Edição do Centro de Estudos Adriano Xavier Cordeiro | n.º 14
Dezembro de 2017
Fresco de Jaime Martins Barata, no Palácio de Justiça do Montijo
«A monarquia – na sua mais genuína
Nesta edição
expressão – sempre teve um carácter fortemente ainda
popular.
hoje
é
Característica possível
• Preferia ser Súbdito | p 2
que
• Árvore, simbolos de Natal e a Realeza| p 8
verificar
• O meu veemente protesto | p 16
e tudo se deve fazer para que assim
• Capitalismo centralizador e problemas adjacentes | p 31
continue”
• Circuito Mariano por Terras de Nóbrega | p 43
Real Gazeta de Viana do Castelo entrevista Dr Francisco Abreu e Lima | p 11
1
• O Rei dos Portugueses e o Presidente | p 47
Preferia ser
Súbdito Miguel Villas-Boas
Abstract In the Monarchies there are no longer subjects, but citizens in their own right, equal before the Law and not discarded in favor of the King. The People are not the lowest layer of the population, but the whole community. Most republics are bound by a system that is no more than personal power organized in corporations, transforming the community into a gross sum of individuals, and the government of freedom has become the tyranny of minorities. The most democratic countries are Monarchies, so it is better to be a subject in a Monarchy than a lackey in a republic! Key words: subjects, People, democratic countries, monarchies
Resumé Dans les monarchies, il n'y a plus de sujets, mais des citoyens à part entière, égaux devant la loi et pas abandonnés au profit du roi: le peuple n'est pas la couche la plus basse de la population, mais c’est la totalité de la communauté. La plupart des républiques sont liées par un système qui n'est rien d'autre qu'un pouvoir personnel organisé en corporations, qui transforme la communauté en une somme brute d'individus, et le gouvernement “de la liberté” est devenu la tyrannie des minorités. Les pays les plus démocratiques sont les monarchies, il vaut donc mieux être sujet dans une monarchie que laquais dans une république! Mots-clés: sujets, people, pays démocratiques, monarchie
É preferível ser Súbdito numa Monarquia, do que Vassalo numa
em obséquios perante o Rei e diante de uma nobreza a pairar
República!
sobre os demais, é completamente errada e mesmo absurda, e só pode resultar de 107 anos em que os escribas do regime
Hoje nas Monarquias já não existem propriamente súbditos, mas
republicano,
cidadãos de pleno direito, iguais perante a Lei e que são muito
com
camada
sobre
camada
de
‘entulho’,
reescreveram a História, formatando o Povo orientando-o para
estimados pelo Seu Rei/Rainha e que vê essa estima retribuída e
próximo do pensamento único, tornando a república um
gratificada pelo Povo, que entende ter no Monarca o bem mais
oratório (quase) indiscutível.
precioso da Nação. O Rei assume-se como um funcionário da Nação e do Povo acautelando por cumprir qualquer dos
Até porque, e desfaça-se a atoarda, já nos inícios do século XX,
imperativos intrínsecos à Função Real, encarando-a como
El-Rei Dom Manuel II de Portugal, apesar de por simpatia ser
serviço e assim reinando rectamente.
condescendente com o tradicional acto protocolar do gesto do Beija-mão dispensado aos Reis - reminiscência da adoratio
A ideia de que numa Monarquia o Povo se teria de desfazer 2
dedicada aos Césares -, Sua
Majestade
Fidelíssima,
não
apreciava,
o
tendo
mesmo sido o primeiro Rei de Portugal e no Mundo a abdicar do Cerimonial do Beijamão ao não dar a mão a beijar na cerimónia de
apresentação
de
cumprimentos após a Sua Aclamação. ‘Primorosamente educado,
nunca
fazia
sentir aos quantos d'Ele se acercavam que era o Rei’,
escreveu
Costa
Cabral, in "Memórias III”. Efetivamente, El-
Príncipe Real D. Luís Filipe na casa de jantar do Hotel Europa, onde hoje está instalado o Museu do Traje de Viana do Castelo
Rei Dom Manuel II de Portugal foi o primeiro Monarca no mundo a introduzir uma
com os Portugueses.
forma de relacionamento moderno com os súbditos, sendo mesmo, Sua Majestade Fidelíssima, o primeiro Chefe de Estado
Também, Seu Augusto irmão foi exemplo da mais genuína
mundial a estabelecer uma relação de proximidade pública com
simpatia e bem-querer ao Povo português. In ‘Carta do Tenente
o Povo, pois esse relacionamento ia ao encontro do que
-Coronel Joaquim Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe Real D.
pretendia: informar as vantagens da Monarquia e unir a Coroa
Luís Filipe’ pode-se bem constatar que reinar, longe de ser um privilégio, é um ofício de serviço em prol da Comunidade: ‘Ninguém como o Rei tem de se esquecer de si para pensar em todos, ninguém como ele tem que levar a abnegação ao maior extremo, ninguém como ele precisa de ser soldado na acepção mais lata e sublime desta palavra. O Rei é uma sentinela permanente que não tem folga. Enquanto vive, tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos. Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos. O Rei tem de se esquecer de si para pensar em todos.’ E, continua, Mouzinho de Albuquerque in ‘Carta…’ a SAR O Senhor Dom Luís Filipe de Bragança, (21/03/1887 – 01/02/1908), 5.º Príncipe Real de Portugal (jurado herdeiro do Trono, em Maio de 1901), 4.º Príncipe da Beira e 22.º Duque de Bragança, um Rei a Ser, que viu a Sua jovem vida, ainda nos primeiros capítulos, ceifada aos 20 anos, – juntamente com a D’El-Rei Dom Carlos I de Portugal, Seu Pai - a 1 de Fevereiro de 1908 pelo terror republicano dos facínoras da organização Carbonária, no assassinato que ficou tristemente conhecido na nossa História como ‘O Regicídio’, e que, com estas mortes, num período tão abundante de esperanças, acontece o primeiro sinal das mais trágicas desilusões: ‘Enquanto vive tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos. Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos; dele fiam os ricos a sua fazenda, os pobres o seu pão e
D. Manuel II com mulheres do Povo
todos nós a honra do país em que nascemos, que é a honra de 3
todos nós!’ Ainda de tenra idade, com apenas cinco anos, Dom
sido mais familiar, pois os políticos andavam desviados de seus
Luís Filipe deu prova dessa bondade para com os outros, quando
passos, ao contrário do sucedido no Porto’, Rocha Martins in D.
uma humilde mulher se aproximou do seu Príncipe Real e se
Carlos, pp. 409 - 412.
ajoelhou a seus pés para em seguida lhe agarrar e beijar as mãos
Em termos culturais, foi durante os reinados da Dinastia de Avis
uma após a outra, ao que D. Luís Filipe retorquiu: ‘Levante-se, eu
que se verificou a maior aculturação dos Príncipes e
não sou Deus!’
reflexamente a de Portugal. O gosto pelos autores clássicos,
Era um grande futuro que estava a ser preparado para Portugal,
pelas letras, resultado da esmerada educação dos Príncipes da
com um Príncipe assim, que havia de levar novamente o País à
Dinastia de Avis, propiciou a difusão dos textos clássicos. Era a
cumeada da Glória e aprontar para este tão grande Povo mais
introdução da mentalidade Humanista do Renascimento em
grandes feitos. ‘Viana do Castelo acarinhou-o. As mais formosas
Portugal. É com o início da Dinastia de Avis que, de facto, a
raparigas o saudaram, com seus trajos garridos, seus sorrisos e
sociedade portuguesa sofre a sua maior metamorfose. Para
encantos; abriram-se para ele todas as graças da lindíssima cidade e
começar a língua portuguesa toma a sua característica e
no seu hotel, já familiarizado, conversou, riu, fez perguntas ao
inconfundível fisionomia que é enriquecida com os neologismos
Coronel Lacueva, comandante militar, e a quantos se lhe
que advém do contacto com as obras clássicas.
aproximaram. O alto Minho chamava-o; Ponte da Barca, Monção,
A Dinastia de Bragança foi berço de Reis preclaros e
Caminha, disputavam-no e como nessas encantadas regiões tivesse
profundamente criativos: Dom João IV, de acordo com Joaquim Veríssimo Serrão, ‘para além do monarca e do restaurador, impõe-se considerar nele o artista e o letrado, o amador de música que, no seu tempo, esteve à altura dos maiores de Portugal.’ De facto, deve-se a El-Rei Dom João IV, a autoria do Hino Natalício, Adeste Fidelis. Do ponto de vista cultural o reinado de Dom João V é profícuo, com Dom José I dá-se a refundação da Universidade em 1772 e a instituição de uma Biblioteca Pública. Já Dom Luís I traduzia Shakespeare, pintava, compunha música e executava com mestria o Violoncelo e organizou uma Galeria de Pintura aberta ao público na Ajuda, El-Rei Dom Carlos I foi um dos melhores aguarelistas da Sua época e o melhor pintor a pastel português da Sua era, pois a pintura com esta técnica não admite correcções, e as telas do monarca até se assemelham a óleos que poderiam ombrear com os mais renomados pintores mundiais do Seu tempo. Porque será que hoje, em República, a Cultura tem para os responsáveis políticos um papel tão irrelevante?! Quanto à Rainha de Portugal foi sempre a Primeira Senhora do País e como tal a mais alta representante da Mulher Portuguesa; ora na república tentam converter esse papel de símbolo máximo da identidade da mulher portuguesa num sucedâneo que é o de
A Rainha D. Amélia
4
primeira-dama, só que a mulher de um presidente da república
POVO E NÃO POPULAÇÃO! Pois não se trata apenas de um
não pode assumir esse atributo uma vez é apenas uma cidadã
conjunto
comum que não têm qualquer incarnação histórica da Nação e
determinado território.
das suas mulheres, nem pode representá-los uma vez que não
de
pessoas
que
residem
habitualmente
num
A Nação é uma comunidade estável constituída, historicamente,
recebeu qualquer mandato, carecendo mesmo, como é o caso
com base num território, numa língua, e com aspirações
de Portugal, de consagração constitucional – e muito menos
materiais e espirituais comuns. A Nação é pois o agregado de
uma ex-consorte presidencial. Assim sendo, a titularia de
indivíduos constituído por vontade própria e não reunido de
primeira-dama é uma tentativa das repúblicas em suprir a falta
uma forma acidental. Por isso o Povo não pode ser apenas a
de uma Rainha que, realmente, representa as naturais do País e
margem de manobra dos políticos republicanos.
as famílias.
O que falta, então, para que Nação e Povo recuperem a sua
O conceito de Povo, do qual todos somos parte, não tem
expressão ampla?!
qualquer depreciação nem se distingue com concepções aristocráticas de outras classes, distingue-se sim da multidão, da
Falta o Rei de Sua Nação e do Seu Povo, independente e livre de
turbamulta, pois ‘o Povo não é uma multidão unida de qualquer
estranhas tutelas!
maneira mas antes como uma multidão unida pelo consenso do
Recorde-se a divisa d’ El-Rei D. João II, ‘Pola Ley e pola Grey -
direito e pela utilidade comum.’, como o descreveu Cícero. Isto é,
Pela Lei e pelo Povo’, figurada depois num Pelicano, alimentando
o Povo é usualmente concebido como um conjunto de
as crias com o seu próprio sangue, isto porque o pelicano é um
indivíduos, que num dado momento histórico constitui a Nação.
animal muito devoto à sua prole, que perfura o seu próprio peito e alimenta as suas crias com o seu sangue. Assim numa Monarquia o Povo é ele uma pessoa jurídica, e no Reino de Portugal, utilizou-se, como equipolente, a noção de Grei, do grego grege – grupo -, pelo que, assim, o Povo aparece na divisa de D. João II ‘Pola ley e polagrey‘, não como uma classe ou a camada mais baixa da população, mas como a totalidade da Comunidade. É por isso que, D. Francisco de Almeida definiu o Povo ou a Grei como a ’congregação de nossos parentes, amigos e compatriotas, a que chamamos república’, pelo que a isso não é alheio a visão voluntarista de Reinar, de dever perante o Povo que os Reis de Portugal sempre tiveram: Reinar em prol do Bem Comum; até porque a Monarquia Portuguesa era uma verdadeira Monarquia Popular, em que a Coroa, o Poder Real, a Graça de Reinar era transmitida por intermédio da Comunidade, sendo
a
Aclamação
Popular
o
passo
jurídico
que
verdadeiramente fazia o novo Rei, um Rei Eleito pelo Povo e para o Povo, ou seja, para reinar para o bem do Povo, para o bem da Comunidade, da Grei, da Res Publica. O Rei traduzia a vontade nacional, sentindo com o Seu Povo, fazendo seus os problemas deste e transmitindo as suas ânsias aos políticos. O Rei tinha de pôr em primeiríssimo lugar os interesses do próprio Povo e da Nação tendo por dever fundamental reinar ’em prol do comum e aproveitança da terra’. O Rei, o Supremo Magistrado da Nação que, acima de tramas partidárias, independente de um calendário político, dispõe da equidistância e da legitimidade para actuar como moderador entre as várias facções políticas ou demais grupos da sociedade civil evitando más políticas, más leis, e mesmo conflitos e efervescência social. Como estatuía o Artigo 71.º da Carta Constitucional de 1826: ‘O Poder Moderador é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao Rei, como Chefe supremo da Nação, para que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos mais 5
"A generalidade das repúblicas estão presas a um sistema que não é mais do que o poder pessoal organizado, em que ao esquadro e compasso maçónicos, junta-se a aritmética economista liberal e o poder pessoal de corporações, famílias, facções que se assenhoraram das repúblicas transformando a Comunidade numa soma bruta de indivíduos e o governo da liberdade ficou sendo a tirania das minorias, que têm como propósito garantir aos seus detentores e sequazes os melhores cargos, os melhores negócios à sombra da qual se fabricam, sem decoro, fortunas, essa sim uma verdadeira Corte, mas de oligarcas." Poderes Políticos.’ Este Poder competia privatisticamente ao Rei,
sejam Monarquias, que os Países Mais desenvolvidos são
mas não era um poder pessoal, mas para arbitrar, digamos que
Monarquias, que os Povos Mais Felizes vivem em Monarquias,
uma fonte de imparcialidade, uma possibilidade de travão e
que os Países Menos Corruptos são Monarquias, que os Países
contrapeso contra políticos eleitos e suas disposições que
com Maior Liberdade de Imprensa são Monarquias, que os
poderiam procurar obter poderes maiores aos atribuídos pela
Países com os Salários Mais Elevados são Monarquia, que…,
Constituição, e assim, em último caso, até mesmo uma cautela
que…, que….
contra a ditadura.
O Povo não pode ser apenas a margem de manobra dos
Mas mesmo que ainda existissem súbditos no sentido lato da
políticos republicanos. Recordemos a violenta crítica do método
palavra, mais valia ser súbdito numa Monarquia do que um lacaio
demoliberal que J. Pedro de Oliveira Martins deu à estampa no
encarneirado, contribuintes dispostos em fila indiana, uma
século XIX, em As Eleições: ‘As eleições liberais individualistas são
multidão amorfa, uma massa ignara, que os políticos que
o sofisma da representação; não por vício dos homens, embora os
sobraçam o poder pretendem que, os cidadãos de uma república
homens sejam viciosos, mas por essência do errado princípio que os
hodierna, sejam.
dirige:
só
quando,
outra
vez,
se
compreender
(e
agora
conscientemente) que a Sociedade é um corpo vivo, e não um
A generalidade das repúblicas nem são democracias – sim pasme
agregado de indivíduos, só então tornará a haver representação
-se: república não é sinónimo de democracia -, até porque das
verdadeira e ordem na democracia.’
