Poiesis 218

Camilo Mota

Regina Mota

www.jornalpoiesis.com.br

Um dia para conhecer o Corpo de Bombeiros

Literatura, Pensamento & Arte

Daumas Academia comemora 10 anos

Página 3 Página 7 Ano XXI- nº 218 - maio de 2014 - Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, Cabo Frio, Arraial do Cabo, S. Pedro da Aldeia e Petrópolis

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Saquarema comemora 173 anos Pedro Junior

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Tendo conquistado sua emancipação político-administrativa em 1841, o município de Saquarema comemora no dia 8 de maio 173 anos. A Prefeitura está comemoran-

do a data com algumas inaugurações importantes para a população, como quadras poliesportivas e postos de saúde. Página 7.

André Barbosa

Anderson Moura busca recursos do Governo do Estado

O prefeito em exercício de Araruama, Anderson Moura, foi recebido no final de abril pelo governador Luiz Fernando Pezão. No encontro, o chefe do Executivo araruamense reforçou a importância do retorno das obras paralisadas e outras ações do governo estadual em Araruama nas áreas de Saúde e Educação, além da pavimentação de vias urbanas. Página 3.

Luigi do Valle

Araruama recebe feira do livro

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Pelo segundo ano consecutivo, Araruama recebe a Feira do Livro da ABL, instalada no calçadão do Centro, de 2 de maio a 2 junho. Página 3.

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nº 218 - maio de 2014

Músico internacional se apresenta em Saquarema

Divulgação

CARTA DO LEITOR Uma marginalização leviana e vil na literatura Caríssimos do Poiésis,

O baterista Kiko Freitas, reconhecido internacionalmente pelo trabalho realizado em vários países, fará apresentação única em Saquarema no dia 11 de junho. No palco do Teatro Mario Lago, às 19h30, ele tocará músicas que marcaram seus 23 anos de carreira, sempre ao lado de artistas famosos como João Bosco, com quem já toca há 13 anos.

Os ingressos limitados custam R$ 15, e podem

ser adquiridos no RA Music (galeria do Supermercado Econômico, em Bacaxá). Na portaria do teatro haverá a arrecadação de 1 kg de alimento não perecível, que também será necessário para ter acesso ao show. Essa é mais uma iniciativa do músico saquaremense Thiago Perninha, idealizador do projeto Saquá Instrumental. O show conta ainda com apoio do Jornal Poiésis.

MÚSICA

COLETÂNEAS OPORTUNAS E OPORTUNISTAS Marcio Paschoal A recente incorporação do catálogo fonográfico da EMI à gigante Universal vem rendendo alguns frutos.

Amadurecidos com o tempo, uns de boa cepa e outros podres, todos na mesma colheita oportuna. A fórmula escolhida parece ter sido a das coletâneas da hora.

O fruto da vez reúne os sucessos da cantora Sylvia Telles, um dos ícones da bossa nova, inspiradora de Elis e que teve carreira interrompida bruscamente num acidente de automóvel em Maricá (1966). Sylvinha, uma das primeiras cantoras a incorporar o jazz à bossa nova, deixou sua marca na nossa música popular. O CD “Sylvinha Telles – Você e Eu” reúne 14 canções, de “Lobo bobo” a “Eu sei que vou te amar”. Clássicos jobinianos predominam: com Dolores Duran (Estrada do Sol), Vinicius de Morais (Se todos fossem iguais a você) e Aloysio de Oliveira (Dindi). Destaque também para os nostálgicos duetos, com Luiz Bonfá, em “Perdido de Amor” e Lúcio Alves, em “Este seu Olhar/ Só em teus braços”. Para os fãs da cantora e àqueles que pretendem pesquisar o momento de eclosão da bossa nova mais descompromissada e romântica.

Outro CD da leva tem Frank Sinatra, que pode ser colocado acima do bem e do mal. Pensando nisso, o disco “Sinatra with Love”, que reúne 16 fonogramas do cantor onde prevalecem as gravações dos selos Capitol e Reprise. “Moonlight becomes you”, “It could ha-

ppen to you”, “The look of love” e “My foollish heart” mereceram a seleção, assim como o clássico “Wave” do maestro Jobim, com arranjo de Eumir Deodato.

O lado escuro da ideia, ou seu fruto mais apodrecido, é a coletânea “Um Barzinho um Violão, Novelas - Selo 2”. Formato já desgastado e de inegável apelo comercial (haja vista ser o segundo volume), o CD expõe seus limites maiores, com a proposta acústica malhada, se apoiando em hits novelísticos. E por aí desfilam Tiaguinho cantando Sá & Guarabira, Michel Telo de Djavan (anacrônico, melhor seria Um Barzinho e Um Acordeom), Ivete Sangalo (a cantora não tem culpa da péssima gravação com percussão) em Guilherme Arantes, e Alexandre Pires repetindo Fábio Jr, recriando canções que fizeram sucesso em novelas globais. Ainda assim, algumas faixas escapam da mediocridade abrangente. O caso de “Muito Estranho” de Dalto e Cláudio Rabello, com Toni Garrido, “No Rancho Fundo” de Ary Barroso e Lamartine Babo, com Paula Fernandes e “As Vitrines” de Chico Buarque, com Vander Lee. Márcio Paschoal é escritor, autor da biografia de João do Vale (www.marciopaschoal.com)

Mais uma vez preciso agradecer pelo privilégio de receber o jornal, já em sua 215ª edição. Como sempre, traz ótimos artigos, sem contar a criteriosa seleção de poemas. Desta edição, destaco o artigo do poeta Gerson Valle, que, a pretexto de comentar o

livro de Fernanda Torres, traça uma análise muito precisa do atual sistema literário brasileiro. O que diz é de fato verdadeiro. Os bons escritores, pelo menos muitos deles, pagam o preço de uma marginalização leviana e vil. E muitos dos nomes projetados e reconhecidos nas décadas recentes vão sendo jogados

ao esquecimento. Lixo?

Vem muito bom, também, o que escreve o Fernando Py, o melhor crítico de poesia, hoje!

Abraços a todos! E saúde para o Poiésis!

