2 minute read

“Somos o segundo país do mundo com mais variedades regionais de milho”

Um workshop sobre o pão e a sua importância na alimentação abriu programa do Leilão das Chouriças, em Travassos, no concelho de Mondim de Basto. Alfredo Aires, docente de Agronomia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, fez um balanço histórico do pão, desde a antiguidades até aos nossos dias, e a sua importância na nossa alimentação.

Do trigo, ao centeio e ao milho, Alfredo Aires deixou um apelo à preservação e divulgação das nossas variedades regionais de milho e a sua importância para as comunidades locais, lembrando que foi Portugal quem trouxe o milho das Américas e o disseminou pelo mundo, sendo hoje o segundo país do mundo com mais variedades regionais.

Advertisement

de alterações climáticas, em que todos os anos a incerteza é grande, têm a capacidade de, não sendo tão produtivas, assegurarem uma boa produção no final de cada ciclo de colheita, comparativamente com as variedades mais comerciais.

GR: Nesse caso, a importância da qualidade é superior à quantidade?

AA: Muito superior. Não é por caso que os portugueses, sobretudo nas pequenas feiras locais, procuram o pão tradicional, feito na comunidade, e não o industrial. Um pão de milho feito com variedades regionais aguenta-se muito mais que um feito com variedades híbridas, que ao outro dia está recesso.

GR: Com isso vamos mantendo as nossas quase duas mil variedades regionais de milho?

Gazeta Rural (GR): Qual a importância do pão na nossa alimentação?

Alfredo Aires (AA): Sim, é muito importante e temos de fazer sempre uma comparação entre os tempos passados e de agora. Não damos muita importância e o real valor ao pão, porque ele está presente todos os dias na nossa mesa. É um elemento muito importante na nossa dieta, é rico em minerais, mas em muitos outros nutrientes, como vitaminas. Além disso, por detrás do seu fabrico há um conjunto de processos produtivos que fazem desenvolver a atividade agrícola. A importância do pão começa por aí, não só na alimentação, mas também porque é produzido a partir de cereais, nomeadamente o milho, oriundos de uma atividade agrícola das comunidades locais.

GR: Nesse quadro, que papel podem ter as comunidades locais?

AA: Exatamente. Muitas vezes não temos ideia da nossa importância. De facto, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), através do Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga, tem essa coleção, porque há interesse em manter essas variedades. Somos o segundo país do mundo com mais variedades regionais de milho. Elas existem porque há agricultores que as procuram, porque percebem que produzem bem, que as conhecem melhor e são uma mais-valia para nós.

AA: Podem ter um papel decisivo na preservação das variedades locais, no caso do milho, adaptadas ao clima dessas regiões. Caímos frequentemente no erro de substituir as variedades locais por outras teoricamente mais produtivas, porque são ‘produzidas’ por programas de melhoramento genético, cujo objetivo é produzir uma quantidade definida por hectare. Essas variedades, nalgumas comunidades, não têm o rendimento esperado.

Se tivermos a possibilidade de usar variedades regionais, adaptadas à região e ao clima, sobretudo numa altura em que tanto se fala

As variedades mais comerciais estão mais mecanizadas, são mais procuradas porque suportam um maior processamento industrial. Isso significa que em situações como a que vivemos, nomeadamente com a guerra, - e nós que estamos muito dependentes da importação de cereais, - se apostássemos mais nas nossas variedades essa dependência era muito menor.

GR: As quase duas mil variedades regionais de milho estão espalhadas por todo o país?

AA: Sim. Emanaram de uma só, mas com o melhoramento artesanal por parte dos agricultores foram adquirindo as características de cada região.

This article is from: