Noticia Descriptiva e Historica da Cidade de Thomar - 1903

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Noticia descriptiva

Typ. Silva Magalbíleã

1903



ÃO

é nosso intento fazermos a historia

completa (Testa

desde

a

importante

sua origem

em

tíssimas e obscuras tal

povoação

epochas remo-

até

nossos dias

emprehendimento não cabe nos esdo nosso acanhado saber,

treitos limites

por isso é singelo e resumido o presente' trabalho.

Do que ainda

hoje se observa deduz-

que passaram por

se muito facilmente

aqui (líversas dominações e todas ellas deixaram vestígios inde-

da sua passagem: a sumptuosidade dos romanos revella-se fragmentos de estatuas magniíicas que teem sido encontrados

•leveis

em e

que ainda hoje aqui se podem ver.

A

assolação d’essas hordas

de barbaros, suevos, alanos e vandalos. que invadiram a Península Uispanica não podia deixar de estender-se até estas para-

gens e

d'ella

serão talvez vestígio a mutilação d’aquellas estatuas

e outros destroços que ainda hoje se

notam

;

mais tarde quando

os godos substituiram estes, depois de convertidos

ao chris-

tianismo, que lhes adoçou os costumes barbaros, deixaram

em

templos e capellas que erigiram signaes indeleveis da sua pie"

dade

religiosa.

A

estes

seguiram-se os arabes que

por aqui estacionaram durante muitos annos gios da sua

permanência

iTesta

também

deixando

localidade taes

vestí-

como o nome


6

denominação arabo de certos lognres que ainda hoje conservam, como por exemplo as Almoinhas junto á povoação

do

rio,

de

Cem A

a

Soldos, moengas,

historia de

sillos,

poços, noras arabes, etc.

Tliomar liga-se á historia

Península desde as epochas mais

de toda

inteira

dos de vastíssimos conhecimentos poderiamos entrar fundo;

como

opusculo ipie

tal

a fazer

uma

narrativa dos

singela

o fazemos unicameute por amor

desejando que

n’ella a

não possuímos limitar-nos-hemos n’este breve factos históricos

temos podido colher e das observações que

e isto

a

remotas, por isso só muni-

d’ella

hajam

á terra

temos

feito

onde nascemos

conhecimento, ainda

que muito

restricto, aquelles que a não tenham visitado: para esse fim começaremos por dar uma descripção muito singela da actual

cidade de Tliomar, fallando

das fabricas histórica

a

em

seguida do

rio

que

a

banha e

que serve de motor, entrando depois na parte

como podermos, sem pretenções, porque

as não

e sempre confiados na benevolência dos leitores, a

dimos nos relevem erros que notarem.

a

deficiência

temos

quem

d 'este trabalho e as

pe-

faltas e




viajante que da estação dos

nhos de gir

a

uma

ferro,

em

cami-

Payalvo, se diri-

Thomar tem que percorrer

estrada de

7

kilometros de ex-

tensão, accidenlada, despida de bei-' lezas naluraes. apenas ladeada por oliveiras e

pinheiros, descrevendo

curvas, subindo e descendo rampas;

porém, o transpor

a ultima das curvas d aquelle enfadonho trajecto é o acordar no meio dum vergel florido ao alvorecer duma

como manhã

dabril, depara-se-lhe

prehende e encanta reita

de

estendem se pujante

;

em

as

vegetação,

um panorama que de certo o surem vasta planície, para a di-

baixo

ferteis

onde

margens do

abundam

Nabão

as oliveiras esmeradamente tratadas como vores de ornamentação, as variadas culturas cta,

cobertas

os pomares se

de fiu-

foram ar-

hortenccs e ce-

leahfeias e pelo meio o rio serpenteando em curvas graciosas lado de alamos, choupos, freixos, salgueiros, chorões e cannaviaes, emiltindo frescura, dando realce e helleza ao lado esquerdo, no ponto mais culminante da cadeia de montes que seoi

;


#

— 10 — prolongam pela margem direita do rio, fica lhe o vetusto castello de D. Gualdim Paes; está ali alteroso e sobranceiro como padrão indelevel de antigas glorias, com a sua elevada torre de menagem, seus pannos de muralhas guarnecidos de ameias, torreões e reductos, a circumdarem como que para defender aquella obra monumentosa, o Convento de Christo; na frente

em

assente

plano

quasi horisontal está a cidade, que

apresenta alvejante e bella

como em jardim

uma

rua perfeitamente

um

recta, larga, espaçosa,

ornamentaes que

renques de arvores

se lhe

um

cultivado

de verdura e nella entra depois

canteiro de açucenas orlado

por

bem

parque de palacio sumptuoso. E'

a

a

com

dois

fazem assemelhar

a

rua da Graça. Parallelas

correm outras quasi todas amplas e bem alinhadas que, cortadas pelas que lhes incidem em direcção perpendicua esta rua

lar,

dividem

margem

a parte principal

direita

do Nabão

em

da cidade,

que é

a

que

fica

na

quarteirões muito regulares. Na

media e para o lado do poente está a Praça publica, denominada de D. Manuel; esta forma um quadrilátero que é quasi um

linha

quadrado perfeito e cuja grandeza está

em

completa relação com

o tamanho da cidade; é calçada de pedra branca e preta

um

losangos que lhe dão

em

aspecto bonito e guarnecida de arvo-

Do centro delia desappareceu ha muito o anuma pilastra de pedra de aproximadamente quatro metros d altura, de forma pyramidal com base rectangular, tendo no vertice uma esphera armilar de ferro e assente sobre um pavimento lageado também rectangular para onde se subia por quatro degraus em cada um dos lados. Nos mu-

res e bancadas.

tigo pelourinho,

nicípios

romanos costumava collocar-se no meio da praça pu-

blica (forum)

uma

estatua de

direita erguida, era o

quando se

Marsyas ou Sileno com

symbolo da liberdade.

extinguiu o paganismo, aquellas

a

mão

Posteriormente estatuas

foram

substituídas pelos pelourinhos, pilastras ou columnas de pedra e de symbolos da liberdade passaram a ser symbolos da igno-

minia,

porque era

com baraço

ali

e pregão

que, depois de conduzidos

eram expostos ao publico

pelas ruas

e muitas vezes


— cruelmente vezes

ligeiras e

lillias

da

pois

dali já

com penas

ha bastantes annos

como

cência de barbaros costumes e hoje

do passado, broso está

um

severas. Desap-

reminis-

aquella

redimir as

falias

que era obscuro e tene-

a eliminar e esclarecer o

a suhslituil-o

a

falias ás

mas que os

ignorância e miséria,

déspotas daquellas epochas puniam

pareceu

em

que incorriam

açoitados os plebeus

II

bonito candelabro de dois braços

de cujos globos pendentes saltam scinlillações de luz eléctrica,

do progresso: nada mais apropriado poderia eollocar-se

a luz

n áquelle logar para mostrar a todos que este povo se exforça

por estar sempre

par da civilisação moderna e vae constan-

a

temente progredindo na ordem material e lados d esta praça, o que

Um

intelleclual.

dos

ao poente, é formado pelos pa-

fica

ços do concelho e o opposto pelo magnifico templo de S. João Baptista.

ambos de

construcção manuelina; tem

formadas por duas

tres vastas naves

sustentam areos ogivaes, esculplurado e

um

nas paredes

primorosamente

mór alguns

lateraes da capella

attribuidos a

Gran Vasco

sua escola.

á

A adornarem-lhe os da cidade

dois topos norte e sul tem esta parte

dois formosíssimos

Pequena arborisado tral

este templo

de columnas que

púlpito de pedra

quadros de bastante merecimento, ou

fileiras

guarnecida de bancos tendo

outro

um

bonito coreto

mais concorrido ficante e

em

puro do

largos; o

e ajardinado, a

primeiro

cortado por

um

para musica;

tardes de verão;

rua cen-

um

lago e ao

dos lados

ameno

e delicioso é o

respira-se

norte embalsamado pelo

Varzea

a

uma

ali

o ar

aroma das

vivi-

llores

d’aquelle jardim e pelo dos tysos, murtas e outras odoríferas

plantas silvestres de que local;

vem inpregnado quando chega

áquelle

fonte de

lambem ali corre por dois tubos de broze a nome que lhe vem d uma pequena capella

S. Grègorio,

dedi-

cada áquelle santo que lhe é quasi contígua e notável pela sua fôrma em oclogono regular. Kste largo servia ainda não ha muitos annos, de mercado semanal de gado suino. semeado de charcos e cortado de corregos no inverno era

immundo

e in-


12

salubre, hoje

é

um

apreciáveis da

pontos mais

dos

cujos melhoramentos vão constantemente progredindo. fica

cidade,

Ao

sul

o largo da Varzea Grande, extenso quadrilátero, cujos lados

são formados por ruas orladas de frondosas arvores, tendo ao

uma alameda, um pequeno uma capella dedicada a S.

fundo no extremo sul coreto para musica e

dentro do jardim collocado

alli

fosse para

uma

jardim,

ou memória

agulha de pedra, padrão

não se sabe bem para

commemorar

a

um

Sebastião e

quê nem quando; talvez

acclamação de D. Filippe, que teve

logar no Convento de Christo.

Ao poente

e paraiello á rua que forma aquelle lado está o

quartel militar, inslallado no

Ao nascente Levada que a

d’esta

amigo convento de Franciscanos. cidade corre o rio Nabão e a

parte da

separam do outro

a

bairro; por esta levada deriva

agua que vae servir de motor

uma

a

moagens,

fabrica de

antigos lagares d azeite e á turbina que transmitle o

ao

dymnamo

para

Seguindo

a luz eleclrica.

para o norte corre

uma

avenida,

a

margem do

denominada

a

movimento

Marquez

rio

de

Thomar, arborisada e ajardinada que vae desembocar na Varzea Pequena; esta obra de construcção moderna alem de afbrmosear muito a cidade collocou-a em melhores condições hygienicas, fazendo desappárecer d'aquelle local os recantos do iio

onde se depositavam lòdos e immundicies que eram preju-

diciaes á saude publica.

O segundo

bairo denominado

Alem da Ponte

é

gular que o primeiro, não deixando por isso de ter belleza; sobe por

menos

uma

re-

certa

uma pequena elevação e ramifica se em tres uma ponte depedra não se sabe

direcções principaes. Liga-os

ao certo se

mas

mandada

ê muito provável

construir se

reedificar por

I).

Manoel,

que fosse reedificada; ifaquella epoclia

já existiam os dois bairros, ria

alem d 'isso a egreja de Santa Mados Olivaes pertenceu aos Templários e depois aos Freires

de Christo e n ella celebravam festividades e ate lá sepultaram alguns dos seus membros, deviam, portanto, ter uma via facil de communicação por sobre o rio, uma ponte, que decerto não


— 13 — era a das Ferrarias que

fica

muito ao

sul;

alem

d’isto todas as

obras d’aquelle reinado revelam a arte, o saber e o

bom

gosto

dos obreiros que d’ellas se encarregavam; a ponte está real-

mente bem cons

trui da,

mas

se

vesse

ti-

sido

edificada de

novo de certo lhe teriam

dado a mes-

ma

direcção

que segue o eixo da rua principal da

cidade

que

de sem boca

^ont& sobre o ^abão

na Praça, antiga rua da Oorredoiira, hoje Serpa Pinto, o que afor-

mosearia muito mais esta rua, e não é assim, forma com linha quebrada, o

que mostra que outra ponte que

ali

uma

ella

houve

foi

construída antes do alinhamento d'aquella rua e posteriormente se aproveitaram os fundamentos d elia, para sobre elles se construir a aclual,

que galga por sobre

de cantaria de uma solidez resistido

a toda

a

Levada e o

a prova,

sem o menor abalo ao impelo

pois

violento

rio

em

arcos

tem sempre de grossas

enchentes, que muitas vezes leem saltado por cima delia

escarceus formidáveis

sem que

ponte soffreu ha alguns annos

d’isso se haja resentido.

uma

modificação:

que eram de alvenaria cobertas de lages

as

guardas

foram substituídas,

para lhe dar maior largura, por grades de ferro e n'essa casião

foi

em

Esta

removida não sabemos para onde

oc-

imagem em pe-

a

dra de tamanfio natural de Santo Estevão que se achava sobre a

do lado do

verdade que

sul logo á entrada, vindo ella

de Alem da Ponte;

ameaçava desabar, porque

a

é

crença popular

de que o pó raspado das pernas do santo curava as sezões.


14

tinha-llfas por lai forma adelgaçado, que

mal podiam já>us-

tentar o tronco.

norte e de encontro ao primeiro pégão da ponte>leva-

Ao

quando estas são em maior abnndancia d elle se precipitam formando uma bonita cachoeira, cujo sussurrar monotono e -continuo 'é.comó um acompanbamento em baixo do trinar agudo dos rouxinoes, se o açude que deriva as aguas para a Levada e

que durante nas

a

primavera

soltam melodiosos

cantos pousados

uma

gonteas dos salgueiros e chorões, que de

llexiveis vei

margem

se baloiçam sobre o rio, dando áquelle local amenas de maio ou junho um tom de suave melancholia, que allrahe e enleva. Transpondo esta ponte, do poente para o nascente, entra-se em uma rua denominada Marquez de e outra

em

noites

Pombal

(antiga rua Larga); logo ã entrada e á direita estão os

restos do antigo convento conhecido boje pelo Convento de Santa Iria e

ainda na muralha, que mergulha no

nicho de pedra

a

imagem

está transformado, parte

em uma pella,

em

rio,

em

casas de habitação e outra parle

fabrica de tecidos de

lã;

só resta d'elle intacta

notável pelo seu porlico e sobre tudo por

alto

relevo, de muito

capella ba

um

em um

se vê

d aqnella santa; hoje aquelle convento

um

a

ca-

retábulo

valor artístico; logo adeante desta

arco que ligava o convento antigo

com

a

parle

que posteriormente foi construída e por debaixo d‘elle passa a estrada, que conduz ao cemiterio e ã notável egreja de Santa Maria e vae para S. Pedro; quasi defronte d este arco

Marquez oe Pombal dá uma ramificação para

a

a

rua

esquerda, que

é a rua da Fabrica (antiga rua das Poças) e vae terminar na

uma das melhores do pouco adeante, ao subir uma pequena elevação

Fabrica de Fiação e Tecidos de Algodão,

nosso

paiz;

bifurca-se, a

um

dando origem

á

rua de Santo André e á de S. Braz;

primeira assim chamada por ter ao cimo,

eminência,

uma

capella

com

a

em uma pequena

invocação d’aquelle*anto,

a

segun-

da porque tinha logo á entrada, ao lado esquerdo, outra capella

dedicada a S. Braz, da qual já não restam vestígios alguns, tendo sido demolida para no seu local se edificarem casas de habitação.


— 15 — Thomar

nove estradas, quatro districtaes e

é servida por

cinco municipaes, são outras tantas artérias onde circulam os

elementos

de vida

d'esta povoação,

importação de matérias

primas para as suas importantes fabricas, exportação de seus artefactos;

uma

organismo

social.

especie de assimilação e desassimilação d este

I

Das estradas districtaes,

a

de Payalvo. Leiria, Pintado e bar-

quinha: a primeira começa na rua da Graça, vae á estação dos

caminhos de ferro

Torres Novas seguindo depois por

e d’alii a

Pernes até Santarém. Esta estrada inutilisou da Senhora dos Anjos, que

partia

a

costeando o muro da cerca do Convento e cujo vinha de

uma

antiga capella da

antiga Calçada

do mesmo

mesma

ponto e subia

nome

lhe pro-

invocação, que existia

ao cimo d’aqúella íngreme ladeira, esta capella que pertencia aos Freires de Christo, tinha alpendres de boa architectura assentes sobre columnas de pedra, casas para se recolherem os

romeiros e para

residência

A de

restam vestígios.

do ermitão, hoje

Leiria sae

nem

d elia

do lado poente da Varzea

Pequena subindo por uma rampa sustentada por muralhas de com engradamento de ferro, vae á estação de Chão de

cantaria

Maçãs

e segue por Villa

Nova d Ourem

até

Leiria.

Esta estrada substituiu a antiga que partia de capella de S. Gregorio e era até certa distancia

ao

pavimentada

de grossas pedras mal talhadas d’onde lhe vinha o nome de çada de S. Gregorio. A do Pintado prolonga-se S. André, passa pelo logar

da

com

n

do Pintado e mais adiante

cal-

rua de

em um

chamado o Salgueiral bifurca se seguindo uma para Coimbra e outra para a Certã; cada uma d estas dá differentes

sitio

ramaes, que

conduzem

a

povoações

importantes taes

Ferreira do Zezere, Figueiró dos Vinhos etc.

continua-se

com

a

rua dos Estaus seguindo

A

como

da Barquinha

por

entre

duas

linhas darvores e tendo passeios lateraes na extenção de mais

de seis centos metros, passa junto ao logar de ha

uma

importante

feira

St.

a

mercado de gados no ultimo

dia

de

cada mez e

Cita

onde

um bom está já em

annual a 10 de setembro e


-

io

construcção outra estrada, que segue

d'alli

para

Tancos

e lioje é notável pela celebre batalha,

foi villa

que

até

tempo

Abrantes; atravessa o togar da Asseiceira que n’outro

em

1833

se deu entre as tropas de D. Pedro e de D. Miguel, alcan-

alli

uma

çando as primeiras

povoação da Atalaya até

á

brilhante vicloria; segue depois

pela

Barquinha e ramifica se para o Entron-

camento.

As municipaes são

a

do Prado, Serra, S. Pedro, Olaias

e

Porto de Cavalleiros.

Sae

gem

primeira da Varzea Pequena, corre ao longo da mar-

a

do

direita

quinta

passa pela Granja que noutros tempos

rio,

de recreio

dos Freires de Christo e

foi

vae terminar na

Papel do Prado; é arborisada na extenção de mais

fabrica de

de quinhentos metros, formando por isso

A da Serra

com

entesta

um agradavel

passeio.

a rua de S. Braz, segue pelo sitio

das Avessadas, magníficos terrenos de cultura, povoados

de

junto

ao

quintas, casaes e

logar do Carril e

A de

pequenas casas de campo, passa vae á Abbadia da Serra.

Pedro sae da rua Marquez de Pombal,

S.

passa por

debaixo do Arco das Freiras, logo adiante bifurca-se dá

pequeno ramal que conduz ao cemiterio d esta freguezia e Egreja de

St.

a

Maria dos Olivaes e o outro segue por

laes de Baixo, fértil terreno de regadio,

um á

Marme-

povoado de oliveiras

e

mais arvores

frucliferas, coberto

de variadas culturas hortences e

cerealíferas,

deve

em

terminar

ir

actualmente acha-se

em

uma pequena parte. A das Olaias liga-se

via

á

S.

Pedro da Beberriqueira.

de construcção e só está concluída

margem

direita da

do Pintado, logo

adiante do logar das Calçadas, segue pelas Aboboreiras, casal

do Torrão

e vae ás Olaias e Montes. A de Porto de Cavalleiros sae da estrada de Leiria logo adiante do logar de Carregueiros, passa por S. Simão e vae ,

terminar na fabrica de papel.

A

população

habitantes,

da

cidade

comparada com

a

orça

actualmente

por

0:935

que se achou na penúltima ava-


— liação vê

que tende

sfi

a

augmentar; provem-lhe este augmento

maior impulso utlimamente dado ãs industrias

<Jo

17

com-

e ao

mercio que teem melhorado consideravelmente.

As condições hygienicas

d esta cidade são actualmente boas,

desappareceram de cá ha muito as febres paludosas, endemi-' casque aqui grassavam todos osannos, devidas á faltado cumhygienicos que hoje se não descuram;

primento dos preceitos a

limpeza e aceio

incontre

egual

tias

em

ruas é tão esmerado que

talvez se

povoações d ordem superior;

ção é quasi completa e os

não

canalisa

a

canos das ruas vão dar

a

um

col-

que desemboca no rio abaixo da fabrica de moagens e tem uma comporta acuna do açude por onde a agua, entrando leclor geral,

em mar

grande quantidade, pela sua rapida corrente, tende o vacuo nos

ou

canos parciaes arrastando,

a for-

como que

absorvendo, as immundicies e gazes que n’elles sc encontram, indo depois lançal-os ao

como

rio,

onde se diluem

e

dissolvem,

dar togar

e

podem

o volume d agua é grande e a corrente rapida não

emanações prejudiciaes. K certo que não é este o

a

melhor systema de canalisação;

no entanto

satisfaz;

municipio tivesse maiores recursos decerto o

teriam

e se

o

aperfei-

çoado as vereações que de ha dez ou doze annos para cá tan to se teem esmerado em uteis melhoramentos. A’ falta de

meios pecuniários acresce ainda de,

em que

com muito

u na canalisação

perfeita,

a

posição topographica da cida-

poderia

dispêndio se

dando aos canos

a

estabelecer

altura

sulíici-

ente, (pie deve ser de dois metros

pouco mais ou menos paia

n elles se poder fazer

uma

rior a 3

°[

0

,

a

limpeza, e

inclinação nunca infe-

direcção recta o mais possível, material de cons-

trucção que não seja atacado pelos ácidos, de maneira que as

paredes sejam impermeáveis e não possam ser furadas ratos e indo todos

desembocar

em um

em um

fosso,

inodoros c -

os

fosse

onde seriam desinfectados, de modo

inofensivos,

bação dos terrenos.

que

cano geral

duzisse os dejectos para fora da cidade e

a

pelos

con-

despejar tornal-os

sendo depois aproveitados para adu-


18

Apesar pois de não podermos

ter

um

a

que

de canalisação, como já dissemos,

nem

beccos immundos

cidade não tem

bem

ruas são amplas,

systhema existe

perfeito

satisfaz;

a

tortuosas, as

vielas

bem

calçadas e acham-se sempre

var-

sem que algum cheiro desacommunicam com

ridas; passeia-se por todas ellas

gradável nos incommode: as sargetas, que

os canos, teern todas syphões de pedra onde

amiudadas vezes noite

com

e inda assim

de

perchlororeto

são

de

cal

a

agua é renovada durante

desinfectadas

modo que

a

que

os gazes

se desenvolvem no interior dos canos, que são os ácidos car-

bônico,

dem

e carboretos

inquinar a atmosphera;

nem

dhydrogenio, não po-

as matérias organisadas (mi-

cróbios) arrastados pelos vapores d'agua a

os canos das casas

particulares,

carbonatos

sulphydratos e

nitroso e sulphydrico, os

d’ammonio e phosphoretos

podem

infeccionar;

que vão dar aos das

ruas,

são todos vedados por syphões de gres ou valvolas hydraulicas

emmanações mephyticas; alem bem ventiladas e com boa exposição. Tam-

não havendo no interior d

em geral bém concorreu muito d 'isto são

elias

para melhorar as

condições hygienicas

da cidade o incremento que se tem dado á

avenida que vae da

como

ja

livrou-a

arborisação

Ponte até á Varzea Pequena; esta

dissemos, não só embellezou muito das emanações

prejudiciaes que

a

e

á

obra,

povoação, mas,

n’aquelle

local

se

evolviam; antigamente o rio passava encostado ás casas e quintaes d’aquelle bairro, havia se depositavam Iodos e

alli

recantos e

depressões,

onde

onde os habitantes iam de noite fazer

os seus despejos, era infecto aquelle local, que hoje se tornou

um

dos mais aprazíveis.

A cidade

é

bem

abastecida d aguas, tem-as para lavagens

esta

no rio e em poços, que quasi todas possuem, e para beber, na fonte de S. Gregorio; agua demasiadamente calcarea não é das melho-

res,

no

sem

que

e outros usos domésticos

as casas

entanto muita gente fazia e ainda

tenha

experimentado

faz

perturbações

uso

d ella,

digestivas

ou quaesqucr outros desarranjos funcionaes provenientes

da


— 19 ingestão dos saes calcareos, que contem

dadeiramente potável é

um

mais d

a

em

tiva

que

a analysa

é

qualita-

fizemos ha alguns annos apenas nos revelou de traços muito ligeiros de chloruretos e de carbo-

nato calcareo e ferroso, e tão leve e de tão

que

pouco

siliciosa

d’ella

a existência

é,

fica a

kilometro da cidade; nascida de rocha

perfeitamente límpida, inodora e insípida;

Ver-

dissolução.

agua de Marmelaes, que

foi

facil

absorpção

sempre recommendada aos doentes e

ella

convalescen-

agua temol-a agora no interior da cidade, ao fundo da rua da Graça, no começo da dos Kstaos, está correndo de um marco de pedra, por duas bicas e em tal abundancia que tes; esta

abastece toda

a

cidade e sobra ainda, e é

e perfeitíssima alvura

tal

a

sua limpidez

que desde remotíssimas eras

lhe fez dar f no logar onde nascia, o nome de Fonte de Prata, denominação que continua tendo no local onde hoje corre. Foi para aqui mandada canalisar ha poucos annos pela Gamara Municipal e é mais um melhoramento que se deve ao seu presidente e

vereadores, que n estes últimos annos tanto se tem exforçado

por conseguil-os para este município.

Alem do mercado annos

foi

diário

em uma

praça apropriada, que ha

construída para esse fim, ha

todos os sabbados muito abundante

um mercado

em generos

semanal

alimentícios,

como fructas, legumes, peixe, sereaes, etc. No mesmo também outro de gado suino muito concorrido; no ultimo domingo de cada rnez temos também no Largo da Var-

taes

dia ha

zea Grande os annos

começa

a

um mercado

uma

feira

de gado lanígero e caprino

muito importante, no

19 d outubro, costuma ser

mesmo

todos

e

largo,

concorridissima e

tres dias. lia actualmente na cidade vários

hotéis

sendo

que dura os

mais importantes o União Commercial, com boas dações, aceiado e

acommodaque também é

bem servido e o Hotel Prista ü povo de Thomar é dotado

bastante concorrido,

dole, cortez, affavel e hospitaleiro; é e

repelle o despotismo e a imposição de

de

tem sido sempre

boa

in

liberal,

quem pretende domi-

nal-o pela força; são qualidades que o distinguem e nobilitam


— 20 — e

em

que muitas vezes tem posto

evidencia e

não

ainda

lia

muito.

E tem na sua historia muitos factos a confirmal-o. Citaremos um: quando as tropas francezas commandadas por Junot invadiram o

território portuguez,

um

cantochão com os frades e

tar

a

rei,

que se entretinha

pusillanime e covarde fugiu para o Brazil,

chuchando canna doce, o povo portuguez d

uma

a

can-

mãos cheias, emquanto lá ia

cheirar rapé ás e,

soífria os

horrores

invasão estrangeira.

em

Este povo,

cujas veias circula ainda sangue dos antigos

deram que fazer aos romanos, cuja dominação mais conseguiram pela influencia que

luzitanos, d’esses bravos, que tanto

elles exerceu Sertorio, romanisando-o, por assim dizer, do que pela força e bravura das suas legiões, não podia sof-

sobre

frer

sem

resistência o domínio d

isso muitos dos

portuguez, que se atreveram

quebrada dos

a pizar.

montes, pelos desvios

feras bravias, que

For essas aldeias, pela

que se

das serras, os

em pequeno numero, eram

extraviavam ou appareciam

como

uma nação estrangeira, por com o seu sangue o solo

invasores regaram

pretendem assaltar o

redil.

mortos

Era uma

guerra dexterminio, justificada pelos motivos. Aquella soldadesca infrene e desmoralisada assaltava as aldeias e ahi roubava, deshonrava e matava, por isso o povo respondia áquella

ferocidade tratando de exterminar o inimigo por lodos os meios

ao seu alcance.

um

ainda

Aqui perto, no lugar de Eungalvaz conhecemos

velho mendicante, por alcunha o Travincas, que

íirrnava ter elle só

matado mais de

trinta

af-

francezes.

Foi por occasião d 'esta terrível invasão, que os thomaren-

deram mais uma prova brilhante da sua coragem e do seu amor pátrio. Quando marchava sobre Thomar uma divisão franceza, o povo da villa armou se, e resolvido a sacrificar a vida em defeza ses

da patria, ra e o

loi

guarnecer o

castello, o outeiro de Santa

do Piolhinho e levou para

que ainda ha

poucos annos

ali

estava

Barba-

uma velha peça de ferro, em um dos claustros do


Convento de Christo. O commandante da divisão, que marchava pela estrada da Barquinha, quando chegou a certa distancia.

provavelmente logo para cá da Guerreira, avistou o castello montes coroados de gente armada e, desconhecen-

e aquelles

do

força

a

mente se

do inimigo, que linha na lhe afigurou

sua frente, que naturalmaior do que reahnente era, fez alto e

mandou um emissário com

a intimação

e entregassem

sob pena de ser

villa,

as armas,

tomada

se fosse

patriotas

força;

ã

ao que

responderam: que se não

só as tomariam

de que

se

rendessem

posta

a

e

a

daquelles

os chefes

rendiam

saque

que as armas

quando os mortos as abandonassem, porque

das mãos dos vivos as não haviam de receber.

A noticia do que se passava circulou rapidamente pela povoação; então os pensar,

homens mais prudentes

conhecendo o perigo,

e

de

mais maduro

punhado de tempo poderia resistir a um inimigo poderoso, aguerrido e costumado a vencer, correram aos pontos fortili cados a exporem aos chefes as desgraças que adviriam a Thomar, se insistissem em uma resistência inútil; estes recoporque aquelle

valentes pouco

nhecendo o perigo declararam que, para que se lhes não imputassem os desastres, que podessem sobrevir, desistiam do

porém que se não rendiam nem entregavam as armas aos francezes, que voltariam pacificamente para suas casas e as suas armas as entregariam a um portuguez, digno de seu intento;

recehel-as, aos francezes nunca; que se procediam assim não era

por temerem os francezes, embora

armados; mas

(pie,

em maior numero

e

mais

bem

tendo resolvido sacrificarem-se pela patria,

reconheciam agora que o sacrifino de suas vidas lhes não seria tão proveitoso

como

aquelle que iam fazer, abandonando os seus

postos e deixando de mostrar aos inimigos quanto vale

ragem e

a co-

que resolutamenle defendem a sua honra os seus haveres, porque só passando por cima dos mortos

e jà

e o brio dos

bem

dizimados

pelas balas das suas

guiriam assenhorear se

d

espingardas conse-

uma povoação, que

lhes

era mais

cara do que a vida, porque nella tinham os seus lares domes-


— 22 inviolabilidade lhes cumpria defender até ao ultimo

ticos, cuja

impunham mais uma

transe; por isso

e os direitos de todos os cidadãos

condicção: que a moral

fossem respeitados.

Entre as nobres famílias que n aquella epocha habitavam a

um

de Thomar, havia

villa

nome Antonio

cavalheiro por

Elo-

reucio de Abreu, filho do capitão Francisco Affonso de Lima, natural da freguezia de Santa Maria de Sá, termo de Ponte de

Lima e de D. Anua Dorothea Margarida Joaquina de Abreu e Andrade, natural de Thomar, casado com I). Angela Tamagnini d Abreu. natural de Milão (Italia).

correctamente

illuslrada e falia va

a

Era esta dama muito

língua franceza.

Foi ella

escolhida para servir de medianeira e seu marido o portuguez

designado para receber as armas, que lhe haviam de entregar aquelles bravos patriotas. Partiu pois ella para o

campo

inimi-

onde chegou ainda a tempo, porque as forças extrangeiras já se dispunham para o ataque: ali deu conta da sua mensagem ao general francez, que acceitou todas as condições ou go,

porque desconhecendo as receasse entrar estas a

sua

em

apresentadas

forças

com que

por

uma

dama, que

nobre

lhe foliava

lingua, a sua gentileza e o seu cavalheirismo

permitliram a sua casa

uma

recusa.

não lhes

Entretanto os populares tinham ido

depôr as armas, como haviam combinado. Era esta

casa na rua da Capella, que da capella da o nome; ainda

existe e pertence a

sua descendente; está n e a atlesiar este facto, lá

tinha de bater se

lucla ou talvez e antes porque sendo-lhes

ella inslallada

que tanto

mesma

uma

a escola

nobilita o

casa deriva

pessoa de familia,

Jacome

líalton

povo thomarense.

estão as grades das varandas todas feitas de

canos de es-

pingardas. E’

um

padrão que está

ali,

decerto ignorado de muitos,

mas

que deve ser conservado como memória d um facto notável. Apoz aquelle pacto os francezes entraram pacificamente na villa,

onde os seus

habitantes,

embora

briosos c corlezes os receberam mais

como

inimigos.

contrariados,

sempre

como hospedes do que


— 23 — Deu

se n’esta occasião

outro facto, que

de mencionar-se. A’ entrada da taos

morava

um

villa,

cavalheiro, Francisco

distincto e proprietário abastado, de

também

é digno

ao fundo da rua dos Es

Nunes Pinheiro, medico

quem também

ainda ha

il-

lustres descendentes, tinha a sua adega cheia de vinho; receioso

de que os francezes entrassem

sem era

distúrbios,

em

rio e a

mandou

n’ella e,

embriagando

se, praticas-

abrir ostonneis e entornar o vinho, que

tanta quantidade que, diz-se, chegou a correr para o empoçar na rua, onde alguns soldados francezes o be-

beram de bruços

e, irritados

a casa e praticar

outros desatinos, ao

seu commandante

obstou,

por este

facto,

quizeram assaltar

que, honra lhe seja, o

em cumprimento

da palavra,

tinha dado de não serem maltratados os thomarenses.

que



0

lilO

HIO que banha mar,

refresca

a

formosa cidade de Tho-

e

fertilisa,

que

enriquece, tem hoje o

que

e anima,

a embellesa

<|ue

a

fecunda c

a

nome de Nabão,

não o teve sempre; Naba parece ter sido o

nome que

lhe

davam

povos que

os

primeiro

habitaram as suas margens,

Naba de

Juncosa, diz

Soledade,

lhe

a

chamavam

Chronica os

da

antigos.

Naba ou Naben é termo muito antigo, e seria por elle designado este rio por

ser muito abundante

da

a

em

peixe, porque ao termo

Naba

idéa de peixe; tanto que serviu para designar

está liga-

um

direito

de pescado, que pagavam os pescadores nos portos alheios, que

um peixe por cada barco; era antiquíssimo este direito com o nome de Nabnlo, alatinisação de Naben, consta da doação que em D. Ordonhon fez ao bispo resignatario de Coimbra; na carta era

em que

fez conde de Vianna de Caminha o capiMenezes 1460 (?) se diz: e lhe jazemos merdo nosso direito de Nabão e Maia testa que os barcos de fóra

D. Affonso v

tão D. Duarte de cê

pagam guando veem pescar

aos

mares

e rio d'esla villa.

Por


— 20 — como o termo Naba

aqui se vè

segundo

em

Nabão.

á

tempo

sua terminação

a

até se transformar

não é destituída de fundamento

l'or isso

de que o nome primitivo do

dessem

mudando

foi

da linguagem do

a indole

a

esquerda o nome de Urbis Nabce (cidade de Naba Naba).

opinião

Naba e que os romanos cidade que edificaram ou ampliaram na sua margem rio fosse

O que

mais adeante

se confirma por fallare.nos,

lia

pouco

doce,

rio

qual

encontrada nas ruinas da

chamaram-lhe Tamarara,

antiga cidade. Mais tarde os arabes

que quer dizer agua

ou do

uma medalha de cobre da

não porque as suas

aguas fossem

mas sim agradaveis ao paladar, que depois se converteu em Thomar, nome que os portuguezes deram á villa, que edificaram na sua margem direita e ao rio ficaram chamando Nabão, derivação da antiga palavra Naba. Nasce este rio no sopé da serra dWlvaiazere, tem o nome sacharinas,

de ribeira de Formigaes até esta povoação, traz até

Thomar por

ali

muito

nenhuma chega

pouca agua durante o verão e d esta quasi

a

empregada na rega dos terrenos marginaes;

ser

uma abundante nascenem borbotões d entre rochas, proximo ao pen um sitio chamado fonte do Agroal; é d ali

logo abaixo do lugar de Formigaes ha te,

que se eleva

nedo da Aguia,

por deante que este curso d’agua toma o nome de esta fonte a sua verdadeira origem, e tanto

rio;

é pois

que ao pé da dita um marco de

nascente existia e não sabemos se existe ainda

pedra com

a

inviolável

em que

posta

na origem do rio mostrava a lodos

ali

cruz dos Templários symbolo do seu dominio, sello

pessoa alguma

clusivamente d’elles; d

avolumando com

ali

ousaria tocar; aquella

por deante

a

de outras nascentes e com

a

beiros e regatos que a elle affluem e corre

apertada garganta d’alcanlilados montes até

da Pedreira, que

lica

ao norte da cidade; da serra

ali

dWlvaiazere,

ora descendo

em

na

margem

estes

cruz

que este era exagua d este rio vae se a

de vários

ri-

rapida por entre a

abaixo do lugar

direita a cinco

kilometros

montes pedregosos, que partem

começam

a

desviar se para o poente,

escarpadas rampas

ora subindo

em

ingre-


— 27 mes

passam por Valle dos Ovos, Fun-

e escabrosas ladeiras,

galvaz, Furadouro, Catraia e Porto de Moz, elevando-se

adeante para

formarem

seira

a

mais

também conhecida

d Ayre,

por serra de Minde, que limita para o poente o liorisonte dos pontos mais elevados d’estes

base é

a calcile,

apresenta nas visinhanças do logar da Pedrei-

com granullação

ra o calcareo oolitico

magnifica cantaria que

d’ali

que

alvura

mármores que são dos Montes começa

S.

em

perfeita, e

ali

dos Ovos

a

dar maior largura ás margens do

em

ferieis

entrando outra vez as suas aguas no vão

em

campinas

até

sitio

Zezere, proximo

rio

que novada cidade,

de Matrena

em

es-

rapida corrente por entre penhascos

e galgando por sobre rochas até irem confundir-se rio

bellos

Este desvio

cerca de 8 kilometros ao sul

estreitam

treito canal e ahi

Valle

explorados por companhias.

que se vão transformando mente se

em

Simão óptima pedra de tanto para argamassas como para caiar,

se fabrica,

ali

por ser d 'uma

d onde se estrahe

tina,

se exporta para esta cidade e para

diversos pontos; logo adiante cal

Esta cadeia de rochas cuja

sitios.

á villa

com

as do

de Constança.

de muitos centos de hectares a area dos terrenos marginaes d este rio. assentam em plano quasi horisonlal e estão E'

dispostos

uma ubérrima

para a irrigação; são d

prestam-se

a

fertilidade e

todas as culturas, sendo notável o sabor delicio-

so das fructas e hortaliças que produzem.

O

rio é a

alma da

cidade, embelleza a e enriquece-a e enriquece ainda

uma gran-

de parle do concelho;

elle

quotidiano, que

a

milhares de

grangeam nas

famílias dá

o pão

que serve de motor; o seu valor sobe a muitos milhares de contos de réis, para o fabricas a

calcular bastaria conhecer a quantos mil cavallos-vapor corres-

ponde

a

sua

força motriz hoje

em

acção e aquella

que ainda

se poderá aproveitar; conhecido o valor da força motriz cavallo vapor na unidade de tempo,

de

a

ficil,

dum

tomando para essa unida-

hora e sabidas as horas de trabalho o que não era feita

a

multiplicação encontraríamos

certo nos havia de surprehender.

um numero que

Alem do seu

valor

dif-

de

como mo-


— 28 — lemos ainda » accrescentar o quanto pode valer corno

tor

dos terrenos regando-os,

tiiisador

fornece a agua

para as

força da sua corrente, põe

que

a

mas

regas,

feitas

mas

trabalham

as rodas hydraulicas

um

tas;

pouco ás rodas

differem (Tellas por serem muito

em

eanaes

que, pela

de madeira, são de grande

diâmetro, de raios e pás, assemelham-se Ponsellet,

mesmo

é elle

em movimento

elevam; estas rodas,

fer-

notável, não

coisa

e,

lambem

menos

perfei-

construídos de madeira,

poucos ha de alvenaria; os alcatruzes são de zinco ou de barro approximadamenle da capacidade de cinco

sobre ta e

a face

em

posterior das pás, dois

proximo de seus

outro á esquerda

arcos de madeira

em numero

litros,

assenlam

um

cada uma,

á direi-

bordos e ligam-se

de tres que cingem toda

cumferencia da roda, embutem se e

a

a cir-

pregam-se nas pás paia

manterem numa posição lixa. ao mesmo tempo que seguram os alcatruzes; os eixos são de madeira de carvalho e movem-se sobre chumaceiras de pinho; hoje com o fim de dimias

nuir o altricto, ha

muitas

em que

assentam sobre as chumaceiras são de deira; a

agua que

do eixo que

as extremidades

embutido na ma-

ferro,

dos taboleiros onde despejam os alca-

salta

truzes cae sobre os eixos e lubrificando-os favorece o altricto

com que

e faz

se não

gastem tão depressa;

agua entra nos

a

eanaes elevada por meio de açudes formados no alveo do

com

desmancham-se em outubro; a

de uivei

a diíTereuça

montante dos açudes não costuma exceder

construcção d estas rodas e eanaes dá lugar

de força pelos

resaltos, fugas

grande peso, porém

volume d agua

lham

é tal,

noite e dia

muitos hectolitros dois

homens

E’

a

d agua,

a

agua d

uma

d estas rodas:

grandes perdas altricto e

inconvenientes o

quasi todas

tirando

por hora

só roda.

sempre muito aprazível no verão o

qualquer

jusante e

algumas vezes andam

d agua e tanta que

com

e

nas maiores estiagens, que traba-

com bastante velocidade

regar

a

a

metro. A

demasiado

apesar de todos estes

mesmo

um

rio

em maio

estacas, rama de pinho e areia, construem-se

local

onde trabalha

abrigadas pOr

virentes


— 29 — chorões ou copados amieiros, alravez de cujas frondes

mente penetram o dente calor d

raios solares, gosa-se

uma sombra amena

ali

dilTicil-

nas horas de ar-

e refrigerante pela continua

evaporação, que se dá na agua, que escorre das pás quando se

elevam e da que resalta dos laboleiros cahindo gotlas crystalinas,

como

em innumeras

chuva de pérolas brilhantes; e a em-

bellezar ainda mais este quadro vêem-se muitas tejar

vezes a vol-

no ar umas como nuvens

rutilantes, são os raios solares

com uma

certa inclinação sohre aquellas

que, quando incidem gottas

d’agua, se

refractam ao atravessal-as

cada raio luminoso nas sete cores do arco

As aguas d este

rio

cal

íris.

não são potáveis; pela

d elias íizemos verificámos que conteem

carbonato e sulfato de

decompondo-se

em

analyse que

elevada proporção

alem de muitas matérias organicas;

também analysamos as aguas da Fonte Quente, que kilometro ao norte da cidade, na

margem

direita

fica

do

a

rio e

um na


— 30 — base de

um

trámos

n’ella

do

o que nos faz crer que a agua d’aquella fonte

rio,

talude da estrada, que

vae para o Prado, encon-

exactamente os mesmos elementos que na agua rochas acima do

delle penetrando pelas fendas das

Pedreira e vindo emergir n’aquelle ponto; ainda as aguas d’este

rio

acima da

foz

provem logar da

analysamos

não

da Povoa,

da ribeira

mas suppomos que ella ahi deve conter menos sulphato de cal ou talvez nenhum, porque é nas margens d esta ribeira que se encontram jazigos de gesso;

que

fica a

noroeste do

proximo ao logar dos Calvinos,

logar do Pintado, existe

em abundan-

pedra de gesso, mineral da familia dos sulpherinos, syst

cia a

de

monoclinico;

veiu

algum n’outros tempos que

rado pela deshydratação

em

d’a!i

se

n’esta cidade depois de prepa-

extrahiu e do qual se fez uso

fornos;

porém o dono do prédio

d’onde era extraindo, ou porque lhe não pagassem ou porque

não quizesse ver

sua propriedade deteriorada pela escavação,

a

mandou-a entulhar

e plantar

uma nogueira no

tirava aquelle mineral; e para

baixo d

gum

uma camada de

terra,

ali

sitio

que apenas poderá produzir

milho ou cevada, aquella

em

alguns pontos, ao plantar vinha ou abrir covas

para plantar tanchões, se tem dras de alabastro, variedade do

se

mesmo

pe-

mineral compacto trans-

onde se mettiam os perfumes que nas cerimonia fúnebres

aspergiam sobre os cadaveres e de que hoje se fabricam

objectos de

ha

também encontiado algumas

marmoreo, de que antigamente se faziam va-

lúcido e de aspecto sos,

al-

bem exNa mesma

fonte de riqueza que,

plorada, poderia fazer a fortuna d algumas famílias. localidade

d onde se

ficou até hoje escondida de-

quem

muito valor; tudo

o explore. Se

isto se

somos pobres

porque não

despreza, é porque

somos

inacti-

vos ou tão ignorantes que não sabemos approveitar as riquezas

do nosso paiz. Antigamente, como já dissémos, o

guém

se podia aproveitar d'elle

servia de azeite,

motor

a

rio era

sem sua

moinhos de fazer

dos frades, nin-

auctorisação; apenas

farinha e a

lagares de

que quasi todos lhes pertenciam e os que não eram ex-


— 31 — piorados por sua conta

pagavam-lhe renda; o

mesmo

aconte-

com todos os outros cursos d’agua, que havia nos seus domínios, como a ribeira da Louzã ou de S. Pedro e a ribeira de Bezelga e ainda com pequenos regatos que só d inverno cia

tinham agua que podesse servir de motor; no ribeiro de Porto de Mendo, que tem sua origem na Fonte da Longra, elles

um

lagar d azeite no sitio de Valle de Boucos; no

ro de Serzedo, que passa proxirno a

moinho de

Cem

tinham Ilibei

Soldos, tinham

um

chamado das Suzanas, etc. Não era eram também senhores do ar; um pombal para trazer os pombos soltos

fazer farinha

só a agua que lhes pertencia,

quem

quizesse ter

tinha que lhes pedir licença;

moinhos de

vento não

os havia

no concelho de Thomar, porque os não consentiam, tinham o

monopolio do fabrico da farinha e do

azeite,

margem

do concelho de Torres Novas, na

por isso na raia

direita

da ribeira

de Bezelga ainda hoje se vêem muitos moinhos de vento para

onde iam os habitantes d este concelho mandar moer o seu grão, porque a maquia nos moinhos dos frades era maior do que n’aquelles. Em taes condições achavam-se completamente inutilisados para o povo

fazer farinha, outros já se arruinaram,

aquelles dois

poderosíssimos agentes,

principalmente a agua

cuja força motriz aplicada ás industrias constituo hoje a principal riqueza d este concelho.

N aquellas epochas os cofres do estado enchiam-se com o ouro que lhes vinha das terras conquistadas e essas enormes riquezas, que

podiam ser perduráveis

e productivas aplicadas

ao desenvolvimento da agricultura e ás industrias

eram em

geral mal baratadas,

como

podesse durar sempre, como se

nacionaes,

se aquella vida aventureira

uma

nação

pequena sem re

cursos internos podesse sustentar por muito tempo vastos do-

mínios na África,

Asia e America; se

uma

outra

orientação

tivessem tomado n 'aquelles tempos os nossos dirigentes, Portugal estaria

hoje

prospero e

feliz

e não seria o ludibrio das

outras nações, vexado sempre por dividas

poderá solver e

a

enormes que nunca

nossa população rural vergando ao peso de


— 32 — desmedidos por

falta

mal podendo

tributos,

agricultar as suas

de meios pecuniários, do que resulta

um

terras

déficit

ua

producção de cereaes, que temos de importar do estrangeiro, pagos

que não temos, por

a ouro,

ã sabida

isso

o custo e o agiu dão logar

de grandes capitaes que, se continuassem em circulação

no reino iriam successivamente melhorando as suas condições econômicas e

commum,

financeiras.

Mas não; não

se

bem

attendia ao

eram outras as idéas daquelle tempo, nunca fomos

nem

previdentes

que melhor

práticos, por isso outras nações,

teem sabido governar-se, prosperaram

e

progrediram ao passo

permanente.

uma grandeza ephemera, cahimos em uma miséria O clero e a nobreza ligados por uma só idea,

embebidos n

um

que nós, de

só pensamento, riqueza e gloria, foram, prin-

cipalmente o primeiro,

a

causa da nossa mina. O

rio era

com avultadissimas

frades; senhores de vastos domínios

das não necessitavam construir fabricas, ensaiar industrias, isso cabia na sua

não o permittiam dispor para

tal

nem

emprehendimento, porque os dizimos, os

va acumular capitaes;

fabrica de

grandecer

a

fui

a

com que

fiação d algodão e isto,

que achou o

nem

local

inglezes de quem, clusivo do algodão;

com

o celebre Marquez de

aqui se construísse

note-se, não

para beneficiar o povo d

apropriado e

oita-

pagar-lhes não lhes deixa-

em 1788 que

idea de fazer

a terra

nem povo

este tinha os meios de que necessitava

vos as jugadas que era obrigado

hunbal teve

cavalleiros, ao

qualidade de nobres

dos ren-

com o

fim de

uma

para en-

foi

elia,

foi

por-

prejudicar os

razão, não gostava, tirando-lhes o ex-

se pediu

não o sabemos,, mas não era

ou não auctorisação

homem

aos frades

quem podessem fazer em Portugal Jacome Italtofl, celebre industrial franeez, a quem o Marquez pediu fizesse por sua conta aquella fabrica, com auctorisação e applauso do governo c em nome da Itainha; começou a edifical-a n aquelle mesmo anuo dando-lhe rápido impulso; o governo a

estorvo os seus privilégios. Achava-se então

porém esqueceu-se das promessas que

lhe havia feito

de

lhe

prestar auxilio; e tendo liatton gasto já avultadas quantias asso-


— 33 — com Tliimotco Lecusson Verdier, continuando ambos na execução de tão importante obra. Antes porém de começarem os trabalhos de fiação e tendo ambos já gasto mais de

ciou-se

200:000 cruzados, separou se de Verdier, que ficou na posse dc lodo o material. Jacome Hatton naluralisou-se portiiguez, foi sempre muito dedicado á sua palria adopliva, apezar d isso foi

preso e desterrado como jacobino. A fabrica confnuou

laboração administrada

sendo os seus

com prospero

por Verdier

em

resultado,

prnductos muito apreciados e assim

foi

conti-

nuando mais ou menos prosperamente, sendo por fim administrada pelo sr. Domingos Loureiro a lê que por morte d este passou

Em

uma companhia, que

a

1883

reconstruída sob

a

sendo engenheiro o planta

do novo

rnodada aos

um

do

direcção sr.

edifício

sr.

Charles

incêndio, pouco

um

Hargreaves,

apta

depois

foi

Henrique Pereira Taveira,

ao qual deu

seus fins e mais

incêndio; ficando todo de

deu novo impulso.

lhe

destruída por

foi

a

que levantou

nova fórrna

a

mais acom-

perseverar se

de novo

só pavimento, o antigo tinha tres;

[tara os batedores e abridores do algodão conslruin-se uma casa especial isolada, c<»m todas as condições á prova d’incen-

dio, coberta

de aboboda de

columnas de

ferro.

tuído por

uma

ferro e tejolo apoiada

0 systema de

rodas hvdraulicas

em foi

fortes

substi-

turbina da força de 150 cavallos, desmontaram-se

os velhos machinismos, que foram vendidos e substituídos por outros de systema moderno; continuaram d 'aqui por deante

os progressos

d este importantíssimo estabelecimento fabril, novas conslrucções. estabeleceram-se otlicinas de tecidos de panno, meias e camisolas de malha: tem hoje como

fizeram-se

motores duas turbinas e tres

poderosas machinas

a

vapor e

einprega diariamente perto de duas mil pessoas de ambos os sexos.

A

valiosa e importante força

tempos, como

dissemos,

motora deste

rio era ifoutros

apenas ulilisada para fazer

girar

os rodízios de moinhos ou as rodas dos lagares que pertenciam aos frades; depois que se extinguiram as ordens religiosas e


— 34 com

acabaram esses privilégios vaxatorios üe que eram

ellas

senhores com grave a ter

nova e mais

prejuízo do progresso humano,

util

este rio estabeleceu-se a Fabrica de Papel de Porto leiros, era

começou

applicação. Mais proximo da origem de

lambem um moinho de

fazer farinha,

um

estabelecimento modesto e muito

por

um

limitado,

de Caval-

começou por foi comprado

proprietário d esta cidade, sr. Anlonio Joaquim dAraujo,

que depois organisou uma companhia e lhe deu maior incremento; ultimamente senvolvimenlo; tem cavallos e

uma

a

deu-lhe ainda maior de

nova direcção

como motores uma

turbina da força de 100

roda hydraulica da força de 15 e compõe se dos

seguintes machinismos: duas machinas para cortar trapo, caldeira geradora de vapor,

um

uma

uma

lexiviadora cylindrica rotativa,

lavador de trapo, quatro bombas para elevação d agua, 5cy-

liudros de sinzar trapo, quatro de refinar massas,

um

tanque

branqueador de massas ou lavador, doze paia deposites de massas, um para a preparação de chloro húmido e outro para a

preparação da

lexi via,

uma machina para

a fabricação

de pa-

embrulhos systema continuo, duas redondas para a fabricação de papeis almassos e duas bombas para elevação de peis para

massas refinadas, uma prensa para papeis húmidos, duas para

uma machina de pautar systhcma antigo e outra de systema moderno, uma machina do cortar papel e um dymnamo para produzir a illumi-

embalotar papeis, dois massos,

nação

electrica,

que no

uma

calandra

interior da fabrica é feita por

lampadas

de incandescência e no atrio por dois arcos voltaicos. A de

ofiicina

escolha e apartamento de papeis tem cincoenta metros de

comprimento por nove de largura; as duas olficinas de escolha e apartamento de trapo leem approximadamente duzentos e quaranta

metros quadrados cada uma e

a

de dobragem du-

zentos metros; as casas de enxugo leem

uma

melros quadrados approximadamente,

tem lambem regular-

mente montadas as fabrica é servida

olficinas

por

uma

de

area de tres mil

cai pinteria e serralheria.

estrada, que vae

Esta

entroncar na es-

trada de Leiria proximo ao logarde Carregueiros,

foi

feita e

é


conservada

expensas do município,

a

bem como

a

da fabrica do

Prado, porque os seus representantes tiveram e teem sempre

em

vista

proteger as industrias na area da sua administração.

Seguindo

a

de Cavalleiros

corrente do rio encontra se logo abaixo de Porto

do Sobreirinho, não trabalha,

a fabrica

prada pela companhia das Fabricas de Papel do Prado naia muito provavelmente

belecesse

uma

concorrência e

vindo de

fim de evitar que

está perdida aquella

motor

com o

a

um

ali

com-

Maria

-

se esta-

que podesse fazer-lhe

fabrica de papel,

outra

foi

e

queda dagua, que ser-

estabelecimento

fabril

qualquer daria

lucros ao seu proprietário e beneficiaria os povos

nhos proporcionando- lhes trabalho. A seguir

circumvisi

a esta e defronte

do logar da Pedreira, na margem direita do rio está a Fabrica de Papel do Prado. Consta que houve ali antigamente um en gcnho de fazer balas de fazer farinha,

ferro, havia

que pertenciam aos frades e o açude que levava

as aguas para servirem de

lambem por uma

valia

da Granja e porem quinta,

ü

sr.

também uns moinhos de

em

motor aquelles moinhos derivava

para irem regar as terras da sua quinta

um

laboração

Henrique de Uure Pietra estabeleceu

brica de papel que elle proprio administrava,

priedade sua e de seus irmãos,

a

mesma

lagar d azeite da ali

uma. fa-

porque era pro-

qual, pela sua boa adminis-

ração e esclarecida intelligencia, fez progredir e prosperar até

i

em 1875

uma companhia por 140 contos. Esta companhia tem a elevado á catliegoria d uma das primeiras do nosso paiz; tem por motores uma turbina ingleza da força de 120 cavallos, uma franceza da força de 30, uma roda hydraulica de ferro da força de 10, uma machina de vapor da força que

a

vendeu

a

de 130 cavallos e outra da

força de 30.

fizémos da fabrica de Porto de Cavalleiros as machinas e utensílios de que aquelles que nunca visitaram

uma

ella

Na descripção que

enumeramos todas

se compõe, isto para que

fabrica d’esta natureza

fiquem

formando uma idéa do que é uma fabrica de fazer papel, por isso seria fastidioso repelil-o aqui e para poder avaliar a sua importância basta conhecer

a força

motriz de que dispõe e o


-

.30

que produz. A producção diaria dos machinismos de fabricar papel continuo orça, a do n.° I que foi montada ha dois annos, 4:300

por 4:000

a

que

existia

já ali

kilos

kilos,

podendo

ha dez

podendo dar 2:500;

papel ahnasso

em

ali

são mulheres;

em media 300

Em

seguida

a

800

para fazer

mas pode

kilos,

kilos.

pessoas por dia, das quaes 100

das ferias pagas ao

importância

a

cada semana é de 480

a

das 3 machinas é de 0:200

mais; a media diaria

dar

Trabalham

000

folhas, varia entre

n.° 2,

entre 1:800 a 2:000

da machina redonda,

a

do

attingir 3:000; a

annos, regula

500

Fabrica de Fiação e Tecidos

a esta está a

em

pessoal

mil réis. d' Al-

godão, da qual já fallámos.

Ao entrar na cidade o litros

por segundo e

um

rio

tem

um

minimo de 2:012

debito

debito minimo absoluto de 1:870 litros

por segundo. E’ n estes algarismos que se baseou o calculo da

quando se

força hydraulica,

fez a installação

durante o inverno as cheias attingem dez

da luz electrica; vezes e mais

a vinte

ainda o volume normal e as aguas conservam-se vivas até ao verão, epocha

em

que as estiagens e

a

grande quantidade que

se extrahe para as regas as fazem baixar até descer ao alga-

rismo minimo que apresentamos.

O

edifício

talladas as oflicinas da luz electrica fica na

da Levada, no

onde

local

existia

uma

onde se acham

ins-

margem esquerda

azenha;

foi

todo cons-

truido de novo pelos fundamentos que são de beton, as pare-

des

emadeiramento de castanho

d alvenaria, o

telhas de Marselha.

A primeira pedra

com

da peio presidente da camara auctoridades, no

dia

9 de

pacidade acha-se dividida

um

está instaliada

do com

uma

uma

d’este edifício

a assistência

dezembro

em

coberto

de

de 1900.

dillerentes

foi

com

lança-

todas as

A sua

compartimentos,

ca-

em

turbina da força de 100 cavallos giran-

velocidade de 02

voltas por minuto,

debito de 1:870 litros por segundo e

tendo

um

uma queda de a uma arvore de 2"', 25; a

roda da turbina está ligada por engrenagens

transmissão

em

cuja extremidade, entre duas chumaceiras, se

encontra o volante que por meio

duma

correia dá

movimento


dymnamo; estes aparelhos acham se collocados em um segundo compartimento, o principal do edifício, que é uma vasta sala quadrangular, bem illuminada por janellas (|ue se abrem ao

para sobre o passeio que margina a ladrilho

a

Levada e é pavimentado

branco e preto.

O dymnamo

é de systema

friccionadores são de carvão

Grammes muito

aperfeiçoado, os

calcinado, e no caso de

se que-

brarem são immediatamenle substituídos por outros rnetali icos haja interrupção da corrente; tem a força de 40 k. s 8 \Volt. e 1 10 Wolt. as correntes eléctricas que servem á il-

sem que

,

luminação da cidade, dos estabelecimentos e casas particulares vão dar

a

um

quadro de distribuição, onde ha

um

Voltametro,

9 commutadores e 9 interruptores que permittem dividir cidade

em

a

9 zonas para poder accender ou apagar cada zona

Ha

separadamente.

ali

também um segundo quadro

especial

para os arcos voltaicos, que permitte accendel-os, apagai os,

augmentar ou diminuir outro compartimento

HO

a

intensidade dos focos luminosos.

está

cavallos que subtitue o

estiagem.

Ila

ali

uma machina

a

Num

vapor da força de

motor hydraulico nos mezes de maior

lambem uma

oíficina

para reparações e

um

escriptorio para a direcção.

em tres fios e todos dymnamo não tem tido até

A canalisação é aerea, as distribuições os cabos e

fios

são isolados. Este

hoje outra applicação senão a de produzir a luz èlectrica;

rém como todas

as

machinas de indossão de correntes

nuas são reversíveis; se transforma

em

isto é,

conti-

assim como o trabalho mechanico

corrente eleclrica assim por sua vez as cor-

rentes eléctricas se transformam as machinas thermicas

em

trabalho mechanico,

como

transformam o calor em movimento, são

assim estas machinas empregadas para transportar tancia por

po-

meio da electricidade; por

isso aquelle

a força a dis-

dymnamo, que

hoje só serve para produzir luz, pode mais tar«ie servir a pro-

duzir o movimento

dentro da cidade,

com applicação a qualquer industria não só mas ainda fóra d elia, porque por meio da

electricidade a força póde transmittir-se a grandes distancias.


-38 — A

Nabantina posta

em

trabalhando

ca,

em movimento

media

com

uma roda

por

hydrauli-

de 40 cavallos; tem

a força

mós francezas para moer trigo, dois pares de moer milho e um par portuguez para remoer farello, peneiros, joeiradores, limpadores, etc. A esta fabrica estão annexas umas azenhas com quatro pares de mós portuquatro pares de

mós

francezas para

guezas para milho

e dois

para trigo. Dentro da cidade o rio serve d e

ainda

mo

t

um

or

para

bina e

1

a

a tur-

a

b ora-

ção

d’um

lagar d a-

que

zeite, íi

na

c a

m a rg e m esqu erda de

fr

on

te

da fabrica

de moa-

gens em um si o t

chamado Horta

d’El-Rei e consta que este

i

motor vae breve

ter

cinco kilometros ao sul da

ci-

inais larga aplicação industrial.

Seguindo dade está tiu ali

a

corrente do

a fabrica

rio,

de papel denominada de Marianaia; exis-

também um moinho de

esquerda

em um

sitio

margem também um antigo

fazer farinha;

alegre e aprazível;

foi

fica

na

moinho dos frades, pertence hoje á mesma companhia da do Prado, mas é muito menos importante do que aquella; tem por motor uma roda hydraulica e destina-se principalmente ao

fa-

brico de papel almasso e para embrulhos, tem por sobre o rio

uma

ponte de madeira para serviço da

dada construir pela companhia e

mesma

um pequeno

fabrica,

manda-

ramal de estrada


-39 — da Barquinha. Para baixo desta, quatro kilome-

que

a liga ã

tros

aproximadamente

na

margem

do

direita

local.

rio e foi

de Matrena,

fica

construída no local

situada

do antigo

Matrena, depois de ampliado e aterrado

lagar e moinhos de

o referido

adeante do logar de Santa Cita,

e logo

fabrica de papel, a

está ainda outra

Occupa actualmente 6:320 metros quadrados armazéns de pasta e tra-

e compõe-se dos seguintes edifícios: po,

também

onde

está

estabelecida a ofilcina de

escolha do

trapo. Este edifício está separado dos edifícios da fabrica pro-

priamente te á

dita e

apenas ligado

seguem

qual se

dor, tendo por baixo

por

a elles

uma pequena

pon-

casa da machina de cortar trapo e bate-

uma

com

lexiviadora espherica

me-

tres

tros

de diâmetro, casa para branqueadores, casa de cylindros

com

tres desfiadores,

quaes

tres

continua,

onde

a

sendo

um

duplo, e cinco refinadores dos

casa da colla, casa da machina m 47 metros de comprimento e 22 ,5 de largura

teem trabalhado;

com

machina continua está installada

tem

e

parado para outra, quando convenha 3o metros de comprimento

china continua tem

largura e pode

minuto.

uma

a

casa de acabamento onde

calandra de dois metros de largura

bobinadora;

papel,

com

corte

metros por

estão assentes

com dez

rolos,

transversal e diagonal e

d'esta casa passa-se á sala da escolha

seguindo-se a casa da embalagem

prensas para o enfardamento.

A ma-

por dois de

trabalhar alé á velocidade de 72

Segue-se

cortadeira de

espaço pre-

sua installação.

a

onde estão

uma uma

do papel

assentes duas

for cima da sala da escolha e

embalagem estão os armazéns de papel enresmado. A meio dos edifícios da fabrica pouco mais ou menos e em casa separada, está assente a caldeira,

com 100 metros de

aquecimento, que fornece o vapor para fabrica duas turbinas sendo

uma

a

superfície de

seccagem. Possue esta

da força de 200 cavailos, que é o

seu motor principal e outra de 45 cavailos, destinada unicamente a servir de

motor

de serralheria,

á

machina continua.

forja e carpinteria, e

Tem

ainda

uma

ofiicina

do lado norte, separadas da

fabrica, as casas d habitação, parle ainda

em

acabamento.


40

Fallando das nossas fabricas de papel, parece-nos não ser fora de proposito dizer

duas palavras sobre

a

introducção na

Europa d’esta tão importante industria.

O

fabrico do papel é

um

dos inventos que mais contribuiu

para o desenvolvimento das sciencias e das lelbas; é por meio (1’elle

que boje tão facilmente se propagam

os conbecimenlos

e vulgarisam todos

bumanos; não era assim

geral ignorância da edade media

em

foi

antigamente e a

grande parte devida

de meio de escrever; o pnpyrus egypcio e o pergami-

á falta

nho eram então caríssimos. A raridade do pnpyrus e o preço do Charpentier, obrigavam

a restringir

transcripções e nos factos

pergaminho,

o pensamento,

mais indispensáveis.

diz

mesmo

M. nas

Póde ver-se

liolls of fines, que cada sempre comprehendido em uma

no archivo da Torre de Londres nos contracto de venda de terras é

só linha e do século viu ao século x todos os annaes dos Francos são submetidos á

A

mesma

regra.

introducção do papel na Europa teve logar na segunda

metade do século

xi,

segundo

a

opinião dos mais celebres in-

vestigadores, os quaes, assentes sobre este ponto, discordavam a respeito siri,

da origem da sua proveniência até que Miehel Ca-

quando

fez a

da

traducção dos manuscriptos arabes

bliotheca do Escurial, descobriu

a sua

bi-

verdadeira origem.