135 repúblicas que estão contabilizadas apenas o somítico número de 53 são verdadeiras democracias. Antes, a
É, POIS, UM REI QUE QUEREMOS!, pois só um Rei traduz a
generalidade das repúblicas, mesmo as que não se confundem
vontade nacional, sentindo com o Seu Povo e a Sua Nação. O
com ditaduras, estão presas a um sistema que não é mais do que
Povo não é uma amálgama de indivíduos, mas um conjunto de
o poder pessoal organizado. Nesse Estado das Coisas
entes que num dado momento histórico constitui a Nação, uma
republicano, ao esquadro e compasso maçónicos, junta-se a
comunidade
aritmética economista liberal e o poder pessoal de corporações,
historicamente, com base num território, numa LÍNGUA, e com
famílias,
repúblicas
aspirações materiais e espirituais comuns. Ora se a Nação
transformando a Comunidade numa soma bruta de indivíduos e
estiver constituída em Reino, e uma vez que Monarquia é uma
o governo da liberdade ficou sendo a tirania das minorias, que
instituição que contém um peso emblemático, todos se sentirão
têm como propósito garantir aos seus detentores e sequazes os
parte de um Todo.
facções
que
se
assenhoraram
das
melhores cargos, os melhores negócios à sombra da qual se
estável
constituída
por
vontade
própria,
Ser Rei é ser Pai duma Nação, que dá olhos à Lei cega, que
fabricam, sem decoro, fortunas, essa sim uma verdadeira Corte,
obriga a pôr certas as contas que andam tortas, que ouça tanto
mas de oligarcas. Hoje é mínimo o número de votantes quando
júbilos como queixumes; ou seja, uma Mão Justa auxiliada pelas
comparado com os eleitores escritos o que revela esse
forças vivas da Comunidade.
distanciamento da maioria face à minoria que a domina não por génio ou superioridade intelectual, mas apenas porque se
Um Rei nunca olhará convenientemente para o lado, nunca se
apropriou dos meios de poder, coacção e opressão. A história
enclausurará, mas desempenhará a Sua função de Monarca com
sempre confirmou isso: os mais pobres e os sem poder não têm
brio, sem cair no desvario, no excesso, sem se deixar embriagar
como se afirmar!
de poder e deslumbrar pelos aplausos! E defenderá a Sua cultura, a Sua Língua e a Nação, que encarna historicamente,
Mas se na Idade Média os mais pobres não reclamavam do
como mais ninguém o poderá fazer.
destino para o qual haviam nascido - que parecia ser inevitável e comiam raízes e bolotas, vivendo dos bodos comunitários e da
Por isto tudo: MAIS VALE SER SÚBDITO NUMA
caridade da Igreja, hoje a maioria não pode ser tomada por
MONARQUIA
ignara, nem em carne para holocausto ou epidemias.
REPÚBLICA!
Não pode ser coincidência que os Países mais democráticos 6
DO
QUE
LACAIO
NUMA
Editorial Primeiro de Dezembro de 1640, RESTAURAÇÃO, restituição do seu a seu dono, desagrilhoando a usurpação da nossa identidade. Dava-se o regresso à forma legítima, tradicional, pondo termo à tirania usurpadora dos soberanos espanhóis. Daí, Restauração significar restituição, como forma de ajustar a ideia de liberdade à ordem da razão, como autonomia ou independência que consiste, obrigatoriamente, na possibilidade de regermos os nossos próprios destinos, sem interferências de tiranetes, os chamados usurpadores de poderes e/ou autonomias. Trezentos e setenta e sete anos depois o significado deste acontecimento continua presente e actual, mesmo que, à boa maneira medievalista, se possa debater com renovado vigor a questão da compatibilidade ou incompatibilidade entre a liberdade humana e a presciência divina. Hoje em dia essa questão já não se coloca, tendo em conta que a liberdade reside no determinismo, o mesmo determinismo com que aquele punhado de conjurados, atentando contra a sua própria liberdade, resolveu pôr termo à unidade dinástica e unificação institucional espanhola, iniciada por alturas de 1620, cujo objectivo apontava, única e exclusivamente, para a mudança radical que tendia a apagar os privilégios do Reino de Portugal. Sem subverter o descontentamento generalizado do povo, a organização conspirativa de nobres e letrados, tinha plena consciência que, apesar de saber poder contar com a adesão popular mas não recorre ao povo para repor a liberdade social e política, só se poderia restaurar o Estado na forma anterior à tirania através de um golpe de palácio. Impunha-se o segredo e a forma de acção, acto exemplar de ruptura modelar repetido e implementado trezentos e trinta e quatro anos depois, com o 25 de Abril de 1974. Paralelismo entre as formas de resistência tipicamente
aristocrática e militar? Talvez! Tudo em nome do Povo. Primeiro de Dezembro de 1640, um corajoso e oportuno, porque necessário, acto de liberdade social e política. Liberdade como autonomia e independência, forma de reger os próprios destinos de Portugal, cujo propósito consiste não em fugir à lei, mas em agir de acordo com as próprias leis. A Restauração foi e será para sempre um marco exemplar da ordem natural e moral, porque assente na acção voluntária. Segundo Aristóteles, as acções involuntárias são as produzidas por coacção ou por ignorância. Exemplo de acção involuntária encontramo-lo no Regicídio e subsequente descalabro político-social. O exemplo contemporâneo, arregrado da acção involuntária, foi quando alguém, politicamente bem posicionado, resolveu suprimir esta data do calendário comemorativo. Em pleno século XXI, as acções involuntárias pagam-se caro, tendo em conta que, à boa maneira sartreneana, o homem é causa de si mesmo num sentido muito radical, pois não só se escolhe a si mesmo, mas tem, além disso, que escolher o que ele mesmo vai causar. Aqui, o determinismo, ao contrário de 1640, não se pautou pela renúncia a uma decisão mais que uma posição teórica. Primeiro de Dezembro de 1640, a liberdade social e política, em nome do POVO-PÁTRIA-REI. Hoje e sempre!
Porfírio Pereira da Silva Vogal da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo
7
Ă rvore, SĂmbolos de Natal e a Realeza Miguel Villas-Boas
8
Abstract In the Monarchies there are no longer subjects, but citizens in their own right, equal before the Law and not discarded in favor of the King. The People are not the lowest layer of the population, but the whole community. Most republics are bound by a system that is no more than personal power organized in corporations, transforming the community into a gross sum of individuals, and the government of freedom has become the tyranny of minorities. The most democratic countries are Monarchies, so it is better to be a subject in a Monarchy than a lackey in a republic! Key words: subjects, People, democratic countries, monarchies
Resumé Dans les monarchies, il n'y a plus de sujets, mais des citoyens à part entière, égaux devant la loi et pas abandonnés au profit du roi: le peuple n'est pas la couche la plus basse de la population, mais c’est la totalité de la communauté. La plupart des républiques sont liées par un système qui n'est rien d'autre qu'un pouvoir personnel organisé en corporations, qui transforme la communauté en une somme brute d'individus, et le gouvernement “de la liberté” est devenu la tyrannie des minorités. Les pays les plus démocratiques sont les monarchies, il vaut donc mieux être sujet dans une monarchie que laquais dans une république! Mots-clés: sujets, people, pays démocratiques, monarchie
A celebração do Natal é a festa do Nascimento do Rei dos Reis,
Dom Fernando II, marido da Rainha Dona Maria II, e primo do
o Salvador Jesus Cristo. Mas para além disso, há uma série de
Príncipe Albert, pois nascera Prinz Ferdinand August von
iconografia natalícia que apareceu fruto do querer da realeza
Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry, introduzir o mesmo costume
fossem como próprios introdutores dos costumes ou como
no Reino de Portugal, país onde a tradição natalícia decorativa
mecenas da sua realização.
abrangia apenas o Presépio de que eram expoentes os de Machado de Castro, Barros Laborão e António Ferreira. Com o
Apesar de originária das culturas e religiões pagãs que
nascimento do Príncipe Real Dom Pedro e os infantes, Dom
celebravam a fertilidade da natureza recorrendo a árvores
Fernando II – já Rei-consorte - começou a festejar o Natal
enfeitadas, a Árvore de Natal, tout cour, que chegou aos nossos
segundo o costume germânico que experimentara durante a
dias, germinou nos costumes dos povos germânicos cristãos, a
infância na gélida Alemanha. Para além da Árvore de Natal que
partir do século XVI.
enfeitava com bolas de vidro translúcidas de variadas cores e
Porém, só com a intervenção da realeza – sempre no momento
guloseimas, das coroas de advento, o próprio monarca se
certo -, no século XIX, é que esta tradição de enfeitar o
fantasiava de São Nicolau e distribuía prendas à família –
Pinheiro de Natal, assim como demais decorações, se estendeu
conforme o confirmam gravuras a carvão ilustradas pelo Rei-
à restante Europa.
artista. Depois, até o costume se difundir pela nobreza foi um
Preponderante na dispersão europeia do costume foi quando,
passo, disseminar-se-ia, então, pela burguesia e, finalmente, pelo
em 1846, o Príncipe germânico Albert de Saxe-Coburgo-Gotha
Povo, para durar até aos dias de hoje.
(Dinastia Wettin), marido de Sua Majestade A Rainha Vitória do
Quanto ao Presépio, em Portugal, os primeiros presépios de
Reino Unido, armou uma árvore de Natal no Castelo de
que há memória datam do século XVI, mas é no século XVIII,
Windsor. A enfeitar o Pinheiro de Natal, foram pendurados nos
que se executam os melhores presépios, alguns dos quais
ramos, nozes pintadas de dourado, bolas coloridas, frutas
verdadeiras obras de arte – e é disso que, verdadeiramente, se
cristalizadas diversas e de múltiplas cores cobertas de açúcar,
trata. O Presépio da Basílica da Estrela, no qual figuram cerca
pacotes de doces, enfeites de correntes de papel colorido.
de 500 peças, foi uma encomenda da própria Rainha D. Maria I
Flores e laços de tecido, também coloriam a árvore. Por fim,
de Portugal - que mandou igualmente construir a Basílica e o
como iluminação, penduraram pequenas velas em potes de vidro
Convento – a Machado de Castro. O nome Machado de Castro
cuja luz reflectia no pó de vidro espalhado para dar mais
ou o da sua Oficina surge ligado a diversos presépios não só
luminosidade e efeitos e contrastes de luz à árvore. Depois,
públicos como particulares – especialmente para a Família Real -
bastou uma gravura da família real junto do pinheiro de Natal, e
que se acham dispersos de norte a sul do País, nomeadamente, o
que haveria de ser publicada na revista Illustrated London News,
da Sé Patriarcal de Lisboa, fabricado em 1776.
para a tradição se estender por todo o domínio do Império
Quanto ao Bolo-Rei, é legado dos romanos que, primeiro,
Britânico e por toda a Europa cristã.
persistiu somente em França onde tem duas formas de
Corria, ainda, o mesmo século XIX, quando o Rei-consorte
confecção: no Norte é em massa folhada e, no Sul, um 9
brioche recreado com frutas caramelizadas, tal como o Bolo-Rei
intransigentes; e a designação Bolo-Rei prevaleceria ad eternum.
português que por isso deriva do segundo. Foi precisamente das
Se o bacalhau é o fiel amigo, o Bolo-Rei é o Real Amigo e
suas viagens por França, que Baltazar Castanheiro II, filho do
sempre permanecerá: inventem quantos pastelinhos quiserem e
fundador da Confeitaria Nacional, trouxe a receita do Bolo-Rei,
nomeiem-nos de ‘presidentes’ – como em Cebolais de Cima
mais precisamente de Toulouse.
(história verídica) -, de ministros, de edis, de vereadores, mas o
Mas claro, é mérito da Confeitaria Nacional e do seu
Real pastel perdurará sempre entronizado nos nossos corações
empreendedor de confeitaria pegar numa receita do bolo
e palato como Bolo-Rei!
francês e convertê-la no icónico e típico doce português: o bolo
Há, ainda, uma Canção de Natal, Adeste Fideles, mundialmente
redondo, em forma de coroa, com frutos secos e cristalizados e
conhecido pelo título de Hino Português escrito e composto
polvilhado com açúcar. O Bolo-Rei logo se tornou um sucesso,
por El-Rei D. João IV de Portugal, a exemplo de muitas outras
e a Confeitaria Nacional foi nomeada, por El-Rei D. Luís I,
obras, na escola de música que fundou no Paço Ducal dos
fornecedora oficial da Casa Real. Depois até se generalizar, dada
Bragança, em Vila Viçosa. Foram encontrados dois manuscritos
a qualidade do produto, foi um ápice: o Bolo-Rei, assim chamado
desta obra, datados de 1640, no Palácio Ducal de Vila Viçosa,
por causa da forma de Coroa, não mais abandonaria as mesas
que era propriedade dos Duques de Bragança. Os ingleses
nacionais, sobretudo na época Natalícia.
atribuíram, erroneamente, a autoria desse hino a John F. Wade
Já na república velha, aquela instaurada por intermédio de um
que não pode ter composto a partitura, uma vez que o seu
processo revolucionário, que durou entre 1910 e 1926, Afonso
manuscrito está datado ulteriormente, de 1760, pelo que Wade
Costa e Bernardino Machado mudaram o nome do Bolo-Rei
se limitou a traduzir o Hino Português, como de resto era
para Bolo-presidente, mas os portugueses não engoliram… nem
designado à época, e usurpado os louros.
a imposição, nem a nomenclatura nascida daquelas mentes
10
“A monarquia – na sua mais genuína expressão – sempre teve um carácter fortemente popular. Característica que ainda hoje é possível verificar e tudo se deve fazer para que assim continue.”
11
RGAM. – Neste estado das coisas com um sistema de governo republicano constitucionalmente petrificado e volvidos 107 anos sobre a revolução que implantou este regime, porque é que ainda faz sentido ‘Ser Monárquico’?
FAL. – É errado considerar que a monarquia é sinónimo de nobreza ou aristocracia. Nada é mais errado. Há monarquias onde não há títulos de nobreza. E o que acontece na república? Não há comendadores aos milhares e grã-cruzes aos centos?
FAL. – O “ser monárquico” não depende do insucesso do sistema republicano nem do comodismo da monarquia.
Os títulos de nobreza são um expediente de que certas monarquias usam para distinguir aqueles que por mérito – “por obras valorosas” – merecem ser mais expostos à admiração e respeito público.
Um monárquico – e deve sempre assumir-se como tal – é por convicção e não por exibição. Ser monárquico é sê-lo pelo coração e por inteligência e não por usar a insígnia na lapela. Faz sentido ser monárquico mesmo nesta república de opereta – onde infelizmente muitos considerados monárquicos colaboram porque o ser monárquico é um estado de alma e não um oportunismo.
O que muitos não entendem é que descendentes dos galardoados usem os títulos que aos seus ascendentes – por mérito próprio – foram atribuídos. A esses dou razão. O título deve ser usado por quem o mereceu e não por algum parente – que eventualmente – mereça distinção. Neste particular a república é mais restritiva pois as centenas ou milhares de condecorações atribuídas extinguem-se com o seu titular. O que seria de inusitado se hoje o descendente de um comendador ou grã-cruz se atrevesse ou se considerasse com o direito a usar essa distinção?!
