#96

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO BOM JESUS/IELUSC

JOINVILLE, JULHO DE 2012 - EDIÇÃO 96 - GRATUITO

TRABALHO | PÁGINAS 6 e 7

Um mercado com vagas e sem candidatos Formação acadêmica, cursos, palestras ou experiência profissional?

Saiba quais as exigências que o mercado de trabalho procura no currículo de um funcionário.

ENTREVISTA | PÁGINAS 10 e 11

Um mundo construído com conceitos errados Entrevista com o arquiteto Mário Cesar da Silveira mostra que acessibilidade não é apenas para pessoas com deficiência, mas para qualquer cidadão.

CIBERCRIME | PÁGINA 3

Um crime sem tipificação especial

REPORTAGEM ESPECIAL | PÁGINAS 8 E 9

O sonho da

recuperação Clínicas especializadas e apoio da família são dois dos principais caminhos para quem quer fugir do vício. João* está tentando mudar de vida para voltar a sorrir.

Falta delegacia e especialistas para tratarem de assuntos relacionados a infrações cometidas no ambiente virtual. Enquanto isso, caminhos alternativos são a “solução” para o problema

ELEIÇÕES | PÁGINAS 4 e 5

Um gupo que pode decidir o pleito de 2012 Jovens da chamada geração Y são a maioria no eleitorado joinvilense. Saiba o que eles esperam dos candidatos que vão concorrer à Prefeitura

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Opinião

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação e Edição de Átila Froehlich

editorial Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

O fim de um ciclo

EDIÇÃO 96 | Julho 2012 Contato com a redação Endereço: Rua Princesa Isabel, 438 - Centro CEP 89201-270 | Joinville | Santa Catarina

Telefone: (47) 3026-8000 - Fax: (47) 3026-8090 E-mail: jornalismoielusc@gmail.com

DIRETOR GERAL DO BOM JESUS/IELUSC | Silvio Iung DIRETOR DO ENSINO SUPERIOR | Paulo Aires COORDENADOR DO CURSO | Sílvio Melatti DISCIPLINA | Jornal Laboratório II PROFESSOR RESPONSÁVEL | Amanda Miranda EDITOR-CHEFE | Átila Froehlich COORDENADOR DE PRODUÇÃO | Renan Pereira EDITORES | Camila Nunes, Jacson Almeida, Jonatar Evaristo, Karoline Lopes, Marcela Güther, Mayara Pabst e Sared Bueri FOTÓGRAFOS | Carlos Castro, Guilherme Cardoso, Maila Klegien, Marjorie Caturani e Michelle Braga DIAGRAMADORES | Alex Guilherme Schneider, Guilherme Duarte, Hassan Farias, Samuel Carvalho e Priscila Farias ILUSTRADOR | Thiago Seco REPÓRTERES | Anna Carolina dos Santos, Bianca Bittelbrunn, Elis Regina dos Reis, Maria Lima, Marlon de Souza, Sibeli Miranda e Thiago Seco IMPRESSÃO | A Notícia TIRAGEM | 3 mil exemplares XXI Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo, MJDH - OAB/RS, 2004

Uma turma de estudantes de jornalismo se pro- tentamos exercitar os compromissos mais legítimos pôs a fazer um jornal diferente, com pautas que do jornalismo: imparcialidade, pluralidade e diversiescapavam da factualidade dos veículos de comu- dade de fontes, honestidade e ética. nicação da cidade e com um compromisso com o Aqui, neste espaço, trouxemos entrevistados que interesse público. Desde agosto de 2011 são eles têm muito a dizer e, talvez, sejam pouco ouvidos. que conduzem o Primeira Pauta, desDemos voz à subjetividade no jornade a produção das reportagens, até a lismo e abrimos um debate sobre eleidiagramação e edição. ções com temas que vão começar a APRENDIZADO Não foi uma tarefa fácil. Trabalhar ferver a partir do segundo semestre. em jornal é uma atividade exaustiva, Esta turma se despede da tarefa de Turma de estudantes que exige um grau de comprometimenproduzir um jornal com reportagens construiu oito to acima da média: temos que pensar que seguem o ritmo das últimas ediedições e agora se em assuntos interessantes e relevantes ções: pautadas no interesse público e despede do comando para o leitor, buscar as melhores fontes, na relevância social. Mercado de trado Primeira Pauta ouvi-las com imparcialidade, traduzir o balho, acessibilidade, o problema das assunto e escrevê-lo de uma forma atradrogas, o papel da geração Y nas eleitiva. Trabalhar em jornal é trabalhar em ções e os crimes no mundo virtual são equipe e aceitar o talento, a limitação e as divergên- nosso “cardápio” do mês. São trabalhos de fôlego, cias entre profissionais que pensam diferente. É tentar que encerram um ciclo no Primeira Pauta. se despir de preconceitos e ideologias, mas deixá-la Agora, a partir da edição 97, outros futuros jortransparente quando necessário. nalistas assumem a dianteira neste desafio de se faSe o papel de um jornal laboratório é ser o pal- zer um jornal. Que aceitem-no com vontade e coco dos primeiros passos dos futuros jornalistas na ragem, tal como fez a turma que agora se despede. profissão, cumprimos o papel de experimentar e E certamente se despede com novos e importantes de sair do lugar comum. Tentamos trabalhar com aprendizados. pautas relevantes – algumas delas tabus. Também Boa leitura!

charge

ombudsman

Twitter o que eles estão falando @piangers Imaturo é como uma pessoa chata chama uma pessoa divertida.

@nilsonlage O programa da Fátima teve má repercussão entre os críticos. Bom para ela: se gostassem, seria inevitável o fracasso. Assim, talvez se salve.

@carpinejar Até o maior mentiroso necessitar ter sempre alguém para contar a verdade, senão enlouquece.

@primeira_pauta Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc

Como a função do ombudsman é deSeja qual for a cidade ou a mídia para a fender os interesses de leitores dentro de qual se trabalha, não é fácil escrever sobre um jornal, seja através de uma reclamação, transporte coletivo, pois o assunto envolve elogio ou sugestão, decidi colocar a edição dinheiro e interesses políticos. Começar um 95 do Primeira.Pauta na mão de pessoas co- texto desse naipe com novidade é difícil. Pormuns, acostumadas ou não com a leitura. tanto, acho que a matéria ficaria mais quente Pedi, então, que fizessem um comentário – ou menos fria – se o aluno puxasse pelo sobre o conteúdo da publicação, lembrando gancho de que a prefeitura quer ter maior que se tratava de um jornal laboratório, feito controle operacional do sistema. por alunos de um curso de jornalismo.

O terceiro comentário veio de uma leitora.

O primeiro leitor disse ter ido direto para a Sem jeito, pois não tem o hábito de ler jornais, manchete “A um passo da liberdade”, pois se ela disse ter gostado da matéria nas páginas 12 identificou com o assunto porque tem um ami- e 13, “Entre idas e vindas: profissão caminhogo parente de outra pessoa que cumpre pena neiro”, na seção Reportagem Literária. Não em presídio do Estado. O texto da repórter Si- concordei, pois há floreios demais no texto, beli Miranda mereceu elogio, por conseguir re- ruim para quem está começando na profissão. tratar a diferença entre dois sistemas prisionais, Um agravante é que por si, o assunto é manjaum que representa chance real do indivíduo se do. A foto mostrando um personagem ao lado recuperar e outro que o piora como pessoa. de um bule está boa e contribui para explicar a O texto também mereceu um puxão de dura rotina do profissional da estrada. orelha, com o qual tive que concordar. “Acho O pingue-pongue da página 10 está bom, que faltou colocar mais histórias de gente que com algumas verdades reveladas no mundo da está presa, deixar a coisa emocionante”, disse o dança. Mas, iniciar uma conversa perguntando leitor, querendo explicar que faltou humanizar ao entrevistado de onde ele é natural, não dá. o assunto, mas observando que, para isso, teria Isso tem que estar pulverizado no contexto. que haver cuidado para não colocar o detento Na seção Eu-repórter, na página 03, a repórter na posição de “anjinho” e nem fazer apologia Maria Lima sentiu na pele o que é não enxergar ao crime. O leitor elogiou a repórter pela cora- com os olhos. O texto está superficial. Talvez gem de entrar no assunto e nas duas prisões. ficasse melhor se ela saísse do espaço interno e Estendo aqui o elogio para a repórter fotográ- resolvesse dar uma volta no quintal do prédio da fica que ilustrou a matéria. entidade que serviu de base para a reportagem.

Acostumado a andar de ônibus, um segun- E a ilustração no estava mais para o romance do leitor comentou a respeito do texto na pá- “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago. gina 04 “Edital regula transporte coletivo” e se No geral (apuração, texto, edição, fotograassustou com a informação, logo no lead, de fia, diagramação), a edição 95 do Primeira.Pauta que faz 45 anos que a Prefeitura de Joinville cumpriu seu papel como jornal laboratório, com não realiza licitação para escolher empresas assuntos variados e alunos esforçados em fazer responsáveis pelo serviço de ônibus na cidade. um trabalho que pode melhorar.

Ponto para o repórter. O leitor reclamou do Dinilson Vieira é jornalista, do preço da passagem, “muito caro”. jornal Gazeta de Joinville.

Internet

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

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Diagramação de Guilherme Duarte | Edição de Marlon Souza e Michelle Braga

Joinville não tem departamento para investigar cibercrimes Cada delegacia de polícia é responsável pelas denúncias registradas em sua região

A

Polícia Civil de Santa Catarina não possui, em Joinville, uma divisão específica para investigar cibercrimes - os famosos crimes praticados na internet. Também não existem dados na central de polícia da cidade.

Enquanto isso, as denúncias são investigadas na delegacia onde ocorreu o crime.

De acordo com o delegado que responde pela Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso, Luiz Felipe Fuentes, as denúncias mais contantes são de difamação, falsidade ideológica e pedofilia.

“O que mais tenho visto são postagem de fotos sem autorização, informações falsas, pessoas se passando por outras (inclusive adultos se passando por crianças ou adolescentes para praticar pedofilia) em páginas diversas – blogs, microblogs, Facebook, Twitter, Orkut, Msn e-mails.

Fuentes explica, ainda, que no estado a intenção é espe-

cializar alguma unidade para filia, calúnia e difamação, investigar estes cibercrimes. ameaça, discriminação e es“Quando eles são com obje- pionagem industrial.

A reportagem do Primeira tivo financeiro, as fraudes são normalmente apuradas pelos Pauta apurou que pelo mebancos, sendo em muitas nos um caso de espionagem vezes as vítimas ressarcidas industrial foi registrado há pelas próprias instituições”. pouco mais de um ano em Acredita-se que muitos casos uma empresa multinacional nem sejam notificados à polí- da cidade.

O diretor administrativo cia. Outros tem sido soluciodo Parque de nados por meio Inovação Tecdo Procon, como JOINVILLE nológica de descontos indeviJoinville (Inodos e etc.

Denúncias mais vaparq), MarSegundo o celo Leandro constantes são de delegado, em alBorba, revela guns inquéritos difamação, falsidade que uma emfoi possível idenideológica e pedofilia presa líder no tificar os autores. seu segmento “A investigação é e sediada em facilitada quando há suspeitos, ou seja, quando Joinville, sofreu espionagem a vítima tem alguma noção industrial há pouco mais de dos motivos do ataque e de um ano e meio. Dois funcioquem poderia ser o autor”, nário da área de Tecnologia da Informação da própria assinala.

De acordo com uma pes- empresa entraram pela rede quisa contratada pela Norton nos arquivos da área comer– empresa fabricante de sof- cial e vendiam as informatware de segurança de com- ções para a concorrência. “A putadores – os cibercrimes área comercial ficou vulnerámais cometidos no Brasil são vel e, como hoje a inovação roubo de identidade, pedo- é um elemento para garantir Guilherme cardoso

Invasão de computadores é um dos crimes mais comuns no Brasil, junto com a pedofilia, a difamação e a espionagem industrial

a competitividade no mercado, uma operação desta significa prejuízo significativo para uma organização”, diz Bastos, que também é professor de Sistemas na Univille (Universidade da Região de Joinville). O diretor do Inovaparq observa que cada empresa cria suas categorias de proteção. “O valor financeiro é muito alto para uma empresa proteger toda sua informação, um sistema de informação de segurança é oneroso”, diz.

O especialista em teoria geral do processo Cláudio Melquiedes Medeiros, professor da Univille, conta que há cerca de um mês um aluno da faculdade (cujo nome a instituição não revelou) se apropriou da conta de email de outro acadêmico e enviou mensagens ofensivos em nome dele para colegas e professores da instituição.

Uma investigação interna descobriu o endereço do IP e constatou o verdadeiro autor das ofensas. O acadêmico está sendo julgado em uma comissão de ética da universidade.

Cibercrimes: • Acesso doloso e ilegal a um sistema de informática;

• Interceptação ilegal

de dados ou comunicações;

• Atentado

à integridade dos dados (conduta própria de um subgrupo hacker, conhecido como cracker);

• Atentado à integridade de um sistema;

• Produção, comercia-

lização, obtenção ou posse de aplicativos ou códigos de acesso que permitam a prática dos crimes acima indicados

• Falsificação de dados;

• Estelionatos

eletrônicos (v.g., os phishing scams);

• Pornografia infantil; • Racismo e xenofobia;

• Atentado à proprie-

dade intelectual e aos direitos que lhe são conexos.

Lei para cibercrimes O código penal brasileiro é de 1940 e não prevê crimes cibernéticos. Há sete meses, o presidente do Senado Federal, José Sarney, designou uma comissão especial formada por juristas para elaborar o novo Código Penal que tipifica crimes cibernéticos. A assessoria de imprensa do Senado anunciou, no último dia 18, que a comissão concluiu o anteprojeto no último dia 18 e até o dia 27 deveria entregar o relatório Ainda segundo o próprio Senado Federal, o simples acesso a qualquer sistema de informática realizado de forma indevida e sem autorização pode passar a ser crime, mesmo que o responsável pela invasão não tenha tirado qualquer proveito de informações ou provocado danos à estrutura invadida. Para punir o chamado crime de intrusão informática, a pena pode ir de seis

meses a um ano ou multa.

Os juristas também pretendem criminalizar a intrusão qualificada, aplicável aos casos em que ocorra obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas, segredos comerciais e industriais, informações sigilosas ou, ainda, na hipótese de controle remoto não autorizado do sistema invadido. Nestes casos, a pena a ser aplicada será de um a dois anos de prisão, além de multa. Poderá haver um aumento, entre um terço e dois terços da pena, quando houver divulgação de dados obtidos e, se a invasão resultar em prejuízo econômico, a pena aumenta de um sexto a um terço.

Já no crime de falsidade ideológica, a pena base é de seis meses a dois anos de prisão, podendo ser ampliada.

Marlon Souza marlonluiz@hotmail.com

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Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Eleições

Y

O que pensa a Geração

Diagramação de Alex Guilherme Schneider | Edição de Mayara Caroline Pabst

Jovens fazem parte da maior fatia do eleitorado brasileiro e podem ajudar a definir as eleições municipais de 2012

F

ellipe acha que um bom governante deve saber ouvir.

Para Guilherme, vergonha na cara é o mínimo que os políticos devem ter. Já Elisandra ainda está avaliando em quem vai votar. Eles são engajados, têm opinião formada sobre os assuntos do dia a dia e ainda veem nas eleições a chance de as coisas acontecerem. Na faixa dos 20 e poucos anos, os três representam o que se pode chamar de Geração Y. Fazem parte dessa geração os nascidos entre as décadas de 1978 e 1990, período de grandes avanços tecnológicos e boom econômico do país. Acostumados a conseguirem o que querem, são ambiciosos desde cedo. Porém, engana-se quem pensa que os pertencentes a esse grupo vivem somente em um mar de rosas. Diferentemente da consciência política consistente em gerações que viveram na época da contracultura, a fase dos “Y” foi recheada de pós-utopias e modificação de visões políticas e existenciais.

Esses jovens, que tendem a buscar no crescimento profissional os mais diversos desafios, mostram que os candidatos ao pleito terão que se desdobrar para convencê-los do voto. “Nessas eleições temos as figuras carimbadas, algumas já bem desgastadas, que deveriam procurar se aposentar”, alfineta o designer gráfico de 27 anos, Fellipe Giesel.

Para ele, o voto egoísta é um dos grandes problemas. “Muitos votam em alguém porque vai ser melhor para a empresa, ou até mesmo para ter alguma melhoria no bairro. Infelizmente, a sociedade ainda tem essa visão e não defende causas co-

letivas.” O designer enumera dois temas como primordiais: mobilidade urbana e uma lei de ordenamento territorial que inclua o IPTU progressivo com eixo central. “Ainda não temos um Plano de Mobilidade Integrado, elaborado com a sociedade civil por meio de um Conselho Municipal de Transporte Urbano, onde os usuários de transporte coletivo e ciclistas possam decidir qual é o melhor modelo”, analisa Fellipe.

Boa parte deles concorda em um ponto: a responsabilidade de votar em um candidato merece um olhar fiscalizador e rigoroso. O consultor em responsabilidade social e

DESAFIO Para conquistar o voto, serão necessárias propostas que tratem de sustentabilidade e mobilidade urbana gestão de organizações não governamentais, Guilherme Augusto Heinemann Gassenferth, vê dois agentes que podem melhorar o Estado: o governo e a sociedade civil organizada. “Em Joinville, temos exemplos como a dona Abgail, que melhorou o Estado por meio da adoção de muitas crianças e adolescentes. Vejo também o caso dos Bombeiros Voluntários, que há 120 anos defendem a cidade mesmo não sendo uma entidade estatal”, cita ele. Para o também empresário de 27 anos, um bom candidato deve ter boas ideias (inteligência), usá-las a favor da coletividade e

164,852

CARACTERÍSTICAS

QUANTIDADE DE ELEITORES GERAÇÃO Y EM JOINVILLE

Fotos de Michelle Braga

não dos interesses individuais (integridade) e saber colocá-las em prática (habilidade) com bom uso dos recursos à sua disposição (eficiência). “Não podemos correr o risco de elegermos lobos.” Quanto aos temas de debate para a eleição deste ano, Guilherme é mais detalhista: infraestrutura e saneamento, mobilidade urbana, turismo e eventos, educação cidadã de qualidade, saúde suficiente, lazer, cultura nos bairros, meio ambiente, assistência social e geração de renda, manutenção dos prédios públicos, segurança e proteção civil, embelezamento da cidade, gestão pública e promover o desenvolvimento sustentável estão entre os assuntos que merecem mais atenção. “Não há novidades.

Não é preciso inventar a roda”, justifica o empresário.

A administradora de empresas de 33 anos, Elisandra Andrade, é mais contida nas observações, mas nem por isso menos “antenada”.

Ela considera o voto uma ferramenta essencial para escolha de quem vai comandar o município pelos próximos quatro anos. “Só isso já é importante o suficiente para demonstrar a importância do voto”, acredita. Por precaução, Elisandra gosta de investigar o histórico de cada candidato. A administradora também acessa o site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Dos problemas a serem resolvidos na cidade, é enfática: educação e saúde. “Destaco [negativamente] também a área central de Joinville.

Não há mais para onde escoar o trânsito. Está cada vez mais complicado trafegar de carro no dia a dia, principalmente nas épocas em que Para Guilherme Gassenferth, o governo e sociedade civil devem trabalhar em conjunto chove bastante”, desabafa.

DESCOLADO INDEPENDENTE ANSIOSO AMBICIOSO IMPULSIVO APRESSADO Fonte: TSE-SC

Eleições

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

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Diagramação de Alex Guilherme Schneider | Edição de Mayara Caroline Pabst

Geração Z: eleitores antes de completar a maioridade

Participação no grêmio estudantil despertou em Dayana o interesse pela política

Segundo dados do TSE, de janeiro deste ano, o Brasil possui 1.712,598 milhões de eleitores na faixa dos 16 e 17 anos.

Dayana de Oliveira Pacheco faz parte dessa estatística. Aos 16, a jovem estudante do ensino médio e também do curso técnico em Farmácia começou a tomar consciência política no grêmio estudantil do colégio. “Eu sabia que a função de um grêmio era representar estudantes e, também, me representar, mas eu não sabia o que de fato eles [membros do grêmio] faziam”, conta. A partir do momento em que começou a frequentar as reuniões do grêmio, Dayana passou a se envolver cada vez mais e entender a importância da política desde jovem.

Após a experiência na entidade estudantil, Dayana sentiu que era o momento de subir novos degraus.

“Passei a fazer parte da União Joinvilense de Estudantes Secundaristas (Ujes), tendo noção de como funciona uma entidade maior e com visibilidade em toda a cidade”, conta. Nessa etapa, Dayana passou a representar a luta diária de todos os estudantes. Entretanto, o que a fez tirar o título de eleitor foi a busca pela maturidade política: da Ujes, a jovem passou a fazer parte da organização da Esquerda Marxista, corrente ideológica pertencente ao Partido dos Trabalhadores (PT).

“Eles [políticos] é que vão representar a gente. Sendo que o voto é um direito meu, nada mais justo que eu possa fiscalizar de alguma forma o que eles fazem assim que

eleitos”, opina a estudante. “Eu só posso cobrá-los caso eu exerça o poder do voto.”

Diferente de si, Dayana vê os colegas de escola longe desse ambiente. “O pessoal não quer muito se envolver”, critica. Segundo a estudante, para eles todos os políticos são uma droga, e já que não são obrigados a votar antes de completar 18 anos, preferem não fazê-lo.

“Eles não pensam que ao votar estão exercendo uma função importante socialmente e que desta forma poderão cobrar do poder público caso não tenham um retorno.” Em relação ao próximo prefeito eleito, Dayana espera no mínimo coerência com as propostas assinaladas: “Levará vantagem aquele que der atenção especial às questões voltadas ao transporte público.”

Anos de experiência na vida e também nas urnas Mesmo sendo de outra geração, eles representam 5% da população brasileira – estimada em 192.376,496 milhões, segundo dados do Instituo Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2011.

Variam entre 70 e 99 anos de idade.

Boa parte deles ainda vota, pois tem plena consciência da importância individual e coletiva do ato. “Não paro de votar porque isso é de dentro de mim.” Desde os 18 anos, Maria da Costa, ou melhor, dona Ina, faz questão de acordar cedo no primeiro domingo de outubro para votar. Nada de diferente, exceto por um detalhe: a simpática senhora tem 89 anos de idade. No Brasil, o voto é facultativo para pessoas a partir dos 70 anos. Entretanto, dona Ina nem pensa em parar de exercer o direito conquistado em

1932, quando o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto. A octogenária lembra que o incentivo veio de quando ainda era criança. “Meu pai era cabo eleitoral desde os 18 anos.