Alcides Buss Florianópolis-SC Nota do Editor - Prezado Alcides Buss. Esta

luta de 21 anos que o Poiésis vem desenvolvendo em favor da literatura e da cultura é resultado de uma esperança sempre renovada nos constantes encontros com amigos como você, nosso leitor de longa data. Grato, mais uma vez, por sua presença entre nós.

(Camilo Mota)

1º DE MAIO

Dia do Trabalhador é comemorado em Araruama com shows e serviços gratuitos Fotos: Camilo Mota

O dia 1º de maio foi amplamente comemorado em Araruama com uma série de atividades promovidas pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Turismo, em parceria com as demais secretarias. A Praça Antonio Raposo, no Centro, foi o palco da festa, que contou com serviços gratuitos de saúde, palestras e distribuição de material informativo sobre trânsito, saúde e defesa civil, brinquedos para as crianças e apresentações culturais de projetos desenvolvidos pelas secretarias de Política Social (Sepol) e da Terceira Idade (Setid).

Entre as atrações, tiveram destaque as apresentações do projeto Bate Lata, da orquestra de violinos e do canto coral, que fazem parte do Projeto Tocando para Mudar, da Sepol. O evento contou ainda com ginástica artística, dança do ventre, ballet, capoeira, projeto Orla em Movimento, contação de história, recreação e apresentação musical do Coral da Terceira Idade da Setid. As comemorações pelo Dia do Trabalhador foram concluídas com shows da banda Sujeito a Multa, e dos cantores Junior Antunes e Nando Motta.

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O projeto Tocando para Mudar, desenvolvido pela Secretaria de Política Social, mostrou o talento de jovens de várias regiões do município que fazem aulas de música nos CRAS.

O prefeito em exercício Anderson Moura e sua esposa Suzy Moura com o cantor Nando Motta, destaque no programa The Voice Brasil, que fechou a noite de shows no dia 1º de maio.

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EXPEDIENTE O Jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte é uma publicação da Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda.

Editor: Camilo Mota. Diretora Comercial: Regina Mota.

Conselho Editorial: Camilo Mota, Regina Mota, Fernando Py, Sylvio Adalberto, Gerson Valle, Marcelo J. Fernandes, Marco Aureh, Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Charles O. Soares. Jornalista Responsável: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Reg. Prof. 18.152 MTb.

Diagramação: Camilo Mota.

CAIXA POSTAL 110.912 SAQUAREMA - RJ CEP 28990-970 ( (22) 2653-3597 ( (22) 99201-3349 ( (22) 98818-6164 ( (22) 99982-4039 E-mail: jornalpoiesis@gmail.com Site: www.jornalpoiesis.com.br.

Distribuição dirigida em: Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Petrópolis. Fotolito e Impressão: Tribuna de Petrópolis.

Colaborações devem ser enviadas preferencialmente digitalizadas, espaço simples, fonte Times New Roman ou Arial, corpo 12, com dados sobre vida e obra do autor.

Os originais serão avaliados pelo conselho editorial e não serão devolvidos. Colaborações enviadas por e-mail devem ser anexadas como arquivo .doc ou .docx. Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Poiésis.

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nº 218 - maio de 2014

MÚSICA Alunos dos CRAS de Araruama participam de festival de música A Prefeitura de Araruama, através da Secretaria Municipal de Política Social, Trabalho e Habitação, promove no mês de maio a primeira eliminatória do Festival de Música dos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) do Projeto Tocando para Mudar.

De acordo com o prefeito em exercício, Anderson Moura, o festival tem como objetivo incentivar a “boa música”, aprimorar e desenvolver a cultura musical, revelar jovens talentos, valorizar os artistas promissores, atingindo todos os gêneros e estilos.

O público alvo do festival são os alunos do Projeto Tocando para Mudar, divididos em duas categorias: 8 à 14 anos e 15 anos em diante. As eliminatórias acontecerão nos dias 12/05 no CRAS São Vicente de Paulo, 13/05 no CRAS Bananeiras, 19/05 no CRAS Fazendinha e 21/05 no CRAS Mutirão.

A etapa final do evento será no dia 9 de agosto de 2014, na Praça Antônio Raposo, no Centro.

POLÍTICA Miguel Jeovani foi o parlamentar que mais atuou em favor de Araruama Regina Mota

O prefeito eleito de Araruama, Miguel Jeovani (PR), teve uma destacada ação parlamentar durante seu mandato na Alerj, nos anos de 2011 e 2012. Foram mais de 600 emendas apresentadas, sendo que 416 foram incluídas na Lei Orçamentária Anual de 2012 (Lei nº 6.125). É importante assinalar a origem dessas obras e a luta que se travou para que o município as conquistasse. E nessa luta estava o então deputado estadual Miguel Jeovani.

A segurança pública foi tema constante em sua trajetória na Alerj. O debate acerca da possível instalação de um “cadeião” no município foi alvo de severas críticas por parte do parlamentar,

implantação da recém inaugurada Delegacia Legal (indicação nº 49, de 17 de fevereiro de 2011).

Os constantes acidentes na RJ-124 (Via Lagos) chamaram a atenção de Miguel Jeovani, que imediamente se mobilizou para cobrar

evitado as colisões noturnas.

Dentro do Programa de Trabalho de Miguel Jeovani encontram-se ainda as indicações para o asfaltamento de vários logradouros dentre os quais as ruas Adelina Ferreira de Mendonça, Polônia, Vera Cruz e a Avenida Beira Rio, no Bairro São Vicente de Paula; Avenida Beira Rio, no Bairro do Limão; Rua Almirante Tamandaré, Avenidas Araruama, Beira Rio, Maranhão e Novo Horizonte, em Iguabinha; Avenida Beira Rio, em Araruama; Avenida Cowtry Club dos Engenheiros, no Bairro Engenheiros; Avenida Gervásio Pinto de Moraes, no Bairro Hawai e a Avenida Major João Barbosa, no Outeiro.

Anderson Moura se reúne com governador Luiz Fernando Pezão em busca de mais recursos para Araruama O prefeito em exercício de Araruama, Anderson Moura, esteve no final de abril com diversas autoridades estaduais, visando atrair investimentos e o prosseguimento de inúmeras obras que não foram concretizadas no município, além de garantir a continuidade de projetos desenvolvidos em parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Após se encontrar com o secretário de Estado de Educação, Wilson Risolia,

EDUCAÇÃO Estudantes visitam Corpo de Bombeiros e Zoológico no Rio

Camilo Mota

A Prefeitura de Araruama, através da Secretaria de Defesa Civil, em parceria com as secretarias de Educação e de Transporte, iniciou na terça-feira, dia 29, o projeto “Defesa Civil Abrindo Horizontes”, que tem por objetivo levar informações sobre o Corpo de Bombeiros e suas atividades para as crianças da rede pública municipal de ensino, além de proporcionar momentos de lazer através de visita ao Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.

Cerca de 40 alunos da Escola Municipal Dr. João Vasconcelos participaram da primeira excursão para conhecer as instalações do Comando Geral do Corpo de Bombeiros, no Rio de Janeiro.

Durante a visita, as crianças conheceram a rotina de trabalho da corporação, receberam orientações sobre a importância e amplitude das ações desenvolvidas pelos bombeiros e fizeram uma verdadeira viagem no tempo ao conhecer o Museu, onde encontraram raridades, como a primeira ambulância do país, em atividade a partir de 1899.

que lutou pelo reforço do policiamento através da implantação de um Batalhão da Polícia Militar em Araruama (indicação nº 226/2011), a fim de desafogar o trabalho do 25º Batalhão de Cabo Frio. Também foi de Miguel Jeovani a indicação para a

das autoridades providências para que a segurança dos motoristas fosse tratada como prioridade.

Também foram indicações do parlamentar a iluminação artificial nas rodovias RJ 116 (do Centro de Araruama até a entrada de Praia Seca), RJ 124 (da saída da Via Lagos até o trevo de São Vicente), e da RJ 138 (Estrada de São Vicente, com acostamento), além de obras de urbanização, saneamento e pavimentação em dezenas de bairros do município.

Vale ressaltar que a iluminação da rodovia que liga Araruama à entrada de Praia Seca muito tem beneficiado os motoristas que por ali trafegam à noite, o que tem

Os alunos assistiram ainda a uma apresentação da Banda Sinfônica dos Bombeiros, viram uma simulação de atendimento de ocorrência e passearam num caminhão da frota.

“O projeto é uma oportunidade que as crianças da rede municipal estão tendo de conhecer de perto o trabalho dos bombeiros, desenvolvendo assim a sua cidadania através de uma atividade que envolve cultura, história e lazer”, disse Carlos Henrique Chimer, subsecretário municipal de Defesa Civil.

Após a visita ao Comando Geral dos Bombeiros, os alunos fizeram um passeio no Jardim Zoológico, com entrada gratuita através de parceria firmada com a Fundação Rio Zoo. A cada mês, uma nova escola será beneficiada com o projeto. Em maio, será a vez da E.M. Nair Valadares, e nos meses seguintes as escolas André Gomes dos Santos, Pedro Paulo de Bragança Pimentel, Antonio Andrade Muller, Agostinho Franceschi, Luiz Antunes de Mendonça e Toninho Senra.

André Barbosa

e técnicos das secretarias de Saúde e de Obras, Anderson Moura se reuniu com o governador Luiz

Fernando Pezão.

“O encontro com o governador foi importante para reforçarmos a im-

portância do retorno das obras paralisadas e outras ações do governo estadual em Araruama nas áreas de Saúde e Educação, além da pavimentação de vias urbanas”, disse o prefeito em exercício Anderson Moura.

A audiência com o governador reforça a intenção do governo municipal de estreitar parcerias com o Estado, como já vinha sendo realizado desde 2013. Algumas ações dessas parcerias resultaram na doação de ambulâncias, através de emendas parla-

CULTURA

Araruama sedia II Feira do Livro

Numa realização da Associação Brasileira do Livro (ABL), começa no dia 2 de maio, e permanecerá até o dia 2 de junho a segunda edição da Feira do Livro, no Calçadão Cultural Dr. Fábio Freitas (rua do Banco Itaú), no Centro, em Araruama. Oito stands funcionarão diariamente - inclusive nos finais de semana - oferecendo aos apaixonados pela leitura, variedade de assuntos e preços diferenciados.

De acordo com o subsecretário de Cultura, Robson Sales, esse evento é uma ótima oportunidade para toda população araruamense adquirir livros de todos os tipos com preços promocionais.

“Nos stands os leitores encontrarão livros didáti-

Luigi do Valle

cos, infantis, lançamentos e usados de várias editoras, com preços bastante acessíveis: a partir de R$ 1,00.

Essa feira de livros vem beneficiar nossos estudantes, pessoas que vão prestar um vestibular ou concurso público, trabalhadores que estão aprimorando outros idiomas, crianças na alfa-

betização, além de vender best-sellers com valores bem atrativos. Este evento é muito importante para incentivar o gosto pela leitura em crianças, jovens e adultos”, disse.

O evento conta com apoio da Prefeitura de Araruama, através da Secretaria Municipal de Cultura.

mentares, além da iluminação especial nos trechos das rodovias que ligam o Trevo de São Vicente ao entroncamento da Via Lagos e do Centro à entrada de Praia Seca, e principalmente a inauguração da Delegacia Legal em março de 2014.

Foi nesta ocasião que o prefeito em exercício solicitou junto ao então vicegovernador Pezão o agendamento de uma reunião para conversar sobre os investimentos no município de Araruama.

Exposição Está em cartaz na Casa de Cultura José Geraldo Caú, em Araruama, a exposição coletiva “Raízes Concretas - Ontem, hoje e amanhã” e “Traços”. De acordo com o subsecretário municipal de Cultura, Robson Sales, o objetivo da exposição é resgatar a história de Araruama através de fotos, documentos e objetos.

“Na exposição ‘Raízes Concretas’, o visitante encontrará fotos antigas e atuais de diversos pontos de Araruama, além de algumas curiosidades sobre a história do município. Já na exposição ‘Traços’ reunimos dezenas de telas de aproximadamente 10 artistas de Araruama. Esta é uma forma de homenagear e mostrar os belos trabalhos que são desenvolvidos na cidade”, disse.

A exposição pode ser visitada de segunda à sexta-feira, das 9 às 18h; aos sábados das 15 às 21h; domingos e feriados, das 10 às 14h.

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nº 218 - maio de 2014

RELIGIÃO

Clérigo Muçulmano presenteia a Comunidade Internacional Bahá’í com iluminura de texto sagrado

Numa atitude sem precedentes, o aitolá Abdol-Hamid Masoumi-Tehrani, clérigo muçulmano de destaque no Irã, presenteou os bahá’ís com uma obra de caligrafia composta a partir dos escritos de Bahá’úlláh, o Profeta-fundador da Fé Bahá’í. Essa ação é um marco na luta pelo fim da discriminação religiosa pelo mundo e põe em prática as declarações recentes de estudiosos muçulmanos que propõem interpretações alternativas dos ensinamentos islâmicos, em que a tolerância religiosa é confirmada pelo Alcorão.

O presente foi entregue hoje (7 de abril) à Casa Universal de Justiça, órgão máximo da Fé Bahá’í localizado em Haifa, Israel, e representa a esperança do aiatolá Tehrani de uma coexistência pacífica e livre de todos os tipos de segregação. O presente é para todos os bahá’ís, mas especialmente para os bahá’ís do Irã, que, segun-

do ele, “vêm sofrendo de diversas maneiras, como resultado do cego preconceito religioso”.

Em seu site, o aiatolá afirma que preparou a iluminura como uma ação simbólica para nos lembrar da importância da valorização do ser humano e da convivência pacífica. Além disso, ele acredita que, independente da religião, as pessoas devem viver em cooperação e evitar o ódio, a inimizade e o preconceito religioso. A obra é “uma expressão de simpatia e cuidado de minha parte e em nome de todos os meus concidadãos de mente aberta”, afirma o aiatolá.

Bahá’ís de todo o mundo comemoram a atitude do aiatolá. Bani Dugal, representante da Comunidade Bahá’í nas Nações Unidas, afirma que “esta é uma atitude muito bem-vinda e promissora, com possíveis implicações para a coexistência dos povos do mundo. A Comunidade Internacional Bahá’í está profundamente to-

A atitude do clérigo tem um forte valor simbólico, pois desde a Revolução Islâmica de 1979, centenas de bahá’ís foram mortos ou presos no Irã

cada por este ato elevado e pelos sentimentos de tolerância religiosa e respeito pela dignidade humana que nele culminaram”, afirma o aiatolá.

Em ocasiões anteriores, o aiatolá Tehrani demonstrou grande coragem ao expressar publicamente sua preocupação com a contínua perseguição às minorias religiosas (incluindo os bahá’ís) no Irã. Desde

a Revolução Islâmica, em 1979, centenas de bahá’ís foram mortos e milhares presos. Atualmente, 115 bahá’ís se encontram presos exclusivamente com base em suas crenças religiosas. Os bahá’ís no Irã não têm acesso ao ensino superior, são impedidos de ganhar a vida e de enterrar seus mortos de acordo com seus próprios rituais de sepultamento, tudo por

causa da religião.

O trecho que o aiatolá Tehrani escolheu para citar na iluminura foi tomado do Kitabi-Aqdas, Livro Sacratíssimo de Bahá’ú’lláh.

“Convivei com todas as religiões em amizade e concórdia para que se inale de vós a doce fragrância de Deus. Vigiai para que a chama da tola ignorância não vos domine quando entre os homens. Tudo pro-

cede de Deus e a Ele retorna. Ele é a origem de tudo e n’Ele todas as coisas findam”.

O presente mede cerca de 60 x 70 cm e é uma obra de arte complexa, produzida meticulosamente à mão. Além dos escritos, ela possui o símbolo bahá’í do “Máximo Nome”, uma representação caligráfica da relação conceitual entre Deus, Seus profetas e o mundo da criação. Outras obras de arte do aiatolá Tehrani incluem iluminuras do Alcorão, da Torá, dos Salmos, do Novo Testamento e do Livro de Esdras. As peças de caligrafia sempre foram muito valorizadas no mundo oriental (principalmente na antiga Pérsia) como elemento de destaque na cultura local, inclusive no Alcorão. Dessa forma, a atitude do aiatolá Tehrani tornou-se um presente de inestimável valor não só para a Comunidade Bahá’í, mas para um mundo que busca eliminar todas as formas de preconceito.

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nº 218 - maio de 2014

POEMAS

APONTAMENTO

CONFISSÃO

CINEMA

Edimilson de Almeida Pereira

João Roberto Gullino “Toda riqueza, todo esplendor, toda a graça do mundo está no passado” Anatole France, romancista francês, 1844 – 1924 Rasgo toda roupagem da existência, desnudo-me perante a poesia, busco qualquer porção, qualquer fatia, tirando da lembrança toda essência.

Rasgo o interior, força da exigência do meu verbo e do verso em sincronia, trazendo fatos que o tempo desfia, emoções em fragmentos da evidência.

Mistério é o mapa dos que sentem.

O mundo se abre na coisa amada.

Não há duração ou força em coisas sem amor.

O coração respira, não as pressente.

Feridas sob a capa não se doam e a perfeita chave sobre si mesma nada move.

A fome de abri-las enfim se devora.

O coração pluma aprende-se pedra.

Mas há o vidro que cifra o mistério, sua face múltipla.

Rasgo a cortina débil do passado quando é preciso expor a validade de tanto sentimento impregnado.

Coisas sem amor abrem a janela para os que sentem amá-las com ódio.

E tudo se oferece e se recusa para ser enigma.

Rasgo com calma e com serenidade, para buscar o que ficou gravado nas marcas fundas de cada saudade.

Resta ao coração ser um e muitos e, por tanta luta, também mistério.

João Roberto Gullino é membro titular da Academia Brasileira de Poesia – Casa de Raul de Leoni. O poema acima faz parte de seu livro “Raízes somente” (Prazerdeler Editora, 2013)

Edimilson de Almeida Pereira é poeta, professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG.

