vila Mariana.
Comunidade missionária
“Hoje, damos início à comunidade eclesial missionária Nossa Senhora de Guadalupe. Vocês serão os discípulos missionários que irão de casa em casa, de prédio em prédio, chamando as pessoas”, afirmou Dom Ângelo, recordando que, a partir de agora, começam duas frentes de ação: o fortalecimento da comunidade de fé e a arrecadação de fundos para a construção da igreja. O Bispo ressaltou, ainda, que essa experiência é um exemplo concreto de
uma comunidade eclesial missionária na cidade, fazendo referência ao termo presente nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023). O nome da padroeira da comunidade foi indicado pelo Cardeal Scherer, pelo fato de ainda não haver na Arquidiocese uma paróquia com o título de Nossa Senhora de Guadalupe. Por isso, foi escolhida a data de sua festa litúrgica para a constituição da comunidade e a bênção do local da futura igreja. Para simbolizar o ato, o Arcebispo entregou a um casal da comunidade um quadro com a réplica da imagem da padroeira da América Latina, para ser levada em peregrinação nas casas dos moradores.
O bairro
O bairro Chácara Klabin surgiu na década de 1970. No entanto, sua história remonta ao início do século XX, quando a família Klabin, de origem judia e lituana, adquiriu muitas chácaras que ficavam entre o Caminho do Mar e a Colina do Ipiranga. Esses terrenos evoluíram para a formação da Chácara Klabin, considerado um bairro de passagem entre esses lugares. Com a urbanização da cidade, a área passou a abrigar a
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| 15 a 20 de dezembro de 2021 | Reportagem | 13 Divulgação sobre o projeto da igreja
maior favela do estado de São Paulo: a Comunidade do Vergueiro. Após a retomada da posse da área, garantindo moradia em outros bairros para a população removida, houve o loteamento da propriedade e o surgimento do novo bairro. Nos últimos 30 anos, viu-se uma rápida verticalização. Na década de 1990, o bairro possuía 18 condomínios e 256 casas. Hoje são mais de 300 condomínios. A presença da Igreja no bairro também foi assinalada com a inauguração da pequena praça localizada em frente ao terreno da futura Igreja. Por um decreto do prefeito Ricardo Nunes, o logradouro passou a se chamar Praça Padre Napoleão dos Anjos Fernandes, sacerdote da Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora do Sion, que atuou pastoralmente na Região Episcopal Ipiranga.
Missionários
O casal Aidê Baltar Villa e Aurélio Villa mora no bairro há 20 anos e participa da Paróquia Santa Rita de Cássia, em Mirandópolis. “Nós já conhecíamos este terreno muitos anos atrás e não imaginávamos que aqui poderia ser construída uma igreja. Ficamos muito felizes quando anunciaram que finalmente haveria uma igreja no bairro”, relatou Aidê. A leiga informou que os integrantes da nova comunidade estão se conhecendo e começando a criar vínculos. Para isso, foi criado um grupo no WhatsApp em que não
param de ingressar novos membros. “Já começamos esse trabalho de ‘formiguinha’ abordando a vizinhança”, completou Villa.
‘Nossa igreja’
Andreia Reis Pereira Meleti também mora no bairro há duas décadas e frequenta a Paróquia Santa Rita de Cássia, na Vila Mariana. “Todos nós estamos muito felizes. Não vemos a hora de começar a celebrar aqui, principalmente o Natal e a Páscoa”, relatou a leiga ao O SÃO PAULO. “Já começamos a missão. Quem encontro na vizinhança, convido para fazer parte da nova comunidade. Ontem mesmo, encontrei, no elevador, uma senhora de outro país latino-americano e lhe disse que hoje haveria a bênção do terreno da futura igreja. Ela ficou feliz e disse que é muito devota de Nossa Senhora de Guadalupe”, acrescentou Andreia. E esse trabalho missionário já começou a surtir efeito. No início da cerimônia de bênção do terreno, havia um pequeno grupo de fiéis. Aos poucos, as pessoas começaram a chegar, até não caber mais ninguém sob a tenda montada no espaço. Além disso, muitas pessoas acompanhavam os ritos das janelas dos apartamentos e outras, ao olharem com curiosidade a movimentação na rua, que geralmente é deserta, eram acolhidas por fiéis que diziam com entusiasmo: “Aqui será construída uma nova igreja católica, a nossa igreja”. Luciney Martins/O SÃO PAULO
Bênção do terreno de futura igreja é acompanhada pelo prefeito Ricardo Nunes
Reprodução
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‘Memória Paulistana’: exposição retrata aspectos históricos e culturais da capital Luciney Martins/O SÃO PAULO
Roseane Welter
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
A exposição “Memória Paulistana”, de Cristiane Carbone, 48, artista plástica e professora, pretende preservar a memória de São Paulo, em um trabalho de reconstrução e conservação da história. Em cada obra – óleo sobre tela –, a artista resgata e devolve à população aspectos históricos que, por vezes, se perderam, proporcionando conhecimento sobre a formação e transformação dos pontos culturais, bem como a valorização do patrimônio cultural da capital. A exposição permanece até o dia 20 de dezembro, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), e reúne obras com imagens de São Paulo, em diversos períodos, a partir de 1862, percorrendo os períodos colonial, imperial e republicano.
INSPIRAÇÃO E ARTE
Cristiane nasceu em Santo André (SP) e descobriu o talento pelo desenho e pelas artes aos 7 anos. Em 1990, durante o curso de Desenho Artístico, teve contato com as várias técnicas de pintura, mas a tinta a óleo a cativou. Descobriu em sua arte a importância de resgatar a história por meio da pintura e desenvolveu vários projetos, entre eles: “Pátria Amada Brasil”, “Tributo a São Paulo”, “São Paulo na Linha do Tempo” e “Memória Paulistana”. Cristiane Carbone assina mais de 300 obras. A primeira foi o Museu do Ipiranga, pintado em 1996. No Brasil, possui obras no acervo da Associação Paulista de Medicina (APM), Pateo do Collegio, Mosteiro de São Bento, Câmara dos Deputados e Senado Federal (DF), Bovespa, na Prefeitura de Tocantins (TO), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, entre outros. No mundo, tem obras espalhadas por países como Portugal, Itália, China, México, Paraguai e França. Em 2007, foi entregue ao Papa Bento XVI, na ocasião de sua visita ao Brasil, o quadro com a pintura do Mosteiro de São Bento, obra da artista.
PRESERVAR A MEMÓRIA DA CIDADE
Em entrevista ao O SÃO PAULO, a artista explicou que a exposição “Memória Paulistana” tem por objetivo mostrar as grandes transformações ocorridas ao longo dos anos nos principais monumentos históricos da capital, entre eles as igrejas católicas. “Sempre fui apaixonada pela arquitetura paulistana e fomentar o resgate histórico e cultural e revelar a História em forma de arte é algo que me enche de alegria”, disse Cristiane. A artista destacou que fundamenta seu trabalho na pesquisa e no registro
Catedral da Sé – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm documental, preservando a história e a memória dos espaços culturais. “Sempre gostei de pintar paisagens históricas, e minhas primeiras pinturas/ quadros foram de igrejas – a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Paraty (RJ), as igrejas de Ouro Preto (MG) de Mariana (MG) – e, depois, comecei a pintar obras de São Paulo, a estação da Luz, a Catedral da Sé, o Pateo do Collegio, entre outras”, disse. Em cada quadro da exposição, há uma aula de história. “Para pintar, preciso estudar e buscar a fundo os elementos que antecederam cada momento e, por vezes, construir e reconstruir aspectos que, com o passar do tempo, se perderam”, afirmou, recordando que, no início do projeto, em 2001, se deparou com a falta de registros de pontos como “Museu do Ipiranga e Estação da Luz e precisou resgatar essa memória, para então pintar e apresentar ao público”, destacou.
LEGADO HISTÓRICO
Cristiane ressaltou que as pessoas mais idosas acompanham o crescimento da cidade e suas transformações. E pretende com as pinturas retratar esse itinerário histórico como legado às futuras gerações. “O projeto surgiu no momento em que percebi as constantes mudanças da cidade e a falta de registro desses acontecimentos. Resgatar e registrar esses fatos são essenciais para manter o legado histórico das novas gerações”, afirmou. A artista elucidou também as três fases da construção arquitetônica que a capital perpassou. “A cidade de São Paulo tem um aspecto colonial. Depois, passou por uma arquitetura imperial e, em seguida, o período republicano. São fases que eluci-
Em 1913, iniciou-se a construção da Catedral como é hoje, elaborada pelo alemão Maximilian Emil Hehl. Foi inaugurada em 25 de janeiro de 1954, na comemoração do 4º Centenário da cidade de São Paulo, ainda sem as duas torres principais.
