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Ano 6 - n.º 82 - dezembro 2021| Preço 0,01€ Mensal |Diretor: Miguel Almeida | Dir. Adjunto: Carlos Almeida
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Parabéns Douro > Págs. 18 a 24 > LEIA nesta edição os testemunhos de personalidades ligadas à classificação e conservação do Património Mundial
Miguel Cadilhe
Bianchi de Aguiar
Braga da Cruz
Carla Alves
Gilberto Igrejas
Teresa Andresen
Denise Bax (UNESCO) PUB
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VIVADOURO
DEZEMBRO 2021
Editorial
SUMÁRIO:
José Ângelo Pinto
Região Páginas 4 e 8
Economista e Prof. Adjunto da ESTG.IPP.PT
Sabrosa Página 5 e 30
Caros leitores, O conceito de qualidade de vida muito se tem alterado ao longo dos últimos anos. Condições de vida que acharíamos normais há 50 anos, como a inexistência de saneamento, eletricidade, telefone ou água potável, consideramos hoje indignas e não estamos disponíveis para que os nossos mais próximos vivam nessas condições. Ainda bem. Os cidadãos sabem que uma grande parte deste desenvolvimento ocorreu apenas e só por causa do reforço do poder local e do Municipalismo. Sabem que não são as eleições legislativas que vão melhorar significativamente a sua qualidade de vida, pois as melhorias que ocorreram até agora, no Portugal para lá de Lisboa, foram motivadas, foram inspiradas, foram desenvolvidas e foram consolidadas pelo poder local. Não são os deputados nem o governo que melhoram a qualidade de vida de todos os dias das pessoas. Estes governantes, quando muito, podem estabelecer e definir as políticas de desenvolvimento e de sustentabilidade que podem ser implementadas ao nível local. Mas não são eles que as promovem nem são eles que as colocam em funcionamento. Isto explica porque, a apenas 6 semanas de eleições legislativas que vão ser das mais disputadas e interessantes dos últimos anos, parece haver, paradigmaticamente, um total alheamento por parte dos cidadãos em relação a essas eleições. Aliás, os eleitores comuns estão fartos de eleições. Estão fartos de ver posters gigantes com fotos horríveis de candidatos que nada lhes dizem. Estão fartos de ver as terras com estruturas de ferro ferrugento com cartazes de gosto duvidável, muitas vezes já adulterados pelo tempo. E, depois de umas eleições autárquicas bem disputadas e de verem, porventura, aproveitamentos inimagináveis dos seus votos, estão céticos em relação aos políticos, especialmente aqueles que estão lá para Lisboa e que pouca ou nenhuma ligação têm com a terra. É por isso especialmente importante que os partidos se saibam focar no essencial, por exemplo na posição que têm sobre a regionalização ou na forma como acham que deve ser reforçado o financiamento dos setores mais afetados pelo COVID 19 e pelas suas consequências.
PRÓXIMA EDIÇÃO 26 JANEIRO
Carrazeda de Ansiães Página 7 Santa Marta de Penaguião Página 9 Mesão Frio Página 11 Armamar Página 13 São João da Pesqueira Páginas 14 e 15
Alerte para o que está bem e denuncie o que está mal. Envie-nos as suas fotos para geral@vivadouro.org POSITIVO
A Ministra da Coesão Territorial refirmou, em Lamego, durante a cerimónia de abertura das comemorações dos 20 anos do Alto Douro Vinhateiro - Património Mundial, que a Linha do Douro irá reabrir até Barca d'Alva.
NEGATIVO
O Conselho de Ministros, face ao avolumar dos casos Covid-19 decretou novas medidas restritivas a serem aplicas já após o Natal.
Vila Real Página 16 Alijó Página 17 Destaque Páginas 18 a 23 Entrevista Páginas 28 e 29 Opinião Página 38
O Jornal VivaDouro deseja a todos os nossos clientes, amigos e fornecedores um Feliz Natal e um Próspero Ano de 2022
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VIVADOURO
Região
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XXV Congresso da ANMP elege autarcas durienses Reunida em congresso, em Aveiro, no passado fim de semana (11 e 12 de dezembro), a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) elegeu os novos elementos que constituem os seus órgãos. No Conselho Diretivo (CD), presidido pela primeira vez por uma mulher, a autarca matosinhense, Luísa Salgueiro, estão os autarcas, Rui Santos (3º), de Vila Real, e Manuel Cordeiro (14º), de S. João da Pesqueira, que inaugura também a presença de autarcas independentes nos órgãos da associação. Entre os 17 suplentes do CD está, em 12º lugar, o autarca lamecense, Francisco Lopes. Rui Santos, Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, que pertence ao Conselho Executivo desde há 8 anos e que assume agora a vice presidência deste órgão da ANMP, esteve à conversa com o VivaDouro, explicando que considera que os tempos da troica e da pandemia foram especialmente complexos, e que o caminho da descentralização e da regionalização "foi abrandado com as dificuldades impostas pela pandemia" provocada pelo vírus Covid-19. Contudo, acredita que as oportunidades presentes no PRR, no fecho do Portugal 2020 e no Portugal 2030 vão permitir que este caminho da descentralização e da regionalização seja acelerado para que se conclua em 2024. O autarca vila-realense referiu ainda que os partidos e movimentos de cidadãos independentes da região estão de parabéns por terem conseguido uma representação excecional. Por seu lado Manuel Cordeiro, Presidente da Câmara Municipal de São João da Pesqueira, eleito por um Grupo de Cidadãos Eleitores, que foi escolhido pelos seus pares para ocupar o lugar agora assegurado na ANMP, vê na sua eleição uma dupla vantagem, "por um lado porque vem de um concelho do interior e, por outro lado por vir de um movimento independente, o que vai introduzir no Conselho Executivo uma visão nova". Manuel Cordeiro considera que "é bom" haver uma excelente representação dos autarcas da CIM Douro, "é sinal da qualidade reconhecida pelos partidos e pelos movimentos aos autarcas da região". O autarca refere ainda que o acesso a informação e o conhecimento dos planos que estão em discussão na CIM Douro e na ANMP pode vir a ser uma mais-valia para a região. Com 61 lugares efetivos e 61 suplentes, o Conselho Geral é o que mais autarcas comporta, no total, do território CIM Douro, são seis. João Paulo Fonseca (Armamar) em 15º, João Gonçalves (Carrazeda de Ansiães) em 20º e Valdemar Pereira (Tarouca) em 60º, são os efetivos. Entre os substitutos estão, José Paredes (Alijó) em 15º, Luís Machado (Santa Marta de Penaguião) em
54º, e Paulo Silva (Mesão Frio) em 58º. Na Mesa do Congresso, presidida pelo autarca da capital, Carlos Moedas, a região é representada por Paulo Figueiredo, em segundo lugar, estando ainda entre os substitutos, a autarca de Penedono, Cristina Ferreira. O autarca moimentense, em declarações ao nosso jornal, já como primeiro vice presidente da mesa do congresso da ANMP, explicou que, "apesar de se tratar de um órgão que apenas reúne de dois em dois anos", espera que o trabalho "seja gratificante para a região" e que o seu exercício vai permitir que haja "uma maior inter-relação entre os autarcas, especialmente os dos territórios de baixa densidade". Referiu também que a sua escolha para esta função por parte do partido o "surpreendeu positivamente" e que está disponível "para contribuir para a melhoria da capa-
cidade de intervenção da ANMP". Mário Artur Lopes, Presidente da Câmara Municipal de Murça, é o 7º elemento da lista eleita para o Conselho Fiscal, fechando assim a lista de 12 autarcas durienses eleitos para os órgãos da Associação Nacional dos Municípios Portugueses. Ao longo dos trabalhos, foram apresentados e votados os regulamentos do congresso da ANMP, assim como as propostas de alteração aos estatutos da associação, o Relatório de Atividades, e o parecer do Conselho Fiscal. Os novos órgãos socias foram eleitos por eleição secreta de todos os delegados ao congresso e tomaram posse. Entrando nos temas mais técnicos, foram abordados a "Organização do Estado", o "Modelo de desenvolvimento e coesão" e o "Financiamento local", temas que foram muito bem recebidos pelos congressistas
e que originaram debate. De seguida iniciaram-se os trabalhos de encerramento do congresso, tendo usado da palavra Carlos Moedas, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e Presidente da Mesa do Congresso da ANMP; Luísa Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, na qualidade de Presidente do Conselho Diretivo da ANMP e a Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão. O Congresso foi encerrado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cuja mensagem se focou na necessidade dos partidos políticos explicarem claramente aos cidadãos qual a regionalização que defendem, e em que é que esta consiste, "para que os eleitores possam fazer as suas escolhas de forma livre e informada e que não sejam depois surpreendidos com as posições dos partidos pós eleições".
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Sabrosa
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Câmara Municipal e CLDS 4G de Sabrosa oferecem evento de Natal “em Segurança” aos alunos A Câmara Municipal e o CLDS 4G de Sabrosa ofereceram aos alunos da Escola Básica Fernão de Magalhães uma festa de Natal diferente do que é habitual. O evento contou com a presença dos responsáveis do projeto e da entidade promotora, responsáveis municipais, responsáveis escolares e dos delegados das turmas abrangidas na atividade. No momento, foram entregues, para posterior distribuição junto de todos os alunos, uma lembrança alusiva ao Natal, oferta do município. A presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, Helena Lapa, aproveitou o momento para ouvir por parte dos alunos quais os seus desejos para o próximo ano e para deixar votos de um Feliz Natal aos presentes, estendidos aos familiares dos mesmos, alertando também para a importância do cumprimento de todas as medidas atualmente em vigor
para evitar a propagação da COVID-19, desejando “poder realizar no próximo ano uma festa de Natal diferente e sem restrições”. O momento ficou ainda marcado pela oferta de lembranças, por parte do município aos docentes, tanto da Escola EB 2,3 Miguel Torga como da Escola EB-JI Fernão de Magalhães. Ainda neste espírito natalício, o município de Sabrosa proporcionou aos alunos da Escola Básica Fernão de Magalhães e dos Jardins de Infância do concelho de Sabrosa uma ida ao cinema para assistir a um filme de animação, cumprindo sempre todas as normas de segurança atualmente em vigor. Durante as sessões não faltaram as pipocas para cada um dos participantes e a excitação, alegria e animação foram os sentimentos mais reconhecidos no rosto de cada um dos alunos presentes.
Município organizou a 1.ª edição do Mercado de Natal em Sabrosa Com um cenário colorido, muita alegria, animação e espírito natalício, teve lugar, no passado fim de semana, em Sabrosa, a realização da 1.ª edição do Mercado de Natal. Realizado no centro histórico da vila, no Largo da Praça, que se transformou num grande palco, onde a animação, a música e os concertos, a gastronomia e o artesanato alusivos ao Natal foram os grandes prota-
gonistas do certame, proporcionados pelas IPSS'S do concelho, outras entidades e particulares que se associaram ao evento. Durante os dois dias foram vários os momentos de animação de rua, com os grupos Xeral's Dixie, Bando das Gaitas, Natalina e Carretinhas, Fell The Stell Band e Filandorra, e ainda com a permanência do Pai Natal nos dois dias do evento.
Exposição de Fotografia “O Prazer de Fotografar”, de Eduardo Teixeira Pinto, inaugurada no Espaço Miguel Torga
Eduardo da Costa Teixeira Pinto nasceu na freguesia de S. Gonçalo, Amarante, em 29 de abril de 1933. Filho de Joaquim Teixeira Pinto e Adelina da Costa Taveira. Irmão mais novo de José da Costa Teixeira Pinto e Aristides da Costa Teixeira Pinto, herdou do seu pai - também fotógrafo e fundador da empresa «Foto – Arte» em 1930, situada em Amarante - o prazer de fotografar. Começou a tirar as suas primeiras fotografias profissionais em 1950, tornando-se
expositor desde 1953 em vários salões de fotografia nos cinco continentes. Entre outros países expôs em Portugal, Espanha, Alemanha, Áustria, Inglaterra, Estados Unidos. Canadá, Jugoslávia, Angola, Brasil, Bélgica, Moçambique, Cabo Verde, Macau, França, Itália e Austrália. Dedicou toda a sua vida à arte fotográfica. A exposição de Fotografia “O Prazer de Fotografar” de Eduardo Teixeira Pinto estará patente até 07 de janeiro 2022, no Espaço Miguel Torga.
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Carrazeda de Ansiães
Exposição de presépios 2021 O Natal está a chegar e o Município de Carrazeda de Ansiães, quis pelo segundo ano, valorizar uma das mais antigas e mais belas tradições de Natal. Está por isso a decorrer durante a quadra natalícia a Exposição de Presépios. As instituições públicas ou privadas e as associações do concelho deram asas à criatividade e decoraram o centro da vila com as suas recriações do nascimento de Cristo. Os presépios podem ser visitados na Praça do Município, na Praça dos Combatentes e no Jardim da Praça Dom Lopo Vaz de Sampaio até ao dia seis de janeiro.
Município oferece produtos locais às famílias do concelho O Município de Carrazeda de Ansiães, em colaboração direta com as juntas de freguesia, distribuiu uma lembrança de Boas Festas a todos os agregados familiares do concelho. Os Sacos Presente foram constituídos por um bolo rei de chocolate de 250gr, uma garrafa de vinho do porto de 37,5cl, um queijo e mais outro produto regional, que pode ser compota, biscoitos, frutos secos ou bombons. Nesta época festiva, cheia de simbolismo, a autarquia afirma
que conseguiu “com esta iniciativa, distribuir alegria aos 2746 agregados familiares do concelho. A pandemia que nos assola há quase dois anos, deu o mote para esta iniciativa, que se mantém por ter sido tão bem-recebida e por beneficiar toda a comunidade, especialmente os produtores locais que viram os seus negócios serem severamente afetados”. Os 2746 sacos presente, no valor total de cerca de 32.000€, foram distribuídas pela população residente entre os fins de semana de 11 e 12 e 18 e 19 de dezembro.
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VIVADOURO
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Região
Proposta nova categoria de Vinho do Porto que pode render até 40 milhões para a região A Quinta da Boeira enviou ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) uma proposta de criação de uma nova categoria nos vinhos do Porto “Vintage” e “LBV”, acabados de colher na vindima.
40 milhões logo após a vindima. Contudo, explica, esta colheita só estaria disponível para uma pequena parte do total da produção desse ano. "Vai permitir à região e aos produtores um encaixe financeiro antecipado. Para vender um LBV temos que esperar quatro anos, o que significa que ano após ano temos que ter um stock parado para depois lançar no mercado. São quatro anos de investimento constante sem nenhum retorno. Isto não elimina que continue a existir um LBV que seja engarrafado após quatro anos, isto garante que no fim da vindima, dois três meses depois, consigo ter um vinho muito encorpado, que será excelente para ser consumido. Um vinho destes não pode absorver toda a produção da região, terá que haver um limite de 2 ou 3% do volume total da vindima, que poderia facilmente ser comercializado por 15, 20 euros cada garrafa, que resultará num total de cerca de 30 a 40 milhões de euros". De acordo com o administrador da empresa, a proposta agora apresentada ao IVDP aponta a vindima de 2022 para início da comercialização desta nova categoria, que já tem sido apresentada a alguns jornalistas e especialistas,
Full Body – Young Harvest é o nome proposto para esta nova categoria que, como o próprio nome indica, é destinada a vinhos encorpados, engarrafados e comercializados três meses após a vindima, não ficando assim a aguardar os 2 ou 4 anos obrigatórios para obterem a designação de “Vintage” ou “LBV”, respetivamente. “Esta nova categoria especial tem que ser um full body. A designação que propomos, Full Body - Young Harvest, chama à atenção do consumidor que este é um vinho da última vindima. É um vinho com muita fruta. Já enviamos ao IVDP tanto a ideia, como o design do próprio rótulo e agora vamos ver quais são as consequências desta apresentação", explica Albino Jorge, Administrador da Quinta da Boeira. De acordo com o responsável, a criação desta categoria pode ser benéfica para a região em termos financeiros, com um encaixe de 30 a
com impacto bastante positivo. “Na vindima de 2022 poderemos já começar a comercialização destes vinhos. Nas provas que foram dadas a vários jornalistas, experts e clientes, eles não só provavam como bebiam e pediam para repetir duas ou três vezes, é a prova que este vinho, desde que bem divulgado, poderá resolver muitos problemas de fundo de maneio quer de empresas quer da própria lavoura. Neste momento temos garantido que os nossos exportadores nos comprariam já 2000 garrafas se fosse possível, o que nos leva a outro ponto da discussão deste tema que são as quantidades". Para Albino Jorge, "a inovação é fundamental em qualquer área, senão não evoluímos". Com sede em Vila Nova de Gaia e 171 anos de existência, a Quinta da Boeira, Arte e Cultura combina a área vinícola com a arte e a cultura. Na loja e centro de visitas da empresa, abertos ao público em Gaia, os visitantes podem adquirir os vinhos da marca Boeira, mas também degustar vinhos de produção própria enquanto visitam a exposição de réplicas de naus e galeões do século XV a XVI, que integra 23 réplicas de embarcações históricas da época dos Descobrimentos.
