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ILHAVIRTUALPONTOCOM 1º TRIMESTRE 2014

Nº 22

Número 22 1º trimestre 2014


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EDITORIAL O Ilhavirtualpontocom,

nosso já tradicional informativo sobre a cultura maranhense está de volta, agora em uma periodicidade trimestral, mas com a mesma qualidade de sempre e com o desejo de promover nossos escritores e nossas letras. Neste número temos uma homenagem póstuma ao escritor Wilson Pires Ferro, que logo no início do ano cumpriu sua jornada entre nós e empreendeu sua viagem derradeira. Wilson Ferro foi um homem dedicado às letras e à cultura, valorizando sempre os valores de nosso Estado. Sua filha, a promotora, poetisa e pesquisadora Ana Luíza Almeida Ferro faz uma justa homenagem ao homem, ao escritor e ao pai em um texto cheio de emoção e que revela ao leitor um homem que merece ser admirado.

Como sugestão de leitura, trazemos o livro Sertanejas, de Trajano Galvão, um dos monumentos da poesia romântica maranhense e que merece ser lido com toda atenção. Temos também uma antologia de belos poemas escritor por autores caxienses. A seleção foi feita pelo poeta e professor Carvalho Júnior, e serve para que o leitor conheça as maravilhas literárias produzidas por autores de excelente nível e que produzem uma obra que vai além da paixão pelo rincão natal

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Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti (John Donne).

Ana Luíza Almeida Ferro* A 20 de janeiro deste ano, após 77 anos de navegação pelos mares, ocasionalmente serenos, frequentemente bravios, da vida terrena, o historiador, escritor, poeta, professor universitário e bancário aposentado Wilson Pires Ferro, que tantas vezes seguira para desbravar terras e países longínquos, do Nepal à Noruega, da China ao Canadá, embarcou em uma nau especial, guiada pela mão divina, para a sua derradeira viagem, rumo à eternidade. Sua figura permanecerá indelével na lembrança daqueles que com ele labutaram nas trincheiras do magistério e do mister bancário; dos membros da Academia Ludovicense de Letras (ALL), fundada em 10 de agosto do ano pretérito, da qual ele foi um dos idealizadores e fundadores; dos que algum dia ou por muito tempo tiveram o privilégio de privar de sua honestidade, de sua sinceridade, de sua lealdade, de sua inteligência, de seu amor pela vida e pela sua família; de seus ex-alunos, testemunhas de sua paixão pela História; de seus numerosos leitores, seja de seus poemas, seja de seus artigos, seja de seus contos para a juventude, seja de suas histórias infantis; enfim, e sobretudo, de sua família, por suas excepcionais virtudes como esposo, pai e irmão, dentre outras. Oficialmente, ele nasceu em Coroatá, no dia 30 de julho de 1936, em uma família humilde, capitaneada pelo ferroviário João Meireles Ferro e pela dona de casa Isabel Pires Chaves Ferro. Há, entretanto, a informação de que era, na verdade, filho de Codó. Era o mais velho dos seis filhos sobreviventes do casal caxiense, já que outros quatro pereceram ainda infantes. Não teve brinquedos prontos em sua infância; ele próprio os fazia, pela falta de condições econômicas da família. Dos pais herdou, entre outros traços de personalidade, a notável integridade e a grande dedicação aos seus. A profissão do pai imprimiu-lhe na alma a fascinação pelos trens, mais tarde estendida aos bondes. Esta estrofe do poema “Ode a São Luís” atesta essa sua preferência: “Destes, só lembranças passadas,/quando o futuro parecia alvissareiro,/os trilhos sob as ruas asfaltadas,/hoje nem bonde nem passageiro.”


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Após a morte do pai, assumiu, ainda jovem, o timão da família, em apoio à mãe, cuidando zelosamente de concluir o encaminhamento dos irmãos pela vida, os quais se formariam todos: José Ribamar, Waldemar, Mário, Salvador e Gracinha. Filho exemplar, venerava a mãe, matriarca de inúmeras qualidades, o que está especialmente refletido no seu poema “Mãe-Bela”: Quando menino eu te chamava de Mãe-Bela, mas Bela... bela é a tua história, sorriso meigo, inocência no olhar, mente cansada, já ofusca a tua memória. Sofrimentos, privações então passaste, não esqueço, recordo a todo instante, para ter os filhos bem formados, tua luta sempre foi uma constante. [...] Nas doenças acometidas na infância, não raras noites, indormidas, tu passavas, junto ao meu leito velavas, muito aflita, melhor remédio era o carinho que me davas. Latas d'água carregavas na cabeça, longe para suprir nosso sustento, as cidades cada qual a mais carente, escassez de água, luz e alimento. [...] Quando exalares o teu último suspiro, teus olhos se fecharem em sono profundo, quero fitar-te, bem fixar a tua imagem, escolher-te minha mãe em outro mundo.

