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Carta
Editorial Caros leitores: Chegamos ao número 5! 5, número cabalístico. 5, número mágico. São 5 os sentidos. 5 os dedos; são 5 os continentes. Talvez sejam apenas 5 os leitores. Devem ser no máximo 5 as linhas deste editorial. E, quiçá, sejam 5 as Copas do Brasil. Sejamos breves: estamos, como a maioria do povo brasileiro, atravessando uma fase financeira muito difícil (não ria, ainda). Grana curtíssima. Não dispomos de capital para imprimir sequer um número mais. Este será o último, se você, sensível leitor, não se compadecer do nosso estado miserável. Insuflamo-lo (com todo respeito) a estender sua mão amiga , ajudando-nos a levar adiante o nosso árduo trabalho que, sabemos, muito lhe agrada e satisfaz. Procure nosso departamento financeiro e deixe o seu valioso apoio aos cuidados da nossa bela secretária. Contando, desde já, com a sua generosa contribuição, agradecemos-lhe efusivamente.
do
Leitor Puxa-saco onanista “A revista tá demais! Tá show de bola! Parabéns a todos! É sério! O trabalho de vocês tá ótimo! Quando vão criar uma página na web? Continuem assim.Só faltam duas coisas: futebol e mulher pelada! Ou vocês não gostam?” Marçal F. Leite e-mail
Boneca suscetível “Vocês estão cada vez piores. E a leviandade desta revista só faz aumentar. No último Vaia (espero ardorosamente que tenha sido o último mesmo!) vocês andaram tentando fazer graça com vários problemas gravíssimos que afligem não só o nosso país como o mundo todo. Muito riso e pouco siso. A hora não está para chistes. O que nós, seus leitores e a população em geral, precisamos é de informação e análise séria dos fatos. O mundo está cada vez mais cruel. Os pobres mais pobres, e os ricos mais ricos. Isso merece uma crítica mais profunda da parte de vocês. Mais indignação moral!” Gervásio E. Terrina – e-mail R: Leitor analfa, não torre o meu saco com baboseiras. Não sabe ler, ocupe-se (!) com outra atividade. Vá sentar num formigueiro, seu apedeuta. O redator - Serpílio Atrabílis Ora, direis
R: Gostar, até que gostamos. É que esses assuntos foram vetados pelas mulheres da redação.O site já está sendo preparado.E, a propósito, pára de babar nas teclas do com-putador, seu onanista.
“Mas que bosta de jornal é este? Só tem nome. Não critica nada nem ninguém. Quando é que vocês vão começar a vaiar alguma coisa?” Afortunato Cotinn e-mail
O redator - Serpílio Atrabílis.
R: Vaià merda.
Os editores
O redator – Serpílio Atrabílis
O pensador
O último romântico “Claudinha, eu te amo. Apesar da distância, só penso em ti. Logo estarei junto a ti. Beijão!”
Carter Goodrich
Pacífico C Lineu e-mail R: A sua Claudinha está muito feliz aqui comigo, seu toleimão. De dia lava a minha roupa, e de noite... O redator - Serpílio Atrabílis
V VI V
Junho de 2002
vivavaia@ig.com.br
Sovaco de cobra “A burguesia fede. Vocês tem que baixar o pau nessa canalha que manda no país. Menos frescuras-poemas, continhos sentimentalóides e artigos bocós - e mais cacete, rapaziada!” Aristeu A. Juá Dil - email R: Vi um incêndio de girassóis na alma de uma lesma e desceu um tédio de verbena em mim. O Redator - Serpílio Atrabílis
Editor: Marco Marques Redator: Serpílio Atrabílis Projeto Gráfico: Gil Pires Jornalista: Victor Hugo da Silva - 4239-14-33 Capa: Luis Antonio Barcelos Tiragem: 1.500 exemplares. Colaboradores: Alexandre Mello, Aricy Curvello, Arno Kayser, Clarice Muller, Fábio Lucas, Fernanda Pedrazzi, Fernando Ramos, Gustavo Zortéa da Silva, Ivan Rodrigues de Amorim, Juanito Muñoz, Laurene Veras, Luis Antonio Barcelos, Manuel González Álvarez, Nelson Hoffmann, Rosália Milsztajn, Tânia Gabrielli-Pohlmann, Urda Alice Klueger. Rua Demétrio Ribeiro, 706/601 - centro - 90010-312 - Porto Alegre - RS - BRASIL
“Não convém fomentar a raça humana.”
BA ZAR
Jorge Luis Borges
Parecen lamentarse de lentas soledades en que vivieron tantas mujeres virtuosas ó hidalgos sabedores de hazañas y crueldades que al hogar retornaran tras lides victoriosas.
A planície planíciedede ser encontra-se meumeu ser encontra-se apoiada nas fronteiras do tempo… Séculos amarelados desdobram-se diante de minhas lembranças, e eu já não posso mais encontrar minha imagem presente sem traços que permaneceram em meu percurso.
Roídos por el moho están los caserones. En ellos yo quisiera mecerme en el descanso: dormir mis inquietudes, hacer allí mi nido. Fasciname el silencio, la paz de estos rincones ocultos en la sombra, que son como un remanso para los corazones hartos de haber vivido.
Meus olhos me maltratam; a juventude que não conheci, talvez não me volte em outras vidas, mas a ligação tênue de meu ser ao universo de solicitações que ouço de meu espírito continuam provocando a solidão que já não sei se quero.
A música me leva… Mais tarde, talvez, eu volte.
Tânia Gabrielli-Pohlman
Poemas de Província
Hay en ciertos rincones de las calles tortuosas ó de las plazoletas de las viejas ciudades, edificios recóndidos, casonas tenebrosas que encierran el misterio de pasadas edades.
Terceira Página de uma Sinfonia
Brahms me deixa a mesma mensagem – estradas, histórias, recordações… Imagens que desejo apagar de minha lembrança, mas que o vazio do presente não consegue preencher.
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Andrés González-Blanco poeta espanhol
Ao rés da prosa: -Qual o nome mais sem graça da língua portuguesa? -Esposa. -E o mais bonito? -Mulher. -E o mais engraçado? -Amásia. Joel Silveira
Poeta do dia: “Para fazer uma campina bastam um trevo e uma abelha/Um só trevo, uma abelha,/E a fantasia./ Basta só a fantasia,/Se a abelha é fugidia.” Emily Dickinson
NNelson
Hoffmann, escritor, poeta e historiador missioneiro com obras traduzidas na França e Alemanha está lançando seu quinto livro, pela Associação Cultuarte Missões de Roque Gonzáles/RS(f:55-3365-1403). “Eu vivo só ternuras” é um texto recheado de emoções e gostoso de ler. Abordando as relações avôs x netos, é leitura talhada para a “terceira idade”, recomendado para a “segunda-idade” e falando um bocado da “primeiraidade”. Eis uma amostra: Eu tenho um neto
Contatos: n.hoffmann@via-rs.net
Você sabia? Eu tenho um neto. É o meu neto. Talvez você também já tenha um neto. Quem é que não gostaria de ter um neto? Mas, eu tenho um neto. E é um neto muito especial. Você, desconfio, acha o seu neto muito especial. O meu neto é muito mais especial. O meu neto é especialíssimo. Está bem, está bem, você não concorda. Pra você, o seu neto é especialíssimo. O meu neto é muito mais especialíssimo. O meu neto é tão especialíssimo que me diz coisas que o seu neto não me diz. Por exemplo, o meu neto diz: -Bá!, Bá!, vovô! Tu não me pega. Bá! Tu é um véio tonto, tu é um véio tonto. Isso o seu neto não diz pra mim. Só o meu neto. E o meu neto sabe das coisas, ele conhece. Por isso, ele é um neto muito especial. Especialíssimo!
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Panorama da poesia brasileira
contemporânea *Fábio Lucas entimos a S sociocultural da
crise do paradigma Modernidade, sob os efeitos, portanto, do colapso das expectativas. Numa visão retrospectiva, temos que o Romantismo entronizou o individualismo e as manifestações subjetivas do “eu”, disposição do espírito que passou às vanguardas e ao Modernismo Mas, nas várias circunstâncias, o paradigma se exprime sob a forma de um cânone que pode ser considerado como sua fração menor. Na fase atual da poesia brasileira, o que se nota é um aspecto mais fragmentário do que na era do culto do “eu”, de vez que a crise do paradigma representa a erosão do sistema literário. Deste modo, desligado do cânone e desfeito o sistema da literatura, o poeta se sente numa espécie de aurora do gênese, ou seja, liberto de qualquer regra ou convenção literária. Todavia, como a arte é comunicação e, de certo modo, intersubjetividade, reconstituíram-se certas práticas tribais no dorso do grande gigante urbano. Pequenos núcleos, pequenas publicações, revistas e jornais, acolhem grupos emergentes ante a inércia cultural dos grandes veículos da imprensa, comandados pelo mercado e pela indústria do lucro. Nada há de inocente ou experimental na grande imprensa, mas o desmonte programado das práticas não utilitárias. O pior é que as universidades espelham-se nos jornais capitaneados, quase sempre, por jornalistas e escribas “funcionais”, prisioneiros das regras elementares do sensacionalismo comercial. E os poetas? Distinguem-se por duas vias tradicionais: o apuro técnico e o respeito pela tradição. Quando leio poetas como Marco Lucchesi, Ivan Junqueira, Armando Freitas Filho, Luiz F. Papi, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, Afonso Rommanno de Sant’ Anna, Marina Colasanti, Foed Castro Chamma, Hilda Hilst, Renata Pallottini, Dora
Ferreira da Silva, Mário Chamie, Lenilde Freitas, Marcos Accioly, César Leal, Affonso Ávila, Majela Colares,Virgílio Maia, Francisco Carvalho, Jorge Tufic, Nauro Machado, Arlete Nogueira da Cruz, José Chagas, João de Deus Paes Loureiro, Ruy Espinheira Filho, Ildásio Tavares, Miriam Fraga, Sérgio Castro Pinto, Marcos de Farias Costa, Carlos Nejar, Dois Santos dos Santos, Leonor Scliar-Cabral, Alcides Buss, Manuel de Barros, Raquel Naveira, Aricy Curvello, Yeda Prates Bernis, Adélia Prado, Edimilson de Almeida Pereira, Alberto da Costa e Silva, Stella Leonardos, Roberto Piva e tantos outros do mesmo nível, convenço-me da diversidade de manifestações, mas de consciência literária da melhor qualidade. Todas ausentes de um cânone. Ficam de fora centenas, senão milhares de poetas, lúcidos alguns, muitos ingênuos, distantes todos de qualquer classificação tendencial. Em suma, o panorama da poesia brasileira contemporânea assemelha-se a uma imensa constelação de estrelas solitárias, cada qual com o seu brilho e a sua trajetória. Tudo isto contém breve explicação de porque a poesia antiga, tão distante do mundo real, era assimilada e entendida por todos, enquanto a poesia moderna, tão presa ao mundo real, tão “realista”, cotidiana e pedestre, ficou tão individualista e hermética, fechada ao entendimento de todos. Daí a radical solidão do poeta do “tempo presente, dos homens presentes, da vida presente”, consagrado nos versos de Carlos Drummond de Andrade. Aliás, em estudo passado, anotamos sobre o poeta itabirano: “todos nós sabemos como é do gosto do poeta a glosa dos fatos do dia” (cf. Minas Gerais, Supl. Lit., 31 de outubro de 1972). *Fábio Lucas, escritor e ensaísta mineiro, ex-diretor do Instituto Nacional do Livro, é apontado como um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais de literatura brasileira.