Pateo do Collegio de São Paulo – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm Foi o local onde São Paulo nasceu em 25 de janeiro de 1554. Em dezembro de 1556, a casa foi ampliada para abrigar o colégio dos jesuítas. Com a expulsão dos religiosos determinada em 1759 pelo Marquês de Pombal, o Pateo do Collegio se tornou o Palácio dos Governadores entre os anos de 1765 e 1908. Nessa época, grande parte do acervo da igreja se perdeu devido a um desmoronamento. O local só voltou à sua vocação original entre 1932 e 1953, quando foi transformado em Secretaria da Educação. Em 1954, a Companhia de Jesus iniciou o projeto de reconstrução do colégio, que só terminou em 1979, com a fundação do Museu do Padre Anchieta e da Igreja Beato Anchieta.
Mosteiro de São Bento – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm O local era a Taba do Cacique Tibiriçá. Foi doado pela Câmara de São Paulo em 1600 aos monges. Com o crescimento da Vila ainda no século XVII, Fernão Dias Paes Leme, o “Governador das Esmeraldas”, ampliou a igreja e melhorou as dependências do mosteiro. A construção atual do mosteiro não é a mesma de séculos anteriores. Trata-se da quarta construção. À demolição do antigo edifício, muito decadente em fins do século XIX, seguiu-se a construção do Ginásio de São Bento – hoje Colégio de São Bento – em 1903. O mosteiro em 1910 deu início à construção da nova igreja e mosteiro. A construção compõe-se do estilo da escola artística de Beuron, projeto de Richard Berndl. A basílica só foi consagrada em 1922. Nesta época, foram instalados os sinos e o relógio, tido como o mais preciso de São Paulo.
Mosteiro da Luz – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm O Mosteiro da Luz foi originado a partir de uma capela construída na era quinhentista. O primeiro registro escrito da igreja data de 1579, em uma carta redigida pelo Padre Anchieta. Em 1788, o conjunto adquire sua feição atual. Em 1802, é inaugurada a nova igreja (parcialmente concluída). Considerada a mais importante construção arquitetônica colonial do século XVIII, em São Paulo, o Mosteiro da Luz foi declarado “Patrimônio Nacional Tombado”.
dam os marcos históricos em seus limites e belezas”, afirmou. O trabalho iconográfico da artista plástica tem a função de conduzir os espectadores e visitantes a uma viagem ao longo da história, resgatando elementos importantes. Cristiane busca em seus
projetos elucidar, também, a educação patrimonial. Para visitação, é preciso agendar horário na secretaria do IHGSP, localizado na Rua Benjamin Constant, 158, Sé, de terça a sexta-feira, das 10h às 16h. Telefone: (11) 3242-8064.
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Cardeal Scherer abençoa o novo museu dedicado a fundadores das obras scalabrinianas Luciney Martins/O SÃO PAULO
Bênção ocorreu após missa na paróquia são João Batista Roseane Welter
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
No domingo, 12, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu missa na Paróquia São João Batista, no Ipiranga, por ocasião do encerramento do jubileu de 125 anos do falecimento do Padre José Marchetti (1869-1896), missionário scalabriniano, cofundador das Irmãs Scalabrinianas e fundador do Instituto Cristóvão Colombo (ICC). Concelebraram os Padres Antônio César Seganfredo, Pároco; José Edvaldo Pereira da Silva, Diretor do ICC; Rafael Adriano da Silva, Agenor Sbaraini, Alceu Bernardi, Evandro Cavali, Nivaldo Feliciano da Silva, Avelino Bertuzzi, Danilo Ravanello, Claudino Balen, Emídio Girotto, missionários scalabrinianos; e Padre José Oscar Beozzo. Participaram as religiosas scalabrinianas, funcionários e crianças atendidas pelo instituto. Na ocasião, o Cardeal Scherer abençoou o Museu Instituto Cristóvão Colombo, anexo ao ICC, criado para manter viva a história dos fundadores das obras scalabrinianas. O novo espaço será aberto à visitação a partir de 2022, seguindo os protocolos dos demais museus, com agendamento prévio.
A SERVIÇO DOS MIGRANTES
Padre José Marchetti nasceu em 1869, em Lombrici, na província de Lucca, na Itália. Foi ordenado sacerdote em 1892. Chegou ao Brasil, com 25 anos, em 1894, com a missão de acompanhar e assistir os migrantes desamparados e sofridos que vinham ao Brasil. Marchetti, a exemplo de Jesus, percorria as aldeias e povoados para anunciar o Evangelho e assumiu a missão de proclamar a Boa-Nova aos migrantes, com espírito de generosidade, serviço e caridade. Ele morreu em 1896, aos 27 anos de idade, após contrair febre amarela e tifo. Em 2016, o Papa Francisco o declarou Venerável. A causa de beatificação e canonização continua em curso.
Dom Odilo Scherer, Arcebispo Metropolitano, e o Padre José Edvaldo, Diretor do Instituto Cristóvão Colombo, durante a inauguração do museu
MISSIONÁRIO DA CARIDADE
Na homilia, Dom Odilo manifestou sua alegria em celebrar com os missionários scalabrinianos o encerramento do jubileu de 125 anos do Venerável Padre José Marchetti. “No 3º Domingo do Advento, a tônica da liturgia é a alegria. Padre Marchetti viveu sua vida permeado pela alegria do Evangelho e atento aos apelos de Deus e das pessoas necessitadas à sua volta.” O Arcebispo enfatizou o trabalho idealizado pelo sacerdote aos migrantes e às crianças órfãs. “Um missionário que se colocou a serviço do próximo, animado pela profunda caridade, sensível às necessidades dos irmãos. Arregaçou as mangas, acolheu migrantes, crianças órfãs e doou sua vida sem medir esforços.” Dom Odilo refletiu ainda sobre a atuação do Padre Marchetti nos dias atuais. “Ele realizou sua missão frente às situações da sua época. E, se fosse hoje, onde Marchetti atuaria? Com certeza, nas periferias, nas misérias visíveis, nos centros das cidades, com as pessoas em situação de rua, com os migrantes e tantas outras situações”, disse. O Cardeal estimulou que se valorizem os museus e incentivou que sejam visitados, pois são locais de história e cultura. “Os museus e, também, as igrejas mais antigas recordam o testemunho, o trabalho, a luta, o legado de muitos”, disse, reforçando que “somos herdeiros e, ao adentrar um museu, tomamos consciência daquilo que somos, o que recebemos e o questionamento sobre o legado que deixaremos para as futuras gerações”, afirmou.
MUSEU INSTITUTO CRISTÓVÃO COLOMBO
O museu tem como missão coletar, preservar, interpretar, divulgar e expor
testemunhos da história do projeto social dedicado à assistência de crianças e adolescentes migrantes na cidade de São Paulo. A exposição apresenta a trajetória do Orfanato Cristóvão Colombo, ação pioneira dos missionários no Brasil. Atualmente, o orfanato corresponde ao ICC. O espaço está dividido em quatro ambientes: o primeiro relembra a grande imigração italiana, êxodo intensivo que deixou muitas crianças desamparadas e que justificou a criação do orfanato por Marchetti. O segundo apresenta a história dos fundadores scalabrinianos: Padre José Marchetti, Beata Assunta Marchetti, Dom João Batista Scalabrini, Padre Faustino Consoi, com testemunhos e objetos de suas ações missionárias. O terceiro mostra os trabalhos realizados na instituição e quem foram os assistidos. E o quarto espaço possibilita aos visitantes conhecerem um pouco das atividades e os frutos da ação dos religiosos na atualidade.
ESPAÇO DE CULTURA
Ana Silvia Bloise, 67, museóloga, é a curadora do museu. Ela explicou ao O SÃO PAULO que o trabalho de pesquisa e resgate da história scalabriniana “envolve um itinerário de 125 anos. E o nosso objetivo é manter viva a essência e originalidade do pensamento e obra do fundador do instituto”. A museóloga enfatizou que espaços de cultura são imprescindíveis para o resgate histórico e para a preservação da memória aos cidadãos do hoje e do futuro. “São os fatos históricos que dinamizam e consolidam muitos projetos e ações concretas existentes e que precisam ser apresentados ao público. Por exemplo: neste espaço, de-
monstramos uma parcela da riqueza cultural, espiritual e material dos religiosos, que tem muito ainda a ser desbravado”, afirmou.
PRESERVAR A MEMÓRIA
Padre José Edvaldo Pereira da Silva destacou que a ideia de criar o Museu do Instituto Cristóvão Colombo nasceu a partir do desejo da congregação em preservar a memória dos fundadores, da atuação dos missionários junto aos migrantes no estado de São Paulo e do Instituto Cristóvão Colombo. “O museu vem para unir e organizar o acervo com objetos importantes da nossa história e, também, para manter vivo um legado tão forte e marcado por histórias que precisam ser conhecidas e lembradas”, enfatizou, lembrando, ainda, que o espaço ajudará a “dinamizar e registrar para nós e para as gerações futuras um legado que não pode ser esquecido”.
AÇÕES CONCRETAS NO JUBILEU
Para celebrar o jubileu, os religiosos promoveram três lives sobre a vida e obras do Padre Marchetti; o lançamento do livro “Padre José Marchetti: o contexto de sua vida, trabalhos e sonhos no Brasil”, de José Oscar Beozzo, que conta sobre a vida e atuação do fundador no Brasil; a elaboração de uma nova Oração pedindo a intercessão do Venerável José Marchetti, com aprovação eclesiástica; e a criação do museu. O Pároco, Padre Antônio, destacou que na Paróquia se encontram os restos mortais do Padre José Marchetti; uma imagem de Nossa Senhora trazida pelo fundador da congregação, em 1904, e uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, que pertenceu à Madre Assunta Marchetti.
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Em ato inter-religioso, Cardeal Arns é recordado no Dia Internacional dos Direitos Humanos Luciney Martins/O SÃO PAULO
Daniel Gomes
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estar muito feliz, pois um sonho dele está sendo realizado”, comentou. Já o Rabino Alexandre Leoni, da Comunidade Bnei Chalutzim, recordou que, ao longo da história, as guerras e os diferentes conflitos “levaram não apenas a um apequenamento do que o ser humano pode ser, mas também promoveram sofrimento e genocídio”. No entanto, ele comentou que é preciso manter a esperança de que a humanidade ainda está em processo de evolução para se tornar cada vez melhor.
Como parte das comemorações do centenário de nascimento do Cardeal Arns (1921-2016), foi realizado na sexta-feira, 10, um ato inter-religioso no Parque da Juventude, ao lado do metrô Carandiru, na zona Norte. Promovido pela Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, o ato também recordou os 73 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em 10 Memorial das de dezembro de 1948. vítimas da COVID-19 As atividades foram iniParticipantes do ato inter-religioso no Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns, realizado na sexta-feira, dia 10 ciadas com um minuto de siNa parte final do ato interlêncio em respeito aos mortos -religioso, o advogado Antonio Funari Filho, presidente pela COVID-19 no Brasil. Na sequência, crianças e adolescentes que são e pastor dos direitos humanos”, e prora de Dom Paulo Evaristo Arns. Foi um da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, jetou que, se vivo estivesse, o “Cardeal amparados por iniciativas da Pastoral da homem de Deus que lutou bravamente a falou sobre o projeto de criação de um da Esperança” não estaria indiferente às memorial em homenagem às vítimas da Criança proclamaram orações e leram trepartir desta consciência: que o ser humachos da Declaração Universal dos Direitos no é um ser de direitos.” situações vividas nesta pandemia. “Ele COVID-19, a ser instalado no Parque da Humanos, em meio a discursos de líderes Irmão Leonel Sá Maia, da Igreja Jenos diria: ‘Coragem, esta crise vai pasJuventude. sar, mas estejam unidos e organizados’.” sus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, de Igrejas cristãs, do Islamismo, do Judaís“Faremos este memorial para que mo e de religiões de matriz africana, além O Pastor Eliel Batista, da Igreja Beteslembrou que a Declaração coloca todas essas pessoas fiquem sempre presentes, da, destacou que nesse ato inter-religioso de representantes dos povos indígenas. as pessoas como parte de uma família que elas continuem vivas na história do se levanta “a bandeira dos direitos huuniversal, e que, em um centro urbano Brasil e na nossa memória”, disse Funari, Referência para manos, trazendo a memória de um ícomultifacetado como São Paulo, “Dom que leu o nome de militantes de direitos todas as religiões ne brasileiro, Dom Paulo Evaristo Arns”. Paulo Evaristo Arns nos ensina a aprehumanos que morreram durante a panO Cônego José Bizon, do clero da ciar o valor da diversidade e do compardemia, seja por COVID-19, seja por ouEle se disse frustrado em saber que ainda tilhamento, sem distinção de qualquer tras razões. Arquidiocese de São Paulo e Diretor da hoje os direitos elementares do ser humano são negados ou roubados. espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, Uma dessas pessoas foi o judeu SerCasa da Reconciliação, destacou que gio Storch, que ajudou a criar a FrenPastor Ariovaldo Ramos, da Frente opinião política, origem nacional ou soDom Paulo se tornou reconhecido como cial, riqueza ou nascimento”. te Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo de Evangélicos pelo Estado de Direito, um homem de Deus, e que “chorou e O Sheikh Mohamad Bukai, da MesArns. Em homenagem a Sergio Storch e recordou as muitas vezes em que as pessofreu com as pessoas que estavam sufocadas nas pandemias da pobreza, do desoas favoráveis aos direitos humanos se quita do Brasil, recordou que o ser hua todas a vítimas da COVID-19 e seus fasemprego, da marginalização, da vulnemano é a criatura mais nobre criada por miliares, houve o plantio de uma árvore colocaram contrárias às atrocidades que rabilidade, do abandono nas ruas, pontes Deus, mas que para viver em plenitude de romã no Pomar Dom Paulo, que foi aconteciam na extinta Casa de Detenção e marquises dos prédios”. precisa de uma família, na qual efetivainaugurado em 15 de dezembro de 2018, do Carandiru, que foi demolida, dando mente se aprende a fraternidade. “DeO Diretor da Casa da Reconciliadata em que o local oficialmente passou lugar, em 2004, ao atual Parque da Juvenção lembrou, ainda, que “não faltaram tude. “Ver este parque mostra que toda pois, saímos dessa família pequena para a se chamar Parque da Juventude Dom tentativas de calar com censuras e caa luta pelos direitos humanos tem sido uma família maior, o mundo, onde todos Paulo Evaristo Arns, por força da lei eslúnias a Dom Paulo Evaristo, o bispo tadual 16.761. necessária. E isso me faz lembrar a figusomos irmãos. Dom Paulo hoje deve
Regional Leste 3 da CNBB é oficialmente instalado Em missa no Santuário Nossa Senhora do Rosário, em Vila Velha (ES), na Arquidiocese de Vitória, no sábado, 11, houve a instalação oficial do Regional Leste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que é composto pelas Dioceses de Ca-
choeiro de Itapemirim, São Mateus, Colatina e a Arquidiocese de Vitória, todas no território do estado do Espírito Santo. A Eucaristia foi presidida por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e Presidente da
CNBB, tendo como concelebrantes os bispos do Regional Leste 3. Em entrevista ao site da Arquidiocese de Vitória, Dom Walmor afirmou que agora que o Regional está instalado, deve-se ressaltar as forças missionárias que nele existem.
O Regional Leste 3 foi desmembrado do Leste 2, que engloba as dioceses que estão no estado de Minas Gerais. Sua criação foi aprovada durante a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em abril. (DG) Fonte: Arquidiocese de Vitória
Ao menos 1,7 mil cidades brasileiras não farão festas de réveillon Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), entre os dias 6 e 9, revelou que dos 2.662 gestores municipais entrevistados, 1.723 (64,7%) já decidiram que não realizarão eventos de réveillon abertos ao público, em razão da pandemia de COVID-19.
Os eventos continuam confirmados em 292 cidades (11%) e outras 627 (23,6%) ainda não chegaram a uma decisão. A maioria dos prefeitos também deseja que o governo federal adote a exigência de comprovação da vacina contra a COVID-19 para aqueles que chegam
ao País. Do total de entrevistados, apenas 50 são contra a medida e 66 disseram ainda não ter opinião formada a respeito. A CNM também buscou saber sobre os preparativos para o carnaval. Dos 2.662 municípios consultados, 1.712 (64,3%) asseguraram que não realizarão a festa.
Outro indicativo da pesquisa é que o uso de máscaras continua a ser obrigatório em ambientes fechados de 2.608 cidades (98% do total pesquisado) e em locais públicos de 2.279 municípios (85,6%). (DG) Fonte: CNM
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Cirurgias intrauterinas: a manutenção da vida mesmo antes do nascimento Novas técnicas e procedimentos, desenvolvidos por médicos brasileiros, ajudam a salvar os bebês ainda no útero materno e garantem a qualidade de vida pós-parto JOSÉ FERREIRA FILHO
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Graças ao contínuo avanço tecnológico das últimas décadas, as mais diversas áreas do saber têm atingido um patamar de conquistas nunca visto até então. A Medicina, hoje, por exemplo, pode oferecer novas formas de tratamento, menos invasivas e mais seguras, que permitem não somente curar doenças, mas também salvar vidas, além de suprimir sequelas e garantir a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes. Nesse contexto, a Medicina Fetal – uma subespecialidade da Ginecologia e da Obstetrícia, cujo objetivo é acompanhar o crescimento do feto e a gravidez inteira –, tem conseguido prevenir condições e doenças diversas, por meio de intervenções e procedimentos durante a gestação, e, assim, preservar a saúde do bebê e da mãe. “A Medicina Fetal tem, no máximo, 30 anos. É uma especialidade muito nova e as coisas que estão sendo feitas são verdadeiros milagres de Deus”, afirmou o doutor Antonio Rahme Amaro, médico e diretor do Grupo Santa Joana, que engloba os Hospitais e Maternidades Santa Joana, Pro Matre e Santa Maria, referência em neonatologia, gestações múltiplas e de alto risco, com sede em São Paulo.