Congresso Mundial das Confrarias Báquicas em Portugal, em 2023 O evento irá decorrer entre os dias 27 de maio e 2 de junho, no Porto e em Vila Nova de Gaia, sendo de esperar cerca de 700 participantes. Aprovado em Paris, em 2020, o congresso mundial a decorrer em Portugal, passa pelo Minho, Douro, Lisboa e Alentejo, sendo “um dos maiores eventos ligados à Vinha e ao Vinho”, contando com a participação de 34 países “que integram a Federação Internacional das Confrarias Báquicas”. Com as inscrições a abrirem na primavera de 2022, o evento que conta com o Patrocínio da Presidência da República, “deverá trazer ao nosso país cerca de 700 participantes vindos de todo o mundo”. Pedro Rego, presidente da federação Portuguesa, em declarações à comunicação social após a apresentação do congresso referiu que “Portugal, neste momento, está na moda e os nossos vinhos vão ganhando cada vez mais notoriedade. O nosso turismo ligado ao vinho é cada vez mais apreciado lá fora. Queremos, com o Congresso, melhorar a imagem que Portugal e os seus vinhos têm no exterior, mostrar que o nosso país, neste momento, trabalha ao nível do melhor que se faz no mundo em todas as atividades ligadas ao
vinho. O primeiro Congresso Mundial das Confrarias Báquicas em Portugal aconteceu em 1998 havendo agora uma expectativa muito grande em voltarmos a receber esta organização. Com o epicentro do congresso a acontecer nas cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, os participantes terão ainda visitas a outras regiões vinhateiras do país como Minho (vinhos verdes), Lisboa e Alentejo. “Queremos mostrar a qualidade dos vinhos que temos, as dificuldades com que
nos deparamos, mas a qualidade que nos carateriza”, acrescenta o responsável. Também no final da apresentação do evento, em declarações à comunicação social, Albino Jorge, Presidente para o Congresso 2023, afirmou que esta é “umas das maiores manifestações do vinho e da vinha no mundo”. “Vamos ter entre 500 a 700 congressistas presentes por isso esperamos um reflexo imediato para o nosso enoturismo logo após o congresso. Traz-nos o reforço da imagem de marca dos vinhos portugueses, mas também uma confian-
ça grande na organização portuguesa. O nosso problema é a falta de valor acrescentado. Temos os melhores vinhos do mundo mas os valores não acompanham essa qualidade”, afirmou o também Diretor Geral da Quinta da Boeira. Albino Jorge afirma ainda que a organização irá trabalhar “de forma a que os participantes se lembrem sempre daquilo que receberam em Portugal”. O Presidente do Congresso 2023 lembra ainda que o evento “trará uma dinâmica económica muito interessante em especial para a hotelaria e restauração”.
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Santa Marta de Penaguião
Alunos distinguidos com Diploma de Mérito O Município de Santa Marta de Penaguião distinguiu os alunos que obtiveram melhor desempenho escolar no ano letivo de 2020/2021. Entre os dias 16 e 17 de dezembro, 68 alunos penaguienses viram os seus esforços e dedicação ao estudo reconhecidos ao integrarem o Quadro de Excelência do Agrupamento de Escolas de Santa Marta de Penaguião. De acordo com a listagem validada pelo referido Agrupamento de Escolas, a autarquia penaguiense distinguiu 34 alunos do 1º ciclo com cheques de valor de 50 € e 34 alunos do 2º e 3º ciclo com cheques de valor de 100 €. Um investimento da autarquia em 5.100 euros que consiste numa forma de motivação extra para os alunos do concelho. O presidente da Câmara Municipal, Luís Machado, manifestou a sua satisfação pelos resultados alcançados pelos alunos e salienta que o município tem a Educação como um dos focos de apoio prioritário. Com efeito, ao presente investimento se junta o já existente apoio com as bolsas de estudo para os alunos do ensino superior, o apoio nos transportes e refeições escolares, bem como a oferta dos livros de fichas
DR
a todos os alunos desde o 1º ao 3º ciclo. A oportunidade foi ainda aproveitada para celebrar o Natal junto dos mais pequenos, com estes a receberem o executivo municipal com músicas alusivas à quadra natalícia. Sílvia Silva, vice-presidente da autarquia, em declarações ao nosso jornal, no final da visita à escola de São João de Lobrigos, afirmou que "celebrar o Natal é cada vez mais importante, especialmente num mundo que se torna, de quando em vez, demasiado racional, material e distante, e menos emotivo e sentimental.
Mesmo que não celebremos o Natal todos da mesma forma, no rito cristão, é importante celebrar esta época de paz, família, amor e fraternidade". De acordo com a autarca, celebrar esta quadra este ano tem um significado maior, sendo este já o segundo Natal em que a pandemia limita as celebrações. "A esta altura já todos pensávamos estar numa realidade mais tranquila, por isso é ainda mais importante celebrar esta ocasião após um ano de afastamentos, de falta de proximidade. As pessoas estão mais tristes e ávidas de estar junto dos seus.
Este miminho aos nossos alunos é uma forma de agradecer o esforço deles ao longo de um ano tão difícil". À conversa com a nossa reportagem esteve também Rosa Cardoso, Diretora do Agrupamento de Escolas de Santa Marta de Penaguião, que nos contou que "habitualmente a Festa de Natal é organizada com todos os alunos do Centro Escolar". No ano passado não conseguimos fazer a festa devido à pandemia e este ano já estava tudo planeado para que se voltasse a realizar no Auditório, contudo, o agravamento da situação pandémica veio alterar os nossos planos. Há duas semanas tivemos duas turmas de 5º e 6º ano em isolamento, como tivemos que alterar o que estava programado pensamos vir às escolas, ao encontro dos alunos, porque também é importante que venhamos aqui". A diretora explica ainda que esta iniciativa foi "articulada com o município de forma a juntar este momento mais festivo com a entrega dos diplomas de mérito escolar. É um momento simples mas que permite estar em contacto com os alunos e eles têm oportunidade de ter uma mini festa de Natal onde nos presenteiam com algumas músicas da quadra.
DEZEMBRO 2021 VIVADOURO
Dia do Município com marca cultural
“Este mandato será marcado por este filão, ligar a cultura popular a outras expressões culturais que as pessoas também carecem. Somos um concelho pequeno mas rico em história e cultura, aspetos que muitas vezes não são conhecidos mas que pretendemos dar maior visibilidade, recorrendo a pessoas que estudam estes assuntos, afirmou ao VivaDouro o autarca Paulo Silva. A sessão solene, que teve lugar no Auditório Municipal, iniciou com duas palestras. Ana Cristina Sousa, professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, falou sobre “A iconografia de Santo André”, elucidando a plateia sobre quem foi essa figura canónica que acompanha a vida social de Mesão Frio desde tempos imemoriais, e o que significam os objetos que a sua representação ostenta. De seguida, Manuel Igreja, licenciado em História, autor de artigos de opinião, crónicas e contos e de diversos livros sobre instituições e personalidades durienses, apresentou a palestra «Douro Vinhateiro: uma obra humana», partilhando as suas memórias e os seus conhecimentos sobre a região duriense e a marca humana na construção da paisagem Património Mundial. No dia em que se celebraram os 869 anos de atribuição do foral à vila, seria também inaugurada a edição deste ano da centenária Feira de Santo André que, devido às restrições impostas pela situação pandémica, teve que ser cancelada. O Presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, Paulo Silva, durante o seu discurso na sessão solene referiu que o Município de Mesão Frio foi obrigado a cancelar grande parte da Feira Anual de Santo André. Queríamos fazer deste evento o grande ponto de reencontro de toda a comunidade mesão-friense, e de todos os que nos visitam, mas as diretivas emanadas pelo Governo condicionaram fortemente esta nossa intenção. De qualquer forma, não condicionam a nossa vontade e, tão breve quanto possível, levaremos a cabo as celebrações que Mesão Frio merece, justificou, dando conta de que todas as atuações e eventos que estavam previstos serão reagendados e enquadrados noutras festividades: Mesão Frio irá voltar a reunir-se em festa, assim que for possível”. Mais tarde, nas declarações prestadas ao
nosso jornal, Paulo Silva referiu que esta é uma Feira que tem uma particularidade, é uma das poucas que se realiza nesta altura do ano e nós temos que saber aproveitar esse facto. Quando digo que os eventos serão reprogramados ao longo do ano é porque temos sempre em vista o produto maior do nosso concelho, o vinho. Vamos realizar mostras de vinho com o objetivo de dar aos nossos produtores a hipótese de promoverem as suas marcas, aproveitando para atrair novos públicos. Politicamente há neste momento, no nosso concelho, uma consonância de vontades que tem de ser aproveitada para trazer de novo as pessoas para a participação cívica. Nós não vamos fazer tudo sozinhos, precisamos das pessoas, se elas não forem envolvidas a aposta falha”. Com a região a celebrar os 20 anos do Património Mundial, Paulo Silva lembrou ainda, nas declarações ao VivaDouro, que falta à região ser compensada pela classificação. “Devia haver uma compensação para estes municípios que integram a classificação porque ficamos muito limitados, não conseguimos alcançar o desenvolvimento de outras regiões pelas imposições da UNESCO. O Governo central tem que olhar para nós e dar uma compensação, não podem estar sempre a pensar em mais uma ponte sobre o Douro, ou o Tejo, quando nós aqui queremos requalificar uma estrada e andamos 40 anos a pedir essa obra, sem que ela esteja ainda resolvida. Nós estamos a 40 quilómetros do hospital mais próximo, em estradas destas não se demora o mesmo tempo que numa autoestrada. Há coisas básicas que ajudariam a fixar as pessoas e que não temos, é preciso que o Governo olhe para estas regiões com outra atenção. Ouço os meus colegas da CIM Douro e falamos todos dos mesmos problemas, parece que não somos do mesmo país que Lisboa. Não quero que daqui por 30 ou 40 anos os turistas passem aqui de barco, olhem para cima e nem vinhas tenham para ver. Mais do que falar do interior, é preciso fazer pelo interior. As comemorações tiveram o seu momento alto, com a homenagem a um conjunto de colaboradores que há 40 anos, ou mais, trabalham na Câmara Municipal e que dedicaram uma grande parte da sua vida a esta entidade. De uma forma simbólica mas, sobretudo, muito agradecida, foram homenageados os funcionários: Ana Silva – Coordenadora técnica com 43 anos de serviço; Ana Luísa Machado – Assistente Técnica com 41 anos de serviço; Isaías Nazário – Assistente Técnico com 40 anos de serviço; António Félix – Assistente Técnico com 43 anos de serviço; Egas Correia – Encarregado Operacional com 44 anos de serviço; Isaltina Leonardo – Assistente Operacional com 41 anos
Mesão Frio
Ana Cristina Sousa, Paulo Silva e Manuel Igreja
Executivo municipal com funcionários homenageados
O Dia do Município de Mesão Frio, que se assinalou a 30 de novembro, ficou este ano marcado por uma forte aposta na cultura, um “filão” que o autarca, Paulo Silva, quer “explorar”. Na sessão solene foram ainda homenageados diversos funcionários da autarquia, com 40 ou mais anos de serviço.
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de serviço; Manuel Barros – Assistente Operacional com 40 anos de serviço e Narciso Gonçalves – Assistente Operacional com 40 anos de serviço. Após a sessão solene e já nas instalações da Junta de Freguesia de Mesão Frio-Santo André, seguiu-se a abertura da Exposição de pintura, do conterrâneo Luís Cortez, intitulada “Fragmentos de Existência”, que exibe um acervo de pinturas em tela, desde paisagens, rostos até à arte abstrata. “A exposição é valorizar o que é nosso, daí este executivo ter optado por manter também esta inauguração. Temos aqui gente boa, capaz e dedicada que nem sempre tem oportunidade de mostrar aquilo que faz. É a nossa identidade que está aqui, afirmou Paulo Silva no momento da inauguração. Luís Cortez, afirma que a arte esteve consigo “desde sempre” mas só se começou a revelar
mais em 1992 quando fez o seu primeiro trabalho, que manteve “escondido de toda a gente”. Anos mais tarde foi mostrando aos mais próximos e o entusiamo foi crescendo até que, em 2010, “depois de deixar as lides autárquicas”, começou a ter na pintura “um relaxante”. É sempre bom regressar a casa, dá-nos um conforto interior no meio de caras conhecidas que valorizam o nosso trabalho. É sempre algo que nos enche a alma. Nunca poderemos ser conhecidos fora se não formos conhecidos em casa”. O Dia do Município terminou pelas 17 horas, na Biblioteca Municipal de Mesão Frio, com a abertura da exposição de artes plásticas “Sentir o Douro: Cores e Modulação”, da autora natural de Barcelos, Isabel Babo, licenciada em Artes Plásticas-Escultura e Mestre em escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
DEZEMBRO 2021 VIVADOURO 13
Armamar
As compras de Natal são em Armamar A iniciativa decorre entre os dias 1 de dezembro e 5 de janeiro, sob o mote "Este Natal vou comprar no comércio local de Armamar". A Câmara Municipal de Armamar volta este ano a promover uma campanha de
incentivo na escolha dos agentes económicos do concelho para as compras de Natal. Trata-se de um concurso em que os clientes, à medida que fazem as suas compras, recolhem carimbos num cartão es-
pecificamente criado para o efeito. Esses cartões serão depositados numa tômbola e em janeiro haverá um sorteio com atribuição de vouchers para mais compras no comércio local. A Autarquia pretende ajudar os agentes
económicos, chegando aos públicos-alvo num formato que os sensibilize para a redescoberta do que é local, apostando num modelo de relação mais próxima entre comerciantes e clientes e em que todos saem a ganhar.
Câmara Municipal entrega lembranças natalícias A Câmara Municipal de Armamar está a fazer a distribuição de lembranças natalícias aos idosos e maiores de 65 anos.
A iniciativa, da responsabilidade da Autarquia com a colaboração das Juntas de Freguesia, vem colmatar a falta da tradi-
cional ceia de Natal dos idosos. Esta distribuição de lembranças repete-se, depois de no ano passado ter sido
a solução encontrada para fazer face aos constrangimentos impostos pela pandemia da Covid-19.
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S. João da Pesqueira
Quinta dos Nogueirões: Uma década a marcar a diferença na região Fundada como empresa há uma década, a Quinta dos Nogueirões tem conquistado o seu espaço no mercado dos vinhos e dos azeites com a apresentação de produtos diferenciadores, de reconhecida qualidade. Criada fruto de um acaso, a Quinta dos Nogueirões é gerida por Hélder Monteiro, um dos cinco irmãos, todos sócios da empresa que os pais fundaram, uma característica que o gerente assume como uma mais valia do negócio. “No meu ponto de vista, o projeto familiar é importante na medida em que há uma vontade expressa de manter a união do património, respeitar tradições familiares e de negócio e de, por outro lado, existir uma necessidade de adaptar e fazer evoluir o negócio em resposta a um ambiente de constante mudança. Quando família e negócios se encontram, o resultado é muitas vezes uma combinação complexa e potente. No entanto, ao contrário do que muitos empresários e gestores pensam, a solução não é tirar a família do negócio. O sucesso passa antes por tirar o máximo partido do elemento familiar, criando vantagens competitivas que as empresas sem influência familiar dificilmente conseguem replicar”.