Em São Luís, encontrou na figura de um parente ilustre um segundo pai: o historiador Mário Meireles. Estudou na então Escola Técnica. Foi auxiliar de escritório da extinta Casa Bancária Francisco Aguiar Ltda. Possuía formação em Contabilidade, Bacharelado e Licenciatura em Geografia e História e pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento. Exerceu o magistério nos níveis de ensino médio e superior. Era professor aposentado da Universidade Federal do Maranhão, onde desempenhou os cargos de Coordenador do Curso de História, Chefe do Departamento de Geografia e História, Administrador do Campus Universitário, Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Diretor do Centro de Estudos Básicos (CEB). Foi Assessor perante o Gabinete do Reitor da UFMA (1983-1985). Era também aposentado do Banco do Brasil.

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Amante das letras, cultor do saber, deixou uma rica e variada bibliografia. Escreveu “São Luís e Alcântara” (Florianópolis, 1977); A educação e os desportos como indicadores do desenvolvimento de uma nação (Rio de Janeiro, 1983); Versos e anversos, em coautoria, obra que reúne poesias, entre as quais a série “Históricas”, desde o Descobrimento do Brasil até a sua Independência (Belo Horizonte, 2002); Espelhos de São Luís, de artigos e crônicas (São Luís, 2005); Depois que o Sol se põe, de contos para a juventude (São Luís, 2007); Quando eu era pequenino, de histórias infantis (São Luís, 2007); e Sombras da noite, igualmente de contos para a juventude (São Luís, 2010). Também concluiu os originais de seu terceiro livro de contos, ainda inédito. É um dos autores do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários (São Luís, 2012), organizado por Antonio Noberto. Foi, aliás, um ferrenho defensor da atribuição da fundação de São Luís aos gauleses. Por curiosidade, registro que ele foi professor do Colégio Batista Daniel de la Touche. Colaborou, por meio de artigos sobre diversos assuntos, muitos dos quais sobre a História

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de São Luís e do Maranhão, com os jornais Estado de Minas, O Imparcial e, amiudamente, O Estado do Maranhão. Foi agraciado com a medalha Comemorativa do Jubileu de Prata, da UFMA (1991), e a Comenda Gonçalves Dias (2013). Era membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, ocupando a Cadeira nº 7, patroneada por Gonçalves Dias, como antes o seu mentor Mário Meireles ocupara a Cadeira nº 9 da Academia Maranhense de Letras, tendo o mesmo insigne vate como patrono. Era, ainda, membro da União Brasileira de Escritores – UBE. Apreciava a arte da declamação e os saraus de poesias. Conquistou o primeiro e o terceiro lugar no II Concurso Literário da AAUFMA, respectivamente com as poesias “A França Equinocial em versos” e “São Luís quatrocentona”. Cantar a cidade de São Luís era, a propósito, um de seus temas favoritos: “Extensas praias, sol e maresias,/ povo alegre, sofrido, mas feliz,/cantores ensaiam melodias,/gorjeiam sabiás e bem-tevis,/poetas declamam poesias,/hinos de louvor a São Luís” (Versos e anversos, “Ode a São Luís”) Mesmo fragilizado pelo câncer, participou das duas edições da leitura poética global promovida pelo Liceo Poético de Benidorm, da Espanha, na capital maranhense, em 2013.


