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Paróquia São Vito Mártir passa por revitalização predial e de vida pastoral

Com Apoio De Fi Is

Da Par Quia Nossa

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SENHORA DO BRASIL, BENFEITORES LOCAIS E DE OUTRAS REGIÕES, REFORMAS ESTÃO

SENDO FEITAS DESDE 2022

Há quase um ano, a Paróquia São Vito Mártir, no Brás, está passando por reforma. São reparos que vão desde intervenções na nave do templo até adequações para a segurança e melhorias, sobretudo nos seis andares do prédio que compreende as instalações da Paróquia, fundada em 24 de março de 1940.

“A reforma faz parte de um projeto de revitalização dessa Paróquia que é histórica e foi iniciada pelos imigrantes italianos do nal do século XIX, início do século XX, que vieram trabalhar nas indústrias Matarazzo”, contou ao O SÃO PAULO Padre Michelino Roberto, Administrador Paroquial.

A maioria desses imigrantes era da cidade de Polignano a Mare, região sul da Itália. “Devotos de São Vito Mártir, eles construíram uma antiga capela na região, que depois foi demolida e deu lugar à construção do atual edifício, cujo destino era o culto católico, centrado na gura de São Vito”, detalhou o Sacerdote.

Obras De Miseric Rdia

Em abril deste ano, a Paróquia iniciou um projeto de contraturno escolar voltado a crianças e jovens. A iniciativa é administrada pelo Instituto Virtus, que é um braço das obras de misericórdia do CorUnum, associação da Paróquia Nossa Senhora do Brasil, Setor Jardins, igreja-irmã da São Vito Mártir.

Realizado de segunda à sexta-feira, das 7h15 às 12h15, o projeto acontece no primeiro andar do prédio, que foi todo reformado e conta agora com uma sala de aula, biblioteca e espaço multiuso, em que são feitas as refeições.

No contraturno, além do reforço escolar de linguagem, matemática, ciências e artes, as 20 crianças, com idades de 7 a 11 anos, também têm aulas de Catequese.

Para chegar a essas crianças, o Instituto Virtus, juntamente com a Paróquia, fez uma parceria com a Escola Estadual Romão Puiggari, próxima à igreja.

“A escola nos abriu as portas. Em março, visitamos todas as turmas do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, falando sobre o projeto e orientando como participar. Foi assim que os pais dessas crianças chegaram até nós”, explica Izadora Daniel, 33, coordenadora do contraturno.

Educa O E F

Além das atividades em sala de aula, as crianças desfrutam da biblioteca, tendo acesso a livros e a jogos educativos, e participam de teatro, caratê, atividades de psicomotricidade (com vistas à coordenação motora) e cantiga popular.

Embora as aulas da turma de Catequese aconteçam apenas às sextas-feiras, o itinerário catequético é permanente: “Começamos o dia na Paróquia com oração de oferecimento, agradecimento e petição, antes do café da manhã. Depois, temos um encontro em que conversamos sobre as virtudes. A cada semana, trabalhamos uma, que é escolhida em conjunto”, detalha Izadora.

“Fazemos outro momento de oração após o almoço, pouco antes da saída. Na verdade, todo nosso ensino é catequético. Ensinar o autocontrole e as virtudes no dia a dia, tudo isso é ensinar a orar, a conhecer a Deus”, acrescenta.

Ainda faz parte do projeto a realização mensal de formações com os educadores e com os pais. “Preparamos para os pais palestras sobre desenvolvimento infantil, incluindo hábitos de higiene e nutrição, e desenvolvimento do caráter por meio das virtudes”, explica.

Conforme disseram membros do conselho do CorUnum, a iniciativa educa pelos caminhos da verdade, da beleza e da bondade, despertando a dignidade em cada pessoa, e difunde uma cultura de virtudes e formação intelectual sólida para que os alunos adquiram autonomia e as habilidades necessárias para o seu desenvolvimento pessoal e pro ssional.

Revitaliza O Pastoral

A Paróquia São Vito Mártir está ainda comprometida em reconstruir as relações humanas da comunidade.