CIRURGIAS INTRAUTERINAS
Bebês acometidos por más-formações podem ter graves sequelas de desenvolvimento e cognição, e até mesmo ir a óbito, elevando, assim, as taxas de mortalidade infantil. As mais recentes estatísticas revelam que 2% a 3% dos recém-nascidos são afetados por uma ou mais más-formações congênitas, as quais são responsáveis por 20% da mortalidade neonatal e 30% a 50% da mortalidade perinatal em países desenvolvidos. São muitas as condições que requerem intervenções intrauterinas, entre as quais estão a transfusão feto-fetal (gestação caracterizada pela presença de gêmeos univitelinos que, por compartilharem uma única placenta, podem ter a circulação de sangue entre eles, pelos vasos placentários, de forma desequilibrada, o que, em 90% dos casos, acarreta a morte de um deles e gera danos neurológicos no que sobrevive), a hérnia diafragmática (um “buraco” no músculo entre o tórax e o abdômen, que impede
o adequado desenvolvimento dos pulmões da criança) e a mielomeningocele fetal – esta última mais conhecida como espinha bífida aberta, é uma má-formação congênita da coluna vertebral da criança em que as meninges, a medula e as raízes nervosas do tubo neural estão expostas, podendo acarretar paralisia dos membros inferiores, restrições no desenvolvimento cognitivo-intelectual e severas disfunções intestinais, gênito-urinárias e ortopédicas. Estima-se que, no Brasil, uma em cada mil crianças apresente essa anomalia. “Quando a medula tem contato com o ar ambiente, se a camada que a reveste não estiver formada, ela sofre um processo de oxidação e a criança pode ficar paralítica, com retardo mental ou desenvolver hidrocefalia. A doença sempre existiu, porém não se sabia diagnosticá-la com precisão, qualificando-a somente por suas consequências e não pelas causas”, explicou Amaro.
PIONEIRISMO
DIVULGAÇÃO
Nas regiões de periferia, por exemplo, em que o acesso à assistência médica é mais restrito, quando se consegue fazer o diagnóstico de alguma anomalia, muitas vezes o fim da história deixa de ser promissor pelo fato de a mãe achar que o seu bebê tem uma condição irreversível e será uma criança doente pelo resto da vida. “As mulheres normalmente fazem o pré-natal e, nesses casos, o diagnóstico é muito fácil de ser concluído. Quando a mãe descobre uma má-formação, se não for bem orientada, ela se desespera e, por uma desinformação do profissional que a acompanha, acaba optando pelo aborto. A mãe dá a vida pelo filho e, assim, se for oferecida uma oportunidade a ela, a situação muda”, explicou Amaro. Quando, ao contrário, não se tem o diagnóstico da anomalia, a criança nasce com uma série de deficiências, como incontinência fecal e urinária e hidro-
última geração que a instituição oferece. “Sempre trabalhei com pesquisa e o trabalho tomou corpo quando tive a oportunidade de estudar na Europa, no início dos anos 2000. Participei do desenvolvimento de três técnicas diferentes para tratamento da mielomeningocele e uma da hérnia diafragmática e as pesquisas mostram que quanto mais cedo se trata a criança intrauterinamente, mais chances de cura e menos sequelas ela tem, uma vez que se consegue proteger o cérebro de possíveis danos com mais antecedência”, conclui.
PARCERIAS
Por meio de uma iniciativa filantrópica e com o objetivo de salvar vidas e manter a qualidade de vida dos pacientes, o Hospital e Maternidade Santa Joana firmou um convênio tanto com a Prefeitura quanto com o governo do Estado para disseminar a técnica das cirurgias intrauterinas na rede pública de atendimento hospitalar. Arquivo pessoal
O estudo da doença é, portanto, recente e seu diagnóstico foi concluído há cerca de 20 anos. A primeira cirurgia intrauterina reparadora a céu aberto no Brasil (ou seja, quando o útero da mãe é aberto e o bebê é operado diretamente) foi feita no Hospital Santa Joana, em 2011, ou seja, há apenas dez anos, abrindo o horizonte ao pioneirismo da instituição e permitindo desde Avançadas técnicas cirúrgicas do Grupo Santa Joana foram apresentadas ao Cardeal Scherer no mês de setembro então um ganho considerável na perspectiva de cura e manutenção da qualidade de vida dos pacientes. Assim, uma equipe médica e os rescefalia, necessitando do uso de cadeira pectivos equipamentos e instrumentais de rodas, o que gera custos para o EstaESPERANÇA do e transtornos para a família. foram enviados (estes últimos, também Com 24 semanas, ou seja, seis meses Ambas as situações acima são condoados) para o Hospital Municipal de tornáveis e é por essa razão que existe de gestação, se for detectada qualquer Vila Nova Cachoeirinha, na zona Noroeste, que já realizou três cirurgias com a um grande interesse na divulgação da anomalia por meio de um exame de nova técnica, e para o Hospital Mandaexistência do tratamento, justamente ultrassom, o feto pode ser submetido a qui, na zona Norte, com duas cirurgias porque o objetivo primário é salvar viuma cirurgia intrauterina. das e proporcionar o devido bem-estar a realizadas, a fim de proporcionar o aces“Há 30 anos, não imaginávamos so ao conhecimento científico, que estaquem necessita. que isto seria possível: a mãe é anestesiada para que a medicação chegue até va muito concentrado e não viabilizava, EQUIPE o bebê por meio do cordão umbilical e, na prática, a implantação, num futuro O médico Fábio Peralta, doutor em assim, ele não sinta dor. O útero é então próximo, de Centros de Medicinal Fetal Medicina Obstétrica pela Faculdade de aberto, o líquido amniótico é retirado, nesses hospitais. Medicina da USP, pós-doutor em Medie, após realizar a intervenção cirúrgica “O propósito, portanto, é dotar a cina Fetal no King’s College Hospital, da por meio de uma incisão de 3cm a 4cm, rede pública de espaços que sirvam de Universidade de Londres, no Reino Unitudo é recomposto como nas condições referência para essa prática cirúrgica uldo, e chefe do Departamento de Cirurgia tracomplexa. A etapa de capacitação de originais para que a gestação prossiga e Medicina Fetal do Hospital e Materniprofissionais já foi feita, tanto pelo doutor normalmente. Como médicos, nós nos dade Pro Matre, afirma que o trabalho Antônio Moron quanto pelo doutor Fáencantamos porque a ciência é realmente utilizada em prol do ser humabio Peralta, que treinaram as equipes dos com o foco no tratamento das anomalias no”, afirmou a médica Monica Maria hospitais públicos e as supervisionam. e o consequente desenvolvimento das Siaulys, professora e doutora pela FaComo o tratamento é complexo, pensoutécnicas cirúrgicas intrauterinas somente culdade de Medicina da USP, médica -se, de fato, em oferecer uma tutoria e, asé possível porque há uma equipe multidisciplinar que proporciona o suporte nesim, propagar o conhecimento que salva anestesiologista e diretora médica do cessário, aliada a todo o instrumental de vidas”, concluiu Amaro. Grupo Santa Joana.
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Um olho nas festas, o outro nos gastos
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Banco Central do Brasil
Diante da maior disponibilidade de recursos no fim de ano, famílias devem planejar finanças para que não lhes faltem recursos para os gastos dos primeiros meses de 2022
Dom Odilo: vivendo sem Deus e sem moral, as cidades se tornam desumanas https://cutt.ly/kYXfW1c CNBB e Cáritas iniciam campanha em prol de famílias atingidas por chuvas https://cutt.ly/hYXfJq9 Fiocruz lança cartilha com orientações para Natal e Réveillon seguros https://cutt.ly/iYXfVGZ
Daniel Gomes
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O pagamento do 13º salário a 83 milhões de brasileiros que atuam no mercado formal de trabalho ou que são aposentados e pensionistas deve injetar na economia do Brasil cerca de R$ 232,6 milhões, conforme projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor médio a ser recebido é de R$ 2.539, dinheiro que ajudará a movimentar diferentes setores nesta época de compras para as festas de Natal e do Réveillon, e de viagens no começo da temporada de verão. As famílias, no entanto, devem planejar bem o uso desse dinheiro a mais, para que não aumentem seus endividamentos e tenham recursos para saldar os compromissos do começo de ano, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). A reportagem do O SÃO PAULO conversou com a economista Cristiane Mancini, mestra em Economia pela PUC-SP sobre a gestão financeira nesta época do ano. Veja a seguir algumas dicas:
Priorize pagar as dívidas
O primeiro destino a ser dado para o valor do 13º salário é o pagamento das dívidas. Cristiane lembra que, ao saldá-las, se evitará mais juros e multas. “Ao não pagar um imposto, uma conta, uma parcela, pagamos no próximo mês juros ou multas. Por exemplo: se há um boleto para pagar uma geladeira este mês e não se paga, para o próximo mês terá que pagar essa parcela mais um valor adicional. Essa geladeira sairá muito mais cara. O mesmo ocorre com a parcela de um imóvel, de um automóvel.”
