%
Noticia descriptiva
Typ. Silva Magalbíleã
1903
ÃO
é nosso intento fazermos a historia
completa (Testa
desde
a
importante
sua origem
em
tíssimas e obscuras tal
povoação
epochas remo-
até
nossos dias
emprehendimento não cabe nos esdo nosso acanhado saber,
treitos limites
por isso é singelo e resumido o presente' trabalho.
Do que ainda
hoje se observa deduz-
que passaram por
se muito facilmente
aqui (líversas dominações e todas ellas deixaram vestígios inde-
da sua passagem: a sumptuosidade dos romanos revella-se fragmentos de estatuas magniíicas que teem sido encontrados
•leveis
em e
que ainda hoje aqui se podem ver.
A
assolação d’essas hordas
de barbaros, suevos, alanos e vandalos. que invadiram a Península Uispanica não podia deixar de estender-se até estas para-
gens e
d'ella
serão talvez vestígio a mutilação d’aquellas estatuas
e outros destroços que ainda hoje se
notam
;
mais tarde quando
os godos substituiram estes, depois de convertidos
ao chris-
tianismo, que lhes adoçou os costumes barbaros, deixaram
em
templos e capellas que erigiram signaes indeleveis da sua pie"
dade
religiosa.
A
estes
seguiram-se os arabes que
por aqui estacionaram durante muitos annos gios da sua
permanência
iTesta
também
deixando
localidade taes
vestí-
como o nome
6
denominação arabo de certos lognres que ainda hoje conservam, como por exemplo as Almoinhas junto á povoação
do
rio,
de
Cem A
a
Soldos, moengas,
historia de
sillos,
poços, noras arabes, etc.
Tliomar liga-se á historia
Península desde as epochas mais
de toda
inteira
dos de vastíssimos conhecimentos poderiamos entrar fundo;
como
opusculo ipie
tal
a fazer
uma
narrativa dos
singela
o fazemos unicameute por amor
desejando que
n’ella a
não possuímos limitar-nos-hemos n’este breve factos históricos
temos podido colher e das observações que
e isto
a
remotas, por isso só muni-
d’ella
hajam
á terra
temos
feito
onde nascemos
conhecimento, ainda
que muito
restricto, aquelles que a não tenham visitado: para esse fim começaremos por dar uma descripção muito singela da actual
cidade de Tliomar, fallando
das fabricas histórica
a
em
seguida do
rio
que
a
banha e
que serve de motor, entrando depois na parte
como podermos, sem pretenções, porque
as não
e sempre confiados na benevolência dos leitores, a
dimos nos relevem erros que notarem.
a
deficiência
temos
quem
d 'este trabalho e as
pe-
faltas e
viajante que da estação dos
nhos de gir
a
uma
ferro,
em
cami-
Payalvo, se diri-
Thomar tem que percorrer
estrada de
7
kilometros de ex-
tensão, accidenlada, despida de bei-' lezas naluraes. apenas ladeada por oliveiras e
pinheiros, descrevendo
curvas, subindo e descendo rampas;
porém, o transpor
a ultima das curvas d aquelle enfadonho trajecto é o acordar no meio dum vergel florido ao alvorecer duma
como manhã
dabril, depara-se-lhe
prehende e encanta reita
de
estendem se pujante
;
em
as
vegetação,
um panorama que de certo o surem vasta planície, para a di-
baixo
ferteis
onde
margens do
abundam
Nabão
as oliveiras esmeradamente tratadas como vores de ornamentação, as variadas culturas cta,
cobertas
os pomares se
de fiu-
foram ar-
hortenccs e ce-
leahfeias e pelo meio o rio serpenteando em curvas graciosas lado de alamos, choupos, freixos, salgueiros, chorões e cannaviaes, emiltindo frescura, dando realce e helleza ao lado esquerdo, no ponto mais culminante da cadeia de montes que seoi
;
#
— 10 — prolongam pela margem direita do rio, fica lhe o vetusto castello de D. Gualdim Paes; está ali alteroso e sobranceiro como padrão indelevel de antigas glorias, com a sua elevada torre de menagem, seus pannos de muralhas guarnecidos de ameias, torreões e reductos, a circumdarem como que para defender aquella obra monumentosa, o Convento de Christo; na frente
em
assente
plano
quasi horisontal está a cidade, que
apresenta alvejante e bella
como em jardim
uma
rua perfeitamente
um
recta, larga, espaçosa,
ornamentaes que
renques de arvores
se lhe
um
cultivado
de verdura e nella entra depois
canteiro de açucenas orlado
por
bem
parque de palacio sumptuoso. E'
a
a
com
dois
fazem assemelhar
a
rua da Graça. Parallelas
correm outras quasi todas amplas e bem alinhadas que, cortadas pelas que lhes incidem em direcção perpendicua esta rua
lar,
dividem
margem
a parte principal
direita
do Nabão
em
da cidade,
que é
a
que
fica
na
quarteirões muito regulares. Na
media e para o lado do poente está a Praça publica, denominada de D. Manuel; esta forma um quadrilátero que é quasi um
linha
quadrado perfeito e cuja grandeza está
em
completa relação com
o tamanho da cidade; é calçada de pedra branca e preta
um
losangos que lhe dão
em
aspecto bonito e guarnecida de arvo-
Do centro delia desappareceu ha muito o anuma pilastra de pedra de aproximadamente quatro metros d altura, de forma pyramidal com base rectangular, tendo no vertice uma esphera armilar de ferro e assente sobre um pavimento lageado também rectangular para onde se subia por quatro degraus em cada um dos lados. Nos mu-
res e bancadas.
tigo pelourinho,
nicípios
romanos costumava collocar-se no meio da praça pu-
blica (forum)
uma
estatua de
direita erguida, era o
quando se
Marsyas ou Sileno com
symbolo da liberdade.
extinguiu o paganismo, aquellas
a
mão
Posteriormente estatuas
foram
substituídas pelos pelourinhos, pilastras ou columnas de pedra e de symbolos da liberdade passaram a ser symbolos da igno-
minia,
porque era
com baraço
ali
e pregão
que, depois de conduzidos
eram expostos ao publico
pelas ruas
e muitas vezes
— cruelmente vezes
ligeiras e
lillias
da
pois
dali já
com penas
ha bastantes annos
como
cência de barbaros costumes e hoje
do passado, broso está
um
severas. Desap-
reminis-
aquella
redimir as
falias
que era obscuro e tene-
a eliminar e esclarecer o
a suhslituil-o
a
falias ás
mas que os
ignorância e miséria,
déspotas daquellas epochas puniam
pareceu
em
que incorriam
açoitados os plebeus
—
II
bonito candelabro de dois braços
de cujos globos pendentes saltam scinlillações de luz eléctrica,
do progresso: nada mais apropriado poderia eollocar-se
a luz
n áquelle logar para mostrar a todos que este povo se exforça
por estar sempre
par da civilisação moderna e vae constan-
a
temente progredindo na ordem material e lados d esta praça, o que
Um
intelleclual.
dos
ao poente, é formado pelos pa-
fica
ços do concelho e o opposto pelo magnifico templo de S. João Baptista.
ambos de
construcção manuelina; tem
formadas por duas
tres vastas naves
sustentam areos ogivaes, esculplurado e
um
nas paredes
primorosamente
mór alguns
lateraes da capella
attribuidos a
Gran Vasco
sua escola.
á
A adornarem-lhe os da cidade
dois topos norte e sul tem esta parte
dois formosíssimos
Pequena arborisado tral
este templo
de columnas que
púlpito de pedra
quadros de bastante merecimento, ou
fileiras
guarnecida de bancos tendo
outro
um
bonito coreto
mais concorrido ficante e
em
puro do
largos; o
e ajardinado, a
primeiro
cortado por
um
para musica;
tardes de verão;
rua cen-
um
lago e ao
dos lados
ameno
e delicioso é o
respira-se
norte embalsamado pelo
Varzea
a
uma
ali
o ar
aroma das
vivi-
llores
d’aquelle jardim e pelo dos tysos, murtas e outras odoríferas
plantas silvestres de que local;
vem inpregnado quando chega
áquelle
fonte de
lambem ali corre por dois tubos de broze a nome que lhe vem d uma pequena capella
S. Grègorio,
dedi-
cada áquelle santo que lhe é quasi contígua e notável pela sua fôrma em oclogono regular. Kste largo servia ainda não ha muitos annos, de mercado semanal de gado suino. semeado de charcos e cortado de corregos no inverno era
immundo
e in-
—
12
—
salubre, hoje
é
um
apreciáveis da
pontos mais
dos
cujos melhoramentos vão constantemente progredindo. fica
cidade,
Ao
sul
o largo da Varzea Grande, extenso quadrilátero, cujos lados
são formados por ruas orladas de frondosas arvores, tendo ao
uma alameda, um pequeno uma capella dedicada a S.
fundo no extremo sul coreto para musica e
dentro do jardim collocado
alli
fosse para
uma
jardim,
ou memória
agulha de pedra, padrão
não se sabe bem para
commemorar
a
um
Sebastião e
quê nem quando; talvez
acclamação de D. Filippe, que teve
logar no Convento de Christo.
Ao poente
e paraiello á rua que forma aquelle lado está o
quartel militar, inslallado no
Ao nascente Levada que a
d’esta
amigo convento de Franciscanos. cidade corre o rio Nabão e a
parte da
separam do outro
a
bairro; por esta levada deriva
agua que vae servir de motor
uma
a
moagens,
fabrica de
antigos lagares d azeite e á turbina que transmitle o
ao
dymnamo
para
Seguindo
a luz eleclrica.
para o norte corre
uma
avenida,
a
margem do
denominada
a
movimento
Marquez
rio
de
Thomar, arborisada e ajardinada que vae desembocar na Varzea Pequena; esta obra de construcção moderna alem de afbrmosear muito a cidade collocou-a em melhores condições hygienicas, fazendo desappárecer d'aquelle local os recantos do iio
onde se depositavam lòdos e immundicies que eram preju-
diciaes á saude publica.
O segundo
bairo denominado
Alem da Ponte
é
gular que o primeiro, não deixando por isso de ter belleza; sobe por
menos
uma
re-
certa
uma pequena elevação e ramifica se em tres uma ponte depedra não se sabe
direcções principaes. Liga-os
ao certo se
mas
mandada
ê muito provável
construir se
reedificar por
I).
Manoel,
que fosse reedificada; ifaquella epoclia
já existiam os dois bairros, ria
alem d 'isso a egreja de Santa Mados Olivaes pertenceu aos Templários e depois aos Freires
de Christo e n ella celebravam festividades e ate lá sepultaram alguns dos seus membros, deviam, portanto, ter uma via facil de communicação por sobre o rio, uma ponte, que decerto não
— 13 — era a das Ferrarias que
fica
muito ao
sul;
alem
d’isto todas as
obras d’aquelle reinado revelam a arte, o saber e o
bom
gosto
dos obreiros que d’ellas se encarregavam; a ponte está real-
mente bem cons
trui da,
mas
se
vesse
ti-
sido
edificada de
novo de certo lhe teriam
dado a mes-
ma
direcção
que segue o eixo da rua principal da
cidade
que
de sem boca
^ont& sobre o ^abão
na Praça, antiga rua da Oorredoiira, hoje Serpa Pinto, o que afor-
mosearia muito mais esta rua, e não é assim, forma com linha quebrada, o
que mostra que outra ponte que
ali
uma
ella
houve
foi
construída antes do alinhamento d'aquella rua e posteriormente se aproveitaram os fundamentos d elia, para sobre elles se construir a aclual,
que galga por sobre
de cantaria de uma solidez resistido
a toda
a
Levada e o
a prova,
sem o menor abalo ao impelo
pois
violento
rio
em
arcos
tem sempre de grossas
enchentes, que muitas vezes leem saltado por cima delia
escarceus formidáveis
sem que
ponte soffreu ha alguns annos
d’isso se haja resentido.
uma
modificação:
que eram de alvenaria cobertas de lages
as
guardas
foram substituídas,
para lhe dar maior largura, por grades de ferro e n'essa casião
foi
em
Esta
removida não sabemos para onde
oc-
imagem em pe-
a
dra de tamanfio natural de Santo Estevão que se achava sobre a
do lado do
verdade que
sul logo á entrada, vindo ella
de Alem da Ponte;
ameaçava desabar, porque
a
é
crença popular
de que o pó raspado das pernas do santo curava as sezões.
—
14
—
tinha-llfas por lai forma adelgaçado, que
mal podiam já>us-
tentar o tronco.
norte e de encontro ao primeiro pégão da ponte>leva-
Ao
quando estas são em maior abnndancia d elle se precipitam formando uma bonita cachoeira, cujo sussurrar monotono e -continuo 'é.comó um acompanbamento em baixo do trinar agudo dos rouxinoes, se o açude que deriva as aguas para a Levada e
que durante nas
a
primavera
soltam melodiosos
cantos pousados
uma
gonteas dos salgueiros e chorões, que de
llexiveis vei
margem
se baloiçam sobre o rio, dando áquelle local amenas de maio ou junho um tom de suave melancholia, que allrahe e enleva. Transpondo esta ponte, do poente para o nascente, entra-se em uma rua denominada Marquez de e outra
em
noites
Pombal
(antiga rua Larga); logo ã entrada e á direita estão os
restos do antigo convento conhecido boje pelo Convento de Santa Iria e
ainda na muralha, que mergulha no
nicho de pedra
a
imagem
está transformado, parte
em uma pella,
em
rio,
em
casas de habitação e outra parle
fabrica de tecidos de
lã;
só resta d'elle intacta
notável pelo seu porlico e sobre tudo por
alto
relevo, de muito
capella ba
um
em um
se vê
d aqnella santa; hoje aquelle convento
um
a
ca-
retábulo
valor artístico; logo adeante desta
arco que ligava o convento antigo
com
a
parle
que posteriormente foi construída e por debaixo d‘elle passa a estrada, que conduz ao cemiterio e ã notável egreja de Santa Maria e vae para S. Pedro; quasi defronte d este arco
Marquez oe Pombal dá uma ramificação para
a
a
rua
esquerda, que
é a rua da Fabrica (antiga rua das Poças) e vae terminar na
uma das melhores do pouco adeante, ao subir uma pequena elevação
Fabrica de Fiação e Tecidos de Algodão,
nosso
paiz;
bifurca-se, a
um
dando origem
á
rua de Santo André e á de S. Braz;
primeira assim chamada por ter ao cimo,
eminência,
uma
capella
com
a
em uma pequena
invocação d’aquelle*anto,
a
segun-
da porque tinha logo á entrada, ao lado esquerdo, outra capella
dedicada a S. Braz, da qual já não restam vestígios alguns, tendo sido demolida para no seu local se edificarem casas de habitação.
— 15 — Thomar
nove estradas, quatro districtaes e
é servida por
cinco municipaes, são outras tantas artérias onde circulam os
elementos
de vida
d'esta povoação,
importação de matérias
primas para as suas importantes fabricas, exportação de seus artefactos;
uma
organismo
social.
especie de assimilação e desassimilação d este
I
Das estradas districtaes,
a
de Payalvo. Leiria, Pintado e bar-
quinha: a primeira começa na rua da Graça, vae á estação dos
caminhos de ferro
Torres Novas seguindo depois por
e d’alii a
Pernes até Santarém. Esta estrada inutilisou da Senhora dos Anjos, que
partia
a
costeando o muro da cerca do Convento e cujo vinha de
uma
antiga capella da
antiga Calçada
do mesmo
mesma
ponto e subia
nome
lhe pro-
invocação, que existia
ao cimo d’aqúella íngreme ladeira, esta capella que pertencia aos Freires de Christo, tinha alpendres de boa architectura assentes sobre columnas de pedra, casas para se recolherem os
romeiros e para
residência
A de
restam vestígios.
do ermitão, hoje
Leiria sae
nem
d elia
já
do lado poente da Varzea
Pequena subindo por uma rampa sustentada por muralhas de com engradamento de ferro, vae á estação de Chão de
cantaria
Maçãs
e segue por Villa
Nova d Ourem
até
Leiria.
Esta estrada substituiu a antiga que partia de capella de S. Gregorio e era até certa distancia
ao
pé
pavimentada
de grossas pedras mal talhadas d’onde lhe vinha o nome de çada de S. Gregorio. A do Pintado prolonga-se S. André, passa pelo logar
da
com
n
do Pintado e mais adiante
cal-
rua de
em um
chamado o Salgueiral bifurca se seguindo uma para Coimbra e outra para a Certã; cada uma d estas dá differentes
sitio
ramaes, que
conduzem
a
povoações
importantes taes
Ferreira do Zezere, Figueiró dos Vinhos etc.
continua-se
com
a
rua dos Estaus seguindo
A
como
da Barquinha
por
entre
duas
linhas darvores e tendo passeios lateraes na extenção de mais
de seis centos metros, passa junto ao logar de ha
uma
importante
feira
St.
a
mercado de gados no ultimo
dia
de
cada mez e
Cita
onde
um bom está já em
annual a 10 de setembro e
—
-
io
construcção outra estrada, que segue
d'alli
para
Tancos
e lioje é notável pela celebre batalha,
foi villa
que
até
tempo
Abrantes; atravessa o togar da Asseiceira que n’outro
em
1833
se deu entre as tropas de D. Pedro e de D. Miguel, alcan-
alli
uma
çando as primeiras
povoação da Atalaya até
á
brilhante vicloria; segue depois
pela
Barquinha e ramifica se para o Entron-
camento.
As municipaes são
a
do Prado, Serra, S. Pedro, Olaias
e
Porto de Cavalleiros.
Sae
gem
primeira da Varzea Pequena, corre ao longo da mar-
a
do
direita
quinta
passa pela Granja que noutros tempos
rio,
de recreio
dos Freires de Christo e
foi
vae terminar na
Papel do Prado; é arborisada na extenção de mais
fabrica de
de quinhentos metros, formando por isso
A da Serra
com
entesta
um agradavel
passeio.
a rua de S. Braz, segue pelo sitio
das Avessadas, magníficos terrenos de cultura, povoados
de
junto
ao
quintas, casaes e
logar do Carril e
A de
pequenas casas de campo, passa vae á Abbadia da Serra.
Pedro sae da rua Marquez de Pombal,
S.
passa por
debaixo do Arco das Freiras, logo adiante bifurca-se dá
pequeno ramal que conduz ao cemiterio d esta freguezia e Egreja de
St.
a
Maria dos Olivaes e o outro segue por
laes de Baixo, fértil terreno de regadio,
um á
Marme-
povoado de oliveiras
e
mais arvores
frucliferas, coberto
de variadas culturas hortences e
cerealíferas,
deve
em
terminar
ir
actualmente acha-se
em
uma pequena parte. A das Olaias liga-se
via
á
S.
Pedro da Beberriqueira.
de construcção e só está concluída
margem
direita da
do Pintado, logo
adiante do logar das Calçadas, segue pelas Aboboreiras, casal
do Torrão
e vae ás Olaias e Montes. A de Porto de Cavalleiros sae da estrada de Leiria logo adiante do logar de Carregueiros, passa por S. Simão e vae ,
terminar na fabrica de papel.
A
população
habitantes,
da
cidade
comparada com
a
orça
actualmente
por
0:935
que se achou na penúltima ava-
— liação vê
que tende
sfi
a
augmentar; provem-lhe este augmento
maior impulso utlimamente dado ãs industrias
<Jo
—
17
com-
e ao
mercio que teem melhorado consideravelmente.
As condições hygienicas
d esta cidade são actualmente boas,
desappareceram de cá ha muito as febres paludosas, endemi-' casque aqui grassavam todos osannos, devidas á faltado cumhygienicos que hoje se não descuram;
primento dos preceitos a
limpeza e aceio
incontre
egual
tias
em
ruas é tão esmerado que
talvez se
povoações d ordem superior;
ção é quasi completa e os
não
canalisa
a
canos das ruas vão dar
a
um
col-
que desemboca no rio abaixo da fabrica de moagens e tem uma comporta acuna do açude por onde a agua, entrando leclor geral,
em mar
grande quantidade, pela sua rapida corrente, tende o vacuo nos
ou
canos parciaes arrastando,
a for-
como que
absorvendo, as immundicies e gazes que n’elles sc encontram, indo depois lançal-os ao
como
rio,
onde se diluem
e
dissolvem,
dar togar
e
podem
o volume d agua é grande e a corrente rapida não
emanações prejudiciaes. K certo que não é este o
a
melhor systema de canalisação;
no entanto
satisfaz;
municipio tivesse maiores recursos decerto o
teriam
e se
o
aperfei-
çoado as vereações que de ha dez ou doze annos para cá tan to se teem esmerado em uteis melhoramentos. A’ falta de
meios pecuniários acresce ainda de,
em que
só
com muito
u na canalisação
perfeita,
a
posição topographica da cida-
poderia
dispêndio se
dando aos canos
a
estabelecer
altura
sulíici-
ente, (pie deve ser de dois metros
pouco mais ou menos paia
n elles se poder fazer
uma
rior a 3
°[
0
,
a
limpeza, e
inclinação nunca infe-
direcção recta o mais possível, material de cons-
trucção que não seja atacado pelos ácidos, de maneira que as
paredes sejam impermeáveis e não possam ser furadas ratos e indo todos
desembocar
em um
em um
fosso,
inodoros c -
os
fosse
onde seriam desinfectados, de modo
inofensivos,
bação dos terrenos.
que
cano geral
duzisse os dejectos para fora da cidade e
a
pelos
con-
despejar tornal-os
sendo depois aproveitados para adu-
18
—
Apesar pois de não podermos
ter
um
a
que
de canalisação, como já dissemos,
nem
beccos immundos
cidade não tem
bem
ruas são amplas,
systhema existe
perfeito
satisfaz;
a
tortuosas, as
vielas
bem
calçadas e acham-se sempre
var-
sem que algum cheiro desacommunicam com
ridas; passeia-se por todas ellas
gradável nos incommode: as sargetas, que
os canos, teern todas syphões de pedra onde
amiudadas vezes noite
com
e inda assim
de
perchlororeto
são
de
cal
a
agua é renovada durante
desinfectadas
modo que
a
que
os gazes
se desenvolvem no interior dos canos, que são os ácidos car-
bônico,
dem
e carboretos
inquinar a atmosphera;
nem
dhydrogenio, não po-
as matérias organisadas (mi-
cróbios) arrastados pelos vapores d'agua a
os canos das casas
particulares,
carbonatos
sulphydratos e
nitroso e sulphydrico, os
d’ammonio e phosphoretos
podem
infeccionar;
que vão dar aos das
ruas,
são todos vedados por syphões de gres ou valvolas hydraulicas
emmanações mephyticas; alem bem ventiladas e com boa exposição. Tam-
não havendo no interior d
em geral bém concorreu muito d 'isto são
elias
para melhorar as
condições hygienicas
da cidade o incremento que se tem dado á
avenida que vae da
como
ja
livrou-a
arborisação
Ponte até á Varzea Pequena; esta
dissemos, não só embellezou muito das emanações
prejudiciaes que
a
e
á
obra,
povoação, mas,
n’aquelle
local
se
evolviam; antigamente o rio passava encostado ás casas e quintaes d’aquelle bairro, havia se depositavam Iodos e
alli
recantos e
depressões,
onde
onde os habitantes iam de noite fazer
os seus despejos, era infecto aquelle local, que hoje se tornou
um
dos mais aprazíveis.
A cidade
é
bem
abastecida d aguas, tem-as para lavagens
esta
no rio e em poços, que quasi todas possuem, e para beber, na fonte de S. Gregorio; agua demasiadamente calcarea não é das melho-
res,
no
sem
que
e outros usos domésticos
as casas
entanto muita gente fazia e ainda
tenha
experimentado
faz
perturbações
uso
d ella,
digestivas
ou quaesqucr outros desarranjos funcionaes provenientes
da
— 19 ingestão dos saes calcareos, que contem
dadeiramente potável é
um
mais d
a
em
tiva
que
a analysa
é
qualita-
fizemos ha alguns annos apenas nos revelou de traços muito ligeiros de chloruretos e de carbo-
nato calcareo e ferroso, e tão leve e de tão
que
pouco
siliciosa
d’ella
a existência
é,
fica a
kilometro da cidade; nascida de rocha
perfeitamente límpida, inodora e insípida;
Ver-
dissolução.
agua de Marmelaes, que
foi
facil
absorpção
sempre recommendada aos doentes e
ella
convalescen-
agua temol-a agora no interior da cidade, ao fundo da rua da Graça, no começo da dos Kstaos, está correndo de um marco de pedra, por duas bicas e em tal abundancia que tes; esta
abastece toda
a
cidade e sobra ainda, e é
e perfeitíssima alvura
tal
a
sua limpidez
que desde remotíssimas eras
lhe fez dar f no logar onde nascia, o nome de Fonte de Prata, denominação que continua tendo no local onde hoje corre. Foi para aqui mandada canalisar ha poucos annos pela Gamara Municipal e é mais um melhoramento que se deve ao seu presidente e
vereadores, que n estes últimos annos tanto se tem exforçado
por conseguil-os para este município.
Alem do mercado annos
foi
diário
em uma
praça apropriada, que ha
construída para esse fim, ha
todos os sabbados muito abundante
um mercado
em generos
semanal
alimentícios,
como fructas, legumes, peixe, sereaes, etc. No mesmo também outro de gado suino muito concorrido; no ultimo domingo de cada rnez temos também no Largo da Var-
taes
dia ha
zea Grande os annos
começa
a
um mercado
uma
feira
de gado lanígero e caprino
muito importante, no
19 d outubro, costuma ser
mesmo
todos
e
largo,
concorridissima e
tres dias. lia actualmente na cidade vários
hotéis
sendo
que dura os
mais importantes o União Commercial, com boas dações, aceiado e
acommodaque também é
bem servido e o Hotel Prista ü povo de Thomar é dotado
bastante concorrido,
dole, cortez, affavel e hospitaleiro; é e
repelle o despotismo e a imposição de
de
tem sido sempre
boa
in
liberal,
quem pretende domi-
nal-o pela força; são qualidades que o distinguem e nobilitam
— 20 — e
em
que muitas vezes tem posto
evidencia e
não
ainda
lia
muito.
E tem na sua historia muitos factos a confirmal-o. Citaremos um: quando as tropas francezas commandadas por Junot invadiram o
território portuguez,
um
cantochão com os frades e
tar
a
rei,
que se entretinha
pusillanime e covarde fugiu para o Brazil,
chuchando canna doce, o povo portuguez d
uma
a
can-
mãos cheias, emquanto lá ia
cheirar rapé ás e,
soífria os
horrores
invasão estrangeira.
em
Este povo,
cujas veias circula ainda sangue dos antigos
deram que fazer aos romanos, cuja dominação mais conseguiram pela influencia que
luzitanos, d’esses bravos, que tanto
elles exerceu Sertorio, romanisando-o, por assim dizer, do que pela força e bravura das suas legiões, não podia sof-
sobre
frer
sem
resistência o domínio d
isso muitos dos
portuguez, que se atreveram
quebrada dos
a pizar.
montes, pelos desvios
feras bravias, que
For essas aldeias, pela
que se
das serras, os
em pequeno numero, eram
extraviavam ou appareciam
como
uma nação estrangeira, por com o seu sangue o solo
invasores regaram
pretendem assaltar o
redil.
mortos
Era uma
guerra dexterminio, justificada pelos motivos. Aquella soldadesca infrene e desmoralisada assaltava as aldeias e ahi roubava, deshonrava e matava, por isso o povo respondia áquella
ferocidade tratando de exterminar o inimigo por lodos os meios
ao seu alcance.
um
ainda
Aqui perto, no lugar de Eungalvaz conhecemos
velho mendicante, por alcunha o Travincas, que
íirrnava ter elle só
matado mais de
trinta
af-
francezes.
Foi por occasião d 'esta terrível invasão, que os thomaren-
deram mais uma prova brilhante da sua coragem e do seu amor pátrio. Quando marchava sobre Thomar uma divisão franceza, o povo da villa armou se, e resolvido a sacrificar a vida em defeza ses
da patria, ra e o
loi
guarnecer o
castello, o outeiro de Santa
do Piolhinho e levou para
que ainda ha
poucos annos
ali
estava
Barba-
uma velha peça de ferro, em um dos claustros do
Convento de Christo. O commandante da divisão, que marchava pela estrada da Barquinha, quando chegou a certa distancia.
provavelmente logo para cá da Guerreira, avistou o castello montes coroados de gente armada e, desconhecen-
e aquelles
do
força
a
mente se
do inimigo, que linha na lhe afigurou
sua frente, que naturalmaior do que reahnente era, fez alto e
mandou um emissário com
a intimação
e entregassem
sob pena de ser
villa,
as armas,
tomada
se fosse
patriotas
força;
ã
ao que
responderam: que se não
só as tomariam
de que
se
rendessem
posta
a
e
a
daquelles
os chefes
rendiam
saque
que as armas
quando os mortos as abandonassem, porque
das mãos dos vivos as não haviam de receber.
A noticia do que se passava circulou rapidamente pela povoação; então os pensar,
homens mais prudentes
conhecendo o perigo,
e
de
mais maduro
punhado de tempo poderia resistir a um inimigo poderoso, aguerrido e costumado a vencer, correram aos pontos fortili cados a exporem aos chefes as desgraças que adviriam a Thomar, se insistissem em uma resistência inútil; estes recoporque aquelle
valentes pouco
nhecendo o perigo declararam que, para que se lhes não imputassem os desastres, que podessem sobrevir, desistiam do
porém que se não rendiam nem entregavam as armas aos francezes, que voltariam pacificamente para suas casas e as suas armas as entregariam a um portuguez, digno de seu intento;
recehel-as, aos francezes nunca; que se procediam assim não era
por temerem os francezes, embora
armados; mas
(pie,
em maior numero
e
mais
bem
tendo resolvido sacrificarem-se pela patria,
reconheciam agora que o sacrifino de suas vidas lhes não seria tão proveitoso
como
aquelle que iam fazer, abandonando os seus
postos e deixando de mostrar aos inimigos quanto vale
ragem e
a co-
que resolutamenle defendem a sua honra os seus haveres, porque só passando por cima dos mortos
e jà
e o brio dos
bem
dizimados
pelas balas das suas
guiriam assenhorear se
d
espingardas conse-
uma povoação, que
lhes
era mais
cara do que a vida, porque nella tinham os seus lares domes-
— 22 inviolabilidade lhes cumpria defender até ao ultimo
ticos, cuja
impunham mais uma
transe; por isso
e os direitos de todos os cidadãos
condicção: que a moral
fossem respeitados.
Entre as nobres famílias que n aquella epocha habitavam a
um
de Thomar, havia
villa
nome Antonio
cavalheiro por
Elo-
reucio de Abreu, filho do capitão Francisco Affonso de Lima, natural da freguezia de Santa Maria de Sá, termo de Ponte de
Lima e de D. Anua Dorothea Margarida Joaquina de Abreu e Andrade, natural de Thomar, casado com I). Angela Tamagnini d Abreu. natural de Milão (Italia).
correctamente
illuslrada e falia va
a
Era esta dama muito
língua franceza.
Foi ella
escolhida para servir de medianeira e seu marido o portuguez
designado para receber as armas, que lhe haviam de entregar aquelles bravos patriotas. Partiu pois ella para o
campo
inimi-
onde chegou ainda a tempo, porque as forças extrangeiras já se dispunham para o ataque: ali deu conta da sua mensagem ao general francez, que acceitou todas as condições ou go,
porque desconhecendo as receasse entrar estas a
sua
em
apresentadas
forças
com que
por
uma
dama, que
nobre
lhe foliava
lingua, a sua gentileza e o seu cavalheirismo
permitliram a sua casa
uma
recusa.
não lhes
Entretanto os populares tinham ido
depôr as armas, como haviam combinado. Era esta
casa na rua da Capella, que da capella da o nome; ainda
lá
existe e pertence a
sua descendente; está n e a atlesiar este facto, lá
tinha de bater se
lucla ou talvez e antes porque sendo-lhes
ella inslallada
que tanto
mesma
uma
a escola
nobilita o
casa deriva
pessoa de familia,
Jacome
líalton
povo thomarense.
estão as grades das varandas todas feitas de
canos de es-
pingardas. E’
um
padrão que está
ali,
decerto ignorado de muitos,
mas
que deve ser conservado como memória d um facto notável. Apoz aquelle pacto os francezes entraram pacificamente na villa,
onde os seus
habitantes,
embora
briosos c corlezes os receberam mais
como
inimigos.
contrariados,
sempre
como hospedes do que
— 23 — Deu
se n’esta occasião
outro facto, que
de mencionar-se. A’ entrada da taos
morava
um
villa,
cavalheiro, Francisco
distincto e proprietário abastado, de
também
é digno
ao fundo da rua dos Es
Nunes Pinheiro, medico
quem também
ainda ha
il-
lustres descendentes, tinha a sua adega cheia de vinho; receioso
de que os francezes entrassem
sem era
distúrbios,
em
rio e a
mandou
n’ella e,
embriagando
se, praticas-
abrir ostonneis e entornar o vinho, que
tanta quantidade que, diz-se, chegou a correr para o empoçar na rua, onde alguns soldados francezes o be-
beram de bruços
e, irritados
a casa e praticar
outros desatinos, ao
seu commandante
obstou,
por este
facto,
quizeram assaltar
que, honra lhe seja, o
em cumprimento
da palavra,
tinha dado de não serem maltratados os thomarenses.
que
0
lilO
HIO que banha mar,
refresca
a
formosa cidade de Tho-
e
fertilisa,
que
enriquece, tem hoje o
que
e anima,
a embellesa
<|ue
a
fecunda c
a
nome de Nabão,
não o teve sempre; Naba parece ter sido o
nome que
lhe
davam
povos que
os
primeiro
habitaram as suas margens,
Naba de
Juncosa, diz
Soledade,
lhe
a
chamavam
Chronica os
da
antigos.
Naba ou Naben é termo muito antigo, e seria por elle designado este rio por
ser muito abundante
da
a
em
peixe, porque ao termo
Naba
idéa de peixe; tanto que serviu para designar
está liga-
um
direito
de pescado, que pagavam os pescadores nos portos alheios, que
um peixe por cada barco; era antiquíssimo este direito com o nome de Nabnlo, alatinisação de Naben, consta da doação que em D. Ordonhon fez ao bispo resignatario de Coimbra; na carta era
em que
fez conde de Vianna de Caminha o capiMenezes 1460 (?) se diz: e lhe jazemos merdo nosso direito de Nabão e Maia testa que os barcos de fóra
D. Affonso v
tão D. Duarte de cê
pagam guando veem pescar
aos
mares
e rio d'esla villa.
Por
— 20 — como o termo Naba
aqui se vè
segundo
em
Nabão.
á
tempo
sua terminação
a
até se transformar
não é destituída de fundamento
l'or isso
de que o nome primitivo do
dessem
mudando
foi
da linguagem do
a indole
a
esquerda o nome de Urbis Nabce (cidade de Naba Naba).
opinião
Naba e que os romanos cidade que edificaram ou ampliaram na sua margem rio fosse
O que
mais adeante
se confirma por fallare.nos,
lia
pouco
doce,
rio
qual
encontrada nas ruinas da
chamaram-lhe Tamarara,
antiga cidade. Mais tarde os arabes
que quer dizer agua
ou do
uma medalha de cobre da
não porque as suas
aguas fossem
mas sim agradaveis ao paladar, que depois se converteu em Thomar, nome que os portuguezes deram á villa, que edificaram na sua margem direita e ao rio ficaram chamando Nabão, derivação da antiga palavra Naba. Nasce este rio no sopé da serra dWlvaiazere, tem o nome sacharinas,
de ribeira de Formigaes até esta povoação, traz até
Thomar por
ali
muito
nenhuma chega
pouca agua durante o verão e d esta quasi
a
empregada na rega dos terrenos marginaes;
ser
uma abundante nascenem borbotões d entre rochas, proximo ao pen um sitio chamado fonte do Agroal; é d ali
logo abaixo do lugar de Formigaes ha te,
que se eleva
nedo da Aguia,
por deante que este curso d’agua toma o nome de esta fonte a sua verdadeira origem, e tanto
rio;
é pois
que ao pé da dita um marco de
nascente existia e não sabemos se existe ainda
pedra com
a
inviolável
em que
posta
na origem do rio mostrava a lodos
ali
cruz dos Templários symbolo do seu dominio, sello
pessoa alguma
clusivamente d’elles; d
avolumando com
ali
ousaria tocar; aquella
por deante
a
de outras nascentes e com
a
beiros e regatos que a elle affluem e corre
apertada garganta d’alcanlilados montes até
da Pedreira, que
lica
ao norte da cidade; da serra
ali
dWlvaiazere,
ora descendo
em
na
margem
estes
cruz
que este era exagua d este rio vae se a
de vários
ri-
rapida por entre a
abaixo do lugar
direita a cinco
kilometros
montes pedregosos, que partem
começam
a
desviar se para o poente,
escarpadas rampas
ora subindo
em
ingre-
— 27 mes
passam por Valle dos Ovos, Fun-
e escabrosas ladeiras,
galvaz, Furadouro, Catraia e Porto de Moz, elevando-se
adeante para
formarem
seira
a
mais
também conhecida
d Ayre,
por serra de Minde, que limita para o poente o liorisonte dos pontos mais elevados d’estes
base é
a calcile,
apresenta nas visinhanças do logar da Pedrei-
com granullação
ra o calcareo oolitico
magnifica cantaria que
d’ali
que
alvura
mármores que são dos Montes começa
S.
em
perfeita, e
ali
dos Ovos
a
dar maior largura ás margens do
em
ferieis
entrando outra vez as suas aguas no vão
em
campinas
até
sitio
Zezere, proximo
rio
que novada cidade,
de Matrena
em
es-
rapida corrente por entre penhascos
e galgando por sobre rochas até irem confundir-se rio
bellos
Este desvio
cerca de 8 kilometros ao sul
estreitam
treito canal e ahi
Valle
explorados por companhias.
que se vão transformando mente se
em
Simão óptima pedra de tanto para argamassas como para caiar,
se fabrica,
ali
por ser d 'uma
d onde se estrahe
tina,
se exporta para esta cidade e para
diversos pontos; logo adiante cal
Esta cadeia de rochas cuja
sitios.
á villa
com
as do
de Constança.
de muitos centos de hectares a area dos terrenos marginaes d este rio. assentam em plano quasi horisonlal e estão E'
dispostos
uma ubérrima
para a irrigação; são d
prestam-se
a
fertilidade e
todas as culturas, sendo notável o sabor delicio-
so das fructas e hortaliças que produzem.
O
rio é a
alma da
cidade, embelleza a e enriquece-a e enriquece ainda
uma gran-
de parle do concelho;
elle
quotidiano, que
a
milhares de
grangeam nas
famílias dá
o pão
que serve de motor; o seu valor sobe a muitos milhares de contos de réis, para o fabricas a
calcular bastaria conhecer a quantos mil cavallos-vapor corres-
ponde
a
sua
força motriz hoje
em
acção e aquella
que ainda
se poderá aproveitar; conhecido o valor da força motriz cavallo vapor na unidade de tempo,
de
a
ficil,
dum
tomando para essa unida-
hora e sabidas as horas de trabalho o que não era feita
a
multiplicação encontraríamos
certo nos havia de surprehender.
um numero que
Alem do seu
valor
dif-
de
como mo-
— 28 — lemos ainda » accrescentar o quanto pode valer corno
tor
dos terrenos regando-os,
tiiisador
fornece a agua
para as
força da sua corrente, põe
que
a
mas
regas,
feitas
mas
trabalham
as rodas hydraulicas
um
tas;
pouco ás rodas
differem (Tellas por serem muito
em
eanaes
só
que, pela
de madeira, são de grande
diâmetro, de raios e pás, assemelham-se Ponsellet,
mesmo
é elle
em movimento
elevam; estas rodas,
fer-
notável, não
coisa
e,
lambem
menos
perfei-
construídos de madeira,
poucos ha de alvenaria; os alcatruzes são de zinco ou de barro approximadamenle da capacidade de cinco
sobre ta e
a face
em
posterior das pás, dois
proximo de seus
outro á esquerda
arcos de madeira
em numero
litros,
assenlam
um
cada uma,
á direi-
bordos e ligam-se
de tres que cingem toda
cumferencia da roda, embutem se e
a
a cir-
pregam-se nas pás paia
manterem numa posição lixa. ao mesmo tempo que seguram os alcatruzes; os eixos são de madeira de carvalho e movem-se sobre chumaceiras de pinho; hoje com o fim de dimias
nuir o altricto, ha
muitas
em que
assentam sobre as chumaceiras são de deira; a
agua que
do eixo que
as extremidades
embutido na ma-
ferro,
dos taboleiros onde despejam os alca-
salta
truzes cae sobre os eixos e lubrificando-os favorece o altricto
com que
e faz
se não
gastem tão depressa;
agua entra nos
a
eanaes elevada por meio de açudes formados no alveo do
com
desmancham-se em outubro; a
de uivei
a diíTereuça
montante dos açudes não costuma exceder
construcção d estas rodas e eanaes dá lugar
de força pelos
resaltos, fugas
grande peso, porém
volume d agua
lham
é tal,
noite e dia
muitos hectolitros dois
homens
E’
a
d agua,
a
agua d
uma
d estas rodas:
má
grandes perdas altricto e
inconvenientes o
quasi todas
tirando
por hora
só roda.
sempre muito aprazível no verão o
qualquer
jusante e
algumas vezes andam
d agua e tanta que
com
e
nas maiores estiagens, que traba-
com bastante velocidade
regar
a
a
metro. A
demasiado
apesar de todos estes
mesmo
um
rio
em maio
estacas, rama de pinho e areia, construem-se
local
onde trabalha
abrigadas pOr
virentes
— 29 — chorões ou copados amieiros, alravez de cujas frondes
mente penetram o dente calor d
raios solares, gosa-se
uma sombra amena
ali
dilTicil-
nas horas de ar-
e refrigerante pela continua
evaporação, que se dá na agua, que escorre das pás quando se
elevam e da que resalta dos laboleiros cahindo gotlas crystalinas,
como
em innumeras
chuva de pérolas brilhantes; e a em-
bellezar ainda mais este quadro vêem-se muitas tejar
vezes a vol-
no ar umas como nuvens
rutilantes, são os raios solares
com uma
certa inclinação sohre aquellas
que, quando incidem gottas
d’agua, se
refractam ao atravessal-as
cada raio luminoso nas sete cores do arco
As aguas d este
rio
cal
íris.
não são potáveis; pela
d elias íizemos verificámos que conteem
carbonato e sulfato de
decompondo-se
em
analyse que
elevada proporção
alem de muitas matérias organicas;
também analysamos as aguas da Fonte Quente, que kilometro ao norte da cidade, na
margem
direita
fica
do
a
rio e
um na
— 30 — base de
um
trámos
n’ella
do
o que nos faz crer que a agua d’aquella fonte
rio,
talude da estrada, que
vae para o Prado, encon-
exactamente os mesmos elementos que na agua rochas acima do
delle penetrando pelas fendas das
Pedreira e vindo emergir n’aquelle ponto; ainda as aguas d’este
rio
acima da
foz
provem logar da
analysamos
não
da Povoa,
da ribeira
mas suppomos que ella ahi deve conter menos sulphato de cal ou talvez nenhum, porque é nas margens d esta ribeira que se encontram jazigos de gesso;
que
fica a
noroeste do
proximo ao logar dos Calvinos,
logar do Pintado, existe
em abundan-
pedra de gesso, mineral da familia dos sulpherinos, syst
cia a
de
monoclinico;
veiu
lá
algum n’outros tempos que
rado pela deshydratação
em
d’a!i
se
n’esta cidade depois de prepa-
extrahiu e do qual se fez uso
fornos;
porém o dono do prédio
d’onde era extraindo, ou porque lhe não pagassem ou porque
não quizesse ver
sua propriedade deteriorada pela escavação,
a
mandou-a entulhar
e plantar
uma nogueira no
tirava aquelle mineral; e para
baixo d
gum
uma camada de
terra,
ali
sitio
que apenas poderá produzir
milho ou cevada, aquella
em
alguns pontos, ao plantar vinha ou abrir covas
para plantar tanchões, se tem dras de alabastro, variedade do
se
mesmo
pe-
mineral compacto trans-
onde se mettiam os perfumes que nas cerimonia fúnebres
aspergiam sobre os cadaveres e de que hoje se fabricam
objectos de
ha
também encontiado algumas
marmoreo, de que antigamente se faziam va-
lúcido e de aspecto sos,
al-
bem exNa mesma
fonte de riqueza que,
plorada, poderia fazer a fortuna d algumas famílias. localidade
d onde se
ficou até hoje escondida de-
quem
muito valor; tudo
o explore. Se
isto se
somos pobres
porque não
despreza, é porque
somos
inacti-
vos ou tão ignorantes que não sabemos approveitar as riquezas
do nosso paiz. Antigamente, como já dissémos, o
guém
se podia aproveitar d'elle
servia de azeite,
motor
a
rio era
sem sua
moinhos de fazer
dos frades, nin-
auctorisação; apenas
farinha e a
lagares de
que quasi todos lhes pertenciam e os que não eram ex-
— 31 — piorados por sua conta
pagavam-lhe renda; o
mesmo
aconte-
com todos os outros cursos d’agua, que havia nos seus domínios, como a ribeira da Louzã ou de S. Pedro e a ribeira de Bezelga e ainda com pequenos regatos que só d inverno cia
tinham agua que podesse servir de motor; no ribeiro de Porto de Mendo, que tem sua origem na Fonte da Longra, elles
um
lá
lagar d azeite no sitio de Valle de Boucos; no
ro de Serzedo, que passa proxirno a
moinho de
Cem
tinham Ilibei
Soldos, tinham
um
chamado das Suzanas, etc. Não era eram também senhores do ar; um pombal para trazer os pombos soltos
fazer farinha
só a agua que lhes pertencia,
quem
quizesse ter
tinha que lhes pedir licença;
moinhos de
vento não
os havia
no concelho de Thomar, porque os não consentiam, tinham o
monopolio do fabrico da farinha e do
azeite,
margem
do concelho de Torres Novas, na
por isso na raia
direita
da ribeira
de Bezelga ainda hoje se vêem muitos moinhos de vento para
onde iam os habitantes d este concelho mandar moer o seu grão, porque a maquia nos moinhos dos frades era maior do que n’aquelles. Em taes condições achavam-se completamente inutilisados para o povo
fazer farinha, outros já se arruinaram,
aquelles dois
poderosíssimos agentes,
principalmente a agua
cuja força motriz aplicada ás industrias constituo hoje a principal riqueza d este concelho.
N aquellas epochas os cofres do estado enchiam-se com o ouro que lhes vinha das terras conquistadas e essas enormes riquezas, que
podiam ser perduráveis
e productivas aplicadas
ao desenvolvimento da agricultura e ás industrias
eram em
geral mal baratadas,
como
podesse durar sempre, como se
nacionaes,
se aquella vida aventureira
uma
nação
pequena sem re
cursos internos podesse sustentar por muito tempo vastos do-
mínios na África,
Asia e America; se
uma
outra
orientação
tivessem tomado n 'aquelles tempos os nossos dirigentes, Portugal estaria
hoje
prospero e
feliz
e não seria o ludibrio das
outras nações, vexado sempre por dividas
poderá solver e
a
enormes que nunca
nossa população rural vergando ao peso de
— 32 — desmedidos por
falta
mal podendo
tributos,
agricultar as suas
de meios pecuniários, do que resulta
um
terras
déficit
ua
producção de cereaes, que temos de importar do estrangeiro, pagos
que não temos, por
a ouro,
ã sabida
isso
o custo e o agiu dão logar
de grandes capitaes que, se continuassem em circulação
no reino iriam successivamente melhorando as suas condições econômicas e
commum,
financeiras.
Mas não; não
se
bem
attendia ao
eram outras as idéas daquelle tempo, nunca fomos
nem
previdentes
que melhor
práticos, por isso outras nações,
teem sabido governar-se, prosperaram
e
progrediram ao passo
permanente.
uma grandeza ephemera, cahimos em uma miséria O clero e a nobreza ligados por uma só idea,
embebidos n
um
que nós, de
só pensamento, riqueza e gloria, foram, prin-
cipalmente o primeiro,
a
causa da nossa mina. O
rio era
com avultadissimas
frades; senhores de vastos domínios
das não necessitavam construir fabricas, ensaiar industrias, isso cabia na sua
não o permittiam dispor para
tal
nem
emprehendimento, porque os dizimos, os
va acumular capitaes;
fabrica de
grandecer
a
fui
a
com que
fiação d algodão e isto,
que achou o
nem
local
inglezes de quem, clusivo do algodão;
com
o celebre Marquez de
aqui se construísse
note-se, não
para beneficiar o povo d
apropriado e
oita-
pagar-lhes não lhes deixa-
em 1788 que
idea de fazer
a terra
nem povo
este tinha os meios de que necessitava
vos as jugadas que era obrigado
hunbal teve
cavalleiros, ao
qualidade de nobres
dos ren-
com o
fim de
uma
para en-
foi
elia,
foi
por-
prejudicar os
razão, não gostava, tirando-lhes o ex-
se pediu
não o sabemos,, mas não era
ou não auctorisação
homem
aos frades
quem podessem fazer em Portugal Jacome Italtofl, celebre industrial franeez, a quem o Marquez pediu fizesse por sua conta aquella fabrica, com auctorisação e applauso do governo c em nome da Itainha; começou a edifical-a n aquelle mesmo anuo dando-lhe rápido impulso; o governo a
estorvo os seus privilégios. Achava-se então
porém esqueceu-se das promessas que
lhe havia feito
de
lhe
prestar auxilio; e tendo liatton gasto já avultadas quantias asso-
— 33 — com Tliimotco Lecusson Verdier, continuando ambos na execução de tão importante obra. Antes porém de começarem os trabalhos de fiação e tendo ambos já gasto mais de
ciou-se
200:000 cruzados, separou se de Verdier, que ficou na posse dc lodo o material. Jacome Hatton naluralisou-se portiiguez, foi sempre muito dedicado á sua palria adopliva, apezar d isso foi
preso e desterrado como jacobino. A fabrica confnuou
laboração administrada
sendo os seus
com prospero
por Verdier
em
resultado,
prnductos muito apreciados e assim
foi
conti-
nuando mais ou menos prosperamente, sendo por fim administrada pelo sr. Domingos Loureiro a lê que por morte d este passou
Em
uma companhia, que
a
1883
reconstruída sob
a
sendo engenheiro o planta
do novo
rnodada aos
um
do
direcção sr.
edifício
sr.
Charles
incêndio, pouco
um
Hargreaves,
apta
depois
foi
Henrique Pereira Taveira,
ao qual deu
seus fins e mais
incêndio; ficando todo de
deu novo impulso.
lhe
destruída por
foi
a
que levantou
nova fórrna
a
mais acom-
perseverar se
de novo
só pavimento, o antigo tinha tres;
[tara os batedores e abridores do algodão conslruin-se uma casa especial isolada, c<»m todas as condições á prova d’incen-
dio, coberta
de aboboda de
columnas de
ferro.
tuído por
uma
ferro e tejolo apoiada
0 systema de
rodas hvdraulicas
em foi
fortes
substi-
turbina da força de 150 cavallos, desmontaram-se
os velhos machinismos, que foram vendidos e substituídos por outros de systema moderno; continuaram d 'aqui por deante
os progressos
d este importantíssimo estabelecimento fabril, novas conslrucções. estabeleceram-se otlicinas de tecidos de panno, meias e camisolas de malha: tem hoje como
fizeram-se
motores duas turbinas e tres
poderosas machinas
a
vapor e
einprega diariamente perto de duas mil pessoas de ambos os sexos.
A
valiosa e importante força
tempos, como
já
dissemos,
motora deste
rio era ifoutros
apenas ulilisada para fazer
girar
os rodízios de moinhos ou as rodas dos lagares que pertenciam aos frades; depois que se extinguiram as ordens religiosas e
— 34 com
acabaram esses privilégios vaxatorios üe que eram
ellas
senhores com grave a ter
nova e mais
prejuízo do progresso humano,
util
este rio estabeleceu-se a Fabrica de Papel de Porto leiros, era
começou
applicação. Mais proximo da origem de
lambem um moinho de
fazer farinha,
um
estabelecimento modesto e muito
por
um
limitado,
de Caval-
começou por foi comprado
proprietário d esta cidade, sr. Anlonio Joaquim dAraujo,
que depois organisou uma companhia e lhe deu maior incremento; ultimamente senvolvimenlo; tem cavallos e
uma
a
deu-lhe ainda maior de
nova direcção
como motores uma
turbina da força de 100
roda hydraulica da força de 15 e compõe se dos
seguintes machinismos: duas machinas para cortar trapo, caldeira geradora de vapor,
um
uma
uma
lexiviadora cylindrica rotativa,
lavador de trapo, quatro bombas para elevação d agua, 5cy-
liudros de sinzar trapo, quatro de refinar massas,
um
tanque
branqueador de massas ou lavador, doze paia deposites de massas, um para a preparação de chloro húmido e outro para a
preparação da
lexi via,
uma machina para
a fabricação
de pa-
embrulhos systema continuo, duas redondas para a fabricação de papeis almassos e duas bombas para elevação de peis para
massas refinadas, uma prensa para papeis húmidos, duas para
uma machina de pautar systhcma antigo e outra de systema moderno, uma machina do cortar papel e um dymnamo para produzir a illumi-
embalotar papeis, dois massos,
nação
electrica,
que no
uma
calandra
interior da fabrica é feita por
lampadas
de incandescência e no atrio por dois arcos voltaicos. A de
ofiicina
escolha e apartamento de papeis tem cincoenta metros de
comprimento por nove de largura; as duas olficinas de escolha e apartamento de trapo leem approximadamente duzentos e quaranta
metros quadrados cada uma e
a
de dobragem du-
zentos metros; as casas de enxugo leem
uma
melros quadrados approximadamente,
tem lambem regular-
mente montadas as fabrica é servida
olficinas
por
uma
de
area de tres mil
cai pinteria e serralheria.
estrada, que vae
Esta
entroncar na es-
trada de Leiria proximo ao logarde Carregueiros,
foi
feita e
é
conservada
expensas do município,
a
bem como
a
da fabrica do
Prado, porque os seus representantes tiveram e teem sempre
em
vista
proteger as industrias na area da sua administração.
Seguindo
a
de Cavalleiros
corrente do rio encontra se logo abaixo de Porto
do Sobreirinho, não trabalha,
a fabrica
prada pela companhia das Fabricas de Papel do Prado naia muito provavelmente
belecesse
uma
concorrência e
vindo de
fim de evitar que
está perdida aquella
lá
motor
com o
a
um
ali
com-
Maria
-
se esta-
que podesse fazer-lhe
fabrica de papel,
outra
foi
e
queda dagua, que ser-
estabelecimento
fabril
qualquer daria
lucros ao seu proprietário e beneficiaria os povos
nhos proporcionando- lhes trabalho. A seguir
circumvisi
a esta e defronte
do logar da Pedreira, na margem direita do rio está a Fabrica de Papel do Prado. Consta que houve ali antigamente um en gcnho de fazer balas de fazer farinha,
ferro, havia
que pertenciam aos frades e o açude que levava
as aguas para servirem de
lambem por uma
valia
da Granja e porem quinta,
ü
sr.
também uns moinhos de
em
motor aquelles moinhos derivava
para irem regar as terras da sua quinta
um
laboração
Henrique de Uure Pietra estabeleceu
brica de papel que elle proprio administrava,
priedade sua e de seus irmãos,
a
mesma
lagar d azeite da ali
uma. fa-
porque era pro-
qual, pela sua boa adminis-
ração e esclarecida intelligencia, fez progredir e prosperar até
i
em 1875
uma companhia por 140 contos. Esta companhia tem a elevado á catliegoria d uma das primeiras do nosso paiz; tem por motores uma turbina ingleza da força de 120 cavallos, uma franceza da força de 30, uma roda hydraulica de ferro da força de 10, uma machina de vapor da força que
a
vendeu
a
de 130 cavallos e outra da
força de 30.
fizémos da fabrica de Porto de Cavalleiros as machinas e utensílios de que aquelles que nunca visitaram
uma
ella
Na descripção que
enumeramos todas
se compõe, isto para que
fabrica d’esta natureza
fiquem
formando uma idéa do que é uma fabrica de fazer papel, por isso seria fastidioso repelil-o aqui e para poder avaliar a sua importância basta conhecer
a força
motriz de que dispõe e o
—
-
.30
que produz. A producção diaria dos machinismos de fabricar papel continuo orça, a do n.° I que foi montada ha dois annos, 4:300
por 4:000
a
que
existia
já ali
kilos
kilos,
podendo
ha dez
podendo dar 2:500;
papel ahnasso
em
ali
são mulheres;
em media 300
Em
seguida
a
800
para fazer
mas pode
kilos,
kilos.
pessoas por dia, das quaes 100
das ferias pagas ao
importância
a
cada semana é de 480
a
das 3 machinas é de 0:200
mais; a media diaria
dar
Trabalham
000
folhas, varia entre
n.° 2,
entre 1:800 a 2:000
da machina redonda,
a
do
attingir 3:000; a
annos, regula
500
Fabrica de Fiação e Tecidos
a esta está a
em
pessoal
mil réis. d' Al-
godão, da qual já fallámos.
Ao entrar na cidade o litros
por segundo e
um
rio
tem
um
minimo de 2:012
debito
debito minimo absoluto de 1:870 litros
por segundo. E’ n estes algarismos que se baseou o calculo da
quando se
força hydraulica,
fez a installação
durante o inverno as cheias attingem dez
da luz electrica; vezes e mais
a vinte
ainda o volume normal e as aguas conservam-se vivas até ao verão, epocha
em
que as estiagens e
a
grande quantidade que
se extrahe para as regas as fazem baixar até descer ao alga-
rismo minimo que apresentamos.
O
edifício
talladas as oflicinas da luz electrica fica na
da Levada, no
onde
local
existia
uma
onde se acham
ins-
margem esquerda
azenha;
foi
todo cons-
truido de novo pelos fundamentos que são de beton, as pare-
des
emadeiramento de castanho
d alvenaria, o
telhas de Marselha.
A primeira pedra
com
da peio presidente da camara auctoridades, no
dia
9 de
pacidade acha-se dividida
um
está instaliada
do com
uma
uma
d’este edifício
a assistência
dezembro
em
coberto
de
de 1900.
dillerentes
foi
com
lança-
todas as
A sua
compartimentos,
ca-
em
turbina da força de 100 cavallos giran-
velocidade de 02
voltas por minuto,
debito de 1:870 litros por segundo e
tendo
um
uma queda de a uma arvore de 2"', 25; a
roda da turbina está ligada por engrenagens
transmissão
em
cuja extremidade, entre duas chumaceiras, se
encontra o volante que por meio
duma
correia dá
movimento
dymnamo; estes aparelhos acham se collocados em um segundo compartimento, o principal do edifício, que é uma vasta sala quadrangular, bem illuminada por janellas (|ue se abrem ao
para sobre o passeio que margina a ladrilho
a
Levada e é pavimentado
branco e preto.
O dymnamo
é de systema
friccionadores são de carvão
Grammes muito
aperfeiçoado, os
calcinado, e no caso de
se que-
brarem são immediatamenle substituídos por outros rnetali icos haja interrupção da corrente; tem a força de 40 k. s 8 \Volt. e 1 10 Wolt. as correntes eléctricas que servem á il-
sem que
,
luminação da cidade, dos estabelecimentos e casas particulares vão dar
a
um
quadro de distribuição, onde ha
um
Voltametro,
9 commutadores e 9 interruptores que permittem dividir cidade
em
a
9 zonas para poder accender ou apagar cada zona
Ha
separadamente.
ali
também um segundo quadro
especial
para os arcos voltaicos, que permitte accendel-os, apagai os,
augmentar ou diminuir outro compartimento
HO
a
intensidade dos focos luminosos.
está
cavallos que subtitue o
estiagem.
Ila
ali
uma machina
a
Num
vapor da força de
motor hydraulico nos mezes de maior
lambem uma
oíficina
para reparações e
um
escriptorio para a direcção.
em tres fios e todos dymnamo não tem tido até
A canalisação é aerea, as distribuições os cabos e
fios
são isolados. Este
hoje outra applicação senão a de produzir a luz èlectrica;
rém como todas
as
machinas de indossão de correntes
nuas são reversíveis; se transforma
em
isto é,
conti-
assim como o trabalho mechanico
corrente eleclrica assim por sua vez as cor-
rentes eléctricas se transformam as machinas thermicas
em
trabalho mechanico,
como
transformam o calor em movimento, são
assim estas machinas empregadas para transportar tancia por
po-
meio da electricidade; por
isso aquelle
a força a dis-
dymnamo, que
hoje só serve para produzir luz, pode mais tar«ie servir a pro-
duzir o movimento
dentro da cidade,
com applicação a qualquer industria não só mas ainda fóra d elia, porque por meio da
electricidade a força póde transmittir-se a grandes distancias.
-38 — A
Nabantina posta
em
trabalhando
ca,
em movimento
media
com
uma roda
por
hydrauli-
de 40 cavallos; tem
a força
mós francezas para moer trigo, dois pares de moer milho e um par portuguez para remoer farello, peneiros, joeiradores, limpadores, etc. A esta fabrica estão annexas umas azenhas com quatro pares de mós portuquatro pares de
mós
francezas para
guezas para milho
e dois
para trigo. Dentro da cidade o rio serve d e
ainda
mo
t
um
or
para
bina e
1
a
a tur-
a
b ora-
ção
d’um
lagar d a-
que
zeite, íi
na
c a
m a rg e m esqu erda de
fr
on
te
da fabrica
de moa-
gens em um si o t
chamado Horta
d’El-Rei e consta que este
i
motor vae breve
ter
cinco kilometros ao sul da
ci-
inais larga aplicação industrial.
Seguindo dade está tiu ali
a
corrente do
a fabrica
rio,
de papel denominada de Marianaia; exis-
também um moinho de
esquerda
em um
sitio
margem também um antigo
fazer farinha;
alegre e aprazível;
foi
fica
na
moinho dos frades, pertence hoje á mesma companhia da do Prado, mas é muito menos importante do que aquella; tem por motor uma roda hydraulica e destina-se principalmente ao
fa-
brico de papel almasso e para embrulhos, tem por sobre o rio
uma
ponte de madeira para serviço da
dada construir pela companhia e
mesma
um pequeno
fabrica,
manda-
ramal de estrada
-39 — da Barquinha. Para baixo desta, quatro kilome-
que
a liga ã
tros
aproximadamente
na
margem
do
direita
local.
rio e foi
de Matrena,
fica
construída no local
situada
do antigo
Matrena, depois de ampliado e aterrado
lagar e moinhos de
o referido
adeante do logar de Santa Cita,
e logo
fabrica de papel, a
está ainda outra
Occupa actualmente 6:320 metros quadrados armazéns de pasta e tra-
e compõe-se dos seguintes edifícios: po,
também
onde
está
estabelecida a ofilcina de
escolha do
trapo. Este edifício está separado dos edifícios da fabrica pro-
priamente te á
dita e
apenas ligado
seguem
qual se
dor, tendo por baixo
por
a elles
uma pequena
pon-
casa da machina de cortar trapo e bate-
uma
com
lexiviadora espherica
me-
tres
tros
de diâmetro, casa para branqueadores, casa de cylindros
com
tres desfiadores,
quaes
tres
continua,
onde
a
sendo
um
duplo, e cinco refinadores dos
casa da colla, casa da machina m 47 metros de comprimento e 22 ,5 de largura
teem trabalhado;
com
machina continua está installada
tem
e
parado para outra, quando convenha 3o metros de comprimento
china continua tem
largura e pode
minuto.
uma
a
casa de acabamento onde
calandra de dois metros de largura
bobinadora;
papel,
com
corte
metros por
estão assentes
com dez
rolos,
transversal e diagonal e
d'esta casa passa-se á sala da escolha
seguindo-se a casa da embalagem
prensas para o enfardamento.
A ma-
por dois de
trabalhar alé á velocidade de 72
Segue-se
cortadeira de
espaço pre-
já
sua installação.
a
onde estão
uma uma
do papel
assentes duas
for cima da sala da escolha e
embalagem estão os armazéns de papel enresmado. A meio dos edifícios da fabrica pouco mais ou menos e em casa separada, está assente a caldeira,
com 100 metros de
aquecimento, que fornece o vapor para fabrica duas turbinas sendo
uma
a
superfície de
seccagem. Possue esta
da força de 200 cavailos, que é o
seu motor principal e outra de 45 cavailos, destinada unicamente a servir de
motor
de serralheria,
á
machina continua.
forja e carpinteria, e
Tem
ainda
uma
ofiicina
do lado norte, separadas da
fabrica, as casas d habitação, parle ainda
em
acabamento.
—
40
—
Fallando das nossas fabricas de papel, parece-nos não ser fora de proposito dizer
duas palavras sobre
a
introducção na
Europa d’esta tão importante industria.
O
fabrico do papel é
um
dos inventos que mais contribuiu
para o desenvolvimento das sciencias e das lelbas; é por meio (1’elle
que boje tão facilmente se propagam
os conbecimenlos
e vulgarisam todos
bumanos; não era assim
geral ignorância da edade media
em
foi
antigamente e a
grande parte devida
de meio de escrever; o pnpyrus egypcio e o pergami-
á falta
nho eram então caríssimos. A raridade do pnpyrus e o preço do Charpentier, obrigavam
a restringir
transcripções e nos factos
pergaminho,
o pensamento,
mais indispensáveis.
diz
mesmo
M. nas
Póde ver-se
liolls of fines, que cada sempre comprehendido em uma
no archivo da Torre de Londres nos contracto de venda de terras é
só linha e do século viu ao século x todos os annaes dos Francos são submetidos á
A
mesma
regra.
introducção do papel na Europa teve logar na segunda
metade do século
xi,
segundo
a
opinião dos mais celebres in-
vestigadores, os quaes, assentes sobre este ponto, discordavam a respeito siri,
da origem da sua proveniência até que Miehel Ca-
quando
fez a
da
traducção dos manuscriptos arabes
bliotheca do Escurial, descobriu
a sua
bi-
verdadeira origem.
