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Ano 5 - n.º 62 - maio 2020
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Diretor: Miguel Almeida - Dir. Adjunto: Carlos Almeida
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Região vista à lupa
Analisamos dados relativos à população, economia e administração pública local dos municípios da CIM-Douro
> Págs. 4 a 7
Entrevista Chefe Ljubomir Stanisic: "É difícil pensar no futuro quando o agora nos exige tanto" > Págs. 12 e 13
Vila Real UTAD: Universidade investe 6 milhões de euros para se tornar mais ecológica > Pág. 20
Reportagem Covid-19 afeta viticultura da região que clama por apoios > Págs. 24, 25 e 26
Região Covid-19: Mesão Frio, São João da Pesqueira e Tarouca sem casos registados > Pág. 27
INFORMAÇ O Pode encontrar nesta edição o destacável do Boletim Informação
COVID-19
#FIQUEEMCASA
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VIVADOURO
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Editorial José Ângelo Pinto Administrador da Vivacidade, SA. Economista e Prof. Adjunto da ESTG.IPP.PT
Caros leitores, Tenho orgulho por termos, na região do Douro, autarcas capazes de fazer coisas nas quais o governo central demonstra sucessivamente incapacidade e incompetência. Porque a pandemia que atravessamos faz mostrar a coragem e a resistência das pessoas e, no caso concreto da nossa região da CIM Douro,. especialmente, a coesão e solidariedade territorial. Estas afirmação está provada e bem expressa no pacote de medidas recentemente decididas e que vão injetar, diretamente, 20 Milhões de Euros, quer nos agricultores, beneficiando fortemente os produtos endógenos, quer nas empresas, promovendo a manutenção dos postos de trabalho, do emprego e do desenvolvimento estrutural, como tem que ser, pois, só com estruturas fortes teremos uma região forte. Pelo contrário, do governo central apenas temos tido promessas e apoios escassos, muitas vezes para que as empresas substituam o sistema de segurança social, como ocorre no apoio aos país (ou mães) que têm que ficar em casa por não terem creches (no qual as empresas pagam metade de 2/3 do salário sem nenhuma explicação válida) ou ao lay off, cujo apoio por parte do estado é insuficiente (30% de 2/3 do salário), lento e fora do tempo em que é necessário. Para além do apoio específico aos meios de proteção individual recentemente lançado, que comparticipa 80% da despesa até 5,000 euros que as pequenas empresas precisem, tudo o resto dos “apoios” são empréstimos que será preciso pagar mais tarde. Obrigado aos Srs. Presidentes de Camara que nos representam na Comunidade InterMunicipal do Douro por olharem pelos agricultores e pelas empresas da região. E, por favor, continuem a colocar a defesa da região em primeiro lugar. Vamos todos ficar bem, se nos cuidarmos e evitarmos todos os contactos desnecessários.
PRÓXIMA EDIÇÃO 17 JUNHO
SUMÁRIO: Destaque Páginas 4, 5, 6 e 7 Armamar Página 8 Sabrosa Página 9
Alerte para o que está bem e denuncie o que está mal. Envie-nos as suas fotos para geral@vivadouro.org POSITIVO Ao longo do último mês o aumento de casos Covid-19 cresceu, mas de uma forma quase residual.
Lamego Página 10 São João da Pesqueira Página 11 Entrevista Páginas 12 e 13 Penedono Página 14 Boletim Informação Páginas 15, 16, 17 e 18 Carrazeda de Ansiães Página 19
NEGATIVO O cancelamento dos diversos eventos programados para a região tem provocado um impacto negativo em diversos setores da economia regional.
Vila Real Página 20 e 23 Alijó Página 21 Reportagem Páginas 24, 25 e 26 Região Páginas 27, 28 e 29 Opinião Página 30 Lazer Página 31
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Luís Braga da Cruz Engenheiro Civil
"OPORTUNIDADE PARA O PROJECTO EUROPEU" Vamos entrar no 3.º mês de restrição. Deixámos a fase mais aguda, concederam-nos mais liberdade de movimento, mas recomendam que é ainda necessária muita precaução. A evolução da pandemia é hoje mais moderada o que autoriza alguma descontração, mas tudo recomenda que se mantenha uma apertada vigilância. Registo como positivo o esforço que muitas instituições empresarias e sociais puseram em prática para retomar a actividade económica. Previsões da Comissão Europeia para 2020, sobre a evolução das economias, revelam que a contração do PIB português (-6,8%) pode ser menor que a da zona euro (-7,7%). Quanto ao desemprego, pode subir para 9,7%, também inferior ao de muitos outros países. Portugal poderá ser o país do Eurogrupo cujas medidas para proteger empresas e emprego tiveram impacto orçamental mais moderado. São boas notícias no contexto europeu. No momento em que faz 70 anos de vida, podemos dizer que a União Europeia é uma das zonas económicas mais poderosas do Mundo, embora tenha dificuldade em actuar como um bloco firme. Esta crise, sendo diferente das anteriores, toca a todos e poderá ter consequências assimétricas, reclamando medidas conjuntas. Depois do último Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia comprometeu-se a
apresentar em Maio uma proposta ambiciosa para promover a retoma. Pode incluir um novo fundo para a recuperação económica e a revisão em alta do próximo Quadro Financeiro Plurianual (2021-27). São inéditos tanto os valores em causa - um número da ordem de 1,5 biliões de euros (1,5 com 12 zeros à frente!), como o facto da Comissão estar disponível para emitir dívida, garantida pela própria União Europeia, e assim obter os recursos necessários. Já se discute a hipótese da União poder vir a ter receitas próprias, com recursos fiscais cobrados a nível europeu. Há uma expectativa de se poderem acelerar novas formas de integração europeia a nível financeiro e até fiscal. Porém, não basta a vontade do eixo Paris-Berlim, o apoio das outras duas grandes economias europeias (Itália e Espanha) ou o apelo à solidariedade de pequenos países como Portugal. É indispensável que não aconteçam atitudes em sentido inverso. Quando o Tribunal Constitucional Alemão não aceita que o BCE compre activos para suster as taxas de juro das dívidas dos estados-membros, está a pôr em causa o princípio de funcionamento europeu que assenta em leis iguais para todos. As regras de integração europeia impedem que instituições nacionais se sobreponham às europeias, neste caso o Tribunal Europeu de Justiça. Se tal decisão surtisse efeito, para além de gerar instabilidade dos mercados, seria um abanão nos alicerces do projecto europeu. Quando tudo passar, ficaremos melhor e seremos mais respeitados se a Europa que emergir desta crise for: politicamente mais integrada, no respeito pelos valores da liberdade e da democracia; socialmente mais solidária e mais justa; economicamente mais competitiva; cientificamente mais avançada; tecnologicamente em transição para o digital; apostando na adaptação às alterações climáticas.
Registo no ICS/ERC 126635 | Número de Registo Depósito Legal: 391739/15 | Diretor: Augusto Miguel Silva Almeida (TE-241A) miguel.almeida@vivadouro.org Tlm.: 916 430 038 | Redação: Carlos Almeida carlos.almeida@vivadouro.org Tlm.: 912 002 672 | Departamento comercial: Carlos Rodrigues Tel.: 962 258 630 / 910 599 481 | Paginação: Rita Lopes | Administração e Propriedade do título: Vivacidade, Sociedade de Comunicação Social, S.A. Rua Poeta Adriano Correia de Oliveira, 197 4510-698 Fânzeres | Administrador: José Ângelo da Costa Pinto | Estatuto editorial: www.public.vivadouro.org/vivadouro | NIF: 507632923 | Detentores com mais de 5% do capital social: Lógica & Ética, Lda., Augusto Miguel Silva Almeida e Maria Alzira Rocha | Sede de Redação: Rua Poeta Adriano Correia de Oliveira, 197 4510-698 Fânzeres | Sede do Editor: Travessa do Veloso, nº 87 4200-518 Porto | Sede do Impressor: Arcozelo - Vila Nova de Gaia | Colaboradores: André Rubim Rangel, António Costa, António Fontaínhas Fernandes, Beatriz Oliveira, Freire de Sousa, Gilberto Igrejas, Guilhermina Ferreira, José Penelas, Luís Alves, Paulo Costa, Ricardo Magalhães, Sandra Neves e Sílvia Fernandes. | Impressão: Unipress | Tiragem: 10 mil exemplares
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A região ao detalhe
Texto: Carlos Almeida
População Carrazeda de Ansiães - Em 2018 Carrazeda de Ansiães é o único concelho que vê o número de nascimentos crescer, comparando com o ano de 2010. O que motiva este crescimento? Presidente João Gonçalves: Este crescimento está certamente relacionado com aumento do número de casais jovens que se fixaram no concelho nos últimos anos, as boas acessibilidades assim como a qualidade de vida aqui proporcionada com acesso a educação, atls, atividades educacionais gratuitas ou a preços simbólicos fazem com que o concelho de Carrazeda de Ansiães seja bastante convidativo em termos de fixação de residência. Este facto também não pode ser dissociado das oportunidades de emprego aqui existentes, sendo um concelho essencialmente agrícola em Carrazeda de Ansiães existe bastante oferta de emprego ao longo do ano na agricultura essencialmente na fileira da maçã, e na vinha. Nos últimos anos tem também crescido o número de pessoas que investem na criação do próprio emprego essencialmente na área dos serviços, a zona industrial de Carrazeda de Ansiães é exemplo disso com a lotação máxima já esgotada e vários investidores à espera de lotes para montar o seu próprio negócio. Esta terá sido uma
das razões pelas quais a autarquia está neste momento a tratar da expansão da zona industrial. Penedono - Que desafios se colocam a um concelho do interior com cerca de 2.500 habitantes? Vice-presidente Cristina Ferreira: Viver num concelho do interior envolve muitos desafios, mas simultaneamente possibilita muitas oportunidades se formos capazes de explorar as potencialidades locais. Não tenho dúvidas de que se vive melhor no interior do nosso país, com mais qualidade de vida, do que nas grandes cidades do litoral. Na minha opinião, o maior desafio para concelhos do interior, como Penedono, é reverter o processo demográfico de diminuição da população. E isso só se consegue através de estratégias/medidas para fixar famílias, para fixar jovens e para criar desenvolvimento económico. A educação é encarada na estratégia da Câmara com uma atenção especial, empenhada em proporcionar igualdade de oportunidades e apoiar diretamente os agregados familiares. Através do programa de desenvolvimento da educação às crianças que frequentam o Pré-escolar e o 1º CEB, a Câmara assegura gratuitamente a todos os alunos a refeição do almoço, lanche, transportes escolares e um kit escolar individual (conjunto de material escolar, mochila e saco para natação); o Município transporta, ainda, gratuitamente todos os alunos do 2º e 3º CEB. Enquanto fenómeno sócio-económico, o desemprego, pode ser potenciador de si-
tuações de risco de pobreza e de exclusão social e, o seu crescimento pode originar a estagnação ou retrocesso do desenvolvimento local. O encerramento dos serviços públicos impede a fixação de pessoas e empresas gerando muitas vezes falta de confiança. Face a esta realidade há necessidade de alterar as políticas nacionais de modo a criar medidas que permitam aos empresários terem mais benefícios em investir no interior em detrimento das grandes áreas urbanas. Sem estes incentivos é difícil atrair o investimento de novas empresas capazes de criar mais empregos e fixar mais famílias. Cientes da necessidade de promover politicas ativas de emprego o Município de Penedono desde 2010 que se assume como um parceiro dos agentes económicos através da atribuição de incentivos monetários de apoio à criação de empresas no concelho, de estimular e apoiar projetos que originem a criação de emprego e investimentos que contribuam para dinamizar a atividade económica local, com impacto direto na criação ou manutenção de emprego. Tabuaço - O concelho de Tabuaço é o que regista maior queda na população jovem (15 anos), entre 2010 e 2018. Que medidas podem ser aplicadas para contrariar estes valores? Presidente Carlos Carvalho: Infelizmente é um problema que não se resume apenas à nossa região sendo transversal a todo o País e à Comunidade Europeia, onde esta discussão está no centro do dia.
E o principal motivo prende-se com a enorme quebra da taxa de natalidade, que resulta num problema demográfico brutal, e o consequente envelhecimento da nossa população. Como é lógico um flagelo desta dimensão não se consegue resolver à escala local onde as medidas que as autarquias, com enorme mérito, levam a cabo tais como a atribuição de subsídios à natalidade ou o apoio das crianças ao longo do seu percurso escolar, acabam por se tornar avulsas. Nesse sentido qualquer estratégia que se queira determinante tem de ser de amplitude nacional ou europeia e tem que, necessariamente, passar por políticas públicas que incidam na legislação laboral através de benefícios\licenças de maternidade e paternidade maiores e mais flexíveis, que criem uma descriminação fiscal positiva às famílias mais numerosas, que efetivem a subsidiação das instituições de cuidado das crianças como as creches, entre outros exemplos. Estas medidas permitiriam aumentar a estabilidade familiar o que consequentemente poderá potenciar o aumento de número de nascimentos. Mas independentemente de qualquer plano que possamos colocar em prática, é importante consciencializarmo-nos que, de há décadas a esta parte, existe uma nova ordem social em que a hierarquização das prioridades do individuo se alterou completamente o que leva a que a sua satisfação\realização seja ela social, profissional e familiar implica necessariamente, e conscientemente, a opção por se ter menos filhos e estruturas familiares mais reduzidas. Daí acreditar que
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o maior desafio passa pela alteração dessa realidade, principalmente nos países teoricamente mais desenvolvidos. Vila Real – Que desafios se colocam a um concelho do interior com cerca de 50 mil habitantes? Presidente Rui Santos: Os desafios que se colocam a Vila Real não são diferentes dos desafios que se colocam a todo o interior. Apesar de Vila Real ser um pouco maior do que a generalidade das cidades do interior, verifica-se que também aqui há problemas demográficos relevantes, nomeadamente de perda e envelhecimento da população. São problemas que afetam toda a sociedade europeia, mas que são especialmente graves no interior de Portugal. A grande diferença poderá ser a capacidade de Vila Real para atenuar estes problemas. Quer pela sua localização geográfica muito central, quer pela abertura do Túnel do Marão, passando pela existência de uma Universidade, de um Hospital Regional e, claro, pela dinâmica que o Município procura imprimir à economia e ao território, Vila Real tem conseguido atrair investimentos empresariais importantes, nos últimos 5 ou 6 anos. Ao ser criado emprego, potencia-se a fixação da população natural daqui e conseguem-se atrair novos residentes. Quer analisando os números do IEFP (diminuição de desempregados inscritos), quer de novos contribuintes para a Segurança Social (aumento da população ativa), percebemos que essa estratégia está a dar frutos. O grande desafio para o futuro será, portanto, continuar a afirmar Vila Real como motor económico regional, capaz de atrair investimento e criar emprego.
Esse é, em última análise, o grande fator diferenciador para a inversão da tendência demográfica. As pessoas deslocam-se para os locais que percebem como tendo mais oportunidades de emprego e de evolução económica. Aconteceu assim com o litoral e mesmo com países estrangeiros, levando a vagas fortes de emigração. Desejamos que o nosso concelho seja percebido como apetecível e como um espaço atrativo. Hoje existe um fator de incerteza muito importante, decorrente da pandemia de COVID-19. Ainda assim, com as devidas adaptações, manteremos a nossa estratégia." CIM Douro - Em termos populacionais, de forma unânime, o número de habitantes diminuiu na região entre os anos de 2010 e 2018, de que forma se pode inverter esta tendência, sendo que os números de nascimentos seguem a mesma linha? Vice-presidente Domingos Carvas: É uma realidade que a população tem diminuído e sobretudo tem envelhecido é um fenómeno que nos atinge e atinge com mais força o interior de Portugal. Na verdade se não alterarmos radicalmente esta política de coesão provavelmente estes valores ainda se vão agudizar mais. A criação de emprego nestas regiões do interior é a única forma de inverter esta sangria e já não vamos lá com medidas de ambulatório, o governo tem de ter coragem de alterar o paradigma destas regiões. Não chega dizer que o interior e esta desertificação os preocupa vai ser necessário e a curto prazo tomar medidas que alterem esta situação. Se reparar quase todos os municípios tem
incentivos a natalidade são medidas paliativas pois se não existirem empregos para fixar as pessoas elas são obrigadas a ir embora, procurar outra região onde esse emprego exista ou simplesmente a emigração.
Economia Freixo de Espada à Cinta – Em 2018 o município de FEC é aquele que apresenta o menor número de empresas não financeiras. Que estratégias tem o município para atrair mais empresas? Presidente Maria do Céu Quintas: O Município de Freixo de Espada à Cinta tem tido uma particular sensibilidade na promoção e divulgação de território, não só, mas também, e principalmente, junto do mercado espanhol. Essa circunstância tem contribuído, não tenho dúvidas, para que a economia do concelho ganhe. Trabalhamos a pensar no que Freixo tem, no que se distingue, e de que forma é que essas mais valias endógenas, podem beneficiar o território e a economia. Lamego - Lamego é o município da CIMDouro com maior percentagem de desempregados (12%), que medidas pode o município desenvolver para baixar este valor? Presidente Ângelo Moura: "As medidas de combate ao desemprego passam, necessariamente, pela promoção da atividade económica, nos seus diversos setores de atividade. Ao poder local, no âmbito das suas competências, do seu território e da sua missão
compete criar as melhores condições para a constituição e fixação de empresas, desburocratizar procedimentos, agilizando os licenciamentos e implementando uma política de incentivos à criação de postos de trabalho, de forma sustentável. Neste período particular que atravessamos urge apoiar os agentes económicos, o que deve ser efetuado de forma concertada ao nível regional. Assim, no âmbito da CIM Douro, foi criado um Programa de Apoio Económico e Social de revitalização do território. Em concreto, no Município de Lamego iremos, ativamente, implementar as medidas preconizadas, complementadas com outras de âmbito municipal visando contribuir para, numa primeira fase, a subsistência das empresas, muito em particular das micro, pequenas e médias empresas, num território com uma vertente acentuadamente agrícola. Em Lamego, utilizaremos também o programa de investimento municipal para, com a colaboração de órgãos municipais competentes, a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal, de forma mais célere colocar em execução um montante de cerca de catorze milhões de euros em obras no âmbito do PEDU, algumas das quais já em curso, constituindo assim um importante contributo como motor do crescimento e desenvolvimento económicos." Mesão Frio - O Município de Mesão Frio foi aquele que, percentualmente, mais viu o número de desempregados diminuir (16% em 2010 para 11% em 2018), registando ainda um crescimento de 120% no número de empresas que se instalaram no território. A que se devem estes fatores?
