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mudança no espaço escolar

SOCIAL - FÍSICA - PEDAGÓGICA

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SOCIAL - FÍSICA - PEDAGÓGICA



Pode ser que para você esse trabalho se resuma em uma grande utopia, prefiro tratá-lo como um grande desafio: Idealizá-lo foi um desafio, discutilo foi um desafio, projetá-lo foi um desafio e quiçá seja executado será um grande desafio. A educação brasileira clama por mudanças, alguns paradigmas precisam ser quebrados e como dizia nosso grande mestre Oscar: A gente tem que sonhar, se não as coisas não acontecem!



“Para o senhor entender a nossa escola, o senhor terá que se esquecer tudo o que o senhor sabe sobre escola.” aluna da Escola da Ponte em Portugal para Rubem Alves ao levá-lo para conhecer sua escola.



agradecimento Agradeço a Deus pelas condições necessárias de chegar até aqui, aos meus pais pelo eterno incentivo e por me guiarem por bons caminhos, ao meu noivo pelo apoio, amor e compreensão, aos meus super e fiéis amigos por tornarem os dias mais leves, às minhas chefes e amigas pelas grandes oportunidades, aos mestres de minha trajetória pelos ensinamentos e por despertarem meu interesse pela educação e à arquitetura por me descobrir e me desafiar diariamente. Gratidão!



01 tema 02 introdução 03 objetivo 04 panorama educacional atual e vulnerabilidade social localização 06 equipamentos públicos

07 vazios existentes 08pré-análise 09 terreno 10 questionamento 11 estudos locais 12 estudos de caso pedagógico 13 estudos de caso arquitetônico

programa de necessidade 15 estudo de implantação 16 evolução 17projeto 18 possibilidades 19 bibliografia



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tema



Escola pública de anos iniciais e anos finais com projeto político pedagógico baseado essencialmente na pedagogia sócio-construtivista de Vygostky além de diversos outros pensadores e educadores como Célestin Freinet e Paulo Freire.

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introdução



A educação brasileira é um ponto muito frágil entre os grandes investimentos do país, não existem políticas que incentivem mudanças no método de ensino tradicional há séculos e isso acaba por prejudicar o aprendizado em si, já que inovações são vistas em todos os âmbitos, todo o tempo. O aluno, por sua vez, tem sede de coisas novas, tudo muda muito rápido e o modelo ultrapassado de formação, desconectado com o tempo atual gera o desinteresse pela instituição de ensino. A escola acompanhada do projeto pedagógico que a orienta é responsável por essa diminuição de interesse e sendo a educação a base da sociedade, aqueles que não a possuem, acabam por ser marginalizados. A mudança do espaço físico acompanhada da elaboração de um planejamento compromissado com um projeto pedagógico inovador é urgente e contribuirá para o desenvolvimento do aluno de forma eficiente, seja em uma área frágil ou não. Em relação à faixa etária escolhida têm-se que os anos iniciais ainda abrangem etapas de alfabetização e juntamente com os anos finais

compõem a educação básica e primordial para o desenvolvimento intelectual, além de ser base de entendimento para assuntos complexos do Ensino Médio. Compõem também a faixa etária em que a criança compreende o seu espaço (internalizando e materializando), seu entorno, seu eu, se reconhece dentro do ambiente e absorve conteúdos e mudanças de forma muito mais rápida. Para atender o objetivo estabelecido o programa pedagógico proposto é diferente das demais escolas públivas brasileiras apesar de se se utilizar do mesmo material didático que os demais, o que muda é a forma que isso é abordado, como isso é transmitido aos alunos, e isso se difere muito do método tradicional, por isso, existe um apelo de aceitação. A proposta enquanto projeto arquitetônico e enquanto programa pedagógico pode ser aplicada tanto ao Ensino Infantil quanto ao Ensino Médio, são abordados aqui os dois Ciclos intermediários para melhor exemplificação e entendimento do Projeto. O Projeto segue como um modelo para as demais áreas da cidade e etapas do aprendizado.

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objetivo



MUDANÇA NO ESPAÇO ESCOLAR SOCIAL – FÍSICA – PEDAGÓGICA

BJETIVO

Este projeto tem como objetivo aumentar o interesse do educando pela instituição de ensino através da valorização do seu espaço, fazendo com que a criança entenda que o conhecimento é um benefício, sentindo prazer em aprender e que por conseguinte isso eleve os níveis de proficiência além de diminuir a evasão escolar. Visa ainda integrar a comunidade do entorno, colaborando na melhoria da qualidade de vida local, incentivando o trabalho coletivo, sendo essas premissas do projeto pedagógico proposto.