Desde tempos immemoriaes os Chins fabricavam papei dos casulos do bicho de seda. Ali-ben-Mouhamad diz (pie

ali

se estabeleceu

uma

de Samarcanda

fabrica d’aquelle papel

no anuo

HO da hegyra (meiados do século vn). Os arabes tomaram esta cidade no anno 85 da hegyra (704 da nossa era aproximadamente). Tres

annos depois

707, Youzef-Amroü,

natural de

Mekka introduziu a fabricação do papel na sua terra como na A rabia o algodão é mais abundante do que parece que encontrou meio de

fabricar o papel

de

natal e, a

seda,

algodão.

Os mais antigos papeis introduzidos na Europa no fim do século xi são uns de seda outros de algodão; a denominação de bombycina, que

primeiro se dava ao papel,

comprehendia-os


41

ambos. Casiri encontrou na bibliotheca do Escudai manuscritos em papel de algodão, que datam de 1009, mais de meio que se teem encontrado nas oulias na-

século anteriores aos

ções da Europa; o que prova que foram os arabes os inventores do papel de algodão e que foram elles que o importaram

para a llespanha, estabelecendo

ali

esta importante industria.

Posteriormente inventou-se o papel Suscitaram-se

trapos.

meira nação que para a

ltalia esta'

em

linho,

canhamo e

qual

foi

a pri-

o fabricou; MaíTei e Tiraborchi reivindicaram invenção, Scaliger e Ivleermann para a Alle-

manha; mas os documentos mais escriptos

de

também questões sobre

[tapei d’esta

antigos,

Segundo

é anterior ao século xiv.

que

apresentaram

natureza (linho e canhamo) a opinião

de

nenhum

Hardouin, de

Mabillon e de todos os antiquados o emprego do papel de trapos na Europa, exceplo em llespanha, não é anterior a I2G8.

Em llespanha os documentos que provam o uso d’este papel remontam a um século antes; no numero d elles cita D. Gregorio Mayan um tratado de paz entre AíTonso u de Aragão e AtTonso ix de Castella, conservado nos archivos de Barcelona,

que tem a data de

1

178.

canhamo proveiu dos arabes, que o fabricaram em llespanha, onde estas matérias primas eram

O

papel de linho e de

mais abundantes e mais baratas que o algodão. As primeiras fabricas que ali se estabeleceram foram em Schatiba (Xatiba). a

antiga

em

Saetabis,

canhamo

e

cujos

pos só se começou fouso x, pelo

os arabes ella

que

em em seguida

Valência,

a

hoje se chama S. Filippe; depois campos também abundava o linho e o

na Catalunha.

espalhar

meado do

introduziram

em

O

uso do papel de

tra-

llespanha no tempo de Af

século xm. Eoi pois de llespanha, onde a

industria

passou para as outras nações.

do fabrico do

papel, que



TIIOMR

k VILLA DE

IIANDO em

15 de março de

AíTonso Henriques tomou de nos mouros a

bem

surpreza

fortificada

Santarém, mandando

1147 D. praça de

apunhalar os

vi-

recommendando aos que não poupassem ninguém

gias adormecidos e

assaltantes

para infundir

maior terror,

foi

nesta

arriscada e ardilosa ernpreza auxiliado pelos Templários, a

quem doou

toda a

jurisdição ecclesiastica d’aquella povoação; diz-se seria

que em cumprimento d’um

em cumprimento

houvesse

feito

Já iTaquella

voto,

de promessa, que

mas

talvez antes

anteriormente lhes

para obter o seu auxilio.

epocha o espirito dambição daquelles frades

guerreiros caminhava a par se não precedia o espirito religio so;

mostra-o

bem

a

prolongada demanda que por

nos sustentaram no reino e

em Roma com

bispo de Lisboa, que reclamava para

Era então mestre da ordem

proximidades de Braga e

armado

a

l).

quem

si

muitos an-

ü. Giiherto, primeiro

aquella jurisdição.

Gualdim Baes, natural das D. AlTonso

Henriques tinha

cavalleiro depois da batalha de Ourique. Belas relações


de amisade fieando os

em Santarém

com

questão,

de S.

a egreja

queriam que de todo se

porque não

Tliiago,

os dois terminou esta

que havia entre Templários

apagasse

a

ali

memória do seu dominio e cedendo lhes em compensação AÍTonso Henriques o castello de Ceras e uma larga facha

D.

de

terreno até ao Tejo.

Soure e Pombal a

em

desceram então dali

pertenciam;

já lhes

tomarem posse do seu novo dominio

e

vieram aquartelar-se

Ceras. Aquelle castello já existia do tempo dos romanos,

consta que

mandado

edificar por Julio Cesar,

quando veiu

pompeianos, e que o nome

Lusilania apasiguar os

dado àquelle lugar por

ter

existido

ali

um

Ceras

á foi

templo dedicado

a

Céres, deusa das searas. Baluarte erguido para defeza da via

romana, que ligava Conimbrica, Urbis Nabce e Scalubis e onde apropriado o

local;

de dois montes,

na garganta

via entrava

aquella

estava

era

porém áquelle tempo muito

hem

arrui-

nado.

Ou porque

sária,

ou não olferecesse garantias de segurança ou ainda por

que lhes não agradasse o é que o

vos o certo

sul construir outro na

de onde

foi

a

tivesse a capacidade

o castello não

local;

fossem quaes fossem os moti-

abandonaram

margem

e vieram duas

direita

do

rio

que

lhe

novo castello

antiga Nahaucia (nome por que é mais conheci-

davam

os romanos).

Para

embora não

a edificação

um monte

escolheram os Templários

elevado, de rápido isso

léguas ao

Thomar, defronte

da, por isso a continuaremos a designar por elle, seja o

uma boa

fortaleza.

Dizem alguns historiadores que o logar era ermo, do só da antiga cidade uma egreja e

um

Não podemos crer que assim

embora não

Nahaucia. alguns povoados por ella fosse

destruída

fosse; ali

convento

pelos acabes,

dessas hordas africanas passando como

uma

em

restanruinas.

existisse a

devia haver; suppondo mes-

como em

aíTirma e no que não acreditamos, não era no

bre

do seu

bastante

declive para o nascente e para o sul, por

muito apropriado para

mo que

neces-

a

geral se

embate de uma

tempestade por so-

cidade, que destruiu, que se fixavam

vestígios,

que


— 45 — ainda hoje existem; que no animo do povo se arreigavam cren-

que muitos séculos, que vão passados, ainda de todo não

ças,

extinguiram.

como

Destruída, fosse

nem

tante populosa,

que devia ser bas-

fosse, a cidade,

todos os seus habitantes deviam succumbir

ã catastrophe: muitos

se haviam

d’elles decerto

de salvar e

muito natural é que d entre esses alguns continuassem a persistir ao menos pelas suas immediações; devia prendel-os ali, ao solo

natal, essa força mysteriosa,

elo invisível

se nos

mas

que

n aquella

mos

e

nos attrae;

elle

alma a impressão

na

arreigando

vae

que para

provem de que, desde pequeninos,

tenaz, que

tenra edade

nos

grata de tudo

onde nasce-

rodeia: a casa,

onde recebemos as primeiras impressões do mundo onde balbuciamos as primeiras palavras e onde

exterior,

mãe

recebíamos os

afagos d urna

infantil, a fonte

onde iamos beber, o regato

mos

as arvores

saltando,

monte,

o valle,

outros

tão

a

collina,

insignificantes,

edentificadas

com

depois o viver

carinhosa;

que

transpúnha-

onde iamos colher

os ninhos, o

o pomar, ernfim mil

coisas

para

nós

tão

para

attrahentes,

tão

o nosso ser que a ausência delias chega mui-

tas vezes a produzir,

em organismos mais pode occasionar

ça, a nostalgia, e até

a

sensíveis,

uma doen-

E’ este con-

morte.

junto de impressões gravadas no nosso espirito desde o come-

ço da sua evolução, tão intimamente presas

a elle

ou quasi impossível se torna desvanecel-as, que

em

que

faz

dillicil

com que

nós se desenvolva e arreigue essa nobre alfeição, esse ar-

dente amor, o amor pátrio, que nos prende ao solo onde nas-

cemos

em

e nos

creàmos

e

que tantas vezes

em

sua defesa

ou

seu engrandecimento tem levado ao heroísmo e até ao sa-

crifício.

E’ pois

muito natural e até logico admittir que, apoz

a

des-

truição da Nabancia, alguns dos seus habitantes, dos que po-

derain salvar-se, viessem, nas suas immediações construir no-

vas moradas, não jã saes ou aldeias.

uma

cidade,

mas

tão

sómente alguns ca-


-

46

Passaram por

os

ali

Passaram é certo

arabes.

e muito

também ali estacionassem durante muitos annos; mas os arabes não eram a féra <|ue devora, a tempestade que provável (jue

destroe, o fogo que consome; os arabes

descendentes para com os vencidos,

rem rem

eram

tolerantes e con-

permiltindo-lhes cultiva-

governarem se pelas suas

as suas terras,

leis,

conserva-

as suas instituições, as suas crenças religiosas e o exer-

mesmo

ver se ao lado d’uma eram sim valentes e aguermesquita arabe um templo christão: ridos, sabiam bater-se em lucta encarniçada no campo de ba-

do

cício

talha,

não admirando

culto,

mas, finda esta, o fervor dos ânimos acalmava

vem tempestuosa,

e serenada a tormenta vencedo-

e o christianismo desfazia-se,

em comrnum;

res e vencidos viviam, por assim dizer,

do

até mistura

nu-

se, a

onde fusilavam os raios entre o islamismo

d

haven-

de sangue das duas raças pelos consorcios en-

tre ellas e

mesmo uma

viram no

kalifado de

certa

communhão

d interesses, pois se

Cordova nobres godos exercendo

altos

cargos.

senão certa, ao menos com o máximo

Parece pois, de probabilidade,

grau

naquella epocba de alguns po-

a existência

voados nas circumvisinhanças do

da antiga

local

cidade, de

vendo ser com essa população dispersa, que se formou o primeiro núcleo da villa de Thomar; aquelle povo rnosarabe que por

ali

vivia,

podia

mais natural é attendendo la

epocba, que

não tinham

a

certas garantias;

ser altrahido por á brutalidade

mas

dos costumes daquel-

doçura dos princípios da religião christã ainda

podido corrigir

mesmo

nos que se

diziam seus

verdadeiros proselytos e defensores, que aquella pobre gente fosse violentada a se

ia

ir

levantando para

residir junto aos ali

muros do

que

castello,

prestar sei viços corporaes,

a

que era

forçada. Nem doutra forma se poderá explicar como foi que, começando osTemplarios a fundação do castello em 1160, logo em 1162 désse D. Gualdim Paes um foral aos habitantes da villa;

foi

decerto porque já

importância e que

ia

alli

havia

uma população

de certa

angmentando rapidamente, porque em

1

164


deu outro, onde se mencionavam todos os impostos, que os habitantes eram obrigados a pagar á Ordem. Quando foi lhes

instituída a

Ordem de

saber os direitos que

Chrislo o rei pediu aquelle foral

a

mesma Ordem

para

devia cobrar; os mora-

dores, vergando ao peso de tão enormes e vexatórios tributos,

um

mandaram-lhe

suprimindo

traslado,

as jogadas de

ifelle

pão, vinho, linho, etc., supondo que assim ficariam mais viados, visto

alli-

que por outra forma o uão poderiam conseguir;

assim continuaram pagando todos os impostos menos estes até

sendo mestre da

que,

Ordem

o astuto e ambicioso

0.

Lopo

Novas, que tinha sido dado confirme o de Thomar com a pensão das jugadas, que lhe encobriram e, demandando por ellas os thomarenses, as Dias de Sousa pediu o foral de Torres

obteve por sentença dada

em

Sempre

1407.

dos poderosos e dos déspotas

pesar sobre

a

mão de

a

a cerviz

ferro

do povo,

que trabalha para os enriquecer

A

este primeiro elemento constituilivo da villa

mesmo tempo

veiu logo e quasi ao

portante, o elemento artístico.

obra como era

a edificação

do

de Thomar

juntar se outro muito im-

Para levar a cabo

tão grande

castello, sua capella e

mais ac-

cessorios e a reedificação da egreja de Nossa Senhora da As-

sumpção, decerto

mero

foi

hoje Santa

Maria dos

Olivaes e convento

preciso que os Templários

dartistas, taes como: pedreiros, cabouqueiros, canteiros,

carpinteiros, ferreiros, serralheiros, etc. e d’elles

estabeleceram na

vivendo

com suas

em

aunexo,

chamassem grande nu-

famílias,

villa a

sua

com

certeza muitos

residência e

ali

ficaram

não só por estarem perto das obras

que iam trabalhando, mas porque, sendo esta uma povoaem via de desenvolvimento, mais facilmente

ção nascente e

n

ella

em

encontrariam

trabalho

em

que empregarem se do que

outra qualquer parte.

Assim elementos,

a villa

mas

iam attrahindo;

ia

crescendo

ainda

com

rapidamente não só com estes

outros que os Templários para

convinha-lhes que augmentasse

não só para engrandecimento da

a

ella

população,

Ordem por serem senhores


— 48 — (1’uma giande

villa,

mas

crescendo

ainda porque,

a

população

crescia a necessidade de se arrotearem novos terrenos,

maior incremento

por isso maiores

á agricultura e

dando se

proventos

iam recebendo.

Os seus vastos domínios, que tinham por cente o rio Zczere e ao poente

a ribeira

limites:

ao nas-

de Bezelga, deviam

como já dissemos, alguns d esses povos, a que se nome de mosarabes; eram os godos (pie ficavam sob a

conter,

da-

va o

do-

minação dos arabes; estes impunham-lhes um tributo que eram a pagar; quanto ao mais gosavam de plena liberda-

obrigados

de

civil e

religiosa,

continuavam

regerem-se pelas suas gião; é certo

leis e a

a

cultivar as suas

terias, a

culto da sua reli-

exercerem o

que com o decorrer do tempo foram adquirindo

usos e costumes arabes pela continuada convivência com

elles,

conservando comludo algumas das suas instituições e as suas crenças religiosas. Devendo ser rara esta população, os plários trataram decerto de a

Tem-

augmentar, estabelecendo colo-

mas de diversas graduações: ptos, presos ã gleba,

em

do os terrenos a

homens de creação ou adescrida qual não podiam afastar-se, cultivan-

beneficio de seus senhores, obrigados ainda

prestarem-lhes serviços pessoaes,

e cujos filhos

tinham

çados eram na

a

mesma

mesmo

os mais aviltantes,

sorte dos paes; estes

desgra-

maior parle mosarabes, que nas incursões ou

fossados nos domínios mussulmanos os nossos guerreiros colhiam e traziam para povoarem e cultivarem os seus terrenos;

eram considerados como aminaes de trabalho

e muitos solíriam

os horrores da escravidão; irmãos pela origem e pelas crenças religiosas

eram

assim tratados

vestes traziam estampada

a

por esses déspotas

que nas

cruz de Christo, symbolo da egual-

dade e da misericórdia e no coração o fervor das paixões humanas, na alma a ambição e a vaidade. E para aqui viriam muitos (1’esses

miseráveis

porque não havia cá Santa Cruz.

reduzidos

um homem

S. Theotonio, que,

procedimento e ameaçando-os com

á

mais intima condição,

de Deus,

um bom

prior

exprobaudo-lhes o seu a cólera

de

mau

cekste os obrigasse


— 49 — em liberdade aquelles infelizes, como fez em Coimbra. Aos adescriptos seguiam-se os colonos livres, juniores ou peões e depois os herdadores ou cavelleiros villãos; mas pro-

a pôr

priamente cavalleiros villãos eram os que, sem serem nobres

de linhagem, possuíam armas e

um

comprados

cavallo

custa ou dados pelo senhor da terra; até

em

á sua

alguns foraes se

estatue que, se o cavalleiro villão fallecer, as armas e o cavallo

não sejam restituídos ao senhor, mas passem para os her-

deiros; apesar d’isto

muitas vezes se confundiam

estas duas

entidades; uns e outros possuíam livremente os seus bens, po-

dendo transmitil-os por herança e até por contracto allodial; mas a estes bens tslava sempre vinculado um tributo pecuniário, muitas, vezes acompanhado de prestações agrarias, tributo que era indivisível, embora a propriedade podesse ser dividida; de modo que todos os possuidores respondiam por elle como uma só pessoa moral. (Para maior desenvolvimento veja-se llist. de Port. de A. Herculano donde extraclamos o pouco

que aqui dizemos). Talvez aqui

bem

perto o

povoação, provenha de que

ou herdade obrigado

nome de Cem

uma

Soldos, dado a

fosse n’aquella epocha

ali

um

casal

pensão animal de cem soldos e que os

á

herdeiros do primeiro possuidor, estabelecendo-se n’elle e multiplicando-se,

geralmente

dessem origem ao logar bastante populoso,

chamam

Os herdadores

Sansoldes

e os

adescriptos obrigados

podiam

até

a

a

domínio, las

população

que eram

sistiam na

doação

aldeias, cujos

isso

na

de

a

que

Soldos.

eram como os

á

como homens

villa,

maneira

os Templários,

concessões e talvez

Cem

cavalleiros villãos não

arrendai os, por

sua

vez de

viverem nos prédios que cultivavam,

mais natural que vivessem

gmenlar

em

abastados é

concorrendo assim

a au-

que pelos senhores do se iam fazendo aquel-

também alguns prestamos, que con terrenos,

incluindo

rendimentos no todo ou

prestameiros, que assim se se faziam estas doações, que

chamavam eram

a

em

mesmo

parte

casaes c

recebiam os

os indivíduos a

quem

compensação de serviços


— 50 — prestados ou

a retribuição

de

Os Templários não viviam

um cargo publico militar ou em clausura, mas sim na

civil.

villa,

onde decerto mandaram construir casas para sua residência: os oílicios* divinos

eram celebrados em Santa Maria, o

que construiram dentro

a egreja

castello e

para o

d’elle só lhes servia

caso de cerco. Este uso continuou-se ainda no tempo dos seus successores, os Freires de Christo; quando o Infante D. Hen-

rique

foi

porque

a

governador da

Ordem

com

quiz acabar

por isso ordenou que fossem viver

no castello e celebrassem

em

os oílicios divinos na capella d elle e deixou

mandou

fazer

ao povo, de que era

casas para

um

e

si

que fossem celebrar os ficasse

em communidade;

oílicios

paia os

claustro

com

frades; pois apesar de tudo nunca pôde acabar

vivessem enclausurados

Santa Maria

para servirem

capellães e beneficiados

parochia;

este abuso,

em communidade,

sua profissão os obrigava a viver

elles a

que

apenas conseguiu

na egreja do castello e que esta

sendo convento da Ordem (Monarchia Lusitana).

Valentes e aguerridos na

primeiros

na avançada.

combate, era para

elles

de Josepbat, chamando

eram

Templários

lucta, os

os

O som da tuba, dando o signal de como a trombeta do Archanjo no valle os mortos a juiso; estava

chegada

a

hora de darem conta do seu valor e da sua coragem. Volvena quem em breve mas fervorosa prece, pediam gloria, não para si, mas para Elle, Senhor Deus do Universo; com os acicates cra-

do os olhos ao ceu e elevando o pensamento ao creador,

vados nas ilhargas de seus ardentes corcéis, voavam como nu-

vem tempestuosa

impelida por

medonho

furacão; suas

roupagens fluctuavam como farrapos agitados pela suas lanças refulgiam

como

guerreiros, só se ouvia o arfar daquelles

á

moda

como

a

mudez da morte,

que apavoram. Vencer ou grito

de

cólera,

morrer era

Não

sol-

d outros

peitos valentes de-

baixo dos aruezes que os protegiam; o seu avançar silencioso era

tormenta;

línguas de fogo celeste.

tavam imprecações, não insultavam o inimigo

alvas

rápido e

o silencio do sepulchro, a sua

sem um queixume, porque

divisa,

sem um

d aquellas

al-


— mas nobres, naquella hora solemne, não a fé;

u ol |

brota o odio,

emana

era pela fé que combatiam.

Era terrível

a

sua investida, não se lhes resistia ao emba-

Como em

cerrado bosque o cyclone, que passa na sua vertiginosa carreira, derriba, arranca, despedaça tudo o que encontra, ainda as arvores mais gigantescas, abrindo uma larga te.

estrada, que deixa coberta de destroços, assim elles arremes-

sando-se

contra as densas

largos sulcos,

ordas serracenas, abriam

que deixavam

nellas

juncados da cadaveres e mori-

bundos. A li não havia recuar, e ai daquelle que mostrasse o mais leve indicio de covardia, penas ignominiosas puniriam a sua possilanimidade.

Não, não ha negar-lhes

a

bravura;

mas

a austeridade mouachal, essa não a possuíam. Valentes e destemidos na guerra, o seu gênio fogoso e ardente não lhes per-

eram guerreiros, não eram monges. E seria absurdo admiltir no mesmo ser a existência de duas qualidades heterogeneas, que não se combinam nem se ligam; mittia a vida

claustral;

humildade e submissão do crente, que pelo seu mysticismo se encerra dentro dos muros de um convento, onde, asceta, a

vive de todo isolado do

mundo

exterior,

sem pretensões nem

aspirando ã bemaventurança eterna e a arrogancia impetuosidade do guerreiro, que no campo de batalha arrisca a vida em defesa de um principio ou em cumprimento de brios, só

e

um

dever, aspirando sempre á fama e á gloria.

e guerreiros não o

cabem no mesmo de e

a altivez, a

podiam

sujeito; a

submissão

ser;

são dois predicados

abnegação e o desejo

e a

monges

Não,

gloria, a

que não humilda-

de vencer são qualida-

não se sobrepõem, aquelles homens, assim indivíduo; não coexistem no cuja profissão era combater infiéis e não entoar preces ou candes que

se

em mesmo

destacam

seres diversos;

não trocavam as armaduras pelos cilícios, nem o ruido das batalhas pelo silencio do claustro; por isso no tempo d ocio usufruíam como outros quaesquer os gosos da vida; não se enclausuravam, viviam em liberdade dentro da vdla e ali tar psalmos,

viviam decerto como ricos- homens, que eram, tendo

a

sua co-


— 52 rnitiva

meio

de clientes, servos,

se poderá explicar

da fundação da to

villa,

logo

Só por este

escravos e escravas.

como

foi

em

que tão poucos annos depois

1174, se legislasse já a respei-

de escravos.

dado a Thomar n’aquelle anuo e que no principio do século xiv, lê-se o seguinte:

No

foral

«Se

momo

o Senhor d

d'alguem (eile)

ei

traduzido

foi

cooanha (crime grave) segundo a cooanha, que

for solto e fezer

responda por

el

mão do Mordomo. O Mordomo non filhe mouro d alguém que traga prizon ou moura solta por qualquer cooanha que faça. Mas se o Senhor da terra e o confezer ou o leyche na

(prenda)

selho vir que

couza fez por que deva ser apedrada (apedre-

tal

Se

jada) ou queimada, a pedrena ou queimena.

por que deva ser asoutada, asoutemna

lambem

tada

mouro como

o

a

e

couza fez

tal

depois de ser asou-

moura demnos

a

seu dono.*

Vê-se pois que quatorze annos apenas, depois da fundação,

do

um

castello,

novo

a villa era

foral, já

bastante povoada

porque lhe davam

o terceiro e que n’ella havia escravos e es-

cravas mouros: ora os plebeus não possuíam escravos, de

eram tes e

elles

ia

quem

Evidentemente dos Templários e de paren-

?

amigos que para

vessem ção

então

feito largas

elia

houvessem attrahido

e a

quem hou-

concessões de terrenos e assim a povoa-

crescendo muito rapidamente.

Nas disposições d este

foral vê-se, ainda

que muito obscu-

ramente, como este povo era governado. Havia

que podia prender ou mandar prender; recebia e arrecadava as rendas,

mas com

um mordomo,

Mordomo este

era o que

cargo acumu-

lava muitas vezes outros administrativos ejudiciaes e

se dava o

mesmo nome

Senhor da

terra.

alcaide de

um

ao exactor ou

fiscal

da

lei;

também

havia

um

Senhor da terra era o Mestre da Ordem, mas esta autor idade podia exercel-a por si ou delegal-a em pessoa da sua confiança, que acumulava todas as jurisdições, como o

mo

castello, posto

o Senhor do

havia

lambem um

ali

pelo

rei,

castello e da povoação,

conselho, não se

diz

era considerado co-

que este dominava; formado de quantos


— 53 — membros nem

que classe pertenciam, este conselho

a

nha nas questões

teríamos a esse tempo feito,

um

jã aqui

mas decerto o não

populares eram ainda

município, ainda que imper-

epocha as liberdades

era; n’aquella

municípios,* unica

muito restrictas; os

organisação que póde garantir

a

intervi-

pelo povo

civis e critninaes; se fosse eleito

liberdade

civil

dos povos, crea-

dos pelos romanos, conservados pelos godos com pequenas modilentamente se

pelos arabes, só muito

ficações e respeitados

foram reconstituindo nos primeiros tempos da monarchia por

em que

lugueza, para decahirem na epocha actual, lei

da

centralisação os vae amiudando

nem

povo, que não resiste, ral a

que temos chegado

doem o erro e mos abrindo. Para oppor tava soffrendo,

se indigna;

Que

!

a

absurda

com consentimento do tal

é a decadência

mo-

futuras nos per-

as gerações

nos não amaldiçoem pelo abysmo, que lhes va-

um

dique aos vexames, que continuamente es-

o povo começou primeiro por constituir grê-

mios, baseado no principio

de que

a

união

faz a

força; esses

grêmios, alguns eram muito importantes e gosavam de certas regalias, entre ellas

regerem-se por

tempo havia grande

respeito pela

coisas religiosas.

Só debaixo d’este aprovação

e a

devia reger-se.

esta

Era por

sentimento religioso da epocha, escolhia para

se

patrono

acolhia; a religião

civis

um

próprias.

N’aquelle

acatavam se as

principio o povo poderia

que o governavam,

obter dos déspotas,

uma aggremiação

leis

religião e

consentimento para

dos regulamentos

por onde tomando por base o certo grupo de indivíduos

isso que,

um

santo ou santa, sob

umas

era o pretexto,

o seu principal fim; por isso

em

cuja protecção

certas

garantias

primeiro logar estabele-

ciam obrigações relativas ao culto e veneração do santo ou santa escolhido; depois formulavam umas certas leis pelas quaes toda aquella commtmidade, que tinha o confraria, se havia de reger

aos que entre os seus

d aquella aggremiação.

mesmo

nome de irmandade ou

civilmente,

membros perturbassem

impondo penas a

ordem

social


Nos estatutos da confraria de Santa Maria do Castello (Sanem 1388 eslipula-se

Maria dos Olivaes?) de Thomar, feitos

ta

o seguinte: «Se algum Confrade da ou

em

camisa

que

em

com

a

em

coytello entre trinta

outro Confrade

ferir

em xxx

camisa

com

tangentes

golpes de açoite ou de azorrague).

espa(leve

Aqnelle

seu Confrade der punhada ou lhe messar a barba entre

camisa

em

sinco tangentes. C se o Confrade disser a outro

Confrade— Yillam ou tredor: ou gafo: ou ladrom: ou falso: ou chamará Confrada hevoeyera (meretriz): ou aleivosa: ou ladra: pague sinco soldos á Confraria lie entre em sinco tangentes.» Esta parte dos estatutos, que é

uma

especie de

codigo penal

mostra que os crimes mais graves não estavam na alçada da confraria julgal-os, porque não se refere ao homicídio, roubo,

mas tão somente oífensas leves, praticadas entre os concomo ferimentos, espancamentos e injurias, etc. Ainda assim era já uma regalia, que gosavam os membros d’aquella

etc.,

frades,

associação, porque as penas comminadas nos seus estatutos não eram demasiado violentas n’uma epocha em que os casti-

gos eram quasi todos barbaros e arbitrários, indole benigna ou a

cruel do

seu bello prazer, sem

dos, de

modo que não

do delido e

a

ou

juiz

uma

a

lei

que os impunham

que estivessem subordinaalguma entre a natureza

havia relação

gravidade da pena.

vam determinadas em

juizes,

dependendo da

Mesmo

aquellas que se acha-

alguns foraes diversificavam tanto d

um

logar para outro, que não havia entre eilas termo de paridade;

por exemplo: o crime de homicídio era n’nmas partes punido

em geral tresentos soldos, em enterrar o assassino havia ainda em que o assassi-

apenas com uma multa pecuniária,

em

outras

a

pena era atroz, consistia

vivo debaixo do morto e casos

nato era permittido; faltava

uma

lei

geral por

onde se reges-

se este povo, «pie se achava ainda no primeiro periodo da sua

evolução social. E’ certo que na epocha les estatutos já havia leis

em que

se fizeram aquei-

geraes, porque as primeiras que se

promulgaram foram estabelecidas pelas cortes de 121 acrescentadas por

I).

Alíonso ui e

I).

1

e depois

Diniz. Estas leis,

que se


em harmonia com

podiam dizer rectas

e justas

epoclia, no geral não

eram cumpridas; o

quem nos seus

senhorios continuava

representantes do povo começaram

a

o espirito da

clero e a nobreza era

a dictar a lei:

quando os

ser admittidos

em

cortes,

ferviam ahi as queixas dos abusos e vexames d’aquellas duas

grandes promessas

classes; faziam-se-lhes então

em nome

do

cortes, tudo ficava

como

anteriormente se encontrava. Aggremiando-se para se

fortifi-

rei,

mas,

depois

de dissolvidas as

car contra o poderio dos grandes, lutando

sentimento

dade, esse

cresce quanto mais

sempre

se pretende agrilhoal-o,

poderam

e as fogueiras nunca

pela liber-

medra

universal e inato, que mais

e

que os ergástulos

aniquilar, o povo

ia

lenta,

mas

progressivamente sacudindo o jugo de ferro com que o opri-

miam

os tyrannos.

A classe mais trabalhadora,

que n’aquelles tempos mais

a

prestou á agricultura, desbravando matagaes, rompendo charnecas, arroteando pousios, foi a dos homens de creação ou adescriptos; e era ella também a mais despresivel, a

serviços

mais infima; especie de escravos agrilhoados ao obrigados

a cultivar

tarem-lhes

ardua auferir

solo,

que eram

proveito dos senhores e ainda

corporaes, aquelles

serviços

e miserável;

um

em

a

pres-

homens viviam vida para poderem

cheios de cansaço e fadiga

escasso alimento para

si

e

suas famílias, porque, á

maneira que pelo seu trabalho os terrenos que cultivavam iam augmentando em producção, iam-se-lhes também augmentando os encargos, que tinham miséria, n’elles

ou

pagar; por isso, obrigados pela

a

revoltavam se muitas vezes exerciam, chegando

ofilciaes

do

fisco,

que

mesmo

a

contra a crueldade que

espancar

levavam

lhes

á força

os

mordomos

o que

tanto

suor e fadigas lhes havia custado.

Firmes na crença, que dã a

a

esperança, a esperança que dá

coragem, que anima, que avigora, que

tência nos exforços,

faz

manter

a persis-

nos actos, que conduzem ao fim deseja-

do, aquelles desventurados tanto

fizeram que conseguiram

bertar se: porque de certa epocha

em

li-

deaule esta classe deixa


— 56 — de figurar nos prestamos doações e outros contractos, que se

serem cabaneiros.

faziam; muitos d’elles preferiram decerto o

Cabaneiros eram certos indivíduos que viviam exclusivamente

não possuíam

dos seus salarios,

lambem porque, vivendo escaceiasse n

um

habitavam

bens alguns,

cabanas por não terem com que construir

uma

só do seu trabalho, quando este lhes

mudar para indivíduos parece que não eram

logar mais facilmente poderiam

que estes

outro. E’ verdade

um

considerados como homens, porque, quando se descrevia casal ou herdade, dizia-se:

meio da miséria

N

tem tantos homens e tantos caba-

mas ao menos eram

neiros;

um

é

livres e a liberdade

goso

inefável,

que

villa,

balho menos arduo e ra o

mesmo no

a mitiga e adoça.

que muitos

estas condições de liberdade é provável

fossem viver na

em

casa e talvez

d’elles

onde encontrariam quem lhes désse tramais lucrativo, concorrendo também pa-

augmento da sua população.

Um outro elemento so da

villa

de

muito importante para

Thomar

foi

progres-

a vida e

Quando vieram

o elemento judaico.

estabelecer-se aqui os judeus não o sabemos; talvez conste de

alguns documentos,

mas alem

localidade os elementos

da competência faltam-nos n’esta

necessários para dar

trabalho

a este

o desenvolvimento que o seu assumpto merece; não temos bliothecas

nem

archivos onde

possamos

ir

pouco material não se pode fazer grande obra. elias pelo

seu

saber, pelo seu engenho,

aptidão e pelas suas riquezas. villa,

é provável

tingiram

que viessem

um numero

haviam de habitar;

chamou

vi-

distin-

pela sua

Vieram estabelecer-se n

esta

pouco e pouco e só quando

at-

importante se lhes designasse o local onde a judearia,

servou por muito tempo o se lhe

a

bi-

com

Os judeus

viam sempre extremados das outras classes sociaes e guiam-se d

e

colhel-os

era

nome de

em uma rua

da

rua,

rua Nova e ha pouco se lhe deu o

rua Joaquim Jacinlho, para perpetuar

a

que

Judearia,

con-

depois

nome de

memória do cavalheiro

d’aquelle nome, que n ella ainda habita, medico distincto, cida-

dão benemerito, que durante

a

sua longa

vida

tem

prestado


— 57 — Thomar

aos habitantes de

relevantes serviços.

onde habitavam, tinham os judeus ainda

uma

existe; é

guiar, pavimento

a

N’aquella rua,

sua synagoga, cujo edifício

casa bastante espaçosa de forma recta n-

lageado e abobadas amouriscadas, firmadas

sobre cjuatro grossas columnas de pedra; serve hoje de armazém

de mercadorias e pertence

a

um

commerciante d esta cidade.

Os judeus governavam-se pelos seus proprios costumes, dentro das judearias,

onde tinham as suas synagogas e com-

munas elegiam os seus magistrados; emquanlo

á sua vida intima

estavam isemptos da legislação christã; tinham na capital, que era a judearia de Lisboa, um chefe supremo, o Rabi-Mor de Portugal. Porém se no seu viver intimo gosavam de plena liberdade, não lhes acontecia assim nas suas relações tãos; n estas

eram vexados

gados

a

sahir d elias senão

trazerem

um

os chris-

e humilhados o quanto se pôde ser,

tinham que recolher ás judearias

podiam

com

a

também

horas determinadas e não a

horas

signal distinctivo;

eram

fixas:

pagavam

obri-

tributos so-

bre tributos, não podiam comprar ouro, prata ou moeda sem licença regia; não

podiam

ter creados christãos,

não podiam

com mulheres christãs nem entrarem em casa d’ellas ou receberem-n’as em sua casa ou loja sem estarem presentes homens christãos. Eram em geral odiados pela sua ter

relações

origem e invejados pela sua riqueza; as suas crenças sas que christã,

rém havia entre

elles

médicos, letrados e astrologos, eram

a

meudo

os monarchas os

deviam ser

um

porque eram

ri-

qualidades faziam

cos, perspicazes e astuciosos e todas estas

com que

religio-

abandonavam, extremavam-os da communidade por isso pezavam sobre elles aquellas duras leis, ponão

se subtrahissem a ellas, sendo muitas vezes

primeiros

a infringil-as.

Estabelecidos aqui

poderoso elemento de vida

elles os principaes

Ainda mais outro elemento de vida e por da população era o transito que por aqui se

Santarém para Coimbra

para

a

povoação,

commerciantes e banqueiros. isso fazia

de Lisboa e

A estrada real Gollegã, e, quando as in-

e Porto e vice versa.

vinha de Lisboa por Santarém até á

de augmento


— 58 nundações do Tejo impediam

por

all

o transito, este

fazia-se

por Pernes e Torres Novas, seguindo depois por esta povoaoutra estrada que

ção; havia

á Lama rosa, Payalvo,

ia

Barroca e

ao logar da

Chão de Maçãs, Albergaria a-Velha,

d'alii

Abiul,

Picada dos Corvos, Pombal, Redinba, Condeixa e Coimbra, esta

porém era pouco seguida por ser muito mau caminho, acidenlado, cortado de ribeiras sem pontes e falto de pousada para os viajantes; por esta rasão era por aqui o principal

transito

dos almocreves, que cã negociavam deixando umas mercado-

tinham

rias e levando outras e cá

boas pousadas

para os que vinham enfermos; chegou

ção para os quaes elles concorriam

A

estrada, que

vem do

com

donativos.

uão entrava na

sul

e hospilaes

haver dose na povoa-

a

villa

no

mesmo

ponto onde entra agora; proximo de onde está hoje o padrão de D. Sebastião havia frente d elia

uma

uma

capella, dedicada a S. Gião, e

em

cruz de pedra chamada a cruz nova, do que

não resta vestígio algum; passava por entre costada aos montes pelo

sitio

chamado

ellas e seguia en-

as Carreiras

onde

ain-

da se veem restos da antiga calçada, passava ao pé da Capella

de S.

de S.

Sebastião, seguia pelo local aonde

Francisco, hoje quartel

ao cimo da rua da

havia dois hospitaes, á

um

dos Sete Montes;

de

S.

na

villa

Fria,

que

logo á entrada

entrada da rua do Pé da Costa, destinados aos

havia mais tres li

Convento

Braz no topo da rua e outro

peregrinos pobres e doentes e ainda na

a

entrar

Graça á bocca do valle de Biba

assim se chamava ao valle

de S. Paulo

está o

militar e vinha

mesma

rua da Graça

hospitaes, tão grande era o transito

que por

se fazia.

A estrada

mandada

real,

fazer por

passando pelas Caldas, Alcobaça e Leiria, L).

Maria

o que muito se resentiu a

i,

villa

attrahia por

ali

o transito, com

de Thomar.

Para o engrandecimento e progresso da

villa

deviam con-

lambem em grande parte as ameudadas visitas dos fidalgos e dos reis com as suas numerosas comitivas, motivadas pelas relações que com os frades mantinham; chegando correr


-

59

mesmo um

cios

nossos monarchas, D. Duarte, a mandar cons

truir n’ella

um

palacio para sua aposentação; era no

proximo ao

sul da villa,

se dava o

tem hoje

nome de

extremo

áquelles palacios ou paços

Kstaos, delle derivou a denominação,

onde

a rua,

como

rio e

ou talvez

existiu

que

que deu começo.

a

Com

os elementos que temos ennumerado e ainda com que decerto escaparam á nossa investigação, a villa pouco tempo cresceu em população e importância, impor-

outros,

em

tância que lhe provinha dos frades;

perante os reis e perante o povo.

eram elles quem a possuia A luz refulgente com que

brilhava a gloria e o poderio d’aquelles homens,

por uns, temidos por outros, era como

um

raios

creadores

incidindo

dizer,

emanação

sua, a faziam crescer e

mente;

respeitados

sol vivificador cujos

na povoação, que

assim

era, por

medrar tão rapidamedrar, não como medra e cresce o roble

crescer e

em

magestoso, nascido

fértil colina,

em

pande livremente, bracejando

que se desenvolve e ex-

mas anmimosa planta nascida e creada á sombra de copada arvore, que com as suas folhas lhe intercepta a luz e com as raizes, como mais forte, lhe vae roubando tes

como vegeta

a seiva,

que

todas as direcções,

e cresce

mimosa

havia de nutrir; por isso

a

fraca e estiolada,

A’ maneira

sem

que

vigor,

a villa e

sem energia as aldeias

vigor

emancipar-se

da pesada tutella

vamente, seguindo

a

ir

em

iam crescendo

pulação e grandeza iam tarnbem tentando cada vez

condições civicas d’este povo deviam

mas

e bella,

própria.

po-

com mais

de seus senhores.

As

melhorando successi-

marcha natural da evolução

social,

tantas

vezes entravada pelo despotismo dos grandes e principalmente aqui sobodominio d esses frades fidalgos, assoberbados pelas enormes riquezas, que possuíam e pela preponderância que

exerciam eile

em

vencendo

todo o reino; aquellas a

pouco

e pouco,

resistências

porém

ia

as

não sem grandes diffículdades,

impellido pelo sentimento da liberdade, sentimento que posto

em

acção muitas vezes tem levado ao heroísmo.

Sobre

a

nobreza e até certo ponto sobre o clero o

rei linha


— 60 acção de chefe supremo da magistratura judicial e de chefe militar do paiz. O Mestre do Templo representava de Logara

Tenente do Hei to

de certo

em

todas as terras da Ordem; era- lhe portan-

modo subordinado, senão de

menos de

ao

facto

direito.

Dos vexames que os nobres e o clero exerciam sobre o povo recorria este muitas vezes para a auctoridade real, que

em

alguns casos

çava mais

um

modo

intervinha a seu favor e d este

passo no caminho da liberdade.

A

lucta cons-

tante e tenaz entre o povo opprimido e os grandes,

pressorcs, deu-se havia de dar

povo

ir

em

também

avan-

seus op-

todo o paiz, porisso necessariamente se aqui,

alcançando algumas

conseguindo por meio

d’ella este

liberdades e garantias, até

que,

não podendo de todo emancipar-se da tutella dos frades, que até eram senhores de agua e vento, conseguiu usofruir certas regalias, constituindo se

em

município ou concelho.

Durante o periodo, que decorreu entre

dem dos Templários em 1312 e a Christo em 1311». a administração

a

exlincção da Or-

instituição

da

dos bens dos

Ordem de Templários

passou para o estado, apezar da cobiça do Papa, que lhes queria chamar seus; durante este interregno o povo de Thotnar devia respirar mais livremente e é provável que obtivesse do

que era benevolo e generoso, mais amplas regaa dominação fradesca. Organisado em município em uma epocha, cuja data não Diniz,

rei D. lias,

que não havia podido obter durante

podemos

precisar, pelas rasões

vo constituía

uma

entidade

que já apresentámos, este poque podia assim em collecti-

civil,

social, oppor maior resistência ás arbitrariedades e desmezurada ambição dos que antes eram seus senhores ab-

vidade

solutos; já podia

queixar-se das violências, que sobre

exercessem e reclamar

onde

as questões

justiça,

porque

deviam ser debatidas

appello para outro tribunal superior; citadas entre os frades e o povo

linha

um

elle se

tribunal,

e julgadas e ainda

em

com

varias questões sus-

da villa, vê-se que este encontrava sempre acérrimos e leaes defensores dos seus direitos


— e prerogativas nos

membros da camara

tíl

municipal, que o re-

presentavam; aquellas questões tinham quasi sempre por ohjecto os

tributos

sempre as

coisas

que os frades tinham pelo lado que

a

cobrar,

lhes parecia mais

encarando favoravel,

modo a receberem o mais possível; coisa que muito se parece com o que nos faz agora a fazenda nacional, mas decerto bem peior ainda. Nos archivos da camara municipal existe um de

d’esses processos, que é muito curioso.

Os primeiros passos do concelho, segundo todas as probaporque não conhecemos documento que o mostre, foram num pequeno largo, que fica hoje ao fundo da rua da

bilidades,

Levada, rua que talvez então ainda não existisse, porque

rua

a

dos Moinhos, que lhe corre parallela pelo lado do poente, está pelo seu

nome indicando

moinhos dos

ter sido por

frades, parte dos

quaes

primitivo; o transito dos almocreves,

ella

o caminho para os

ainda existe

que se

no estado

fazia pela

rua da

Graça, parece, seguia por aquella, porque nella havia, ao fun-

do da rua da Judearia, entre esta e rua da Palmeira)

um

a

rua de Maria Dona (hoje

hospital, o de Santa Maria a Velha, desti-

nado aos peregrinos pobres

e doentes;

estes

hospitaes ou

albergues só se estabebeciam nas ruas de maior transito, por

somos levados a crer que a rua da Levada não existia Quando se construiram os moinhos e se fez o açude para elevar as aguas que lhe servem de motor e a alguns isso

primitivamente.

dos lagares que ainda hoje

ali

se

vêm,

fez-se pelo lado

do

rio

uma muralha para segurar a agua no nivel que devia ter e, como para o lado poente ella não podia fugir por ser o terreno mais elevado, é natural, mesmo até por economia, que por aquelle lado se lhe não íizesse resguardo algum, correndo ella

naturalmente por sobre o terreno e espraiando-se onde encontrasse depressões, até

ir

bater d encontro ás paredes ou

de quintaes das casas, cuja frente era para

sendo impossível por

ali

a

muros

rua dos Moinhos,

o transito.

Mais tarde, provavelmente quando D. Manuel ficar a ponte, canalisou-se aquella

mandou

reedi-

agua, conduzindo-a por

uma


(

—m— com

levada só

um muro

obra ficar entre

sultando d esta

dar passagem,

para lhe

a largura suííicienle

fazendo-se para esse fim

pelo lado da povoação; re-

ella e

as

rua dos

casas da

Moinhos espaço para edificação de novos prédios e uma rua a ponte.

mandou

elle

que

espaçosa e bonita,

bastante

Graça com dos fiades,

Foi

lambem

direclamente

liga

a rua

construir os lagares que lhe pertenciam junto aos

um que

outro que tem na

ainda conserva o

nome de Lagar

parede da frente, por cima da

d’El Hei e

porta a es-

phera armilar, o que indica ser pertença sua: se construía gares de

com

um

fabricar

porque por aqui possuia

azeite é

oliveiras, e tanto os possuia

certo

da

que

talvez por esta occasião

numero d alqueires d

que

la-

prédios

mandou dar aos

frades

anuo da sua

tulha,

azeite cada

como indemnisação das oliveiras que lhes mandou arrancar na Varzea Grande; na margem esquerda do rio ha uma horta com a

denominação de Horta de

n

um

pequeno

largo,

El-ltei.

que ainda

ali

Era ao fundo d’esta rua,

existe, que,

como dissemos,

deviam estar os paços do concelho; o que somos levados porque 11’aquelle local ha casas, pertencentes á

um

camara municipal, que 0 tem trazido

rasão alguma que faça suppor

rado e não ha ali

desde remotas eras

a

que

mandasse construir aquellas casas para qualquer

crer

prédio de

a

afo-

camara

fim,

nem

é provável que lhe fossem dadas ou legadas por alguém; portanto 0 mais racional, á falta de [trova lir

que quando este povo se organisou

tantes da a

villa ali

mandaram

em em

contrario, é admit-

município, os habi-

edificar aquella casa

ou que alguém

cedeu ao município para nella se estabelecerem os paços do

concelho; ha ainda mais

des ou

villas

séde na praça ainda

uma

rasão, é que

em

todas as cida-

os paços do concelho tinham, por uso antigo, sua publica e esta era ao fundo da

rua da Graça;

conhecemos restos do antigo pelourinho. O largo que

ainda hoje se apresenta ao

fim d'aquella

rua devia n'aquella

epocha ser muito maior; talvez

não existisse 0 quarteirão de casas que hoje está ao fundo da rua de Pedro Dias, rua que então não tinha 0

nome que agora

tem,

porque se chamou


— 03 — primeiro rua do Calça Perra, depois

que ultimamente

ali

ma

do Almoxarife; e por-

residiu Pero Gonçalves Dias, que

foi

por

muitos annos provedor da Santa Casa da Misericórdia, em sua memória, por ser pessoa muito estimada de todos, se lhe deu o nome que hoje tem; ora não existindo aquelle quarteirão,

como

é provável, o largo

espaçoso e ao

também

que constituía

a

praça era muito mais

mesmo tempo que era praça, parece que devia

uma especie de rocio publico, porque se estendia sul, sem que actualmenle possamos determinar-

ser

muito para o

A rua da Graça era a ultima da villa para aquelNo tombo do hospital de Nossa Senhora da Graça lê-se o seguinte: «Tombo que o mesmo hospital tinha mandado falhe os limites. le lado.

zer por D. João ella

passava

a

ui.

Esta rua servia de ser face da

villa e

por

estrada publica, que vinha desde a estiada, que

começa em

a ermida de S. Gião pelo pé dos montes, por onde ainda está uma calçada antiga, que vem até á egreja de S.

Sebastião, vindo a dita estrada até á bocca do Fria e d'ahi descia por esta

valle

rua abaixo e por ser

de

Itiba-

estrada de

continua passagem de gente, algumas pessoas piedosas se

viam mais

a

deixarem

n‘ella casas e

hospital e agasalharem peregrinos pobres e enfermos,

outras partes da pitaes, salvo este

todos reunidos»,

villa

mo-

roupas para servirem de

que nas

e por esta rasão havia n’esta quatro hos-

de Santa Maria da

Graça,

a

que ora estão

etc.

Se a rua da Graça formava a face da villa. é porque para alem delia não havia outra e com certeza não havia, porque quando o rei D. Duarte mandou construir os seus bazares, cujas arcarias ainda

ali

se observam,

com

o fim de arrendal-os

aos judeus, que eram então os principaes mercadores, decerto

não obra;

mandava arrasar casas particulares paia fel-a

no terreno publico; estas

fazer

aquella

arcadas estão dispostas

duas linhas parallelase tão distanciadas, que deixam entre uma rua muito espaçosa, que é hoje a rua dos Arcos, logo

em si

aquelle largo estendia-se até onde é agora o largo ria e d

alii

da Saboa-

para deante, não sabemos até onde. N’aquelie lar-


mesmo

go lambem o

rei D.

Duarte mandou edificar o seu pa-

ou estaos, como então se

lacio

para o lado do

talvez

rio,

no

lhe

chamava;

local hoje

provavelmente

occupado pelas Terce-

nas e Cubos, prédio que pertenceu aos frades, provavelmente

legado por

elle

ou odado por algum dos seus successores;

fizeram elles celleiro e adega para recolherem parte dos

mos, que recebiam.

também

Tercenas

se dava este

nome

das do estado ou dos

eram

á

a

uma

públicos,

mas

casa onde se recolhiam as ren-

senhores das terras, que antigamente

pela maior parte pagas

cubos dada

eram armazéns

ali

dízi-

em

generos;

a

denominação de

parte d’aquelle prédio parece derivar de

ali

medirem os dizimos e oitavos (até havia quintos) que se pagavam aos frades por medidas de capacidade para solidos e líquidos, que então eram o alqueire e o ahnude, a que genericamente chamavam cubos; ainda hoje muitos homens do campo quando nas eiras se traia de medir os cereaes, empregam se

o termo cubar

em

vez de medir.

Ve-se pois que o largo onde existiram os primeiros paços

do concelho

com

fazia parte

da praça publica, o que está d’accordo

os usos e costumes d’aquelles tempos, porque

as praças

correspondiam ao fórum dos romanos e serviam paia

sembléas populares; era

ali

as suas reclamações perante os

Havia n aquelle largo

as as-

que o povo se reunia para fazer

uma

membros do concelho fonte,

municipal.

cuja agua corria por

um

tubo de ferro, ficava abaixo do uivei do solo e descia-se para ella

por alguns degraus de pedra; era

rões,

assombreada por cho-

mas pouco ou quasi nenhum uso se fazia d 'ella por ser como também pouco limpo era o termo com

bastante immunda,

que o povo aqui;

a

designava; por isso

não podemos apresental-o

um

synonimo d’aquelle que no

somente diremos que

é

campo de Waterloo, em um momento de sublime desespero, á intimação « rendei-vos, bravos francezes» Cambrone atirou á cara dos inglezes, porque

não tinha outros projecteis, que podes-

se arremessar-lhes.

Não podemos recordar

este incidente da celebre batalha de


65

um

Waterloo sem que nos sintamos arrebatados por to de

n

admiração e respeito peio

um campo

ganhas

em

de batalha

sentimen-

lieroe, que, ao

ver sumirem-se

grandeza

da sua patria,

a gloria e a

tantas outras, quiz

morrer comella.

ali

E’ n’aquella

hora solemne que o espirito, prestes a desprender-se das suas

com o mundo momentos para

vezes esses

aproveita muitas

relações

physico.

curtos

transmittir aos que n’elle

continuam

habitar ideas ou pensamentos, que, parece, estão

ção com

um

outro

tinha concebido

quegar,

ser

Não são raras

admiram. Por

mas na

modo de

isso n 'aqnella

que anteriormente

e á

em

hora da morte

a

rela-

nunca

inspirações

exclamação tão simples e vul-

occasião tão significativa e elevada, não estava o

sentido usual e baixo da palavra, estava dioso e sublime: a futilidade, o

nenhum

um

pensamento gran-

valor das glorias

mun-

danas, expresso n’aquelle termo, que significa a parle excrementicia da matéria organisada, servir ao

organismo,

um

dejecto,

que de nada pode

que o expulsou; estava

a

ultima

mani-

ephemeros

e uma alma nobre, que fugazes gosos d uma victoria fortuita no mundo material, para se livrar d'elle, que não é compatível com o elevado de seus sentimentos, que não podem tolerar a humilhação da patria

foge ante os

festação de

vencida; porisso

prefere quebrar

os laços

que

matéria e voar livre ás regiões ethereas, onde

egnaldade, a justiça e Aqnella fonte

a

Pax

paz eterna.

desappareceu

d’aii

a

prendem á

deve reinar a

sem/jcr do Evangelho.

já ha

a unos,

quando se

ligaram as estradas de Payalvo e Barquinha com a do Pintado; esta obra embellezou e melhorou muito a povoação. A rua da Graça, quando deixou de ser

a principal via

de transito, cahiu

como que em abandono; conhecemol-a ainda coberta de malveiras e silvas como um matagal inculto, onde pastavam porcos onde se lançavam cães e gatos mortos. Por ella abaixo corria um rego d agua, que vinha do valle dos Sete Montes, a antiga Uiba-fria e aqnella agua formava nas deprese burros e para

sões do terreno charcos cobertos de limos que, aos primeiros calores da primavera entravam

em

eííervescencia, decomposi-


-

GO

ção pútrida. Tão pouco se curava da hygiene publica

uma povoação que

tinha fama de doentia lubres. Mais tarde

aquella agua canalisou-se para

tante e a parte media da rua

!

Por isso

hoje é das mais sa-

ponto dis-

mac-a-damisada na

foi

largura

das estradas districtaes; plantaram lhe duas linhas d arvores,

uma de

cada lado e os espaços comprehendidos entre as

letas da

prédios

estrada e os

bonitas da cidade. Por esta

mesma

occasião a rua da Levada,

cujo pavimento era baixo e mal calçado, a-clamisado também,

uma das mais

Hoje esta rua é

largos, foram todos calçados.

vai-

que são bastante

marginaes,

levantada e mac-

foi

em memória do engenheiro que

e,

diri-

chamando rua Everard. mudada daquelle local para o que

giu estes trabalhos, ficou-se

A praça

publica

occupa pelo Hei

je

foi 1).

Manuel, que

mandou

ali

bo-

edificar os ac-

tuaes paços do concelho, para o que foram demolidos uns ca-

sebres que

existiam e pertenciam ao hospital de Nossa Se-

nhora da Graça, por cuja expropriação a

pagar áquella confraria mil

foi

lambem

onde

edificado o templo de

uma pequena

existia

este templo não

symetrica lá

a

foi

a

camara

ficou

obrigada

annuaes. Por esta occasião

no

S. João Baptista

com

capella

mesma

a

local,

invocação;

completamente acabado, porque, para do lado do

sua frente, devia ter outra torre

deixaram espaço para

este rei

réis

também, como

ella,

mas nunca

a

fizeram.

dissemos, reedificar

os dois bairros e deu novo foral á

villa,

a

ficar sul;

Mandou

ponte que

o qual ainda

liga

existe

nos archivos da camara municipal; deve-lhe pois Thomar uns certos benefícios.

Em

1510

instituiu

a

confraria da Misericórdia annexando-

lhe todas as outras confrarias de beneficencia,

tiam; taes

como

St.

a

que então exis-

Cruz, Anjo, Gafaria e o hospital de Nossa

Senhora da Graça, que

ficou

sendo

a

séde, e mais os escassos

rendimentos dos outros hospilaos, ou antes albergues, porque

mais serviam para pernoitarem os mendigos do que para les se

tratarem os doentes;

da rua da Graça, logo

á

taes

como

entrada da

villa

n'el-

o de S. Braz, ao cimo

para

quem

vinha pela


cujas casas foram para esse fim deixadas

estrada de Lisboa,

em

testamento por Constança Amies e que depois

radas por 190 réis annnaes e

sendo

feita

em 20

a

um

Costa

afoelle,

escriptura no carlorio do escrivão Gaspar Garro

O mesmo

de abril de 1561.

de S. Paulo, que ficava proximo

fóra e

foram

frangão ou dez réis por

aconteceu

a este,

com

o hospital

para o lado do Pé da

em uma casa que ainda lá existe, com uma escada por uma varanda, a qual foi também aforada em 15(>1 a Simão

Duarte, pedreiro, e passou depois para

Nuno Pessoa de Ara-

gão pelo foro animal de cem réis e como estas todas as outras que serviam de hospilaes ou albergues, como o da rua dos Moinhos ao fundo da

ma

Santa Maria-a-Velha,

etc.

dimentos era o hospital se dava

a

da Judearia

onde era o hospital de

De todos o que tinha melhores rendos Gafos, nome generico que então

todos que soíTriam de doenças cutaneas, taes

como

elephantesias, psoriases, ictiose, lepra, sarna, etc., era situa-

da onde é hoje a quinta de Santo André;

lhiam os enfermos, era

ouvir missa; a

quinta,

mesma

a

casa onde se reco-

que hoje é casa da quinta e

Santo André era destinada aos doentes irem

a capella de

e

a

ali

pertencia-lhe aquella quinta, o casal do Barreiro

que

de Antonio Joaquim d Araújo: todos estes

foi

prédios foram depois aforados pela confraria ou irmandade da

Santa Casa da Misericórdia.

tempo se allendia um pouco á hygiene ou era que causavam á vista ou o asqueroso do

Já n’aquelle

talvez a repugnância

contacto dos infelizes, atacados d’aquellas doenças, então mais

frequentes do que hoje, pelas péssimas condições a gente pobre,

que

fazia

em

com que os coliocassem

voação. E’ certo que o hospital

ali

se achava

um

que

vivia

fora da po-

em boas

condições

com boa Alem dos rendimentos do hospital os doentes eram soccorridos com muitas esmolas em dinheiro bygienicas" por estar

exposição e

bem

isolado,

n

ponto

ventilado.

e roupas que lhes deixavam os almocreves

savam

e d’elles se

Feita aquella

elevado,

que por

ali

pas-

compadeciam.

annexação

a

confraria da Misericórdia

ficou


— 08 apenas com o rendimento animal de I20$000 quatro capellães,

fraria tinha

com

sico,

um

Esta con-

réis.

tangedor dorgão e

um

phy-

o ordenado animal de trinta alqueires de trigo; este

membros

linha por obrigação tratar os doentes do hospital, os

da confraria, os pobres da terra e os presos da cadeia. confraria alem

de ler

seu cargo os doentes

a

Esta

tinha ainda o

hospital dos expostos e os processos dos presos pobres; alem d isto soccorria

com esmolas de

dinheiro e vestuário diversas

Como

pessoas necessitadas, assim honradas como meclumicas.

os seus escassos rendimentos não chegavam para satisfazer todos

estes

encargos,

necessidade

na

via-se

a

de mendigar

esmolas, com as quaes muitos concorriam da melhor vontade para aquella instituição de beneficencia, que progressivamente ia

melhorando com alguns donativos ou legados de pessoas

piedosas e sempre

bem

administrada pelo provedor c irmãos

da mesa.

Em

154 ~2, sendo D.

1‘rior

da

Ordem de Chi isto frei Antomão d aquella admi-

lho de Lisboa, avaro e orgulhoso, lançou

nistração e não la

ousaram oppor-se-lhe os representantes

d aqel-

irmandade, por ser pessoa muito poderosa e valiosa nisle

reino.

A' opulência da

Ordem

quiz ainda juntar mais aquella

exigua parcella, tornando-se senhor absoluto do que pertencia,

sem o miniino

instituído

independente e

respeito para livre e

com

o

rei,

que antes do

que

rei

lhe a

não

havia

tinha sido

seu antecessor no mestrado da Ordem; substituído depois por

menos avaro, mais justo menos orgulhoso, reconhecendo a iniquidade do seu antecessor, fez entrar a mesa da irmandade na administração d elia; porém não conforme a havia instituído D. Manuel, mas para D. Frei Damião, este mais sensato e

e

mostrar o seu predomínio impoz-lhe physicos para o hospital e

um

livro

a

obrigação de terem dois

para lançarem

a receita e

despeza e fundos da confraria sendo depois elevado aquella dignidade

usurpou o por

si

I).

Frei Clemente, que só no

direito

nome

o era, novamenle

que aquella irmandade linha de se governar

própria e ordenou

que os dois physicos tratassem

só-


mente os doentes do

hospital e a

cultativo lhe pagasse á sua custa,

irmandade se precisasse

quando estava

a

les tratarem todos os confrades, resultando d’esta

dade morrerem muitas falta

pessoas á mingua de

cargo

fa-

d'el-

arbitrarie-

soccorros por

de meios pecuniários; recusou-se também

a

sustentar o

quando eram os frades quem mais conaugmentar o numero, segundo ainda hoje é

hospital dos expostos,

corria para lhe

tradicção vulgar e recusou-se ainda a promover o andamento

dos processos dos presos pobres;

tal

era a caridade

d’este e

outros representantes do crucificado

Amiudadas vezes do alto d’aquelle sumptuoso palacio, que chamar assim do que convento de frades,

antes se lhe deve

desciam sobre o povo de Thomar os vexames, as aíTrontas, as iniquidades; e

explendoroso no meio

no viver

da enorme

abastança d’aquelles ricos e orgulhosos frades não podiam ser

ouvidos os queixumes e os lamentos dos que soffriam os horrores da

miséria, a que

muitas vezes davam

causa as suas

desmedida ambição e o seu despotismo. epocha rei de Portugal o fanatico e fradesco D.

injustiças, a sua

Era n’esta João

ui,

as reclamações sobre os abusos praticados pelos fra-

des decerto não seriam attendidos por

mantiveram-se pois

elle;

as coisas n'este deplorável estado até que, reinando D. Sebastião,

mais justo e mais energico, talvez na occasião

teve

em Thomar,

denado

que se

por

em que

provisão de 0 de julho de 1503

restituísse á

irmandade

foi

es-

or-

administração do

a

hospital, confrarias, rendas e mais proventos

com

todos os pre-

que d 'antes gosava e sem dependencia alguma do mestrado da Ordem de Christo. Só por este

vilegios, regalias e isenções

meio poderam

sempre Este

ter fim os

abusos d aquella

Ordem

tão altiva e

tão perniciosa á liberdade e intereses do povo. rei

beneficiou

muito

a

instituição da

Misericórdia,

que ainda hoje constam dos alvarás, que se acham archivados no seu cartorio. Desde aquella epocha foi ella sempre prosperando, não só porque concedendo-lhe privilégios e regalias,

continuou ao abrigo da protecção regia

e,

por

isso, fóra

das


garras dos mostres da ordem, mas porque muitas pessoas ca-

vendo n’aquella protecção uma garantia de serem pre-

ridosas,

enchidos os

que era

fins a

lho faziam largos donativos ia

augmentando o seu

destinada aquella pia

de que

rendimento, já não recoiosos

aquelles rendimentos, unicamente destinados

a

um

fossem desviados delle para irem saciai

nitário,

instituição,

ou lhe legavam bens, com os quaes

1

huma-

tim

a cubica

de

ambiciosos e avaros.

O

não era o que

hospital antigo

onde está

é hoje, a parte

do

edifício

cosinha e as enfermarias dos homens não existia,

a

entrada era pelo alpendre, que tem junto á capei la, este alpendre servia como que de casa de espera é para n’òlle se

a

abrigarem do calor ou da chuva os que

em

sidade;

seguida

havia

a elle

dava ingresso para o claustro; arrecadação,

com uma pôr do

uma

uma ali

em

baixo casas para

vasta lareira, onde todas as noites d inverno, logo ao

sol.

se accendia

lume para se aquecerem os pobres e

condição;

em cima

enfermeiro e enfermeira e outras fermarias

janellu,

havia

casa para pernoitarem os mendigos e outra

as qmles de baixa

d’ellas.

d’isso tivessem neces-

especie de corredor, que

uma

homens

para

onde é hoje que

deita

para os doentes d

a

a capella inór

e duas en-

mulheres;

e outra para

da

egreja.

em uma uma

ainda

que

servia

ouvirem missa, parece que esta era

fermaria das mulheres, os lado do nascente

aposentos do

casa da arrecadação, existe

para ali

havia os

accommodações

havia

homens ouviam

uma

a

a en-

para o

do còro;

pateo murado,

especie de

servia de cemiterio pai a n elle se enterrarem os doentes, falleciam no hospital: este pateo é hoje

um

que serve de recreio aos convalescentes; passava

uma

Nova Pequena

rua,

pelo lado do

chamou rua do Coronheiro;

deixou de pertencer ao transito publico e licio

quintal ajardinado,

norte

que hoje não existe e que se chamava

e depois se

que que

foi

rua

esta rua

annexada ao

edi-

do hospital.

Em

1602 falleceu o dr. Manuel Nunes da Costa,

Pedro Nunes da Costa, fidalgo da casa de

S.

filho

de

Magestade, cavai-


leiro

Ordem de

da

71

Christo e abastado proprietário, o qual

gou áquelle estabelecimento pio

a

le-

maior parte dos seus bens

eram que d’elles se fez um tombo á parte, que ainda boje existe, impondo porém a condição de se fazer um hospital novo junto áquelle, o qual foi começado a 7 de marco de e tantos

1072, que é a parte do edifício onde boje estão as enfermarias

dos homens e

a

cosinha. Por cima da porta principal do edi-

licio em uma pedra triangular está gravado um letreiro, que commemora a data do começo daquella obra e o nome de quem ordenou se fizesse, e na casa do despacho está pintado a oleo um quadro com o retrato do pae daquelle bemfeitor,

que

ma

ali

se collocou por não poder obter-se o do filho; na

casa encontram-se ainda

tos a oleo

mais alguns

de

em

mes-

grandes quadros outros retra-

bemfeitores,

como

o de D.

Maria

Ezequiel do Quental e o de Manuel da Silva Magalhães.

Km

15 de março de 1800, mais

bição dos grandes veiu deitai'

uma

vez

am-

a insaciável

as garras ás migalhas

de que

se nutriam os desvalidos; uni decreto publicado n aquella data

mandava encorporar na corôa todos os bens possuídos sem licença regia; o despotismo a exercer-se na

tenção dos que

vontade e na

naturalmenle teem o direito de dispor

mente do que é seu; d este barbam decreto resultou que intenção de tantas pessoas caridosas, que

gados

feitos áquella

Santa Casa, linha

com

boa

a

donativos e

por fim

desventurados, ficasse sem effeito algum.

in-

livre-

le-

soccorrer os

Tal injustiça revol-

tou os ânimos e tão baixa ella era, tão vergonhosa aos olhos

de todos, que não houve remedio senão reparai

do da

a; a

20 d

abril

mesmo anuo novo decreto revogou o primeiro, foi publicauma provisão, pela qual se lhe fazia mercê de todos aquel-

les bens, livres

dos encargos com que haviam sido doados.

A administração

d’aquelle estabelecimento continuou

mais ou menos regularidade, conforme o genio e

a

com

capacidade

dos seus administradores até que, por desleixo d alguns aquelle hospital,

que pelos seus rendimentos se podia manter

boas condições de limpeza

e asseio e

em

proporcionar aos doentes


que

se recolhiam, os meios convenientes para o tratamento

ali

numa

das suas doenças, transformou-se, por assim dizer,

immunda

po-

impregnado de vermes parasitas, cheio de ascorosas immundieies; tão grande horror inspirava que os doentes pobres preferiam morrer á mingua de soccorcilga

e repugnante;

ros médicos a irem tratar-se

seu estado de doença,

onde os levavam e que para te

ali,

iam finar-se os que, pelo

não tinham consciência do logar para

eram transportados unicamen-

ali

para se lhes fazer o enterro pela Misericórdia. Foi n’esta conjunctura,

em

1853, que

collocou na administração d’aquella casa

desta terra,

Manuel da

mão da Providencia

a

um benemerito, filho homem prestante,

Silva Magalhães,

honrado, energico, activo e laborioso, que introduziu tantes reformas;

queimar

e até

mandou proceder

utensílios

á

ali

impor-

limpeza de todas as casas

que só o fogo poderia purificar das

immundieies que os impregnavam; d’então para cá começou afiluir

bom

a

ao hospital maior numero de enfermos pelo conforto e

tratamento que

Este hospital

com

ali

encontram.

as boas administrações, que ultimamente

tem melhorado consideravelmente; está longe de ser mas está em boas condições de asseio;

tem

tido,

um

hospital modelo;

as suas enfermarias são amplas e

parte que diz

doentes.

ventiladas e não faltam

tem já se teem

respeito á cirurgia

de instrumentos cirúrgicos e importantes.

bem

dietas e medicamentos, de

aos doentes as

O

ali

qne carecem.

arsenal rasoavel

feito

operações muito

seu movimento annual regula entre 400

No anuo economico de 1900

homens 308, mulheres

a 1901

foi

153; sahiram curados:

centagem d ohilos pequeníssima, attendendo ali

entram vão

em

a

a

500

o seguinte

:

homens 268,

mulheres 128; falleceram 24 homens e 15 mulheres. doentes, que para

Na

um

Uma

per-

que, muitos dos

estado muito adean-

tado de doença e outros são velhos cacheticos e incuráveis. Esta

assento

villa tinha

em

o

titulo

de Notável

còrtes no quarto banco e

de cidade por

L>.

Maria u

em

1811.

Villa

foi

de Thomar, tinha

elevada á cathegoria




DAS FERIU Kl !8

ahindo de Thomar pela estrada da Barquinha, lugo ao terminarem os renques

que n’uma

d 'arvores,

orlam

estrada,

esta

em

padrão de pedra

Lourenço

margem

ornamentações e é ornatos

(.)

uma

um

forma de pyramide

quadrangular muito aguçada; adeante vê-se

extensão

certa

encontra-se

um

[íouco

dedicada

capella,

a

e ao nascente desta, junto

também edra, de forma cilíndrica chamado on lo; está assente sobre uma base com sobre-monlado por um capitel também com tio rio.

outro padrão

primeiro, pela inscripção que apresenta, vê-se

que

nem

ins-

segundo

se refere a Ü. Sebastião; o

não tem data

cripção alguma; os seus ornatos parece indicarem que pertence á epocha da renascença,

Manuel ou n’elle

talvez

ames ao de

esculpido o escudo

tem por fim commemorar

com

a hoste de

I).

provavelmente ao reinado de

d’armas a

l).

D. João m, pelo facto de se achar

em

direcção

obliqua, que

micção das tropas de j

Nuno Alvares

Pereira, que

ali

D. João

i

se reuniram

para marcharem para Aljubai rota dar batalha aos castelhanos.


— 70 — em

Aqui a tradicção está ricos,

como vamos mostrar com

Nuno

feitos de I).

Alvares Pereira

com

julgou-se

os factos histó-

o que extractamos da ,

por

morte de D. Fernando o

«1*01'

com

frei

throno

ao

direito

sua mulher D. Beatriz,

e

de

rei

do fallecido

filha

Castella, D. João

i

portuguez por herança de rei

de

Portugal; D.

que se havia divorciado de seu mao nobre fidalgo João Lourenço da Cunha, para casar com

Leonor

Telles, a devassa,

D. Fernando e que agora entretinha relações pouco

o conde Àndeiro, apoiava

a

causa do

regencia do reino;

licitas

de Castella,

rei

mulher depravada, sanguinaria

esta

Vida

Domingos Teixeira,

ordem de Santo Agostinho:

religioso da

rido,

perfeito accordo

e ambiciosa,

com

porque

aspirava á

maior parte dos fidalgos portuguezes de

a

certa raça degenerada e pervertida e nos quaes, talvez, tivesse

grande influencia o ouro de Hespanha, collocaram-se

porem o povo, que

é a alma da

nação, onde mais

que se

nobre sentimento,

se encontra esse

seu lado;

a

arreigado

amor

diz

pátrio,

revoltou-se tendo á sua frente o filho bastardo de D. Pedro

i,

com

a

D. João, mestre

mão apunhalou

sua própria fugiu para

d’Aviz; este

Alemquer

e o

entrou no paiacio

real e

o conde Andeiro; U. Leonor Telles

povo de Lisboa, todo,

levantou voz

pelo príncipe, aclamando-o defensor do reino.

Quando o

em

Portugal

rei

com

de Castella soube o que se passava

um

grande exercito e

onde se achava o mestre d’Aviz quaiito D.

oppondo

Nuno Alvares

Pereira,

forte resistência aos

foi

á frente

pôr cerco

a

entrou Lisboa,

dos populares, em-

que estava no

castelhanos e

ali

Alemlejo,

lhes

ganhou

famosa batalha de Atoleiros; Lisboa resistiu com valentia

guns

assaltos e principiava já a sentir

quando o castelhano levantou o cerco

os horrores

e fez

uma

ia

a

a al-

da fome

retirada ver-

gonhosa, retrocedendo para Hespanha. Não tardou porem muito

que voltasse com mais poderoso exercito, que dividiu partes:

uma.

a principal

pelo Alemtejo e já voltava

a

outra

em duas

commandada pelo proprio rei entrou fez uma incursão na Beira e quando

carregada de despojos

foi

complclamente derrotada


junto

a

Trancoso pelos valentes porluguczes

da Cunha,

Vasques

.Marlim

Gonçalo Coutinho e João Fernandes Pacheco. derrota, o rei de Caslella

saber d esta

menle para

ali

com

Ao

dirigiu-se immediata-

todas as suas forças, levando tudo a ferro

e a fogo, incendiavam os seus as povoações por

onde passavam, as cearas e até mesmo as egrejas; matavam os que encontravam inermes, não attendendo a sexo nem a edade e a

mãos

outros decepavam as

por toda

a

e cortavam as lianas, difundindo

parte o susto e o terror; passaram perto de Coim-

bra, que não atacaram, derivaram para

velho e Figueira da Foz. descendo d e devastando tudo quanto

Aveiro,

Montemor

Som e,

para

ali

o-

assolando

iam encontrando.

Nesta conjuntura achava-se em Abranteso mestre dAviz, i, que jã linha sido acclamado rei nas cortes de Coim-

0. João

chegavam

meudo, trazidas pelos

bra;

ali

cias

das desgraças que iam succedendo nos logares por onde

a

0

passava o terrível exercito invasor.

fugitivos, as noti-

Condestavel

Alvares Pereira eslava no Alemtejo a fim de

Nuno

l).

tolher por

ali

a

entrada aos castelhanos; mandou-o El-rei chamar a toda apressa;

não se

da com

a

esperar, partiu de Fxtremoz

fez

sua

hoste,

approximadamente; xou para

a

que

compunha de

se

duasleguasde

traz os seus para

em marcha

que

distancia

dois-mil

força-

homens

deAbrantes

descançassem, pois

muito fatigados da marcha rapida e do peso das armas e

com o

rei,

trinta lanças

seguiu

a toda a

pressa

a

dei-

vinham

encontrar-se

elle

com

que o esperava na outra margem do Tejo; depois de se cum-

primentarem

e

abraçarem seguiram ambos para o palacio

real,

onde se reuniram em conselho os prineipaes cabos de guerra. N este conselho discutiu- se acaloradamenle se se havia ou não dar batalha aos castelhanos, optando o Condestavel por que quanto antes lhes fossem ao encontro para os impedir de

entrarem

em

Cisboa;

porém

maior

a

emulação do que por convicção, allegando varias razões: que tos era

a

parte, talvez

foram de opinião

mais por contraria,

desproporção dos dois exerci

-

enorme; que se não devia expor os poucos soldados.


que tinham,

não haveria

se os perdessem,

porque,

onde

ir

buscar outros; que melhor seria marcharem sobre Sevilha, para

chamarem para ali a attenção do inimigo, etc. Não satisfeito com aquellas rasões o Condestavel retirou de tarde para o seu acampamento e, reunindo os seus cabos de guerra, propozIhes marcharem para Thomar, o que da melhor vontade foi acceite por todos.

Algumas horas antes do amanhecei do

dia seguinte puze-

-

ram-se

a

caminho muito cautelosamente, para não serem preque estavam

sentidos dos vigias,

do

a

um

certo espaço e quan-

de opposição dos outros, mandou fazer

já livre

aos seus

nem de alguns

nos muros

que andavam pelo campo; percorrido resolução

em que

estava de

ir

telhanos; tanta confiança n elle depositavam e cia

sobre elles que

nem um

alto e

expoz

accommelter os castal

império exer-

só se oppoz e todos aqnelles

lie-

roes da melhor vontade se oITereceram a sacrificar as vidas

em

defesa da patria.

Logo ao amanhecer deu-se pela sua falta eram aííeiçoados apressaram-se a dar conta

e os

que lhe não do que

El-rei

a

havia succedido, alcunhando o facto de desobediencia,

do até que obediência

elle era

um

rei,

superior e persuadindo

a

dizen-

nem

pois não professava sujeição

mesmo

o

rei

de

prendesse, porque era escandaloso o seu procedimento.

que o

O

rei,

que o conhecia bem e sabia apreciar as suas nobres qualidamandai o chamar por João AíTonso de Santa-

des, limitou-se a

rém, fidalgo muito distincto. Partiu este alcançai o a

vava. respondeu:

recer culpa

toda a pressa e

«que, o ausentar-se não era

em quem,

para servir melhor

de estimar se

a

preciosa do que

va

a

caminho de Thomar; ouvido o recado que fugindo ao ocio,

a patria,

ia

com inimigos dentro

podia pa-

os perigos

porque sempre tivera por indigna

opinião dos que julgavam a vida;

nem

buscar

foi

lhe le-

que,

a El-rei

a

honra por menos

advertisse que se acha-

e fóra, que se acautelasse dos de casa,

que os mais perigosos eram os que

trazia a seu lado,

estranhos se não receiasse, porque

elle só

com

que dos

aquelles pou-


— 79 — cos, que o seguiam, bastaria a defendel-o;

que lhe não pedira porque temera com justa causa que a inveja dos que no conselho dissuadiam a batalha lhe quizesse roubar a gloria de ir dal-a; que pedia a elle João Affonso quilicença para retirar-se

zesse fazer

com

que o deixasse

El-rei

levar aquelle

adeante, porque se, acabando no conflicto não victoria,

pouca

ajudassem

falta faria

no campo, onde ficavam tantos que o

com

á defesa

intento

conseguisse a

o conselho e

Affonso voltou a Abranles

informar o

a

com rei

as armas».

João

do que passara com

o Condestavel, declarando-lhe que pelo desassombro que mostrava

bem

deixava ver que não mudaria de opinião.

receando perder as esperanças no futuro com

El rei

d’aquelle general, pedia,

mandou com

toda a urgência

a falta

que o caso

Fernando Alvares de Almeida, veador de sua fazenda,

fidalgo muito auctorisado, venerável pela pessoa, pelos annos

e pelo cargo,

que da sua parte dissesse ao Condestavel: «que e pedia como amigo que ou retrocedes-

mandava como senhor

se ou fizesse alto no logar,

em

que se achasse.»

Ao mensa-

(1’esle segundo recado respondeu o Condestavel: «que o maior serviço que podia fazer ã patria era conservai a em príncipe natural, que paia este fim corria a dar batalha aos

geiro

castelhanos e que d’este intento ninguém podia já demovei

porque,

primeiro que

pretendesse dissuadil

do na empreza, com passe com

vida essa

com

pelejaria

que se conseguisse a

o; a

os inimigos

o,

com quem

victoria,

acaban-

morte se escusava ao castigo, se escaofferecia para

satisfação da

culpa nas

mãos de um verdugo, quando o successo não bastasse a remil-o da pena: que se El-rei se resolvesse a seguir aquelle parecer, na ribeira de Abrançalha,

onde

ia

alojar-se

aquella

manhã do outro dia, seguiria seu caminho sem recados poderem estorval-o ou respeitos diverlil-o; que pois na opinião dos mesmos pornoite, esperaria o aviso e,

não chegando até

tuguezes era taxado de aspirar, tyrannisando

á

a patria, á

sobe-

rania de absoluto, queria mostrar-lhes que sabia, despresador

de

sceptros, conquistar

thronos

para dal-os,

mas não para


- 80 possuil os,

porque

a

ambição o não

sua

nem

satisfazia

tinha

objecto mais reinos que o coroar-se de triumphos.

j)or

O Almeida voltou a Abranles a dar esta resposta, primeiro rei, em particular, depois deante de todo o conselho.

ao

Indecisos ainda, o dr. Gil Docera pronunciou

com

um

discurso,

o qual, pela eloquência e firmeza d’argumentos abalou os

favor do Condestavel, com o que o rei exultou. acompanharem o Condestavel na sua valerosa empreza, emquanto se punham em marcha de Abranles, mandou-lhe o rei aviso da resolução que haviam tomado e que estavam já postos a caminho; mas, como demoraria alguns

ânimos de todos Decididos

a

a

dias na jornada, lhe pedia que iria

esperasse

em Thomar, onde

encontrai o para juntos resolverem o melhor

modo de

ata-

carem o inimigo. Devia ser

em extremo

decerto se deve 1'oz-se ia

a

immediatamenle

ainda a grande

agradavel ãquelle

heroe, a

independência, a resolução

nossa a

quem

tomada.

caminho do ponto indicado. Quando

distancia da vilia

sahiram-lhe ao en contro

os melhores da terra, que o foram esperar e olTerécerem-se-

como soldados, que elle acceitou como companheiros; chegados a Thomar os soldados foram aquarlellados pelas casas dos lhomarenses, que os receberam mais como filhos que como

llie

hospedes. Esta maneira bizarra e altamente patriótica, quella

occasião

procederam os

lhomarenses,

com que indo

a

n’a-

grande

distancia ofierecerein-se ao Condestavel, para arriscarem a vida

em

defeza

da liberdade

da patria,

com que receberam em suas bater os invasores, prova

sempre

a affabilidade e

o carinho

casas os soldados, que iam com-

hem

o quanto

este povo

hospitaleiro e que desde remotas eras

tem sido

tem trazido ar-

reigados na alma os nobres sentimentos de liberdade e

amor

quaesaté hoje ainda não desvaneceram. Gastou o rei dois dias de Abranles para Thomar. Durante elles não esteve ocioso o Condestavel e a sua gente, porque

pátrio, os

este

tempo

foi

empregado em exercícios

bellicos

no largo da


— 81 — Varzea Grande;

como

si

ali,

em

formados

esquadrões combatiam entre

bem simulados eram

se fossem inimigos e tão

dos mortos

gemer dos

e o

aquel-

para serem reaes, só lhes faltava o baquear

les ataques, que,

feridos.

Eram, entretanto, assustadoras as

noticias

que vinham do

emquanto ao numero e ãs crueldades que praticavam, as quaes produziam um certo abalo no animo dos soldados; inimigo,

receioso o Condestavel de que este mal se aggravasse tratou de obter informações exactas das suas forças, disciplina e

marcha; para este íim escolheu tres dos seus escudeiros, que

maior confiança lhe mereciam; mandou

sem

os íhovimentos do inimigo e

a

a

dois que

observas-

todo o risco tomassem

um

que viesse informa-lo das suas ideas; ao terceiro ordenou que fosse ao campo inimigo e, em nome d elle Condestalíngua,

rei

de Castella: que lhe requeria, da parte de

e de S. Jorge

ou desamparasse as terras de Portugal ou onde seriam as armas arbitro

vel, dissésse

Deus

em campo

ao

aberto o esperasse,

que decidisse berbo

a

contenda.

de Castella

rei

lhe

Bem

sabia o Condestavel que o so-

não acceitaria o repto,

mas

o seu

unico fim era obter informações.

Chegou o mensageiro ao exercito, onde foi recebido com estylo e dcsassombradamente expoz ao rei a sua mensagem. Hespondeu-lhe o rei: que estimava o mestre de Aviz e a D. Nuno Alvares Pereira, mas que, emquanto vias cerimonias do

um

vesse, não consentia que

um

reino

leis a

que por herança

fosse

«•ei

e outro condestavel

lhe pertencia e

súbditos e não recebei as de vassallos rebeldes»

ainda replicar o escudeiro,

mas o

rei, já

e

embaixador

que o levassem

a

um

espia,

ro,

vendo

a

Quiz

um

artifi-

mandou formar o seu exercito que com maior

percorrer o campo para

certeza podesse informar os seus; fez isto par

incutir o

.

embravecido, não lho

consentiu e percebendo que aquella embaixada era cio e o

de

por isso vinha dar

a

que o escudei-

enorme desproporção das forças, viesse entre os seus

medo

O por mais de uma

e espalhar o terror.

telligente e ardiloso,

escudeiro, que era invez

propositadamente


— 82 — deixou perceber que não

podíamos bater nos com

poder

ta-

manho. Despedido do campo,

voltou para Tliomar e no

que também

encontrou os dois companheiros, volta e traziam

um

comsigo

caminho

vinham de

portuguez renegado, que militava

no exercito hespanhol e que casualmente haviam podido agar-

trouxeram esteá presença do Condeslavel, o qual, ameaçando-o com penas severas, lhe ordenou que quando fosse rar;

chamado a fazer declarações, dissesse que, os hespanhoes eram grandes em numero mas pequenos em força, que a maior parte não eram combatentes, mas sim vivandeiros e gastadores; que os soldados eram quasi todos homens mercenários, tirados ás artes e á agricultura sem experiencia da guerra; que os verdadeiros soldados eram poucos e já gastos. A este tempo chegava o rei a Tliomar e no dia seguinte, formando todo o exercito no largo da Varzea Grande, mandou o Condeslavel que aquelle soldado fosse chamado, ordenandose-lhe que percorresse

as alas e

em

alta voz,

para que todos

ouvissem, fosse contando como verdade o que astuciosamente se lhe havia ensinado, o que elle executou, na aparência

noticia,

verdadeira, muito

com

ficando

animados os

esta

nossos

soldados.

No

dia seguinte, 10

seguindo se

a estrada

de agosto de 138o, poz-se

compunha somente de 1:700

infantes:

em

marcha,

de Ourem, o nosso pequeno exercito, que cavallos,

800 besteiros

e 4:000

apenas 6:500 combatentes para tolher o passo

a

mais

de 30:000

O que

se segue não pertence á historia de Tliomar, por

so terminamos esta narrativa,

desejavamos tornar

em

que

mas

e

dada cloria

bem

um punhado

com

bastante pesar nosso, pois

conhecida aquella memorável batalha,

de bravos cobriu de louros as nossas

encheu de gloria o nome portuguez, pondo

um

formidável exercito; e tão extraordinária

que os hespanhoes, para

chegaram

a

is-

encobrirem

alíirmar que linha sido

um

a

sua

em foi

ar-

debanesta vi-

vergonha,

milagre, fundando se


— 83 — em que

no campo tinham apparecido alguns dos seus mortos sem estarem feridos; ao que os nossos, por despreso, respondiam: foi porque morreram de medo.

Como acabamos de ver o Condestavel esperou dois dias em Thomar, onde não esteve ocioso. E’ muito natural que á da approximação do

noticia

aguardasse

a

sua chegada

no

ali,

sitio

drão ou fosse mais adeante e n aquelle a

sua gente para o receber

esperal-o e que ou

rei elle fosse

com

onde se encontra o pa-

formada

local deixasse

as honras militares. N'aquella

epocha a ponte das Ferrarias ainda devia dar passagem; passariam os peões e os cavalleiros

ella

devia ser vadeavel e ainda hoje

ali

se póde passar a cavallo.

rei,

L).

natural,

que o

mesmo

itene-

Nuno, por ser o caminho mais curto

passando o Zezere á Abrançalha devia entrar na freguezia

de S.

Pedro da Beberriqueira e seguir para

atravessar o Nabão iTaquelle lavoravel por ter históricos

em

Proximo renço é

uma

sitio,

onde

um

vau.

ponte e

perfeito accordo

a este

padrão está

com

a

a

10

de agosto e

foi

nosso pequeno exercito d aqui

vindo

popular.

de S. Lourenço, esta

exactamente sahiii

villa,

Estão pois os factos

a tradicção

a capella

a

passagem era mais

lambem commemorativa, porque

capella é

ir

rio

certas epochas do anno

vindo de Abrantes para Thomar, seguisse o

rarioque havia seguido e,

em

lambem muito

E’

por

porque o

a vau,

o dia de S. Loun’esse

para quatro

dia

que o

dias depois

dar a pai a nós tão gloriosa batalha de Aljubarrota, que teve

logar a 14 de agosto de 1385.

Estes ali

monumentos não são coevos

levantados muito posteriormente,

architectonico

em que

d’aquelles factos, foram

como o mostra o

estylo

foram conslruidos; pela posição obliqua

do escudo d’armas parece serem obra de

D. João ui,

que,

fundando-se na tradicção popular, então ainda mais viva, ou

em dou

qualquer documento, que porventura ainda existisse, manali

erguer aquella memória.

do exercito real na

villa

duas forças reunidas.

0

0 padrão

de Thomar,

relembra

a

entrada

a capella a sabida

nosso pequeno exercito seguiu

das

a direc-


— 84 — ção de Ourem; a

deixou a estrada de Leiria, desviou-se para

ali

esquerda, internando se nas serras, naturalmente para não sua marcha descoberla pelo inimigo, e

sei- a

em

descançar

foi

Moz; devia portanto ter sahido pelo norte da

Porto de

villa

e

não pelo

sul.

Como

morativa

em

logar diametralmente opposlo áquelle por onde

teve logar a sahida ?

n

um

Tem uma

explicação e não lhe conhecemos

modo

os dois factos, a chegada e a partida, de

outra, ligar

que

comme-

edificou então aquella capella

se

só relancear d 'olhos se relembrassem ambos.

Todo o portuguez verdadeiramente

patriota, ao passar de-

fronte daquelle padrão deve descobrir-se

em

signal de respeito

memória do homem, a quem devemos a nossa independência. Alma nobre, coração verdadeiramente portuguez, não pela

o seduzia o ouro de Hespanha, não o desvairavam os

que

altas dignidades,

lhe

foram offerecidos. Era

titulos

de

não se

livre,

vendia; era nobre, não se aviltava; era portuguez; eesta qua-

sempre acima de todas

lidade punha-a

as

as dignidades; era o seu verdadeiro titulo

tempera era

riquezas, de todas

rosos exercitos castelhanos o amedrontavam.

em

com

-numa

só idéa:

dencia da sua

admiram.

Um

a patria tanto

como

na bravura dos

elle se identificavam

—a

conservar

dizia. Hábil general, valente

soldados da sua hoste, que

n’um só sentimento:— o Amor

Liberdade

nação—,

Firme nas suas

aífrontava perigos para

príncipe natural,

militar, confiado

rija

que nem o ouro o fascinava, nem os pode-

efie,

crenças, arriscava a vida, a palria

De

dhonra.

,

n’um só

fim:

a

pátrio,

Indedepen-

praticou heroísmos, que ainda hoje se

dos mais disiinctos heroes portuguezes, deve, nunca

a

quem

emquanto

existir a

nos referimos, está

assente

será olvidado

palavra— Portugal.

O sobre

primeiro padrão,

uma

forte

rio até perto

a

que

ella,

longo da

do outro padrão, de que acabamos de

sa-lhe encostada a estrada da

para

muralha, que corre ao

tem

a

Barquinha e na

seguinte inscripção:

primo rege Sebaslo.

.

.

O

resto

foi

margem do fallar:

face,

pas-

que olha

Hoc exorsus Impus

>>ub

picado, por isso mal se po-


85

A

de decifrar. claramente

parte da

ali

inscripção

vê e que

se

em

em

que ainda hoje

latim,

portuguez

Esta obra

diz:

foi

começada no tempo do primeiro rei D. Sebastião, mostra bem que aquella pyramide é uma memória erguida ali a El-rei D. Sebastião, e

commemora

uma

o começo de

Aquella obra não podia ser outra senão

obra.

muralha que

a

ali

se vê, mandada fazer por D. Sebastião, talvez na occasião em que esteve em Thomar antes de partir para a desastrosa cam-

panha dWfrica; e de grande utilidade para os habitantes da villa

um

devia ser para merecer que ao seu auctor se levantasse

padrão. Realmente

vamos lo

ver.

A antiga estrada nome de estrada

Lourenço do

de bastante importância, como

ella

foi

e ahi

começava

a costear o

Piolhinho, e encurvando-se

para

sempre encostada aos montes pelo naquclle

local linha

Thomar, conhecida pe-

entre Santarém e

Santarena, vinha ao

um

onde é hoje

sitio

S.

monte, chamado Outeiro a

sitio

esquerda

chamado

e seguindo

as Carreiras;

muito inferior ao que hoje tem,

nivel

o que se prova pelas rasões que mais adeante aprasentaremos; eslava

por

isso sujeita

intransitável

das

durante o

Santarena;

Piolhinho

mas

inverno;

um

Carreiras havia

Outeiro do

ás innundações do rio,

desvio,

mais

e* ia

é

verdade

uma

tornando-se

que ao

subia o

adeante

melter na

estrada

ladeira era muito ingrime e porisso

a

e até perigoso o transito por aquelle atalho; era

absoluta

necessidade

que

se

fundo

que

calçada

remediasse

o

dillicil

por isso de

inconveniente

occasionado pelas enchentes, o que só se podia conseguir zendo-se o que se elevada

a altura

fez:

tal

uma

forte

muralha na

margem

do

fa-

rio,

que as maiores enchentes não podessem

transpol-a; esta muralha servia de resguardo ao rio e de

paro ao aterro para elevar senta; ainda n’aquelle

a

am-

estrada ao nivel que hoje apre-

monte se mostram vestígios das exca-

vações, que n’elle se fizeram para remover a terra para o leito

da estrada.

mudasse

E’ provável

a direcção

que n’aquella occasião também se

da estrada

antiga,

fazendo-a

seguir

em


recta para a

linha

villa,

na direcção que hoje tem; o atalho

pela calçada do Outeiro do Piolhinho tornava-se desnecessário

com

e o terreno por onde segue a estrada, juntamente

Varzea Grande, incluindo

a

parte que

foi

ao conde de Thomar, constituía o rocio da

villa;

uma

aos freires de

vinha que havia

ali

logradouro;

um olival, que Christo, dando-lhe em compensação perto e annualmente um certo nume-

para o tornar mais extenso mandou pertencia

doado por

foi

Manuel aos habitantes de Thomar para seu

I).

toda a

aforada pela camara

arrancar

De todo aquelle umas carreiras de oliveiras, que havia ao poente, pertencentes a Pedro Nunes da Gosta, asquaes depois por testamento de seu filho, Manuel Nunes da Gosta ro d alqueires d’azeite da tulha do mestrado.

vasto terreno só se excluíam

passaram para terreno

a

Santa

fazer o transito por ficar

Sendo aquelle

Gasa da Misericórdia.

publico é muito natural

em

que por

começasse a

se

ali

vindo desembocar á

linha recta,

rua dos Estaos, que já então tinha seu principio, por

licar

por

elle e

onde

falleceu a 9 de

alguns escriptores. outros porém vento de Christo. Foi

também

as arcadas, que ainda boje se

lá exis-

mandados

tirem os estaos ou paços reaes de D. Duarte,

edi-

setembro de 1438, segundo

dizem que morreu no Con-

este rei que

mandou

construir

observam na rua dos Arcos,

a

que deram o nome: ficavam então na praça publica, que, co-

mo

dissemos, era

ao fundo da rua da Graça;

cadas eram bazares ou boticas, como então se i

nem parece deverem

que eram

os principaes commerciantes,

passaram para

d’ellas recebia

que

3o ou 40

titulo esta as

lloje estão

todos

chamava

ter outra serventia) destinados aos judeus,

as suas mercadorias, pagando

riormente

aquellas arlbes

a

réis

uma

exporem

ali

á

venda

certa renda ao rei; posle-

confraria

da

Misericórdia,

que

por cada arco; não se sabe por

houve; talvez fosse doação

transformados

em

por D. Manuel,

feita

casas

particulares e do

andar que tinham por cima, só resta uma janella na rua dos Arcos, o mais desapareceu

com

as obras que

ali

Entre os dois padrões, de que acabamos de

se

leem feito. veem-se

fallar,


— 87 no

rio as minas dc uma ponte, denominada das Feraçoreamento do rio tem-a quasi coberta, mas ainda se descobre parle dos arcos; passa agora por ali o cano, (pie conduz a agua de Marmelaes para a cidade. leito

do

rarias; o

Pinho Leal, no seu

«Portugal Antigo e Moderno» diz que houve antigamente uma fabrica de fundição de pertencente a Henrique do Quental, que foi quem man-

n aquelle ferro,

local

dou fazer aquella ponte e

a

sua estatua, que ainda boje

se

vê, já decapitada.

Seja-nos permittido divergirmos da sua au-

ctorisada opinião.

Que

de fundição de

ali

houvesse noutro tempo

uma

fabrica

parece verdade, porque o nome que ainda

ferro,

se dá áquelle sitio o está indicando; que Henrique do Quental fosse o seu fundador,

que

a estatua mutilada, que ainda boje mandada fazer por elle, tudo isto póde ser; agora que mandasse construir aquella ponte, n’isso é que nao podemos acreditar. A ponte, hoje chamada das Ferrarias,

ali

se vê seja a delle e

ê decerto muito anterior á monarchia portugueza; poderia ser

reconstruída ou reparada por

elle, mas não edificada. Os romanos ligavam as suas cidades por vias, (estradas) com seus marcos milliarios, seus aqueductos e pontes; entre

Scalabis ou Prmidium Juli (Santarém) e Cnnimbrica (Coimbra), tinham mais duas cidades, Concordia e Urbis N<ibw (Nabancia), todas deviam estar ligadas por vias romanas com pontes nas

que atravessavam. Perlo do lugar do MarmeMagdalena, no sitio chamado Ramil,

ribeiras e rios, leiro,

na

mandou sobre

freguezia da já

ha muitos

a ribeira

annos

da Bezelga

a

uma

camara de Thomar construir ponte de pedra que foi assente

nos fundamentos d outra, que antigamente ali existiu; decerto no tempo dos romanos e devia servir de ponto de passagem

romana, que

á via

de Concordia

n aquella ribeira, que só

sagem, a

em d

elles

deviam

durante o inverno é de ponte,

ter sobre este rio;

barcos;

elle

tinham uma

senão

vinha á Nabancia;

com muito mais

se encontra

difficil

se

pas-

forte rasão

decerto que o não atravessavam

era-lhes indispensável e ali

ora

em nenhum

outro

ponto

vestígio de qualquer ponte.

No


— 8H — logar onde está a que hoje liga os dois bairros da cidade não

podia ser, porque segundo todas as probabilidades,

a linha

que

segue esta ponte devia passar ao norte da Nabancia; ora vindo a estrada do sul, não bavia de ir dar uma volta para passar ao norte da cidade, quando mais natural é que a atravessasse, ao passo que a ponte das Ferrarias, que não é perfeitamente

perpendicular ao eixo do

mas apresenta uma

rio,

ligeira obli-

quidade, parece estar indicando o centro da antiga cidade: por tanto era por

ali

o caminho

mais curto e devia ser aquella

a

ponte romana.

A

estatua mutilada, que ainda

ser de Henrique logar,

do Quental,

ali

se vê boje, e

não occupou

onde agora se encontra. O

leito

do

não para derivarem as aguas para

marginaes, o que seria

um

a

diz

mandaram

rega dos

o

devido

rio elevou-se,

principalmente aos açudes que os frades n’elle truir,

que se

primitivamente

cons-

prédios

grande beneficio, mas para

servi-

rem de motor aos seus moinhos e lagares; attendendo só aos seus interesses, sem se importarem com o prejuízo alheio, na construcção dos açudes, que mandavam fazer, não se tomavam as devidas

precauções para

damnos, que

evitar os

da

falta

delias resultava; não se deixavam ladrões bastante espaçosos

para darem sabida ás areias e se algum, lhes

mandavam

a levanlal-os

abrir, os seus rendeiros

em

bem que

insuíliciente,

não se encommodavam

occasião de enchentes; resultando da inobser-

vância d estes cuidados, que deviam ter, que as areias se fo-

ram accumulando

e fazendo subir o nivel das

os prédios visinhos sujeitos

a

innundações,

nas enchentes, innundações, que aqui

aguas, ficaudo

mesmo

nas peque-

não beneficiam os ter-

como em outras partes, cobrindo-os de espesso e fértil mas antes prejudicam, porque as aguas não se espraiam e manteem em romanso durante muitos dias, deixando depositar as matérias ferlilisantes, que trazem em suspensão, como nas margens do Nilo e mesmo entre nós nas lezírias do Tejo, do Sado, Mondego, etc.; mas a pouca demora das aguas turvas renos,

nateiro;

sobre as terras, devido á pequena extensão d este

rio e á

sua


— 89 — rapida corrente, não beneficia, prejudica arrastando o terreno

em

aravel e deixando muitas vezes

Foi preciso que se estabelecesse

ção de levantar os boje

mesmo

ladrões

em

seu logar areia e cascalho.

como

lei

municipal a obriga-

oceasião de

enchentes, o que

cumpre devidamente.

se não

A elevação successiva do da ponte, a

a

leito do rio fez com que os arcos que nos referimos, se fossem obstruindo de modo

não darem a suiliciente passagem ás aguas, fazendo-as trans-

bordar para

a estrada e

ponte. Se já o estava

vindo por fim

quando

ali

mesma

a inutilisar a

se construiu aquella muralha

não podemos aflirmal-o, é provável que sim; mas se o não ficou-o naquella oceasião, porque o leito da estrada

estava,

passa talvez cinco metros acima do pavimento que devia ter a ponte, hoje arruinada e ella,

por se achar

Henrique do

a

não ha meio de communicação para

muralha

encostada ao

Ouental mandou,

rio.

não diremos

Fortanto, se

construir,

mas

reparar aquella ponte para serventia da sua fabrica de fundição

de

ferro, foi

muito antes da

construcção da

natural que a estatua estivesse

entrada da ponte

veram

d’ali e

e,

em

baixo na

muralha; é pois

margem do

quando fizeram aquella muralha,

collucaram sobre

r^o

ella

a

rio á

remo-

no logar onde hoje está.

Vo


\


Jeronymos, Alcobaça, Ba-

afia,

Santa

talha,

&

de Christo

Cruz, o Convento

monumentos que relembram antigo e outros, são

“esplendor; ao admiral-os excla-

-ma-se: Portugal Sim,

foi

Portugal

grande

um

porque no espirito de

uma

surgiu

a

rei

idéa gigante: o ca-

minho para as Substanciava

I

grande

foi

indias;

então o

nação.

Nos estaleiros de Lisboa começa o cavername das naus, que

a

erguer-se e

a

travar-se

hão de chegar, que nos hão de

abrir as portas do Oriente, d’esse

vislumbrante, onde os raios do

mundo então

sol,

explendor, se rellectem no ouro, se

que

ali

phantastico e

brilha

com maior

refractarn nos topázios e

diamantes. As martelladas dos conslruclores echôam por toda a Europa.

Veneza convulsiona-se

concorrência; as outras nações rei,

que teve

ideal;

a

e agita-se,

porque

teme

pasmam ou não crêem.

a

Esse

maravilhosa concepção, não viu realisado o seu

uma morte prematura roubou-lhe

a

gloria de tão eleva-


da empreza; mas não lhe aniquilou o pensamento, porque este continuou-se no seu successor, D. Manuel, o Venturoso.

Os trabalhos proseguiram; construiram-se as naus, equise e vogaram por esses mares até então desconhecidos;

param

dirigiam-as hábeis e destemidos capitães, guarneciam-as dextros e

ousados marinheiros, que, impávidos, affrontam as

vencem todas

perigos,

mentas, resistem aos

Então o Occidente

e lã vão por fim abicar a ignotas paragens.

com

topa

e

uma

tor-

as difiiculdades

o Oriente. Rompe-se allim o dique que os separava

riquezas deriva

corrente de

d’onde o

se eleva

sol

para o ponto onde declina. Aquelle

rei,

como

uma nação de

chefe de

valentes cobi

ir-

se-hia de brilhante gloria, se acções ruins lh’a não

houvessem manchado; se n’aquella alma varonil não entrasse o veneno da serpente, que fascina e entorpece;

se aquelle outro

ser,

que

nos completa, mas que muitas vezes nos desvaira e perde, não

houvesse influído no seu animo, induzindo o barbaras e cruéis, que o deslustraram

que governava, rico,

a

e

a praticar

prejudicaram

a

acções nação,

expulsão dos judeus, então o elemento mais

mais instruído e mais activo da nação.

A expulsão

da

de D. AlTonso,

como condição do contracto

raça judaica,

de casamento com Ü. filho

Isabel, filha

de

L).

do

rei

de

Castella e viuva

João n, acceite por aquelle monar-

cha, talvez mais pela ambição do que pelo amor, provou

o seu genio volúvel,

a

pouca firmeza do seu caracter.

primeiro dado aos judeus

a

liberdade que seu ante-successor

também

lhes havia roubado, roubando-lhes

uma

portal-os para

onde

ilha,

bem

Tendo

a

os filhos para ex-

maior parte d

elles

pereceram

victimas do clima ou devorados pelos crocodilos, tornou se depois

seu inimigo rancoroso, chegando da maioria e até de D. a

declarar que

de cumprir

com

a

em

conselho, contra a opinião

Fernando Coulinho, Bispo do Algarve,

se não importava

com o

direito, que, se havia

sua vontade e praticando depois

aquellcs infelizes,

a

mais

vil

em

Lisboa, para

traição; por isso,

quando se

exaltam e patenteiam as glorias da nação portugueza n aquel-


— 93 — la

nome do

epocha, deve esconder-se o

Sim, Portugal côrte,

rei,

que enlão governava.

grande, porque Portugal

foi

no clero e na nobreza,

o que trabalha e produz, considerava se como abstracta; só se concretava

chamado ás

fileiras

resumia-se na

parte mínima, da nação; o povo,

a

em numeros

do exercito para

ir,

uma quantidade

definidos lá

quando era

longe, a paizes es-

tranhos conquistar gloria e riquezas, de que não compartilhava.

Tudo vinha do Oriente.

um

rava

facho de luz,

Em

cada navio que voltava fulgu-

brilhava o esplendor das victorias.

com

salões dos nobres atapetavam-se

Os

as tapeçarias da Pérsia,

adornavam-lhes as paredes ricas colgaduras de vistosos selins

de Damasco; guarnecia-os riquíssima mobilia de sandalo, ébano, teca e outras madeiras preciosas, que de lá vinham. Âs lhamas de prata e ouro orlavam os roupões e os rebuços dos nobres

damas arrastavam

fidalgos; as

as

ílammantes sedas da índia;

as pérolas de Ceylão, os topasios, os robis, as esmeraldas, os

diamantes cingiam-lhes davam-lhes

em

em

braceletes os niveos pulsos, circum-

cofiares os graciosos collos.

Os inebriantes per-

fumes do Oriente espargiam-se com profusão pelos aposentos dos

ricos.

O

luxo, a grandeza, o fausto

tempo os paços dos ricos

reis,

commercianles.

invadiam ao

E o povo

tinha

fome

!

Tinha fome por-

que lhe roubavam os braços mais validos para campos; forçavam-os

mesmo

os palacios dos nobres e as casas dos

a trocar

agricultar os

o alvião ou o arado pela espada

ou pela lança para irem ás conquistas. Esse roubo á mão armada, que, praticado em pequena escala por miseráveis salteadores,

determinado as mais das vezes pela

fome e pela

ignorância, conduz á ignominia e ao cadafalso; ordenado pelos reis, praticado

por exercilos, dirigido pela sciencia e determi-

nado pela ambição e cobiça dos poderosos, conduz á gloria; abrilhanta, não obscurece, eleva, não deprime: tal se nos apresenta o modo de ser d’essa entidade abstracta, chamada moral, sem base firme na natureza, sempre condicional, sempre relativa e modificada

conforme o modo de ver ou

a indole

ainda das epochas ou do estado de civilisação

dos povos e

em que

se en-


— 94 — contram. E

iam, algemados pela obediência, arrastados pelo

dever, esses pobres

mu-

aldeãos, abandonando paes e mães,

lheres e filhos a longínquas e inhospilas terras verter o sangue

elaborado

em

com

o producto de seus árduos trabalhos campestres

holocausto ã vaidade e á ambição dos poderosos, não d’elles,

que

nem, no seu estado de rudeza e simsequer podiam comprehender. E aquelles que esca-

não possuíam,

a

plicidade,

pavam ás mãos dos que defendiam o seu voltavam de

solo e os seus haveres,

arruinados

estropiados,

pelo

trabalho e pelo

clima e iam succumbir á miséria nas suas pobres aldeias, votados

como ainda hoje mas empobrecia-se

ao mais criminoso despreso,

Enriquecia-se o erário,

enorme desequilíbrio não podia deixar de

acontece. a nação.

resultar

Deste

um

cala-

clysmo e esse cataclysmo mais tarde deu-se; porque o ouro,

que

ao tliesouro publico não tinha

allluia

a aplicação,

que

uma

boa administração devia dar-lhe; era pela maior parte empre-

gado

em

já existiam,

rar-se

em enriquecer e adornar os que vida de uma nação houvesse de encerbem estar d um povo dependesse da

construir conventos,

ali,

como como

se a se o

grandeza e magnificência d’aquelles monumentos, das regalias e

commodos dos

frades,

estarem para ahi hoje de pedi

a

sem

aplicação alguma

burilada, transformada

simos porticos,

rem

que ns habitavam. E para quò? Para

bem

em

util

esses montões

soberbas arcadas, riquís-

cinzelados capiteis, unicamente a aliesta-

o elevado merecimento artislico dos obreiros, que os

balharam e

mandaram

a

tra-

orientação, o cego fanatismo dos reis que os

construir.

E Portugal

foi

grande

!

Sim, grande

no arrojo e ousadia

de seus soldados e marinheiros; grande no valor e intrepidez de seus capitães; grande ainda na idéa colossal de dominar os

mares

e os continentes e

grande na fama; entidade moral que

uma nação sem, comtudo, porque no mundo real não se

eleva o espirito de

a tornar

mate-

rialmente

vive de

ideas,

feliz,

vive se do que praticamente pode produzir o nosso

bem

estar;

Entre aquelles monumentos avulta o Convento de Christo;


está

no

ali,

um montão

alto d'aquelle cerro;

uma população

tinadas ao ocio, a dominar

cança no trabalho.

afadiga, que se

de riquezas des-

que se

laboriosa,

Esterilisaram-se

tos milhões de cruzados, adquiridos á custa

ali

mui-

de tanto sangue,

de tantas vidas, suspiros de viuvas, lagrimas d orphãos desvae

multiplica r-se

uma

bem

milhões que,

lidos; aquelles

podiam produzir influencia de

aplicados,

debaixo

esterilisaram-se

da

idéa esteril também, o fanatismo religioso;

querendo na

querendo na grandeza de suas conceptão grandiosas obras, elevar-se ao infinito,

terra crear o paraizo,

em

ções, realisadas

impossível de attiugir.

Convento de Christo

E’ o

um

dos mais

preciosos

monu-

mentos que nos ficaram d’aquellas epochas. Tendo seu principio n 'aquelles tempos rudes, em que dois povos de raça diversa se debatiam

em

um

lucta sangrenta,

reconquistando o terreno

que lhe havia sido usurpado, outro defendendo palmo a palmo esse terreno, que com rasão considerava já como seu, porque o havia herdado de seus havia introduzido na

que d'antes eram desconhecidos, devia aquelle por uma

um

fortaleza,

por

um

Em

1

ICO o mestre da

lançou,

como

edifício

uma

segundo

a religião

inimigos da

fé,

Dentro da

mais

polygonal,

bem

um

infleis,

se edificava

se construísse

cício e manifestação

ficar

os primeiros

que ainda hoje

da

um

foi.

um

fé.

de

religioso,

servir a Deus,

deixar de que,

castello para

combater os

sanctuario para exer-

Assim se

cidadella e perto da torre de

resguardado, ergueu-se

fundamentos

se vê. Chefe

principio

r.ão podia

também um

mesma

ali

por norma

que professavam,

mesmo tempo que

Assim

dos Templários, D. Gualdim

Ordem

associação d’homens ligados por

tendo por divisa combater

começar

de refugio e de defesa, por

logar

dissemos,

d aquella valente fortaleza,

ao

melhoramentos,

baluarte, opposto á aggressão dos inimigos.

Paes,

agricultado,

antepassados, havia-o

agricultura e nas artes

um

fez.

menagem para

edifício

polyedro regular de desesseis faces,

de forma

com

pare-

des de cantaria espessas e resistentes e ainda para maior so-


9G lidez, a

taram

cada aresta formada pela juncção de duas faces encos-

um

gigante feito de fortes cantos

talhados, justapostos

e solidamente ligados, indo todos terminar no plano superior, <|tie

era coroado dameias. Especie de reducto ou fortaleza no

exterior;

no interior sanctuario sagrado,

guerra deviam transformar-se ção; porque

em

onde os gritos de

em

preces, o rancor

devo-

fora nas mesquitas dos mouros, quando os sectá-

em fervorosa mesmo pensamento, elevados pela mesma impulsão, unificados na mesma idéa, assim juntos deviam voar ao infinito, ao ignoto em busca d um positivo desconhecido, mas real, principio inato do rios

do Coran ao mesmo

tempo

se

prostravam

oração, os espíritos d’uns ed’outros, unidos pelo

Universo, Deus, perante o qual desaparece a desegualdade en-

homens e com ella a baixeza das paixões humanas. A uma na essencia, embora diversifique nos cultos, que tão variados podem ser quanto o tem sido e ainda hoje o é o grau de civilisação dos differentes povos e segundo também a influencia d’esse poderoso modificador do sentimento humano, a crença, mais ou menos arreigada e muitas vezes tão edentiíicada com o nosso ser, que nem mesmo o raciocínio tre os

religião é

pode desvanecel-a. Lã dentro d aquelle recinto, devia construir-se to,

cm

construiu se,

um

destinado ao culto

altar para as

geral era e ainda é uso

exterior obedecia a

um

e estudado lã fora, por

mesmo

cerimonias do

mas não o encostaram fazer-se; a

a

religioso,

uma das

faces

forma dada

outro plano, desusado aqui. certo no Oriente,

cul-

como

ao corpo

mas

visto

d onde o fundador

d aquella obra havia trazido os delineamentos d elia. Por isso,

concêntrico ao polygono exterior, traçaram outro

dos lados,

um

octogono

regular; dentro de cada

com metade

um

dos ân-

gulos d este octogono levantaram supportes de cantaria, apre-

sentando faces parallelas, duas a

cada

drico,

uma

a

terminando todas

firmam arcos,

a

duas na direcção dos lados;

uma columna de fuste cylinem capiteis singelos, sobre os quaes se que chamam bysantinos, que, lançando se de

d estas faces ligaram


— 97 — uma

uma magestosa

para outra formam

arcaria, cujos arcos es-

iüo symetriea e regularmente dispostos; sobre cada

um paimo

levantou-se estreitas

de parede

lisa

um

deites

onde estão abertas frestas

€ compridas, que com escassa

luz illuminam o interior, apresentando o todo oito faces planas, correspondentes a cada

um

d’aquelles arcos.

No

lado interno do supporte talharam

uma

no externo tres faces, uma também plana e duas côncavas, resultando estas do face plana e

corte das arestas, que se fez

em

meia canna; ás

nas ligaram-se

mesma forma muito mais

faces.inter-

columnas da

das outras, mas elevando-se

aitas,

até onde, sobre seus capiteis

se firmaram arcos de circulo,

que

quadrantes,

vão

em um fecho

terminar

sustentam

estes

todos

central;

uma

arcos

abobada, que apresenta o aspecto de

um

com

concavidade

a

hemispherio ôco

da para baixo.

senho

antigo

vè-se

sobre

Templários

(Em um

e suas a

uma

volta-

de-

copias

capella

cu pula

dos

em

forma de pyramide, tendo no vertice a cruz

lado

uma

torre

de Christo; ao

com

sinos, cujo

coruchéu,

muito aguçado,

também

mesma forma

da

e

pyramidal, tem na extremidade uma egual cruz. Não pode ser este desenho a reproducção fiel da forma exterior da primitiva capella dos Templários, porque lá

não havia sinos, embora a cruz podesse ser substituída: aquella pyramide que o desenho mostra é cônica, quando, sendo formada pelo prolongamento das paredes do octogono, devia


— 98 tambem ser maior, vem

base tem

octogonal; a sua

um

aquellas oito columnas interiores

com

seus

muito

perímetro

serviam

quasi encoslar-se ás ameias; e para que

capiteis se

não

bavia abobada a sustentar, indo as paredes laleraes convergir

n’um ponto?

(jue aquellas

natural

Ii’

cupulas fossem

dando

posteriormenle para ornamentação

um

certo

feitas

realce á

rnonotona arcuitectura exterior da capella; depois foram demolidas,

provavelmente quando se construiu o corpo da egreja.

Ao meio das

faces planas exteriores ligaram

também columnas

de egual forma e sobre seus capiteis firmaram arcos abatidos, que, galgando o espaço eomprehendido entre o corpo interior

foram assentar sobre os capiteis de eguaes co-

e o exterior,

lumnas, que encostaram aos ângulos internos do polyedro exterior;

como porém o

exterior tem deseseis ângulos e o interior

só oito, ao meio das faces d’este, por cima

dos arcos, embe-

beram na parede uns cachorros de pedra, deixando parte que se salienta

em

se firmarem os outros oito

do centro para

a

fica

a

um

chapéu de

abobada circular,

sol aberto, listes

arcos sus-

que cobre todo o espaço que

entre o corpo externo e o interno e parece ter sido des-

giosas,

que

se celebravam

no

dali ás cerimonias

que vem

a

luz

rito

reli-

que se havia erguido sob

altar,

dos arcos d aquelle recinto polygonal, do que olha

o Oriente, segundo o é

ali

como saem divergentes apresenta aquelle todo uma forma,

tinado para os Templários assistirem

um

uma

arcos; e,

peripheria,

que se assemelha tentam uma

fóra

forma de capitel de columua para

pai a

dos antigos maçons, porque do Oriente

Aquelle

recinto,

que surprehende pela sua

magestade, era o sanctuario sagrado, correspondia das mesquitas arahes; era

ali

a

mirhab

que se celebravam os mysterios

da religião, que professavam; era o perystillo do Paraíso, onde

sobre os mysticos, os inspirados desciam as graças

que

elles

tantes.

em

com

a

celestes,

sua benção espargiam por todos os circums-

que as recebiam cheios de

volta d aquelle sanctuario,

Deviam os Templários

cujas areadas se abriram para

que todos pudessem contemplar as cerimonias que dentro de


—0 — !)

praticavam,

elle se

assistir a ellas

de

vestígio de bancadas, talvez vestidos

porque

pé,

em

trajo

costados ás suas lanças, os seus mantos

não

lia

de guerra, en-

brancos

a

alvejarem

e os seus polidos elmos a reflectirem a luz das tochas; calados,

porque quando

silenciosos,

emmudece. Sobre

a bocca

um

bada, havia

cima

Uma

alma escuta e o coração percebe,

aquelle sanctuario, por cima da abo-

eirado destinado á defesa, cuja peripheria era

Km baixo a paz do crente, do guerreiro. Modalidades do espirito humano. só porta dava ingresso áquelle oratorio, era voltada

guarnecida

em

a

d ameias de cantaria.

a lucta

ao nascente e era

defendida por dois fortes

um

baluartes,

á

esquerda de quem entrava, communicavam um com o outro por um passadiço que ainda lá existe por cima direita outro á

em janella; ao da direita panno de espessa muralha, que ia travar-se n um reducto proximo da torre de menagem; de modo que pelo

da porta primitiva, hoje transformada ligava-se

um

adarve d’esta muralha havia

communicação entre

facil

com

e o eirado da capella, que communicava

a torre

os baluartes, que

lhe defendiam a porta; assim ligados auxiliavam se mutuamente, de modo que uma não podia render se sem que a outra fosse subjugada; davam, por assim dizer, as mãos estes dois sus-

tentáculos,

um

o da honra, outro o da

ção; porque estas duas

unidas que

num

ideal,

positivo,

uma não pode indiscutível,

bem combinada

existir

sem

a outra;

incondicional; é a

que ha de ser dado por

está resolvido; a honra é

uma

fé;

entidades moraes estão por

um

um

a fé

tal

sentimento posto

em

dum

acção por

mas que parece

fora da matéria, actuando sobre as nossas faculdades a

crença

é a

allirmação

problema, que ainda não

força impulsiva ligada ao nosso ser,

tende

liga-

modo

elevar nos, não se sabe até onde;

existir

moraes,

algumas vezes até

ao desvairamento; ambas ellas são idealidades sem realisação tangível no

mundo

real e positivo;

mas ligam

se,

prendem

se,

combinam-se para nos darem sentimentos realisaveis que nos elevam e ennobréeem; separai as é aniquilai as. sem honra não ha

e

sem

não ha honra. A envolver estes dois sancluarios


100

— decerto para o norte

para os proteger, eslendiam-se

vando de

um

para o poente até fecharem

e deri-

circuito, fortes

pannos de muralhas, que, pelas obras que posteriormeute se

em

fizeram desappareceram ha muito, deixando apenas

alguns

pontos vestígios da sua exislencia.

Os pannos de muralha, que formavam não iam travar-se na capella, não ha

nem

a fortaleza exterior,

vestígio

algum d

plano geral,

o logar d honra; ultimo logar

d’ali

lambem o

o chefe dava as ordens e era

em

de refugio, para onde,

caso de

assalto, se

recolhiam os qne

escapavam do combate nas muralhas

riores; tinha quasi

sempre ainda outros reductos

a cidadella;

a

este-

defendei

a,

nunca era exposta á acção directa do inimigo; ora,

com

se estes cuidados havia

mais

isso,

A construcçüo das fortalezas obedecia a um quasi sempre seguido. A torre de menagem era

podia ser.

de menagem, com muito

a torre

um

haver com

forte rasão os devia

sanctuario, logar sa-

grado, que decerto não iam expor á acção immediala do ariete

dos sitiantes. A muralha, que aquelle ia

do poente

pelo lado

sobranceira

recinto, corria

a

um pequeno

subindo até ao cume do monte; só se vè d

na parte proximo ao logar onde se começou

a

elia

defendia valle,

que

uma peque-

construir a nova

casa do capitulo, que não chegou a ser acabada.

A

capella

dos Templários só

lhes servia

cerco, porque, no

tempo de paz nem

muros do

nem

castello

haviam, porém, decorrido

eiles

celebravam os

para o caso de

viviam dentro dos

oífícius divinos.

muitos annos apoz a sua

(piando D. Gualdim Paes teve que experimentar

muralhas, que

ali

Não

fundação

a solidez

das

havia feito construir, para o combate e o valor

da capella para os exercícios espirituaes; se para eiles houve alguns momentos de repouso, durante a lucta renhida, que por

espaço de seis dias,

elle

com

os seus guerreiros tiveram que

sustentar.

Yacub Almansur, então imperador de Marrocos, apasiguadas as discórdias irmão,

internas, preveniu o Wali de

Cordova, seu

Mahomelh Iben Yusef, de que se preparasse para

a


guerra, porque elíe proprio viria para castigar os christãos pelos estragos que lhe iam fazendo nos seus estados da penín-

devastando terras, tomando-lhe cidades e caslellos. Com efleito na primavera de 1190 atravessou o estreito com um poderoso exercito e em marcha rapida dirigiu-se sula,

para Silves,

(

l

Utí sili011

e

se lhe veiu juntar seu irmão

,

andaluz.

Não conseguindo tomar dassallo

com

o exercito

esta fortaleza, dei-

xou ali seu irmão encarregado de continuar o cerco e ellé com o gi osso do exercito caminhou para o norte e atravessou com rapidez o moderno Alemtejo. Algum fim, decerto, levava em \ista e muito natural é que fosse o querer vingar a morte de seu pae, o qual, parece, ter succumbido em Algeziras em resultado dos fetimentos que havia recebido no cerco de Santarém; não atacou, porem, esta praça, como se esperava, e

dentro da

qnal

I).

Sancbo se havia recolhido com os poucos guerreiros que poude reunir; queria.

lalvez

ri

me iro,

p

co

rtar-l lie

as

comiiui-

n

i

ca ções

com

as ter-

ias do norte,

para que

nãopodesse ser rida;

soccor

por

is-

so seguiu pAS IE “° DE

querda do Tejo e

com

P-

puA

foi

’-

0,A'

P AES

alravessal-o,

a

margem

es-

onde melhor vau se lhe

of-

enorme de gente armada cahir sobre Torres Novas, que, não podendo sustentar tão formidáfereceu, indo

aquella massa

vel embate, cahiu rapidamente no poder dos aggressores, sendo mortos ou captivos os que a defendiam. D’aii dirigiram se a


Tliomar

pôr cerco ao castello dos Templários. Deviam estes

a

já espcral-os,

porque Torres Novas não

chegar noticias do que dos os habitantes da ros do castello

o que

e,

villa

fica

longe e

se passava. A’ sua

Por espaço de

durou o assedio, com repetidos assaltos

e,

voação. que

ali

muralha que

coragem

a

decerto, auxiliados pelos se

fica

haviam refugiado, ao

uma

sul,

to-

comsigo tudo

muito naturalmente, levaram

que os Templários repellhm com era própria

deviam

se recolheram para dentro dos mu-

poderam transportar de seus haveres.

seis dias

ali

approximação

á fortaleza,

e valentia

homens

que lhes

validos da po-

lixiste ainda,

no pannoda

poria denominada porta do san-

gue; ou porque o logar fosse mais accessivel ou porque o jul-

gassem menos hem guarnecido,

foi

se tornou mais porfiada a lucta,

dos e porta;

em

massa, forçar

também

fortaleza,

por

que

a

em um

dos assaltos

tentando os arahes. adarga-

foi

tenaz e violento, a defesa

retirar, soffrendo

ter-se pelejado

porque

que

todo o transe a entrada por aquella

porém, se o assalto

heroica, porque tiveram

devia

a

ali

foi

perdas enormes;

com ardor em outros pontos da

multidão dos inimigos era grande e devia,

isso, circuradal-a, ao

menos com

diversos pontos as forças que

a

o fim de

guarneciam,

distribuir por

que assim

divi-

didas oíTereciam menor resistência; ora, sendo certo que o nu-

mero dos Templários

era muito diminuto e o perymetro a de-

fender muito grande, claro está que os habitantes da

prestaram valiosissimo

auxilio,

combatendo

a

villa

lhes

seu lado

com

egual energia e valor; mas então como agora o general é sempre

quem vence, por nem sequer se

isso as chronicas só faliam dos

tello

Templá-

Como

referem ao povo de Tliomar.

rios e

o cas-

para o norte e poente não tinha defesa natural tão segura

como para

leste e sul, por

não ser para aquclles

dois lados

escarpado o terreno, deviam aquellas duas faces ser defendidas por altas e fortes muralhas, tendo por anteparo largos

'tão

o profundos

que não

foi

Ao cabo de

fossos,

de que já

não resta signal

algum; tanto

por algum d’aquelles lados que tentaram o assalto. seis dias

de

continuo batalhar, os serracenos

le-


— vantaram o cerco

e retiraram.

eirado dos castellos, ainda

com

nossos desfilar e sumirem-se

tuosa impellida pelo vento; não

103

Do adarve das muralhas e do as armas na mão, viram-os os ao longe, como nuvem tempessem deixarem apoz si os estra-

gos da tormenta: tallados os campos, incendiadas as povoações. Diz-se que a villa foi completamenle arrazada. Durante o o assedio não convinha aos sitiantes destruir as casas da povoação, porque necessitavam d elias para recolherem os seus gados e as suas bagagens, os feridos, os doentes e as pessoas

não combatentes que os acompanhavam, que, decerto, dentro d elias estariam mais commodamente que debaixo das tendas de campanha. Dada a ordem de retirar, decerto muitos damnos lhe haviam de causar, para se vingarem da morte de grande numero de seus companheiros e do malogrado intento; damnos que os habitantes foram reparando o mais rapidamente que puderam, e dizemos damnos porque não acreditamos na destruição completa,

e destruindo

como aflirmam os

tudo o que

chronistas «arrazando

estava tora dos

muros do castello», sempre propensos ao exagero, como se vê na lapide commemoraliva d este assedio. Ao lado direito, do átrio da egreja, em um muro que ali se levantou, muito posteriormente á edificação da capella dos Templários, porque

onde era vados

passa por

deanle de

porta d aquella capella, estão dois letreiros, grapedra, um em latim e outro em portuguez, que é a

a

em

traducção deste. Diz o primeiro:

EUA DE 1160 REINANDO ELREI DE PORTVGAL DÕ AFFONSO: GALDIM PAES MESTRE DOS SOLDADOS POR-

TVGUEZES DO TEMPLO CÕ SEVS SOLDADOS: EM O

PRI-

MEIRO DIA DE MARÇO: COMECOV A EDIFICAR ESTE CASTELO: POR NOME TOMAR: O QVAL CASTELO O DITO REI

OFEKECEO A DEOS E AOS SOLDADOS DO TEMPLO

— ERA

DE 1228 AOS 13 DIaS DE JULHO: VEO ELREI


— 10 ',

DE MAUROCOS TRAZENDO DE

DE CAVALO E Õ00

4<)0 V.

V.

cercov este castelo por G dias: e des-

pe: e

TRVIO QVATO ACHOV FORA DOS MVROS: E AO CASTELO: E AO DITO MESTRE CO SEVS SOLDADOS LIVROV DEOS

DE SVAS MAÒS: E O MESMO REI TORNOV TRIA CÕ INVMERAVEL DETRVMENTO lí

ESTAS

—HESTE

PORTAL Q VAI

P.

A

SVA PAM DOS IIOMES E DAS

A

P.