“Ao longo dos anos, houve a deteriorização da região e do entorno da Paróquia, sendo que muitos éis se mudaram do bairro e, mais recentemente, a pandemia agravou a questão da participação das pessoas”, comenta o Padre José Ferreira Filho, Vigário Paroquial.

Padre José reforça que, com os ambientes reformados, a Paróquia pode oferecer formações e cursos para reconstruir seu agir pastoral: “Estamos reformulando a própria Catequese e o curso de Crisma. Começamos a Escola da Fé e estamos reorganizando o grupo de coroinhas e cerimoniários”.

Atualmente, a Paróquia assiste mensalmente 92 famílias com cestas básicas, e, também, se preocupa em acolher a comunidade estrangeira. “Ainda existe uma presença italiana muito forte e que move a questão da fé, mas também temos a participação de novos imigrantes de outros povos, como os latino-americanos e africanos. Alguns já frequentam a Paróquia, mas há muitos outros que ainda não e precisam ser atraídos”, comenta o Vigário Paroquial.

Reestrutura O F Sica

As obras na Paróquia São Vito foram iniciadas em julho do ano passado, e estão sendo mantidas graças a uma força conjunta de éis, doadores do comércio local e benfeitores da Paróquia Nossa Senhora do Brasil.

“Eu programei essa reforma durante um ano e meio. Com a colaboração de todas as pessoas que con aram na proposta de revitalização da Paróquia, z um caixa para iniciar a obra. Agradeço a todos”, conta Padre Michelino.

O prédio, por ser antigo, precisou ser totalmente reformado, o que envolveu a troca de toda a parte elétrica e hidráulica, instalação de sistemas de segurança, revestimentos e a reforma da própria nave da igreja, a ser iniciada.

Para a execução, a Paróquia contratou uma empreiteira de engenharia. Um dos pro ssionais da empresa é Raildo Lopes dos Santos, 45, engenheiro responsável pela obra: “Quando o Padre nos procurou, encarei como uma bênção, não só pelo carinho que tenho pela Paróquia, mas por poder fazer uma obra que beneciará muitas pessoas por meio de toda a revitalização física, espiritual e social”.

Santos comenta que por ser um pré- dio antigo, o cuidado está sendo redobrado. “É preciso estar atento ao que será mexido, o que será quebrado. Por exemplo, a parte estrutural mantivemos intacta. Não quebramos nem um pilar ou viga.”

A Paróquia São Vito conta ainda com a colaboração voluntária de arquitetos e decoradores de interior.

Do ponto de vista estético, apesar da modernização, também está sendo resgatado um pouco da história do prédio. Em alguns ambientes, os tijolos originais da construção estão sendo expostos. Na biblioteca, por exemplo, foram usados caixotes de feira como estantes, em referência às atividades econômicas da região, que é uma zona cerealista.

“Ao restaurar a fachada do prédio, queremos também dar uma identidade visual de Igreja, para que as pessoas identi quem o ambiente religioso”, acrescenta Padre Michelino.

S O Vito M Rtir

Esse santo italiano tinha apenas 7 anos quando começou a manifestar dons especiais. O mais célebre deles foi quando fez voltar à vida, em nome de Jesus, um garoto que tinha sido estraçalhado por cães

São Vito foi preso e martirizado. Por não ter negado a fé cristã, foi torturado até a morte quando tinha 15 anos de idade

Em 1895, uma imagem de São Vito Mártir foi trazida ao Brasil por imigrantes italianos. O Santo começou a ser reverenciado no Brás

A Paróquia foi criada em 24 de março de 1940

Daniel Gomes do, portanto, não só a comunhão entre os membros de uma comunidade celebrante, mas, também, a comunhão de toda a Igreja.

