CUIDADOS (IN)VISĂ?VEIS Dia Internacional do Enfermeiro 12 de Maio de 2017
Exposição comemorativa do Dia Internacional do Enfermeiro Fotografia de José Artur Macedo. Texto introdutório da autoria das enfermeiras da Santa Casa da Misericórdia de Mora. Citações ilustrativas das fotografias do livro de Ítalo Calvino “As Cidades Invisíveis”, 2011, (14ª ed.) Teorema.
CUIDADOS (IN)VISÍVEIS No livro “As Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino há um diálogo fantástico e imaginário entre Kublai Khan, o grande Cã dos mongóis, um dos senhores do mundo no séc. XIII, e o seu mais ilustre visitante ocidental, o veneziano Marco Polo. Neste diálogo, Marco Polo narra as suas impressões acerca de várias cidades visitadas dentro das fronteiras do império tártaro ao Cã que, não pode sair do centro do seu império. Quem comanda a narração é o imperador porque dela precisa para conhecer o seu próprio império. Tal como as “Cidades Invisíveis”, que mais não são que um mapa deslumbrante, e alegorizado, da complexidade humana, também os Cuidados de Enfermagem e os Enfermeiros são muitas vezes invisíveis e devem de ser narrados, mostrados ao olhar do outro, empoderados na sua complexidade de intervenção técnica, clínica e social. Os Enfermeiros desenvolvem vários padrões de conhecimento, técnicas de comunicação e relação, trabalham em multidisciplinariedade, em autonomia científica, seguindo os padrões éticos e deontológicos da profissão, e produzem ganhos de saúde nos indivíduos, nas famílias e nas populações com quem desenvolvem a sua intervenção.
A justa medida de compreensão da narrativa dos Cuidados (In)visíveis está dentro de cada um de nós que olhamos esta exposição fotográfica. Momentos fixos num espaço e num tempo simbólicos, para quem se quiser arriscar a conhecer este mapa complexo de cidades (relações) entres os Enfermeiros e as pessoas de quem cuidam. É o próprio Calvino que diz “quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido”. Quem comanda a visão não são os olhos: são os sentimentos. 12 de Maio de 2017
“(…) ergue-se sobre altíssimas palafitas, e as casas são de bambu e de zinco, com muitos bailéus e balcões, postos em diferentes alturas, com andas que superam umas às outras, ligadas por escadas de madeira.”
“Como é realmente a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que contém, o que esconde (…)”
“As duas cidades gémeas não são iguais, porque nada do que acontece (…) é simétrico.”
“(…) e nos dias luminosos, uma sombra diáfana e angulosa que se reflete na folhagem.”
“(…) para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondente invertido ponto por ponto (…)”
“A minha mente continua a trazer um grande número de cidades que não vi e não verei, nomes que trazem consigo uma figura ou fragmento ou ofuscação de figura imaginada.”
“(…) a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos (…)”
“(…) ao erguer a cortina, a janela enquadra somente uma extensão das faces.”
“cidade triste, também corre um fio invisível que, por um instante, liga um ser vivo ao outro (…) contém uma cidade feliz que nem mesmo sabe que existe.”
“aproximar-se passo a passo da sua porta (…) até alcançá-la permanece do lado de fora.”
“As ruas da cidade eram aquelas que os levavam para o trabalho todas as manhãs (…)”
“Passa-se alguma coisa entre eles, uma troca de olhares como se fossem linhas que ligam uma figura à outra e desenham flechas, estrelas, triângulos…”
“Deuses de duas espécies protegem a cidade (…)”
“quando se olha atentamente para o tapete, reconhece-se o caminho perdido num fio carmesim ou anil ou vermelho amaranto que após um longo giro faz com que se entre num recinto cor de púrpura que é o verdadeiro ponto de chegada.”
“A cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão”
“Entre cada noção e cada ponto do itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou contrastes.”