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panorama educacional atual e vulnerabilidade social



Foi realizada uma pesquisa e análise das notas de todas as escolas estaduais de Mogi das Cruzes utilizando dois principais índices: 1º - médias de proficiência dos alunos nos anos de 2011 a 2013 comparando com a média esperada no SARESP para os conteúdos de Português e Matemática; 2º - Percentual dos alunos nos níveis da Escala de Proficiência no SARESP no mesmo período (nesse indicador observou-se o percentual com conhecimento abaixo do básico). Obteve-se como diagnóstico que a maioria das escolas estaduais de Mogi teve uma queda nas médias de proficiência e que muitas dessas escolas têm mais de 30% dos seus alunos com nível de conhecimento abaixo do básico ( a escala é composta por: abaixo do básico; básico; adequado; avançado). De

toda a área analisada, o bairro de Jundiapeba possui cinco escolas estaduais, e, quatro dessas possuem resultado muito abaixo do esperado e em queda ao longo dos anos, além de possuírem um percentual médio de 40% do alunos com conhecimento considerado abaixo do básico. Além disso em entrevista com a Diretoria de Ensino de Mogi das Cruzes, foi apontado que bairros mais afastados ou mais vulneráveis socialmente possuem mais dificuldades no aprendizado, entre eles, foi destacado o bairro de Jundiapeba. Em diálogo com o setor de Assistência Social de Mogi das Cruzes, também foi apontado que o bairro de Jundiapeba é muito frágil socialmente e que consequentemente resulta na ineficiência do aprendizado escolar.

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E.E. PROF. CID BOUCAULT português 7º ANO – Queda de 06 pontos desde 2011(e 19 pontos de 2012 para 2013) e está 38 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Queda de 10 pontos desde 2011 e está 69 pontos abaixo da meta esperada 3º ANO E.M. – Queda de 7 pontos desde 2011 ( e 12 pontos de 2012 para 2013) e está 51 pontos abaixo da meta esperada

7º ANO – 39,3% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 9º ANO – 46,9% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 3º ANO E.M. – 49,2% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. CID BOUCAULT matemática 7º ANO – Queda de 13 pontos desde 2011 e está 56 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Queda de 6 pontos desde 2011 e está 76 pontos abaixo da meta esperada 3º ANO E.M. – Queda de 3 pontos desde 2011 e está 93 pontos abaixo da meta esperada

7º ANO – 58,3% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013 (aumento muito alto desde 2011) 9º ANO – 52,6% de crianças comconhecimento abaixo do básico em 2013. 3º ANO E.M. – 64,7% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013

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E.E. PROF. VANIA APARECIDA CASSARÁ português 7º ANO – Queda de 04 pontos desde 2011 e está 33 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Queda de 6 pontos desde 2011 e está 63 pontos abaixo da meta esperada

7º ANO – 35,6% de crianças comconhecimento abaixo do básico em 2013. 9º ANO – 39,6% de crianças comconhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. VANIA APARECIDA CASSARÁ matemática 7º ANO – Queda de 19 pontos desde 2011 e está 60 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Praticamente se manteve na média desde 2011 desde 2011 e está 67 pontos abaixo da meta esperada.

7º ANO – 68,4% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013 (aumento muito alto desde 2011). 9º ANO – 46,0% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. PAULO FERRARI MASSARO português 7º ANO – Se manteve nos últimos anos, mas está 33 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Se manteve nos últimos anos, mas está 75 pontos abaixo da meta esperada. 3º ANO E.M. – Queda de 4 pontos desde 2011 ( e 7 pontos de 2012 para 2013) e está 51 pontos abaixo da meta esperada.

7º ANO – 37,7% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 9º ANO – 55,3% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 3º ANO E.M. – 46,8% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. PAULO FERRARI MASSARO matemática 7º ANO – Se manteve nos últimos anos, mas está 48 pontos abaixo da meta esperada. 9º ANO – Queda de 12 pontos desde 2011 e está 83 pontos abaixo da meta esperada. 3º ANO E.M. – Queda de 5 pontos desde 2011 ( e 9 pontos de 2012 para 2013) e está 45 pontos abaixo da meta esperada.