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Big brother de Novo Hamburgo G eorge
Orwell, em uma de suas obras primas de crítica ao totalitarismo, nos fala de um mundo controlado por câmaras de televisão. Cada pessoa era vigiada, em sua casa, por uma lente embutida no aparelho de TV que deveria ficar ligada sempre no mesmo canal oficial. Além de ser monitorado constantemente, o cidadão recebia mensagens diárias do ditador mundial, conhecido como o Grande Irmão. Este Big Brother, fruto da imaginação de Orwell, foi criado em 1948 e viveria num mundo em 1984. A data foi uma simples inversão do ano de 48. A crítica era dirigida ao totalitarismo stanlinista que dizimava milhões de inimigos do sistema na antiga União Soviética da época em que o livro foi escrito. Na obra quem saísse da linha ou desligasse a TV recebia, imediatamente, uma visita da polícia do grande irmão . Os indivíduos deste mundo futuro viviam sós e amedrontados por esta onipresença. Se a gente olhar nosso mundo de hoje veremos que Orwell talvez só tenha errado o ano. Mais recentemente, no livro “Império” Hardt e Negri analisam os pressupostos da nova ordem mundial e ressaltam o surgimento da chamada cultura da “guerra justa” em que forças mundiais são convocadas para “defender o mundo” dos bárbaros e subversivos( ou terroristas e ladrões se preferirem) que ameaçam a “paz mundial”. Segundo estes autores estas forças estariam autorizadas a agir, por uma moral que legitima o uso da força, contra os inimigos do sistema. Quase sempre gente pobre que obstaculiza o avanço dos interesses do grande poder econômico. Segundo eles o “Império”, ao contrário do imperialismo, aonde uma nação domina outra, é um regime que vem se impondo como uma cultura que se reproduz, como se natural fosse, em todo o planeta. Cultura que estigmatiza alguns como inimigos que precisam ser vigiados e, ao menor erro, presos ou mesmo exterminados em nome da ordem e da paz.
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Arno Kayser
arnokayser@bol.com.br Esta
cultura
de
Essa culturamútuo, de controle controle vaimútuo se vai se corporificando com o corporificando com avanço da tecnologia de comunicação e se legítima como natural de várias maneiras. Os “reality shows” que hoje temos nos meios de comunicação de massa, as câmaras nos pontos comerciais e os sites de internet que expõem o dia a dia de pessoas, estão aí para ‘naturalizar” este sistema de controle. São meios de controle comportamental, que em nome do comércio e da defesa do patrimônio, legitimam a cultura da dominação de todos nós. Cultura que se apresenta como necessária para a defesa de todos os “bons cidadãos” contra todos os malfeitores do mundo. E quem são os suspeitos? Todos os cidadãos, nesta estrutura são suspeitos até prova em contrário, pois estes olhares eletrônicos se voltam contra nós. Nós é que estamos na mira. Legitima-se o direito das forças policiais nos controlarem no nosso ir e vir. Ironicamente Novo Hamburgo se apresenta como ponta de lança deste processo. É a primeira cidade a ter todos os cidadãos vigiados no centro da cidade. Em nome do combate ao crime somos filmados no nosso dia a dia. Qualquer ato nosso está sob suspeita. Mesmo quem nunca pensou em praticar crimes está na mira. Pior, nosso direito de cidadania também está sob vigilância Qualquer manifestação publica esta sob controle. Nossos atos políticos estão sob suspeita.
manifestaçãopró pró algum Uma Uma manifestação algum candidato, um sindicato reclamando direitos, pacifistas pedindo ao fim da guerra, torcidas comemorando um feito esportivo. Tudo esta sob controle. Um prefeito poderá controlar inimigos políticos, um patrão seus empregados. Tudo em nome da nossa liberdade. Tudo controlado por uns poucos sem nenhum mecanismo democrático de salvaguarda da nossa liberdade individual.
Claro está que o Big Brother baixou em nossa terra. Anunciado com fanfarras e pago com recursos públicos para nos controlar. E nós estamos aceitando porque estamos com medo da violência que aumenta cada dia. E que, na prática, não diminui porque os sistemas de vigilância não vão atuar nas causas. Só registrar os efeitos da desestruturação social que se gesta na miséria e na falta de perspectivas para a maioria. Os criminosos só vão mudar de ares. Assaltaram nos bairros, seqüestraram em casa mesmo como se vê nos jornais. E o Big Brother prossegue se expandindo. Logo estará sendo reivindicado nos bairros também. Controlando nossos gestos e nos impondo valores. Dizendo para a gente se esconder em casa. Para seguir consumindo protegido por grandes cercas ou enfurnado em grandes Shoppings cheios de câmaras. Nos ensinando a continuar competindo e autorizando outros a vigiar nossas vidas. Vivendo nos limites de uma liberdade controlada que estigmatiza todos os seus oponentes como rebeldes que podem ser presos, bombardeados ou mortos em nome de uma ordem mundial que só quer o livre comércio e dilapidação da natureza. Uma ordem que não pensa em promover justiça social, solidariedade e qualidade de vida para todos mas que divide o mundo entre os que dela se beneficiam e os condenados a não ter nada a vida inteira. Gente que além de sofrer todos os dias ainda é vigiada diariamente só porque está nesta condição e pode se revoltar um dia.Um mundo que pode facilmente resvalar para um totalitarismo semelhante ao criticado por George Orwell se a gente não se rebelar contra este absurdo.
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PAYADA DO SAFENADO - II Parte Jayme Caetano Braun Esse é um caso pessoal, Me perdoem o excesso, Se nesse tema eu ingresso Sem ser um profissional, Mas é uma visão geral Do payador do rincão; Se o corpo humano é a nação, Com vida circulatória, Pra mim que conheço a História O Rio Grande é o coração! Porque-desde que brotou, Foi ponto de referência Controlador da frequência Do coração que pulsou; Ventrículo que mandou O sangue puro filtrado Ao pulmão pátrio sagrado, Ligando veia e artéria, Guardiães da estirpe da Ibéria Do primeiro antepassado! No passado foi assim Gravamos nossos ditames Com ameaças de derrames E de enfartos que- por fim, Curamos neste fortim Onde crescemos peleando De sentinela guardando Como pastor e guerreiro O coração brasileiro Pra que seguisse pulsando! Infelizmente hoje em dia Periga nosso estandarte O perigo de um enfarte Em nossa soberania Exige uma cirurgia Muito urgente- no instante, O nosso país gigante Minado de obstruções Por um grupo de ladrões Está a pedir um transplante! O sistema vascular Totalmente obstruído Cérebro comprometido Que já nem pode pensar, Sem comer - sem respirar Quando vejo me comovo Precisa de um coração novo Aquele que a gente sonha Que bata com mais vergonha E tenha respeito ao povo!
O que fazer desse doente Maestros, eu vos pergunto No bárbaro contrapunto Do garrão do continente, Tendo em vista que o paciente Perdeu a soberania, Já não tem democracia Mas a dúvida persiste: Será que o doente resiste Ao menos à anestesia? Pra mim como curandeiro Dum rancho da Redução Já cheguei à conclusão Que o problema brasileiro Não é falta de dinheiro Mas muito pelo contrário, É problema coronário A crise dos Três Poderes Que esquecendo dos deveres Se enfartaram de salário! A terra continentina Precisa nova confiança Contra o conchavo que avança Em nossa pátria divina E o payador se ilumina No poder do pensamento, Imaginando um invento Que alcance logo sucesso E se consiga um Congresso Que respeite o orçamento! O povo é mesmo que tropa No rumo do matador, O eterno sofredor Que o próprio regime dopa, Carnaval - Novela - Copa, Minh’alma se compadece E eu a mim se me parece Que uma grande lição fica: Quanto mais se sacrifica Mais o meu povo empobrece! Eu faço essa confissão Aqui da terra farrapa: Se me arrancarem do mapa Fica um buraco no chão, Porque calcei o garrão Pra um “tiro”de volta e meia, Não me assusta cara feia, Tampouco falta vergonha E duvido que alguém ponha Uma idéia na cadeia!
El Payador
“Ode às Missões” Sagrado solo vermelho Herança do índio Sepé Que com a lança em pé Deu o sangue pela terra Na cruel e injusta guerra Do invasor estrangeiro Contra o povo missioneiro Desde o Uruguai ao Ijuí. Cansado de expoliação Liderou os seus irmãos; Disse não ao abandono Do chão tupi-guarani. E saiba quem vive aqui Que esta terra teve dono!