Foi daí que eu aprendi a dar importância para o meu voto”, conta a sorridente senhora.

Além de eleitora, Dona Ina é uma ávida leitora. Nos livros sempre encontra o refúgio ou até mesmo as respostas que precisa.

Natural de Ribeirão da Corda, em Araquari, deixou os estudos na 4º série para trabalhar na roça, mas nem isso foi suficiente para brecar a vontade de votar. Ela ainda lembra de forma saudosista da época em que votou no ex-presidente da república, Getúlio Vargas. “Ele era

um candidato que gostávamos demais. Mas, também temos os candidatos da nossa cidade”, emenda, trazendo a conversa para o tempo presente, mais precisamente em Joinville. Dona Ina diz já ter um candidato na ponta da língua, mas prefere não revelar, afinal, o voto é secreto. “Já tenho algum da associação de moradores aqui do bairro”, revela em tom descontraído a moradora do bairro Floresta.

Dona Ina faz questão de falar: em momento algum pensa em parar de votar. Por ela, as pessoas com mais de 70 anos deveriam seguir o exemplo. “Eu voto com mais de 80. Se outro votar com mais de 70, e outro com mais de 80, a gente acaba fazendo a diferença, né?”.

Thiago Seco thiagoseco86@gmail.com

Dona Ina vota desde os 18 anos e não pensa em abandonar o título de eleitor tão cedo

Voto obrigatório ou facultativo: faz diferença?

Atualmente, no Brasil, o voto facultativo se restringe apenas a três casos: pessoas maiores de 16 anos e menores de 18, acima de 70 anos e analfabetos. Do restante, todos são obrigados a votar sempre que houver qualquer eleição. Neste ano, circula pela Câmara dos Deputados Federais a Proposta de Emenda à

Constituição (PEC) 159/12, que torna o voto facultativo no Brasil para todas as pessoas. O estudante de Jornalismo Vagner Zimmermann apoia a iniciativa. “Não consigo enxergar essa tal democracia.

Afinal, somos obrigados a votar”, contesta. Aos 19 anos, Vagner faz parte de um seleto grupo que enxerga no voto fa-

cultativo a maneira mais justa de mensurar o eleitorado.

“Se fosse facultativo, talvez eu optasse em não votar.

Eu acho a política do Brasil bem ‘sujinha’”, ironiza o estudante. Em Joinville, os eleitores na faixa de idade de Vagner – 18 a 24 anos – estão na quarta posição dos que mais votam: são 56.264

eleitores. O designer gráfico, Diego Fraiesleben, de 25 anos, diferente de Vagner, não apoia o voto facultativo.

“Não tenho nada contra ser obrigatório. Não custa nada a pessoa ir votar”, comenta.

Para ele, quem pensa em deixar de votar é preguiçoso e omisso com o dever cívico. A mais antiga proposta que trata

de voto facultativo é de 1994.

A PEC 190/94, de autoria do ex-deputado Pedro Irujo, extingue a obrigação do voto, mas mantém a do alistamento eleitoral para maiores de 18.

Em 2008, nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, onde o voto é facultativo, 66% dos eleitores registrados compareceram às urnas.

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Reportage

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Priscila Farias Carvalho | Edição de Karoline Lopes e Marcela Güther

S O M TE

S A G VA D

iariamente, homens e mulheres de diversas idades procuram se cadastrar no sistema das agências de recursos humanos, na esperança de conquistarem uma vaga de emprego. Leonardo Maciel, de 19 anos, é uma dessas pessoas. O jovem, natural do Rio Grande do Sul, está desempregado há dois anos. Ele procura trabalho na área de auxiliar de produção, mas encontra dificuldades para encontrar uma vaga porque parou de estudar na sexta série.

O rapaz mora com a família no bairro Jarivatuba. “Trabalhava com meus pais na lanchonete deles na praia, mas agora é inverno e não tem movimento” diz. Para não ficar mais tempo sem receber, Leonardo tem planos de voltar a estudar, mas, no momento, vai aceitar a primeira proposta que aparecer, mesmo que seja para receber apenas um salário mínimo.

Mas não está difícil apenas para quem procura uma vaga. Existem vagas que oferecem excelentes remunerações e, mesmo assim, ficam meses a espera de um candidato. Segundo a Consultora de RH, Mayara Guimarães dos Santos, profissões como costureira, auxiliar de mecânico, servente de pedreiro e auxiliar de cozinha são as mais difíceis de se encontrar candidatos.

Para não perder tempo distribuindo currículos em diversos estabelecimentos, a consultora cita a importância de se fazer uma pesquisa sobre a empresa em que se pretende deixar um cadastro.

Por mais que as empresas procurem profissionais com vivência na área, um fator relevante na hora da contratação são os estágios realizados durante o período de curso superior.

Recém-formado em Jornalismo, Pedro Henrique Leal, 26, está à procura de trabalho. Com experiência em jornal impresso em redação do caderno de variedades, também atuou como crítico de cinema durante dois meses. Para o jornalista,

um dos fatores que levam a falta de vagas na área é o acumulo de funções. Ao deixar um currículo em uma emissora para trabalhar como repórter, solicitaram-lhe a carteira de habilitação. “Pensei que eu faria o trabalho de repórter e não o de motorista.”

Informação desnecessária no cadastro de um candidato também é prejudicial. Por exemplo, informar a formação de um curso de inglês básico é irrelevante. Dar preferência para palestras e cursos com datas recentes é o melhor caminho para um currículo bem feito. “É difícil encontrar pessoas para vagas que precisam de inglês fluente. Falar uma segunda língua é essencial”, frisa a consultora.

No site do RH é possível acompanhar as vagas em aberto. Se tiver candidato preenchendo o cadastro com disponibilidade de fazer a entrevista no dia, a vaga é automaticamente retirada do site.

Assim que a empresa contrata o funcionário encaminhado pela agência, o cadastro fica inativo enquanto ele permanecer empregado.

O número de vagas em aberto para homens é maior do que para as mulheres devido a maior contratação de pessoa do sexo feminino. Se tiver no dia de sorte, Josiane Hobold vai encontrar uma vaga para seu perfil profissional. Ela está desempregada há quatro meses e quer trabalhar mais próximo de casa. “Só pedi para sair de onde eu trabalhava porque era muito longe e tenho um filho, não posso chegar de madrugada em casa” diz.

As empresas presam sempre por estabilidade de um funcionário na hora de contratá-lo. “Recebi um jovem de 23 anos que tinha sete registros na carteira, isso é ruim”, afirma a consultora. Segundo ela, um dos grandes problemas está na procura de emprego, e não na procura de trabalho, ou seja, muitos funcionários querem apenas bater o cartão, trabalhar sem responsabilidade e sem comprometimento com a empresa.

Sibeli Miranda sibelimiranda@hotmail.com

em Especial

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

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Diagramação de Priscila Farias Carvalho | Edição de Karoline Lopes e Marcela Güther FOTOS: Marjorie caturani

Quais as exigências do mercado de trabalho? De um lado, sobram vagas, nunca preenchidas. Do outro, candidatos à procura

Novo modelo do Seguro-Desemprego Criado em 1988 e instituído pela Lei n.º998, de 11 de janeiro de 1990, o Seguro-Desemprego, benefício garantido constitucionalmente, tem a finalidade de auxiliar e dar assistência àqueles trabalhadores que estão desempregados, sem justa causa.

