DOM QUIXOTE (de Coimbra) Uma estrada no campo, assinalada por um traço descontínuo, que segue sinuoso entre montes de sucata, pilhas de ferro-velho, carcaças de automóveis, etc., como se o campo fosse feito de objectos em desuso e a estrada uma pista de motocross numa sucateira. Ao fundo, um horizonte vermelho, de onde surgem sons de foguetes, sinos de igreja, bailaricos, e emissões rádio perdidas na serra. À frente, meio fora meio em cena, um sofá coçado, uma televisão não muito nova, pilhas de livros, filmes, discos e jogos informáticos, e uma mesa de trabalho com algumas cadeiras.
1. Para a plateia:
SOBRI5HA Numa aldeia da Mancha, de cujo nome não me lembro, vivia –
GOVER5A5TA Na Espanha. A Mancha é um pedaço da Espanha.
SOBRI5HA Vivia o meu tio, um fidalgo dos de lança guardada no armeiro, adarga antiga, rocim fraco[JE1] e galgo veloz.
GOVER5A5TA Isto quer dizer que era de uma família nobre, e vivia numa casa ainda mais antiga, que tinha muito pó, um brasão por cima da porta, muito sujo por causa das pombas, e espadas na parede, cheias de ferrugem. Nas cavalariças, um cavalo muito, muito esperto, e no quintal, um cão de caça muito, muito rápido. E uma governanta muito, muito espectacular, que não era paga há meses mas continuava a trabalhar como uma moura para limpar isto tudo – e que sou eu.
SOBRI5HA A semana passada, o meu tio saiu de casa sem avisar ninguém. 1