O São Paulo - 3405

Page 1

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

www.arquisp.org.br |

Ano 67 | Edição 3405 | 20 a 26 de julho de 2022

Editorial A defesa dos valores cristãos na vida pública também é missão dos leigos

Página 4

Encontro com o Pastor

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Em sua missão de cuidar, a família precisa de apoio público August de Richelieu/Pexels

A reestruturação do Celam para melhor servir à Igreja no continente

Página 2

Espiritualidade ‘Deixe que ela se ocupe de mim, de minha Palavra, de meu amor!’

Página 3

Liturgia e Vida Precisamos nos abandonar mais na providência e na paternidade do Senhor

Página 19

Comportamento

No documento “Cuidar de quem cuida – uma agenda urgente pelas famílias no Brasil”, o Family Talks – grupo que desde 2017 analisa a situação familiar brasileira – apresenta sugestões para suporte a famílias a partir dos eixos trabalho e renda; vínculos e educação; e apoio ao cuidado. No Brasil, pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto é investido no cuidado. “Essa falta de apoio público ao cuidado acaba por penalizar, de modo particular, as famílias mais pobres que não possuem renda suficiente para contratar serviços de apoio para tanto”, lê-se na agenda. Páginas 10 e 11

Pais, atentem-se ao excessivo sentimentalismo na educação dos filhos

Alerta: cada vez mais cedo, crianças acessam conteúdos pornográficos

Página 5

Página 9 SAP

Maria Angela Borsoi: 50 anos de vida consagrada a serviço da Igreja Página 16

Papa enaltece avós e idosos, os ‘artífices da revolução da ternura’ É fundamental que famílias tenham trabalho e renda; vínculos fortalecidos; e amplo apoio ao cuidado

Página 18

Celam reforça o compromisso evangelizador no continente Celam

Projeto Ponto Firme auxilia a ressocialização de encarcerados Ação iniciada em 2015 ensina crochê a detentos. Peças produzidas já foram apresentadas na São Paulo Fashion Week. Página 12

Faculdade de São Bento iniciará turma de bacharelado em Direito Instalada no tradicional mosteiro beneditino, novo curso da instituição aliará ensino, tradição e inovação. Páginas 14 e 15

Assembleia extraordinária do Celam tem a participação de membros das 22 conferências episcopais do continente e de delegados da Santa Sé

Reunido em assembleia entre os dias 12 e 14, o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho reafirmou sua missão de anunciar o Evangelho com audácia e criatividade pelo continente. De acordo com o Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano e

1º Vice-presidente do Celam, em breve serão publicadas propostas pastorais a partir das reflexões da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, realizada em 2021. Página 20


2 | Encontro com o Pastor | 20 a 26 de julho de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

O

Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) é o organismo episcopal continental representativo das 22 Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe, envolvendo a maior parte dos países do continente americano. Ficam de fora apenas Estados Unidos e Canadá, que, por circunstâncias históricas e culturais, integram um outro organismo episcopal no continente. Organismos episcopais continentais semelhantes ao CELAM também existem na África, Europa, Ásia e Oceania. Esses Conselhos de Conferências Episcopais surgiram e se desenvolveram, sobretudo, a partir de meados do século XX, com o fim de proporcionar intercâmbio e ajuda entre as Conferências Episcopais de uma mesma área, tendo realidades históricas, sociais, culturais e religiosas em comum. Dessa maneira, fazem um discernimento eclesial sobre o desempenho da missão da Igreja em cada realidade humana.

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

O que faz o CELAM? Na base desses organismos episcopais continentais está a teologia da colegialidade e da comunhão episcopal: os bispos são responsáveis diretos pela vida da Igreja em suas dioceses; mas não exercem essa missão de maneira isolada: eles agem “em colégio”, ou seja, como corpo unido e corresponsável pelo conjunto da vida e da missão da Igreja. A comunhão episcopal tem a sua expressão visível maior na unidade e comunhão com o Papa, que representa a comunhão universal da Igreja e zela por ela. A comunhão da Igreja é, sobretudo, espiritual e tem sua raiz na comunhão com Cristo, fundador e mestre de toda a Igreja, e no Evangelho da salvação, do qual a Igreja é discípula, testemunha e mensageira. É o Espírito de Cristo que assegura a comunhão e a unidade na diversidade de dons e carismas, nas situações e missões mais diversificadas. Tudo é orientado em função de um mesmo Espírito. Os organismos existentes na Igreja estão a serviço da comunhão e da missão da Igreja. Assim, o CELAM, a CNBB, os Conselhos eclesiais, as Cúrias diocesanas e da Vida Consagrada encontram sua razão de ser no serviço à comunhão eclesial nos diversos níveis e expressões da vida da Igreja. O CELAM passou recentemente por uma profunda reestruturação e renovação em sua organização e

funcionamento para melhor servir às Conferências Episcopais do continente americano. O novo estatuto do organismo expressa a nova impostação de sua organização administrativa e pastoral, sobretudo através da atuação dos três Centros Pastorais, voltados para três grandes áreas de desafios e serviços às Conferências Episcopais: talento humano e formação de pessoas; conhecimento e discernimento sobre a realidade do continente; comunicação a serviço da evangelização. A organização do CELAM também procurou assimilar e expressar a sinodalidade, como dimensão a ser promovida e testemunhada em todos os níveis da vida e ação eclesial. E não se perdeu de vista o princípio da subsidiariedade, segundo o qual cada organismo eclesial assume aquilo que é próprio de sua competência. O CELAM não é uma Conferência Episcopal nem uma superdiocese e nem, muito menos, a “Cúria geral” da Igreja no continente americano. É um serviço eclesial às Conferências Episcopais e, por consequência, à Igreja na América Latina e no Caribe. Nesse sentido, entende-se também a edificação da nova sede do CELAM, inaugurada no dia 12 de julho passado em Bogotá, Colômbia. A obra vinha sendo preparada na gestão de duas presidências anteriores à atual.

Finalmente, a pedido da assembleia do CELAM de maio de 2019, o projeto foi executado e concluído com êxito pela atual presidência, que encerra seu mandato em maio de 2023. A nova sede do CELAM foi planejada para ser um centro de referência para os diversos serviços administrativos e pastorais desempenhados pelo organismo. Ela foi dotada de modernos recursos tecnológicos, que favorecem e tornam possível um serviço ágil e eficiente do CELAM em nível continental. Na sede do CELAM está abrigada uma biblioteca riquíssima de temas eclesiais da América Latina e do Caribe, como nenhuma outra em todo o nosso continente. Atualmente, o CELAM acompanha os encaminhamentos do sínodo universal convocado pelo Papa Francisco. Após as fases diocesana e nacional, promovidas em cada país pela respectiva Conferência Episcopal, o CELAM promoverá a reflexão e o discernimento sinodal em âmbito continental: primeiramente, mediante encontros sinodais nas quatro Regiões do CELAM: América Central e México; Caribe; Países Bolivarianos; e Cone Sul da América do Sul. Em seguida, haverá também uma assembleia sinodal em âmbito continental, para o discernimento sobre as contribuições da Igreja no continente americano para o sínodo da Igreja.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: OESP Gráfica • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222 • Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700, 3760-3723 e 3760-3724 • Internet: www.osaopaulo. org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 90 (semestral) • R$ 160 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Fé e Vida | 3

Espiritualidade Tu te preocupas demais! (Lc 10,38-42) DOM ROGÉRIO AUGUSTO DAS NEVES

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SÉ

A

questão é mais atual do que parece. Os homens de nosso tempo conquistaram a capacidade de planejar tudo, de calcular e até de programar. Porém, mais do que planejadores, calculistas e programadores, acabaram se tornando, eles mesmos, programas, cálculos e programas. Fico admirado quando percebo as pressões que as pessoas sofrem em nosso tempo, desde crianças. Os pais querem preparar os filhos para a concorrência do mercado de quando tiverem 20 anos. Por isso, começam a prepará-los para

isso “no berço”. Algumas pessoas colocam os filhos ainda pequenos para estudar línguas, para estimulá-los nas artes e nas ciências. A intenção é maravilhosa e merece todo o respeito do mundo. Mas os riscos são maiores que os benefícios. Vivemos como se estivéssemos sempre atrasados, sempre em segundo lugar, correndo obstinadamente para alcançar o primeiro, que é o único que serve. Nunca estaremos suficientemente preparados para um mercado tão feroz! Isso pode resultar em ansiedade, hiperatividade excessiva e, o pior, frustração. Afinal, as pessoas não podem prever o que será a vida, especialmente aquilo que não dependerá delas. Os tempos mudam! As pessoas se desgastam, se cansam, desistem. Mas o risco ainda maior é o de deixar que seja uma estrutura externa e incontrolável a dar o rumo das decisões mais importantes da vida de uma pessoa, como de sua profissão, por exemplo. Ser protagonista da própria vida exi-

ge muita paciência, inclusive das pessoas que nos amam e, por isso, precisam aprender a esperar para ver as decisões que tomaremos, quando chegar a hora de tomá-las, e não antes. É a vontade de ajudar que, às vezes, nos leva a atrapalhar. A nossa vida também é um mistério. A vida do outro é um mistério, a do filho não menos. Além disso, cada um só pode dar respostas verdadeiramente livres a respeito da própria vida. É a única liberdade que somos capazes de governar; a própria, e de ninguém mais. Infelizmente, essa costuma ser a liberdade que menos governamos. Nesse contexto, recordamos a pergunta queixosa de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço?”. A opção de Maria parecia ser uma perda de tempo, um desperdício, um descaso. Mas Jesus responde a ela e a nós: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas”. E tal resposta não desconcertaria tanto se Ele tivesse parado por aí. O

problema é que Ele afirma que toda essa preocupação é que significava perda de tempo, desperdício, descaso. Todas as preocupações e agitações se referiam às coisas menos importantes. A irmã dela tinha deixado todas as preocupações corriqueiras para se ocupar da que mais interessava. Disse Ele a Marta: “Uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. Deixe que ela se ocupe de mim, de minha palavra, de meu amor! A coisa mais frustrante para nós não é empreender muitas batalhas difíceis. O que nos decepciona mesmo é descobrir que lutamos pelas coisas erradas ou, pelo menos, pelas causas menores e menos compensadoras, nos desgastamos com coisas que, mesmo importantes, não são essenciais. O povo sabiamente ensina: “O dinheiro compra a cama, mas não pode comprar o sono”. Nossa vida precisava ser mais humana! E o grande Mestre de humanidade e de sentido da vida é Jesus: Caminho, Verdade e Vida.

Você Pergunta O livro da Sabedoria foi escrito por autores diferentes? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

“Quando leio o livro da Sabedoria, tenho a impressão de que foi escrito por pessoas diferentes. É isso mesmo?” A dúvida é da Maria de Lourdes, do bairro de Campo Limpo. Minha irmã, o livro da Sabedoria faz parte do grupo dos livros da Bíblia chamados sapienciais, isto é, livros inspirados por Deus que mostram a sabedoria do povo de Deus e que a sabedoria nada

tem a ver com a sabedoria do mundo. Ela vem do próprio Deus, mas não dispensa o esforço humano para recebê-la. O autor deste livro da Bíblia, dizem os estudiosos, é um judeu de Alexandria, apesar do livro ser chamado de Sabedoria de Salomão. Na verdade, foi o último livro a ser inserido na Bíblia por volta do primeiro século antes de Cristo. Não podia, então, ser de Salomão. O livro nos leva para Deus e quer que tenhamos muita comunhão com Ele, pois este é o caminho verdadeiro da felicidade.

Você imagine que em Alexandria viviam cerca de 200 mil judeus que sofriam como sofrem hoje os refugiados, os imigrantes. O autor do livro, portanto, reza e pensa no sofrimento do povo e na tentação que esses judeus tinham de abandonar os caminhos de Deus. Agora, minha irmã, volte a ler o livro e descubra você mesma que a verdadeira sabedoria é um dom de Deus, e este dom é para quem busca o Senhor com paciência, como a criança que busca socorro na casa do Pai, nos braços do Pai.

Veja você, por exemplo, o que o livro da Sabedoria afirma sobre aquele que confia em Deus e sofre por isso. Diz o livro que “a vida do justo está nas mãos de Deus e Deus cuida dele. Aos olhos dos insensatos, a morte pode até parecer uma desgraça, mas aquele que viveu em comunhão com Deus tem sua fidelidade comprovada pelo sofrimento, e o justo está na paz. Lindo isso, não é? Continue, portanto, sua bela leitura.


4 | Ponto de Vista | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Editorial

O clericalismo e a cidadania

O

laicismo – a tentativa de excluir Deus da esfera pública, tratando a religião como dimensão meramente privada – é um problema muito presente nos dias atuais, que apequena o debate público. Mas há um outro frequente problema que também incide sobre o exercício da cidadania dos cristãos: o clericalismo. Trata-se de uma compreensão equivocada sobre a distribuição das responsabilidades de cada um, cujas origens estão relacionadas com uma percepção distorcida da própria identidade cristã. O clericalismo a que aqui nos referimos é o entendimento de que a defesa dos valores cristãos na vida pública deve ser feita prioritariamente pelos bispos, padres e religiosos. Os cristãos leigos deveriam ficar a cargo de questões mais mundanas. Sob essa lógica, tudo o que se refere à moral e aos valores cristãos deveria ser defendido pelos bispos e religiosos, que, com mais formação filosófica e teológica, teriam mais condições de explicar e argumentar sobre esses temas. Dito dessa maneira, parece que é um problema menor, restrito a algumas poucas situações. Na verdade, é um proble-

ma enorme – que, se não for enfrentado, só tende a piorar com o tempo. Vale lembrar que as grandes questões públicas da sociedade contemporânea têm uma inequívoca dimensão moral: por exemplo, a defesa da vida humana em todas as suas fases, o enquadramento jurídico do casamento, a educação das novas gerações, a moralidade pública, a solidariedade com os mais necessitados, o zelo pelo meio ambiente, o respeito e valorização da mulher nas esferas privada e pública, a regulação das relações de trabalho. Quais são as principais consequências do clericalismo? A primeira é a distorção da percepção sobre as questões públicas. Quando bispos e religiosos assumem o protagonismo dessas causas – por exemplo, da defesa do nascituro –, transmite-se a ideia de que elas são questões de fé, o que é um equívoco. A proteção da vida do feto não se baseia numa determinada orientação religiosa. É uma questão humana, acessível à compreensão de todos: o feto é um ser vivo da espécie homo sapiens; todo ser humano – independentemente de sua cor, raça, sexo ou grau de desenvolvimento – tem direito à vida; a lei deve proteger a vida

A oração do ateu

Além disso, quando a defesa dessas causas fica restrita aos bispos e padres, tem-se uma resposta apenas reativa, perante determinados casos. Ou seja, o clericalismo conduz a uma defesa frágil da vida, da família, da dignidade da pessoa humana. Todos esses temas precisam fazer parte da atuação cotidiana dos cristãos, não como mera defesa de ideias, mas como verdadeiro serviço continuado. A causa da vida, por exemplo, não é mero tema de batalha legislativa. Há muitas frentes, possíveis e necessárias, de formação, educação, cuidado, acolhimento, diálogo. Não se trata de negar a participação dos bispos e padres na vida pública. São cidadãos como os demais. Menos ainda significa rejeitar sua função indispensável de formação e orientação dos fiéis leigos. A questão do clericalismo é outra: os leigos têm de assumir, livre e apaixonadamente, seu papel na sociedade. Muitos problemas atuais, que tanto preocupam as famílias, adquirirão outra dimensão quando os leigos realizarem a sua parte. São Igreja, e a presença da Igreja – a presença de Cristo – é sempre eficaz.

