Jornal_VivaDouro_Ed93_nov22

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PUB Visite-nos em: www.vivadouro.org - E-mail: geral@vivadouro.org Ano 7 - n.º 93 - novembro 2022 | | Diretor: Miguel Almeida | Dir. Adjunto: Carlos Almeida Preço 0,01€ Mensal HÁ GENTE NAS ALDEIAS Especial Aldeias Vinhateiras Aldeia Vinhateira de Provesende Aldeia Vinhateira de Favaios Este mês o VivaDouro dá continuidade à reportagem sobre as Aldeias Vinhateiras do Douro. Favaios e Provesende são os nossos destaques nesta edição. > Págs.34 a 37 Nuno Gonçalves “Não é compreensível que em 90% do percurso feito no IC5, não se consiga fazer uma chamada”. > Págs.12/13 Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo “As teorias de desenvolvimento têm demonstrado que separar regiões mais e menos desenvolvidas não é solução, chegando mesmo a aumentar a diferença” Festa da Castanha celebrou 30 anos Sernancelhe “Há ainda uma perceção errada do que são e do que têm os territórios do interior” Págs. 26/27 Xanana Gusmão recebeu Prémio Literário Guerra Junqueiro Freixo de Espada à Cinta Pág. 30 Nesta edição pode encontrar o destacável do Boletim Informação Págs. 19/22 Págs. 4/5

Estimados Leitores,

Aproximar os políticos dos eleitores é essencial. Aproximar os nomeados políticos dos pró prios políticos e dos eleitores também é essencial.

Porque os que estão na coisa política precisam de fazer com que as suas decisões sejam as melhores para as pessoas. E muitas vezes conhecer os pro blemas reais é o que faz com que as decisões sejam as melhores.

Mas os decisores políticos e os seus nomeados não podem, não conseguem e não é desejável que façam tudo o que os seus eleitores desejam. Equilibrar os pontos, os pedidos, as solicita ções e conseguir fazer cumprir orçamentos e atribuições finan ceiras é um trabalho complexo de organização e disciplina po lítica.

Para os territórios de baixa densidade esta questão é ainda é mais pertinente; pois a proxi midade é muito maior e a per ceção dos eleitores e dos políti cos do seu poder e capacidade de influência mútua também é maior.

Mas para o desenvolvimento dos territórios é absolutamente necessário que o financiamento dos projetos europeus, do PRR, do P2030 e de todos os outros sistemas de apoio pois só com a força de todos, promotores, de cisores locais e com o suporte estratégico dos projetos finan ciados é que se podem realizar ações com bons resultados.

Para isso é preciso estarmos atentos e ter a capacidade de trabalho para apresentar os pro jetos que fazem sentido que são multiplicadores do investimen to. 

SUMÁRIO:

Vila Real Páginas 3 Destaque Páginas 4e 5

Torre de Moncorvo Página 6

Alijó Páginas 7 e 31 Mesão Frio Página 8

Freixo de Espada à Cinta Páginas 9 e 30

Sabrosa Páginas 10, 18 e 29

São João da Pesqueira Página 11

Entrevista Autarca Páginas 12 e 13

Moimenta da Beira Página 14

Carrazeda de Ansiães Página 15

Penedono Páginas 16 e 17

Santa Marta de Penaguião Página 23

Entrevista Páginas 24 e 25

Vila Real Páginas 20 e 29

Sernancelhe Páginas 26 e 27

Opinião Páginas 28 e 38 Armamar Página 32

Região Página 33

Especial Aldeias Vinhateiras Páginas 34, 35, 36 e 37

POSITIVO

Chegou ao fim a época do Comboio Histórico do Douro, este ano foram quase 10 mil os turistas que usufruíram deste serviço, um sinal da retoma turís tica na região.

NEGATIVO

A fileira do castanheiro, de grande importância no território da CIM Douro, regista este ano uma quebra de produção superior a 70%. Um impacto de grande relevância para os produtores deste fruto outonal.

Por um Douro dinâmico e sustentável

O Alto Douro Vinhateiro inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO é reconhecidamente um bem comum cultural, pertença do mundo.

Decorridos mais vinte anos sobre a classificação do Alto Douro Vinhateiro como património mundial, o Douro tem sido objeto de significativos investimentos pú blicos e privados, que contribuíram para a valorização do seu território e para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos em geral e dos durienses em particular.

Contudo, a sustentabilidade da Região reclama novas dinâmicas que devem ser potenciadas no novo ciclo de fundos comunitários do Portugal 2030, entre as quais se destacam objetivos como: o aumento do valor acrescentado gerado pelo vinho e pela paisagem, bem como a criação de produtos endógenos diferenciados de elevado valor; a aposta numa inovadora carteira de atividades económicas, considerando mercados cada vez mais globalizados e competitivos, reforçando a componente de inovação e de desenvolvimento de novos conceitos e marcas; a promoção do turismo e da gastronomia associados a uma narrativa cultural, assente nas estruturas locais existentes e potenciando a chancela UNESCO; a valo rização de domínios do desenvolvimento sustentável aos quais a cultura adiciona um valor acrescido, mediante expressões culturais e práticas artísticas, a preser vação do património material e imaterial, e a promoção da diversidade cultural.

O Douro pode e deve ser perspetivado enquanto laboratório de desenvolvimen to sustentável, envolvendo dinâmicas inteligentes e produtivas, sendo essencial colocar a criatividade e o bem-estar no centro da planificação e da renovação rural, respeitando sempre os princípios de proteção do património e o bem-estar dos residentes.

Numa altura em que se encontra em curso a celebração vinte anos do Alto Dou ro Vinhateiro como Património Mundial, todos ao atores regionais devem estar à altura das suas responsabilidades e ajudar a cumprir o Douro, mantendo uma atitude pró-ativa e responsável na preservação do seu valor excecional universal, incluindo os decisores políticos que acreditam num Douro melhor e mais inclu sivo.

2 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
PRÓXIMA EDIÇÃO 14 DE DEZEMBRO Registo no ICS/ERC 126635 | Número de Registo Depósito Legal: 391739/15 | Diretor: Augusto Miguel Silva Almeida (TE-241A) miguel.almeida@vivadouro.org Tlm.: 916 430 038 | Diretor Adjunto: Carlos Almeida | Redação: Carlos Almeida carlos.almeida@vivadouro.org Tlm.: 912 002 672 | Departamento comercial: Carlos Rodrigues Tel.: 962 258 630 / 910 599 481 | Paginação: José Gonçalves | Administração e Propriedade do título: Vivacidade, Sociedade de Comunicação Social, S.A. Rua Poeta Adriano Correia de Oliveira, 197 4510-698 Fânzeres | Administrador: José Ângelo da Costa Pinto | Estatuto editorial: www.public.vivadouro.org/vivadouro | NIF: 507632923 | Detentores com mais de 5% do capital social: Lógica & Ética, Lda., Augusto Miguel Silva Almeida e Maria Alzira Rocha | Sede de Redação: Avenida Barão de Forrester, nº45 5130-578 São João da Pesqueira | Sede do Editor: Travessa do Veloso, nº 87 4200-518 Porto | Sede do Impressor: Av.ª da Republica nº6 1º Esq. 1050-191 Lisboa | Colaboradores: Ana Luísa Santos, André Rubim Rangel, António Cunha, António Fontaínhas Fernandes, Beatriz Oliveira, Carlos Rodrigues, Emília Sarmento, Eduardo Rosa, Emídio Gomes, Gilberto Igrejas, Guilhermina Ferreira, Helena Pereira, Luís Alves, Paulo Costa,Ricardo Magalhães, Sandra Neves, Sílvia Fernandes e Tiago Vieira. | Impressão: Luso Ibéria Avenida da República, Nº 6 - 1050-191 LISBOA Contacto: 914605117 comercial@lusoiberia.eu| Tiragem: 10 mil exemplares ANUNCIE AQUI Tel.: 962 258 630 | 910 599 481 carlos.rodrigues@vivadouro.org geral@vivadouro.org SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER E A NOSSA ASSINATURA MENSAL geral@vivadouro.org Alerte para o que está bem e denuncie o que está mal. Envie-nos as suas fotos para geral@vivadouro.org Editorial VISITE-NOS NAS NOSSAS REDES SOCIAIS: www.vivadouro.org www.facebook.com/jornalvivadouro www.instagram.com/vivadouro www.twitter.com/vivadouro
José Ângelo
Economista e
Adjunto
Pinto
Prof.
da ESTG.IPP.PT
Fontaínhas Fernandes Professor Universitário

Vinhos Alumni UTAD 2022 apresentados na companhia dos Queijos Alumni UTAD

A edição deste ano da cerimónia de apresentação dos Vinhos Alumni UTAD, A Prova dos Novos, contou com uma novidade, a junção de três queijos, também eles elabora dos por antigos alunos da institui ção transmontana.

Na cerimónia onde foram apresentados os vinhos deste ano, os seus autores de signaram também os seus sucessores, não sem antes todos os presentes terem opor tunidade de também eles provarem os vi nhos e queijos apresentados.

Em 2022, o vinho tinto Alumni UTAD vai ser produzido na Áustria, país onde trabalha Luís Teixeira, o enólogo escolhi do por Martta Reis Simões. Atualmente, é responsável pela produção dos vinhos da Weingut Wieninger e de Weingut Hajszan -Neumann, em Viena, contando com ex periências internacionais em França e em Espanha.

A nomeação de Sandra Alves recaiu so bre a enóloga Patrícia Peixoto, que ficará responsável por criar, no próximo ano, o vinho branco Alumni UTAD. A sua vida profissional começou na região da Beira Interior, seguiu-se a região dos Vinhos Verdes e, desde 2006, Patrícia Peixoto di rige a produção na Casa Santa Vitória, na região do Alentejo.

Por indicação de Tiago Alves de Sou sa, caberá ao enólogo Carlos Alves assinar o Vinho do Porto Alumni UTAD. Diretor de viticultura e enologia do grupo Sogevinus, Carlos Alves trabalhou na Porto Cálem até 2007. Já o próximo espumante Alumni UTAD nascerá das mãos do enólogo Da niel Fraga Gomes, uma missão incumbida pela enóloga Sofia Caldeira. Após 17 anos nas Caves Aliança, Daniel Fraga Gomes as sinou os vinhos D’Eça e Cronica. Seguiu-se uma experiência nos Estados Unidos da América, como responsável de viticultura e enologia de uma adega e regressou para abraçar um novo desafio na Quinta do Val lado.

Em 2022, o queijo de cabra será pro

duzido por Paulo Nobre Martins, uma nomeação de Inácio Neto. Com mais de três décadas ligado à produção de queijo, Paulo Nobre Martins desempenha as fun ções de técnico de produção na empresa espanhola ABIASA – Avances Bioquímicos e Alimentación.

Por indicação de João Reis, a produção do próximo queijo de ovelha será asse gurada por Alice Vilarinho. Licenciada recentemente em Engenharia Zootécni ca na UTAD, Alice Vilarinho iniciou a sua atividade profissional na Quinta Vila dos Reis, como chefe de produção. Marta Santos vai produzir o queijo de vaca em 2022, uma responsabilidade delegada por Zulmira Lopes. Tinha apenas um ano de idade quando os progenitores, que eram produtores de leite, se aventuraram no fa brico do “Queijo Senras” e, em 2011, cons tituiu, juntamente com as duas irmãs, a “SenrasDairy” para dar seguimento ao

negócio dos pais.

No final da cerimónia, em declarações à imprensa, Emídio Gomes, reitor da universidade transmontana, revelava-se satisfeito com os produtos à prova, bem como no estreitar dos laços entre os anti gos alunos e a instituição, algo "essencial" no entender do reitor.

"São momentos de muita alegria, de par tilha dos valores da UTAD. É o momento em que, mais que ficar presos à história, honramo-la e perspetivamos o futuro.

É decisivo para nós manter a ligação aos antigos alunos, eles são os nossos maio res e melhores embaixadores. Nada nem ninguém como eles saberá transmitir os valores da UTAD aos novos alunos e para a sociedade. É algo que nos honra e que muito nos orgulha.

Poderiam haver vinhos de praticamen te todas as grandes regiões vinícolas do Mundo, um sinal que a presença da

Zulmira Lopes

– Queijo de vaca

Ajunção dos queijos a esta cerimónia é muito impor tante. O queijo sozinho só se for com marmelada ou compota. O casamento de um bom vinho com um bom queijo valoriza os dois.

Há uns aos fiz uma experiência com um queijo Terrincho com um vinho do Porto Reserva e a experiência foi melhor que comer um Abade de Priscos. 

UTAD neste setor se vai prolongar por muitos anos, algo que nos orgulha mui to".

Questionado sobre a qualidade dos produtos que tinha acabado de provar, o reitor não poupou os elogios.

"Comecei e terminei com um espuman te inacreditável que sabe a mar, um Por to que torna óbvio que Deus passou por esta região, provei um tinto com carácter feminino e elegância únicos e um branco absolutamente fora da escala. Tenho a mania que não gostava de queijo de ca bra mas rendi-me, o de vaca parecia de ovelha e o de ovelha era único, que mais poderíamos pedir?".

Pedro Nuno Teixeira, Secretário de Esta do do Ensino Superior, que também este ve presente na cerimónia, sublinhou a im portância da ligação dos antigos alunos às instituições de ensino como fator de cres cimento e desenvolvimento da mesma. 

Tiago Alves de Sousa – Vinho do Porto

O Vinho do Porto é um vinho especial, onde reunimos todo o conhecimento que as gerações anteriores foram passando mas que também nos permite aplicar os conhe cimentos científicos e tecnológicos que aprendemos aqui na UTAD.

É muito especial e uma grande responsabilidade ser da região, ter estudado aqui e estar agora a produzir vinhos no Douro. Ser escolhido para vir aqui apresentar um vi nho é uma responsabilidade ainda maior e espero que tenha sido bem sucedido, é um vinho especial para mim. Ter o meu nome nesta galeria é uma grande honra mui to especial. Todos os que passaram pela UTAD acabam por ficar com um sentimento especial e tudo aquilo que possamos fazer para retribuir a esta universidade, faze mos. 

3 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO Vila Real

Destaque

"Há uma perceção que a região do Douro por explorar e que o país todo perde

Natural de Angola e formada em economia, Ana Abrunhosa é Mi nistra da Coesão Territorial, pasta criada por António Costa em 2019. Se na literatura tem dificuldade em escolher apenas um livro que a identifique, no grande ecrã escolhe Flores de Aço, de Herbert Ross, como filme da sua vida, e na músi ca a Canção do Mar, de Dulce Pon tes, tem preenchido os seus dias.

A família é um pilar importante com que tem que falar todos os dias e que define onde passa férias. À mesa não resiste a um bom arroz de cabidela.

Uma das governantes que mais tempo passa na região do Douro deu uma entre vista exclusiva ao VivaDouro, que teve lu gar no Espaço Miguel Torga, em Sabrosa.

As funções que desempenha obri gam-na a trabalhar mais do que as 8 horas diárias. O que se perde com essa ausência?

Em primeiro lugar ganha-se. Ganha-se muito quando se trabalha com o sentido de missão pública e sentimos que pode mos fazer a diferença, nos territórios e nas pessoas, por vezes com coisas pequenas. Perdemos, em horas de sono obviamen te. E em momentos de família que deixam de ser em quantidade e passam a ser de qualidade.

Compensa-se pela qualidade? Sim, sem dúvida.

Numa fase madura da vida a experiência e a sabedoria ensinam-nos algo que, quan do somos mais jovens é difícil perceber, que a qualidade é o mais importante nas relações, estando presentes em momen tos decisivos, na vida dos filhos, do mari do, dos pais e dos sogros, dos que nos são importantes.

No final de tudo isto o balanço é clara mente positivo. A nível pessoal e profis sional.

Há décadas que o interior se depara com o êxodo e o envelhecimento da sua população. Como Ministra da Coe são Territorial, o que falta fazer para alterar este paradigma?

Em primeiro lugar falta mudar a perce ção que temos destes territórios. Há ainda uma perceção errada do que são e do que têm estes territórios.

Felizmente cada vez mais há uma mu dança nessa perceção. Durante a pan demia muitas pessoas regressara a estes territórios, ou porque tinham raízes ou porque aqui tinham uma casa que não ti nham na cidade. Creio que é uma questão de atitude e mentalidade.

Podemos e devemos estancar esta san

gria, que verdadeiramente se registou for temente no século passado, dando mais mobilidade a estes territórios, nomeada mente com a ferrovia. Retirar a ferrovia fez sair muita gente destes territórios.

Devemos também garantir melhor e mais habitação nestes territórios, e tornar mais atrativo o investimento.

Creio que isto não se consegue com uma medida avulsa, consegue-se com um con junto de medidas integradas.

E que medidas são essas?

No que tem sido os poucos anos de vida deste ministério, procuramos ter medi das dedicadas só a estes territórios, como apoios com os fundos europeus para in vestimento empresarial, para as famílias se deslocalizarem e para as empresas con tratarem, um largo conjunto de medidas.

O que se tem mostrado absolutamen te determinante é a presença do Ensino Superior nestes territórios. Desde logo porque impede que os jovens tenham que sair para frequentar um curso superior, depois acaba por atrair mais jovens para a região.

A interioridade tem um custo muito grande para estas pessoas porque se vêm obrigadas a sair se não mantivermos cá os serviços.

O facto de termos a presença de insti tuições de ensino superior e isso ser fator

impeditivo de saída de muitos jovens, só por si já tem um enorme valor.

Depois também é fonte de atratividade, outros jovens podem vir para estas univer sidades, nomeadamente jovens de outros países. A internacionalização dos nossos politécnicos, como acontece em Bragan ça, por exemplo, traz muitos estrangeiros para o território.

Haver pessoas qualificadas ajuda tam bém a criar uma envolvente favorável ao investimento. O que temos vindo a verifi car é que, nos territórios do interior onde se começa a revelar dinâmica empresa rial, ao lado está uma instituição de ensi no superior, é em Vila Real, em Bragança, no Fundão, em Ponte de Sor

A presença de instituições de ensino superior, que formem pessoas, mas que também saiam das suas paredes, dos seus edifícios, e cada vez mais de braço dado com as empresas, a economia social e os autarcas, e ponham o seu conhecimento ao serviço da economia, é absolutamente determinante.

Olhemos para o setor do vinho e do agroalimentar, que se tem vindo a trans formar, incorporando mais conhecimen to e tecnologias. Estas mudanças trazem para o setor pessoas mais qualificadas que vão por seu lado ajudar a que os seus pro dutos e serviços sejam mais competitivos, rendendo para si uma parte maior do va

lor, que é essencial para que as atividades se tornem sustentáveis.

No interior, considerando os ingredien tes que referi, é nossa intenção continuar a ter medidas específicas para estes terri tórios. Quer seja na promoção ou no inves timento empresarial, para infraestruturas públicas que consideramos estruturantes para estes territórios, no apoio às institui ções de ensino superior ou à contratação de pessoas qualificadas, apoiando a mo bilidade de pessoas e famílias para estes territórios.

O ideal, e que temos procurado fazer, é conjugar estas medidas no tempo para que se complementem e reforcem. Já vão surgindo alguns bons exemplos mas os verdadeiros efeitos demoram muito tem po até surgirem verdadeiramente. Isso traz-nos uma responsabilidade acrescida, devemos ser coerentes, mantendo as me didas que sentimos que têm resultados positivos.

Houve medidas que lançamos que tive ram uma procura grande, nomeadamente as de apoio à contratação de pessoas qua lificadas e ao investimento empresarial de menor dimensão, assim como ao apoio às universidades para projetos conjuntos com empresas, foram medidas com muita procura. As dotações que colocávamos a concurso tiveram sempre que ser reforçadas.

Depois tem que haver a capacidade de perceber o que não resultou, por exem plo, a medida para trazer trabalhadores da administração pública para territórios do interior. Não funcionou, tem que ser mudada.

Há essa disposição para admitir que é necessário reavaliar o caminho?

Estamos a reavaliar e já percebemos o que é que não correu tão bem. Não te mos que necessariamente ter que mudar verdadeiramente o local de trabalho, este pode ser feito em teletrabalho a partir destes territórios mantendo a ligação ao serviço de origem.

Grande parte dos apoios que se dão aos nómadas digitais, com tudo o que provo ca já nas regiões densamente povoadas, deviam ser sobretudo para territórios do interior. Obviamente que é muito impor tante termos esses jovens empreendedo res que criam riqueza e valor, mas pare ce-me que deveria haver uma majoração, significativa, que pese na decisão para os territórios do interior.

Há outro fator que deve ser valorizado quando falamos destes territórios do in terior que é a cooperação com Espanha. Pensemos na linha do Douro, como exem plo, pensar nela sem a componente de Es panha torna o projeto mais pobre, o que o tornaria mais rico seria a continuação para território espanhol.

4 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Douro tem ainda muito potencial perde se ele não for explorado"

Temos que olhar para estes territórios como o coração da europa. O valor que temos e o potencial destes territórios é muito maior.

Já se referiu à Linha do Douro du rante esta entrevista por duas vezes, depois da apresentação do estudo da CCDR-N em Freixo de Espada à Cin ta ficou a promessa de avançar com o projeto. A Ministra Ana Abrunhosa acredita que já não há forma de parar este projeto?

Há um consenso político à volta do pro jeto, e sobretudo na região norte há um grande espírito de solidariedade com este projeto. A própria Comunidade Intermu nicipal teve visão ao nos sinalizar como sendo o projeto mais importante para a região, ajudando-nos a fazer a escolha, O compromisso neste momento é de se lançar o concurso do projeto durante o primeiro trimestre de 2023, o valor ainda é grande, está estimado em 3,5 milhões, mas é fundamental para perceber que ca minho vamos fazer.

Gostávamos de ter uma linha eletrificada e dar ao projeto uma dimensão de turis mo mas também permitir o transporte de mercadorias porque temos as minas de Moncorvo, por exemplo. Não consegui mos obrigar Espanha para já, a tomar uma decisão de continuidade mas não vamos desistir. A partir o momento que começar mos a construir a linha poderá haver um entusiamo diferente do outro lado.

Temos um exemplo de uma ligação fer roviária que nos interessava muito, Faro -Huelva, porque ligaria o resto da europa ao algarve por comboio, o que em termos de turismo era uma mais valia. Nas ulti mas cimeiras colocamos o assunto em cima da mesa e finalmente chegamos a acordo para iniciar os estudos.

Respondendo à sua pergunta, acredito sempre que o caminho se faz dando pas sos, ele só existe quando caminhamos. Há uma coisa que é certa, nunca há obra sem projeto. Temos a certeza que tudo demora mais do que gostaríamos, por isso temos que começar cedo. A decisão política de se avançar com a ligação Pocinho Barca d'Alva é, por si, um marco.

Os estudos que foram feitos mostraram que havia viabilidade neste projeto, o que levou o Ministro das Infraestruturas a lan çar o concurso para o projeto no primeiro trimestre de 2023, até lá há ainda muito trabalho a ser feito.

A Linha do Douro é um dos três pro jetos estruturantes para a CIM Douro, os ouros dois são o IC 36 e o Douro In land Waterway, a autoestrada do rio. São dois projetos que espera ver avan çar ainda durante o seu mandato?

No que diz respeito ao IC, não quero emi tir nenhuma opinião porque não abordei ainda o Ministro das Infraestruturas sobre este tema.

O rio é a grande riqueza deste território. O valor que podemos tirar através da valo rização de atividades económicas em que o rio seja um ativo importante é uma exce lente estratégia.

Esta CIM deve valorizar o seu nome, é o seu património, o Douro. Um projeto em rede, tendo o Douro como ativo é algo que revela mais uma vez que este território sabe o caminho que quer fazer e para isso conta com o nosso apoio.

O Vinho do Porto é um dos produtos mais exportados do país com um peso

ga ao início da cadeia.

Os pequenos produtores têm que passar a ter maior controlo no preço final do produ to e aí acho que a Casa do Douro pode de sempenhar um papel fundamental, mas a própria CIM pode também ela ser um fator de agregação e capacitação. Um pequeno produtor não tem capacidade de reivindi cação, mas se se associarem ganham escala e com ela outra capacidade negocial.

A ProDouro já tornou público que vai propor o estabelecimento de um preço mínimo para o quilo de uva, Será uma solução?

Não tenho a tutela dessa área, contudo não me parece que um aumento de regu lamentação no setor por parte do Gover no seja adequado.

Douro tem ainda muito potencial por explorar e que o país todo perde se ele não for explorado.

É este também o meu trabalho, criar pontes, entendimentos, valorizando um potencial por explorar e recusando que haja territórios condenados à partida.

É uma questão de investimento e de aposta do Governo nestes territórios mas temos que perceber que este é um processo que demora a mostrar resultados, foram muitos anos a fazer política errada para estes territórios, fazendo igual para todo o país.