ABCDÁRIO GAUCHÊS Abaloso, adj. Que abala. Diz-se de andar de cavalo que abala ou sacode muito. Pesado, desagradável. Bispar, v. Perceber, compreender, descobrir as intenções de outrem; Chapetão, s.e adj. Indivíduo sonso, tolo, boçal, inepto, ignorante, inexperiente, que se deixa enganar com facilidade Dar a lonca, expr. Deixar-se surrar, dar o couro, apanhar.// Morrer. Empeço, s. Começo, princípio. Floreado, adj. Embriagado, tonto, perturbado; A meia embriaguez. Galguincho, adj. Magricela, esfomeado. Haraganear, v. Vadiar, gauderiar, andar sem ocupação. Ir no pacote, expr. Ser logrado, enganado, iludido. Já-começa, s. Comichão, coceira, sarna. Lançante, s. Descida. Forte declive num cerro ou coxilha; Qualquer terreno em declive. Minigâncias, s.Miudezas, tarecos, bugigangas,quinquilharias, ninharias, restos, coisa sem importância. //Sovinice. No ora veja, expr. Sem conseguir o que pretendia, o que esperava,o que de direito lhe cabia. Desiludido, enganado, logrado, decepcionado. Orre diacho!, Interj. Exprime satisfação por ter acontecido algo de mau a um adversário ou a um inimigo. Priscar, v. Dar priscos. Pular, saltar para os lados, fugir com o corpo em todas as direções, para não ser pegado. Quebra, s.e adj. Indivíduo atrevido, xucro, bravio. Aplica-se a pessoas e animais. Récula, s. Conjunto de bandidos, de desordeiros. Sebento, adj. Diz-se do indivíduo que está com a roupa suja pelo uso prolongado. Tirar a cisma, expr. Desenganar. Acabar com a pretensão de valentia de alguém. Unhar, v. Roubar, furtar, surrupiar, levar o que não lhe pertence.// Correr, fugir à disparada, azular. Verdear, v. Matear, chimarrear, tomar um verde.//Dar ração de pasto verde ao animal. Xepa, s. Comida. Zurrapa, adj. Ruim, ordinário, de má qualidade. Fonte: Dicionário de Regionalismos do RS de Zeno C.Nunes e Rui C.Nunes.
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Opinião Opi SS ee xx oo DD rr oo gg aa ss && RR ee ll ii gg ii ãã oo
A
crítica “Drogas, tô (por) fora” (Vaia 2) é poderosa. Ela está “censurando” a atitude da Lei brasileira que classifica um grupo de “drogas ilícitas”. As questões são: O que é ilícito? O que são drogas? O Aurélio responde que ilícito é não lícito, proibido pela Lei; contrário à moral e/ou ao Direito. Define droga como qualquer substância ou ingrediente usado em farmácia, tinturaria, etc; medicamento; substância entorpecente, alucinógena, excitante; coisa de pouco valor ou desagradável. Uma mulher gostosa, inteligente e charmosa é excitante! Seria uma droga? Se for, não é ilícita porque não é contrária à moral, é claro. Um exemplo de droga ilícita poderia ser a religião, pois a mesma sendo exercida com excesso, entorpece, ou seja, causa torpor, que significa indiferença ou inércia moral. Isto é justificado pela análise do conceito de moral. Moral é um conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer de modo absoluto, quer para grupo ou pessoa determinada Esta regra da natureza é quebrada por julgamentos religiosos que impõem, sob forma do que é certo ou errado, ferindo hábitos de um indivíduo determinado. A questão da abstinência, a liberdade de amar uma segunda pessoa(referências ao casamento), religiões, fanatismos, miséria, guerras, isto é pecado, imoral, ilícito, desagradável, uma droga.
Algumas substâncias são tachadas de drogas porque são consideradas alucinógenas. Alucinação, segundo o Aurélio, é o ato ou efeito de alucinar(-se); ilusão; percepção de objeto inexistente. Ilusão é o engano dos sentidos ou da mente, que faz tomar uma coisa por outra; sonho, devaneio. Um devaneio é um capricho da imaginação; fantasia. A maconha contém substâncias alucinógenas que geram obras da criação ou imaginação(fantasia) das pessoas que a usam. E isto é algo meramente individual. Uma regra da natureza do ser humano é a utilização de sua imaginação e o livre arbítrio, seja com maconha, vinho, música ou a brisa do mar. O que há de ilícito ou desagradável nisso? Talvez seja a incoerência da Lei que inibe a cobrança de impostos no comércio da maconha, dinheiro este não desprezível que poderia ser aplicado na orientação do uso indevido da mesma, assim como se faz com o cigarro e o álcool e não com as religiões e as mulheres. O bem e o mal que as mulheres provocam ao homem é tema para ser discutido em outra ocasião.
*** Juanito Muñoz juanitomuñoz@bol.com.br
Terra Santa em transe Décadas de matanças recíprocas não foram suficientes para motivar a paz no Oriente Médio. Enquanto bombas israelenses aniquilam civis palestinos na Faixa de Gaza em nome de Maomé, homens-bomba explodem judeus inocentes em Tel-Aviv e Jerusalém, em em nome de Alá. Tudo pela conquista de um pedaço da chamada “terra santa” ou apenas uma eterna vingança? Outra pergunta que fica no ar impregnado pelo odor de carne queimada: haverá vencedor nesta guerra fratricida?
Johnny Craig
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Gustavo Zortéa da Silva
Fuga em sonhos
F
Fechara as portas da percepção que o prendiam novamente à vigília. A... morte... também... estava presente... Sim, a morte... Mas era sobre... Sobre outra coisa... Havia a morte... Mas era sobre outra coisa... Libertação... Libertação... Liberdade... Sorriu. Por instantes sentiu novamente a transcendência. Passou. Ficou sério. Nada em sua mente. As recordações recentes começavam a vir em ordem linear e coerente... Um homem velho postado na montanha. Barbudo. Recebia uma tábua de regras de uma luz que ofuscava no céu. Subiu a montanha a sobressaltos, acompanhado pelo olhar extasiado do povo. Matou o velho a pontapés. Quebrou o seu mosaico de leis. Passou o dedo pelo sangue e o levou à boca. Provou um gosto amargo. Suas gargalhadas espalharam-se pela casa. Sacudiram o torpor no qual dormia sua mulher. Alguns ocupavam-se em acudir o velho. Outros, desesperados, tentavam reconstruir os farelos do mosaico. Outros corriam no seu encalço. Passou a correr como um louco, sem olhar para trás. Não resistiu. Resolveu dar uma espiada, até para medir a distância que o separava da multidão insandecida. As feições misturavam-se inexplicavelmente. Descartes, Mussolini, Aristóteles, Chopin, Platão, Olavo Bilac, Apolo. Esbarrou em um grupo de pessoas. Falsamente imaginou que tivesse sido cercado. Ele e o grupo passaram a correr. E riam. E pulavam. Aquilo lhes era prazeroso. A fuga. Só pensavam nela. Estavam a correr suas vidas inteiras. Esbaforidos, passaram a travar alguns diálogos sem nexo aparente: "Cinaede Romule, haec videbis et feres?" "Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?" - "If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite." - "De dous ff se compõe esta cidade a meu ver, um furtar, outro foder." - "Se eu tivesse antecessores a uma altura qualquer da história da França!" - "Porque, porque não pude encontrar comida que me agradasse". Levantou-se da cama. Suava às bicas. A garganta pedia água.
Resolveu saciá-la. De repente, uma agressão insustentável no peito. Não era tão superficial quanto uma dor física. Era uma angústia dominadora e interminável. Recorreu às mesmas razões, que eram as razões de todos. Pensava, em frente ao refrigerador, copo nas mãos. Estático, olhos fixos e arregalados. Atenção de quem olha mas nada vê. Perguntou-se o que fizera de sua vida. Tinha mulher e uma profissão. Estabilidade, aceitação social, enfim, as mesmas trivialidades de um homem de sua idade. Chorou copiosamente. Estava com ela, porque prometera que o faria a um homem que nunca tinha visto antes e que falava em nome de alguém que conhecia menos ainda. Despendia grande parte do seu dia iludindo sua vontade de fazer o que realmente gostava. Afinal, tinha que trabalhar bastante e ganhar muito dinheiro. Não sabia exatamente para quê. Nunca tinha tido tempo para gastálo. E começava a desconfiar que este tempo nunca chegaria. Lembrou-se da sua juventude. Daquelas discussões filosóficas regadas a muita cerveja. Mal conseguia balbuciar as poucas palavras que ainda recordava dos malditos, que, no fundo, só ele e alguns poucos amigos conseguiam compreender: Catulo, Tom Zé, William Blake, Gregório de Matos, Rimbaud e Kafka tinham produzido arte para ele e mais ninguém. O que fizera de sua vida? Tinha-se deixado cair naquele senso comum que tanto criticara. Tinha adotado os mesmos padrões de comportamento, cujos fundamentos de validade nunca encontrara. Era um... (tinha dificuldades em admitir). Era um... Era um... (suspirou fundo) conservador. Não tinha senão levado sua vida. Simplesmente vivera. Fizera o certo? Estava feliz? Estava vivo. Certo ou errado, vivera... Os olhos vidrados em nada voltaram a enxergar. Fechou a geladeira que tinha deixado aberta. Pousara o copo na pia. A trivialidade adquiria tons de heroísmo. Ao menos, sabia que aquilo tudo era trivial. Voltou para a cama. Sorriu. Lembrou que estava na faixa dos trinta anos. Sentiu-se maduro. Dormiu. Arrependeu-se, subiu a montanha e ajudou a reconstruir o mosaico. Mas não pôde segurar o riso de satisfação ao rever o velho morto.