RGAM. – É extraordinariamente complicado contrariar a teoria de que Monárquico é sinónimo de nobre ou aristocrata, e que a Monarquia é um regime antiquado e de privilégios. Que fazer para contrariar essa tese tão distante do que realmente se defende?
Francisco Maia de Abreu de Lima nasceu na sua Casa do Antepaço, na freguesia de Arcozelo (Ponte de Lima), a 27 de Maio de 1930, tendo sido o mais novo dos três filhos de Gonçalo de Abreu de Lima e de sua mulher D. Maria Guilhermina de Abreu Pereira Maia. Casou nesta vila, na Casa da Baldrufa, de seus sogros, a 19 de Setembro de 1959, com Maria Corina Amorim Vieira Lisboa e teve 3 filhos - Gonçalo, Maria Francisca e Rita. Frequentou os três primeiros anos de escolaridade na Escola Primária de Ponte de Lima, completando este ciclo já em Coimbra, onde prosseguiu os estudos, primeiro no Liceu D. João III e depois na Faculdade de Direito da respectiva Universidade, onde concluiu a Licenciatura em Direito. No exercício da sua actividade profissional, desempenhou os cargos seguintes, quase todos no exercício da Função Pública:
•
Escriturário na Junta de Colonização Interna (Ministério da Economia), ainda como aluno voluntário de Direito passando, depois de concluído o curso, a Técnico do Contencioso daquele organismo;
•
Secretário do Ministro das Corporações e Previdência Social (1961 a 1970);
•
Primeiro Assistente dos Serviços da Acção Social do mesmo Ministério;
•
Vice-Presidente da Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família;
•
Presidente da Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas;
•
Presidente da Caixa de Previdência dos Transportes Automóveis;
•
Vice-Presidente da Caixa de Previdência e Abono de Família e dos Serviços Médico-Sociais do Distrito de Lisboa;
•
Director Adjunto do Reabilitação Profissional;
•
Presidente da Direcção dos Serviços Sociais do Ministério do Trabalho
Serviço
de
•
Assistente do Sindicato Nacional dos Motoristas do Distrito de Lisboa (por duas vezes);
•
Vogal da Comissão Instaladora dos serviços Sociais do Ministério da Saúde;
•
Secretário-Geral do Instituto Superior de Economia (em regime eventual);
•
Director Administrativo e de Relações Públicas da SAPEC – Produits et Engrais Chimique du Portugal;
•
Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima (1986-1990) e Vereador da mesma autarquia (1998-2001); 12
•
Presidente do Conselho Directivo do Centro Regional de Segurança Social de Viana do Castelo.
Ao longo da sua carreira participou em diversos grupos de trabalho em representação dos Ministérios onde exerceu funções, como foi o caso da Comissão Coordenadora dos Serviços Sociais do Secretariado da Reforma Administrativa, da Comissão de Estudo da Extensão ao Ultramar do Sistema de Previdência Portuguesa, da Comissão de Estudo para o processo de cobrança das dívidas à Previdência Social e da Qualificação e Funções dos Agentes de Acção Social. Foi sempre um colaborador activo das iniciativas de valorização dos interesses sociais da comunidade, quando nelas se revia, bastando destacar a sua participação como Sócio-Fundador da TURIHAB - Associação de Turismo de Habitação, da Associação Portuguesa de Casas Antigas, da Associação para a Amizade e Cooperação Portugal/Brasil ou da Liga Limiana dos Amigos do Caminho de Santiago. Ou ainda como Presidente da Assembleia Geral da Adega Cooperativa de Ponte de Lima ou, tão simplesmente, como voluntário das iniciativas de solidariedade social da Luta contra a Pobreza. Por tudo isto se justifica ter sido agraciado com a Comenda da Ordem da Benemerência, reconhecido Cidadão de Mérito de Ponte de Lima ou investido como Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.
É certo que no regime monárquico se atribuíram títulos de nobreza a esmo. Quem não recorda a frase: “foge cão que te fazem barão; para onde se me fazem visconde?”
república se o presidente se mostrar incapaz é substituído – até às próximas eleições – por um membro de outro órgão de soberania que nunca esperou que tal tragédia lhe caísse em cima!
A monarquia – na sua mais genuína expressão – sempre teve um carácter fortemente popular. Característica que ainda hoje é possível verificar e tudo se deve fazer para que assim continue.
Sobre esta questão muito se tem escrito e não considero que – numa curta entrevista – seja possível ir mais além do que referi.
RGAM. – O Sr. Doutor ocupou vários cargos públicos, nomeadamente o de Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima de 1986 a 1990, pautando-se por rigorosos critérios de ética para melhor servir a comunidade, mas hoje muitos agentes do Estado não raras vezes se afastam dos princípios da transparência que se exigem na gestão da coisa pública (res publica). Será que com um Rei, ao dar o exemplo de virtude moral e ética e interessado no bem da coisa comum isso se reflectiria, também, nos demais?
RGAM. – Como pode e deve um Monárquico intervir na discussão para defender a bondade do regime Monárquico?
FAL. – Há um ditado muito conhecido mas pouco entendido: “um fraco Rei faz fraca a forte gente”. Acrescento outro: “o exemplo vem sempre de cima”. Quando não há exemplo a seguir o que se pode exigir de quem necessita de ser orientado?
Deve ser solidário e estar na primeira linha do bem fazer.
FAL. – Acima de tudo com o seu exemplo. O monárquico tem obrigatoriamente de ser um cidadão exemplar quer na vida pública, quer na vida privada. Deve ser de uma honestidade inatacável. Deve ser um trabalhador atento, amigo dos colegas, incansável no objectivo de bem servir.
Um Rei deve ser como um farol que orienta toda a comunidade. Se o brilho se extingue ou se muda de intensidade deixa de ter seguidores honestos, com moral e ética.
RGAM. – Além dessa, quais as outras principais vantagens de um regime Monárquico em que há uma sucessão hereditária na transmissão da Chefia do Estado face ao modelo republicano de eleição de um presidente? FAL. – O regime monárquico – porque, por princípio, é hereditário – só traz interesse para o País. O Rei é educado, desde que cresce para exercer funções com vista à felicidade do seu povo. O Rei não tem partido e por isso não depende de nenhum deles. O Rei não é eleito, por isso está acima das quezílias partidárias e dos insultos eleitorais. É corrente dizer-se que o Rei pode tornar-se incapaz de exercer as suas funções. Um Presidente da República está acima dessa possibilidade? Exemplos não faltam. O nosso Rei D. Afonso VI demonstrou-se incapaz de reinar. Solução: reunidas as mais elevadas autoridades foram-lhe retirados os poderes e estes entregues a seu irmão. No caso da
Em Coimbra, com o Dr. Álvaro Braga da Cruz
13
Deve ser elemento orientador da família.
visto que o actual modelo político é um modelo eleitoral vencido, extinguindo um horizonte de efectiva Democracia, é preciso gizar o regime Monárquico que se propõe como alternativa. Assim sendo, como deveria, por exemplo, ser um Parlamento numa Monarquia?
Deve – repito – ser um exemplo em tudo e para todos.
RGAM. – Existem vários modelos de Monarquia, a orgânica e pelo menos dois tipos diferentes de Monarquias Constitucionais no mundo contemporâneo: Executiva e Cerimonial e dentro desta última, o Monarca pode ter funções estritamente cerimoniais ou possuir poderes de reserva, o chamado Poder Moderador. Qual o modelo de Monarquia que defende para Portugal?
FAL. – Não conhecendo, em profundidade, o sistema parlamentar de outras monarquias é difícil apresentar um modelo a seguir. Seria desejável que uma lei dos partidos e uma lei eleitoral reduzissem o número de partidos – como há, por exemplo, na Inglaterra – para que o parlamento não se transforme numa arena. Deveria haver um regulamento severo do parlamento para que aí se discutissem com elevação e educação e bom senso os problemas que interessam ao País.
FAL. – Considero que não se deve, de início, optar por um modelo. Com o decurso do tempo devem introduzir-se alterações que não vulgarizem o sistema mas o adaptem às novas circunstâncias.
RGAM. – Quer deixar umas palavras finais sobre algum aspecto que não tenha sido abordado?
RGAM. – Na hipótese – que desejamos breve - de um Rei que substituir um presidente como Chefe de Estado em Portugal, que papel e funções constitucionais deveria ter?
FAL. – Uma palavra final: que os monárquicos que o são por convicção, continuem a ser cidadãos exemplares, que procuram – com a sua postura – trazer novos elementos sem a preocupação da sua origem social.
FAL. – Um Rei não pode ser um “corta fitas” como certos Presidentes da República mas ser um interveniente – mesmo que último – em momentos graves da vida nacional. Para isso há leis que – por todos – tem que ser observadas. Cada situação determinará a necessidade de intervenção e aí está o Rei para o fazer. Não deve “estar de palanque” à espera que alguém resolva a situação.
RGAM. – Muito obrigado.
Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação de Viana do Castelo
RGAM. – Para além de dizer que queremos “a Monarquia”, e 14
Fotografia da visita de S. A. R. o Senhor D. Duarte Nuno, à Casa de Nossa Senhora d'Aurora em Ponte de Lima, no dia 20 de Outubro de 1955, onde é possível identificar diversas pessoas, simpatizantes do ideal monárquico, que aproveitaram a presença do Chefe da Casa Real Portuguesa para apresentar cumprimentos. Na 1.ª fila ao lado do Senhor Duque de Bragança (da direita para a esquerda) o terceiro é o Sr. Conde d'Aurora e o 6.º é o Sr. D. Carlos Martins Pinheiro, Bispo Titular de Dume e Auxiliar de Braga, na altura pároco da vila de Ponte de Lima, e das paróquias de Arca e Feitosa e Arcipreste de Ponte de Lima. Nesta fotografia, identificado com um círculo, encontra-se o Dr. Francisco Abreu e Lima.
15
O meu veemente protesto Carlos Aguiar Gomes
Diz o povo, na sua imensa sabedoria dos simples que: “QUEM CALA, CONSENTE”. E o povo tem razão. Temos estado muito calados face a ataques sistemáticos à nossa identidade cultural e espiritual. É indecente este nosso silêncio cobarde quando os nossos valores e a verdade da nossa história são torpedeados nada inocentemente. Vou, pois, ao meu protesto veemente.
várias vezes que se estava a comemorar a “restauração da independência da … república portuguesa!”. Que dislate! Que ignorância enviesada! Que afronta à nossa história! Inadmissível! O 1º de Dezembro é a comemoração da independência de Portugal. Ponto. A república foi imposta a Portugal em 5 de Outubro de 1910, muitos anos depois dessa manhã gloriosa de 1640, bem distante, assim desse golpe de Outubro de 1910. E o apresentador até acabou dando vivas à república! Como é possível tamanha ignorância nestes fulanos que se arrogam de “fazedores da opinião pública”!
Na transmissão das cerimónias dos “Restauradores”, em Lisboa, para todo o mundo, enquanto iam falando sobre as Bandas de Música que abrilhantaram a cerimónia de homenagem aos “bravos de 40”, no último 1º de Dezembro, os dois apresentadores da RTP, do programa “Agora Nós” disseram
O 1º de Dezembro não é festa de monárquicos nem de republicanos. É festa maior de Portugal! E numa simbiose de 16
bom senso, na tribuna de honra estava o actual Chefe de Estado e a seu lado a Senhora Duquesa de Bragança.
Abstract On December 1st, the two presenters of RTP 1, from the program "Agora Nós", said several times that it was celebrated on that day the “restoration of the independence of the ... Portuguese Republic!”. What a nonsense! What skewed ignorance! What a shame to our history! Inadmissible! December 1st is the restoration of the independence of Portugal from Spain in 1640.
Eis as afirmações proferidas e os seus autores durante o programa “Agora Nós” do dia 1 de Dezembro, na RTP 1. José Pedro de Vasconcelos a certa altura referiu que se estava a: “assistir à restauração da república” e a Tânia Ribas de Oliveira continuava afirmando. “… Estamos a comemorar a restauração da independência da República, foi em 1640 … a comemorar naturalmente o 1.º de Dezembro que assinala a restauração da república em 1640…”. Acrescentando ainda:
Key words: restoration of the Independence, 1640 Resumé
“…Já sabe que estamos naturalmente a celebrar a independência da República portuguesa que tem 367 anos…”
Le dernier 1er décembre, les deux présentateurs de la RTP, du programme “Agora Nós”, ont affirmé plusieurs fois qui a été célébré ce jour “la restauration de l'indépendance de la ... République portugaise!". Quelle absurdité! Qu'est-ce qui fausse l'ignorance! Quelle honte à notre histoire! Inadmissible! Le 1er décembre est la commémoration de l'indépendance du Portugal de l'Espagne en 1640.
Por fim, José Pedro Vasconcelos remata assim o programa: “E Viva Portugal e Viva a República”.
Aqui estão as razões do meu protesto!
Mots-clés: restauration de l'indépendance, 1640
S. A. R. a Senhora D. Isabel de Bragança, na cerimónia do 1.º de Dezembro de 2017 em Lisboa
17
Jantar dos Conjurados 2017 No dia 30 de Novembro de 2017, as Reais Associações de Braga e Viana do Castelo, com a Colaboração da Real Associação do Porto, realizaram o tradicional Jantar dos Conjurados.
19), via internet, deixando S.A.R. uma palavra para o futuro e uma missão às Reais Associações, a de estarem atentas à intervenção das diferentes autoridades na protecção às vítimas dos incêndios ocorridos durante o presente ano.
Quer a Real Associação de Viana do Castelo, quer a Real Associação do Porto fizeram-se representar ao mais alto nível, através dos seus presidentes, respectivamente o Dr. José Aníbal Marinho Gomes e o Dr. Jorge Leão.
O Dr. Gonçalo Pimenta de Castro, Presidente da Direcção da Real Associação de Braga, como anfitrião do evento e numa curta intervenção relembrou uma passagem de um dos livros do Coronel de Infantaria, Gonçalo Pereira Pimenta de Castro, seu antepassado, a que deu o nome de “A Restauração segundo o Coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro”, que pode ser lida na página 26, a que se seguiu a intervenção do palestrante convidado, o Dr. Carlos Aguiar Gomes, Mestre da Militia Sanctæ Mariæ e Presidente da Associação Famílias, que versou o tema: “E hoje, o que fariam os Conjurados?”, intervenção que muito cativou a audiência e desencadeou uma forte salva de palmas no final e que devido ao seu interesse se transcreve na página 22.
Importa destacar também a presença do CEO da Tv Monarquia Portuguesa Arq.to José Peres Silva Basto, canal que recolheu imagens do evento. Manter a memória do extraordinário acto de coragem do grupo de fidalgos portugueses, que na noite de 30 de Novembro de 1640, juntaram-se e arquitectaram para o dia seguinte a rebelião que viria a ser conhecida como a Restauração da Independência. Este é o grande simbolismo desta noite, lembrar que Portugal não se entrega, nem se conquista, Portugal terá sempre quem lutará pela sua independência e liberdade.
O Jantar dos Conjurados de 2017, angariou o valor de duzentos e cinquenta Euros, que foi oferecido à Associação Famílias, Instituição Particular de Solidariedade Social, nascida em Braga, e que é já uma referência e um apoio para as famílias que a procuram, independentemente da situação em que vivam. A acção da Associação Famílias pode definir-se como uma acção multifacetada nas áreas da formação (para a vida conjugal, da vida conjugal, da parentalidade, da prevenção da toxicodependência, etc.); da informação (direitos e deveres da Família, p. ex.); da denúncia de situações agressivas dos direitos dos Pais e das Famílias; do apoio à vida nascente, na mediação e orientação familiar; assim como, na promoção da qualidade de vida das famílias.