A regionalização poderá ajudar nesse aspeto, a diferenciar mais os territórios?

Sim, se for uma regionalização onde as regiões desenvolvidas estão com as menos desenvolvidas. Separá-las será criar guetos.

As teorias de desenvolvimento têm de monstrado que separar regiões mais e menos desenvolvidas não é solução, che gando mesmo a aumentar a diferença.

Temos que ter a certeza que temos ver bas para a coesão e que privilegiam mes mo esses territórios.

Grande parte dos apoios que se dão aos nómadas digitais, com tudo o que provoca já nas regiões den samente povoadas, deviam ser sobretudo para territó rios do interior.

significativo no PIB. O que falta para que esta valorização também chegue ao bolso do pequeno viticultor? Falta a Casa do Douro para ser o garante deste equilíbrio?

No Douro, sobretudo em determinada parte da região, aconteceu que as grandes marcas tornaram-se proprietárias dos ter renos, parte das quais não são nacionais.

Na minha opinião, o que é fundamental no Douro é que o valor que aqui é criado fique nos pequenos produtores. Temos que perceber como é que eles conseguem criar produtos de grande valor, para que depois seja apropriado pelas grandes em presas. Ou seja, vendem as uvas por um determinado valor, para um produto final que tem um valor maior mas que não che

Já é um setor muito regulado, o mais regulado. O setor ganharia muito mais se esses pequenos produtores tivessem uma voz maior no processo, para que não con tinuem a receber uma pequena parte do volume deste negócio.

Isto resulta da organização do mercado e das grandes marcas que vão comprando o produto aos pequenos, criando um pro duto final com grande valor acrescentado.

Não sendo a minha área, como gover nante, gostava de ver mudar esta reali dade dos pequenos produtores que con tribuem tanto para um produto de tão elevado valor.

Elogia diversas vezes o trabalho da CIM Douro e da forma como ela traba lha. Brincando um pouco com o nome do ministério que lidera. Esta CIM é um espelho de coesão?

É o espelho do trabalho em rede, de se tornarem claras as prioridades e de nelas se respeitarem as diferenças do território. É uma CIM com 19 mu nicípios, diferentes uns dos outros, mas que respeitam as suas diferenças quando desenham as suas estratégias, há lugar para todos. Há uma perceção que a região do

Pouco antes desta entrevista esteve com o Presidente da República que lhe fez esse aviso, digamos assim. A Minis tra da Coesão irá fazer pressão dentro do Governo para que efetivamente essas verbas cheguem aos territórios do inte rior?

A preocupação do Presidente é a nossa preocupação, mas é preciso perceber que na gestão dos fundos há vários níveis. Dos mu nicípios, das CIMS, das CCDR e do Governo, há uma coresponsabilização.

O Presidente falava do PRR e não é o Minis tério da Coesão que o gere, mas não é por isso que a Ministra não está preocupada, so bretudo que ele venha mais para o território do interior, para as autarquias e que envolva mais as CCDR's.

O desenho do PRR foi, por motivos óbvios porque havia pouco tempo para o desenhar, muito centralizado, mas a sua gestão tem que ser cada vez mais descentralizada.

Estamos a trabalhar, mas fazer obra de mora tempo e o PRR tem obras e projetos mito importantes. Creio que em breve os resultados começarão a ser visíveis.

O PRR foi aprovado em outubro de 2021, tem um ano, muito trabalho já foi feito. Creio que todos estamos ansiosos por começar a ver resultados, mas não posso deixar de dizer que a preocupação do Pre sidente é também a nossa.

Foi a ministra que ouviu o recado do Pre sidente porque era quem ali estava e farei chegar o recado a quem de direito, soli darizando-me com essa preocupação.

5 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
Destaque

Torre de Moncorvo

Torre de Moncorvo recebeu 1ª edição do Campeonato do Mundo de Pesca em Caiaque

Entre 7 e 13 de novembro os Lagos do Sabor, em Torre de Moncorvo, receberam a 1ª edição do Cam peonato do Mundo de Pesca em Caiaque, uma prova que juntou seis países e 24 embarcações.

No dia 7 de novembro teve lugar a rece ção e credenciação das equipas, com os primeiros treinos a serem marcados para o dia seguinte, data em que também acon teceu a cerimónia de abertura, com início junto do Cineteatro e terminando com a receção das equipas nos Paços dos Con celho da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.

O dia 9 de novembro foi também dedica do aos treinos para as provas que se rea lizaram nos dias 10, 11 e 12 de novembro, das 08h00 às 16h00. A cerimónia de en trega dos prémios teve lugar no dia 12 de novembro, pelas 20h00.

Carlos Batista, presidente da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, explicou à nossa reportagem que a ideia para a rea lização deste campeonato surgiu "no ano passado, no decorrer do Congresso anual da Confederação de Pesca Desportiva", numa conversa "entre os representantes de Portugal, Estados Unidos, África do Sul, Espanha e México", tendo o responsável federativo demonstrado logo vontade em organizar a prova em Torre de Moncorvo.

"Logo nessa primeira conversa demons trei a vontade de sermos nós a realizar a prova até porque me recordei logo da con versa que tinha tido recentemente com a autarquia de Torre de Moncorvo para a realização, em 2023, do Campeonato do Mundo da Pesca ao Achigã em embarca ção.

Surgindo este campeonato era desde logo uma oportunidade de ter Torre de Moncorvo em competição, para que se pudesse sentir a primeira pulsação do que será ter delegações de diferentes países em competição, e assim poder já ensaiar o que irá ser o campeonato do próximo ano".

De acordo com o mesmo, "Torre de Mon corvo está de parabéns com a realização da prova", tendo os participantes deixado a garantia "de regressarem a este territó rio, quer para outras competições, quer em visita com as famílias".

Para Carlos Batista, a pesca desportiva pode ter um papel importante na econo mia local destes territórios, em especial em épocas do ano de menor movimento turístico, com a realização de inúmeras provas, todas elas com largas dezenas de participantes.

"Estou na Federação Portuguesa de Pes ca Desportiva desde 1982, ocupando di versos cargos na estrutura federativa. Este é já o meu terceiro mandato como presi dente, o primeiro iniciou-se em 2006 por ocasião dos Jogos Mundiais, que são os Jo gos Olímpicos da pesca e, já nessa altura, tinha vontade em avançar com as compe

tições de pesca desportiva no interior, por diversas razões.

Desde logo porque o litoral está cheio de oportunidades, no interior as coisas não são assim, infelizmente, por isso achamos que teríamos muito a ganhar avançando para estes territórios, porque há rios, al bufeiras e lagos da melhor qualidade que estão ali, à nossa disposição e sem serem ainda utilizados em grande escala. Certa mente que estas provas iriam gerar nos mais novos, e também nos mais velhos, a vontade de enveredar pela pesca despor tiva, atraindo também mais filiados para a nossa federação.

Ao mesmo tempo, levar a pesca despor tiva para o interior do país, é uma forma de fomentar a economia local, pelo alo jamento, alimentação, e tantos outros

negócios que beneficiam com as dezenas de participantes que estas competições atraem.

Não foi preciso muito tempo para que as próprias autarquias nos contactassem com o objetivo de realizarmos provas nos seus municípios. Entre janeiro e julho é um período de menor movimento turís tico, e é nesta época que se realizam um grande número de provas de pesca des portiva. São mais de 20 categorias que temos, são muitas provas que levam mo vimento a estes territórios durante os pe ríodos de maior acalmia. A pesca despor tiva é, sem dúvida, a única modalidade no país que consegue fazer isto".

Para Nuno Gonçalves, presidente do município de Torre de Moncorvo, este foi também um evento de grande sucesso.

"Para Torre de Moncorvo é importante a realização deste evento porque luta pela afirmação do concelho no palco, não só nacional, mas também internacional, da pesca desportiva.

Foram cerca de 30 atletas a disputar a competição que no fundo é um prelúdio para o que será a prova rainha no próxi mo ano, que é a realização do Campeona to do Mundo de Pesca ao Achigã, organi zada pela Federação Portuguesa de Pesca Desportiva.

De acordo com os dados da organização, a prova deste ano tem um retorno finan ceiro para o concelho de 1 milhão de eu ros. Torre de Moncorvo quer afirmar-se como um palco de excelência de pesca desportiva, recebendo estas provas e re forçando as parcerias com as federações do setor".

Para o autarca, esta é a prova que não é a dimensão ou a densidade populacional de um concelho que determinam o suces so ou não da realização de provas deste género.

"Os concelhos mais pequenos a quem tristemente chamaram de baixa densida de, podem fazer e estar presentes em or ganizações e eventos de alta qualidade e alta densidade". 

6 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Início das obras de

No âmbito da sua política de apoio ao empreendedorismo e desenvolvimento económico local, o Município de Alijó irá proceder à reabilitação do icónico edifício conhecido como “Café da Paz”, onde fu turamente será instalada uma incubadora de empresas e centro de negócios.

Tendo em vista a criação de um ambien te propício ao desenvolvimento empresa

rial do Concelho, esta nova infraestrutura municipal representa um investimento na criação de condições de instalação e apoio a empreendedores e jovens empresas nas suas primeiras etapas de vida.

A intervenção prevê ainda a reabilitação do espaço do café, que se manterá no rés -do-chão do edifício. A empreitada terá uma duração de cerca de 10 meses.

No âmbito da

em Movimento”, o

Recordamos

Chã.

Esta iniciativa pretende incentivar e aumentar a participação cívica e políti ca das comunidades na gestão autárqui ca, através de um contacto direto e mais

informal entre cidadãos e autarcas. O Executivo aproveita também este momento para reforçar o diálogo com as associações, coletividades e outras entidades locais. 

Integrado na Estratégia Local de Habitação do Município de Alijó, o Programa 1.º Direito promovido pelo Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) visa apoiar finan ceiramente os agregados familiares com habitação própria permanente que vivem em condições indignas/

precárias e que não têm condições para suportar as obras de reabilita ção.

Caso se encontre nesta situação e pretende beneficiar deste apoio, deverá dirigir-se ao Serviço de Ação Social do Município de Alijó, entre 2 e 25 de novembro, de modo a avaliar

se é elegível para elaborar candida tura

O Município prestará todo o apoio necessário para que os futuros be neficiários possam apresentar a sua candidatura ao Programa 1.º Direito.

Mais informação disponível no site do município. 

7 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO Alijó
iniciativa “Presidência Executivo Perma nente do Município de Alijó continua o seu périplo pelas 14 freguesias do Con celho. No passado dia dia 3 de novembro, o Executivo Permanente visitou a União de Freguesias do Pópulo e Ribalonga. a última ação deste péri plo que decorreu na Freguesia de Vila
do edifício do “Café
em Movimento: Executivo Permanente continua périplo pelas freguesias Estratégia Local de Habitação de Alijó: Município apoia elaboração de candidaturas
requalificação
da Paz” Presidência

Mesão Frio

FEIRA ANUAL DE SANTO ANDRÉ 2022 COM MUITAS NOVIDADES

A centenária Feira Anual de Santo André, uma das mais antigas feiras do país, realiza -se este ano, de 30 novembro a 8 de dezem bro. As imperdíveis atuações dos ANJOS e dos WET BED GANG, um renovado mercado medieval, um inédito evento vínico, anima ção de rua, música popular, produtos endó genos, vinhos e gastronomia típica à mesa, são os principais ingredientes de um evento que se quer memorável, durante sete dias re cheados de surpresas e de muita animação. No dia 30 de novembro, Dia de Santo An dré e de feriado municipal no Concelho, vai decorrer a habitual sessão oficial, com a pre sença do Presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, Paulo Silva e de outras entida des.

No mesmo dia, destaque, ainda, para a sessão evocativa do centenário da morte de Almeida Carvalhais, estudioso e pesquisador histórico-musical de Portugal, que habitou no Paço de Cidadelhe, freguesia do Municí pio. Ainda no primeiro dia, será inaugurada a exposição de fotografia «Douro Patrimó nio Contemporâneo», numa colaboração da Câmara Municipal de Mesão Frio, o Museu do Douro e a Biblioteca Municipal.

Entre brindes, pelas 15 horas, dá-se início à sessão de abertura do evento vínico «Douro em Tons de Rosé», uma grande novidade na

programação deste ano, onde se realizarão provas comentadas de vinhos Rosé e muitas conversas sobre a temática, ao longo de dois dias da programação da feira anual. Ao final do dia, o momento alto será a Inauguração da ilu minação do «Natal na Avenida».

No dia 1 de dezembro a habitual Feira do Bur ro terá nova roupagem, numa colaboração do Município, com a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino, que pretende dig nificar este animal que tanta tradição tem no Concelho de Mesão Frio. No mesmo dia, pros segue a iniciativa «Douro em Tons de Rosé», com mais provas e mais conversas sobre os

vinhos Rosé da região duriense. É neste mesmo dia que abre a Praça da Alimentação, no Salão Multiusos Municipal, com a presença de restaurantes e produto res de vinho locais, onde haverá espaço para degustar as melhores iguarias de Mesão Frio e da Região Demarcada do Douro.

No dia 2 de dezembro, decorre a habitual Noite de Fados, nas instalações da Associa ção Humanitária de Bombeiros Voluntários de Mesão Frio.

O Mercado Medieval é a grande novidade da Feira Anual de Santo André deste ano. Nos dias 3 e 4 de dezembro haverá várias

atividades por toda a Vila. O Mercado vai acontecer na emblemática Rua do Balcão e também no histórico Largo do Pelourinho. Destaque para o grande cortejo e para o es petáculo de fogo, que decorrem no domin go, já depois dos Anjos animarem Mesão Frio com um grande concerto no final do dia anterior.

O outro grande momento musical do Santo André 2022 é no dia 7 de dezembro, com o espetáculo dos Wet Bed Gang, que levarão novos ritmos e públicos à Porta do Douro.

A festa termina no dia 8 de dezembro, com muita animação de rua e um momento de música popular para fechar a Praça da Ali mentação.

A feira tradicional decorre nos moldes habituais. À imagem de anos anterior, são esperadas largas dezenas de feirantes que animarão as ruas e avenidas da Vila, nos dias 1, 3, 4 e 8 de dezembro, com todo o tipo de produtos e artigos que é costumeiro encon trar no evento.

A centenária Feira Anual de Santo André é conhecida por outrora ser o maior cen tro mercantil dos concelhos circunvizinhos de Mesão Frio e da região, constituindo um ponto de encontro para mercadores, comer ciantes e forasteiros, o que reforça o seu va lor histórico e perpetua o seu sucesso. 

8 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Freixo de Espada à Cinta

Consultas de especialidades médicas gratuitas:

Um caso de sucesso

Arrancaram no final de setembro as con sultas de especialidades médicas gratuitas no Centro de Saúde de Freixo de Espada à Cinta. Depois do sucesso inicial, outubro ficou marcado por dois fins de semana de dicados à saúde, um deles tendo reunido um grupo de cerca de 20 clínicos voluntá rios de 10 especialidades médicas. Neste último fim de semana dedicado à saúde (29/30 out.), os clínicos voluntá rios foram recebidos pelo Presidente da Câmara Municipal, Nuno Ferreira, e pelo Vereador Pedro Vicente, um momento aproveitado para agradecer a disponibili dade, voluntarismo e todo o trabalho que tem vindo a ser realizado, assim como fo ram debatidas as políticas de saúde e os esforços que estão a ser desenvolvidos para o alargamento do horário noturno do Centro de Saúde e para a reabertura diária da Sala de Fisioterapia.

Só nestes dois dias foram atendidos mais de 160 pacientes, entre população em geral e utentes das IPPS´s do con celho, tendo sido encontradas algumas situações que exigiram reencaminha mento e cuidados médicos mais especia lizados.

O apoio das entidades parceiras, como a ULSNE e o Centro de Saúde), é também essencial para o bom funcionamento deste projeto que oferece consultas de especialidades médicas gratuitas, pelo menos, uma vez por mês.

A saúde é uma das áreas de atuação prioritárias do Município de Freixo de Espada à Cinta, que assumiu o compro misso de trabalhar em prol da qualidade de vida e bem-estar da população que so fre com os constrangimentos provocados pela interioridade e distanciamento geo gráficos dos hospitais mais próximos. 

Ensino Secundário Profissional em Freixo de Espada à Cinta

Outubro ficou marcado pelo arran que oficial do Ensino Secundário Pro fissional em Freixo de Espada à Cinta. Os alunos e encarregados de educa ção foram recebidos pelo Presidente da Câmara Municipal, Nuno Ferreira, pela Vice-Presidente Ana Luísa Pelei ra, e pelos representantes do IEFP, Adriano Menino, Diretor-Adjunto do IEFP Vila Real, e Sofia Martins, Técni ca Superior.

Nos próximos anos estes alunos irão estudar no Pólo de Formação Profis sional do Município de Freixo de Espa da à Cinta, o equipamento municipal que antes servia de escola primária e que sofreu obras de requalificação para albergar esta vertente de ensino. Nesta fase inicial arrancaram dois cursos: Técnico(a) de Informação e Animação Turística e Técnico(a) de

Cozinha/Pastelaria. Brevemente, está previsto o início do curso de Técni co(a) de Vitivinicultura, aguardando -se a chegada dos alunos provenientes de Cabo Verde, que irão fazer parte deste projeto de intercâmbio estudan til.

Os representantes do Município de Freixo de Espada à Cinta fizeram votos de sucesso a todos os estudantes nesta nova etapa, realçando que este é um passo de grande importância em dire ção a um futuro melhor, uma oportu nidade de ouro que deve ser aprovei tada. O Ensino Secundário Profissional é hoje uma realidade em Freixo de Es pada à Cinta, um compromisso assu mido e cumprido em prol das crianças e jovens do concelho, na defesa dos seus interesses e pelo direito de todos à educação. 

9 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO

Sabrosa

Sabrosa Trail por Terras de Magalhães foi apadrinhado por Rosa Mota

O Sabrosa Trail por Terras de Magalhães aconteceu durante a manhã de dia 13 de novembro, com a presença da maratonis ta que apadrinhou o evento, Rosa Mota, e com a participação de cerca de 300 atle tas.

O trail foi constituído por três provas diferentes, das quais, o ST32K com a dis tância exata de 32,9 Km com um desnível positivo acumulado de 1034 m e com des nível negativo acumulado de 1034 m; o ST16K com a distância de 16 km, desnível positivo acumulado de 436 m e com des nível negativo acumulado de 436 m; e a caminhada pedestre, com uma distância de 10 km com desnível positivo acumu lado de 240 m e com desnível negativo acumulado de 240 m , que contou com a participação da Presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, Helena Lapa, e da ex-atleta portuguesa campeã olímpica e mundial de maratona, Rosa Mota.

No final da prova decorreu no Centro Escolar Fernão de Magalhães a entrega de prémios no pódio, sendo que na classifi cação geral dos 32 km, destacou-se o atle ta sabrosense, no primeiro lugar, António Pereira, com o tempo total de 02 h 31 m e 19 s, e na classificação feminina, Tânia

Ribeiro, que liderou a prova com 03 h 35 m e 27 s. Em segundo lugar posicionou-se César Duarte e na classificação feminina Rosa Barros, ficando em terceiro lugar masculino Vítor Costa e feminino Inês Monteiro.

Na prova dos 16 km masculino, ocupou o primeiro lugar da classificação geral Paulo Costa, e no feminino Luísa Teixeira, já no segundo lugar masculino, João Meneses, e feminino Teresa Catita, ocupando o ter ceiro lugar masculino António Campos e feminino Maria Lopes. No trail longo (32km) destacaram-se

duas equipas na classificação geral, ocu pando o primeiro lugar os Linces do Ma rão, e o segundo lugar Valongo Trail Time. Já no trail curto (16 km), as três melhores equipas foram, Linces do Marão, em pri meiro lugar, Associação Mondim Atletis mo em segundo lugar e em terceiro A.D.A - Amarante.

Na classificação direcionada aos atle tas do concelho de Sabrosa, salienta-se no trail longo (32 km), os atletas António Pereira e Laurindo Osório, sendo que no trail curto (16 km) o destaque foi para An tónio Campos, Luís Fonseca e Carlos Car

valho, já na classificação feminina, Marília Guedes.

Na entrega de prémios a Presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, Helena Lapa, parabenizou todos os participan tes, referindo que o município apoia o desporto e o território aguarda por mais provas similares, que fazem do concelho um concelho saudável e feliz, mostrando ser esta a maior ambição deste executivo municipal. Agradeceu também a presen ça de Rosa Mota, que é um “bocadinho de nós” e um orgulho por ser também uma referência em todo o mundo.

O Município de Sabrosa, agradece às juntas de freguesia de Sabrosa, Paços, Souto Maior, São Martinho de Anta e Pro vesende, à GNR de Sabrosa, à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sabrosa, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Provesende e à Cruz Vermelha Portuguesa – Sabrosa, pela colaboração e empenho para a realização da prova.

O evento foi organizado pelo município de Sabrosa e pela Portugal NTN, sendo a prova certificada pela Associação de Trail Running de Portugal e integrada na Taça de Portugal de Trail. 

Melhores alunos do Agrupamento de Escolas Miguel Torga foram distinguidos pela autarquia com Prémios Municipais de Mérito Escolar

Estas atribuições aconteceram na Gala do Dia do Diploma, organizada pelo Agru pamento de Escolas Miguel Torga - Sa brosa, no passado dia 28 de outubro, na Escola Básica e Secundária Miguel Torga, Sabrosa.

A cerimónia contou com a presença da presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, Helena Lapa, que aproveitou o momento para enaltecer a satisfação com que estes prémios são atribuídos destacando que “acima de tudo, estes são prémios que destacam a excelência dos alunos, mas também o trabalho, esforço e dedicação de toda a comunidade esco lar”. Congratulou também pais, encar regados de educação e famílias em geral

Exposição

peças fundamentais na formação, cresci mento e desenvolvimento destes alunos”.

Os prémios entregues, correspondentes ao ano letivo de 2021/2022, destacaram o mérito do melhor aluno de cada um dos cursos disponíveis para o ensino secundá rio, atribuindo ao melhor aluno de Ciên cias e Tecnologia, o Prémio Fernão de Ma galhães, ao de Línguas e Humanidades, o prémio Miguel Torga. Foi ainda atribuído um prémio idêntico ao melhor aluno do ensino profissional. A cada um dos estu dantes foi entregue um voucher no valor de quinhentos euros.

Foram ainda premiados com Vales Ofer ta, os 79 alunos, que integram o quadro de mérito escolar do Agrupamento, numa

colaboração com esta entidade. Entre estes, os 25 alunos que melhores médias obtiveram durante o primeiro, segundo e terceiro ciclos de escolaridade foram contemplados com um voucher de vinte e cinco euros.

O Prémio Municipal de Mérito Escolar de Sabrosa tem como grande objetivo in centivar o desempenho escolar em todos os seus níveis e premiar o mérito, numa assumida cultura de valorização da exce lência, enquanto instrumento preponde rante para o desenvolvimento económico, cultural, social dos jovens e da sociedade em geral, tornando ao mesmo tempo Sa brosa como um território cada vez mais atrativo para as famílias. 

corre uma parcela da Terra Quente, o seu território de inspiração.

A exposição está disponível para visita ção até ao dia 08 de janeiro de 2023, com entrada livre, na sala de exposições tem porárias do Espaço Miguel Torga. 

10 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
apreço à direção do Agrupamento, professores e auxiliares de ação educativa, “que foram
no passado dia 12 de novem bro, a abertura da exposição “am Epicen tro em Grijó” de A.M Pires Cabral, no Espa
e deixou ainda uma palavra de
Aconteceu
Pires Cabral,
Espaço
ço Miguel Torga. Num conjunto de aguarelas, intercaladas por poemas da sua autoria, o autor per
“am Epicentro em Grijó” de A.M
inaugurada no
Miguel Torga

S. João da Pesqueira

S. João da Pesqueira vence candidatura à organização do III Concurso Cidades do Vinho

O Município de S. João da Pesquei ra venceu a candidatura à organi zação do III Concurso Cidades do Vinho, de âmbito nacional, que se realizará entre 5 e 7 de maio de 2023, com a participação de um júri de 35 especialistas, para eleição dos melhores vinhos do país.

O Município de S. João da Pesqueira foi o escolhido para organizar este aconte cimento único de promoção dos vinhos associados ao seu próprio território, que junta municípios e vitivinicultores nessa estratégia.

S. João da Pesqueira, que sucede a Se túbal, promoverá em pleno Coração do Douro, este evento em que estão a concur so os vinhos da maioria dos produtores nacionais de cerca de cem concelhos, a que importantes personalidades do setor se associam e integram o júri e as comis sões científica e de honra.

O Concurso Cidades do Vinho é uma organização conjunta da Associação de Municípios Portugueses do Vinho e da Associação das Rotas dos Vinhos de Por tugal, contando com o alto patrocínio da Presidência da República e o apoio institu cional do Ministério da Agricultura.