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Literatura por aí Fernando Ramos
VAIA VÊ O VERBO “Dá-se uma situação transumana quando um pequeno episódio contém carga psíquica; quando, diante dum episódio concentrado, você sente aquele arrepio, de temor, de ternura, de beleza que parece resumir, e resume, a potencialidade emocional da existência.” Paulo Mendes Campos
Exemplo? As vinte e três narrativas de Clarice Müller e Claudio Santana em “Veroverbonarrativas vorazes seguidas de coisas que nem os autores sabem definir” ( 205 págs., R$ 15,00 - Ed. AGE, 2002 - Editoraage@editoraage.com.br - fone (051) 3217-4073). Nelas os autores atingem à perfeição a situação transumana. Aqui vão duas amostras para deleite de vocês:
Homilia Homilia aceitei sagradavontade vontadedo do caos caos ao sair chocho queque aceitei a asagrada sair correndo naquela quandotodas todas as as coisas correndo naquela noitenoite quando coisas decidiram conspirar a favor de um uníssono eco duplo em que eu era a metade escondida no antro seguro do emudecimento comum aos que desembarcam depois de passear por todas as desilusões precoces que um homem pode ter quando ainda não sabe costurar sua esperança em bolsos mais fundos do que a escuridão das noites nais quais se obriga a dormir fora de casa para domar a dor de tudo o que fica enjaulado no canto em que as agulhadas são longas e surdas como uma frase ampliada infinitamente pela ânsia de vomitar o grão de fermento do asco junto com a certeza de que a única virtude dos mais velhos que não se deve imitar é o dom de silenciar a respeito da dor quando a dor se transforma nesta febre redundante e suja que não se tira mais do corpo assim como quem limpa do rosto a chuva que caiu por acaso exatamente quando completava a fuga e me sentia novamente humano estando ali parado em frente à porta aberta e por detrás de um sorrido honesto de quem nunca desconfiou da despudorada insignificância com que seu delírio impregna tudo ao redor até conseguir transmutar cada gesto no esforço vago da criação de um vazio tão consistente quanto o
A
espaço preenchido pelo prédio onde eu entrava dócil e habilmente escoltado pela troca de amenidades sutis e disformes que saíam de duas bocas em vários pedaços e depois tentavam procurar suas partes fora dali como se pudessem existir alheias àquela escravidão da idéia pela contingência da trégua entre criaturas diferentes em tudo exceto na vontade de encontrar qualquer antídoto para a impossibilidade do ser dividido em desejos e privações esfregadas pelo tempo incapaz de conduzir a qualquer mistura completamente livre de sentimento e de perda que até nos cálices em nossas mãos e na intimidade que começava a ser tecida ao redor se demonstrava desmedidamente nítido e forte o bastante para nos fazer buscar esse esquecimento insaciável que as mais femininas chamam de romance quando preferem povoá-lo de palavras e imagens para não deixar a crueza do desejo se alastrar tão avassaladoramente como no corpo daquela mulher impotente e derrotada pela busca do amparo que não se conquista sem transpor a vastidão do abismo horizontal existente entre os membros desta infeliz espécie a que voltei a pertencer no final daquela noite em que preferi ao sol de um raio duvidoso o sonho raso de uma nova cela com janelas maiores do que eu já possuía.
oje não quero falar do que dizem por
aí, aí, do do quanto se se rouba, se quanto rouba,sese mata, mata, se H mente e desmente, de políticos,
das delícias, quero inscrever na longa teia um verso para encantar, quero a palavra vã, o corpo lascivo, uma tola esperança, quero sim, quero mais, quero tudo e mais um tanto, quero um abraço, quero novos laços, quero ver e crer, ser ou não ser, saber sem me arrepender, quero algo que fique para sempre mesmo que deus não queira, quero despir a fantasia e chorar de alegria, quero nós sem nó, quero desatar a cantar e teimar em me apaixonar, quero dançar na chuva e dormir ao relento de uma grande emoção, quero esquecer o que não preciso e mergulhar no mar, quero voar. Hoje eu quero viver o mundo como se tivesse seis anos de idade e sete vidas pra gastar. Hoje já não me basta uivar, chutar paus e barracas, protestar e duvidar. Hoje preciso amar. Porque quando o verbo se fizer carne, sei que nada me salvará. me salvará.
NNN aaa
empresários, capitalistas, de Taiwan, Bush, Arafat, Faustão, de cáries e acareações, do frio que vem, do calor que vai, do poder que corrompe, da ignorância que também, do funk-rockrap-crack-bang! do miserere ignóbil, de nasdaq, fmi ou do fim, de siglas e safados, de quem invadiu e de quem se recusa a dividir, de reformas e revoltas, de trambiques e reviravoltas, de maus e malditos, nem quero cassar caçadores, perseguir desertores, destruir painéis, segredos, votos. Hoje eu quero a rosa mais linda que houver, quero enfeitar a noite de alguém, quero Dolores Duran na veia, quero lua cheia, quero botões se abrindo e um Cartola na vitrola, quero um sonho se insinuando e um beijo me chamando, quero um castelo de carícias no jardim
vv v ee e i i i aaa
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Um homem chamado
Jorge Amado
No ano em que o saudoso Jorge Amado completaria 90 anos,Vaia publica um relato da escritora e historiadora catarinense Urda Alice Klueger, dirigido originalmente ao público dos Açores, onde ela nos conta da visita que fez, em 1994, à casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, na orla marítima de Salvador, Bahia.
Numa das varandas da casa de Jorge Amado, no bairro Rio Vermelho, em Salvador/Bahia, há uma curiosa escultura. Estávamos a conhecer a casa, eu e minha amiga, a poetisa e jornalista Tânia Rodrigues, e pisávamos no chão como se pisássemos em ovos, tamanha era a emoção por estar, afinal, na casa de Jorge Amado, quando deparamos com aquela escultura. Era de um escultor cearense, e fora feita com duas antigas máquinas de costura manuais. O escultor adaptara as duas máquinas, colocara-lhes orelhas, focinhos, etc, e elas tinham se transformado em um casal de cachorros. A cachorra estava no chão, em pose de espera; o cachorro, apoiado nas patas traseiras, mantinha-se em diagonal sobre ela, exibindo avantajada pua como órgão sexual. Vínhamos lentamente pela varanda pejada de objetos de arte e, quando passávamos pela escultura do cearense, Jorge Amado deu um empurrão no cachorro. De imediato ele bateu numa forte mola que eu não tinha percebido, e pôs-se a fazer valente movimento de vai-e-vem, imitando perfeitamente o que aqui no Brasil a gente chama de transar, ou furunfar, e como não sei o nome popular dessas coisas aí nos Açores, esclareço que o cachorro passou a fazer aqueles doces movimentos que dão origem aos cachorrinhos. Eu e Tânia ficamos espiando com o rabo dos olhos a transa dos cachorros, e D. Zélia Gattai, a queridíssima D. Zélia Gattai, deu uma bronca no marido: - Que é isso, Jorge? O que é que as moças vão pensar? Jorge Amado ria com gosto. - Ora, Zélia, as moças já viram disto, não vão estranhar! E o cachorro continuou batendo na mola e furunfando com força enquanto nos afastávamos.
N
Eu provenho de uma família humilde do Sul do Brasil. Minha região é de colonização alemã, e meu Estado, o de Santa Catarina, caracteriza-se por ser de muitas “ilhas culturais”. A região alemã onde me criei é ladeada de um lado por uma região de colonização italiana; do outro, pelos descendentes dos açorianos que para cá vieram no século XVIII. Meus pais eram pequenos comerciantes sem muitas luzes, e tenho certeza de que nunca passou pela cabeça deles que uma das filhas se tornaria uma escritora, e que um dia iria conhecer pessoalmente um monstro sagrado como Jorge Amado. Criei-me lendo muito, muito e muito, e já lá pelos 12 anos deparei-me a primeira vez com um livro de Jorge Amado. Foi ler e gostar – nosso grande escritor fascina ao primeiro contato. E passei a minha vida a procurar os livros dele, a viver através dos livros dele uma Bahia fantástica e maravilhosa, e o tempo passou, e um dia eu já tinha mais de trinta anos e fui conhecer a Bahia.
O Brasil é muito grande. Da minha casa,em Blumenau/SC, até Salvador/BA,são 3.000 km e 48 horas de ônibus, mas tudo correu bem, e num final de tarde cheguei. Deveria estar moída pelos dois dias e duas noites no ônibus,mas a fascinação que pressentia na Bahia de Jorge Amado me tirou todo o cansaço: foi só tomar um banhoe fui para a rua, a descobrir o que havia de verdade no que havia lido. E foi como se conhecesse a cidade, foi bem como se entrasse num livro de Jorge A a d o ! Amado! m
A Bahia é um lugar mágico! Conheço, hoje, 16 países e 16 estados brasileiros, e continuo afirmando que a Bahia é o melhor lugar do mundo! A Bahia mistura tudo: a Arte e a História, o Brasil e a África, a beleza e o encanto, as religiões e a magia. Totalmente encantada com a Bahia, nos seis anos seguintes voltei lá sete vezes, enfrentando, cada vez, 48 horas de ônibus. Só para que aquilatem o quanto a Bahia é maravilhosa, nesse ínterim fui passar um mês em Paris. Todos nós, brasileiros, sentimos uma grande fascinação pela Europa, e eu achei que passar um mês em Paris seria a coisa mais maravilhosa da minha vida. Só que, depois que eu estava uns quatro ou cinco dias em Paris, tudo o que eu pensava era: “O que é que eu estou fazendo aqui? Por que é que não fui para a Bahia?” Encantadora Bahia, só ela poderia produzir um escritor como Jorge Amado! Eu gostaria de falar muito e muito mais sobre a Bahia, mas vamos voltar a Jorge Amado ante que o espaço acabe.
“Navegação de Cabotagem” mostra um Jorge Amado humano, brincalhão, pícaro, cheio de amigos Já havia lido cerca de 30 livros de Jorge Amado, e alguns de Zélia Gattai, sua mulher, quando, em 1994, li “Navegação de Cabotagem”, as memórias do nosso grande Mestre. Até ai eu pouco sabia sobre a sua figura humana, que se me afigurava distante, inatingível, inacessível para os comuns dos mortais, e tive a maior surpresa ao descobrir, em “Navegação de Cabotagem”, a existência de um Jorge Amado humano, brincalhão, pícaro, cheio de amigos, e aquilo me encorajou a lhe escrever uma carta, falando do quanto gostara do livro e do quanto gostava da Bahia. É claro que não esperava resposta de uma pessoa tão ocupada, e quase morri do coração, quando, uns dez dias depois, recebi uma resposta dele. Foi assim que começou nosso contato, e quando ele soube que eu iria à Bahia em novembro daquele ano, mandou-me o telefone para que o procurasse.
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TTânia Rodrigues e eu prendíamos a respiração, quando já em Salvador, ligamos do hotel para a casa dele. Imaginávamos ser atendidas por uma secretária, e quase morremos do coração quando ele próprio atendeu ao telefone e ajeitou a sua agenda mental para achar um espaço para nós. Combinamos um encontro para a tarde, na Academia de Letras da Bahia, onde ele tinha um compromisso. É claro que vestimos roupas novas e nos enchemos de perfume para o grande encontro. Quinze minutos antes da hora marcada já estávamos no lindo prédio da Academia, o coração batendo forte de emoção. Os Acadêmicos que foram chegando nos deixaram à vontade, a sala onde estava foi-se enchendo, e, de repente, na maior simplicidade, adentra à ela Jorge Amado em pessoa, perguntado se ali estava um escritora de Santa Catarina com quem marcara encontro. Vestia-se todo de branco, com roupas leves e confortáveis, e era igualzinho como a gente o via em fotografias ou na televisão. Foi extremamente simpático desde o primeiro momento, e nos convidou para sala contígua, onde poderíamos conversar à vontade. Nesta ocasião, ele estava com 80 anos, mas sua lucidez e agilidade mental eram surpreendentes. Sentamo-nos a conversar, e como ele gosta de conversar! Ele fala baixinho, a gente tem que chegar bem perto para ouvir bem, e suas histórias são sempre interessantes e bem humoradas. Contou-nos muitas coisas naquela tarde, principalmente sobre sua família. Como todo bom brasileiro, tem uma avó índia (Zélia Gattai conta nos seus livros o quanto a sua sogra era índia, como negros cabelos escorridos), e, como bom brasileiro, também, acha que tem sua parcela de sangue judeu, por parte dos Amados, coisa que nunca conseguiu comprovar. Eu adoro ouvir histórias, e ouvi-las diretamente da boca do nosso maior escritor era algo que estava além dos meus melhores sonhos. Poderia ter ficado o resto da vida ali, mas o tempo urgia
ee Jorge Jorge Amado Amado foi chamado chamado para para votar votar alguma coisa na reunião da Academia. Votou e, gentil, veio nos buscar. Sou acadêmica aqui do meu estado de Santa Catarina, mas não esperava que ele fizesse o que fez: chamou-me para a mesa, apresentou-me como acadêmica, fez-me honras que me deixaram até acanhada. Foram servidos vinhos e deliciosos quitutes baianos (Ah! A comida baiana é única no mundo!), outros acadêmicos me requisitaram, e quando vi, já era hora de ir embora. Fui despedir-me de Jorge Amado, agradecer-lhe por aquele inefável tempo em sua companhia, por aquela oportunidade que julgara única na vida, feliz demais por ter tido o privilégio de, uma vez na vida, ter privado da presença do meu ídolo, certa de que o sonho acabara, mas ele tinha outros planos: - Amanhã vocês vão até minha casa! – e aquilo era mais do que eu julgara poder esperar na vida! .........................................................................
Zélia é a mais meiga, mais linda, mais forte, mais intensa, mais vibrante e suave das mulheres No dia seguinte, na hora aprazada, Tânia Rodrigues e eu saltamos de um táxi diante da casa de Jorge Amado. Ela se situa no bairro do Rio Vermelho, o primeiro dos bairros na orla marítima de Salvador, e está construída sobre um morro. A parte que dá para a rua está cercada por um alto muro, e os meninos da vizinhança picharam esses muro com seus sprays, criando nele todo o tipo de desenhos e de slogans. Há apenas uma porta encravada nesse muro, onde, depois que tocamos a campainha, fomos de imediato atendidas por uma simpática empregada chamada Rose, que já nos esperava. Ela conduziu-nos a uma sala de visitas onde, numa mesa cheia de livros espalhados sobre toalha de crivo, Jorge Amado nos aguardava. Fiquei toda orgulhosa ao ver um livro meu sobre aquela mesa. Acho que vale a pena contar sobre a casa de Jorge Amado. Ele e Zélia construíram aquela casa faz mais de 30 anos, quando o bairro do Rio Vermelho era ainda pleno subúrbio, e não região altamente valorizada e urbanizada que é hoje. Estão no
topo do morro: lá de cima tem-se esplêndida vista para o mar e para a baía de Todos os Santos, o que, aqui no Brasil, é coisa muito valorizada.Na época, os dois plantaram à volta da casa muitas e muitas mudas de árvores,e com a facilidade que existe aqui no Brasil de as florestas se desenvolverem, hoje a casa está no meio de uma verdadeira floresta, que, inclusive, tirou a vista do mar.
A casa é ampla e arejada, adequada ao clima baiano, e está rodeada por espaçosas varandas, onde, tive a impressão, é o lugar onde Jorge Amado e Zélia Gattai passa a maior parte do seu tempo. Num dos lados tem uma piscina antiga, sombreada de árvores. Por toda a casa, tanto do lado de dentro quando nas varandas, prateleiras correm ao longo das paredes, prateleiras pejadas de objetos de arte de todas as partes do mundo, que o casal colecionou durante toda a sua vida. A impressão geral que dá é de frescor, de leveza, de paz, quase como se a casa e sua pequena floresta fossem voar. Jorge Amado acabara de sair da piscina. Usava bermudas azuis e uma camisa muito florida, desabotoada. Disse-nos para que ficássemos à vontade, e passamos a remexer nos livros que estavam sobre a mesa, quando entrou na sala a luz chamada Zélia Gattai. Eu sabia que, indo à casa de Jorge Amado, acabaria conhecendo Zélia Gattai, e imaginava que ela seria um pano-de-fundo para o que ocorresse lá. E quando ela chegou e trouxe toda a sua luz,bastaram alguns segundos para que ficasse evidente que quem se tornara pano-de-fundo era Jorge Amado.
segue
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Um homem chamado É impossível conceber-se Jorge Amado sem Zélia Gattai. Há que se ler os cincos livros de memórias e o romance que ela escreveu, para se ter uma idéia de quem é Zélia. Mas há que se conhecê-la pessoalmente para se aquilatar o real valor daquela mulher. Zélia é a mais meiga, mais linda, mais forte, mais intensa, vibrante e suave das mulheres. Conhecê-la foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida – que dizer da sorte de Jorge Amado, que priva da sua presença há mais de cinqüenta anos? A imensa energia de Zélia nos envolveu, e, quando dei por mim, estávamos todos sentados numa das varandas, com Rose, a empregada simpática, a nos servir sorvetes. Eles são extremamente simples. Jorge Amado estava sentado em confortável cadeira de lona, e Zélia acomodara-se em lindíssima cadeira-debalanço, antiga peça muito bem trabalhada em madeira negra que, ela explicou, é a última peça que resta das que seu pai trouxe da Itália quando imigrou para o Brasil. As cadeiras estavam próximas, e era evidente a compreensão e o carinho com que os dois se tratam. Começamos a conversar, e eles nem se davam conta dos gestos de ternura que faziam um no outro: Jorge Amado acariciava com leveza a nuca de Zélia, num lento e suave movimento que dura há mais de cinqüenta anos; Zélia, por sua vez, acariciava com a mesma leveza a perna que ele cruzara ao sentar-se, e aquilo era uma coisa tão natural entre os dois, refletia uma intimidade e um entendimento tão grandes, que senti a garganta apertada de emoção. A conversa correu leve e fácil. Os dois, agora, nos contavam de passagens de suas vidas e de suas famílias (naquele dia, seu filho João Jorge fazia 47 anos, e eles tinham comemorado com um almoço). Fomos interrompidos pelo telefone: um amigo de Portugal estava a ligar, e eles ficaram passando o telefone um para o outro, e conversando animadamente com o português como se ele estivesse ali junto. Depois, nossa conversa continuou, mas aí Jorge Amado lembrou-se de que tinha um recado para seu motorista, e chamou-o. Um simpático baiano apresentou-se, e recebeu a incumbência de ir buscar uma caixa de doces na casa de alguém que voltara de viagem do Ceará. - Vá depressa! – brincou ele. – Fulano é muito guloso, se deixar os doces lá por muito tempo, ele é capaz de comer todos!
Jorge Amado
Simples, brincalhão, de repente ele se lembrou que não nos oferecera uma bebida. Atrás de nós havia uma porta com um bar evidentemente supersortido, e ele liberou: - Vão, vão ali, peguem a bebida que vocês gostam! Não se acanhem, fique à vontade! Não me servi, havia acabado de tomar o sorvete e não queria perder nenhum momento do que estava acontecendo: aí Jorge Amado resolveu nos mostrar a casa. Com simplicidade de um velho tio, ele nos levou por toda a sua casa. Conhecemos seu computador, especialmente adaptado para ele, que está com sério problema de visão, o primeiro computador da sua vida, pois, enquanto enxergou bem, sempre usou a máquina de escrever. Ele quis nos mostrar como funcionava o computador, mas atrapalhou-se com os comandos – era evidente a sua saudade da velha máquina de escrever. Andamos por toda a casa, até o quarto do casal nos mostraram, mas, sem dúvida, o mais impressionante de tudo, é uma biblioteca que existe na casa. É nessa peça que trabalha uma moça simpaticíssima, que é secretária do casal, chamada Rosani, e é ela que mantém organizados e encapados os livros que lá estão. A sala é ampla e a biblioteca é bastante grande, e fiquei de boca aberta quando soube que tipo de livros havia ali. Naquelas prateleiras estava um exemplar de cada edição de cada livro de Jorge Amado em cada língua em que eles haviam sido publicados, e o meu coração brasileiro bateu forte ao ver o feito que um compatriota conseguira. Penso que, provavelmente, nenhum escritor vivo, no mundo, possa ter uma biblioteca como aquela. Os livros estão impressos em mais de 50 línguas e, se considerarmos que há línguas que são faladas numa porção de países, como o inglês e o espanhol, nossa cabeça dá um
nó na hora de fazer as contas. Jorge Amado tirou da prateleira um livro ao acaso e o abriu: estava escrito em caracteres estranhíssimos, que com certeza não era o chinês, nem japonês, nem árabe – tratava-se, decerto, de alguma escrita asiática, e ele riu e fez um comentário sobre como se saber que tipo de tradução tinha sido feita do seu livro naquela língua da qual não entendíamos patavina!