7º ANO – 56,5% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 9º ANO – 60,6% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 3º ANO E.M. – 69,9% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. MARIA ISABEL DOS SANTOS MELLO - português 5º ANO – Queda de 11 pontos desde 2011 e está dentro da meta esperada. 7º ANO – Queda de 4 pontos de 2012 para 2013, mas está 16 pontos abaixo da meta esperada.

5º ANO – 14,1% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 7º ANO – 27% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. MARIA ISABEL DOS SANTOS MELLO - matemática 5º ANO – Queda de 17 pontos desde 2011 e está 24 pontos abaixo da meta esperada. 7º ANO – Se manteve nos últimos anos, mas está 39 pontos abaixo da meta esperada.

5º ANO – 31,8% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 7º ANO – 43,2% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. JOSEPHINA NAJAR HERNANDEZ - português 5º ANO – Queda de 37 pontos desde 2011 e está 18 pontos abaixo da meta esperada. 7º ANO – Queda de 14 pontos de 2012 para 2013 e está 30 pontos abaixo da meta esperada.

5º ANO – 26,4% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 7º ANO – 36,4% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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E.E. PROF. JOSEPHINA NAJAR HERNANDEZ - matemática 5º ANO – Queda de 68 pontos desde 2011 e está 42 pontos abaixo da meta esperada. 7º ANO – Queda de 09 pontos de 2012 para 2013 e está 44 pontos abaixo da meta esperada.

5º ANO – 50,7% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013. 7º ANO – 52,1% de crianças com conhecimento abaixo do básico em 2013.

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localização


Distrito de Jundiapeba (municĂ­pio de Mogi das Cruzes) - Nova Jundiapeba.

Mogi das Cruzes

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Nova Jundiapeba

Ă rea de estudo

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equipamentos pĂşblicos





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vazios existentes


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pré-análise



A princípio quando se pensou no tema escola, antes de conhecer as iniciativas pedagógicas existentes no Brasil, pensou-se em uma escola mais aberta, mais integradora, e que deveria se relacionar com o meio ambiente. Dentro do território de Jundiapeba, observamse vários vazios passíveis dessa implantação, onde poderiam ser criados minimamente um pomar e uma horta ampliando temas importantes, como alimentaçãosaudável. Ao analisar a área quanto aos seus equipamentos, observa-se que da Av. José Antônio de Melo (avenida que margeia uma área verde – sob uma linha de alta tensão - já ocupada por edificações irregulares (barracos) até o Rio Jundiaí, não há nenhum equipamento cultural/educacional, então foi determinado que ali seria a área do projeto.

Dentro dos mapas apresentados inferimos a mesma informação de que o distrito de Jundiapeba como um todo possui uma grande variedade de equipamentos públicos, sejam educacionais ou de saúde, mas quando se faz um aproximação na área denominada como Nova Jundiapeba, nota-se que de fato não há equipamentos, além de possuir um número muito menor de vazios. Percorrendo o bairro, chegou-se a terrenos a seu extremo sudeste/leste, em particular, há uma área onde hoje a comunidade utiliza como “campinho” com possibilidade de integração com um grande vazio às margens do Rio Jundiaí, localização ideal para a implantação da escola, com possibilidade de criação de um parque tanto para recuperação da mata ciliar e seu bioma, quanto para uso da comunidade.

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Em torno do terreno, observamos um território bem carente, com muitas moradias improvisadas e em condições precárias, sendo que a maioria das edificações que são feitas com blocos, não possuem nenhum tipo de revestimento externo, as ruas e trechos de ruas mais próximos não são asfaltados, extremamente esburacados, ao se afastar um pouco do terreno as ruas são compostas por paralelepípedos. Há predominância de edificações térreas e assobradadas, e não há edifícios altos se não os de habitação de interesse social. Se trata de uma Zona Residencial predominante de baixa a média densidade (ZR2), por esse motivo observamos as características apresentadas quanto ao gabarito e aos usos. Não há muitos comércios, ainda que pequenos. Vemos crianças

brincando nas ruas em todos os dias da semana. Em entrevista no entorno do terreno com doze famílias, obteve-se a informação de que as crianças levam de 15 a 40 minutos para chegarem à escola onde estudam, sendo que a maioria vai a pé, uma pequena parcela vai de bicicleta, e apenas uma família tinha a possibilidade de levar os filhos de automóvel, todas as famílias entrevistadas demonstraram grande interesse em ter uma escola mais próxima de suas casas. Dois entrevistados não compreendem o foco da pesquisa, mas auxiliam a entender a situação local, um rapaz de 20 anos ainda cursa o ensino médio e outro de 18 anos parou de estudar na 8ª série (E.E. Cid Boucault) pois não tinha mais interesse na escola.

