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Gisela João e Tony Carreira são atrações na Feira de Maio da Azambuja

A mais castiça das festas ribatejanas encerra um mês dedicado à cultura tauromáquica, que acontece durante todo o mês de maio. A Feira de Maio é a celebração cultural de uma comunidade e de um povo, que tem a tauromaquia inscrita na sua identidade e matriz cultural, mas é também hoje um espaço e um tempo de convívio que anualmente Azambuja partilha com milhares de visitantes.

Em conversa com a Gazeta Rural, o presidente da Câmara da Azambuja diz que o programa da edição deste ano “é bastante ambicioso”, destacando a presença de Gisela João e Tony Carreira, dois artistas de referência no panorama nacional. Silvino José Lúcio salienta também o regresso da Praça das Fregue- sias, o espaço gastronómico onde os visitantes poderão degustar as melhores iguarias da gastronomia do concelho. Sobre os movimentos anti tourada, a autarca lamenta que se “tenda a esquecer parte da nossa história”.

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Gazeta Rural (GR): A Feira de Maio e o grande evento do concelho?

Silvino José Lúcio (SJL): É o maior evento do concelho, onde a Câmara se empenha, e uma feira centenária. O município tem tido um papel bastante ativo na organização desta feira, quer na parte de preparação dos espetáculos, bem como em toda a sua organização e programa, nomeadamente nas entradas e nas largadas de toiros. A Câmara conta com alguns parceiros na organização, pois não conseguimos fazer tudo sozinhos. Esses parceiros ajudam-nos, num programa que este ano é bastante ambicioso.

GR: Disse que é um programa ambicioso. O que destaca?

SJL: É termos conseguido trazer, algo que há muitos anos pensámos, artistas de renome à feira. Nem todas as pessoas têm a mesma opinião, mas andámos a ser ‘acusados’ de não trazer grandes artistas à Feira de Maio. Este ano temos a Gisela João, uma artista consagrada no Fado, e o Tony Carreira, que dispensa apresentações, é sobejamente conhecido e está a festejar os 35 anos de carreira.

Para além disso, enaltecer as esperas de toiros e a Praça das Freguesias, que este ano conseguimos por de pé, o que não aconteceu o ano passado por dificuldades financeiras, mas também porque a pandemia ainda persistia e estávamos um pouco apreensivos nessa matéria.

A Praça das Freguesias fica repleta de gente, degustando os melhores pratos da nossa gastronomia, sendo também uma grande montra do melhor da nossa cozinha local, como o torricado, a sopa de batata, a manja, e outros pratos regados com os nossos vinhos, bem como os licores avinhados que se produzem no concelho.

São três focos bastante importantes: Conseguir novamente implementar a Praça das Freguesias, trazer artistas de renome e manter o espírito tertuliano de amizade e convívio para estas festas deixa-nos satisfeitos.

GR: Este evento assenta na trilogia cavalo, toiro e campino. Nesta matéria, a tradição no concelho ainda é o que era?

SJL: Diria que já teve melhores dias. Neste momento temos apenas duas coudelarias, a Ortigão Costa, conhecida mundialmente, e a do Dr. Henrique Abecassis. Relativamente às ganadarias, a pastar na Azambuja, só temos uma, a do Dr. Jorge Carvalho. Como disse, já houve dias melhores. Há alguns anos fizemos uma investigação sobre o número de ganadarias que pastaram em Azambuja e ficamos surpreendidos, pois já tivemos 20 ganadarias no concelho.

A Azambuja recebe de 25 a 29 de maio a centenária Feira de Maio, que acontece no último fim de semana do mês de maio e representa cinco dias de festa assentes na trilogia Cavalo, Toiro e Campino, os expoentes identitários da cultura tauromáquica. Este ano, cumprindo uma reivindicação de muitos, Gisela João e Tony Carreira são os cabeças de cartaz do programa de animação e regressa a Praça das Freguesias.

GR: Como olha para os movimentos anti tourada, que vão tendo cada vez mais palco?

SJL: Hoje a sociedade tende a esquecer parte da sua história. Os mais jovens estão hoje mais direcionados para outro tipo de atividades, mais ligadas à natureza, ao prazer de viajar ou a tudo o que tenha a ver com a informática e as novas tecnologias, e especem-se - por culpa nossa, porque não soubemos passar essa memória – daquilo que são as nossas raízes ancestrais, nomeadamente em relação à tauromaquia e ao tratamento do gado, quer do toiro, quer do cavalo. Somos nós os culpados e permitimos que essas coisas acontecem e esses movimentos cresçam.

Há uns anos, os municípios com atividade taurina da região foram chamados para participar numa reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, uma vez que o PAN iria apresentar uma proposta para acabar com as touradas no Campo Pequeno. A Azambuja esteve representada por duas pessoas, eu e o senhor vereador António Matos. Estavam também presentes uma pessoa ligada aos focados, o Rui Bento Vasques, ligado ao Campo Pequeno, e outra pessoa ligada à tauromaquia. Eramos cinco pessoas. Dos outros municípios da região não estava ninguém.

Isto demonstra bem a capacidade reativa que as pessoas têm em relação a estas matérias.

Quando digo que somos nós os culpados para que estas coisas aconteçam, é porque, e parece-me, não temos capacidade de nos juntarmos e reivindicarmos aquilo que é nosso e defender as nossas tradições ancestrais. Nesta perspetiva estamos mal e a tendência é piorar.

Na parte que me toca, tenho defendido a tauromaquia e todas as ligações populares aos toiros e às touradas, onde posso e como posso, mas reconheço que por vezes é difícil pregar no deserto.

No concelho da Sertã, no dia 19 de maio

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