Parque Fluvial da Ferradosa – assinatura do contrato de empreitada e auto de consignação dos trabalhos

Foi assinado no passado dia 3 de novembro, no salão nobre dos Paços do Concelho, pelo executivo municipal e empresa adjudicatária, o contrato de empreitada e o auto de consignação dos trabalhos do Parque Fluvial da Ferradosa.

Com a execução e implementação do projeto do Parque Fluvial da Ferradosa, o Município pretende fundamentalmente criar um ambiente visual agradável que potencie o bem-estar e conforto humano, para quem aceda ou esteja na área de in tervenção, ou tenha acesso visual para o mesmo.

Pretende se ainda, valorizar ao nível eco lógico, funcional e estético a área em ques tão, possibilitando o recreio e lazer das vá rias faixas etárias.

A prática do desporto informal, de ar li vre, e o lazer foram privilegiados, para po tenciar a dinamização do parque. Do ponto de vista estético, pretende-se sobretudo re qualificar/reabilitar os elementos construí

dos na da área de intervenção, e potenciar a qualidade da paisagem existente na área de intervenção, após implantação deste projeto.

Permitir uma confortável circulação pe donal e interligação com os percursos já existentes, foi uma preocupação constante na realização deste projeto, pelo que foi

criado uma rede de caminhos que se inter ligam e facilmente permitem o atravessa mento do parque e/ou o acesso às várias zonas de estadia propostas para o mesmo, não descurando o acesso a pessoas de mo bilidade condicionada.

Na zona mais poente e aproveitando uma pequena enseada do rio Douro, propõe-se

nesta a instalação de duas piscinas flutuan tes, uma para crianças outra para adultos, nas proximidades destas e numa zona de pouca exposição visual quer-se a instala ção de três pequenos “módulos” de apoio, que funcionarão de sanitários e vestiários.

Tirando partido de uns pequenos socal cos, atualmente ao abandono, propõe-se a criação de uma pequena área de meren das, de forma a dar resposta à muita pro cura desta área.

Considerando que o apeadeiro da Fer radosa é uma das principais portas de entrada do concelho de São João da Pes queira e atendendo ao atual estado da sua envolvente, propõe-se a reabilitação deste espaço, com a criação de uma pequena praceta junto à sua entrada, e a criação de um lugar de estacionamento para dois pe quenos autocarros. Tirando partido de um espaço amplo existente nas proximidades do apeadeiro é proposto para aqui um es tacionamento automóvel que sirva não só os utentes do parque como também os utilizadores do apeadeiro ferroviário. 

Teve lugar nos dias 5 e 6 de novembro, o I Festi val dos Produtos Durienses, em Sabrosa.

O Município de S. João da Pesqueira esteve pre sente com o intuito de promover os vinhos, a gas tronomia e o Turismo do “Coração do Douro”.

Este festival surgiu com o objetivo de conti nuar a evoluir esta região numa perspetiva de valorização económica e cultural do que de me lhor se produz na Região Demarcada do Douro e que desde 2001 foi classificada como Patrimó nio Mundial da UNESCO, com o Concelho de S. João da Pesqueira a deter 20% da área total.

Os 19 municípios que fazem parte da CIM DOURO estiveram presentes neste Festival, não só para promover o Passaporte Douro, mas tam bém para apresentar os seus produtos e cultura regionais.

11 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
S.
no I
Município de
João Da Pesqueira presente
Festival pos Produtos Durienses

Nuno Gonçalves, Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo

“Espero concluir no decorrer deste décimo ano

A cumprir o seu último mandato à fren te da autarquia de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves faz um balanço posi tivo do tempo já passado, faltando-lhe ainda cumprir algumas metas até 2025.

Ser autarca implica uma dedicação ao car go que vai muito além das habituais 8 horas de trabalho. Quem fica a perder com esta de dicação?

Um autarca não pode ser considerado um fun cionário público, tal como as oito horas não po dem estar coladas à pele do autarca.

Quem se candidata a este cargo tem que estar disponível 24 horas por dia, não que esteja a tra balhar em contínuo mas tem que ter essa dispo nibilidade. Isto, em primeiro lugar, repercute-se na família.

Mas já existia essa consciência no momento da candidatura ou só se percebe quando se chega ao cargo?

Essa consciência já tinha até porque não somos alheios, aos nossos antecessores e a todos os au tarcas do país.

Desde logo, não podemos ser alheios ao bom trabalho que os autarcas fazem no país. Os resul tados económico-financeiros, da dívida pública, tudo isso, baixou nas autarquias e não teve o mes mo correr, em termos estatísticos, com o Poder Central.

Os autarcas são isso mesmo, se nas grandes ci dades, Lisboa e Porto, são quase ministros locais, nestas vilas temos que estar disponíveis para falar de um empréstimo de milhões, de um evento de milhares, ou de um paralelo da estrada.

Tudo isto obriga a que sejamos abordados na rua com questões do dia-a-dia. Já tinha a noção disso, obviamente, mas quando se chega ao car go é que temos a real noção do envolvimento constante que é.

Tudo isto só resulta se tivermos um bom apoio familiar. Podemos combinar e não aparecer ao jantar ou chegar mais tarde, ainda ontem isso aconteceu, uma reunião que se prolongou e saí mos bem mais tarde. O autarca tem que estar plenamente convencido, tal como a sua equipa e família, que esse é um dos condicionalismos da função.

Para além desta questão das 24 horas, mesmo as férias não são como nós gostaríamos que fos sem. Por tradição, na autarquia sou sempre o último a escolher o período de férias, faço-o em função dos outros. Mas mesmo nas férias nunca desligamos verdadeiramente. A única semana em que realmente desligo, quase totalmente, é a semana que passo habitualmente com o meu filho na neve, que é normalmente na época da Páscoa.

Desse não abdica?

Tento ao máximo não abdicar até porque é a semana em que realmente tenho oportunidade de estar com ele.

Falou da família, e o homem por trás do au tarca, teve que abdicar de alguns hobbies em prol da função?

Tive obviamente que abandonar alguns dos meus hobbies mas faço-o conscientemente. Ser autarca é estar dedicado à vida pública e, portan to, eu tenho consciência que há determinadas

coisas que podia fazer quando estava na minha vida pessoal, que hoje em dia, fruto da escassez do tempo, não consigo realizar.

A família entende tudo isto? Como se com pensa?

Desde logo a família entendeu a partir do mo mento em que fui candidato em 2013. Se me apoia? Sim. Se pela família teria sido candidato? Não. A família vive neste dilema.

Para os compensar o que faço é, durante essa semana que referi, e nos poucos fins-de-semana que possa ter livres, estou a 100% com eles. Isso é algo que não abdico.

Posso até dar um exemplo. A Federação Portu guesa de Pesca Desportiva convidou-me para ir aos Estados Unidos receber a passagem de teste munho do Campeonato do Mundo. Estávamos com a discussão do orçamento, não fui, era mais importante para a vida do município estar aqui. Com o passar do tempo no cargo aprendemos a gerir este tipo de situações, e eu desde cedo habi tuei-me a isso.

Vai entrar agora no seu décimo ano como autarca. O que idealizou no primeiro dia que assumiu o cargo está maioritariamente con seguido ou nos três anos que restam ainda há muito para fazer?

Espero concluir no decorrer deste décimo ano do meu mandato e que é um investimento impor tante quer para o concelho, quer para as pessoas, que é a reflorestação da Serra do Reboredo. Esse seria o maior legado que este executivo poderia deixar aos seus sucessores e vindouros.

O projeto já tem financiamento garantido para o ano de 2023 por isso acreditamos que o objeti vo será alcançado.

Perfeitamente convicto que o vai conse guir?

Estou convicto que com o montante que foi destinado a essa obra, quase 1,5milhões de euros, será possível realizar até dezembro de 2023.

Qual é hoje a maior carência do concelho de Torre de Moncorvo?

A nossa maior carência está desde logo relacio nada com a reestruturação administrativa que foi feita.

Temos necessidade de ter melhores cuidados médicos, e quando digo isto é ter aqui um Serviço de Urgência Básico (SUB). Quando nos retiraram, em 2007, o serviço permanente, prometeram as sistência com duas viaturas. Contudo, a SIV que está em Mogadouro está parada porque não há verbas para a reparar, a SIV que está em Foz Côa esta semana esteve parada com a greve dos as sistentes técnicos. Moncorvo deixou de ter esses meios de urgência de proximidade.

Esta é a grande lacuna do nosso concelho. O que exigimos é que esses meios diferenciados es tejam também no concelho, que foi uma das con trapartidas que se conseguiu na altura. Para mim não é distinta uma vida de Torre de Moncorvo ou de outra grande cidade, não podemos atribuir va lor às vidas por estarem no interior ou no litoral.

As decisões que toma no dia-a-dia nunca são do agrado da totalidade dos moncorven ses. Como lida com isso?

Nenhuma das decisões é tomada por uma única pessoa, e eu também não as tomo.

Dando como exemplo o processo de alteração da imagem do município, essa decisão foi parti lhada com a população através de um referendo. A população pode votar usando os recibos da água, escolhendo a sua marca, foi uma decisão da maioria.

Obviamente aqueles que escolhiam outra op ção argumentaram mas a decisão foi tomada em maioria. Até posso dizer que não era o meu

Em perfil

12 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
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- O filme da vida − A Vida é Bela - O livro da vida – Qualquer um de Eça de Queirós - A banda da vida – Supertramp e Zeca Afonso
Não passo sem – Uma boa gargalhada do meu filho - Prato favorito – Arroz de Cabidela - Local de férias – Qualquer local no Douro - Em Torre de Moncorvo gostava de ter… uma boa assistência médica - Clube – GD Torre de Moncorvo e Sporting Clube de Portugal

ano que é a reflorestação da Serra do Reboredo”

favorito mas pela escolha dos moncorvenses foi aquele o escolhido. É muito melhor quando diluí mos estas decisões e não temos o ónus sobre nós.

O mesmo acontece com os Orçamentos Parti cipativos que fazemos, se a escolha é feita pela população, são esses projetos que temos de exe cutar.

Os meus colaboradores sabem que lhes estou sempre a pedir para me trazerem ideias e pro postas. O presidente da câmara tem uma ideia do seu concelho mas é uma visão macro, por isso temos que descer ao que para nós é micro, mas que para as pessoas é macro. É dessa forma que tento sempre tomar as decisões.

É mais um presidente de gabinete ou de exterior?

Gostava de ser mais de exterior, mas fruto das condições que aqui encontrei quando chegamos, vi-me obrigado a ser mais um presidente de gabi nete. Sou hoje um presidente de gabinete fruto dessas circunstâncias.

É uma falha da qual nunca me consegui liber tar, da necessidade de, nos primeiros quatro anos, reduzir substancialmente o défice do mu nicípio, reganhar a confiança dos fornecedores e o bom nome da autarquia. Foi um trabalho que, pode não ser visível aos olhos das pessoas mas que depois conseguiu ter o seu retorno, quando em 2019 o Anuário dos Contabilistas Portugue ses, coloca Torre Moncorvo como 14º município a nível de execução financeira, em todo o país.

Esse foi o prémio do esforço e o ponto de par tida para estarmos num ranking que nos permita alavancar esse esforço e ir buscar fundos.

Uma das políticas com que aqui entrei e da qual nunca me afastei, foi potenciar ao máximo os fun dos comunitários. Numa autarquia com fundos próprios limitados como a nossa, é fundamental que saibamos aproveitar da melhor forma todo o dinheiro que conseguirmos ir buscar.

Não deixa escapar um euro?

Não há um euro por realizar se estiver com os fundos comunitários. Essa é a matiz dos nossos orçamentos.

Neste orçamento explico isso na nota introdu tória. Coloco lá várias rúbricas a 500 euros, nin guém faz uma obra por esse valor, mas estamos já a pensar o que vamos fazer. No meu segundo orçamento colocamos uma rúbrica que ainda hoje usamos que é o Município Eco21, infeliz mente hoje é uma necessidade mas na altura era a forma de pensarmos. Ainda não havia medidas para a retirada do amianto das escolas, da recu peração dos rios Sabor e Douro e numa educa ção sustentável. Logo nessa altura colocamos na escola uma máquina para evitar que os miúdos levassem garrafas de água para a escola, usando apenas um kit que lhes era oferecido no início do ano letivo, cada copo de água retirado a máquina contabilizava as garrafas de água de plástico que estávamos a poupar.

Afirmou que é um autarca que partilha ideias e decisões. Confrontado a tomar uma decisão, entre a vontade das pessoas e aquilo que é melhor para o município, o que esco lhe?

O município em primeiro lugar, óbvio que ten tando sempre agregar a vontade do máximo de

pessoas possível.

O Jorge Luís Borges dizia: "O que é a pátria?

Nada é a pátria, todo o somos", portanto, se nós formos buscar o mesmo, o que faz o município são as pessoas, daí não podermos ir contra elas.

Apesar disso, naquilo que entendermos que é importante para o município, como foi a inte gração na ADIN, por exemplo, fazemo-lo com convicção. Nesse momento sentimos que mais importante que o preço final era a qualidade da água e irmos buscar meios comunitários que me lhorassem a qualidade do serviço e da vida das pessoas. Assumimos uma política de qualidade, mesmo que as pessoas se mostrassem reticentes.

Sempre o fez sem se preocupar em contar os votos que poderia perder?

Esta decisão sobre a água aconteceu a um ano de eleições, se não fosse assim não a tinha toma do.

Até ao final do seu mandato, o que falta ain da realizar?

Há duas situações que nunca foram resolvidas e que quero resolver.

Uma que tem a ver com a Escola Visconde Vila Maior que é um agrupamento que não tinha um pavilhão ou uma sala especial para a prá tica de desporto. Felizmente esta situação es tará resolvida até maio de 2023.

A reflorestação da Serra de Reboredo é ou tra, mas já falamos sobre isso.

Há outras questões que ultrapassam a lógica exclusiva do município, estando mais relacio nadas com a CIM Douro.

O município de Torre de Moncorvo está em penhado na CIM, como é óbvio. Entendemos que a visão do distrito já não faz sentido mas sim a lógica da Comunidade Intermunicipal.

Nos projetos de revisão constitucional, que ainda não tive oportunidade de os ler a todos de forma mais atenta, devia haver alterações legislativas que permitissem os círculos uni nominais, mas verdadeiramente alocados às CIM's e não aos distritos que já nem no Orde namento Jurídico aparecem.

Nesta lógica da CIM temos o fecho do IP2, que é importantíssimo, a questão da ligação Pocinho Barca d'Alva em ferrovia e, atrevo -me eu a dizer agora, a ligação do Pocinho a Vila Franca das Naves. Já tivemos o cuidado de enviar esse projeto para o Ministro, porque

esse era o desencravamento em termos eco nómicos da região de Trás-os-Montes. Estes três eixos são essenciais.

Acredita que em 2025 estejam concretiza dos?

Concretizados não digo, mas acredito que em 2025 a ligação Pocinho Barca d'Alva está em andamento e sem hipótese de parar. Caso con trário seria o descrédito total, não de um minis tro mas do Governo na sua totalidade. Quando vão dois ministros assumir isto, o problema se ria do próprio Governo.

O fecho do IP2 espero que se consiga por duas razões. Em primeiro para concluir a ligação entre o interior e o litoral, pelo interior. Depois porque não pode ser só a parte pertencente a Torre de Moncorvo não fique concretizada. Ape lo a que o Ministro das Infraestruturas tenha a coragem de ter um projeto realizável. Já tivemos três hipóteses, mas o que é certo que nenhuma avançou.

Temos que potencializar este Douro trans montano em termos turísticos, daí ser também necessário ver com os operadores que hoje es tão no Douro, o que é que eles deixam no ter ritório.

Há outra situação que hoje está na ordem do dia e que Torre de Moncorvo já sentiu, a situa ção das comunicações.

Tivemos já uma situação exemplificativa deste problema com um médico que veio dos Estados Unidos com um projeto de saúde e que se quis instalar aqui. Passados dois dias veio falar con nosco a dizer que se ia embora porque não con seguia ter ligação internet em condições para enviar dados do seu trabalho.

Estamos numa era dos nómadas digitais, este território, que já não é reconhecido pela sua dimensão geográfica, mas pelo número de ha bitantes, fica numa posição enfraquecida face a outras localidades. Esta foi uma vantagem que o Covid trouxe, o relançar do interior pela qua lidade de vida, mas não nos podemos conten tar em estar aqui sentados a ter esta conversa e ouvir o chilrear dos passarinhos, temos que ter algo mais, temos que estar conectados a qual quer hora com qualquer parte do mundo. Isto só se consegue se houver uma boa conectivida de que é uma coisa que aqui não existe.

Não é compreensível que em 90% do percurso feito numa estrada estruturante como o IC5, não

se consiga fazer uma chamada de telefone. Se há um acidente não se consegue falar.

Esta conectividade era outra melhoria que gostava de deixar em 2025, o município está disponível, esperemos que as operadoras e o Estado português também estejam para verda deiramente olhar para este território em termos de discriminação positiva.

Já falou da CIM, uma estrutura onde tem responsabilidades acrescidas como vice -Presidente. A Comunidade Intermunicipal do Douro é exemplo de trabalho em equi pa? Já caiu a ideia de cada um olhar para a sua "capelinha"?

As "capelinhas" acabaram. Pode haver aí ainda algum resquício mas acabaram. Isto resulta tam bém da forma eficaz como o atual presidente da CIM, o Carlos Silva Santiago, levou a cabo, pelo diálogo e pela forma que dá o exemplo que a preocupação deve ser o todo.

Olhemos para o exemplo da Linha do Douro, nunca passará em Sernancelhe, mas o presiden te da CIM foi dos primeiros a dar a cara por este projeto, e isso é muito importante.

Espero que este Quadro Comunitário tenha verbas alocadas à CIM que permitam não só fazer o pacto, o entendimento entre os 19, mas ter autonomia para todas as verbas. Desta forma evitaríamos que dois municípios semelhantes, como Lamego e Régua, por exemplo, um rece ba 14 milhões de euros para o PEDU e o outro apenas 2. Isto não é coesão. Por isso defendo que as verbas devem ser alocadas à CIM e esta fazer a distribuição mediante as necessidades e o território.

A importância que damos a alguns projetos em Moncorvo, Foz Côa, ou Sernancelhe, não pode ser menor do que em Vila Real que, por ser o maior tem uma responsabilidade acrescida em ser a alavanca e o motor da região.

A presidência da CIM costuma dizer que não so mos 19 autarcas mas 19 vereadores de uma enor me cidade que se chama CIM Douro, com 200 mil habitantes. É isto que temos de ter em mente.

A UTAD, em Vila Real, tem a responsabilida de científica não de Vila Real mas da região. Os projetos que alavancam esta região têm que ser de todos. Nós temos um rio que nos une e não duas margens, deve ser esta a ideia que nos deve pautar.

Na CIM não existe o confronto entre os muni cípios, trabalhamos em conjunto e em solidarie dade, em prol da região como um todo.

Com o aproximar do fim do seu último mandato, já tem ideia de quem será o seu sucessor?

O meu sucessor será alguém que as estruturas partidárias entendam. Sendo eu um homem que tenta estar a cima da lógica partidária en tendo que os partidos são essenciais para a de mocracia, essa é a lógica.

Nesse sentido, o meu sucessor, no meu pensa mento está escolhido mas as entidades político -partidárias terão de dar o seu aval.

Percebendo que não que avançar com um nome, é alguém que já está integra do na autarquia?

Como digo, na minha cabeça está perfeita mente definido, não direi mais do que isto.

13 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
NOTA PRÉVIA: O VivaDouro prossegue com uma série de entrevistas aos 19 autarcas da CIM Douro.

Moimenta da Beira

Centenas de atletas percorreram caminhos e trilhos de Moimenta da Beira

Foi a 1ª edição do Demo Wolves, prova organizada pela Câmara Municipal de Moi menta da Beira e pelo Boavista FC, que con tou com o envolvimento de algumas cen tenas de atletas, entre amadores e de alta competição. As ‘pistas’ das várias corridas e das caminhadas foram caminhos e trilhos que atravessam o concelho. O programa do evento incluiu três distâncias distintas: um trail longo de 30 km, um trail curto de 15 km, e ainda uma caminhada com 10 km Sílvia Casal, José Moreira, Daniela Fal

cão e Nelson Gomes foram os grandes vencedores desta edição de estreia que decorreu a 30 de outubro, em Moimenta da Beira.

Com partida e chegada no renovado lar go do Tabolado, os atletas da formação do Boavista FC Trail foram os primeiros a cortar a meta do Trail Longo de 30 km. Síl via Casal foi a grande vencedora da prova feminina ao ter cortado a meta ao fim de 2 horas e 47 minutos. Já José Moreira con cluiu a prova masculina, ao fim de 2 horas

e 19 minutos. Na distância de 15 km – Trail curto, os grandes vencedores represen taram o Clube Desportivo de Leomil. A atleta Daniela Falcão terminou a prova fe minina depois de 1 hora e 26 minutos. No escalão masculino, Nelson Gomes, cortou a meta ao fim de 1 hora e 08 minutos.

Para além destas duas distâncias, a 1ª edição do Demo Wolves contou ainda com uma caminhada de 10 km, onde não faltou a boa disposição dos participantes, num dia em que a chuva deu tréguas.

“Foi um evento desportivo de enormís sima importância, e uma atividade física, simultaneamente também de lazer, que permitiu aos inúmeros atletas terem um contacto muito próximo com a natureza, o património natural e a alguma da bio diversidade existente no nosso concelho. Estamos muito gratos ao Boavista FC por esta frutuosa parceria que queremos re petir”, enfatizou o Presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, Paulo Figueiredo.

Ação de charme em Ourense, na Galiza, promove Município

O Município de Moimenta da Beira marcou presença, a 10 de novembro, na 23ª edição “XANTAR - Salão Internacional de Turismo Gastronómico”, que decorreu em Ourense, na Galiza, Espanha, de 9 a 13 deste mês de

novembro.

À semelhança do ano anterior, o concelho mostrou-se uma vez mais com os seus produ tos endógenos como o espumante e vinho, marca Terras do Demo, doçaria local com sa

Peditório da Liga contra o Cancro chega aos 6.580€

Apesar dos tempos difíceis, o peditó rio da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que decorreu de 28 de outubro a 1 de novembro, alcançou 6.581,52 euros no concelho de Moimenta da Beira, sensi velmente o mesmo que no ano anterior. Tudo graças, novamente, à solidarieda de da população e ao esforço dos volun tários que durante cinco dias andaram

com a caixa-mealheiro a recolher as dádivas.

Como tem acontecido nos últimos anos, o peditório nacional foi apadri nhado por Cristiano Ronaldo, que con vidou os cidadãos a juntarem-se a esta causa, com o objetivo de fazer da luta contra o cancro um exemplo nacional de entreajuda e de solidariedade. 

bores a maçã (trufas, Demos e bolo), mel da região e enchidos artesanais. À margem do certame, houve momentos para contactos e diálogos empresariais, momentos que surtem sempre em concretizações de negócios.

A 23ª edição de ‘Xantar’ voltou a ser dedica da à Gastronomia dos Caminhos de Santiago que atravessam Espanha e Portugal, assina lando assim o Ano Santo Jacobeu duplo, que termina no fim de 2022. 

14 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Carrazeda de Ansiães

Valorização patrimonial e cultural do Santuário de Nª Sra. Da Paixão

Dando Continuidade à estratégia de va lorização do património religioso do Con celho, o Município de Carrazeda de An siães e a Sociedade Construções Souto & Marques, LDA assinaram dia 2 de novem bro, o contrato de obra pública de "Valori zação Patrimonial e Cultural do Santuário de Nª Sra. da Paixão", em Arnal.

A intervenção abrange uma área de 9959m2, com intervenções ao nível da pavimentação dos acessos principais e da entrada da Capela, criação de novas áreas de lazer, requalificação do Parque de Merendas e do edifício de apoio, im plementação do percurso do Calvário e ainda a instalação de um Miradouro de Paisagem.

A empreitada tem prazo de conclusão de 180 dias a contar da data de consigna

ção e perfaz um investimento na ordem dos 183.168,00 € (cento e oitenta e três mil, cento e sessenta e oito euros).

Sessão de networking - cadeias curtas de comercialização

A intervenção profunda neste local de culto religioso pretende dotar o espaço de várias comodidades e infraestruturas,

de forma a poder acolher cerimónias com plementares e/ou enquadradas com a Via Sacra e outras celebrações religiosas. 

Candidaturas a decorrer para a Incubadora de Empresas

As incubadoras são estruturas de apoio para empresas nas suas primei ras etapas de vida, proporcionam um espaço de trabalho, assessoria empre sarial, contabilística, financeira e jurí dica.