No total a Quinta dos Nogueirões tem 40 hectares de vinha e cinco de olival, as duas principais áreas de negócio, às quais se somam ainda 1,5 hectares de cerejal e diversas árvores de fruto. A celebrar uma década de existência, Hélder Monteiro afirma que esta tem sido uma viagem "bastante positiva e gratificante, em especial se pensarmos que este é um mundo de muita concorrência". Quando questionado sobre o que diferencia este de outros projetos na região, o gestor afirma que há duas características que marcam essa diferenciação, a qualidade e a inovação. "Estamos na linha da frente ao nível da imagem, vejo já alguns projetos a seguirem as nossas pisadas, o que significa que estamos a fazer algo que as pessoas acham que é o correto". Questionado sobre o que a próxima década trará à Quinta dos Nogueirões, Hélder Monteiro não tem dúvidas, a sustentabilidade do projeto será a linha orientadora desse futuro. "É muito simples, sou bastante pessimista e bastante otimista. Estou sempre com receio de dar o próximo passo mas acabo por dá-lo. Tudo o que temos feito na Quinta dos Nogueirões acontece dia após dia, sempre pensando na sustentabilidade do projeto, da nossa capacidade financeira. O futuro é assim que está planeado, as-
sentando essencialmente num crescimento sustentado. O nosso objetivo não é produzir milhões de garrafas mas sim a quantidade que nos permite manter a qualidade que nos distingue. A partir do momento que excedermos determinados volumes, passamos a perder qualidade e passamos a ser mais um produto massificado no mercado, que não é o nosso objetivo. Nestes 10 anos projetamos uma adega, que não tínhamos e plantamos novas vinhas com castas selecionadas. Para o futuro está já prevista uma ampliação ao nosso espaço físico com a criação de uma cave de barricas e ainda um projeto de enoturismo, que é inovador e sobre o qual ainda não queremos revelar muitos pormenores". A aposta no olival surgiu nos últimos anos, "motivada pela interditação da venda de direito de vinhas", tendo-se tornado um forte pilar do negócio. "O nosso azeite teve logo uma aceitação muito boa. Como a maior parte das nossas oliveiras são da qualidade cobrançosa, fizemos um azeite monovarietal, para marcar a diferença no mercado. É um azeite muito fresco que entrou no mercado gourmet de uma forma muito interessante". Com a sustentabilidade do negócio assegurada e o futuro em andamento, Hélder Mon-
teiro sublinha a diferenciação e a qualidade como marcas da Quinta dos Nogueirões. De acordo com o gestor, é essa diferenciação que marcará a diferença entre o sucesso, ou não, do projeto. "Se queremos efetivamente elevar a região do Douro para um patamar de excelência, ninguém mais do que nós poderá fazê-lo. Pegando novamente no individualismo que existe no Douro, é algo que está enraizado, mas que não faz parte da forma como nós queremos estar no mercado. Desde o início que nos abstivemos de fazer vinhos de pouca qualidade, mesmo a nossa linha de entrada tem sempre acima de 16 valores. Fazemos vinhos para que tenham essa qualidade excecional. O mundo está sedento por novidades no setor dos vinhos, temos que assegurar que nos conseguimos diferenciar de alguma forma. Temos um vinho único, exclusivo, que é feito com a casta tourigão, uma casta esquecida que nós fomos recuperar e resulta num vinho excecional, do qual só produzimos uma pequena quantidade. Temos outro que fazemos com duas castas que ninguém se lembrou de juntar, baga e tinta amarela. Dirá que é estranho mas a nossa ideia é essa mesmo, despertar curiosidade e interesse pelos produtos que colocamos no mercado. Essa diferenciação é que garante o nosso sucesso no mercado".
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S. João da Pesqueira
MUNDO MÁGICO DO NATAL
A magia da quadra natalícia invadiu este ano o Parque da Mata do Cabo, em S. João da Pesqueira, com muitas atividades dedicada aos mais pequenos. O Mundo Mágico do Natal
decorreu de 18 a 20 de dezembro, com muita música, dança, teatro, magia, insufláveis, ateliers, jogos tradicionais, atividades desportivas, doces e, claro, com a presença do Pai
Natal e dos elfos mágicos! O Comboio Natalício permitiu que os visitantes pudessem dar uma volta por S. João da Pesqueira antes e depois de visitarem o Mundo Mágico.
O Mercado de Natal juntou comerciantes / associações para venda de produtos locais aos visitantes. Foram 3 dias muito divertidos para as crianças e para as suas famílias.
ENTREGA DE PRENDAS DE NATAL AOS ALUNOS DO PRÉ-ESCOLAR E 1.º CICLO Em 2021, à imagem dos 2 anos anteriores, não foi possível a realização da Festa de Natal dos Centros Escolares, devido à Pandemia Covid-19, desta forma a Câmara Municipal decidiu oferecer às crianças do Pré-Escolar até ao 1.º Ciclo, um vale de Natal no valor de 25€, para ser descontado no Comércio Local.
Este ano também foram entregues computadores aos alunos que ingressaram no 1.º ano, à imagem dos colegas do 1.º ao 4.º ano em 2020. Esta foi uma forma simbólica para assinalar esta quadra natalícia e alegrar um pouco mais o Natal das crianças do Concelho de S. João da Pesqueira.
VALE DE NATAL SÉNIOR O Município de S. João da Pesqueira ofereceu um Vale de Natal de 25€ à população Sénior do Concelho, uma vez que este ano não se realizou a tradicional Festa de Natal. Assim, o vale de Natal Sénior, para além de apoiar a comunidade com 65 ou mais anos (que perfaçam os 65 anos até ao dia 31 de dezembro de 2021), servirá também para
POLO DE INOVAÇÃO DO DOURO A Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes homologou no dia 27 de novembro, na Quinta de Santa Bárbara, na freguesia de Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira, o Protocolo de Parceria para a Gestão e e Dinamização do Polo de Inovação do Douro, ali instalado.
ajudar o comércio local, que tem sofrido com as restrições e cortes de faturação devido aos últimos anos fortemente marcados pela pandemia Covid 19. A partir de amanhã inicia-se a entrega dos Vales de Natal nas freguesias / localidades. Pode consultar as normas de utilização do vale de natal sénior em www.sjpesqueira.pt
A parceria para a gestão foi assinada pelos representantes da Direção Regional da Agricultura e Pescas do Norte, Câmara Municipal de S. João da Pesqueira e ASDOURO. Está previsto um investimento do Ministério da Agricultura de 1.1 milhões de euros, numa iniciativa da Agenda de Inovação para a Agricultura “Terra Futura”. O Polo de Inovação do Douro é uma infraestrutura do Ministério da Agricultura que reúne condições para dinamizar uma rede consolidada coerente e moderna, orientada para as necessidades
do setor agrícola regional, vocacionada para a transferência de conhecimento e de tecnologia para o setor vitivinícola, maximizando sinergias e complementaridades com outras estruturas do ecossistema de inovação que mobilizará e integrará stakeholders com responsabilidade na dinamização, implementação e execução de atividades de investigação, inovação, formação, demonstração e transferência de conhecimento e tecnologia, reforçando, significativamente, o ecossistema de investigação e inovação agrícola e agroalimentar.
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Região
Documentário sobre a Panreal vence festival de cinema BragaCine O documentário “1965 Panreal um edifício de Nadir Afonso”, de José Paulo Santos, foi o vencedor deste ano do Prémio Augusta, de Melhor Documentário do Festival, na 19º edição do Festival Internacional de Cinema Independente de Braga (BragaCine). Em conversa com o nosso jornal, o realizador explica que o que o motivou a fazer este filme foi a oportunidade de preservar um edifício histórico, ao qual não foi dado o valor patrimonial devido, recordando o papel de Nadir Afonso na arquitetura moderna e os nomes com quem este trabalhou. “Eu vivo em Vila Real e percebi que algo ia acontecer ao edifício quando, a 11 de abril de 2018, foi arquivado o procedimento de classificação da antiga panificadora de Vila Real, tendo sido publicada pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), em Diário da República. O anúncio informa ainda que o imóvel ‘deixa de estar em vias de classificação’. Defendo que ‘somos aquilo que fazemos’ e eu fiz este filme. Um filme que retrata a luta pela defesa de uma obra de arte projetada pelo arquiteto e pintor Nadir Afonso. Tratava-se do último edifício do Nadir Afonso e as pessoas não lhe reconheceram valor porque se tivessem reconhecido o edifício não teria sido demolido.
Um filme ‘faz-se agora ou nunca’ e o que é certo é que este filme que eu fiz já não pode ser feito pelo menos desta forma, uma vez que o edifício já não existe para ser construído um parque de estacionamento para uma superfície comercial. Recordo que o Nadir Afonso trabalhou com nomes da arquitetura moderna, como Le Corbusier, Óscar Niemeyer, Georges Candilis, Alex Josic, Shadrach Woods e Carlos de Almeida”.
Durante a rodagem do filme, José Paulo Santos teve a "oportunidade de visitar o edifício com a viúva Laura Afonso, e com um casal que celebrou o casamento na panificadora", mas também acompanhou "manifestações, tertúlias e exposições”. “Valorizei a memória oral e a arquitetura modernista contribuindo assim para um verdadeiro serviço público através do cinema. Destaco um nome que esteve sempre na linha da frente
na defesa do edifício, a Professora Mila Simões de Abreu. Outras pessoas também tiveram um papel importante como as arquitetas Ana Morgado e Sofia Lourenço”, afirma. Já com o prémio na mão, o cineasta afirma que "é uma motivação extra, tendo em consideração que é um Festival Internacional de Cinema Independente, com destaque no panorama do cinema de autor”. “Não são os prémios que me fazem criar, mas sim o amor à sétima arte. Esta seleção é já a 42ª para festivais internacionais de cinema no meu percurso enquanto cineasta. Para mim realizar um filme é um momento de libertação que me dá imenso prazer e é quando me sinto verdadeiramente eu”. Com os olhos postos no futuro, José Paulo Santos está já a terminar a montagem de mais um filme de ficção, o seu terceiro, ao mesmo tempo que está a rodar dois novos projetos, um deles no âmbito do doutoramento que está a fazer em Comunicação, na Universidade de Vigo. “Neste momento está em processo de montagem o filme “13H”, um filme de ficção rodado na cidade do Porto. Em rodagem está um filme sobre a Livraria Branco que tem mais de 170 anos de história e também um filme sobre o poeta galego Avelino Díaz. Uma produção entre a Galiza e a Argentina no âmbito do meu doutoramento em Comunicação na Universidade de Vigo”.
A Câmara Municipal de Alijó deseja a si, aos seus familiares e amigos, um Santo e Feliz Natal, com Saúde e Paz. Votos de que 2022 possa ser um ano de superação e que traga a concretização de todos os seus desejos. Festas Felizes.
Este desenho foi um dos oito vencedores do Concurso de Postais de Natal da autoria dos alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico do Concelho.
www.cm-alijo.pt municipioalijo
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Destaque
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20 anos
de Património Mundial Foi a 14 de dezembro de 2001 que a UNESCO aprovou a classificação de Património Mundial ao Alto Douro Vinhateiro, reconhecendo o "excesso de beleza" descrito por Miguel Torga. 20 anos após a classificação a região está hoje melhor em todos os aspetos do quotidiano. Contudo, muito há ainda por fazer numa região que suporta o seu desenvolvimento sócio-económico em dois pilares, a agricultura e o turismo. Neste período foram eliminadas muitas das lixeiras a céu aberto e também outras dissonâncias na paisagem, como a antiga fábrica da Milnorte, junto à barragem de Bagaúste, embora outras intrusões na paisagem não tenham ainda sido resolvidas. Houve também uma grande preocupação com a recuperação dos muros em pedra posta de xisto, que sustentam os socalcos e são considerados o elemento mais marcantes na paisagem classificada. Também ao nível da educação escolar, desenvolvimento de vias de comunicação e promoção turística a região tem dado passos largos. As próximas décadas anunciam outros desafios como as alterações climáticas e a perda de população. Ao longo deste trabalho entrevistamos e pedimos opinião a algumas das mais destacadas figuras do Douro de hoje, mas também daquele que se candidatou há 20 anos.
24.600 Extensão do Património Mundial O Alto Douro Vinhateiro comporta uma extensão de 24.600 hectares, que corresponde a apenas 10% dos 250 mil hectares de toda a Região Demarcada do Douro.
Divisão da região A região divide-se em três sub-regiões: Baixo-Corgo, Cima-Corgo e Douro Superior.
Quebra demográfica Desde 2001 a região perdeu cerca de 30 mil habitantes. Um quarto da população tem mais de 65 anos.
40 338 Extensão Vitícola 40 338 hectares de vinha plantada para a produção de vinhos DOP Douro e Porto. Esta extensão abrange 13 concelhos: Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Lamego, Mesão Frio, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, São João da Pesqueira, Tabuaço, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Real.
Muros de xisto Nos últimos 20 anos foram recuperados 500 quilómetros de muros de xisto.
Comércio de Vinho do Porto Desde o ano 2000, as vendas de Vinho do Porto caíram 25%. Ao mesmo tempo tem sido notório um crescimento das vendas de vinhos DOC Douro.
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MIGUEL CADILHE
Foi o precursor da candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial, dando uso à sua paixão pelo Douro.
Recordando o processo de candidatura, como foi pensado e organizado todo esse trabalho? Eu era Presidente da Fundação Rei Dom Afonso Henriques, com sede em Zamora. Foi preciso uma organização transfronteiriça, mas com sede em Espanha, para lançar a candidatura. Eu tinha um espanto pelo Douro que resultava de um homem do litoral ter ido fazer tropa para os Rangers em Lamego. Aproveitava a minha estadia em Lamego para visitar a região em redor e ficava impressionado com a riqueza patrimonial e histórica. O trabalho do Homem no Douro também me deixou profundamente impressionado. Isto ficou sempre comigo. Quando vou para Presidente da Fundação combinei com o Virgílio Folhadela, presidente da Associação Comercial do Porto, que ele levantaria a questão de levar o Douro a Património Mundial, na reunião do Conselho Geral da Fundação, e eu procuraria acolher a ideia. Havia um equilíbrio difícil entre os Patronos espanhóis e os portugueses, sendo que eles, por terem criado a Fundação, tinham uma posição qualitativa. A solução que encontrei, foi criar uma Comissão mista para apreciar, com toda a objetividade e independência, quais os trechos do grande Vale do Douro, da nascente à foz, poderia ser candidato a Património Mundial. Foi essa Comissão que concluiu que o Alto Douro Vinhateiro (ADV), era o que mais probabilidades teria para conseguir o galardão de Património Mundial. Criou-se uma equipa técnica presidida, a meu convite, pelo Professor Bianchi de Aguiar, da UTAD, constituída por pessoas de grande qualidade, e que preparou o processo de candidatura que foi apresentado à UNESCO, e que resultou na classificação do Alto Douro Vinhateiro Património Mundial, já eu não era Presidente da Fundação. Uma candidatura deste género custa muito dinheiro, há várias despesas e honorários a pagar. As visitas da UNESCO ao ADV também tinham custos. Na altura a solução foi encontrar dentro da Fundação, financiamento para o processo, e todos os que recebemos foram portugueses. Uma estratégia a pensar no apoio dos espanhóis, libertando-os de um custo com algo que estava totalmente dentro do território de Portugal. Andei de chapéu na mão a pedir financiamento. Em algum momento chegou a ser posto em causa o sucesso desta candidatura? Houve uma altura em que o financia-
mento me deixou muito preocupado. Depois de vencer o equilíbrio espano-português, através da Comissão Técnica mista, e depois de convidar o Bianchi de Aguiar para constituir uma equipa, tremi um pouco. Fiz questão de princípio que o pagamento seria todo português, como imagina isso caiu bem junto da comunidade espanhola da Fundação, e calou algumas voz que estariam a levantar-se. O prolongar de todo o processo podia fazer a ideia morrer, como já tinha acontecido antes, havia esse risco. Na altura o jornal Público, se não estou em erro, falou em obstinação. Foi com essa designação que me adjetivaram, no bom sentido, em todo o processo. Passados estes 20 anos do Alto Douro Vinhateiro - Património Mundial, que contributo teve esta classificação para a região? Eu não sou juiz mas considero que, do ponto de vista qualitativo, não é medível. O Alto Douro Vinhateiro e as regiões vizinhas estão num patamar de tal modo superior de qualidade que a comparação é impossível. Atribuo isso à outorga da classificação. Adiante, fui para Presidente d'Agência Portuguesa do Investimento, onde o grande dossier que fizemos para atrair investidores, nacionais e estrangeiros, foi precisamente o dossier "Desenvolver o Turismo no Vale do Douro", o primeiro de todos, em 2003, tendo como grande argumento a classificação. Mais tarde o próprio Governo apresentou o Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro, do qual foi relator o Arlindo Cunha. A API é que faz o desenvolvimento do turismo no vale do Douro e hoje em dia o setor não se compara com o que era há 20 anos atrás. Certamente que haverá algumas lamentações mas, quanto a isso, penso que
é bom que um corredor vá à frente enquanto os outros o tentam acompanhar. É bom que haja concorrência. É bom que andem os barcos no rio porque isso desperta as pessoas a criarem outros trajetos, em terra, que atraiam essas turistas. Depois há a Linha do Douro, a reabertura que a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial (LADPM), propôs em Petição Pública. Infelizmente é daqueles projetos que, do ponto de vista do centralismo governamental, é subalterna. Mas devia ser uma das prioridades se houvesse descentralização regional. Acredito convictamente que venha a ser uma realidade, não sei quando, mas acredito que os argumentos são tão óbvios que haja alguém que consiga abrir os olhos a quem está a gerir o centralismo. Aos poucos essa sensibilização vai-se fazendo, isso ficou claro quando esta petição foi subscrita, unanimemente, por todos os partidos na Assembleia da República, um processo muito bem conduzido pela LADPM. Quais são os grandes desafios que enfrenta hoje a Região Demarcada do Douro? As pessoas mais conhecedoras da economia do vale do Douro, e em particular do ADV, têm-me dito que há várias questões:
as alterações climáticas, a falta de mão de obra qualifica e não qualificada, e muitas outras. É preciso que o tecido empresarial se reinvente, pode continuar a apostar nas riquezas da região, o vinho, o azeite e o turismo, mas criando novas soluções, e trazendo novas ideias. Acho que os empresários conseguem antever as dificuldades e os problemas, e no Douro há quem seja capaz de o fazer. É preciso criar condições para reter e atrair jovens que tenham outra visão do mundo, que já tenham saído do país e agora regressam e venham para o Douro. Para finalizar pedimos-lhe uma mensagem para o Douro e para os durienses nos próximos 20 anos. Os economistas não pensam a tão longo prazo (risos). Um dos maiores economistas do mundo disse uma frase que citamos muito: "A longo prazo estamos todos mortos". Não vale a pena a gente preocupar-se com o muito longo prazo até porque qualquer cenário que seja traçado (com exceção para o comportamento demográfico vai estar errado). Preocupemo-nos mais com o presente e o futuro aqui próximo, a três ou cinco anos.
