Viagem ao Sobrenatural Roger Morneau

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CAPÍTULO 3 Viagem ao Sobrenatural Senti-me atraído pela Marinha Mercante Canadense porque um amigo meu havia servido e me contara como havia gostado. Com a Marinha Real e a Força Aérea Real para nos dar proteção (os navios mercantes eram a linha de sustentação das forças armadas), nós parecíamos ter uma maior sensação de segurança. Durante dois anos e meio, trabalhei na sala das máquinas dos vários navios aos quais fui designado, trabalhando a maior parte do tempo como foguista [eram navios com caldeiras a vapor]. Lembro-me bem de que, ao começar o meu turno, eu dizia para mim mesmo: “Espero que nenhum torpedo acerte estas caldeiras enquanto eu estiver aqui”. Muitos homens que conheci pereceram no mar. Minha experiência na Marinha Mercante serviu para endurecer-me ainda mais contra Deus e os homens. Terminada a guerra, era difícil encontrar ocupação em Montreal, porque milhares de jovens que haviam recebido dispensa do serviço militar fervilhavam pelas ruas da cidade em busca de emprego. Decidi aprender um ofício, algo que eu pudesse apreciar e que envolvesse alguma criatividade. Eu não queria trabalhar só para o meu sustento. Por isso, decidi gastar mais tempo procurando emprego, para ter certeza de que, ao optar por um, eu ficaria realmente satisfeito. Enquanto isso, para me manter ocupado, aceitei um trabalho no 'Windsor Bowling' [clube de boliche], na Rua St. Catherine West. Naquela época, era um dos melhores lugares de Montreal para esse tipo de diversão. Eu era auxiliar do gerente do salão de bilhar. O trabalho não era duro, eu ficava conhecendo muita gente, e era um bom passatempo. Não estava nesse trabalho por muito tempo, quando entrou um velho amigo que havia servido comigo no início de minha experiência na Marinha Mercante. Felizes em saber que nós dois ainda estávamos vivos, jantamos juntos naquela noite e conversamos sobre muitas coisas. Um assunto sobre o qual meu amigo Roland falava com muito entusiasmo era o seu novo interesse pelo sobrenatural. Contou-me de quão contente estava por ter conhecido um grupo de pessoas que se comunicava com os os mortos. O médium espírita havia colocado Roland em contato com seu pai, falecido quando ele tinha apenas dez anos de idade. O espírito de seu pai já lhe havia dado muitos conselhos concernentes ao futuro. Embora fosse interessante ouvir as experiências de Roland com o sobrenatural, aquilo me parecia misterioso. Não demorou muito e ele perguntou se eu estaria interessado em assistir a uma dessas sessões. – Pode ser que o médium espírita consiga fazer com que você fale com o espírito de sua falecida mãe. Você gostaria disso, não é? O entusiasmo dele diminuiu, quando ele percebeu que eu estava tão agitado que nem podia responder. Após alguns segundos de silêncio, ele continuou: – Você não teria medo de falar com a alma de sua falecida mãe, teria? De alguma forma, consegui responder que não, mas gostaria de ter um pouco mais de tempo para pensar, pois jamais havia cogitado sobre isso. Ele me olhou direto nos olhos e disse: – Morneau, você está com medo, eu sei só pelo jeito do seu olhar. Está escrito no seu rosto. Puxa, você mudou muito desde a última vez que o vi. O Roger Morneau que eu 17


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