HE O LITREIRO Q ESTAVA SOBRE O A

OS PAÇOS DA RAINHA E HE O TRES-

LADO DO LITREIRO ABAIXO.

iílC

IX

;

trissimo rrqr

0312

;

portugalis

;

portuqaleusi

uus

um

;

fratribus suis primo l)o

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rrrobtulit:

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CC; XX: 0232; rrr

í»r

illaroqis

qingenta

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;

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rt

;

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innumrrabili I>rtrimrto

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urnit

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obsríút

rt

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milia

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;

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palria sua

;

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(íljomar;

;

Qr>unlí»i-

(Lrmpli

:

manii

;

illus-

;

illaqistrr

;

i)ir

;

Hfonso

;

militum

;

nominr

castellum;

;

reqmintr

;

;

;

in

l)ominu

;


N

esta lapide

commemorativa aflirma se que quatrocentos

mil cavalleiros e quinhentos mil infantes atacaram o castello;

perto de

um

milhão

dhomens

E’ evidentemenle exageradis-

J

simo este numero, e assim como exageraram o numero dos inimigos é muito natural que exagerassem também os estragos,

que fizeram na povoação, porisso estamos convencidos de que ella não foi totalmente destruída; o mais natural é que fosse incendiada. se sabe ao certo a causa d aquella súbita retirada, se

Não

as perdas soffridas nos assaltos ã fortaleza, a esperança per-

numero de baixas no exer-

dida de conquistai a, se o grande

mau

produzidas pelas febres palludosas de

cito,

do Tejo e das quaes se

A

diz

mesmo Yacub

que o

primitiva capella dos Templários

modificada; encostaram-lhe

uma

torre

lhe as ameias,

que eram de pedi

ram

portas (tinha

lhe mais

portas construiram

a,

uma

um coro,

que

os arcos

com quadros com silvados

foi

affectado.

foi

posteriormente muito

com

sinos, substituiram-

por outras de tejolos, abri-

só);

já lá

sua espessura pequenas capellas, teriores

margens

n’esta localidade c nas

n’aquella epocha grassavam

que

caracter,

ao

não

lado d está,

uma

d’essas

metleram-lhe na

ornaram- lhe as paredes

in-

enfeitaram-lhe as columnas e

e altares,

e arabescos, collocaram-lhe

imagens de

santos e prophelas, nas abobadas desenharam emblemas, nas faces das paredes do octogono central pintaram figuras allego-

tudo isto dourado,

ricas;

luzidio,

brilhante; os

ouropéis do

fausto a cobrirem a nudez da singeleza; rasgaram-lhe

um

arco,

desengraçado, sem elegancia; mas embellezaram-o com pinturas a vivas cores; este arco

foi

feito

para

ampliar

a capella,

em um templo; n esse templo collocaram um poseram um púlpito debaixo do arco, ã entrada da

transfoi mal-a

or-

gão e

ca-

pella

dos templários, que ficou sendo capella-mór;

construiram

um

mobilia, que já

ao fundo

côro para os frades, guarnecido de riquíssima

não existe, e

cuja area é maior que o corpo

da egreja, destinado ao povo. Assim foram modificando, ampliando e transformando a obra dos Templários á maneira das


— 100 — necessidades e segundo o estylo da epoeha e o gosto dos reis

ou dos

arcliitectos, a

em

tornar

vastíssimo

quem incumbiam

obras, até se

aquellas

sumptuoso

convento, ou antes diremos

palacio de frades fidalgos, que ainda boje se vè e admira.

Tudo

ali

é grande e bello; grande na forma, bello no pen-

samento. Dentro d’aquelle recinto estã se como milhares de volumes

theca, cujos

escripla cliia

em

ornatos e figuras toda

a historia

dentro o pensamento vagueia pelo

Ali

rudes muralhas

a lueta pela

da nossa monar-

fastígio da sua gloria.

passado;

para poder

homens, que

n’aquellas

independencia e dilacção da patria,

eutão nascente e ainda vacillante, firmando-se luartes

vasta biblio-

pedras, onde está

são as

desde os tempos primitivos até ao

em

caminhar alem;

a constituiram e

e

naquelles ba-

admira o

exforço dos

vè como

consolidaram; depois

crescendo e desenvolvendo-se; porque da extensão dos

(dia foi

territórios e

do augmenlo de riquezas

que

é

ia

emanando o

progrediam sempre

d’aquellas obras, que

desenvolvimento

a

chegando ao ponto culminante, quando lambem as glorias

par,

porluguezas o altingiram. Está

ali

estampado, na magestosa ornamentação da janella

da casa do capitulo, o apogeu das nossas glorias. Esta janella egreja; quando o sol declina, os seus

face poente da

na

lica

raios luminosos, incidindo sobre ella,

dão

que alumia o passado e nol-o patenteia; dois brilhos: o brilho d

um

povo n

um

reverberes de

resaltam

então

passado glorioso e o

luz, d’ali

bri-

que soube graval-o na pedra para tornal-o visível, sempre patente ás gerações vindouras. A arte é o que ha de perdurável, de immorreJouro na

lho da arte,

claro e

vida d

um

o fogo

d

povo;

transforma gio.

na

A

a

artificio,

seriam como mas que breve se aragem dissipa, sem deixar vestí-

grandeza e

que brilha

em

a gloria

sem

a arte

e encanta,

fumo, que a gravando no bronze, burilando na pedra, pintando Iransmitle ás gerações futuras o que se deu de mais

arte,

tela,

notável ifesia ou naquella epoeha; transforma a idéa o

pensamcnlo em acção:

falia

em

facto;

aos sentidos, torna visível e pal-


— 107 — pavel, perceptível pelas sensações o que a linguagem escripta

sò pode dizer ao entendimento. versal, <|ue falia a todos os povos

com vehemencia primindo

a dor,

A

arte é

0

artista,

com ingenuidade e singeleza, com sentimentalismo, ex-

o pesar, a alegria, o odio, o amor, etc. e por todas

todo o mundo.

deixou

ali

gra-

epico da nossa historia. Está u’ella toda

uma

que ornamentou aquella

um poema

em

janella,

m

epopeia, a

sy

epopeia

ças,

bo

li-

q u e

exprimem

d'um po-

um pensa m en to

vo gigan-

Cate mões es.

elevado e

gr an

c re ve u-a

em

uni-

e arrogancia e até

estas formas se faz perceber aqui, alem,

vado

uma linguagem

versos

•s

o

di o-

u

;

m

ca den cia-

c o

dos e har-

penna

moniosos,

outro

o ar t

na

•o

a

m

dura em

4'

e a

b 1

ram o

pedra

a

o

com

buril,

tis ta

ço u- a

r a

m

os is a-

seu

linhas ca-

mesm

dentes

pensar, o

r e gu

gu

bem

1

e

r e s, li

c

seu mes-

a-

mo sentir: torna

m

r a s

Janella da Pasa do Papitulo

patente ás gerações futuras as glorias da sua epocha.

escreveu no papel o seu admiravel poema, o outro

se lèem, o

pliias,

segundo espalha

se

em

livros

desenhos e phologra-

que se admiram.

Alem do que mencionámos ba muito que admirar le

Um

gravou-o

mão em mão em

na rude pedra; o primeiro corre de

que

o

vasto e sumptuoso edifício, não só

quanto

á

n’aquel-

grandeza, co-


— mo

IOS

quanto ao merecimento

artístico.

Não entramos na apre-

obras d arte que

ciação das maravilhosas

porque o não podemos fazer por

falta

cos, essa apreciação pertence aos entendidos;

éella ali

encontram,

demais que não

porque os diversos estylos architeclonicos acham se

facil,

em

se

ali

de conhecimentos techni-

muitas partes

confundidos,

nos outros; são obras

começadas por uns

e

em

feitas

como que enxertados uns

differentes

epochas, algumas

acabadas por outros e outras ha ainda,

que longos annos após o seu acabamento soffreram importan-

com

tes modificações

o fim de as adaptarem a outros usos ou

de lhes darem fôrma mais

e

em harmonia com

o gosto da epocha.

A arte, que só pode ser apreciada pelos que a estudaram comprehenderam, é admirada por todos, mesmo pelos que

não conhecem; não é preciso ser entendido na matéria para se fazer reparo no portico d aquella egreja e ficar como (pie a

extasiado deante d’elle, admirando os rendilhados, os relevos, as imagens de santos, ernfim, tudo quanto o auctor magistral-

mente ali esculpiu, deixando o tão bem acabado, tão artisticamente disposto, revelando um pensamento, obedecendo a uma

mesmo

idéa que,

o saber,

habilidade do artista que

a

O

portante obra.

mente

um

mamente

aos profamos está mostrando a intelligencia,

aspecto maravilhoso

com quanto um

capella-mór e

á

em communicação com

o Claustro do Cemitério, obra do Infante só galeria

com quatro

faces,

1).

esculpida

em

cada

com admiravel

um

delles.

este claustro era destinado a leiros

de Christo;

se

ella está

Henrique; tem

em numero

e duas, delgadas, elegantes, cujos cu piteis são

e differente

ulli-

uma

formadas por vinte arcos ogivaes,

que se firmam sobre columnas duplas,

com folhagem

claustro,

lhe esteja encobrindo parle das bellezas.

feito,

Contíguo

executou aquella tão im-

corpo da egreja apresenta lambem exterior-

Como

serem

de trinta

ornamentados

perfeição e delicadeza,

o seu

n’eile

nome

o indica,

sepultados os Cavai

vèem ainda no pavimento lageado

campas, que cobrem os restos mortaes de muitos delles.

gumas com

letreiros para

que não se olvide o nome

as al-

e a qua-


— lidade do que

repousa, desde que deixou de agitar-se n’este

ali

onde o ser humano passa como o meteoro,

cyclo indefinido,

que brilha

e alumia,

como

a

tempestade, que assusta e destroe,

ou como tenue nuvem, que corre sa,

nem

porque

109

nem obscureceu

agitou

desapercebida pas-

ligeira e a

se movia. Terminada a sua rotação todos

onde

atmosphera,

mergulham nas pro-

fundezas d’esse abysmo insondável, onde todos os brilhos se apagam, todas as vaidades se somem, todas as vontades se

sem que possam

aniquilam;

não deixaram

ral-os, se cá

letreiros

ou epitaphios

commemo-

quaes se per-

feitos notáveis pelos

petue a sua memória. «E’ a especie humana que deve ser.

ella

mesma, o monumento

que

vivo da gloria dos

homens

illustres,

produziu. (James Hervey)».

Porém, nem todos descem das glorias mundanas, que

erguem

rer perpetuar,

se

campa

como

resto

alguns leem a fatuidade de

que-

á

tumulos, construem se

riquíssimos, faustosos alguns, para

apoz

podridão. Vanilas vamtatum,

se encerrar o que fica

que duram?

terra e de argila o

consumirá:

traçou sobre o

estes

(Ecclesiastes).

«Todos estes monumentos de

0

vòo dos annos

caracteres que

bem

uma penna

mármore serão em breve apagados:

a

depres-

de ferro

columna

de triumpho desmorona-se, a estatua

o arco

bronze morre

omnia vanilas.

et

Sim, vaidade, loucura humana.

quebra-se.

ali

mausoléus

essa coisa infecta e repugnante, pasto de vermes,

a vida;

sa os

rasa; ainda

mesma sob

de

do tempo. (Os Tumulos, d Hervey)». Os seguintes versos do bello poema de M. Fonlaine La ropidilé de la Vie, traduzem o mesmo pensamento, dizem

a

ella

mesma II

o dente

verdade:

a péri ce Grand, dont 1’orgueil imbécile

Végéta stdxante ans pesamenl mutile.

En On

vain,

pour délivrer sou

flechit les

beaux

arts,

oiiibre

du tombeau,

on arme leur ciseau.

Son ombre errante au gré de

la

main qui

la

guide,

Reparoít sur sa tombe, appuiée et stupide:

Le temps attaque encor tous

Amasse

et

monlre en

les

noms que

1’orgeuil

foule autour d’un vain cercueil.


110

O

-

ser individual desapareceu d

existe,

nem mesmo

a

porque o eu

ali,

jã lá

não

forma typica da especie a que pertenceu

pode conservar por muito tempo, porque se esphacella e decompõe. O

tpie é

então que dentro daquelles riquíssimos ja-

zigos,

envolvido na

guarda

?

pompa

e no luxo, tão

Gazes deleterios, que

cautelosamente se

expansiva ou

pela sua força

pela sua acção chimica,

rebentam on corroem os hermetica-

mente fechados caixões,

[tara

onde

téria bruta,

se escoarem para a atmosphera,

os colheu e os organisou. Depois que

a vida

a

fica ?

A ma-

ossada, substancias terrosas, carbonatos e phos-

phatos calcareos, que, depois de terem perdido toda

a

matéria

organica, que os impregnava, se pulverisam. Memento, horrw,

guia pulvis

es et in

homem, que gélica,

indiscutível,

em pó

Pulwris

unidas n

um

te

ixiijui jaclu

leis

compressa quiescenl. (Virgílio).

jacto de humilde pó». Dara

Estas

descansarão

espíritos e estas tantas contendas

quê tantas fadigas por

heroes, a magestade dos reis, tudo termina a soíTrer,

Ui

da natureza.

htvc cerlamina tanta.

triumphos tão passageiros? A fortuna dos ricos, Desgostos

te,

has de tornar. Verdade evan-

porque deriva das

molus animorum alqne agitações dos

Lembra

pulverem reverter is. (Genesis).

és pó e

a gloria

por— aqui

bens que é forçoso deixar,

tal

dos

jaz.

é o inven-

em

pó é o termo de todas as grandezas da terra. (Noites de Young).

tario exacto da vida e o

lia

pó tornado

duzentos anuos as nossas cidades e as nossas aldeias

eram povoadas como o são hoje. Que é feito d’esse povo? Sumiu-se na voragem do tempo. De todos elles nada mais resta que um pouco de pó misturado com a terra. E n’estes restos humildes encontramos porventura algum signal de distincção, de grandeza ou de nobreza?

Nada.

Perfeitíssima egualdade

nos elementos maleriaes, que constituíam o corpo do nobre e o do

plebeu, o do

rico e o

do pobre, o do virtuoso

scelerado. Unidade da matéria.

Não

está

ali

e o

a distincção.

do

Mo-

narchas, que reinaes na terra, o vosso nascimento distinguiuvos dos outros homens,

mas

a

morte vae egualar-vos ao mais


— III — humilde de

Grandes do mundo,

vossos súbditos.

bem o que resta cem ânuos deve

iuvestigae

hoje de vossos antepassados; o que d’aqui a

de vós mesmos:

restar

não conservará vossos

titulos

uma

inscripção, que

de nobreza senão para indicar á

posteridade que já não sois coisa alguma do que ereis n’este

um

inundo, e que de vós não resta mais que

menos precioso do que

a

pouco de pó muito

urna, que o encerra.

somnium

Velut

surgentium, Domine, imaginem ipsorumad nihilum rediges. (Psal.

nada a vã imagem da sua felicicomo o sonho dos que despertam. Nnnne hcec omnia pulvis,

7 2). Senhor, vós reduzireis ao

dade,

nnnne omnia

faviloe,

nonne paucis versibus locurn

memória

vilce

Prospero. Sentenças .) O que são afinal todos os bens do universo? Pó e scentelhas. Que resta dos grandes homens?

esl.

(S.

Alguns versos

em

sua memória.

vas de contar na tua

«Mortal, por mais altivo que

que noutro tempo

sejas do teu nascimento, tu,

genealogia

que abandonar aqui todas essas

uma

longa

fila

te

vangloria-

d’avós, tens

altivas pretensões.

Tens que

Ou se o teu orguimpor-se-me, se o teu monumento ousa dizerGrande, eu respondo lhe: mármore mentiroso,

confessar que agora o verme é teu egual. lho

quer ainda

me: aqui jaz

o

onde está esse Grande? Eu não vejo mais que um pó vil». (Os Tumulas dTlervey). Mas, a adejarem por sobre os tumulos, ficam as virtudes civicas e moraes do ser

decompoz. Não as apaga faz realçar a

commum,

humano que

ali

se

que cobre o cadaver nem as

magnificência do jazigo,

tanto brilham sobre o valia

a terra,

que o encerra;

mausoléu onde jaz o

rico

porque

como sobre

a

para onde se atira o pobre; resplandecem sem-

pre onde quer que estão; não se destroem, são incorruptíveis,

duradouras, deixam cá e

um

rasto de luz

que não se extingue

passam alem da campa, acompanham esse

componivel, que evolução.

ad

Non

em mundos

est

exitus

quid, o

iste.

sed transitus

et

não é

um

termo, mas

indea

sua

lemporali itinere

(eterna transgressus. (S. Cypriano, Liber de Morte).

á eternidade.

EU

desconhecidos vae continuar

A morte

uma passagem, que nos conduz do tempo


12

1

A morte, esse espectro

um

é apenas

uma

terrível,

faz tremer,

que tanto nos

ponto de eontacto entre o presente e o futuro,

transição insensível do visivel para o invisível, do conhe-

surgem os phanlas-

cido para o ignoto; e é d'esse ignoto que

mas que nos assustam, que nos fazem

temei’ o transito

que imaginamos cortadas de

vias desconhecidas,

cobertas dabrolhos, quando

hem podem

por

precipícios,

ser planuras amenas,

alapetadas de brilhantes llores. «Para que tremer

com

o pen-

passagem não é tão terrível como em nos crearmos sustos, atormentamos nos com nossas chimeras; formamos um phantasma, damos-lhe ameaçador aspecto; e bem depressa, esquecendo nos samento da morte nós

a

de que pés e

Esta

?

imaginamos. Engenhosos

éobra nossa, nosso medo anima o, trememos a seus não podemos encarai o sem empallidecer de terror. A elle

imagem

que nós formamos, segundo as nossas conjectu-

infiel,

não tem semelhança alguma com o original. E que

ras, qnasi

pintor ponde já colher as verdadeiras feições da

lyranno não repousa

um

só instante.

O

morte? Este

receio agita o pincel

em

nossas mãos tremulas. A imaginação exagera.

cia

carrega

com

ellas.

de que

A ignorâncom suas sombras o retrato e a rasão assusta se Onde está a morte? Sempre futura ou passada, des-

ella é

presente não existe,

abandone o sentimento negros presagios

mas sem

?

Quando somos

sentir a dor.

rios, a pá,

a

O dobre

antes que a esperança nos

enchermo nos de recebemos o golpe,

Para que

é morto.

feridos

funerário,

os pannos mortuá-

tumba, o fosso húmido e profundo,

os vermes, todos esses phanlasmas, que

as trevas e

surgem sobre

a

noite

da vida, são o temor dos vivos e não o dos mortos.

Victima

de sua louca imaginação e desgraçado por seu erro, o

homem

uma morte que não é aquella que a natureza fez receio de uma só esperimenta mil». (Noites de Young

inventa

o

culpem nos

esta digressão,

mente nos levou,

fora

a

)

com Des-

para onde o espirito involuntaria-

do nosso

ohjeclo; e, reprimindo nos,

mais diremos d’este phenomeno transitório,

tem despertado

e

a

nada

morte, que tanto

attenção dos pensadores de todas as epochas.


— Em

nas parede

arcos abertos

113

d’estes claustro

estão os

tumulos de Balthasar de Faria, Diogo da Gama, e o de Pedro Alvares de Freitas,

em

cuja

memória

se

gravaram nos respe-

ctivos tumulos as seguintes inscripções

S.

a

DE B ALTAS A II DE FARIA

QVATRO REIS DESTES REINOS

CONSELHO DE

FOIDO

.

DÕ JOÀO HO

III

.

SEBASTIÀO OPRIMEIRO DÕ HENRIQUE E DÕ PIIIL1PPE

E ALMOTACE MOR III

.

.

IMPETROV DO SATO PADRE PAVLO

A BULA DO SATO OFICIO DA INQVISICÀO PERMÀ-

.

DADO DELREI DÕ JOÀO HO

III

EOS PADROADOS DAS

INSIGNES PRELACIAS DE SÀTA CRUZ E ALCORACA PERA

A COROA. FOI EMBAXADORA ROMA. E DEV OBEDIEN CIA DESTE REINO

S.'D.

O PAPA JVLIO

III

;

— 1584

DÕ DÍOGO. DA GAMA. CAPELLÀO DELREI. DÕ.

M. el OPR.°.

DESTENOME Q SÀTA. GLORIA.

AÍ A

.

E DO

SEV CÕSELHO. TEVE ESTES. BENEFICIOSSO DÕ PRIORADO

DESTA CASA E OS MOSTEYROS DE BRA,

S.

JORGE DE COIM-

CHRISTOVÀ DALAFOES, ABBADIA DOS TAMA-

RAES, E AS IGREJAS,

DO

S.

S.

SANTIAGO DE SA TAREM,

SVL, AS CERZEDAS, E ALCÕGOSTA,

S.

PEDRO

DEYXOV PERBÕS

FOROS TÀTA REDA AOS FREYRES DESTE CÕ VENTO, PERQ SE CATE POR SVA ALMA PARA SEPRE IIVA CAPELLA.

S.

HVA MISSA REZADA CADA DIA E OVTRA CATADA CADA 3 MES CÕ RESPÕS, SOBRE ESTA SEPULT. FALLECEO AOS

25 DÍAS DE JANEYRO NODO SÕR 1523.


Sepulcro de pedualvares

TRADOR QUE

FOI

.

NESTA

de fheítas adménis-

.

VILA

a

PERA

— INTE

SEMPRE

DEI•

DNE SPERAVI MÍSERERE

.

MEIDV. VENERÍSINNO VÍSSIMO

No sarcophago de

.

CU RESPONSO NESTA

XO V TRES MISAS CADA SOM ANA S

DE TOMAR

.

DIE

— 1599 —

Baltliasar de Faria está

ainda a

mumia

do seu cadaver. Pela cessação da vida não se decompoz aquelle se, para que os elecompunha, fossem nutrir e alimentar outros

organismo, pulverisando-se e volalilisando

mentos de

(]iie

segundo

seres vivos, aquelle

se

todo.

a

lei

natural

secco, mirrado,

das

mutações;

ficou ali

hediondo, apresentando ainda

hem desenhadas as formas materiaes do indivíduo, onde se alojou um espirito dominado pelo genio do mal. Ia na natureza mysterios que a scicncia ainda não poude decifrar; nem I

a terra o quiz tragar, diz o vulgo.

e

consumiram os cadaveres dos

rados

em eguaes

na scieneia

Porque se decompozeram que

outros,

ali

foram encer-

túmulos e nas mesmas condições? assentes que

Não ha possam dar

explicação satisfatória.

Insondáveis

princípios alguns

d aquelle phenomeno

uma

bem

mysterios que não pretendemos prescrular.

Quando les foi

os francezes estiveram

tumulos suppondo,

talvez,

então ipie se encontrou

para

a

que

um

collocaram

fúnebre,

um

ali

depois transportada

foi

esteve por muitos annos

caixão detraz do altar mór: depois

para o logar que lhe pertencia,

monumento

abriram aquel-

houvesse riquezas oceultas:

mumia, que

a

egreja de S. João Baplisla e

dentro dc

em Thomar

alu iram

vidro, para

foi

removido

na pedra que fecha aquelle

e,

um

buraco

qu.uli

angular onde

que todos possam observar aqmdla

forma humana, poupada pela acção decomponente das forças physico chimicas, que reduzem aos seus a

matéria

sobre

ella,

organisada,

abandonando

quando a á

a

força

elementos primitivos vital

deixa

de acluar

acção metamorphoseante de todos


os micro organismos Está

humano, descarnado,

em

ali

toda a sua nudez aquelle corpo

resequido;

quem

a

consumiu os andrajos, mas poupou

a

a

para que possa ser observado por todos os a todas as

apreciações, até ao escarneo;

das culpas commetlidas durante

acção

do tempo

em

vida teve,

forma que

olhares e sujeito

talvez

em

expiação

porque esses olhares

a vida;

curiosos e oíTensivos da pudicícia, essas

apreciações desfavo-

ráveis, as recriminações dos erros praticados, as alTronlas, os

sarcasmos que lhe são dirigidos, recebe-os e sente-os o espirito mais vivos, mais impressionantes ainda do que quando no

mundo

physico

se achava

ligado á unteria.

Permitia se-nos

esta manifestação da theoria espirita, a mais racional de todas

pelas quaes se pretende explicar os

pa e que hoje conta já no

mundo

phenomenos d além da camscientilico

numerosíssimos

adeptos.

Delegado do

procurador da inquisição,

rei,

de Faria quem, na corrupta

do chefe supremo da Egreja de definitivo

cm

Portugal d’esse

negação absoluta do christianismo.

E

punham em almoeda,

tuguez, olfereceu mais cofres

estabelecimento

horroroso, que

N’esse mercado

consciências se vendiam a peso se

Christo, o

tribunal

foi

elle

abjecto,

d’ouro e as coisas

rei

por-

quando os

dos hebreus se achavam já esgotados, pelas

tas vezes

onde as religiosas

quem, em nome do

avultada e segura quantia,

caríssimas d essas bulas de perdão e isempções,

era a

completa do

direito natural, a apostasia

obteve-a.

Balthasar

foi

mais trabalhou para obter

Itonia,

compras

com que

tan-

foram burlados, pelos representantes d’.\quelle que,

ao expirar pregado

em uma

proferiu estas palavras: Pnrce

ergueu os olhos ao ceu e

cruz, illis,

perdoae-lhcs Senhor. Pedia

o perdão para os que injuslamente o crucificaram! E perdoará Elle aos que baixamente o atraiçoam, vilmente o calumuiam, invertendo o sentido das suas

formando

a

sua santa doutrina, toda

negação e humildade,

mesquinhas vinganças,

amor

palavras, trans-

e cordura, toda ab-

em culello d’algoz para execução de em arma covarde para assassinar cons-


-

MO

em

ciências,

espíritos fracos para

das virtudes

eslerilisador

cisino,

acorrentar liberdades permit-

para

rijas cadeias

abusando de

tidas

sentimentos da alma,

em

feia intriga,

onde o amor,

seio das famílias,

de sentimentos devem dar

a

indnzil-os ao asceti-

em

fraternidade, a

commanhão

harmonia,

o principal elemento da felicidade domestica?

Nobre

nobres

ignóbil discórdia no

paz, a perfeita

a

mais

civicas e dos

quando não

e hella ê a missão de sacerdote,

(pie é

Quem sabe?... se alaste

das santas doutrinas do Divino Mestre.

Não vem historia da

aqui

a

fallarmos mais

proposito

uma

inquisição,

detidamente da tenebrosos, de

d 'enredos

serie

machinações vergonhosas. Alexandre ilerculano, resumiu escreveu

a

em

tres

uma

volumes. E‘

da nossa nação. Porém, para que os que ainda

possam

formando uma

ficar

buna! iuiquo, onde se lá

não presidia

íin, essa

mas sim

segumte hebreus

á cúria

romana

á loucura

faz

e

parte

não conhecem tri-

porque

direito,

o odio, a cubiça e o fauatis-

em

aberraeção do espirito humano, periodo, que

a

idèa do que era aquelle

não julgava segundo o

a justiça,

que poJe levar até

gião,

leve

lo a,

pagina negra da historia

uma

de

matéria de

reli-

transcreveremos o

feroz,

das

allegações dos

que Alexandre Ilerculano dá como

aulheutico e copiou na sua historia:

«As barbaridades, que se praticam, são laes que custa

como hajam

forças

humanas, que possam solTrer tanta

cruel-

— Se se é delatado, ás vezes por testemunhas falsas

dade.

quer d esses malavenlurados,

por

morreu, os inquisidores arrastam o

não é permittido ver ceu nem os seus, para que o soccorram. tas e uão lhe ticou isso de

com

a crer

o

nome

redempção

cuja a

terra,

Accusam o

que o accusam. O que pode alguma testemunha,

Chrislo,

um calabouço, onde lhe e nem sequer fallar com testeiminlia» occul-

revelam nem o logar nem o tempo

d

qual-

em

(pie pra-

é adivinhar e se atina

tem

a

vantagem de não mais

servir contra elle o depoimento d’esssa testemunha. Assim util seria

lhem

ao desventurado ser feiticeiro do que chrislão

Esco-

em

vez de

lhe depois u n

advogado quo, frequentemente,


— 117 — o defender, ajuda a levai o ao patíbulo. Se confessa ser chris-

com constância os cargos chammas e os seus bens são ou taes actos, mas dizendo que

tão verdadeiro e nega

condemnam

Se confessa taes

sem má

tenção,

cerram-o

mesmo modo,

traiam o do

que nega as intenções. aquillo de

Se acei

ta

a

que é accusado, reduzem o

em

cárcere perpetuo.

O que chega

de misericórdia. imiocencia

<|iie

n'o ás

é,

em

a

lhe dão,

confiscados.

os praticou

sob pretexto de

ingenuamente

confessar

ultima ind gencia e en-

á

Chamam

usar com o reo

a isto

provar irrecusavelmente

todo o caso, multado

em

certa

a

sua

somma, para

que se não diga que o tiveram retido sem motivo. Já se não falia em que os presos são constrangidos com todo o genero de tormentos

confessar quaesquer delidos que se lhes

a

buam. .Morrem muitos nos cárceres

e ainda os

ficam deshonrados, elles e os seus,

com

infamia.

Cm summa,

que saem

atli

i-

soltos

o ferrete de perpetua

os abusos dos inquisidores são taes que

facilmente poderá entender

quem quer que

lenha

a

menor

idea

da indole do chrislianismo, que elles são ministros de Satanaz e não de Christo.»

E

monstruosidade que alguém haverá ainda que

é esta

deseje ver restabelecida

Fallando das

mencionar

de

a

!

!

sepulturas dos

um

que entre

Antonio de Lisboa; não está no cemiterio

um

não

frades

deixaremos de

nome

elles leve

certo grau de distincção, acha-se na capclla

de uma das pequenas capellas da parede,

com

varias

Jesus. Parece

que

o cadaver de

outro

invocações, foi

notável,

sendo esta ali

aberta

a

Frei

talvez por

múr em

que se abriram na

esta sepultura

homem

e fama,

commum,

frente

espessura

do Menino

para encerrar

Lopo Dias de Sousa,

e

mais tarde, querendo lambem n ella sepultar Frei Antonio, os ossos do primeiro foram removidos e encerrados em um tumulo

embebido na parede lateral da e no qual gravaram a seguinte A<^1 JAZ O.MT°

dita capclla

do Menino Jesus

inscripção:

ORADO QOMEDADOR DÕ LOPO DIAZ DE


118

-

SOUZA MESTRE DA CAVALRI 1

AOMT 0 ALT 0 SEPE VESEDOR

FOI SE PE MT° LEAL SUIDOE

KLREI DJ JOA OPIMR 0

DAOUDE DE CRIZTVS Q

.

O QUAL FOI GRADE A.IVDA E

.

DEFESA O DESTES REINOS EETROV CÕ IIELE CIQO VEZES K CASTELA CÕ SVA CAVALARIA .

EEATOMADA DE CEPTA

.

E TEVE OMESTRADO QORETA ESEIS ANÕS

NAERA DE I1IVXPÕ DE

1000

.

.

E

400

.

AOS NOVE DIAS DOMES DE FEVR 0

.

EFJNOUSE .

EO MT° IlÕRADO

.

.

ANOS

.

E 31

.

E PREZA DO SOR OIFAT DÕ ARIQE GOVE 4NADOR DA DI-

TAORDE DVC DEVIZEV E SÕR DE CoVILLÀ OMADUV. .

.

.

.

TRELADAR A ESTE CÕVKTO

.

AOS OIT° DIAZ DOMES DE

MARCO DA DITA ERA DONACMT 0 DE NOSO SÕR DE 1431

.

ANOS.

— Aq(u)i jaz do(ni)

com(m)e(n)dador

o m(ui)to (h)o{n)rado

Lopo Dias de Sousa, Mestre da Caral(la)ria da

Ordc{m) de Christo, q(ue) s{e)r(v)idor

ao m(u>)lo

Do(m) Joã(o) ajuda e(m) el(l)e

.

(l)aria, e

alto se(m)p(r)e ve(n)cedor elrci

o p(r}im(ei)ro,

defe,(n)são

ci(n)co

d

vezes e(tn)

(a)o qual

Caslel(l)a

e(m) a tomada de Ceuta;

Christo de

foi

gra{n)de

estes reinos ; c e(n)lrou

q(u)are(n)ta c seis an(n)os.

E

co(m) e

finou se

co(m)

sua Cava!-

teve o

mestrado

na era d; Jesus

1435 an(n)os, aos nove dias do mcz de

fev(erei)ro, e

o m{ui)lo ho(n)rado e presado

o I(n)fa(n)te Do(in)

orde(m),

foi se(m)p(r)e m(ui)lo l»al

(

ll)>(n)riq(u)e ,

duq(ue) de Vizeu

e

s(enh)or

governador da dita

s(enh)or de Coeilha(in ),


— no — o

mandou

lra{s)ladar a este co(ri)ve(n)to, aos oito dias

do mez de março da dita era do nasc(i)m(en)lo de Nos(s)o S(en/t)or de 1435 an(n)os .

Para que se não olvidasse se paia a

Ordem

para os pobres da sobre

a

a

a

memória d’aquelle

pertencia

de Tliomar

foi

foi

talvez

um

inscripção, que está

um

frade, que,

benemerito,

tyranno, gravaram lhe ali

bem

patente á vista

sepultura é conhecida

isso aquella

altenção teem visitado aquelle

encoberta para que

de

que

villa

campa uma

de todos; por

com

a

alguém queira

de quantos

convento e nunca

esteve

arrogar-se a importância

haver descobrido:

— Esta

sepultura é de frei antonio de lisboa

RELIGIOSO DA ORDEM DE

DESTE CONVENTO E

D.

JERONYMO REFORMADOR

S,

PRIOR DELLE. FALLECEV A XXI

DIAS DO MEZ DE JUNHO DO ANNO DE M.

I).

L.

I.

Para o Claustro do Cemitério abrem se as portas da sacristia

nova, do corredor dos confessionários, da

da torre da famílias

egreja e da

sacristia velha,

uma

dos Portocarrero,

capella

das

mais antigas e mais nobres de Tliomar, como se vê

mesma

da inscripção que se encontra na

capella,

que diz o

seguinte:

Capella de antonio. portocarr. 0 cavalr. 0 fidal-

go DA CASA DE

S.

M. nK ALMOX. * DAS.

MEZA MESTRAL. DA ORDEM DE VILA DE TOMAR. E DESVA

FIZERAM

P.

a

2.

3

RENDAS. DA

N. S. IESVOPÕ.

M. EK M. a

SE NELLA ENTERRAR.

DESTA

COREA A QVAL

COM SEVS

F.

os

E


— 120 — MAIS DESCENDENTES. POR

UNHA

DIKEITA. E A

SVA

CUSTA ORNARAM DE TODO ONÃRIO P SVA PFEICÃO E a

CVLTO DIVO. COM OBRIGACAO DE XXXXXI MISSAS DE NSRÃ 0 ESTE. REAL CON. to LHES DIZ TODOS OS SAB-

BADOS CADANNO POR SVAS ALMAS COM RPONSO SOBRE SVA

S.

DIM.

T0

a

P. # CU.JA

ESMOLA E FABRICA DEIXAM

«

BASTANTE CÕFORME AOCONTRACTO QUE FIZE-

RAM COM OS

R.

dos

P.

es

EM CVJO PODER ESTÁ E

TRASLADARAM AQ OS OSOS DE SVA

SE

REN-

PB.

a

GELA DE QVINTANILIA IRMA DO BPO. DO

ASSI

M.““ ANG.“°

DE

QUINTA* REALEGIOZO DESTE REAL CONV. ro Está este claustro

vagem

e

em communicação com

com umas dependeucias do

dos frades, as enfermarias,

um

o Claustro da La-

convento, onde era a botica

corredor

com

dormitorios e a

Sala dos Cavalleiros; esta parte está hoje occupada pelo hospital militar.

A

sacristia n

ova

uma

é

casa

es pa ço sa

com abobada apainellada

e

dourada e pa to

vi

men-

de mar-

mo re

de

cores, on-

de

em

ga-

vetões de

pau santo pLAUSTRO DO £ MITtRIO B,


— 121 — com

puchadores de cobre lavrado e doura-

ricas fechaduras e

do se guardavam os luxuosos paramentos, pertencentes á egreja; d’aquelles moveis preciosos só restam os estrados sobre que assentavam. Contígua ella

da

uma

por

lizas e

a esta sacristia e

em communicação com

porta estreita ba urna casa de paredes e aboba-

pavimento lageado, recebe luz por duas frestas col-

locadas na parte superior das paredes dos topos e defendidas

alguma; é uma

por grades de ferro; não tem mais abertura especie de casa forte, onde se

d ouro e

guardavam as riquíssimas

alfaias

que enriqueciam os (besouros d aquella egr eja e de tão subido valor eram que só as pratas foram em tempo pr ata,

avaliadas

em mais de 40

contos de

réis.

A maior

preciosidades não se sabe que caminho levou.

mandada

recida por D. Manuel,

parte d estas

Uma

cruz ofle-

com o primeiro ouro que veiu da índia e uma custodia também d ouro cravejada de diamantes, estão em Lisboa, mas a maior parte das pratas e fazer

outros objectos d ouro de muito valor desappareceram, não se

sabe como. Alem das pratas da egreja havia ricas baixelas para serviço dos freires, riquíssimas colchas de selim bordadas a ouro, moveis de muito valor e tudo isto desappareceu

quem

sem se

mão. Esta casa é boje conhecida por casa do echo, porque qualquer som que ali se produza, reflesaber

lhe deitou a

ctindo se repetidas vezes nas paredes e abobada nuas, dá logar

uma

a

resonancia prolongada.

duz n aquella casa, é

um

A

eíTeito

forte resonancia

do parallelismo das paredes

e da curvatura da abobada, observa se é o eíTeito de

ha

quem tal,

construcção especial

affirme que

arrombamento pòr

uma

foi

que se pro-

em com

muitas outras, não

como

aquelle fim,

para que. dado qualquer barulho de

fosòe providencialmente ouvido.

E'

um

erro sup-

erro de certo devido á ignorância dos princípios de

acústica; e se assim fosse esse facto não era providencial, por

que tinha sido previsto e calculado, pondo portanto esta rnaliva a conclusão

llexões

em

múltiplas das

contradieção

com os

princípios.

aílir-

As

re-

ondas sonoras nas paredes e abobada

d'aquella casa vão successivamente enfraquecendo a intensidade


do som, que

morre

O som,

ali.

principio reforçado

a

propagar

aquella serie de reflexões, só se poderia

se as paredes fossem elastjcas e vibrateis,

caixas sonoras; ora

a

por

a distancia

como acontece nas

espessas paredes de alvenaria não se pode

atlribnir essa qualidade.

U ali

corredor dos confessionários é assim chamado por ser

que os penitentes iam aos pés dos padres confessores depôr

as suas culpas, cogilaiionibus, verbo a

absolvição

em nome

et

opore, e receber d elias

da Trindade Divina. Confessores são hoje

os padres que ouvem de confissão os penitentes, não era assim

nos tempos primitivos da Egreja Christã; outra era

a signifi-

cação deste termo.

Os tumulos dos martyres eram venerados por toda tandade, lodos os annos se lhes celebravam festas,

a chris-

como

o at-

testam Tertuliano e S. Cypriano.

No tempo das perseguições

os que eram

vigílias

encontrados

a fazer

ou

a

orar

sobre os

seus sepulchros, alguns eram condemnados ã morte, lançados

cruelmenle supplieiados;

ãs feras ou

outros, os que

se não

queria fazer morrer, eram simplesmente exilados, deportados

ou escravisados; equivalia á direitos,

a

morte

segundo

deportação, civil;

a

legislação

romana,

os deportados perdiam todos os seus

eram-lhes confiscados os bens e mandados para ilhas

pouco habitadas ou para as fronteiras do império, para paizes barbaros; os

exilados só

perdiam os cargos públicos,

exerciam e eram obrigados viver

em

dades,

a

ausentar-se de

qualquer parte do império,

como aconteceu

pessoas nobres,

a

a

mesmo

se os

Koma, podendo nas suas proprie-

O simples exílio era para as uma jerarchia mais

Cícero.

deportação para os de

baixa e os de condição inferior eram condemnados a trabalhos

eram escravos do publico braza para poderem ser fugissem; traziam cadeias aos pés e eram mal conhecidos se alimentados e maltratados com pancadas e insultos. Os cln istãos tinham sempre grande cuidado em os consolar e adoçar públicos, principalmente nas minas; e

marcados na fronte com

fei

ro

em

os seus tormentos, o que podiam.

Aquelles que n este estado


morriam

pola

eram contados no numero dos martyres

fé,

e os

(pie voltavam do seu desterro ou da escravidão eram colloca-

dos na ordem dos confessores, nome que se dava aos que sof friam quaesquer tormentos pela

fé e

em

geral aos que a con

-

fessavam e.n publico e deante dos juizes. Eram respeitados e venerados

mais

altos

da vida e muitos eram

lodo o resto

cargos da egreja.

fessor linha

uma

Portanto vè se que

muito diíTerente

significação

elevados aos a

palavra con-

d aquella que

hoje tem.

A confissão é uma reminiscência do judaísmo, assim como alguns outros preceitos religiosos e cerimonias adoptadas no christianismo; sómente no

decorrer do tempo

a

Egreja os

foi

modificando.

Era costume entre os judeus confessar Aquelle

culpas.

a

quem

esse tribunal

em

publico as suas

interior, a consciência,

que julga dos nossos actos, ainda os mais recônditos e até dos nossos pensamentos, accusava de faltas graves, condemnando-o ao remorso, que é

um

a

punição do peccado, castigo atroz que só

verdadeiro arrependimento durante

alliviar,

fessava

em

em em

signal

israelitas

logar publico,

em

a vida

presente

pode

geral á sabida do templo, con-

alta voz os delidos praticados e vestia se de sacco de arrependimento. Vestir se de sacco era entre os o signal de lueto, de dó. de grande desgosto, como

o é entre nós o vestir se de preto; quando alguma calamidade publica ou desgraça particular os assaltava de repente, chorafato, punham as mãos na cabeça e baliam no peito (ainda entre o nosso povo se observa ãs vezes a pratica destes actos) e em seguida vestiam o sacco.

vam, rasgavam o

E’ natural

e é

também

nos paizes quentes o uso de fatos largos e leves

que nos tempos primitivos se usassem

natural

vestidos simples, onde houvesse pouco que talhar e pouco que coser, que cobrissem todo o corpo tir

uma

por

partes

túnica

muito fino

e

como

alva,

hoje

especie

d’uma só peça; não

fazemos.

de

camisa,

Os

israelitas

em

por sobre esta outra de fazenda

gerai

de

se ves-

usavam tecido

mais ou menos


—meram apertadas na

estas vestimentas

em

em

alguns de ricos bordados,

formando por

coiro,

O

um

segundo os haveres de cada

fina e rica

um

por

cintura

em

cinto,

tella

ou

volta

do

outros de simples

túnica largas pregas

isso a

uma

e a sua jerarchia;

sem pregas, desengraçado, de panno grosso e áspero, a que também chamavam cilicio, assente immediatamente sobre a pelle. Não era só corpo.

sacco era

vestimenta estreita,

o vestir-se de sacco o signal de lucto ou de penitencia, corta-

vam

cabellos e a barba (ao contrario dos

os

romanos que os

deixavam crescer), deitavam sobre a cabeça terra ou cinzas, em logar dos aromas, de que usavam em dias de festa ou oc casiões de alegria, não se lavavam,

emquanto durava

jejuavam consistia

em comer uma

(jpjunum una

cib tiia

a

dormiam sobre ou o

penitencia

a terra e

liictp;

o jejum

só vez por dia depois do sol posto

est,

como lambem preceituou

nossa

a

egreja).

Nos primeiros tempos da egreja

támbem em lado,

eram

christã as confissões

geral publicas, só se faziam

em

particular ao pre-

quando da sua publicidade podia resultar grande escân-

dalo ou grave prejuízo para o confitente,

o adultério commcttido pela mulher. penitencia,

como por exemplo:

A’ confissão seguia-se a

que era imposta pelo bispo ou pelo parodio

e gra-

duada conforme o delicto. Eram algumas tão rigorosas que custa a crer que houvesse quem podesse supporlal as; só uma fe viva e a crença inconcussa de que os tormentos do corpo purificam a alma, poderiam fazer

sem

S. Basilio

a ellas.

quinze para o adultério, vinte

para

a

apostasia.

a

quem

se submettes-

para o homicídio e toda

As penitencias eram publicas

muito particulares podiam Aquelles

com que muitos

marcava onze aimos para o perjúrio,

sei

1

e só

a

em

vida

casos

secretas.

se prescrevia a penitencia publica iam, no

primeiro dia da quaresma, apresentar-se á porta da egreja com vestidos sujos, pobres e rasgados; chegada a occasião recebiam da

mão do prelado

beça e

cilícios

para

terra

ou cinzas, que deitavam sobre

se cobrirem;

depois ficavam

a ca-

prostrados


— 12o — emquanlo o prelado, o Quarta

clero e o povo

de Cinza e

feira

oravam por

ao primeiro

dia

de

uma

egrejas, a ceremonia de deitarem sobre a cabeça

de

cinza, dizendo ao povo: agite i>cenitenli<nn).

em

lhes

0

uma exhortação, aconselhando-os

seguida

de joe-

ciles

quaresma fazerem ainda os padres, em algumas

vem o chamar

(U aqui

lhos.

fiança na misericórdia divina e advertindo-os de

pitada

prelado faziaa

terem con-

que

expul-

ia

os daquelle logar sagrado, como Deus tinha Adão do Paraiso por causa do peccado. EíTeclivamente logo em seguida eram empurrados para fóra da egreja, cujas portas se fechavam immedialamente apoz elles. Eram obrigados a jejuar

expulsado

sai

muitas vezes ou todos os dias

a

pão

agua, segundo o gene-

e

ro de peccado e segundo as suas forças, a rezarem de joelhos

ou prostrados,

fazerem

a

a distribuírem esmolas,

vigílias, a

dormirem sobre

conforme as suas posses.

penitencia abstinham se não só

a terra

e

Durante

a

de divertimentos, mas

ainda

de conversações ou quaesquer negocios mesmo com os fie s, grande n -cossidade. Não sabiam senão nos dias

a não ser por

de

festa,

em que vinham

rante algum

apresentar se

ouvirem as

leituras e os

porta da egreja, du-

á

permittia se-lhes a entrada

tempo: depois

sermões, com

a

para

condição de sahirem

eram admillidos a mas prostrados e em seguida a orar em pé mas distinguiam-se ainda do resto dos fieis,

antes de começare n as orações; mais tarde

orar com os

como

fieis,

os outros,

do lado esquerdo. Citemos um exemplo para mostrar o que era n aquella epocha a crença religiosa e quanto as confissões eram d (Te rentes do que hoje são. fazendo-os collocar na egreja

0 que cado

praticava

Embora

faclu, excluído

esse crime fosse acculto

eram

centes todas as manifestações exteriores religioso; a sua

das suas

i

permanência entre os

léas, a

ciência dizia-lhe

um

homicídio voluntário, commettia

mortal e era, ipso

nullas e contra produ-

dum

fieis

falso

sentimento

manchava

a

santidade das suas doutrinas; então

que era

um

pec-

do grêmio chrislão.

pureza a

cons-

réprobo, o remorso atormentava

o,

e, para obter o perdão de tão grave culpa era preciso eonfes-


I

-20

sal-a e fazer penitencia.

que d

ser

confissão devia ser publica, a não

como

durava vinte annos, annos

A

podesse

lhe

elia

resultar a morte, e

passava os a chorar

a

sua

a

penitencia

Os primeiros quatro

jã dissemos.

vida dos

estava na

culpa,

chorantes; apresentava-se á porta da egreja á hora da oração e ficava de fòra,

não no vestíbulo, mas na rua exposto

do tempo; estava vestido de

acção

á

tinha cinza na cabeça e os

cilicio,

cabellos crescidos; n'este estado pedia aos fieis que entravam

na egreja que tivessem piedade d

orassem por

elle e

elle.

Os

ordem dos ouvintes; mas ficava no antes de começarem grau e orava com os

cinco annos seguintes era considerado na

para ouvir as

na egreja

entrava

com

vestíbulo

as orações.

os

cathccumenos

instrucções,

e sabia

D’aqui passava ao terceiro

mas no mesmo logar, prostrado sobre o pavimento e sacom os cathccumenos Depois de ter eslado sete annos

fieis,

bia

neste eslado, passava ao ultimo, onde sistia ás

orações dos

esquerdo da

fieis,

orava

egreja, e não lhe

ficava quatro annos. as-

em

pé com

ei a

permittido

commungar. Finalmente cumpridos os

mas do

lado

oITerecor

nem

elles,

vinte annos era admit-

das coisas santas. Estas penitencias podiam

tido á participação

ser alliviadas ou abreviadas pelo prelado se havia no penitente

um tal

Clirit ienes

par M.

da

Egreja e

(

Meres

em

não

des hradèles cl des

Abbè Fleury).

L.

Como acabamos

caso de doença mor-

havia todo o cuidado

sem os sacramentos.

deixar morrer

pos

cm

extraordinário fervor religioso; e era absolvido delia, porque

de ver, as confissões ainda

até

ao

quarto

nos primitivos temséculo

eram

em

tudo semelhantes ás confissões dos judeus, d’onde derivaram e

como Christoas aconselhou, dizmdo: Confessa os

cados e arrepende era a confissão

ali

coragem de confessar em publico acha possuído

teus pec-

E claro que, fallando no meio da Judéa, usada que elle aconselhava. O que tem a

te.

dum

as suas culpas é porque se

verdadeiro arrependimento; e é esta

a ver-

dadeira confissão, quando é expontânea e sincera. Os que vo-

luntariamente se submettiam áquellas penitencias publicas tão


uma

no

coração

confiança extrema no misericórdia divina. Havia

comtudo

rigorosas é porque tinham na alma

uma

fé viva,

exeepções, filhas muitas vezes da necessidade de se estar

com

a

Egreja. Henrique

temendo perder

passou os

a corôa,

bem

o altivo imperador da Allemanha,

iv,

Alpes e

supplicar o

foi

perdão de Gregorio vu (Hildebrando), que se achava no castello de Canossa. A fim de conseguir o levantamento da excommu-

nhão com que aquelle Papa o fulminara pela sua rebeldia contra a Egreja. Depois de confessar publicamente a sua culpa, por Ires dias, conservando-se deante do castello

fez penitencia

descalço,

com

tencia não

vantada

os

na neve e coberto de

[tés

porque

sincera,

foi

elle,

foi

N’aquel!as epochas

não eram

jas,

confissão ol.rigaloi ja;

u

só mais

povoar se todas

a

em

sico lenço

as

egrejas e

e

muitas vezes

encarnado emqnanlo

suas

aborre-

quando, como distracção, sorvendo

de simonte

rapé ou

pilada de

nas egie-

preceituou a

se

ou cadeiras confessionaes,

nichos

esses

onde o padre confessor, refastelado cido vae, de vez

tarde

como mandamento da Egre-

e secreta,

então começaram

dependencias com

le-

e tentou prendei o.

havia confessionários

precisos;

Roma

pôr cerco a

não

esta peni-

seis dias depois revoltava se

excommunhão, apenas

a

novameute contra

cilicio;

obtido o perdão do Papa e

limpando o pingo ao

e a

com

velha beata,

uma clás-

fastidio-

sos sons labiaes, está narrando todas as miudezas da sua vida privada,

quando não

é

também

pés do confessor unicamente

da alheia; alguns vão

em cumprimento

de

um

ali

aos

dever,

vão satisfazer o preceito quaresma!; outros ha que, conlrictos e convencidos religioso,

mas

vão debaixo da influencia

a

condição

nunca é cumprida,

porque,

d

um

da absolvição, que

em

geral o

sentimento

é a

mesmo

de

emenda, que

se

accusam hoje accusam-se na confissão seguinte.

Este genero

de confissão,

pela

teria

talvez

estatuído

sua razão

e

tornado

de ser,

que

obrigalorio

não

lhe

Egreja

negamos, mas

nunca deu, nem pode dar os resultados que se esperavam, é infruclifero

c

tem dado

logar,

da

parte

dos

maus padres


— a

128

abusos muito prejudiciaes

paz

ã vida e

domesticas

e até

á sociedade.

A

corredor dos

casa e

communicação com vatório de

mármore

confessionários está

nova e vê-se

a sacristia

polido

torneiras de metal, que já

via

n’clla

com carrancas em

também em

um

não existem, o que

rico la-

cnjas boccas ha-

que os celebrantes, depois de paramentados iam

ali

mostra

purificar-se

antes de entrarem na egreja. Este lavatorio tem a data de IG2o, foi

obra de Filippe

Os confessionários ficavam ao lado

i.

querdo de quem entra e seguiam por ia

um

communicar com os dormilorios e dava por

passagem

isso também Eram uns pequeninos corre-

d'estes para a egreja.

em

dores abobadados,

cujo fundo, encostado á parede da egreja

estava a cadeira do padre confessor. Foi 1).

es-

corredor alem, que

Fernando

algumas das tulo.

a

parte d'esle

bellas

corredor, que estava

A

encobrindo

ornamentações da janella da casa do capi-

Este recinto commnnica

como

mandada demolir por

lambem com

o coro da egreja e

Claustro da Hospedaria.

logo á direita de quem, vindo da Não tem nada de notável na sua architectura. E' uma casa velha, como o seu nome o eslá dizendo, e por isso nos traz á mente recordações do passado. Ao sacristia

velha

fica

egreja, entra no claustro.

entrar

ali

que de ordinário se expe-

sente-se essa impressão

rimenta, penetrando

em um monumento

solidez os séculos teern respeitado; é

ção pelo passado,

um

não

sei

que subitamente se transporta

antigo que pela

uma

especie de venera-

que que nos prende o a

sua

espirito,

longiquas eras, parecendo nos

ver os vultos dos que outr’ora povoavam e enchiam de vida o

que é hoje deserto e inanimado; é

um

voltear de sombras,

um

redemoinhar de espectros, que não nos assustam, mas que nos

leem por

m unentos como

o portal que

a

punha

extasiados N esta casa vê-se ainda em communicação com a muralha que

ligava a capella dos Templários a torre

aquelles

de menagem.

com

os reduetos, que cingiam

que se paramentavam frades guerreiros para as cerimonias religiosas que Era talvez

11

’ella


— 129 — iam celebrar na capella;

lá se vê ainda para a purificação um de mármore, que está meio subterrado, ponjue o pavimento antigo era muito inferior ao que boje tem. lima estreita

la vatorio

poria, boje tapada, que ficava ao lado da da capella, estabelecia a

communicação; não

ctuario só tinha face

uma

a havia interior, porque aquelle sanentrada, decerto para melhor defesa. Na

uma

externa da parede que olha para

que posteriormenle

porta,

trasida paia

o sul e por

do castello de Almorol,

ali

cima de

uma

aberta está

foi

que tem

lapide,

a inscripção

seguinte:

CCIII23: ittagister

ifl:

(6:

siquiíirm

tempore

:

regis

lis;

geitrrr

:

autrm: :

6ratara

:

iXlfonsi

<0>alinnus

:

oriunbos

:

i«: breui; ut: Corifrr; rminruit <tf>ero$o limam

miles

mom: mm: ÜTagistro

presto

:

regem

eum

:

einin

pseliis

flertgef sorrerit

:

in:

soo

:

:

nam: Crmpli; per; quique-

Curaqoe

:

tn-

$orie

:

in-

rt

Escalona:

:

3ntioram

pergrns

:

ntti

et

$ii>au: iirrione iumiraoit urro

:

:

prefato

aí» :

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í»omus troritj

;

íempli

rastrom

iu^Umoriol: ftnm

;

@

;

:

:

qui

reorrsus

:

:

jpost et

:

rsiiegr:

€l)omar: ©;e;ar‘ et: <£ir>aniam

:

ron-

eum rburaoerat iiartus l)or

:

et:

;

quinqurn-

{Jrororatorj

$)ortugalis :

:

raprrrtur

sepe

:

;

tra

rum:

:

/ratribusque

CÊgipti:

:

miliciami

;

oitain: í»urit

rum

:

routra

:

:

peciit; tbiqor'

fyermrn:

iii

:

j

rrrtitit

:

illostrissimi portuga-

:

9etularrmi abnrgans

iqit:

nobili

:

f)orj

et ílToiitem

;

:

iús-

qooír.

San-


— 130 — Versão

— Era de 1209. bre fjeração

O

Mestre Galdino, certamente de no-

natural de Braga, existiu no tempo de

,

Abandonando

illuslrissimo Rei de Portugal.

Affonso,

um

Astro,

dirigiu-se a

Jeru-

a milícia secular, em breve se elevou como

porquanto

soldado

,

do

Templo,

salém, onde durante cinco annos levou vida trabalhosa.

Com

seu Mestre e seus Irmãos, entrou

em muitas

lhas levantando se contra o Rei do Egyplo e

Como

bata-

da Syria.

tomada Ascalona, partindo logo para An-

fosse

muitas vezes pela rendição de Sidon.

liochia pelejou

Cinco annos passados, voltou, então, para o Rei que o creára e o fizera cavalleiro.

casa do Templo

em

Feito procurador da

Portugal, fundou neste, o caslello

de Pombal, Thomar, Zezere e este que é

Idanha

riol, e

fui,

e

chamado Almo-

Monsanto.

A elevação do pavimento ao nivel do Claustro do Cemiterio por certo, obra do infante D. Henrique, que d’ella também

Embebido na parede, do

fez sacristia.

em

o tumulo de D. Mecia, sua ama,

lado da capella, vè-se

cuja

lapide

foi

aberta

seguinte inscripção: Qísta

:

capela

ímlnie^ím co

:

amos

:

inaubou

caoalruro

:

ítoifante

í>osaluaí>or

— Esta

:

:

:

br mtll

capella

rsua

:

i*on :

Almeida, cavalleiro,

e

:

rcrc

mandou

uuasco

fajrr

:

:

:

:

:

:

loure-

fruta

na

:

rrui

fazer

sua

molfjer mecia

anrruq rfou :

goncalocs

Vasco

Gonçalves d(e)

mulher Mecia Lourenço,

a


amos do Infante Dom Henrique,

do

e foi feita (na) era

Salvador de 1426 .

0

Lavagem é também obra do mandada executar na occasião em que a

Claustro da

rique,

casas para sua

durante

Este claustro era

por

muito tempo

menor edade de seu neto D. Se-

destinado á residência dos

os quiz obrigar

fazer

Paços de

haver mandado reparar e ornamentar.

bastião, depois de as

elle

ter residido

n'elles

sua regencia, na

a

mandou

que são denominadas:

habitação,

D. Catharina, por esta

Infante D. Henli

em

viver

a

quando

freires,

clausura, o que não conseguiu;

tinha duas galerias, para a superior deitavam os dormitorios,

dos quaes ainda se encontram vestígios;

ofíicinas;

ba

a inferior era provavel-

accommodação de fâmulos, cosinha e outras uns alguidares embebidos em argamassa, es-

mente destinada

ã

pecie de lavalorios, que decerto não eram,

tinados a lavarem se

ali

os freires,

mas

como

se diz, des-

antes os que n aquelle

pavimento exerciam seus misteres, d’onde, parece, ter-se dado áquelle

claustro o

nome de Claustro da Lavagem. Está em uma bella architectura,

completa ruina este claustro, que era d a

com o que

condizer

nada

lhe

fica

galeria

superior

que guarneciam as paredes, foram

resta, até os azulejos,

arrancados; pelo chão

contíguo; da

veem

se ainda

algumas columnas

e

bem

cinzelados capiteis, trabalho artístico de elevado merecimento.

como

Na casa dos confessionários ba,

dissemos,

uma

porta que deita para o Claustro da Hospedaria. Não tem coisa

alguma de notável este claustro; para elle deita a hospedaria, onde se alojavam os visitantes, e boje está ali installado com sua

farnilia

em

caracol

o general Pienaar, refugiado boer. Por

uma

communica com os dormitorios, mandados

escada

fazer por

D. João ui, são estes dois extensos e largos corredores per-

pendiculares outro na

um

ao outro; segue

leste-oeste;

um

recebem

na direcção norte-sul e o luz,

o primeiro, de

duas

uma que se abre na fachada norte e outra na do sobre uma parte da cerca com pomar e horta; o segundo

janellas, sul,

de


132

— uma

reeebe-a de

janella para o lado poente,

do Mixo; ao lado tro é

triste e

sul fica-lhe o Claustro

sombrio,

sem

que deita para o

que se abre para o Claustro

Pateo dos Carrascos, e d outra

coisa

dos Corvos, este claus-

alguma que o torne diguo

de mensão. No ponto onde estes dois corredores se cortam e

como

a

formar o braço mais curto de uma cruz, ha

que era defendida por grades de

ferro,

uma

que fazem hoje

a

capella,

porta do

uma lampada que se conservava accesa e sobre o altar estava a imagem do Senhor da que também d’ali foi removida. E’ esta capella d uma

cemilerio publico, tinha toda a noite Paciência,

primorosa architectura, que muito se assemelha

á

do portico

da egreja nos ornatos e figuras, que apresenta; tem a data de

1333. Na sua frente, corredores, ha

uma

isto é,

no ponto d’intercepção dos dois

cupula elevada,

draçadas por onde entra bastante dois corredores,

nome de

em

luz.

forma de cruz,

com quatro A posição

frestas envi-

relativa

destes

que se lhe désse o

fez

Cruzeiro. Para elles deitam as cellas ou dormitorios

dos frades, todos de pequenas dimensões, como era uso n’aquelle tempo;

também com

elles

eommunicavam os aposentos

do Prior-Mór, que ficavam no topo norte do primeiro corredor;

compunham

se de vários compartimentos,

o Claustro do

com

.Mixo e para a fachada norte e

janellas

para

tinham entrada

independente. Estes corredores leem o pavimento ladrilhado e são cobertos

com abobidas apaineladas de boa madeira de

carvalho do norte; e para que nada faltasse ao e suave conforto d'aquelles religiosos,

casa apropriada,

uma

bom commodo ali havia, em

também

vasta lareira, cuja

chaminé de tiragem

se firmava sobre quatro columnas de pedra; era, por certo,

que, antes de se frios

ali

deitarem, se entretinham cavaqueando, nos

serões d inverno.

a estes dormitorios fica o Claustro do Mixo, no ne que deriva de que os frades costumavam ali distribuir aos pobres algumas tigelas de caldo e os restos, que sobejavam da

Contíguo

mesa dos fâmulos. A entrada para portão que deita

para o norte;

este claustro é por

antes dos Filippes

um

largo

mandarem


— 133 — que é hoje portaria principal do convento, era por

f;izer a

uma

ali

Não tem, na sua architectura, coisa alguma digna de menção. No seu pavimento terreo havia, ao lado esquerdo, varias accommodações e a casa do dispenseiro, das suas entradas.

na frente a cosinha e á direita

um

grande forno de coser pão,

umas casas que serviam de armazém ou dispensa e umas ca Contíguo á cosinha ha umas casas compridas e

vallariças.

d aspecto

estreitas,

lugubre e pesado, mal

tres janellas defendidas por grossas grades

tam para o claustro de Santa

Barbara,

lôbregas e horripilantes prisões;

chamam

des; porém, se

eram

illuminadas

por

de ferro, que dei-

leem o aspecto de

lhes a cadeia dos fra-

como parece, decerto não eram Os superiores dos conventos puniam só

prisões,

destinadas aos frades.

as faltas disciplinares e a estas correspondiam penas moraes:

reprehensões, penitencias, detensão nas suas junto

com

podiam

raes não os elles os

os

infligir;

não comer

cellas,

etc., castigos

crimes graves,

corpo-

que também

como homicídio voluntário, espancamento, eram punidos segundo as leis do reino; e quando

comrnetliam,

estupro, a

comer no chão,

os outros e até

etc.,

pena era de morte ou flagellação, que então se usava, para

os que tinham ordens sacras precediam certas cerimonias,

a

secularisação.

Aquellas

poderiam

prisões só

ser

destinadas

a

guardar

grandes criminosos. O mais natural é que fossem obra dos inquisidores, porque também ali os houve, para encerran’ellas

rem

ciaes.

Quando

do convento, difllculdades,

D. Filippe

houve,

i

se lhe

conheçam fins espe-

projectou fazer

para

porque,

com quanto

d estas ou talvez com

as victimas da sua crueldade,

outras, pela pouca capacidade

a realisação

parece, não

a

portaria principal

desta obra, grandes

atinavam

com

local

apropriado; depois da sua morte Filippe u aulorisou o a fazer a portaria

onde

lhe

conviesse e mais apropriado lhe

parecesse o logar; escolheu este aquelle onde contra e não ali

foi

sem grande dilBculdade

se fez, porque,

segundo

bem Prior

L).

a

ella

e dispêndio

hoje se en-

que

a

obra

sua narrativa, havia ainda, n a-


—m— quelle logar, restos da antiga fortaleza dos Templários, que foi

preciso demolir, e estavam por so matagal de

desmoitar;

se levantava bia por

isto

uma

uma

ou guardas

vigias

e,

em

espesa

sobre o qual

rochedo,

ameada. para onde se sucasa para

nesta torre havia

de pedra,

diz elle, servia

cere a que qualidade de presos ? litar;

um

descobriram

alta e forte torre

escada

envolvidos

que deu grande trabalho

silvas e arbustos,

feito

modo

tal

de cárcere. Servia de cár-

Não era prisão

um

não se pode suppor que fosse

civil

ergástulo,

nem

mi-

onde os

Templários guardassem os seus escravos, logares mais apropriados deviam

porque esta torre era

ter para isso,

defesa e não para n ella

defender podiam ajudar

recolher

para a

homens que em vez de os

A palavra Cárcere era muito usada para designaras prisões da inquisição e é d ella que se serve o D. Prior para indicar as que encontrou n aquella torre.

O que

leza

a atacai os.

se deprehende d isto ê que a antiga torre da fortafoi aproveitada pelos inquisidores para,

dos Templários d’ella,

em

tinham

a

no fundo dos que retel-os

ali,

segura masmorra, lançarem os desgraça-

infelicidade

guardados por

de lhes caliirem

tinham seus aposentos, mais apropriado d’esses

homens

do

ferozes,

Carrascos, que era então

propriedade do serve

sentos que

mesma

torre

para residência

local

que o era o pateo chamado dos

uma das entradas do convento

Conde de Thotnar, arborisado

também de parque

nas garras e

que na

verdugos,

d’entrada para os

e hoje

ajardinado

e

magnilicos apo-

possue. A denominação de Pateo dos Carrascos

ali

é natural lhe proviesse da grande quantidade de arbustos deste

nome. que

ali

deviam vegetar quando se fechou aquelle

que ainda hoje vegetam encostados aos muros e todo o terreno n’elle

residido

inquisição,

mos

visinho,

que se acha

os executores

em que abunda

inculto, e

d alta justiça ou

não de terem carrascos

origem que só o vulgo lhe atlribue; e

n'essas lendas vulgares devíamos

também

da

a acreditar-

acreditar que

o Claustro dos Corvos se chama assim porque era

faziam as execuções e

recinto,

ali

que se

deixavam os cadaveres até serem de-


vorados pelos corvos, o que repugna admittir. Aquelle tribunal funccionou aqui pouco tempo, mas por onde quer que passava o monstro deixava n'aquella

foi

um

epoctia a formosa

presencearo não

sempre

trisi

rasto de

villa

Thomar

de

que

sangue; consta

obrigada

foi

um

issimo e horroroso espectáculo d

dentro dos muros do convento, porque

auto de

a fé;

eram sempre

públicos estes aclos de barbaria, diziam elles que para servir de exemplo; dizem alguns que teve logar no antigo pelourinho

ao fundo da rua da Graça e outros que na Varzea Grande; nada

podemos averiguar com exactidão,

faltam nos os elementos para

podermos, no meio das tradicções populares, descriminar factos históricos mal conhecidos e nós não nos propomos escrever historia minuciosa, mas tão sómente uma simples noticia. No pavimento superior do Claustro do Mixo ha tres casas

uma

contíguas

a

que chamam Salas das Cortes. Se foram ou não

construídas para este fim não o podemos aílirmar,

mas parece-

nos que sim pela sua disposição, por se acharem perto d

uma

das entradas do convento, pela denominação que sempre teem conservado, por serem tres casas contíguas, correspondentes ãs Ires calhegorias: clero, nobreza e povo; embora nunca n ellas se houvesse

Alguém aventou

celebrado cortes.

que aquellas casas eram destinadas inquisição.