Ao longo dos anos, o benefício passou por algumas mudanças. A última, estabelecida em junho de 2011, prevê que, para ter direito ao Seguro-Desemprego, o brasileiro precisa, antes, tentar encontrar um trabalho em pelo menos três empresas. O novo método é abastecido pelo Sistema Nacional de Empregos (Sine), Caixa Econômica Federal e pelo próprio Ministério. As três instituições atuam no pagamento do Seguro-Desemprego e incluem os currículos no site do Portal Mais Emprego, do Governo Federal. A medida foi tomada para evitar as fraudes que aconteciam em todo país.

O técnico administrativo do Sine de Joinville, Lucas Pereira Bohrer, responsável por interligar o vínculo do Sine com o empregador, explica que quando se falava em Seguro-Desemprego, o dinheiro aparecia como prioridade. “Não havia a ideia de que ele, desempregado, tinha que procurar uma nova inserção no mercado de trabalho. Muitas vezes aparecia uma vaga, chamávamos a pessoa e ela não aceitava porque ainda estava recebendo o benefício, ou então dava como justificativa o fato de querer mudar de cargo ou de área”, conta.

Com a nova mudança, no momento em que o trabalhador solicitar o Seguro-Desemprego, o nome e o perfil profissional constam automaticamente no cadastro do Sine. “Dessa forma, se por

duas vezes o trabalhador for convocado para aquela vaga de emprego e não aparecer, sem justificativa, o seguro é cancelado”, conclui Lucas.

O Sine de Joinville recebe uma média de 120 pessoas por dia, incluindo todos os serviços. Um total de 2000 atendimentos por mês. Fica a cargo do Ministério do Trabalho o pagamento do benefício. São pagos de três a cinco parcelas, de acordo com o tempo de registro em carteira. O valor mensal vai de R$ 717,12 a R$ 1.019,70.

O advogado trabalhista Breno Frederico Bohr Oliveira comenta que para solicitar o benefício não há tanta burocracia quanto em outros casos.

“As reclamações quanto a isso são baixas. Conforme as estatísticas do próprio Ministério do Trabalho, após solicitar o seguro-desemprego, a pessoa começa a receber o benefício no mês subsequente ao que deu entrada ao pedido”, afirma.

Breno também alerta sobre a questão de desacordos relacionados a valores no pagamento do benefício. “Caso a pessoa perceba algum desacordo referente aos procedimentos administrativos, deve recorrer ao Sine, mas se houver algum erro quanto aos direitos trabalhistas não pagos, como por exemplo horas extras, adicional noturno, férias, décimo terceiro e alguns outros, o desempregado deve procurar um advogado, de preferência que atue na área trabalhista, para requerer seus direitos”, finaliza.

Elis Regina dos Reis elisregina.reis@gmail.com

Benefício aprovado por quem precisa Dias distribuindo currículos, tardes de espera em RH’s e noites em claro buscando a especialização. Essas são situações rotineiras, vivenciadas por milhões de brasileiros desempregados, inclusive pela jovem Greyce Kelly Giovanella, de 20 anos. Greyce mora em Joinville e está desempregada há dois meses. A jovem trabalhou durante um ano e meio na loja Contém 1g Make Up. Assim como muitos desempregados, Greyce já sabia das novas normas referentes ao segurodesemprego - o governo está aplicando com mais rigor a lei que diz que o trabalhador desempregado que rejeitar uma vaga vai perder o segurodesemprego se não justificar a recusa, e tratou de procurar sua recolocação no mercado de trabalho.

No próximo mês, a jovem já estará empregada em uma boutique. Logo que ficou desempregado, Greyce foi à procura de seus direitos, priorizando o Seguro-Desemprego.

Em abril deste ano, Greyce deu entrada ao benefício e já está recebendo. Para a jovem, o processo feito não foi complicado. “Não tive dificuldade para dar entrada ao benefício. Consegui resolver tudo em um dia, bastou ter minhas três últimas folhas de pagamento, o documento que encaminha o Seguro-Desemprego que vem junto com a rescisão e a carteira de trabalho. Comecei a receber o Seguro-Desemprego após um mês que fui à Caixa”, conta.

Para ter direito ao benefício, o trabalhador deve se enquadrar às seguintes condições: ter recebido salários consecutivos nos últimos seis meses, ter trabalhado pelo menos seis meses nos últimos 36 meses, não estar recebendo nenhum benefício por parte do INSS, exceto auxílio-acidente ou pensão por morte, não possuir renda própria para o seu sustento e de seus familiares e estar desempregado pedir o benefício.

Gabriela Gonçalves de Araújo, de 26 anos, é mais um exemplo de jovem desempregada. Ga-

briela trabalhou durante dois anos em uma empresa como operadora de produção. Por conta de seu problema de coluna, ela teve de pedir demissão. A empresa concordou e a demitiu. Ela teve direito ao benefício do seguro-desemprego e logo deu entrada do pedido. A jovem concorda com as novas normas relacionadas ao benefício. “Acho bom esse novo regulamento. A qualquer momento posso receber uma nova proposta de emprego e ganho uma nova experiência”, afirma.

Com base na documentação apresentada, o posto de atendimento informará ao trabalhador se ele tem direito ou não ao benefício. Caso tenha direito, o posto providenciará a inclusão do requerimento do Seguro-Desemprego no sistema.

Todos os trabalhadores podem receber ofertas de emprego quando comparecer a um posto de atendimento. Caso a vaga não seja condizente com a qualificação ou salário anterior, pode haver recusa. Os profissionais que estão realizando curso de qualificação também podem recusar as sugestões.

Greyce Kelly, fora do mercado de trabalho há dois meses, garantiu o direito ao Seguro-Desemprego

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Especial

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Samuel Carvalho | Edição de Sared Buéri Foto: Jonatar Evaristo

Uma chance para reescrever a própria história

E

Comunidade terapêutica localizada em Araquari mantém programa de recuperação para quem busca se libertar da dependência ra uma vez uma mãe de três filhos dependentes químicos. A história da Comunidade Terapêutica Essência de Vida não é, de longe, conto de fadas algum. Ela é cheia de compromissos desmarcados, desassossegos, dores de cabeça, tragédias, unhas sujas, caídas e recaídas. Tudo começou há 17 anos com os pais deles. Apenas mais um casal preocupado com o futuro e o presente daquelas vidas que trouxeram ao mundo.

Apesar de todo o drama, a narrativa ainda pode escapar do roteiro desastroso e incerto, e navegar rumo a um final feliz. Os usuários são apresentados como debilitados, mas eles recebem novas chances a cada página do livro e têm até a última para provarem que são fortes o suficiente para vencerem a doença. Segundo a coordenadora da comunidade, Roseli Nabozny, o índice de efetividade do tratamento é

de 53%. O grupo que iniciou o anos de sobriedade e os três desafio da recuperação quase seguintes, o paciente descobre três anos atrás continua sóbrio uma segurança maior escondiaté os dias de hoje. da em seu eu interior. “A de“A maioria chega acompa- pendência química é multifanhado da família”, aponta a torial”, ensina a mulher de voz coordenadora. O conceito de serena. “Nada tem um ponto comunidade terapêutica não único de causa e/ou origem.” trabalha com conO programa tenção. “A pessoa de tratamento RECOMEÇO pode desistir a dura um ano. O qualquer hora, só primeiro semesO tratamento comunicamos os tre é de interinicia com o familiares. [Já] os autoconhecimento e o nação. Após os menores de 18 anos reatamento dos laços primeiros três não podem sair demeses os pacienfamiliares sacompanhados.” tes são autoriDe acordo com Rozados a sair da seli, a internação involuntária instituição semanalmente. No geralmente é aplicada nos casos semestre final, as atividades em que os pacientes se envol- passam de semanais para menvem em situações extremamen- sais. O tempo nos braços da te autodestrutivas e colocam a comunidade também servem própria vida em perigo. “ A re- como uma pausa da realidade. cuperação é muito relativa.”