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Destaque
BIANCHI DE AGUIAR
Convidado por Miguel Cadilhe, foi Fernando Bianchi de Aguiar que liderou a equipa técnica responsável pela apresentação do dossier de candidatura à UNESCO que resultou na atribuição da classificação Património Mundial.
Recordando o processo de candidatura, como foi pensado e organizado todo esse trabalho? O trabalho foi feito no quadro da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Foi um desafio pessoal, no entanto, como professor universitário remeti a colaboração para a minha universidade, que foi aceite com naturalidade. O Doutor Miguel Cadilhe era o Presidente da Fundação Rei Dom Afonso Henriques, que foi a entidade de tomou a iniciativa de promover a candidatura. Juntamente com os associados a Fundação fez um estudo prévio de toda a bacia do Douro para perceber que troço teria melhores condições para apresentar a candidatura à lista de Património Mundial. Houve unanimidade que o troço do Douro Vinhateiro seria o mais importante, e com mais requisitos para alcançar o sucesso da candidatura. A universidade constituiu uma equipa, que eu coordenei e, para a qual convidei a professora Teresa Andresen, da universidade de Aveiro, e o professor Gaspar Martins Pereira, da universidade do Porto, conseguindo assim uma equipa pluridisciplinar que pudesse responder a todos os requisitos da candidatura que é um dossier bastante exigente. Num ano conseguimos apresentar uma candidatura à Comissão Nacional da UNESCO, que entretanto apresentou-a à UNESCO propriamente dita. Encontraram muitas dificuldades? O mais importante foi termos uma solução financeira muito ágil. Como era uma iniciativa privada o orçamento não tinha aquelas restrições que a Administração Pública tem. Este foi o primeiro facto. O segundo aspeto foi haver um núcleo muito importante de colaboração dentro da própria universidade, foi-me permitido criar uma equipa muito matricial para a qual fui buscar a cada departamento as pessoas que precisava. Na altura não havia as facilidades de tecnologia que hoje existem, por isso foi também vantajoso a professora Teresa Andresen viver no Porto, o que permitia termos várias reuniões presenciais. Outro aspeto, muito importante, foi a mobilização de todas as autarquias e ter a certeza que a candidatura era entendida localmente. Isso deu algum trabalho mas conseguimos mobilizar, em vários momentos, toda a gente. O primeiro contacto com os autarcas foi no Palácio de Mateus, foi a oportunidade da Fundação me apresentar como coordenador da candidatura. Houve logo uma grande aceitação da equipa que estava constituída, e uma interação muito grande entre nós e o poder autárquico. O mesmo entendimento repetiu-se com diversas entidades mais ligadas ao setor dos vinhos como a associação dos ex-
portadores, a Casa do Douro, ou a ADVID, por exemplo. A função que me foi atribuída exigia uma interação grande com o território, o que foi feito com trabalho. Não houve grandes obstáculos porque, repito, tínhamos os meios financeiros para o fazer. Passados estes 20 anos do Alto Douro Vinhateiro - Património Mundial, que contributo teve esta distinção para a região? Posso distinguir, com um carácter mais ou menos tangível, dois reflexos. Há um, que é indiscutível, e que era um dos objetivos da candidatura, colocar a região do Douro no mapa, como hoje se diz. No fundo era dar a conhecer a Região Demarcada do Douro (RDD) como região de produção de Vinho do Porto. A internacionalização do vinho estava garantida e é sobejamente conhecida, no entanto a região nem sempre era divulgada como a região de criação deste produto, muita gente achava que era produzido na própria cidade do Porto. Este foi um aspeto importante e que acaba também por ser um tributo às pessoas do Douro, que tinham construído essa paisagem fantástica, com uma viticultura com pelo menos 2000 anos. Outro aspeto que também queríamos atingir era a criação de melhores condições de vida para as populações locais. É evidente que aí há o primeiro factual, que é uma desilusão para nós, que foi a perda continuada de população da RDD. Os números são impressionantes, na primeira década perdeu-se cerca de 6% da população, e na segunda à volta de 10%, embora se reduzirmos o saldo natural, sendo uma região envelhecida, de facto há mesmo assim uma migração de pelo menos 5% da população, que é de facto um indicador que diz que a qualidade de vida da região e as oportunidades profissionais não cresceram muito. Há ainda outros aspetos tangíveis como o grande investimento que houve no Douro, e uma melhoria clara das preocupações com a viticultura, que são aspetos que considero muito positivos. Houve também um grande
crescimento turístico na região mas não podemos comparar com o que seria caso não tivesse havido a candidatura. O desenvolvimento é uma realidade exponencial mas não é percebida por toda a gente sob, o ponto de vista dos benefícios económicos, em especial por aqueles que não foram tocados diretamente, o que impede uma mobilização total da população em torno da candidatura. Quais são os grandes desafios que enfrenta hoje a Região Demarcada do Douro? Há dois grandes desafios. Um deles é reforçar a atividade económica, que é o setor vitivinícola, definitivamente. O maior contributo para a salvaguarda é uma atividade económica saudável. Não podemos esquecer que nos últimos 20 anos houve uma redução da comercialização de Vinho do Porto na casa dos 24%, que é uma coisa muito acentuada, embora em valor a quebra não ter sido tão grande. Seja como for isso foi negativo porque criou um excedente de mosto no Douro, não obstante o vinho DOC Douro quase que triplicou em volume, houve uma compensação mas, como se sabe, os mostos destinados a Vinho do Porto são muito mais bem pagos do que aquele utilizado para os vinhos tranquilos. Houve uma redução da riqueza que fica na região. Há um esforço importante para estabilizar a produção e criar um mecanismo de repartição da riqueza que permita uma justiça maior, ficando o viticultor com mais dinheiro no bolso. Este é o primeiro desafio. Se isto for conseguido, conseguiremos contribuir para uma estabilização da população na região. O segundo aspeto tem a ver com a necessidade do próprio desenvolvimento turístico poder dar um contributo económico à região, de uma forma mais generalizada. Temos discutido por estes dias muito do que é o passado e do que será o futuro da região, e um dos aspetos que tem sido consensual é que é necessário repensar a forma de gestão, não obstante o papel que a CCDR-N tem desempenhado. Isto podia ser feito criando um orçamento próprio, canalizando fundos europeus
para esse plano de gestão. Pessoalmente, sou da opinião que se devia criar uma taxa turística que alimentasse esse orçamento. Essa seria a contribuição de todos os visitantes, quer no seu alojamento, quer no trânsito fluvial que é considerado, pela maior parte dos durienses, uma atividade excessivamente extrativa, usando uma linguagem mineira. Ou seja, é um tipo de atividade que deixa pouco na região, por isso considero legítimo solicitar aos operadores turísticos fluviais que contribuam para esse orçamento com uma taxa em função do número de passageiros que transportam. A construção da barragem Foz-Tua, por exemplo, entre outras obras, trouxe à ribalta a discussão sobre a possibilidade da UNESCO retirar a classificação ao Alto Douro. Essa possibilidade é algo que deve estar sempre presente no desenvolvimento de grandes projetos? Sem dúvida. A inscrição na lista de Património Mundial foi conseguida ao demonstrar o carácter de excelência e universal da paisagem do Douro. Isso foi possível por um conjunto de atributos que foram reconhecidos assim, e temos que o preservar. Um deles, que é indiscutível, é impedir que haja intrusões na paisagem como era Foz-Tua. Devemos ter isso muito presente mas a monotorização que é feita pela CCDR-N tranquiliza, conheço bem os meios que hoje a unidade de missão tem para fazer a monotorização das intervenções no Douro. O que faltou nesse caso foi uma comunicação regular com o ICOMOS e o Comité do Património Mundial, que hoje está normalizada. Qualquer candidatura deve ser reavaliada, ou pelo menos o bem em si deve ser reapreciado com uma cadência, salvo erro, de 5 em 5 anos, e nós falhamos claramente a primeira avaliação. Hoje as relações com a UNESCO estão normalizadas e qualquer intervenção deve ter em consideração o valor universal da paisagem, impedindo construções que sejam intrusões na paisagem, como ainda recentemente a construção de um grande hotel muito próximo do plano de água. O valor económico do produto turístico que é a Região Demarcada do Douro, perder-se-ia se danificássemos a paisagem. Para finalizar solicitamos uma mensagem que queira deixar à região e aos durienses. Há uma coisa que considero muito importante, que, de facto, os durienses tenham muito orgulho na paisagem que os seus antepassados construíram, e que a mantêm na atividade vitícola. É uma atividade dura, pouca gente sabe o esforço físico que exige pelas condições climáticas e do terreno, mas devem ter orgulho na paisagem que contribuem para manter. Legitimamente, esperam que haja uma maior retribuição desse seu trabalho e a repartição desse benefício por todos os durienses. Terminaria com um apelo um pouco mais vasto, o Vinho do Porto sempre foi um vinho festivo e que perdeu totalmente o espaço para outras bebidas. O apelo é que esse hábito se recupere, temos vinhos datados e que podem ser usados para festejar várias datas festivas. Agora com o Natal e o Ano Novo à porta deixo o pedido para que bebam o Vinho do Porto como a bebida festiva da celebração.
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LUÍS BRAGA DA CRUZ “O Alto Douro Vinhateiro - 20 anos depois da inscrição” Passaram 20 anos sobre a inscrição do ADV na lista do Património Mundial. A paisagem do Douro, cujo valor excepcional e universal foi consagrado, assumiu este reconhecimento como uma oportunidade para se desvendar ao Mundo. Os seus recursos culturais - os naturais e os que resultaram da acção persistente do homem - potenciaram o valor económico e social da região. Houve desenvolvimento do turismo, do enoturismo, exploração da via navegável. Os seus vinhos e a sua gastronomia valorizaram-se. Todavia, quanto ao balanço na vitivinicultura há sinais contraditórios. Houve investimento e aumento da área de vinha. A denominação Douro ganhou expressão e qualidade. Mas, a exportação diminuiu em volume, embora em valor tenha havido constância. Por outro lado, todos apontam como factor de muita apreensão a dinâmica demográfica recessiva, sentindo a necessidade de definir políticas que contrariem o actual défice de mão-de-obra, nomeadamente por recurso à imigração. É muto provável que a convergência de factores que contribuem para a formação dos preços, faça subir o valor médio na remuneração das uvas, já que tudo o resto tende a subir: energia, equipamentos, fitofármacos, adubos e, naturalmente, uma remuneração do trabalho mais justa. Nestes 20 anos, muito foi feito para preservar e valorizar o ADV. A administração e os agentes económicos, de uma maneira geral, foram comedidos e cuidaram da qualidade da paisagem. Podemos seguramente afirmar que o ADV não corre riscos de desclassificação, mas isso não nos deve desobrigar a manter uma atitude zelosa e vigilante. Seguem-se algumas ideias sobre o que podemos fazer neste sentido: • Insistir na necessidade de dotar o ADV de um Plano de Gestão com orientações estratégicas nos diferentes domínios de acção, investimento e governação, tal como a UNESCO reclama, clarificando o que cumpre a cada um fazer. • Analisar o que está adquirido, para outras paisagens culturais e que nos pode servir de orientação. • Dispor de regras distintas para a zona classificada, propriamente dita (território de 13 municípios, num total de 24.000 ha) e para a zona tampão (buffer zone, que coincide com a RDD). • Dado que a armação do terreno, em socalcos e muros, forma o principal atributo da paisagem cultural, é indispensável dispor de apoios específicos para a sua preservação. Estas ajudas devem estar previstas no plano de gestão, compensando os custos acrescidos da estruturação deste tipo de vinha. • Garantir que o mosaico desta paisagem, na sua diversidade, seja preservado. • Contrariar patamares em terrenos cuja inclinação seja superior a limites tecnicamente estabelecidos. • Desenvolver uma atitude de escrutínio continuado na opinião pública e nos agentes económicos que operam na região. • Finalmente, e porventura o mais importante, não desguarnecer o esforço por sensibilizar os jovens em idade escolar, para a importância de viverem num território de exceção: implicando os professores, preparando material didático específico, criando prémios escolares para retribuir trabalhos sobre o ADV, fomentar o debate sobre os temas do Douro.