Andamos, depois, ao redor da casa, vimos a piscina, embrenhamonos pela floresta até avistar o grande maroceano lá embaixo, e, coisa curiosa, por toda a parte havia sapos. Não eram sapos vivos, mas uma incrível coleção de sapos de pedra, de acrílico, de cerâmica, de todos os materiais, dispostos pelas calçadas e ao redor da piscina, presos ao chão com cimento, uma imensa coleção de sapos de todas os formatos e tamanhos como nunca julgara existir. Eram sapos de todas as partes do mundo, colecionados durante as muitas viagens do casal. Enquanto eles escreviam suas dedicatórias nos livros, chegou de volta o motorista que fora buscar os doces. Era uma caixinha de madeira cheia de doces de caju, especialidade do Ceará, e, não perdendo a oportunidade de fazer uma brincadeira, Jorge Amado explicou ao médico: - Sicrano me mandou TRÊS caixas de doces do Ceará, mas Fulano, que as trouxe, muito guloso, já comeu duas. Foi sorte termos salvado esta! Doía um monte, mas em seguida tínhamos que ir embora. Os sonhos não duram para sempre, e o nosso estava se findando. Efusivamente, Jorge Amado e Zélia Gattai se despediram de nós, para se entregarem às mãos do fisioterapeuta. E a gente foi embora. Mas nunca poderei esquecer! Blumenau, 02/03/96
Urda Alice Klueger
a n t C r u s
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Barcelos
Alexandre Mello
- Olá! Meu nome é Joel. Você acredita em sexo à primeira vista?
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Literatura por aí
No compasso da desilusão
Editora Cia. das Letras, depois de publicar o livro de memórias de Ernesto Sábato, Antes do Fim, vem reeditando desde o ano passado os romances do escritor argentino. Primeiro saiu Sobre heróis e tumbas, agora é a vez de O túnel (150 págs.,R$ 20,00). Romance psicológico essencialmente Romance psicológicaa aobra obraé essencialmente um monólogo, pelo qual conta-se um caso de paixão e ciúme que culmina com um assassinato. A trama é simples, diz-se numas poucas linhas: é a história narrada pelo pintor Juan Pablo Castell, uma pessoa angustiada e solitária que se apaixona por Maria Iribarne, uma mulher casada com um sujeito cego (Allende) e que supostamente tem o primo (Hunter) como amante. Apaixonado pela moça e mergulhado em incertezas, o pintor, pensando que ela não lhe corresponde amorosamente porque mantém um caso com o primo, acaba, obsedado pelo ciúme, matando a amante. Daria motivo para uma letra de tango. Ou seria apenas uma história de paixão e ciúme, dessas que os jornais publicam todo o dia. Contudo, o romance, com sua implacável e lógica narrativa é muito mais do que isso, pois trata da revelação de um aspecto crucial da condição humana - a solidão. Da prisão, Castell reconstitui a sua história, tentando explicar porque matou Maria Iribarne. E começa animado pela débil esperança de que alguém o consiga entender, mesmo que seja uma única pessoa (“Porque - poderá se perguntar alguém - apenas uma débil esperança, se o manuscrito será lido por tantas pessoas?”) para, logo em seguida, desiludir-se (“Posso falar até a exaustão e aos gritos diante de uma assembléia de cem mil pessoas: ninguém me entenderia. Vocês se dão conta do que quero dizer? Existiu uma pessoa que poderia entender-me. Mas foi, precisamente, a pessoa que matei”). Conta, num parágrafo antológico, como apaixonou-se ao ver Maria pela primeira vez. Ninguém percebia um pequeno detalhe num quadro seu que estava em exposição numa galeria de Buenos Aires. No quadro, “através de uma janelinha, via-se uma cena pequena e remota: uma praia solitária e uma mulher que olhava o mar. Era uma mulher que olhava como que esperando algo, talvez algum chamado apagado e distante.
A
A cena sugeria, em minha opinião, uma solidão ansiosa e absoluta. Ninguém se fixou nesta cena:passavam o olhar por cima. Com exceção de uma Com exceção de uma só pessoa, pessoa, ninguém pareceu compreender que essa cena constituía algo essencial. Uma moça desconhecida esteve muito tempo diante de meu quadro, olhou fixamente a cena da janela e, enquanto o fazia, tive a certeza de que estava isolada do mundo inteiro: não ouvia as pessoas que passavam ou se detinham frente à minha tela”. Depois que a mulher se retira da exposição, Castell começa a procurá-la, volta muitas vezes ao local e durante meses só pensa nela, na possibilidade de reencontrá-la. E dá-se conta de que a partir daí “de certa forma só pintei para ela. Foi como se a pequena cena da janela começasse a crescer e invadir toda a tela e toda a minha obra”. Ao primeiro encontro, Juan Pablo fala para Maria que ela foi a única a fixar-se no detalhe do quadro. Ela, nervosa e tímida, antes de fugir, diz-lhe que “recorda constantemente” o detalhe do quadro. Desesperado e profundamente deprimido, o pintor só pensa em Maria e esperançoso a toda hora relembra a frase que ela havia dito sobre o quadro. Quando encontra-se de novo com a mulher o pintor confessa-lhe que esse quadro representa pela primeira vez “verdadeiramente” o que ele sente. Ela diz-lhe que também acha a cena do quadro verdadeira mas não sabe porque ele se declara apaixonado e insiste em cortejá-la, se ela “faz mal a todos os que dela se aproximam”. A partir daí Maria passa a ocupar as noites, os sonhos, os pensamentos e delírios do pintor.
A paixão já domina avassaladoramente o espírito de Castell que, mordido pelo dente do ciúme, acaba por conhecer a sina de Otelo.Desconfiado e instável, passando da euforia à depressão, ele suspeita que Maria seja amante do primo. Sábato vai nos mostrando, objetivamente, com uma linguagem cortante, os desvãos sombrios da alma apaixonada do pintor até a sua desestruturação psicológica. Castell sente-se preso a um insensato mundo, nebuloso, subterrâneo, de muros herméticos a cercar tudo e todos. Porém na sua desesperada busca de compreensão o pintor afigura-se um personagem caracteristicamente existencialista. Tragicamente existencialista. Ele conhece a solidão e alimenta a ilusão de que pelo amor (o encontro com o outro, a possibilidade de ser compreendido) conseguirá dar um sentido a sua vida. Quando toma consciência da “estúpida ilusão” só lhe resta pôr fim ao tormento. A paixão resultou ilusória, por isso a amante é assassinada (“Tenho de te matar Maria. Me deixaste só”). No capítulo 36 (o livro tem 39) o pintor expõe a sua principal idéia, a que ele conclui ser a mais verdadeira: o túnel simbolizando a solitária condição humana. Em sua imaginação, ele e Maria viviam em túneis paralelos, sem saber que caminhavam lado a lado, como almas semelhantes em tempos semelhantes, para se encontrarem ao final desses corredores, diante de uma cena pintada por ele, como uma senha destinada somente a ela, como um secreto anúncio de que os corredores haviam se unido e que a hora do encontro havia chegado. “Mas os corredores haviam realmente se unido e nossas almas haviam se comunicado? Não, os corredores continuavam paralelos como antes, embora agora o muro que os separava fosse como um muro de vidro e eu pudesse ver Maria como uma figura silenciosa e intocável...” Havia se enganado. Iludira-se acreditando numa ridícula invenção, pois “havia um só túnel, obscuro e solitário: o meu, o túnel em que havia transcorrido minha infância, minha juventude, toda minha vida”, conclui o pintor. Ao final, tentando refletir sobre as últimas palavras trocadas com Allende, o pintor na cela da prisão, lamenta, melancolicamente, que depois de Maria ninguém mais entendeu a sua pintura e, tristemente, conclui que “os muros deste inferno serão, assim, cada dia mais herméticos”. É um livro inquietante e doloroso mas exuberante e que se lê de um fôlego só. O túnel, certamente, está na galeria dos grandes romances já escritos sobre a solidão e o amor, embora desesperançado. Um clássico. É só ler para comprovar.