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terreno


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1 - campo de futebol

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2 - vista das margens para o bairro

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3 - rio jundiaĂ­

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4 - terrenos n達o parcelados

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5 - situação geral do entorno

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5 - situação geral do entorno

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questionamento



Observa-se também que os piores resultados dos índices de desenvolvimento divulgados apontam queda na qualidade do ensino médio público, não só nas escolas de Jundiapeba, mas em Mogi das Cruzes em geral, existe também a confirmação de que a taxa de evasão escolar é controlável até o 9º ANO, mas dispara ao chegar no ensino médio acompanhada de alta porcentagem de reprovação. Então, por que a escolha dos anos iniciais e finais? Porque acredito que os problemas sociais da criança crescem junto com ela, e ao chegar no ensino médio, ela acredita possuir idade considerada apta ao trabalho e contribuição familiar (não perante o censo comum, mas a situação local induz a isso, muitas vezes, sua família também) e além de toda essa bagagem que ela traz de casa, ela quase não tem interesse mais em ir pra escola, o imediatismo, a resolução rápida de seus

problemas é prioridade para ela em relação à seu futuro, isso “pode esperar”. Com isso, propõe-se o projeto para antes dessa decisão, para que ela tenha tanto interesse na escola, que não a deixe, mesmo com todos os problemas que ela enfrenta, que a sociedade e sua família incentivem-na para sua permanência e que a escola, por sua vez, também contribua para uma formação complementar tanto para a criança quanto para a comunidade, que garanta a elas um futuro ainda que tímido em relação a tudo que se pode alcançar, mas que haja o incentivo, o pontapé inicial e que possa ainda ser o agente transformador, facilitando o entendimento do papel do jovem no processo de construção de si mesmo e de uma sociedade tão desejada e prometida. O projeto é expansível, com certeza, mas nesse caso se trata do que se pode fazer hoje para garantir o amanhã.

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estudos locais



Durante as pesquisas, foi feita uma visita à E.E. Professora Josephina Najar Hernandez e em entrevista com Silvana – vice-diretora e professora – com relação aos problemas físicos da escola respondeu que as melhorias que ela sugere para a escola são a colocação de mais grades e alambrados, que os muros sejam elevados, a fim de conter o vandalismo e a depredação da edificação (já que por vezes, jovens atearam fogo na escola, cortaram grades, pularam muros a fim de usar a quadra da escola, além de reivindicar uma nova quadra. Quando questionadas, cinco professoras da instituição disseram o mesmo, que precisam de mais segurança e ao ouvir sobre a proposta de projeto disseram ser impossível de se implantar na realidade local. Também foi realizado um diálogo com alunos da escola, disseram que vão à escola por

obrigação, que não tem gosto pelo estudo. Perguntei como seria a escola ideal para eles, o que faria com que eles pudessem gostar da instituição, responderam que gostariam de oficinas de aprendizado em que pudessem aprender mais que o programa básico previsto, que tivessem contato com outras línguas além do português e inglês, que houvessem pequenos cursos profissionalizantes, que eles saíssem da escola sendo mais que só o básico. Disseram também que gostariam de sentar em puffs, trabalhar em grupos. Perguntei se gostariam de poder estudar com alunos de outras idades e poder tanto aprender quanto ensinar e eles responderam que seria divertido, que gostariam de estar na posição de professor de vez em quando. Gostariam de fazer atividades fora da sala de aula, que fossem aulas diferentes do comum, gincanas entre as salas, etc.