Opinião Arte: Sergio Ricciuto Conte

LUIZ ANTONIO ARAUJO PIERRE Orare, no latim, originalmente significa “pronunciar uma fórmula ritual, um pedido”. Dada a influência do latim na Igreja, enfatizou-se o sentido de suplicar a Deus, rezar. No grego, atheos significa “sem Deus, que nega e abandona os deuses”. Quem não crê em Deus ou em qualquer “ser superior” é ateu. De alguma forma, todos, incluindo os ateus, temos sempre ligação com a raiz do nosso ser, que nada mais é do que a ligação com o Criador. “Sou ateu, graças a Deus” é uma expressão do cineasta Luis Buñuel, criada para criticar a religiosidade. Uma espécie de questionamento da possibilidade do contato (re-ligar) com o Criador sem uma profissão de fé e fora do ambiente religioso. Uma provocação irônica, que nega e, ao mesmo tempo, coloca Deus em relevo. Nela, coexistem o esforço de negar e o imperativo impulso de aceitar, pela força da própria existência de Deus e da nossa relação intrínseca com o Criador. Na relação de amor, na busca da origem, ainda que apenas no intelecto, nos aproximamos do divino, e este é um modo de tocar o eterno, a raiz da nossa criação. Os poetas, escritores, artistas plásticos, muitas vezes revelam verdades profundas em suas obras, acerca de realidades que eles mesmos desconhecem.

de todos, sem discriminações. A condenação do aborto tem, portanto, os mesmos fundamentos que a condenação da tortura e da escravidão. Em todos esses casos, há uma explícita agressão à dignidade da pessoa humana. A outra consequência perigosa do clericalismo é a indiferença, o comodismo dos cristãos em relação a temas vitais de uma sociedade. Nas discussões públicas sobre a vida, a família, a sexualidade, a educação etc., são os leigos que têm prioritariamente o dever de atuar. Elas não são causas “religiosas”. Não são causas exclusivas de bispos, padres e freiras. É um erro pensar: “Para isso, já existe a CNBB”; ou, “Posso ficar tranquilo, o bispo da minha diocese irá emitir uma nota pública sobre tal situação”. Os cristãos são chamados a ser sal e luz do mundo. Não são alheios ao mundo. Não são – não podem ser – indiferentes às injustiças, às violências, às discriminações e às violações de direitos. Essa indiferença cívica produzida pelo clericalismo é profundamente anticristã. E, vale lembrar, os cristãos não são cidadãos de segunda categoria: têm os mesmos deveres e os mesmos direitos de todos.

A arte pode expor a Deus até mesmo sem a consciência do autor. Oração é também silêncio e introspecção no nosso mundo barulhento e superficial, e assim propõe Gilberto Gil: “Se eu quiser falar com Deus/Tenho que ficar a sós/Tenho que apagar a luz/Tenho que calar a voz”. Ernst Bloch é outro que invoca concepções de ateísmo e religiosidade, como filósofo das utopias e esperanças, para provocar uma libertação do crente diante de certas correntes de formalidade, e afirma: “Só um ateu pode ser um bom cristão”.

Na minha juventude, fiquei profundamente impressionado com a conversão de André Frossard (filho de um dos fundadores do Partido Comunista da França), a partir de um contato casual com a oração de piedosas senhoras, enquanto rezavam o Terço diante do Sacrário. Entrara naquela igreja apenas para mostrar a beleza do templo ao seu amigo arquiteto. Ateu até aquele momento, relata sua adesão à fé no livro: “Deus existe - eu O encontrei” (Editora Record, 1969). Nas várias circunstâncias da

vida, diante das inúmeras possibilidades que podem emoldurar o nascimento de uma pessoa neste ou naquele ambiente cultural e religioso, sempre imaginei um Deus Amor, que salva justamente pelo amor que podemos colocar em nossas atitudes, muito mais do que pela formalidade delas. A inserção na Igreja, a partir da fé, é uma graça incomensurável, mas que pode, por variados motivos, não se dar da mesma maneira para todos. Mas o amor intrínseco de Deus que existe na natureza das pessoas, pois inerente ao Criador e parte das criaturas, este é universal. E o amor tudo pode. O Catecismo da Igreja Católica, 1023, diz que “os que morrerem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo”. Quem ama vive na amizade com Deus, pois pratica o mandamento maior: “Amar uns aos outros como Eu vos amei”. O amor purifica. Deus é o único que sabe os caminhos de cada um de nós. Como canta Renato Teixeira: “Me disseram, porém, que eu viesse aqui Pra pedir de romaria e prece Paz nos desaventos Como eu não sei rezar, só queria mostrar Meu olhar, meu olhar, meu olhar”. Luiz Antonio Araujo Pierre, membro do Movimento dos Focolares. Professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Viver Bem/Fé e Vida/Ato da Cúria | 5

Comportamento

O perigo do sentimentalismo na educação dos filhos SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Há algum tempo, observo, com certa preocupação, um movimento dos pais de olharem para os filhos como espectadores. Conseguem descrever muitos comportamentos que estes têm, sem fazer a mínima ideia se devem ou não intervir, e como seria saudável fazê-lo. Conversando com muitos pais e convivendo com as famílias, vejo que o que impacta e paralisa o movimento educativo paterno é o medo – medo de traumatizar, medo de errar, medo de deixar marcas inadequadas na vida dos filhos. Obviamente, é muito importante que os pais se preocupem em ser bons pais, em oferecer um bom suporte para que os filhos se tornem pessoas bem resolvidas e equilibradas, mas é necessário nos debruçarmos sobre essa cristalização na ação dos pais e entendermos o que, de fato, gera esse medo que paralisa. Vejo que o maior dos problemas nesse sentido é a confusão conceitual na qual estamos imersos. Há um problema antropológico: já não se sabe mais o que é uma criança, como acontece sua formação, quem são os responsáveis por ela. Sem crenças claras, os pais vão sendo bombardeados por informações de áreas específicas de conhecimento (Psicologia, Psiquiatria, Psicopedagogia, Educação etc.) e pautam seu atuar na narrativa que elas

oferecem. Acontece que muitas dessas ciências do comportamento estão totalmente fundamentadas em uma filosofia que valoriza os sentimentos em detrimento da razão, que coloca o homem como alguém naturalmente bom, que depois é corrompido pela sociedade. Estando ancorados nesse modo de ver a pessoa e, consequentemente, a criança, esses conhecimentos trazem uma narrativa pautada em valorizar os sentimentos infantis, acolhê-los, respeitá-los e esperar que, com o natural crescimento da criança, os comportamentos inadequados dos pequenos sejam transformados. Esse discurso foi, aos poucos, tirando do processo educativo dos pequenos os limites, a disciplina, a conquista das virtudes e, com isso, engessando a ação dos pais, que mais assistem do que intervêm nos comportamentos inadequados dos filhos. Como um dos resultados desse movimento, as birras, que seriam naturais entre 18 meses e 3 anos, hoje em dia se prolongam até a adolescência (isso para não falarmos dos adultos birrentos, que encontramos aos montes por aí). Vamos aqui trazer algumas ideias importantes que espero que contribuam para a formação de critérios mais claros dos pais: não somos bichos – nem nós, nem nossos filhos. Os bichos, sim, vivem de percepções, sensações, instintos e sentimentos, sem nenhuma possibilidade de reflexão e mínima capacidade

de aprendizagem, ou melhor, de adestramento. Pessoas, ao contrário, podem ir muito além da percepção de sentimentos – podem elaborá-los, compreendê-los, atribuir sentido a eles e, inclusive, decidir livremente agir de modo oposto ao que sentem – aqui cabe o clássico exemplo do chocolate: desejo comê-lo, mas escolho não comer porque racionalmente identifico um bem maior em não o fazer. Só a pessoa é capaz disso, os bichos sempre atendem a seus instintos. Agora, essa capacidade do homem está presente somente em potência quando nasce: é preciso ser desenvolvida, trazida para a possibilidade de ato, ou seja, a partir do processo educativo é que a criança irá aprendendo sobre o mundo, sobre si mesma – seus sentimentos, suas necessidades –, sobre o certo e o errado, sobre a verdade, o bem. Enfim, tudo tem que ser ensinado aos pequenos. Todos nós nascemos com alguns dons e algumas limitações, temos facilidade para algumas virtudes e extrema dificuldade para outras. Nascemos marcados pelo pecado original, portanto, a vida é uma missão na qual o grande objetivo é empreender uma luta contra os nossos defeitos e limitações em direção a uma capacidade maior de amar, de se doar, de fazer o bem – em outras palavras, de buscar a santidade. Não se trata, portanto, de ignorarem

ou desprezar os sentimentos dos filhos, mas de entender o peso que devem ter no processo educativo e o quanto é necessário, com sabedoria, conduzi-los para além deles; o quanto, quando incentivados por vocês, pais, os filhos podem superar muitos pequenos obstáculos rumo a se tornarem pessoas fortes, que dominam seus impulsos e conseguem agir de acordo com uma vontade bem formada. Pais conscientes, bem formados, que buscam verdadeiramente o bem dos filhos, não os traumatizarão por não atenderem a um desejo irracional dos pequenos ou por limitarem, com firmeza, um comportamento impulsivo e inadequado. Ao contrário, quando não fazem isso, estão deixando no mundo pessoas perdidas, sem norte, que facilmente se perderão nos árduos caminhos que a vida costuma apresentar. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

Ato da Cúria POSSE CANÔNICA Em 10/07/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, no bairro de Vila Zilda, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Luis Izidoro Molento.

Fé e Cidadania A participação popular direta IRINEU UEBARA Que tal mudar o foco das próximas eleições para repensar algo que já se encontra em nosso alcance? Nestes tempos de acirrado embate político pelas eleições estaduais e nacionais, o radicalismo impera e dificulta o diálogo. Assim é que a visão ideológica faz enxergar apenas defeitos nas obras e posicionamentos dos adversários políticos, atribuindo-se a si, normalmente, o monopólio de todas as virtudes; seja do lado progressista, com alinhamentos automáticos às lideranças da esquerda, seja do lado conservador, com suas pautas e agendas evocando os costumes e afins. Nessa colocação “estanque”, o eleitor fica mais confuso do que esclarecido. O que se presencia na sociedade se reflete no seio da Igreja. Muitos fiéis entendem que a religião não deveria se intrometer nos assuntos políticos, pois estes devem ser resolvidos em foros próprios distantes dos púlpitos e altares. O Magistério da Igreja tem se posicionado sempre a favor da Política, considerando-a como “uma das mais altas expressões da caridade cristã”. Conceito expresso por Pio XI, retomado por Paulo VI e, recentemente, pelo Papa Francisco (Fratelli tutti, FT, 180).

A Igreja tem a Política como busca permanente do bem comum. O Catecismo da Igreja Católica esclarece (CIC 1924) que o bem comum abrange “o conjunto das condições sociais que permitem aos grupos e às pessoas atingir a sua perfeição, do modo mais pleno e fácil”. A exortação Christifideles laici afirma que, mesmo com a ‘‘opinião muito difusa de que a política é um lugar de necessário perigo moral, não justificam minimamente nem o ceticismo nem o absenteísmo (ausência) dos cristãos pela coisa pública” (CL, 42). O Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI, 189ss) lembra que a participação é considerada um elemento fundamental para a construção do bem comum. Mesmo sem essa orientação, o bom senso e a lógica indicam a necessidade da participação política – conscientização e voto, como exercício indispensável da cidadania. Destacamos propositadamente o direito fundamental de participação popular direta (PPD), eis que a forma indireta exercida pelo voto é bem conhecida e evocada em toda a propaganda político-eleitoreira. A participação popular direta é direito constitucional. Existem, conforme o Art. 14 da Constituição federal (CF/88), o plebiscito (convocado antes da criação de um

www.osaopaulo.org.br ato legislativo), o referendo (convocado posteriormente ao ato) e iniciativa popular. Para um “projeto de lei de iniciativa popular” tramitar na Câmara dos Deputados, deve ser “subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles” (CF/88, Art. 61 § 2º). A “iniciativa popular” é pouco divulgada, apesar de termos muitas organizações, associações, sindicatos, profissões religiosas e outros segmentos da sociedade civil com enorme capilaridade, nos vários estados da Federação, que poderiam facilitar a coleta de assinaturas. O processo poderia, inclusive, se tornar mais ágil, utilizando-se da tecnologia da informação tão presente em nossa vida. É certo que se debruçássemos todos sobre uma proposta, numa plena comunhão, elaboraríamos um dispositivo legal, capaz de promover uma mudança social no sentido de fazer prevalecer os reais interesses do bem comum. Pensemos comunitariamente sobre essa participação: quem sabe, possamos evitar a enorme dependência dos agentes políticos. Irineu Uebara, bacharel em Teologia, advogado e licenciado em Letras, com atuação em diversos movimentos e pastorais na Arquidiocese de São Paulo.

Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Papa pede a religiosos que priorizem a evangelização, evitem fofocas e tenham ‘tolerâcia zero’ com abusadores https://cutt.ly/8LXlf7R ACN enviará ajuda a dioceses necessitadas no Sri Lanka https://cutt.ly/8LXlHDS Dom Odilo: ‘Se nos desgarramos de Deus ao longo da vida, tudo fica sem sentido’ https://cutt.ly/ULXj8mM Sé, República e Cidade Dutra são os bairros onde vivem a maior parte dos refugiados atendidos pela Caritas https://cutt.ly/7LXkgKb Vacinação contra sarampo está abaixo da meta, alerta Ministério da Saúde https://cutt.ly/GLXkO9N


6 | Regiões Episcopais | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

BRASILÂNDIA Dom Carlos Silva preside ordenação presbiteral na Vila Palmeira Júlio César dos Santos

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Pela imposição das mãos de Dom Carlos Silva, OFMCap, no sábado, 16, na Paróquia São José, na Vila Palmeira, Setor Freguesia do Ó, foi ordenado sacerdote o até então Diácono Ademar Aparecido Silva dos Santos, 34 anos, nascido na capital paulista e vocacionado dessa paróquia. Trata-se da décima vocação nascida na comunidade e o segundo a se tornar padre vindo pela Congregação das Escolas de Caridade dos Padres Cavanis, ordem religiosa nascida em Veneza, Itália, e que administra a Paróquia há 27 anos. A missa foi concelebrada por mais de 20 padres e ocorreu na memória litúrgica de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da Congregação e na mesma data em que ela foi reconhecida canonicamente. O agora Padre Ademar (à direita do

Bispo) ingressou na congregação em fevereiro de 2006, fez sua primeira profissão religiosa em 2012, professou os votos perpétuos em 2020 e no mesmo ano recebeu a ordenação diaconal. Ele escolheu como lema sacerdotal “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17). Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia exortou o ordenando a aderir à vontade de Alexandre Leal

[SANTANA] Na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Boa Viagem, Setor Vila Maria, no domingo, 17, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu a missa durante a qual 20 pessoas receberam o mandato como ministros extraordinários da Sagrada Comunhão. Concelebrou o Padre Efigênio Rodrigues da Rocha (por Fernando Fernandes) (Padre Estevão), Administrador Paroquial.

Deus: “Com simplicidade e sabedoria, se esforce para captar e interpretar os sinais da Providência Divina na sua vida. Com constância e obediência ao Espírito Santo, não se subtraia das ações e processos que pareçam difíceis, exigentes e até impossíveis segundo os cálculos humanos. Com a Igreja, procure contemplar para agir para além do que alcança a indigente visão, ou seja, que seu olhar seja ilumina-

do pelo olhar misericordioso e justo de Deus, o Deus dos pequenos e dos pobres do Reino. Desse modo, como servidor de Jesus e seguidor do Evangelho, você será realmente um padre feliz”. Ao final da celebração, o neossacerdote agradeceu a Dom Carlos Silva, aos familiares e a todos os que o apoiaram na caminhada vocacional – “Deus nos chama todos os dias e o nosso sim requer uma resposta diária” – e ressaltou que em seu ministério presbiteral pretende ter grande amor ao sacerdócio e à Igreja, sempre preparar com respeito e cuidado as celebrações, ministrar os sacramentos para proporcionar aos fiéis a experiência da graça de Deus e, pastoralmente, marcar de forma positiva a vida das pessoas. Padre Ademar presidiu sua primeira missa na Paróquia São José na manhã do domingo, 17. (Colaborou: Julio Cesar dos Santos) Pascom paroquial

[LAPA] Na quinta-feira, 14, memória litúrgica de São Camilo de Lellis, padroeiro dos hospitais e enfermos, a Pastoral da Saúde regional organizou celebrações em nível setorial nas paróquias. Na Paróquia Nossa Senhora dos Pobres, Setor Butantã, a missa foi presidida por Dom José Benedito Cardoso, e concelebrada pelo Padre Ricardo Michelin, CR, Pároco, assistidos pelo Diácono Antônio Geraldo de Souza. Participou Maria Izabel Silva Guimarães, coordenadora da Pastoral da Saúde regional. (por Benigno Naveira) Pascom paroquial

Comunidade Nossa Senhora da Conceição

[BRASILÂNDIA] Após dois anos fechada em razão da pandemia e de obras, houve no sábado, 16, a reabertura da Comunidade Nossa Senhora da Conceição da Paróquia Santos Apóstolos, com missa presidida pelo Padre Jaime Izidoro de Sena, Pároco. (por Pascom paroquial) Leonardo Alisson

[BELÉM] No domingo, 17, Dom Cícero Alves de França conferiu o sacramento da Confirmação a 30 jovens e adultos na Paróquia São Pedro Apóstolo, na Vila Industrial, Setor Vila Alpina. Concelebraram os Padres Carlos André Romualdo, Administrador Paroquial, e Benedito Aparecido Maria de Borba, Vigário Paroquial. Na homilia, o Prelado destacou que “Maria e Marta expressam a oração e a ação”, ressaltando que cada crismando é chamado a ser “o bom odor de Cristo”. (por Padre Carlos André Romualdo) iácono Anivaldo Blasques

[SANTANA] No sábado, 16, na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Setor Jaçanã, aconteceu a festa em honra à padroeira e a comemoração do jubileu de ouro de elevação canônica da comunidade a paróquia, com missa presidida por Dom Jorge Pierozan, tendo entre os concelebrantes os Padres Josival Lemos Barbosa, MS, Pároco; Maurício Dias, MS, Vigário Paroquial; com a assistência do Diácono Maurício Luz. (por Denilson Araujo)

[IPIRANGA] Cerca de 50 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC) do Setor Cursino estiveram reunidos na Paróquia Santa Ângela e São Serapião, no sábado, 16. Também participaram o Frei José Maria Mohomed Junior, Coordenador de Pastoral da Região; os Padres José Lino Mota Freire e Christopher Costa Velasco, respectivamente Pároco e Vigário Paroquial; e o Diácono Anivaldo Blasques, coordenador dos MESC da Região. (por Diácono Anivaldo Blasques)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Regiões Episcopais | 7

SÉ Fraternidade O Caminho promove a ‘Missão Anawin’ no centro da cidade IRMÃ DORALICE DA DIVINA MISERICÓRDIA, PJC

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Entre os dias 11 e 15, a Fraternidade O Caminho realizou, no centro de São Paulo, a “Missão Anawin”, a fim de assistir as pessoas em situação de vulnerabilidade que estão nas ruas. Cerca de 150 participantes, entre religiosos, leigos consagrados e jovens, foram ao encontro dos que sofrem com a fome, o frio e a falta de moradia.

Na sexta-feira, 15, na Praça da Sé, Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu a missa de encerramento da Missão. Concelebraram o Frei Tarcísio da Santíssima Virgem Maria, PJC, Vice-ministro-Geral da Fraternidade O Caminho, e Frei Servo do Amor Chagado, PJC. Na homilia, Dom Rogério falou sobre o sacrifício como característica essencial do amor. E ainda acrescentou um conselho à Fraternidade: “Nunca deixem que o controle da missão de vocês saia das mãos de Deus”. Karen Eufrosino

Vanessa Damiana

Pascom paroquial

[IPIRANGA] A futura Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe reúne sua comunidade, todo dia 12, para a celebração da padroeira. No mês de julho, a missa foi realizada no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga, sob a presidência do Frei José Maria Mohomed Junior, responsável pelos trabalhos para a consolidação da futura Paróquia, e concelebrada pelos Padres Zacarias José de Carvalho Paiva, Reitor do Santuário; Jefferson Mendes de Oliveira, Vigário Paroquial; e Vilk Junior Araújo Silva. (por Karen Eufrosino) João Pedro Rodrigues

[BRASILÂNDIA] No domingo, 17, na Paróquia São José Operário, no Jardim Damasceno, Setor Dom Paulo Evaristo, foi comemorado o jubileu de 20 anos do Conselho Particular da Brasilândia da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), com missa presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e concelebrada pelo Padre Gilson Feliciano Ferreira, SV, Pároco, assistidos pelo Diácono Edson Chagas. (por Edna Silva e Padre Gilson Feliciano Ferreira, SV)

[SÉ] No sábado, 16, na sede do Serviço à Pastoral da Comunicação (SEPAC-Paulinas), 13 estudantes do programa de Pós-Graduação lato sensu em “Comunicação, Teologia e Cultura: teórico-prático”, promovido pela instituição, concluíram o curso com uma missa de ação de graças, presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, e concelebrada pelos Padres Diego Henrique Miquelotto, da Diocese de Limeira (SP), e Elismael Ferreira, da Diocese de Humaitá (AM), ambos alunos do curso. (por Weverton de Sousa) Pascom paroquial

[LAPA] Os monges beneditinos vallombrosanos celebraram a memória litúrgica de seus fundadores: São Bento, no dia 11, e São João Gualberto, no dia 12, na Paróquia Nossa Senhora da Assunção, a eles confiada, anexa ao Mosteiro de São João Gualberto, no Jardim Felicidade, com missas presididas por Dom Robson Medeiros Alves, OSB, Prior do Mosteiro. No dia de São Bento, concelebraram Dom José Almir Paim, OSB, Pároco; Padre Carlos Alberto dos Santos, SSP; e Frei Gilson Miguel Nunes, OFMConv, sendo que ao fim da celebração, houve a bênção e distribuição das medalhas do Santo. No dia de São João Gualberto, patrono do mosteiro, concelebraram os frades que ali residem, havendo a distribuição de medalhas do padroeiro, oriundas de Vallombrosa, na Itália. (por Benigno Naveira – colaborou Irmão Matias)


8 | Regiões Episcopais | 20 a 26 de julho de 2022 | [SÉ] No dia 13, houve a reunião do Secretariado regional, com a presença de Dom Rogério Augusto das Neves. Na ocasião, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé expressou a sua perspectiva de ação pastoral e ouviu alguns relatos sobre a situação da realidade da Região. Foi definida uma agenda de atividades e realizado os devidos encaminhamentos.

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

BELÉM Dom Cícero: ‘Maria é aquela que nos leva a Deus’ Bruno Bonfim

(por Padre Gleidson Forte Martins, SSS)

[LAPA] No sábado, 16, na Cúria da Lapa, aconteceu a reunião conduzida por Dom José Benedito Cardoso com os representantes das pastorais da Região, que apresentaram ao Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa as atividades pós-pandemia desenvolvidas nas pastorais. (por Benigno Naveira)

[SÉ] Os fiéis da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins, estão se mobilizando para uma ação solidária que acontecerá no próximo dia 25, com a entrega de sopa e um kit de apoio (garrafa de água, pão, fruta, cobertor e absorvente) às pessoas em situação de vulnerabilidade na região do Pateo do Collegio. Para participar ou obter mais informações, basta entrar em contato com a secretaria da Paróquia no telefone (11) 3083-0033. (por Rogério Nakamoto) [IPIRANGA] Fundada como gesto concreto da Região Ipiranga para a Campanha da Fraternidade de 1999, cujo lema foi “Sem trabalho, por quê?”, a Casa da Solidariedade desenvolve ações destinadas a pessoas desempregadas. Além de atendimento psicológico e de atividades voltadas para mulheres e pessoas em situação de rua, a Casa, que fica próxima à estação Praça da Árvore do Metrô, oferece cursos em áreas específicas, como cuidador de idosos, manicure, preparatório para vestibular/Enem, entre outros. Para o segundo semestre, a Casa da Solidariedade está com inscrições abertas para o curso de eletricista (instalador predial NR 10). Mais informações pelo telefone (11) 5581-8727 ou (11) 977108897 (WhatsApp). (por Karen Eufrosino) [BELÉM] O Movimento Eucarístico Jovem (MEJ) da Paróquia Santo Antônio de Lisboa, Setor Tatuapé, iniciou uma campanha de arrecadação de produtos de higiene e enfermaria (sabonete, xampu, condicionador, desodorante, creme hidratante, aparelho de barbear, fralda geriátrica, gaze, algodão, álcool em gel, soro fisiológico e lençol) para auxiliar a Missão Belém. As doações podem ser entregues durantes as missas. (por Fernando Pessoa) [BELÉM] A Paróquia Santa Maria Madalena, Setor Sapopemba, iniciou, na terça-feira, 19, sempre às 20h, o tríduo preparatório para a festa da padroeira, que acontecerá na sexta-feira, 22, na qual se celebram também os 50 anos de instalação canônica da comunidade. (por André Maia)

BRUNO BONFIM E FERNANDO ARTHUR

COLABORADORES DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, esteve no sábado, 16, pela primeira

vez, na Área Pastoral Nossa Senhora do Carmo. Na ocasião, presidiu a missa da memória litúrgica da padroeira, tendo como concelebrante o Padre Paulo Lino, Vigário Paroquial. Representantes das pastorais das seis

Pascom paroquial

capelas que compõem a Área Pastoral, criada em fevereiro de 2008 – São José Operário, São João Evangelista, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Guadalupe, São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo –, participaram da missa. Todas estão localizadas no extremo da zona Leste da capital, nos bairros do Jardim Iguatemi, Jardim Marilu e Jardim Progresso. Na homilia, Dom Cícero ressaltou que, da mesma forma que “Maria é aquela que nos leva a Deus”, a comunidade deve ser “um lugar em que as pessoas podem encontrá-Lo”. Frisou, ainda, que “Maria é a mulher do encontro”, referindo-se ao Evangelho proclamado, e pediu a intercessão de Nossa Senhora do Carmo “quando as dificuldades baterem à nossa porta”. Janete Lourenço

[SÉ] Na quinta-feira, 14, na Capela do Hospital das Clínicas, Dom Rogério Augusto das Neves presidiu a missa na solenidade de São Camilo de Lellis, padroeiro dos enfermos e dos profissionais da Saúde, concelebrada pelo Padre Carlos Toseli, MI, Capelão. Estiveram presentes os pastores Luís Roberto, da Igreja Presbiteriana, e Pedro Pazin, da Igreja Batista. (por Padre Carlos Toseli, MI)