Cuidado com o ‘poupei o ano todo, agora posso’
Cristiane recomenda que quem poupou dinheiro ao longo de todo o ano não deve achar que agora é a hora de gastá-lo por completo: “Temos que ter cuidado com o que chamamos de demanda reprimida, que é ao longo do ano todo ‘evitar’ gastos e em algum momento não segurar mais essa impulsão por ‘gastar/consumir’”.
Antes de comprar, pesquise
A economista lembra regras que são
Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.
Orfanato católico recebe prêmio de direitos humanos em Timor-Leste https://cutt.ly/TYXgEcb sempre válidas em todas as épocas do ano: “Deve-se pesquisar melhores preços, lojas, avaliar a necessidade ou não de presentear a todos, escolher as melhores taxas de entrega. Cada centavo deve ser levado em conta, porque cada economia será revertida para uma outra compra ou conta no futuro próximo ou distante”.
Calcule bem antes de parcelar
O parcelamento das compras no cartão de crédito deve ser feito de modo consciente pelo consumidor, sempre buscando responder às seguintes perguntas: “Você ganhará aquele montante para pagar as parcelas?”; “Aquela loja é a mais barata?”; “O produto escolhido, no caso para você, é o necessário para o momento ou existe algo com mais prioridade?”. Cristiane reforça: “Pesquisar é a minha maior recomendação. Pesquisar preço, frete e loja”.
Vale a pena esperar pelos ‘saldões de limpa estoque’?
Questionada a esse respeito, especialmente para as compras de bens de longa e média duração, como televisão, geladeira e sofá, Cristiane diz que “sempre dependerá do preço. Pode ser que se encontre algum desconto mesmo no período de festas. Dependerá sempre da loja. Geralmente, o período de desconto gira em torno de março e não logo em seguida às festas. Por isso, se realmente necessita ou deseja algum bem de linha branca ou marrom, que são esses mencionados, o ideal é pesquisar o preço: caso seja interessante, compre. Caso contrário, espere, controle a impulsão a consumir e compre em um momento em que a ansiedade diminuirá”.
Não se esqueça de que eles vão chegar e mais caros: o IPTU e o IPVA
Quando o novo ano começar, será a hora de pagar o IPTU e o IPVA, que podem ser liquidados à vista ou parcelados. A primeira dica de Cristiane Mancini é desde já olhar os boletos pagos neste ano
“para se ter uma ideia do quanto aproximadamente se pagará no próximo ano. Com isso, desde agora, já se poderá separar os valores para o pagamento desses impostos, não utilizando para outros gastos. É importante o comprometimento”. Na cidade de São Paulo, o reajuste do IPTU em 2022 será limitado à inflação em até 10%. Essa regra valerá também para 2023 e 2024. Nos últimos 12 meses, a inflação foi de 10,67%, portanto, por ora, o reajuste no valor do IPTU será de 10%. Neste ano, não houve reajuste do IPTU em relação aos valores de 2020. Quanto ao IPVA, o valor em 2022 será, em média, de 25% a 30% mais alto do que em 2021 no estado de São Paulo. Isso se explica pelo fato de este imposto estar atrelado ao valor venal de veículos usados ou à nota fiscal de compra de veículos novos. Como houve a valorização de ambos, o IPVA ficará mais caro. A boa notícia é que poderá ser parcelado em até cinco vezes. Até este ano, o limite era de três parcelas.
Se puder, invista ou reserve parte do recurso
Uma vez que as dívidas sejam saldadas, se comprou o necessário para desfrutar as festas e se reservou recursos para os gastos do começo do ano, é hora de se pensar em poupar parte do dinheiro. “Nesse momento, a poupança é uma opção, já que é atrelada à taxa Selic, assim o rendimento está interessante. E também o CDB atrelado à Selic é uma outra ótima opção. E para aqueles que possuem mais apetite para risco, investir em ações é sempre algo a considerar.” A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Assim, seu valor impacta nos juros que são adotados em empréstimos, financiamentos e mesmo na rentabilidade de investimentos. Na prática, é uma espécie de dispositivo para regular a oferta de crédito, a fim de conter a inflação. No começo deste mês, o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a taxa Selic para 9,25%. Conforme uma regra estabelecida no ano de 2012, quando a Selic
Cardeal Cantalamessa: sintonizar-se com o Espírito para a aventura sinodal https://cutt.ly/EYXg2SF Vatican Media
Papa: não deixemos que o Natal seja poluído pelo consumismo e pela indiferença https://cutt.ly/0YXgGnP
está acima de 8,5%, há maior rendimento no valor do que está depositado na poupança. Também é comum que se aumentem os rendimentos na renda fixa, como é o caso do Certificado de Depósito Bancário (CDB), uma aplicação oferecida pelos bancos e que rende juros superiores aos da poupança.
A quem recebe o Auxílio Brasil: gastos conscientes e medidos
Neste mês, o valor mínimo do Auxílio Brasil será de R$ 400, pago a 14,52 milhões de famílias. Destas, cerca de 13 milhões recebiam até o mês passado valores inferiores a este montante, conforme dados do Ministério da Cidadania. Diante dessa maior disponibilidade de verbas no lar, Cristiane Mancini alerta: “Cuidado com a demanda reprimida, com a ilusão de acreditar que a possibilidade de compra aumentou. Dessa forma, recomendo priorizar medicamentos e alimentação e, em seguida, dívidas. Mesmo com o aumento, ainda é pouco, por isso o gasto deve ser extremamente consciente e medido”.
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Ceama estuda a elaboração de plano pastoral de conjunto para a Igreja na Amazônia Luciney Martins/O SÃO PAULO
Fernando Geronazzo
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A Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) realizou, entre os dias 12 e 14, a primeira assembleia plenária após seu reconhecimento canônico pelo Papa Francisco, em outubro. Criado em junho de 2020, esse organismo tem por missão promover a ação pastoral e evangelizadora da Igreja na região amazônica. O evento reuniu no Centro de Espiritualidade Flos Carmeli, em Mairiporã (SP), membros do Conselho Episcopal Latino -Americano (Celam), da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (Clar), da Cáritas e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), representantes dos povos amazônicos e membros da Ceama. Além disso, outras cerca de 300 pessoas participaram da atividade na modalidade on-line. Devido a um tratamento de saúde, o Presidente do organismo, Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, acompanhou a assembleia virtualmente e esteve presente na sua conclusão. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Celam, participou do último dia do encontro.
Fruto do Sínodo
A Ceama é fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, realizada em 2019, no Vaticano. Na ocasião, foi proposta a criação de um organismo “permanente e representativo para promover a sinodalidade na região amazônica”, que tem uma extensão de 7,8 milhões de km2, incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A missão da Ceama também se pauta nos quatro “sonhos” – social, cultural, ecológico e eclesial – expressos pelo Papa Francisco na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazonia (2020). O Cardeal Hummes definiu a Ceama como “uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus”.
Caminhar juntos
Nesse sentido, a conferência eclesial não tem o objetivo de ser uma estrutura que suplante o
Participantes da assembleia plenária da Conferência Eclesial da Amazônia, realizada na cidade de Mairiporã (SP), entre os dias 12 e 14
papel das conferências episcopais nacionais, tampouco a autonomia dos bispos nas respectivas circunscrições eclesiásticas que compreendem o território amazônico, mas promover a comunhão e a participação para uma ação evangelizadora em comum. “É fundamental que continuemos trabalhando em rede, juntos. Sabemos que isso é exigente. Parece mais fácil planejar e trabalhar isoladamente em nossas próprias comunidades. Mas uma Igreja sinodal ‘em saída’ nos chama a não nos dispersarmos. Sínodo significa ‘caminhar juntos’, respeitando nossas diferenças”, enfatizou Dom Cláudio, no discurso feito virtualmente na abertura da assembleia.
Pastoral de conjunto
Essa assembleia teve como objetivos refletir sobre a conjuntura política, socioambiental e eclesial do território amazônico a partir de sua realidade regional e global. Foram apresentados, ainda, os trabalhos de desenvolvimento dos vários núcleos temáticos da ação da Igreja na Amazônia, como a educação, os direitos humanos dos povos amazônicos, a reflexão teológica e pastoral, entre outros. Também teve destaque na assembleia a apresentação de uma proposta metodológica para a construção de um plano pastoral de conjunto, a fim de manter vivo o processo eclesial iniciado pelo Sínodo de 2019. O Secretário-executivo do Ceama, Padre Alfredo Ferro, explicou ao O SÃO PAULO que o plano pastoral de conjunto não pode ser construído de baixo para cima, mas precisa ser fruto de um caminho conjunto. “Algo que ficou muito claro nesta assembleia é que temos que construir o
plano a partir das pastorais, das práticas e da realidade concreta da Igreja nas várias comunidades, a partir do grito e das vozes dos povos amazônicos. É, portanto, uma construção de baixo para cima. Por isso, é necessário tempo, escuta, discernimento”, acrescentou o Secretário, estimando que o processo de elaboração do plano levará o mínimo de dois a três anos.