Desde tempos immemoriaes os Chins fabricavam papei dos casulos do bicho de seda. Ali-ben-Mouhamad diz (pie
ali
se estabeleceu
uma
de Samarcanda
fabrica d’aquelle papel
no anuo
HO da hegyra (meiados do século vn). Os arabes tomaram esta cidade no anno 85 da hegyra (704 da nossa era aproximadamente). Tres
annos depois
707, Youzef-Amroü,
natural de
Mekka introduziu a fabricação do papel na sua terra como na A rabia o algodão é mais abundante do que parece que encontrou meio de
fabricar o papel
de
natal e, a
seda,
algodão.
Os mais antigos papeis introduzidos na Europa no fim do século xi são uns de seda outros de algodão; a denominação de bombycina, que
primeiro se dava ao papel,
comprehendia-os
41
—
ambos. Casiri encontrou na bibliotheca do Escudai manuscritos em papel de algodão, que datam de 1009, mais de meio que se teem encontrado nas oulias na-
século anteriores aos
ções da Europa; o que prova que foram os arabes os inventores do papel de algodão e que foram elles que o importaram
para a llespanha, estabelecendo
ali
esta importante industria.
Posteriormente inventou-se o papel Suscitaram-se
trapos.
meira nação que para a
ltalia esta'
em
linho,
canhamo e
qual
foi
a pri-
o fabricou; MaíTei e Tiraborchi reivindicaram invenção, Scaliger e Ivleermann para a Alle-
manha; mas os documentos mais escriptos
de
também questões sobre
[tapei d’esta
antigos,
Segundo
é anterior ao século xiv.
que
apresentaram
natureza (linho e canhamo) a opinião
de
nenhum
Hardouin, de
Mabillon e de todos os antiquados o emprego do papel de trapos na Europa, exceplo em llespanha, não é anterior a I2G8.
Em llespanha os documentos que provam o uso d’este papel remontam a um século antes; no numero d elles cita D. Gregorio Mayan um tratado de paz entre AíTonso u de Aragão e AtTonso ix de Castella, conservado nos archivos de Barcelona,
que tem a data de
1
178.
canhamo proveiu dos arabes, que o fabricaram em llespanha, onde estas matérias primas eram
O
papel de linho e de
mais abundantes e mais baratas que o algodão. As primeiras fabricas que ali se estabeleceram foram em Schatiba (Xatiba). a
antiga
em
Saetabis,
canhamo
e
cujos
pos só se começou fouso x, pelo
os arabes ella
que
em em seguida
Valência,
a
hoje se chama S. Filippe; depois campos também abundava o linho e o
na Catalunha.
espalhar
meado do
introduziram
em
O
uso do papel de
tra-
llespanha no tempo de Af
século xm. Eoi pois de llespanha, onde a
industria
passou para as outras nações.
do fabrico do
papel, que
TIIOMR
k VILLA DE
IIANDO em
15 de março de
AíTonso Henriques tomou de nos mouros a
bem
surpreza
fortificada
Santarém, mandando
1147 D. praça de
apunhalar os
vi-
recommendando aos que não poupassem ninguém
gias adormecidos e
assaltantes
para infundir
maior terror,
foi
nesta
arriscada e ardilosa ernpreza auxiliado pelos Templários, a
quem doou
toda a
jurisdição ecclesiastica d’aquella povoação; diz-se seria
que em cumprimento d’um
em cumprimento
houvesse
feito
Já iTaquella
voto,
de promessa, que
mas
talvez antes
anteriormente lhes
para obter o seu auxilio.
epocha o espirito dambição daquelles frades
guerreiros caminhava a par se não precedia o espirito religio so;
mostra-o
bem
a
prolongada demanda que por
nos sustentaram no reino e
em Roma com
bispo de Lisboa, que reclamava para
Era então mestre da ordem
proximidades de Braga e
armado
a
l).
quem
si
muitos an-
ü. Giiherto, primeiro
aquella jurisdição.
Gualdim Baes, natural das D. AlTonso
Henriques tinha
cavalleiro depois da batalha de Ourique. Belas relações
de amisade fieando os
em Santarém
só
com
questão,
de S.
a egreja
queriam que de todo se
porque não
Tliiago,
os dois terminou esta
que havia entre Templários
apagasse
a
ali
memória do seu dominio e cedendo lhes em compensação AÍTonso Henriques o castello de Ceras e uma larga facha
D.
de
terreno até ao Tejo.
Soure e Pombal a
em
desceram então dali
pertenciam;
já lhes
tomarem posse do seu novo dominio
e
vieram aquartelar-se
Ceras. Aquelle castello já existia do tempo dos romanos,
consta que
mandado
edificar por Julio Cesar,
quando veiu
pompeianos, e que o nome
Lusilania apasiguar os
dado àquelle lugar por
ter
existido
ali
um
Ceras
á foi
templo dedicado
a
Céres, deusa das searas. Baluarte erguido para defeza da via
romana, que ligava Conimbrica, Urbis Nabce e Scalubis e onde apropriado o
local;
de dois montes,
na garganta
via entrava
aquella
estava
era
porém áquelle tempo muito
hem
arrui-
nado.
Ou porque
sária,
ou não olferecesse garantias de segurança ou ainda por
que lhes não agradasse o é que o
vos o certo
sul construir outro na
de onde
foi
a
tivesse a capacidade
o castello não
local;
fossem quaes fossem os moti-
abandonaram
margem
e vieram duas
direita
do
rio
que
lhe
novo castello
antiga Nahaucia (nome por que é mais conheci-
davam
os romanos).
Para
embora não
a edificação
um monte
escolheram os Templários
elevado, de rápido isso
léguas ao
Thomar, defronte
da, por isso a continuaremos a designar por elle, seja o
uma boa
fortaleza.
Dizem alguns historiadores que o logar era ermo, do só da antiga cidade uma egreja e
um
Não podemos crer que assim
embora não
Nahaucia. alguns povoados por ella fosse
destruída
fosse; ali
convento
pelos acabes,
dessas hordas africanas passando como
uma
em
restanruinas.
existisse a
devia haver; suppondo mes-
como em
aíTirma e no que não acreditamos, não era no
bre
do seu
bastante
declive para o nascente e para o sul, por
muito apropriado para
mo que
neces-
a
geral se
embate de uma
tempestade por so-
cidade, que destruiu, que se fixavam
vestígios,
que
— 45 — ainda hoje existem; que no animo do povo se arreigavam cren-
que muitos séculos, que vão passados, ainda de todo não
ças,
extinguiram.
como
Destruída, fosse
nem
tante populosa,
que devia ser bas-
fosse, a cidade,
todos os seus habitantes deviam succumbir
ã catastrophe: muitos
se haviam
d’elles decerto
de salvar e
muito natural é que d entre esses alguns continuassem a persistir ao menos pelas suas immediações; devia prendel-os ali, ao solo
natal, essa força mysteriosa,
elo invisível
se nos
mas
que
n aquella
mos
e
nos attrae;
elle
alma a impressão
na
arreigando
vae
que para
provem de que, desde pequeninos,
tenaz, que
tenra edade
nos
grata de tudo
onde nasce-
rodeia: a casa,
onde recebemos as primeiras impressões do mundo onde balbuciamos as primeiras palavras e onde
exterior,
mãe
recebíamos os
afagos d urna
infantil, a fonte
onde iamos beber, o regato
mos
as arvores
saltando,
monte,
o valle,
outros
tão
a
collina,
insignificantes,
edentificadas
com
depois o viver
carinhosa;
que
transpúnha-
onde iamos colher
os ninhos, o
o pomar, ernfim mil
coisas
para
nós
tão
para
attrahentes,
tão
o nosso ser que a ausência delias chega mui-
tas vezes a produzir,
em organismos mais pode occasionar
ça, a nostalgia, e até
a
sensíveis,
uma doen-
E’ este con-
morte.
junto de impressões gravadas no nosso espirito desde o come-
ço da sua evolução, tão intimamente presas
a elle
ou quasi impossível se torna desvanecel-as, que
em
que
faz
dillicil
com que
nós se desenvolva e arreigue essa nobre alfeição, esse ar-
dente amor, o amor pátrio, que nos prende ao solo onde nas-
cemos
em
e nos
creàmos
e
que tantas vezes
em
sua defesa
ou
seu engrandecimento tem levado ao heroísmo e até ao sa-
crifício.
E’ pois
muito natural e até logico admittir que, apoz
a
des-
truição da Nabancia, alguns dos seus habitantes, dos que po-
derain salvar-se, viessem, nas suas immediações construir no-
vas moradas, não jã saes ou aldeias.
uma
cidade,
mas
tão
sómente alguns ca-
-
46
Passaram por
os
ali
Passaram é certo
arabes.
e muito
também ali estacionassem durante muitos annos; mas os arabes não eram a féra <|ue devora, a tempestade que provável (jue
destroe, o fogo que consome; os arabes
descendentes para com os vencidos,
rem rem
eram
tolerantes e con-
permiltindo-lhes cultiva-
governarem se pelas suas
as suas terras,
leis,
conserva-
as suas instituições, as suas crenças religiosas e o exer-
mesmo
ver se ao lado d’uma eram sim valentes e aguermesquita arabe um templo christão: ridos, sabiam bater-se em lucta encarniçada no campo de ba-
do
cício
talha,
não admirando
culto,
mas, finda esta, o fervor dos ânimos acalmava
vem tempestuosa,
e serenada a tormenta vencedo-
e o christianismo desfazia-se,
em comrnum;
res e vencidos viviam, por assim dizer,
do
até mistura
nu-
se, a
onde fusilavam os raios entre o islamismo
d
haven-
de sangue das duas raças pelos consorcios en-
tre ellas e
mesmo uma
viram no
kalifado de
certa
communhão
d interesses, pois se
Cordova nobres godos exercendo
altos
cargos.
senão certa, ao menos com o máximo
Parece pois, de probabilidade,
grau
naquella epocba de alguns po-
a existência
voados nas circumvisinhanças do
da antiga
local
cidade, de
vendo ser com essa população dispersa, que se formou o primeiro núcleo da villa de Thomar; aquelle povo rnosarabe que por
ali
vivia,
podia
mais natural é attendendo la
epocba, que
não tinham
a
certas garantias;
ser altrahido por á brutalidade
mas
dos costumes daquel-
doçura dos princípios da religião christã ainda
podido corrigir
mesmo
nos que se
diziam seus
verdadeiros proselytos e defensores, que aquella pobre gente fosse violentada a se
ia
ir
levantando para
residir junto aos ali
muros do
que
castello,
prestar sei viços corporaes,
a
que era
forçada. Nem doutra forma se poderá explicar como foi que, começando osTemplarios a fundação do castello em 1160, logo em 1162 désse D. Gualdim Paes um foral aos habitantes da villa;
foi
decerto porque já
importância e que
ia
alli
havia
uma população
de certa
angmentando rapidamente, porque em
1
164
deu outro, onde se mencionavam todos os impostos, que os habitantes eram obrigados a pagar á Ordem. Quando foi lhes
instituída a
Ordem de
saber os direitos que
Chrislo o rei pediu aquelle foral
a
mesma Ordem
para
devia cobrar; os mora-
dores, vergando ao peso de tão enormes e vexatórios tributos,
um
mandaram-lhe
suprimindo
traslado,
as jogadas de
ifelle
pão, vinho, linho, etc., supondo que assim ficariam mais viados, visto
alli-
que por outra forma o uão poderiam conseguir;
assim continuaram pagando todos os impostos menos estes até
sendo mestre da
que,
Ordem
o astuto e ambicioso
0.
Lopo
Novas, que tinha sido dado confirme o de Thomar com a pensão das jugadas, que lhe encobriram e, demandando por ellas os thomarenses, as Dias de Sousa pediu o foral de Torres
obteve por sentença dada
em
Sempre
1407.
dos poderosos e dos déspotas
pesar sobre
a
mão de
a
a cerviz
ferro
do povo,
que trabalha para os enriquecer
A
este primeiro elemento constituilivo da villa
mesmo tempo
veiu logo e quasi ao
portante, o elemento artístico.
obra como era
a edificação
do
de Thomar
juntar se outro muito im-
Para levar a cabo
tão grande
castello, sua capella e
mais ac-
cessorios e a reedificação da egreja de Nossa Senhora da As-
sumpção, decerto
mero
foi
hoje Santa
Maria dos
Olivaes e convento
preciso que os Templários
dartistas, taes como: pedreiros, cabouqueiros, canteiros,
carpinteiros, ferreiros, serralheiros, etc. e d’elles
estabeleceram na
vivendo
com suas
em
aunexo,
chamassem grande nu-
famílias,
villa a
sua
com
certeza muitos
residência e
ali
ficaram
não só por estarem perto das obras
que iam trabalhando, mas porque, sendo esta uma povoaem via de desenvolvimento, mais facilmente
ção nascente e
n
ella
em
encontrariam
trabalho
em
que empregarem se do que
outra qualquer parte.
Assim elementos,
a villa
mas
iam attrahindo;
ia
crescendo
ainda
com
rapidamente não só com estes
outros que os Templários para
convinha-lhes que augmentasse
não só para engrandecimento da
a
ella
população,
Ordem por serem senhores
— 48 — (1’uma giande
villa,
mas
crescendo
ainda porque,
a
população
crescia a necessidade de se arrotearem novos terrenos,
maior incremento
por isso maiores
á agricultura e
dando se
proventos
iam recebendo.
Os seus vastos domínios, que tinham por cente o rio Zczere e ao poente
a ribeira
limites:
ao nas-
de Bezelga, deviam
como já dissemos, alguns d esses povos, a que se nome de mosarabes; eram os godos (pie ficavam sob a
conter,
da-
va o
do-
minação dos arabes; estes impunham-lhes um tributo que eram a pagar; quanto ao mais gosavam de plena liberda-
obrigados
de
civil e
religiosa,
continuavam
regerem-se pelas suas gião; é certo
leis e a
a
cultivar as suas
terias, a
culto da sua reli-
exercerem o
que com o decorrer do tempo foram adquirindo
usos e costumes arabes pela continuada convivência com
elles,
conservando comludo algumas das suas instituições e as suas crenças religiosas. Devendo ser rara esta população, os plários trataram decerto de a
Tem-
augmentar, estabelecendo colo-
mas de diversas graduações: ptos, presos ã gleba,
em
do os terrenos a
homens de creação ou adescrida qual não podiam afastar-se, cultivan-
beneficio de seus senhores, obrigados ainda
prestarem-lhes serviços pessoaes,
e cujos filhos
tinham
çados eram na
a
mesma
mesmo
os mais aviltantes,
sorte dos paes; estes
desgra-
maior parle mosarabes, que nas incursões ou
fossados nos domínios mussulmanos os nossos guerreiros colhiam e traziam para povoarem e cultivarem os seus terrenos;
eram considerados como aminaes de trabalho
e muitos solíriam
os horrores da escravidão; irmãos pela origem e pelas crenças religiosas
eram
assim tratados
vestes traziam estampada
a
por esses déspotas
que nas
cruz de Christo, symbolo da egual-
dade e da misericórdia e no coração o fervor das paixões humanas, na alma a ambição e a vaidade. E para aqui viriam muitos (1’esses
miseráveis
porque não havia cá Santa Cruz.
reduzidos
um homem
S. Theotonio, que,
procedimento e ameaçando-os com
á
mais intima condição,
de Deus,
um bom
prior
exprobaudo-lhes o seu a cólera
de
mau
cekste os obrigasse
— 49 — em liberdade aquelles infelizes, como fez em Coimbra. Aos adescriptos seguiam-se os colonos livres, juniores ou peões e depois os herdadores ou cavelleiros villãos; mas pro-
a pôr
priamente cavalleiros villãos eram os que, sem serem nobres
de linhagem, possuíam armas e
um
comprados
cavallo
custa ou dados pelo senhor da terra; até
em
á sua
alguns foraes se
estatue que, se o cavalleiro villão fallecer, as armas e o cavallo
não sejam restituídos ao senhor, mas passem para os her-
deiros; apesar d’isto
muitas vezes se confundiam
estas duas
entidades; uns e outros possuíam livremente os seus bens, po-
dendo transmitil-os por herança e até por contracto allodial; mas a estes bens tslava sempre vinculado um tributo pecuniário, muitas, vezes acompanhado de prestações agrarias, tributo que era indivisível, embora a propriedade podesse ser dividida; de modo que todos os possuidores respondiam por elle como uma só pessoa moral. (Para maior desenvolvimento veja-se llist. de Port. de A. Herculano donde extraclamos o pouco
que aqui dizemos). Talvez aqui
bem
perto o
povoação, provenha de que
ou herdade obrigado
nome de Cem
uma
Soldos, dado a
fosse n’aquella epocha
ali
um
casal
pensão animal de cem soldos e que os
á
herdeiros do primeiro possuidor, estabelecendo-se n’elle e multiplicando-se,
geralmente
dessem origem ao logar bastante populoso,
chamam
Os herdadores
Sansoldes
e os
adescriptos obrigados
podiam
até
a
a
domínio, las
população
que eram
sistiam na
doação
aldeias, cujos
isso
na
de
a
que
Soldos.
eram como os
á
como homens
villa,
maneira
os Templários,
concessões e talvez
Cem
cavalleiros villãos não
arrendai os, por
sua
vez de
viverem nos prédios que cultivavam,
mais natural que vivessem
gmenlar
em
abastados é
concorrendo assim
a au-
que pelos senhores do se iam fazendo aquel-
também alguns prestamos, que con terrenos,
incluindo
rendimentos no todo ou
prestameiros, que assim se se faziam estas doações, que
chamavam eram
a
em
mesmo
parte
•
casaes c
recebiam os
os indivíduos a
quem
compensação de serviços
— 50 — prestados ou
a retribuição
de
Os Templários não viviam
um cargo publico militar ou em clausura, mas sim na
civil.
villa,
onde decerto mandaram construir casas para sua residência: os oílicios* divinos
eram celebrados em Santa Maria, o
que construiram dentro
a egreja
castello e
para o
d’elle só lhes servia
caso de cerco. Este uso continuou-se ainda no tempo dos seus successores, os Freires de Christo; quando o Infante D. Hen-
rique
foi
porque
a
governador da
Ordem
com
quiz acabar
por isso ordenou que fossem viver
no castello e celebrassem
em
os oílicios divinos na capella d elle e deixou
mandou
fazer
ao povo, de que era
casas para
um
e
si
que fossem celebrar os ficasse
em communidade;
oílicios
paia os
claustro
com
frades; pois apesar de tudo nunca pôde acabar
vivessem enclausurados
Santa Maria
para servirem
capellães e beneficiados
parochia;
este abuso,
em communidade,
sua profissão os obrigava a viver
elles a
que
apenas conseguiu
na egreja do castello e que esta
sendo convento da Ordem (Monarchia Lusitana).
Valentes e aguerridos na
primeiros
na avançada.
combate, era para
elles
de Josepbat, chamando
eram
Templários
lucta, os
os
O som da tuba, dando o signal de como a trombeta do Archanjo no valle os mortos a juiso; estava
chegada
a
hora de darem conta do seu valor e da sua coragem. Volvena quem em breve mas fervorosa prece, pediam gloria, não para si, mas para Elle, Senhor Deus do Universo; com os acicates cra-
do os olhos ao ceu e elevando o pensamento ao creador,
vados nas ilhargas de seus ardentes corcéis, voavam como nu-
vem tempestuosa
impelida por
medonho
furacão; suas
roupagens fluctuavam como farrapos agitados pela suas lanças refulgiam
como
guerreiros, só se ouvia o arfar daquelles
á
moda
como
a
mudez da morte,
que apavoram. Vencer ou grito
de
cólera,
morrer era
Não
sol-
d outros
peitos valentes de-
baixo dos aruezes que os protegiam; o seu avançar silencioso era
tormenta;
línguas de fogo celeste.
tavam imprecações, não insultavam o inimigo
alvas
rápido e
o silencio do sepulchro, a sua
sem um queixume, porque
divisa,
sem um
d aquellas
al-
— mas nobres, naquella hora solemne, não a fé;
u ol |
brota o odio,
emana
era pela fé que combatiam.
Era terrível
a
sua investida, não se lhes resistia ao emba-
Como em
cerrado bosque o cyclone, que passa na sua vertiginosa carreira, derriba, arranca, despedaça tudo o que encontra, ainda as arvores mais gigantescas, abrindo uma larga te.
estrada, que deixa coberta de destroços, assim elles arremes-
sando-se
contra as densas
largos sulcos,
ordas serracenas, abriam
que deixavam
nellas
juncados da cadaveres e mori-
bundos. A li não havia recuar, e ai daquelle que mostrasse o mais leve indicio de covardia, penas ignominiosas puniriam a sua possilanimidade.
Não, não ha negar-lhes
a
bravura;
mas
a austeridade mouachal, essa não a possuíam. Valentes e destemidos na guerra, o seu gênio fogoso e ardente não lhes per-
eram guerreiros, não eram monges. E seria absurdo admiltir no mesmo ser a existência de duas qualidades heterogeneas, que não se combinam nem se ligam; mittia a vida
claustral;
humildade e submissão do crente, que pelo seu mysticismo se encerra dentro dos muros de um convento, onde, asceta, a
vive de todo isolado do
mundo
exterior,
sem pretensões nem
aspirando ã bemaventurança eterna e a arrogancia impetuosidade do guerreiro, que no campo de batalha arrisca a vida em defesa de um principio ou em cumprimento de brios, só
e
um
dever, aspirando sempre á fama e á gloria.
e guerreiros não o
cabem no mesmo de e
a altivez, a
podiam
sujeito; a
submissão
ser;
são dois predicados
abnegação e o desejo
e a
monges
Não,
gloria, a
que não humilda-
de vencer são qualida-
não se sobrepõem, aquelles homens, assim indivíduo; não coexistem no cuja profissão era combater infiéis e não entoar preces ou candes que
se
em mesmo
destacam
seres diversos;
não trocavam as armaduras pelos cilícios, nem o ruido das batalhas pelo silencio do claustro; por isso no tempo d ocio usufruíam como outros quaesquer os gosos da vida; não se enclausuravam, viviam em liberdade dentro da vdla e ali tar psalmos,
viviam decerto como ricos- homens, que eram, tendo
a
sua co-
— 52 rnitiva
meio
de clientes, servos,
se poderá explicar
da fundação da to
villa,
logo
Só por este
escravos e escravas.
como
foi
em
que tão poucos annos depois
1174, se legislasse já a respei-
de escravos.
dado a Thomar n’aquelle anuo e que no principio do século xiv, lê-se o seguinte:
No
foral
«Se
momo
o Senhor d
d'alguem (eile)
ei
traduzido
foi
cooanha (crime grave) segundo a cooanha, que
for solto e fezer
responda por
el
mão do Mordomo. O Mordomo non filhe mouro d alguém que traga prizon ou moura solta por qualquer cooanha que faça. Mas se o Senhor da terra e o confezer ou o leyche na
(prenda)
selho vir que
couza fez por que deva ser apedrada (apedre-
tal
Se
jada) ou queimada, a pedrena ou queimena.
por que deva ser asoutada, asoutemna
lambem
tada
mouro como
o
a
e
couza fez
tal
depois de ser asou-
moura demnos
a
seu dono.*
Vê-se pois que quatorze annos apenas, depois da fundação,
do
um
castello,
novo
a villa era
foral, já
bastante povoada
porque lhe davam
o terceiro e que n’ella havia escravos e es-
cravas mouros: ora os plebeus não possuíam escravos, de
eram tes e
elles
ia
quem
Evidentemente dos Templários e de paren-
?
amigos que para
vessem ção
então
feito largas
elia
houvessem attrahido
e a
quem hou-
concessões de terrenos e assim a povoa-
crescendo muito rapidamente.
Nas disposições d este
foral vê-se, ainda
que muito obscu-
ramente, como este povo era governado. Havia
que podia prender ou mandar prender; recebia e arrecadava as rendas,
mas com
um mordomo,
Mordomo este
era o que
cargo acumu-
lava muitas vezes outros administrativos ejudiciaes e
se dava o
mesmo nome
Senhor da
terra.
alcaide de
um
ao exactor ou
fiscal
da
lei;
também
havia
um
Senhor da terra era o Mestre da Ordem, mas esta autor idade podia exercel-a por si ou delegal-a em pessoa da sua confiança, que acumulava todas as jurisdições, como o
mo
castello, posto
o Senhor do
havia
lambem um
ali
pelo
rei,
castello e da povoação,
conselho, não se
diz
era considerado co-
que este dominava; formado de quantos
— 53 — membros nem
que classe pertenciam, este conselho
a
nha nas questões
teríamos a esse tempo feito,
um
jã aqui
mas decerto o não
populares eram ainda
município, ainda que imper-
epocha as liberdades
era; n’aquella
municípios,* unica
muito restrictas; os
organisação que póde garantir
a
intervi-
pelo povo
civis e critninaes; se fosse eleito
liberdade
civil
dos povos, crea-
dos pelos romanos, conservados pelos godos com pequenas modilentamente se
pelos arabes, só muito
ficações e respeitados
foram reconstituindo nos primeiros tempos da monarchia por
em que
lugueza, para decahirem na epocha actual, lei
da
centralisação os vae amiudando
nem
povo, que não resiste, ral a
que temos chegado
doem o erro e mos abrindo. Para oppor tava soffrendo,
se indigna;
Que
!
a
absurda
com consentimento do tal
é a decadência
mo-
futuras nos per-
as gerações
nos não amaldiçoem pelo abysmo, que lhes va-
um
dique aos vexames, que continuamente es-
o povo começou primeiro por constituir grê-
mios, baseado no principio
de que
a
união
faz a
força; esses
grêmios, alguns eram muito importantes e gosavam de certas regalias, entre ellas
regerem-se por
tempo havia grande
respeito pela
coisas religiosas.
Só debaixo d’este aprovação
e a
devia reger-se.
esta
Era por
sentimento religioso da epocha, escolhia para
se
patrono
acolhia; a religião
civis
um
próprias.
N’aquelle
acatavam se as
principio o povo poderia
que o governavam,
obter dos déspotas,
uma aggremiação
leis
religião e
consentimento para
dos regulamentos
por onde tomando por base o certo grupo de indivíduos
isso que,
um
santo ou santa, sob
umas
era o pretexto,
o seu principal fim; por isso
em
cuja protecção
certas
garantias
primeiro logar estabele-
ciam obrigações relativas ao culto e veneração do santo ou santa escolhido; depois formulavam umas certas leis pelas quaes toda aquella commtmidade, que tinha o confraria, se havia de reger
aos que entre os seus
d aquella aggremiação.
mesmo
nome de irmandade ou
civilmente,
membros perturbassem
impondo penas a
ordem
social
Nos estatutos da confraria de Santa Maria do Castello (Sanem 1388 eslipula-se
Maria dos Olivaes?) de Thomar, feitos
ta
o seguinte: «Se algum Confrade da ou
em
camisa
que
em
com
a
em
coytello entre trinta
outro Confrade
ferir
em xxx
camisa
com
tangentes
golpes de açoite ou de azorrague).
espa(leve
Aqnelle
seu Confrade der punhada ou lhe messar a barba entre
camisa
em
sinco tangentes. C se o Confrade disser a outro
Confrade— Yillam ou tredor: ou gafo: ou ladrom: ou falso: ou chamará Confrada hevoeyera (meretriz): ou aleivosa: ou ladra: pague sinco soldos á Confraria lie entre em sinco tangentes.» Esta parte dos estatutos, que é
uma
especie de
codigo penal
mostra que os crimes mais graves não estavam na alçada da confraria julgal-os, porque não se refere ao homicídio, roubo,
mas tão somente oífensas leves, praticadas entre os concomo ferimentos, espancamentos e injurias, etc. Ainda assim era já uma regalia, que gosavam os membros d’aquella
etc.,
frades,
associação, porque as penas comminadas nos seus estatutos não eram demasiado violentas n’uma epocha em que os casti-
gos eram quasi todos barbaros e arbitrários, indole benigna ou a
cruel do
seu bello prazer, sem
dos, de
modo que não
do delido e
a
ou
juiz
uma
a
lei
que os impunham
que estivessem subordinaalguma entre a natureza
havia relação
gravidade da pena.
vam determinadas em
juizes,
dependendo da
Mesmo
aquellas que se acha-
alguns foraes diversificavam tanto d
um
logar para outro, que não havia entre eilas termo de paridade;
por exemplo: o crime de homicídio era n’nmas partes punido
em geral tresentos soldos, em enterrar o assassino havia ainda em que o assassi-
apenas com uma multa pecuniária,
em
outras
a
pena era atroz, consistia
vivo debaixo do morto e casos
nato era permittido; faltava
uma
lei
geral por
onde se reges-
se este povo, «pie se achava ainda no primeiro periodo da sua
evolução social. E’ certo que na epocha les estatutos já havia leis
em que
se fizeram aquei-
geraes, porque as primeiras que se
promulgaram foram estabelecidas pelas cortes de 121 acrescentadas por
I).
Alíonso ui e
I).
1
e depois
Diniz. Estas leis,
que se
em harmonia com
podiam dizer rectas
e justas
epoclia, no geral não
eram cumpridas; o
quem nos seus
senhorios continuava
representantes do povo começaram
a
o espirito da
clero e a nobreza era
a dictar a lei:
quando os
ser admittidos
em
cortes,
ferviam ahi as queixas dos abusos e vexames d’aquellas duas
grandes promessas
classes; faziam-se-lhes então
em nome
do
cortes, tudo ficava
como
anteriormente se encontrava. Aggremiando-se para se
fortifi-
rei,
mas,
depois
de dissolvidas as
car contra o poderio dos grandes, lutando
sentimento
dade, esse
cresce quanto mais
sempre
se pretende agrilhoal-o,
poderam
e as fogueiras nunca
pela liber-
medra
universal e inato, que mais
e
que os ergástulos
aniquilar, o povo
ia
lenta,
mas
progressivamente sacudindo o jugo de ferro com que o opri-
miam
os tyrannos.
A classe mais trabalhadora,
que n’aquelles tempos mais
a
prestou á agricultura, desbravando matagaes, rompendo charnecas, arroteando pousios, foi a dos homens de creação ou adescriptos; e era ella também a mais despresivel, a
serviços
mais infima; especie de escravos agrilhoados ao obrigados
a cultivar
tarem-lhes
ardua auferir
solo,
que eram
proveito dos senhores e ainda
corporaes, aquelles
serviços
e miserável;
um
em
a
pres-
homens viviam vida para poderem
cheios de cansaço e fadiga
escasso alimento para
si
e
suas famílias, porque, á
maneira que pelo seu trabalho os terrenos que cultivavam iam augmentando em producção, iam-se-lhes também augmentando os encargos, que tinham miséria, n’elles
ou
pagar; por isso, obrigados pela
a
revoltavam se muitas vezes exerciam, chegando
ofilciaes
do
fisco,
que
mesmo
a
contra a crueldade que
espancar
levavam
lhes
á força
os
mordomos
o que
tanto
suor e fadigas lhes havia custado.
Firmes na crença, que dã a
a
esperança, a esperança que dá
coragem, que anima, que avigora, que
tência nos exforços,
faz
manter
a persis-
nos actos, que conduzem ao fim deseja-
do, aquelles desventurados tanto
fizeram que conseguiram
bertar se: porque de certa epocha
em
li-
deaule esta classe deixa
— 56 — de figurar nos prestamos doações e outros contractos, que se
serem cabaneiros.
faziam; muitos d’elles preferiram decerto o
Cabaneiros eram certos indivíduos que viviam exclusivamente
não possuíam
dos seus salarios,
lambem porque, vivendo escaceiasse n
um
habitavam
bens alguns,
cabanas por não terem com que construir
uma
só do seu trabalho, quando este lhes
mudar para indivíduos parece que não eram
logar mais facilmente poderiam
que estes
outro. E’ verdade
um
considerados como homens, porque, quando se descrevia casal ou herdade, dizia-se:
meio da miséria
N
tem tantos homens e tantos caba-
mas ao menos eram
neiros;
um
é
livres e a liberdade
goso
inefável,
que
villa,
balho menos arduo e ra o
mesmo no
a mitiga e adoça.
que muitos
estas condições de liberdade é provável
fossem viver na
em
casa e talvez
d’elles
onde encontrariam quem lhes désse tramais lucrativo, concorrendo também pa-
augmento da sua população.
Um outro elemento so da
villa
de
muito importante para
Thomar
foi
progres-
a vida e
Quando vieram
o elemento judaico.
estabelecer-se aqui os judeus não o sabemos; talvez conste de
alguns documentos,
mas alem
localidade os elementos
da competência faltam-nos n’esta
necessários para dar
trabalho
a este
o desenvolvimento que o seu assumpto merece; não temos bliothecas
nem
archivos onde
possamos
ir
pouco material não se pode fazer grande obra. elias pelo
seu
saber, pelo seu engenho,
aptidão e pelas suas riquezas. villa,
é provável
tingiram
que viessem
um numero
haviam de habitar;
chamou
vi-
distin-
pela sua
Vieram estabelecer-se n
esta
pouco e pouco e só quando
at-
importante se lhes designasse o local onde a judearia,
servou por muito tempo o se lhe
a
bi-
com
Os judeus
viam sempre extremados das outras classes sociaes e guiam-se d
e
colhel-os
era
nome de
em uma rua
da
rua,
rua Nova e ha pouco se lhe deu o
rua Joaquim Jacinlho, para perpetuar
a
que
Judearia,
con-
depois
nome de
memória do cavalheiro
d’aquelle nome, que n ella ainda habita, medico distincto, cida-
dão benemerito, que durante
a
sua longa
vida
tem
prestado
— 57 — Thomar
aos habitantes de
relevantes serviços.
onde habitavam, tinham os judeus ainda
lá
uma
existe; é
guiar, pavimento
a
N’aquella rua,
sua synagoga, cujo edifício
casa bastante espaçosa de forma recta n-
lageado e abobadas amouriscadas, firmadas
sobre cjuatro grossas columnas de pedra; serve hoje de armazém
de mercadorias e pertence
a
um
commerciante d esta cidade.
Os judeus governavam-se pelos seus proprios costumes, dentro das judearias,
onde tinham as suas synagogas e com-
munas elegiam os seus magistrados; emquanlo
á sua vida intima
estavam isemptos da legislação christã; tinham na capital, que era a judearia de Lisboa, um chefe supremo, o Rabi-Mor de Portugal. Porém se no seu viver intimo gosavam de plena liberdade, não lhes acontecia assim nas suas relações tãos; n estas
eram vexados
gados
a
sahir d elias senão
trazerem
um
os chris-
e humilhados o quanto se pôde ser,
tinham que recolher ás judearias
podiam
com
a
também
horas determinadas e não a
horas
signal distinctivo;
eram
fixas:
pagavam
obri-
tributos so-
bre tributos, não podiam comprar ouro, prata ou moeda sem licença regia; não
podiam
ter creados christãos,
não podiam
com mulheres christãs nem entrarem em casa d’ellas ou receberem-n’as em sua casa ou loja sem estarem presentes homens christãos. Eram em geral odiados pela sua ter
relações
origem e invejados pela sua riqueza; as suas crenças sas que christã,
rém havia entre
elles
médicos, letrados e astrologos, eram
a
meudo
os monarchas os
deviam ser
um
porque eram
ri-
qualidades faziam
cos, perspicazes e astuciosos e todas estas
com que
religio-
abandonavam, extremavam-os da communidade por isso pezavam sobre elles aquellas duras leis, ponão
se subtrahissem a ellas, sendo muitas vezes
primeiros
a infringil-as.
Estabelecidos aqui
poderoso elemento de vida
elles os principaes
Ainda mais outro elemento de vida e por da população era o transito que por aqui se
Santarém para Coimbra
para
a
povoação,
commerciantes e banqueiros. isso fazia
de Lisboa e
A estrada real Gollegã, e, quando as in-
e Porto e vice versa.
vinha de Lisboa por Santarém até á
de augmento
— 58 nundações do Tejo impediam
por
all
o transito, este
fazia-se
por Pernes e Torres Novas, seguindo depois por esta povoaoutra estrada que
ção; havia
á Lama rosa, Payalvo,
ia
Barroca e
ao logar da
Chão de Maçãs, Albergaria a-Velha,
d'alii
Abiul,
Picada dos Corvos, Pombal, Redinba, Condeixa e Coimbra, esta
porém era pouco seguida por ser muito mau caminho, acidenlado, cortado de ribeiras sem pontes e falto de pousada para os viajantes; por esta rasão era por aqui o principal
transito
dos almocreves, que cã negociavam deixando umas mercado-
tinham
rias e levando outras e cá
boas pousadas
para os que vinham enfermos; chegou
ção para os quaes elles concorriam
A
estrada, que
vem do
com
donativos.
uão entrava na
sul
e hospilaes
haver dose na povoa-
a
villa
no
mesmo
ponto onde entra agora; proximo de onde está hoje o padrão de D. Sebastião havia frente d elia
uma
uma
capella, dedicada a S. Gião, e
em
cruz de pedra chamada a cruz nova, do que
não resta vestígio algum; passava por entre costada aos montes pelo
sitio
chamado
ellas e seguia en-
as Carreiras
onde
ain-
da se veem restos da antiga calçada, passava ao pé da Capella
de S.
de S.
Sebastião, seguia pelo local aonde
Francisco, hoje quartel
ao cimo da rua da
havia dois hospitaes, á
um
dos Sete Montes;
de
S.
na
villa
Fria,
que
logo á entrada
entrada da rua do Pé da Costa, destinados aos
havia mais tres li
Convento
Braz no topo da rua e outro
peregrinos pobres e doentes e ainda na
a
entrar
Graça á bocca do valle de Biba
assim se chamava ao valle
de S. Paulo
está o
militar e vinha
mesma
rua da Graça
hospitaes, tão grande era o transito
que por
se fazia.
A estrada
mandada
real,
fazer por
passando pelas Caldas, Alcobaça e Leiria, L).
Maria
o que muito se resentiu a
i,
villa
attrahia por
ali
o transito, com
de Thomar.
Para o engrandecimento e progresso da
villa
deviam con-
lambem em grande parte as ameudadas visitas dos fidalgos e dos reis com as suas numerosas comitivas, motivadas pelas relações que com os frades mantinham; chegando correr
-
—
59
mesmo um
cios
nossos monarchas, D. Duarte, a mandar cons
truir n’ella
um
palacio para sua aposentação; era no
proximo ao
sul da villa,
se dava o
tem hoje
nome de
extremo
áquelles palacios ou paços
Kstaos, delle derivou a denominação,
onde
a rua,
como
rio e
ou talvez
existiu
que
que deu começo.
a
Com
os elementos que temos ennumerado e ainda com que decerto escaparam á nossa investigação, a villa pouco tempo cresceu em população e importância, impor-
outros,
em
tância que lhe provinha dos frades;
perante os reis e perante o povo.
eram elles quem a possuia A luz refulgente com que
brilhava a gloria e o poderio d’aquelles homens,
por uns, temidos por outros, era como
um
raios
creadores
incidindo
dizer,
emanação
sua, a faziam crescer e
mente;
respeitados
sol vivificador cujos
na povoação, que
assim
era, por
medrar tão rapidamedrar, não como medra e cresce o roble
crescer e
em
magestoso, nascido
fértil colina,
em
pande livremente, bracejando
que se desenvolve e ex-
mas anmimosa planta nascida e creada á sombra de copada arvore, que com as suas folhas lhe intercepta a luz e com as raizes, como mais forte, lhe vae roubando tes
como vegeta
a seiva,
que
todas as direcções,
e cresce
mimosa
havia de nutrir; por isso
a
fraca e estiolada,
A’ maneira
sem
que
vigor,
a villa e
sem energia as aldeias
vigor
emancipar-se
da pesada tutella
vamente, seguindo
a
ir
em
iam crescendo
pulação e grandeza iam tarnbem tentando cada vez
condições civicas d’este povo deviam
mas
e bella,
própria.
po-
com mais
de seus senhores.
As
melhorando successi-
marcha natural da evolução
social,
tantas
vezes entravada pelo despotismo dos grandes e principalmente aqui sobodominio d esses frades fidalgos, assoberbados pelas enormes riquezas, que possuíam e pela preponderância que
exerciam eile
em
vencendo
todo o reino; aquellas a
pouco
e pouco,
resistências
porém
ia
as
não sem grandes diffículdades,
impellido pelo sentimento da liberdade, sentimento que posto
em
acção muitas vezes tem levado ao heroísmo.
Sobre
a
nobreza e até certo ponto sobre o clero o
rei linha
— 60 acção de chefe supremo da magistratura judicial e de chefe militar do paiz. O Mestre do Templo representava de Logara
Tenente do Hei to
de certo
em
todas as terras da Ordem; era- lhe portan-
modo subordinado, senão de
menos de
ao
facto
direito.
Dos vexames que os nobres e o clero exerciam sobre o povo recorria este muitas vezes para a auctoridade real, que
em
alguns casos
çava mais
um
modo
intervinha a seu favor e d este
passo no caminho da liberdade.
A
lucta cons-
tante e tenaz entre o povo opprimido e os grandes,
pressorcs, deu-se havia de dar
povo
ir
em
também
avan-
seus op-
todo o paiz, porisso necessariamente se aqui,
alcançando algumas
conseguindo por meio
d’ella este
liberdades e garantias, até
que,
não podendo de todo emancipar-se da tutella dos frades, que até eram senhores de agua e vento, conseguiu usofruir certas regalias, constituindo se
em
município ou concelho.
Durante o periodo, que decorreu entre
dem dos Templários em 1312 e a Christo em 1311». a administração
a
exlincção da Or-
instituição
da
dos bens dos
Ordem de Templários
passou para o estado, apezar da cobiça do Papa, que lhes queria chamar seus; durante este interregno o povo de Thotnar devia respirar mais livremente e é provável que obtivesse do
que era benevolo e generoso, mais amplas regaa dominação fradesca. Organisado em município em uma epocha, cuja data não Diniz,
rei D. lias,
que não havia podido obter durante
podemos
precisar, pelas rasões
vo constituía
uma
entidade
que já apresentámos, este poque podia assim em collecti-
civil,
social, oppor maior resistência ás arbitrariedades e desmezurada ambição dos que antes eram seus senhores ab-
vidade
solutos; já podia
queixar-se das violências, que sobre
exercessem e reclamar
onde
as questões
justiça,
porque
deviam ser debatidas
appello para outro tribunal superior; citadas entre os frades e o povo
linha
um
elle se
tribunal,
e julgadas e ainda
em
com
varias questões sus-
da villa, vê-se que este encontrava sempre acérrimos e leaes defensores dos seus direitos
— e prerogativas nos
membros da camara
tíl
—
municipal, que o re-
presentavam; aquellas questões tinham quasi sempre por ohjecto os
tributos
sempre as
coisas
que os frades tinham pelo lado que
a
cobrar,
lhes parecia mais
encarando favoravel,
modo a receberem o mais possível; coisa que muito se parece com o que nos faz agora a fazenda nacional, mas decerto bem peior ainda. Nos archivos da camara municipal existe um de
d’esses processos, que é muito curioso.
Os primeiros passos do concelho, segundo todas as probaporque não conhecemos documento que o mostre, foram num pequeno largo, que fica hoje ao fundo da rua da
bilidades,
Levada, rua que talvez então ainda não existisse, porque
rua
a
dos Moinhos, que lhe corre parallela pelo lado do poente, está pelo seu
nome indicando
moinhos dos
ter sido por
frades, parte dos
quaes
primitivo; o transito dos almocreves,
ella
o caminho para os
ainda existe
que se
no estado
fazia pela
rua da
Graça, parece, seguia por aquella, porque nella havia, ao fun-
do da rua da Judearia, entre esta e rua da Palmeira)
um
a
rua de Maria Dona (hoje
hospital, o de Santa Maria a Velha, desti-
nado aos peregrinos pobres
e doentes;
estes
hospitaes ou
albergues só se estabebeciam nas ruas de maior transito, por
somos levados a crer que a rua da Levada não existia Quando se construiram os moinhos e se fez o açude para elevar as aguas que lhe servem de motor e a alguns isso
primitivamente.
dos lagares que ainda hoje
ali
se
vêm,
fez-se pelo lado
do
rio
uma muralha para segurar a agua no nivel que devia ter e, como para o lado poente ella não podia fugir por ser o terreno mais elevado, é natural, mesmo até por economia, que por aquelle lado se lhe não íizesse resguardo algum, correndo ella
naturalmente por sobre o terreno e espraiando-se onde encontrasse depressões, até
ir
bater d encontro ás paredes ou
de quintaes das casas, cuja frente era para
sendo impossível por
ali
a
muros
rua dos Moinhos,
o transito.
Mais tarde, provavelmente quando D. Manuel ficar a ponte, canalisou-se aquella
mandou
reedi-
agua, conduzindo-a por
uma
(
—m— com
levada só
um muro
obra ficar entre
sultando d esta
dar passagem,
para lhe
a largura suííicienle
fazendo-se para esse fim
pelo lado da povoação; re-
ella e
as
rua dos
casas da
Moinhos espaço para edificação de novos prédios e uma rua a ponte.
mandou
elle
que
espaçosa e bonita,
bastante
Graça com dos fiades,
Foi
lambem
direclamente
liga
a rua
construir os lagares que lhe pertenciam junto aos
um que
outro que tem na
ainda conserva o
nome de Lagar
parede da frente, por cima da
d’El Hei e
porta a es-
phera armilar, o que indica ser pertença sua: se construía gares de
com
um
fabricar
porque por aqui possuia
azeite é
oliveiras, e tanto os possuia
certo
da
que
talvez por esta occasião
numero d alqueires d
que
la-
prédios
mandou dar aos
frades
anuo da sua
tulha,
azeite cada
como indemnisação das oliveiras que lhes mandou arrancar na Varzea Grande; na margem esquerda do rio ha uma horta com a
denominação de Horta de
n
um
pequeno
largo,
El-ltei.
que ainda
ali
Era ao fundo d’esta rua,
existe, que,
como dissemos,
deviam estar os paços do concelho; o que somos levados porque 11’aquelle local ha casas, pertencentes á
um
camara municipal, que 0 tem trazido
rasão alguma que faça suppor
rado e não ha ali
desde remotas eras
a
que
mandasse construir aquellas casas para qualquer
crer
prédio de
a
afo-
camara
fim,
nem
é provável que lhe fossem dadas ou legadas por alguém; portanto 0 mais racional, á falta de [trova lir
que quando este povo se organisou
tantes da a
villa ali
mandaram
em em
contrario, é admit-
município, os habi-
edificar aquella casa
ou que alguém
cedeu ao município para nella se estabelecerem os paços do
concelho; ha ainda mais
des ou
villas
séde na praça ainda
lá
uma
rasão, é que
em
todas as cida-
os paços do concelho tinham, por uso antigo, sua publica e esta era ao fundo da
rua da Graça;
conhecemos restos do antigo pelourinho. O largo que
ainda hoje se apresenta ao
fim d'aquella
rua devia n'aquella
epocha ser muito maior; talvez
não existisse 0 quarteirão de casas que hoje está ao fundo da rua de Pedro Dias, rua que então não tinha 0
nome que agora
tem,
porque se chamou
— 03 — primeiro rua do Calça Perra, depois
que ultimamente
ali
ma
do Almoxarife; e por-
residiu Pero Gonçalves Dias, que
foi
por
muitos annos provedor da Santa Casa da Misericórdia, em sua memória, por ser pessoa muito estimada de todos, se lhe deu o nome que hoje tem; ora não existindo aquelle quarteirão,
como
é provável, o largo
espaçoso e ao
também
que constituía
a
praça era muito mais
mesmo tempo que era praça, parece que devia
uma especie de rocio publico, porque se estendia sul, sem que actualmenle possamos determinar-
ser
muito para o
A rua da Graça era a ultima da villa para aquelNo tombo do hospital de Nossa Senhora da Graça lê-se o seguinte: «Tombo que o mesmo hospital tinha mandado falhe os limites. le lado.
zer por D. João ella
passava
a
ui.
Esta rua servia de ser face da
villa e
por
estrada publica, que vinha desde a estiada, que
começa em
a ermida de S. Gião pelo pé dos montes, por onde ainda está uma calçada antiga, que vem até á egreja de S.
Sebastião, vindo a dita estrada até á bocca do Fria e d'ahi descia por esta
valle
rua abaixo e por ser
de
Itiba-
estrada de
continua passagem de gente, algumas pessoas piedosas se
viam mais
a
deixarem
n‘ella casas e
hospital e agasalharem peregrinos pobres e enfermos,
outras partes da pitaes, salvo este
todos reunidos»,
villa
mo-
roupas para servirem de
que nas
e por esta rasão havia n’esta quatro hos-
de Santa Maria da
Graça,
a
que ora estão
etc.
Se a rua da Graça formava a face da villa. é porque para alem delia não havia outra e com certeza não havia, porque quando o rei D. Duarte mandou construir os seus bazares, cujas arcarias ainda
ali
se observam,
com
o fim de arrendal-os
aos judeus, que eram então os principaes mercadores, decerto
não obra;
mandava arrasar casas particulares paia fel-a
no terreno publico; estas
fazer
aquella
arcadas estão dispostas
duas linhas parallelase tão distanciadas, que deixam entre uma rua muito espaçosa, que é hoje a rua dos Arcos, logo
em si
aquelle largo estendia-se até onde é agora o largo ria e d
alii
da Saboa-
para deante, não sabemos até onde. N’aquelie lar-
mesmo
go lambem o
rei D.
Duarte mandou edificar o seu pa-
ou estaos, como então se
lacio
para o lado do
talvez
rio,
no
lhe
chamava;
local hoje
provavelmente
occupado pelas Terce-
nas e Cubos, prédio que pertenceu aos frades, provavelmente
legado por
elle
ou odado por algum dos seus successores;
fizeram elles celleiro e adega para recolherem parte dos
mos, que recebiam.
também
Tercenas
se dava este
nome
das do estado ou dos
eram
á
a
uma
públicos,
mas
casa onde se recolhiam as ren-
senhores das terras, que antigamente
pela maior parte pagas
cubos dada
eram armazéns
ali
dízi-
em
generos;
a
denominação de
parte d’aquelle prédio parece derivar de
ali
medirem os dizimos e oitavos (até havia quintos) que se pagavam aos frades por medidas de capacidade para solidos e líquidos, que então eram o alqueire e o ahnude, a que genericamente chamavam cubos; ainda hoje muitos homens do campo quando nas eiras se traia de medir os cereaes, empregam se
o termo cubar
em
vez de medir.
Ve-se pois que o largo onde existiram os primeiros paços
do concelho
com
fazia parte
da praça publica, o que está d’accordo
os usos e costumes d’aquelles tempos, porque
as praças
correspondiam ao fórum dos romanos e serviam paia
sembléas populares; era
ali
as suas reclamações perante os
Havia n aquelle largo
as as-
que o povo se reunia para fazer
uma
membros do concelho fonte,
municipal.
cuja agua corria por
um
tubo de ferro, ficava abaixo do uivei do solo e descia-se para ella
por alguns degraus de pedra; era
rões,
assombreada por cho-
mas pouco ou quasi nenhum uso se fazia d 'ella por ser como também pouco limpo era o termo com
bastante immunda,
que o povo aqui;
a
designava; por isso
não podemos apresental-o
um
synonimo d’aquelle que no
somente diremos que
é
campo de Waterloo, em um momento de sublime desespero, á intimação « rendei-vos, bravos francezes» Cambrone atirou á cara dos inglezes, porque
já
não tinha outros projecteis, que podes-
se arremessar-lhes.
Não podemos recordar
este incidente da celebre batalha de
65
um
Waterloo sem que nos sintamos arrebatados por to de
n
admiração e respeito peio
um campo
ganhas
em
de batalha
sentimen-
lieroe, que, ao
ver sumirem-se
grandeza
da sua patria,
a gloria e a
tantas outras, quiz
—
morrer comella.
ali
E’ n’aquella
hora solemne que o espirito, prestes a desprender-se das suas
com o mundo momentos para
vezes esses
aproveita muitas
relações
physico.
curtos
transmittir aos que n’elle
continuam
habitar ideas ou pensamentos, que, parece, estão
ção com
um
outro
tinha concebido
quegar,
ser
Não são raras
admiram. Por
mas na
modo de
isso n 'aqnella
que anteriormente
e á
já
em
hora da morte
a
rela-
nunca
inspirações
exclamação tão simples e vul-
occasião tão significativa e elevada, não estava o
sentido usual e baixo da palavra, estava dioso e sublime: a futilidade, o
nenhum
um
pensamento gran-
valor das glorias
mun-
danas, expresso n’aquelle termo, que significa a parle excrementicia da matéria organisada, servir ao
organismo,
um
dejecto,
que de nada pode
que o expulsou; estava
a
ultima
mani-
ephemeros
e uma alma nobre, que fugazes gosos d uma victoria fortuita no mundo material, para se livrar d'elle, que não é compatível com o elevado de seus sentimentos, que não podem tolerar a humilhação da patria
foge ante os
festação de
vencida; porisso
prefere quebrar
os laços
que
matéria e voar livre ás regiões ethereas, onde
egnaldade, a justiça e Aqnella fonte
a
Pax
paz eterna.
desappareceu
d’aii
a
prendem á
deve reinar a
sem/jcr do Evangelho.
já ha
a unos,
quando se
ligaram as estradas de Payalvo e Barquinha com a do Pintado; esta obra embellezou e melhorou muito a povoação. A rua da Graça, quando deixou de ser
a principal via
de transito, cahiu
como que em abandono; conhecemol-a ainda coberta de malveiras e silvas como um matagal inculto, onde pastavam porcos onde se lançavam cães e gatos mortos. Por ella abaixo corria um rego d agua, que vinha do valle dos Sete Montes, a antiga Uiba-fria e aqnella agua formava nas deprese burros e para
sões do terreno charcos cobertos de limos que, aos primeiros calores da primavera entravam
em
eííervescencia, decomposi-
-
—
GO
ção pútrida. Tão pouco se curava da hygiene publica
uma povoação que
tinha fama de doentia lubres. Mais tarde
aquella agua canalisou-se para
tante e a parte media da rua
!
Por isso
hoje é das mais sa-
ponto dis-
mac-a-damisada na
foi
largura
das estradas districtaes; plantaram lhe duas linhas d arvores,
uma de
cada lado e os espaços comprehendidos entre as
letas da
prédios
estrada e os
bonitas da cidade. Por esta
mesma
occasião a rua da Levada,
cujo pavimento era baixo e mal calçado, a-clamisado também,
uma das mais
Hoje esta rua é
largos, foram todos calçados.
vai-
que são bastante
marginaes,
levantada e mac-
foi
em memória do engenheiro que
e,
diri-
chamando rua Everard. mudada daquelle local para o que
giu estes trabalhos, ficou-se
A praça
publica
occupa pelo Hei
je
foi 1).
Manuel, que
mandou
ali
bo-
edificar os ac-
tuaes paços do concelho, para o que foram demolidos uns ca-
sebres que
lá
existiam e pertenciam ao hospital de Nossa Se-
nhora da Graça, por cuja expropriação a
pagar áquella confraria mil
foi
lambem
onde
edificado o templo de
uma pequena
existia
este templo não
symetrica lá
a
foi
a
camara
ficou
obrigada
annuaes. Por esta occasião
no
S. João Baptista
com
capella
mesma
a
local,
invocação;
completamente acabado, porque, para do lado do
sua frente, devia ter outra torre
deixaram espaço para
este rei
réis
também, como
ella,
já
mas nunca
a
fizeram.
dissemos, reedificar
os dois bairros e deu novo foral á
villa,
a
ficar sul;
Mandou
ponte que
o qual ainda
liga
existe
nos archivos da camara municipal; deve-lhe pois Thomar uns certos benefícios.
Em
1510
instituiu
a
confraria da Misericórdia annexando-
lhe todas as outras confrarias de beneficencia,
tiam; taes
como
St.
a
que então exis-
Cruz, Anjo, Gafaria e o hospital de Nossa
Senhora da Graça, que
ficou
sendo
a
séde, e mais os escassos
rendimentos dos outros hospilaos, ou antes albergues, porque
mais serviam para pernoitarem os mendigos do que para les se
tratarem os doentes;
da rua da Graça, logo
á
taes
como
entrada da
villa
n'el-
o de S. Braz, ao cimo
para
quem
vinha pela
cujas casas foram para esse fim deixadas
estrada de Lisboa,
em
testamento por Constança Amies e que depois
radas por 190 réis annnaes e
sendo
feita
em 20
a
um
Costa
afoelle,
escriptura no carlorio do escrivão Gaspar Garro
O mesmo
de abril de 1561.
de S. Paulo, que ficava proximo
fóra e
foram
frangão ou dez réis por
aconteceu
a este,
com
o hospital
para o lado do Pé da
em uma casa que ainda lá existe, com uma escada por uma varanda, a qual foi também aforada em 15(>1 a Simão
Duarte, pedreiro, e passou depois para
Nuno Pessoa de Ara-
gão pelo foro animal de cem réis e como estas todas as outras que serviam de hospilaes ou albergues, como o da rua dos Moinhos ao fundo da
ma
Santa Maria-a-Velha,
etc.
dimentos era o hospital se dava
a
da Judearia
onde era o hospital de
De todos o que tinha melhores rendos Gafos, nome generico que então
todos que soíTriam de doenças cutaneas, taes
como
elephantesias, psoriases, ictiose, lepra, sarna, etc., era situa-
da onde é hoje a quinta de Santo André;
lhiam os enfermos, era
ouvir missa; a
quinta,
mesma
a
casa onde se reco-
que hoje é casa da quinta e
Santo André era destinada aos doentes irem
a capella de
e
a
ali
pertencia-lhe aquella quinta, o casal do Barreiro
que
de Antonio Joaquim d Araújo: todos estes
foi
prédios foram depois aforados pela confraria ou irmandade da
Santa Casa da Misericórdia.
tempo se allendia um pouco á hygiene ou era que causavam á vista ou o asqueroso do
Já n’aquelle
talvez a repugnância
contacto dos infelizes, atacados d’aquellas doenças, então mais
frequentes do que hoje, pelas péssimas condições a gente pobre,
que
fazia
em
com que os coliocassem
voação. E’ certo que o hospital
ali
se achava
um
que
vivia
fora da po-
em boas
condições
com boa Alem dos rendimentos do hospital os doentes eram soccorridos com muitas esmolas em dinheiro bygienicas" por estar
exposição e
bem
isolado,
n
ponto
ventilado.
e roupas que lhes deixavam os almocreves
savam
e d’elles se
Feita aquella
elevado,
que por
ali
pas-
compadeciam.
annexação
a
confraria da Misericórdia
ficou
— 08 apenas com o rendimento animal de I20$000 quatro capellães,
fraria tinha
com
sico,
um
Esta con-
réis.
tangedor dorgão e
um
phy-
o ordenado animal de trinta alqueires de trigo; este
membros
linha por obrigação tratar os doentes do hospital, os
da confraria, os pobres da terra e os presos da cadeia. confraria alem
de ler
seu cargo os doentes
a
Esta
tinha ainda o
hospital dos expostos e os processos dos presos pobres; alem d isto soccorria
com esmolas de
dinheiro e vestuário diversas
Como
pessoas necessitadas, assim honradas como meclumicas.
os seus escassos rendimentos não chegavam para satisfazer todos
estes
encargos,
necessidade
na
via-se
a
de mendigar
esmolas, com as quaes muitos concorriam da melhor vontade para aquella instituição de beneficencia, que progressivamente ia
melhorando com alguns donativos ou legados de pessoas
piedosas e sempre
bem
administrada pelo provedor c irmãos
da mesa.
Em
154 ~2, sendo D.
1‘rior
da
Ordem de Chi isto frei Antomão d aquella admi-
lho de Lisboa, avaro e orgulhoso, lançou
nistração e não la
ousaram oppor-se-lhe os representantes
d aqel-
irmandade, por ser pessoa muito poderosa e valiosa nisle
reino.
A' opulência da
Ordem
quiz ainda juntar mais aquella
exigua parcella, tornando-se senhor absoluto do que pertencia,
sem o miniino
instituído
independente e
respeito para livre e
com
o
rei,
que antes do
que
rei
lhe a
não
havia
tinha sido
seu antecessor no mestrado da Ordem; substituído depois por
menos avaro, mais justo menos orgulhoso, reconhecendo a iniquidade do seu antecessor, fez entrar a mesa da irmandade na administração d elia; porém não conforme a havia instituído D. Manuel, mas para D. Frei Damião, este mais sensato e
e
mostrar o seu predomínio impoz-lhe physicos para o hospital e
um
livro
a
obrigação de terem dois
para lançarem
a receita e
despeza e fundos da confraria sendo depois elevado aquella dignidade
usurpou o por
si
I).
Frei Clemente, que só no
direito
nome
o era, novamenle
que aquella irmandade linha de se governar
própria e ordenou
que os dois physicos tratassem
só-
mente os doentes do
hospital e a
cultativo lhe pagasse á sua custa,
irmandade se precisasse
quando estava
a
les tratarem todos os confrades, resultando d’esta
dade morrerem muitas falta
pessoas á mingua de
cargo
fa-
d'el-
arbitrarie-
soccorros por
de meios pecuniários; recusou-se também
a
sustentar o
quando eram os frades quem mais conaugmentar o numero, segundo ainda hoje é
hospital dos expostos,
corria para lhe
tradicção vulgar e recusou-se ainda a promover o andamento
dos processos dos presos pobres;
tal
era a caridade
d’este e
outros representantes do crucificado
Amiudadas vezes do alto d’aquelle sumptuoso palacio, que chamar assim do que convento de frades,
antes se lhe deve
desciam sobre o povo de Thomar os vexames, as aíTrontas, as iniquidades; e
lá
explendoroso no meio
no viver
da enorme
abastança d’aquelles ricos e orgulhosos frades não podiam ser
ouvidos os queixumes e os lamentos dos que soffriam os horrores da
miséria, a que
muitas vezes davam
causa as suas
desmedida ambição e o seu despotismo. epocha rei de Portugal o fanatico e fradesco D.
injustiças, a sua
Era n’esta João
ui,
as reclamações sobre os abusos praticados pelos fra-
des decerto não seriam attendidos por
mantiveram-se pois
elle;
as coisas n'este deplorável estado até que, reinando D. Sebastião,
mais justo e mais energico, talvez na occasião
teve
em Thomar,
denado
que se
por
em que
provisão de 0 de julho de 1503
restituísse á
irmandade
foi
es-
or-
administração do
a
hospital, confrarias, rendas e mais proventos
com
todos os pre-
que d 'antes gosava e sem dependencia alguma do mestrado da Ordem de Christo. Só por este
vilegios, regalias e isenções
meio poderam
sempre Este
ter fim os
abusos d aquella
Ordem
tão altiva e
tão perniciosa á liberdade e intereses do povo. rei
beneficiou
muito
a
instituição da
Misericórdia,
que ainda hoje constam dos alvarás, que se acham archivados no seu cartorio. Desde aquella epocha foi ella sempre prosperando, não só porque concedendo-lhe privilégios e regalias,
continuou ao abrigo da protecção regia
e,
por
isso, fóra
das
garras dos mostres da ordem, mas porque muitas pessoas ca-
vendo n’aquella protecção uma garantia de serem pre-
ridosas,
enchidos os
que era
fins a
lho faziam largos donativos ia
augmentando o seu
destinada aquella pia
de que
rendimento, já não recoiosos
aquelles rendimentos, unicamente destinados
a
um
fossem desviados delle para irem saciai
nitário,
instituição,
ou lhe legavam bens, com os quaes
1
huma-
tim
a cubica
de
ambiciosos e avaros.
O
não era o que
hospital antigo
onde está
é hoje, a parte
do
edifício
cosinha e as enfermarias dos homens não existia,
a
entrada era pelo alpendre, que tem junto á capei la, este alpendre servia como que de casa de espera é para n’òlle se
a
abrigarem do calor ou da chuva os que
em
sidade;
seguida
havia
a elle
dava ingresso para o claustro; arrecadação,
com uma pôr do
uma
uma ali
em
baixo casas para
vasta lareira, onde todas as noites d inverno, logo ao
sol.
se accendia
lume para se aquecerem os pobres e
condição;
em cima
enfermeiro e enfermeira e outras fermarias
janellu,
havia
casa para pernoitarem os mendigos e outra
as qmles de baixa
d’ellas.
d’isso tivessem neces-
especie de corredor, que
uma
homens
para
onde é hoje que
deita
para os doentes d
a
a capella inór
e duas en-
mulheres;
e outra para
da
egreja.
em uma uma
ainda
que
servia
ouvirem missa, parece que esta era
fermaria das mulheres, os lado do nascente
aposentos do
casa da arrecadação, existe
para ali
havia os
accommodações
havia
homens ouviam
uma
a
a en-
para o
do còro;
pateo murado,
especie de
servia de cemiterio pai a n elle se enterrarem os doentes, falleciam no hospital: este pateo é hoje
um
que serve de recreio aos convalescentes; passava
uma
Nova Pequena
rua,
pelo lado do
chamou rua do Coronheiro;
deixou de pertencer ao transito publico e licio
quintal ajardinado,
norte
que hoje não existe e que se chamava
e depois se
que que
foi
rua
esta rua
annexada ao
edi-
do hospital.
Em
1602 falleceu o dr. Manuel Nunes da Costa,
Pedro Nunes da Costa, fidalgo da casa de
S.
filho
de
Magestade, cavai-
leiro
Ordem de
da
—
71
Christo e abastado proprietário, o qual
gou áquelle estabelecimento pio
a
le-
maior parte dos seus bens
eram que d’elles se fez um tombo á parte, que ainda boje existe, impondo porém a condição de se fazer um hospital novo junto áquelle, o qual foi começado a 7 de marco de e tantos
1072, que é a parte do edifício onde boje estão as enfermarias
dos homens e
a
cosinha. Por cima da porta principal do edi-
licio em uma pedra triangular está gravado um letreiro, que commemora a data do começo daquella obra e o nome de quem ordenou se fizesse, e na casa do despacho está pintado a oleo um quadro com o retrato do pae daquelle bemfeitor,
que
ma
ali
se collocou por não poder obter-se o do filho; na
casa encontram-se ainda
tos a oleo
mais alguns
de
em
mes-
grandes quadros outros retra-
bemfeitores,
como
o de D.
Maria
Ezequiel do Quental e o de Manuel da Silva Magalhães.