No nosso Concelho, dadas as cara terísticas especificas do tecido em presarial, verifica-se a necessidade de criação de apoios municipais ao em preendedorismo e estratégias empre sariais que garantam sustentabilidade e emprego local.

Possuindo o Município condições fí sicas, Centro de Apoio Empresarial de Carrazeda de Ansiães (CAECA), técni cas e financeiras para que empresas locais possam implementar as suas ideias de negócio, está disponível a se gunda fase de candidaturas para a ação Incubadora de empresas do Município de Carrazeda de Ansiães (IEMCA).

As candidaturas devem ser feitas por email, ou presencialmente no GAM, entre os dias 07 de novembro e 30 de dezembro de 2022. 

Inscrições abertas para a exposição de presépios 2022

No âmbito da Sessão de Networking"Cadeias Curtas de Comercialização", a realizar no próximo dia 22 de novembro de 2022, pelas 16h00, no Auditório do Centro Empresarial de Carrazeda de An siães.

Esta sessão decorre no âmbito do pro jeto EMERN-Q empreendedorismo na região norte, qualificação. O EMERN-Q , é um projeto em território de baixa densi dade , e em parceria com a Incubo ( líder), IPB, Adriminho, Corane, Desteque e Dou

ro Superior, que decorre de 01 de abril de 2021 a 31 de dezembro de 2022.

Este projeto tem como objetivo dar continuidade ao trabalho iniciado com o projeto EMER-N, alavancar os negócios e as empresas criadas, aumentando a taxa de sobrevivência e sucesso dos negócios criados.

Pretende-se assim desenvolver e refor çar estratégias coletivas de qualificação das micro, pequenas e médias empresas da região. 

A época mais bonita do ano está a chegar e o Município de Carrazeda de Ansiães quer trazer para as ruas da vila cor, alegria e imaginação com a expo sição de presépios.

No passado dia 4 de novembro, ar rancaram as inscrições para a expo sição de presépios que vai decorar as praças mais emblemáticas da vila de Carrazeda durante o período natalício. Tal como nas edições anteriores, a ini ciativa dirige-se a todas as instituições

privadas e públicas do concelho, jar dins de infância, escolas e associações.

As inscrições decorrem até ao dia 25 de novembro através do preenchimen to do formulário disponível no nosso site. A Exposição decorre desde os dias 09 de dezembro até 06 de janeiro, Dia de Reis.

Mais informações no Gabine te de Apoio ao Munícipe, telefone 278610200 ou por email geral@cmca. pt 

15 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO

Penedono

Produção de castanha Martaínha

Com forte implementação na região designada por Soutos da Lapa, a castanha Martaínha é reconhecida pelas suas caracte rísticas únicas. Este ano, devido à falta de água e ao calor, apon ta-se para uma quebra de 70% na produção.

Localizada em Penela da Beira, a Coo penela – Cooperativa Agrícola de Penela da Beira, é responsável pela comercia lização de centenas de toneladas deste fruto. Foi nas instalações da cooperati va que encontramos José Fernando, vi ce-presidente da instituição, para uma conversa sobre este fruto e a campanha de 2022.

A Martaínha é a melhor castanha do mundo?

Sim, sem dúvida.

O que a distingue das outras?

A qualidade, a nível de pelagem, sa bores, a cor em fresco e calibres muito equilibrados. Outra vantagem é a época do ano em que está disponível para con sumo, nem muito precoce nem muito tardia.

Essas características que enume rou são da variedade ou, por exem plo, da zona onde nos encontramos?

Ambas. A qualidade Martaínha é exce lente, isso é reconhecido, a zona onde nos encontramos, os Soutos da Lapa, é também muito favorável.

Esta castanha para consumir em fres co é excelente.

O que significa vender “em fres co”?

Vender em fresco vendemos para os assadores de rua e supermercados, por exemplo, o fruto chega ao cliente como fruto, assado ou cru.

Para a industria de transformação também é boa, mas como é uma casta nha com um preço mais elevado não a utilizam tanto. Esta é a região, do país inteiro, onde a castanha é mais cara.

Este tem sido um bom ano para este setor?

Podia ser pior. É um ano com pouca quantidade, mas com boa qualidade. Não é um ano excecional e fica marcado pela pouca quantidade, que tem feito os preços disparar. Já vi, num supermer cado, o quilo de castanha Martaínha a 9,99€.

Quando fala de pouca quantidade, qual a quebra estimada nesta cam panha?

A Martaínha regista uma quebra na or dem dos 70%.

O calor e o longo período de seca que vivemos na região tiveram peso significativo neste valor?

Sem dúvida. Na altura da polonização esteve muito calor o que afetou o desen volvimento, e depois, obviamente, a fal ta de água.

O castanheiro precisa de muita água?

Não precisa de muita, mas precisa que os terrenos acumulem água no inverno para mais tarde proporcionar uma boa colheita. O inverno anterior já foi seco, na altura da polonização houve vários dias acima dos 40 graus, o que é dema siado Com a falta de água há muitos castanheiros que não se aguentaram e secaram, sobretudo os de grande porte.

Apesar disso, dizia, a qualidade é boa?

O problema aqui não é ape nas a campanha deste ano, no momento isto é mau porque afeta diretamente a economia das famílias da região, mas também no médio/longo prazo, com a morte de muitos castanhei ros.

Sim, a qualidade mantém-se boa. Não há muito bichado, a castanha está boni ta e conserva-se bem.

A época da apanha acabou por ser mais positiva, veio chuva e frio que é o que é preciso para que os ouriços abram

e o fruto caia. Caso contrário teríamos que andar a abri-los, o que é mais cus toso.

Essa qualidade, e o calibre que, apesar de tudo é muito bom, ajudam a que este ano mesmo com o preço mais alto ela se venda. Isto vai ajudar os produtores que acabam por ver minimizadas as suas per das.

Agora é esperar que o próximo inver no nos traga água suficiente, o outono tem sido simpático neste início, só assim conseguiremos aguentar a próxima seca, caso contrário estamos condenados.

O cenário é assim tão mau?

O problema aqui não é apenas a campa nha deste ano, no momento isto é mau porque afeta diretamente a economia das famílias da região, mas também no médio/longo prazo, com a morte de mui

16 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Martaínha cai 70% em 2022

tos castanheiros.

Num ano como este, com todas as difi culdades que houve, há árvores que es tão em stress absoluto, não sabemos ain da se as vamos conseguir recuperar. Se houver agora um ano chuvoso, que melhore os níveis de água no subsolo, que é o que nos interessa, podemos espe rar que sobrevivam.

Qual é a idade média de um casta nheiro?

Há alguns que chegam a ter 800 anos (ri sos). Contudo, os que estão a sofrer mais são exatamente os mais velhos, aqueles que ainda foram plantados à mão e que, por isso, têm as raízes mais próximas da superfície, e são de muito grande porte.

A rega pode ser uma solução? Já há produtores que começam a pensar

Já há produtores que come çam a pensar seriamente nisso. Não é que a árvore te nha necessidade de muita água, como já expliquei, mas as alterações climáti cas estão aí e temos que nos preparar.

Há 20 anos ninguém pen saria regar um castanhei ro, hoje isso começa a ser uma necessidade.

seriamente nisso. Não é que a árvore te nha necessidade de muita água, como já expliquei, mas as alterações climáticas estão aí e temos que nos preparar.

Há 20 anos ninguém pensaria regar um castanheiro, hoje isso começa a ser uma necessidade.

Antigamente tínhamos um ano seco em cada dez, agora acontece a cada dois anos ou em anos sucessivos. É uma alte ração muito grande.

Mesmo para nós, cooperativa, é mau em termos de negócio. Se antes havia um ano mau em cada cinco, agora, com tudo isto temos tidos anos de muito stress para se conseguir fazer bons ne gócios, não temos um ano descansado.

Quanto tempo ainda resta até ao fi nal da campanha?

Cerca de duas semanas ainda.

Em termos de valores brutos, já há uma ideia da quantidade de casta nha que resulta desta campanha na Coopenela?

O castanheiro não precisa de muita água, mas precisa que os terrenos acumulem essa água no inverno para mais tarde proporcionar uma boa colheita. O in verno anterior já foi seco, na altura da polonização houve vários dias acima dos 40 graus, o que é dema siado Com a falta de água há muitos castanheiros que não se aguentaram e secaram, sobretudo os de grande porte.

aAinda não conseguimos saber.

A chegada de castanha à Coopenela depende sempre do preço lá fora, se o preço baixa, recebemos mais, se o pre ço sobe, recebemos menos

Como neste momento os preços estão mais baixos, estamos a receber cerca de 10 a 12 toneladas por dia, vamos ver até quando, é uma incógnita.

Vende-se muita castanha… infelizmente de uma forma menos correta.

O chamado “marcado paralelo” tem um peso muito grande neste setor?

Tem algum. Em anos como este surge sempre gente a comprar a preços loucos para levar para Lisboa, o que acaba por estragar o nosso negócio.

A castanha tem um preço, se começar mos a ultrapassar esse valor eu temo que o mercado comece a rejeitar a nossa cas tanha.

A Martaínha é uma das melhores casta nhas do mundo mas se chega a um preço louco, ao consumidor, as pessoas sim plesmente não pegam. Tem que haver um limite.

O preço tem que ser controlado de for ma a que todos ganhem de forma justa. O produtor tem que receber o valor justo pela castanha.

A castanha que chega à Coopenela, tem como destino o mercado interno ou a exportação?

Essencialmente exportação. No merca do interno vendemos alguns quilos aqui na região mas pontualmente e abaste cemos uma cadeia de supermercados, o restante é para exportação, cerca de 95%.

Em 2020, que foi um ano excecional, por causa do Covid, com os mercados internacionais fechados ou a funcionar mal, chegamos aos 30% nas vendas no mercado interno. No ano passado já voltamos a superar a barreira dos 90% para o mercado internacional. 

17 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO Penedono

Sabrosa

Mercado dos Produtos Durienses inaugurado com I Festival dos Produtos Durienses e aniversário do município

Cerimónia de inauguração contou com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunho sa, e serviu ainda para inaugurar a primeira edição do Festival dos Produtos Durienses onde marca ram presença os 19 municípios da CIM Douro, com a animação a ficar a cargo de Emanuel e Bárbara Bandeira.

Com milhares de visitantes na zona en volvente do novo Mercado, o momento inaugural teve uma atuação de boas vin das pela Banda de Música de Sabrosa, se guindo-se o descerrar da placa que jun tou a ministra Ana Abrunhosa, a autarca sabrosense Helena Lapa e o presidente da CIM Douro, Carlos Silva, terminando com a habitual sessão de discursos for mais e um périplo pelos espaços exposi tivos.

Em declarações à comunicação social, no final da cerimónia, a ministra Ana Abrunhosa revelou a sua satisfação "em fazer parte de um momento tão marcante para o concelho e para o Douro", recor dando que já tinha estado “presente an teriormente na cerimónia de lançamento da primeira pedra deste projeto”. "É com grande alegria que me associo a esta inauguração com este festival onde marcam presença os 19 municípios da CIM Douro, isto é sinónimo de coesão. Num território onde temos 19 municípios, com uma enorme riqueza de produtos, é um motivo de orgulho para estas gentes ver tudo isso reunido neste espaço.

O Douro é Património Mundial da Hu manidade, foi a sua riqueza única que lhe garantiu esta classificação, a nós, Go verno e autarcas compete-nos preservar o que aqui temos, e esta é uma ótima maneira de o fazer, juntando toda a re gião, num trabalho em rede", afirmou a ministra.

Helena Lapa, a autarca sabrosense tam bém se mostrou bastante satisfeita com a inauguração do novo Mercado dos Pro dutos Durienses, sublinhando ainda a importância da presença dos municípios durienses no Festival dos Produtos Du rienses.

"Este momento faz-me muito feliz porque este era um equipamento necessário não só para Sabrosa mas para toda a região.

Esta felicidade é ainda maior porque conseguimos juntar a esta inauguração a realização do primeiro Festival dos Pro dutos Durienses, juntando aqui todos os municípios da nossa Comunidade Inter municipal".

O primeiro dia terminou com a atua ção do artista, e filho da terra, Emanuel, natural da freguesia de Covas do Douro, que encheu o recinto.

Município festejou aniversário no segundo dia do Festival

O segundo dia do Festival iniciou com muita música e animação, tendo tido como destaque as comemorações do 186.º aniversário do município de Sabrosa, que decorreram a partir das

16h00, com a apresentação do livro "Sa brosa da Serra ao Rio Novos Olhares", uma obra editada pelo município de Sabrosa, com participação do fotógrafo João Paulo Sotto Mayor e de vários es critores de renome nacional, momento ao qual se seguiu o das intervenções ofi ciais, realizadas pela Presidente da As sembleia Municipal, Fátima Fernandes, e pela Presidente da Câmara Municipal, Helena Lapa, terminando a mesma com o cantar de parabéns ao município, en toado pela multidão presente, e com a abertura do bolo de aniversário, distri buído a todos os presentes.

O I Festival dos Produtos Durienses, sempre com casa cheia, encerrou com o concerto da artista Bárbara Bandeira.

É de recordar que o Mercado dos Pro dutos Durienses possuí uma área total, aproximada, de 1100 metros quadra dos, e está dotado de todas as condi ções infraestruturais necessárias à boa realização de eventos diversos. O mes mo foi desenhado para prosseguir com a estratégia de valorização económica e cultural do que de melhor se produz nesta que é a Região Demarcada do Douro e tem um investimento total de 1.803.563,60 Euros, inscrito como pro jeto âncora na Estratégia de Eficiência Coletiva e Programa de Valorização Eco nómica de Recursos Endógenos (EEC PROVERE DOURO), cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) no âmbito do Progra ma Operacional Regional do Norte (Nor te2020). 

18 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Ficha Técnica

O presente e o futuro da Coopenela

"Os operadores locais sabem que estamos cá para receber o produto dos nossos agricultores e, para os "seduzir", têm que pagar melhor que nós", afirma José Ângelo Pinto, presidente da Coopenela, numa entrevista reveladora da importância desta cooperativa agrícola sobre o traba lho que desenvolve em prol dos frutos de casca rija.

ACoopenela é uma cooperativa agrícola especializada em fru tos de casca rija. Que frutos são esses além da castanha?

Os frutos de casca rija são, obvia mente a castanha, mas há também a alfarroba, a amêndoa, a noz, a avelã e o pistacho. Aqueles que no fundo pertencem a essa classe no entendi mento do Ministério da Agricultura.

Somos uma entidade reconhecida para trabalhar todos estes produtos, como produtores qualificados, com cerca de mil associados.

A castanha é, para além de mais conhecida, a principal área de ne gócio da cooperativa?

Depende. A alfarroba tem já um peso muito grande para nós, já mo vimenta cerca de 600 mil euros anuais, o que é substancial.

A castanha num ano normal pode chegar aos 2 milhões, este ano, por exemplo, nem perto disso chegare mos, por isso é difícil responder.

Uma organização deste género tem uma maior responsabilidade sobre a economia local?

Claro que sim. Temos a noção que, neste mercado, somos indutores de preço. Só o facto de existirmos faz

com que, em toda a região à nossa volta e aqui refiro-me a Sernancelhe, Penedo no, S. João da Pesqueira, Mêda, Trancoso, entre outros o preço pago ao produtor final seja absolutamente excecional.

Os operadores locais sabem que estamos cá para receber o produto dos nossos agri cultores e, para os "seduzir", têm que pa gar melhor que nós. Não é por acaso que é nesta região que a castanha é a mais cara em todo o mundo, e que esse impacto se

sente verdadeiramente junto do produtor. Isto nem sempre é reconhecido mas é um facto.

Para a Cooperativa é absolutamente essencial pagar bem ao produtor?

É essencial. Desde 2012, altura em que chegamos aqui, em todas as decisões de estruturação de preço para o agricultor, sempre privilegiamos a opção de ter um preço acima daquilo que receberia caso

fosse vender fora. Sempre foi esse o objetivo claro da gestão.

Certamente que há anos em que isto não é tão fácil, como 2020, que devido à Covid foi um ano terrível. Apesar de termos conseguido pagar acima do preço do mercado foi um preço baixo.

As pessoas recordam sempre aqui lo que é muito bom ou muito mau. Quando alguém anda no início da campanha a comprar castanha a 4€, mesmo que depois vá passando para 3, 2 ou 1€ no final da campanha, o que fica é que pagou a 4€.

Nós pagamos um preço médio de 3,75€, com naturalidade, as pessoas não têm noção e comparam com os 4€. É difícil contrariar esta perceção mas do ponto de vista de gestão, na Cooperativa Agrícola de Penela da Beira, sempre privilegiamos o preço ao agricultor.

É a decisão mais importante do ano para nós e feita sem olhar à van tagem económica da cooperativa.

A consciência social está sempre presente?

Claramente. É uma forma de pro tegermos os pequenos produtores. Dificilmente um grande operador

Boletim Informativo da Cooperativa Agrícola de Penela da Beira Nº 40 - NOVEMBRO de 2022 Trimestral Ana Dias; Angela Martins; Igor Nora; José Angelo Pinto; Joaquim Vasconcelos; Rui Droga e Tânia Amaral

vai de produtor em produtor, para o meio dos soutos, oferecer mais do que aquilo que pagamos, desta for ma conseguimos escala e com ela melhores preços a entregar ao pro dutor.

No fundo é este o espírito do coo perativismo, tratar todos da mesma forma, independentemente da di mensão da sua produção. O quilo de castanha é pago ao mesmo valor ao produtor que entrega 30 ou 40 tone ladas, assim como ao que entrega 5.

Falou de mil associados, locali zados aqui nesta região?

Não, temos uma abrangência na cional. Em 2018 fizemos uma fusão com uma cooperativa agrícola de Beja, o que também fez aumentar o número de associados, mas temos uma presença nacional.

Obviamente que temos uma pre sença maior nestes territórios geo graficamente próximos de nós e que há pouco mencionei.

O foco principal da cooperativa é o negócio dos frutos de casca rija?

Não só. Para além disso temos uma OP florestal, na qual temos a respon sabilidade sobre uma equipa de sa padores, cinco homens, que fazem limpezas de terrenos e prevenção de incêndios, principalmente. É uma equipa reconhecida como uma das mais eficientes, e que acaba por ser também a equipa de sapadores de Penedono.

Outra área muito importante é o desenvolvimento de projetos, inter nos e externos. Temos um conjun to de projetos em desenvolvimento com vista à melhoria dos frutos. Implementamos um projeto mais recente que chamamos de "Breed Martaínha", com o objetivo de plan tar martaínhas de maior qualidade, feito em parceria com a Universida de de Trás-os-Montes e Alto Douro e uma empresa privada especializada em micropropagação de plantas.

Estamos envolvidos em outros pro jetos como um projeto de financia

mento para o desenvolvimento da própria cooperativa que se chama Programa Ope racional, que é próprio das OP's, e que nos permitiu já investir numa máquina de britar nozes. Somos certificados, em termos de qualidade, pela mais exigente norma de qualidade que existe que é BRC, que é uma norma HACCP de nível muito elevado. Fruto desta norma temos uma equipa de segurança alimentar que, de uma forma independente, cruza todas as áreas, é quase um polícia de todos nós.

Tudo isto resultado de uma departamen to de gestão de projeto muito proativo.

Constituímos uma Equipa de Interven ção Agrícola, que, como o próprio nome indica, faz trabalhos agrícolas, agora estão a apanhar castanha nos nossos associa dos, por exemplo. Esta ideia surgiu por que acreditamos que só continuaremos a existir como cooperativa se tivermos agri cultores que invistam nesta área.

Há quem tenha aqui grandes investi mentos, mas resida fora, da região e do país mesmo, e desenvolvemos já alguns projetos piloto para testar como podemos

ajudar na gestão destes investimentos. No fundo o que fazemos é uma réplica do que acontecia no passado onde um emigran te entregava a um irmão ou um primo a gestão do terreno durante o ano, e na co lheita dividiam o produto, só que agora os tempos são outros e a ideia é que a gestão possa ser feita pela cooperativa, de uma forma mais profissional.

A nível organizacional temos ainda um departamento de Coordenação de Opera ções, que gere recursos humanos, marke ting, vendas, etc, de forma independente. Se os técnicos estão preocupados com o produto em si, temos que ter quem se preocupe com esta gestão que também é essencial ao funcionamento de qualquer organização.

Temos ainda outra área, que designamos de coordenação industrial, que no fundo é a organização de todo o processo de tratamento do fruto, desde que ele chega às nossas instalações, garantindo a me lhor qualidade quando chega ao cliente. Temos pequenos departamentos respon sáveis por cada passo, desde a receção,

calibragem, embalagem, expedição e transformação.

A fechar tudo isto temos ainda uma loja de fatores de produção, aqui nas nossas instalações, onde vendemos produtos das mais diversas qualida des, desde adubos, rações, vinho, azeite, etc, produtos que nos che gam de outras cooperativas com as quais temos cooperação.

Como cooperativa dedicada aos frutos de casca rija, procuramos ainda participar em tudo o que é, a nível nacional ou internacional, sig nificante para o nosso negócio.

Nesse sentido somos vice-presiden tes do conselho de administração da Praça das Cooperativas, somos dire tores da RefCast, a Associação Portu guesa da Castanha, participamos no Centro Nacional de Competências de Frutos Secos (CNCFS), que é uma associação que tem como objetivo a promoção tenológica dos frutos com que trabalhamos, somos represen tantes na EuroCastanea, a Associação Europeia da Castanha, estamos muito ligados à Confagri, com vários projetos conjuntos e várias outras ações que desenvolvemos na área da agricultura biológica e da sustentabilidade.

Estando a cooperativa num ter ritório de baixa densidade, com todas as questões que isso levan ta, como é que conseguem este alto grau de profissionalização?

Com muito trabalho, muita dedi cação e critérios de contratação de pessoas onde a capacidade profis sional e a vontade de fazer coisas, é essencial.

Quando chegamos aqui tínhamos três pessoas a trabalhar a tempo in teiro, mais os cinco sapadores. Era claramente insuficiente, até porque

fazia com que o processo de sub contratação para a campanha, por exemplo, fosse sempre brutal, e com a obrigatoriedade de virem algumas pessoas chave ou era uma desgraça.

Fizemos uma contratação bastante criteriosa, procuramos pessoas que acrescentassem à organização. Ob viamente que também houve saídas e aí procuramos que a substituição fosse feita com pessoas mais capa zes. No fundo fomos melhorando a competência da equipa.

Quantos elementos tem a equi pa neste momento?

A tempo inteiro temos 12. Além desses, contratamos mais 20 traba lhadores, durante dois meses, para a campanha.

A diferença para o passado é que os nossos 12 funcionários estão já fami liarizados com todos os processos, no início da campanha as reuniões preparatórias são mais rápidas e simples porque cada um já sabe o seu papel.

Temos hoje esta forte profissionali zação. Para isso também apostamos na formação da nossa equipa e ten tamos enquadrá-las nas funções que melhor se adequam ao seu perfil.

Estamos no interior, é um dos nos sos dramas, muitas vezes temos que viver com o que temos. Não adianta pensar que vamos colocar um anún cio de emprego e pensar que vamos receber 50 candidaturas, isso não acontece.

Com o conhecimento das situações concretas olhamos para as pessoas e encontramos aquela que achamos que melhor consegue desempenhar aquele papel. O que sentimos é que falta massa crítica na região.

Ainda recentemente quisemos contratar alguém para nos ajudar com a contabilidade de alguns pro jetos, com um bom rendimento, não recebemos qualquer candidatura. E colocamos o anúncio diversas ve zes. Temos cerca de 15 projetos em simultâneo para os quais precisa mos de uma contabilidade de custos e analítica forte, não conseguimos ninguém que o consiga fazer.

Mas sentem que isso acontece por uma questão de salário ou lo calização?

É verdade que as margens de co mercialização que temos não per mitem vencimentos extraordinários, mas pagamos tão bem como as em presas do litoral.

A dificuldade é a localização, atrair gente para cá. Temos duas vagas para estágios profissionais, as mes mas condições de qualquer estágio profissional, uma em Beja e outra no distrito de Viseu, não conseguimos fechar os processos porque não te mos candidatos.

Já tivemos o caso de uma candida ta que nos ligou a dizer que online não encontrava casa para alugar,

explicamos que aqui as coisas não fun cionam bem assim, que as pessoas não alugam casa online e garantimos que nos primeiros 15 dias ficaria hospeda da num hotel. Mesmo assim rejeitou o lugar. É difícil em qualquer outro lugar vai à internet e encontra casas para lu gar, aqui não funciona assim, mas há oferta.

E mesmo que encontrem um T1 completamente equipado, por 300€, acham caro, o que dirão na cidade onde pagam 600€ pelo mesmo espaço? Aqui provavelmente ficam ainda mais bara tos porque a senhoria lhe arranja umas couves, ou uns ovos, é assim que fun ciona aqui. A qualidade que temos aqui é incomparavelmente melhor do que na cidade, mas esse reconhecimento tarda a chegar.