DEDICADO A PORTUGAL Dilermando Rocha Quando cheguei senti, então, em mim O renascer, num grão, saga da raça A latejar meu corpo, forte assim Como o Tejo que vem e nunca passa Além do mar azulverde (sem fim) Que deu glória a este povo nesta praça: Destino bom, viril, tez de carmim E heróico a navegar cheio de graça Pois na Torre de Belém achei rocha Da minha gente qual vivente tocha Que ainda alenta e sempre me ilumina E contra a dor do mundo busquei sina E encontrei paz, vivendo mais feliz E neste tronco vi minha raiz.

Dilermando Rocha é membro da Academia Juizforana de Letras.

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE Hugo Pontes Poços de Caldas-MG

Atahualpa A. P. Filho Em cova rasa, na vala sem vela, um corpo a ser só-terrado.

Indi-gente, mas humano.

Merecia uma rosa, uma reza, uma cruz, uma luz, uma imagem de Jesus.

Atahualpa A. P. Filho reside em Petrópolis, é membro titular da Academia Brasileira de Poesia - Casa de Raul de Leoni.

SABER NÃO SABER (XXIX) Alcides Buss Tanta coisa sabemos sem saber, que tudo nos parece uma sombra

de Deus.

Não sabemos, porém, se o que nos sabe vem de nós mesmos ou, bem longe, se diverto

no impensável.

AUSÊNCIA Chico Peres Percebo sua ausência quando vejo os arbustos crescidos desordenados no quintal baldio cercas caídas invadidas por lembranças tardias a felicidade outrora morava ali veio um vento forte e a levou deixou somente a tristeza cruzou o umbral da porta e se instalou... ...em mim.

Chico Peres é poeta, advogado e vereador em Saquarema-RJ.

Alcides Buss reside em Florianópolis-SC. ION - Instituto Ondina de Práticas Xamânicas

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Casa & Granito

Guido Bilharinho A ação no cinema não passa de fio condutor de eletricidade, no caso, o conteúdo, propósito e manifestação da natureza humana.

Ação, entendida aqui (e como se deve entendê-la), não como mera sucessão de fatos e acontecimentos, mas, como ato humano, cuja definição não implica apenas movimento físico, já que compreende também (e talvez com mais razão e propriedade), além de pensar e meditar, as decisões que se tomam.

O filme Heróica (Eroica, Polônia, 1957), de Andrzej Munk (1921-1961), assenta sua importância no significado e na análise dos fatos ocorrentes, nas atitudes das personagens e no modo e grau como se vinculam, derivando da maneira como esses elementos viabilizamse o exame e a avaliação comportamentais.

Dividido em dois episódios distintos relacionados com a Segunda Guerra Mundial, que teve o país como um de seus principais teatros operacionais, Heróica, como a denominação implica e induz, retraça, em ambientes díspares, ações de arrojo e bravura despidas de grandiloquência e espetaculosidade.

No primeiro, o protagonista pratica série de atos corajosos e de desprendimento pessoal como se não envolvessem heroísmo e não passassem de simples peripécias executadas em condições normais.

Essas atividades, feitos e reações, a par documentar a época e sua conjuntura, vão gizando seu caráter, personalidade e determinação.

A qualificação do filme reside em que isto não se explicita, defluindo da contextualização fáticocomportamental. A fina conotação irônica que o perpassa estabelece não só contraponto às circunstâncias e urgências do momento como contém em si comentário autoral calcado em visão do mundo elididora ou quando menos minimizadora de sua implícita tragicidade.

De feição completamente diversa é o segundo episódio. Ao invés de agitação e movimentação contínuas, caracterizadoras do primeiro, concentra-se em exíguo espaço de campo de concentração alemão.

Centrada e nucleada a trama no relacionamento entre os prisioneiros, a ação, quando nela ocorrente, não constitui tema fílmico, mas, apenas ilustração, comentário e demonstra-

Proverá

Direção: Jaime Vignoli Rod. Amaral Peixoto, km 70 Bacaxá - Saquarema - RJ ( (22) 2653-0845

Rod. Amaral Peixoto, 1609 (próximo à Gigi) - Araruama ( (22) 2664-1124

ção comportamental. A natureza humana e suas múltiplices externalizações perfazem sua razão e descrição. Gestos, palavras, maneiras e reações compõem a matéria e o cerne desse confinado contexto, cujo circunscrito âmbito contribui para maior acuidade e profundidade da construção biotipológica e sua exposição.

Nele, ao contrário do estereótipo de tantas situações semelhantes em filmes comerciais do gênero, gestos, diálogos e atitudes não configuram espetáculo e nem dissipam seu significado no ato de se exteriorizar, mas, refletem ou materializam modos de ser e proceder.

O caráter áspero do confinado convívio não deriva do ambiente anômalo que contempla, mas, emerge diretamente da condição humana e a conforma.

Outra fosse a contingência, desde que concentracionária, idênticos ou pelo menos semelhantes seriam seu conteúdo e substância, conquanto diversos os fatos e suas motivações, já que a índole e a personalidade dos indivíduos não se modificam nem mudam, apenas alteram sua forma, eis que adaptáveis à realidade e suas ocorrências. No caso, conquanto sua manifestação e eficácia esgotem-se na confinada área que palmeiam, seu teor e sentido são permanentes e universais.

Nesse episódio não se travam combates, não se ferem batalhas e nem ao menos antagonizam-se soldados em confronto.

Os alemães nem ao menos aparecem. Seu restrito espaço compõe o palco, onde, mais que pessoas, atuam tipos de comportamento e expõem-se talhes psicológicos de individualidades e em que os diálogos, menos que verbalizarem sentimentos, emoções e desejos, constituem expressões do ser. Onde os relacionamentos estabelecidos e transitoriamente mantidos, se perdem em naturalidade e espontaneidade, ganham em intensidade e autenticidade. (do livro A Segunda Guerra no Cinema. Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2005) Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles, Brasil: Cinco Séculos de História, inédito.