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estudos de caso pedag贸gico



Projetos educacionais em todo o país lançam mão de tratar do assunto (educação alternativa/ melhoria da educação), elaborando projetos educacionais de acordo com a necessidade da comunidade local, recuperando o ensino de áreas extremamente carentes. Áreas vulneráveis socialmente têm alto índice de evasão escolar, pois falta incentivo familiar, falta incentivo da sociedade fazendo com que o aluno seja levado a abandonar a escola para ajudar na sobrevivência da família. O espaço físico não vai resolver todos os problemas educacionais locais, muito menos os sociais, mas pode fazer com que cresça nos alunos e na comunidade um sentimento de respeito e pertencimento , em conjunto com o projeto pedagógico elaborado potencializam as chances de melhorias significativas nesses âmbitos.

*Muitos dos projetos brasileiros são inspirados e adaptados da Escola da Ponte em Portugal a constar a seguir.

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ESCOLA DA PONTE – VILA DAS AVES - PORTUGAL “Um dia ele chegou pra mim e disse: - Vou te levar pra conhecer uma escola diferente!, Diferente como? eu perguntei, - isso eu não posso dizer, você vai lá e vê! Aí me levou na escola. Chego lá, tá na frente da escola, tem um jardim, o diretor veio falar comigo, um homem de poucas palavras e ficamos ali conversando e a minha expectativa era que ele, diretor, fosse me mostrar, explicar a pedagogia, a escola pedagógica. Três minutos de banalidades passou uma menininha na nossa frente, ele virou pra menininha e disse: - Tu podes mostrar e explicar a nossa escola ao nosso visitante? A menininha disse: - Pois pois. E ele foi embora e me deixou com a menininha, aí eu já fiquei espantado, porque eu não pude imaginar nenhum brasileiro, diretor brasileiro, que tivesse a coragem de fazer isso. A menininha virou, foi na direção da porta da escola, quando ela parou, virou na minha direção e disse: - Para o senhor entender a nossa escola, o senhor terá que se esquecer

tudo o que o senhor sabe sobre escola, não temos aulas, não temos professores dando aula, não temos campainha separando os tempos do pensamento, não temos notas... Aí fez-se o vácuo, porque aí eu não conseguia mais visualizar, eu disse a ela: - Mas como é que vocês aprendem? Ela me disse: - Formamos pequenos grupo de seis pessoas em torno de um tema de interesse comum, convidamos um professor para ser nosso assessor, ele nos dá informações de internet e bibliográficas, estabelecemos um programa de estudo de duas semanas, e por duas semanas nós estudamos, anotamos, vamos na internet, vamos nos livros e depois de duas semanas voltamos para nos reunir para avaliar o que aprendemos e o que deixamos de aprender. “– depoimento de Rubem Alves sobre sua visita à Escola em 2000. Escola alicerçada nas ideias de Célestin Freinet, idealizada por José Pacheco em 1976, tem como lema: “tentar fazer crianças felizes”.

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PROJETO ÂNCORA – COTIA A ONG existe desde 1995 como projeto de assistência e desenvolvimento social. Em 2012, criou uma escola formal para complementar as atividades do Projeto. Não há divisão por séries ou idade, conta com espaços livres de aprendizagem e é marcada por uma forte integração com a comunidade. “Pelo menos eu, quando estava nas outras escolas me sentia muito presa dentro de uma sala de aula e aqui não, aqui você pode vim aqui, sentar aqui e fazer uma lição do livro, ou até mesmo com um colega, aí dá aquele arzinho de liberdade, você não fica se sentindo preso” – depoimento de aluna, o “aqui” se refere ao espaço externo da edificação. “Mas era muita lição assim, a professora brigava muito, a gente ficava o dia inteiro em sala, o dia inteiro (...) se a gente tiver dúvida naquela lição que a gente quer fazer, a gente levanta a mão, o professor vem, -a h, o que você precisa de ajuda? - , a gente fala: a gente

precisa de ajuda em interpretação de texto que eu não consegui escrever isso, não consegui entender aquilo, tal tal tal, aí o professor vai lá e ele explica pra gente, mas a gente pensa um pouco” – depoimento de aluna se referindo a sua escola anterior e depois se referindo ao “modus operandi” da escola quando busca o conhecimento sozinha e busca compreender, se tem dúvida, chama o professor. “Você pode estudar assim sozinha, ou com alguém, se você quiser, diferente das outras escolas que é obrigado a ficar dentro da sala e não pode sair, só na hora do recreio, aqui não. Ontem eu escolhi ficar dentro da sala de aula porque é que lá era um trabalho meu e eu precisava, tava terminando ele e ali tava bem silencioso e adequado pra mim pensar melhor no que eu ia fazer” – depoimento de aluna. “E aqui a gente faz pesquisas e trabalhos, aí a gente vai pra um tutor e fala: olha o que eu aprendi! Aí a gente aprende com o tutor também” – depoimento de aluna.