A partir do 1o Domingo do Advento, em 3 de dezembro, em todas as missas celebradas no Brasil passará a ser obrigatório o uso da tradução brasileira da 3a edição típica do Missal Romano, o livro no qual consta todo o rito da celebração da Eucaristia. Nesta entrevista ao O SÃO PAULO, Dom Edmar Peron, Bispo de Paranaguá (PR) e que presidiu a Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB de 2019 a 2023, explica o processo da tradução brasileira do Missal Romano e as principais mudanças que serão percebidas pelos celebrantes e éis.

O SÃO PAULO - De modo simplificado, o que é o Missal Romano?

Dom Edmar Peron – A Igreja crê aquilo que celebra, e é muito zelosa com a fé no mistério eucarístico. O Missal é o livro que contém as palavras e os gestos, isto é, os ritos que fazem a mediação para que a comunidade de fé entre consciente, ativa e frutuosamente no mistério eucarístico.

A Eucaristia também é mistério de comunhão, tanto que uma das expressões da nossa celebração é ‘Fazei de nós um só corpo e um só espírito’. Nós pedimos ao Espírito Santo para que o pão e o vinho sejam transformados no Corpo e Sangue do Senhor e, em seguida, pedimos ao mesmo Espírito Santo para que as pessoas que comungarem do mesmo Pão eucarístico formem um único Corpo, a Igreja.

O Missal garante aquilo que a Igreja acredita a respeito da Eucaristia e o jeito de celebrar o mistério da Eucaristia, realizan-

Muitos têm chamado essa tradução de novo Missal. Isto é correto?

O Concílio de Trento, no século XVI, impôs um novo missal a toda a Igreja, fazendo com que deixassem de ser utilizados os numerosos missais que existiam até então, e se passasse a rezar em todas as comunidades e nações com um único missal, em uma única língua, o latim, e em um único rito. Passados cerca de 400 anos, houve a edição do missal pós-conciliar, que era, este sim, um novo missal, com uma nova forma de celebrar a missa, incluindo a língua falada em cada local, as preces, a homilia, a concelebração, a comunhão sob as duas espécies. Agora, nós não estamos inaugurando um novo modo de celebrar o mistério eucarístico, mas, sim, oferecendo às comunidades a tradução da 3a edição do Missal Romano pós-Concílio Vaticano II. Portanto, não se deve falar que este é um novo Missal.

Por que se passaram quase duas décadas até que se chegasse a esta tradução brasileira?

A tradução da 3a edição do Missal Romano compete a cada uma das conferências episcopais. Assim, se encarregou um grupo de pessoas para fazer a tradução dos textos, como peritos, pessoas versadas na língua portuguesa, na língua latina e na nossa cultura brasileira. Cada etapa traduzida precisou ser votada pela Assembleia Geral da CNBB. A cada ano, se trabalhava uma parte; o texto traduzido era apresentado aos bispos, eles faziam suas considera- ções e na Assembleia Geral havia a votação. Após termos votado cada parte do Missal nas assembleias, ainda zemos uma votação geral do texto antes de enviá-lo a Roma, que con rmou a tradução no último mês de março. Este trabalho de tradução foi feito pela Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos (CETEL), mas sempre gosto de a rmar que o texto não pertence a esta comissão, e sim à CNBB, pois não é o texto de um grupo, mas da Igreja no Brasil.

Por que de tempos em tempos é necessário atualizar o texto do Missal Romano?

O Espírito Santo é a alma da Igreja e faz com que ela seja um organismo vivo. Assim, de tempos em tempos, as mudanças são necessárias para incorporar novas legislações, novas maneiras de celebrar os santos. Por exemplo: na instrução geral anterior a esta 3a edição do Missal, se dizia que à frente da procissão de abertura da missa vai uma cruz processional; já esta edição esclarece que à frente vai a cruz processional com o Cristo cruci cado. Também foi acrescentado um capítulo todo sobre adaptação, algo que não existia. Outra situação: no modo de celebrar a data litúrgica de Santa Marta, o Papa Francisco entendeu que a festa de Santa Marta deveria ser a dos santos irmãos – Marta, Maria e Lázaro, e, assim, os textos dessa festividade passaram a incluir os irmãos. Também a celebração de Santa Maria Madalena foi elevada ao grau de festa, com todos os textos próprios, inclusive o prefácio. Portanto, esta edição do Missal incorporou a legislação litúrgica e elementos novos no modo de celebrar os santos.