Que desafios tem o setor da casta nha pela frente?

Pode ser uma visão muito pessoal mas estou em crer que, se o setor não fizer

nada, daqui por 20 anos provavelmen te não teremos pessoas que comam castanhas.

O consumo da castanha é um hábito que está enraizado nos mais velhos. Se nos sentarmos junto a um assador de castanha na rua é engraçado reparar que a grande maioria dos consumidores que se aproximam têm cabelo branco.

Temos que mudar isto, quer através da promoção quer pelo caminho da transformação tornando o seu consu mo mais imediato.

É um produto que, mesmo não sendo biológico acaba por ser porque quer a árvore quer o fruto em si não requerem grandes tratamentos, o que o torna muito natural. Esta mensagem tem que passar para os mais jovens tornando a castanha mais atrativa.

Outro fator importante, e aqui não tanto um desafio para o setor mas para todos, é que o castanheiro é um gran de transformador de carbono, o que significa que quantos mais castanhei

ros existirem, mais protegemos o ambiente.

E na cooperativa em concreto, que desafios traz o futuro?

Em primeiro lugar, uma preocu pação grande que temos é o rejuve nescimento.

Um rejuvenescimento desde logo interno. Quando chegamos a média de idades dos órgãos sociais era mui to alta, para se ter uma ideia, todos os membros da Mesa da Assembleia Geral tinham mais de 75 anos.

Alargamos o Conselho de Adminis tração para sete pessoas, introduzin do duas pessoas com menos de 30 anos que, respeitando os cabelos brancos existentes no órgão, vêm acrescentar. O mesmo aconteceu na Mesa da Assembleia Geral e no Con selho Fiscal, procuramos moderni zar a cooperativa.

O modelo de funcionamento que

adotamos não podia ser outro. Po deríamos ter aqui um CEO todos os dias, o problema é que a região não tem massa crítica para gerar alguém com esse perfil, como já falamos atrás. Esse papel fica entregue ao presidente e ao vice-presidente que têm que estar aqui diariamente.

No fundo o Conselho de Admi nistração é não executivo e da sua composição saem dois elementos diretivos que têm funções mais exe cutivas.

Felizmente temos um vice-presi dente, o José Fernando, que é re conhecidamente uma das pessoas que melhor conhece o setor, a ní vel global. Tem um conhecimento aprofundado da castanha em si, mas também de todo o processo que está envolvido. Conhece e é conhecido por todos quantos comercializam castanha na europa e isso é muito importante, as pessoas confiam nos negócios que faz porque sempre foi uma pessoa séria.

A confiança é importante neste negócio?

É essencial. Ao longo dos anos fo mos filtrando e há pessoas com as quais não fazemos negócio. Há pes soas que podiam chegar aqui com um camião de ouro que não negocia mos com elas, a ética é absolutamen te fundamental para nós.

O mérito não é meu, é de todos os que passaram por aqui, todos os cinco presidentes que a coope rativa teve até hoje. Se alguém não foi correto connosco em algum ne gócio, não trabalhamos mais com essa pessoa. Não temos problema nenhum em fazê-lo.

Isto acontece porque temos um produto único, que nos permite ter este discurso.

Falávamos do futuro da coope rativa, o futuro está delineado?

A nossa estratégia está sancionada e aprovada pelos nossos associados, em Assembleia Geral Eleitoral.

É uma estratégia que passa pela continuidade do trabalho que te mos feito. Já concluímos a reno vação da nossa estrutura organi zacional e modificamos algumas coisas.

Olhando para a frente queremos trabalhar mais quantidade de fru tos, mais próximo das capacidades que temos de armazenamento e conservação, temos uma capaci dade de frio para a castanha, por exemplo, de 400 toneladas.

Queremos trabalhar melhor a área de projetos, continuar a ter

boas alternativas para o financiamento, para garantir a sustentabilidade futura.

No imediato a preocupação é recuperar uma rentabilidade razoável para a própria instituição, que foi afetada em 2020 pela Covid, e que já temos vindo a conseguir.

Se consultarem o nosso Manifesto Elei toral, aquilo que também pretendemos é ter velocidade e rapidez de processamen to e pagamento. Conseguimos receber o produto e pagar rapidamente, é muito importante para o agricultor mas também para nós.

Aqui, as nossas decisões do dia a dia são tomadas com este objetivo, pagar bem e rápido aos produtores.

Não compensa protelar o processo de venda para conseguir, por exem plo, um preço mais alto na altura do Natal?

Depende do mercado. No caso do Brasil, por exemplo, as castanhas são muito va lorizadas no Natal. Uma família que tenha castanhas na mesa de Natal é considerado um luxo, o quilo chega a custar 120 reais.

Ao mesmo tempo é um produto que queremos democratizar, queremos que mais gente tenha oportunidade de consu mir Martaínha e isso só se consegue com uma política de preços muito bem pensa da como já falamos atrás.

Resumidamente, para o futuro, temos a

qualidade como uma grande chave mestra, a valorização e uma maior aposta nos outros produtos que te mos aqui, até para evitar a excessiva dependência da castanha e dos seus anos produtivos.

Tudo isto sem nunca esquecer a melhoria da nossa equipa com mais e melhores recursos humanos, ape sar de nunca ser fácil de as atrair para estes territórios. Investimos muito em formação e no desenvol vimento de competências, procu ramos que as pessoas vão conhecer outras realidades. Ainda este ano, no âmbito de um programa Erasmus sobre castanha levamos um grupo de oito pessoas à Áustria, isto é ab solutamente essencial. Não adianta nada ter os melhores colaboradores do mundo e não fazer nada por de senvolvê-los, é esse o nosso espírito, diria mesmo que já faz parte da nos sa cultura.

Se há alguns anos os técnicos ti nham uma ou outra certificação, nada muito especial, hoje estão to dos muito mais capacitados, o que nos dá também uma maior capaci dade de intervenção.

Uma instituição que trabalha pro dutos agrícolas está sempre depen dente de fatores externos como o clima, mas temos que apostar no desenvolvimento institucional. So mos neste momento um grande pla yer regional que influencia a forma como as organizações empresariais funcionam.

Santa Marta de Penaguião

Auditório municipal assinalou os seus 19 anos ao serviço da Cultura de Santa Marta de Penaguião

A noite do dia 5 de novembro ficou marcada pela inauguração da exposição de pintura “Sonoridades Cromáticas” de Rui Duarte, que se encontra pa tente na galeria do espaço municipal até ao dia 2 de dezembro, e pela atuação do Grupo “Rama de Oliveira”.

Inscrições abertas para o Almoço de Natal Sénior

O município de Santa Marta de Penaguião tem as inscri ções abertas para o Almoço de Natal Sénior, até ao próxi mo dia 30.

No almoço, que se realiza no dia 10 de dezembro, no pavilhão Gimnodesportivo, podem inscrever-se todos os penaguienses com idade igual ou superior a 60 anos (com pletados até 31 de dezembro de 2022).

As inscrições podem ser fei tas nas sedes das juntas de freguesia, à semelhança do que aconteceu em anos an teriores, devendo ser contac tados os presidentes de junta ou a autarquia para qualquer esclarecimento adicional.

23 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO

Entrevista MANUEL JOSÉ

Em 76 anos de vida, pouco mais de 50 foram dedicados ao futebol, en quanto jogador profissional e, depois, como treinador. Como foi essa transi ção?

Isso foi a sequência lógica da minha vida, que começou aos 16 anos no SL Ben fica. Fui de Vila Real de Santo António à experiência, entre cento e tal miúdos, e acabei por ficar. Passei a ser autossufi ciente muito novo, sozinho, sem família. Como jogador tive momentos bons e me nos bons: fiquei longe da carreira que eu desejaria e que poderia ter tido, devido à qualidade que toda a gente reconhecia, passo a imodéstia. A carreira de treinador acabou por recompor e compensar as coi sas. A sorte é aleatória, mas houve alturas como jogador em que foi madrasta comi go: tive propostas de jogar no Sporting e no FC Porto, três vezes, e eu queria ter ido, mas houve sempre algo que impediu que se concretizasse. Isso acabou por li mitar numa carreira que poderia ter sido bem melhor, mas acabou por ser sofrida. Tirei o curso de treinador no fervor da re volução de Abril, em 1975, por influência e insistência do meu irmão, porque eu não queria ser treinador de futebol! E, depois, acabei por ter mais sucesso como treinador!

Treinou equipas no Algarve, sua re gião, na Madeira, na Estremadura, no Minho e no Douro Litoral. Mas não em Trás-os-Montes e Alto Douro, área des te jornal. Nunca lhe surgiu nenhum convite daqui? Se pudesse ter jogado ou treinado um clube duriense qual gostaria que fosse e porquê?

Que eu me lembre, pois a memória já não é a mesma, não recebi nenhum con vite desta referida região. A equipa que conheço melhor e que pode ser feita re ferência é o Chaves que, durante alguns anos, foi uma equipa com protagonismo grande na primeira divisão e com uma massa adepta muito aficionada. Era sem pre difícil jogar em Chaves, não só pelo valor que a equipa tinha, mas também pela paixão que os flavienses têm pelo seu clube, fazendo uma pressão muito grande no adversário.

Como cidadão e turista já visitou muitas vezes o Alto Douro? O que des taca?

Poucas vezes tive oportunidade de ir, pois as nossas passagens – concretamen te em Chaves – eram muito rápidas, para os jogos, não havendo tempo extra para visitas. A primeira vez que fui a Chaves foi com a seleção militar, que defrontou o Desportivo. Mesmo estando em Espinho, onde vivo há 42 anos.

Para si, o que representa ser o trei nador vivo com mais jogos disputados

(560) na Primeira Liga?

Para mim é uma curiosidade. De facto, foram muitos jogos em muitos clubes que treinei em Portugal.

O seu clube da juventude é o Benfica. Ainda é o de sua eleição?

O clube da minha infância é o Sporting, já que o meu pai e o meu irmão, mais velho do que eu, são sportinguistas fer renhos. Depois mudei de clube quando joguei no Benfica e passei a ser benfiquis ta. Mas aos meus 15 anos, após acabar um torneio de dez dias que tínhamos todos os anos na minha terra, em Vila Real de San to António, vou a entrar em casa e ouvi uma voz que não era do meu pai nem do meu irmão, a dizer: “amanhã, às 9h, es tará aqui um carro para levar o seu filho para o Benfica”. Quando ouvi aquilo fugi logo de casa, para casa duma tia minha, onde estive uma semana, pois não queria ir para o Benfica nem morto! Tentavam convencer-me, mas eu não queria mesmo! No ano seguinte, acabou por ser diferente e lá fui.

E que reação teve quando, como trei nador do Sporting, venceu por 7-1 ao Benfica? Essa que foi a maior goleada de sempre no dérbi lisboeta.

É verdade, ainda se mantém essa golea da. Isso foi um episódio. E é curioso que depois dessa vitória, a direção do Spor ting queria renovar mais um ano comigo e eu disse que não! Porquê? Aquela equipa que eu tinha não era boa. Aquela vitória

“Agora já não vejo jogos,

assim foi apenas esporádica, apenas acon teceu sem se prever. A equipa do Benfica era melhor do que a nossa, mas eu disse aos meus jogadores: “nós vamos jogar em contra-ataque”. E assim foi, em casa, pra ticamente num 4-5-1! Eu tinha um jogador inglês na equipa que não era um primor de técnica, mas super rápido e hábil, que auxiliava e jogava junto do Manuel Fer nandes. Fizemos sete golos em contra-a taque, quatro dos quais marcados pelo Manuel Fernandes. Essa foi, para mim, a única forma de conseguirmos ganhar aquele jogo, num ano em que o campeão nacional foi o Benfica. Passado mês e meio daquele jogo, em que tudo ameni zou, acabei por ser despedido.

E festejou essa vitória vivamente ou discretamente, já que num misto de emoções entre os clubes de sua prefe rência e o de seu pai?

Claro que festejei, ainda para mais uma vitória daquelas e sobre o Benfica, pois trabalho é trabalho, conhaque é conha que. Há que não misturar as coisas!

Considera que o seu tempo áureo e de maior sucesso foi no Egito, treinan do o Al-Ahly?

Acho que sim! Curiosamente, até se diz: “nunca voltes a um lugar onde foste feliz”. Eu saí três vezes do Al-Ahly, voltei lá três vezes e fui feliz sempre! Portanto, ajudei um clube a ganhar 21 títulos: 8 continen tais (4 Ligas dos Campeões e 4 Supertaças de África). Devo ser um dos únicos treina

dores no mundo, se não o único, que fez 9 finais continentais.

Além disso, foi o primeiro treinador do mundo a levar uma equipa africana ao pódio do Campeonato de Clubes da FIFA… Quais foram os seus principais trunfos e métodos para alcançar tudo isso, mesmo técnico-táticos?

Acho que tenho aquele espírito que os Portugueses tiveram ao longo da História: um espírito aventureiro, de tentar inovar sempre. Eu sempre disse que queria fazer uma experiência no estrangeiro, porque achava ter capacidades, mas sem vaida des – porque nunca fui de vaidades! –, e assim foi! Quanto à estratégia, nos cinco anos antes em que estive no Boavista me teu-se-me na cabeça jogar em 3-4-3. Nin guém em Portugal jogava assim! Nem me lembro nos anos todos em que fui jogador haver algum treinador a fazê-lo. Se o fez foi num jogo ou noutro, mas não quatro épocas seguidas como fiz no Boavista. Fui inovador nessa área. E quando fui para o Al-Ahly, o maior clube de África e do Mé dio Oriente – com mais de 100 milhões de apoiantes –, levei essa estratégia. Já que a cultura técnico-tática no Egito era alta mente deficitária e interpretar um 3-4-3 não era fácil. O que é facto é que consegui: o clube não ganhava a Liga dos Campeões há 14 anos e, nesse meu primeiro ano, ga nhámos também a Supertaça, que o clube nunca tinha ganho. Curiosamente, per demos o campeonato na última jornada. Depois fui-me embora, por divergência

24 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

jogos, apenas olho para eles”

com o diretor técnico, que se portou mal comigo…

Depois, na segunda temporada no Egito, conquistou o triplete e fez o recorde de 55 partidas sem perder. Como foi gerir física e psicologicamen te, a si e aos seus jogadores, situações excecionais como essas?

Não foi fácil. No Egito vive-se o futebol com muita intensidade e com uma ri validade muito grande entre o Al-Ahly e o Zamalek, onde está agora o Jesualdo Ferreira. Eu tenho também o melhor re sultado de dérbis entre ambas as equipas, onde cheguei a ganhar 6-1 ao Zamalek. Foi um momento marcante! Aquilo perdura na memória e continuará, mesmo depois de eu morrer, pois todos os anos no dia dessa vitó ria eu recebo sempre mais de 20 mensagens do Egito a celebrar essa vitória. Eles vivem apaixonadamente o futebol! E curiosamen te, na Liga dos Campeões, o Al-Ahly era co nhecido por ser a equipa mais defensiva de África e, comigo, passou a ser a mais ofen siva: eram golos atrás de golos e com mais posse de bola.

Passou, este ano, uma década da tragé dia de Port Said, onde foi também uma vítima. À distância dos factos, o que lhe fica desse momento e que lição apren deu?

O que ficou foi, precisamente, a paixão que os egípcios têm por mim, que não só os adeptos do Al-Ahly. Eu todos os dias recebo mensagens e emails do Egito, não falha um

dia. O que me salvou foi essa admiração que eles me têm, como um ídolo. Aquilo que fui cá, fui também lá: um indivíduo frontal, di reto, que não tem medo e que é “pão, pão, queijo, queijo”. Quando terminou o jogo, a minha equipa técnica e médica conseguiu fugir. Apagaram-se as luzes, sem ninguém saber e se aperceber, e eles abriram propo sitadamente as portas onde estavam os nos sos adeptos para matarem. Eu vi atirarem gente da bancada, que era altíssima, para a rua. E morreram. Eu pensei para mim: se eu me ponho a correr eles matam-me, cer tamente. Eu tinha dois funcionários do clu be ao pé de mim que me protegeram. Eu fui andando, tranquilamente, para o balneário mas atento, pois havia muitos adeptos lá com a conivência da polícia. No meio da multidão recebia muitos beijos e abraços e alguns pontapés nas pernas por estar muita confusão. Não consegui entrar no balneá rio, mesmo depois de esperar uma hora numa sala. Aquilo foi na altura da revolução e os adeptos do Al-Ahly foram como que um garante do sucesso da mesma. Lá me mete ram num carro com vidros foscos e fui para um acantonamento militar, onde estive duas horas. De seguida, levaram-me para o aeroporto – porque tínhamos voo de regres so ao Cairo – e estavam a chegar os meus jogadores, em cima de quatro tanques de guerra. Aquele episódio foi algo louco! Eu renasci naquele dia.

Também há uma década passou à re forma. De que forma a tem vivido e pas sado? O que mais lhe agrada nela?

Os primeiros três-quatro anos foram com plicados. Mas eu continuava a ter uma re lação com o futebol através do programa desportivo, na RTP, à quinta feira à noite. Isso obrigava-me a ver os jogos todos com atenção, com olhos de treinador, para de pois comentar a minha visão de jogos. Se bem que nesses programas, e nos jornais, o que conta são os três grandes e dão menor atenção às outras equipas. Passava bastante tempo em frente à televisão a ver os jogos. Agora já não vejo jogos, apenas olho para eles.

Portanto, já não vive com a mesma intensidade o desporto da sua vida ou cansou-se dele?

Não vivo com essa intensidade de antiga mente. Sou, somente, um adepto do fute bol. Dificilmente eu vejo um jogo até ao fim. Se não estiver a agradar-me troco de canal ou vou fazer outra coisa.

Dá agora mais atenção a outras áreas sociais e demais sectores que dantes não dava tanta atenção e importância? Se sim, tais como?

Agora tenho uma vida perfeitamente tran quila. Curiosamente, antes quando eu tra balhava – e que seria mais difícil de o fazer –, eu lia 70-80 livros por ano. Atualmente leio cerca de um terço. Perdi um pouco o bom hábito da leitura e estou sempre a di zer a mim próprio que tenho de readqui ri-lo. Tenho aqui uma série de livros, que comprei para ler, e espero voltar a ter essa vontade de o fazer. De resto, faço as minhas caminhadas regulares durante os dias úteis. Faço, no mínimo, uns 12-13 km por dia. É uma forma de ocupação do tempo e de manter alguma saúde física e mental.

Do que mais sente saudades quando pensa na sua carreira? Ou já não pensa nela nem fica saudosista?

Não as sinto porque foi uma vida muito intensa. Vivi sempre a minha vida principal mente como treinador. Costumo dizer que se eu tivesse a mentalidade de treinador que tive como jogador eu tinha feito uma carreira completamente diferente daquela que fiz, para muito melhor. Se calhar, não tinha mesmo sido treinador. O que fiz está feito: são já 76 anos! Não tenho qualquer problema em perceber que tudo tem o seu tempo e que o meu tempo esgotou-se, por iniciativa própria. O meu amigo Jesualdo Ferreira, por exemplo, é mais novo do que eu mês e meio e continua a treinar e foi este ano campeão no Egito, pelo Zamalek. Acho que tomei a melhor decisão em parar de treinar.

O que mais lhe preocupa e entristece perante as várias crises – nacional e in ternacional – que estamos a viver e do que daí tem derivado? Qual a sua visão / opinião sobre estas crises?

Vou estando com a preocupação normal

face às mesmas e como cidadão do mundo que foi a 79 países ao longo da carreira. Vi muita coisa e vivi muita coisa. As preocu pações inerentes para quem esteja atento e olhe para o estado do país e do mundo. Um dos aspetos que mais me aflige é a mudança climatérica. Estão a fazer esta cimeira, num local que conheço bem, e que acho que não vai resultar em nada! Estas alterações cli máticas preocupam-me grandemente não por mim, mas pelo meu filho e meus netos, porque são eles que vão “pagar a fatura” da incúria que acontece mundialmente. Fazem muitas cimeiras, esta é mais uma, e depois continua na mesma. Outra preocupação é esta invasão da Rússia à Ucrânia, que é ex tremamente perigosa. Com ditadores, como este Putin, tudo de mau é de esperar. Pois o homem é o animal que tropeça duas vezes na mesma pedra… Portanto, estamos a um passo disto ser uma guerra generalizada, porque este Putin nunca vai sair dali derro tado, nem sair sem a dignidade que ele pen sa que deve ter ou o sucesso que ele acha que pode ter. Depois, somos o país que so mos, quase periféricos da Europa: já fomos um país com um passado absolutamente notável, mas hoje – costumo dizer na brin cadeira – isto já não é um país, é um sítio. Com a política muito execrável que temos. Há políticos que são como as fraldas: tem de se mudar periodicamente e pela mesma razão. Tudo isto me preocupa, sobretudo pela juventude. Pelos filhos e netos de toda a gente e o futuro dos mesmos. Os pais, e principalmente os políticos, é que deviam pagar! Eu estive em 24 países de África e as pessoas em Portugal não fazem a mínima ideia do que ela é… Parece um continente de venda ambulante, com uma pobreza in crível, um atraso tremendo e ninguém quer saber disso para nada! Como não me há de preocupar?

Para terminar, desafio-o a deixar-nos uma mensagem final de vitória e de ale gria, como tantas que obteve. Quais as melhores formas das pessoas marcarem muitos “golos” nas suas vidas, naquilo que são e que fazem?

É difícil dar conselhos, quando vivemos num tipo de Sociedade perfeitamente ma terialista e interesseira, num país que está na cauda da Europa em diversos aspetos da vida. Mas, acima de tudo, cada qual deve ser igual a si próprio, a ordem, o respeito, a disciplina, a amizade, a disponibilidade para ajudarmos os outros. Que tudo isso seja no sentido do bem da Comunidade e das pessoas. Não seja sempre o dinheiro a contar! Eu tenho enfrentado a vida sempre, adaptando-a ao que se costuma dizer: pe guei a vida pelos cornos, ou seja, de frente. Nunca fiz pegas de cernelha e dei sempre a cara. Acho que é o que todos devemos fa zer: ter uma vida pautada pela seriedade e honestidade, não ter receio de dizer ou fazer aquilo que pensa sem ferir os outros e as suas suscetibilidades.

25 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
 dr

Sernancelhe celebrou 30 anos da

Entre 28 e 30 de outubro, Sernance lhe sublinhou, uma vez mais, o seu estatuto de Terra da Castanha, com a organização da 30ª edição da Festa da Castanha, que este ano foi inau gurada pelo presidente do PSD, Luís Montenegro.

Mantendo fidelidade ao formato original, a edição contou este ano com mais espaço na “tenda lounge” que, mesmo assim, es teve repleta para o momento inaugural do certame, que incluiu ainda uma homena gem a diversas personalidades que contri buíram ativamente para o sucesso do even to ao longo das três últimas décadas. Para lá de um certame exclusivamente de dicado ao fruto mais desejado do outono, a Festa da Castanha é também uma mostra do que melhor se faz e produz no concelho de Sernancelhe, projetando o território tu risticamente.

Durante os três dias do evento, Sernance lhe proporcionou dezenas de momentos de cultura e animação com grupos de música tradicional portuguesa, não faltando fado à desgarrada com Borguinha de Braga e Nati Vieira, o Rancho Folclórico de Sernance lhe, o grupo de música tradicional Chulada da Ponte Velha, animação de rua e sessões de "showcooking", em que esteve presente o conceituado Chef Fábio Bernardino.

Referência também para o sucesso dos já tradicionais trail, caminhada e passeio BTT "Rota da Castanha e do Castanheiro" e ain da o passeio equestre "Rota da Castanha", assim como os concursos da Melhor Casta nha Soutos da Lapa e do Melhor Doce de Castanha.

No ano em que cumpriu 30 edições, a Fes ta da Castanha confirmou-se como o evento com maior longevidade do Concelho e uma manifestação popular única que começou em 1992. Um exemplo regional de evento que desde a sua origem alcançou todos os objetivos definidos. E ainda logrou muito mais ao registar, no país, a marca "Terra da Castanha" como símbolo que hoje identifi ca, explica e diferencia Sernancelhe.

Tradição, dinamismo económico e futu

ro do setor agrícola são premissas que o Município garante com o evento Festa da Castanha. E o resultado tem sido claro na notoriedade alcançada pela castanha Mar taínha, no posicionamento deste fruto no mercado e no impulso económico que re presenta para centenas de produtores do concelho e da região.

Para o dirigente do PSD, estar presente na inauguração do certame é importante para estar próximo do território, como consi dera que todos os governantes deveriam fazer, para terem um maior conhecimento das reais necessidades dos autarcas e das populações na hora de tomar decisões, dando ainda como exemplo a iniciativa que o tem levado a viver uma semana por mês nas diferentes capitais de distrito.