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Presidente Alberto Pereira: Estes fatores devem-se a importantes investimentos da autarquia, mas também do setor privado. Durante o período em análise, foram alocados investimentos para a construção de infraestruturas, destinadas a promover a expansão do tecido empresarial, a atrair novos investidores e a melhorar as condições de vida da população, nomeadamente: o Mercado Municipal, o Multiusos Municipal, a Biblioteca Municipal e mais recentemente, a obra de expansão da zona industrial de Mesão Frio. O desempenho do setor privado também tem sido essencial para diminuir o desemprego, como é o caso da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio, que criou duas novas estruturas residenciais: uma em Barqueiros e o novo lar em Mesão Frio. Consequentemente, estas duas estruturas alavancaram mais emprego para o concelho. Neste período em análise, com a oferta de atratividade empresarial, que a autarquia soube criar, através das infraestruturas implementadas, surgiram novas pequenas e médias empresas que se instalaram na zona urbana de Mesão Frio e muitas outras ligadas ao Turismo. No setor empresarial tomamos duas medidas: a primeira foi tentar legalizar algumas indústrias que tínhamos no concelho, de forma a internacionalizar os seus produtos. A segunda medida foi a simpli-
ficação da instalação de novas empresas em Mesão Frio e fazer com que os seus projetos tenham, da parte da autarquia, uma ajuda na facilitação de processos, com destaque para as empresas ligadas ao Turismo. Tem existido uma grande aposta por parte de Mesão Frio no Turismo, porque o futuro da região passa por aproveitar o vinho, a gastronomia, a simpatia das nossas gentes e as paisagens. A evolução do Turismo na Região Demarcada do Douro, a aposta de privados neste setor, na Vinicultura e na qualificação dos seus profissionais, também têm sido fatores para o registo da diminuição do desemprego em Mesão Frio. Neste momento, estamos com mais de trinta unidades de alojamento turístico em todo o concelho e as exportações de vinhos também têm disparado. Nos últimos anos, o concelho de Mesão Frio tem tido um aumento exponencial de visitantes. Também as despesas efetivas da autarquia diminuíram consideravelmente, o que permitiu firmar novos contratos de trabalho. Penedono – Em termos percentuais, Penedono é o concelho onde existe um maior crescimento no número de empresas não financeiras (157%). Que fatores contribuíram para este crescimento? Hoje, mais do que nunca as instituições públicas são chamadas a ter um papel
mais interventivo junto das sociedades que servem. O Município de Penedono, desde 2010, atento à conjuntura económica e dificuldades sociais concelhias, e também no âmbito das competências que lhe são atribuídas, legalmente, lançou um conjunto de iniciativas que visavam e visam acima de tudo, estimular o investimento e a criação de emprego, grosso modo, na economia concelhia. Para o efeito foram implementados dois programas de apoio aos empreendedores e empresários. A ideia que esteve subjacente à criação dos projetos como o Penedono Empreende Emprego e o Penedono Empreende Investimento foi e continua a ser o constatar, por parte da autarquia, da necessidade de promover medidas de apoio à criação de empresas no concelho, de estimular e apoiar projetos que originem a criação de emprego e investimentos que contribuam para dinamizar a atividade económica local, com impacto direto na criação ou manutenção de emprego. São estes os pressupostos dos programas e, foi com este propósito, que a Câmara Municipal os criou, sempre com vista à promoção do desenvolvimento local e ao bem-estar geral da comunidade. A iniciativa empresarial e a criação de novas empresas são de incontestável importância para a manutenção e melhoria do nível de desenvolvimento económico e social sustentado. Assim sendo, e na perspe-
tiva de que o empreendedorismo contribui para a criação de emprego, e consequentemente, para o crescimento económico, conclui-se que é de vital importância para a dinamização da economia. Para além destes benefícios diretos, a câmara disponibiliza, através do Gabinete de Apoio ao Empresário, que conta com a colaboração de um economista da AIRV, apoio aos empresários que pretendam aconselhamento e acompanhamento no desenvolvimento dos seus negócios e assistência na identificação das diversas medidas de financiamento disponíveis. Estes apoios acabam por ser vitais no desenvolvimento e sucesso das empresas. S. J. da Pesqueira – O município de S. João da Pesqueira é o que apresenta a mais baixa taxa de desemprego na CIMDouro. Que fatores têm sido essenciais para atingir estes valores? Presidente Manuel Cordeiro: Na verdade o concelho de São João da Pesqueira vive quase essencialmente do setor vitivinícola e neste setor vai havendo muito trabalho. Aquilo que também se verifica é a criação de novos negócios, em especial no setor vitivinícola onde temos cada vez mais jovens que se formam em enologia ou outros cursos semelhantes e que acabam por dar seguimento ao negócio dos pais, mas agora de uma forma mais profissional, começando a fazer vi-
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Destaque nhos com marca própria, por exemplo. O que também notamos é que as medidas que a autarquia tem levado a cabo no que diz respeito à criação de emprego têm surtido efeito, quer ao nível do aconselhamento na parte económica e jurídica, quer com ajudas efetivas de subsídios não reembolsáveis que vão desde 4 a 10 mil euros, desde que sejam criados postos de trabalho. Outro fator que penso que terá também aqui um contributo importante é a associação Capital Douro que acompanha e apoia muitos dos projetos, sendo uma associação privada tem muito apoio da Câmara. Através desta associação têmnos chegado muitos projetos que são apoiados pela autarquia. Neste momento está em andamento o projeto Finicia em que os projetos passam por uma aprovação da banca o que depois nos dá ainda mais segurança para os apoiar e para esta fase do pós-crise estamos a desenvolver um novo fundo que tem também como objetivo a criação de novos postos de trabalho, sem necessidade do recurso ao crédito. Qualquer pessoa que esteja nessas condições é também apoiada pelo município. CIM Douro - Olhando para os números da economia podemos facilmente reparar que o número de empresas na região, bem como os salários médio dos trabalhadores por conta de outrem têm vindo a crescer, que análise faz destes números? A mão-de-obra no Douro esta cada vez mais qualificada, o Douro nesse aspeto e nos últimos anos tem sofrido uma alteração substancial na forma de trabalhar a vinha e os socalcos, esta mais mecanizada e as contratações de pessoal é cada vez mais especializada, dai também e obrigatoriamente ser mais bem paga. Também reparamos que hoje o Douro já não é apenas aquela região onde se produz vinho de Porto. Nos últimos anos e fruto dessa mão-de-obra classificada bem como a procura de outros mercados fez com que se começasse a produzir vinhos de mesa de excelente qualidade um valor acrescentado para a região. Continuamos a lamentar que grande parte das empresas produtoras não tem as suas sedes registadas nestes territórios mas quase todos no litoral.
Administração Pública Local Carrazeda de Ansiães - Em 2018 o município de Carrazeda de Ansiães é o que mais investe em cultura e desporto. Qual a importância destes setores para a autarquia? É de extrema importância essencialmente para o desenvolvimento individual das crianças e jovens. Nesta área o Município
tem investido fortemente e apostando na formação de públicos através da criação de uma programação cultural diversificada com uma forte componente dedicada a proporcionar o acesso à cultura e desporto a toda a população mas muito especialmente aos mais jovens. Foram implementadas aulas de música e dança através da constituição de duas estruturas, a Academia Municipal de Música e a Escola de Dança, onde são lecionadas aulas a cerca de 120 crianças. Privilegiouse igualmente a adoção de uma programação cultural rica e diversificada onde se inclui sessões regulares de cinema e espetáculos de teatro, música, e dança. Investiu-se também na área da preservação património histórico-cultural com o desenvolvimento de diversos equipamentos culturais de visitação. Este investimento permitiu dotar o concelho de múltiplos espaços culturais que se encontram disseminados pelo espaço concelhio e não apenas na vila. Assim foram criados vários museus, centros interpretativos e espaços de apoio turístico, o último dos quais, as Portas de Entrada do Parque Natural Regional do Vale do Tua que foi inaugurado no ultimo mês de fevereiro. Também no desporto têm sido feitos vários investimentos que permite à população concelhia manter-se ativa e saudável , temos as piscinas municipais e o estádio municipal abertos durante praticamente todo o ano, temos realizados vários eventos desportivos como caminhadas, trails e triatlo que trazem várias centenas de pessoas ao longo do ano a Carrazeda de Ansiães, apoiamos ainda a realização de uma prova de motocross de âmbito nacional. Mesão Frio - Entre 2010 e 2018 o município de Mesão Frio é o que regista a maior redução das despesas efetivas do município. Como se justifica esta diminuição? No início do primeiro mandato, em novembro de 2009, a situação financeira do município era dramática. As receitas correntes nunca eram suficientes para pagar as despesas. Tínhamos uma grande dívida, com encargos financeiros assumidos que ultrapassavam os 12 milhões de euros. Foram oito anos de ajustes e de reequilíbrio financeiro, mas onde as pessoas estiveram sempre em primeiro lugar e conseguimos ter uma carga de obras estruturantes para o concelho, como não há memória. Conseguimos conciliar e ir jogando com vários fatores. Sem dúvida que este registo se deve a muita resiliência deste executivo camarário, que ainda assim, conseguiu prosseguir com fortes apostas nas mais diversas áreas sociais. Alteramos medidas que já estavam implementadas e conseguimos diminuir os encargos financeiros das famílias do concelho e também da autarquia. Vencemos o endividamento e estamos,
neste momento, nos 5 milhões de euros de dívida, por isso, no futuro, o equilíbrio financeiro deve ser um ponto de honra para continuarmos a ser motivo de orgulho. Peso da Régua – Em 2018 o município é o que apresenta um maior saldo negativo entre receitas e despesas efetivas da autarquia (-4,4 milhões de euros). Como é que autarquia esbate este diferencial? Presidente José Manuel Gonçalves: A questão da contabilização das despesas e receitas pelo portal Pordata, dá origem a uma fotografia imperfeita da realidade das contas municipais. Mas vamos a questão do déficit implícito nas contas de 2018. Em 2018 a câmara Municipal de Peso da Régua chegou a acordo com as Aguas do Norte sobre um diferendo que se arrastava desde 2016, nesse acordo o Município de Peso da Régua assumiu uma divida de 2.542.289.36 que contabilizou nesse mesmo ano, pelo mesmo acordo as aguas do norte assumiram uma divida para com o Município de Peso da Régua no valor de 1.782.790.60 que só foram pagos em 2019. Este movimento é único e irrepetível e afetou negativamente as contas de 2018. Outro fator que influencia negativamente as contas do município é o crónico deficit das contas da Água, saneamento e recolha de resíduos que onera em cerca de 2.000000.00 as contas municipais. Situação essa já parcialmente resolvida pela criação da Empresa Intermunicipal de Água e saneamento Águas do interior norte. Peso da Régua – Entre 2010 e 2018 o município reguense foi o que registou um maior aumento na quantidade de resíduos urbanos recolhidos seletivamente por habitante. Como justifica este crescimento? O facto de termos aumentado significativamente os valores da recolha seletiva, tem a ver com o aumento do investimento Municipal nesta área e com a crescente resposta positiva dos munícipes na correta separação dos resíduos, situação que se manteve no ano de 2019. Sabrosa – Em termos percentuais, o município de Sabrosa foi aquele que mais diminuiu o investimento em cultura e desporto entre 2010 e 2018, de 24,2% para 9,3%. Qual a razão desta diminuição? Presidente Domingos Carvas: Depende muito de que cultura estamos a falar. Se estiver a falar de construção para a cultura efetivamente terá sido verdade pois só a construção do espaço Miguel Torga rondou cerca de três milhões de Euros. Se falarmos de cultura propriamente dita os valores têm-se mantido nos últimos anos acredito e que os 9,3% apresentados sejam o reflexo do investi-
mento feito apena da responsabilidade do Município, sendo que aqui não aparecem os investimentos em cultura com as associações sem fins lucrativos que são responsáveis de uma grande parte das atividades culturais que se realizam no território e com o apoio da Camara Municipal de Sabrosa. Sabrosa - Em termos percentuais, o município de Sabrosa foi aquele que mais aumentou o investimento em ambiente entre 2010 e 2018, de 3% para 10%. Qual a importância deste setor para a autarquia? O ambiente sempre foi uma preocupação deste Município basta lembrar que aqui foi instalada a primeira ETAR funcional de toda a região. Temos uma taxa de cobertura de saneamento na ordem dos 95% e de 99% de cobertura de água ao domicílio. Fazemos mais de 5000 análises a água tudo supervisionado pela ERSAR onde nos últimos anos fruto de ainda mais investimento quer na qualidade quer na quantidade tivemos sempre bons indicadores por parte desta entidade. Não nos podemos esquecer que as questões do ambiente são fundamentais para o desenvolvimento sustentado de qualquer território e nós não somos alheios a isso logo continuamos a apostar nas questões do ambiente. Torre de Moncorvo – Entre 2010 e 2018 o município de Torre de Moncorvo foi o que mais diminuiu o número de funcionários na Administração Pública Local. Como justifica este decréscimo? Presidente Nuno Gonçalves: Na minha opinião, o decréscimo do número de funcionários no Município de Torre de Moncorvo, entre 2010 e 2018, deve-se a vários fatores, sendo a reestruturação realizada em todos os serviços e as reformas implementadas, os mais significativos. CIM Douro - De uma forma geral as despesas e as receitas efetivas das autarquias diminuíram neste espaço temporal. Também as transferências recebidas sofreram uma quebra, aqui de forma unânime em toda a região. Que leitura se pode fazer destes números? Sim, efetivamente as receitas foram baixando e como é óbvio foram acompanhando a despesa. Não podemos esquecer que em 2010 estávamos a meio de um quadro comunitário de apoio e bem no meio de uma recessão económica. Em 2018 estamos no início de uma novo quadro comunitário de apoio. Logo sem qualquer apoio comunitário. É de notar que também nesta data 2018 continuava o governo a não dar cumprimento a Lei das Finanças Locais o que só veio a acontecer em parte em 2019. ▪
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VIVADOURO
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Armamar
Destildouro oferece gel desinfetante a Armamar A Destildouro doou esta segunda feira ao Município de Armamar 75 litros de álcool gel que vai ser agora distribuído pelas IPSS, Bombeiros Voluntários, Guarda Nacional Republicana e Centro de Saúde locais. A empresa de subprodutos da vinha e do vinho, situada no Concelho de Armamar, está a produzir álcool para
fins sanitários, respondendo à escassez deste produto no País, face ao aumento do consumo no combate à pandemia do COVID-19. O Município agradece o gesto da Destildouro, na pessoa do seu administrador Maurício Diegues, e felicita a empresa pela sua postura no quadro que o País e o Mundo atravessam. ▪
Autarquia e Universidade Sénior querem máscaras para toda a população A Câmara Municipal de Armamar e a Universidade Sénior local (USA) uniram-se para desenvolver uma iniciativa solidária de confeção de máscaras de proteção individual. O objetivo é entregar máscaras a toda a população do concelho. Para tal, o projeto é alargado à população, procurandose assim que haja mais gente a trabalhar para se alcançar a meta ambiciosa que se definiu. A Autarquia fornecerá os materiais ne-
cessários para o trabalho dos alunos da USA e cidadãos interessados, com a orientação dos professores responsáveis pela disciplina de Costura Criativa. Os interessados em colaborar devem contactar a Linha de Apoio à Comunidade através do número de telefone 254 850 816, ou então o 968 491 465 para se definir a entrega da matéria prima e posterior recolha das máscaras, cuja distribuição será coordenada pela Câmara Municipal. ▪
Edifício da Câmara Municipal vai ter obras para eficiência energética
Começaram as obras no Jardim da Avenida em Armamar
A Câmara Municipal de Armamar lançou concurso público para obras no edifício sede com vista à melhoria dos indicadores de eficiência energética. As intervenções, orçadas em cerca de 186.500 euros, têm por objetivo renovar uma série de equipamentos e infraestruturas que permitam maximizar a poupança de energia num edifício em que se concentram os serviços administrativos da Autarquia. Os trabalhos incluem: a instalação de luzes com tecnologia LED, a revisão do isolamento do edifício; a montagem de superfícies envidraçadas mais eficientes; a substituição do sistema de climatização e; a implementação de um sistema fotovoltaico para autoconsumo. Recorde-se que o edifício sede do município de Armamar foi alvo de obras de reconstrução e ampliação há cerca
Estão a começar as obras de requalificação do Jardim do Imaculado Coração de Maria, no centro da Vila de Armamar. A Câmara Municipal pretende qualificar o espaço público urbano na principal artéria da vila. A intervenção prevista, no valor de quase 85
de vinte anos e, daí para cá, muita coisa mudou nos padrões de construção com vista à eficiência energética dos edifícios. ▪
mil euros comparticipados a 85 por cento pelo FEDER, compreende a construção de um circuito pedonal, a requalificação dos espaços verdes, instalação de um espelho de água e o aumento da capacidade de estacionamento de viaturas ligeiras naquele local. ▪
Câmara Municipal garante ensino à distância aos alunos do concelho A Câmara Municipal entregou hoje 28 tablets a alunos do Concelho de Armamar que não dispõem de meios informáticos no seu domicílio.