Qual foi o critério para o acréscimo dos nomes de santos e beatos nesta 3ª edição?

Desde a primeira edição do Missal, é o documento pós-conciliar Mysterii Paschalis – de 1969, com normas universais do ano litúrgico e o calendário romano geral – que regula a composição do calendário dos santos. Lembro, ainda, que um santo só vai para o calendário geral se assim desejar o papa. O Papa Francisco, por exemplo, mandou inserir no calendário litúrgico universal São Paulo VI e São João Paulo II. Há, porém, milhares de santos que não entraram nesta edição do Missal, e no caso dos beatos, normalmente eles são venerados apenas na região onde são conhecidos, na sua diocese de origem, na sua ordem religiosa ou congregação.

Quais são as principais mudanças que serão percebidas pelos fiéis?

Uma das mudanças é que em todas as missas entre a Quarta-feira de Cinzas e a quarta-feira da Semana Santa há uma oração de bênção sobre o povo. Isto estava presente no missal de São Pio V e foi recuperado nesta 3a edição. Trata-se de uma oração facultativa, mas muito rica, explicitando o caminho quaresmal que vai sendo feito em direção à Páscoa. Muitos também irão perceber no próprio Missal que há textos que dizem respeito aos seus santos de devoção. Por exemplo, agora está no Missal a oração coleta de Santa Rita que antes não constava.

Outra mudança é que no momento de rezar o “Confesso a Deus”, o latim coloca por três vezes a expressão “minha culpa”, de modo que agora está “por minha culpa, minha culpa, minha tão grande culpa”, como já o é na tradução do Missal de Portugal e em outros países de língua portuguesa.

Destaco, também, que na aclamação da assembleia após a narrativa da instituição da Eucaristia, há uma introdução especí ca para cada aclamação memorial: “Mistério da fé”, “Mistério da fé e do amor”, “Mistério da fé para a salvação do mundo”.

Estão previstas formações sobre a 3ª edição do Missal?

Há muitas iniciativas sendo organizadas pelo regionais da CNBB e as dioceses. Não há, porém, um projeto único de formação. O que se pensou foi produzir alguns vídeos promovendo o Missal, e eu mesmo tenho feito muitas lives a respeito, como uma recente para o Regional Sul 2 da CNBB, acessível pelo Youtube (https://curtlink.com/SJcOWOY).

Fernando Geronazzo tidos ininterruptamente, há mais de 2 mil anos, cada vez que um sacerdote, ao celebrar a Santa Missa, atualiza o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

“O que recebi do Senhor foi isso que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória’. Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha”. (1Cor 11,23-26)

No trecho acima, São Paulo narra os gestos e palavras de Jesus na última ceia, ao instituir o sacramento da Eucaristia. Tais palavras e gestos são repe-

Esse conjunto de ritos e símbolos constitui a “liturgia”, palavra de origem grega que signi ca “obra pública”, “serviço por parte do povo e em favor do povo”. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ressalta que, na tradição cristã, a liturgia é o meio pelo qual o povo de Deus toma parte na “obra de Deus”. “Pela liturgia, Cristo, nosso Redentor e Sumo Sacerdote, continua na sua Igreja, com ela e por ela, a obra da nossa redenção”, acrescenta o Catecismo (CIC 1069).

É a liturgia que garante a unidade entre aquilo em que a Igreja crê e celebra. Partindo da imagem paulina da Igreja como “corpo de Cristo”, pode-se dizer que a tradição litúrgica é o meio pelo qual o mistério que une seus membros permanece vivo.

Primeiros Crist Os

Essa unidade celebrativa já era percebida nas primeiras comunidades cristãs, como mostra o livro dos Atos dos Apóstolos, ao narrar que os seguidores de Cristo “perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Em outros textos do Novo Testamento e de autores da época, também é possível identi car a centralidade da oração, especialmente da Eucaristia, na Igreja nascente.