"Acho que temos que cultivar a relação

de proximidade com o território, por todo o país, só assim poderemos tomar as op ções que são mais favoráveis, quando te mos oportunidade de o fazer, tornando assim Portugal num país mais próspero, mais equilibrado e mais justo.

Não há dúvida nenhuma que se há uma medida da qual me orgulho e da qual te nho tirado muitos ensinamentos, é a ini ciativa "Sentir Portugal", vivendo uma se mana por mês em cada distrito. Já estive em Viseu e hoje reencontro aqui algumas das pessoas com quem me cruzei ao lon go dessa semana. É mais uma oportuni dade que temos de partilhar as ideias e as dificuldades de quem vive nestes territó rios.

Muitas vezes os problemas que aqui en contramos são pequenos, mas todos so

mados podem ser grandes opções estra tégicas para o país.

Andamos há muitos anos a fazer gran des investimentos, e não digo que não de vem ser feitos, mas por vezes há peque nos investimentos, pequenas obras, que fazem toda a diferença. Ainda há pouco falava com um produtor de maçã que me apresentava os problemas que teve este ano devido à falta de água, sublinhando que bastava um sistema de retenção de águas da chuva durante o inverno para minimizar esses problemas.

Por vezes parece que está aqui instalada uma fatalidade segundo a qual as pessoas aqui não têm oportunidades. Aqui há al gumas oportunidades e têm que ser apro veitadas, na área agrícola, do turismo ou dos serviços, por exemplo.

26 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
Sernancelhe

Festa da Castanha com casa cheia

Temos a oportunidade de aproveitar o que é mais característico e identitário em cada segmento, cada um tem que saber escolher a sua área e fazê-lo bem. É preci so criar marca e sinergias”.

Para Luís Montenegro, a Festa da Casta nha "é um emblema da região", que está bem estabelecido e que “ajuda a promo ver outros produtos do concelho como o mel, a maçã, o vinho, o artesanato, etc, uma panóplia de produtos que tem mer cado e que são diferenciadores".

No final do certame, em declarações ao nosso jornal, Armando Mateus, vereador da cultura de Sernancelhe e responsável pela organização mostrava-se satisfeito pelo resultado alcançado.

"Fazemos um balanço extremamente po sitivo porque atingimos todos os parâme

tros a que nos propusemos no início. Desde logo pela promoção que fizemos do nosso município, nos diferentes meios e canais de comunicação que utilizamos, assim foi pos sível chamar até aqui mais gente e, mesmo aqueles que não vieram, ficaram com a in formação gravada na sua memória que esta é a Terra da Castanha. Em segundo lugar foi o trabalho que fizemos para celebrar os 30 anos deste evento com a participação de todos quantos estiveram envolvidos com ele ao longo destas três décadas, só assim tem sido possível que ele perdure no tem po. Para finalizar, a importância que teve a realização deste evento num ano de tão má memória para os nossos produtores. Não há memória de um ano tão mau para a produção como este mas a realização da Festa da Castanha veio aliviar um pouco

esse problema".

A Festa da Castanha é muito mais do que um certame onde apenas se consome e ad quire este fruto de outono, há uma série de eventos que surgem associados a esta celebração, algo que para Armando Mateus "é muito importante, até porque é a conti nuidade deste agregar de eventos paralelos que foram surgindo ao longo dos tempos, e que atraem milhares de visitantes".

Celebrados os 30 anos da Festa da Cas tanha, o vereador autárquico acredita que este é um evento ainda com um longo futu ro pela frente, "há eventos que organizamos que sabemos que são esgotáveis no tempo, neste caso é diferente, eu arriscaria a dizer que havendo castanheiros e produtores de castanha, haverá Festa da Castanha até ao infinito". 

mica.

Apesar da quantidade ser mais redu zida este ano, a qualidade está toda lá. Para mim é a melhor castanha do mundo.

Um problema que também se nota mais em anos como este é o do merca do paralelo, o Estado deve controlar mais este setor e uma forma de o fazer seria de atribuir os subsídios com base na faturação de cada agricultor, talvez assim se evitasse o mercado paralelo. Recordo-me da primeira edição, a Frusantos esteve presente nessa edição, na altura com o meu pai e nós temos continuado a marcar presença para mostrar o nosso produto. Este evento é sempre importante para que as pessoas conheçam melhor o nosso produto e o nosso território, que tem muito para descobrir. 

sencialmente de um fenómeno cultural, de conhecer a castanha, da sua raiz à aplicação

Partilhamos toda a vivência dos proprietários dos soutos

A castanha é um produto com muita procura, em especial durante os dias te.

Este ano, devido às alterações climáti cas que nos afligem, temos alguns pro blemas. Mesmo os castanheiros mais antigos, com raízes profundas, viveram um ano muito difícil. É um ano imensa mente penoso como talvez não tenha havido outro neste século. 

27 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO Sernancelhe

Opinião

Domingos Nascimento

A

das

Há uma energia boa a mexer com a ci dadania. Vozes jovens que nos alertam para a emergência climática. Podemos não concordar com o modelo de reivin dicação. Podemos não nos identificar com a forma de protesto. Mas que a ra zão é séria, isso é!

Meter a cabeça na areia, deixar passar o tempo, fazer de conta, ou reservar esse assunto para as grandes instâncias, é passar ao lado deste momento crítico da humanidade.

Também nós, no Douro, no Gran de Douro, temos uma emergência social à espera que saiamos do esta do catatónico em que vivemos. Ora estamos muito preocupados, e apa rentemente cheios de energia, para

fazer algumas coisa. Ora já nem nos lembramos, ou vamos adiando, fazen do de conta que o problema não existe. Há tantas pessoas idosas sozinhas ou isoladas. Os últimos Censos Seniores rea lizados pela GNR identificam muitos mi lhares na nossa região.

Será que precisamos seguir este exem plo dos jovens que protestam pelo cli ma, para que se encontrem soluções de apoio às pessoas em desamparo nas aldeias do interior de Portugal? Tanto nas questões do clima como nas da sustentabilidade das nossas terras, deve ser a preocupação pela dignidade das pessoas a motivação que nos ajude a agarrar com força estas bandeiras de hu manização.

A dignidade das pessoas em todas as políticas, em todas as ações, em todas as decisões.

Só se promove desenvolvimento quan do as pessoas, todas as pessoas, estão no centro de todas as preocupações. No contexto de um processo agudo de desertificação, numa realidade de de samparo, é preciso promover mudança e caminharmos em novas soluções de am paro humano.

No Grande Douro, inovemos pelas pes soas!

Unidade

de Saúde Pública do ACES Douro I

Dia Europeu dos Antibióticos

O desenvolvimento que a saúde tem sofrido nas últimas décadas, ainda não permite que a prestação de cuida dos, nomeadamente através da atitude prescritiva, pre vina totalmente a existência de efeitos indesejados. Um desses casos tem que ver com a utilização indevida dos antibióticos que muitas vezes são causadoras das atuais resistências aos antimicrobianos.

As medidas básicas do dia-a-dia para o controlo de infe ção, nomeadamente nos cuidados de saúde estão a ser cuidadosamente aplicadas, mas têm de ser reforçadas e interiorizadas como um processo importantíssimo no controlo das infeções cruzadas. É importante, no en tanto, apostar também nos dez milhões de pessoas que fazem parte da nossa comunidade e que são também pessoas muito importantes, no sentido de reduzir este tipo de infeções.

Tal com refere a Dr.ª Graça Freitas “Os cidadãos são um ponto importantíssimo nesta mudança de comporta mentos, na utilização racional de antibióticos, na presta ção de cuidados aos outros e a si próprio. Não podemos deixar um programa desta magnitude apenas nas mãos dos profissionais”.

Embora existam esforços de comunicação em saúde para o público, no sentido de melhorar a utilização dos antibióticos e garantir a saúde pública, tal continua a ser um problema na sociedade. Precisamos de investir noutras estratégias de comunicação, orientadas para a melhoria da literacia que produzam alterações efetivas dos comportamentos quer dos profissionais quer da população.

Se nada for feito, estima-se que em 2050 morram 10 mi lhões de pessoas em todo o Mundo com infeções causa das por bactérias resistentes.

O Dia Europeu dos Antibióticos é uma iniciativa do Cen tro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças

(European Centre for Disease Prevention and Control, ECDC), a agência da União Europeia para a área da Saú de e ocorre todos os anos em toda a Europa a 18 de no vembro. É organizado em parceria com a Semana Mun dial de Consciencialização Antimicrobiana, organizada anualmente pela Organização Mundial da Saúde de 18 a 24 de novembro.

Os antibióticos são medicamentos que podem matar ou inibir o crescimento de bactérias para curar infeções em pessoas, animais e plantas.

Um problema preocupante é quando algumas bactérias, normalmente sensíveis aos antibióticos, se tornam resis tentes por alterações genéticas, perdendo a capacidade de matar ou interromper o crescimento das bactérias. Quando isso acontece as Bactérias resistentes sobrevi vem na presença do antibiótico e continuam a multipli car-se causando doenças mais longas ou até mesmo a morte.

As infeções causadas por estas bactérias resistentes exi gem mais cuidados, antibióticos alternativos mais caros, que podem ter efeitos colaterais mais graves.

É nosso papel sensibilizar para a utilização correta dos antibióticos, responsabilizando todos … cidadãos e pro fissionais de saúde envolvidos na sua prescrição e distri buição, a nível humano e animal, contribuindo para a diminuição da resistência das bactérias aos antibióticos.

Os antibióticos devem ser utilizados sempre por pres crição médica, na dose certa, no momento certo e para aquela prescrição específica. Porque efetivamente estima-se que em 2050 morram 10 milhões de pessoas em todo o Mundo com infeções causadas por bactérias resistentes.

As bactérias resistentes a antibióticos são um perigo para todos nós, porque causam infeções difíceis de tratar. Se tomarmos antibióticos de forma repetida e inadequada, contribuímos para o aumento das bactérias resistentes aos antibióticos, um dos problemas de saúde mais pre mentes em todo o mundo.

Os antibióticos não atuam como os analgésicos (medi camentos para as dores) e não proporcionam o alívio das dores…sejam elas de cabeça, musculares ou outras. Também não atuam como antipirético (não baixam a febre).

Os antibióticos são eficazes apenas contra as infeções bacterianas e, como tal, não o ajudam a curar infeções causadas por vírus, como a comum constipação ou a gripe.

Cerca de 80 % das doenças típicas do inverno que afe tam o nariz, os ouvidos, a garganta e os pulmões são de origem virica e, por isso, a toma dos antibióticos não me lhorará o seu estado de saúde. 

28 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
Ana Luísa Santos Emília Sarmento Helena Pereira Enfermeiras Especialistas em Enfermagem Comunitária
dignidade
pessoas em todas as políticas!

ProDouro debateu mão-de-obra em Sabrosa

A Associação dos Viticultores Profissionais do Douro, ProDouro, debateu as problemáticas da falta de mão-de-obra no Douro, num co lóquio que decorreu no Auditório Municipal de Sabrosa.

Entre as soluções debatidas e apresenta das pela associação está a atração de tra balhadores emigrantes, que, segundo Rui Soares, presidente da ProDouro, podem ainda ajudar a povoar um território cada vez mais abandonado.

"A contratação de emigrantes é uma das soluções. Temos um problema grande na região de falta de gente, que saiu daqui e que, boa parte, já não regressa, temos que ter consciência disso. A solução é trazer pessoas de fora da região, mas cativando -os a vir e repovoarem o Douro.

É preciso criar condições dignas para que as pessoas venham, se fixem, e te nham trabalho o ano inteiro. Não pode mos olhar para estes trabalhadores como uma solução apenas para o tempo da vin dima, isso não resolve o nosso problema de fundo.

As pessoas que vêm têm que se estabe lecer e constituir família na nossa região, para isso temos que lhes dar todas as con dições, inclusivamente a nível profissio nal, tem que ser uma solução integrada".

O responsável sublinha a importância das condições que importa dar a estes trabalhadores para que não se repitam no Douro situações como as que são do conhecimento público, em Odemira e em Lisboa com os emigrantes timorenses.

Entre outras propostas apresentadas no colóquio e já lançadas pela ProDouro para discussão pública, Rui Soares destaca o contrato de vindima que, inclusivamente foi já apresentado ao Governo.

"Já apresentamos diversas propostas ao Governo no sentido de encontrar so luções para este problema, desde logo o contrato de vindima, que até ao momento ainda não foi aceite.

A proposta tem sofrido de algum pre conceito, as pessoas não entendem como é que alguém que receba um apoio social possa ainda receber mais algum pelo tra balho que desenvolve. A proposta é olha

da como imoral ou injusta, mas mais imo ral é ter essas pessoas que têm os apoios a trabalhar de forma clandestina na região, é o que acontece, e todos o sabem. Não po demos aceitar isso".

Outra solução apresentada e que irá ser proposta ao Governo é a criação de uma lei que impeça a compra de uvas por um preço inferior ao da sua produção, uma problema que não se coloca nas uvas destinadas a Vi nho do Porto mas naquelas que irão para os vinhos DOC Douro.

“Estamos a trabalhar para definir um in tervalo de indicadores que nos permita es tabelecer o verdadeiro custo de produção de uva na região”, explicou Rui Soares.

António Magalhães, um dos oradores pre sentes no colóquio, salientou que o objetivo do colóquio "não é apresentar uma solução para o problema" mas sim, "iniciar a discus são do tema".

"Não vamos resolver o problema, vamos fazer um diagnóstico da região através do nosso exemplo que é um entre muitos, até porque na realidade apenas temos menos de 1% da área da região".

Para o orador, uma das causas deste pro blema é o desaparecimento dos pequenos viticultores, que granjeavam a sua pequena produção mas que eram também a grande força motriz das grandes quintas.

"Aquilo que nos preocupa mais é que em três décadas mudamos os modelos de gran jeio das quintas no Douro. Neste momento temos um problema grave que é a perda de pequenos viticultores, que resolvem o gran jeio das suas vinhas e trabalham também para as grandes empresas. Este tipo de mão -de-obra não tem continuidade, os filhos

não seguem esta vida e eles acabam por vender as vinhas, normalmente aos grandes grupos".

Criada em 2015, a ProDouro conta com 96 associados, entre viticultores independen tes, produtores-engarrafadores e adegas cooperativas, abrangendo 5.075 hectares de vinha. 

29 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
Sabrosa

Freixo de Espada à Cinta

Xanana Gusmão homenageado com Prémio Literário Guerra Junqueiro

Natural de Freixo de Espada à Cinta, guerra Junqueiro empresta o nome a um prémio literário que este ano homenageou o escritor e antigo presidente timorense, Xana na Gusmão.

No hora da homenagem o antigo líder daquele país oriental afirmou estar "sur preendido" e "honrado" com a distinção do município transmontano.

Eu fui um guerrilheiro e Junqueiro fez uma guerra. Ser comparado a Guerra Jun queiro é para mim uma enorme honra pela genialidade com que transformou a consciência social e política em arte. Para mim é uma homenagem sem precedentes. No entender do antigo líder da resistên cia timorense, Guerra Junqueiro deixou uma obra que perdura "no tempo e no espaço".

"Manter viva a memória de Guerra Jun queiro é uma honra para todos falantes da língua portuguesa, e em Timor-Leste não é exceção. A distinção que aqui me atri buem, não se pode restringir só a mim, cabe sobretudo aos meus bravos antepas sados que brandiram as suas espadas ao ideal de emancipação e aos honrosos ho mens e mulheres timorenses, já no meu tempo, que não se deixaram vergar por uma violenta ocupação que durou um quarto de século, e que com sangue, suor e lágrimas conquistaram a independên cia", frisou o político.

Xanana Gusmão revelou ainda que a sua inspiração para a escrita vem do seu povo e do espírito resiliente que este tem, afir mando que a única diferença é que ele teve oportunidade de estudar e aprender a ler e escrever, ao contrário de muitos outros.

"As minhas palavras não são mais que ecos de grandeza, coragem e resiliência de um povo, o povo Maubere. Sou um mero afortunado por ter passado pelos bancos da escola. Se houve uma seme lhança entre mim e o grande poeta Guer ra Junqueiro, está será certamente o gosto pela língua portuguesa".

Para o autarca freixenista, Nuno Ferrei ra, entregar esta distinção a Xanana Gus mão é "uma honra" para o concelho, pela grandiosidade do homenageado, fazendo com que Freixo de Espada à Cinta dê "pas sos largos no que é afirmação cultural, de senvolvimento e progresso”.

"Freixo de Espada à Cinta galardoou Xanana Gusmão com o prémio literário Guerra Junqueiro por haver sinergias entre ambos os povos, pela resistência e resiliência e acima de tudo por expressar os sentimentos através de um povo e da população".

Instituído em 2017, em Portugal, o pri meiro prémio Guerra Junqueiro foi atri buído a Manuel Alegre, seguindo-se Nuno Júdice, em 2018, José Jorge Letria, em 2019, Ana Luísa Amaral, em 2020, e em 2021 a Hélia Correia.

Desde 2020, nos restantes países da lu sofonia, o prémio foi entregue a Lopito Feijóo, Raul Calane da Silva, Sidney Ro cha, Olinda Beja, Jorge Carlos Fonseca, Tony Tcheka, Abdulai Sila, Dina Salústio e

Vera Duarte Pina.

Estão em agenda as cerimónias de en trega do Prémio de 2021 a Abraão Bezerra Batista, do Brasil, Luís Carlos Patraquim, de Moçambique, Agustín Nze Nfumu, da Guiné Equatorial, e João Tala, de Angola.

O júri do prémio é constituído pela cura dora, Avelina Ferraz, por um elemento da autarquia e pelos anteriores premiados, sendo este mesmo coletivo que avança com os nomes nomeados, de onde saem os vencedores.

Xanana Convidado para Embaixador da Cidade Europeia do Vinho 2023

Em 2023 o Douro será Cidade Europeia do Vinho, uma distinção que engloba toda a região e para a qual o ex-presidente ti morense foi convidado a ser embaixador pelo Vice-Presidente da CIM Douro e au tarca Moncorvense, Nuno Gonçalves.

O convite surgiu durante a cerimónia de entrega do prémio Guerra Junqueiro, no momento em que Xanana Gusmão foi ain da presenteado com o Passaporte Douro.

Em declarações exclusivas ao VivaDou ro, Nuno Gonçalves sublinhou a impor tância da figura de Xanana Gusmão, "não só em Portugal e em Timor-Leste como em todo o mundo".

"A cidade europeia do vinho é mesmo isso, uma afirmação internacional do Dou ro, enquanto Comunidade Intermunicipal e entidade congregadora de um evento, por isso nada como convidar esta figura incontornável do século XX, assim como já convidamos a Comissária Europeia e o Presidente do Comité das Regiões, entre outros".

O Vice-Presidente explica ainda que ter Xanana Gusmão ao lado deste projeto ajuda na sua promoção e na promoção da região e dos seus produtos, a começar desde logo pelo vinho mas muitos outros também.

"Este projeto é a afirmação dos autarcas que lideram neste momento os 19 muni cípios da CIM Douro. Este evento será a afirmação do Douro enquanto território sobejamente conhecido pelo mundo". 

30 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Alijó celebrou Dia do Município com grande festa de São Martinho

A Vila de Alijó encheu-se de gente e de animação para celebrar o Dia do Município, numa grande festa de São Martinho que jun tou e homenageou aquilo que de melhor o Concelho tem para oferecer. Castanhas, tripas, vinho novo e a melhor gastronomia das freguesias fizeram as delícias dos munícipes e dos visitantes que se deslocaram a Alijó, no dia 11 de novembro, Feriado Municipal.

Além da tradicional Feira de São Mar tinho, o Município de Alijó voltou a pro mover a Mostra Gastronómica das Fre guesias, um dos momentos de maior convívio que atraiu centenas de pessoas ao centro da Vila.

Mais do que uma feira, o São Martinho tem vindo a afirmar-se cada vez mais como uma festa da identidade do terri tório ao juntar as 14 freguesias e mos trar os seus produtos e pratos típicos, criando uma verdadeira montra da ri queza gastronómica do Concelho.

Com o objetivo de promover um prato típico desta altura do ano e dinamizar a restauração local, o Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câ mara Municipal de Alijó serviu tripas de 14 restaurantes do Concelho a toda a população.

Um dos momentos altos das comemo rações do Dia do Município foi o con certo da Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana (GNR), que jun tou mais de 90 músicos em palco. Este evento representou também o encerra mento das comemorações do 13 aniver sário do Comando Territorial da GNR de Vila Real, que este ano decorreram em Alijó.

A animação esteve a cargo do artista Ás da Concertina, dos Ranchos Folclóricos de Santa Eugénia e Pinhão, e dos grupos de Zés Pereiras de Sanfins do Douro e de Pegarinhos. O vasto programa prepara do pelo Município voltou a comprovar uma forte aposta na afirmação das tra dições, da gastronomia, do folclore e naquilo que de melhor o território têm para oferecer a quem nos visita. Para o autarca local, José Paredes, "esta é a verdadeira festa popular de Alijó, tra ta-se de um misto de gastronomia, mú sica, cantares e muita animação. Tudo de forma gratuita, estão representadas todas as 14 freguesias de Alijó e cada uma traz o que faz melhor e oferece aos visi tantes. Este evento serve também para se provarem os vinhos novos".

Esta tradição, com cerca de sete anos, surgiu, como explica o edil porque "no S. Martinho havia já uma feira que se realizava neste mesmo local, o que a autarquia fez foi pegar nessa iniciativa e aproveitar este momento para mostrar aquilo que de melhor o nosso concelho tem para oferecer".

Maria e Manuel Conde

Viemos de Casal de Loivos, a terra com o miradouro mais boni to do Douro. Estamos a gostar bastante até porque há muita ani mação, vinho e muita coisa para se provar. Já provamos as tripas e estão efetivamente boas.

Normalmente vimos cá todos os anos e se não vimos até estranhamos, é a fei ra anual do concelho e estarem aqui to das as freguesias representadas acaba por trazer muita gente a este evento.

Esperamos que a autarquia continue a organizar esta feira porque traz muita animação ao nosso concelho. 

31 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO Alijó

Armamar

Relatório do Plano de Desenvolvimento Social foi aprovado

O Conselho Local de Ação Social (CLAS) de Armamar reuniu no passa do dia 27 para aprovar o relatório de avaliação do Plano de Desenvolvimen to Social 2018/2021 do município de Armamar (link para o documento)

O momento serviu ainda para os parceiros da Rede Social iniciarem os trabalhos de atualização do novo Diag nóstico Social, um diagnóstico par ticipado com recurso à metodologia Nuvem de Problemas, que permitiu identificar as principais problemáticas do concelho de Armamar, partilhando as diversas visões das entidades repre sentadas. 

Formação Vida Ativa de volta com dois cursos

Autarquia entrega prémio “Eu estive na Feira da Maçã”

João Paulo Fonseca, Presidente da Câ mara Municipal de Armamar, entregou, no passado dia 7, o prémio a António Fi gueiredo, vencedor da iniciativa “Eu esti ve na Feira da Maçã”.

O ato teve lugar no edifício da Câmara Municipal, antes do início da reunião or dinária do Executivo Municipal.

Os visitantes que se registaram no stand da Autarquia ficaram habilitados a um prémio no valor de quinhentos euros. O sorteio teve lugar no último dia do certa me, antes do início do espetáculo do artis ta Ruben Aguiar, a quem coube encerrar a décima quinta edição da Feira da Maçã.

Associação dos Amigos do Museu do Douro evoca Fausto José

A Liga dos Amigos do Museu do Dou ro esteve em Armamar para evocar o poeta Fausto José.

A jornada de um dia foi preenchida com uma caminhada por alguns dos percursos que o amante da caça fazia em terras de Armamar e provar igua rias de que era apreciador.

O Gabinete de Inserção Profissional (GIP) de Armamar está a preparar duas ações de formação, no âmbito do programa Vida Ativa, com dois percur sos: operador(a) de jardinagem e téc nico(a) de ação educativa.

As ofertas formativas destinam-se a cidadãos desempregados, inscritos nos Centros de Emprego.

Os interessados podem contactar o GIP através do número de telefone 254850800 ou o endereço de correio eletrónico gip@armamar.pt. 

César Luís de Carvalho e Manuel Igreja, dois estudiosos e conhecedores da vida e obra de Fausto, partilharam com os presentes algumas histórias, factos e curiosidades.

Houve tempo também para ouvir o Padre Marcos Alvim, conterrâneo do poeta, tocar e cantar alguns temas do álbum Beira Doiro. Este projeto que desenvolveu, com o apoio da Au tarquia, foi apresentado em 2016 e é composto por um conjunto de poemas de Fausto José musicados.

