CRISTIANO MIGON
anos
de hist贸rias para contar
S谩bado - 11 de outubro de 2014
2
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Bento Gonçalves 124 anos
“Um oásis, comparado com o restante do estado” Com a rotina do dia a dia as pessoas tendem a se acostumar e não perceber o quão privilegiado é quem mora em Bento Gonçalves. Esta variedade de virtudes presentes na Capital do Vinho foi destacada pelo promotor de Justiça Cível, Alécio Silveira Nogueira. Faz 15 anos que Nogueira chegou à cidade, com a esposa Denise e as duas filhas, que hoje tem 20 e 16 anos. Natural de Porto Alegre, o promotor aconselha que o crescimento e o progresso não desfaçam este perfil tão atrativo da cidade. “Bento Gonçalves oferece as opções de uma cidade de grande porte, mas ainda reúne o lado bom do interior. Aquela tranquilidade, uma forte tradição histórica e uma paisagem que encanta quem a conhece. Possui um povo extremamente ordeiro e trabalhador, e as comunidades são fortes e bem organizadas. Trata-se, além disso, de uma sociedade que valoriza suas raízes, orgulhosa de sua origem, o que é uma virtude. Tudo isso garante a prosperidade da cidade. Um oásis, quando comparado com a realidade do restante do estado. É importante que
“Uma cidade de pessoas envolvidas com o social” Para o juiz Rudolf Carlos Reitz, da 2ª Vara Criminal e do Juizado da Infância e Juventude de Bento Gonçalves, o envolvimento das pessoas nos aspectos sociais é o que destaca e diferencia o município. Esta cultura de encontrar o equilibrio entre exaltar o passado e olhar para o futuro é o que tem de mais encantador na cidade. Natural de Caxias do Sul, Reitz veio para Bento Gonçalves em 2011, junto com a esposa, a corretora de imóveis Alexandra Reitz, e os dois filhos, de 13 e nove anos. “Percebo que a cidade tem esta empolgação, esta visão de que precisa se envolver
nos aspectos sociais para melhorar nosso dia a dia. Eu destaco a área da educação, onde são oferecidas diversas alternativas de atividades para os jovens. Proporcionar ao jovem um bom ambiente para se desenvolver, é algo que, às vezes, não é notado, mas que é imprescindível para o crescimento social saudável de uma comunidade. “Bento está aberta às parcerias. As pessoas se interessam e as entidades se envolvem. Ao invés de deixar simplesmente para o Poder Público e o Judiciário, percebemos o envolvimento das pessoas no sentido de melhor enfrentar e resolver os seus problemas sociais”, exalta.
“Um relax que precisa ser preservado” CRISTIANO MIGON
homenagem, pelo pessoal que estava lá. Fiquei muito agradecido por lembrarem de mim”, destaca. A honraria o motivou ainda mais a zelar pela cidade em seu ofício de delegado. “Sempre queremos dar uma solução rápida (para as pessoas) e quando não conseguimos, isso nos massacra. É algo intimo, estou sempre tentando um pouco mais. Ser delegado nos traz essa responsabilidade com a cidade e por isso nos sentimos impotente às vezes”, explica. Sobre a segurança, o delegado acredita que está dentro de um patamar aceitável. “Podia ser melhor, porém não vejo como uma cidade violenta. No modo geral, pelo tamanho e tipo de cidade, a violência está dentro da normalidade. Claro que queríamos que fosse zero, mas não está ruim. O que não pode é baixar a guarda. Assim vamos manter esta violência afastada”, avalia.
o progresso não elimine a natureza. Temos que cuidar estes empreendimentos que só dão ênfase no “concreto”. A cidade não pode ficar sem seus verdes. É um desafio saber lidar com isso. Temos que repensar e criar meios de coibir esta “corrida da construção civil”. Ou iremos transformar em uma cidade fria, sem sol, como já ocorre no Centro após às 16h30min. Uma cidade que é puro asfalto fica muito quente no verão”, avalia Nogueira.
“Um município onde a convivência é encantadora” A escrivã da Polícia Civil Iraci Dalla Valle, 55 anos, nasceu, foi criada e diz que sempre vai morar em Bento Gonçalves. Outros lugares? Só para passeio e viagens, pois o seu lugar é na Capital do Vinho. Para a escrivã, o município consegue reunir, de forma única, as características marcantes e com as diversas atrações de lazer, cultura e entretenimento. “O que mais gosto é esta natureza exuberante, o verde que ainda temos em espaços próximos à cidade e os prédios históricos que ainda são preservados no Centro e nos arredores. Nosso interior oferece paisagens bucólicas, maravilhosas com seus morros bordados de parreirais. “Os descendentes de italianos, que são a maioria e que formaram nossa população, são pessoas trabalhadoras e guerreiras que com o suor e trabalho transformaram nossa cidade em um município pujante e desenvolvido. No início são mais “fechadas” e desconfiadas, mas depois que conquistamos a sua confiança, se transformam em pessoas alegres e extrovertidas, hospitaleiras e carismáticas e tornam a convivência encantadora”, comenta.