Este ano o jantar realizou-se na Cidade de Braga, no T4 Restaurante & Bar, e contou com a participação de mais de sessenta “Conjurados”, incluindo dois descendente de Dom Antão de Almada, um dos 40 fidalgos que compunha o grupo de revoltosos, tendo sido ele que cedeu a sua casa para a realização das reuniões preparatórias da revolta ꟷ os nossos muito estimados Dom José de Almada e seu irmão, Dom Lourenço de Almada, Conde de Almada, ꟷ o que muito honrou os presentes, sendo também uma forma de homenagear, através desta presença, todos os participantes de então na restauração da independência.
No próximo ano, o Jantar dos Conjurados será realizado em Viana do Castelo.
Esteve também presente o Provincial da Província de São Nuno de Santa Maria, da Militia Sanctæ Mariæ, o Dr. Filipe Amorim. Foi ouvida a Mensagem do 1º de Dezembro de 2017 de S.A.R. o Senhor Dom Duarte (que se transcreve na página 18
Mensagem do 1º de Dezembro de 2017 de S.A.R., o Senhor Dom Duarte de Bragança As minhas primeiras palavras, neste findar do ano de 2017, são de pesar pelas vítimas dos incêndios da nossa floresta, e para manifestar solidariedade para com os sobreviventes que viram ceifadas tantas vidas de familiares e tantos bens destruídos em seu redor. A morte e sofrimento de tantas pessoas não pode ser em vão!
a sua geral desorganização. Quando um desenvolvimento sem progresso desequilibra demograficamente um País despovoando o seu interior, a tragédia é certa. Mas só é possível contrariar a desertificação do interior promovendo um espaço rural economicamente atractivo.
Devemos felicitar os Bombeiros e as populações que heroicamente arriscaram as suas vidas neste combate desigual. É preciso convencer os Governantes, por nós eleitos, a acabar com este estado de abandono do mundo rural, e de impunidade das pessoas e organizações criminosas.
Temos de restaurar o interior do País com mais pessoas a cuidar do território e em particular, das florestas. Não basta o combate heróico das Corporações de Bombeiros. Temos a obrigação de agir já, com conhecimento científico e coragem política, como agiram os nossos antepassados.
Em muitos países os incendiários são considerados homicidas e punidos como tal.
Apelo às Reais Associações, pela sua implantação regional e dedicada militância, a acompanhar a implementação efectiva das reformas anunciadas pelo Governo.
A “república portuguesa, essa entidade abstrata que pretende fazer de Portugal um mero adjectivo”, não soube cumprir as suas funções na gestão do território.
Este dia do Primeiro de Dezembro que, felizmente voltou a merecer um feriado, também marcou a vida do povo português com sofrimento.
Há muitos anos que me preocupo com a sustentabilidade do ambiente, que inclui a ecologia humana. Qualquer destes fatores não é viável sem o outro.
A Independência, que começou com os Conjurados em Lisboa, foi paga, na altura, com o sacrifício de vidas, sangue e lágrimas do povo ao longo de quase três décadas.
Quero lembrar que o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, o criador da Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica Nacional, tem advertido, desde há décadas, sobre esta gravíssima situação.
E por isso ainda hoje nesta data, as bandas saem à rua em muitas das nossas cidades e vilas, para cantar o hino da restauração: “Portugueses, é chegado o dia da redenção. /Caem do pulso as algemas. / Ressurge livre a Nação”.
Ele foi o precursor da “ecologia política” em Portugal e embora as suas ideias inovadoras sejam hoje consensuais, continuam a não ser efectivamente aplicadas…
Todos os anos procuro percorrer esta nossa querida Nação, acedendo a convites de Municípios e outras entidades, às quais aqui deixo o meu público reconhecimento. Visitei cidades e territórios em todo o país e, nomeadamente, as
Concordam os especialistas que a causa original dos incêndios descontrolados é a má organização do território, ou pior ainda, 19
magníficas ilhas da Madeira e Porto Santo e dos Açores.
vez mais como um local de espiritualidade mundial.
Queria destacar apenas duas visitas pelo seu significado de futuro.
Entre as visitas nacionais quero ainda destacar a que realizei a Tomar, a 1 de Junho, dia Mundial da Criança, para assistir ao Desfile “Tomar, Berço dos Descobrimentos”, uma iniciativa que juntou cerca de duas mil crianças provenientes de todos os estabelecimentos escolares do Concelho. Estas crianças são o nosso futuro.
Eu, minha mulher Isabel e os meus Filhos, em Maio peregrinamos a Fátima, no centenário das Aparições, aquando da visita do Papa Francisco, encontrando multidões de pessoas unidas no mesmo espírito. Já antes tivera a oportunidade de afirmar que, se no presente está consolidada a cultura e difusão da mensagem de Fátima, no futuro, gostaria de ver Fátima cada
Visitei S. Tomé e Príncipe, no âmbito da cooperação da Fundação Dom Manuel II com a Diocese local. Fiz o donativo
de uma residência, para os estudantes provenientes de áreas remotas. Durante a visita ao senhor Presidente da República, conversamos sobre a cooperação entre São Tomé e Príncipe e Portugal.
português, oferecido pela Fundação Padre Anchieta, do governo do Estado de S. Paulo. Reuni-me com diversas entidades e muitos amigos, entre as quais o recém-eleito Presidente da República Dr. Francisco Guterres, Lu Olo.
Em Junho, visitei Banguecoque, onde fui recebido por muitos cristãos tailandeses descendentes de portugueses, na Igreja da Conceição, o mais antigo templo católico da Tailândia.
Há muitos anos que me preocupo com a preservação da Língua Portuguesa e vejo que os Estados Membros da CPLP que tenho vindo a visitar, cultivam a nossa língua comum como elemento indispensável da sua unidade nacional. Esse esforço deveria ser prioritário na nossa cooperação.
Ainda em Junho visitei Timor-Leste, a fim de dar um impulso à criação de uma revista, redigida em Língua Portuguesa, e ao lançamento de um novo programa de televisão em
Em Angola, Nação irmã que me diz muito, saúdo as medidas 20
corajosas do presidente João Lourenço para alterar a situação em que o Governo viveu demasiadamente voltado para si mesmo e de costas viradas para o povo.
fé, do pensamento, de todas as formas de miséria”. Os representantes dos Reis de Portugal poderiam ter escolhido a via seguida por muitas famílias reais exiladas: limitar-se a viver no lugar que a História lhes reservou. Mas não o fizeram. Entendo que devo seguir a minha consciência e continuar a percorrer o País e o Mundo a apregoar os aspetos positivos de Portugal, contando com a simpatia das populações e mesmo a contragosto de alguns.
Aquando do falecimento de meu irmão Henrique, no passado mês de Fevereiro, todos quantos o conheciam se sensibilizaram muito com a perda, nomeadamente os meus três filhos, pois ele sempre os acompanhou e apoiou. Não queria deixar de sublinhar o exemplo de serviço e disponibilidade do meu irmão, sempre pronto para colaborar quando solicitado para uma boa causa.
A Família Real regressou a Portugal nas pessoas de meus Pais e, apesar de o Governo da época os ter deixado voltar ao seu País, acabou na prática por os «exilar cá dentro» por ver neles espíritos independentes, e até uma ameaça para o próprio regime. A Segunda República quis apropriar-se da herança histórica dos Reis, mas esquecia que o legítimo descendente reconhecido pela população tinha ideias próprias e queria andar livremente pelo País.
Agradeço a simpatia de todos os que acompanham a vida da Família Real nas numerosas atividades que partilhamos; é uma forma das pessoas nos transmitirem que partilham as nossas expectativas de uma vida honesta e de um País melhor. Estas são ideias simples, mas poderosas e, a meu ver, muito mais importantes que as ideologias populistas, que serão sempre um salto no desconhecido.
Após 1975 os Portugueses conseguiram recuperar a sua liberdade política, que fora tão maltratada desde o golpe de 5 de Outubro de 1910. Mas infelizmente a falta de visão e de coragem política dos responsáveis do anterior regime, e o envolvimento das duas maiores potências dessa época, em plena guerra fria, levaram a que essa transição fosse também causa de terríveis sofrimentos, milhares de mortes e miséria em África e Timor.
Quero aqui assinalar uma petição à Assembleia da República, lançada este ano, sobre alterações à «Lei das Precedências do Protocolo do Estado Português». Esta petição já recolheu mais de dez mil assinaturas, sinal da sua grande actualidade.
Felizmente os laços afectivos que nos uniam ultrapassaram todas as crises e continuam vivos, mas essa ligação tem de ser cultivada pelas novas gerações para não terminar com o desaparecimento das gerações que ainda conviveram…
Sendo eu mesmo a participar em eventos oficiais, enquanto representante dos Reis de Portugal, entenderam numerosas personalidades - entre eles deputados, presidentes de Câmara, ex-governantes e professores universitários – iniciar esta petição para que o Duque de Bragança e sua Mulher sejam incluídos na Lei do Protocolo do Estado.
Nos tempos difíceis que agora atravessamos, de democracia ameaçada pela corrupção de alguns, e em que crescem a crise económica e a crise de solidariedade, precisamos de certezas morais e da promessa de uma sociedade decente.
Peço-vos agora que escutem estas minhas preocupações: Antes de tudo, preocupa-me a existência dos pobres e necessitados e dos trabalhadores em dificuldade, e perante um aumento geral de riqueza, o conjunto de providências que a todos devem levar pão e alegria.
Já todos perceberam que um País com uma dívida colossal não poderá ter qualquer ilusão de independência política. Por isso há que usar com prudência os recursos gerados pela nossa débil economia, e não os gastar de modo não sustentável.
Penso, do mesmo modo, no nosso lugar no mundo e no completo resgate da civilização que Portugal tão largamente difundiu e tantos males e experiências têm ameaçado. Estas preocupações e os sentimentos de justiça que as determinam derivam dos fundamentos morais dos princípios que sustento, da própria ética cristã que os formou, sem necessidade de outras razões.
A falta de solidariedade e a incerteza no futuro é maior num sistema que pode eleger populistas do que na certeza de uma Casa Real, cujo único poder resulta da identificação com a nacionalidade. Como sucedeu no 1 de Dezembro de 1640 e como poderá suceder no futuro, se todos assim quisermos! Por isso tenho procurado ser, às minhas custas, um embaixador itinerante de Portugal no Mundo e um símbolo de um País que não vai desistir. Por isso vos convido a não desistirem de ser Portugueses!
Estas palavras não são minhas; são de meu Pai, em Mensagem ao País por ocasião do meu nascimento. Estas palavras também poderiam ser dos nossos filhos. Na sua simplicidade, representam o compromisso da Família Real com os Portugueses e com a Nação: estar sempre ao lado dos que mais necessitam, daqueles a que o Papa Francisco vem lembrar que “vivem na periferia da dor, da injustiça, da ignorância, da falta de
Viva Portugal! Dom Duarte de Bragança 21
… E os Conjurados o que fariam hoje? Intervenção de Carlos Aguiar Gomes, no Jantar dos Conjurados, que teve lugar no dia 30 de Novembro, em Braga
Permitam-me que comece esta minha conversa, aqui e agora, no contexto jubiloso e celebrativo, desse dia memorável de 1 de Dezembro de 1640, com um ditado popular africano e por um pensamento de um filósofo grego (Séneca, 4 AC -65 DC), juntando, assim o erudito e o popular, tal como os conjurados de 40 fizeram.
“Não há vento favorável para quem não sabe para onde vai”. Esta introdução, vai-me ajudar nesta curta conversa convosco, sabendo de onde venho e para onde quero ir, a reflectir brevemente sobre uma questão um tanto ou quanto utópica: “… E os conjurados o que fariam hoje?”. Vou, pois, pensar alto com cada um de vós, pois quero que a
“Se não sabes para onde vais, lembra-te de onde vens” e 22
minha presença neste momento, seja um “tête-à-tête” com cada um mais de que uma indiferenciada conversa para todos. Assim, peço-vos que cada um se imagine à mesa de café comigo, num salão sem mais ninguém. Conversa solta guiada pela questão que dá o mote para esta charla.
a mim para uma das maiores tragédias do mundo dito ocidental: a falta dramática de memória. Cito, a propósito, S. João Paulo II, Magno, na sua Exortação Apostólica “Ecclesia in Europa”, numa curta passagem que já tenho usado inúmeras vezes: “… quero recordar a crise de memória e herança cristã” … “muitos europeus (dão) a impressão de viver sem substracto espiritual e como herdeiros que delapidaram o património que lhes foi entregue pela história” (nº7). Não é esta afirmação também aplicável ao nosso país? Creio bem que se fizéssemos um inquérito de rua sobre o significado desta data teríamos respostas bem convincentes do que o Santo Padre afirmava no texto que transcrevi.
Primeiro, recordar, tão sintecticamente quanto possível, numa curta frase, o que ocorreu, em Lisboa, naquela radiosa e libertadora manhã dezembrina de 1640. Portugal estava a tornar-se uma colónia espanhola desde o fatídico ano de 1580. Urgia recobrar a liberdade de podermos seguir o nosso destino, guiado por nós, os portugueses, com uma liderança portuguesa, fiéis à nossa idiossincrasia e aos nossos fundadores, à nossa memória colectiva. Tal estava a tornar-se cada vez mais difícil.
Há, não tenho a menor dúvida, uma crise profunda da nossa memória. Da nossa memória colectiva e, da nossa memória familiar que não é património de genealogistas nobiliárquicos.
Não tínhamos a liberdade de traçar o nosso caminhar portuguesmente autónomo e autonomamente português.
Então, que fariam os conjurados hoje?
Não tínhamos uma liderança portuguesa, mas imposta por Madrid, com a presença em Lisboa de um pomposo Vice-Rei, que não era português.
Talvez fizessem um esforço hercúleo para refazer a nossa amnésia cultural e histórica que nos corta radicalmente com o passado e torna este um pobre esquecido nas margens da humanidade. Que nos liga uns aos outros, agora, e aos outros de onde precedemos, sem memória? Nada! E sem raízes como podemos viver e sobreviver nesta selva que nos asfixia?
Estávamo-nos a “espanholizar”, deixando a nossa língua em segundo plano. Como dizia Fernando Pessoa, a minha Pátria é a língua portuguesa. E estava a deixar de o ser. Portugal corria aceleradamente para deixar de o ser! Estávamos a “desportugalizarmo-nos”.
Que fariam os conjurados face a uma perda concomitante da nossa liberdade colectiva como Nação, todos os dias ferida pelos burocratas anónimos de Bruxelas? Estes que determinam quantas toneladas de sardinha podemos pescar como se por cá não houvesse biólogos marinhos altamente especializados, conhecedores e atentos ao comportamento populacional da sardinha? Mas, também, determinam o calibre das maçãs, das peras, das laranjas ou dos tomates, como se entre nós não houvesse agrónomos/fruticultores avalizados. E mandam onde se deve plantar vinha ou olivais como se conhecessem o nosso território sem ser em imagens virtuais. E mandam como educar as novas gerações impondo, por exemplo, como obrigatória a chamada “Teoria do Género” nos curricula escolares, como se os nossos pais fossem meras fábricas, muito pouco produtivas, de resto, de crianças. E mandam quantos imigrantes, muitos de procedência duvidosa e de mapas ideológicos perigosos, temos de receber, como se Portugal fosse uma entidade de mentecaptos incapazes de acolher os que, de facto, merecem e devem ser acolhidos. E mandam que o conceito natural de Família seja desnaturado. Eles, os burocratas de Bruxelas, mandam em tudo, desfigurando a nossa identidade, a troco de uns euros que nos enviam. E nós, silenciosa e cobardemente, calamos estas intromissões despudoradas no nosso quotidiano!