Esta iniciativa resulta de um trabalho efetuado em articulação com o Agrupamento de Escolas local, que faz o levantamento das necessidades, e
abrange os alunos do Primeiro Ciclo do Ensino Básico ao Ensino Secundário. Com esta medida a Autarquia e Agrupamento procuram colmatar as dificul-
dades que algumas famílias sentem em se adaptar ao novo modelo de ensino implementado no quadro da pandemia do COVID-19. ▪
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VIVADOURO
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Sabrosa
Autarquia promove Mercado de Produtos da Terra para ajudar produtores locais A Câmara Municipal de Sabrosa está a promover um Mercado de Produtos da Terra, destinado aos produtores do concelho, para a venda dos seus produtos frescos, hortícolas e frutícolas, vinho, azeite, ervas aromáticas e outros produtos de produção local. O primeiro Mercado Local de Produtos da Terra, promovido pelo município de Sabrosa, aconteceu no passado dia 10 de maio, no Largo da Praça, em Sabrosa, e juntou quase uma dezena de produtores locais. Numa manhã meteorologicamente agradável, a partir das 09h30, e até ao final da manhã, foram várias as pessoas que aderiram a esta iniciativa e
passaram pelo local do evento, valorizando assim o seu propósito e dinamizando o escoamento dos produtos disponíveis. Cada produtor presente teve disponível um kit de proteção individual, promovendo assim todas as regras de segurança e higiene que atualmente são exigíveis. O Mercado Local de Produtos da Terra realiza-se todos os domingos do mês de maio, acontecendo o próximo no dia 17, a partir das 08h30, no mesmo local. Pode fazer a sua inscrição e obter mais informações pode contactar o município de Sabrosa através do n.º de telefone 259 937 130. ▪
25 de abril assinalado em Sabrosa com hastear de bandeiras ao som do hino nacional O 25 de abril foi assinalado em Sabrosa numa curta cerimónia que decorreu nos Paços do Concelho. Resumida ao hastear de bandeiras ao som do hino nacional, numa versão gravada, a cerimónia contou com a presença de parte do executivo municipal, nomeadamente do presidente da câmara municipal de Sabrosa, Domingos Car-
vas, vice-presidente, António Graça, do vereador António Araújo e do presidente da assembleia municipal, José Marques. Numa praça sem populares, ao contrário do que é habitual, esta iniciativa assinalou por parte da câmara municipal de Sabrosa os 46 anos da revolução de abril. ▪
Comércio local recebe kits de proteção do município Os estabelecimentos do comércio local no concelho de Sabrosa, que reabriram portas no final do estado de emergência, foram contemplados com kits de proteção por parte do município. No total, foram distribuídos mais de 75 kits de proteção, que contemplavam máscaras, gel desinfetante e um
Três mil Kits de proteção individual distribuídos à população do concelho
folheto informativo, a todos os comerciantes do concelho abrangidos por esta iniciativa. Esta é mais uma medida desenvolvida pela autarquia para apoiar os comerciantes locais no âmbito das ajudas prestadas no combate aos prejuízos e constrangimentos causados pela COVID-19 no tecido empresarial local. ▪
O município de Sabrosa distribuiu, porta a porta, pelo concelho de Sabrosa três mil Kits de proteção Individual a todas as famílias do concelho. Durante quatro dias, e depois de muitos quilómetros caminhados, 15 funcionários da autarquia percorreram o
concelho para completar esta tarefa, que visou dotar todas as famílias de material de proteção para abordar a atual situação de pandemia. Esta foi uma iniciativa da autarquia, com apoio das juntas de freguesia ao nível da distribuição. ▪
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VIVADOURO
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Lamego
#lamegoeuacredito produz máscaras para oferecer a IPSS’s Na cidade de Lamego, um projeto nascido da sociedade civil está a produzir máscaras sociais que distribui gratuitamente em instituições do concelho. Chama-se #lamegoeuacredito e foi criado por Ricardo Pereira, muito antes de Covid-19 ser conhecida, com o objetivo de dar a conhecer e preservar aquilo que acredita a cidade ter de mais genuíno, as suas gentes e as histórias que elas guardam. Com a chegada da pandemia Ricardo Pereira sentiu que o projeto que tinha criado nas redes sociais podia também ter uma vertente mais real, contribuindo para a proteção individual contra a pandemia. As várias mensagens que ia recebendo começaram a dar forma a uma ideia cada vez mais presente e, com a ajuda da sociedade civil, constituiu um grupo que, cada um em sua casa, vão fazendo máscaras de proteção individual para oferecer a diferentes IPSS’s do concelho lamecense. “Iniciámos este projeto com o objetivo
de proteger a saúde dos lamecenses mais vulneráveis num momento muito difícil para a vida da nossa comunidade. Num exercício de cidadania ativa em prol dos lamecenses, o projeto #lamegoeuacredito propôs-se promover a dinamização de um grupo de pessoas desta cidade que trabalha, a partir de suas casas, para produzir e oferecer máscaras faciais de proteção. Até ao momento, já doámos mais de 200 máscaras de proteção reutilizáveis, sobretudo a idosos e doentes crónicos. Em termos institucionais, também entregamos equipamentos à Delegação de Lamego da Liga Portuguesa Contra o Cancro e à Cruz Vermelha de Lamego. Estas instituições fizeram chegar estas máscaras às pessoas mais necessitadas deste tipo de proteção. O objetivo destes equipamentos é limitar a propagação de gotículas respiratórias que podem conter o vírus desta pandemia. Este é mais um desafio que o projeto #lamegoeuacredito se propõe realizar, após ter colaborado na distribuição de viseiras de proteção individual oferecidas nas últimas semanas a muitas organizações e instituições de Lamego e da região do Douro que delas careciam”, conta-nos o
criador do projeto. Ricardo Pereira acredita também que a sociedade civil tem um papel importante no combate à pandemia, trabalhando em conjunto com as diferentes entidades, locais e nacionais. “Em tempos de angústia e de ansiedade, estamos a fazer cidadania. A sociedade civil pode complementar o trabalho desenvolvido pelas diferentes instituições que no terreno tentam suster a propagação da COVID-19. Todos somos poucos para combater nesta luta contra um inimigo que têm semeado o medo entre nós. Numa altura, em que o Governo, as autoridades locais e as IPSS's têm de acorrer urgentemente para suprir muitas lacunas, os cidadãos podem mobilizar-se para
ajudar nesta tarefa. Dentro das suas possibilidades, claro! Por isso vemos, um pouco por todo o país, cidadãos anónimos a ajudar para produzir, por exemplo, equipamentos de proteção ou para levar bens de primeira necessidade e medicação a casa de pessoas doentes e idosas. O espírito altruísta destes voluntários é de louvar! Uma palavra ainda para destacar a verdadeira alma da mais recente iniciativa do projeto #lamegoeuacredito, um conjunto de voluntárias que em suas casas e a expensas próprias dedica o melhor do seu tempo para garantir que outros se protejam. Gente de Lamego imbuída de um verdadeiro espírito altruísta que quer dar aos outros as melhores “armas” para enfrentar esta grave pandemia”. ▪
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VIVADOURO
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São João da Pesqueira
Posição pública do município de S. João da Pesqueira acerca da situação atual no setor Vitivinícola 1- Aos autarcas compete alertar, sensibilizar, sugerir, pressionar, preferencialmente em conjugação de esforços (CIM, operadores da produção e do comércio, todos em sintonia) para a definição de um conjunto de medidas de auxilio, pois não é entidade especializada nesta matéria, nem co-decisora sequer. 2- A situação atual e que se avizinha é de enorme gravidade e necessita de medidas estudadas é certo, complexas, múltiplas, mas que façam a diferença e não meros paliativos, como o instrumento do Crédito, com agravamento do endividamento, apenas ganhando tempo, com períodos de carência, juros, prazos. Manifestamente insuficiente, ainda que recomendável neste quadro, como uma das medidas a utilizar, mas nunca sozinha. De uma vez por todas temos de falar do SETOR vitivinicola e deixar de lado falar em produção vs comércio!!! 3- Reservas quanto ao verdadeiro foco do governo neste dossier, dadas as múltiplas necessidades e pressões do eleitorado urbano, muito mais volumoso e com poder reivindicativo maior. A não haver uma UNIDA e muito significativa movimentação da Região, o assunto terminará com paliativos (se for sequer o caso) e a posição de omissão de auxilio, a célebre máxima “deixem o mercado funcionar”, de que infelizmente já ouvi de alguns autarcas da Região, partilham, fará o seu caminho. Onde já estaria a TAP “com o mercado a funcionar”,(para onde vão agora mais 300 milhões) ou a RTP e tantas outras por exemplo ? ... E a RDD não é menos importante para o país que estas duas empresas, certamente. E ENQUANTO NÃO INTERIORIZARMOS isso enquanto Região, não teremos força reivindicativa eficaz. 4- Como é obvio neste momento a crise na sua verdadeira dimensão ainda é eventualmente manipulável nas estatísticas (visão pobre do IVDP), o problema estará na vindima e pós-vindima. (O produto é não essencial). Que interesse na compra, que quantidades, que preços? Que modos de pagamento?
Como armazenar com os previsíveis excedentes? Que rendimentos permitirão fazer face aos grangeios da próxima campanha? Quantitativos de benefício? Bloqueio de parte desse beneficio, dizem alguns? Em que moldes? 5- A RDD produz cerca de 300.000 pipas em anos normais, beneficio (Porto) cerca de 1/3. Então que destino dar aos “excedentes”? Nada fazer, significará que os preços venham para os valores insultuosos de que ainda há memoria por ter sido recente (150,00 Euros/pipa a preços de venda, com custos de produção de (+-) 300,00 Euros/pipa). Verdadeiramente ruinoso e insultuoso. Reservar parte deste “excedente” para destilação-aguardente vínica- álcool, pode ser um caminho... Com a garantia de preços mínimos subsidiados, permitiria atenuar prejuízos, baixar as quantidades disponíveis, com reflexo nos preços: O Estado e a U.E. terão sempre que abrir os cordões à bolsa subsidiando a destilação.
nadas nomeadamente a promoção dos vinhos do Douro, que perversamente têm hoje mais configuração de imposto do que propriamente de taxa. E quando se refere que neste momento SERIA DE JUSTIÇA que esses valores fossem aplicados para fazer frente a este quadro muito problemático, obviamente que o dinheiro que tem sido pago pela lavoura (com um destino desvirtuado na pratica), não existe fisicamente nesta data em nenhum porquinho mealheiro! Quando se fala dos 7 ou dos 10 milhões serão verbas neste montante que foram entregues entretanto pela lavoura ao Estado (IVDP/agora à AT) destinado a campanhas de promoção dos nossos vinhos (não utilizados para este fim) e que na pratica está a ser usado como reforço de receita do OE e que SERIA ESTE O MOMENTO de utilizar essa “receita”, apropriada pelo Estado, que deveria ser usada num quadro excecional e por uma questão de justiça, para contribuir para o combate à crise que se avizinha.
Se não houver essa decisão politica, a “solução” será uma não solução.
Este é o enquadramento da proposta: medida de “devolução das taxas”, que tem sido distorcido por ignorância ou má fé...
6- obviamente que terão de existir também Instrumentos fiscais e sociais, que se justificam (TSU, gasóleo agrícola,por exemplo).
8- Não que isso interesse muito, mas esta posição em termos globais tem sido até propalada por alguns deputados eleitos na AR...
7- As TAXAS da lavoura que se pagavam ao IVDP e que em determinado momento se passaram a liquidar diretamente à AT, são verbas desti-
É porque? não por qualquer originalidade repentina por parte dos mesmos, mas porque correspondem a uma análise global da problemática, com uma
suficiente dose de bom senso, interesse pelo assunto e noção da gravidade do mesmo. E isto é como tudo, se não houver vontade politica, enquanto o foco não for este, não vale a pena perder tempo com meros paliativos enganosos e suicidários. Aliás, mais uma a acrescentar a dossiers como desertificação, desinvestimento no interior, onde essa vontade politica inexiste pura e simplesmente há muitos anos, sendo apenas usada ciclicamente como retórica. 9- Em Complemento: Recorde-se que a questão da Casa do Douro, pilar importante na Região que foi desmantelada pelo poder politico, com enorme ignorância e irresponsabilidade ,mas também com o silêncio quase generalizado do poder, implicava menos que o custo de uma mera estação de metro em Lisboa ou Porto e uma Região inteira não foi capaz de a preservar, num sinal de divisão e de derrotismo inexplicáveis. Tal como ontem, esse cenário de indiferença ou de pouco estudo sobre o assunto... Reconheça-se que a Casa do Douro nessa época estaria muito mal gerida, tendo cometido muitos erros, verdade, mas ao invés de se reformular mantendo a instituição, mandou-se “fora a água do banho com o bebé incluído”. Manuel Cordeiro 7 de maio de 2020 (Presidente da Câmara Municipal de S. João da Pesqueira) ▪
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VIVADOURO
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LJUBOMIR STANISIC:
“Sou um apaixonado pelo Douro: pelas paisagens, pelas pessoas, pela comida”
Texto: André Rubim Rangel Comecemos pelas suas raízes. O que de bom se recorda da sua cidade natal, Sarajevo, no pré-Guerra da Bósnia, até aos seus 14 anos? E sente saudades de algo na sua infância? Tenho muitas memórias felizes da minha infância, antes da guerra. Era um miúdo como outro qualquer, que brincava com os amigos, com o cão, ia à escola, jogava basquetebol e voleibol. Era muito feliz. E precisamente com 14 anos teve de ser uma «criança-soldado», com arma e em posição de ataque contra os sérvios. Imagino que seja doloroso reviver esses momentos, mas até para ajudar outras crianças e pessoas nessa situação pelo mundo fora, que mensagem pode transmitir com aquilo que lutou e aprendeu? Já falei muitas vezes sobre a guerra e, sinceramente, é algo que faz parte do meu passado, que está resolvido e ultrapassado. Posso dizer
que a guerra me tornou mais forte, mais duro, sem medos. Sou combativo, vou ao chão mas levanto-me as vezes que for preciso. Aprendi que a religião, que pode ter coisas muito bonitas, também pode ser terrível. Sou apaixonado pela humanidade mas profundamente ateu. Foi por ter tido essa adolescência e juventude difícil, que o moldou na construção do seu carácter e personalidade - sendo conhecido pela seriedade, rigor e frontalidade? Estou longe de me definir apenas pela juventude difícil. Felizmente, tive também, e sobretudo, muitas experiências bonitas e felizes ao longo da vida. Uma das pessoas que mais contribuiu para a minha postura profissional foi o Bobe, o meu primeiro patrão, que era dono da padaria onde comecei a trabalhar aos 14 anos. Na altura não tive noção, mas hoje percebo que foi ele que me ensinou o valor do trabalho, a respeitá-lo, a dar tudo em tudo o que faço. O meu rigor e frontalidade virão daí mas também da educação que tive e da minha própria personalidade. Acho que não faz
FOTO: Fabrice Demoulin/100 Maneiras
Entrevista Portugal foi um caso de amor à primeira vista. Entrei no país de carro, pelo Gerês, e encontrei logo um casal de velhinhos que, mesmo sem falarmos a mesma língua, sem me conhecerem de lado nenhum, perceberam que estava com fome e me convidaram para comer uma sopa em casa deles. Fiquei fascinado com as pessoas, com as paisagens, com a paz… Aquilo que não suportava, a início, era o cheiro do bacalhau seco. É engraçado, porque mais tarde foi o bacalhau o principal ingrediente do prato de assinatura do primeiro 100 Maneiras do Bairro Alto, o único que nunca saiu do menu, no “Estendal do Bairro” (chips de bacalhau presas por molas de madeira a um pequeno estendal, inspiradas nas janelas do Bairro Alto, com as roupas a secar). Podemos dizer que o seu ano de viragem, ponte para o sucesso, começou em 2011? Até com a projeção também conquistada na sua grande e premiada obra «Papa quilómetros – uma Caminhada pela Gastronomia Portuguesa» … Não, penso que o meu ano de viragem foi 2009, com a abertura do primeiro 100 Maneiras em Lisboa, depois da falência em Cascais. Viragem em todos os sentidos, não só sucesso mas também em termos da minha cozinha e da pessoa que sou. A falência em Cascais ensinou-me muito, ensinou-me a ser mais fiel a mim mesmo, a fazer cozinha em que acredito, a fazer cozinha financeiramente sustentável.
sentido perder tempo com meias-palavras: prefiro dizer as coisas como são, resolver os problemas na altura certa. Sente os povos/países Sérvio e Croata como inimigos, pelo combate que teve de enfrentar contra eles? Não tenho inimigos. Tenho as pazes feitas com toda a gente. Apresenta-se para o mundo, num artigo de 2019, como alguém que “não come para viver, mas vive para comer”. Tem mais lemas de vida e/ou citações humanistas? Acho que o meu maior lema é mesmo viver sem e de 100 maneiras. :) Apesar de se ter tornado mais conhecido em 2011 - e ainda mais mediático em 2017 -, com os programas televisivos ligados à culinária, já estava desde 1997 em Portugal. O que realça de mais positivo e menos positivo nessa descoberta integral de conhecimento pelo nosso país e com o Português (a língua e a sua gente)?
