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The Gift e Quim Barreiros são atrações na Feira do Queijo de Celorico da Beira

A quadragésima quarta edição da Feira do Queijo de Celorico da Beira, que vai decorrer de 10 a 12 de fevereiro no edifício do Mercado Municipal e na zona envolvente, contará com 150 expositores, 17 dos quais produtores de queijo. Quim Barreiros e The Gift são as atrações do programa de animação.

O evento pretende contribuir para a valorização, promoção e divulgação do Queijo Serra da Estrela DOP, enquanto produto endógeno de excelência, identitário do território, bem como de outros produtos artesanais. O presidente da Câmara de Celorico da Beira, à Gazeta Rural, diz que este “é um certame que vem numa linha de continuidade”. Carlos Manuel Ascensão lamenta que “não haja crescimento no número de produtores de queijo”.

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Gazeta Rural (GR): Para além de mais expositores, que novidades apresenta a feira deste ano?

Carlos Manuel Ascensão (CMA): Em termos gerais, a linha estrutural mantém-se. Contudo, estamos a trabalhar na renovação desta festa, com a melhoria na organização, pois no final de cada feira fazemos um balanço e o levantamento do que correu bem e o que temos de melhorar, num certame que tem tido um crescimento gradualmente e sustentado.

O figurino mantém-se, com os três dias de fim de semana que antecede o Carnaval, este ano com gente nova no programa de animação. Diria que é um certame que vem numa linha de continuidade.

GR: Este ano com mais expositores?

CMA: Sim. A área da feira vai crescer, com a melhoria do espaço exterior do Mercado Municipal, o que nos permite outro tipo de dinâmicas. Estamos a contar com 150 expositores, o que é um crescimento significativo relativamente ao ano anterior, tendo sempre como foco central os produtores de queijo e as queijeiras.

“Infelizmente não há um crescimento de produtores de queijo”

GR: Como está o setor no concelho?

CMA: Infelizmente, e é um pouco transversal a toda a área de produção de queijo Serra da Estrela, não há um crescimento de produtores e a renovação não é aquela que esperávamos, pois a maioria dos produtores já tem uma idade avançada e outros mostram algum cansaço.

Na feira vamos ter 17 queijarias do concelho, quatro com produção de queijo Serra da Estrela DOP e treze licenciadas, o que é um número pequeno comparado com outros tempos, mas razoável, tendo em conta o contexto geográfico do nosso território.

Falamos de um trabalho duro, muito exigente e difícil, cujo retorno não se pode equacionar. Acredito que há condições, e alguma justiça, para um retorno interessante do trabalho que é feito, e que é muito, pelos produtores, pelo que tem que haver ajudas de base, num trabalho ao nível dos produtores de queijo, de apoio à melhoria da qualidade do produto, na certificação, na rotulagem e também na própria espécie de ovinos, porque é aí que as coisas começam em toda a fileira.

Sabemos que o número de ovinos da raça Bordaleira e Churra Mondegueira tem vindo a diminuir na produção de leite, por comparação com outras raças não autóctones, e nós temos que fazer esse trabalho de incentivo, de promoção, de ajuda, de subsidiar aquelas espécies, porque são o requisito fundamental para a produção de um produto certificado, como é o queijo Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida).

GR: Tenho ouvido algumas críticas sobre projetos que visam a promoção e valorização do queijo Serra da Estrela DOP. A pergunta é: promove-se o produto, mas não se apoia quem o produz, quem todos os dias leva as ovelhas para o pasto, faça sol ou chuva, ou mete a mão no cincho?

CMA: É uma excelente questão, com uma resposta complexa, que aborda duas direções que são complementares. Por um lado, temos que promover aquilo que temos de melhor, um produto ancestral, que faz parte da cultura e tradição desta região, das nossas raízes, que, no fundo, é a nossa identidade. Quando se perdem a identidade e as memórias do passado, perde-se também o presente e nós não queremos que isso aconteça. É bom que seja reativado, renovado e não seja esquecido, mas é bom que esteja aqui, no presente.

Penso que há um trabalho pedagógico que tem de ser feito, nomeadamente de valorização desta atividade, sobre a qual, durante muito tempo, houve algum preconceito e foi vista como uma atividade menor. Efetivamente não é, bem pelo contrário, porventura mais difícil que muitas outras, mas penso que na sua dimensão, com o devido enquadramento da atividade e as ajudas respetivas, terá o seu retorno e tornar-se uma atividade estimulante. No nosso território temos alguns casos de renovação da atividade, o que é um sinal de esperança.

Por isso, a promoção, valorização e promoção são importantes, mas é preciso que haja produto. Tem toda a razão, é importante que haja quem produza, que haja pastores, uma profissão que tem uma dignidade enorme. É importante que haja homens e mulheres lutadores, resilientes, que são a razão de ser da nossa feira.

Sabemos, contudo, que há um problema que não diz respeito apenas a esta atividade, mas a todo o território, que é a falta de gente jovem, que é cada vez em menor número, e o envelhecimento da população existente.

Mas, estamos de acordo, que é efetivamente necessário o acompanhamento e uma atenção especial, uma ajuda, para estes homens e mulheres que ainda fazem com que esta atividade e este produto vá sobrevivendo, mas, simultaneamente, é necessário fazer a divulgação e promoção deste produto tão genuíno, mas principalmente a sua valorização. Deste modo, quanto mais valorizado estiver, mais retorno dará a quem o produz, tornando assim esta atividade mais interessante, fazendo com outras pessoas a ela se dediquem.

Naturalmente que o paradigma atual é diferente do passado, altura em que tínhamos muitos rebanhos, mas de pequena dimensão, o que hoje não acontece, pois há uma tendência para a concentração. Terá de haver também uma mudança de mentalidade, no plano pedagógico, no sentido de trabalhar mais em grupo, juntando sinergias, ajudando e concentrando. Deste modo, mudando o figurino, pode-se aumentar a produção, a qualidade do produto e assim dar mais rendimento a quem produz.

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