Uma das fontes que mostram com detalhes esse aspecto das primeiras comunidades é a Didaqué (ou Doutrina dos Doze Apóstolos), uma espécie de catecismo antigo redigido entre o I e o II séculos.

Sobre a liturgia eucarística, esse documento destaca: “Reunidos no dia do Senhor (dominus), parti o pão e dai graças, depois de confessardes vossos pecados, a m de que vosso sacrifício seja puro. Quem tiver divergência com seu companheiro não deve se juntar a nós antes de se reconciliar, para que não seja profanado vosso sacrifício, conforme disse o Senhor: ‘Que em todo lugar e tempo me seja oferecido um sacrifício puro, pois sou um rei poderoso, diz o Senhor, e meu nome é admirável entre as nações’”.

Esse trecho, inclusive, mostra que os primeiros cristãos já tinham a consciência da celebração eucarística não apenas como um banquete, mas como o memorial do sacrifício de Cristo.

Tradi O

A Didaqué também descreve os detalhes dessa celebração, que são semelhantes aos da liturgia celebrada hoje. “Primeiro, sobre o cálice: Damos-te graças, Pai nosso, pela santa videira de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos! Depois sobre o pão partido: Damos-te graças, Pai nosso, pela vida e pela sabedoria que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos!”, ensina.

Além do catecismo primitivo, há relatos sobre a Eucaristia feitos pelos chamados santos padres da Igreja, os primeiros grandes teólogos, como as Apologias de São Justino, escritas por volta do ano 150. Neste texto, o Mártir descreve a celebração:

“Terminadas as orações, damos mutuamente o ósculo da paz. Apresenta-se, então, a quem preside os irmãos, pão e um vaso de água e vinho, e ele, tomando-os, dá louvores e glória ao Pai do universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele nos vêm”, destaca o Mártir, acrescentando: “Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo lícito participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no banho (Batismo) da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos ensinou”.

São Justino continua o relato, explicando que, uma vez dadas as graças e feita a aclamação pelo povo, os diáconos oferecem a cada um dos assistentes parte do pão, do vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de graças, e levam-na aos ausentes. Nota-se aí o hábito de levar a comunhão àqueles que não podiam participar da celebração, como os enfermos e os muitos encarcerados.

O mesmo Santo também descreve a prática da oferta de dons durante a celebração, que eram partilhados com os mais necessitados da comunidade. “Os que têm, e querem, dão o que lhes parece, conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao presidente, que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os pobres, os encarcerados, os forasteiros, constituindo-se, numa palavra, o provedor de quantos se acham em necessidade”, escreve.

Ora O Eucar Stica

Na obra “Tradição Apostólica”, Santo Hipólito de Roma descreve os costumes da Igreja no século II e mostra como a celebração dos santos mistérios evoluiu e permite identicar as raízes da oração eucarística feita atualmente.

“Logo que se tenha tornado bispo, ofereçam-lhe todos o ósculo da paz, saudando-o por ter se tornado digno. Apresentem-lhe os diáconos a oblação e ele, impondo as mãos sobre ela, dando graças com todo o presbiterium, diga: ‘O Senhor esteja convosco’. Respondam todos: ‘E com o teu espírito’. ‘Corações ao alto! Já os oferecemos ao Senhor’. ‘Demos graças ao Senhor. É digno e justo’”.

Santo Hipólito continua a descrição com uma espécie de prefácio, como os da liturgia atual: “Graças te damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviastes, Salvador e Redentor, mensageiro da tua vontade, que é o teu Verbo inseparável, por meio do qual zestes todas as coisas e que, porque foi do teu agrado, enviaste do Céu ao seio de uma Virgem; que, aí encerrado, tomou um corpo e revelou-se teu Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem”.

RITOS

Ao longo dos séculos, a liturgia da Igreja passou por evoluções e variações conforme a época e as culturas locais. No entanto, a estrutura es- sencial da missa sempre se manteve a mesma, transmitida pela tradição apostólica.