Km
15 de março de 1800, mais
bição dos grandes veiu deitai'
uma
vez
am-
a insaciável
as garras ás migalhas
de que
se nutriam os desvalidos; uni decreto publicado n aquella data
mandava encorporar na corôa todos os bens possuídos sem licença regia; o despotismo a exercer-se na
tenção dos que
vontade e na
naturalmenle teem o direito de dispor
mente do que é seu; d este barbam decreto resultou que intenção de tantas pessoas caridosas, que
gados
feitos áquella
Santa Casa, linha
com
boa
a
donativos e
por fim
desventurados, ficasse sem effeito algum.
in-
livre-
le-
soccorrer os
Tal injustiça revol-
tou os ânimos e tão baixa ella era, tão vergonhosa aos olhos
de todos, que não houve remedio senão reparai
do da
a; a
20 d
abril
mesmo anuo novo decreto revogou o primeiro, foi publicauma provisão, pela qual se lhe fazia mercê de todos aquel-
les bens, livres
dos encargos com que haviam sido doados.
A administração
d’aquelle estabelecimento continuou
mais ou menos regularidade, conforme o genio e
a
com
capacidade
dos seus administradores até que, por desleixo d alguns aquelle hospital,
que pelos seus rendimentos se podia manter
boas condições de limpeza
e asseio e
em
proporcionar aos doentes
que
se recolhiam, os meios convenientes para o tratamento
ali
numa
das suas doenças, transformou-se, por assim dizer,
immunda
po-
impregnado de vermes parasitas, cheio de ascorosas immundieies; tão grande horror inspirava que os doentes pobres preferiam morrer á mingua de soccorcilga
e repugnante;
ros médicos a irem tratar-se
seu estado de doença,
já
onde os levavam e que para te
ali,
só
lá
iam finar-se os que, pelo
não tinham consciência do logar para
eram transportados unicamen-
ali
para se lhes fazer o enterro pela Misericórdia. Foi n’esta conjunctura,
em
1853, que
collocou na administração d’aquella casa
desta terra,
Manuel da
mão da Providencia
a
um benemerito, filho homem prestante,
Silva Magalhães,
honrado, energico, activo e laborioso, que introduziu tantes reformas;
queimar
e até
mandou proceder
utensílios
á
ali
impor-
limpeza de todas as casas
que só o fogo poderia purificar das
immundieies que os impregnavam; d’então para cá começou afiluir
bom
a
ao hospital maior numero de enfermos pelo conforto e
tratamento que
Este hospital
com
ali
encontram.
as boas administrações, que ultimamente
tem melhorado consideravelmente; está longe de ser mas está em boas condições de asseio;
tem
tido,
um
hospital modelo;
as suas enfermarias são amplas e
parte que diz
doentes.
ventiladas e não faltam
tem já se teem
respeito á cirurgia
de instrumentos cirúrgicos e importantes.
bem
dietas e medicamentos, de
aos doentes as
O
ali
qne carecem.
arsenal rasoavel
feito
operações muito
seu movimento annual regula entre 400
No anuo economico de 1900
homens 308, mulheres
a 1901
foi
153; sahiram curados:
centagem d ohilos pequeníssima, attendendo ali
entram vão
já
em
a
a
500
o seguinte
:
homens 268,
mulheres 128; falleceram 24 homens e 15 mulheres. doentes, que para
Na
um
Uma
per-
que, muitos dos
estado muito adean-
tado de doença e outros são velhos cacheticos e incuráveis. Esta
assento
villa tinha
em
o
titulo
de Notável
còrtes no quarto banco e
de cidade por
L>.
Maria u
em
1811.
Villa
foi
de Thomar, tinha
elevada á cathegoria
DAS FERIU Kl !8
ahindo de Thomar pela estrada da Barquinha, lugo ao terminarem os renques
que n’uma
d 'arvores,
orlam
estrada,
esta
em
padrão de pedra
Lourenço
margem
ornamentações e é ornatos
(.)
uma
um
forma de pyramide
quadrangular muito aguçada; adeante vê-se
extensão
certa
encontra-se
um
[íouco
dedicada
capella,
a
e ao nascente desta, junto
também edra, de forma cilíndrica chamado on lo; está assente sobre uma base com sobre-monlado por um capitel também com tio rio.
outro padrão
primeiro, pela inscripção que apresenta, vê-se
que
nem
ins-
segundo
se refere a Ü. Sebastião; o
não tem data
cripção alguma; os seus ornatos parece indicarem que pertence á epocha da renascença,
Manuel ou n’elle
talvez
ames ao de
esculpido o escudo
tem por fim commemorar
com
a hoste de
I).
provavelmente ao reinado de
d’armas a
l).
D. João m, pelo facto de se achar
em
direcção
obliqua, que
micção das tropas de j
Nuno Alvares
Pereira, que
ali
D. João
i
se reuniram
para marcharem para Aljubai rota dar batalha aos castelhanos.
— 70 — em
Aqui a tradicção está ricos,
como vamos mostrar com
Nuno
feitos de I).
Alvares Pereira
com
julgou-se
os factos histó-
o que extractamos da ,
por
morte de D. Fernando o
«1*01'
com
frei
throno
ao
direito
sua mulher D. Beatriz,
e
de
rei
do fallecido
filha
Castella, D. João
i
portuguez por herança de rei
de
Portugal; D.
que se havia divorciado de seu mao nobre fidalgo João Lourenço da Cunha, para casar com
Leonor
Telles, a devassa,
D. Fernando e que agora entretinha relações pouco
o conde Àndeiro, apoiava
a
causa do
regencia do reino;
licitas
de Castella,
rei
mulher depravada, sanguinaria
esta
Vida
Domingos Teixeira,
ordem de Santo Agostinho:
religioso da
rido,
perfeito accordo
e ambiciosa,
com
porque
aspirava á
maior parte dos fidalgos portuguezes de
a
certa raça degenerada e pervertida e nos quaes, talvez, tivesse
grande influencia o ouro de Hespanha, collocaram-se
porem o povo, que
é a alma da
nação, onde mais
que se
nobre sentimento,
se encontra esse
seu lado;
a
arreigado
amor
diz
pátrio,
revoltou-se tendo á sua frente o filho bastardo de D. Pedro
i,
com
a
D. João, mestre
mão apunhalou
sua própria fugiu para
d’Aviz; este
Alemquer
e o
entrou no paiacio
real e
o conde Andeiro; U. Leonor Telles
povo de Lisboa, todo,
levantou voz
pelo príncipe, aclamando-o defensor do reino.
Quando o
em
Portugal
rei
com
de Castella soube o que se passava
um
grande exercito e
onde se achava o mestre d’Aviz quaiito D.
oppondo
Nuno Alvares
Pereira,
forte resistência aos
foi
á frente
pôr cerco
a
entrou Lisboa,
dos populares, em-
que estava no
castelhanos e
ali
Alemlejo,
lhes
ganhou
famosa batalha de Atoleiros; Lisboa resistiu com valentia
guns
assaltos e principiava já a sentir
quando o castelhano levantou o cerco
os horrores
e fez
uma
ia
a
a al-
da fome
retirada ver-
gonhosa, retrocedendo para Hespanha. Não tardou porem muito
que voltasse com mais poderoso exercito, que dividiu partes:
uma.
a principal
pelo Alemtejo e já voltava
a
outra
em duas
commandada pelo proprio rei entrou fez uma incursão na Beira e quando
carregada de despojos
foi
complclamente derrotada
junto
a
Trancoso pelos valentes porluguczes
da Cunha,
Vasques
.Marlim
Gonçalo Coutinho e João Fernandes Pacheco. derrota, o rei de Caslella
saber d esta
menle para
ali
com
Ao
dirigiu-se immediata-
todas as suas forças, levando tudo a ferro
e a fogo, incendiavam os seus as povoações por
onde passavam, as cearas e até mesmo as egrejas; matavam os que encontravam inermes, não attendendo a sexo nem a edade e a
mãos
outros decepavam as
por toda
a
e cortavam as lianas, difundindo
parte o susto e o terror; passaram perto de Coim-
bra, que não atacaram, derivaram para
velho e Figueira da Foz. descendo d e devastando tudo quanto
Aveiro,
Montemor
Som e,
para
ali
o-
assolando
iam encontrando.
Nesta conjuntura achava-se em Abranteso mestre dAviz, i, que jã linha sido acclamado rei nas cortes de Coim-
0. João
chegavam
meudo, trazidas pelos
bra;
ali
cias
das desgraças que iam succedendo nos logares por onde
a
0
passava o terrível exercito invasor.
fugitivos, as noti-
Condestavel
Alvares Pereira eslava no Alemtejo a fim de
Nuno
l).
tolher por
ali
a
entrada aos castelhanos; mandou-o El-rei chamar a toda apressa;
não se
da com
a
esperar, partiu de Fxtremoz
fez
sua
hoste,
approximadamente; xou para
a
que
compunha de
se
duasleguasde
traz os seus para
em marcha
que
distancia
dois-mil
força-
homens
deAbrantes
descançassem, pois
muito fatigados da marcha rapida e do peso das armas e
com o
rei,
trinta lanças
seguiu
a toda a
pressa
a
dei-
vinham
encontrar-se
elle
com
que o esperava na outra margem do Tejo; depois de se cum-
primentarem
e
abraçarem seguiram ambos para o palacio
real,
onde se reuniram em conselho os prineipaes cabos de guerra. N este conselho discutiu- se acaloradamenle se se havia ou não dar batalha aos castelhanos, optando o Condestavel por que quanto antes lhes fossem ao encontro para os impedir de
entrarem
em
Cisboa;
porém
maior
a
emulação do que por convicção, allegando varias razões: que tos era
a
parte, talvez
foram de opinião
mais por contraria,
desproporção dos dois exerci
-
enorme; que se não devia expor os poucos soldados.
que tinham,
não haveria
se os perdessem,
porque,
onde
ir
buscar outros; que melhor seria marcharem sobre Sevilha, para
chamarem para ali a attenção do inimigo, etc. Não satisfeito com aquellas rasões o Condestavel retirou de tarde para o seu acampamento e, reunindo os seus cabos de guerra, propozIhes marcharem para Thomar, o que da melhor vontade foi acceite por todos.
Algumas horas antes do amanhecei do
dia seguinte puze-
-
ram-se
a
caminho muito cautelosamente, para não serem preque estavam
sentidos dos vigias,
do
a
um
certo espaço e quan-
de opposição dos outros, mandou fazer
já livre
aos seus
nem de alguns
nos muros
que andavam pelo campo; percorrido resolução
em que
estava de
ir
telhanos; tanta confiança n elle depositavam e cia
sobre elles que
nem um
alto e
expoz
accommelter os castal
império exer-
só se oppoz e todos aqnelles
lie-
roes da melhor vontade se oITereceram a sacrificar as vidas
em
defesa da patria.
Logo ao amanhecer deu-se pela sua falta eram aííeiçoados apressaram-se a dar conta
e os
que lhe não do que
El-rei
a
havia succedido, alcunhando o facto de desobediencia,
do até que obediência
elle era
um
rei,
superior e persuadindo
a
dizen-
nem
pois não professava sujeição
mesmo
o
rei
de
prendesse, porque era escandaloso o seu procedimento.
que o
O
rei,
que o conhecia bem e sabia apreciar as suas nobres qualidamandai o chamar por João AíTonso de Santa-
des, limitou-se a
rém, fidalgo muito distincto. Partiu este alcançai o a
vava. respondeu:
recer culpa
toda a pressa e
«que, o ausentar-se não era
em quem,
para servir melhor
de estimar se
a
preciosa do que
va
a
caminho de Thomar; ouvido o recado que fugindo ao ocio,
a patria,
ia
com inimigos dentro
podia pa-
os perigos
porque sempre tivera por indigna
opinião dos que julgavam a vida;
nem
buscar
foi
lhe le-
que,
a El-rei
a
honra por menos
advertisse que se acha-
e fóra, que se acautelasse dos de casa,
que os mais perigosos eram os que
trazia a seu lado,
estranhos se não receiasse, porque
elle só
com
que dos
aquelles pou-
— 79 — cos, que o seguiam, bastaria a defendel-o;
que lhe não pedira porque temera com justa causa que a inveja dos que no conselho dissuadiam a batalha lhe quizesse roubar a gloria de ir dal-a; que pedia a elle João Affonso quilicença para retirar-se
zesse fazer
com
que o deixasse
El-rei
levar aquelle
adeante, porque se, acabando no conflicto não victoria,
pouca
ajudassem
falta faria
no campo, onde ficavam tantos que o
com
á defesa
intento
conseguisse a
o conselho e
Affonso voltou a Abranles
informar o
a
com rei
as armas».
João
do que passara com
o Condestavel, declarando-lhe que pelo desassombro que mostrava
bem
deixava ver que não mudaria de opinião.
receando perder as esperanças no futuro com
El rei
d’aquelle general, pedia,
mandou com
toda a urgência
a falta
que o caso
Fernando Alvares de Almeida, veador de sua fazenda,
fidalgo muito auctorisado, venerável pela pessoa, pelos annos
e pelo cargo,
que da sua parte dissesse ao Condestavel: «que e pedia como amigo que ou retrocedes-
mandava como senhor
se ou fizesse alto no logar,
em
que se achasse.»
Ao mensa-
(1’esle segundo recado respondeu o Condestavel: «que o maior serviço que podia fazer ã patria era conservai a em príncipe natural, que paia este fim corria a dar batalha aos
geiro
castelhanos e que d’este intento ninguém podia já demovei
porque,
primeiro que
pretendesse dissuadil
do na empreza, com passe com
vida essa
com
pelejaria
que se conseguisse a
o; a
os inimigos
o,
com quem
victoria,
acaban-
morte se escusava ao castigo, se escaofferecia para
satisfação da
culpa nas
mãos de um verdugo, quando o successo não bastasse a remil-o da pena: que se El-rei se resolvesse a seguir aquelle parecer, na ribeira de Abrançalha,
onde
ia
alojar-se
aquella
manhã do outro dia, seguiria seu caminho sem recados poderem estorval-o ou respeitos diverlil-o; que pois na opinião dos mesmos pornoite, esperaria o aviso e,
não chegando até
tuguezes era taxado de aspirar, tyrannisando
á
a patria, á
sobe-
rania de absoluto, queria mostrar-lhes que sabia, despresador
de
sceptros, conquistar
thronos
para dal-os,
mas não para
- 80 possuil os,
porque
a
ambição o não
sua
nem
satisfazia
tinha
objecto mais reinos que o coroar-se de triumphos.
j)or
O Almeida voltou a Abranles a dar esta resposta, primeiro rei, em particular, depois deante de todo o conselho.
ao
Indecisos ainda, o dr. Gil Docera pronunciou
com
um
discurso,
o qual, pela eloquência e firmeza d’argumentos abalou os
favor do Condestavel, com o que o rei exultou. acompanharem o Condestavel na sua valerosa empreza, emquanto se punham em marcha de Abranles, mandou-lhe o rei aviso da resolução que haviam tomado e que estavam já postos a caminho; mas, como demoraria alguns
ânimos de todos Decididos
a
a
dias na jornada, lhe pedia que iria
esperasse
em Thomar, onde
encontrai o para juntos resolverem o melhor
modo de
ata-
carem o inimigo. Devia ser
em extremo
decerto se deve 1'oz-se ia
a
immediatamenle
ainda a grande
agradavel ãquelle
heroe, a
independência, a resolução
nossa a
quem
tomada.
caminho do ponto indicado. Quando
distancia da vilia
sahiram-lhe ao en contro
os melhores da terra, que o foram esperar e olTerécerem-se-
como soldados, que elle acceitou como companheiros; chegados a Thomar os soldados foram aquarlellados pelas casas dos lhomarenses, que os receberam mais como filhos que como
llie
hospedes. Esta maneira bizarra e altamente patriótica, quella
occasião
procederam os
lhomarenses,
com que indo
a
n’a-
grande
distancia ofierecerein-se ao Condestavel, para arriscarem a vida
em
defeza
da liberdade
da patria,
com que receberam em suas bater os invasores, prova
sempre
a affabilidade e
o carinho
casas os soldados, que iam com-
hem
o quanto
este povo
hospitaleiro e que desde remotas eras
tem sido
tem trazido ar-
reigados na alma os nobres sentimentos de liberdade e
amor
quaesaté hoje ainda não desvaneceram. Gastou o rei dois dias de Abranles para Thomar. Durante elles não esteve ocioso o Condestavel e a sua gente, porque
pátrio, os
este
tempo
foi
empregado em exercícios
bellicos
no largo da
— 81 — Varzea Grande;
como
si
ali,
em
formados
esquadrões combatiam entre
bem simulados eram
se fossem inimigos e tão
dos mortos
gemer dos
e o
aquel-
para serem reaes, só lhes faltava o baquear
les ataques, que,
feridos.
Eram, entretanto, assustadoras as
noticias
que vinham do
emquanto ao numero e ãs crueldades que praticavam, as quaes produziam um certo abalo no animo dos soldados; inimigo,
receioso o Condestavel de que este mal se aggravasse tratou de obter informações exactas das suas forças, disciplina e
marcha; para este íim escolheu tres dos seus escudeiros, que
maior confiança lhe mereciam; mandou
sem
os íhovimentos do inimigo e
a
a
dois que
observas-
todo o risco tomassem
um
que viesse informa-lo das suas ideas; ao terceiro ordenou que fosse ao campo inimigo e, em nome d elle Condestalíngua,
rei
de Castella: que lhe requeria, da parte de
e de S. Jorge
ou desamparasse as terras de Portugal ou onde seriam as armas arbitro
vel, dissésse
Deus
em campo
ao
aberto o esperasse,
que decidisse berbo
a
contenda.
de Castella
rei
lhe
Bem
sabia o Condestavel que o so-
não acceitaria o repto,
mas
o seu
unico fim era obter informações.
Chegou o mensageiro ao exercito, onde foi recebido com estylo e dcsassombradamente expoz ao rei a sua mensagem. Hespondeu-lhe o rei: que estimava o mestre de Aviz e a D. Nuno Alvares Pereira, mas que, emquanto vias cerimonias do
um
vesse, não consentia que
um
reino
leis a
que por herança
fosse
«•ei
e outro condestavel
lhe pertencia e
súbditos e não recebei as de vassallos rebeldes»
ainda replicar o escudeiro,
mas o
rei, já
e
embaixador
que o levassem
a
um
espia,
ro,
vendo
a
Quiz
um
artifi-
mandou formar o seu exercito que com maior
percorrer o campo para
certeza podesse informar os seus; fez isto par
incutir o
.
embravecido, não lho
consentiu e percebendo que aquella embaixada era cio e o
de
por isso vinha dar
a
que o escudei-
enorme desproporção das forças, viesse entre os seus
medo
O por mais de uma
e espalhar o terror.
telligente e ardiloso,
escudeiro, que era invez
propositadamente
— 82 — deixou perceber que não
podíamos bater nos com
poder
ta-
manho. Despedido do campo,
voltou para Tliomar e no
que também
encontrou os dois companheiros, volta e traziam
um
comsigo
caminho
vinham de
já
portuguez renegado, que militava
no exercito hespanhol e que casualmente haviam podido agar-
trouxeram esteá presença do Condeslavel, o qual, ameaçando-o com penas severas, lhe ordenou que quando fosse rar;
chamado a fazer declarações, dissesse que, os hespanhoes eram grandes em numero mas pequenos em força, que a maior parte não eram combatentes, mas sim vivandeiros e gastadores; que os soldados eram quasi todos homens mercenários, tirados ás artes e á agricultura sem experiencia da guerra; que os verdadeiros soldados eram poucos e já gastos. A este tempo chegava o rei a Tliomar e no dia seguinte, formando todo o exercito no largo da Varzea Grande, mandou o Condeslavel que aquelle soldado fosse chamado, ordenandose-lhe que percorresse
as alas e
em
alta voz,
para que todos
ouvissem, fosse contando como verdade o que astuciosamente se lhe havia ensinado, o que elle executou, na aparência
noticia,
verdadeira, muito
com
ficando
animados os
esta
nossos
soldados.
No
dia seguinte, 10
seguindo se
a estrada
de agosto de 138o, poz-se
compunha somente de 1:700
infantes:
em
marcha,
de Ourem, o nosso pequeno exercito, que cavallos,
800 besteiros
e 4:000
apenas 6:500 combatentes para tolher o passo
a
mais
de 30:000
O que
se segue não pertence á historia de Tliomar, por
so terminamos esta narrativa,
desejavamos tornar
em
que
mas
e
dada cloria
bem
um punhado
com
bastante pesar nosso, pois
conhecida aquella memorável batalha,
de bravos cobriu de louros as nossas
encheu de gloria o nome portuguez, pondo
um
formidável exercito; e tão extraordinária
que os hespanhoes, para
chegaram
a
is-
encobrirem
alíirmar que linha sido
um
a
sua
em foi
ar-
debanesta vi-
vergonha,
milagre, fundando se
— 83 — em que
no campo tinham apparecido alguns dos seus mortos sem estarem feridos; ao que os nossos, por despreso, respondiam: foi porque morreram de medo.
Como acabamos de ver o Condestavel esperou dois dias em Thomar, onde não esteve ocioso. E’ muito natural que á da approximação do
noticia
aguardasse
a
sua chegada
no
ali,
sitio
drão ou fosse mais adeante e n aquelle a
sua gente para o receber
esperal-o e que ou
rei elle fosse
com
onde se encontra o pa-
formada
local deixasse
as honras militares. N'aquella
epocha a ponte das Ferrarias ainda devia dar passagem; passariam os peões e os cavalleiros
ella
devia ser vadeavel e ainda hoje
ali
lá
se póde passar a cavallo.
rei,
L).
natural,
que o
mesmo
itene-
Nuno, por ser o caminho mais curto
passando o Zezere á Abrançalha devia entrar na freguezia
de S.
Pedro da Beberriqueira e seguir para
atravessar o Nabão iTaquelle lavoravel por ter históricos
em
Proximo renço é
uma
sitio,
onde
um
vau.
ponte e
perfeito accordo
a este
padrão está
com
a
a
10
de agosto e
foi
nosso pequeno exercito d aqui
vindo
popular.
de S. Lourenço, esta
exactamente sahiii
villa,
Estão pois os factos
a tradicção
a capella
a
passagem era mais
lambem commemorativa, porque
capella é
ir
rio
certas epochas do anno
vindo de Abrantes para Thomar, seguisse o
rarioque havia seguido e,
em
lambem muito
E’
por
porque o
a vau,
o dia de S. Loun’esse
para quatro
dia
que o
dias depois
dar a pai a nós tão gloriosa batalha de Aljubarrota, que teve
logar a 14 de agosto de 1385.
Estes ali
monumentos não são coevos
levantados muito posteriormente,
architectonico
em que
d’aquelles factos, foram
como o mostra o
estylo
foram conslruidos; pela posição obliqua
do escudo d’armas parece serem obra de
D. João ui,
que,
fundando-se na tradicção popular, então ainda mais viva, ou
em dou
qualquer documento, que porventura ainda existisse, manali
erguer aquella memória.
do exercito real na
villa
duas forças reunidas.
0
0 padrão
de Thomar,
relembra
a
entrada
a capella a sabida
nosso pequeno exercito seguiu
das
a direc-
— 84 — ção de Ourem; a
deixou a estrada de Leiria, desviou-se para
ali
esquerda, internando se nas serras, naturalmente para não sua marcha descoberla pelo inimigo, e
sei- a
em
descançar
foi
Moz; devia portanto ter sahido pelo norte da
Porto de
villa
e
não pelo
sul.
Como
morativa
em
logar diametralmente opposlo áquelle por onde
teve logar a sahida ?
n
um
Tem uma
explicação e não lhe conhecemos
modo
os dois factos, a chegada e a partida, de
outra, ligar
que
comme-
edificou então aquella capella
se
só relancear d 'olhos se relembrassem ambos.
Todo o portuguez verdadeiramente
patriota, ao passar de-
fronte daquelle padrão deve descobrir-se
em
signal de respeito
memória do homem, a quem devemos a nossa independência. Alma nobre, coração verdadeiramente portuguez, não pela
o seduzia o ouro de Hespanha, não o desvairavam os
que
altas dignidades,
lhe
foram offerecidos. Era
titulos
de
não se
livre,
vendia; era nobre, não se aviltava; era portuguez; eesta qua-
sempre acima de todas
lidade punha-a
as
as dignidades; era o seu verdadeiro titulo
tempera era
riquezas, de todas
rosos exercitos castelhanos o amedrontavam.
em
com
-numa
só idéa:
dencia da sua
admiram.
Um
a patria tanto
como
na bravura dos
elle se identificavam
—a
conservar
dizia. Hábil general, valente
soldados da sua hoste, que
n’um só sentimento:— o Amor
Liberdade
nação—,
Firme nas suas
aífrontava perigos para
príncipe natural,
militar, confiado
rija
que nem o ouro o fascinava, nem os pode-
efie,
crenças, arriscava a vida, a palria
De
dhonra.
—
,
n’um só
fim:
—
a
pátrio,
Indedepen-
praticou heroísmos, que ainda hoje se
dos mais disiinctos heroes portuguezes, deve, nunca
a
quem
emquanto
existir a
nos referimos, está
assente
será olvidado
palavra— Portugal.
O sobre
primeiro padrão,
uma
forte
rio até perto
a
que
ella,
longo da
do outro padrão, de que acabamos de
sa-lhe encostada a estrada da
para
já
muralha, que corre ao
tem
a
Barquinha e na
seguinte inscripção:
primo rege Sebaslo.
.
.
O
resto
foi
margem do fallar:
face,
pas-
que olha
Hoc exorsus Impus
>>ub
picado, por isso mal se po-
85
A
de decifrar. claramente
parte da
ali
inscripção
vê e que
se
em
em
que ainda hoje
latim,
portuguez
—
Esta obra
diz:
foi
começada no tempo do primeiro rei D. Sebastião, mostra bem que aquella pyramide é uma memória erguida ali a El-rei D. Sebastião, e
commemora
uma
o começo de
Aquella obra não podia ser outra senão
obra.
muralha que
a
ali
se vê, mandada fazer por D. Sebastião, talvez na occasião em que esteve em Thomar antes de partir para a desastrosa cam-
panha dWfrica; e de grande utilidade para os habitantes da villa
um
devia ser para merecer que ao seu auctor se levantasse
padrão. Realmente
vamos lo
ver.
A antiga estrada nome de estrada
Lourenço do
de bastante importância, como
ella
foi
e ahi
começava
a costear o
Piolhinho, e encurvando-se
para
sempre encostada aos montes pelo naquclle
local linha
Thomar, conhecida pe-
entre Santarém e
Santarena, vinha ao
um
onde é hoje
sitio
S.
monte, chamado Outeiro a
sitio
esquerda
chamado
e seguindo
as Carreiras;
muito inferior ao que hoje tem,
nivel
o que se prova pelas rasões que mais adeante aprasentaremos; eslava
por
isso sujeita
intransitável
das
durante o
Santarena;
Piolhinho
mas
inverno;
um
Carreiras havia
Outeiro do
ás innundações do rio,
desvio,
mais
e* ia
é
verdade
uma
tornando-se
que ao
subia o
adeante
melter na
estrada
ladeira era muito ingrime e porisso
a
e até perigoso o transito por aquelle atalho; era
absoluta
necessidade
que
se
fundo
que
calçada
remediasse
o
dillicil
por isso de
inconveniente
occasionado pelas enchentes, o que só se podia conseguir zendo-se o que se elevada
a altura
fez:
tal
uma
forte
muralha na
margem
do
fa-
rio,
que as maiores enchentes não podessem
transpol-a; esta muralha servia de resguardo ao rio e de
paro ao aterro para elevar senta; ainda n’aquelle
a
am-
estrada ao nivel que hoje apre-
monte se mostram vestígios das exca-
vações, que n’elle se fizeram para remover a terra para o leito
da estrada.
mudasse
E’ provável
a direcção
que n’aquella occasião também se
da estrada
antiga,
fazendo-a
seguir
em
recta para a
linha
villa,
na direcção que hoje tem; o atalho
pela calçada do Outeiro do Piolhinho tornava-se desnecessário
com
e o terreno por onde segue a estrada, juntamente
Varzea Grande, incluindo
a
parte que
foi
ao conde de Thomar, constituía o rocio da
villa;
uma
aos freires de
vinha que havia
ali
logradouro;
um olival, que Christo, dando-lhe em compensação perto e annualmente um certo nume-
para o tornar mais extenso mandou pertencia
doado por
foi
Manuel aos habitantes de Thomar para seu
I).
toda a
aforada pela camara
arrancar
De todo aquelle umas carreiras de oliveiras, que havia ao poente, pertencentes a Pedro Nunes da Gosta, asquaes depois por testamento de seu filho, Manuel Nunes da Gosta ro d alqueires d’azeite da tulha do mestrado.
vasto terreno só se excluíam
passaram para terreno
a
Santa
fazer o transito por ficar
Sendo aquelle
Gasa da Misericórdia.
publico é muito natural
em
que por
começasse a
se
ali
vindo desembocar á
linha recta,
rua dos Estaos, que já então tinha seu principio, por
licar
por
elle e
onde
falleceu a 9 de
alguns escriptores. outros porém vento de Christo. Foi
também
as arcadas, que ainda boje se
lá exis-
mandados
tirem os estaos ou paços reaes de D. Duarte,
edi-
setembro de 1438, segundo
dizem que morreu no Con-
este rei que
mandou
construir
observam na rua dos Arcos,
a
que deram o nome: ficavam então na praça publica, que, co-
mo
já
dissemos, era
ao fundo da rua da Graça;
cadas eram bazares ou boticas, como então se i
nem parece deverem
que eram
os principaes commerciantes,
passaram para
d’ellas recebia
que
3o ou 40
titulo esta as
lloje estão
todos
chamava
ter outra serventia) destinados aos judeus,
as suas mercadorias, pagando
riormente
aquellas arlbes
a
réis
uma
exporem
ali
á
venda
certa renda ao rei; posle-
confraria
da
Misericórdia,
que
por cada arco; não se sabe por
houve; talvez fosse doação
transformados
em
por D. Manuel,
feita
casas
particulares e do
andar que tinham por cima, só resta uma janella na rua dos Arcos, o mais desapareceu
com
as obras que
ali
Entre os dois padrões, de que acabamos de
se
leem feito. veem-se
fallar,
— 87 no
rio as minas dc uma ponte, denominada das Feraçoreamento do rio tem-a quasi coberta, mas ainda se descobre parle dos arcos; passa agora por ali o cano, (pie conduz a agua de Marmelaes para a cidade. leito
do
rarias; o
Pinho Leal, no seu
«Portugal Antigo e Moderno» diz que houve antigamente uma fabrica de fundição de pertencente a Henrique do Quental, que foi quem man-
n aquelle ferro,
local
dou fazer aquella ponte e
a
sua estatua, que ainda boje
lã
se
vê, já decapitada.
Seja-nos permittido divergirmos da sua au-
ctorisada opinião.
Que
de fundição de
ali
houvesse noutro tempo
uma
fabrica
parece verdade, porque o nome que ainda
ferro,
se dá áquelle sitio o está indicando; que Henrique do Quental fosse o seu fundador,
que
a estatua mutilada, que ainda boje mandada fazer por elle, tudo isto póde ser; agora que mandasse construir aquella ponte, n’isso é que nao podemos acreditar. A ponte, hoje chamada das Ferrarias,
ali
se vê seja a delle e
ê decerto muito anterior á monarchia portugueza; poderia ser
reconstruída ou reparada por
elle, mas não edificada. Os romanos ligavam as suas cidades por vias, (estradas) com seus marcos milliarios, seus aqueductos e pontes; entre
Scalabis ou Prmidium Juli (Santarém) e Cnnimbrica (Coimbra), tinham mais duas cidades, Concordia e Urbis N<ibw (Nabancia), todas deviam estar ligadas por vias romanas com pontes nas
que atravessavam. Perlo do lugar do MarmeMagdalena, no sitio chamado Ramil,
ribeiras e rios, leiro,
na
mandou sobre
freguezia da já
ha muitos
a ribeira
annos
da Bezelga
a
uma
camara de Thomar construir ponte de pedra que foi assente
nos fundamentos d outra, que antigamente ali existiu; decerto no tempo dos romanos e devia servir de ponto de passagem
romana, que
á via
de Concordia
n aquella ribeira, que só
sagem, a
em d
elles
deviam
durante o inverno é de ponte,
ter sobre este rio;
barcos;
elle
tinham uma
senão
vinha á Nabancia;
com muito mais
se encontra
difficil
se
pas-
forte rasão
decerto que o não atravessavam
era-lhes indispensável e ali
ora
em nenhum
outro
ponto
vestígio de qualquer ponte.
No
— 8H — logar onde está a que hoje liga os dois bairros da cidade não
podia ser, porque segundo todas as probabilidades,
a linha
que
segue esta ponte devia passar ao norte da Nabancia; ora vindo a estrada do sul, não bavia de ir dar uma volta para passar ao norte da cidade, quando mais natural é que a atravessasse, ao passo que a ponte das Ferrarias, que não é perfeitamente
perpendicular ao eixo do
mas apresenta uma
rio,
ligeira obli-
quidade, parece estar indicando o centro da antiga cidade: por tanto era por
ali
o caminho
mais curto e devia ser aquella
a
ponte romana.
A
estatua mutilada, que ainda
ser de Henrique logar,
do Quental,
ali
se vê boje, e
não occupou
onde agora se encontra. O
leito
do
não para derivarem as aguas para
marginaes, o que seria
um
a
diz
mandaram
rega dos
o
devido
rio elevou-se,
principalmente aos açudes que os frades n’elle truir,
que se
primitivamente
cons-
prédios
grande beneficio, mas para
servi-
rem de motor aos seus moinhos e lagares; attendendo só aos seus interesses, sem se importarem com o prejuízo alheio, na construcção dos açudes, que mandavam fazer, não se tomavam as devidas
precauções para
damnos, que
evitar os
da
falta
delias resultava; não se deixavam ladrões bastante espaçosos
para darem sabida ás areias e se algum, lhes
mandavam
a levanlal-os
abrir, os seus rendeiros
em
bem que
insuíliciente,
não se encommodavam
occasião de enchentes; resultando da inobser-
vância d estes cuidados, que deviam ter, que as areias se fo-
ram accumulando
e fazendo subir o nivel das
os prédios visinhos sujeitos
a
innundações,
nas enchentes, innundações, que aqui
aguas, ficaudo
mesmo
nas peque-
não beneficiam os ter-
como em outras partes, cobrindo-os de espesso e fértil mas antes prejudicam, porque as aguas não se espraiam e manteem em romanso durante muitos dias, deixando depositar as matérias ferlilisantes, que trazem em suspensão, como nas margens do Nilo e mesmo entre nós nas lezírias do Tejo, do Sado, Mondego, etc.; mas a pouca demora das aguas turvas renos,
nateiro;
sobre as terras, devido á pequena extensão d este
rio e á
sua
— 89 — rapida corrente, não beneficia, prejudica arrastando o terreno
em
aravel e deixando muitas vezes
Foi preciso que se estabelecesse
ção de levantar os boje
mesmo
ladrões
em
seu logar areia e cascalho.
como
lei
municipal a obriga-
oceasião de
enchentes, o que
cumpre devidamente.
se não
A elevação successiva do da ponte, a
a
leito do rio fez com que os arcos que nos referimos, se fossem obstruindo de modo
não darem a suiliciente passagem ás aguas, fazendo-as trans-
bordar para
a estrada e
ponte. Se já o estava
vindo por fim
quando
ali
mesma
a inutilisar a
se construiu aquella muralha
não podemos aflirmal-o, é provável que sim; mas se o não ficou-o naquella oceasião, porque o leito da estrada
estava,
passa talvez cinco metros acima do pavimento que devia ter a ponte, hoje arruinada e ella,
por se achar
Henrique do
a
não ha meio de communicação para
muralha
encostada ao
Ouental mandou,
rio.
não diremos
Fortanto, se
construir,
mas
reparar aquella ponte para serventia da sua fabrica de fundição
de
ferro, foi
muito antes da
construcção da
natural que a estatua estivesse
entrada da ponte
veram
d’ali e
e,
em
baixo na
muralha; é pois
margem do
quando fizeram aquella muralha,
collucaram sobre
r^o
ella
a
rio á
remo-
no logar onde hoje está.
Vo
\
Jeronymos, Alcobaça, Ba-
afia,
Santa
talha,
&
de Christo
Cruz, o Convento
monumentos que relembram antigo e outros, são
“esplendor; ao admiral-os excla-
-ma-se: Portugal Sim,
foi
Portugal
grande
um
porque no espirito de
uma
surgiu
a
rei
idéa gigante: o ca-
minho para as Substanciava
I
grande
foi
indias;
então o
nação.
Nos estaleiros de Lisboa começa o cavername das naus, que
lá
a
erguer-se e
a
travar-se
hão de chegar, que nos hão de
abrir as portas do Oriente, d’esse
vislumbrante, onde os raios do
mundo então
sol,
explendor, se rellectem no ouro, se
que
ali
phantastico e
brilha
com maior
refractarn nos topázios e
diamantes. As martelladas dos conslruclores echôam por toda a Europa.
Veneza convulsiona-se
concorrência; as outras nações rei,
que teve
ideal;
a
e agita-se,
porque
teme
pasmam ou não crêem.
a
Esse
maravilhosa concepção, não viu realisado o seu
uma morte prematura roubou-lhe
a
gloria de tão eleva-
da empreza; mas não lhe aniquilou o pensamento, porque este continuou-se no seu successor, D. Manuel, o Venturoso.
Os trabalhos proseguiram; construiram-se as naus, equise e vogaram por esses mares até então desconhecidos;
param
dirigiam-as hábeis e destemidos capitães, guarneciam-as dextros e
ousados marinheiros, que, impávidos, affrontam as
vencem todas
perigos,
mentas, resistem aos
Então o Occidente
e lã vão por fim abicar a ignotas paragens.
com
topa
e
uma
tor-
as difiiculdades
o Oriente. Rompe-se allim o dique que os separava
riquezas deriva
corrente de
d’onde o
lã
se eleva
sol
para o ponto onde declina. Aquelle
rei,
como
uma nação de
chefe de
valentes cobi
ir-
se-hia de brilhante gloria, se acções ruins lh’a não
houvessem manchado; se n’aquella alma varonil não entrasse o veneno da serpente, que fascina e entorpece;
se aquelle outro
ser,
que
nos completa, mas que muitas vezes nos desvaira e perde, não
houvesse influído no seu animo, induzindo o barbaras e cruéis, que o deslustraram
que governava, rico,
—
a
e
a praticar
prejudicaram
a
acções nação,
expulsão dos judeus, então o elemento mais
mais instruído e mais activo da nação.
A expulsão
da
de D. AlTonso,
como condição do contracto
raça judaica,
de casamento com Ü. filho
Isabel, filha
de
L).
do
rei
de
Castella e viuva
João n, acceite por aquelle monar-
cha, talvez mais pela ambição do que pelo amor, provou
o seu genio volúvel,
a
pouca firmeza do seu caracter.
primeiro dado aos judeus
a
liberdade que seu ante-successor
também
lhes havia roubado, roubando-lhes
uma
portal-os para
onde
ilha,
bem
Tendo
a
os filhos para ex-
maior parte d
elles
pereceram
victimas do clima ou devorados pelos crocodilos, tornou se depois
seu inimigo rancoroso, chegando da maioria e até de D. a
declarar que
de cumprir
com
a
em
conselho, contra a opinião
Fernando Coulinho, Bispo do Algarve,
se não importava
com o
direito, que, se havia
sua vontade e praticando depois
aquellcs infelizes,
a
mais
vil
em
Lisboa, para
traição; por isso,
quando se
exaltam e patenteiam as glorias da nação portugueza n aquel-
— 93 — la
nome do
epocha, deve esconder-se o
Sim, Portugal côrte,
rei,
que enlão governava.
grande, porque Portugal
foi
no clero e na nobreza,
o que trabalha e produz, considerava se como abstracta; só se concretava
chamado ás
fileiras
resumia-se na
parte mínima, da nação; o povo,
a
em numeros
do exercito para
ir,
uma quantidade
definidos lá
quando era
longe, a paizes es-
tranhos conquistar gloria e riquezas, de que não compartilhava.
Tudo vinha do Oriente.
um
rava
facho de luz,
Em
cada navio que voltava fulgu-
brilhava o esplendor das victorias.
com
salões dos nobres atapetavam-se
Os
as tapeçarias da Pérsia,
adornavam-lhes as paredes ricas colgaduras de vistosos selins
de Damasco; guarnecia-os riquíssima mobilia de sandalo, ébano, teca e outras madeiras preciosas, que de lá vinham. Âs lhamas de prata e ouro orlavam os roupões e os rebuços dos nobres
damas arrastavam
fidalgos; as
as
ílammantes sedas da índia;
as pérolas de Ceylão, os topasios, os robis, as esmeraldas, os
diamantes cingiam-lhes davam-lhes
em
em
braceletes os niveos pulsos, circum-
cofiares os graciosos collos.
Os inebriantes per-
fumes do Oriente espargiam-se com profusão pelos aposentos dos
ricos.
O
luxo, a grandeza, o fausto
tempo os paços dos ricos
reis,
commercianles.
invadiam ao
E o povo
tinha
fome
!
Tinha fome por-
que lhe roubavam os braços mais validos para campos; forçavam-os
mesmo
os palacios dos nobres e as casas dos
a trocar
agricultar os
o alvião ou o arado pela espada
ou pela lança para irem ás conquistas. Esse roubo á mão armada, que, praticado em pequena escala por miseráveis salteadores,
determinado as mais das vezes pela
fome e pela
ignorância, conduz á ignominia e ao cadafalso; ordenado pelos reis, praticado
por exercilos, dirigido pela sciencia e determi-
nado pela ambição e cobiça dos poderosos, conduz á gloria; abrilhanta, não obscurece, eleva, não deprime: tal se nos apresenta o modo de ser d’essa entidade abstracta, chamada moral, sem base firme na natureza, sempre condicional, sempre relativa e modificada
conforme o modo de ver ou
a indole
ainda das epochas ou do estado de civilisação
dos povos e
em que
se en-
— 94 — contram. E
iam, algemados pela obediência, arrastados pelo
lá
dever, esses pobres
mu-
aldeãos, abandonando paes e mães,
lheres e filhos a longínquas e inhospilas terras verter o sangue
elaborado
em
com
o producto de seus árduos trabalhos campestres
holocausto ã vaidade e á ambição dos poderosos, não d’elles,
que
nem, no seu estado de rudeza e simsequer podiam comprehender. E aquelles que esca-
não possuíam,
a
plicidade,
pavam ás mãos dos que defendiam o seu voltavam de
lá
solo e os seus haveres,
arruinados
estropiados,
pelo
trabalho e pelo
clima e iam succumbir á miséria nas suas pobres aldeias, votados
como ainda hoje mas empobrecia-se
ao mais criminoso despreso,
Enriquecia-se o erário,
enorme desequilíbrio não podia deixar de
acontece. a nação.
resultar
Deste
um
cala-
clysmo e esse cataclysmo mais tarde deu-se; porque o ouro,
que
ao tliesouro publico não tinha
allluia
a aplicação,
que
uma
boa administração devia dar-lhe; era pela maior parte empre-
gado
em
já existiam,
rar-se
em enriquecer e adornar os que vida de uma nação houvesse de encerbem estar d um povo dependesse da
construir conventos,
ali,
como como
se a se o
grandeza e magnificência d’aquelles monumentos, das regalias e
commodos dos
frades,
estarem para ahi hoje de pedi
a
sem
aplicação alguma
burilada, transformada
simos porticos,
rem
que ns habitavam. E para quò? Para
bem
em
util
esses montões
soberbas arcadas, riquís-
cinzelados capiteis, unicamente a aliesta-
o elevado merecimento artislico dos obreiros, que os
balharam e
mandaram
a
má
tra-
orientação, o cego fanatismo dos reis que os
construir.
E Portugal
foi
grande
!
Sim, grande
no arrojo e ousadia
de seus soldados e marinheiros; grande no valor e intrepidez de seus capitães; grande ainda na idéa colossal de dominar os
mares
e os continentes e
grande na fama; entidade moral que
uma nação sem, comtudo, porque no mundo real não se
eleva o espirito de
a tornar
mate-
rialmente
vive de
ideas,
feliz,
vive se do que praticamente pode produzir o nosso
bem
estar;
Entre aquelles monumentos avulta o Convento de Christo;
está
no
ali,
um montão
alto d'aquelle cerro;
uma população
tinadas ao ocio, a dominar
cança no trabalho.
afadiga, que se
de riquezas des-
que se
laboriosa,
Esterilisaram-se
tos milhões de cruzados, adquiridos á custa
ali
mui-
de tanto sangue,
de tantas vidas, suspiros de viuvas, lagrimas d orphãos desvae
multiplica r-se
uma
bem
milhões que,
lidos; aquelles
podiam produzir influencia de
aplicados,
debaixo
esterilisaram-se
da
idéa esteril também, o fanatismo religioso;
querendo na
querendo na grandeza de suas conceptão grandiosas obras, elevar-se ao infinito,
terra crear o paraizo,
em
ções, realisadas
impossível de attiugir.
Convento de Christo
E’ o
um
dos mais
preciosos
monu-
mentos que nos ficaram d’aquellas epochas. Tendo seu principio n 'aquelles tempos rudes, em que dois povos de raça diversa se debatiam
em
um
lucta sangrenta,
reconquistando o terreno
que lhe havia sido usurpado, outro defendendo palmo a palmo esse terreno, que com rasão considerava já como seu, porque o havia herdado de seus havia introduzido na
que d'antes eram desconhecidos, devia aquelle por uma
um
fortaleza,
por
um
Em
1
ICO o mestre da
lançou,
como
já
edifício
uma
segundo
a religião
inimigos da
fé,
Dentro da
mais
polygonal,
bem
um
infleis,
se edificava
se construísse
cício e manifestação
ficar
os primeiros
que ainda hoje
da
um
foi.
um
fé.
de
religioso,
servir a Deus,
deixar de que,
castello para
combater os
sanctuario para exer-
Assim se
cidadella e perto da torre de
resguardado, ergueu-se
fundamentos
se vê. Chefe
principio
r.ão podia
também um
mesma
ali
por norma
que professavam,
mesmo tempo que
Assim
dos Templários, D. Gualdim
Ordem
associação d’homens ligados por
tendo por divisa combater
começar
de refugio e de defesa, por
logar
dissemos,
d aquella valente fortaleza,
ao
melhoramentos,
baluarte, opposto á aggressão dos inimigos.
Paes,
agricultado,
antepassados, havia-o
agricultura e nas artes
um
fez.
menagem para
edifício
polyedro regular de desesseis faces,
de forma
com
pare-
des de cantaria espessas e resistentes e ainda para maior so-
—
9G lidez, a
taram
cada aresta formada pela juncção de duas faces encos-
um
gigante feito de fortes cantos
talhados, justapostos
e solidamente ligados, indo todos terminar no plano superior, <|tie
era coroado dameias. Especie de reducto ou fortaleza no
exterior;
no interior sanctuario sagrado,
guerra deviam transformar-se ção; porque
lã
em
onde os gritos de
em
preces, o rancor
devo-
fora nas mesquitas dos mouros, quando os sectá-
em fervorosa mesmo pensamento, elevados pela mesma impulsão, unificados na mesma idéa, assim juntos deviam voar ao infinito, ao ignoto em busca d um positivo desconhecido, mas real, principio inato do rios
do Coran ao mesmo
tempo
se
prostravam
oração, os espíritos d’uns ed’outros, unidos pelo
Universo, Deus, perante o qual desaparece a desegualdade en-
homens e com ella a baixeza das paixões humanas. A uma na essencia, embora diversifique nos cultos, que tão variados podem ser quanto o tem sido e ainda hoje o é o grau de civilisação dos differentes povos e segundo também a influencia d’esse poderoso modificador do sentimento humano, a crença, mais ou menos arreigada e muitas vezes tão edentiíicada com o nosso ser, que nem mesmo o raciocínio tre os
religião é
pode desvanecel-a. Lã dentro d aquelle recinto, devia construir-se to,
cm
construiu se,
um
destinado ao culto
altar para as
geral era e ainda é uso
exterior obedecia a
um
e estudado lã fora, por
mesmo
cerimonias do
mas não o encostaram fazer-se; a
a
religioso,
uma das
faces
forma dada
outro plano, desusado aqui. certo no Oriente,
cul-
como
ao corpo
mas
visto
d onde o fundador
d aquella obra havia trazido os delineamentos d elia. Por isso,
concêntrico ao polygono exterior, traçaram outro
dos lados,
um
octogono
regular; dentro de cada
com metade
um
dos ân-
gulos d este octogono levantaram supportes de cantaria, apre-
sentando faces parallelas, duas a
cada
drico,
uma
a
terminando todas
firmam arcos,
a
duas na direcção dos lados;
uma columna de fuste cylinem capiteis singelos, sobre os quaes se que chamam bysantinos, que, lançando se de
d estas faces ligaram
— 97 — uma
uma magestosa
para outra formam
arcaria, cujos arcos es-
iüo symetriea e regularmente dispostos; sobre cada
um paimo
levantou-se estreitas
de parede
lisa
um
deites
onde estão abertas frestas
€ compridas, que com escassa
luz illuminam o interior, apresentando o todo oito faces planas, correspondentes a cada
um
d’aquelles arcos.
No
lado interno do supporte talharam
uma
no externo tres faces, uma também plana e duas côncavas, resultando estas do face plana e
corte das arestas, que se fez
em
meia canna; ás
nas ligaram-se
mesma forma muito mais
faces.inter-
columnas da
das outras, mas elevando-se
aitas,
até onde, sobre seus capiteis
se firmaram arcos de circulo,
que
quadrantes,
vão
em um fecho
terminar
sustentam
estes
todos
central;
uma
arcos
abobada, que apresenta o aspecto de
um
com
concavidade
a
hemispherio ôco
da para baixo.
senho
antigo
vè-se
sobre
Templários
(Em um
e suas a
uma
volta-
de-
copias
capella
cu pula
dos
em
forma de pyramide, tendo no vertice a cruz
lado
uma
torre
de Christo; ao
com
sinos, cujo
coruchéu,
muito aguçado,
também
mesma forma
da
e
pyramidal, tem na extremidade uma egual cruz. Não pode ser este desenho a reproducção fiel da forma exterior da primitiva capella dos Templários, porque lá
não havia sinos, embora a cruz podesse ser substituída: aquella pyramide que o desenho mostra é cônica, quando, sendo formada pelo prolongamento das paredes do octogono, devia
— 98 tambem ser maior, vem
base tem
octogonal; a sua
um
aquellas oito columnas interiores
com
seus
muito
perímetro
serviam
quasi encoslar-se ás ameias; e para que
capiteis se
lâ
não
bavia abobada a sustentar, indo as paredes laleraes convergir
n’um ponto?
(jue aquellas
natural
Ii’
cupulas fossem
dando
posteriormenle para ornamentação
um
certo
feitas
realce á
rnonotona arcuitectura exterior da capella; depois foram demolidas,
provavelmente quando se construiu o corpo da egreja.
Ao meio das
faces planas exteriores ligaram
também columnas
de egual forma e sobre seus capiteis firmaram arcos abatidos, que, galgando o espaço eomprehendido entre o corpo interior
foram assentar sobre os capiteis de eguaes co-
e o exterior,
lumnas, que encostaram aos ângulos internos do polyedro exterior;
como porém o
exterior tem deseseis ângulos e o interior
só oito, ao meio das faces d’este, por cima
dos arcos, embe-
beram na parede uns cachorros de pedra, deixando parte que se salienta
em
se firmarem os outros oito
do centro para
a
fica
a
um
chapéu de
abobada circular,
sol aberto, listes
arcos sus-
que cobre todo o espaço que
entre o corpo externo e o interno e parece ter sido des-
giosas,
que
se celebravam
no
dali ás cerimonias
que vem
a
luz
rito
reli-
que se havia erguido sob
altar,
dos arcos d aquelle recinto polygonal, do que olha
o Oriente, segundo o é
ali
como saem divergentes apresenta aquelle todo uma forma,
tinado para os Templários assistirem
um
uma
arcos; e,
peripheria,
que se assemelha tentam uma
fóra
forma de capitel de columua para
pai a
dos antigos maçons, porque do Oriente
Aquelle
recinto,
que surprehende pela sua
magestade, era o sanctuario sagrado, correspondia das mesquitas arahes; era
ali
a
mirhab
que se celebravam os mysterios
da religião, que professavam; era o perystillo do Paraíso, onde
sobre os mysticos, os inspirados desciam as graças
que
elles
tantes.
em
com
a
celestes,
sua benção espargiam por todos os circums-
que as recebiam cheios de
volta d aquelle sanctuario,
fé
Deviam os Templários
cujas areadas se abriram para
que todos pudessem contemplar as cerimonias que dentro de
—0 — !)
praticavam,
elle se
assistir a ellas
de
vestígio de bancadas, talvez vestidos
porque
pé,
em
trajo
costados ás suas lanças, os seus mantos
não
lá
lia
de guerra, en-
brancos
a
alvejarem
e os seus polidos elmos a reflectirem a luz das tochas; calados,
porque quando
silenciosos,
emmudece. Sobre
a bocca
um
bada, havia
cima
Uma
alma escuta e o coração percebe,
aquelle sanctuario, por cima da abo-
eirado destinado á defesa, cuja peripheria era
Km baixo a paz do crente, do guerreiro. Modalidades do espirito humano. só porta dava ingresso áquelle oratorio, era voltada
guarnecida
em
a
d ameias de cantaria.
a lucta
ao nascente e era
defendida por dois fortes
um
baluartes,
á
esquerda de quem entrava, communicavam um com o outro por um passadiço que ainda lá existe por cima direita outro á
em janella; ao da direita panno de espessa muralha, que ia travar-se n um reducto proximo da torre de menagem; de modo que pelo
da porta primitiva, hoje transformada ligava-se
um
adarve d’esta muralha havia
communicação entre
facil
com
e o eirado da capella, que communicava
a torre
os baluartes, que
lhe defendiam a porta; assim ligados auxiliavam se mutuamente, de modo que uma não podia render se sem que a outra fosse subjugada; davam, por assim dizer, as mãos estes dois sus-
tentáculos,
um
o da honra, outro o da
ção; porque estas duas
unidas que
num
ideal,
positivo,
uma não pode indiscutível,
bem combinada
existir
sem
a outra;
incondicional; é a
que ha de ser dado por
está resolvido; a honra é
uma
fé;
entidades moraes estão por
um
um
a fé
tal
sentimento posto
em
dum
acção por
mas que parece
fora da matéria, actuando sobre as nossas faculdades a
crença
é a
allirmação
problema, que ainda não
força impulsiva ligada ao nosso ser,
tende
liga-
modo
elevar nos, não se sabe até onde;
existir
moraes,
algumas vezes até
ao desvairamento; ambas ellas são idealidades sem realisação tangível no
mundo
real e positivo;
mas ligam
se,
prendem
se,
combinam-se para nos darem sentimentos realisaveis que nos elevam e ennobréeem; separai as é aniquilai as. sem honra não ha
fé
e
sem
fé
não ha honra. A envolver estes dois sancluarios
—
100
— decerto para o norte
para os proteger, eslendiam-se
vando de
um
para o poente até fecharem
lá
e deri-
circuito, fortes
pannos de muralhas, que, pelas obras que posteriormeute se
em
fizeram desappareceram ha muito, deixando apenas
alguns
pontos vestígios da sua exislencia.
Os pannos de muralha, que formavam não iam travar-se na capella, não ha
nem
lá
a fortaleza exterior,
vestígio
algum d
plano geral,
o logar d honra; ultimo logar
d’ali
lambem o
o chefe dava as ordens e era
em
de refugio, para onde,
caso de
assalto, se
recolhiam os qne
escapavam do combate nas muralhas
riores; tinha quasi
sempre ainda outros reductos
a cidadella;
a
este-
defendei
a,
nunca era exposta á acção directa do inimigo; ora,
com
se estes cuidados havia
mais
isso,
A construcçüo das fortalezas obedecia a um quasi sempre seguido. A torre de menagem era
podia ser.
de menagem, com muito
a torre
um
haver com
forte rasão os devia
sanctuario, logar sa-
grado, que decerto não iam expor á acção immediala do ariete
dos sitiantes. A muralha, que aquelle ia
do poente
pelo lado
sobranceira
recinto, corria
a
um pequeno
subindo até ao cume do monte; só se vè d
na parte proximo ao logar onde se começou
a
elia
defendia valle,
que
uma peque-
construir a nova
casa do capitulo, que não chegou a ser acabada.
A
capella
dos Templários só
lhes servia
cerco, porque, no
tempo de paz nem
muros do
nem
castello
lá
haviam, porém, decorrido
eiles
celebravam os
para o caso de
viviam dentro dos
oífícius divinos.
muitos annos apoz a sua
(piando D. Gualdim Paes teve que experimentar
muralhas, que
ali
Não
fundação
a solidez
das
havia feito construir, para o combate e o valor
da capella para os exercícios espirituaes; se para eiles houve alguns momentos de repouso, durante a lucta renhida, que por
espaço de seis dias,
elle
com
os seus guerreiros tiveram que
sustentar.
Yacub Almansur, então imperador de Marrocos, apasiguadas as discórdias irmão,
internas, preveniu o Wali de
Cordova, seu
Mahomelh Iben Yusef, de que se preparasse para
a
guerra, porque elíe proprio viria para castigar os christãos pelos estragos que lhe iam fazendo nos seus estados da penín-
devastando terras, tomando-lhe cidades e caslellos. Com efleito na primavera de 1190 atravessou o estreito com um poderoso exercito e em marcha rapida dirigiu-se sula,
para Silves,
(
l
Utí sili011
e
se lhe veiu juntar seu irmão
,
andaluz.
Não conseguindo tomar dassallo
com
o exercito
esta fortaleza, dei-
xou ali seu irmão encarregado de continuar o cerco e ellé com o gi osso do exercito caminhou para o norte e atravessou com rapidez o moderno Alemtejo. Algum fim, decerto, levava em \ista e muito natural é que fosse o querer vingar a morte de seu pae, o qual, parece, ter succumbido em Algeziras em resultado dos fetimentos que havia recebido no cerco de Santarém; não atacou, porem, esta praça, como se esperava, e
dentro da
qnal
I).
Sancbo se havia recolhido com os poucos guerreiros que poude reunir; queria.
lalvez
ri
me iro,
p
co
rtar-l lie
as
comiiui-
n
i
ca ções
com
as ter-
ias do norte,
para que
nãopodesse ser rida;
soccor
por
is-
so seguiu pAS IE “° DE
querda do Tejo e
com
P-
puA
foi
’-
0,A'
P AES
alravessal-o,
a
margem
es-
onde melhor vau se lhe
of-
enorme de gente armada cahir sobre Torres Novas, que, não podendo sustentar tão formidáfereceu, indo
aquella massa
vel embate, cahiu rapidamente no poder dos aggressores, sendo mortos ou captivos os que a defendiam. D’aii dirigiram se a
Tliomar
pôr cerco ao castello dos Templários. Deviam estes
a
já espcral-os,
porque Torres Novas não
chegar noticias do que dos os habitantes da ros do castello
o que
e,
lá
villa
fica
longe e
se passava. A’ sua
Por espaço de
durou o assedio, com repetidos assaltos
e,
voação. que
ali
muralha que
coragem
a
decerto, auxiliados pelos se
fica
haviam refugiado, ao
uma
sul,
to-
comsigo tudo
muito naturalmente, levaram
que os Templários repellhm com era própria
deviam
se recolheram para dentro dos mu-
poderam transportar de seus haveres.
seis dias
ali
approximação
á fortaleza,
e valentia
homens
que lhes
validos da po-
lixiste ainda,
no pannoda
poria denominada porta do san-
gue; ou porque o logar fosse mais accessivel ou porque o jul-
gassem menos hem guarnecido,
foi
se tornou mais porfiada a lucta,
dos e porta;
em
massa, forçar
também
fortaleza,
por
que
a
em um
dos assaltos
tentando os arahes. adarga-
foi
tenaz e violento, a defesa
retirar, soffrendo
ter-se pelejado
porque
que
todo o transe a entrada por aquella
porém, se o assalto
heroica, porque tiveram
devia
a
ali
foi
perdas enormes;
com ardor em outros pontos da
multidão dos inimigos era grande e devia,
isso, circuradal-a, ao
menos com
diversos pontos as forças que
a
o fim de
guarneciam,
distribuir por
que assim
divi-
didas oíTereciam menor resistência; ora, sendo certo que o nu-
mero dos Templários
era muito diminuto e o perymetro a de-
fender muito grande, claro está que os habitantes da
prestaram valiosissimo
auxilio,
combatendo
a
villa
lhes
seu lado
com
egual energia e valor; mas então como agora o general é sempre
quem vence, por nem sequer se
isso as chronicas só faliam dos
tello
Templá-
Como
referem ao povo de Tliomar.
rios e
o cas-
para o norte e poente não tinha defesa natural tão segura
como para
leste e sul, por
não ser para aquclles
dois lados
escarpado o terreno, deviam aquellas duas faces ser defendidas por altas e fortes muralhas, tendo por anteparo largos
'tão
o profundos
que não
foi
Ao cabo de
fossos,
de que já
não resta signal
algum; tanto
por algum d’aquelles lados que tentaram o assalto. seis dias
de
continuo batalhar, os serracenos
le-
— vantaram o cerco
e retiraram.
eirado dos castellos, ainda
com
nossos desfilar e sumirem-se
lã
tuosa impellida pelo vento; não
103
—
Do adarve das muralhas e do as armas na mão, viram-os os ao longe, como nuvem tempessem deixarem apoz si os estra-
gos da tormenta: tallados os campos, incendiadas as povoações. Diz-se que a villa foi completamenle arrazada. Durante o o assedio não convinha aos sitiantes destruir as casas da povoação, porque necessitavam d elias para recolherem os seus gados e as suas bagagens, os feridos, os doentes e as pessoas
não combatentes que os acompanhavam, que, decerto, dentro d elias estariam mais commodamente que debaixo das tendas de campanha. Dada a ordem de retirar, decerto muitos damnos lhe haviam de causar, para se vingarem da morte de grande numero de seus companheiros e do malogrado intento; damnos que os habitantes foram reparando o mais rapidamente que puderam, e dizemos damnos porque não acreditamos na destruição completa,
e destruindo
como aflirmam os
tudo o que
chronistas «arrazando
estava tora dos
muros do castello», sempre propensos ao exagero, como se vê na lapide commemoraliva d este assedio. Ao lado direito, do átrio da egreja, em um muro que ali se levantou, muito posteriormente á edificação da capella dos Templários, porque
onde era vados
passa por
deanle de
porta d aquella capella, estão dois letreiros, grapedra, um em latim e outro em portuguez, que é a
a
em
traducção deste. Diz o primeiro:
EUA DE 1160 REINANDO ELREI DE PORTVGAL DÕ AFFONSO: GALDIM PAES MESTRE DOS SOLDADOS POR-
TVGUEZES DO TEMPLO CÕ SEVS SOLDADOS: EM O
PRI-
MEIRO DIA DE MARÇO: COMECOV A EDIFICAR ESTE CASTELO: POR NOME TOMAR: O QVAL CASTELO O DITO REI
OFEKECEO A DEOS E AOS SOLDADOS DO TEMPLO
— ERA
DE 1228 AOS 13 DIaS DE JULHO: VEO ELREI
— 10 ',
DE MAUROCOS TRAZENDO DE
DE CAVALO E Õ00
4<)0 V.
V.
cercov este castelo por G dias: e des-
pe: e
TRVIO QVATO ACHOV FORA DOS MVROS: E AO CASTELO: E AO DITO MESTRE CO SEVS SOLDADOS LIVROV DEOS
DE SVAS MAÒS: E O MESMO REI TORNOV TRIA CÕ INVMERAVEL DETRVMENTO lí
ESTAS
—HESTE
PORTAL Q VAI
P.
A
SVA PAM DOS IIOMES E DAS
A
P.
HE O LITREIRO Q ESTAVA SOBRE O A
OS PAÇOS DA RAINHA E HE O TRES-
LADO DO LITREIRO ABAIXO.
iílC
(É
IX
;
trissimo rrqr
0312
;
portugalis
;
portuqaleusi
uus
um
;
fratribus suis primo l)o
c
rrrobtulit:
i>ro
rt
;
CC; XX: 0232; rrr
í»r
illaroqis
qingenta
milia
;
prr
istut»
ser;
;
rrtra
;
inuruin
iUaqistrr í»r
rt
;
brstiarum
;
cu
tcrcio
peíutum
;
lurs
;
rt
inurnit
suis
rt ;
;
cccc
;
;
rastrllu
;
suis
ipsr
;
rqito
;
íirleuit
;
;
;
quantum; prrfatus
rt
;
Drus
rrmrauit
innumrrabili I>rtrimrto
rt
rastrum
liberouit
rrr
í 11
urnit
;
obsríút
rt
;
r;
3ulii
milia
;
prrfatus
qõí»
Crmpli;
;
nonas;
:
íuimis
;
fratribus
cu
;
manibus
palria sua
;
militibus
cum
;
rrpit ríuficarr
(íljomar;
;
Qr>unlí»i-
(Lrmpli
:
manii
;
illus-
;
illaqistrr
;
i)ir
;
Hfonso
;
militum
;
nominr
castellum;
;
reqmintr
;
;
;
in
l)ominu
;
N
esta lapide
commemorativa aflirma se que quatrocentos
mil cavalleiros e quinhentos mil infantes atacaram o castello;
perto de
um
milhão
dhomens
E’ evidentemenle exageradis-
J
simo este numero, e assim como exageraram o numero dos inimigos é muito natural que exagerassem também os estragos,
que fizeram na povoação, porisso estamos convencidos de que ella não foi totalmente destruída; o mais natural é que fosse incendiada. se sabe ao certo a causa d aquella súbita retirada, se
Não
as perdas soffridas nos assaltos ã fortaleza, a esperança per-
numero de baixas no exer-
dida de conquistai a, se o grande
mau
produzidas pelas febres palludosas de
cito,
do Tejo e das quaes se
A
diz
mesmo Yacub
que o
primitiva capella dos Templários
modificada; encostaram-lhe
uma
torre
lhe as ameias,
que eram de pedi
ram
portas (tinha
lhe mais
portas construiram
a,
uma
um coro,
que
os arcos
com quadros com silvados
foi
affectado.
foi
posteriormente muito
com
sinos, substituiram-
por outras de tejolos, abri-
só);
já lá
sua espessura pequenas capellas, teriores
margens
n’esta localidade c nas
n’aquella epocha grassavam
que
caracter,
ao
não
lado d está,
uma
d’essas
metleram-lhe na
ornaram- lhe as paredes
in-
enfeitaram-lhe as columnas e
e altares,
e arabescos, collocaram-lhe
imagens de
santos e prophelas, nas abobadas desenharam emblemas, nas faces das paredes do octogono central pintaram figuras allego-
tudo isto dourado,
ricas;
luzidio,
brilhante; os
ouropéis do
fausto a cobrirem a nudez da singeleza; rasgaram-lhe
um
arco,
desengraçado, sem elegancia; mas embellezaram-o com pinturas a vivas cores; este arco
foi
feito
para
ampliar
a capella,
em um templo; n esse templo collocaram um poseram um púlpito debaixo do arco, ã entrada da
transfoi mal-a
or-
gão e
ca-
pella
dos templários, que ficou sendo capella-mór;
construiram
um
mobilia, que já
lá
ao fundo
côro para os frades, guarnecido de riquíssima
não existe, e
cuja area é maior que o corpo
da egreja, destinado ao povo. Assim foram modificando, ampliando e transformando a obra dos Templários á maneira das
— 100 — necessidades e segundo o estylo da epoeha e o gosto dos reis
ou dos
arcliitectos, a
em
tornar
vastíssimo
quem incumbiam
obras, até se
aquellas
sumptuoso
convento, ou antes diremos
palacio de frades fidalgos, que ainda boje se vè e admira.