De que modo retrata a cozinha e gastronomia Duriense? Como a caracteriza com tudo aquilo que tem de extraordinário e na descrição que também faz desta área nortenha? Sou um apaixonado pelo Douro: pelas paisagens, pelas pessoas, pela comida, pelos produtos, pelo vinho… Aliás, muitos dos meus vinhos são produzidos no Douro, com o meu grande amigo Dirk Niepoort, para mim um dos melhores produtores em Portugal, com quem estou prestes a lançar mais um vinho, o Bicho do Mato branco. Em 2011, com o projeto Papa Quilómetros (que começou como um livro e mais tarde deu origem a um programa de televisão), viajei pelo país inteiro em busca dos produtos, dos produtores, das tradições gastronómicas, e, claro, o Douro foi uma das regiões por onde passei. Descobri uma cozinha muito genuína, muito enraizada naquilo que são os produtos locais, e foi essa cozinha, também, que procurei respeitar sempre enquanto trabalhei no Douro, usando os produtos locais, apoiando os produtores e comunidades da região, trabalhando com uma perspectiva de sustentabilidade e respeito pelo ambiente, pelas pessoas e pela história do Douro, sem deixar de colocar sempre quem sou no prato, claro. Esse trabalho no Douro foi como consultor gastronómico de um conceituado hotel, certo? Em que resultou essa experiência? Fui chefe executivo consultor do «Six Senses
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Douro Valley» entre a primavera de 2016 e o verão de 2019. Foi uma experiência muito bonita, que me ensinou muito e me fez crescer enquanto pessoa e cozinheiro. O «Six Senses» é uma cadeia com uma filosofia incrível, muito focada na sustentabilidade, no bem-estar, em apoiar as comunidades em que se insere… Trabalhar com esta equipa foi uma oportunidade que agradeço muito, foi-me sempre dada toda a liberdade para implementar as ideias mais loucas e é muito, muito bom trabalhar num ambiente assim, em que nos dão todas as condições para criar. Foi uma experiência incrível do ponto de vista humano e profissional. Aprendi muito. Se tivesse de escolher outra região do país, para se instalar, viver e abrir um restaurante – sem ser na área de Lisboa -, a região do Douro seria a sua primeira opção? Porquê? Fui muito feliz nesses três anos no «Six Senses». Mas não escondo que me identifico particularmente com a região do Alentejo, aliás, digo muitas vezes que me sinto alentejano. Já divido atualmente a minha vida entre Lisboa e o Alentejo e gostava muito de um dia me mudar definitivamente para o Alentejo e abrir um restaurante capaz de envolver toda a comunidade de uma forma produtiva e quase autossustentável: usar o queijo da senhora do lado, a carne do produtor mais próximo, os produtos hortícolas de outro vizinho… Paralelamente, abri o ano passado o «Líquen», em São Miguel, nos Açores, outra das minhas grandes paixões, pela natureza que só se encontra ali. Começou por ser um restaurante inserido no «Furnas Lake Forest Living», nas Furnas, e evoluiu para um formato pop-up, que me permite uma liberdade que me deixa muito confortável. Gosto da ideia de poder levar o «Líquen» para qualquer ilha, de poder transformá-lo quando e como quero, respeitando sempre em primeiro lugar o produto. Mesmo não se pondo esta realidade em cima da mesa – era apenas uma suposição, um cenário no infinitivo –, tal não impede que possa abrir um restaurante num local emblemático do Douro. Já equacionou essa possibilidade? E por que não? Fica o desafio… Eu nunca digo nunca. Aliás, eu sou aquela pessoa que tem sempre mais uma ideia, que diz que vai acalmar mas depois não consegue estar parado… Mas há uma coisa que aprendi na vida que é a importância de nos focarmos no que temos e não tentarmos fazer tudo de uma vez. Neste momento, o futuro da restauração é uma incógnita. Fomos apanhados totalmente desprevenidos com esta pandemia, ninguém sabe em que condições vamos sair disto. O meu maior foco agora são os meus restaurantes, o bemestar da minha equipa. É difícil pensar no futuro quando o agora nos exige tanto. Este período de pandemia, que nos leva a estar isolados e retirados da vida “normal” há já dois meses, fez certamente que perante a porta da dificuldade se abrisse e pen-
sasse em alguma janela de oportunidade. Ajudou-o em algo este tempo que, para muitos e não só de crise, terá também sido de reflexão e inovação para o futuro? Quando se tem 80 famílias a cargo e não se sabe como se vai conseguir pagar os ordenados, é difícil pensar nesta fase como uma janela de oportunidade. Houve muitas noites em que não dormi - aliás, ainda hoje não durmo bem. Agora, não sou de baixar os braços, nunca fui. Ao longo destes meses, tenho estado em permanente contacto com os meus sócios para gerir esta fase, perceber como e quando poderemos reabrir, as adaptações que poderemos fazer. Ao mesmo tempo, aproveitámos também para pegar em algumas ideias que estavam paradas por falta de disponibilidade, como a minha loja online, que deverá abrir em breve, e onde vou reunir todos os meus produtos, desde os estojos de facas personalizados com a ICEL, as minhas jalecas com a Bragard, os meus vinhos, os meus livros, as peças que tenho com a Vista Alegre e quem sabe também algumas da Le Creuset, que são parceiros que me acompanham há muito tempo e que estimo muito… Ao mesmo tempo, acabei também por estar mais presente e ativo nas minhas redes sociais, com a partilha de receitas simples e acessíveis, que são exatamente aquilo que tenho cozinhado em casa, com a família, nesta altura. As pessoas respondem muito bem e sinto que é uma pequena ajuda que posso dar a quem está em casa e assim se sente mais acompanhado. Quais são as suas principais/maiores preocupações e receios com o paulatino reabrir dos restaurantes, depois de tanto tempo fechados, com as condições impostas pela DGS e com tanta gente ainda apavorada de sair e tentar retomar a suposta “normalidade” perante um vírus mortífero que se mantém em ação? Acho que em primeiro lugar é fundamental que a informação sobre as condições para a abertura seja clara e acessível. Compreendo que é uma situação nova para todos mas esta tem sido uma das grandes dificuldades dos empresários: obter informações certas e concretas sobre medidas, apoios, etc.. As linhas de comunicação têm de ser mais diretas, mais eficazes. Depois, para ser sustentável, um restaurante precisa de uma ocupação de, no mínimo, 60%. Isto significa que mesmo os restaurantes que conseguirem reabrir (porque muitos já não vão voltar a abrir portas, foram à falência entretanto) se vão ver a braços com um problema muito grave, uma vez que a DGS determinou a ocupação máxima de 50%. Podemos pensar em sistemas de turnos, mas tendo em conta os horários reduzidos que também vão ser implementados isto torna quase impossível conseguir servir um turno, proceder à limpeza e higienização do restaurante, e servir um segundo turno. Mas mesmo com uma ocupação limitada a 50%, impõe-se a questão: e as pessoas vão querer comer fora? Eu acho que os clientes vão ter receio, eu próprio, enquanto cidadão, sinto esse receio. Estamos a viver uma pan-
FOTO: Fabrice Demoulin/100 Maneiras
Entrevista
demia: enquanto não houver um controlo real e eficaz da doença, enquanto não existir uma vacina e essa vacina for disponibilizada em massa, somos ratos de laboratório numa experiência social. Ninguém sabe como isto vai correr. Além disso, acho que não é só pelo receio que as pessoas poderão deixar de frequentar os restaurantes. A experiência de ir a um restaurante é muito mais que aquilo que nos chega no prato. O ambiente é fundamental. Que ambiente vamos ter com as medidas que estão a ser implementadas? E que poder de compra terão as pessoas depois de tudo isto? Acho que conquistar os clientes novamente vai ser a coisa mais difícil que teremos de superar e penso que vai demorar um ano, no mínimo. Perante o medo que assola grande parte da população, que não só portuguesa (devido ao covid-19), e dado que o medo é algo que conhece bem e que teve de superar ao longo da vida, que conselhos entende importantes para que as pessoas possam ir perdendo este medo incutido por algo invisível, mas tão devastador? Acho que não sou ninguém para aconselhar as pessoas acerca de como perderem o medo. Até porque a situação o justifica, eu próprio tenho os meus receios. Agora, pânico é outra coisa e isso, sim, é de evitar. Acredito, sobretudo, que é importante as pessoas terem consciência da situação que vivemos e comportarem-se de acordo com isso, sermos responsáveis. Não tenho dúvidas que vamos dar a volta e é preciso manter a esperança e o otimismo, mas sempre de forma realista e responsável. Perspetivando o presente e olhando o futuro (próximo e distante), de que modo con-
sidera que irá salvar-se (ou não) o Turismo – sobretudo a Restauração e Hotelaria – em Portugal e outros motores/sectores cruciais para a Economia nacional? Acredito que no próximo ano o turismo será para esquecer. E todas as empresas que, direta ou indiretamente, têm uma percentagem dos seus lucros proveniente do turismo serão das mais afetadas. Havendo menor poder de compra por parte dos portugueses, o desafio é ainda maior. Mas acredito na sobrevivência do turismo e na sua recuperação, a partir do momento em que existir uma vacina e essa vacina seja distribuída e aplicada em massa. Todas as razões que existiam para os turistas visitarem Portugal continuarão a existir: o nosso património, as nossas paisagens, as nossas tradições, a nossa gente, a nossa gastronomia. Quem sabe até com um novo fôlego, como aconteceu depois da crise de 2008. Este é o momento de representarmos o nosso país, os nossos interesses, apoiar a produção nacional, consumir o que é português, acabar com as importações. E é preciso baixar o IVA, senão será insustentável. Penso que até a “normalidade” regressar, a restauração enquanto sector não conseguirá dar verdadeiramente a volta. Até lá poderemos apenas ir adaptando-nos por fases consoante a evolução da pandemia. Peço-lhe um último desafio, como pétala de esperança, que julgue pertinente deixar aos leitores… Acho que o maior desafio que posso deixar é pedir às pessoas que sejam solidárias. É altura de estarmos juntos, trabalharmos juntos, darmos a volta juntos. No que puderem ajudar, ajudem. ▪
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VIVADOURO
MAIO 2020
Unidade de Saúde Pública do ACES Douro I Ana Luísa Santos Emília Sarmento Helena Pereira Enfermeiras Especialistas em Enfermagem Comunitária Unidade de Saúde Pública do ACeS Douro I
Regresso progressivo à normalidade Como será o mundo pós isolamento provocado pelo Covid-19? Muito se tem ouvido e falado sobre as consequências deste isolamento forçado a que estivemos sujeitos desde 15 de março de 2020. Todos os dias a comunicação social disso fazia publicidade. O desafio das nossas vidas será manter a doença controlada e ao mesmo tempo retomar a nossa vida social, relacional e económica. Um equilíbrio que requer novas regras, novos comportamentos, novas atitudes. Espera-se que no regresso à vida ativa, tão necessária para o bem-estar físico e psicológico, a sociedade adote medidas sociais eficazes, onde todos são chamados a contribuir, na sua individualidade. Exige-se que cada um tome consciência de que o vírus existe e permanece na sociedade, e que por essa via, cabe a cada um de nós seguir de forma efetiva as práticas recomendadas, como sejam: o uso de máscara social ou comunitária, a higiene das mãos, o distanciamento social, as medidas de etiqueta respiratória e a limpeza de superfícies. Nas próximas semanas ou meses, muitos regressarão ao trabalho, essas pessoas precisam de se sentir protegidas. Criar confiança exigirá um equilíbrio delicado entre os diferentes intervenientes sociais, reconhecendo que aprendemos à medida que progredimos. É importante que cada sector focalize as ações nas suas particularidades e especificidades. Relembramos algumas: • desfasamento de horários laborais e/ou escolares. • evitar aglomeração de pessoas. • espaços não essenciais devem permanecer encerrados (buffets, bares, salas de convívio…). • manter janelas e portas abertas de forma a evitar o toque frequente em superfícies e privilegiar uma renovação frequente do ar. • não devem ser utilizados secadores, na higienização das mãos, por jatos de ar. • evitar a utilização de aparelhos de ar condicionado. Caso o utilize, esta deve ser feita em modo de extração e nunca em modo de recirculação do ar. • reforçar a higienização de superfícies frequentemente tocadas por muitas pessoas, por exemplo: maçanetas das portas, interruptores de luz, telefones, computadores, torneiras de lavatório, manípulos de autoclismo, mesas, dinheiro, entre outros. Muitas das consultas/exames que estavam agendados, antes do confinamento, ficaram suspensos. É, pois, importante remarcá-los, para isso deve contactar a sua equipa de saúde, que o ajudará nesse procedimento, diminuindo assim a sua ansiedade e agilizando a eficácia da sua realização. Precisamos ir além do pensamento de curto prazo, para nosso próprio benefício e para as gerações futuras. Tal perspetiva traria um grande impulso para a contenção deste vírus e simultaneamente para a retoma da economia social que tanto beliscou a sociedade, sendo por isso um passo gigantesco para refazer um mundo desfeito pelo Covid-19. O nosso futuro depende daquilo que aprendemos com aquilo que fomos experienciando ao longo deste período de confinamento.
Penedono
Empresa de brindes passa a produzir viseiras e proteções em acrílico Em Penedono uma empresa de brindes publicitários reinventou-se e está agora a produzir viseiras e proteções de acrílico para o uso em balcões de atendimento ao público. Com a chegada da pandemia da Covid-19 vários foram os negócios que se viram afetados, quer pela falta de negócio quer pelo facto de serem forçados a fechar portas assim que foi decretado o Estado de Emergência, contudo, outros houve que se reinventaram e, fazendo algumas alterações ao seu modelo, continuaram a laborar, como é o caso da empresa de Álvaro Fonseca, a Penobrindes. Dedicada à produção de brindes e material promocional, esta empresa do concelho de Penedono viu todo o seu trabalho ser colocado em suspenso devido ao cancelamento das mais diferentes atividades organizadas por autarquias e coletividades da sua área de influência. Contudo, assim que a nossa reportagem entra nas instalações da empresa, um aspeto salta à vista, a azáfama com as encomendas continua. “Continuamos a ter bastante trabalho, aliás, o nosso volume de negócios, comparativamente com o mesmo período do ano passado, cresceu”, contanos o proprietário Álvaro Fonseca. Por estes dias, em vez de troféus, porta-chaves ou tantos outros materiais, esta empresa dedica-se á produção de viseiras de proteção individual e divisórias em acrílico para o uso em balcões de atendimento ao público. “Isto começou com um pedido do Hospital de Viseu, através de um médico que nos conhece chegou um pedido para que produzíssemos viseiras de proteção individual para os profissionais de saúde. Aceitamos o desafio desde logo porque era uma oportunidade de ajudar no combate a esta pandemia e porque nos pareceu uma oportunidade de continuar a trabalhar. Numa fase inicial fizemos 100 viseiras que oferecemos ao hospital, foram muito bem aceites pelos profissionais de saúde que as acharam úteis e confortáveis até porque são bastan-
> Álvaro Fonseca, gerente da Penobrindes
te leves e eles têm que as usar por largos períodos de tempo, acabamos por produzir mais 400 que também entregamos à mesma unidade hospitalar. Depois aproveitamos para distribuir este material às forças de segurança e proteção não só aqui no concelho de Penedono mas também em S. João da Pesqueira e Sernancelhe, duas localidades onde a nossa empresa também está implementada”. O sucesso foi tal que começaram a surgir pedidos de particulares e logo aí Álvaro Fonseca viu uma oportunidade de negócio, “as pessoas queriam comprar viseiras, por isso desenvolvemos dois modelos, um mais simples e económico e outro com um suporte mais rígido o que acaba também por ser um pouco mais caro”. Entusiasmado pelo sucesso que estas mudanças provocaram, o empresário não teve que pensar muito para dar o próximo passo, a produção de barreiras de proteção em acrílico.
“Este é um material que usamos muito e por essa razão temos sempre em stock, como deixamos de produzir os porta-chaves e troféus que normalmente usam este material, surgiu a ideia de começar a fazer as barreiras de proteção para os balcões que têm sido também um sucesso. Neste caso o funcionamento é ligeiramente diferente, como é algo mais específico, normalmente primeiro desloco-me ao local onde vão ser colocadas e tiro as medidas para depois avançar para a produção. Como cada balcão tem as suas características e necessidades é algo que não produzimos em série mas elaborados caso a caso”. O facto de ter material em stock foi uma vantagem para Álvaro Fonseca que conta à nossa reportagem que numa fase inicial havia alguma dificuldade em receber matéria-prima, “agora o fornecimento já regularizou e fica mais fácil dar resposta a todos os pedidos”. ▪
INFORMAÇ O Boletim Informativo da Cooperativa Agrícola de Penela da Beira Nº 31 - Maio de 2020
Trimestral
Ficha Técnica Ana Dias; Angela Martins; Igor Nora; José Angelo Pinto; José Fernando; João Pedro; Margarida Rodrigues; Maria João Gaspar, Rui Droga; Tânia Amaral
Editorial Boletim da Coopenela José Ângelo Pinto Presidente do Conselho de Administração da Coopenela Economista e Prof. Adjunto da ESTG.IPP.PT
Caros cooperantes e amigos da Coopenela, Este boletim está a ser organizado quando se detetam focos intensos de ataque da vespa das galhas do castanheiro (Dryocosmus kuriphilus) às arvores da região, sendo que este ano, pela primeira vez desde que apareceram em Portugal, tem-se notado uma intensidade grande de ataque aos castanheiros Martaínha. Por tal razão, este será o tema principal do nosso Boletim. Para contextualizar os nossos leitores, a única forma de combater a vespa das galhas do castanheiro é através do lançamento de um inseto – o Torymus (Torymus sinensis) – cujo objetivo de vida á “comer” as larvas da vespa das galhas do castanheiro. Conscientes deste facto, a Coopenela tem promovido, através da RefCast – Associação Portuguesa da Castanha e de um programa designado “BioVespa”, no qual estão envolvidos os municípios e as entidades técnicas e científicas uma verdadeira luta contra esta praga, luta essa que consiste na instalação do Torymus um pouco por todo o lado onde exista a vespa.
No caso especial do concelho de Penedono, além das responsabilidades nacionais que já referi, temos a responsabilidade, delegada pelo Municipio de Penedono, de fazer a definição dos pontos de largada e coordenar o trabalho a realizar com as diversas autoridades envolvidas, responsabilidade que a Coopenela tem colocado no nosso colaborador Rui Droga, coordenador da nossa Organização de Produtores de Frutos de Casca Rija. Uma nota para explicar que as instruções que a Coopenela tem recebido do Município de Penedono e do seu presidente Carlos Esteves de Carvalho são bem claras no sentido de se promover o lançamento de todas as largadas de Torymus que façam sentido do ponto de vista técnico, não colocando em nenhum momento qualquer restrição financeira ou operacional, isto porque o município de Penedono tem assumido o custo de todas as largadas já realizadas e deu instruções para assumir todas as que seja necessário efetuar no concelho. Conscientes desta situação, a Coopenela tem vindo a levantar pontos de largada desde 2014, no ano em que pela primeira vez em Portugal esta praga. Este ano e apesar de fortes constrangimentos por causa do COVID 19, foi possível levantar 30 pontos de lançamento, viáveis do ponto de vista técnico, e mais 5 que foi possível ainda acrescentar no momento em que, pela primeira vez (à cerca de 15 dias) nos apercebemos que a variedade Martaínha, este ano, também estava a ser atacada o que não ocorreu nos anos anteriores, pelo menos com intensidade como este ano. O “Torymus” é produzido especificamente em
> Mapa do Concelho de Penedono, com ilustração das largadas realizadas e disseminação pelo território considerando o voo de 500 metros realizados no primeiro ano pelo inseto.
> Pormenor das largadas em Penedono e Castainço, Penedono > A são largadas em 2017, B em 2018, C em 2019 e D em 2020
função das encomendas, normalmente planeando-se as largadas com cerca de 6 a 8 meses de antecedência para que possam ser desenvolvidos. No caso deste ano, quando fizemos os primeiros levantamentos no concelho e ainda em 2019, não era de prever que o ataque seria tão forte e, mesmo assim, ainda se conseguiram algumas larga-
das adicionais. Com as 35 largadas que vão ser feitas passamos a ter em Penedono 83 pontos em que foram colocados milhares de insetos. Os estudos de implantação do “Torymus” que já se conhecem indicam que este inseto está a ser instalado na região e o facto de haver, como
> Pormenor das largadas em Penela da Beira, Póvoa e Souto, Penedono > A são largadas em 2017, B em 2018, C em 2019 e D em 2020
> Pormenor das largadas em Antas e Beselga, Penedono > A são largadas em 2017, B em 2018, C em 2019 e D em 2020
este ano, um grau de infestação maior, apesar de tudo, é bom para que este inseto que “come” as larvas do outro se espalhe mais facilmente. Claro que os agricultores ficam preocupados com esta praga. E têm a tendência para reagir imediatamente havendo até casos de castanheiros cortados e de aplicação de in-
seticidas. Pedimos encarecidamente para não fazerem isso. Pensem que cada uma das vespas das galhas é comida para alimentar o Torymus e promover a sua melhor instalação. O castanheiro pode sofrer durante algum tempo, pode haver até mesmo alguma quebra de produção, mas com a instalação do Torymus vai haver uma ataque efetivo à Vespa das galhas, isto se o castanheiro não
tiver sido cortado ou não estiver infestado de inseticidas inúteis pois no momento da sua visualização já não é possível impedir a propagação. Ainda no que respeita ao concelho de Penedono, contata-se que há uma excelente cobertura proporcionada pelas 83 largadas já efetuadas, pois sabemos que o Torymus consegue viajar cerca de 500 a 2,000 metros e, como se pode constatar no mapa que publicamos, praticamente todo o concelho de Penedono onde há castanheiros foi já objeto de lançamentos do Torymus, que cobrem atualmente a maior parte da região. Não significa com isto que temos o problema resolvido. Ou que as sementes que lançamos são suficientes. O que foi feito foi o melhor que era possível fazer nas circunstâncias em que estamos, e disso eu e a administração da Coopenela não temos qualquer dúvida. Agora há que preparar, desde já, os lançamentos de 2021, que devem por um lado incluir os soutos infetados este ano e por outro lado procurar manchas menos cobertas no mapa que se publica. Pela proteção do castanheiro e pela castanha a Coopenela dirá sempre presente. Pela nossa região temos consciência que tudo foi feito, particularmente no concelho de Penedono, para proteger as arvores e os frutos. Pedimos que os agricultores nos ajudem a espalhar o Torymus, permitindo que as arvores infetadas possam recebe-lo, pois esta é a única maneira de controlar e diminuir os efeitos da Vespa das Galhas do Castanheiro. Estamos juntos. Cooperativa, Município, Agricultores, autarcas, técnicos, gestores e todas as pessoas interessadas na região, no castanheiro e na castanha. Todos juntos contra esta praga. E juntos venceremos.
> Os castiçais e outras variedades eram muito mais afetados que os castanheiros Martaínha.
> Pormenor da galha da Vespa das Galhas do Castanheiro “Dryocosmus kuriphilus”
> Os insetos Torymus sinensis prontos para ser largados. Cada largada tem 10 tubos e cada tubo quase 200 insetos.
> Rui Droga (Coopenela) e Carlos Esteves de Carvalho (Presidente da Camara Municipal de Penedono) preparam os tubos com o inseto Torymus sinensis para uma das 35 largadas realizadas em Penedono.
> A colocação nas árvores infetadas garante a propagação do inseto Torymus no local onde vai conseguir instalar-se.
> O Vice Presidente da Coopenela, José Fernando Pereira também ajudou e espalhou alguns insetos.
> O Vereador da Camara Municipal de Penedono Luis Melfe também ajudou a colocar o Torymus.