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Era um homem de posições firmes e coerentes, de caráter irreprochável, leal, solidário, sábio e inteligente. Não se preocupava em ser politicamente correto; preferia ser simplesmente ético e professar opiniões que representassem fidedignamente os seus elevados padrões morais e as suas convicções. Assim, defendia a família e o casamento tradicionais, o sistema de mérito, o Estado de Israel, a História factual, a luta empreendida pelo regime militar no Brasil contra a implantação do comunismo, que ele tanto abominava. Não tinha vergonha de se colocar mais à direita do espectro político. Horrorizavam-lhe a deterioração dos valores, a disseminação da corrupção e a cultura de permissividade e impunidade no país, o crescimento da violência e o culto à personalidade, de inspiração stalinista. Também propugnava pela justiça social, mas não acreditava no assistencialismo como meio para promovê-la. Era um homem justo, com fome e sede de justiça, como pede o Sermão da Montanha. Jamais conheci alguém mais honesto do que ele. Não era perfeito, e nem poderia sê-lo, como qualquer ser humano, mas foi sempre um farol a iluminar a vida de seus familiares e amigos. Seu título maior não estava nas obras que publicou, nem na cadeira que ocupou na Academia Ludovicense de Letras. Seu maior título não era o de historiador, nem o de contista, nem o de poeta, ou tampouco o de Acadêmico, mas sim o de professor, dos que foram e dos que não foram seus alunos, professor de uma vida coerente, proba e laboriosa, professor de uma rica história profissional e pessoal. No campo profissional, lecionou na universidade, por exemplo, as disciplinas Teoria da História, História do Brasil, Sociologia da Educação, História Medieval, História Antiga, História da Cultura, História Política e Socioeconômica, História Antiga e Medieval, História Moderna e Contemporânea e Estudos de Problemas Brasileiros. Nem sempre usufruiu o devido reconhecimento como um dos pioneiros da Universidade Federal do Maranhão, antes Universidade do Maranhão, e homem destacado das letras ludovicenses, mas sempre fez por merecer o que lhe foi reconhecido.


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Fazia de tudo um pouco em casa. Era um homem verdadeiramente prendado: um pouco eletricista, um pouco carpinteiro, um pouco pintor, um pouco jardineiro. Era ele quem armava a Árvore de Natal todos os anos. Ela ainda está bonita como ele a deixou. Era ele quem originalmente cuidava do pequeno jardim do apartamento, antes de a doença limitar-lhe as atividades. Seus belos quadros em tapeçaria decoram as paredes de nosso apartamento. Devoto de Nossa Senhora, chamava carinhosamente a sua dileta esposa, Eunice, minha mãe, de Rainha, com quem estava às portas de completar Bodas de Ouro. Eu era a sua Princesa, o seu filhote, a sua ararinha azul e, confesso, aquele apelido de que eu menos gostava, a sua curica. Meu leãozinho querido, se outras vidas eu tivesse, escolher-te-ia sempre, se me fosse dado o privilégio, como meu pai, meu paiotão. Foste, para mim, a personificação do que significa ser pai, o melhor pai que uma filha poderia desejar; foste e serás sempre o meu melhor amigo; eras o meu último revisor e o meu primeiro leitor e maior incentivador. Apresentaste-me ao deslumbrante mundo dos livros, especialmente os clássicos. Ora recorro ao que eu disse no discurso de posse na Cadeira nº 36 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 26 de agosto de 2011, na parte dos agradecimentos: Aos meus pais, Wilson Pires Ferro e Eunice Graça Marcília Almeida Ferro, meus eternos anjos da guarda, meus mestres de todas as horas, que não me deixam perder o leme ou soçobrar e que me deram asas para voar e tentar repetir o voo de Dédalo: nem tão perto do mar, que me faça negligenciar a grandeza e as alturas do sonho; nem tão perto do sol, que me faça olvidar as águas frias da realidade e a pequenez da condição humana. Vós sois o meu Velo de Ouro, o meu Santo Graal, o meu tesouro inesgotável de certezas, amor, carinho, apoio e orientações, em meio às incertezas da vida. Vós sois os meus heróis, os meus oráculos, em uma época de falsos profetas e falsos deuses.

Por quem os sinos dobram? Eles dobram por minha mãe e por mim, que perdemos, respectivamente, um esposo dedicado e um companheiro de toda uma vida e um pai amoroso e o maior amigo; eles dobram por meus tios Waldemar, Mário, Salvador e Gracinha, que perderam um irmão deveras devotado à família; eles dobram por seus familiares em geral e por seus amigos, que não mais poderão usufruir a sua companhia. A tua morte, pai, nos diminui a todos. Fica uma imensa saudade. Mas essa perda, pai, é efêmera. Tua nau partiu e atingiste o porto seguro dos domínios divinos:


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Numa visão infinita, num ponto muito distante, o encontro do céu com o mar, é a linha do horizonte. Longe, sobre as águas, deslizando vem ligeiro, rompendo vagas e ondas, um barco com seu remeiro (Versos e anversos, “A praia”).

para sempre das dores da vida. Um dia, todos nós faremos a mesma viagem para além do horizonte terreno. Até lá, estarás vivo em nossos corações, nos livros que escreveste, nos exemplos de vida que deste. Lembremos da lição do poeta Henry Longfellow: “As vidas dos grandes homens lembram-nos/Que podemos tornar sublimes nossa vidas,/E, ao partirmos, deixar atrás de nós/Pegadas nas areias do tempo.” Footprints on the sands of time. Nossos agradecimentos a todos os familiares e amigos aqui presentes. Obrigada, Senhor, pelo privilégio de ter Wilson Pires Ferro como meu pai.

