CAPÍTULO 7 Da Adoração aos Demônios ao Estudo da Bíblia Às três horas da tarde, a sirene tocou como de costume, para dar início ao intervalo de quinze minutos de descanso. Ao passar em frente ao escritório, enquanto me dirigia para fora do prédio, Harry, um dos proprietários, pediu que eu desse uma passada pelo escritório dele quando voltasse do intervalo. Ele precisava falar comigo. Quando voltei e entrei em seu escritório, ele me ofereceu um cigarro e disse: – Roger, gostaria de pedir-lhe um favor. Com certeza, você me viu hoje de manhã andando pela fábrica com um certo senhor, mostrando a ele nossa empresa. Bem, eu o contratei para trabalhar aqui. Ele começa na segunda-feira de manhã. – Patrão, isso é muito interessante, mas o que tem a ver comigo? – Ouça bem o que vou dizer. Isso é muito importante para mim. Depois que ele saiu, não pude pensar em mais nada a não ser no problema dele. Ele é um cristão, mas guarda o sábado. Antes de aceitar o emprego, ele mencionou que, por causa de suas convicções religiosas, ele gostaria de sair do trabalho às 15:30 nas sextas-feiras e que compensaria as horas nos outros dias da semana, para que pudesse, dessa maneira, preparar-se para a observância do sábado. – Harry, estou ouvindo, mas não sei onde você quer chegar. – Estou vendo que você não está familiarizado com o fato de que o sábado bíblico começa no pôr-do-sol sexta-feira e termina no pôr-do-sol do sábado. Como judeu, entendi perfeitamente o que ele queria dizer e prometi que faríamos os arranjos necessários para a satisfação dele. Mas tive vergonha de perguntar qual é a religião dele. Aqui está o que eu gostaria que você fizesse. Vou colocar Cyril para trabalhar na máquina próxima a sua e, à medida que vocês forem fazendo amizade, procure descobrir qual o nome da Igreja dele e qual a natureza das suas crenças religiosas. Não dê a menor impressão de que lhe contei qualquer coisa. Use muito tato, tome todo o tempo necessário, ainda que tenha que esperar uma semana, ou duas, para tocar no assunto. Isso realmente me intriga. Um cristão que guarda o sábado bíblico. Nunca ouvi uma coisa dessas, senão hoje. Sentindo uma urgente necessidade de corrigir Harry, com respeito ao sábado e ao correto dia da semana a ser observado, eu disse: – Você não sabe que o domingo é o sétimo dia da semana? Aprendi isso quando era menino na escola. As freiras nos explicaram que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Mas deve ter havido um erro no calendário gregoriano. Com efeito, o domingo deveria estar, no calendário, no lugar em que se lê “sábado”. Com um sorriso, Harry abriu uma das gavetas de sua escrivaninha, pegou um dicionário, folheou-o até achar o verbete “sábado”, e pediu que eu mesmo lesse: “Sábado – o sétimo e último dia da semana”. Em seguida, explicou que os judeus nunca haviam perdido de vista o ciclo semanal e que o sábado bíblico é, na realidade, o sétimo dia da semana, ou o sábado, tal qual indicado no calendário. Quanto ao calendário gregoriano, ele disse que este, embora tenha envolvido uma correção cronológica, não afetou e nem alterou o ciclo semanal de forma alguma. Foi apenas uma compensação pelo fato de que o calendário e o movimento do Sol haviam deixado de ser sincrônicos, num total de dez dias através de um período de 1600 anos. Sugeriu ainda que eu pesquisasse sobre o assunto em uma boa enciclopédia e lhe passasse os meus achados no domingo à tarde, já que havíamos combinado jogar bilhar 46