Primeiros passos
O Cardeal Scherer ressaltou à reportagem que a Ceama é um organismo novo que, embora já tenha sido reconhecido pelo Papa, precisa ter seu estatuto aprovado pela Santa Sé para que possa definir com clareza sua missão e identidade específica, assim como suas relações com os outros organismos eclesiais já existentes na Amazônia, como as conferências episcopais nacionais. “Certamente, há algo novo surgindo. Esse novo, porém, ainda está tomando corpo e se definindo. É grande o apelo por um trabalho em uma linha sinodal na grande Amazônia diante dos desafios e da missão comum da Igreja em relação a todo aquele conjunto de realidades dos povos amazônicos. Há, portanto, muita esperança”, afirmou Dom Odilo.
Gratidão ao Cardeal Hummes
No último dia da assembleia, houve uma homenagem ao Cardeal Hummes por sua dedicação e atenção pastoral à Igreja na Amazônia. Durante a reunião de avaliação da assembleia, os participantes receberam uma visita surpresa do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida (SP), que es-
tava de passagem pelo local do evento. Dom Raymundo saudou Dom Cláudio e recordou aos presentes que foi ele quem convidou o Cardeal Hummes para presidir a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 2011. “Eu havia acabado de retornar de Roma, quando deixei o cargo de Prefeito da Congregação para o Clero, quando recebi o telefonema de Dom Raymundo me perguntando se eu gostaria de presidir a Comissão para a Amazônia. Eu prontamente respondi que sim”, relatou Dom Cláudio, recordando que ser missionário na Amazônia era um sonho cultivado em sua juventude como frade franciscano, mas Deus e a Igreja o chamaram para outras missões.
Dom para a Igreja
Foi a partir do trabalho em nome da CNBB que o Arcebispo Emérito de São Paulo conheceu de perto a realidade amazônica. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro presidente. Em seguida, foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia e, agora, aos 87 anos, preside a Ceama. “É difícil expressar em palavras os sentimentos pela Amazônia. Agradeço muito todo o carinho e creio que podemos continuar a nos dedicar totalmente a essa vocação que o Papa nos confirmou: trabalhar para a evangelização na Amazônia. Sou muito feliz com a Ceama. É um dom de Deus para a Igreja e para o povo”, manifestou Dom Cláudio. A assembleia foi concluída com uma missa em ação de graças pela aprovação canônica da Ceama e pelo caminho percorrido pelo organismo eclesial.
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África
Ásia
Igreja estimula a paz na República Centro-Africana
Missionários poloneses ajudam crianças no Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão
REDAÇÃO
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Em busca da paz na República Centro-Africana, a Igreja tem atuado para que o governo do presidente Faustin-Archange Touadéra volte a dialogar com os opositores. “A situação está melhorando lentamente no país, embora o fato de os rebeldes terem entrado em Kaga-bandoro e Bossangoa há duas semanas seja preocupante. Eles não respeitaram o cessar-fogo unilateral declarado pelo governo em outubro. Estamos bastante preocupados porque não sabemos o que significa e se faz parte de uma estratégia. Em geral, a situação em Bangui e em outras prefeituras é calma, mas, após a retomada das operações militares dos rebeldes, não se sabe o que pode acontecer”, disse, em entre-
vista à Agência Fides, o Padre Walter Brad Mazangue, Chanceler da Arquidiocese de Bangui. Ele ainda afirma que “os acontecimentos começaram a melhorar também graças às reuniões pretendidas pelo presidente Touadéra com os parlamentares centro-africanos”, apesar de os rebeldes terem se recusado a participar. Uma nova rodada de conversas está marcada para 21 de dezembro. Nos últimos meses, a República Centro-Africana obteve o apoio das forças armadas russas, das ruandesas e também das milícias mercenárias russas da companhia Wagner. Especialmente estas últimas, segundo denunciam diversos relatórios de organismos internacionais, têm perpetrado violência indiscriminada e abusos contra a população civil. A Igreja e os líderes religiosos sem-
pre estiveram na vanguarda da promoção da reconciliação nacional e da garantia de ajuda às populações civis atacadas: “A ação e a voz do Cardeal Dieudonné Nzapalainga e a plataforma das confissões religiosas estão ajudando. Além disso, os bispos encontraram-se recentemente com o presidente e discutiram com ele todos os caminhos para se chegar à paz e os métodos para convencer os políticos, e especialmente os rebeldes, a reingressar no processo de diálogo, um trabalho difundido e realizado por sacerdotes e religiosos nas paróquias de todo o país: por meio de exortações, mensagens, homilias e testemunhos, procuramos ajudar a população a entrar numa mentalidade de paz e a construir uma cultura e uma sociedade permeadas por um espírito de paz e reconciliação”, afirmou Padre Walter. Fonte: Agência Fides
América Bispos dos EUA pedem ajuda para as vítimas de tornados Uma sequência de tornados atingiu as regiões sul e central dos Estados Unidos na sexta-feira, 10. Em Washington, Dom José H. Gomez, Arcebispo de Los Angeles e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB), e Dom Paul S. Coakley, Arcebispo de Oklahoma City, Presidente do Comitê de Justiça Doméstica e Desenvolvimento Humano, emitiram uma declaração conjunta de pesar e solidariedade “Durante este tempo de Advento, onde esperamos com alegria pelo nascimento de Nosso Senhor, oramos por
aqueles que foram feridos, por aqueles que perderam suas vidas e por suas famílias e comunidades em luto. Que aqueles que foram afetados por essas tempestades encontrem paz, conforto e esperança em nossa fé e no amor infinito de Deus. Também oramos pelas equipes de resposta à emergência e por aqueles que começaram o trabalho de atender às necessidades dos impactados nessas comunidades nos esforços de recuperação”, escreveram os Bispos no comunicado. No Vaticano, no domingo, 12, o Papa Francisco ofereceu suas “orações sinceras para que Deus Todo-Poderoso conceda
paz eterna aos que morreram, conforto aos que choram sua perda e força a todos os afetados por esta imensa tragédia”. O Papa agradeceu aos “envolvidos no atendimento aos feridos, às famílias enlutadas e aos desabrigados” e pediu a todos os que se empenham no trabalho massivo de socorro e reconstrução “os dons de força e perseverança generosa do Senhor no serviço a seus irmãos”. A Catholic Charities USA está com uma campanha para ajudar as famílias afetadas. Doações podem ser feitas pelo link a seguir: https://cutt.ly/8YHG2kz. Fontes: USCCB e Vatican News
Há 28 anos, no período do Natal, centenas de crianças e animadores missionários de toda a Polônia participam da ação “Star Singers” (Cantores de Estrelas). Em 2021, a atividade será realizada em favor das crianças do Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. “Muitas vezes, os pais dessas crianças são obrigados a trabalhar fora do país por causa do desemprego, e os filhos são deixados à própria sorte”, explicou em entrevista à Agência Fides a Irmã Monika Juszka, das Pontifícias Obras Missionárias na Polônia. Durante a ação, os missionários dirigem centros infantis e oratórios, organizam acampamentos de verão e procuram proporcionar educação e atividades de lazer para crianças com deficiência. “Eles se preparam para esta atividade orando pelas missões e missionários, estudando a geografia do país e a situação de crianças em todo o mundo. Assim também passam a cuidar das outras pessoas, a se abrir para ajudar os necessitados e a ampliar seus horizontes”, detalhou a Irmã Monika Juszka. Em 2020, graças às doações arrecadadas, 54 projetos diferentes em favor da educação e saúde de crianças de até 14 anos de idade foram realizados em nove países. Fonte: Agência Fides (Pesquisa de notícias: Carolina Palanch Matos. Redação final: Daniel Gomes)
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Vaticano apresenta rito para instituição de catequistas Vatican Media - 2019
Ministério deve ser conferido preferencialmente aos leigos que atuam de forma corresponsável com seus pastores Filipe Domingues
Especial para O SÃO PAULO, em Roma
Sete meses após a criação do ministério de catequista pelo Papa Francisco, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos apresentou o rito que deverá ser usado nas cerimônias de instituição. A celebração deve refletir a Teologia já existente sobre este ministério laical, diz o documento, e o exercício do ministério de catequista deve ser orientado pelas conferências dos bispos de cada país. Localmente, “é papel do bispo diocesano discernir sobre o chamado ao ministério de catequista, avaliando as necessidades da comunidade e a capacidade dos candidatos”, diz a carta do Prefeito da Congregação, Dom Arthur Roche, enviada aos bispos de todo o mundo, detalhando aspectos do rito litúrgico “De Institutione Catechistarum”, promulgado pela Santa Sé .
