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Quase metade da população mundial sofre de má nutrição
from Gazeta Rural nº 397
by Gazeta Rural
De acordo com Relatório de Nutrição Global
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Quase metade da população mundial sofre de má nutrição, com consequências nocivas para a saúde, mas também para o planeta, revela um relatório divulgado esta terça-feira. De acordo com o “relatório de Nutrição Global” (GNr, sigla em inglês), cujos dados provêm de organizações como o Fundo das Nações unidas para a Infância (unicef), a organização das Nações unidas para Alimentação e Agricultura (FAo), organização Mundial da Saúde (oMS) ou a organização das Nações unidas (oNu), 48% dos humanos comem muito ou muito pouco.
Ao ritmo atual, o mundo não alcançará oito das nove metas de nutrição estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde para 2025, refere o documento.
Trata-se, designadamente, de reduzir o emagrecimento das crianças (quando são magras demais para a sua altura) e os atrasos de crescimento (muito pequenas para a idade), bem como a obesidade adulta, acrescenta.
O relatório estima que quase 150 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem de atrasos de crescimento, mais de 45 milhões são magras demais e quase 40 milhões estão acima do peso. Também revela que mais de 40% dos homens e mulheres (2,2 mil milhões de pessoas) estão com sobrepeso ou são obesos.
“As mortes evitáveis, devido a dietas pouco saudáveis, aumentaram 15% desde 2010” para agora representar “um quarto de todas as mortes de adultos”, disse à Agência France-Presse (AFP) a presidente do grupo de especialistas independentes do GNR, Renata Micha. “Os resultados globais mostram que as nossas dietas não melhoraram nos últimos dez anos e agora são uma grande ameaça à saúde das pessoas e ao planeta”, acrescentou.
De acordo com o relatório, as pessoas não estão a consumir as quantidades recomendadas de alimentos que promovem a saúde, como frutas e vegetais. Os países mais pobres são os que apresentam o menor consumo destes alimentos.
Os mais ricos, por seu lado, consomem a maioria dos alimentos com efeitos prejudiciais à saúde, como carne vermelha, laticínios e bebidas açucaradas, e têm as taxas mais altas de pessoas com sobrepeso.
O Global Nutrition Report também calculou que a procura global de alimentos gerou cerca de 35% das emissões de gases de efeito estufa em 2018. “Alimentos de origem animal geralmente têm uma pegada ambiental maior por produto do que alimentos de origem vegetal”, segundo o relatório. Além de interromper os sistemas de alimentação e saúde, a pandemia de covid-19 empurrou mais 155 milhões de pessoas para a pobreza extrema, acrescenta.
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A ordem dos Nutricionista saúdou o Ministério da Agricultura pela criação do Plano Nacional da Alimentação Equilibrada e Sustentável, uma iniciativa que disponibiliza cinco milhões de euros e que tem como objetivo dotar os territórios de uma equipa técnica, nomeadamente de nutricionistas, capazes de implementar um plano de ações de sensibilização, que promovam a adoção de uma alimentação saudável, económica e amiga do ambiente.
“Este Plano configura-se como um passo fundamental na garantia do direito humano a uma alimentação adequada e a salvaguarda do nosso planeta”, salienta Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, acrescentando “contem com os nutricionistas para operacionalizar este plano e desenvolver ambientes facilitadores de escolhas alimentares mais saudáveis e amigas do ambiente, enquadradas, naturalmente, naquilo que é a Dieta Mediterrânica.”
O Plano Nacional da Alimentação Equilibrada e Sustentável vai ser materializado por uma equipa interdisciplinar, nomeadamente por nutricionistas, que vão ter a responsabilidade de promover hábitos alimentares saudáveis, identificar produtos alimentares de produção local e sazonal e reduzir o desperdício alimentar.
Com a iniciativa, o Ministério da Agricultura pretende estimular a produção nacional; promover a adoção de sistemas de produção e distribuição mais sustentáveis, com base nas cadeias curtas de abastecimento e nos sistemas alimentares locais; valorizar os produtos endógenos de qualidade; valorizar e salvaguardar a Dieta Mediterrânica, enquanto sistema e padrão alimentar caraterístico do território nacional, criando e promovendo estímulos à sua adesão; e sensibilizar e aconselhar os consumidores e a população em geral para a adoção de uma alimentação nutricionalmente equilibrada e informada.
Entre os objetivos do plano, a Ordem destaca a valorização da Dieta Mediterrânica, um padrão alimentar com uma oferta predominantemente de origem vegetal e amiga do ambiente, de proximidade, e que integra uma enorme biodiversidade de produtos sazonais.
O Plano Nacional da Alimentação Equilibrada e Sustentável foi apresentado em Tavira, no Algarve, pela Ministra da Agricultura, com a presença da Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, e baseia-se em quatro eixos: Consumo, Produção, Dieta Mediterrânica e Educação e Literacia Alimentar.
Recorde-se que um terço dos alimentos produzidos são, anualmente, desperdiçados em todo o mundo e que se estima que, em 2050, a população mundial ultrapasse os 9 mil milhões de habitantes, o que obriga a uma transformação significativa do sistema alimentar global para que este possa responder às necessidades do crescimento populacional.