ARQUIVO PESSOAL
Ser delegado de polícia em muitos momentos te apresenta o que há de pior em uma cidade. Porém, para o titular da 2ª Delegacia de Polícia, Álvaro Becker, Bento Gonçalves pode se orgulhar por ser uma cidade acolhedora, de pessoas solidárias e com atrações variadas. Natural de São Leopoldo, Becker teve diversas idas e vindas em sua carreira na Polícia Civil, porém sempre teve como objetivo morar em Bento Gonçalves. Casado desde 1981 com a bento-gonçalvense Ana Meri Pagot, o delegado tem dois filhos, de 31 e 29 anos, e uma neta, de 1 ano, todos naturais da cidade. “O pessoal daqui é trabalhador e hospitaleiro. O clima também é bom. Eu acho que Bento tem tudo o que qualquer outra cidade tem. Claro que algumas atrações culturais ainda estão engatinhando, mas a cidade proporciona uma série de eventos. Bento tem este diferencial de ser uma cidade tranquila durante a semana e no final de semana apresentar um bom movimento. Outro aspecto é a beleza. É só sair do Centro e em cinco minutos tu encontras esta natureza bem generosa. A cidade está crescendo e temos que abrir o olho. Temos que zelar por este relax que a cidade ainda proporciona”, resume. Para consagrar sua relação com o município, o próprio Becker foi agraciado com o título de cidadão de Bento Gonçalves no ano passado. “Recebi o título, o que me deixou mais envaidecido ainda. Foi no dia 30 de outubro de 2013, um dos momentos mais emocionantes. Pela
FOTOS LEONARDO LOPES
Minha Bento é...
Semanรกrio Sรกbado, 11 de outubro de 2014
3
4
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Bento Gonçalves 124 anos
TAÍS MACHADO, ARQUIVO
Minha Bento é...
“A cidade de um povo que sabe superar os seus limites”
“Uma história de união e crescimento” DIVULGAÇÃO
Atual prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin é um verdadeiro entusiasta do município. Como bento-gonçalvense nato, o chefe do Executivo defende uma cidade cada vez mais positiva, destacando suas qualidades e seus avanços. É com esse entusiasmo que ele quer ver uma mudança de ânimo nas ruas da cidade que governa. “Há mais de um século, centenas de imigrantes italianos chegaram à terra que hoje conhecemos como Bento Gonçalves. Homens e mulheres. Avós, pais e netos. Carpinteiros, agricultores, marceneiros, sapateiros e ferreiros. Pessoas que escolheram aqui como o ponto de partida de um mundo novo. O que atraiu nossos pioneiros a este lugar? O clima favorável e as belezas naturais? A margem do Rio das Antas? Ou o Vale dos Vinhedos? Mais do que uma cidade abençoada por sua geografia, Bento Gonçalves é agraciada por outro tipo de riqueza. Desde seus primeiros habitantes, vi-
vemos cercados pelo bem mais precioso que uma comunidade pode ter: a união. Somos unidos por valores. Somos unidos pelo trabalho. Somos unidos pela cultura. Somos unidos pelo bem comum. Somos unidos por Bento. Tive o privilégio de ser escolhido pela população como seu representante no governo municipal. Mas escrevo este depoimento não na condição de prefeito, mas de um cidadão bento-gonçalvense. E, como tal,
expresso o orgulho de fazer parte de uma trajetória que completa hoje mais um ano. Bento Gonçalves uniu-se, durante todo esse tempo, para criar uma linda história. E essa mesma comunidade, que hoje vive um novo momento, une-se cada vez mais para escrever as páginas seguintes”, afirma o prefeito.
“Um lugar erguido com suor do colono” CRISTIANO MIGON
O aposentado Severino Sonaglio acompanhou 88 dos 124 anos de Bento Gonçalves. Esbanjando vitalidade, ele acredita que o município deve o seu crescimento ao suor do colono, o imigrante que desbravou as terras rochosas da Serra Gaúcha. “Trabalhei 53 anos na roça. tudo o que eu tenho veio de um trabalho suado, feito com muito amor e dedicação. As pessoas não podem esquecer da importância e do papel fundamental que o colono desempenhou ao longo de sua trajetória e continua fazendo nos dias de hoje. A nossa história precisa ser resgatada e contada para os mais jovens, para que eles nunca esqueçam o nosso feito tão valoroso e digno de reverências eternas”.