Esta opinião

Também

um

fundamento, não ha

a

rasão diz-nos que não podia

se diz que serviram

de escolas; para tudo pode-

riam servir, menos para

conceber

opinião de

servirem de tribunal da

a

é destituída de

documento algum que o prove e ser.

a

um

do Santo

tribunal

em

só tribunal installado

Oflicio.

Como

tres casas isoladas,

sem

communicação alguma interior? Considerar a do centro como tribunal e as duas lateraes como dependencias é um contrasenso,

porque entre

dência, visto

ellas

não ha

que são isoladas.

dependencia, ha indepen-

A sua archileclura

está

em

completo desaccordo com o que eram aquelles tribunaes. Tudo o que

pertencia áquella

funcciona rios;

as

nefanda instituição era

asqueroso e

como os seus eram d uma tribunal serviam de que casas

repugnante, sombrio

e triste,

morno

e taciturno,


construcção pesada, mal illuminadas, tétricas, medonhas, para

produzir maior desanimo, mais profunda melancolia na alma

acabrunhada dos desgraçados, que ali eram arrastados, e eram sempre bem defendidas para que as victimas não podessem escapar-se. Acolá vemos tres casas amplas, com a appa-

rencia de salas,

nadas e sem

uma

com

até

bonita architeetura,

bem

illumi-

resguardo algum para evitar a fuga dos presos;

em harmonia com a fortaleza e segurança das prionde se encerravam os accusados. A casa dos interroga-

não estão sões,

modo que os grilos e pudessem ser ouvidos lá fóra. Os potros, que estalavam os ossos, as tenazes, que rasgavam as carnes, as farpas d'aço, que cravavam entre as unhas, as torquezes com que as arrancavam, os ferros que em brasa ap-

tórios era

sempre

urn lugar escuso, de

os gemidos dos pacientes não

plicavam ás partes mais sensíveis do

horrendos instrumentos de

tortura,

corpo, e muitos

outros

com que trucidavam

os

desgraçados que eram delatados áquelle feroz tribunal, as mais das vezes por odio ou inentos infernaes

cum

inveja. toJo

que, sob

desvairam e allucinam,

a

dõnstru-

aquelle arsenal

acção de dores atrozes, que

arrancavam ás victimas

d aquillo que os seus algozes queriam que

ellas

a

confissão

confessassem,

eram sempre armazenados em lugar sombrio e retirado; a a luz, ama as trevas. N aquelle vasto con-

perversidade teme

vento tinham elles logares muito apropriados, cavas e subterrâneos, onde aquelles seres humanos, transformados

mônios podiam

á

em

de-

vontade exercer o seu execrando myster,

saciar os seus instinctos ferozes, horrendo festim de canibaes.

Os accusados eram,

muitas vezes,

condemnados sem serem

ouvidos, e por isso transportados das masmorras para as fogueiras ou

para o cadafalso,

onde soíTriam morte horrorosa; os

que compareciam perante o tribunal para justiça,

quando

isso lhes era

ali

dizerem da sua

permi Ilido, ou para ouvirem

a

sua sentença, quasi sempre condemnaloria. eram poucos e esse

sempre de lugubre apparencia, de funereo aspecto; como o peryslilio do cadalalso, a antecamara da morte.

tribunal,

era


137 Por isso é insensata tal

destino; ba

a

lembrança de attribuir áqnellas tres salas

outras casas muito mais apropriadas áquelle

ali

fim.

O

Claustro de Santa Barbara

da egreja, deita para tulo; é

contíguo á fachada poente

fica

magestosa janella da Casa do Capi-

elle a

pequeno mas de bonita arcbitectura em estylo renas-

cença, parece ser obra de Ü. Manuel; este

communicação com o da Hospedaria

O

claustro está

em

e o Claustro dos Filippes.

Claustro dos Filippes, começado por D. Catharina e aca-

bado no reinado d’aquelles vento; d

uma

reis

intrusos, é o

melhor do con-

mas ma-

arcbitectura que se pode dizer pesada,

gestosa e bella, sobresae a todos os outros.

Tem duas

galerias,

primeira é formada por doze arcos grandes, de volta redonda, todos de lina cantaria; são tres em cada lado e firmam se soa

bre espessos e fortes pilares

lambem de

tuem, por assim dizer, as paredes arcos encostam se pedra,

de

feitas

á face

uma

d’este

de cantaria; o segundo primeiro,

com

sobem

só peça, estas

cada dois

até á cimalha de

bise do pavimento

espaço que

portal e por cima

lateraes; entre

externa duas enormes colnmnas de

pedra que se salienta na afastadas e no

cantaria, que consti-

lica

uma

entre cada duas

fresta

abre-se

quadrada, tudo

pavimento é

a dilíerença

superior, estão

de que os

em

tudo

um

também

semelhante ao

arcos que lhe

corres-

pondem são mais pequenos e como por isso o espaço entre elles é maior, ba umas largas fendas ou estreitos portaes que os ladeam; por sobre os portaes inferiores ba outros de eguaes

dimensões, tendo por cima um oculo em vez de fresta; tanto o vão dos arcos como o dos portaes é resguardado por balaustres de pedra, formando em todo o perímetro uns varandins que dão áquelle todo um aspecto bonito. Sobre os capiteis das

colnmnas do pavimento

inferior assentam outros de pouco menores dimensões que vão até á cimalha do eirado ou terraço, que fica sobre este claustro e que se chama Terraço da Cêra,

diz-se

que por

ali

se

porem

a seccar as velas,

tochas e círios

de cêra, que n aquelle mesmo convento se fabricavam; era este


— 138 — em

terraço

Ioda a volta guarnecido de

mau

diremos,

gosto dos que se divertiam a atiral-as d

xo, deleitando se

que da queda.

com

Em

na galeria inferior,

um

cada

de hemispherio ôco,

vão; nos do lado do norte

teem forma

sul

dois espaços

modo

a

em

em

cima

uma

a

tem

cimalha per-

em

que assenta uma cupula

com

o cho-

dos ângulos d’este quadrilátero ha,

um pequeno

feitamente circular, sobre

abai-

ali

com

o vèl-as cair e esmigalharem-se

forma arredondada, apresentando

do

balaustradas, que

não existem; foram destruidas pelo vandalismo, ou antes

já lá

a

umas

forma

concavidade voltada para baixo; os

dilTerente, entre o supporte

um

quadrilongo, inclinados

de cantaria ba

sobre o outro de

tocarem-se por dois ângulos; os lados menores que se

tocam formam angulo recto e unindo por uma

midades d

estes,

temos

do angulo maior loca

a

um

linha as extre-

triângulo rectangulo, cujo vertice

aresta do pilar; vê se pois que a forma

do espaço aberto na espessura das paredes, nos pontos onde se ligam para

mesma forma é

um circulo

formarem os ângulos, não tem, nos do geométrica que nos do

n’aquelles é

um

triângulo.

dois dos ângulos diagonalmente

das paredes, escadas

em

sul,

norte, a

porque o que n estes

No pavimento superior

opposlos leem, na espessura

onde se sobe para 0

caracol por

ter-

raço. A abobada d’esle pavimento é sustentada por artezões de cantaria salientes, que, firmando-se nas paredes lateraes, vão dencontro a fechos quadrangulares, tendo no centro uma ellipse,

se

como que emmoldurada dentro de quatro

cruzam em ângulos Snhindo da egreja

faxas,

que

rectos.

por

principal e junto ao coro,

uma

porta

que

fica á

esquerda da

passa se por debaixo d

um

arco e

entra se neste claustro, 0 arco faz já parte d’elle; logo adeanle

d este arco está, no fecho da abobada, a data

em uma era

das fachas que

pouco conhecida,

emmolduram

Í

5 G2

Haverá

Pedro Nunes,

Ires

homem

Esta data

a ellipse central.

porque no ponto onde está não se vè

facilmente e ha muitos annos que estava encoberta

d aranha.

gravada

,

annos, 0 guarda inlelligente,

d’aquelle

com

teias

convento,

amigo de saber

e

muito


— apaixonado por tudo que qual tem feito

um

peza, descobriu

aproveitando-se d

a

elia,

ui.

monumento, do proceder á limpois esta desco-

Houve alguém que,

certo valor historico.

d’este unico facto a conclusão de

tirou

que aquelle claustro, que sempre obra de D. João

áquelle

aquella data; deve-se-lhe

ali

um

que tem

berta,

diz respeito

estudo especial, andando

139

foi

chamado dos

instando porque de

Filippes, é

todo se apague a de-

nominação que dantes tinha e se lhe dê a d’este rei, pretendendo com isto eliminar a mancha que n aquelle convento deixou a coroação d um rei estrangeiro. A divergência da nossa opinião obriga-nos a entrarmos em algumas considerações. A

em um

data é da regenoia de

L>.

da abobada da galeria

superior do claustro,

que concluiu

a

Catharina, está

foi

dos fechos

portanto ella

obra, já muito adeantada pelo seu ante-succes-

sor no governo. O argumento seria concludente se outros factos

que

ali

observam não viessem coiitradictal-o e elucidar o do observador. João ui mandou construir os dormitorios e por debaixo se

espirito I).

o

que

refeitório e a cosinha,

deita

Santa Barbara,

d’ali

vinham ao Claustro de

desciam por uma escada de pedra e iam

entrar no refeitório por

o busto d 'aquelle

do Mixo.

para o Claustro

Para irem para o refeitório os frades

uma

rei e vários

porta

lateral

que tem por cima

ornatos; para que neste transito

uma via uma

não fossem expostos ao tempo era preciso construir coberta que d’elle os abrigasse,

foi

por

issso que

se fez

arcada, firmada sobre grossas columnas, que ainda

formando uma galeria que da escada conduzia ao ainda feita

ali

se póde

observar; é estreita, o que indica

como uma simples

via

de communicação, tem

existem

refeitório;

ter sido

abobadas

artezoadas e de espaço a espaço apresenta na face interna ornatos e figuras. Hsta arcada é evidentemente obra de D. João ui,

porque está encostada

zer por

elle,

exactamente o obras

e é,

á

parede do

o estylo architectonico

mesmo que

por assim dizer,

se usou

um

refeitório,

em que foi em todas as

annexo do

mandado

fa-

construída é

outras

refeitório,

suas

por ser


— 140 — destinada a dar passagem para

mandou

quando D. João

elle; logo,

ui

fazer aquella obra não existia o Claustro dos Filippes,

nem mesmo

na sua mente;

desperdiçar tempo e dinheiro.

a

em

obra ser monumental,

a

Defronte do refeitório, para o

em começo

em

um

construir

se

destinada a ser

estava

frente ao seu portico; ainda

nhece na parede o vão que deixaram para portal ou talvez

como

se observa; devia ler dois pa-

ali

para o superior

entrada

pelo átrio da egreja,

que lhe devia

fazer, seria

grandeza e arcbiteclura,

pôde ajuizar pelo que ainda vimentos,

mandava

a

as obras da nova casa que D. .Manuel linha dado principio; devia esta

lado do nascente, estavam já

do capitulo,

não

aliaz

rico

seu ante-successor, mandando

ali

largo

com o

portico a condizer

João

ficar fronteiro. D.

se co-

um

metter

m

continuou

a

do

obra

mas

fazer alguns trabalhos,

só depois do ter concluído outros, que julgou mais necessários

e adequados ás

esmerava-se

em

reformas que

rfaquelle convento

des e conchegos da vida monaslica, porisso, para estes, depois

introduziu;

proporcionar aos frades todas as commodida-

de

concluída o casa

do

evitar

que

quando nella

capitulo,

celebrassem as suas reuniões tivessem que atravessar o atrio da egreja, expostos ás

intemperies, tratou logo

de arranjar para esta casa da e eommoda;

a

mesma

uma coinmunicação

bem

porta,

visíveis;

que ainda

principio

arcada que se observa encostada ao

onde ainda ba

refeitório fel a seguir pelo lado opposto,

gios

em

interior abriga-

vestí-

no extremo norte d’essa arcada abria-se uma ali

uma

se conhece, e dava entrada para

cada de suave accesso que

ia

dar

ao segundo

es-

pavimento da

nova casa do capitulo; esta escada recebia luz por uns arcos,

que

estão

ainda,

mas tapados;

aquella

arcada ou galeria

prolongava se e mais adeaute havia onlra porta que dava gresso para os baixos

tf aquella

Vè-se pois que nesta epoJia D. João

no claustro que agora

ali

tem

casa, esta

foi

inutilisar

in-

de 1545.

nem sequer

ni

existe e que

a data

pensava parte do

seu trabalho, porque a escada ficou complelamente ás escuras e hoje está entaipada.

Alem

d isto vê-se

que em 1545

foi

que


— 141 — com

D. João começou

a continuação das obras

inferior da

No pavimento

ás paredes já existentes outras

çou

a

de D. Manuel.

casa do capitulo

nova

com

encostou

lavores e ornatos e come-

Quanto tempo em-

abobada, que não chegou a fechar.

Porque não concluiu ao menos o fecho da abobada ? Não podemos sabel-o; mas o que também, quem pensar um pouco e tenha algum conhecimento da indole pregou

ali

os seus artistas ?

acreditar é que elle subitamente sus-

d’aquelle rei, não pòde

pendesse aquella obra para

ir

começar outra, que lhe

sava parte dos trabalhos já feitos e que todas que por seu se desviou

não

d’ali

foi

decerto para

destaca de

tanto se

mando foram executadas. Se

a

inutili-

sua attenção

obra de grande monta

n aquelle convento, porque de extraordinário valor era a que tinha entre mãos. O que poderia acontecer é que o seu fana-

tismo religioso, que lhe absorvia todas as faculdades da alma, lhe fizesse por algum tempo esquecer os seus queridos freires

ordem religiosa, cuja installação em Portugal julgava da maxima importância para hem da repara dedicar-se a

uma

outra

ligião.

Não

satisfeito

monarcha com

ainda o excessivo

o ter

introduzido

d’aquelle

religioso

zelo

em

Portugal o tribunal

da

inquisição: dizia elle e os padres seus conselheiros, que para evitar que o lutheranismo se introduzisse na nação e para co-

nhecer dos erros vinha do

d'esta infeliz gente (os hebreus),

Senhor fosse em augmento

e désse

pura que a

sazonado fruclo

pediu ao patriarcha S. Ignacio, que então se achava

,

em Roma,

mandasse alguns de seus companheiros para os empregar na conversão dos gentios na índia e outras possessões. Mandou- lhe este o padre Simão Rodrigues, que eia portuguez,

lhe

natural de Vouzella e o reverendo Francisco Xavier.

Foi este

para as indias, onde prestou relevantes serviços e morreu co-

mo

santo; o primeiro ficou

panhia de

Jesus; para

em

Portugal para fundar cá a

este fim

mandou

Lisboa o collegio de St.° Antão, que

João edificar

em

a

primeira casa pro-

em

todo o mundo; de-

foi

priamente sua que os jesuítas tiveram

L>.

com


142

— Como

pois tiveram muitas.

isto

era a realisação de

nova, devia o espirito do rei prender-se

ali,

uma

idéa

desviando-se, talvez,

das obras de Thomar.

Mas não

seria este o motivo

porem, talvez antes

a falta

de se sustar naquella obra,

de material, por não

haver

quem

o transportasse e de que tanto se queixava o celebre architecto

em

Castilho

para

las,

em que

cartas dirigidas ao rei,

cem carradas de pedra

nas pedreiras

com

ellas

lhe dizia,

que tinha

lavrada, portas e janel-

poder acabar de galgar os estudos dos

col-

legiaes e as necessárias no andar superior dos dormitorios dos frades; alem d estas

mais

mil,

cem carradas

bois ou providenciasse de

Como

sena.

precisava ainda transportar

por isso pedia lhe mandasse dinheiro para comprar

modo que

estes carretos se eflectuas-

admittir que não havendo no local o material pre-

ciso para proseguir nas obras

que estavam entre mãos, se fosse

principiar outra nova e de tão grande

Não sabemos que

a

se o rei

abobada do pavimento

por fechar, naluralmente por to

de forças

e,

monta

? E’ inacreditável.

providenciou ou não, o que inferior da casa falta

é certo é

do capitulo ficou

de cantaria. Já velho e exaus-

talvez, desgostoso,

das em-

Castilho desistiu

preitadas e renunciou o cargo de architecto das obras do con-

ven to. Por decreto de 10 de julho de 1054 é Diogo de Torralva

nomeado

architecto das obras

tres annos incompletos antes

do convento de Thomar, apenas

do falleoimento de D. João

teve logar a II de junho de 1557.

que vá

a

Thomar,

a fim

N

com o seu

material fizesse

novo e o sobreclaustro. Que claustro era este nos

referimos,

dos frades

que D. João mandou

para o refeitório e para

não pude ser, porque esse ainda parle;

foi

a

?

Aquelle

fazer para

nova casa

está, pelo

terminava que fosse

a

fez é

a

um que

serventia

do Capitulo,

menos em grande

por deante d’elle que se construiu outro;

do que ultimamente se

que

de desfazer o outro claustro, que es-

tava aberto e perigoso, e que

ui,

esse decreto ordena-se-lhe

a

largura

muito maior, quando se lhe de-

mesma; repugna

á rasão admittir

que


— um

H3 -

claustro feito sob a direcção de tão babil architecto,

como

o era João de Castilho, em tão pouco tempo estivesse já ameaçando ruina e o sumptuoso claustro que ultimamente ali se edificou decerto não

como claramente

foi

a

Thomar

com o

material d outro, é obra nova,

se patenleia.

Mais tarde, no

manda

feito

principio

o

da sua

regencia,

mesmo Diogo de

formar o claustro que

ali

Torralva

lhe tinha mostrado.

Isto leva a crer

João ui, se se referia áquelle claustro não á evidencia

Calharina

I).

fim de trans-

existia incompleto entre o refeitório

e a nova casa do Capitulo e que posesse

que

a

que no claustro, que

boje

em

pratica a planta

que

a

foi

ali

ordem de

não tem

existe,

aquelle rei parle alguma, porque, se qualquer coisa

começado

bem 1).

mandada transformar

foi

tinha

Logo mais

cabida seria a este claustro a denominação de claustro de

Calharina do que a de D. João

quem

mo

regente.

pela

D.

cumprida e prova

ui,

apezar de não ser

ella

o concluiu, embora lhe tivesse dado começo, sem mes-

tencionar fazer a obra que agora

Como

ali

se vê.

dissemos, os frades, para irem para o refeitório,

passavam pelo claustro de Santa Barbara, desciam pela escada de pedra, que lá está ainda, muito trilhada e seguiam pela galeria que em frente d’ella se abria; hoje, examinando aquelle vè-se que o caminho a seguir

local,

ao fundo da escada

vedou-se o transito

cantaria e ao lado abriu se

mento

inferior

posteriormente outro;

foi

uma

porta

com uma parede de

que

deita para

o pavi-

do claustro; sahindo por essa porta, logo adeante

um rico lavatório de. mármore, que devia ter quatro torneiras; em seguida, no outro vão que forma angulo com este está um altar. O lavatório e á direita, no vão da antiga galeria está

tem

a

panha

data de {393*, é portanto obra de D. Filippe u de Hese primeiro

de Portugal:

altar nos logares que

a collocação

do lavatorio e do

estão occupando, mostra

claramente o

seguinte: que n’aquella epocha ainda os frades, para irem para

o refeilorio,

vinham ao claustro de Santa Barbara,

desciam

aquella escada, encontravam logo o lavatorio, onde lavavam as


mãos

seguiam para o

e

mesmo

vável estivesse

um

crucifixo,

genuflexão, dando graças a

onde è proajoelhavam ou faziam apenas uma Deus, como era costume nos tem-

de cada

pos antigos depois

ali

altar,

lavavam

refeição;

mãos, e seguiam seu destino. por

tomavam o

refeitório;, á saliida delle

caminho, passavam por defronte do

novamente as

Ura se no reinado de Filippe

i

eia ainda o transito para o refeitório, decerto não ha-

que conduz directamente

via a escada

a elle; esta

escada

foi

mandada fazer por D. João ui; e se naquelle tempo é porque o claustro não estava

metlida no vão da galeria

não

existia

concluído, se o estivesse não tinha

do lavatorio

fóra

do transito

mais curto e o mais commodo, e patente: ao cimo

da escada

rasão de ser a collocação

que se devia

do

a

seguir, por ser o

prova d

está

isto

uma

refeitório abriu-se

que dá para o corredor do cruzeiro, de modo que

bem

porta

os frades

iam directamente do dormitorio para o

refeitório,

deixando de

passar pelo claustro de Santa Barbara;

ficou,

por

isso, inutili-

sado o lavatorio que Filippe substituir, «a

espessura da

Filippes trava

com

a

i

tinha

parede,

mandado onde

a

fazer, e, para

o

do claustro dos

do dormitorio, metteu se outro, que

re-

cebia agua do deposito que alimentava a fonte; tem a data de

1017,

o que

ram

é,

portanto, dos últimos annos do reinado de Filippe n,

faz

suppor que seria por aquelle tempo que se acaba-

as obras do claustro.

D. João ui

mandou

fazer a galeria, de que lemos fallado,

para serventia do refeitório; do lado opposto, parallelo

a esta,

vè se restos d outra perfeilamente egual, decerto obra do mes-

mo

autor;

davam serventia para a nova casa do Capitulo. Como duas? Talvez do patamar da escada, que desce

se ligavam as

do claustro de Santa Barbara, descesse outra para o lado opposto, seguindo-se depois

estabelecesse a

a

parede do claustro

mada em esta

um

corredor ou também galeria, que

ligação; o vão que ainda e a janella

porta, parece ser d isso

passagem ser muito

hoje se observa entre

da casa do Capitulo, transfor-

estreita,

um

indicio; devia,

porém,

por causa da saliência que


— 145 — para aquelle lado formam os gigantes que encostam á parede

da egreja.

Não pareciam aos frades muito commodas estas communicaçáo e D. João, que muito os estimava, e

commoda

a

de transito entre os dormitorios, o

via

nova casa do Capitulo; pensou n

a egreja e

seu pedido

ampla

quiz talvez arranjar lhe mais

iniciativa própria,

ou por

de

vias

refeitório,

que não

isso, se é

1

encetou qualquer trabalho n’este sentido, mas, se o

fez,

as

obras posteriores eliminaram-o, por isso n aquelle claustro nada

tem

ligar-se o seu

que possa

a

Do que

fica

nome.

fundamento algum

lembrança de dar áquelle claustro

a

minação de D. João

podemos

ui;

paradoxal e insensata, por estar

que

se notam e

ali

H

tem

logicamente que não

exposto deduz-se

dizer que esta

até

em

deno-

a

idéa é

opposição com os factos

o que nos dizem os documentos his-

com

tóricos.

Como rina

dissemos, no principio da sua regencia D. Catha-

mandou que

claustro,

Thomar Diogo de Torralva para transformar

a

existia incompleto entre o refeitório e a

e entre o refeilorio e u

do Capitulo. Note-se bem: incompleto

o

nova casa

nova

casa do Capitulo.

A palavra claustro deriva do verbo (fechar), exprime, portanto, a idéa d

sim

uma

só galeria,

mesmo

serve a ligar dois corpos do conventos;

em

muitos se observa

tava. estabelecer

em

um

recinto fechado; e as-

mas tem excepções; algumas vezes dordinario com arcos e abobadas, que

na generalidade,

é,

indica

latino ciando, claudere,

uma

via

isto, e

a

casa dn

Capitulo,

hoje se vè, para a antiga casa do Capitulo,

meçado que

a

e

nova; era o que D. João tinha foi

fizesse,

modo

fácil e

egreja, servindo lambem,

entre os dormitorios e a

concluía

em

era do que

de communicação

entre o refeilorio e

baixo,

edifício,

em

geral nos ali

se tra-

commoda;

em

cima

como ainda

emquanto

se não

vista e havia co-

o que D. Catharina determinou ao seu architecto

transformando,

lhe podia

mudar

a

isto é

demolindo,

(nem d outro

fôrma) o que seu defunto marido já


!'iO

tinha llie

feito,

para se executar o desenho que aquelle architecto

Parece que D. Catharina

tinha mostrado.

concluira

esta

obra, que muito naturalmente devia ter começado do lado do refeitório e dormitorios para

oopposto,

e,

ao terminar n 'aquelle

extremo, no ultimo fecho da abobada gravaram, mória, a data de 1562; são, n’esta I).

mesma

e,

julgando

entregou

data

Henrique; por isso nada mais

não

foi

imponente e grandiosa que ora factos.

I).

ali

em

sua me-

a

sua mis-

cumprida

regencia

ali fez,

nem

reinado que se

durante o seu

ponderarmos bem os

a

ella

a

seu cunhado

podia fazer,

fez toda

que

li

aquella obra

se vê diz nol o a rasão, se

João

111

em

falleceu

H

de junho

de 1557, o legitimo herdeiro da corôa era seu neto D. Sebastião, este

nomear

se

porém

um

verno durante

tinha apenas Ires anuos d edade, era preciso

regente, que tomasse conta das a

sua menoridade; para este cargo havia

Catharina e o

D.

redeas do go-

lio

I).

Henrique!

Suscitai

a

crearam-se partidos, oplando uns pela avó, outros pelo

nomeação recahiu

afinal

ella

exerceu

anuos e não era,

a

a

delongas, por

mais de quatro

regencia por pouco

deceito, n’este

a

tio;

opiniões

sobre D. Catharina, estas

encontradas de dois parlidos deviam dar logar tanto

avó

am-se duvidas e

curto espaço de

tempo que

enorme trabalho que ali se empregou; demais que, tendo mandado o architecto Torralva a Thomar para transformar o que seu defunto marido já linha começado se podia levar a cabo o

a

fazer na via de

communicação entre o

Capitulo, decerto o não

empregou

casa do

refeitório e a

e aos seus artista só n este

trabalho; porque, por esta occasião se fizeram

também gran-

des obras nos antigos aposentos do Inlante

Henrique, que

I).

mandou restaurar, ampliar e adornar, para como residiu muito tempo, talvez por querer afastar

ella

onde

a

residir,

ali

se da côrte,

inquietavam e perseguiam os que lhe não eram

alfei-

çoados; até que, cançada e desgostosa, entregou a regencia.

Seguiu se lhe D. Henrique, que nada tião; este,

fradescas,

mais dado

a

fez, e

depois

I).

aventuras guerreiras do que

Sebas-

a coisas

comquanto eslivesse em Thomar algum tempo

e aqui


deixasse assignalados alguns aclos do seu governo, não consta

que naquelle convento

obras notáveis. Vieram, por fim,

fizesse

os Filippes de Hespanha. Merecia lhes sympathia e predilecção

o Convento de Christo. Ali

fauslosamente hospedado pelos

foi

em

frades o primeiro d estes reis, quando fez a sua entrada

Portugal e

ali

ram; grato

foi

a tão

acclamado

rei

pelas cortes, que

carinhoso acolhimento,

se celebra-

devia querer

dotar

com uma obra monumental, que mostrasse á seu grande' poderio e perpetuasse a sua memó-

aquelle convento

posteridade o

E conseguiu

ria.

o,

porque aquelle claustro conserva

conservar sempre o nome de Claustro dos Filippes,

possam levianas afiirmações negar-lhe

a

que carece de autorisada.

opinião,

proveniência e

agora

vir

nome, que se tem perpetuado atravez dos séculos

tóricos

de

uma

apagar-lhe o e

dos nossos sábios historiadores ainda se atreveu

Em

e ha

sem que

que nenhum a

negar-lhe.

conclusão, os factos observados e os documentos his-

provam

á

evidencia que D. João

m

nada tem n aquelle

que D. Calha rina apenas ali mandou fazer uma via de communicação, que era o que estava projeclado, e não o

claustro,

claustro que

quem

lião;

ou

foi

aquelles,

existe.

Não o

que

lhe

deram o nome;

já expostos temos ainda

vulgar,

os

mas

Henrique nem D. Sebas-

fez D.

que o fez? Não póde ser outro senão aquelle, a

e

alem dos argumentos

altestal-o a Iradicção, tradicção

transmittida por

homens

illustrados,

como

Freires de Christo e conhecedores dos factos,

presencearam, aquelles que d

o

não

eram

porque os

fizeram menção aos seus

elles

successores.

A

historia é imparcial,

temos

que

admittil os,

embora o sen magoe com certos factos,

recta e inexorável;

timento nacional e palriotico se

fira

e

(piando não

houver rasões

convincentes para podermos negai os.

mos, alardeando

não devemos,

um

tido

patriotismo que vae alem do sentimento,

fundados n

tem o valor que se

bastante

E, para nos salientar-

lhe

uma simples

quer dar,

como verdade, antepondo nos

ir

observação,

que não

negar o que sempre

fo*

ás mais subidas autorida-


148 des

em

historia patria; seria

um

excesso dorgulho,

uma

frivola

vaidade; por isso continuaremos a chamar áquelle claustro Claustro dos Filippes.

O que

um ar de soberana magestade, o que principalmente se impõe ã admiração de quem o observa, são as suas fachadas, é o exterior e não o interior; admira se dã áquelle claustro

a sua grandesa e não os seus ornatos, que os não tem; n’aquella mole colossal de pedra, não trabalhada ao buril, mas talhada

Plaustro do» f ilippes

ao escopro e á picóla, sobresaem as gigantesca columnas de só peça, que simetricamente dispostas foram ali encos-

uma

como ornamentação do que como pontos porque para aguentar todo o peso das abobadas

tadas ás paredes, mais

de apoio,

tinham os pilares e os arcos de cantaria poder mais que sufficiente.

Eram

frente da obra

talvez só estes pilares e arcos, ali

mandada

que formam

a

fazer por D. Calharina.

Aquellas columnas enormes, que se

aprumam

ao lado dos


HO vãos, deixados abertos na espessura dos pilares e sobre cujos capiteis

saem as cimalhas do segundo pavimento em baixo o aspecto Je porticos grandiosos e em cima a forma imponente de mages-

assentam e

e as do eirado, dão

de soberbo palacio

tosas janellas de sacada. Dir-se ha, ao contemp!al-as, que cada

uma

das quatro fachadas daquelle

claustro é a frente de

um

assomar áquellas d algum poderoso rei.

grandioso palacio real e aíigura-se-nos ver

sumptuosas janellas o vulto respeitável

Ao centro deste

uma

claustro, eleva se

repudio, cuja colmnna é

feita

de quatro peças que se salien-

tam formando ângulos diedros, rectos superior liga-se

uma

magnifica fonte de

em

outra peça,

e

reentrantes; á parte espiga, que a

forma de

termina, sendo esta cravejada de pequenos orifícios; d’ella

está

um

prato circular

lumna, inferiormente

também de pedra

a este, outro

abaixo

ligado á co

de maiores dimensões e na

base o tanque, limitado por curvas circulares

com

a

convexi-

dade para dentro e por linhas rectas, que ligam umas ás outras estas curvas, apresentando por isso quatro faces semi circulares

e quatro planas; o seu perímetro é guarnecido por pilastras

de pedra.

A agua subia pelo eixo da

columna para

ir lá

em

cima, e:n virtude da pressão devida á dilTereuça de uivei, saltar

por aquelles

em

orifícios

em

delgados

filetes,

que, encurvando se

graciosas parabolas, vinham cahir no prato superior; este

por umas boccas de phantasticos animaes simulando

peixes,

despejava-a para o inferior, que tem na sua base e face exter-

nas quatro carrancas de bronze diametralmente oppostas, as

vomitavam para o tanque; mas alem de estes pontos de sabida desciam ainda ao longo da columna uns

quaes boquiabertas

a

tubos que conduziam

pedras da

bém

sabia;

e isto por

bronze atiravam

çavam lira

a

a restante a

quatro figuras talhadas nas

mesma columna, uma em cada a

em

forma

tal,

face.

por onde tam-

que as quatro carrancas de

jorros quasi verticaes e as de pedra lan-

em curvas, cruzando-se estes jactos uns com os outros. em volta d’esle claustro que se faziam as procissões

solemnes,

uma

das melhores, a do Corpus

Christi; para este


—m— acto as suas paredes

eram forradas da

simas colchas de damasco bordadas impostas e aos saimeis

vê junto ás

donde para

vistosas arras e riquís-

ainda hoje

ouro;

a

os vestígios

se

dos pregos

dependuravam. Da porta da egreja, que dá passagem

se

sabiam os freires luxuosamente paramentados;

elle,

bri-

lhava o ouro, reluziam as pedrarias nas vestes sacerdolaes de fino

barramaque,

a

com

contrastarem

pobre e humilde

a túnica

do Martyr do Golgotha, que tão estranhamente n aquelle acto pretendiam representar; debaixo de riquíssimo duzida

uma

encerrando

pedras preciosas,

tes e outras

transubstanciação do Verbo Divino.

chegavam

pallio era con-

valiosissima custodia d ouro cravejada de diaman-

ali

já amortecidos,

a hóstia

sagrada,

Os sons do orgão, que

casavam-se com o psalmear dos

Os

frades, resoando pelas abobadas do claustro.

raios do sol

que vinham atravessar os jactos d’agua que emanavam da

fonte,

produziam, pela sua desegual refrangibilidade, as vivas cores

do espectro

solar,

eram uma como

luz celeste,

que vinha

illumi-

nar aquelle quadro magnificente e pomposo e o murmurar da

um hymno

agua, que calha no tanque, era

var o Eterno, que

ali

se adorava.

da natureza

a lou-

A prochsão caminhava

a pas-

sos graves e cadenciados; atraz seguia o povo, curvada a fronte, contricto o coração; e os sinos repicavam no alto da torre e

do thuribulo de prata dourada subiam ondulantes nuvens de odorífero fumo. Estas pomposas manifestações do culto externo inebriam,

fascinam o espirito da multidão,

que parece abandonar por

momentos

a matéria, para se elevar a regiões ethereas,

nhecidas;

arrebatam mas não

edificam, persuadem,

desco-

mas não

convencem; findo o acto aquellas impressões desfazem se, como se foram uma visão phantaslica e tudo volta á realidade do mundo positivo.

A maior parte

d aquelle povo,

que

ali

parecia

tomado

de firme arrependimento dos desregramentos da vida mundana, desce á

villa

resto do dia

ou caminha

em

para suas

libações, outros

dos que não condizem com

a

em

aldeias e uns

passam o

cantares e danças, folgue-

contrição que

mostravam.


-

lol

Despidas as vestes sacerdolaes os frades desciam ao

refei-

era costume naquelles dias de festa solemne terem

tório,

al

-

guns convivas, por isso esperava-os a li mais lauto banquete,

com que podessem reparar

no trabalho

forças exhaustas

as

humedecer as gargantas resequidas pelo vozear do cantochão. Tomados os seus respectivos logares, da cosinha, que tica contígua, começavam pela ministra a passar que haviam

tido e

fume-

pitança, que, ainda

pratos da appetitosa

os primeiros

gante, espalhava pelo ambiente odoríferos vapores. Era a prin-

do vinho nos

cipio profundo o silencio; só se ouvia o entornar

copos e o crepitar das viandas

triturarem se entre as poten-

a

tes maxillas

dos commensaes, emquanto o irmão

mudeava no

púlpito

aspirando aquelles se é que

dentro

em

leigo tarta-

rançoso latim alguns trechos da Bíblia,

appelitosos aromas, que o faziam

na cosinha não

tinha já

salivar,

devorado algum

naco de presunto ou de succolento carneiro assado e entornado

algumas canecas do

com

para melhor poder arrostar

tinto,

a

ardua tarefa que tinha a seu cargo. Saciado o voraz appetite e quasi

repletos os elásticos

batido por vivo

estomagos, o compasso binário

aquellas queixadas

passava

a

andante; os

phicos personagens,

ia-se

roliços

inclinados para

afrouxando e de troncos deante,

alegro

d’aquelles seraa

pouco e pou-

tido

aprumando para em seguida declinarem em sencontrario até se refastelarem nas fofas poltronas, pondo

em

proeminência os atoucinhados abdomens; então, porque já

co iam se

os vapores de Baccho

lhes

iam excitando os cerebros, con-

versava-se animadamente, ria-se,

chalaceava-se, trocavam-se

tempo a tempo eram interrompidos pelo sorver ruidoso de abundante pitada

ditinhos picantes e agudos

gracejos, que de

de esternutatorio simonte ou de caixa.

Felizes

tempos

!

asim que mortificavam nmm

Ou a

tino rapé, colhida

de aurea

antes diremos, felizes frades

!

Era

carne para purificarem o espirito.

Terminados aquelles lautos banquetes, os mais velhos ou mais circumspectos recolhiam aos seus aposentos, emquanto que os mais novos e mesmo alguns velhotes folgazões, pas-


— 152 — savam ao Claustro dos

como

Filippes

era

costume, era

ali

o

pospaslo; então das frescas e escuras cavas subiam as empoei-

radas garrafas do aromatico moscatel e do fino tinto ou branco já envelhecido na

estava-se

frasqueira;

em

liberdade,

plena

jogava se, brincava-se á vontade. Aquelle recinto sagrado, que servia ás festas divinas, servia

também

ás profanas; pelas abo-

badas onde ba pouco resoavam os cânticos religiosos, echoava agora o

do ouro, que se jogava ás mãos cheias e o vozear

tinir

descompassado e estridulo dos que

em

tendo aquelle logar E’

que

se retouçavam, conver-

em

muros, onde devia

dentro d’aquelles

ali

tavolagem e muitas vezes

bordel.

reinar a

virtude e a austeridade, havia homens, não havia santos;

abastança e por isso os vicios e

via o ocio e a

d

uma

e

doutra derivam.

A agua, que alimentava

um

capacidade,

quando

e,

d elle e descia para

uma

esta

uma

de repuxo era trazida por

a fonte

em um deposRo

aqueducto e vinha juntar-se

peito de

ha-

as paixões que

de grande

não funccionava, passava

ao lado

calha de pedra, que passa no para-

varanda, que

fica

contígua ao Claustro dos Filip-

quando se

pes, para o lado do sul; parece que

fez esta fonte,

ou quando se projectou

fazei a, ainda

não eslava concluída

fachada sul do claustro,

nem

modo

como

foi

d outro

se pode

a

explicar

que deixaram na espessura da parede o vão para o

deposito e para o cano que conduz

obra de Filippe

11,

é

mais

uma

a

agua;

e,

sendo esta fonte

prova de que aquelle claustro

bem cabida a denominação de Claustro dos Filippes, que sempre tem conservado. Já os Templários, quando construiram ali o seu castello, tiveram o cuidado de abrir cisternas, como era costume fazer-se é

em

todas as fortalezas, para deposito

não faltassem

em

caso de cerco.

Um

d’aguas, de

modo que

pouco afastado da capella,

para o norte e formando saliência para o poente, encontra-se aberta na rocha

uma escada que desce

pedaria; na parte

uma

superior d’esta

calha de pedra,

com grande

para o Claustro da Hos-

escada vê se de

cada lado

inclinação para o lado opposlo


ao plano inclinado da escada, o que indica dirigirem-se para dentro da muralha; aquellas calhas não podiam ser outra coisa

senão collectores, para receberem as aguas pluviaes, que ca-

lham sobre o eirado da capella

e dos castellos e reductos,

para aquelle lado devia haver e as conduzissem

que hoje se não pode saber onde ponto tasse gia, e

a

a

um

Vè-se que n 'aquelle

íieava.

rocha era escarpada; é provável que sobre

algum que

assen-

ella

por licar perto da capella a prote-

castello, que,

a este se

que

deposito

seguissem outros, que guarneciam a linha

de defesa pelo lado do poente;

a

calha que

tem grande capacidade, o que mostra que dos castellos e reductos.

a

para o norte

íiea

somrna das areas

que ficavam para aquelle

lado,

era

considerável. Esta observação, que ainda ha pouco tivemos occasião de fazer, leva-nos a modificar o que anteriormente dis-

semos

que para aquelle

escarpado

— não

lado o terreno

o era. pelo menos n aqnelle

menos

devia ser sitio e

veiu con-

firma r-nos o que já tínhamos afiirmado: que as muralhas não

iam travar-se na capella. Nas obras que posteriormente se fizeram, houve sempre o cuidado de aproveitar as aguas, que desciam dos beirados e guardai as

em

grandes depósitos, que ainda

se

vêem

e d elias

se serviam os frades para regas e para dilferentes usos domés-

por não as terem nativas. Eram porém insuílicientes e de má qualidade, porque as primeiras chuvas arrastam sempre dos telhados grande quantidade de matérias organicas, vegeticos.

taes,

excrementos

organicas, entrando

d aves, insectos,

em

etc. e estas

substancias

decomposição, dão logar ao desenvol-

Em um

vimento de micro-organismos prejudiciaes á saude. edifício tão grandioso,

d

arte para o adornar,

onde tanto dinheiro se gastou

em

casarias [tara todas as

VÕes e todos os usos, de modo

(pie

nada

em

obras

accommodaeommodi-

faltasse á

dade dos que o habitavam, havia esquecido aos nossos reis um elemento essencial, agua de boa qualidade, ou o haviam tido

em

pouca conta por lhe desconhecerem o valor.

Deveram os frades

a

um

rei estrangeiro, Filippe

11,

o abas-


— 454 tccimenlo d'agua, que

buscar a mais de cinco kilometros

fui

de distancia, conduzindo-a por

galgando por sobre

um

aqueducto, que, rompendo

montes

e

lisação

subterrânea, que é a melhor,

vem

valles, a

trazer

porque

mais limpa e mais fresca e ainda porque obsta que

em uma grande

extensão dá logar

a

A

aii.

cana-

agua chega

a

evaporação

á

uma perda

conside-

rável, não era então usada, ou porque se não soubesse fundir

os tubos de ferro, que boje se empregam, ou porque se des-

conhecesse o equilíbrio dos líquidos era preciso conduzir a agua por

um

em

vasos communicantes;

modo

plano-inclinado, de

que as suas moléculas se deslocassem pela acção da gravidade, obtendo uma corrente mais ou menos rapida conforme nação; d’aqui

um

como acontece

era muito accidentado,

ali,

cortar os montes, que excediam o nivel a

a incli-

trabalho arduo e dispendioso, quando o terreno

porque

em que

foi

preciso

devia deslisar

corrente e fazer subir os valles, que lhe ficavam abaixo, o que

se conseguiu construindo arcadas sobre as quaes assentavam

as calhas que a conduzem.

um

No percurso d

profundo onde se construiu

valle

uma

este aqueducto ha

arcaria de duas ordens

d 'arcos sobrepostos; estes são ogivaes e os pés dos da

ordem

superior assentam sobre o vertice dos da inferior, o que mostra a solidez

Em

vèr-se. lia

uma

casa

que repousa curso;

em

com que foram construídos, li’ obra digna de uma das extremidades d 'esta especie de ponte abobadada, no centro das quaes a agua, como

cada

em

larga bacia, para depois seguir ligeira o seu

uma

volta de cada

ba bancos de cantaria; estas ca-

eram fechadas, serviam por isso a evitar que por sobre o aqueducto se fizesse passagem publica e serviam ainda de

sas

regalo aos frades, que frescura

em

ali

quizessem

tarde de verão.

o norte, da que

fica

Na

ir

passeiar e gosar suave

das as quinas portuguezas e por baixo d elias

que

diz

1 5Í)3

que

L>.

Filippe

e que seu filho

l*ara

que olha para

face externa, na

mais próxima do convento

i

1).

completarmos o

mandou

inscripção,

fazer aquelle aqueducto

Filippe u o fez acabar ligeiro

estão grava-

uma

em

esboço que temos

em

1013. feito d‘este


convento falta-nos mencionarmos cinto fechado por

um

um muro

alto,

O

largo portão d'entrada.

a cerca.

um

Esta é

vasto re-

tendo, ao cimo da rua da Graça, terreno, cuja area é de muitos

hectares, é accidentado por montes e valles; e d aqui por certo a

O

denominação de Sete Montes.

solo é calcareo; a maior

parte d’aqnelles montes estão povoados de pinheiros e matto,

onde abunda

em

a caça;

outros e nas encostas cultiva-se

veira; os valles são ferteis e

podem

ser cultivados

em

a oli-

horta,

por haver abundancia dagua para regas; encontram se nelles muitas arvores de fructo;

que do portão dos Sete

a estrada,

Montes conduz ao pateo dos Carrascos, é orlada de frondosas arvores d ornamentação.

Em

cima, junto á fachada sul do con-

vento, ha uni taboleiro de terra, segura pela antiga muralha e

um espesso tivado em horta por

muro, que posteriormente se construiu, é cule arvores fructiferas, taes

cidreiras, limoeiros, nespereiras, etc

convento, concentram-se luz solar,

não só os que

ali

,

como

o raios caloríficos que

n’elle

larangeiras,

abrigado do norte pelo

acompanham

a

iucidem directamente mas também

os que se reflectem nas paredes, por isso as fructas e os legu-

mes amadurecem mais cedo tem

um

e são de delicioso sabor;

em

volta

espaldar de parreiras, que produzem magnificas uvas

de mesa.

E assim, no decorrer dos séculos, se foram modificando as grutas e as choupanas dos antigos monges ou as cabanas dos cenobitas até se transformarem este e muitos outros,

em sumptuosos

onde nada

faltava ás

palacios

como

commodidades da

vida e onde, para mais, avultava o luxo e a grandeza.

ü

fim das primeiras congregações religiosas era manterem,

na sua

maxima pureza,

a

religião de Christo; por isso os

se dedicavam a este genero de

vida evitavam o

que

contado dos

outros homens, que podia desvirtual-os, fugiam do hulicio das cidades, que podia

distrahil os

do seu fim; é no ermo

montanhas, na profunda solidão dos bosques, no vasto

mento dus desertos, onde

das isola-

as impressões exteriores não des-

pertam desejos mundanos, que

a

alma, entregue

a si

mesma.


voar ao infinito

tende

a

inato,

qne

querer identificar-se com o principio

a

deu origem; é

lhe

ali,

onde não podem

vicios

chai a, paixões pervertel-a, que ella se mostra pura,

como sahiu das mãos do Creador. No tempo das grandes perseguições muitos

man-

immacu-

lada

christãos reti-

ravam-se para o deserto, principalmente paia as proximidades

do Egypto, e muitos

passavam o resto da

ali

exemplo, S. Paulo, que

que quer dizer

Monges,

— habitante

do deserto; lambem se chamavam os que viviam

isto é, solitários,

como, por

vida,

considerado o primeiro Hermita,

foi

isolados, Cenobitas

em communidade e Anachoretas os que em profunda solidão, depois de terem vivido algum tempo em communidade. No meio d’aquellas solidões levavam vida austera; empregavam-se em trabalhos manuaes, dos quaes aquelles que viviam

estavam

tiravam os meios de sua subsistência; pouco lhes bastava, por

que se

habituavam

tomavam por a

dia

a

uma

uma

frugalidade

ligeira refeição;

como

sua longevidade, pois,

tal

que.

em

geral, só

apesar d isso é notável

se vê na vida dos Santos Padres,

muitos viviam oitenta, noventa e até mais de cem annos; seus trabalhos consistiam principalmente

de junco,

ras

cabazes, objectos

que os não impediam

em

de folhas de palmeira,

de meditarem

os

fabricarem esteiele.,

constantemente nas sa-

em Deus. Os em isolamento,

gradas escripturas e terem o seu pensamento Cenobitas

também

as suas

pois

cellas

se pode dizer que

viviam

ou cabanas eram distanciadas

umas das

inlervallos; trabalhavam sós ou sempre calados; aqueila communidade reunia se duas vezes por dia. ás horas da oração. N a pielle isolamento as paixões e os vicios desappareciam. chegavam mesmo a perder a memória dos objectos que os despertam.

outras,

algumas por grandes

dois a dois e

Quando Constantino

se declarou pelo

christianismo e de

todo acabaram as perseguições, os christãos. que se dedicavam

exclusivamente aos

exercícios espiriluaes,

rar-se para os desertos e ermos;

uma

habitação

commum,

a

deixaram de

congregavam-se

e

reti-

construíam

que se deu o nome de mosteiro e


Monges ou

aos seus habitantes o de

ções

em

eram,

nunca dentro

como

geral, edificadas

d’ellas e este

Religiosos; estas habita-

povoações, mas

perto das

uso prolongou se por muitos séculos,

ainda agora se pode notar

em

antigos conventos.

construcção assemelhava-se muito ã das casas

como

ainda hoje se

de Palladio.

A

primeira casa,

veem

A

sua

romanas, taes

descriptas nas obras de Vitruvio e

egreja ficava sempre na parte anterior, era

para que os seculares

podessem

ali

ter

a

livre

entrada, correspondia áquella primeira sala, a que os romanos

chamavam alrium;

da egreja passava-se a

de galerias cobertas,

a

que então chamavam

do grego e hoje se chama claustro, com as outras peças do mosteiro;

como

o qual

mais peças; por delraz havia

dormitorio era casa,

miam

sem

commum;

os

um

pateo rodeado

derivado

communicavam

do capitulo, exedro

a casa

romanos, o dormi-

dos antigos, o refeitório, o iriclinium dos torio e

um

perystilio,

jardim ou horto.

O

monges dormiam todos na mesma

dislincção de camas, sobre enxergas de palha, dor-

vestidos, tendo

apenas uma manta para se cobrirem de

ordenava-lhes o dormirem sem mesmo tirarem o cinto; isto talvez para se distinguirem dos judeus, que sempre o tiravam quando se deitavam, como se vè n aquella passagem do Propheta: cinge os

inverno; a

regra de S. Benedicto

vestidos

tens rins e ergu?-te.

O

uso dos lençoes não data de muitos sé-

culos, os nossos antepassados lidos.

N

dormiam

vestidos ou semi-ves-

estes mosteiros não só as camas, mas até os hábitos

eram commuus; a coisa alguma qualquer dos monges podia chamar seu, havia uma verdadeira communidade; por isso os seus vestidos faziam-se de modo que podessem servir a todos,

eram

simplices e conforme o vestuário da gente pobre. S. Ba-

silio dizia

a

que o christão deve contentar-se

decencia e para se resguardar do

frio e

em

se cobrir para

das outras injurias

do ar:jnas com o menor embaraço que seja possível, contentando se com um só vestido, que sirva para de dia e de noite.

S Benedicto ordenava aos monges da sua ordem que usassem, só uma túnica com cucula ou capuz e um escapulário para o


-mtraballio.

A

liinica

gente pobre e a

a

sem manto

cucula era

era antigamente o vestido da

uma

especie de capote, que usava

gente do campo e os pobres. Este vestuário, servindo a co-

commodo

brir a cabeça e parte do corpo, era muito

o

tornando-se por isso

frio,

commum

séculos e ainda boje no varino

Não

para evitar

na Europa até ha poucos

vemos uma semelhança delle. mas até os nobres e os cor-

só os clérigos e os lettrados,

usavam capuzes de diversas

tezãos

sortes.

A cucula, ordenada

na regra de S. bento servia de manto, S. Benedicto deu lhes

um

escapulário para o trabalho; era muito mais largo e mais

usavam os frades

curto do que aquelles que ultimamente

nome o indica, servia para que menos se magoassem com como

o seu

resguardara túnica; tinha

e a

um

e,

guarnecer as espaduas,

a

o peso e atriclo dos fardos

capuz corno

cucula e estes

a

dois vestidos usavam-se separadamente, o escapulário no trabalho, a cucula (cugula

ou casula) na egreja

e nas ruas.

Mais

monges consideraram o escapulário, porque represeno trabalho, como a parte essencial do seu habito, nunca

tarde os tava

o largavam e

Estes

punham

a

homens faziam

cucula por cirna delle. voto de extrema pobreza, viviam ex-

empregavam-se em

clusivameiUe do seu trabalho;

porção de terra adjacente ao mosteiro,

dim ou

horto, plantando hortaliças e

a

cultivar a

que chamavam jar

semeando legumes para

seu uso, alugavam-se como jornaleiros, iam ás ceifas, vindimas

em grupos

e outros trabalhos ruraes; divididos

grupo conduzido por

um

superior, a qite

de dez e cada

chamavam decano

ou deyão; ainda hoje estes nomes são conservados na jerarchia ecclesiastica.

Era assim lambem

rpie os

conduzir ao trabalho os seus escravos

romanos costumavam

O que do producto do

seu trabalho sobejava, da sua frugal alimentação e do seu singelo e

duradouro vestuário,

distribuíam

em esmolas

pobres; alem d 'isto exerciam nos seus mosteiros

sem

a

pelos

hospitalidade

dislincção de crenças religiosas, tanto era [rara os cln

tãus.

como para

is-

os que o trão eram.

Os judeus, os gregos, os romanos

e outros

povos da

ardi-


— 159 — guidade lambem exerciam entre si a hospitalidade, que era um dever sagrado, mas esta hospitalidade

considerada como

não era uma virtude, era antes uma reciprocidade de serviços,

porque o que hoje recolhia em sua casa um viajante podia aconteeer que mais tarde se fosse recolher a casa d elle. A hospitalidade como virtude, a Caridade, que é a mais sublime de todas as virtudes, pregadas por Jesus Christo, só os chris-

começaram a pol-a em pratica. A Caridade não é o do ul des, fado

tãos

ut fadas,

pios sobre que assenta o direito natural;

etc.,

mas sim

princí-

praticar o

bem só porque bem, sem distincção damigos e inimigos, sem outra recompensa mais do que o prazer de o haver praé

E’ repartir

ticado,

com

os outros os nossos bens materiaes e

intellectuaes, compartilhar

com

elles as

suas maguas e os seus

pesares, allivial-os no peso da desgraça, consolai os no infortúnio, aconselhal-os na duvida, instruil-os

no bem, detelos no

impelo de suas paixões, soccorrel-os na indigência, amparal-os no escorregar da miséria. A Caridade è como a brisa suave, cujo hálito benefico chega

a

toda a parte,

bafeja a

rasteira

docemente a folhagem do frondoso abeto, no planta e cume das serranias, no pendor das montanhas, na quebrada dos valles, na explanada das campinas. Assim ella entra no agita

palacio

do

rico,

no tugurio do pobre, assiste nos hospitaes,

avança pelos campos de batalha ainda alem da

campa em

como nenhuma

e,

outra, vae

supplicas e orações pelos que mor-

reram. Cicero disse: charitas

howo

es t, ibi

primiam

a

bem fido

humani

locas

est.

generis, e Seneca:

Estas palavras

verdadeira Caridade,

a

Caridade

ubicumque

porém não exEvangélica.

aquelles grandes homens tiveram o presentimento d

ella,

Se

no

meio do egoismo tenaz, que então dominava as sociedades, esse presentimento, grandioso na essencia, era apenas uma concepção luminosa e

bella,

porém tenue

e vaporosa, que o sentir

geral da epocha, aferrado a avios preconceitos, varria e dissipava até perder se, como se esvae e perde o aroma das tlores


— 160 — Eram

açoitadas pelo vento e lavadas pelas chuvas.

uma

rellexos de

aurora brilhante, refrangencias d’uma luz refulgentissima,

cujo loco se achava ainda abaixo do horisonte, para despontar

um

dia

como

cfiluvios

astro lúcido e rutillante, a vivificar e esclarecer

homem, derramando por sobre

o espirito do

humanidade

toda a

de consolação e amor.

Esta virtude, a mais transcendente de todas, que não pode

homens, mas irradiação da bondade

ser obra dos

se radicou no coração da humanidade,

ceu

um homem

humilde no

sublime no pensamento,

trato,

Homem

divino na essencia, o

divina, só

quando na Judéa appare-

Deus, que

com o

seu exemplo

e o seu verbo, n estas singelas

mas eloquentíssimas

— Amae vos

a

uns aos outros

insuflou no

que o escutavam e o seguiam. E para que crescesse e difiundisse, vário se erguesse

uma

Labaro sagrado) e n

foi

palavras:

animo de todos

ella se

avigorasse,

ainda preciso que na rocha do Cal-

cruz (symbolo do opprobrio então, hoje

ao expirar o Itedemplor do inundo

ella

entre ladrões e assassinos, exhalando o ultimo suspiro, a

em

que

alma lhe voou ao seio do Creador, d onde havia emanado,

manifestasse ainda esta sublime virtude, pedindo o perdão para os que barbara e ignominiosamento o assassinavam.

Os pagãos nada providenciaram com respeito aos pobres, doentes e inválidos e na sua política entendiam que mais valia deixal os morrer,

tiveram hospilaes

visto

nem

que eram inúteis á sociedade, nunca

asylos. Oschristãos soccorriam os pobres

por dois modos diíTerenles:

um

distribuindo-lhes

esmolas e

deixando-os alojarem-se onde podessem; o outro consistia fornecer-lhes

habitação e alimento

meiro meio havia

em

em commurn.

cada quarteirão de

de escriptorio, chamado Diaconium

;

Homa uma

residia

que para esle fim recebia uma certa quantia,

ali

em

Para o pri-

um

especie diácono,

a qual distribuía

pelos que sabia serem necessitados e de que dava contas. Para

o segundo, depois que a egreja se viu livre das perseguições,

começaram

a construir se

diversas casas de caridade, que se

distinguiam por nomes gregos, conforme

a

qualidade dos po-


brés. A casa onde se alimentavam as creanças de peito abnn

donadas on que suas mães não podiam amamentar, chamava-se Brrphotropfuum, adosorphãos Orphanolrophium; Nosocomimn era o hospital dos doentes: Xenòdochium a casa onde se aloja-

vam

os estrongeiros e os passageiros (havia destas casas an-

nexas

vimos

a

alguns conventos muito

em Semide eborvão

locomium era o

retiro

sorte de casas

um

em

a

Alexandria. S. Zotico res que

a sorte

mu

mantinham

á

sua intendência,

em

asylo; 1’rocho-

de pobres. Havia d esta

em

geral, era

como Santo

Isidoro na

todas as grandes cidades

padre que tinha

as

e até nellas pernoitamos); Geron-

dos velhos inválidos,

trnphium era geral para toda

entre nós

posteriores, e

e,

Constantinopla, etc. Havia particula-

sua custa

como

casas d hospitalidade, S.

a

m

ma chi u s no

1'orto 1

e S.

Cal-

Ifcano ern Oslia. Ks-

ullimo

te

tinha sido patrício

e

co

e

n sul

ad mi rara v ô r

u

m

homem desta caj-ACIUDA DA KGREJA DO CONVENTO

lavar os pés aos pobres, servil os

the go á

mesa

e dar aos

ri a'

doentes

toda a sorte de carinhosas consolações. Lavar os pés era eos-

lume entre os judeus

e outros povos,

era o primeiro serviço

que se prestava ao viajante que se alojava em sua casa. Os monges recebiam nos seus mosteiros pessoas de todas as condições, crianças que os pães para lá lhes mandavam para

serem educadas na

verdadeira religião christã,

velhos

que


queriam acabar sanlamente

a

sua vida, peccadores

grave tinham

alguma culpa

que fazer

um

tos annos, preferindo, porisso, recolherem-se a

indivíduos d’alta cathegoria, a

quem

mui-

mosteiro,

profundos desgostos

revezes da fortuna tornavam aborrecida e insuppoi tavel

vemos em reis tomarem

por

que,

penitencia por

ou vida

a

social;

differenles epochas pessoas d alia nobreza e

até

a vida

monastica. Na egreja de S. Fructuoso.

arcebispo de Braga, ha regulamentos para toda esla variedade

de pessoas.

Os monges estavam teiro

nadas ao trabalho passavam-as

a orar,

para

oflicios divinos e

lhes ministrarem a Eucharistia; as horas que não

eram

implorando

desti-

Miseri-

a

si

e pai a todos os fieis e pedindo ao Eterno

infinita

bondade, esclarecesse o espirito dos que

córdia Divina para

que, pela sua

do sou mos-

sujeitos ao bispo e dentro

tinham clérigos para celebrarem os

ainda persistiam no erro; foram elles que introduziram no rito ecclesiastico os oíficios de prima e de completas, para começa-

rem

e

acabarem santamente o

dia.

Quanto aquellas congregações religiosas difleriam do que ultimamente foram

A li

a

pureza dos costumes,

mundanas,

um

a

Caridade

abnegação de todas as coisas

de

radiante

e bella,

animantc e consoladora como

sol vivificador,

suave

a brotar

a

um

como

balsamo

dôr dos que sofTriam. Depois o luxo, o fausto,

a mitigar a

as grandezas, a ambição

do poder,

a intriga,

a

intervenção

nos negocios do estado, até a oppressão dos pequenos, emfim. tudo que era mundano, nada espiritual, senão debaixo de

uma uma hypocrisia repugnante. Mesmo n’aquellas ordens, que se diziam pobres e mendigavam, como aqui os franciscanos e os capuchinhos, viam-se homens validos e robustos a mendigarem por esses logares,

ficção, d

colhendo para

si

a

esmola que devia ser distribuída aos

indi-

gentes e inválidos; aquelles trabalhavam e do producto do seu trabalho repartiam

com

os pobres, estes viviam na ociosidade

e nutriam-se á custa dos que trabalhavam;

eram esses

con-


ventos

um

religiosos dos

á custa

a

a

nação,

um

coito

do trabalho alheio. Aquelles

tempos primitivos, verdadeiros representantes

de Chrislo na terra, imitavam proximo,

que sugavam

viveiro de parasitas,

de mandriões, que viviam

sua abnegação,

a

a

sua humildade, o seu

amor do

sua pobreza e a sua caridade;

não ambicionavam glorias mundanas, que despresavam, nem riquezas mais que as suas virtudes; trabalhavam mais para os outros do que para

si

proprios; não se serviam de meios im-

próprios para grangearem bens c enriquecerem nidade; não vendiam bentinhos

a

nem medalhas com

sua

commu-

indulgências,

verdadeiras negaças para colher ingénuos; nãocreavam irman-

dades

a

vintém por cabeça cada mez,

insignificância,

pode dar

em

parecendo

que,

uma

todo o orbe catholico alguns milhões

no fim década anno. Convenciam pela palavra

e

principalmente

pelas obras. Juliano, o apóstata, atlribue o rápido desenvolvi-

mento do christianismo principalmenle lidade,

a tres

causas: a hospita-

nem sabiam empregar, o cuidado com as sepulturas e a gravidade de seus costumes. Não distribuíam livrinhos escriptos em uma lógica isto

é, a

Caridade, termo que os pagãos

obscura cheios dargumentos insidiosos, onde os espíritos

fra-

enredam sem poderem desembaraçar-se, vindo por fim a succumbir. Deus e o Trabalho eram a sua divisa. Deus, idea que santifica, que mantém a alma pura e elevada, nobre e sucos se

blime n esse ideal para onde tende,

ü

enobrece, que avigora e fortalece

parte material do nosso

ser e que é a unica

que habitamos.

a

legitima fonte de

Trabalho que honra e riqueza n este mundo,



1 ANNUNCIADA 0 noroeste de Tliomar, sobranceiro ao 1

um

da Varzea Pequena, eleva-se

em

cujo cimo se vè

uma

capella

construída de cantaria, que tem a

ção de N. Senhora da Conceição; plano

um

socalco do

pouco

mesmo

inferior, especie

do nascente, existe

um

vasto edifício,

'e propriedade particular,

T

vento de frades.

sua séde primitiva, porque primeiro

de

monte, para o lado

Não

a teve

foi

foi

um

porém

con ali

a

perto do logar de

que ainda hoje se chama Annunciada Velha. Entre o logar de Cem Soldos e o de Carregueiros, cerca de um kilometro ao norte do primeiro, houve em tempos uma quinta denominada do Cerzedo, pertence hoje ao Conde de

Cem

Soldos, no

Tliomar esta

sitio

propriedade, que

n aquella epocha

pertencia a

uma senhora U. Isabel Teixeira, viuva de Antonio de Figueiredo, fidalgo da casa de El-rei. Compunha-se esta quinta de casas, com uma capella dedicada ao mysterio da Annunciação, uma abundante

fonte,

hortas pomares, terras de semeadura,

vinhas, olivaes, matios, sobreiros e pinhaes.


— 100 prédio, senhora muito piedosa, pela devoção

A dona d 'este que tinha para

com

ceu ao provincial da ordem,

propriedade para n acceite.

foi

Capuchos,

os religiosos

ella

Como porém

regra lhe prohibia o

esta

oífere-

João de Albuquerque aquella

frei

fundar

em 1520

um

convento, o que

por

ordem era mendicante

possuírem os seus membros

elle

e a sua

bens pró-

prios,

por terem

offerla

senão o que lhe era indispensável para o convento, que

foi:

voto de pobresa, não acceitou daquella

feito

as casas e a cipella, a horta e a fonte, ficando

culdade de poderem os

com

a fa-

lenha,

que

contracto

fez

malta

frades colher na

a

lhes fosse indispensável para seu uso.

melhor

Para

garantia e segurança

d’este

Isabel Teixeira doação d’esta parte da quinta a El-rei D.

1).

