ANO SANTO DA MISERICÓRDIA 04/09/2016 - CANONIZAÇÃO DA B. TEREZA DE CALCUTÁ, CONGREGADA MARIANA DE SKOPIE, ALBÂNIA
CONGREGAÇÃO MARIANA DA ANUNCIAÇÃO – Santos/SP
Pe. Claudemar Silva, trechos do artigo “Madre Teresa de Calcutá: a santa da misericórdia”, publicado no site elodafe.com.br
A primeira vez que ouvi falar de Madre Teresa de Calcutá eu tinha 13 anos. Uma senhora da Paróquia mostrou-me um cartão postal das mãos daquela freirinha pequena, já calejadas, segurando um terço. Eu nunca mais me esqueci daquelas mãos. Depois disso, passei a ler e a acompanhar tudo o que saia a respeito daquela freira albanesa que se dedicava exclusivamente aos mais pobres dos pobres. Como ela conseguia fazer aquilo? Estar com aquele tipo de gente que ninguém mais gostaria de estar? O testemunho daquela religiosa, ao mesmo tempo em que nos comovia, causava em nós, cristãos, um grande embaraço. Ela vivia o Evangelho, radicalmente. (...) Madre Teresa, segundo confidências ao seu diretor espiritual publicadas no livro “venha, seja minha luz” [Editora: THOMAS NELSON BRASIL], viveu durante quase toda a sua vida a sequidão da alma. Sentia Deus distante. Por vezes, é como se Ele tivesse se ausentado de todo. Nos últimos anos de sua vida, essa foi a experiência mais forte que ela teve de Deus: o seu completo silêncio. Se nos inícios do seu ministério de vida consagrada, a voz de Deus se fez ouvir em alto e bom som, como no clamor que ela ouvira do Crucificado: “tenho sede”, nos últimos tempos a voz dEle foi o mais absoluto silêncio. Madre Teresa sofreu o que São João da Cruz classificara como a “noite escura da alma”. Sua ação caritativa tornou-se um compromisso da convicção que não era mais fruto do sentimento nem da emoção, mas da radicalização mais profunda da fé: fazer por crer, sem ver, sem sentir nem tocar. Crer por crer, e nada mais. A freira que consolava os moribundos já não contava mais com
os consolos de Deus. Ele havia se ausentado: “é como se Ele não me amasse mais”, confessava. Após receber o prêmio nobel da paz, em 1979, e voltar para sua casa em Roma, ouviu de um jornalista: “Madre, a senhora tem setenta anos! Quando morrer, o mundo será como antes. O que mudou depois de tanto esforço?” Sem esboçar mágoa nem constrangimento pela pergunta, Madre Teresa sorriu e lhe respondeu: “Veja, eu nunca pensei que poderia mudar o mundo! Eu só tentei ser uma gota de água limpa em que pudesse brilhar o amor de Deus. E é só isso que eu desejo ser. Mas sem mim, sem uma única gota, o oceano seria menos oceano”. As provocações vinham de toda parte, como ainda hoje. Ainda nos primórdios da Congregação das Missionárias da Caridade, um representante do Vaticano foi a Calcutá entrevistá-la para dar seu parecer para a Congregação da Doutrina da Fé. Madre Teresa relutou insistentemente em lhe conceder a entrevista. Ela dizia que não tinha que defender nem dizer nada, pois a Congregação não era dela, era de Deus. O purpurado tanto fez, que o bispo da Diocese de Calcutá intimou Madre Teresa e ela, por obediência, cedeu. Ao ser inquerida pelo cardeal, respondeu: “a obra é de Deus. Eu sou apenas um lápis nas mãos dEle. Quem escreve é Ele”. Diante da obra de misericórdia empreendida pelas Missionárias da Caridade e pelo testemunho de Madre Teresa, não restou outra coisa ao religioso senão assinar o termo de consentimento à nova Congregação: “quem sou eu para deter o lápis de Deus?”, teria dito. (...) Madre Teresa, com sua vida, missão e obra, foi um grande anúncio da plenitude da vida a que todos têm direito e uma grande denúncia dos desmandos e descuidos para com essa mesma vida, por parte dos poderosos e grandes deste mundo.
ANO IV – nº 55 – SET 2016
A ALVORADA A GOTA E O OCEANO