Nas falas do major José Paulo Marinho, comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT), dois temas com os quais tem muita afinidade são recorrentes: a Brigada Militar (BM) e Bento Gonçalves. Natural de Cruz Alta, o major veio para a Capital do Vinho ainda criança acompanhando o pai, também um oficial da segurança pública. Já naquela época sonhava em zelar pela cidade. “Meu objetivo sempre foi trabalhar em Bento Gonçalves. Quando criança eu participava das confraternizações da Brigada Militar com o meu pai e sempre dizia que um dia iria comandar Bento Gonçalves. Hoje sou responsável pelo comando não só de Bento Gonçalves, mas como de outros 25 municípios da nossa região. É uma responsabilidade muito grande”, orgulha-se o major. Em sua carreira militar, Marinho passou por diversos cargos e cidades, mas sempre que possível fazia questão de retornar para trabalhar em Bento Gonçalves. “Me sinto muito feliz por morar aqui. Eu vi a cidade crescer, o Vale dos Vinhedos e os Caminhos de Pedras crescerem. Com uma natureza exuberante que nos renova a cada passeio. Tenho um amor muito grande por esta cidade”, destaca. Promovido a comandante do 3º BPAT em 2011, o major Marinho procura zelar por uma das virtudes mais destacadas do mu-
nicípio. “O nível de qualidade de vida é excelente. Por ter viajado por alguns estados do nosso país, eu percebo uma diferença de visão. O gaúcho tem essa tendência a evoluir. Este nosso empreendedorismo de Bento Gonçalves parece estar no DNA. Os primeiros imigrantes encontraram uma selva montanhosa. Imagina esta cidade, com o relevo que possui, ser uma selva. E você ter que progredir. Não se contentar, querer superar os seus limites e ser cada vez mais um colaborador do município, são características daqui”, reflete. Sobre o trabalho da Brigada Militar, o major afirma que é um trabalho constante diante de uma legislação branda. Porém destaca o envolvimento dos cidadãos com segurança da cidade. “Nossa relação é muito boa com a população. Temos empresários e entidades que nos ajudam muito. Nosso quartel é um exemplo disso. O Consepro, Poder Público Municipal, o Legislativo. Eu vejo as pessoas comprometidas com a segurança e em ajudar a Brigada Militar, que é ajudar a si mesmo. Não adianta o turista chegar a Bento ver uma Pipa bonita, um Vale dos Vinhedos lindo, uma cidade limpa e organizada, e ver um policial com uma viatura caindo aos pedaços. Qual a visão que ele vai ter da segurança? A BM também faz parte desse processo”, argumenta Marinho.
5
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014 FABIANO MAZZOTTI, DIVULGAÇÃO
ORGULHO DE SER DE BENTO
Há 124 anos estamos juntos construindo a história desta terra abençoada.
6
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Desenvolvimento econômico
Uma cidade multissetor que ge
Em 124 anos de história, Bento Gonçalves cresceu, se modernizou e provou que é um município que sabe empreende Vitória Lovat
“Nossa cidade tem qualidade superior a da média”
geral1@jornalsemanario.com.br
Leonardo Giordani, presidente do Cic/BG
O presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, Leonardo Giordani, afirma que o espírito empreendedor e a distribuição de renda justa faz com que o município tenha qualidade de vida mais alta do que a maioria das demais cidades do Rio Grande do Sul. “Bento vive ciclos econômicos, porém em nenhum deles tivemos retrocessos. A cidade cresce e a economia também, nossos produtos chegam a vários cantos do mundo, nossas empresas empregam tecnologia de ponta, e o setor de serviços tem tido crescimento além dos padrões regionais, bem como nosso comércio tem destaque regional”, destaca. No entanto, Giordani coloca que os principais pontos negativos são as restrições ambientais. “Elas devem ser respeitadas mas, todavia, são fatores restritivos, a questão de falta de estrutura logística para a chegada e saída de produtos e serviços também atrapalham, fundamentalmente nossas rodovias que são praticamente as mesmas a décadas”, lembra.
“Bento é sempre lembrada” FOTOS DIVULGAÇÃO
ento Gonçalves é reconhecida internacionalmente pela produção de vinho e suas belas paisagens. Mas, mais do que isso, a cidade é lembrada por ser um município multissetor, com um forte polo moveleiro e industrial, que se expandem a cada ano e geram empregos. Bento Gonçalves é lembrada pelo enoturismo, pela cultura italiana e pela receptividade e acolhimento de seus moradores. Hoje, Bento pode ser citada também como uma cidade de muitas etnias e crenças, já que a globalização e o desenvolvimento fez com que muitas pessoas de outras regiões do país viessem para cá na busca de emprego. Essa miscigenação de cultura fez com que hoje, apenas 50% da população da cidade seja descendente de italianos, sua principal marca. No entanto, mesmo com a modernização, a cultura italiana não se perde e a batalha dos moradores da cidade é para que isso sempre lembrado e repassado de geração em geração, já que somos um município que também é berço da imigração italiana. Os representantes de associações e sindicatos da cidade falam sobre como viram o município se desenvolver ano a ano, ganhar qualidade de vida, credibilidade e nunca deixando morrer as tradições.
JEFERSON SOLDI
B
O presidente do Sindmóveis, Henrique Tecchio, aponta que a cidade, em inúmeras situações econômicas é lembrada, tendo em vista todos os setores industriais que são explorados na cidade e a sua significância na economia estadual e nacional. “O crescimento de Bento nos últimos 20 anos é visível, podemos observar que cada setor econômico encontrou sua forma de expansão, além da melhora na infraestrutura”, coloca. A geração de empregos, segundo ele, é uma consequência do crescimento e expansão da cidade. Tecchio também destaca que a geografia da cidade dificulta a locomoção e a expansão, além da burocracia das licenças ambientais. “Ainda precisamos de muita coisa, mas os polos moveleiro e vinícola representam bem a cidade, então precisamos investir nele e minimizar os problemas cada vez mais”, Henrique Tecchio, presidente do Sindmóves comenta.