Vespa das Galhas do Castanheiro 2017-2020 Penedono
Rui Droga A Vespa das Galhas do Castanheiro (Dryocosmus kuriphilus) é uma praga que causa avultados prejuízos à produção da castanha e de mel, caracterizando-se pelo aparecimento de protuberâncias nas folhas e ao longo dos ramos, vulgarmente designadas por galhas, atrasando o desenvolvimento da árvore e consequentemente a diminuição da produção. A única forma de combate a esta praga é a luta biológica com o parasitoide Torymus sinensis. O parasitoide é um inseto micro-himenóptero que depende exclusivamente da vespa das galhas do castanheiro. O parasitoide tem apenas uma geração por ano, sincronizada com a da vespa das galhas e com o início do desenvolvimento da maior parte das variedades de castanheiro. Dados de 2006, indicam que Penedono tem aproximadamente 867ha de souto de castanheiros. Sabe-se que a castanha é a maior fonte de rendimento de todo o concelho, desta forma considera-se que o aparecimento desta praga pode ser catastrófico para a sustentabilidade da população. Nesse sentido tem sido, desde a primeira hora, desenvolvido um trabalho conjunto do Município de Penedono e da Coopenela, na prospeção e na luta biológica. Desde 2014 que os técnicos da Coopenela têm realizado prospeções no terreno em todo o concelho, sabendo sempre que há dificuldades em percorrer todo o território de castanheiros, contando também com as informações dadas pelos agricultores. Em 2017 foram realizadas apenas duas largadas uma vez que apenas nesse ano foi detetada a presença da vespa das galhas e porque a variedade Martaínha tem-se mostrado resistente à praga e por este motivo o produtor não a identificou atempadamente. Foram realizadas várias sessões de esclarecimento aos proprietários/ produtores para dar a conhecer a praga e para esclarecer os procedimentos a tomar. Por esse motivo, em 2018, os relatos de aparecimento da vespa foram surgindo em maior número, também a prospeção foi mais intensa. Solicitaram-se, em novembro de 2017, 10 largadas para o ano de 2018,
número que se verificou ser insuficiente acabando por serem realizadas 16 largadas. No ano de 2019, verificou-se uma alteração de comportamento do aparecimento da vespa, registando-se a presença em castanheiros de variedade Martaínha, embora com nível de ataque reduzido face a variedades mais suscetíveis como a Longal, Marigoule, Marsol, Judia, etc. Perante estes novos acontecimentos, os agricultores mostraram-se mais atentos e preocupados, colaborando mais nas prospeções reportando mais informações aos técnicos sobre a presença da vespa. Foram previstas 30 largadas para o concelho de Penedono, tendo em conta os aumentos graduais de infestação dos anos anteriores. As largadas foram realizadas durante o mês de maio, de forma faseada e de acordo com o estado de desenvolvimento vegetativo do castanheiro e da galha, sendo que na primeira semana se realizaram 6 largadas, na segunda semana 6 largadas, na terceira semana 10 largadas e na última semana 8 largadas. O ataque da vespa está generalizado por todo o concelho dessa forma também as largadas estão distribuídas pelo concelho, sabendo que em algumas freguesias a cultura do castanheiro está mais presente e/ou as variedades existentes são mais suscetíveis. Com a preocupação de proteger a produção de castanha, e principalmente a variedade Martaínha, o município e seu Presidente, juntamente com os técnicos, ainda em 2019, solicitaram á REFcast e á DRAPNorte, que para o município de Penedono e para o ano de 2020, não se iria baixar a guarda e como tal foram pedidas 30 largadas. Já em 2020, e no trabalho de prospeção da vespa o que foi verificado em anos anteriores intensificou-se muito mais, principalmente na variedade Martaínha, que até então mostrava-se menos atacada pela Vespa das Galhas. Foram realizadas prospeções em todo o concelho, e nos locais onde os sintomas da presença da Praga são mais visíveis, foram pré-selecionados para assim se realizar as devidas largadas, isto ainda antes dos castanheiros iniciarem o seu ciclo vegetativo. O trabalho de prospeção é continuo, os registos são atualizados de forma constante, de forma que de possamos fazer a previsão de largadas para esse ano e seguintes. Desde abril e ainda em período de Estado de Emergência Nacional, que para o combate da Vespa o município de a Coopenela acharam que também era de emergência e como tal os técnicos andaram no terreno para observar, e melhor
localizar as largadas deste ano. Verificou-se que nos soutos de variedade Martaínha, tem surgido novas infestações, certamente esta luta não ficará por este ano. Contudo é importante referir, que a preocupação desde 2016 é proteger a castanha no seu todo mas mais a que tem maior valor a Martaínha, mas para que fosse possível instalar a luta biológica com recurso a largadas de parasitoides Torymus Sinnensis, tínhamos que escolher locais, que respeitassem as recomendações da Comissão Nacional de proteção contra a Vespa das Galhas do Castanheiro, e assim tivemos que optar logo em 2017 nos primeiros focos onde já existia um numero suficiente de galhas para que o parasitoide se possa estabelecer. Esses locais até á data tem sido em variedades como a Longal, Carreiró, Rebola, Judia, Bravos e outras variedades, mas sempre numa ótica de que tivessem relativamente próximas de soutos de variedade martaínha. Infelizmente, talvez para o ano teremos que equacionar fazer as largadas mesmo no seio de soutos na variedade Martaínha. Sabendo que o Município e o seu Presidente, Dr. Carlos Esteves, estão desde a primeira hora empenhados em lutar pela produtividade dos Soutos de Penedono, certamente iram continuar a investir nesta luta ajudando todos os produtores, com a aquisição de mais largadas para 2021, e á apoiar o trabalho de prospeção e identificação dos problemas do castanheiro. Como é evidente esta luta não é de uma batalha só, é preciso muita persistência e crença no trabalho que tem sido desenvolvido e que se continua a desenvolver, e é este o caminho mais correto, pois estamos a levar a cabo o que está preconizado para o combate á Vespa no Mundo Inteiro. Mas para que este trabalho dê
> Um pormenor do lançamento do Torymus, numa árvore muito atacada.
resultados mais cedo e com mais eficácia, tem que os produtores ajudar, como? Fertilizando, os soutos, dando ao castanheiro e a esta cultura, mais nutrientes, através de aplicação de matéria Orgânica, adubos organominerais, bio estimulantes, pois assim o castanheiro terá melhores crescimentos e resistirá melhor ao ataque da vespa da Galha dos castanheiros. A vespa da Galha faz posturas nos gomos até agosto, se o castanheiro estiver bem nutrido ou fertilizado, irá continuar a crescer até setembro e os gomos emitidos nesse período não serão atacados, como tal no início do ano seguinte teremos gomos saudáveis e que podem continuar a produzir folhas e frutos. O souto com coberto vegetal tem melhores condições para a instalação das largadas. Histórico de largadas 2017- 2; 201816; 2019-30; 2020 -35; Esta é uma lutas de todos, vamos todos conseguir.
> Cada ponto de lançamento é marcado através de localização GPS numa aplicação própria e referenciado para que as autoridades saibam onde ocorreram. No terreno é marcada uma arvore com um T de Torymus e a informação do ano do lançamento. E o COVID 19 também pode andar por aí, por isso os técnicos Coopenela Rui Droga e Igor Nora estão bem protegidos.
A Coopenela e a Pandemia
João Pedro Ninguém estava preparado para uma situação tão extraordinária como foi o surgimento desta pandemia, que apanhou o nosso país e que se disseminou rapidamente por todo o Mundo. Infelizmente, esta situação atingiu a todos sem exceção. Se, em termos pessoais e familiares, têm sido tempos muitos difíceis, angustiantes, receosos e até desesperantes, as empresas que vivem em função
das pessoas, das suas relações e confiança, foram abaladas de forma sísmica. Muitas tiveram que encerrar e não se sabe quando, ou se vão voltar novamente à atividade. A Coopenela, com muito esforço de todos, conseguiu manter a sua atividade neste período tão difícil. Implementou algumas mudanças obrigatórias no atendimento, no funcionamento e no relacionamento entre todos, mas conseguiu realizar a venda de bens e a prestação de vários serviços que eram efetuados numa situação de normalidade. Mesmo as operações de preparação, embalamento e comercialização de alguns produtos que foram entregues pelos nossos associados, foram mantidas, apesar de todos os constrangimentos. Nes-
te período com muitas limitações, fomos capazes de continuar ao lado de todos e principalmente ao lado dos nossos associados, fizemos o possível para estarmos à altura da responsabilidade social que também temos. E o futuro? É incerto, mas estamos cá para continuar a fazer o que estiver ao nosso alcance, nestes tempos conturbados e imprevisíveis que vamos continuar a viver. Estamos a realizar e a preparar novas adaptações e alterações que permitam uma maior segurança entre todos os colaboradores e diretores, e entre todos os clientes e fornecedores que nos visitem. Esta crise vai ter fortes impactos nos mercados de todos os produtos, e os produtos que trabalhamos
Medidas no combate ao Cancro do Castanheiro
Igor Nora A doença epidémica cancro do castanheiro (Castanea sativa Mill.) surge em Portugal nos meados do ano de 1989. Está doença abrange todas as regiões de castanheiro do país, com maior ou menor incidência e extensão da doença. A dispersão natural do parasita e a permanência dos focos de infeção nos soutos e as práticas culturais associadas à enxertia e à poda constituem fatores que potenciam e agravam a situação. Deste modo, recorremos a meios de tratamento disponíveis, que nos ajudam no combate e na desaceleração da doença, sendo elas, - A extirpação do cancro consiste em retirar da árvore todos os tecidos doentes, até ao aparecimento de tecidos sãos para garantir que não ficam na árvore propágulos que ajudam na propagação da doença. A depender
da gravidade da situação o método pode ser muito laborioso e pouco eficaz colocando o castanheiro numa situação de grande fragilidade e provocando graves prejuízos. É necessário queimar os tecidos retirados da árvore, proteger a zona de corte com pasta fungicida (Pasta à base de cobre) e proceder desinfeção das ferramentas após o corte. -A luta biológica para o tratamento do Cancro do Castanheiro é um método seletivo e eficaz, baseado no conhecimento da população do agente patogénico e do ecossistema castanheiro. Estudos de investigação e desenvolvimento experimental financiados pela FCT e programa PRODER permitiram obter um bio produto (DICTIS) específico para o tratamento do Cancro do Castanheiro em Portugal que obteve autorização de aplicação pelo Ministério de Agricultura (DGAV – entidade oficial que autoriza a utilização de produtos para o tratamento de plantas) na região da DRAPNorte e DRAPAlentejo. É aplicado nos cancros ativos existentes nos ramos e troncos do castanheiro e nunca como tratamento preventivo. Pode ser aplicado durante todo o período de atividade fisiológica do castanhei-
ro (abril a novembro), e não podem ser aplicados outros produtos (cobre, lixivia, etc) depois da sua aplicação. Evidenciam a eficácia muito elevada do tratamento. Para controlar a doença de forma eficaz e duradoura é necessário avaliar as aplicações no final do primeiro ano para identificar não só os casos de falta de eficácia associados ao método de aplicação (dada a grande extensão dos cancros existentes), mas também identificar os casos de falta de eficácia associados á estrutura populacional do fungo e identificar a presença de novos cancros que entretanto se tornaram visualmente evidentes. Com o tempo o cancro cicatriza completamente. Para mais informações ou aquisição do DICTIS contate-nos ou dirija-se as nossas instalações.
também vão ser afetados. Estamos preocupados, mas ao mesmo tempo temos a vontade e a ambição de encontrar novas alternativas e oportunidades para melhorar o processamento e a comercialização de todos os produtos que vão ser entregues pelos nossos associados, na próxima campanha. Não estamos parados com os “braços cruzados”, estamos a trabalhar todos os dias para atingirmos esses objetivos. Essa é nossa estratégia e o nosso espírito, podem contar sempre com a Coopenela! “A perseverança e a força de vontade têm efeitos mágicos na superação das dificuldades da vida. Quem supera, vence.” – Lourdes Duarte
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Carrazeda de Ansiães
Município entrega Bolsas de Estudo no valor de 13 000 euros a estudantes do Ensino Superior e Secundário Foram entregues esta semana as Bolsas de Estudo referentes do ano letivo 2019/2020, estes apoios têm o valor unitário de 877 euros e correspondem a 50% da prestação de referência por estes alunos já usufruírem de outros bolsas de estudos ou apoios sociais. Das 15 bolsas de estudo concedidas, 5 são para alunos que frequentam o ensino secundário e 10 para o ensino superior e correspondem a um valor global de apoio na ordem dos 13.155 euros. A atribuição das bolsas de estudo está
inserida nos apoios sociais concedidos pelo Município de Carrazeda a famílias com menores recursos económicos sendo um instrumento indispensável para promover e potenciar o aproveitamento escolar dos jovens residentes no concelho e esbater as desigualdades sociais no acesso ao ensino secundário e superior. A sua atribuição encontra-se instituída pelo Regulamento Municipal de Atribuição das Bolsas de Estudo que define as regras e condições de acesso a este apoio económico. ▪
Câmara Municipal iniciou o combate biológico à Vespa das galhas dos Castanheiros Na passada semana, pela primeira vez, o município de Carrazeda de Ansiães iniciou o combate biológico à vespa das galhas dos castanheiros com a realização de várias largadas de parasitoides, nas áreas mais afetadas. Os parasitoides são insetos que se alimentam das larvas que estão nos castanheiros tendo desta forma capacidade para exterminar a vespa.
As largadas foram realizadas de acordo com o levantamento efetuado no ano passado que incidiu com particular atenção nas freguesias em que há uma maior predominância da espécie. No terreno estiveram técnicos da Câmara Municipal, nomeadamente o Gabinete Técnico Florestal, um técnico do Ministério da Agricultura e ainda um
técnico da REFCAST - Associação Portuguesa da Castanha, que forneceu os parasitóides. Brevemente, o município irá realizar novos levantamentos no sentido de detetar mais zonas que possam estar contaminadas agindo desta forma atempadamente para proteger um maior número de explorações de castanha. ▪
Autarquia lança “Programa de Emergência Alimentar + Próximo Carrazeda de Ansiães” A Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, em reunião de 30 de abril de 2020, aprovou uma nova medida de apoio social denominada “Programa de Emergência Alimentar + Próximo Carrazeda de Ansiães”. Com esta iniciativa a autarquia procura acorrer às situações de quebra temporária dos rendimentos familiares, por efeitos da pandemia do COVID-19. O novo programa de emergência alimentar permitirá a entrega de Kits alimentares ou, em alguns casos específicos, refeições confecionadas, a pessoas ou agregados familiares cujos rendimentos per capita sejam inferiores a 60% do Indexante dos Apoios Sociais - sejam inferiores a 263,29 €.
O apoio será prestado através do fornecimento de alimentos adquiridos diretamente pelo Município, com o valor de referência de € 100 / mês por cada membro do agregado familiar, sendo válido pelo período de dois meses, podendo ser renovado, uma vez, por igual período. Os munícipes poderão aceder a este apoio mediante o preenchimento de um formulário disponibilizado no site da autarquia ou com recurso à Linha de Apoio Social – 278 699 813. Os Serviços de Ação Social do Município irão articular com as restantes entidades da Rede Social, de modo a que não se verifiquem situações de duplicação de apoios. ▪
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Vila Real
Investimento de 6M€ para uma UTAD mais verde e digital No total são cerca de 6 Milhões de Euros (3 M€ no POSEUR Programa de Eficiência Energética - e cerca de 3 M€ na intervenção da construção de uma ciclovia de cerca 7 Km enquadrado no PEDU), que estão a ser investidos na UTAD com o objetivo de tornar o campus da universidade mais eficiente energeticamente apostando ainda na mobilidade e na digitalização. A nossa reportagem foi conhecer o que está a mudar na universidade transmontana na companhia do reitor,AntónioFontainhasFernandes. Texto e fotos: Carlos Almeida
O dia solarengo convida a um passeio pelo campos onde, numa altura de pandemia e sem alunos, abundam as máquinas e os trabalhadores que um pouco por todo o lado vão dando forma a uma “nova” universidade. Rasgam-se passeios e estradas para dar lugar a ciclovias, criam-se novos acessos para reduzir distâncias entre os diferentes edifícios que compõe o campus, dando forma ao dizer popular, “depois da tempestade vem a bonança”. Fontainhas Fernandes recebe-nos junto à entrada da reitoria, depois do cumprimento inicial a primeira infor-
mação a destacar “estes homens estão a carregar as luminárias que trocamos, são cerca de 12 mil, agora a iluminação interior dos edifícios é toda LED. Também já tiramos todo o fibrocimento do telhado dos edifícios, ao todo foram 35 mil m2 que agora deram lugar cerca de 900 painéis fotovoltaicos”. Após as primeiras palavras trocadas surge o convite, “vamos dar uma volta pelo campus para ver o que estamos a fazer”. No final o regresso ao edifício da reitoria onde já mais calmamente conversamos um pouco. De uma forma geral, quais são as principais intervenções que estão a ser feitas e qual o objetivo das mesmas? Ao longo dos últimos anos, a UTAD implementou um plano de ordenamento do campus, privilegiando a partilha de espaços letivos, de investigação e de serviços, enquanto a área de residências se concentra no centro da cidade. Todas as intervenções efetuadas no campus mantêm preocupações de natureza ambiental, de acordo com o compromisso de criar um eco campus. Neste domínio, merece relevância o programa de eficiência energética que está em fase de conclusão e vai permitir a redução de gases em 70% e, mais recentemente a requalificação dos campus e a construção de uma ecovia de cerca de 7Km, que vai estar conectada com o centro da cidade, ao abrigo do plano estratégico de desenvolvimento urbano (PEDU) da cidade de Vila Real. Indubitavelmente, o PEDU prevê uma profunda intervenção na cidade e nas vias de acesso à Universidade, bem
como a intervenção no campus destinada a melhorar a gestão de tráfego automóvel, privilegiar a circulação por bicicleta e pedonal, mediante a criação de trilhos pedonais nas zonas com maior circulação de pessoas. O projeto irá aproximar o centro da cidade e a área residencial ao campus, reabilitando o antigo canal ferroviário, passando pelas residências de Codessais e o Parque Residencial Além-Rio. Estando neste momento as aulas interrompidas devido à pandemia Covid-19, esta situação acelerou as intervenções ou, por outro lado, levou a um atraso das mesmas? No caso da eficiência energética a intervenção foi efetuada no tempo programado, enquanto nas intervenções do campus a diminuição de trânsito permite recuperar o atraso no início da intervenção. Todas estas mudanças que agora se verificam podemos assumi-las como um legado da sua passagem pela reitoria da UTAD, agora que está no último ano no cargo? As intervenções no campus interpretam o legado da Universidade, em que o Jardim Botânico tem acompanhado sempre a requalificação dos edifícios e privilegiado a “devolução” à academia de espaços ao ar livre, pensados para o estudo, convívio e repouso, cujo acesso estava antes condicionado. Mais recentemente, a aposta na criação de um ecocampus é um desafio de toda a
Universidade, que vai além destes dois últimos mandatos. Efetivamente, o próximo reitor deverá concluir esta intervenção e dar continuidade a um sentimento coletivo da academia, partilhado com a cidade. É correto afirmar que todas estas mudanças que agora acontecem colocam a UTAD como uma universidade do futuro? Estas mudanças ambicionam transformar o campus num laboratório experimental vivo e evolutivo, o que exige soluções inteligentes, pensadas à luz do conceito de “smart cities”, que respeitem a identidade da Universidade e a sua imagem de marca associada ao Jardim Botânico, mantendo formatos inovadores de convívio, de interatividade, de lazer, que estimulem estilos de vida saudáveis. Um projeto financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) permite que ainda este ano, seja reforçada a conetividade na UTAD, incluindo nas áreas exteriores do campus. O campus deve ser interpretado com base nos desafios da Universidade Digital, reforçando trajetórias de modernização da Universidade com competências digitais no ensino, investigação, gestão e nas diversas práticas do quotidiano. Neste sentido, é vital concluir o programa de desmaterialização da Universidade, capacitando-a com tecnologias e infraestruturas de virtualização para otimizar a utilização de plataformas digitais de gestão corrente. ▪
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Alijó
35 costureiras voluntárias do Concelho vão fazer máscaras sociais Um grupo de 35 costureiras voluntariaram-se para fazer máscaras sociais a partir de tecidos 100% algodão, linhas e elásticos, adquiridos pelo Município de Alijó. Estas máscaras sociais serão depois disponibilizadas à população do Concelho.
soas. Esta é mais uma medida nesse sentido, porque não podemos facilitar na luta contra esta pandemia”, sublinhou José Paredes. A Vereadora da Ação Social, Mafalda Mendes, congratulou-se com a forte adesão a este projeto de voluntariado,
que teve origem no Atelier Solidário de Costura da Universidade Sénior de Alijó. “Esta é a prova de que todos podemos fazer a diferença”, frisou Mafalda Mendes. O projeto contou com a colaboração das Juntas de Freguesia, sendo que a
Junta de Alijó contribuiu com a aquisição de materiais. Em paralelo, o Município também já adquiriu e aguarda a entrega de máscaras sociais certificadas que irá disponibilizar a todos os munícipes e aos alunos do Concelho que vão ter aulas presenciais. ▪
As costureiras foram recebidas, no início desta semana, nos Paços do Concelho. Durante a sessão, o Presidente da Câmara Municipal, José Paredes, agradeceu a disponibilidade e o esforço de todas as voluntárias, cujo gesto vai ajudar a ultrapassar o momento difícil que se abateu por todo o mundo. “Temos investido tudo o que nos é possível na saúde e na vida das pes-
Câmara continua a investir na prevenção de incêndios florestais O Município de Alijó continua a trabalhar na prevenção e preparação da próxima época de incêndios florestais através da criação e limpeza de faixas de gestão de combustível. Estes trabalhos arrancaram no fim do verão de 2019 e resultam de um investimento global de cerca de 240 mil euros. A instalação de faixas de gestão de combustível na Rede Primária do Concelho resultou da apresentação de duas candidaturas. A primeira, no valor global de cerca de 110 mil euros, centrou-se nas freguesias de Vila Verde e Pópulo. Os trabalhos incluíram o controlo da vegetação espontânea, redução de densidades, podas ou desramações, perfazendo uma área total intervencionada de 69 hectares.