João m,

para

ali

com

a

condição de

um

se estabelecer

de setembro de 1527; ração á

mesma

elle a

ceder

ã

convento. Foi

e logo El-rei

ordem dos capuchos feita esta

mandou

D. Isabel Teixeira para que,

doação

mesmo anuo, dia Estremoz, em nome do U.

outubro do

Pedro de

em nome

de S. Francisco, o

Diogo

P. Fr.

então era commissario dos Provinciaes, recebeu da qual se lavrou termo aulhentico.

Em

íins

principiaram as obras nas casas da Quinta, a

um

convento,

com

claustros,

cujas despezas foram feitas

com

d elle.

«la

Em

P.

Fr.

Silva,

que

a dila

posse,

do anuo de 1528

acommodando

as

dormitorios e mais oITicinas, as esmolas, que muitas pes-

soas devotas deram para este fim. E

que

1

alvará de procu-

desse aos religiosos posse do prédio que lhe fora doado. i de

a

como

a capella

da Quinta,

Anmmcianome de Annunciada.

ficou sendo egreja do convento, era dedicada á

ção do anjo, tomou o convento o

Perlo de cento e vinte annos permaneceu n aquelle logar a

commimidade

religiosa de frades

Capuchos.

O

local

porém não

era dos melhores, mal ventilado, por ser abrigado do norte,

em

sitio

tempo

baixo e húmido, era pouco saudavel; ao

fiin

d aquelle

as paredes dos dormitorios, que haviam sido mal cons-

truídas,

começaram

a arruinar se, e

vendo os frades que tinham

que fazer grandes despezas, entenderam que era melhor

fazei as


em

na construcção d outro convento

Tomada por

elles esta deliberação,

conveniente;

encontraram-o junto

lognr mais

á

om uma pequena

villa

elevação, onde ainda hoje existe o edifício que

Tinham

ali

uma

os Freires de Christo

cepção de Maria Santíssima e

uma

apropriado.

trataram de escolher logar

foi

convento.

capella dedicada ã con-

certa are a de terreno, que,

parece, se estendia até ao valle que lho corre ao norte, por

que

uma

d’elle fazia parte

horta,

Proposeram os Capuchos aos estes aquelle terreno, excepto volta delia e recebendo,

que habitavam. do contrato

em

a

denominada do Valente. freires

capella e

uma uma

em compensação,

Esta troca

foi

puchos

frei

o convento e a cerca

acceite e lavrada a escriptura

19 de março de 10:29, sendo

André de

S.

D

Prior de Chi isto

urdem dos Ca-

Pedro do Sul.

uma prolongada demanda com Nuno

Seguiu-se depois

em

certa area

Ignacio de Novaes e ministro provincial da

frei

cedendo

troca,

Pes-

então dono da Quinta do Cerzedo, onde se achava o con-

soa,

Annunciada, o qual

vento da

Irades, o convento

lhe ficava

allegava que, sahindo

pertencendo, porque

d a

tinha sido feita unira e exclusivamente para aquelle fim e

para outro. Depois fizeram cipio

com que

em

não

guerra da restauração e outras delongas

as obras do novo convento só tivessem prin-

De uma

1645.

ram aquelles

a

os

ali

doação

religiosos

e

outra

parte

algumas compras

e

do convento

fize-

houve também quem

lhes fizesse doação de terras para accrescentarem ã cerca.

Concluídas as obras, que

em grande

parte foram feitas

esmolas de pessoas devotas, installaram se convento, havendo

tinham no outro qual

foi

transportado para

e a

elle

com

frades no novo

os-*

toda

a

mobilia que

imagem de Nossa Senhora Annunciada,

a

collocada na tribuna do altar mór, por cujo motivo esta

convento se ficou denominando com o

mesmo

titulo

do outro.

Convento da Annunciada.

Os frades d este convento viveram sempre em estreitas com os Freires de Christo e, até certo ponto, sob a

relações

sua dependencia.

Davam

lhes estes

medico

e botica para os


II

IG8

religiosos enfermos, meia arroba de vacca,

neiro e tres quarteirões de vinho (d

semana

Em

quando era preciso.

e pão,

um

litros e

quarlo de car-

6 decilitros) cada

dia de

Nossa Senhora

das Candeias davam treze vellas, doze de meio arraiei e

uma

de tres quartas para o guardeão; dia da festa da padroeira iam

Frades de Christo,

seis

um

cantar a missa, dois para diácono

sermão e dois para acolytos. Pela sua parte iam os frades da Annunciada ao Convento de Christo assistir ãs vesperas do patriarcha S. Bento e á festa, que ali e subdiacono, urn pregar o

d aquelle Santo,

se fazia no dia

Passos, á do

á procissão dos

que se

na

sua

A camara de Thomar dava áquelle convento, desde o

prin-

corpo de Deus, ás capella

cipio

em

vesperas e ã

festa,

de Nossa Senhora da Conceição.

dia

por provisões reaes,

do antigo,

semana; esta quantia, que importava pelo S. João e El rei D. João v por lhe désse

fazia

mais pelo Natal

com

estes proventos,

G>000

as esmolas

cento e vinte réis cada

em

uma

6í)2iO

réis,

era paga

provisão ordenou que

réis para

um

porco.

que colhiam nos peditórios,

co.n o que recebiam das missas, que muitos devotos lhes

davam

dizer

em cumprimento de promessas

dos finados e com

communidade em

o dinheiio do

padroado,

almas

vivia esta

santa

pobresa mais apparente do que

mos sal e

mesa não era

lauta,

mas

real,

em

porque,

de bom vinho.

Na horta

hortaliças, a boa laranja e outros fructos

em

a

como

cada

abun ouvi-

eommeu

cada refeição o respectivo e clássico pichei de luzidio

estanho cheio

e

era farta,

pessoas contemporâneas, não faltando

a

man-

ou pelas

se ao ocio se não juntava a abastança, tinham decerto a

dancia; a sua

Com

volta

d’ella

tinham as mimosas de pevide e de caroço

bons espaldares das melhores castas de

vi-

que produziam em abundancia as mais delicadas uvas de mesa. N aquelles felizes tempos ainda cã não tinha apparedeiras,

cido o phylloxera

O padroado João Gonçalves

Noronha.

nem

se havia inventado o vinho de inarlelln.

d’esle convento

foi

dado ao Conde de Calheta,

da Camara e sua mulher D.

O conde morreu em

Ignez

Lisboa e o seu corpo

Maria de foi

tras-


ladado para aquelle convênio e sepultado

ali em 27 de março A viuva continuou com o padroado, dando ao convento 5&000 réis por mez; esta morreu no convento de Santo Alberto, onde tinha entrado como freira Carmelita descalça;

de 1C56.

por sua morte, as freiras daquelle convento desistiram do padroado e este passou para os Condes de Casl. Ilo Melhor, so brinhos dos

(SOÀUOO

Condes de Calheta, os quaes davam os mesmos

réis, trinta pelo

Natal e trinta pelo S. João.

Na parede da capella mór, do lado da

epistola,

estava o

seyuinle letreiro:

mor

Esta capella çalves

fie

do mui nobre

da Camara, conde que

da Madeira

e

capitão

condessa sua mulher

I).

e Uluslre

na

foi de Calheta

general da Ignez

João Gon-

mesma

Ilha e

Ilha

da

Maria de Noronha, a qual

por morte do dito conde capitão entrou religiosa Carmelita Descalça

em Santo

Ignez de Jesus

Mana

o Padroado

Alberto de Lisboa e se

chamou

José: antes de professar

d este Convento para

si e

tomou

jazigo dos ossos

de seu marido e o dotou coin tiOhOOO réis cada anno para

ordinann perpetua para que assim a alma do Conde,

como a sua gosem das Missas

e Suffragios,

toda a

pelos

Piovincia se

Conventos d

elia.

capella maior.

1656

appUcam

que

Padroeiros

em dos

Jaz o Conde sepultado no meio da

Falleceu

em

Lisboa a

27

de abril de

.

Hequiescat in pace.

Está

errada esta data, porque o fallecimento do conde

como dissemos,

a

27 de março.

foi,


0 padroado

da capella do Capitulo d’este convento

ao monteiro-mór da

E conforme

villa

a deliberação

dado

foi

das Pias, Estevão de Araújo e Freitas.

tomada

em

capitulo,

que se celebrou

no convento de Santo Antonio, do Valle da Piedade, do Porto,

em 25

de julho de 1693,

lher, filhos e

ali

mu-

tinha sua sepultura, de sua

Na parede da mesma

descendentes.

capella,

do

lado da epistola, estava o letreiro seguinte:

Esta capella he de Estevão de Araújo leiro

e Freitas, cavai-

da Ordem de Chrislo, para sua sepultura

sua mulher U. Maria Frois de Azevedo descendentes, correndo a fabrica d'ella Religiosos,

para a qual dá 4&000

réis

e

e

de

Andrade

e

por conta dos cada anuo: tem

Missa quolodiana, anno de 1096.

Ainda hoje reside tiga e

em Thomar um

descendente d‘esta an-

nobre família.

SENHORA DA PIEDADE Ao

uma ali

norte de Thomar,

n aquelle alto

mão

em um

elevado monte, vê se alvejar

capéllinha, é a ermida de Nossa

como que

a

Senhora da Piedade;'está

estender sobre

a

povoação

a

sua

prolectora; não é a padroeira da cidade,

porque essa ê Santa .Maria dos Olivaes, mas nem porisso deixa de ser muito estimada e venerada por toda a gente da terra; entre os seus habitantes conta ella numerosos afilhados e grande numero de devotos e de bem longe veem alguns cumprir promessas

em reconhecimento ella

quasi

receberam;

dos benefícios que,

não ba

em Thomar

ninguém que, em casos

protecção, por

pela sua devoção, de

e nas suas

afllictivos,

visinhanças

não recorra

á

sua

paredes interiores da sua capella se acham sempre guarnecidas de figuras de cêra, representando isso as


— ni — corpos

inteiros, cabeças, braços, etc

alem das muitas

olíertas <jue

azeite para a alumiar,

llie

animaes domésticos,

até

,

de velas de

fazem

ceia e

de dinheiro e objeclos de valor, eomo

cordões, brincos e outras joias que, contrictos e cheios de fer-

vorosa devoção,

ali

lhe

virtudes milagrosas,

a

vão depor os que, com ella

a fé

viva nas suas

recorreram no meio das atribula

ções de que é accidenlada esta vida e obtiveram o que lhe im-

ploraram.

A sua imagem representa braços seu amado e divino ter Dolorosa).

Virgem Maria recebendo nos

a

quando o desceram da cruz (Mauma das sceuas mais palhelicas d esse drama

I£’

filho,

assombroso, que ha perlo de dois mil annos preseneearam os habitantes da capital da Judéa;

uma mãe

be nos braços e repousa no regaço seu

carinhosa, que rece-

filho

querido, exangue,

inanimado, de cujas feridas goteja ainda, não já sangue vivo,

mas delgado

soro; e ella, a atribulada mãe, a debruçar-se so-

bre elle pretendendo, desvairada pela dor, animar transmitindo-lhe o seu calor

vital,

pria vida para conseguir reanimal-o. Se

com sentimento

cadaver a pró-

não com arte decerto

esculpiu o autor aquella imagem, porque dos

olbos lhe borbulha o pranto, que pelo

um

que lodo dera com

atugueado

rosto,

comprimido pela dor

em

grossas lagrimas desce

ver-se-lbe o arfar do peito,

e parece

e saliirem-lhe dos lábios abafados suspi-

sobem ao ceu a buscarem a alMundo edeutificada já com o Ser ma divina do Redemptor do Supremo, d onde havia emanado (Verbum erai a pud Oram). Sobe se até a esta capella por uma escadaria de mais de ros que partem do coração e

duzentos degraus, que começa

proximo

a S.

á

sabida da Varzea Pequena,

Gregorio. Ksta escadaria está dividida

lanços e passa-se d uns para outros por

um

em

muitos

espaço horisontal,

o que lorna menos fatigante a ascenção e este espaço é cir cumdado por um muro baixo, coberto com lages apparelhadas, oíTerecendocommodo assento aos que quizerem descançar. Quasi ao me;o e á direita de altar se eleva

um

quem sobe

crucifixo,

é o

está

uma

Senhor

capellinha,

Bom

em

cujo

Jesus do Monte.


Lá em cima, em

um muro com

por

volta da capella,

ha

um

terreiro limitado

um

dlsfructa se d’ali

assentos;

panorama

agradabilíssimo: vè-se toda a cidade, avista-se grande extensão

do

com

rio

lantes

margens

as suas verdejantes

e lá ao longe ondu-

arvores, por

povoadas de oliveiras e outras

collinas,

alguns casaes e pequenas

alvejam

entre as quaes

campo. Amena para o lado do

poente a paysagem é agreste, mas bellezas; elevam-se

casas de

sul e nascente, para o norte e

nem

porisso deixa de ter

penhascosos montes, cavam-se fundos valles;

por entre as fragas rebenta o rosmaninho, o carrasco, e eleva-se o carvalho

mostra-se

d’um lado

sem

nem

galas

e a

azinheira;

natureza,

a

ornatos, e este

entretem o espirito que vê

ali,

luxo,

a

um

lado

mundo

physico, o quadro

social:

ao pé da grandeza

o supérfluo, acolá a indigência,

sul

Francisco, que

quartel militar.

dicanle e já cá

a escassez.

hoje se acha

A ordem dos Franciscanos

havia outra,

a

transfor-

era

também mendicantes, lieis

lhes

iam

os soccorriam e

men

dos Capuchos; não convinha

estes «pie tão perto se estabelecessem aquelles, que, por

que os

aqui o

de Thomar, no lado poente da Varzea Grande es-

tava o convento de S.

mado em

pobresa;

a

FRANCISCO

S.

Ao

garrida,

miserável,

contraste prende a attenção,

no

abastança ao outro

a

a aroeira

luxuosa,

do outro pobre,

que se acha reproduzido no mundo a miséria,

rica,

das esmolas com

tirar parte

cercear-lhes

a

serem

os proventos que

auferiam das missas que os devotos lhes encommendavam. A

abnegação e

a

fraternidade das antigas ordens religiosas Unha

desapparecido ha muito e havia-as substituído o egoismo e inveja;

porisso, (piando se projectou edificar

vento os Capuchos,

com

os Freires

que sempre estiveram

ali

em

a

aquelle con-

boas relações

de Christo, pediram áquella poderosa ordem

protecção contra os intrusos,

d onde resultou

grandes estorvos

d aquella obra.

á realisação

opporem estes


- 473 0

provincial da

Ordem dos

m

Luiz obteve de Filippe

que lhe para da

elle

villa

em

concedida

foi

os

Franciscanos, Fr. Antonio de S.

licença para a edificação do convento, 1(522,

com

a

condição de

frades de St.® Sita, e obteve

concessão do terreno, o qual lhe

mudarem

também da camara cedido com a con-

foi

dição de não prejudicarem o largo, marcando-se a largura que devia ter. Objectou-se a isto que a camara não podia, naquelle

sem

logar, fazer concessões de terreno

que a attendeu.

D. Filippe,

então posse do

Francisco d Evora Varejo tomou

mas ainda não

local,

a largura,

mas não

se havia determinado o comprimento;

na demarcação d’estes limites

a

camara, talvez instigada pelos

em

accordo com os Franciscanos; porém recorreram ao povo, que, reunido em plebiscito,

freires,

estes

estava de todo resolvida

porque logo surgiu nova dilíiculdade; tinha-se mar-

a questão,

cado

licença regia; esta dif-

fazendo os Franciscanos nova petição a

resolveu-se

ficuldade

não queria

decidiu a questão

entrar

a favor

uma grande

dos Franciscanos por

maioria.

A poderosa Ordem de Chrislo já não tinha tão alto poderio como n’outro tempo tivera, já não podia domar a vontade do povo, que, pelos vexames que constantemente d’ella estava recebendo, negocios

lhe não

era favoravel.

de interesse commum,

O povo

dar o seu

podia

então,

em

voto e decidir a

questão, havia-se já emancipado da tutela dos tyrannos para,

na nossa epocha, descer á condição de humilde escravo, sup-

portando resignadamente todos os vexames e iniquidades dos altos poderes; e se

proclamar os seus

ou

a

a voz

pretende reagir ou só levantar direitos, é repellido

golpes de sabre.

a

Resolvida a questão, começou a edifi-

cação d’este convento a 7 de setembro de 1028. Ainda ba

Ordem de

vontade,

Christo veiu

allegando

para

ponta de bayoneta

mostrar

que deixava de

a sua

a

mesquinhez

receber os

sobere

dizimos das

terras que os Franciscanos tinham adquirido. Devia ser, para

aquelles opulentos frades,

um

prejuiso sensível o que podiam

receber de dizimos de tão pouca terra e de tão

qualidade;


ainda hoje se

pode ver o grande rendimento que

sendo a cerca

nem

urna

podia dar,

encosta esteril. que quasi

produz, e lamentavam

rnatto

a

falta

migalha

d’aquella

quando cm 1831 se extinguiram as

esses pobresinhos, que,

ordens

em

quasi toda

eram ainda senhores de 454 commendas,

religiosas,

que lhe rendiam cerca de cem contos de

Por

annuaes.

réis

qualquer forma se resolveu esta ultima diífieuldade, porque o convento edificou-se e

de quartel

a Infantaria

está ainda hoje o seu ediíicio servindo

15,

com uma boa parada, em bom

local

e tendo na frente o largo da Varzea Grande, muito apropriado

para exercícios militares.

não tem coisa alguma

Este convento

que o recommende

pela sua arcbiteclura; a egreja é ampla e bastante elevada,

não

tem hellezas architecturaes ou quaesquer ornamentações, é pobre e singela, sombria e tristonha.

SANTA MARIA Na margem esquerda do

com

egreja

a

rio

cerca

de tresentos antiga

denominação de Santa Maria dos Olivaes

(d’ella

bairro de

já fallámose faltaremos ainda, cia,

Nabão,

Alem da Ponte, ha uma

metros ao sul do

quando nos referirmos

á

Naban-

porisso, do pouco que sabemos, aqui diremos menos). E’

esta egreja a matriz da freguezia de

Thomar, que. por recor-

dação da antiga importância que teve, conserva ainda esta cathegoria, mais de

nome do que de

facto,

porque, quasi todos

os sacramentos se realisam hoje

dentro da cidade na egreja

de S. João Baptista, que noutro

tempo era apenas conside-

rada como capella.

A

antiga prelasia

pre inherente

cargo

a

foi

por

substituída

ao parodio

d aquella

população rural e ao qual

uma

egreja,

competia

vigairaria,

que a

sem-

tinha a seu

ministração do

Viatico, confissões e casamentos, etc. e a celebração dos oílicios

divinos na

mesma

egreja.

Em

S.

João havia

um

cura, subor-

dinado ao vigário e com eguaes atribuições respectivas á po-


— 175 pulação urbana.

O padre

homem

Affonso Vito de Lima Velho,

respeitável, polido e estimado na

marense, exerceu por muitos

mais selecla sociedade tho-

annos

cargo;

aquelle

falleceu

ainda não ha muito, veiu substitui! o outro, que nunca

grangoar egnaes sympathias, acabou com o curado, ultimo que o exerceu o

homem também

padre Antonio de

sendo o

dade o centro mais populoso, quem pendente d’aqnella autoridade

uma

vigairaria

para

que, sendo

a ci-

algum negocio deecclesiastica, tem que ir lã

espoliação feita

a

tiver

Thomar.

A egreja de Santa Maria é antiquíssima, remonta anterior á monarchia portugueza,

de

um

convento de

Benediclinos

ainda no tempo da Nabancia.

[)ois

consta ter

fundado

provável que, quando Gualdim Paes

ali

a hei va,

muito

é

e

chegou com

só encontrasse destroços: paredes derrocadas,

fendas crescia

parte

Eructuoso

destruiu aqnella

egreja

a

a epoclia

feito

por S.

O calaclysmo que

cidade devia arruinar consideravelmente

licia,

Itila,

respeitável e bemquisto de toda a população;

longe, Ires léguas de distancia, de maneira

foi

poude

Sousa Santa

depois saliiu de Thomar, levando comsigo a

tratal-o;

-

a

sua mi

em

cujas

columnas derribadas, por cujos fustes

se enroscava a hera; as lages convelidas

servindo de

abrigo

ao eslelião, as paredes arruinadas d alcandor ás aves noctur-

Aos cânticos

eligiosos dos cenobitas

succederam o piar do do noitebó e as sinistras risadas da coruja; pelo pavimento onde ajoelharam os crentes, arrastavam se os reptis.

nas.

mocho

r

e

Tinham aquelles seres infimos tomado posse do quinhão que lhes coube nos despojos d

uma geração passada,

que havia morrido e entre elles eslava

um

d

uma

cidade

templo, que agora

de guarida. Porém, debaixo d aquellas minas repousavam as ossadas dos antigos monges, relíquias venerandas, porque muitos d’elles haviam vivido e morrido em santidade Ali fora agnosterio, onde em dourado sacrario se guarlhes servia

dava

a

ostea divina;

louvor ao Eterno;

mento

ali

ali

haviam soado os cânticos sagrados

em

haviam corrido lagrimas de arrependi-

e desabrochado sorrisos d esperança. Era pois aquelle


— um

176

logar de respeito e veneração para os crentes; e Gualdim

Paes era

que

um crente.

Porisso levantou das ruinas aquella egreja,

lhe havia de servir

porque

de jazida,

seus restos mortaes; reedificou

não

a,

repousam ainda

como alguém

a fundou,

erradamente afiirma.

Sabe se quanto ainda n’aquelle tempo eram respeitadas e veneradas as sepulturas dos chrislãos, por isso Gualdim Paes devia aproveitar-lhe o pavimento, deixando-o o mais intacto,

paz dos que

ali

dormiam o somno

veitar-lhe os alicerces

em

possível

para não revolver aquellas sepulturas, perturbando a eterno; devia

lambem

apro-

que ainda estivessem solidos e seguir

nem lhe com sinos,

tudo os delineamentos do antigo edifício; porisso

ergueu

um

campanario,

nem

lhe fez subir

uma

torre

que decerto os seus fundadores lambem lhe não haviam locado, porque os sinos nas egrejas só

começaram

depois do sétimo século da eia chrislã

e a sua

col-

usar-se

a

fundação

foi

muito anterior.

O que Gualdim Paes ali fez não podemos nós agora sabel-o com certeza, porque esta egreja soflreu posteriormenle grandes modificações. Ao entrar nella sentem-se ainda na mente remeniscencias do passado. Do nivel do solo, na sua frente, descem-se nove degraus para chegar ao vestíbulo e do portieo para o pavimento, mais

oito,

que tanto

foi

terreno para encontrar o nivel primitivo.

didas por columnas, que sustentam exterior, do lado do

norte, vê-se

preciso rebaixar no

Tem

tres naves divi-

arcos ogivaes.

Na

parte

ainda parte

de dois arcos meio soterrados, cuja curva não é da mesma forma e em uma das capellas lateraes para o sul ha outro soterrado pelo lado de fora até quasi ao fecho, o que

indica ser

da

primitiva e

pelo lado inteino, hoje invisível por se achar coberto

camada de reboco, e cuja forma faz

suppor que

hoje

ali

lambem não

a architectura primitiva era

com uma

é ogi vai, o

que

diíferente da

que

se observa; ora sendo natural que Gualdim Paes apro-

veitasse todo o material, que ainda

ali

encontrou e seguisse o

antigo systema archilectonico, que devia ser

o greco-romano,


— é provável que as ogivas, que hoje

se

obras que

ali

D. Manuel e depois seu filho D. João

ui,

produzidas pelas

ficações

177

-

veem fossem modimandou fazer Kl rei e não obra dos Tem-

como também ha quem, com pouco critério, calhegoricamente alíirme. A capella-mòr atfasta-se das conslrucções modernas e approxima-se muito das que se usaram nas primitivas egrejas; não tem, como ellas, a forma semi circular,

plários,

porque

é

um

polyedro de sete lados

com

frestas envidraçadas

mas

vidros de cores;

a

que leva

curva intea

crer que

que hoje apresenta é uma modificação da que outr ora

teve, fazendo

O

lembrar pristinas epochas.

deslocado,

como

modificada

a

ainda

altar

também

foi

se póde observar. Foi portanto muito

obra dos Templários, da qual, quando muito, po-

derá ainda estar intacta cantaria,

cujas faces se rasgam

faces é circular, o

rior tangente a estas a forma

em

tendo ao

a

fachada

principal,

que é toda de

do portico,

centro, por cima

um

grande

concêntrico

a

este, outro de peque-

nas dimensões, dentro do qual se vê

a

cruz dos Templários,

oculo de forma circular,

e,

e d elle, irradiando para a peripheria, aberturas limitadas por

com

curvas e vedadas

vidros de cores,

ü

portico

lambem não

parece ser da primitiva, é provável que fosse modificado e se lhe desse a forma ogival para o adoptar á architectura interior; está muito deteriorado pela acção dos agentes athmosphericos,

por serem de

qualidade as pedras que no seu fabrico se em-

pregaram A cada janella,

um

dos lados ha

uma grande

fresta,

ou antes

para illuminação das naves lateraes; são terminadas na

parte superior por curvas circulares: parece serem da primitiva. Foi esta egreja,

com

a

invocação de nossa Senhora da As-

sumpção, cabeça de todas as que pertenciam aos Templários,

porque nella estabeleceram seu convento. Quando se extinguiu esta

Ordem

e se erigiu a de Christo,

com sua séde em Castro

Marim, Santa Maria ficou egreja parochial, porém, o seu vigário tinha a

superintendência de todas as mais que por aquelles

conlornos pertenciam á Ordem. Depois, quando os Cavalleiros

de Christo mudaram de

Castro Marim para Thomar,

voltou


ella

novamente

a

concederam-lhe,

ser convento da a

cabeça

fazendo-a

de todas

obedecia ao Papa, por isso hoje se

de S.

Haptisla).

João

quem

indulgências a

Pontífices

e

immediata

á

o seu

prelado só

usava báculo e mitra

(estas insí-

acham guardadas na

gnias ainda

Gregorio

Ordem modo que

da

as

(nulius diocesisj; de

Apostólica

Ordem. Os Summos

pedido dos Templários, muitos privilégios,

O Papa Gregorio

a visitasse

sacristia da egreja ui

concedeu muitas

no dia da Assumpção,

e o

Papa

estendeu essas indulgências para todas as festas

ix

declarando que por intervenção da sua

da Senhora,

imagem

obrava o Senhor muitos milagres.

Todos os mestres do Templo, desde Gualdim Paes até’ ao ultimo, foram sepultados n esta egreja; alem d’estes muitos ali leem sua jazida; é uma verdadeira ne üs tumulos, onde repousavam tantos varões illustres, foram demolidos com as obras que ali mandou fazer D. Manuel

cavalleiros e fidalgos

cropole.

e D. João

Entulhavam

ui.

a egreja.

No desejo ardente de

pro-

curar commodidades aos frades e ostentação nas suas obras, aquelles dois

jaziam,

nem

mittida sua

monarchas não respeitaram as cinzas dos que ali importaram de que á posteridade fosse trans

se

memória nos

campas que os cobriam;

letreiros das

apenas conservaram nas paredes da segunda das capellas raes, que Fr.

Antonio de Lisboa

Gualdim Paes

e a

Martins, para

os outros,

ali

que

n’aquella egreja

ali

mandou

late

construir, a de

do ultimo mestre do Templo, D. Lourenço

foram também removidas as ossadas de todos lá

ficaram no olvido.

um

primeiro mestre da

neto de

L).

Ordem de

Diniz,

lambem sepultado chamado D. Lopo e o

Está

Christo, D. Gil Martins;

este

acha-se na capella mór, do lado do evangelho e o seu epitaphio

do mesmo lado e por cima d elle ha um monumento de D. Diogo Pinheiro, prelado de Thomar e bispo do Funchal. Em monumentos de pedra, assentes sobre o dorso de leões, estavam também tres mestres da Ordem de Christo, D. Martim Gonçalves, D. Estevam Gonçalves e O. Itodrigo An

está na parede

nes.

Também

os desfizeram para não pejarem a egreja


— 179 Esta egreja, que

foi

matriz de todas as que havia na

villa

de Thomar e na das Pias e seus termos, immediala á Sé Apostólica,

o que

a

elevava á cathegoria de Episcopal, decahiu do

com

seu antigo esplendor;

perdeu toda

a

extincção das ordens

continuou ainda, por algum tempo, vigairaria, hoje a

chama

que

a

é milagrosa,

tinham os devotos porisso

lhe fjjzem já;

é apenas

£ rej a e ,

ser prelasia,

nem

um monumento

Jorre de

perdeu-se até festas

foi

a

nem romarias

hislorico,

emquanto o

Maria dos Plivaes

^>anta

;

não deixarem perder, porque, dabaudono

um

depois

Thomar; nem

se lhe a egreja matriz de

imagem da Senhora agora n ella

religiosas

sua importância, que lhe vinha da de Chrislo,

a

em

abandono, virá

cahirem minas, voltando ao estado em que Gualdim Paes a encontrou. Assim terminam as obras dos homens; manifestações da sua evolução brilham e apagam-se conforme se

vae

dia a

modilicanilo o ideal das

objectivo;

gasta as

esquecem

as

depois

entidades sociaes, de que eram

a lima

do tempo,

abandonam-as e

as gerações de séculos posteriores, porque,

seu evoluir constante, crearam

ponde objectivo

diíTerente.

um

novo

no

que corresAssim vae caminhando a humaniideal,

a


— 480 — dade, deixando atraz de

si,

como marcos

milliarios,

vestígios

das suas crenças, do seu pensar, do seu sentir. Convem conservai os, porque nos indicam a estrada do progresso por onde

caminharam os que nos

lião

precedido.

uma

Defronte d’esta egreja ha estão collocados os sinos; não

nem

pode

se

bem

saber qual

foi

elle fosse,

assim como não é

determinar a epocha da sua construcção; foi

uma

janella; se

assim

é,

onde

torre quadrangular,

este o seu destino primitivo,

a

facil

porta parece que

os seus fundamentos

devem

estar

ao nivel da egreja e ifeste caso remonta á epocha dos romanos. Seria então

um

reducto de qualquer fortaleza? Não é pro-

vável, ainda

n’aquelle local se não encontrou

de muralhas

nem

elle

d elias,

mas

são ou

mesmo uma dependencia do

podia ter qualquer outra serventia, ser

ram. Se fim?

Também

recolherem as

pri

que nunca

ali

se fize-

obra dos Templários; com que

existia, então é

nos não parece

uma

só se poderia

convento;

esclarecer isto por meio de pesquizas,

não

algum

vestígio

era muito apropriado para a construcção

facil

alfaias da egreja

em

acertar

com

elle.

Para

mouros, era de pequenas dimensões, poucos guerreiros dia alojar para a defenderem, era, alem

o logar pouco defensável. Corre

em

ali

caso de invasão súbita dos lá

po-

d isto muito baixa e

Tliomar por tradicção que

entre o castello e a egreja de Santa Maria tinham os Templários

uma

via

subterrânea que

ia

desembocar u’aquella

outros dizem que dentro da egreja.

chamado

castello,

que, a fim

foi

não ser feita,

a

castello novo, ha

uma

irá ler.

foi

que

guarda

nus disse, já ha muitos annos, que tinha por

companhia de alguns frades

e

com degraus sabe com que

abertura

E’ certo

dos frades e depois

torre;

que na base do

estrada d’aquella via, não se

nem onde

viveu no tempo

E’ certo

um

velho,

que

do convento, ali

descido na

que haviam chegado até debaixo

da povoação, porém que não poderam continuar por estar tudo já diííicul lade em respirar, chegando apagarem-se as luzes por falta de circulação do ar. Ha alguns annos e por mais de uma vez abateu o terreno na rua

muito entulhado e haver

mesmo

a


da Graça, janto á egreja da Misericórdia, suppoz-se ser

a

abo-

bada daquelle tunel que abatesse n'aquelle ponto. Valia a pena fazer explorações, para se saber o

que ba de verdade

a

este

A torre a que nos referimos parece que foi ameiada, depois apeiaram se as ameias e fez se lhe um accrescento com respeito.

campanarios;

talvez por ficar baixo, fizeram-lhe ainda outro,

onde estão agora os

mas

com

lages

pas funerárias

sinos;

no pavimento d este vèem se algu-

letreiros, o

que mostra terem servido de cam-

pessoas distinctas; estes letreiros porém es-

a

tão já tão apagados que

são

em

diíficilmente se

poderão

ler;

alguns

gothico.

SANTA SITA Sete kilometros ao sul de Thomar, rio

Nabão, sobre

havia

um

a

pertenceu aos padres

Sita,

nome que o

povoação que

foi

existe.

ali

que. pelos annos ali

na

margem

do

direita

que do lado do poente o domina,

convento de frades, hoje propriedade particular, que

em tempos de Santa

um monte

martyrisada

claustraes,

tinha e ainda hoje conserva

local

Esta denominação

155, pouco mais ou menos,

santa daquelle nome.

a

aschronicas, Sita se chamava

de Cassia, mulher de Caio

uma

Atilo,

era o convento

provem-lhe de da era christã,

Segundo referem

donzella porlugueza. creada

cidadão bracharense. E’ pro-

vável que, ao tempo, esta familia residisse na Nabancia, pois

mal se concebe que de Braga viesse tão longe aquella donzella soffrer o martyrio. Perseguida por causa das suas crenças reli-

giosas, porque, na sua alma candida se havia arreigado

uma

viva na pureza da doutrina christã, fugiu para aquelli logar,

devia então ser

ermo

e coberto de espessa malta de pinheiros

sobreiros e outras arvores sylveslres. Colhida zes que a perseguiam,

mesmo

evolar-se lhe o ultimo suspiro,

deu-se dos laços que

a

que

com

elle

retinham n’este

voou, no meio dos anjos á

ali

pelos algo-

morte afTrontosa. Ao sua alma pura despren-

soífreu

mansão dos

mundo de

iniquidades e

justos, á Gloria Eterna.


— 182 — 0

seu corpo deixaram

como

era

e as aves

o,

por certo, os assassinos insepulto,

costume fazer se por despreso, para

que as feras

de rapina viessem devoral-o. Era grande o cuidado

que n’aquella epocha tinham os christãos

em darem

sepultura

aos seus correligionários, e muito principalmente aos que ha

viam soffrido o martyrio; por certo os

sabido o facto, foram por

isso,

da Nabancia,

christãos

que outros

mais perto não

havia, que correram, a occultas, a dar sepultura áquelie corpo

santificado pelo martyrio e abençoado por Deus, se havia alojado

um

podéra perverter. tarde sobre o seu

E,

espirito

que

maldade dos

a

não se apagando

sepulchro erigiram

d’isto a

porque n

memória, mais

uma pequena

capella,

para que n'ella fosse venerada aquella virgem martyr e

memória passasse

á posteridade.

riorada pelo tempo, e

mais tarde

foi

cado o convento.

foi

em

a

sua

Esta capella, já muito dete-

restaurada

transformada

elle

homeus não

por

um

ermitão italiano

egreja e junto a ella edifi-


«

\

origem

d’esla

com

na

povoação perde-se

Querer determinar

noite dos tempos.

precisão o dia fixo,

em que

ali

se

ergueram as primeiras moradas de seres humanos, fossem eilas construídas de troncos de arvores, mal talhados e cobertos de colmo, de barro amassado,

de toscas pedras sobrepostas ou de cantaria, é

querer

querer tactear o

fina

infinito,

é

prescrutar o incognito, é per-

der-se na obscuridade dos tempos, onde a luz da historia se

apagou de todo nas trevas

de

um

passado desconhecido, de

que não resta memória nem vestígio algum. Procurai- a, embora encontre, é u:n exforço do espirito humano, é uma

se não

tendencia natural do nosso intellecto cido,

o que d

marchando sempre do foi,

effeito

ir

em

para

do simples para o composto, do

uma verdade

actual paia

busca do desconhe-

causa, do que é para

a

finito

para o

infinito,

outra verdade transada, de onde

divagarmos

um pouco

E' certo que esta pequeníssima parte da Europa,

que hoje

esta deriva. Por isso, seja-nos permiltido

pelo passado.


m—

— se

chama

Portugal,

desde

foi

remotíssimas eras,

talvez ha

mais de trezentos mil annos, habitada por seres humanos, de

que restam primitivos,

vestígios;

mas

não eram estes,

e

talvez os

decerto, os

homens

que nas epoehas dos glaciares des

ceram das partes mais elevadas em companhia da reuna e do mamouth, caminhando pai a o meio dia. O valle do Tejo é um dos locaes onde, por muitos annos, ou antes por muitos secu los,

estacionaram esses nossos antepassados; attesta-o

Mugem. A

pole do Cabeço da Arruda, perto de

contrado as ossadas

com

junto

ellas

d esses

alguns

homens de

instrumentos de

li

a

necro-

se leem en-

remotíssimas eras e pedra lascada,

gmentos d ossos aguçados, pontas de veado talhadas

em

frabisel,

lages de grés (pedras d amolar), cinzas, carvões, maxillas de cães, conchas petreficadas de molluscos

alimento.

que lhes serviam de

Alguns anlhropologistas allirmam que estas pedras

não foram lascadas propositadamente; porem

a

uniformidade que

em

quasi todas ellas se encontra, o lascado n’um certo sentido, como para dar uma forma ponteaguda ou em gume, isto é,

a crer que sejam obra d um embora não fosse o homem, propriamente dito, o seu inventor, mas sim algum dos alhropoides do terciário e

perfurante ou cortante, levam-nos ser intelligente,

mais

provavelmente,

admiltida

esta

hypothese,

o

que

por

homem, a quem nome de anthropopiievus; seja como for, que, não pretendemos nem podemos entrar, é certo

alguns é considerado como o antepassado do Martillot

deu o

n esta questão,

que aquelles instrumentos de pedia lascada, mistura

com

encontrados de

ossadas, que, evidentemente, pertenceram a seres

humanos, prova que estes os fabricavam e delles se serviam como armas ou utensílios, embora não fossem os seus inventores.

Nos campos de Leiria

e

proximo

a Peniche outros vestígios

de seres humanos teem sido encontrados e que denotam

um

periodo mais adeantado da evolução social, embora pudessem

mesma epocha, porque a civilisação dos povos caminha mais ou menos rapidamente conforme certas condições

ter vivido na


— inherentes tes pontos ti’

bém

a

em

cada povo; e tanto que hoje mesmo,

dilTeren-

do globo, se encontram alguns no estado rudimentar.

muito provável que alguns d esses seres humanos tam-

estacionassem por estes

comquanlo

sitios,

até boje se não

tenham encontrado vestígios da sua permanência aqui. os homens d aquella epocha não construíam habitações

nem

I8íí

viviam

em eomrnum,

quando

a defesa,

mais cada

a

homem

Mas fixas

sò se reuniam para o ataque ou para

necessidade a isso os obrigava; quanto ao

era senhor absoluto das suas mulheres e de

com

seus filhos sem se importar

os outros;

serviam-lhes de

refugio as grutas e as cavernas naturaes ou a concavidade dos

rochedos; era ali

ali

que se abrigavam das iníemperies

e era para

que recolhiam as presas, que lhes serviam de alimento,

cujos despojos ainda hoje se encontram juntos

simples e rudes de que então se serviam;

com

as

armas

sò mais tarde, na

edade de pedra polida e na de cobre, construiram as habita ções lacustres, cujos vestígios foram pela primeira vez encontrados no lago de Zurich e depois

da Allemanha

ainda

e

em

em

diversos

muitas localidades da Europa,

tistas

outros lagos da Suissa, lagos

eram

habitações

construí-

das no meio d agua sobre estacarias e coinmunicavam

Com o

terra firme por pontes levadiças, evideutemente

se precaverem contra os ataques dos

em

ou pantanos.

animaes ferozes

com

a

fim de e

mais

ainda contra os dos outros homens, porque o maior inimigo do

homem tem

sido

sempre

o proprio

homem; nem

as feras

nem

as epidemias mais mortíferas teem produzido maior mortan-

dade no genero humano do que os mesmos homens entre e, coisa

maneira que vamos

notável, á

avançando na

progresso, tentando elevarmos-nos á perfeclibilidade,

matar progride lambem, marchando

a par, se

a

via

si;

do

arte de

não na vanguarda,

de todos os outros progressos; as machinas de guerra chegaram, a

que

em

nossos dias,

chegarão

a

uma

perfeição admiravel, e

mais tarde;

quem sabe

se

quem sabe

esses

temíveis

explosivos, que destroem e pulverisam, virá ainda a substituil os

agente mais poderoso, talvez a electricidade;

ella

que trans-


— 186 — mitte instantaneamente a todas as distancias os nossos pensa-

que produz

mentos e até as nossas próprias palavras, que brilha e alumia, o movimento que

com

motriz

anima,

luz,

a força

applicação á locomoção rapida, veloz, quasi aerea.

homem

ás industrias onde o labor do

balho

vivifica e

a

methodico,

é subst tuido

perfeitíssimo de complicados

pelo tra-

machinismos

compostos de orgãos tão habilmente construídos, tão harmônica mente dispostos, que tudo

produzem com admiravel

perfei-

bem acabados

ção, ainda os artefactos mais delicados;

etão

deixam que mãos humanas

poderiam fazer assim

Quem

sabe,

como iamos

agente virá ainda

gazes,

a

esmigalha,

daça,

fulmina.

mesmo homem. A

acção electrica.

O

os !

dizendo, se esse precioso e poderoso

um

nas mãos do homem,

a ser,

de destruição para o

diííicilmente

.

meio’terrivel

força expansiva dos

dois agentes formidáveis;

o

pulverisa,

outro

desorganisa,

um

despe-

paralysa,

primeiro é ruidoso, assusta; o segundo é silencioso,

apavora. As sciencias

caminham

e

avançam, semque possamos

saber até onde, porque lhes não conhecemos os limites e apoz ellas

marcha o progresso e

é este, que, leve ao

em

a civilisação;

vez de nos conduzir por

mas que progresso

um

melhoramento das nossas condições

só caminho que

sociaes,

ao bem-

estar d’esta vida, á felicidade de todos os povos, resvala d'essa via

em

para nos lançar muitas vezes

aniquilar a sua tracta,

abysmos, como querendo

obra? Vae na mathematica, essa

que pertence exclusivamente ao

com elementos que não são

vesiveis

nem a

porque joga

palpaveis e apenas

representados por signaes convencionaes; nas

que nos revelam as forças com que actua

sciencia abs

espirito,

leis

da physica,

matéria; na chimica,

cujas descobertas nos estão diariamente mostrando novos ele-

mentos

constituiti vos

dos corpos e as acções reciprocas d 'esses

elementos, diremos, vae n’estas sciencias, que constanlemente estão enriquecendo o espirito do a

destruição do

mesmo homem.

homem, buscar meios para

Para

bem

da humanidade não

deveriam os sábios desvendar todos os myslerios da sciencia; mas, até hoje, ainda nos não

foi

dado penetrar nos arcanos


insondáveis da Natureza, onde o espirito se desvaira e perde em busca d uma realidade que nos foge e que, talvez, nunca nos será dado colher.

Por debaixo d’esse

chamamos funde e

civilisação,

volatilisa,

mas que o

sobre a terra bras.

homem

harharo e feroz

scientifico folga e

até caridoso,

no campo

sangrenta e barbara, apraz-se, depois da

luta

ver o numero elevado de cadaveres, que rolaram

em

victoria,

que ora

mortíferos; o general, que no

tempo de paz é delicado, benevolo e

em

a

calor das paixões rapidamente

mais illustrado e

com os seus inventos

de batalha,

lustroso,

polido e

encontra-se ainda o

O homem

d’outras eras.

orgulha-se

verniz

em

consequência das suas

Que na cidade mais

civilisada

bem

calculadas mano-

do mundo, só por espaço

de algumas horas, se abolissem todas as leis, deixando os homens entregues a si mesmo, sem responsabilidade alguma e

veriamos logo os ladrões, os mal intencionados, os que tivessem uma offensa a vingar começarem o assalto, os aggredidos estava travada a luta,

a defesa;

rapidez do raio;

daveros

em

rolariam

que se generalisaria

breve o sangue correria

sobre os cadaveres

e,

a jorros,

num

com

a

os ca-

momento,

toda a obra da civilisação seria aniquilada. vista encarou Shakspeare o ho«Que obra prima que é o homem rasão! Quanto é infinito por suas facul-

Debaixo de que ponto de

mem

quando disse

d’elle:

!

Quanto é nobre pela dades Quanto é admiravel e expressivo pela forma e pelos Nas movimentos Na acção quanto se assemelha aos anjos !

!

1

suas concepções quanto se assemelha a Deus

I

E’ a maravilha

do mundo, é o typo supremo dos seres organisados!» (Hamlet, acto

ii,

scena u).

Rude, brutal, feroz

mesmo

na violência das

suas paixões, o homem que sabe domal-as, esse é que é a obra prima da natureza, foi assim que o poeta o encarou, foi debaixo

que o definiu. Se debaixo do dourado manto da civilisação moderna se occulta ainda o homem barbaro e cruel d’oulras eras, é que essa

d’este ponto de vista

civilisação

não attingiu o grau de perfeição

a que,

cremos,

ella


188

mais tarde ha de chegar; é que do coração do homem de hoje se não eliminou por completo esse egoismo, que lhe vem dos

tempos primitivos, em que cada um vivia exclusivamente para si; é que na alma da grande maioria não se arreigou ainda esse sentimento, tão nobre, tão elevado d elle

que emana

E em

humana.

um

a

ordem,

—o

Bem comumm

,

e é

harmonia, o esplendor da raça

a

nobre sentimento, como se fora

volta d esse

centro de gravitação, ou o sol da vida moral, que giram

donde se desuma perfeita da ordem moral,

pleiades d hábitos, que lhe são subordinados,

prendem

actos,

todos marcados

com

o cunho d

rectidão; entre elles a Prudência, providencia

que mantem o equilíbrio,

a

moderação nas nossas determinações. e é d este mutuo

Amae-vos uns aos outros, disse Ehristo,

amor que dimanam

as maiores virtudes; o reconhecimento, a

sinceridade, a aííabilidade, a liberalidade, os actos heroicos-

sublimes

sacrifícios,

severança, e

etc.; é

que creou

a

sem

magnanimidade,

ainda elle que liga o

unidade

ção da humanidade. a terra,

a

ella

homem

A sociedade

social.

Sem

sem que suas

magnificência, a per-

a

o

homem

ao outro

homem

é a mais bella crea-

rastejaria

sempre sobre

faculdades, longe do seu fim, o pudes-

elevar ã alta nobreza

r

de sentimentos, fonte perenne ,de

onde brotam as mais sublimes virtudes; o homem constituído em sociedade, o homem-povo, é como um só corpo, uma só vontade,

uma

só intelligencia, é

um

agrupam em medida que o tempo avança

colosso soberbo

em que

as forças intellectuaes se

feixes de luz, cujos raios

crescem

e d

como

á

onde se veem

saltar,

faiscas luminosas, a brilharem por toda a parte, as sien-

cias, as

artes, as

instituições.

lettras, as

grandes descobertas, as sabias

A emulação estimula os ânimos, levando-os

ás

laboriosas emprezas, ás virtudes heroicas, ás grandes dedicações, aos sublimes sacrifícios.

Do

contacto, da

ção de todos esses sentimentos nasce

povos policiados; e era ao

homem

a

mutua penetra-

physiononia altiva dos

assim constituído

em

socie-

dade, nobre e altivo, sabio e justo no meio delia, que se referia

o grande poeta, porque só este pode dizer: eu sou o rei


da creação; nenhuma distancia limita as minhas concepções, um só dos meus pensamentos é mais vasto que o universo. Desenrolem-se deante de micas, eu sou maior do

mim

todas as

ipie essa

perspectivas astronô-

immensidade. A

luz percorre

setenta e cinco mil léguas por segundo, só a eguala a electri-

o

cidade;

meu

espirito é mais

em um

maieria;

da

vibrações

instante

deixar o corpo, que anima, atravessa

os sentidos, passa do ritos, salta

do

finito

mundo

rapidíssimas

veloz que essas

a

sem

imperceptível e

immensidade em todos

material para o

mundo dos

espi

das espheras sensíveis para as espheras intelligiveis,

para o infinito.

.

longa vae já esta digressão, fora do fim que nos propozemos e é ella filha do modo de ser do nosso espirito, que

Bem

não pode prender-se exclusivamente a objectos minados. Prosigamos pois na nossa narrativa.

fixos e deter-

gio

Das edades prehistoricas não se encontrou até hoje vestíalgum da existência do homem n’esla localidade que possa

ter

dado origem

basalto,

que

lia

a

uma povoação

annos

Senhora da Piedade,

foi

Um

machado de

encontrado proximo da

em um

vora, outro de cobre que

qualquer.

foi

sitio

capella da

chamado Armazém da

achado na fenda de

uma

Pol-

rocha,

junto á Fonte Quente, quando se construiu a estrada do Prado e ainda outros de pedra lascada e polida, que teem apparecido

em

differentes

raios,

pontos e aos quaes a gente

cahidos das

do campo chama

nuvens, não são indícios certos de que o

da edade de pedra ou da de cobre persistisse por estes logares, onde foi a antiga Nabancia, nem o local era apropriado

homem

modo de viver daquellas epochas. Ao norte de Thomar, para cima da Pedreira, ba umas grutas muito interessantes, uma d elias chama-se a gruta dos morce-

ao

gos, pela grande quantidade

daquelles chleiropteros

que

habita; estas grutas nunca foram exploradas, se o fossem

ali

tal-

podessem encontrar alguns vestígios do homem prehistorico. A gente do campo liga sempre a estas cavidades

vez

ali

se

subterrâneas

um

certo sentimento de veneração, até de terror.


— 190 — suppondo-as a habitação de seres sobrenaluraes, como mouras bruxas,

encantadas,

malignos

espíritos

e

ideaes que a sua imaginação phantastica e

como para

as proteger da acção

costumavam

imaginários, a

um

com

a

santo protector;

ali

malévola

erigir no local

existe

uma

na

outras

liies

entidades

suggere e

cria;

d aquelles seres

uma capella dedicada margem direita do rio

invocação de Nossa Senhora das Lapas e muitas outras

com

se encontram pelo paiz, edificadas

mesmo

o

fim.

Us primeiros habitantes da península mencionados na toria antiga

são os Iberos e os Geltas, tribus emigrantes, que

vieram da Asia; mas quando

estes aqui se

estabeleceram já

segundo uns

do globo eia habitada,

esta parte

his-

pelos que na

epocha dos glaciares desceram das partes mais elevadas, fugindo ao abaixamento

de temperatura, que

toda a Luropa, principalmente

causa ainda não é

bem

então se deu

nos pontos mais

em

quasi

altos, c cuja

segundo outros por tribus

conhecida;

nômadas, que para cá passaram do norte d Africa,

antes da

abertura do estreito de Gibraltar; ou talvez teriam as duas proveniências:

que

são ponlos

diílicilrnente

humanidade,

obscuros da historia da

se poderão aclarar.

que estas raças se fundiram e por aqui

como for, é certo permaneceram durante

Seja

longos períodos até que outras se lhes vieram encorporar.

Foram os Phenicios barcas costeiras,

e os

Gregos os primeiros que nas suas

transpondo o

occidentaes da península,

e,

estreito,

abordaram ás costas

subindo os rios até onde elles po-

diam ser navegáveis, estabeleceram colonias nas suas margens; é natural que os indígenas tentassem repellir os intrusos, dan-

do-se entre elles eslas raças,

com

sanguinolentos

combates,

mas

é certo que

o decorrer do tempo, confundiram-se, amal-

um

Vieiam depois os Carthaginezes, com os quaes se deram eguaes factos, de maneira que, quando os romanos conquistaram a llespanha, guerra

gamaram

se e constituiram

povo.

de conquista que durou por espaço de duzentos annos,

encontraram

A

um

já cá

povo mixto IberoCeltico-Greco-Carlhaginense.

Luzitania, na qual se achava

comprehendida

a

nossa actual


província da Extremadura, devia ser a esse

tempo bastante po-

voada; já no tempo de Aníbal os Lusitanos se distinguiram no

seu exercito e os Humanos encontraram sempre aqui valerosa

consideravam como excedentes guerreiros. Os povoados deviam achar-se disseminados pelo solo mais

resistência e os

que melhores condições de vida oITerecesse

fértil,

aos seus

margens d este rio n essas condições, muito provável que antes da dominação romana já aqui exisé tisse uma povoação qualquer, a que se daria o nome de Na ba, habitantes; ora estando as

ou Naha seria o nome do

rio,

que se confundia com o da po-

voação.

Ha quem diga que foram os Turdulos ou os Celtas os meiros que neste

local

até muito provável

do lugar,

á

edificaram

que assim

proximidade do

do terreno,

attendendo á amenidade

fosse,

abundante

rio,

caça que n’aquellas epochas por fertilidade

uma

em

peixe, á muita

haver, à grande

aqui devia

produzindo

pri-

povoação; é possível e

abundantes pastagens, á

grande quantidade d arvores sylvestres

íructiferas,

deviam povoar até os terrenos mais áridos,

que então

que aiuda hoje

e

n elles vegetam, taes como o sobreiro, a azinheira, o medro-

porém que tenham

nheiro, a amendoeira, etc.; não consta

sido

encontrados n’este logar quaesquer vestígios d essas habitações,

que eram simples e toscas, o que não prova que

nham existido. Os Celtas desconheciam

da telha; as suas habitações, pelos vestígios que tos se

ellas cá

não

te-

as argamassas e o fabrico

em

teem observado, vê-se que eram de forma

outros poncircular e

construídas de pedras sobrepostas; effectivamente o circulo é

uma

figura geométrica de primeira intuição e elles

nhecel-a, pois a viam constantemente no

deviam co-

disco do sol, da lua

e das estrellas, porisso não admira que o perímetro da base

das suas habitações fosse

um

uma

polygono qualquer. Alem d

e é que as paredes feitas

cimento qualquer que dispostas n’uma só

circumferencia,

com pedras

as ligue,

linha curva

em

vez de ser

isto haveria talvez outra rasão,

soltas,

sem terem um

offerecern maior

resistência

em

rectas for.

do que

linhas


—m— mando

angnlos. Este systhema primitivo de construcções ainda

de todo entre nós se não extinguiu. Na Serra de Santo Antonio, perto de Minde, onde havia uns frades que leccionavam latim e lógica, tivemos occasião de observar, já talvez ha cin-

coenta annos, que

tivessem

e cobertas

que pouco ainda

ali

solta,

tinham os

circular,

eram muito baixas do

de pedra

feitas

forma

a

maior parte das casas dos moradores de

a

eram

aquelle lugar

com

e,

com quanto não

cantos

arredondados;

telhas sobrepostas;

aperfeiçoado

se tinha

de mo-

construcção

a

celtica.

Para alem da dominação romana nada podemos encontrar

que nos mostrasse claramente

ali

tivesse existido;

falia

mas

da Nabancia e que

é só

de

a existência

uma povoação

comtudo muito provável que

qualquer n’aquelle logar, sendo

desta epocha

em

deante que se

encontrados

os vestígios

alteslam

a

sua exislencia.

Quando os Templários começaram a edificar o castello um momento para o outro,

tinham pressa, porque podiam, de ser

atacados pelos

riques lhes

de toda a

havia

tomado Santarém

margem

direita

portuguez estavam

que não

apesar de

Serracenos;

muito de receiar, porque ifaquelle tempo

l).

e Lisboa,

do Tejo, e as

era isto

AíTonso Hen-

expulsando-os

fronteiras

do reino

muito avançadas no Alemtejo e iTelIas

tinham os nossos valentes fronteiros Geraldo sem pavor e Fer-

nando Gonçalves, que os não deixavam avançar, antes os obri-

gavam

a

recuar,

tomando-lhes

ultima

foi

tomada

em 1162

estavam concluídas as obras do a conveniência

isso é muito

em

um

castello;

o concluir no

natural

Evora e outro Beja; esta

e n’esta data por certo ainda

não

no emianto havia toda

menor tempo

que aproveitassem

possível;

por

todo o material de

construcção que puderam colher nas ruinas da antiga cidade;

demais que n’aquelle tempo eram ainda desconhecidos os explosivos e a pedra só se extrahia das pedreiras á cunha e á

marreta,

processo

diflicil e

moroso.

Levaram portanto

d

ali

todas as pedras que encontraram; e que lhes importava a elles


— 193 — que muitas dessas pedras tivessem artístico

ou

um

alto valor historico?

um

grande merecimento

Nada decerto; eram obra

do paganismo. Às columnas de mármore com riquíssimos capiteis burilaque sustentavam as abobadas dos magníficos templos pa-

dos,

gãos. para elles nada valiam; as estatuas de Venus, de Priapo,

de Sileno, que adornavam os jardins ou os parques dos sumptuosos palacios dos nobres; os Satyros, os Cupidos alados, arremessando frechas, as Nymphas, banhando-se nos lagos; todas estas divindades ideaes, que o cinzel dos eminentes esculptores daquella epocha reproduzia no

mármore ou no

dando-lhes formas vesiveis e palpaveis, olfendiam tã;

a

jaspe,

moral chris-

convinha-lhes por isso que de todo se apagassem na me-

mória do povo os

vestígios de

antigas

alguma coisa de valor ainda por quias preciosas,

ali

como estando mais

crenças;

existia,

á

portanto se

foram essas

dos fossos abertos para servirem de alicerce aos muros da taleza,

que iam construindo; e

hidas ao

exame dos

for-

ficaram sepultadas e subtra-

investigadores, que talvez por ellas podes-

reconstruir mentalmente o passado

sem

relí-

mão, lançadas no fundo

povoação; não poderam

daquella importante

porém esconder

lismo christão escaparam ainda alguns

tudo, a esse vanda-

documentos, algumas

paginas da historia d’aquelle povo.

Na torre maior do

castello dos

Templários, embutida

em

das paredes, está uma pedra, que nnstra ter, n outro tempo, servido de monumento sepulchral, porque, cm um dos

uma

lados, vè-se ainda

gravada

a

seguinte inscripção:

SABINULA

VXOK SIBI

Sabinula, sua mulher dedicou-lhe esta memória. Esta inscripção mostra haver outra

com

o

nome do marido


— 194 — e talvez a sua posição social; devia ser pessoa nobre ou exer-

cer cargo importante.

Em uma parede da

outra pedra de mármore,

mesma

também embutida na

torre, lê-se o seguinte:

GATIO ATTIA NO RU FINUS SAB1N

VLA MATER P.

A Galio Atliano fíufino Sabinula, sua mãe paz esta

memória

.

Pelos letreiros gravados n estas pedras vê-se que ellas ser-

viram de campas de alguns sepulchros no tempo dos Itomanos,

quando habitavam

a

Nabancia e foram d

ali

trazidas c

empre-

gadas na construcção d'aquella fortaleza, ficando casualmente

com

descoberto; e tanto

estes letreiros a

assim aconteceu, que, n aquelle pedra com para

um

a historia

letreiro

mesmo

foi

por acaso,

castello, se

que

vê outra

muito curioso e de grande importância

da Nabancia, que ficou collocado ás avessas, o

que mostra que os eonslructores nenhum valor davam áquellas inscripções; n’esla está o seguinte: i-

!

'

i

i

PIETATI AVO. SACR. VAL. MAX. IN MEM. SUAM ET FILIARVM SVARVAI 110EC SIGN. P.

A'

piedade do sagrado

Ma Timo em memória signaes.

imperador Augusto, Valerio

sua

e

de

suas

filhas

poz

estes


195

Esta inscripção é

cio principio da era chrislã, dedicada a Octaviano Augusto por Vr alerio Máximo, nobre cônsul romano, o qual, como se vè, então residia na Nabancia.

Basta o facto de ter

para mostrar cidade.

a

residido

ali

importância

A Sabinula,

a

um

nobre cônsul romano

que naquelle

tempo

tinha esta

que se referem as duas primeiras ins

também a uma familia nobre; os plebeus não gravavam inscripções nas sepulturas dos seus, jaziam, como boje, no esquecimento; não lhes erigiam mausoléus nem

cripções, pertencia

Ibes levantavam padrões de

memória, cobria os apenas a terra, repousam no eterno olvido. l‘or detraz da casa do Conselheiro Barbosa, que fez parte do antigo convento de Santa Clara e no local onde parece ler existido o palacio do conde godo Britaldo, que talvez fosse o sob

a

qual

mesmo em que residiu o cônsul romano Valeiio Máximo, na em que ali se andava plantando uma vinha, foi encon

occasião

uma medalha de cobre, pouco mais ou menos do lama nho de uma das nossas moedas de 500 réis, tendo de um lado

Irada

a figura ..

os

de

um

boie

em

volta a seguinte

inscripção- mvnicii*.

íEntvm. As primeiras letras eliminou-as o tempo, apagaram-as

séculos pela

acção d’esse

energico e admiravel, que

principio,

vivifica e

o oxygenio, agente

que destroe, que anima

e

que corrompe, que nos seres vivos é o principal agente da vida, nos mortos o da destruição. Medido o espaço d onde desappareceram as letras, este devia ser occupado por tres, é

pequeno para mais e grande para menos e estas tres letras, que desappareceram, eram decerto nab. Está a confirmai-o o facto cia e

de ter esta medalha sido encontrada nas minas da Nabanprincipalmente

o de ter gravado

que era o symbolo da cidade,

um

boi; o boi

talvez por ser esta

parece

uma povoa-

ção principalmente agrícola; este symbolo existe ainda gravado

em uma

pedra que está no cunhal da parede do

vento de Santa

Iria,

antigo con

por debaixo de onde collocaram o nicho

da Santa; aquella pedra só podia ser collocada

ali

quando se

construiu aquelle edifício, que já existia no tempo dos godos


19ti

tempo dos romanos nas primeiras epochas do christianismo, (piando se começaram a fundar os pri meiros mosteiros. Na rua da Capella d’esta cidade de Thornar, c talvez seja ainda do

via-se, ainda

de cia,

um

não ha muitos

portal; esta

desappareceu d

casa, e ha

annos,

um

gravado na verga

boi

pedra provavelmente tinha vindo da Naban

com

ali

memória d

as obras que se fizeram naquella

outros, que hoje jã não existem. Na rua

da Levada (hoje rua Evcrard), defronte dos moinhos,

em uma

casa antiga, viam-se, ainda não ha muitos annos, duas pedras salientes representando bois: é muito provável que, ou viessem

da antiga Nabancia ou

á imitação d outras

que por

ceram, se talhassem aquellas; desappareceram d sabe que destino tiveram, quando aquella casa

foi

appare-

ali

e não se

demolida e

reedificada pelo dr. José de Mello, fazendo hoje parte do seu

prédio. Portanto a inscripção, que está gravada n esta medalha

deve ser Municipium Nabcenlum, ou de Naba, que era o nome do Nabee, e supprimindo por ficava o genitivo latino

Logo tra

esta

que

a efiigie

isto é.

rio e o

Município Nabantino,

da cidade devia ser Urbs

abreviatura o termo generico tnbs

Nabce, que adjectivado

medalha pertence evidentemente

ella foi

de

um

município romano.

uma cabeça humana

divinvs augvstvs

— (o

No

e 3 seguinte

á

faz

Nabcenlum,

Nabancia

e

mos-

lado opposlo vé se

inscripção— ckzau

Divino Cesar Augusto). E' portanto esta

medalha do reinado de üclavio.

nome de Octaviano depois da sua adopção juntou lhe mais tarde o de Cesar; como im-

Octavio tomou o

por Júlio Cesar e


197

perador é conhecido por Octaviano Cesar Augusto. E’ preciso conhecer

em

de Octavio para se saber

a historia

sua honra se cunharam

a

rasão porque

medalhas e se erigiram

de memória;

por isso muito resumidamente aqui

alguns traços

d’ella,

porque não comporta

mais

padrões

vamos dar a estreiteza

d’este trabalho.

Cesar, o grande heroe romano, que da Asia escrevia ao

senado

veni, vidi, vici, (cheguei, vi e

desmedida ambição; fazer coroar rei,

venci)— perdeu-o

augmenlaram o numero dos conjurados, que

tinham por chefe Cassius, os quaes uma cega instituições

sua

a

imprudentes para se

as suas tentativas

democratas levou

em

apunhalarem Cesar

a

senado. Acreditavam elles que, morto Cesar, nasceria espontaneamente.

dedicação ãs

a

pleno

liberdade re-

Antonio, que então

Illud iram-se.

era cônsul, amotinou contra elles o povo nos funeraes da sua victima e expulsou-os da cidade.

Cesar não tinha

quando

um

com

do seu

partido; leis,

havia

herdar o poder, e

dezoito annos d edade, entrou

Antonio riu.se das suas pretensões; porém a gloria

de Cesar ainda se não tinha apagado e volta

sobrinho, que

Antonio esperava

este rapaz, apenas

em Roma,

apenas

filhos,

adoptado, era Octavio.

íillio

adoptivo

demais que

elle

foi

compromettia-se

em um numeroso

essa gloria que

rapidamente creou

cumprir as

a fazer

que seu pae havia creado para o povo e para os soldados.

Cicero via n elle

um

das liberdades do

salvador

senado, que

Antonio queria arrancar-lhe, por isso elogiou-o e tratou de lhe crear honras.

Mandaram-o juntamente com dois cônsules em em Modena cer-

soccorro de Decimus Brutus, que se achava

cado por Antonio.

Esta guerra

foi

curta,

mas sanguinolenta,

Antonio fugiu e os dois cônsules morreram. Então Octavio pediu

um

dos logares de cônsul, que se achavam vagos, o senado

recusou-llfo, suppondo

que

não precisava

d’elle;

em

vista

desta recusa marchou para Roma com oito legiões, onde entrou com applauso do povo, que o proclamou cônsul.

