A Alvorada

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Nº 37 - MAR 2015

Honra a Deus quem Nele confia. Uma das coisas em que mais desagradamos a Deus é a pouca confiança nele. Este defeito provém de não considerarmos bastante o que nos foi dado no mistério da Encarnação, e o que um Deus feito homem fez pelos homens. Porque Deus de tal maneira amou o mundo, que lhe enviou o seu Filho unigênito. Se Ele não poupou ao seu próprio Filho e o condenou à morte para nos salvar, o que não nos dará ele depois disto? (Jo 3, 16; Rm 8, 32) Se o filho de um rei quisesse morrer para expiar o crime de um vassalo que muito amasse? Ou se um rei oferecesse a vida de seu filho para salvar a de um seu favorito, seriam atos de misericórdia admiráveis. Mas que este filho quisesse morrer e seu pai oferecesse a vida dele por seu único e mortal inimigo, então seria um excesso inconcebível de misericórdia e de bondade; entretanto, foi o que Deus fez dando o seu Filho único à natureza humana, sua inimiga, não somente para salvá-la, mas ainda elevá-la ao trono da Divindade. Foi o que fez o Filho de Deus, que, podendo salvar os homens com uma palavra, com uma lágrima, com um suspiro, quis merecer-lhes a graça da salvação por meio de uma vida tão trabalhosa e pobre, como a que levou, e sofrendo morte tão cruel e ignominiosa como a que padeceu! Depois disso, não teremos confiança em tal misericórdia? Não esperaremos que um Redentor tão cheio de bondade, que nos remiu com o preço do seu sangue precioso, nos livre dos nossos pecados e imperfeições? A desconfiança desagrada

imensamente a Deus, sobretudo quando vem de criaturas a quem concedeu graças extraordinárias. Foi em castigo de uma ligeira desconfiança que Moisés não entrou na terra da promissão1. Morreu, tendo avistado esta terra tantas vezes prometida e tão ardentemente desejada. Mas não entrou nela e Deus não se deixou comover por nenhuma oração. Ofendemos a Deus quando dizemos: “Quando me tornarei indiferente? Quando terei o dom da oração?” Como se Deus fosse pobre ou avaro2 de seus dons! Como se ele mesmo não tivesse empreendido a nossa perfeição! Cumpramos unicamente a sua vontade, cooperemos com suas graças, procuremos purificar o nosso coração e confiemos, que nada nos há de faltar. Muitos não conseguirão chegar a grande perfeição, porque não confiam bastante. Devemos ter grande e inabalável confiança, estribada3 na misericórdia e na bondade infinita de Deus, e nos merecimentos infinitos de Jesus Cristo. “Sois vós, Senhor, o único amparo da minha confiança” (Sl 4, 10) Devemos confiar e esperar de Deus grandes coisas, porque os merecimentos de nosso Senhor nos pertencem. Muito honra a Deus quem muito nele confia e quanto mais confiarmos em Deus, tanto maior honra lhe daremos. 1.Dada em promessa -- 2.Mesquinho, sem generosidade -- 3.Apoiada, fundamentada

Fonte: Pe. Luiz Lallemant, sj – Vida e Doutrina Espiritual – Editora Vozes, 1940 – do acervo da biblioteca da Congregação Mariana da Anunciação

O inútil disfarce e a verdadeira vida cristã A propósito da Campanha da Fraternidade do ano de 2015, cujo importante tema é “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45), são dignas de toda atenção as seguintes palavras do Beato Papa Paulo VI: Urge confirmarmo-nos nestas convicções, para fugir a outro perigo que o desejo de reforma1 poderia originar, não tanto em nós, Pastores, defendidos por um vigilante sentido de responsabilidade, quanto na opinião de muitos fiéis. Pensam estes que a renovação da Igreja deve consistir principalmente na adaptação dos seus sentimentos e costumes aos do mundo. A fascinação da vida profana é hoje violentíssima. O conformismo parece a muitos necessário e justificado. Quem não está bem firme na fé e na prática da lei eclesiástica, facilmente pensará ter chegado o momento de nos adaptarmos à concepção profana da vida, como se esta fosse a melhor, a que o cristão


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