CARLA ALVES Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial 20 Anos do Regime de Apoio à Reconversão e Reestruturação da Vinha (VITIS) Estamos a comemorar os 20 anos do reconhecimento e a inscrição do Alto Douro Vinhateiro (ADV) na Lista do Património Mundial da UNESCO em 2001, classificado como paisagem cultural evolutiva viva e um caso notável de uma tradicional região produtora de vinho, refletindo de forma bem elucidativa a evolução desta atividade humana ao longo do tempo (UNESCO, 2001). Subjacente à tomada de consciência sobre o valor excecional do ADV e da mais-valia que a classificação da UNESCO acarreta para toda a região, está o trabalho em rede que tem envolvido as entidades da tutela, as associações setoriais e os agentes produtores, tão bem apelidados de “construtores da paisagem”. Nos últimos 20 anos é visível um reforço da associação entre o vinho, o património cultural e o turismo. Os efeitos de spillover (externalidades positivas) do património cultural e do turismo no vinho têm-se expressado, essencialmente, pela promoção da marca Douro, região património mundial, onde também é produzido o vinho do Porto, pela emergência de um novo segmento de consumidores, muitos deles estrangeiros, que associam paisagem a vinho, reforçando o papel e conceito de terroir, e, ainda, por alguma venda direta, na região, de vinho aos turistas. Para a preservação da paisagem cultural evolutiva e viva, a agricultura, em especial a vitivinicultura como principal atividade, muito contribui a escolha do melhor modelo de vinha que integra uma série de técnicas e estratégias que permitem criar um ambiente equilibrado, diversificado e sustentável nas vinhas e no seu ecossistema, ao mesmo tempo que garantem a produção de vinho de alta qualidade. De uma maneira geral, o território do ADV carateriza-se por fortes declives onde a vinha é cultivada em socalcos pré-filoxera, socalcos pós-filoxera, patamares largos e estreitos, micropatamares, vinhas ao alto, testemunhos do papel decisivo do homem na transformação dos solos ao longo do tempo e que resultam da necessidade de readaptação dos sistemas produtivos como resposta à grande necessidade de mão-de-obra e penosidade do trabalho e aos elevados custos de instalação e manutenção da vinha. A importância do fator trabalho e a escassez de mão-de-obra, tanto em quantidade como em qualidade, tem sido uma constante ameaça á sobrevivência da viticultura, que tem sido ultrapassada com a inovação, nomeadamente ao nível dos sistemas de plantação e condução da vinha. Como resposta as estes desideratos, o programa VITIS marcou de forma indelével, ao longo dos vinte anos, a atividade vitícola pelos apoios financeiros disponibilizados à replantação da vinha e também à reconstrução de muros e infraestruturas de drenagem, associados à reestruturação da vinha. Reestruturaram-se cerca de 20 000 hectares de vinha (cerca de 50% da área total de vinha) correspondendo a um envelope financeiro de 250 milhões de euros, o que demonstra bem o grande esforço que os viticultores fizeram em reestruturar as vinhas, com o objetivo de diminuir os custos de produção e incremento da qualidade, salvaguardando as principais aspetos patrimoniais e paisagísticos (socalcos do douro), onde se destacam os muros em pedra posta. Os socalcos do Douro, suportados por muros em pedra posta de xisto, são os elementos mais marcantes na paisagem duriense e testemunham a evolução histórica e, as suas características resultam das necessidades de expansão e readaptação do sector produtivo, da inclinação do terreno, da habilidade dos pedreiros e da qualidade da pedra, das práticas ancestrais, da mecanização e da inovação. O longo dos vários Quadros Comunitários de Apoio, houve a preocupação de disponibilizar apoios financeiros específicos para a Região Demarcada do Douro, que permitissem aos agricultores manter em produção a maior área possível de vinhas, olivais e amendoais em socalcos com muros em pedra posta apoiando a sua manutenção com cerca 5 milhões de euros anuais, correspondendo a cerca de 4 000 km de muros em pedra posta. Complementarmente para os agricultores candidatos a esta Medida, (manutenção de muros), foram disponibilizados apoios financeiros que permitiram reconstruir cerca de 300 km de muros, envolvendo uma despesa pública aproximada de 60 milhões de euros (Programa PRODER e PDR 2020).
Também no âmbito dos programas atrás referidos (2013 a 2021) se instalaram 1.210 Jovens Agricultores que receberam um prémio de instalação de 45,6 milhões de euros, para além dos apoios ao investimento nas suas explorações. O conjunto de todos estes apoios, entre outros, previstos nos Programas de Desenvolvimento Rural, foram um bom contributo para a sustentabilidade (económica, social e ambiental) da viticultura do ADV, e numa lógica integrada, também a investigação desenvolvida em diferentes áreas da fileira vitivinícola, as instituições de ensino superior (universidades e politécnicos) pelo reforço da formação recursos humanos altamente qualificados em especialidades como a engenharia agronómica, a enologia, a gestão, o marketing e o empreendedorismo. Também ao nível intermédio os cursos de formação na área da viticultura e do vinho oferecidos por escolas públicas secundárias e instituições privadas. Se o objetivo da RDD for alcançar um cluster inovador, através de vinhos de maior valor acrescentado, tem de se assumir que a preservação do mosaico paisagístico do ADV e a respetiva classificação pela UNESCO como património da humanidade, são fatores potenciadores da economia vitivinícola regional. Em termos de política pública, o ADV é um bem público, gerador de efeitos de spillover, pelo que no próximo quadro comunitário tem de se continuar a desenvolver programas com contrapartidas financeiras para os agricultores como agentes de construção e de mudança da paisagem, Património Mundial. Em suma, desenvolver uma “ Estratégia de Eficiência Coletiva”, que contribua para que o ADV seja um território competitivo, coeso e sustentável com base na valorização endógena dos recursos agrícolas, culturais (paisagem classificada como Património da Humanidade), ambientais e sociais e na distribuição equitativa do valor pelos vários produtores. A criação de verdadeiras cadeias de valor, vai trazer desenvolvimento sustentado para as economias locais e, consequentemente, para a atração de pessoas e a criação de emprego. A minha homenagem a todos os antepassados e atuais agricultores e agricultoras que mantiveram este “Reino Maravilhoso (sic Miguel Torga)”, mas também a confiança no futuro que esta paisagem é preservada e melhorada.
GILBERTO IGREJAS
Nos 20 anos da inscrição do Douro Património Mundial! Decorrem as comemorações dos 20 anos da inscrição do Alto Douro Vinhateiro na lista de Património Mundial da UNESCO, galardão que se revelou da maior importância para a afirmação do Douro no panorama mundial. O Alto Douro Vinhateiro corresponde à área mais representativa e mais bem conservada da Região Demarcada do Douro (RDD), a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do mundo, com delimitações desde 1756, tendo sido esta elemento crucial na classificação que agora comemoramos. O Douro de hoje está incomparavelmente diferente daquele que esteve na base da atribuição desta distinção e o investimento de mais de mil milhões de euros na região, em infraestruturas vitais e no apoio ao desenvolvimento de toda a economia, foi decisivo. São diversos os indicadores que traduzem essa diferença e melhoria alcançada em 20 anos, nomeadamente na diminuição das taxas de abandono escolar, nas vias de comunicação, na preservação ambiental, na profissionalização, no turismo, etc… Por outro lado, a par da notoriedade da marca coletiva Porto, o Douro ganhou prestígio internacional e já é uma das marcas de afirmação de Portugal que tenderá a aumentar. Para isso, muito contribuíram os vinhos de prestígio internacional que, depois da década de 90 do século passado, se começaram a afirmar no país e também nos mercados internacionais. No entanto, e apesar desta inegável qualidade e internacionalização, estamos ainda afastados da perceção real do consumidor no que diz respeito ao valor, continuando a matéria-prima — as uvas —, a ser comercializada a valores manifestamente baixos, o que não possibilita um quadro de sustentabilidade aos viticultores durienses e que
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urge resolver. Comemorar o Alto Douro Vinhateiro, inscrito na Lista do Património Mundial da Humanidade enquanto Paisagem Cultural Evolutiva e Viva, impõe também reconhecer a relevância da produção dos vinhos mundialmente reconhecidos, correspondentes às denominações de origem (DO) Porto e Douro. Na senda do desenvolvimento que se verificou em toda a região, os números mais recentes revelam a importância económica destas denominações de origem. Segundo dados de 2020, a região do Douro é a principal região vitivinícola portuguesa, não apenas em termos de área de vinha, representando 23 % da área de vinha em Portugal, como também em termos de produção de vinho, representando 20 % da produção de vinho em Portugal e 36 % da produção de vinho com Denominação de Origem Protegida (DOP). Assegura 43 % das exportações de vinhos portugueses e 69 % exportações de vinhos portugueses com DOP. É de realçar que, nos 11 primeiros meses do presente ano, as exportações de vinhos da região atingiram quase 376 milhões de euros, verificando-se um acréscimo de 14,5 % em comparação com igual período de 2020, e um preço médio de 5,01 euros por litro, a que corresponde um crescimento de 5,4 %. A este sucesso, ao longo dos anos, podem juntar-se medidas que o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP), empreendeu e que se revelaram cruciais para que hoje tenhamos uma RDD mais próspera e mais dinâmica. Sem toda a conjuntura de desenvolvimento da RDD, que foi sendo conseguida, tal não seria de todo possível. Assim, com uma visão integradora, numa lógica de dar resposta, com maior proximidade, aos viticultores que necessitam de aceder aos serviços do IVDP, muito em especial dirigida aos geograficamente mais afastados e que muitas vezes apresentam dificuldades em utilizar meios informáticos, foram celebrados protocolos com concelhos mais distantes do edifício-sede (casos de Mêda e Vila Nova de Foz Côa). Projetos vários (RDD+ e IVDP+) foram implementados no sentido da modernização administrativa interna e externa, aproximando o serviço dos agentes económicos, e foram estabelecidos modelos preditivos que auxiliam na decisão (IVDP Data+). Foi feito o registo da valorização das campanhas de proteção e promoção, nacionais e internacionais o que indiciou que, nestes 20 anos, foi aumentado, paulatinamente, o investimento na defesa e no plano de Promoção e Internacionalização dos Vinhos do Douro e do Porto, reforçando-se as ações de promoção, quer em mercados tradicionais e já consolidados, quer em mercados emergentes que começam a revelar-se promissores e onde existe muito espaço de crescimento para os vinhos do Douro e do Porto. Acompanhámos o evoluir dos tempos e das formas de vender vinho e, para tal, criámos um MarketPlace para ajudar os agentes económicos mais pequenos, uma solução de eCommerce robusta, escalável, modular amigável e flexível, que tem como principais objetivos a dinamização dos Vinhos do Porto e Douro online, a venda direta, operador/consumidor, a apresentação de várias marcas, numa só identidade, a conquista de novos mercados. Num projeto baseado nos princípios da boa governança e gestão, assente em três pilares — desenvolvimento sustentável, cooperação e preservação do meio ambiente —, foi criada a Rota dos Vinhos do Douro e do Porto, iniciativa que visa criar uma rede que, sob o chapéu do enoturismo, seja capaz de dinamizar, promover e credibilizar os ativos das regiões aderentes, valorizando a cultura e abrindo portas à descoberta de novos territórios. A par do enorme crescimento turístico que o Douro registou, com o proliferar de novas estruturas hoteleiras e de restauração, o IVDP soube ajudar a criar valor ao disponibilizar formação intensiva na arte de servir, promovendo cursos de formação “Saber Servir, Vender Melhor”, projeto organizado e ministrado pelo IVDP e que tem como objetivo a formação, pedagogia e sensibilização de públicos profissionais do setor HORECA, enquanto intermediários de consumo para que, através da sua ação junto do consumidor final, o consumo e a promoção dos vinhos do Porto sejam potenciados. Num extraordinário contributo para o progresso conseguido da RDD, foi possível a assinatura da Declaração pela Sustentabilidade da Região Demarcada do Douro, um compromisso político, que constitui um marco indelével na história desta região vitivinícola secular. Num texto comum, revelador da importân-
cia de que se reveste a Sustentabilidade no progresso social, económico e ambiental desta região, os signatários acordaram estar empenhados, no âmbito das suas diferentes esferas de atuação, em empreender uma abordagem estratégica e a desenvolver políticas que criem condições para uma implementação efetiva da sustentabilidade social e económica na Região Demarcada do Douro, no Entreposto de Vila Nova de Gaia e, genericamente, em todo o vale do rio Douro. Porque a relevância da RDD terá de ser comunicada e de assentar em bases diferentes do passado, lançámos a Hackathon Douro e Porto que demonstrou nas duas edições que a RDD experimenta novos rumos de progresso. Desde o início, vimos esta oportunidade como um instrumento inovador na forma e na abordagem, um evento especialmente útil para gerar inovação, para promover o recrutamento e captação de talento, para contribuir para a construção de uma comunidade integrada no território do Douro e que, pelas soluções tecnológicas que aportará, permitisse futuramente fazer face às alterações climáticas e um aumento da rendibilidade do investimento em transformação digital. Tão importante como o interesse evocativo da efeméride, importará refletir-se e repensar-se no que o Douro deverá ser nas próximas décadas, com destaque para esta questão central: como se valorizarão os recursos humanos que vivem nesta região, como se proporcionarão melhores condições socioeconómicas a toda esta população para que os 15% de perdas populacionais que os últimos censos evidenciaram não se repitam na
próxima década? Na celebração da inscrição do Douro Património Mundial importa refletir sobre qual é o modelo que mais atrairá o consumidor nos anos vindouros: talvez se esteja no ocaso de uma promoção orientada para os aspetos do produto, seja ele vitivinícola, turístico ou de qualquer outra natureza, mas mais centrado na sustentabilidade subjacente a tudo quanto se produz e se oferece a um consumidor que terá, incontornavelmente, um novo foco de atenção e um olhar diferente sobre os recursos humanos que aqui vivem. Será essa nova perspetiva que ditará todas as políticas locais, regionais e mesmo nacionais que hoje vemos como necessárias e inadiáveis. Continuaremos a valorizar a defesa, controlo e certificação das DO Douro e Porto. Procuraremos respostas a desafios da maior pertinência: de como se combaterá a desertificação, de como se poderão desenvolver estratégias mitigadoras das alterações climáticas e de como se fixarão iniciativas que tragam criatividade, inovação e originalidade nos projetos a desenvolver. Todos estamos convocados e o IVDP continuará, em articulação com a tutela e parceria com todas as instituições, a desenvolver ativamente a política do setor vitivinícola da RDD tendo em vista a preservação de um território único que queremos deixar intacto para as futuras gerações num quadro de diferenciação e valorização.
TERESA ANDRESEN
É arquiteta paisagista, tendo sido convidade por Bianchi de Aguiar para integrar a equipa que preparou o dossier técnico da candidatura. Atualmente Teresa Andresen acumula os cargos de presidente da Associação Portuguesa dos Jardins Históricos e membro do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e é ainda membro do Comité Científico da Fundação Benetton, perita de Portugal na Comissão Permanente do Património Mundial da UNESCO e Membro do Conselho Consultivo da Missão Alto Douro Vinhateiro Património Mundial. Esteve envolvida no processo de candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial, desde o seu início. Como foram vividos esses tempos? A candidatura do Alto Douro Vinhateiro à inscrição na Lista do Património Mundial da UNESCO foi coordenada pelo Professor Fernando Bianchi de Aguiar. Era uma vasta equipa, com diferentes valências, que foi antecedida por uma equipa luso-espanhola que começou por percorrer o rio Douro em toda a sua extensão – desde as nascentes em Espanha à foz em Portugal - para identificar bens com valor potencial para essa inscrição. A decisão final caiu sobre a Região Demarcada do Douro (RDD). Foi já no âmbito da redação da candidatura, que primeiro compreendeu a inscrição na Lista Indicativa de Portugal e só depois a candidatura à inscrição na Lista do Património Mundial, que se definiu o território do Alto Douro Vinhateiro (ADV) correspondendo a cerca de 10% da área total da RDD e que foi inscrito na categoria “paisagem cultural”, uma categoria criada em 1992, ou seja 20 anos depois da aprovação da Convenção do Património Mundial e ainda pouco trabalhada à data da candidatura do ADV. O processo de redação de candidaturas tem a sua especificidade e complexidade. Ele vai construindo um argumento coerente que vai fazendo o seu caminho nos vários temas a integrar no formulário. A justificação do valor universal excecional (VUE) de um bem é determinante sendo que, nomeadamente identifica os atributos que distinguem o bem e contribuem para o seu VUE e sobre os quais devem recair as principais medidas de monitorização. Outros elementos-chave do argumento são a seleção dos critérios de inscrição e a justificação da autenticidade e da integridade do bem. Uma candidatura exige que seja feita uma análise comparativa com outros bens idênticos já inscritos na Lista do Património Mundial ou até em listas indicativas e que reforce o carater único e excecional de um bem. Reclama ainda que estejam reunidas as condições para que um modelo de gestão dê garantias de um acompanhamento do bem que seja eficaz. Peça fundamental deste modelo é a existência e implementação de um Plano de Gestão orientado para o investimento,
conservação e valorização continuada do bem. O Comité do Património Mundial pediu na altura da candidatura do ADV o fornecimento de um Plano de Gestão para a paisagem cultural o que acabou por ser um novo desafio. O Comité tinha reconhecido que as paisagens culturais representam “obras combinadas da natureza e do homem” conforme o Artigo 1º da Convenção. Elas são ilustrativas da evolução da sociedade humana ao longo do tempo, sob a influência das restrições físicas e / ou oportunidades apresentadas pelo ambiente natural e de sucessivas forças sociais, económicas e culturais, externas e internas. Mas a vivência desses tempos não foi apenas a construção do argumento e o preenchimento do formulário. Traduziu-se em vasto trabalho de campo, de revisão bibliográfica, de cartografia, de recolha de imagens e de encontro com representantes vários do Douro. Minha avó materna é duriense e, portanto, senti-me sempre duriense. O Douro foi um território que conheci desde a minha infância e a oportunidade de trabalhar com equipas pluridisciplinares, contactar viticultores, enólogos, autarcas, historiadores, ... foi uma experiência vivida com enorme entusiasmo.