* Ana Luíza Almeida Ferro é escritora, Promotora de Justiça, membro da Academia Ludovicense de Letras e filha do Wilson Pires Ferro


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APERITIVO LITERÁRIO

Wilson Pires Ferro - Quando eu era Pequenino. São Luís, Lithograf, 2007. p. 25-27.

Era uma bem cuidada reserva florestal, os passarinhos combinaram uma grande festa—a festa da passarada, na qual cada um teria oportunidade de expor seus maviosos cantos. Para aquele aconchegante local, em um dia de primavera em que a natureza se mostrasse com toda a sua beleza voariam bem-te-vis, canários, curós, chicos-pretos, uirapurus, rouxinóis, sabiás e muitos outros pássaros daquela área e de regiões mais próximas. Ate os periquitos, que não possuíam tons cantarolantes, foram convidados e deveriam estar presentes. O papagaio, que não chega a ser um passarinho, fala, mas não canta nada, por curiosidade interessou-se em ver e ouvir os passarinhos entoarem seus cantos. Porém, a felicidade nunca é completa. Um garoto que aprisionava passarinhos em gaiolas para vende-los nas feiras e mercados soube do evento e se deslocou para aquele local, antes que a festa fosse realizada. - Vou apanhar muitos pássaros, vende-los e arrecadar muito dinheiro—disse o garoto. Cuidadosamente espalhou alguns alçapões—espécie de gaiola com comida para atrair os pássaros e dispositivos para aprisioná-los. Atraídos pela comida, os pássaros entram nas gaiolas e o peso de suas patinhas e de seu corpinho faz com que os dispositivos disparem, fechando a entrada do alçapão. Aí o pássaro que vivia livre perde sua liberdade. Mas o crime nunca é perfeito. Enquanto o garoto armava os alçapões para pegar os passarinhos, o papagaio, do ganho de uma frondosa árvore viu tudo. - Curupaco pa pa co, eu não vou deixar que ninguém estrague a festa dos irmãos passarinhos—murmurou consigo. E assim aconteceu. No dia da festa, logo ao amanhecer, os pássaros começaram a se reunir naquele acolhedor logradouro. O papagaio dormiu cedo, e acordou também muito cedo, dado início a sua gloriosa missão—a de evitar que algum pássaro se aproximasse dos tais alçapões. - Curupaco pa pa co, rosa viu tudo, rosa sabe de tudo. Não desçam das árvores. Há perigo lá embaixo—repetia sem parar. E assim a astuta ave de bela plumagem evitou que os passarinhos fossem apanhados e amargassem o cativeiro, perdendo a sua liberdade, presos em uma gaiola. Conseguiu segurar os pássaros nos galhos das frondosas árvores e, em recompensa, por toda a manhã ouviu uma sinfonia de cantos maviosos. À tardinha o garoto esteve no local para colher os frutos de sua maldade. Entretanto, os alçapões estavam vazios. Nenhum passarinho se aventurara a penetrar neles. Deus, quando criou o mundo povoou-o também com passarinhos livres para voar e cantar..


SUGESTÃO DE LEITURA

Alguns livros jamais poderiam ficar fora das estantes das livrarias ou da biblioteca particular dos pesquisadores, tal sua importância para a historia literária. É o caso do livro Sertanejas: Poesias— do poeta romântico maranhense Trajano Galvão de Carvalho. O livro, que teve sua primeira edição em 1898 e que só agora em 2014 volta a ser editado, sob a coordenação técnica de Jomar Moraes.

A nova edição traz o prefácio de Raimundo Correia e estudos de Antônio Henriques Leal e de Oscar Lamagnére Leal Galvão, além de notas e observações de Jomar Moraes O livro já se encontra disponível em algumas livrarias.


15 POEMAS DE AUTORES CAXIENSES Selecionados por Carvalho Junior


Impulso O poeta não precisa de laço para o poema incerto que vai para a rua e não tem mais conserto. O poeta não precisa de arma para a caça de palavras: precisa do ávido pensamento que se põe em pé, quando a poesia vem ou se esconde e ele não sabe onde?