Ao final do dia, o neto do poeta deu a conhecer aos presentes o mais recente projeto familiar: os vinhos Quinta do Poeta, resultado das vinhas proprie

dade da família e que agora conhecem uma nova etapa na sua preservação e valorização.

Fausto José dos Santos Júnior (19031975) deixou uma vasta obra literária, sobretudo poesia, cujo valor é inegá vel para Aldeias, para Armamar e para

o Douro. Foi contemporâneo de Mi guel Torga, José Régio, Alberto Serpa e Branquinho da Fonseca. Esteve entre os nomes do núcleo fundador da Re vista “Presença”, órgão impulsionar do movimento modernista português no início do Séc. XX. 

32 VIVADOURO NOVEMBRO 2022

Região

PerCursos chega ao Douro com formações especializadas

Fundada em julho de 2021 por Patrícia Pi res, já com 10 anos de experiência na área. A PerCursos é uma empresa de formação certificada pela DGERT e homologada pela DRAPN.

Sediada em Matosinhos a PerCursos dá formação por todo o país, em diversas áreas que vão desde o desporto, transportes ou higiene e segurança no tra balho.

Sob o lema A Formação não transforma o mundo. A Formação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo, esta empresa chega agora ao território du riense com duas formações: Curso de Operar e Con duzir o Trator em Segurança e Aplicador de Produtos Fitofarmacêuticos.

Sendo a formação de tratorista obrigatória, o que garante esta formação ao operador?

Em 2018, um novo despacho criou a obrigação do chamado COTS Curso de Operar e Conduzir o Trator em Segurança - para quem conduz tratores e máquinas agrícolas similares.

O COTS garante que o operador possa adquirir co nhecimentos relacionados com a segurança na con dução do Trator. Esta formação abrange componente teórica, mas na sua maioria tem componente prática. No final de cada formação o formando é avaliado por um Júri selecionado pela DRAP Direção Regional de Agricultura e serão feitas provas orais e provas práticas no manuseamento do Trator. O formando terminando a avaliação com aproveitamento recebe um certificado emitido pela respetiva entidade for madora e validado pela DRAP. Após esse processo estar concluído, pode dirigir se ao IMT para integrar esta formação na sua carta de condução, sendo atri buído o código 792 ou 793 dependendo da categoria. No que diz respeito aos fitofármacos, esta é também uma formação obrigatória, qual a sua importância?

A utilização de produtos fitofarmacêuticos deve ser feita apenas por indivíduos que possuam a formação de aplicação dos mesmo, tendo em conta os riscos elevados que estes produtos representam para o meio ambiente, a saúde e a segurança dos consumi dores.

A aplicação de produtos fitofármacos pode ser uma atividade perigosa. Que principais riscos e cuidados são abordados durante a formação?

A saúde humana pode ser afetada diretamente ou indiretamente pelos produtos fitofarmacêuticos. No caso das pessoas que estão diretamente em contacto com os produtos fitofarmacêuticos, os riscos podem ser devidos à sua toxidade, ao tempo de exposição e à forma como ocorre a exposição..

Através da formação, conseguimos capacitar os participantes para a manipulação e aplicação segura de produtos fitofarmacêuticos, minimizando os ris cos para o aplicador, o ambiente, espécies e organis mos não visados e o consumidor

Estas formações são apenas teóricas ou têm al guma vertente prática?

Ambas as formações, COTS Conduzir e Operar o Trator em Segurança e Aplicador de Produtos Fitofar

macêuticos têm vertente teórica e prática.

Bastam estas certificações para estar legalmente apto a desenvolver qualquer uma das atividades?

Sim, bastam estas certificações.

Contudo, existem requisitos mínimos para frequen tarem as formações. No caso do COTS, tem de ter obri gatoriamente a categoria B da carta de condução para poder frequentar a formação.

Quais são os maiores riscos associados à ausên cia destas certificações?

No caso do COTS, só no ano passado, registaram-se 35 vítimas mortais com veículos agrícolas em estradas nacionais e em propriedade privada, dados divulga dos pela Guarda Nacional Republicana. A condução segura de um trator agrícola, minimiza o risco de acidente. Até ao momento de ser criada a formação COTS, qualquer indivíduo com carta de condução poderia operar um Trator. Após a criação do COTS, consta-se que houve uma diminuição dos acidentes de tratores. Para além disso, existe uma maior sensi bilização por parte dos condutores na condução do veiculo agrícola.

Em relação á obrigatoriedade da formação de apli cador de produtos fitofarmacêuticos, o mau manusea

mento dos produtos fitofarmacêuticos pode provocar efeitos nocivos para a saúde tais como as reações alér gicas e inflamatórias na pele e/ou nos olhos, as alte rações no sistema imunitário, efeitos sobre o sistema nervoso e irritação das vias respiratórias. Pode ainda provocar cancro, morte fetal e alterações genéticas. Por esse motivo, é importante que as pessoas frequen tem a formação para adquirirem conhecimentos so bre o manuseamento destes produtos. De realçar que esta formação deve ser revalidada de 10 em 10 anos, tendo de frequentar uma ação de formação com menor carga horária 14h de forma a relembrar e atualizar os conhecimentos. Esta revalidação deve ser feita sempre antes do prazo de validade do cartão de PAF terminar. Caso não o faça, terá de repetir a formação inicial.

Como funcionam estas formações, onde é que as pessoas se podem inscrever? Onde podem frequen tar o curso?

As nossas formações funcionam da seguinte forma; apesar de estarmos sediados em Matosinhos, traba lhamos de Norte a Sul do país realizando formações nas próprias instalações das juntas de freguesias/coo perativas agrícolas de forma a poder dar resposta aos interessados sem terem de se deslocar para fora da sua área de residência. Muitas das vezes somos con tactados para realizarmos estas formações nas sedes das Juntas de Freguesia de forma a dar resposta as ne cessidades da população.

Ambas as formações são presenciais e antes de ini ciar, é realizada uma divulgação através das nossas re des sociais Facebook; Instagram; Site – @Percursos Formação; através de flyers e também através da Junta de Freguesia/Cooperativa Agrícola onde irá decorrer a formação.

Podem realizar a inscrição e saber mais infor mações através dos nossos contactos telefónicos € 937 100 846/930 489 167.

A Percursos dispõe de uma vasta bolsa de formado res, e que garantem o excelente profissionalismo na execução das formações. 

33 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO

HÁ GENTE NAS ALDEIAS

Especial Aldeias Vinhateiras

Subir a Serra de Vilarelho até ao planalto alijoense é viajar até ao coração do Douro por estradas de curvas e contracurvas pelo delineado dos vinhedos. Lá no alto, Favaios, a vila que já foi sede do concelho, mas que prefere continuar a ser chamada de aldeia, onde predomina a cultura do vinho e a industria panificadora.

A viagem até Favaios faz-se com facilidade, apesar do serpentear do asfalto, a paisagem envolve-nos fazendo com que cada minuto seja transformado em breves momentos de magia. O outono já chegou, as uvas já foram colhidas e as vinhas pintam os montes numa palete de cores que varia entre o verde, amarelo e vermelho.

O encontro estava marcado com o presidente da junta de freguesia Raffaele Batista que, à nossa chegada termina o que está a fazer para nos acompanhar num primeiro passeio pelas ruas empedradas desta aldeia vinhateira.

Após uns minutos iniciais de conversa circunstancial chegamos a uma das ruas mais importantes para a vila, "é a nossa zona industrial", diz-nos Raffaele, com um sorriso nos lábios. Efetivamente, na Rua do Capelão Morais existem cinco padarias tradicionais, "onde o pão ainda é feito da forma mais tradicional, em forno a lenha".

Após esta breve explicação, e porque a chuva teima em não dar tréguas, entramos numa dessas padarias, a de Manuela Barriguda, que aos 72 anos continua a fazer duas fornadas diárias de pão com a ajuda da filha Maria da Assunção.

"É a minha paixão", atira Manuela. "Ao domingo não fazemos pão, não venho para aqui e custa-me sempre passar o dia", afirma, reforçando a ideia.

Inspirados pela paixão com que fala da sua profissão questionamos Manuela se esse é um dos segredos para fazer um bom pão, o amor ao que se faz. Mulher de discurso direto, a padeira refuta a ideia, "o segredo é ter boa matéria prima e muito trabalho. Enquanto alguns fazem pão em uma hora, nós aqui começamos às cinco da manhã para termos a primeira fornada pronta a esta hora (são 10 horas da manhã). Foi assim que a minha mãe me ensinou e é assim que ensino a minha filha".

Insistimos sobre o processo de elaboração deste pão de quatro bicos. "Depois de pronta a massa tem que descansar um pouco antes de ser colocada na gamela a levedar por uma hora até que a possamos dividir e trabalhar para formar o pão".

Manuela não tem dúvidas, "o meu pão é o melhor do mundo" e, se dúvidas tivéssemos, a padeira não deixa os seus créditos por mãos alheias, pega num pão ainda quente e uma embalagem de manteiga que nos entrega enquanto diz, "não acreditem, provem e vão ver se não é o melhor pão do mundo". Com a crosta a estalar ao ser partida revela um miolo

ainda fumegante, com um aroma inconfundível que nos leva até memórias de infância, despertando a mais pequena das papilas gustativas enquanto o mastigamos.

Enquanto a nossa conversa se prolonga são vários os clientes que vão chegando para levar a sua "dose diária" que agora, devido à crise, é mais pequena. "Antes as pessoas levavam quatro ou cinco pães, agora chegam aqui e levam um ou dois", conta-nos. Puxamos a cassete atrás no tempo para que Manuela nos fale um pouco de como era fazer pão quando começou a ajudar a mãe, aos sete anos de idade. "Naquele tempo as coias eram diferentes, a farinha vinha em sacos de 22 quilos e tinha que ser toda peneirada antes de ser amassada durante mais de uma hora. Era uma vida muito difícil, era muito trabalho, tínhamos que fazer tudo à mão. A farinha agora já vem pronta a ser usada e a batedeira também ajuda ao serviço".

Apesar do entusiamos com que nos fala, Manuela tem um lamento, "hoje não há jovens que queiram aprender a fazer pão assim, dá muito trabalho" afirma num tom mais assertivo. "Os jovens de hoje querem estudar e mesmo os que não estudam querem uma vida fácil, aqui a vida é difícil. Ao domingo não fazemos, pão mas a minha filha pega na carrinha e vai à lenha para

obras que foram feitas na vila não são do agrado de todos. "Ainda vieram aqui dizer que eu tinha que fazer obras na casa e perguntar como era a minha casa por dentro, eu cá não fiz nada, na minha casa ninguém mexe e quem fez obras, muitos já se arrependeram. Na minha casa mando eu".

A massa já descansou, os tabuleiros já estão prontos para receber os pães que Manuela vai começar a preparar, um por um num total de 180, é "a medida" de cada fornada. Durante a semana são ali cozidos entre 350 e 400 pães, ao sábado esse número sobe para os mil, "e desaparecem todos", atira Manuela.

Também a este negócio tem chegado a crise, "a farinha está muito mais cara" diz Maria que explica que este ano já foi necessário "aumentar o preço do pão por duas vezes, em janeiro passou de 50 para 55 cêntimos e já no verão subiu até aos 60". O problema é ainda maior quando por esta altura já se teriam vendido centenas de pães para o fabrico de fumeiro, este ano "para o fumeiro nem um pão vendemos, as pessoas já não fazem porque está tudo mais caro, basta ver o preço das carnes".

Depois de terminada a segunda fornada do dia, mãe e filha vão almoçar para que depois Maria siga, de carrinha pelas ruas do concelho a entregar o pão, porta a porta. "É só assim que vendemos, ou aqui mesmo, não vendemos em grandes quantidades".

Se hoje a venda é feita de carrinha, Manuela recorda os tempos em que acompanhava a mãe "com uma cesta para entregar os pães nas casas dos senhores, se os guardas não nos tirassem porque não era permitido vender nesse tempo”.

"Eu ia para a escola mas nunca aprendi a ler e escrever porque a minha mãe ia lá buscar-me para a ajudar no pão. Eu era a filha mais velha, tinha essa obrigação e a escola ficava de lado, quando tinha as tarefas terminadas já tinha acabado a escola, acabei por desistir, fiquei analfabeta mas mesmo assim tenho conseguido fazer a minha vida e ganhar muito dinheiro".

O pão está pronto e é retirado do forno, no relógio os ponteiros já se preparam para tocas as 13 horas, um bom motivo para deixar Manuela e Maria, com destino a um dos restaurantes da vila e regressar à Junta de Freguesia às 14, hora a que temos reencontro marcado com Raffaele.

usarmos nos fornos durante a semana, é uma vida tramada, faça chuva ou sol".

O tempo vai passando e enquanto falamos já comemos um pão. A massa já descansou e está pronta a ser trabalhada antes de entrar no forno que Maria já carregou de lenha. "Ainda não se acende, agora vamos dividir os pães e enquanto a massa depois descansa mais um pouco então é que o acendemos".

Cada movimento tem o seu propósito e tempo, mãe e filha quase nem falam sobre o que fazem, a experiência que têm já lhes permite trabalhar quase em modo automático, um olhar basta para que cada uma saiba o que a outra vai fazer em seguida.

Para Manuela, o projeto das aldeias vinhateiras trouxe alguns aspetos positivos, em especial a vinda de muitos turistas, contudo, a padeira confessa que muitas das

Composto o estômago no restaurante O Cleto, com uma diária de carnes grelhadas que não chega aos 10€, não há muito tempo até ao reencontro com o presidente da Junta de Freguesia.

Localizada no edifício da antiga escola primária, a sede da junta é também o posto de correios, sinais que o tempo vai deixando nestas povoações.

A conversa que temos com Raffaele é marcada por uma afirmação que teve antes de nos deixar junto da padeira Manuela, "Favaios não é uma terra pobre, também não é rica, mas vive-se com tranquilidade".

Tranquilidade e pacatez são mesmo os adjetivos que descrevem esta vila do planalto alijoense. "Aqui temos qualidade de vida, muito mais do que em qualquer cidade. Eu estudei no Porto quatro anos e continuo a dizer aos meus amigos de lá que aqui é que temos qualidade de vida".

34 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
Manuela Barriguda e filha, Maria da Assunção
“Foi assim que a minha mãe me ensinou e é assim que ensino a minha filha”

O autarca explica-nos que, em Favaios as pessoas preferem dizer que vivem numa aldeia, a vila integra as aldeias vinhateiras e as aldeias de Portugal e "isso faz com que haja um orgulho maior em ser aldeia, uma vila dá ideia de algo maior, aqui somos ainda muito genuínos", explica o autarca.

O projeto das aldeias vinhateiras é anterior à gestão do jovem presidente, contudo este facilmente reconhece o que mudou em Favaios de então para cá. "Para Favaios este projeto abriu uma porta para o setor do turismo. Esta vila é vinho, agricultura e pão, é isto que nos serve de referência em ralação às outras. Hoje em dia, com a classificação de aldeia vinhateira, foi possível trazer para cá o turismo e criar aqui uma nova dinâmica económica".

Apesar destes benefícios, Raffaele lamenta que hoje o projeto esteja parado, "hoje não existe, se alguém me vier dizer que há um roteiro das aldeias vinhateiras, isso é falso, infelizmente. Poderia haver aqui um trabalho entre as aldeias mas nem isso existe".

O autarca confessa que "neste momento Favaios talvez seja a aldeia com mais turismo", de acordo com o mesmo "a vila soube aproveitar o trabalho inicial que foi feito para trilhar o seu caminho neste setor", contudo "seria útil haver essa partilha entre as aldeias, criando um roteiro que pudesse trazer ainda mais gente aos nossos territórios, pessoas aqui nunca são demais".

Há uma característica que Raffaele gosta de destacar nos seus fregueses, "são pessoas muito orgulhosas do seu moscatel e do seu pão" e todo o trabalho que fazem é feito com dedicação.

Nos últimos quatro anos, entre eleições, Favaios perdeu mais de 100 habitantes, algo que preocupa o presidente, razão que o tem levado a criar diversos incentivos e apostar na qualidade da escola onde, "mais de 60% dos alunos que ali estudam são de outras freguesias vizinhas".

Também a pensar nos mais jovens a junta vai disponibilizar "a partir do próximo ano", lotes para construção "com o objetivo de atrair casais jovens a fixarem-se na freguesia", é uma medida que, acredita, "será muito importante e poderá gerar uma maior dinâmica económica".

Se em Favaios há onde comer, uma falha que a freguesia tem "é ao nível do alojamento". "Infelizmente hoje, aqui em Favaios, não há onde as pessoas possam dormir", uma situação que poderá mudar em breve "com alguns projetos que estão a ser desenvolvidos".

A conversa já vai longa e aproxima-se rapidamente a hora que temos marcada com o nosso próximo convidado, Mário Monteiro, o presidente da Adega de Favaios, produtora do famoso moscatel.

Nascido em Moçambique, mas filho de pais favaienses, Mário Monteiro regressou com a família à vila duriense com 16 anos. "Não foi fácil no início mas com o tempo acabei por me habituar e aprendi a gostar de Favaios".

Está na direção da Adega desde 2006 e vê o moscatel como "extremamente importante para a vila e para muitos outros, de freguesias vizinhas, que também o produzem".

Atualmente a adega é um dos maiores empregadores do concelho de Alijó e o presidente estima que tenha "impacto direto na vida de cerca de 500 pessoas, entre funcionários e produtores de moscatel", números reveladores da importância da instituição.

Para Mário Monteiro o moscatel de Favaios é "especial", desde logo pela casta que é usada, o moscatel, mas também “a localização deste planalto com condições especiais para a produção de vinhos brancos, onde se inclui este tipo de vinho".

De acordo com o responsável, uma das grandes vantagens do projeto das aldeias vinhateiras foi a recuperação de arruamentos e casas devolutas, "lavamos bem a cara", afirma. Depois, continua, "também nos trouxe notoriedade, que acabou por trazer mais movimento à nossa vila". Já vamos na terceira conversa e, apesar da designação

Aldeia Vinhateira de Favaios

estão expostos os vinhos que ali se produzem, alguns deles coleções especiais que alimentam o imaginário de quem os aprecia.

A chuva acabou por não deixar aparecer o sol, mas a claridade começa a desaparecer, sinal que está na hora de nos encontrarmos com o último interlocutor desta viagem por Favaios.

Luís Barros é o proprietário da Quinta da Avessada, um espaço dedicado ao turismo que recebe centenas de pessoas diariamente.

Logo á chegada o "cartão de visita" é apresentado, um sorriso rasgado como se esta fosse a primeira conversa do dia e não um diálogo já perto do final de uma longa jornada de trabalho.

"Para mim é um prazer receber pessoas, falar com elas. As visitas são feitas pelos nossos colaboradores mas faço questão de me apresentar a todos os grupos. Para os turistas é importante terem este contacto com o proprietário, sentem-se mais valorizados".

O proprietário da primeira enoteca interativa da Península Ibérica é um dos grandes responsáveis pela dinâmica turística da vila. "Em 2019 tivemos em Favaios 80 mil turistas, este ano esperamos chegar aos 70 mil", turistas esses que não ficam pela enoteca mas que "vão também visitar a adega e as padarias tradicionais que ainda se mantém, é um tour completo pela nossa aldeia vinhateira".

Para o empresário "este trabalho em rede" que é feito na aldeia é "essencial para a sobrevivência económica deste território". Foi um trabalho moroso e que levou o seu tempo até estar bem organizado como está hoje. "Havia alguns excursionistas que vinham visitar Favaios a caminho das amendoeiras em flor, pouco mais do que isso. Com o plano que desenhei começamos realmente a apostar no turismo de forma séria tendo hoje aqui montado um sistema que valoriza todos os seus intervenientes. Agora somos um destino

ser uma aldeia grande do que uma vila pequena, no fundo é isto".

Para a adega este projeto também foi importante pelo turismo que trouxe, "o reconhecimento agora é muito maior, vêm milhares de pessoas todos os anos aqui, pessoas que nos visitam mas que quando regressam à sua terra continuam a comprar os nossos vinhos à distância e isso para nós é muito importante. O turismo traz publicidade e marketing, o que fará certamente aumentar o valor do nosso produto, algo muito positivo para nós".

Uma das preocupações que Mário Monteiro tem é o envelhecimento dos produtores de moscatel e o que poderá acontecer às suas propriedades depois destes desaparecerem. "Já temos refletido sobre isso e temos algumas respostas, mas por agora ainda não pensamos tomar medidas, vamos dar algum tempo ao tempo, mas com atenção ao que vai acontecendo".

Enquanto a conversa decorre vamos circulando pela adega. Tal como aos turistas que por ali passam diariamente, fomos conhecer o interior daquele espaço até desaguarmos numa renovada sala de visitas onde

Luís confessa que foi necessária "alguma persistência", mas "tinha muita vontade em fazer algo pela aldeia" de onde é natural. "Foram tempos difíceis porque as pessoas não estavam habituadas a este movimento. Pensemos na padeira Manuela, toda a sua vida esteve sossegada no seu canto a fazer pão, de um momento para o outro recebe três ou quatro autocarros de turistas que entram pela padaria dentro com vontade de fotografar, tocar, conhecer tudo isto foi muito complicado de explicar as pessoas. Quando lidamos com as pessoas reais temos que ter diversos cuidados e foi isso que fizemos aqui".

Para Luís Barros, o segredo do sucesso de Favaios está na união entre os diferentes operadores da vila, "aqui não há inveja, trabalhamos todos com o mesmo objetivo porque quantos mais turistas eu receber aqui, mais vão à adega ou visitar as padeiras, por isso é importante este trabalho em rede".

A conversa já vai longa, o moscatel de Favaios que estava no copo quando esta conversa começou, já desapareceu e está a chegar mais uma leva de turistas antes que o dia termine, "ainda vêm mais 130, hoje".

Apesar do entusiasmo de Luís, chega a hora de terminar o dia, e este texto. Vamos descer do planalto para junto do rio Douro antes de seguirmos viagem nesta nossa descoberta

35 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
das Aldeias Vinhateiras do Douro.
Presidente da junta de freguesia Raffaele Batista
“Hoje não existe, se alguém me vier dizer que há um roteiro das aldeias vinhateiras, isso é falso, infelizmente”

HÁ GENTE NAS ALDEIAS

Especial Aldeias Vinhateiras

Subindo desde o Pinhão, com os pés molhados no Douro, pela N323, em direção a Sabrosa chegamos a Provesende, a aldeia vinhateira mencionada por Miguel Torga, natural da freguesia próxima de São Martinho de Anta, no seu Contos da Montanha, antes mesmo de o ser.

“ Contemplando do alto da Mantelinha, o mundo parece tudo menos um vale de lágrimas. (…) Por isso não admira que em Provezende ninguém tivesse entendido a simplicidade com que o Rabel um dia desceu do monte, falou à filha do Jaime, a pediu em casamento, a recebeu, e com ela e a maluquice se foi. O Rabel era a fraga cimeira da Mantelinha, lavada todos os dias pelo bafo do céu; e Provezende rica nos fundengos da Ribeira, aonde até o ar chega por favor. “ In Contos da Montanha, de Miguel Torga Entrar em Provesende, descer até ao seu centro marcado pelo adro da igreja de um lado e o pelourinho do outro, já justifica a paragem nesta aldeia vinhateira. Até 1853 esta aldeia foi sede de concelho, passando depois a ser integrando concelho de Sabrosa, ao qual ainda hoje pertence.

Casas caiadas de branco, ou montadas em pedra sobre pedra de xisto ladeiam o empedrado que nos conduz ao coração de Provesende onde temos encontro marcado com o presidente da junta de freguesia, Carlos Madureira.

Estacionamos junto ao pelourinho, bem no centro da aldeia, ali ao lado é a sede da junta, que também é o posto de CTT local. Na porta ao lado reparamos em algumas lembranças prontas a serem adquiridas pelos turistas que por ali possam passar. Depois da conversa inicial de circunstância de boas vindas, não perdemos tempo a questionar Carlos Madureira se aquele espaço também pertence à junta. "O espaço é da junta mas está a ser explorado por uma associação do concelho, a Sabrosa XXI, é uma forma de conseguirmos ter menos uma porta fechada aqui, ao mesmo tempo que é também uma fonte de rendimento para a associação".

Aproveitamos o mote que a conversa sobre turismo dá para questionar o autarca sobre o projeto das aldeias vinhateiras e o que este trouxe para a freguesia. Carlos Madureira não hesita em responder "dinamismo". "Provesende sempre foi uma aldeia muito bonita mas não havia nada especial que atraísse gente para cá, com a designação de Aldeia Vinhateira passou a haver aqui mais movimento, vêm-se aqui turistas quase todos os dias. Agora menos que já estamos a entrar em época baixa, mas mesmo assim há sempre alguns a passar por aqui em tours privados".