Tudo
ali
é grande e bello; grande na forma, bello no pen-
samento. Dentro d’aquelle recinto estã se como milhares de volumes
theca, cujos
escripla cliia
em
ornatos e figuras toda
a historia
dentro o pensamento vagueia pelo
Ali
rudes muralhas
a lueta pela
da nossa monar-
fastígio da sua gloria.
passado;
para poder
homens, que
n’aquellas
lê
independencia e dilacção da patria,
eutão nascente e ainda vacillante, firmando-se luartes
vasta biblio-
pedras, onde está
são as
desde os tempos primitivos até ao
em
caminhar alem;
a constituiram e
e
naquelles ba-
admira o
exforço dos
vè como
consolidaram; depois
crescendo e desenvolvendo-se; porque da extensão dos
(dia foi
territórios e
do augmenlo de riquezas
que
é
ia
emanando o
progrediam sempre
d’aquellas obras, que
desenvolvimento
a
chegando ao ponto culminante, quando lambem as glorias
par,
porluguezas o altingiram. Está
ali
estampado, na magestosa ornamentação da janella
da casa do capitulo, o apogeu das nossas glorias. Esta janella egreja; quando o sol declina, os seus
face poente da
na
lica
raios luminosos, incidindo sobre ella,
dão
que alumia o passado e nol-o patenteia; dois brilhos: o brilho d
um
povo n
um
reverberes de
resaltam
então
passado glorioso e o
luz, d’ali
bri-
que soube graval-o na pedra para tornal-o visível, sempre patente ás gerações vindouras. A arte é o que ha de perdurável, de immorreJouro na
lho da arte,
claro e
vida d
um
o fogo
d
povo;
transforma gio.
na
A
a
artificio,
seriam como mas que breve se aragem dissipa, sem deixar vestí-
grandeza e
que brilha
em
a gloria
sem
a arte
e encanta,
fumo, que a gravando no bronze, burilando na pedra, pintando Iransmitle ás gerações futuras o que se deu de mais
arte,
tela,
notável ifesia ou naquella epoeha; transforma a idéa o
pensamcnlo em acção:
falia
em
facto;
aos sentidos, torna visível e pal-
— 107 — pavel, perceptível pelas sensações o que a linguagem escripta
sò pode dizer ao entendimento. versal, <|ue falia a todos os povos
com vehemencia primindo
a dor,
A
arte é
0
artista,
com ingenuidade e singeleza, com sentimentalismo, ex-
o pesar, a alegria, o odio, o amor, etc. e por todas
todo o mundo.
deixou
ali
gra-
epico da nossa historia. Está u’ella toda
uma
que ornamentou aquella
um poema
em
janella,
m
epopeia, a
sy
epopeia
ças,
bo
li-
q u e
exprimem
d'um po-
um pensa m en to
vo gigan-
Cate mões es.
elevado e
gr an
c re ve u-a
em
uni-
e arrogancia e até
estas formas se faz perceber aqui, alem,
vado
uma linguagem
versos
•s
o
di o-
u
;
m
ca den cia-
c o
dos e har-
penna
moniosos,
outro
o ar t
na
•o
a
m
dura em
4'
e a
b 1
ram o
pedra
a
o
com
buril,
tis ta
ço u- a
r a
m
os is a-
seu
linhas ca-
mesm
dentes
pensar, o
r e gu
gu
bem
1
e
r e s, li
c
seu mes-
a-
mo sentir: torna
m
r a s
Janella da Pasa do Papitulo
patente ás gerações futuras as glorias da sua epocha.
escreveu no papel o seu admiravel poema, o outro
se lèem, o
pliias,
segundo espalha
se
em
livros
desenhos e phologra-
que se admiram.
Alem do que mencionámos ba muito que admirar le
Um
gravou-o
mão em mão em
na rude pedra; o primeiro corre de
que
o
vasto e sumptuoso edifício, não só
quanto
á
n’aquel-
grandeza, co-
— mo
—
IOS
quanto ao merecimento
artístico.
Não entramos na apre-
obras d arte que
ciação das maravilhosas
porque o não podemos fazer por
falta
cos, essa apreciação pertence aos entendidos;
éella ali
encontram,
demais que não
porque os diversos estylos architeclonicos acham se
facil,
em
se
ali
de conhecimentos techni-
muitas partes
confundidos,
nos outros; são obras
começadas por uns
e
em
feitas
como que enxertados uns
differentes
epochas, algumas
acabadas por outros e outras ha ainda,
que longos annos após o seu acabamento soffreram importan-
com
tes modificações
o fim de as adaptarem a outros usos ou
de lhes darem fôrma mais
e
em harmonia com
o gosto da epocha.
A arte, que só pode ser apreciada pelos que a estudaram comprehenderam, é admirada por todos, mesmo pelos que
não conhecem; não é preciso ser entendido na matéria para se fazer reparo no portico d aquella egreja e ficar como (pie a
extasiado deante d’elle, admirando os rendilhados, os relevos, as imagens de santos, ernfim, tudo quanto o auctor magistral-
mente ali esculpiu, deixando o tão bem acabado, tão artisticamente disposto, revelando um pensamento, obedecendo a uma
mesmo
idéa que,
o saber,
habilidade do artista que
a
O
portante obra.
mente
um
mamente
aos profamos está mostrando a intelligencia,
aspecto maravilhoso
com quanto um
capella-mór e
á
em communicação com
o Claustro do Cemitério, obra do Infante só galeria
com quatro
faces,
1).
esculpida
em
cada
com admiravel
um
delles.
este claustro era destinado a leiros
de Christo;
lá
se
ella está
Henrique; tem
em numero
e duas, delgadas, elegantes, cujos cu piteis são
e differente
ulli-
uma
formadas por vinte arcos ogivaes,
que se firmam sobre columnas duplas,
com folhagem
claustro,
lhe esteja encobrindo parle das bellezas.
feito,
Contíguo
executou aquella tão im-
corpo da egreja apresenta lambem exterior-
Como
serem
de trinta
ornamentados
perfeição e delicadeza,
o seu
n’eile
nome
o indica,
sepultados os Cavai
vèem ainda no pavimento lageado
campas, que cobrem os restos mortaes de muitos delles.
gumas com
letreiros para
que não se olvide o nome
as al-
e a qua-
— lidade do que
repousa, desde que deixou de agitar-se n’este
ali
onde o ser humano passa como o meteoro,
cyclo indefinido,
que brilha
e alumia,
como
a
tempestade, que assusta e destroe,
ou como tenue nuvem, que corre sa,
nem
porque
—
109
nem obscureceu
agitou
desapercebida pas-
ligeira e a
se movia. Terminada a sua rotação todos
onde
atmosphera,
mergulham nas pro-
fundezas d’esse abysmo insondável, onde todos os brilhos se apagam, todas as vaidades se somem, todas as vontades se
sem que possam
aniquilam;
não deixaram
ral-os, se cá
letreiros
ou epitaphios
commemo-
quaes se per-
feitos notáveis pelos
petue a sua memória. «E’ a especie humana que deve ser.
ella
mesma, o monumento
que
vivo da gloria dos
homens
illustres,
produziu. (James Hervey)».
Porém, nem todos descem das glorias mundanas, que
erguem
rer perpetuar,
se
campa
como
resto
alguns leem a fatuidade de
que-
á
tumulos, construem se
riquíssimos, faustosos alguns, para
apoz
podridão. Vanilas vamtatum,
se encerrar o que fica
que duram?
terra e de argila o
consumirá:
traçou sobre o
estes
(Ecclesiastes).
«Todos estes monumentos de
0
vòo dos annos
caracteres que
bem
uma penna
mármore serão em breve apagados:
a
depres-
de ferro
columna
de triumpho desmorona-se, a estatua
o arco
bronze morre
omnia vanilas.
et
Sim, vaidade, loucura humana.
quebra-se.
ali
mausoléus
essa coisa infecta e repugnante, pasto de vermes,
a vida;
sa os
rasa; ainda
mesma sob
de
do tempo. (Os Tumulos, d Hervey)». Os seguintes versos do bello poema de M. Fonlaine La ropidilé de la Vie, traduzem o mesmo pensamento, dizem
a
ella
mesma II
o dente
verdade:
a péri ce Grand, dont 1’orgueil imbécile
Végéta stdxante ans pesamenl mutile.
En On
vain,
pour délivrer sou
flechit les
beaux
arts,
oiiibre
du tombeau,
on arme leur ciseau.
Son ombre errante au gré de
la
main qui
la
guide,
Reparoít sur sa tombe, appuiée et stupide:
Le temps attaque encor tous
Amasse
et
monlre en
les
noms que
1’orgeuil
foule autour d’un vain cercueil.
—
110
O
-
ser individual desapareceu d
existe,
nem mesmo
a
porque o eu
ali,
jã lá
não
forma typica da especie a que pertenceu
pode conservar por muito tempo, porque se esphacella e decompõe. O
tpie é
então que dentro daquelles riquíssimos ja-
zigos,
envolvido na
guarda
?
pompa
e no luxo, tão
Gazes deleterios, que
cautelosamente se
expansiva ou
pela sua força
pela sua acção chimica,
rebentam on corroem os hermetica-
mente fechados caixões,
[tara
onde
téria bruta,
se escoarem para a atmosphera,
os colheu e os organisou. Depois que
a vida
a
fica ?
A ma-
ossada, substancias terrosas, carbonatos e phos-
phatos calcareos, que, depois de terem perdido toda
a
matéria
organica, que os impregnava, se pulverisam. Memento, horrw,
guia pulvis
es et in
homem, que gélica,
indiscutível,
em pó
Pulwris
unidas n
um
te
ixiijui jaclu
leis
compressa quiescenl. (Virgílio).
jacto de humilde pó». Dara
Estas
descansarão
espíritos e estas tantas contendas
quê tantas fadigas por
heroes, a magestade dos reis, tudo termina a soíTrer,
Ui
da natureza.
htvc cerlamina tanta.
triumphos tão passageiros? A fortuna dos ricos, Desgostos
te,
has de tornar. Verdade evan-
porque deriva das
molus animorum alqne agitações dos
Lembra
pulverem reverter is. (Genesis).
és pó e
a gloria
por— aqui
bens que é forçoso deixar,
tal
dos
jaz.
—
é o inven-
em
pó é o termo de todas as grandezas da terra. (Noites de Young).
tario exacto da vida e o
lia
pó tornado
duzentos anuos as nossas cidades e as nossas aldeias
eram povoadas como o são hoje. Que é feito d’esse povo? Sumiu-se na voragem do tempo. De todos elles nada mais resta que um pouco de pó misturado com a terra. E n’estes restos humildes encontramos porventura algum signal de distincção, de grandeza ou de nobreza?
Nada.
Perfeitíssima egualdade
nos elementos maleriaes, que constituíam o corpo do nobre e o do
plebeu, o do
rico e o
do pobre, o do virtuoso
scelerado. Unidade da matéria.
Não
está
ali
e o
a distincção.
do
Mo-
narchas, que reinaes na terra, o vosso nascimento distinguiuvos dos outros homens,
mas
a
morte vae egualar-vos ao mais
— III — humilde de
Grandes do mundo,
vossos súbditos.
bem o que resta cem ânuos deve
iuvestigae
hoje de vossos antepassados; o que d’aqui a
de vós mesmos:
restar
não conservará vossos
titulos
uma
inscripção, que
de nobreza senão para indicar á
posteridade que já não sois coisa alguma do que ereis n’este
um
inundo, e que de vós não resta mais que
menos precioso do que
a
pouco de pó muito
urna, que o encerra.
somnium
Velut
surgentium, Domine, imaginem ipsorumad nihilum rediges. (Psal.
nada a vã imagem da sua felicicomo o sonho dos que despertam. Nnnne hcec omnia pulvis,
7 2). Senhor, vós reduzireis ao
dade,
nnnne omnia
faviloe,
nonne paucis versibus locurn
memória
vilce
Prospero. Sentenças .) O que são afinal todos os bens do universo? Pó e scentelhas. Que resta dos grandes homens?
esl.
(S.
Alguns versos
em
sua memória.
vas de contar na tua
«Mortal, por mais altivo que
que noutro tempo
sejas do teu nascimento, tu,
genealogia
que abandonar aqui todas essas
uma
longa
fila
te
vangloria-
d’avós, tens
altivas pretensões.
Tens que
Ou se o teu orguimpor-se-me, se o teu monumento ousa dizerGrande, eu respondo lhe: mármore mentiroso,
confessar que agora o verme é teu egual. lho
quer ainda
me: aqui jaz
o
onde está esse Grande? Eu não vejo mais que um pó vil». (Os Tumulas dTlervey). Mas, a adejarem por sobre os tumulos, ficam as virtudes civicas e moraes do ser
decompoz. Não as apaga faz realçar a
commum,
humano que
ali
se
que cobre o cadaver nem as
magnificência do jazigo,
tanto brilham sobre o valia
a terra,
que o encerra;
mausoléu onde jaz o
rico
porque
como sobre
a
para onde se atira o pobre; resplandecem sem-
pre onde quer que estão; não se destroem, são incorruptíveis,
duradouras, deixam cá e
um
rasto de luz
que não se extingue
passam alem da campa, acompanham esse
componivel, que evolução.
ad
Non
em mundos
est
exitus
quid, o
iste.
sed transitus
et
não é
um
termo, mas
indea
sua
lemporali itinere
(eterna transgressus. (S. Cypriano, Liber de Morte).
á eternidade.
EU
desconhecidos vae continuar
A morte
uma passagem, que nos conduz do tempo
—
12
1
A morte, esse espectro
um
é apenas
uma
terrível,
faz tremer,
que tanto nos
ponto de eontacto entre o presente e o futuro,
transição insensível do visivel para o invisível, do conhe-
surgem os phanlas-
cido para o ignoto; e é d'esse ignoto que
mas que nos assustam, que nos fazem
temei’ o transito
que imaginamos cortadas de
vias desconhecidas,
cobertas dabrolhos, quando
hem podem
por
precipícios,
ser planuras amenas,
alapetadas de brilhantes llores. «Para que tremer
com
o pen-
passagem não é tão terrível como em nos crearmos sustos, atormentamos nos com nossas chimeras; formamos um phantasma, damos-lhe ameaçador aspecto; e bem depressa, esquecendo nos samento da morte nós
a
de que pés e
Esta
?
imaginamos. Engenhosos
éobra nossa, nosso medo anima o, trememos a seus não podemos encarai o sem empallidecer de terror. A elle
imagem
que nós formamos, segundo as nossas conjectu-
infiel,
não tem semelhança alguma com o original. E que
ras, qnasi
pintor ponde já colher as verdadeiras feições da
lyranno não repousa
um
só instante.
O
morte? Este
receio agita o pincel
em
nossas mãos tremulas. A imaginação exagera.
cia
carrega
com
ellas.
de que
A ignorâncom suas sombras o retrato e a rasão assusta se Onde está a morte? Sempre futura ou passada, des-
ella é
presente não existe,
abandone o sentimento negros presagios
mas sem
?
Quando somos
sentir a dor.
rios, a pá,
a
O dobre
antes que a esperança nos
enchermo nos de recebemos o golpe,
Para que
é morto.
feridos
funerário,
os pannos mortuá-
tumba, o fosso húmido e profundo,
os vermes, todos esses phanlasmas, que
as trevas e
surgem sobre
a
noite
da vida, são o temor dos vivos e não o dos mortos.
Victima
de sua louca imaginação e desgraçado por seu erro, o
homem
uma morte que não é aquella que a natureza fez receio de uma só esperimenta mil». (Noites de Young
inventa
o
culpem nos
esta digressão,
mente nos levou,
fora
a
)
com Des-
para onde o espirito involuntaria-
do nosso
ohjeclo; e, reprimindo nos,
mais diremos d’este phenomeno transitório,
tem despertado
e
a
nada
morte, que tanto
attenção dos pensadores de todas as epochas.
— Em
nas parede
arcos abertos
—
113
d’estes claustro
estão os
tumulos de Balthasar de Faria, Diogo da Gama, e o de Pedro Alvares de Freitas,
em
cuja
memória
se
gravaram nos respe-
ctivos tumulos as seguintes inscripções
S.
a
DE B ALTAS A II DE FARIA
QVATRO REIS DESTES REINOS
CONSELHO DE
FOIDO
.
DÕ JOÀO HO
•
III
.
DÕ
SEBASTIÀO OPRIMEIRO DÕ HENRIQUE E DÕ PIIIL1PPE
E ALMOTACE MOR III
.
.
IMPETROV DO SATO PADRE PAVLO
A BULA DO SATO OFICIO DA INQVISICÀO PERMÀ-
.
DADO DELREI DÕ JOÀO HO
III
•
EOS PADROADOS DAS
INSIGNES PRELACIAS DE SÀTA CRUZ E ALCORACA PERA
A COROA. FOI EMBAXADORA ROMA. E DEV OBEDIEN CIA DESTE REINO
S.'D.
O PAPA JVLIO
III
;
— 1584
DÕ DÍOGO. DA GAMA. CAPELLÀO DELREI. DÕ.
M. el OPR.°.
DESTENOME Q SÀTA. GLORIA.
AÍ A
.
E DO
SEV CÕSELHO. TEVE ESTES. BENEFICIOSSO DÕ PRIORADO
DESTA CASA E OS MOSTEYROS DE BRA,
S.
JORGE DE COIM-
CHRISTOVÀ DALAFOES, ABBADIA DOS TAMA-
RAES, E AS IGREJAS,
DO
S.
S.
SANTIAGO DE SA TAREM,
SVL, AS CERZEDAS, E ALCÕGOSTA,
S.
PEDRO
DEYXOV PERBÕS
FOROS TÀTA REDA AOS FREYRES DESTE CÕ VENTO, PERQ SE CATE POR SVA ALMA PARA SEPRE IIVA CAPELLA.
S.
HVA MISSA REZADA CADA DIA E OVTRA CATADA CADA 3 MES CÕ RESPÕS, SOBRE ESTA SEPULT. FALLECEO AOS
25 DÍAS DE JANEYRO NODO SÕR 1523.
Sepulcro de pedualvares
TRADOR QUE
•
FOI
.
NESTA
de fheítas adménis-
.
VILA
•
a
PERA
— INTE
SEMPRE
•
DEI•
DNE SPERAVI MÍSERERE
.
•
•
•
MEIDV. VENERÍSINNO VÍSSIMO
No sarcophago de
.
CU RESPONSO NESTA
XO V TRES MISAS CADA SOM ANA S
DE TOMAR
.
DIE
•
— 1599 —
•
Baltliasar de Faria está
ainda a
mumia
do seu cadaver. Pela cessação da vida não se decompoz aquelle se, para que os elecompunha, fossem nutrir e alimentar outros
organismo, pulverisando-se e volalilisando
mentos de
(]iie
segundo
seres vivos, aquelle
se
todo.
a
lei
natural
secco, mirrado,
das
mutações;
ficou ali
hediondo, apresentando ainda
hem desenhadas as formas materiaes do indivíduo, onde se alojou um espirito dominado pelo genio do mal. Ia na natureza mysterios que a scicncia ainda não poude decifrar; nem I
a terra o quiz tragar, diz o vulgo.
e
consumiram os cadaveres dos
rados
em eguaes
na scieneia
Porque se decompozeram que
outros,
ali
foram encer-
túmulos e nas mesmas condições? assentes que
Não ha possam dar
explicação satisfatória.
Insondáveis
princípios alguns
d aquelle phenomeno
uma
bem
mysterios que não pretendemos prescrular.
Quando les foi
os francezes estiveram
tumulos suppondo,
talvez,
então ipie se encontrou
para
a
que
lá
um
collocaram
fúnebre,
um
ali
depois transportada
foi
esteve por muitos annos
caixão detraz do altar mór: depois
para o logar que lhe pertencia,
monumento
abriram aquel-
houvesse riquezas oceultas:
mumia, que
a
egreja de S. João Baplisla e
dentro dc
em Thomar
alu iram
vidro, para
foi
removido
na pedra que fecha aquelle
e,
um
buraco
qu.uli
angular onde
que todos possam observar aqmdla
forma humana, poupada pela acção decomponente das forças physico chimicas, que reduzem aos seus a
matéria
sobre
ella,
organisada,
abandonando
quando a á
a
força
elementos primitivos vital
deixa
de acluar
acção metamorphoseante de todos
os micro organismos Está
humano, descarnado,
em
ali
toda a sua nudez aquelle corpo
resequido;
quem
a
consumiu os andrajos, mas poupou
a
a
para que possa ser observado por todos os a todas as
apreciações, até ao escarneo;
das culpas commetlidas durante
acção
do tempo
em
vida teve,
forma que
olhares e sujeito
talvez
em
expiação
porque esses olhares
a vida;
curiosos e oíTensivos da pudicícia, essas
apreciações desfavo-
ráveis, as recriminações dos erros praticados, as alTronlas, os
sarcasmos que lhe são dirigidos, recebe-os e sente-os o espirito mais vivos, mais impressionantes ainda do que quando no
mundo
physico
se achava
ligado á unteria.
Permitia se-nos
esta manifestação da theoria espirita, a mais racional de todas
pelas quaes se pretende explicar os
pa e que hoje conta já no
mundo
phenomenos d além da camscientilico
numerosíssimos
adeptos.
Delegado do
procurador da inquisição,
rei,
de Faria quem, na corrupta
do chefe supremo da Egreja de definitivo
cm
Portugal d’esse
negação absoluta do christianismo.
E
punham em almoeda,
tuguez, olfereceu mais cofres
estabelecimento
horroroso, que
N’esse mercado
consciências se vendiam a peso se
Christo, o
tribunal
foi
elle
abjecto,
d’ouro e as coisas
rei
por-
quando os
dos hebreus se achavam já esgotados, pelas
tas vezes
onde as religiosas
quem, em nome do
avultada e segura quantia,
caríssimas d essas bulas de perdão e isempções,
era a
completa do
direito natural, a apostasia
obteve-a.
Balthasar
foi
mais trabalhou para obter
Itonia,
compras
com que
tan-
foram burlados, pelos representantes d’.\quelle que,
ao expirar pregado
em uma
proferiu estas palavras: Pnrce
ergueu os olhos ao ceu e
cruz, illis,
perdoae-lhcs Senhor. Pedia
o perdão para os que injuslamente o crucificaram! E perdoará Elle aos que baixamente o atraiçoam, vilmente o calumuiam, invertendo o sentido das suas
formando
a
sua santa doutrina, toda
negação e humildade,
mesquinhas vinganças,
amor
palavras, trans-
e cordura, toda ab-
em culello d’algoz para execução de em arma covarde para assassinar cons-
—
-
MO
em
ciências,
espíritos fracos para
das virtudes
eslerilisador
cisino,
acorrentar liberdades permit-
para
rijas cadeias
abusando de
tidas
sentimentos da alma,
em
feia intriga,
onde o amor,
seio das famílias,
de sentimentos devem dar
a
indnzil-os ao asceti-
em
fraternidade, a
commanhão
harmonia,
o principal elemento da felicidade domestica?
Nobre
nobres
ignóbil discórdia no
paz, a perfeita
a
mais
civicas e dos
quando não
e hella ê a missão de sacerdote,
(pie é
Quem sabe?... se alaste
das santas doutrinas do Divino Mestre.
Não vem historia da
aqui
a
fallarmos mais
proposito
uma
inquisição,
detidamente da tenebrosos, de
d 'enredos
serie
machinações vergonhosas. Alexandre ilerculano, resumiu escreveu
a
em
tres
uma
volumes. E‘
da nossa nação. Porém, para que os que ainda
possam
formando uma
ficar
buna! iuiquo, onde se lá
não presidia
íin, essa
mas sim
segumte hebreus
á cúria
romana
á loucura
faz
e
parte
não conhecem tri-
porque
direito,
o odio, a cubiça e o fauatis-
em
aberraeção do espirito humano, periodo, que
a
idèa do que era aquelle
não julgava segundo o
a justiça,
que poJe levar até
gião,
leve
lo a,
pagina negra da historia
uma
de
matéria de
reli-
transcreveremos o
feroz,
das
allegações dos
que Alexandre Ilerculano dá como
aulheutico e copiou na sua historia:
«As barbaridades, que se praticam, são laes que custa
como hajam
forças
humanas, que possam solTrer tanta
cruel-
— Se se é delatado, ás vezes por testemunhas falsas
dade.
quer d esses malavenlurados,
por
morreu, os inquisidores arrastam o
não é permittido ver ceu nem os seus, para que o soccorram. tas e uão lhe ticou isso de
com
a crer
o
nome
redempção
cuja a
terra,
Accusam o
que o accusam. O que pode alguma testemunha,
Chrislo,
um calabouço, onde lhe e nem sequer fallar com testeiminlia» occul-
revelam nem o logar nem o tempo
d
qual-
em
(pie pra-
é adivinhar e se atina
tem
a
vantagem de não mais
servir contra elle o depoimento d’esssa testemunha. Assim util seria
lhem
ao desventurado ser feiticeiro do que chrislão
Esco-
em
vez de
lhe depois u n
advogado quo, frequentemente,
— 117 — o defender, ajuda a levai o ao patíbulo. Se confessa ser chris-
com constância os cargos chammas e os seus bens são ou taes actos, mas dizendo que
tão verdadeiro e nega
condemnam
Se confessa taes
sem má
tenção,
cerram-o
mesmo modo,
traiam o do
que nega as intenções. aquillo de
Se acei
ta
a
que é accusado, reduzem o
em
cárcere perpetuo.
O que chega
de misericórdia. imiocencia
<|iie
n'o ás
é,
em
a
lhe dão,
confiscados.
os praticou
sob pretexto de
ingenuamente
confessar
ultima ind gencia e en-
á
Chamam
usar com o reo
a isto
provar irrecusavelmente
todo o caso, multado
em
certa
a
sua
somma, para
que se não diga que o tiveram retido sem motivo. Já se não falia em que os presos são constrangidos com todo o genero de tormentos
confessar quaesquer delidos que se lhes
a
buam. .Morrem muitos nos cárceres
e ainda os
ficam deshonrados, elles e os seus,
com
infamia.
Cm summa,
que saem
atli
i-
soltos
o ferrete de perpetua
os abusos dos inquisidores são taes que
facilmente poderá entender
quem quer que
lenha
a
menor
idea
da indole do chrislianismo, que elles são ministros de Satanaz e não de Christo.»
E
monstruosidade que alguém haverá ainda que
é esta
deseje ver restabelecida
Fallando das
mencionar
de
a
!
!
sepulturas dos
um
que entre
Antonio de Lisboa; não está no cemiterio
um
não
frades
deixaremos de
nome
elles leve
certo grau de distincção, acha-se na capclla
de uma das pequenas capellas da parede,
com
varias
Jesus. Parece
que
o cadaver de
outro
invocações, foi
notável,
sendo esta ali
aberta
a
Frei
talvez por
múr em
que se abriram na
esta sepultura
homem
e fama,
commum,
frente
espessura
do Menino
para encerrar
Lopo Dias de Sousa,
e
mais tarde, querendo lambem n ella sepultar Frei Antonio, os ossos do primeiro foram removidos e encerrados em um tumulo
embebido na parede lateral da e no qual gravaram a seguinte A<^1 JAZ O.MT°
dita capclla
do Menino Jesus
inscripção:
ORADO QOMEDADOR DÕ LOPO DIAZ DE
118
-
SOUZA MESTRE DA CAVALRI 1
AOMT 0 ALT 0 SEPE VESEDOR
FOI SE PE MT° LEAL SUIDOE
KLREI DJ JOA OPIMR 0
DAOUDE DE CRIZTVS Q
.
O QUAL FOI GRADE A.IVDA E
.
DEFESA O DESTES REINOS EETROV CÕ IIELE CIQO VEZES K CASTELA CÕ SVA CAVALARIA .
EEATOMADA DE CEPTA
.
E TEVE OMESTRADO QORETA ESEIS ANÕS
NAERA DE I1IVXPÕ DE
1000
.
.
E
400
.
AOS NOVE DIAS DOMES DE FEVR 0
.
EFJNOUSE .
EO MT° IlÕRADO
.
.
ANOS
.
E 31
.
E PREZA DO SOR OIFAT DÕ ARIQE GOVE 4NADOR DA DI-
TAORDE DVC DEVIZEV E SÕR DE CoVILLÀ OMADUV. .
.
.
.
TRELADAR A ESTE CÕVKTO
.
AOS OIT° DIAZ DOMES DE
MARCO DA DITA ERA DONACMT 0 DE NOSO SÕR DE 1431
.
ANOS.
— Aq(u)i jaz do(ni)
com(m)e(n)dador
o m(ui)to (h)o{n)rado
Lopo Dias de Sousa, Mestre da Caral(la)ria da
Ordc{m) de Christo, q(ue) s{e)r(v)idor
ao m(u>)lo
Do(m) Joã(o) ajuda e(m) el(l)e
.
(l)aria, e
alto se(m)p(r)e ve(n)cedor elrci
o p(r}im(ei)ro,
defe,(n)são
ci(n)co
d
vezes e(tn)
(a)o qual
Caslel(l)a
e(m) a tomada de Ceuta;
Christo de
foi
gra{n)de
estes reinos ; c e(n)lrou
q(u)are(n)ta c seis an(n)os.
E
co(m) e
finou se
co(m)
sua Cava!-
teve o
mestrado
na era d; Jesus
1435 an(n)os, aos nove dias do mcz de
fev(erei)ro, e
o m{ui)lo ho(n)rado e presado
o I(n)fa(n)te Do(in)
orde(m),
foi se(m)p(r)e m(ui)lo l»al
(
ll)>(n)riq(u)e ,
duq(ue) de Vizeu
e
s(enh)or
governador da dita
s(enh)or de Coeilha(in ),
— no — o
mandou
lra{s)ladar a este co(ri)ve(n)to, aos oito dias
do mez de março da dita era do nasc(i)m(en)lo de Nos(s)o S(en/t)or de 1435 an(n)os .
Para que se não olvidasse se paia a
Ordem
para os pobres da sobre
a
a
a
memória d’aquelle
pertencia
de Tliomar
foi
foi
talvez
um
inscripção, que está
um
frade, que,
benemerito,
tyranno, gravaram lhe ali
bem
patente á vista
sepultura é conhecida
isso aquella
altenção teem visitado aquelle
encoberta para que
de
que
villa
campa uma
de todos; por
com
a
alguém queira
de quantos
convento e nunca
esteve
arrogar-se a importância
haver descobrido:
— Esta
sepultura é de frei antonio de lisboa
RELIGIOSO DA ORDEM DE
DESTE CONVENTO E
D.
JERONYMO REFORMADOR
S,
PRIOR DELLE. FALLECEV A XXI
DIAS DO MEZ DE JUNHO DO ANNO DE M.
I).
L.
I.
Para o Claustro do Cemitério abrem se as portas da sacristia
nova, do corredor dos confessionários, da
da torre da famílias
egreja e da
sacristia velha,
uma
dos Portocarrero,
capella
das
mais antigas e mais nobres de Tliomar, como se vê
mesma
da inscripção que se encontra na
capella,
que diz o
seguinte:
Capella de antonio. portocarr. 0 cavalr. 0 fidal-
go DA CASA DE
S.
M. nK ALMOX. * DAS.
MEZA MESTRAL. DA ORDEM DE VILA DE TOMAR. E DESVA
FIZERAM
P.
a
2.
3
RENDAS. DA
N. S. IESVOPÕ.
M. EK M. a
SE NELLA ENTERRAR.
DESTA
COREA A QVAL
COM SEVS
F.
os
E
— 120 — MAIS DESCENDENTES. POR
UNHA
DIKEITA. E A
SVA
CUSTA ORNARAM DE TODO ONÃRIO P SVA PFEICÃO E a
CVLTO DIVO. COM OBRIGACAO DE XXXXXI MISSAS DE NSRÃ 0 ESTE. REAL CON. to LHES DIZ TODOS OS SAB-
BADOS CADANNO POR SVAS ALMAS COM RPONSO SOBRE SVA
S.
DIM.
T0
a
P. # CU.JA
ESMOLA E FABRICA DEIXAM
«
BASTANTE CÕFORME AOCONTRACTO QUE FIZE-
RAM COM OS
R.
dos
P.
es
EM CVJO PODER ESTÁ E
TRASLADARAM AQ OS OSOS DE SVA
SE
REN-
PB.
a
GELA DE QVINTANILIA IRMA DO BPO. DO
ASSI
M.““ ANG.“°
DE
QUINTA* REALEGIOZO DESTE REAL CONV. ro Está este claustro
vagem
e
em communicação com
com umas dependeucias do
dos frades, as enfermarias,
um
o Claustro da La-
convento, onde era a botica
corredor
com
dormitorios e a
Sala dos Cavalleiros; esta parte está hoje occupada pelo hospital militar.
A
sacristia n
ova
uma
é
casa
es pa ço sa
com abobada apainellada
e
dourada e pa to
vi
men-
de mar-
mo re
de
cores, on-
de
em
ga-
vetões de
pau santo pLAUSTRO DO £ MITtRIO B,
— 121 — com
puchadores de cobre lavrado e doura-
ricas fechaduras e
do se guardavam os luxuosos paramentos, pertencentes á egreja; d’aquelles moveis preciosos só restam os estrados sobre que assentavam. Contígua ella
da
uma
por
lizas e
a esta sacristia e
em communicação com
porta estreita ba urna casa de paredes e aboba-
pavimento lageado, recebe luz por duas frestas col-
locadas na parte superior das paredes dos topos e defendidas
alguma; é uma
por grades de ferro; não tem mais abertura especie de casa forte, onde se
d ouro e
guardavam as riquíssimas
alfaias
que enriqueciam os (besouros d aquella egr eja e de tão subido valor eram que só as pratas foram em tempo pr ata,
avaliadas
em mais de 40
contos de
réis.
A maior
preciosidades não se sabe que caminho levou.
mandada
recida por D. Manuel,
parte d estas
Uma
cruz ofle-
com o primeiro ouro que veiu da índia e uma custodia também d ouro cravejada de diamantes, estão em Lisboa, mas a maior parte das pratas e fazer
outros objectos d ouro de muito valor desappareceram, não se
sabe como. Alem das pratas da egreja havia ricas baixelas para serviço dos freires, riquíssimas colchas de selim bordadas a ouro, moveis de muito valor e tudo isto desappareceu
quem
sem se
mão. Esta casa é boje conhecida por casa do echo, porque qualquer som que ali se produza, reflesaber
lhe deitou a
ctindo se repetidas vezes nas paredes e abobada nuas, dá logar
uma
a
resonancia prolongada.
duz n aquella casa, é
um
A
eíTeito
forte resonancia
do parallelismo das paredes
e da curvatura da abobada, observa se é o eíTeito de
ha
quem tal,
construcção especial
affirme que
arrombamento pòr
uma
foi
que se pro-
em com
muitas outras, não
como
aquelle fim,
para que. dado qualquer barulho de
fosòe providencialmente ouvido.
E'
um
erro sup-
erro de certo devido á ignorância dos princípios de
acústica; e se assim fosse esse facto não era providencial, por
que tinha sido previsto e calculado, pondo portanto esta rnaliva a conclusão
llexões
em
múltiplas das
contradieção
com os
princípios.
aílir-
As
re-
ondas sonoras nas paredes e abobada
d'aquella casa vão successivamente enfraquecendo a intensidade
do som, que
morre
O som,
ali.
principio reforçado
a
propagar
aquella serie de reflexões, só se poderia
se as paredes fossem elastjcas e vibrateis,
caixas sonoras; ora
a
por
a distancia
como acontece nas
espessas paredes de alvenaria não se pode
atlribnir essa qualidade.
U ali
corredor dos confessionários é assim chamado por ser
que os penitentes iam aos pés dos padres confessores depôr
as suas culpas, cogilaiionibus, verbo a
absolvição
em nome
et
opore, e receber d elias
da Trindade Divina. Confessores são hoje
os padres que ouvem de confissão os penitentes, não era assim
nos tempos primitivos da Egreja Christã; outra era
a signifi-
cação deste termo.
Os tumulos dos martyres eram venerados por toda tandade, lodos os annos se lhes celebravam festas,
a chris-
como
o at-
testam Tertuliano e S. Cypriano.
No tempo das perseguições
os que eram
vigílias
encontrados
a fazer
ou
a
orar
sobre os
seus sepulchros, alguns eram condemnados ã morte, lançados
cruelmenle supplieiados;
ãs feras ou
outros, os que
se não
queria fazer morrer, eram simplesmente exilados, deportados
ou escravisados; equivalia á direitos,
a
morte
segundo
deportação, civil;
a
legislação
romana,
os deportados perdiam todos os seus
eram-lhes confiscados os bens e mandados para ilhas
pouco habitadas ou para as fronteiras do império, para paizes barbaros; os
exilados só
perdiam os cargos públicos,
exerciam e eram obrigados viver
em
dades,
a
ausentar-se de
qualquer parte do império,
como aconteceu
pessoas nobres,
a
a
mesmo
se os
Koma, podendo nas suas proprie-
O simples exílio era para as uma jerarchia mais
Cícero.
deportação para os de
baixa e os de condição inferior eram condemnados a trabalhos
eram escravos do publico braza para poderem ser fugissem; traziam cadeias aos pés e eram mal conhecidos se alimentados e maltratados com pancadas e insultos. Os cln istãos tinham sempre grande cuidado em os consolar e adoçar públicos, principalmente nas minas; e
marcados na fronte com
fei
ro
em
os seus tormentos, o que podiam.
Aquelles que n este estado
morriam
pola
eram contados no numero dos martyres
fé,
e os
(pie voltavam do seu desterro ou da escravidão eram colloca-
dos na ordem dos confessores, nome que se dava aos que sof friam quaesquer tormentos pela
fé e
em
geral aos que a con
-
fessavam e.n publico e deante dos juizes. Eram respeitados e venerados
mais
altos
da vida e muitos eram
lodo o resto
cargos da egreja.
fessor linha
uma
Portanto vè se que
muito diíTerente
significação
elevados aos a
palavra con-
d aquella que
hoje tem.
A confissão é uma reminiscência do judaísmo, assim como alguns outros preceitos religiosos e cerimonias adoptadas no christianismo; sómente no
decorrer do tempo
a
Egreja os
foi
modificando.
Era costume entre os judeus confessar Aquelle
culpas.
a
quem
esse tribunal
em
publico as suas
interior, a consciência,
que julga dos nossos actos, ainda os mais recônditos e até dos nossos pensamentos, accusava de faltas graves, condemnando-o ao remorso, que é
um
a
punição do peccado, castigo atroz que só
verdadeiro arrependimento durante
alliviar,
fessava
em
em em
signal
israelitas
logar publico,
em
a vida
presente
pode
geral á sabida do templo, con-
alta voz os delidos praticados e vestia se de sacco de arrependimento. Vestir se de sacco era entre os o signal de lueto, de dó. de grande desgosto, como
o é entre nós o vestir se de preto; quando alguma calamidade publica ou desgraça particular os assaltava de repente, chorafato, punham as mãos na cabeça e baliam no peito (ainda entre o nosso povo se observa ãs vezes a pratica destes actos) e em seguida vestiam o sacco.
vam, rasgavam o
E’ natural
e é
também
nos paizes quentes o uso de fatos largos e leves
que nos tempos primitivos se usassem
natural
vestidos simples, onde houvesse pouco que talhar e pouco que coser, que cobrissem todo o corpo tir
uma
por
partes
túnica
muito fino
e
como
alva,
hoje
especie
d’uma só peça; não
fazemos.
de
camisa,
Os
israelitas
em
por sobre esta outra de fazenda
gerai
de
se ves-
usavam tecido
mais ou menos
—meram apertadas na
estas vestimentas
em
em
alguns de ricos bordados,
formando por
coiro,
O
um
segundo os haveres de cada
fina e rica
um
por
cintura
em
cinto,
tella
ou
volta
do
outros de simples
túnica largas pregas
isso a
uma
e a sua jerarchia;
sem pregas, desengraçado, de panno grosso e áspero, a que também chamavam cilicio, assente immediatamente sobre a pelle. Não era só corpo.
sacco era
vestimenta estreita,
o vestir-se de sacco o signal de lucto ou de penitencia, corta-
vam
cabellos e a barba (ao contrario dos
os
romanos que os
deixavam crescer), deitavam sobre a cabeça terra ou cinzas, em logar dos aromas, de que usavam em dias de festa ou oc casiões de alegria, não se lavavam,
emquanto durava
jejuavam consistia
em comer uma
(jpjunum una
cib tiia
a
dormiam sobre ou o
penitencia
a terra e
liictp;
o jejum
só vez por dia depois do sol posto
est,
como lambem preceituou
nossa
a
egreja).
Nos primeiros tempos da egreja
támbem em lado,
eram
christã as confissões
geral publicas, só se faziam
em
particular ao pre-
quando da sua publicidade podia resultar grande escân-
dalo ou grave prejuízo para o confitente,
o adultério commcttido pela mulher. penitencia,
como por exemplo:
A’ confissão seguia-se a
que era imposta pelo bispo ou pelo parodio
e gra-
duada conforme o delicto. Eram algumas tão rigorosas que custa a crer que houvesse quem podesse supporlal as; só uma fe viva e a crença inconcussa de que os tormentos do corpo purificam a alma, poderiam fazer
sem
S. Basilio
a ellas.
quinze para o adultério, vinte
para
a
apostasia.
a
quem
se submettes-
para o homicídio e toda
As penitencias eram publicas
muito particulares podiam Aquelles
com que muitos
marcava onze aimos para o perjúrio,
sei
1
e só
a
em
vida
casos
secretas.
se prescrevia a penitencia publica iam, no
primeiro dia da quaresma, apresentar-se á porta da egreja com vestidos sujos, pobres e rasgados; chegada a occasião recebiam da
mão do prelado
beça e
cilícios
para
terra
ou cinzas, que deitavam sobre
se cobrirem;
depois ficavam
a ca-
prostrados
— 12o — emquanlo o prelado, o Quarta
clero e o povo
de Cinza e
feira
oravam por
ao primeiro
dia
de
uma
egrejas, a ceremonia de deitarem sobre a cabeça
de
cinza, dizendo ao povo: agite i>cenitenli<nn).
em
lhes
0
uma exhortação, aconselhando-os
seguida
de joe-
ciles
quaresma fazerem ainda os padres, em algumas
vem o chamar
(U aqui
lhos.
fiança na misericórdia divina e advertindo-os de
pitada
prelado faziaa
terem con-
que
expul-
ia
os daquelle logar sagrado, como Deus tinha Adão do Paraiso por causa do peccado. EíTeclivamente logo em seguida eram empurrados para fóra da egreja, cujas portas se fechavam immedialamente apoz elles. Eram obrigados a jejuar
expulsado
sai
muitas vezes ou todos os dias
a
pão
agua, segundo o gene-
e
ro de peccado e segundo as suas forças, a rezarem de joelhos
ou prostrados,
fazerem
a
a distribuírem esmolas,
vigílias, a
dormirem sobre
conforme as suas posses.
penitencia abstinham se não só
a terra
e
Durante
a
de divertimentos, mas
ainda
de conversações ou quaesquer negocios mesmo com os fie s, grande n -cossidade. Não sabiam senão nos dias
a não ser por
de
festa,
em que vinham
rante algum
apresentar se
ouvirem as
leituras e os
porta da egreja, du-
á
permittia se-lhes a entrada
tempo: depois
sermões, com
a
para
condição de sahirem
eram admillidos a mas prostrados e em seguida a orar em pé mas distinguiam-se ainda do resto dos fieis,
antes de começare n as orações; mais tarde
orar com os
como
fieis,
os outros,
do lado esquerdo. Citemos um exemplo para mostrar o que era n aquella epocha a crença religiosa e quanto as confissões eram d (Te rentes do que hoje são. fazendo-os collocar na egreja
0 que cado
praticava
Embora
faclu, excluído
esse crime fosse acculto
eram
centes todas as manifestações exteriores religioso; a sua
das suas
i
permanência entre os
léas, a
ciência dizia-lhe
um
homicídio voluntário, commettia
mortal e era, ipso
nullas e contra produ-
dum
fieis
falso
sentimento
manchava
a
santidade das suas doutrinas; então
que era
um
pec-
do grêmio chrislão.
pureza a
cons-
réprobo, o remorso atormentava
o,
e, para obter o perdão de tão grave culpa era preciso eonfes-
—
I
—
-20
sal-a e fazer penitencia.
que d
ser
confissão devia ser publica, a não
como
durava vinte annos, annos
A
podesse
lhe
elia
resultar a morte, e
passava os a chorar
a
sua
a
penitencia
Os primeiros quatro
jã dissemos.
vida dos
estava na
culpa,
chorantes; apresentava-se á porta da egreja á hora da oração e ficava de fòra,
não no vestíbulo, mas na rua exposto
do tempo; estava vestido de
acção
á
tinha cinza na cabeça e os
cilicio,
cabellos crescidos; n'este estado pedia aos fieis que entravam
na egreja que tivessem piedade d
orassem por
elle e
elle.
Os
ordem dos ouvintes; mas ficava no antes de começarem grau e orava com os
cinco annos seguintes era considerado na
para ouvir as
na egreja
entrava
com
vestíbulo
as orações.
os
cathccumenos
instrucções,
e sabia
D’aqui passava ao terceiro
mas no mesmo logar, prostrado sobre o pavimento e sacom os cathccumenos Depois de ter eslado sete annos
fieis,
bia
neste eslado, passava ao ultimo, onde sistia ás
orações dos
esquerdo da
fieis,
orava
egreja, e não lhe
ficava quatro annos. as-
em
pé com
ei a
permittido
commungar. Finalmente cumpridos os
mas do
lado
oITerecor
nem
elles,
vinte annos era admit-
das coisas santas. Estas penitencias podiam
tido á participação
ser alliviadas ou abreviadas pelo prelado se havia no penitente
um tal
Clirit ienes
par M.
da
Egreja e
(
Meres
em
não
des hradèles cl des
Abbè Fleury).
L.
Como acabamos
caso de doença mor-
havia todo o cuidado
sem os sacramentos.
deixar morrer
pos
cm
extraordinário fervor religioso; e era absolvido delia, porque
de ver, as confissões ainda
até
ao
quarto
nos primitivos temséculo
eram
em
tudo semelhantes ás confissões dos judeus, d’onde derivaram e
como Christoas aconselhou, dizmdo: Confessa os
cados e arrepende era a confissão
ali
coragem de confessar em publico acha possuído
teus pec-
E claro que, fallando no meio da Judéa, usada que elle aconselhava. O que tem a
te.
dum
as suas culpas é porque se
verdadeiro arrependimento; e é esta
a ver-
dadeira confissão, quando é expontânea e sincera. Os que vo-
luntariamente se submettiam áquellas penitencias publicas tão
uma
no
coração
confiança extrema no misericórdia divina. Havia
comtudo
rigorosas é porque tinham na alma
uma
fé viva,
exeepções, filhas muitas vezes da necessidade de se estar
com
a
Egreja. Henrique
temendo perder
passou os
a corôa,
bem
o altivo imperador da Allemanha,
iv,
Alpes e
supplicar o
foi
perdão de Gregorio vu (Hildebrando), que se achava no castello de Canossa. A fim de conseguir o levantamento da excommu-
nhão com que aquelle Papa o fulminara pela sua rebeldia contra a Egreja. Depois de confessar publicamente a sua culpa, por Ires dias, conservando-se deante do castello
fez penitencia
descalço,
com
tencia não
vantada
os
na neve e coberto de
[tés
porque
sincera,
foi
elle,
foi
N’aquel!as epochas
não eram
jas,
confissão ol.rigaloi ja;
u
só mais
povoar se todas
a
em
sico lenço
as
egrejas e
e
muitas vezes
encarnado emqnanlo
suas
aborre-
quando, como distracção, sorvendo
de simonte
rapé ou
pilada de
nas egie-
preceituou a
se
ou cadeiras confessionaes,
nichos
esses
onde o padre confessor, refastelado cido vae, de vez
tarde
como mandamento da Egre-
e secreta,
então começaram
dependencias com
le-
e tentou prendei o.
havia confessionários
precisos;
lá
Roma
pôr cerco a
não
esta peni-
seis dias depois revoltava se
excommunhão, apenas
a
novameute contra
cilicio;
obtido o perdão do Papa e
limpando o pingo ao
e a
com
velha beata,
uma clás-
fastidio-
sos sons labiaes, está narrando todas as miudezas da sua vida privada,
quando não
é
também
pés do confessor unicamente
da alheia; alguns vão
em cumprimento
de
um
ali
aos
dever,
vão satisfazer o preceito quaresma!; outros ha que, conlrictos e convencidos religioso,
mas
vão debaixo da influencia
lá
a
condição
nunca é cumprida,
porque,
d
um
da absolvição, que
em
geral o
sentimento
é a
mesmo
de
emenda, que
se
accusam hoje accusam-se na confissão seguinte.
Este genero
de confissão,
pela
teria
talvez
estatuído
sua razão
e
tornado
de ser,
que
obrigalorio
não
lhe
Egreja
negamos, mas
nunca deu, nem pode dar os resultados que se esperavam, é infruclifero
c
tem dado
logar,
da
parte
dos
maus padres
— a
—
128
abusos muito prejudiciaes
paz
ã vida e
domesticas
e até
á sociedade.
A
corredor dos
casa e
communicação com vatório de
mármore
confessionários está
nova e vê-se
a sacristia
polido
torneiras de metal, que já
via
n’clla
com carrancas em
também em
um
não existem, o que
lá
rico la-
cnjas boccas ha-
que os celebrantes, depois de paramentados iam
ali
mostra
purificar-se
antes de entrarem na egreja. Este lavatorio tem a data de IG2o, foi
obra de Filippe
Os confessionários ficavam ao lado
i.
querdo de quem entra e seguiam por ia
um
communicar com os dormilorios e dava por
passagem
isso também Eram uns pequeninos corre-
d'estes para a egreja.
em
dores abobadados,
cujo fundo, encostado á parede da egreja
estava a cadeira do padre confessor. Foi 1).
es-
corredor alem, que
Fernando
algumas das tulo.
a
parte d'esle
bellas
corredor, que estava
A
encobrindo
ornamentações da janella da casa do capi-
Este recinto commnnica
como
mandada demolir por
lambem com
o coro da egreja e
Claustro da Hospedaria.
logo á direita de quem, vindo da Não tem nada de notável na sua architectura. E' uma casa velha, como o seu nome o eslá dizendo, e por isso nos traz á mente recordações do passado. Ao sacristia
velha
fica
egreja, entra no claustro.
entrar
ali
que de ordinário se expe-
sente-se essa impressão
rimenta, penetrando
em um monumento
solidez os séculos teern respeitado; é
ção pelo passado,
um
não
sei
que subitamente se transporta
antigo que pela
uma
especie de venera-
que que nos prende o a
sua
espirito,
longiquas eras, parecendo nos
ver os vultos dos que outr’ora povoavam e enchiam de vida o
que é hoje deserto e inanimado; é
um
voltear de sombras,
um
redemoinhar de espectros, que não nos assustam, mas que nos
leem por
m unentos como
o portal que
a
punha
extasiados N esta casa vê-se ainda em communicação com a muralha que
ligava a capella dos Templários a torre
aquelles
de menagem.
com
os reduetos, que cingiam
que se paramentavam frades guerreiros para as cerimonias religiosas que Era talvez
11
’ella
— 129 — iam celebrar na capella;
lá se vê ainda para a purificação um de mármore, que está meio subterrado, ponjue o pavimento antigo era muito inferior ao que boje tem. lima estreita
la vatorio
poria, boje tapada, que ficava ao lado da da capella, estabelecia a
communicação; não
ctuario só tinha face
uma
a havia interior, porque aquelle sanentrada, decerto para melhor defesa. Na
uma
externa da parede que olha para
que posteriormenle
porta,
trasida paia
o sul e por
do castello de Almorol,
ali
cima de
uma
aberta está
foi
que tem
lapide,
a inscripção
seguinte:
CCIII23: ittagister
ifl:
(6:
siquiíirm
tempore
:
regis
lis;
geitrrr
:
autrm: :
6ratara
:
iXlfonsi
<0>alinnus
:
oriunbos
:
i«: breui; ut: Corifrr; rminruit <tf>ero$o limam
miles
mom: mm: ÜTagistro
presto
:
regem
eum
:
einin
pseliis
flertgef sorrerit
:
in:
soo
:
:
nam: Crmpli; per; quique-
Curaqoe
:
tn-
$orie
:
in-
rt
Escalona:
:
3ntioram
pergrns
:
ntti
et
$ii>au: iirrione iumiraoit urro
:
:
prefato
aí» :
militem: fererat
í»omus troritj
;
íempli
rastrom
iu^Umoriol: ftnm
;
@
;
:
:
qui
reorrsus
:
:
jpost et
:
rsiiegr:
€l)omar: ©;e;ar‘ et: <£ir>aniam
:
ron-
eum rburaoerat iiartus l)or
:
et:
;
quinqurn-
{Jrororatorj
$)ortugalis :
:
raprrrtur
sepe
:
;
tra
rum:
:
/ratribusque
CÊgipti:
:
miliciami
;
oitain: í»urit
rum
:
routra
:
:
peciit; tbiqor'
fyermrn:
•
iii
:
j
rrrtitit
:
illostrissimi portuga-
:
9etularrmi abnrgans
iqit:
nobili
:
f)orj
et ílToiitem
;
:
iús-
qooír.
San-
— 130 — Versão
— Era de 1209. bre fjeração
O
Mestre Galdino, certamente de no-
natural de Braga, existiu no tempo de
,
Abandonando
illuslrissimo Rei de Portugal.
Affonso,
um
Astro,
dirigiu-se a
Jeru-
a milícia secular, em breve se elevou como
porquanto
soldado
,
do
Templo,
salém, onde durante cinco annos levou vida trabalhosa.
Com
seu Mestre e seus Irmãos, entrou
em muitas
lhas levantando se contra o Rei do Egyplo e
Como
bata-
da Syria.
tomada Ascalona, partindo logo para An-
fosse
muitas vezes pela rendição de Sidon.
liochia pelejou
Cinco annos passados, voltou, então, para o Rei que o creára e o fizera cavalleiro.
casa do Templo
em
Feito procurador da
Portugal, fundou neste, o caslello
de Pombal, Thomar, Zezere e este que é
Idanha
riol, e
fui,
e
chamado Almo-
Monsanto.
A elevação do pavimento ao nivel do Claustro do Cemiterio por certo, obra do infante D. Henrique, que d’ella também
Embebido na parede, do
fez sacristia.
em
o tumulo de D. Mecia, sua ama,
lado da capella, vè-se
cuja
lapide
foi
aberta
seguinte inscripção: Qísta
:
capela
ímlnie^ím co
:
amos
:
inaubou
caoalruro
:
ítoifante
í>osaluaí>or
— Esta
:
:
:
br mtll
capella
rsua
:
i*on :
Almeida, cavalleiro,
e
:
rcrc
mandou
uuasco
fajrr
:
:
:
:
:
:
loure-
fruta
na
:
rrui
fazer
sua
molfjer mecia
anrruq rfou :
goncalocs
Vasco
Gonçalves d(e)
mulher Mecia Lourenço,
a
amos do Infante Dom Henrique,
do
e foi feita (na) era
Salvador de 1426 .
0
Lavagem é também obra do mandada executar na occasião em que a
Claustro da
rique,
casas para sua
durante
Este claustro era
por
muito tempo
menor edade de seu neto D. Se-
destinado á residência dos
os quiz obrigar
fazer
Paços de
haver mandado reparar e ornamentar.
bastião, depois de as
elle
ter residido
n'elles
sua regencia, na
a
mandou
que são denominadas:
habitação,
D. Catharina, por esta
Infante D. Henli
em
viver
a
quando
freires,
clausura, o que não conseguiu;
tinha duas galerias, para a superior deitavam os dormitorios,
dos quaes ainda se encontram vestígios;
ofíicinas;
ba
lã
a inferior era provavel-
accommodação de fâmulos, cosinha e outras uns alguidares embebidos em argamassa, es-
mente destinada
ã
pecie de lavalorios, que decerto não eram,
tinados a lavarem se
ali
os freires,
mas
como
se diz, des-
antes os que n aquelle
pavimento exerciam seus misteres, d’onde, parece, ter-se dado áquelle
claustro o
nome de Claustro da Lavagem. Está em uma bella architectura,
completa ruina este claustro, que era d a
com o que
condizer
nada
lhe
fica
galeria
superior
que guarneciam as paredes, foram
resta, até os azulejos,
arrancados; pelo chão
contíguo; da
veem
se ainda
algumas columnas
e
bem
cinzelados capiteis, trabalho artístico de elevado merecimento.
como
Na casa dos confessionários ba,
já
dissemos,
uma
porta que deita para o Claustro da Hospedaria. Não tem coisa
alguma de notável este claustro; para elle deita a hospedaria, onde se alojavam os visitantes, e boje está ali installado com sua
farnilia
em
caracol
o general Pienaar, refugiado boer. Por
uma
communica com os dormitorios, mandados
escada
fazer por
D. João ui, são estes dois extensos e largos corredores per-
pendiculares outro na
um
ao outro; segue
leste-oeste;
um
recebem
na direcção norte-sul e o luz,
o primeiro, de
duas
uma que se abre na fachada norte e outra na do sobre uma parte da cerca com pomar e horta; o segundo
janellas, sul,
de
132
— uma
reeebe-a de
janella para o lado poente,
do Mixo; ao lado tro é
triste e
sul fica-lhe o Claustro
sombrio,
sem
que deita para o
que se abre para o Claustro
Pateo dos Carrascos, e d outra
coisa
dos Corvos, este claus-
alguma que o torne diguo
de mensão. No ponto onde estes dois corredores se cortam e
como
a
formar o braço mais curto de uma cruz, ha
que era defendida por grades de
ferro,
uma
que fazem hoje
a
capella,
porta do
uma lampada que se conservava accesa e sobre o altar estava a imagem do Senhor da que também d’ali foi removida. E’ esta capella d uma
cemilerio publico, tinha toda a noite Paciência,
primorosa architectura, que muito se assemelha
á
do portico
da egreja nos ornatos e figuras, que apresenta; tem a data de
1333. Na sua frente, corredores, ha
uma
isto é,
no ponto d’intercepção dos dois
cupula elevada,
draçadas por onde entra bastante dois corredores,
nome de
em
luz.
forma de cruz,
com quatro A posição
frestas envi-
relativa
destes
que se lhe désse o
fez
Cruzeiro. Para elles deitam as cellas ou dormitorios
dos frades, todos de pequenas dimensões, como era uso n’aquelle tempo;
também com
elles
eommunicavam os aposentos
do Prior-Mór, que ficavam no topo norte do primeiro corredor;
compunham
se de vários compartimentos,
o Claustro do
com
.Mixo e para a fachada norte e
janellas
para
tinham entrada
independente. Estes corredores leem o pavimento ladrilhado e são cobertos
com abobidas apaineladas de boa madeira de
carvalho do norte; e para que nada faltasse ao e suave conforto d'aquelles religiosos,
casa apropriada,
uma
bom commodo ali havia, em
também
vasta lareira, cuja
chaminé de tiragem
se firmava sobre quatro columnas de pedra; era, por certo,
que, antes de se frios
ali
deitarem, se entretinham cavaqueando, nos
serões d inverno.
a estes dormitorios fica o Claustro do Mixo, no ne que deriva de que os frades costumavam ali distribuir aos pobres algumas tigelas de caldo e os restos, que sobejavam da
Contíguo
mesa dos fâmulos. A entrada para portão que deita
para o norte;
este claustro é por
antes dos Filippes
um
largo
mandarem
— 133 — que é hoje portaria principal do convento, era por
f;izer a
uma
ali
Não tem, na sua architectura, coisa alguma digna de menção. No seu pavimento terreo havia, ao lado esquerdo, varias accommodações e a casa do dispenseiro, das suas entradas.
na frente a cosinha e á direita
um
grande forno de coser pão,
umas casas que serviam de armazém ou dispensa e umas ca Contíguo á cosinha ha umas casas compridas e
vallariças.
d aspecto
estreitas,
lugubre e pesado, mal
tres janellas defendidas por grossas grades
tam para o claustro de Santa
Barbara,
lôbregas e horripilantes prisões;
chamam
des; porém, se
eram
illuminadas
por
de ferro, que dei-
leem o aspecto de
lhes a cadeia dos fra-
como parece, decerto não eram Os superiores dos conventos puniam só
prisões,
destinadas aos frades.
as faltas disciplinares e a estas correspondiam penas moraes:
reprehensões, penitencias, detensão nas suas junto
com
podiam
raes não os elles os
os
infligir;
não comer
cellas,
etc., castigos
crimes graves,
corpo-
que também
como homicídio voluntário, espancamento, eram punidos segundo as leis do reino; e quando
comrnetliam,
estupro, a
comer no chão,
os outros e até
etc.,
pena era de morte ou flagellação, que então se usava, para
os que tinham ordens sacras precediam certas cerimonias,
a
secularisação.
Aquellas
poderiam
prisões só
ser
destinadas
a
guardar
grandes criminosos. O mais natural é que fossem obra dos inquisidores, porque também ali os houve, para encerran’ellas
rem
ciaes.
Quando
do convento, difllculdades,
D. Filippe
houve,
i
se lhe
conheçam fins espe-
projectou fazer
para
porque,
com quanto
d estas ou talvez com
as victimas da sua crueldade,
outras, pela pouca capacidade
a realisação
parece, não
a
portaria principal
desta obra, grandes
atinavam
com
local
apropriado; depois da sua morte Filippe u aulorisou o a fazer a portaria
onde
lhe
conviesse e mais apropriado lhe
parecesse o logar; escolheu este aquelle onde contra e não ali
foi
sem grande dilBculdade
se fez, porque,
segundo
bem Prior
L).
a
ella
e dispêndio
hoje se en-
que
a
obra
sua narrativa, havia ainda, n a-
—m— quelle logar, restos da antiga fortaleza dos Templários, que foi
preciso demolir, e estavam por so matagal de
desmoitar;
se levantava bia por
isto
uma
uma
ou guardas
vigias
e,
em
espesa
sobre o qual
rochedo,
ameada. para onde se sucasa para
nesta torre havia
de pedra,
diz elle, servia
cere a que qualidade de presos ? litar;
um
descobriram
alta e forte torre
escada
envolvidos
que deu grande trabalho
silvas e arbustos,
feito
modo
tal
de cárcere. Servia de cár-
Não era prisão
um
não se pode suppor que fosse
civil
ergástulo,
nem
mi-
onde os
Templários guardassem os seus escravos, logares mais apropriados deviam
porque esta torre era
ter para isso,
defesa e não para n ella
defender podiam ajudar
recolher
para a
homens que em vez de os
A palavra Cárcere era muito usada para designaras prisões da inquisição e é d ella que se serve o D. Prior para indicar as que encontrou n aquella torre.
O que
leza
a atacai os.
se deprehende d isto ê que a antiga torre da fortafoi aproveitada pelos inquisidores para,
dos Templários d’ella,
em
tinham
a
no fundo dos que retel-os
ali,
segura masmorra, lançarem os desgraça-
infelicidade
guardados por
de lhes caliirem
tinham seus aposentos, mais apropriado d’esses
homens
do
ferozes,
Carrascos, que era então
propriedade do serve
sentos que
mesma
torre
para residência
local
que o era o pateo chamado dos
uma das entradas do convento
Conde de Thotnar, arborisado
também de parque
nas garras e
que na
verdugos,
d’entrada para os
e hoje
ajardinado
e
magnilicos apo-
possue. A denominação de Pateo dos Carrascos
ali
é natural lhe proviesse da grande quantidade de arbustos deste
nome. que
ali
deviam vegetar quando se fechou aquelle
que ainda hoje vegetam encostados aos muros e todo o terreno n’elle
residido
inquisição,
mos
visinho,
que se acha
os executores
em que abunda
inculto, e
d alta justiça ou
não de terem carrascos
origem que só o vulgo lhe atlribue; e
n'essas lendas vulgares devíamos
também
lã
da
a acreditar-
acreditar que
o Claustro dos Corvos se chama assim porque era
faziam as execuções e
recinto,
ali
que se
deixavam os cadaveres até serem de-
vorados pelos corvos, o que repugna admittir. Aquelle tribunal funccionou aqui pouco tempo, mas por onde quer que passava o monstro deixava n'aquella
foi
um
epoctia a formosa
presencearo não
sempre
trisi
rasto de
villa
Thomar
de
que
sangue; consta
obrigada
foi
um
issimo e horroroso espectáculo d
dentro dos muros do convento, porque
auto de
a fé;
eram sempre
públicos estes aclos de barbaria, diziam elles que para servir de exemplo; dizem alguns que teve logar no antigo pelourinho
ao fundo da rua da Graça e outros que na Varzea Grande; nada
podemos averiguar com exactidão,
faltam nos os elementos para
podermos, no meio das tradicções populares, descriminar factos históricos mal conhecidos e nós não nos propomos escrever historia minuciosa, mas tão sómente uma simples noticia. No pavimento superior do Claustro do Mixo ha tres casas
uma
contíguas
a
que chamam Salas das Cortes. Se foram ou não
construídas para este fim não o podemos aílirmar,
mas parece-
nos que sim pela sua disposição, por se acharem perto d
uma
das entradas do convento, pela denominação que sempre teem conservado, por serem tres casas contíguas, correspondentes ãs Ires calhegorias: clero, nobreza e povo; embora nunca n ellas se houvesse
Alguém aventou
celebrado cortes.
que aquellas casas eram destinadas inquisição.