Para entender a variação de ritos, é preciso recordar que a Igreja Católica no mundo é constituída de 24 igrejas autônomas, sendo uma de rito latino e 23 de rito oriental.

Dos ritos orientais, destacam-se os de origem bizantina, maronita, armênia, caldeia, siríaca, entre outras. O rito latino predominante é o Romano, celebrado pela Igreja de Roma, cujas partes mais importantes remontam ao século V.

Missal Romano

A primeira edição impressa de um livro com o título de Missale Romanum é datada de 1474. Esse ritual reunia os textos da missa segundo os usos da Cúria Romana (Ordo Missalis Secundum Consuetudinem Curiae Romanae). Nos anos seguintes, surgiram outras edições locais do livro litúrgico.

Em 1570, São Pio V promulgou a reforma litúrgica decorrente do Concílio de Trento, na qual foi estabelecido um único Missal Romano para toda a Igreja Latina, abrindo exceção apenas para ritos que existissem ininterruptamente por, pelo menos, 200 anos e que ainda são utilizados em alguns lugares e ocasiões (Ambrosiano, utilizado na Arquidiocese de Milão, na Itália; Moçárabe, oriundo dos árabes convertidos ao Cristianismo na Espanha, próprio da Catedral de Toledo e, desde 1993, pode ser usado em todo o território espanhol; Bracarense, atualmente, de uso restrito a algumas festas na Catedral de Braga, em Portugal).

Missais com maior ou menor número de modi cações foram publicados sucessivamente pelos Papas Clemente VIII, em 1604; Urbano VIII, em 1634; Leão XIII, em 1884; Bento XV, em 1920 (Missal cuja revisão foi iniciada por São Pio X). A sexta e última edição típica do Missal Romano “revisado por decreto do Concílio de Trento” foi aquela publicada pelo Papa João XXIII em 1962.

Reforma Lit Rgica

A partir da reforma litúrgica decorrente do Concílio Vaticano II (1962-1965) e da promulgação de um novo Missal Romano por São Paulo VI, em 1969, a forma ordinária do Rito Romano passou a ser a que é celebrada atualmente na maioria das igrejas católicas de rito latino.

Além das variações já mencionadas do Rito Romano, existem variações históricas de algumas ordens religiosas que não foram extintas após o Vaticano II, mas que praticamente caíram em desuso, como o Beneditino, o Dominicano, o Cartuxo, o Carmelita, entre outros. Há, ainda, variações recentes do Rito Romano: Uso do Ordinariado Anglicano deriva de uma variação aprovada em 1980 e, desde 2015, compõe o Missal utilizado pelo ordinariado pessoal criado para as comunidades de origem anglicana que restabeleceram a comu- nhão plena com a Igreja Católica. Já o Uso Zairense, aprovado em 1988, para as dioceses da atual República Democrática do Congo, incorpora elementos da cultura da África Subsaariana.

Ao aplicar a constituição Sacrosanctum concilium do Concílio Vaticano II, São Paulo VI, assistido por uma comissão de cardeais, bispos e peritos criou uma edição do Missal Romano, promulgada com a constituição apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969 e que entrou em vigor em 30 de novembro sucessivo, início do novo Ano Litúrgico. Em 1975, o mesmo Pontí ce promulgou a segunda edição revisada do Missal e, em 2002, São João Paulo II promulgou a terceira edição típica, cuja tradução brasileira foi recentemente aprovada.

Culto Divino

As revisões e reformas do livro litúrgico da missa reforçam a preocupação da Igreja em favorecer aos éis uma participação consciente, ativa e frutuosa, como assinala a constituição Sacrosanctum concilium Como a rma uma nota publicada pelo Departamento de Celebrações Litúrgica do Sumo Pontí ce, em 2012, o culto litúrgico não pode nascer da fantasia humana, pois, “seria um grito na escuridão ou uma simples autoa rmação” e acrescenta: “A verdadeira liturgia pressupõe que Deus responde e nos mostra como podemos adorá-lo”.

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