[SÉ] A festa da padroeira da Igreja Nossa Senhora do Carmo, na Aclimação, foi celebrada com missa solene, no domingo, 17, presidida por Dom Rogério Augusto das Neves e concelebrada pelo Padre Vando Valentini, Pároco. Às 16h30, houve uma carreata pelas ruas do bairro com mais de 30 carros acompanhando a imagem de Nossa Senhora do Carmo. Na volta para a igreja, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé acolheu a imagem, que foi entronizada no templo sob aplausos dos fiéis. Na homilia, Dom Rogério agradeceu o convite de presidir a missa e relembrou a história que deu origem ao culto da Rainha do Monte Carmelo. A cerimônia se concluiu com a bênção dos escapulários de Nossa Senhora do Carmo. (por Pascom paroquial)

Luciana Pinheiro

Pascom regional

[SANTANA] No domingo, 17, durante missa presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, houve a entronização da relíquia do padroeiro na Paróquia São Camilo de Lellis, Setor Tucuruvi. Concelebrou o Padre Paulo Ramos, Pároco, assistidos pelo Diácono Márcio Cesena. (por Luciana Pinheiro)

[LAPA] No dia 12, os fiéis da Paróquia São João Gualberto, no Jardim Jaraguá, Setor Pirituba, festejaram a memória litúrgica do padroeiro, participando da celebração eucarística presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, e concelebrada pelo Padre Ailton Bernardo de Amorim, Pároco. (por Benigno Naveira)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Reportagem | 9

Com crianças e adolescentes cada vez mais expostos à pornografia, o que os pais podem fazer? Ron Lach/Pexel

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

A facilidade com que crianças e adolescentes têm conseguido acessar conteúdos de pornografia é uma realidade preocupante em todo o mundo. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em um comunicado publicado em 2021, afirma estar “alarmado com a enorme quantidade de pornografia disponível on-line, incluindo conteúdo cada vez mais gráfico e extremo que é facilmente acessível a crianças de todas as idades. Os esforços para regular o conteúdo e restringir o acesso das crianças à pornografia não acompanharam as mudanças tecnológicas que alteraram profundamente o cenário para o consumo de pornografia”. Um panorama global sobre o problema foi feito pela plataforma on-line Dá o Clique (https://www.daoclique.pt), mantida pela Associação Família e Sociedade, de Portugal:

consumo de pornografia se inicia O em média aos 11 anos de idade; 10% dos consumidores de pornografia têm menos de 10 anos de idade; 1/3 das crianças entre 10 e 14 anos visitam sites de pornografia com frequência; 81% dos jovens entre 13 e 18 anos afirmam ser uma conduta normal consumir pornografia; 68 milhões de pesquisas diárias sobre pornografia são feitas na internet; 230 milhões de downloads de apps pornográficos são realizados por ano; Existem 800 milhões de sites pornográficos no mundo. Esses dados foram compilados antes da pandemia de COVID-19. Tendem, portanto, a ser ainda maiores, uma vez que em 2020 e 2021 muitas crianças e adolescentes permaneceram em casa, no isolamento social, com amplo acesso à internet, nem sempre com a devida tutoria dos pais ou de um adulto responsável. No Brasil, a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos fez 98.244 registros de casos envolvendo o envio e postagens de fotos e vídeos de nudez explícita de crianças e adolescentes, quase o dobro das 48.576 ocorrências de 2019. Um levantamento da Safernet, ONG que promove a defesa dos direitos humanos na internet, indicou que, nos quatro primeiros meses de 2021, houve o aumento de 33,45% das denúncias envolvendo pornografia infantil na internet.

CONTATO PRECOCE E PREJUDICIAL

Conforme alerta o Unicef, a exposição das crianças à pornografia pode levar “a problemas de saúde mental, sexismo e objetificação, violência sexual, entre outros resultados negativos”. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro, fonoaudióloga, mestra em Educação e máster em Matrimônio e Família, ressalta que os pais devem

conhecer os efeitos nocivos desse contato precoce e se empenhar para que os filhos não tenham acesso a esse tipo de conteúdo. “A pornografia age no sistema neurológico do mesmo modo que as drogas – causando uma alteração na liberação de dopamina em algumas áreas cerebrais. A dopamina é um neurotransmissor que se encontra nas regiões do cérebro que regulam o movimento, a emoção, a motivação e o prazer. A pornografia acaba por causar uma dependência, assim como acontece com o uso de drogas: o consumidor irá buscar cada vez mais doses de pornografia para satisfazer seus desejos de prazer”, alertou a orientadora familiar. “Outro efeito é decorrente desse primeiro: na busca de doses cada vez maiores de pornografia, as crianças e adolescentes entram em contato com atos sexuais extremos e, com a experiência repetida deles, passam a normalizar esses atos. Vão, então, mudando seus padrões morais. Inicia-se uma imagem completamente distorcida do ato sexual saudável, e isso acarreta efeitos negativos na saúde física, psicológica e emocional deles. Há um aumento dos casos de depressão, ansiedade, início precoce da vida sexual, riscos de gravidez precoce, além de uma visão completamente distorcida da relação entre homens e mulheres”, ressaltou.

ATENÇÃO E CUIDADOS QUE FAZEM A DIFERENÇA

Simone destacou que, desde a mais tenra idade, os pais devem educar as crianças para a afetividade. Uma das frentes de ação é ensinar a virtude da temperança, o que pode ser feito não atendendo a todas as vontades dos pequenos. De igual modo, também é importante “criar em casa um ambiente em que eles experimentem o amor entre os pais e se sintam amados. Que aprendam a amar de modo verdadeiramente humano, buscando o bem do outro em pequenos gestos cotidianos”. Criar um vínculo emocionalmente seguro com os filhos também facilita que haja momentos de conversa sobre o assunto. “Que os pais escutem as dúvidas e percepções dos filhos e que se coloquem à disposição para serem percebidos como um ponto de apoio dos filhos em caso de necessidade; tratar de diferenciar para os filhos o que é o amor en-

tre homem e mulher e o que é a pornografia (chamando-a pelo nome); orientá-los sobre os perigos da pornografia e do assédio, conforme a idade em que se encontrem (acima dos 10 anos)”, detalhou. Outras atitudes indispensáveis envolvem assegurar que as crianças e adolescentes cresçam em um ambiente fisicamente seguro:

ão ouvir músicas inadequadas N em casa; Cuidar das roupas de todos (adultos e crianças), para que não haja exposição excessiva; Cuidar dos filmes e programas que são assistidos em casa; Usar filtros de linha em todos os aparelhos aos quais as crianças tenham acesso; Não disponibilizar televisão ou computador no quarto; Evitar que os filhos levem para o quarto celulares ou tablets; Supervisionar o uso e estar atento aos conteúdos que os filhos acessam, mesmo aqueles que não estão bloqueados, pois algumas séries e desenhos podem trazer cenas ou conteúdos impróprios. Simone Fuzaro enfatizou, ainda, que é indispensável formar a consciência dos filhos a respeito do quanto o contato com a pornografia é prejudicial: “Eles conviverão com amigos e podem ter acesso a esses conteúdos por meio deles. Portanto, formar bem, conversar, alertar sempre é muito importante”.

UMA TAREFA URGENTE PARA TODOS

A exposição de crianças e adolescentes a conteúdos pornográficos é um tema que preocupa a Igreja. Em 1989, o Dicastério para as Comunicações Sociais publicou a mensagem “Pornografia e violência nas comunicações sociais”, na qual alerta que “a pornografia e a violência sádica depreciam a sexualidade, pervertem as relações humanas, exploram os indivíduos – especialmente as mulheres e as crianças –, destroem o matrimônio e a vida familiar, inspiram atitudes antissociais e debilitam a fibra moral da sociedade”. Recentemente, o Papa Francisco falou sobre o assunto ao receber em audiência, em 10 de junho, os membros da Federação das Associações Familiares Católicas na Europa. Ele lembrou que a pornografia “se espalha por toda a parte por meio da internet: deve ser denunciada como um ataque permanente à dignidade de homens e mulheres. Não se trata apenas de proteger as crianças – uma tarefa urgente para as autoridades e para todos nós –, mas, também, de declarar a pornografia como uma ameaça para a saúde pública. ‘Seria uma grave ilusão pensar que uma sociedade em que o consumo desmedido do sexo na rede se difunde entre os adultos é depois capaz de proteger de maneira eficaz os menores’ (Discurso aos participantes no Congresso ‘Child Dignity in the Digital World’, em 6 de outubro de 2017)”.


10 | Reportagem | 20 a 26 de julho de 2022 |

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

“Está cada vez mais difícil ser família no Brasil, e a causa dessa triste realidade é a falta de apoio público ao cuidado – ou o que se convencionou chamar crise do cuidado. Por isso, mobilizamos empresas, sociedade e governo para que promovam o apoio de que as famílias precisam para funcionar e cuidar de todas as pessoas.” Este é um dos trechos do documento “Cuidar de quem cuida – uma agenda urgente pelas famílias no Brasil”, lançado pelo Family Talks (www.familytalks.org), grupo que desde 2017 acompanha estudos internacionais, participa de debates no Brasil, promove pesquisas e dissemina conteúdos junto a empresas, governos e a sociedade em geral, a fim de pensar estratégias para que as famílias recebam mais apoio para seu desenvolvimento, em esferas como trabalho, educação, renda e saúde. No Brasil, conforme os dados compilados na agenda, pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) é investido no cuidado, enquanto países como a Suíça, França e Alemanha investem em torno de 4%. “Essa falta de apoio público ao cuidado acaba por penalizar, de modo particular, as famílias mais pobres, que não possuem renda suficiente para contratar serviços de apoio para tanto”, lê-se em um trecho da agenda, na qual há um comparativo sobre essa disparidade: enquanto famílias com renda de oito ou mais salários mínimos gastam em média R$ 4,5 mil mensais com cuidado e educação dos filhos, nas famílias com menos de dois salários mínimos esse valor é de R$ 956.

ESTRUTURAÇÃO

A agenda está estruturada em três eixos: trabalho e renda; vínculos e educação; e apoio ao cuidado (leia mais na página 11). “O primeiro volta-se à garantia de trabalho digno para as famílias e a proteção da renda, condição básica de subsistência das famílias. Um segundo passo é o fortalecimento de vínculos familiares, sobretudo a educação parental, que tem como objetivo o fortalecimento interno da família. E o terceiro passo, o apoio público ao cuidado, é algo a ser feito de forma solidária pela sociedade e o Estado, a fim de diminuir o tempo e o esforço que as famílias gastam para o cuidado. E, no âmbito de cada eixo, definimos duas prioridades, chegando a um total de seis”, explicou, ao O SÃO PAULO, Rodolfo Canonico, diretor executivo de Family Talks.

Uma agenda para cuidar de quem cuida: a família para a redução da informalidade; laborar e implementar um moE delo de imposto de renda familiar a partir da técnica de splitting familiar, pelo qual se considera a configuração familiar (dependentes) para fins de base de cálculo. “Haverá um teto de limitação do benefício fiscal por dependente para garantir a progressividade e preservar a capacidade arrecadatória do Estado”; Incluir o tempo de cuidado materno no cálculo de aposentadoria da mulher.

Artes: Family Talks

ELABORADO PELO FAMILY TALKS, DOCUMENTO INDICA SEIS PRIORIDADES PARA POLÍTICAS PÚBLICAS EM FAVOR DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

EIXO 2 – VÍNCULOS & EDUCAÇÃO

É enfatizada a relação existente entre vínculos familiares enfraquecidos e problemas sociais como uso de drogas, evasão escolar, delinquência juvenil, violência doméstica e problemas de saúde mental. Também é apontado o impacto dos hábitos familiares para o tempo excessivo de exposição das crianças às telas e para o aumento dos indicadores de obesidade infantil (condição de 3,1 milhões de crianças com até 10 anos) e de subnutrição (há 5 milhões de crianças desnutridas no País). A partir dessas constatações, propõe-se:

PRIORIDADE 3

EIXO 1 – TRABALHO & RENDA

Um dos dados apresentados neste eixo é o de que 50 milhões de pessoas no Brasil, 24,1% da população, vivem com menos de US$ 1,90 por dia; e que há 33,6 milhões de trabalhadores informais, uma situação que atinge de modo mais intenso as mulheres. Diante desses e outros indicadores, propõe-se:

PRIORIDADE 1

Dar melhor condição de trabalho a quem tem ou quer formar família Facilitar o processo para forma lização via Microempreendedor Individual (MEI); Criar programas públicos e pri vados de returnship (retorno ao trabalho), com mentoria, treinamento e acompanhamento para mães que retornam ao mercado de trabalho e às empresas que as empregam; Disponibilizar banco de empregos para recolocação profissional de mães em situação de vulnerabilidade social e violência; Oferecer incentivos fiscais a empresas para a contratação de

pessoas que ficaram afastadas por longos períodos do mercado de trabalho para cuidar de algum parente ou familiar. É o que ocorre nos Estados Unidos com o programa Wax Opportunity Tax Credit; Consolidar o teletrabalho e incentivar a flexibilização de jornadas.

PRIORIDADE 2

Proteção da renda familiar Restituir o Imposto de Bens e Serviços (IBS) para famílias de baixa renda. “Em resumo, mensalmente o cartão possuído pela pessoa habilitada é creditado pelo montante de IBS que ela pagou em compras realizadas no mês anterior. Para limitar o benefício a pessoas de baixa renda, deverá haver um limite de compras que geram crédito.” Entre as vantagens dessa medida estão o respeito à soberania do consumidor para a escolha do bem ou serviço; e o estímulo às compras em estabelecimentos da economia formal, favorecendo a inclusão tributária e contribuindo

Promoção da convivência familiar Promover programas de edu cação alimentar que envolvam as famílias e sua rede de apoio, contando com a contribuição da mídia, influenciadores digitais, órgãos públicos e privados, escolas e centros comunitários; Reduzir o tempo da exposição das crianças às telas. Para tal, no contraturno escolar, sugere-se que haja a oferta de aulas de esporte, dança, artes e afins; além disso, deve ser estimulada a produção de brinquedos e brincadeiras para serem usados na escola e em casa, bem como desafios e jogos que ocorram longe das telas; e programas de educação parental sobre a temática.