“A melhoria contínua é mais que necessária” Juarez José Piva, presidente do Simmme
Para o presidente do Simmme de Bento Gonçalves, Juarez José Piva, o crescimento do município veio da necessidade de desenvolver as empresas, comércio, serviço, por ser uma cidade empreendedora, onde se busca qualificação através de cursos e do Ensino Superior, proporcionando desenvolvimento. Segundo ele, a capacitação e profissionalização são determinantes para chegar nesta situação, além das parcerias realizadas entre empresas e a educação. “A melhoria contínua é sempre necessária para atender as novas exigências da população, melhoria na educação, mais segurança, mobilidade, saúde e meio ambiente”, destaca.
7
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
era emprego e cresce a cada dia
er, tornando-se referência no Rio Grande do Sul e no Brasil nos setores moveleiro, industrial, vitivinícola e no turismo
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Carbone, destaca que o desenvolvimento econômico da cidade se deve a fatores como a boa vontade de trabalho dos moradores da cidade. “O bento-gonçalvense tem uma cultura de trabalho muito forte. Aqui, os jovens começam a trabalhar cedo e o grau de exigência é muito alto, o que faz com que a qualidade de trabalho seja cada vez maior”, destaca. Ele destaca que além da força e união de crescimento, outros fatores também contribuem para que Bento seja uma referência de trabalho e desenvolvimento, como a boa localização geográfica e o acolhimento dos moradores. Contudo, Carbone destaca que se houvesse mais incentivo, o município poderia estar ainda melhor. “O problema da cidade não é exclusivamente dela, mas sim da maioria das cidades do Brasil, que é a alta burocracia e as dificuldades de negociação, além da falta de infraestrutura e da facilitação de Marcos Carbone, presidente da CDL desenvolvimento”, aponta.
“Bento é referência nacional”
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Stimmme) de Bento Gonçalves, Jose Elvio de Lima, aponta o crescimento industrial e comercial dos últimos anos. “Bento é uma região com muito investimento em turismo, na indústria de móveis, metalúrgicas, vinhos e comércio, o que gera muitos empregos e possibilita uma boa qualidade de vida aos moradores”, coloca. Contudo, segundo ele, o que atrapalha um crescimento ainda mais avançado é a infraestrutura da cidade. Ele diz que falta espaço industrial para a vinda de novas empresas para aumentar mais os empregos e também para manter as empresas existentes no nosso município. Mas ele ressalta que o fato não faz com que o orgulho de ser bento-gonçalvense seja diminuído. “Bento Gonçalves é referência nacional, pois em todos os cantos do país que se viaje nossa cidade é referência pelo produto vitivinícola e pela qualidade de vida na região, o que nos deixa muito orguEvio de Lima preside o Stimmme lhosos”, afirma o presidente.
FOTOS DIVULGAÇÃO
“Nós temos disciplina de trabalho”
8
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Linha Eulália
Belezas naturais como atrativo Novos roteiros turísticos começam a ser desenvolvidos na comunidade, conquistando cada vez mais os visitantes
A
s belas paisagens e a preservação da cultura na comunidade da Linha Eulália despertaram nos moradores o potencial turístico da região. Há um ano, foi fundada uma associação para desenvolver novos roteiros e atrativos. Hoje, os Encantos de Linha Eulália se transformaram em um importante ponto turístico, atraindo aproximadamente 800 visitantes por mês. Degustar um bom vinho, saborear uma comida típica italiana e se aventurar na natureza são algumas das opções oferecidas. “O roteiro tem tido uma excelente aceitação no mercado, mesclando o turismo rural, o enoturismo e o turismo de aventura. As ações de capacitação dos agentes, guias de turismo e ações com jornalistas tem tido um excelente resultado.”, afirma o secretário de Turismo de Bento Gonçalves, Gilberto Durante. Entre os principais atrativos, Aldiane Bianchi, presidente da Associação Turística Linha Eulália, cita o Parque de Aventuras Gasper. “É um diferencial e um produto turístico inovador para a cidade de Bento Gonçalves. Vale destacar também o trabalho realizado de forma associativa e a busca por novas parcerias com outras rotas turísticas de Bento Gonçalves”, comenta. No roteiro, também estão inclusas visitas à Casa Dequigiovanni, Casarão Toniollo, Empório Nona Dosolina, Pousada Ke Kanto Toniolo, Recanto Flores e Sabores, Sítio de Lazer Zucchi, Vinhos Toniolo, Vó Phinna Doces e Vinícola Mena Kaho. “Participamos de feiras de turismo, recebemos visitação de agentes de viagens e realizamos ações de divulgação através das redes sociais e site. O turismo vem participando ativamente no cenário de eventos, geração de emprego e renda, incentivo à permanência da família no meio rural, além do resgate e valorização de usos, costumes e patrimônio material e imaterial”, ressalta a presidente Aldiane.
Conheça os encantos:
FOTOS DIVULGAÇÃO
Silvia Dalmas geral3@jornalsemanario.com.br
Casarão Toniolo A história da Família Toniolo, que migrou para a Bento no final do século XIX, pode ser conhecida na visita. Percorrer as dependências do Casarão é como dar uma volta ao passado, conhecendo os usos, costumes, mobiliários e as ferramentas de trabalho da época.
Parque de Aventuras Gasper Oferece rapel, tirolesa, paint ball, parede de escalada, arvorismo e atividades empresariais. Casa Dequigiovanni Espaço enogastronômico, com um ambiente que associa boa comida, excelentes bebidas artesanais e agradável show de músicas italianas. Os pratos são elaborados pelo proprietário e enólogo Jatir Dequigiovanni, que também realiza show especial de músicas típicas italianas.
Empório Nona Dosolina É um local de comercialização de produtos coloniais e artesanato, produzidos pelos moradores da Linha Eulália e de outras localidades. Também oferece um passeio autoguiado, conhecendo a fauna e a flora da região. Outra opção é um piquenique, onde o visitante adquire uma cesta de produtos coloniais e escolhe o local de sua preferência para saborear o lanche. Recanto Flores e Sabores Propriedade rural cercada de belezas naturais, lindos jardins, onde as flores e o verde enchem os olhos de encantamento e possibilitam momentos de paz.
Pousada Ke Kanto Toniolo Oferece um ambiente familiar e agradável, proporcionando que seus hóspedes também possam desbravar os encantos da propriedade rural, realizando caminhadas. Ele ainda pode saborear as delícias produzidas, como geleias, queijo, mel e o vinho da casa.
Vinhos Toniolo Vinícola familiar, onde a produção de vinhos é uma tradição que se mantém desde o ano de 1888. Hoje, se dedica à elaboração de vinhos finos em quantidade limitada, com produção própria das uvas.
Vó Phinna Doces Comercializa geleias, doces cremosos, antepastos, compotas e conservas. A marca é uma homenagem a Vó Josephina, que fazia geleias artesanalmente. Vó Phinna conta também com uma linha de produtos Gourmet e todo o processo é artesanal, sem conservantes ou aditivos.
Sítio de Lazer Zucchi A propriedade tem dois açudes, belo espaço para lazer com mata e uma vista panorâmica privilegiada, num dos pontos mais alto da Linha Eulália.
Vinícola Mena Kaho Produz vinhos e sucos de uva orgânicos e possui vinhedo próprio. O termo “mena-KAHO” expressa a ideia de viticultor. Este era o apelido da família de Santo Francesco Roman, dedicada ao cultivo das videiras na Itália. A cantina original, construída por volta de 1920, foi restaurada e se encontra ainda hoje em atividade.
9
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Enoturismo
Aromas e sabores que encantam
Turismo relacionado ao vinho começou a ser pensando na década de 80 e vem se especializando nos últimos anos SILVIA TONON, ARQUIVO
Silvia Dalmas geral3@jornalsemanario.com.br
Q
uando se pensa em enoturismo no Rio Grande do Sul, logo vem à mente o Vale dos Vinhedos. O destino é, hoje, um dos mais importantes do país e evoluiu muito nos últimos anos, com a criação de mais atrativos no roteiro. Essa história, porém, começou de uma forma tímida, no porão das casas dos produtores, quando nem sequer haviam hotéis no Vale. O secretário de Turismo do município, Gilberto Durante, revela que as primeiras ações surgiram no final da década de 80. “Aqui tínhamos o Centro de Treinamento Estadual do Banco do Brasil e estes congressistas, que passavam o dia em capacitação, hospedavam-se em Bento Gonçalves e de noite eram organizados jantares nos porões das casas do produtores no Vale dos Vinhedos. A Aurora tem um papel importante neste processo por ter sido a vinícola pioneira no recebimento de turistas para a visitação, mostrando o processo da produção do vinho”, conta.
Hoje, o roteiro integra visitação nas vinícolas, filós, passeios ciclísticos, exposições, cursos, entre outros
Com a fundação da Aprovale, as vinícolas começaram a perceber a oportunidade que o turismo poderia proporcionar e começou a ser pensado um novo roteiro, inicialmente com a Cantina Strapazzon. Paralelamente, o crescimento da hotelaria proporcionou o aumento do fluxo de
“Enoturismo não se faz só com vinícolas” Quando começou a ser pensado o enoturismo em Bento Gonçalves, o diretor-geral e proprietário do Hotel Villa Michelon, Moysés Michelon, lembra que o roteiro era pobre e havia apenas as vinícolas no instaladas no Vale dos Vinhedos. Segundo o empresário, foi assim que surgiu a ideia de criar o hotel com atrações diferenciadas. “Enoturismo não se faz só com as vinícolas e parreiras. É preciso também hotéis, restaurantes e atrações gastronômicas para incrementar esse roteiro. Foi assim que vi a oportunidade de criar o projeto do Villa”, lembra. Segundo ele, o início foi muito difícil. “Tínhamos que divulgar o conceito e as informações para o público. Trabalhamos muito fortemente com agências de viagem para despertar a possibilidade de mais turistas se hospedarem na região”, conta.