Esta opinião
Também
um
fundamento, não ha
a
rasão diz-nos que não podia
se diz que serviram
de escolas; para tudo pode-
riam servir, menos para
conceber
opinião de
servirem de tribunal da
a
é destituída de
documento algum que o prove e ser.
a
um
do Santo
tribunal
em
só tribunal installado
Oflicio.
Como
tres casas isoladas,
sem
communicação alguma interior? Considerar a do centro como tribunal e as duas lateraes como dependencias é um contrasenso,
porque entre
dência, visto
ellas
não ha
que são isoladas.
dependencia, ha indepen-
A sua archileclura
está
em
completo desaccordo com o que eram aquelles tribunaes. Tudo o que
pertencia áquella
funcciona rios;
as
nefanda instituição era
asqueroso e
como os seus eram d uma tribunal serviam de que casas
repugnante, sombrio
e triste,
morno
e taciturno,
construcção pesada, mal illuminadas, tétricas, medonhas, para
produzir maior desanimo, mais profunda melancolia na alma
acabrunhada dos desgraçados, que ali eram arrastados, e eram sempre bem defendidas para que as victimas não podessem escapar-se. Acolá vemos tres casas amplas, com a appa-
já
rencia de salas,
nadas e sem
uma
com
até
bonita architeetura,
bem
illumi-
resguardo algum para evitar a fuga dos presos;
em harmonia com a fortaleza e segurança das prionde se encerravam os accusados. A casa dos interroga-
não estão sões,
modo que os grilos e pudessem ser ouvidos lá fóra. Os potros, que estalavam os ossos, as tenazes, que rasgavam as carnes, as farpas d'aço, que cravavam entre as unhas, as torquezes com que as arrancavam, os ferros que em brasa ap-
tórios era
sempre
urn lugar escuso, de
os gemidos dos pacientes não
plicavam ás partes mais sensíveis do
horrendos instrumentos de
tortura,
corpo, e muitos
outros
com que trucidavam
os
desgraçados que eram delatados áquelle feroz tribunal, as mais das vezes por odio ou inentos infernaes
cum
inveja. toJo
que, sob
desvairam e allucinam,
a
dõnstru-
aquelle arsenal
acção de dores atrozes, que
arrancavam ás victimas
d aquillo que os seus algozes queriam que
ellas
a
confissão
confessassem,
eram sempre armazenados em lugar sombrio e retirado; a a luz, ama as trevas. N aquelle vasto con-
perversidade teme
vento tinham elles logares muito apropriados, cavas e subterrâneos, onde aquelles seres humanos, transformados
mônios podiam
á
em
de-
vontade exercer o seu execrando myster,
saciar os seus instinctos ferozes, horrendo festim de canibaes.
Os accusados eram,
muitas vezes,
condemnados sem serem
ouvidos, e por isso transportados das masmorras para as fogueiras ou
para o cadafalso,
onde soíTriam morte horrorosa; os
que compareciam perante o tribunal para justiça,
quando
isso lhes era
ali
dizerem da sua
permi Ilido, ou para ouvirem
a
sua sentença, quasi sempre condemnaloria. eram poucos e esse
sempre de lugubre apparencia, de funereo aspecto; como o peryslilio do cadalalso, a antecamara da morte.
tribunal,
era
137 Por isso é insensata tal
destino; ba
a
—
lembrança de attribuir áqnellas tres salas
outras casas muito mais apropriadas áquelle
ali
fim.
O
Claustro de Santa Barbara
da egreja, deita para tulo; é
contíguo á fachada poente
fica
magestosa janella da Casa do Capi-
elle a
pequeno mas de bonita arcbitectura em estylo renas-
cença, parece ser obra de Ü. Manuel; este
communicação com o da Hospedaria
O
claustro está
em
e o Claustro dos Filippes.
Claustro dos Filippes, começado por D. Catharina e aca-
bado no reinado d’aquelles vento; d
uma
reis
intrusos, é o
melhor do con-
mas ma-
arcbitectura que se pode dizer pesada,
gestosa e bella, sobresae a todos os outros.
Tem duas
galerias,
primeira é formada por doze arcos grandes, de volta redonda, todos de lina cantaria; são tres em cada lado e firmam se soa
bre espessos e fortes pilares
lambem de
tuem, por assim dizer, as paredes arcos encostam se pedra,
de
feitas
á face
uma
d’este
de cantaria; o segundo primeiro,
com
sobem
só peça, estas
cada dois
até á cimalha de
bise do pavimento
espaço que
portal e por cima
lateraes; entre
externa duas enormes colnmnas de
pedra que se salienta na afastadas e no
cantaria, que consti-
lica
uma
entre cada duas
fresta
abre-se
quadrada, tudo
pavimento é
a dilíerença
superior, estão
de que os
em
tudo
um
também
semelhante ao
arcos que lhe
corres-
pondem são mais pequenos e como por isso o espaço entre elles é maior, ba umas largas fendas ou estreitos portaes que os ladeam; por sobre os portaes inferiores ba outros de eguaes
dimensões, tendo por cima um oculo em vez de fresta; tanto o vão dos arcos como o dos portaes é resguardado por balaustres de pedra, formando em todo o perímetro uns varandins que dão áquelle todo um aspecto bonito. Sobre os capiteis das
colnmnas do pavimento
inferior assentam outros de pouco menores dimensões que vão até á cimalha do eirado ou terraço, que fica sobre este claustro e que se chama Terraço da Cêra,
diz-se
que por
ali
se
porem
a seccar as velas,
tochas e círios
de cêra, que n aquelle mesmo convento se fabricavam; era este
— 138 — em
terraço
Ioda a volta guarnecido de
mau
diremos,
gosto dos que se divertiam a atiral-as d
xo, deleitando se
que da queda.
com
Em
na galeria inferior,
um
cada
de hemispherio ôco,
vão; nos do lado do norte
teem forma
sul
dois espaços
modo
a
em
em
cima
uma
a
tem
cimalha per-
em
que assenta uma cupula
com
o cho-
dos ângulos d’este quadrilátero ha,
um pequeno
feitamente circular, sobre
abai-
ali
com
o vèl-as cair e esmigalharem-se
forma arredondada, apresentando
do
balaustradas, que
não existem; foram destruidas pelo vandalismo, ou antes
já lá
a
umas
forma
concavidade voltada para baixo; os
dilTerente, entre o supporte
um
quadrilongo, inclinados
de cantaria ba
sobre o outro de
tocarem-se por dois ângulos; os lados menores que se
tocam formam angulo recto e unindo por uma
midades d
estes,
temos
do angulo maior loca
a
um
linha as extre-
triângulo rectangulo, cujo vertice
aresta do pilar; vê se pois que a forma
do espaço aberto na espessura das paredes, nos pontos onde se ligam para
mesma forma é
um circulo
formarem os ângulos, não tem, nos do geométrica que nos do
n’aquelles é
um
triângulo.
dois dos ângulos diagonalmente
das paredes, escadas
em
sul,
norte, a
porque o que n estes
No pavimento superior
opposlos leem, na espessura
onde se sobe para 0
caracol por
ter-
raço. A abobada d’esle pavimento é sustentada por artezões de cantaria salientes, que, firmando-se nas paredes lateraes, vão dencontro a fechos quadrangulares, tendo no centro uma ellipse,
se
como que emmoldurada dentro de quatro
cruzam em ângulos Snhindo da egreja
faxas,
que
rectos.
por
principal e junto ao coro,
uma
porta
que
fica á
esquerda da
passa se por debaixo d
um
arco e
entra se neste claustro, 0 arco faz já parte d’elle; logo adeanle
d este arco está, no fecho da abobada, a data
em uma era
das fachas que
pouco conhecida,
emmolduram
Í
5 G2
Haverá
Pedro Nunes,
Ires
homem
Esta data
a ellipse central.
porque no ponto onde está não se vè
facilmente e ha muitos annos que estava encoberta
d aranha.
gravada
,
annos, 0 guarda inlelligente,
d’aquelle
com
teias
convento,
amigo de saber
e
muito
— apaixonado por tudo que qual tem feito
um
peza, descobriu
aproveitando-se d
a
elia,
ui.
—
monumento, do proceder á limpois esta desco-
Houve alguém que,
certo valor historico.
d’este unico facto a conclusão de
tirou
que aquelle claustro, que sempre obra de D. João
áquelle
aquella data; deve-se-lhe
ali
um
que tem
berta,
diz respeito
estudo especial, andando
139
foi
chamado dos
instando porque de
Filippes, é
todo se apague a de-
nominação que dantes tinha e se lhe dê a d’este rei, pretendendo com isto eliminar a mancha que n aquelle convento deixou a coroação d um rei estrangeiro. A divergência da nossa opinião obriga-nos a entrarmos em algumas considerações. A
em um
data é da regenoia de
L>.
da abobada da galeria
superior do claustro,
que concluiu
a
Catharina, está
foi
dos fechos
portanto ella
obra, já muito adeantada pelo seu ante-succes-
sor no governo. O argumento seria concludente se outros factos
que
ali
observam não viessem coiitradictal-o e elucidar o do observador. João ui mandou construir os dormitorios e por debaixo se
espirito I).
o
que
refeitório e a cosinha,
deita
Santa Barbara,
d’ali
vinham ao Claustro de
desciam por uma escada de pedra e iam
entrar no refeitório por
o busto d 'aquelle
do Mixo.
para o Claustro
Para irem para o refeitório os frades
uma
rei e vários
porta
lateral
que tem por cima
ornatos; para que neste transito
uma via uma
não fossem expostos ao tempo era preciso construir coberta que d’elle os abrigasse,
foi
por
issso que
se fez
arcada, firmada sobre grossas columnas, que ainda
lá
formando uma galeria que da escada conduzia ao ainda feita
ali
se póde
observar; é estreita, o que indica
como uma simples
via
de communicação, tem
existem
refeitório;
ter sido
abobadas
artezoadas e de espaço a espaço apresenta na face interna ornatos e figuras. Hsta arcada é evidentemente obra de D. João ui,
porque está encostada
zer por
elle,
exactamente o obras
e é,
á
parede do
o estylo architectonico
mesmo que
por assim dizer,
se usou
um
refeitório,
em que foi em todas as
annexo do
mandado
fa-
construída é
outras
refeitório,
suas
por ser
— 140 — destinada a dar passagem para
mandou
quando D. João
elle; logo,
ui
fazer aquella obra não existia o Claustro dos Filippes,
nem mesmo
na sua mente;
desperdiçar tempo e dinheiro.
a
em
obra ser monumental,
a
Defronte do refeitório, para o
em começo
em
um
construir
se
destinada a ser
estava
frente ao seu portico; ainda
nhece na parede o vão que deixaram para portal ou talvez
como
se observa; devia ler dois pa-
ali
para o superior
entrada
pelo átrio da egreja,
que lhe devia
fazer, seria
grandeza e arcbiteclura,
pôde ajuizar pelo que ainda vimentos,
mandava
a
as obras da nova casa que D. .Manuel linha dado principio; devia esta
lado do nascente, estavam já
do capitulo,
não
aliaz
rico
seu ante-successor, mandando
ali
largo
com o
portico a condizer
João
ficar fronteiro. D.
se co-
lá
um
metter
m
continuou
a
do
obra
mas
fazer alguns trabalhos,
só depois do ter concluído outros, que julgou mais necessários
e adequados ás
esmerava-se
em
reformas que
rfaquelle convento
des e conchegos da vida monaslica, porisso, para estes, depois
introduziu;
proporcionar aos frades todas as commodida-
de
concluída o casa
do
evitar
que
quando nella
capitulo,
celebrassem as suas reuniões tivessem que atravessar o atrio da egreja, expostos ás
intemperies, tratou logo
de arranjar para esta casa da e eommoda;
a
mesma
uma coinmunicação
bem
porta,
visíveis;
que ainda
principio
arcada que se observa encostada ao
onde ainda ba
refeitório fel a seguir pelo lado opposto,
gios
em
interior abriga-
vestí-
no extremo norte d’essa arcada abria-se uma ali
uma
se conhece, e dava entrada para
cada de suave accesso que
ia
dar
ao segundo
es-
pavimento da
nova casa do capitulo; esta escada recebia luz por uns arcos,
que
lá
estão
ainda,
mas tapados;
aquella
arcada ou galeria
prolongava se e mais adeaute havia onlra porta que dava gresso para os baixos
tf aquella
Vè-se pois que nesta epoJia D. João
no claustro que agora
ali
tem
casa, esta
foi
inutilisar
in-
de 1545.
nem sequer
ni
existe e que
a data
pensava parte do
seu trabalho, porque a escada ficou complelamente ás escuras e hoje está entaipada.
Alem
d isto vê-se
que em 1545
foi
que
— 141 — com
D. João começou
a continuação das obras
inferior da
No pavimento
ás paredes já existentes outras
çou
a
de D. Manuel.
casa do capitulo
nova
com
encostou
lavores e ornatos e come-
Quanto tempo em-
abobada, que não chegou a fechar.
Porque não concluiu ao menos o fecho da abobada ? Não podemos sabel-o; mas o que também, quem pensar um pouco e tenha algum conhecimento da indole pregou
ali
os seus artistas ?
acreditar é que elle subitamente sus-
d’aquelle rei, não pòde
pendesse aquella obra para
ir
começar outra, que lhe
sava parte dos trabalhos já feitos e que todas que por seu se desviou
não
d’ali
foi
decerto para
destaca de
tanto se
mando foram executadas. Se
a
inutili-
sua attenção
obra de grande monta
n aquelle convento, porque de extraordinário valor era a que tinha entre mãos. O que poderia acontecer é que o seu fana-
tismo religioso, que lhe absorvia todas as faculdades da alma, lhe fizesse por algum tempo esquecer os seus queridos freires
ordem religiosa, cuja installação em Portugal julgava da maxima importância para hem da repara dedicar-se a
uma
outra
ligião.
Não
satisfeito
monarcha com
ainda o excessivo
o ter
introduzido
d’aquelle
religioso
zelo
em
Portugal o tribunal
da
inquisição: dizia elle e os padres seus conselheiros, que para evitar que o lutheranismo se introduzisse na nação e para co-
nhecer dos erros vinha do
d'esta infeliz gente (os hebreus),
Senhor fosse em augmento
e désse
pura que a
sazonado fruclo
pediu ao patriarcha S. Ignacio, que então se achava
,
em Roma,
mandasse alguns de seus companheiros para os empregar na conversão dos gentios na índia e outras possessões. Mandou- lhe este o padre Simão Rodrigues, que eia portuguez,
lhe
natural de Vouzella e o reverendo Francisco Xavier.
Foi este
para as indias, onde prestou relevantes serviços e morreu co-
mo
santo; o primeiro ficou
panhia de
Jesus; para
em
Portugal para fundar cá a
este fim
mandou
Lisboa o collegio de St.° Antão, que
João edificar
em
a
primeira casa pro-
em
todo o mundo; de-
foi
priamente sua que os jesuítas tiveram
L>.
com
142
— Como
pois tiveram muitas.
isto
era a realisação de
nova, devia o espirito do rei prender-se
ali,
uma
idéa
desviando-se, talvez,
das obras de Thomar.
Mas não
seria este o motivo
porem, talvez antes
a falta
de se sustar naquella obra,
de material, por não
haver
quem
o transportasse e de que tanto se queixava o celebre architecto
em
Castilho
para
las,
em que
cartas dirigidas ao rei,
cem carradas de pedra
nas pedreiras
com
ellas
lhe dizia,
que tinha
lavrada, portas e janel-
poder acabar de galgar os estudos dos
col-
legiaes e as necessárias no andar superior dos dormitorios dos frades; alem d estas
mais
mil,
cem carradas
bois ou providenciasse de
Como
sena.
precisava ainda transportar
por isso pedia lhe mandasse dinheiro para comprar
modo que
estes carretos se eflectuas-
admittir que não havendo no local o material pre-
ciso para proseguir nas obras
que estavam entre mãos, se fosse
principiar outra nova e de tão grande
Não sabemos que
a
se o rei
abobada do pavimento
por fechar, naluralmente por to
de forças
e,
monta
? E’ inacreditável.
providenciou ou não, o que inferior da casa falta
é certo é
do capitulo ficou
de cantaria. Já velho e exaus-
talvez, desgostoso,
das em-
Castilho desistiu
preitadas e renunciou o cargo de architecto das obras do con-
ven to. Por decreto de 10 de julho de 1054 é Diogo de Torralva
nomeado
architecto das obras
tres annos incompletos antes
do convento de Thomar, apenas
do falleoimento de D. João
teve logar a II de junho de 1557.
que vá
a
Thomar,
a fim
N
com o seu
material fizesse
novo e o sobreclaustro. Que claustro era este nos
referimos,
dos frades
que D. João mandou
para o refeitório e para
não pude ser, porque esse ainda parle;
foi
lá
a
?
Aquelle
fazer para
nova casa
está, pelo
terminava que fosse
a
fez é
a
um que
serventia
do Capitulo,
menos em grande
por deante d’elle que se construiu outro;
do que ultimamente se
que
de desfazer o outro claustro, que es-
tava aberto e perigoso, e que
já
ui,
esse decreto ordena-se-lhe
a
largura
muito maior, quando se lhe de-
mesma; repugna
á rasão admittir
que
— um
H3 -
claustro feito sob a direcção de tão babil architecto,
como
o era João de Castilho, em tão pouco tempo estivesse já ameaçando ruina e o sumptuoso claustro que ultimamente ali se edificou decerto não
como claramente
foi
a
Thomar
com o
material d outro, é obra nova,
se patenleia.
Mais tarde, no
manda
feito
principio
o
da sua
regencia,
mesmo Diogo de
formar o claustro que
ali
Torralva
lhe tinha mostrado.
Isto leva a crer
João ui, se se referia áquelle claustro não á evidencia
Calharina
I).
fim de trans-
existia incompleto entre o refeitório
e a nova casa do Capitulo e que posesse
que
a
que no claustro, que
boje
em
pratica a planta
que
a
foi
ali
ordem de
não tem
existe,
aquelle rei parle alguma, porque, se qualquer coisa
começado
bem 1).
mandada transformar
foi
lá
tinha
Logo mais
cabida seria a este claustro a denominação de claustro de
Calharina do que a de D. João
quem
mo
regente.
pela
D.
cumprida e prova
ui,
apezar de não ser
ella
o concluiu, embora lhe tivesse dado começo, sem mes-
tencionar fazer a obra que agora
Como
já
ali
se vê.
dissemos, os frades, para irem para o refeitório,
passavam pelo claustro de Santa Barbara, desciam pela escada de pedra, que lá está ainda, muito trilhada e seguiam pela galeria que em frente d’ella se abria; hoje, examinando aquelle vè-se que o caminho a seguir
local,
ao fundo da escada
vedou-se o transito
cantaria e ao lado abriu se
mento
inferior
posteriormente outro;
foi
uma
porta
com uma parede de
que
deita para
o pavi-
do claustro; sahindo por essa porta, logo adeante
um rico lavatório de. mármore, que devia ter quatro torneiras; em seguida, no outro vão que forma angulo com este está um altar. O lavatório e á direita, no vão da antiga galeria está
tem
a
panha
data de {393*, é portanto obra de D. Filippe u de Hese primeiro
de Portugal:
altar nos logares que
a collocação
do lavatorio e do
estão occupando, mostra
claramente o
seguinte: que n’aquella epocha ainda os frades, para irem para
o refeilorio,
vinham ao claustro de Santa Barbara,
desciam
aquella escada, encontravam logo o lavatorio, onde lavavam as
mãos
seguiam para o
e
mesmo
vável estivesse
um
crucifixo,
genuflexão, dando graças a
onde è proajoelhavam ou faziam apenas uma Deus, como era costume nos tem-
de cada
pos antigos depois
ali
altar,
lavavam
refeição;
mãos, e seguiam seu destino. por
tomavam o
refeitório;, á saliida delle
caminho, passavam por defronte do
novamente as
Ura se no reinado de Filippe
i
eia ainda o transito para o refeitório, decerto não ha-
que conduz directamente
via a escada
a elle; esta
escada
foi
mandada fazer por D. João ui; e se naquelle tempo é porque o claustro não estava
metlida no vão da galeria
não
existia
concluído, se o estivesse não tinha
do lavatorio
fóra
do transito
mais curto e o mais commodo, e patente: ao cimo
da escada
rasão de ser a collocação
que se devia
do
a
seguir, por ser o
prova d
está
isto
uma
refeitório abriu-se
que dá para o corredor do cruzeiro, de modo que
bem
lã
porta
os frades
iam directamente do dormitorio para o
refeitório,
deixando de
passar pelo claustro de Santa Barbara;
ficou,
por
isso, inutili-
sado o lavatorio que Filippe substituir, «a
espessura da
Filippes trava
com
a
i
tinha
parede,
mandado onde
a
fazer, e, para
o
do claustro dos
do dormitorio, metteu se outro, que
re-
cebia agua do deposito que alimentava a fonte; tem a data de
1017,
o que
ram
é,
portanto, dos últimos annos do reinado de Filippe n,
faz
suppor que seria por aquelle tempo que se acaba-
as obras do claustro.
D. João ui
mandou
fazer a galeria, de que lemos fallado,
para serventia do refeitório; do lado opposto, parallelo
a esta,
vè se restos d outra perfeilamente egual, decerto obra do mes-
mo
autor;
davam serventia para a nova casa do Capitulo. Como duas? Talvez do patamar da escada, que desce
se ligavam as
do claustro de Santa Barbara, descesse outra para o lado opposto, seguindo-se depois
estabelecesse a
a
parede do claustro
mada em esta
um
corredor ou também galeria, que
ligação; o vão que ainda e a janella
porta, parece ser d isso
passagem ser muito
hoje se observa entre
da casa do Capitulo, transfor-
estreita,
um
indicio; devia,
porém,
por causa da saliência que
— 145 — para aquelle lado formam os gigantes que encostam á parede
da egreja.
Não pareciam aos frades muito commodas estas communicaçáo e D. João, que muito os estimava, e
commoda
a
de transito entre os dormitorios, o
via
nova casa do Capitulo; pensou n
a egreja e
seu pedido
ampla
quiz talvez arranjar lhe mais
iniciativa própria,
ou por
de
vias
refeitório,
que não
isso, se é
‘
1
encetou qualquer trabalho n’este sentido, mas, se o
fez,
as
obras posteriores eliminaram-o, por isso n aquelle claustro nada
tem
ligar-se o seu
que possa
a
Do que
fica
nome.
fundamento algum
lembrança de dar áquelle claustro
a
minação de D. João
podemos
ui;
paradoxal e insensata, por estar
que
se notam e
ali
H
tem
logicamente que não
exposto deduz-se
dizer que esta
até
em
deno-
a
idéa é
opposição com os factos
o que nos dizem os documentos his-
com
tóricos.
Como rina
dissemos, no principio da sua regencia D. Catha-
já
mandou que
claustro,
Thomar Diogo de Torralva para transformar
a
existia incompleto entre o refeitório e a
e entre o refeilorio e u
do Capitulo. Note-se bem: incompleto
o
nova casa
nova
casa do Capitulo.
A palavra claustro deriva do verbo (fechar), exprime, portanto, a idéa d
sim
uma
só galeria,
mesmo
serve a ligar dois corpos do conventos;
em
muitos se observa
tava. estabelecer
em
um
recinto fechado; e as-
mas tem excepções; algumas vezes dordinario com arcos e abobadas, que
na generalidade,
é,
indica
latino ciando, claudere,
uma
via
isto, e
a
casa dn
Capitulo,
hoje se vè, para a antiga casa do Capitulo,
meçado que
a
e
nova; era o que D. João tinha foi
fizesse,
modo
fácil e
egreja, servindo lambem,
entre os dormitorios e a
concluía
em
era do que
de communicação
entre o refeilorio e
baixo,
edifício,
em
geral nos ali
se tra-
commoda;
em
cima
como ainda
emquanto
se não
vista e havia co-
o que D. Catharina determinou ao seu architecto
transformando,
lhe podia
mudar
a
isto é
demolindo,
(nem d outro
fôrma) o que seu defunto marido já
!'iO
tinha llie
—
feito,
para se executar o desenho que aquelle architecto
Parece que D. Catharina
tinha mostrado.
concluira
esta
obra, que muito naturalmente devia ter começado do lado do refeitório e dormitorios para
oopposto,
e,
ao terminar n 'aquelle
extremo, no ultimo fecho da abobada gravaram, mória, a data de 1562; são, n’esta I).
mesma
e,
julgando
entregou
data
Henrique; por isso nada mais
não
foi
imponente e grandiosa que ora factos.
I).
ali
em
sua me-
a
sua mis-
cumprida
regencia
ali fez,
nem
reinado que se
durante o seu
ponderarmos bem os
a
ella
a
seu cunhado
podia fazer,
fez toda
que
li
aquella obra
se vê diz nol o a rasão, se
João
111
em
falleceu
H
de junho
de 1557, o legitimo herdeiro da corôa era seu neto D. Sebastião, este
nomear
se
porém
um
verno durante
tinha apenas Ires anuos d edade, era preciso
regente, que tomasse conta das a
sua menoridade; para este cargo havia
Catharina e o
D.
redeas do go-
lio
I).
Henrique!
Suscitai
a
crearam-se partidos, oplando uns pela avó, outros pelo
nomeação recahiu
afinal
ella
só
exerceu
anuos e não era,
a
a
delongas, por
mais de quatro
regencia por pouco
deceito, n’este
a
tio;
opiniões
sobre D. Catharina, estas
encontradas de dois parlidos deviam dar logar tanto
avó
am-se duvidas e
curto espaço de
tempo que
enorme trabalho que ali se empregou; demais que, tendo mandado o architecto Torralva a Thomar para transformar o que seu defunto marido já linha começado se podia levar a cabo o
a
fazer na via de
communicação entre o
Capitulo, decerto o não
empregou
casa do
refeitório e a
e aos seus artista só n este
trabalho; porque, por esta occasião se fizeram
também gran-
des obras nos antigos aposentos do Inlante
Henrique, que
I).
mandou restaurar, ampliar e adornar, para como residiu muito tempo, talvez por querer afastar
ella
onde
a
residir,
ali
se da côrte,
inquietavam e perseguiam os que lhe não eram
alfei-
çoados; até que, cançada e desgostosa, entregou a regencia.
Seguiu se lhe D. Henrique, que nada tião; este,
fradescas,
mais dado
a
fez, e
depois
I).
aventuras guerreiras do que
Sebas-
a coisas
comquanto eslivesse em Thomar algum tempo
e aqui
deixasse assignalados alguns aclos do seu governo, não consta
que naquelle convento
obras notáveis. Vieram, por fim,
fizesse
os Filippes de Hespanha. Merecia lhes sympathia e predilecção
o Convento de Christo. Ali
fauslosamente hospedado pelos
foi
em
frades o primeiro d estes reis, quando fez a sua entrada
Portugal e
ali
ram; grato
foi
a tão
acclamado
rei
pelas cortes, que
carinhoso acolhimento,
lá
se celebra-
devia querer
dotar
com uma obra monumental, que mostrasse á seu grande' poderio e perpetuasse a sua memó-
aquelle convento
posteridade o
E conseguiu
ria.
o,
porque aquelle claustro conserva
conservar sempre o nome de Claustro dos Filippes,
possam levianas afiirmações negar-lhe
a
que carece de autorisada.
opinião,
proveniência e
agora
vir
nome, que se tem perpetuado atravez dos séculos
tóricos
de
uma
só
apagar-lhe o e
dos nossos sábios historiadores ainda se atreveu
Em
e ha
sem que
que nenhum a
negar-lhe.
conclusão, os factos observados e os documentos his-
provam
á
evidencia que D. João
m
nada tem n aquelle
que D. Calha rina apenas ali mandou fazer uma via de communicação, que era o que estava projeclado, e não o
claustro,
claustro que
quem
lião;
ou
lá
foi
aquelles,
existe.
Não o
que
lhe
deram o nome;
já expostos temos ainda
vulgar,
os
mas
Henrique nem D. Sebas-
fez D.
que o fez? Não póde ser outro senão aquelle, a
e
alem dos argumentos
altestal-o a Iradicção, tradicção
transmittida por
homens
illustrados,
como
Freires de Christo e conhecedores dos factos,
presencearam, aquelles que d
o
não
eram
porque os
fizeram menção aos seus
elles
successores.
A
historia é imparcial,
temos
que
admittil os,
embora o sen magoe com certos factos,
recta e inexorável;
timento nacional e palriotico se
fira
e
(piando não
houver rasões
convincentes para podermos negai os.
mos, alardeando
não devemos,
um
tido
patriotismo que vae alem do sentimento,
fundados n
tem o valor que se
bastante
E, para nos salientar-
lhe
uma simples
quer dar,
como verdade, antepondo nos
ir
observação,
que não
negar o que sempre
fo*
ás mais subidas autorida-
148 des
em
—
historia patria; seria
um
excesso dorgulho,
uma
frivola
vaidade; por isso continuaremos a chamar áquelle claustro Claustro dos Filippes.
O que
—
um ar de soberana magestade, o que principalmente se impõe ã admiração de quem o observa, são as suas fachadas, é o exterior e não o interior; admira se dã áquelle claustro
a sua grandesa e não os seus ornatos, que os não tem; n’aquella mole colossal de pedra, não trabalhada ao buril, mas talhada
Plaustro do» f ilippes
ao escopro e á picóla, sobresaem as gigantesca columnas de só peça, que simetricamente dispostas foram ali encos-
uma
como ornamentação do que como pontos porque para aguentar todo o peso das abobadas
tadas ás paredes, mais
de apoio,
tinham os pilares e os arcos de cantaria poder mais que sufficiente.
Eram
frente da obra
talvez só estes pilares e arcos, ali
mandada
que formam
a
fazer por D. Calharina.
Aquellas columnas enormes, que se
aprumam
ao lado dos
HO vãos, deixados abertos na espessura dos pilares e sobre cujos capiteis
saem as cimalhas do segundo pavimento em baixo o aspecto Je porticos grandiosos e em cima a forma imponente de mages-
assentam e
e as do eirado, dão
de soberbo palacio
tosas janellas de sacada. Dir-se ha, ao contemp!al-as, que cada
uma
das quatro fachadas daquelle
claustro é a frente de
um
assomar áquellas d algum poderoso rei.
grandioso palacio real e aíigura-se-nos ver
sumptuosas janellas o vulto respeitável
Ao centro deste
uma
claustro, eleva se
repudio, cuja colmnna é
feita
de quatro peças que se salien-
tam formando ângulos diedros, rectos superior liga-se
uma
magnifica fonte de
em
outra peça,
e
reentrantes; á parte espiga, que a
forma de
termina, sendo esta cravejada de pequenos orifícios; d’ella
está
um
prato circular
lumna, inferiormente
também de pedra
a este, outro
abaixo
ligado á co
de maiores dimensões e na
base o tanque, limitado por curvas circulares
com
a
convexi-
dade para dentro e por linhas rectas, que ligam umas ás outras estas curvas, apresentando por isso quatro faces semi circulares
e quatro planas; o seu perímetro é guarnecido por pilastras
de pedra.
A agua subia pelo eixo da
columna para
ir lá
em
cima, e:n virtude da pressão devida á dilTereuça de uivei, saltar
por aquelles
em
orifícios
em
delgados
filetes,
que, encurvando se
graciosas parabolas, vinham cahir no prato superior; este
por umas boccas de phantasticos animaes simulando
peixes,
despejava-a para o inferior, que tem na sua base e face exter-
nas quatro carrancas de bronze diametralmente oppostas, as
vomitavam para o tanque; mas alem de estes pontos de sabida desciam ainda ao longo da columna uns
quaes boquiabertas
a
tubos que conduziam
pedras da
bém
sabia;
e isto por
bronze atiravam
çavam lira
a
a restante a
quatro figuras talhadas nas
mesma columna, uma em cada a
em
forma
tal,
face.
por onde tam-
que as quatro carrancas de
jorros quasi verticaes e as de pedra lan-
em curvas, cruzando-se estes jactos uns com os outros. em volta d’esle claustro que se faziam as procissões
solemnes,
uma
das melhores, a do Corpus
Christi; para este
—m— acto as suas paredes
eram forradas da
simas colchas de damasco bordadas impostas e aos saimeis
vê junto ás
donde para
vistosas arras e riquís-
ainda hoje
ouro;
a
os vestígios
lá
se
dos pregos
dependuravam. Da porta da egreja, que dá passagem
se
sabiam os freires luxuosamente paramentados;
elle,
bri-
lhava o ouro, reluziam as pedrarias nas vestes sacerdolaes de fino
barramaque,
a
com
contrastarem
pobre e humilde
a túnica
do Martyr do Golgotha, que tão estranhamente n aquelle acto pretendiam representar; debaixo de riquíssimo duzida
uma
encerrando
pedras preciosas,
tes e outras
transubstanciação do Verbo Divino.
chegavam
pallio era con-
valiosissima custodia d ouro cravejada de diaman-
ali
já amortecidos,
a hóstia
sagrada,
Os sons do orgão, que
casavam-se com o psalmear dos
Os
frades, resoando pelas abobadas do claustro.
raios do sol
que vinham atravessar os jactos d’agua que emanavam da
fonte,
produziam, pela sua desegual refrangibilidade, as vivas cores
do espectro
solar,
eram uma como
luz celeste,
que vinha
illumi-
nar aquelle quadro magnificente e pomposo e o murmurar da
um hymno
agua, que calha no tanque, era
var o Eterno, que
ali
se adorava.
da natureza
a lou-
A prochsão caminhava
a pas-
sos graves e cadenciados; atraz seguia o povo, curvada a fronte, contricto o coração; e os sinos repicavam no alto da torre e
do thuribulo de prata dourada subiam ondulantes nuvens de odorífero fumo. Estas pomposas manifestações do culto externo inebriam,
fascinam o espirito da multidão,
que parece abandonar por
momentos
a matéria, para se elevar a regiões ethereas,
nhecidas;
arrebatam mas não
edificam, persuadem,
desco-
mas não
convencem; findo o acto aquellas impressões desfazem se, como se foram uma visão phantaslica e tudo volta á realidade do mundo positivo.
A maior parte
d aquelle povo,
que
ali
parecia
tomado
de firme arrependimento dos desregramentos da vida mundana, desce á
villa
resto do dia
ou caminha
em
para suas
libações, outros
dos que não condizem com
a
em
aldeias e uns
passam o
cantares e danças, folgue-
contrição que
lá
mostravam.
-
—
lol
Despidas as vestes sacerdolaes os frades desciam ao
refei-
era costume naquelles dias de festa solemne terem
tório,
al
-
guns convivas, por isso esperava-os a li mais lauto banquete,
com que podessem reparar
no trabalho
forças exhaustas
as
humedecer as gargantas resequidas pelo vozear do cantochão. Tomados os seus respectivos logares, da cosinha, que tica contígua, começavam pela ministra a passar que haviam
tido e
fume-
pitança, que, ainda
pratos da appetitosa
os primeiros
gante, espalhava pelo ambiente odoríferos vapores. Era a prin-
do vinho nos
cipio profundo o silencio; só se ouvia o entornar
copos e o crepitar das viandas
triturarem se entre as poten-
a
tes maxillas
dos commensaes, emquanto o irmão
mudeava no
púlpito
aspirando aquelles se é que
dentro
lã
em
leigo tarta-
rançoso latim alguns trechos da Bíblia,
appelitosos aromas, que o faziam
na cosinha não
tinha já
salivar,
devorado algum
naco de presunto ou de succolento carneiro assado e entornado
algumas canecas do
com
para melhor poder arrostar
tinto,
a
ardua tarefa que tinha a seu cargo. Saciado o voraz appetite e quasi
repletos os elásticos
batido por vivo
estomagos, o compasso binário
aquellas queixadas
passava
a
andante; os
phicos personagens,
ia-se
roliços
inclinados para
afrouxando e de troncos deante,
alegro
d’aquelles seraa
pouco e pou-
tido
aprumando para em seguida declinarem em sencontrario até se refastelarem nas fofas poltronas, pondo
em
proeminência os atoucinhados abdomens; então, porque já
co iam se
os vapores de Baccho
lhes
iam excitando os cerebros, con-
versava-se animadamente, ria-se,
chalaceava-se, trocavam-se
tempo a tempo eram interrompidos pelo sorver ruidoso de abundante pitada
ditinhos picantes e agudos
gracejos, que de
de esternutatorio simonte ou de caixa.
Felizes
tempos
!
asim que mortificavam nmm
Ou a
tino rapé, colhida
de aurea
antes diremos, felizes frades
!
Era
carne para purificarem o espirito.
Terminados aquelles lautos banquetes, os mais velhos ou mais circumspectos recolhiam aos seus aposentos, emquanto que os mais novos e mesmo alguns velhotes folgazões, pas-
— 152 — savam ao Claustro dos
como
Filippes
era
costume, era
ali
o
pospaslo; então das frescas e escuras cavas subiam as empoei-
radas garrafas do aromatico moscatel e do fino tinto ou branco já envelhecido na
estava-se
frasqueira;
em
liberdade,
plena
jogava se, brincava-se á vontade. Aquelle recinto sagrado, que servia ás festas divinas, servia
também
ás profanas; pelas abo-
badas onde ba pouco resoavam os cânticos religiosos, echoava agora o
do ouro, que se jogava ás mãos cheias e o vozear
tinir
descompassado e estridulo dos que
em
tendo aquelle logar E’
que
se retouçavam, conver-
em
muros, onde devia
dentro d’aquelles
lá
ali
tavolagem e muitas vezes
bordel.
reinar a
virtude e a austeridade, havia homens, não havia santos;
abastança e por isso os vicios e
via o ocio e a
d
uma
e
doutra derivam.
A agua, que alimentava
um
capacidade,
quando
e,
d elle e descia para
uma
esta
uma
de repuxo era trazida por
a fonte
em um deposRo
aqueducto e vinha juntar-se
peito de
ha-
as paixões que
de grande
não funccionava, passava
ao lado
calha de pedra, que passa no para-
varanda, que
fica
contígua ao Claustro dos Filip-
quando se
pes, para o lado do sul; parece que
fez esta fonte,
ou quando se projectou
fazei a, ainda
não eslava concluída
fachada sul do claustro,
nem
modo
como
foi
d outro
se pode
a
explicar
que deixaram na espessura da parede o vão para o
deposito e para o cano que conduz
obra de Filippe
11,
é
mais
uma
a
agua;
e,
sendo esta fonte
prova de que aquelle claustro
bem cabida a denominação de Claustro dos Filippes, que sempre tem conservado. Já os Templários, quando construiram ali o seu castello, tiveram o cuidado de abrir cisternas, como era costume fazer-se é
em
todas as fortalezas, para deposito
não faltassem
em
caso de cerco.
Um
d’aguas, de
modo que
pouco afastado da capella,
para o norte e formando saliência para o poente, encontra-se aberta na rocha
uma escada que desce
pedaria; na parte
uma
superior d’esta
calha de pedra,
com grande
para o Claustro da Hos-
escada vê se de
cada lado
inclinação para o lado opposlo
ao plano inclinado da escada, o que indica dirigirem-se para dentro da muralha; aquellas calhas não podiam ser outra coisa
senão collectores, para receberem as aguas pluviaes, que ca-
lham sobre o eirado da capella
e dos castellos e reductos,
para aquelle lado devia haver e as conduzissem
que hoje se não pode saber onde ponto tasse gia, e
a
a
um
Vè-se que n 'aquelle
íieava.
rocha era escarpada; é provável que sobre
algum que
assen-
ella
por licar perto da capella a prote-
castello, que,
a este se
que
deposito
seguissem outros, que guarneciam a linha
de defesa pelo lado do poente;
a
calha que
tem grande capacidade, o que mostra que dos castellos e reductos.
a
para o norte
íiea
somrna das areas
que ficavam para aquelle
lado,
era
considerável. Esta observação, que ainda ha pouco tivemos occasião de fazer, leva-nos a modificar o que anteriormente dis-
semos
—
que para aquelle
escarpado
— não
lado o terreno
o era. pelo menos n aqnelle
menos
devia ser sitio e
veiu con-
firma r-nos o que já tínhamos afiirmado: que as muralhas não
iam travar-se na capella. Nas obras que posteriormente se fizeram, houve sempre o cuidado de aproveitar as aguas, que desciam dos beirados e guardai as
em
grandes depósitos, que ainda
lá
se
vêem
e d elias
se serviam os frades para regas e para dilferentes usos domés-
por não as terem nativas. Eram porém insuílicientes e de má qualidade, porque as primeiras chuvas arrastam sempre dos telhados grande quantidade de matérias organicas, vegeticos.
taes,
excrementos
organicas, entrando
d aves, insectos,
em
etc. e estas
substancias
decomposição, dão logar ao desenvol-
Em um
vimento de micro-organismos prejudiciaes á saude. edifício tão grandioso,
d
arte para o adornar,
onde tanto dinheiro se gastou
em
casarias [tara todas as
VÕes e todos os usos, de modo
(pie
nada
em
obras
accommodaeommodi-
faltasse á
dade dos que o habitavam, havia esquecido aos nossos reis um elemento essencial, agua de boa qualidade, ou o haviam tido
em
pouca conta por lhe desconhecerem o valor.
Deveram os frades
a
um
rei estrangeiro, Filippe
11,
o abas-
— 454 tccimenlo d'agua, que
buscar a mais de cinco kilometros
fui
de distancia, conduzindo-a por
galgando por sobre
um
aqueducto, que, rompendo
montes
e
lisação
subterrânea, que é a melhor,
vem
valles, a
trazer
porque
mais limpa e mais fresca e ainda porque obsta que
em uma grande
extensão dá logar
a
A
aii.
cana-
agua chega
a
evaporação
á
uma perda
conside-
rável, não era então usada, ou porque se não soubesse fundir
os tubos de ferro, que boje se empregam, ou porque se des-
conhecesse o equilíbrio dos líquidos era preciso conduzir a agua por
um
em
vasos communicantes;
modo
plano-inclinado, de
que as suas moléculas se deslocassem pela acção da gravidade, obtendo uma corrente mais ou menos rapida conforme nação; d’aqui
um
como acontece
era muito accidentado,
ali,
cortar os montes, que excediam o nivel a
a incli-
trabalho arduo e dispendioso, quando o terreno
porque
em que
foi
preciso
devia deslisar
corrente e fazer subir os valles, que lhe ficavam abaixo, o que
se conseguiu construindo arcadas sobre as quaes assentavam
as calhas que a conduzem.
um
No percurso d
profundo onde se construiu
valle
uma
este aqueducto ha
arcaria de duas ordens
d 'arcos sobrepostos; estes são ogivaes e os pés dos da
ordem
superior assentam sobre o vertice dos da inferior, o que mostra a solidez
Em
vèr-se. lia
uma
casa
que repousa curso;
em
com que foram construídos, li’ obra digna de uma das extremidades d 'esta especie de ponte abobadada, no centro das quaes a agua, como
cada
em
larga bacia, para depois seguir ligeira o seu
uma
volta de cada
ba bancos de cantaria; estas ca-
eram fechadas, serviam por isso a evitar que por sobre o aqueducto se fizesse passagem publica e serviam ainda de
sas
regalo aos frades, que frescura
em
ali
quizessem
tarde de verão.
o norte, da que
fica
Na
ir
passeiar e gosar suave
das as quinas portuguezas e por baixo d elias
que
diz
1 5Í)3
que
L>.
Filippe
e que seu filho
l*ara
que olha para
face externa, na
mais próxima do convento
i
1).
completarmos o
mandou
inscripção,
fazer aquelle aqueducto
Filippe u o fez acabar ligeiro
estão grava-
uma
em
esboço que temos
em
1013. feito d‘este
convento falta-nos mencionarmos cinto fechado por
um
um muro
alto,
O
largo portão d'entrada.
a cerca.
um
Esta é
vasto re-
tendo, ao cimo da rua da Graça, terreno, cuja area é de muitos
hectares, é accidentado por montes e valles; e d aqui por certo a
O
denominação de Sete Montes.
solo é calcareo; a maior
parte d’aqnelles montes estão povoados de pinheiros e matto,
onde abunda
em
a caça;
outros e nas encostas cultiva-se
veira; os valles são ferteis e
podem
ser cultivados
em
a oli-
horta,
por haver abundancia dagua para regas; encontram se nelles muitas arvores de fructo;
que do portão dos Sete
a estrada,
Montes conduz ao pateo dos Carrascos, é orlada de frondosas arvores d ornamentação.
Em
cima, junto á fachada sul do con-
vento, ha uni taboleiro de terra, segura pela antiga muralha e
um espesso tivado em horta por
muro, que posteriormente se construiu, é cule arvores fructiferas, taes
cidreiras, limoeiros, nespereiras, etc
convento, concentram-se luz solar,
não só os que
ali
,
como
o raios caloríficos que
n’elle
larangeiras,
abrigado do norte pelo
acompanham
a
iucidem directamente mas também
os que se reflectem nas paredes, por isso as fructas e os legu-
mes amadurecem mais cedo tem
um
e são de delicioso sabor;
em
volta
espaldar de parreiras, que produzem magnificas uvas
de mesa.
E assim, no decorrer dos séculos, se foram modificando as grutas e as choupanas dos antigos monges ou as cabanas dos cenobitas até se transformarem este e muitos outros,
em sumptuosos
onde nada
faltava ás
palacios
como
commodidades da
vida e onde, para mais, avultava o luxo e a grandeza.
ü
fim das primeiras congregações religiosas era manterem,
na sua
maxima pureza,
a
religião de Christo; por isso os
se dedicavam a este genero de
vida evitavam o
que
contado dos
outros homens, que podia desvirtual-os, fugiam do hulicio das cidades, que podia
distrahil os
do seu fim; é no ermo
montanhas, na profunda solidão dos bosques, no vasto
mento dus desertos, onde
das isola-
as impressões exteriores não des-
pertam desejos mundanos, que
a
alma, entregue
a si
mesma.
voar ao infinito
tende
a
inato,
qne
querer identificar-se com o principio
a
deu origem; é
lhe
ali,
onde não podem
vicios
chai a, paixões pervertel-a, que ella se mostra pura,
como sahiu das mãos do Creador. No tempo das grandes perseguições muitos
man-
immacu-
lada
christãos reti-
ravam-se para o deserto, principalmente paia as proximidades
do Egypto, e muitos
passavam o resto da
ali
exemplo, S. Paulo, que
que quer dizer
Monges,
— habitante
do deserto; lambem se chamavam os que viviam
isto é, solitários,
como, por
vida,
considerado o primeiro Hermita,
foi
isolados, Cenobitas
em communidade e Anachoretas os que em profunda solidão, depois de terem vivido algum tempo em communidade. No meio d’aquellas solidões levavam vida austera; empregavam-se em trabalhos manuaes, dos quaes aquelles que viviam
estavam
tiravam os meios de sua subsistência; pouco lhes bastava, por
que se
habituavam
tomavam por a
dia
a
uma
uma
frugalidade
ligeira refeição;
como
sua longevidade, pois,
tal
que.
em
geral, só
apesar d isso é notável
se vê na vida dos Santos Padres,
muitos viviam oitenta, noventa e até mais de cem annos; seus trabalhos consistiam principalmente
de junco,
ras
cabazes, objectos
que os não impediam
em
de folhas de palmeira,
de meditarem
os
fabricarem esteiele.,
constantemente nas sa-
em Deus. Os em isolamento,
gradas escripturas e terem o seu pensamento Cenobitas
também
as suas
pois
cellas
se pode dizer que
viviam
ou cabanas eram distanciadas
umas das
inlervallos; trabalhavam sós ou sempre calados; aqueila communidade reunia se duas vezes por dia. ás horas da oração. N a pielle isolamento as paixões e os vicios desappareciam. chegavam mesmo a perder a memória dos objectos que os despertam.
outras,
algumas por grandes
dois a dois e
Quando Constantino
se declarou pelo
christianismo e de
todo acabaram as perseguições, os christãos. que se dedicavam
exclusivamente aos
exercícios espiriluaes,
rar-se para os desertos e ermos;
uma
habitação
commum,
a
deixaram de
congregavam-se
e
reti-
construíam
que se deu o nome de mosteiro e
Monges ou
aos seus habitantes o de
ções
em
eram,
nunca dentro
como
geral, edificadas
d’ellas e este
Religiosos; estas habita-
povoações, mas
perto das
uso prolongou se por muitos séculos,
ainda agora se pode notar
em
antigos conventos.
construcção assemelhava-se muito ã das casas
como
ainda hoje se
de Palladio.
A
primeira casa,
veem
A
sua
romanas, taes
descriptas nas obras de Vitruvio e
egreja ficava sempre na parte anterior, era
para que os seculares
podessem
ali
ter
a
livre
entrada, correspondia áquella primeira sala, a que os romanos
chamavam alrium;
da egreja passava-se a
de galerias cobertas,
a
que então chamavam
do grego e hoje se chama claustro, com as outras peças do mosteiro;
como
o qual
mais peças; por delraz havia
dormitorio era casa,
miam
sem
commum;
os
um
pateo rodeado
derivado
communicavam
do capitulo, exedro
a casa
romanos, o dormi-
dos antigos, o refeitório, o iriclinium dos torio e
um
perystilio,
jardim ou horto.
O
monges dormiam todos na mesma
dislincção de camas, sobre enxergas de palha, dor-
vestidos, tendo
apenas uma manta para se cobrirem de
ordenava-lhes o dormirem sem mesmo tirarem o cinto; isto talvez para se distinguirem dos judeus, que sempre o tiravam quando se deitavam, como se vè n aquella passagem do Propheta: cinge os
inverno; a
regra de S. Benedicto
vestidos
tens rins e ergu?-te.
O
uso dos lençoes não data de muitos sé-
culos, os nossos antepassados lidos.
N
dormiam
vestidos ou semi-ves-
estes mosteiros não só as camas, mas até os hábitos
eram commuus; a coisa alguma qualquer dos monges podia chamar seu, havia uma verdadeira communidade; por isso os seus vestidos faziam-se de modo que podessem servir a todos,
eram
simplices e conforme o vestuário da gente pobre. S. Ba-
silio dizia
a
que o christão deve contentar-se
decencia e para se resguardar do
frio e
em
se cobrir para
das outras injurias
do ar:jnas com o menor embaraço que seja possível, contentando se com um só vestido, que sirva para de dia e de noite.
S Benedicto ordenava aos monges da sua ordem que usassem, só uma túnica com cucula ou capuz e um escapulário para o
-mtraballio.
A
liinica
gente pobre e a
a
sem manto
cucula era
era antigamente o vestido da
uma
especie de capote, que usava
gente do campo e os pobres. Este vestuário, servindo a co-
commodo
brir a cabeça e parte do corpo, era muito
o
tornando-se por isso
frio,
commum
séculos e ainda boje no varino
Não
para evitar
na Europa até ha poucos
vemos uma semelhança delle. mas até os nobres e os cor-
só os clérigos e os lettrados,
usavam capuzes de diversas
tezãos
sortes.
A cucula, ordenada
na regra de S. bento servia de manto, S. Benedicto deu lhes
um
escapulário para o trabalho; era muito mais largo e mais
usavam os frades
curto do que aquelles que ultimamente
nome o indica, servia para que menos se magoassem com como
o seu
resguardara túnica; tinha
e a
um
e,
guarnecer as espaduas,
a
o peso e atriclo dos fardos
capuz corno
cucula e estes
a
dois vestidos usavam-se separadamente, o escapulário no trabalho, a cucula (cugula
ou casula) na egreja
e nas ruas.
Mais
monges consideraram o escapulário, porque represeno trabalho, como a parte essencial do seu habito, nunca
tarde os tava
o largavam e
Estes
punham
a
homens faziam
cucula por cirna delle. voto de extrema pobreza, viviam ex-
empregavam-se em
clusivameiUe do seu trabalho;
porção de terra adjacente ao mosteiro,
dim ou
horto, plantando hortaliças e
a
cultivar a
que chamavam jar
semeando legumes para
seu uso, alugavam-se como jornaleiros, iam ás ceifas, vindimas
em grupos
e outros trabalhos ruraes; divididos
grupo conduzido por
um
superior, a qite
de dez e cada
chamavam decano
ou deyão; ainda hoje estes nomes são conservados na jerarchia ecclesiastica.
Era assim lambem
rpie os
conduzir ao trabalho os seus escravos
romanos costumavam
O que do producto do
seu trabalho sobejava, da sua frugal alimentação e do seu singelo e
duradouro vestuário,
distribuíam
em esmolas
pobres; alem d 'isto exerciam nos seus mosteiros
sem
a
pelos
hospitalidade
dislincção de crenças religiosas, tanto era [rara os cln
tãus.
como para
is-
os que o trão eram.
Os judeus, os gregos, os romanos
e outros
povos da
ardi-
— 159 — guidade lambem exerciam entre si a hospitalidade, que era um dever sagrado, mas esta hospitalidade
considerada como
não era uma virtude, era antes uma reciprocidade de serviços,
porque o que hoje recolhia em sua casa um viajante podia aconteeer que mais tarde se fosse recolher a casa d elle. A hospitalidade como virtude, a Caridade, que é a mais sublime de todas as virtudes, pregadas por Jesus Christo, só os chris-
começaram a pol-a em pratica. A Caridade não é o do ul des, fado
tãos
ut fadas,
pios sobre que assenta o direito natural;
etc.,
mas sim
princí-
praticar o
bem só porque bem, sem distincção damigos e inimigos, sem outra recompensa mais do que o prazer de o haver praé
E’ repartir
ticado,
com
os outros os nossos bens materiaes e
intellectuaes, compartilhar
com
elles as
suas maguas e os seus
pesares, allivial-os no peso da desgraça, consolai os no infortúnio, aconselhal-os na duvida, instruil-os
no bem, detelos no
impelo de suas paixões, soccorrel-os na indigência, amparal-os no escorregar da miséria. A Caridade è como a brisa suave, cujo hálito benefico chega
a
toda a parte,
bafeja a
rasteira
docemente a folhagem do frondoso abeto, no planta e cume das serranias, no pendor das montanhas, na quebrada dos valles, na explanada das campinas. Assim ella entra no agita
palacio
do
rico,
no tugurio do pobre, assiste nos hospitaes,
avança pelos campos de batalha ainda alem da
campa em
como nenhuma
e,
outra, vae
supplicas e orações pelos que mor-
reram. Cicero disse: charitas
howo
es t, ibi
primiam
a
bem fido
humani
locas
est.
generis, e Seneca:
Estas palavras
verdadeira Caridade,
a
Caridade
ubicumque
porém não exEvangélica.
aquelles grandes homens tiveram o presentimento d
ella,
Se
no
meio do egoismo tenaz, que então dominava as sociedades, esse presentimento, grandioso na essencia, era apenas uma concepção luminosa e
bella,
porém tenue
e vaporosa, que o sentir
geral da epocha, aferrado a avios preconceitos, varria e dissipava até perder se, como se esvae e perde o aroma das tlores
— 160 — Eram
açoitadas pelo vento e lavadas pelas chuvas.
uma
rellexos de
aurora brilhante, refrangencias d’uma luz refulgentissima,
cujo loco se achava ainda abaixo do horisonte, para despontar
um
dia
como
cfiluvios
astro lúcido e rutillante, a vivificar e esclarecer
homem, derramando por sobre
o espirito do
humanidade
toda a
de consolação e amor.
Esta virtude, a mais transcendente de todas, que não pode
homens, mas irradiação da bondade
ser obra dos
se radicou no coração da humanidade,
ceu
um homem
humilde no
sublime no pensamento,
trato,
Homem
divino na essencia, o
divina, só
quando na Judéa appare-
Deus, que
com o
seu exemplo
e o seu verbo, n estas singelas
mas eloquentíssimas
— Amae vos
a
uns aos outros
—
insuflou no
que o escutavam e o seguiam. E para que crescesse e difiundisse, vário se erguesse
uma
Labaro sagrado) e n
foi
palavras:
animo de todos
ella se
avigorasse,
ainda preciso que na rocha do Cal-
cruz (symbolo do opprobrio então, hoje
ao expirar o Itedemplor do inundo
ella
entre ladrões e assassinos, exhalando o ultimo suspiro, a
em
que
alma lhe voou ao seio do Creador, d onde havia emanado,
manifestasse ainda esta sublime virtude, pedindo o perdão para os que barbara e ignominiosamento o assassinavam.
Os pagãos nada providenciaram com respeito aos pobres, doentes e inválidos e na sua política entendiam que mais valia deixal os morrer,
tiveram hospilaes
visto
nem
que eram inúteis á sociedade, nunca
asylos. Oschristãos soccorriam os pobres
por dois modos diíTerenles:
um
distribuindo-lhes
esmolas e
deixando-os alojarem-se onde podessem; o outro consistia fornecer-lhes
habitação e alimento
meiro meio havia
em
em commurn.
cada quarteirão de
de escriptorio, chamado Diaconium
;
Homa uma
residia
que para esle fim recebia uma certa quantia,
ali
em
Para o pri-
um
especie diácono,
a qual distribuía
pelos que sabia serem necessitados e de que dava contas. Para
o segundo, depois que a egreja se viu livre das perseguições,
começaram
a construir se
diversas casas de caridade, que se
distinguiam por nomes gregos, conforme
a
qualidade dos po-
brés. A casa onde se alimentavam as creanças de peito abnn
donadas on que suas mães não podiam amamentar, chamava-se Brrphotropfuum, adosorphãos Orphanolrophium; Nosocomimn era o hospital dos doentes: Xenòdochium a casa onde se aloja-
vam
os estrongeiros e os passageiros (havia destas casas an-
nexas
vimos
a
jã
alguns conventos muito
em Semide eborvão
locomium era o
retiro
sorte de casas
um
em
a
Alexandria. S. Zotico res que
a sorte
mu
mantinham
á
sua intendência,
em
asylo; 1’rocho-
de pobres. Havia d esta
em
geral, era
como Santo
Isidoro na
todas as grandes cidades
padre que tinha
as
e até nellas pernoitamos); Geron-
dos velhos inválidos,
trnphium era geral para toda
entre nós
posteriores, e
e,
Constantinopla, etc. Havia particula-
sua custa
como
casas d hospitalidade, S.
I»
a
m
ma chi u s no
1'orto 1
e S.
Cal-
Ifcano ern Oslia. Ks-
ullimo
te
tinha sido patrício
e
co
e
n sul
ad mi rara v ô r
u
m
homem desta caj-ACIUDA DA KGREJA DO CONVENTO
lavar os pés aos pobres, servil os
the go á
mesa
e dar aos
ri a'
doentes
toda a sorte de carinhosas consolações. Lavar os pés era eos-
lume entre os judeus
e outros povos,
era o primeiro serviço
que se prestava ao viajante que se alojava em sua casa. Os monges recebiam nos seus mosteiros pessoas de todas as condições, crianças que os pães para lá lhes mandavam para
serem educadas na
verdadeira religião christã,
velhos
que
queriam acabar sanlamente
a
sua vida, peccadores
grave tinham
alguma culpa
que fazer
um
tos annos, preferindo, porisso, recolherem-se a
indivíduos d’alta cathegoria, a
quem
mui-
mosteiro,
profundos desgostos
revezes da fortuna tornavam aborrecida e insuppoi tavel
vemos em reis tomarem
por
que,
penitencia por
ou vida
a
social;
differenles epochas pessoas d alia nobreza e
até
a vida
monastica. Na egreja de S. Fructuoso.
arcebispo de Braga, ha regulamentos para toda esla variedade
de pessoas.
Os monges estavam teiro
nadas ao trabalho passavam-as
a orar,
para
oflicios divinos e
lhes ministrarem a Eucharistia; as horas que não
eram
implorando
desti-
Miseri-
a
si
e pai a todos os fieis e pedindo ao Eterno
infinita
bondade, esclarecesse o espirito dos que
córdia Divina para
que, pela sua
do sou mos-
sujeitos ao bispo e dentro
tinham clérigos para celebrarem os
ainda persistiam no erro; foram elles que introduziram no rito ecclesiastico os oíficios de prima e de completas, para começa-
rem
e
acabarem santamente o
dia.
Quanto aquellas congregações religiosas difleriam do que ultimamente foram
A li
a
pureza dos costumes,
mundanas,
um
a
Caridade
abnegação de todas as coisas
de
lá
radiante
e bella,
animantc e consoladora como
sol vivificador,
suave
a brotar
a
um
como
balsamo
dôr dos que sofTriam. Depois o luxo, o fausto,
a mitigar a
as grandezas, a ambição
do poder,
a intriga,
a
intervenção
nos negocios do estado, até a oppressão dos pequenos, emfim. tudo que era mundano, nada espiritual, senão debaixo de
uma uma hypocrisia repugnante. Mesmo n’aquellas ordens, que se diziam pobres e mendigavam, como aqui os franciscanos e os capuchinhos, viam-se homens validos e robustos a mendigarem por esses logares,
ficção, d
colhendo para
si
a
esmola que devia ser distribuída aos
indi-
gentes e inválidos; aquelles trabalhavam e do producto do seu trabalho repartiam
com
os pobres, estes viviam na ociosidade
e nutriam-se á custa dos que trabalhavam;
eram esses
con-
ventos
um
religiosos dos
á custa
a
a
nação,
um
coito
do trabalho alheio. Aquelles
tempos primitivos, verdadeiros representantes
de Chrislo na terra, imitavam proximo,
que sugavam
viveiro de parasitas,
de mandriões, que viviam
sua abnegação,
a
a
sua humildade, o seu
amor do
sua pobreza e a sua caridade;
não ambicionavam glorias mundanas, que despresavam, nem riquezas mais que as suas virtudes; trabalhavam mais para os outros do que para
si
proprios; não se serviam de meios im-
próprios para grangearem bens c enriquecerem nidade; não vendiam bentinhos
a
nem medalhas com
sua
commu-
indulgências,
verdadeiras negaças para colher ingénuos; nãocreavam irman-
dades
a
vintém por cabeça cada mez,
insignificância,
pode dar
em
parecendo
que,
uma
todo o orbe catholico alguns milhões
no fim década anno. Convenciam pela palavra
e
principalmente
pelas obras. Juliano, o apóstata, atlribue o rápido desenvolvi-
mento do christianismo principalmenle lidade,
a tres
causas: a hospita-
nem sabiam empregar, o cuidado com as sepulturas e a gravidade de seus costumes. Não distribuíam livrinhos escriptos em uma lógica isto
é, a
Caridade, termo que os pagãos
obscura cheios dargumentos insidiosos, onde os espíritos
fra-
enredam sem poderem desembaraçar-se, vindo por fim a succumbir. Deus e o Trabalho eram a sua divisa. Deus, idea que santifica, que mantém a alma pura e elevada, nobre e sucos se
blime n esse ideal para onde tende,
ü
enobrece, que avigora e fortalece
parte material do nosso
ser e que é a unica
que habitamos.
a
legitima fonte de
Trabalho que honra e riqueza n este mundo,
1 ANNUNCIADA 0 noroeste de Tliomar, sobranceiro ao 1
um
da Varzea Pequena, eleva-se
em
cujo cimo se vè
uma
capella
construída de cantaria, que tem a
ção de N. Senhora da Conceição; plano
um
socalco do
pouco
mesmo
inferior, especie
do nascente, existe
um
vasto edifício,
'e propriedade particular,
T
vento de frades.
sua séde primitiva, porque primeiro
de
monte, para o lado
Não
a teve
foi
foi
um
porém
con ali
a
perto do logar de
que ainda hoje se chama Annunciada Velha. Entre o logar de Cem Soldos e o de Carregueiros, cerca de um kilometro ao norte do primeiro, houve em tempos uma quinta denominada do Cerzedo, pertence hoje ao Conde de
Cem
Soldos, no
Tliomar esta
sitio
propriedade, que
n aquella epocha
pertencia a
uma senhora U. Isabel Teixeira, viuva de Antonio de Figueiredo, fidalgo da casa de El-rei. Compunha-se esta quinta de casas, com uma capella dedicada ao mysterio da Annunciação, uma abundante
fonte,
hortas pomares, terras de semeadura,
vinhas, olivaes, matios, sobreiros e pinhaes.
— 100 prédio, senhora muito piedosa, pela devoção
A dona d 'este que tinha para
com
ceu ao provincial da ordem,
propriedade para n acceite.
foi
Capuchos,
os religiosos
ella
Como porém
regra lhe prohibia o
esta
oífere-
João de Albuquerque aquella
frei
fundar
em 1520
um
convento, o que
por
ordem era mendicante
possuírem os seus membros
elle
e a sua
bens pró-
prios,
por terem
offerla
senão o que lhe era indispensável para o convento, que
foi:
voto de pobresa, não acceitou daquella
feito
as casas e a cipella, a horta e a fonte, ficando
culdade de poderem os
com
a fa-
lenha,
que
contracto
fez
malta
frades colher na
a
lhes fosse indispensável para seu uso.
melhor
Para
garantia e segurança
d’este
Isabel Teixeira doação d’esta parte da quinta a El-rei D.
1).
João m,
para
ali
com
a
condição de
um
se estabelecer
de setembro de 1527; ração á
mesma
elle a
ceder
ã
convento. Foi
e logo El-rei
ordem dos capuchos feita esta
mandou
D. Isabel Teixeira para que,
doação
mesmo anuo, dia Estremoz, em nome do U.
outubro do
Pedro de
em nome
de S. Francisco, o
Diogo
P. Fr.
então era commissario dos Provinciaes, recebeu da qual se lavrou termo aulhentico.