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nº 218 - maio de 2014

CONTO

Conto de Pedro Durval*

Num romance de Aluizio de Azevedo de 1890 havia em Botafogo um cortiço e uma pedreira. Desta, de tão explorada, não sei o que hoje restou. As casinhas do cortiço, no significado social que tinham na época, subiram morros, tornando-se favelas cariocas. Perto dali, colado também a uma pedreira, um condomínio popular se aquece na irradiação solar sobre ela, no já quentíssimo Rio de Janeiro. Dentro, os moradores duvidam se devam sair, enfrentar o sol direto de suas mágoas, tão sofridas na modorra do calor, ou se ali mesmo, semidespidos, rolar pelas camas besuntadas de suor a dor da pobreza. Prostrase a miséria ao calor. Como se houvesse um mandado celeste proibindo qualquer deslocamento inútil do corpo. Todo desgaste de energia resultando em desmaio das funções cerebrinas, ânsia de sono sonhando a brisa de uma primavera ali nunca florida. O endereço me foi indicado para procurar uma empregada doméstica.

Bati num apartamento do primeiro piso. Atendeume uma jovem vestida apenas com uma camisa transparente comprida.

Percebia-se não usar calcinha nem sutiã. De imediato achei-a linda. Ao lado dela apareceu uma senhora que, ao contrário, só usava calcinha e sutiã, pedindo desculpa pelos trajes, justificando-se não ter dinheiro para comprar

A PEDREIRA um biquíni para praia, o que toda mulher usa, sem fazer diferença de sua roupa no que respeita à decência. Era a mãe da mocinha linda. Como seu pai também apareceu na conversa.

Este, vestido com efetiva roupa de praia, um calção, que também não faria diferença alguma com uma cueca. E de cueca estava seu irmão. Todos protegidos da roupa que lhes aumentaria o calor do lugar.

Ofereceram a mãe e a filha como possíveis empregadas domésticas. Não tive a menor dúvida em contratar a filha. Tão linda tão linda, bem que eu mereço tê-la ao alcance da vista em meu apartamento.

E de tanto vê-la, já mais vestida, é certo, mas sempre num desleixo que deixa uma coxa ou seio à disposição de meus desejos, fui procurá-la uma noite em seu quarto. Recebeume sonolenta, apenas deixando que a penetrasse e tremesse dentro dela, sem que eu tivesse certeza se era o cansaço das faxinas do dia que a faziam cochilar enquanto eu lhe vibrava por cima, ou se pura indiferença pelo corpo e por si mesma.

A incerteza de seus modos me deixou mais excitado. Como se quisesse compreender aquilo que se passa por dentro da feição delicada, não correspondente na aparência de suas maneiras desleixadas. Pedi que ela abandonasse seu quarto. Morasse comigo, no meu. Recusou-se. Ela era a empregada. Tinha direito a um quarto próprio.

- Mas, criatura, eu sou seu namorado.

- Não, não, namoro de empregada com patrão não dá certo.

- Mas, como você me aceita na sua cama?

- Isto é diferente. O senhor pagou meu tratamento de dentes. Tem direito a me usar um pouquinho.

Sim, eu pagara. Mas, então, era um amor pago?

Era uma prostituta? Não.

Noutra ocasião ela falou mal das mulheres da vida, detestava-as. Mas, então por que me aceitava assim, sem amor e como se fosse obrigação?

- O senhor é meu patrão.

Tenho que satisfazer suas vontades.

No romance de Aluizio Azevedo havia uma bruxa que pegou fogo no cortiço.

Em volta do condomínio pobre de hoje em dia, uns bêbados refrescam o calor do lugar na sombra das marquises, mendigando, urinando e brigando entre si.

Um rico cafajeste de uma imobiliária-incorporadora desejou derrubar o condomínio dos pobres para levantar ali outro para ricos. Ganharia muito dinheiro. Primeiro, no entanto, tinha de despejar aquela gente. E nenhum morador queria se mover dali. Falou com os bêbados de debaixo da marquise: - Vocês gostariam de ter casinhas feitas de pedra, sólidas, como a do porquinho prático, resistentes ao sopro de qualquer lobo mau? Eu tenho uma incorporadora e posso construir para vocês. Maior um pou-

quinho que as casinhas de cachorro de casa de gente de posse. Vocês estariam ao abrigo da chuva, poderiam se deitar lá dentro, e até se abraçarem nuzinhos sem que ninguém os visse da rua. Podiam levar suas cachaças para lá e não ficariam expostos, enquanto bebem, à maledicência dos burgueses que não gostam de bêbados. Só o que preciso é que me deem as pedras. Estão vendo a pedreira? Eu lhes dou a dinamite para explodir um bom pedaço. Vão cair pedras pra todo lado. Aí eu venho, as recolho e faço com elas as casinhas de cachorro para vocês morarem.

Os bêbados começam a festejar os futuros abrigos antes de receberem as dinamites. Quando estas chegam estão tão bêbados que não conseguem compreender como elas funcionam. O cafajeste retorna alguns dias depois.

Cobra-lhes a explosão da pedreira. Os bêbados pedem explicação de como funciona a dinamite. Logo se veem livres do cafajeste, voltam a beber, esquecendo-se de toda lição recebida. Passam-se mais uns dias e o cafajeste aparece com uns auxiliares.

Explodem a pedreira, que se esparrama por cima do condomínio, pior que o fogo no cortiço, e rolam as pedras por sobre todo o quarteirão, como se fosse uma onda imensa chegada à praia que destrói as casas do lugar. Muitos pensam tratar-se de um fenômeno da natureza.

Um terremoto, um mare-

moto, uma pedreiramoto!

Os seres humanos estão cada vez mais habituados a serem traídos pela natureza. Toda ela se revolta, querendo expulsá-los do planeta. Nada mais natural que a pedreira explodisse sozinha para avançar suas pedras sobre as construções e pessoas da circunvizinhança. Poderia ser. Mas, foi quase isto. Os próprios seres humanos se encarregam de aumentar a fúria da natureza. E assim como a bruxa do fogo do romance do Azevedo, os bêbados do asfalto implodiram o morro na plenitude de suas alucinações, segundo contaram para a polícia os auxiliares do cafajeste, dizendo terem testemunhado o crime quando passavam por acaso por ali.

Quando soube do ocorrido, solidarizei-me com minha empregada, acompanhando-a ao local. As pedras quebradas se misturavam a pedaços da construção demolida.