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EMEF. AMORIM LIMA – BUTANTÃ – SP A escola iniciou uma mudança significativa em 1996 com a chegada da atual diretora, retirou grades internas, e passou a abrir as escolas aos finais de semana, se abrindo para a comunidade, aos poucos instalaram-se oficinas. Em 2003 o Conselho e a Comissão da escola entenderam que o projeto político pedagógico já não estava mais de acordo com o que acontecia na escola, então, Rosely Saião – psicóloga e interlocutora da escola desde 2001 – é convidada para a reformulação do projeto, ela os apresenta a Escola da Ponte de Portugal e a semelhança entre os projetos é percebida de imediato. Removeram-se algumas paredes para a criação de salões e não mais salas de aula, hoje os alunos trabalham em grupos de quatro, e não há mais aulas expositivas se não as de matemática, inglês e oficina de texto, cada aluno tem um roteiro individual a desenvolver e cerca de seis professores circulam pelo

salão a fim de tirar dúvidas, explicar conceitos, sempre que necessário. “Eu cheguei aqui nessa escola, era uma escola, apesar de tudo isso, apesar de ter essa comunidade, era uma escola exatamente igual a todas as outras escolas da rede, né?! Mas, enfim, era uma escola cheia de grade, era uma escola toda cinza e a gente foi meio que acabando com essas coisas. E o medo? No dia que eu tirei a grade eu fiquei com muito medo, porque eu não passei pelo conselho de escola, eu simplesmente... porque eu ia no recreio e eu via aquelas crianças penduradas na grade se balançando pra lá e pra cá, tinha um sinal que era sinal de fábrica horroroso e eu fui tirando tudo, daí quando eu tirei a grade e fui pro recreio e uma menina disse pra mim: - Diretora, ainda bem que a senhora tirou a grade, porque a gente não é louco nem bandido pra ficar preso”. – Depoimento da diretora Ana Elisa Siqueira

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estudos de caso arquitet么nico


VITTRA SCHOOL ROSAN BOSCH – SUÉCIA

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Rede de escolas independentes e de ensino gratuito na Suécia, desenvolvida com equipe multidisciplinar de arquitetos, designers, artistas, comunicadores, professores e crianças com a proposta de integrar pedagogia e ambiente físico. Obs: Todas as escolas da Suécia são de ensino gratuito, sejam por parte do governo ou por apoio independente.

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NOVA ESCOLA MUNICIPAL EM FREDERIKSHAVN ARKITEMA ARCHITECTS – DINAMARCA Escola em forma de estrela com forte apelo lúdico.

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JARDIN INFANTIL PAJARITO LA AURORA – GIANCARLO MAZZANTI+CTRLG+PLANB – COLOMBIA A escola foi projetada através de módulos, pétalas de uma flor, que se repetem formando a edificação.

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EL PORVENIR SOCIAL KINDERGARDEN - GIANCARLO MAZZANTI – COLOMBIA O projeto se dá inspirado no bricar infantil, em um jogo de volumes.

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JARDIM DE INFÂNCIA TIMAYUI - GIANCARLO MAZZANTI – COLOMBIA A escola se dá por volumes modulares que se repetem e se sobressaem em si.

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programa de necessidades



Com base nos projetos pedagógicos e arquitetônicos estudados e a necessidade local, chegase a conclusão de que a escola deve abranger: Administração Vice Diretoria e Diretoria Vice Coordenação e Coordenação Secretaria Sala dos Professores Associação Comunidade-Escola Depósito de limpeza e materiais Sanitários Espaço Pedagógico 2 Salões de Aprendizado Salão de Artes Salão de Música Salão de Ciências Cozinhas experimentais Biblioteca Horta Pomar/Bosque Sanitários Vivência Cozinha Comedoria Sanitários

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estudos de implantação



Como ponto de partida deu-se que a escola deveria ser modular a fim de se fazer repetir, de ser aplicável em outros terrenos da cidade, adaptando-se quanto à tamanhos e formatos diferentes de espaço.