Fernando Ramos
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Dan O´Neal
MMinha
L E M B R A N D O A D I T A D U R A Urda Alice Klueger urda@flynet.com.br
sobrinha Laura é uma adolescente bonita e normal, que preza, acima de tudo, “ficar”, e que tem que levar bronca para tirar boas notas na escola. Está com 12 anos, o que significa que nasceu durante o período da “Abertura” do Presidente Figueiredo, coisas, que, evidentemente, ela não lembra. Na sua cabeça só estão registrados os tempos recentes, depois da queda da censura,e penso que ela mal e mal lembra da passeata a que foi, quando da queda de Collor. Outro dia, no Tipitin, o bar dos fins de tarde, andei contando a ela como era nos tempos da ditadura, e seus grandes e inteligentes olhos azuis arregalaram-se de surpresa ao saber que já existiu no Brasil um tempo em que tudo era diferente. Como era no tempo da Bem,Bem, as as coisas começavam se coisas começavam a se ditadura? Quem tinha aclarar para mim, e eu tinha com quem 12 anos, na época do falar a respeito, mas falar onde? Rosi e golpe de 64, era eu, e eu íamos e voltávamos juntas da escola, no pequeno mundo em estávamos sempre juntas, mas não em que eu vivia, era tão grande o medo podíamos falar sobre certos assuntos na de um monstro pavoroso chamado comufrente de ninguém, nem na escola, nem nismo, que o golpe foi recebido como uma no ônibus, nem no ponto-de-ônibus, nem bênção, uma libertação, como a promesna rua, pois havia o medo constante de sa de um novo tempo que não mais seria que alguém nos ouvisse e nós nos ameaçado por Moscou e por sua irreligiocomplicássemos. Nem diante dos sidade vermelha. amigos nos encorajávamos: poderíamos Os Os pais dada gente, pais gente,osostios dosda da gente, gente envolvê-los de alguma forma, ou os vizinhos da gente, todos estavam de poderíamos ser ouvidas por alguém que acordo que o golpe era uma “revolução” levasse nossa conversa adiante. Em que trazia a solução para todos os casa, também não dava: os pais, para problemas do país, e vivi nessa ilusão nos proteger, poderiam nos censurar por por muito tempo. Aprendi, como todo estarmos pensando. Assim, Rosi e eu mundo, a calar a boca e não emitir achamos uma solução: conversar opiniões, e como não havia contestação sentadas num velho poço que havia na no meio-ambiente em que vivia, parecia casa dela, ao ar livre, poço cercado de normal e natural ter que calar a boca e gramados, onde estávamos a salvo de não dar opiniões, embora, no começo, qualquer curiosidade e de qualquer eu não tivesse opiniões mesmo. ouvido. Em 1970, porém, eu fui morar na E, nas tardes, sentávamos E, nas tardes, sentávamoslálá fora, fora, oo casa da minha prima Rosi. Era o tempo olhar circunvagando para ver se não dos Festivais Internacionais da Canção, chegava ninguém, e nos encorajávamos Geraldo Vandré acabara de compor “Pra a malhar um timidíssimo pau no governo, não dizer que não falei de flores”, Chico pois nossa desinformação era tão Buarque tinha músicas proibidas, grande, tão grande quanto a da maioria Caetano e Gil estavam em Londres – e dos brasileiros, e se não fosse Vandré, minha prima Rosi nunca teve falta de Chico e Caetano, talvez nem tivéssemos opiniões. De repente, eu começava a nos dado conta que viver com medo e vislumbrar tudo o que não vira antes, e com insegurança poderia estar errado. queria falar sobre o que pensava. Tinha Era assim que a gente vivia, e foram com quem falar: minha prima era estas e outras coisas que contei para politizada o suficiente para me abrir os minha sobrinha Laura, e ela, segurando olhos muito e muito, mas como falar? na mão seu copo de Coca-Cola, só sabia Éramos produto da ditadura, dizer uma uma só palavra dizer palavramoderna, moderna,que que não conhecíamos o medo. Em seis anos o lembro agora, mas cujo sentido é, com povo já estava bem treinado, inclusive certeza, igual à que vou usar: nós, adolecentes. Não se podia abrir a -Sacanagem!!! boca, não se podia dizer o que se É, baita sacanagem fizeram com a pensava, corria-se o risco de se ser gente. Analiso-me hoje, em 1995, e vejo taxado de subversivo e desaparecer que ainda há resquícios de medo e misteriosamente nos porões da ditadura. insegurança no meu comportamento, A insegurança e o medo de pensar eram sem dúvida deixados por aqueles anos tão correntes que não nos revoltávamos de escuridão. Ser manipulado deixa contra elas; elas faziam parte do nosso seqüelas. E, embora hoje possamos dia-a-dia, pareciam-nos naturais, pensar e falar, o quanto ainda somos achávamos que em todo o mundo as manipulados por esse governo que está pessoas viviam assim. aí.
http://issi.no.sapo.pt/
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Deu a louca no mundo?
Clarice Muller issi@pobox.com
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ssim fica difícil, pô! Começar uma Asemana com a Argentina indo pro brejo, israelenses&palestinos botando tudo a ferver e Le Pen indo pro segundo turno na França, é de tirar o humor de qualquer um! O que é esse povo tá pensando, hein? Que porrada no cara do lado resolve tudo? Se essa receita funcionasse, o mundo seria huno, considerando que Átila se criou espalhando horror e nem por isso chegou lá, ainda que uno o mundo também não tenha se tornado. Lamentavelmente, pois assim não teríamos que concordar com o filósofo aquele (Schopenhauer? Não sei, nunca lembro) que disse que “a única lição da história é que não aprendemos nada com ela”. A impressão que tenho é que quanto mais racionais nos tornamos menos aprendemos a pensar, quanto mais vemos menos aprendemos a olhar, quanto mais sentimos menos aprendemos a amar. Parece matemática moderna, em que menos com menos dá mais e a recíproca dá zero porque todos os conjuntos cabem em qualquer coisa menos em si mesmos. Diz a manchete do jornal: “insegurança deu segundo turno a Le Pen”. Explicação: como a delinqüência atingiu níveis insuportáveis e o gajo, com sua fama de durão, prometia aumentar em alguns milhares as vagas nas penitenciárias e coibir a imigração africana, principal “ameaça à vida francesa”, correram a votar no dito. O escroto racismo ganhando corpo, pra variar. Feito o estrago, outros milhares de cidadãos foram às ruas protestar contra sua eleição. Dá vontade de dizer, com as mãos na cintura: “agora?!?!?!”. Ele, claro, dá risada. Como candidato mais rico - tanto que outra proposta sua é a eliminação dos impostos de sucessão - sabe que basta acenar com a
bandeira do medo que toda razão se
perde, propiciando-lhe condições de governar em causa própria (sua e das conglomerações que representa, claro), como fazem seus colegas Bush (petróleo) e Berlusconi (telecomunicações), que rosnam para os caídos enquanto lambem os de cima. Os eleitores, entre a cruz de seu individualismo e a espada de quem os manipula, imitam-lhes os passos e fazem do vizinho seu proverbial inimigo, jogando pra cima do outro a culpa pelos perigos sofridos e erros cometidos, não em si, não em suas escolhas, menos ainda no sistema que dá origem a essa doideira toda. E tudo vai de liberal a pior. A seguir nesse ritmo, com o apagão saindo das lâmpadas e passando pras cabeças, sem que alguma voz digna de respeito realmente se faça ouvir, o que esperar desta nossa espécie tão profundamente animal? Regressão pura e simples à nossa origem simiesca? É pau, é pedra, é o fim do caminho? Vou virar crente desse jeito! Deixar o cabelo crescer até a cintura, comprar um hinário e aderir ao exército da salvação, já que pelo menos à alma tenho que dar abrigo, à falta de coisa melhor? Cruz, que credo! Por essas e por muitas outras, dá calafrios pensar nas eleições deste ano e nos malufs que reinam impávidos por aqui e que bem podem pegar carona no êxito de seus heróis supracitados, desandando de vez com esta terra gigante pela própria natureza e anã na sua capacidade de ação.
Chega a impressionar como um povo tão religioso como o brasileiro, capaz de acender vela para todos os santos de todas as seitas ao mesmo tempo, continue sem entender a bíblia e se orgulhe de ser Golias mesmo sabendo que Davi foi quem levou a melhor. Um pouco de esperteza (política, não aquela do jeitinho estúpido que só atropela a cidadania) e largueza de visão não fariam mal a nínguém, mas se até os franceses, com todo o Diderot nas costas, dão uma mancada dessas, o que se pode esperar de quem faz do mais burro e belo seu big brother?Se ao menos fosse meu big lover... A despeito desse inventário sombrio, creio que uma vantagem ainda teremos sobre a pátria-mãe-de-criação do FHC: se os prognósticos se confirmarem,não precisaremos escolher entre direita e extrema-direita, como eles, porque saberemos identificar qual o lado do coração.
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Teus olhos negros, profundos, segredo abissal. Teus lábios que colhem qual foices vontades de ardor ancestral Tu és tão sonho absurdo que tudo parece outro mundo: as palavras virando do avesso o verso tornando-se mudo.
Agora não mais agora o implacável ardor que é viver enquanto grassa tudo o que passa implacável ardor que não se cansa na linha do destino o fogo dança o implacável ardor apenas dança
Laurene Veras
Viagem à Lua
o sonho a cada sonho mais distante a vida mais torta a cada vida eu te amei muito mais do que te amava amor com amor se apaga outras maçãs outras manhãs anos enganos sobre o fio da navalha dança o vacilante coração do instante
Aricy Curvello curvello@terra.com.br (De “Mais que os nomes do nada”,1996)
V o l t a
Desci das alturas Fui ferida nos flashes De partes que não dizem de mim Disseram Quiseram quebrar minhas asas
p Não sabiam o que eram asas o E cresceram mais asas em mim r E no voar c Que voltei i Ergui todas as penas
m a
Rosália Milsztajn rosalia@ig.com.br
Labirinto em cada segundo um passo apenas parede ao fundo meia-volta regresso confuso. Não existem portas nem começo, nem fim passadas sem jeito que sempre tornam ao mesmo lugar Onde sangra o peito é um ponto difícil de denominar.
Laurene Veras
A uma prima, paulista, que redescobiu a Lua na cidade de São Paulo
Este cotidiano louco das grandes cidades Transporta-nos para um mundo paralelo.
Parque da Redenção Túneis verdes uma fonte três pontes Buda no altar. As casinhas da vizinha japonesa abrem os olhos chapéus vermelhos... Recuando no tempo alamedas de Nero Roma arruinada o Partenon... E num dos jardins circulares ao meio o anjo imóvel bebe água no chafariz.
Fernanda Pedrazzi
Onde a terra não pode ser arada. Terra infértil, que nada dá. Terra preta, compacta, Blocos de solidão. Onde os abrigos dos homens Têm vista para o mar. Enquanto os de iguais homens, Olham a pobreza, a fome, a solidão. Onde nas árvores não canta o sabiá, Não berram os bugios. Mal e mal fazem a fotossíntese, Mal e mal são verdes, Carregadas da solidão pulverizada. Onde o azul do céu e o negror da noite Não passam de variações sobre o mesmo cinza. Onde o Sol, tímido, esconde-se para sempre nas nuvens. A Lua, ensimesmada, enclausura-se. Perderam a arrogância de astros E a soberba de deuses.