As perdas provocadas por incêndios, a falta de apoios públicos ao setor e o efeito de pesticidas aplicados na agricultura estão a deixar os produtores de mel do Algarve em situação de “calamidade”, advertiu uma associação apícola regional.
O presidente da Melgarbe - Associação de Apicultores do Sotavento Algarvio, Manuel Francisco, disse que a “situação neste momento é de calamidade, porque todas as colmeias, mesmo as que não arderam” nos incêndios do Verão passado na região, “têm de ser deslocadas dessa zona, porque as abelhas estarão um período de alguns meses sem nada para comer”.
Os incêndios registados no Algarve, nomeadamente, em Monchique e no sotavento algarvio, nos concelhos de Castro Marim, Vila Real de Santo António e Tavira, causaram perdas de colmeias e vão ser necessários “dois a três anos” para recuperar a vegetação das zonas afetadas, sem a qual as abelhas ficam sem alimento.
O presidente da Melgarbe agradeceu a intervenção de emergência que a Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve fez para assegurar a sobrevivência das colmeias que resistiram ao fogo, com a disponibilização “provisória” de açúcar como alimento, mas considerou que esta opção “não deve ser feita” sob pena da perda de qualidade do mel do Algarve, a principal região apícola do país. “O que nós precisamos é de uma ajuda como existe noutros países europeus, em que as próprias Câmaras e Governos dão apoios diretos ao apicultor. Mas aqui, para esses fins, não temos apoios”, lamentou, sugerindo a adoção de ajudas “por colmeia” ou “por quantidade produzida” para os apicultores poderem suportar o aumento dos custos de produção e reporem efetivos destruídos ou afetados por mortalidade.
Com nova colónia reprodutora
A rewilding Portugal confirmou, em Novembro, a existência de uma colónia de abutre-preto (Aegypius monachus) em que se confirmou sucesso reprodutor em vários casais na reserva Natural da Serra da Malcata. Esta é uma excelente notícia para uma espécie que está ainda ameaçada em Portugal e da qual apenas se conhecem cerca de 40 casais distribuídos em duas colónias principais no Parque Natural do tejo Internacional e no Alentejo. No Nordeste português apenas se conheciam dois casais no Parque Natural do Douro Internacional e um casal na reserva da Malcata em que o ICNF confirmou sucesso reprodutor no Verão de 2021. A descoberta de mais casais coloca a reserva da Malcata como o terceiro maior núcleo reprodutor de abutre-preto em Portugal.
Até à data, a Rewilding Portugal confirmou um total de três ninhos, podendo ainda existir mais casais nesta colónia. Por isso, nos próximos meses continuarão os esforços de monitorização. A descoberta dos ninhos foi possível graças ao seguimento dos movimentos de um juvenil que foi marcado pela Rewilding Portugal com emissor GPS/GSM, em colaboração com o CIBIO. O seguimento dos movimentos deste juvenil permitiu à equipa da Rewilding Portugal descobrir o primeiro dos três ninhos onde o juvenil, nascido na Reserva, ainda coabita com os seus progenitores. No segundo ninho, observou-se ainda outro juvenil e no terceiro um casal.
Projeto de 31 milhões de euros para proteção florestal vai beneficiar 15 mil hectares
uma área de 15 mil hectares, do norte e centro do país, vai beneficiar de um projeto de 31 milhões de euros para investir na proteção florestal, com uma gestão mais eficiente e mais biodiversidade. o projeto terá em conta também a redução do risco de incêndio, com a diversificação e combinação de espécies, criação de faixas de gestão de combustível e vigilância regular.
O investimento de proteção florestal, em partes iguais, é o resultado de uma parceria entre a Fundação Gulbenkian e a empresa Efanor Investimentos, que vão intervir nos próximos anos nos 15 mil hectares a partir do arrendamento de terrenos. “O projeto, caracterizado pelo investimento em Floresta Produtiva Biodiversa em Portugal, aposta numa gestão florestal mais eficiente, na promoção da biodiversidade e dos serviços de ecossistemas, no elevado sequestro de carbono, na diversificação da paisagem e na criação de mosaicos, por oposição à floresta contínua”, explica-se num comunicado hoje divulgado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Para reduzir o risco de incêndio vão ser combinadas espécies como o pinheiro-bravo e o sobreiro, mas também os carvalhos e o medronheiro, entre outras.
O investimento, diz a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, citada no comunicado, “contribui ativamente para o importante compromisso assinado recentemente por 105 países na COP26 (cimeira mundial do clima), incluindo Portugal, para travar a desflorestação e deterioração do uso do solo até 2030”.
E Paulo Azevedo, presidente da Efanor, também citado no comunicado, diz que se espera “ter encontrado o modelo com retorno económico, ambiental e social para a floresta do centro e norte de Portugal”. “Este investimento servirá para o comprovar e, posteriormente, o poder alargar significativamente”, acrescentou.
O modelo de investimento, resumem os responsáveis no comunicado, visa a criação de retorno financeiro, social e ambiental através da gestão florestal ativa e da redução do risco de incêndio, da promoção da biodiversidade e captura de carbono, da diversificação dos usos do solo, e da produtividade florestal, através da tecnologia e inovação. E permite também reforçar as economias locais e valorizar os territórios e as suas comunidades.