O público-alvo era as famílias, que vinham aos sábados e domingos, mas para preencher o espaço durante a semana, foi criado também o turismo de negócios. “Assim aproveitávamos os empresários que vinham até a região para participar de congressos e capacitações”, comenta o empresário. Michelon analisa que o enoturismo na região teve um grande avanço, principalmente nos últimos 13 anos. “Os roteiros estão cada vez mais completos e, hoje, o turista passa mais tempo aqui na cidade. Temos pousadas, restaurantes, o SPA do Vinho, oferecemos cursos de degustação e são aproximadamente 30 vinícolas que integram o enoturismo do Vale. Até mesmo as pequenas empresas vêm se especializando, então acredito que vamos crescer ainda mais”, opina.
visitantes na cidade promovendo oportunidades de negócios. Os roteiros foram melhorando e suas atrações foram inovadas. “Existiu durante todo este movimento a capacitação no atendimento e também avanços na qualificação dos produtos. Hotéis e pousadas foram
surgindo, restaurantes também foram sendo instalados nos roteiros, bem como empreendedores que investiram em artesanato, comércio, entre outros”, comenta Durante. Atualmente, as atrações turísticas no roteiro incluem programas culturais, filós, passeios
Números Os roteiros mais visitados atualmente são o Vale dos Vinhedos (que atraiu 302 mil turistas apenas em 2013), o Vale do Rio das Antas (85 mil) e Caminhos de Pedra (70 mil). Em 2013, foram computados em todos os roteiros (rurais e urbanos) mais de um milhão de visitantes (o número exato é 1.051.00). Foram computados mais de mil eventos e, segundo a Secretaria de Turismo, o enoturismo foi utilizado como grande diferencial para esta atratividade. ciclísticos, corridas, ecomuseu do vinho, mini-cursos de degustação de vinhos e exposições, entre outras. “Estes foram alguns dos eventos criados que transformaram nossa cidade no principal destino de enoturismo do país e um dos 10 melhores do mundo”, afirma o secretário.
10
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Cultura
Fundo é alternativa para avanços Artistas bento-gonçalvenses dizem que ramo anda a passos lentos, mas que medidas públicas podem ser a solução Vitória Lovat geral1@jornalsemanario.com.br
O
O fotógrafo Eduardo Benini, que atua profissionalmente há dois anos na cidade, é reconhecido pelos trabalhos culturais e pelo projeto Bailarinas Urbanas. Ele diz que a evolução cultural em Bento acontece, mas ainda é em passos lentos. “Temos apenas a infraestrutura básica ou menos que isso. Não há um circuito cultural, as pessoas não costumam apreciar a arte e os produtores não se sentem valorizados”, aponta. No entanto, ele também destaca que o Fundo Municipal de Cultura é um grande incentivo aos jovens artistas. “Foram criados métodos para que o artista seja acolhido em sua cidade e isso é muito bom. Eu fui agraciado com dois projetos e é bom saber que a minha cidade investe em mim”, relata. Contudo, ele diz que a cena artística seria ainda melhor se houvesse
Edson Possamai e o grupo A Trupe dosquatro no Caxias em Cena
Edson Possamai também faz parte do Conselho de Políticas Culturais, é ator e diretor. Ele diz que o cenário no teatro de Bento Gonçalves já foi muito bom, mas que hoje não é mais o mesmo. “Não temos mais um festival e os grupos, em sua grande maioria, se desfizeram e poucos dos integrantes seguem com trabalhos. Isso tem levado a um certo ama-
dorismo nas produções”, ressalta. Ele ressalta que a melhoria pode ocorrer com a experimentação e pesquisa. “É necessário reacender esse gosto nos artistas de nossa cidade para que as atividades no meio voltem a ser pujantes”, aponta. Sobre as leis de incentivo, ele afirma serem importantes, mas que não podem ser vitalícias.
Cinema
O diretor de cinema Fernando Menegatti em gravação de uma cena
O diretor e produtor de cinema, Fernando Menegatti, diz que o meio audiovisual ainda está em um processo inicial na cidade, e que a profissionalização nesta área ainda é elitizada. “Existem iniciativas de nobres profissionais que através de verbas públicas disseminam gratuitamente conhecimentos, mas isso ainda é pouco visto”, coloca.
Menagatti diz que a cidade evoluiu muito no meio, masque ainda há falta de mais liberdade e iniciativa por parte dos produtores. “A valorização é dar voz e ouvidos ao artista para integrá-lo como agente importante no quadro econômico e cultural do município”, aponta. Ele diz que o trabalho pode ser feito em harmonia entre os artistas e o poder público.