Sendo assim, inicialmente deu-se em forma de um pentágono equilátero, pois entendia-se que essa forma abria-se tanto para o exterior – para a comunidade – como se interiorizava criando pátios internos, por exemplo, e abrigando sob esse espaço as crianças.

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Posteriormente observou-se que esse pentágono poderia ser dividido em cinco triângulos de maneira que essa forma fosse ainda mais flexível, possibilitando inúmeras implantações, dessa forma deram-se os estudos a seguir:

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De todas as propostas de implantação essa foi a escolhida por se organizar de forma mais interativa, de modo que cada módulo suprimido da forma original pode dar lugar a um espaço livre de convivência, ampliando o espaço interno da edificação e ao mesmo tempo conectando todas suas partes. Com base nessa proposta, deu-se um projeto inicial.

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evolução


Posteriormente observou-se que a quinta parte do pentágono funcionando como um organismo independente não proporcionava boas possibilidades projetuais. Pensando então no TANGRAM (quebracabeça chinês formado por 7 peças que possibilitam infinitas combinações) e observando suas peças, foram escolhidas três peças triangulares diferentes que de acordo com suas proporções intrínsecas possibilitariam a composição do chamado “módulo”.

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Sendo assim, chegamos à seguinte situação, tendo uma dimensão modular como ponto de partida e agregando outras unidades para formação dos demais módulos, sendo que o resultado agregado deve obedecer a mesma proporção do módulo inicial. 1º módulo: 1 unidade triangular 2º módulo: 2 unidades triangulares 3º módulo: 3 unidades trangulares * triângulo retângulo

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projeto









RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

Para recuperação ambiental da área de preservação permanente, bem como o restante da área a ser utilizada como parque ecológico foi utilizado o modelo proposto por KAGEYAMA et al. (1990) a seguir:

PI - Pioneira | SI - Secundária inicial | ST - Secundária tardia | CL - Climática e foram escolhidas as seguintes espécies para a recuperação: Palmito Juçara (CL) ; Jerivá/Palmeira (PI | S); Ipê Roxo (S); Ipê Amarelo (S); Embaúba (PI); Manacáda-Serra (PI); Carvalho-brasileiro (S); Peroba-Rosa (S); Cedro (S); Marinheiro (S); Pau-Jacareí (PI); Pau D’alho (PI); Copaíba (S); Pau-ferro (S).

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O projeto precisava ser de fácil e rápida implantação para acompanhar a ideia modular para isso utilizouse da tecnologia de costrução Light Steel Frame tendo em vista agilidade que esse uso ocasiona na obra, além de ser uma estrutura leve.

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Definiu-se que os revestimentos seguiriam o praticado atualmente com essa tecnologia, ou seja, placa cimentícia do lado externo e drywall no lado interno. Levando isso em consideração somado à modulação das placas de gesso, estipulou-se que todos os vãos seriam quadrados de 1m x 1m (com exceção das esquadrias dos sanitários que resultaram em 0,8 x 0,8. Isso garante ainda mais agilidade na obra.

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SALÃO DE APRENDIZADO 1

A escola, como proposto, não possui salas de aula compartimentadas, é composta por salões de aprendizado de uso diversificado, para o setor didático há dois salões: cada um para atender um respectivo ciclo. Ao mesmo tempo, não significa que cada faixa etária esteja atrelada a um salão em específico, pois ambos sugerem situações e estudos diferentes que podem ser alternados de acordo com a necessidade.

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SALテグ DE APRENDIZADO 1

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SALテグ DE APRENDIZADO 1

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SALÃO DE APRENDIZADO 2

Não se faz necessária a criação de um ambiente para projeções e apresentações já que o layout proposto permite a projeção em ao menos um ponto focal coberto e que todos no ambiente tenham visualização deste. Além disso, é possível realizar apresentações das mais diversas artes (música, dança, etc) tanto no tablado existente neste salão, quanto no pátio rebaixado da escola, quanto no espaço livre em frente ao salão de música, enfim, são muitas possibilidades de se executar algo “comum” de uma forma diferente.

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SALテグ DE APRENDIZADO 2

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BIBLIOTECA

A ideia é que todos os ambientes sejam marcados pelo apelo lúdico na intenção de resgatar a vontade e o interesse pelo estudo, além do estímulo motor e sensorial (cores, formas e texturas). A criança deve ser cativada, conquistada, para que seja (re)estabelecido o sentimento de pertencimento ao local “escola” que a acompanha por tantos anos de sua vida.