Os bombeiros procuravam os corpos dos mortos. Nenhum identificável. Apenas carnes e ossos quebrados. Dentre tantos resíduos, talvez o pai dela, a mãe, o irmão. Um gato me olhava firme entre os destroços. Parecia me conhecer de outra vida.

Talvez não fosse eu, mas outro ser humano que um seu ancestral observara e guardara em seus genes.

Quem sabe o gato não via em mim Baudelaire que amava tanto os gatos? Assim, podia ser simpático comigo. Mas, os gatos não

têm empatias. Simplesmente olham sem emoção.

Fixamente, muito atentos.

Eles não têm individualidade. Todos os gatos de todos os tempos são um só gato, com a experiência dos séculos vivida em cada miau de agora. A família de minha empregada também não deve ter. Ao menos, restaram misturados às pedras e restos de construções de forma igual, como coisas comuns a todas as coisas. Minha empregada se viu perdida. Somos coisas. Eu lhe dei o braço, e ela se deixou introduzir numa nova família: - Agora podemos namorar. Já não há patrão e empregada. Eu saio de minha condição daquela família, e, livre, me agrego à sua casa.

Passou a ser, de coisa serviçal, coisa dos costumes burgueses. Integrada nas condições de novos automatismos. Uns dias são chiques para o autômato nascido com escola e automóvel, outros são de submissão para aqueles expostos às intempéries sem proteção. Mas, sempre sempre os dias marcham levando-nos em rebanhos. Eu com todos aqueles que franzem os sobrolhos. E os habitantes dos cantos, semidespidos de orgulhos. * Pedro Durval é personagem do romance “Voltas de um mote eterno” de Gerson Valle, que assim faz aqui de seu personagem um heterônimo à moda de Fernando Pessoa.

NILTO MACIEL (1945 - 2014) Nasceu em Baturité, Ceará, em 1945. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará em 70. Criou, em 76, com outros escritores, a revista O Saco. Mudouse para Brasília em 77, tendo trabalhado na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Regressou a Fortaleza em 2002. Editou a revista Literatura, de 1992 a 2008.

Obteve primeiro lugar em alguns concursos literários nacionais e estaduais: Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 1981, com o livro de contos Tempos de Mula Preta; Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 1986, com o livro de contos Punhalzinho Cravado de Ódio; “Brasília de Literatura”, 90, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Distrito Federal, com A Última Noite de Helena; “Graciliano Ramos”, 92/93, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Alago-

as, com Os Luzeiros do Mundo; “Cruz e Sousa”, 96, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Santa Catarina, com A Rosa Gótica; VI Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1996, Fundação Cultural de Fortaleza, CE, com o conto “Apontamentos Para Um Ensaio”; “Bolsa Brasília de Produção Literária”, 98, categoria conto, com o livro Pescoço de Girafa na Poeira; “Eça de Queiroz”, 99, categoria novela, União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, com o livro Vasto Abismo.

Organizou, com Glauco Mattoso, Queda de Braço – Uma Antologia do Conto Marginal (Rio de Janeiro/ Fortaleza, 1977). Participa de diversas coletâneas, entre elas Quartas Histórias – Contos Baseados em Narrativas de Guimarães Rosa, org. por Rinaldo de Fernandes (Ed. Garamond, Rio de Janeiro, 2006); 15 Cuentos Brasileros/15 Contos Brasileiros, edición bilingüe español-portugués, org. por Nelson de Oli-

opovo.com.br

veira e tradução de Federico Lavezzo (Córdoba, Argentina, Editorial Comunicarte, 2007); e Capitu Mandou Flores, org. por Rinaldo de Fernandes (Geração Editorial, São Paulo, 2008).

Tem contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. O Cabra que Virou Bode foi transposto para a tela (vídeo), pelo cineasta Clébio Ribeiro, em 1993. Seus livros estão publicados por pequenas editoras de Fortaleza, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília e Campinas.

Livros publicados:

Itinerário, contos, 1.ª ed. 1974, ed. do Autor, Fortaleza, CE; 2.ª ed.

1990, João Scortecci Editora, São Paulo, SP. Tempos de Mula Preta, contos, 1.ª ed. 1981, Secretaria da Cultura do Ceará; 2.ª ed. 2000, Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, RJ. A Guerra da Donzela, novela, l.ª ed. 1982, 2.ª ed. 1984, 3.ªed. 1985, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, RS. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará.

Estaca Zero, romance, 1987, Edicon, São Paulo, SP. Os Guerreiros de Monte-Mor, romance,

1988, Editora Contexto, São Paulo, SP. O Cabra que Virou Bode, romance, 1.ª ed.

1991, 2.ª ed. 1992, 3.ª ed. 1995, 4.ª ed. 1996, Editora Atual, São Paulo, SP. As Insolentes Patas do Cão, contos, 1991, João Scortecci Editora, São Paulo, SP. Os Varões de Palma, romance, 1994, Editora Códice, Brasília.

Navegador, poemas, 1996, Editora Códice, Brasília.

Babel, contos, 1997, Editora Códice, Brasília.

A Rosa Gótica, romance, 1.ª ed. 1997, Fundação Catarinense de Cultura, Florianópolis, SC (Prêmio Cruz e Sousa, 1996), 2.ª ed.

2002, Thesaurus Editora, Brasília, DF. Vasto Abismo, novelas, 1998, Ed. Códice, Brasília.

Pescoço de Girafa na Poeira, contos, 1999, Secretaria de Cultura do Distrito Federal/ Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília.

A Última Noite de Helena, romance, 2003. Editora Komedi, Campinas, SP.

Os Luzeiros do Mundo, romance, 2005.

Editora Códice, Fortaleza, CE. Panorama do Conto Cearense, ensaio, 2005.

Editora Códice, Fortaleza, CE. A Leste da Morte, contos, 2006. Editora Bestiário, Porto Alegre, RS. Carnavalha, romance, 2007. Bestiário, Porto Alegre, RS. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil, ensaio, 2008.