E o que fizeram os conjurados? Unidos por um ideal, libertaram Portugal. Devolveram-nos a liberdade de sermos nós a escolher o tipo de estrada que queríamos e tínhamos o direito de escolher, sendo fiéis aos pais da Pátria, ao caminho trilhado desde a fundação, por onde e com quem ir rumar ao futuro. Foi isto, e foi imenso, que fizeram os conjurados. Sabiam de onde vinha e, igualmente, sabiam para onde queriam ir. Ultrapassaram, assim, completando-o, o acima referido provérbio popular africano. Ou, pegando no pensamento de Séneca, os ventos da História eram-lhes favoráveis pois sabiam para e com quem queriam ir. Os nossos conjurados que hoje lembramos, souberam e tiveram a ousadia corajosa de aproveitar o vento que soprava na Espanha porque sabiam por onde queriam ir. É bom celebrar a memória dos nossos maiores e com eles no coração clamar bem alto: “Ditosa Pátria que tais filhos teve” parafraseando o nosso poeta maior, Camões. Sim, “Ditosa Pátria que tais filhos teve”! E esta mesma Pátria, nossa Mátria, tem, hoje, tais ditosos filhos? Ou já não os queremos imitar? Ou, pior, já não queremos, um dia, ser lembrados como tal, encolhidos de medo e prenhes de cobardia?
O que fariam os conjurados de 1640 hoje? Hoje neste quadro de perda de liberdade como Nação. De perda da nossa identidade. De obscurecimento deliberado da nossa memória colectiva. De abastardamento da nossa natural tendência para o acolhimento aos necessitados e aos deserdados da fortuna. De uma promoção e imposição furiosa e frenética de
O dia de amanhã, recordação do glorioso 1º de Dezembro de 1640, merece que me detenha e convide cada um a associar-se 23
negação das nossas raízes cristãs, esquecendo-nos que Portugal nasceu e expandiu-se à sombra tutelar da Fé cristã. Todos sabemos que sempre que arredamos a nossa identidade cristã, soçobramos!
impávidos e serenos a assistir a esta triste derrocada do país que não nasceu ontem nem anteontem, mas há oito séculos e que soube sempre erguer-se contra os opressores. Os conjurados, hoje, e porque não os de hoje, pegavam na sua força anímica e iam à luta. À luta de forma organizada. Livre e libertadora. Bem preparados para a refrega nos media de todo o tipo, sem medo nem vergonha de se assumirem como devem ser todos os que buscam o bem da sua Pátria.
Que fariam os conjurados, hoje? Creio bem que assisados como eram, e corajosos como bem o demonstraram, olhando esta triste realidade em que mergulhou o nosso país com o nosso silêncio cúmplice, não ficavam
Os conjurados, hoje, estariam no Facebook, no Twitter, no Instagram, nos jornais, nas rádios, nas televisões.
Adelaide Valente: “… numa Europa que soçobra às mãos de ventos desfavoráveis e de inesperadas intempéries.” (in “Pedra a Pedra, pág.65, Braga 2017)? Queremos, na realidade, chegar a algum porto de abrigo?
Como escreveu Séneca: “Não há vento favorável para quem não sabe para onde vai”. Sabemos para onde vamos? Sabemos aproveitar os ventos para a rota que escolhemos? Ou não temos rota nenhuma?
Deixemos de lado as querelas estéreis que nos impedem de nos mantermos unidos nesta tormenta em que estamos metidos ou nos meteram!
Que porto de abrigo queremos demandar neste vendaval furioso que nos sacode ou como diz a nossa escritora Maria
Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma falta de liberdade 24
gritante na nossa Pátria e de que os cidadãos não se dão conta. Como disse S. João Paulo II, Magno, no documento acima citado: “A cultura europeia dá a impressão de uma «apostasia silenciosa» por parte do homem saciado, que vive como se Deus não existisse” (nº 8), onde minorias activas e convictas ditam as normas cerceadoras da liberdade individual e colectiva e demolidoras da nossa mais profunda e rica identidade. Temos chamado a este “modus vivendi” de “politicamente correcto” e ai de quem ouse remar contra a corrente imposta! Tem-nos falhado a coragem de nos sabermos levantar e exigir que sejamos ouvidos e respeitados. Acomodamo-nos.
vigente não reconhece essa evidência e ilude-nos de que a chefia actual do Estado é a melhor forma de representar essa mesma comunidade e não numa família que encarna o passado do nosso país, de todas as famílias, em que assenta Portugal desde a sua fundação e desde sempre. Os conjurados, hoje, deparavam-se com a urgência de encetar um processo libertador eminentemente cultural. Como todos já se deram conta, o mundo da cultura é dominado por forças de ditadura amoral e demolidoras da nossa identidade. Quem não seguir as suas normas de conduta, não cumprir os seus parâmetros normativos, é apelidado de fundamentalista, obscurantista, sexista, discriminatório e de outros epítetos infamantes.
Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma cultura dominante que é promotora de uma verdadeira e agressiva “cultura de morte” no dizer bem feliz do mesmo Papa.
Que fariam, hoje os conjurados? O que é que nos compete fazer hoje a todos e a cada um de nós que nos orgulhamos do feito glorioso de 1640?
Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma economia selvagem, esclavagista, e para quem a Pessoa Humana nada ou muito pouco conta, tendo-a transformado numa mera máquina produtiva e de que se descarta facilmente como uma velharia inútil.
O tempo urge para dar vida ao exemplo dos conjurados que estamos a celebrar!
Os conjurados, hoje, deparavam-se com um ataque cerrado e feroz ao grande princípio da subsidiariedade que fez parte da nossa tradição até ao século XVIII e que tinha o municipalismo como base e este se alicerçava nas famílias.
O tempo urge para uma acção concertada, fundamentada, firme e constante por forma a desmascarar os intrusos que invadiram as nossas ruas, praças, aldeias, escolas e media tornando irreconhecível o nosso país que eles vão moldando a seu gosto.
Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma guerra aberta contra os três grandes princípios não negociáveis em que uma sociedade livre e justa, baseada no chamado “direito natural” assenta, a saber:
O tempo urge para nos centrarmos no essencial, os valores que nos construíram como País, nossa Pátria e nossa Mátria, terra dos nossos antepassados e nossa Mãe, e tal como os conjurados, que não eram muitos (seriam 40), rumar com denodo e coragem face ao futuro tendo como espada aqueles valores que nos fizeram. É este, creio, que seria o que os conjurados fariam hoje. Pelo menos, é a minha leitura do seu exemplo de 1640, homem do século XXI.
1º - o princípio de que toda a vida humana, desde a concepção até à morte natural, é sagrada e inviolável; 2º - o princípio inscrito na natureza humana de qualquer cultura ou tempo, de que a sociedade humana tem por base a Família que nasce da união estável entre homem e mulher;
A libertação do nosso país exige novos conjurados que nos libertem de todas as formas de uma pseudo-cultura que renega as suas origens e nos impõe paradigmas demolidores da nossa identidade cristã e portuguesa.
3º - princípio de que é aos pais, em primeiro lugar, que reside o direito de educar os seus filhos de acordo com os seus valores matriciais e de que o papel do Estado deverá só e simplesmente ser o de ser o facilitador deste direito.
Que a Senhora da Conceição, nossa Rainha, nos dê a coragem para enfrentarmos esta situação social, cultural e espiritual demolidora da nossa identidade de povo cristão e português. Não somos uns pobres saudosistas! Não! Temos Portugal no coração., não nos envergonhamos das suas raízes. Queremos um Portugal mais livre, justo, solidário e fraternamente familiar. Seriam, sem dúvida, estes os grandes princípios que hoje norteariam os conjurados. Temos de ser capazes de os imitar. Já! Olhando para o passado, não sejamos, de todo, uns passadistas, mas projectemos o nosso pensar e agir, hoje, para um futuro que há-de ser de liberdade! Deixemos de ser reactivos. Passemos a cidadãos pró-activos com raízes porque sem elas, tal como as nossas árvores, morreremos ingloriamente.
Os conjurados, hoje, deparavam-se com uma situação demográfica catastrófica, fruto de uma feroz e sistemática campanha anti-natalista e abortiva que faz perigar a curto prazo a nossa existência como país (uma das baixas taxas de natalidade do mundo, um decréscimo populacional em queda livre, uma longevidade cada vez maior sem as necessárias respostas sociais, etc.). Os conjurados, hoje deparavam-se com uma chefia do Estado que é centrada na mentira de que se escolhe o melhor cidadão e de todos podemos aspirar a sê-lo. Sendo a comunidade humana organizada na base por famílias e não por indivíduos que nascem e crescem na Família, o regime
Viva Portugal! 25
A Restauração segundo o Coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro Com os comentários complementares, este texto foi apresentado no dia 30 de Novembro, no Jantar do Conjurados em Braga, por Gonçalo Nuno Pimenta de Castro, Presidente da Direcção da Real Associação de Braga
O coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro, Governador de Timor e escritor, nasceu 18 de Outubro de 1868, na Casa Grande, freguesia da Seara, em Ponte de Lima, propriedade de seus avós maternos e faleceu em Lisboa, em 14 de Abril de 1952. Era filho de João Pereira Pimenta de Sousa e Castro e de sua mulher D. Maria Engrácia de Barros Azevedo e Cunha. Autor de várias obras sobre história e administração colonial, escreveu nas suas pormenorizadas Memórias*, obra inacabada que publicou apenas três volumes em 1947, 1949 e 1950, ao relatar um pouco da história do exército português, as razões da derrota das forças portuguesas na batalha de Alcácer-Quibir, que conduziu à perda da independência de Portugal, e o posterior papel do Duque de Bragança, mais tarde D. João IV, no movimento da Restauração. Para o momento de hoje, abordarei a parte que diz respeito à conjuntura específica que levará aos acontecimentos do 1º de Dezembro de 1640, citando directamente o seu texto. Escreveu então assim:
“… No majestoso convento de Tomar reuniramse cortes, à antiga portuguesa, com os três elementos: clero, nobreza e povo. Aí, D. Filipe fez as propostas mais atraentes possíveis: Portugal continuaria com as suas leis, costumes e garantias, parecendo, desta forma, que apenas 26
se substituía o Rei por um regente espanhol: a duquesa de Mântua, sensata princesa espanhola.
Luísa) era acompanhada por uma corte mais pomposa do que a que acompanhava a rainha de Espanha. D. Filipe nomeou, nessa ocasião, o Duque de Bragança seu alferes mor; mas disse aos seus íntimos: «Este meu primo é poderoso demais para vassalo».
D. Filipe fez importantes obras de arte em Portugal. No próprio convento de Tomar, que mandou ampliar, construiu o claustro que ainda hoje tem o seu nome.
E, desde então, procurou tentar afastá-lo de Portugal, para desfazer esta esperança dos portugueses. D. João recusou todos os lugares que lhe ofereceram, para não abandonar a sua casa.
O ouro de Miguel de Vasconcelos e Cristóvão de Moura, degenerados portugueses, tentava comprar toda a gente em Portugal, que estava pobríssimo, devido ao luxo, para a repressão do qual as leis de D. Sebastião tinham sido impotentes.
Os verdadeiros fidalgos, que ficaram em Portugal, não se vendendo ao ouro espanhol, começaram a pensar num levantamento geral do país, contra o domínio espanhol.
Os cavaleiros portugueses levavam nos seus cavalos, freios e estribos de prata; e os seus brasões, nos xabraques, eram luxuosamente bordados a pedras preciosas. Muitas casas ficaram empenhadas quando os seus representantes partiram para Alcácer-Quibir, cemitério de Portugal, onde tudo deixámos, menos o brio e a honra, como dizia Francisco I em Pavia.
Consultaram o Duque de Bragança, por intermédio do doutor de Bolonha, Dr. João Pinto Ribeiro, seu advogado e procurador. O Duque aceitou o convite que lhe fizeram para Rei de Portugal, e disse que, «quando fosse a ocasião oportuna, poderiam contar com ele, que apareceria».
— «Morrer, sim, mas devagar!» — dizia D. Sebastião, em Alcácer-Quibir. É que há derrotas mais honrosas do que algumas vitórias!
A «Duquesa, D. Luísa de Gusmão, também encorajou o marido. Afirma-se que ela lho dissera: «antes ser rainha uma hora do que duquesa toda a vida».
Portugal, despovoado e pobre, prestava-se às manobras dos traidores à Pátria. O legítimo Rei português era o Duque de Bragança, o mais poderoso fidalgo de todas as Espanhas. O seu ducado ia pela Espanha dentro, onde os seus domínios eram vastíssimos. Senhor de baraço e cutelo, pendão e caldeira, quando D. Filipe veio a Portugal, o Duque de Bragança (D. João) foi visitá-lo a Santarém, levando uma escolta de 15.000 cavaleiros, montados e fardados à sua custa. A Duquesa (D.
O velho fidalgo Conde de Almada e Abranches, neto do pajem de D. João I, em Aljubarrota, ofereceu o seu palácio, às Portas de Santo Antão, para as reuniões dos conspiradores. A conspiração esteve para ser denunciada, porque, falando com o seu namorado duma janela para a rua de S. José, uma criada disse a este que à noite, a desoras, se reuniam numa sala do palácio, muitos fidalgos e que os mesmos saíam depois pelas traseiras. 27
Uma pessoa que ia passando na rua e ouviu esta conversa foi contar o caso ao Duque de Almada, o qual comunicou o facto aos seus colegas da conspiração, que resolveram antecipar o movimento para evitar serem todos presos, incluindo o Duque de Bragança, o que era uma perda insubstituível, e mandaram o Dr. João Pinto Ribeiro a Vila Viçosa comunicar isto ao Duque e preveni-lo para estar pronto a vir para Lisboa, à primeira voz, como se fez.
ingleses que então vieram para Portugal e aqui prestaram valioso auxílio. Foram as espadas de quarenta fidalgos e os piques povo que fizeram a restauração, não foram os discursos do Dr. João Pinto Ribeiro. A Casa de Bragança auxiliou muito, pecuniariamente, a defesa do país, e D. João IV foi um rei muito inteligente e patriota; na ocasião própria apareceu e manteve-se sempre, com certa firmeza, no seu lugar.
D. João havia sido nomeado governador dos Países Baixos, para onde o mandaram seguir, com o fim evidente de o tirarem de Portugal.
O nosso Exército quase tinha desaparecido, mas Chumberg trouxe com ele muitos oficiais de valor, que criaram novos quadros no nosso reduzido mas aguerrido Exército, e este continuou lutando, organizado em milícias, até ao regime liberal…”
O Duque de Bragança estava com a conspiração mas, com muita inteligência e extraordinário bom senso, não exteriorizou por forma alguma as suas ideias e intenções. Se não procedesse desta forma, teria prejudicado o movimento e impedido, talvez, a restauração de Portugal. A nação não tinha Exército. O que não ficou em Alcácer-Quibir, foi para as Colónias ou foi servir fora do reino, nas guerras em que a Espanha andava envolvida, e o excedente mendigava pelas ruas de Lisboa. E então, mais uma vez, as espadas salvaram Portugal. Quarenta fidalgos, que conseguiram arrastar consigo o povo, dominaram a pequena guarnição do castelo de S. Jorge, de S. Julião da Barra e de outras fortalezas.