Um ministério laical
O ministério de catequista deve ser conferido preferencialmente a homens e mulheres leigos – e não a sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas ou candidatos ao diaconato. A instituição também deve ser evitada para quem já tem funções
Papa encontra crianças e catequistas na Paróquia de São Crispim de Viterbo, em Roma, em 2019
dentro de movimentos eclesiásticos e para os professores de religião das escolas (a menos que também sejam catequistas nas igrejas). A carta de Dom Roche deixa claro que, ao falar de um “ministério laical”, a Igreja se refere à “condição de batizado” de cada fiel cristão, que exerce um sacerdócio diferente daquele do ministro ordenado (padres e diáconos). Essa dimensão, diz o texto de Dom Roche, faz com que “os catequistas, em virtude do batismo, sejam chamados a serem corresponsáveis na Igreja local pelo anúncio e a transmissão da fé, realizando esse papel em colaboração com os ministros ordenados e sob a sua condução”.
Estabilidade e anúncio
Outro aspecto importante para a instituição do ministério é a estabilidade do catequista, que deve se dedicar com afinco ao anúncio da Palavra, ser uma pessoa coerente e participar da comunidade com “diferentes formas de apostolado”. Por isso, nem todos os que atuam na ini-
ciação de crianças, jovens e adultos deverão receber o ministério. O recomendável é que isso ocorra após um “oportuno discernimento”, para que não haja confusão com outros ministérios laicais, como o de leitor, uma vez que inclui a função de “educar à fé as crianças e os adultos e guiá-los para receber dignamente os sacramentos”. O documento indica que, em vez disso, o que define o ministério de catequista é o anúncio constante e articulado da fé. As pessoas responsáveis por iniciativas de formação e com “responsabilidade de coordenar toda a atividade catequética” de uma comunidade, por exemplo, se encaixam melhor nessa proposta. Em outras palavras, a Catequese não deve se limitar aos processos de iniciação, mas corresponde, de forma mais ampla, “ao serviço do anúncio” da Palavra de Deus, conforme a carta do Prefeito. Na prática, o ministério deve ser instituído pelo bispo diocesano ou por um sacerdote delegado por ele, com o rito próprio que acaba de ser criado, durante a missa ou em uma celebração da Palavra.
Papa Francisco: ‘As armas nunca são o melhor caminho’ Preocupado com a tensão internacional no Leste Europeu, especialmente na Ucrânia, o Papa Francisco afirmou que “as armas não são o caminho” para resolver desentendimentos, mas, sim, o diálogo. “Que neste Natal o Senhor traga paz à Ucrânia!”, aclamou, no Angelus do domingo, 12. Após a onda de protestos pela democracia que durou meses em Belarus, no fim de 2020 e no início de 2021, a Rússia aumentou sua presença militar nas zonas de fronteira com a Ucrânia e a Polônia. Belarus é a última ditadura do continente europeu e vive sob forte influência russa. Na União Europeia e nos Estados Unidos, os passos da Rússia foram vistos como ameaça de guerra vinda do governo de Vladimir Putin. Em 2014, a Rússia invadiu e anexou a região ucraniana da Crimeia. Atualmente, há mais forças táticas da Rússia na fronteira da Ucrânia do que naquela época. “Desejo enviar minha oração à cara Ucrânia, por todas as suas igrejas e comunidades religiosas e por todo o seu povo, para que as tensões ao seu redor sejam resolvidas pelo diálogo sério e internacional, e não com as armas”, disse o Papa. Ele também rezou pelas vítimas do tornado que atingiu o estado de Kentucky, nos Estados Unidos, que deixou pelo menos 94 vítimas. O Papa Francisco saudou, ainda, os fiéis que estavam na Praça São Pedro para rezar o Terço à Virgem de Guadalupe, cuja festa coincidiu com o 3º Domingo do Advento. (FD)
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Livro-entrevista de Ratzinger sobre a fé e os desafios do pós-Concílio é reeditado no Brasil Fernando Geronazzo
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Uma das obras mais conhecidas do então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Emérito Bento XVI, acaba de ser reeditada após 37 anos de seu lançamento. Agora com o título “Relatório sobre a fé. Vittorio Messori conversa com o Cardeal Joseph Ratzinger”, fiel ao original italiano, o livro-entrevista havia sido publicado em 1984 como “A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga”. Dividido em 13 capítulos, dos quais um é mais pessoal e os demais são propriamente crítico-analíticos, o livro reúne uma série de entrevistas concedidas por Ratzinger ao escritor e jornalista italiano Vittorio Messori. A tradução do original em italiano foi revisada pelo editor Rudy Albino de Assunção, doutor em Sociologia, considerado um dos maiores tradutores das obras de Joseph Ratzinger e que, desde 2012, se dedica à propagação de seus escritos, especialmente por meio da Escola Ratzinger, responsável pela publicação da nova edição.
equivocadas e a aplicação deturpada das intuições do Concílio, convidando todos a retornarem à sua letra, isto é, aos fundamentos e determinações expressas nos documentos conciliares. “Ele afirma textualmente que, de modo algum, pode ser imputado ao Concílio a culpa dessas crises, mas a uma deturpação do seu sentido e das suas intenções”, destacou.
Questões atuais
“De alguma forma, esse livro determinou as discussões preliminares
pertinentes para a vida da Igreja. Na época, sem o distanciamento da história e em meio à recente assimilação do Concílio, muitos julgaram a análise do Cardeal como pessimista. “Em uma entrevista para a revista Time, em 1993, Ratzinger afirmou: ‘Pessimista e otimista são categorias emotivas sem valor cognoscitivo’, e ainda disse que, ‘quando analisamos a situação de uma sociedade, não devemos perguntar se devemos fazê-lo de modo otimista ou pessimista; é necessário buscar parâmetros precisos por meio dos quais Escola Ratzinger/Divulgação
Pós-Concílio
A obra foi lançada poucos anos após Ratzinger assumir o cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que exerceu até sua eleição como pontífice, em 2005. A conversa se deu um ano antes da realização da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, convocada por São João Paulo II para comemorar os 20 anos da conclusão do Concílio Vaticano II. O Purpurado alemão fez uma avaliação das primeiras duas décadas pós-conciliares, com posicionamentos firmes que tiveram bastante repercussão na época. Entre os assuntos, Ratzinger tratou da hermenêutica do Concílio, das diversas noções de eclesiologia que se afirmaram no pós-Vaticano II, assim como das diversas correntes e abordagens teológicas que surgiram nessa época; da compreensão sobre o ministério sacerdotal e o impacto disso na vida dos padres; o papel das conferências episcopais em relação à missão própria dos bispos diocesanos; a catequese e a transmissão da fé; a teologia moral; a reforma litúrgica; a ação missionária e outros temas que provocaram crises em diversos âmbitos da vida eclesial nessa época. Rudy sublinhou ao O SÃO PAULO que, na entrevista, o Cardeal não faz uma crítica ao Vaticano II, mas a certas interpretações
tima entre Francisco e Bento XVI percorre o caminho oposto a qualquer noção que reforce a polarização ideológica ou contraposição entre seus magistérios. “Não é legítimo que, em nome de Francisco, seja engavetado o papado de Bento XVI como se nunca tivesse existido, assim como repudio aqueles que instrumentalizam o pontificado anterior para atacar o atual”, salientou o editor, alertando para o perigo de muitas frases de ambos os pontífices serem retiradas do contexto em favor de certas mentalidades que não prejudicam a comunhão eclesial. Reiteradas vezes, o Papa Francisco reconhece o legado teológico e magisterial de seu predecessor, chegando a citá-lo em seus documentos. Um exemplo significativo é a encíclica Lumen fidei, publicada em 2013, por ocasião do Ano da Fé, que foi quase integralmente redigida por Bento XVI, que renunciou antes de sua conclusão, feita por seu sucessor. Tanto que Francisco enfatiza no início do documento: “Sou-lhe profundamente agradecido e, na fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto qualquer nova contribuição. De fato, o Sucessor de Pedro, ontem, hoje e amanhã, sempre está chamado a ‘confirmar os irmãos’ no tesouro incomensurável da fé que Deus dá a cada homem como luz para o seu caminho”.
Continuidade
do Sínodo de 1985”, ressaltou Rudy, considerando a obra como fundamental para compreender a Igreja no pósVaticano II, reconhecendo que muitos dos desafios apontados pelo então Prefeito da Doutrina da Fé foram considerados e enfrentados nos pontificados de São João Paulo II, do próprio Bento XVI e continuam sendo temas de atenção do Papa Francisco. O editor da obra reconhece que, no livro, Ratzinger “coloca o dedo na ferida de muitas questões delicadas”, mas
conhecer as tendências do desenvolvimento e do estado de saúde de uma sociedade’”, acrescentou Rudy.