PRIORIDADE 4

Prevenção de riscos a partir da família Fortalecer vínculos familiares e promover educação parental. Estima-se que os custos dessas ações seriam os mesmos de uma campanha de vacinação infantil, havendo resultados altamente positivos, como uma redução global de 10% nos gastos para combater os efeitos adversos de casos de violência na vida das crianças; Que a partir da escola as famílias sejam envolvidas em programas de fortalecimento de vínculos familiares e prevenção de comportamentos violentos e uso de substâncias;


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Reportagem | 11

Disponibilizar programas de desenvolvimento de habilidades socioemocionais nas escolas, bem como serviços de assistência social para prevenir a fragilização de vínculos familiares, além de promover o fortalecimento emocional de crianças e adolescentes; Ofertar programas de habilidades socioemocionais a adultos e casais, para que se diminua a incidência da violência doméstica; Disponibilizar programa de orienta ção afetiva para adolescentes, com o objetivo de reconhecer e prevenir padrões de violência dentro de um relacionamento; Ofertar programas que aplicam técnica da ciência da prevenção, como o Communities that Care (CTC). “A fim de prevenir comportamentos problemáticos e promover o desenvolvimento saudável de jovens, este programa estrutura-se em cinco fases desenvolvidas e aplicadas dentro de comunidades (igrejas, centros comunitários, ONGs) ou escolas.” Ele já existe nos Estados Unidos.

EIXO 3 – APOIO AO CUIDADO

O relatório aponta que, no Brasil, tem ocorrido, concomitantemente, a diminuição da taxa de natalidade e o envelhecimento da população. Essa mudança na quantidade de idosos trará novos desafios às famílias, e o cenário mais difícil será para a “geração sanduíche”: os adultos em idade de trabalho, que precisam cuidar de seus filhos crianças e de seus pais idosos. “O objetivo deste investimento não é, de forma alguma, substituir as famílias na missão de cuidar: isso seria caro e ineficaz. Trata-se de reduzir e redistribuir as tarefas de cuidado sob responsabilidade das famílias por meio de serviços públicos e até mesmo de políticas privadas, como aquelas que promovem o equilíbrio trabalho-família”, conforme é explicado na agenda.

PRIORIDADE 5

Ampliação da rede de apoio para cuidar de crianças Diante das dificuldades de oferta de serviços de apoio para famílias com crianças, uma das soluções é ampliar a quantidade de creches; Disponibilizar programas de desen volvimento de habilidades socioemocionais nas escolas, incluindo oficinas e formação para pais e mães sobre o desenvolvimento dos filhos e fortalecimento de vínculos familiares; Ampliar a oferta de equipamentos públicos para lazer das famílias. “A gratuidade no ingresso de museus e shows para famílias de baixa renda em algum dia da semana ou do mês também pode ser uma proposta”; Diante da sobrecarga de tarefas domésticas e de cuidado que recaem sobre as mulheres, uma das soluções é garantir tempo adequado de licença-paternidade. Hoje tal licença é de 5 dias. “É razoável propor uma equiparação dos tempos de licenças-maternidade e paternidade, ou até mesmo a implementação de uma licença parental [...] Dessa forma, uma alternativa pode ser propor a ampliação da licença-paternidade para 45 dias, que é o tempo que dura o puerpério – em média. Também se faz necessário que a remuneração

da licença-paternidade fique a cargo da Previdência Social ou de estímulos fiscais, como aqueles propostos no Programa Empresa Cidadã. Hoje, os custos da licença-paternidade muitas vezes ficam a cargo da empresa”; Criar campanhas que incentivem maior partici pação masculina nas tarefas domésticas e de cuidado; Promover a licença parental para maior tempo com filhos recém-nascidos ou adotados; Facilitar o acesso às licenças-paternidade e maternidade estendidas.

PRIORIDADE 6

Garantia de cuidado adequado aos idosos Diante da carência de serviços públicos e privados para apoiar as famílias no cuidado das pessoas idosas, uma das soluções é implementar um modelo de cuidado multinível, o qual “incentiva a permanência de idosos nos níveis ‘leves’ – ou menos complexos – de cuidado. Esses níveis leves incluiriam a construção e disseminação de centros de convivência, centros-dia, atendimento domiciliar e treinamento e apoio para o cuidador familiar. São de menor custo e atuam no nível de prevenção. Já níveis mais complexos e avançados, como a construção de instituições de curta e longa duração, seriam necessárias apenas quando os níveis leves não conseguissem suprir demandas”; Elaborar uma política nacional de cuidado baseada na comunidade, pela qual se preconiza a prevenção por meio de um suporte adequado oferecido pela família, sistema de saúde e assistência social e entorno (comunidade); Implementar um fundo público de seguridade para o acesso ao cuidado, com vistas a assegurar “recursos econômicos às famílias que necessitam de suporte para o exercício do cuidado”; Ampliar a oferta de cursos e formação para cuidadores, em especial os gratuitos de curta duração para familiares e cuidadores de idosos.

AGENDAMENTO DO TEMA NA SOCIEDADE

Na conclusão da agenda, o Family Talks ressalta que a chamada crise do cuidado precisa ser enfrentada “como uma prioridade pelo governo e a sociedade, dado o papel central e fundamental do cuidado na vida das pessoas. Atualmente, as atividades de cuidado são habitualmente esquecidas pela opinião e ação pública, sendo relegadas ao ambiente doméstico, às famílias. Cada vez mais, elas precisam de apoio para exercer sua missão”. Também é enfatizado que “garantir apoio às famílias, especialmente por meio de ações para fortalecimento de vínculos familiares, tem o potencial de prevenir diversos problemas sociais com baixo custo de investimento”. À reportagem, Rodolfo Canonico explicou que os apontamentos feitos na agenda têm sido apresentados especialmente a políticos com cargos legislativos federais, e que se pretende que o conteúdo seja conhecido também pelos candidatos à Presidência da República e aos cargos legislativos. O diretor executivo de Family Talks disse que algumas das medidas propostas envolvem mudanças na legislação, como as questões do Imposto de Renda, no entanto outras podem ser implementadas diretamente pelos governos por meio de políticas públicas, mas que o grande desafio é o de que se destine verbas públicas para tal. “A ideia é que o Estado e a sociedade compartilhem as questões de cuidado que hoje estão somente com a família. Isso seria feito não para substituí-las, mas para dar condições melhores de cuidado. Isso traria um ganho de tempo para as famílias e ganhos econômicos obviamente, tanto pelo gasto que seria evitado quanto pelo tempo de qualidade que é necessário para cuidar de uma família, para desenvolver as relações familiares. Em síntese, o que estamos falando é garantir uma rede de apoio para as famílias, construída dentro de uma perspectiva solidária com a sociedade e governos, para gerar uma transformação bastante impactante”, concluiu Canonico.


12 | Reportagem | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Projeto Ponto Firme: crochê como aliado na ressocialização de detentos Fotos: SAP

O ESTILISTA GUSTAVO SILVESTRE ENSINA O CROCHÊ PARA DETENTOS EM PENITENCIÁRIA PAULISTA; PEÇAS PRODUZIDAS JÁ FORAM DESTAQUE NA SÃO PAULO FASHION WEEK, EM EXPOSIÇÃO NA PINACOTECA DE SÃO PAULO E EM NOVA YORK ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Um em cada quatro condenados pela Justiça reincide no crime, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Situações como essa não passaram indiferentes ao estilista pernambucano Gustavo Silvestre, que reside em São Paulo e em 2015 idealizou o Projeto Ponto Firme, oferecendo aulas de crochê para encarcerados na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, localizada em Guarulhos (SP). Atualmente, 16 homens participam das aulas que acontecem uma vez por semana. O aprendizado, entretanto, se estende para os demais internos, uma vez que eles manifestam o desejo de aprender o novo ofício.

ENTRE LINHAS

O primeiro contato de Silvestre com o crochê, com o bordado e com a renda foi na infância, quando via sua mãe e sua avó “crochetando e bordando”. Sua família mantinha a tradição de fazer trabalhos têxteis manuais. “Gosto de imaginar o amor e o tempo que a pessoa gastou para fazer aquele trabalho”, disse. O estilista recordou que, no processo da arte com linhas e agulhas – entre um ponto e outro –, formavam-se tapetes, guardanapos, roupas, sousplat e uma infinidade de peças. “Descobri nessa arte uma forma de ter o poder de tecer e conduzir a história com as próprias mãos”, disse, fazendo analogia da vida com o traçar dos pontos nas linhas do crochê.

CROCHÊ NA PRISÃO

O projeto inclusivo na penitenciária nasceu do desejo de ajudar essas pessoas a encontrar um ofício, a ocupar o tempo e oferecer possibilidades de aprendizagem e inclusão. Desde 2015, semanalmente, Silvestre vai até a penitenciária onde desenvolve as oficinas de crochê. Desde então, o Ponto Firme já formou mais de 130 pessoas. “Acredito que a educação e as artes têm papéis poderosos na transformação pessoal e social, e influenciam diretamente na redução da violência”, diz ele. “Já encontrei alunos que, em liberdade,

continuaram a desenvolver o crochê, sustentam suas famílias e continuam aprendendo e fazendo muitos planos”, lembrou. O tempo dedicado às aulas contribui para a remissão de pena dos participantes, além de ajudar no desenvolvimento da concentração por meio de uma terapia manual. De acordo com a legislação em vigor, quem cumpre regime fechado ou semiaberto pode remir um dia de pena a cada 12 horas de frequência em cursos, caracterizadas por requalificação profissional, como é o caso dessas aulas de crochê.

DA CELA PARA O MUNDO

Em 2020, durante a pandemia, o Projeto Ponto Firme foi destaque na São Paulo Fashion Week (SPFW), quando as peças de roupas produzidas pelos detentos desfilaram na maior passarela de moda do Brasil. “O destaque na SPFW e também em um evento de moda em Nova York é uma possibilidade de inserir as peças produzidas no cárcere e mostrar o potencial dessas pessoas ao mundo. Hoje, a tecnologia e a agenda cheia nos impedem de ver as pessoas que estão ali no sistema prisional”, disse, enfatizando a necessidade de mais inclusão e empatia pelo próximo. Silvestre pretende ampliar o projeto e levá-lo a outras penitenciárias do estado, inclusive para as femininas. “É gratificante ver a esperança deles em construir um novo futuro a partir do que aprendem nas aulas”, destacou.

APRENDIZADO E NOVA TÉCNICA

Daniel Tavares, durante seu período de reclusão, descobriu com as aulas de Silvestre uma nova técnica para criar suas peças. Ele reaproveita sacolas de arroz, açúcar, pão, plásticos em geral que iriam para o lixo, para fazer arte. “Na pandemia, faltou linha para fazer as peças em crochê e por um período as aulas foram suspensas. Mas sentia a necessidade de ocupar a mente e as mãos, então me veio a ideia de reaproveitar o plástico e, a partir daí, seguir a técnica que me possibilitou criar novas peças em crochê com linha de reaproveitamento de plástico”, afirmou. Tavares recorta as sacolas em tiras e, com a mão, estica o plástico e as transforma em linha. “Com a técnica, consigo fazer bolsas e até varal de roupas. Parece algo simples, mas imagina o bem que faz para minha restauração e, ainda, para o meio ambiente”, ressaltou, enquanto ensinava à reportagem o processo de fabricação da linha. Tavares explicou que para fazer uma bolsa, ele usa em média 26 sacolas plásticas de 5 quilos de arroz ou outro ingrediente nessa pesagem. “A equipe da penitenciária já separa essas sacolas e me entrega. Na cela, outros companheiros me veem fazendo e, curiosos, querem aprender”, disse, ressaltando que fica feliz em compartilhar a experiência com os demais.

NA PASSARELA

Fidelison Alves Borges, 43, está na penitenciária desde 2008, e começou as aulas de crochê por incentivo dos companhei-

ros de cela. Ele falou que no início achava estranho ver homens fazendo crochê e que pensava que não conseguiria aprender. “Nós estamos aqui por nossos erros e a oportunidade de novas perspectivas aqui dentro é muito bacana para ocupar o tempo, mas, sobretudo, para aprender novos ofícios”, ponderou. Borges é um dos participantes que tiveram uma de suas peças na passarela da São Paulo Fashion Week. “Foi uma grata surpresa, fiquei feliz. Nas visitas, vejo como minha família ficou orgulhosa”, disse. Fernando Henrique Silva Cesário, 32, enfatizou que, não obstante os erros do passado, quer ressignificar sua vida e seus atos. “No crochê, redescobri um novo ofício e, em cada ponto do crochê que faço, penso na minha filha de 8 anos e nas besteiras que já fiz na vida, e tenho uma certeza: quero sair daqui uma pessoa melhor”, assegurou.

A ARTE TRANSFORMA

Igor Rocha é agente penitenciário e ressaltou que na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey estão 2,3 mil presos, os quais têm dois grandes anseios: liberdade e família. “Independentemente do erro, é unânime o desejo de liberdade e do contato com a família. A transformação do ser humano por meio da arte é imprescindível e necessária. Meu maior sonho é ver mais projetos como o do Silvestre com esse potencial de reabilitação e conscientização sobre o valor e o significado da vida”, finalizou.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Pelo Brasil | 13

COVID-19: novidades no reforço para adultos e inclusão de mais crianças na vacinação DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Seguindo a recomendação do Ministério da Saúde, a Prefeitura de São Paulo incluiu, no dia 12, as pessoas a partir de 35 anos de idade entre aquelas que já podem receber a 2a dose adicional da vacina contra a COVID-19, desde que tenham tomado a dose anterior há pelo menos quatro meses. Além disso, pessoas imunossuprimidas com mais de 40 anos que já receberam a 2a dose de reforço já podem tomar a 3a dose adicional, no igual intervalo de quatro meses em relação à última imunização.

POR QUE UMA NOVA DOSE?