Em
íins
principiaram as obras nas casas da Quinta, a
um
convento,
com
claustros,
cujas despezas foram feitas
com
d elle.
«la
Em
P.
Fr.
Silva,
que
a dila
posse,
do anuo de 1528
acommodando
as
dormitorios e mais oITicinas, as esmolas, que muitas pes-
soas devotas deram para este fim. E
que
1
alvará de procu-
desse aos religiosos posse do prédio que lhe fora doado. i de
a
como
a capella
da Quinta,
Anmmcianome de Annunciada.
ficou sendo egreja do convento, era dedicada á
ção do anjo, tomou o convento o
Perlo de cento e vinte annos permaneceu n aquelle logar a
commimidade
religiosa de frades
Capuchos.
O
local
porém não
era dos melhores, mal ventilado, por ser abrigado do norte,
em
sitio
tempo
baixo e húmido, era pouco saudavel; ao
fiin
d aquelle
as paredes dos dormitorios, que haviam sido mal cons-
truídas,
começaram
a arruinar se, e
vendo os frades que tinham
que fazer grandes despezas, entenderam que era melhor
fazei as
em
na construcção d outro convento
Tomada por
elles esta deliberação,
conveniente;
encontraram-o junto
lognr mais
á
om uma pequena
villa
elevação, onde ainda hoje existe o edifício que
Tinham
ali
uma
os Freires de Christo
cepção de Maria Santíssima e
uma
apropriado.
trataram de escolher logar
foi
convento.
capella dedicada ã con-
certa are a de terreno, que,
parece, se estendia até ao valle que lho corre ao norte, por
que
uma
d’elle fazia parte
horta,
Proposeram os Capuchos aos estes aquelle terreno, excepto volta delia e recebendo,
que habitavam. do contrato
em
a
denominada do Valente. freires
capella e
uma uma
em compensação,
Esta troca
foi
puchos
frei
o convento e a cerca
acceite e lavrada a escriptura
19 de março de 10:29, sendo
André de
S.
D
Prior de Chi isto
urdem dos Ca-
Pedro do Sul.
uma prolongada demanda com Nuno
Seguiu-se depois
em
certa area
Ignacio de Novaes e ministro provincial da
frei
cedendo
troca,
Pes-
então dono da Quinta do Cerzedo, onde se achava o con-
soa,
Annunciada, o qual
vento da
Irades, o convento
lhe ficava
allegava que, sahindo
pertencendo, porque
d a
tinha sido feita unira e exclusivamente para aquelle fim e
para outro. Depois fizeram cipio
com que
em
não
guerra da restauração e outras delongas
as obras do novo convento só tivessem prin-
De uma
1645.
ram aquelles
a
os
ali
doação
religiosos
e
outra
parte
algumas compras
e
do convento
fize-
houve também quem
lhes fizesse doação de terras para accrescentarem ã cerca.
Concluídas as obras, que
em grande
parte foram feitas
esmolas de pessoas devotas, installaram se convento, havendo
tinham no outro qual
foi
transportado para
e a
elle
com
frades no novo
os-*
toda
a
mobilia que
imagem de Nossa Senhora Annunciada,
a
collocada na tribuna do altar mór, por cujo motivo esta
convento se ficou denominando com o
mesmo
titulo
do outro.
Convento da Annunciada.
Os frades d este convento viveram sempre em estreitas com os Freires de Christo e, até certo ponto, sob a
relações
sua dependencia.
Davam
lhes estes
medico
e botica para os
II
—
IG8
—
religiosos enfermos, meia arroba de vacca,
neiro e tres quarteirões de vinho (d
semana
Em
quando era preciso.
e pão,
um
litros e
quarlo de car-
6 decilitros) cada
dia de
Nossa Senhora
das Candeias davam treze vellas, doze de meio arraiei e
uma
de tres quartas para o guardeão; dia da festa da padroeira iam
Frades de Christo,
seis
um
cantar a missa, dois para diácono
sermão e dois para acolytos. Pela sua parte iam os frades da Annunciada ao Convento de Christo assistir ãs vesperas do patriarcha S. Bento e á festa, que ali e subdiacono, urn pregar o
d aquelle Santo,
se fazia no dia
Passos, á do
á procissão dos
que se
na
sua
A camara de Thomar dava áquelle convento, desde o
prin-
corpo de Deus, ás capella
cipio
em
vesperas e ã
festa,
de Nossa Senhora da Conceição.
dia
por provisões reaes,
do antigo,
semana; esta quantia, que importava pelo S. João e El rei D. João v por lhe désse
fazia
mais pelo Natal
com
estes proventos,
G>000
as esmolas
cento e vinte réis cada
em
uma
6í)2iO
réis,
era paga
provisão ordenou que
réis para
um
porco.
que colhiam nos peditórios,
co.n o que recebiam das missas, que muitos devotos lhes
davam
dizer
em cumprimento de promessas
dos finados e com
communidade em
o dinheiio do
padroado,
almas
vivia esta
santa
pobresa mais apparente do que
mos sal e
mesa não era
lauta,
mas
real,
em
porque,
de bom vinho.
Na horta
hortaliças, a boa laranja e outros fructos
em
a
como
cada
abun ouvi-
eommeu
cada refeição o respectivo e clássico pichei de luzidio
estanho cheio
e
era farta,
pessoas contemporâneas, não faltando
a
man-
ou pelas
se ao ocio se não juntava a abastança, tinham decerto a
dancia; a sua
Com
volta
d’ella
tinham as mimosas de pevide e de caroço
bons espaldares das melhores castas de
vi-
que produziam em abundancia as mais delicadas uvas de mesa. N aquelles felizes tempos ainda cã não tinha apparedeiras,
cido o phylloxera
O padroado João Gonçalves
Noronha.
nem
se havia inventado o vinho de inarlelln.
d’esle convento
foi
dado ao Conde de Calheta,
da Camara e sua mulher D.
O conde morreu em
Ignez
Lisboa e o seu corpo
Maria de foi
tras-
ladado para aquelle convênio e sepultado
ali em 27 de março A viuva continuou com o padroado, dando ao convento 5&000 réis por mez; esta morreu no convento de Santo Alberto, onde tinha entrado como freira Carmelita descalça;
de 1C56.
por sua morte, as freiras daquelle convento desistiram do padroado e este passou para os Condes de Casl. Ilo Melhor, so brinhos dos
(SOÀUOO
Condes de Calheta, os quaes davam os mesmos
réis, trinta pelo
Natal e trinta pelo S. João.
Na parede da capella mór, do lado da
epistola,
estava o
seyuinle letreiro:
mor
Esta capella çalves
fie
do mui nobre
da Camara, conde que
da Madeira
e
capitão
condessa sua mulher
I).
e Uluslre
na
foi de Calheta
general da Ignez
João Gon-
mesma
Ilha e
Ilha
da
Maria de Noronha, a qual
por morte do dito conde capitão entrou religiosa Carmelita Descalça
em Santo
Ignez de Jesus
Mana
o Padroado
Alberto de Lisboa e se
chamou
José: antes de professar
d este Convento para
si e
tomou
jazigo dos ossos
de seu marido e o dotou coin tiOhOOO réis cada anno para
ordinann perpetua para que assim a alma do Conde,
como a sua gosem das Missas
e Suffragios,
toda a
pelos
Piovincia se
Conventos d
elia.
capella maior.
1656
appUcam
que
Padroeiros
em dos
Jaz o Conde sepultado no meio da
Falleceu
em
Lisboa a
27
de abril de
.
Hequiescat in pace.
Está
errada esta data, porque o fallecimento do conde
como dissemos,
a
27 de março.
foi,
0 padroado
da capella do Capitulo d’este convento
ao monteiro-mór da
E conforme
villa
a deliberação
dado
foi
das Pias, Estevão de Araújo e Freitas.
tomada
em
capitulo,
que se celebrou
no convento de Santo Antonio, do Valle da Piedade, do Porto,
em 25
de julho de 1693,
lher, filhos e
ali
mu-
tinha sua sepultura, de sua
Na parede da mesma
descendentes.
capella,
do
lado da epistola, estava o letreiro seguinte:
Esta capella he de Estevão de Araújo leiro
e Freitas, cavai-
da Ordem de Chrislo, para sua sepultura
sua mulher U. Maria Frois de Azevedo descendentes, correndo a fabrica d'ella Religiosos,
para a qual dá 4&000
réis
e
e
de
Andrade
e
por conta dos cada anuo: tem
Missa quolodiana, anno de 1096.
Ainda hoje reside tiga e
em Thomar um
descendente d‘esta an-
nobre família.
SENHORA DA PIEDADE Ao
uma ali
norte de Thomar,
n aquelle alto
mão
em um
elevado monte, vê se alvejar
capéllinha, é a ermida de Nossa
como que
a
Senhora da Piedade;'está
estender sobre
a
povoação
a
sua
prolectora; não é a padroeira da cidade,
porque essa ê Santa .Maria dos Olivaes, mas nem porisso deixa de ser muito estimada e venerada por toda a gente da terra; entre os seus habitantes conta ella numerosos afilhados e grande numero de devotos e de bem longe veem alguns cumprir promessas
em reconhecimento ella
quasi
receberam;
dos benefícios que,
não ba
em Thomar
ninguém que, em casos
protecção, por
pela sua devoção, de
e nas suas
afllictivos,
visinhanças
não recorra
á
sua
paredes interiores da sua capella se acham sempre guarnecidas de figuras de cêra, representando isso as
— ni — corpos
inteiros, cabeças, braços, etc
alem das muitas
olíertas <jue
azeite para a alumiar,
llie
animaes domésticos,
até
,
de velas de
fazem
ceia e
de dinheiro e objeclos de valor, eomo
cordões, brincos e outras joias que, contrictos e cheios de fer-
vorosa devoção,
ali
lhe
virtudes milagrosas,
a
vão depor os que, com ella
a fé
viva nas suas
recorreram no meio das atribula
ções de que é accidenlada esta vida e obtiveram o que lhe im-
ploraram.
A sua imagem representa braços seu amado e divino ter Dolorosa).
Virgem Maria recebendo nos
a
quando o desceram da cruz (Mauma das sceuas mais palhelicas d esse drama
I£’
filho,
assombroso, que ha perlo de dois mil annos preseneearam os habitantes da capital da Judéa;
uma mãe
be nos braços e repousa no regaço seu
carinhosa, que rece-
filho
querido, exangue,
inanimado, de cujas feridas goteja ainda, não já sangue vivo,
mas delgado
soro; e ella, a atribulada mãe, a debruçar-se so-
bre elle pretendendo, desvairada pela dor, animar transmitindo-lhe o seu calor
vital,
pria vida para conseguir reanimal-o. Se
com sentimento
cadaver a pró-
não com arte decerto
esculpiu o autor aquella imagem, porque dos
olbos lhe borbulha o pranto, que pelo
um
que lodo dera com
atugueado
rosto,
comprimido pela dor
em
grossas lagrimas desce
ver-se-lbe o arfar do peito,
e parece
e saliirem-lhe dos lábios abafados suspi-
sobem ao ceu a buscarem a alMundo edeutificada já com o Ser ma divina do Redemptor do Supremo, d onde havia emanado (Verbum erai a pud Oram). Sobe se até a esta capella por uma escadaria de mais de ros que partem do coração e
duzentos degraus, que começa
proximo
a S.
á
sabida da Varzea Pequena,
Gregorio. Ksta escadaria está dividida
lanços e passa-se d uns para outros por
um
em
muitos
espaço horisontal,
o que lorna menos fatigante a ascenção e este espaço é cir cumdado por um muro baixo, coberto com lages apparelhadas, oíTerecendocommodo assento aos que quizerem descançar. Quasi ao me;o e á direita de altar se eleva
um
quem sobe
crucifixo,
é o
está
uma
Senhor
capellinha,
Bom
em
cujo
Jesus do Monte.
Lá em cima, em
um muro com
por
volta da capella,
ha
um
terreiro limitado
um
dlsfructa se d’ali
assentos;
panorama
agradabilíssimo: vè-se toda a cidade, avista-se grande extensão
do
com
rio
lantes
margens
as suas verdejantes
e lá ao longe ondu-
arvores, por
povoadas de oliveiras e outras
collinas,
alguns casaes e pequenas
alvejam
entre as quaes
campo. Amena para o lado do
poente a paysagem é agreste, mas bellezas; elevam-se
casas de
sul e nascente, para o norte e
nem
porisso deixa de ter
penhascosos montes, cavam-se fundos valles;
por entre as fragas rebenta o rosmaninho, o carrasco, e eleva-se o carvalho
mostra-se
d’um lado
sem
nem
galas
e a
azinheira;
natureza,
a
ornatos, e este
entretem o espirito que vê
ali,
luxo,
a
um
lado
mundo
physico, o quadro
social:
ao pé da grandeza
o supérfluo, acolá a indigência,
sul
Francisco, que
quartel militar.
dicanle e já cá
a escassez.
hoje se acha
A ordem dos Franciscanos
havia outra,
a
transfor-
era
também mendicantes, lieis
lhes
iam
os soccorriam e
men
dos Capuchos; não convinha
estes «pie tão perto se estabelecessem aquelles, que, por
que os
aqui o
de Thomar, no lado poente da Varzea Grande es-
tava o convento de S.
mado em
pobresa;
a
FRANCISCO
S.
Ao
garrida,
miserável,
contraste prende a attenção,
no
abastança ao outro
a
a aroeira
luxuosa,
do outro pobre,
que se acha reproduzido no mundo a miséria,
rica,
das esmolas com
tirar parte
cercear-lhes
a
serem
os proventos que
auferiam das missas que os devotos lhes encommendavam. A
abnegação e
a
fraternidade das antigas ordens religiosas Unha
desapparecido ha muito e havia-as substituído o egoismo e inveja;
porisso, (piando se projectou edificar
vento os Capuchos,
com
os Freires
que sempre estiveram
ali
em
a
aquelle con-
boas relações
de Christo, pediram áquella poderosa ordem
protecção contra os intrusos,
d onde resultou
grandes estorvos
d aquella obra.
á realisação
opporem estes
- 473 0
provincial da
Ordem dos
m
Luiz obteve de Filippe
que lhe para da
elle
villa
em
concedida
foi
os
Franciscanos, Fr. Antonio de S.
licença para a edificação do convento, 1(522,
com
a
condição de
frades de St.® Sita, e obteve
concessão do terreno, o qual lhe
mudarem
também da camara cedido com a con-
foi
dição de não prejudicarem o largo, marcando-se a largura que devia ter. Objectou-se a isto que a camara não podia, naquelle
sem
logar, fazer concessões de terreno
que a attendeu.
D. Filippe,
então posse do
Francisco d Evora Varejo tomou
mas ainda não
local,
a largura,
mas não
se havia determinado o comprimento;
na demarcação d’estes limites
a
camara, talvez instigada pelos
em
accordo com os Franciscanos; porém recorreram ao povo, que, reunido em plebiscito,
freires,
estes
estava de todo resolvida
porque logo surgiu nova dilíiculdade; tinha-se mar-
a questão,
cado
licença regia; esta dif-
fazendo os Franciscanos nova petição a
resolveu-se
ficuldade
não queria
decidiu a questão
entrar
a favor
uma grande
dos Franciscanos por
maioria.
A poderosa Ordem de Chrislo já não tinha tão alto poderio como n’outro tempo tivera, já não podia domar a vontade do povo, que, pelos vexames que constantemente d’ella estava recebendo, negocios
lhe não
era favoravel.
de interesse commum,
O povo
dar o seu
podia
então,
em
voto e decidir a
questão, havia-se já emancipado da tutela dos tyrannos para,
na nossa epocha, descer á condição de humilde escravo, sup-
portando resignadamente todos os vexames e iniquidades dos altos poderes; e se
proclamar os seus
ou
a
a voz
pretende reagir ou só levantar direitos, é repellido
golpes de sabre.
a
Resolvida a questão, começou a edifi-
cação d’este convento a 7 de setembro de 1028. Ainda ba
Ordem de
vontade,
Christo veiu
allegando
para
ponta de bayoneta
mostrar
que deixava de
a sua
a
mesquinhez
receber os
sobere
má
dizimos das
terras que os Franciscanos tinham adquirido. Devia ser, para
aquelles opulentos frades,
um
prejuiso sensível o que podiam
receber de dizimos de tão pouca terra e de tão
má
qualidade;
ainda hoje se
pode ver o grande rendimento que
sendo a cerca
nem
urna
podia dar,
encosta esteril. que quasi
produz, e lamentavam
rnatto
a
falta
migalha
d’aquella
quando cm 1831 se extinguiram as
esses pobresinhos, que,
ordens
em
quasi toda
eram ainda senhores de 454 commendas,
religiosas,
que lhe rendiam cerca de cem contos de
Por
annuaes.
réis
qualquer forma se resolveu esta ultima diífieuldade, porque o convento edificou-se e
de quartel
a Infantaria
lá
está ainda hoje o seu ediíicio servindo
15,
com uma boa parada, em bom
local
e tendo na frente o largo da Varzea Grande, muito apropriado
para exercícios militares.
não tem coisa alguma
Este convento
que o recommende
pela sua arcbiteclura; a egreja é ampla e bastante elevada,
não
tem hellezas architecturaes ou quaesquer ornamentações, é pobre e singela, sombria e tristonha.
SANTA MARIA Na margem esquerda do
com
egreja
a
rio
cerca
de tresentos antiga
denominação de Santa Maria dos Olivaes
(d’ella
bairro de
já fallámose faltaremos ainda, cia,
Nabão,
Alem da Ponte, ha uma
metros ao sul do
quando nos referirmos
á
Naban-
porisso, do pouco que sabemos, aqui diremos menos). E’
esta egreja a matriz da freguezia de
Thomar, que. por recor-
dação da antiga importância que teve, conserva ainda esta cathegoria, mais de
nome do que de
facto,
porque, quasi todos
os sacramentos se realisam hoje
dentro da cidade na egreja
de S. João Baptista, que noutro
tempo era apenas conside-
rada como capella.
A
antiga prelasia
pre inherente
cargo
a
foi
por
substituída
ao parodio
d aquella
população rural e ao qual
uma
egreja,
competia
vigairaria,
que a
sem-
tinha a seu
ministração do
Viatico, confissões e casamentos, etc. e a celebração dos oílicios
divinos na
mesma
egreja.
Em
S.
João havia
um
cura, subor-
dinado ao vigário e com eguaes atribuições respectivas á po-
— 175 pulação urbana.
O padre
homem
Affonso Vito de Lima Velho,
respeitável, polido e estimado na
marense, exerceu por muitos
mais selecla sociedade tho-
annos
cargo;
aquelle
falleceu
ainda não ha muito, veiu substitui! o outro, que nunca
grangoar egnaes sympathias, acabou com o curado, ultimo que o exerceu o
homem também
padre Antonio de
sendo o
dade o centro mais populoso, quem pendente d’aqnella autoridade
uma
vigairaria
para
que, sendo
a ci-
algum negocio deecclesiastica, tem que ir lã
espoliação feita
a
tiver
Thomar.
A egreja de Santa Maria é antiquíssima, remonta anterior á monarchia portugueza,
de
um
convento de
Benediclinos
ainda no tempo da Nabancia.
[)ois
consta ter
fundado
provável que, quando Gualdim Paes
ali
a hei va,
muito
é
e
chegou com
só encontrasse destroços: paredes derrocadas,
fendas crescia
parte
Eructuoso
destruiu aqnella
egreja
a
a epoclia
feito
por S.
O calaclysmo que
cidade devia arruinar consideravelmente
licia,
Itila,
respeitável e bemquisto de toda a população;
longe, Ires léguas de distancia, de maneira
foi
poude
Sousa Santa
depois saliiu de Thomar, levando comsigo a
tratal-o;
-
a
sua mi
em
cujas
columnas derribadas, por cujos fustes
se enroscava a hera; as lages convelidas
servindo de
abrigo
ao eslelião, as paredes arruinadas d alcandor ás aves noctur-
Aos cânticos
eligiosos dos cenobitas
succederam o piar do do noitebó e as sinistras risadas da coruja; pelo pavimento onde ajoelharam os crentes, arrastavam se os reptis.
nas.
mocho
r
e
Tinham aquelles seres infimos tomado posse do quinhão que lhes coube nos despojos d
uma geração passada,
que havia morrido e entre elles eslava
um
d
uma
cidade
templo, que agora
de guarida. Porém, debaixo d aquellas minas repousavam as ossadas dos antigos monges, relíquias venerandas, porque muitos d’elles haviam vivido e morrido em santidade Ali fora agnosterio, onde em dourado sacrario se guarlhes servia
dava
a
ostea divina;
louvor ao Eterno;
mento
ali
ali
haviam soado os cânticos sagrados
em
haviam corrido lagrimas de arrependi-
e desabrochado sorrisos d esperança. Era pois aquelle
— um
176
—
logar de respeito e veneração para os crentes; e Gualdim
Paes era
que
um crente.
Porisso levantou das ruinas aquella egreja,
lhe havia de servir
porque
de jazida,
seus restos mortaes; reedificou
não
a,
lá
repousam ainda
como alguém
a fundou,
erradamente afiirma.
Sabe se quanto ainda n’aquelle tempo eram respeitadas e veneradas as sepulturas dos chrislãos, por isso Gualdim Paes devia aproveitar-lhe o pavimento, deixando-o o mais intacto,
paz dos que
ali
dormiam o somno
veitar-lhe os alicerces
em
possível
para não revolver aquellas sepulturas, perturbando a eterno; devia
lambem
apro-
que ainda estivessem solidos e seguir
nem lhe com sinos,
tudo os delineamentos do antigo edifício; porisso
ergueu
um
campanario,
nem
lhe fez subir
uma
torre
que decerto os seus fundadores lambem lhe não haviam locado, porque os sinos nas egrejas só
começaram
depois do sétimo século da eia chrislã
e a sua
col-
usar-se
a
fundação
foi
muito anterior.
O que Gualdim Paes ali fez não podemos nós agora sabel-o com certeza, porque esta egreja soflreu posteriormenle grandes modificações. Ao entrar nella sentem-se ainda na mente remeniscencias do passado. Do nivel do solo, na sua frente, descem-se nove degraus para chegar ao vestíbulo e do portieo para o pavimento, mais
oito,
que tanto
foi
terreno para encontrar o nivel primitivo.
didas por columnas, que sustentam exterior, do lado do
norte, vê-se
preciso rebaixar no
Tem
tres naves divi-
arcos ogivaes.
Na
parte
ainda parte
de dois arcos meio soterrados, cuja curva não é da mesma forma e em uma das capellas lateraes para o sul ha outro soterrado pelo lado de fora até quasi ao fecho, o que
indica ser
da
primitiva e
pelo lado inteino, hoje invisível por se achar coberto
camada de reboco, e cuja forma faz
suppor que
hoje
ali
lambem não
a architectura primitiva era
com uma
é ogi vai, o
que
diíferente da
que
se observa; ora sendo natural que Gualdim Paes apro-
veitasse todo o material, que ainda
ali
encontrou e seguisse o
antigo systema archilectonico, que devia ser
o greco-romano,
— é provável que as ogivas, que hoje
se
lá
obras que
ali
D. Manuel e depois seu filho D. João
ui,
produzidas pelas
ficações
177
-
veem fossem modimandou fazer Kl rei e não obra dos Tem-
como também ha quem, com pouco critério, calhegoricamente alíirme. A capella-mòr atfasta-se das conslrucções modernas e approxima-se muito das que se usaram nas primitivas egrejas; não tem, como ellas, a forma semi circular,
plários,
porque
é
um
polyedro de sete lados
com
frestas envidraçadas
mas
vidros de cores;
a
que leva
curva intea
crer que
que hoje apresenta é uma modificação da que outr ora
teve, fazendo
O
lembrar pristinas epochas.
deslocado,
como
modificada
a
ainda
altar
também
foi
se póde observar. Foi portanto muito
lá
obra dos Templários, da qual, quando muito, po-
derá ainda estar intacta cantaria,
cujas faces se rasgam
faces é circular, o
rior tangente a estas a forma
em
tendo ao
a
fachada
principal,
que é toda de
do portico,
centro, por cima
um
grande
concêntrico
a
este, outro de peque-
nas dimensões, dentro do qual se vê
a
cruz dos Templários,
oculo de forma circular,
e,
e d elle, irradiando para a peripheria, aberturas limitadas por
com
curvas e vedadas
vidros de cores,
ü
portico
lambem não
parece ser da primitiva, é provável que fosse modificado e se lhe desse a forma ogival para o adoptar á architectura interior; está muito deteriorado pela acção dos agentes athmosphericos,
por serem de
má
qualidade as pedras que no seu fabrico se em-
pregaram A cada janella,
um
dos lados ha
uma grande
fresta,
ou antes
para illuminação das naves lateraes; são terminadas na
parte superior por curvas circulares: parece serem da primitiva. Foi esta egreja,
com
a
invocação de nossa Senhora da As-
sumpção, cabeça de todas as que pertenciam aos Templários,
porque nella estabeleceram seu convento. Quando se extinguiu esta
Ordem
e se erigiu a de Christo,
com sua séde em Castro
Marim, Santa Maria ficou egreja parochial, porém, o seu vigário tinha a
superintendência de todas as mais que por aquelles
conlornos pertenciam á Ordem. Depois, quando os Cavalleiros
de Christo mudaram de
Castro Marim para Thomar,
voltou
ella
novamente
a
concederam-lhe,
ser convento da a
cabeça
fazendo-a
de todas
obedecia ao Papa, por isso hoje se
de S.
Haptisla).
João
quem
indulgências a
Pontífices
e
immediata
á
Sé
o seu
prelado só
usava báculo e mitra
(estas insí-
acham guardadas na
gnias ainda
Gregorio
Ordem modo que
da
as
(nulius diocesisj; de
Apostólica
Ordem. Os Summos
pedido dos Templários, muitos privilégios,
O Papa Gregorio
a visitasse
sacristia da egreja ui
concedeu muitas
no dia da Assumpção,
e o
Papa
estendeu essas indulgências para todas as festas
ix
declarando que por intervenção da sua
da Senhora,
imagem
obrava o Senhor muitos milagres.
Todos os mestres do Templo, desde Gualdim Paes até’ ao ultimo, foram sepultados n esta egreja; alem d’estes muitos ali leem sua jazida; é uma verdadeira ne üs tumulos, onde repousavam tantos varões illustres, foram demolidos com as obras que ali mandou fazer D. Manuel
cavalleiros e fidalgos
cropole.
e D. João
Entulhavam
ui.
a egreja.
No desejo ardente de
pro-
curar commodidades aos frades e ostentação nas suas obras, aquelles dois
jaziam,
nem
mittida sua
monarchas não respeitaram as cinzas dos que ali importaram de que á posteridade fosse trans
se
memória nos
campas que os cobriam;
letreiros das
apenas conservaram nas paredes da segunda das capellas raes, que Fr.
Antonio de Lisboa
Gualdim Paes
e a
Martins, para
os outros,
ali
que
n’aquella egreja
ali
mandou
late
construir, a de
do ultimo mestre do Templo, D. Lourenço
foram também removidas as ossadas de todos lá
ficaram no olvido.
um
primeiro mestre da
neto de
L).
Ordem de
Diniz,
lambem sepultado chamado D. Lopo e o
Está
Christo, D. Gil Martins;
este
acha-se na capella mór, do lado do evangelho e o seu epitaphio
do mesmo lado e por cima d elle ha um monumento de D. Diogo Pinheiro, prelado de Thomar e bispo do Funchal. Em monumentos de pedra, assentes sobre o dorso de leões, estavam também tres mestres da Ordem de Christo, D. Martim Gonçalves, D. Estevam Gonçalves e O. Itodrigo An
está na parede
nes.
Também
os desfizeram para não pejarem a egreja
— 179 Esta egreja, que
foi
matriz de todas as que havia na
villa
de Thomar e na das Pias e seus termos, immediala á Sé Apostólica,
o que
a
elevava á cathegoria de Episcopal, decahiu do
com
seu antigo esplendor;
perdeu toda
a
extincção das ordens
continuou ainda, por algum tempo, vigairaria, hoje a
chama
que
a
é milagrosa,
tinham os devotos porisso
lhe fjjzem já;
é apenas
£ rej a e ,
ser prelasia,
nem
um monumento
Jorre de
perdeu-se até festas
foi
a
fé
nem romarias
hislorico,
emquanto o
Maria dos Plivaes
^>anta
;
não deixarem perder, porque, dabaudono
um
depois
Thomar; nem
se lhe a egreja matriz de
imagem da Senhora agora n ella
religiosas
sua importância, que lhe vinha da de Chrislo,
a
em
abandono, virá
cahirem minas, voltando ao estado em que Gualdim Paes a encontrou. Assim terminam as obras dos homens; manifestações da sua evolução brilham e apagam-se conforme se
vae
dia a
modilicanilo o ideal das
objectivo;
gasta as
esquecem
as
depois
entidades sociaes, de que eram
a lima
do tempo,
abandonam-as e
as gerações de séculos posteriores, porque,
seu evoluir constante, crearam
ponde objectivo
diíTerente.
um
novo
no
que corresAssim vae caminhando a humaniideal,
a
— 480 — dade, deixando atraz de
si,
como marcos
milliarios,
vestígios
das suas crenças, do seu pensar, do seu sentir. Convem conservai os, porque nos indicam a estrada do progresso por onde
caminharam os que nos
lião
precedido.
uma
Defronte d’esta egreja ha estão collocados os sinos; não
nem
pode
se
bem
saber qual
foi
elle fosse,
assim como não é
determinar a epocha da sua construcção; foi
uma
janella; se
assim
é,
onde
torre quadrangular,
este o seu destino primitivo,
a
facil
porta parece que
os seus fundamentos
devem
estar
ao nivel da egreja e ifeste caso remonta á epocha dos romanos. Seria então
um
reducto de qualquer fortaleza? Não é pro-
vável, ainda
n’aquelle local se não encontrou
de muralhas
nem
elle
d elias,
mas
são ou
mesmo uma dependencia do
podia ter qualquer outra serventia, ser
ram. Se fim?
lá
Também
recolherem as
pri
que nunca
ali
se fize-
obra dos Templários; com que
existia, então é
nos não parece
uma
só se poderia
convento;
esclarecer isto por meio de pesquizas,
não
algum
vestígio
era muito apropriado para a construcção
facil
alfaias da egreja
em
acertar
com
elle.
Para
mouros, era de pequenas dimensões, poucos guerreiros dia alojar para a defenderem, era, alem
o logar pouco defensável. Corre
em
ali
caso de invasão súbita dos lá
po-
d isto muito baixa e
Tliomar por tradicção que
entre o castello e a egreja de Santa Maria tinham os Templários
uma
via
subterrânea que
ia
desembocar u’aquella
outros dizem que dentro da egreja.
chamado
castello,
que, a fim
foi
não ser feita,
a
castello novo, ha
uma
irá ler.
foi
que
guarda
nus disse, já ha muitos annos, que tinha por
companhia de alguns frades
e
com degraus sabe com que
abertura
E’ certo
dos frades e depois
torre;
que na base do
estrada d’aquella via, não se
nem onde
viveu no tempo
E’ certo
um
velho,
que
do convento, ali
descido na
que haviam chegado até debaixo
da povoação, porém que não poderam continuar por estar tudo já diííicul lade em respirar, chegando apagarem-se as luzes por falta de circulação do ar. Ha alguns annos e por mais de uma vez abateu o terreno na rua
muito entulhado e haver
mesmo
a
da Graça, janto á egreja da Misericórdia, suppoz-se ser
a
abo-
bada daquelle tunel que abatesse n'aquelle ponto. Valia a pena fazer explorações, para se saber o
que ba de verdade
a
este
A torre a que nos referimos parece que foi ameiada, depois apeiaram se as ameias e fez se lhe um accrescento com respeito.
campanarios;
talvez por ficar baixo, fizeram-lhe ainda outro,
onde estão agora os
mas
com
lages
pas funerárias
sinos;
no pavimento d este vèem se algu-
letreiros, o
que mostra terem servido de cam-
pessoas distinctas; estes letreiros porém es-
a
tão já tão apagados que
são
em
diíficilmente se
poderão
ler;
alguns
gothico.
SANTA SITA Sete kilometros ao sul de Thomar, rio
Nabão, sobre
havia
um
a
pertenceu aos padres
Sita,
nome que o
povoação que
foi
existe.
ali
que. pelos annos ali
na
margem
do
direita
que do lado do poente o domina,
convento de frades, hoje propriedade particular, que
em tempos de Santa
um monte
martyrisada
claustraes,
tinha e ainda hoje conserva
local
Esta denominação
155, pouco mais ou menos,
santa daquelle nome.
a
aschronicas, Sita se chamava
de Cassia, mulher de Caio
uma
Atilo,
era o convento
provem-lhe de da era christã,
Segundo referem
donzella porlugueza. creada
cidadão bracharense. E’ pro-
vável que, ao tempo, esta familia residisse na Nabancia, pois
mal se concebe que de Braga viesse tão longe aquella donzella soffrer o martyrio. Perseguida por causa das suas crenças reli-
giosas, porque, na sua alma candida se havia arreigado
uma
viva na pureza da doutrina christã, fugiu para aquelli logar,
devia então ser
ermo
e coberto de espessa malta de pinheiros
sobreiros e outras arvores sylveslres. Colhida zes que a perseguiam,
lã
mesmo
evolar-se lhe o ultimo suspiro,
deu-se dos laços que
a
fé
que
com
elle
retinham n’este
voou, no meio dos anjos á
ali
pelos algo-
morte afTrontosa. Ao sua alma pura despren-
soífreu
mansão dos
mundo de
iniquidades e
justos, á Gloria Eterna.
— 182 — 0
seu corpo deixaram
como
era
e as aves
o,
por certo, os assassinos insepulto,
costume fazer se por despreso, para
que as feras
de rapina viessem devoral-o. Era grande o cuidado
que n’aquella epocha tinham os christãos
em darem
sepultura
aos seus correligionários, e muito principalmente aos que ha
viam soffrido o martyrio; por certo os
sabido o facto, foram por
isso,
da Nabancia,
christãos
que outros
mais perto não
havia, que correram, a occultas, a dar sepultura áquelie corpo
santificado pelo martyrio e abençoado por Deus, se havia alojado
um
podéra perverter. tarde sobre o seu
E,
espirito
que
maldade dos
a
não se apagando
sepulchro erigiram
d’isto a
porque n
memória, mais
uma pequena
capella,
para que n'ella fosse venerada aquella virgem martyr e
memória passasse
á posteridade.
riorada pelo tempo, e
mais tarde
foi
cado o convento.
foi
em
a
sua
Esta capella, já muito dete-
restaurada
transformada
elle
homeus não
por
um
ermitão italiano
egreja e junto a ella edifi-
«
\
origem
d’esla
com
na
povoação perde-se
Querer determinar
noite dos tempos.
precisão o dia fixo,
em que
ali
se
ergueram as primeiras moradas de seres humanos, fossem eilas construídas de troncos de arvores, mal talhados e cobertos de colmo, de barro amassado,
de toscas pedras sobrepostas ou de cantaria, é
querer
querer tactear o
fina
infinito,
é
prescrutar o incognito, é per-
der-se na obscuridade dos tempos, onde a luz da historia se
apagou de todo nas trevas
de
um
passado desconhecido, de
que não resta memória nem vestígio algum. Procurai- a, embora encontre, é u:n exforço do espirito humano, é uma
se não
tendencia natural do nosso intellecto cido,
o que d
marchando sempre do foi,
effeito
ir
em
para
do simples para o composto, do
uma verdade
actual paia
busca do desconhe-
causa, do que é para
a
finito
para o
infinito,
outra verdade transada, de onde
divagarmos
um pouco
E' certo que esta pequeníssima parte da Europa,
que hoje
esta deriva. Por isso, seja-nos permiltido
pelo passado.
m—
— se
chama
Portugal,
desde
foi
remotíssimas eras,
talvez ha
mais de trezentos mil annos, habitada por seres humanos, de
que restam primitivos,
vestígios;
mas
não eram estes,
e
talvez os
decerto, os
homens
que nas epoehas dos glaciares des
ceram das partes mais elevadas em companhia da reuna e do mamouth, caminhando pai a o meio dia. O valle do Tejo é um dos locaes onde, por muitos annos, ou antes por muitos secu los,
estacionaram esses nossos antepassados; attesta-o
Mugem. A
pole do Cabeço da Arruda, perto de
contrado as ossadas
com
junto
ellas
d esses
alguns
homens de
instrumentos de
li
a
necro-
se leem en-
remotíssimas eras e pedra lascada,
gmentos d ossos aguçados, pontas de veado talhadas
em
frabisel,
lages de grés (pedras d amolar), cinzas, carvões, maxillas de cães, conchas petreficadas de molluscos
alimento.
que lhes serviam de
Alguns anlhropologistas allirmam que estas pedras
não foram lascadas propositadamente; porem
a
uniformidade que
em
quasi todas ellas se encontra, o lascado n’um certo sentido, como para dar uma forma ponteaguda ou em gume, isto é,
a crer que sejam obra d um embora não fosse o homem, propriamente dito, o seu inventor, mas sim algum dos alhropoides do terciário e
perfurante ou cortante, levam-nos ser intelligente,
mais
provavelmente,
admiltida
esta
hypothese,
o
que
por
homem, a quem nome de anthropopiievus; seja como for, que, não pretendemos nem podemos entrar, é certo
alguns é considerado como o antepassado do Martillot
deu o
n esta questão,
que aquelles instrumentos de pedia lascada, mistura
com
encontrados de
ossadas, que, evidentemente, pertenceram a seres
humanos, prova que estes os fabricavam e delles se serviam como armas ou utensílios, embora não fossem os seus inventores.
Nos campos de Leiria
e
proximo
a Peniche outros vestígios
de seres humanos teem sido encontrados e que denotam
um
periodo mais adeantado da evolução social, embora pudessem
mesma epocha, porque a civilisação dos povos caminha mais ou menos rapidamente conforme certas condições
ter vivido na
— inherentes tes pontos ti’
bém
a
em
cada povo; e tanto que hoje mesmo,
dilTeren-
do globo, se encontram alguns no estado rudimentar.
muito provável que alguns d esses seres humanos tam-
estacionassem por estes
comquanlo
sitios,
até boje se não
tenham encontrado vestígios da sua permanência aqui. os homens d aquella epocha não construíam habitações
nem
—
I8íí
viviam
em eomrnum,
quando
a defesa,
mais cada
a
homem
Mas fixas
sò se reuniam para o ataque ou para
necessidade a isso os obrigava; quanto ao
era senhor absoluto das suas mulheres e de
com
seus filhos sem se importar
os outros;
serviam-lhes de
refugio as grutas e as cavernas naturaes ou a concavidade dos
rochedos; era ali
ali
que se abrigavam das iníemperies
e era para
que recolhiam as presas, que lhes serviam de alimento,
cujos despojos ainda hoje se encontram juntos
simples e rudes de que então se serviam;
com
as
armas
sò mais tarde, na
edade de pedra polida e na de cobre, construiram as habita ções lacustres, cujos vestígios foram pela primeira vez encontrados no lago de Zurich e depois
da Allemanha
ainda
e
em
em
diversos
muitas localidades da Europa,
tistas
outros lagos da Suissa, lagos
eram
habitações
construí-
das no meio d agua sobre estacarias e coinmunicavam
Com o
terra firme por pontes levadiças, evideutemente
se precaverem contra os ataques dos
em
ou pantanos.
animaes ferozes
com
a
fim de e
mais
ainda contra os dos outros homens, porque o maior inimigo do
homem tem
sido
sempre
o proprio
homem; nem
as feras
nem
as epidemias mais mortíferas teem produzido maior mortan-
dade no genero humano do que os mesmos homens entre e, coisa
maneira que vamos
notável, á
avançando na
progresso, tentando elevarmos-nos á perfeclibilidade,
matar progride lambem, marchando
a par, se
a
via
si;
do
arte de
não na vanguarda,
de todos os outros progressos; as machinas de guerra chegaram, a
que
em
nossos dias,
chegarão
a
uma
perfeição admiravel, e
mais tarde;
quem sabe
se
quem sabe
esses
temíveis
explosivos, que destroem e pulverisam, virá ainda a substituil os
agente mais poderoso, talvez a electricidade;
ella
que trans-
— 186 — mitte instantaneamente a todas as distancias os nossos pensa-
que produz
mentos e até as nossas próprias palavras, que brilha e alumia, o movimento que
com
motriz
anima,
luz,
a força
applicação á locomoção rapida, veloz, quasi aerea.
homem
ás industrias onde o labor do
balho
vivifica e
a
methodico,
é subst tuido
perfeitíssimo de complicados
pelo tra-
machinismos
compostos de orgãos tão habilmente construídos, tão harmônica mente dispostos, que tudo
produzem com admiravel
perfei-
bem acabados
ção, ainda os artefactos mais delicados;
etão
deixam que mãos humanas
poderiam fazer assim
Quem
sabe,
como iamos
agente virá ainda
gazes,
a
esmigalha,
daça,
fulmina.
mesmo homem. A
acção electrica.
O
os !
dizendo, se esse precioso e poderoso
um
nas mãos do homem,
a ser,
de destruição para o
diííicilmente
.
meio’terrivel
força expansiva dos
dois agentes formidáveis;
o
pulverisa,
outro
desorganisa,
um
despe-
paralysa,
primeiro é ruidoso, assusta; o segundo é silencioso,
apavora. As sciencias
caminham
e
avançam, semque possamos
saber até onde, porque lhes não conhecemos os limites e apoz ellas
marcha o progresso e
é este, que, leve ao
em
a civilisação;
vez de nos conduzir por
mas que progresso
um
melhoramento das nossas condições
só caminho que
sociaes,
ao bem-
estar d’esta vida, á felicidade de todos os povos, resvala d'essa via
em
para nos lançar muitas vezes
aniquilar a sua tracta,
abysmos, como querendo
obra? Vae na mathematica, essa
que pertence exclusivamente ao
com elementos que não são
vesiveis
nem a
porque joga
palpaveis e apenas
representados por signaes convencionaes; nas
que nos revelam as forças com que actua
sciencia abs
espirito,
leis
da physica,
matéria; na chimica,
cujas descobertas nos estão diariamente mostrando novos ele-
mentos
constituiti vos
dos corpos e as acções reciprocas d 'esses
elementos, diremos, vae n’estas sciencias, que constanlemente estão enriquecendo o espirito do a
destruição do
mesmo homem.
homem, buscar meios para
Para
bem
da humanidade não
deveriam os sábios desvendar todos os myslerios da sciencia; mas, até hoje, ainda nos não
foi
dado penetrar nos arcanos
insondáveis da Natureza, onde o espirito se desvaira e perde em busca d uma realidade que nos foge e que, talvez, nunca nos será dado colher.
Por debaixo d’esse
chamamos funde e
civilisação,
volatilisa,
mas que o
sobre a terra bras.
homem
harharo e feroz
scientifico folga e
até caridoso,
no campo
sangrenta e barbara, apraz-se, depois da
luta
ver o numero elevado de cadaveres, que rolaram
em
victoria,
que ora
mortíferos; o general, que no
tempo de paz é delicado, benevolo e
em
a
calor das paixões rapidamente
mais illustrado e
com os seus inventos
de batalha,
lustroso,
polido e
encontra-se ainda o
O homem
d’outras eras.
orgulha-se
verniz
em
consequência das suas
Que na cidade mais
civilisada
bem
calculadas mano-
do mundo, só por espaço
de algumas horas, se abolissem todas as leis, deixando os homens entregues a si mesmo, sem responsabilidade alguma e
veriamos logo os ladrões, os mal intencionados, os que tivessem uma offensa a vingar começarem o assalto, os aggredidos estava travada a luta,
a defesa;
rapidez do raio;
daveros
em
rolariam
que se generalisaria
breve o sangue correria
sobre os cadaveres
e,
a jorros,
num
só
com
a
os ca-
momento,
toda a obra da civilisação seria aniquilada. vista encarou Shakspeare o ho«Que obra prima que é o homem rasão! Quanto é infinito por suas facul-
Debaixo de que ponto de
mem
quando disse
d’elle:
!
Quanto é nobre pela dades Quanto é admiravel e expressivo pela forma e pelos Nas movimentos Na acção quanto se assemelha aos anjos !
!
1
suas concepções quanto se assemelha a Deus
I
E’ a maravilha
do mundo, é o typo supremo dos seres organisados!» (Hamlet, acto
ii,
scena u).
Rude, brutal, feroz
mesmo
na violência das
suas paixões, o homem que sabe domal-as, esse é que é a obra prima da natureza, foi assim que o poeta o encarou, foi debaixo
que o definiu. Se debaixo do dourado manto da civilisação moderna se occulta ainda o homem barbaro e cruel d’oulras eras, é que essa
d’este ponto de vista
civilisação
não attingiu o grau de perfeição
a que,
cremos,
ella
—
188
mais tarde ha de chegar; é que do coração do homem de hoje se não eliminou por completo esse egoismo, que lhe vem dos
tempos primitivos, em que cada um vivia exclusivamente para si; é que na alma da grande maioria não se arreigou ainda esse sentimento, tão nobre, tão elevado d elle
que emana
E em
humana.
um
a
ordem,
—o
Bem comumm
—
,
e é
harmonia, o esplendor da raça
a
nobre sentimento, como se fora
volta d esse
centro de gravitação, ou o sol da vida moral, que giram
donde se desuma perfeita da ordem moral,
pleiades d hábitos, que lhe são subordinados,
prendem
actos,
todos marcados
com
o cunho d
rectidão; entre elles a Prudência, providencia
que mantem o equilíbrio,
a
moderação nas nossas determinações. e é d este mutuo
Amae-vos uns aos outros, disse Ehristo,
amor que dimanam
as maiores virtudes; o reconhecimento, a
sinceridade, a aííabilidade, a liberalidade, os actos heroicos-
sublimes
sacrifícios,
severança, e
etc.; é
que creou
a
sem
magnanimidade,
ainda elle que liga o
unidade
ção da humanidade. a terra,
a
ella
homem
A sociedade
social.
Sem
sem que suas
magnificência, a per-
a
o
homem
ao outro
homem
é a mais bella crea-
rastejaria
sempre sobre
faculdades, longe do seu fim, o pudes-
elevar ã alta nobreza
r
de sentimentos, fonte perenne ,de
onde brotam as mais sublimes virtudes; o homem constituído em sociedade, o homem-povo, é como um só corpo, uma só vontade,
uma
só intelligencia, é
um
agrupam em medida que o tempo avança
colosso soberbo
em que
as forças intellectuaes se
feixes de luz, cujos raios
crescem
e d
como
á
onde se veem
saltar,
faiscas luminosas, a brilharem por toda a parte, as sien-
cias, as
artes, as
instituições.
lettras, as
grandes descobertas, as sabias
A emulação estimula os ânimos, levando-os
ás
laboriosas emprezas, ás virtudes heroicas, ás grandes dedicações, aos sublimes sacrifícios.
Do
contacto, da
ção de todos esses sentimentos nasce
povos policiados; e era ao
homem
a
mutua penetra-
physiononia altiva dos
assim constituído
em
socie-
dade, nobre e altivo, sabio e justo no meio delia, que se referia
o grande poeta, porque só este pode dizer: eu sou o rei
da creação; nenhuma distancia limita as minhas concepções, um só dos meus pensamentos é mais vasto que o universo. Desenrolem-se deante de micas, eu sou maior do
mim
todas as
ipie essa
perspectivas astronô-
immensidade. A
luz percorre
setenta e cinco mil léguas por segundo, só a eguala a electri-
o
cidade;
meu
espirito é mais
em um
maieria;
da
vibrações
instante
deixar o corpo, que anima, atravessa
os sentidos, passa do ritos, salta
do
finito
mundo
rapidíssimas
veloz que essas
a
sem
imperceptível e
immensidade em todos
material para o
mundo dos
espi
das espheras sensíveis para as espheras intelligiveis,
para o infinito.
.
longa vae já esta digressão, fora do fim que nos propozemos e é ella filha do modo de ser do nosso espirito, que
Bem
não pode prender-se exclusivamente a objectos minados. Prosigamos pois na nossa narrativa.
fixos e deter-
gio
Das edades prehistoricas não se encontrou até hoje vestíalgum da existência do homem n’esla localidade que possa
ter
dado origem
basalto,
que
lia
a
uma povoação
annos
Senhora da Piedade,
foi
Um
machado de
encontrado proximo da
em um
vora, outro de cobre que
qualquer.
foi
sitio
capella da
chamado Armazém da
achado na fenda de
uma
Pol-
rocha,
junto á Fonte Quente, quando se construiu a estrada do Prado e ainda outros de pedra lascada e polida, que teem apparecido
em
differentes
raios,
pontos e aos quaes a gente
cahidos das
do campo chama
nuvens, não são indícios certos de que o
da edade de pedra ou da de cobre persistisse por estes logares, onde foi a antiga Nabancia, nem o local era apropriado
homem
modo de viver daquellas epochas. Ao norte de Thomar, para cima da Pedreira, ba umas grutas muito interessantes, uma d elias chama-se a gruta dos morce-
ao
gos, pela grande quantidade
daquelles chleiropteros
que
habita; estas grutas nunca foram exploradas, se o fossem
ali
tal-
podessem encontrar alguns vestígios do homem prehistorico. A gente do campo liga sempre a estas cavidades
vez
ali
se
subterrâneas
um
certo sentimento de veneração, até de terror.
— 190 — suppondo-as a habitação de seres sobrenaluraes, como mouras bruxas,
encantadas,
malignos
espíritos
e
ideaes que a sua imaginação phantastica e
como para
as proteger da acção
costumavam
imaginários, a
um
com
a
santo protector;
ali
malévola
erigir no local
existe
uma
na
outras
liies
entidades
suggere e
cria;
d aquelles seres
uma capella dedicada margem direita do rio
invocação de Nossa Senhora das Lapas e muitas outras
com
se encontram pelo paiz, edificadas
mesmo
o
fim.
Us primeiros habitantes da península mencionados na toria antiga
são os Iberos e os Geltas, tribus emigrantes, que
vieram da Asia; mas quando
estes aqui se
estabeleceram já
segundo uns
do globo eia habitada,
esta parte
his-
pelos que na
epocha dos glaciares desceram das partes mais elevadas, fugindo ao abaixamento
de temperatura, que
toda a Luropa, principalmente
causa ainda não é
bem
então se deu
nos pontos mais
em
quasi
altos, c cuja
segundo outros por tribus
conhecida;
nômadas, que para cá passaram do norte d Africa,
antes da
abertura do estreito de Gibraltar; ou talvez teriam as duas proveniências:
que
são ponlos
diílicilrnente
humanidade,
obscuros da historia da
se poderão aclarar.
que estas raças se fundiram e por aqui
como for, é certo permaneceram durante
Seja
longos períodos até que outras se lhes vieram encorporar.
Foram os Phenicios barcas costeiras,
e os
Gregos os primeiros que nas suas
transpondo o
occidentaes da península,
e,
estreito,
abordaram ás costas
subindo os rios até onde elles po-
diam ser navegáveis, estabeleceram colonias nas suas margens; é natural que os indígenas tentassem repellir os intrusos, dan-
do-se entre elles eslas raças,
com
sanguinolentos
combates,
mas
é certo que
o decorrer do tempo, confundiram-se, amal-
um
Vieiam depois os Carthaginezes, com os quaes se deram eguaes factos, de maneira que, quando os romanos conquistaram a llespanha, guerra
gamaram
se e constituiram
só
povo.
de conquista que durou por espaço de duzentos annos,
encontraram
A
um
já cá
povo mixto IberoCeltico-Greco-Carlhaginense.
Luzitania, na qual se achava
comprehendida
a
nossa actual
província da Extremadura, devia ser a esse
tempo bastante po-
voada; já no tempo de Aníbal os Lusitanos se distinguiram no
seu exercito e os Humanos encontraram sempre aqui valerosa
consideravam como excedentes guerreiros. Os povoados deviam achar-se disseminados pelo solo mais
resistência e os
que melhores condições de vida oITerecesse
fértil,
aos seus
margens d este rio n essas condições, muito provável que antes da dominação romana já aqui exisé tisse uma povoação qualquer, a que se daria o nome de Na ba, habitantes; ora estando as
ou Naha seria o nome do
rio,
que se confundia com o da po-
voação.
Ha quem diga que foram os Turdulos ou os Celtas os meiros que neste
local
até muito provável
do lugar,
á
edificaram
que assim
proximidade do
do terreno,
attendendo á amenidade
fosse,
abundante
rio,
caça que n’aquellas epochas por fertilidade
uma
em
peixe, á muita
haver, à grande
aqui devia
produzindo
pri-
povoação; é possível e
abundantes pastagens, á
grande quantidade d arvores sylvestres
íructiferas,
deviam povoar até os terrenos mais áridos,
que então
que aiuda hoje
e
n elles vegetam, taes como o sobreiro, a azinheira, o medro-
porém que tenham
nheiro, a amendoeira, etc.; não consta
sido
encontrados n’este logar quaesquer vestígios d essas habitações,
que eram simples e toscas, o que não prova que
nham existido. Os Celtas desconheciam
da telha; as suas habitações, pelos vestígios que tos se
ellas cá
não
te-
as argamassas e o fabrico
em
teem observado, vê-se que eram de forma
outros poncircular e
construídas de pedras sobrepostas; effectivamente o circulo é
uma
figura geométrica de primeira intuição e elles
nhecel-a, pois a viam constantemente no
deviam co-
disco do sol, da lua
e das estrellas, porisso não admira que o perímetro da base
das suas habitações fosse
um
uma
polygono qualquer. Alem d
e é que as paredes feitas
cimento qualquer que dispostas n’uma só
circumferencia,
com pedras
as ligue,
linha curva
em
vez de ser
isto haveria talvez outra rasão,
soltas,
sem terem um
offerecern maior
resistência
em
rectas for.
do que
linhas
—m— mando
angnlos. Este systhema primitivo de construcções ainda
de todo entre nós se não extinguiu. Na Serra de Santo Antonio, perto de Minde, onde havia uns frades que leccionavam latim e lógica, tivemos occasião de observar, já talvez ha cin-
coenta annos, que
tivessem
e cobertas
que pouco ainda
ali
solta,
tinham os
circular,
eram muito baixas do
de pedra
feitas
forma
a
maior parte das casas dos moradores de
a
eram
aquelle lugar
com
e,
com quanto não
cantos
arredondados;
telhas sobrepostas;
aperfeiçoado
se tinha
de mo-
construcção
a
celtica.
Para alem da dominação romana nada podemos encontrar
que nos mostrasse claramente
ali
tivesse existido;
falia
mas
da Nabancia e que
é só
de
a existência
uma povoação
comtudo muito provável que
qualquer n’aquelle logar, sendo
desta epocha
em
deante que se
encontrados
os vestígios
alteslam
a
sua exislencia.
Quando os Templários começaram a edificar o castello um momento para o outro,
tinham pressa, porque podiam, de ser
atacados pelos
riques lhes
de toda a
havia
tomado Santarém
margem
direita
portuguez estavam
já
que não
apesar de
Serracenos;
muito de receiar, porque ifaquelle tempo
já
l).
e Lisboa,
do Tejo, e as
era isto
AíTonso Hen-
expulsando-os
fronteiras
do reino
muito avançadas no Alemtejo e iTelIas
tinham os nossos valentes fronteiros Geraldo sem pavor e Fer-
nando Gonçalves, que os não deixavam avançar, antes os obri-
gavam
a
recuar,
tomando-lhes
ultima
foi
tomada
em 1162
estavam concluídas as obras do a conveniência
isso é muito
em
um
castello;
o concluir no
natural
Evora e outro Beja; esta
e n’esta data por certo ainda
não
no emianto havia toda
menor tempo
que aproveitassem
possível;
por
todo o material de
construcção que puderam colher nas ruinas da antiga cidade;
demais que n’aquelle tempo eram ainda desconhecidos os explosivos e a pedra só se extrahia das pedreiras á cunha e á
marreta,
processo
diflicil e
moroso.
Levaram portanto
d
ali
todas as pedras que encontraram; e que lhes importava a elles
— 193 — que muitas dessas pedras tivessem artístico
ou
um
alto valor historico?
um
grande merecimento
Nada decerto; eram obra
do paganismo. Às columnas de mármore com riquíssimos capiteis burilaque sustentavam as abobadas dos magníficos templos pa-
dos,
gãos. para elles nada valiam; as estatuas de Venus, de Priapo,
de Sileno, que adornavam os jardins ou os parques dos sumptuosos palacios dos nobres; os Satyros, os Cupidos alados, arremessando frechas, as Nymphas, banhando-se nos lagos; todas estas divindades ideaes, que o cinzel dos eminentes esculptores daquella epocha reproduzia no
mármore ou no
dando-lhes formas vesiveis e palpaveis, olfendiam tã;
a
jaspe,
moral chris-
convinha-lhes por isso que de todo se apagassem na me-
mória do povo os
vestígios de
antigas
alguma coisa de valor ainda por quias preciosas,
ali
como estando mais
crenças;
existia,
á
portanto se
foram essas
dos fossos abertos para servirem de alicerce aos muros da taleza,
que iam construindo; e
hidas ao
exame dos
lá
for-
ficaram sepultadas e subtra-
investigadores, que talvez por ellas podes-
reconstruir mentalmente o passado
sem
relí-
mão, lançadas no fundo
povoação; não poderam
daquella importante
porém esconder
lismo christão escaparam ainda alguns
tudo, a esse vanda-
documentos, algumas
paginas da historia d’aquelle povo.
Na torre maior do
castello dos
Templários, embutida
em
das paredes, está uma pedra, que nnstra ter, n outro tempo, servido de monumento sepulchral, porque, cm um dos
uma
lados, vè-se ainda
gravada
a
seguinte inscripção:
SABINULA
VXOK SIBI
Sabinula, sua mulher dedicou-lhe esta memória. Esta inscripção mostra haver outra
com
o
nome do marido
— 194 — e talvez a sua posição social; devia ser pessoa nobre ou exer-
cer cargo importante.
Em uma parede da
outra pedra de mármore,
mesma
também embutida na
torre, lê-se o seguinte:
GATIO ATTIA NO RU FINUS SAB1N
VLA MATER P.
A Galio Atliano fíufino Sabinula, sua mãe paz esta
memória
.
Pelos letreiros gravados n estas pedras vê-se que ellas ser-
viram de campas de alguns sepulchros no tempo dos Itomanos,
quando habitavam
a
Nabancia e foram d
ali
trazidas c
empre-
gadas na construcção d'aquella fortaleza, ficando casualmente
com
descoberto; e tanto
estes letreiros a
assim aconteceu, que, n aquelle pedra com para
um
a historia
letreiro
mesmo
foi
por acaso,
castello, se
que
vê outra
muito curioso e de grande importância
da Nabancia, que ficou collocado ás avessas, o
que mostra que os eonslructores nenhum valor davam áquellas inscripções; n’esla está o seguinte: i-
‘
!
'
i
•
i
PIETATI AVO. SACR. VAL. MAX. IN MEM. SUAM ET FILIARVM SVARVAI 110EC SIGN. P.
A'
piedade do sagrado
Ma Timo em memória signaes.
imperador Augusto, Valerio
sua
e
de
suas
filhas
poz
estes
—
195
—
Esta inscripção é
cio principio da era chrislã, dedicada a Octaviano Augusto por Vr alerio Máximo, nobre cônsul romano, o qual, como se vè, então residia na Nabancia.
Basta o facto de ter
para mostrar cidade.
a
residido
ali
importância
A Sabinula,
a
um
nobre cônsul romano
que naquelle
tempo
tinha esta
que se referem as duas primeiras ins
também a uma familia nobre; os plebeus não gravavam inscripções nas sepulturas dos seus, jaziam, como boje, no esquecimento; não lhes erigiam mausoléus nem
cripções, pertencia
Ibes levantavam padrões de
memória, cobria os apenas a terra, repousam no eterno olvido. l‘or detraz da casa do Conselheiro Barbosa, que fez parte do antigo convento de Santa Clara e no local onde parece ler existido o palacio do conde godo Britaldo, que talvez fosse o sob
a
qual
mesmo em que residiu o cônsul romano Valeiio Máximo, na em que ali se andava plantando uma vinha, foi encon
occasião
uma medalha de cobre, pouco mais ou menos do lama nho de uma das nossas moedas de 500 réis, tendo de um lado
Irada
a figura ..
os
de
um
boie
em
volta a seguinte
inscripção- mvnicii*.
íEntvm. As primeiras letras eliminou-as o tempo, apagaram-as
séculos pela
acção d’esse
energico e admiravel, que
principio,
vivifica e
o oxygenio, agente
que destroe, que anima
e
que corrompe, que nos seres vivos é o principal agente da vida, nos mortos o da destruição. Medido o espaço d onde desappareceram as letras, este devia ser occupado por tres, é
pequeno para mais e grande para menos e estas tres letras, que desappareceram, eram decerto nab. Está a confirmai-o o facto cia e
de ter esta medalha sido encontrada nas minas da Nabanprincipalmente
o de ter gravado
que era o symbolo da cidade,
um
boi; o boi
talvez por ser esta
parece
uma povoa-
ção principalmente agrícola; este symbolo existe ainda gravado
em uma
pedra que está no cunhal da parede do
vento de Santa
Iria,
antigo con
por debaixo de onde collocaram o nicho
da Santa; aquella pedra só podia ser collocada
ali
quando se
construiu aquelle edifício, que já existia no tempo dos godos
—
19ti
tempo dos romanos nas primeiras epochas do christianismo, (piando se começaram a fundar os pri meiros mosteiros. Na rua da Capella d’esta cidade de Thornar, c talvez seja ainda do
via-se, ainda
de cia,
um
não ha muitos
portal; esta
desappareceu d
casa, e ha
annos,
um
gravado na verga
boi
pedra provavelmente tinha vindo da Naban
com
ali
memória d
as obras que se fizeram naquella
outros, que hoje jã não existem. Na rua
da Levada (hoje rua Evcrard), defronte dos moinhos,
em uma
casa antiga, viam-se, ainda não ha muitos annos, duas pedras salientes representando bois: é muito provável que, ou viessem
da antiga Nabancia ou
á imitação d outras
que por
ceram, se talhassem aquellas; desappareceram d sabe que destino tiveram, quando aquella casa
foi
appare-
lã
ali
e não se
demolida e
reedificada pelo dr. José de Mello, fazendo hoje parte do seu
prédio. Portanto a inscripção, que está gravada n esta medalha
deve ser Municipium Nabcenlum, ou de Naba, que era o nome do Nabee, e supprimindo por ficava o genitivo latino
Logo tra
esta
que
a efiigie
isto é.
rio e o
Município Nabantino,
da cidade devia ser Urbs
abreviatura o termo generico tnbs
Nabce, que adjectivado
medalha pertence evidentemente
ella foi
de
um
município romano.
uma cabeça humana
divinvs augvstvs
— (o
No
e 3 seguinte
á
faz
Nabcenlum,
Nabancia
e
mos-
lado opposlo vé se
inscripção— ckzau
Divino Cesar Augusto). E' portanto esta
medalha do reinado de üclavio.
nome de Octaviano depois da sua adopção juntou lhe mais tarde o de Cesar; como im-
Octavio tomou o
por Júlio Cesar e
197
—
perador é conhecido por Octaviano Cesar Augusto. E’ preciso conhecer
em
de Octavio para se saber
a historia
sua honra se cunharam
a
rasão porque
medalhas e se erigiram
de memória;
por isso muito resumidamente aqui
alguns traços
d’ella,
porque não comporta
mais
padrões
vamos dar a estreiteza
d’este trabalho.
Cesar, o grande heroe romano, que da Asia escrevia ao
senado
veni, vidi, vici, (cheguei, vi e
desmedida ambição; fazer coroar rei,
venci)— perdeu-o
augmenlaram o numero dos conjurados, que
tinham por chefe Cassius, os quaes uma cega instituições
sua
a
imprudentes para se
as suas tentativas
democratas levou
em
apunhalarem Cesar
a
senado. Acreditavam elles que, morto Cesar, nasceria espontaneamente.
dedicação ãs
a
pleno
liberdade re-
Antonio, que então
Illud iram-se.
era cônsul, amotinou contra elles o povo nos funeraes da sua victima e expulsou-os da cidade.
Cesar não tinha
quando
um
com
do seu
partido; leis,
havia
herdar o poder, e
dezoito annos d edade, entrou
Antonio riu.se das suas pretensões; porém a gloria
de Cesar ainda se não tinha apagado e volta
sobrinho, que
Antonio esperava
este rapaz, apenas
em Roma,
apenas
filhos,
adoptado, era Octavio.
íillio
adoptivo
demais que
elle
foi
compromettia-se
em um numeroso
essa gloria que
rapidamente creou
cumprir as
a fazer
que seu pae havia creado para o povo e para os soldados.
Cicero via n elle
um
das liberdades do
salvador
senado, que
Antonio queria arrancar-lhe, por isso elogiou-o e tratou de lhe crear honras.
Mandaram-o juntamente com dois cônsules em em Modena cer-
soccorro de Decimus Brutus, que se achava
cado por Antonio.
Esta guerra
foi
curta,
mas sanguinolenta,
Antonio fugiu e os dois cônsules morreram. Então Octavio pediu
um
dos logares de cônsul, que se achavam vagos, o senado
recusou-llfo, suppondo
que
já
não precisava
d’elle;
em
vista
desta recusa marchou para Roma com oito legiões, onde entrou com applauso do povo, que o proclamou cônsul.
Como
cônsul e senhor de
Roma
podia já tratar
com Anto-
— nio, o
d
98
—
que
do Bheno; umvirato.
ali
com
reunindo-se
fez,
Lépido, antigo ge-
em uma pequena
ilha
estiveram tres dias e formaram o segundo
tri-
Antonio, Lépido e Oclavio, investiram se no poder
com o
consular por cinco annos
direito de, durante este
disporem de todos os encargos. império.
com
elle e
de Bolonha,
neral da cavallaria, perto
As feras repartiram
dilaceração não podia fazer se
a presa,
sem
feito
creto de morte contra dezesete dos mais
esperançado
preceder d notáveis
Cicero, o dislincto orador,
tinha elogiado Octavio e feito
em que
com que
elle seria
um
lhe
si
o
dilacerando-a, e esta
elTusão de sangue.
guida partiram para Roma, tendo-se
estado, entre elles
tempo,
Depois dividiram entre
Em seum de-
homens de
que no senado
concedessem honras,
dos defensores da liberdade.