Remy Valduga, escritor de obras sobre a imigração italiana
CRISTIANO MIGON
Literatura
Eduardo Benini, fotógrafo
investimento na infraestrutura e na fundação. “A Casa das Artes é um ótimo espaço, mas precisa ser mais bem aproveitado. às vezes não tenho espaço para dar minhas oficinas porque ele está sendo usado em eventos alheios a cultura”, destaca.
Música O músico Diogo Farina faz parte de quatro projetos musicais distintos na cidade e diz que a representatividade da classe é importante para o município de tal forma que deveria ser mais bem organizada. Farina destaca que as diversas manifestações culturais só fazem com que a cidade cresça, no entanto, a falta de espaço para apresentações é um problema. “Os músicos daqui são muito bem conceituados em centros maiores, o que dá orgulho, mas esse reconhecimento cultural chegou atrasado em Bento, como a Lei de Incentivo, que só está sendo utilizada agora”, aponta. Ele diz que para garantir um reconhecimento com músico
O escritor Remy Valguga vê, há 74 anos, a cultura do município se desenvolver e, para contribuir com ela, escreveu romances e livros de contos que detalham a história da imigração italiana na cidade.“A cultura em Bento evoluiu muito nos últimos anos e fez com que a tradição italiana pudesse ser mantida por meio destes livros”, apon-
GUI FAGUNDES
FOTOS DIVULGAÇÃO
s movimentos culturais estão cada vez mais presentes no cotidiano dos bento-gonçalvenses. As artes e suas peculiaridades, muitas vezes, surpreendem quem passa pela Via Del Vino e se depara com alguma intervenção artística. Não só em Bento, mas em todo o restante do mundo, a arte deixa o dia mais bonito, mais leve e a vida com mais alegria. As inúmeras personalidades que fazem o cenário artístico no município apontam que, mesmo que em passos lentos, o ramo tem crescido e se destacado cada vez mais. O presidente do Conselho de Políticas Culturais, Cristian Bernich diz que Bento é extremamente rico culturalmente, porém pobre e prolixo artisticamente. “Estamos dando um grande passo no desenvolvimento da arte e cultura em nossa cidade, criamos uma legislação que permite autonomia às produções, algo de extrema relevância, pois não deixa o município à mercê das administrações, permitindo uma evolução constante de bens culturais e profissionalização de quem as produz”, coloca. Ele diz que para melhorar o cenário ainda é preciso criar políticas de circulação de bens artísticos e fomentos para público. “Ouço, seguidamente, a população falando que não tem nada em nossa cidade, porém nunca vemos estas pessoas assistindo a produções locais, as vemos nas salas de teatros apenas quando temos produções televisivas”, desabafa. Bernich também é ator e dançarino e diz que as novas políticas culturais trazem consigo o interesse de valorização. “Todavia o incentivo deve vir não apenas da política, mas também da própria comunidade que deveria consumir arte como qualquer outro produto percebendo nele uma necessidade”, aponta. Quanto às leis de incentivo, ele aponta ser um mal necessário, principalmente para que os artistas consigam difundir a sua arte e se profissionalizar no ramo que escolheram.
Fotografia
Teatro
Diogo Farina, músico
foi necessário muito esforço. “Foi preciso mostrar serviço, se aperfeiçoar, abrir a cabeça a novas ideias, ser profissional e sair da informalidade”, aponta.
ta. Segundo ele, logo que começou a ler, buscava histórias dos imigrantes mas poucas obras eram encontradas, então decidiu escrevê-las em forma de romance. Valduga destaca que mais de 50 mil cópias já foram vendidas de todas as suas obras. “A literatura evoluiu muito e acredito que estamos no caminho”, avalia.
11
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Cristo Rei
Igreja comemora seus 60 anos Construção começou em 1951 e, hoje, o templo, além de ponto turístico, representa a união comunitária da época
N
Além da importância para os fiéis, a obra também transformou o cenário da praça e virou ponto turístico
ITACYR GIACOMELLO, ARQUIVO
o dia 20 de abril de 1947, foi realizada a bênção da pedra fundamental do salão paroquial do bairro Cidade Alta. Esse foi o começo da história de 60 anos da Igreja Cristo Rei, marcada por fé, devoção e, principalmente, pela participação ativa da comunidade na época. O historiador e autor do livro “Cidade Alta, Raízes de um Povo”, Itacyr Luiz Giacomello, 76 anos, ainda guarda as lembranças da construção do santuário. “Eu era criança, mas ainda lembro que a união do povo era uma coisa impressionante, foi algo que realmente me marcou muito”, conta ele, que também trabalhou como secretário da igreja por 15 anos. As obras iniciaram em janeiro de 1951 e a igreja foi inaugura-
da em 14 de novembro de 1954, mesmo estando inacabada. Giacomello afirma que a importância do santuário não se restringe apenas à religião, mas a construção também trouxe uma identidade para o bairro. “Ali neste local havia apenas um banhado, era um espaço inutilizado, reduto de quero-queros. Para mim, essa igreja é um símbolo não apenas religioso, mas também de integração comunitária. O comércio, a indústria, os agricultores e todos os outros setores da sociedade se uniram com esse mesmo objetivo. Foi uma participação muito ativa”, comenta. De acordo com relatos que constam no livro, outro grande incentivador da construção da igreja foi o padre Rui Lorenzi, que trabalhou durante 19 anos junto a comunidade. A praça onde está localizado o templo leva seu nome.