_________ * As Minhas Memórias, pág. 31 a 35, Edições Expansão, Lisboa, 3 vol., 1950.
Abstract
D. João IV nomeou, inteligentemente, governos das armas das províncias, sendo o mais importante o do Alentejo. Do Minho, em Viana do Castelo, o governador das armas, D. João de Sousa, presta relevantes serviços nas batalhas das linhas de Elvas e Ameixial, porque, de um dia para o outro, começou a mandar para o Conde de Chumberg todos os homens que havia nas províncias do Minho e Trás-os-Montes, fazendo, com esta inteligente e inesperada manobra, parar o exército de 20.000 homens que o general espanhol Marquês de la Romana tinha em Badajoz, para invadir Portugal.
The Restoration according to the Colonel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro with the complementary comments, this text was presented on November 30, at the Dinner of the Conjurated in Braga, by Gonçalo Nuno Pimenta de Castro, President of the Board of the Royal Association of Braga.
Key words: Restoration, Colonel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro
D. João IV cedeu, para a defesa do país, o produto da venda das pratas da Casa de Bragança, que eram importantíssimas, reservando para si apenas metade, que foi o que ficou no palácio ducal de Vila Viçosa.
Resumé La restauration selon le colonel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro Avec les commentaires complémentaires, ce texte a été présenté le 30 novembre, lors du Dîner du Conjuré à Braga, par Gonçalo Nuno Pimenta de Castro, Président du Conseil de l'Association Royale de Braga.
Nos vinte anos de luta com a Espanha os terços da nossa infantaria, que os governadores das armas recrutavam e mandavam para o Alentejo, e a nossa Cavalaria, sob a hábil direção do Conde de Chumberg, fizeram prodígios de heroísmo e patriotismo, levantando o nome português do abismo de lama em que os traidores portugueses o haviam lançado.
Mots-clés: Restauration, Pereira Pimenta de Castro
Nesta ocasião regressaram a Portugal muitos portugueses que não queriam viver na pátria assim escravizada á Espanha. Muitos espanhóis que estavam na Catalunha, sempre rebelde ao governo de Madrid, acompanharam os portugueses que lá estavam. Foi muito avultado o número dos que regressaram calculando-se em dois mil os portugueses, espanhóis e 28
Colonel
Gonçalo
Jantar dos Conjurados Intervenção de Tomás Moreira, Vice-Presidente da Causa Real em 30 de Novembro, no Hotel Palácio no Estoril e que contou a presença da Família Real Portuguesa Altezas Reais, minhas senhoras e meus senhores, meus amigos
portugueses não souberam merecê-lo.”
Desde a última vez que nos encontrámos aqui, há um ano atrás, completaram-se 40 anos sobre o falecimento do Senhor Dom Duarte Nuno.
Neste último ano completaram-se também 40 anos desde que o Senhor Dom Duarte Pio dirigiu a sua primeira Mensagem aos portugueses.
Será justo hoje lembrar que foi das primeiras vozes que se fizeram ouvir contra os riscos da monocultura do eucalipto. Teve razão cedo demais.
Nela assumiu um compromisso para com eles, do qual me permito citar: “A Instituição Real explica-se por uma dádiva total ao País, para além da existência ou inexistência do Trono.
Sempre disse que não era pretendente a nada mas que estava ao serviço dos portugueses. Dedicou a sua vida a esse serviço.
Os Reis e os seus Herdeiros nascem para servir a colectividade e todavia, isso deve afastá-los da competição pelo Poder.
Dele disse o saudoso Eng.º António de Sousa Cardoso: “Os
29
Explicam-se para unir, no Trono ou na vida mais discreta, no devotamento público ou na dedicação mais silenciosa.
se venham a demonstrar merecedores da sua dedicação. Amanhã festeja-se oficialmente a Restauração da Independência de Portugal. Erradamente.
Não sou chefe político. Não me cabe fazer politica na acepção comum da palavra.
Porque formalmente, durante a terceira dinastia e os 60 anos de reinado “dos Filipes”, Portugal nunca perdeu a sua independência.
O Herdeiro dos Reis de Portugal não tem de pretender; cabendo-lhe aguardar quanto os Portugueses possam, porventura, decidir sobre as Instituições.
Viveu na situação em que estão hoje o Canadá, a Austrália, Nova Zelândia etc. – ou seja, Portugal era um país independente, uma Monarquia regida por um rei estrangeiro.
Cabe-me estar ao vosso dispor. Farei do cumprimento desses deveres a razão da minha vida”
O que levou então os Conjurados a revoltarem-se, pondo em risco as suas vidas?
Ao longo destes 40 anos cumpriu a sua promessa, fazendo dos seus deveres a razão da sua vida, pelo que merece toda a nossa gratidão.
Não foi para conquistar a Independência.
Talvez hoje fizesse alguma coisa diferente – qual de nós durante 40 anos fez tudo certo e agradou sempre a todos?
Não foi para restaurar a Monarquia. Foi sim para que os portugueses voltassem a ter um Rei português.
Citando Manuel Abranches Soveral: O problema, o dilema paradoxal, está no facto de o perfil ideal de um rei em funções, sobretudo em situação de normalidade, não coincidir com o perfil necessário a um rei que tenha de … retomar o poder.
Porque compreenderam que sem termos um Rei a nossa independência era uma mera formalidade jurídica.
Constatar este paradoxo não é ofender ninguém.
Isso continua a ser verdade hoje e no futuro, sobretudo se continuarmos a transferir parcelas de soberania para instâncias supra-nacionais.
E permite-nos ser mais compreensivos para com os monárquicos e com os chefes da Casa Real, tanto com os do passado como com os de hoje.
Então, este não é o momento para evocar a Independência, que é uma luta comum a todos os portugueses e não é um exclusivo dos monárquicos.
Durante estes 40 anos o Senhor Dom Duarte esteve sempre ao dispor dos portugueses, sem exigir nada em troca.
Também não é o momento para defendermos as virtudes das Monarquias - isso podemos e devemos fazer todos os dias do ano com a nossa militância. Pelo menos inscrevendo-nos na Causa Real que – já agora - passou a ser possível online através do nosso site.
Foi a primeira voz a defender algumas causas importantes: Timor, Cabinda, o ambiente, a defesa do mundo rural, o mutualismo e as Caixas Económicas como alternativa aos bancos do regime, etc.
Aqui e agora é sim a ocasião para – como os Conjurados lutarmos por ter um rei português.
Ao longo de quatro décadas, com incansável trabalho e dedicação, conquistou respeito, prestígio, notoriedade e a simpatia popular em todo o País e fora dele.
E a boa notícia é que já o temos. Não é (ainda) Rei de Portugal mas é Rei dos Portugueses e está aqui hoje connosco.
Graças a isso, hoje toda a gente sabe quem é o Rei dos Portugueses.
Só falta que os portugueses formalizem essa relação e se mostrem merecedores do exemplo de serviço que têm recebido do Senhor Dom Duarte.
Estaremos nós portugueses a saber merecê-lo?
Se queremos pedir à Casa de Bragança que continue a servir Portugal, imitando os seus antepassados, temos nós também que lealmente assumir o compromisso de, imitando os Conjurados, trabalhar no sentido de que o Rei dos Portugueses em breve seja também Rei de Portugal.
Temos hoje connosco uma nova geração de Braganças, pela primeira vez já todos adultos. O que esperamos deles, o que lhes pedimos? Que sigam o exemplo dos seus maiores e que também eles sirvam Portugal, cabendo naturalmente uma responsabilidade acrescida ao Senhor D. Afonso, Príncipe da Beira.
Viva a Família Real - Viva o Rei dos Portugueses - Viva Portugal
Esperamos que os portugueses, a começar pelos presentes, 30
André Lopes Cardoso Secretário-geral da JMP
“ Hoje em dia, o ser humano apenas tem ante si três grandes problemas que foram ironicamente provocados por ele próprio: a super povoação, o desaparecimento dos recursos naturais e a destruição do meio ambiente. Triunfar sobre estes problemas, vistos sermos nós a sua causa, deveria ser a nossa mais profunda motivação.” Jacques Yves Cousteau (1910-1997)
Os grandes centros urbanos encontram-se sobrelotados ou superpovoados, quer de edifícios, quer de pessoas, o que faz com que as zonas mais rurais fiquem despovoadas, ou até desertificadas. O despovoamento do interior assume-se como um problema de fortes dimensões, a população vê nas cidades a fonte das suas possibilidades, desencantando-se e desacreditando -se dos potenciais benefícios de viver e trabalhar no campo. Em consequência, descurou-se a qualidade de vida que as zonais rurais oferecem, em prol de um stress citadino, indissociável da manifestação de imensos casos de perturbações mentais.
para as zonas de onde se concentram as maiores cidades. Estes territórios do interior careceram de estudos de oportunidades e viabilidades socioeconómicas e de interesses capazes de garantir a sustentabilidade e autenticidade das populações vernaculares. Esta forte lacuna teve como resultado muitas aldeias que se viram praticamente em estado de abandono. Sabe-se que a ocupação destes territórios mais remotos tem sido assegurada por estrangeiros que acabam por adquirir quintas e aí se fixam, investindo e criando postos de trabalho, particularmente na área do Turismo. Criam-se Estalagens de Turismo Rural com diversas atividades ao ar livre e puro, atraindo um tipo de turista adepto da vida saudável, que
A falta de emprego nas zonas mais rurais acaba por se revelar num dos factores impulsionadores da imigração: interior-litoral, 31
Abstract Large urban centers are overcrowded, both buildings and people, which makes the more rural areas unpopulated or even desertified. The depopulation of the interior assumes itself as a problem of strong dimensions, the population sees in the cities the source of their possibilities, being disenchanted and discredited of the potential benefits of living and working in the countryside. Key words: Depopulation; Industrial Revolution; pollution; Countryside; City; D. Sancho I Resumé Les grands centres urbains sont surpeuplés, tant les bâtiments que les personnes, ce qui rend les zones rurales non peuplées ou même désertifiées. La dépopulation de l'intérieur s'impose comme un problème de dimensions fortes, la population voit dans les villes la source de leurs possibilités, étant désenchantée et discréditée des bénéfices potentiels de vivre et de travailler à la campagne. Mots-clés: Dépopulation; Révolution industrielle; pollution; champ; ville; D. Sancho I
procura um refúgio longe das grandes cidades e que valoriza a Natureza. Este êxodo rural, fortemente impulsionado pela Revolução Industrial, não está isento da responsabilidade da criação de graves impactes ambientais. A problemática da poluição tem vindo a ser um tema vastamente debatido mas, ao invés de uma reversão nesta matéria no sentido de uma evolução positiva, lê-se que o nosso país, em particular, e o planeta, no geral, estão cada vez mais poluídos. Perceba-se que este índice de poluição, em certa parte, advém de plataformas fabris que, durante e após a Revolução Industrial, não cessam de contaminar o nosso mundo. O uso da máquina “pro bono”, como sejam os transportes, ou até maquinaria agrícola e industrial, também contribuem para aumentar a pegada ambiental. Entre os principais factores para este aumento da poluição estão: a queima de resíduos urbanos, industriais, agrícolas e florestais, feita muitas vezes, em situações incontroladas; a queima de resíduos de explosivos, resinas, tintas,
32
plásticos, pneus são responsáveis pela emissão de compostos perigosos; os fogos florestais, com especial incidência nos últimos anos, são responsáveis por emissões significativas de CO2; o uso de fertilizantes e o excesso de concentração agropecuária; as indústrias de minerais não metálicos, a siderurgia, as pedreiras e áreas em construção, são também fontes importantes de emissões de partículas. Foi no reinado de D. Sancho I (Coimbra, 11 de Novembro de 1154 – Coimbra, 26 de Março de 1211) que se começou a perceber a importância de um povoamento descentralizado, numa tentativa de proteção territorial e da criação de rotas entre cidades chave, garantindo e facilitando trocas comerciais e obviamente a ligação entre todo o território, em condições de segurança. Apelidado de O Povoador, D. Sancho I apadrinhou o povoamento do território português, realizado à medida das conquistas das várias cidades, chamando colonos estrangeiros que distribuiu pelas diversas terras, entregando-lhes o cultivo dos campos, conseguindo assim aumentar não só a população do país, como também a sua riqueza. Por outro lado, D. Sancho I tentou reforçar e proteger as fronteiras do inimigo, para o que decidiu então entregar grandes propriedades no Alentejo aos freires de Évora, verdadeiros profissionais de guerra, e à Ordem de Santiago, para que as defendessem. As zonas de fronteira tinham pouca gente, e estavam portanto à mercê de possíveis invasões, assim D. Sancho I debaixo de uma forte intenção em desenvolver e fortificar aquelas áreas procurou atrair famílias para estas zonas. Para tal concedeu regalias a quem aí se quisesse instalar, tais como terras para cultivo, pastagens, dispensa de pagamento de alguns impostos, perdão de crimes, entre outros. A centralização de bens e serviços é prática comum que apresenta as suas vantagens, pois concentra-os junto do sistema civilizacional. Por outras palavras, a sociedade acaba por ter acesso à informação mais rapidamente, evitando longos percursos, demorados tempos de viagem e gastos desnecessários. Em contrapartida, com a grande desvantagem de termos o congestionamento da cidade e consequentemente dos sistemas que, à pirori, seriam a vantagem desta centralização. Esta vantagem, torna -se numa grande desvantagem. A vida moderna, como foi bem foi representada no filme Playtime de Jacques Tati, em 1967, continuará a ser vivida com uma grande dose se solidão, maior do que a vivida nos grandes campos rurais. O Homem moderno é individualista, ainda que viva numa avenida muito povoada ou até num edifício com bastantes fogos, não se perde em saudar os demais transeuntes, antes ignora-os. O smartphone pode afirmar-se como marco civilizacional, pois veio facilitar muito o quotidiano, a questão da velocidade e da portabilidade, por outro lado, veio trazer um novo universo de preocupações. Alimentar as redes sociais, nas quais somos pessoas fictícias e fazemos amizades virtuais, de maneira a acalentar o ego, parecendo assim que estamos rodeados de amigos, o que na verdade não passa de um álbum fotográfico de dezenas de retratos que, na maioria, nem conhecemos. Escravos de uma sociedade consumista e fútil que vive o momento e que valoriza as relações virtuais ao invés das relações presenciais. As camadas mais jovens integram-se pelos consumos, seja em que formatos forem, gastando tempo e iludindo-se em que estão acompanhadas, quando no final a sua verdadeira companhia consiste numa parafernália de equipamentos ou gadjets que devoram um tempo sem tempo, como que compensando assim o tédio citadino ou uma solidão perpétua. O nosso tempo de hoje é rápido e efémero, gasta-se e pouco ou nada se vive, contrapondo-se a uma elevação dos comportamentos autênticos e ao verdadeiro regresso à “pureza” das coisas da vida.