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A confirmação da inscrição foi um coroar de um percurso que agora faz 20 anos e foi também o começo de um novo capítulo e uma nova cultura para o Douro. A marca UNESCO é uma oportunidade ainda longe de ser entendida pelos que vivem, trabalham ou visitam o Douro. Passados 20 anos, que avaliação faz da região? (Em termos socio- económicos) Já muitos o disseram: 20 anos depois, no Douro muito mudou. A inscrição do ADV enquanto paisagem cultural foi como um bem evolutivo e vivo. O seu principal atributo decorre da armação do terreno em socalcos suportados por muros. Sabemos o problema de conservação dos mesmos e sabemos como eles convivem com formas de armação em patamar tendo destruído uma parte significativa dos muros. Não nos podemos deixar seduzir pelas possibilidades das máquinas. É também fundamental assegurar a manutenção de um mosaico paisagístico equilibrado, ou seja, respeitar os limites da presença da vinha no ADV e na RDD. Trata-se de uma paisagem frágil, a qual já sabemos ser particularmente vulnerável à adaptação às alterações climáticas. Sinto que a diminuição da população no Douro emerge em todos os debates. No entanto houve investimentos expressivos na viticultura e também na vinicultura e no turismo e nas infraestrutras. O modelo de gestão do ADV foi sofrendo evoluções e, penso, continuará a evoluir sendo que se deseja que tenda para um modelo de maior proximidade ao terreno. Fizeram-se muitos investimentos públicos e privados no Douro nestes 20 anos o que reclama uma atenção à conservação do bem. A paisagem é sensível e por isso os impactos de obras, de movimentação de terras, de exploração mineira, de infraestruturas viárias, de centros produtores de energia tendem a ter impactos elevados. Se houve conservação da paisagem também houve muita transformação. Preocupa-me a destruição continuada de extensas zonas de matos para a instalação de novas vinhas. Muitas dessas formações de matos - ou bosques - estão instaladas sobre terrenos onde outrora o terreno esteve armado para acolher a vinha e outras culturas como a oliveira. Mas hoje temos conhecimento adquirido e vulnerabilidades elevadas no Douro – na paisagem, na vida empresarial, na produção e comercialização da uva …. Nestas comemorações celebra-se o passado mas também se tenta perspectivar o futuro. Como vê o Douro nos próximos 20 anos? Que preocupações deve ter a região? Alto Douro Vinhateiro 2040. Continuará a ser uma paisagem e um território desafiantes. Seria interessante que fosse um território de referência na sustentabilidade, na adaptação às alterações climáticas, na conservação exemplar do património natural e cultural ena promoção de um turismo de qualidade. O Douro deve prestar atenção ao seu produto de excelência o vinho do Porto e do Douro, mas não pode descurar outras culturas nomeadamente as fruteiras e a oliveira que tanto contribuem para o mosaico paisagístico. Interrogo-me sobre quem serão os durienses daqui a 20 anos. Urge assumir como prioridade a educação e a saúde dos durienses. Uma mensagem para o Douro e os durienses nesta data tão especial. Obrigada ao Douro e aos durienses e parabéns pelo percurso feito. Partilhar com o mundo a experiência de 20 anos de paisagem cultural e colocar a tónica na qualidade e só na qualidade. Mais justiça na atribuição do valor às uvas e uma dinâmica económica mais transversal.
DENISE BAX
É Chefe da Unidade de Comunicação, Cidades e Eventos do Setor de Cultura da UNESCO, onde chefia a coordenação da Rede de Cidades Criativas da UNESCO (UCCN) e da Plataforma de Cidades da UNESCO (UCP). Qual a importância desta classificação para a região do Douro? O Alto Douro Vinhateiro foi inscrito na Lista do Património Mundial em 2001. De acordo com a sua Declaração de Valor Universal Excepcional, o vinho é produzido por proprietários tradicionais do Alto Douro há cerca de 2.000 anos. Desde o século XVIII, o seu principal produto, o vinho do Porto, é mundialmente conhecido pela sua qualidade. Esta longa tradição vitivinícola produziu uma paisagem cultural de grande beleza que reflete a sua evolução tecnológica, social e económica. A paisagem visualmente dramática ainda é cultivada de maneiras tradicionais pelos proprietários de terras tradicionais. Ao longo dos séculos, fileiras e mais fileiras de terraços foram construídas de acordo com diferentes técnicas. A mais antiga, empregada na era pré-filoxera (pré1860), era a dos socalcos, terraços estreitos e irregulares apoiados por paredes de pedra xistosa, que requerem uma manutenção constante em que apenas uma ou duas fileiras de videiras podiam ser plantadas. As longas linhas de patamares contínuos de forma regular datam do final do século XIX e do início do século XX, altura em que as vinhas do Douro foram reconstruídas, na sequência do ataque da filoxera. Os novos socalcos alteraram a paisagem, não só pelas monumentais paredes erguidas, mas também pelo facto de serem mais largas e ligeiramente inclinados para garantir uma melhor expo-
sição solar das vinhas. 20 anos após a sua inscrição, como pode a região melhorar a sua preservação? Relativamente à gestão do bem, foi elaborado em 2001 um Plano de Gestão da Conservação específico, no âmbito da candidatura do bem que incluía um conjunto de objetivos, advertências e recomendações para assegurar a sua conservação e proteção. Este documento foi atualizado em 2015, incluindo um plano de monitoramento. O plano atualizado propõe medidas específicas para a avaliação e manutenção do estado de conservação do bem, identifica os fatores que o afetam, define a periodicidade da sua fiscalização e estabelece as autoridades responsáveis. Respeitar o Plano de Gestão pelas organizações gestoras do local ajuda a melhorar a eficácia das medidas de proteção e gestão dos bens do Património Mundial, e preservá-los para as gerações futuras. Mudanças climáticas, desertificação, desaparecimento da agricultura, intervenção humana descontrolada ... quais são as principais ameaças a este patrimônio em evolução? No momento da sua inscrição na Lista do Património Mundial, as principais preocupações identificadas, relacionadas com a proteção e gestão do Alto Douro Vinhateiro, estavam relacionadas com indicadores físicos como: conservação e reabilitação dos muros de pedra xistosa e dos socalcos, a aplicação de métodos adequados de instalação de vinhas; criação de redes arbóreas para dividir os campos de videira e criar passagens; minimizando intrusões visuais; registrar e proteger o patrimônio vernáculo; licenciamento de novos edifícios; melhorar os assentamentos; implementação de novas redes viárias. Além disso, foi reconhecido que, a longo prazo, as vulnerabilidades e desafios também requerem a ligação entre todas as partes envolvidas, incluindo as comunidades locais, para a implementação do objetivo comum de proteção e gestão da paisagem. Como paisagem cultural, esta propriedade permanece vulnerável a alterações derivadas de projetos de desenvolvimento (tanto relacionados com a infraestrutura turística e a exploração dos recursos naturais da área), mas também no que se refere a alterações na forma tradicional de uso do solo, com a qual o Valor Universal Excecional da propriedade está intimamente ligada. A sensibilidade da propriedade a mudanças e ameaças específicas precisa ser avaliada de forma abrangente, incluindo a sua vulnerabilidade à ameaça definidora de nosso tempo: as mudanças climáticas. No contexto de uma paisagem cultural, as ações de mitigação dos impactos do clima devem evitar e minimizar o impacto sobre os valores do patrimônio, incluindo as práticas consuetudinárias de gestão da terra. Devem também considerar o impacto concomitante nos meios de subsistência dos Povos Indígenas e comunidades locais e ser consistentes com as obrigações de Portugal ao abrigo da Convenção de preservar o Valor Universal Excecional da propriedade.
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A Câmara Municipal de Tabuaço deseja a todos vós um Feliz Natal e que o Novo Ano seja de saúde, prosperidade e renovação. O Presidente da Câmara Carlos André Teles Paulo de Carvalho
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Corredor de gelo, carrosséis e roda gigante animam O centro histórico da vila de Torre de Moncorvo preparou-se a rigor, nesta quadra natalícia, para receber as Festas da Boa Nova. A viagem pela magia do Natal inicia na Praça Francisco Meireles, podendo
os mais novos divertir-se nos vários espaços existentes como a casa do Pai-Natal, onde é possível escrever uma carta ao Pai- Natal e participar num dos vários ateliers disponíveis. As crianças podem ainda andar de carrossel, subir na roda gigante ou
divertir-se no corredor de gelo (Fun track), uma das novidades desta edição, instalado no Largo Dr. Campos Monteiro. Além do corredor existe ainda um bosque encantado com neve e vários animais selvagens. O corredor de
gelo, destinado a miúdos e graúdos, é uma iniciativa solidária, uma vez que o valor pago para usufruir deste espaço, um euro, reverte integralmente para os Bombeiros Voluntários de Torre de Moncorvo. Na Praça Francisco Meireles, a Câ-
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Torre de Moncorvo
m Natal em Torre de Moncorvo mara Municipal de Torre de Moncorvo promove em parceria com o CLDS Moncorvo 4G um Mercado de Natal, constituído por seis stands onde os munícipes e visitantes podem adquirir artesanato e os vários produtos regionais de qualidade produzidos
no concelho. Além das várias diversões disponíveis no espaço criança, os mais novos podem aproveitar para dar um passeio pela vila, no Bombeirinho com Rodas. Com paragem na Praça Francisco Meireles, o Bombeirinho com
Rodas vai circular pelo centro histórico de Torre de Moncorvo de 21 a 24 de dezembro. Este tem um cariz solidário, uma vez que o custo de cada viagem vai reverter na totalidade para os Bombeiros Voluntários de Torre de Moncorvo.
A magia de Natal expande-se pelas restantes ruas da vila através da iluminação de Natal existente, que a par da iniciativa Vivo Aqui-Compro Aqui, incentiva e convida a população a fazer as compras de Natal no comércio tradicional.
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Entrevista
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Grande Entrevista com: ANA BRITO E CUNHA Texto: André Rubim Rangel “Natal não é o consumismo dos presentes que se compram e esse furor para ir às lojas” Indo às tuas raízes familiares, descendes de condes e viscondes e cujas ligações se mantêm pelo teu marido. Há algum tipo de tradições e histórias que te vão acompanhando nestes laços monárquicos? Nunca tive uma educação diferente por ter a descendência que tenho. As tradições que se mantêm na minha família têm a ver com a minha educação cristã, com o assistir à Missa do Galo, reunir a família à mesa e, a seguir, a minha avó entregar a cada um dos seus netos o seu presente pelas mãos do Menino Jesus. Aqui a tradição é celebrar o nascimento de Cristo, que nos veio salvar. A nossa tradição, basicamente, é sermos felizes, respeitarmo-nos uns aos outros, sabermos dar-nos em família. Nunca fui educada por rituais monárquicos. Isso nunca esteve presente na minha educação. Antes pelo contrário: éramos muitos, fomos educados de forma simples, no campo, mas acima de tudo com muito e muito amor. A minha avó tinha uma frase muito bonita – deixou-a quando partiu – e que foi: «amem-se uns aos outros como eu vos amei». “Roubou”, com todo o respeito, esta frase a Jesus e sempre quis deixar a união, a amizade e os valores na família. E gostarias que voltássemos a ser monarquia ou achas que Portugal republicano está bem como está? Infelizmente a monarquia já não é vista como era. Antigamente os monarcas eram os representantes do país e as coisas já não são bem assim. Acho que é importante haver uma boa República e uma boa democracia, claro! Tendo tu um filho com 4 anos de idade, sendo que a vida dele está dividida por igual entre anos sem e com covid, de que modo sentes que tudo isto afetou ou não o seu crescimento/ desenvolvimento? Ainda é muito cedo para perceber o que a pandemia possa ter ou não afetado na educação e formação do meu filho. O Pedro é pequenino e só aos três anos é que foi para a Escola, porque tive oportunidade de me dedicar totalmente à maternidade. Portanto, esteve sempre em casa com os pais, até ao ano passado. Não houve uma grande diferença. E foi para a Escola para ajudar no seu desenvolvimento pessoal e cognitivo. Para ele é estranho, ele pergunta-me e eu explico. Nós em casa não andamos de máscara, tentei normalizar ao máximo toda esta situação triste que vivemos. Tento não passar para ele essas preocupações. Está numa escola pequenina, no meio do campo, que não tem muitos alunos e que tem um ensino um pouco diferente, mais dedicado ao individual e assim, também, ao comunitário. É interessante investigar: foi a educadora Maria Montessori que desenvolveu esta forma pedagógica de ensinar as crianças. Não temos tido grandes diferenças entre nós devido à covid. Faço por que tudo seja natural, pois penso que ainda é muito cedo para ele perceber esta diferença do pré e pós-covid. O que é realmente importante é o amor, a união, a fé e a amizade: são os valores que tento incutir, se Deus quiser, e vamos ver como isto se desenvolve.
Quanto à vacina contra a covid para crianças a partir dos 5 anos, no nosso país, consideras algo ponderado ou arriscado, sem se ter noção real dos efeitos? Contas, no próximo ano, vacinar o teu filho? É algo muito particular, ainda não tenho de pensar nisso, só daqui a seis meses. Como referi antes temos o privilégio de poder viver entre o mar e o campo e com essa realidade é um assunto sobre o qual vou ter de me debruçar um pouco mais. Nós, pais, somos vacinados e acredito que a vacina seja uma muito boa proteção, mas em relação às crianças tão pequeninas é uma situação em que tenho de investigar melhor para perceber, porque confesso que me preocupa um pouco. Em nossa casa temos uma preocupação muito grande, que é ter um corpo saudável, uma mente saudável e o sistema imunitário forte. Somos seguidos por um médico de medicina integrativa, que faz um balanço entre a medicina tradicional e a medicina homeopática e fazemos por estar, ao longo de todo o ano, protegidos, vitamináveis e saudáveis, para que o corpo esteja forte. Não beber porcarias, não inundar o corpo com açúcares nem bebidas gaseificadas. Faço por dar à minha família uma alimentação mais nutritiva e saudável possível! Já entraste em várias séries, telenovelas e películas. De todas elas, há uma direcionada para o público infantil-juvenil que foi talvez a mais marcante: “O Jardim da Celeste”. Foi fácil descolares-te dessa personagem nos tempos seguintes, devido ao seu sucesso? A Celeste foi uma personagem muito importante na minha vida, como tantas outras. Não foi difícil descolar-me dela, porque é uma personagem que me dá muito carinho quando encontro alguém que tem essa referência da sua infância e que se lembra de mim como a Celeste. Fico muito lisonjeada quando isso acontece. Era um papel que tinha como educadora de infância, em que interpretava esta professora que ia aos vários meios – piscatório, rural e citadino – com a sua carrinha e ensinar-lhes as matérias, a vida e a forma como viver. Era a escolinha. A Celeste é alguém que terei sempre no meu coração! Há dez anos, precisamente, participaste na série televisiva “A Sagrada Família”. O nome fazia realmente jus à realidade da representação ou ela apresentava-se noutros moldes, com base em que inspiração? A série de “A Sagrada Família” foi um projeto muito giro que eu tive a sorte de fazer parte. A ideia original foi do Nicolau Breyner, para juntar e trazer à vida, de novo, o humor e a sátira portuguesa que se fez numa época com o «Gente fina é outra coisa!». Ele criou esse projeto inspirado nessa série. Acabou por não ter uma grande presença no público, mas foi muito divertido e trabalhei com gente muito interessante. E, mais uma vez, aprendi muito! Obviamente não tem nada a ver com a nossa Sagrada Família – de Jesus, Maria e José –, mas sobre uma sagrada família portuguesa. Sendo tu uma fiel católica, sentes certamente o Natal de modo especial como nascimento de Jesus. O que fazes questão que nunca falte nas tuas celebrações desta época? Eu tento que não falte tranquilidade, serenida-
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de e amor. Sobretudo isso. Há uns anos para cá a minha noite de Consoada mudou um pouco, desde a partida da minha mãe. Cada um de nós já começa a ter as suas próprias famílias e dedicar-se a elas. Eu consigo conciliar o Natal em minha casa recebendo os meus irmãos, os meus primos e tentar manter a tradição no amor que a minha mãe punha na Consoada. É uma noite de família, em que estamos juntos, e em que há também uns presentes para cada um. Posso contar que dos presentes mais bonitos que já recebi até hoje aconteceu há uns dois anos, em que os meus sobrinhos me escreveram cartas de amor, sobre a nossa relação de uns e de outros e aquilo que sentiam por mim. Foi muito especial! E, para mim, isso é que é o Natal. E o que mais dispensas que haja no Natal, por vezes até se desvirtuando e se confundindo com ele próprio? Infelizmente acho que as pessoas estão um bocadinho confundidas ou confusas com o que é, na realidade, o Natal. O Natal é o renascimento interior, é a celebração do Menino Jesus no dia em que nasceu e que vem para nos salvar – como aprendemos na História. Tenho muita pena que o consumismo esteja tão forte e tenha marcado o Natal. Acho que a pandemia veio trazer ou devia trazer uma tomada de consciência que o Natal não é o consumismo dos presentes que se compram e esse furor para ir às lojas. Em
toda a minha vida uma coisa que fazia no Natal era construir eu os presentes para dar os meus. Eu desenhava, costurava, fazia croché, porque sentia que era uma forma de dedicar tempo àquela pessoa. É óbvio que esporadicamente, até quando se está com maior margem financeira, não deixo de dar um presente de maior valor (monetário), mas a minha preocupação quando procuro um presente é dar um pouco de amor ao mostrar que pensei naquela pessoa, naquilo que ela gosta, naquilo que lhe faz falta. E é uma prendinha, não é preciso ser de grandes custos! Acho que o ser humano confunde muito, aliás, pedem para escrever a carta ao Pai Natal. Eu nunca escrevi para ele, sempre escrevi a carta ao Menino Jesus! Este ano tive de escrever a carta para o meu filho e faço questão que ele aprenda que a carta é para o Menino Jesus: é quem decide quais os presentes a dar ou não. O Pai Natal é um ajudante físico que faz chegar esses presentes a casa, baseado no S. Nicolau. Tento ao máximo que o Pedro perceba esta realidade e tenha consciência do que é o Natal. Para voltar um pouco à questão da tradição, uma que temos sempre no Natal, e que fazemos desde crianças, é o «Presépio Vivo». Cada um de nós encarna uma personagem. Este ano já o fizemos, com menos crianças, e fizemo-lo no campo e ao ar livre. É sempre especial e serve para elas se lembrarem da razão das férias de Natal e porque estamos no Natal.