Como

cônsul e senhor de

Roma

podia já tratar

com Anto-


— nio, o

d

98

que

do Bheno; umvirato.

ali

com

reunindo-se

fez,

Lépido, antigo ge-

em uma pequena

ilha

estiveram tres dias e formaram o segundo

tri-

Antonio, Lépido e Oclavio, investiram se no poder

com o

consular por cinco annos

direito de, durante este

disporem de todos os encargos. império.

com

elle e

de Bolonha,

neral da cavallaria, perto

As feras repartiram

dilaceração não podia fazer se

a presa,

sem

feito

creto de morte contra dezesete dos mais

esperançado

preceder d notáveis

Cicero, o dislincto orador,

tinha elogiado Octavio e feito

em que

com que

elle seria

um

lhe

si

o

dilacerando-a, e esta

elTusão de sangue.

guida partiram para Roma, tendo-se

estado, entre elles

tempo,

Depois dividiram entre

Em seum de-

homens de

que no senado

concedessem honras,

dos defensores da liberdade.

Logo que entraram em Roma mandaram alTixar editaes, em que se impunha a pena de morte a todos aquelles que dessem guarida ou favorecessem

merados em uma

fuga a qualquer dos indivíduos enu-

a

que

lista,

publicada, ordenando se

foi

as cabeças d esses indivíduos lhes fossem entregues e

pensação o mil

homem

draehmas

titulo

de condição

atticas e

de cidadão.

Era lançar as

A

dos condemnadus era de cento

lista

mesmo tempo appareceu

quasi ao

tio

nomes

frente os

de Antonio e de

um

dum

lista figu-

irmão de Lépido,

dos tutores de

com

outra

cento e cincoenta e depois ainda outras. Na primeira

ravam logo em

cinco

com o ovelhas no meio de uma al-

o escravo dez mil e a liberdade

cateia de lobos famintos.

e trinta nomes;

em com-

receberia viule e

livre

que

dum

Octavio, C. Turanius.

Apesar de todas as precauções alguns conseguiram

escapar,

refugiando-se na armada de Sextus Pompeus, que acabava de se apossar da Cicilia, outros fugiram para África, Syria e

cedonia; pereceu, corntudo,

um

Ma-

grande numero e neste entrou

o infeliz Cicero, que, tendo-se exilado na sua quinta de Gaèta,

suppondo que os seus inimigos se contentariam com este poupando-lhe

a vida;

ahi

foi

exilio,

colhido pelos algozes e barbara-

mente assassinado aquelle ornamento da tribuna romana, o mais eloquente orador do seu tempo,

duma

linguagem tão


—m— fluente e ao ler os

mesmo tempo

seus discursos.

incisiva,

ainda hoje

<]ue

Cortaram lhe

faz

gosto

a mão direita em que estava á

cabeça e

a

e foram apresentai as a Antonio, na occasião

mesa; recebeu-as com feroz alegria, e sua mulher Eulvia atravessou-lhe

a

lingua

com uma

agulha,

para se vingar dos epi-

bem cabidos lhe eram; homem celebre, foi, por

thetos de que a havia enchido e que tão

depois

a

cabeça veneranda d’aquelle

podesse

morto ainda

Athenas e o governador da

Macedonia

fallar ás turbas.

Brutus fugiu para entregou-lhe o cia,

em

como

se depois de

escarneo, pendurada no rostro,

commando

do exercito

Do Adriático

até á Thra-

poucos dias, tudo obedecia ao general republicano.

Cassius, que se tinha refugiado no Oriente, arrastou comsigo as legiões romanas, que

ali

até Filippas na Macedonia,

com

estacionavam e avançou

reunindo se

contrarem com os triumviros.

Em

e Octavio na de Brutus. Estava

a

ellas

Brutus para se en-

frente d’este estava Antonio

imminente o combate, que se

travou poucos dias depois, Octavio adoeceu, sendo por isso

vado para

fúra

do com impetuosidade, rompeu as suas ganha

le-

do campo de batalha, quando Messala, atacanBrutus julgou

linhas.

porém no outro campo Antonio

a vicloria;

tinha disper-

sado o inimigo e Cassius, julgando o seu partido perdido, suiVinte dias depois travou se novo combate,

cidara se.

em que

as tropas de Brutus foram envolvidas e derrotadas; este difliculdade a

um

alto

poude salvar-se das mãos do inimigo,

rota dos seus,

precipitou se

sobre

a

(outros dizem que se fez

malar por

Antonio mostrou alguma

indulgência

foi

chegando

d’onde contemplou o horroroso espectáculo da dersua espada,

esta exclamação: «Virtude, tu não és mais que

Octavio

e,

com

um

preto,

para

proferindo

uma

palavra»,

seu escravo).

com os

vencidos,

cruel.

Estava morta

do seu cadaver

a

d’esta nova partilha,

Octavio ficou na

republica, os algozes tripudiavam

e dividiam-lhe os despojos,

em

volta

excluindo Lépido

porque o julgavam d’accordocom Pompeu.

Italia

encarregado de repartir pelos soldados


— 200 — as terras, que lhes haviam promettido; Antonio partiu para a

em

Asia

de duzentos mil talentos, de que precisavam.

busca

Faustoso, dissoluto, dissipador, nada lhe chegava;

exigiu aos

povos tributários de Koma o imposto de nove annos, pagos de

uma

só vez, a fora as innumeras confiscações que fazia pro-

mover; para

notar o seguinte facto:

qualificai o basta

um

o seu cozinheiro preparou-lhe

em compensação deu expulsando

d’ella

lhe a casa

prato, de

d

um

um

dia

que muito gostou,

cidadão de Magnésia,

o seu dono.

Cleopetra, rainha do Egypto, tinha fornecido a Cassius

gumas tropas

conhecedora d 'esta resolução, não tardou

facto; ir

dar-lhas, apresentando se

elle

al-

e dinheiro, Antonio quiz pedir-lhe contas d’esse

em Tarso

na

ella

Cilicia,

própria a

onde então

se achava. Aquella mulher vaidosa da sua formosura, or-

como um aventureiro, previra que no convívio do devasso romano teria grato acolhimento, e que em breve não seria ella a dar contas, mas a poder pedil as. gulhosa do seu saber, arrojada

Assim aconteceu. Esbelta, formosa e sabia, porque fallava seis linguas, egualando-o, se é que o não excedia, nas suas orgias e licenciosas conversações de soldado,

em

breve

a africana se

assenhoreou do seu espirito. Era formosa e bella.

sem

encantos, belleza

sem candura

Formosura Formosa nas formas, bella

na excentricidade dos pensamentos e das acções não proprios

em tudo ha bellezas e commum podem achar bello

do seu sexo; sentir tros

pode ser horrendo.

os espíritos transviados do

para

si

o que para os ou-

Antonio deixou-se envolver no olhar

fascinador d aquella mulher perigosa e arrebatar pela volupluotypicas d uma formosura sem egual, mas formosura plastica, que é como a tulipa sem cores, a rosa sem perfumes, porque lhe faltam a animal-a os subidos dotes d’alma, que mais caplivam e prendem do que as formas exteriores. A repetição dos mesmos gosos embota a sensibilidade,

sidade das suas formas

chega se

buscam

a

aborrecer o que a principio

nos

enthusiasmava;

se então novos estímulos, mais violentas emoções;

talvez por isso

foi

que Antonio viu ifaquella mulher extraordina-


— 20 — i

realisação dos seus

ria a

candescida vagueava

em

em brando

mento nobre, que attrahe

numa

para os reunir

leito e a

mente en-

busca de novos e mais vivos prazeres;

não com

por isso amou-a,

quando o corpo

sonhos de volúpia,

lasso das orgias lhe repousava

aquelle

amor

casto e puro, senti-

e liga dois seres de sexo differente,

só entidade, unifieal-os

num

indivíduo,

mesmo sentir, o mesmo pensar, os mesmos pesares, constituindo a família,

compartilhando ambos o

mesmos

prazeres, os

mollecula integrante das sociedades, feitura do Creador. Não,

não

a

amou, cubiçou

a;

não

foi

o

amor que os

porque

uniu,

esse sentimento elevado, inspirado pelo Creador á creatura, já

ha muito que n’um e n’outro o tinham apagado

corrupção, o

princípios delelereos

vicio,

a

dissolução, a

que envenenam o

o outro, baixo, degradante mesmo,

pirito, e substituirã

a

es-

sen-

sualidade, que na alma já pervertida de Antonio, se transfor-

mou em e os

paixão delirante, levando-o

Tanto pode

Parthas.

inspira

a

a

esquecer Roma e Fui via

formosura e

a

que

paixão,

ella

I

A formosura

é

um dom

da natureza, é

um

dote

com que

numero de creaturas; é um bem real, quando essa formosura serve de ornamento á virtude e rellecle as boas qualidades do espirito; porém se ella não é

ella

presenteia

um

certo

mais que uma mascara do dir-nos de que

com

ella

vicio, se

não serve senão

a

persua-

podemos dispensar-nos de todas as

outras boas qualidades, então essa formosura é

que nos engana para perder-nos, nos afunda no abysmo, é

um

éuma

um

lisonjeiro,

maldição de Deus, que

perigo de que é preciso fugir.

A paixão é o fogo que consome, mas não alumia, porque a sua acção a rasão obscurece se e o rumo da vida perde-se. Quando esse fogo abrasador se ateia na alma, o homem é como o bote sem governo, arrastado pela procella, levado n’um turbilhão de vagas, que o sorvem em medonha voragem ou o arremessam e despedaçam contra os rochedos, se não é que

sob

por

milagre o arrojam á

poderá salvar

se.

arenosa

praia,

onde ainda

a custo


— 202 — Emquanto Cleopetra prendia Antonio plexos e o retinha entorpecido, Octavio ços

com

voluptuosos am-

ern

em Roma

via se a bra-

serias difliculdades na partilha das terras, que

promettido aos

soldados; os novos

haviam

colonos queriam sempre

exceder os limites que lhes eram assignalados e os expoliados corriam

a

Roma a queixarem se da sua 0 irmão de Antonio vendo

miséria e a amotina-

rem o povo. pulares

ção

um

aos italianos espoliados, reuniu

da cidade e obrigou-o

de viveres o forçou

a refugiar-se

a render-se.

sua protec-

a

dezesete legiões e tomou

Roma; porém Agrippa, o melhor general de

com

emoções po-

n’estas

meio de derribar Octavio, prometteu

em

Octavio, expulsou-o

onde

Perouse,

a falta

para a Grécia

Fulvia fugiu

todos os amigos de Antonio e Octavio ficou só senhor d e

Roma. Estas noticias despertaram Antonio do lethargo

em que

desprendeu-se dos braços de Cleopetra e marchou

zia.

Brindes; porém os soldados recusaram-se

ram

a paz.

Então os dois

ficando Antonio

com

combater e exigi-

a

adversários fizeram nova partilha,

com obrigação

o Oriente até ao Adriático

de combater os Parthas e Octavio com o Occidenle,

gado da guerra contra Pompeu.

a

Lépido deram

encarre

a Achaia. Esta

mo

então

tecia

a

Sicilia,

a

Córsega,

paz não podia ser duradoura,

se dizia,

de Roma, era de

o celleiro

a cidade e

co-

que se abas-

o seu exercito estivessem á mercê de Pompeu.

vio teve a victoria,

em que

Sardenha com

tres legiões e

esquadra e ainda ao talento de Agrippa na de Naulocque. Mileto por

um

Octa-

devida á traição do liberto de Ménas, que

lhe entregou a Córsega e a

em

Sardenha e

a

a Sicilia era,

EÍTeetivamente pouco depois rebentou a guerra,

talha

paz

a

de cereaes, e Octavio não podia consentir por muito tem-

po que

forte

Pou-

a África.

cos dias depois Octavio pelo tratado de Mizena celebrou

com Pompeu, cedendo-lhe

ja-

para

Pompeu oílicial

refugiou se na

de Antonio;

uma

celebre ba-

Asia e

foi

morto

Octavio desfez-se de

Lépido, desterrando-o para Circeia.

Terminada

esta lucta,

Octavio voltou

a

Roma,

e esta,

que


— 203 — via nascer a felicidade e a

tribuno,

recebeu-o

senado coberto de

abundaneia

sob

O

com enthusiasmo,

conduziu-o ao

dhonras; porém

flores e quiz encbel-o

só acceitou a inviolabilidade

a influencia d’este

povo

por mais cinco

tribunicia

promettendo abdicar logo que Antonio terminasse os Parthas; supprimiu alguns impostos e energica restabeleceu

ram executados

e

a

ordem na

os escravos

a

anno

a

com

sua administração

península; os bandidos

fugitivos restituídos

fo-

aos seus

em menos

senhores ou mortos se estes os não reclamavam;

dum

annos,

guerra

a

eile

segurança era garantida na cidade e no campo.

Dois annos depois da morte de Pompeu, Antonio veiu a Torento renovar por mais cinco annos os seus poderes de triumviro e decidiu se a

ir

em

pessoa tomar

da guerra

direcção

a

dos Parthas; porém apenas pisou o solo da Asia que logo se

accendeu novamente o fogo da sua paixão

por Cleopetra,

a

Laodicéa, reconheceu os filhos que tinha

seu reino

quasi todo o

litloral

d

que era de Uoma, porque aquelles

a

um

territórios

parte províncias romanas. Por fim decidiu-se

com

sessenta mil

trinta mil auxiliares.

infantes,

estrangeiro o

eram a

cavalleiros e

dez mil

Seguia pela Armênia, cujo

retroceder. oito

Em

as suas

machinas de

vinte e quatro dias de

pela maior

marchar contra rei

era seu alliado e penetrou até Phraata, perto do

mas não tendo levado

a

e juntou ao

ella

do Nilo até ao monte Tauros;

cedendo áquella rainha estes paizes dava

os parthas

tal-

Chamou

vez mais ardente, mais violento, mais louco ainda.

Artavasdo

mar

Cáspio;

cerco, teve

marcha

que

e tendo tido dez-

combates, os romanos chegavam a Araxe, fronteira da Ar-

mênia, tendo morrido n'aquelles combates

vinte e quatro mil

legionários. Antonio teve occasião de reparar o erro que praticou, a

mas não

a quiz aproveitar, Cleopetra,

Alexandria impedia-o de deixar illibada

a

arrastando-o para sua honra e vinga-

das as legiões romanas das perdas que soCfreram.

Emquanto Anionio no Oriente se deixava mais uma vez adormecer nos braços d aquella mulher, que lhe appareceu como um anjo mau a conduzil o pelo caminho da deshonra e


— 204 — do opprobrio, Octavio

em Roma empregava

toda a sua activi-

dade

em

mou

os piratas do Adriático, e as irrequietas

dar áquelle povo o repouso que tanto anceiava.

das duas

Do-

tribus ao norte

peniusulas, os Japodas, os Libanos e os

No ataque de Métulum, para animar os seus

Dalmatas.

soldados, subiu

prorio á escalada e recebeu tres feridas; penetrou até Sa-

elle

uma

ve e submetteu

Pannonianos e dos Salacios.

parte dos

Este augmentava o território do império, o outro dava paizes

romanos

a

uma

rainha barbara. Apesar d'isto Antonio queixa-

uma

va-se e reclamava

parte

Lépido. Octavio respondeu lhe a

Pompeu

nos despojos de

com graves recriminações sobre

sua conducta e leu no senado o testamento de

que

elle legava a

provindas que

rou

em

estavam

um

dia viesse a ser

Um

mesmo

Octavio quiz

seu poder;

presente d’ella a Cleopetra. a

em

Antonio

Cleopetra e a seus filhos a maior parte das

fazer ver que, se Antonio fazia

e de

senhor de Roma,

decreto do senado.decla-

guerra à rainha do Egypto.

Antonio reuniu

cem

dose mil cavallos

mil infantes,

nhentos grandes navios de

guerra, Octavio linha

e qui-

oitenta mil

infantes dose mil cavallos e apenas duzentos vasos de guerra,

d’uma lotação necidos de

inferior,

porém mais

leves,

mais rápidos e guar-

marinheiros e soldados já amestrados na

contra Pompeu.

A

acção

travou-se

em

Aclium, na

Aranania, Cleopetra fugiu no meio do combate navios egypcios, e Antonio, o out ora

agora

a

valente

guerra costa da

com

sessenta

triumviro, que

sua louca paixão havia tornado covarde e fraco, seguia a

A

n aquella vergonhosa retirada.

frota

abandonada rendeu

se;

o exercito de terra resistiu ainda sete dias. D’esta vez Octavio

não manchou a

victoria

com

cruéis vinganças, ia-lhe já

dência dominando o animo exaltado d outro tempo, talvez já ensinado a experiencia

a

pru-

tinha-lhe

que o perdão das oífensas hu

milha mais os inimigos e acarreta mais sympathias do que a

mesquinha vingança, dos que

a

tisfação de

porisso não se

pediram. A vingança não é

uma

paixão, é

um

negou

um

a vida

a

nenhum

desaggravo, é a sa

sentimento baixo; o

homem

vin-


— 205 — gativo assemelha-se ás feras, o perdão não é

um

gnanimidade, é

sentimento nobre;

approxima se de Deus.

Octavio

foi

uma

baixeza é

homem que

o

chamado

a

ma-

perdoa para

a Italia

ali

apasiguar algumas discórdias que se tinham levantado e só no

anno seguinte poude continuar

com Antonio;

a luta

este ten-

tou defender Alexandria; C.leopetra, a sua eslrella mofina,

sempre o guiara no caminho da perdição, levando o nar

a

esposa,

a

lentado, perdidas

em

perigo, atraiçoou-o, e elle. desa-

buscou no suicídio o

todas as esperanças,

termo dos seus desvarios. no animo de

porem, ainda vaidosa, julgou

Ella

Octavio

a

mesma

influencia

exercido sobre o de Antonio; illudiu-se. Octavio

desesperada

que

abando-

palria e a sua própria honra, quiz conduzil-o

até ao abysrno, vendo-se

exercer

a

foi

que havia inabalavel;

morder por um áspide, de cuja mordedura

fez se

morreu envenenada. 0 Egypio foi reduzido a província romana. Octavio voltou á Asia, onde passou quasi todo o inverno a pôr em ordem os negocios do Oriente; quando voltou á capital

do império

tribuir pelos

foi

recebido

soldados

em

em

triumpho;

mil seslercios a cada

quatrocentos por cabeça e para iniciar

uma

seguida

um

fez dis-

e pelo povo

era de paz

man-

dou fechar o templo de Janos. Era finalmente o unico senhor de lloma;

sendo cônsul por mais

ficou

seis annos, este

dava lhe quasi todo o poder executivo, mas e principalmenle o

rador,

com

o

do exercito: para

commaudo supremo de

elle

isso fez se

queria

cargo

também

nomear impe-

todas as forças militares;

os generaes eram seus logares tenentes e os soldados juraram-

também nomear

lhe fidelidade:

fez-se

tendo Agrippa

por collega;

perfeito dos costumes,

o perfeito dos

costumes

tinha a

superintendência sobre o censo e n 'estas condições podia expulsar do senado os

membros que

do os antigos censores formavam

lhe

não conviessem. Quan-

a lista

dos senadores o que

chamava se príncipe do senado, e este logar d honra pertencia-lhe por toda a vida; Agrippa deu ao ia

na

cabeça do

seu collega este

rol

titulo

republicano; era muito importante por-

que o príncipe do senado ;era

sempre o primeiro

a emittir a


— 206 — sua opinião e esta tinha grande outros, de

modo que

0 senado

fel-o

era quasi

proconsul,

todas as províncias, porém se si

influencia sohre o

como

elle

animo dos

sempre adoptada. tal

tinha soh sua autoridade

cedeu-lhe as

do

interior,

que

achavam mais socegadas c mais prosperas e reservou para as que se achavam ainda revoltosas e as que estavam amea

çadas pelos harbaros; o senado deu-lhe o

titulo

em

de reconhecimento

signal

de Augusto, que só se dava aos deuses e Ires

annos depois decretou-lhe o poder tribnnicio por toda de modo que

á

autoridade militai que já tinha juntou o poder

inviolabilidade da

civil e a

consulado c

a vida,

a perfeilura

sua pessoa;

mais tarde obteve o

dos costumes por toda

mente, por morte do Pontífice, fez se

elle

a vida;

nomear

Summo

final

Pon-

tífice.

Não

havia mais coisa alguma que lhe conviesse. Vè-sc

como

este

homem

intelligente e sagaz se

foi

lodos os cargos até se tornar senhor absoluto.

dos costumes redigia

a lista

apoderando de

Como

Perfeito

dos senadores e dos cavalleiros,

podia portanto expulsar do senado e da ordem equestre todos

como grande Pontífice tinha vigilância do dos seus ministros; como Príncipe do senado dirigia as suas deliberações; como Imperador comman dava os exercitos; como Proconsul era senhor das províncias; como Cônsul governava a cidade e a Italia: era irresponsável os que lhe não fossem a Afeiçoados; culto e

porque

tinha

poderes

vitalícios; a

sua

pessoa era inviolável e

sagrada, porque era Tribuno perpetuo.

A sua administração foi sabia e prudente, marcou no imromano uma era de prosperidade; tanto que a designaram por era de Augusto; o senado continuou a nomear os pro-

pério

cônsules para governadores das províncias interiores, que Oclavio lhe cedeu; as

que estavam

a

seu cargo eram governadas

por delegados imperiaes da sua confiança; é provável que fosse ir estas condições que Valerio Máximo veiu residir na Nabancia.

Como elle

havia duas especics de administração havia dois thesou

atrariam, que pertencia ao senado e fiscus ao príncipe, porém dispunha de ambos. Como havia falta de recursos

ros, o


-207 para fazer face ás novas despezas,

impostos

restabeleceu os

aduaneiros e creou outros novos, a vigésima parte das heranças e a centesima do preço das vendas e as multas da

Julia-

lei

Poppcea contra os celibatários. Os dois primeiros por cá ficaram,

um com

o

nome de

direito de transmissão e o outro

governos ainda se não lembraram, mas

em compensação temos

outros peiores; o que lhe não imitaram ainda

um

com o do

muito mais augmentado, do ultimo é que os nossos

cisa, este

foi

o que

elle fez

anno, pagando dos seus rendimentos os impostos das pro

vincias da Asia.

A

fim de regularisar os impostos

um

geometras levantar

tres

ainda outio fim e império, era

foi

que,

em

carta geographica do todo o

meio de estradas os pontos

princi-

mandou executar; mandou-as

paes, o que rapidamente truir

feita a

ligar por

facil

mandou por

novo cadastro; este trabalho teve

cons-

todas as províncias e a península Ibérica, de que então

fazia parte o actual reino

de Portugal e onde se achava

a

Na-

bancia, foi uma das mais bem contempladas, cobrindo-a com uma rede de estradas e estabelecendo n'ellas um serviço de

postos regular. Nas províncias occidentaes, nas quaes se com-

prchendia esta nossa região, fez novas divisões territoriaes e

fundou muitas colonias para multiplicar no meio destes povos

romano

o elemento

exemplo de seu antesuccessor

e a

Julio

Cesar, concedeu a muitas povoações da península Ibérica o jus civitatis.

Sem

estes resumidos

poderiamos afllrmar se encontrou

a

trechos da historia

rasão porque

de Oclavio

mal

nas minas da Nabancia

uma medalha, que claramenle

se vê que

man-

foi

dada cunhar pelo Município Nabantino

em

perador, que então

Divino Cesar Augusto e

tinha o titulo de

honra d aquelle im

porque na parede do velho castello se acha casuahnente coberto

uma

lapide

Máximo,

homem

e é muito

com uma

inscripção

romana,

que prova que na Nabancia

importantíssimo,

a

des

documento

residiu

Valerio

muito nolavel. que teve as honras de cônsul

conhecido na

levantou n’aquella

historia

romana, e que este

povoação um padrão de memória

homem

á piedade


208

de Gesar Augusto. Não deve entender-se por piedade ricórdia, a

commiseração, mas sim

a

a

mise-

magnanimidade, a muni-

ficência regia, os benefícios feitos áqnella cidade, e estes be-

foram?

quaes

nefícios

A melhor repartição dos tributos

em

mandou proceder, as estradas que esta com outras povoações, favore-

resultado do cadastro, a que

mandou

construir, ligando

cendo o commercio

também

o jus

e as relações entre ellas e

civilatis,

provavelmente

que lhe seria concedido, « que equiva-

mesmos direitos dos cidadãos monumentos ao chefe do estado, em geral, não eram os particulares, mas sim os empregados públicos, portanto é muito provável que o illustre romano Valerio Máximo residisse na Nabancia, como delegado do impe lia

a dar aos seus habitantes os

romanos.

Quem

erigia estes

uma certa area d’este território, cujos liminão podem marcar. Us governadores das províncias

rador, governando tes hoje se

habitavam sempre nas povoações principaes das províncias que

governavam. Tudo era

uma cidade No mesmo

nos

isto

prova que ifaquella epocha

a

Nabancia

importantíssima. Outros factos ainda oaileslam.

em que na mesma

local

referimos e

foi

encontrada

occasião,

a

medalha

a

que

foram lambem encon-

trados pavimentos de casas lageados ou ladrilhados de teju los,

paredes muito espessas que se elevam a 0,

m

40 acima do

nível

em

alguns pontos 0,'"d0

do seu pavimento,

ram muitas carradas de pedra de nas cylindricas, algumas d

um

d

onde se extrahi-

alvenaria, pedaços de colum-

grande diâmetro, tejolos

e telhas

de grande espessura; por debaixo do pavimento d estas ruinas notou-se ainda haver subterrâneos, cavas, ergástulos ou criptas.

Não

se sabe o que era, porque, infelizmente não foram explo-

rados;

em um

certo ponto abateu o terreno e viu-se

uma

bada, entupiu-se aquella cavidade e não se examinou.

grande quantidade de moedas romanas e

lrou-se

lambem

muitos

cadinhos de grés;

ali

abo-

Kncon-

e entre

aquelles

restos da

antiga

povoação, encontraram-se alguns fragmentos de estatuas, que

deviam ça,

ter sido perfeitíssimas; entre elles

reproducção talvez da Venus

metade de uma cabe-

de Medieis,

foi

dividida no


— 209 sentido da linha media do corpo, orelha,

uma

difíicil

que hoje se não

feito,

será egualal o; parte de

um

braço, copia

do natural, onde lambem se desenham os musculos,

um homem bem

rece haver pertencido a hoje

uma

olho,

face e o collo correspondente, tudo tão primoro-

samente talhado, tão artisticamente bem excede e

um

deixando ver

ao

petreficado;

meio

conformado e robusto,

sobre o musculo

d’elle,

veem-se os vestígios dos dedos da mão opposta, sentavam; pertenceu

a

uma

fiel

que pabiceps,

que

ali

as-

magnifica estatua, que se apresen-

tava de braços cruzados; parte de

uma

perna e pé,

os malleolos, o tendão d’Achilles e o calcanhar estão

em que tão bem

fsTATUAS JÍABANTINAS (^RACMENTOS)

talhados que parece que servia de molde;

que cada

um

aquella parte do corpo

humano

lhe

alem d estes muitos outros fragmentos e vê-se

d elles fez parte

relíquias preciosas estão

de estatuas diílerentes.

Estas

guardadas no museu Silva Magalhães,

onde se podem observar. certo serviram de

Fizeram parte de estatuas que deornamentação a alguns magníficos jardins

ou sumptuosos palacios ou então eram deuses levantados

em

soberbo templo e hoje ainda aquelles restos de antiga magnificência, ali

sepultados ha tantos

outr’ora admirados nos jardins

séculos debaixo da

terra e

ou adorados nos templos, es-

tão a attestar a grandeza da antiga

povoação

a

que perten-


— 210 ceram; brilhou

n’ella

o

esplendor

importante, porque teve as

romano,

cidade muito

fui

honras de município

romano,

foi

habitada pelo nobre patrício e dislinclo cônsul Valerio Máximo, e residiram n’ella muitas outras nobres famílias.

Oschronistas e os historiadores antigos só descreviam os

fei-

dos reis ou dos homens celebres, que muitas vezes engran-

tos

deciam até ao exaggero e nada se dos povos; embora uma cidade

civil

com

importavam

florescesse pela

a

vida

agricul-

ou pela industria não merecia menção alguma nos seus escriptos se n ella se não dessem acontecimentos imtura, pelas artes

portantes que se prendessem com a vida de algum rei ou de algum general de fama, cuja epopeia teciam em termos quasi sempre aduladores, que muitas vezes não exprimiam a verda-

de dos factos

devem

com

com que Romanos passou

aquella pureza e imparcialidade

ser narrados; por isso na historia dos

desapercebida esta importante cidade, que não se salientou por

uma

revolta

ou por uma batalha de nome, dada nas suas pro-

ximidades.

Dos ral

livros antigos

perdeu-se a maior parte; a historia ge-

de Trogue Pompeu desappareceu, da encyclopedia de Celso,

só restam os livros que dizem respeito á medicina, a geographia do grego Eslrabão nada nos diz, parece

que aquelie es-

criptor viajou mais pelo oriente e pouco conhecia do

Occidental da península; de até nós, n aquelles

modo que nos

livros

extremo

que chegaram

de que temos conhecimento, nada

encon-

tramos que nos possa servir de base á historia d’esta cidade; a tradicção

pouco ou nada nos

diz porque,

de tão

longínqua

tem se alterado e perdido no decorrer dos séculos; restam-nos só os monumentos e os vestígios que d’ella se enque

é,

contram.

O

celebre naturalista

Cuvier com

um

só osso

pelreficado

reconstruía todo o animal a que tinha pertencido e cuja especie se havia extinguido ha

nia

n

muitos séculos; ora se peta harmo-

que existe entre dilíerentes ossos de

tituern

o esqueleto que lhe dá

a

um

animal, que cons

fúrma e onde se prendem os


- 211 musculosque

lhe

dão os movimentos, que se executam debaixo a avaliar

as qualidades

intelligencia, os seus

instinctos, as

da influencia da vida. se pode chegar

do animal, o seu grau de suas aptidões,

etc.,

uma povoação

e a vida

de relações

A

outra. n'ella

existe

tão concordes

revelam

a

a

sua

em que

deduz

avulta a vida, exerce se

etc.,

vidade humana, ha

lá a

ali

em grande

templos,

aldeia,

oflici

escala a acti

riqueza, o fausto, a grandeza,

podem caber numa simples

a

seu

Assim onde

sumptuosos

esmerados jardins, bem construídos theatros, variadas nas

a

do povo que

intelligencia, o

se encontra.

palacios,

conjunto

isto é, os edifícios

vida

actividade, a sua

ha vastas construeções, ricos

tal

facilmente se

povoação,

uma manifestação da

saber e o grau de civilisação

um

habita

que d uma

uma

material de

entre a parte

do povo que

parte material de

erguidos, são

habita,

lambem

mas sim em

que não

vasta, rica e

opulenta cidade,

Aquelles fragmentos encontrados nas ruinas da antiga Nabancia, pertenceram a estatuas de muito valor, não

eram obra

de ignorantes ou simples curiosos, mas sim de abalisados artistas,

a

de eminentes esculptores e estes decerto não exerciam

sua profissão

em

pobres aldeias, mas sim

em

ricas cidades,

onde houvesse ouro para pagar lhes os seus valiosos trabalhos. Cada um d aquelles fragmentos revela uma grandeza; gigantescas columnas só serviam

para sustentar soberbas arcadas

ou magestosas abobadas; riquíssimas estatuas de mármore de llalia

só se

collocavam

em magestosos

templos,

riquíssimos

jardins ou grandiosos palacios. e onde ha isto ha o esplendor

da riqueza, ha mais que o luxo, ha o fausto. E’ pois indubita vel

que

mo

hoje lhe

a antiga

cidade romana Ur bs Nabce

chamamos,

foi

uma povoação

ou Nabancia, co

florescente, poi isso

não deve admirar que tivesse as honras de município romano.

Mas o

<jue attrahiu

para aqui aqnella numerosa população

e de que elementos tirava

as riquezas

que lhe

davam o

es-

plendor? Sabe-se que no tempo dos romanos só havia cidades, muito poucas aldeias (vines),

a

população agglomerava-se toda


- 212 nos grandes centros; esses casaesinhos, que alvejam ao longe

na cumeada dos montes ou no correr dos valles, essas casinhas

de campo, que branquejam por entre

a

ramada das

figueiras,

das amendoeiras e outras arvores, que malisame adornam as nossas bellas paysagens, não as havia então; era menos bello

campo mas mais ricas e povoadas as cidades. Os campos eram cultivados, não podia deixar de o serem, mas estes pero

que

tenciam quasi exclusivamente aos grandes,

ali

tinham as

suas granjas, regidas por feitores, cultivadas por escravos con-

como animaes de trabalho, dura e barharamente que os governavam e de quem os romanos, por não poderem negar-lhes a forma humana, diziam que eram homens, mas não eram pessoas; ali viviam aquelles desgraçasiderados

tratados pelos

dos cobertos de

miséria,

cançados

de trabalho,

que

á noite

eram recolhidos em prisões subterrâneas, chamadas ergástulos, tão lôbregas, tão immundas que hoje nem ousaríamos metter n’ellas os

nossos gados.

Seria só da agricultura que vivia aquella

pulação? Seria

a

vasta e rica po

ubérrima fertilidade dos campos circumvisi

nhos que para ali os attrahiu? Cremos não ser isso só. Os campos d’esta localidade são bastante ferteis e mais o deviam ser então, «piando ainda se não tas successivas,

muitos sem

achavam esgotados por

as

adubações

colhei

necessárias para

repor no solo os elementos que cada colheita lhe vae subtra hindo; os terrenos fera era a

prestam-se

mais empregada

a

variadas

naquelle

culturas, a cerealí-

tempo

e devia

lambem

haver n esta localidade abundancia de azeite, vinho, fruetos e e boas pastagens para gado; mas, com certeza havia alguma coisa de mais importância, de maior valor ainda, que

legumes

era a exploração de minas,

dalgumas das quaes ainda restam romanos eram dedicados a este

vestígios e sabe-se quanto os

genero de industria.

No

sitio

mina d ouro;

chamado Fonte de as pesquizas

ali

I).

feitas

veio aurífero, «jue é muito rico,

não

João ha vestígios de

uma

ha pouco mostram que o foi

exgotado

e

que ainda


— 213 — podo dar avaliados lucros ção, o

que é de esperar

a quem emprehenler nova exploraem breve se realisará; a dois kilo-

metros approxidadamente desta cidado, no lia

onde

beira de Bezelga, defronte de

nhos de

um

direcção norte-sul

um manto

chumbo

era o sulphoreto de se plantava

uma

da Ri-

direita

cami-

de prata; corre

terreno eruptivo

argentifero; na

vinha na encosta que

ali

coberto

minério que se cxtrahiu das

o

calcareo;

de

filão

de Cardaes,

é hoje a estação dos

uma mina

explorada

ferro, foi

sitio

mina d’ouro; na margem

vestígios de outra

na

com

galerias

em que

occasião

fronteira á estação

fica

encontraram-se alicerces de casas, que evidentemente serviam

também que appareceram alguns pedaços de minério; no cume do monte existiam e ainda talvez lá se possam ver, vestígios de fornos circulares, com de habitação aos mineiros e

o fundo concavo

em

foi

forma de

ali

que

caldeira, o

vamente é este o processo mais antigo, breus e dos egypcios e

no

Plínio e Estrabão;

de seis kilometros,

de que

sitio

foi

ainda hoje no Chili,

da Paxinha, que

fica

a

Chanarcillos,

n

um

Sicilia,

[touco

também explorada uma mina

em

dos he-

conhecido

mais

e outras

Se nós vemos

muitas haveria de que já não restam indícios.

e esteril,

elTecti-

Deodoro da

faliam

que o

mostra

processo de extracção empregado era o de cupulação;

terreno escalvado

onde não ha nem agua nem combustível, uma popu-

lação mineira de mais de quatro

buscar a mais

de

léguas

trinta

que tem

mil almas,

ludo o que

que

ir

lhe é necessário

para poder viver, não nos devemos admirar de que na antiga Nabancia,

n

situada

um

bustível e cercada de

população dez ou

do solo

local

ameno,

farta

ferteis terrenos, se

mesmo

e principalmente

d agua e de com-

agglomerasse uma

vinte vezes maior, que da fertilidade

do

valor das minas,

que

ia

explo-

com que ostentava a sua magnificência. A vida das nações é como a vida das plantas, que germinam e crescem, florescem e brilham, depois murcham e caem

rando, tirava a riqueza

resequidas, porque lectiva,

a

vida vegetal ou animal, individual on col-

emana do mesmo

principio;

a vida

é

uma

rotação;

a


— 214 — rotação é o movimento característico do universo, não mostrar

sempre

mesma

a

desde

face;

a mollecula

suraveis corpos celestes tudo se desloca

até

em

aos incommen-

dum

volta

centro;

o que é hoje não é amanhã; da luz passa-se ás trevas, do bri

como do

lho á obscuridade,

dia á noite, da grandeza á miséria.

Accusam-se os povos ou os dirigentes das grandes nações de, pela dissolução de costumes ou pelo

duzido a sua queda, é

mos por

accidental é

um

mau

governo, terem pro-

que nós muitas vezes tomaé necessário, é o resultado de leis

erro; o

fatal,

que por ora nos são desconhecidas.

Todos os phenomenos do universo obedecem e invariáveis,

sem

Só o Creador

é livre nos seus aclos.

isso

obra da creação

a

E’ da

a leis

fixas

imperfeita.

seria

do ser

natureza

ereado não poder desviar-se do fim da sua creação, como as

machinas que nós construimos não podem por

si

alterar os

a produzir. Na ordem material ordem metaphysica suscitam-se sobre o livre

movimentos que são destinadas é isto evidente, na

que não vem

arbítrio questões

A successão dos des acontecimentos, des estados,

a

a

a

proposito tratar aqui.

que constituem

factos

a

historia, os

gran-

formação e o desenvolvimento dos gran-

sua queda

eo seu desmembramenle posteriores, devem estar sujeitos

as grandes virtudes e os grandes crimes a

leis fixas,

idéas e os

como

todos os

phenomenos do universo. Entre as

costumes das epochas primitivas de selvageria e

de barbaria e as idéas e os costumes das epochas modernas ha

uma

differença

distantes, dias,

acham

enorme, mas, estas formas extremas, tão

se ligadas por

que se succederam

e

uma

serie de formas interme-

ligaram como os elos de

uma

cadeia.

E’a nossa ignorância que nos impede de prever todos os phenomenos. Ao ser dotado d uma intelligencia como a que Laplace imaginou, que podesse abranger na

mesma

formula os movi-

mentos dos maiores corpos do universo e os do mais leve átomo, nada lhe seria incerto e tanto o futuro como o passado seriam sempre presentes a seus olhos. O physiologista dii

Bois-Raymond phanlasia

a

mesma

intelligencia, dizendo

que


se ella exislisse, assim

como o astronomo póde predizer com

profundezas do espaço

voltará das

paragens, da

mesma maneira

nas suas equações o dia logar

em que um

cometa

mostrar-se nas

nossas

atinos de antecipação o dia certo

muitos

em

a

aquella intelligencia

poderia ler

que a cruz grega retomará o seu

em que

sobre o zimborio de Santa Sophia e aquelle

a

D Alembert, apresenta a mesma para quem podesse

Inglaterra queimaria seu ultimo pedaço de carvão.

no discurso preliminar da

Encyclopedia,

idéa nos seguintes termos:

«O universo,

abraçai o n

um só um

ponto de

vista,

não

seria,

se é perinit tido

uma grande verdade». Não podemos conceber que uma tal intelligencia possa

dizei o,

senão

parecer

em

ficar-nos

os

facto unico,

ap-

qualquer epocha no globo que habitamos, porisso

hão sempre desconhecidas as

ordem moral

factos da

e os

leis

porque se regem

que cremos

filhos

volição.

Talvez por muito simples as não possamos

hender.

Oreados para vivermos n’um meio

da nossa

compre-

restricto e lemi-

lado. tanto nos escapa o que é mfinitamente grande

em

relação

nós como o que é infinilamente pequeno; são dois extremos que não podemos tocar: estamos entre o complexo e o simples;

a

por isso

um

e outro ficam fóra da nossa

comprehensão.

0

nos-

so espirito, pela sua tenuidade, mais expansivo que os gazes,

mais elástico e subtil que o ether; podendo, ptível

momento percorrer

n

um

imperce-

toda a immensidade, para o qual não

nem tempo, poderá

ter a comprehensão de todas emquanto ligado á matéria, não pode no nosso cerebro, por mais bem organisado que seja,

ha espaço

as leis do universo;

que é o orgão da

porém,

intelligencia,

como os olhos o são da

os ouvidos da audição, transformar essa comprehensão

em

visão,

idéas

ou pensamentos perceptíveis e transmissíveis, porque por mais rapidas que sejam as vibrações das molleculas do orgão sensorial, fóra

dos limites que lhe são assignalados, como matéria

podem acompanhar os movimentos, se assim lhe podemos chamar, d essa entidade immaterial que em nós reside,

sensível, não

e que

conslitue o nosso

ser, a

nossa

individualidade,

o eu.


216

entidade

essa

única

mesma no meio do

da

multiplicidade,

em que

sempre

a

as molleculas

do nosso corpo constantemente se vão renovando,

materiaes

de

no meio

turbilhão da vida,

modo que em nós não annos

ha alguns

que se aílirma

em

um

existe hoje

que

só atomo dos

constituíam o nosso ser corporal;

esse cm,

todos os aclos da nossa vida, que a crean-

cinha balbucia nas primeiras palavras que pronuncia, afllrmando

sua individualidade; nós dizemos eu vejo, eu ouço, eu sinto

já a

neste modo de exprimirmo nos

indicando

nem mesmo não

ser unico, que não conhece os corpos d’elles

recebe senão porque

elle

dum,

a existência

que

as impressões é corpo

nem

sen-

tido.

Pois este ser immaterial

que é limitada,

á matéria,

a

não tendo meio de communicar

immensidade da sua comprehensão

ficaremos sempre ignorando o que no nosso acanhamento cha-

mamos

transcendências e conforme

a

estruclura mais ou me-

nos perfeita do nosso orgão sensorial,

menos

será mais ou

dilatada,

area do nosso saber

a

porém sempre

restricta e limi-

tada.

que se póde saber, porque os

.Mas o

factos nol o

leem de-

monstrado, é que a formação das grandes nações caminha sempre, não n uma linha recta ascencional e indefinida, e sim n

uma

curva,

limite para

em

cujas ordenadas vão

geral muito mais rapidamente.

accelerar a queda das te

d

nações,

como o excesso de

elia,

Uma má

fizer,

o seu termo é

mas nunca

á

madura, da madura

mo termo

morrem

ha de morrer

ser causa elficien-

fatal, inevitável;

á senil,

d esta rotação. Só não

indivíduos e

mas

orientação pode

a vida;

passa-se á joventude, da joventude á edade ril

certo

trabalho, o abuso das nossas

culdades individuaes pode encurtar nos o que se

um

inversa,

crescendo até

depois decrescerem, não na rasão

porém

da adolescência

viril,

da edade

da senil á decrepitude,

morrem

fa-

faça-se

as idéas.

vi-

ulti-

Morrem

os

as nações; tudo o que é material é finito;

a terra, o sol com todos os seus planetas e no firmamento exfmguir-se-hão todos os astros brilhantes que ora


— 217 o povoam, quando toda celum

gotado; é o

sua energia potencial se houver es-

a

transibunt do propheta

terra

et

Rei e das

Escripturas. Esta verdade, outrora annunciada nos livros

grados como

demonstrou

sciencias;

uma

inspiração

prophetica,

a pela

das suas lições de

o numero,

isto

é,

essencialmente sico inglez.

sa-

pelas

imthematiea M. AgustinSauchy

physica

provando

geral,

que

em

todo

de unidades successivas é

toda a serie

finita.

provada

hoje

é

Sir William

Tompson, o celehre phy-

marca ao calor solar uma origem e

um

Este

fim.

poderoso astro, centro do nosso systemaa planetário, segundo os cálculos de Herschell e de Puillet irradia cada armo da sua superfície

uma quantidade

calorias, isto

calorias ou a quanti-

3 seguido de 30 zeros,

é,

dade de calor necessário para elevar

valente á força de

de luz e de calor

um

a

grau centígrado

a

de cada pé quadrado irradia na unidade de tempo o calor equi-

temperatura d’um kilo d agua da sua superfície

3XK) 30

da calor correspondente a

distillada;

sete mil cavallos; pois

em uma

epoclia,

este foco

decerto muito

immenso

longínqua,

ha de apagar-se e arrefecer-se. A’ luz hão succeder as trevas,

com a monstração de William desenvolvida em uma ao movimento o repouso

incompatível

Esta de-

vida.

conferencia so-

bre o calor solar, reproduzida na revista scientifica de GemerRaillièere, é tão scientifica e está tão

gosto

lel-a e

esludal-a,

bem

elaborada que faz

mas é tão extensa que, "mesmo

mindo-a não pode caber n’este logar, porisso

tamos aqui. M. Balfour-Stewai ral

no collegio de Ovven

a

não apresen-

professor de philosophia natu-

Manchester,

em um

artigo publicado

tem por titulo fundado na theoria termo-dymnaenuncia da seguinte forma: «0 calor transforma se

na Bibliolheca

A

em

t,

resu-

Scientifica

Internacional e que

conservação da energia,

mica, que se

em

trabalho e reciprocamente

calor, fazendo ver n estas

duas

o trabalho leis

uma

tíssima e é que o trabalho se transforma

transforma-se

differença

em

calor

em

importan-

com

a

maior

facilidade,

mas que não ha processo algum em poder do ho-

mem

permitta

que

transformar

todo

o calor

em

trabalho;


t

— 218 —

*

cada

d’aqui resulta que a energia do universo se transforma

em

dia e cada vez mais

do com chega

a

universalmente dilTuso

calor,

seguin-

»;

sua argumentação baseada nos princípios da sciencia,

á seguinte

conclusão

«Nós dependemos do

:

não só pela energia de

do nosso systema,

principio e ha de ler

um

só o nosso systema,

mas

Demonstramos que o

fim.

centro

nosso corpo,

pela delicadesa da nossa constituição, o futuro da está ligado ao futuro do sol.

sol,

mas

nossa raça sol teve

um

Se generalisarmos veremos, não

todo o universo material, considerado

debaixo do ponto de vista da energia

utilisavel,

como essen-

como abraçando uma successão de podem continuar se indefinidamente taes como são agora. Mas então nós chegamos a questões collocadas alem do nosso alcance. A sciencia da natureza não póde ensinar-nos o que era antes do começo e o cialmente

transitório e

acontecimentos naturaes, que não

que será depois do fim.» malhematico

e

M. E. de

chega ás mesmas conclusões:

um

estado

Saint Ilobert, o distincto

mechanico ddtalia, fundado na mesma theoria,

final,

em que

temperatura entre os corpos, e

nhum phenomeno

que o universo converge para

não existirá nenhuma differença

de

em que, por consequência, neem que todas as actividades íixado em um estado de repou-

será possível,

da natureza se lerão parado e

O eminente

so relativo e eterno.

physieo inglez M. Tyndall e

o celebre mathematico belga M. Folie, chegam

á

mesma

con-

clusão e alem destes muitos outros, que seria fastidioso enu-

merar

aqui.

O mundo

Esta rotação é

fatal,

sahiu do cabos e ao cabos ha de voltar.

dá-se

em

todos os corpos celestes e nos

seres que os povoam, assim nos indivíduos

como nas

socieda-

des.

O

vasto império

romano não podia subtrahir-se a estas leis enorme que assombrou toda a Eu-

cósmicas, aquelle colosso

ropa, Asia e África cahiu por fim abatido,

exgotado pelo seu

labor immenso; os ligamentos que prendiam os aquelle gigante afrouxaram se. e as hordas selvagens do norte

membros de romperam se; esphaçelou-se, vieram como os vermes do se


— 219 — pulcliro a

devorar-lhe o cadaver.

Suevos, Alauos, Vandalos,

Godos e Wisigodos, como aves de rapina vorazes disputaram entre

si

e esfaimadas

presa e depois que se saciaram repar-

a

tiram os despojos, ttorna, o temível leão dltalia, que outrora

amedrontava o mundo baixa

a

inteiro, na sua

decrepitude roja

a

cauda,

juba e lambe as mãos dos domadores; soffre os oppro-

brios e humilha-se ás alTrontas. Bruno lança a sua espada no [traio da balança

que pesava o ouro com que os d antes valentes,

hoje fracos romanos resgatavam a sua liberdade e exige que o

ouro lhe pague o seu valor, porque aquelle ferro na sua mão mais que as drachmas e as onças romanas, e aquelle po-

valia

vo,

que tão cioso

reis

da sua autonomia, consente

foi

barbaros subam ao

reis

romanos. K’ que

Gesares

nem

ja

não havia

ü

tantos outros,

ralmente desvanecendo

empunhem Scipiões, nem

capitólio e

Grachos,

coragem

brio e a

depois que

o sceptro dos

nem

ia-se nalu-

com o succeder das gerações, como

as forças physicas se vão esgotando no declinar da vida. Cada

uma

heroe que desce ao tumulo leva na alma

parcella da vida

da patiia.

A Nahancia como mollecula integrante d aquelle corpo, se decompoz,

foi

assimilada por outros seres,

seguindo

(jue

a lei

natural das mutações, estabeleceram-se por fim aqui os Godos,

forque pltases passou império

romano se convulsionou

morte, não é

fácil

tudo a ferro e

a fogo,

á fome,

e

sabel-o. Sahe-se

tudo era destruído;

morriam

durante esse longo período,

debateu nas

em que

o

agonias da

que os Vandalos levavam

por onde passavam tudo era assolado,

os que escapavam ao ferro dos barbaros

chegando

até as

mães

a

devorar os cadáve-

No meio d’este cataclysmo a formosa cidade romana não pereceu tolalmente, porque nos apparece mais

res dos filhos.

tarde

como cidade goda; o que

soffreu durante aquellas succes-

sivas invasões de barbaros não o escreveram os historiadores,

mas pode-se

adi vinhal-o pelo

mais

que se passou

n'aquellas

epochas calamitosas até aos últimos invasores, que se estabeleceram na península, repartindo entre

si

as terras conquista-


— 220 — das na rasão do dois terços para elles e

A Nabancia passou

a

um

para os indígenas.

ser cidade goda, governada por

que correspondia ao cônsul romano, o que prova

de,

um a

con-

impor-

tância (jue ella continuou a ter.

Devia resentir se muito esta cidade da queda

romano

e do mais que succcdeu até ao

dos

nitivo

do império

estabelecimento defi-

Godos, porém continuou ainda

a ser

uma

cidade

importante, mais abatida por certo, mais decadente talvez;

d

elia

lambem não teríamos

se o facto Irene. á

notável que

A egreja

corrupção,

deu, o assassinato de

premeava

christã

poderes

vam esses

em

altares para

em

ou

holocausto á pureza das

no numero dos

até ao divino,

collocando as

serem adoradas

e allribuindo-

milagrosos; os historiadores sagrados

factos para

fos-

Iria

virtude dos que resistiam

isto é, incluindo-os

santos; os crentes exaltavam-os

llies

a

sacrificando a vida

suas idéas, canonisando os,

suas imagens

alguma escripta se não

noticia

se

ali

e

que o conhecimento

d’elles

registra-

chegasse á

posteridade; por isso nas chronicas sagradas se encontra ain-

da a narrativa d aquelle acontecimento; mas n ella só figura

a

que mais ou menos directamente tomaram drama e nada mais se acha escripto a respeito da Nabancia como cidade goda, só se diz que era muito popuprotogonista e os parte n aquelle

losa.

No anno G33 da

governada pelo Conde de

era a Nabancia n'ella dois

era christã, sendo rei dos godos Recesvindo,

mosteiros,

S. Fructuoso, arcebispo de

onde está hoje

mesmo

a

eon vento;

Braga,

egreja de tinha

mesmo

local

onde depois

que hoje se chama de Santa

um

Santa

n'aquella

abbade se chamava Celio e era no

Castinaldo;

que tinham sido fundados

tio foi

Iria,

de Benedictinos no

Maria, que

epocha 44 de

havia

em 640

Iria;

pertencia

por sitio

ao

religiosos, cujo

outro de religiosas

o convento

de Santa Clara,

junto ao rio Nabão. Foi n esta

epocha que se deu o facto notável o qual, por se referir;» personagens que então viviam na antiga cidade goda, com pallida e frouxa luz, apenas nos deixa lobrigar

ao longe n aquellas


22 remotas eras, por entre

plianlasia dos chronislas,

a

que o

re-

vestiram de fabulas e lendas, o quer que seja de verdadeiro que

pouco mas alguma coisa nos revela d’aquella antiga povoação. Era

ou

Iria

formas,

I>elas

uma joven formosa

Irene

pelas

famílias, filha

de Hermegido

uma herdade

fóra

cuidados de duas

e

formosa

bella,

descendente de

nobres de Eugenia, que habitavam em da cidade, haviam-a seus paes confiado aos

bella

virtudes; e

recolhidas ou

paternas, Casta e Julia,

tias

professas no convento de freiras, junto ao Nabão. Chegada á adolescência, seu

lio

Ceiio escolheu d’entre os

dictinos a Bamigio. que

saber e pelas

suas virtudes, para

sobrinba

Em

Iria.

monges Bene-

mais confiança lhe merecia

breve deu

ella

servir de

pelo seu

preceptor

sua

a

sobejas provas da sua intel-

ligencia e da sua dedicação á fé calholica, que tão ardentemente professava, por isso era estimada e admirada por todos que a conheciam. N aquellas epochas semi-barbaras e em ou-

que posteriormente se lhes seguiram,

tras, a

natureza prodigalisava os d

desventura com algum castellão

que

honra ou

a

a

j

ivon e altivo

cubiçava

morte;

li

que aconteceu

formosa

á

cada a S. Pedro, pouco mais ou menos no cemiterio; esta capella

em

foi

1017, hoje só resta d

soberbo

perdida, ou

uma

Defronte dos paços do governador havia

quem

se topava por

lalgo ou rico e

podia julgar-se

assi.n

foi

donzella a

a

ms da formosura,

des

a

Iria.

capella dedi-

onde é hoje o

sitio

reedificada no reinado de Filippo n elia

uma

lapide

com uma

inscripção,

que se acha embebida na parede da frente pelo lado de dentro

mesmo

do

cemiterio.

era costume fazer-se

em

N’aquolla capella e n’aquella epocha dia

de S. Pedro

uma

á qual assistiam as religiosas do convento.

uma

d’essas occasiõcs que Britaldo,

filho

festa

solemms

Diz-se que

de

foi

em

Caslinaldo e de

Cassia, então governadores da cidade, teve ensejo de apreciar

formosura d aquella donzella, que. pudica

a rara sistia

com

ã

solemnidade,

e,

captivado de suas

e devota, as-

graças, a cobiçou

ardor; ella porém, que votara a vida ao serviço de

isolando se do inundo dentro dos

muros de

um

Deus

convento, não


— 222 — afíeclo; nem annuiu a rogos, nem accei com o que mais se incandesceu a alma ardente d’aquelle moço fidalgo, indo até ao desvairamentn, transformando o amor em feroz paixão; e, receioso de que outro viesse lhe era negado, mandou a assassinar. a gosar o que a elle Um soldado da sua confiança chamado Banaão, por certo de

correspondeu ao seu lou propostas,

maus

instinctos, foi

por

escolhido e encarregado de exe-

elle

cutar os seus atrozes desígnios.

Junto ao convento, na

margem do

gruta cavada na rocha, que ainda hoje

tumava todos os dias ífaquelle extase

com

misturar-se

ir

a sua

perturbar

podesse

a

alma candida e pura

anjos e acompanhai-os nos

os

uma pequena

escolhera aquelle logar

fazer oração;

em que

havia

se vê, onde Iria cos-

ali

nenhuma distracção

que

solitário para

rio,

talvez

ia

seus hymnos

de gloria ao Creador. No dia 20 de outubro do anuo 653, ao alvorecer estava ella ifaquella especie de santuario; o ligeiro mur-

murar da aragem na concavidade dos rochedos, o som monoproduzido

luno e triste

pelo

deslisar das aguas roçando

na

penedia confundiam se com o brando murmurio de seus lábios, em fervorosa prece; talvez pedindo a Deus

agitando-se trêmulos

apagasse no coração d’aquelle a

que

ella

homem

o fogo de

uma

paixão

subitamente é surpreben

não podia corresponder;

dida pelo barbaro e cruel assassino que, desapiedado lhe

bebe no peito o os apresentar daver.

E’

vil

despoja

punhal,

ensanguentados

a

de seus vestidos

a Brilaldo e

provável que o sicário

levasse

em para

lança ao rio o ca-

ordem de

lhe fazer

as ultimas propostas, que foram regeitadas, preferindo

a

morte

á deshonra. Por isso a egreja canonisou-a como Virgem Marlyr, os chronistas perpetuaram a sua memória nas chronicas sagradas, narrando o facto; os crentes adoram-a como santa; a arte

immortalisou-a,

pintando na

imagem, para expol-a successivas,

á

como ainda

tela e

burilando na

pedra a sua

admiração e veneração das gerações lá

se

em um

nicho,

que está no

cunhal da parede do convento, por cima do pégo onde deita-

ram o cada ver da

santa.


-

223

narrativa d esto facto memorável, que os chronistas nos

A

legaram, é apenas

um

lampejo

a

cujo rápido clarão mal divi-

samos na obscuridade do passado

a

antiga cidade goda: lam-

pejo que súbito se apagou para não mais se accender, porque,

que nós saibamos,

nada mais dizem

jas

chronicas a respeito

d aquella povoação. Só mais tarde, decorridos já muitos sécu-

quando os descendentes d esse punhado de bravos e inde-

los,

pendentes Godos, que com Plagyo se refugiaram nas inhospitas serras das Aslurias. foram pouco e pouco reconquistando o terreno que lhes havia sido usurpado, ao passarem por aquelle local

da antiga e formosa cidade de seus antepassados, só enum montão de ruinas; destroços que o tempo havia

contraram

poupado e que estavam ainda antiga

ali

a

Gomo

e

ia

a existência

nem mesmo

povoação e sem os quaes

existiu nos sei

attestarem

da

o logar onde

dado conhecer.

quando

destruída aquella cidade?

foi

geralmente seguida que

foi

E’ opinião

arrasada pelos Árabes, por lhes ter

divergirmos d este

opposlo

resi-stencia.

modo de

ver e apresentarmos a nossa fraca e humilde opinião,

Seja nos permiltido

baseada nas observações que temos

feito e

nos dados históricos

que podemos colher.

A monarchia goda succumbiu

á invasão

dos Árabes, como

o império romano succumbiu á invasão dos Barbaros e

um

dia a

como

succumbir

Europa virão talvez modernas nações da America e das que se hão de organisar na África. E’ a lei geral da marcha social dos povos. Nada é permanente, quer na vida individual quer na collecliva; é o principio inalteraval das mutações ou

as velhas nações da á

acção dominadora das

Ha porém circumstancias particulares a cada nação, que acceleram a sua ruina. Na monarchia goda estas circumstancias davam-se na occasião em que o islamismo avançava e tendia a avassalar o mundo inteiro/para se cumprir a substituições.

predicção do prophela, que linha promettido a seus discípulos

o Oriente e o Occidente. Os Godos usurparam aos Romanos os territórios da península hespanica, como os Romanos os haviam


— 224 — usurpado aos Carthaginezes, como os Árabes os usurparam Godos. E’ assim que muitas vezes se manifesta

elles

de Deus:

a

punição de

um

a

a justiça

mal com outro de egual natureza,

verdadeira pena de Talião.

A obra de conquista universal dos arabes, afrouxada algum tempo pelas dissenções internas durante as quaes alguns calicahiram

fas

sob o golpe do

punhal, entre

Okbah, general intrépido

o velho Aly,

dos Omméydas;

e arrojado, subjuga o

Egypto e toma

de Cirêne, antiga rival de Carlhago, funda e fortifica

a cidade a

elles

na dymnastia

reapparece activa e energica

cidade de Kaiwan, percorre todo o norte da África e chega á fronteira ás ilhas Canarias; ahi

costa Occidental,

templar

a

por sobre o qual

a

mite o firmamento; depois n

mar dentro

pára a con-

immensa do oceano, esse mundo d agua, vista se espraia até encontrar-lhe como li

vastidão

um

arrojo d’audacia, avança pelo

até a agua chegar ao peito

do camello que montava;

então detem-se e erguendo os olhos ao ceu, exclama: «Allah,

tomo

te

por testemunha

me

aguas não

de que, se

detivessem, eu

mento do teu santo nome».

um

Foi

as profundezas

d’estas

levar mais longe o conheci-

menos

feliz

na volta, porque

levantamento geral de Berberes envolveu todo o seu pe-

queno exercito, que to

iria

no combate.

foi

completamente desbaratado

e elle

mor-

Mais tarde apparece-nos á frente dos arabes

da África o celebre Muza-Aben-Nassair, o melhor general que os arabes

tiveram

n’aquella epocha,

subjugou as

indómitas

tribus berberes, primeiro pelas armas, depois pela persuasão,

fazendo-lhes ver que elles

do-os para

uma

exercito grande tactica se fico

eram irmãos dos arabes,

civilisação

numero

superior e encorporando

d estes valentes guerreiros.

impellin-

no seu

Com

tal

houve que, passados poucos annos era senhor paci-

de todo o território que se estendia desde o golfo de Car-

lhago até á costa

Occidental,

onde seu ante-successor Okbah

tinha entrado no mar.

Tendo ao

sul o deserto, ao occidente o oceano,

os seus

olhares ambiciosos só podiam voltar se para o norte; do seu pa-


223 de Tandjah,

lacio

o elevado Calpe, o separava

um

a antiga

Tingis

Inje Tanger, avistava

elle

outra columna dTIercnles, da qual apenas

a

estreito braço

montanha havia vastos desejo insaciável de

do mar; para alem d’aquella

conquista, era

a

tão

afamado pelo seu clima, seus

alta

onde o

attrahia o seu

um mundo

desconhecido,

territórios, para

que

mente

lhe phantasiava cheio de encantos e maravilhas,

monumentos;

suas

rios,

era preciso, para gloria do

cidades e seus

propheta, engastar

na coroa do Califa mais aquella preciosa pérola; por isso, pedindo-lhe autorisação para aquella conquista, dizia lhe: é pela belleza do ceu e da terra, o

Yemen

a

Syria

pela doçura do clima,

as índias por suas flores e seus perfumes, o Egypto por seus fruclos, a China por seus

metaes preciosos.

Promptamente o Califa Wayd lhe concedeu a autorisação pedida, porém o astuto Muza, já muito experimentado general, não era

homem

que se aventurasse

primeiro lhe medisse

bem

a

uma empresa sem que

o alcance e decerto se arreceava,

porque, encravada nos territórios, que estava

uma

cidade, Ceuta,

em

cujos

já havia conquistado,

muros tremulava o pen-

dão dos Godos e uas grimpas das suas torres alçava -se de Christo, que as armas mussulmanas ainda não dido derribar. Muza esperava decerto conhecer

a

cruz

tinham po-

com

exaclidão

as forças contra que tinha de bater-se; estava preparado para a

guerra,

mas não ousava enceta l-a, quando inesperadamente

se lhe proporcionou occasião propicia. Juliano, Conde godo, governador de Ceuta (Septem, assim chamada por ser fundada sobre sete montes) entregou aos

Árabes tão

a ci lade,

cujo governo lhe tinha sido

denodadamente havia sustentado

illesa

confiado e que

no meio do avassala-

inento quasi irresistível d’aquelles intrépidos guerreiros, e fez

mais ainda, aconselhou Muza e promptificou-se

Juliano commelleu

a

atacara liespanha, sua patria,

acompanhar

um

crime d

e dirigir o exercito

alta traição,

o escolhido pelo seu governo,

tou se;

elle,

para

defesa

a

a

d aquelle ponto arriscado;

invasor.

deshonrou-se,

como elle,

avil-

valente e leal

que soube até


— 226 — aquelle

momenlo manter

impullula a sua honra e a üa sua pa-

agora ã degradante

desce

tria,

Ou enlouqueceu ou profundo

golpe lhe feriu

nobres sentimentos,

n’ella os

um

condição de

de.

a

vil

traidor

I

ahna, matando

que era dotada e fazendo

ali

nascer ardente paixão de feroz vingança.

A monarchia goda lã

era electiva, no anno 700 da era chris-

Witiza eleito chefe da nação; porem o governo lyranno

foi

que exerceu deu causa

c despotico

nos, fosse deposto e

a

que, passados alguns an-

mesma assembléa que

a

o depoz elegeu

Hoderico, para o substituir; este porem não fez melhor governo,

porque, passado pouco tempo, era grande o numero dos descontentes e muitos até lamentavam jã a

falta

do seu anle-suc-

cessor

do

Aproveitando-se Witiza,

auxiliados por

preparavam no meio

dia da

tio

Oppas,

Árabes e aconselhou Muza

enfraquecida pelas dissenções políticas

mal poderia

Sevilha,

revolta contra Uo-

Ceuta aos

Hespanha, que,

a

em que

se encontrava,

Juliano não pediu ao Wali

resistir lhe.

com

tropas auxiliares para

os filhos de

Juliano entregou

que invadisse

a

geral

arcebispo de

Hespanha uma

occasião que

Foi ifesta

derico.

descontentamento seu

ellas ir

d* África

encorporar se no bando dos

filhos de Witiza, mantendo a sua honra de general fiel á patria, embora adverso ao rei, que então a governavi; não. Juliano desceu á villania de um traidor; mas Juliano não foi subornado pelos

vendeu

arabes, não

uma de

idéa.

um homem,

uma

a

sua honra por

Juliano não queria depor

embora

o

que

ignominia

a

rei,

queria vingar se

tfessa vingança atroz envolvesse toda

nação, que já não considerava

d’ella,

dinheiro, sacrificou-a a

um

representava,

da deshor.ra.

como

havia-lhe

sua. porque o chefe

cuspido na

fronte a

havia o ferido no mais intimo de sua

alma, rasgara lhe o coração, onde se alojava o mais nobre sentimento, o a

amor

paternal.

formosa Florinda,

O devasso

rei violara -lhe

que, segundo o costume dos

sua

filha,

Godos, lhe

havia sido confiada para ser educada na corte. (Chronigup general d’Alphonse,

le

Savanl

Que

lhe importava a elle a honra


- 227 — de general

fiel

á patria, se a

culada pela deshonra de sua via prostituído?

honra de sua família estava mafilha,

que

um

infame lhe ha-

rei

Desvairado, louco, perdido

por aquella dor

immensa, sedento de vingança, não podendo

altingir o alvo da

sua cólera

sem primeiro derribar

os que o defendiam, arroja-se

contra a sua patria no meio das hostes sarracenas, e instiga, e cae sobre seus

que guia

irmãos d 'armas, como no meio de

horrenda tempestade o raio cae sobre o templo, que desmorona e fulmina sacerdotes e crentes,

sem

ter a consciência

de

que aquelle logar deve ser inviolável, porque ali se adora o Deus Supremo, que deu ás nuvens a electricidade, ao homem a fé.