Ao longo da pandemia, a conceituação sobre esquema vacinal completo mudou. Inicialmente, considerava-se como imunizado contra a COVID-19 quem tivesse sido vacinado com duas doses dos imunizantes Pfizer, AstraZeneca/Fiocruz ou Coronavac; ou com a dose única da Jans-

sen. Depois, verificou-se a necessidade de doses de reforço. “O primeiro desenho para a maior parte das vacinas contra a COVID-19 era com duas doses, porque durante o período em que se faziam os ensaios iniciais, percebeu-se que a imunidade tinha um ganho quando se adicionava uma segunda dose no intervalo de duas a 12 semanas. Depois, à medida que o conhecimento foi sendo ampliado, percebemos que a produção destes anticorpos protetores vai diminuindo. Também vimos que a imunidade diminui nas pessoas que têm deficiência imunológica, seja por idade, seja por que fazem uso de medicações ou têm doenças que evoluem com a redução da imunidade, de modo que elas ficam mais vulneráveis ao redor do quarto mês após se vacinarem. Isso posto, elas receberam doses de reforço”, detalhou, ao O SÃO PAULO, o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER). Para os demais grupos, a aplicação de doses de reforço também busca evitar maiores complicações de saúde em caso

Participantes de ato inter-religioso pedem investigações por mortes na Amazônia Luciney Martins/O SÃO PAULO

Viúvas de Bruno Pereira e Dom Phillips discursam em ato inter-religioso na Catedral da Sé

Representantes de diversas religiões cristãs e não cristãs, de povos tradicionais de matrizes africanas e representantes de povos indígenas e de entidades da sociedade civil participaram no sábado, 16, na Catedral da Sé, de um ato inter-religioso em memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, mortos em junho no Vale do Javari, no Amazonas. O ato foi organizado pela Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, Comissão Justiça e Paz de São Paulo, Comissão Arns, Instituto Vladimir Herzog e pela OAB-SP. “Honrar a memória desses defensores de direitos humanos exige dar continuidade à sua bem-aventurada missão. Assim, devemos relatar e denunciar a violência que se impõe sobre esses povos, exigir que sejam tomadas as providências devidas para a sua proteção, e transfor-

mar todas as crenças e estruturas que dão espaço para a violência”, consta em um trecho do manifesto lido durante o ato. Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo de Mogi das Cruzes (SP) e Presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lembrou ser aquele um momento de oração pela paz, justiça e democracia. Alessandra Sampaio e Beatriz Matos, respectivamente, viúvas de Dom Phillips e de Bruno, também participaram. Alessandra destacou que para honrar a vida dos dois é preciso que a sociedade continue a cooperar com as comunidades indígenas. Já Beatriz pediu que as investigações continuem, a fim de que se descubra quem foram os mandantes dos assassinatos. Ela também ressaltou que é preciso garantir os direitos e os territórios dos povos indígenas. (DG) (Com informações da CNBB)

de contágio com o coronavírus. “A doença tem uma dinâmica própria, e ainda não temos uma vacina que dê plena proteção por um tempo maior, como dá a vacina contra a influenza, por exemplo, que é de cerca de nove a dez meses”, detalhou Suleiman.

VACINA PARA CRIANÇAS DE 3 A 5 ANOS

No dia 13, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a vacinação contra a COVID-19 para crianças a partir dos 3 anos de idade, com o imunizante Coronavac, com o intervalo de 28 dias entre as doses. A medida não vale para crianças imunossuprimidas. Dois dias depois, o Ministério da Saúde recomendou aos estados que iniciassem a vacinação desse público. O cronograma está a critério de cada governo estadual ou municipal. Na cidade de São Paulo, a vacinação de crianças de 3 e 4 anos de idade começa na quarta-feira, 20. Serão priorizadas aquelas com comorbidades (exceto imunossuprimidas), com

deficiência permanente (física, sensorial ou intelectual), além de indígenas dessa faixa etária. O público estimado é de cerca de 15 mil crianças. As demais poderão ser inscritas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) mais próximas de sua residência ou escola para recebimento de doses remanescentes. Os responsáveis devem apresentar documentação com endereço e telefone para convocação. Conforme dados compilados pelo Observatório de Saúde na Infância – que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) –, duas crianças menores de 5 anos morreram por dia no Brasil em decorrência da COVID-19 nos dois primeiros anos da pandemia. Ao todo, 599 crianças nessa faixa etária faleceram pela doença em 2020 e outras 840 em 2021. Entre janeiro e 13 de junho de 2022, o Brasil registrou um total de 291 mortes por COVID-19 nessa faixa etária. (Com informações de Anvisa, Ministério da Saúde e Fiocruz)


14 | Reportagem | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Ensino, tradição e inovação pautam o novo curso de Direito da Faculdade de São Bento Luciney Martins/O SÃO PAULO

O INÍCIO DAS ATIVIDADES ESTÁ PREVISTO PARA AGOSTO. AULAS ACONTECERÃO NAS DEPENDÊNCIAS DO COMPLEXO DO MOSTEIRO BENEDITINO, NO CENTRO DE SÃO PAULO IRA ROMÃO

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Um ambiente especial, com arquitetura e infraestrutura que incitam o pensar, incluindo uma biblioteca com quatro séculos de história, composta por mais de 100 mil títulos, com exemplares de livros antigos, desde incunábulos (livros dos primeiros tempos da imprensa) do século XV até obras do século XX, além de coleções de periódicos. Toda essa estrutura agora está disponível também para quem decidir cursar o bacharelado de Direito da Faculdade de São Bento de São Paulo, mantida pelo tradicional Mosteiro de São Bento. Estão abertas, até 31 de agosto, as inscrições para o processo seletivo de preenchimento de vagas para este novo curso de graduação da Faculdade, que terá duração de cinco anos. Outros detalhes podem ser obtidos no site da instituição, acessível pelo link a seguir: https://cutt.ly/ALJgylw. Para a primeira turma, haverá desconto de 25% no valor total durante toda a graduação. As aulas serão presenciais, com turmas no matutino e no noturno, cada uma composta por uma média de 35 alunos. No dia 11 de agosto, haverá uma aula magna, com horário a ser definido, na sede da instituição, que fica ao lado do metrô São Bento (Linha 1 – Azul), no centro da capital paulista.

TRADIÇÃO CENTENÁRIA

Fundada em 1908, dentro do Mosteiro da Ordem Beneditina, a Faculdade de São

Um dos diferenciais do curso de Direito da Faculdade de São Bento será a aplicação prática dos conhecimentos jurídicos já no 1o semestre

Bento foi a primeira faculdade livre de Filosofia do Brasil. No início, a instituição era filiada à Universidade de Louvain, na Bélgica, que reconhecia os graus acadêmicos. Em 1940, os cursos da São Bento passaram a ser reconhecidos no Brasil pelo Ministério da Educação (MEC). Em 1946, a pedido da Arquidiocese de São Paulo, a Faculdade passou a integrar o núcleo que deu origem à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Contudo, continuaram a ocorrer no Mosteiro cursos internos de Filosofia. Ao longo das décadas, o Mosteiro continuou educando e formando alunos principalmente nas áreas de Teologia e Filosofia. Em 2002, a Faculdade retomou suas atividades acadêmicas no Largo São Bento, com cursos reconhecidos pelo MEC, como o recente bacharelado em Direito. “São cursos clássicos que seguem uma linha comum. Eles retomam a tradição do ensino e, principalmente, uma tradição muito clássica da Igreja, que é ensinar a partir das fontes, dos textos e dos principais autores”, diz, ao O SÃO PAULO, o diretor acadêmico da instituição, professor Claudenir Módolo Alves. A instituição oferece ainda cursos de extensão em diferentes áreas. “Atuamos na área da Filosofia, Teologia, Direito, Espiritualidade, Línguas e Artes”, lista Alves. “Temos, ainda, uma especialização lato sensu

em Patrística, que é única no Brasil”, recorda. Alves afirma que os cursos compõem a identidade da Faculdade, que é sólida e no âmbito da tradição. “Quando falamos em tradição, nos referimos desde a Grécia Antiga, passando por Roma. Depois, toda a história da Igreja que compõe essa tradição cultural em que ela se insere e que contribuiu muito para o mundo ocidental. Parte da identidade da Faculdade se assenta nisso.”

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

A nova graduação da São Bento está pautada no tripé excelência no ensino, tradição e inovação. O coordenador do curso de Direito, professor Luiz Roberto Guimarães Erhardt, mais conhecido como Professor Mac, explica como será na prática essa junção. “A inovação que estamos traçando está vinculada, principalmente, à matéria prática. Buscamos fazer uma faculdade que tem excelência na transferência de conhecimentos teóricos, focando muito a questão prática, de forma que, ao concluir o curso, o aluno consiga uma inserção mais fácil no mercado de trabalho”, explica. Erhardt, que também administra empresas de advocacia, comenta que não é difícil esbarrar com advogados recém-formados que demonstram falta de prática na elaboração de peças muito simples, como uma procuração. Coisas que ele afirma que deveriam ser feitas por estagiários.

“Percebo que os recém-formados têm certa deficiência, inclusive na escrita, porque há uma dependência muito grande de corretor de texto, da forma da escrita de WhatsApp etc.”, relata Erhardt. “Hoje, quando nos deparamos com peças feitas por advogados recém-formados, temos dificuldade de entender o que se pretende com o processo”, comenta. “Por isso, nessa parte de inovação, queremos passar para o aluno a estratégia jurídica, para que ele entenda um processo e já comece a pensar nele como um jogo de xadrez. Pensar quais são as ações, as investidas necessárias, prevendo qual será a resposta da parte contrária e, assim, poder traçar uma estratégia”, acrescenta. Ao focar a prática profissional, o curso de Direito da São Bento se diferencia do que é ofertado, de modo geral, em cursos padrões. Somando com a tradição da Faculdade, essa inovação mira na escrita, “para a pessoa conseguir colocar no


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

papel o que ela realmente tem que dizer. E, assim, conseguir passar informação”, frisa o coordenador.

SABER APLICADO NA PRÁTICA

A prática jurídica será inserida a partir do primeiro semestre. “Normalmente, nos cursos padrões, isso só ocorre a partir do quarto, quinto semestre, sendo oferecido primeiro o conhecimento e depois a aplicação no final do curso. Nós queremos dar o conhecimento junto com a aplicação”, afirma Erhardt. Tal prática será gradativa. “Mostraremos como funciona um escritório. Como se faz a captação do cliente, a leitura dos anseios do cliente, como se elabora uma proposta de honorários”, explica. “O aluno entenderá a parte administrativa do escritório, como montar uma procuração até a elaboração do processo propriamente dito da petição inicial, que já seria uma fase bem mais adiantada.” Sobre estimular a capacidade de raciocínio do estudante, Erhardt diz que a Faculdade quer também “formar grandes pensadores que consigam se inserir no mercado de trabalho e nele vencer. Queremos selecionar os alunos para formar grandes pensadores. Por isso, buscamos um caminho mais vinculado a faculdades que buscam ensinos diferenciados de excelência”, frisa. Em concordância com as novas demandas do mercado jurídico, o curso oferece

disciplinas de novos temas como Direitos Humanos; Direito Financeiro e Direito Digital e Cibernético. A respeito dos desafios inerentes à abertura de um novo curso, Erhardt acredita que a localização da instituição e sua própria história são vantagens que fortalecem a credibilidade da graduação. “Estar dentro de uma instituição com mais de 100 anos dá uma solidez enorme. Você sabe, por exemplo, que ela não será vendida para um segundo grupo e que os fundamentos serão mantidos. Afinal, estamos dentro de uma expressão católica e de um prédio centenário”, enfatiza.

CORPO DOCENTE E PERFIL DOS ESTUDANTES

Erhardt recorda que, assim que houve a divulgação do curso no site da Faculdade, muitas pessoas e professores, alguns já ligados ao Mosteiro, se apresentaram com currículos muito fortes. “Estamos formando um corpo docente muito sólido com mestres, doutores, juízes, pessoas vinculadas ao tribunal de impostos e taxas”, assegura. A divulgação também atraiu pessoas em busca do curso. Por isso, optou-se em iniciar o ano letivo já no mês de agosto. No primeiro momento, a Faculdade acreditava que nesse período atrairia alunos em busca da segunda graduação. Erhardt conta, entretanto, que 90% das pessoas que demonstraram interesse nesse bacharelado é para fazer sua primeira graduação: “Há um perfil muito jovem”. Outro ponto destacado por Erhardt é que a Faculdade incentivará o contato do professor com cada aluno. “Queremos que, no primeiro mês, os professores estejam chamando os alunos pelos nomes. Que haja mesmo uma troca de confiança e de conhecimento”, comenta.

UM AMBIENTE QUE ESTIMULA O SABER

Em relação ao ambiente com que os novos alunos passarão a ter contato,

| 20 a 26 de julho de 2022 | Reportagem | 15

Erhardt afirma que a principal preocupação da instituição é para que não haja nenhum tipo de doutrinação. “Somos uma faculdade naturalmente tradicional, mas não será um curso em que será dado teologia católica para o estudante. Claro que ficaremos dentro dos conceitos da Igreja, a tradição e todos os princípios serão respeitados, mas lecionaremos o Direito como está escrito na linguagem dos homens, nos códigos, conforme as regras do MEC para o curso”, assegura Erhardt, lembrando, porém, que aqueles que tiverem interesse poderão participar de cursos abertos sobre o Direito Canônico. Com mais de 420 anos de existência, o Mosteiro de São Bento tem uma importante atuação na história espiritual e cultural de São Paulo, que inclui suas realizações educacionais por meio do Colégio de São Bento, fundado em 1903, e pela própria Faculdade. Nesses espaços passaram ilustres ex-alunos, de intelectuais a artistas, como o escritor Oswald de Andrade (1890-1954) e o jurista André Franco Montoro (19161999), que foi governador de São Paulo entre 1983 e 1987. Em 2007, o histórico Mosteiro hospedou o Papa Bento XVI, durante sua viagem apostólica ao País.

CONTRIBUIÇÃO DOS BENEDITINOS NA EDUCAÇÃO

A ordem beneditina foi fundada por São Bento, em 529, no convento italiano de Monte Cassino, com monges comprometidos com os votos de pobreza, amor a Deus e com o trabalho. Embora tenham passado pelas terras brasileiras antes de 1581, foi a partir deste ano que os monges da Ordem Beneditina se estabeleceram definitivamente no País, quando o primeiro grupo chegou a Salvador (BA), enviado pelo abade-geral da Congregação Beneditina de Portugal. Os beneditinos chegaram a São Paulo em 1598, mas somente em 1634 foi criada a abadia, e a capela foi dedicada a São Bento.