Logo que entraram em Roma mandaram alTixar editaes, em que se impunha a pena de morte a todos aquelles que dessem guarida ou favorecessem
merados em uma
fuga a qualquer dos indivíduos enu-
a
que
lista,
publicada, ordenando se
foi
as cabeças d esses indivíduos lhes fossem entregues e
pensação o mil
homem
draehmas
titulo
de condição
atticas e
de cidadão.
Era lançar as
A
dos condemnadus era de cento
lista
mesmo tempo appareceu
quasi ao
tio
nomes
frente os
de Antonio e de
um
dum
lista figu-
irmão de Lépido,
dos tutores de
com
outra
cento e cincoenta e depois ainda outras. Na primeira
ravam logo em
cinco
com o ovelhas no meio de uma al-
o escravo dez mil e a liberdade
cateia de lobos famintos.
e trinta nomes;
em com-
receberia viule e
livre
que
dum
Octavio, C. Turanius.
Apesar de todas as precauções alguns conseguiram
escapar,
refugiando-se na armada de Sextus Pompeus, que acabava de se apossar da Cicilia, outros fugiram para África, Syria e
cedonia; pereceu, corntudo,
um
Ma-
grande numero e neste entrou
o infeliz Cicero, que, tendo-se exilado na sua quinta de Gaèta,
suppondo que os seus inimigos se contentariam com este poupando-lhe
a vida;
ahi
foi
exilio,
colhido pelos algozes e barbara-
mente assassinado aquelle ornamento da tribuna romana, o mais eloquente orador do seu tempo,
duma
linguagem tão
—m— fluente e ao ler os
mesmo tempo
seus discursos.
incisiva,
ainda hoje
<]ue
Cortaram lhe
faz
gosto
a mão direita em que estava á
cabeça e
a
e foram apresentai as a Antonio, na occasião
mesa; recebeu-as com feroz alegria, e sua mulher Eulvia atravessou-lhe
a
lingua
com uma
agulha,
para se vingar dos epi-
bem cabidos lhe eram; homem celebre, foi, por
thetos de que a havia enchido e que tão
depois
a
cabeça veneranda d’aquelle
podesse
morto ainda
Athenas e o governador da
Macedonia
fallar ás turbas.
Brutus fugiu para entregou-lhe o cia,
em
como
se depois de
escarneo, pendurada no rostro,
commando
do exercito
Do Adriático
até á Thra-
poucos dias, tudo obedecia ao general republicano.
Cassius, que se tinha refugiado no Oriente, arrastou comsigo as legiões romanas, que
ali
até Filippas na Macedonia,
com
estacionavam e avançou
reunindo se
contrarem com os triumviros.
Em
e Octavio na de Brutus. Estava
a
ellas
Brutus para se en-
frente d’este estava Antonio
imminente o combate, que se
travou poucos dias depois, Octavio adoeceu, sendo por isso
vado para
fúra
do com impetuosidade, rompeu as suas ganha
le-
do campo de batalha, quando Messala, atacanBrutus julgou
linhas.
porém no outro campo Antonio
a vicloria;
tinha disper-
sado o inimigo e Cassius, julgando o seu partido perdido, suiVinte dias depois travou se novo combate,
cidara se.
em que
as tropas de Brutus foram envolvidas e derrotadas; este difliculdade a
um
alto
poude salvar-se das mãos do inimigo,
rota dos seus,
precipitou se
sobre
a
(outros dizem que se fez
malar por
Antonio mostrou alguma
indulgência
foi
chegando
d’onde contemplou o horroroso espectáculo da dersua espada,
esta exclamação: «Virtude, tu não és mais que
Octavio
e,
com
um
preto,
para
proferindo
uma
palavra»,
seu escravo).
com os
vencidos,
cruel.
Estava morta
do seu cadaver
a
d’esta nova partilha,
Octavio ficou na
republica, os algozes tripudiavam
e dividiam-lhe os despojos,
em
volta
excluindo Lépido
porque o julgavam d’accordocom Pompeu.
Italia
encarregado de repartir pelos soldados
— 200 — as terras, que lhes haviam promettido; Antonio partiu para a
em
Asia
de duzentos mil talentos, de que precisavam.
busca
Faustoso, dissoluto, dissipador, nada lhe chegava;
exigiu aos
povos tributários de Koma o imposto de nove annos, pagos de
uma
só vez, a fora as innumeras confiscações que fazia pro-
mover; para
notar o seguinte facto:
qualificai o basta
um
o seu cozinheiro preparou-lhe
em compensação deu expulsando
d’ella
lhe a casa
prato, de
d
um
um
dia
que muito gostou,
cidadão de Magnésia,
o seu dono.
Cleopetra, rainha do Egypto, tinha fornecido a Cassius
gumas tropas
conhecedora d 'esta resolução, não tardou
facto; ir
dar-lhas, apresentando se
elle
al-
e dinheiro, Antonio quiz pedir-lhe contas d’esse
em Tarso
na
ella
Cilicia,
própria a
onde então
se achava. Aquella mulher vaidosa da sua formosura, or-
como um aventureiro, previra que no convívio do devasso romano teria grato acolhimento, e que em breve não seria ella a dar contas, mas a poder pedil as. gulhosa do seu saber, arrojada
Assim aconteceu. Esbelta, formosa e sabia, porque fallava seis linguas, egualando-o, se é que o não excedia, nas suas orgias e licenciosas conversações de soldado,
em
breve
a africana se
assenhoreou do seu espirito. Era formosa e bella.
sem
encantos, belleza
sem candura
Formosura Formosa nas formas, bella
na excentricidade dos pensamentos e das acções não proprios
em tudo ha bellezas e commum podem achar bello
do seu sexo; sentir tros
pode ser horrendo.
os espíritos transviados do
para
si
o que para os ou-
Antonio deixou-se envolver no olhar
fascinador d aquella mulher perigosa e arrebatar pela volupluotypicas d uma formosura sem egual, mas formosura plastica, que é como a tulipa sem cores, a rosa sem perfumes, porque lhe faltam a animal-a os subidos dotes d’alma, que mais caplivam e prendem do que as formas exteriores. A repetição dos mesmos gosos embota a sensibilidade,
sidade das suas formas
chega se
buscam
a
aborrecer o que a principio
nos
enthusiasmava;
se então novos estímulos, mais violentas emoções;
talvez por isso
foi
que Antonio viu ifaquella mulher extraordina-
— 20 — i
realisação dos seus
ria a
candescida vagueava
em
em brando
mento nobre, que attrahe
numa
para os reunir
leito e a
mente en-
busca de novos e mais vivos prazeres;
não com
por isso amou-a,
quando o corpo
sonhos de volúpia,
lasso das orgias lhe repousava
aquelle
amor
casto e puro, senti-
e liga dois seres de sexo differente,
só entidade, unifieal-os
num
indivíduo,
mesmo sentir, o mesmo pensar, os mesmos pesares, constituindo a família,
compartilhando ambos o
mesmos
prazeres, os
mollecula integrante das sociedades, feitura do Creador. Não,
não
a
amou, cubiçou
a;
não
foi
o
amor que os
porque
uniu,
esse sentimento elevado, inspirado pelo Creador á creatura, já
ha muito que n’um e n’outro o tinham apagado
corrupção, o
princípios delelereos
vicio,
a
dissolução, a
que envenenam o
o outro, baixo, degradante mesmo,
pirito, e substituirã
a
es-
sen-
sualidade, que na alma já pervertida de Antonio, se transfor-
mou em e os
paixão delirante, levando-o
Tanto pode
Parthas.
inspira
a
a
esquecer Roma e Fui via
formosura e
a
que
paixão,
ella
I
A formosura
é
um dom
da natureza, é
um
dote
com que
numero de creaturas; é um bem real, quando essa formosura serve de ornamento á virtude e rellecle as boas qualidades do espirito; porém se ella não é
ella
presenteia
um
certo
mais que uma mascara do dir-nos de que
com
ella
vicio, se
não serve senão
a
persua-
podemos dispensar-nos de todas as
outras boas qualidades, então essa formosura é
que nos engana para perder-nos, nos afunda no abysmo, é
um
éuma
um
lisonjeiro,
maldição de Deus, que
perigo de que é preciso fugir.
A paixão é o fogo que consome, mas não alumia, porque a sua acção a rasão obscurece se e o rumo da vida perde-se. Quando esse fogo abrasador se ateia na alma, o homem é como o bote sem governo, arrastado pela procella, levado n’um turbilhão de vagas, que o sorvem em medonha voragem ou o arremessam e despedaçam contra os rochedos, se não é que
sob
por
milagre o arrojam á
poderá salvar
se.
arenosa
praia,
onde ainda
a custo
— 202 — Emquanto Cleopetra prendia Antonio plexos e o retinha entorpecido, Octavio ços
com
voluptuosos am-
ern
em Roma
via se a bra-
serias difliculdades na partilha das terras, que
promettido aos
soldados; os novos
haviam
colonos queriam sempre
exceder os limites que lhes eram assignalados e os expoliados corriam
a
Roma a queixarem se da sua 0 irmão de Antonio vendo
miséria e a amotina-
rem o povo. pulares
ção
um
aos italianos espoliados, reuniu
da cidade e obrigou-o
de viveres o forçou
a refugiar-se
a render-se.
sua protec-
a
dezesete legiões e tomou
Roma; porém Agrippa, o melhor general de
com
emoções po-
n’estas
meio de derribar Octavio, prometteu
em
Octavio, expulsou-o
onde
Perouse,
a falta
para a Grécia
Fulvia fugiu
todos os amigos de Antonio e Octavio ficou só senhor d e
Roma. Estas noticias despertaram Antonio do lethargo
em que
desprendeu-se dos braços de Cleopetra e marchou
zia.
Brindes; porém os soldados recusaram-se
ram
a paz.
Então os dois
ficando Antonio
com
combater e exigi-
a
adversários fizeram nova partilha,
com obrigação
o Oriente até ao Adriático
de combater os Parthas e Octavio com o Occidenle,
gado da guerra contra Pompeu.
a
Lépido deram
encarre
a Achaia. Esta
mo
então
tecia
a
Sicilia,
a
Córsega,
paz não podia ser duradoura,
se dizia,
de Roma, era de
o celleiro
a cidade e
co-
que se abas-
lá
o seu exercito estivessem á mercê de Pompeu.
vio teve a victoria,
em que
Sardenha com
tres legiões e
esquadra e ainda ao talento de Agrippa na de Naulocque. Mileto por
um
Octa-
devida á traição do liberto de Ménas, que
lhe entregou a Córsega e a
em
Sardenha e
a
a Sicilia era,
EÍTeetivamente pouco depois rebentou a guerra,
talha
paz
a
de cereaes, e Octavio não podia consentir por muito tem-
po que
forte
Pou-
a África.
cos dias depois Octavio pelo tratado de Mizena celebrou
com Pompeu, cedendo-lhe
ja-
para
Pompeu oílicial
refugiou se na
de Antonio;
uma
celebre ba-
Asia e
foi
morto
Octavio desfez-se de
Lépido, desterrando-o para Circeia.
Terminada
esta lucta,
Octavio voltou
a
Roma,
e esta,
que
— 203 — via nascer a felicidade e a
tribuno,
recebeu-o
senado coberto de
abundaneia
sob
O
com enthusiasmo,
conduziu-o ao
dhonras; porém
flores e quiz encbel-o
só acceitou a inviolabilidade
a influencia d’este
povo
por mais cinco
tribunicia
promettendo abdicar logo que Antonio terminasse os Parthas; supprimiu alguns impostos e energica restabeleceu
ram executados
e
a
ordem na
os escravos
a
anno
a
com
sua administração
península; os bandidos
fugitivos restituídos
fo-
aos seus
em menos
senhores ou mortos se estes os não reclamavam;
dum
annos,
guerra
a
eile
segurança era garantida na cidade e no campo.
Dois annos depois da morte de Pompeu, Antonio veiu a Torento renovar por mais cinco annos os seus poderes de triumviro e decidiu se a
ir
em
pessoa tomar
da guerra
direcção
a
dos Parthas; porém apenas pisou o solo da Asia que logo se
accendeu novamente o fogo da sua paixão
por Cleopetra,
a
Laodicéa, reconheceu os filhos que tinha
seu reino
quasi todo o
litloral
d
que era de Uoma, porque aquelles
a
um
territórios
parte províncias romanas. Por fim decidiu-se
com
sessenta mil
trinta mil auxiliares.
infantes,
estrangeiro o
eram a
cavalleiros e
dez mil
Seguia pela Armênia, cujo
retroceder. oito
Em
as suas
machinas de
vinte e quatro dias de
pela maior
marchar contra rei
era seu alliado e penetrou até Phraata, perto do
mas não tendo levado
a
e juntou ao
ella
do Nilo até ao monte Tauros;
cedendo áquella rainha estes paizes dava
os parthas
tal-
Chamou
vez mais ardente, mais violento, mais louco ainda.
Artavasdo
mar
Cáspio;
cerco, teve
marcha
que
e tendo tido dez-
combates, os romanos chegavam a Araxe, fronteira da Ar-
mênia, tendo morrido n'aquelles combates
vinte e quatro mil
legionários. Antonio teve occasião de reparar o erro que praticou, a
mas não
a quiz aproveitar, Cleopetra,
Alexandria impedia-o de deixar illibada
a
arrastando-o para sua honra e vinga-
das as legiões romanas das perdas que soCfreram.
Emquanto Anionio no Oriente se deixava mais uma vez adormecer nos braços d aquella mulher, que lhe appareceu como um anjo mau a conduzil o pelo caminho da deshonra e
— 204 — do opprobrio, Octavio
em Roma empregava
toda a sua activi-
dade
em
mou
os piratas do Adriático, e as irrequietas
dar áquelle povo o repouso que tanto anceiava.
das duas
Do-
tribus ao norte
peniusulas, os Japodas, os Libanos e os
No ataque de Métulum, para animar os seus
Dalmatas.
soldados, subiu
prorio á escalada e recebeu tres feridas; penetrou até Sa-
elle
uma
ve e submetteu
Pannonianos e dos Salacios.
parte dos
Este augmentava o território do império, o outro dava paizes
romanos
a
uma
rainha barbara. Apesar d'isto Antonio queixa-
uma
va-se e reclamava
parte
Lépido. Octavio respondeu lhe a
Pompeu
nos despojos de
com graves recriminações sobre
sua conducta e leu no senado o testamento de
que
elle legava a
provindas que
rou
em
estavam
um
dia viesse a ser
Um
mesmo
Octavio quiz
seu poder;
presente d’ella a Cleopetra. a
em
Antonio
Cleopetra e a seus filhos a maior parte das
fazer ver que, se Antonio fazia
e de
senhor de Roma,
decreto do senado.decla-
guerra à rainha do Egypto.
Antonio reuniu
cem
dose mil cavallos
mil infantes,
nhentos grandes navios de
guerra, Octavio linha
e qui-
oitenta mil
infantes dose mil cavallos e apenas duzentos vasos de guerra,
d’uma lotação necidos de
inferior,
porém mais
leves,
mais rápidos e guar-
marinheiros e soldados já amestrados na
contra Pompeu.
A
acção
travou-se
em
Aclium, na
Aranania, Cleopetra fugiu no meio do combate navios egypcios, e Antonio, o out ora
agora
a
valente
guerra costa da
com
sessenta
triumviro, que
sua louca paixão havia tornado covarde e fraco, seguia a
A
n aquella vergonhosa retirada.
frota
abandonada rendeu
se;
o exercito de terra resistiu ainda sete dias. D’esta vez Octavio
não manchou a
victoria
com
cruéis vinganças, ia-lhe já
dência dominando o animo exaltado d outro tempo, talvez já ensinado a experiencia
a
pru-
tinha-lhe
que o perdão das oífensas hu
milha mais os inimigos e acarreta mais sympathias do que a
mesquinha vingança, dos que
a
tisfação de
porisso não se
pediram. A vingança não é
uma
paixão, é
um
negou
um
a vida
a
nenhum
desaggravo, é a sa
sentimento baixo; o
homem
vin-
— 205 — gativo assemelha-se ás feras, o perdão não é
um
gnanimidade, é
sentimento nobre;
approxima se de Deus.
Octavio
foi
uma
baixeza é
homem que
o
chamado
a
ma-
perdoa para
a Italia
ali
apasiguar algumas discórdias que se tinham levantado e só no
anno seguinte poude continuar
com Antonio;
a luta
este ten-
tou defender Alexandria; C.leopetra, a sua eslrella mofina,
sempre o guiara no caminho da perdição, levando o nar
a
esposa,
a
lentado, perdidas
em
perigo, atraiçoou-o, e elle. desa-
buscou no suicídio o
todas as esperanças,
termo dos seus desvarios. no animo de
porem, ainda vaidosa, julgou
Ella
Octavio
a
mesma
influencia
exercido sobre o de Antonio; illudiu-se. Octavio
desesperada
que
abando-
palria e a sua própria honra, quiz conduzil-o
até ao abysrno, vendo-se
exercer
a
foi
que havia inabalavel;
morder por um áspide, de cuja mordedura
fez se
morreu envenenada. 0 Egypio foi reduzido a província romana. Octavio voltou á Asia, onde passou quasi todo o inverno a pôr em ordem os negocios do Oriente; quando voltou á capital
do império
tribuir pelos
foi
recebido
soldados
em
em
triumpho;
mil seslercios a cada
quatrocentos por cabeça e para iniciar
uma
seguida
um
fez dis-
e pelo povo
era de paz
man-
dou fechar o templo de Janos. Era finalmente o unico senhor de lloma;
sendo cônsul por mais
ficou
seis annos, este
dava lhe quasi todo o poder executivo, mas e principalmenle o
rador,
com
o
do exercito: para
commaudo supremo de
elle
isso fez se
queria
cargo
também
nomear impe-
todas as forças militares;
os generaes eram seus logares tenentes e os soldados juraram-
também nomear
lhe fidelidade:
fez-se
tendo Agrippa
por collega;
perfeito dos costumes,
o perfeito dos
costumes
tinha a
superintendência sobre o censo e n 'estas condições podia expulsar do senado os
membros que
do os antigos censores formavam
lhe
não conviessem. Quan-
a lista
dos senadores o que
chamava se príncipe do senado, e este logar d honra pertencia-lhe por toda a vida; Agrippa deu ao ia
na
cabeça do
seu collega este
rol
titulo
republicano; era muito importante por-
que o príncipe do senado ;era
sempre o primeiro
a emittir a
— 206 — sua opinião e esta tinha grande outros, de
modo que
0 senado
fel-o
era quasi
proconsul,
todas as províncias, porém se si
influencia sohre o
como
elle
animo dos
sempre adoptada. tal
tinha soh sua autoridade
cedeu-lhe as
do
interior,
que
achavam mais socegadas c mais prosperas e reservou para as que se achavam ainda revoltosas e as que estavam amea
çadas pelos harbaros; o senado deu-lhe o
titulo
em
de reconhecimento
signal
de Augusto, que só se dava aos deuses e Ires
annos depois decretou-lhe o poder tribnnicio por toda de modo que
á
autoridade militai que já tinha juntou o poder
inviolabilidade da
civil e a
consulado c
a vida,
a perfeilura
sua pessoa;
mais tarde obteve o
dos costumes por toda
mente, por morte do Pontífice, fez se
elle
a vida;
nomear
Summo
final
Pon-
tífice.
Não
havia mais coisa alguma que lhe conviesse. Vè-sc
como
este
homem
intelligente e sagaz se
foi
lodos os cargos até se tornar senhor absoluto.
dos costumes redigia
a lista
apoderando de
Como
Perfeito
dos senadores e dos cavalleiros,
podia portanto expulsar do senado e da ordem equestre todos
como grande Pontífice tinha vigilância do dos seus ministros; como Príncipe do senado dirigia as suas deliberações; como Imperador comman dava os exercitos; como Proconsul era senhor das províncias; como Cônsul governava a cidade e a Italia: era irresponsável os que lhe não fossem a Afeiçoados; culto e
porque
tinha
poderes
vitalícios; a
sua
pessoa era inviolável e
sagrada, porque era Tribuno perpetuo.
A sua administração foi sabia e prudente, marcou no imromano uma era de prosperidade; tanto que a designaram por era de Augusto; o senado continuou a nomear os pro-
pério
cônsules para governadores das províncias interiores, que Oclavio lhe cedeu; as
que estavam
a
seu cargo eram governadas
por delegados imperiaes da sua confiança; é provável que fosse ir estas condições que Valerio Máximo veiu residir na Nabancia.
Como elle
havia duas especics de administração havia dois thesou
atrariam, que pertencia ao senado e fiscus ao príncipe, porém dispunha de ambos. Como havia falta de recursos
ros, o
—
-207 para fazer face ás novas despezas,
impostos
restabeleceu os
aduaneiros e creou outros novos, a vigésima parte das heranças e a centesima do preço das vendas e as multas da
Julia-
lei
Poppcea contra os celibatários. Os dois primeiros por cá ficaram,
um com
o
nome de
direito de transmissão e o outro
governos ainda se não lembraram, mas
em compensação temos
outros peiores; o que lhe não imitaram ainda
um
com o do
muito mais augmentado, do ultimo é que os nossos
cisa, este
foi
o que
elle fez
anno, pagando dos seus rendimentos os impostos das pro
vincias da Asia.
A
fim de regularisar os impostos
um
geometras levantar
tres
ainda outio fim e império, era
foi
que,
em
carta geographica do todo o
meio de estradas os pontos
princi-
mandou executar; mandou-as
paes, o que rapidamente truir
feita a
ligar por
facil
mandou por
novo cadastro; este trabalho teve
cons-
todas as províncias e a península Ibérica, de que então
fazia parte o actual reino
de Portugal e onde se achava
a
Na-
bancia, foi uma das mais bem contempladas, cobrindo-a com uma rede de estradas e estabelecendo n'ellas um serviço de
postos regular. Nas províncias occidentaes, nas quaes se com-
prchendia esta nossa região, fez novas divisões territoriaes e
fundou muitas colonias para multiplicar no meio destes povos
romano
o elemento
exemplo de seu antesuccessor
e a
Julio
Cesar, concedeu a muitas povoações da península Ibérica o jus civitatis.
Sem
estes resumidos
poderiamos afllrmar se encontrou
a
trechos da historia
rasão porque
de Oclavio
mal
nas minas da Nabancia
uma medalha, que claramenle
se vê que
man-
foi
dada cunhar pelo Município Nabantino
em
perador, que então
Divino Cesar Augusto e
tinha o titulo de
honra d aquelle im
porque na parede do velho castello se acha casuahnente coberto
uma
lapide
Máximo,
homem
e é muito
com uma
inscripção
romana,
que prova que na Nabancia
importantíssimo,
a
des
documento
residiu
Valerio
muito nolavel. que teve as honras de cônsul
conhecido na
levantou n’aquella
historia
romana, e que este
povoação um padrão de memória
homem
á piedade
208
—
de Gesar Augusto. Não deve entender-se por piedade ricórdia, a
commiseração, mas sim
a
a
mise-
magnanimidade, a muni-
ficência regia, os benefícios feitos áqnella cidade, e estes be-
foram?
quaes
nefícios
A melhor repartição dos tributos
em
mandou proceder, as estradas que esta com outras povoações, favore-
resultado do cadastro, a que
mandou
construir, ligando
cendo o commercio
também
o jus
e as relações entre ellas e
civilatis,
provavelmente
que lhe seria concedido, « que equiva-
mesmos direitos dos cidadãos monumentos ao chefe do estado, em geral, não eram os particulares, mas sim os empregados públicos, portanto é muito provável que o illustre romano Valerio Máximo residisse na Nabancia, como delegado do impe lia
a dar aos seus habitantes os
romanos.
Quem
erigia estes
uma certa area d’este território, cujos liminão podem marcar. Us governadores das províncias
rador, governando tes hoje se
habitavam sempre nas povoações principaes das províncias que
governavam. Tudo era
uma cidade No mesmo
nos
isto
prova que ifaquella epocha
a
Nabancia
importantíssima. Outros factos ainda oaileslam.
em que na mesma
local
referimos e
foi
encontrada
occasião,
a
medalha
a
que
foram lambem encon-
trados pavimentos de casas lageados ou ladrilhados de teju los,
paredes muito espessas que se elevam a 0,
m
40 acima do
nível
em
alguns pontos 0,'"d0
do seu pavimento,
ram muitas carradas de pedra de nas cylindricas, algumas d
um
d
onde se extrahi-
alvenaria, pedaços de colum-
grande diâmetro, tejolos
e telhas
de grande espessura; por debaixo do pavimento d estas ruinas notou-se ainda haver subterrâneos, cavas, ergástulos ou criptas.
Não
se sabe o que era, porque, infelizmente não foram explo-
rados;
em um
certo ponto abateu o terreno e viu-se
uma
bada, entupiu-se aquella cavidade e não se examinou.
grande quantidade de moedas romanas e
lrou-se
lambem
muitos
cadinhos de grés;
ali
abo-
Kncon-
e entre
aquelles
restos da
antiga
povoação, encontraram-se alguns fragmentos de estatuas, que
deviam ça,
ter sido perfeitíssimas; entre elles
reproducção talvez da Venus
metade de uma cabe-
de Medieis,
foi
dividida no
— 209 sentido da linha media do corpo, orelha,
uma
difíicil
que hoje se não
feito,
será egualal o; parte de
um
braço, copia
do natural, onde lambem se desenham os musculos,
um homem bem
rece haver pertencido a hoje
uma
olho,
face e o collo correspondente, tudo tão primoro-
samente talhado, tão artisticamente bem excede e
um
deixando ver
ao
petreficado;
meio
conformado e robusto,
sobre o musculo
d’elle,
veem-se os vestígios dos dedos da mão opposta, sentavam; pertenceu
a
uma
fiel
que pabiceps,
que
ali
as-
magnifica estatua, que se apresen-
tava de braços cruzados; parte de
uma
perna e pé,
os malleolos, o tendão d’Achilles e o calcanhar estão
em que tão bem
fsTATUAS JÍABANTINAS (^RACMENTOS)
talhados que parece que servia de molde;
que cada
um
aquella parte do corpo
humano
lhe
alem d estes muitos outros fragmentos e vê-se
d elles fez parte
relíquias preciosas estão
de estatuas diílerentes.
Estas
guardadas no museu Silva Magalhães,
onde se podem observar. certo serviram de
Fizeram parte de estatuas que deornamentação a alguns magníficos jardins
ou sumptuosos palacios ou então eram deuses levantados
em
soberbo templo e hoje ainda aquelles restos de antiga magnificência, ali
sepultados ha tantos
outr’ora admirados nos jardins
séculos debaixo da
terra e
ou adorados nos templos, es-
tão a attestar a grandeza da antiga
povoação
a
que perten-
— 210 ceram; brilhou
n’ella
o
esplendor
importante, porque teve as
romano,
cidade muito
fui
honras de município
romano,
foi
habitada pelo nobre patrício e dislinclo cônsul Valerio Máximo, e residiram n’ella muitas outras nobres famílias.
Oschronistas e os historiadores antigos só descreviam os
fei-
dos reis ou dos homens celebres, que muitas vezes engran-
tos
deciam até ao exaggero e nada se dos povos; embora uma cidade
civil
com
importavam
florescesse pela
a
vida
agricul-
ou pela industria não merecia menção alguma nos seus escriptos se n ella se não dessem acontecimentos imtura, pelas artes
portantes que se prendessem com a vida de algum rei ou de algum general de fama, cuja epopeia teciam em termos quasi sempre aduladores, que muitas vezes não exprimiam a verda-
de dos factos
devem
com
com que Romanos passou
aquella pureza e imparcialidade
ser narrados; por isso na historia dos
desapercebida esta importante cidade, que não se salientou por
uma
revolta
ou por uma batalha de nome, dada nas suas pro-
ximidades.
Dos ral
livros antigos
perdeu-se a maior parte; a historia ge-
de Trogue Pompeu desappareceu, da encyclopedia de Celso,
só restam os livros que dizem respeito á medicina, a geographia do grego Eslrabão nada nos diz, parece
que aquelie es-
criptor viajou mais pelo oriente e pouco conhecia do
Occidental da península; de até nós, n aquelles
modo que nos
livros
extremo
que chegaram
de que temos conhecimento, nada
encon-
tramos que nos possa servir de base á historia d’esta cidade; a tradicção
pouco ou nada nos
diz porque,
de tão
longínqua
tem se alterado e perdido no decorrer dos séculos; restam-nos só os monumentos e os vestígios que d’ella se enque
é,
contram.
O
celebre naturalista
Cuvier com
um
só osso
pelreficado
reconstruía todo o animal a que tinha pertencido e cuja especie se havia extinguido ha
nia
n
muitos séculos; ora se peta harmo-
que existe entre dilíerentes ossos de
tituern
o esqueleto que lhe dá
a
um
animal, que cons
fúrma e onde se prendem os
- 211 musculosque
lhe
dão os movimentos, que se executam debaixo a avaliar
as qualidades
intelligencia, os seus
instinctos, as
da influencia da vida. se pode chegar
do animal, o seu grau de suas aptidões,
etc.,
uma povoação
e a vida
de relações
A
outra. n'ella
existe
tão concordes
revelam
a
a
sua
em que
deduz
avulta a vida, exerce se
etc.,
vidade humana, ha
lá a
ali
em grande
templos,
aldeia,
oflici
escala a acti
riqueza, o fausto, a grandeza,
podem caber numa simples
a
seu
Assim onde
sumptuosos
esmerados jardins, bem construídos theatros, variadas nas
a
do povo que
intelligencia, o
se encontra.
palacios,
conjunto
isto é, os edifícios
vida
actividade, a sua
ha vastas construeções, ricos
tal
facilmente se
povoação,
uma manifestação da
saber e o grau de civilisação
um
habita
que d uma
uma
material de
entre a parte
do povo que
parte material de
erguidos, são
habita,
lambem
mas sim em
que não
vasta, rica e
opulenta cidade,
Aquelles fragmentos encontrados nas ruinas da antiga Nabancia, pertenceram a estatuas de muito valor, não
eram obra
de ignorantes ou simples curiosos, mas sim de abalisados artistas,
a
de eminentes esculptores e estes decerto não exerciam
sua profissão
em
pobres aldeias, mas sim
em
ricas cidades,
onde houvesse ouro para pagar lhes os seus valiosos trabalhos. Cada um d aquelles fragmentos revela uma grandeza; gigantescas columnas só serviam
para sustentar soberbas arcadas
ou magestosas abobadas; riquíssimas estatuas de mármore de llalia
só se
collocavam
em magestosos
templos,
riquíssimos
jardins ou grandiosos palacios. e onde ha isto ha o esplendor
da riqueza, ha mais que o luxo, ha o fausto. E’ pois indubita vel
que
mo
hoje lhe
a antiga
cidade romana Ur bs Nabce
chamamos,
foi
uma povoação
ou Nabancia, co
florescente, poi isso
não deve admirar que tivesse as honras de município romano.
Mas o
<jue attrahiu
para aqui aqnella numerosa população
e de que elementos tirava
as riquezas
que lhe
davam o
es-
plendor? Sabe-se que no tempo dos romanos só havia cidades, muito poucas aldeias (vines),
a
população agglomerava-se toda
- 212 nos grandes centros; esses casaesinhos, que alvejam ao longe
na cumeada dos montes ou no correr dos valles, essas casinhas
de campo, que branquejam por entre
a
ramada das
figueiras,
das amendoeiras e outras arvores, que malisame adornam as nossas bellas paysagens, não as havia então; era menos bello
campo mas mais ricas e povoadas as cidades. Os campos eram cultivados, não podia deixar de o serem, mas estes pero
que
tenciam quasi exclusivamente aos grandes,
ali
tinham as
suas granjas, regidas por feitores, cultivadas por escravos con-
como animaes de trabalho, dura e barharamente que os governavam e de quem os romanos, por não poderem negar-lhes a forma humana, diziam que eram homens, mas não eram pessoas; ali viviam aquelles desgraçasiderados
tratados pelos
dos cobertos de
miséria,
cançados
de trabalho,
que
á noite
eram recolhidos em prisões subterrâneas, chamadas ergástulos, tão lôbregas, tão immundas que hoje nem ousaríamos metter n’ellas os
nossos gados.
Seria só da agricultura que vivia aquella
pulação? Seria
a
vasta e rica po
ubérrima fertilidade dos campos circumvisi
nhos que para ali os attrahiu? Cremos não ser isso só. Os campos d’esta localidade são bastante ferteis e mais o deviam ser então, «piando ainda se não tas successivas,
muitos sem
achavam esgotados por
as
adubações
colhei
necessárias para
repor no solo os elementos que cada colheita lhe vae subtra hindo; os terrenos fera era a
prestam-se
mais empregada
a
variadas
naquelle
culturas, a cerealí-
tempo
e devia
lambem
haver n esta localidade abundancia de azeite, vinho, fruetos e e boas pastagens para gado; mas, com certeza havia alguma coisa de mais importância, de maior valor ainda, que
legumes
era a exploração de minas,
dalgumas das quaes ainda restam romanos eram dedicados a este
vestígios e sabe-se quanto os
genero de industria.
No
sitio
mina d ouro;
chamado Fonte de as pesquizas
ali
I).
feitas
veio aurífero, «jue é muito rico,
não
João ha vestígios de
uma
ha pouco mostram que o foi
exgotado
e
que ainda
— 213 — podo dar avaliados lucros ção, o
que é de esperar
a quem emprehenler nova exploraem breve se realisará; a dois kilo-
metros approxidadamente desta cidado, no lia
onde
beira de Bezelga, defronte de
nhos de
um
direcção norte-sul
um manto
chumbo
era o sulphoreto de se plantava
uma
da Ri-
direita
cami-
de prata; corre
terreno eruptivo
argentifero; na
vinha na encosta que
ali
coberto
minério que se cxtrahiu das
o
calcareo;
de
filão
de Cardaes,
é hoje a estação dos
uma mina
explorada
ferro, foi
sitio
mina d’ouro; na margem
vestígios de outra
na
com
galerias
em que
occasião
fronteira á estação
fica
encontraram-se alicerces de casas, que evidentemente serviam
também que appareceram alguns pedaços de minério; no cume do monte existiam e ainda talvez lá se possam ver, vestígios de fornos circulares, com de habitação aos mineiros e
o fundo concavo
em
foi
forma de
ali
que
caldeira, o
vamente é este o processo mais antigo, breus e dos egypcios e
no
Plínio e Estrabão;
de seis kilometros,
de que
sitio
foi
já
ainda hoje no Chili,
da Paxinha, que
fica
a
Chanarcillos,
n
um
Sicilia,
[touco
também explorada uma mina
em
dos he-
conhecido
mais
e outras
Se nós vemos
muitas haveria de que já não restam indícios.
e esteril,
elTecti-
Deodoro da
faliam
que o
mostra
processo de extracção empregado era o de cupulação;
terreno escalvado
onde não ha nem agua nem combustível, uma popu-
lação mineira de mais de quatro
buscar a mais
de
léguas
trinta
que tem
mil almas,
ludo o que
que
ir
lhe é necessário
para poder viver, não nos devemos admirar de que na antiga Nabancia,
n
situada
um
bustível e cercada de
população dez ou
do solo
local
ameno,
farta
ferteis terrenos, se
mesmo
e principalmente
d agua e de com-
agglomerasse uma
vinte vezes maior, que da fertilidade
do
valor das minas,
que
ia
explo-
com que ostentava a sua magnificência. A vida das nações é como a vida das plantas, que germinam e crescem, florescem e brilham, depois murcham e caem
rando, tirava a riqueza
resequidas, porque lectiva,
a
vida vegetal ou animal, individual on col-
emana do mesmo
principio;
a vida
é
uma
rotação;
a
— 214 — rotação é o movimento característico do universo, não mostrar
sempre
mesma
a
desde
face;
a mollecula
suraveis corpos celestes tudo se desloca
até
em
aos incommen-
dum
volta
centro;
o que é hoje não é amanhã; da luz passa-se ás trevas, do bri
como do
lho á obscuridade,
dia á noite, da grandeza á miséria.
Accusam-se os povos ou os dirigentes das grandes nações de, pela dissolução de costumes ou pelo
duzido a sua queda, é
mos por
accidental é
um
mau
governo, terem pro-
que nós muitas vezes tomaé necessário, é o resultado de leis
erro; o
fatal,
que por ora nos são desconhecidas.
Todos os phenomenos do universo obedecem e invariáveis,
sem
Só o Creador
é livre nos seus aclos.
isso
obra da creação
a
E’ da
a leis
fixas
imperfeita.
seria
do ser
natureza
ereado não poder desviar-se do fim da sua creação, como as
machinas que nós construimos não podem por
si
alterar os
a produzir. Na ordem material ordem metaphysica suscitam-se sobre o livre
movimentos que são destinadas é isto evidente, na
que não vem
arbítrio questões
A successão dos des acontecimentos, des estados,
a
a
a
proposito tratar aqui.
que constituem
factos
a
historia, os
gran-
formação e o desenvolvimento dos gran-
sua queda
eo seu desmembramenle posteriores, devem estar sujeitos
as grandes virtudes e os grandes crimes a
leis fixas,
idéas e os
como
todos os
phenomenos do universo. Entre as
costumes das epochas primitivas de selvageria e
de barbaria e as idéas e os costumes das epochas modernas ha
uma
differença
distantes, dias,
acham
enorme, mas, estas formas extremas, tão
se ligadas por
que se succederam
e
uma
serie de formas interme-
ligaram como os elos de
uma
cadeia.
E’a nossa ignorância que nos impede de prever todos os phenomenos. Ao ser dotado d uma intelligencia como a que Laplace imaginou, que podesse abranger na
mesma
formula os movi-
mentos dos maiores corpos do universo e os do mais leve átomo, nada lhe seria incerto e tanto o futuro como o passado seriam sempre presentes a seus olhos. O physiologista dii
Bois-Raymond phanlasia
a
mesma
intelligencia, dizendo
que
se ella exislisse, assim
como o astronomo póde predizer com
profundezas do espaço
voltará das
paragens, da
mesma maneira
nas suas equações o dia logar
em que um
cometa
mostrar-se nas
nossas
atinos de antecipação o dia certo
muitos
em
a
aquella intelligencia
poderia ler
que a cruz grega retomará o seu
em que
sobre o zimborio de Santa Sophia e aquelle
a
D Alembert, apresenta a mesma para quem podesse
Inglaterra queimaria seu ultimo pedaço de carvão.
no discurso preliminar da
Encyclopedia,
idéa nos seguintes termos:
«O universo,
abraçai o n
um só um
ponto de
vista,
não
seria,
se é perinit tido
uma grande verdade». Não podemos conceber que uma tal intelligencia possa
dizei o,
senão
parecer
em
ficar-nos
os
facto unico,
ap-
qualquer epocha no globo que habitamos, porisso
hão sempre desconhecidas as
ordem moral
factos da
e os
leis
porque se regem
que cremos
filhos
volição.
Talvez por muito simples as não possamos
hender.
Oreados para vivermos n’um meio
da nossa
compre-
restricto e lemi-
lado. tanto nos escapa o que é mfinitamente grande
em
relação
nós como o que é infinilamente pequeno; são dois extremos que não podemos tocar: estamos entre o complexo e o simples;
a
por isso
um
e outro ficam fóra da nossa
comprehensão.
0
nos-
so espirito, pela sua tenuidade, mais expansivo que os gazes,
mais elástico e subtil que o ether; podendo, ptível
momento percorrer
n
um
imperce-
toda a immensidade, para o qual não
nem tempo, poderá
ter a comprehensão de todas emquanto ligado á matéria, não pode no nosso cerebro, por mais bem organisado que seja,
ha espaço
as leis do universo;
que é o orgão da
porém,
intelligencia,
como os olhos o são da
os ouvidos da audição, transformar essa comprehensão
em
visão,
idéas
ou pensamentos perceptíveis e transmissíveis, porque por mais rapidas que sejam as vibrações das molleculas do orgão sensorial, fóra
dos limites que lhe são assignalados, como matéria
podem acompanhar os movimentos, se assim lhe podemos chamar, d essa entidade immaterial que em nós reside,
sensível, não
e que
conslitue o nosso
ser, a
nossa
individualidade,
o eu.
—
216
entidade
essa
única
mesma no meio do
da
multiplicidade,
em que
sempre
a
as molleculas
do nosso corpo constantemente se vão renovando,
materiaes
de
no meio
turbilhão da vida,
modo que em nós não annos
ha alguns
que se aílirma
em
um
existe hoje
que
só atomo dos
constituíam o nosso ser corporal;
esse cm,
todos os aclos da nossa vida, que a crean-
cinha balbucia nas primeiras palavras que pronuncia, afllrmando
sua individualidade; nós dizemos eu vejo, eu ouço, eu sinto
já a
neste modo de exprimirmo nos
indicando
nem mesmo não
ser unico, que não conhece os corpos d’elles
recebe senão porque
elle
dum,
a existência
que
as impressões é corpo
nem
sen-
tido.
Pois este ser immaterial
que é limitada,
á matéria,
a
não tendo meio de communicar
immensidade da sua comprehensão
ficaremos sempre ignorando o que no nosso acanhamento cha-
mamos
transcendências e conforme
a
estruclura mais ou me-
nos perfeita do nosso orgão sensorial,
menos
será mais ou
dilatada,
area do nosso saber
a
porém sempre
restricta e limi-
tada.
que se póde saber, porque os
.Mas o
factos nol o
leem de-
monstrado, é que a formação das grandes nações caminha sempre, não n uma linha recta ascencional e indefinida, e sim n
uma
curva,
limite para
em
cujas ordenadas vão
geral muito mais rapidamente.
accelerar a queda das te
d
nações,
como o excesso de
elia,
Uma má
fizer,
o seu termo é
mas nunca
á
madura, da madura
mo termo
morrem
ha de morrer
ser causa elficien-
fatal, inevitável;
á senil,
d esta rotação. Só não
indivíduos e
mas
orientação pode
a vida;
passa-se á joventude, da joventude á edade ril
certo
trabalho, o abuso das nossas
culdades individuaes pode encurtar nos o que se
um
inversa,
crescendo até
depois decrescerem, não na rasão
porém
da adolescência
viril,
da edade
da senil á decrepitude,
morrem
fa-
faça-se
as idéas.
vi-
ulti-
Morrem
os
as nações; tudo o que é material é finito;
a terra, o sol com todos os seus planetas e no firmamento exfmguir-se-hão todos os astros brilhantes que ora
— 217 o povoam, quando toda celum
gotado; é o
sua energia potencial se houver es-
a
transibunt do propheta
terra
et
Rei e das
Escripturas. Esta verdade, outrora annunciada nos livros
grados como
demonstrou
sciencias;
uma
inspiração
prophetica,
a pela
das suas lições de
o numero,
isto
é,
essencialmente sico inglez.
sa-
pelas
imthematiea M. AgustinSauchy
physica
provando
geral,
que
em
todo
de unidades successivas é
toda a serie
finita.
provada
hoje
é
Sir William
Tompson, o celehre phy-
marca ao calor solar uma origem e
um
Este
fim.
poderoso astro, centro do nosso systemaa planetário, segundo os cálculos de Herschell e de Puillet irradia cada armo da sua superfície
uma quantidade
calorias, isto
calorias ou a quanti-
3 seguido de 30 zeros,
é,
dade de calor necessário para elevar
valente á força de
de luz e de calor
um
a
grau centígrado
a
de cada pé quadrado irradia na unidade de tempo o calor equi-
temperatura d’um kilo d agua da sua superfície
3XK) 30
da calor correspondente a
distillada;
sete mil cavallos; pois
em uma
epoclia,
este foco
decerto muito
immenso
longínqua,
ha de apagar-se e arrefecer-se. A’ luz hão succeder as trevas,
com a monstração de William desenvolvida em uma ao movimento o repouso
incompatível
Esta de-
vida.
conferencia so-
bre o calor solar, reproduzida na revista scientifica de GemerRaillièere, é tão scientifica e está tão
gosto
lel-a e
esludal-a,
bem
elaborada que faz
mas é tão extensa que, "mesmo
mindo-a não pode caber n’este logar, porisso
tamos aqui. M. Balfour-Stewai ral
no collegio de Ovven
a
não apresen-
professor de philosophia natu-
Manchester,
em um
artigo publicado
tem por titulo fundado na theoria termo-dymnaenuncia da seguinte forma: «0 calor transforma se
na Bibliolheca
A
em
t,
resu-
Scientifica
Internacional e que
conservação da energia,
mica, que se
em
trabalho e reciprocamente
calor, fazendo ver n estas
duas
o trabalho leis
uma
tíssima e é que o trabalho se transforma
transforma-se
differença
em
calor
em
importan-
com
a
maior
facilidade,
mas que não ha processo algum em poder do ho-
mem
permitta
que
transformar
todo
o calor
em
trabalho;
t
— 218 —
*
cada
d’aqui resulta que a energia do universo se transforma
em
dia e cada vez mais
do com chega
a
universalmente dilTuso
calor,
seguin-
»;
sua argumentação baseada nos princípios da sciencia,
á seguinte
conclusão
«Nós dependemos do
:
não só pela energia de
do nosso systema,
principio e ha de ler
um
só o nosso systema,
mas
Demonstramos que o
fim.
centro
nosso corpo,
pela delicadesa da nossa constituição, o futuro da está ligado ao futuro do sol.
sol,
mas
nossa raça sol teve
um
Se generalisarmos veremos, não
todo o universo material, considerado
debaixo do ponto de vista da energia
utilisavel,
como essen-
como abraçando uma successão de podem continuar se indefinidamente taes como são agora. Mas então nós chegamos a questões collocadas alem do nosso alcance. A sciencia da natureza não póde ensinar-nos o que era antes do começo e o cialmente
transitório e
acontecimentos naturaes, que não
que será depois do fim.» malhematico
e
M. E. de
chega ás mesmas conclusões:
um
estado
Saint Ilobert, o distincto
mechanico ddtalia, fundado na mesma theoria,
final,
em que
temperatura entre os corpos, e
nhum phenomeno
que o universo converge para
não existirá nenhuma differença
de
em que, por consequência, neem que todas as actividades íixado em um estado de repou-
será possível,
da natureza se lerão parado e
O eminente
so relativo e eterno.
physieo inglez M. Tyndall e
o celebre mathematico belga M. Folie, chegam
á
mesma
con-
clusão e alem destes muitos outros, que seria fastidioso enu-
merar
aqui.
O mundo
Esta rotação é
fatal,
sahiu do cabos e ao cabos ha de voltar.
dá-se
em
todos os corpos celestes e nos
seres que os povoam, assim nos indivíduos
como nas
socieda-
des.
O
vasto império
romano não podia subtrahir-se a estas leis enorme que assombrou toda a Eu-
cósmicas, aquelle colosso
ropa, Asia e África cahiu por fim abatido,
exgotado pelo seu
labor immenso; os ligamentos que prendiam os aquelle gigante afrouxaram se. e as hordas selvagens do norte
membros de romperam se; esphaçelou-se, vieram como os vermes do se
— 219 — pulcliro a
devorar-lhe o cadaver.
Suevos, Alauos, Vandalos,
Godos e Wisigodos, como aves de rapina vorazes disputaram entre
si
e esfaimadas
presa e depois que se saciaram repar-
a
tiram os despojos, ttorna, o temível leão dltalia, que outrora
amedrontava o mundo baixa
a
inteiro, na sua
decrepitude roja
a
cauda,
juba e lambe as mãos dos domadores; soffre os oppro-
brios e humilha-se ás alTrontas. Bruno lança a sua espada no [traio da balança
que pesava o ouro com que os d antes valentes,
hoje fracos romanos resgatavam a sua liberdade e exige que o
ouro lhe pague o seu valor, porque aquelle ferro na sua mão mais que as drachmas e as onças romanas, e aquelle po-
valia
vo,
que tão cioso
reis
da sua autonomia, consente
foi
barbaros subam ao
reis
romanos. K’ que
Gesares
nem
ja
não havia
ü
tantos outros,
ralmente desvanecendo
empunhem Scipiões, nem
capitólio e
Grachos,
coragem
brio e a
depois que
o sceptro dos
nem
ia-se nalu-
com o succeder das gerações, como
as forças physicas se vão esgotando no declinar da vida. Cada
uma
heroe que desce ao tumulo leva na alma
parcella da vida
da patiia.
A Nahancia como mollecula integrante d aquelle corpo, se decompoz,
foi
assimilada por outros seres,
seguindo
(jue
a lei
natural das mutações, estabeleceram-se por fim aqui os Godos,
forque pltases passou império
romano se convulsionou
morte, não é
fácil
tudo a ferro e
a fogo,
á fome,
e
sabel-o. Sahe-se
tudo era destruído;
morriam
durante esse longo período,
debateu nas
em que
o
agonias da
que os Vandalos levavam
por onde passavam tudo era assolado,
os que escapavam ao ferro dos barbaros
chegando
até as
mães
a
devorar os cadáve-
No meio d’este cataclysmo a formosa cidade romana não pereceu tolalmente, porque nos apparece mais
res dos filhos.
tarde
como cidade goda; o que
soffreu durante aquellas succes-
sivas invasões de barbaros não o escreveram os historiadores,
mas pode-se
adi vinhal-o pelo
mais
que se passou
n'aquellas
epochas calamitosas até aos últimos invasores, que se estabeleceram na península, repartindo entre
si
as terras conquista-
— 220 — das na rasão do dois terços para elles e
A Nabancia passou
a
um
para os indígenas.
ser cidade goda, governada por
que correspondia ao cônsul romano, o que prova
de,
um a
con-
impor-
tância (jue ella continuou a ter.
Devia resentir se muito esta cidade da queda
romano
e do mais que succcdeu até ao
dos
nitivo
do império
estabelecimento defi-
Godos, porém continuou ainda
a ser
uma
cidade
importante, mais abatida por certo, mais decadente talvez;
d
elia
lambem não teríamos
se o facto Irene. á
notável que
A egreja
corrupção,
deu, o assassinato de
premeava
christã
poderes
vam esses
em
altares para
em
ou
holocausto á pureza das
no numero dos
até ao divino,
collocando as
serem adoradas
e allribuindo-
milagrosos; os historiadores sagrados
factos para
fos-
Iria
virtude dos que resistiam
isto é, incluindo-os
santos; os crentes exaltavam-os
llies
a
sacrificando a vida
suas idéas, canonisando os,
suas imagens
alguma escripta se não
noticia
se
ali
e
que o conhecimento
d’elles
registra-
chegasse á
posteridade; por isso nas chronicas sagradas se encontra ain-
da a narrativa d aquelle acontecimento; mas n ella só figura
a
que mais ou menos directamente tomaram drama e nada mais se acha escripto a respeito da Nabancia como cidade goda, só se diz que era muito popuprotogonista e os parte n aquelle
losa.
No anno G33 da
governada pelo Conde de
era a Nabancia n'ella dois
era christã, sendo rei dos godos Recesvindo,
mosteiros,
S. Fructuoso, arcebispo de
onde está hoje
mesmo
a
eon vento;
Braga,
egreja de tinha
mesmo
local
onde depois
que hoje se chama de Santa
um
Santa
n'aquella
abbade se chamava Celio e era no
Castinaldo;
que tinham sido fundados
tio foi
Iria,
de Benedictinos no
Maria, que
epocha 44 de
havia
em 640
Iria;
pertencia
por sitio
ao
religiosos, cujo
outro de religiosas
o convento
de Santa Clara,
junto ao rio Nabão. Foi n esta
epocha que se deu o facto notável o qual, por se referir;» personagens que então viviam na antiga cidade goda, com pallida e frouxa luz, apenas nos deixa lobrigar
lá
ao longe n aquellas
—
22 remotas eras, por entre
plianlasia dos chronislas,
a
que o
re-
vestiram de fabulas e lendas, o quer que seja de verdadeiro que
pouco mas alguma coisa nos revela d’aquella antiga povoação. Era
ou
Iria
formas,
I>elas
uma joven formosa
Irene
pelas
famílias, filha
de Hermegido
uma herdade
fóra
cuidados de duas
e
formosa
bella,
descendente de
nobres de Eugenia, que habitavam em da cidade, haviam-a seus paes confiado aos
bella
virtudes; e
recolhidas ou
paternas, Casta e Julia,
tias
professas no convento de freiras, junto ao Nabão. Chegada á adolescência, seu
lio
Ceiio escolheu d’entre os
dictinos a Bamigio. que
saber e pelas
suas virtudes, para
sobrinba
Em
Iria.
monges Bene-
mais confiança lhe merecia
breve deu
ella
servir de
pelo seu
preceptor
sua
a
sobejas provas da sua intel-
ligencia e da sua dedicação á fé calholica, que tão ardentemente professava, por isso era estimada e admirada por todos que a conheciam. N aquellas epochas semi-barbaras e em ou-
que posteriormente se lhes seguiram,
tras, a
natureza prodigalisava os d
desventura com algum castellão
que
honra ou
a
a
j
ivon e altivo
cubiçava
morte;
li
que aconteceu
formosa
á
cada a S. Pedro, pouco mais ou menos no cemiterio; esta capella
em
foi
1017, hoje só resta d
soberbo
perdida, ou
uma
Defronte dos paços do governador havia
quem
se topava por
lalgo ou rico e
podia julgar-se
assi.n
foi
donzella a
a
ms da formosura,
des
a
Iria.
capella dedi-
onde é hoje o
sitio
reedificada no reinado de Filippo n elia
uma
lapide
com uma
inscripção,
que se acha embebida na parede da frente pelo lado de dentro
mesmo
do
cemiterio.
era costume fazer-se
em
N’aquolla capella e n’aquella epocha dia
de S. Pedro
uma
á qual assistiam as religiosas do convento.
uma
d’essas occasiõcs que Britaldo,
filho
festa
solemms
Diz-se que
de
foi
em
Caslinaldo e de
Cassia, então governadores da cidade, teve ensejo de apreciar
formosura d aquella donzella, que. pudica
a rara sistia
com
ã
solemnidade,
e,
captivado de suas
e devota, as-
graças, a cobiçou
ardor; ella porém, que votara a vida ao serviço de
isolando se do inundo dentro dos
muros de
um
Deus
convento, não
— 222 — afíeclo; nem annuiu a rogos, nem accei com o que mais se incandesceu a alma ardente d’aquelle moço fidalgo, indo até ao desvairamentn, transformando o amor em feroz paixão; e, receioso de que outro viesse lhe era negado, mandou a assassinar. a gosar o que a elle Um soldado da sua confiança chamado Banaão, por certo de
correspondeu ao seu lou propostas,
maus
instinctos, foi
por
escolhido e encarregado de exe-
elle
cutar os seus atrozes desígnios.
Junto ao convento, na
margem do
gruta cavada na rocha, que ainda hoje
tumava todos os dias ífaquelle extase
com
misturar-se
ir
a sua
perturbar
podesse
a
alma candida e pura
anjos e acompanhai-os nos
os
uma pequena
escolhera aquelle logar
fazer oração;
em que
havia
se vê, onde Iria cos-
ali
nenhuma distracção
que
solitário para
rio,
talvez
ia
seus hymnos
de gloria ao Creador. No dia 20 de outubro do anuo 653, ao alvorecer estava ella ifaquella especie de santuario; o ligeiro mur-
murar da aragem na concavidade dos rochedos, o som monoproduzido
luno e triste
pelo
deslisar das aguas roçando
na
penedia confundiam se com o brando murmurio de seus lábios, em fervorosa prece; talvez pedindo a Deus
agitando-se trêmulos
apagasse no coração d’aquelle a
que
ella
homem
o fogo de
uma
paixão
subitamente é surpreben
não podia corresponder;
dida pelo barbaro e cruel assassino que, desapiedado lhe
bebe no peito o os apresentar daver.
E’
vil
despoja
punhal,
ensanguentados
a
de seus vestidos
a Brilaldo e
provável que o sicário
levasse
em para
lança ao rio o ca-
ordem de
lhe fazer
as ultimas propostas, que foram regeitadas, preferindo
a
morte
á deshonra. Por isso a egreja canonisou-a como Virgem Marlyr, os chronistas perpetuaram a sua memória nas chronicas sagradas, narrando o facto; os crentes adoram-a como santa; a arte
immortalisou-a,
pintando na
imagem, para expol-a successivas,
á
como ainda
tela e
burilando na
pedra a sua
admiração e veneração das gerações lá
se
vè
em um
nicho,
que está no
cunhal da parede do convento, por cima do pégo onde deita-
ram o cada ver da
santa.
-
223
—
narrativa d esto facto memorável, que os chronistas nos
A
legaram, é apenas
um
lampejo
a
cujo rápido clarão mal divi-
samos na obscuridade do passado
a
antiga cidade goda: lam-
pejo que súbito se apagou para não mais se accender, porque,
que nós saibamos,
nada mais dizem
jas
chronicas a respeito
d aquella povoação. Só mais tarde, decorridos já muitos sécu-
quando os descendentes d esse punhado de bravos e inde-
los,
pendentes Godos, que com Plagyo se refugiaram nas inhospitas serras das Aslurias. foram pouco e pouco reconquistando o terreno que lhes havia sido usurpado, ao passarem por aquelle local
da antiga e formosa cidade de seus antepassados, só enum montão de ruinas; destroços que o tempo havia
contraram
poupado e que estavam ainda antiga
ali
a
Gomo
e
ia
a existência
nem mesmo
povoação e sem os quaes
existiu nos sei
attestarem
da
o logar onde
dado conhecer.
quando
destruída aquella cidade?
foi
geralmente seguida que
foi
E’ opinião
arrasada pelos Árabes, por lhes ter
divergirmos d este
opposlo
resi-stencia.
modo de
ver e apresentarmos a nossa fraca e humilde opinião,
Seja nos permiltido
baseada nas observações que temos
feito e
nos dados históricos
que podemos colher.
A monarchia goda succumbiu
á invasão
dos Árabes, como
o império romano succumbiu á invasão dos Barbaros e
um
dia a
como
succumbir
Europa virão talvez modernas nações da America e das que se hão de organisar na África. E’ a lei geral da marcha social dos povos. Nada é permanente, quer na vida individual quer na collecliva; é o principio inalteraval das mutações ou
as velhas nações da á
acção dominadora das
Ha porém circumstancias particulares a cada nação, que acceleram a sua ruina. Na monarchia goda estas circumstancias davam-se na occasião em que o islamismo avançava e tendia a avassalar o mundo inteiro/para se cumprir a substituições.
predicção do prophela, que linha promettido a seus discípulos
o Oriente e o Occidente. Os Godos usurparam aos Romanos os territórios da península hespanica, como os Romanos os haviam
— 224 — usurpado aos Carthaginezes, como os Árabes os usurparam Godos. E’ assim que muitas vezes se manifesta
elles
de Deus:
a
punição de
um
a
a justiça
mal com outro de egual natureza,
verdadeira pena de Talião.
A obra de conquista universal dos arabes, afrouxada algum tempo pelas dissenções internas durante as quaes alguns calicahiram
fas
sob o golpe do
punhal, entre
Okbah, general intrépido
o velho Aly,
dos Omméydas;
e arrojado, subjuga o
Egypto e toma
de Cirêne, antiga rival de Carlhago, funda e fortifica
a cidade a
elles
na dymnastia
reapparece activa e energica
cidade de Kaiwan, percorre todo o norte da África e chega á fronteira ás ilhas Canarias; ahi
costa Occidental,
templar
a
por sobre o qual
a
mite o firmamento; depois n
mar dentro
pára a con-
immensa do oceano, esse mundo d agua, vista se espraia até encontrar-lhe como li
vastidão
um
arrojo d’audacia, avança pelo
até a agua chegar ao peito
do camello que montava;
então detem-se e erguendo os olhos ao ceu, exclama: «Allah,
tomo
te
por testemunha
me
aguas não
de que, se
detivessem, eu
mento do teu santo nome».
um
Foi
as profundezas
d’estas
levar mais longe o conheci-
menos
feliz
na volta, porque
levantamento geral de Berberes envolveu todo o seu pe-
queno exercito, que to
iria
no combate.
foi
completamente desbaratado
e elle
mor-
Mais tarde apparece-nos á frente dos arabes
da África o celebre Muza-Aben-Nassair, o melhor general que os arabes
tiveram
n’aquella epocha,
subjugou as
indómitas
tribus berberes, primeiro pelas armas, depois pela persuasão,
fazendo-lhes ver que elles
do-os para
uma
exercito grande tactica se fico
eram irmãos dos arabes,
civilisação
numero
superior e encorporando
d estes valentes guerreiros.
impellin-
no seu
Com
tal
houve que, passados poucos annos era senhor paci-
de todo o território que se estendia desde o golfo de Car-
lhago até á costa
Occidental,
onde seu ante-successor Okbah
tinha entrado no mar.
Tendo ao
sul o deserto, ao occidente o oceano,
os seus
olhares ambiciosos só podiam voltar se para o norte; do seu pa-
223 de Tandjah,
lacio
o elevado Calpe, o separava
um
a antiga
Tingis
Inje Tanger, avistava
elle
outra columna dTIercnles, da qual apenas
a
estreito braço
montanha havia vastos desejo insaciável de
do mar; para alem d’aquella
conquista, era
a
tão
afamado pelo seu clima, seus
alta
onde o
attrahia o seu
um mundo
desconhecido,
territórios, para
que
mente
—
lhe phantasiava cheio de encantos e maravilhas,
monumentos;
suas
rios,
era preciso, para gloria do
cidades e seus
propheta, engastar
na coroa do Califa mais aquella preciosa pérola; por isso, pedindo-lhe autorisação para aquella conquista, dizia lhe: é pela belleza do ceu e da terra, o
Yemen
a
Syria
pela doçura do clima,
as índias por suas flores e seus perfumes, o Egypto por seus fruclos, a China por seus
metaes preciosos.
Promptamente o Califa Wayd lhe concedeu a autorisação pedida, porém o astuto Muza, já muito experimentado general, não era
homem
que se aventurasse
primeiro lhe medisse
bem
a
uma empresa sem que
o alcance e decerto se arreceava,
porque, encravada nos territórios, que estava
uma
cidade, Ceuta,
em
cujos
já havia conquistado,
muros tremulava o pen-
dão dos Godos e uas grimpas das suas torres alçava -se de Christo, que as armas mussulmanas ainda não dido derribar. Muza esperava decerto conhecer
a
cruz
tinham po-
com
exaclidão
as forças contra que tinha de bater-se; estava preparado para a
guerra,
mas não ousava enceta l-a, quando inesperadamente
se lhe proporcionou occasião propicia. Juliano, Conde godo, governador de Ceuta (Septem, assim chamada por ser fundada sobre sete montes) entregou aos
Árabes tão
a ci lade,
cujo governo lhe tinha sido
denodadamente havia sustentado
illesa
confiado e que
no meio do avassala-
inento quasi irresistível d’aquelles intrépidos guerreiros, e fez
mais ainda, aconselhou Muza e promptificou-se
Juliano commelleu
a
atacara liespanha, sua patria,
acompanhar
um
crime d
e dirigir o exercito
alta traição,
o escolhido pelo seu governo,
tou se;
elle,
para
defesa
a
a
d aquelle ponto arriscado;
invasor.
deshonrou-se,
como elle,
avil-
valente e leal
que soube até
— 226 — aquelle
momenlo manter
impullula a sua honra e a üa sua pa-
agora ã degradante
desce
tria,
Ou enlouqueceu ou profundo
golpe lhe feriu
nobres sentimentos,
n’ella os
um
condição de
de.
a
vil
traidor
I
ahna, matando
que era dotada e fazendo
ali
nascer ardente paixão de feroz vingança.
A monarchia goda lã
era electiva, no anno 700 da era chris-
Witiza eleito chefe da nação; porem o governo lyranno
foi
que exerceu deu causa
c despotico
nos, fosse deposto e
a
que, passados alguns an-
mesma assembléa que
a
o depoz elegeu
Hoderico, para o substituir; este porem não fez melhor governo,
porque, passado pouco tempo, era grande o numero dos descontentes e muitos até lamentavam jã a
falta
do seu anle-suc-
cessor
do
Aproveitando-se Witiza,
auxiliados por
preparavam no meio
dia da
tio
Oppas,
Árabes e aconselhou Muza
enfraquecida pelas dissenções políticas
mal poderia
Sevilha,
revolta contra Uo-
Ceuta aos
Hespanha, que,
a
em que
se encontrava,
Juliano não pediu ao Wali
resistir lhe.
com
tropas auxiliares para
os filhos de
Juliano entregou
que invadisse
a
geral
arcebispo de
Hespanha uma
occasião que
Foi ifesta
derico.
descontentamento seu
ellas ir
d* África
encorporar se no bando dos
filhos de Witiza, mantendo a sua honra de general fiel á patria, embora adverso ao rei, que então a governavi; não. Juliano desceu á villania de um traidor; mas Juliano não foi subornado pelos
vendeu
arabes, não
uma de
idéa.
um homem,
uma
a
sua honra por
Juliano não queria depor
embora
o
que
ignominia
a
rei,
queria vingar se
tfessa vingança atroz envolvesse toda
nação, que já não considerava
d’ella,
dinheiro, sacrificou-a a
um
representava,
da deshor.ra.
como
havia-lhe
sua. porque o chefe
cuspido na
fronte a
havia o ferido no mais intimo de sua
alma, rasgara lhe o coração, onde se alojava o mais nobre sentimento, o a
amor
paternal.
formosa Florinda,
O devasso
rei violara -lhe
que, segundo o costume dos
sua
filha,
Godos, lhe
havia sido confiada para ser educada na corte. (Chronigup general d’Alphonse,
le
Savanl
Que
lhe importava a elle a honra
- 227 — de general
fiel
á patria, se a
culada pela deshonra de sua via prostituído?
honra de sua família estava mafilha,
que
um
infame lhe ha-
rei
Desvairado, louco, perdido
por aquella dor
immensa, sedento de vingança, não podendo
altingir o alvo da
sua cólera
sem primeiro derribar
os que o defendiam, arroja-se
contra a sua patria no meio das hostes sarracenas, e instiga, e cae sobre seus
que guia
irmãos d 'armas, como no meio de
horrenda tempestade o raio cae sobre o templo, que desmorona e fulmina sacerdotes e crentes,
sem
ter a consciência
de
que aquelle logar deve ser inviolável, porque ali se adora o Deus Supremo, que deu ás nuvens a electricidade, ao homem a fé.