Esta candidatura teve também como objetivo a atualização da informação cartográfica, indispensável à planificação de defesa da floresta contra incêndios (DFCI), na elaboração da cartografia de perigosidade e risco de incêndio florestal e outros instrumentos de ordenamento do território do Concelho de Alijó. Uma segunda candidatura, no valor de 53.352,64€ permitirá a instalação de faixa de gestão de combustível na Rede Primária na Senhora da Cunha. Está prevista a intervenção numa área total de 49,527 hectares, na freguesia de São Mamede de Ribatua e na União de Freguesias de Carlão e Amieiro. O objetivo destas intervenções é garantir a transitabilidade dos veículos de combate ao longo da sua extensão, diminuir a superfície percorrida por grandes incêndios, reduzir a passagem de incêndios e isolar potenciais focos de ignição de incêndios. Em relação à Rede Secundária, o Município de Alijó investiu 76.450,00€ na limpeza de bermas da rede viária municipal, numa área total de 75,86 hecta-
res. Estas faixas de gestão de combustível são da responsabilidade da Câmara Municipal, entidade gestora da infraestrutura. Os locais de intervenção incluem o cruzamento da N212 até Vale de Cunho até cruzamento Murça; a M580, entre Pegarinhos e Alto de Pegarinhos; a M581, entre o Nó IC5 e Santa Eugénia (M594), entre Pegarinhos (CM1284) e Cruzamento Murça (CM1285), entre Santa Eugénia e Martim, entre Santa Eugénia e Carlão, entre Caldas Carlão e Carlão; a M582, entre São Mamede Ribatua,
Safres, Amieiro, Franzilhal e Carlão; e a M596, entre Carlão, Casas da Serra e Chã. Os objetivos da Rede Secundária é a redução dos efeitos da passagem de incêndios, protegendo de forma passiva vias de comunicação, infraestruturas e equipamentos sociais, zonas edificadas e povoamentos florestais de valor especial, e o isolamento de potenciais focos de ignição de incêndios. Adicionalmente, o Município de Alijó também procedeu à manutenção em 60 quilómetros de estradas florestais. ▪
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Domingos Nascimento Presidente da Agência Social do Douro
Douro - CoVid Free! Território saudável! Estamos num desafio completamente novo. Numa realidade não prevista. Uma circunstância global. O Douro está em grande esforço para se segurar nas pernas. A estrutura empresarial produtiva mais relevante é vinha, vinho, a fruta, o azeite. A estrutura empresarial de serviços mais relevante é o turismo. Interno e externo. Estas são as pernas do grande Douro. Não me lembro de outras com idêntica relevância. Quanto à vinha, a produção não será aparentemente condicionada. Quanto ao vinho, a comercialização vai certamente sofrer uma quebra com muito significado. Mas gradualmente recuperará. A fruta, se a produção não parece vir a ter problemas, a apanha e a comercialização podem ser algo complexas. Mas acredito que não de forma muito grave. Quanto ao Turismo, depois deste impacto violento, será o Douro a região que mais rapidamente poderá retomar com êxito. As características de uma parte significativa do alojamento e dos produtos de visita, permitirão segurança sanitária garantida. Isso fará toda a diferença. O Grande Douro é neste momento território livre de CoVid 19. A demografia, a geografia no seu todo, os fluxos, o comportamento das pessoas, das Instituições, das autoridades de segurança, das da saúde, e muito o papel das Autarquias, estamos a conseguir manter este território como um lugar saudável. Ando há anos a falar na saúde e na humanização como as grandes bandeiras da diferenciação. Ora, estamos no ponto histórico em que isso é claríssimo. Também há vários anos que os municípios elegeram a qualidade de vida como a grande opção estratégica. Vivemos num território único para agarrar o novo futuro que vai nascer. Afinando-se a rede de saúde e de apoio social, que é de simples concretização, o Grande Douro será centralidade da vida com elevado nível de segurança sanitária e do bem estar. Concluo deixando aquela visão nem sempre muito compreendida. O Grande Douro é um território de três extraordinárias cidades. A cidade do Douro Sul, a cidade do Douro Norte e a cidade do Douro Superior. Cidades conceptuais e simbólicas. Cidades de Aldeias, vilas e cidades. Três, porque seria uma perda não aproveitarmos a homogeneidade que estas zonas geográficas já são. Permitindo uma escala útil e competitiva. E, em tantas coisas da vida, e são mesmo muitas, estas três cidades são todos os dias, o Grande Douro. Unidos. Em partilha, sem perdermos autonomia nem identidade. Com a força de cada um dos municípios, com a coesão trabalhada no âmbito da nossa CIM Douro- Comunidade Intermunicipal, numa liderança já ela partilhada, assertiva e inspiradora, saberemos, “apanhar o comboio”!
Filipa Farelo Coordenadora das Relações Institucionais da CASES
Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio 2020. Um caminho. Criado pela CASES em 2012, coincidindo, não por acaso, com o Ano Internacional da Cooperativas, este prémio anual veio dar corpo ao necessário reconhecimento dos trabalhos desenvolvidos no perímetro da Economia Social em Portugal. O seu nome advém dos valores basilares do setor da Economia Social, a Cooperação e a Solidariedade, e de um dos expoentes máximos da sua defesa em Portugal, António Sérgio: filósofo, pedagogo, ensaísta, cooperativista (entre tantos outros predicativos) e também o patrono da CASES. Desde o primeiro ano que o Prémio tem tido a preocupação de chegar não apenas às entidades da Economia Social, mas a toda a sociedade, como demonstram as diversas categorias que o integram e que têm vindo a crescer e a diversificar-se. Acreditamos que apenas integrando e divulgando a Economia Social num contexto maior lhe poderemos dar a projeção e importância devidas, e este é também um dos objetivos deste Prémio. O Prémio começou, nos primeiros anos, pelas categorias de Boas Práticas, Estudos e Investigação e Trabalhos Escolares, sendo aqui de salientar a opção, desde o início, por uma categoria que incluísse o ensino básico e secundário, promovendo os ideais sergianos de educação cívica e premiando a cidadania e autonomia dos alunos. Foi o início de um caminho. Foram depois integradas, nos anos seguintes, a categoria de Formação Pós-Graduada, numa adaptação à crescente oferta académica nesta área, e a categoria Prémio de Honra Personalidade da Economia Social, com intenção de honrar as pessoas individuais que pela sua dedicação, muitas vezes de uma vida inteira, são parte fundamental deste universo. O caminho continuou. Também por esta altura foram estabelecidas parcerias com o Plano Nacional de Formação Financeira e com a Portugal Inovação Social. Esta cooperação tem sido um instrumento valioso, tanto na interpretação dos projetos que se candidatam, como no alargamento dos públicos que se familiarizam e integram o significado de Economia Social - é preciso não esquecer que, por vezes, até os próprios atores do setor não se reconhecem conceptualmente enquanto tal. Aqui o caminho continua a ser feito. Nos últimos anos o prémio conseguiu chegar mais longe, pela criação das categorias de Trabalhos Jornalísticos - o que lhe permitiu uma projeção junto de outros segmentos da sociedade - e, a estrear este ano, Estudos e Investigação na Lusofonia, que alargará ainda mais o seu campo de ação, transportando-o, assim o esperamos, para fora de Portugal. O caminho está a ser projetado por terra, ar e mar. Em síntese, foi assim que decorreram já oito edições deste Prémio, o qual, ao longo da sua existência, recebeu 470 candidaturas e atribuiu 49 prémios e 23 menções honrosas a uma multiplicidade de entidades: associações, cooperativas, fundações, misericórdias, mutualidades, autarquias, investigadores, autores, estudantes, escolas, personalidades de reconhecido mérito, instituições de ensino superior e jornalistas, de norte a sul do país e nas regiões autónomas. Olhamos para trás e vemos que um caminho sólido foi percorrido. O período de candidaturas da 9.ª edição começa no dia 1 de junho. Considerando as circunstâncias extraordinárias em que vivemos, esperamos que o Prémio se mostre este ano igualmente vivo e dinâmico, permitindo dar voz à Economia Social e aos seus valores, neste momento em que ela é tão fundamental. E que possa o caminho continuar a fazer-se.
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Vila Real
Investigadora da UTAD identifica tratamento que diminui rachamento da cereja Sofia Correia, membro integrado do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), investigou estratégias inovadoras em pré e pós-colheita no incremento da qualidade da cereja Sweetheart, no Norte de Portugal. Os resultados mostraram uma “redução do rachamento do fruto em 50%”. A metodologia consistiu em repetidas pulverizações de cálcio, e cálcio conjugado com outras substâncias tendo os “tratamentos foliares reduzido o rachamento”, e sido “menor” nos frutos “tratados com cálcio conjugado com ácido abscísico e glicina-betaína, sobretudo o rachamento do tipo lateral”, explicou a
investigadora. Este tipo de rachamento afeta normalmente grande parte do volume da cereja, o que representa um aspeto importante na rejeição do fruto por parte do consumidor, pelo que, há necessidade de produzir frutos de grande qualidade, devido à elevada importância económica da cereja. Assim, as aplicações com ácido abscísico e glicina-betaína em associação com cálcio, “aumentaram o teor de ceras solúveis e espessura da cutícula e das células da epiderme dos frutos”, tendo sido verificado que, durante a fase de amadurecimento, “frutos com células da epiderme, hipoderme e parênquima de maior dimensão apresentaram uma menor incidência ao rachamento, o que indica a importância da flexibilidade e elasticidade da epiderme”, salienta Sofia Correia. A investigadora destaca ainda que os compostos aplicados não afetam as características organolépticas (textura/sabor) e melhoram o aspeto visual do fruto. E, uma vez que estes compostos têm preços acessíveis, são ferramentas que podem ser facilmente adotadas pelos produtores de cereja.
Outra conclusão deste estudo é o aumento do calibre, em 20%, na cereja tratada com glicina-betaína e cálcio, o que representa um impacto “muito positivo para os produtores”. Os resultados desta investigação estão publicados no Journal of the Science of Food and Agriculture disponível em hwww.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32034777 e integram uma tese de doutora-
mento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Programa Doutoral “Cadeias de Produção Agrícola – da mesa ao campo” e intitulada Pre and postharvest innovative strategies to enhance cherry quality com orientação das docentes da UTAD, Berta Gonçalves e Ana Paula Silva, e de RobSchouten, da Universidade de Wageningen, Países Baixos. ▪ PUB
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Reportagem
Setor vitivinícola pede medidas “urgentes” A ideia é unânime aos diferentes atores da região, a Covid-19 vai deixar marcas profundas na vitivinicultura do Douro com o pico da crise a ser esperado para a próxima vindima. Quebras nas exportações e a inexistência do turismo que dinamiza o consumo interno não permitem escoamento de stock. Texto e fotos: Carlos Almeida Se diretamente a pandemia Covid-19 já trouxe algumas limitações aos trabalhos agrícolas que podem ter implicações nas vinhas, também de uma forma indireta esta pandemia tem vindo a afetar o setor, deixando todos apreensivos quanto ao futuro mais imediato. As exportações estão paradas, provocando quebras substanciais nas vendas dos vinhos do Porto e Douro. O turismo é nesta altura inexistente e a restauração está fechada, o que também provoca uma descida “acentuada”, afirmam muitos, no consumo interno. A confirmação das quebras é dada por Gilberto Igrejas, o presidente do IVDP afirma, à nossa reportagem, que só no 1º trimestre de 2020 há “decréscimo de cerca de 9% nas vendas de vinhos da região, em comparação com o período homólogo do ano anterior”, o presidente do instituto regulador do setor na região afirma ainda que “o mercado nacional foi fortemente penalizado pelo encerramento do canal HORECA e pela ausência de turismo. O decréscimo que referi resulta, naturalmente, de diminuições mais acentuadas nas vendas no mercado nacional (um pouco acima dos 14%), do que o registado nas exportações (na ordem dos 7%)”. Manuel Cordeiro, autarca de São João da Pesqueira, concelho que é o maior produtor de Vinho do Porto, lamenta que esta crise tenha surgido “num momento de mudança na região em que o futuro parecia estar a melhorar, em especial no setor da produção com o valor médio da pipa a crescer, tanto no Porto como nos DO Douro”. A estabilidade com que começou 2020 no setor é também uma referência no discurso de António Lencastre, presidente da Federação Renovação Douro / Casa do Douro (FRD) que destaca essa facto “apesar da herança do Brexit, da instabilidade sociopolítica em França e da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. A implantação da pandemia provocou uma enorme crise social e económica, com uma forte retração na economia e a fileira dos vinhos não foi exceção e, por isso, o volume de encomendas e de vendas caiu abruptamente”.
“A manutenção desta situação faz-nos prever excedentes e incapacidade de armazenagem de vinhos com a chegada de uma nova colheita. Entretanto, a menor venda de vinho do Porto implicará uma menor atribuição de “benefício” em 2020 e, consequentemente, caso esta colheita seja normal, será uma campanha de vinho DOC com grandes excedentes. Com excedentes, baixa a procura de uvas e de vinho e, sem procura, haverá descida dos preços e, por consequência, queda de rendibilidade das explorações vitivinícolas”, conclui António Lencastre. Para Romeu Sequeira, do Movimento Causa do Douro (MCD) candidato às eleições, suspensas, da Casa do Douro, a preocupação reside no facto de se estarem a “a gastar os recursos que foram conquistados na vindima de 2019. A vindima de 2019 vem de um ciclo de 2 a 3 vindimas muito curtas de pouca produção que conduziu aos preços mais altos de uva (uva de D.O. Douro) dos últimos tempos, com a elevada procura a garantir bons negócios ao viticultor. Recordemos o cenário em 2019, as vendas de D.O. Douro a crescer a 2 dígitos e o D.O. Porto a crescer em valor e o mercado Português a ganhar importância face a outros mercados mais tradicionais”. Os números do passado mais recente não são contudo, unanimemente celebrados por todos, António Filipe, presidente da Liga dos Amigos do Douro Património Mundial (LADPM), fala “num período de particular vulnerabilidade. Depois de vários anos de decréscimo estrutural de vendas em volume de vinho do Porto, compensadas por acréscimo das vendas de DOC Douro, o modelo apresenta alguma exaustão e as vendas totais da região apresentam sinais de estagnação”, e mesmo os fatores positivos que existem na região como o “aumento do turismo e a alteração do mix de vendas de vinhos da Região, para vendas de maior valor acrescentado, estão a ser particularmente afetados pela Pandemia Covid-19”. Contudo, para o presidente da LADPM há ainda sinais de esperança no futuro da região, “as vendas totais do setor de vinhos do Porto e vi-
nhos do Douro, nomeadamente através da Distribuição Moderna, quer em Portugal, quer na Exportação, apresentam uma resiliência notável e antecipadora do potencial de recuperação do nosso setor. A baixa densidade populacional, o baixo nível de incidência da doença, a qualidade das estruturas hospitalares e hoteleiras poderão, por outro lado, colocar a região numa posição preferencial para beneficiar da recuperação das economias europeias, nomeadamente via Turismo”. Apesar disso, este sinal de otimismo esbarar, para muitos, na instabilidade que a próxima vindima pode criar na região que, apesar da pandemia nunca deixou de laborar. “Na região do Douro, os viticultores continuam a trabalhar as suas propriedades, como sempre fizeram. Quer faça sol ou chuva, quer faça granizo, quer haja míldio ou coronavírus, os viticultores continuam a levar a cabo as tarefas agrícolas que as vinhas exigem. É assim, o Viticultor duriense”, afirma Alexandre Ferreira, presidente da Associação da Lavoura Duriense (ALD), também candidato às eleições da Casa do Douro, sublinhando que “mesmo quando a Associação de Empresas de Vinho do Porto (AEVP) veio a público avisar que o "benefício" e, os preços, iriam baixar, consideravelmente, os viticultores não ficaram em casa, de quarentena”. A continuação dos trabalhos nos vinhedos da região, apesar da preocupações com o futuro, é também sublinhada por Rui Soares, presidente da PRODOURO, “a diminuição de receitas e a acumulação de stocks nas adegas preocupa todos os agentes da fileira vitivinícola na medida em que trabalhamos numa atividade cuja produção não pode parar, já que as videiras continuam o seu ciclo de vida, indiferentes ao ambiente socioeconómico à sua volta. Ao contrário de outras atividades a nossa “linha de produção” não pode parar e os viticultores têm de continuar a investir sem saber o que os espera na vindima que se aproxima”. A continuação dos trabalhos na vinha obriga a alguns custos extra como lembra o presidente da
Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), António Saraiva, à nossa reportagem. “Em termos de viticultura a região está a trabalhar normalmente, embora com custos acrescidos. Por um lado devido à pandemia, obrigando a investimento acrescido em termos sanitários com a desinfeção permanente de meios de transporte e tratores, bem como de equipamento de proteção individual, e por outro fruto da instabilidade das condições climáticas a obrigar os viticultores a fazer mais tratamentos que o normal”. Carla Alves, Diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte, faz uma análise mais global da região, sublinhando os problemas com que esta se depara e com a forte dependência que tem nos mercados, nacional e internacional. “O Douro é um território muito heterogéneo, em termos físicos, climáticos, económicos e sociais, sendo a viticultura, em grande parte da área, praticada em vinha de encosta com elevado declive, apresentando elevados custos de produção e baixas produtividades. Baseia-se num elevado número de viticultores, de dimensão e características sociais e económicas heterogéneas. A heterogeneidade estende-se também nas atividades a jusante, com o comércio do vinho do Porto a ser feito por um reduzido número de empresas e, pelo contrário, a do vinho tranquilo a assentar num elevado número de micro, pequenas e médias empresas. É uma região muito dependente da mão de obra, que em média representa cerca de 75% dos custos de produção e as médias e grandes explorações recorrem a empresas de prestação de serviços que se deslocam diariamente para as suas propriedades. Temos efetivamente reporte de uma redução no nível de atividade das empresas do setor do vinho, destacam-se o setor cooperativo, as PME, entidades menos exportadoras e mais dependentes do mercado nacional, que registam quebras e níveis de stock elevados. Estamos perante uma região, fortemente dependente da economia do vinho e de atividades
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Reportagem
para colmatar efeitos da Covid-19 relacionadas, nomeadamente do enoturismo e como tal, o Ministério da Agricultura, através do IVDP, IVV e da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte Agricultura, tem acompanhado periodicamente estes pontos sensíveis, por forma a analisar as situações de perturbação e implementar medidas articuladas, para garantir respostas às necessidades que sejam identificadas”.