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BIBLIOTECA Não há um espaço direcionado para o uso tecnológico, ou por exemplo, para apresentações. Pressupõe-se que o uso tecnológico seja intrínseco já que o aprendizado nesse caso é baseado na autonomia da criança, na pesquisa diária, seja em livros ou fontes virtuais, independentemente desse veículo ser um tablet ou um note/netbook entende-se que cada criança o possuirá individualmente e com uso livre para estudar onde achar propício e conveniente (cabe ressaltar que de acordo com o projeto pedagógico proposto a probabilidade de ter todas as crianças de um mesmo ciclo em um ambiente ao mesmo tempo é exporádica já que são poucas as aulas expositivas e elas tem livre escolha de onde querem estudar). Seguindo essa linha de pensamento, a biblioteca deixa de ser um espaço frio.

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SALÃO DE MÚSICA

Propõe-se entre o salão de música e o salão de artes uma flexibilização de espaços que pode ser aplicada em outros encontros de módulos, porém, exemplifica-se aqui. A flexibilização permite a integração dos dois ambientes, dobrando o espaço interno de acordo com a necessidade feita através da abertura de dois grandes portões. Grandes aberturas também possibilitam diferentes sensações, como ter o salão aberto tanto para o pátio interno quanto para o espaço livre para quem está “fora da escola” como se abrisse tanto para a escola quanto para a comunidade.

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SALÃO DE MÚSICA

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O espaço compreendido entre um conjunto de módulos e outro se deu em um grande pátio, que se divide entre área verde e cimentada para delinear possibilidades, uma parte rebaixada possibilita que o “degrau” se transforme em assento e em puoco tempo temos um palco a céu aberto, ao mesmo tempo, o espaço verde possibilita a criação de um pomar e horta para interação das crianças além de dispor de sombreamento criando uma agradável área de convivência.

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Uma das premissas do projeto era a integração com o meio ambiente e a inclusão da alimentação saudável como parte do projeto pedagógico e não como assunto complementar e/ ou paralelo fez com que a implantação da horta e do pomar de forma mais internalizada se tornasse algo natural, é proposta a recuperação da mata ciliar e que o implantado siga como diretriz para o restante da área de intervenção.

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A escola não possui quadra poliesportiva em oposição à grande maioria das escolas brasileiras, a intenção é que se resgate jogos e brincadeiras que foram perdidos com o tempo (brincadeiras de corda, elástico, taco, brincadeiras com cones, entre outras), estimulando muito mais as partes sensoriais, coordenação motora e a criatividade trablhando as mesmas teorias propostas nos esportes coletivos, mas possibilitando que o aluno possa ser mais criativo e até melhor desenvolvido. Além disso, é proposto um circo, pensando nas práticas corporais e de movimento que ele proporciona, equilíbrio físico e mental, além do estímulo ao trabalho em equipe.

Para não criar as tradicionais torres de caixa d’água, foi feito um jogo volumétrico de forma a ter a parte mais alta da edificação onde era necessária a existência da caixa (ainda que ela tenha a mesma estrutura física que as convencionais) e os demais volumes surgem acompanhando o desenho inicial que partiu do bloco de sanitários.

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possibilidades


TERRENO Para exemplificação do módulo, usou-se um terreno acidentado no bairro do Botujuru.

MAQUETE DO TERRENO

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APLICAÇÃO DO MÓDULO Roxo: Cultural Azul: Sanitários Laranja: Sala dos Professores Vermelho: Salões de Aprendizado Cinza: Administrativo Amarelo: Alimentação e Laboratórios/Cozinhas

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bibliografia



Documentário: Quando sinto que já sei (Youtube) Entrevista: Rubem Alves (Youtube) Palestras: José Pacheco (Youtube) Visita à EMEF Desembargador Amorim Lima (Butantã – SP) Visita à E.E. Josephina Najar Hernandez

Online: Porvir.org Cidadeescolaaprendiz.org.br ArchDaily Arcoweb Téchne NeoBambu Arkitema Childhood Metalica UFL.co Construlight Construseco Saresp Escoladaponte Projetoancora Educacaointegral.org Educacao.sp.gov Escoladeredes.net Livro: Princípios da Recuperação Vegetal de Áreas Degradadas

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