Os Godos não estavam preparados para absoluta, de mais d e
um
século, havia-lhes
aquebrantado o genio guerreiro; alem
sação social não era própria
Os Godos,
a
a
uma
guerra,
paz
enervado as foiças d'islo a sua
organi-
manter uma resistência tenaz.
a raça conquistadora, constituíam a
nobresa do paiz,
os indígenas, a raça ibérica, estavam quasi todos reduzidos á
não como os escravos romanos, consi-
condição de escravos;
derados como coisas,
mas
adestriclos, escravos da
em
gados ao solo que cultivavam transmissíveis
com
como um
elle
gleba,
li-
beneficio de seus senhores,
como um
capital amovível,
rebanho de gado: por isso os interessados na defesa do paiz
eram só os senhores,
isto é,
os Godos e alguns
Romanos que
se haviam subrnettido a estes e que tinham conservado os seus
bens; o povo meudo, a plebe habituada ha mais de mil a unos a soíTrer
este
o jugo dos estrangeiros, pouco lhe importava servir
ou aquelle senhor; talvez até podesse melhorar.
o povo de
uma nação não tem
interesses directos e
Quando
bem
radi-
cados na defesa do solo natal, essa nação assenta sobre bases vacillantes,
desmorona-se ao mais leve impulso, assim aconte-
ceu á monarchia goda, nós
um
dia;
tal
sorte teve a Rolonia e
tal a
teremos
não porque entre nós haja escravos da gleba ou
mas porque são
pesados os tributos que recaem sobre os pequenos proprietários, que constituem a
outros;
tantos e tão
grande maioria da nação, que, se u;n
chamarem
ás armas, para
ponder lhes como o burro da fabula: Quid
vam?
que governam os
dia os
defesa da patria, elles [rodem resreferi
mei cui
<htm portem meas.
Chlell ts
Muza. apesar da grande facilidade que Juliano lhe na conquista
fazer ver
não quiz
d Il.rspanha,
empresa sem primeiro se
esta
sir-
queria
aventnrar-se
a
ou não verdade
certificar se era
o que o renegado christão lhe afíirmava, por isso
mandou
al-
guns guerreiros para explorarem o terreno; estes atravessaram o estreito
em
lhes alguns
barcas,
surprehenderam os Godos
rebanhos e homens, que levaram
e
tomaram-
captivos e as-
signalaram o ponto da costa mais apropriado paia o desem-
barque de forças.
Foram
favoráveis as
noticias
que o velho
general obteve dos seus e dos captivos, mas, ainda assim, só na primavera do anno
seguinte (711)
fez
para a
transportar
península hespanica o exercito invasor, cujo cominando confiou
ao
celebre
Tarik Aben Zyad,
indo desembarcar
O governador
a
quem
em uma pequena da província,
acompanhou,
Juliano
ilha
ao pé do Calpe.
Theodomiro,
a
quem
a
expe-
dição do anno anterior tinha posto de prevenção, quiz oppor-se
do monte, mas
á descida tificar se tar.
foi
derrotado e os Árabes foram for-
no outro monte proximo, Dejebal Tharyk, hoje Gibral-
Theodomiro reuniu mais tropas e
monte, pretendendo repellil os para
foi
cercal-os naquelle
a África;
dou incendiar os navios que os tinham
transportado, tirando
assim aos seus soldados toda a esperança de frizar lhes
bem
o seu plano:
aquello impelo irresistível
mava
uma
morrer ou vencer;
com que
cahir sobre o inimigo,
então Tarik man-
a cavallaria
arremessou se
retirada; era
depois
arabe
com
costu-
contra as fileiras
do exercito de Theodomiro, que rompeu e poz
em debandada;
e os Árabes foram avançando pelo sul e oeste da península.
Tendo pelos mensageiros que lhe foram enviados por Theoello mesmo, conhecimento dos desastres
domiro, ou talvez por
que se iam succedendo, Hoderico despertou do seu lelhargo, reuniu o maior numero de
soldados
que poude angariar na
229
'
sua vasta monarchia
e,
acompanhado de toda
á frente delles,
üs dois exér-
nobre? a goda, marchou ao encontro do inimigo
a
nas margens do
citos avistaram-se
ce que
rio
Lelheu, hoje Guadalele,
bem determinada
perto de Xerez; não está
no mez de julho do anno 71
foi
—
1,
a data,
mas pare-
em um domingo
ao
romper do dia, que começou a terrível batalha, que decidiu a sorte da Hespanha goda. Segundo a narrativa arabe, esta luta encarniçada e feroz durou tres dão lhe uma semana; é decerto
dias; os chronislas
um
exaggero.
Ali
hespanhoes
pereceu o
rei
uma grande parte da nobreza e com elles a mouarchia goda. la quem diga que Roderico não morreu na batalha, que ponde
e I
salvar-se a custo e
foi
acabar seus dias encerrado
cm um como
vento na Galliza, fazendo penitencia e morrendo
con-
santo.
Os Árabes affirmam até que a sua cabeça fui enviada ao Califa embalsamada em camphora. Seja como for, o que é certo é que aquella memorável batalha foi decisiva e que nem o rei
nem nenhum
dos seus generaes apparece mais
em campo a que
rer tolher o passo ao exercito invasor, que rapidamente se espalha por quasi toda a península;
um
apenas Theodomiro conservou
simulacro de independencia nas suas terras de
os Árabes
chamavam Terras de Tadmir;
só Plagio
M ureia, com
que
os que
o seguiram e outros que depois se lhes foram juntando con-
servaram uma independencia absoluta
lá
no meio das espessas
brenhas das inhospilas serras das Aslurias.
onde, na embos-
cada da Covadonga os Árabes solíreram o primeiro revez, que lhes infligiram as
Em cito
seguida
em
armas dos christãos.
á batalha
tres corpos,
do Guadalele, Tarik dividiu o seu exer
cujo cominando
sua confiança, seguindo
um
entregou
a oíliciaes da
pelo occidente e outro pelo oriente
e elle pelo centro; aos chefes
d estes corpos do
commcndou: que não commeltessem
violências,
exercito re-
que não cau-
sassem prejuízos, que não ferissem senão o inimigo armado e que não levantassem despojos senão do campo de batalha. Avalia-se
em
quarenta mil
homens o
embarcou na península; para vencer
exercito arabe que desa batalha
que lhe deu o
— 230 — dominio de Hespanha, devia
em
isso dividido
quena
tres
ter perdido
bastante gente; por
grupos devia cada urn d
força; pois, apesar d’isso, os
eites ser
de pe-
Árabes tomaram sem
tência todas as cidades que foram encontrando;
resis-
depois estas
forças reuniram-se para irem pôr cerco a Toledo, a antiga Urbs Toletana, que se recusou a abrir as suas portas a Tarik: esta e
tentaram uma resistência
poucas mais praças fortes
inútil,
sendo os vencedores sempre generosos para com os vencidos e não causando damno algum nas povoações que conquistavam. Muza, cioso da gloria de Tarik, veiu também á península para tomar parte n'essa gloria e seguiu um caminho diííerente de aquelle que havia seguido o seu predecessor,
o occidente; depois d
romana da
um
caminhou para
curto bloqueio tomou a antiga cidade
Bélica, lli<palis,
que os arabes chamavam
e depois os hespanhoes Sevilha. tomou Carmona,
dida pelas suas altas ã Lusilania
muralhas e
forte posição; depois
meridional, que submelteu
(Viardol - Jlisloire des Arabes
el
bem
sem combate nem
Esbilia
defen-
passou cerco.
des Mores).
De todas as cidades da península, que a historia menciona, tomadas pelos Arabes, nem uma só foi destruída, apesar da forte e tenaz resistência que algumas opposeram aos invasores; entre ellas Merida, a antiga cidade augusta
(
Eméritas Augusta
dos Komanos), Saragossa e muitas outras; nem mesmo Sevilha quando ousou revoltar-se. • Como conceber que viessem aqui destruir a Nabancia, assente sobre
defesas naturaes,
que haviam
como
elles
é natural, passado por Evora, Beja, Lisboa,
resistir?
faziam
uma
adquirindo,
raso,
sem Por-
de destruir esta e não outras, tendo antes,
outras cidades da Lusilania
rem
um campo
que fraca resistência poderia oppor?
em
Santarém e
melhores condições de pode-
Os Arabes não faziam uma guerra de extermínio,
guerra de conquista, queriam usofruir o que iam
não o destruíam
em
prejuízo proprio;
contenta-
vam se em impor aos vencidos um tributo e nada mais. 0 que destruiu aquella cidade não foi o ferro dos conquistadores, nem a abrazou o incêndio, principal meio de destrui-
mas sim oulro agente des Imidor não menos poderoso, não menos formidável por certo. Não o diz a historia das nações, mas dil o a geologia, que é a historia do globo. Examinemos o local onde foi a antiga Nabaução, iToutras epochas muito usado;
cia e
estudemos
a
natureza do solo; que encontramos
reno dalluvião, calhau rolado (seixos), nosa vinda d outra parte, porque
d’elle
subterrados
encontrados feitas
em
silica e argilla
Ter-
ferrugi-
geológica de
a constituição
lievolvendo esle terreno é por
aquella localidade não é essa.
debaixo
lá ?
que se teem encontrado os restos da antiga cidade,
ali
a
maior ou menor profundidade; é
fragmentos de
pedaços, talvez
com
o cboque
lá
que foram
derribadas e
columnas
estatuas,
moedas,
da queda,
cobrem os escombros de prédios demolidos, cobre-os uma camada espessa de
telhas,
moengas,
cadinhos, etc., e não os
terreno, arrojado para
parecem
lá
cinzas,
nem
talladas pelo fogo; não
ali
por
uma corrente nem pedras
carvões,
não ap-
violenta;
calcinadas ou es-
pois este o elemento destruidor.
foi
em um
ponto d aqnelle local abateu ha
annos o terreno e viu se uma
abobada; esta abobada era de-
Como
já referimos,
alguma casa ou sustentava o pavimento nobre de algum palacio; entupiram o buraco que se abriu, nada se explorou, por isso ficou-se sem saber a que certo a parte superior de
servia; tinha sobre
si
uma camada de
guns metros de espessura.
Quem
a
terra de alluvião de al-
d algum monte sobranceiro lentamente arrastada
pluviaes? Não, porque cente
uma pequena
tal
collina
monte não
valle
local são
pelas aguas
existe. Corre-lhe ao nas-
denominada Palhavã
e
Corredoura
tinha primeiro que en-
vir de lá, porque que se mette de permeio e os enxurros n’aquelle
do Mestre, não podia cher o
Desceu
levou para ali?
arrastados
para o sul pela
corrente do Hibeiro das
Cannas, que antigamente se chamava Effon ou Evou
;
este
ri-
beiro não tem nascente própria, só leva no inverno a agua que
remanesce dos pontos mais elevados, recebe as aguas das chuvas, principalmente da vertente
que lhe
fica á
esquerda,
por
ser esta de muito maior area e condul-as rapidamente para o
— 232 — que lhe corre ao poente; ao norte
rio,
e sul estende se o valle
do
Nahão. Portanto aquelle alluvium não podia ser formado pela acção repetida das aguas pluviaes. contíguo ao
fica
local,
No cemiterio
mencionamos, as sepulturas abrem-se fundidade;
publico, que
onde se encontraram os objectos que
já
metros de pro-
a dois
quasi no fundo delias tem-se encontrado
grande
quantidade de pedra de alvenaria, formando grossas paredes e grandes cunhaes, muito
bem
apparelhados; esta pedra tem
sido aproveitada para a construcção de mausoléus; ainda não
ba muito
ali
deitado sobre rancar.
Ao
foi
um
sepultado
uma grande
lage,
indivíduo, cujo
cadaver
que o coveiro oão poude
foi
ainda ba pouco encontrada
uma
casa subter-
rada até meio d’areiae seixos, que o dono do prédio d
para
ar-
lado da azinhaga que passa junto á egreja de Santa
Maria pelo norte,
hiu
ficou
vender e no
fundo encontrou
uma
cxtra-
ali
com um
lage
lavor muito singelo, que deu bastante trabalho a tirar de
lá,
por
ser muito pesada; ainda ba poucos dias tivemos occasião de ver aquella pedra, que não
bem
a
tem inscripção alguma nem se sabe
que servisse. Todos estes restos da antiga cidade leem
sido encontrados casualmente, nunca n aquelle local se fizeram
explorações, se se fizessem decerto muitas mais preciosidades e
documentos históricos se haviam de encontrar.
A egreja que boje
ali
se vê não é decerto a primitiva egreja
goda, essa devia estar muito arruinada e subterrada
(piando
os Templários vieram estabelecer-se ifesta localidade e encon-
trando aqui os restos de
um
tencido a seus antepassados, laural-o; para isso tiveram
templo christão, que havia perei a
muito natural quererem res-
que desaterral-o para sobre o seu
pavimento construírem o que boje
existe, o
que se
escadarias que tiveram de fazer paia se descer até é natural que,
dou
quando
S. Friicluoso,
edificar a egreja e o convento,
vê, pelas
ali
Não man-
uma
esca-
elle.
segundo consta,
mandasse
íazer
vação para deixar aquelle edifício meio escondido debaixo da terra, sujeito a infiltrações
acima do nivel do seu
e a porta principal da egreja muito
pavimento, o que
embaraça
a entrada
— 233 — e sabida dos rios
e é desusado.
fieis
Foram por
certo os Templá-
que tiveram que desaterrar para aproveitarem
base da
a
como sagrado, porque ali mortaes de muitos dos monges do
cujo solo tinliam
primitiva egreja,
deviam repousar os restos
antigo convento e sabe-se quanto ainda n’aqiielle tempo se ve
ueravam as sepulturas dos ebristãos
principalmente as dos
e
em
martyres e as dos monges, que viviam Cerca de
um
kilometro ao sul da
santidade.
Sanla Maria
egreja de
observam-se umas ruinas, ás quaes impropriamente se dá o
nome de
um
ruinas da Nabancia; estavam
Quando
metro de profundidade.
cova para
uma
plantar
oliveira,
umas pequenas pedras brancas
subterradas
a
mais de
se abriu, ba annos,
no fundo d e pretas
elia
em
uma
appareceram
formi de paral-
ielipipedos; o dono do prédio, que se achava presente, m>n dou escavar com cuidado e notou que formavam um mosaico, que deixou a descoberto; divulgada a noticia foi o local visitado
Mais tarde continuaram as
por muitos curiosos. n
uma
arca
de
trinta
um
á profundidade de
de cobre, pesos
escavações
metros quadrados approximadamente e
feitos
a dois
metros; encontraram-se moedas
de argilla cosida
(tejolos),
vários utensílios domésticos, alicerces de easas,
quenas dimensões, não excedendo
em
moengas
e
todas de pe-
geral o seu pavimento
a quatro metros de superfície eaigumas ainda mais pequenas,
todas
delgadas com trinta e o
de paredes
máximo quarenta
centímetros de espessura, o que mostra qne se não elevavam a grande altura; ruas estreitas,
com pouco mais de
dois
me-
tros de largura, algumas ainda calçadas com seixos; colurnnas de pedra cylindricas com vinte a trinta centímetros de diame tro e dois
metros d altura pouco mais ou menos,
capiteis muito singelos;
encontradas entre
de
freiras;
espessos
a
em
com
egreja de Santa Maria e o antigo convento
restos de colurnnas, tejolos,
todas
nada se assemelham ás que foram
também
cylindricas.
feitas
talhados para esse fim e assentando
de
sobre
sóccos de pedra tosca; estas colurnnas decerto não eram desti-
nadas
a
sustentarem pesadas
abobadas ou arcadas, mas sim
singelas varandas ou
na frente de pobres easas,
simples
al-
pendoradas; muitas fornalhas, algumas ainda com cinzas e canos d esgolo construídos de alvenaria.
O que
se vè de mais
ali
notável é o pavimento de mosaico a que nos referimos; tem
forma elyptica, é uma elypse cortada por
um
a
plano perpendi-
cular ao meio do seu eixo maior; é na linha traçada por este
plano que devia ser
a
entrada para
aquelle recinto;
ainda
lá
está a soleira da porta, de pedra mal apparelhada, não condi-
zendo com o
em
saico é
não é da primitiva; aquelle mo-
interior, decerto
toda a volta orlado de
uma
cercadura,
também
feita
de pedra meuda branca e preta, que é realmente bonita; o interior está muito damniíicado, não só porque na occasião das escavações se arrancaram algumas pedras,
que pelos que as
interstícios
Aquelle recinto,
aluiu.
mas também
das que existem tem rebentado [tela
a
por-
herva,
forma que apresenta, pa-
com uma cupula abobadada. A deterininal-o com exactidão; porém,
rece deveria ter sido coberto
que serviria? Não é facil examinando bem o que ainda boje ali se pode observar, vè-se que aquillo não era um burgo da antiga cidade romana, nem granja de algum rico proprietário; as casas todas de pequenas dimensões, independentes umas das outras, a grande quantidade de fornalhas próprias para aquecer agua, o grande nu-
mero de canos d’esgolo para a vasarem, depois de ler servido, o uso frequente que os romanos faziam dos banhos, tomando-os frios, quentes, de vapor, simples ou aromatisados com essências odoríferas, faz lembrar que ali seria, no tempo da cidade romana,
um
estabelecimento balnear contiguo á
mesma
tanto mais que logo acima da ponte das Ferrarias ba na
esquerda do
rio
um
buraco qnadrangnlar leito
que
do Nabão deve estar
tinado a derivar por
por
pedaço de
uma
valia
ali
boje,
tempo dos Itomanos
foi
muralha na qual se abre pela continuada
já coberto
com
parle da agua do
ou cano seguia
um
a
cidade:
margem
a areia; rio,
um
elevação do
parece des-
que, conduzida
direcção daquelle local. Se no
estabelecimento
balnear é muito
provável que os Godos, menos conhecedores da hygiene e me-
— 235 — asseiados, aproveitassem aqucllas casas para habitações e
tios
<pie
ali
constituísse
se
um
bairro pobre da
Estas escavações pararam por
Nabancia goda.
continuassem é provável que mais descobertas se fossem fazendo, porque quasi contíguo
logo do outro lado da estrada que
a ellas,
tem-se encontrado
com que
ali
passa,
grande quantidade de pedra de alvenaria,
o dono do prédio fez casas para sua habitação e ainda
ba pouco
O
se se
ali,
lá
tinha
algumas pilhas d
elia.
terreno n'aquelle local apresenta
o lado do
rio,
lar se ali;
tem
tem por
um
certo declive para
isso tendencia a fugir e
pois baixado e não subido.
No
não local
aecumu-
a
mesmo de
oquellas minas existem ainda algumas oliveiras, que o dono do prédio não consentiu que se arrancassem e que ali estão
attestando a sua longevidade pelos carcomidos troncos; decerto
foram plantadas ou enxertadas
ram
berto; estas oliveiras
do
em
zambujeiros, que
depois de subterradas as minas que boje
teem ocollo da
raiz
lá
nasce-
a
desco-
estão
muito acima do nivel
tem fugido, arrastado pelas aguas plnviaes; portanto aqucllas minas só podiam ser cobersolo,
o que prova que
elle lhes
tas por fortes alluviões, trasidas para
do
ali
por grossa enchente
rio.
Dos
factos
uma conclusão mas pode bem acontecer
que deixamos expostos deduzimos
que se nos afigura de verdadeira,
que ás nossas investigações escapem elementos essenciaes e conducentes a outra ordem d idéas ou que por mal interpretados aquelles, em que firmamos a conclusão a que chegamos e que vamos apresentar, convicção nossa,
ella,
seja errônea;
em
vez de verdadeira,
se o for, os que
como
é
mais sabem
que nos mostrem os erros e esclareçam a verdade, unico fim que deligenciamos atlingir. Não foi a Nabancia destruída pelo ferro dos conquistadores, nem a devorou o incêndio; mas um d’aquelles phenomenos que frequentemente se estão observando em differentes pontos do globo e de que ainda ha pouco foi viclima a nossa visinha
Hespanha, uma
forte
innundação destruiu aquella antiga e ou-
— li
or a
— florescente
cidade;
passou por
sobre
um
ella
d esses
meteoros terríveis, que subvertem, que destroem tudo quanto topam na sua marcba assoladora, a tempestade. Acções e reacções, civel;
uma
que se
tal
lula continua; a
é o
modo de
mundo cognos-
ser do
mollecula que vibra, o corpo celeste
desloca no espaço,
lutam incessantemente,
porque
a
luta ê o encontro de forças e os seus movimentos resultam de
esse
encontro; é elle
que
produz
phenomenos cosmicos. O nosso psychica, que possa existir
subordinado ás
a ella, está
o
mundo
sensível,
transformar
em
Se aqucllas
foi
tra-se fóra do a
um mundo
harmonia,
a
espirito,
ordem dos
a
embora uma entidade
fora
da matéria, emquanto ligado
leis
physico chimicas, que
regem
porque as percepções, que elabora para as
juizos
ou
raciocínios é
que as recebe.
d’elle
ças se desequilibram, se se desordenam, encon-
meio que lhe é proprio, como que transportado estranho; d aqui o pavor que nos causam certos
phenomenos accidentaes que não entram na ordem regular dos successos do mundo em que vivemos. A tempestade é um d esses phenomenos; resulta do encontro de forças enormes
com intensidades deseguaes, que, acluando no envolucro aereo do nosso globo, geram nelle como que um ser monstruoso, que avança, recua,
rasteja,
eleva-se, paira, açoita,
cera, esmaga, mala, fulmina, destroe
n’um mundo desconhecido, cahutico, vezes umas como risadas sarcasticas, uivos,
!
No meio infernal. gritos,
r
d
fere, dila'elle
estã-se
Ouvem-se ás
ugidos, roncos,
bramidos Monstro informe e horrendo, cuja cauda
e derriba, cujas espiras
açoita
comprimem, esmagam, estalam; cujas chammas. A tempestade, tromba
fauces dardejam raios, vomitam
ou cyclono, muito provavelmente veiu do oceano, que não
(ica
com mais violência ao norte da cidade e passou por sobre ella como o anjo exlermiuador. A bacia hydrogi apliica do Na hão tem uma grande area, as aguas aflluiram a elle em enorme quantidade, tomaram um volume extraordinário e batendo com violência d encontro aos montes, que se elevam na margem direita, deviam reflluir com longe, desencadeou se
- 237 — impelo
ingente sobre
só escaparam
mais solidamente
offereceram maior resistência, cados.
innundando-a e arrasam]) a;
a cidade,
os prédios
esses
construídos, que
m
mesmos
damnifi
iito
Dos seus habitantes decerto muitos deviam perecer,
mas outros escaparam mais elevados. Passada
á catastrophe,
fugindo para os
pontos
tormenta os que poderam salvar-se
a
viram destruídas ou muito arruinadas as suas habitações, ani culturas, as arvores
quiladas as suas
arrancadas, derribadas corrente até
aravel arrastado pela
ou estroncadas, o terreno
ao subsolo e substituído por areias, seixos e cascalho, comple-
tamente estereis, só podendo tornar se productivo pelo decor rer de muitos
enchente.
Km
a
unos; os seus gados
mortos ou
voridos e foram estabelecer se
em
levados pela
fugiram espa-
vista de tão horrorosa desolação
pontos mais elevados, cul-
tivando outros terrenos; talvez Palhavã, o logar da Pedreira e
outros povoados no cimo dos montes circumvisinhos, cuja ori gern hoje se não conhece, sejam devidos a irem
ali
estabèle
por que o amor pátrio esse elo inquebrável que nos prende á terra onde nascemos: cer-se
outros
alguns nabanlinos,
ma
s
ali
releve
audazes, mais desprendidos d essa atTeição aos
la-
res pátrios, iriam para longínquas paragens procurar os meios
de sua subsistência. lassem ao
local
K’ naturalíssimo
que alguns d
elles vol
da cidade e fizessem escavações procurando
colher o que de algum valor escapou áquelle horrível desastre.
Sabe se o
eITeito
terrível das
aguas torrenciaes,
em
uns
formam morros, que aterram; em rapida escavam, abrem ravinas, der-
pontos, onde redemoinham, outros,
ruem res;
onde
a
corrente é
pelos fundamentos as casas, arrancam pela raiz as arvo-
assim devia acontecer
ali;
prédios houve que foram sub*
terrados, dos quaes ainda hoje se encontram os restos; outros
escavados pelos alicerces,
Em
nem
d 'elles resta vestígio algum.
que epoclia leve logar este cataclismo não é facil de não temos tal pretenção, nem poderiamos tel-a:
terminal o:
apenas timidamente nos abalançamos
tempo dos Go
los
ou durante
a
a
uma
idéa.
Seria no
dominação arabe? Parece nos
mais rasoavel
segunda hypothese, porque decerto os Árabes
a
permaneceram algum tempo por esta localidade; deram ao rio o nome arabe, que já tinha quando os Templários vieram fundar o castello; alguns logares aqui proximos ainda hoje conservam
denominação arabe, taes como: Almoinhas,
a
Almoga-
Aljuslrel,
del e outros; e a historia diz nos que os porluguezes sotfreram
revez junto
Thomar
a
povoação, se
bem
rece que
foi
em que
por 1136, pouco ali
rio
ou o que
fazer,
este revez teve logar,
combater
infiéis
mas pa-
Que foram os
mais ou menos.
tendo que abrir caminho pelo
brenhas e cerrados bosques?
espessas
um
dariam á
já
ainda existia, o que é provável). Não se sabe
ella
ao certo a epocha
porluguezes
nome do
(talvez o
meio de
Conquistar terras e
era a sua divisa; logo se
ali
foram naquella
epocha é porque sabiam que havia lá terras a conquistar ou inimigos a combater; inimigos encontraram-os e em grande força
deviam ser para derrotarem
ros;
em
terras não se
repellidos.
Eram
falia,
a pielles
foram
então os Árabes senhores de Santarém e os
Templários tinham o castello de Leiria, alto
afamados guerrei-
o que não admira porque
construído sobre
monte de ophilo, que as convulsões da crosta terrestre
fizeram sahir e elevar-se sobre
outros
terrenos de
formação. A defesa d’esle castello, que era
um ali
ulterior
uma guarda
avan-
çada dos de Coimbra, tinha sido confiada ao valente Payo Gutterres,
que apesar da sua heroicidade o deixou cahir
em
poder
dos Sarracenos. Foi, pouco depois, reconquistado pelos christãos.
Eram
pois os
campos que medeia vam entre
Leiria e San-
tarém que deviam ser tallados por uns e outros inimigos; por
ali
foi
que seguiu D. AfTonso Henriques para a tomada de
aquella cidade.
Um
desvio dos porluguezes para
leste,
vinda
Thomar, onde foram derrotados, só se explica pelo conhecimento que elles tivessem da existência d uma povoação n’esta
a
localidade e vindo
atacal-a
pretendessem chamar para aqui a
altenção dos Sarracenos e desviai
a
do castello de Leiria. Sup-
por que elles tomassem este caminho para irem atacar Leiria
ou Coimbra, c
que os
porluguezes,
tendo
conhecimento da
— 230 — sua marcha, lhes viessem ao encontro para tolher- lhes o passo,
não é rasoavel, porque outros pontos mais
proximos
e
mais
apropiados tinham estes nos desfiladeiros das serras que os
Sarracenos haviam de
chegarem
atravessar para
qualquer
a
daquellas fortalezas. Ha pois uma certa probabilidade da exis
tempo dos Árabes; e se foi depois da a Thomar e com certeza antes
tencia da Nabancia no
derrota dos portuguezes junto
da vinda dos Templários para aqui que
uma
horrível tempes-
tade destruiu aquella povoação, não nos consta que as chronicas
mencionem o
facto, o
que
não admira, porque
christãos pouco interesse tinham
voação sua e os Árabes, cia,
em
já no ultimo periodo
não se entretinham com pormenores;
desastres,
os chronistas
narrai o, por não ser po-
da sua decadên-
alem de que estes
em geral, só se mencionavam nas chronicas, quando uma calamidade publica. Einfim é um ponto obs-
constituíam
curo da historia desta cidade, que não podemos esclarecer. Qual era
nos parece
a
facil
posição topographica da antiga Nabancia ? Não
determinai
a
com
appmximação, marcar o Maria, Palha vã,
local
extremo
sul
porém uns com alguma
exaclidão; temos
certos pontos fixos, partindo dos quaes poderemos,
onde assentava. São da Corredoura do
estes, Santa
Mestre e as
que se encontram ao sul de Marmelaes. Ligando poi meio de linhas a ponte das Ferrarias com Santa Maria e com ruinas,
as ruinas, tirando outra linha de Falhava ao fim da Corredoura
do Mestre e ligando os seus extremos com aquelles dois pontos,
temos traçado
um
pentágono irregular; é dentro d este a area da antiga ciA ponte das Ferrarias era evidente-
polygono que devia estar comprehendida dade. Vejamos porquê.
mente uma ponte romana, (Santarém) passar transito,
a
fazia parte
Conimbrica (Coimbra);
ao norte da
da via latina de Scalabis a
sua directriz não devia
Nabancia, deixando
mas sim approximadamente
esta cidade
pelo centro.
mosteiro henedielino, hoje Santa Maria, não
da cidade, porque os
antigos
foi
fóra
O
edificado dentro
mosteiros eram sempre
truídos fóra das povoações, para que o buliço
do
antigo
d’ellas
cons-
não po-
—
2'»0
perturbar
ílésse
se construíam
a
paz monaslica;
dentro dos
até
um muro
mais retirado e cercavam as com portanto
aquelle
mosteiro devia
um
as
um
se
sul.
Somos
observam
e:n
no tempo
um
pois levados a crer,
dos extre-
com uma
se estendia pelo
certa
terreno que
chama Marmelaes de Cima, desde o ponto onde
boje se
está
de cortumes e Quinta do Maia até ás ruínas, subindo
a fabrica
talvez
logar
bairro pobre no dos Godos,
decerto não formavam o centro da cidade, mas
probabilidade, que a Nabancia
em
mas um pouco
minas que
estabelecimento balnear
dos Romanos, ou constituíssem
mos, o extremo
egrejas que
para as isolarem;
ficar perto,
afastado para o norte, visto que as
Marmelaes, ou fossem
mesmo
povoados eram sempre
Palhavã e prolongando se
perto de
até
pela
encosta
poente da Corredoura do Mestre, E’ entre a egreja de Santa Maria e o antigo
Convento de mon-
chamado Convento das
jas de Santa Clara, hoje
Freiras,
que se
leem encontrado pedaços de grossas columnas, fragmentos de estatuas, etc,; as chronicas que se referem a Sanla Iria, dizem que era n aquelle local o palaciodo Conde de Castinaldo. governador da cidade; não quer porém
tivesse
prova-o
isto dizer
que
cila
se estendesse
morada de Castinaldo, e talvez já a sido de Valerio Máximo, eslava decerto fora da cidade; que
atéali; este palacio,
a existência
foi
dos dois mosteiros; seria escolhido o local
por miis
bem
mas
do borburinho delia, cercado, por certo, d’uma area
fóra
de terreno
exposto, melhor ventilado, próxima da cidade,
(pie se devia
estender até ao
rio,
ques, jardins, alamedas, hortas e pomares;
pestre
mas
luxuosa,
vestígios que delia se
principesca,
como
leem encontrado.
própria para par-
uma
ainda o
vivenda camattestam os
LDELLAS E
(MORDIA
BEZELGA
:
aliam os historiadores de tres cidades antigas nas
Eram dia e
immediações da Nabancia.
ellas Bezelga, Caldellas e
dizem que formavam
eíTectivamente
tirando
Bezelga para o
sitio
e das
um
uma
onde
extremidades
foi
Concór-
triângulo; linha
de
Concordia
d’esta linha duas,
que vão convergir no lugar que ainda hoje se chama Caldellas e onde ainda se encontram vestígios da antiga povoação,
temos formado
um
triângulo escaleno, isto
accordo, agora do que não
Bezelga tivesse Bezelga
foi
em e é
approximadamente
podemos convencer-nos
qualquer tempo sido
desde remotas eras a oito
kilometros
a
de lados
é,
V
Até aqui estamos de
deseguaes, sendo o maior o primeiro.
uma
um
é de
que
cidade.
logarejo,
que
fica
noroeste de Thomar, já
quasi no pendor da alcantilada serra de Fungalvaz (que talvez
queira dizer, fundo dos valles), na
do mesmo nome
e
de Alvaiazere para
onde
a
a serra
margem
direita da ribeira
cadeia de montanhas que
dWyra. forma
um
caminha
recanto. Pela sua
posição topographica e naturesa do solo vê-se que nunca n’aI
— 242 — se po liam
quelle local
ter
dado
as condições
necessárias á
existência de uma povoação importante. Para <pie n uma certa localidade se possa accumular uma
população numerosa é preciso ou que o solo cultiva vel pela sua extensão e fertilidade lhe forneça os meios necessários á sua subsistência, ou então que possa auferil-os de qualquer industria
que o
Nada d 'isto
local lhe proporcione.
se podia dar.
ali
Para o norte e poente o terreno é alcantilado, formado de rochas calcareas estratificadas, dentre cujas a
fendas só rebenta
urze, o rosmaninho, a murta, o bucho e o zambujeiro; para
o sul corre o estreito
valle
em
da ribeira,
apenas pequenas hortas, que regam com
cujas
margens ha
agua extrahida delia
a
por meio de gaivotas, trambolas e noras arabes e a agua d’esta ribeira só
pode no inverno servir de motor
a
algumas azenhas;
no verão escasseia e mal chega para as regas; para o nascente
estendem-se
em pouco
elevadas collinas e estreitos va lies os
terrenos da freguezia de S. Silvestre, pela maior parte de natureza calcarea, pobres
em humus
e
phosphatos, por isso muito
pouco produetivos, é uma das freguezias mais pobres do concelho; os habitantes da localidade
proprietários abastados não os ha solo os alimentos necessários,
meios de sua subsistência. mineira que
Não
lia
lá
Um
ali
Também
algum de minas e
não lhes fornecendo o ir
longe grangear os
não podia ser
a industria
uma população numerosa. a naturesa
do solo
faz
ver
sul
d’aquella
pequena povoação existe ao qual dão o nome
um
forma de cone truncado,
Outeiro da Cevedadc; ignoramos
mas alguns rivado
e
existiram.
pouco ao
em
ali;
leem que
altrahisse e fixasse
indicio
que nunca
monte
ali
vivem todos do seu trabalho;
a
escriptores, julgando talvez o termo
do genitivo
imaginaram
ali
uma
de
origem d esta denominação,
latino civitatis e,
Cevedade de-
desconhecendo o
local,
antiga cidade, cuja existência ê impossível
pelas rasões que apresentamos.
Correm, res:
ha
lá
a respeito
d’aquelle monte, varias lendas popula
ouro aos montes transformado
em
pedras com que
— 243 — os pastores atiram ao gado; é a habitação de mouras encantadas; estão
ali
escondidas riquezas enormes; tem
ças populares nunca são primitivo,
ali
desconhecida e levado cargas d ouro,
noite, gente
desliluidas de
que lhes deu origem,
vindo, alta
As cren-
etc.
fundamento,
o facto
perdeu-se no decorrer dos
séculos; mas, no espirito do povo continua ainda a acluar, por
transmissão,
mente
uma impressão vaga, indefinida, que elle, na sua sem critério, phantasia e traduz em crenças
inculta e
ahsnrdas.
E’ raro
que
em
qualquer logar assim afamado de
apparição de almas do outro mundo, de habitações de mouras
em remotas
encantadas, etc., se não tenha dado, coisa de notável; e
tivemos occasião de, por mais de
monte
e
alguma
eras,
Haverá talvez quarenta
deu-se.
ali
uma
vez,
annos
examinarmos aquelle
notamos que na sua parte superior existiam alguns
vestígios de muralhas
em
o que nos fez suppor que
forma circular, como que elle tivesse sido a
a coroal-o,
séde d’um castrum
romano. Mais adeante, ao norte do lugar de Hezelga cerca de
um
kilometro,
onde a serra forma
laboleiro ou socalco, existe
pertenceu pular, e o
uma pequena
um casal denominado
esplanada,
Casal da Torre;
uma familia nobre, a dos Gamas; é tradicção ponome o indica, que ali houve n outros tempos uma
a
torre ou fortaleza;
era decerto
um
posto avançado ou atalaya
dos romanos. Sabe-se, e já d isso falíamos, que os Lusitanos opposeram durante muitos annos forte resistência ao dominio dos Homanos
não lendo
e,
tão disciplinado
como o
um
exercito tão
bem armado nem em campo
delles, não podiam bater-se
raso; por isso, aproveitando as defesas naturaes do paiz, refu-
giavam-se nas serras; era de
lá
que se defendiam e
também que muitas vezes
os invasores foram
grandes
muito natural que os
perdas.
E’ pois
construíssem á entrada fortificados para
d aquella serra
poderem invernar
um
e para
foi
repellidos
de
lá
com
Komanos
ali
castrum e pontos
que
nência naquelle ponto obrigasse os Lusitanos
a
a
sua perma-
não descerem
d’aqueltes logares inhospitos, onde decerto lhes havia de escasseiar a agua e a comida, tentando vencel-os por este
meio ou
— 244 — uma
leval-os a
coutavam com
O
accão decisiva,
em
pela sua superioridade,
fjue,
a victoria.
lugar de Bezelga, cuja antiguidade remonta a tão afas-
tadas eras que se
llie
não pode fixar
a data, é
em que
que tivesse sua origem na epocha
por
muito provável
ali
estacionaram
os Itomanos; ou que as gentes não combatentes, que
nliavam os exercitos
lá
acompa
construíssem algumas habitações ou
que alguns dos Lusitanos, menos ciosos da sua independencia, e talvez antes obrigados pela necessidade, se
submeltessem e
fixassem n’aquelle lugar sua residência, ao abrigo do poderoso exercito invasor.
CALDELLAS A sudoeste
menos
e
um
Magdalena,
de Tliomar, cinco
ao sul do lugar de
kilometros pouco
Cem
Soldos, na freguezia da
da ribeira de Bezelga para
afastado
cerca de quinhentos metros ha
um
local,
de Caldellas, onde se diz que existiu
mais ou
a
esquerda
conhecido pelo
uma
nome
antiga cidade assim
denominada; alguns dos homens antigos daquelles sitios dizem por tradicção que a cidade se chamava Caldeu, cujo nome depois por corrupção se
nome
transformou
cm
Caldellas.
Não pode esle
derivar de caldas ou aguas lhermafcs, porque por
ali
não
as ha.
Em
creança
contava-nos
nosso creado antigo,
a
um
velho
d'aquella
seguinte lenda: que
a
localidade,
cidade de Caldeu
era dos mouros, que o governador d’ella linha duas filhas muito
formosas e que
um
príncipe
muito poderoso,
filho
do
rei
de
uma occasião, as vira senladas no seu balcão, uma a fiar ouro em uma roca de prata e a outra a dobar as meiadas em uma dobadoura de marfim. O príncipe, enamorado da sua belleza, pediu ao pae em casamento uma Castella,
das
passando por
filhas,
ao que o
ali
mouro respondeu
quanto esle alfange poder cortar corta o tronco d esta arvore,
tirando o alfange
— Em
cabeças de nazarenos como
nenhum
as possuirá.—
Estavam
— 245 no jardim do palacio,
dando com
e,
no tronco de uma grossa
em
então as folhas transformaram-se
elle
um
formidável golpe
decepou instantaneamente;
olaia, a
onde vem
rosas, d
dar primeiro as llorcs do que as folhas, e da secção
O
tronco brotou sangue.
a olaia
feita
no
com
príncipe retirou-se assustado e
marchou em rapida cavalgada para as terras Não decorreram porém muitos rnezes que não voltasse acompanhado de um poderoso exercito a pôr cerco á a
sua comitiva
lá
de Hespanha.
Depois de algum tempo de estreito assedio e quando
cidade.
já quasi a render-se pela
fome,
mandou
o príncipe
uma
sário ao governador pedindo-lhe a entrega de
O
e promettendo-lhe levantar o cerco. príncipe, recebido
governador, as duas filhas e rugadas,
luziam
cabello
como
uma
desgrenhado
mão esquerda uma
uma das
filhas;
encovados,
uma
um
feiticeira,
mouro para que
velho
alto,
mas
que
e tinha na
O mensageiro
vara de azevinho.
era este
prido e trigueiro,
das filhas
foi.
velha alta, magra, faces en-
e olhos
dois carbúnculos, era
parte do príncipe, intimação ao
ali
emis-
como o compareceram o
emissário
no jardim do palacio;
um
fez,
da
lhe entregasse
espadaúdo, rosto com-
tostado pelo ardente sol da África,
barba
espessa e grisalha, que lhe cobria o largo e arqueado
peito;
com lhamas d’ouro
vestia túnica de seda escarlate
cobria-lhe a
magestosa
uma
cores; d
de variegadas
turbante
cadeia d ouro presa ao cinto bordado pendia lhe
ao lado largo alfange,
em
cabeça rico
cuja lamina de
Damasco
se
bainha de prata lavrada e na frente, seguro ao
por
um
um
rico punhal
annel douro, via-se lhe mettido
nome de
mesmo tempo
a
em
occultava
mesmo
cinto
bainha de marfim
trigume com cabo d ouro cravejado de pedra
preciosas; ouvido o recado, o (d aqui o
e prata e
Caldellas,
mouro perguntou— Qual delias? dado depois aquelle logar). Ao
velha feiticeira, tocando
com
a
vara as cabe-
ças das duas donzellas, estas immedialamenle se transforma-
ram em duas formidáveis serpentes, que enroscando-se lando pelo jardim pozeram
em
Pelas enrugadas faces do velho
espavorida
e sibi-
fuga o emissário.
mouro desceram duas ardentes
—
2'*r»
-
lagrimas
o, tirando
proferindo
— Ao
estas
—
menos não as possuirás. A esta scena seguiu-se um ruido enorme e prolongado, como o des-
ultimas palavras tragica
do cinto o sou punhal, com braço firme e
rapidamente no coração,
potente cravou-o
moronar-se de vasto
edifício,
mensageiro olhou para
dim; tinham desapparecido
houvesse subterrado;
que echoou por toda
traz e já
como
cidade; o
a
nem
não viu o palacio
o jar-
av^alanche os
se formidável
mais rápido correu ainda, atravessando
por meio da multidão estupefacta,
a ir
ao príncipe
dar conta
de tão extraordinário successo. Não o assustavam ços de perros Mouros; e, dada a
ordem
d’assalto,
a este feiti-
cidade
a
foi
rapidamente tomada e destruída até aos fundamentos e os seus habitantes passados á espada, os que não foram levados caplivos. Tal é a historia lendaria daquella antiga povoação.
Lá se veem ainda, dizia-nos o velho creado, quem vem de Payalvo e chega ao nascer do sol ao Outeiro da Justa Velha, lá as vè ao pé da fonte; mas já não são cobras, são duas lindas princezas, todas vestidas de branco,
a
estenderem ao
sol
que conseguir locar lhes e quebrar-lhes o encanto, mas não ha meio; ao approximar se d’ellas
as suas
meadas d ouro.
Feliz o
alguém desfazem-se como
a
blina aos primeiros raios
do
miragem, dissipam-se como
Estas crenças populares teem sempre, sua
origem
em
factos remotos.
povoação antiga;
que altestam local
onde
a
lá
a ne-
sol nascente.
Ali
como
se encontram ainda vestígios
sua existência,
já
dissemos,
houve com certeza uma
bem
visíveis
outros desappareceram já.
O
povoação é uma pequena eminencia ali estivemos, se achava povoada de
existiu aqnella
que. a ultima
vez que
pinheiros e viam se ainda, espalhados por entre o matto, peda-
ços de grossas telhas e de espessos tejolos, restos de antigas construcções. A’ vida animal succedeu a vida vegetal,
cambar na
serie
homens vivem ruido de
ascendente dos seres vivos;
hoje as arvores e os arbustos;
uma população
decerto
activa e
agora o sussurrar do vento pela ramada
um
des-
onde viviam os onde se ouvia o
laboriosa,
ouve se
dos pinheiraes;
aos
— 247 — cânticos alegres
duma em
bre piar do mocho
povo
a solidão
joveiitude buliçosa succedeu se o lugu noites de verão.
do ermo.
Apoz o convívio
dum
.
Ao norte d aquella eminencia, muito proximo a ella, onde o terreno desce, formando uma pequena quebrada, existe ainda uma fonte com o nome de Ponte de Caldellas e cuja agua corre por uma bica de pedra para um tanque bastante grande; era, por certo,
a fonte
d aquelle povo. Sabe-se quanto os
eram cuidadosos em abastecerem
Romanos
d agua as suas povoações,
não havia cidade ou aldeia que nao tivesse a sua fonte e quando local não havia nascentes iam longe buscar a agua por meio de aqueduclos, alguns muito dispendiosos; conhecem-se os celebres aqueduclos por meio dos quaes se abastecia Roma e entre nós os de Evora. A li em uma certa area encontraram os
no
antigos, ao arrotearem o terreno para plantar vinha, alicerces de casas e pavimentos ladrilhados; extrahiram de lã grande quantidade de pedra de alvenaria e cantaria, parte da qual foi
transportada para o lugar de Cemsoldos e outra empregaram em construcção de pequenas casas campestres, que ainda
n a
por
ali
fizerem
existem; nunca se fizeram pesquizas, se alguma vez se quem sabe o que se poderá encontrar ?
Ao poente
e
proximo
á
margem
direita da ribeira
de Re.
zelga existiam, ainda não ha muitos annos, as ruinas de uma capella dedicada a S. Pedro e ainda hoje aquelle sitio se dá a
mesma denominação;
aquella capella era decerto do tempo dos romanos, o que prova que Caldellas era habitada nas primeiras epochas do chrislianismo em que muitas capellas se erigiram a S. Pedro, por ser o primeiro que em Roma começou a
ensinar a doutrina de Christo, que
d’ali
rapidamente se propa-
gou por todo o vasto império romano. santa doutrina, o que ella
entendimento,
—
a
falia
A simplicidade
ao coração, o que
base sobre que assenta
ella
— Amae-vos
d’esla diz
ao
uns aos
fizeram com que tão rapidamente se propagasse, principalmente entre o povo e tão grande golpe désse no pa ganismo que logo de principio poz em sobresalto os imperaoutros
,
— 248 — romanos, por cujo motivo alguns determinaram contra
flores
ella terríveis
perseguições, que não lograram extinguil-a, antes
no meio d elias mais se accendia
mais se incandescia
a fé,
a
crença. Tácito, fallando dos clmstãos, diz o seguinte: «Esta perni-
algum tempo,
ciosa seita, depois de haver sido reprimida por
multiplicava de
mento, porém
novo, não sómente em mesmo em Roma, que é
o logar do seu nascipraça e
a
pejo de todas as immundices do mundo.
No
ram alguns dos que confessaram ser d 'esta confissão se descobriu
lançarem fogo
uma
a
religião, e pela
humano,
não
e
des-
sua
que foram
de outros,
infinidade
odio do genero
convencidos do
como o
principio prende-
do crime de
Roma, de que os accusavam. Juntou-se o inmorte a que os condemnaram, cobrindo-os
sulto á crueldade na
com
pelles
fazendo-os
de bestas feras
a
alguns
devorar pelos cães;
d’aquelles miseráveis, e
crucificando
estes e
aquelles de matérias combustíveis para servirem tes accesos
O
no escuro da noite.»,
untando
como de archo-
etc.
autor da Carla a Diogenes, que escreveu no fim do pri-
meiro século ou princípios do segundo, diz que, no seu tempo
Neste Trajano, dizendo que «uma infi-
estavam os christãos espalhados
mesmo tempo
escrevia Plínio a
já
multidão de pessoas de toda
nita
e de
a
por todo o mundo.
edade, de toda a condição
ambos os sexos tinham abraçado o
christianismo, que esta
superstição enchia não sómente as cidades,
mas
as aldeias e o
campo; que, antes da sua chegada á Bythinia os templos esta-
vam
desertos e que apenas se achava a
quem vender
as victi-
mas». Santo Ireneu, que escrevia no fim d’este mesmo século, cita
a fé e a tradicção
das egrejas espalhadas entre os Allemães,
os Iberos e os Celtas,
meio do mundo,
no Oriente, no Egypto, na Lybia e no
isto é,
em Roma.
(
A
certeza das
provas do
Christianismo, por M. Bergier, traducção portugueza dedicada m0 senhor Bispo do Funchal, D. José da Costa ao ex. mo e rev.
Torres; m. dcc. lxxxviii).
Ora achando-se naquella epocha, como acabamos de ver,
— 240 — implantada por todo o império romano a religião clirislã, é muito natural (jue aquella capella com a invocação de S. Pedro fosse
erigida pela parte chrialã da população de Caldellas, o que prova que esta povoação existia ainda nos últimos tempos do império romano. Seria uma cidade ? Não nos parece, ali
a area em que teem sido encontrados vestígios de povoado não é bastante grande para que podesse dar-se-lhe essa denominação. Foi provavelmente u na aldeia romana (visas).
porque
Quando sabel-o;
porque foi destruída ? Não temos dados para poder apenas poderemos formar simples conjecturas e, como
e
mesmas que formamos a respeito de Concórdia, sua coeva, segundo todas as probabilidades, e da qual vamos fallar, então as exporemos. estas são as
CONCORDIA Caminhando de
Ftezelga
para o
sul,
direila da ribeira, encontra se a estação
seguindo
a
margem
dos caminhos de ferro;
um
kilometro adeante d esta está o lugar de Payalvo, que foi tempo uma villa; ainda ba pouco lá existia na praça o pelourinho e a casa da camara. Pouco mais ou menos tres n outro
kilo-
metros ao
sul d esta povoação, afastada
kilometro, para a direita,
em
foi a
plano quasi horisonlal e
deante o teireno começa
a
um
da ribeira cerca de
cidade de Concordia.
pouco elevado e onde d
descer
em brando
um
Assente ali
declive para
em ir
explanai -se mais alem nas ferteis margens do Tejo, estava em condições favoráveis para poder ser uma cidade populosa, porque ali encontravam os seus habitantes todos os meios necessários á vida; não sò os terrenos circumvisinhos, ferteis e de boa natuieza, se prestavam a variadas culturas, mas não longe, onde são hoje os campos da Gollegã, tinham as ubérrimas campinas, que as innundações do Tejo fertilisam. Aquella povoação parece ter sido bastante extensa, calcu-
lando a sua
area pelos diversos pontos onde se teem encontrado vestígios da sua existência e porque na sua proximidade,
— 2r>o — na
margem
direita
da ribeira, se veem ainda indícios de mui-
tos fornos de fazer cal, que
cações que
ali
escavações que por
se
ali
decerto era consumida nas edifi-
Em
se faziam.
teem
vinha e outras
plantações de feito
em um
appareceram,
rymetro bastante grande vestígios de grossas muralhas
e
pe-
dentro
do seu âmbito teem-se encontrado muitas cisternas com agua,
algumas de grande capacidade; todas dras circulares,
um pequeno pouco
lá
em
orifício
mó um
com
ellas cobertas
pe-
de moinho, tendo no centro
forma de
tapado com
pedaço de
tejolo;
ainda ha
appareceu uma, de cuja agua o dono do prédio, igno-
rante e supersticioso, se não quiz aproveitar, diz elle que por ter
medo, tornou de
um D
visinho, que nos relatou este facto.
esta cidade
também, que nos conste, nada
apenas Plinio se refere pidtiin),
trado.
de terra e vae buscar agua ao prédio
a eobril-a
diz a historia;
Foi decerto cidade
a ella.
murada
(op-
não só pelos vestígios de muralhas que se teem encon-
mas porque dentro da sua
area havia
um
grande numero
de cisternas, o que mostra que os seus habitantes se precaviam
com agua
para o casD de cerco, por não poderem
fóra, e ainda
S.
também porque
Donato dizem que
elle ali sotfreu
juntamente com S. Secundiano, S. companheiros. ElTectivamenle ter sido
buscal-a
um
o martyrio, extra muros,
Uomube
mais oitenta e seis
pouco fóra da area que devia
em uma propriedade que ainda nome de Casal dos Santos Martyres, existe um
occupada pela cidade,
hoje conserva o
marco de pedra, que, segundo qual
ir
os livros que faliam da vida de
foi
degolado
S.
a
A crença popular venera-o como lagrosos.
Para o resguardar
habitantes da localidade colhidos nas
tradicção, é aquelle sobre o
Donato e os outros seus companheiros.
com
tal
e attribue-lhe poderes mi-
construiram
em
volta
tejolos muito espessos,
d
elle
os
que foram
minas de Concordia, uma capellinha abobadada,
de forma circular, sem porta, tendo apenas na parede algumas as
me-
dar aos pobres
em
fendas para se poder ver aquella relíquia e tocar n rendeiras, que os devotos
ali
cumprimento de promessas.
costumam
ir
ella
— 2nl — AH
perto via-se ainda
de pedra, muito
pouco
lia
uma
de
a liaste vertical
cruz
tendo sido quebrado o braço transversal
alta,
não se sabe quando; nos terrenos circumvisinbos encontraram os proprietários algumas campas, que supposeram lerem pertencido ás sepulturas dos martyres. E’ natural que
existisse ou
ali
ou
cemilerio publico da parle christã da população;
fosse o
cjue já lã
sabe-se quanto nos
que se estabelecesse depois;
primitivos tempos da Egreja os cbrislãos desejavam ser enter-
rados junto dos sepulchros dos que haviam soíTiido martyrio.
Se algumas d’aquellas campas tinham inscripções não nos souberam dizer as pessoas mais velhas da localidade, que consultámos; só nos disseram que ouviram dizer
que por
ali
pedras já
aos antepassados
appareceram muitas pedras com letreiros, que essas não existem, que algumas foram quebradas e
como
metlidas nas paredes
alvenaria e outras não se sabe que
Ao lado do nascente existe ainda uma fonte com abobada de tejolos; não iam os habitantes das po-
destino tiveram. *
coberta
voações que
hoje por
ali
existem
isolado, e o seu aspecto mostra
ê pois de crer
que fosse
a
construil-a
uma
n áquelle
logar
antiguidade muito remota;
fonte publica da antiga cidade. Consta
que anligamente se extrahiu grande quantidade de pedra de alvenaria e cantaria do local onde existiu Concordia, a qual
foi
empregada em construcções nos lugares que lhe ficam próximos, como são Corvaceiras Grandes e Pequenas, Carrazede. Carrascal, Villa Nova e Payalvo, e outra seria transportada para
Ainda no
maiores distancias.
principio
do século passado o
proprietário que então era do Casal dos Santos Martyres, que se
chamava Manuel de Christo
no
dito casal construir
na plantação de
uma
uma
vinha.
e residia
casa
em
Payalvo,
com pedra que
Também
lá
mandou arrancou
n’aquelle local se encon-
traram muitas moedas romanas e ainda hoje por
lá
apparecem
algumas.
Ü
facto de ter
ali
sido martyrisado S.
Dona to com os seus
companheiros, o que se prova pelas chronicas que se referem áquelle santo, pela tradicção e pelo
nome dado
áquelle logar
— 2d2 — desde tempos immemoriaes, mostra que aquella povoação exisainda nos últimos tempos do império romano. Quando deixou de existir? Não podemos averigual-o e cremos mesmo qne não consta de documento algmn. Não se falia d elia no tempo dos tia
Godos,
nem no dos
que
na transição do dominio romano para o godo. Deram-se
foi
ifaquella transição
Árabes, que lhes succederam; logo parece
enormes convulsões
sangrentas. Os povos só tinham
um
direito a defendei os, era
o da força, e se esta lhes escasseava, luta;
sociaes, lutas cruéis c
do que baqueava na
ai
o mais leve pretexto servia aos vencedores para destruí-
rem uma povoação, passarem levarem os caplivos,
ã
espada os seus habitantes ou mais
feitos escravos, a
infiina
condição
a
que pôde chegar o homem. Alarico, Atanlpho, Atida, o flagello de Deus,
como
elle a si
proprio se chamava, Gunderieo, Resplandiano, Hermenerico e
deante de
si
ral
inimigos que era
preciso subjugar ou destruir.
uma dessas hordas selvagens e sendo Goncordia uma cidade fortificada é muito
Passou por reiras, e
marcha assoladora só viam
barbaros, na sua
outros chefes
ali
decerto
que os seus habitantes tentassem
foi,
como
era
destruída; e a
costume
mesma
resistir;
tomada
guernatu-
á força
daquelles barbaros, complelamenle
sorte teve Caldellas, que ficava próxima;
não porque esta podesse oíTerecer resistência, porque devia ser
uma povoação pequena porque,
talvez
e destituída de
exasperados com
a
meios de defesa, mas
resistência de
Goncordia,
para dentro de cujos muros muitos dos de Caldellas se hou-
vessem recolhido, cevaram lambem G’ esta a hypothese
e cruéis. pois
com
certeza
n ella as suas iras brutaes
que nos parece mais provável,
nada podemos aílirmar.
Assim se extinguiu n’aquelle logar povo, que
ali
se
a vida collectiva
dum
muitos séculos;
como
havia fixado talvez ha
o roble que o furacão arranca e derriba para não mais se erguer;
como tanha
penha que violento terramoto deslocou do
a
e,
pelo valle
feita
pedaços
com
o choque da
queda,
alto
da mon-
se espalhou
para não mais voltar ã culminância que occupava.
— 253 — E
poderam salvar se
se dos habitantes d’aq«elle povoado alguns
fugiram espavoridos, como
a corça
ou como
ou como magoada pelo desastre
rola a
guidas por feroz matilha;
a
ninho, que,
e cheia
a gasella,
perse-
que roubaram o
de susto, vae, ge-
mendo saudosa, em longínquas paragens, procurar mais seguro abrigo.
i
m
NOTAS APPENDICULARES
A PAG. 9 Aclnm-se actualmente concluídos os estudos de nivelamento para a construcção de
uma
via electrica entre esta cidade e a estação dos caminlios de ferro de Payalvo;
quando esta importante obra se
re.ilisar,
como que desapparece a
distancia que as
separa; entSo decerto terá esta linda povoaçáo muito maior numero de visitantes que virão de longe admirar as suas bcllezas naturaes e estudar os seus impoitantes
mo-
numentos histoiicos.
A PAG. G2 Dissemos que o lagar cbamado d’El-Rei pertencera a D. Manuel; temos ainda a justificai- o
sobre
uma
o facto de
lia
pouco terem sido encontradas no
mesmo
assentes
lagar,
parede interior tres lages que, na face que se achava embebida na parede
apresentavam,
uma
millar; esta tinbn
a cruz de t.bristo, outra a coroa real e a terceira a espbera arsido picada na occasião
em que
fim de Ibe desfazer aquella saliência para ficar ao
ali
a assentaram, decerto
mesmo
nivel
com o Consta
das outras.
que estas insignias estavam collocadas na parede da frente por cima da porta d’entrada; devia ser aquelle o lugar que
que o actual dono d’aquellc lagar que, não só
rado
em
como presidente da
e
occupavam
e
que novamente vão occupar, por-
de todos os outros,
mas como
cantara,
sr.
João Torres Pinheiro,
particular, tanto se
tem esme-
tudo que é melhoramento e engrandecimento da sua patria adoptiva,
mandou
moldar em gesso uma espbera armillar cgual ãquclla para servir do modelo a outra,
que encommendou a
um
dos melhores canle ros do lugar da Pedreira, :
com
o fim de
fazer collocar aquellas insignias de D. Manuel no logar onde primitivamente estive-
ram. E’ louvável esta lembrança, porque
é
um documento
historico
que
ali
fica
a al-
testar que aquclla importante obra do aproveitamento das aguas do rio
de moinbos c lagares se deve áquellc por documentos que
com
foi
para motor
Também tivemos occasião de em uma dem ;n Ja, que ba annos
rei.
preciso compulsar
saber que, leve logar
respeito áquelles lagares, se mostrou que o que está junto á ponte pertencia ao
seguem na mesma
alcaide c os outros que se lhe
linha, er.im todos dos frades,
A PAG. 134
PATEO DOS CARRASCOS A corroborar qual decerto
foi
o
que dissémos a respeito da denominarão dada a este recinto, a
originada dos arbustos que
ali
vegetavam e não de terem
n’elle resi-
dido os executores d’alta justiça do tribunal da Inquisição, que n'aquella epoeha se
chamavam
carrascos,
aqui perto haver c n’esta
mesma
mas sim
uma povoarão denominada cidade
uma
nem
verdugos, occorreu-nos mais o citarmos o facto de lugar dos Carrasros, outra o Carrascal,
também
rua, a Carrasqueira. Seria porventura,
logares, a habitação de carrascos da Inquisição ou outros?.
.
n’estes
A denominação d’estes
.
logares provem-lhes decerto da existência n'elles dos arbustos chamados carrascos
ou carrasqueiros, tem a mesma origem que a do pateo do Convento, a que nos referimos.
Escrevendo
esta noticia
exforçamos-nos para que o que
expressão da verdade, e como ba pouco se publicou históricos e outros de diversa natureza, factos ou objcctos,
um
n’ella
expomos seja
a
onde abundam os erros
livro
quando alguns d’esscs erros incidem sobre
que se comprehendem
na nossa
narrativa,
somos obrigados a
apontal-os e a esclarecer os leitores, para que alguns d’elles se não persuadam de
que somos nós que andámos erradamente.
tem por Gra
Isto só
nião e por forma alguma querer fazer a critica do
tal livro,
justificar a nossa opi-
com o que nos não im-
portamos.
Sem
fazer atlusão a pessoa alguma,
mas na
generalidade, a respeito
de critica
entendemos dever seguir a opinião de Pope, que nos seguintes versos tão acertada-
mente expendeu no seu «Ensai sur
«Sur de
(traducção franceza).
la critique»
vils ecrivains le
mieux
est de
se
laire;
Laisscz les sots en paix dans leurs vers se complaire;
Lcur orgueil enyvré de mensonges
flatteurs
Se console aisement du mépris des lecteurs. Le savoir ne peut
rien contre leur ignorence,
L’esprit plcin de projects, le coeur plein d'espcrence,
Sourds aux
cris
du bon sens,
ils
vont toujours leur train;
lnsensibles aux coups, on les deehire en vain; C’est un sabot qui dort sous le fonet qui 1’ogite,
Par
le
mauvais succès leur conrage
s’irrile.»
ÍNDICE
PREFACIO —A CIDADE DE THOMAR
I
II
III
—O —A
V1LLA DE THOMAR PADRÕES E A PONTE DAS FERRARIAS CONVENTO DE CHR1STO —OUTROS CONVENTOS E CAPELLAS ...
IV
—OS
V
—O
VI
RIO
ANNUNCIADA SENHORA DA PIEDADE
pag.
5
»
9
»
25
*
43
>
75
»
91
»
105
»
»
»
170 172
FIIANCISCO
»
santa maria
»
174
SANTA SITA
»
ISI
S.
VII
-A
VIII
- REZELGA, CALDELLAS E C0NC0RD1A.
NABANCIA
»
183
><
241
»
»
CALDKLLAS
»
243
CUNCOIIDIA
»*
249
.
*
BEZKLGA
Ponte sobre o Nabão
Nabão proximo a Thomar Fabrica de Moagens «Nabantinao
.
13
»
29 38
» »
97
.
.
.
.
»
101
.
.
.
.
»
407
»
420
Claustro dos Filippes
.»
4
Fachada da Egreja
»
101
Egreja e torre de Santa Maria do Olival
»
479
Medalha Nabantina
0
196
Estatuas Nabantinas (fragmentos)
0
209
Capelia dos Templários
CONVENTO DE
CHR1ST0
Castello de D.
Gualdim Paes
Janella da Casa
do Capitulo
Claustro do Cemiterio
48
ERRATAS Pagina Linha
cm
— eluminar
11
G
12
1
»
aprerinvies
20 23
n
á
IS
vez
eliminar
—a
— aprazíveis
— cerenes
»
screaes
20 ao
G
»
u>bis
13
»
»
li
»
»
15
M
1
O
17 2i 14
»
— urbs do — da prepara — preparada — exlrahir levava — elevava derivava — derivavam-as
»
imiossao
0
ui bis
e
1!»
3;> m
37 41
16 W
1
»
27
»
lo
exlraliiilo
— indurção — ui bs muito provável que — e muito provável é tinham — tinha
8 3
w
49 54 57
12
»
9
»
lii
5
j*
66
1
I.S
32
n
— ficaram — cavallciros estavam — estava coinmunas elegiam — communas e elegiam odado — doado mac-a-damisado — mac a dainisada da send — da confraria; sendo
69 75
21
»
attendidoâ
18
u
71!
1
u
obüqua, que obliqua ; diz a Iradicção qu< Santo Agostinho Por morte
11
n
de certa
18
>1
n
ficavam
cavelleiros
confraria;
— atlendidas
—
— — de certo, de — da consentia — consentiria — dezasseis
78
12
n
81
25
»
95
31
n
97 122 121
G
>i
supporte
— dos
8
n
opore
opera
G
H
125
30
»
121!
4
n
137 lii
31
H
28
»
145
3
>»
1
í(i
26
»
1
i8
9
»
desesseis
— desengraçada — occulto vida — ordem outros — outras davam — dava pareciam — pareceriam — artistas gigantesca — gigantescas formam — formavam externas — externa tarde — tardes — lhes adoptar — adaptar — fazel-os proprios — próprias des ngraçado
aculto
artista
»
14
«
149 151 171 177 180
25 30
»
6
»
22
n
10
»
200 201
23
»
1
n
fazia
»
26
»
segiu-a
20G 207
31 19 34 55
u
e fiscus
»
portos
n
entre diferentes
»
vines
‘210
211
»
supporles
lhe
fazer
— faria
— seguiu-a — o — postas — entre os — visces e
fiscus
differentes
concluída
a
impressão d-este livro
EM SETEMBRO DE
TVPOGR
VPIIIA SII.VA
1903
IMULHiES
a.
.