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GENTE QUE FAZ
Carta de Leitor
Rubiani e Jéssica
Página 02
“Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração” Henri Cartier-Bresson
Foto: Júnia botelho
Jéssica e Rubiani Jéssica e Rubiani são duas meninas e já se vê que trabalham há muito tempo. Muito responsáveis, muito educadas, muito simpáticas! Sempre de máscara, mas como as conheço desde antes da pandemia, conheço o sorriso largo. Jéssica ficou íntima, me chama de “tia”, me trouxe sua filhota para conhecer. Quando chegamos no balcão se aproximam solícitas, sugerem as guloseimas que podem deixar minha filha de quinze anos feliz, já sabem do que ela gosta, memorizaram o que meus irmãos costumam comprar e o embrulho está praticamente pronto antes mesmo de pedirmos. Quando a padaria está com poucos clientes e meu trabalho mais ou menos em dia, fico um pouco mais e falamos de tudo um pouco, depois saio correndo porque sempre deixo alguma coisa no fogo! Queimar panela é herança de minha mãe... Trabalhar com o público é uma arte, minha gente! Porque o ser humano é o animal mais complicado que existe na natureza. Essas interações no balcão variam muito de acordo com as situações e atitudes dos usuários, mas também de acordo com as práticas de trabalho adotadas pelos balconistas. Mas nós, os brasileiros, damos importância para o status: tiramos o chapéu para os médicos e nem ligamos para os enfermeiros ou para os recepcionistas, chamamos de doutor o sujeito engravatado e nem sabemos o nome da pessoa que nos entrega o pão todas as manhãs. Sim, é cultural, mas podemos mudar isso. Se formos um pouco mais condescendentes e pensarmos que além de suas vidas pessoais que estão de pernas para o ar como a de todos nós, essas pessoas enfrentam todos os dias um vírus que ainda não está totalmente erradicado. E estavam lá todos os dias quando ainda não tinha vacina, quando havia restrições, mas o público não respeitava as regras. Além das pesadas condições de trabalho, de ter que chegar de madrugada ou de ter que sair às 10 horas da noite, de trabalhar de segunda a segunda, com folgas em dias que não são os de seus familiares, ouvem comentários maldosos, porque estão tomando café em vez de trabalhar. Mas estão constantemente expostos à visão e sujeitos a regras de conduta. Enquanto os agentes que trabalham na retaguarda de diferentes departamentos têm a oportunidade de fazer pausas frequentes, os balconistas, com horários apertados, raramente param. Os picos no atendimento são repentinos, e elas precisam continuar a ser solícitas, gentis, educadas, amáveis. Mesmo se os sapatos estão apertando seus calos, se estão com os filhos doentes em casa, se perderam pai e mãe, se o dinheiro não chega para tratamento extra ou para umas guloseimas para si próprias, mesmo ouvindo que são folgadas ou preguiçosas, precisam sorrir este sorriso lindo! Eu bato palmas e peço a vocês um pouco mais de bondade porque elas fazem o que podem para nos atender muito bem! Júnia Botelho Homenagem Jornal Vale Vivo
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