Tecido socioeconómico da região vai sofrer
As causas apontadas podem ser diversas e as soluções apresentadas também, contudo, numa ideia todos os interlocutores com quem falamos são unânimes em afirmar que esta crise vai afetar fortemente o tecido socioeconómico da região. “Se não houver a determinação de acordarmos um Plano de Salvação Regional (atrevemo-nos a usar esta expressão,) em que todos os atores da região, Governo, IVDP, Autarquias, Produtores e Comerciantes de Vinhos do Douro e Porto, se comprometam e coloquem o seu contributo financeiro e de engenho, poderemos agravar, de uma forma muito significativa, o problema da economia da Vinha e do Vinho na Região Demarcada do Douro que a assola, há vários anos”, afirma António Filipe da LADPM que conclui que “este é um momento pivotal (como foi a filoxera e foram as grandes Guerras e crises financeiras) e o foco da História estará sobre nós e nos julgará sobre o que, no ano da grande Pandemia de 2020, soubemos ou não fazer em prol da sustentabilidade e futuro do setor e da Região. A Liga dos Amigos do Douro Património Mundial entende que, paralelamente à questão das alterações climáticas, a dimensão económica é a grande ameaça à manutenção do estatuto de Património Mundial que a nossa extraordinária, única e ancestral Região Demarcada do Douro enfrenta. Se a Economia da Vinha e do Vinho não for saudável, não haverá estatuto de Património Mundial. Neste sentido, entendemos que é absolutamente essencial, quer para os Produtores quer para os Comerciantes de Douro e Porto, que seja possível manter, em quantidade e em valor, o rendimento fundiário.”. Numa região dependente da viticultura os efeitos na economia local podem ser graves, bem como, em termos de população que é cada vez mais envelhecida, como lembra Romeu Sequeira do MCD. “A viticultura na RDD tem necessariamente impacto socioeconómico na generalidade se não em todas as famílias do território. As famílias ou trabalham diretamente a vinha/ vinho ou em atividades conexas e que dependem deste sector. A caracterização do tecido económico diz-nos que a grande maioria dos viticultores tem entre 1 e 2 ha de vinha divididos por 5 ou 6 parcelas. Nestes casos a viticultura não é uma viticultura profissional, mas sim uma viticultura de subsistência em que se traduz
por um acréscimo ao rendimento familiar que provém maioritariamente de um emprego em entidades terceiras. Nesta viticultura familiar, a população é na sua maioria envelhecida, e o benefício é sem dúvida o grande suporte de rendimento e os ainda faz manter esta situação. Com o avançar dos anos, a idade cresce, e os viticultores vão perdendo a capacidade de serem autónomos nos trabalhos agrícolas e surge a contratação (em muitos casos informal) o que torna mais onerosa a cultura da vinha, elevando as fragilidades da RDD. Nesta situação, a nossa proposta de se manter o quantitativo de benefício (com ou sem vinho de bloqueio) é para antever e proteger estas fragilidades. Outras consequências a médio prazo será a desvalorização das propriedades, o abandono das vinhas, deterioração da paisagem, etc.”. As preocupações com o tecido social e o emprego são também consequências desta crise apontadas pela PRODOURO e pela FDR. Rui Soares afirma que “a diminuição de escoamento tem consequências para as empresas comercializadoras mas também para os produtores que poderão ser confrontados na próxima vindima com dificuldades de escoamento da matéria-prima e possível de redução de preço de uva. Sendo a atividade vitivinícola a base da economia regional preocupa-nos o futuro da sustentabilidade económica e social da nossa região”. Por seu lado, António Lencastre, da FDR, aponta para uma crise económica provocada pela baixa dos preços da uva e do “benefício”, bem como uma crise de emprego, não só no setor como também no turismo. “Neste momento, o pior que nos poderia acontecer era ter uma redução acentuada do benefício, que sustenta uma parte substancial da receita dos produtores (65%) . Por outro lado, um excedente de uvas destinadas a vinhos DOC irá provocar uma baixa acentuada nos preços das
uvas, o que levará a uma quebra muito acentuada de rendimentos dos viticultores que se dedicam só à produção uvas. Para os produtores engarrafadores, além de terem as mesmas perdas quanto ao “benefício”, ainda sofrerão com a exiguidade das vendas de DOC’s e terão o problema acrescido de entrarem numa nova vindima sem meios e sem lugar para guardar a nova colheita de 2020. No contexto geral não podemos esquecer uma receita em crescendo nos últimos anos - o turismo - que foi receita complementar de muitas explorações e que se perspetiva desaparecida este ano. Donde concluímos, que se não existirem medidas eficazes, teremos pelo menos dois anos (2020 e 2021) muito difíceis, com perda de rendimentos em geral e perda de emprego, especialmente, nos setores dependentes do turismo”. O corte no "benefício" é, para Alexandre Ferreira, da ALD, a situação mais preocupante neste momento, recorrendo às recentes declarações de Adrien Bridge, responsável máximo da Taylor’s para afirmar que um cenário desses “seria um desastre para os lavradores”. “Se se concretizarem os cortes no "benefício" que a AEVP pretende levar por diante, as consequências para os viticultores serão, certamente, desastrosas. Repare que nos últimos dois anos, sem haver coronavírus, o "benefício" diminuiu 10.000 pipas. Só o ano passado, houve um corte de quase 7% no "benefício" (menos 8.000 pipas), apesar das vendas de vinho do Porto terem aumentado 1,7% em quantidade (litros) e, terem aumentado 2,9% em valor (euros). Quer isto dizer, que os comerciantes viram os seus rendimentos aumentados, enquanto que os viticultores viram os seus rendimentos diminuídos. Tudo isto aconteceu, lamentavelmente, com o apoio incondicional, dos representantes da Federação Renovação Douro (FRD) no Conse-
lho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) . Imagine o que pode suceder este ano, quando uma empresa do setor - a Taylor's - já veio dizer que, é muito provável, que possa haver um corte de 30.000 pipas no "benefício"!”. António Saraiva, presidente da AEVP a quebra nas vendas de Vinho do Porto e aumento dos excedentes de vinhos D.O. Douro podem resultar numa grave crise financeira na região, se nada for feito para a mitigar. “Os efeitos serão extremamente nocivos, pois tanto em DOP Porto como em DOP Douro as vendas estão a cair, sendo que no caso do DOP Douro sendo Portugal responsável por cerca de 65% das vendas, o problema agudiza-se. Obviamente com as quedas de vendas de Porto o benefício terá de cair, originando desde logo um excedente de Douro, que acrescido dos stocks da vindima passada, poderá originar quebras brutais de rentabilidade e tesouraria na produção, se nada for feito para contrariar este quadro”. Contrariando um pouco as posições mais pessimistas, o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, prefere olhar para o futuro com mais otimismo, recorrendo à história da região para sublinhar o seu espírito resiliente em épocas mais difíceis. “O momento que vivemos é de enorme imprevisibilidade. Muitas variáveis concorrem para um melhor ou pior desfecho na retoma desta crise. Interrogamo-nos como ficará a nossa economia, tanto no sentido mais global, quanto no âmbito das famílias, das empresas e de todos aqueles que tiram da terra o seu sustento. As gentes do Douro estão acostumadas a sérios revezes. A Região soube ultrapassar situações de enorme impacto negativo ao longo da sua longa história. Esta será mais uma delas, talvez a pior desta geração. Acredito que saberemos construir um novo futuro”. Olhando também para o futuro, a Diretora Regional da Agricultura e Pescas do Norte afirma
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Reportagem
que estão já a ser tomadas, por parte do Governo, medidas que pretendem mitigar os efeitos desta crise na economia da região. Para a responsável regional, a forte dependência do setor no mercado é um fator de risco numa altura em que as principais linhas de escoamento estão fechadas. “Nos últimos anos e, em especial, na última vindima, os preços das uvas para DO Douro sofreram uma evolução muito positiva, consequência do reforço do posicionamento no mercado desta tipologia de vinhos, em especial nas gamas média e alta, tanto no mercado nacional e externo. Neste momento, pela informação que dispomos a tendência é para uma diminuição nas vendas de vinhos do Porto e Douro, que abrange todas as empresas privadas ou de base cooperativa, produtores engarrafadores e comerciantes. Certamente, a queda de vendas, em volume, é mais acentuada nas categorias de vinhos mais elevadas, muito ligadas à exportação, ao setor HORECA e ao turismo. Para esta situação muito contribuiu o encerramento dos hotéis, bares e restaurantes e a diminuição das exportações, da qual muito depende o vinho do Porto. Aparentemente, o consumo de vinho no domicílio não tem compensado a diminuição do consumo no exterior. Ao não serem permitidos eventos sociais o consumo de vinho diminui, ao que se junta a redução das atividades turísticas e de enoturismo na região. Há atualmente várias dificuldades a vencer e para tal, o Ministério da Agricultura, em articulação com as restantes áreas governativas, está a acompanhar a situação e criou um Plano de Medidas Excecionais no quadro da pandemia COVID19, que para além das medidas transversais no âmbito do apoio ao emprego, tesouraria e diferimento de pagamento de impostos e contribuições, foram adotadas medidas específicas para o setor: por exemplo, foram antecipados 70% dos pedidos de pagamento respeitantes às medidas de promoção em mercados externos; foram simplificadas as medidas de apoio financeiro direto à promoção das empresas e associações representativas do setor; foram adequados os prazos para submissão de relatórios e de pedidos de pagamento do concurso de Promoção de Países Terceiros 2019; foi aumentada a dotação
do concurso de Promoção de Países Terceiros 2020; foi levantada, neste concurso, a restrição dos países a incluir nas candidaturas, em sede de pedido de modificação; foi levantada, também, a restrição para reduzir em mais de 30 % o orçamento aprovado nas candidaturas iniciais, em sede de pedido de alteração; foi anunciada a não aplicação das penalizações por baixa execução financeira, no ano 2020, e foi levantada a proibição de se incluírem, nos pedidos de pagamento, ações que não tenham sido realizadas por cancelamento de eventos, feiras e viagens devido à pandemia COVID-19. Para além destas medidas, que já estão no terreno, o Ministério da Agricultura está ainda em negociação com a Comissão Europeia no âmbito de um conjunto adicional de medidas de apoio ao setor”.
Medidas propostas não são unânimes na região
A falta de unanimidade quanto às medidas que devem ser tomadas para que a crise não seja ainda mais profunda é apontada, desde logo, por Manuel Cordeiro, o autarca pesqueirense que destaca o papel do poder político local no diálogo com o Governo, apontando desde logo algumas medidas mais específicas que, no seu entender, seriam benéficas para a região. “No que respeita aos autarcas cabe-nos exigir e sensibilizar os políticos a nível central para que olhem para esta região de uma forma global e de voz única, algo que não tem acontecido. É difícil para quem governa vir recolher opiniões e levar milhares delas, todas diferentes umas das outras, que muitas vezes se contradizem. A região não fala a uma só voz ao nível da produção por isso acredito que não nos cabe a nós encontrar medidas específicas de apoio mas sensibilizar e exigir que o Governo olhe para a região de uma vez por todas e para os seus problemas específicos, para que não nos acusem de sermos demagogos. Ao nível da CIM Douro, para que tenha mais força, deveríamos exigir que fossem devolvidos à região os 10 milhões de euros que tanto se falam e que serviriam para a promoção do Douro. Isso não tem acontecido, pelo menos na dimensão que deveria acontecer, apenas
pontualmente e sabe-se que muitos desses milhões vão para o Orçamento de Estado quando deviam ser, obrigatoriamente, para a região. Chegamos a uma altura, nas atuais circunstâncias, em que se deve exigir ao governo que intervenha no setor no sentido de minorar os efeitos negativos que eventualmente venham a acontecer na próxima vindima, principalmente, ao nível da produção. As medidas, como já disse, são várias as que têm sido apresentadas pelos diferentes atores da região. Ao nível da CIM Douro os autarcas estão disponíveis para prescindir de algumas verbas de alguns programas, não as executando no território, alocando-as ao setor vitivinícola, há esse compromisso da nossa parte. Um dos caminhos pode ser a queima de vinhos tranquilos que pode ser subsidiada pela União Europeia, com um valor mínimo definido que venha compensar tudo isto. Outra medida que eu já apontei é que a Casa do Douro volte áquilo que fazia antes adquirindo vinhos para depois os colocar no mercado de forma paulatina e com regras, isto já acontecia no passado e seria algo a pensar nesta época específica. A questão que alguns colocam, que eu não coloquei, do bloqueio, vale mais isso acontecer e os produtores receberem um pouco menos agora para irem recebendo o restante em 5 ou 6 anos do que um corte brutal neste momento. Não pode ser apenas uma medida isolada, terá de ser uma conjugação de diferentes medidas. Por seu lado, a ALD, na voz do seu presidente, Alexandre Ferreira, crítica, de forma veemente, a posição da FRD, acusando-a de “estar sempre ao lado do comércio”, impedindo os produtores de “participar na fixação do quantitativo de ‘benefício’, da próxima vindima”. Da mesma forma, Alexandre Ferreira critica também a AEVP, que acusa de querer cortes no “benefício”, afirmando que “a ALD nunca apoiará cortes brutais no ‘benefício’”. Entre as medidas apresentadas pelos intervenientes questionados na nossa reportagem, a destilação de crise é a que reúne mais consenso sendo partilhada pela LADPM, MCD, FRD e AEVP. A Reserva Qualitativa é a segunda medida com mais apoios assegurados, sendo defendida pela LADPM, FRD e AEVP. A LAPDM e a FRD estão ainda de acordo em ou-
tras duas medidas: a promoção dos vinhos da região nos mercados interno e externo e ainda na questão da devolução à região dos saldos acumulados de gerência do IVDP que ascenderão a cerca de 10 milhões de euros. Uma outra medida, esta já mencionada em outros anos até pela falta de mão de obra que se regista na região, é a flexibilização da contração de pessoal na época das vindimas, medida que à nossa reportagem é defendida pela LADPM e pela PRODOURO. A FRD defende ainda que deve haver um auxílio à armazenagem de vinhos, numa altura que se prevê um aumento dos stocks já na próxima campanha. A PRODOURO apresenta ainda mais duas medidas: o reforço do programa VITIS e o benefício de bloqueio. Já o Movimento Causa do Douro defende que o “benefício” para este ano deve ser igual ao da campanha de 2019, sugerindo também que sejam antecipadas as ajudas de campanha para os meses de julho e agosto, e ainda a isenção de diversas taxas como, TSU, IVA, IRS e IRC durante este ano e ainda em 2021. Questionada também sobre as possíveis medidas que podem ser postas em prática para mitigar os efeitos da crise, Carla Alves afirma que a Direção Regional está a trabalhar em conjunto com o Ministério da Agricultura procurando as melhores soluções para a região, entre elas a flexibilização na contratação de pessoal para as vindimas, a destilação de vinhos, apoios à armazenagem de stocks e ainda alterações ao programa VITIS. “Considerando as especificidades da vitivinicultura duriense, nomeadamente no que diz respeito a dificuldades de mão-de-obra numa vindima não mecanizada, temos conhecimento de propostas de organizações de produtores da região, sobre a contratação de vindimadores, que estão em desenvolvimento e em estudo. Outras medidas estão a ser equacionadas no sentido de garantir o armazenamento a médio prazo de stocks excedentários de vinhos que eventualmente possam acontecer, ou até mesmo, eliminar sob a forma de transformação em álcool (“destilação de crise”). A Direção Regional de Agricultura e Pescas Do Norte continua a trabalhar, em permanência, para garantir respostas às necessidades do setor, pelo que é importante destacar que da análise de candidaturas que decorreu até 30 de abril, estão para aprovação, no âmbito do Programa de Apoio à Reestruturação e Reconversão de Vinhas (VITIS), 1.543 candidaturas, para restruturação de uma área de 1.990 hectares no Douro, envolvendo um montante financeiro de 39,6 milhões de euros. O adiantamento destas ajudas será importante para os viticultores e poderá contribuir para dinamizar as empresas de prestação de serviços da região. Um contributo importante para os proveitos das explorações vitícolas familiares da RDD são as ajudas diretas à atividade, integrados na medida de desenvolvimento da Política Agrícola Comum, para as quais foi conseguido um adiantamento do prazo de pagamento”. ▪
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Três concelhos do Douro não registam casos de Covid-19 Dois meses após a declaração de pandemia pela OMS, a região do Douro regista, à data do fecho desta edição, um total de 445 casos Covid-19, distribuídos por 16 concelhos. Mesão Frio, São João da Pesqueira e Tarouca são atualmente os únicos três municípios do territórios onde não há qualquer registo da doença e a nossa reportagem falou com os três autarcas para conhecer algumas das medidas que têm sido implementadas.
Mesão Frio, Alberto Pereira “O concelho continua sem casos de Covid-19 registados, o que é motivo de orgulho e de satisfação para toda a comunidade. Desde o início da pandemia, que tivemos o cuidado de nos anteciparmos, acionando, imediatamente, medidas de contingência. Realizámos testes de despiste ao Covid-19, na Santa Casa da Misericórdia e na corporação de bombeiros local e oferecemos equipamentos individuais de proteção a quem está na linha da frente de combate a este vírus. Encerramos serviços, que agora abrem gradualmente e adotamos
outras medidas, quer para fazer face às dificuldades das famílias, quer para ajudar os idosos e pessoas a viverem isoladas. Os mesão-frienses têm sido socialmente responsáveis, perante esta dura realidade, privilegiando o confinamento e tem-se assistido a uma grande onda de solidariedade no concelho, por parte de empresas, associações e pessoas individuais, através dos seus meios físicos e humanos. Até ao final de junho, todas as atividades culturais e recreativas estão suspensas. O município continuará com a efetivação das medidas do seu plano de contingência, nunca descurando o apoio aos mais carenciados ou em situação de isolamento e também aos comerciantes, que nesta fase começam a abrir portas”.