ÚLTIMO POEMA

(Quincas Vilaneto, do livro “Empalavrando silêncios”)

não há mais página em branco para o preto do grafite desenhar o esboço da alma a ponta do lápis quebrou no livro fechado e envelhecido à história sem ser escrita. então, ao homem a arte fora negada sem ter sido amiga da vida. (Wybson Carvalho, do livro “Poesia Reunida”)

PROSA DESFOLHADA deixemos de prosa e virar páginas em branco, o outro lado da vida está no verso. (Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior – CARVALHO JUNIOR, do livro “A Rua do Sol e da Lua”)

Meu grito

Despertar

Rimo nos meus versos, Os opostos, os inversos, O que me fala o coração... Perco-me no meu próprio grito, Que sufocado, fraco e aflito, Só mesmo eu escuto seu refrão... (Inês Maciel, do livro “Despida”)

LABIODENTAIS dentes hábeis em lábios lábeis (Edmilson Sanches, do livro “Poemas de amor e carne”)

Amanheceu floresta: já se ouve os pássaros. Afinada orquestra solta no espaço. Canta o Sabiá na folha da palmeira canta a Patativa no galho do umbuzeiro. A lua, de manso, se esconde tão cheia. — Estrela que cai. (Jorge Bastiani, do livro “Composições”)


Batalha

uma bala uma vala um corpo que cala um espírito que exala. milhões de balas sem valas sem malas em jaulas. a bala cala a cela enjaula a vida embala a voz entala.

(Firmino Freitas, do livro “A mudez do grito”)

O RIO Diz o frio no corpo da terra do barro da lama toá e piçarra que a tudo rala que a tudo fere que a tudo fura que a tudo turva e cria a cor só tua de garapa de cana e ferrugem Itapecuru (Firmino Freitas Filho, do livro “Queda”)

Homem/Poeta É do homem/poeta romper a noite, a mansidão dos bares, ruas e confins. É do homem/poeta os mistérios da vida e da morte. É do homem/poeta a lua, o sol, o universo. É do homem/poeta o sonho, um muito de melancolia, um clarão de esperança. É do homem/poeta a POESIA na sua essência e no seu mistério. (Renato Meneses, da coletânea “Neófitos da terra”)

QUADRA DO DESENGANO Esse negócio de te querer É tão lírico que resolvi esquecer Pra ver se me livro e possa te ter. (Maykson Carvalho, do livro “Sobre o tempo”)

(________sem título_____________) quando a tarde entardece-me guardo o sol em mim. sapos e mariposas na relva pousam a poesia repousa. desejo, solfejo a vida feita de azulejo. (Silvana Meneses, do livro “Estação poesia”)

o morto-vivo poema meu poema é um morto, cadáver ambulante, andarilho morto-vivo com palavras sem vida veio ao mundo fraco, sucumbindo ao primeiro alento morri quando ele nasceu juntos estamos num jazigo com ele fui falso poeta nos meus dias de vida não tenho motivo nenhum para ser “imortal”... (Fábio Kerouac, do livro “Um poeta brasileiro em Hamburgo”)


SOLIDÃO Aqui apenas estou a refletir sobre o que é amar e odiar. Pois bem, amo realmente, fora de controle, fiel e loucamente sem saber o que é o ódio Apenas voando pela nuvem “amar” Sou eu, aqui, solitária, A um amor almejar.

BALA PERDIDA A sensação de bala baila na minha mente. O calor da bala quase queima a minha face. Ele não apertou o gatilho mas atirou, acertando certeiramente minha paz. A bala não disparada também mata. (Rochelle Carvalho, do livro “Sobre o tempo”)

(Lia Carvalho, do livro “Vozes agudas”)

POEMITE AGUDA persegue meu poema à vida versejando um falecer vivo e voraz dentro de mim. desembarco no cais de um verso no pelejar com a morte, senão alívio, minha primeira sorte. despenco das rimas em que, sem arrimo, lavro a palavra escrava e senhora de um berro de dor. amo meu poema, embora problema, sem cheiro de amor. (Naldson Carvalho, do livro “Vozes agudas”)

ILHAVIRTUALPONTOCOM é um informativo trimestral sobre a literatura maranhense sob a coordenação do professor José Neres e que tem como principal meta divulgar a cultura maranhense.


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