CRISTIANO MIGON
Silvia Dalmas geral3@jornalsemanario.com.br
Curiosidades Torre ficou inacabada por 23 anos Em função do antigo campo de pouso do aeroclube de Bento Gonçalves, que era localizado no bairro Planalto, a torre da Igreja Cristo Rei não pode ser finalizada na época. Apenas 23 anos depois de sua inauguração, em 1978, é que ela foi concluída. Incêndio consumiu parte do altar No dia 15 de novembro de 1980, aconteceu um incêndio no altar da igreja, destruindo-o completamente (com exceção da Santíssima Eucaristia). Os bombeiros levaram duas horas para controlar o fogo. O Altar Monumento, que substituiu o original, foi inaugurado em 1981, oferecido pela Vinícola Aurora. As causas do incêndio são desconhecidas até hoje.
Vista da rua Dr. Casagrande, na Cidade Alta, da década de 1950, no início da construção do santuário
12
Semanário Sábado, 11 de outubro de 2014
Religião
A igreja feita com o vinho da região
Devido a uma forte seca, moradores da Linha 6 da Leopoldina utilizaram a bebida para a construção de seu santuário
N
ão é à toa que Bento Gonçalves é conhecida nacionalmente como a Capital do Vinho. Toda cultura do município, entre outros setores da comunidade, está diretamente relacionada ao produto. Mas o que pouca gente sabe é que ele também teve um papel importante na história religiosa da Linha 6 da Leopoldina. A Igreja das Neves, construída no local, encanta os visitantes que passam pela região, mas o templo também revela uma curiosidade peculiar: para a sua construção, foi utilizado vinho ao invés da água na hora de preparar a argamassa. Remy Valduga, 74 anos, morador da comunidade e autor do livro “O Sonho do Imigrante”, lembra com detalhes desta história, já que seu avô, Luigi Valduga, foi quem sugeriu utilizar o vinho. O relato de Remi começa ainda na Itália, com seu bisavô, Marco Valduga. Antes de partir, Marco recebeu de seu irmão, que era escultor, uma imagem de uma santa, inspirada em um desenho que o artista viu na neve (daí o nome da igreja). “Na metade da viagem, um temporal quase naufragou o navio. Então Marco tirou a santa da sua bagagem e logo a chuva parou. Depois de se
CRISTIANO MIGON
Silvia Dalmas geral3@jornalsemanario.com.br
A base de tudo Na pouca bagagem que trouxeram para o Brasil, os imigrantes carregavam consigo a fé e a devoção a Deus. Assim que se adaptavam ao novo mundo, logo após construir uma moradia, já se pensava na construção de uma capela, mesmo que fosse de uma forma simples. A historiadora Assunta De Paris, responsável pelo Arquivo Histórico de Bento Gonçalves, explica que a importância dessas capelas não se resume apenas às rezas e agradecimentos aos santos. Era através da religião que se organizava a vida na sociedade e elas foram fundamentais para a formação dos laços sociais. “O interior do nosso município se enriqueceu muito no sentido de constituir comunidades, primeiramente com a capela, e com a evolução da sociedade, construía-se ao lado a escola e o salão paroquial para sua vida social”, cita Assunta. “Podemos dizer também quer ter uma comunidade com aspectos bem salientes contribuía para a autoestima dos imigrantes. Se alguém construía uma igreja bonita, a outra comunidade também queria, pois se visitavam muito. Era nessas festas que se apresentavam as filhas para, assim, arranjar os casamentos”, complementa. instalar no Brasil, ele morreu de uma forte epidemia de tifo e, como último desejo, pediu que seu filho Luigi construísse o templo”, diz Remy. Porém, em 1904, uma forte seca assolou a região. “Tudo estava preparado para a construção, mas por 10 meses, não caiu uma gota de água e não conseguiam preparar a argamassa”, lembra o escritor. Um dia, enquanto a comunidade rezava para que a chuva caísse, a imagem de gotas de sangue em uma pedra chamou a atenção de Luigi. “Ele me contava que não
conseguia se concentrar em mais nada, a não ser naquelas gotas. E, de repente, lhe veio à mente a ideia de utilizar o vinho, que estava em estoque. Lembro que ele me dizia que era como se fosse Deus falando com ele”, relata Remi. E assim, cada uma das 20 famílias doou 300 litros da bebida e a igreja foi finalmente inaugurada em 5 de agosto 1907. “É um símbolo dos sonhos dos imigrantes e reúne os três elementos essenciais do início da colonização: o vinho, o trabalho e a fé”, ressalta Remy.
Remy lembra até hoje a história contada por seu avô sobre a obra