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país e de tomar decisões sobre estes problemas. Como me é muito difícil, em tão pouco tempo, dar uma resposta mais concreta e incisiva. Mudando de assunto, abordemos uma das regiões mais belas e mais turísticas, o Douro. Sentes maior desigualdade social aí comparativamente com outras regiões? Adoro o nosso país, adoro o Douro e adoro o Norte, onde tenho – como sabes – muita família. Mas não conheço muito bem. Sempre que tenho um projeto que me leva a viajar por aí fico muito agradecida, porque gosto muito de conhecer todas as nossas tradições, as nossas comunidades, as nossas gentes. Portugal vive do turismo, do nosso turismo, daquilo que nós somos, das nossas essências, e do que temos. Tal como no país, no Douro são seres acolhedores, que gostam de receber. O que sei é que há muita gente nova que, em tempos, saiu das suas aldeias para vir para as metrópoles. Sinto que agora começam a querer voltar lá, pois querem viver do bom que a terra é e daquilo que ela nos trás. A pandemia também nos veio recordar isso. Assim, as aldeias acabam por ter mais comunicações, as novas facilidades tecnológicas, e tornam-se mais próximas das grandes cidades. Acredito que os portugueses se aproximem mais das suas terras e localidades e as queiram mostrar ao mundo. O que é bom e necessário. Não devemos desconectar-nos daquilo que somos, as nossas raízes.
Falar-se de Natal é falar-se de vida. E tu foste sempre a favor da vida. Quanto ao tema atual e fraturante da eutanásia, qual é o teu parecer e sensibilidade sobre este assunto? Esta é parte dumas questões mais complexas. Eu já aprendi muita coisa na vida e eu sempre defendi a vida. Sempre defenderei a vida! E defendo também que as mulheres não devem ir presas por tomarem uma opção pessoal. Já entendi o porquê destes assuntos serem delicados, não podem ser debatidos de cada maneira. Cada caso é mesmo um caso. Até porque mexe com muita coisa. Inclusive com questões políticas, das quais me afasto. A política no nosso país e as suas formas estão muito feias! Aquilo que a gente possa dizer, ou não dizer, é deturpado. Pega-se numa palavra ou noutra e não se diz exatamente aquilo que possamos ter dito. Hoje em dia não me pronuncio como quando era mais nova, até como sucedeu quando foi o referendo do aborto. Porque acreditava que era possível lutar com honestidade, com franqueza, com verdade. E a situação política precisamente por estar muito feia não ajuda. Acredito que o bem vem para ficar e acredito que há pessoas boas com capacidades para nos gerir. Acho que é fundamental haver uma responsabilização social, como a questão do voto e porque é importante votar. Fico muito chocada que haja tanta e tanta distribuição de subsídio de desemprego e não haja nenhuma forma de se obrigar as pessoas a, pelo menos,
irem votar. É algo que me choca! Eu sei que o voto não é obrigatório, mas deveria ser! Sabemos que o subsídio de desemprego para muitas pessoas é mesmo indispensável, mas também sabemos que, infelizmente, existem situações – que o Governo não consegue controlar – de pessoas que estão encostadas e que têm outros empregos. Isso é que é um grande desequilíbrio na balança. Não sou eu que a vou equilibrar, porque não tenho capacidades nem estudos para isso. Acredito nos meus valores, na minha formação, tento votar, tento ser uma cidadã coerente e participativa, fazer o que posso e educar os meus a dar-lhes responsabilidades naquilo que devem fazer enquanto cidadãos. Acredito que podemos tornar o mundo um pouco melhor, por isso é que rezo! E tento que o meu exemplo, seja seguido de alguma maneira, pelo meu filho, respeitando sempre os outros e as suas liberdades. Ainda outro tema importante e relacionado com a vida, na sua dignidade, é o dos cuidadores informais. Vemos que em Portugal é mais uma das áreas laborais precarizadas e não devidamente reconhecidas. Como combaterias estes factos? É, de facto, também um tema muito importante. Conheço, de muito perto, quem passou por isso, quem teve de parar de trabalhar para cuidar dos seus. É uma situação muito presente na minha família. Lá está, é muito difícil de gerir um
Voltando à tua profissão, a representação, o que fez com que a interrompesses durante os últimos 5 anos (2016-2021)? E como preencheste esse período? O que fez com que interrompesse foi a maternidade. Eu casei depois dos 40 anos, comecei a construir a minha família e foi um sonho que sempre tive. Essa vontade de querer alargar a família e foi uma sorte conseguir conceber este meu filho. Não é tão fácil ter filhos, como parece! É um filho saudável, que eu adoro, e a minha vida sempre foi muito ativa, a correr de um lado para o outro. Por isso, optei parar, porque os nossos valores são para ficar e vão-se reafirmando ao longo da nossa vida. Ter um filho aos 42 anos fez com que percebesse isso e parasse tudo para me dedicar só a ele, como também ao meu marido. E aos meus projetos, porque não consigo largar a cem por cento a minha parte criativa. Ela está em mim, sou assim e preciso de criar. Agora que o Pedro foi para a Escola e que a vida retoma o ritmo mais normal, voltei a trabalhar com mais intensidade. O que trouxe a minha luz, a minha estabilidade criativa e que me dá tanta felicidade. Tenho uma equação nova e a vida agora é-me diferente, graças a Deus. As prioridades tornam-se diferentes, embora não queira deixar de ser artista. Faz parte de mim! Mas a equação de ter a minha família e a prioridade dela em mim é muito importante! É uma questão de saber gerir e conseguir equilibrar os vários pontos da minha vida. E, depois desse lustro, como foi regressar aos palcos e ecrãs? O que mais sentias falta neles? Voltar aos palcos e ecrãs está a ser maravilhoso. Está a ser incrível! Consegui voltar saudável e adoro a minha “Florinda”, esta personagem que
me foi dada na atual novela em exibição. Quando me falaram do lado da fé que ela deveria ter, eu perguntei de imediato se tinha de ser aquela fé castradora que a ficção gosta, já que a minha fé não é assim. Acho que ela é como a fé dos portugueses, de amor e de alegria. E foi-me permitido que a Florinda assim fosse. É mais uma sátira à vida portuguesa e que me dá nova vida. Também estou a ensaiar com o Diogo Infante para me estrear no Teatro Trindade, onde nunca estive. Eu respeito-o imenso, ele é um homem muito inteligente, que sabe o que quer e, para mim, é um privilégio enorme fazer parte deste elenco. Como diria o filósofo Sócrates, “só sei que nada sei!”. Tenho de saber respirar, tenho de saber falar, tenho de saber projetar. Os ensaios têm sido muito interessantes e estou muito feliz! Sinto-me uma miúda em voltar aos palcos e aos ecrãs. Isto até pode ser difícil, porque a maternidade era tudo o que eu queria e oxalá pudesse ter mais filhos – nem sempre a vida o permite, e eu sou um ser de maternidade, sem dúvida alguma –, mas a produção artística está totalmente intrínseca em mim. E dá-me muita vida! Entretanto, vimos partir mais um gigante nacional das artes & espetáculos, o Rogério Samora. O que destacas da tua vivência com ele e o que melhor o caracterizava? Este é um momento marcante, como foi o da Maria João, o do Filipe Duarte, no que toca aos mais recentes. São momentos extremamente difíceis. Tive a oportunidade de ir fazer um filme com o Rogério, precisamente no Douro, após eu casar. Tivemos um mês a preparar esse filme, a fazer ensaios, em que o Rogério seria o meu pai e o Rui Unas o meu marido. Infelizmente, nas vésperas de irmos gravar para o Douro, ficámos sem financiamento e acabámos por ter de desfazer as malas. Aquele mês de trabalho com o Rogério foi fantástico. Eu tinha um carinho muito grande por ele. Era um grande ator, um ser muito especial, muito reservado na sua vida pessoal. Mas quando gostava de alguém nós sentíamos. E eu sentia que ele gostava de mim e eu gostava de aprender com ele, das conversas que tínhamos. Foi uma partida que me tocou muito ao coração, que me deixou em muita oração. Espero que ele, agora, esteja ao colo de Nossa Senhora, como ele merece! Por fim, que mensagem positiva desejas deixar a todos os leitores, ao concluir-se este 2021 e na vinda de novo ano? Reforço que, para mim, o Natal é o renascimento e, portanto, é uma oportunidade de nos lembrar porque Jesus nos veio e vem salvar; lembrar o lado bom da vida; lembrar o sabermos estar em oração, sabermos recolher-nos e o sabermos dar valor ao estarmos aqui. É um dom estarmos vivos e termos saúde. Saliento, ainda, a capacidade de entreajuda e de sermos dignos de estarmos neste planeta, que é muito bonito e que temos de o respeitar e de o valorizar. Deixo uma mensagem de alegria, porque temos de rir e de viver uns com os outros. Há que tirar o melhor da vida e retirar dela aquilo que não interessa e a pandemia, mais uma vez, veio mostrar-nos isso. Peço que olhemos ao nosso coração para darmos mais valor àquilo que interessa muito, àquilo que é bom, não perdendo tempo com o resto.
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Região
Adega de Sabrosa apoia instituição do concelho com vendas de Natal A Adega de Sabrosa está, durante a quadra natalícia, a levar a cabo uma ação de solidariedade atribuindo 5% do volume total de vendas da loja para uma instituição de solidariedade social do concelho. "Este ano a instituição escolhida foi a Fundação Patronato de Santo António, que é o Centro de Dia de Sabrosa. A escolha recaiu sobre esta instituição porque muitos dos nossos associados são utentes do Centro, que tem passado por algumas dificuldades, até por causa da pandemia Covid-19", explica Celeste Marques, enóloga da adega, que explica ainda que a instituição "faz também apoio domiciliário". De acordo com a responsável, numa época em que ainda vivemos em pandemia e a sofrer os efeitos económicos da mesma, este tipo de iniciativas ganha ainda mais significado, justificando ainda o caráter associativo da adega. "A pandemia afetou bastante a nossa atividade porque dependemos muito do canal Horeca e como se sabe, os restaurantes tiveram durante um longo período fechados. Agora já começamos a recu-
perar e é desta forma que encaramos o associativismo, é o espírito de partilha, e de solidariedade entre todos. Sabemos que os 5% é uma pequena ajuda mas, para quem não tem nada já é alguma coisa. É uma forma de ajudar. Este tipo de ações faz parte daquilo que
somos, uma cooperativa tem por princípio dividir os seus lucros pelos associados, tendo em conta que grande parte dos nossos associados têm mais de 60 anos e são utentes do Centro de Dia, esta é uma forma de contribuir para a melhoria das suas condições de vida".
Celeste Marques explica ainda que a Adega de Sabrosa tenta, ao longo de todo o ano ajudar diversas instituições, em especial do concelho, num espírito de entreajuda, melhorando também as condições dos associados. Temos a preocupação de ajudar diversas instituições do nosso concelho durante o ano, e mesmo de fora de Sabrosa, contudo nesta época ganha um significado especial. Ainda este ano conseguimos aumentar o preço da pipa em 50€ para os vinhos de consumo e moscatel. Estamos sempre a querer melhorar e ajudar os nossos viticultores. Depois de tempos difíceis provocados pela pandemia e pelo encerramento, em especial dos restaurantes, Celeste Marques afirma que agora as vendas estão a melhorar As vendas estão a recuperar felizmente, tivemos quebras avultadas mas aos poucos fomos recuperando, mesmo na exportação. O nosso maior problema é quando o canal Horeca fecha, que nos obriga a ir para as grandes superfícies, como aconteceu no ano passado, contudo esta é uma solução de recurso porque as margens são muito reduzidas.