Nota: A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o triénio 20172019, cumprimenta V. Exas, desejando desde já um bom final de ano 2017 e um feliz 2018. A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e orçamento para 2017, aprovado em Assembleia Geral, que inclui diversas iniciativas relacionadas com o 5 de Outubro de 1143 (concursos escolares, etc.) e que se pretende sejam executadas com a participação de todos os associados, simpatizantes e entidades que entendam colaborar, com o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal Monárquico que todos nós abraçamos convictamente. Atendendo à necessidade imperiosa que temos em angariar recursos financeiros necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e tendo em conta que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas, eu, em nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio solicitar a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano de 2017, no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência bancária, para:
Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola Agência: Ponte de Lima IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47 Número de conta: 1427 40026139242 SWIFT: CCCMPTPL
Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail (real.associacao.viana@gmail.com e pedrogiestal@gmail.com) informação da regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de imediato à emissão do recibo de liquidação. Cordiais cumprimentos monárquicas,
e
saudações
Pedro Giestal 33
Vice-Presidente da RAVC
Jornadas Europeias do Património
No dia 23 de Setembro a JMP Porto associou-se ao programa nacional das Jornadas Europeias do Património, com a realização da visita Porto e Douro: destinos que a História cruzou, orientada pelo Professor Doutor António Barros Cardoso. Demos ainda continuidade às publicações no nosso novo blog “A Monarquia do Norte”, a propósito do qual exortamos todos os jovens interessados em participar a que entrem em contacto connosco. Estamos a preparar várias novidades, em breve a ser divulgadas.
Jornadas Europeias do Património 2017, com a JMP Porto. Visita orientada pelo Professor Doutor António Barros Cardoso.
Academia da JMP, 7 de Outubro
No passado dia 7 de Outubro, a JMP realizou a II Academia, um evento anual que pretende formar jovens monárquicos e que, a par com o ano transacto, foi um sucesso. Figuras da actualidade foram convidadas a abordar os mais diversos temas. Alguns académicos na II Academia da JMP
34
Monarquia VS República, 24 Outubro
Foi o tema proposta pela Revista Gira a debate, por ocasião das Comemorações do 05 de Outubro. O Presidente da JMP Gonçalo Martins da Silva e o Secretário-Geral André Lopes Cardoso foram os nossos defensores. Para aceder ao artigo completo: https://issuu.com/antoniodias1/docs/versao_on_line_out_2017
Secretário-geral André Lopes Cardoso e Presidente Gonçalo Martins da Silva
Feira da Golegã
No dia 10 de Novembro, a JMP esteve presente no Almoço com os Duques de Bragança na Feira da Golegã, evento organizado pela Real Associação do Ribatejo. Depois de almoço procedeu-se a uma visita dos pavilhões da Feira da Golegã, certame que homenageia um dos nossos maiores produtos, o Cavalo Lusitano.
Sr. Presidente Gonçalo Martins da Silva, Secretário-geral Dr. André Lopes Cardoso, Tesoureira Dra. Margarida Sarreira Amaro, Clara Maria Schubert, Bruno de Castro, Dr. Diogo Tomás Pereira, Eng.º Filipe Esteves Salgueiro
No passado dia 17 de Novembro a JMP Porto realizou um jantar de convívio no Café Ceuta, tendo sido este um momento de confraternização, de troca de ideias e de boasvindas aos novos associados. Uma experiência elogiada pelos participantes e a repetir. Antes tínhamos já marcado presença no jantar do 28.º aniversário da Real Associação do Porto e na Academia JMP, continuando o trabalho de constante envolvimento da JMP Porto nas actividades da juventude a nível nacional e da Causa Real.
No passado dia 15 de Dezembro, realizamos o tradicional Jantar de Natal, na Casa da Comarca da Sertã, em Lisboa. Novamente apoiamos uma Associação/Instituição de Solidariedade Social.
Jantar de convívio JMP Porto, no Café Ceuta
35
Reis de Portugal D. João III Nascimento 6 de Junho de 1502, Lisboa Morte 11 de Junho de 1557 (52 anos), Lisboa. Está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa Reinado 13 de Dezembro de 1521 a 11 de Junho de 1557 Coroação 19 de Dezembro de 1521 Consorte D. Catarina de Áustria Dinastia Avis Cognome O Piedoso Títulos, estilos e honrarias “Sua Alteza, o Príncipe Herdeiro de Portugal” (6 de Junho de 1502 – 13 de Dezembro de 1521) “Sua Alteza Real, o Rei” (13 de Dezembro de 1521 – 11 de Junho de 1557)
Como Rei de Portugal, foi Grão-Mestre das seguintes Ordens
O estilo oficial de D. João III como Rei era: “Pela Graça de Deus, João III, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.”
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo Ordem de São Bento de Avis (incorporada pela Coroa em 1551) Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada
36
(incorporada pela Coroa em 1551) Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada Filhos D. Afonso, Príncipe de Portugal (Almeirim, 24 de Fevereiro de 1526 – 12 de Abril de 1526); D. Maria Manuela, princesa de Portugal (Coimbra, 15 de Outubro de 1527 – Valhadolide, 12 de Agosto de 1545) casou com Filipe II de Espanha. D. Isabel, (Lisboa 28 de Abril de 1529 – faleceu poucos meses depois) D. Beatriz, (Lisboa, 15 de Fevereiro de 1530 – faleceu pouco tempo depois) D. Manuel, Príncipe de Portugal (Alvito, 1 de Novembro de 1531 – Évora, 14 de Abril de 1537), foi jurado como herdeiro da Coroa Portuguesa em Évora, a 13 de Julho de 1535. D. Filipe, Príncipe de Portugal (Évora, 25 de Março de 1533 — Évora, 29 de abril de 1539), foi jurado herdeiro da Coroa. D. Dinis de Portugal, Infante de Portugal (Évora, 16 de Abril de 1535 – Évora, 1 de Janeiro de 1537) D. João Manuel, Príncipe de Portugal (Évora, 3 de Junho de 1537 — Lisboa, 2 de Janeiro de 1554, foi proclamado herdeiro da Coroa. Casou em 1552 com a sua prima, D. Joana de Áustria, princesa espanhola, filha do imperador Carlos V e da Imperatriz Dona Isabel, irmã de Dom João III. Dezoito dias depois da sua morte nasceu o seu filho póstumo, o futuro rei D. Sebastião. D. António de Portugal, Infante de Portugal (Lisboa 20 de Março de 1539 — 20 de Janeiro de 1540) Filho natural De D. Isabel Moniz, moça da câmara da Rainha Leonor, viúva de João II, e filha de um alcaide de Lisboa apelidado “o Carranca”, teve o seguinte filho: D. Duarte, Infante de Portugal, (?, 1521 - Lisboa, 11 de Novembro de 1543), arcebispo de Braga. Pai D. Manuel I Mãe D. Maria de Aragão e Castela D. João III em pessoa «de meia estatura, dobrado, e grosso, formoso do rosto, e bem córado, a barba preta, e bem povoada, os olhos azuis, fermosos, e cheios de Magestade» (Brito, p. 96) 37
Bolinhos D. Amélia Luísa Vasconcelos Aproveitando algum portador ou, até o meu Pai, quando este, vinha dos Colectivos das “Ilhas de baixo”, os Avós da Graciosa mandavam, todos os anos, uma grande encomenda para a nossa casa de “tantos netos”. Era uma excitação e uma alegria ver desempacotar tudo, primorosamente embalado, como o sabem fazer todos os que andam pelo mar. À parte vinha uma grade contendo um perú, coitado...mais enjoado do que na bebedeira final... “ser destemido”, feito ao mar como os seus antepassados do Séc. XVI. “sabedor” do seu destino, mas consolado, de antemão, com as perspectivas de uns bons “pitéus” no galinheiro do fundo do jardim da Rua
Margarida de Chaves, onde, por alguns dias, seria Rei entre os outros galináceos...antevendo os assobios de que seria alvo e ensaiando o seu “glu, glu” em forma cantada! Noutra embalagem vinham, acomodados entre jornais, frutos dignos da terra prometida: pêras, bananas, anonas, maracujá e pêra abacate. Também vinham alhos, que são famosos os da Graciosa, batatas, cebolas a que eu não achava tanta graça, mas que eram muito úteis. Ah! ...limões e laranjas. No meio de tudo isto vinham duas caixas: uma contendo ovos embrulhados um a um em papel de jornal; outra, sempre a mais festejada, os doces da Graciosa: bolinhos “D. Amélia” (em honra da 38
visita da Rainha e do Rei D. Carlos), queijadas da Graciosa que sabem ao “Céu” ...“lavadouros” e biscoitos da Avó Maria de S. Gregório... Era-nos concedida sempre uma pequena prova da doçaria e, depois, toda ela desaparecia até ao Natal. Como o barco fazia escala na Terceira vinham, entre a bagagem do meu Pai: “alfenins” (doce feito só com açúcar em ponto de pasta e moldados à mão). São muito decorativos mas muito doces..., e mais qualquer mimo da casa “Atanázio”(?) Começava a faina dos doces de Natal, em que o Bolo de Natal era o primeiro, porque ganha melhor sabor ao fim de algum tempo. Esta receita vem na “Cozinha Portuguesa” da Maria de Lourdes Modesto, de quem a minha Prima Margarida Vasconcelos da Ponte (ainda hoje uma doceira de mão cheia) é a responsável pelas receitas açorianas. Em memória da passagem pelos Açores, no princípio do Séc. XX, de D. Carlos e do Príncipe Alberto da Mónaco, toda a comunidade açoriana se entusiasmou das mais diversas formas. Não foram só as expedições dos dois grandes Oceanógrafos, rumo ao “Banco Princesa Alice”, mas, também, a descida à Caldeira da Graciosa, por uma engenhosa cadeirinha de cordas, para que a mesma fosse observada por dento, onde se abre uma grande lagoa subterrânea, tendo tido o meu Avô paterno Manuel da Cunha Vasconcelos, o tradutor oficial desta expedição, devido à sua cultura e à fluência do seu Inglês. A alusão de D. Carlos à “Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Angra do Heroísmo”, que funcionou de capital da Regência no tempo de D. Pedro IV, agradecendo, assim o Monarca, a lealdade que o povo terceirense teve na defesa do liberalismo, electrizou
todos os presentes. Seguiram-se actividades de caracter agropecuário e, como não podia deixar de ser, uma sempre hilariante tourada à corda. Enfim todo um programa digno da “terra dos bravos”. Também a nível culinário apareceram receitas, que ainda hoje se fazem nas melhores casas e pastelarias da Graciosa e de Angra do Heroísmo. São receitas em que impera o requinte do doce conventual e a inspiração culinária da “rota dos descobrimentos”. Assim é com muito gosto que vos transmito a receita dos “Bolinhos D. Amélia” tal como se faziam na nossa casa: Açúcar-1kg (sendo destes, 125 gr. de açúcar mascavado) Gemas-18 Claras-9 2 chávenas de manteiga derretida 200gr de passas 100gr de cidrão 400gr de farinha de milho branca 2 colheres de sopa de canela 6 colheres de sopa de mel Bate-se o açúcar com os ovos, juntam-se os outros ingredientes, sendo o último a farinha bem peneirada. Untam-se pequenas formas com manteiga e, depois, polvilham-se de farinha de trigo. Levam-se a cozer em forno brando. Quando se retiram do forno, cobrem-se de açúcar. São óptimos!
39
POETAS MONÁRQUICOS PORTUGUESES
Sophia de Mello Breyner Andresen Abstract
Resumé
Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004) was born on November 6 in Oporto, Portugal. Aristocratic woman, but who played an important role in political life, especially in relation to the opposition to the “New State” in Portugal, defending a constitutional monarchy.
Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004) est née le 6 novembre à Porto, au Portugal. Femme aristocrate, mais qui a eu un rôle important dans la vie politique, notamment dans ce qui concerne l’opposition à l’ “État Nouveau”, au Portugal, défendre une monarchie constitutionnelle.
Writer and poet, she was inspired by Greco-Latin culture and Portuguese poets (for example, Camões, Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena). She also wrote for young people and children. Sophia loved nature, poetry, painting, culture, freedom to be, life.
Écrivain, poétesse, elle s’est inspirée dans la culture greco-latine et dans les poètes portugais (e.g. Camões, Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena). Elle a écrit aussi pour les jeunes et les enfants. Sophia aimait la nature, la poésie, la peinture, la culture, la liberté d’être, la vie.
For her work, she received several prizes, from the most important Camões Prize (1999), Max Jacob Poetry Prize (2001) and Queen Sofia Prize for IberoAmerican Poetry (2003).
À cause de son travail, elle a reçu de nombreux prix dont les plus importants sont: Prémio Camões (1999), Prémio de Poesia Max Jacob (2001), Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (2003).
His work can be found on display at the Oceanarium in Lisbon
On peut trouver son travail en exposition à l’ Oceanário, à Lisbonne.
Key words: Sophia, Campo Alegre, Panteão Nacional
Mots-clés: Sophia, Campo Alegre, Panteão Nacional
Sophia – nome de origem grega, em sentido literal, sophia, que significa “sabedoria” – conclusão. E estaria completo, imediatamente, um qualquer devaneio. Contudo, transcendemos o “verbo” e alimentamos egos parcos e planos – atrevemo-nos! Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004) nasceu na cidade do Porto, no dia 6 de novembro de 1919. A sua ascendência é aristocrática, sendo filha de João Henrique Andresen e de Maria Amélia de Mello Breyner. A sua mãe era neta do Conde Henrique de Burnay e filha do Conde de Mafra. A Quinta do Campo Alegre, tendo albergado a Faculdade de Letras, sendo hoje o Jardim Botânico do Porto, alimentou a sua meninice, a curiosidade e a sua alma na descoberta da natureza, imbuindo Sophia de um estilo romântico e nostálgico, obrigando-nos a criar um imaginário de risos e de brincadeiras de crianças, entre buxos, camélias caídas no chão e lagos com nenúfares, onde Sophia se terá debruçado numa procura infantil do belo. Estudou Filosofia Clássica na Universidade de Lisboa, entre 1936 e 1939, mas não concluiu o curso. Em 1940, publicou os seus primeiros versos nos “Cadernos de Poesia” e, a partir de 1944, dedicou-se à literatura, tendo escrito diversos textos poéticos. Em 1946 casou-se com o jornalista, advogado e político Francisco Souza Tavares, optando por viver em Lisboa. O casal teve cinco 40
cujo intenso perfume, pesado e opaco como o perfume de um nardo, corta o perfume árido e vítreo das areias.3 a cidade: As ameaças quase visíveis surgem Nascem Do exausto horizonte mortas luas E estrangulada sou por grandes polvos Nas tristezas das ruas4 o tempo: Mas o pequeno palácio é nítido – sem nenhum fantasma – Sua sombra é clara como a sombra de um palmar No seu pátio canta um alvoroço do início Em suas águas brilha a juventude do tempo.5 a saudade, o renascimento, a cultura grega: O templo de Athena Aphaia é claro doirado e terrestre Espiga de trigo Erguida para o céu nos píncaros de Egina.6 o contemporâneo, a solidão, o homem, a vida - com todos os seus matizes de grandeza e de decadência. Sophia de Mello Breyner recebeu diversos prémios e homenagens, entre eles, o título Honoris Causa, em 1998, pela Universidade de Aveiro, o Prémio Camões (1999), o Prémio de Poesia Max Jacob (2001) e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003. Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu em Lisboa, no dia 2 de julho de 2004. Encontramos Sophia nos cantos da vida, nossa e dos outros, numa verticalidade e exigência acentuadas pelo profundo conhecimento do homem político e da criança como força brutal que acorda para o mundo. Encontramos também Sophia no Oceanário de Lisboa, e aí a revisitamos nos seus poemas, em exposição permanente, mergulhando num mar de saudade. Conhecer Sophia e dizê-la aristocrática (“do gr. aristokratía, «governo dos mais poderosos» […] governo ideal dos melhores […]) não é mais do que algo que emana e imana da sua escrita que nos arrasta e consome – aristocrática nos gestos, na comoção da voz, na serenidade da compreensão da vida, na escrita erudita ou simples, descomplicada, terrena, de quem conhece a fragilidade que existe entre o esplendoroso do ser humano e a sua mesquinhez e brutalidade de sobrevivência de homo sapiens – homem sábio. Sophia, atrevemo-nos!