Outra vantagem que Carlos Madureira vê no projeto foi a renovação que aconteceu na aldeia com obras no pavimento e nas casas, o que resultou "numa aldeia ainda mais bonita", afirma com um sorriso rasgado. Uma característica que o autarca destaca em Provesende é o facto de na aldeia ser sempre possível encontrar alguém.

"Sempre fomos uma aldeia onde as pessoas gostam de se encontrar aqui pelo centro, em especial os mais velhos, que já não trabalham, juntam-se aqui na conversa e só

vão a casa para almoçar, ou ao final do dia. Mesmo ao domingo, depois da missa, é normal que as pessoas venham até ao café e se reúnam aqui a beber um copo e a conversar um pouco antes de irem para casa almoçar, é um hábito muito nosso".

A satisfação que se sente no tom de voz de Carlos Madureira enquanto fala da sua aldeia é evidente e faz-nos escutar cada palavra com a força que sentimos que é dita. E é bom que escutemos com atenção e não tentemos opinar ou ainda nos sujeitamos a ouvir um "tu não és de cá" Ouvimos a expressão duas ou três vezes nas conversas que se cruzavam na praça entre grupos de amigos, reflete bem o sentimento daquilo que aquelas gentes são, donas da sua terra. Quem não é nascido por entre aquele casario, "não é de cá", portanto volta e meia será recordado desse facto, seja qual for o tema de discussão. "Mesmo algumas pessoas que não nasceram cá, mas

total são entre 25 e 30 jovens que lá trabalham. "O meu filho tem 28 anos e quer ficar cá, e outros jovens já nos procuraram para saber se teríamos lotes para construção na aldeia. Esta é uma questão que estamos a tentar solucionar, muitos deles não querem comprar as casas devolutas que ainda há na aldeia, porque depois ficam limitados naquilo que querem fazer, mas procuram terrenos para construir aqui, e muitos nem são de cá", explica.

A vantagem de um jovem que se fixe em Provesende, como em qualquer zona rural, é a qualidade de vida que consegue ter, "tendo um ordenado fixo e razoável, a viver aqui consegue-se ter uma vida tranquila, até porque acabam sempre por ficar próximos dos pais e isso é também um suporte muito bom. Não têm muitas despesas e isso reflete-se no rendimento com que ficam. Apesar disso falta ainda muita mão-de-obra na agricultura, mas esse é um setor para o qual os jovens não gostam de ir trabalhar, preferem os bombeiros e o setor do turismo, são trabalhos menos duros".

Contudo, não há lugares perfeitos e Provesende, apesar de estar próxima dessa perfeição, tem ainda alguns pontos onde precisa melhorar, "desde logo ter um restaurante aberto todos os dias, com serviço 'à carta', para que os turistas que aqui vêm possam ter onde comer, o único restaurante existente na aldeia só funciona por marcação".

a ouvir este 'recado'", revela-nos Carlos Madureira, acrescentando que o mesmo "é dado em tom de brincadeira, mas ao mesmo tempo é bem revelador do sentimento de pertença que estas gentes têm com a sua terra. Mesmo os miúdos pequenos, quando alguém lhes pergunta de onde são, dizem com orgulho que são de Provesende".

Tal como em tantas outras aldeias, também em Provesende se sente a falta dos risos das crianças nas ruas, apesar disso o autarca afirma que Provesende será das aldeias com mais crianças. Contudo "a organização escolar obriga a que todos eles estejam na escola em Sabrosa, mesmo havendo o número de alunos suficientes para manter a escola aberta", algo que Carlos Madureira entende e até considera "benéfico" para as crianças, mas que não deixa de lamentar. Para Carlos Madureira o desafio é atrair e fixar jovens na aldeia, algo que "se tem conseguido", muito com a ajuda do turismo que vai tendo vagas de emprego, assim como a presença de um quartel de bombeiros na aldeia, que vai ajudando a fixar mais alguns jovens, no

Provesende é "a aldeia da europa com mais brasões por metro quadrado", aspeto que é sobrevalorizado quando além disso restam apenas as paisagens deslumbrantes com que regalamos o olhar. "Por aqui não há muito mais que visitar" admite Carlos Madureira que mesmo assim diz que "vale a pena a visita porque é uma aldeia bonita, sempre limpa e com gente simpática, que gosta de receber bem os que vêm de fora. É normal que se a conversa estiver agradável ainda os convidem para ir a casa beber um copo da pipa e comer um salpicão”.

A conversa já vai longa com Carlos Madureira e, enquanto o diálogo se ia prolongando fomos caminhando em direção ao restaurante onde já temos a reserva feita, a Casa Típica Papas Zaide, um espaço acolhedor, de cozinha tradicional que nos surpreende com as sugestões de entrada: azeitonas com mel e queijo com compota de sangria. No prato principal também não desiludiu, um pernil assado com molho de vinho e batata assada, um regalo para o palato.

A proprietária deste espaço é Graça Monteiro, reside em Provesende há 20 anos e tem este espaço aberto há 13. "Sou filha e neta da aldeia, mas não sou natural de cá. Regressei à aldeia da minha família

Após o regresso, em 2003 começou a desenvolver o projeto para abrir a "tasca", como lhe chama, até abrir portas, em 2008, passaram cinco anos, "foram cinco

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por diversos motivos".
Carlos Madureira
“Sempre fomos uma aldeia onde as pessoas gostam de se encontrar aqui pelo centro”

anos de burocracia", recorda. “Quase ninguém acreditava neste projeto, aquele que mais acreditou e a quem até hoje agradeço a força que sempre me deu, é o ex-presidente da câmara, o José Marques, até porque este projeto teve início com um projeto que ele desenvolvia na Cruz Vermelha, o MINAS (Mulheres, Ideias e Ação em Negócios), como estava desempregada frequentei essa formação que, não me trazendo muita coisa de novo, me levou a iniciar este projeto".

Foi um caminho "de muitos percalços e muita burocracia" que Graça diz percorrido para criar o seu "nano negócio", "o restaurante mais pequeno do concelho", como diz, com orgulho.

O funcionamento do espaço é simples, refeição quente "só por encomenda, e não há lista", explica a proprietária que deixa logo o aviso a quem ali chegar sem aviso, "só terá umas tapas para comer, dependendo como está o serviço aos restantes clientes".

"Inicialmente", explica Graça, "a ideia era ter uma casa de tapas à imagem das que conhecemos em Espanha, esse era o plano inicial. O objetivo era que as pessoas comessem aqui um fumeiro, queijos, pão tradicional, etc, produtos que no final poderiam também adquirir e levar para casa".

O epíteto de "restaurante mais pequeno do concelho de Sabrosa", dado pela proprietária parece-nos bastante acertado. No piso de entrada, o balcão e uma pequena mesa, ao fundo em frente às escadas em caracol que nos levam para o primeiro piso está a cozinha, um espaço exíguo onde a presença de duas pessoas representa uma multidão. No primeiro andar, três mesas com quatro lugares cada uma. Espaço, efetivamente, não abunda por aqui, mas o propósito é esse mesmo".

Aldeia Vinhateira de

Provesende

e, algumas portas mais abaixo, já António Matos nos aguarda, é o padeiro de Provesende e leva-nos a conhecer o seu espaço de trabalho depois de ter já feito a distribuição do dia.

Começa por nos contar que a padaria já pertencia aos seus pais "que a compraram em 1940, são quase 80 anos na mão da nossa família".

"Com uma cozinha com 14 palmos de comprimento por oito de largura, não podemos realmente fazer muito", conclui.

Graça Monteiro recorda a primeira refeição que serviu, até porque representou logo um momento duplamente especial, eram quatro mulheres, operadoras turísticas

e que, desde então começaram a enviar clientes para o Papas Zaide, em especial uma delas que está sediada em Londres.

Daí em frente "foi o passa a palavra que fez a casa, não sei bem como aconteceu mas fomos verificando isso e, ainda hoje, todos os operadores turísticos com quem trabalhamos, foram eles que nos contactaram, nunca procuramos nenhum deles".

Graça percebe que o conceito que tem "não é consensual", muito porque, diz, "o cliente português não está habituado a este tipo de funcionamento", contudo ele será para manter até porque "não quero ser escrava do trabalho como normalmente acontece com quem trabalha na restauração".

Para Graça Monteiro, o projeto das aldeias vinhateiras "trouxe muito de positivo para a aldeia, e podia trazer muito mais", para a empresária "estes projetos vêm sempre com pessoas, essencialmente jovens, que trazem muitas ideias mas esquecem-se que a população que temos já é envelhecida e pouco pró-ativa, o que faz com que estes projetos acabem por não dar grandes resultados".

"Nestas aldeias há gente com ideias e com vontade, mas também lhes falta saber organizar essas ideias, saber a que portas bater, acabando por resultar no marasmo em que estamos. Outro problema muitas vezes é que não há um espírito agregador, cada um pensa em si e no seu projeto".

No entender de Graça Monteiro, "outra falha dos projeto das aldeias vinhateiras é a falta de comunicação entre as mesmas, não é do conhecimento o que cada uma faz, não há um operador turístico que faça a rota das aldeias vinhateiras, isso é uma falha grave".

A conversa que serviu de digestivo ficou concluída

A chegada aos comandos da padaria aconteceu por uma sucessão de tragédias familiares. O pai faleceu há algumas décadas e quem cuidava do negócio era a mãe e um dos irmão de António que andou emigrado "pelas arábias e pela Suíça a trabalhar na construção, pintura e hotelaria". Com a morte da mãe, e posteriormente do irmão, António acabou por ser obrigado a pegar no negócio da família, evitando assim que ele desaparecesse.

"Acabei por regressar a Portugal por causa do meu filho, quando iniciou a escola veio para cá com os avós mas ele dizia sempre que ou nós regressávamos ou ele ia ter connosco, acabamos por vir".

A vida de António começa cedo, "por volta das cinco da manhã". Para simplificar processos o padeiro prepara tudo no dia anterior, "deixo tudo pronto, a farinha e o sal pesados e o forno carregado de lenha, assim quando chego é só começar a trabalhar. É que ao final do dia mais meia hora não custa tanto como de manhã ter que acordar mais cedo (risos)".

Nesta padaria são feitos dois tipos de pão, centeio e trigo, "às segundas, quartas e sextas é o centeio, terças, quintas e sábados, é dia de trigo", explica-nos.

António é pai de dois filhos e a rapariga "tem muito gosto nisto e sabe trabalhar bem" mas o padeiro não espera que eles prossigam o negócio de família, "é um trabalho duro e que nos prende muito, se algum deles quiser realmente, não o posso evitar, mas por minha vontade não ficam aqui, já lhes disse isso. Eles têm a vida deles e estão bem, para quê meterem-se aqui?".

Para este padeiro, o projeto das aldeias vinhateiras trouxe também a vantagem do turismo, "só este ano tivemos 24 visitas agendadas, cada uma com grupos de 90 pessoas, mais aqueles que vão aparecendo nos tours privados ou por iniciativa própria, e é gente que compra muito pão", afirma, satisfeito.

Enquanto junto aos fornos ainda se vai sentido uma temperatura agradável, lá fora, com o sino da igreja prestes a dar as 19 badaladas, o frio já se faz sentir e já pede um agasalho mais quente. É também sinal que o nosso dia em Provesende se aproxima vertiginosamente do seu fim.

Contudo, não partimos sem antes olhar novamente a paisagem, o lusco-fusco que ainda se sente deixa perceber a linha do horizonte marcada pelas montanhas que tão bem caraterizam o Douro,

Miguel

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como diria
Torga, para terminarmos como começamos, com o escritor maior do concelho, "um excesso de beleza".
Graça Monteiro
“A ideia era ter uma casa de tapas à imagem das que conhecemos em Espanha, esse era o plano inicial.”
António Matos
“É um trabalho duro e que nos prende muito, não espero que os meus filhos prossigam o negócio”

João Barroso

O mundo conta já com oito mil milhões de habitantes. Segundo as Nações Uni das, este número terá sido alcançado a 15 de novembro. No início do século XIX, éramos mil milhões e, no final deste sécu lo, seremos 10 mil milhões. É um núme ro extraordinário, que levanta questões muito concretas, como a alimentação da população e a própria sustentabilidade do planeta.

Estas duas questões só podem ser abor dadas e respondidas com ciência, tecno logia e muita inovação. Do século deza nove até hoje, fez-se um imenso caminho

Um planeta com oito mil milhões de pessoas

de inovação científica e tecnologia, desde a tecnologia para produção de alimentos até às tecnologias da saúde. Mas se atendermos às sociedades atuais, rapidamente se cons tata que aquelas que se desenvolveram e que lideram a ciência, tecnologia e inova ção, estão hoje em declínio demográfico. É nos países menos desenvolvidos, em par ticular em África, que a população é mais jovem e cresce mais rapidamente. Por isso, levanta-se outra questão relevante: como educar esta população jovem dos países em desenvolvimento? Aqui, teremos dois papéis muito importantes: por um lado, re ceber jovens imigrantes, integrando-os nos nossos mercados de trabalho deficitários e educando-os na nossa sociedade, por ou tro, atuar como fornecedores de serviços

de educação de nível superior, recebendo estudantes estrangeiros nas nossas uni versidades e politécnicos, formando-os e devolvendo-os às suas origens para aí atua rem como agentes do desenvolvimento.

No caso de Portugal, temos a lusofonia e a língua portuguesa como elementos que nos permitem estabelecer parcerias e desenvol ver, de forma muito eficaz, esse papel de ajudar a formar e a desenvolver as socieda des emergentes.

Para as regiões do Interior, que continuam a perder população, é uma oportunidade para incorporarem nas suas atividades, nas suas empresas e nas suas comunidades pessoas oriundas de países subdesenvolvi dos, que serão um forte meio de ligação aos seus territórios de origem. Para o Douro e,

em particular, para a sua atividade ligada à vinha e ao vinho, é uma oportunidade que deve ser agarrada e potenciada. No entanto, é necessária uma política de integração de imigrantes e de desenvol vimento de regiões do Interior do nosso País, concertada entre o poder local e o poder central, com apoios e financiamen to adequados, que permitam uma inter venção mais eficiente e eficaz.

De ponto de vista da economia e das oportunidades para as empresas, há tam bém uma janela de oportunidade que não deve ser desperdiçada. O crescimento da população abre novos mercados, muito dirigidos pela procura, onde empresas eficientes e inovadoras podem certamen te prosperar. 

A Região Demarcada do Douro no centro da discussão do futuro da vinha e do vinho

Elevar a notoriedade da região no con texto internacional é um dos desidera tos deste meu mandato, que teve uma etapa marcante no início deste mês de novembro, com a participação do Ins tituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP, IP) numa reunião da Wine Origins Alliance (WOA) à margem do 43.º Congresso Internacional da Vinha e do Vinho, encontro da responsabilidade da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Nesta reunião realçou -se o papel das Denominações de Ori gem Protegidas (DOP), a sua proteção internacional, em especial as que gozam de grande prestígio, como a DOP Porto,

com uma relação direta na valorização das pessoas e do território numa lógica de sustentabilidade económica, social e am biental. Debateram-se, ainda, as questões mais prementes do setor, correlacionadas com a autenticidade das denominações de origem ou a valorização das pessoas que trabalham a terra.

Na assembleia geral da OIV foi reconhe cido e aprovado o estatuto da WOA como observador. Uma nova voz internacional nesta organização que ajudará a unificar esforços no sentido da valorização das re giões demarcadas de todo o mundo.

Para além da troca de experiências entre os principais especialistas em viticultura e enologia, sobre questões como a susten tabilidade e as alterações climáticas, saú de, segurança e economia, houve lugar à

apresentação de trabalhos científicos de grande relevo e que traçam os caminhos a seguir para a prossecução dos objetivos tendentes a salvaguardar o futuro do se tor.

A presença portuguesa notabilizou-se pelo elevado reconhecimento técnico e científico nos trabalhos apresentados e onde a metabolómica e a bioinformática preditiva ganham escala no panorama internacional. A caracterização do me taboloma é um processo particularmen te importante aplicado à vitivinicultu ra, porque pode ajudar a dar a resposta adequada em situações de stress hídrico, prevenir e capacitar a resposta a doenças da vinha, aumentar produtividade e me lhor avaliar o valor nutricional da uva. Há todo um novo paradigma de planeamento

e gestão na região demarcada, que vai ajudar os decisores a tomarem opções mais assertivas, assentes em dados cien tíficos. Colocar a ciência ao serviço da agricultura, e da viticultura em particu lar, é fulcral para racionalizar procedi mentos e promover a sustentabilidade. Caminhamos no sentido do enrique cimento da viticultura, como uma ativi dade nobre, que tem de ser valorizada até pelo que representa no contexto da economia mundial. Resta destacar a ne cessidade e o desafio de a curto prazo lançarmos um projeto nacional de me tagenómica, das principais castas da Região Demarcada do Douro, que pode rá dar resposta às alterações climáticas e permitir uma avaliação exaustiva do germoplasma. 

António da CCDR-NORTE

Longe dos buliçosos e desassossega dos centros urbanos, onde ainda se pisam as uvas e delas se faz vida, há um Douro que fervilha. É aqui, onde o inverno ainda amanhece em geada e o sol de agosto abrasa o empedrado das ruas, no Douro mais profundo, e por isso mais precioso, que se preserva o que de mais único existe da cultura e dos bons costumes da Região.

Por estar ciente da importância vital destes territórios, em concreto das al deias do Douro, participo, no próximo dia 25 de novembro, na excelentíssima Casa dos Noura, em Alijó, no evento “Aldeias do Douro, Aldeias do Mundo:

Aldeias do Douro, aldeias de futuro

Rostos do Presente, Rostos do Futuro”.

O encontro, promovido pela CCDR -NORTE, com a preciosa colaboração da Aldeias de Portugal, da Rostos da Aldeia e da CIM Douro, acontece no âmbito das comemorações dos 20 anos de classifica ção do Alto Douro Vinhateiro como Patri mónio Mundial, e não é casual que assim seja.

Muito para além de uma celebração do património destes territórios, que é, de resto, eterno e inimitável, este encontro propõe-se a uma abordagem mais ampla e de olhos colocados no futuro. A classifi cação do Alto Douro Vinhateiro como Pa trimónio da Humanidade é, sem espaço para dúvidas, um feito valoroso e ímpar na História das regiões portuguesas, que não pode, por artifício algum, ser menori zado. É, todavia, da mais sublime impor

tância que não adormeçamos na acolhe dora sombra da sua rama.

Para que esta classificação se mantenha próspera e vigorosa, reconhecemos como imperativa a preparação de uma respos ta eficaz e consentânea com os desafios de futuro que se colocam a estas popula ções. No sentido de transformar estas in tenções em medidas palpáveis, é crucial que demos um passo em diante e que nos aproximemos destes durienses, daqueles que diariamente se encontram no terreno e que, por esse motivo, estão mais habi litados para identificar desafios e respeti vas soluções.

Os desafios que as aldeias e redes de al deias do Norte enfrentam, mais concre tamente no Douro, são de índoles várias e, não raras vezes, exigentes, mas nem por esse motivo inultrapassáveis. Em

áreas tão diversas como a demografia, a cultura, o património ou o turismo, é imprescindível que sejam tomadas as decisões que acautelam os reais inte resses destas populações, e é necessá rio que as políticas públicas aplicadas nestes territórios se adequem às suas verdadeiras necessidades.

Só trilhando este caminho de futuro, que está ao alcance de todos - assim o queiramos - estes territórios poderão tornar-se de facto sustentáveis, não de uma mera perspetiva de sobrevivência, que considero manifestamente insufi ciente, mas de uma perspetiva integra cionista no quadro do desenvolvimento regional e local. As aldeias do Douro já são, afinal, aldeias do Mundo. Façamos dos rostos do seu presente sorridentes rostos de futuro.

38 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
Gilberto Igrejas Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. (IVDP)
- Vice-Reitor para a Inovação, Transferência de Tecnologia e Universidade Digital - UTAD

MARQUÊS DE SOVERAL Homem do Douro e do Mundo

Acinco de Outubro de 1922 falecia, em Paris, Luís Maria Pinto de Soveral,o Marquês de Soveral, ilustre personagem duriense e um dos portugueses mais rele vantes na história da diploma cia portuguesa.

Ocorre este mês o centená rio do seu falecimento.

A Câmara Municipal de S. João da Pesqueira, a Confra ria Queirosiana de Vila Nova de Gaia e a Associação dos Amigos de Pereiros, de S. João da Pesqueira, constituí ram-se em Comissão Organi zadora para a comemoração do Centenário do Marquês de Soveral, com diversos eventos

para o período de Outubro de 2022 a Outubro de 2023.

Contactado o VIVADOURO, jornal mensário da e para a região do Douro, a Comissão Organizadora, encontrou a maior recetividade para du rante os doze meses da come moração do centenário acom panhar os diversos eventos,

mas também dar a conhecer, o “Homem do Douro e do Mundo” através de entrevis tas, reportagens e depoimen tos.

Aqui deixamos o nosso agra decimento pela disponibilida de e colaboração.. ■

A Comissão

Organizadora

Centenário do falecimento do Marquês de Soveral

Comemora-se este ano o centenário do falecimento do ilustre pesqueirense, Luis Maria Pinto de Sove ral-Marquês de Soveral.

O Município não podia ob viamente ficar indiferente à efeméride, que ocorreu no passado dia 5 de outubro, ten do delineado um conjunto de atividades e homenagens a te rem lugar ao longo do ano do centenário do seu falecimento, entre os dias 5 de outubro de 2022 e 4 de Outubro de 2023.

Desde logo, organizará no Museu do Vinho uma con ferência que contará com a presença de historiadores de prestígio e outros especialistas conhecedores da biografia do Marquês de Soveral, que na

turalmente nos darão contri butos excelentes sobre as suas diversas dimensões, nomea damente a diplomática, cultu ral e de homem defensor dos interesses do Douro, como foi manifestamente o caso. Terá também lugar um evento for mal e com interesse histórico e cultural na emblemática Quin ta de Sidrô, local onde nasceu e que foi sua propriedade. Ha verá ainda iniciativas alusivas à figura do Marquês de Soveral nos estabelecimentos de ensino do concelho, no sentido de di vulgar às gerações mais novas, aspetos da sua vida, iniciativas e atividades mais marcantes. Naturalmente outros eventos e homenagens poderão ter lugar, para o que decorrem diligên

cias, no sentido de enriquecer o programa que assinala o cen tenário do seu falecimento.

O Marquês de Soveral desta cou-se principalmente na ativi dade diplomática, tendo sido na sua época um embaixador de referência, alcançando imenso prestígio no contexto da diplo macia europeia. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros e Conselheiro de Estado. Foi tam bém membro do grupo de in telectuais que ficou conhecido como os “Vencidos da Vida”, que integrou juntamente com Eça de Queirós, Oliveira Mar tins, Guerra Junqueiro, ou Ra malho Ortigão, entre outras fi guras maiores da nossa cultura.

O Marquês de Soveral como homem do Douro que indubi

tavelmente foi, não apenas por nascimento, não obstante o afastamento físico do seu con celho de origem, durante gran de parte da sua vida por força da sua atividade profissional, pugnou sempre pela defesa da denominação de origem Por to e pelos interesses da Região Demarcada do Douro. Natural mente esta e outras dimensões da sua vida, serão tema a abor dar pelos historiadores e espe cialistas que farão parte dos eventos que terão lugar ao lon go do ano de comemoração do centenário do seu falecimento.

O Douro, como afirmou Antó nio Barreto é um "local de feli zes encontros", (de trabalhado res rurais, comerciantes, arrais, adegueiros, galegos e tantos

mais), mas também um local de tantos e tão importantes contributos, de esforços gigan tescos de tantos homens e mu lheres que ao longo de séculos lutando contra a adversidade da natureza o moldaram , aca bando por criar na expressão do Professor Orlando Ribeiro, o maior geografo português do século XX, " a maior obra humana que se pode admirar em Portugal”. O Marquês de Soveral faz também parte desse universo, como uma das suas figuras cimeiras, o que orgulha naturalmente a comunidade de S. João da Pesqueira. ■

39 NOVEMBRO 2022 VIVADOURO
“ Quem diria a essa
Comissão Organizadora: José Cardoso Rodrigues Câmara Municipal de S. João da Pesqueira J. Gonçalves Guimarães Confraria Queirosiana Alberto Silva Fernandes
CENTENÁRIO do MARQUÊS de SOVERAL Centenário // 2 VIVADOURO NOVEMBRO 2022
José luis CA rdoso rodrigues Vi C e -Presiden Te e V ere A dor d A C ulTurA do muni C í P io de s. João d A PesqueirA
criança que nasceu em S. João da Pesqueira … o que o destino lhe guardaria de celebridade principesca e o muito que os historiadores o apreciarão mais tarde …” Archer de LimA, O mArquês de sOverAL e O seu tempO
Associação dos Amigos de Pereiros

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