Além das atividades relacionadas à vida monástica, os beneditinos realizam no Brasil atividades externas, que, entre outras coisas, têm como destaque a contribuição para a educação. Na dissertação de mestrado “A influência dos beneditinos na educação brasileira – Subsídios para a história da educação no Brasil”, apresentada, em 1984, por Adão Gonçalves da Mota à Universidade Federal Fluminense, o autor recorda que, embora a atividade educacional não constituísse uma destinação específica dos mosteiros de São Bento, “já no início da Idade Média, os mosteiros se aplicavam com igual empenho em dois objetivos educacionais: ensinavam as letras e o cultivo da terra” e, mesmo sem terem formulado um plano educacional, os mosteiros beneditinos transformaram-se em grandes centros de cultura. “Onde quer que se estabelecessem os mosteiros, um ou mais religiosos eram designados para instruir os filhos dos habitantes da terra [...] O mosteiro da Paraíba, já antes da invasão holandesa [ao estado], mantinha aulas de latim, as quais foram restabelecidas em 1669 com o retorno dos monges à abadia. Na mesma época, havia no mosteiro de Sorocaba [SP], recentemente fundado, um curso de língua latina para os filhos de moradores da vila”, consta em outro trecho da dissertação de Mota.

Reprodução


16 | Reportagem | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Maria Angela Borsoi: 50 anos de vida consagrada leiga a serviço da Igreja Luciney Martins/O SÃO PAULO

AO O SÃO PAULO, ELA RELEMBRA A TRAJETÓRIA DE SEUS 83 ANOS DE VIDA, DOS QUAIS 50 FORAM DEDICADOS À CONSAGRAÇÃO LEIGA; 40 COMO SECRETÁRIA DO CARDEAL ARNS ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Maria Angela Borsoi, 83, recebeu a reportagem em sua sala de missão, no Arquivo da Cúria Metropolitana, no Ipiranga, para uma manhã de conversa. Faltou tempo para tantas histórias e tantos detalhes recordados num misto de saudade e gratidão, com olhar atento e profundo, sorriso fácil e uma memória exímia, capaz de recordar com lucidez datas e momentos de suas origens e histórias vividas nas mais de oito décadas de existência.

FAMÍLIA

Maria Angela nasceu em 10 de março de 1939. É a primogênita de Fausto Borsoi e Anita Del-Fre, ambos descendentes italianos que chegaram, ainda jovens, ao Brasil, pelo Porto de Santos (SP). Na capital paulista, a família sempre residiu na região do bairro de Santana, zona Norte. Seus pais se conheceram no Brasil e se casaram em 1938. Da união, nasceram cinco filhos: Maria Angela, Maria Regina, Maria Lúcia, Artur e Luiz Carlos. Na família, a herança da fé começou a ser cultivada desde cedo. Maria Angela formou-se no curso de Nutrição.

VOCAÇÃO

A vocação religiosa sempre foi um sonho na vida de Maria Angela. Desde a infância, tinha contato com quatro tias

freiras que contavam como era a vida religiosa consagrada. Com os irmãos e primos no porão de casa reproduziam as festas e os teatros que aprendiam na escola. Na rua, brincavam de igreja: rezavam, cantavam e encenavam a história dos santos. “Tenho tantas memórias boas dessa época. A nossa casa e até a rua eram a extensão da igreja e da escola”, afirmou. Maria Angela recordou ainda que ser freira era para ela um fascínio e, ao mesmo tempo, um grande mistério. “Sentia em meu coração o desejo de me consagrar a Deus, mas, por outro lado, não queria estar ali naquele formato que via as tias, em conventos. Queria algo diferente, que ainda não sabia identificar, e que se tornou realidade.”

SERVIR COMO LEIGA

Em 1960, Maria Angela teve o primeiro contato com o ideal de vida para o qual sentia o chamado em seu coração. “Participei de um retiro na cidade de Campinas (SP). Fui contrariada e este foi um momento divisor de águas na minha vida. Ali me foi apresentada pela primeira vez o formato da vocação leiga na Igreja”, disse. “O pregador do retiro me falou de um grupo de mulheres da Ação Católica que viviam em suas casas como leigas consagradas – com a missão de ser sinal da presença de Deus na sociedade. Fiquei tão feliz, pois era o ideal que eu buscava”, contou. De 1960 a 1971, Maria Angela foi consagrada desse grupo de mulheres. Com a conclusão do Concílio Vaticano II, houve uma reforma no grupo e ela e outras mulheres deixaram de ser membros.

MULHERES CONSAGRADAS

A semente da vocação permanecia viva e o desejo da consagração também. E essa consagração só foi possível, em 1972, já trabalhando como secretária do Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo. No contexto da renovação pós-conciliar, a então Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, sob o pontificado de Paulo VI, promulgou o Ritual da então Consagração das Virgens, Ordo Virginum, permitindo uma nova forma de consagração feminina à Igreja particular. “Nesse rito, as mulheres se consagram por meio da Ordem das Virgens, emitindo o propósito de seguir mais de perto a Cristo e se dedicam ao serviço

da Igreja, conforme consta no Código de Direito Canônico”, afirmou. Com esse rito, as leigas consagradas não se tornam freiras. “Nós, consagradas leigas, emitimos os votos de castidade perpétua, mas não nos vinculamos a nenhuma congregação religiosa, e sim a uma Igreja particular. Permanecemos em nosso ambiente familiar, com a vida profissional e enraizadas na comunidade diocesana”, explicou. Na Arquidiocese de São Paulo, o Ordo Virginum foi instalado, em 1972, pelo Cardeal Arns. Em maio do mesmo ano, aconteceu a primeira consagração na Arquidiocese, que foi a de Maria Angela. A continuidade e o estímulo da vocação, a formação que prioriza a espiritualidade, a vida de oração, o crescimento no amor à Igreja, o conhecimento bíblico e litúrgico são de responsabilidade das consagradas com mais experiência na caminhada, sempre acompanhadas pelo bispo local e sacerdotes. O grupo de leigas está espalhado pelo Brasil e nos cinco continentes. Maria Angela contou que o número de leigas consagradas pelo mundo é de aproximadamente 5 mil. Na Arquidiocese de São Paulo já chegou a mais de 60 e, atualmente, é de aproximadamente 30.

CONSAGRAÇÃO

Na Arquidiocese, o grupo de leigas consagradas de Maria Angela é pioneiro. Os detalhes do dia da consagração, vividos há cinco décadas, ainda estão vivos na memória da nutricionista. “Lembro-me como se fosse hoje: Dom Paulo me falando desse ideal de vida e eu aceitando na hora. A emissão dos votos solenes, seguindo o rito próprio aconteceu no dia 31 de maio de 1972, na Capela do Palácio Pio XII, na Rua Pio XII, no bairro Bela Vista, região central. Para mim, a consagração no rito Ordo Virginum é a realização do sonho de Deus na minha vida. Sou feliz e realizada com essa vocação, que me permite evangelizar e ser sinal do amor de Deus ao mundo”, afirmou.

ALEGRIA DE SERVIR

Como secretária de Dom Paulo Evaristo Arns por 40 anos, ela acompanhou momentos importantes da atuação dele na Arquidiocese de São Paulo, entre esses destacou a transição de Bispo Auxiliar da Região Episcopal Santana para Arcebispo; a venda do Palácio Pio XII, que na época era a residência episcopal; a Operação Periferia, que trouxe um olhar mais atento e sensível à realidade da população mais afastada do centro; e as grandes mobilizações e atos em favor da democracia e contra a ditadura militar. “Trabalhar com Dom Paulo foi um verdadeiro privilégio, uma grande graça de Deus e um profundo aprendizado. Para mim, Dom Arns é um profeta, é um santo”, disse.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Publicidade | 17


18 | Papa Francisco | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Papa Francisco vai ao encontro dos indígenas em viagem ao Canadá Shaun Vicente /Vatican Media

FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

“Se Deus quiser, parto para o Canadá”, disse o Papa Francisco no domingo, 17, depois da oração do Angelus. Após ter que cancelar a viagem para a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, por causa de dores no joelho, ele confirmou que pretende manter a viagem apostólica ao Canadá, programada para 24 a 30 de julho. Embora o Santo Padre vá encontrar “todos os habitantes daquele país”, ele destacou que o motivo principal de sua visita é a reunião com membros das comunidades indígenas canadenses. Em outras ocasiões, ele lembrou que é necessário realizar um caminho de “reconciliação e cura” na América do Norte, e afirmou que é preciso “nos afastarmos do modelo colonizador e caminhar lado a lado, no diálogo, no respeito recíproco e no reconhecimento dos direitos e dos valores culturais de todas as filhas e filhos do Canadá”.

CONTEXTO DA VIAGEM

Nos últimos anos, pesquisas arqueológicas e documentais mostraram que escolas financiadas pelo estado canadense – do século XIX aos anos 1970 – cometeram uma série de abusos contra crianças de origem indígena. Embora se tratasse de uma política pública, mais da metade dessas escolas eram de organizações católicas. Entre os abusos cometidos estão a separação das crianças de suas famílias

e culturas originais e o sepultamento em valas comuns, sem identificação, de muitas das que morriam. Mais de 150 mil crianças indígenas do Canadá frequentaram as 130 escolas financiadas pelo Estado. Esses alunos eram afastados de suas comunidades originais e obrigados a assimilar os valores ocidentais. Em diferentes ocasiões, o próprio governo canadense admitiu que nessas escolas também houve abusos físicos e sexuais. A descoberta de restos mortais de centenas de crianças em valas não identificadas de antigos internatos, no ano passado, levou a uma grande comoção no país. Membros da sociedade civil questionam o papel da Igreja na época. Os bispos do Canadá publicaram documentos e pediram perdão pelos erros de seus antecessores. A convite dos bispos, o Papa Francisco resolveu ir

ao Canadá para promover a reconciliação. Em diferentes momentos, desde o início deste ano, ele recebeu grupos de líderes indígenas do Canadá. “Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, inclusive alguns membros de institutos religiosos, contribuíram com as políticas de assimilação cultural que, no passado, danificaram gravemente, em diferentes formas, as comunidades nativas”, disse o Papa no último domingo. “Por isso, recentemente recebi no Vaticano alguns grupos, representantes dos povos indígenas, aos quais manifestei a minha dor e a minha solidariedade pelo mal que eles sofreram.” O Pontífice completou dizendo que, em sua visita apostólica, realizará uma “peregrinação penitencial”. Ele espera poder contribuir com o caminho de “cura e reconciliação” que já foi iniciado.

Paz no mundo digital A revolução digital se mostrou como um meio poderoso para “promover a comunhão e o diálogo dentro da família humana”, afirmou o Papa Francisco, em mensagem ao Congresso Mundial Signis, que ocorrerá em Seul, na Coreia do Sul, de 15 a 18 de agosto. Nas palavras do Papa Francisco, os meses de isolamento na pandemia mostraram que “os meios digitais souberam nos acomunar, não só difundindo informações fundamentais, mas, também, aliviando a solidão do isolamento e, em muitos casos, unindo inteiras famílias e comunidades eclesiais em oração e adoração”. Ao mesmo tempo, há fatores negativos que precisam ser tutelados. As redes sociais “levantaram um grande número de questões éticas sérias que pedem um juízo sábio e perspicaz por parte dos comunicadores e de todos os que se ocupam da autenticidade e da qualidade das relações humanas”, afirma a mensagem. Francisco, que já em outras ocasiões denunciou os riscos de se iludir com as informações falsas e redes de influência digitais, acrescenta que alguns ambientes midiáticos se tornaram “tóxicos”, com “incitamento ao ódio e às notícias falsas”. Ele exortou os comunicadores católicos a promover “a educação aos meios de comunicação e uma rede de mídias católicas, combatendo a mentira e a desinformação”. Ele estimulou os comunicadores a assistir os jovens e os que mais precisam de ajuda para “desenvolver um sensato senso crítico, aprendendo a distinguir a verdade da mentira, o correto do errado, o bem do mal, e a apreciar a importância de trabalhar pela justiça, a concórdia social e o respeito da nossa casa comum”. (FD)

Mensagem aos idosos: sejam ‘artífices da revolução da ternura’ Vatican Media

REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

No domingo, 24, celebra-se o 2º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, data instituída pelo Papa Francisco em 2021, para ser celebrada próxima da memória litúrgica dos santos Joaquim e Ana, avós de Jesus, comemorados em 26 de julho. Este ano, a mensagem do Pontífice tem como tema “Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92,15). No texto, o Santo Padre se dirige aos idosos para lembrar que aqueles que estão em uma idade avançada têm uma importante missão: ser “artífices da revolução da ternura” e de “libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demônio da guerra”. Francisco os convida a redescobrir essa fase como “dom de uma vida longa”, ressaltando que esse é um dom para toda a sociedade. “Bendita a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!”, escreve. O Bispo de Roma também lembra que o testemunho dos idosos é importante e significativo, e convida-os a ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis. Essa missão começa na sua própria famí-

lia, mas não termina nela, e inclui “não somente nossos próprios netos, mas muitos outros netos assustados que ainda não conhecemos e que talvez fujam da guerra ou sofram por causa dela”, aponta.

MUDAR OS CORAÇÕES

O Pontífice ainda exorta os avós e idosos a continuarem a dar frutos e a viverem de forma particular a dimensão da oração. “O instrumento mais precio-

so e apropriado que temos para a nossa idade. Uma imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações”, destaca. “O Dia Mundial dos Avós e Idosos é uma oportunidade para dizer mais uma vez, com alegria, que a Igreja quer fazer festa juntamente com aqueles que o Senhor – como diz a Bíblia – ‘saciou com longos dias’ (Sl 91,16). Celebremo-la juntos! Convido-vos a anunciar este dia nas vossas paróquias e comunidades, a visitar os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e de um primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!”, conclui o Pontífice. A íntegra da mensagem está disponível em: https://tinyurl.com/2c9pxlfc. Para saber como celebrar o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, acesse: https://tinyurl.com/28c2cr4t.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 20 a 26 de julho de 2022 | Pelo Mundo/Fé e Vida | 19

Liturgia e Vida

Itália

‘Via Lucis 2022’: jovens a caminho de levar a luz de Cristo JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

De Roma a Turim, passando por Assis: na 4ª edição da itinerante “Via Lucis”, que acontecerá de 20 de agosto a 3 de setembro, 14 cidades italianas serão alcançadas em 14 dias, com o suporte de 14 institutos missionários e paróquias, no itinerário de 3 mil quilômetros. Idealizado pela associação Tucum OdV, em colaboração com o grupo intercongregacional “Terra e Missão” e o “Festival da Missão”, o objetivo é promover a missão de ir ao encontro dos mais pobres e levar-lhes a esperança do Evangelho e a luz do Cristo ressuscitado.