Perigo da instrumentalização
O tradutor salientou que a obra também ajuda a conhecer com profundidade o pensamento de Bento XVI, evitando o risco de interpretações distorcidas ou superficiais de seu magistério. Ele acrescentou, ainda, que o testemunho de mútuo respeito e es-
“Ao ser eleito pontífice, o Papa Bento XVI apontava para algo que ele já aludia em 1984: o problema da interpretação do Concílio como uma ruptura tanto de um lado progressista quanto de um lado tradicionalista, e não com uma hermenêutica de continuidade”, observou o editor. Reforçando o convite do então responsável pela Doutrina da Fé na Santa Sé à necessidade de ler e interpretar o Concílio pelo próprio Concílio, isto é, por seus documentos. “Muitas das coisas que hoje são atribuídas ao Concílio estão longe das determinações explícitas nos seus documentos”, comentou o editor. Sobre esse aspecto, o próprio Cardeal Ratzinger diz no livro: “É impossível para o católico tomar posição a favor do Vaticano II contra Trento ou o Vaticano I. Do mesmo modo, é impossível decidir-se a favor de Trento e do Vaticano I e contra o Vaticano II”. Para saber mais sobre o livro, acesse: www.escolaratzinger.com.br.
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CNBB orienta católicos sobre a observância dos preceitos do Natal Fernando Geronazzo
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Na quinta-feira, 16, começa a chamada novena litúrgica do Natal, período de preparação para a celebração do Natal do Senhor, uma das principais solenidades do ano litúrgico e que, por isso, é considerado um dia santo de guarda, isto é, data em que se deve observar o preceito da participação na missa, assim como prescreve a Igreja para todos os domingos. Este ano, o fato de o dia do Natal ser celebrado em um sábado despertou dúvidas em muitos fiéis quanto ao cumprimento do preceito dominical. Por isso, a Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou algumas indicações.
Natal e Sagrada Família
Em situações habituais, a Igreja prevê a possibilidade de antecipar a celebração da liturgia dominical na tarde do sábado, permitindo que os fiéis que participarem da missa na véspera do domingo possam cumprir o preceito dominical. Este ano, porém, partindo da ordem de precedência que algumas datas litúrgicas têm sobre outras, a Solenidade do Natal do Senhor será celebrada ao longo de todo o dia 25, omitindo-se, assim, a antecipação da liturgia da Festa da Sagrada Família, que será celebrada no domingo, 26. Isso significa que se trata de dois dias distintos de preceitos a serem observados com a participação na missa. Vale lembrar que, por ser uma solenidade, a celebração do Natal também é realizada na tarde ou na noite da sexta-feira, 24. Por isso, para observar os dois preceitos, o fiel tem a possibilidade de participar da missa na véspera do Natal e no domingo.
Mãe de Deus e Epifania
Já na semana seguinte, celebra-se as solenidades de Santa Maria Mãe de Deus, no sábado, 1º de janeiro, e da Epifania do Senhor, no domingo, 2. Nesse caso, a Epifania, por ser uma solenidade relacionada a Jesus Cristo, tem precedência sobre a solenidade mariana. Por isso, o preceito de Santa Maria Mãe de Deus pode ser observado até antes do entardecer do sábado, pois, após esse período, antecipa-se a liturgia da Epifania. Nesse caso, o fiel tem a possibilidade de observar o preceito da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, na tarde ou noite da sexta-feira, 31, e cumprir o preceito da Solenidade da Epifania após o entardecer do sábado ou no domingo.
Mandamento
A observância dos preceitos litúrgicos não consiste apenas em mera formalidade legal, mas está profundamente relacionada com a experiência da fé cristã. Corresponde ao 1º mandamento da Igreja – participar da missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e se abster de ocupações de trabalho e negócios incompatíveis com a santificação do Dia do Senhor –, que está diretamente relacionado ao 3º mandamento da Lei de Deus – Guardar domingos e festas. Nesse sentido, os fiéis católicos devem santificar o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor, e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da Santíssima Virgem Maria e dos santos, em primeiro lugar participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e buscando se abster de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) destaca que o domingo é chamado de “o dia do Senhor”, pois foi nele que Jesus Cristo ressuscitou e deu início à nova criação. Ele se “distingue expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, a cada semana, e cuja prescrição substitui, para os cristãos” (cf. CIC, 2175). “A Eucaristia do domingo fundamenta e sanciona toda a prática cristã. Por isso, os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor. Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave”, continua o Catecismo (CIC, 2181).
Dias santos
Além dos domingos, também devem ser guardados o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Chris-
ti), de Santa Maria Mãe de Deus, da Imaculada Conceição e da Assunção de Nossa Senhora, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de Todos os Santos. Como algumas dessas solenidades possuem datas fixas que nem sempre são feriados, a Igreja permite que as conferências episcopais de cada país transfiram suas celebrações para o domingo mais próximo, como são os casos, no Brasil, da Epifania do Senhor, da Assunção de Nossa Senhora e Todos os Santos.
Exceções
Para situações excepcionais, como as vistas na fase mais rígida de restrições da pandemia, e em outras particularidades, como a falta de um sacerdote ou outra grave causa, como enfermidade ou dificuldade de locomoção, que torna a participação na celebração eucarística impossível, a Igreja recomenda que os fiéis “se dediquem à oração por tempo conveniente, pessoalmente ou em família, ou em grupos de família de acordo com a oportunidade” (Cân. 1248 § 2).
Descanso
Em relação ao descanso próprio dos dias santos, São João Paulo II, na carta apostólica Dies Domini (1998), afirma que, “para não se tornar vazio nem fonte de tédio, deve gerar enriquecimento espiritual, maior liberdade, possibilidade de contemplação e comunhão fraterna”. “Nesta perspectiva, o descanso dominical e festivo adquire uma dimensão ‘profética’, defendendo não só o primado absoluto de Deus, mas também o primado e a dignidade da pessoa sobre as exigências da vida social e econômica, e antecipando de certo modo os ‘novos céus’ e a ‘nova terra’, onde a libertação da escravidão das necessidades será definitiva e total. Em resumo, o Dia do Senhor, na sua forma mais autêntica, torna-se também o dia do homem”, completou o Santo Padre.
Liturgia e Vida 4º Domingo do Advento 19 de dezembro de 2021
‘O tempo em que uma Mãe der à luz’ Padre João Bechara Ventura O Advento tem uma dinâmica própria. No início, refletimos sobre a segunda vinda de Cristo; em seguida, sobre as profecias – especialmente de Isaías – acerca do Messias; e, depois, contemplamos a figura de São João Batista, o Precursor. Agora, às portas da grande festa do Natal, meditamos mais detidamente sobre a Virgem Maria. Após séculos de espera, é chegada a salvação: “Quando veio a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher e sujeito à lei” (Gl 4,4). Deveria cumprir-se o que havia sido predito pelos profetas: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel, Deus conosco” (cf. Is 7,14); e ainda: “Deus deixará seu povo ao abandono, até o tempo em que uma mãe der à luz” (Mq 5,2). Nossa Senhora, Mãe que concebe e dá à luz, é o sinal predito pelos profetas. Por essa razão, às vésperas do Natal, olhamos para Ela e, com Isabel, exclamamos repletos de gratidão e admiração: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43). Antes mesmo de a Salvação se manifestar visivelmente, já se encontrava entre os homens no ventre de Maria. Por isso, o Evangelho deste domingo narra a visita de Nosso Senhor a Isabel e a santificação de São João Batista, um milagre que Jesus realizou enquanto era ainda gestado pela Virgem. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41). Deus já agia, santificava e inspirava os seus filhos antes mesmo do Natal do Senhor, por meio da presença e da voz de Maria. A Virgem tinha sido desde a infância um prenúncio da salvação, pois fora preservada do pecado original e era já cheia de graça. Agora, porém, trazia o próprio Deus consigo, como um tesouro escondido. Onde estava a Virgem, ali estava também o Senhor, vivo e operante. De tal modo as vidas de Jesus e Maria – do Filho e da Mãe – estavam unidas e entrelaçadas que a presença divina se fez sentir e agiu eficazmente por meio da simples saudação da Mãe de Deus: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre” (Lc 1,44). Essa união continuaria no Natal de Cristo, quando os pastores, “entrando na casa, encontraram o Menino com Maria, sua Mãe” (Mt 2,11). Continuaria durante toda a vida de Jesus, até a Morte redentora, quando “estava de pé, junto à cruz de Jesus, a sua Mãe” (Jo 19,25). A Virgem, assunta em corpo e alma aos Céus, continua eternamente unida ao seu Filho. Por amor a Jesus, Ela se une também a nós, que somos membros da Igreja, Corpo de Cristo, assim como em Pentecostes, quando “todos eram perseverantes e unânimes na oração com Maria, Mãe de Jesus” (At 1,14). Por isso, às portas do Natal, recorramos a Ela! Falemos com Ela, com confiança! Peçamos à Virgem que reacenda em nós o fervor e que, por sua intercessão, recebamos a graça e exultemos de alegria com o nascimento do Salvador.
24 | Publicidade | 15 a 20 de dezembro de 2021 |
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