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O Varosa tem “condições únicas para a produção da baga de sabuguei ro”

O Varosa tem “condições únicas para a produção da baga de sabugueiro”

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A cultura do sabugueiro está enraizada nas gentes da região do Varosa e tornou-se, nos últimos anos, um fator de atração e desenvolvimento na região. Com uma área de cerca de 400 hectares e uma produção de 1500 toneladas de baga, 98% das quais para exportação, a região, segundo Bruno Cardoso, da Inovterra, tem “condições únicas” para a sua produção.

A baga, muito procurada pela industrial alimentar da Alemanha e da Holanda, é “um produto multifacetado”, diz o diretor da Inovterra em entrevista à Gazeta Rural. Contudo, ressalva Bruno Cardoso, “precisávamos de um parceiro que mediatizasse a cultura do sabugueiro”.

Gazeta Rural (GR): O que é a Inovterra, para além de uma Associação de desenvolvimento Local?

Bruno Cardoso (BC): A InovTerra é uma Associação de Agricultores, uma Associação de Desenvolvimento Local e é, também, uma Associação Juvenil, registada no Registo Nacional de Associações Juvenis. Isto quer dizer que os quadros técnicos e dirigentes da Inovterra são jovens abaixo dos 30 anos, - eu sou a única excepção, - o que faz com que haja um espírito jovem e empreendedor, que são o motor desta organização.

GR: Nesse quadro como aparece a Inovterra associada à Baga do Sabugueiro?

BC: A Inovterra foi fundada por agricultores para desenvolver e dinamizar a parte agrícola da Baga do Sabugueiro. Efectivamente, a baga é uma cultura milenar na nossa região, que já vem do tempo dos romanos e, mais tarde, da parte cisterciense desta região ligada ao Mosteiro de São João de Tarouca e Salzedas, período em que o produto foi bastante desenvolvido, acabando, mais recentemente, com a aplicação da baga do sabugueiro nos vinhos do Porto.

A proibição do uso da baga nos vinhos fez com que passasse a ser toda exportada desde 1983, altura em que este processo começou a ser desenvolvido. A minha família sempre esteve ligada aos sabugueiros, os meus avós compravam

a baga seca, que era chamada de ‘ouro negro’, - daí esta minha ligação, - além de que era um negócio bastante interessante.

Quando decidimos relançar e mediatizar o sabugueiro e ajudar os agricultores que precisavam de apoio técnico, foi pelo abandono que estava a verificar-se nesta cultura, que hoje tem cerca de 400 hectares de área plantada na região, com uma produção de cerca de 1500 toneladas.

A produção de baga na nossa região já é considerável, - é a maior da Europa em termos de concentração geográfica, - com uma densidade bastante grande na proximidade dos produtores. Esta é uma cultura para exportação em cerca de 98% da sua produção.

GR: Esse tem sido o trabalho da Inovterra?

BC: Sim. A Inovterra tem feito um grande trabalho de marketing no mercado e fez um grupo operacional de investigação com a Universidade de Aveiro, com o INIAV, a Agropress, e outros parceiros ligados à comercialização e investigação, e os resultados tem tido fantásticos.

Só ainda não fomos bem sucedidos nas indústrias. Ainda não conseguimos desenvolver produtos interessantes para o consumidor. Temos pequenas indústrias que já o fazem com algum sucesso, tanto com a flor como com a baga, mas ainda não conseguimos uma indústria com dimensão, por exemplo, como a Compal está a fazer com a laranja e o limão do Algarve, a pêra do Oeste ou a maçã de Alcobaça.

Nós também precisávamos de um parceiro que mediatizasse a cultura do sabugueiro e, ao mesmo tempo, levasse outras pessoas a produzir, porque isso é importante. É das poucas culturas em Portugal cujo escoamento está garantido e não podemos deixar perder esta ‘preciosidade’ que o país tem.

O grande problema é que quem produz o sabugueiro são os mais velhos e estes, por uma ou outra razão, vão largando a atividade. Com isto, muita da área de produção fica abandonada e nós estamos a tentar inverter esta tendência, procurando atrair jovens agricultores para este setor e mostrar-lhes que é uma cultura rentável.

GR: durante muitos anos, o sabugueiro era apenas um arbusto à beira da estrada. Hoje a baga do sabugueiro tem inúmeras aplicações?

BC: Eu dividiria o sabugueiro em dois. Primeiro a flor, um produto muito utilizado pelas indústrias farmacêutica e cosmética. Depois a baga, que é um corante muito utilizado pela indústria alimentar.

A baga que sai do Varosa vai toda para a indústria alimentar para consumo. Nada do que é produzido nesta região vai para tinturaria. Ou seja, temos de facto condições únicas para a produção da baga. Essa é uma grande diferença, porque sabugueiros (Sambucus-Valor) há em todo o lado, mas, por exemplo, nos países nórdicos e no centro da Europa não conseguem ter o açúcar na baga (grau brix) que nós temos, para que possa ser utilizada em produtos alimentares. Por isso usam mais a flor, que tem inúmeras utilizações, como em espumantes ou pode-se comer frita. Tudo isto para dizer que o sabugueiro é um produto multifacetado. Toda a baga produzida na região do Varosa vai para a indústria alimentar, sobretudo para a Alemanha e Holanda. A Alemanha tem inúmeros produtos à base da baga do sabugueiro. Estes dois países têm alguma produção, mas falta-

“PrEciSáVaMOS DE uM ParcEirO quE MEDiatizaSSE a cuLtura DO SaBuGuEirO”

-lhes o ‘brix’, que faz toda a diferença.

GR: Quais os produtos em que a baga é mais incorporada?

BC: Em vários. Por exemplo a Alemanha tem uma bebida muito conhecida, o Bionade, com mais de 30 anos no mercado local, que é produzida a partir da baga do sabugueiro. Nos chás há uma empresa alemã que explora e incorpora as bagas secas, bem como o corante da baga. Outro exemplo, é a produção de vinho, porque a baga, quando fermentada, tem um elevado teor alcoólico. Por cá havia um vinho branco que, quando se colocava a baga, ficava um tinto bastante encorpado. A baga é um mundo de oportunidades bastante interessante.

GR: Falou na procura de um ‘player’ para desenvolver, ao nível da indústria, a baga. Isso significaria um aumento da área de plantação de sabugueiro?

BC: Acho que tinha três efeitos práticos no país, que reputo de fantásticos. O primeiro, e o mais importante, é que a mais-valia deste produto ficava em Portugal, podendo ainda criar mais riqueza para o produtor. Ou seja, poderíamos pagar melhor a baga, porque, deste modo, estaríamos a criar atractividade nos mais jovens para se dedicarem à sua produção, mas também explorar ainda mais este produto, que é de grande qualidade.

Para além disso, poderíamos aumentar a área de produção e fixar pessoas no interior. A produção de baga está centrada em cinco concelhos, - Tarouca, Lamego, Moimenta da Beira, Armamar e Tabuaço, - mas poderíamos alargar a sua abrangência, aumentar a área plantada, atrair mais gente para a região, e, desse modo, produzir mais.

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