Nascida em 1988 no âmbito da família Salesiana, esta é uma iniciativa que recupera e reinterpreta o tradicional rito litúrgico-devocional da “Via Lucis”, típico do tempo pascal, em que são lembrados e celebrados os acontecimentos da vida de Cristo e da Igreja nascente, a partir da ressurreição de Jesus até Pentecostes.

EDIÇÃO 2022

“De estação em estação” é o tema da edição de 2022, proposta para jovens de 18 a 35 anos, cujo trajeto será percorrido de trem para chegar às estações centrais das cidades que serão visitadas: Roma, Nápoles, Taranto, Bari, Foggia, Pes-

cara, Assis, Ravena, Pádua, Parma, Piacenza, Milão, Gênova e Turim. Cada etapa será dividida em três momentos: um espaço de testemunho, uma oficina na proximidade das diferentes estações ferroviárias e um momento de adoração eucarística, que será acompanhado pela apresentação de um “Santo ao lado, uma jovem testemunha da fé”, que viveu ou passou por aquela região, proporcionando aos participantes vivenciar a experiência, valores e carismas das diversas realidades envolvidas. Para participar, é necessário inscrever-se até 7 de agosto. Para mais informações, visite: www.tucum.it Fonte: Instituto Filhas de Maria Auxiliadora (Itália)

Zimbábue

Estudantes ganham prêmios internacionais por simulação de tribunal Um grupo de estudantes do ensino médio do Zimbábue que se tornou campeão europeu e mundial da competição de simulação de tribunal foi amplamente elogiado em um país em que o sistema educacional é assolado por financiamento insuficiente, falta de materiais e greves de professores. Composto por 11 membros, sendo nove meninas e dois meninos, com idades entre 14 e 18 anos e provenientes de diferentes escolas, o grupo sagrou-se campeão mundial depois de vencer a International High School Moot Court, realizada on-line. Uma equipe da cidade de

Nova York ficou em segundo lugar na competição, na qual os participantes usaram casos fictícios para simular procedimentos nas câmaras de pré-julgamento do Tribunal Penal Internacional. O Zimbábue também foi coroado campeão da Europa depois de derrotar os Países Baixos nas finais da European Moot Competition. Foi a primeira vez que o país competiu em ambos os eventos. Os organizadores da edição europeia ficaram tão impressionados com o desempenho do Zimbábue na competição internacional que convidaram o grupo a ser o primeiro país africano

a participar da competição na Europa, que aconteceu na Romênia. As vitórias nos eventos de simulação do tribunal internacional “significam muito para nós, educadores do Zimbábue”, disse Kudzai Mutsure, responsável pelo Convento Dominicano, uma escola católica só para meninas em Harare, na qual alguns dos membros da equipe vencedora estão matriculados. “Levamos muito a sério as atividades acadêmicas, esportivas e culturais”, disse Mutsure. “Um estudante pode florescer em uma dessas áreas.” (JFF) Fonte: Crux Now

Quênia País sedia congresso católico do continente africano A Universidade Católica da África Oriental, em Nairóbi, a capital queniana, recebe, entre os dias 18 e 22, o 2º Congresso Pan-Africano de Teologia. Organizado pela Rede Pan-Africana de Teologia Católica e Pastoral, o evento deve se concentrar no significado de ser “Igreja vital”, com o objetivo de melhorar as práticas pastorais e os estudos universitários no continente africano, visando a benefícios tanto para a Igreja quanto para a sociedade. “Uma Igreja vital vai além de nossos bancos e do altar; é como cuidamos dos pobres; é como lidamos com as injustiças sociais”, afirmou a Irmã Mūmbi Kīgūtha, que pertence

à Congregação das Irmãs do Preciosíssimo Sangue e é uma das organizadoras do Congresso.

PRESENTE EDIÇÃO

O tema do congresso deste ano é “Caminhar juntos por uma Igreja viva na África e no mundo”. Sua primeira edição aconteceu em dezembro de 2019, na Nigéria, e a intenção é realizá-lo a cada dois anos. Mais de cem chefes religiosos e universitários de todas as partes do mundo participam do evento, que aborda temas como a sinodalidade, o papel da mulher na Igreja, a importância das crianças, o futuro da Igreja na África, entre outros. O Vaticano enviou dois represen-

tantes para participar do congresso: Emilce Cuda, teóloga argentina e secretária da Comissão Pontifícia para a América Latina, e o Padre Lucio Adrian Ruiz, também argentino e Secretário-geral para a Comunicação da Santa Sé. A Rede Pan-Africana de Teologia Católica e Pastoral, que organiza o evento, quer suprir a lacuna que existe entre a prática pastoral e o trabalho acadêmico multidisciplinar no continente africano, ouvindo, de forma colaborativa, o povo de Deus, a fim de inspirar esperança e fé e promover as melhores práticas para a melhoria da Igreja e da sociedade. (JFF) Fonte: ACI África

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM 24 DE JULHO DE 2022

Porque Deus é Pai, pedimos! PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Segundo São Lucas, tocado pela atitude de Nosso Senhor, que orava constantemente, um dos discípulos lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Jesus ensinou-lhes, então, o Pai-Nosso. Como sabemos, esta é a oração mais perfeita, pois foi ensinada pelo próprio Mestre. Embora as versões de Mateus e Lucas contenham pequenas variações, em ambos os casos a “Oração Dominical” é composta substancialmente por alguns pedidos dirigidos a Deus. Isso mostra que a oração de petição é parte fundamental da vida espiritual. Existem outros modos de rezar não menos importantes: a adoração, o louvor, a ação de graças… Todavia, ao nos ensinar a oração mais perfeita pois composta por Cristo -, Deus nos instruiu a pedir. Pedimos não por sermos interesseiros, mas porque chamamos a Deus de Pai, de “Pai Nosso”! Pedir coisas a Ele é um sinal de confiança filial. Reconhecemos a nossa dependência Dele, como crianças, e reafirmamos que esperamos Dele todos os bens. Por isso, Jesus diz logo após ensinar o Pai-Nosso: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). Aqui há outro ensinamento, sobre o objeto dos nossos pedidos. Devemos pedir não somente coisas materiais, mas inclusive “o Espírito Santo”; isto é, os bens espirituais, que são os mais excelentes! Pedimos que os homens honrem o Nome do Senhor; que o Seu Reino se estabeleça; que os Seus Mandamentos sejam observados; que recebamos o Pão da Eucaristia; que sejamos perdoados de nossos pecados; e que não caiamos em tentação. Às vezes, não recebemos o que suplicamos porque pedimos coisas que não são da vontade de Deus. Como um bom Pai, Ele não dará o que nos pode fazer mal, ainda que queiramos muito. Às vezes, pedimos coisas boas, mas sem confiança. Precisamos, então, nos abandonar mais na Providência e na Paternidade do Senhor, que é o primeiro interessado em nossa salvação e felicidade. Em outros casos, até confiamos, mas logo desistimos. É preciso, então, perseverar na petição, pois o Senhor testa a nossa confiança e insistência. Outras vezes, o que falta na oração é a humildade: tentamos impor a nossa vontade ou condicionamos o amor e gratidão a Deus à satisfação de nossa vontade. Nesse caso, precisamos humildemente retificar a atitude e nos colocar como criaturas diante do Criador. Se pedirmos os bens necessários para nossa salvação com confiança de filhos, com insistência e com humildade, o Senhor nos atenderá. Valerão, então, as doces palavras de Cristo: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11,9-10). Ele já nos deu tudo: a existência, o Corpo e o Sangue de seu próprio Filho, o seu Espírito derramado em nossos corações e até mesmo a Virgem Maria… Não nos negará, portanto, outros bens necessários!


20 | Geral | 20 a 26 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Celam reafirma compromisso com a evangelização dos povos da América Latina e do Caribe Fotos: Celam

Assembleia extraordinária do Celam, em Bogotá, Colômbia, tem a participação de membros das 22 conferências episcopais do continente e de delegados da Santa Sé, entre os dias 12 e 14

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na conclusão de sua assembleia extraordinária, realizada entre os dias 12 e 14, em Bogotá, na Colômbia, o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho publicou uma “Mensagem ao povo de Deus”, na qual ratifica seu compromisso de anunciar o Evangelho com audácia e criatividade, particularmente nos ambientes mais difíceis e esquecidos do continente. Os membros da assembleia composta por bispos, diretores de centros pastorais, delegados da Santa Sé e representantes de agências de ajuda lembraram que as características deste momento histórico clamam por inovações de respostas que surgem de uma Igreja livre de fardos pesados e totalmente disposta a caminhar em unidade. O texto também recorda a importância de fortalecer o encontro pessoal com Cristo, presente na realidade do continente e no coração da Igreja: “Precisamos de uma espiritualidade de olhos abertos para haver um olhar contemplativo. Este olhar descobre Deus nas profundezas da realidade humana e histórica, não é uma contemplação asséptica ou distante, mas sim uma sensibilidade aberta às dores e alegrias dos nossos povos”. Em perspectiva sinodal, o Celam se compromete a promover a consulta e o discernimento comunitário, consciente da importância da participação dos leigos e seu impacto na tomada de decisões na vida da Igreja. Isso implica crescer na vida fraterna, escutando todas as vozes; mesmo aquelas que podem se incomodar em trabalhar na criação de espaços e estruturas que estimulem a participação, principalmente de mulheres e jovens. Destacando a experiência vivida na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, realizada em novembro de 2021, que representa um dos primeiros passos de um futuro sinodal do continente, a Assembleia Extraordinária do Celam confirmou sua adesão ao espírito que promove a reforma da Cúria Romana e o compromisso de estreitar cada vez

mais a colaboração e comunhão entre o conselho episcopal e a Santa Sé.

NOVA SEDE

O primeiro grande marco da assembleia extraordinária foi a inauguração da nova sede do Celam. O evento contou com a presença dos presidentes e secretários das 22 conferências episcopais do continente, representantes de diversas organizações eclesiais e delegados da Santa Sé. Dom Luis Mariano Montemayor, Núncio Apostólico na Colômbia, transmitiu a saudação do Papa Francisco aos membros do Celam, na qual enfatizou: “Não esqueçamos que nossas estruturas materiais só têm sentido quando estão destinadas ao serviço, sobretudo, das nossas irmãs e irmãos que vivem nas periferias mais extremas da vida. E lembrem-se de estar atentos às três idolatrias que sempre ameaçam a marcha do povo fiel de Deus: a mediocridade espiritual, o pragmatismo dos números e o funcionalismo que nos leva a ser mais entusiastas pelo plano de rota que pela rota”.

PRINCIPAIS ASSUNTOS

Os participantes da Assembleia Extraordinária também refletiram sobre o conteúdo da constituição apostólica Praedicate Evangelium, que trata da reforma da Cúria Romana, as ações do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Hu-

mano Integral e sua relação com o Celam, assim como a participação da Igreja do continente no caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco. O evento contou com a presença do Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, que salientou que essa temática está na raiz do Cristianismo, recordando a afirmação de Jesus no Evangelho de São João: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente”. O Prefeito explicou que o Concílio Vaticano II decretou que a Igreja deve abordar este grande objetivo entre as atuais realidades concretas que impedem sua realização. Por isso, recordando a constituição pastoral Gaudium et spes, “a Igreja capta as alegrias e esperanças, as tristezas e ansiedades dos homens de hoje, especialmente os pobres e os que sofrem, e expressa a boa nova da salvação para comunicá-la a todos”.

ASSEMBLEIA ECLESIAL

A assembleia extraordinária do Celam foi oportunidade de recolher a riqueza do caminho percorrido desde a 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, realizada em novembro de 2021, no México, atendendo ao chamado do Papa Francisco para avaliar a aplicação dos indicativos da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, ocorrida em 2007, em Apa-

recida (SP), e discernir sobre os desafios atuais da missão evangelizadora da Igreja no continente americano. Ao refletir sobre como enfrentar os desafios postos em Aparecida e na atualidade, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, no Peru, e Presidente do Celam, sublinhou a necessidade de haver uma “conversão à experiência sinodal, que exige a disponibilidade de todos para fortalecer a cultura do diálogo, da escuta mútua, do discernimento espiritual, do consenso e da comunhão para encontrar espaços e caminhos de decisão conjunta, como narram os Atos dos Apóstolos”. O Presidente do Celam destacou, ainda, que tal conversão “implica entender que a sinodalidade se expressa na circularidade dinâmica do consenso dos fiéis, da colegialidade episcopal e do primado do Bispo de Roma”. Para isso, completou, “a Igreja é chamada a uma escuta ativa de todos os sujeitos que juntos formam o povo de Deus”.

TEXTO EM ELABORAÇÃO

“Como fruto da Assembleia Eclesial, o Celam irá publicar um texto que ainda está em elaboração final, mas já teve uma larga aprovação dos membros desta assembleia extraordinária. No entanto, ainda faltam algumas questões a serem completadas e elementos a serem integrados”, informou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Celam, em entrevista ao site do organismo. Dom Odilo explicou que, quando for concluído, o texto será entregue não apenas aos participantes da Assembleia Eclesial, mas a todas as comunidades por eles representadas, às dioceses de toda a América Latina e do Caribe. “São propostas pastorais a partir daquilo que foi refletido na Assembleia Eclesial, que foi uma experiência fantástica de sinodalidade e única na Igreja até o momento, dadas as suas dimensões. Portanto, esse texto será um marco, um testemunho daquilo que a assembleia eclesial propõe como contribuição para a Igreja”, completou o Cardeal Scherer. (Com informações do Celam)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.