Imprece, Fortaleza, CE. Contos reunidos (volume I) – reunindo Itinerário, Tempos de mula preta e Punhalzinho cravado de ódio - 2009. Ed. Bestiário, Porto Alegre, RS. Contos reunidos (volume II) – reunindo As insolentes patas do cão, Babel e Pescoço de girafa na poeira – 2010. Ed. Bestiário, Porto Alegre, RS. NOTA DO EDITOR - Nilto Maciel foi assíduo colaborador do Jornal Poiésis desde suas primeiras edições.

Faleceu em Fortaleza em abril de 2014.

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nº 218 - maio de 2014

ANIVERSÁRIO

173 anos de Saquarema com muitas realizações e comemorações

Saquarema completa 173 anos e comemora a data com festas e inaugurações.

A prefeita Franciane Motta tem demonstrado a que veio, ou seja, administrar bem a cidade que está na lista das mais belas da Região dos Lagos. Isso se deve à parceria firmada com o Governo do Estado e ao trabalho desenvolvido pelo seu secretariado, além do apoio constante do deputado estadual, Paulo Melo (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

Através da Secretaria de Obras e Urbanismo e da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo, foram inauguradas em abril três quadras poliesportivas cobertas e com vestiários masculinos e femininos no Colégio Municipal Gustavo Silveira e nas escolas municipais Edilson Vignoli Marins, no Rio da Areia, e Elcira de Oliveira Coutinho, na Estrada de Água Branca, em Bonsucesso.

No dia 2 de maio foi inaugurado o Posto de Urgência Manoel Albano Ferreira, em Sampaio Corrêa, com uma estrutura completa para receber os pacientes do terceiro distrito e as localidades mais próximas.

O posto conta com enfermaria masculina, feminina e infantil; sala de repouso feminino e masculino; salas de curativo, traumatologia, medicação, DML (material de limpeza), esterilização e administração; farmácia, consultórios médico, ginecológico e odontológico; banheiros masculino, feminino, para funcionários e para portadores de necessidades especiais; além de recepção, refeitório, cozinha, lavanderia, quarto para motoristas de ambulâncias, área externa e rampa para as ambulâncias.

Dentro da programação das festividades do aniversário da cidade estão a VI Mostra de Carros Antigos na Praça do Coração, no Centro (3 e 4 de maio), Canta Saquarema em Ba-

Divulgação

A prefeita Franciane Motta está inaugurando diversas quadras esportivas em escolas, beneficiando milhares de alunos da rede pública

caxá (dia 5), Café do Idoso, na Praça do Bem Estar (dia 6), Aniversário do Café da Manhã do Trabalhador, na

Secretaria de Promoção Social (dia 7), Sessão Solene da Câmara dos Vereadores para entrega de títulos

e honrarias, na CBV (dia 7), missa solene na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, às 10h (dia

8) e desfile cívico escolar, a partir das 14h, no dia 8 de maio, no Centro de Saquarema.

DANÇA

Daumas Academia comemora 10 anos

A Daumas Academia, dirigida por Rita Daumas, está comemorando em maio 10 anos de existência e preparou um belíssimo espetáculo que será realizado no dia 17, às 19h, no Teatro Mario Lago, em Saquarema. O evento contará com a participação de alunos de várias faixas etárias, que apresentarão o que há de melhor na academia.

A história da Daumas Academia começou em 2004, quando Rita, juntamente com o esposo Ronaldo e o filho Angel, ainda criança, resolveram criar um espaço para desenvolver a dança em suas várias formas. Em Itaúna foi escolhido o terreno para a edificação.

A inauguração contou com presença de alunos, funcionários, amigos e familiares. Ainda se podia sentir o cheiro de tinta fresca que exalava das paredes. Os amigos se uniam pelos cantos para comentar o sucesso do novo empreendimento.

Hoje a Daumas possui várias modalidades de danças, além de ou-

Fotografia de Eventos Aniversários Infantis, Casamentos, Inaugurações, Cerimônias Religiosas, Shows, Espetáculos, Empresas. ( (22) 99982.4039 (Vivo) - (22) 98818.6164 (Regina Mota)

tras atividades como teatro e capoeira. A Daumas Academia Escola de Dança continua com o incentivo de curtir uma vida alegre e saudável. O espaço é aberto para crianças a partir dos dois anos e meio de idade e até onde a mente comandar o corpo. Para o final deste mês, os bailarinos já estão se preparando para se apresentar no Grand Buenos Aires Danza, no Teatro Globo, na Argentina, dias 31 de maio a 2 de junho.

Nas fotos, registros das primeiras apresentações da Daumas Academia em Saquarema, no Teatro Municipal Mario Lago.

Acima à esquerda, o saudoso Osman Pereira, pai de Rita Daumas, um dos maiores incentivadores da trajetória artística da filha.

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nº 218 - maio de 2014

Em Foco

regina@netterra.com.br

com Regina Mota

IV Festival da Mulher Auditório da Faetec-Bacaxá - dia 30/04/2014 Realização: Jornal Poiésis

Tobhé di Castro

O público foi muito participativo

Giselly Saviti

Projeto Primeiro Passo

Camilo Mota e Tobhé di Castro

Homenagem à Guarda Municipal de Saquarema

Projeto Primeiro Passo

Funcionários da Faetec e representantes da Herbalife

Apoio total das funcionárias da Faetec

Instituto Ondina de Práticas Xamânticas

Psicólogo Sérgio Mello Guimarães

Lourdes Belchior, Telma Cavalcanti, Amanda e Robson

O Jornal Poiésis agradece ao apoio de: Valoriza Negócios Imobiliários, Guets, O Queijão, Rio Lagos, Janete Materiais de Construção, Casa e Granito, RE Salgados, Céia Festas, Theo Vidal Corretor de Imóveis, Entre Nós Artesanatos, Brito e Bouda, Creusa Noivas. Rádio Costa do Sol, Dione Fernandes (diretora da Faetec Bacaxá) e Nalin Shopping. Agradecemos também a todos que contribuíram doando brindes para os sorteios: Kassia Jeans, O Boticário, Indian House, Ótica Colorida, Ribeiro Jóias, RJ Prata, R-10, MRZ, Look, Sensação, Mako’s, Martins Materiais Elétricos, Janete Cosméticos, Foto Estrela, Mercadão 1,99, Mi Casa Tu Casa, O Boticário, Denise Franzener e Márcia de Simone.

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