Os Godos não estavam preparados para absoluta, de mais d e

um

século, havia-lhes

aquebrantado o genio guerreiro; alem

sação social não era própria

Os Godos,

a

a

uma

guerra,

paz

enervado as foiças d'islo a sua

organi-

manter uma resistência tenaz.

a raça conquistadora, constituíam a

nobresa do paiz,

os indígenas, a raça ibérica, estavam quasi todos reduzidos á

não como os escravos romanos, consi-

condição de escravos;

derados como coisas,

mas

adestriclos, escravos da

em

gados ao solo que cultivavam transmissíveis

com

como um

elle

gleba,

li-

beneficio de seus senhores,

como um

capital amovível,

rebanho de gado: por isso os interessados na defesa do paiz

eram só os senhores,

isto é,

os Godos e alguns

Romanos que

se haviam subrnettido a estes e que tinham conservado os seus

bens; o povo meudo, a plebe habituada ha mais de mil a unos a soíTrer

este

o jugo dos estrangeiros, pouco lhe importava servir

ou aquelle senhor; talvez até podesse melhorar.

o povo de

uma nação não tem

interesses directos e

Quando

bem

radi-

cados na defesa do solo natal, essa nação assenta sobre bases vacillantes,

desmorona-se ao mais leve impulso, assim aconte-

ceu á monarchia goda, nós

um

dia;

tal

sorte teve a Rolonia e

tal a

teremos

não porque entre nós haja escravos da gleba ou

mas porque são

pesados os tributos que recaem sobre os pequenos proprietários, que constituem a

outros;

tantos e tão


grande maioria da nação, que, se u;n

chamarem

ás armas, para

ponder lhes como o burro da fabula: Quid

vam?

que governam os

dia os

defesa da patria, elles [rodem resreferi

mei cui

<htm portem meas.

Chlell ts

Muza. apesar da grande facilidade que Juliano lhe na conquista

fazer ver

não quiz

d Il.rspanha,

empresa sem primeiro se

esta

sir-

queria

aventnrar-se

a

ou não verdade

certificar se era

o que o renegado christão lhe afíirmava, por isso

mandou

al-

guns guerreiros para explorarem o terreno; estes atravessaram o estreito

em

lhes alguns

barcas,

surprehenderam os Godos

rebanhos e homens, que levaram

e

tomaram-

captivos e as-

signalaram o ponto da costa mais apropriado paia o desem-

barque de forças.

Foram

favoráveis as

noticias

que o velho

general obteve dos seus e dos captivos, mas, ainda assim, só na primavera do anno

seguinte (711)

fez

para a

transportar

península hespanica o exercito invasor, cujo cominando confiou

ao

celebre

Tarik Aben Zyad,

indo desembarcar

O governador

a

quem

em uma pequena da província,

acompanhou,

Juliano

ilha

ao pé do Calpe.

Theodomiro,

a

quem

a

expe-

dição do anno anterior tinha posto de prevenção, quiz oppor-se

do monte, mas

á descida tificar se tar.

foi

derrotado e os Árabes foram for-

no outro monte proximo, Dejebal Tharyk, hoje Gibral-

Theodomiro reuniu mais tropas e

monte, pretendendo repellil os para

foi

cercal-os naquelle

a África;

dou incendiar os navios que os tinham

transportado, tirando

assim aos seus soldados toda a esperança de frizar lhes

bem

o seu plano:

aquello impelo irresistível

mava

uma

morrer ou vencer;

com que

cahir sobre o inimigo,

então Tarik man-

a cavallaria

arremessou se

retirada; era

depois

arabe

com

costu-

contra as fileiras

do exercito de Theodomiro, que rompeu e poz

em debandada;

e os Árabes foram avançando pelo sul e oeste da península.

Tendo pelos mensageiros que lhe foram enviados por Theoello mesmo, conhecimento dos desastres

domiro, ou talvez por

que se iam succedendo, Hoderico despertou do seu lelhargo, reuniu o maior numero de

soldados

que poude angariar na


229

'

sua vasta monarchia

e,

acompanhado de toda

á frente delles,

üs dois exér-

nobre? a goda, marchou ao encontro do inimigo

a

nas margens do

citos avistaram-se

ce que

rio

Lelheu, hoje Guadalele,

bem determinada

perto de Xerez; não está

no mez de julho do anno 71

foi

1,

a data,

mas pare-

em um domingo

ao

romper do dia, que começou a terrível batalha, que decidiu a sorte da Hespanha goda. Segundo a narrativa arabe, esta luta encarniçada e feroz durou tres dão lhe uma semana; é decerto

dias; os chronislas

um

exaggero.

Ali

hespanhoes

pereceu o

rei

uma grande parte da nobreza e com elles a mouarchia goda. la quem diga que Roderico não morreu na batalha, que ponde

e I

salvar-se a custo e

foi

acabar seus dias encerrado

cm um como

vento na Galliza, fazendo penitencia e morrendo

con-

santo.

Os Árabes affirmam até que a sua cabeça fui enviada ao Califa embalsamada em camphora. Seja como for, o que é certo é que aquella memorável batalha foi decisiva e que nem o rei

nem nenhum

dos seus generaes apparece mais

em campo a que

rer tolher o passo ao exercito invasor, que rapidamente se espalha por quasi toda a península;

um

apenas Theodomiro conservou

simulacro de independencia nas suas terras de

os Árabes

chamavam Terras de Tadmir;

só Plagio

M ureia, com

que

os que

o seguiram e outros que depois se lhes foram juntando con-

servaram uma independencia absoluta

no meio das espessas

brenhas das inhospilas serras das Aslurias.

onde, na embos-

cada da Covadonga os Árabes solíreram o primeiro revez, que lhes infligiram as

Em cito

seguida

em

armas dos christãos.

á batalha

tres corpos,

do Guadalele, Tarik dividiu o seu exer

cujo cominando

sua confiança, seguindo

um

entregou

a oíliciaes da

pelo occidente e outro pelo oriente

e elle pelo centro; aos chefes

d estes corpos do

commcndou: que não commeltessem

violências,

exercito re-

que não cau-

sassem prejuízos, que não ferissem senão o inimigo armado e que não levantassem despojos senão do campo de batalha. Avalia-se

em

quarenta mil

homens o

embarcou na península; para vencer

exercito arabe que desa batalha

que lhe deu o


— 230 — dominio de Hespanha, devia

em

isso dividido

quena

tres

ter perdido

bastante gente; por

grupos devia cada urn d

força; pois, apesar d’isso, os

eites ser

de pe-

Árabes tomaram sem

tência todas as cidades que foram encontrando;

resis-

depois estas

forças reuniram-se para irem pôr cerco a Toledo, a antiga Urbs Toletana, que se recusou a abrir as suas portas a Tarik: esta e

tentaram uma resistência

poucas mais praças fortes

inútil,

sendo os vencedores sempre generosos para com os vencidos e não causando damno algum nas povoações que conquistavam. Muza, cioso da gloria de Tarik, veiu também á península para tomar parte n'essa gloria e seguiu um caminho diííerente de aquelle que havia seguido o seu predecessor,

o occidente; depois d

romana da

um

caminhou para

curto bloqueio tomou a antiga cidade

Bélica, lli<palis,

que os arabes chamavam

e depois os hespanhoes Sevilha. tomou Carmona,

dida pelas suas altas ã Lusilania

muralhas e

forte posição; depois

meridional, que submelteu

(Viardol - Jlisloire des Arabes

el

bem

sem combate nem

Esbilia

defen-

passou cerco.

des Mores).

De todas as cidades da península, que a historia menciona, tomadas pelos Arabes, nem uma só foi destruída, apesar da forte e tenaz resistência que algumas opposeram aos invasores; entre ellas Merida, a antiga cidade augusta

(

Eméritas Augusta

dos Komanos), Saragossa e muitas outras; nem mesmo Sevilha quando ousou revoltar-se. • Como conceber que viessem aqui destruir a Nabancia, assente sobre

defesas naturaes,

que haviam

como

elles

é natural, passado por Evora, Beja, Lisboa,

resistir?

faziam

uma

adquirindo,

raso,

sem Por-

de destruir esta e não outras, tendo antes,

outras cidades da Lusilania

rem

um campo

que fraca resistência poderia oppor?

em

Santarém e

melhores condições de pode-

Os Arabes não faziam uma guerra de extermínio,

guerra de conquista, queriam usofruir o que iam

não o destruíam

em

prejuízo proprio;

contenta-

vam se em impor aos vencidos um tributo e nada mais. 0 que destruiu aquella cidade não foi o ferro dos conquistadores, nem a abrazou o incêndio, principal meio de destrui-


mas sim oulro agente des Imidor não menos poderoso, não menos formidável por certo. Não o diz a historia das nações, mas dil o a geologia, que é a historia do globo. Examinemos o local onde foi a antiga Nabaução, iToutras epochas muito usado;

cia e

estudemos

a

natureza do solo; que encontramos

reno dalluvião, calhau rolado (seixos), nosa vinda d outra parte, porque

d’elle

subterrados

encontrados feitas

em

silica e argilla

Ter-

ferrugi-

geológica de

a constituição

lievolvendo esle terreno é por

aquella localidade não é essa.

debaixo

lá ?

que se teem encontrado os restos da antiga cidade,

ali

a

maior ou menor profundidade; é

fragmentos de

pedaços, talvez

com

o cboque

que foram

derribadas e

columnas

estatuas,

moedas,

da queda,

cobrem os escombros de prédios demolidos, cobre-os uma camada espessa de

telhas,

moengas,

cadinhos, etc., e não os

terreno, arrojado para

parecem

cinzas,

nem

talladas pelo fogo; não

ali

por

uma corrente nem pedras

carvões,

não ap-

violenta;

calcinadas ou es-

pois este o elemento destruidor.

foi

em um

ponto d aqnelle local abateu ha

annos o terreno e viu se uma

abobada; esta abobada era de-

Como

já referimos,

alguma casa ou sustentava o pavimento nobre de algum palacio; entupiram o buraco que se abriu, nada se explorou, por isso ficou-se sem saber a que certo a parte superior de

servia; tinha sobre

si

uma camada de

guns metros de espessura.

Quem

a

terra de alluvião de al-

d algum monte sobranceiro lentamente arrastada

pluviaes? Não, porque cente

uma pequena

tal

collina

monte não

valle

local são

pelas aguas

existe. Corre-lhe ao nas-

denominada Palhavã

e

Corredoura

tinha primeiro que en-

vir de lá, porque que se mette de permeio e os enxurros n’aquelle

do Mestre, não podia cher o

Desceu

levou para ali?

arrastados

para o sul pela

corrente do Hibeiro das

Cannas, que antigamente se chamava Effon ou Evou

;

este

ri-

beiro não tem nascente própria, só leva no inverno a agua que

remanesce dos pontos mais elevados, recebe as aguas das chuvas, principalmente da vertente

que lhe

fica á

esquerda,

por

ser esta de muito maior area e condul-as rapidamente para o


— 232 — que lhe corre ao poente; ao norte

rio,

e sul estende se o valle

do

Nahão. Portanto aquelle alluvium não podia ser formado pela acção repetida das aguas pluviaes. contíguo ao

fica

local,

No cemiterio

mencionamos, as sepulturas abrem-se fundidade;

publico, que

onde se encontraram os objectos que

metros de pro-

a dois

quasi no fundo delias tem-se encontrado

grande

quantidade de pedra de alvenaria, formando grossas paredes e grandes cunhaes, muito

bem

apparelhados; esta pedra tem

sido aproveitada para a construcção de mausoléus; ainda não

ba muito

ali

deitado sobre rancar.

Ao

foi

um

sepultado

uma grande

lage,

indivíduo, cujo

cadaver

que o coveiro oão poude

foi

ainda ba pouco encontrada

uma

casa subter-

rada até meio d’areiae seixos, que o dono do prédio d

para

ar-

lado da azinhaga que passa junto á egreja de Santa

Maria pelo norte,

hiu

ficou

vender e no

fundo encontrou

uma

cxtra-

ali

com um

lage

lavor muito singelo, que deu bastante trabalho a tirar de

lá,

por

ser muito pesada; ainda ba poucos dias tivemos occasião de ver aquella pedra, que não

bem

a

tem inscripção alguma nem se sabe

que servisse. Todos estes restos da antiga cidade leem

sido encontrados casualmente, nunca n aquelle local se fizeram

explorações, se se fizessem decerto muitas mais preciosidades e

documentos históricos se haviam de encontrar.

A egreja que boje

ali

se vê não é decerto a primitiva egreja

goda, essa devia estar muito arruinada e subterrada

(piando

os Templários vieram estabelecer-se ifesta localidade e encon-

trando aqui os restos de

um

tencido a seus antepassados, laural-o; para isso tiveram

templo christão, que havia perei a

muito natural quererem res-

que desaterral-o para sobre o seu

pavimento construírem o que boje

existe, o

que se

escadarias que tiveram de fazer paia se descer até é natural que,

dou

quando

S. Friicluoso,

edificar a egreja e o convento,

vê, pelas

ali

Não man-

uma

esca-

elle.

segundo consta,

mandasse

íazer

vação para deixar aquelle edifício meio escondido debaixo da terra, sujeito a infiltrações

acima do nivel do seu

e a porta principal da egreja muito

pavimento, o que

embaraça

a entrada


— 233 — e sabida dos rios

e é desusado.

fieis

Foram por

certo os Templá-

que tiveram que desaterrar para aproveitarem

base da

a

como sagrado, porque ali mortaes de muitos dos monges do

cujo solo tinliam

primitiva egreja,

deviam repousar os restos

antigo convento e sabe-se quanto ainda n’aqiielle tempo se ve

ueravam as sepulturas dos ebristãos

principalmente as dos

e

em

martyres e as dos monges, que viviam Cerca de

um

kilometro ao sul da

santidade.

Sanla Maria

egreja de

observam-se umas ruinas, ás quaes impropriamente se dá o

nome de

um

ruinas da Nabancia; estavam

Quando

metro de profundidade.

cova para

uma

plantar

oliveira,

umas pequenas pedras brancas

subterradas

a

mais de

se abriu, ba annos,

no fundo d e pretas

elia

em

uma

appareceram

formi de paral-

ielipipedos; o dono do prédio, que se achava presente, m>n dou escavar com cuidado e notou que formavam um mosaico, que deixou a descoberto; divulgada a noticia foi o local visitado

Mais tarde continuaram as

por muitos curiosos. n

uma

arca

de

trinta

um

á profundidade de

de cobre, pesos

escavações

metros quadrados approximadamente e

feitos

a dois

metros; encontraram-se moedas

de argilla cosida

(tejolos),

vários utensílios domésticos, alicerces de easas,

quenas dimensões, não excedendo

em

moengas

e

todas de pe-

geral o seu pavimento

a quatro metros de superfície eaigumas ainda mais pequenas,

todas

delgadas com trinta e o

de paredes

máximo quarenta

centímetros de espessura, o que mostra qne se não elevavam a grande altura; ruas estreitas,

com pouco mais de

dois

me-

tros de largura, algumas ainda calçadas com seixos; colurnnas de pedra cylindricas com vinte a trinta centímetros de diame tro e dois

metros d altura pouco mais ou menos,

capiteis muito singelos;

encontradas entre

de

freiras;

espessos

a

em

com

egreja de Santa Maria e o antigo convento

restos de colurnnas, tejolos,

todas

nada se assemelham ás que foram

também

cylindricas.

feitas

talhados para esse fim e assentando

de

sobre

sóccos de pedra tosca; estas colurnnas decerto não eram desti-

nadas

a

sustentarem pesadas

abobadas ou arcadas, mas sim


singelas varandas ou

na frente de pobres easas,

simples

al-

pendoradas; muitas fornalhas, algumas ainda com cinzas e canos d esgolo construídos de alvenaria.

O que

se vè de mais

ali

notável é o pavimento de mosaico a que nos referimos; tem

forma elyptica, é uma elypse cortada por

um

a

plano perpendi-

cular ao meio do seu eixo maior; é na linha traçada por este

plano que devia ser

a

entrada para

aquelle recinto;

ainda

está a soleira da porta, de pedra mal apparelhada, não condi-

zendo com o

em

saico é

não é da primitiva; aquelle mo-

interior, decerto

toda a volta orlado de

uma

cercadura,

também

feita

de pedra meuda branca e preta, que é realmente bonita; o interior está muito damniíicado, não só porque na occasião das escavações se arrancaram algumas pedras,

que pelos que as

interstícios

Aquelle recinto,

aluiu.

mas também

das que existem tem rebentado [tela

a

por-

herva,

forma que apresenta, pa-

com uma cupula abobadada. A deterininal-o com exactidão; porém,

rece deveria ter sido coberto

que serviria? Não é facil examinando bem o que ainda boje ali se pode observar, vè-se que aquillo não era um burgo da antiga cidade romana, nem granja de algum rico proprietário; as casas todas de pequenas dimensões, independentes umas das outras, a grande quantidade de fornalhas próprias para aquecer agua, o grande nu-

mero de canos d’esgolo para a vasarem, depois de ler servido, o uso frequente que os romanos faziam dos banhos, tomando-os frios, quentes, de vapor, simples ou aromatisados com essências odoríferas, faz lembrar que ali seria, no tempo da cidade romana,

um

estabelecimento balnear contiguo á

mesma

tanto mais que logo acima da ponte das Ferrarias ba na

esquerda do

rio

um

buraco qnadrangnlar leito

que

do Nabão deve estar

tinado a derivar por

por

pedaço de

uma

valia

ali

boje,

tempo dos Itomanos

foi

muralha na qual se abre pela continuada

já coberto

com

parle da agua do

ou cano seguia

um

a

cidade:

margem

a areia; rio,

um

elevação do

parece des-

que, conduzida

direcção daquelle local. Se no

estabelecimento

balnear é muito

provável que os Godos, menos conhecedores da hygiene e me-


— 235 — asseiados, aproveitassem aqucllas casas para habitações e

tios

<pie

ali

constituísse

se

um

bairro pobre da

Estas escavações pararam por

Nabancia goda.

continuassem é provável que mais descobertas se fossem fazendo, porque quasi contíguo

logo do outro lado da estrada que

a ellas,

tem-se encontrado

com que

ali

passa,

grande quantidade de pedra de alvenaria,

o dono do prédio fez casas para sua habitação e ainda

ba pouco

O

se se

ali,

tinha

algumas pilhas d

elia.

terreno n'aquelle local apresenta

o lado do

rio,

lar se ali;

tem

tem por

um

certo declive para

isso tendencia a fugir e

pois baixado e não subido.

No

não local

aecumu-

a

mesmo de

oquellas minas existem ainda algumas oliveiras, que o dono do prédio não consentiu que se arrancassem e que ali estão

attestando a sua longevidade pelos carcomidos troncos; decerto

foram plantadas ou enxertadas

ram

berto; estas oliveiras

do

em

zambujeiros, que

depois de subterradas as minas que boje

teem ocollo da

raiz

nasce-

a

desco-

estão

muito acima do nivel

tem fugido, arrastado pelas aguas plnviaes; portanto aqucllas minas só podiam ser cobersolo,

o que prova que

elle lhes

tas por fortes alluviões, trasidas para

do

ali

por grossa enchente

rio.

Dos

factos

uma conclusão mas pode bem acontecer

que deixamos expostos deduzimos

que se nos afigura de verdadeira,

que ás nossas investigações escapem elementos essenciaes e conducentes a outra ordem d idéas ou que por mal interpretados aquelles, em que firmamos a conclusão a que chegamos e que vamos apresentar, convicção nossa,

ella,

seja errônea;

em

vez de verdadeira,

se o for, os que

como

é

mais sabem

que nos mostrem os erros e esclareçam a verdade, unico fim que deligenciamos atlingir. Não foi a Nabancia destruída pelo ferro dos conquistadores, nem a devorou o incêndio; mas um d’aquelles phenomenos que frequentemente se estão observando em differentes pontos do globo e de que ainda ha pouco foi viclima a nossa visinha

Hespanha, uma

forte

innundação destruiu aquella antiga e ou-


— li

or a

— florescente

cidade;

passou por

sobre

um

ella

d esses

meteoros terríveis, que subvertem, que destroem tudo quanto topam na sua marcba assoladora, a tempestade. Acções e reacções, civel;

uma

que se

tal

lula continua; a

é o

modo de

mundo cognos-

ser do

mollecula que vibra, o corpo celeste

desloca no espaço,

lutam incessantemente,

porque

a

luta ê o encontro de forças e os seus movimentos resultam de

esse

encontro; é elle

que

produz

phenomenos cosmicos. O nosso psychica, que possa existir

subordinado ás

a ella, está

o

mundo

sensível,

transformar

em

Se aqucllas

foi

tra-se fóra do a

um mundo

harmonia,

a

espirito,

ordem dos

a

embora uma entidade

fora

da matéria, emquanto ligado

leis

physico chimicas, que

regem

porque as percepções, que elabora para as

juizos

ou

raciocínios é

que as recebe.

d’elle

ças se desequilibram, se se desordenam, encon-

meio que lhe é proprio, como que transportado estranho; d aqui o pavor que nos causam certos

phenomenos accidentaes que não entram na ordem regular dos successos do mundo em que vivemos. A tempestade é um d esses phenomenos; resulta do encontro de forças enormes

com intensidades deseguaes, que, acluando no envolucro aereo do nosso globo, geram nelle como que um ser monstruoso, que avança, recua,

rasteja,

eleva-se, paira, açoita,

cera, esmaga, mala, fulmina, destroe

n’um mundo desconhecido, cahutico, vezes umas como risadas sarcasticas, uivos,

!

No meio infernal. gritos,

r

d

fere, dila'elle

estã-se

Ouvem-se ás

ugidos, roncos,

bramidos Monstro informe e horrendo, cuja cauda

e derriba, cujas espiras

açoita

comprimem, esmagam, estalam; cujas chammas. A tempestade, tromba

fauces dardejam raios, vomitam

ou cyclono, muito provavelmente veiu do oceano, que não

(ica

com mais violência ao norte da cidade e passou por sobre ella como o anjo exlermiuador. A bacia hydrogi apliica do Na hão tem uma grande area, as aguas aflluiram a elle em enorme quantidade, tomaram um volume extraordinário e batendo com violência d encontro aos montes, que se elevam na margem direita, deviam reflluir com longe, desencadeou se


- 237 — impelo

ingente sobre

só escaparam

mais solidamente

offereceram maior resistência, cados.

innundando-a e arrasam]) a;

a cidade,

os prédios

esses

construídos, que

m

mesmos

damnifi

iito

Dos seus habitantes decerto muitos deviam perecer,

mas outros escaparam mais elevados. Passada

á catastrophe,

fugindo para os

pontos

tormenta os que poderam salvar-se

a

viram destruídas ou muito arruinadas as suas habitações, ani culturas, as arvores

quiladas as suas

arrancadas, derribadas corrente até

aravel arrastado pela

ou estroncadas, o terreno

ao subsolo e substituído por areias, seixos e cascalho, comple-

tamente estereis, só podendo tornar se productivo pelo decor rer de muitos

enchente.

Km

a

unos; os seus gados

mortos ou

voridos e foram estabelecer se

em

levados pela

fugiram espa-

vista de tão horrorosa desolação

pontos mais elevados, cul-

tivando outros terrenos; talvez Palhavã, o logar da Pedreira e

outros povoados no cimo dos montes circumvisinhos, cuja ori gern hoje se não conhece, sejam devidos a irem

ali

estabèle

por que o amor pátrio esse elo inquebrável que nos prende á terra onde nascemos: cer-se

outros

alguns nabanlinos,

ma

s

ali

releve

audazes, mais desprendidos d essa atTeição aos

la-

res pátrios, iriam para longínquas paragens procurar os meios

de sua subsistência. lassem ao

local

K’ naturalíssimo

que alguns d

elles vol

da cidade e fizessem escavações procurando

colher o que de algum valor escapou áquelle horrível desastre.

Sabe se o

eITeito

terrível das

aguas torrenciaes,

em

uns

formam morros, que aterram; em rapida escavam, abrem ravinas, der-

pontos, onde redemoinham, outros,

ruem res;

onde

a

corrente é

pelos fundamentos as casas, arrancam pela raiz as arvo-

assim devia acontecer

ali;

prédios houve que foram sub*

terrados, dos quaes ainda hoje se encontram os restos; outros

escavados pelos alicerces,

Em

nem

d 'elles resta vestígio algum.

que epoclia leve logar este cataclismo não é facil de não temos tal pretenção, nem poderiamos tel-a:

terminal o:

apenas timidamente nos abalançamos

tempo dos Go

los

ou durante

a

a

uma

idéa.

Seria no

dominação arabe? Parece nos


mais rasoavel

segunda hypothese, porque decerto os Árabes

a

permaneceram algum tempo por esta localidade; deram ao rio o nome arabe, que já tinha quando os Templários vieram fundar o castello; alguns logares aqui proximos ainda hoje conservam

denominação arabe, taes como: Almoinhas,

a

Almoga-

Aljuslrel,

del e outros; e a historia diz nos que os porluguezes sotfreram

revez junto

Thomar

a

povoação, se

bem

rece que

foi

em que

por 1136, pouco ali

rio

ou o que

fazer,

este revez teve logar,

combater

infiéis

mas pa-

Que foram os

mais ou menos.

tendo que abrir caminho pelo

brenhas e cerrados bosques?

espessas

um

dariam á

ainda existia, o que é provável). Não se sabe

ella

ao certo a epocha

porluguezes

nome do

(talvez o

meio de

Conquistar terras e

era a sua divisa; logo se

ali

foram naquella

epocha é porque sabiam que havia lá terras a conquistar ou inimigos a combater; inimigos encontraram-os e em grande força

deviam ser para derrotarem

ros;

em

terras não se

repellidos.

Eram

falia,

a pielles

foram

então os Árabes senhores de Santarém e os

Templários tinham o castello de Leiria, alto

afamados guerrei-

o que não admira porque

construído sobre

monte de ophilo, que as convulsões da crosta terrestre

fizeram sahir e elevar-se sobre

outros

terrenos de

formação. A defesa d’esle castello, que era

um ali

ulterior

uma guarda

avan-

çada dos de Coimbra, tinha sido confiada ao valente Payo Gutterres,

que apesar da sua heroicidade o deixou cahir

em

poder

dos Sarracenos. Foi, pouco depois, reconquistado pelos christãos.

Eram

pois os

campos que medeia vam entre

Leiria e San-

tarém que deviam ser tallados por uns e outros inimigos; por

ali

foi

que seguiu D. AfTonso Henriques para a tomada de

aquella cidade.

Um

desvio dos porluguezes para

leste,

vinda

Thomar, onde foram derrotados, só se explica pelo conhecimento que elles tivessem da existência d uma povoação n’esta

a

localidade e vindo

atacal-a

pretendessem chamar para aqui a

altenção dos Sarracenos e desviai

a

do castello de Leiria. Sup-

por que elles tomassem este caminho para irem atacar Leiria

ou Coimbra, c

que os

porluguezes,

tendo

conhecimento da


— 230 — sua marcha, lhes viessem ao encontro para tolher- lhes o passo,

não é rasoavel, porque outros pontos mais

proximos

e

mais

apropiados tinham estes nos desfiladeiros das serras que os

Sarracenos haviam de

chegarem

atravessar para

qualquer

a

daquellas fortalezas. Ha pois uma certa probabilidade da exis

tempo dos Árabes; e se foi depois da a Thomar e com certeza antes

tencia da Nabancia no

derrota dos portuguezes junto

da vinda dos Templários para aqui que

uma

horrível tempes-

tade destruiu aquella povoação, não nos consta que as chronicas

mencionem o

facto, o

que

não admira, porque

christãos pouco interesse tinham

voação sua e os Árabes, cia,

em

já no ultimo periodo

não se entretinham com pormenores;

desastres,

os chronistas

narrai o, por não ser po-

da sua decadên-

alem de que estes

em geral, só se mencionavam nas chronicas, quando uma calamidade publica. Einfim é um ponto obs-

constituíam

curo da historia desta cidade, que não podemos esclarecer. Qual era

nos parece

a

facil

posição topographica da antiga Nabancia ? Não

determinai

a

com

appmximação, marcar o Maria, Palha vã,

local

extremo

sul

porém uns com alguma

exaclidão; temos

certos pontos fixos, partindo dos quaes poderemos,

onde assentava. São da Corredoura do

estes, Santa

Mestre e as

que se encontram ao sul de Marmelaes. Ligando poi meio de linhas a ponte das Ferrarias com Santa Maria e com ruinas,

as ruinas, tirando outra linha de Falhava ao fim da Corredoura

do Mestre e ligando os seus extremos com aquelles dois pontos,

temos traçado

um

pentágono irregular; é dentro d este a area da antiga ciA ponte das Ferrarias era evidente-

polygono que devia estar comprehendida dade. Vejamos porquê.

mente uma ponte romana, (Santarém) passar transito,

a

fazia parte

Conimbrica (Coimbra);

ao norte da

da via latina de Scalabis a

sua directriz não devia

Nabancia, deixando

mas sim approximadamente

esta cidade

pelo centro.

mosteiro henedielino, hoje Santa Maria, não

da cidade, porque os

antigos

foi

fóra

O

edificado dentro

mosteiros eram sempre

truídos fóra das povoações, para que o buliço

do

antigo

d’ellas

cons-

não po-


2'»0

perturbar

ílésse

se construíam

a

paz monaslica;

dentro dos

até

um muro

mais retirado e cercavam as com portanto

aquelle

mosteiro devia

um

as

um

se

sul.

Somos

observam

e:n

no tempo

um

pois levados a crer,

dos extre-

com uma

se estendia pelo

certa

terreno que

chama Marmelaes de Cima, desde o ponto onde

boje se

está

de cortumes e Quinta do Maia até ás ruínas, subindo

a fabrica

talvez

logar

bairro pobre no dos Godos,

decerto não formavam o centro da cidade, mas

probabilidade, que a Nabancia

em

mas um pouco

minas que

estabelecimento balnear

dos Romanos, ou constituíssem

mos, o extremo

egrejas que

para as isolarem;

ficar perto,

afastado para o norte, visto que as

Marmelaes, ou fossem

mesmo

povoados eram sempre

Palhavã e prolongando se

perto de

até

pela

encosta

poente da Corredoura do Mestre, E’ entre a egreja de Santa Maria e o antigo

Convento de mon-

chamado Convento das

jas de Santa Clara, hoje

Freiras,

que se

leem encontrado pedaços de grossas columnas, fragmentos de estatuas, etc,; as chronicas que se referem a Sanla Iria, dizem que era n aquelle local o palaciodo Conde de Castinaldo. governador da cidade; não quer porém

tivesse

prova-o

isto dizer

que

cila

se estendesse

morada de Castinaldo, e talvez já a sido de Valerio Máximo, eslava decerto fora da cidade; que

atéali; este palacio,

a existência

foi

dos dois mosteiros; seria escolhido o local

por miis

bem

mas

do borburinho delia, cercado, por certo, d’uma area

fóra

de terreno

exposto, melhor ventilado, próxima da cidade,

(pie se devia

estender até ao

rio,

ques, jardins, alamedas, hortas e pomares;

pestre

mas

luxuosa,

vestígios que delia se

principesca,

como

leem encontrado.

própria para par-

uma

ainda o

vivenda camattestam os


LDELLAS E

(MORDIA

BEZELGA

:

aliam os historiadores de tres cidades antigas nas

Eram dia e

immediações da Nabancia.

ellas Bezelga, Caldellas e

dizem que formavam

eíTectivamente

tirando

Bezelga para o

sitio

e das

um

uma

onde

extremidades

foi

Concór-

triângulo; linha

de

Concordia

d’esta linha duas,

que vão convergir no lugar que ainda hoje se chama Caldellas e onde ainda se encontram vestígios da antiga povoação,

temos formado

um

triângulo escaleno, isto

accordo, agora do que não

Bezelga tivesse Bezelga

foi

em e é

approximadamente

podemos convencer-nos

qualquer tempo sido

desde remotas eras a oito

kilometros

a

de lados

é,

V

Até aqui estamos de

deseguaes, sendo o maior o primeiro.

uma

um

é de

que

cidade.

logarejo,

que

fica

noroeste de Thomar, já

quasi no pendor da alcantilada serra de Fungalvaz (que talvez

queira dizer, fundo dos valles), na

do mesmo nome

e

de Alvaiazere para

onde

a

a serra

margem

direita da ribeira

cadeia de montanhas que

dWyra. forma

um

caminha

recanto. Pela sua

posição topographica e naturesa do solo vê-se que nunca n’aI


— 242 — se po liam

quelle local

ter

dado

as condições

necessárias á

existência de uma povoação importante. Para <pie n uma certa localidade se possa accumular uma

população numerosa é preciso ou que o solo cultiva vel pela sua extensão e fertilidade lhe forneça os meios necessários á sua subsistência, ou então que possa auferil-os de qualquer industria

que o

Nada d 'isto

local lhe proporcione.

se podia dar.

ali

Para o norte e poente o terreno é alcantilado, formado de rochas calcareas estratificadas, dentre cujas a

fendas só rebenta

urze, o rosmaninho, a murta, o bucho e o zambujeiro; para

o sul corre o estreito

valle

em

da ribeira,

apenas pequenas hortas, que regam com

cujas

margens ha

agua extrahida delia

a

por meio de gaivotas, trambolas e noras arabes e a agua d’esta ribeira só

pode no inverno servir de motor

a

algumas azenhas;

no verão escasseia e mal chega para as regas; para o nascente

estendem-se

em pouco

elevadas collinas e estreitos va lies os

terrenos da freguezia de S. Silvestre, pela maior parte de natureza calcarea, pobres

em humus

e

phosphatos, por isso muito

pouco produetivos, é uma das freguezias mais pobres do concelho; os habitantes da localidade

proprietários abastados não os ha solo os alimentos necessários,

meios de sua subsistência. mineira que

Não

lia

Um

ali

Também

algum de minas e

não lhes fornecendo o ir

longe grangear os

não podia ser

a industria

uma população numerosa. a naturesa

do solo

faz

ver

sul

d’aquella

pequena povoação existe ao qual dão o nome

um

forma de cone truncado,

Outeiro da Cevedadc; ignoramos

mas alguns rivado

e

existiram.

pouco ao

em

ali;

leem que

altrahisse e fixasse

indicio

que nunca

monte

ali

vivem todos do seu trabalho;

a

escriptores, julgando talvez o termo

do genitivo

imaginaram

ali

uma

de

origem d esta denominação,

latino civitatis e,

Cevedade de-

desconhecendo o

local,

antiga cidade, cuja existência ê impossível

pelas rasões que apresentamos.

Correm, res:

ha

a respeito

d’aquelle monte, varias lendas popula

ouro aos montes transformado

em

pedras com que


— 243 — os pastores atiram ao gado; é a habitação de mouras encantadas; estão

ali

escondidas riquezas enormes; tem

ças populares nunca são primitivo,

ali

desconhecida e levado cargas d ouro,

noite, gente

desliluidas de

que lhes deu origem,

vindo, alta

As cren-

etc.

fundamento,

o facto

perdeu-se no decorrer dos

séculos; mas, no espirito do povo continua ainda a acluar, por

transmissão,

mente

uma impressão vaga, indefinida, que elle, na sua sem critério, phantasia e traduz em crenças

inculta e

ahsnrdas.

E’ raro

que

em

qualquer logar assim afamado de

apparição de almas do outro mundo, de habitações de mouras

em remotas

encantadas, etc., se não tenha dado, coisa de notável; e

tivemos occasião de, por mais de

monte

e

alguma

eras,

Haverá talvez quarenta

deu-se.

ali

uma

vez,

annos

examinarmos aquelle

notamos que na sua parte superior existiam alguns

vestígios de muralhas

em

o que nos fez suppor que

forma circular, como que elle tivesse sido a

a coroal-o,

séde d’um castrum

romano. Mais adeante, ao norte do lugar de Hezelga cerca de

um

kilometro,

onde a serra forma

laboleiro ou socalco, existe

pertenceu pular, e o

uma pequena

um casal denominado

esplanada,

Casal da Torre;

uma familia nobre, a dos Gamas; é tradicção ponome o indica, que ali houve n outros tempos uma

a

torre ou fortaleza;

era decerto

um

posto avançado ou atalaya

dos romanos. Sabe-se, e já d isso falíamos, que os Lusitanos opposeram durante muitos annos forte resistência ao dominio dos Homanos

não lendo

e,

tão disciplinado

como o

um

exercito tão

bem armado nem em campo

delles, não podiam bater-se

raso; por isso, aproveitando as defesas naturaes do paiz, refu-

giavam-se nas serras; era de

que se defendiam e

também que muitas vezes

os invasores foram

grandes

muito natural que os

perdas.

E’ pois

construíssem á entrada fortificados para

d aquella serra

poderem invernar

um

e para

foi

repellidos

de

com

Komanos

ali

castrum e pontos

que

nência naquelle ponto obrigasse os Lusitanos

a

a

sua perma-

não descerem

d’aqueltes logares inhospitos, onde decerto lhes havia de escasseiar a agua e a comida, tentando vencel-os por este

meio ou


— 244 — uma

leval-os a

coutavam com

O

accão decisiva,

em

pela sua superioridade,

fjue,

a victoria.

lugar de Bezelga, cuja antiguidade remonta a tão afas-

tadas eras que se

llie

não pode fixar

a data, é

em que

que tivesse sua origem na epocha

por

muito provável

ali

estacionaram

os Itomanos; ou que as gentes não combatentes, que

nliavam os exercitos

acompa

construíssem algumas habitações ou

que alguns dos Lusitanos, menos ciosos da sua independencia, e talvez antes obrigados pela necessidade, se

submeltessem e

fixassem n’aquelle lugar sua residência, ao abrigo do poderoso exercito invasor.

CALDELLAS A sudoeste

menos

e

um

Magdalena,

de Tliomar, cinco

ao sul do lugar de

kilometros pouco

Cem

Soldos, na freguezia da

da ribeira de Bezelga para

afastado

cerca de quinhentos metros ha

um

local,

de Caldellas, onde se diz que existiu

mais ou

a

esquerda

conhecido pelo

uma

nome

antiga cidade assim

denominada; alguns dos homens antigos daquelles sitios dizem por tradicção que a cidade se chamava Caldeu, cujo nome depois por corrupção se

nome

transformou

cm

Caldellas.

Não pode esle

derivar de caldas ou aguas lhermafcs, porque por

ali

não

as ha.

Em

creança

contava-nos

nosso creado antigo,

a

um

velho

d'aquella

seguinte lenda: que

a

localidade,

cidade de Caldeu

era dos mouros, que o governador d’ella linha duas filhas muito

formosas e que

um

príncipe

muito poderoso,

filho

do

rei

de

uma occasião, as vira senladas no seu balcão, uma a fiar ouro em uma roca de prata e a outra a dobar as meiadas em uma dobadoura de marfim. O príncipe, enamorado da sua belleza, pediu ao pae em casamento uma Castella,

das

passando por

filhas,

ao que o

ali

mouro respondeu

quanto esle alfange poder cortar corta o tronco d esta arvore,

tirando o alfange

— Em

cabeças de nazarenos como

nenhum

as possuirá.—

Estavam


— 245 no jardim do palacio,

dando com

e,

no tronco de uma grossa

em

então as folhas transformaram-se

elle

um

formidável golpe

decepou instantaneamente;

olaia, a

onde vem

rosas, d

dar primeiro as llorcs do que as folhas, e da secção

O

tronco brotou sangue.

a olaia

feita

no

com

príncipe retirou-se assustado e

marchou em rapida cavalgada para as terras Não decorreram porém muitos rnezes que não voltasse acompanhado de um poderoso exercito a pôr cerco á a

sua comitiva

de Hespanha.

Depois de algum tempo de estreito assedio e quando

cidade.

já quasi a render-se pela

fome,

mandou

o príncipe

uma

sário ao governador pedindo-lhe a entrega de

O

e promettendo-lhe levantar o cerco. príncipe, recebido

governador, as duas filhas e rugadas,

luziam

cabello

como

uma

desgrenhado

mão esquerda uma

uma das

filhas;

encovados,

uma

um

feiticeira,

mouro para que

velho

alto,

mas

que

e tinha na

O mensageiro

vara de azevinho.

era este

prido e trigueiro,

das filhas

foi.

velha alta, magra, faces en-

e olhos

dois carbúnculos, era

parte do príncipe, intimação ao

ali

emis-

como o compareceram o

emissário

no jardim do palacio;

um

fez,

da

lhe entregasse

espadaúdo, rosto com-

tostado pelo ardente sol da África,

barba

espessa e grisalha, que lhe cobria o largo e arqueado

peito;

com lhamas d’ouro

vestia túnica de seda escarlate

cobria-lhe a

magestosa

uma

cores; d

de variegadas

turbante

cadeia d ouro presa ao cinto bordado pendia lhe

ao lado largo alfange,

em

cabeça rico

cuja lamina de

Damasco

se

bainha de prata lavrada e na frente, seguro ao

por

um

um

rico punhal

annel douro, via-se lhe mettido

nome de

mesmo tempo

a

em

occultava

mesmo

cinto

bainha de marfim

trigume com cabo d ouro cravejado de pedra

preciosas; ouvido o recado, o (d aqui o

e prata e

Caldellas,

mouro perguntou— Qual delias? dado depois aquelle logar). Ao

velha feiticeira, tocando

com

a

vara as cabe-

ças das duas donzellas, estas immedialamenle se transforma-

ram em duas formidáveis serpentes, que enroscando-se lando pelo jardim pozeram

em

Pelas enrugadas faces do velho

espavorida

e sibi-

fuga o emissário.

mouro desceram duas ardentes


2'*r»

-

lagrimas

o, tirando

proferindo

— Ao

estas

menos não as possuirás. A esta scena seguiu-se um ruido enorme e prolongado, como o des-

ultimas palavras tragica

do cinto o sou punhal, com braço firme e

rapidamente no coração,

potente cravou-o

moronar-se de vasto

edifício,

mensageiro olhou para

dim; tinham desapparecido

houvesse subterrado;

que echoou por toda

traz e já

como

cidade; o

a

nem

não viu o palacio

o jar-

av^alanche os

se formidável

mais rápido correu ainda, atravessando

por meio da multidão estupefacta,

a ir

ao príncipe

dar conta

de tão extraordinário successo. Não o assustavam ços de perros Mouros; e, dada a

ordem

d’assalto,

a este feiti-

cidade

a

foi

rapidamente tomada e destruída até aos fundamentos e os seus habitantes passados á espada, os que não foram levados caplivos. Tal é a historia lendaria daquella antiga povoação.

Lá se veem ainda, dizia-nos o velho creado, quem vem de Payalvo e chega ao nascer do sol ao Outeiro da Justa Velha, lá as vè ao pé da fonte; mas já não são cobras, são duas lindas princezas, todas vestidas de branco,

a

estenderem ao

sol

que conseguir locar lhes e quebrar-lhes o encanto, mas não ha meio; ao approximar se d’ellas

as suas

meadas d ouro.

Feliz o

alguém desfazem-se como

a

blina aos primeiros raios

do

miragem, dissipam-se como

Estas crenças populares teem sempre, sua

origem

em

factos remotos.

povoação antiga;

que altestam local

onde

a

a ne-

sol nascente.

Ali

como

se encontram ainda vestígios

sua existência,

dissemos,

houve com certeza uma

bem

visíveis

outros desappareceram já.

O

povoação é uma pequena eminencia ali estivemos, se achava povoada de

existiu aqnella

que. a ultima

vez que

pinheiros e viam se ainda, espalhados por entre o matto, peda-

ços de grossas telhas e de espessos tejolos, restos de antigas construcções. A’ vida animal succedeu a vida vegetal,

cambar na

serie

homens vivem ruido de

ascendente dos seres vivos;

hoje as arvores e os arbustos;

uma população

decerto

activa e

agora o sussurrar do vento pela ramada

um

des-

onde viviam os onde se ouvia o

laboriosa,

ouve se

dos pinheiraes;

aos


— 247 — cânticos alegres

duma em

bre piar do mocho

povo

a solidão

joveiitude buliçosa succedeu se o lugu noites de verão.

do ermo.

Apoz o convívio

dum

.

Ao norte d aquella eminencia, muito proximo a ella, onde o terreno desce, formando uma pequena quebrada, existe ainda uma fonte com o nome de Ponte de Caldellas e cuja agua corre por uma bica de pedra para um tanque bastante grande; era, por certo,

a fonte

d aquelle povo. Sabe-se quanto os

eram cuidadosos em abastecerem

Romanos

d agua as suas povoações,

não havia cidade ou aldeia que nao tivesse a sua fonte e quando local não havia nascentes iam longe buscar a agua por meio de aqueduclos, alguns muito dispendiosos; conhecem-se os celebres aqueduclos por meio dos quaes se abastecia Roma e entre nós os de Evora. A li em uma certa area encontraram os

no

antigos, ao arrotearem o terreno para plantar vinha, alicerces de casas e pavimentos ladrilhados; extrahiram de lã grande quantidade de pedra de alvenaria e cantaria, parte da qual foi

transportada para o lugar de Cemsoldos e outra empregaram em construcção de pequenas casas campestres, que ainda

n a

por

ali

fizerem

existem; nunca se fizeram pesquizas, se alguma vez se quem sabe o que se poderá encontrar ?

Ao poente

e

proximo

á

margem

direita da ribeira

de Re.

zelga existiam, ainda não ha muitos annos, as ruinas de uma capella dedicada a S. Pedro e ainda hoje aquelle sitio se dá a

mesma denominação;

aquella capella era decerto do tempo dos romanos, o que prova que Caldellas era habitada nas primeiras epochas do chrislianismo em que muitas capellas se erigiram a S. Pedro, por ser o primeiro que em Roma começou a

ensinar a doutrina de Christo, que

d’ali

rapidamente se propa-

gou por todo o vasto império romano. santa doutrina, o que ella

entendimento,

a

falia

A simplicidade

ao coração, o que

base sobre que assenta

ella

— Amae-vos

d’esla diz

ao

uns aos

fizeram com que tão rapidamente se propagasse, principalmente entre o povo e tão grande golpe désse no pa ganismo que logo de principio poz em sobresalto os imperaoutros

,


— 248 — romanos, por cujo motivo alguns determinaram contra

flores

ella terríveis

perseguições, que não lograram extinguil-a, antes

no meio d elias mais se accendia

mais se incandescia

a fé,

a

crença. Tácito, fallando dos clmstãos, diz o seguinte: «Esta perni-

algum tempo,

ciosa seita, depois de haver sido reprimida por

multiplicava de

mento, porém

novo, não sómente em mesmo em Roma, que é

o logar do seu nascipraça e

a

pejo de todas as immundices do mundo.

No

ram alguns dos que confessaram ser d 'esta confissão se descobriu

lançarem fogo

uma

a

religião, e pela

humano,

não

e

des-

sua

que foram

de outros,

infinidade

odio do genero

convencidos do

como o

principio prende-

do crime de

Roma, de que os accusavam. Juntou-se o inmorte a que os condemnaram, cobrindo-os

sulto á crueldade na

com

pelles

fazendo-os

de bestas feras

a

alguns

devorar pelos cães;

d’aquelles miseráveis, e

crucificando

estes e

aquelles de matérias combustíveis para servirem tes accesos

O

no escuro da noite.»,

untando

como de archo-

etc.

autor da Carla a Diogenes, que escreveu no fim do pri-

meiro século ou princípios do segundo, diz que, no seu tempo

Neste Trajano, dizendo que «uma infi-

estavam os christãos espalhados

mesmo tempo

escrevia Plínio a

multidão de pessoas de toda

nita

e de

a

por todo o mundo.

edade, de toda a condição

ambos os sexos tinham abraçado o

christianismo, que esta

superstição enchia não sómente as cidades,

mas

as aldeias e o

campo; que, antes da sua chegada á Bythinia os templos esta-

vam

desertos e que apenas se achava a

quem vender

as victi-

mas». Santo Ireneu, que escrevia no fim d’este mesmo século, cita

a fé e a tradicção

das egrejas espalhadas entre os Allemães,

os Iberos e os Celtas,

meio do mundo,

no Oriente, no Egypto, na Lybia e no

isto é,

em Roma.

(

A

certeza das

provas do

Christianismo, por M. Bergier, traducção portugueza dedicada m0 senhor Bispo do Funchal, D. José da Costa ao ex. mo e rev.

Torres; m. dcc. lxxxviii).

Ora achando-se naquella epocha, como acabamos de ver,


— 240 — implantada por todo o império romano a religião clirislã, é muito natural (jue aquella capella com a invocação de S. Pedro fosse

erigida pela parte chrialã da população de Caldellas, o que prova que esta povoação existia ainda nos últimos tempos do império romano. Seria uma cidade ? Não nos parece, ali

a area em que teem sido encontrados vestígios de povoado não é bastante grande para que podesse dar-se-lhe essa denominação. Foi provavelmente u na aldeia romana (visas).

porque

Quando sabel-o;

porque foi destruída ? Não temos dados para poder apenas poderemos formar simples conjecturas e, como

e

mesmas que formamos a respeito de Concórdia, sua coeva, segundo todas as probabilidades, e da qual vamos fallar, então as exporemos. estas são as

CONCORDIA Caminhando de

Ftezelga

para o

sul,

direila da ribeira, encontra se a estação

seguindo

a

margem

dos caminhos de ferro;

um

kilometro adeante d esta está o lugar de Payalvo, que foi tempo uma villa; ainda ba pouco lá existia na praça o pelourinho e a casa da camara. Pouco mais ou menos tres n outro

kilo-

metros ao

sul d esta povoação, afastada

kilometro, para a direita,

em

foi a

plano quasi horisonlal e

deante o teireno começa

a

um

da ribeira cerca de

cidade de Concordia.

pouco elevado e onde d

descer

em brando

um

Assente ali

declive para

em ir

explanai -se mais alem nas ferteis margens do Tejo, estava em condições favoráveis para poder ser uma cidade populosa, porque ali encontravam os seus habitantes todos os meios necessários á vida; não sò os terrenos circumvisinhos, ferteis e de boa natuieza, se prestavam a variadas culturas, mas não longe, onde são hoje os campos da Gollegã, tinham as ubérrimas campinas, que as innundações do Tejo fertilisam. Aquella povoação parece ter sido bastante extensa, calcu-

lando a sua

area pelos diversos pontos onde se teem encontrado vestígios da sua existência e porque na sua proximidade,


— 2r>o — na

margem

direita

da ribeira, se veem ainda indícios de mui-

tos fornos de fazer cal, que

cações que

ali

escavações que por

se

ali

decerto era consumida nas edifi-

Em

se faziam.

teem

vinha e outras

plantações de feito

em um

appareceram,

rymetro bastante grande vestígios de grossas muralhas

e

pe-

dentro

do seu âmbito teem-se encontrado muitas cisternas com agua,

algumas de grande capacidade; todas dras circulares,

um pequeno pouco

em

orifício

mó um

com

ellas cobertas

pe-

de moinho, tendo no centro

forma de

tapado com

pedaço de

tejolo;

ainda ha

appareceu uma, de cuja agua o dono do prédio, igno-

rante e supersticioso, se não quiz aproveitar, diz elle que por ter

medo, tornou de

um D

visinho, que nos relatou este facto.

esta cidade

também, que nos conste, nada

apenas Plinio se refere pidtiin),

trado.

de terra e vae buscar agua ao prédio

a eobril-a

diz a historia;

Foi decerto cidade

a ella.

murada

(op-

não só pelos vestígios de muralhas que se teem encon-

mas porque dentro da sua

area havia

um

grande numero

de cisternas, o que mostra que os seus habitantes se precaviam

com agua

para o casD de cerco, por não poderem

fóra, e ainda

S.

também porque

Donato dizem que

elle ali sotfreu

juntamente com S. Secundiano, S. companheiros. ElTectivamenle ter sido

buscal-a

um

o martyrio, extra muros,

Uomube

mais oitenta e seis

pouco fóra da area que devia

em uma propriedade que ainda nome de Casal dos Santos Martyres, existe um

occupada pela cidade,

hoje conserva o

marco de pedra, que, segundo qual

ir

os livros que faliam da vida de

foi

degolado

S.

a

A crença popular venera-o como lagrosos.

Para o resguardar

habitantes da localidade colhidos nas

tradicção, é aquelle sobre o

Donato e os outros seus companheiros.

com

tal

e attribue-lhe poderes mi-

construiram

em

volta

tejolos muito espessos,

d

elle

os

que foram

minas de Concordia, uma capellinha abobadada,

de forma circular, sem porta, tendo apenas na parede algumas as

me-

dar aos pobres

em

fendas para se poder ver aquella relíquia e tocar n rendeiras, que os devotos

ali

cumprimento de promessas.

costumam

ir

ella


— 2nl — AH

perto via-se ainda

de pedra, muito

pouco

lia

uma

de

a liaste vertical

cruz

tendo sido quebrado o braço transversal

alta,

não se sabe quando; nos terrenos circumvisinbos encontraram os proprietários algumas campas, que supposeram lerem pertencido ás sepulturas dos martyres. E’ natural que

existisse ou

ali

ou

cemilerio publico da parle christã da população;

fosse o

cjue já lã

sabe-se quanto nos

que se estabelecesse depois;

primitivos tempos da Egreja os cbrislãos desejavam ser enter-

rados junto dos sepulchros dos que haviam soíTiido martyrio.

Se algumas d’aquellas campas tinham inscripções não nos souberam dizer as pessoas mais velhas da localidade, que consultámos; só nos disseram que ouviram dizer

que por

ali

pedras já

aos antepassados

appareceram muitas pedras com letreiros, que essas não existem, que algumas foram quebradas e

como

metlidas nas paredes

alvenaria e outras não se sabe que

Ao lado do nascente existe ainda uma fonte com abobada de tejolos; não iam os habitantes das po-

destino tiveram. *

coberta

voações que

hoje por

ali

existem

isolado, e o seu aspecto mostra

ê pois de crer

que fosse

a

construil-a

uma

n áquelle

logar

antiguidade muito remota;

fonte publica da antiga cidade. Consta

que anligamente se extrahiu grande quantidade de pedra de alvenaria e cantaria do local onde existiu Concordia, a qual

foi

empregada em construcções nos lugares que lhe ficam próximos, como são Corvaceiras Grandes e Pequenas, Carrazede. Carrascal, Villa Nova e Payalvo, e outra seria transportada para

Ainda no

maiores distancias.

principio

do século passado o

proprietário que então era do Casal dos Santos Martyres, que se

chamava Manuel de Christo

no

dito casal construir

na plantação de

uma

uma

vinha.

e residia

casa

em

Payalvo,

com pedra que

Também

mandou arrancou

n’aquelle local se encon-

traram muitas moedas romanas e ainda hoje por

apparecem

algumas.

Ü

facto de ter

ali

sido martyrisado S.

Dona to com os seus

companheiros, o que se prova pelas chronicas que se referem áquelle santo, pela tradicção e pelo

nome dado

áquelle logar


— 2d2 — desde tempos immemoriaes, mostra que aquella povoação exisainda nos últimos tempos do império romano. Quando deixou de existir? Não podemos averigual-o e cremos mesmo qne não consta de documento algmn. Não se falia d elia no tempo dos tia

Godos,

nem no dos

que

na transição do dominio romano para o godo. Deram-se

foi

ifaquella transição

Árabes, que lhes succederam; logo parece

enormes convulsões

sangrentas. Os povos só tinham

um

direito a defendei os, era

o da força, e se esta lhes escasseava, luta;

sociaes, lutas cruéis c

do que baqueava na

ai

o mais leve pretexto servia aos vencedores para destruí-

rem uma povoação, passarem levarem os caplivos,

ã

espada os seus habitantes ou mais

feitos escravos, a

infiina

condição

a

que pôde chegar o homem. Alarico, Atanlpho, Atida, o flagello de Deus,

como

elle a si

proprio se chamava, Gunderieo, Resplandiano, Hermenerico e

deante de

si

ral

inimigos que era

preciso subjugar ou destruir.

uma dessas hordas selvagens e sendo Goncordia uma cidade fortificada é muito

Passou por reiras, e

marcha assoladora só viam

barbaros, na sua

outros chefes

ali

decerto

que os seus habitantes tentassem

foi,

como

era

destruída; e a

costume

mesma

resistir;

tomada

guernatu-

á força

daquelles barbaros, complelamenle

sorte teve Caldellas, que ficava próxima;

não porque esta podesse oíTerecer resistência, porque devia ser

uma povoação pequena porque,

talvez

e destituída de

exasperados com

a

meios de defesa, mas

resistência de

Goncordia,

para dentro de cujos muros muitos dos de Caldellas se hou-

vessem recolhido, cevaram lambem G’ esta a hypothese

e cruéis. pois

com

certeza

n ella as suas iras brutaes

que nos parece mais provável,

nada podemos aílirmar.

Assim se extinguiu n’aquelle logar povo, que

ali

se

a vida collectiva

dum

muitos séculos;

como

havia fixado talvez ha

o roble que o furacão arranca e derriba para não mais se erguer;

como tanha

penha que violento terramoto deslocou do

a

e,

pelo valle

feita

pedaços

com

o choque da

queda,

alto

da mon-

se espalhou

para não mais voltar ã culminância que occupava.


— 253 — E

poderam salvar se

se dos habitantes d’aq«elle povoado alguns

fugiram espavoridos, como

a corça

ou como

ou como magoada pelo desastre

rola a

guidas por feroz matilha;

a

ninho, que,

e cheia

a gasella,

perse-

que roubaram o

de susto, vae, ge-

mendo saudosa, em longínquas paragens, procurar mais seguro abrigo.

i

m



NOTAS APPENDICULARES

A PAG. 9 Aclnm-se actualmente concluídos os estudos de nivelamento para a construcção de

uma

via electrica entre esta cidade e a estação dos caminlios de ferro de Payalvo;

quando esta importante obra se

re.ilisar,

como que desapparece a

distancia que as

separa; entSo decerto terá esta linda povoaçáo muito maior numero de visitantes que virão de longe admirar as suas bcllezas naturaes e estudar os seus impoitantes

mo-

numentos histoiicos.

A PAG. G2 Dissemos que o lagar cbamado d’El-Rei pertencera a D. Manuel; temos ainda a justificai- o

sobre

uma

o facto de

lia

pouco terem sido encontradas no

mesmo

assentes

lagar,

parede interior tres lages que, na face que se achava embebida na parede

apresentavam,

uma

millar; esta tinbn

a cruz de t.bristo, outra a coroa real e a terceira a espbera arsido picada na occasião

em que

fim de Ibe desfazer aquella saliência para ficar ao

ali

a assentaram, decerto

mesmo

nivel

com o Consta

das outras.

que estas insignias estavam collocadas na parede da frente por cima da porta d’entrada; devia ser aquelle o lugar que

que o actual dono d’aquellc lagar que, não só

rado

em

como presidente da

e

occupavam

e

que novamente vão occupar, por-

de todos os outros,

mas como

cantara,

sr.

João Torres Pinheiro,

particular, tanto se

tem esme-

tudo que é melhoramento e engrandecimento da sua patria adoptiva,

mandou

moldar em gesso uma espbera armillar cgual ãquclla para servir do modelo a outra,

que encommendou a

um

dos melhores canle ros do lugar da Pedreira, :

com

o fim de

fazer collocar aquellas insignias de D. Manuel no logar onde primitivamente estive-

ram. E’ louvável esta lembrança, porque

é

um documento

historico

que

ali

fica

a al-


testar que aquclla importante obra do aproveitamento das aguas do rio

de moinbos c lagares se deve áquellc por documentos que

com

foi

para motor

Também tivemos occasião de em uma dem ;n Ja, que ba annos

rei.

preciso compulsar

saber que, leve logar

respeito áquelles lagares, se mostrou que o que está junto á ponte pertencia ao

seguem na mesma

alcaide c os outros que se lhe

linha, er.im todos dos frades,

A PAG. 134

PATEO DOS CARRASCOS A corroborar qual decerto

foi

o

que dissémos a respeito da denominarão dada a este recinto, a

originada dos arbustos que

ali

vegetavam e não de terem

n’elle resi-

dido os executores d’alta justiça do tribunal da Inquisição, que n'aquella epoeha se

chamavam

carrascos,

aqui perto haver c n’esta

mesma

mas sim

uma povoarão denominada cidade

uma

nem

verdugos, occorreu-nos mais o citarmos o facto de lugar dos Carrasros, outra o Carrascal,

também

rua, a Carrasqueira. Seria porventura,

logares, a habitação de carrascos da Inquisição ou outros?.

.

n’estes

A denominação d’estes

.

logares provem-lhes decerto da existência n'elles dos arbustos chamados carrascos

ou carrasqueiros, tem a mesma origem que a do pateo do Convento, a que nos referimos.

Escrevendo

esta noticia

exforçamos-nos para que o que

expressão da verdade, e como ba pouco se publicou históricos e outros de diversa natureza, factos ou objcctos,

um

n’ella

expomos seja

a

onde abundam os erros

livro

quando alguns d’esscs erros incidem sobre

que se comprehendem

na nossa

narrativa,

somos obrigados a

apontal-os e a esclarecer os leitores, para que alguns d’elles se não persuadam de

que somos nós que andámos erradamente.

tem por Gra

Isto só

nião e por forma alguma querer fazer a critica do

tal livro,

justificar a nossa opi-

com o que nos não im-

portamos.

Sem

fazer atlusão a pessoa alguma,

mas na

generalidade, a respeito

de critica

entendemos dever seguir a opinião de Pope, que nos seguintes versos tão acertada-

mente expendeu no seu «Ensai sur

«Sur de

(traducção franceza).

la critique»

vils ecrivains le

mieux

est de

se

laire;

Laisscz les sots en paix dans leurs vers se complaire;

Lcur orgueil enyvré de mensonges

flatteurs

Se console aisement du mépris des lecteurs. Le savoir ne peut

rien contre leur ignorence,

L’esprit plcin de projects, le coeur plein d'espcrence,

Sourds aux

cris

du bon sens,

ils

vont toujours leur train;

lnsensibles aux coups, on les deehire en vain; C’est un sabot qui dort sous le fonet qui 1’ogite,

Par

le

mauvais succès leur conrage

s’irrile.»


ÍNDICE

PREFACIO —A CIDADE DE THOMAR

I

II

III

—O —A

V1LLA DE THOMAR PADRÕES E A PONTE DAS FERRARIAS CONVENTO DE CHR1STO —OUTROS CONVENTOS E CAPELLAS ...

IV

—OS

V

—O

VI

RIO

ANNUNCIADA SENHORA DA PIEDADE

pag.

5

»

9

»

25

*

43

>

75

»

91

»

105

»

»

»

170 172

FIIANCISCO

»

santa maria

»

174

SANTA SITA

»

ISI

S.

VII

-A

VIII

- REZELGA, CALDELLAS E C0NC0RD1A.

NABANCIA

»

183

><

241

»

»

CALDKLLAS

»

243

CUNCOIIDIA

»*

249

.

*

BEZKLGA

Ponte sobre o Nabão

Nabão proximo a Thomar Fabrica de Moagens «Nabantinao

.

13

»

29 38

» »

97

.

.

.

.

»

101

.

.

.

.

»

407

»

420

Claustro dos Filippes

4

Fachada da Egreja

»

101

Egreja e torre de Santa Maria do Olival

»

479

Medalha Nabantina

0

196

Estatuas Nabantinas (fragmentos)

0

209

Capelia dos Templários

CONVENTO DE

CHR1ST0

Castello de D.

Gualdim Paes

Janella da Casa

do Capitulo

Claustro do Cemiterio

48



ERRATAS Pagina Linha

cm

— eluminar

11

G

12

1

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aprerinvies

20 23

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á

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eliminar

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1

I.S

32

n

— ficaram — cavallciros estavam — estava coinmunas elegiam — communas e elegiam odado — doado mac-a-damisado — mac a dainisada da send — da confraria; sendo

69 75

21

»

attendidoâ

18

u

71!

1

u

obüqua, que obliqua ; diz a Iradicção qu< Santo Agostinho Por morte

11

n

de certa

18

>1

n

ficavam

cavelleiros

confraria;

— atlendidas

— — de certo, de — da consentia — consentiria — dezasseis

78

12

n

81

25

»

95

31

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97 122 121

G

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1

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26

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1

i8

9

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desesseis

— desengraçada — occulto vida — ordem outros — outras davam — dava pareciam — pareceriam — artistas gigantesca — gigantescas formam — formavam externas — externa tarde — tardes — lhes adoptar — adaptar — fazel-os proprios — próprias des ngraçado

aculto

artista

»

14

«

149 151 171 177 180

25 30

»

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20G 207

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211

»

supporles

lhe

fazer

— faria

— seguiu-a — o — postas — entre os — visces e

fiscus

differentes




concluída

a

impressão d-este livro

EM SETEMBRO DE

TVPOGR

VPIIIA SII.VA

1903

IMULHiES




a.

.



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