São João da Pesqueira, Manuel Natário Cordeiro “Eu não posso dizer que estamos completamente livres disso e que amanhã a situação não se altere. Estou convencido que algumas medidas que tomamos ajudaram a este resultado. Ainda antes de ter sido acionado o Plano de Emergência nós encerramos todos os serviços e atividades que implicavam o contacto entre pessoas, começamos logo a fazer a desinfeção das ruas, adquirimos grandes quantidades
de EPI’s que distribuímos em larga escala pelas IPSS’s, bombeiros, GNR e até nos serviços de saúde locais. Mandamos logo pessoal para casa em teletrabalho, revezando equipas, etc. Tudo isto antes do Estado de Emergência. Quando acionamos o Plano de Emergência Municipal muitos questionaram o porquê, mas nós consideramos essencial, as medidas já estavam a ser aplicada e mantiveram-se as mesmas, mas foi importante para comprometer os restantes elementos da Proteção Civil Municipal, havendo um compromisso entre todos de agir nos mesmos moldes, havendo um contacto diário entre todos, com a população de uma forma geral e com as entidades nacionais. A realização de mais de 500 testes e a sensibilização de todos para os cuidados que deviam ter também tem sido outro fator essencial. Os mais vulneráveis acabaram também por não ter que se deslocar para a aquisição de bens ou medicamentos, a autarquia disponibilizou um serviço completamente gratuito. Também os transportes municipais foram cancelados bem como as feiras e a cobrança de serviços como as águas foram suspensos, para evitar que houvesse deslocações e contactos entre as pessoas. Tudo isto acabou por criar nas pessoas uma ideia de que o problema era mais sério do que inicialmente parecia ser, criando a ideia global que tínhamos que nos defender uns aos outros”.
Tarouca, Valdemar Pereira
“Graças a Deus até hoje ainda não temos casos positivos em Tarouca e tenho que realçar aqui, em primeiro lugar o papel das pessoas, dos tarouquenses, que acolheram bem aquilo que foram as indicações da DGS e também aquelas que são as nossas comunicações locais. Eu penso que é bom dizer que desde muito cedo começamos a fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) às instituições, nomeadamente aos bombeiros, GNR e ao Centro de Saúde, ao qual quero também deixar o meu agradecimento público. As IPSS’s também entenderam bem o problema e fizeram um trabalho excelente, em coordenação com o município. Acreditamos que estes equipamentos que distribuímos foram essenciais na proteção das pessoas, nomeadamente os funcionários e os utentes dos lares. Estes equipamentos foram todos adquiridos pelo município. Da parte do Estado não recebemos nada apesar de nos ter sido prometido por diversas entidades como por exemplo a EDP mas que efetivamente nunca chegou. Eu estive sempre em contacto com a senhora diretora regional da Segurança Social que falava diretamente com a ministra mas também por aí nunca nos chegou nada. Apesar disso mantivemos um fornecimento constante de material às nossas IPSS’s. Criamos também uma linha SOS para as famílias mais vulneráveis, com necessidade de bens alimentares de forma a minimizar os efeitos da Covid-19. Quando começamos a perceber que afinal isto ia atingir todos e não só alguns, reunimos imediatamente com todas as instituições e criamos o nosso plano que funcionou muito bem, e continua a funcionar, como se pode verificar pela ausência de casos no nosso concelho. Tão cedo não iremos mudar de estratégia porque entendemos que isto ainda não está tão bem como muita gente pensa, temos que continuar a prevenção e manter-nos atentos, apesar da nossa população continuar a ter um papel exemplar, o qual também agradeço desde já”. ▪
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Região
Deputados durienses analisam medidas do Governo em tempo de pandemia Têm sido várias as medidas apresentadas pelo Governo de António Costa com o objetivo de mitigar os efeitos da crise provocada pela Covid-19 nas empresas e famílias portuguesas. O VivaDouro falou com os deputados eleitos pelo território da CIM Douro para perceber quais são as que destacam e como estão a ser implementadas. Das medidas apresentadas pelo Governo, de apoio a empresas e pessoas, em resposta à pandemia Covid-19, quais destacaria? Ascenso Simões (PS) - A triangulação entre a resposta imediata através de lay-off, a flexibilidade dos contratos e os apoios à tesouraria das empresas. Francisco Rocha (PS) - Desde que foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal foram objeto de publicação em Diário da República cerca de 190 diplomas versando sobre as mais variadas matérias que permitiram (co)responder aos múltiplos e profundos desafios que esta pandemia colocou Portugal e os Portugueses. Mitigar os seus efeitos nas pessoas, nas famílias, nas empresas
assegurar os serviços e cuidados de saúde necessários, o governo tem a obrigação de evitar o colapso da nossa economia e a explosão do desemprego, condições necessárias para continuarmos a alimentar alguma esperança no futuro.
e nos trabalhadores foi, sem qualquer dúvida, um dos objetivos principais que foi assumido, desde logo, pelo Governo. Entre essas dezenas de medidas destacamos a duplicação de 100 para 200 milhões de euros da linha de crédito para apoio à tesouraria das empresas, o adiantamento do pagamento dos incentivos no quadro do Portugal 2020, o regime de lay-off simplificado para as empresas que viram a sua atividade severamente afetada devido à epidemia, a moratória de 6 meses nos créditos das famílias e das empresas, a flexibilização do pagamento das rendas, assim como o reforço do apoio ao regime de faltas justificadas por assistência à família. Estes são alguns exemplos de uma ampla estratégia tem por objetivo não deixar ninguém para trás, preservar postos de trabalho, proteger as empresas, que tem mobilizado largos milhões de euros e que tem vindo a incorporar os contributos críticos dos representantes do tecido económico e social português. Luís Leite Ramos (PSD) - A medida excecional e temporária de proteção dos postos de trabalho, através da redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão de contrato de trabalho, é, sem dúvida alguma, uma das mais importantes. Depois de conter a propagação da pandemia e
António Lima Costa (PSD) - A grande parte das medidas anunciadas, passam por mais endividamento, pela prorrogação de prazos de pagamentos de impostos, rendas ou créditos e pela antecipação de pagamentos de fundos europeus. Este tipo de medidas pode, momentaneamente, ajudar na tesouraria, mas nada resolvem, apenas adiam o problema de fundo. De qualquer modo, há uma medida que efetivamente apoia as empresas e famílias de forma significativa, o “lay-off simplificado”, que quero destacar. O Estado, com a ajuda de fundos comunitários, paga uma parte dos salários e isso é positivo. Alerto, no entanto para a desigualdade que tal medida provoca em muitos setores económicos, o que não é aceitável. A título de exemplo refiro o caso dos viticultores, que perdem por dois lados. Têm os mesmos problemas das outras empresas, mas não podem dispensar trabalhadores de molde a adequar a oferta à expectável redução da procura de vinho. São obrigados a continuar a tratar das suas vinhas mas não têm qualquer tipo de apoio
para pagamento de salários como as outras empresas. Entre as medidas aprovadas, quais as que já foram colocadas em prática? Ascenso Simões (PS) - Todas estão em prática. Não nego que a rapidez da resposta não é igual em todos os universos e depende muito de setor para setor e de serviço para serviço. Francisco Rocha (PS) - Todas as medidas estão já a ser implementadas. Luís Leite Ramos (PSD) - As várias medidas de apoio às empresas e às pessoas têm vindo a ser implementadas com muita lentidão e excessiva burocracia. Apesar dos anúncios e da propaganda, as ajudas tardam a chegar às empresas e às famílias. Em muitos casos, a situação começa a ficar insustentável por falta de liquidez ou até da pressão fiscal e financeira. Se o governo não simplificar e agilizar os procedimentos, os apoios vão chegar tarde de mais à economia e às empresas. O que seria um fator de agravamento da crise social e económica na qual, infelizmente, já estamos a mergulhar. António Lima Costa (PSD) - Sabe-se que há, de facto, muitos anúncios de medidas, mas também é sabido que os representantes das empresas e os empresários em geral se queixam que pouco ou nada lhes chegou ainda. ▪
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Douro com 25 patrimónios nas 7 Maravilhas da Cultura Popular Das muitas razões que explicam porque o Douro está hoje na moda, uma das mais marcantes é seguramente a sua base cultural e a importância da sua cultura popular que se vão mantendo num tempo onde a globalização é, cada vez mais uma realidade. Muitas dessas tradições da cultura duriense estão agora nomeadas para as 7 Maravilhas da Cultura Popular, um concurso que a cada edição vai cativando mais o interesse de todos os portugueses. Depois de uma primeira fase de seleção por parte de um júri, estão agora nomeadas a concurso 25 “maravilhas” da região divididas por 7 categorias: Músicas e Danças, Procissões e Romarias, Artesanato, Lendas e Mitos, Festas e Feiras, Rituais e Costumes, e ainda Artefactos. Destes 25 patrimónios agora listados nem todos têm ainda garantida a presença na fase da votação pelo público, para aí chegarem vai ainda haver uma votação do Painel de Especialistas de onde sairão os 7 finalistas de cada categoria, postos então a votação do público a decorrer em eliminatórias regionais entre os meses de julho e agosto deste ano. Conheça aqui a lista dos 25 patrimónios da região que estão na fase de votação pelo Painel de Especialistas: Músicas e Danças • Zíngaros de Carrazeda de Ansiães – Carrazeda de Ansiães • Mar de Pedra Cantares Populares – Vila Real
Procissões e Romarias Festas e Feiras • Procissão dos 7 Passos – Freixo de Espada à Cinta • Romaria de Nossa Senhora da Piedade – Alijó • Procissão da Senhora da Pena – Vila Real • Festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, a Romaria de Portugal – Majestosa Procissão de Triunfo – Lamego • São Torcato – Moimenta da Beira • Romaria a S. Salvador do Mundo – S. João da Pesqueira • Procissão das Cruzes da Lapa – Sernancelhe • Via Sacra da Granja do Tedo – Tabuaço
• Festa da Amendoeira em Flor e dos Patrimónios Mundiais – Vila Nova de Foz Côa • São João de Tabuaço – Tabuaço
Artefactos
• Rijomax – Tabuaço
Rituais e Costumes
• Pão tradicional de Favaios – Alijó • Vindimas – Alijó • Tradição da passagem na Calha da Senhora da Lapa – Sernancelhe PUB
Artesanato
• A arte da seda de Freixo de Espada à Cinta – Freixo de Espada à Cinta • Barro Preto de Bisalhães – Vila Real • Linho de Agarez – Vila Real • Capuchas de Burel de Alvite – Moimenta da Beira • Caturnos – Meias de lã de Alvite – Moimenta da Beira
Lendas e Mitos
• Lenda de Freixo de Espada à Cinta – Freixo de Espada à Cinta • Penedo da Fonte Santa – Moimenta da Beira • Lenda de Nossa Senhora da Lapa – Sernancelhe • O Cisma da Granja do Tedo - Tabuaço
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Opinião António Fontaínhas Fernandes Reitor da UTAD
Fazer um balanço no momento em que a crise está ainda a decorrer é uma missão ingrata e incerta, tal como perspetivar o futuro. Os novos desafios societais não conhecem fronteiras, como esta pande¬mia está a demonstrar. O atual cenário exige soluções globais e convergentes que tenham como base a ideia de uma Europa unida. Em termos de balanço e com base na informação que até ao momento se conhece, parece que o governo tem atuado adequadamente, permitindo vencer a batalha de contenção do virus! Mas, nesta nova fase, coloca-se a
Gilberto Igrejas
Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. (IVDP)
O IVDP tomou a decisão de instituir os Prémios Vintage IVDP no intuito de incentivar e distinguir pessoas, instituições e projetos que estejam relacionados, direta ou indiretamente, com a Região Demarcada do Douro. É a primeira vez que o IVDP se lança numa iniciativa desta natureza, a qual pretende marcar, de forma indelével, a ligação que deve existir entre a Região Demarcada do Douro, vista transversalmente na globalidade do seu território, onde se produz riqueza, onde se unem, por um lado, as suas gentes, os seus empresários, que com denodo produzem vinhos inigualá-
Pedro Figueiredo
Chefe da Divisão de Coordenação de Projetos e Redes Institucionais da CCDR-N
As fronteiras são elementos constitutivos da identidade nacional e do seu imaginário. Mas a identidade é plural, dispõe de diferentes espaços e respetivas escalas de pertença e nenhuma delas se sobrepõe às outras. A construção de cidadanias transnacionais não se sobrepõe à cidadania nacional, complementa-a. A paz e a prosperidade partilhadas entre povos pressupõem cooperação e não oposição. Começando como Iniciativa Comunitária, a Cooperação Territorial Europeia (CTE) é, hoje, a dimensão da Política de
Perspetivar o Douro após a COVID-19 questão da recuperação económica e social, tendo sempre em mente a evolução intergeracional, isto é, uma perspectiva de longo prazo em que se enquadra a de curto prazo. Torna-se difícil prever a dimensão da crise económica que resultará do blo¬queio das nossas economias, mas é desejável que a Europa esteja à altura da crise que se perspetiva. Ao contrário do exemplo italiano, a que assistimos na fase inicial da pandemia, marcado por uma notória falta de solidariedade europeia, no futuro espera-se mais cooperação. De igual modo, do Governo também se espera mais coordenação, mais soluções coletivas na defesa do emprego, das empresas, mantendo as cadeias de produção e o valor acrescentado de sectores estratégicos. Para Portugal, é importante confirmar que os fundos comunitários que ainda estão
por executar possam ser utilizados em plenitude, sem comparticipação nacional. Mas, será igualmente determinante que o Governo direcione os fundos para projetos de resposta à crise económica decorrente da COVID-19, diminuindo a intensidade em apostas em projetos de criação de novas infraestruturas. O caso Douro, merece um olhar diferente. Senão vejamos! A comunicação social recentemente anunciou que o setor vitivinícola sofre de preocupantes quebras, numa altura que que já se antecipa a vindima do ano COVID-19. Confirma-se que o aumento das vendas online, de longe, não permite compensar as perdas que o sector tem enfrentado nesta crise. Embora ainda não sejam conhecidos os indicadores oficiais dos últimos dois meses, tem sido referido que se registaram consideráveis quebras nas exportações, as quais são determinantes para
a sustentabilidade do setor. Estima-se que no final dos meses de março e abril, as empresas do setor tenham sofrido uma quebra de cerca de 50%. No caso do Douro, alguns responsáveis de empresas alertam também que, do ponto de vista climático, o ano se assemelha ao de 2016, marcado por conhecidas doenças da vinha, o que exige um maior cuidado por parte dos produtores. Também neste domínio o problema exige soluções em rede, de forma a evitar que as doenças se alastrem a toda a região. Nesta fase, importa manter na primeira linha a recuperação económica e social do país, tendo sempre em mente a diversidade de regiões como o Douro. Dito isto, espera-se que o Governo mantenha uma visão global do País, não esquecendo um olhar para as regiões e os seus setores económicos.
Prémios Vintage - IVDP - 2020 veis; por outro, os centros onde se produz Conhecimento, valor imaterial que se revela, hoje, mais do que nunca, o alicerce para a diferenciação de produtos e de processos, indubitavelmente de importância crucial no estímulo ao desenvolvimento e ao progresso necessário que se quer sustentável. Pretende-se que estes Prémios constituam estímulo à inovação tecnológica, ao desenvolvimento técnico-científico, ao progresso no conhecimento das dinâmicas da sociedade, ao empreendedorismo, à sustentabilidade ambiental, económica e social, ao estudo e preservação do património enquanto ativo cultural incontornável, enquanto áreas prioritárias para o progresso da Região Demarcada do Douro, do seu território, das suas gentes, da vinha, do vinho, e dos mercados. Estes Prémios - IVDP, de atribuição trianual,
abrangem as seguintes categorias: Prémio Vintage Ciência; Prémio Vintage Sociologia; Prémio Vintage Empreendedorismo; Prémio Vintage Ambiente e Sustentabilidade; Prémio Vintage Património. Decorre até final de setembro de 2020 o período de apresentação de candidaturas, sendo que os trabalhos serão avaliados por um júri essencialmente constituído por personalidades emergentes do mundo académico e empresarial, tendo como base o regulamento entretanto aprovado e que se encontra disponível no site do IVDP. Na apreciação das candidaturas a prémios são aplicados rigorosos critérios de avaliação, devidamente pontuados, focando, entre outros aspetos, a inovação e o pioneirismo do trabalho ou do projeto, o mérito científico ou metodologia aplicada, a pertinência para a sociedade e aplicabilidade prática.
A par destes Prémios Vintage IVDP, será mantida a atribuição de distinções anuais, no âmbito do projeto Douro + Sustentável, nas classes de Enologia, Viticultura, Enoturismo e Revelação, destinadas a assinalar iniciativas e projetos que tenham contribuído para o engrandecimento da Região Demarcada do Douro, fomentando a inovação nas práticas enológicas aplicadas, incrementando a relevância dos vinhos, ou se tenham distinguido na preservação da biodiversidade e na preocupação pela sustentabilidade, ou que tenham estimulado a divulgação do território através da oferta turística, partilhando a sua história e promovendo o seu Património. O IVDP premeia, assim, o mérito e enfatiza a relevância da Região Demarcada do Douro no contexto vitivinícola.
Região do Norte e Castela e Leão: 30 anos de cooperação para derrubar a fronteira que há em cada um de nós Coesão com maior responsabilidade na promoção da integração económica, social e cultural da União Europeia, processo que se tem acelerado a partir, principalmente, dos anos 90 do século passado. Após a adesão à, então, Comunidade Económica Europeia (CEE), no contexto da consolidação dos seus recentes regimes democráticos, os responsáveis políticos de Portugal e Espanha e das suas regiões foram capazes de compreender e dar resposta às expetativas das populações de ambos os lados da fronteira. Com naturalidade, assistiu-se ao nascimento das Comunidades de Trabalho entre a Região do Norte e as Regiões da Galiza e de Castela e Leão. Pioneiras quando da sua ins-
tituição, estas comunidades constituíram espaços privilegiados para a construção de iniciativas comuns nas mais diferentes áreas da vida dos povos durante os últimos 30 anos, potenciadas pelos sucessivos programas de cooperação transfronteiriça e, mais recentemente, pelos Agrupamentos Europeus de Cooperação Territorial (AECT). No caso do Douro, a cooperação territorial teve e continuará a ter papel importante na valorização do Rio Douro enquanto património comum. Trata-se de elemento geográfico mas também simbólico, recurso hídrico e de paisagem natural e cultural, um território de sociabilização e partilha de valores. A pandemia da COVID-19 relembrou-nos
que as conquistas não são eternas e que as fronteiras sempre continuarão a existir e a poder separar os povos. Ao mesmo tempo, a Junta de Castela e Leão, no âmbito da iniciativa “Conoces Portugal?”, associou-se às comemorações do 25 de abril de 1974, desenvolvendo uma ação dedicada às crianças em idade escolar que se iniciam no estudo da geografia. Esta bela e exemplar iniciativa de respeito pela história contemporânea de Portugal relembra-nos que a principal fronteira, que temos o dever moral de derrubar para sempre, é aquela que se encerra em cada um de nós: o preconceito!
MAIO 2020
VIVADOURO
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A avó repreende o neto: - Joãozinho, porque é que atiraste uma pedra à cabeça do teu primo? - Ele beliscou-me! - E porque é que não me chamaste? - Para quê? A avó não iria acertar...
Laranja com canela INGREDIENTES
100 g romã 500 g laranjas qb canela em pó qb hortelã
PREPARAÇÃO: 1. Abra a romã ao meio e com as costas de uma colher de pau dê pancadas secas em cima de uma tigela até que os bagos caiam, reservando o suco que conseguir aproveitar. 2. Descasque as laranjas, eliminando as películas brancas, corte em rodelas e disponha-as nos pratos de serviço. Salpique com uma pitada de canela em pó e, por cima, distribua os bagos de e o sumo da romã. 3. Enfeite com hortelã fresca.
Maria Helena Socióloga, taróloga e apresentadora
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