Assim, pensativo, sentado na sacada do meu apê em São Paulo, Vislumbro o quanto se perdeu, O quanto se fez em nome do progresso (com ordem, claro). Para quê, eu pergunto. Para termos a oportunidade de, nalgum dia, Gozar a vida longe da forma como se não a quer? Olho indiferentemente para o lado. Talvez desiludido. É noite. Espanto. O astro branco desponta com sua arrogância, Deus porque soberbo. Há muito tempo eu não via a lua.
Gustavo Zortéa da Silva
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PO RRAD A MU SICA D A
LOUCURA
“E a Revolução”
um alto nível de independência intelectual; que não se conforma com os padrões de pensamento, discurso e ação determinados pelos conformistas, que os baseiam na observação deles próprios; todo aquele que discorda da maioria; em resumo, todo incomum. É digno de nota que pessoas são declaradas loucas por pessoas destituídas de qualquer prova sobre a sanidade delas mesmas.
no Dicionário do Diabo
FartaCapital ANO VIII No 191 junho 2002 U$ 11
Louco, s. Alguém afetado por
Seleção de OURO
www.fartacapital.com.br
FHC: A ARGENTINA NÃO É AQUI
Show dos Milhões:
Serra afirma não saber de propina na compra da Vale Ex-tesoureiro de FHC e Serra, Ricardo Sérgio está envolvido em subornos de milhões nas privatizações da Vale do Rio Doce e Banespa
PICOTAZOS DE MI ASTURIAS
POE SIA UNI VER SAL
...y los helechos cubrían los senderos del camino la aldea estaba triste sólo se alegra en festivo.
que pena dejan las fiestas las romerías son por años, y eso es un tiempo muy largo para los enamorados.
Marco
68 foi barra Plena Ditadura Plena Resistência Plena Tropicália Plena Confusão Foi um rebuliço, lá em casa Manifesto, passeatas Festivais de minissaias Meu irmão limpando a arma Meu irmão, a Revolução? Que estava por chegar Tão certo quanto o bem Sempre vem e vence Nas histórias infantis Difícil de aceitar Que o mal tem o poder De escrever na História Um final tão infeliz 68 foi bala E mais bala foi setenta e um e dois, Mais bala foi depois Sempre alguém sumido de casa Torturado, morto, mutilado Pelo Estado ao bel-prazer Boiando no Rio da Prata Guerrilheiros, jornalistas, Marinheiros, padres e bebês Boiando no Rio da Prata Visto num jazigo vago Ou num muro de Santiago Ou jogado numa vala comum 68 foi bala Sempre alguém sumido de casa Meu irmão, a Revolução... Difícil de contar mas fácil de entender A razão e a hora De quem viveu um ideal Se eu fosse te dizer O que há em mim de teu Meu irmão, a glória É uma história sem final Mais duro é perceber Se eu fosse te falar Do Brasil de agora Que será tão igual: Miséria,Doença, Polícia brutal; Luxúria, Mentira, Autoridade sem moral. 68 foi barra. Como é 2002. (Nei Lisboa)
“CRACK”ARGENTINO: O MERCOSUL POR UM PATACONE
FICHA TÉCNICA Time Base: Murad, L.Estêvão, Dudu Jorge, Jader, Ricardo Sérgio e Teixeira; Inocêncio, ACM e Sarney; Maluf e Cacciola. Técnico: F. Henrique, o Cardosão Banco-Reservas: Opportunity, Marka, Nacional, Econômico e Bamerindus. Supervisor Geral: Chico Lopes Chefe da Delegação:EuRico Miranda Patrocinadores Oficiais: PROER,Vale do Rio Doce, Previ e Telemar Juiz na Copa: Nicolalau dos S. Neto
Los seres que rondan por la fontanas buscan siempre enamorados, gente que deshoja tréboles que va cantando a las xanas. Los castaños y los robles los aires de mis montañas, las tonadas de mi Asturias las costas que mi mar baña.
Manuel González Álvarez Poeta Espanhol
The Mal Script Journal Lula é o “responsável” pela alta do Risco Brasil New York - O ministro Pedro Malão, em audiência no FMI, onde deixou mais 10 bilhões para injetar no plano “real”, pelo menos até as eleições, declarou que o atual governo admite que errou ao entregar patrimônio público e setores estratégicos a preço de banana e ao deixar crescer dez vezes a dívida externa, o desemprego em massa, a corrupção, a violência e miséria em oito anos, mas nada tem a ver com um possível caos na economia caso Lula vença. Disse que Serra é o único candidato à sucessão de FHC apto a dar conti--
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CRUZADAS MANJADAS 1
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10 HORIZONTAIS - 1- Presídio paulista, palco da execução de 111 presos- 2(...) Gore, ex-vice e quase presidente dos EUA - Comparativo de superioridade de mau - Precursor do CD, a bolacha- 3- Passível de zombaria ou escárnio - Vogal - 4- Nitrogênio(símbolo) - Também - Desvelo, carinho 5- Espírito - Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária - 6- Caminho, direção- (...) Moreira, veterano apresentador de TV - Guimarães Rosa, escritor - 7- Associação Riograndense dos Sonegadores AnônimosDeus do islamismo - 8- Liga Internacional dos Céticos - Bartolomeu Duarte, navegador português - Informantes da Segurança Nacional (Arapongas da Abin)- 9- Eterna paranóia do capitalismo antropofágico - 10- Irmão do pai Cavalo que tem cor de canela. VERTICAIS - 1- A maior festa popular do Brasil - Forma do pronome pessoal “tu”, que é regido de preposição - 2 Naquele lugar - Sentimental - 3- Consoante - Capital Síria - 4- Dá palpiteArt. Def. Masc. Singular - Sigla do Estado que detém os piores indicativos sociais do país, terra do clã Sarney- 5-Cidade francesa- Capital arrasada do Afeganistão - 6- Dôo, presenteio - Instituto de Identificação - Ácido Desoxirribonucleico - 7- A sua capital é Dublin - Ivan Zamorano - 8- Raio, simbolo - Organização Mundial do Comércio - Que não foi trabalhada ou adornada - 9- Ubirajara Lopes, taxista - Ponto culminante de êxtase do gozo sexual - 10- Cessar o movimento - Milha marítima.
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A A n n ú ú n n c c i i o o s s
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LAVOLHO
Quer ganhar sempre na loteria? A astrologia oferece-lhe hoje a RIQUEZA. Aproveite-a sem demora e conseguirá FORTUNA e FELICIDADE. Guiando-me pela data do nascimento das pessoas, descobri o modo seguro pelo qual, com minhas experiências, todos podem ganhar na loteria, sem perder uma só vez. Milhares de atestados provam as minhas palavras. Mande seu endereço e U$ 171, para enviar-lhe grátis O SEGREDO DA FORTUNA. Remeta este aviso para: Sr. Prof. K. Vallo - Calle Hondo del Pozo, 2002 Buenos Aires - República Argentina
Ivan Rodrigues de Amorim ira.6280@zaz.com.br
Aranha-preta, doutora em matemática
doutora em Aranha-preta,
Os seus OLHOS o fascinam Ele tornará sempre a voltar para fitar em seus olhos claros e profundos.
Aracnídeo, octópodos, artrópodos. É assim que os estudiosos a conhecem. É esta a sua relação científica.Farto de acordar vezes sem conta, para tentar eliminar ou mesmo espantar esses odiados mosquitos (dípteros, nemóceros, hexápodos), contratei-a mentalmente.Ela me apareceu, sem eu pressenti-la. Lá está: na zona (linha) onde acaba a parede e começa o teto. Formando um ponto zero de semi-transferidor. Traçando com o olhar, várias bissetrizes daquele ângulo de 90°, na busca de um único e correto – que lhe dê comida e , a mim, descanso. 30°, 17°, 69°, 83 graus ? Onde passará o pernilongo? Se pousar, será 0° (ângulo plano) ou 90° (ângulo reto). Apenas uma corrida rápida e ...fim! Oito pernas contra seis. O tudo escretor e a teia fina confabulam, espreitam e refazem cálculos. Aguardam para, num bote, traçar a linha que levará morte e despreocupado sono. E trará alimento e repouso sem vigília. Dizem que vocês, pequeninas criaturas semi-aladas, carregam felicidade e sorte. Para mim, no entanto, só espero noites tranqüilas e despovoamento desta fauna maldita e chupadora do meu sangue.Adiantarei duas informações
Lave hoje à noite seus OLHOS com LAVOLHO. E veja então como ficam brilhantes e meigos os seus OLHOS. V. S. não os sentirá cansados ou envelhecidos e fracos, nem avermelhados ou sem vida.O branco da esclerótica será puro, as pupilas brilhantes, as pálpebras firmes e macias. O antiséptico LAVOLHO purifica os olhos dando-lhes brilho e animação.
(você me parece aranha nova, de pouca experiência): estes filiformes , sugadores de minhas hemátias e leocócitos, costumam, durante o dia, ficar nos desvãos pouco mexidos e escuros (procure-os atrás do armário, da estante e da escrivaninha; também as dobras da cortina merecem atenção). E, por último, adianto que existe um ponto, mais ou menos a um metro acima da minha cama, muito usado após cada picada, para assimilação, deglutição, pausa ou coisa que o valha. Sendo assim e dito isto, não titubeie.... Se o seu apetite não der conta, convoque amigas suas, ou vai sozinha, preparando uma prole, hermafrodita que você é.....Agora já não sei se poderei dormir inteiramente confiante de sua presença, por estas íntimas e pequeninas revelações..... Vou tomar meu banho. Você, aranha preta, deverá deliciar-se com o inimigo comum, a não ser que, como na anedota, tenha vindo com outra intenção....Se assim for – por via das dúvidas – vou barbear-me também, para que, amanhã, tenham menos trabalho com meu cadáver.....
Na luta!
Nesta edição: Um homem chamado Jorge Amado Veroverbo: narrativas vorazes a quatro mãos Arte, poesia, literatura, conto, humor, lembrança, traição, trova, ternura, indignação, esperança e muito mais... “Obscenidades” Rita...Agora ele só volta a subir depois da Copa.