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Opinião
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Domingos Nascimento Presidente da Agência Social do Douro
O Douro, Património da humanização! Comemoram-se 20 anos do reconhecimento do Douro vinhateiro como Património Mundial. Na cerimónia de início das comemorações ficou bem clara a importância que este reconhecimento teve para a alavancagem da região em diferentes dimensões, muito particularmente a económica, com a valorização turística e dos vinhos. As entidades que tomaram a palavra, todas, se mostraram agradadas com o caminho percorrido. Mas, alguns líderes locais, não deixaram de marcar preocupações e ambições para o território. As comemorações durarão um ano. Eu proponho que se prolonguem para sempre. Com uma preocupação central, a de que a
Unidade de Saúde Pública do ACES Douro I Ana Luísa Santos Emília Sarmento Helena Pereira Enfermeiras Especialistas em Enfermagem Comunitária Unidade de Saúde Pública do ACeS Douro I
Inverno com Saúde No inverno ocorrem, naturalmente, temperaturas baixas e como consequência, há um aumento de incidência das infeções respiratórias na população, algumas vezes relacionadas com a epidemia sazonal da gripe. Mas, para além do vírus da gripe podem ocorrer simultaneamente agentes virais e bactérias, que provocam outro tipo de infeções respiratórias, como por exemplo pneumonias. A exposição ao frio, sem a proteção adequada, pode provocar alterações no nosso organismo que nos leva a ficar mais suscetíveis à gripe e constipações, especialmente em alguns grupos de pessoas mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e os portadores de doenças crónicas. Portanto, se pertence a um dos grupos de risco e ainda não se vacinou, dirija-se ao seu Centro de Saúde porque ainda está a tempo de o fazer! Durante o inverno é importante que mantenha a sua casa aquecida, mas em segurança, tendo cuidado com braseiros, lareiras abertas e cobertores elétri-
cada ano, este valioso património da humanidade, seja, cada vez mais, Património da Humanização. Que faça do Douro o lugar de referência de trabalho dignificado. Promotor de multiculturalismo. Integrador e justo. Que o balanço social seja um exemplo para o país e para o mundo. Que o território não deixe em desamparo os mais velhos. Permitindo-lhes viverem nas suas casas o mais tempo possível. Dando a cada comunidade (aldeia) um cuidador comunitário dedicado e, em rede, se levem cuidados de saúde e de amparo social altamente diferenciados e adaptados aos novos tempos e a este extraordinário território. Que se promova a profissionalização dos jovens e se lhes abram horizontes na região, pelo emprego qualificado e pelo empreendedorismo, para que se inverta o caminho para o abismo da desertificação. Que se valorize a educação para as crianças, quebrando, dessa forma, ciclos de pobreza muito pesados ainda na região. Este Grande Douro será daqui a 20 anos o que por ele fizermos a cada dia que passa. Com determinação e visão estratégica. A valorização das PESSOAS é a maior das obras que no Douro vamos concretizar.
cos. Intoxicações por monóxido de carbono e incêndios domésticos são alguns dos acidentes frequentes no inverno e que resultam em graves consequências. Aconselha-se até, que no início do inverno se verifique se o sistema de aquecimento utilizado se encontra em perfeitas condições de funcionamento. Ainda dentro de casa, também ajuda a combater o frio o consumo de bebidas quentes. No exterior, sugere-se o uso de várias camadas de roupa, bem como a proteção das extremidades, através da utilização se gorros, luvas e cachecóis. Nesta época de frio há também uma maior tendência para concentrar as pessoas em locais fechados e mal arejados, o que pode contribuir para a propagação de algumas doenças infeciosas. São assim fundamentais as medidas de proteção contra a gripe e outras infeções respiratórias, como por exemplo: lavagem frequente das mãos, "distanciamento social" se tiver sintomas de gripe, utilização de máscara de proteção se tiver tosse, utilizar a linhas de saúde 24 (808 24 24 24), como primeiro contacto com o sistema de saúde, evitando assim desnecessárias idas ao Serviço de Urgência! O frio do inverno pode ainda aumentar significativamente o risco de acidentes rodoviários e mesmo quedas das pessoas nas ruas, isto devido ao gelo, geada, granizo, vento e chuvas, pelo que cuidados acrescidos na estrada e nos passeios também são extremamente importantes. Proteja-se do frio e passe um inverno seguro!
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O Restaurante O Lagar deseja a todos os nossos clientes e amigos um Feliz Natal e um Próspero Ano de 2022
Rua do Hospital Velho, N.º 16 Torre de Moncorvo Telefone: 279 252 828 www.restauranteolagar.com.pt
Boas Festas
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Opinião
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António Fontaínhas Fernandes Professor Universitário
Relançar a regionalização O debate sobre a criação de regiões e o aprofundamento da descentralização está relançado. Embora previstas na Constituição de 1976, as regiões administrativas nunca foram instituídas e concretizadas, continuando Portugal a ser um dos países mais centralizados da Europa. A revisão constitucional de 1997 passou a exigir que a instituição das regiões fosse objeto de referendo, o qual em 1998 viria a travar esta reforma durante décadas. Na altura, tal como nos dias de hoje, reinou a desinformação, tendo os críticos invocado de forma ampliada argumentos como a ineficácia e ineficiência das políticas públicas, a intensificação da competição entre regiões, o agravamento das assimetrias intrarregionais, o aumento da despesa pública e mesmo até da corrupção. Por outro lado, as regiões administrativas são confundidas com regiões político-administrativas, dada a familiaridade dos casos das regiões autónomas da Madeira e dos Açores e mesmo das comunidades autónomas de Espanha. Estes argumentos são situações de risco que devem ser prevenidas e geridas proativamente, não devendo ser fatores que justificam a não criação de regiões administrativas.
O relatório da comissão independente da descentralização sublinha os elevados custos de um centralismo excessivo, descoordenado e insensível à diferenciação territorial, bem como a incapacidade do Estado com estas características lidar de forma adequada com os problemas e as potencialidades existentes a uma escala infranacional, fora do alcance da ação dos municípios. Regiões sem voz e sem reconhecimento não conseguirão fazer-se ouvir, não influenciam decisões essenciais para o seu futuro. O défice de legitimação política ao nível regional surge, assim, como o défice maior, que é urgente superar através da criação de regiões. O nível regional é o mais ajustado para aproximar os níveis de decisão sobre as soluções à origem dos problemas, contribuindo para respostas públicas mais eficientes, aumentar a confiança dos cidadãos nas instituições e estimular uma maior participação. A proximidade dos dirigentes regionais aos cidadãos estimula o escrutínio público, uma maior transparência e prestação de contas, constituindo um fator de responsabilização dos decisores perante os eleitores. Estudos da OCDE mostram que a descentralização tende a diminuir as oportunidades de corrupção, ante um escrutínio público mais elevado e uma pressão mais intensa para a prestação de contas. O debate eleitoral que se avizinha é o momento adequado para os partidos políticos apresentarem as suas propostas sobre o modelo de organização do país.
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Opinião
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João Barroso
Vice-Reitor para a Inovação, Transferência de Tecnologia e Universidade Digital
A capacidade de inovar é fundamental para a prosperidade e a longevidade das empresas, assumindo um papel decisivo na construção de uma sociedade que anseia por coisas novas e melhores. São exemplo disso os novos produtos e serviços que permitem realizar as atividades e tarefas de um modo mais eficaz e, essencialmente, mais eficiente. Leva-me a dizer que o mundo atual já não nos satisfaz e o novo mundo que pretendemos não existe, mas está ao nosso alcance. Nas últimas décadas, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) assumiram
Jorge Sobrado
Secretário Técnico de Estratégia e Comunicação da CCDR-NORTE
Entre 14 de Dezembro de 2021 e a mesma data de 2022, o Alto Douro Vinhateiro celebra os 20 anos do seu estatuto de “Património Mundial” da UNESCO. Esta celebração é plenamente justificada. Nestes 20 anos, o Douro evoluiu muito e, regra geral, para melhor, apesar dos problemas persistentes na demografia e no injusto rendimento agrícola. Mas se puxarmos a cassete atrás destas duas décadas facilmente nos recordaremos dos níveis tão embaraçosos de insucesso e abandono escolar, dos pontos negros formados por lixeiras e sucatas a céu aberto na paisagem classificada, dos valores de rendimento médio tão profundamente assimétricos face à média do Norte e à média nacional. Reconheceremos também, com
Gilberto Igrejas
Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. (IVDP)
O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP), em articulação com o setor, concretiza, em Portugal e no mundo, um conjunto de ações que visam reforçar a dimensão internacional dos vinhos do Douro e do Porto e da Região Demarcada do Douro (RDD), enquanto produtos e território de excelência e de inovação, numa lógica de valorização transversal, com manifesta preocupação pela sustentabilidade económica, social, cultural e ambiental do território duriense, Património Mundial da Humanidade. Reforçando, anualmente, o investimento na promoção para alcançar novos mercados geográficos e consolidação de mercados emergentes, o IVDP promoveu um conjunto de ações com o objetivo de granjear para as Denominações de Origem Protegidas (DOP) Porto e Douro, um progressivo ganho de conhecimento e notoriedade e, em consequência, um crescimento da procura e do valor. Para tal, o IVDP definiu um conjunto de objetivos que aportam crescimento e valor às DO
Emprego qualificado em regiões de baixa densidade populacional um papel relevantíssimo na capacidade das empresas inovarem. As TIC têm evoluído a um ritmo muito elevado, abrindo novas portas e vislumbrando novas oportunidades na área da informação e do conhecimento. Por isso, a procura de recursos humanos qualificados nesta área é, atualmente, muito elevada, exercendo uma enorme pressão no mercado de trabalho e nas Instituições de Ensino Superior (IES). Esta nova relação da oferta/procura por quadros qualificados leva as empresas a vir procurá-los diretamente às IES e até a colaborarem na sua formação. É, sem dúvida, uma oportunidade para as cidades e para as IES do Interior, que até há pouco formavam profissionais qualificados para exportar. Este novo paradigma leva-nos a assistir à instalação de novas unidades de desenvol-
vimento – a chamada estratégia de nearshore – das empresas tecnológicas em centros populacionais de pequena dimensão, em grande parte localizados no Interior do nosso País. Já defendi que as regiões consideradas desfavorecidas ou de baixa densidade podem proporcionar um estilo de vida mais saudável, quando comparado com a vida nas grandes cidades, mas este movimento das empresas tecnológicas para regiões de baixa densidade populacional só acontecerá se estes territórios se dotarem com meios necessários para a instalação e a captação de recursos humanos altamente qualificados. Por exemplo, disponibilizando meios de comunicação digital de alto débito, infraestruturas e meios de transporte que permitam novas mobilidades. Para tal, há que criar centros de formação e graduação de elevado nível em
que as IES podem e devem ter um papel muito importante e diferenciador. Algumas regiões de baixa densidade populacional já têm vindo a tirar partido deste fenómeno de um modo inteligente e apropriado, mas outras há em que tal não acontece, mesmo quando possuem todos os meios para o fazer. As oportunidades surgem e passam. Por isso, é muito importante que as entidades de governo regional e, sobretudo, municipal, façam um trabalho estratégico e de planeamento adequado para não se perder esta oportunidade de mudança. O desenvolvimento regional e a captação de emprego qualificado são assuntos bastante complexos, mas estas regiões não devem deixar fugir a oportunidade imediata apresentada pelas TIC.
Um Douro de Futuro. Para visitar, viver e trabalhar facilidade, o valor e a reputação além-fronteiras adquiridos pelos vinhos tranquilos da região demarcada, o salto qualitativo e de dimensão internacional alcançado pelo Douro no turismo, a afirmação da sua universidade em setores como a enologia, ou a mutação na valorização cultural e patrimonial do território, expresso simbólica e eloquentemente nos Museus do Douro e do Côa. Só para dar alguns exemplos. Mas esta celebração, mais do que ao passado, aponta em direção ao presente e ao futuro. Nem todos os problemas persistentes se resolveram, entre os quais o do rendimento dos durienses, e outros vêm a caminho. Por outro lado, nestes 20 anos, o Douro perdeu 30 mil pessoas, numa hemorragia populacional que ensombra o futuro e ameaça a sustentabilidade do território (drama, infelizmente, comum a praticamente todo o interior português). Por tudo isto, as comemorações dos 20 anos do Douro Vinhateiro Património Mun-
dial, promovidas por um conjunto alargado de instituições da região, querem ser muito mais do que uma “festa”. Querem abrir uma janela para um debate desassombrado sobre os 20 anos passados e os 20 anos futuros, sobre o que se ganhou e sobre o que está adiante de nós como desafios e ameaças, como fraquezas e oportunidades. Querem ser, ainda, uma oportunidade para criar consciência comunitária e pública sobre o valor cultural, humano e ambiental da paisagem e do património durienses, fazendo uma afirmação sobre o carácter humano e o potencial vivencial desse bem e deste território. É, neste contexto, que nasceu a primeira campanha de “marketing territorial” do Douro Vinhateiro Património Mundial. Com recurso a histórias de vida de 20 durienses, esta campanha, profundamente humanizada, elege uma mensagem simples: depois de estar na moda pelos seus vinhos e enquanto destino de turismo, o Douro quer estar na
moda como território de futuro para viver e trabalhar. Nessa coletânea de vida, estão experiências de vida tão distintas como as de uma artesã e um artesão, de um enólogo e um tanoeiro, de um investigador em alterações climáticas e um maquinista de um comboio histórico, do guardião de um jardim classificado e de um arquiteto paisagista, de um produtor de vinhos e uma padeira artesanal, de uma profissional qualificada de hotelaria e um pároco e empreendedor social, entre várias outras. A comunidade é a única “protagonista”, o rosto e voz, da iniciativa, não iludindo incertezas e dificuldades, mas inspirando confiança e um olhar positivo de dentro para fora. Do Douro para o País. Das ruas à Internet. 20 anos, 20 histórias dos chamados “heróis anónimos” do Douro Património Mundial, numa ponte que une gerações que marcaram o passado e podem definir um futuro ainda melhor.
Aportar crescimento e valor às Denominações de Origem Porto e Douro Porto e Douro e, em consequência, à RDD: atrair novos consumidores, rejuvenescer a base de consumidores, promovendo sempre um consumo responsável e moderado, fidelizar e aumentar a frequência de consumo dos consumidores tradicionais, criar novas ocasiões de consumo e fortalecer as existentes. Num trabalho conjunto com as profissões — comércio e produção — estabelecemos critérios objetivos na escolha mais eficaz dos mercados-alvo, definindo e implementando ações. Na comunicação, privilegiámos a excelência, a identidade e a genuinidade como elementos de afirmação através de uma imagem forte, dinâmica e versátil. Aliámos a promoção a uma estratégia de proteção e defesa e investimos na diferenciação positiva do produto, que assenta num sistema criterioso e moderno de controlo e certificação, contribuindo quer para o aumento da perceção de valor das marcas Porto e Douro, quer posicionando-as como vinhos de excelência. No final de outubro, as quantidades vendidas de Porto (+11,5 %) e de Douro (+10,0 %) encontravam-se muito acima das vendas no período homólogo de 2020, sem impacto negativo nos respetivos preços médios, em que se verificaram também acréscimos (+5,2 % no caso do Porto e +6,4 % para o Douro). Realça-se a comparação
com os dados pré-pandemia mais do que a comparação com 2020: para além das exportações se situarem acima das verificadas em 2019 (na quantidade exportada até outubro: +3,6 % para o Porto e +14,6 % para o Douro), também se registaram melhorias ao longo do ano a nível das vendas no mercado nacional. O valor das vendas de vinho do Porto está ainda bem abaixo do de 2019, mas com uma diferença que baixou de -30,1 % até julho, para -26,2 % até outubro. Por seu turno, as vendas de vinho do Douro, até outubro de 2021, posicionam-se acima das de 2019, tanto em valor (+5,5 %) como em quantidade (+1,8 %). Este comportamento permite esperar que as vendas dos vinhos da região venham a atingir, no final de 2021, um total de cerca de 586 milhões de euros. Este valor de vendas constituiria um novo recorde na comercialização de vinhos da RDD, sendo 2,5% superior ao anterior máximo, 572 milhões de euros, registado em 2019. Para se conseguirem estes resultados, reforçámos de forma expressiva a comunicação nas redes sociais e mantivemos uma presença online para comunicar com o nosso público-alvo: profissionais, principalmente do sector e canal HORECA, imprensa, opinion-makers e formandos, intermediários de consumo e consumidores. Os agentes económicos e as marcas que representam são fundamentais na concretização e
sucesso das ações desenvolvidas junto deste público-alvo. Em resumo, uma tipologia de ações centradas na divulgação, formação e pedagogia, principalmente em escolas de hotelaria e setor HORECA, mas também nas provas, nas atividades com profissionais e consumidores e na presença em feiras internacionais de relevo, foram fatores promocionais decisivos para estes resultados. Avaliar o impacto destas ações de promoção diretamente nas vendas dos vinhos da RDD não será tarefa fácil, uma vez que as vendas sofrem outras influências para além das resultantes da promoção efetuada, que variam de mercado para mercado como sejam a conjuntura económica, passando pelo perfil do consumidor, pela existência, ou não, de fortes produtos concorrentes e até mesmo pelo tipo de promoção que as marcas fazem, bem como dos seus segmentos-alvo. Independentemente de todas estas variáveis, ficou aqui demonstrado que a evolução muito positiva da comercialização dos vinhos da Região Demarcada do Douro, em grande parte impulsionada pelas exportações, deve-se também ao impacto das ações de promoção e proteção, levadas a cabo pelo IVDP, que cumpriram de forma cabal os objetivos acima enunciados.
DEZEMBRO 2021 VIVADOURO 39
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atal é, por excelência, a celebração da família e a evocação dos valores que guiam uma sociedade que se pretende justa, harmoniosa e solidária.
Que o ano que se aproxima traga, a cada um, a concretização do sonho, a realização na esfera familiar e o sucesso pessoal. É neste espírito que desejo, em nome do atual Executivo Autárquico de Freixo de Espada à Cinta, um Santo Natal e um próspero Ano Novo. Com estima,
Nuno Ferreira