Um momento para respirar.

Vai de um mês a uma vida “A readaptação na sociedatoda. No segundo ano em abs- de é muito difícil, pois a famítinência, os usuários encon- lia não modifica seus hábitos tram chão firme em meio a por causa de um indivíduo”, toda areia movediça que os en- explica. O viciado pode mugole e entram numa fase de es- dar e estar recuperado, mas as tabilidade. Entre os primeiros festas continuam. “A dificul-

dade no entendimento da doença também torna a situação marginalizada.”

A casa de recuperação de Araquari conta com 30 vagas.

No momento, as camas estão todas lotadas. “Doze vagas são contratadas. Os usuários passam pela triagem e são todos encaminhados para nós através do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS DS).” Atualmente, a comunidade tem convênio com as secretárias de Assistência Social e de Saúde de Joinville.

“Dezoito a 20% são alcoólatras e de 78 a 80% são viciados em múltiplas drogas (maconha, cocaína, crack). Desses, 80, 60% deles são usuários de crack”, informa. Ela ressalta que o crack não mata. Todos os pacientes deles dependentes da droga tem mais de cinco anos de uso. Contudo, o crack compromete toda a estrutura do consumidor e o processo de aceleração da decadência aumenta. “O que mata não é a droga em si; é a marginalidade em torno dela.”

Quem procura ajuda, faz uma entrevista com a assistente social, exames médicos e uma consulta psiquiátrica – com o relato do dependente químico e de seus familiares.

Lá dentro, eles recebem acompanhamento psicológico e medicação (temporariamente) para diminuir os efeitos colaterais do uso abusivo de drogas, como a abstinência.

A educação e o contexto familiar são a tinta e o papel com os quais são escritas essas histórias. “As escolas não têm programas de prevenção. Nós atendemos dez de oitenta. São alunos do 6º ao 9º ano, nas faixas de 11 a 14 anos de idade.”

O paciente mais novo que eles tiveram, foi um garoto de Florianópolis de meros 12 anos, viciado em crack. De acordo com Roseli, 100% dos internos adentraram o submundo das drogas antes mesmo de completar 15 anos, sem ter uma consciência crítica desenvolvida.

Repórter Pedro Ouchita pedroouchita@hotmail.com

Especial

Joinville - Junho 2012 PRIMEIRA PAUTA

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Diagramação de Samuel Carvalho | Edição de Sared Buéri Foto: anna carolina santos

Dependência é para sempre Há menos de um ano, a psicóloga Jorgete Onohara atende no quarto andar do edifício Turim, no Centro de Joinville.

Especializada em tratamento de dependência química, também trabalha em clínica de reabilitação. Seu trabalho consiste em acompanhar os dependentes durante o tratamento e continuar o pós-internação, auxiliando na reinserção social.

“Trabalho o emocional da pessoa”, explica Jô, como prefere ser chamada. O usuário de drogas em reabilitação sofre processos emocionais muito drásticos e que precisam ser tratados, como o afastamento dos familiares, perda de bens materiais e valores sentimentais. Por isso, a psicóloga faz o tratamento individual e com a família do paciente. “É um jogo de confiança, ele precisa conquistá-la novamente e os familiares precisam dar essa chance, porque ele se tornou um novo ser”, esclarece. Para deitarse no divã preto vinil uma vez por semana em até quatro meses, o paciente desembolsa de R$ 50 a R$ 80 por mês.

Além da terapia interior, as mudanças físicas também são

imprescindíveis ao tratamento, segundo Jô. Em alguns casos, os pacientes precisam trocar a mobília da residência ou redecorar, para evitar antigas lembranças, como o local em que o ex-usuário escondia as drogas ou brigava com a família. O contato com dinheiro é outro quesito importante a evitar.

“Em abstinência ou não, o ex-usuário sempre será dependente”, justifica Jô, que ressalta a importância de uma “manutenção” pós-tratamento, como frequentar terapeuta ou grupos de ajuda, como o Narcóticos Anônimos (NA) ou o Alcóolicos Anônimos (AA), para evitar recaída. Selecionar o grupo de amigos é outra medida que colabora no tratamento.

Os pacientes da psicóloga têm parecidas, iniciando o uso de drogas aos 13, 14 anos. Primeiro o cigarro, depois a bebida alcóolica, experimentam a maconha, cocaína e deslumbram-se e destroem-se no crack. E após a perda do contato familiar, do emprego, dinheiro e da dignidade é que chegam à internação nas casas de reabilitação. Os primeiros 45 dias são

de intenso sofrimento, motivado pela abstinência. Após esse período, o indivíduo rende-se por conta própria ao tratamento. Retomam o equilíbrio físico – pois estão desfigurados pelas drogas – e a consciência emocional. Durante a permanência de seis a nove meses nas casas terapêuticas cumprem rotinas diárias, com horários e atividades individuais, como cuidar da horta e alimentar-se nos horários estipulados. Assim, recuperam valores e responsabilidades que perderam enquanto usuários e que irão desenvolver no retorno em sociedade.

A reincidência ao uso de drogas é muito comum aos pacientes que Jô atende, tanto nas casas de reabilitação como em seu consultório. Por isso, ela intensifica a importância dos familiares durante o tratamento e reclama do julgamento da sociedade sobre os ex-dependentes. Atualmente ela atende cerca de 50 pessoas, que estão em tratamento nas clínicas ou que já saíram das casas terapêuticas e estão fazendo o acompanhamento.

Pscicóloga enfatiza a importância dos famíliares durante a recuperação do paciente

Bianca Bittelbrunn bianca.btn@gmail.com Foto: bianca bittelbrunn

Reuniões promovidas em grupo ajudam internos a buscarem forças para reabilitação

Nas drogas, a fuga

João Paulo* estava no auge da carreira. Sua rotina era dividida entre o curso de Educação Física, o trabalho e as aulas de dança. Ginasta desde criança, colecionava prêmios e viagens que conquistara ao longo do tempo.

No último ano da faculdade, os pais de João faleceram. Sobraram lágrimas, dor, lembranças e revolta. Para esquecer a realidade por alguns minutos, começou a exagerar no consumo de álcool.

Em pouco tempo, a bebida já não lhe fazia olvidar do sofrimento. Procurou então relaxar vez outra com a maconha. Mas com o tempo já não era suficiente. Foi assim, procurando beber doses de felicidade que ele conquistou o céu e descobriu o inferno. Com a ajuda de “anjos iluminados”, como prefere chamar as pessoas que lhe ajudaram, Paulo procurou tratamento em 1998. Ficou internado por quatro meses e não resistiu.

Doze anos após sua primeira tentativa de reencontrar o verdadeiro João, buscou auxílio no CAPS AD (Centro de Atenção

Psicossocial Álcool e Drogas) e iniciou o acompanhamento por quatro meses. No quinto mês, conseguiu uma vaga no Cerene (Centro de Recuperação Nova Esperança), em Blumenau. Por um ano e três meses ele conseguiu lutar contra seus demônios internos. “Fui com o objetivo de aprender”, conta, orgulhoso de sua vitória contra o vício. A abstinência ainda é uma pedra no sapato de João, que o faz, em suas próprias palavras, “matar um leão por dia”. Além de mudança física e espiritual, precisou sair do bairro em que morava, trocar seu círculo de amizades e adotar estratégias para driblar a vontade que vez ou outra resolve aparecer.

“Hoje eu me amo muito mais que antes”, comemora, ao explicar a rotina que cumpre três vezes por semana no CAPS. Entre oficinas, pintura e terapia, ainda sobra tempo para planejar o futuro, como voltar a estudar e trabalhar no mesmo ano em que completa 50 anos. * Nome fictício para preservar a fonte

Bianca Bittelbrunn bianca.btn@gmail.com

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Entrevista

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Guilherme Duarte | Edição de Camila Nunes Fotos: Carlos Castro

“Estamos na pior fase da acessibilidade”

Em 1987, nascia Carolina e renascia um profissional. O arquiteto que era acostumado a projetar escadas ficou sem chão ao saber que sua filha não poderia subir os degraus, por causa de uma paralisia cerebral. A partir daquela data, Mário César da Silveira começou a repensar a arquitetura. Hoje, aos 52 anos, ele é coordenador da Comissão Permanente de Acessibilidade (Coopera) e fala com propriedade sobre o tema.

Primeira Pauta: Atualmente, o tema “acessibilidade” está em evidência, mas quando essa questão começou a ser trabalhada?

obra pública que não atendesse os parâmetros da acessibilidade.

Afinal, o dinheiro e as obras públicas são para todos os cidadãos. Deveriam pensar na pessoa que tem dificuldade de acesso, assim todos ganhariam.

Mário Cesar: O decreto número 5296, assinado em dezembro de 2004, determinou que, a PP: Acessibilidade é para partir daquela data, todas as quem? construções de uso público e coletivo — calçada, rua, praça, MC: Geralmente, as reportagens edifício ou loja — deveriam ser trazem apenas o percentual das acessíveis. As demais edificações pessoas com deficiência, o que tinham 48 meses é errado. Um para se adaptar. dia todos vão O mundo que O prazo venceu terão nós construímos envelhecer, em dezembro de perdas funcionais utilizou conceitos e qualquer um está 2008, portanto errados estamos devendo sujeito a sofrer acessibilidade há um acidente e quatro anos. depender de Mário César cadeira de rodas. arquiteto PP: Por que isso A acessibilidade não aconteceu? é um parâmetro para que todos, independente da fase da vida, MC: A prefeitura não poderia exerçam a cidadania com a liberar nenhum alvará de plenitude que é oferecida pela construção e financiar nenhuma constituição .

“

PP: Quando você começou a se interessar pelas questões sobre acessibilidade?

MC: Eu fazia projetos para uma empresa de Belo Horizonte e fui transferido para Manaus.

Fazia apenas dez dias que eu estava lá, quando minha filha Carol nasceu prematura de sete meses, com paralisia cerebral. O primeiro diagnóstico do médico foi que Carolina não iria andar, então passei a pensar como ela iria subir as escadarias que eu havia projetado. Comecei a rever conceitos como “o que é arquitetura” e “pra quem é a arquitetura”. Os engenheiros e arquitetos estão acostumados a projetar arquitetura para um homem padrão, mas nascemos pequenos e morremos velhos, com perdas funcionais, ou seja, estamos fora do padrão no início e no fim da vida. Não se pode projetar arquitetura pensando em uma pessoa de 17 a 40 anos.

Não existem pessoas iguais e a

arquitetura tem que entender esse valor, pois essa é uma das profissões que mais interfere nos espaços: projetamos criando empecilhos ou facilidades. O mundo que nós construímos utilizou conceitos errados. Não se imaginou que as pessoas viveriam até os 80 anos. A geração que construiu as cidades que moramos morriam cedo, com 60 anos. E é justamente a partir dessa idade que aparecem as mazelas da velhice.

pessoas com deficiência, mas se enxergassem bem, não esperariam o poder público para fazer uma calçada acessível. A acessibilidade é para todo o cidadão. Os meios de comunicação se referem a pessoa com deficiência de maneira errada: não é “pessoa com necessidade especial”. Esse termo nasceu na escola e se referia às crianças superdotas ou com dificuldade de aprendizagem. Se estivéssemos em um lugar escuro com um cego, a pessoa com necessidade especial não seria A sociedade PP: Você o cego. O que não vê a acha que a faz a necessidade acessibilidade capacidade de especial são as está nas mãos condições que uma pessoa do governo e ambiente com deficiência o prefeituras, ou propõem, por a sociedade isso o termo Mário César também já correto é pessoa começou a se com deficiência. preocupar com essa questão?

PP: Você acredita que ainda MC: Nós estamos na pior fase existe preconceito com da acessibilidade. As pessoas pessoas com algum tipo de pensam que a acessibilidade é para deficiência?

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Entrevista

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

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Diagramação de Guilherme Duarte | Edição de Camila Nunes

MC: Existe, mas não é um antigos devem ser adaptados? preconceito mal intencionado.

Ao ver um cadeirante, olhamos MC: Para os prédios antigos primeiro a cadeira de rodas e existe uma normativa de não a pessoa. A regulamentação: sociedade não vê adaptação não Eu sou contrário apode a capacidade de interferir no a concessão de valor histórico do uma pessoa com privilégios para prédio e, muitas deficiência, assim como eu demorei vezes, isso serve pessoas com para conhecer desculpa. Mas se deficiência a capacidade da um prédio tem minha filha, pois duas escadarias Mário César ela não era a e uma for criança normal, substituída por como eu gostaria um elevador de que fosse. Há diferença entre vidro transparente, não haverá não ter capacidades e não mudança no valor arquitetônico. ter qualidades. A deficiência instiga outras capacidades pela PP: As escolas públicas e necessidade de superá-la. privadas são obrigadas a receber uma pessoa com PP: Joinville está engatinhando deficiência? na questão da acessibilidade, ou já avançou bastante?

MC: Existe uma diferença entre fazer inclusão e integração. A MC: Joinville tem um ponto integração quem decide não é o positivo: existe um movimento, integrado, mas o integrador. Por organizado pelo Conselho exemplo, ao fazer uma rampa Municipal, em prol da para um cadeirante, o construtor acessibilidade que é considerado escolhe uma inclinação qualquer. um dos mais atuantes do Brasil. No caso da inclusão, o construtor O conselho luta por edificações, faria com o cadeirante, para ter calçadas e transportes acessíveis, inclinação adequada. Nas escolas pois não adianta ter prédios tem acontecido isso. Ao tentar adaptados se a pessoa com incluir alunos com deficiência, deficiência não consegue sair as escolas muitas vezes não estão de casa, passar pela calçada para fisicamente preparadas para embarcar no ônibus. atender cadeirantes. Acontece também com alunos com grandes PP: Os carros com piso dificuldades de aprendizagem, baixo da frota de ônibus do porque não possuem um corpo transporte público de Joinville técnico preparado para atendê-lo. são adequados? Atendem as Outro fator que prejudica a escola necessidades? inclusiva são os pais. Quando uma criança com deficiência MC: De acordo com o decreto morre, o pai entra em uma fase 5296, o prazo para todo os ônibus conhecida com o “luto”. Ele se adaptarem é de dez anos, pois sonhou com uma realidade, mas esse é o período que o ônibus é outra. Então há um tempo pode circular sem ser substituído. de rejeição e questionamento, Como faz oito anos, 80% dos quando só vê as anormalidades ônibus deveriam ser adaptados. da criança. Isso pode transformar Em 2014, devem ser trocados a criança em um coitada, e não os últimos ônibus e 100% da potencializa suas qualidades, não frota tem que ter elevador, mas o preparando-o para o convívio decreto é “meio purista” e não foi social. Todo ser humano, mesmo muito a fundo. A cada dois anos, que nasça com deficiência, tem o Inmetro (Instituto Nacional uma potencialidade que precisa de Metrologia, Qualidade e ser explorada. A escola inclusiva, Tecnologia), a ANT (Agência então, tem que existir desde a Nacional de Transportes) e o educação infantil. Lá as crianças Sindicato dos Transportadores não tem preconceito, e estarão deveriam se reunir para preparadas para receber este estabelecer o modelo de ônibus aluno com deficiência na escola. ideal no Brasil. Definiram três modelos: piso baixo (preferencial) PP: Joinville oferece opções de para todas as pessoas entrarem lazer para pessoa deficiente? no mesmo nível, ônibus com plataforma elevada e ônibus com MC: O Parque da Cidade e a praça elevador, que deve ser a última Tiradentes foram construídos opção. considerando o conceito de acessibilidade. A praça Tiradentes PP: Hoje, a maioria dos é a única em Santa Catarina equipamentos públicos da com mapa tátil e orientação cidade são antigos e não são para os cegos. O banheiro tem acessíveis. Existe uma lei que uma torneira com conceito de determina que os prédios desenho universal: liga e desliga

“

Esse tipo de iniciativa é válida ou é apenas uma forma de maquiar o problema?

MC: Eu posso falar sobre isso com muita propriedade porque nós estamos acabando de fazer a norma brasileira de estádios.

O decreto 5296 estabelece o seguinte: 2% das vagas devem ser destinadas à pessoas com deficiência e mais 2% para pessoas com mobilidade reduzida, fora a cota para os idosos que é de 5%. Há quem diga que 2% é muito, pois de 60.000 lugares não haverá 1.200 pessoas de cadeira de rodas, como também não é garantido todos os jogos terão público máximo. Mas a Copa do Mundo não é do Brasil, é da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), portanto quem estabelece as regras da copa é a FIFA. As leis soberanas do país não têm valor para eles.

Não tem fundamento reservar PP: A pessoa deficiente tem 1% dos ingressos para a pessoa oportunidade no mercado de com deficiência, pois ela não trabalho? quer privilégios, quer igualidade de condições. Por outro lado, o MC: A lei da previdência idoso pagar somente por meio estabelece um percentual de 2% ingresso é até aceitável, pois ele a 5% de contratação de pessoas já colaborou com a construção com deficiência que depende da cidade e a velhice traz mais do número de funcionários da custos a vida, então ele merece empresa - em caso de mais de mil ser beneficiado. Eu sou contrário funcionários a cota é 5%. Essa a concessão de privilégios para lei existe há quase 20 anos, mas pessoas com deficiência, porque não consegue nós lutamos pela ser cumprida, cidadania dessa Não existem pois não existem pessoas iguais e pessoas, o que pessoas com ter os a arquitetura tem significa deficiência mesmos direitos que entender qualificadas para e condições esse valor o mercado. E que qualquer isso se deve ao indivíduo, porém fato de que não suas especifidades Mário César tínhamoscalçadas, devem ser transporte e consideradas. Se escola adaptada para oferecer uma pessoa com deficiência vai qualificação. O dia em que as necessitar de um lugar especial, pessoas compreenderem quem esse direito deve ser dado a ela. realmente é a pessoa com deficiência as coisas vão mudar, PP: Joinville participa do afinal todos nós temos qualidades programa “Cidade acessível e deficiências. A capacidade de é direitos humanos”. Como cada um não é medida pelo você avalia esse programa e tamanho da deficiência. Antes você avalia a participação de de eu compreender isso, eu Joinville? tinha pena da minha filha, até o dia que percebemos que ela MC: Conceitualmente está boa, também tinha qualidades. Hoje, mas a prática está falha. A primeira aos 25 anos, Carol é formada ação foi a criação do comitê em Psicologia e está fazendo técnico de acessibilidade. Dentro pós-graduação. Ela montou dos diversos órgãos da prefeitura, um grupo de dança inclusiva há um profissional voluntário que com a bailarina Graziela, que foi treinado e qualificado para hoje está na Bélgica ensinando checar os projetos e antes de a dança. Carol parou de dançar, obra ser entregue, verificar se a mas o grupo continua e tem acessibilidade está plena. Mas essa 6 pessoas com deficiência e 6 comissão não foi estabelecida bailarinos. legalmente e quando um relatório é apresentado para quem construiu PP: Foi sancionada a emenda aquela obra, muitas vezes é apresentada pelo deputado Ruy ignorado.

Carneiro que reserva 1% dos ingressos dos jogos do Mundial Maria Lima para pessoas com deficiência. mariahlf@hotmail.com com um toque. Há um projeto para que não entrem mais carros no Mirante, salvo veículos com pessoas idosas e com deficiência.

No zoobotânico haverá pistas para cegos e cadeirantes. Quanto ao esporte, não há nenhum ginásio.

Joinville tem um time de basquete de cadeirantes, mas o ginásio Ivan Rodrigues não tem vestiário. O compositor e vocalista da banda de rock Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna diz que a maior dificuldade não é a cadeira de rodas, mas o acesso aos palcos e camarins. As portas de banheiro que tem escrito “Ele” e “Ela” excluem as pessoas, um japonês, por exemplo, não entenderia o que está escrito, mas colocassem um bonequinho feminino e masculino a identificação seria mais fácil. Isso mostra que a acessibilidade é muito mais ampla do que as pessoas imaginam.

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12 Cartola

Perfil fotográfico1

Joinville - Julho 2012 PRIMEIRA PAUTA

Joinville - Novembro 2011 PRIMEIRA PAUTA

Diagramação de Xxxxxxxxxxx | Edição de Xxxxxxxxxxxx

Diagramação de Thiago Seco | Edição de Marcela Güther | Fotos de Michelle Braga

Nos versos,

o talento vira refrão Por Thiago Seco Um olhar que se desvia facilmente à primeira investida. Quem o vê no palco não imagina tamanha timidez fora dele. Talvez essa seja a magia da arte. “Músico não pode parar.” Em meio ao ritmo inesgotável da noite, Vagner Guimarães prefere resumir assim a vida que leva desde que assumiu a música como profissão.

Tem 32 anos, boa parte deles dedicados ao ofício de cantar e encantar com a alma.

“No palco, sou eu de verdade. Fico muito à vontade mesmo”, arremata. O músico nasceu em Registro, no Vale do Ribeira, em São Paulo. Aos 11 anos de idade, mudou-se para Joinville. “Meu pai teve o primeiro restaurante de comida a quilo da cidade. Um na [Rua] Tijucas, sabe?”, comenta, tentando recordar o endereço certo. A lembrança foi suficiente para ele estampar um sorriso sincero.

A música sempre esteve na veia. É de família. “Meu pai sempre foi boêmio”, conta o também produtor musical. Cursou um ano de violão erudito, mas não era muito sua praia. Deu de ombros e largou. Quando a formação vem da alma, a relação com as notas musicais é de verdadeira intimidade. Compositor desde a adolescência, Vagner revela o segredo para escrever uma canção. “Vai muito da emoção, do momento”, ri o músico após uma breve filosofada.

Violão, percursão, contrabaixo, flauta transversal e gaita de boca. Toca de tudo um pouco. Não há limites para quem gosta do que faz. Vagner também morou em Chapecó. Foi lá que ele ganhou “bagagem” no ramo. Nessa época, aprendeu a tocar instrumentos de percursão, o que, segundo ele, o fez criar dinamismo nas composições feitas em violão. Em 2001, ainda na cidade, ganhou em 1º lugar o festival de música com a canção “O mundo verá”.

Em 2005, recebeu convite para fazer parte do grupo musical Circus Musicalis. Não deu certo. Quatro anos depois, a história foi outra. A estreia na banda aconteceu na peça “Cantos”. Tudo que envolve o dinamismo da música interessa a Vagner. Desde 2008, trabalha com o desenvolvimento de propagandas para rádio e televisão. “Música pra mim é transferência, possibilidades...”, suspira, procurando uma última palavra para encerrar a fala. Não demora muito e a encontra: “Mudança”. Sete letras que resumem sua história.