filhos, que a motivaram a escrever contos infantis, entre eles, A Menina do Mar (1961) e A Fada Oriana (1964). Nesse mesmo ano, recebeu o Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores pela obra Livro Sexto (1962). Contudo, o seu trabalho não estancou aí - foi ensaísta, tradutora; escreveu contos, artigos, peças de teatro, cartas, e, possivelmente, outros trabalhos – aqueles que se rascunham na mesa de um café, em ideias soltas, palavras mendigas, ávidas de serem. Sophia de Mello Breyner participou ativamente da oposição ao Estado Novo, defendendo uma monarquia constitucional. Foi candidata pela oposição Democrática nas eleições legislativas de 1968, sócia fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Posteriormente à Revolução de abril de 1974, foi candidata à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista em 1975. Em Sophia, sentimos o limbo adormecido de Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Camões: Musa ensina-me o canto Venerável e antigo O canto para todos Por todos entendido1 Mário Sá Carneiro, Cesário Verde, Fernando Pessoa, Dante, Claudel, Arpad: O amor que move o sol e os outros astros - como o Dante Alighieri disse Move e situa o quarto o dia o quadro2 ou as temáticas pujantes da sua obra não fossem a natureza: Entre a casa e a cidade longínqua estendem-se as dunas como um grande jardim deserto, inculto e transparente onde o vento que curvas as ervas altas, secas e finas, faz voar em frente dos olhos o loiro dos cabelos. Ali crescem também os lírios selvagens
_______________ 1
Andersen, S. M. B. (1999). Cidade. In: Obra poética II (p. 102). Lisboa: Editorial Caminho, SA.. 2 Andersen, S. M. B. (1999). Para Arpad Szenes. In: Obra poética III (p. 179). Lisboa: Editorial Caminho, SA.. 3 Andersen, S. M. B. (1989). Histórias da terra e do mar (p. 61). Lisboa: Texto Editora. Andersen, S. M. B. (1999). Cidade. In: Obra poética II (p. 137). Lisboa: Editorial Caminho, SA. 4 Andersen, S. M. B. (1999). Manhã de outono num palácio de Sintra. In: Obra poética III (p. 129). Lisboa: Editorial Caminho, S.A. 5 Andersen, S. M. B. (1999). O templo de Athena Aphaia. In: Obra poética III (p.151). Lisboa: Editorial Caminho, S.A. 6 Machado, J.P. (1977). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (p.306). Lisboa: Livros Horizonte, Lda.
Susana Cunha Cerqueira
41
104.º Aniversário da Irmã Aguiar Carlos Aguiar Gomes
ramo de flores e uma salva de prata: gentil e mimosa homenagem a esta Irmã que deve ser a mais idosa e ferrenha monárquica do nosso País. Durante a tarde ainda participou na Missa, de acção de graças pelo dom da v ida . M im o seou - no s com u m pequenino concerto na sua sala de música e jantou, com bom apetite, vários pitéus de que destacamos a pizza e coca-cola de que é fã! Desembrulhou as inúmeras úteis e musicais ofertas antes de apagar as 3 velas representativas dos seus 104 anos, num lindo bolo, oferecido por um amigo do convento, e, todo ele alusivo à música e à monarquia, como se pode ver nas fotos.
Foi já há pouco mais de um mês que celebrou o seu aniversário a nossa querida Prima Maria Helena – Irmã Aguiar para a congregação de “St.ª Doroteia” e, para todos os antigos alunos e seus familiares: Madre Aguiar.
Antes de terminar cantámos o hino da Maria da Fonte com letra adaptada às circunstâncias. Foi mais um dia muito feliz que todos vivemos já na esperança dos próximos lúcidos e saudáveis 105 ANOS!
Uma cabeça com um raciocínio belíssimo: claro, actual e aberto à mudança; Professora de piano desde os 17 anos – idade em que concluiu o Curso do Conservatório de Lisboa, com a classificação de 20 valores. Tem, ainda hoje, 10 alunos de piano.
Bem hajam todos quantos contribuíram para este dia tão feliz!
No dia 2 de Novembro fomos recebidos, por esta querida aniversariante, com alegria e boa disposição. Recebeu telefonemas e visitas durante toda a tarde, falando com todos amigavelmente e de todos pedindo notícias. Uma das visitas que, mais sensibilizou esta monárquica ferrenha, foi a da Sr.ª D. Leonor Trigueiros, em representação da Real Associação do Porto. Conversaram as duas Senhora, com um ponto comum, a música, já que a Sr.ª D. Leonor Trigueiros é viúva do maestro Ivo Cruz. Recebeu, com viva alegria, uma fotografia autografada pelo Senhor Dom Duarte, de toda a Família Real, um 42
“Roteiros pelo Alto Minho”
Circuito Mariano das Terras da Nóbrega Mariana Pimentel Ferreira de Magalhães Sant’Ana
A Real Associação de Viana do Castelo escolheu Ponte da Barca para o primeiro dos seus Roteiros pelo Alto Minho. Esta iniciativa, aberta não só aos sócios das Reais Associações mas também a todos os simpatizantes que nela queiram participar, consiste em passeios guiados por locais de interesse histórico e cultural, promovendo o turismo e as tradições do Alto Minho.
Abstract The The Real Associação de Viana do Castelo has chosen Ponte da Barca for his first “Roteiros pelo Alto Minho”. This initiative, open to Royal Association’s supporters and to all those who may wish to participate, consists of guided tours to places of historical and cultural heritage, in order to promote tourism and traditions from the region of Alto Minho. On October 7th, 36 participants traveled the “Circuito Mariano das Terras da Nóbrega”, a route of sanctuaries dedicated to our Lady, under the guidance of the Jesuit priest António de Magalhães Sant'Ana.
Foi assim que no passado dia 7 de Outubro se realizou o Circuito Mariano das Terras da Nóbrega, em parceria com a Turinóbrega, empresa turística de Ponte da Barca.
In addition to cultural interest, this circuit has provided great moments of conviviality, reflection and discussion. Key words: Ponte da Barca, guided tours, Our Lady, Terras da Nóbrega
A Terra da Nóbrega corresponde a um território administrativo medieval, situado na margem esquerda do Lima, que a delimita a norte, tendo o limite sul na divisão da bacia hidrográfica deste rio com o rio Homem. Do lado nascente estende-se até à Galiza e de poente até à Terra de Penela. Actualmente pertence aos Concelhos de Ponte da Barca e Vila Verde. O primeiro donatário da Terra da Nóbrega foi João de Magalhães, que recebeu a doação de D. Afonso V. Os Magalhães permaneceram donatários desta terra até 1767, altura em que perderam a varonia.
Resumé La Real Associação de Viana do Castelo a choisi Ponte da Barca pour la première voyage sur “Roteiros pelo Alto Minho”. Cette initiative, ouverte non seulement aux partenaires des Associations Royales mais aussi à tous les sympathisants qui veulent participer, consiste en des visites guidées pour les lieux d’intérêt historique et culturel, pour promouvoir le tourisme et les traditions de la region de l’Alto Minho. Le 7 Octobre 2017, 36 participants ont parcouru le Circuito Mariano das Terras da Nóbrega, une promenade à travers des sanctuaires dédiés à Notre-Dame, guidé par le père jésuite António de Magalhães Sant'Ana. En plus de l’intérêt culturel, ce circuit a fourni de grands moments de convivialité, de réflexion et de discussion. Mots-clés: Ponte da Barca, visites guidées, Notre-Dame, Terras da Nóbrega
O percurso de peregrinagem pelos santuários Marianos das Terras da Nóbrega foi percorrido por 43
trinta e seis participantes e contou com a colaboração do padre jesuíta António de Magalhães Sant'Ana. Partindo junto à ponte medieval da vila de Ponte da Barca, seguiu-se de autocarro até à Igreja de Nossa Senhora do Livramento, na freguesia de Sampriz, onde o Padre António de Magalhães Sant'Ana explicou as diferentes iconografias de Nossa Senhora e o significado de cada tipo de representação. Seguiu-se a subida ao Castelo da Nóbrega, local onde as Terras da Nóbrega tiveram origem, ainda antes da fundação da nacionalidade. Actualmente, poucos vestígios restam do antigo “castelo de Anóbriga”, mas os participantes puderam apreciar as vistas deslumbrantes do Parque Nacional Peneda-Gerês e do Vale do Lima. A paragem seguinte foi no Mosteiro de S. Martinho de Crasto, onde o grupo foi recebido pelo Senhor Padre Eduardo Parente que explicou a história do mosteiro e os pormenores arquitectónicos únicos que este local apresenta. Fundado, em 1136 por D. Onerico Soeiro, Senhor do lugar de Crasto, começou por ser um mosteiro dos Frades Crúzios, tendo sido legado aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em 1142. O complexo foi sofrendo várias alterações ao longo dos anos, com ampliação da igreja e a construção dos edifícios envolventes. Destaca-se a torre de defesa na fachada poente, e a entrada principal que se faz lateralmente, o que é raro nas igrejas românicas. De Crasto, rumou-se a Aboim da Nóbrega, no concelho de Vila
44
Verde, onde os convivas puderam almoçar uns deliciosos Rojões à Minhota, no restaurante A Toca do Lobo. No final do almoço, o Professor Dr. Álvaro Rocha, professor universitário natural de Aboim, guiou a visita ao centro histórico da vila, primeira sede das Terras da Nóbrega. Após passar pelo antigo tribunal visitou-se a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, onde se pôde apreciar o belíssimo tecto constituído por 80 caixotões em talha dourada. Rumou-se depois ao Santuário de Nossa Senhora da Paz, no Barral, novamente no concelho de Ponte da Barca. A 10 e 11 de Maio de 1917, dias antes das aparições de Fátima, Nossa Senhora apareceu ao pastorinho Severino Alves, no local onde hoje se encontra a Capela de Nossa Senhora da Paz. Embora sempre tenha havido um culto local, a Capela foi erguida apenas em 1969 e, desde então, o espaço do Santuário foi crescendo, em resposta ao aumento do número de peregrinos. O Santuário inclui o Museu do Quartzo, onde se encontra a maior colecção de cristais de quartzo do país. O Museu conta ainda com uma sala dedicada ao espólio deixado pelo Reverendíssimo Cónego Prof. Dr. Avelino de Jesus da Costa, nomeadamente livros, insígnias, medalhas e objectos litúrgicos. Infelizmente as condições em que este espólio se encontra exposto estão longe de ser as melhores. Após a visita ao Museu do Quartzo, o Padre António Sant'Ana proporcionou, na Cripta do Santuário, um momento de reflexão sobre a mensagem de Nossa Senhora nas Aparições do Barral e
45
o seu paralelismo com a mensagem de Fátima.
com participantes de várias proveniências, alguns dos quais sem qualquer ligação prévia às Reais Associações.
De regresso à vila de Ponte da Barca, os peregrinos puderam ainda participar na Eucaristia, na Capela de Nossa Senhora da Lapa. Esta era inicialmente uma capela privada, inserida na casa da família Magalhães e Menezes, últimos Donatários de Ponte da Barca, sendo actualmente um edifício autónomo, inserido na paróquia de S. João Baptista.
Foi opinião unânime entre os participantes que estes encontros são muito importantes para a divulgação do património da nossa região. A Real Associação de Viana do Castelo tem previstos novos Roteiros pelo Alto Minho para o ano de 2018 e a Turinóbrega encontra-se também a preparar novos circuitos.
Para além do interesse cultural, este circuito proporcionou excelentes momentos de convívio, reflexão e discussão. Contou
46
O Rei dos Portugueses e o Presidente! José Aníbal Marinho Gomes
Uma vez que as instituições derivam da experiência histórica de cada nação, a hereditariedade é a principal característica e benefício da monarquia.
Abstract
O Rei dos Portugueses, sendo educado desde o seu nascimento, para no futuro vir a desempenhar a função para a qual o destino o chamou – ser Chefe Supremo do seu país – fica independente de qualquer disputa partidária, assim como não se submete aos interesses dos grandes grupos económicos que por maioria de razão, numa república, querem estar sempre próximos daqueles que ajudaram a eleger.
The King of the Portuguese, being educated from his birth to fulfill, in the future, the function for which destiny called him - to be Supreme Chief of his country - is independent of any partisan dispute and assumes his action before History, and his interests are fully identified, as are those of the Kings, his successors, in the interests of the country.
Ser Rei, contrariamente aos que os detractores do regime pretendem fazer crer, é uma tarefa que se traduz na prática, na abdicação da vida privada do monarca, a favor da comunidade, não é portanto, um qualquer privilégio estéril.
Key words: King of the Portuguese, independente, successors, country
O Rei dos Portugueses assume a sua actuação perante a História, e os seus interesses identificam-se plenamente, assim como os dos Reis, seus sucessores, com os interesses do país.
Resumé Le roi des Portugais, étant éduqué dès sa naissance, pour remplir la fonction pour laquelle le destin l'appelait - être le chef suprême de son pays - est indépendant de toute dispute partisane et assume son action devant l'Histoire, et leurs intérêts sont pleinement identifiés, tout comme ceux des rois, leurs successeurs, dans l'intérêt du pays.
O futuro é assegurado, através das lições assimiladas ao longo dos tempos, isto é, o passado orienta o futuro, sendo a experiência o primeiro fundamento das leis justas, por isso é que se afirma que a Monarquia é o regime mais perfeito que se conhece, e o mais moralizador.
Mots-clés: roi successeurs, pays
Ao invés, a república olha com menosprezo para o passado, orientando-se por princípios não relacionados com a realidade existente. Importa ainda referir que se nos primeiros tempos da 47
des
Portugais,
indépendant,
Ficha Técnica TÍTULO:
Real Gazeta do Alto Minho
PROPRIEDADE:
Real Associação de Viana do Castelo
PERIODICIDADE: Trimestral
DIRECTOR: José Aníbal Marinho Gomes REDACTOR: Porfírio Silva WEB:
www.realvcastelo.pt
E-MAIL:
real.associacao.viana@gmail.com
REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO Casa de Santiago Barrosa – Arcozelo 4990-253 PONTE DE LIMA (morada para correspondência)
humanidade, enquanto sociedade organizada, a primeira forma de governo era electiva, depressa se concluiu que o poder sendo hereditário, evitava as lutas entre as diversas facções, e grupos da sociedade em questão. Aliás se olharmos para a maioria dos países desenvolvidos, aqueles cujos povos atingiram um certo grau de desenvolvimento, verificamos que optaram pela solução monárquica. Na república, o presidente eleito não é o melhor, e o mais bem preparado para o cargo, mas tão somente aquele que obteve o maior número de votos, aquele que teve o apoio do partido político ou dos partidos mais fortes, e dos grupos económicos. Logo ficará “refém” e
em permanente divida de reconhecimento aos mesmos. Efectivamente, nas repúblicas ocidentais, há limitação de mandatos, mas contrariamente ao que se pode pensar esta limitação é prejudicial ao país. Não raras vezes acontece que quando surgem situações delicadas em que é preciso agir de imediato, muitos presidentes evitam tomar determinadas posições porque querem ser reeleitos ou só as tomam quando estão no final do último mandato. Ora, o Rei dos Portugueses, quando tiver de actuar, actua, porque sabe que é seu dever fazê-lo, hoje, amanhã e sempre.